11.07.2015 Views

Crise de identidade: uma leitura de "Um Filme Falado"

Crise de identidade: uma leitura de "Um Filme Falado"

Crise de identidade: uma leitura de "Um Filme Falado"

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e olhando-o <strong>de</strong> forma fixa. Durante a conversa, a mãe dá <strong>uma</strong> longa aula <strong>de</strong> história à filha, edurante esse diálogo as duas não se olham, estão com o olhar vidrado no mar, ou nas paisagensque a mãe vai mostrando, como se a olhar algo que está distante, que faz lembrar o que estásendo contado, e tal visada revela o fascínio das mesmas.Quando passam pela França, e enquanto conversam com um senhor, temos a imagem<strong>de</strong> um cachorro que está preso a um barco, e as ondas do mar o arrastam, o que faz lembrar asaga dos portugueses. <strong>Um</strong>a força superior parece que os arrasta para o mar, e que os leva a seaventurarem, como um imã que atrai toda a nação.Outra cena que também se repete no filme é a da câmera aproximada da proa donavio, que vai cortando o oceano, e traz a noção <strong>de</strong> aproximação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravamento, <strong>de</strong> ir aoencontro do novo. Ao passo que a mãe explica a filha: “Os portugueses <strong>de</strong>scobriram novos maresaté então <strong>de</strong>sconhecidos”. Nos dizeres <strong>de</strong> Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não épreciso.” (PESSOA, 1997, p.140)Outro aspecto interessante a ser retomado é a questão do monumento, a forma comoele é construído e <strong>de</strong>sconstruído a nossos olhos. O que levou anos para ser construído se tornaapresentável aos nossos olhos em um instante através <strong>de</strong> imagens. Rosa Maria mostra umcatálogo à Maria Joana com imagens <strong>de</strong> como era o local, e diz: “Olha como era antes, olha...”,temos ai o paralelo estabelecido que parece ser capaz <strong>de</strong> conectar o passado e o presente tambémda história dos portugueses, já que estes sempre mantém os olhos no passado, alimentando <strong>uma</strong>memória muito viva <strong>de</strong>sse passado. Esse olhar constante para o passado é como se quisessemvoltar a esse tempo <strong>de</strong> glórias, que é <strong>uma</strong> lembrança permanente e nostálgica, coberta por umsaudosismo que já não po<strong>de</strong>m sobreviver. Segundo Lourenço: “Sujeito, quer dizer, memória,reactualização incessante do que fomos ontem em função do que somos hoje ou queremos seramanhã.” (1994, p.9).A recordação do passado é muito cara aos portugueses, a cada menção que fazem<strong>de</strong>sse passado <strong>de</strong>ixam transparecer <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> reviver esse tempo perdido.Quando na Grécia, a professora <strong>de</strong> história se vê diante das ruínas, ela tem essa visão saudosista,quando diz à filha: “Vê como <strong>de</strong>via ser bonito se tudo estivesse como era?” O que po<strong>de</strong> quererdizer: e se Portugal ainda fosse a Império do passado? Tal trecho po<strong>de</strong> ser relacionado à seguinteafirmação <strong>de</strong> Lourenço, quando diz que para Portugal o Messias re<strong>de</strong>ntor tão esperado é o seupassado:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!