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Crise de identidade: uma leitura de "Um Filme Falado"

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“Tudo se passa como se Portugal fosse para os portugueses como aJerusalém para o povo judaico, com <strong>uma</strong> diferença: Portugal não espera oMessias, o Messias é o seu próprio passado, convertido na maisconsistente e obsessiva duvida sobre si ou constituindo ate o horizontemítico do seu futuro.” (1994, p.10)Essa forma <strong>de</strong> voltar ao passado incessantemente po<strong>de</strong> ser lida também como <strong>uma</strong>modo <strong>de</strong> ressentimento. Há muito tempo Portugal já não esta entre as nações maisrepresentativas da Europa, e não se <strong>de</strong>staca no contexto mundial, já não é um país rico, nessesentido, encontra-se na margem. No filme, a mãe explica à filha o que é o mito do Sebastianismo,o qual se relaciona com a ida <strong>de</strong> D. Sebastião à batalha <strong>de</strong> Alcácer Quibir, e a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Portugal.Nesse episodio D. Sebastião <strong>de</strong>saparece e fica no povo a esperança <strong>de</strong> que ele volte para governálos,como <strong>uma</strong> esperança <strong>de</strong> que sua volta po<strong>de</strong>ria resgatar o país e colocá-lo em posição <strong>de</strong><strong>de</strong>staque novamente. Nessa cena, a mãe explica o mito à filha, utilizando-se das seguintespalavras: “Há o mito que um encoberto virá um dia num cavalo branco n<strong>uma</strong> manha <strong>de</strong> nevoeiro.”,ao que a filha questiona: “E virá mesmo?”, e a mãe respon<strong>de</strong>: “Há quem acredite que sim”. E <strong>de</strong>fato há quem acredite que Portugal possa retomar essa posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, e o prestigio, <strong>de</strong>centro, <strong>de</strong> referencia. É perceptível nos portugueses um sentimento <strong>de</strong> saudosismo, <strong>de</strong> sentir penapor não po<strong>de</strong>r reviver o passado. Recorrendo mais <strong>uma</strong> vez ao texto <strong>de</strong> Lourenço:“A consistência, a força, a coerência do nosso sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>estão amalgamadas com a vivencia <strong>de</strong> um espaço-tempo próprio,homogeneizado pela língua, pela historia, pela cultura, pela religião,enquanto hábitos sociológicos, pela sua própria marginalização nocontexto europeu, o seu lado ilha sem ser. Mas talvez, mais ainda pelapresença e permanência, por assim dizer, físicas, ao alcance dos olhos edas mãos, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrutura social, <strong>de</strong> um arcaísmo extremo, quer dizer,<strong>de</strong> um enraizamento profundo no passado.” (1994, p. 13)Ao longo do filme, várias línguas são faladas: o português, o francês, o italiano, ogrego e o inglês. No tocante a essa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> línguas faladas, essa questão estaestreitamente ligada à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. E isso po<strong>de</strong> ser notado em varias passagens, a começar pelaviagem à Grécia, on<strong>de</strong> Rosa Maria e Maria Joana encontram um eclesiástico ortodoxo e elepergunta: “És francesa?”, e Rosa respon<strong>de</strong>: “Não, sou portuguesa! Mas se quiser po<strong>de</strong>mos falar emfrancês.”, e o eclesiástico ortodoxo respon<strong>de</strong> gentilmente: “Mas claro!”. O fato <strong>de</strong> Rosa afirmar-se

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