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Proposta de dissertação para obtenção do grau de Mestre ... - Esec

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Imagem da capa: fonte: http://www.shutterstock.com/Notas:a) Os conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s nesta tese são finais. Só serão altera<strong>do</strong>s se existirem recomendações <strong>do</strong>júri nesse senti<strong>do</strong>. Apenas o formato da tese e o tipo <strong>de</strong> paginação po<strong>de</strong>rão ser altera<strong>do</strong>s <strong>para</strong>entrega final no dia da <strong>de</strong>fesa.b) De forma a abranger um amplo cenário, esta tese a<strong>do</strong>pta uma perspectiva genérica, em que se usa otermo «<strong>de</strong>signer» <strong>para</strong> <strong>de</strong>signar qualquer pessoa que está responsável pelo <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto. Nestamedida, po<strong>de</strong> incluir-se o engenheiro, o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> produto, o <strong>de</strong>signer industrial ou o arquitecto.II


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto“Ye Luo Gui Gen”A folha cai <strong>para</strong> voltar à raiz.dita<strong>do</strong> chinês“A sabe<strong>do</strong>ria da natureza é tal que nãoproduz nada <strong>de</strong> supérfluo ou inútil.”Nicolau Copérnico (1473 – 1543)astrónomo e matemático. Séc XVI"A natureza é o único livro que oferece umconteú<strong>do</strong> valioso em todas as suas folhas."Johann Wolfgang Von Goethe (1749 – 1832)Escritor e pensa<strong>do</strong>r Alemão“A terra prevê o suficiente <strong>para</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>to<strong>do</strong>s os homens, mas não <strong>para</strong> a voracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.”Mahatma Gandhi (1869 – 1948)Pensa<strong>do</strong>r Indiano“é à natureza que <strong>de</strong>vemos pedir conselhos”Hector Guimard (1867 – 1942)arquitecto e <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>r industrialfrancês“Não estou a tentar imitar a Natureza, estou atentar <strong>de</strong>scobrir os princípios que ela usa.”R. Buckminster Fuller - (1895 – 1983)Arquitecto, Designer, Inventor, Visionário AmericanoIII


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoÍndiceÍndiceÍNDICE DE FIGURAS ------------------------------------------------------------------------------ IXÍNDICE DE TABELAS ---------------------------------------------------------------------------- XIIIAGRADECIMENTOS ------------------------------------------------------------------------------ XVRESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------- XVIIABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------- XIXINTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------- 1BREVE HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DO OBJECTO ------------------------------------------------- 5OBJECTO E SOCIEDADE --------------------------------------------------------------------------- 17PRODUTO E UTILIZADOR ------------------------------------------------------------------------ 37“LUXOS” OU ATRIBUTOS INDISPENSÁVEIS? --------------------------------------------------- 55A NATUREZA: UMA LIÇÃO PERMANENTE ---------------------------------------------------- 59O SISTEMA NATURAL COMO ABORDAGEM ---------------------------------------------------- 85DICIONÁRIO NATURAL ------------------------------------------------------------------------- 133CONCLUSÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------------- 167REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------------- 173ANEXO 1 ------------------------------------------------------------------------------------------- 177V


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoSumárioSumárioÍNDICE DE FIGURAS ------------------------------------------------------------------------------ IXÍNDICE DE TABELAS ------------------------------------------------------------------------ XIIIIIIAGRADECIMENTOS ------------------------------------------------------------------------------ XVRESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------- XVIIABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------- XIXINTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------- 1BREVE HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DO OBJECTO ------------------------------------------------- 5Objecto, homem e natureza -------------------------------------------------------------------------- 5Evolução e «tecnologia» ------------------------------------------------------------------------------ 6Evolução, extinção e meio ambiente --------------------------------------------------------------- 9Revolução Industrial --------------------------------------------------------------------------------- 12OBJECTO E SOCIEDADE --------------------------------------------------------------------------- 17Simbologia e Linguagem <strong>do</strong> objecto na socieda<strong>de</strong> --------------------------------------------- 17Cultura Descartável ---------------------------------------------------------------------------------- 19Abundância, evolução e socieda<strong>de</strong> -------------------------------------------------------------------- 19Músculo em vez <strong>de</strong> Cabeça --------------------------------------------------------------------------- 23Industria, Socieda<strong>de</strong>, Merca<strong>do</strong> e Consumismo ------------------------------------------------------- 24O Design Industrial e a Cultura <strong>do</strong> Desperdício ---------------------------------------------------- 33PRODUTO E UTILIZADOR ------------------------------------------------------------------------ 37Psicologia e <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> Produto -------------------------------------------------------------------- 37A mente Humana ----------------------------------------------------------------------------------- 39Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> fluxo -------------------------------------------------------------------------------------- 41Hierarquia da Usabilida<strong>de</strong> -------------------------------------------------------------------------- 42Produto vs Utiliza<strong>do</strong>r ------------------------------------------------------------------------------- 44Vulnerabilida<strong>de</strong>s nos produtos ----------------------------------------------------------------------- 46Produtos Standard ----------------------------------------------------------------------------------- 47Cru<strong>de</strong> Products --------------------------------------------------------------------------------------- 49Estética e moda. -------------------------------------------------------------------------------------- 52“LUXOS” OU ATRIBUTOS INDISPENSÁVEIS? --------------------------------------------------- 55A NATUREZA: UMA LIÇÃO PERMANENTE ---------------------------------------------------- 59Leonar<strong>do</strong> da Vinci e a Divina Proporção -------------------------------------------------------- 59Linhas sinuosas e formas florais ------------------------------------------------------------------- 63O nosso mun<strong>do</strong> «(Im)perfeito» e o Design ----------------------------------------------------- 67O Mun<strong>do</strong> Sem Nós - -------------------------------------------------------------------------------- 70Vulnerabilida<strong>de</strong>: Natureza e Design <strong>de</strong> Produto ----------------------------------------------- 74A Arvore <strong>de</strong> Cerejas e o Conceito <strong>de</strong> Indústria ------------------------------------------------ 82O SISTEMA NATURAL COMO ABORDAGEM ---------------------------------------------------- 85O processo natural <strong>de</strong> envelhecimento vs obsolescência ------------------------------------- 85Complexida<strong>de</strong> e Vida Multicelular ---------------------------------------------------------------- 87Diversida<strong>de</strong> – O ADN <strong>do</strong> Planeta ---------------------------------------------------------------- 93“Waste equals Food” -------------------------------------------------------------------------------- 98Eco-Eficiência vs Eco-Eficácia ------------------------------------------------------------------- 108Ross Lovegrove ------------------------------------------------------------------------------------- 115VII


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoSumárioDa<strong>do</strong>s biográficos ----------------------------------------------------------------------------------- 115“Essencialismo orgânico” --------------------------------------------------------------------------- 116Biomimética ------------------------------------------------------------------------------------------ 124Conceito --------------------------------------------------------------------------------------------- 124Breve contextualização histórica -------------------------------------------------------------------- 127Meto<strong>do</strong>logia da biomimética e <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto ---------------------------------------------------- 128DICIONÁRIO NATURAL ------------------------------------------------------------------------- 133O Velcro -------------------------------------------------------------------------------------------- 135A Mosca -------------------------------------------------------------------------------------------- 137A Rã ------------------------------------------------------------------------------------------------ 139A Lagartixa ---------------------------------------------------------------------------------------- 141A Folha da flor <strong>de</strong> lótus ---------------------------------------------------------------------------- 143O Besouro ------------------------------------------------------------------------------------------- 145A Borboleta ----------------------------------------------------------------------------------------- 147O Tubarão ------------------------------------------------------------------------------------------ 149As Térmitas ---------------------------------------------------------------------------------------- 151O Morcego ------------------------------------------------------------------------------------------ 157O Peixe-cofre ---------------------------------------------------------------------------------------- 159A Ma<strong>de</strong>ira ------------------------------------------------------------------------------------------ 163A Pinha -------------------------------------------------------------------------------------------- 165CONCLUSÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------------- 167REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------------- 173ANEXO 1 ------------------------------------------------------------------------------------------- 177En<strong>de</strong>reços electrónicos completos das Figuras ------------------------------------------------ 177VIII


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoÍndice <strong>de</strong> figurasÍndice <strong>de</strong> figurasFigura 1 - As três inovações que conduziram ao aparecimento da época técnica .................. 7Figura 2 - Intervalos quantifica<strong>do</strong>s em anos <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s avanços tecnológicos<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s ao longo da história .......................................................................................................... 8Figura 3 - Três possíveis cenários da Pegada Ecológica, entre 1951 e 2100. .......................... 9Figura 4 - Henry Ford e Mo<strong>de</strong>l T. ............................................................................................... 13Figura 5, 6 e 7 - Linha <strong>de</strong> montagem <strong>do</strong> Ford T. ..................................................................... 14Figura8 - Ciclo virtuoso. Como a natureza funciona. ............................................................... 21Figura9 - Ciclo vicioso. Porque é que a civilização não funciona. .......................................... 21Figura 10 - Mali ............................................................................................................................... 26Figura 11 - Etiópia .......................................................................................................................... 26Figura 12 - Alemanha ..................................................................................................................... 26Figura 13 - E.U.A ........................................................................................................................... 26Figura 14 - Mapa relativo à importação mundial <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>s. ............................................ 27Figura 15 - Fotografia da Gran<strong>de</strong> Depressão. ............................................................................ 30Figura 16 - Procura Mundial <strong>de</strong> Energia Primária. .................................................................... 32Figura 17 - Fases temporais <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> produto. ........................................................ 33Figura 18 - Sandálias feitas com garrafas <strong>de</strong> água reaproveitadas. .......................................... 35Figura 19 - Lixeira urbana. ........................................................................................................... 36Figura 20 - Hierarquia <strong>de</strong> usabilida<strong>de</strong> .......................................................................................... 43Figura 21 - Gillette. ........................................................................................................................ 48Figura 22 - Anuncio da Tupperware. .......................................................................................... 48Figura 23 - Cauda <strong>do</strong> Pavão. ........................................................................................................ 55Figura 24 - Juba <strong>de</strong> leão ................................................................................................................. 56Figura 25 - Chifres <strong>de</strong> alce ............................................................................................................ 56Figura 26 - Cauda <strong>de</strong> pavão .......................................................................................................... 56Figura 27 - Helicóptero <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci. ........................................................ 60Figura 28 - Folha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci. ............................................................ 60Figura 29 - Concha <strong>do</strong> Caramujo Nautilus. ............................................................................... 62Figura 30 - Semente <strong>de</strong> girassol.................................................................................................... 62Figura 31 - A proporção no corpo <strong>de</strong> insectos. ......................................................................... 62Figura 32 - O Homem Vitruviano, <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> da Vinci . .................................................... 62Figura 33 - Proporção <strong>do</strong> rosto humano. ................................................................................... 62Figura 34 - Ipod. ............................................................................................................................. 63Figura 35 - Maço <strong>de</strong> Cigarros. ...................................................................................................... 63Figura 36 - Cartões <strong>de</strong> Crédito. .................................................................................................... 63Figura 37 - Vaso Favrille. .............................................................................................................. 65Figura 38 - Ilustração científica <strong>do</strong> naturalista alemão Ernst Haeckel ................................... 66Figura 39 - Nigella Damascena. ................................................................................................... 66Figura 40 - Entrada <strong>do</strong> metro <strong>de</strong> Paris........................................................................................ 66Figura 41 - Projecto <strong>de</strong> Emil Gallé. ............................................................................................. 67Figura 42 - Projecto <strong>de</strong> René Lalique. ........................................................................................ 67Figura 43 - Ilustração futurista da cida<strong>de</strong> «tomada» pela natureza. ......................................... 71Figura 44 - Lixeira <strong>de</strong> plásticos..................................................................................................... 72Figura 45 - Ilustração futurista da cida<strong>de</strong> «tomada» pela natureza. ......................................... 73Figura 46 - Formigas em tarefa conjunta. ................................................................................... 74Figura 47 - Colónia <strong>de</strong> células on<strong>de</strong> a distribuição <strong>de</strong> força é aplicada. ................................. 74Figura 48 - Degradação temporal <strong>de</strong> um saco feito <strong>do</strong> plástico bio<strong>de</strong>gradável Biocycle. ... 78Figura 49 - Interior <strong>do</strong> fruto Ameixa. ......................................................................................... 79IX


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoÍndice <strong>de</strong> tabelasÍndice <strong>de</strong> tabelasTabela 1 - Tabela com<strong>para</strong>tiva em anos, da utilização <strong>de</strong> produtos em Países Desenvolvi<strong>do</strong>se Sub-<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s.(fonte: Papaneck, Victor (1970), Design for the Real World. Paladin)........................................................................................................................................ 28XIII


XVI


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoResumoTitulo: A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produtoum novo <strong>para</strong>digma <strong>de</strong> projecto, produção, consumo e fim <strong>de</strong> vida?Nome: Pedro Ban<strong>de</strong>ira MaiaCurso <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> em Comunicação Estética (EUAC – Coimbra)Orienta<strong>do</strong>r: Professor Doutor João DixoResumoO mo<strong>de</strong>lo natural foi sempre uma inspiração ao longo <strong>de</strong> toda a história evolutivada humanida<strong>de</strong>, mas, nos últimos anos, a relação entre a natureza e as mais variadasdisciplinas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign intensificou-se. Actualmente as formas, funções, estruturas eprincípios organizacionais encontra<strong>do</strong>s na natureza começam a inspirar muitas dasabordagens relacionadas com os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, produção e ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto.Esta <strong>dissertação</strong> estuda este fenómeno, reflecte sobre as principais «lições» que anatureza nos po<strong>de</strong> oferecer e apresenta vários exemplos e interpretações na relação quepo<strong>de</strong> existir entre conceitos, inspirações «naturais» e <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, tanto na vertente<strong>de</strong> projecto e produção, como na relação sustentável entre <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, socieda<strong>de</strong>,consumo e «morte» <strong>de</strong>sses mesmos produtos.O <strong>de</strong>senvolvimento é feito ao longo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is grupos temáticos complementaresentre si; o primeiro, mais acessório e introdutório, reflecte a relação evolutiva entre objectoe homem, a simbologia <strong>do</strong> objecto na socieda<strong>de</strong>, assim como as diferentes interacçõespossíveis <strong>de</strong> estabelecer entre produto e utiliza<strong>do</strong>r.O segun<strong>do</strong> grupo temático contém a essência <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>, relaciona conceitose reflexões que não se limitam a imitar a natureza, mas que a usam como o ponto <strong>de</strong>partida e reserva <strong>de</strong> influência <strong>para</strong> respostas inova<strong>do</strong>ras na relação entre o objecto,homem, recursos naturais, produção e ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s produtos.Temas como a existência <strong>de</strong> ornamentação «gratuita» em alguns animais, asvulnerabilida<strong>de</strong>s existentes na natureza reinterpretadas e aplicadas ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, adiversida<strong>de</strong> como elemento indispensável <strong>para</strong> a nossa vida natural e «artificial» ou osnovos conceitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício e <strong>de</strong> produção ou <strong>de</strong> Eco - eficiência e Eco – eficáciaassumem um importante papel neste segun<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.Complementarmente aos conceitos <strong>de</strong>scritos atrás é efectuada uma referência ao«essencialismo orgânico», patente no trabalho <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer Ross Lovegrove, e também umestu<strong>do</strong> sobre o Biomimetismo, consi<strong>de</strong>rada por muitos como a ciência <strong>do</strong> futuro, que seXVII


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoResumofoca no uso <strong>do</strong>s princípios biológicos <strong>para</strong> a resolução <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s problemasrelaciona<strong>do</strong>s com <strong>de</strong>sign, produção e consumo.Esta <strong>dissertação</strong> revela inspirações, conceitos e atitu<strong>de</strong>s que a natureza po<strong>de</strong>oferecer, tentan<strong>do</strong> contribuir <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas perspectivas sobre estatemática. Irá tentar <strong>de</strong>monstrar as múltiplas possibilida<strong>de</strong>s na re<strong>de</strong>scoberta e reinvenção danatureza associada ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto e ao processo <strong>de</strong> raciocínio <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer.Palavras chave: natureza, produto, artefacto, vulnerabilida<strong>de</strong>, ciclo <strong>de</strong> vida, senescência, upcycling,<strong>do</strong>wncycling, diversida<strong>de</strong>, abundância, <strong>de</strong>sperdício, obsolescência, eficiência, eficácia, biomimetismo, pegadaecológica, projecto, produção, consumo, fim <strong>de</strong> vida, inspiração.XVIII


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAbstractconsi<strong>de</strong>red by several authors as the science of the future, due to it’s focus on the use ofbiological principles to solve challenges presented by <strong>de</strong>sign, production and consumption.In sum, this work will try to <strong>de</strong>monstrate the existence of several possibilities for<strong>de</strong>signers to rediscover and to reinvent natural inspirations and mind-sets, hoping tocontribute to the <strong>de</strong>velopment of new perspectives in the field.Keywords: nature, product, vulnerability, life cycle, senescence, upcycling, <strong>do</strong>wncycling, diversity, abundance,waste, obsolescence, eco-efficiency, eco-effectiveness, Biomimecry, ecological footprint, project, production,consumption, end of life, inspiration.XX


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoIntroduçãoIntroduçãoNuma época em que emergem <strong>do</strong>is colossos como a China e a Índia, que seaproximam a passos largos <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> consumo Oci<strong>de</strong>ntais, é facilmente perceptívelque os recursos existentes no planeta não serão suficientes <strong>para</strong> tanta procura.A maravilhosa viagem que objecto e homem fizeram ao longo <strong>de</strong> toda a história daHumanida<strong>de</strong>, encontra-se ameaçada. O objecto enquanto po<strong>de</strong>r físico, intelectual,emocional e cultural assumiu proporções inimagináveis. A actual socieda<strong>de</strong> consumista,refém da tendência e moda, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> valorizar os objectos que a ro<strong>de</strong>iam econsequentemente <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> esgotar todas as diferentes maneiras <strong>de</strong> os usufruir. Acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fruição estética está hoje mais <strong>do</strong> que nunca interiorizada nos consumi<strong>do</strong>res,fazen<strong>do</strong> com que a troca <strong>de</strong> objectos seja feita não pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso mas apenas pelanecessida<strong>de</strong> estética <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Em apenas uma geração, passámos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><strong>de</strong> poupança on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> era reaproveita<strong>do</strong>, tal como na natureza, <strong>para</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>cultura <strong>do</strong> <strong>de</strong>sperdício.A relativa curta vida <strong>do</strong>s objectos, produzi<strong>do</strong>s com a envolvência <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign ein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong>s avanços técnicos e da durabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais e processos,contribui, notoriamente, <strong>para</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> base consumista, on<strong>de</strong> não sãoconsi<strong>de</strong>radas regras, medidas, ou preocupações que minimizem ao máximo o impacto<strong>de</strong>stes produtos na sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> planeta. Estes produtos <strong>de</strong>veriam ter á partidaimplícita a sua morte (<strong>de</strong>sculpem o <strong>para</strong><strong>do</strong>xo), na sua esfera <strong>de</strong> criação e realização. É aquique surge um <strong>do</strong>s principais problemas e ao mesmo tempo <strong>de</strong>safios no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.O <strong>de</strong>signer <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong>, ao projectar o nascimento <strong>de</strong> um novo produto, projectar<strong>para</strong>lelamente, com o mesmo interesse e competência, a sua morte. Esta morte <strong>de</strong>veria sertão natural como o seu nascimento, conseguin<strong>do</strong> assim que o produto estivesse restringi<strong>do</strong>a um ciclo fecha<strong>do</strong>, similar ao ciclo da vida, on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> tem um lugar e uma tarefa a<strong>de</strong>sempenhar, sem <strong>de</strong>sperdício.A evolução humana é fruto da imaginação e engenho <strong>do</strong> homem enquanto serpensante, mas o homem, principalmente o pós revolução Industrial, esqueceu-secompletamente que não estava só no planeta, que não era imune aos problemas <strong>do</strong> meioenvolvente, esqueceu-se <strong>de</strong> respeitar e apren<strong>de</strong>r com a Natureza! Uma «entida<strong>de</strong>» da qualfaz parte, mas que, simultaneamente, parece querer renegar e ignorar.Não é a natureza que está errada mas sim os seres humanos e a actual socieda<strong>de</strong>,centrada na individualida<strong>de</strong>, que esquece to<strong>do</strong> o meio envolvente. Esta socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria1


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoIntroduçãoter si<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvida observan<strong>do</strong>, apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> e respeitan<strong>do</strong> a natureza. Assimprovavelmente, muitos erros teriam si<strong>do</strong> evita<strong>do</strong>s.A natureza hoje <strong>de</strong>veria ser encarada pelo ser humano, como uma espécie <strong>de</strong> filtro,um oráculo. Ela é a evolução <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> experiências, que foi aprimoran<strong>do</strong> asua «técnica», foi evoluin<strong>do</strong> e adaptan<strong>do</strong>-se aos condicionalismos que foram acontecen<strong>do</strong>.Nicolau Copérnico, famoso astrónomo e matemático no longínquo século XVIdisse: “A sabe<strong>do</strong>ria da natureza é tal que não produz nada <strong>de</strong> supérfluo ou inútil”.Esta frase materializa o conceito inspira<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>, que preten<strong>de</strong> ser umareflexão sobre a influência que a natureza po<strong>de</strong> ter na resolução <strong>do</strong>s problemas liga<strong>do</strong>s àsustentabilida<strong>de</strong> no que ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto diz respeito.A história <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign está relacionada com o aumento exponencial <strong>do</strong> consumismo.O <strong>de</strong>sign faz parte <strong>de</strong>ste problema, aju<strong>do</strong>u a criar esta socieda<strong>de</strong> que parece não ter futuro;<strong>de</strong>verá ter um papel fundamental na procura da sua solução!Um <strong>do</strong>s contributos mais importantes na direcção <strong>de</strong> um caminho sustentável <strong>para</strong>o planeta é o papel que o <strong>de</strong>signer po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve assumir ao projectar e repensar os objectos<strong>do</strong> quotidiano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> produção, à sua maneira <strong>de</strong> uso e o seu fim <strong>de</strong> vida, ouseja, prever e planear o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto em toda a sua dimensão.O motivo <strong>de</strong>sta tese justifica-se pela observação <strong>do</strong> assumi<strong>do</strong> <strong>de</strong>sperdício gera<strong>do</strong>pelo <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto ao serviço <strong>do</strong> consumismo, da moda e da tendência. Este trabalhotentará promover uma abordagem ao mo<strong>de</strong>lo natural e <strong>de</strong>monstrar a estreita ligação queeste po<strong>de</strong> ter com o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, numa tentativa <strong>de</strong> indicar novos caminhos <strong>para</strong> umcontributo positivo <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto na procura da solução <strong>para</strong> este problema.Analisan<strong>do</strong> superficialmente, a natureza parece ser o problema. É ela que está a<strong>de</strong>monstrar que não vai ser capaz <strong>de</strong> aguentar o ritmo <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>sperdício que aactual socieda<strong>de</strong> consumista promove. Para<strong>do</strong>xalmente é possível apren<strong>de</strong>r com ela eencontrar o caminho <strong>para</strong> a sustentabilida<strong>de</strong>. A natureza já <strong>de</strong>monstrou o seu «po<strong>de</strong>r», asua sublime sabe<strong>do</strong>ria. Como po<strong>de</strong>rá ser introduzida no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong><strong>de</strong>sign? É possível apren<strong>de</strong>r com a natureza? A natureza «oferece» conceitos que possamser inspirações no mo<strong>do</strong> como é interpretada a noção <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um produto e a sua«morte»? É possível estabelecer analogias com o mun<strong>do</strong> natural? Quais? Como é que estaspo<strong>de</strong>m ajudar o <strong>de</strong>signer? Como «condicionam» o seu impacto na socieda<strong>de</strong> e na actualtendência consumista? O que já é feito nesta área? Como? A procura <strong>de</strong> resposta a estasquestões é o objectivo principal <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>.2


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoIntroduçãoPosicionam-se como condicionantes <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> a procura <strong>de</strong> exemplos eanalogias no mo<strong>de</strong>lo natural que forneçam caminhos <strong>para</strong> o entendimento da nossasocieda<strong>de</strong> consumista, <strong>para</strong> a relação <strong>de</strong>sta com os produtos, e <strong>para</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong><strong>de</strong>signer <strong>de</strong> conceber produtos que, realmente, sigam <strong>de</strong> uma forma estruturada e tranquila,os ciclos naturais que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre existiram nos «produtos» da natureza.Design é, em gran<strong>de</strong> parte, inspiração e conhecimento. Este trabalho <strong>de</strong>investigação não tem como objectivo fornecer soluções. Procura sim oferecer novosconceitos e estabelecer analogias inspira<strong>do</strong>ras <strong>para</strong> o processo <strong>de</strong> raciocínio <strong>do</strong>s <strong>de</strong>signers,com o objectivo <strong>de</strong> que estes assimilem todas as implicações que os seus projectos po<strong>de</strong>mter no mun<strong>do</strong> global e se consciencializem <strong>de</strong> toda a diferença que po<strong>de</strong>m fazer nesteproblema tão actual. Tenta ainda estimular o pensamento crítico em relação aos mol<strong>de</strong>sactuais <strong>de</strong> projectar e produzir «gratuitamente», e oferece pistas <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>inova<strong>do</strong>ras interpretações e estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, que sejam verda<strong>de</strong>iras alternativas àsexistentes.Este trabalho procura que os <strong>de</strong>signers se encantem com este brilhante exemploque po<strong>de</strong> ser a natureza e que, ao compreen<strong>de</strong>rem-na, sejam estimula<strong>do</strong>s na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>um novo caminho «natural» <strong>de</strong> projectar. Preten<strong>de</strong> ainda, ser uma ferramenta«provoca<strong>do</strong>ra», que estimule o pensamento e aju<strong>de</strong> a questionar as verda<strong>de</strong>s normalizadas,procuran<strong>do</strong> <strong>para</strong>lelamente fornecer novas pistas <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s os intervenientes que <strong>de</strong>sejarem<strong>de</strong>sempenhar o seu papel <strong>de</strong> uma forma responsável.Esta tese é escrita, não como sociólogo, economista, cientista ou político, mas«apenas» como <strong>de</strong>signer. Este estrito problema é aborda<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vistaeventualmente inconsequente perante a complexida<strong>de</strong> da economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e <strong>do</strong>sconstrangimentos da industria mas com a firme convicção <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser mais umcontributo na tentativa <strong>de</strong> promover uma alteração nos hábitos <strong>de</strong> projecto, produção,consumo e fim <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto, com o objectivo <strong>de</strong> alcançar o <strong>de</strong>senvolvimentosustentável.3


4A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoObjecto, homem e naturezaA história <strong>do</strong> objecto confun<strong>de</strong>-se com a da humanida<strong>de</strong> e é feita <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>s,rupturas e também <strong>de</strong> encontros inespera<strong>do</strong>s. A escassa diversida<strong>de</strong> técnica <strong>do</strong> começo dahumanida<strong>de</strong> transformou-se nas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> objectos hoje existentes.O homem ro<strong>de</strong>ou-se <strong>de</strong> uma «tecnosfera» (Poirier, J., 1999) que tem vin<strong>do</strong> amultiplicar-se incessantemente; a natureza foi categoricamente substituída pelaartificialida<strong>de</strong>. No essencial, o homem vive hoje num meio artificial <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelos<strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> plástico feitos pela máquina, ro<strong>de</strong>ou-se <strong>de</strong> uma complexa re<strong>de</strong> tecnológicaque o protege e que lhe multiplica as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acção, mas que ao mesmo tempo ofragiliza na relação com o natural, que começa no seu corpo.Des<strong>de</strong> as suas origens que o homem foi introduzin<strong>do</strong> o seu corpo numa capaprotectora que é o vestuário; com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se abrigar constrói «casas» que passam aser um segun<strong>do</strong> vestuário complementar ao primeiro. A fabricação <strong>do</strong> objecto passa a ser abase da humanida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito, mas especialmente na actualida<strong>de</strong>, é possivel dizerque é pelo objecto que se <strong>de</strong>fine e i<strong>de</strong>ntifica o homem, em especial nas socieda<strong>de</strong>sconhecidas como <strong>de</strong>senvolvidas. Foi pela posse <strong>de</strong> objectos que a prosperida<strong>de</strong> e evoluçãodas socieda<strong>de</strong>s foi garantida.Ao longo <strong>do</strong>s tempos, o factor <strong>de</strong> diferenciação entre o homem e os outrosanimais, não foi apenas pela utilização <strong>do</strong>s objectos, mas sim, pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fabricação (no engenho <strong>de</strong> os conceber).O gran<strong>de</strong> símio que não se limita a utilizar um produto da natureza, mas quebra umgalho <strong>de</strong> árvore <strong>para</strong> <strong>de</strong>le fazer um pau é o primeiro momento <strong>de</strong> interacção directa entre oanimal e o seu meio ambiente. Esta acção é um bom exemplo da passagem da natureza àcultura, e este exemplo é a primeira tentativa intencional e premeditada <strong>do</strong> ser vivo contrao seu meio ambiente (Poirier, J., 1999).O utensílio é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre o companheiro <strong>do</strong> homem. O cria<strong>do</strong>r e o seu produtoformam um par em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> termo, o instrumento prolonga o corpo humano.Institui-se uma relação dura<strong>do</strong>ura entre o sujeito e o objecto. O instrumento construí<strong>do</strong>não é uma simples utilização <strong>do</strong> objecto da natureza: implica um valor acrescenta<strong>do</strong> que éproduto <strong>do</strong> trabalho inteligente.5


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoEvolução e «tecnologia»Os objectos são testemunhas que nos ajudam a tentar reconhecer a históriatecnológica das socieda<strong>de</strong>s humanas. Os mais antigos testemunhos arqueológicos <strong>de</strong>instrumentos datam <strong>de</strong> há 2 milhões e 600 mil anos (Poirier, J., 1999). Esses testemunhossão lâminas <strong>de</strong> quartzo e <strong>de</strong> sílex (os primeiros Australopitecos cria<strong>do</strong>res <strong>de</strong> instrumentosocupavam a gran<strong>de</strong> floresta terciária da África Oriental e da África <strong>do</strong> Sul). É provável quejá <strong>de</strong> há muito fossem utiliza<strong>do</strong>s utensílios cortantes feitos <strong>de</strong> conchas, ossos ou <strong>de</strong> bambu.Esta aquisição consciente da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fabricação racional e repetível <strong>do</strong>objecto foi um gran<strong>de</strong> passo no avanço «tecnológico» da época, foi talvez o primeiro limiartecnológico digno <strong>de</strong> registo. Seguidamente, o factor <strong>de</strong> avanço «tecnológico», comrelevância, que aparece é o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> fogo - o segun<strong>do</strong> limiar tecnológico. Os trabalhos<strong>do</strong> Antropólogo Norte Americano Carleton Coon 1 e da sua equipa, mostraram que o fogo,durante muitos anos, foi utiliza<strong>do</strong> pelos homens <strong>do</strong> Paleolítico 2 apenas como protecçãocontra os animais e o frio. Os alimentos cozinha<strong>do</strong>s só apareceram muito mais tar<strong>de</strong>, há200 mil anos (Coon, C., 1958). O terceiro limiar tecnológico consolida-se (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> umalenta mas continua evolução tecnológica), a partir <strong>do</strong> milénio VIII (8000 A.C) com atransformação da vida humana, a que se convencionou chamar <strong>de</strong> «revolução neolítica»baseada no aparecimento <strong>de</strong> cinco inovações: a <strong>do</strong>mesticação das espécies vegetais(agricultura) e animais (criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>), a habitação fixa e permanente, a cerâmica e opolimento da pedra. O quarto limiar tecnológico situa-se por volta <strong>do</strong> milénio IV (4000A.C). Foi uma autêntica revolução, a revolução <strong>do</strong> artefacto, isto é, da criação <strong>de</strong> objectos«artificiais» que não existiam na natureza, e que resultam inteiramente da capacida<strong>de</strong>inventiva humana.A revolução <strong>do</strong> artefacto <strong>de</strong>u origem a uma série <strong>de</strong> três inovações que iriam alterarpor completo o mun<strong>do</strong> técnico e cultural da humanida<strong>de</strong>. À utilização <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong> cobreseguiu-se, rapidamente, a das ligas como o bronze (mistura <strong>de</strong> cobre e <strong>de</strong> estanho). Asantigas técnicas <strong>de</strong> martelagem <strong>do</strong>s minérios <strong>de</strong> ouro e cobre, que não conseguiam dar aometal a dureza suficiente <strong>para</strong> os gumes das armas e <strong>do</strong>s utensílios, foram substituí<strong>do</strong>s porméto<strong>do</strong>s inteiramente novos e «artificiais» em relação à natureza. Po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se amanipulação <strong>do</strong>s metais como a primeira inovação, tanto ou mais no sistema <strong>de</strong> valores, <strong>do</strong>que no plano social (das mudanças <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida), pois a metalurgia implicou uma1(23 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1904 – 3 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1981). Antropologista Americano, Professor <strong>de</strong> Antropologia na Universida<strong>de</strong>s da Pennsylvanis,Professor na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> harvard e Presi<strong>de</strong>nte da American Association of Physical Anthropologists. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Carleton_S._Coon)2Segun<strong>do</strong> a periodização Clássica o homem <strong>do</strong> paleolítico existiu no perío<strong>do</strong> da Pré-história, que é compreendi<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens <strong>do</strong>homem até 4000 a.C. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Terra)6


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoFigura 2 - Intervalos quantifica<strong>do</strong>s em anos <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s avanços tecnológicos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s ao longo dahistória (fonte: adapta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Poirer. J. (1999). História <strong>do</strong>s Costumes: O Homem e o Objecto. Editorial Estampa).No esquema, é possível observar que o princípio da exponencialida<strong>de</strong>, está bempatente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o processo. O ritmo evolutivo das inovações nunca pára <strong>de</strong>se acelerar. Numa análise objectiva percebemos que foram precisos ao homem <strong>do</strong>ismilhões <strong>de</strong> anos <strong>para</strong> evoluir <strong>do</strong> fabrico <strong>do</strong> objecto e chegar ao uso <strong>do</strong> fogo, mas já sóforam necessário menos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is séculos <strong>para</strong> se passar <strong>do</strong> motor ao chip <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>r.Os conhecimentos que subenten<strong>de</strong>m as novas socieda<strong>de</strong>s não têm prece<strong>de</strong>nte. Astransformações ocorridas em to<strong>do</strong>s os planos da existência individual e social são <strong>de</strong> umaamplitu<strong>de</strong> incomparável com o que existiu anteriormente em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios; po<strong>de</strong>renergético, rapi<strong>de</strong>z da mensagem, armazenamento da informação, revoluçãobiotecnológica, explosão <strong>de</strong>mográfica, transformações radicais na família, nível <strong>de</strong> vida,opções <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e o sistema <strong>de</strong> valores em geral.8


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoO Professor e sociobiólogo Edward Wilson 5 , da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard (E.U.A) no seulivro “O futuro da vida” (2002), estima que, se a actual taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição humana da biosferacontinuar, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as espécies <strong>de</strong> seres vivos estará extinta em 100 anos 6 .A União Internacional <strong>para</strong> a Conservação da Natureza (UICN), com se<strong>de</strong> na Suíça,que <strong>de</strong>senvolve estu<strong>do</strong>s sobre 41.415 espécies (<strong>de</strong> um total <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,75 milhõesconhecidas) avalia que 16.306 <strong>de</strong> entre elas estão ameaçadas. Ou seja, um mamífero emcada quatro, uma ave em cada oito, um terço <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os anfíbios e 70% <strong>de</strong> todas asplantas estudadas correm perigo.Será ainda possível conter este <strong>de</strong>clínio das espécies, que corre o risco <strong>de</strong> se ampliarquan<strong>do</strong> o nosso planeta atingir 9,3 biliões <strong>de</strong> humanos 7 , provavelmente em 2050? Osbiólogos Americanos Paul Ehrlich 8e Robert Pringle 9 , da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Stanford,Califórnia (E.U.A), acreditam que ainda é possível evitar o rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong>clínio das espécies,através da aplicação <strong>de</strong> diversas medidas radicais tomadas no plano mundial. Elesapresentam essas medidas num artigo intitula<strong>do</strong> “Where <strong>do</strong>es biodiversity go from here?” (2008),publica<strong>do</strong> na revista especializada americana PNAS 10 , numa edição que <strong>de</strong>dica um <strong>do</strong>ssierespecial à sexta extinção.Estes <strong>do</strong>is investiga<strong>do</strong>res não hesitam em <strong>de</strong>clarar que "…o futuro da biodiversida<strong>de</strong> no<strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s próximos 10 milhões <strong>de</strong> anos será certamente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelo que acontecerá nos próximos 50a 100 anos, em função da activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma única espécie, o Homo sapiens, que tem apenas 200.000 anos<strong>de</strong> existência" (2008).Se se consi<strong>de</strong>rar que as espécies <strong>de</strong> mamíferos - às quais o homem pertence - têmuma vida útil <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> anos em média, isso coloca actualmente o Homo sapiensem mea<strong>do</strong>s da sua a<strong>do</strong>lescência. Este «a<strong>do</strong>lescente» malcria<strong>do</strong> é, "…um narcisista quepressupõe a sua própria imortalida<strong>de</strong>, an<strong>do</strong>u a maltratar o ecossistema que o criou e o mantém vivo, sem sepreocupar com as consequências <strong>do</strong>s seus actos", acrescentam Ehrlich e Pringle.As características usualmente consi<strong>de</strong>radas, como os expoentes máximos daevolução e diferenciação humana em relação às outras espécies, estão na base <strong>do</strong> actualproblema. Se até há 200 anos atrás os avanços evolutivos humanos eram «tolerantemente»ofensivos <strong>para</strong> com a natureza, com a explosão da evolução técnica e económica a espécie5(10 <strong>de</strong> Junho, <strong>de</strong> 1929). Entomologista Americano e Biólogo conheci<strong>do</strong> por seu trabalho com ecologia, evolução e sociobiologia. Éespecialista em formigas, em particular no seu uso <strong>de</strong> feromonas <strong>para</strong> comunicação. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/E._O._Wilson)6Fonte: How Stuff Works - http://ciencia.hsw.uol.com.br/extincao-animais1.htm.7Fonte: Bertrand, Y.A (2004). 366 Dias <strong>para</strong> Reflectir sobre o Nosso Planeta. Paris: Forlaget Jor<strong>de</strong>n.8( 29 Maio <strong>de</strong> 1932 ). Entomologista Americano e Professor Universitário em Stanford - E.U.A. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_R._Ehrlich)9Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Biologista evolucionário no Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Stanford –E.U.A. (fonte: http://www.geocities.com/lclane2/pringle.html)10PNAS - Proceedings of The National Aca<strong>de</strong>my Of Sciences.10


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectohumana encontra-se num beco sem saída, <strong>para</strong> o qual vai ter forçosamente <strong>de</strong> encontraruma solução se quer continuar a existir enquanto espécie.Quan<strong>do</strong> se tenta perceber como foi possível chegar a esta situação, é imperativoanalisar a importância da gran<strong>de</strong> mutação técnica e económica, que chega com a utilização<strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> energia, a começar pela da máquina a vapor, <strong>de</strong>pois rendida pelo motoreléctrico, pela força explosiva (foguetões) e pela <strong>de</strong>sintegração nuclear (enquanto a fusão <strong>de</strong>núcleos não é conseguida).O «maquinismo» através <strong>do</strong> artificie ce<strong>de</strong>u lugar ao maquinismo industrial, quepossibilitou a produção em massa e o advento da chamada socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Asmáquinas tornaram-se complexas e automatizaram-se; das máquinas <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong>máquinas, passámos por via da cibernética, à informática e à telemática e a essa máquinahiper-complicada e hiper-autónoma que é o autómato mo<strong>de</strong>rno (Poirier, J., 1999).Numa análise histórica, as máquinas mais antigas foram sem dúvida as diversasformas <strong>de</strong> armadilhas <strong>do</strong>s caça<strong>do</strong>res neolíticos. Na sua maioria as máquinas foram movidaspor uma energia mecânica exterior à força humana (e.g. o motor animal da nora árabe ou aazenha das antigas manufacturas), mas as suas possibilida<strong>de</strong>s foram muito aumentadaspelas novas tecnologias. O motor e o computa<strong>do</strong>r vieram transformar, drasticamente, assuas prestações.É possível consi<strong>de</strong>rar que o instrumento, multiplica<strong>do</strong>r e <strong>de</strong>smultiplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>esforço humano, terá muda<strong>do</strong> na sua essência ao melhorar simultaneamente o seu po<strong>de</strong>r eas suas potencialida<strong>de</strong>s? Na realida<strong>de</strong>, o instrumento, a máquina e o autómato têm omesmo objectivo: substituir os esforços físicos e mentais <strong>do</strong> homem, aumentar <strong>de</strong> umamaneira notoriamente eficaz a sua acção material no meio ambiente e facilitar a mecânica<strong>do</strong> raciocínio humano.É possível encontrar ao longo da história sucessivos «motores» que possibilitaram atransformação <strong>do</strong> meio ambiente. O primeiro foi o motor humano, a força muscular <strong>do</strong>corpo humano. Foi este motor «natural» o responsável pela energia necessária ao fabrico<strong>do</strong>s utensílios até ao Neolítico, isto é durante <strong>do</strong>is milhões e meio <strong>de</strong> anos. O segun<strong>do</strong>motor foi o músculo animal, que apareceu com a <strong>do</strong>mesticação, a partir <strong>do</strong> milénio VIII(A.C) e que transformou toda a realida<strong>de</strong> técnica e social da altura. O terceiro motor é a«energia» da natureza, o homem <strong>do</strong>mesticou e transformou as energias da água e <strong>do</strong> ar emmovimento. Os moinhos <strong>de</strong> vento representam a primeira <strong>do</strong>mesticação pelo homem <strong>de</strong>uma força natural e, praticamente, foram a única fonte <strong>de</strong> energia que durante <strong>do</strong>is miléniosalimentou as fábricas e as manufacturas. O quarto motor é a força da explosão.11


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoApareceu por mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIII um invento que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um discretocomeço, iria revolucionar as técnicas <strong>de</strong> guerra; foram os chineses que primeiro utilizaramo po<strong>de</strong>r explosivo da pólvora, uma mistura <strong>de</strong> salitre e carvão. Esta nova fonte <strong>de</strong> energia,a força da explosão, não cessaria <strong>de</strong> melhorar as suas prestações e acabaria por estar nabase da propulsão <strong>para</strong> foguetões. O último motor é aquele a que simplesmente se chama<strong>de</strong> «motor» sem mais qualificativos. Po<strong>de</strong>mos situar o seu nascimento, no Século XVIII,ano <strong>de</strong> 1781 – a data da máquina a vapor <strong>de</strong> Watt, uma data essencial que assinala ocomeço <strong>do</strong>s primórdios da Revolução Industrial com as suas irreversíveis consequências:os seus «milagres» tecnológicos, as suas transformações económicas, a multiplicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>sobjectos e produtos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então fabrica<strong>do</strong>s «em série» ((Poirier, J., 1999).Revolução IndustrialA Revolução Industrial, tal como é conhecida actualmente, nunca foi projectada.Tomou forma, gradualmente, à medida que os industriais da altura iam tentan<strong>do</strong> resolveros problemas que apareciam, tentan<strong>do</strong> ganhar vantagem sobre a concorrência numa alturaque eles consi<strong>de</strong>ravam ser um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> rápidas e massivas alterações sem prece<strong>de</strong>ntes.Em 1840 as fábricas, que em tempos faziam um milhar <strong>de</strong> artigos por semana,passaram a ter os meios <strong>para</strong> produzir o mesmo num dia. O aparecimento <strong>do</strong> barco avapor e <strong>do</strong> caminho-<strong>de</strong>-ferro, permitiu que os produtos fossem exporta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> umamaneira mais rápida, abrin<strong>do</strong> novos merca<strong>do</strong>s <strong>para</strong> «escoar» produto.Nas primeiras fábricas industriais, a matéria-prima era consi<strong>de</strong>rada cara, mas a força<strong>de</strong> trabalho humano era barata e sem regras. Os trabalha<strong>do</strong>res das fábricas tinham <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>o campo e mudaram-se <strong>para</strong> cida<strong>de</strong>s próximas das fábricas on<strong>de</strong> eles e as suas famíliaspo<strong>de</strong>riam trabalhar 12 ou mais horas por dia. Como consequência, as áreas urbanasaumentaram, as vendas <strong>de</strong> consumíveis proliferaram e a população aumentou. Cada vezexistiam mais empregos, pessoas, produtos, fábricas, negócios, merca<strong>do</strong>s.A revolução industrial não foi planeada, mas não aconteceu sem um motivo, existiuuma revolução económica, guiada pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aquisição. Os industriais queriam fazerprodutos eficientes e conseguir que estes chegassem ao maior número <strong>de</strong> pessoas. Namaior parte das indústrias este <strong>de</strong>sejo significou transitar <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> trabalho manual<strong>para</strong> a mecanização <strong>de</strong> processos.Com a explosão da industrialização aparecem várias instituições que ajudaram a queesta se afirmasse e ganhasse ainda mais força. Instituições como os bancos, as bolsas <strong>de</strong>12


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectojá podia utilizar electricida<strong>de</strong> como fonte energética e on<strong>de</strong> conseguia reunir várias etapas<strong>de</strong> produção <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> mesmo espaço. A inovação verda<strong>de</strong>iramente revolucionaria <strong>de</strong>Ford foi a linha <strong>de</strong> produção i<strong>de</strong>alizada por si.No início da produção os motores, estrutura e carroçaria eram feitosindividualmente e só <strong>de</strong>pois trazi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> uma assemblagem final. A gran<strong>de</strong> inovação foi a<strong>de</strong> «trazer os materiais até ao homem» em vez <strong>de</strong> serem os homens a ir ao encontro <strong>do</strong>material ( McDonough, W. e Braungart, M., 2002). Henry Ford e os seus engenheirosplanearam uma linha <strong>de</strong> montagem dinâmica baseada nas linhas <strong>de</strong> montagem existentes naindústria <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> Chicago. A gran<strong>de</strong> inovação <strong>de</strong>stas linhas, foi a <strong>de</strong> transportarem osveículos até aos trabalha<strong>do</strong>res o que permitia que cada um <strong>de</strong>les conseguisse repetir eespecializar-se numa única tarefa à medida que o veículo ia percorren<strong>do</strong> a linha <strong>de</strong>montagem, conseguin<strong>do</strong> reduzir consi<strong>de</strong>ravelmente o tempo <strong>de</strong> construção. Estes avançospermitiram a produção em massa <strong>do</strong> carro on<strong>de</strong> vários eram construí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma só vez eno mesmo local.Figura 5 Figura 6 Figura 7Figura 5, 6 e 7 – Linha <strong>de</strong> montagem <strong>do</strong> Ford T. (fonte: ver anexo 1)As vantagens da standardização e produção centralizada eram várias e conseguiamtrazer gran<strong>de</strong>s incrementos monetários aos industriais. Por outro la<strong>do</strong> esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fabrico era vista como aquilo a que Winston Churchill 12 chamou <strong>de</strong> “o arsenal da <strong>de</strong>mocracia”,uma vez que a capacida<strong>de</strong> produtiva era agora tão gran<strong>de</strong> que conseguia também respon<strong>de</strong>r<strong>de</strong> uma forma bastante competente às exigências <strong>de</strong> guerra, como se verificou na 1ª e 2ªGuerra Mundial.A produção em massa teve um outro tipo <strong>de</strong> importância na <strong>de</strong>mocracia. OMo<strong>de</strong>lo T é um excelente exemplo. Quan<strong>do</strong> os preços <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> artigo baixam,estes tornam-se acessíveis à generalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res. O incremento da indústria12(30 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1874 - 24 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1965). Estadista britânico, escritor, jornalista, ora<strong>do</strong>r e historia<strong>do</strong>r, famoso principalmentepor sua atuação como primeiro-ministro <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong> durante a Segunda Guerra Mundial. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill)14


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoBreve história da evolução <strong>do</strong> objectoofereceu novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, o que melhorou o nível <strong>de</strong> vida da populaçãoem geral, assim como os aumentos salariais.Analisan<strong>do</strong> pela perspectiva <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign, o Mo<strong>de</strong>lo T simbolizou os objectivos <strong>do</strong>sprimeiros industriais; fazer um produto que era <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>, acessível, e possível <strong>de</strong> sermanusea<strong>do</strong> por qualquer um e em qualquer lugar que duraria um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>tempo e podia ser produzi<strong>do</strong> com rapi<strong>de</strong>z e a baixo custo, características que ainda hoje semantêm válidas na Indústria.Des<strong>de</strong> a Revolução Industrial, tanto o número como os tipos <strong>do</strong>s produtosacaba<strong>do</strong>s aumentaram <strong>de</strong> forma exponencial. Actualmente a panóplia técnica dahumanida<strong>de</strong> compõe-se <strong>de</strong> muitas centenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> objectos fabrica<strong>do</strong>sindustrialmente.15


16A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Objecto e socieda<strong>de</strong>Simbologia e Linguagem <strong>do</strong> objecto na socieda<strong>de</strong>O objecto po<strong>de</strong> ser uma linguagem; exprime uma mensagem, por vezes codificada,que o <strong>de</strong>stinatário compreen<strong>de</strong>. É ao nível <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e da economia que os objectos sãomais «significativos». Ao longo da evolução humana as marcas <strong>do</strong>s chefes são indica<strong>do</strong>resespecíficos; <strong>do</strong> bastão <strong>de</strong> coman<strong>do</strong> ao ceptro ou <strong>do</strong> trono ao guarda-sol (dissemina<strong>do</strong> daÁfrica até à China), o objecto/po<strong>de</strong>r foi sempre universal (Poirier, J. 1999).Ainda hoje, as socieda<strong>de</strong>s contemporâneas falam por interpostos objectos. Noplano institucional, basta pensar na importância <strong>de</strong> que se revestem, em todas associeda<strong>de</strong>s, as con<strong>de</strong>corações ou medalhas, cada uma <strong>de</strong>las com o seu preciso significa<strong>do</strong>.Existem alguns «sinais exteriores <strong>de</strong> riqueza», como as jóias que po<strong>de</strong>m servir <strong>para</strong>propagan<strong>de</strong>ar o «êxito» ou a opulência e funcionam efectivamente como signos, ou, ovestuário que <strong>para</strong> além da função técnica <strong>de</strong> protecção e da função estética <strong>de</strong> exibição esedução, tem uma função social importante: a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s estatutos. No homem acobertura da cabeça exprimia a condição social: barrete, boné, chapéu <strong>de</strong> palha ou chapéu<strong>de</strong> feltro <strong>para</strong> o dia-a-dia, chapéu <strong>de</strong> coco ou cartola, ou ainda a simples pala (frequente nosE.U.A); na mulher o uso <strong>de</strong> uma cobertura <strong>de</strong> cabeça era ainda mais necessário; umamulher honesta não <strong>de</strong>via sair <strong>de</strong> casa «em cabelo», era até proibi<strong>do</strong> entrar numa igreja.Depois <strong>do</strong>s primeiros anos <strong>de</strong> 1950, o vestuário <strong>de</strong> ambos os sexos sofreuprofundas alterações. Po<strong>de</strong>mos encontrar vários exemplos; as luvas, as meias e os botins,eram também técnicas eficazes <strong>de</strong> marcação social. Um sinal <strong>do</strong>s tempos foi quan<strong>do</strong> o usodas luvas foi inverti<strong>do</strong>; as luvas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> proteger as mãos <strong>do</strong>s burgueses e passaram aser acessórios necessários ao operário, ao agricultor e também à <strong>do</strong>na <strong>de</strong> casa. Osimbolismo inicial <strong>de</strong>sta peça <strong>de</strong> vestuário foi <strong>de</strong> certa maneira subverti<strong>do</strong>, agora, usar luvasjá não era exclusivamente um símbolo <strong>de</strong> uma classe social. Foi uma alteraçãoimpressionante e irónica!O actual mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>senha<strong>do</strong> e artificial comunica com a socieda<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os dias,bombar<strong>de</strong>an<strong>do</strong>-o através <strong>de</strong> sinais, muitos <strong>de</strong>les com origem no objecto. Em alguns casos,o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> objecto abstracto não está concluí<strong>do</strong>, o que origina que umobjecto nunca seja completamente «apenas» uma coisa, sem expressão ao nível <strong>do</strong> seusimbolismo. Isto significa, que existe uma complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> correspondências entre oobjecto (material) e o sujeito humano.17


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>O objecto, elemento <strong>do</strong> património, a<strong>de</strong>re estreitamente à pessoa. A «proprieda<strong>de</strong>»não po<strong>de</strong> ser distinguida <strong>do</strong> «proprietário». Uma série <strong>de</strong> relações esotéricas liga-os econstitui-os num par indissociável. Esta subjectivização <strong>do</strong> objecto, que ainda hoje persisteparcialmente, traz consigo consequências consi<strong>de</strong>ráveis em certos <strong>do</strong>mínios.Em primeiro lugar, este princípio está na origem <strong>de</strong> uma importante parte da«magia»; actuan<strong>do</strong> no objecto possuí<strong>do</strong> por um sujeito, actua-se neste. Isto é verda<strong>de</strong>iro norespeitante ao que Lucien Lévy-Bruhl 13 chamava «pertenças» da pessoa – as lágrimas, oslíqui<strong>do</strong>s corporais, as a<strong>para</strong>s das unhas ou <strong>do</strong>s cabelos – mas é também verda<strong>de</strong>iro acerca<strong>do</strong>s objectos que têm estreita ligação com o corpo: lenços <strong>de</strong> assoar, roupas ou outrosobjectos íntimos.Se um objecto nunca é completamente uma coisa, a sua troca torna-se muito difícilou mesmo impossível, pois, como o objecto é parte integrante <strong>do</strong> sujeito, este é entãoenvolvi<strong>do</strong> na operação. E não é possível uma pessoa trocar-se ou ven<strong>de</strong>r-se…Nas socieda<strong>de</strong>s industriais, no próprio seio da multiplicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s objectos que setornaram coisas, existem ainda, tal como nos outros tipos <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, inúmeros objectosque, embora não sen<strong>do</strong>, evi<strong>de</strong>ntemente, sujeitos, continuam subjectiva<strong>do</strong>s. Um primeiroconjunto engloba os objectos sagra<strong>do</strong>s, aqueles que participam nos rituais da religião ou damagia, os objectos liga<strong>do</strong>s à transcendência e que estão eles próprios carrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> umaforça ou <strong>de</strong> uma eficiência directamente proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um ser invisível.Contu<strong>do</strong>, nestas socieda<strong>de</strong>s industriais o objecto como coisa prevalece em gran<strong>de</strong>número, sen<strong>do</strong> por isso possível assistir à constante troca <strong>de</strong> objectos gratuitamente,basea<strong>do</strong>s apenas num preenchimento emocional momentâneo, a principal regra económicaem que assenta a socieda<strong>de</strong>.Existem alguns casos pontuais em que o objecto não se transformou em coisa,ainda se reveste <strong>de</strong> um carácter pessoal, intransmissível, e revela<strong>do</strong>r essencial da história <strong>de</strong>vida <strong>de</strong> cada indivíduo. Uma das situações on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos observar esta estreita ligaçãoutiliza<strong>do</strong>r/objecto é no caso <strong>do</strong>s móveis «familiares». Estes são uma espécie <strong>de</strong> cenário davida, acompanharam o seu «<strong>do</strong>no» durante gran<strong>de</strong> parte da vida, são uma dimensãoessencial <strong>do</strong> território, <strong>do</strong> nicho social habita<strong>do</strong> pelo animal humano. Quan<strong>do</strong> uma pessoai<strong>do</strong>sa se retira <strong>para</strong> um lar da terceira ida<strong>de</strong>, o seu traumatismo é menos severo, e a suaesperança <strong>de</strong> vida fica menos comprometida se pu<strong>de</strong>r levar consigo parte <strong>do</strong>s seus móveis.O objecto condiciona, tranquiliza e autoriza a existência <strong>do</strong> sujeito.13(Paris, 1857 - 1939). Filósofo e sociólogo francês. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucien_L%C3%A9vy-Bruhl)18


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>As pessoas envolvidas na indústria, <strong>de</strong>sign, ambiente e áreas próximas referem-semuitas vezes ao ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto. Os produtos não têm vida real, mas o serhumano projecta a sua vida e mortalida<strong>de</strong> neles, quer que eles vivam com ele, que lhepertençam. São quase como membros da família. Nas socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais, as pessoas têmsepulturas e os produtos também.O ser humano gosta da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> se assumir como po<strong>de</strong>roso, único, individual, egosta <strong>de</strong> comprar coisas que são «novinhas em folha», feitas <strong>de</strong> materiais que são «virgens».Abrir um novo produto é uma espécie <strong>de</strong> acto metafórico <strong>de</strong> <strong>de</strong>floração, <strong>de</strong> violação davirginda<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto: “este produto virgem é meu, pela primeira vez, sou o primeiro atocar-lhe. Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me interessar (e porque sou especial e único) passa à história.”As indústrias projectam e planeiam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com este género <strong>de</strong> raciocínio.O que teria aconteci<strong>do</strong> se a Revolução Industrial tivesse aconteci<strong>do</strong> em socieda<strong>de</strong>sque privilegiam a comunida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>trimento da individualida<strong>de</strong>, e on<strong>de</strong> as pessoasacreditam não num sistema <strong>de</strong> «nascer e morrer», mas na reincarnação? Provavelmente,existiria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre uma atenção diferente com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conferir uma segundavida aos produtos materiais.Cultura DescartávelAbundância, evolução e socieda<strong>de</strong>O homem é único, entre to<strong>do</strong>s os animais, na sua relação com o meio ambiente. Osoutros animais adaptam-se «auto-plasticamente» às mudanças no meio ambiente, evoluemas suas características ao longo <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> anos <strong>para</strong> se adaptarem ao meio envolventeou <strong>para</strong> «produzirem» uma espécie totalmente nova; a humanida<strong>de</strong> embora evolua,transforma o planeta <strong>para</strong> este correspon<strong>de</strong>r às suas vonta<strong>de</strong>s e caprichos. Esta maneira <strong>de</strong>moldar e re<strong>de</strong>senhar tornou-se também responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>signers. Há cem anos atrás,se fosse necessário um nova ca<strong>de</strong>ira, carruagem, ou um par <strong>de</strong> sapatos, o consumi<strong>do</strong>r ia aum artesão, explicava as suas necessida<strong>de</strong>s, e o artigo era feito <strong>para</strong> ele. Hoje a panóplia <strong>de</strong>objectos <strong>de</strong> uso diário são produzi<strong>do</strong>s em massa, segun<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo utilitário,standardiza<strong>do</strong> e estético, muitas vezes completamente diferente das reais necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>sconsumi<strong>do</strong>res. Com este sistema, o marketing assume um papel <strong>de</strong>cisivo, trabalha <strong>para</strong> quese façam sentir nos consumi<strong>do</strong>res necessida<strong>de</strong>s que não têm, transforman<strong>do</strong> estes produtosem <strong>de</strong>sejos.19


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>To<strong>do</strong>s os sistemas – capitalismo priva<strong>do</strong>, esta<strong>do</strong> socialista e economias mistas –foram construí<strong>do</strong>s na assumpção <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos comprar mais, consumir mais,<strong>de</strong>sperdiçar mais, atirar fora mais. Produzir e Consumir foram conceitos chave em to<strong>do</strong>sestes sistemas e se po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar o <strong>de</strong>sign ecologicamente responsável, <strong>de</strong>vemos, poroutro la<strong>do</strong> perceber e aceitar que também foi revolucionário e po<strong>de</strong>rá estar na vanguardada solução <strong>de</strong>stes problemas.Actualmente o que está a acontecer é, segun<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> indica, mais profun<strong>do</strong> e maisimportante <strong>do</strong> que a Revolução Industrial. Um número crescente <strong>de</strong> opiniões credíveisafirma que o momento presente representa a segunda gran<strong>de</strong> cisão da história humana.Uma <strong>de</strong>ssas opiniões é a <strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> Sociólogo Alvin Toffler 14 que, no seu livro “O choque<strong>do</strong> Futuro” (1970), diz “ estamos agora a viver a segunda gran<strong>de</strong> fractura na história humana, sócomparável em tamanho com essa primeira quebra na continuida<strong>de</strong> histórica, a passagem da Barbárie àcivilização…”.Esta nossa <strong>de</strong>pendência, quase suicida, da abundância, <strong>do</strong> luxo e <strong>do</strong> supérfluo temraízes bem profundas na história da nossa evolução enquanto indivíduos e enquantosocieda<strong>de</strong>. Richard Manning 15 , jornalista e autor <strong>do</strong> livro “Against the Grain: How AgricultureHas Hijacked Civilization” (2004), explica que, <strong>para</strong><strong>do</strong>xalmente, a <strong>do</strong>mesticação aju<strong>do</strong>u acriar uma socieda<strong>de</strong> que é mais afectada pelos caprichos da natureza <strong>do</strong> que a socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>caça<strong>do</strong>r e recolector. Isto acontece, porque o tipo <strong>de</strong> agricultura habitualmente praticadatem uma relação catastrófica com o planeta: a «limpeza» <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> terra <strong>para</strong>ser plantada com uma única cultura, esta prática começou a <strong>de</strong>struir a biodiversida<strong>de</strong> – aforça natural <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os sistemas naturais. Richard Manning escreve que: “a evolução não nospre<strong>para</strong> <strong>para</strong> lidar com a abundância”, embora historicamente este conceito esteja associa<strong>do</strong> àevolução humana.Des<strong>de</strong> o início da civilização, o exce<strong>de</strong>nte é uma característica humana, é umaespécie <strong>de</strong> «necessida<strong>de</strong> cega pelo excesso» que orientou a evolução da cultura humana,com os resulta<strong>do</strong>s actuais. Foram criadas socieda<strong>de</strong>s estratificadas, com as consequentes<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Este tipo <strong>de</strong> disparida<strong>de</strong> não existe noutro tipo <strong>de</strong> espécie. Isto indica quenós não «lucrámos» com os excessos – na realida<strong>de</strong> lidamos muito mal e com gravesimplicações negativas <strong>para</strong> nós (Manning, R. 2004).14(3 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1928). Escritor e futurista norte-americano <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Letras, Leis e Ciência, conheci<strong>do</strong> pelos seus escritos sobrea revolução digital, a revolução das comunicações e a singularida<strong>de</strong> tecnológica. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alvin_Toffler)15(7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1951). Jornalista Norte Americano, autor <strong>de</strong> vários livros e artigos sobre causas ambientais. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Manning)20


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>De um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista, po<strong>de</strong>mos dizer que muitos <strong>do</strong>s estragos quevemos no planeta são o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s nossos números, e da natureza humana. Este tipo <strong>de</strong>agricultura é o pior sintoma da condição humana, porque tem um gran<strong>de</strong> impacto noplaneta. Nesta análise, segun<strong>do</strong> Richard Manning, não po<strong>de</strong>mos culpar a agricultura massim os humanos.São manipulações sábias as que encontramos no mo<strong>de</strong>lo natural, em completocontraponto com as <strong>do</strong>s humanos. Um <strong>do</strong>s princípios fundamentais é que estasmanipulações são resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma história evolutiva da sabe<strong>do</strong>ria colectiva da natureza.Talvez seja vantajoso, observar e compreen<strong>de</strong>r o que a natureza já imaginou, imitá-la e senecessário evolui-la.Figura 8 Figura 9Figura8 – Ciclo virtuoso. Como a natureza funciona.Figura9 – Ciclo vicioso. Porque é que a civilização não funciona.(fonte: Manning, Richard. Against the Grain: How Agriculture Has Hijacked Civilization. Harper's Magazine.Fevereiro 2004).Ao analisarmos a história da Humanida<strong>de</strong>, percebemos que a agricultura surge danecessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> homem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser Nómada caça<strong>do</strong>r-recolector e passar a ser se<strong>de</strong>ntário.Nesta nova fase consegue controlar melhor a sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento, se não houvercomida suficiente, ele po<strong>de</strong> «fazer» a sua. A agricultura conduz a uma organização, aquilo aque chamamos <strong>de</strong> civilização, on<strong>de</strong> existe a divisão <strong>de</strong> trabalho, instrução, hierarquia, e umacontínua luta contra as pestes. Com o aparecimento da civilização encerra-se o ciclo21


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>virtuoso (fig.8) e inicia-se o ciclo vicioso (fig. 9), com todas as suas consequênciasimprevisíveis.Como Richard Manning escreve no seu livro “ a ironia é que não foi a escassez <strong>de</strong>alimento que impeliu o homem a inventar a agricultura, mas sim a <strong>de</strong>scoberta e procura <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong>abundância <strong>de</strong> comida em zonas <strong>de</strong> catástrofes naturais”. Iniciou-se aqui a tentativa <strong>do</strong> homemcontrolar a natureza, algo que se iria repetir até aos nossos dias e sempre cada vez commaiores repercussões no nosso ecossistema.O aparecimento da agricultura permitiu a existência <strong>de</strong> aglomera<strong>do</strong>s humanos commuito maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional <strong>do</strong> que os que podiam ser suporta<strong>do</strong>s pela vidanómada. O novo mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida se<strong>de</strong>ntário permitiu uma maior taxa <strong>de</strong> nascimentos e a«explosão» <strong>de</strong>mográfica da população começou. A capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> armazenar alimentostambém originou a concentração <strong>de</strong> exércitos <strong>para</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as plantações e osarmazenamentos <strong>do</strong>s ataques <strong>de</strong> pessoas e <strong>de</strong> animais. Esta estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa exigiaorganização e <strong>para</strong> isso foi necessário uma hierarquia e um governo. Para conseguir queesta hierarquia contra-natura não se <strong>de</strong>smoronasse, os governa<strong>do</strong>res brindavam os seussubordina<strong>do</strong>s com recursos extra; casas, terras e objectos <strong>de</strong> materiais preciosos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> queestes conseguissem manter o «povo» trabalha<strong>do</strong>r na «linha».Actualmente a agricultura convencional ten<strong>de</strong> <strong>para</strong> trabalhar nas mesmas linhas quea indústria. O objectivo <strong>de</strong> uma plantação <strong>de</strong> milho é produzir a maior quantida<strong>de</strong> possível<strong>de</strong> milho com menor número <strong>de</strong> problemas, tempo e <strong>de</strong>spesas; o tal objectivo da eficiênciada revolução industrial. Como disseram há muitas décadas atrás os cientistas Paul e Anne 16Ehrlich e John Holdren 17 , “a agricultura convencional ainda é um simplifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s ecossistemas,substituin<strong>do</strong> comunida<strong>de</strong>s biológicas naturais, relativamente complexas, por outras mais básicas feitas pelohomem”.16(17 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1933). Co-autora <strong>de</strong> vários livros sobre ecologia e sobrepopulação com o seu mari<strong>do</strong> Paul R. Ehrlich. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Anne_H._Ehrlich)17(1 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1944). Professor <strong>de</strong> Politica Ambiental na Kennedy School of Government em Harvard, Director <strong>do</strong> programa <strong>de</strong>Ciencia, tecnologia e Politicas Publicas na Escola Belfer Center for Science and International Affairs. Em Dezembro <strong>de</strong> 2008 foinomea<strong>do</strong> Assistente <strong>de</strong> Barack Obama <strong>para</strong> a Área <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia da Casa Branca. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/John_Holdren)22


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Músculo em vez <strong>de</strong> CabeçaAs primeiras indústrias baseavam-se num aparentemente infindável abastecimentoem «capital» natural. Ouro, ma<strong>de</strong>ira, água, animais, carvão, terra, eram as matérias-primasutilizadas nos sistemas <strong>de</strong> produção que produziam bens <strong>para</strong> as massas, e que ainda hojeutilizamos.A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção da Ford simbolizava os fluxos <strong>de</strong> produção a uma escalamaciça: gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro, carvão, areia e outras matérias-primas que entravamna fábrica e saíam transformadas em novos carros. As indústrias prosperavam à medidaque transformavam recursos naturais em produtos. Os campos foram to<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong>a agricultura, as gran<strong>de</strong>s florestas foram <strong>de</strong>itadas abaixo e transformadas em ma<strong>de</strong>ira ecombustível. As fábricas localizavam-se em locais on<strong>de</strong> as matérias-primas abundavam,perto <strong>de</strong> lençóis <strong>de</strong> água, necessária aos seus processos <strong>de</strong> produção e também <strong>para</strong><strong>de</strong>spejar os seus lixos.No século XIX, quan<strong>do</strong> estas práticas começaram, o ambiente não era ainda umapreocupação. Os recursos pareciam inesgotáveis. A natureza era muitas vezes chamada <strong>de</strong>«a mãe natureza», que teria uma capacida<strong>de</strong> regenerativa contínua e que conseguiriaabsorver tu<strong>do</strong> e continuar na mesma. Ao mesmo tempo a socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal olhava <strong>para</strong> anatureza como perigosa, uma força bruta a ser <strong>do</strong>mada. Os humanos percepcionavam asforças naturais como hostis e, por isso, «atacavam-na» insistentemente <strong>para</strong> sentirem quetinham o seu controle. Actualmente o entendimento da natureza mu<strong>do</strong>u radicalmente.Na Revolução Industrial se houvesse um slogan que a caracterizasse seria “se aforça bruta não funciona é porque não estás a usar a força suficiente” (McDonough, W. eBraungart, M., 2002). Tentar impor as soluções <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign universal em vário locais comcaracterísticas e costumes diferencia<strong>do</strong>s é uma manifestação <strong>de</strong>ste princípio. É assumir quea natureza <strong>de</strong>ve ser controlada e <strong>do</strong>minada, se necessário, através da aplicação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>rioda força <strong>do</strong>s químicos e das energias fósseis <strong>para</strong> fazer com que estas soluções seimponham.No <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, um exemplo clássico <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign universal é o <strong>de</strong>tergenteproduzi<strong>do</strong> em massa. Os gran<strong>de</strong>s produtores <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente produzem o mesmo <strong>para</strong>qualquer parte <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ou da Europa, mesmo que as características das águasou as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> local sejam diferentes. Por exemplo, os consumi<strong>do</strong>resem locais on<strong>de</strong> a agua seja macia, necessitam apenas <strong>de</strong> uma pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>produto e menos agressivo, aqueles on<strong>de</strong> a água é mais dura necessitam <strong>de</strong> uma maiorquantida<strong>de</strong> e mais agressivo. A questão, é que os <strong>de</strong>tergentes são concebi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> retirar a23


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>sujida<strong>de</strong> e eliminar os germes eficientemente da mesma maneira em qualquer lugar <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> – em água dura ou macia, que corre ou não <strong>para</strong> zonas cheias <strong>de</strong> peixes e flora ou<strong>para</strong> campos <strong>de</strong> rega <strong>de</strong> plantas, etc.Os produtores projectam <strong>para</strong> o pior cenário, <strong>de</strong>senham um produto <strong>para</strong> a piorcircunstância possível e assim sabem que será sempre eficaz, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente daespecificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> caso, garantin<strong>do</strong> o maior espectro possível em termos <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>. Estaestratégia é um bom exemplo <strong>do</strong> relacionamento entre uma gran<strong>de</strong> parte da indústria e omun<strong>do</strong> natural, uma vez que projectar <strong>para</strong> o pior cenário reflecte o assumir que a naturezapo<strong>de</strong> ser o inimigo.No âmbito <strong>do</strong> actual <strong>para</strong>digma <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>senvolvimento a diversida<strong>de</strong>, umelemento integral <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural, geralmente é tratada como uma força hostil e umaameaça <strong>para</strong> os verda<strong>de</strong>iros objectivos <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign. Os mais «recentes» estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstramque os oceanos, o ar, as montanhas, as plantas e os animais que habitam o planeta são maisvulneráveis <strong>do</strong> que os primeiros «pensa<strong>do</strong>res» da época industrial alguma vez imaginaram.Actualmente, o entendimento da socieda<strong>de</strong> com a natureza alterou-se radicalmente,mas, uma gran<strong>de</strong> parte das indústrias actuais, continuam a operar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<strong>para</strong>digmas <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> tinha ainda uma visão muito diferente dasua relação com a natureza. A força musculada e o <strong>de</strong>sign universal, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produto actual, ten<strong>de</strong>m <strong>para</strong> esmagar e ignorar a diversida<strong>de</strong> natural ecultural, o que resulta em menor varieda<strong>de</strong> e numa gran<strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>.Industria, Socieda<strong>de</strong>, Merca<strong>do</strong> e ConsumismoNo mun<strong>do</strong> actual o PIB 18 <strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong> tem uma gran<strong>de</strong> relação com o seu<strong>grau</strong> <strong>de</strong> obsolescência. O PIB <strong>do</strong>s países, como indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> progresso, apareceu numaaltura em que os recursos naturais ainda pareciam ilimita<strong>do</strong>s e a noção <strong>de</strong> «qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida» significava eleva<strong>do</strong>s padrões económicos <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida. Mas, se a prosperida<strong>de</strong> éaferida pelo aumento <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> económica, é necessário ter a noção <strong>de</strong> que os aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> carro, as <strong>do</strong>enças (e.g. cancro) e os <strong>de</strong>rrames tóxicos, são consequências directas danossa prosperida<strong>de</strong>.Na corrida pelo progresso económico, a activida<strong>de</strong> social, o impacto ecológico, aactivida<strong>de</strong> cultural e os seus efeitos a longo prazo são constantemente ignora<strong>do</strong>s. Com18O produto interno bruto (PIB) representa a soma (em valores monetários) <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os bens e serviços finais produzi<strong>do</strong>s numa<strong>de</strong>terminada região (quer seja, países, esta<strong>do</strong>s, cida<strong>de</strong>s), durante um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> (mês, trimestre, ano, etc). O PIB é um <strong>do</strong>sindica<strong>do</strong>res mais utiliza<strong>do</strong>s na macroeconomia com o objectivo <strong>de</strong> mensurar a activida<strong>de</strong> económica <strong>de</strong> uma região. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Produto_interno_bruto)24


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>produtos produzi<strong>do</strong>s aos milhões, os erros são multiplica<strong>do</strong>s, e, a mais pequena <strong>de</strong>cisão aonível <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign, terá consequências a médio ou longo prazo. Muitas vezes, a indústriaperverte esta i<strong>de</strong>ia, ignora a importância <strong>do</strong> «bom» <strong>de</strong>sign e prescin<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma comunicaçãohonesta nos seus produtos em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong>s lucros, ou seja, elabora produtossuficientemente «baratos» e abrangentes <strong>para</strong> que a sua aquisição pelos consumi<strong>do</strong>res sejaeconomicamente viável, tu<strong>do</strong> isto sustenta<strong>do</strong> pelo conceito <strong>de</strong> obsolescência planeada.A obsolescência planeada é uma questão controversa e central nos maisimportantes <strong>de</strong>bates sobre consumismo, sustentabilida<strong>de</strong> global e <strong>de</strong>sign industrial. Ten<strong>do</strong>surgi<strong>do</strong>, primeiro, como característica importante da economia americana <strong>do</strong>s anos 50, aobsolescência planeada baseia-se no conceito <strong>de</strong> limitação intencional da vida <strong>do</strong>s produtos<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a que os consumi<strong>do</strong>res sejam obriga<strong>do</strong>s a consumir mais – uma abordagem quecontinua a ser estratégica em muitas empresas.Os <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong>sta estratégia, alegam que esta mantém mais trabalha<strong>do</strong>resemprega<strong>do</strong>s, é essencial <strong>para</strong> o crescimento económico e em última análise benéfica <strong>para</strong> asocieda<strong>de</strong>. Os seus opositores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a manipulação <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res é <strong>de</strong>sleal,que o valor real <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong> vida limitada, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da economia on<strong>de</strong> estãoinseri<strong>do</strong>s, é pobre e que a poluição criada pela sua prematura substituição é ambientalmenteruinosa.O jornalista e crítico social Vance Packard 19 , autor <strong>de</strong> vários livros como ''TheHid<strong>de</strong>n Persua<strong>de</strong>rs”, ''The Status Seekers'' e ''The Waste Makers'', já nos anos 50, avisava asocieda<strong>de</strong> americana sobre as consequências negativas <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, daostentação <strong>de</strong> produtos como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> posicionamento social e da obsolescência planeada.No seu livro ''The Waste Makers” (1961), o autor i<strong>de</strong>ntifica as três principais esferasda obsolescência; a função, a qualida<strong>de</strong> e a atracção. A obsolescência funcional surgequan<strong>do</strong> aparece um novo produto que to<strong>do</strong>s reconhecem que é melhor <strong>do</strong> que os seuspre<strong>de</strong>cessores. A obsolescência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, está directamente ligada à durabilida<strong>de</strong> física<strong>do</strong> produto, os fabricantes incorporam nos seus produtos, componentes chave que foram<strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> falhar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um certo tempo. Os produtos <strong>de</strong> «marca branca» sãoespecialmente propensos a este tipo <strong>de</strong> «obsolescência incorporada», sen<strong>do</strong> na maioria <strong>do</strong>scasos a substituição <strong>de</strong> toda a unida<strong>de</strong> mais barata <strong>do</strong> que a substituição <strong>do</strong>s componentes<strong>de</strong>feituosos. Por seu la<strong>do</strong> a obsolescência da atracção, age principalmente através <strong>de</strong>alterações no aspecto <strong>do</strong>s produtos, da moda e da opinião <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, to<strong>do</strong>s guia<strong>do</strong>spelo styling e estratégias <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>.19(22 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong>1914 – 12 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1996). Jornalista, critico social e autor <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> Americana.(fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Vance_Packard)25


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Des<strong>de</strong> a Segunda Guerra Mundial que os compromissos têm si<strong>do</strong> com o estilo ecom a obsolescência da qualida<strong>de</strong>, ironicamente, a velocida<strong>de</strong> da inovação tecnológica(obsolescência funcional) frequentemente faz um produto obsoleto antes da obsolescênciada qualida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> atracção tomarem conta <strong>de</strong>le. O mun<strong>do</strong> é <strong>de</strong> aparência, basea<strong>do</strong> naobsolescência da atracção em que a classe média tenta expressar-se cada vez mais através daposse <strong>de</strong> pequenos «gadgets» tentan<strong>do</strong> encontrar i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> através <strong>do</strong> uso <strong>de</strong>ssesprodutos. Actualmente é possível encontrar publicações escritas e páginas <strong>de</strong> Internet (e.g.www.t3.com.pt/ ou www.coolest-gadgets.com/) <strong>de</strong>dicadas exclusivamente à mostra eanálise <strong>de</strong>stes pequenos acessórios, que na maioria <strong>do</strong>s casos não têm nenhum papelimprescindível no <strong>de</strong>sempenho das activida<strong>de</strong>s diárias ou na vida humana, mas que serevelam <strong>de</strong> extrema importância <strong>para</strong> a felicida<strong>de</strong> emocional e material, assim como <strong>para</strong> oposicionamento <strong>do</strong> indivíduo na hierarquia social, da qual é refém.A uma escala global as disparida<strong>de</strong>s entre o ter e o não ter tornaram-se flagrantes.O livro “Material World – A global family portrait” (1994), <strong>de</strong> Peter Menzel 20 , oferece-nos uminsólito retrato fotográfico das disparida<strong>de</strong>s existentes nas diversas regiões <strong>do</strong> globo. Estelivro é uma colectânea <strong>de</strong> fotografias caracteriza<strong>do</strong>ras da cultura material <strong>de</strong> diversos tipos<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, e apresenta cada fotografia tirada num país diferente, com uma família típica<strong>do</strong> local, fotografada com to<strong>do</strong>s os seus pertences expostos à porta da sua casa.Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13Figura 10 – MaliFigura 11 – EtiópiaFigura 12 – AlemanhaFigura 13 - E.U.A(fonte: Menzel, Peter |1994|. Material World – A global family Portrait. Sierra Club Books.)Ao observar cada fotografia individualmente é possível perceber as particularida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cada família e as especificida<strong>de</strong>s da sua inserção no contexto social on<strong>de</strong> vivem. Depois20(7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1948). Fotojornalista freelancer Americano, conheci<strong>do</strong> pelos seus trabalhos em assuntos <strong>de</strong> natureza científica etecnológica.26


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong><strong>de</strong> finalizar o livro e relacionar todas as fotografias, várias questões se levantam; vivemosto<strong>do</strong>s no mesmo planeta? Temos as mesmas necessida<strong>de</strong>s básicas?As disparida<strong>de</strong>s encontradas numa análise <strong>de</strong> conjunto são radicais, uma família noMali não tem mais <strong>do</strong> que alguns utensílios feitos <strong>de</strong> materiais locais e que, na sua maiorparte, apresentam a mesma configuração e mo<strong>do</strong> funcional <strong>do</strong> que os utiliza<strong>do</strong>s pelos seuslongínquos antepassa<strong>do</strong>s.Na Etiópia encontramos utensílios igualmente feitos <strong>de</strong> materiais locais e <strong>de</strong>funcionalida<strong>de</strong> básica, mas nesta foto a par <strong>do</strong>s utensílios encontramos os animais, que sãotambém consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como objectos possuíveis e <strong>de</strong> extrema importância na economiafamiliar.Estes exemplos quan<strong>do</strong> postos ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas como a Alemanha ou os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, oferecem-nos uma inigualávelcontextualização das disparida<strong>de</strong>s encontradas neste planeta basea<strong>do</strong> na cultura material enoção individual <strong>de</strong> posse.Ao reflectir, é possível constatar que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das socieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas é sem dúvida elevada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à existência <strong>de</strong> bens materiais e tecnológicos,algo que o ser humano não parece disposto a per<strong>de</strong>r. O que se torna necessário reflectir é arelação das socieda<strong>de</strong>s com toda esta cultura material e a levianda<strong>de</strong> com que é encarada.Actualmente a troca <strong>de</strong> produtos faz-se não pela necessida<strong>de</strong> mas pelascondicionantes sociais e psicológicas, «impostas» por um sistema basea<strong>do</strong> no capitalismoeconómico, que obriga a que exista compra e venda <strong>de</strong> produtos <strong>para</strong> agilizar e facilitar oprocesso económico. Foram «inventa<strong>do</strong>s» os conceitos <strong>de</strong> tendência e moda que, comoreferi<strong>do</strong> atrás, conduzem a uma diferenciação social e à sua correspon<strong>de</strong>nte hierarquização.Figura 14 - Mapa relativo à importação mundial <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>s. Deforma (aumenta) as zonas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>on<strong>de</strong> existe mais importação/consumo <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>s. O <strong>de</strong>senho altera-se, transforman<strong>do</strong>-se quase numacaricatura da realida<strong>de</strong>. (fonte: ver anexo 1)27


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Estes conceitos, que ganharam o seu próprio espaço e lugar na socieda<strong>de</strong> nosúltimos 100 anos, foram nos últimos 25, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s como nunca, alcançan<strong>do</strong> um lugarcategórico. É hoje uma verda<strong>de</strong> irrefutável que as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> ser humano, quer sejameconómicas, psicológicas, espirituais, tecnológicas ou intelectuais são geralmente maisdifíceis e menos proveitosas <strong>de</strong> satisfazer <strong>do</strong> que as geradas pelo capricho e pela moda.Em 1970 o <strong>de</strong>signer e educa<strong>do</strong>r Victor Papanek 21 apresentou no seu livro “DesignFor The Real World” (1970), um quadro on<strong>de</strong> apresenta a correlação entre os produtos <strong>de</strong>primeira necessida<strong>de</strong> e o seu tempo <strong>de</strong> vida. Ambos actuam como uma <strong>de</strong>svantagem <strong>para</strong>os países mais pobres, como po<strong>de</strong> ser confirma<strong>do</strong> em baixo:Tabela 1 - Tabela com<strong>para</strong>tiva em anos, da utilização <strong>de</strong> produtos em Países Desenvolvi<strong>do</strong>s e Sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s.(fonte:Papaneck, Victor (1970), Design for the Real World. Paladin)Os cientistas e biólogos Paul R. Ehrlich e Robert M. Pringle, no seu artigo “Where<strong>do</strong>es biodiversity go from here?” (2008), referem que é preciso insuflar uma mudança <strong>de</strong>mentalida<strong>de</strong> profunda, <strong>de</strong> maneira a que a humanida<strong>de</strong> encare a natureza com outros olhos,porque "a i<strong>de</strong>ia segun<strong>do</strong> a qual o crescimento económico é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> meio ambiente e que ahumanida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> expandir in<strong>de</strong>finidamente a sua economia é uma perigosa ilusão" (Ehrlich, P.R. &Pringle, R.M., 2008). Para enfrentar esta perda <strong>de</strong> rumo, é necessário começar a controlar oritmo da expansão <strong>de</strong>mográfica e a diminuir o consumo excessivo <strong>do</strong>s recursos naturais,<strong>do</strong>s quais uma boa parte serve apenas <strong>para</strong> saciar gostos supérfluos.Já nos anos 20, o director da General Motors, Alfred Sloan, reconheceu que aestética po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um papel importante no merca<strong>do</strong> automóvel e instigou osistema <strong>de</strong> alterações estilísticas anuais <strong>para</strong> assim diminuir a durabilida<strong>de</strong> estética <strong>do</strong>s21(1927 – 1998). Designer e educa<strong>do</strong>r que se <strong>de</strong>dicou a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a responsabilida<strong>de</strong> social e ecologica no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produtos, ferramentase infra-estruturas <strong>para</strong> a comunida<strong>de</strong>. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Victor_Papanek)28


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>carros. Embora esta abordagem ainda seja comum em muitos fabricantes <strong>de</strong> automóveis,os da Alemanha e da Escandinávia acrescentaram historicamente um maior valor às suasmarcas e usufruíram <strong>de</strong> um crescente sucesso e lealda<strong>de</strong> à marca aumentan<strong>do</strong> adurabilida<strong>de</strong> total <strong>do</strong>s seus produtos, inclusivamente um maior valor no acto <strong>de</strong> troca. Asvendas anuais <strong>de</strong> automóveis usa<strong>do</strong>s Volvo ultrapassam, actualmente, o número <strong>de</strong>veículos novos que são produzi<strong>do</strong>s em cada ano. O enorme e sempre crescente merca<strong>do</strong>secundário <strong>para</strong> estes veículos e peças da marca são massivamente proveitosos <strong>para</strong> aempresa. No caso da Volvo, a durabilida<strong>de</strong> significa lucro. Embora haja nitidamente bonsargumentos económicos contra os supostos benefícios sociais da obsolescência planeada, oargumento ambiental é ainda mais forte, especialmente dada a urgência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dar passos significativos <strong>para</strong> <strong>obtenção</strong> da sustentabilida<strong>de</strong> global.O real valor das coisas tem si<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em falsos conceitos e necessida<strong>de</strong>s. Éimportante começar a compreen<strong>de</strong>r que o principal <strong>de</strong>safio da socieda<strong>de</strong> já não está naquestão da produção <strong>de</strong> bens e na sua posse, mas sim na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer escolhassobre a qualida<strong>de</strong> em vez <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e na evolução da mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> posse <strong>para</strong> apartilha, algo mais saudável e menos individualista.O mun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno pe<strong>de</strong> um significa<strong>do</strong> diferente <strong>de</strong> produção, on<strong>de</strong> produzir terá<strong>de</strong> ser mais rápi<strong>do</strong>, responsável e sem poluição. Actualmente, <strong>para</strong> satisfazer a diversafreguesia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, os fabricantes necessitam <strong>de</strong> produzir uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>produtos, adaptada a diferentes necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma população heterogénea, o que originaum excesso <strong>de</strong> produtos <strong>para</strong> os quais à partida ainda não existe um cliente, a necessida<strong>de</strong>será criada com a publicida<strong>de</strong> ao produto. A produção <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> que ninguémrealmente precisa, mas que ocupam as gran<strong>de</strong>s lojas, é um <strong>do</strong>s sintomas <strong>de</strong> que algo po<strong>de</strong>ráter vantagem em ser muda<strong>do</strong> no nosso mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> produção assente noconsumo supérfluo.O automóvel é um bom exemplo <strong>de</strong> 100 anos <strong>de</strong> perversão <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign <strong>para</strong> o uso. Ocarro com motor representou um profun<strong>do</strong> distanciamento <strong>do</strong> cavalo. Apesar <strong>de</strong>sta radicalmudança este manteve-se análogo ao cavalo <strong>de</strong> diversas maneiras; continuaram a sernecessárias estradas e caminhos, o movimento continuava a ser feito <strong>para</strong> frente e <strong>de</strong> umamaneira linear, as rodas, especialmente no início, partilhavam uma similarida<strong>de</strong> estruturalcom as das carruagens, bem como os assentos, chassis ou suspensão. O interface entre oconsumi<strong>do</strong>r e o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> locomoção, contu<strong>do</strong>, foram os principais responsáveis pelaenorme mudança. Nenhuma parte <strong>do</strong> carro era completamente original, mas a combinação,essa sim era inova<strong>do</strong>ra. Os primeiros automóveis ofereciam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir mais longe29


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>e mais rápi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que os meios existentes na altura e permitiam também carregar mais peso.Hoje os automóveis estão sobrecarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> falsos valores, que emergiram comosímbolos <strong>de</strong> status. Eles libertam um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> substâncias cancerígenas cominegáveis prejuízos <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong> pública e ambiental, consomem gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>material (sem maneira <strong>de</strong> o reciclar) e matam milhares <strong>de</strong> pessoas por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Éutiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> qualquer activida<strong>de</strong> humana, por mais pequena que esta seja e que po<strong>de</strong>riafacilmente ser feita a pé. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s estes aspectos, o conceito <strong>do</strong> automóvel <strong>de</strong>certa maneira foi manipula<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se dizer, exageran<strong>do</strong> um pouco, que a sua contribuiçãoper<strong>de</strong>u uma parte da relevância merecida, quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong>da com to<strong>do</strong>s os seus aspectosnegativos.Para <strong>de</strong>senvolver o conceito da obsolescência, no final da 2ª Guerra Mundial, amaioria <strong>do</strong>s responsáveis máximos <strong>do</strong>s países Oci<strong>de</strong>ntais, «lançaram» o mito <strong>de</strong> que aoprojectar artigos <strong>para</strong> usar e <strong>de</strong>itar fora, os recursos da nossa economia po<strong>de</strong>riam sermanti<strong>do</strong>s praticamente até ao infinito. Des<strong>de</strong> o final da 2ª Guerra Mundial que assistimosaos fabricantes <strong>de</strong> carros a ven<strong>de</strong>ram a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que é «in» e dá estatuto mudar <strong>de</strong> carro <strong>de</strong>cinco em cinco anos, uma moda baseada no «American way of life» em que a socieda<strong>de</strong>americana foi induzida a acreditar que o seu valor é reflecti<strong>do</strong> pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>comprar.Figura 15 -Louisville, Kentucky. Fotografia da Gran<strong>de</strong> Depressão, 1937 <strong>de</strong> Margaret Bourke-White. (fonte:ver anexo 1)É mais fácil ven<strong>de</strong>r objectos que são facilmente atira<strong>do</strong>s fora, <strong>do</strong> que objectos quese propõem ser duráveis, e a indústria tem feito muito pouco <strong>para</strong> ajudar na escolha <strong>do</strong> que<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> fora e <strong>do</strong> que não <strong>de</strong>ve. É muito melhor ven<strong>de</strong>r artigos <strong>de</strong>scartáveis, masque têm um preço <strong>de</strong> venda como se fossem permanentes.30


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Para acabar com a relutância que o consumi<strong>do</strong>r tinha <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar as coisas fora, sãoutiliza<strong>do</strong>s materiais que envelhecem mal, crian<strong>do</strong> assim as condições <strong>para</strong> que oconsumi<strong>do</strong>r ganhe o hábito <strong>de</strong> os <strong>de</strong>itar fora. Ao longo <strong>de</strong> quase toda a história dahumanida<strong>de</strong>, os materiais, que eram orgânicos, envelheciam graciosamente. O mobiliário<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, as chaleiras <strong>de</strong> cobre, os aventais <strong>de</strong> couro, etc., riscam, rasgam, amolgam,<strong>de</strong>scoloram suavemente e adquirem uma patine como parte <strong>do</strong> processo natural <strong>de</strong>envelhecimento. No seu fim último irão <strong>de</strong>sintegrar-se nos seus componentes orgânicos.Hoje, somos subtilmente ensina<strong>do</strong>s que envelhecer (sejam produtos ou indivíduos) éerra<strong>do</strong>. Usamos e gostamos das coisas enquanto estas têm aspecto <strong>de</strong> novas, acabadas <strong>de</strong>comprar.Alguns tipos <strong>de</strong> plástico com o sol <strong>de</strong>formam (embora ligeiramente), um tampo <strong>de</strong>mesa feito em imitação <strong>de</strong> nogueira <strong>de</strong>rrete se pousarmos um cigarro. Somos ensina<strong>do</strong>s a<strong>de</strong>itar fora o objecto com algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>feito. Este divórcio entre o mecanismo <strong>de</strong>trabalho (que por causa da ferramenta e custos <strong>de</strong> produção, mantém-se inaltera<strong>do</strong>) e a pele<strong>do</strong> objecto, levou a uma especialização e a uma estética baseada unicamente na aparênciaexterior. Forma e função estão se<strong>para</strong><strong>do</strong>s. Como diz Victor Papaneck “nem uma criatura nemum produto po<strong>de</strong>m sobreviver muito tempo quan<strong>do</strong> a sua «pele» e as suas «tripas» estão se<strong>para</strong>das”(1970).Um conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign durável interpreta o produto (ou a ferramenta, ou sistema<strong>de</strong> transporte, ou edifício, ou cida<strong>de</strong>) como uma ligação linear entre o homem e oambiente.Ao longo da história, o acto «maldito» <strong>de</strong> possuir tem si<strong>do</strong> visto com alarme epreocupação por lí<strong>de</strong>res religiosos, filósofos e pensa<strong>do</strong>res sociais. Mas o conceito <strong>do</strong>indivíduo ser possuí<strong>do</strong> pelas coisas, e não o <strong>de</strong> possuir as coisas, é hoje uma realida<strong>de</strong> nasocieda<strong>de</strong>.As profundas implicações, no futuro da humanida<strong>de</strong>, que tem o facto <strong>de</strong>, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>toda a energia consumida pelo homem nos últimos 2000 anos, ter si<strong>do</strong> consumida nosúltimos 100, <strong>de</strong>veria obrigar a socieda<strong>de</strong> a questionar-se sobre o seu futuro. É por isso que,chega<strong>do</strong> aos dias <strong>de</strong> hoje, se torna necessária uma reflexão profunda, centrada num <strong>do</strong>sprincipais intervenientes no problema; o <strong>de</strong>signer - este <strong>de</strong>ve ser consciencioso da suaresponsabilida<strong>de</strong> social e moral.31


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Figura 16 – Procura Mundial <strong>de</strong> Energia Primária. (fonte: ver anexo 1)Quan<strong>do</strong> se pensa no papel <strong>de</strong>cisivo que o <strong>de</strong>signer po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar em toda estaproblemática não é possível esquecer que o <strong>de</strong>sign industrial especializa<strong>do</strong> foi cria<strong>do</strong>durante a <strong>de</strong>pressão <strong>do</strong>s anos 30 <strong>para</strong> ajudar a indústria a reduzir custos e a melhorar aaparência <strong>do</strong>s seus produtos. Nesta altura, era ainda difícil <strong>de</strong> imaginar as consequências <strong>do</strong>consumo excessivo, e a euforia <strong>do</strong> momento consumista originou a produção e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma cultura e um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> objectos que são em muitos casossupérfluos e exce<strong>de</strong>ntários, crian<strong>do</strong> um conceito <strong>de</strong> vida material, e que, como pretendi<strong>do</strong>,aju<strong>do</strong>u a economia a <strong>de</strong>senvolver-se.Projectar <strong>para</strong> as necessida<strong>de</strong>s reais das pessoas mais <strong>do</strong> que <strong>para</strong> os seus quereres,ou necessida<strong>de</strong>s artificiais, é a única direcção que faz senti<strong>do</strong>. Muitos <strong>do</strong>s produtos jáatingiram o seu fim ao nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, os <strong>de</strong>signers apenas se <strong>de</strong>dicam aconceber extras dispensáveis mais <strong>do</strong> que realmente a reanalisar os problemas básicos eencontrar novas necessida<strong>de</strong>s e novas respostas.O <strong>de</strong>sign é uma das ferramentas mais po<strong>de</strong>rosas <strong>de</strong> que o homem dispõe <strong>para</strong>moldar os seus produtos, o seu ambiente e, por extensão, ele próprio. Com este po<strong>de</strong>r ohomem/<strong>de</strong>signer <strong>de</strong>ve analisar o passa<strong>do</strong>, bem como, as previsíveis consequências futuras<strong>do</strong>s seus actos. O papel <strong>do</strong>s <strong>de</strong>signers <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> facilita<strong>do</strong>res,que conseguem trazer as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res à atenção da indústria, dasagências governamentais, etc. O <strong>de</strong>signer torna-se numa ferramenta nas mãos das pessoas eda socieda<strong>de</strong>, mas não po<strong>de</strong> nunca <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> questionar o seu papel.Quan<strong>do</strong> uma nova categoria <strong>de</strong> objectos é projectada, <strong>do</strong>is parâmetros <strong>de</strong>veriamentrar no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign; o primeiro é, se o preço <strong>do</strong> objecto reflecte o seu carácterefémero. O segun<strong>do</strong> parâmetro, relaciona-se com o que acontece com o artigo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter interesse <strong>para</strong> o seu utiliza<strong>do</strong>r.32


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>O exemplo <strong>do</strong> actual merca<strong>do</strong> das impressoras é esclarece<strong>do</strong>r. No início asimpressoras eram caras e barulhentas. Com a chegada das impressoras com tecnologia <strong>de</strong>jacto <strong>de</strong> tinta, o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico alterou-se radicalmente e as novas características comoa velocida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong>, silêncio e facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização seduziram totalmente oconsumi<strong>do</strong>r. Com a redução <strong>do</strong>s preços das impressoras, tivemos um aumento substancial<strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s tinteiros. Rapidamente o custo <strong>do</strong>s tinteiros, indispensáveis <strong>para</strong> ofuncionamento das impressoras, passou a ser superior ao próprio custo <strong>de</strong> uma impressoranova. Em alguns casos ficaria mais barato comprar uma nova impressora, que traz ostinteiros, <strong>do</strong> que comprar tinteiros <strong>para</strong> substituir os velhos na impressora que jápossuimos. Este é o expoente máximo <strong>do</strong> sacrifício material em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> lucroeconómico.O Design Industrial e a Cultura <strong>do</strong> DesperdícioRaramente a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sistemas naturais, a consciência da sua <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,complexida<strong>de</strong> e inter<strong>de</strong>pendência fizeram parte da agenda <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign industrial. A infraestruturaindustrial é linear; está focada em produzir um produto e colocá-lo noconsumi<strong>do</strong>r final <strong>de</strong> uma maneira rápida e barata sem ter mais nenhum factor emconsi<strong>de</strong>ração.Figura 17 – Fases temporais <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> produto. (fonte: Kazazian, T., 2005. SP)33


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>A revolução industrial trouxe um número significativo <strong>de</strong> alterações positivas <strong>para</strong>toda a socieda<strong>de</strong>. Com o aumento <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> vida a esperança <strong>de</strong> vida aumentousignificativamente. O aumento <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s médicos e <strong>de</strong> educação também contribuíram<strong>para</strong> esta situação. A electricida<strong>de</strong>, telecomunicações e outros avanços elevaram o confortoa um outro nível.Os avanços tecnológicos trouxeram às nações mais <strong>de</strong>senvolvidas enormesbenefícios, incluin<strong>do</strong> um aumento da produtivida<strong>de</strong> nas terras cultivadas. Mas, com oavanço da industrialização, o estilo <strong>de</strong> vida consumista persistiu e evoluiu, apesar <strong>do</strong>s avisos<strong>de</strong> alguns visionários da época, como Vance Packards, Victor Papaneck ou BuckminsterFuller, entre outros.Em tempos <strong>de</strong> escassez, um reconhecimento <strong>do</strong> valor <strong>do</strong>s produtos e materiais temum aumento exponencial. As pessoas que cresceram durante a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, porexemplo, tinham o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> reutilizar vasos, recipientes e folha <strong>de</strong> alumínio. Durante a 2ªGuerra Mundial, as pessoas poupavam peças <strong>de</strong> borracha, folha <strong>de</strong> alumínio, aço e outrosmateriais <strong>para</strong> conseguirem alimentar as necessida<strong>de</strong>s da indústria <strong>de</strong> guerra. Também nasprimeiras décadas da industrialização as pessoas re<strong>para</strong>vam ou vendiam os seus produtosantigos, como fornos, frigoríficos e telefones. Hoje esses produtos são atira<strong>do</strong>s fora,aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s! Quem nos dias <strong>de</strong> hoje re<strong>para</strong> uma simples torra<strong>de</strong>ira? Passou a ser muitomais fácil comprar uma nova <strong>do</strong> que voltar a enviar o produto <strong>para</strong> o produtor, ouencontrar alguém que localmente arranje.O pós-guerra inunda os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> materiais baratos e sintéticos e começa a sermais barato <strong>para</strong> as indústrias fazerem uma nova jarra <strong>de</strong> vidro, alumínio ou plástico <strong>do</strong> queconstruir localmente estruturas <strong>para</strong> fazerem a colecta, o transporte e a limpeza <strong>de</strong>produtos <strong>para</strong> a reciclagem. A Indústria, ao não permitir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>para</strong>ção emmuitos <strong>do</strong>s seus produtos, ou ao promover a compra <strong>de</strong> um novo produto em <strong>de</strong>trimento<strong>do</strong> arranjo, contribuiu <strong>de</strong>cisivamente <strong>para</strong> condicionar e moldar a mentalida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong>consumi<strong>do</strong>ra. Actualmente, atirar fora os produtos passou a ser a norma.Não existe nenhuma razão <strong>para</strong> que um carro <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> não tenhanenhum tipo <strong>de</strong> aproveitamento, mesmo saben<strong>do</strong> que ele é composto numa gran<strong>de</strong>percentagem <strong>de</strong> materiais técnicos muitos <strong>de</strong>les valiosos. Estes materiais per<strong>de</strong>m-se ou<strong>de</strong>gradam-se mesmo quan<strong>do</strong> são recicla<strong>do</strong>s, porque os carros não são projecta<strong>do</strong>s logo <strong>de</strong>início <strong>para</strong> a eficaz e óptima reciclagem.As empresas, hoje, produzem os seus produtos baseadas na obsolescência. Mesmoprodutos com um potencial <strong>de</strong> consumo rápi<strong>do</strong> como as embalagens, são projectadas não34


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong><strong>para</strong> se <strong>de</strong>struir sob condições naturais mas <strong>para</strong> durarem bem mais <strong>do</strong> que o próprioproduto, não tem lógica… Actualmente os critérios normais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign estão basea<strong>do</strong>s numtripé: custo, estética e performance, falta talvez o mais importante: a sua «morte», um factorque será aprofunda<strong>do</strong> mais à frente.Em locais on<strong>de</strong> os recursos são difíceis <strong>de</strong> obter, as pessoas criativamentereutilizam produtos ou materiais <strong>para</strong> fazerem novos produtos. Usam tiras <strong>de</strong> borracha ougarrafas <strong>de</strong> água <strong>para</strong> fazer sandálias ou queimam materiais sintéticos como combustível,etc.Figura 18 – Sandálias feitas com garrafas <strong>de</strong> água reaproveitadas. (fonte:ver anexo 1)Esta criativida<strong>de</strong> é natural e adaptativa e po<strong>de</strong> ser uma parte vital nos ciclos <strong>do</strong>smateriais. Mas, enquanto estes usos são ignora<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong>signers industriais e produtores,com um evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sprezo pela vida <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> seu uso, estas reutilizações<strong>do</strong>s materiais po<strong>de</strong>m ser perigosas e, em alguns casos, letais pois, inocentemente, aspessoas ao reutilizarem algo que não foi pensa<strong>do</strong> <strong>para</strong> esse efeito, ficam expostas a todas asimplicações <strong>de</strong>correntes da incorrecta utilização <strong>do</strong>s materiais que as compõem.Hoje po<strong>de</strong>mos encontrar numa lixeira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mobília antiga, carpetes, televisões,roupa, sapatos, telefones, computa<strong>do</strong>res, produtos complexos e embalagens <strong>de</strong> plástico,assim como materiais orgânicos como papel, ma<strong>de</strong>ira e restos <strong>de</strong> comida. Muitos <strong>de</strong>stesprodutos são compostos por materiais valiosos que necessitam <strong>de</strong> custos <strong>para</strong> seremextraí<strong>do</strong>s. Os materiais bio<strong>de</strong>gradáveis como a comida e o papel actualmente também têmvalor – eles po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>compor e transformar-se em nutrientes biológicos <strong>para</strong> o solo.35


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoObjecto e Socieda<strong>de</strong>Figura 19 - Lixeira urbana. (fonte: ver anexo 1)Infelizmente to<strong>do</strong>s estes nutrientes são <strong>de</strong>scarrega<strong>do</strong>s nas lixeiras on<strong>de</strong> o seu valoré <strong>de</strong>sperdiça<strong>do</strong>. Estes são os últimos produtos <strong>de</strong> um sistema industrial que foi <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>linearmente, numa só direcção, é o mo<strong>de</strong>lo cradle 22 -to-grave 23 . Os recursos são extraí<strong>do</strong>s etransforma<strong>do</strong>s em produtos, vendi<strong>do</strong>s e posteriormente elimina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alguma maneira,normalmente numa lixeira ou numa incinera<strong>do</strong>ra.Este processo não é estranho nem alheio à socieda<strong>de</strong>, porque é ela que é aconsumi<strong>do</strong>ra e responsável por lidar com estes «<strong>de</strong>tritos». Na realida<strong>de</strong> existe muito poucacoisa que realmente é consumida, só a comida e alguns líqui<strong>do</strong>s, tu<strong>do</strong> o resto é concebi<strong>do</strong> eexiste <strong>para</strong> que o consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ite fora assim que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> precisar.22Expressão Inglesa que significa berço.23Expressão Inglesa que significa sepultura.36


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rProduto e Utiliza<strong>do</strong>rDepois <strong>de</strong> uma breve contextualização histórica das relações entre objecto eHomem, e <strong>de</strong> todas as implicações e alterações sociais <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sta relação, torna-sepertinente, nesta fase da <strong>dissertação</strong>, fazer uma pequena reflexão sobre a forma como opróprio produto, actualmente, se po<strong>de</strong> relacionar com o seu utiliza<strong>do</strong>r.É indispensável compreen<strong>de</strong>r toda a complexida<strong>de</strong> relacional que envolve estebinómio, produto/utiliza<strong>do</strong>r, <strong>para</strong> assim, relacionar <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto e mo<strong>de</strong>lo natural.Conseguin<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r as várias interacções possíveis entre produto e utiliza<strong>do</strong>r, épossível compreen<strong>de</strong>r os problemas e <strong>de</strong>safios que existem e como a natureza po<strong>de</strong> ajudara minorar ou mesmo eliminar alguns <strong>do</strong>s pontos negativos <strong>de</strong>ssa relação.Não sen<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> minucioso, pois não é esse o âmbito principal<strong>de</strong>ste trabalho, serve essencialmente <strong>para</strong> fornecer conceitos fundamentais <strong>para</strong> uma análise<strong>do</strong> trinómio produto/utiliza<strong>do</strong>r/natureza, na procura <strong>de</strong> estabelecer novas soluçõesinspiradas no mo<strong>de</strong>lo natural.Psicologia e <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> ProdutoArthur C. Clarke 24 escritor e inventor, autor <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> divulgação científica e <strong>de</strong>ficção científica como o conto “The Sentinel”, que <strong>de</strong>u origem ao filme “2001: Odisséia noEspaço”, disse “qualquer tecnologia suficientemente avançada não é distinguível da magia”.A maioria <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res <strong>de</strong> tecnologia parecem ficar contentes com este nível <strong>de</strong>entendimento. Qualquer indivíduo numa socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna usa os seus objectos no seuambiente natural, no contexto on<strong>de</strong> vive. Os objectos funcionam como que por magia, atéao momento em que alguma coisa corre mal e «avariam». Depois, <strong>de</strong> repente, a mente <strong>do</strong>seu usuário é <strong>de</strong>spertada, a «cortina» é aberta e a realida<strong>de</strong> subjacente ao objecto éexaminada. Se o utiliza<strong>do</strong>r conhece o suficiente <strong>para</strong> resolver o problema, ou se foi <strong>de</strong>ixadaa possibilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> tal, ele resolverá. Caso contrário terá <strong>de</strong> <strong>de</strong>legar essa tarefa num«especialista» que, por sua vez, já terá «aprendi<strong>do</strong>» com outros especialistas ainda maiscompetentes.Isto indica que as pessoas e a socieda<strong>de</strong> são adaptáveis, encontraram mecanismos<strong>para</strong> enfrentarem e resolverem os problemas.Um malefício evi<strong>de</strong>nte <strong>para</strong> o nosso futuro enquanto espécie, mas que é poucoclaro <strong>para</strong> a maioria da população, <strong>de</strong>ve-se ao facto <strong>de</strong> a socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal, orientada <strong>para</strong>24(16 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1917 - 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2008). Escritor e Inventor Inglês. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_C._Clarke)37


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>ro consumo e <strong>para</strong> o lucro, ter-se torna<strong>do</strong> tão sobre-especializada que poucas pessoasexperienciam alguns <strong>do</strong>s prazeres e benefícios da vida. Muitas nunca partici<strong>para</strong>m nas maismo<strong>de</strong>stas formas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> criativa que po<strong>de</strong>rão ajudar a manter «vivas» as suasfaculda<strong>de</strong>s sensoriais e intelectuais.O cérebro foi soberbamente concebi<strong>do</strong> não <strong>para</strong> uma função específica, mas comuma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação às mudanças. Se os utiliza<strong>do</strong>res estão disponíveis <strong>para</strong> <strong>de</strong>ixarestes problemas por resolver e se <strong>de</strong>dicam apenas ao uso, alhean<strong>do</strong>-se completamente davertente «intelectual» da utilização <strong>do</strong> produto. Não po<strong>de</strong>rão os <strong>de</strong>signers pensar emprodutos impulsiona<strong>do</strong>res da activida<strong>de</strong> intelectual, que estimulem essa capacida<strong>de</strong> inata <strong>do</strong>ser humano que é o engenho? Que não <strong>de</strong>sresponsabilizem o utiliza<strong>do</strong>r durante autilização, mas que pelo contrário os responsabilizem e estimulem a utilização da«inteligência» <strong>para</strong> o seu uso?Os produtos que nos ro<strong>de</strong>iam no dia-a-dia po<strong>de</strong>m ter um papel importante noestímulo <strong>de</strong>stas capacida<strong>de</strong>s, privilegian<strong>do</strong> o uso sem aborrecer o usuário com <strong>de</strong>talhes ecomplexida<strong>de</strong>s. Este <strong>de</strong>safio po<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte ser resolvi<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>signer.Enquanto a capacida<strong>de</strong> global <strong>do</strong> conhecimento humano tem aumenta<strong>do</strong>exponencialmente, as capacida<strong>de</strong>s individuais na nossa socieda<strong>de</strong> não têm aumenta<strong>do</strong>proporcionalmente.O historia<strong>do</strong>r e filósofo <strong>do</strong>s produtos <strong>do</strong> dia-a-dia Edward Tenner 25 , diz no seulivro “Why things bite back” (New york: vintage, 1996) que “a tecnologia requer mais, não menos,trabalho humano <strong>para</strong> funcionar”. Este autor tem uma visão muito particular <strong>do</strong> actual mun<strong>do</strong>material. Ao observar o impacto que as invenções humanas tiveram no mun<strong>do</strong>, <strong>de</strong> umamaneira nunca imaginada, Edward Tenner mostra que os objectos têm a tendência <strong>para</strong>fazer o homem regredir e <strong>para</strong> mudar os seus comportamentos e necessida<strong>de</strong>s.Encontramos um excelente exemplo na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso que foi <strong>de</strong>senhadaoriginalmente <strong>para</strong> permitir um breve momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e relaxamento, mas acaboupor se tornar num símbolo <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>. O capacete, inventa<strong>do</strong> <strong>para</strong> propósitos militares,tornou possíveis novos <strong>de</strong>sportos como a bicicleta <strong>de</strong> montanha ou o motociclismo. Amáquina <strong>de</strong> escrever, pensada <strong>para</strong> facilitar os negócios, resultou em problemas <strong>de</strong> visão, oque por seu la<strong>do</strong> levou as pessoas a a<strong>de</strong>rirem a mais uma nova invenção, os óculos <strong>de</strong> ver.Apesar <strong>de</strong> um sem número <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a facilitar o nosso dia-a-dia,estes raramente concretizam as suas promessas e a socieda<strong>de</strong> encontra-se <strong>de</strong>sorientada e25(1944 – U.S.A). Historia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tecnologia e <strong>de</strong> cultura, professor convida<strong>do</strong> na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pennsylvania, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Princeton a historian of technology and culture and a visiting scholar at the University of Pennsylvania, Princeton University, and theSmithsonian's Lemelson Center. (fonte: http://www.librarything.com/author/tenneredward)38


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>r<strong>de</strong>sesperada <strong>de</strong> uma maneira como os nossos antepassa<strong>do</strong>s nunca estiveram (Tenner,1996). De certa maneira a Humanida<strong>de</strong> é vítima <strong>do</strong> seu próprio sucesso.O aparecimento da noção <strong>de</strong> colaboração produtiva, que mais tar<strong>de</strong> foi organizadaem empresas, permitiu a invenção, produção e venda <strong>de</strong> um sem número <strong>de</strong> produtos queindividualmente não seriam possíveis serem produzi<strong>do</strong>s. Hoje a maioria das pessoas vive osprogressos da vida vestin<strong>do</strong> roupas que não sabem como costurar, sapatos que não po<strong>de</strong>marranjar e comunicam através <strong>de</strong> telemóveis que usam tecnologias que poucos conseguemcompreen<strong>de</strong>r. A humanida<strong>de</strong> vive, num esta<strong>do</strong> «Zombie» na sua relação com toda aartificialida<strong>de</strong> que a ro<strong>de</strong>ia. Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, usufruí <strong>de</strong>les, mas não se quer questionar sobrea sua importância e o seu impacto real no valor nas nossas vidas.A mente HumanaUma vez que os consumi<strong>do</strong>res são seres humanos, é importante <strong>para</strong> o <strong>de</strong>signerenten<strong>de</strong>r a maneira como a mente humana trabalha. Para compreen<strong>de</strong>r o comportamento<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, os <strong>de</strong>signers <strong>de</strong>vem não só compreen<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>sign, mas também aneurologia da aprendizagem e a sua relação com a psicologia da evolução.Determinação, casualida<strong>de</strong> e a questão da livre vonta<strong>de</strong> são as mais antigas questõespon<strong>de</strong>radas pela filosofia. Actualmente, a ciência tem da<strong>do</strong> um inequívoco valor ao cérebrocomo o centro <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminação e <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, mas o ser humano persisteem <strong>de</strong>screver outros órgãos como a causa <strong>de</strong> certas emoções. O coração por exemplo, queainda é referencia<strong>do</strong> pela «sabe<strong>do</strong>ria» popular como o centro <strong>do</strong> sentimento <strong>do</strong> amor.Usan<strong>do</strong> uma frase <strong>do</strong> Cientista Cognitivo Americano Marvin Minsky 26 “o cérebrohumano é verda<strong>de</strong>iramente uma socieda<strong>de</strong> da mente, <strong>de</strong> múltiplos componentes, ou agentes, cada cego por sipróprio, que executa tarefas simples, mas juntos po<strong>de</strong>m formar a inteligência” (The Society of Mind,1988). As nossas acções finais são a soma <strong>de</strong>stas partes.Segun<strong>do</strong> este autor a emoção é somente uma forma diferente <strong>de</strong> pensar, estas têmum valor <strong>de</strong> sobrevivência, ou seja, ajuda a comportarmo-nos mais eficientemente emalgumas situações.Como escreve o Professor António Damásio 27 , no seu livro “O Erro <strong>de</strong> Descartes -Emoção, Razão e Cérebro Humano” (Publicações Europa-America, 2000), “mais <strong>do</strong> que ditar umaresposta individual <strong>para</strong> cada acção, a evolução força directamente a mente <strong>para</strong> tomar <strong>de</strong>cisões através <strong>de</strong>26(9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1927). Cientista norte-americano. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marvin_Minsky)27(25 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1944). Médico neurologista e neurocientista português que trabalha nos estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> cérebro e das emoçõeshumanas. Actualmente é professor De Neurociência na University of Southern California. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Dam%C3%A1sio)39


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rum sistema bastante singular utilizan<strong>do</strong> percursos <strong>de</strong> prazer e emoção <strong>para</strong> conduzir o comportamentohumano. Muitas das <strong>de</strong>terminações que a consciência humana toma, são em parte directamenteinfluenciadas por mecanismos subconscientes”.Estas questões são importantes <strong>para</strong> o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> produto, na projecção dainteracção humana com o produto <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>, assim como nas próprias analogias possíveis<strong>de</strong> estabelecer com a natureza.Para ser possível compreen<strong>de</strong>r como o ser humano respon<strong>de</strong> ao estímulo, algumasquestões <strong>de</strong>vem ser feitas; a acção é reflexiva? Com o mesmo tipo <strong>de</strong> inputs, a mesmapessoa irá dar os mesmos outputs repetidamente? As experiências <strong>de</strong> uma vida servemexclusivamente <strong>para</strong> formular o comportamento da personalida<strong>de</strong> e todas as suas facetas.Estas questões são críticas em qualquer análise <strong>do</strong> comportamento humano e têm umarelevância directa no campo <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign industrial.Os <strong>de</strong>signers criam conjuntos <strong>de</strong> condições <strong>para</strong> solicitarem acção e reacção.Embora as respostas precisas possam ser condicionadas, através da repetição <strong>de</strong> estímulos,alcançam mais <strong>do</strong> que um impacto filosófico <strong>para</strong> qualquer <strong>de</strong>signer que tente criarobjectos <strong>para</strong> o ser humano. Em quase tu<strong>do</strong>, na nossa socieda<strong>de</strong> actual, é a aparência queconta, a forma mais <strong>do</strong> que o conteú<strong>do</strong>.No seu livro “Design for the Real World” (Paladin, 1970), Victor Papaneck fornecenosum exemplo explícito da irracionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign, basea<strong>do</strong> unicamente no lucroeconómico e na aparência. O exemplo é o processo <strong>de</strong> embrulho <strong>de</strong> uma simplesesferográfica que será uma prenda.Em primeiro lugar existe o saco que a loja oferece. No seu interior está o embrulho,normalmente feito <strong>de</strong> papel com uma tira <strong>de</strong> imitação <strong>de</strong> velu<strong>do</strong> a fazer um laço. As uniões<strong>do</strong> embrulho estão presas com fita-cola. Depois <strong>de</strong> remover esta primeira «pele» exterior,encontra-se uma nova caixa <strong>de</strong> cartão. A sua única função é a <strong>de</strong> proteger o artigo. Oexterior <strong>de</strong>sse artigo está revesti<strong>do</strong> com uma imitação barata <strong>de</strong> couro que parece quasemármore italiano. A sua forma reúne os piores excessos das épocas da ornamentaçãogratuita. Depois <strong>de</strong> se retirar tu<strong>do</strong> o que não é essencial <strong>para</strong> a esferográfica <strong>de</strong>sempenhar oseu papel, a «casca» da recarga, a embalagem e o embrulho, e que representaaproximadamente 90% <strong>do</strong> custo total <strong>do</strong> artigo, ficamos apenas com uma pequena recarga<strong>de</strong> tinta.Conclusão; 90% <strong>do</strong> material é completamente insignificante <strong>para</strong> o fim principal <strong>do</strong>produto, serve apenas <strong>para</strong> criar uma falsa sobrevalorização <strong>do</strong> produto, conseguin<strong>do</strong> umacréscimo em termos <strong>de</strong> preço final <strong>de</strong> venda.40


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rEste exemplo po<strong>de</strong> ser aplica<strong>do</strong> em quase todas as áreas <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo:perfumes, bebidas, jogos, brinque<strong>do</strong>s, etc. Os <strong>de</strong>signers <strong>de</strong>senvolvem estes elementostriviais <strong>de</strong> uma forma profissional, e enganosamente orgulham-se. A indústria utiliza estas«embalagens criativas» <strong>para</strong> ven<strong>de</strong>r bens <strong>de</strong> fraca qualida<strong>de</strong> e baixo custo, a preçosinflaciona<strong>do</strong>s.Designers e Indústria «jogam» com as interacções psicológicas possíveis <strong>de</strong>estabelecer com os consumi<strong>do</strong>res.Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> fluxoEnquanto o conceito oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> sucesso está foca<strong>do</strong> em moldar o mun<strong>do</strong> externoaos seus <strong>de</strong>sejos «internos», os filósofos orientais focam-se, frequentemente, mais em toldara mente <strong>para</strong> conseguir a satisfação com qualquer elemento externo.Mihaly Csikszentmihalyi 28 autor <strong>do</strong> livro “Fluir” (Relógio <strong>de</strong> Água, 2002) fala sobrea mente humana como o «tropeço» mais significante <strong>para</strong> alcançar a felicida<strong>de</strong>. Este autor éconheci<strong>do</strong> pelo seu trabalho no estu<strong>do</strong> da felicida<strong>de</strong>, da criativida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> bem-estarsubjectivo e diverti<strong>do</strong>, mas é ainda mais conheci<strong>do</strong> como o arquitecto <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong>«fluxo» e <strong>do</strong>s seus anos <strong>de</strong> pesquisa, reflexão e escrita sobre o tema.M. Csikszemtmihalyi <strong>de</strong>screve «fluxo» como o esta<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> aconsciência e atenção estão totalmente <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s a uma tarefa. O esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> «fluxo» ocorreapenas quan<strong>do</strong> as aptidões estão equilibradas com os <strong>de</strong>safios. Quan<strong>do</strong> os <strong>de</strong>safiosexce<strong>de</strong>m as aptidões, a activida<strong>de</strong> produz ansieda<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> um indivíduo enfrenta os<strong>de</strong>safios abaixo das suas aptidões, vai com certeza achar aborreci<strong>do</strong>.No contexto <strong>de</strong> «fluxo», é coloca<strong>do</strong> mais ênfase na activida<strong>de</strong> humana <strong>do</strong> que nosobjectos. No entanto o objecto, através da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interacção física, emotiva ouconceptual com o utiliza<strong>do</strong>r, em <strong>de</strong>terminadas situações, po<strong>de</strong> potenciar ou mesmo ser<strong>de</strong>cisivo na tentativa <strong>de</strong> alcançar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> «fluxo».Muitas das activida<strong>de</strong>s capazes <strong>de</strong> produzir «fluxo» requerem produtos ou objectos<strong>para</strong> conseguirem cumprir tarefas. É neste aspecto que o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto e a psicologiacoli<strong>de</strong>m. O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto não produz o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> «fluxo» mas po<strong>de</strong> obstruí-lo oupotenciá-lo. Este é um conceito que aos <strong>de</strong>signers interessa conhecer e explorar,contextualizan<strong>do</strong> os seus estu<strong>do</strong>s na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, conseguin<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>ro que provoca o <strong>de</strong>sejo e quais as características que <strong>de</strong>ve <strong>do</strong>tar o produto <strong>para</strong> que,28(29 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1934). Professor <strong>de</strong> psicologia na Drucker School – E.U.A. (fonte: http://www.cgu.edu/pages/1871.asp)41


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rquan<strong>do</strong> necessário, estes consigam levar o utiliza<strong>do</strong>r ao esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> «fluxo» durante a suainteracção. Este resulta<strong>do</strong> seria um produto honesto na sua relação com o utiliza<strong>do</strong>r, on<strong>de</strong>a sua experiência está relacionada com os sinais «pensa<strong>do</strong>s» pelos <strong>de</strong>signers. Em vez <strong>de</strong> verestas ferramentas como objectos que po<strong>de</strong>m ser manipula<strong>do</strong>s, estes tornam-se extensões davonta<strong>de</strong> humana.Para usar um objecto (seja um carro <strong>de</strong> corrida, ou um instrumento musical, etc.) outiliza<strong>do</strong>r tem <strong>de</strong> se entregar à sua ferramenta, <strong>de</strong> maneira a começar a per<strong>de</strong>r a consciênciada ferramenta e a focar a sua atenção no output <strong>de</strong>sta. Na nossa relação com os objectos,encontramos <strong>de</strong>masiadas vezes produtos e interfaces que são mediocremente projectadas eque têm como consequência provocar-nos raiva e stress, ou pior, são incompreendi<strong>do</strong>s econsequentemente abusivamente utiliza<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> os utiliza<strong>do</strong>res estão sob stress.Hierarquia da Usabilida<strong>de</strong>No seu artigo, “Design for Stress” (Design Management Review, 2005), DanielFormosa 29 revela as origens <strong>de</strong>stes problemas e analisa como, quan<strong>do</strong> os profissionaisdilatam os seus conhecimentos <strong>para</strong> além <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign e emoção e incluem o stress comovariável, os problemas são reduzi<strong>do</strong>s, ao mesmo tempo que a segurança e a confiança noproduto melhoram. No nosso dia-a-dia, na maior parte <strong>do</strong>s casos, isto é apenas umincómo<strong>do</strong>, mas em casos <strong>de</strong> emergência as nossas priorida<strong>de</strong>s mudam, e estas situaçõespo<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> vida ou <strong>de</strong> morte.Actualmente é inevitável percebermos que o foco <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer, enquanto projectista,<strong>de</strong>ve ser cada vez menos, sobre o objecto físico e mais sobre o aspecto cognitivo resultanteda interacção que este po<strong>de</strong> ter com a pessoa. Torna-se indiscutível a inclusão <strong>do</strong> conceito<strong>de</strong> stress nas variáveis <strong>de</strong> projecto, um aspecto característico da existência humana.Produtos e interfaces po<strong>de</strong>m ser manusea<strong>do</strong>s por pessoas que já estão em situações<strong>de</strong> stress, e os próprios produtos po<strong>de</strong>m causar ou contribuir <strong>para</strong> o stress, consequência<strong>de</strong> uma má concepção <strong>do</strong> produto, <strong>do</strong> interface ou <strong>do</strong> ambiente em que é utiliza<strong>do</strong>.Daniel Formosa recorda que o stress é agrava<strong>do</strong> por uma <strong>de</strong>pendência crescente<strong>do</strong>s equipamentos electrónicos em todas as áreas da vida humana (e.g. dispositivos <strong>de</strong>segurança e saú<strong>de</strong>, transporte, etc.) e refere ainda que existem uma série <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong>29 Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Consultor em <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto e investiga<strong>do</strong>r em <strong>de</strong>sign. Licencia<strong>do</strong> em Design Industrial, <strong>Mestre</strong>em Arte e Doutora<strong>do</strong> em Ergonomia e Biomecânica – Smart <strong>de</strong>sign. Actualmente o seu trabalho foca-se na responsabilida<strong>de</strong> social <strong>do</strong><strong>de</strong>sign. (fonte: http://www.danformosa.com/)42


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>ranálise que guiam sequencialmente o ser humano quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong> com um obstáculoou um objecto.Daniel Formosa concebeu uma «hierarquia <strong>de</strong> usabilida<strong>de</strong>» das influências maisfortes que afectam as pessoas mais frágeis nos seus pensamentos e acções quan<strong>do</strong> estão arealizar várias tarefas. Hierarquizou as forças que têm impacto no <strong>de</strong>sign. No topo dahierarquia estão as forças que afectam o comportamento humano, que exercem influênciano stress.Para enten<strong>de</strong>r como o ser humano respon<strong>de</strong> aos sinais pensa<strong>do</strong>s pelo <strong>de</strong>sign, énecessário analisar a hierarquia <strong>de</strong> como as escolhas são feitas;Figura 20 - Hierarquia <strong>de</strong> usabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstra as várias fases <strong>de</strong> análise/interacção <strong>de</strong> um produto peloseu utiliza<strong>do</strong>r (fonte: ver anexo 1)Daniel Formosa criou a hierarquia da usabilida<strong>de</strong> como uma maneira <strong>de</strong><strong>de</strong>monstrar estas influências. No topo da hierarquia, as pessoas reagem por instinto, on<strong>de</strong>as reacções ocorrem conscientemente. A este nível encontram-se respostas,fundamentalmente no mun<strong>do</strong> físico. Texturas e cheiros invocam respostas directas eimediatas que pouco têm a ver com a socieda<strong>de</strong> convencional. Pelo contrário, respostasinstintivas são humanamente universais. A seguir ao instinto estão os preconceitos que sãoexpectativas apreendidas baseadas em experiências anteriores <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res. Estasinfluências são difíceis <strong>de</strong> prever. Quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong> com um botão ou um dispositivo,as expectativas <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r são baseadas pelas experiências anteriores com dispositivossimilares.As características <strong>de</strong>scritas atrás, estão <strong>de</strong> certa maneira fora <strong>do</strong> controlo <strong>do</strong>s<strong>de</strong>signers, o instinto po<strong>de</strong> não existir em algumas tarefas e os preconceitos variam <strong>de</strong>pessoa <strong>para</strong> pessoa. O objectivo em <strong>de</strong>sign <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> projectar produtos o mais auto-43


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>revi<strong>de</strong>ntes possível, é através das formas físicas que conseguimos fornecer essa influência.As formas <strong>do</strong>s objectos transmitem o seu significa<strong>do</strong>, Daniel Formosa acredita que ossinais «físicos» <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign são a prova da força que a forma <strong>de</strong> um objecto tem na nossasocieda<strong>de</strong>. É preciso ter em atenção o significa<strong>do</strong> cultural da forma <strong>do</strong> objecto.Os símbolos e gráficos po<strong>de</strong>m fornecer uma maior especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>que os atributos físicos, uma vez que po<strong>de</strong>m transmitir o significa<strong>do</strong> metaforicamente. Emalguns casos o significa<strong>do</strong> é culturalmente artificial ou arbitrário. Enquanto no mun<strong>do</strong>Oci<strong>de</strong>ntal a cor branca é associada com suavida<strong>de</strong> e tranquilida<strong>de</strong>, na China é conotadacom a morte. Quan<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> é veicula<strong>do</strong> através <strong>de</strong>stas ferramentas, o resulta<strong>do</strong> finalnormalmente requer um entendimento das convenções sociais pré-existentes.Outros elementos <strong>de</strong>sta hierarquia são os gráficos complexos ou texto. Estesfornecem mais <strong>de</strong>talhe na informação <strong>do</strong> produto, mas requerem mais atenção <strong>do</strong>utiliza<strong>do</strong>r <strong>para</strong> interpretar o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> sinal. Oferece também flexibilida<strong>de</strong> e permite ao<strong>de</strong>signer passar uma mensagem que po<strong>de</strong>ria ser difícil <strong>de</strong> transmitir sem texto.Infelizmente, exigem mais <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r. Os guias <strong>de</strong> referência não po<strong>de</strong>m utilizar só osgráficos, que só por si não são suficientes <strong>para</strong> comunicar a mensagem que o <strong>de</strong>signer<strong>de</strong>seja. Muitos produtos complexos, normalmente os electrónicos, requerem umacomunicação faseada, e passo a passo, que não consegue ser efectuada apenas através <strong>de</strong>gráficos. Em vez <strong>de</strong> apenas oferecer um manual <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> que provavelmente seráignora<strong>do</strong> pelo utiliza<strong>do</strong>r, a empresa produtora po<strong>de</strong> incluir um guia rápi<strong>do</strong> <strong>para</strong> aqueles quenão querem uma compreensão <strong>de</strong>talhada <strong>do</strong> produto, mas apenas necessitam dainformação básica.Com a crescente complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s produtos, o manual é a única maneira<strong>de</strong> fornecer instruções completas sobre o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> uso <strong>do</strong>s produtos. Na sua gran<strong>de</strong>maioria os utiliza<strong>do</strong>res só consultam os manuais quan<strong>do</strong> o produto falha, numa altura emque já estão <strong>de</strong>masiadamente sob stress e <strong>de</strong>sconcentra<strong>do</strong>s <strong>para</strong> prestar a <strong>de</strong>vida atenção àinformação apresentada no <strong>do</strong>cumento.Produto vs Utiliza<strong>do</strong>rMuitas das falhas na concepção <strong>do</strong> produto são fáceis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e analisar, seestas provocarem frustração no utiliza<strong>do</strong>r. A frustração no utiliza<strong>do</strong>r é mais comumquan<strong>do</strong> os produtos são usa<strong>do</strong>s por diversas populações ou em funções que terão custosaltos no caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos.44


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rA fonte <strong>de</strong> frustração <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r, e, consequentemente, os custos no utiliza<strong>do</strong>r,ocorrem muitas vezes quan<strong>do</strong> o objecto não fornece feedback imediato e oportunida<strong>de</strong><strong>para</strong> a repetição. Estas são as condições que tipicamente incentivam a aprendizagemhumana. Estas <strong>de</strong>sconexões muitas vezes ocorrem porque o feedback foi se<strong>para</strong><strong>do</strong> daacção e <strong>do</strong> tempo ou porque o produto não oferece quaisquer sinais que possam serintuitivamente interpreta<strong>do</strong>s e o <strong>de</strong>signer pressupõe erradamente que os utiliza<strong>do</strong>res teriamconhecimento ou experiência com os seus protocolos. Se a análise mostra que o produtonão fornece feedback até uma avançada fase <strong>do</strong> seu uso, o <strong>de</strong>signer po<strong>de</strong> contribuir comuma maneira <strong>de</strong> fornecer um feedback mais ce<strong>do</strong>.O <strong>de</strong>signer <strong>de</strong>ve diferenciar o produto <strong>de</strong> más compreensões culturais. Se asexperiências <strong>de</strong> consumo na utilização <strong>de</strong> produtos nesta categoria foram variadas e casuais,causadas por uma falta <strong>de</strong> normas industriais ou <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s varia<strong>do</strong>s, o <strong>de</strong>signer não <strong>de</strong>vepresumir que os clientes irão trazer conhecimento prévio sobre o que fazer aos seus novosprodutos.No acto <strong>de</strong> projecto, o que <strong>de</strong>veria ser imprescindível incluir, seria um mecanismoque permitisse ao utiliza<strong>do</strong>r fazer facilmente as coisas que ele, <strong>de</strong> qualquer maneira, jáqueria fazer, mas que o incentive a fazer melhor. As pessoas fazem as coisas que são boas<strong>para</strong> elas, mas <strong>de</strong>vem chegar a essa conclusão por si próprias e <strong>de</strong>spertar essa atitu<strong>de</strong>.A janela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> que seria, possibilitar ao utiliza<strong>do</strong>r experimentar, quan<strong>do</strong>necessário, arranjar o seu produto, encontra-se na maior parte das vezes fechada, estáapenas acessível aos técnicos, quan<strong>do</strong> muitas das vezes facilmente po<strong>de</strong>ria ser resolvidapelo próprio consumi<strong>do</strong>r. O lucro basea<strong>do</strong> na <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> fabricante ou a tentativa <strong>de</strong>condicionar uma nova aquisição imperam.A função principal <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer é a <strong>de</strong> resolver problemas, isto significa que o<strong>de</strong>signer tem <strong>de</strong> ser mais sensível na percepção <strong>do</strong>s problemas reais que existem.Frequentemente um <strong>de</strong>signer <strong>de</strong>scobre a existência <strong>de</strong> um problema que ninguémtinha pensa<strong>do</strong> antes, irá <strong>de</strong>finir esse problema e <strong>de</strong>pois tentar resolvê-lo. Isto po<strong>de</strong> serentendi<strong>do</strong> como uma <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> processo criativo. Sem dúvida o número <strong>de</strong> problemasque existem bem como a sua complexida<strong>de</strong> tiveram um aumento tão gran<strong>de</strong> que se tornamimprescindíveis novas e melhores soluções.Com o progresso <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologia e a própria complexida<strong>de</strong><strong>de</strong>ssa mesma tecnologia a que um ser humano está exposto está em constante crescimento.A proporção <strong>de</strong> conhecimento que cada indivíduo tem <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r, cresceu45


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rproporcionalmente ao atrás referi<strong>do</strong>. Os <strong>de</strong>signers têm a obrigação <strong>de</strong> suportar algum <strong>do</strong>peso da complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que eles ajudaram a criar.Deixar os sinais intuitivos «transportarem» o significa<strong>do</strong> e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> as palavras etexto como modifica<strong>do</strong>res serão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância <strong>para</strong> aproveitar as tendênciasinerentes <strong>do</strong>s seres humanos mais <strong>do</strong> que tentar-nos forçar a mo<strong>de</strong>los não naturais.Vulnerabilida<strong>de</strong>s nos produtosNo nosso mun<strong>do</strong> físico e tecnológico encontramos varia<strong>do</strong>s produtos quepo<strong>de</strong>remos consi<strong>de</strong>rar como objectos fracos que, pela sua utilização, impõem alguns custosao seu utiliza<strong>do</strong>r. Estes produtos são geralmente ignora<strong>do</strong>s na sua verda<strong>de</strong>ira utilida<strong>de</strong> eembora em muitos casos, o produto e o seu utiliza<strong>do</strong>r <strong>de</strong>pendam <strong>de</strong>les <strong>de</strong> uma maneiravital, são leva<strong>do</strong>s a agir como se estes não tivessem nenhuma importância. Os produtosque impõem custos são mais usuais <strong>do</strong> que se imagina e é, por isso, importante analisar oconceito que os <strong>de</strong>fine.Virtualmente to<strong>do</strong> o equipamento <strong>de</strong> exercício pressupõe um custo físico no seuutiliza<strong>do</strong>r. Muitos <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa/alarme <strong>de</strong> casa impõem um custo nopotencial invasor, bem como um custo menor no seu utiliza<strong>do</strong>r. Para<strong>do</strong>xalmente estesprodutos não são fracos, mas por vezes sacrificam-se a si próprios ou algumas das suasfuncionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maneira a fazer o utiliza<strong>do</strong>r trabalhar <strong>para</strong> obter algum benefícioadicional.O conceito <strong>de</strong> fusível, ilustra muito bem a noção <strong>de</strong> produto «fraco», em que, talcomo na natureza, a vulnerabilida<strong>de</strong> actua como a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira força.O fusível é uma peça <strong>de</strong>licada num sistema <strong>de</strong> alta voltagem. A vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>um fusível po<strong>de</strong> facilmente ser calibrada <strong>para</strong> as tolerâncias humanas, ou ligeiramenteabaixo da tolerância <strong>do</strong> componente mais frágil <strong>do</strong> sistema. Consequentemente o fusívelactua como um «suicida». Este foi <strong>de</strong>senha<strong>do</strong> <strong>para</strong> o sacrifício, <strong>para</strong> a perda.A vantagem <strong>do</strong> seu uso é a <strong>de</strong> que o custo <strong>de</strong> um único componente é geralmentemenor <strong>do</strong> que o custo <strong>de</strong> um componente electrónico <strong>de</strong> alto <strong>de</strong>sempenho, assim o custocom um aci<strong>de</strong>nte em que o fusível «rebenta» é substancialmente mais baixo.Os fusíveis são uma mo<strong>de</strong>rna analogia <strong>do</strong> histórico uso <strong>de</strong> pássaros nas minas,on<strong>de</strong> o eleva<strong>do</strong> metabolismo <strong>de</strong> um canário garantia que iria sofrer os efeitos negativos <strong>do</strong>svapores tóxicos ou da redução <strong>de</strong> oxigénio antes <strong>do</strong>s próprios mineiros. Assim a46


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rvulnerabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> canário iria fornecer um sinal credível aos trabalha<strong>do</strong>res. O único sinalque o pássaro dava era a sua própria morte o que constituía um sinal bem credível.O <strong>de</strong>sign vulnerável po<strong>de</strong> fazer uma <strong>de</strong> duas coisas; po<strong>de</strong> influenciar ocomportamento humano, ou po<strong>de</strong> influenciar o comportamento <strong>de</strong> outros objectos ousistemas. Para perceber as trocas envolvidas no <strong>de</strong>sign vulnerável, o objecto não po<strong>de</strong> seranalisa<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> contexto, mas sim no seu meio ambiente, no seu contexto <strong>de</strong> utilização.Se um objecto anuncia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização única, então quebra no caso <strong>de</strong> serusa<strong>do</strong> impropriamente. É o caso <strong>do</strong> plástico bolha <strong>de</strong> embrulhar, que faz sentir a suafunção com a própria existência. Para testar uma bolha temos <strong>de</strong> a rebentar e assimacabamos por estragar o seu fim último que é o <strong>de</strong> proteger.Os objectos, cujo esta<strong>do</strong> padrão é inoperante, requerem o sacrifício <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r,enquanto os objectos <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o uso único e objectos que se <strong>de</strong>gradam pelo seuuso, acabam por sacrificar-se a si próprios, sem interacção directa <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r. Ambos ostipos <strong>de</strong> objectos transmitem sinais valiosos, mas com um custo associa<strong>do</strong>, que é a sua«morte».Crian<strong>do</strong> objectos que publicitam os seus custos inerentes <strong>de</strong> uma maneira«<strong>de</strong>scarada», os <strong>de</strong>signers po<strong>de</strong>m evitar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos adicionais <strong>de</strong>informação e transferir o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> escolha <strong>para</strong> o utiliza<strong>do</strong>r final.Produtos StandardA contextualização social <strong>do</strong> produto e <strong>do</strong> seu utiliza<strong>do</strong>r e a sua interacção com omeio ambiente resultam muitas vezes em condicionantes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> implicação no <strong>de</strong>sejo<strong>do</strong> comprar ou <strong>de</strong> trocar um produto. Um <strong>do</strong>s factores que contribui <strong>para</strong> esta situaçãoestá directamente relaciona<strong>do</strong> com o conceito <strong>de</strong> produtos standard e universal.Quan<strong>do</strong> a maioria ou uma parte <strong>do</strong>minante da população a<strong>do</strong>pta um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>conceito <strong>de</strong> standard, esse conceito é reforça<strong>do</strong>, ou seja, o comportamento das pessoas éinfluencia<strong>do</strong> pelas outras pessoas que o ro<strong>de</strong>iam, assim como pela sua própria mente.Aqueles que operam usan<strong>do</strong> o standard mais forte ganham uma vantagem,enquanto que aqueles que usam o standard menos «popular» começam a sofrer uma<strong>de</strong>svantagem com<strong>para</strong>tiva. Este <strong>de</strong>sequilíbrio cria pressão nas pessoas que continuam ausar o formato menos standard, <strong>para</strong> conseguirem vencer o mais forte ou <strong>para</strong> resistir amudar <strong>para</strong> o formato «standard» mais forte. Esta situação compreen<strong>de</strong> um cada vez maiornúmero <strong>de</strong> utiliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> formato standard mais forte, o que vai conduzir este formato,47


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rinequivocamente ao standard da sua tipologia. Esta pressão po<strong>de</strong> ser potencialmenteprodutiva ou «contra-produtiva» <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> on<strong>de</strong> está situada no ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>produto.Esta dinâmica é mais profunda quan<strong>do</strong> o standard envolve múltiplos fabricantes emúltiplos dispositivos. Quan<strong>do</strong> isto acontece, como foi o caso <strong>do</strong> BETAMAX e VHS, ou maisrecentemente, <strong>do</strong> BLU-RAY e HD DVD, uma complicada dança acontece entre os fabricantes<strong>do</strong>s leitores <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o e os próprios editores <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, o que, consequentemente, ditou a«<strong>de</strong>rrota» <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s formatos, passan<strong>do</strong> o formato vence<strong>do</strong>r a ser o standard, conduzin<strong>do</strong>os consumi<strong>do</strong>res que inocentemente tinham opta<strong>do</strong> pelo formato per<strong>de</strong><strong>do</strong>r, a ficarem comum produto que, embora não esteja tecnologicamente ultrapassa<strong>do</strong>, se tornou socialmenteobsoleto.Existe também, uma outra categoria <strong>de</strong> objectos, que são capazes <strong>de</strong> criar o seupróprio contexto ou standard em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu sucesso. Estes casos conduzem muitasvezes a que a própria tipologia <strong>de</strong> produto, seja baptizada com o nome <strong>do</strong> produtovence<strong>do</strong>r. Encontramos varia<strong>do</strong>s exemplos <strong>de</strong>sta situação nos produtos que utilizamosdiariamente; to<strong>do</strong>s sabemos o que é uma lâmina <strong>de</strong> barbear mas normalmente utilizamos otermo <strong>de</strong> Gillette, que é, na realida<strong>de</strong>, uma marca que li<strong>de</strong>rou inequivocamente o merca<strong>do</strong>durante muito tempo, ou to<strong>do</strong>s nos referimos aos contentores <strong>de</strong> plástico comoTupperware, que, à semelhança <strong>do</strong> exemplo da gillette, é uma marca.Figura 21 Figura 22Figura 21 – Gillette. (fonte: ver anexo 1)Figura 22 – Anuncio da Tupperware. (fonte: ver anexo 1)Se um objecto é muito funcional ou benéfico, este po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> <strong>para</strong> criar novaslinguagens <strong>de</strong> interacção no <strong>de</strong>sign, ou até <strong>para</strong> criar uma nova tipologia <strong>de</strong> produto.48


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rCru<strong>de</strong> Productsconceito adapta<strong>do</strong> <strong>do</strong> livro Cradle-to-Cradle <strong>de</strong> William McDonough 30 e Michael Braungart 31A intenção final que está na base da estratégia das indústrias, é a <strong>de</strong> produzirprodutos atractivos e acessíveis, que cumpram as regulamentações existentes, tenham umaboa performance e durem o suficiente <strong>para</strong> satisfazer as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e as daprópria indústria Este género <strong>de</strong> produtos preenchem as expectativas e <strong>de</strong>sejos dasindústrias e as <strong>de</strong> alguns consumi<strong>do</strong>res.Na perspectiva <strong>de</strong> William McDonough e Michael Braungart, os produtos que nãosão projecta<strong>do</strong>s essencialmente <strong>para</strong> o bem estar ecológico e humano são produtos<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> “inteligência” e bastante <strong>de</strong>selegantes – a que chamam <strong>de</strong> «Cru<strong>de</strong>Products».Os autores <strong>do</strong> livro “Cradle-to-Cradle” (McDonough, W. & Braungart, M., NorthPoint Press, 2002), dão como exemplo a maior parte <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong> vestuário produzi<strong>do</strong>scom poliéster, assim como as garrafas <strong>de</strong> água que to<strong>do</strong>s conhecemos. Ambos contêmantimónio, um metal pesa<strong>do</strong> tóxico conheci<strong>do</strong> por causar cancro sob <strong>de</strong>terminadascircunstâncias.Vamos esquecer por momentos o perigo que esta substância representa <strong>para</strong> outiliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> produto que a contêm. A questão como <strong>de</strong>signers que po<strong>de</strong> ser colocada, e écolocada no livro, é; Porque é que está lá? É necessária esta substância? Actualmente já nãoé necessária; o antimónio é um cataliza<strong>do</strong>r utiliza<strong>do</strong> no processo <strong>de</strong> polimerização e não énecessário <strong>para</strong> a produção <strong>de</strong> poliéster. (William McDonough e Michael Braungart, 2002)O que acontece quan<strong>do</strong> este produto é «recicla<strong>do</strong>» ou melhor <strong>do</strong>wncycled 32 emistura<strong>do</strong> com outros materiais? E quan<strong>do</strong> é queima<strong>do</strong> junto com outros produtos comocombustível <strong>para</strong> cozinhar, uma prática bastante comum em países sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s ouem vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento? A incineração faz <strong>do</strong> antimónio um produto possível <strong>de</strong> serrespira<strong>do</strong>, mas se o poliéster po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> como combustível, então precisamos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver poliéster pensa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> serem queima<strong>do</strong>s. Esta atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria fazer toda adiferença!30(21 <strong>de</strong> Fevereiro, 1951). Arquitecto <strong>de</strong> Nacionalida<strong>de</strong> Americana e principal funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> gabinete William McDonough + Partners,foca<strong>do</strong> no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> edifícios sustentáveis e na transformação sustentável <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> produção industrial. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/William_McDonough)31Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Quimico Alemão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o ser humano po<strong>de</strong> ter uma pegada ecológica positiva, re<strong>de</strong>senhan<strong>do</strong>os sistemas que suportam a nossa vida. Funda<strong>do</strong>r da (EPEA, International Umweltforschung GmbH in Hamburg, Germany), e cofunda<strong>do</strong>r<strong>do</strong> MBDC (McDonough Braungart Design Chemistry in Charlottesville, Virginia, E.U.A). Actualmente é Professor <strong>de</strong>Engenharia <strong>de</strong> Processos na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Aplicadas em Su<strong>de</strong>rburg, Alemanha.(fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Braungart)32Reciclagem <strong>de</strong> um material, on<strong>de</strong> o resulta<strong>do</strong> final é um material com menor qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que o material <strong>de</strong> origem. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Downcycling)49


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rOs «cru<strong>de</strong> products» como a camisola com poliéster e a garrafa <strong>de</strong> água são aindaprodutos pertencentes a uma sub-categoria que William McDonough e Michael Braungart,chamam <strong>de</strong> «product plus»; os consumi<strong>do</strong>res adquirem o produto que querem, maisaditivos que conscientemente não queriam e não sabiam que estavam incluí<strong>do</strong>s no produtoe que po<strong>de</strong>m ser perigosos. O mais escandaloso é que muitos <strong>de</strong>stes «ingredientes» extrapo<strong>de</strong>m não ser necessários <strong>para</strong> o produto.William McDonough e Michael Braungart estudam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987, vários produtospostos no merca<strong>do</strong> pelas gran<strong>de</strong>s multinacionais que <strong>do</strong>minam a nossa economia. Sãoprodutos «normais», usa<strong>do</strong>s no dia-a-dia, como um rato <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>r, uma máquina <strong>de</strong>barbear, um seca<strong>do</strong>r ou um leitor <strong>de</strong> CD portátil. Os autores <strong>de</strong>scobriram que durante oseu uso, to<strong>do</strong>s eles libertam gases cancerígenos, substâncias conhecidas como fazen<strong>do</strong>parte <strong>do</strong> grupo das causa<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> cancro e mal formações congénitas. Uma bate<strong>de</strong>iraeléctrica emite gases químicos que se misturam nas moléculas da massa <strong>de</strong> manteiga e queacabam no bolo que comemos. Portanto, é melhor ter cuida<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos estar a comer osnossos aparelhos. Engraça<strong>do</strong>? Se não corrêssemos perigo até po<strong>de</strong>ria ser…A razão <strong>para</strong> isto acontecer é que, na maior parte das vezes, os produtos <strong>de</strong> altatecnologia são compostos por materiais <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>, plástico barato e tintas, na suamaioria adquiridas aos fornece<strong>do</strong>res mais baratos e que po<strong>de</strong>m estar <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. Isto quer dizer que, mesmo substâncias proibidas nos países mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s,po<strong>de</strong>m ser encontradas através <strong>de</strong> produtos ou partes <strong>de</strong> produtos que foram produzidasnoutros locais.O problema intensifica-se quan<strong>do</strong> diversas partes produzidas em vários locais <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> são assembladas num único produto, o que é muitas vezes o caso <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong>alta tecnologia. Um produto assembla<strong>do</strong> na Europa, po<strong>de</strong> conter borracha da Malásia,químicos da Coreia, motor da China, a<strong>de</strong>sivos da Tailândia e ma<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Brasil, etc.Como é que estes Cru<strong>de</strong> products afectam o seu utiliza<strong>do</strong>r? Eles produzem umar/ambiente <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>. Os cru<strong>de</strong> products – aparelhos eléctricos, carpetes,a<strong>de</strong>sivos, quadros, materiais <strong>de</strong> construção, etc., to<strong>do</strong>s reuni<strong>do</strong>s no mesmo espaço, seja emcasa ou no trabalho, po<strong>de</strong> fazer com a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> espaço on<strong>de</strong> estão, estejamais contaminada <strong>do</strong> que o ar exterior.Um estu<strong>do</strong> sobre os contamina<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, i<strong>de</strong>ntificou concentrações <strong>de</strong>sete químicos tóxicos que são conheci<strong>do</strong>s por causar o cancro em animais e são suspeitos<strong>de</strong> o fazer em humanos (McDonough, W. e Braungart, M., 2002).50


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rAté produtos i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como seguros <strong>para</strong> as crianças po<strong>de</strong>m ser Cru<strong>de</strong>Products. Uma análise <strong>de</strong> umas braça<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> natação, feitas <strong>de</strong> PVC, mostra que estaslibertam gases potencialmente perigosos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ainda ser ingeridas outras substânciasperigosas através <strong>do</strong> contacto. Este cenário é alarmante quan<strong>do</strong> se sabe que a pele <strong>de</strong> umacriança é <strong>de</strong>z vezes mais fina que a pele <strong>de</strong> um adulto e fica engelhada quan<strong>do</strong> molhada (omomento propicio <strong>para</strong> absorver toxinas). Mais uma vez quan<strong>do</strong> são compradas umasbraça<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> piscina, na realida<strong>de</strong> é adquiri<strong>do</strong> inadvertidamente um Product plus.A preocupação com esta questão não adquire outros contornos, pois asconsequências não aparecem no momento imediato em que existe a interacção com estesprodutos, são consequências «silenciosas». É necessário adquirir a consciência <strong>de</strong> que ainteracção com materiais cancerígenos como a benzina e o PVC é impru<strong>de</strong>nte.O corpo <strong>de</strong> toda a gente está sujeito a «stress» (interacções benéficas e maléficas),<strong>de</strong> causas internas e externas. Este «stress» po<strong>de</strong> dar origem a células <strong>de</strong> cancro que sãoproduzidas naturalmente pelo nosso corpo exposto a metais pesa<strong>do</strong>s e outras substânciasmaléficas, segun<strong>do</strong> alguns estu<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>ze células por dia. O sistema imunitário tem acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> «stress», imaginemos que tem acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir diariamente as <strong>do</strong>ze células faladas atrás. Mas, quanto mais expostosa contactos com esta substâncias mais probabilida<strong>de</strong>s temos <strong>de</strong> produzir mais célulascancerígenas, o que obrigará a um esforço maior <strong>do</strong> sistema imunitário <strong>para</strong> as <strong>de</strong>struir e,algumas vezes, não consegue! Existem ainda agentes químicos que enfraquecem o sistemaimunitário. Então porque é que não são elimina<strong>do</strong>s estes factores externos negativos?Especialmente se já percebemos que não são necessários? Porque não fortalecemos osistema imunitário em vez <strong>de</strong> o <strong>de</strong>safiar? Foi referi<strong>do</strong> o exemplo <strong>do</strong> cancro, mas estesagentes po<strong>de</strong>m ter ainda outras consequências mais graves que estão ainda por <strong>de</strong>scobrir.A próxima «Revolução Industrial» não vai ser regressar a um certo i<strong>de</strong>al préindustrial<strong>de</strong> que, por exemplo, to<strong>do</strong>s os têxteis serão produzi<strong>do</strong>s com fibras naturais. Umtempo chegará em que todas as fábricas serão bio<strong>de</strong>gradáveis e os componentes<strong>de</strong>snecessários po<strong>de</strong>rão ser <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s na natureza <strong>para</strong> se <strong>de</strong>comporem ou até seremqueima<strong>do</strong>s em segurança como combustível.Mas, os materiais naturais <strong>para</strong> irem <strong>de</strong> encontro às necessida<strong>de</strong>s da população não<strong>de</strong>vem e não po<strong>de</strong>m existir. Se milhões <strong>de</strong> pessoas quiserem calças <strong>de</strong> fibra natural tingidasnaturalmente, a humanida<strong>de</strong> terá <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar milhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> terreno <strong>para</strong> cultivaralgodão só <strong>para</strong> satisfazer a procura; hectares que são necessários <strong>para</strong> o cultivo <strong>de</strong>51


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>ralimentos. Ou seja, mesmo os materiais naturais não são necessariamente benéficos <strong>para</strong> ahumanida<strong>de</strong> e <strong>para</strong> o meio ambiente.Estética e moda.Durante milhares <strong>de</strong> anos, filósofos, artistas, e <strong>de</strong>signers discutiram sobre a«necessida<strong>de</strong> da beleza», ou os valores estéticos, nas coisas que usamos e vivemos.Sabemos que a estética é uma das mais importantes ferramentas que faz parte <strong>do</strong>reportório <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign, uma ferramenta que ajuda na «moldagem» da forma e cor <strong>do</strong> que nosro<strong>de</strong>ia.Não existe uma «bitola» clara <strong>para</strong> a análise da estética, é simplesmente consi<strong>de</strong>radauma expressão pessoal, cheia <strong>de</strong> mistério, mas cercada <strong>de</strong> dis<strong>para</strong>tes. Perguntamo-nosmuitas vezes o que é a beleza? A avaliação pouco tem <strong>de</strong> subjectiva: a fórmula da beleza,<strong>de</strong>strinçada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong>, é quase matemática, e o seu principal fundamento está naharmonia <strong>do</strong>s traços – mais precisamente, na sua simetria. Apresentar medidas quaseidênticas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo e da face é irresistivelmente <strong>de</strong>sejável porque, <strong>do</strong> ponto<strong>de</strong> vista da biologia evolutiva, a simetria é um sinal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.A ciência já comprovou que animais simétricos apresentam um crescimento maiorque a média, são mais férteis e sobrevivem por mais tempo. A beleza está associada à saú<strong>de</strong>e à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução. Num estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valência, emEspanha, 66 mulheres seleccionaram fotos <strong>de</strong> homens que consi<strong>de</strong>raram bonitos. Colhi<strong>do</strong>o sémen <strong>do</strong>s eleitos, os investiga<strong>do</strong>res <strong>de</strong>scobriram que os seus espermatozói<strong>de</strong>s eram maisrápi<strong>do</strong>s que os <strong>do</strong>s outros. Sinal <strong>de</strong> que também a natureza prefere os belos.Enquanto estes traços da superfície humana variam com o tempo, a aplicação <strong>do</strong><strong>para</strong>digma da saú<strong>de</strong> aos «traços» permanentes como a estrutura óssea e característicasfaciais é profunda. To<strong>do</strong>s os mamíferos são biologicamente pensa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> serembilateralmente simétricos. Qualquer variação na simetria é um sinal <strong>de</strong> ruptura <strong>do</strong> processo<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Um animal que cresça perfeitamente simétrico estará livre <strong>de</strong> <strong>do</strong>ençasnos seus anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Este é um sinal claro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Num mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> rastos por causa das necessida<strong>de</strong>s humanas <strong>de</strong> objectos, apreocupação com o fazer as coisas bonitas po<strong>de</strong>ria ser entendida como um crime contra ahumanida<strong>de</strong>, mas o homem necessita <strong>de</strong> estruturas e dispositivos que estejam enriquecidas<strong>para</strong> além <strong>do</strong> seu simples conteú<strong>do</strong> utilitário, esta necessida<strong>de</strong> faz parte da naturezahumana. O prazer e equilíbrio da harmonia das proporções são necessida<strong>de</strong>s psicológicas.52


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rNão são só criaturas sofisticadas como o homem, mas também espécies mais básicas, queparecem necessitar <strong>de</strong>ste enriquecimento estético.A moda está directamente ligada com a aparência e a projecção da imagemindividual, esta actua como um promotor da beleza física. Nancy Etcoff 33 escritora <strong>do</strong> livro“A lei <strong>do</strong> mais belo – a ciência da beleza” (Objectiva, 1999) <strong>de</strong>screve a importância da aparênciabiológica como um indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> «interna» ou <strong>de</strong> sucesso, sen<strong>do</strong> que a moda é umaextensão da aparência biológica. Tal como a cauda <strong>do</strong> pavão, referida mais a frente, a modaprojecta também muitas outras características e traços <strong>de</strong> cada um. Se a moda po<strong>de</strong> servista como uma aproximação <strong>para</strong> a «habilida<strong>de</strong>» reprodutiva, então é um jogo <strong>de</strong> alto-riscoe <strong>de</strong> facto uma questão <strong>de</strong> vida ou <strong>de</strong> morte, ao nível genético. O próprio termomoda/fashion está conota<strong>do</strong> com qualquer coisa que é pensa<strong>do</strong>/<strong>de</strong>senha<strong>do</strong> <strong>para</strong> um curtoperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, uma curta longevida<strong>de</strong>. Parte da sua natureza aparece e <strong>de</strong>saparece, écíclica.O conflito entre a importância da moda e a sua aparente inutilida<strong>de</strong> é muito bemanalisada pelo sociologista Thorsten Veblen 34 no seu ensaio “The Theory of the Leisure Class”(Dover, 1994). Neste estu<strong>do</strong> Thorsten Veblen explica as tendências na roupa, moda e<strong>de</strong>sign e diz que, “ é evi<strong>de</strong>nte que as roupas não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas elegantes, ou mesmo <strong>de</strong>centes, seestas <strong>de</strong>monstram «características» <strong>de</strong> trabalho manual por parte <strong>do</strong> utente, na forma <strong>de</strong> sujida<strong>de</strong> ou<strong>de</strong>sgaste”. Roupas e estilo são <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res mais importantes <strong>de</strong> status no comportamentohumano.Na era <strong>de</strong> Thorsten Veblen, finais <strong>do</strong> século XIX, a produção em massa era incapaz<strong>de</strong> produzir muitos tipos <strong>de</strong> roupas, ou pelo menos roupa com <strong>de</strong>talhe. Itens como rendas,seda e camurça <strong>de</strong>monstravam a riqueza <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r através <strong>de</strong> múltiplos canais. Muita daroupa na altura era feita à mão, especialmente os enfeites como a renda, a própria natureza<strong>do</strong> vestuário e as suas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> «manufactura» <strong>de</strong>monstravam indirectamente ariqueza <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r. Enquanto que o utiliza<strong>do</strong>r não precisa necessariamente <strong>de</strong> possuir otempo necessário <strong>para</strong> o trabalho <strong>de</strong> bordar à mão, algo muito difícil e minucioso, a posse<strong>de</strong> borda<strong>do</strong> funcionou como um claro indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> que tinham riqueza suficiente <strong>para</strong>pagar a alguém <strong>para</strong> <strong>de</strong>dicar centenas <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> costura num artigo <strong>de</strong> vestuário.33Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Psicóloga Americana e membro da Harvard Medical School e da Harvard University’sMind/Brain/Behavior Initiative. Dirige o Programa <strong>de</strong> estética e Bem-estar no Massachusetts General Hospital, Departamento <strong>de</strong>Psiquiatria. Ao longo da sua vida tem investiga<strong>do</strong> sobre a percepção da beleza, emoção e o cérebro. (fonte:http://www.edge.org/3rd_culture/bios/etcoff.html)34(30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1857 - 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1929). Economista e sociólogo Americano. Formou-se em Filosofia pela Universida<strong>de</strong> JohnsHopkins e <strong>do</strong>utorou-se por Yale. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Thorstein_Veblen)53


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoProduto e Utiliza<strong>do</strong>rA camurça e as luvas brancas <strong>de</strong> seda são outro exemplo. Eramextraordinariamente caras e particularmente frágeis, o que só fazia com que fossem aindamais <strong>de</strong>sejáveis, algo que ainda acontece actualmente.O objectivo primário das roupas como protecção, foi já há muito tempo«eclipsa<strong>do</strong>» pelo seu significa<strong>do</strong> social e o sinal que transmite. A partir da época <strong>de</strong>Thorsten Veblen (1857 – 1929), o vestuário funcional tem si<strong>do</strong> suficientemente barato <strong>para</strong>colocá-lo ao alcance <strong>de</strong> praticamente to<strong>do</strong>s os consumi<strong>do</strong>res, mas isto revelou-seinsatisfatório <strong>para</strong> muitos consumi<strong>do</strong>res que optam por comprar roupas mais caras <strong>do</strong> quenecessitam.Desta maneira, o vestuário é o sinal mais pessoal que uma pessoa po<strong>de</strong> manter emforma <strong>de</strong> produto, sem ser o seu carro. O valor <strong>de</strong>stes sinais é proporcional à sua exposiçãoaos outros como um indica<strong>do</strong>r fiável <strong>de</strong> consciencialização da cultura, <strong>do</strong> patrimóniopessoal e, consequentemente <strong>do</strong>, status social.As roupas são mais um sinal confiável, agin<strong>do</strong> como um status social <strong>para</strong>transmitir informações valiosas análogas à informação genética <strong>do</strong>s indivíduos baseada naaparência física.54


“Luxos” ou Atributos indispensáveis?A ornamentação na natureza como factor exterior <strong>de</strong> comunicação estética.A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto“luxos” ou atributos indispensáveis?Charles Darwin 35 na sua proposta inicial da teoria da evolução, consi<strong>de</strong>rou algunstraços <strong>do</strong>s animais como «lixo», ou em conflito directo com a perseguição da evolução.Estes traços são muitas vezes chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ornamentação, uma palavra repleta <strong>de</strong>significa<strong>do</strong> no contexto <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign. O reino animal, contu<strong>do</strong>, só se envolve no esforço <strong>do</strong><strong>de</strong>sperdício ou <strong>do</strong> supérfluo quan<strong>do</strong> existem benefícios a longo termo.Compreen<strong>de</strong>r as causas da existência <strong>de</strong> ornamentação na natureza, po<strong>de</strong> ser umaimportante lição aplicada ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.O exemplo <strong>de</strong> «luxo» mais cita<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> animal é a cauda <strong>do</strong> pavão, umexemplo intuitivo <strong>de</strong> ornamentação animal.Figura 23- Cauda <strong>do</strong> Pavão. (fonte: ver anexo 1)A cauda <strong>do</strong> Pavão é uma sinfonia <strong>de</strong> simetria, <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> através da sua simetria<strong>de</strong> escala, no padrão das plumas e até nos «olhos» concêntricos <strong>de</strong> cada pluma. Comoqualquer estudante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign sabe, elipses concêntricas ou círculos são as mais difíceisfiguras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar, e não é diferente na natureza.A cauda <strong>do</strong> pavão é mais <strong>do</strong> que um ornamento. Uma vez que as fêmeas nãoconseguem ver o interior <strong>de</strong> cada possível companheiro, este <strong>de</strong>senvolveu ornamentaçãoque possibilita toda a informação que a fêmea po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar. Um potencial «batoteiro», quecanalizasse toda a sua energia <strong>para</strong> uma cauda esplen<strong>do</strong>rosa, iria sofrer a longo prazo. Mais<strong>do</strong> que amplificar sinais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a cauda serve também como «handicap físico». As penassão um «far<strong>do</strong>» significante, ou um «handicap físico» real. Estas anunciam não só saú<strong>de</strong>35(12 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1809 - 19 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1882). Naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunida<strong>de</strong> científica daocorrência da evolução e propor uma teoria <strong>para</strong> explicar como ela se dá por meio da selecção natural e sexual . Esta teoria <strong>de</strong>senvolveuseno que é agora consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o <strong>para</strong>digma central <strong>para</strong> explicação <strong>de</strong> diversos fenómenos na Biologia. Foi laurea<strong>do</strong> com a medalhaWollaston concedida pela Socieda<strong>de</strong> Geológica <strong>de</strong> Londres, em 1859. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin)55


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto“luxos” ou atributos indispensáveis?mas também capacida<strong>de</strong> física, pois só um robusto pavão consegue suportar um far<strong>do</strong> <strong>de</strong>plumas tão gran<strong>de</strong>.O mesmo se passa nos humanos, embora menos claramente. Algumascaracterísticas masculinas, como a massa muscular e mandíbulas quadradas sãoconsi<strong>de</strong>radas atraentes. Estes traços estão directamente relaciona<strong>do</strong>s com a hormonamasculina «testosterona», e que é ela própria um «handicap».Na socieda<strong>de</strong> humana a interacção entre sexos é normalmente vista como um <strong>do</strong>s<strong>do</strong>mínios mais difíceis na comunicação. Nada surpreen<strong>de</strong>nte, parece que a cauda <strong>do</strong> pavãoestá envolvida nas propostas sexuais primárias da espécie. Esta categorização não é merasuposição, mas é <strong>de</strong>monstrada repetidamente no comportamento animal.Nos animais, os ornamentos físicos aparentemente excessivos são pre<strong>do</strong>minantesnos machos, como refere a psicóloga Helena Cronin 36 , no seu livro “The Peackock´s Tail:Altruism and sexual selection from Darwin to today” (Cambridge, 1993). Os exemplos incluem ajuba <strong>do</strong> leão, os chifres <strong>do</strong>s alces e a já referida cauda <strong>do</strong> Pavão.Figura 24 Figura 25 Figura 26Figura 24 - Juba <strong>de</strong> leão (fonte: ver anexo 1)Figura 25 - Chifres <strong>de</strong> alce (fonte: ver anexo 1)Figura 26 - Cauda <strong>de</strong> pavão (fonte: ver anexo 1)Porque é que o pavão produziu uma cauda tão ornamentada? Entre as primeirasteorias está a <strong>de</strong> Ronald Fisher 37 , um biologista evolucionário <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> Inglesa.Ronald Fisher lança a hipótese <strong>de</strong> que estes traços <strong>do</strong>s machos po<strong>de</strong>m ser simplesmenteuma consequência aleatória <strong>de</strong> escolha das fêmeas, geran<strong>do</strong> assim um ciclo vicioso, on<strong>de</strong> aescolha inicial influencia a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a escolha a seguir seja a mesma e assim pordiante.36Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Psicóloga evolucionista. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Cronin)37(17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1890—29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1962). Estatístico, biólogo evolutivo e geneticista inglês. Foi <strong>de</strong>scrito por An<strong>de</strong>rs Hald como"um génio que criou praticamente sozinho as fundações <strong>para</strong> a mo<strong>de</strong>rna ciência estatística" [1] e Richard Dawkins, que o <strong>de</strong>screveu como"o maior <strong>do</strong>s sucessores <strong>de</strong> Darwin". (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ronald_Fisher)56


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto“luxos” ou atributos indispensáveis?Porque são os chifres, caudas e peles consistentemente ornamentais, muito mais <strong>do</strong>que pés, braços ou olhos? Um critério parece ser a irrelevância <strong>do</strong>s traços afecta<strong>do</strong>s pelafunção básica <strong>do</strong> animal, o que vai <strong>de</strong> encontro à teoria <strong>de</strong> Ronald Fisher on<strong>de</strong> eleconsi<strong>de</strong>ra que a resposta é tão arbitrária como a moda, engloba a sorte, reforçada com osciclos virtuosos.O génio <strong>de</strong> Amotz 38 e Avishag 39 Zahavi expresso no seu livro “The handicap Principle:A missing piece of Darwin`s puzzle” (Oxford UP, 1997), foi perceber que, aparentemente aornamentação irrelevante po<strong>de</strong> ser a melhor maneira <strong>de</strong> perceber os «segre<strong>do</strong>s» <strong>de</strong> umanimal. E se um ornamento po<strong>de</strong>r ser utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> se compreen<strong>de</strong>r a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um animal?Deixaria <strong>de</strong> ser um ornamento? Talvez a selecção natural, afinal não seja assim tãoarbitrária.A síntese <strong>do</strong> «handicap principle» em que os sinais efectivos <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> confiança, eo resulta<strong>do</strong> da evolução natural, em que os traços <strong>do</strong>s machos são a consequência daselecção das fêmeas e <strong>do</strong> ciclo virtuoso, oferecem-nos pistas importantes <strong>para</strong> acompreensão da ornamentação, com possíveis aplicações práticas no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.Quan<strong>do</strong> pensamos em atracção física nos humanos os primeiros traços que nosvêm à mente são aqueles mais relaciona<strong>do</strong>s com a saú<strong>de</strong> geral. Olhos claros, com <strong>de</strong>ntesbrancos, cabelo lustroso e pele saudável são to<strong>do</strong>s consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s atractivos. To<strong>do</strong>s estestraços são extremamente vulneráveis à má nutrição e à <strong>do</strong>ença ao longo da vida <strong>de</strong> um serhumano. Estes traços são também os primeiros a sofrer o <strong>de</strong>sgaste da ida<strong>de</strong>. Não é umacoincidência que a atracção se fixe neste traços, “a <strong>de</strong>rme <strong>de</strong> cada um é um «espelho» da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>cada um” (Etcoff, N. 2001).Sinais vivos vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> reino animal (como os da cauda <strong>do</strong> pavão), apenas sãoproduzi<strong>do</strong>s como sinais <strong>de</strong> comunicação honesta entre animais e, tal como foi referi<strong>do</strong>atrás, os próprios humanos também usufruem <strong>de</strong>ste género <strong>de</strong> sinais <strong>para</strong> estabeleceremrelações. Este conceito <strong>de</strong> comunicação fiável entre exterior e interior é <strong>de</strong> bastanteinteresse aplica<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto. Conseguin<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r os exemplos naturaispo<strong>de</strong>rá ser possível retirar importantes ensinamentos e «<strong>do</strong>tar» os produtos <strong>de</strong>características e sinais que consigam estabelecer uma boa relação com o seu utiliza<strong>do</strong>r, Esteé um conceito fundamental na moda, e cada vez mais aplica<strong>do</strong> no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.38(1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1928). Biologista Evolucionário Israelita, Professor Emeritus no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Zoologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> TelAviv, e um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res da Socieda<strong>de</strong> Israelita <strong>para</strong> a Protecção da Natureza. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Amotz_Zahavi)39(Haifa - Israel, 1922), Professora Emerita no Volcani Center <strong>para</strong> pesquisa em Agricultura, Bet-Dagan, Israel. É conhecida pela suaestreita colaboração com o seu mari<strong>do</strong> Amotz Zahavi. Desenvolveram em conjunto o Handicap principle.Para além <strong>de</strong> colaborar com Amotz Zahavi, o seus interesses <strong>de</strong> investigação pren<strong>de</strong>m-se com os efeitos da luz no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>plantas. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Avishag_Zahavi)57


58A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteA Natureza: Uma Lição PermanenteA observação da natureza, como méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong> exemplo, era umatendência minoritária há quarenta anos atrás quan<strong>do</strong> alguns «pensa<strong>do</strong>res» comoBuckminster Fuller 40 ou Victor Papanek 41 , reforçaram a i<strong>de</strong>ia ancestral <strong>de</strong> antigosvisionários, como Leonar<strong>do</strong> da Vinci, talvez o mais importante <strong>de</strong> entre to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> que anatureza po<strong>de</strong>ria ser um excelente exemplo <strong>de</strong> inspiração <strong>para</strong> a solução das necessida<strong>de</strong>shumanas.Leonar<strong>do</strong> da Vinci e a Divina ProporçãoA arte lírica e as i<strong>de</strong>ias científicas, muitas «escondidas» em ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> anotações,revelam a sua crença na natureza como fonte <strong>de</strong> inspiração.Observan<strong>do</strong> as soluções encontradas pela natureza, po<strong>de</strong>mos também apren<strong>de</strong>r alógica interna das formas. Encontramos esta atitu<strong>de</strong> em Leonar<strong>do</strong> da Vinci 42 quan<strong>do</strong>procurou, no voo <strong>do</strong>s pássaros, a solução <strong>para</strong> as máquinas <strong>de</strong> voar, ou quan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>u omovimento da água e a anatomia <strong>do</strong>s peixes, <strong>para</strong> inventar diversas máquinas hidráulicas,barcos e submarinos.Já na sua altura, Leonar<strong>do</strong> da Vinci inspirava-se nos pássaros, morcegos ouinsectos, estudan<strong>do</strong> a sua anatomia e os seus movimentos durante o voo com o intuito <strong>de</strong>construir a sua «máquina <strong>de</strong> voar». Ele estava interessa<strong>do</strong> em concretizar o sonho <strong>de</strong> voare, por ser um exímio artista e conhece<strong>do</strong>r da natureza, sabia mais <strong>do</strong> que ninguém que nosbons projectos <strong>de</strong>ve existir um diálogo íntimo entre a forma física <strong>do</strong> objecto e o meioambienteque o envolve, <strong>de</strong> maneira a que isso resulte num certo equilíbrio, evitan<strong>do</strong>perdas <strong>de</strong> material, dispêndio <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> tempo, semelhante em tu<strong>do</strong> ao que existe nanatureza.Leonar<strong>do</strong> da Vinci trouxe ao universo científico uma perspectiva única ao abordálocom o seu olhar <strong>de</strong> artista. Ele foi, sob muitos aspectos, o verda<strong>de</strong>iro pai da ciênciamo<strong>de</strong>rna. Desenvolveu 100 anos antes <strong>de</strong> Galileu 43 , o méto<strong>do</strong> empírico que hoje nósconhecemos na ciência como méto<strong>do</strong> científico. Este méto<strong>do</strong> era uma ciência muito40(12 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1895 — 1 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1983). Visionário, <strong>de</strong>signer, arquitecto, inventor e escritor Americano. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Buckminster_Fuller)41(1927 – 1998). Designer e educa<strong>do</strong>r que se tornou um forte advoga<strong>do</strong> da responsabilida<strong>de</strong> social e ecologica <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produtos,ferramentas e infra-estruturas da comunida<strong>de</strong>. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Victor_Papanek)42(15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1452 - 2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1519). Uma das figuras mais importantes <strong>do</strong> Renascimento Italiano, que se <strong>de</strong>stacou como cientista,matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquitecto, botânico, poeta e músico. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonar<strong>do</strong>_da_Vinci)43(15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1564 —8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1642). Físico, matemático, astrónomo e filósofo italiano. Teve um papel prepon<strong>de</strong>rante nachamada revolução científica. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei)59


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentediferente da <strong>de</strong> Galileu, esta nova maneira <strong>de</strong> interpretar o mun<strong>do</strong> não era mecanicista, masestava sim preocupada com as formas orgânicas, as formas vivas da natureza.Leonar<strong>do</strong> Da Vinci também era o que se chamaria hoje <strong>de</strong> pensa<strong>do</strong>r sistémico, ofenómeno que ele observava era por ele relaciona<strong>do</strong> com outros. Para ele tu<strong>do</strong> estavarelaciona<strong>do</strong> com tu<strong>do</strong> (e.g. quan<strong>do</strong> observou turbulência na água, relacionou essefenómeno à turbulência <strong>do</strong> ar). Leonar<strong>do</strong> Da Vinci via relações on<strong>de</strong> os outros viamapenas diferenças.Fascina<strong>do</strong> pelo voo <strong>do</strong>s pássaros, criou planos <strong>para</strong> máquinas voa<strong>do</strong>ras, projectouum helicóptero e um plana<strong>do</strong>r.Figura 27 - Helicóptero <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci. (fonte: ver anexo 1)Os seus famosos <strong>de</strong>senhos revelam conhecimentos com séculos <strong>de</strong> avanço. Nassuas famosas anotações científicas, há centenas <strong>de</strong> ilustrações <strong>de</strong> projectos nas maisdiversas áreas, da hidráulica à cosmologia, da astronomia à geologia, passan<strong>do</strong> pelapaleontologia, geografia, mecânica, gastronomia, música e também por audaciososprojectos <strong>de</strong> engenharia, que provam a universalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu saber.Figura 28 - Folha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci. (fonte: ver anexo 1)60


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteAtravés <strong>do</strong>s seus estu<strong>do</strong>s percebeu que os objectos naturais oferecem umcontributo essencial na resposta à questão estética: a natureza não persegue a beleza atravésda imitação. De uma certa forma, ela funciona a montante da avaliação estética humana,pois ela é a sua própria fonte. O julgamento da estética humana é, <strong>de</strong> facto, basea<strong>do</strong> noproduto integra<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses processos que, na sua evolução, espelha a harmoniosa economiadas funções vitais nos animais e vegetais. Esta harmonia e economia funcional tem si<strong>do</strong> ocritério <strong>de</strong> beleza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estética clássica até ao presente.Leonar<strong>do</strong> da Vinci era um gran<strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r da natureza e utilizou em muitasobras a divina proporção, que também po<strong>de</strong> ser chamada <strong>de</strong>; razão áurea, razão <strong>de</strong> ouro,proporção em extrema razão, divisão <strong>de</strong> extrema razão, ou seja, a mais agradável proporçãoentre duas medidas.A divina proporção é a representação visual <strong>de</strong> um número chama<strong>do</strong> Phi(pronuncia-se Fi), <strong>de</strong> valor arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong> a três casas <strong>de</strong>cimais <strong>de</strong> 1,618, que foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>pela Sequência <strong>de</strong> Fibonacci 44 . Este número está envolvi<strong>do</strong> na natureza <strong>do</strong> crescimento.Po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> em inúmeros exemplos da natureza, como na proporção <strong>de</strong>crescimento <strong>do</strong> raio interior das conchas (e.g. o nautilus), em plantas (e.g. girassol), nasartes (e.g. homem vitruviano), nos seres humanos (e.g. tamanho das falanges, ossos <strong>do</strong>s<strong>de</strong><strong>do</strong>s), e até na relação <strong>do</strong>s machos e fêmeas <strong>de</strong> qualquer colmeia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e eminúmeros outros exemplos que envolvem a or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> crescimento.Fig. 29 Fig. 30 Fig. 3144Na matemática, os Números <strong>de</strong> Fibonacci são uma sequência <strong>de</strong>finida como recursiva pela fórmula abaixo:Na prática: começamos com os números 0 e 1, que seguidamente produz o próximo número <strong>de</strong> Fibonacci soman<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is anteriores<strong>para</strong> formar o próximo. Os primeiros Números <strong>de</strong> Fibonacci (sequência A000045 na OEIS) <strong>para</strong> n = 0, 1,... são0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, 4181, 6765, 10946...Esta sequência foi <strong>de</strong>scrita primeiramente por Leonar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pisa, também conheci<strong>do</strong> como Fibonacci (Dc. 1200), <strong>para</strong> <strong>de</strong>screver ocrescimento <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> coelhos. Os números <strong>de</strong>screvem o número <strong>de</strong> casais numa população <strong>de</strong> coelhos. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Número_<strong>de</strong>_Fibonacci)61


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFig. 32 Fig. 33Figura 29 - Concha <strong>do</strong> Caramujo Nautilus. A proporção em que cresce o raio <strong>do</strong> interior da concha <strong>de</strong>staespécie <strong>de</strong> caramujo. (fonte: ver anexo 1)Figura 30 - Semente <strong>de</strong> girassol. A proporção em que aumenta o diâmetro das espirais <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> umgirassol é a divina proporção. (fonte: ver anexo 1)Figura 31 - A proporção no corpo <strong>de</strong> insectos. (fonte: ver anexo 1)Figura 32 - O Homem Vitruviano, <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> da Vinci . As i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> proporção e simetria aplicadas àconcepção da beleza humana. Leonar<strong>do</strong> combinou nesta imagem ambas as posições <strong>do</strong>s membros, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>como elementos comuns a cabeça e o tronco, fican<strong>do</strong> a circunferência. (fonte: ver anexo 1)Figura 33 - Proporção <strong>do</strong> rosto humano. (fonte: ver anexo 1)Um rectângulo só parece harmonioso se as suas proporções (relação entrecomprimento <strong>de</strong> la<strong>do</strong> mais compri<strong>do</strong> e la<strong>do</strong> mais curto) cumprem esta proporção. Háindícios da proporção áurea em quase toda informação que os seres-humanos observam eprocessam; na natureza, no espaço, na física, na matemática, na arte, no <strong>de</strong>sign, etc.É possível encontrar a aplicação <strong>de</strong>ste conceito em inúmeros produtos «artificiais»<strong>do</strong> nosso dia-a-dia. To<strong>do</strong>s andamos com esta proporção no bolso: no bilhete <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,nos maços <strong>de</strong> cigarros, cartões <strong>de</strong> crédito e nos cartões-<strong>de</strong>-visita. Nas cida<strong>de</strong>s éomnipresente; em muitos logotipos, nas fachadas <strong>do</strong>s edifícios, no formato <strong>de</strong> uma porta,até no traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> algumas ruas e praças.É interessante perceber que a natureza, o mecanismo mais complexo da vida naterra, possui uma base, uma proporção, que po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o formato <strong>de</strong> umapequena concha até à razão <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong>s galhos <strong>de</strong> uma árvore.Essa sequência aparece na natureza, no ADN, no comportamento da refracção da luz, <strong>do</strong>sátomos, nas vibrações sonoras, no crescimento das plantas, nas espirais das galáxias, nosmarfins <strong>de</strong> elefantes, nas ondas no oceano, furacões, etc.Esta or<strong>de</strong>m proporcional <strong>de</strong> crescimento, várias vezes observada na natureza,aplicada ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, contribui <strong>para</strong> que os receptores se sintam mais à vonta<strong>de</strong>em interpretar produtos on<strong>de</strong> esta proporção está presente.62


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFig. 34 Fig. 35 Fig. 36Figura 34 - Ipod. (fonte: ver anexo 1)Figura 35 - Maço <strong>de</strong> Cigarros. (fonte: ver anexo 1)Figura 36 - Cartões <strong>de</strong> Crédito. (fonte: ver anexo 1)A proporção altura/largura no Ipod, nos maços <strong>de</strong> cigarros e nos cartões <strong>de</strong> crédito é a divina proporção.Actualmente não faz senti<strong>do</strong> pensar que se po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r algo <strong>de</strong> novo sobre as<strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> da Vinci, uma vez que estas já foram re<strong>de</strong>scobertas em termoscientíficos mas, sem dúvida, po<strong>de</strong>mos ser profundamente inspira<strong>do</strong>s pela ciência queestuda a interacção <strong>do</strong>s fenómenos e respeitar a natureza como um valor ético. A socieda<strong>de</strong>e a evolução precisam <strong>de</strong>sses valores e Leonar<strong>do</strong> da Vinci po<strong>de</strong> inspirar nesse campo.Linhas sinuosas e formas floraisNão é possível avançar <strong>para</strong> um estu<strong>do</strong> mais aprofunda<strong>do</strong> <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo natural semantes referir a Arte Nova, talvez o primeiro estilo conscientemente relaciona<strong>do</strong> e inspira<strong>do</strong>na natureza.Este estilo artístico, das últimas décadas <strong>do</strong> século XIX e primeiras décadas <strong>do</strong>século XX, interpretava a natureza como forma <strong>de</strong> inspiração, embora, na gran<strong>de</strong> maioria<strong>do</strong>s casos, apenas <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>corativa, <strong>de</strong>senhan<strong>do</strong> motivos e padrões sem tentarcompreen<strong>de</strong>r a verda<strong>de</strong>ira inspiração que a natureza podia dar ao nível <strong>do</strong>s conceitos eformas <strong>de</strong> funcionamento que são na realida<strong>de</strong> as gran<strong>de</strong>s lições da natureza.Com o aparecimento <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s fabris <strong>de</strong> produção em série, foi criada umaenorme varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens mais facilmente disponíveis <strong>do</strong> que nunca. O mun<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u, eno entanto não existia uma transformação correspon<strong>de</strong>nte nos estilos usa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> darforma à aparência <strong>do</strong>s produtos. No <strong>de</strong>sign <strong>do</strong>s objectos <strong>do</strong> dia-a-dia, bem como nos <strong>do</strong>sedifícios, continuava-se a privilegiar a inspiração nos velhos estilos; clássico, gótico,renascentista, barroco ou Luís XV.As linhas sinuosas e o alongamento das formas florais, que facilmente i<strong>de</strong>ntificam aArte Nova, são inspiração directa da natureza e não <strong>de</strong> estilos anteriores. A Arte Nova foi oprimeiro estilo a, aparentemente, não possuir as suas raízes profundamente enterradas na63


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentehistória europeia. Parecia ser o verda<strong>de</strong>iro primeiro novo estilo <strong>de</strong> século, apesar <strong>de</strong> apenaster emergi<strong>do</strong> nas últimas décadas. Com a sua total rejeição da história, a Arte Nova po<strong>de</strong>ser consi<strong>de</strong>rada como o primeiro verda<strong>de</strong>iro estilo internacional mo<strong>de</strong>rno. Este facto ajudaa explicar o entusiasmo com que foi acompanha<strong>do</strong> e a sua rápida expansão.Provavelmente, até aos nossos dias, não existiu outra Era em que a influência danatureza tenha ti<strong>do</strong> uma importância tão fundamental como no perío<strong>do</strong> da Arte Nova.Aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> o ornamento recto a favor <strong>de</strong> um movimento curvilíneo maisnatural, a Arte Nova utilizou, pre<strong>do</strong>minantemente, motivos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das plantas comoelementos estruturais, transforman<strong>do</strong> o objecto numa encarnação da vida e <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>crescimento inerente à sua estrutura.Flores, caules e folhas eram objecto <strong>de</strong> inspiração <strong>para</strong> as formas curvilíneas. Oslírios, as íris e as orquí<strong>de</strong>as eram favoreci<strong>do</strong>s, embora qualquer forma, das folhas daspalmeiras às algas marinhas, oferecesse potencial <strong>para</strong> ser transformada num padrão. Osinsectos e os pássaros colori<strong>do</strong>s e elegantes prestavam-se ao mesmo processo <strong>de</strong> estilizaçãoe refinamento – libelinhas, pavões, an<strong>do</strong>rinhas – assim como criaturas como cobras ougalgos.Estas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>corativas também se podiam <strong>de</strong>senvolver a partir das curvas<strong>do</strong> corpo feminino, em especial quan<strong>do</strong> combinadas com longas, soltas e fluentescabeleiras, que podiam ser compostas numa fantasia <strong>de</strong> caracóis e ondas.O artista da Arte Nova perseguia uma via semelhante ao extrair formas da natureza,no intuito <strong>de</strong> comunicar a essência <strong>de</strong> uma flor, mais através das suas linhas suaves e corviçosa <strong>do</strong> que <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição minuciosa. O «amor» pelo dinamismo explica a predilecçãoda Arte Nova pelos arabescos e linhas em serpentina. A soli<strong>de</strong>z, o volume, a continuida<strong>de</strong>,qualquer ligação com o peso ou a estabilida<strong>de</strong> e a quietu<strong>de</strong> opunham-se ao estilo ArteNova.As formas abstractas arre<strong>do</strong>ndadas <strong>do</strong> vaso Favrille <strong>de</strong> Louis Comfort Tiffany 45captam a essência da natureza.45 (18 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1848 – 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1933). Artista e <strong>de</strong>signer Americano que trabalhou nas artes <strong>de</strong>corativas, sen<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>pelo seu trabalho em vitral. É o artista Americano mais associa<strong>do</strong> com a Arte Nova e os movimentos estéticos. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Louis_Comfort_Tiffany)64


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 37 - Vaso Favrille – ano <strong>de</strong> 1900. (fonte: ver anexo 1)A razão que levou os «<strong>de</strong>signers» da década <strong>de</strong> 1890 a procurar inspiração nanatureza tinha muito a ver com anteriores pesquisas científicas no <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> natural, como o trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Charles Darwin sobre a origem das espécies, publica<strong>do</strong>em 1859, as ilustrações <strong>de</strong> botânica <strong>de</strong> Ernst Haeckel 46 e os estu<strong>do</strong>s fotográficos <strong>de</strong> flores<strong>de</strong> Karl Blossfeldt 47 no final <strong>do</strong> século XIX.O <strong>de</strong>senho das entradas <strong>do</strong> metro <strong>de</strong> Paris por Hector Guimard 48 em 1900 aindahoje continua a caracterizar a paisagem da cida<strong>de</strong>. Estas estruturas em ferro fundi<strong>do</strong>, foraminspiradas na natureza e não representan<strong>do</strong> a natureza.À medida que o estilo evoluiu, foi crescen<strong>do</strong> a procura <strong>de</strong> formas mais originais.46 (16 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1834 - 9 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1919). Naturalista alemão que aju<strong>do</strong>u a popularizar o trabalho <strong>de</strong> Charles Darwin e um <strong>do</strong>sgran<strong>de</strong>s expoentes <strong>do</strong> cientismo positivista. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernst_Haeckel)47 (1865 – 1932). Fotógrafo, escultor e professor alemão. As suas fotos da natureza, em macro, tiveram gran<strong>de</strong> influência sobre osornamentos orgânicos <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign e das artes. ( fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Blossfeldt)48 (1867-1942). Arquitecto e <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>r industrial francês ,lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong> movimento Art Nouveau. Guimard não é tão conheci<strong>do</strong> pelos seusedifícios quanto pelas linhas <strong>do</strong> metro <strong>de</strong> Paris (a maior produzida entre 1899 e 1900), on<strong>de</strong> usou o ferro fundi<strong>do</strong> em a<strong>do</strong>rnos criativoscom formatos <strong>de</strong> plantas. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hector_Guimard)65


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 38 Figura 39 Figura 40Figura 38 - Ilustração científica <strong>do</strong> naturalista alemão Ernst Haeckel <strong>para</strong> o livro Formas Artísticas daNatureza. (fonte: ver anexo 1)Figura 39 - Foto <strong>de</strong> Nigella Damascena. (fonte: ver anexo 1)Figura 40 - Entrada <strong>do</strong> metro <strong>de</strong> Paris. (fonte: ver anexo 1)Cerca <strong>de</strong> 1905, a Arte Nova diluiu-se no <strong>de</strong>sign comercial, rapidamente substituí<strong>do</strong>por uma estética julgada mais à altura <strong>do</strong> novo século. Contu<strong>do</strong>, a própria Arte Nova ficoua <strong>de</strong>ver gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> à sua mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> entãouniversal.Através da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobiliário da Arte Nova, é possível observar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>abordagens menos coerentes até às mais elegantes curvas simples, bem como enfeites comentalhes, bronze, <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s ou marfim. Existe um contraste semelhante entre projectosobviamente <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao conforto e utilida<strong>de</strong> e aqueles que quase sacrificam estas duaspreocupações a favor <strong>do</strong> efeito visual.A atenção ao pormenor e a manipulação <strong>do</strong>s materiais significavam, em regra, queo mobiliário da Arte Nova era ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> a qualquer meio <strong>de</strong> produção que não fosse o<strong>do</strong> artesão individual. À semelhança <strong>do</strong> movimento Arts & Crafts 49 em Inglaterra, o<strong>de</strong>signer da Arte Nova viu-se força<strong>do</strong> a aceitar o facto <strong>de</strong> que o seu trabalho era, antes <strong>de</strong>mais, um luxo dispendioso <strong>para</strong> uma elite, apesar <strong>de</strong> quaisquer i<strong>de</strong>ais utópicos <strong>de</strong> arte <strong>para</strong>to<strong>do</strong>s, como os <strong>de</strong> William Morris 50 .O mobiliário Arte Nova <strong>de</strong> fábrica per<strong>de</strong>u, inevitavelmente, muita da sua vitalida<strong>de</strong>natural e era uma versão tosca <strong>do</strong> seu equivalente artesanal.49Movimento estético surgi<strong>do</strong> na Inglaterra, na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX. Defendia o artesanato criativo como alternativa àmecanização e à produção em massa e pregava o fim da distinção entre o artesão e o artista. Fez frente aos avanços da indústria epretendia imprimir em móveis e objetos o traço <strong>do</strong> artesão-artista, que mais tar<strong>de</strong> seria conheci<strong>do</strong> como <strong>de</strong>signer. Foi influencia<strong>do</strong> pelasidéias <strong>do</strong> romântico John Ruskin e li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelo socialista e medievalista William Morris. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Arts_&_crafts)50(24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1834 - 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1896). Foi um <strong>do</strong>s principais funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Movimento das Artes e Ofícios britânico. Ele erapintor - <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, teci<strong>do</strong>s padroniza<strong>do</strong>s e livros - além <strong>de</strong> escritor <strong>de</strong> poesia e ficção e um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> movimentosocialista na Inglaterra. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Morris)66


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 41 Figura 42Figura 41 - Projecto <strong>de</strong> Emil Gallé 51 . (fonte: ver anexo 1)Figura 42 - Projecto <strong>de</strong> René Lalique 52 . (fonte: ver anexo 1)A Arte Nova ficou contu<strong>do</strong>, ligada à <strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> final <strong>de</strong> século, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao facto<strong>de</strong> se basear em motivos ornamentais. Como resulta<strong>do</strong>, viria a ser estilisticamenteultrapassada pela estética mecanizada <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> século XX e pelas formasgeométricas simples, menos naturais e mais adaptadas à produção industrial.O nosso mun<strong>do</strong> «(Im)perfeito» e o DesignO ser humano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre apren<strong>de</strong>u com a natureza. Algumas vezes, por semanter em contacto com ela, apreen<strong>de</strong>u os seus ritmos, equilíbrios e energias. Noutrasalturas, infelizmente com bastante frequência, ignoran<strong>do</strong>-os, in<strong>do</strong> contra os seus <strong>de</strong>sejos eviolan<strong>do</strong>-os indiscriminadamente.Eles <strong>de</strong>scobriram o impressionante po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sobrevivência e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>natural que, quan<strong>do</strong> sente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restabelecer o equilíbrio, lança a sua ira e o seuimpressionante po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>strutivo contra as frágeis ambições humanas.A natureza, boa ou má, conforme o ponto <strong>de</strong> vista, foi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre umapermanente lição <strong>para</strong> a humanida<strong>de</strong>. O tema da natureza não po<strong>de</strong> ser trata<strong>do</strong> como se oHomem não fosse culturalmente e socialmente parte integrante da natureza. O Homem é51(4 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1846 - 23 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1904). Vitralista e ebanista (a partir <strong>de</strong> 1880) francês, foi um <strong>do</strong>s expoentes da Art Nouveau.(fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Gall%C3%A9)52(6 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1860 - 5 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1945). <strong>Mestre</strong> vidreiro e joalheiro francês. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Lalique)67


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanenteuma parte integral da natureza, ele nasce a partir <strong>de</strong> uma história <strong>de</strong> co-evoluçãoenvolven<strong>do</strong> todas as espécies vivas, os gran<strong>de</strong>s ciclos biológicos e o planeta.O propósito da ciência não é, ou não <strong>de</strong>veria ser, o <strong>de</strong> <strong>do</strong>minar a natureza mas o <strong>de</strong>viver em perfeita harmonia com esta. A nossa consciência «ecológica» <strong>de</strong>ve estardirectamente relacionada com este pensamento. Isto significa solidarieda<strong>de</strong> geracional. Acivilização actual não se po<strong>de</strong>, em consciência, intitular <strong>de</strong> tal se não prestar atenção aosproblemas daqueles que virão no futuro.Este mun<strong>do</strong> é consequência, não só <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> «<strong>de</strong>sign», mas também<strong>de</strong> biliões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> evolução. Esta noção só não é perceptível <strong>de</strong> uma forma clara, porquea maioria das pessoas no mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> está habituada a interagir principalmentecom produtos <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s por outros seres humanos, mais <strong>do</strong> que com aqueles «produtos»que já existem no mun<strong>do</strong> natural mas que não consciencializamos por falta <strong>de</strong> observaçãoatenta.A história <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign em todas as suas expressões – tecnológica, tipológica,morfológica e poética, tem <strong>de</strong> diversas formas e com diversos resulta<strong>do</strong>s medi<strong>do</strong> a suaforça contra este inevitável mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> referência, que é a natureza (Bosoni, G. e Picchi, F.,1999). Como referem Giampero Bosoni 53 e Francesca Picchi 54 , no seu artigo “La nature,leçon permanente” (Domus 818, página 54) “as lições da natureza não po<strong>de</strong>m ser interpretadas apenascomo uma evolução mecânica, ou seja segun<strong>do</strong> um princípio apenas técnico, não po<strong>de</strong>m ser apreendidasapenas <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista matemático-geométrico, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com uma concepção abstracta e puramentesintética <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> regras, não po<strong>de</strong>m, também, ser <strong>de</strong>vidamente entendidas, por imitar as suas formas,emulan<strong>do</strong> a forma <strong>do</strong> crescimento orgânico recorren<strong>do</strong> às linhas curvas e fluidas”.Ao longo da nossa história enquanto socieda<strong>de</strong> pensante, encontramos no trabalho<strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s mestres indicações <strong>de</strong> aplicações <strong>do</strong>s princípios da vida on<strong>de</strong> a essência danatureza está totalmente reflectida. “Se existe um <strong>de</strong>sign na natureza, este <strong>de</strong>ve ser admira<strong>do</strong> na suaconsistência, feita não apenas <strong>de</strong> formas puras e <strong>de</strong> certeza com as suas regras imutáveis, mas sim, através<strong>de</strong> contínuas adaptações das formas e constantes ajustes nas regras que as condicionam” (Bosoni, G. ePicchi, F. La nature, leçon permanente. Domus 818. pag. 54).Bruno Munari 55 , faleci<strong>do</strong> em 1998, foi um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s artistas-pensa<strong>do</strong>res quecompreen<strong>de</strong>ram esta <strong>de</strong>nsa e sensível relação com a natureza. Este artista e <strong>de</strong>signer53Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Professor <strong>de</strong> Arquitectura <strong>de</strong> Interiores e <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Design no Politecnico <strong>de</strong> Milão. Colaboracom varias publicações <strong>de</strong>dicadas ao <strong>de</strong>sign e à arquitectura e é Cura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> várias exposições em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. (fonte:http://www.rizzoliusa.com/catalog/display.pperl?isbn=9788861306448)54Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Escritora <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, cura<strong>do</strong>ra e editora na revista Domus. (fonte:http://www.phai<strong>do</strong>n.com/Default.aspx/Web/kgid-konstantin-grcic-industrial-<strong>de</strong>sign-9780714844312)55(24 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1907 – 30 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1998). Designer e artista Italiano que <strong>de</strong>u um importante contributo em muitas áreas dasArtes Visuais (pintura, escultura, cinema, <strong>de</strong>sign industrial, <strong>de</strong>sign gráfico) e em outras áreas como a literatura, poesia e didáctica. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Bruno_Munari)68


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanenteitaliano, que <strong>de</strong>u contributos importantíssimos em áreas como a escultura, pintura, <strong>de</strong>sign,literatura ou poesia, resumiu este complexo conjunto <strong>de</strong> conceitos e valores <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificaro senti<strong>do</strong> da natureza, através <strong>de</strong> uma observação bastante poética e pertinente <strong>para</strong> o tema<strong>de</strong>ste trabalho: “uma árvore é simplesmente a lenta, muito lenta explosão <strong>de</strong> uma semente”. Esta fraserevela, <strong>de</strong> uma forma subliminar, que na natureza, assim como na produção da nossa«artificialida<strong>de</strong>», o resulta<strong>do</strong> final é a consequência <strong>de</strong> todas as opções, estratégias, conceitose evoluções <strong>de</strong>linea<strong>do</strong>s na fase inicial.Giampero Bosoni e Francesca Picchi, i<strong>de</strong>ntificam os três principais mo<strong>de</strong>losa<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s pelo homem <strong>para</strong> assimilar a experiência expressada pela natureza, com umainegável importância na reflexão sobre o futuro da nossa aprendizagem com a natureza(1999).O primeiro mo<strong>de</strong>lo refere-se à relação entre forma e crescimento, e das tentativasfeitas através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta relação primária, <strong>para</strong> reproduzir matematicamente egeometricamente as regras existentes no crescimento <strong>de</strong> um organismo.O segun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, talvez o mais frequente, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito através dasequência histórica; automação - robô - réplica, encontra os seus princípios na relaçãopossível entre a «carne» e o metal, que é o mesmo que dizer presentemente, inteligênciaartificial, cibernética e os inquietantes horizontes da engenharia genética. Nestes campos astentativas são feitas <strong>para</strong> reproduzir, ou até clonar, organismos complexos, em particular opróprio homem, sejam as suas partes/órgãos internos e externos.Finalmente, no terceiro mo<strong>de</strong>lo está consagra<strong>do</strong> à relação entre energia emovimento, ambos numa perspectiva dinâmica e evolutiva, através <strong>do</strong> qual procuramoscompreen<strong>de</strong>r o enorme potencial energético expresso pela natureza numa tentativa <strong>de</strong> otransformar em oportunida<strong>de</strong>s funcionais <strong>para</strong> a vida e crescimento <strong>do</strong> homem numarelação saudável com o contexto.As nossas mentes são uma consequência da evolução natural ao longo <strong>de</strong> biliões <strong>de</strong>anos, algo bem mais complexo <strong>do</strong> que se fosse apenas uma simples consequência dasocieda<strong>de</strong> baseada na manufactura <strong>de</strong> produtos. Com o meio ambiente passa-seexactamente o contrário; mesmo sen<strong>do</strong> uma consequência <strong>de</strong> biliões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> evolução,o meio ambiente sofre graves danos com a actual socieda<strong>de</strong> altamente industrializada,danos estes, que serão muitos difíceis <strong>de</strong> recuperar se continuarmos a manter os padrões eas características actuais da nossa socieda<strong>de</strong>.Ironicamente, se a espécie humana se extinguisse a natureza facilmentesobreviveria, ao contrário <strong>do</strong>s humanos, que sem a natureza não!69


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteO Mun<strong>do</strong> Sem Nós - Alan WeismanNo seu recente livro “O Mun<strong>do</strong> sem Nós” (2007), uma investigação muito bem<strong>do</strong>cumentada, baseada na evolução <strong>de</strong> territórios actualmente virgens, como por exemploas florestas que envolvem Chernobyl, na zona <strong>de</strong>smilitarizada que se<strong>para</strong> as duas Coreiasou na floresta Bialowieza, entre a Polónia e a Bielorrússia; o jornalista norte-americanoAlan Weisman 56 , autor <strong>de</strong> vários ensaios científicos, cruza as opiniões <strong>do</strong>s especialistas <strong>de</strong>vários pontos <strong>do</strong> globo (biólogos, ecologistas, paleontólogos e engenheiros) com asobservações <strong>do</strong>s autóctones e revela-nos um cenário futurista <strong>de</strong> como o planeta evoluiria ea natureza recuperaria <strong>do</strong>s maus tratos infligi<strong>do</strong>s, se o homo sapiens simplesmente<strong>de</strong>saparecesse amanhã.Um excelente exemplo é a zona <strong>de</strong>smilitarizada entre as duas Coreias, uma faixamontanhosa <strong>de</strong> 250 Km <strong>de</strong> comprimento por quatro <strong>de</strong> largura. Só os militares quepatrulham esta zona ou norte coreanos em fuga <strong>para</strong> a vizinha Coreia <strong>do</strong> sul é que pisameste território, o que faz com que esteja praticamente virgem da influência humana <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oano <strong>de</strong> 1953, ten<strong>do</strong>-se torna<strong>do</strong> num <strong>para</strong>íso da vida selvagem. Ali convivem milhares <strong>de</strong>espécies animais em harmonia com o meio ambiente, algumas que até se julgavam extintasnesta zona <strong>do</strong> globo. Claro que, <strong>para</strong><strong>do</strong>xalmente, no dia em que as duas Coreias forem umasó to<strong>do</strong> este ecossistema estará ameaça<strong>do</strong>, provavelmente e mais uma vez, a espéciehumana sobrepor-se-á a todas as outras, seremos provavelmente a única espécie viável querestará, afirma Alan Weisman; pelo contrário, num mun<strong>do</strong> sem homens, as espéciesganhariam liberda<strong>de</strong> <strong>para</strong> explorar outros territórios.O mesmo aconteceria nos oceanos. Sem humanos haveria um repovoação <strong>de</strong>espécies ameaçadas e os oceanos <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser os esgotos <strong>do</strong> planeta. Seria como viajaraté ao século XVII, uma época em que os marinheiros <strong>de</strong>screviam tartarugas, tubarões ebaleias gigantes tão gran<strong>de</strong>s e abundantes que os navios praticamente encalhavam neles.Nem toda a fauna e flora sairiam beneficiadas com o fim da humanida<strong>de</strong>. Emapenas um ou <strong>do</strong>is anos os cultivos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pelo homem <strong>de</strong>sapareceriam, os vegetaishoje comestíveis, como a cenoura, os brócolos, a couve-flor e o repolho, voltariam às suasirreconhecíveis formas originais.Sem a protecção a que estão habituadas, vacas, touros, cabras, ovelhas e porcosseriam uma bela refeição <strong>para</strong> os carnívoros. Em <strong>do</strong>is séculos já muito poucos <strong>de</strong>stesanimais restariam. Os cavalos e possivelmente os burros teriam mais hipótese <strong>de</strong>56(24 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1947). Autor, professor e jornalista Americano (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Alan_Weisman)70


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentesobrevivência. Apesar da sua <strong>do</strong>mesticação conseguiriam com alguma facilida<strong>de</strong> umaadaptação à vida selvagem. Os gatos que são uma espécie que não foi totalmente<strong>do</strong>mesticada, conseguiriam competir com outros pequenos carnívoros, já os cães teriamuma forte competição com lobos e coiotes.Nesta lista <strong>de</strong> vítimas da ausência humana, há duas surpresas «curiosas»: as baratas eos ratos. Sem electricida<strong>de</strong> e sistemas <strong>de</strong> aquecimento as baratas não conseguiriam adaptarseàs temperaturas das metrópoles mais frias, como Nova Iorque, Londres ou Estocolmo,embora pu<strong>de</strong>ssem ter outro <strong>de</strong>stino em cida<strong>de</strong>s mais quentes e tropicais. Os ratos sem olixo <strong>do</strong>s humanos morreriam <strong>de</strong> fome ou passariam a ser alimento <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> rapina, lobosou coiotes.Aos poucos a natureza começaria a apagar os vestígios <strong>do</strong> homem. “ A <strong>de</strong>sforra (…)perante a nossa presunçosa e mecanizada superiorida<strong>de</strong> vem através da água”, profetiza Weisman. Em10 a 20 anos os telha<strong>do</strong>s começariam a cair, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às infiltrações da água, as pare<strong>de</strong>s<strong>de</strong>morariam 50, 100 anos no máximo a <strong>de</strong>smoronar-se e nessa altura os esquilos, texugos,repteis, aves e a vegetação natural começariam a colonizar estes espaços agora <strong>de</strong>sabita<strong>do</strong>s.As gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s começariam assim a <strong>de</strong>saparecer.Figura 43 - Ilustração futurista da cida<strong>de</strong> «tomada» pela natureza. (fonte: Weisman, A. (2007). O mun<strong>do</strong> semnós. Estrela Polar)Alan Weisman refere como exemplo a ilha <strong>de</strong> Manhattan em Nova Iorque, rica emaquíferos subterrâneos. Nesta ilha diariamente é necessário bombear 50 milhões <strong>de</strong> litros<strong>de</strong> água <strong>do</strong>s túneis <strong>do</strong> metropolitano, isto nos dias em que não chove. Sem electricida<strong>de</strong><strong>para</strong> fazer funcionar as bombas, bastaria meia hora <strong>para</strong> que o metro <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> pu<strong>de</strong>rcircular. Em <strong>do</strong>is dias apenas, to<strong>do</strong> o sistema ficaria completamente inunda<strong>do</strong>. Poucotempo <strong>de</strong>pois começariam a aparecer crateras nas ruas, sem ninguém <strong>para</strong> <strong>de</strong>sentupir osesgotos, ruas e avenidas transformar-se-iam em rios. Das fendas no solo brotariam plantas,71


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentemusgo e em poucos anos árvores. Com o avolumar <strong>do</strong> material orgânico, muitas espéciesexpandir-se-iam facilmente. Depois da água, viria o fogo.Em duas décadas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje po<strong>de</strong>riam ser conglomera<strong>do</strong>s em chamas, atéficarem reduzidas a cinzas. Se um terramoto não o fizesse antes, muitas das pontescomeçariam a ruir ao fim <strong>de</strong> 200, 300 anos, embora as mais resistentes pu<strong>de</strong>ssem <strong>de</strong>morarquase um milénio. Seriam necessários alguns milhares <strong>de</strong> anos <strong>para</strong> que as últimas pare<strong>de</strong>sviessem <strong>de</strong>finitivamente abaixo. Por essa altura, o mun<strong>do</strong> seria muito idêntico àquele emapareceu a raça humana, «selvagem e inexplora<strong>do</strong>», afirma Edward O. Wilson 57 , biólogo daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard e um <strong>do</strong>s especialistas consulta<strong>do</strong>s por Alan Weisman.Mesmo nessa altura, milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong>pois, ainda resistiriam vestígios daexistência da nossa socieda<strong>de</strong>, sobretu<strong>do</strong> o plástico e o PVC – seriam necessários milharesou centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos até que aparecessem micróbios capazes <strong>de</strong> os digerir – eainda o bronze, o vidro convencional e a fibra <strong>de</strong> vidro, um material «praticamentein<strong>de</strong>strutível».Figura 44 - Lixeira <strong>de</strong> plásticos. (fonte: ver anexo 1)Sem automóveis a circular e fábricas a funcionar <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>smetais pesa<strong>do</strong>s como o chumbo, o mercúrio e o cádmio, mas estes <strong>de</strong>morariam tempo a<strong>de</strong>saparecer. Com o tempo estes iriam sen<strong>do</strong> cada vez mais enterra<strong>do</strong>s em camadas maisfundas <strong>do</strong> solo. Alguns produtos tóxicos, como os pesticidas, permaneceriam durantemilénios até os micróbios evoluírem <strong>de</strong> forma a processá-los. Mesmo <strong>de</strong>pois da57(10 <strong>de</strong> junho, <strong>de</strong> 1929). Entomologista americano e biólogo conheci<strong>do</strong> por seu trabalho com ecologia, evolução e sociobiologia.Wilson é especialista em formigas, em particular o seu uso <strong>de</strong> feromônios <strong>para</strong> comunicação. É também famoso por iniciar o <strong>de</strong>bate dasociobiologia, uma das maiores controvérsias científicas <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> ele sugeriu em seu livro Sociobiology: The NewSynthesis (1975) que o comportamento animal (e por extensão, humano) po<strong>de</strong> ser estuda<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong>-se uma abordagem <strong>de</strong> trabalhoevolutiva. Ele também é credita<strong>do</strong> por trazer o termo biodiversida<strong>de</strong> ao público. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Edward_O._Wilson)72


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanenteinactivida<strong>de</strong> humana, seriam necessários 300 mil anos <strong>para</strong> a camada <strong>de</strong> ozono recuperar osníveis que tinha antes da era industrial.O golpe final estaria por conta <strong>de</strong> uma glaciação que, como as outras três queatingiram Nova York, varreriam os resíduos da cida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> o gelo recuasse, haveriauma concentração incomum <strong>de</strong> metais avermelha<strong>do</strong>s, restos <strong>de</strong> fiação e tubagens. O futuro«<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r» das terras po<strong>de</strong>ria explorar essas reservas, mas não teria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como elassurgiram ali. É pena! se soubesse, provavelmente não repetiria a trajectória catastróficadaqueles antigos humanos.Na nossa época actual só os oceanos continuam relativamente a salvo dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição humana, simplesmente porque o homem pré-histórico não eracapaz <strong>de</strong> caçar gran<strong>de</strong>s animais marinhos. Até à época <strong>de</strong> Colombo, por exemplo, pelomenos 12 espécies oceânicas eram maiores <strong>do</strong> que a maior nau <strong>de</strong> sua frota (JeremyJackson - paleoecologista marinho, <strong>do</strong> Smithsonian Tropical Research Institute, noPanamá).Mesmo que o actual estrago nos oceanos seja significativo – visível na agonia <strong>do</strong>srecifes <strong>de</strong> coral e no quase colapso enfrenta<strong>do</strong> pela indústria da pesca <strong>do</strong> bacalhau, asituação não é tão dramática quanto a <strong>de</strong> terra firme, "A gran<strong>de</strong> maioria das espéciesmarinhas está profundamente esgotada, mas ainda existe. Se as pessoas realmente fossemembora, a maioria <strong>de</strong>las recuperariam.” (Jeremy Jackson, 2002).Figura 45 - Ilustração futurista da cida<strong>de</strong> «tomada» pela natureza. (fonte: ver anexo 1)No final <strong>do</strong> seu livro Alan Weisman conclui <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>sarmante com aseguinte frase: “Sem nós a, a terra sobreviveria; sem ela, no entanto, nós não po<strong>de</strong>ríamos sequer existir”.73


Vulnerabilida<strong>de</strong>: Natureza e Design <strong>de</strong> ProdutoA Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteSustentabilida<strong>de</strong>, baixo impacto, economia material, estas palavras apelam afilosofias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign que se adaptam ao meio ambiente numa relação próxima com ossistemas naturais.Para uma melhor comunicação com a mente humana «natural», seria interessante os<strong>de</strong>signers a<strong>do</strong>ptarem nos produtos manufactura<strong>do</strong>s, algumas das metáforas naturais<strong>de</strong>senvolvidas ao longo da vida <strong>do</strong> nosso planeta, como a distribuição <strong>de</strong> força e avulnerabilida<strong>de</strong>.Figura 46 Figura 47Figura 46 - Formigas em tarefa conjunta. (fonte: ver anexo 1)Figura 47 - Colónia <strong>de</strong> células on<strong>de</strong> a distribuição <strong>de</strong> força é aplicada. (fonte: ver anexo 1)Utilizan<strong>do</strong> as metáforas naturais os <strong>de</strong>signers <strong>de</strong>verão ser capazes <strong>de</strong> comunicar aoutiliza<strong>do</strong>r/consumi<strong>do</strong>r as «funcionalida<strong>de</strong>s» <strong>do</strong> produto <strong>de</strong> uma maneira directa e intuitiva.É importante que os <strong>de</strong>signers consigam compreen<strong>de</strong>r as características da mentehumana e explorar a maneira como o cérebro processa a informação que absorve.No mun<strong>do</strong> natural, os mo<strong>do</strong>s como este comunica são muito mais directos <strong>do</strong> queos significa<strong>do</strong>s que o <strong>de</strong>signer normalmente utiliza <strong>para</strong> se expressar a si e aos produtos que<strong>de</strong>senha. Na natureza a simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processos impera.Para a natureza não existem «autorida<strong>de</strong>s» regula<strong>do</strong>ras ou <strong>de</strong> confiança. Em vezdisso, cada animal tem <strong>de</strong> tomar as suas próprias <strong>de</strong>cisões testan<strong>do</strong> hipóteses e apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>com os «feedbacks» das suas experiências anteriores. Recentemente, neurologistas ebiólogos fizeram <strong>de</strong>scobertas fundamentais sobre como os animais fornecem sinais fiáveisentre eles. Descobriram que a comunicação animal <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong><strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>.Na natureza, a evolução e crescimento não se baseiam na força, mas sim emvulnerabilida<strong>de</strong>s como a morte e fraqueza. To<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong> nosso ser <strong>de</strong>correm dadistribuição da vulnerabilida<strong>de</strong>. A competição é comum no mun<strong>do</strong> natural, é o que fornece74


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanenteas bases essenciais <strong>para</strong> a evolução e crescimento. Na nossa socieda<strong>de</strong> cada vez maisbaseada no <strong>de</strong>sign, poucos produtos são <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> articular os seus pontos <strong>de</strong>ruptura e as suas vulnerabilida<strong>de</strong>s, tal como acontece no mun<strong>do</strong> natural.Os <strong>do</strong>is biologistas Israelitas, Amotz e Avishag Zahavi (já referi<strong>do</strong>s no capitulo«Luxo» ou Atributos indispensáveis?) chocaram os princípios da psicologia evolucionáriacom o seu livro “The Handicap principle” on<strong>de</strong> <strong>de</strong>screvem como os animais usam avulnerabilida<strong>de</strong> como ferramenta <strong>para</strong> uma comunicação «honesta».Este livro, explica várias características <strong>do</strong> comportamento animal, que não têmuma explicação lógica <strong>para</strong> o pensamento humano, mas que estão historicamenteassociadas ao <strong>de</strong>sperdício ou excesso e que significam uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física e<strong>de</strong> força <strong>do</strong> seu emissor <strong>para</strong> com a sua comunida<strong>de</strong> ou preda<strong>do</strong>r.O «Handicap principle», é uma ferramenta fundamental na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong>sanimais. Este princípio sugere que os sinais confiáveis <strong>de</strong>vem ser onerosos <strong>para</strong> quem enviao sinal, obrigan<strong>do</strong> assim a que só alguns os possam enviar, ou seja, aqueles que têmrealmente condições <strong>para</strong> o fazer, limitan<strong>do</strong> ao máximo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer bluff. Porexemplo, no caso da selecção sexual, a teoria sugere que animais com maior aptidãobiológica, sinalizam este status através <strong>de</strong> comportamentos que efectivamente <strong>de</strong>monstremestas qualida<strong>de</strong>s, estão a enviar sinais caracteriza<strong>do</strong>res da sua condição, como foi referi<strong>do</strong>no caso da cauda <strong>do</strong> pavão <strong>de</strong>scrito anteriormente. A cauda surge como um factor <strong>de</strong>comunicação, quanto maior e mais esplen<strong>do</strong>rosa for a cauda mais <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> força e«robustez» o pavão consegue <strong>de</strong>monstrar às fêmeas.A i<strong>de</strong>ia central na selecção sexual traça funções como o consumo distinto,sinalizan<strong>do</strong> a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se dar ao luxo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdiçar um recurso, esbanjan<strong>do</strong>-o. Osreceptores sabem que os sinais indicam qualida<strong>de</strong> porque, sinaliza<strong>do</strong>res <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>inferior não se po<strong>de</strong>m dar ao luxo <strong>de</strong> produzir sinais tão extravagantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong>recursos. A própria natureza encarrega-se <strong>de</strong> «obrigar» a que exista uma sinalização <strong>do</strong>smais fortes e fracos, uma distinção natural e na maior parte das situações inequívoca.A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> força <strong>do</strong> século XXI é, nas socieda<strong>de</strong>s ditas <strong>de</strong>senvolvidas, acultura material e o po<strong>de</strong>r aquisitivo, que afinal tem princípios biológicos, mas queinfelizmente foi <strong>de</strong>senvolvida a um ponto muito <strong>para</strong> além <strong>do</strong> necessário à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sobrevivência humana, com consequências imprevisíveis como começa actualmente a servisível.Este princípio leva-nos a relacionar a existência <strong>de</strong> produtos que são produzi<strong>do</strong>scom um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> material e segun<strong>do</strong> conceitos <strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong>, mas que na realida<strong>de</strong>75


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentetêm já <strong>de</strong> fábrica uma altura estipulada <strong>para</strong> falhar, estimulan<strong>do</strong> a economia da produção eaquisição. Foi <strong>de</strong>senvolvida uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção artificial que consegue enganar osreceptores, que são os consumi<strong>do</strong>res, o <strong>de</strong>sign aqui tem culpa, mas tem como atenuante oser <strong>de</strong> certa maneira refém das condições impostas pela economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>.Estes produtos ao contrário <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural, enganam o seu receptor, forneceminformações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e credibilida<strong>de</strong> que, na realida<strong>de</strong>, não passam <strong>de</strong> bluff, já estãoprograma<strong>do</strong>s <strong>para</strong> falharem muito antes <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r imaginar. O homem <strong>do</strong>tou-os <strong>de</strong>uma imagem engana<strong>do</strong>ra, uma comunicação exterior que, ao contrário da existente danatureza, é <strong>de</strong>sonesta. Mais uma vez as lições da natureza são ignoradas e o caminhosegui<strong>do</strong> é contrário ao natural.A vulnerabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser um factor primordial <strong>para</strong> a sustentabilida<strong>de</strong>, elaé importante não só <strong>para</strong> expressar a função <strong>do</strong> produto aos utiliza<strong>do</strong>res, mas também <strong>para</strong>fornecer <strong>para</strong>digmas indispensáveis na produção <strong>de</strong> objectos em que a função estará <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com o mun<strong>do</strong> natural. O <strong>de</strong>sign, ao criar novos produtos, po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veriainspirar-se directamente em metáforas naturais e beneficiar <strong>do</strong> impacto <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> anos<strong>de</strong> evolução das espécies, «inovan<strong>do</strong>» os <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign nos últimos séculos,principalmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a era industrial.No livro “Cradle to Cradle”, os autores discutem a importância das metáforasnaturais no chama<strong>do</strong> <strong>de</strong>sign ver<strong>de</strong> ou eco <strong>de</strong>sign, afirmam ainda que <strong>para</strong> promover<strong>para</strong>digmas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign sustentável, os <strong>de</strong>signers <strong>de</strong>vem interpretar os produtos não comolixo ou <strong>de</strong>sperdício, mas sim como «combustível» <strong>para</strong> mais produção. Reciclar, no entanto,não é o único mecanismo pelo qual a natureza se torna sustentável.No livro os autores chamam a atenção <strong>para</strong> conceitos como o D.F.D 58 , que consistena programação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase inicial <strong>de</strong> projecto, <strong>de</strong> como o produto po<strong>de</strong>rá ser to<strong>do</strong>se<strong>para</strong><strong>do</strong> e agrupa<strong>do</strong> em «categorias» <strong>de</strong> igual <strong>grau</strong> <strong>de</strong> reciclagem <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r ser recicla<strong>do</strong><strong>de</strong> uma forma mais eficaz <strong>do</strong> que a actual. Esta é uma abordagem válida, que tem <strong>de</strong> serpensada em projecto, mas só é exequível já na fase final <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto.Actualmente os automóveis já começam a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> este conceito.Paralelamente os autores referem também a importância e o contributo que a<strong>de</strong>gradação natural e progressiva <strong>do</strong>s produtos po<strong>de</strong> ter antes da reciclagem. Esta é umaabordagem interessante e a reflectir no acto <strong>de</strong> projecto, cabe aos <strong>de</strong>signers compreendê-lae valorizá-la.58Design For Disassembly – expressão em Inglês que significa conceber e projectar produtos facilitan<strong>do</strong> a sua posterior <strong>de</strong>smontagem,ten<strong>do</strong> como objetivo, tornar ágil e económico o <strong>de</strong>smembramento das partes componentes e a se<strong>para</strong>ção <strong>do</strong>s materiais, <strong>para</strong> umaposterior reciclagem das peças. (fonte: http://www.pdp.org.br/Mo<strong>de</strong>loLivroWeb/mo<strong>de</strong>lo/met_ferram/dfd/fmdfd.htm)76


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanentePara um objecto ou um animal fazerem a transição da «vida <strong>para</strong> comida», e <strong>de</strong>«comida <strong>para</strong> uma nova vida», ou seja o conceito <strong>de</strong> Cradle to Cradle 59 , necessitam primeiro<strong>de</strong> «morrer». Mais <strong>do</strong> que transitar da vida <strong>para</strong> a morte instantaneamente, a vida <strong>de</strong>gradaselentamente até aos seus momentos finais. Os «velhos» sejam produtos, animais ou sereshumanos em to<strong>do</strong>s os seus movimentos e acções <strong>de</strong>monstram que estão a tornar-se maisfracos, mais <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s, e é aqui que po<strong>de</strong> residir a sua «força», na sua vulnerabilida<strong>de</strong>.O D.F.D, presume, como base <strong>para</strong> o seu <strong>de</strong>senvolvimento, que os objectos retêmas suas capacida<strong>de</strong>s totais até ao fim, até ao momento em que outro «organismo» investeenergia e recursos no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontagem e reciclagem. Como tal, o D.F.D é umametáfora incompleta, esquece-se completamente da vulnerabilida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria constituir a<strong>de</strong>gradação natural e progressiva <strong>do</strong>s produtos mas, mais grave, actua baseada numconceito ultrapassa<strong>do</strong> e nada eficaz. As nossas criações ten<strong>de</strong>m <strong>para</strong> ter uma vida útil muitomais curta <strong>do</strong> que a sua vida física. Como consequência os nossos aterros estão cheios <strong>de</strong>equipamentos electrónicos praticamente «intactos». Estes produtos passaram a serconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s lixo porque a sua função ficou obsoleta, enquanto a sua forma se mantémrobusta e «intacta».O consumi<strong>do</strong>r prefere não ver os seus «objectos <strong>de</strong> posse» <strong>de</strong>gradarem-selentamente com o uso. Pelo contrário, prefere possuir os objectos impecáveis, praticamentenovos até estes <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> ser úteis. Esta atitu<strong>de</strong> está completamente em contra-sensocom o mun<strong>do</strong> natural e com a lógica, o que faz pensar quais são, afinal, os valores por quea socieda<strong>de</strong> se guia e quais são as suas necessida<strong>de</strong>s reais.Como consequência <strong>do</strong> uso inerente às suas funções, os produtos ao aproximaremse<strong>do</strong> seu fim <strong>de</strong> vida transmitem mais informação sobre o seu «esta<strong>do</strong>» <strong>de</strong> morte <strong>do</strong> quenós nos apercebemos, ou os <strong>de</strong>ixamos mostrar. Não existe nenhuma razão, <strong>para</strong> seproduzirem produtos temporários feitos <strong>de</strong> matéria inorgânica, imune à passagem <strong>do</strong>stempos, que se mantém inalterável. Assim como nos seres vivos, a beleza da vida está nestaperenida<strong>de</strong>, nesta fragilida<strong>de</strong> que é ao mesmo tempo força, na «patine» que a vida confere eque leva ao <strong>de</strong>sgaste até ao fim da vida útil.59Cradle to Cradle Design (também po<strong>de</strong> ser abrevia<strong>do</strong> <strong>para</strong> a expressão C2C) é uma abordagem <strong>de</strong> inspiração natural ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong>sistemas. Aproxima a Industria aos processos naturais nos quais os materiais são interpreta<strong>do</strong>s como nutrientes. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Cradle_to_cradle)77


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 48 - Degradação temporal <strong>de</strong> um saco feito <strong>do</strong> plástico bio<strong>de</strong>gradável Biocycle. (fonte: ver anexo 1)Introduzin<strong>do</strong> no nosso dia-a-dia produtos <strong>de</strong>gradáveis ao longo <strong>do</strong> tempo po<strong>de</strong>moscuidar melhor <strong>do</strong> nosso planeta. As imagens mostram um exemplo <strong>de</strong>ste princípio aplica<strong>do</strong>a sacos plásticos <strong>de</strong> compras, estes estão projecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> se <strong>de</strong>gradarem com o uso e como tempo. O caminho po<strong>de</strong> ser este, e só agora se começa a perceber que é necessárioinverter a tendência que existe, <strong>de</strong> criar produtos duráveis a to<strong>do</strong> o custo,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> fim <strong>para</strong> que se <strong>de</strong>stina.É intrínseco à natureza humana a diversida<strong>de</strong>. A nossa socieda<strong>de</strong> está formatada<strong>para</strong> a novida<strong>de</strong>, <strong>para</strong> a mudança (mudamos <strong>de</strong> carro, mudamos <strong>de</strong> relógio semnecessitarmos). Enquanto esta maneira <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong>scartável não evoluí, é necessárioa<strong>de</strong>quar os produtos <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s a estes novos <strong>de</strong>safios.A última palavra sobre o tópico da vulnerabilida<strong>de</strong> é apresentada pelo <strong>de</strong>signer«supremo», o mun<strong>do</strong> natural. Nada na natureza é construí<strong>do</strong> <strong>para</strong> durar, embora avulnerabilida<strong>de</strong> actue diversas vezes como um sinal, esta <strong>de</strong>monstra a sua força <strong>para</strong><strong>do</strong>xalcom muito mais frequência <strong>do</strong> que as acções <strong>do</strong> homem ou os seus produtos.As árvores não se «importam» <strong>de</strong> sacrificar as suas folhas com a mudança dasestações. À medida que a estação se torna fria muita da folhagem no mun<strong>do</strong> natural invocaa vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> distribuir as suas sementes, os preciosos contentores da sua herançagenética. Outros exemplos existem em que as sementes po<strong>de</strong>m facilmente ser«empacotadas» em duras cascas como as nozes. Muitas plantas pelo contrário, fazemcrescer as suas sementes envolvidas por suaves, e <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s «invólucros» <strong>de</strong> fruta que foramconcebi<strong>do</strong>s/<strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> serem susceptíveis aos «malefícios» das bactérias, infestaçõese mais especificamente ao consumo pelos animais.78


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 49 Figura 50 Figura 51 Figura 52Figura 49 - Interior <strong>do</strong> fruto Ameixa. (fonte: ver anexo 1)Figura 50 - Romã aberta. (fonte: ver anexo 1)Figura 51 – Noz. (fonte: ver anexo 1)Figura 52 - Interior <strong>do</strong> maracujá. (fonte: ver anexo 1)No mun<strong>do</strong> animal, frequentemente, a força <strong>do</strong> «<strong>de</strong>sign da natureza» é necessáriaassim como a sua componente vulnerabilida<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, sob o seu luxurianterevestimento <strong>de</strong> frutas, as sementes foram concebidas <strong>de</strong> forma suficientemente robusta<strong>para</strong> sobreviverem a uma viagem <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> aparelho digestivo <strong>de</strong> um animal e saíremincólumes.Os frutos comestíveis po<strong>de</strong>m ser vistos como um sinal transmissor da mensagem<strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> forma tão eficaz que po<strong>de</strong>mos pensar apenas no fruto como ummensageiro ou na sua <strong>do</strong>çura como o mecanismo <strong>para</strong> a sua mensagem.Quan<strong>do</strong> um elefante se torna velho, os últimos <strong>de</strong>ntes ficam gastos, e o elefantetem <strong>de</strong> comer apenas comida muito macia. Elefantes muito velhos passam frequentementeos últimos anos exclusivamente em zonas pantanosas on<strong>de</strong> conseguem encontrar folhas <strong>de</strong>relva molhada e macia. Por fim, quan<strong>do</strong> os últimos <strong>de</strong>ntes caem, os elefantes nãoconseguem comer e morrem <strong>de</strong> fome. Se não fosse pelo <strong>de</strong>sgaste <strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntes, ometabolismo <strong>do</strong>s elefantes permitir-lhes-ia viver muito mais tempo. A natureza <strong>de</strong>cidiuassim condicionar conscientemente a vida <strong>do</strong>s elefantes, como faz com tu<strong>do</strong> o que nosro<strong>de</strong>ia. Ironicamente os <strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s elefantes, que foram instrumentos essenciais <strong>para</strong> a suasobrevivência, acabarão por se tornar na causa directa da sua morte.Tal como no reino animal, a vulnerabilida<strong>de</strong> ou a fraqueza <strong>do</strong>s objectos andapositivamente a par <strong>do</strong>s seus pontos fortes. Adaptan<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> danatureza <strong>para</strong> o mun<strong>do</strong> artificial e, analisan<strong>do</strong> os produtos que nos ro<strong>de</strong>iam, é possívelconcluir que to<strong>do</strong>s têm vulnerabilida<strong>de</strong>s associadas que po<strong>de</strong>m ser incluídas nas quatroseguintes categorias, já referidas no subcapítulo “Vulnerabilida<strong>de</strong>s nos produtos”; o <strong>de</strong>sign<strong>de</strong> uso único, <strong>de</strong>sign <strong>para</strong> o uso <strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>sign em que a inoperabilida<strong>de</strong> é oesta<strong>do</strong> padrão e, por último, o <strong>de</strong>sign da distribuição da vulnerabilida<strong>de</strong>.79


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteEncontramos estas vulnerabilida<strong>de</strong>s em quase to<strong>do</strong>s os objectos <strong>do</strong> nosso dia a dia(Blinn, Robert 60 , 2006, pág. 150). Compreen<strong>de</strong>r estas quatro categorias ajuda os <strong>de</strong>signers a<strong>do</strong>tar os seus projectos <strong>de</strong> um conceito específico conforme a categoria em que o seuproduto se enquadre. Esta noção torna-se extremamente importante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase inicial <strong>de</strong>criação projectual.Os produtos <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o uso único, sacrificam-se por completo quan<strong>do</strong> sãousa<strong>do</strong>s. Esta categoria impõe um gran<strong>de</strong> custo no objecto, estes são normalmente «baratos»e a indústrias on<strong>de</strong> normalmente são utiliza<strong>do</strong>s (medicina e guerra), ten<strong>de</strong> a ser crítica.Exemplos <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>sta categoria são os blisters, embalagens, fusíveis e agulhas<strong>de</strong>scartáveis.Os produtos projecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o uso <strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong> são projecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong>ambientes on<strong>de</strong> é certo que se irão <strong>de</strong>gradar. Esta categoria inclui roupa <strong>de</strong>scartável <strong>de</strong>laboratórios médicos, lâminas <strong>de</strong> navalha, escovas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes que <strong>de</strong>sbotam <strong>de</strong> maneira aassinalar a necessida<strong>de</strong> da sua substituição.Os objectos projecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a falha estratégica são um subconjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste<strong>de</strong>sproporcional. Um fusível encaixa nesta categoria e na <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> uso único. É <strong>de</strong> usoúnico pois cumpre a sua função rebentan<strong>do</strong>, mas é também projectada <strong>para</strong> falhar antes <strong>de</strong>outros componentes que estão ainda mais longe da fonte <strong>de</strong> alimentação.Nos produtos em que a inoperabilida<strong>de</strong> é o esta<strong>do</strong> padrão, como o próprio nomeindica, o seu esta<strong>do</strong> normal é a inoperabilida<strong>de</strong>. Estes produtos também sãofrequentemente utiliza<strong>do</strong>s em aplicações <strong>de</strong> alto risco, como a construção ou medicina, ouem usos notáveis como os sensores coloca<strong>do</strong>s no assento <strong>do</strong>s empilha<strong>do</strong>res que impe<strong>de</strong>mque este funcione sem o condutor ao volante.Uma quarta categoria está implícita nas criações multi-celulares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural.São exemplos pontes suspensas por vários cabos e rodas <strong>de</strong> bicicleta. Estes produtosdistribuem o «stress» pelos vários componentes. Individualmente cada um <strong>do</strong>s cabos nãoconseguiria suportar a ponte, mas, em conjunto, conseguem constituir uma po<strong>de</strong>rosa«âncora» <strong>para</strong> a ponte. Os colchões <strong>de</strong> molas são também um bom exemplo on<strong>de</strong> o peso<strong>do</strong> corpo humano é distribuí<strong>do</strong> por uma série <strong>de</strong> molas.6080


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteFigura 53 - Roda <strong>de</strong> bicicleta. Os vários raios distribuem o peso exerci<strong>do</strong> obre a roda. (fonte: ver anexo1)Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a aplicação da vulnerabilida<strong>de</strong> muda profundamentebaseada no <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r. Dois produtos, aparentemente contraditórios, compropósitos similares, po<strong>de</strong>m ser bons exemplos; um cofre e um porco mealheiro.Ambos os produtos servem <strong>para</strong> proteger e guardar valores, contu<strong>do</strong> um é enorme,robusto e pesa<strong>do</strong>, enquanto o outro é <strong>de</strong>lica<strong>do</strong> e pequeno. Como po<strong>de</strong>m <strong>do</strong>is mecanismosaparentemente dispares serem usa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> fins similares? O porco mealheiro <strong>para</strong> se partiré extremamente fácil, no entanto isso implica danos irreparáveis. Desta maneira, oporquinho mealheiro actua como um objecto <strong>de</strong> uso único, um objecto sujeito ao uso<strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong>. O cofre já é extremamente difícil quebrar e <strong>de</strong>monstrar o seu uso<strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong>, este é pensa<strong>do</strong> <strong>para</strong> proteger os bens <strong>do</strong>s outros, mas o mealheiro éprojecta<strong>do</strong> <strong>para</strong> proteger o seu conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> toda a gente, incluin<strong>do</strong> <strong>do</strong> próprio <strong>do</strong>no.No cofre a combinação actua como a chave, é um produto intensamentepersonaliza<strong>do</strong>, que só funciona <strong>para</strong> o seu <strong>do</strong>no e <strong>para</strong> mais ninguém. Isola as posses <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> exterior, apresentan<strong>do</strong> barreiras à entrada <strong>de</strong> outros mas custos mo<strong>de</strong>stos <strong>para</strong> oseu <strong>do</strong>no, estes custos são assimétricos. Enquanto o custo imposto ao potencial ladrão éaparente, o cofre impõe um compromisso com o seu <strong>do</strong>no, que tem <strong>de</strong> memorizar ocódigo e <strong>de</strong>dicar tempo a introduzir a combinação cada vez que necessita <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r ao seuinterior, embora o possa fazer sem nenhuma restrição.O mealheiro já é uma história diferente, o seu único alarme é o barulho que fazquan<strong>do</strong> é parti<strong>do</strong>. O mealheiro é importante apenas <strong>para</strong> proteger o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu <strong>do</strong>noe <strong>do</strong>s seus pares. Só funciona com pessoas que se preocupem com o seu valor, estebenefício advêm da sua permanência e vulnerabilida<strong>de</strong>. Não são constrangimentosinvioláveis, mas actuam como pequenos custos.As lombas nas estradas por exemplo não obrigam um carro a <strong>para</strong>r, massimplesmente impõem um custo (a vibração, trepidação) a qualquer carro que passe,obrigan<strong>do</strong> por isso a uma redução da velocida<strong>de</strong>.81


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição PermanenteA Arvore <strong>de</strong> Cerejas e o Conceito <strong>de</strong> IndústriaA árvore <strong>de</strong> cerejas. Milhares florescem e criam frutos <strong>para</strong> os pássaros, humanos eoutros animais, até que uma semente caia no chão, crie raízes e cresça. Quem olha <strong>para</strong> ochão repleto <strong>de</strong> sementes/caroços e se indigna com a ineficiência ou a sujida<strong>de</strong>?As árvores produzem frutos e sementes sem esgotar o meio ambiente. Assim queos caroços caiem no chão, o seu material <strong>de</strong>compõe-se e transforma-se em nutrientes quealimentam microrganismos, insectos, plantas, animais e o solo. Apesar das árvoresproduzirem mais <strong>do</strong> seu «produto» <strong>do</strong> que o necessário <strong>para</strong> o seu sucesso no ecossistema,esta abundância tem evoluí<strong>do</strong> (através <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> sucesso e falhanços, ou comose diz actualmente em R&D 61 ) com o objectivo <strong>de</strong> servir vários propósitos. De facto areprodução das árvores alimenta tu<strong>do</strong> à sua volta. Como po<strong>de</strong>ria ser o mun<strong>do</strong> artificial <strong>do</strong>shumanos se este tivesse si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> por uma árvore <strong>de</strong> cerejas?Vamos analisar mais em pormenor a árvore <strong>de</strong> cerejas; enquanto cresce, procura asua própria abundância regenerativa. Mas este processo não tem um único propósito. Defacto, o seu crescimento mobiliza muitos outros efeitos positivos. Fornece comida <strong>para</strong>animais, insectos e micro organismos, enriquece o ecossistema, sequestra carbono, produzoxigénio, limpa o ar e a água e estabiliza o solo. Por entre as suas raízes, ramos e folhasabrigam uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fauna e flora, on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m uns <strong>do</strong>s outros no<strong>de</strong>sempenho das funções e <strong>do</strong>s fluxos necessários à sua existência. E, quan<strong>do</strong> a arvoremorre, retorna ao solo, libertan<strong>do</strong> enquanto se <strong>de</strong>compõe, minerais que irão alimentar ocrescimento saudável <strong>de</strong> outra no mesmo local.A árvore não é uma entida<strong>de</strong> isolada, <strong>de</strong>sligada <strong>do</strong>s sistemas que existem à suavolta; está intimamente e produtivamente ligada a estes. Este é o ponto-chave na diferençaentre o crescimento <strong>do</strong>s sistemas industriais como existem presentemente e o crescimentoda natureza.Os nossos produtos e processos po<strong>de</strong>m ser mais efectivos quan<strong>do</strong> são coinci<strong>de</strong>ntescom informação e resposta – quan<strong>do</strong> se assemelham ao mun<strong>do</strong> vivo/natural. As máquinasque usam os mecanismos da natureza em vez <strong>de</strong> químicos, betão ou aço são um passo nadirecção correcta, mas continuam a ser máquinas – continuam a usar tecnologia (emboratecnologia benigna) <strong>para</strong> aproveitar a natureza <strong>para</strong> os propósitos humanos.O mesmo po<strong>de</strong> ser dito <strong>do</strong> nosso cada vez maior uso <strong>de</strong> cibertecnologia,biotecnologia e nanotecnologia <strong>para</strong> substituírem as funções <strong>do</strong>s químicos e da força bruta.As novas tecnologias não criam só por si revoluções industriais; a não ser que o seu61R&D – Research and Development82


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoA Natureza: Uma Lição Permanentecontexto seja altera<strong>do</strong>, elas são simplesmente engenhos hiper eficientes conduzin<strong>do</strong> o<strong>para</strong>digma da revolução industrial <strong>para</strong> novos extremos.Ainda hoje, muitas aproximações ambientais são baseadas na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os sereshumanos são inevitavelmente <strong>de</strong>strutivos relativamente à natureza. Mesmo a i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong>Capitalismo Natural 62 , caracteriza a natureza como uma ferramenta a ser usada em nossobenefício. Este tipo <strong>de</strong> abordagem talvez tivesse si<strong>do</strong> útil há 200 anos atrás, quan<strong>do</strong> aespécie humana estava a <strong>de</strong>senvolver os seus sistemas industriais.Nos dias <strong>de</strong> hoje, é necessário repensar esta abordagem, caso contrário po<strong>de</strong>remosestar reduzi<strong>do</strong>s aos esforços <strong>de</strong> abrandar a <strong>de</strong>struição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural enquantomantemos o sistema industrial actual <strong>de</strong> produção e consumismo durante mais algunsséculos.Os sistemas naturais retiram <strong>do</strong> ambiente mas também dão algo <strong>de</strong> volta. A árvore<strong>de</strong>ixa cair as suas folhas e rebentos enquanto ao mesmo tempo interfere nos fluxos <strong>de</strong> águae produz oxigénio. As comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formigas redistribuem os nutrientes pelo solo.Deveríamos seguir o seu exemplo <strong>para</strong> criar uma parceria mais inspirada com a natureza.Po<strong>de</strong>mos construir fábricas em que os produtos enriqueçam o ecossistema commaterial bio<strong>de</strong>gradável e façam re-circular os materiais técnicos em vez <strong>de</strong> os aban<strong>do</strong>nar,queimar ou enterrar.É possível conceber sistemas que se auto-regulem, em vez <strong>de</strong> usar a natureza comouma ferramenta <strong>para</strong> os propósitos humanos. Po<strong>de</strong>mos lutar <strong>para</strong> se tornarem ferramentasda natureza e que, ao mesmo tempo, sirvam os seus interesses. Po<strong>de</strong>mos celebrar afecundida<strong>de</strong> no planeta, em vez <strong>de</strong> perpetuarmos uma maneira <strong>de</strong> pensar e agir que aelimine. E, assim, po<strong>de</strong>remos existir to<strong>do</strong>s, assim como as coisas que produzimos, porqueteríamos o sistema correcto – criativo, próspero, inteligente e fértil – e, como as formigas,seríamos efectivos, como iremos perceber no próximo capítulo.62Conceito <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo físico nuclear e analista ambiental Amory Lovins e por P. Hawken e L. H. Lovins. Basea<strong>do</strong> na capacida<strong>de</strong><strong>do</strong> homem <strong>de</strong> produzir mais e poluir menos, usan<strong>do</strong> tecnologia e conhecimentos já existentes, oferece subsídios <strong>para</strong> que as empresaspossam duplicar a produtivida<strong>de</strong> utilizan<strong>do</strong> apenas a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recursos naturais.A teoria subjacente ao Capitalismo ambiental procura <strong>de</strong>monstrar que os negócios e os interesses ambientais se complementam, <strong>para</strong>satisfazer melhor as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s clientes, aumentan<strong>do</strong> lucros e, ao mesmo tempo, ajudan<strong>do</strong> a resolver os próprios problemasambientais. (fonte: http://ambientalistas.blogspot.com/2006/04/capitalismo-natural-vs-capitalismo.html)83


84A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemO Sistema Natural como AbordagemO processo natural <strong>de</strong> envelhecimento vs obsolescênciaO <strong>de</strong>signer William McDonough e o químico Michael Braungert no seu livro“Cradle to Cradle” (2002), usam o ambiente e a morfologia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural como umexemplo <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign responsável. Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que todas as formas <strong>de</strong> vida têm umavulnerabilida<strong>de</strong> associada, que prova ser a sua ultima força – a senescência 63 .O mun<strong>do</strong> natural e a evolução «fabricaram o professor» mais capaz que seriapossível. Mais <strong>do</strong> que fazer o impossível e elaborar um super-organismo a partir <strong>do</strong> zero, avida escolheu limitar-se a si própria. To<strong>do</strong>s os seres vivos, células, bactérias, plantas,insectos e mesmo o ser humano morrem. A evolução po<strong>de</strong>ria ter elabora<strong>do</strong> um organismoque não morresse? Talvez se conseguisse ou quisesse esten<strong>de</strong>r a Telomerase 64 (Blinn,Robert, 2006).Figura 54 – Telomeros.(fonte: ver anexo 1)Esta consequência evolutiva <strong>de</strong>ve servir como um forte indício <strong>para</strong> a natureza <strong>do</strong>planeta. Em vez <strong>de</strong> investir uma vasta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia em criar super-seres imortaisimunes ao passar <strong>do</strong>s anos, a natureza quer que nós morramos. Esta, programa asenescência nos organismos mas, permitin<strong>do</strong> a reprodução relativamente aleatória garanteuma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos, <strong>do</strong>s quais alguns conseguirão sobreviver aos maisinespera<strong>do</strong>s perigos que po<strong>de</strong>m encontrar. A nossa história <strong>de</strong> evolução é a provainequívoca.63Processo natural <strong>de</strong> envelhecimento ou o conjunto <strong>de</strong> fenómenos associa<strong>do</strong>s a este processo. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Senesc%C3%AAncia)64A enzima Telomerase é consi<strong>de</strong>rada um relógio biológico, um marca<strong>do</strong>r a indicar que a senescência celular irá se instalarinevitavelmente, causan<strong>do</strong> o envelhecimento. (fonte: http://www.medicinageriatrica.com.br/2006/12/28/sau<strong>de</strong>-geriatria/teorias-<strong>do</strong>envelhecimento-celular/)85


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemPensa<strong>do</strong>res como William McDonought e Michael Braungart <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m claramentenovos <strong>para</strong>digmas <strong>para</strong> o mo<strong>do</strong> como o ser humano produz, consome e <strong>de</strong>, comoultimamente, se relaciona com os bens manufactura<strong>do</strong>s. Um mo<strong>de</strong>lo, on<strong>de</strong> tal como nanatureza, a morte é projectada nos produtos industrializa<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong> ser uma abordagembem mais sensata <strong>para</strong> a indústria <strong>do</strong> que a abordagem actual on<strong>de</strong> os produtos sãoi<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>s exclusivamente <strong>para</strong> serem comercializa<strong>do</strong>s, compra<strong>do</strong>s, consumi<strong>do</strong>s eposteriormente recicla<strong>do</strong>s.O mun<strong>do</strong> natural usa o mo<strong>de</strong>lo da senescência, um processo natural <strong>de</strong>envelhecimento e eventual morte, enquanto a nossa economia tecnológica promove aobsolescência. Na obsolescência, um produto alcança o fim da sua vida útil com a maiorparte da sua funcionalida<strong>de</strong> intacta, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao aparecimento <strong>de</strong> um produtotecnologicamente mais avança<strong>do</strong> ou esteticamente mais apelativo, fican<strong>do</strong> com muitaspartes sem utilida<strong>de</strong> após a sua eliminação. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign concebi<strong>do</strong> na revoluçãoindustrial está em contraste com o mo<strong>de</strong>lo natural, on<strong>de</strong> o momento da morte é precedi<strong>do</strong>por um aumento da vulnerabilida<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> múltiplos sistemas falham em simultâneo.Fazer <strong>de</strong>sign análogo a conceitos orgânicos necessita <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, umconceito amplamente referi<strong>do</strong> nesta <strong>dissertação</strong>. Desenvolver a médio/ longo prazo estesconceitos estará <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong>s engenheiros <strong>de</strong> materiais e <strong>de</strong> engenheirosquímicos em estreita colaboração com os <strong>de</strong>signers <strong>de</strong> produto.Em última análise, os produtos <strong>de</strong>veriam ser feitos como sistemas orgânicos, e amesma modularida<strong>de</strong> que começa a «invadir» a programação <strong>para</strong> computa<strong>do</strong>res, comexcelentes resulta<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>ria ser incluída com mais pormenor nos processos industriais.Qualquer tentativa <strong>de</strong> aumentar a modularida<strong>de</strong> requer, contu<strong>do</strong>, uma exploração <strong>do</strong>spequenos constituintes existentes nos produtos e materiais, a tal complexida<strong>de</strong> queencontramos na natureza.Em vez <strong>de</strong>sta aproximação à modularização, até à data, muito <strong>do</strong> trabalho feito no<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto e industrial concentrou-se na miniaturização. Utilizan<strong>do</strong> equipamentos<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>para</strong> produzir placas <strong>de</strong> circuitos integra<strong>do</strong>s microscópicos, tempermiti<strong>do</strong> a diminuição <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os tipos <strong>de</strong> dispositivos electrónicos mas,simultaneamente, tem enchi<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> pequenos componentes integra<strong>do</strong>s.Esta situação contribui também <strong>para</strong> criar um problema ambiental, como os metaispesa<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s nestes sistemas, entre outras coisas, que embuti<strong>do</strong>s em «bolachas» <strong>de</strong>matéria inorgânica são muito mais difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontar e reciclar <strong>do</strong> que <strong>de</strong> construir.86


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemO mun<strong>do</strong> natural dispõe <strong>de</strong> um mecanismo <strong>para</strong> lidar com o seu «lixo», que sechama senescência ou morte como <strong>de</strong>scrito anteriormente. Mc<strong>do</strong>nough e Braungartutilizam uma metáfora maravilhosa <strong>para</strong> este processo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural; quan<strong>do</strong> umaárvore <strong>de</strong> cereja <strong>de</strong>ixa cair as suas sementes, estas não <strong>de</strong>veriam ser pensadas por nós comoresíduos, em vez disso, <strong>de</strong>veríamos interpretá-las como alimento <strong>para</strong> as bactérias e <strong>para</strong>outras criaturas <strong>do</strong> «ecossistema» da árvore. Este pensamento <strong>de</strong>veria estar difundi<strong>do</strong> nanossa socieda<strong>de</strong> e nos seus produtos mas, <strong>para</strong> isso, os produtos <strong>de</strong>veriam eles própriosoferecer algo mais quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar a sua função inicial, seja pelo seumaterial, pela sua reinterpretação <strong>de</strong> uso ou pelo novo significa<strong>do</strong> que adquirem. Estatarefa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer.Complexida<strong>de</strong> e Vida MulticelularApesar <strong>do</strong>s esforços <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos <strong>para</strong> <strong>do</strong>tar o homo sapiens <strong>de</strong> umasuperiorida<strong>de</strong> inquestionável e inacessível em relação a to<strong>do</strong>s os outros animais, o nossocérebro não consegue escon<strong>de</strong>r a nossa origem.As nossas origens neurológicas são notáveis, o nosso cérebro consiste no complexo<strong>de</strong> R, o cerebelo, que controla as funções básicas e que é partilha<strong>do</strong> com os répteis, osistema límbico, que controla as emoções e que partilhamos com os mamíferos e oneocortex, que actua nos mamíferos, em particular no ser humano, como um centro <strong>para</strong>raciocínios complexos (Maclean, P. 65 , 1974).Os mesmos princípios que condicionam o comportamento animal, po<strong>de</strong>m serusa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r e influenciar o comportamento humano.65(1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1913 – 26 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2007). Físico e neurocientista Americano que <strong>de</strong>u importantes contributos nos campos dapsicologia, psiquiatria e na investigação <strong>do</strong> cérebro humano. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_D._MacLean)87


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 55 Figura 56 Figura 57Figura 55 - Cerebelo. (fonte: ver anexo 1)Figura 56 - Sistema límbico. (fonte: ver anexo 1)Figura 57 - Neocortex. (fonte: ver anexo 1)O mun<strong>do</strong> está habita<strong>do</strong> por muitos indivíduos e a sua interacção dita que estes vivam oumorram. A habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um animal <strong>de</strong> perceber em segurança as intenções <strong>de</strong> outro é oexpoente máximo da perspectiva evolucionária. A consciencialização <strong>de</strong> que outros animaistambém tomam <strong>de</strong>cisões ten<strong>do</strong> em vista o seu bem-estar provou que esta é uma vantagem<strong>de</strong> sobrevivência.No ser humano passa-se algo idêntico. Em psicologia, a consciência da existência<strong>de</strong> uma consciência diferente da própria é chamada «psicologia intuitiva» e é consi<strong>de</strong>radauma marca <strong>de</strong> pensamento superior. Entre os 18 e 24 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> as crianças começama se<strong>para</strong>r o conteú<strong>do</strong> da mente das outras pessoas da sua própria mente e aos 4 anos estãocapazes <strong>de</strong> se imaginar na posição <strong>do</strong>s outros (Pinker, S. 66 , 1997).O cérebro humano é verda<strong>de</strong>iramente uma «socieda<strong>de</strong> da mente», constituí<strong>do</strong> pormúltiplos componentes ou agentes, cada cego por si próprio que, individualmente,executam tarefas simples mas, juntos, po<strong>de</strong>m formar a inteligência. As nossas acções finaissão a soma <strong>de</strong>stas partes (Minsky, M. 67 , 1988). Mais <strong>do</strong> que ditar uma resposta individual<strong>para</strong> cada acção, a evolução força directamente a mente <strong>para</strong> tomar <strong>de</strong>cisões através <strong>de</strong> umsistema bastante singular utilizan<strong>do</strong> percursos <strong>de</strong> prazer e emoção <strong>para</strong> conduzir ocomportamento humano.Muitas das <strong>de</strong>terminações que a consciência humana toma são, em parte,directamente influenciadas por mecanismos subconscientes. (Damásio, A. 68 , 1995).66(Montreal, 18 <strong>de</strong> setembro 1954) é um psicólogo e lingüista Cana<strong>de</strong>nse da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard e escritor <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> divulgaçãocientífica. Durante 21 anos foi professor no Departamento <strong>do</strong> Cérebro e Ciências Cognitivas <strong>do</strong> Massachusetts Institute of Technologyantes <strong>de</strong> regressar a Harvard em 2003. Autor <strong>do</strong> livro Como a Mente Funciona. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Steven_Pinker).67(9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1927) Cientista cognitivo <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> Americana, autor <strong>do</strong> livro The Society of Mind.68(Lisboa, 25 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1944) é um médico neurologista, neurocientista português que trabalha nos estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> cérebro e dasemoções humanas. Actualmente é professor De Neurociência na University of Southern California. Autor <strong>do</strong> livro O Erro <strong>de</strong> Descartes -Emoção, Razão e Cérebro Humano.88


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemIndividualmente, as células são frágeis e têm uma longevida<strong>de</strong> limitada. Emconjunto, as colónias <strong>de</strong> células conseguem <strong>de</strong>sempenhar gran<strong>de</strong>s tarefas e operaremdurante décadas; é o conceito <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> força, referi<strong>do</strong> atrás.Os nossos corpos são <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s, mas os nossos genes não. Enquanto to<strong>do</strong>svivemos assombra<strong>do</strong>s com o espectro da mortalida<strong>de</strong>, os responsáveis fundamentais pelanossa existência, os genes, irão certamente sobreviver mesmo <strong>de</strong>pois da nossa morte(Blinn, Robert, 2006).As células-tronco são indispensáveis <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os teci<strong>do</strong>s e órgãos<strong>do</strong> corpo humano. As chamadas células-tronco embrionárias, por exemplo, são comocélulas-mães, capazes <strong>de</strong> se multiplicar e gerar até 220 tipos <strong>de</strong> células diferentes, quepo<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> células-filhas. Cada uma <strong>de</strong>ssas células-filhas especializa-se e formaum órgão diferente, como os pulmões, os rins, o estômago, os ossos, a pele, o fíga<strong>do</strong>, etc.Até que o corpo humano esteja completo.A razão pela qual cada ser humano não é uma única célula extremamente complexanão é trivial, nem imediata. A resposta contu<strong>do</strong> é bastante fácil. Toda a vida complexaneste planeta é multicelular 69 . A vida multicelular permite a redundância e o erro, enquantoque por sua vez a vida baseada na célula única já não o permite. Os cientistas começamagora a aceitar a teoria <strong>de</strong> que as colónias <strong>de</strong> formigas ou abelhas são tão organismosholisticos 70como o ser humano, ou seja, ambos formam uma «entida<strong>de</strong>» totalmenteintegrada, on<strong>de</strong> as unida<strong>de</strong>s funcionam simultânea, inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e integradamente e nãocomo um conjunto <strong>de</strong>sconexo <strong>de</strong> partes dissociadas.69Organismo ou estrutura <strong>de</strong> um organismo forma<strong>do</strong> por mais <strong>do</strong> que uma célula. (fonte: http://wapedia.mobi/pt/Multicelular)70Noção <strong>de</strong> to<strong>do</strong>, as partes compõem o to<strong>do</strong>, e é o to<strong>do</strong> que <strong>de</strong>termina o comportamento das partes. (fonte:http://pt.wiktionary.org/wiki/hol%C3%ADstico)89


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 58 Figura 59 Figura 60Figura 57 – Organismo multicelular com o nome <strong>de</strong> volvox. (fonte: ver anexo 1)Figura 58 – Formigas em tarefa. (fonte: ver anexo 1)Figura 59 – Abelhas em tarefa. (fonte: ver anexo 1)Steven Johnson 71 , no seu livro “Emergencia: A Vida Integrada <strong>de</strong> Formigas, Cérebros,Cida<strong>de</strong>s e Softwares” (Jorge Zahar Editor. 2003) explica que “ não existe nada <strong>de</strong> hierárquico sobrea forma como uma colónia <strong>de</strong> formigas faz o seu pensamento”.Compreen<strong>de</strong>r e adaptar o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>stas «comunida<strong>de</strong>s» revela-se<strong>de</strong> extrema importância na abordagem conceptual ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produto <strong>para</strong> queo seu ciclo <strong>de</strong> vida seja, verda<strong>de</strong>iramente, eco-eficiente e eficaz, algo que já é feito e comsucesso na concepção <strong>de</strong> softwares e sistemas tecnológicos <strong>de</strong> ponta, mas que ainda nãoevoluiu na produção industrial e no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.Analisemos uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formigas, esta po<strong>de</strong> oferecer verda<strong>de</strong>iros conceitosinspira<strong>do</strong>res <strong>para</strong> o entendimento <strong>do</strong> que <strong>de</strong>veria ser a produção industrial e a relação <strong>de</strong>stacom o universo material que nos ro<strong>de</strong>ia.Como parte das suas activida<strong>de</strong>s diárias as formigas manipulam <strong>de</strong> forma segura eeficaz os seus resíduos materiais bem como os das outras espécies, colhem os seus própriosalimentos enquanto vão alimentan<strong>do</strong> o ecossistema <strong>de</strong> que são uma parte, constroem casas,armazéns, cemitérios e lixeiras com materiais que po<strong>de</strong>m ser verda<strong>de</strong>iramente recicla<strong>do</strong>s,criam <strong>de</strong>sinfectantes que são saudáveis, seguros e bio<strong>de</strong>gradáveis e mantêm o solo saudável<strong>para</strong> to<strong>do</strong> o planeta. Não será este mo<strong>de</strong>lo que seria importante ver aplica<strong>do</strong> em todas asacções da socieda<strong>de</strong> humana?Cada formiga age sobre a sua vizinhança sem se dar conta <strong>do</strong> mapa colectivo quevai emergin<strong>do</strong>, assinalan<strong>do</strong> que o grupo é mais inteligente <strong>do</strong> que os indivíduos que ocompõem individualmente, porque encontra sempre a melhor solução <strong>para</strong> um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> problema. Toda a acção <strong>do</strong> grupo se revela eficaz sem coman<strong>do</strong>hierarquiza<strong>do</strong>. (Moura e Garcia Pereira. 2003).71Cientista Americano.90


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemA cooperação entre indivíduos, mas também a coor<strong>de</strong>nação individual <strong>de</strong> cadaformiga formam a base estrutural das colónias <strong>de</strong> formigas. Estas interacções simples,surgidas <strong>de</strong> um insecto a seguir o rasto <strong>de</strong> outro, parecem ser uma solução correcta <strong>para</strong>resolver problemas complexos. As formigas <strong>de</strong>senvolveram um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> segregação <strong>de</strong>feromona que indica às outras o percurso percorri<strong>do</strong>, por exemplo, <strong>para</strong> encontrar ocaminho mais curto entre o seu formigueiro e uma fonte <strong>de</strong> alimentação.Segun<strong>do</strong> Ramos (2002), a auto-organização e formação <strong>de</strong> percursos pelosindivíduos da colónia são uma forma <strong>de</strong> modificar o ambiente, fazen<strong>do</strong> emergir assim umprocesso <strong>de</strong> comunicação indirecta entre as formigas que seguem esses trilhos. O<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> algumas trabalha<strong>do</strong>ras faz <strong>de</strong>crescer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais indivíduosnessas tarefas: por exemplo, a limpeza <strong>do</strong> formigueiro por algumas trabalha<strong>do</strong>ras reduz anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa limpeza. Ou seja, as diferentes formigas comunicam a partir <strong>do</strong> próprioambiente, limpan<strong>do</strong> o ninho, e as suas colegas respon<strong>de</strong>m ao ambiente modifica<strong>do</strong> ereduzin<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a executar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> tarefas. Domesmo mo<strong>do</strong>, a forma particular com que as formigas constroem pilhas <strong>de</strong> objectos, taiscomo cadáveres, larvas ou grãos <strong>de</strong> areia, evi<strong>de</strong>ncia um espantoso mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> autoorganização.Efectivamente, as formigas <strong>de</strong>positam inicialmente e <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> aleatório, no seuespaço, este tipo <strong>de</strong> objectos. Quan<strong>do</strong> outras os reconhecem, são estimuladas (dada aconfiguração) a <strong>de</strong>positar novos objectos perto <strong>de</strong>stes, sen<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong> organizaçãoe agrupamento um tipo particular <strong>de</strong> auto-organização e <strong>de</strong> comportamento adaptativo. Opadrão final <strong>de</strong> distribuição espacial <strong>de</strong> objectos (o mapa) é assim um reflexo daquilo que aprópria colónia «sente» e «pensa» acerca <strong>de</strong>sses objectos, tal como se fosse agora um outroorganismo forma<strong>do</strong> a um nível superior <strong>de</strong> consciência ou uma «or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nível superior»(Johnson, 2001; Ramos, 2002; Moura, 2003).Edward O. Wilson, referin<strong>do</strong>-se às formigas, disse "Karl Marx estava certo, o socialismofunciona, a questão é que ele errou na espécie". Enquanto que as formigas e outros insectos sociaisparecem viver em socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base comunista, eles só o fazem porque são forçadas afazê-lo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua biologia básica. Como lhes falta autonomia reprodutiva, as formigastrabalha<strong>do</strong>ras, sen<strong>do</strong> estéreis, precisam da sua formiga-rainha, <strong>para</strong> sobreviverem enquantocolónia e espécie; as formigas não se po<strong>de</strong>m reproduzir sem uma rainha, sen<strong>do</strong>, portanto,forçadas a viver em socieda<strong>de</strong>s centralizadas.Os seres humanos, no entanto, são biologicamente mais avança<strong>do</strong>s e possuemautonomia reprodutiva, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> por isso dar à luz os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes sem a necessida<strong>de</strong>91


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagem<strong>de</strong> uma «rainha». O nível máximo <strong>de</strong> evolução Darwiniana torna-se evi<strong>de</strong>nte, com apossibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> homem olhar <strong>para</strong> si próprio e <strong>para</strong> a sua família como uma entida<strong>de</strong>isolada, enquanto procura formas inova<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> utilizar as socieda<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> vive, <strong>para</strong> seupróprio benefício, o que acabou por se revelar num problema.Individualmente a humanida<strong>de</strong> é muito maior <strong>do</strong> que as formigas mas,colectivamente, a sua biomassa exce<strong>de</strong> a nossa. Assim como não existe quase partenenhuma <strong>do</strong> globo que não esteja habitada pelos humanos, não existe também nenhumaon<strong>de</strong> não exista uma espécie <strong>de</strong> formigas.Elas são um bom exemplo <strong>de</strong> população em que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> nãosão um problema <strong>para</strong> o resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, uma vez que tu<strong>do</strong> o que elas fazem e usamretorna ao ciclo da natureza. To<strong>do</strong>s os seus materiais, mesmo as suas armas químicas maisletais, são bio<strong>de</strong>gradáveis e quan<strong>do</strong> retornam ao solo, tornam-se nutrientes, restauran<strong>do</strong>alguns que foram utiliza<strong>do</strong>s pela colónia.As formigas também reciclam os lixos <strong>de</strong> outras espécies; as formigas carrega<strong>do</strong>res,recolhem a matéria em <strong>de</strong>composição <strong>do</strong>s solos, carregam-na até às suas colónias e usamna<strong>para</strong> alimentar os fungos que crescem nos subterrâneos. Durante os movimentos dassuas activida<strong>de</strong>s, elas transportam minerais <strong>para</strong> camadas mais superficiais <strong>do</strong> solo, on<strong>de</strong> asplantas e fungos os po<strong>de</strong>m usar como alimento. Elas <strong>de</strong>sgastam o solo crian<strong>do</strong> passagens<strong>para</strong> a drenagem <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>sempenhan<strong>do</strong> um papel fundamental na saú<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong><strong>do</strong>s solos. São realmente, como disse o biólogo E.O.Wilson “as pequenas coisas que fazem omun<strong>do</strong> avançar”.Embora façam o mun<strong>do</strong> avançar elas não passam por cima <strong>de</strong>le. Tal como a árvore<strong>de</strong> cerejas, elas actuam como uma parte <strong>do</strong> meio ambiente contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> um mun<strong>do</strong>melhor.Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta noção <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, aparentemente complexa, alguns autores têmi<strong>do</strong> <strong>de</strong> tal maneira longe, que especulam que a terra em si é efectivamente um superorganismo,composto por to<strong>do</strong>s os seres vivos e seu ambiente material, como refere JamesLovelock 72 no seu livro “Gaia: A new look on life on earth” (2000, Oxford University).Neste livro o autor <strong>de</strong>senvolve a teoria <strong>de</strong> que o conjunto <strong>de</strong> seres vivos, acresci<strong>do</strong><strong>do</strong> ar, <strong>do</strong>s oceanos e das massas <strong>de</strong> terra firme, forma um sistema complexo capaz <strong>de</strong>manter as condições <strong>para</strong> que a vida continue.James Lovelock argumenta que fenómenos como a proporção <strong>de</strong> oxigénio naatmosfera, a formação <strong>de</strong> nuvens, e a salinida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s oceanos po<strong>de</strong>m estar a ser controla<strong>do</strong>s72(26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1919). Pesquisa<strong>do</strong>r in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e ambientalista que vive na Cornualha (oeste da Inglaterra).92


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagempor processos físicos, químicos e biológicos, assim como ocorre num organismo vivo. Eleacredita que "o autocontrole <strong>do</strong> clima e da composição química <strong>do</strong> meio em que vivemos são um processoque resulta da evolução em conjunto das rochas, <strong>do</strong> ar e <strong>do</strong> oceano - além da evolução <strong>do</strong>s organismos. Estaauto-regulação, embora raramente optimizada, como po<strong>de</strong>mos ver através das anormalida<strong>de</strong>s climáticas queocorrem, todavia, mantêm, a Terra em condições <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong>". James Lovelock acrescenta que"Se consi<strong>de</strong>rarmos o planeta como sen<strong>do</strong> um super-organismo <strong>do</strong> qual somos uma parte, e não osproprietários ou inquilinos, nem mesmo passageiros, po<strong>de</strong>ríamos ter ainda muito tempo pela frente e a nossaespécie po<strong>de</strong>ria sobreviver pelo tempo que a ela estava <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>”.Para qualquer objecto <strong>de</strong> alta funcionalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sempenho, a complexida<strong>de</strong> é ummal necessário. A maneira <strong>de</strong> como esta complexida<strong>de</strong> é organizada, faz contu<strong>do</strong> umagran<strong>de</strong> diferença. O próprio universo é composto <strong>de</strong> pequenos componentes que operamem conjunto, mas não <strong>de</strong> forma linear. Seguin<strong>do</strong> as leis básicas da física e da biologia,po<strong>de</strong>mos criar sistemas que «copiem» ou mimetizem processos naturais e que tenham umimpacto positivo no ambiente.Necessitamos <strong>de</strong> abordar cada projecto não como um elemento único mas comoum componente integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> um sistema mais amplo que <strong>de</strong>fine a nossa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidae bem-estar. Des<strong>de</strong> o início precisamos <strong>de</strong> avaliar o contributo <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign e o seu<strong>de</strong>senvolvimento <strong>para</strong> o bem <strong>do</strong> meio ambiente.Neste momento, já não se trata só <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, a sustentabilida<strong>de</strong> tornou os <strong>de</strong>signersmelhores educa<strong>do</strong>res, facilita<strong>do</strong>res e integra<strong>do</strong>res. Já não se trata só <strong>de</strong> projectar umproduto bonito; trata-se sim <strong>de</strong> fazê-lo funcional, ecológica e economicamente, com anoção <strong>de</strong> que este produto é, obrigatoriamente, parte integrante <strong>de</strong> um to<strong>do</strong> que é o nossoplaneta e no qual ele <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sempenhar um papel responsável.Diversida<strong>de</strong> – O ADN <strong>do</strong> PlanetaImaginemos os primórdios da vida no nosso planeta. Existiam rochas e água –matéria. A órbita <strong>do</strong> sol enviava calor e luz – energia.Mesmo milhares <strong>de</strong> milénios <strong>de</strong>pois, com recurso a processos químicos e físicos, oscientistas ainda não <strong>de</strong>scobriram como apareceram as bactérias.Com a evolução da fotossíntese das algas azuis e ver<strong>de</strong>s, uma mudançamonumental aconteceu, elementos químicos e físicos combina<strong>do</strong>s com a energia <strong>do</strong> sol e amassa química da terra transformaram-se no planeta ver<strong>de</strong> e azul que conhecemos.Nessa altura os sistemas biológicos evoluem <strong>para</strong> se alimentarem da energia <strong>do</strong> sol.A superfície <strong>do</strong> planeta explo<strong>de</strong> com diferentes formas <strong>de</strong> vida. Diversos organismos,93


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemplantas e animais, alguns <strong>de</strong>les milhares <strong>de</strong> anos <strong>de</strong>pois irão inspirar po<strong>de</strong>rosas religiões,<strong>de</strong>scobrir curas <strong>para</strong> <strong>do</strong>enças fatais, e escrever bonitos poemas.Mesmo que um <strong>de</strong>sastre natural ocorresse, imaginemos uma era <strong>do</strong> gelo quecongelasse gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> planeta, este padrão não seria completamente <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>. Àmedida que o gelo se retraísse as mais diversas formas <strong>de</strong> vida voltariam. Nos trópicos dásea erupção <strong>de</strong> um vulcão que preenche a terra circundante com lava. Uma casca <strong>de</strong> cocoflutua pelas águas e acaba numa praia. O ar transporta fragmentos <strong>de</strong> rocha e assim começaa renovação da natureza. É um processo misterioso e miraculoso ao mesmo tempo,quan<strong>do</strong> confrontada com a monotonia, a natureza supera-se.Este é o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign da natureza: uma diversida<strong>de</strong> e abundância florescente.É a resposta <strong>do</strong> planeta à forma <strong>de</strong> energia que recebe: o sol. Infelizmente a resposta <strong>do</strong>shumanos a este mo<strong>de</strong>lo parece ser a <strong>de</strong> atacar indiscriminadamente.Camadas <strong>de</strong> betão e asfalto arrasam com florestas, <strong>de</strong>sertos, linhas costeiras, selvas.São construí<strong>do</strong>s edifícios que parecem iguais e que estão espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, emcomunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> as estruturas foram durante décadas, séculos, lindas e culturalmentedistintas. Espaços que um dia estiveram repletos <strong>de</strong> folhagem e vida animal, foramtransforma<strong>do</strong>s em espaços amorfos, <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> só as espécies mais bravas eresistentes se adaptam e sobrevivem – corvos, baratas, ratos, pombos, esquilos. Aspaisagens foram limpas e cultivadas com apenas uma única espécie <strong>de</strong> relva, que cresceartificialmente mas que é constantemente a<strong>para</strong>da e controlada com umas sebes e algumasárvores severamente podadas. A monotonia é uma constante.William McDonought e Michael Braungart, no livro “Cradle to Cradle: Remaking theway we making things” (2002), intitulam este cenário não como uma evolução mas sim comouma <strong>de</strong>-evolução, um retrocesso, uma imposição <strong>do</strong>s nossos caprichos através da força.Durante séculos a nossa espécie construiu uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas por to<strong>do</strong> oplaneta; diferentes maneiras <strong>de</strong> comer, falar, vestir, expressar, criar. Actualmente, com aglobalização, esta diversida<strong>de</strong> começa a esbater-se cada vez mais, dan<strong>do</strong> lugar a uma onda<strong>de</strong> monotonia global, uniformizan<strong>do</strong> os <strong>de</strong>talhes culturais com centenas <strong>de</strong> anos <strong>de</strong>história.Contra esta onda <strong>de</strong> monotonia, facilmente se percebe que é necessário lutar peloprincípio <strong>do</strong> «respeito pela diversida<strong>de</strong>», não só pela biodiversida<strong>de</strong> mas também peladiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locais e <strong>de</strong> culturas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, um elemento únicocaracterístico da espécie humana.94


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemComo po<strong>de</strong> uma fábrica construída no <strong>de</strong>serto ser maravilhosamente diferente <strong>de</strong>outra construída nos trópicos? O que significa ser habitante da Ilha <strong>de</strong> Bali ou serMexicano e conseguir expressá-lo? Como se consegue «enriquecer» as espécies locais, eseduzi-las a virem <strong>para</strong> as nossas paisagens «cultivadas/alteradas» em vez <strong>de</strong> as afastar ou<strong>de</strong>struir? Como é possivel originar lucro e benefícios através <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fluxosnaturais <strong>de</strong> energia? Como é que a espécie humana se consegue relacionar com umaabundância <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais, opções e respostas, <strong>de</strong> soluções elegantes ecriativas?Estas perguntas retiradas <strong>do</strong> livro “Cradle to Cradle: Remaking the way we making things”(2002), preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spertar e consciencializar o ser humano, <strong>para</strong> a necessida<strong>de</strong> dadiversida<strong>de</strong> como resposta aos problemas actuais. Este é um problema que se coloca cadavez com mais intensida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto.Actualmente, na sua gran<strong>de</strong> maioria, as abordagens existentes são no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> umcompleto <strong>de</strong>sprezo pela diversida<strong>de</strong> cultural e pelas particularida<strong>de</strong>s materiais e energéticasquan<strong>do</strong> um produto é projecta<strong>do</strong>. Com a globalização «instituiu-se» que o mun<strong>do</strong> erapequeno e que tu<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria ser projecta<strong>do</strong> como se <strong>de</strong> um único local se tratasse. Nadamais erra<strong>do</strong>, embora, como é possível verificar, em vários exemplos ao longo <strong>de</strong>sta<strong>dissertação</strong>, a indústria continue a agir <strong>de</strong>sta maneira.Cabe aos <strong>de</strong>signers, enquanto pensa<strong>do</strong>res e educa<strong>do</strong>res das necessida<strong>de</strong>s globais,pensar, interpretar e aproveitar as particularida<strong>de</strong>s culturais, materiais, geográficas, etc. na<strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s novos produtos. O mesmo produto vendi<strong>do</strong> em diversas áreas geográficas<strong>de</strong>ve espelhar essa diversida<strong>de</strong> que sabemos que existe, os recursos disponíveis variam, asnecessida<strong>de</strong>s e as estruturas sociais também e o produto artificial <strong>de</strong>ve reflectir isso mesmo.Po<strong>de</strong>mos ter uma noção uniformizada da formiga, mas existem mais <strong>de</strong> 8 mil tipos<strong>de</strong> formiga diferentes no planeta. Durante milhares <strong>de</strong> anos cada espécie evoluiu <strong>para</strong> sea<strong>de</strong>quar às particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada local, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> recursos e comportamentos quepermitam construir o seu habitat e controlar a energia e alimentos que necessitam.Na floresta tropical, centenas <strong>de</strong> diferentes espécies po<strong>de</strong>m coexistir num únicotronco <strong>de</strong> árvore. Existem as formigas corta-folha, com mandíbulas especialmente<strong>de</strong>senhadas <strong>para</strong> cortar e carregar a folhagem, as formiga-<strong>de</strong>-fogo, um «varre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruas»com méto<strong>do</strong>s avança<strong>do</strong>s <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> presas <strong>de</strong> diversos tamanhos <strong>para</strong> o seu ninhoou, a formiga tecelã que encurta a distância entre uma folha e outra fazen<strong>do</strong> pontes. Aprimeira formiga crava os <strong>de</strong>ntes na folha e uma segunda se agarra na sua cintura. Vemuma terceira e uma quarta, e assim por diante, até alcançarem a outra extremida<strong>de</strong>.95


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemA vitalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s ecossistemas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das relações estabelecidas entre as diversasespécies, os seus usos e trocas <strong>de</strong> material e energia num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> local. A tapeçaria é ametáfora que melhor consegue <strong>de</strong>screver a diversida<strong>de</strong>, uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> textura extremamenterica, constituída por espécies individuais, tecidas em conjunto com uma interligação <strong>de</strong>tarefas (McDonought, W. e Braungart, M.. 2002).Neste conceito, diversida<strong>de</strong> significa força, e monocultura significa fraqueza. Se anatureza é o nosso mo<strong>de</strong>lo, o que po<strong>de</strong>rá significar <strong>para</strong> as indústrias humanas estaremenvolvidas na manutenção e enriquecimento <strong>de</strong>sta magnifica «tapeçaria»?Segun<strong>do</strong> William McDonought e Michael Braungart, em primeiro lugar, significaque no <strong>de</strong>curso das activida<strong>de</strong>s humanas individuais, é necessário trabalhar na direcção <strong>de</strong>uma ligação com o lugar na sua globalida<strong>de</strong> e, não apenas com os ecossistemascircundantes. A biodiversida<strong>de</strong> é apenas um aspecto da diversida<strong>de</strong>. As indústrias <strong>de</strong>veriamrespeitar a diversida<strong>de</strong> através <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s materiais e fluxos <strong>de</strong> energia locais, com as forçassociais, culturais e económicas <strong>do</strong> local, em vez <strong>de</strong> se acharem como entida<strong>de</strong>s autónomas,<strong>de</strong>sligadas da cultura ou <strong>do</strong> meio ambiente que o circunda e sem se preocuparem com oseu impacto no local on<strong>de</strong> estão inseridas.Respeitar a diversida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>sign significa consi<strong>de</strong>rar não só como é que umproduto é feito, mas como <strong>de</strong>ve ser usa<strong>do</strong> e por quem. Numa concepção «Cradle-to-Cradle»este produto po<strong>de</strong> ter vários tipos <strong>de</strong> uso, e muitos usuários ao longo <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong>espaço. Um excelente exemplo <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia são as garrafas Heineken. O «tijolo que contémcerveja», como lhe chamou Alfred Heineken 73 o seu mentor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> consumida a cerveja<strong>do</strong> seu interior, po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> como tijolo na construção <strong>de</strong> abrigos. Embalagens eprodutos <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s com o seu futuro pensa<strong>do</strong>, e um nível <strong>de</strong> upcycling 74 .Figura 60 – Garrafas <strong>de</strong> cerveja Heineken73(4 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1923 – 3 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2002). Presi<strong>de</strong>nte da fábrica <strong>de</strong> cerveja Heineken. (fonte:http://en.wikipedia.org/wiki/Freddy_Heineken)74Possibilida<strong>de</strong> na qual os materiais são reaproveita<strong>do</strong>s <strong>para</strong> fazer novos produtos. É o aproveitamento <strong>de</strong> materiais que são “lixo”,transforman<strong>do</strong>-os em novos produtos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> igual ou superior à origem. Este processo ajuda na redução <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sperdícios e <strong>de</strong>usos <strong>de</strong> materiais virgens. Este termo foi difundi<strong>do</strong> por William McDonough e Michael Braungart, autores <strong>do</strong> livro Cradle to Cradle:Remaking the Way We Make Things. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Upcycle)96


(fonte: ver anexo 1)A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemOs habitantes das al<strong>de</strong>ias africanas que usam canecas <strong>de</strong> argila <strong>para</strong> beber água enão têm estruturas <strong>de</strong> reciclagem <strong>para</strong> tratar o «lixo» necessitam <strong>de</strong> um recipiente <strong>para</strong>beber água que <strong>de</strong>pois possam atirar <strong>para</strong> o solo e este se <strong>de</strong>componha e se torne emcomida <strong>para</strong> a natureza. Na Índia, on<strong>de</strong> materiais e energia são caros, seria útil <strong>para</strong> aspessoas utilizarem embalagens que fossem seguras e limpas ao serem queimadas, geran<strong>do</strong>assim fontes <strong>de</strong> calor e energia. Em zonas industrializadas, po<strong>de</strong>riam ser utiliza<strong>do</strong>spolímeros pensa<strong>do</strong>s como «comida» <strong>para</strong> mais garrafas, crian<strong>do</strong> uma infra-estruturaorientada <strong>para</strong> o upcycling <strong>do</strong> material.Na China, as embalagens <strong>de</strong> esferovite representam um problema <strong>de</strong> tal maneiragran<strong>de</strong> que as pessoas se referem a elas como a poluição branca. São atiradas pelas janelas<strong>do</strong>s comboios e barcos e povoam a paisagem em to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>. Imaginemos projectar estasembalagens <strong>de</strong> maneira a elas se bio<strong>de</strong>gradarem <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> seu uso. Po<strong>de</strong>riam ser feitas dasvagens vazias <strong>de</strong> arroz que são <strong>de</strong>ixadas nos campos <strong>de</strong>pois da colheita, e que sãonormalmente queimadas. Elas estão disponíveis e são baratas. A embalagem po<strong>de</strong>ria serenriquecida com uma pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nitrogénio, po<strong>de</strong>ria ser reaproveita<strong>do</strong> <strong>do</strong>ssistemas automóveis. Em vez <strong>de</strong> se sentirem culpa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> seu uso, as pessoaspo<strong>de</strong>riam conscientemente <strong>de</strong>itar fora a sua embalagem segura e saudável pela janela <strong>do</strong>comboio <strong>para</strong> o solo, que se <strong>de</strong>comporia rapidamente e que ofereceria nitrogénio ao solo.Po<strong>de</strong>ria ainda conter sementes que po<strong>de</strong>riam rebentar à medida que a embalagem se<strong>de</strong>compõe. Ou as pessoas po<strong>de</strong>riam guardar a sua embalagem até a próxima <strong>para</strong>gem <strong>do</strong>comboio, on<strong>de</strong> os agricultores locais po<strong>de</strong>riam recolher estas embalagens <strong>para</strong> as usarcomo fertilizantes das suas culturas.Estes exemplos retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> livro “Cradle to Cradle: Remaking the way we making things”(2002), <strong>de</strong>monstram que, com imaginação e empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo, facilmente se po<strong>de</strong>riaalterar o «mo<strong>do</strong>s operandi» actual da socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> seu aparelho industrial e comercial. Assoluções existem, falta a vonta<strong>de</strong>!Quan<strong>do</strong> a diversida<strong>de</strong> é a estrutura da natureza, as soluções humanas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign quenão respeitem esta estrutura <strong>de</strong>gradam as fábricas ecológicas e culturais das nossas vidas,diminuin<strong>do</strong> o prazer. Charles <strong>de</strong> Gaulle 75 é referi<strong>do</strong> como ten<strong>do</strong> dito que é difícil gerir umpaís que produz 400 tipos diferentes <strong>de</strong> queijos. Mas, e se, por uma questão <strong>de</strong> crescimentoeconómico e homogeneida<strong>de</strong>, to<strong>do</strong>s os produtores franceses <strong>de</strong> queijo se concentrassem75(22 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1890 - 9 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1970) foi um eneral , político e estadista francês.97


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemem produzir queijos com um sabor idêntico? As pessoas querem diversida<strong>de</strong> porque issolhes traz mais prazer e gozo. Elas querem um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> 400 queijos diferentes.Compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> e respeitan<strong>do</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural, a indústria automóvel,po<strong>de</strong>ria respeitar a prática Filipina <strong>de</strong> <strong>de</strong>corar os veículos, fornecen<strong>do</strong> aos clientes aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> anexar a<strong>do</strong>rnos e <strong>de</strong> fazer pinturas personalizadas com tintas ecológicasem vez <strong>de</strong> os constrangir ao gosto «universal».Um <strong>de</strong>sign efectivo e ecológico exige um conjunto <strong>de</strong> princípios coerentesbasea<strong>do</strong>s nas leis da natureza e a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma constante diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão.É famosa a expressão <strong>de</strong> que a forma segue a função, mas as possibilida<strong>de</strong>s são maioresquan<strong>do</strong> a forma segue a evolução.A diversida<strong>de</strong> enriquece a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma outra maneira: o choque dadiversida<strong>de</strong> cultural po<strong>de</strong> ampliar perspectivas e inspirar a mudança criativa. Devemos terpresente que, quan<strong>do</strong> se dá essa oportunida<strong>de</strong>, as pessoas escolhem outra coisa que nãoaquela a que estão tipicamente habituadas. (Cradle to Cradle: Remaking the way we make things,2002)“Waste equals Food”conceito adapta<strong>do</strong> <strong>do</strong> livro “Cradle-to-Cradle” <strong>de</strong> William McDonought & Michael Braungart, 2002.«Waste equals food» 76 é uma conceito inova<strong>do</strong>r, não só pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fornecer uma nova visão sobre este problema, como pela própria mensagem que transmitea quem o conhece. É uma nova maneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e relacionar a socieda<strong>de</strong> com os seus<strong>de</strong>sperdícios.Este conceito, é o mote <strong>para</strong> o movimento Cradle-to-Cradle 77 , que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> umamatriz <strong>de</strong> produção com o objectivo <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os componentes <strong>de</strong> um produto seremprojecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> serem reutiliza<strong>do</strong>s ou reabsorvi<strong>do</strong>s pelo ambiente através da sua<strong>de</strong>composição. Embora este movimento se revele difícil <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ptar em toda a suaplenitu<strong>de</strong>, é um contributo indispensável na sensibilização da socieda<strong>de</strong> e na introdução <strong>de</strong>novos conceitos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> aplica<strong>do</strong>s ao mun<strong>do</strong> real.Para introduzir o conceito «waste equals food» é necessário uma breve explicação<strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> entropia. Explica<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma simples, entropia é a tendência <strong>do</strong>universo <strong>de</strong> se aproximar <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> homogéneo <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> estar num esta<strong>do</strong>avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m localizada. É a razão pela qual um cubo <strong>de</strong> gelo num copo <strong>de</strong> água76Expressão Inglesa que quer dizer «lixo igual a comida».77A abreviatura <strong>do</strong> movimento é C2C.98


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagem<strong>de</strong>rrete até atingir uma temperatura uniforme, nenhuma parte <strong>de</strong> um sistema po<strong>de</strong>permanecer quente se to<strong>do</strong> o resto estiver frio.O que diferencia o planeta terra <strong>do</strong>s outros é a existência <strong>de</strong> vida. A vida serve <strong>para</strong>converter energia em or<strong>de</strong>m local. O nosso sol converte a sua complexida<strong>de</strong> em raios <strong>de</strong>energia que envia pelo universo. Eventualmente irá ar<strong>de</strong>r, até <strong>de</strong>saparecer e formar umburaco negro, mas, entretanto, toda a vida na terra continua a converter a sua energia emcomplexida<strong>de</strong>. Todas as ca<strong>de</strong>ias químicas em cada célula recebem a energia vinda <strong>do</strong> sol, <strong>de</strong>um mo<strong>do</strong> directo ou consumin<strong>do</strong> o corpo <strong>de</strong> criaturas que o fizeram. O nosso mun<strong>do</strong> usao sol <strong>para</strong> criar complexida<strong>de</strong>. O Ser humano, não. Em vez disso, continua a insistir noscombustíveis fósseis, que foram gera<strong>do</strong>s ao longo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos.Enquanto a energia consumida pela tecnologia humana for proveniente <strong>de</strong>substâncias químicas enterradas no solo, em vez <strong>de</strong> se aproveitar a energia da água, <strong>do</strong>vento e <strong>do</strong> sol, isto quer dizer que o homem não está a agir <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o mo<strong>de</strong>lonatural. Este obstáculo, embora difícil, é ultrapassável e, enquanto o aquecimento globalcontinua, a Humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vería continuar a avançar numa direcção produtiva virada <strong>para</strong>o consumo <strong>de</strong> energia sustentável.Historicamente os fluxos <strong>de</strong> nutrientes/materiais acompanharam a evoluçãohumana. Antes da época da agricultura, as culturas nómadas andavam <strong>de</strong> lugar em lugar àprocura <strong>de</strong> comida. Eles necessitavam <strong>de</strong> viajar <strong>de</strong> uma forma leve, assim tinham poucospertences; algumas ferramentas, sacos e roupa feitos <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> animais, cestos <strong>para</strong> raízes esementes. Estes pertences, eram feitos com materiais <strong>do</strong>s locais. E quan<strong>do</strong> o seu usoacabava, podiam <strong>de</strong>compor-se facilmente e ser absorvi<strong>do</strong>s pela natureza. Os objectos maisduráveis, como as armas feitas com pedras e sílica, po<strong>de</strong>riam simplesmente ser <strong>de</strong>ixadasnos locais.O saneamento não era problema uma vez que os nómadas estavam em constantemovimento e os seus lixos biológicos podiam ser <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s no solo como nutrientes.As primeiras comunida<strong>de</strong>s baseadas na agricultura continuaram a <strong>de</strong>positar os lixosbiológicos no solo e respeitavam os tempos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>do</strong>s solos, fornecen<strong>do</strong> nutrientes.Com o passar <strong>do</strong>s anos e séculos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção alimentar aumentou oque fez com que se começassem a <strong>de</strong>senvolver novas técnicas e instrumentos queconseguissem aumentar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>do</strong>s solos. A população aumentou e foinecessário começar a retirar mais recursos e nutrientes <strong>do</strong>s solos <strong>do</strong> que aqueles quepo<strong>de</strong>riam ser naturalmente restabeleci<strong>do</strong>s.99


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemNa Roma imperial os <strong>de</strong>tritos biológicos eram recolhi<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s em zonaslonge das cida<strong>de</strong>s. A agricultura e o corte <strong>de</strong> árvores diminuíram os nutrientes nos solos econduziram à erosão, tornan<strong>do</strong> a paisagem cada vez mais árida, com cada vez menos áreafértil cultivável. A Roma Imperial e o Imperialismo em geral emergem em parte comoresposta à diminuição <strong>do</strong>s nutrientes da natureza, os centros expan<strong>de</strong>m-se <strong>para</strong>conseguirem suportar as suas vastas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, comida e outros recursos.Ao longo da história as cida<strong>de</strong>s em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolveram e construíraminfra-estruturas que permitiam um fluxo constante <strong>de</strong> nutrientes <strong>de</strong> local <strong>para</strong> local. Associeda<strong>de</strong>s entraram em conflitos com outras <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à disputa <strong>de</strong> recursos, água e comida.No século <strong>de</strong>zanove e início <strong>do</strong> século vinte, foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s fertilizantessintéticos proporcionan<strong>do</strong> uma cultura massiva <strong>do</strong>s solos, em completo <strong>de</strong>srespeito pelasleis naturais. Os agricultores agora, já não <strong>de</strong>positavam os seus <strong>de</strong>tritos biológicos no solo,como a primeira e mais importante fonte <strong>de</strong> regeneração <strong>do</strong>s mesmos. Os fertilizantessintéticos começaram a contaminar os solos com substâncias químicas e elementosradioactivos, um perigo que os agricultores normalmente <strong>de</strong>sconhecem.A natureza opera <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um sistema <strong>de</strong> nutrientes e metabolismos no qualnão existe o conceito <strong>de</strong> lixo. Como referi<strong>do</strong> no subcapítulo, “A árvore <strong>de</strong> Cerejas e o Conceito<strong>de</strong> Indústria”, uma árvore <strong>de</strong> fruto produz tantos frutos em que alguns germinam e crescemdan<strong>do</strong> origem a outras árvores, mas os frutos em excesso estão longe <strong>de</strong> seremconsi<strong>de</strong>radas inúteis. Eles caiem no solo, <strong>de</strong>compõem-se, alimentam vários organismos emicrorganismos e enriquecem o solo.Por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, animais e humanos emitem dióxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> carbono, que as plantascaptam e usam <strong>para</strong> o seu próprio crescimento. O nitrogénio <strong>do</strong>s lixos é transforma<strong>do</strong> emproteínas, pelos microrganismos, animais e plantas. Os cavalos comem erva e produzemfezes que são alimento <strong>para</strong> as larvas das moscas. Os melhores nutrientes da terra –carbono, hidrogénio, oxigénio, nitrogénio – pertencem a um ciclo e são recicla<strong>do</strong>s.Este ciclo, um sistema biológico «cradle-to-cradle» tem alimenta<strong>do</strong> o planeta comuma abundância diversa durante milhões <strong>de</strong> anos. Até muito recentemente era o únicosistema existente, e to<strong>do</strong>s os organismos vivos no planeta «pertenciam-lhe». O crescimentosignificava, mais árvores, mais espécies, mais diversida<strong>de</strong>, e ecossistemas mais complexos eresilientes.O aparecimento da indústria e da produção em massa veio alterar o equilíbrionatural no planeta. Os humanos passaram a retirar <strong>de</strong> uma forma massiva substâncias <strong>do</strong>100


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemplaneta e a alterá-las, produzin<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> materiais que não po<strong>de</strong>m serreintroduzi<strong>do</strong>s no solo.Actualmente, e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a estas alterações feitas pelo homem, é possível encontrarduas categorias <strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong> nutrientes/materiais; nutrientes biológicos e nutrientestécnicos, ou seja, o natural e o artificial.Na perspectiva <strong>de</strong> William McDonought & Michael Braungart, estes <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong>material são interpreta<strong>do</strong>s como nutrientes biológicos e técnicos, não são lixo, sãoexactamente o contrário, são nutrientes. Encontramos abundantemente estes <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong>nutrientes no planeta.Os biológicos, são úteis <strong>para</strong> a biosfera 78 , ou seja, <strong>para</strong> os ciclos da natureza. Umnutriente biológico é um material ou produto que é projecta<strong>do</strong> <strong>para</strong> retornar ao ciclobiológico – é literalmente consumi<strong>do</strong> por micro organismos no solo e por outros animais.Um nutriente técnico é um material ou produto que foi concebi<strong>do</strong> <strong>para</strong> voltar aociclo técnico, ao metabolismo industrial <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio.Mesmo quan<strong>do</strong> se tenta minimizar o lixo, com zero emissões ou zero<strong>de</strong>sperdício/lixo, esta atitu<strong>de</strong> quer dizer que se continua a aceitar o conceito <strong>de</strong> lixo.O que William McDonought e Michael Braungart fizeram foi eliminar esteconceito, <strong>para</strong> estes autores tu<strong>do</strong> são nutrientes. To<strong>do</strong>s os materiais são benéficos, numsistema próximo <strong>do</strong> perfeito, quanto mais «lixo», melhor!Figura 61 – Ciclo Biológico e Ciclo Técnico. ( fonte: ver anexo 1)78Conjunto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os ecossistemas da Terra. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Biosfera)101


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemQuan<strong>do</strong> MacDonough fala <strong>de</strong> lixo como comida no mun<strong>do</strong> natural está a referir-sea seres vivos, cuja forma <strong>de</strong> vida se baseia em carbono, a serem consumidas por outrasvarieda<strong>de</strong>s que se baseiam igualmente em carbono. Enquanto a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>seres é muito superior à complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer objecto feito pelo homem, o mun<strong>do</strong>natural tem uma outra vantagem que a humanida<strong>de</strong> ainda não atingiu. Esta vantagem é otempo. Durante milhões <strong>de</strong> anos, a vida tem evoluí<strong>do</strong> <strong>para</strong> outras formas <strong>de</strong> vida “wasteinto food” 79 (William M. & Michael B., 2002). Esta é uma vantagem que os humanos nãotêm!É possível encontrar espalha<strong>do</strong> pelo mun<strong>do</strong>, algumas experiências <strong>de</strong> outrasculturas no seu trabalho e envolvimento com os fluxos <strong>de</strong> nutrientes, culturas que jáancestralmente aplicavam o conceito <strong>de</strong> «waste into food», como a tribo <strong>de</strong> Yanomamo noBrasil, que crema os seus mortos e põe as suas cinzas na sopa <strong>de</strong> banana que a tribo comenum ritual <strong>de</strong> celebração. Muitas pessoas acreditam no karma e na reincarnação que é, nofun<strong>do</strong>, um «upcycling» da alma. Esta perspectiva <strong>de</strong>veria ajudar na resposta e nainterpretação ao problema <strong>do</strong> lixo e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sperdício na tradição oci<strong>de</strong>ntal.Fundamentalmente a vida é complexida<strong>de</strong> e tornou-se inteligente <strong>para</strong> fazer a<strong>de</strong>smontagem da complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mortos nas suas partes constituintes e usá-los comoalimento.O ser humano, contu<strong>do</strong>, cria bolhas <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os dias. Chamam-secarros, garfos, chaleiras…. São produtos. O problema é que as complexas «criações»humanas não encaixam no mun<strong>do</strong> natural. A humanida<strong>de</strong> originou uma nova metáfora<strong>para</strong> a «criação» e, é algo que o mun<strong>do</strong> nunca viu. Foi construí<strong>do</strong> um <strong>para</strong>digma «contranatura»<strong>para</strong> fazer e produzir, ignoran<strong>do</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontagem/reciclagem das«criações» artificiais, esquecen<strong>do</strong>, por completo, o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s produtos. De facto aforça <strong>do</strong>s produtos humanos é a sua própria vulnerabilida<strong>de</strong>, mas não num senti<strong>do</strong><strong>para</strong><strong>do</strong>xal, nem positivo.Este <strong>para</strong>digma está totalmente <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. A socieda<strong>de</strong> gosta <strong>de</strong> materiaisinorgânicos. O seu amor, a sua <strong>de</strong>pendência está, uma vez mais, longe <strong>de</strong> ser umacoincidência. Os materiais inorgânicos recolhem a sua própria força da sua imunida<strong>de</strong> aosprocessos biológicos, que é tu<strong>do</strong> o que não se passa na natureza. De alguma maneiraconvencemo-nos a nós próprios que eles se irão <strong>de</strong>gradar no mun<strong>do</strong> orgânico, mas nadapo<strong>de</strong> estar mais longe da verda<strong>de</strong>!79Expressão Inglesa que quer dizer «lixo em comida».102


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagem«Inteligentemente» é utilizada uma variada lista <strong>de</strong> materiais <strong>para</strong> as nossas criaçõese usufruímos <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os benefícios, porque muitos <strong>do</strong>s elementos têm proprieda<strong>de</strong>súnicas com aplicações únicas. Mais uma vez, este não é o mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural. Ascriações humanas imitam a complexa recolha das proprieda<strong>de</strong>s da vida, mas sem qualqueruma das vulnerabilida<strong>de</strong>s inerentes à vida. Em vez disso, são projectadas <strong>para</strong> a «força» eimortalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois perguntamo-nos porque é que o planeta se está a <strong>de</strong>gradar e aesgotar!É necessário compreen<strong>de</strong>r que existem razões <strong>para</strong> que o mun<strong>do</strong> não actue combase na durabilida<strong>de</strong> como um fim em si próprio. A força é <strong>para</strong><strong>do</strong>xalmente fraca e avulnerabilida<strong>de</strong> é <strong>para</strong><strong>do</strong>xalmente forte.Com o <strong>de</strong>sign correcto, to<strong>do</strong>s os produtos e materiais produzi<strong>do</strong>s pela indústriaalimentariam os <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> metabolismos expostos atrás, fornecen<strong>do</strong> alimento <strong>para</strong> algo<strong>de</strong> novo. Os produtos po<strong>de</strong>m ser compostos, quer por materiais bio<strong>de</strong>gradáveis que setornam comida <strong>para</strong> os ciclos biológicos, ou <strong>de</strong> materiais que se mantêm em ciclo fecha<strong>do</strong>nos chama<strong>do</strong>s ciclos técnicos, on<strong>de</strong> estes circulam continuamente como valiosos nutrientes<strong>para</strong> a indústria. Para que estes <strong>do</strong>is metabolismos se mantenham saudáveis, valiosos e <strong>de</strong>sucesso, é necessário um gran<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>para</strong> que não exista contaminação entre os <strong>do</strong>is.As coisas que vão <strong>para</strong> o metabolismo orgânico não po<strong>de</strong>m conter elementoscancerígenos, tóxicos ou outras substâncias que se acumulam nos sistemas naturais comefeito nocivo. Existem alguns materiais, como os polímeros tradicionais por exemplo, quedanificam os sistemas biológicos, mas que po<strong>de</strong>m por outro la<strong>do</strong> ser manipula<strong>do</strong>s emsegurança <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> metabolismo técnico.É aqui que o <strong>de</strong>signer adquire uma gran<strong>de</strong> importância. Ao projectar <strong>de</strong>ve prevercomo é que se conseguem <strong>de</strong>compor as diversas partes e materiais <strong>do</strong> produto,conseguin<strong>do</strong> assim respeitar os ciclos biológicos e técnicos <strong>do</strong>s materiais.Se os sistemas contaminam a massa biológica <strong>do</strong> planeta e continuam a <strong>de</strong>itar foraos materiais técnicos (como os metais por ex.) ou a torná-los inúteis, <strong>de</strong> certeza que ofuturo será um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> limites, on<strong>de</strong> a produção e o consumo serão restringi<strong>do</strong>s, e oplaneta irá tornar-se literalmente num cemitério gigante <strong>de</strong> bens físicos.Se a socieda<strong>de</strong> humana quer prosperar, <strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r a imitar a natureza e o seusistema <strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong> nutrientes e metabolismo, o “cradle-to-cradle”, que é altamente eficaz eon<strong>de</strong> o conceito <strong>de</strong> lixo não existe.Eliminar o conceito <strong>de</strong> lixo em <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto significa projectar «coisas» (e.g.produtos, embalagens e sistemas) que tenham presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início o entendimento <strong>de</strong>103


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemque o lixo e o <strong>de</strong>sperdício não existem. Isto significa que os nutrientes valiosos existentesnos materiais formam e <strong>de</strong>terminam o <strong>de</strong>sign: a forma segue a evolução, e não só a função.Esta é uma maneira mais inteligente <strong>do</strong> que a actual maneira <strong>de</strong> fazer as coisas.A maior parte das embalagens, que são perto <strong>de</strong> 50% <strong>do</strong> volume <strong>do</strong>s resíduossóli<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s municípios, po<strong>de</strong> ser projectada como um nutriente biológico. Esses produtospo<strong>de</strong>riam ser compostos por materiais que possam ser atira<strong>do</strong>s fora <strong>para</strong> se <strong>de</strong>comporemno solo. Não são necessárias embalagens <strong>para</strong> champô, pasta <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, iogurtes, sumos,etc. que duram décadas (ou séculos) a mais <strong>do</strong> que o que vem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las e que é o realmotivo da sua existência. As embalagens, <strong>de</strong>veriam ser constituídas exclusivamente pornutrientes biológicos, que po<strong>de</strong>riam facilmente <strong>de</strong>compor-se ou serem usadas comofertilizantes, reintroduzin<strong>do</strong> nutrientes no solo.É fácil encontrar inúmeros produtos essenciais à nossa vida, embala<strong>do</strong>s emcontentores feitos <strong>de</strong> PET 80 , o problema é que este material está coberto <strong>de</strong> corantessintéticos e produtos químicos e contêm outras substâncias questionáveis, que não sãoexactamente o que queremos respirar ou comer.Uma garrafa <strong>de</strong> água exposta ao sol, com o aquecimento <strong>do</strong> material, po<strong>de</strong> libertarsubstâncias <strong>para</strong> o líqui<strong>do</strong> que se vai beber, passan<strong>do</strong> a ser perigoso ingerir este líqui<strong>do</strong>precioso.Plástico e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s não po<strong>de</strong>m ser usa<strong>do</strong>s como adubo, pois não há bactéria nanatureza capaz <strong>de</strong> os <strong>de</strong>gradar rapidamente, são «im-material» como lhe chamam WilliamMcDonough e Michael Braungart, completamente artificiais e contra-natura.Ao analisarem várias televisões, William McDonought & Michael Braungart,perceberam que estas eram constituídas por 4360 químicos, alguns eram tóxicos, masoutros eram nutrientes valiosos <strong>para</strong> a indústria que eram <strong>de</strong>ita<strong>do</strong>s fora quan<strong>do</strong> a televisãofosse <strong>para</strong>r a uma lixeira. Se fossem isola<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s nutrientes biológicos, po<strong>de</strong>riam ser mais<strong>do</strong> que recicla<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>riam ser upcycled <strong>de</strong> maneira a reter as suas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>ciclo fecha<strong>do</strong> da indústria.Henry Ford, sem ter a noção, praticou uma forma inicial <strong>de</strong> upcycling. Quan<strong>do</strong>expedia o seu camião Mo<strong>de</strong>l A em caixas, estas eram transformadas em painéis quan<strong>do</strong>chegavam ao seu <strong>de</strong>stino. Implementou também, na sua fábrica <strong>de</strong> River Rouge, umprograma <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontagem <strong>de</strong> veículos em fim <strong>de</strong> vida mas, infelizmente, nessa alturarebentou a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> 1929, o que impediu que outros fabricantes <strong>de</strong> automóveiso imitassem e fez com ele próprio tivesse <strong>de</strong> interromper este programa.80 Plástico - Politereftalato <strong>de</strong> etileno.104


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemNo livro “Cradle to Cradle”, William McDonough e Michael Braungart falam <strong>de</strong> umaexperiência que estão a fazer com uma empresa Coreana, que parece ser muito interessante,enquanto precursora <strong>de</strong> novas abordagens no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto que integram todas ascomponentes e variáveis da comercialização <strong>de</strong> um produto.Empresas Coreanas usam casca <strong>de</strong> arroz no embalamento <strong>de</strong> componentes stereo eelectrónicos <strong>para</strong> enviar os seu produtos <strong>para</strong> a Europa. Porque não se aproveita as cascas<strong>para</strong> reutilizar como isolamento? O transporte marítimo é gratuito porque ele viaja com osequipamentos estéreo, o isolamento é não-tóxico, sen<strong>do</strong> assim possível eliminar o conceito<strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício. Depois <strong>de</strong> usar como isolamento, as cascas <strong>de</strong> arroz ainda po<strong>de</strong>m serusadas novamente <strong>para</strong> fabricar tijolos (têm uma alta percentagem <strong>de</strong> sílica).Ao analisar os materiais e as suas potencialida<strong>de</strong>s é possível utilizar a sua«inteligência» <strong>para</strong> as nossas necessida<strong>de</strong>s (William McDonough e Michael Braungart,2002).Uma atitu<strong>de</strong> mais inteligente seria alcançada se o carro fosse interpreta<strong>do</strong> e usa<strong>do</strong>como os índios nativos americanos usam a carcaça <strong>do</strong> búfalo, em que optimizam o usos <strong>de</strong>cada elemento, da língua à cauda. Os metais seriam <strong>de</strong>rreti<strong>do</strong>s só com os metais <strong>de</strong>características idênticas, <strong>de</strong> maneira a reterem a sua qualida<strong>de</strong> elevada, o mesmo com osplásticos e outros materiais artificiais.Na actual fase da evolução humana, a gran<strong>de</strong> preocupação <strong>de</strong>ve estar concentradanos nutrientes – comida valiosa <strong>para</strong> a indústria e natureza – que actualmente écontaminada, perdida ou <strong>de</strong>itada ao lixo. É perdida não só por falta <strong>de</strong> sistemas a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<strong>de</strong> recuperação <strong>do</strong>s lixos, mas também porque muitos produtos são o que WilliamMcDonough e Michael Braungart chamam <strong>de</strong> «Frankenstein Products».Estes são constituí<strong>do</strong>s por misturas <strong>de</strong> materiais tanto técnicos como biológicos,nenhum <strong>do</strong>s quais po<strong>de</strong> ser recupera<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois da sua vida actual. Um exemplo <strong>de</strong>ste tipo<strong>de</strong> produtos são as convencionais solas <strong>de</strong> borracha incorporadas no calça<strong>do</strong>. Elas contêmchumbo e plástico. À medida que as solas se vão <strong>de</strong>sgastan<strong>do</strong>, partículas <strong>de</strong>stes materiaisvão sen<strong>do</strong> libertadas <strong>para</strong> a atmosfera e <strong>para</strong> o solo. Estas partículas não po<strong>de</strong>m serconsumidas nem por nós nem pelo ambiente. Depois <strong>de</strong> usadas as sandálias, os valiososmateriais <strong>de</strong>stas, ambos, biológicos e técnicos, são perdi<strong>do</strong>s numa lixeira. Não fazsenti<strong>do</strong>…De um ponto <strong>de</strong> vista material e ecológico, o <strong>de</strong>sign da maior parte <strong>do</strong>s sapatospo<strong>de</strong> ser muito mais inteligente. William McDonough e Michael Braungart sugerem a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> uma sola revestida com materiais bio<strong>de</strong>gradáveis, que po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>stacada no final <strong>do</strong>105


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemseu uso. O resto <strong>do</strong> sapato po<strong>de</strong> ser feito <strong>de</strong> plástico e polímeros que não sejam nocivos eque possam ser totalmente recicla<strong>do</strong>s em novos sapatos, conseguiríamos assim uma fácil eimediata se<strong>para</strong>ção <strong>do</strong>s vários nutrientes que compõem o sapato, originan<strong>do</strong> umareciclagem 100% eficiente.Actualmente em vez <strong>do</strong> sistema «Cradle-to-Cradle», é utiliza<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong>“Cradle -to-grave” 81 que <strong>do</strong>mina a produção mo<strong>de</strong>rna. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 90% dasmatérias extraídas <strong>para</strong> produzir bens duráveis, tornam-se lixo quase imediatamente. É maisbarato comprar um produto novo <strong>do</strong> que contratar alguém <strong>para</strong> re<strong>para</strong>r o antigo. Muitos<strong>do</strong>s produtos encontra<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> são projecta<strong>do</strong>s com base na obsolescência, <strong>de</strong>maneira a durarem apenas um certo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo, <strong>para</strong> assim encorajarem oconsumi<strong>do</strong>r a <strong>de</strong>sfazer-se <strong>do</strong> antigo e adquirir um novo produto.De facto, o que é possível observar, quan<strong>do</strong> se analisa o produto final, são apenasem média, 5% das matérias-primas envolvidas na sua produção e no processo <strong>de</strong>distribuição.O ar, a água e o solo não absorvem em segurança os <strong>de</strong>sperdícios humanos, a nãoser que os próprios <strong>de</strong>sperdícios sejam completamente saudáveis e bio<strong>de</strong>gradáveis. Mesmoos ecossistemas aquáticos são incapazes <strong>de</strong> purificar e <strong>de</strong>stilar os lixos perigosos <strong>para</strong> níveissaudáveis.A não ser que os materiais sejam especificamente concebi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> no seu momentofinal se tornarem comida saudável <strong>para</strong> a natureza, a compostagem 82po<strong>de</strong> apresentarproblemas. Mesmo quan<strong>do</strong> os tão «famosos» tratamentos municipais <strong>de</strong> lixo, incluin<strong>do</strong> opapel e embalagens, são compostos, os químicos e as toxinas <strong>do</strong>s materiais po<strong>de</strong>m serliberta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o ambiente. Mesmo que estas toxinas existam em quantida<strong>de</strong>s mínimas, esteprocesso po<strong>de</strong> não ser seguro. Em alguns casos seria até mais seguro selar os materiais numaterro (McDonough, W. e Braungart, M., 2002)E a reciclagem? A maior parte da reciclagem feita é na realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>wncycling; reduza qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> material <strong>de</strong> cada vez que é feita. Quan<strong>do</strong> os plásticos, <strong>de</strong> embalagens <strong>de</strong>água e sumo, são recicla<strong>do</strong>s, são mistura<strong>do</strong>s com outros plásticos diferentes <strong>para</strong> produzirum composto híbri<strong>do</strong> <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>, que é <strong>de</strong>pois molda<strong>do</strong> num outro produto baratoe <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>.Os metais também são <strong>do</strong>wncycled. O aço <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> usa<strong>do</strong> nos carros érecicla<strong>do</strong> fundin<strong>do</strong>-o com outras partes <strong>do</strong> carro, incluí<strong>do</strong> o cobre <strong>do</strong>s cabos ou tintas e81Expressão Inglesa que quer dizer berço-<strong>para</strong>-sepultura.82Conjunto <strong>de</strong> técnicas aplicadas <strong>para</strong> controlar a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> materiais orgânicos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter, no menor tempopossível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais; com atributos físicos, químicos e biológicos superiores (sob o aspectoagronómico) àqueles encontra<strong>do</strong>s na(s) matéria(s) prima(s). (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Compostagem)106


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemrevestimentos plásticos. Estes materiais fazem com que a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> aço recicla<strong>do</strong>diminua. O aço utiliza<strong>do</strong> neste composto fortalece as características <strong>do</strong> material, po<strong>de</strong>-seaté acrescentar mais aço <strong>para</strong> dar mais resistência ao composto, mas este novo material jánão terá as características necessárias <strong>para</strong> voltar a fazer um carro.O alumínio é outro material valioso mas que é constantemente <strong>do</strong>wncycled. Aslatas <strong>de</strong> bebidas são compostas por <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> alumínio: as pare<strong>de</strong>s são feitas <strong>de</strong>alumínio, ligas <strong>de</strong> manganês com algum magnésio mais revestimentos e tintas, enquantoque o topo é feito em ligas <strong>de</strong> alumínio magnésio. Na reciclagem convencional estesmateriais são <strong>de</strong>rreti<strong>do</strong>s em conjunto, resultan<strong>do</strong> num material mais fraco. Tu<strong>do</strong> po<strong>de</strong>riaser evita<strong>do</strong> se, na fase inicial <strong>de</strong> projecto, estes constrangimentos tivessem si<strong>do</strong>equaciona<strong>do</strong>s e o projecto resultasse em algo que facilmente po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> eagrupa<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as características <strong>do</strong>s materiais utiliza<strong>do</strong>s.O uso criativo <strong>de</strong> material <strong>do</strong>wncycled em novos produtos po<strong>de</strong> ser erra<strong>do</strong>, apesardas boas intenções. Por exemplo, as pessoas po<strong>de</strong>m achar que estão a fazer uma boaescolha ao comprar roupas feitas <strong>de</strong> fibras recicladas das garrafas <strong>de</strong> plástico. Mas, as fibrasdas garrafas <strong>de</strong> plástico contêm toxinas como o antimónio, estabiliza<strong>do</strong>res ultravioletas,plastificantes e antioxidantes, que não foram pensa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> estar em contacto com a pelehumana.Só porque um material é recicla<strong>do</strong> não o faz, automaticamente, ecologicamentebenigno, especialmente se não foi nunca pensa<strong>do</strong> <strong>para</strong> a sua reciclagem. A<strong>do</strong>ptarcegamente comportamentos ambientais superficiais sem perceber realmente os seus efeitospo<strong>de</strong> não ser melhor, mas sim ainda pior <strong>do</strong> que não fazer nada.A legislação na Europa exige que as embalagens feitas <strong>de</strong> alumínio e polipropileno 83sejam recicladas. Mas como estas embalagens não são projectadas <strong>para</strong> serem recicladas emnovas embalagens (ou seja, voltar a ser usada pela indústria <strong>para</strong> voltar a fazer o seuproduto novamente), a complacência resulta em custos adicionais, e em materiais <strong>de</strong>características reduzidas, sem uma utilida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente enriquece<strong>do</strong>ra.83 Polipropileno ou polipropeno é um polímero ou plástico <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>do</strong> propeno ou propileno. A sua forma molecular é (C3H6)x.O polipropileno (PP) é um tipo <strong>de</strong> plástico que po<strong>de</strong> ser molda<strong>do</strong> usan<strong>do</strong> apenas aquecimento, ou seja, é um termoplástico. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Polipropileno)107


Eco-Eficiência vs Eco-Eficáciaconceito adapta<strong>do</strong> <strong>do</strong> livro Cradle-to-Cradle <strong>de</strong> William McDonought & Michael Braungart, 2002.A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemNo livro “Cradle to Cradle: remaking the ways we make things”, é estabelecida a diferençaentre <strong>do</strong>is conceitos que, numa primeira análise, parecem iguais mas que são bastantediferentes. A eco-eficiência e a eco-eficácia. Estes conceitos revelam-se <strong>de</strong> extremaimportância na compreensão da temática <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>.É necessário, antes <strong>de</strong> mais, perceber a diferença entre Eficiência, ou seja, fazerbem as coisas e Eficácia, fazer as coisas certas. Muitas vezes preocuparmo-nos tanto emfazer as coisas bem, que nos esquecemos <strong>de</strong> verificar se estamos a fazer as coisas certas. Éneste contexto que se revelam <strong>de</strong> extrema importância a aplicação <strong>de</strong>stes conceitos aosistema actual <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e, estabelecer as suas verda<strong>de</strong>iras implicações nasocieda<strong>de</strong> actual.A eco-eficácia é um movimento emergente que William McDonough e MichaelBraungart vêm como a próxima revolução industrial. Esta revolução é baseada nosprincípios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign que são encontra<strong>do</strong>s na natureza, na criativida<strong>de</strong> e prosperida<strong>de</strong>humana, no respeito, fair play e boa vonta<strong>de</strong>. Tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conseguir transformar aindústria e ambiente como são conheci<strong>do</strong>s actualmente.Comprem menos, gastem menos, conduzam menos, tenham menos filhos ounenhum, são necessida<strong>de</strong>s emergentes perante os problemas ambientais nos dias <strong>de</strong> hoje; oaquecimento global, a <strong>de</strong>sflorestação, poluição, lixo/<strong>de</strong>sperdício, tu<strong>do</strong> consequências <strong>do</strong>mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal. Para ajudar a salvar o planeta, é necessário fazersacrifícios e partilhar alguns recursos. Provavelmente, mais ce<strong>do</strong> <strong>do</strong> que se julga, vamos ter<strong>de</strong> enfrentar um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> limites.“A melhor maneira <strong>de</strong> reduzir o impacto ambiental não é reciclar mais, mas simproduzir e possuir menos” (McDonough e Braungart 2002).Eco-eficiência significa «fazer mais com menos» um conceito que tem as suas raízesno início da industrialização. Henry Ford escreveu em 1926, “é necessário conseguirrentabilizar o mais possível a energia, o material e o tempo”, conseguin<strong>do</strong> poupar enormesquantias com as suas políticas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> lixo e <strong>de</strong> rentabilização <strong>de</strong> tempo com o seuinova<strong>do</strong>r conceito <strong>de</strong> produção em linha.A reciclagem, como solução actual <strong>para</strong> o lixo, não é uma resposta eficaz aoverda<strong>de</strong>iro problema, ela não avalia nem resolve o problema <strong>de</strong> início. A questão essencialpermanece: os produtos e materiais mal <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s que são impróprios <strong>para</strong> o uso e o seuconsequente fim <strong>de</strong> vida.108


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemEnquanto os regulamentos forem iguais <strong>para</strong> todas as situações, a reciclagem é umremen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> na parte final <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o processo. Erradamente «substitui» umaresponsabilização <strong>do</strong> <strong>de</strong>signer e <strong>do</strong> projecto, não encorajan<strong>do</strong> a resolução criativa <strong>do</strong>sproblemas on<strong>de</strong> eles realmente começam.Num mun<strong>do</strong> em que o <strong>de</strong>sign não é inteligente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> chegar até a ser<strong>de</strong>strutivo, os regulamentos po<strong>de</strong>m reduzir os efeitos maléficos no imediato, mas estes sãoum sinal <strong>de</strong> falha no <strong>de</strong>sign. Na realida<strong>de</strong>, os regulamentos não são mais <strong>do</strong> que um limitemáximo permiti<strong>do</strong> por um governo à sua indústria <strong>para</strong> que esta possa controlar osfactores <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição, <strong>do</strong>ença e morte a um nível aceitável. O bom <strong>de</strong>sign não <strong>de</strong>verianecessitar <strong>de</strong> nenhum tipo <strong>de</strong> regulamentação.A eco-eficiência é um conceito admirável, mas não po<strong>de</strong> ser interpretada como umaestratégia <strong>de</strong> sucesso a longo prazo, porque não vai ao âmago da questão. Trabalha baseadano mesmo sistema que causou o problema, simplesmente tentan<strong>do</strong> abrandá-lo através <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rações ou medidas morais e medidas punitivas. Representa pouco mais <strong>do</strong> que umamera ilusão <strong>de</strong> mudança.A eco-eficiência apenas funciona <strong>para</strong> minimizar o efeito <strong>do</strong> velho e <strong>de</strong>strutivosistema. Num mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela eficiência, cada avanço ou <strong>de</strong>senvolvimento serviriaapenas propósitos práticos. A beleza, criativida<strong>de</strong>, fantasia, inspiração e poesia cairiam emesquecimento, originan<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> cinzento. Imaginemos um mun<strong>do</strong> completamenteeficiente, como exemplificam William McDonough e Michael Braungart: um jantar italianoseria uma pílula vermelha e um copo <strong>de</strong> água com um aroma artificial. Van Gogh apenasusaria uma cor. E sexo eficiente?Um mun<strong>do</strong> eficiente não parece ser maravilhoso, apresentan<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong>contraste com a natureza!Nas socieda<strong>de</strong>s antigas, arrependimento e sacrifício eram reacções típicas a sistemascomplexos, como a natureza, em que as pessoas sentiam que tinham pouco controle. Associeda<strong>de</strong>s por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolveram sistemas <strong>de</strong> crença basea<strong>do</strong>s em mitos emque o mau tempo, a fome ou a <strong>do</strong>ença eram sinónimo <strong>de</strong> que alguém teria <strong>de</strong>sagrada<strong>do</strong> aos<strong>de</strong>uses, sen<strong>do</strong> o sacrifício uma maneira <strong>de</strong> os acalmar. Em algumas culturas, ainda hoje, énecessário sacrificar algo <strong>de</strong> valor <strong>para</strong> assim conseguir recuperar a bênção <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses, ou<strong>de</strong>us e assim restabelecer a estabilida<strong>de</strong> e a harmonia.A <strong>de</strong>struição ambiental é um sistema complexo em si mesmo – assente em causasprofundas que são difíceis <strong>de</strong> ver ou compreen<strong>de</strong>r. Assim como os nossos antepassa<strong>do</strong>s,nós po<strong>de</strong>remos reagir automaticamente, com terror e culpa, e po<strong>de</strong>remos tentar encontrar109


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemmaneiras <strong>de</strong> nos purgarmos; o que o movimento da eco-eficiência fornece em abundância,com as suas exortações a consumir e produzir menos, minimizan<strong>do</strong>, evitan<strong>do</strong>, reduzin<strong>do</strong>,sacrifican<strong>do</strong> e no final reciclan<strong>do</strong>.A raça humana está con<strong>de</strong>nada a ser a única espécie no planeta culpada <strong>de</strong> osobrecarregar <strong>para</strong> além <strong>do</strong> que ele suporta; como tal, <strong>de</strong>veríamos aliviar a nossa presença,o nosso sistema, as nossas activida<strong>de</strong>s e até a nossa população até conseguirmos serpraticamente «invisíveis».Como William McDonough e Michael Braungart dizem no seu livro “O objectivo ézero: zero emissões, zero <strong>de</strong>sperdício, zero pegada ecológica, o que não quer dizer zerodiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos!” (Cradle to Cradle: remaking the way we make things, 2002). Ahumanida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> aceitar as coisas como uma inevitabilida<strong>de</strong>, acreditan<strong>do</strong> que o <strong>de</strong>signpobre e os sistemas <strong>de</strong>strutivos são o melhor que é possivel fazer. Esta é a gran<strong>de</strong> falha <strong>do</strong>ser menos mau: a falta <strong>de</strong> imaginação.Na perspectiva <strong>de</strong> William McDonough e Michael Braungart esta é uma visão<strong>de</strong>pressiva <strong>do</strong> papel da espécie humana no mun<strong>do</strong>. E porque não pensar num <strong>para</strong>digmacompletamente novo?O conceito <strong>de</strong> eco-eficácia transformará a indústria <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> colher(recursos), fazer e <strong>de</strong>sperdício <strong>para</strong> um em que integrará preocupações económicas,ambientais e éticas.É o que os autores propõem no seu livro. O que acontece quan<strong>do</strong> um livro é<strong>de</strong>ita<strong>do</strong> fora? O papel veio das árvores, assim a diversida<strong>de</strong> natural e os solos já foramsacrifica<strong>do</strong>s <strong>para</strong> que nós pudéssemos ler. O papel po<strong>de</strong> ser bio<strong>de</strong>gradável, mas os tinteirosutiliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a sua impressão contêm metais pesa<strong>do</strong>s e carbono preto.William McDonough e Michael Braungart materializam o conceito <strong>de</strong> eco-eficácia,no exemplo <strong>do</strong> livro <strong>do</strong> futuro que não inci<strong>de</strong> na alteração da forma <strong>do</strong> objecto em si, massim na reinterpretação <strong>do</strong>s materiais <strong>de</strong> que é feito e no contexto da sua relação com omun<strong>do</strong> natural. Como po<strong>de</strong>rá ser benéfico <strong>para</strong> pessoas e ambiente?Po<strong>de</strong>-se começar por consi<strong>de</strong>rar se o papel é o material indica<strong>do</strong> <strong>para</strong> a funçãonecessária. Imaginemos um livro que não é uma árvore. Não é sequer papel. É feito <strong>de</strong>plástico <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com base num <strong>para</strong>digma completamente diferente aplica<strong>do</strong> aosmateriais. Polímeros que são infinitamente recicláveis sempre com o mesmo ou melhor<strong>grau</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> – estes foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s com o futuro da sua vida pós utilização emmente, mais <strong>do</strong> que entendi<strong>do</strong> como uma embaraçosa segunda vida. Os cartuchos não sãotóxicos e po<strong>de</strong>m ser removi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> polímero através <strong>de</strong> um processo químico simples e110


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemseguro ou até água quente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim ser facilmente recupera<strong>do</strong>s e re-usa<strong>do</strong>s. A capa éfeita <strong>do</strong> mesmo polímero <strong>de</strong> que são feitas as folhas <strong>do</strong> livro mas com uma gramagemsuperior <strong>para</strong> assim conferir mais rigi<strong>de</strong>z. As colas utilizadas são feitas <strong>de</strong> ingredientescompatíveis com o polímero utiliza<strong>do</strong> no livro, <strong>para</strong> assim que o material não seja maisnecessário na forma <strong>de</strong> livro, possa ser na sua totalida<strong>de</strong> entregue à indústria que opublicou e ser recicla<strong>do</strong> num processo único. As páginas são brancas e têm um toque suavee, ao contrário <strong>do</strong> papel recicla<strong>do</strong>, não ficam amarelas com o tempo. A tinta não sujará os<strong>de</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> leitor.Embora a «2ª vida» <strong>do</strong> livro esteja programada, este livro é suficientemente durávelao longo <strong>de</strong> várias gerações. É à prova <strong>de</strong> água, por isso po<strong>de</strong> ser li<strong>do</strong> na praia.Este livro celebra o seu material em vez <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sculpar. Os livros tornam-se livrosvezes sem conta, cada nova «encarnação» torna-se um veículo <strong>para</strong> imagens e i<strong>de</strong>ias frescas.A forma segue, não só a função, mas a evolução <strong>do</strong> próprio meio, na propagaçãointerminável <strong>do</strong> espírito da palavra impressa.Deveria ser um objectivo «real» <strong>de</strong>senhar produtos que fossem úteis a curto prazo,convenientes e com o aspecto estético em mente, tu<strong>do</strong> junto com o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> seumaterial. Assim iniciar-se-ia um ciclo credível <strong>de</strong> um novo processo <strong>de</strong> inovação.O velho mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produto-lixo po<strong>de</strong>ria ser posto <strong>de</strong> la<strong>do</strong> e o seu «cliché»eficiência. Abraçamos o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> sermos não eficientes, mas eficazes, com respeito a umsem número <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações e <strong>de</strong>sejos.Se perguntarmos a uma criança o que significa <strong>para</strong> ela crescer, provavelmenterespon<strong>de</strong>rá que é algo <strong>de</strong> bom, uma coisa natural – significa ficar maior, mais forte esaudável. O crescimento na natureza (e das crianças) é normalmente entendi<strong>do</strong> como algo<strong>de</strong> maravilhoso e saudável. Por outro la<strong>do</strong> o crescimento industrial é algo que nos mol<strong>de</strong>sactuais se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar mau e prejudicial; <strong>para</strong> o ambiente, <strong>para</strong> os recursos, cultura, etc.A chave <strong>para</strong> o problema não é fazer as indústrias humanas mais pequenas, como aeficiência <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, mas sim projectá-las <strong>de</strong> maneira a estas ficarem maiores e melhores <strong>de</strong>maneira a que reabasteça, restaure e alimente o resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O caminho certo <strong>para</strong> aindústria é o caminho <strong>do</strong> bom crescimento – mais saú<strong>de</strong>, alimento, diversida<strong>de</strong>, inteligênciae abundância – <strong>para</strong> as gerações actuais e futuras.Em alguns casos, a energia solar, assim como a <strong>do</strong> vento e da água, po<strong>de</strong>m sercanalizadas <strong>para</strong> o sistema corrente <strong>de</strong> fluxos energéticos, diminuin<strong>do</strong> as quantida<strong>de</strong>snecessárias <strong>de</strong> energia artificial e poupan<strong>do</strong> dinheiro. Isto é eco-eficiência? Em to<strong>do</strong>s os111


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemseus significa<strong>do</strong>s. Mas é a eco-eficiência como ferramenta ao serviço <strong>de</strong> uma visão maisaberta, não como um objectivo em si mesmo.No longo caminho que falta percorrer, na direcção <strong>do</strong> real aproveitamento <strong>do</strong>sfluxos energéticos naturais, é uma necessário restabelecer uma ligação fundamental à fonteresponsável pelo crescimento saudável no planeta: o sol, esse tremen<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r nuclear a150 milhões <strong>de</strong> quilómetros da terra (exactamente on<strong>de</strong> nós o queríamos!). Mesmo a estadistância o calor <strong>do</strong> sol po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>r, e é ele que comanda um saudável respeito pela<strong>de</strong>licada orquestra <strong>de</strong> circunstâncias que torna os fluxos energéticos naturais possíveis.O homem conseguiu prosperar na terra sob estas intensas emanações <strong>de</strong> calor,apenas porque biliões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> processos evolucionários criaram a atmosfera e asuperfície que suportam a nossa espécie – o solo, vida vegetal e nebulosida<strong>de</strong> quearrefecem o planeta e distribuiem a água pelo planeta, mantêm a atmosfera <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umagama <strong>de</strong> temperaturas que nos torna possível viver.Actualmente <strong>de</strong>veria ser «normal» fazer mais <strong>do</strong> que <strong>de</strong>sign <strong>para</strong> os ciclosbiológicos e técnico, <strong>de</strong>veríamos reformular o compromisso <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign, ou seja não«<strong>de</strong>senhar um carro» mas «<strong>de</strong>senhar um nutriveiculo» ( McDonough e Braungart, 2002).“Em vez <strong>de</strong> ter como objectivo criar carros com zero ou poucas emissões negativas, imaginemos carrosprojecta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> libertar emissões positivas e gerar outros nutrientes no ambiente” ( McDonough eBraungart, 2002).O motor <strong>do</strong> carro po<strong>de</strong>ria ser trata<strong>do</strong> como uma planta química mo<strong>de</strong>lada aossistemas naturais. Nesta visão <strong>do</strong> futuro, tu<strong>do</strong> o que o carro emite são nutrientes <strong>para</strong> anatureza ou <strong>para</strong> a indústria. Enquanto queima o combustível, o vapor <strong>de</strong> água das suasemissões po<strong>de</strong> ser captura<strong>do</strong>, voltar a ser transforma<strong>do</strong> em água e novamente usa<strong>do</strong>(actualmente a média <strong>do</strong>s carros liberta aproximadamente 3 Litros <strong>de</strong> vapor <strong>de</strong> água <strong>para</strong> oar por cada 3,7 litros <strong>de</strong> combustível utiliza<strong>do</strong>).Em vez <strong>de</strong> fazer o conversor catalítico o mais pequeno possível, po<strong>de</strong>ríamos<strong>de</strong>senvolver os meios <strong>de</strong> usar o óxi<strong>do</strong> nitroso como fertilizante e configurar o nosso carro<strong>para</strong> produzir e armazenar o mais possível <strong>de</strong>sta substância enquanto funciona. Em vez <strong>de</strong>libertar emissões <strong>de</strong> carbono enquanto queima combustível, porque não armazenar essasemissões em contentores que po<strong>de</strong>riam ser posteriormente vendi<strong>do</strong>s às empresasprodutoras <strong>de</strong> pneus? Usan<strong>do</strong> flui<strong>do</strong>s mecânicos, os pneus po<strong>de</strong>riam ser concebi<strong>do</strong>s <strong>para</strong>atrair e capturar partículas nocivas, limpan<strong>do</strong> o ar em vez <strong>de</strong> o poluir ainda mais. No finalda sua vida útil, to<strong>do</strong>s os materiais que compõem o carro retornariam ao ciclo biológico etécnico.112


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemComo dizem William McDonough e Michael Braungart, “vamos esten<strong>de</strong>r ocompromisso <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign mais a frente, até ao limite, ou seja, não reinventemos a receita masrepensemos to<strong>do</strong> o menu” (2002).Em apenas 20 anos o número <strong>de</strong> carros no planeta triplicou. Não interessa se sãoveículos altamente eficientes e ultraleves feitos com base em fibras <strong>de</strong> carbono e fazen<strong>do</strong>centenas <strong>de</strong> kilómetros com apenas 1 litro <strong>de</strong> combustível, ou se são nutriveiculos. Oplaneta irá estar «atulha<strong>do</strong>» em carros e necessitaremos <strong>de</strong> outras opções. Parece fantasia?Claro que sim. Lembremo-nos, o carro em si próprio, é uma noção fantasista num mun<strong>do</strong><strong>de</strong> cavalos e transportes.O caso da Nike ajuda a acreditar que é possível este tipo <strong>de</strong> abordagens. Estaempresa tem em mãos um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> iniciativas baseadas no conceito <strong>de</strong> ecoeficácia<strong>para</strong> explorar novos materiais e novos cenários liga<strong>do</strong>s ao uso <strong>do</strong> produto e ao seure-uso.Um <strong>do</strong>s pontos principais da agenda da Nike é a <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> tingir pele/courosem a utilização <strong>de</strong> toxinas, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> assim <strong>de</strong> ser um monstro híbri<strong>do</strong> e po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> serfacilmente <strong>de</strong>composto <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> seu uso. Porque os tingimentos <strong>de</strong> pele afectam muitasindústrias – incluin<strong>do</strong> carros, mobiliário e roupa – uma iniciativa <strong>de</strong>stas po<strong>de</strong>ria ter impactonão numa mas em muitas indústrias.A Nike está também a testar um novo composto <strong>de</strong> borracha que será um nutrientebiológico e que po<strong>de</strong>rá ter um gran<strong>de</strong> impacto em muitos sectores da indústria. Ao mesmotempo, esta empresa está a explorar um inova<strong>do</strong>r sistema na recuperação <strong>do</strong>s produtos,tentan<strong>do</strong> não só fazer nutrientes técnicos e biológicos, mas oferecen<strong>do</strong> sistemas <strong>para</strong> a suarecuperação. Este processo é, necessariamente, gradual – durante esta nova fase <strong>de</strong>introduzir os seus novos sapatos, a Nike se<strong>para</strong> os vários componentes das sapatilhas (asvarias camadas da sola, etc) <strong>de</strong> maneira a conseguir voltar a usá-las na manufactura <strong>de</strong>novas sapatilhas ou novos produtos. A borracha é usada em novas sapatilhas.O D.F.D é a chave porque é necessário projectar as sapatilhas <strong>para</strong> que seja fácilse<strong>para</strong>r e <strong>de</strong>smontar as várias partes, manten<strong>do</strong> os materiais se<strong>para</strong><strong>do</strong>s e intactos. Isto noprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio mas também um gran<strong>de</strong> constrangimento, o quefaz com que o <strong>de</strong>sign das sapatilhas assuma um papel prepon<strong>de</strong>rante em toda estaestratégia. As solas transformam-se num granula<strong>do</strong> que servirá <strong>de</strong> pavimento <strong>para</strong> campos<strong>de</strong>sportivos <strong>de</strong> basquete ou <strong>de</strong> corrida.Isto é apenas o começo. O verda<strong>de</strong>iro objectivo é, como foi dito acima,transformar to<strong>do</strong> o lixo resultante <strong>do</strong>s velhos componentes <strong>de</strong> uma sapatilha em novas113


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagemmatérias <strong>para</strong> voltar a fazer novos componentes <strong>para</strong> as sapatilhas. Produtosverda<strong>de</strong>iramente recicla<strong>do</strong>s não poluem, este é o objectivo.A Nike pe<strong>de</strong> aos seus <strong>de</strong>signers que analisem e prevejam to<strong>do</strong> o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>produto e que <strong>de</strong>senhem com menos produtos tóxicos, usan<strong>do</strong> os avanços tecnológicos daquímica, usan<strong>do</strong> mais fibras naturais e materiais que sejam recicláveisA empresa está a iniciar vários programas piloto <strong>para</strong> estudar e começar a percebera complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> recolha <strong>do</strong>s seus produtos, na expectativa <strong>de</strong> quealguns possam vir a ser implementa<strong>do</strong>s no futuro. A Nike ven<strong>de</strong> os seus produtos emaproximadamente 110 Países, ten<strong>do</strong> este programa <strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> incorporar asespecificida<strong>de</strong>s regionais e culturais <strong>de</strong> cada região.Figura 62 – Sapatilha “trash talk” da Nike. O couro sintético <strong>do</strong> chão da fábrica faz o corpo da sapatilha. Aentresola usa espuma que sobra nas linhas <strong>de</strong> produção. A sola é elaborada com borracha ecológica, quereduz emissões tóxicas e usa o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nike Grind, um enorme projecto <strong>de</strong> reutilização <strong>de</strong> calça<strong>do</strong>s daNike implanta<strong>do</strong> em 1993, que também recolhe material recicla<strong>do</strong> <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong> calça<strong>do</strong>s. Produzi<strong>do</strong> embranco e laranja, terá cadarços e linha <strong>de</strong> costura ecológicos e, será coloca<strong>do</strong> em caixa <strong>de</strong> papelão recicla<strong>do</strong>.(fonte: ver anexo 1)114


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemRoss Lovegrove“essencialismo orgânico”Figura 63 – Ross Lovegrove. (fonte: ver anexo 1)Da<strong>do</strong>s biográficosNasci<strong>do</strong> em 1958, Cardiff, País <strong>de</strong> Gales.Gradua<strong>do</strong> em <strong>de</strong>sign Industrial no Politécnico <strong>de</strong> Manchester – 1980 e, Master em Design no Royal College of Art, Londres - 1983.Durante os anos 80 trabalhou na Frog Design na Alemanha Oci<strong>de</strong>ntal, em projectos como o Walkman da Sony ou computa<strong>do</strong>res daApple. Mais tar<strong>de</strong> trabalhou na Knoll International em Paris, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveu o bem sucedi<strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> escritório Alessandri. Nesteperío<strong>do</strong> foi também convida<strong>do</strong> <strong>para</strong> integrar o prestigia<strong>do</strong> Atelier <strong>de</strong> Nimes, junto com nomes como Jean Nouvel 84 e Philippe Starck 85 .Em 1986 Ross Lovegrove volta <strong>para</strong> Londres on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve projectos <strong>para</strong> empresas como a kartell, Cappellini, Moroso, Luceplan,Peugeot, Apple Computers, Vitra, Olympus Cameras, Japan Airlines, etc. Abriu o seu estúdio em 1988 em Londres.Vence<strong>do</strong>r <strong>de</strong> vários prémios internacionais, o seu trabalho foi bastante publica<strong>do</strong> e exibi<strong>do</strong> internacionalmente.Em Novembro <strong>de</strong> 2005, foi galar<strong>do</strong>a<strong>do</strong> com o premio Mundial <strong>de</strong> Tecnologia pela Revista Time Magazine e a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> televisão CNN.No contexto <strong>de</strong>sta tese, é importante referir o <strong>de</strong>signer Ross Lovegrove, como um<strong>do</strong>s expoentes máximos da aplicação real <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s conceitos e <strong>de</strong>safios apresenta<strong>do</strong>sneste trabalho.É um <strong>de</strong>signer que entusiasma pelo seu pensamento visionário e pela suainterpretação «natural» e conceptual <strong>do</strong>s projectos. Esta abordagem torna-se interessanteporque tem aplicação directa em produtos produzi<strong>do</strong>s industrialmente e que entram nocircuito comercial. É uma prova inequívoca <strong>de</strong> que este género <strong>de</strong> abordagem é possível nomerca<strong>do</strong> «real», não se trata apenas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias ou <strong>de</strong>sejos sem aplicação prática.Como diz Paola Antonelli 86 “ é um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>signers mais interessantes e fascinantes <strong>do</strong> <strong>de</strong>signactual” (Supernatural - The work of Ross Lovegrove. 2004).84Jean Nouvel (12 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1945) é um arquitecto francês. Foi galar<strong>do</strong>a<strong>do</strong> com o Prémio Pritzker em 2008. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Nouvel)85Philippe Starck é um <strong>de</strong>signer nasci<strong>do</strong> em Paris, em 18 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1949. É conheci<strong>do</strong> mundialmente pelo seu <strong>de</strong>sign leve econtemporâneo, tanto pela forma, quanto pelos materiais que emprega nas suas criações. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_Starck)86Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Paola Antonelli é uma famosa especialista em <strong>de</strong>sign e foi recentemente catalogada como uma das100 mais importantes personalida<strong>de</strong>s no mun<strong>do</strong> da arte pela revista Art Review. É responsável sénior no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Arquitectura eDesign no Museu <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna em Nova Iorque. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Paola_Lenti)115


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagem“Essencialismo orgânico”Ross Lovegrove, também conheci<strong>do</strong> como «Captain Organic» é o porta-voz <strong>de</strong>uma tendência que inaugurou o séc. XXI: o «novo naturalismo». Para além <strong>do</strong>s seusprodutos, Ross Lovegrove tenta construir uma nova visão da criativida<strong>de</strong>, que reúnenumerosas disciplinas, e aspira a um manifesto i<strong>de</strong>ológico holístico.“Para ele as curvas suaves têm pouca importância. O que é mais importante é o seu conhecimento einvestigação na relação interactiva entre a humanida<strong>de</strong>, natureza e tecnologia. Qualquer factor possível <strong>de</strong>existir e as suas inevitabilida<strong>de</strong>s são cuida<strong>do</strong>samente tidas em conta e reflectidas nos seus projectos”(Tokujin Yoshioka 87 , Supernatural – The Work of Ross Lovegrove, 2004)O termo «essencialismo orgânico», é apenas um meio <strong>de</strong> exprimir uma aproximaçãoà criação <strong>de</strong> formas no espaço. É uma combinação económica <strong>de</strong> <strong>do</strong>is factores, osignifica<strong>do</strong> das estruturas orgânicas que são fluidas e ininterruptas e o «essencialismo» naprocura da alma natural <strong>de</strong> um objecto físico na sua relação <strong>de</strong> combinação entre materiaise forma.Este conceito tem si<strong>do</strong> a matriz aglutina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> seu trabalho nos últimos anos,inspira<strong>do</strong> por elementos e estética retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural e re<strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s em formasfuturistas.Ross Lovegrove sobressaiu no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua procura <strong>de</strong> formaspuras usan<strong>do</strong> novos materiais, processos e tecnologia, concentran<strong>do</strong>-se numa revisãominuciosa <strong>do</strong> organicismo em contraponto com o minimalismo. No seu entendimento, ominimalismo refere-se principalmente a uma moda, e não, a nenhum novo movimentorelaciona<strong>do</strong> com o ambiente humano ou tecnologia.“Sou suspeito sobre o minimalismo porque ele realmente não existe na natureza. É um conceitoAlien - ele sugere linhas direitas, superfícies lineares, uma falta <strong>de</strong> resposta emocional. Eu penso que a vidanão é minimalista, na sua generalida<strong>de</strong> é bastante complicada e <strong>de</strong>talhada. O essencialismo é outra coisa,que se relaciona mais com a parte física <strong>do</strong>s objectos. Significa pôr menos ênfase no peso, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eespessura. É a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as coisas po<strong>de</strong>m ser construídas no futuro mais organicamente, serem menosconstrutivas fisicamente, crescer mais <strong>do</strong> que construir. Este conceito <strong>de</strong> crescer mais <strong>do</strong> que construir é muitoimportante” (Peter M. Fiell, entrevista a Ross Lovegrove, revista Domus 818, pág. 70.)87Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Designer japonês.116


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 64 – Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> esquissos <strong>de</strong> Ross Lovegrove (fonte: Supernatural – The work of Ross Lovegrove,pag. 6)Mais <strong>do</strong> que <strong>de</strong>signer, <strong>de</strong>screve-se como um biologista evolucionário. Através <strong>do</strong>seu instinto, cria a forma, enten<strong>de</strong> a forma e aproveita esta Era Digital e os seus recursos<strong>para</strong> o fazer. A forma inteligente é o seu objectivo, não está interessa<strong>do</strong> no ornamentogratuito, ou em qualquer lixo superficial, que serve apenas <strong>para</strong> induzir o consumo.Para Ross Lovegrove inspirar-se na natureza é uma escolha natural. Des<strong>de</strong> sempreos humanos imitaram as soluções que existiam na natureza como respostas óptimas anecessida<strong>de</strong>s funcionais, assim como simbólicas. Um <strong>do</strong>s seus principais interesses é amaneira como a natureza consegue fazer crescer coisas.Des<strong>de</strong> pequeno, o seu instinto <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r os materiais fez com que ficassefascina<strong>do</strong> por enten<strong>de</strong>r como uma única substância, um ovo ou uma batata por exemplo,podiam ser manipula<strong>do</strong>s <strong>para</strong> conseguir atingir uma única e por vezes contraditóriasestruturas, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s e formas. Ao reflectir sobre este fenómeno, torna-se incrível pensarque a origem da maior parte <strong>do</strong>s processos industriais po<strong>de</strong> ser com<strong>para</strong>da com a maneiracomo a matéria orgânica muda <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> durante os processos <strong>de</strong> cozinhar. Nestasexperiências, Ross Lovegrove <strong>de</strong>scobriu as espumas, os elastómeros, as estruturascristalinas, os materiais fibrosos, sóli<strong>do</strong>s que se transformam em líqui<strong>do</strong>s e que <strong>de</strong>pois setornam novamente sóli<strong>do</strong>s e também os pós que, quan<strong>do</strong> combina<strong>do</strong>s com produtosdiários e açucares, po<strong>de</strong>m tornar-se «rocha dura», só <strong>de</strong>sfeita se diluída em água.Espantosas estruturas po<strong>de</strong>m ser concebidas através da observação directa <strong>de</strong> umaexperimentação com componentes bio<strong>de</strong>gradáveis. Esta foi a base <strong>para</strong> a sua maravilhosa<strong>de</strong>scoberta e entendimento muito particular das potencialida<strong>de</strong>s naturais aplicadas aomun<strong>do</strong> artificial.A sua base experimental, a sua consciência e o acumular <strong>de</strong> experiências ajudam-noa abrir novos caminhos que po<strong>de</strong>m nunca ter si<strong>do</strong> explora<strong>do</strong>s, basea<strong>do</strong>s no seuentendimento e especulação sobre o porquê <strong>de</strong> alguma coisa existir e a razão <strong>para</strong> estapo<strong>de</strong>r existir – a utilida<strong>de</strong>, a beleza estética, ou i<strong>de</strong>almente, a coexistência <strong>de</strong> ambas.117


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como Abordagem“Eu consi<strong>de</strong>ro uma virtu<strong>de</strong>, encontrar um significa<strong>do</strong> <strong>para</strong> a existência das coisas, <strong>do</strong>tan<strong>do</strong> aspeças que eu <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s silenciosas que tocam as pessoas sem palavras <strong>de</strong> uma maneiraemocional” (Ross Lovegrove no livro Supernatural – The Work of Ross Lovegrove)Existe uma beleza absoluta nas formas orgânicas que estimula a subconsciênciahumana, o trabalho <strong>de</strong> Ross Lovegrove procura esta honestida<strong>de</strong> e riqueza das formas, quecelebram o efeito tridimensional da nossa vivência em harmonia com o espaço que nosro<strong>de</strong>ia.Figura 65 Figura 66Figura 65 – Lugg Bicycle System (1997-2001) <strong>para</strong> a marca Biomega, Dinamarca. O uso <strong>do</strong> bambo nesteprotótipo, <strong>de</strong>monstra o potencial <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> materiais orgânicos e sustentáveis. (fonte: Supernatural – Thework of Ross Lovegrove, pag. 227)Figura 66 – Pormenor <strong>do</strong> quadro da bicicleta feito com bambu. (fonte: ver anexo 1)Nos seus projectos, tenta usar apenas o essencial <strong>do</strong> que é necessário, procura fazeras «coisas» com o mínimo <strong>de</strong> recursos, mas que, ao mesmo tempo, alcancem o máximo <strong>de</strong>efeitos. É uma abordagem ao <strong>de</strong>sign e produção <strong>de</strong> produtos que combina a lógica e abeleza.“Ross é um pensa<strong>do</strong>r visual … ele <strong>de</strong>senha objectos com beleza, mas estes também têm significa<strong>do</strong>e tornam-se em símbolos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias mais abstractas, que contribuem <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura dasocieda<strong>de</strong>” (Alberto Meda 88 , livro Supernatural – The Work of Ross Lovegrove)881945 - Engenheiro Italiano com uma preocupação e <strong>de</strong>dicação ao <strong>de</strong>sign. Des<strong>de</strong> 1979 é <strong>de</strong>signer industrial freelancer <strong>para</strong> váriasempresas <strong>de</strong> renome mundial como: Alias, Alessi, Cinelli, Gaggia, I<strong>de</strong>al Standard, Luceplan, Mandarina Duck, Omron Japan, Philips, andVitra. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Alberto_Meda).118


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 67 Figura 68 Figura 69Figura 67 – Pedra. (fonte: ver anexo 1)Figura 68 e Figura 69 – Ammonite Palmtop Communicator (1994) <strong>para</strong> a marca Apple ComputerCorporation, U.S.A. A forma <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> princípios ergonómicos encontra<strong>do</strong>s na natureza e <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tecnologia activos e passivos. (fonte: Supernatural – The work of Ross Lovegrove, pag. 110 e 111)“No trabalho <strong>de</strong> Ross Lovegrove po<strong>de</strong>mos encontrar uma pon<strong>de</strong>ração posta em cada projecto, naeconomia <strong>do</strong> pensamento lógico e da beleza inerentes ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e na “obesida<strong>de</strong>”, não só <strong>do</strong>objecto mas também <strong>do</strong> seu ciclo <strong>de</strong> vida. A essência <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign orgânico contemporâneo é talvez a procura,<strong>para</strong> lá <strong>do</strong>s limites tradicionais <strong>de</strong> uma disciplina, <strong>de</strong> maneira a apren<strong>de</strong>r como contribuir <strong>para</strong> o futuro <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>” (Paola Antonelli, Supernatural – The Work of Ross Lovegrove).Esta é uma abordagem altamente experimental, que tenta alcançar o compromisso<strong>de</strong> ultrapassar as fronteiras entre a ciência, tecnologia, <strong>de</strong>sign e arquitectura.O seu trabalho reflecte um interesse pela integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> material e<strong>do</strong> seu potencial <strong>de</strong> expressar as suas qualida<strong>de</strong>s através <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign. A mistura <strong>de</strong> materiais<strong>para</strong> alcançar uma nova composição física é, no seu entendimento, o caminho futuro.O seu trabalho inspira-se não só nas formas, mas também nas soluções estruturais enos sistemas eficientes encontra<strong>do</strong>s na natureza. Encontramos no projecto da Ca<strong>de</strong>ira GO(1998-2001, <strong>para</strong> Bernhardt Design, USA), um excelente exemplo <strong>de</strong>sta inspiração. Oresulta<strong>do</strong> final da sua proposta, mostra a interacção entre as várias partes da ca<strong>de</strong>ira talcomo a estrutura <strong>do</strong>s ossos humanos. Nascida <strong>de</strong> uma abordagem anatómica à forma e <strong>de</strong>um pensamento biológico, é a tradução <strong>de</strong>sta abordagem <strong>para</strong> um produto.Esta ca<strong>de</strong>ira é feita <strong>de</strong> magnésio e foi consi<strong>de</strong>rada em 2001 pela revista TimeMagazine como a nova linguagem <strong>do</strong> séc. 21.119


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 70 Figura 71 Figura 72Figura 73 Figura 74Figura 70 – Ca<strong>de</strong>ira GO (1998-2001), <strong>para</strong> Bernhardt Design, USA. (fonte: ver anexo 1)Figura 71 – Pormenor da Ca<strong>de</strong>ira GO. (fonte: ver anexo 1)Figura 72 – Várias partes constituintes da Ca<strong>de</strong>ira GO. (fonte: ver anexo 1)Figura 73 – Pormenor da interligação entre partes da Ca<strong>de</strong>ira GO. (fonte: ver anexo 1)Figura 74 – Pormenor da estrutura <strong>de</strong> ossos humanos que fazem a analogia com a inspiração e méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>construção da ca<strong>de</strong>ira. (fonte: ver anexo 1)A procura por uma consistência estética como uma reflexão da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é muitoimportante em to<strong>do</strong> o seu trabalho, embora a sua gran<strong>de</strong> premissa se relacione com anatureza, no senti<strong>do</strong> em que está preocupa<strong>do</strong> em reduzir toda a parte física nos seusprojectos ao mínimo indispensável, tal como na natureza.Figura 75 – Bone Chair (1994) <strong>para</strong> a marca Ceccotti, Itália. Esta ca<strong>de</strong>ira é um exercício escultórico, naredução fluida da forma estrutural. (fonte: Supernatural – The work of Ross Lovegrove, pag. 54)120


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemO seu sucesso está na abordagem <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> eficiência e diversida<strong>de</strong> nas suasestruturas, através <strong>de</strong> um número mínimo <strong>de</strong> elementos que po<strong>de</strong>m ser configura<strong>do</strong>s numnúmero infinito <strong>de</strong> estruturas. O que a natureza faz é introduzir buracos nas formas, issoliberta a forma, retira tu<strong>do</strong> o que é <strong>de</strong>snecessário, é esta abordagem a base subjacente ato<strong>do</strong> o seu trabalho.Ross Lovegrove integra os processos naturais no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e projectaprodutos orgânicos com o essencial e que têm um bom resulta<strong>do</strong> estético. Não sacrificatu<strong>do</strong> o resto apenas a pensar no factor estético.Figura 76 Figura 78Figura 76 – Ca<strong>de</strong>ira Supernatural (2007) <strong>para</strong> a marca Moroso. Projecto inspira<strong>do</strong> pela maneira como osossos são leves e constituí<strong>do</strong>s pelo mínimo <strong>de</strong> estrutura. Pesa 2,5 Kg, meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> peso <strong>do</strong> seu mais directocompeti<strong>do</strong>r. (fonte: ver anexo 1)Figura 77 – Pormenor. (fonte: ver anexo 1)“Eu sinto-me confortável neste tempo líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer coisas, um tempo orgânico, isomórfico 89 ,antropomórfico 90 , mas tento não o forçar a fazer coisas <strong>de</strong> que ele não precisa” (Ross Lovegrove - livroSupernatural – The Work of Ross Lovegrove).Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar Ross Lovegrove como um tradutor da tecnologia <strong>do</strong> séc. 21em produtos que po<strong>de</strong>mos usar to<strong>do</strong>s os dias e com os quais nos relacionamos <strong>de</strong> umamaneira tranquila e natural.89(Biologia) a similarida<strong>de</strong> na forma <strong>de</strong> organismos com diferente ancestralida<strong>de</strong>. (fonte: http://pt.wiktionary.org/wiki/isomorfismo)90É uma forma <strong>de</strong> pensamento que atribui características ou aspectos humanos a Deus, <strong>de</strong>uses, elementos da natureza, animais econstituintes da realida<strong>de</strong> em geral. Nesse senti<strong>do</strong>, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropomorfismo)121


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 79 Figura 80Figura 78 – Cogumelo da espécie Macrolepiota excoriata (fonte: ver anexo 1)Figura 79 – Agaricon, can<strong>de</strong>eiro <strong>de</strong> mesa (1999-2002) <strong>para</strong> a marca Luceplan, Itália. Lembra um cogumelo.Esta peça em policarbonato injecta<strong>do</strong> tem um circuito <strong>de</strong> toque integra<strong>do</strong> que permite o controlo daintensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz conforme a pressão exercida pelos <strong>de</strong><strong>do</strong>s da mão. (fonte: ver anexo 1)A combinação entre inspiração (baseada em arquétipos) e tecnologia <strong>de</strong> ponta,transforma-o numa das figuras mais interessantes e misteriosas no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign. Oresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu trabalho é possível pela existência <strong>de</strong> uma visão partilhada com o clienteprodutor, que muitas vezes o contacta pelo valor da sua abordagem e pelo seuentendimento <strong>de</strong> como criar algo comercialmente e culturalmente conciso.O seu Portfolio é bastante diversifica<strong>do</strong>; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mobiliário ou iluminação atéprodutos <strong>de</strong> alta tecnologia, <strong>de</strong> garrafas <strong>de</strong> água a assentos <strong>de</strong> avião.Figura 81 Figura 82 Figura 83Figura 80 - 'ty nant' garrafa <strong>de</strong> água (1999-2001) <strong>para</strong> Ty Nant, Inglaterra. (fonte: Supernatural – The work ofRoss Lovegrove, pag. 17).A garrafa é como se fosse uma pele na água. A garrafa por si não é nada, mas isso é o que é a água. Não separece com nada. Só quan<strong>do</strong> a água entra na garrafa é que esta toma «forma», cada garrafa é diferente uma daoutra, conforme a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água posta e a incidência da luz. É o máximo <strong>do</strong> individualismo através <strong>de</strong>um produto único, sempre o mesmo. A<strong>de</strong>qua-se a qualquer mão até na mão <strong>de</strong> uma criança.122


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemFigura 81 - Eye digital camera (1996) <strong>para</strong> a Olympus, Japão. (fonte: Supernatural – The work of RossLovegrove, pag. 30).Em 1992 Ross Lovegrove iniciou o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> cameras digitais, uma tecnologia emergente, que na altura, nãotinha ainda um claro enquadramento tipológico. Esta proposta teve a intenção <strong>de</strong> estimular uma nova geração<strong>de</strong> produtos que são «anti-preciosida<strong>de</strong>» e «anti-mecânicos», suaves e sensuais. Como uma extensão <strong>do</strong>próprio corpo, o mo<strong>do</strong> como a camera é usada torna-a mais bio-anatómica.“Projectei o conceito <strong>de</strong> uma Camera Digital, (proposta à Olympus no Japão) que juntava to<strong>do</strong>s os seuscomponentes num corpo feito com um elastómero que era suave e anatómico, imitan<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> como onosso próprio corpo é feito, uma combinação entre materiais suaves e outros duros que permitem gran<strong>de</strong>sperformances” (Ross Lovegrove no livro Supernatural – The Work of Ross Lovegrove).Figura 82 - Solar bud (1998), iluminação <strong>de</strong> exterior <strong>para</strong> a Luceplan, Itália. (fonte: ver anexo 1)É o primeiro produto europeu <strong>de</strong> iluminação a usar a tecnologia fotovoltaica como fonte <strong>de</strong> energia,combina<strong>do</strong> com LED <strong>de</strong> alta eficiência. Este projecto comercial reforça a consciência <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign ecológico.“ O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign é apresenta<strong>do</strong> pela complexida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> temos <strong>de</strong>lidar com inúmeros factores, não só os físicos mas os sociais, humanos, e <strong>de</strong>pois os aspectos liga<strong>do</strong>s aomaterial. Neste momento eu acho o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> mobiliário terrivelmente limita<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à natureza da baixatecnologia e aos seus objectivos. O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, por outro la<strong>do</strong>, está a experimentar um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>invenção técnica, física e emocional – qualida<strong>de</strong>s que estão a criar uma nova esfera <strong>de</strong> influência nas nossasferramentas <strong>para</strong> viver, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> telemóveis, aos computa<strong>do</strong>res e aos carros. O processo pelo qual estasestruturas 3D são concebidas, comunicadas e manufacturadas na actualida<strong>de</strong>, num avança<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>liberda<strong>de</strong> possível através <strong>do</strong> software <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, que está a possibilitar a flui<strong>de</strong>z <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> maisorgânica.” ((Ross Lovegrove no livro Supernatural – The Work of Ross Lovegrove)123


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemBiomiméticao futuro que já é presente"Olhemos fun<strong>do</strong>, bem fun<strong>do</strong> na natureza, e então vamos enten<strong>de</strong>r tu<strong>do</strong> melhor."(Albert Einstein-1879-1955)ConceitoComo foi várias vezes referi<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong> a natureza, durantemilhares <strong>de</strong> anos, concebeu e fez evoluir as plantas e a vida animal, que po<strong>de</strong>m serconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os mais complexos elementos <strong>de</strong> «engenharia» no planeta.Mesmo com to<strong>do</strong> o seu <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, a engenharia humana,sozinha, raramente consegue igualar os melhores projectos da natureza. Existemorganismos que já têm problemas resolvi<strong>do</strong>s que a «engenharia humana» ainda nãoconseguiu solucionar.Analisan<strong>do</strong> a Natureza encontra-se um meio em constante adaptação e renovação,que são os pressupostos essenciais <strong>para</strong> a evolução das espécies como são conhecidas.Neste meio não há lugar <strong>para</strong> experimentar novas estratégias que <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>m as condições <strong>de</strong>existência das gerações seguintes. Cada solução tem <strong>de</strong> ser melhor que a anterior. Afinal, aselecção natural não per<strong>do</strong>a e, na natureza, apenas os mais fortes e adapta<strong>do</strong>s conseguemprevalecer.Como diz a cientista Janine M. Benyus 91 ; “apren<strong>de</strong>r sobre o mun<strong>do</strong> natural é uma coisa,mas apren<strong>de</strong>r com o mun<strong>do</strong> natural é outra, essa é a atitu<strong>de</strong> que faz a diferença”.Actualmente, como forma <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r aos mais varia<strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios no caminho<strong>para</strong> a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> planeta, encontra-se na engenharia inversa 92 uma nova esperança<strong>para</strong> a produção «natural» <strong>de</strong> novos produtos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s à realida<strong>de</strong> actual.Marc Weissburg, Professor Associa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Biologia na universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Georgia Teche co-director <strong>do</strong> CBID 93 refere, “A biologia po<strong>de</strong> ser um po<strong>de</strong>roso guia <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r alguns <strong>do</strong>sproblemas que existem no <strong>de</strong>sign e na engenharia”.No mun<strong>do</strong> natural cada animal tem <strong>de</strong> resolver um problema específico <strong>para</strong>conseguir sobreviver. Assim, cada animal é uma solução <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>para</strong> um problemaparticular. Algumas <strong>de</strong>stas soluções são tão bem conseguidas que são estudadas empormenor na esperança <strong>de</strong> ser possível copiar o seu <strong>de</strong>sign natural em produtos etecnologias <strong>para</strong> seres humanos. Este processo – chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Biomimética, Biomimetismo,91Cientista natural <strong>de</strong> Nacionalida<strong>de</strong> Americana, escritora e consultora em inovação.92Processo pelo qual um objecto tridimensional existente é recria<strong>do</strong> ou clona<strong>do</strong> (e.g. recorren<strong>do</strong> a scanners 3D) - Bidanda et al, 199193Center for Biologically Inspired Design124


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemBiónica ou BID 94encontram.– é o ponto <strong>de</strong> fusão on<strong>de</strong> a natureza, a engenharia e o <strong>de</strong>sign seFigura 84 Figura 85O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto po<strong>de</strong>ria ser assim – quase a confundir-se com a natureza, não só num senti<strong>do</strong> formalmas num senti<strong>do</strong> «inteligente» e biológico.Figura 83 – Gafanhoto. O nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe é extraordinário, fazen<strong>do</strong> o insecto parecer-se com a natureza.(fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 24m02s)Figura 84 - Louva-a-<strong>de</strong>us escondi<strong>do</strong> numa orquí<strong>de</strong>a. As suas pernas e corpos são esculpi<strong>do</strong>s e colori<strong>do</strong>s <strong>para</strong>combinarem exactamente com a flor. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza - 24m48s)A biomimética (será esta a expressão escolhida <strong>para</strong> referir o processo atrás<strong>de</strong>scrito), consi<strong>de</strong>rada por muitos como a ciência <strong>do</strong> futuro, foca-se no uso <strong>do</strong>s princípiosbiológicos <strong>para</strong> a resolução <strong>do</strong>s problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, engenharia, etc. Esta abordagem éuma consequência <strong>de</strong> 3,8 biliões <strong>de</strong> anos em R&D 95 e <strong>de</strong> 10 a 30 milhões <strong>de</strong> espécies comsoluções bem adaptadas.Esta nova ciência, reúne e interpreta <strong>de</strong> uma forma científica muitos <strong>do</strong>s conceitose abordagens amplamente referi<strong>do</strong>s ao longo <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>. Tem como objectivo aabordagem sistematizada da natureza, enquanto um possível mo<strong>de</strong>lo, medida e mentor, nasolução <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s problemas actuais. A natureza enquanto um possível mo<strong>de</strong>lo,porque estuda os mo<strong>de</strong>los naturais e <strong>de</strong>pois imita-os ou inspira-se nestes <strong>de</strong>senhos eprocessos <strong>para</strong> resolver problemas humanos. Como medida, porque usa o standar<strong>de</strong>cológico <strong>para</strong> julgar as nossas inovações e, finalmente, como mentor porque esta é umaciência com um novo ponto <strong>de</strong> vista na observação e avaliação da natureza.“Introduz uma era baseada não no que po<strong>de</strong>mos extrair da natureza mas sim no que po<strong>de</strong>mosapren<strong>de</strong>r com ela” (Benyus, Janine M 1997. Biomimicry – Innovation Inspired by Nature).A aplicação <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s e conceitos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pela biomimética, significa ir àgénese <strong>do</strong> exemplo natural e procurar a sua essência, o básico, i<strong>de</strong>ntificar os princípiosorgânicos subjacentes e encontrar uma aplicação <strong>para</strong> estes.94Abreviatura da expressão Inglesa biologically inspired <strong>de</strong>sign (<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> inspiração biológica).95Research and <strong>de</strong>velopment125


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemDesign e natureza estão profundamente reuni<strong>do</strong>s na biomimética, on<strong>de</strong> a principalregra meto<strong>do</strong>lógica é a flexibilida<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação sem preconceitos e semoutras leis; à semelhança das regras básicas da natureza. São estas características quepermitem que a biomimética dê uma contribuição vital <strong>para</strong> inovar na indústria,especialmente no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos conceitos e materiais.“Esta nova ciência é transversal a muitas disciplinas, que actualmente estão organizadas esegmentadas segun<strong>do</strong> critérios funcionais ou <strong>de</strong> conhecimentos (e.g. engenharia mecânica ou biologia celular).Desta segmentação surgem <strong>do</strong>is <strong>de</strong>safios: (1) reconhecer os campos, problemas e aplicações nas quais abiomimética tem ou po<strong>de</strong> ter impacto; (2) compreen<strong>de</strong>r os passos básicos necessários <strong>para</strong> uma fusãoprofunda e <strong>de</strong> sucesso <strong>do</strong>s conhecimentos entre biologia, engenharia e <strong>de</strong>sign”. (Jeannette yen 96 et al 2007bioinspr. Biomim. 2).A resposta a estes <strong>de</strong>safios está relacionada com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer umaligação directa entre a biomimética e o aumento da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> inovar nadirecção da tecnologia amiga da vida. Esta ciência emerge nos dias <strong>de</strong> hoje como umúltimo reforço numa procura criativa <strong>de</strong> novos materiais e abordagens, potenciada pelaactual situação ambiental que se vive por to<strong>do</strong> o planeta.As potencialida<strong>de</strong>s das informações <strong>de</strong>svendadas por esta nova ciência sãoextraordinárias. Só agora <strong>de</strong>signers, engenheiros e cientistas começam a compreen<strong>de</strong>rmelhor esta meto<strong>do</strong>logia, o meio que nos ro<strong>de</strong>ia e os benefícios que po<strong>de</strong>mos alcançar.“No mun<strong>do</strong> natural as soluções estão por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, só temos <strong>de</strong> mudar as «lentes» pelas quais oobservamos” ( Benyus, Janine M. 2005.http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/janine_benyus_shares_nature_s_<strong>de</strong>signs.html).As infindáveis potencialida<strong>de</strong>s benéficas, materiais e imateriais <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign inspira<strong>do</strong>nos princípios biológicos fazem <strong>de</strong>ste assunto algo <strong>de</strong> extrema relevância <strong>para</strong> o nossofuturo. Conseguirá esta ciência contribuir <strong>para</strong> uma inversão da antipatia existente entre a«artificialida<strong>de</strong>» humana e o mun<strong>do</strong> natural?96Data <strong>de</strong> nascimento indisponível. Professora na universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Georgia Tech e Directora no Center for Biologically Inspired Designat Georgia Tech. (fonte: http://www.biology.gatech.edu/faculty/jeannette-yen/)126


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemBreve contextualização históricaO homem já utilizava, instintivamente, a biomimética <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da suaevolução. Des<strong>de</strong> sempre observou a natureza e retirou i<strong>de</strong>ias <strong>do</strong> seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>funcionamento. O fogo, a alavanca, as primeiras ferramentas, as armas; tu<strong>do</strong> isto foiinventa<strong>do</strong> pelo homem observan<strong>do</strong> os processos naturais.Certos inventos como o macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedra, servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> extensão <strong>do</strong> antebraçocom o punho cerra<strong>do</strong>, a canoa que nada mais é <strong>do</strong> que um tronco flutuante escava<strong>do</strong> <strong>para</strong>acomodar pessoas ou os abrigos construí<strong>do</strong>s com galhos e folhas trançadas, mostram aincrível capacida<strong>de</strong> que o homem teve, ao longo da história, <strong>para</strong> problematizar e encontrarsoluções baseadas nas sugestões oferecidas pelo seu meio ambiente natural.Com o aparecimento e «banalização» da máquina, durante a revolução industrial,viveu-se uma era mecânica que, <strong>de</strong> seguida, evoluiu <strong>para</strong> a era tecnológica. Os problemas<strong>do</strong> <strong>de</strong>sign tecnológico, tornaram-se extremamente complexos nos últimos 100 anos e, coma proliferação da tecnologia na nossa socieda<strong>de</strong>, a humanida<strong>de</strong> tornou-se cada vez maisalienada <strong>de</strong> contactos directos com os exemplos biológicos que a ro<strong>de</strong>iam.Deveríamos agora, (ou estamos) a emergir na era Biomorfica 97 , uma tecnologiaenvolvente, naturalmente complexa e permissiva a imitações.Historicamente encontra-se a Biomimética aplicada como técnica sistemática <strong>para</strong>fins científicos e práticos, no início na década <strong>de</strong> 40, durante a Segunda Guerra Mundial. Apartir <strong>de</strong>sta época apareceram gran<strong>de</strong>s laboratórios, nos países mais avança<strong>do</strong>s, com oobjectivo <strong>de</strong> pesquisar esta po<strong>de</strong>rosa e inesgotável fonte <strong>de</strong> soluções que é a natureza.A Biomimética é, hoje em dia, matéria eminentemente interdisciplinar, comaplicações principalmente na Engenharia Aero-espacial, na Medicina <strong>de</strong> próteses etransplantes, na Cibernética, na Arquitectura e no Design(Bio<strong>de</strong>sign).É possível encontrar várias manifestações na natureza que nunca foram<strong>de</strong>vidamente investigadas, exploradas ou usadas por <strong>de</strong>signers. Esquemas biológicos quesuportam uma investigação e que estão acessíveis a qualquer um num passeio mais atentopelo mun<strong>do</strong> natural.“O biomimetismo tornou-se uma meto<strong>do</strong>logia na procura <strong>de</strong> respostas <strong>para</strong> as interrogações daengenharia e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign”, diz Janine M. Benyus escritora <strong>de</strong> “Biomimicry : Innovation Inspired byNature”, um <strong>do</strong>s primeiros livros sobre o assunto.97Construção <strong>de</strong> soluções inspiradas nos princípios <strong>de</strong> sistemas biológicos. (adapta<strong>do</strong> <strong>de</strong>http://pt.wikipedia.org/wiki/Rob%C3%B3tica_biom%C3%B3rfica)127


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemMeto<strong>do</strong>logia da biomimética e <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produtoFala-se muitas vezes numa relação directa e bidireccional entre biologia eengenharia, o que, <strong>de</strong> uma perspectiva redutora, po<strong>de</strong>ria até ser consi<strong>de</strong>rada. É aqui que o<strong>de</strong>sign entra como o elemento aglutina<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ste conhecimento, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o«adaptar» às necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>.O <strong>de</strong>sign po<strong>de</strong>rá ser a disciplina que consegue fazer a transição entre oconhecimento «bruto» e a sua aplicação em produtos ou serviços que realmente melhoreme vão <strong>de</strong> encontro às necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios reais da socieda<strong>de</strong> actual.A história <strong>do</strong>s objectos artificiais é estudada com referência às formas naturais. Épossível observar isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a justaposição clássica das abóbadas <strong>do</strong> Gótico, noentrelaçamento <strong>do</strong>s ramos numa floresta, ao <strong>de</strong>senho orgânico e flui<strong>do</strong> no <strong>de</strong>sign <strong>do</strong>scarros mo<strong>de</strong>rnos. Estas associações não são só formais ou confinadas à cultura oci<strong>de</strong>ntal,como po<strong>de</strong>m ser vistas nos padrões <strong>do</strong>s painéis <strong>de</strong>corativos e estruturais <strong>de</strong> uma mesquita.Paralelamente ao <strong>de</strong>senvolvimento da cultura <strong>do</strong>s produtos industriais, tem cresci<strong>do</strong>uma tendência <strong>de</strong> relacionar o <strong>de</strong>sign e a natureza <strong>de</strong> uma maneira mais profunda.Encontramos inúmeras vantagens nesta abordagem, que afecta vários aspectosimportantes <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto. Em primeiro lugar, proporciona uma libertação <strong>de</strong>todas as atitu<strong>de</strong>s estilísticas <strong>de</strong>senvolvidas ao longo da história. Estas, na sua gran<strong>de</strong>maioria, são o oposto exacto das referências naturais da forma: a biomimética estátotalmente focada no méto<strong>do</strong> e evolução da forma e não no resulta<strong>do</strong> final e da suaeventual a<strong>de</strong>rência a arquétipos previamente estabeleci<strong>do</strong>s.A natureza, em gran<strong>de</strong> parte das vezes, baseou a sua evolução dinâmica e o seuprocesso contínuo <strong>de</strong> experimentação e erro, em soluções formais e funcionais, que nãocabiam no contexto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ambiente. Criou uma forma básica <strong>de</strong> diálogo ecoexistência harmoniosa, que é algo que a população <strong>de</strong> objectos artificiais, nos dias <strong>de</strong>hoje, é incapaz <strong>de</strong> fazer.Uma das consi<strong>de</strong>rações básicas na investigação em biomimética é a observação dasdiferenças fundamentais entre os objectos artificiais, produtos e arquitectura, e os naturais,vegetais e animais, e as suas diferenças nos princípios básicos <strong>do</strong> seu surgimento.A tentativa <strong>de</strong> colocar os problemas antes das soluções é a principal característicainova<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>sta nova ciência, tentan<strong>do</strong> assim encontrar o caminho <strong>para</strong> a solução <strong>de</strong> um<strong>do</strong>s problemas históricos no <strong>de</strong>sign, que é o <strong>de</strong> conseguir conferir aos produtos eambientes artificiais harmonia com o meio ambiente.128


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemA evolução natural é um excelente exemplo <strong>de</strong> economia no uso <strong>do</strong>s materiais e nadistribuição <strong>de</strong> funções. A biomimética tem particular interesse num outro tema <strong>de</strong> muitaimportância <strong>para</strong> o novo <strong>de</strong>sign: a capacida<strong>de</strong> nos produtos artificiais <strong>de</strong> assegurar omáximo <strong>de</strong> performance com o mínimo <strong>de</strong> gasto <strong>de</strong> energia.Cada vez mais existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projectos optimiza<strong>do</strong>s em relação ao custo,matéria-prima, energia, mão-<strong>de</strong>-obra e segurança. A selecção <strong>de</strong> materiais na etapa <strong>de</strong>projecto é um ponto essencial seja qual for o ramo tecnológico. A forma <strong>do</strong> produto <strong>de</strong>veligar-se com aspectos tecnológicos como a resistência, durabilida<strong>de</strong>, proprieda<strong>de</strong>s químicase físicas. Muitas vezes, na etapa <strong>de</strong> projecto, não se dá a <strong>de</strong>vida importância a tais aspectos.No <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, por exemplo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um projecto <strong>de</strong>ficiente, muitas vezesé utiliza<strong>do</strong> material em <strong>de</strong>masia, resultan<strong>do</strong> num sobredimensionamento da matéria-primautilizada o que origina um aumento <strong>do</strong> custo <strong>de</strong> produção e um acréscimo <strong>de</strong> utilização«excessiva» <strong>do</strong>s recursos naturais, exactamente o contrário <strong>do</strong> que existe na gran<strong>de</strong> maioria<strong>do</strong>s produtos da natureza.É possível aperfeiçoar produtos e processos observan<strong>do</strong> as estruturas das plantas eanimais, texturas <strong>de</strong> algas, pele <strong>de</strong> répteis e peixes, que po<strong>de</strong>m representar soluções maisvantajosas. As estruturas naturais, normalmente, não são maciças nem formadas porângulos rectos, mas sim leves e <strong>de</strong> formas fluidas.Uma pequena variação na forma <strong>de</strong> um produto po<strong>de</strong> alterar completamente assuas características enquanto objecto. Essa variação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>resistência interna <strong>do</strong> material. Qualquer mudança num projecto, <strong>de</strong>veria inspirar-se emmuitos casos na natureza, porque esta trabalha apoiada no caminho mais simples, commaior eficiência e harmonia.Como afirmou Leonar<strong>do</strong> Da Vinci, “O maior <strong>grau</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoamento é a simplicida<strong>de</strong>”.Neste processo interminável <strong>de</strong> refinamento a Biomimética preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvermo<strong>de</strong>los análogos. Em primeiro, analisa e reúne informação sobre as estruturas naturais.De seguida, cruza a informação e com<strong>para</strong> as soluções elaboradas pela natureza comoresposta a uma <strong>de</strong>terminada tipologia <strong>de</strong> soluções (e.g. na mobilida<strong>de</strong>, na protecçãocorporal, na comida, na reprodução <strong>de</strong> espécies, etc.). Finalmente, dá um passo em frente,reproduzin<strong>do</strong> o processo evolucionário <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista meto<strong>do</strong>lógico, com soluçõesinova<strong>do</strong>ras, funcionais e economicamente convenientes.129


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemNa biomimética o principal papel meto<strong>do</strong>lógico coinci<strong>de</strong> com uma característicaessencial encontrada na natureza; flexibilida<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação e <strong>de</strong> mudançacontínua, sem preconceitos e sem leis que não sejam as <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>. Esta é aliás a principalcontribuição que a biomimética po<strong>de</strong> dar ao <strong>de</strong>sign (Bartolo, Carmelo Di 1999, “Bionica: o<strong>de</strong>senvolvimento natural em <strong>de</strong>sign”. revista Domus 818, pág. 50).Deste ponto <strong>de</strong> vista, a biomimética aparece <strong>de</strong> facto, como uma importanteferramenta no sistema global <strong>de</strong> projecto. No contexto da indústria inova<strong>do</strong>ra é um suportemuito importante na procura <strong>de</strong> novos conceitos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> introduzir importanteselementos <strong>de</strong> inovação funcional, trabalhan<strong>do</strong>, não sobre as soluções <strong>para</strong> questões jálevantadas, mas <strong>de</strong>scontextualizan<strong>do</strong> os problemas e oferecen<strong>do</strong> um novo ponto <strong>de</strong> vistana tentativa da sua solução.No contexto competitivo da indústria, a biomimética po<strong>de</strong> assumir um importantepapel no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto, exploran<strong>do</strong> a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> economizar recursos. Ore<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> um produto existente, por exemplo uma embalagem, po<strong>de</strong> trazer uma série <strong>de</strong>vantagens económicas, ecológicas ou funcionais, como a redução <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> energiano processo <strong>de</strong> fabricação, a minimização <strong>de</strong> perdas térmicas, ergonomia mais a<strong>de</strong>quada econsequentemente diminuição <strong>do</strong> impacto ambiental pela selecção mais a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>materiais diminuin<strong>do</strong> o consumo <strong>de</strong> matéria-prima e energia.O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> conceito e o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> materiais revestem-se <strong>de</strong> especial importânciano contexto <strong>do</strong> projecto. O primeiro – mais uma vez, algo que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> la<strong>do</strong> qualquer<strong>de</strong>finição formal <strong>do</strong> objecto – correspon<strong>de</strong> à formulação <strong>do</strong> problema <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>de</strong> umavisão global <strong>do</strong> projecto no contexto das suas funções e nas relações entre objecto eambiente. Um novo carro, além <strong>de</strong> ser uma «habitação» com motor é, em primeiro lugar,uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> movimento, em consonância com as condições estabelecidas pelo briefingcultural. É uma solução integrada que tem em conta os <strong>do</strong>is factores; a produtivida<strong>de</strong> e assolicitações <strong>do</strong> marketing e fun<strong>de</strong> as suas necessida<strong>de</strong>s num contexto cultural. A segundaesfera <strong>de</strong> acção da biomimética – a <strong>do</strong>s materiais no <strong>de</strong>sign – está configurada como umadas ferramentas <strong>para</strong> controlar a extraordinária varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços que são hoje possíveisgraças à tecnologia.“O processo tradicional, como o conhecemos actualmente – on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>signer escolhe, <strong>de</strong> um vastocatálogo, o material mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao seu projecto – ten<strong>de</strong> a ser revertida: a tecnologia “perguntará” ao<strong>de</strong>signer que serviços necessita <strong>para</strong> criar o material mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>” (Bartolo, Carmelo Di 1999,Bionica: o <strong>de</strong>senvolvimento natural em <strong>de</strong>sign. revista Domus 818, pág. 50).130


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoO Sistema Natural como AbordagemA biomimética, através <strong>do</strong> seu estu<strong>do</strong> e observação das soluções utilizadas comsucesso no corpo <strong>do</strong>s animais e na estrutura das plantas, po<strong>de</strong> formular novas e maisprecisas questões e, portanto, estruturar melhor as tecnologias. As características dainvestigação em biomimética respon<strong>de</strong>m às três necessida<strong>de</strong>s mais sentidas no <strong>de</strong>signcontemporâneo: a integração profunda <strong>de</strong> soluções formais e funcionais, o dinamismo naa<strong>de</strong>são às especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s projectos e a flexibilida<strong>de</strong> na procura <strong>de</strong> soluções.“Por estas razões a investigação em biomimética apresenta-se como uma ferramenta <strong>de</strong> extrema importânciaà disposição <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign contemporâneo” (Bartolo, Carmelo Di 1999, “Bionica: o <strong>de</strong>senvolvimento naturalem <strong>de</strong>sign“. revista Domus 818, pág. 50).Se o <strong>de</strong>sign for apoia<strong>do</strong> na biomimética, melhor será o projecto, embora esseraciocínio seja genérico e talvez até um pouco leviano, serve como um guia <strong>para</strong> aprodução <strong>de</strong> melhores produtos.Por exemplo, uma ave bate as asas <strong>para</strong> voar, o que não significa que <strong>para</strong>aperfeiçoar o projecto <strong>de</strong> um avião seja necessário usar o mesmo mecanismo. No entantoalgumas analogias po<strong>de</strong>m ser feitas, como a relação da forma da asa da ave com a asa <strong>do</strong>avião, a forma esbelta <strong>do</strong> corpo, a cabeça arre<strong>do</strong>ndada ou os ossos, que são ocos epropiciam leveza.Várias outras simples analogias po<strong>de</strong>m ser feitas e <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>-se tirar proveito <strong>para</strong>soluções no <strong>de</strong>sign ou re<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> um produto.“Os Biologistas que conhecem as espécies e os engenheiros que resolvem problemas específicos, estãofinalmente a conversar uns com os outros”, diz John Pietrzyk 98 .Enquanto <strong>de</strong>signers, imaginamos que, quan<strong>do</strong> se cruzar a nossa criativida<strong>de</strong> edisponibilida<strong>de</strong> conceptual com estas equipas <strong>de</strong> engenheiros e biólogos, os avanços serão<strong>de</strong> certeza imensos, isto é algo que actualmente começa a ser uma realida<strong>de</strong> cada vez maisfrequente.Respon<strong>de</strong>r a estas perguntas po<strong>de</strong> trazer uma riqueza incomensurável à futurageração <strong>de</strong> <strong>de</strong>signers, engenheiros, etc.98 Presi<strong>de</strong>nte da Biomimetic Connections, uma empresa <strong>de</strong> consultoria em inovação da Califórnia, E.U.A. (fonte:http://www.linkedin.com/pub/dir/john/pietrzyk)131


132A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalDicionário Natural13 inspiraçõesO sucesso <strong>de</strong>sta nova ciência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> estabelecimento da analogia apropriadaentre o problema a ser resolvi<strong>do</strong> e o potencial mo<strong>de</strong>lo biológico a ser aplica<strong>do</strong>. A qualida<strong>de</strong><strong>de</strong>sta analogia irá <strong>de</strong>terminar o quão apropria<strong>do</strong>s são os princípios quan<strong>do</strong> extraí<strong>do</strong>s dabiologia.Encontramos analogias que são mais fáceis <strong>de</strong> construir <strong>do</strong> que outras; érelativamente fácil <strong>de</strong> aceitar que as superfícies a<strong>de</strong>sivas <strong>de</strong> alguns produtos possam seranálogas com a habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s insectos <strong>de</strong> andar nas pare<strong>de</strong>s. Outras analogias são menosevi<strong>de</strong>ntes e necessitam <strong>de</strong> outro género <strong>de</strong> raciocínio mais profun<strong>do</strong> <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificar osconstrangimentos <strong>do</strong>s problemas humanos que nos conduzem a uma i<strong>de</strong>ntificação dassoluções biológicas. Tais constrangimentos são a essência <strong>do</strong> sucesso da biomimética.No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste capítulo serão apresenta<strong>do</strong>s exemplos <strong>de</strong> aplicação dabiomimética a produtos ou, enquanto conceitos iniciais, com potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento futuro. Este Dicionário natural é uma colectânea <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> algunsprojectos ou <strong>de</strong> possíveis analogias que a biomimética já fez ou trabalha actualmente <strong>para</strong>fazer. Será apresentada a informação essencial <strong>para</strong> que se estabeleça uma relaçãoperceptível <strong>do</strong> que são projectos apoia<strong>do</strong>s na biomimética e qual o papel <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign no seu<strong>de</strong>senvolvimento.É uma concentração <strong>de</strong> exemplos <strong>de</strong> produtos, <strong>de</strong> animais ou <strong>de</strong> elementos naturaisque po<strong>de</strong>m fornecer aos <strong>de</strong>signers uma ligação «directa» entre os conceitos explica<strong>do</strong>santeriormente e a sua concretização em possíveis projectos.Esta apresentação não é um estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s casos, mas simuma <strong>de</strong>monstração da ligação entre projectos reais e o conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>.133


134A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Natural


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalO Velcrocola e <strong>de</strong>scola como um carrapichoFigura 85 – Velcro. (fonte: ver anexo 1)O velcro talvez seja um <strong>do</strong>s primeiros e melhores exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento eaplicação da biomimética.Em 1941, um cientista suíço, George <strong>de</strong> Mestral, removeu um carrapicho preso aopêlo <strong>de</strong> seu cão e intriga<strong>do</strong> iniciou o seu estu<strong>do</strong>. Depois <strong>de</strong> observar ao microscópio ecompreen<strong>de</strong>r o sistema em que as sementes estão envolvidas <strong>para</strong> ajudar à polinização,a<strong>de</strong>rin<strong>do</strong> ao corpo <strong>de</strong> animais <strong>para</strong> ajudar no seu transporte, apercebeu-se que umaabordagem semelhante po<strong>de</strong>ria ser utilizada <strong>para</strong> fazer a<strong>de</strong>rência entre objectos.O resulta<strong>do</strong> foi o Velcro: um produto que esteve em pre<strong>para</strong>ção durante mais <strong>de</strong>três biliões <strong>de</strong> anos, uma vez que esse é o tempo que os mecanismos naturais queinspiraram o produto <strong>de</strong>moraram <strong>para</strong> se <strong>de</strong>senvolver.Impressiona<strong>do</strong> pela a<strong>de</strong>rência <strong>do</strong>s ganchos <strong>do</strong> carrapicho, ele copiou o <strong>de</strong>sign ecriou um liga<strong>do</strong>r <strong>de</strong> duas peças. Uma das peças tem ganchos duros como o da casca dasemente <strong>do</strong> carrapicho, enquanto a outra é formada por anéis <strong>de</strong> fibras macias quepermitem a a<strong>de</strong>rência <strong>do</strong>s ganchos. De Mestral baptizou a sua invenção com o nome <strong>de</strong>Velcro – a combinação das palavras «velu<strong>do</strong>» e «croché».Figura 87 Figura 88Figura 86 e Figura 87 – Carrapicho. (fonte: ver anexo 1)135


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFicou <strong>de</strong>siludi<strong>do</strong> por os estilistas <strong>de</strong> moda não a<strong>do</strong>ptarem logo o material,provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao barulho <strong>de</strong> rasgão quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>spega uma das faces.O velcro viria a ser utiliza<strong>do</strong> na primeira cirurgia cardíaca artificial, em viagensespaciais e em numerosos produtos que hoje fazem parte <strong>do</strong> nosso dia-a-dia.Os complexos puzzles que actualmente o biomimetismo tenta resolver fazemparecer o caso <strong>do</strong> Velcro bastante primitivo.136


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Moscavoar no futuroFigura 88 – Mosca. (fonte: ver anexo 1)A mosca po<strong>de</strong> guardar os segre<strong>do</strong>s <strong>de</strong> novos veículos espiões ou <strong>de</strong> equipamentos<strong>de</strong> busca.Analisada superficialmente a mosca é apenas um insecto incómo<strong>do</strong> eaparentemente inútil. Observada mais profundamente, é possível <strong>de</strong>scobrir que ela po<strong>de</strong>fazer coisas que ainda nenhuma tecnologia conseguiu.Até há poucos anos atrás os cientistas não tinham i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como as moscasvoavam, e muito menos <strong>de</strong> como «copiá-las». Actualmente os segre<strong>do</strong>s das moscascomeçam a ser revela<strong>do</strong>s e, dada a complexida<strong>de</strong> e o interesse <strong>de</strong>stes conhecimentos, foipreciso criar uma nova área da aerodinâmica <strong>para</strong> conseguir entendê-las.No Instituto <strong>de</strong> Tecnologia da Califórnia nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América está a ser<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo basea<strong>do</strong> na mosca das frutas 99 . O estu<strong>do</strong> é feito colocan<strong>do</strong> ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> uma mosca aumenta<strong>do</strong> cinquenta vezes e submerso em óleo. Este mo<strong>de</strong>locomporta-se como se fosse uma verda<strong>de</strong>ira mosca minúscula.As condições criadas <strong>para</strong> este estu<strong>do</strong>, embora ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> ampliadas <strong>para</strong> umamelhor compreensão reflectem as verda<strong>de</strong>iras condições da escala natural. O óleo nestaexperiência comporta-se como o ar se comporta na realida<strong>de</strong>, e ao injectar bolhas <strong>de</strong> ar noóleo, permite aos cientistas compreen<strong>de</strong>r o que acontece quan<strong>do</strong> o insecto bate as asas. Éuma réplica exacta da realida<strong>de</strong> mas numa escala que torna o estu<strong>do</strong> mais fácil.99 O termo mosca das frutas é a <strong>de</strong>signação comum a diversas espécies <strong>de</strong> moscas da família Tephritidae, cujas larvas atacam a polpa <strong>do</strong>sfrutos <strong>de</strong> diversas culturas, ten<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> importância enquanto praga. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosca-das-frutas)137


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 90 Figura 91 Figura 92Figura 89 – Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> ar no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> asa basea<strong>do</strong> na mosca (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 18m43s).Figura 90 – Estu<strong>do</strong> das massas <strong>de</strong> ar criadas pela asa a bater (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza –19m24s).Figura 91 – Estu<strong>do</strong> das massas <strong>de</strong> ar criadas pela asa a bater (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza –19m20s).Durante as várias simulações feitas no estu<strong>do</strong>, os cientistas perceberam que emfuncionamento a asa da mosca cria massas <strong>de</strong> ar ao seu re<strong>do</strong>r. Alguns <strong>de</strong>sses moinhos <strong>de</strong>vento giram abaixo da asa conseguin<strong>do</strong> produzir alguma da sustentação.Com estes estu<strong>do</strong>s os cientistas perceberam que o moinho que faz a rotação da asapermanece fixo logo atrás da extremida<strong>de</strong> dianteira da asa. Confirmou-se que esse moinhona extremida<strong>de</strong> principal é vitalmente importante <strong>para</strong> que a mosca voe. É isto que dá amaior parte da sustentação.Perceber como os insectos voam po<strong>de</strong>rá significar como conseguiremos no futuroprojectar máquinas cada vez menores e mais ágeis.138


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Rãtrepar sem escorregarFigura 92 – Rã. (fonte: ver anexo 1)As patas da rã são cobertas por mucosa. Esta mucosa não é muito mais <strong>de</strong>nsa <strong>do</strong>que a água, o que torna fácil na altura <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolar a pata mas, aparentemente, parece não tera força suficiente <strong>para</strong> conseguir agarrar ou a<strong>de</strong>rir a rã à superfície.A resposta a este mistério está nos mínimos <strong>de</strong>talhes <strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>do</strong>s da rã. Estes sãoconstituí<strong>do</strong>s por lamelas hexagonais. Cada uma das lamelas move-se se<strong>para</strong>damente <strong>para</strong> sealinhar com quaisquer irregularida<strong>de</strong>s. Os canais existentes entre as lamelas escoam oexcesso <strong>de</strong> mucosa que po<strong>de</strong>ria fazer se<strong>para</strong>r as lamelas da superfície. Cada lamela écoberta <strong>de</strong> pequenas almofadas cujas pontas entram em contacto directo com a superfície.Este contacto é tão eficaz e intenso que é o atrito que evita que a rã escorregue nasuperfície (e.g. vidro).Este comportamento está a fazer com que fabricantes <strong>de</strong> pneus <strong>para</strong> carros seinteressem por compreen<strong>de</strong>r este funcionamento. Se os novos pneus se basearem nos<strong>de</strong><strong>do</strong>s das rãs, talvez seja possível acrescentar a<strong>de</strong>rência e torná-los mais seguros.Figura 94 Figura 95 Figura 96139


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 97 Figura 98 Figura 99Figura 93 – Rã a caminhar sobre superfície <strong>de</strong> vidro (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 38m01s).Figura 94 – Rã a trepar uma superfície <strong>de</strong> vidro (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 37m59s).Figura 95 – Ampliação da pata da rã (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m13s).Figura 96 – Pormenor <strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>do</strong> da pata da rã (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m09s).Figura 97 – Pata - lamelas hexagonais (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 38m45s).Figura 98 – Pneu (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m20s).140


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Lagartixasuper-cola com patasFigura 99 – Lagartixa. (fonte: ver anexo 1)Para a<strong>de</strong>rir a uma superfície, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> mudar a direcção da caminhada nada bate alagartixa.As lagartixas po<strong>de</strong>m subir a correr uma pare<strong>de</strong> vertical sem problemas, esteja estaseca ou húmida, fixar-se em quase qualquer superfície e em qualquer ângulo. Po<strong>de</strong>minclusivamente, segurar-se confortavelmente <strong>de</strong> cabeça <strong>para</strong> baixo num tecto. Elasconseguem fazer isto com a ajuda <strong>de</strong> biliões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> evolução.As patas <strong>de</strong> uma lagartixa são tão a<strong>de</strong>rentes que foi calcula<strong>do</strong> que conseguemsuportar um peso <strong>de</strong> 25kg. Tu<strong>do</strong> isto em patas «secas» sem qualquer tipo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivo. Osegre<strong>do</strong> está nos <strong>de</strong>talhes microscópicos <strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>do</strong>s das patas. Nas almofadas <strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>do</strong>s dapata da lagartixa existem milhões <strong>de</strong> micro-filamentos que formam um <strong>de</strong>nso tapete <strong>de</strong>pêlos. Cada pêlo divi<strong>de</strong>-se na sua ponta em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> novos pêlos microscópicos. Cadaum tão pequeno que consegue chegar perto da superfície da pare<strong>de</strong>, tão perto queconsegue sentir as forças que atraem as moléculas. É criada uma atracção molecular entreas moléculas nos pêlos da lagartixa e as da superfície. Esta força é aumentada milhões <strong>de</strong>vezes pelos inúmeros pêlos, que produzem a po<strong>de</strong>rosa a<strong>de</strong>rência <strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>do</strong>s das lagartixas.Com tanto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência, <strong>de</strong>scolar po<strong>de</strong>ria ser um problema. Mas não, alagartixa precisa <strong>de</strong> curvar os <strong>de</strong><strong>do</strong>s antes <strong>de</strong> levantar a pata <strong>para</strong> a conseguir <strong>de</strong>scolar dasuperfície e as almofadas conseguem manter uma impressionante capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<strong>de</strong>scolarem, sem <strong>de</strong>ixarem resíduos pegajosos.Isto leva a imaginar o extraordinário avanço que seria se existissem pneus, fitaa<strong>de</strong>siva ou materiais <strong>de</strong> construção com as mesmas capacida<strong>de</strong>s. Só agora se começa a<strong>de</strong>scobrir e aplicar estas potencialida<strong>de</strong>s, mas a natureza já o faz há muito tempo!Cientistas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manchester em Inglaterra usaram um scannermicroscópico <strong>para</strong> fazer um mol<strong>de</strong> <strong>de</strong> plástico <strong>do</strong>s pêlos da lagartixa com o objectivo <strong>de</strong>conseguirem produzir fita a<strong>de</strong>siva segun<strong>do</strong> estes princípio, sem o uso <strong>de</strong> produtosquímicos. Os cientistas conceberam uma fita a<strong>de</strong>siva coberta <strong>de</strong> suportes microscópicosque funciona segun<strong>do</strong> os mesmos princípios que po<strong>de</strong>rá revolucionar a maneira como se141


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Naturalcolam coisas. Admitem até, em teoria, que no futuro po<strong>de</strong>rá ser possível alcançar a<strong>de</strong>sivoscom a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar o peso humano.Figura 101 Figura 102 Figura 103Figura 104 Figura 105 Figura 106Figura 100 – Vista <strong>de</strong> baixo da pata (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m13s).Figura 101 – Vista <strong>de</strong> baixo <strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>do</strong> (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m09s).Figura 102 – Tapete <strong>de</strong> pêlos na pata da lagartixa - lamelas hexagonais (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 40m11s).Figura 103 – Tapete <strong>de</strong> pêlos na pata da lagartixa (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 40m30s).Figura 104 – Pêlos microscópicos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada pêlo - lamelas hexagonais (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>signda Natureza – 40m41s).Figura 105 – Fita a<strong>de</strong>siva concebida segun<strong>do</strong> os princípios da lagartixa (fonte:http://64.202.120.86/upload/image/new-news/2008/march/new-gecko-inspired-synthetic-adhesive/geckowhight.jpg).142


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Folha da flor <strong>de</strong> lótusauto-limpeza naturalFigura 106 – Flor <strong>de</strong> lótus (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 35m49s).Quanto mais são observa<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>talhes microscópicos da natureza, mais se<strong>de</strong>scobre o que ela po<strong>de</strong> fazer.Todas as plantas <strong>de</strong> uma floresta tropical <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da chuva <strong>para</strong> sobreviver. Achuva lava a sujida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria cobrir as folhas e bloquear a luz. Existem algumas queparecem nunca se molhar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chuva que caia. É o casoda flor <strong>de</strong> lótus.Um investiga<strong>do</strong>r da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bonn na Alemanha, ficou curioso com amaneira como a flor <strong>de</strong> lótus conseguia estar sempre limpa sem o uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergentes.Resolveu investigar e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aumentar mais <strong>de</strong> cem vezes uma folha da flor <strong>de</strong> lótus,<strong>de</strong>scobriu que a água apenas cai na folha, não se espalhan<strong>do</strong> nem conseguin<strong>do</strong> molhar afolha. Pelo contrário, ela apenas reforma as gotículas.O segre<strong>do</strong> está no <strong>de</strong>talhe microscópico da folha. A sua superfície é coberta <strong>de</strong>saliências microscópicas, cada uma coberta por uma camada <strong>de</strong> cera. Esta capa repele aágua forçan<strong>do</strong>-a a pousar nas pontas das saliências microscópicas. Incapaz <strong>de</strong> alcançar asuperfície da folha, a água agrupa-se como uma esfera e, como é repelida, não existe nadaque impeça esta gotícula <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizar pela folha.O que é mais impressionante, é que as gotas <strong>de</strong> água agarram qualquer partícula <strong>de</strong>sujida<strong>de</strong> que exista na folha. Por esta razão as folhas <strong>de</strong> lótus estão sempre impecavelmentelimpas e por isso são um símbolo <strong>de</strong> pureza nas religiões orientais.Assistimos hoje ao aparecimento <strong>do</strong>s primeiros teci<strong>do</strong>s com características idênticasàs folhas <strong>de</strong> lótus. Para o fabricar é necessário primeiro elaborar um material têxtil forte e<strong>de</strong>nso, que é <strong>de</strong>pois coloca<strong>do</strong> numa máquina on<strong>de</strong> é lamina<strong>do</strong> com uma substância que,compreensivelmente, é ainda segre<strong>do</strong> industrial. Ao secar, esta laminação produz milhões<strong>de</strong> saliências microscópicas sobre a superfície <strong>do</strong> material que funcionam segun<strong>do</strong> oprincípio da folha <strong>de</strong> lótus, produzin<strong>do</strong> um material não apenas repelente <strong>de</strong> água, mastambém auto-limpante.143


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 108 Figura 109 Figura 110Figura 111 Figura 112 Figura 113Figura 107 – Água a cair na folha <strong>de</strong> lótus (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 36m20s).Figura 108 – Água a cair na folha <strong>de</strong> lótus (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 36m08s).Figura 109 – Água a reagrupar-se em gotículas (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 36m31s).Figura 110 – Gotícula <strong>de</strong> água a agarrar a sujida<strong>de</strong> (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 37m28s).Figura 111 – Detalhe microscópico da folha (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 36m51s).Figura 112 – Detalhe microscópico da folha (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 37m10s).Existe também, uma tinta <strong>de</strong> auto-limpeza baseada nos mesmos princípios. AEmpresa Alemã Sto. AG inventou uma tinta auto-limpante com o nome <strong>de</strong> Lotusan.Qualquer superfície <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pintada com esta tinta, fica completamente impermeável,não agarran<strong>do</strong> mais nenhum tipo <strong>de</strong> tinta ou sujida<strong>de</strong>.Figura 114 Figura 115Figura 113 – Tinta Lotusan – a sujida<strong>de</strong> é con<strong>de</strong>nsada nas gotículas <strong>de</strong> água e assim retirada (fonte:DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m36s).Figura 114 – Tinta Lotusan – meta<strong>de</strong> da esquerda com tinta lotusan e meta<strong>de</strong> da direita com tinta normal(fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 39m28s).144


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalO Besouroágua no <strong>de</strong>sertoFigura 115 – Besouro. (fonte: http://www.ento.csiro.au/aicn/images/cain1268.jpg)Os besouros vivem no <strong>de</strong>serto. No <strong>de</strong>serto seco quase não chove e mesmo assimestes animais conseguem sobreviver. A sua única fonte <strong>de</strong> água é a maresia que vem <strong>do</strong>oceano todas as manhãs.Os besouros começam o dia subin<strong>do</strong> ao topo <strong>de</strong> uma colina <strong>para</strong> interceptar amaresia que sopra ao vento. As saliências microscópicas <strong>do</strong> seu corpo ajudam a con<strong>de</strong>nsara água no seu corpo. As pontas atraem a água enquanto os canais entre eles a repelem econduzem, forçan<strong>do</strong> a água a formar gotículas que escorrem <strong>para</strong> a boca. Uma estratégia <strong>de</strong>sobrevivência no <strong>de</strong>serto que po<strong>de</strong>ria ajudar a resolver as tão frequentes crises <strong>de</strong> água <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> humano.Figura 117 Figura 118 Figura 119Figura 120 Figura 121145


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 116 – Besouros no topo da colina (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 26m14s).Figura 117 – Saliências microscópicas da carapaça (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 26m21s).Figura 118 – Canais condutores (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 26m26s).Figura 119 – Gotículas (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 26m35s).Figura 120 – Gotículas (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 27m12s).Existe uma empresa que está a projectar tendas <strong>para</strong> refugia<strong>do</strong>s que funcionam <strong>do</strong>mesmo mo<strong>do</strong>. Con<strong>de</strong>nsam a água <strong>do</strong> ar todas as manhãs. Inclusive on<strong>de</strong> existem poucaágua subterrânea.Neste caso enten<strong>de</strong>r como um besouro <strong>do</strong> <strong>de</strong>serto vive po<strong>de</strong>ria fazer a diferençaentre a vida e a morte. E tu<strong>do</strong> isto vem <strong>do</strong> incrível <strong>de</strong>senho <strong>do</strong>s esqueletos <strong>do</strong>s besouros.146


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Borboletaa magia da cor sem pigmentoFigura 121 – Borboleta. (fonte: http://vou<strong>de</strong>taxi.zip.net/images/butterfly2.jpg)O azul claro <strong>de</strong> uma borboleta brilha como um farol na floresta. Po<strong>de</strong> ser visto ameio km <strong>de</strong> distância, exactamente o que ela precisa <strong>para</strong> atrair parceiros. No entanto asasas <strong>de</strong>sta borboleta não contêm pigmentos. Elas produzem cor exactamente como asbolas <strong>de</strong> sabão fazem.As cores <strong>de</strong>slumbrantes são causadas pela reflexão da luz <strong>de</strong>ntro e fora da bolha emudam conforme o ângulo <strong>de</strong> visão. A cor da asa da borboleta é muito mais intensa <strong>do</strong>que a cor <strong>de</strong> uma bolha, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à micro-arquitectura <strong>de</strong> cada minúscula camada <strong>de</strong> asa. Aborboleta usa estas cores <strong>para</strong> se exibir e ser notada.Na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Exeter em Inglaterra, os investiga<strong>do</strong>res examinam a microarquitecturada borboleta nos mínimos <strong>de</strong>talhes. Cada camada é coberta <strong>de</strong> espinhos, cadaespinho é feito <strong>de</strong> várias camadas, estas camadas são sempre se<strong>para</strong>das pela mesmadistância, com um comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> luz azul. Quan<strong>do</strong> a luz <strong>do</strong> sol bate em cadauma <strong>de</strong>las apenas a luz azul é reflectida e o espaçamento sempre igual <strong>de</strong>stas camadas fazcom que ondas <strong>de</strong> luz azul sucessivas interfiram umas nas outras reforçan<strong>do</strong>-se eintensifican<strong>do</strong> a cor.Os cientistas <strong>de</strong>scobriram que os espaços nos espinhos nas camadas <strong>de</strong> asa sãoestrutura<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma a que nenhuma luz fique presa. Tu<strong>do</strong> é reflecti<strong>do</strong>, adicionan<strong>do</strong>brilho à cor. É difícil acreditar que não existe nenhuma molécula <strong>de</strong> pigmento nestascamadas.O fabricante japonês Teijin Limited incorporou estas i<strong>de</strong>ias em teci<strong>do</strong>s e criou ummaterial com o nome <strong>de</strong> Morphotex, feito <strong>de</strong> nylon e poliéster organiza<strong>do</strong>s da mesmaforma como as camadas <strong>de</strong> cutículas em cada camada <strong>de</strong> asa da borboleta. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>produção não necessita <strong>de</strong> tanques <strong>de</strong> tingimento, um <strong>do</strong>s maiores poluentes na indústriatêxtil. O Morphotex possui uma interferência <strong>de</strong> cores que jamais irão <strong>de</strong>saparecer. Esta147


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Naturalempresa aplica ainda estes princípios no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> cosmética (e.g.batons).A Qualcomm, uma empresa tecnológica, está a <strong>de</strong>senvolver um ecrã <strong>para</strong> PDA queusa uma reduzida quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia e que com a luz <strong>do</strong> sol fica brilhante.Figura 123 Figura 124 Figura 125Figura 126 Figura 127 Figura 128Figura 122 – Borboleta. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 45m41s)Figura 123 – Reflexão <strong>de</strong> cor na bola <strong>de</strong> sabão. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 46m18s)Figura 124 – Comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> luz azul. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 47m34s)Figura 125 – Camada <strong>de</strong> asa. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 46m54s)Figura 126 – Ampliação <strong>de</strong> pormenor da camada <strong>de</strong> asa. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza –47m22s)Figura 127 – Morphotex. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 48m69s)148


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalO Tubarãoeficiência energéticaFigura 128 – Tubarão. (fonte: ver anexo 1)Quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> eficiência energética na água os tubarões são um bom caso <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>, eles parecem utilizar muito menos energia <strong>do</strong> que <strong>de</strong>veriam.Aumentada a pele <strong>do</strong> tubarão <strong>de</strong>z vezes, percebemos que é constituída porpequenas escamas, cada uma com <strong>de</strong>ntículos ao longo <strong>do</strong> centro. Esses <strong>de</strong>ntículospren<strong>de</strong>m uma camada <strong>de</strong> água perto da pele, o que faz reduzir o atrito entre a pele e a água.Esta é a razão pela qual os tubarões são tão rápi<strong>do</strong>s.A marca <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> natação Spee<strong>do</strong>, criou o fato completo Fastskin,basea<strong>do</strong> no tubarão e revolucionou a natação <strong>de</strong> competição. Este equipamento foi coberto<strong>de</strong> minúsculos <strong>de</strong>ntículos como os da pele <strong>do</strong> tubarão. Foi efectuada uma análise aoformato <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> um nada<strong>do</strong>r e, como num tubarão, colocaram os <strong>de</strong>ntículos apenasnos locais on<strong>de</strong> estes po<strong>de</strong>riam ser mais eficazes. Perspectivam que diminuía o atrito em4%. Não é muito mas, numa competição, po<strong>de</strong> fazer toda a diferença.Estes fatos <strong>de</strong> banho foram testa<strong>do</strong>s nos jogos olímpicos <strong>de</strong> Atenas nos nada<strong>do</strong>resAustralianos e estes conseguiram ser superiores em relação aos seus adversários. Pelotreino ou pelo fato? Talvez pela junção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is.A Marinha <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América está a tenta usar um conceito similar,mas aplica<strong>do</strong> a alguns <strong>do</strong>s seus barcos. Preten<strong>de</strong> aplicar o conceito da pele <strong>do</strong> tubarãocomo revestimento abaixo da linha <strong>de</strong> flutuação <strong>do</strong> casco <strong>do</strong>s navios no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>aumentar a eficiência no uso <strong>de</strong> combustível e <strong>de</strong> reduzir o crescimento <strong>de</strong> algas e fungosque, muitas vezes, reduzem a manobralida<strong>de</strong> das embarcações.149


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 130 Figura 131 Figura 132Figura 129 – Ampliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>z vezes <strong>do</strong>s <strong>de</strong>nticulos da pele <strong>de</strong> tubarão. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 23m03s)Figura 130 – Ampliação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>nticulos da pele <strong>de</strong> tubarão. (fonte: ver anexo 1)Figura 131 – Fato <strong>de</strong> banho Spee<strong>do</strong>Fastskin. (fonte: ver anexo 1)150


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalAs Térmitasar condiciona<strong>do</strong> naturalFigura 132 – Térmita. (fonte: ver anexo 1)As térmitas são os mestres <strong>de</strong> construção da natureza. Utilizam lama <strong>para</strong> construiras suas «metrópoles». Algumas <strong>de</strong>stas construções chegam aos 3 m <strong>de</strong> altura, cheias <strong>de</strong>câmeras e túneis escondi<strong>do</strong>s. A lama é misturada com saliva e fezes e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seca, criauma pare<strong>de</strong> com resistência semelhante ao betão, conseguin<strong>do</strong> construir enormes castelos<strong>de</strong> barro.Estas construções não são apenas montes <strong>de</strong> terra, são construções bastantesofisticadas. Uma colónia <strong>de</strong> térmitas utiliza tanto oxigénio e produz tanto dióxi<strong>do</strong> <strong>de</strong>carbono quanto uma vaca, o que quer dizer que produz e liberta muito calor. Ainda assim,as térmitas conseguem viver fechadas <strong>de</strong>ntro das suas tocas, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> por isso conseguirventilar as suas construções <strong>de</strong> alguma forma.Figura 133 – Térmitas a trabalhar. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 20m15s)Investiga<strong>do</strong>res da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Loughborough em Inglaterra e biólogos daUniversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Nova Iorque uniram-se <strong>para</strong> <strong>de</strong>scobrir como é que as térmitasconseguem controlar a temperatura <strong>de</strong>ntro das suas tocas. Ao monitorizar algumas dastocas, eles <strong>de</strong>scobriram que a temperatura se mantinha constante ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o dia.151


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 134 – Óculo <strong>de</strong> monotorização. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 19m59s)Descobriram também que as térmitas conseguem controlar os níveis <strong>de</strong> dióxi<strong>do</strong> <strong>de</strong>carbono, a humida<strong>de</strong> e a temperatura. As térmitas parecem viver num edifício com umsistema <strong>de</strong> ar condiciona<strong>do</strong> perfeito.Para <strong>de</strong>scobrir como elas conseguem esta maravilha energética os cientistasmontaram janelas <strong>de</strong> observação nos montes <strong>para</strong> filmarem as térmitas por longos perío<strong>do</strong>s<strong>de</strong> tempo. Eles <strong>de</strong>scobriram que, se injectassem dióxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> carbono no ninho, as térmitasmudariam o padrão <strong>de</strong> construção abrin<strong>do</strong> subtilmente novos túneis. O segre<strong>do</strong> <strong>do</strong> incrívelar condiciona<strong>do</strong> está nos mínimos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> construção da sua toca. Foi preciso entãomapear um ninho completo até aos mais escondi<strong>do</strong>s túneis. As pare<strong>de</strong>s externas <strong>do</strong> ninhosão como betão. Usaram uma escava<strong>do</strong>ra <strong>para</strong> cortar com precisão uma toca completa aomeio e estudar toda a sua estrutura. Com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar toda a estrutura internada toca, perceberam que, por cima da região subterrânea on<strong>de</strong> vivem, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>espaço é forma<strong>do</strong> por túneis vazios, com uma gran<strong>de</strong> abertura que se esten<strong>de</strong> pelo centroda torre até ao topo.Figura 136 Figura 137 Figura 138Figura 135 – Corte com auxilio <strong>de</strong> uma escava<strong>do</strong>ra. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 22m35s)Figura 136 – Toca <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cheia <strong>de</strong> gesso e limpa <strong>de</strong> terra. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza –25m42s)Figura 137 – Pormenor da réplica <strong>de</strong> gesso. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 25m22s)Como o mo<strong>do</strong> como foi cortada a toca era pouco minucioso, eles <strong>de</strong>cidiram cobrirto<strong>do</strong> o ninho e encher os túneis <strong>de</strong> gesso <strong>para</strong> assim conseguirem ficar com um mo<strong>de</strong>lo da152


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Naturalestrutura interna <strong>do</strong> ninho. Destruíram <strong>de</strong>pois toda a lama <strong>de</strong> maneira a <strong>de</strong>ixarcompletamente a <strong>de</strong>scoberto o gesso. O resulta<strong>do</strong> final foi uma escultura <strong>de</strong> gesso <strong>de</strong> todaa estrutura interna <strong>do</strong> ninho, que revelou como é que os gran<strong>de</strong>s túneis se ligavam entre si.A pressão da água que limpou o barro <strong>de</strong>struiu uma camada <strong>de</strong> túneis mais finos e<strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> imperceptíveis estes <strong>de</strong>talhes.Os investiga<strong>do</strong>res <strong>de</strong>cidiram voltar a tentar mas com um outro méto<strong>do</strong>.Construíram o maior scanner <strong>de</strong> mesa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e voltaram a encher <strong>de</strong> gesso toda aestrutura <strong>de</strong> uma toca. O objectivo era o <strong>de</strong> cortar finas camadas horizontais <strong>de</strong> milímetroem milímetro e fotografar. Através <strong>de</strong> sistemas computoriza<strong>do</strong>s montaram toda asequência <strong>de</strong> fotos, que foi <strong>de</strong>pois introduzida num software <strong>de</strong> 3D, construin<strong>do</strong> assimuma réplica exacta <strong>de</strong> uma toca <strong>de</strong> térmitas, on<strong>de</strong> será possível navegar <strong>para</strong> perceberexactamente como foi feita. Ao estudar em pormenor toda a estrutura, os investiga<strong>do</strong>respu<strong>de</strong>ram perceber que o sistema <strong>de</strong> ar condiciona<strong>do</strong> é controla<strong>do</strong> pelo vento, a complexare<strong>de</strong> <strong>de</strong> túneis abafa as variações <strong>de</strong> força e velocida<strong>de</strong> <strong>do</strong> vento, produzin<strong>do</strong> umacirculação <strong>de</strong> ar constante através das câmaras e jardins <strong>do</strong> ninho até ao funil central. Se acorrente <strong>de</strong> ar circulatório não for suficiente as térmitas aumentam a altura <strong>do</strong> morro econstroem mais túneis <strong>para</strong> compensar esta insuficiência.A análise <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los computoriza<strong>do</strong>s sugere novos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>snossos edifícios, mais eficientes em energia e que, como os morros das térmitas, po<strong>de</strong>m terar condiciona<strong>do</strong> natural.Figura 139 Figura 140 Figura 141Figura 142 Figura 143 Figura 144153


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 145Figura 138 – Scanner <strong>de</strong> mesas construí<strong>do</strong> pela equipa <strong>de</strong> investiga<strong>do</strong>res. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 25m36s)Figura 139, figura 140, figura 141, figura 142 e figura 143 – Evolução <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s cortes efectua<strong>do</strong>s.(fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 26m05s a 26m38s)Figura 144 – Mo<strong>de</strong>lo tridimensional. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 27m08s)Em zonas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> menos industrializadas, aproximações criativas <strong>para</strong> capturarfluxos energéticos locais, foram utilizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos remotos e estão ainda bem vivas.Os aborígenes australianos têm uma forma simples e elegante <strong>de</strong> «cultivarem» a luzsolar: <strong>do</strong>is paus bifurca<strong>do</strong>s com uma simples coluna no seu topo permitem que se levanteou baixe a cobertura das suas casas em casca <strong>de</strong> árvore <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> entrar luz ou manten<strong>do</strong>-seem sombra conforme a altura <strong>do</strong> ano.As torres eólicas têm si<strong>do</strong> utilizadas ao longo <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> anos em climasquentes <strong>para</strong> captarem fluxos <strong>de</strong> ar, conduzin<strong>do</strong>-os <strong>para</strong> o interior <strong>de</strong> residências.Na Fatepur na Índia, pedras porosas eram submersas em água <strong>para</strong> funcionaremcomo filtros refrescantes <strong>de</strong> ar. Nos planaltos <strong>de</strong> Loess na china, as pessoas cavam buracosno solo <strong>para</strong> construírem as suas casas protegen<strong>do</strong>-se assim <strong>do</strong> vento e sol.No Paquistão, chaminés com «conchas <strong>de</strong> vento» no seu topo recolhem lufadas <strong>de</strong>vento pela chaminé a baixo, on<strong>de</strong> existe um espelho <strong>de</strong> água <strong>para</strong> refrescar esse vento,quanto mais frio o ar estiver mais este <strong>de</strong>sce.No Irão acontece algo similar. Existe o ar-condiciona<strong>do</strong> natural com o nome <strong>de</strong> «AlBarajeel», uma tradição transportada <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> <strong>para</strong> os nossos dias. O «Al Barajeel» é umar-condiciona<strong>do</strong> simples e natural que funciona segun<strong>do</strong> os mesmos princípios <strong>de</strong> um arcondiciona<strong>do</strong>actual. As torres eólicas Iranianas foram usadas durante milhares <strong>de</strong> anos emclimas quentes <strong>para</strong> capturar fluxos <strong>de</strong> ar e conduzi-los através <strong>do</strong>s diversoscompartimentos. Estas torres consistem em estruturas ventiladas que constantementeescorrem água; o ar entra e flui pela chaminé a baixo arrefecen<strong>do</strong> na água das pare<strong>de</strong>s,entran<strong>do</strong> em casa já arrefeci<strong>do</strong>.154


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 146 Figura 147Figura 145 – Torres Eólicas Iranianas. (fonte: ver anexo 1)Figura 146 – Esquema <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> uma torre eólica iraniana. (fonte: ver anexo 1)155


156A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Natural


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalO Morcegoeco localização com asasFigura 147 – Morcego. (fonte: ver anexo 1)Como é que os peixes, aves e mamíferos captam e combinam as informaçõessensoriais? Como as utilizam <strong>para</strong> agir?Uma vez obtidas essas informações po<strong>de</strong>ria ser possível copiar esses sistemasengenhosos, originários <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> evolução. É o exemplo <strong>do</strong> radar <strong>do</strong>smorcegos.No seu voo nocturno as orelhas <strong>de</strong> um morcego não <strong>para</strong>m <strong>de</strong> modificar a suaforma, o seu movimento e a sua orientação, evitan<strong>do</strong> os diversos obstáculos <strong>do</strong> ambientegraças a um surpreen<strong>de</strong>nte sistema <strong>de</strong> ecolocalização 100 .O funcionamento requinta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste biosonar, <strong>de</strong>ve-se ao pequeno tamanho, à plasticida<strong>de</strong> eà mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> emissão e recepção das ondas ultra-sónicas.O Engenheiro Herbert Peremans (Faculda<strong>de</strong> Saint-Ignace <strong>de</strong> Antuérpia na Bélgica),preten<strong>de</strong> criar um morcego «biónico» cujo <strong>de</strong>sempenho superaria o <strong>do</strong>s sistemas existentes.Será constituí<strong>do</strong> por transmissores minúsculos <strong>para</strong> emissão e recepção <strong>de</strong> ultra-sons naescala necessária, circuitos electrónicos complexos e um sistema micro mecânico comvários <strong>grau</strong>s <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que permite controlar a forma e os movimentos <strong>de</strong> radaresminúsculos. Estes serão constituí<strong>do</strong>s por uma «boca», um «nariz» e «orelhas» concebi<strong>do</strong>s<strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r o melhor possível à função <strong>de</strong>sejada, basean<strong>do</strong>-se sempre nos mo<strong>de</strong>losobserva<strong>do</strong>s no morcego.Esse projecto ambicioso com o nome <strong>de</strong> Circe (Chiroptera-Inspired RoboticCephaloid) é coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por Herbert Peremans e conduzi<strong>do</strong> por um consórcio europeupluridisciplinar que compreen<strong>de</strong> especialistas em biologia, em neurociência daecolocalização, em micro mecânica, robótica, electromecânica, concepção <strong>de</strong> sistemasdigitais, etc.100 Eco-localização ou Bio-sonar é um senti<strong>do</strong>, uma sofisticada capacida<strong>de</strong> biológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar a posição e/ou distância <strong>de</strong> objectos(obstáculos no ambiente) ou animais através <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> ondas ultra-sónicas, no ar ou na água, e análise ou cronometragem <strong>do</strong> tempogasto <strong>para</strong> essas ondas serem emitidas, reflectirem no alvo e voltarem à fonte sobre a forma <strong>de</strong> eco (ondas reflectidas) (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecolocaliza%C3%A7%C3%A3o..157


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalAlém da realização <strong>de</strong> um robô <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> das capacida<strong>de</strong>s biosónicas <strong>de</strong> um morcego,uma série <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s será realizada com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar como os da<strong>do</strong>s sensoriaissão colhi<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s no animal, o que <strong>de</strong>verá levar à implantação na «cabeça» biosónica<strong>de</strong> elementos neuromórficos como uma cóclea 101 artificial.Um <strong>do</strong>s objectivos <strong>do</strong> projecto é conhecer melhor o comportamento sensorial emotor <strong>do</strong> morcego, testan<strong>do</strong>-o em tamanho natural. Aplicações mais práticas também sãoevi<strong>de</strong>ntemente visadas, sobretu<strong>do</strong> no campo da robótica, <strong>para</strong> esten<strong>de</strong>r as capacida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>srobôs <strong>de</strong> evoluir num ambiente complexo tridimensional.Segun<strong>do</strong> Herbert Peremans, com o tempo este sistema também po<strong>de</strong>rá ser<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>para</strong> ajudar os cegos ou <strong>para</strong> aumentar o nível <strong>de</strong> controle das ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>rodas sofisticadas.Figura 148 – Esquema <strong>de</strong> ecolocalização no morcego. (fonte: ver anexo 1)101 A cóclea (ou caracol, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua forma) é a porção <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> interno <strong>do</strong>s mamíferos on<strong>de</strong> se encontra o órgão <strong>de</strong> Corti, quecontém os terminais nervosos responsáveis pela audição. É um tubo ósseo enrola<strong>do</strong> em espiral dividi<strong>do</strong> longitudinalmente em trêscompartimentos cheios <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong> membranas. O compartimento central é on<strong>de</strong> se encontra o órgão <strong>de</strong> Corti com ascélulas ciliadas responsáveis pela sensação da audição, através <strong>do</strong>s movimentos <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> circundante (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3clea).158


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalO Peixe-cofreo carro biónicoFigura 149 – Peixe-cofre. (fonte: ver anexo 1)O carro da Merce<strong>de</strong>s-Benz é um excelente exemplo <strong>de</strong> como os engenheiros e<strong>de</strong>signers transformaram os maravilhosos exemplos da natureza num produto. Esteexemplo por si só po<strong>de</strong> não ser o suficiente <strong>para</strong> mudar o mun<strong>do</strong>, mas oferece importanteslições a partir das técnicas utilizadas.A Merce<strong>de</strong>s emprega milhares <strong>de</strong> pessoas no seu complexo <strong>de</strong> R&D emSin<strong>de</strong>lfingen na Alemanha. Os gestores, ocasionalmente, pe<strong>de</strong>m aos seus <strong>de</strong>signers <strong>para</strong><strong>de</strong>senvolverem novos conceitos. Quan<strong>do</strong> Dieter Gurtler, um <strong>do</strong>s engenheiros chefe daempresa, foi incumbi<strong>do</strong> <strong>de</strong> pensar num novo conceito aerodinâmico <strong>para</strong> um novo«conceptcar», este levou <strong>do</strong>is colegas seus a uma visita ao museu <strong>de</strong> história natural perto<strong>de</strong> Estugarda <strong>para</strong> estudarem os peixes e as suas capacida<strong>de</strong>s.O grupo começou por investigar as espécies mais rápidas e esguias – golfinhos etubarões – que foram rapidamente postos <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, uma vez que a sua forma não tinhaespaço interior suficiente <strong>para</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um veículo. O especialista em peixes <strong>do</strong>museu, mostrou outros tipos <strong>de</strong> peixe que po<strong>de</strong>riam ser interessantes, incluin<strong>do</strong> umcurioso peixe-cofre.Gor<strong>do</strong> e plano no meio, este peixe apresenta características muito interessante noque respeita a aerodinamismo. Depois <strong>de</strong> estuda<strong>do</strong> tridimensionalmente os investiga<strong>do</strong>resperceberam que o peixe-cofre era uma das espécies existentes na natureza que melhor semoviam. Quan<strong>do</strong> nada, este peixe pára, arranca e ziguezagueia com gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>. Tematé um «motor» que lhe permite reverter o movimento <strong>para</strong> entrar em pequenos buracos. Oque lhe falta em beleza, sobra em capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>.Gurtler e a sua equipa perseguiram a i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> peixe-cofre, primeiro crian<strong>do</strong> ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> argila <strong>do</strong> peixe, examinan<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois o <strong>de</strong>sempenho ao nível <strong>do</strong> comportamentoao atrito no túnel <strong>de</strong> vento e no tanque <strong>de</strong> água.159


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 151 Figura 152 Figura 153Figura 150 – Mo<strong>de</strong>lo tridimensional em simulação <strong>de</strong> túnel <strong>de</strong> vento. (fonte: ver anexo 1)Figura 151 – Mo<strong>de</strong>lo tridimensional em simulação <strong>de</strong> túnel <strong>de</strong> vento. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 2m)Figura 152 – Mo<strong>de</strong>lo tridimensional em simulação <strong>de</strong> túnel <strong>de</strong> vento. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 25m13s)Os resulta<strong>do</strong>s foram muito bons, 65% a menos <strong>de</strong> atrito <strong>do</strong> que os carros <strong>de</strong> famíliacomuns. A forma alongada <strong>de</strong>monstrou um <strong>de</strong>sempenho quase tão bom como a gota <strong>de</strong>água, que é consi<strong>de</strong>rada a forma mais aerodinâmica <strong>de</strong> todas.Gurtler e a sua equipa criaram pequenos vértices sobre a parte superior e inferior<strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> veículo que ajudaram a estabilizar e a manter a rota <strong>do</strong> veículo quan<strong>do</strong> emmovimento. De seguida, fizeram um mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> carro em argila. Este mo<strong>de</strong>lo mimetizouao máximo a forma <strong>do</strong> peixe-cofre. A aerodinâmica não era a única característica naturalque interessava ao grupo <strong>de</strong> investigação. Estavam também interessa<strong>do</strong>s na estrutura óssea<strong>do</strong> peixe-cofre - um aglomera<strong>do</strong> <strong>de</strong> placas hexagonal que formam um esqueletoextremamente rígi<strong>do</strong> e luminoso – e que serviu <strong>de</strong> inspiração <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senho das estruturadas portas e <strong>de</strong> algumas partes <strong>do</strong> chassis.Os engenheiros e <strong>de</strong>signers, através da engenharia inversa e utilizan<strong>do</strong> o CAD 102 ,passaram meses a transferir os princípios da estrutura óssea <strong>do</strong> peixe-cofre, <strong>para</strong> o processo<strong>de</strong> engenharia automóvel.102 Computer Ai<strong>de</strong>d System – <strong>de</strong>senho assisti<strong>do</strong> por computa<strong>do</strong>r.160


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 154 Figura 155 Figura 156Figura 153, figura 154 e figura 155 – Estrutura <strong>do</strong> chassis idêntica ao peixe cofre, <strong>de</strong>posita mais materialapenas on<strong>de</strong> a carga é maior. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 18m46 a 18m53s)Com base neste trabalho projectaram uma estrutura, que reduzia o peso total <strong>de</strong>cada porta e <strong>de</strong> partes <strong>do</strong> corpo central em 30% e que se mostraram 40% mais rígidas <strong>do</strong>que as utilizadas até a data.Entusiasma<strong>do</strong>s com os avanços da equipa, os administra<strong>do</strong>res da Merce<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ramluz ver<strong>de</strong> <strong>para</strong> um primeiro protótipo – um veículo compacto com um motor turbo diesel<strong>de</strong> 1.9 litros, um pára-brisas panorâmico e um tecto <strong>de</strong> vidro. No teste <strong>de</strong> pista, o veículonão <strong>de</strong>sapontou: <strong>do</strong>s zero aos 100km/h fez 7,9 segun<strong>do</strong>s. Esta aceleração teve poucarelação com o motor, mas muito mais com a redução <strong>do</strong> peso <strong>do</strong> carro.“ A vantagem primordial surge <strong>do</strong> <strong>de</strong>sign em harmonia com as leis da natureza” disse Gurtler,“esta evolução concebeu criaturas que são extremamente económicas em termos <strong>de</strong> energia. Olhan<strong>do</strong> <strong>para</strong> anatureza, é possível perceber conceitos e i<strong>de</strong>ias que dificilmente apareceriam sozinhos.” (Dieter Gurtler).Tal como to<strong>do</strong>s os fabricantes <strong>de</strong> automóveis, a Merce<strong>de</strong>s constrói muitosconceptcars que nunca chegam à linha <strong>de</strong> montagem. Mas este veículo inspira<strong>do</strong> no peixecofrecontinua a fazer vários testes aerodinâmicos <strong>de</strong> forma e <strong>de</strong> estrutura interna que irãoconduzir a importantes alterações nos mo<strong>de</strong>los futuros.Esta experiência encorajou Gurtler e a sua equipa <strong>de</strong> <strong>de</strong>signers a apren<strong>de</strong>r eexplorar mais sobre a biomimética.Figura 157 Figura 158161


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 159 Figura 160 Figura 161Figura 156 – Desenho <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. (fonte: ver anexo 1)Figura 157 – Inspiração e resulta<strong>do</strong> final. (fonte: ver anexo 1))Figura 158 – simulação tridimensional. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 18m16s).Figura 159 – estrutura chassis carro idêntica ao peixe cofre, <strong>de</strong>posita mais material apenas on<strong>de</strong> a carga émaior. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 18m46 a 18m53s).Figura 160 – estrutura chassis carro idêntica ao peixe cofre, <strong>de</strong>posita mais material apenas on<strong>de</strong> a carga émaior. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 18m46 a 18m53s).162


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Ma<strong>de</strong>irasofisticação ancestralFigura 161 – Sequóias <strong>de</strong> 80m. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 7m54s)A ma<strong>de</strong>ira foi a base construtiva <strong>do</strong> nosso mun<strong>do</strong>. Diferente <strong>do</strong> barro, a ma<strong>de</strong>ira éum material sofistica<strong>do</strong> e bastante complexo. Ela sustenta as maiores estruturas da natureza(e.g. sequóias <strong>de</strong> 80 m). Estas árvores maciças pesam cerca <strong>de</strong> 1,4 toneladas, cada umacontem vigas suficientes <strong>para</strong> construir 120 casas. Foram precisos mais <strong>de</strong> 2000 anos <strong>para</strong>atingirem este tamanho imponente.Este é um material incrível. As fibras que compõem a ma<strong>de</strong>ira são tubos longos,pequenos e ocos que levam a água da raiz às folhas, ou seja, este é o sistema interno <strong>de</strong>canalização das árvores. Ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s tubos em forma <strong>de</strong> espiral, minúsculas fibras <strong>de</strong>celulose estão fixadas na resina. É esta combinação que dá à ma<strong>de</strong>ira proprieda<strong>de</strong>s tãosurpreen<strong>de</strong>ntes.Este tipo <strong>de</strong> estrutura tão particular torna a ma<strong>de</strong>ira muito resistente a racha<strong>de</strong>las eisso é importante <strong>para</strong> que uma árvore não perca os seus ramos durante uma tempesta<strong>de</strong>.Se a força exercida num galho for suficiente <strong>para</strong> iniciar uma racha<strong>de</strong>la, esta é dispersadapelas várias espirais, que absorvem a energia e evitam que esta racha<strong>de</strong>la se espalhe portoda a estrutura interna. Isto faz com que a ma<strong>de</strong>ira seja difícil <strong>de</strong> rachar e, por isso,actualmente ainda é utilizada <strong>para</strong> construção.Figura 163 Figura 164Figura 162 – Fibras que compõem a ma<strong>de</strong>ira. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 8m20s)Figura 163 – Pormenor das racha<strong>de</strong>las nas fibras que compõem a ma<strong>de</strong>ira. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign daNatureza – 9m13s)163


164A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário Natural


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalA Pinhaabre e fecha como um contentorFigura 164 – Pinha. (fonte: ver anexo 1)A ma<strong>de</strong>ira é mais <strong>do</strong> que simplesmente forte. Ela também po<strong>de</strong> ser inteligente.Quan<strong>do</strong> começa a chover, as pinhas <strong>do</strong>s pinheiros fecham-se <strong>para</strong> proteger as sementesfazen<strong>do</strong> com que estas permaneçam secas. A pinha «sabe» quan<strong>do</strong> vai chover: ela fecha-sequan<strong>do</strong> o ar está mais húmi<strong>do</strong> e abre quan<strong>do</strong> o ar está mais seco.Como os troncos das árvores as escamas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira das pinhas são feitas <strong>de</strong> fibrasrígidas fixas numa substância resinosa. Estas fibras encontram-se em direcções diferentesnas camadas <strong>de</strong> cima e <strong>de</strong> baixo da pinha. Quan<strong>do</strong> estas escamas secam as camadas <strong>de</strong>baixo encolhem mais <strong>do</strong> que as <strong>de</strong> cima fazen<strong>do</strong> a pinha abrir e libertar sementes.Actualmente já existem estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> roupa segun<strong>do</strong> o mesmo princípio.Conforme o teci<strong>do</strong> molha com o suor partes <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> levantam-se <strong>para</strong> fornecerventilação.Figura 166 Figura 167 Figura 168165


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoDicionário NaturalFigura 169 Figura 170 Figura 171Figura 165 – Pinhas fechadas. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 10m52s)Figura 166 – Pinhas a abrir. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 11m20s)Figura 167 – Pormenor <strong>de</strong> pinhas a abrir. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 11m02s)Figura 168 – Pormenor <strong>de</strong> pinhas a abrir. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 11m07s)Figura 169 – Principio <strong>de</strong> funcionamento - partes <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> levantam-se <strong>para</strong> fornecer ventilação. (fonte:DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 11m45s)Figura 170 – Simulação <strong>de</strong> transpiração - partes <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> levantam-se com a humida<strong>de</strong> <strong>para</strong> fornecerventilação. (fonte: DesignTech – O <strong>de</strong>sign da Natureza – 11m49s)166


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoConclusões FinaisConclusões finaisA necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir «coisas» faz parte da natureza humana. O uso <strong>de</strong>ferramentas faz parte <strong>do</strong> que somos e <strong>de</strong>fine a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.O planeta encontra-se «entupi<strong>do</strong>» <strong>de</strong> produtos. O mun<strong>do</strong> actual é, essencialmente,artificial. A revolução industrial <strong>de</strong>sempenhou um papel primordial na «massificação» <strong>do</strong>sprodutos <strong>de</strong> consumo e no aparecimento da socieda<strong>de</strong> consumista, com todas as suasconsequências positivas e negativas.Nos últimos 100 anos viveu-se a euforia da artificialida<strong>de</strong> sem consciência das suasimplicações futuras. Esta euforia produziu enormes avanços tecnológicos, mas nãoconseguiu prever que ela própria po<strong>de</strong>ria ser a causa daquilo que parece ser uma caminhadaa passos largos <strong>para</strong> a sexta extinção em massa <strong>de</strong> seres vivos <strong>do</strong> planeta.É possível afirmar que o luxo e a moda não vão <strong>de</strong>saparecer. O consumo tornou-se«imprescindível» económica e socialmente. Po<strong>de</strong>rá ser um «suicídio» económico e socialtentar acabar com ele.Os novos produtos <strong>de</strong>vem, agora, preencher também as necessida<strong>de</strong>s emocionais ese a sustentabilida<strong>de</strong>, a ecologia e o retorno à natureza fazem, cada vez mais, parte daspreocupações actuais da socieda<strong>de</strong> então, esta po<strong>de</strong> ser a «<strong>de</strong>sculpa» <strong>para</strong> <strong>do</strong>tar os novosprodutos <strong>de</strong>ssa sensibilida<strong>de</strong> e conquistar o consumi<strong>do</strong>r pelo seu la<strong>do</strong> emocional.Ficou <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que é possível interagir <strong>de</strong> várias formas ao nível da relaçãopsicológica entre produto e utiliza<strong>do</strong>r. A cultura <strong>de</strong>scartável é uma realida<strong>de</strong>. Umaestratégia po<strong>de</strong>rá ser, <strong>do</strong>tar os produtos <strong>de</strong> características que os liguem «cerebralmente» aoconsumi<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> possível «manipular» esta relação. A próxima fronteira e <strong>de</strong>safio <strong>para</strong> o<strong>de</strong>signer será <strong>de</strong>senhar objectos que não só se relacionem com o corpo humano, mas queinterajam «naturalmente» com a mente humana.Este trabalho apresentou aos <strong>de</strong>signers a existência <strong>de</strong> vários factores que po<strong>de</strong>mcondicionar a relação produto/consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> maneira a que este compreenda que estasrelações existem na artificialida<strong>de</strong> humana, mas que também existem na natureza e comresulta<strong>do</strong>s positivos e inspira<strong>do</strong>res.Foi possível i<strong>de</strong>ntificar que o mun<strong>do</strong> natural <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre «comunicou» as suascaracterísticas intrínsecas. Existem diversos «meios» <strong>de</strong> passar estas mensagens. Aocontrário <strong>do</strong> que possa parecer, na natureza «tu<strong>do</strong>» está pensa<strong>do</strong>, «tu<strong>do</strong>» tem umsignifica<strong>do</strong> e uma tarefa bem i<strong>de</strong>ntificada. Mesmo o que, numa primeira análise possa167


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoConclusões Finaisparecer ornamentação <strong>de</strong>sprezível e supérflua tem, na realida<strong>de</strong>, uma importância extremanas várias relações existentes nos ecossistemas.A compreensão <strong>de</strong>stas características é mais uma lição que <strong>de</strong>ve fazer o <strong>de</strong>signerperceber que não é aceitável continuar a <strong>do</strong>tar os produtos <strong>de</strong> mensagens <strong>de</strong>sonestas, quenão condigam com as suas verda<strong>de</strong>iras características. O <strong>de</strong>signer tem muitas ferramentas<strong>para</strong> intervir com novas soluções mais a<strong>de</strong>quadas. Tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projectar com«segundas intenções» <strong>para</strong> induzir o consumi<strong>do</strong>r. É necessário que se consciencialize damensagem positiva que <strong>de</strong>verá inserir nos produtos.A criativida<strong>de</strong> é, com certeza, uma das chaves <strong>para</strong> a solução. Mas como<strong>de</strong>senvolver a nossa criativida<strong>de</strong> se não conhecermos a natureza? Imaginação e criativida<strong>de</strong>,são características essencialmente humanas. Como po<strong>de</strong>m ser potenciadas e <strong>de</strong>senvolvidassem existir uma relação com o meio natural que nos ro<strong>de</strong>ia?Não é possível esperar uma aproximação ao mun<strong>do</strong> natural se não for potenciada aligação humana com a natureza, logo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong>s homens <strong>de</strong> amanhã.Esta geração <strong>de</strong> futuros adultos tem cresci<strong>do</strong> sem as melhores interacções com a natureza,sem a noção da excepcional quantida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida existente nos ecossistemas(sem terem arranca<strong>do</strong> fruta <strong>de</strong> uma árvore, planta<strong>do</strong> uma couve, ou <strong>de</strong> terem brinca<strong>do</strong> comgalinhas, porcos ou patos). Sem perceberem que as plantas e os animais nascem, crescem emorrem, e que, estas, são consequências naturais.Existe ainda um gran<strong>de</strong> caminho a percorrer até ser restabelecida esta ligaçãoperdida, até ser retoma<strong>do</strong> o gosto e respeito pela natureza. Esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância na socieda<strong>de</strong>, tem <strong>de</strong> ser a<strong>do</strong>ptada com extrema urgência pelos <strong>de</strong>signersenquanto elementos responsáveis na revolução sustentável <strong>de</strong> projecto, produção,consumo e fim <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s produtos.Em suma, se a ligação com a natureza for perdida, o artificial torna-se o standard eafasta o homem, cada vez mais, das inspirações que po<strong>de</strong>m ser encontradas no mun<strong>do</strong>. Énecessário recuperar esta ligação. Ela representa, e é o nosso ambiente original, a nossaorigem da evolução. Esta atitu<strong>de</strong> não significa rejeitar a «civilização mo<strong>de</strong>rna», mas simevoluir numa direcção sustentável <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o mun<strong>do</strong> natural ainda existente.A evolução conduziu a excessos, o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> prejudicial, mas só o éporque o méto<strong>do</strong> actual <strong>de</strong> pensar o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> produto, em toda a sua dimensão, nãoé muito ti<strong>do</strong> em conta.A tentação parece ser produzir menos, consumir menos e sermos menos. Anatureza parece ter outra razão, que sugere exactamente o contrário, produzir em168


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoConclusões Finaisabundância e diversida<strong>de</strong>! Celebrar a diversida<strong>de</strong> inerente ao contexto envolvente é umalição patente na natureza.Uma das conclusões <strong>de</strong>ste trabalho, é que é possível e <strong>de</strong>sejável um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>abundância, não <strong>de</strong> limites. Numa altura em que se fala em reduzir a pegada ecológicahumana, esta <strong>dissertação</strong> apresenta uma possibilida<strong>de</strong> diferente. E se os <strong>de</strong>signers<strong>de</strong>senharem sistemas e produtos que celebrem uma abundância da criativida<strong>de</strong> humana, dasua cultura e produtivida<strong>de</strong>, seguin<strong>do</strong> os pressupostos existentes no mun<strong>do</strong> natural? Talvezfosse mais inteligente e seguro. A espécie humana <strong>de</strong>ixaria uma pegada ecológica <strong>de</strong> que seorgulharia!A questão é que é necessário produzir com melhor consciência e encontrar osmeios <strong>para</strong> o fazer <strong>de</strong> uma forma compatível. Des<strong>de</strong> o «nascimento» até à «morte <strong>do</strong> que seproduz», porque a morte é como <strong>de</strong>veria ser, ela é muito provavelmente a melhor invençãoda vida. É o agente <strong>de</strong> mudança da vida, ela remove o velho <strong>para</strong> dar espaço ao novo.Os produtos, tal como na natureza, <strong>de</strong>vem ter o seu fim <strong>de</strong> vida programa<strong>do</strong>,on<strong>de</strong> as vulnerabilida<strong>de</strong>s são na realida<strong>de</strong> forças. Assim como a natureza escolhelimitar a vida, e resolve «naturalmente» todas as consequências <strong>de</strong>ssa limitação, os<strong>de</strong>signers <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong> ser capazes <strong>de</strong> prever e projectar segun<strong>do</strong> essa orientação. Oconsumo continuará a existir, a produção também, é necessário levar o conceito <strong>de</strong>natureza ao artefacto.Um futuro em que nascer, crescer, morrer, e voltar a nascer se harmoniza <strong>de</strong> umaforma natural. A natureza apresenta-nos o «Waste equals food», numa abordagemrealmente diferente da praticada pela humanida<strong>de</strong>, em especial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a revolução industrial.Ela é, em si mesma, a materialização perfeita <strong>do</strong> que <strong>de</strong>veria ser o ciclo <strong>de</strong> vida i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> umproduto. Nela está a lição da estratégia <strong>de</strong> projectar to<strong>do</strong>s os materiais, também comonutrientes e não como lixo (waste equals food).A maravilhosa analogia <strong>do</strong>s frutos, enquanto contentores da herança genética, érealmente inspira<strong>do</strong>ra e reforça o referi<strong>do</strong> no parágrafo anterior. Nos frutos «tu<strong>do</strong>» está«pensa<strong>do</strong>»; a parte mole <strong>de</strong>sfaz-se e permite que se coma, como alimento. Esta envolve ocaroço, que é a parte mais dura, e que é também um pequeno contentor «genético», queserá liberta<strong>do</strong> <strong>de</strong> novo na terra <strong>para</strong> voltar a nascer na forma <strong>de</strong> planta. Estaposteriormente produzirá mais frutos e tu<strong>do</strong> se inicia <strong>de</strong> novo. É o ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um«produto» natural.169


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoConclusões FinaisÉ aconselhável o <strong>de</strong>signer incorporar esta atitu<strong>de</strong> no início <strong>do</strong> acto <strong>de</strong> projectar,preven<strong>do</strong> a «morte» <strong>do</strong> produto e a<strong>de</strong>quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os condicionalismos inerentes a estaconcepção, enquanto condicionantes que farão parte das características essenciais <strong>do</strong>produto a projectar. Serão parte integrante, com o mesmo <strong>grau</strong> <strong>de</strong> importância <strong>de</strong> outrascaracterísticas necessárias.O cenário apresenta<strong>do</strong> nesta <strong>dissertação</strong>, levanta a possibilida<strong>de</strong> da natureza ter aresposta <strong>para</strong> muitos <strong>do</strong>s actuais problemas liga<strong>do</strong>s à forma, ciclo <strong>de</strong> vida e consumo <strong>do</strong>s«produtos artificiais» existentes na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. A natureza não tem si<strong>do</strong> sempre ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> referência <strong>para</strong> o <strong>de</strong>sign em todas as suas expressões, quan<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser umainesgotável fonte <strong>de</strong> inspiração no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produto. Nela po<strong>de</strong>mos encontrar to<strong>do</strong> o tipo<strong>de</strong> inspirações, seja ao nível <strong>do</strong> material, <strong>do</strong> movimento, da energia ou das estruturas.A solução <strong>de</strong>verá passar, por repensar os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> concepção, produção,consumo e «morte», reinvestin<strong>do</strong> recursos a pensar <strong>de</strong> raiz as bases da industrialização.Conseguir produzir, celebran<strong>do</strong> a diversida<strong>de</strong>, respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às expectativas da socieda<strong>de</strong>,mas, ao mesmo tempo, respeitar a natureza e evitar as possíveis consequências maléficasque lhe po<strong>de</strong>rão ser infligidas.As soluções existentes na natureza apresentam-se como uma fonte <strong>de</strong>conhecimento indispensável na reeducação da nossa socieda<strong>de</strong>. A «poesia natural»,inteligente e funcional, aplicada no artefacto (humano) po<strong>de</strong> ser a chave <strong>de</strong> sucesso <strong>para</strong> o«futuro ver<strong>de</strong> da humanida<strong>de</strong>».É necessário admitir que o <strong>de</strong>signer industrial e to<strong>do</strong>s os outros agentes da indústriasão, certamente, co-responsáveis, com outros, pelo esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planeta. O <strong>de</strong>sign apresentase,inequivocamente, como fundamental nesta estratégia <strong>de</strong> futuro. Até aqui tem assumi<strong>do</strong>,em muitos casos um papel irresponsável, na euforia <strong>de</strong> consumo e <strong>do</strong> produto fácil <strong>de</strong>ven<strong>de</strong>r. No futuro, o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> actuar como uma «segunda natureza»,projectan<strong>do</strong> em harmonia com as leis naturais. O <strong>de</strong>sign é, <strong>de</strong> certeza, uma importante áreana busca <strong>de</strong> soluções e em conjunto com as outras áreas, <strong>de</strong>verá ajudar a socieda<strong>de</strong> aevoluir numa direcção sustentável.O <strong>de</strong>signer Ross Lovegrove e a Biomimética foram assinala<strong>do</strong>s como exemplosrelevantes na temática <strong>de</strong>sta <strong>dissertação</strong>. A importância da mensagem existente nos seusprojectos, po<strong>de</strong>rá transformar-se num factor impulsiona<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma dinâmica capaz <strong>de</strong>levar a acreditar que é também possível competir comercialmente, seguin<strong>do</strong> a lógica danatureza. O <strong>de</strong>signer enquanto autor <strong>de</strong> uma mensagem <strong>de</strong> esperança no futuro,contribuirá <strong>para</strong> a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s.170


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoConclusões FinaisDurante milhões <strong>de</strong> anos a escola da humanida<strong>de</strong> foi o planeta. A humanida<strong>de</strong> foiensinada a reagir perante o ambiente (<strong>de</strong>sastres, preda<strong>do</strong>res, etc.). Talvez esteja na altura <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rarmos os nossos «inimigos naturais» como nossos «professores» e tentar apren<strong>de</strong>rtambém com eles!Estaremos a aproximarmo-nos <strong>de</strong> um novo <strong>para</strong>digma? Talvez <strong>de</strong> umPARADIGMA DE INSPIRAÇÃO BIOLÓGICA NO DESIGN DE PRODUTO,mas que, na sua essência, quererá significar uma ausência <strong>de</strong> <strong>para</strong>digmas pois, anaturalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verá ser tão inata que <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser um objectivo, uma matriz, epassará a ser intrínseca a to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> PROJECTO, PRODUÇÃO,CONSUMO E FIM DE VIDA <strong>do</strong>s produtos.171


172A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> Produto


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A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1Anexo 1En<strong>de</strong>reços electrónicos completos das FigurasFigura 4 - Henry Ford e Mo<strong>de</strong>l T (fonte:http://www.autolife.umd.umich.edu/Design/Gartman/D_Casestudy/PO3015a_Henry-Ford.gif). ........................................................................................................................................... 13Figura 5, 6 e 7 – Linha <strong>de</strong> montagem <strong>do</strong> Ford T. (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://artfiles.art.com/images/-/Henry-Ford-Poster-C10098915.jpeg&imgrefurl=http://www.pcdiga.net/showthread.php%3Ft%3D19011&usg=___z5yQnM4NJYZNwgcANCcjklSHXc=&h=450&w=334&sz=58&hl=pt-PT&start=18&um=1&tbnid=_18uO3PkUDvzuM:&tbnh=127&tbnw=94&prev=/images%3Fq%3Dlinha%2B<strong>de</strong>%2Bprodu%25C3%25A7%25C3%25A3o%2B<strong>de</strong>%2Bhenry%2Bford%26hl%3Dpt-PT%26lr%3D%26um%3D1). ........................................................................... 14Figura 14 - Mapa relativo à importação <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>s. (fonte:http://www.sasi.group.shef.ac.uk/worldmapper/in<strong>de</strong>x.html) ................................................. 27Figura 15 -Louisville, Kentucky. Fotografia da Gran<strong>de</strong> Depressão (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.robertlpeters.com/news/wpcontent/uploads/american_way.jpg&imgrefurl=http://www.robertlpeters.com/news/%3Fm%3D200809&usg=__Tn6dIijSmD7h6JMkgZSirVXT6cM=&h=328&w=437&sz=73&hl=pt-PT&start=34&um=1&tbnid=9FgmHiMxw94zqM:&tbnh=95&tbnw=126&prev=/images%3Fq%3Damerican%2Bway%2Bof%2Blife%2B%252B%2Bcars%2B%252B%2B1950%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-PT%26lr%3D%26sa%3DN%26start%3D18%26um%3D1).30Figura 16 – Procura Mundial <strong>de</strong> Energia Primária. (fonte: IEA, 2005 -http://www.apodi.info/bbc/energia/primariaa.gif) .................................................................. 32Figura 18 – Sandálias feitas com garrafas <strong>de</strong> água reaproveitadas. (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.treehugger.com/water-bottles-shoes-001.jpg&imgrefurl=http://www.treehugger.com/files/2008/04/rare-plastic-water-bottles-shoes.php&usg=__-PQ88ziOmx8jfspLlCKPOB9lDjg=&h=314&w=468&sz=40&hl=pt-PT&start=7&sig2=5zi7GE3JABMWN1eYV5duig&um=1&tbnid=HO0n0ItqCTq4bM:&tbnh=86&tbnw=128&prev=/images%3Fq%3Dwater%2Bbottles%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26um%3D1&ei=AZRvSsvwIMKnjAeDj-mbBQ) ................................... 35Figura 19 - Lixeira urbana. (fonte:http://images.inmagine.com/img/imagesource/is236/is236042.jpg). ................................... 36Figura 20 - Hierarquia <strong>de</strong> usabilida<strong>de</strong> (fonte:http://www.danformosa.com/DF%20DMI%20Stress%20page.html). ................................ 43Figura 21 – Gillette. (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.antiquemystique.com/images/8123bb_jpg.jpg&imgrefurl=http://www.antiquemystique.com/pages/8123bb_jpg.htm&usg=__wcLxX0EEAg4OOKU4YemMywweRJk=&h=480&w=640&sz=39&hl=pt-PT&start=228&um=1&tbnid=yzpBQvYUykW3KM:&tbnh=103&tbnw=137&prev=/images%3Fq%3Dgillette%2Boriginal%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26start%3D216%26um%3D1 ...................................................................... 48177


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1Figura 22 – Anuncio da Tupperware. (fonte:http://www.alittleredhen.com/photos/uncategorized/2007/05/13/tupperware_postcard.jpg) ...................................................................................................................................................... 48Figura 23 - Cauda <strong>do</strong> Pavão (fonte: www.msnbc.msn.com/id/21882948/) ........................ 55Figura 24 - Juba <strong>de</strong> leão (fonte:http://img33.picoodle.com/img/img33/8/6/26/f_lion13m_983072e.jpg) ......................... 56Figura 25 - Chifres <strong>de</strong> alce (fonte:http://www.bonjourquebec.com/fileadmin/Image/<strong>de</strong>couvrez/activites/sports_plein_air/chasse_peche/tq_002883_g.jpg) ................................................................................................... 56Figura 26 - Cauda <strong>de</strong> pavão (fonte: http://blogs.zdnet.com/opensource/images/peacock.jpg).......................................................................................................... 56Figura 27 - <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> helicóptero <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci (fonte:http://imagecache.allposters.com/images/pic/MEPOD/10048180~Leonar<strong>do</strong>-Da-Vinci-Sketch-of-a-Flying-Machine-Posters.jpg). .................................................................................... 60Figura 28 - Folha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> Da Vinci (fonte:http://www.ownfineart.com/Drawings/Various%20Sketches.jpg). ...................................... 60Figura 29 - Concha <strong>do</strong> Caramujo Nautilus (fonte:http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/alegria/fibonacci/fig06.png)......................... 62Figura 30 - Semente <strong>de</strong> girassol (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/_ngFwrJ1F2VM/RkWyZCBPHOI/AAAAAAAAA50/TlybM2amdRY/s400/girassol.jpg&imgrefurl=http://contabilida<strong>de</strong>financeira.blogspot.com/2007/05/matemtica-enatureza.html&usg=__OdNSEaeMKxi3kxa_ZT0IHu8Icic=&h=250&w=251&sz=30&hl=pt-PT&start=3&sig2=Q7OObiz29jorJ_UN5oJW8w&um=1&tbnid=sWNK8V0scp_VIM:&tbnh=111&tbnw=111&prev=/images%3Fq%3Dgirassol%2Be%2Ba%2Bpropor%25C3%25A7%25C3%25A3o%2Baurea%26hl%3Dpt-PT%26um%3D1&ei=y5ZvSvfuLMiSjAfOzYydBQ). .............................................................. 62Figura 31 - A proporção no corpo <strong>de</strong> insectos (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.industriadabeleza.com/INDUSTRIADABELEZA_arquivos/image10411.jpg&imgrefurl=http://www.industriadabeleza.com/INDUSTRIADABELEZA_arquivos/Page722.htm&usg=__rM2IDmF_HtEQEOXiq0OhDy0w8Kg=&h=168&w=136&sz=6&hl=pt-PT&start=13&sig2=g12bv24hqneJ1rTbW4nCsg&um=1&tbnid=cEqlEtExZWZgDM:&tbnh=99&tbnw=80&prev=/images%3Fq%3Dcorpo%2B<strong>do</strong>s%2Binsectos%2Be%2Ba%2Bpropor%25C3%25A7%25C3%25A3o%2Baurea%26hl%3Dpt-PT%26um%3D1&ei=IJdvSo27O4ywjAfk9qyZBQ). ................................................................ 62Figura 32 - O Homem Vitruviano, <strong>de</strong> Leonar<strong>do</strong> da Vinci . (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_tIxOoLARVYU/SPlbPPU5ebI/AAAAAAAAABI/cVC7EdiG8hQ/s320/vitruviano.jpg&imgrefurl=http://dreamfeel.wordpress.com/2009/04/18/as-proporcoesdivinas/&usg=__eguYtaYSXvcCS25C1rPDDUPYPKY=&h=320&w=272&sz=30&hl=pt-PT&start=10&sig2=u4GMt_eeQKXrgyMpD27pcw&um=1&tbnid=t08sSQi4c7XhCM:&tbnh=118&tbnw=100&prev=/images%3Fq%3Dcorpo%2B<strong>do</strong>s%2Binsectos%2Be%2Ba%2Bpropor%25C3%25A7%25C3%25A3o%2Baurea%26hl%3Dpt-PT%26um%3D1&ei=IJdvSo27O4ywjAfk9qyZBQ). ................................................................ 62Figura 33 - Proporção <strong>do</strong> rosto humano. (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://digitalpaperweb.com.br/ezine/wpcontent/uploads/2008/07/15.jpg&imgrefurl=http://www.<strong>de</strong>signontherocks.com.br/%3F178


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1p%3D1574&usg=__Aif-7FyiK5FUd33Whpoyx8C2ijM=&h=300&w=486&sz=8&hl=pt-PT&start=2&um=1&tbni .............................................................................................................. 62Figura 34, 35 e 36 – Ipod, maço <strong>de</strong> cigarros e cartões <strong>de</strong> crédito (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.industriadabeleza.com/INDUSTRIADABELEZA_arquivos/image10411.jpg&imgrefurl=http://www.industriadabeleza.com/INDUSTRIADABELEZA_arquivos/Page722.htm&usg=__rM2IDmF_HtEQEOXiq0OhDy0w8Kg=&h=168&w=136&sz=6&hl=pt-PT&start=13&sig2=g12bv24hqneJ1rTbW4nCsg&um=1&tbnid=cEqlEtExZWZgDM:&tbnh=99&tbnw=80&prev=/images%3Fq%3Dcorpo%2B<strong>do</strong>s%2Binsectos%2Be%2Ba%2Bpropor%25C3%25A7%25C3%25A3o%2Baurea%26hl%3Dpt-PT%26um%3D1&ei=IJdvSo27O4ywjAfk9qyZBQ) ................................................................. 63Figura 37 - vaso Favrille (fonte: http://www.musee-orsay.fr/it/collezioni/operecommentate/arti<strong>de</strong>corative.html?no_cache=1&zoom=1&tx_damzoom_pi1%5BshowUid%5D=1965)..... 65Figura 38 - Ilustração científica <strong>do</strong> naturalista alemão Ernst Haeckel (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://caliban.mpizkoeln.mpg.<strong>de</strong>/~stueber/haeckel/kunstformen/icons/Tafel_099_medium.jpg&imgrefurl=http:). ................................................................................................................................................. 66Figura 39 - Foto <strong>de</strong> Nigella damascena (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/_gfsFM1xix2c/R-44hKnSocI/AAAAAAAAAMg/i5O7yHOpGM0/s400/blossfeldt_laserwort.jpg&imgrefurl=http://imagismo.blogspot.com/2008_03_01_archive.html&usg=__rS-v6w). .................. 66Figura 40 - Entrada <strong>do</strong> metro <strong>de</strong> Paris (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/_28iIBEoVCH8/R_EGAXBPLfI/AAAAAAAAAJQ/M6IwWi4U_2w/S220/Guimard%252BM%2525C3%2525A9tro%252B01%255B1%255D.jpg&imgrefurl=http://homemnovoarquitecturanova.blog). .......................................................................................................................................................... 66Figura 41 - Projecto <strong>de</strong> Emil Gallé. (fonte: http://www.new-york-art.com/<strong>de</strong>x-275.jpg). 67Figura 42 - Projecto <strong>de</strong> René Lalique. (fonte: http://www.new-york-art.com/<strong>de</strong>x-275.jpg). ............................................................................................................................................. 67Figura 44 - Lixeira <strong>de</strong> plásticos (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://farm3.static.flickr.com/2270/2035636923_7d9659fef5.jpg&imgrefurl=http://funver<strong>de</strong>.wordpress.com/sacolas/a-evolucao-<strong>do</strong>plastico/&usg=__scSaBi6Vvr6m_P7p1kVXBQcajIg=&h=375&w=500&sz=................... 72Figura 45 - Ilustração futurista da cida<strong>de</strong> «tomada» pela natureza. (fonte:http://nyc.metblogs.com/archives/images/2007/08/bridge.jpg) .......................................... 73Figura 46 - Formigas em tarefa conjunta. (fonte:http://1.bp.blogspot.com/_JpbZjqaoBEA/SdI6Pcq_ufI/AAAAAAAAKBA/44i48U06SIM/s400/Formigas2.jpg) ................................................................................................................. 74Figura 47 - Colónia <strong>de</strong> células on<strong>de</strong> a distribuição <strong>de</strong> força é aplicada. (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://bp3.blogger.com/_iDPCaHcHjWM/R5ih_Nr9zwI/AAAAAAAAAmE/6zkIA_VaOLM/s400/slime2.gif&imgrefurl=http://comciencias.blogspot.com/2008/01/colonias-<strong>de</strong>-clulas-po<strong>de</strong>m-possuir-mentes.html&h=211&w=260&sz=22&hl=pt-PT&start=3&um=1&tbnid=Y6LgZMNCX2Ee5M:&tbnh=91&tbnw=112&prev=/images%3Fq%3Dcolonias%2B<strong>de</strong>%2Bcelulas%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26lr%3Dlang_pt%26sa%3DN) ............................................................................................ 74Figura 48 - Degradação temporal <strong>de</strong> um saco feito <strong>do</strong> plástico bio<strong>de</strong>gradável Biocycle(fonte: http://www.plastico.com.brrevistapm355bio<strong>de</strong>gradavel1.htm). ................................. 78179


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1Figura 49 - Interior <strong>do</strong> fruto Ameixa (fonte:http://www.manefrut.com.br/images/fruta26.jpg)................................................................... 79Figura 50 - Romã aberta (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://ipt.olhares.com/data/big/46/467523.jpg&imgrefurl=http://olhares.aeiou.pt/roma_foto467523.html&usg=__VGZFDsg4-h_yMZR1ZJbNTj37U4Q=&h=750&w=602&sz=64&hl=pt-PT&start=424&um=1&tbnid=OPMZBp6gYMjenM:&tbnh=141&tbnw=113&prev=/images%3Fq%3Dsementes%2B<strong>de</strong>%2Brom%25C3%25A3s%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-PT%26lr%3D%26sa%3DN%26start%3D414%26um%3D1). ............................................... 79Figura 51 – Noz (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://data.blogg.<strong>de</strong>/2446/images/DSC00586b.jpg&imgrefurl=http://iliqui<strong>do</strong>.blogg.<strong>de</strong>/eintrag.php%3Fid%3D50&usg=__lAo8x2yNB5PG9L7kuJCvuwD_UXc=&h=375&w=500&sz=25&hl=pt- ..................................................... 79Figura 52 - Interior <strong>do</strong> maracujá (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.useplanta.com.br/images/plants/passiflora_alata.jpg&imgrefurl=http://www.useplanta.com.br/2008/10/maracuja/&usg=__wDsrZfI9R-7noRL3CmUBPCGgAb0=&h=335&w=500&sz=101&hl=pt-PT&start=74&tbnid=MuGfGMPBUNw_5M:&tbnh=87&tbnw=130&prev=/images%3Fq%3Dfrutos%2Bcom%2Bsementes%26gbv%3D2%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26start%3D72). ............................................................................................... 79Figura 53 - Roda <strong>de</strong> bicicleta. Os vários raios distribuem o peso exerci<strong>do</strong> obre a roda.(fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/_xWGn4CR28Yw/Rt2lTdvD46I/AAAAAAAAANU/9FxmT0JhKmA/s320/RodaBicicleta.jpg&imgrefurl=http://cienciasnoquotidiano.blogspot.com/2007/09/enigma-94.html&usg=__nlvvVg2CJBegAzpyk8zQps_g82U=&h=302&w=220&sz=) .................... 81Figura 54 – Telomeros (fonte:http://www.medicinageriatrica.com.br/2006/12/28/sau<strong>de</strong>-geriatria/teorias-<strong>do</strong>envelhecimento-celular/)................................................................................................................ 85Figura 55 - Cerebelo (fonte:http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/clip_image003.jpg). ...................... 88Figura 56 - Sistema límbico (fonte:http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/clip_image004.jpg). ...................... 88Figura 57 - Neocortex.(fonte:http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/clip_image006.jpg). ...................... 88Figura 58 – Organismo multicelular com o nome <strong>de</strong> volvox (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.geocities.com/sandra_rocha_pt/imagens/volvox.jpg&imgrefurl=http://curlygirl.no.sapo.pt/eucariotica.htm&usg=__bMzMKgmnJ8Y9HtI7N2umb1p5o2Q=&h=263&w=203&sz=16&hl=pt-PT&start=27&um=1&tbnid=F6lA8UMf5pfz0M:&tbnh=112&tbnw=86&prev=/images%3Fq%3Dcolonia%2Bmulticelular%26ndsp%3D18%26hl%3Dpt-PT%26lr%3D%26sa%3DN%26start%3D18%26um%3D1 .................................................... 90Figura 59 - Formigas(fonte:http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_22/computacaobioinspiradaimagem/formiga.jpg) ou images.google.pt ............................................................................................................ 90Figura 60 – Abelhas (fonte:http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_22/computacaobioinspiradaimagem/abelha.jpg) .................................................................................................................................................. 90Figura 60 – Garrafas <strong>de</strong> cerveja Heineken (fonte:http://www.coolbusinessi<strong>de</strong>as.com/images/heineken-WOBO.jpg) ...................................... 96180


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1Figura 61 - Ciclo biológico e ciclo técnico (fonte:http://www.nachhaltigwirtschaften.net/scripts/basics/forumcsrE/basics.prg?session=42f942c749390c09_4838&a_no=227) .............................................................................................101Figura 62 – Sapatilha Nike “trash talk” (fonte:http://www.ladybugbrazil.com/2008/03/19/nike-ecologica/) ............................................114Figura 63 - Foto <strong>de</strong> Ross Lovegrove. (fonte: http://www.stylepark.com/dbimages/cms/<strong>de</strong>signer/img/lovegrove_320_336-1.jpg)...........................................................115Figura 66 - Pormenor <strong>do</strong> quadro da bicicleta (fonte:http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.<strong>de</strong>signboom.com/cms/images/-a02/bamboo03.jpg&imgrefurl=http://www.shoot<strong>de</strong>sign.com/blog/category/main/&usg=__zBphDSz3Q2H1tu03hAQ1y7OEyoc=&h=413&w=550&sz=47&hl=pt-PT&start=14&um=1&tbnid=C9GpDhs-hSg9yM:&tbnh=100&tb .....................................118Figura 67 - Pedra (fonte:http://1.bp.blogspot.com/_WGHbhGx1WTI/R34nqXPrdYI/AAAAAAAAAsA/5LlaSNSexmQ/s400/pedra6.jpg ..............................................................................................................119Figura 70 – Ca<strong>de</strong>ira GO (1998-2001), <strong>para</strong> Bernhardt Design, USA. (fonte:http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/ross_lovegrove_shares_organic_<strong>de</strong>signs.html) ....120Figura 71 – Pormenor da Ca<strong>de</strong>ira GO (fonte:http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/ross_lovegrove_shares_organic_<strong>de</strong>signs.html) ....120Figura 72 – Várias partes constituintes da Ca<strong>de</strong>ira GO (fonte:http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/ross_lovegrove_shares_organic_<strong>de</strong>signs.html) ....120Figura 73 – Pormenor da interligação entre partes da Ca<strong>de</strong>ira GO (fonte:http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/ross_lovegrove_shares_organic_<strong>de</strong>signs.html) ....120Figura 74 – Pormenor da estrutura <strong>de</strong> ossos humanos (fonte:http://www.ted.com/in<strong>de</strong>x.php/talks/ross_lovegrove_shares_organic_<strong>de</strong>signs.html) ....120Figura 76 – Ca<strong>de</strong>ira Supernatural (fonte: http://www.furnitureseen.com/Large-Photo/590) .....................................................................................................................................121Figura 78 – Pormenor. (fonte:http://www.spotd.it/images/blog/09/09_moroso_lovegrove1.jpg). ..................................121Figura 79 – Cogumelo da espécie Macrolepiota excoriata (fonte:http://www.wpclipart.com/food/mushrooms_Macrolepiota_excoriata.png) ....................122Figura 80 – Agaricon, can<strong>de</strong>eiro <strong>de</strong> mesa (fonte:http://www.furniturestoreblog.com/images/Agaricon%20Luceplan%20Table%20Lamps.jpg) ....................................................................................................................................................122Figura 83 - Solar bud ( fonte:http://www.unicahome.com/products/small/25189.4180A3FE.jpg) .................................123Figura 86 – Velcro (fonte:http://www.apartmenttherapy.com/uimages/la/duallockvelcro-atla.jpg). ..........................135Figura 87 – Carrapicho (fonte:http://lh4.ggpht.com/_vULWN1oSjXw/SRKy1HlxEJI/AAAAAAAAP1Q/e_gEhgH_BHg/s800/01209.jpg)......................................................................................................................135Figura 88 – Carrapicho (fonte:http://img528.imageshack.us/img528/8904/bxk8325carrapixo800hg1.jpg). .....................135Figura 89 – Mosca. (fonte: http://aracneexpurgo.com.br/images/upload/mosca.jpg) ...137Figura 93 – Rã (fonte:http://samba<strong>de</strong>gringo.files.wordpress.com/2008/03/hyla_minuta_hr.jpg)........................139Figura 100 – Lagartixa (http://lonweigh.org.au/images/Kubi%20Kubi%20Ghecko.jpg)...........................................................................................................................................................141181


A Inspiração Biológica no Design <strong>de</strong> ProdutoAnexo 1Figura 106 – Fita a<strong>de</strong>siva concebida segun<strong>do</strong> os princípios da lagartixa (fonte:http://64.202.120.86/upload/image/new-news/2008/march/new-gecko-inspiredsynthetic-adhesive/gecko-whight.jpg)........................................................................................142Figura 116 – Besouro. (fonte: http://www.ento.csiro.au/aicn/images/cain1268.jpg) ......145Figura 122 – Borboleta. (fonte: http://vou<strong>de</strong>taxi.zip.net/images/butterfly2.jpg) .............147Figura 129 – Tubarão. (fonte:http://4.bp.blogspot.com/_7KrRbsYgkHo/Ro4wMs6tmsI/AAAAAAAAAAs/AJ3M7BrDLjA/s320/<strong>do</strong>r30000094.jpg) ....................................................................................................149Figura 131 – Ampliação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>nticulos da pele <strong>de</strong> tubarão (fonte:http://1.bp.blogspot.com/_djYeu-MX1YM/RdI26foPOZI/AAAAAAAABFQ/tnm48h7FS3o/s400/shark.jpg)..................150Figura 132 – Fato <strong>de</strong> banho Spee<strong>do</strong>Fastskin (fonte:http://biodsign.files.wordpress.com/2008/09/spee<strong>do</strong>fastskin.jpg). ....................................150Figura 133 – Térmita. (fonte: http://golfenix2.files.wordpress.com/2007/11/termita.jpg)..........................................................................................................................................................151Figura 146 – Torres Eólicas Iranianas. (fonte: http://proudlyemirati.wdfiles.com/local--files/wind-towers/windtower.jpg) ..............................................................................................155Figura 147 – Esquema <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> uma torre eólica iraniana. (fonte: ................155Figura 148 – Morcego. (fonte: http://www.bico<strong>do</strong>corvo.com.br/wpcontent/gallery/fotos-<strong>de</strong>-morcego/morcego-1.jpg)................................................................157Figura 149 – Esquema <strong>de</strong> ecolocalização no morcego. (fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/37/Ecolocalizacao_morcego.jpg/350px-Ecolocalizacao_morcego.jpg) .................................................................................158Figura 150 – Peixe-cofre. (fonte:http://serfranco.files.wordpress.com/2008/05/biomimetismo-peixe.jpg) .........................159Figura 151 – Mo<strong>de</strong>lo tridimensional em simulação <strong>de</strong> túnel <strong>de</strong> vento. (fonte:http://www.nextnature.net/research/wpcontent/uploads/2007/05/merce<strong>de</strong>s_bionic3_530.jpg).........................................................160Figura 157 – Desenho <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. (fonte: http://www.ecofriend.org/images/merce<strong>de</strong>sbenz_bionic_concept_car2.jpg)...................................................................................................162Figura 158 – Inspiração e resulta<strong>do</strong> final.(http://www.driversdrive.com/pics/bioniccar.gif) ..................................................................162Figura 165 – Pinha (fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f3/Pinus_nigra_cone.jpg/200px-Pinus_nigra_cone.jpg). ..........................................................................................................165182

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