TODA FEITA: O CORPO E O GÊNERO DAS TRAVESTIS
TODA FEITA: O CORPO E O GÊNERO DAS TRAVESTIS
TODA FEITA: O CORPO E O GÊNERO DAS TRAVESTIS
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>TODA</strong> <strong>FEITA</strong>: O <strong>CORPO</strong> E O <strong>GÊNERO</strong> <strong>DAS</strong> <strong>TRAVESTIS</strong><br />
e o gênero” porque as “...transformações do corpo” são práticas estruturantes<br />
“das suas visões de mundo” “...e do seu principal objetivo: a<br />
vontade/projeto de se sentir mulheres”.<br />
Num toque de Colombo, põe o ovo em pé: “O corpo das travestis<br />
é, sobretudo, uma linguagem; é no corpo e por meio dele que os<br />
signifi cados do feminino e do masculino se concretizam e conferem à<br />
pessoa suas qualidades sociais. É no corpo que as travestis se produzem<br />
enquanto sujeitos.” Daí em diante, ao etnógrafo caberá perseguir e ao<br />
teórico, analisar os “principais processos criados e experimentados pelas<br />
travestis para levar a cabo o projeto de ser feminina”.<br />
Trata-se, portanto, de estudar a fabricação do corpo feminino, ou a<br />
fabricação do feminino no corpo das travestis.<br />
Neste empenho, o senso de observação de Benedetti tangencia uma<br />
Clarice Lispector em vários momentos, como esse:<br />
(...) mas há um investimento em transformar a expressão do olhar,<br />
tornando-o menos objetivo, mais confuso e perdido, mais delicado,<br />
quase inocente e indefeso.<br />
Ou ainda aqui:<br />
(...) virar para o lado, jogando, antes do corpo, todo o cabelo...<br />
Revelações surpreendentes como, por exemplo, sobre “Sandra (que<br />
trabalha como telefonista)”.<br />
Não serei exaustivo. Para que retardar a leitura desse notável prazer<br />
intelectual? Resenhas e seminários farão nos próximos anos a exegese<br />
desse pequeno texto. Aqui, trata-se apenas de uma celebração. Que o<br />
leitor prossiga a encontrar os tesouros sob os tópicos das cápsulas de<br />
beleza, da beleza plástica, das mágicas cirúrgicas, do “acuendar a neca”<br />
até as questões seminais em torno de qual feminino se trata aqui.<br />
O autor estabelece as bases e entendimento de uma linguagem que,<br />
de uma província extremamente segregada da sociedade, vai tecendo fi o<br />
por fi o conexões obstinadas com instâncias simbólicas fundamentais de<br />
toda aquela sociedade. Hormônios; pêlo e cabelo, unha e rosto; mão,<br />
quadril, coxa e nádegas; marcas no corpo, vestuá rio, calçados, gesto;<br />
11