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Relatório sobre a Situação da População Mundial 2011

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Relatório <strong>sobre</strong> a Situação <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong> <strong>2011</strong>Pessoas e possibili<strong>da</strong>desem um mundo de 7 bilhõesPrefáciopágina iiUm olhar mais próximo ao nosso1 mundo de 7 bilhões de habitantes página 1Juventude: um novo poder2 global reconfigura o mundopágina 934Segurança, poder econômico eindependência no envelhecimentoO que influenciaa fecundi<strong>da</strong>de?página 29página 43Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto5 e poder <strong>da</strong> migraçãopágina 65Planejar com antecedência6 o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>despágina 7778Compartilhar e sustentaros recursos <strong>da</strong> TerraO caminho à frente:concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairopágina 93página 101Indicadores página 110Fontes seleciona<strong>da</strong>s página 124©UNFPA Antonio Fiorente


PrefácioSete bilhões de pessoas estarão habitando a Terra em 31 de outubro. Durante to<strong>da</strong>minha vi<strong>da</strong> vi a população mundial quase triplicar. E <strong>da</strong>qui a 13 anos verei outro bilhãoacrescentado a esses números. Quando meus netos viverem, é possível que existam10 bilhões de pessoas em nosso mundo.Como nos tornamos tão numerosos? Qual aquanti<strong>da</strong>de de pessoas que a Terra pode sustentar?Essas são questões importantes, mas,talvez, não as mais adequa<strong>da</strong>s para nossostempos. Quando nos centramos apenas nasenormes quanti<strong>da</strong>des, corremos o risco de sermossubjugados e perdermos a visão <strong>da</strong>s novasoportuni<strong>da</strong>des de tornar a vi<strong>da</strong> melhor parato<strong>da</strong>s e todos no futuro.Assim, ao invés de in<strong>da</strong>gar questões como“Somos uma população grande demais?” deveríamosperguntar: “O que posso fazer para melhoraro mundo em que vivemos?” ou “Como podemostransformar nossas ci<strong>da</strong>des em constante crescimentoem forças a favor <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de?”Deveríamos também perguntar-nos o que ca<strong>da</strong>um de nós pode fazer para empoderar as pessoasmais idosas, de forma que possam atuar mais ativamenteem suas comuni<strong>da</strong>des. O que podemosfazer para soltar a criativi<strong>da</strong>de e o potencial <strong>da</strong>maior população de jovens que a humani<strong>da</strong>dejamais viu? E o que podemos fazer para removeras barreiras que impedem a igual<strong>da</strong>de entremulheres e homens de maneira que to<strong>da</strong>s e todostenham o pleno poder de tomar suas própriasdecisões e realizar seu pleno potencial?O relatório <strong>sobre</strong> a Situação <strong>da</strong> População<strong>Mundial</strong> <strong>2011</strong> examina as tendências – as dinâmicas– que estão definindo nosso mundo de 7bilhões de habitantes e mostra o que as pessoasem países e circunstâncias muito diferentes estãorealizando em suas próprias comuni<strong>da</strong>des paraextrair o melhor deste mundo.Algumas tendências são notáveis: Hoje, existem893 milhões de pessoas acima de 60 anosem todo o mundo. Na metade deste século,esse número subirá para 2,4 bilhões. Cerca deuma em ca<strong>da</strong> duas pessoas vive em ci<strong>da</strong>des e,em aproxima<strong>da</strong>mente 35 anos, duas entre três ofarão. As pessoas com menos de 25 anos já compõem43% <strong>da</strong> população mundial, chegando a60% em alguns países.Este relatório oferece uma imagem de como aChina, Egito, Etiópia, Finlândia, Índia, México,Moçambique, Nigéria e a Antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong> Macedônia estão enfrentandodiversos desafios demográficos que vão desde oenvelhecimento de populações até as altas taxasde fecundi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> urbanização ao surgimentode novas gerações de jovens. Alguns desses paísesestão li<strong>da</strong>ndo com altas taxas de fecundi<strong>da</strong>de,enquanto outros se defrontam com taxas tão baixasque os governos já buscam meios de aumentaro tamanho <strong>da</strong> população. Alguns países comfalta de mão de obra procuram imigrantes parapreencher vagas em aberto, enquanto outros sebaseiam nas remessas envia<strong>da</strong>s por ci<strong>da</strong>dãos quedeixaram seus países para trabalhar no exteriorcomo tábua de salvação para suas economias. E,enquanto alguns países vêm atraindo mais pessoasiiprefácio


tDiretor Executivo doUNFPA, BabatundeOsotimehin©Brad Hamiltonpara megaci<strong>da</strong>des emergentes, onde os empregosabun<strong>da</strong>m e o custo de vi<strong>da</strong> é elevado, outrosobservam on<strong>da</strong>s migratórias de centros urbanospara áreas periféricas a esses centros, onde o custode vi<strong>da</strong> pode ser mais baixo, mas os serviços básicose empregos podem ser reduzidos.Este relatório defende que, com planejamentoe investimentos corretos nas pessoasagora – para empoderá-las de forma a quefaçam escolhas que não apenas sejam boas paraelas, mas para nossos conci<strong>da</strong>dãos globais –,nosso mundo de 7 bilhões pode ter ci<strong>da</strong>desprósperas e sustentáveis, forças de trabalhoprodutivas que podem alimentar o crescimentoeconômico, populações jovens que contribuampara o bom an<strong>da</strong>mento de economias e socie<strong>da</strong>dese uma geração de idosas e idosos saudáveis eativamente engajados nas questões econômicase sociais de suas comuni<strong>da</strong>des.Em muitas partes do mundo em desenvolvimento,onde o crescimento populacionalestá <strong>sobre</strong>pujando o crescimento econômico,a necessi<strong>da</strong>de de serviços de saúde reprodutiva,especialmente o planejamento familiar, semantém alta. Alcançar uma população estávelé condição indispensável para o crescimento edesenvolvimento rápidos e planejados. Os governosque enfrentam com serie<strong>da</strong>de a questão <strong>da</strong>erradicação <strong>da</strong> pobreza também deveriam tratarcom serie<strong>da</strong>de a oferta de serviços, insumos einformação de que as mulheres necessitam paraexercer seus direitos reprodutivos.O tamanho recorde <strong>da</strong> população pode serencarado, de várias formas, como um sucessopara a humani<strong>da</strong>de: as pessoas estão vivendovi<strong>da</strong>s mais longas e saudáveis. Mas nem to<strong>da</strong>se todos se beneficiam dessa conquista ou <strong>da</strong>melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> que isto implica. Hágrandes dispari<strong>da</strong>des entre e dentro dos países.Dispari<strong>da</strong>des de direitos e oportuni<strong>da</strong>desexistem também entre homens e mulheres,meninas e meninos. Traçar agora um caminhopara o desenvolvimento que promova aigual<strong>da</strong>de, ao invés de exacerbar ou reforçar asdesigual<strong>da</strong>des, é mais importante que nunca.Temos to<strong>da</strong>s e todos uma aposta no futuro<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Ca<strong>da</strong> indivíduo, ca<strong>da</strong> governoe ca<strong>da</strong> empresa estão mais interconectados einterdependentes que nunca, de forma queo que ca<strong>da</strong> um de nós fizer agora interessaráa to<strong>da</strong>s e todos no futuro. Juntos, podemosmu<strong>da</strong>r e melhorar o mundo.Somos 7 bilhões de pessoascom 7 bilhões de possibili<strong>da</strong>des.Babatunde OsotimehinDiretor Executivo do UNFPARELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>iii


04em desenvolvimento, os jovens em busca detrabalho estão migrando <strong>da</strong>s áreas rurais paraas ci<strong>da</strong>des ou para outros países nos quais asperspectivas de emprego são melhores, comfrequência deixando para trás os membros maisidosos de suas famílias, por vezes sem o suportede que necessitam para conduzir suas vi<strong>da</strong>s diárias.Em alguns dos países mais ricos, o menornúmero de jovens significa incerteza <strong>sobre</strong>quem cui<strong>da</strong>rá dos idosos e pagará, no futuro,pelos benefícios de que gozam os mais velhos.Ca<strong>da</strong> um dos países apresentados no relatórioestá encontrando, em suas tendênciaspopulacionais específicas, tais como urbanização,aumento <strong>da</strong> expectativa de vi<strong>da</strong> e rápidocrescimento <strong>da</strong>s populações em i<strong>da</strong>de produtiva,não apenas grandes desafios, mas tambémenormes oportuni<strong>da</strong>des de aproveitar essesmomentos e transformá-los em boas notícias.Essas tendências, por vezes, são ofusca<strong>da</strong>s pordiscussões <strong>sobre</strong> o tamanho <strong>da</strong> população,embora muitos dos desafios e oportuni<strong>da</strong>desimediatos só se tornem aparentes quando essasquestões são examina<strong>da</strong>s de perto.Na província chinesa de Shaanxi, por exemplo,buscam-se maneiras de abrigar e <strong>da</strong>r suportea um crescente número de pessoas idosas. Emuma megaci<strong>da</strong>de como Lagos, na Nigéria, osANOS EM QUE A POPULAÇÃO MUNDIAL ALCANÇOU AUMENTOS DE 1 BILHÃO10 Bilhões9 Bilhões8 Bilhões7 Bilhões6 BilhõesO rápido crescimento <strong>da</strong> população mundial é fenômeno recente. Há cerca de 2.000 anos,a população mundial era de cerca de 300 milhões. Foram necessários mais de 1.600 anospara que ela duplicasse para 600 milhões. O rápido crescimento <strong>da</strong> população mundialteve início em 1950, com reduções de mortali<strong>da</strong>de nas regiões menos desenvolvi<strong>da</strong>s, o queresultou numa população estima<strong>da</strong> em 6,1 bilhões no ano de 2000, quase duas vezes emeia a população de 1950. Com o declínio <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de na maior parte do mundo, a taxade crescimento global <strong>da</strong> população tem decrescido desde seu pico de 2,0%, observado noquinquênio 1965-1970.5 Bilhões4 Bilhões3 Bilhões2 BilhõesFonte: Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s1180421927319591 BilhãoANOS QUE APRESENTARAM AUMENTOS DE 1 BILHÃO DE PESSOAS 12332 151800 1850 1900 19502capítulo 1: Um olhar mais próximo ao nosso mundo de 7 bilhões de habitantes


planejadores estão tentando revitalizar as vizinhançase criar comuni<strong>da</strong>des mais coesas, maisadministráveis e mais habitáveis. Na Ci<strong>da</strong>de doMéxico, parques acolhedores, espaços verdes aolongo de rodovias e mais transporte público sãopriori<strong>da</strong>des na busca por uma vi<strong>da</strong> urbana maissaudável e sustentável.Nações como a antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong> Macedônia e a Finlândia, ondea fecundi<strong>da</strong>de é mais baixa e as gravidezesmais tardias que na maioria dos países, estãoem busca de maneiras de apoiar as mulheresque têm mais filhos. Nações como a Etiópiae a Índia lançaram campanhas para <strong>da</strong>r fim a74 5 6 <strong>2011</strong>19991987197413 12 1220002050casamentos entre crianças e prevenir a gravidezde risco na adolescência.Em quase to<strong>da</strong> parte, as ci<strong>da</strong>des estãoem crescimento. Com bom planejamento epolíticas bem pensa<strong>da</strong>s, os governos podemestimular o crescimento urbano que impulsionaa economia e gera postos de trabalho,utilizando ao mesmo tempo a energia deforma mais eficaz e ampliando a oferta deserviços sociais para mais pessoas.Pessoas com menos de 25 anos constituem43% <strong>da</strong> população mundial. Quando podemreivindicar seu direito à saúde, à educação e àscondições de trabalho decentes, os jovens setornam uma força poderosa para o desenvolvimentoeconômico e mu<strong>da</strong>nça positiva. Emtodo o mundo em desenvolvimento, cientistassociais e formuladores de políticas públicas queremtirar o máximo de vantagem <strong>da</strong>s grandespopulações de jovens, não apenas em benefíciodessa mesma juventude cheia de esperança, mastambém para o bem do crescimento econômicoe do desenvolvimento. Não se deve esquecer deque essa oportuni<strong>da</strong>de de “bônus demográfico”é um momento passageiro, que deve ser aproveitadorapi<strong>da</strong>mente, ou se perderá.Nos países mais pobres, a extrema pobreza,a insegurança alimentar, a desigual<strong>da</strong>de, as altastaxas de mortali<strong>da</strong>de e de natali<strong>da</strong>de estão articula<strong>da</strong>sem um círculo vicioso. A redução <strong>da</strong>pobreza pelo investimento em saúde e educação,especialmente para mulheres e meninas, poderomper esse ciclo. À medi<strong>da</strong> que melhoram suascondições de vi<strong>da</strong>, os pais e mães podem termais confiança na <strong>sobre</strong>vivência <strong>da</strong> maior partede seus filhos. Muitos optam, então, por famíliasmenores. Isto permite maior investimentoem saúde e educação para ca<strong>da</strong> criança, aumento<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de e melhores perspectivas delongo prazo – para a família e para o país.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>3


Celebrar sucessos,planejar para o futuroHá muito a celebrar com relação às tendências<strong>da</strong> população mundial nos últimos 60 anos,especialmente na média de expectativa de vi<strong>da</strong>que saltou de cerca de 48 anos, no início <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> de 1950, para cerca de 68, na primeiradéca<strong>da</strong> do novo século. A mortali<strong>da</strong>de infantildeclinou de cerca de 133 óbitos para ca<strong>da</strong> 1.000nascimentos, na déca<strong>da</strong> de 1950, para 46 emca<strong>da</strong> 1.000, no período 2005-2010. Campanhasde imunização reduziram a prevalência de doençasinfantis em todo o mundo.Além disso, a fecundi<strong>da</strong>de, isto é o númeromédio de filhos que se espera que uma mulherCHINA E ÍNDIA: OS BILIONÁRIOSA China e a Índia divulgaram recentemente os resultados de seusúltimos censos, oferecendo ao mundo uma breve visão de comoesses dois gigantes populacionais vêm realinhando números e taxasde crescimento. Abaixo estão os dois países em números, a partir de<strong>da</strong>dos oficiais ou projeções <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.De acordo com as projeções <strong>da</strong> Divisão de População doDepartamento de Economia e Assuntos Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,em 2025, a Índia, com 1,46 bilhão de pessoas, terá superado a China,com 1,39 bilhão, como a nação mais populosa do mundo. A população<strong>da</strong> China irá então declinar para cerca de 1,3 bilhão em 2050, combase na variante média <strong>da</strong> projeção <strong>da</strong> ONU. A Índia continuará acrescer, atingindo 1,7 bilhão em 2060, antes de começar a declinar.ChinaÍndiaPopulação total em <strong>2011</strong> 1,35 bilhão 1,24 bilhãoAumento entre 2001-<strong>2011</strong> 69,7 milhões 170,1 milhõesTaxa de fecundi<strong>da</strong>de 1,6 2,5Ano em que a população,provavelmente, se estabilizará.2025 2060Fonte: Divisão de População do Departamento de Economia eAssuntos Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>stenha durante seu período reprodutivo, caiumais <strong>da</strong> metade, de cerca de 6,0 para 2,5. Odeclínio se deu em função de diversos fatorescomo crescimento econômico e desenvolvimentodos países, mas também em virtude deuma complexa combinação de forças sociais eculturais e maior acesso <strong>da</strong>s mulheres à educação,oportuni<strong>da</strong>des de geração de ren<strong>da</strong> eserviços de saúde sexual e reprodutiva, aqui seincluindo métodos contraceptivos modernos.Em algumas regiões, a taxa de fecundi<strong>da</strong>detotal declinou drasticamente desde 1950 até osdias de hoje. Na América Central, por exemplo,a taxa de fecundi<strong>da</strong>de total era de aproxima<strong>da</strong>mente6,7 filhos; 61 anos mais tarde, essa taxacaiu para 2,6, meio ponto percentual acimado “nível de reposição” de 2,1 filhos, sendoum deles menina. No Leste Asiático, a taxa defecundi<strong>da</strong>de total era de cerca de 6 filhos pormulher em 1950 e, hoje, é de 1,6, bem abaixodo nível de reposição. Em algumas partes <strong>da</strong>África, entretanto, houve apenas uma modestaque<strong>da</strong> na fecundi<strong>da</strong>de total que permanece atualmenteem mais de 5 filhos por mulher.Mas, a despeito do declínio nas taxas defecundi<strong>da</strong>de globais, cerca de 80 milhões depessoas nascem a ca<strong>da</strong> ano – número equivalente,grosso modo, à população <strong>da</strong> Alemanhaou <strong>da</strong> Etiópia. Um crescimento populacionalconsiderável ain<strong>da</strong> se mantém em razão do altonúmero de nascimentos, nas déca<strong>da</strong>s de 1950e 1960, que geraram maiores bases populacionaiscom milhões de jovens alcançando a i<strong>da</strong>dereprodutiva no curso de sucessivas gerações.A Divisão de População do Departamentode Economia e Assuntos Sociais <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s, em seu relatório Perspectivas <strong>da</strong>População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010 (publicadoem maio de 2010), prevê uma população globalde 9,3 bilhões em 2050, um aumento <strong>sobre</strong>4capítulo 1: Um olhar mais próximo ao nosso mundo de 7 bilhões de habitantes


as estimativas anteriores, e uma população demais de 10 bilhões ao final deste século – epara esse cenário parte-se do pressuposto deque as taxas de fecundi<strong>da</strong>de serão mais baixasao longo do tempo. Com apenas uma pequenavariação <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de, particularmente nospaíses mais populosos, a população total poderáser maior: 10,6 bilhões de pessoas poderiamviver na Terra em 2050, e mais de 15 bilhõesem 2100, de acordo com as projeções <strong>da</strong>Divisão de População. “Muito desse aumentopoderá ser gerado pelos países com altos níveisde fecundi<strong>da</strong>de, sendo 39 na África, nove naÁsia, seis na Oceania e quatro na AméricaLatina”, informa o relatório <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.Segundo John Cleland, <strong>da</strong> London Schoolof Hygiene and Tropical Medicine e especialistainternacional em questões reprodutivas naESTIMATIVA E PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO POR ÁREA GEOGRÁFICA,COM VARIANTE MÉDIA, 1950 - 2100 (EM BILHÕES)5,55,04,54,03,5bilhões3,02,52,01,51,00,50,01950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060 2070 2080 2090 2100Ásia África América Latina e o Caribe Europa América do Norte OceaniaA Ásia permanecerá como a mais populosa<strong>da</strong>s principais áreas geográficasmundiais durante o século XXI, mas aÁfrica avançará à medi<strong>da</strong> que sua populaçãomais que triplicar, passando de 1bilhão, em <strong>2011</strong>, para 3,6 bilhões, em 2100.Em <strong>2011</strong>, 60% <strong>da</strong> população mundialvivia na Ásia e 15%, na África. A populaçãoafricana vem crescendo a uma taxade 2,3% ao ano, mais que o dobro <strong>da</strong>população asiática (1% ao ano). A população<strong>da</strong> África ultrapassou pela primeiravez a marca de um bilhão em 2009, eestima-se que cresça mais um bilhão emapenas 35 anos (até 2044), mesmo se ataxa de fecundi<strong>da</strong>de cair de 4,6 filhos pormulher, em 2005-2010, para 3 filhos pormulher, em 2040-2045.A população asiática, que atualmenteé de 4,2 bilhões, provavelmente alcançaráseu pico na metade do século (de acordocom as projeções deverá alcançar 5,2bilhões em 2052) e começará a declinargra<strong>da</strong>tivamente a partir <strong>da</strong>í.As populações de to<strong>da</strong>s as outrasprincipais áreas geográficas soma<strong>da</strong>s(Américas, Europa e Oceania) chegarama 1,7 bilhão em <strong>2011</strong> e, de acordo comas projeções, poderão alcançar quase 2bilhões em 2060, para então começar adeclinar muito lentamente, permanecendoain<strong>da</strong> próxima dos 2 bilhões na vira<strong>da</strong>do século. Entre as regiões, estima-se quea população europeia alcance o pico de740 milhões por volta de 2025, declinandoa partir <strong>da</strong>í.Fonte: Divisão de População do Departamento deEconomia e Assuntos Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>sRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>5


tGabriela Rivera,associa<strong>da</strong> nacional doPrograma de SaúdeSexual e Reprodutivapara populaçõesjovens e vulneráveis doUNFPA do México©UNFPA/Ricardo RamirezArriolaÁfrica, a África Subsaariana é “a única regiãoremanescente do mundo onde se estima quea população possa duplicar ou triplicar nospróximos 40 anos.” A razão para o aumento<strong>da</strong> atenção dos demógrafos <strong>sobre</strong> a região éclara, ele afirma: “Escapar <strong>da</strong> pobreza e <strong>da</strong>fome se torna mais difícil com o rápido crescimento<strong>da</strong> população.”“Vivemos claramente num extraordinárioperíodo <strong>da</strong> história humana, uma era de crescimentosem precedentes de nossa espécie”, declaraSteven Sinding que observou as tendênciaspopulacionais durante os anos em que trabalhoucomo diretor do gabinete de população <strong>da</strong>Agência de Desenvolvimento Internacional dosEstados Unidos, como professor de população esaúde <strong>da</strong> família <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Colúmbiae como diretor-geral <strong>da</strong> International PlannedParenthood Federation (Federação Internacionalde Planejamento Familiar). “O ritmo do crescimentoimpõe enormes desafios para vários dospaíses mais pobres, aos quais faltam recursosnão apenas para atender às deman<strong>da</strong>s de infraestrutura,serviços básicos de saúde e educaçãoe oportuni<strong>da</strong>des de emprego para o crescentenúmero de jovens, mas também para se a<strong>da</strong>ptaràs mu<strong>da</strong>nças climáticas.”Estabilizar o crescimento populacional,especialmente nos países mais pobres, requerum acesso mais universal e de melhor quali<strong>da</strong>deaos serviços de saúde reprodutiva,particularmente planejamento familiar, nessespaíses. Tais serviços devem se basear emdireitos humanos e reforçar esses direitos,devendo incluir educação sexual para jovens,particularmente meninas adolescentes.José Ángel Aguilar Gil, diretor <strong>da</strong>Democracia y Sexuali<strong>da</strong>d, A.C., organização nãogovernamental mexicana que promove a saúdesexual e reprodutiva e direitos, afirma quejovens e adolescentes do sexo feminino “têmdireito ao acesso à educação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>deintegra<strong>da</strong> como parte de um direito humanomais amplo: o direito de acesso à educação”.Gabriela Rivera, <strong>da</strong> equipe de programa doescritório do UNFPA na Ci<strong>da</strong>de do México,afirma que há “uma ampla evidência” <strong>sobre</strong> osbenefícios <strong>da</strong> educação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong>em direitos. Programas bem-sucedidos,esclarece ela, fornecem informações científicas,suficientes e oportunas, adequa<strong>da</strong>s às necessi<strong>da</strong>desde ca<strong>da</strong> grupo etário. “Estudos deavaliação têm demonstrado que a educaçãosexual tem impacto no adiamento <strong>da</strong> i<strong>da</strong>depara a primeira relação sexual, no aumento douso de métodos contraceptivos e de preservativos,e na diminuição dos níveis de violênciacontra meninas,” afirma. “Tudo isso implica naredução de gravidezes precoces e indeseja<strong>da</strong>s, ena diminuição de infecções por HIV/AIDS.”7 bilhões: trata-se de genteEnquanto grande parte do mundo estará indubitavelmentese prendendo a números em 31de outubro, dia em que os demógrafos estimamque a população mundial alcance a marca de 7bilhões, este relatório enfoca os indivíduos e os6capítulo 1: Um olhar mais próximo ao nosso mundo de 7 bilhões de habitantes


tAmsalu Buke (à esquer<strong>da</strong>)e participante©UNFPA/Antonio Fiorenteanalistas que estu<strong>da</strong>m as tendências que afetamas vi<strong>da</strong>s cotidianas <strong>da</strong>s pessoas. Ele trata <strong>da</strong>sdecisões que as pessoas tomam – ou gostariamde tomar, se tivessem a oportuni<strong>da</strong>de.Na Conferência Internacional <strong>sobre</strong>População e Desenvolvimento, de 1994, asnações concor<strong>da</strong>ram que o progresso no tratamento<strong>da</strong>s questões populacionais poderiaser alcançado mais facilmente por meio doempoderamento de mulheres e meninas paraparticipar de suas socie<strong>da</strong>des e economias empé de igual<strong>da</strong>de com homens e meninos, epara a toma<strong>da</strong> de decisões fun<strong>da</strong>mentais <strong>sobre</strong>suas vi<strong>da</strong>s, inclusive decisões relaciona<strong>da</strong>s aotempo adequado e intervalo entre gravidezese partos. Quando as delegações do Cairodivulgaram seu histórico Programa de Ação,inúmeras pesquisas e experiências de váriospaíses já haviam documentado que, quando asmulheres têm igual<strong>da</strong>de de direitos e oportuni<strong>da</strong>desem suas socie<strong>da</strong>des, e quando as meninastêm educação e saúde, as taxas de fecundi<strong>da</strong>decaem. O Programa de Ação também tornouclaro que o empoderamento de mulheres não ésimplesmente um fim em si, mas também umpasso em direção à erradicação <strong>da</strong> pobreza.O relatório Situação <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong><strong>2011</strong> começa com uma amostragem de jovense um olhar <strong>sobre</strong> o significado dessas crescentesPOPULAÇÃO E POBREZATrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento... Disseminação persistente <strong>da</strong> pobreza, bem como sérias iniqui<strong>da</strong>dessociais e de gênero têm significativas influências <strong>sobre</strong>, e, por sua vez,são influencia<strong>da</strong>s por parâmetros demográficos tais como crescimentopopulacional, estrutura e distribuição... Esforços para diminuir a marchado crescimento populacional, reduzir a pobreza, alcançar progresso econômico,melhorar a proteção ambiental e reduzir padrões de consumo eprodução insustentáveis estão se reforçando mutuamente... A erradicação<strong>da</strong> pobreza contribuirá para a diminuição do ritmo do crescimento populacionale para o alcance antecipado <strong>da</strong> estabilização populacional.populações em diferentes cenários. A partir <strong>da</strong>í,os capítulos que se seguem analisam populaçõesem processo de envelhecimento; migração;inter-relações entre padrões de fecundi<strong>da</strong>de,serviços de saúde reprodutiva, gênero e direitosde mulheres e garotas; a administração de áreasurbanas; e pressões ambientais.Neste relatório, pessoas atentas e visionáriasde todo o mundo falam <strong>sobre</strong> os desafios eoportuni<strong>da</strong>des de que dispõem para <strong>da</strong>r formaàs suas socie<strong>da</strong>des e à população global, nesteséculo e para além dele. Muitos deles são jovense estão conscientes do fato demográfico de quecabe a eles desenhar o mundo do século XXI.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 7


8 capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


capítulodoisJuventude: um novo poderglobal reconfigura o mundoEthel Phiri, 22 anos, educadora de pares <strong>da</strong> Associação Moçambicana para oDesenvolvimento <strong>da</strong> Família (AMODEFA), uma <strong>da</strong>s organizações não governamentaisque implementam o programa Geração Biz, voltado para jovens, conduz“banca<strong>da</strong>s femininas”, grupos de discussão em escolas, nos mercados ou emoutros locais <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des vizinhas a Maputo para <strong>da</strong>r suporte a jovens emquestões de saúde sexual e reprodutiva e prevenção do HIV, bem como ensinartRicardo Moreno eSara Gonzalez naCi<strong>da</strong>de do México.O casal, que estánoivo, decidiuem conjunto queesperarão até que elase forme e tenha umemprego antesde se casarem eterem filhos©UNFPA/RicardoRamirez Arriola<strong>sobre</strong> os direitos <strong>da</strong> mulher. Em seus grupos“fala-se muito <strong>sobre</strong> a dominação <strong>da</strong>s mulherespelos homens”, afirma ela. “As mulheresnão têm voz no lar. Elas querem mu<strong>da</strong>r a culturae querem que o governo dê mais atençãoàs suas questões”, diz Phiri.Jovens chineses encontraram meios de seinformar <strong>sobre</strong> oportuni<strong>da</strong>des econômicase tentaram posicionar-se para se qualificar eaproveitá-las. Jovens trabalhadores migranteschineses em Xian, na província de Shaanxi,definiram seu trabalho em mercados e fábricascomo meio de economizar dinheiro para retornaràs suas casas e abrir seus próprios negócios.Han Qian, 21, estudou primeiramente medicina,depois passou para farmácia e conseguiuemprego testando remédios. Entedia<strong>da</strong>, ficoufascina<strong>da</strong> com um mercado de chá nas redondezase está economizando para acumularcapital suficiente para abrir uma loja de chá.No isolado vilarejo etíope de Tare, AmsaluBuke, com uma caixa de suprimentos médicosa tiracolo, é uma revolucionária silenciosapara as mulheres que vivem naquela regiãocarente de médicos ou estra<strong>da</strong>s. Caminhandopor campos queimados, de aldeia em aldeia,Amsalu, de apenas 20 anos, leva planejamentofamiliar para mulheres tão ansiosas por suaaju<strong>da</strong> que a esperam no meio do caminho,suplicando discretamente por contraceptivos.Em Skopje, capital <strong>da</strong> antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong> Macedônia, um grupo dejovens mulheres fala <strong>sobre</strong> as oportuni<strong>da</strong>desde empreendimento que souberam aproveitar,em uma economia de transição, paraposicionar-se com êxito em novos negóciose serviços. Várias delas viveram no exteriore adquiriram tanto capacitação comoautoconfiança, tal como ocorre com muitosmigrantes que viajam para trabalhar no exteriorou em ci<strong>da</strong>des de seus próprios países.Uma <strong>da</strong>s novas empreendedoras em Skopje,Marina Anchevska, retornou do trabalho quetinha na Holan<strong>da</strong> para estabelecer-se comoorientadora pessoal e de negócios, com especiali<strong>da</strong>deem aulas de ioga. Ela quer mu<strong>da</strong>r aRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>9


tA jovem mobilizadora PauziaAbdullahi em Lagos, Nigéria©UNFPA/Akintunde Akinleyeatmosfera de escritórios e salas de reunião,uma vez que o país, que já foi socialista,busca atrair investimentos estrangeiros eparceiros econômicos internacionais paraauxiliá-lo em seu desenvolvimento.Na Nigéria, Fauziya Abdullahi, quereside na enorme ci<strong>da</strong>de de Lagos, é aorganizadora de uma campanha urbanaque registrou jovens para votar nas recenteseleições nacionais do país mais populoso<strong>da</strong> África, onde 70% <strong>da</strong> população temmenos de 35 anos. Sua campanha – Buggiethe Vote, cujo nome foi inspirado em umprograma de televisão para jovens chamadoSchool Buggie – promoveu o envolvimentoe o debate político sob o lema “Juventudenegociando o futuro com seus votos”.No México, a produção de alimentos ea prestação de serviços são ti<strong>da</strong>s como áreaspromissoras para uma carreira. Leo Romero,16, fazendo uma pausa para falar entre aalgazarra de esqueitistas e ciclistas que desciamrampas construí<strong>da</strong>s sob um viaduto <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de, diz que seu objetivo é estu<strong>da</strong>r em uminstituto de arte culinária para fazer carreiraem gastronomia. Romero, que trabalha meioperíodo como músico e se mantém tocandocom uma ban<strong>da</strong> de salsa, diz que recomen<strong>da</strong>aos amigos permanecerem na escola e não secasarem até conseguir um bom emprego.E, na Índia, milhares de jovens comcurso superior somaram-se à economiaglobal através do trabalho em call-centers,esperando fazer, desse seu primeiro passo,uma carreira em tecnologia avança<strong>da</strong>.Todos eles são jovens com esperança,ambição e comprometimento de melhorar suaspróprias vi<strong>da</strong>s e as de seus colegas, vizinhos,comuni<strong>da</strong>des e países. Seu sucesso, no entanto,dependerá de sua capaci<strong>da</strong>de de aproveitaras oportuni<strong>da</strong>des educacionais e econômicasque forem surgindo e superar obstáculos à suasaúde e direitos sexuais e reprodutivos.Mais jovens, mais potencialEmbora pessoas com 24 anos ou menos componhamquase metade <strong>da</strong> população mundialde 7 bilhões (com 1,2 bilhão nas faixas etáriasentre 10 e 19), esse percentual já atingiu o picoem alguns dos maiores países em desenvolvimento,segundo o relatório Perspectivas <strong>da</strong>População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010 <strong>da</strong> Divisãode População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Defato, o percentual de jovens – segmento populacionalcom i<strong>da</strong>des entre 10 e 24 anos, de acordocom as classificações <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s – começoua declinar em vários lugares, não apenas nasnações industriais desenvolvi<strong>da</strong>s, mas tambémem países de ren<strong>da</strong> média. No México, onde afecundi<strong>da</strong>de decresceu de modo significativo nasúltimas déca<strong>da</strong>s, a pirâmide populacional temencolhido regularmente na base, com a faixaetária de zero a 14 anos caindo de 38,6% do10capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


total nacional, em 1990, para 34,1%, em 2000,e 29,3%, em 2010. Como consequência, a i<strong>da</strong>demediana do país subiu de 19 para 26 anos emduas déca<strong>da</strong>s; a pirâmide se alarga na faixa médiade i<strong>da</strong>de e ganha uma nova forma.Estatísticas como essas demonstram que,em países de ren<strong>da</strong> média e em alguns paísesde ren<strong>da</strong> baixa e rápido desenvolvimento,pode ser curto o período com uma grandepopulação de jovens produtivos disponíveispara impulsionar o desenvolvimento. Por estarazão, os governos e o setor privado precisamatuar com rapidez e preparar os jovens paraassumirem papéis produtivos e criar empregospara eles no início de suas vi<strong>da</strong>s profissionais.O Relatório Econômico <strong>sobre</strong> a África de<strong>2011</strong>, elaborado pela Comissão Econômicapara a África <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e pelaUnião Africana, alerta os governos <strong>da</strong> ÁfricaSubsaariana, onde os índices de crescimentoeconômico se mantêm relativamentealtos, de que esse crescimento não vemcontribuindo para a criação de empregosnecessários. O relatório enfatiza a necessi<strong>da</strong>dede uma intervenção governamental maiseficaz visando à implementação de políticase programas de criação de empregos.Em Skopje, a socióloga AntoanelaPetkovska, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Ss. Cyril andMethodius, se preocupa com o efeito desmotivadorque afeta jovens que estu<strong>da</strong>m comafinco, sem a perspectiva de carreiras satisfatórias.“A juventude está muito pessimista comrelação ao futuro, especialmente em razãodo alto índice de desemprego”, explica. “Elesnão têm oportuni<strong>da</strong>des. Então, estão buscandomais o diploma que o conhecimento.”Ela espera que o governo ajude a integrar osjovens numa comuni<strong>da</strong>de intelectual europeiamais abrangente, que amplie seus conhecimentos,e espera que o governo aprimore osistema de ensino superior do país, incluindo apesquisa científica, para viabilizar os intercâmbiosuniversitários. “Eu sinto muitíssimo pormeus alunos porque são jovens inteligentesque precisam apenas de apoio para algumas desuas necessi<strong>da</strong>des”, diz ela. “Temos, realmente,possibili<strong>da</strong>des muito grandes.”Os reflexos do desenvolvimento econômicoe social <strong>sobre</strong> a juventude na Índia, com1,2 bilhão de indivíduos, têm atraído o interessede muitos demógrafos, porque o país estát“Você pode dizer não parao sexo, mas nunca paracontraceptivos” – é o quese lê em uma brochuraapresenta<strong>da</strong> por Ethel Phiri,ativista <strong>da</strong> AMODEFA deMaputo, Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>11


potencial para abastecer a economia por déca<strong>da</strong>s.Economistas de fora <strong>da</strong> Índia veem essefator – e a existência de um sistema democrático,capaz de realizar correções políticas – comoindicadores de que o forte crescimento econômicoindiano não sofrerá interrupção. MasChandramouli acrescenta um alerta. “Agora aquestão é como administrar a ‘bolha jovem’.Que tipo de capacitação <strong>da</strong>r a eles? Comotransformá-los em ativos?”, ele pondera.tJovens egípcios próximosao Tahrir Square,no Cairo©UNFPA/Matthew Casselem vias de suplantar a China que atualmenteconta uma população de 1,3 bilhão, como anação mais populosa do mundo em 2025; seutamanho afetará o perfil <strong>da</strong> população global.Na Índia, onde a taxa de fecundi<strong>da</strong>de, de2,5 filhos por mulher, ain<strong>da</strong> está bem acimado nível de reposição (de 2,1), há mais de 600milhões de pessoas na faixa de 24 anos oumenos. Funcionários do governo indiano têmexpressado sua confiança de que esse grandecontingente de jovens e crianças representaráum fator positivo para a economia nos anosque virão. Demógrafos e cientistas sociais, noentanto, estão céticos; eles questionam comoessa multidão de jovens estará pronta paralevar uma vi<strong>da</strong> produtiva em uma economiaca<strong>da</strong> vez mais complexa e sofistica<strong>da</strong>, quandomais de 48% <strong>da</strong>s crianças indianas são malnutri<strong>da</strong>s, somente 66% concluem o ensinobásico e metade ou menos realiza o ensinosecundário, de acordo com o relatório Situação<strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Infância de <strong>2011</strong> do UNICEF.C. Chandramouli, comissário-geral deRegistro e Censo <strong>da</strong> Índia, argumenta queain<strong>da</strong> há lugar para otimismo com relaçãoao crescimento industrial, porque a grandepopulação jovem com i<strong>da</strong>de para trabalhar temEntrar na força de trabalho, quandoos empregos escasseiamEmpregos seguros, que oferecem salários decentes,estão mais escassos atualmente em quasetodos os lugares, especialmente para jovens.A Organização Internacional doTrabalho (OIT) relatou, em 2010, que 81milhões dos 620 milhões de jovens economicamenteativos na faixa etária de 15 a 24anos em todo o mundo – ou 13% <strong>da</strong>quelafaixa etária – estavam desempregados noano anterior, em grande parte devido à crisefinanceira e econômica mundial.No pico <strong>da</strong> crise econômica, a taxa globalde desemprego entre jovens teve o maioraumento anual jamais visto – de 11,9 %para 13%, entre 2007 e 2009.Mulheres jovens têm tido maior dificul<strong>da</strong>deque jovens do sexo masculino paraencontrar emprego, acrescenta a OIT. Em2009, a taxa de desemprego entre jovens dosexo feminino chegou a 13,2%, em comparaçãocom a taxa de desemprego entre jovensdo sexo masculino, de 12,9%. A situação écrítica nos Estados Árabes e “só pode piorar àmedi<strong>da</strong> em que a crise econômica fechar atémesmo as poucas portas abertas para aquelesque procuram obter alguma ren<strong>da</strong> e satisfaçãoatravés do emprego”, a OIT declara, acres-12capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


centando que “há um grande desperdício depotencial produtivo entre mulheres jovens”.Mesmo nas melhores condições econômicas,mulheres jovens geralmente enfrentammaiores dificul<strong>da</strong>des em encontrar empregoque homens jovens. E quando encontram,frequentemente são vagas com salários maisbaixos e na economia informal, onde não hásegurança no emprego ou benefícios sociais.O desemprego entre os jovens e as situaçõesonde estes simplesmente desistem de procurartrabalho “acarretam custos para a economia,para a socie<strong>da</strong>de e para o indivíduo e suafamília”, alerta a OIT, acrescentando que “háum vínculo comprovado entre desemprego najuventude e exclusão social”. Jovens que nãoconseguem obter sua própria ren<strong>da</strong> têm de sermantidos por suas famílias – o que acarretamenor disponibili<strong>da</strong>de de recursos para gastose investimentos domésticos. As socie<strong>da</strong>desperdem seus investimentos em educação.Governos perdem em contribuições para sistemasprevidenciários. “Tudo isso é uma ameaçapara o crescimento potencial e desenvolvimento<strong>da</strong>s economias”, afirma a OIT. É imperativocriar oportuni<strong>da</strong>des de geração de ren<strong>da</strong>, porqueos jovens não são apenas geradores de ideiase de inovação, mas são também “a força motrizdo desenvolvimento econômico” de um país.“Renunciar a esse potencial é um desperdícioeconômico.” Em <strong>2011</strong>, em meio às revoluçõesnas ruas dos países árabes, a OIT observou queo índice de desemprego de 23,4% entre jovensno mundo árabe foi um dos principais fatoresque contribuíram para os levantes.“É difícil ser jovem em Moçambique”,afirma Rui Pedro Cossa, 24, estu<strong>da</strong>ntede geografia na Universi<strong>da</strong>de EduardoMondlane, em Maputo. “Normalmente, najuventude, espera-se que você adquira experiênciapara o futuro”, comenta. “Mas, aqui,você tem mais problemas que oportuni<strong>da</strong>des.Não há como superar os obstáculos.”Colega de Cossa, Fernan<strong>da</strong> PaolaManhique concor<strong>da</strong>, acrescentando queas perspectivas de emprego para os jovenssão “difíceis”.Por mais difícil que agora possa ser paraCossa e Manhique encontrar um empregoem sua área, futuramente a situação podese tornar ain<strong>da</strong> pior para os que procuramemprego sem educação superior.Os jovens tentam tomar a liderança naexpansão <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des em vários locais.Na Nigéria, em 2008, foi criado um cargoformal para jovens com o estabelecimento doParlamento Nacional Jovem, designado pelotFernan<strong>da</strong> Manhique,estu<strong>da</strong>nte de geografiana Universi<strong>da</strong>de EduardoMondlane, em Maputo,Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>13


governo federal para ensinar, através <strong>da</strong> participação,como as leis são escritas, orçamentossão planejados e políticas, traça<strong>da</strong>s. Commais de 100 membros, o Parlamento Jovem,que se reúne na capital, Abuja, no edifício <strong>da</strong>PARTICIPAÇÃO <strong>da</strong> juventude NA FORÇADE TRABALHO, POR REGIÃO E SEXO, EM 2010As taxas de participação na força de trabalho para mulheres jovens sãomais baixas que para os jovens do sexo masculino em to<strong>da</strong>s as regiões,com exceção do Leste Asiático. Isto é reflexo, principalmente, <strong>da</strong>s diferentestradições culturais e <strong>da</strong> falta de oportuni<strong>da</strong>des para as mulheres decombinar responsabili<strong>da</strong>des de trabalho com as de família – não apenasno mundo em desenvolvimento, mas também no mundo industrializado.Em muitas regiões, as diferenças de gênero nas taxas de participação dejovens diminuíram, no decorrer <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong>, mas se mantêm grandesno Sul Asiático, no Oriente Médio e no norte <strong>da</strong> África. Nesta últimaregião, o índice de participação feminina diminuiu mais rapi<strong>da</strong>mente que amasculina, de fato aumentando a distância entre os gêneros.Assembleia Nacional nigeriana, tem a tarefa deaprovar resoluções consultivas para a análisedo governo. Em seu primeiro ano, propôsvárias medi<strong>da</strong>s que, desde então, foram adota<strong>da</strong>sna esfera do governo federal, entre elas umplano nacional de emprego para jovens.Olalekan Azees-Iginla, coordenador<strong>da</strong> Rede Nacional Jovem de HIV/AIDS,População e Desenvolvimento do Estadode Lagos, já está trabalhando na questão doemprego. Ele esclarece que, até recentemente,os jovens não tinham tido contribuição significativana articulação de políticas e governança.Azees-Iginla mantém um registro de jovensqualificados que “querem aju<strong>da</strong>r a planejar ofuturo de que farão parte.” Sua meta é pedirao governador de Lagos, estado que é tambémci<strong>da</strong>de, a busca ou criação de até um milhãode empregos para jovens qualificados.% Total Masculino % Feminino %Mundo 50,9 58,9 42,4Economias Desenvolvi<strong>da</strong>s 50,2 52,6 47,7e União EuropeiaEuropa Central, Leste41,7 47,7 35,5Europeu (com exclusão <strong>da</strong>União Europeia) e a CEILeste Asiático 59,2 57,0 61,6Sudeste Asiático e51,3 59,1 43,3PacíficoSul Asiático 46,5 64,3 27,3América Latina e o Caribe 52,1 61,3 42,7Oriente Médio 36,3 50,3 21,5Norte <strong>da</strong> África 37,9 52,5 22,9África Subsaariana 57,5 62,7 52,2Fonte: Tendências Globais de Emprego para Jovens. Organização Internacional do TrabalhoMuitos jovens têm famílias menoresHoje, jovens de ambos os sexos – muitosdeles ain<strong>da</strong> na adolescência, nos países menosdesenvolvidos – reivindicam melhor ensino,bom atendimento à saúde e, basicamente,empregos para se manter e às suas famílias.Em vários países do Norte, os jovens estão secasando mais tarde e tendo menos filhos, ea mesma tendência vem surgindo, ain<strong>da</strong> quevagarosamente, em muitas nações em desenvolvimento.A tendência está liga<strong>da</strong> não apenasà melhoria do ensino e dos empregos, mastambém ao acesso irrestrito à saúde reprodutiva,inclusive ao uso de contraceptivos.A Etiópia é um país de baixa ren<strong>da</strong>: 39%de sua população de 82,9 milhões vive abaixo<strong>da</strong> linha internacional de pobreza, de 1,25 dólarpor dia, de acordo com o Banco <strong>Mundial</strong>.Quando se trata de opções relaciona<strong>da</strong>s à família,são as dificul<strong>da</strong>des – mais que expectativas14capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


tJovem mobilizador, OlalekanAzees-Iginla fala duranteentrevista no escritório doUNFPA em Lagos, Nigéria©UNFPA/Akintunde Akinleyecrescentes ou busca de melhores condiçõesde vi<strong>da</strong> – que podem estar influenciandonas decisões de mulheres e homens jovensurbanos. Assefa Hailemariam, ex-diretordo Centro de Estudos e Pesquisas emPopulação do Instituto de Estudos doDesenvolvimento <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de AdisAbeba, afirmou que a juventude urbanaestá provocando um rápido declínio <strong>da</strong>fecundi<strong>da</strong>de, e por razões econômicas.“A vi<strong>da</strong> urbana exige muito”, explicaHailemariam. “Não se pode contar coma família para cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s crianças. Não sepode ter filhos demais – educá-los e cui<strong>da</strong>rdeles. As populações urbanas tambémtêm acesso aos meios de comunicação esabem que um menor número de filhos émelhor para seu futuro – podem educá--los, vesti-los, e assim por diante.”Nacionalmente, a taxa de fecundi<strong>da</strong>deetíope será de 3,8 no quinquênio 2010-2015. Na capital Adis Abeba, esclareceHailemariam, a taxa caiu para abaixo de1,5. “Em 2000, era de aproxima<strong>da</strong>mente1,9; agora, espera-se que seja muito maisbaixa”, diz ele. “Isto não se deve apenas aouso de contraceptivos, embora esse fatortenha contribuído, mas há várias questõesde desenvolvimento – casamentos maistardios, educação, melhorias na saúde,acesso a contraceptivos.”Promoção do casamento tardioMuito jovem, Amsalu Buke, que levaplanejamento familiar a comuni<strong>da</strong>des periféricasetíopes onde o acesso é limitado, setornou uma arguta observadora <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>sA defesa econômica doinvestimento na juventudeA adolescência é um momento importante para a aquisição de capaci<strong>da</strong>des,saúde, estabelecimento de redes sociais e outros atributos queformam o capital social necessário para uma vi<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong>. O capitalhumano formado durante a adolescência e a juventude é também umimportante fator de crescimento de longo prazo, o que constitui forte argumentomacroeconômico para fun<strong>da</strong>mentar maior investimento nos jovens.Investimentos sociais na educação, saúde e emprego para os jovenspodem permitir aos países a construção de uma base econômica sóli<strong>da</strong>,dessa forma revertendo a pobreza intergeracional. Incrementar a capaci<strong>da</strong>dedos jovens pode gerar retornos maiores, durante o curso de suasvi<strong>da</strong>s economicamente ativas.Os jovens são também um enorme recurso para o crescimento nocurto prazo. A prevalência de jovens desocupados é custosa em termosde produção perdi<strong>da</strong>. A per<strong>da</strong> de receita entre as gerações mais novas setraduz em per<strong>da</strong>s de poupança e de deman<strong>da</strong> agrega<strong>da</strong>. – Trecho de TheCase for Investing in Young People as Part of a National Poverty ReductionStrategy (A Defesa do Investimento nos Jovens como parte de umaEstratégia Nacional de Redução <strong>da</strong> Pobreza), UNFPA, 2010.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>15


tAmsalu Buke e sua assistenteiniciam seu percurso paralevar planejamento familiara comuni<strong>da</strong>des periféricasetíopes©UNFPA/Antonio Fiorentede jovens adolescentes e meninas. Trabalhandohá quatro anos em seu posto no vilarejo deTare, ela conta que viu o casamento infantildeclinar. “Casavam-se aos 13 ou 14 anos,”acrescenta. “Agora, em função do trabalho deconvencimento feito por organizações femininaslocais, a prática está desaparecendo.”A Etiópia, país no qual metade <strong>da</strong>s jovensse casa até os 18 anos, é um dos vários paísesonde o casamento infantil – que, efetivamente,põe fim às chances de estudo de umamenina e pode destruir sua saúde ou <strong>da</strong>rfim à sua vi<strong>da</strong> – está sofrendo um declínio,de acordo com o UNFPA e o PopulationReference Bureau (Escritório de Referência emPopulação), organização de pesquisa independentenorte-americana. Mas na região deAmhara e em algumas outras partes do país, aprática se mantém como um problema persistentee continua a privar meninas e mulheresjovens de seus direitos, educação e saúde.Segundo a pesquisa Who Speaks for Me?Ending Child Marriage (Quem fala por Mim?Acabando os Casamentos Infantis), realiza<strong>da</strong>pelo Population Reference Bureau em <strong>2011</strong>,dos dez países com os maiores índices decasamento infantil, oito estão na África – ea Nigéria está no topo, com três quartos demeninas casa<strong>da</strong>s antes dos 18 anos. Os outrosdois países são o Nepal, onde 7% <strong>da</strong>s meninasestão casa<strong>da</strong>s aos 10 anos e 40%, aos 15, eBangladesh. Vários estados indianos tambémocupam posição eleva<strong>da</strong> com relação ao tema.Na Índia, o Centre for Health, Education,Training and Nutrition Awareness (Centrode Sensibilização para Saúde, Educação,Treinamento e Nutrição), organizaçãonão governamental com base no estado deGujarat, combate a anemia dissemina<strong>da</strong> entremeninas, que as enfraquece e contribui parauma estimativa anual de 6.000 óbitos nas gravidezesentre adolescentes, muitos em razão decasamentos precoces, segundo recente reportagemde Swapna Majum<strong>da</strong>r, <strong>da</strong> Women’s eNews.“O casamento infantil mina quase to<strong>da</strong>s asMetas de Desenvolvimento do Milênio; é umobstáculo para a erradicação <strong>da</strong> pobreza, para oalcance do ensino básico universal, para a pro-16capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


moção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de de gênero, para a melhoria<strong>da</strong> saúde materna e infantil e para a reduçãodo HIV e <strong>da</strong> AIDS,” afirma uma pesquisa doPopulation Reference Bureau. E acrescenta que,em razão de as meninas frequentemente seremcasa<strong>da</strong>s com homens mais velhos, que podemter tido numerosas parceiras sexuais, suas chancesde contrair infecções pelo HIV são maioresque as de meninas solteiras sexualmente ativas.Forçar uma criança ao casamento, porqualquer razão, é violação à Convenção<strong>sobre</strong> Eliminação de to<strong>da</strong>s as Formas deDiscriminação Contra as Mulheres e àConvenção <strong>sobre</strong> os Direitos <strong>da</strong> Criança.A desigual<strong>da</strong>de de gênero é uma causa subjacentedo casamento infantil, diz GayleNelson, especialista em gênero do UNFPA.“E, se esta questão não for trata<strong>da</strong>, seráimpossível erradicar-se esta ou outras práticasdiscriminatórias nocivas.”Em Moçambique, o equilíbrio de poderfavorável ao homem em uma relação seinclina ain<strong>da</strong> mais pelo casamento precoce.Ele também aniquila o direito <strong>da</strong> jovem dedeterminar seu próprio destino reprodutivoe frequentemente acarreta gravidezes precocese numerosas. O poder de decisão <strong>da</strong>jovem pode se diluir ain<strong>da</strong> mais no ambiente<strong>da</strong> poligamia que envolve cerca de umaem ca<strong>da</strong> quatro mulheres moçambicanas.Segundo estudo do Instituto Nacional deEstatística de Moçambique, mais <strong>da</strong> metade<strong>da</strong>s mulheres, entre 20 e 49 anos, afirmater sido casa<strong>da</strong> antes dos 18, e cerca de umaPAÍSES COM ALTAS TAXAS DE NASCIMENTOS ENTRE ADOLESCENTES SECONCENTRAM NA ÁFRICA SUBSAARIANA, NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE100+50 < 10020 < 50


tAmsalu Buke visitacomuni<strong>da</strong>de etíope©UNFPA/Antonio Fiorenteem cinco diz que o foi antes dos 15. EmMoçambique, como em muitos outros países,o casamento precoce é comum entre meninascom pouca ou nenhuma educação formal.O governo moçambicano vetou o casamentoantes dos 16 anos e, desde 2004, quandouma nova Lei de Família entrou em vigor, nãopode haver casamento antes dos 18 anos semo consentimento dos pais – consentimentoesse que é frequentemente concedido por paisansiosos por ver suas filhas casa<strong>da</strong>s tão logoquanto possível. Além disso, a execução dessalei é difícil, principalmente em áreas remotas, euma lei na<strong>da</strong> pode fazer para impedir meninasde iniciar uma relação fora do casamento. Cercade duas em ca<strong>da</strong> cinco mulheres casa<strong>da</strong>s ou emrelacionamentos estáveis estão envolvi<strong>da</strong>s comhomens mais velhos que elas 10 ou mais anos.Relatório do UNFPA e do PopulationCouncil (Conselho de População), de 2003,descreve a “consequência demográfica” docasamento infantil: diminuição do intervalointergeracional e crescimento populacional. “Apouca i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> noiva, frequentemente combina<strong>da</strong>com a i<strong>da</strong>de madura de seu parceiro,reforça os diferenciais de poder na relação”,aponta o relatório. “Sua pouca i<strong>da</strong>de é indicativade um nível de educação relativamentebaixo. Sua falta de conhecimento e qualificaçãopode levá-la a confiar mais no grandenúmero de filhos para garantir o casamento eobter segurança social no longo prazo.”Serviços integrados para jovens,pelos jovensNa Etiópia, onde a i<strong>da</strong>de mediana é de 18,7 anos,e metade <strong>da</strong> população tem entre 15 e 29 anos,jovens são vistos em to<strong>da</strong> parte aju<strong>da</strong>ndo a conduziruma varie<strong>da</strong>de de programas para a juventude.Em Addis Abeba, há 56 clubes ou centros para ajuventude e outros 50 em construção, com umleque de programas governamentais que contamcom o apoio do UNFPA e do UNICEF, entreoutros. Em um movimentado clube para jovens,Dawit Yitagesu, do Escritório de Prevenção eControle do HIV/AIDS <strong>da</strong>quele país, enumerouos serviços que podem ser encontrados nessescentros e que incluem testagem e aconselhamento<strong>sobre</strong> HIV, serviços de saúde reprodutiva, programasde emprego e ren<strong>da</strong> e treinamento emnegócios e auxílio de crédito e poupança. Umcentro maior oferece também uma biblioteca bemequipa<strong>da</strong>, cheia de jovens lendo em silêncio, longede lares onde estu<strong>da</strong>r é difícil.A presença de meninos domina os clubesde jovens, e seu número suplanta em muito o<strong>da</strong>s meninas nas ativi<strong>da</strong>des do centro. Assim,vêm sendo desenvolvidos programas paraatraí-las, inclusive as jovens trabalhadorasdomésticas que, isola<strong>da</strong>s e confina<strong>da</strong>s em seutrabalho nas casas de estranhos por longashoras, raramente têm tempo de procuraraju<strong>da</strong> e aconselhamento. Os centros para ajuventude as atraem por meio de sessões de18capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


habili<strong>da</strong>des de vi<strong>da</strong> e grupos de discussão.Não há centro <strong>da</strong> juventude ondeAmsalu Buke, a trabalhadora <strong>da</strong> saúde etíope,faz sua ron<strong>da</strong> nas cercanias de DebreTseige, a sudeste <strong>da</strong> capital. Mas sua presençajovem e anima<strong>da</strong> facilita sua abor<strong>da</strong>gem pelasjovens com questões <strong>sobre</strong> saúde reprodutiva,assim como pelas mais velhas que procuramcontraceptivos. Ou por qualquer pessoa quenecessite de algo para curar de um distúrbioestomacal a uma diarreia ou dor de cabeça.Ela também vacina o povo do vilarejo,registrando meticulosamente, em seu mapacaseiro, ca<strong>da</strong> inoculação feita para prevenirmeningite, tétano, poliomielite e tuberculose.O posto de saúde de Tare Giorgis, base deAmsalu, não conta com água corrente ou energiaelétrica. As vacinas são armazena<strong>da</strong>s em umpequeno refrigerador alimentado por geradorque foi <strong>da</strong>do a ela pelo UNICEF, em uma salaaperta<strong>da</strong> <strong>da</strong> clínica de três salas, construí<strong>da</strong>com tijolos de adobe. Na sala principal, mal háespaço para uma escrivaninha e poucas cadeiras.Ao lado fica a materni<strong>da</strong>de, com espaçoapenas suficiente para uma maca equipa<strong>da</strong> parapartos e uma mesinha lateral de apoio parabacias e instrumentos médicos básicos. Amsalutambém faz partos em casa, e vai a pé, a cavaloou burro às residências – exceto quando temsorte o bastante para conseguir uma carona emum veículo que esteja passando, quando elachega a uma rodovia.Amsalu Buke é uma <strong>da</strong>s mais de 37.000agentes de saúde aloca<strong>da</strong>s nos últimos anos emtodo o país, segundo Fisseha Mekonnen, diretorexecutivo <strong>da</strong> Family Gui<strong>da</strong>nce Associationof Ethiopia (Associação de Orientação Familiar<strong>da</strong> Etiópia), organização que trabalha juntoao governo na melhoria <strong>da</strong> saúde e expansãodo acesso ao planejamento familiar nas áreasrurais, bem como serviços de enfermagem nasci<strong>da</strong>des. O contingente de agentes de saúde,muitos deles bastante jovens, é visto comomodelo básico para outras nações em desenvolvimentocom escassa cobertura de saúde; étambém modelo por oferecer aos jovens umpapel e um ponto de referência em programasnacionais que interessam a to<strong>da</strong>s e todos, independentemente<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de.Em alguns postos de saúde básica, informaFisseha, estão instalados aparelhos de DVDalimentados por energia solar, com vídeos quetratam de várias questões de saúde, nutriçãoe de estilo de vi<strong>da</strong>. “Os DVDs estão ali paraserem exibidos quando os pacientes chegam,”diz ele. “A comuni<strong>da</strong>de é proprietária dosistema, e a socie<strong>da</strong>de civil tem o privilégiode utilizá-lo.” Ain<strong>da</strong> não há um aparelho deDVD em seu posto de saúde em Debre Tseige,mas Amsalu colocou em posição proeminenteem sua escrivaninha o desenho de uma mulherrecebendo uma injeção contraceptiva, métodomuito praticado na África Subsaariana."A pouca i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> noiva,frequentemente combina<strong>da</strong> com ai<strong>da</strong>de madura de seu parceiro, reforçaos diferenciais de poder na relação."Amsalu, que conta com uma jovem assistentepara ajudá-la a manter os registros e fazeras ron<strong>da</strong>s nos vilarejos, tem apenas o ensinosecundário e um ano de treinamento básicoem saúde, incluindo instruções necessáriaspara tornar-se parteira. Sua ren<strong>da</strong> mensal é de570 birr etíopes (cerca de 34 dólares).Fisseha diz que há planos para melhorar aformação e treinamento de agentes <strong>da</strong> saúde,no mínimo elevando-os para o nível paramédi-RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>19


tEster Cabele, enfermeira<strong>da</strong> AMODEFA em Maputo,Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> Bandeiraco. Enquanto isso, diz ele, “Sentimos que elesestão fazendo o melhor que seu nível permite.”Eles sabem quando aju<strong>da</strong> mais especializa<strong>da</strong>é necessária, e se espera que encaminhem ospacientes para os hospitais ao primeiro sinal dedoença grave. Amsalu, que ficou responsávelpor seu posto de saúde por quatro anos, temsorte de contar com um hospital a menos de 8quilômetros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de mais próxima, mas essadistância pode parecer muito longa quandonão há ambulâncias ou mesmo um táxi sofrívelpara chamar em uma emergência. Atualmente,quase metade <strong>da</strong> população de Moçambiquetem 24 anos ou menos.Os jovens têm potencial para trazermu<strong>da</strong>nças positivas em qualquer país e contribuirpara a vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> economia. Mas,em Moçambique, os jovens frequentementeestão entre os temas mais desafiadores devidoàs duras condições econômicas, educacionaise de saúde, afirma Emidio Sebastião Cuna,membro <strong>da</strong> equipe do UNFPA-Moçambiqueque supervisiona o Geração Biz (no sentido degeração ocupa<strong>da</strong>), programa de governo quevisa a reduzir a incidência <strong>da</strong> gravidez precocee prevenir o HIV e outras doenças sexualmentetransmissíveis entre adolescentes. Trêsministérios e organizações não governamentaisnacionais implementam o programa queconta com o suporte técnico <strong>da</strong> organizaçãoPathfinder International e do UNFPA; estetambém fornece suporte financeiro conjuntamentecom a Dinamarca, Noruega e Suécia.Através do Geração Biz, os Ministérios<strong>da</strong> Saúde, Educação e Juventude e Esportesfornecem conjuntamente serviços de atendimentoà saúde sexual e reprodutiva voltadospara a juventude, campanhas de informação<strong>sobre</strong> contracepção e prevenção do HIV nasescolas e informação de base comunitária paraalcançar jovens que estejam fora <strong>da</strong> escola.A necessi<strong>da</strong>de de serviços focados nosjovens se intensificou depois <strong>da</strong> guerra civil nopaís, quando milhares de jovens desempregadoslotaram as ci<strong>da</strong>des procurando oportuni<strong>da</strong>desde ganhar a vi<strong>da</strong>. Mas os empregos estavamescassos em razão do enfraquecimento <strong>da</strong> economia,e os serviços sociais não conseguiam <strong>da</strong>rconta <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>. Um dos resultados dessaon<strong>da</strong> de migração <strong>da</strong> área rural para os centrosurbanos foi um grande número de jovens sexualmenteativos com pouco ou nenhum acessoà informação <strong>sobre</strong> sexo, gravidez ou riscos dedoenças sexualmente transmissíveis.“Tradicionalmente, é tabu discutirsaúde sexual com adolescentes”, afirmaJulião Matsinhe, consultor do UNFPA emMoçambique. “Em nenhuma área a falta deinformação <strong>sobre</strong> saúde sexual e reprodutivaresultou mais catastrófica que no contextodo HIV/AIDS.” O HIV hoje afeta 11,5%<strong>da</strong> população entre 15 e 49 anos do país.Com uma rede de 5.000 parceiros consultores,o Geração Biz vence tabus porque20capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


ompe a barreira do silêncio e fornece informaçõese serviços de forma neutra e sigilosapara a juventude moçambicana.Yolan<strong>da</strong>, 24, procurou a regional deMaputo <strong>da</strong> Associação Moçambicana para oDesenvolvimento <strong>da</strong> Família – AMODEFA– para um check-up durante sua primeiragravidez. A AMODEFA é uma <strong>da</strong>s organizaçõesnão governamentais que implementamo programa Geração Biz e oferecem atendimentogratuito a qualquer pessoa com i<strong>da</strong>deaté 24 anos. Yolan<strong>da</strong> começou a frequentara AMODEFA há vários anos, em busca deinformações <strong>sobre</strong> contraceptivos e prevençãodo HIV. “Aqui é mais fácil falar <strong>sobre</strong> essesassuntos difíceis, como HIV. É mais fácilaqui do que em casa.”Ester Cabele, prestadora de serviços naAMODEFA, afirma atender mensalmentecerca de 120 novos clientes – quase to<strong>da</strong>smulheres – em busca de contraceptivos. Elaoferece a ca<strong>da</strong> pessoa um teste gratuito de HIV;somente em abril de <strong>2011</strong>, seis apresentaramresultado positivo. Cabele informa que oatendimento <strong>da</strong> AMODEFA é mais popularque aquele oferecido em centros de saúde dogoverno por ser menos lotado, dispor de equipetreina<strong>da</strong> para o trabalho com jovens e oferecerconsultoria e atendimento em ambiente seguro.Sem o atendimento <strong>da</strong> AMODEFA, Cabeleafirma que mais jovens teriam gravidezes nãoplaneja<strong>da</strong>s ou infecções por HIV e terminariamsaindo <strong>da</strong> escola, prejudicando seu futuro.Na Coalisão, outra organização nãogovernamental que implementa o programaGeração Biz, Maria Feliciana, 26, coordena adivulgação de informações <strong>sobre</strong> saúde sexuale reprodutiva, mas também <strong>sobre</strong> habili<strong>da</strong>desde vi<strong>da</strong> e geração de ren<strong>da</strong>. Em sua opinião,as mulheres engravi<strong>da</strong>m porque lhes faltaminformações <strong>sobre</strong> contracepção ou porquenão estão prepara<strong>da</strong>s para negociar com seusparceiros <strong>sobre</strong> o uso de preservativos. “É difícilporque, nesta cultura, to<strong>da</strong> iniciativa sexualtem de partir do homem. Quando a mulherdiz a seu parceiro que quer que ele use preservativo,ele suspeita que ela é HIV-positiva.”No Núcleo de Malavane, outra organizaçãoimplementadora do Geração Biz, JossiasChitive, 28, conduz campanhas de informaçãode porta em porta <strong>sobre</strong> prevenção do HIV. Osjovens que encontra “não gostam de falar <strong>sobre</strong>preservativos”, mas ele nota que o dispensadorde preservativos gratuitos, mantido na organização,precisa ser reabastecido to<strong>da</strong> manhã.Fazer com que moços e moças falem<strong>sobre</strong> sexo ain<strong>da</strong> é um desafio, a despeito <strong>da</strong>abundância de informação e serviços quelhes são oferecidos atualmente, diz FeniusMatsinhe, jovem consultor do Centro deSaúde de Boane, a meio caminho entreMaputo e a fronteira com a Suazilândia.“Tanto os jovens como as jovens enfrentamdificul<strong>da</strong>des para se abrirem uns com osoutros,” afirma. Ain<strong>da</strong> assim, a experiênciatJossias Chitive, ativistade HIV, supervisor deativi<strong>da</strong>des e estu<strong>da</strong>nte<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de EduardoMondlane©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>21


com o programa Geração Biz mostra queatitudes e comportamentos podem mu<strong>da</strong>r, àmedi<strong>da</strong> que as pessoas se tornam mais informa<strong>da</strong>s<strong>sobre</strong> suas escolhas e direitos.Educação <strong>sobre</strong> sexuali<strong>da</strong>de informandoe empoderando a juventudeMilhões de jovens sonham ter vi<strong>da</strong>s gratificantes,felizes e seguras. Ain<strong>da</strong> assim, agrande maioria deles recebe pouca informaçãoconfiável relativa a sexo, à sexuali<strong>da</strong>de ou aogênero. As consequências são bem conheci<strong>da</strong>s:sem acesso à educação sexual e aos serviçosde saúde sexual e reprodutiva abrangentes, osjovens – especialmente as mulheres jovens –são mais vulneráveis a se deixar intimi<strong>da</strong>r pelosproblemas de saúde sexual e reprodutiva. Aopinião foi compartilha<strong>da</strong> por 80 especialistasque participaram <strong>da</strong> Consulta Global <strong>sobre</strong>Educação <strong>da</strong> Sexuali<strong>da</strong>de realiza<strong>da</strong> em Bogotá,na Colômbia, em dezembro de 2010.A educação sexual contribui para a promoção<strong>da</strong> saúde, para a prevenção de doençassexualmente transmissíveis, inclusive o HIV, epara evitar gravidezes indeseja<strong>da</strong>s entre jovens,mas também promove normas de equi<strong>da</strong>deentre gêneros e o empoderamento <strong>da</strong>s jovens,afirma Mona Kaidbey, diretora interina <strong>da</strong>Divisão Técnica do UNFPA que supervisionaas iniciativas para jovens deste organismo e foiuma <strong>da</strong>s organizadoras do evento de Bogotá.“Ain<strong>da</strong> há muitíssimos jovens que nãotêm acesso à educação sexual.”Programas de educação em sexuali<strong>da</strong>deque tratam de gênero e poder nas relações sãomais efetivos na redução de comportamentosde risco, afirma Kaidbey, citando, comoexemplo, o Programa H, iniciativa brasileiraque trabalha com jovens do sexo masculinovisando a colocar em discussão atitudes epráticas de desigual<strong>da</strong>des de gênero. Umaavaliação do programa demonstrou que oscomportamentos de risco – e a incidência dedoenças sexualmente transmissíveis – diminuíramentre os jovens participantes.O direito à educação em sexuali<strong>da</strong>deabrangente e não discriminatória sefun<strong>da</strong>menta no Programa de Ação <strong>da</strong>Conferência Internacional <strong>sobre</strong> Populaçãoe Desenvolvimento e em várias convençõesinternacionais, esclarece Kaidbey, “masain<strong>da</strong> há muitíssimos jovens que não têmacesso a programas de educação sexual”.“É fato que a maior parte dos jovens nãotem acesso à informação adequa<strong>da</strong> <strong>sobre</strong>sexuali<strong>da</strong>de e não sabe como se proteger dedoenças sexualmente transmissíveis, inclusiveo HIV, ou gravidez indeseja<strong>da</strong>,” ela aponta.Os formuladores de políticas públicas elíderes comunitários frequentemente evitampromover a educação sexual porque nãodesejam provocar controvérsias, acrescenta.Outro obstáculo à educação sexual tem sido asdeficiências dos sistemas de ensino. “Os currículosescolares são engessados, os professores,na maioria <strong>da</strong>s vezes, estão <strong>sobre</strong>carregadose são mal remunerados, os financiamentospara treinamento e materiais são limitados, eos incentivos para se tratar de um novo – e,muitas vezes, sensível – tópico são poucos.Com cortes nas despesas na área social, temsido difícil encontrar os recursos financeirosnecessários para o treinamento de professores eo estabelecimento de metodologias eficazes.”A sustentabili<strong>da</strong>de dos programas é outrodesafio. Mu<strong>da</strong>nças de governo podem afetaras políticas dos Ministérios <strong>da</strong> Educação.“O ambiente político frequentemente não22capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


oferece respaldo à ampliação <strong>da</strong> escala <strong>da</strong>educação sexual; quando não há políticasnacionais em vigor e compromisso nos níveismais altos, haverá ministros que <strong>da</strong>rão ênfaseà educação sexual enquanto outros, não.”As pesquisas já demonstraram que a educaçãosexual é eficaz para além <strong>da</strong> prevençãode comportamentos de alto risco. Quandocentra<strong>da</strong> nas questões de gênero e basea<strong>da</strong>nos direitos humanos, ela pode aprimorar obem-estar geral dos jovens. “Agora dispomosde uma nova geração de programas que sãopromissores, porque se baseiam em pesquisae avaliação que claramente demonstramimpacto positivo,” afirma Kaidbey.Mas, <strong>da</strong> mesma forma que a introdução<strong>da</strong> educação sexual no currículo escolar éimportante, o desenvolvimento de programaspara jovens que estão fora <strong>da</strong> escola tambémé fun<strong>da</strong>mental, inclusive para jovens casa<strong>da</strong>s,migrantes ou jovens que vivem em áreas deconflito ou remotas. Os programas precisamtratar <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de e complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>svi<strong>da</strong>s dos jovens. “Programas de educação emsexuali<strong>da</strong>de devem ser conduzidos em diversoscenários – indo até onde os jovens estão.”cação cívica e a construção de capaci<strong>da</strong>des queempoderem os jovens para ‘ocupar o assento domotorista’ e dirigir seus destinos”.Na periferia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de egípcia de Ismaília,no Canal de Suez, um jovem adolescente refletiua excitação de sua geração e sua esperançana construção de influência política, após asrecentes mu<strong>da</strong>nças no país: “Nós fizemos estarevolução. Nossas famílias estavam acostuma<strong>da</strong>sa ficar de boca cala<strong>da</strong>. Nós não ficamoscalados. Fomos lá e agarramos nosso sonho.”Ele se juntou a um grupo de jovens politicamenteativos, entre adolescentes e jovens nafaixa dos 20 anos, que têm planos de ampliar aatenção às questões e priori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> juventude.O grupo, patrocinado pelo governo e peloUNFPA através de parcerias com a Y-Peer,rede de organizações de jovens que promovemestilos de vi<strong>da</strong> saudáveis para a juventude, éuma <strong>da</strong>s numerosas redes similares presentesem outros Estados Árabes, Leste Europeu, ÁsiaCentral e Leste <strong>da</strong> África. Em Ismaília, ela ofereceaos jovens um raro local de encontro ondeaprendem e falam abertamente <strong>sobre</strong> saúdetDa esquer<strong>da</strong> paraa direita: Sharouq,Mona e Hossam seencaminham para umconcerto no Cairo©UNFPA/Matthew CasselJuventude no “assento do motorista”Na Nigéria, onde a i<strong>da</strong>de mediana é de 18,5anos e mais <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> população nacionalestá na faixa etária de até 24 anos, os jovens têmampliado sua participação na vi<strong>da</strong> política, paraque suas vozes sejam ouvi<strong>da</strong>s e sua presença sejavisível – e não apenas no Parlamento Jovemdo país. O movimento de registro e motivaçãopara o voto conduzido por Fauziya Abdullahie seus colegas para as eleições de <strong>2011</strong> vemtendo continui<strong>da</strong>de como campanha de consciênciacívica. Abdullahi aponta que as eleiçõesdemonstraram “a necessi<strong>da</strong>de de intensa edu-RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>23


eprodutiva e mu<strong>da</strong>nças corporais. “Agora, ummonte de gente jovem quer saber mais <strong>sobre</strong>política que <strong>sobre</strong> saúde,”, comenta HebaMohammed Ahmed. Mas, acrescenta, eles tambémdevem continuar focados na saúde comoparte <strong>da</strong> segurança humana e dos direitos humanos– e também <strong>sobre</strong> o direito <strong>da</strong>s mulheres departicipar de debates <strong>sobre</strong> a Constituição.Embora a grande presença jovem nasmanifestações de rua nos Estados Árabestenha recebido muito <strong>da</strong> atenção <strong>da</strong> mídiaem <strong>2011</strong>, o poder dos jovens que não estãoem evidência, empregando sua força numéricae sua visão <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des que desejam,pode, a longo prazo, mu<strong>da</strong>r o mundo demaneiras ain<strong>da</strong> mais fun<strong>da</strong>mentais.Quando um vendedor de rua de 26 anos,na Tunísia, ateou fogo em seu próprio corpoem um ato de desespero, ele também acendeuuma chama de protesto que sacudiu to<strong>da</strong>a região árabe. O envolvimento dos jovensna “Primavera Árabe” foi sem precedentes.Utilizando plataformas de mídia social taiscomo o Facebook e Twitter, os protestos dejovens contra a violação de direitos humanos,o desemprego e a situação vigente se alastrarampor to<strong>da</strong> a região. Da Tunísia ao Egito, suasvozes se fizeram ouvir em todo o mundo. “Ajuventude dos Estados Árabes tem tido umincrível senso de responsabili<strong>da</strong>de e, consequentemente,renovou a ideia <strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de dosdireitos humanos,” afirma Mona Kaidbey, diretorainterina <strong>da</strong> Divisão Técnica do UNFPA.Os jovens dos Estados Árabes constituemcerca de um terço <strong>da</strong> população <strong>da</strong>região, ain<strong>da</strong> que sejam frequentementeexcluídos <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de decisões em função<strong>da</strong> ausência de ensino, alto desemprego epobreza. À medi<strong>da</strong> que a juventude tomouas ruas, e os regimes políticos <strong>da</strong> Tunísiae do Egito entraram em colapso, muitosgovernos e organizações tiveram de repensarseu compromisso com os jovens.Com apoio do UNFPA, a rede Y-Peer,ativa na região há vários anos, se tornou ummeio ain<strong>da</strong> mais importante para conectarpessoas e aumentar a consciência <strong>sobre</strong> osdesafios <strong>da</strong> saúde reprodutiva, especialmenteem tempos de crise. Através de sua rede dejovens educadores na Líbia, por exemplo, oUNFPA foi capaz de conduzir uma avaliaçãovirtual para entender a evolução <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>dese aspirações dos jovens no auge doconflito. Jovens líderes reuniram as respostasIDADE MEDIANA DA POPULAÇÃO TOTAL (EM ANOS)PaísMundo50250China 1EgitoEtiópiaFinlândia 2 ÍndiaMéxico Moçambique Nigéria ARIM 31. Para fins estatísticos, os <strong>da</strong>dos referentes à China não incluem Hong Kong e Macau, Regiões Administrativas Especiais (SAR, na sigla em inglês) <strong>da</strong> China.2. Inclusive Ilhas Aland.3. Antiga República Iugoslava <strong>da</strong> MacedôniaFonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 201024capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


Educação sexual para adolescentes tem importância:a experiência <strong>da</strong> FinlândiaDan Apter, médico, chefe e diretor <strong>da</strong>clínica de saúde sexual de Väestöliitto,a organização não governamentalFederação <strong>da</strong> Família <strong>da</strong> Finlândia, líderna área social e de saúde, conta que frequentementedá início a conferências<strong>sobre</strong> a história <strong>da</strong> saúde reprodutivade seu país com “um pouquinho deHistória.” No final <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra<strong>Mundial</strong>,” continua, a Finlândia era“somente um pequeno país que sofriadepois <strong>da</strong> guerra, apresentando níveisde contracepção muito baixos; eracomum encontrar doenças sexualmentetransmissíveis e mulheres morrendopor abortamento.”O que transformou a Finlândia emmodelo de saúde e educação reprodutiva,seis déca<strong>da</strong>s mais tarde, foi atoma<strong>da</strong> esclareci<strong>da</strong> de decisões políticas,a integração <strong>da</strong> saúde reprodutivacom a educação em geral e o foco dosserviços de saúde na saúde sexual,continua ele. A Väestöliitto teve seupapel nesses acontecimentos.“Em 1970, a educação sexual tornou-sematéria escolar obrigatória,”conta Apter. “Tínhamos uma lei deabortos, também de 1970, que permitiao abortamento, na época, por razõessociais ou por qualquer razão que amulher quisesse apresentar, e tornavao aconselhamento contraceptivo parteobrigatória do procedimento do aborto.”Depois de mu<strong>da</strong>nças nas leis desaúde pública, em 1972, aos municípiosfoi exigido fornecer aconselhamentocontraceptivo gratuitamente, e os abortose nascimentos entraram em umlongo período de declínio. “Em meadosdos anos 90, sob uma perspectivainternacional, o índice de abortamentosera muito baixo na Finlândia – cerca de10 em ca<strong>da</strong> 1.000 [gravidezes], entremoças de 15 a 19 anos”, esclarece. “Deforma que isto pode ser visto comoresultado tanto dos serviços como <strong>da</strong>educação sexual.”Houve algum retrocesso emmeados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, porém,à medi<strong>da</strong> que a descentralização doatendimento à saúde (sendo quealguns municípios eram pequenosdemais para oferecer o leque ideal deserviços) e os cortes nos orçamentos<strong>da</strong> saúde, em função de uma crise econômica,levaram à decisão de tornara educação sexual opcional nas escolas.Estudos realizados no final <strong>da</strong>queladéca<strong>da</strong> começaram a confirmar que oresultado foi “uma clara deterioraçãona educação sexual nas escolas, tantoem quali<strong>da</strong>de como em quanti<strong>da</strong>de,”aponta Apter. Foi uma poderosa lição.“Observamos um aumento de 50%no número de abortamentos,” continua.“Vimos um aumento no númerode intercursos muito precoces — deadolescentes na faixa de 14 ou 15 anos.Houve uma diminuição no uso decontraceptivos.” Mais doenças sexualmentetransmissíveis, especialmentea clamídia, foram detecta<strong>da</strong>s. “Então,alguma coisa tinha de ser feita novamente,”comenta Apter. “Mesmo ospolíticos finlandeses compreenderamque a educação sexual forneci<strong>da</strong> nasescolas era realmente muito ruim.”Em 2006, um currículo nacional deeducação sexual e saúde, inclusive comênfase em vi<strong>da</strong> saudável em geral, foicriado e se tornou obrigatório. As aulascomeçaram a ser <strong>da</strong><strong>da</strong>s no sétimo ano,por educadores ou professores especialistas,treinados para acrescentaristo às suas atribuições normais.“Há um exame <strong>sobre</strong> a matéria,como acontece quanto a qualqueroutra matéria escolar,” informa Apter.“E ela tem continui<strong>da</strong>de no ensinosecundário, onde é obrigatória paraa formatura.” As preocupantes estatísticasde 1990 foram rapi<strong>da</strong>mentereverti<strong>da</strong>s, acrescenta. “Diminuíramos intercursos precoces. Aumentou ouso de contraceptivos e houve grandediminuição no número de abortamentose partos entre adolescentes.”Além <strong>da</strong> educação sexual, foram introduzidosserviços de saúde reprodutivanas escolas, voltados para adolescentes.“Enfermeiras escolares podem forneceros primeiros três meses de contraceptivos,”esclarece Apter. Espera-se queas clínicas de saúde pública tenham umposicionamento de abertura aos jovens.Uma vez que uma lei de 1970 tornouo aborto prerrogativa única <strong>da</strong> mulher,continua, “se uma jovem muito novapedir um abortamento, é recomen<strong>da</strong>doque ela envolva os pais, mas isto édecisão dela. Pouquíssimas meninas commenos de 15 anos têm filhos na Finlândia.Dentre os países nórdicos, a Finlândiatem o mais baixo número de gravidezesna adolescência”.Quando os pais questionam, inclusivealguns dentre as novas populações deimigrantes com diferentes visões <strong>sobre</strong>comportamento e educação sexual, elesnão podem impedir que as filhas assistama essas aulas, complementa Apter,embora, em algumas escolas ondeexistem questões culturais, meninos emeninas possam ser separados. “Mas,basicamente, é uma matéria obrigatória.”Para cerca de 114 horas volta<strong>da</strong>s paracursos em saúde até o nono ano, os alunostêm 20 horas de educação sexual.“Em razão de a educação sexual ser ofereci<strong>da</strong>a uma i<strong>da</strong>de precoce,” diz ele, “nãohá necessi<strong>da</strong>de de experimentação.”26capítulo 2: Juventude: um novo poder global reconfigura o mundo


e aos jovens que vivem na pobreza e em situaçõesde vulnerabili<strong>da</strong>de...,” e “aumentar aquali<strong>da</strong>de e relevância do currículo escolar...,no sentido de um abrangente desenvolvimentode jovens que inclua: educação intercultural,cívica e <strong>da</strong> paz, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, ensino de direitoshumanos, educação para o desenvolvimentosustentável, educação abrangente <strong>sobre</strong> sexuali<strong>da</strong>dehumana, promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de degênero e empoderamento <strong>da</strong>s mulheres”.Os governos, declararam eles, tambémdevem “estabelecer políticas públicas quegarantam o acesso dos jovens à saúde semqualquer discriminação e aumentem a quali<strong>da</strong>dee a cobertura de sistemas de saúde eatendimento à saúde, inclusive no campo <strong>da</strong>saúde sexual e reprodutiva”; e tomar açõespara cessar e reverter a disseminação <strong>da</strong> AIDS,do HIV e de outras doenças entre os jovens.Em separado do Fórum GovernamentalGlobal, um grupo de mais de 200 jovensprovenientes de 153 países participou deuma reunião de organizações não governamentaise redigiu seu próprio documentoindependente. Em sua declaração, conclamarampor mais espaço na política eparticipação cívica de modo geral, bem comopor papéis significativos no desenvolvimentode tecnologias verdes e mitigação <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas. “Para nossa geração, a açãoefetiva contra mu<strong>da</strong>nças climáticas é questãode <strong>sobre</strong>vivência”, escreveram.Esses jovens também exigiram que os governos“desenvolvam estratégias e implementemações contra qualquer manifestação de práticasculturais que violem os direitos humanos básicosde pessoas ou grupos, independentementede sua posição sociocultural ou econômica,identi<strong>da</strong>des de gênero, orientação sexual, capaci<strong>da</strong>des,antecedentes religiosos ou geográficos.”A despeito <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de visões observa<strong>da</strong>nos trabalhos oficiais e não oficiais, umponto ficou claro para todos: a geração atualde jovens está posiciona<strong>da</strong> para mu<strong>da</strong>r omundo de maneira fun<strong>da</strong>mental. Os governosestarão mais bem servidos se cultivareme valorizarem seu potencial, ao invés de desperdiçaremas oportuni<strong>da</strong>des que ela tem aoferecer para o desenvolvimento.JUVENTUDETrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento... Um grande número de países em desenvolvimento continua a terproporções muito eleva<strong>da</strong>s de crianças e jovens em suas populações...Os países devem ter como alvo o atendimento às necessi<strong>da</strong>des e aspirações<strong>da</strong> juventude, particularmente nas áreas de ensino formal e nãoformal, treinamento, oportuni<strong>da</strong>des de emprego, habitação e saúde,assegurando assim sua integração e participação em to<strong>da</strong>s as esferas<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, inclusive a participação no processo político e no preparopara papéis de liderança... Os jovens devem estar ativamente envolvidosno planejamento, na implementação e na avaliação de ativi<strong>da</strong>desde desenvolvimento que têm impacto direto em suas vi<strong>da</strong>s diárias.tLeo Romero planejaestu<strong>da</strong>r arteculinária no México©UNFPA/RicardoRamirez ArriolaRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 27


28 capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


capítulotrêsSegurança, podereconômico e independênciano envelhecimentoQualquer representação que se faça do envelhecimento em um mundo de 7 bilhõesterá de ser necessariamente caleidoscópica – para refletir os vários imperativos culturais,fatores sociais, níveis de desenvolvimento e disponibili<strong>da</strong>de de recursos quedefinem um país ou uma socie<strong>da</strong>de. Em uma manhã de primavera em Xi’an, naprovíncia chinesa de Shaanxi, o ar se enche de música em um imenso condomíniode apartamentos de classe média, parceria do governo provincial com o setor privadotHabitantes idosospasseiam nasproximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>antiga muralha <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de de Xi’an,China©UNFPA/Guo Tieliuvolta<strong>da</strong> para tornar a vi<strong>da</strong> agradável e saudável paraseus ci<strong>da</strong>dãos mais velhos. Em um Centro paraIdosos, um coral ensaia o repertório acompanhadopor um morador que toca acordeão. Fora, em umaespaçosa praça, distante do ruído <strong>da</strong>s ruas movimenta<strong>da</strong>s,exercícios matinais – tai chi com umpouco de <strong>da</strong>nça moderna e aeróbica – são executadosao som de músicas tradicionais que vêm de umrádio gravador com tocador de CDs. Os oficiais doUNFPA que trabalham na China consideram que,em comparação com muitas outras províncias,Shaanxi ocupa posição de vanguar<strong>da</strong> pelo trabalhoque realiza com a população <strong>da</strong> terceira i<strong>da</strong>de.Em outro local <strong>da</strong> China, do outro lado<strong>da</strong> divisão social entre rural e urbano, onde avi<strong>da</strong> é muito mais dura, idosas ain<strong>da</strong> trabalhamlongas horas nos campos e fazen<strong>da</strong>s. Istoreflete o aumento <strong>da</strong> dispari<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong>,observado em alguns dos países de mais rápidodesenvolvimento.Em numerosas ci<strong>da</strong>des agrícolas chinesas,podem-se ver grandes casas novas, construí<strong>da</strong>scom os ganhos de membros <strong>da</strong>s famílias quemigraram para ci<strong>da</strong>des distantes em busca detrabalho. Mas muitas vezes essas casas parecemser habita<strong>da</strong>s por fantasmas, de tão vazias. Elassão um marco constante nos vilarejos em quea migração de jovens se dá em grande escala,dividindo as tradicionais famílias intergeracionaise deixando para trás “ninhos vazios”. Emoutros lares, avós se ocupam <strong>da</strong> criação dosnetos deixados com eles por famílias inteirasque migram para trabalhar.Na outra metade do mundo, na Finlândia, aequipe de um centro de última geração para idososabre espaço para um baile animado por umaban<strong>da</strong> que apresenta antigos sucessos musicaisfinlandeses: seus frequentadores têm sau<strong>da</strong>desdos dias <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de. Por to<strong>da</strong> a vizinhança docentro, as ativi<strong>da</strong>des preenchem dias que, se nãoRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>29


tSara Topelson Fridman,vice-ministra dedesenvolvimento urbanoe territorial do Ministériode DesenvolvimentoSocial do México©UNFPA/Ricardo RamirezArriolafosse por elas, seriam solitários. Refeições nutritivasmantêm em boa forma corpos e espíritos.Na Etiópia, meia dúzia de idosas celebrao Dia <strong>da</strong> Mulher em um pequeno abrigo deAddis Abeba, administrado sem nenhumaassistência por uma simpática filantropa, SasuNina Tesfamariam que oferece a elas comi<strong>da</strong>simples, orientação e companhia.Na zona rural do México, onde, como emmuitos lugares, os idosos já não podem contarsempre com um lar familiar acolhedor, nos seusúltimos dias de vi<strong>da</strong>, o governo instituiu um sistemade pagamento de um pequeno subsídio aosmaiores de 70 anos, para ajudá-los a contribuirpara a ren<strong>da</strong> familiar e, talvez, abran<strong>da</strong>r a tensãointergeracional. “É muito bom para os idosos<strong>da</strong>s áreas rurais, porque todos nós sabemos queos filhos começam a ver seus pais septuagenárioscomo uma carga,” diz Sara Topelson Fridman,vice-ministra do Ministério de DesenvolvimentoSocial. “Pelo fato de receberem um cheque a ca<strong>da</strong>dois meses, deixam de ser uma carga e, no mínimo,têm dinheiro para a comi<strong>da</strong>. Assim, as coisasficam mais fáceis.”Um mundo ca<strong>da</strong> vez mais grisalhoTodo país – rico ou pobre, industrial ou ain<strong>da</strong>em desenvolvimento – apresenta uma populaçãoque envelhece nesta ou naquela etapa.Como a juventude de hoje está situa<strong>da</strong> na i<strong>da</strong>depopulacional mediana ou além, a população emprocesso de envelhecimento aumentará maisrápido que qualquer outro segmento <strong>da</strong> populaçãoglobal até 2050, no mínimo, segundo orelatório Envelhecimento <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>:1950-2050, produzido em 2009 pela Divisãode População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Isso jáé reconheci<strong>da</strong>mente um grande desafio políticonos países em que a longevi<strong>da</strong>de é alta, e a populaçãojovem está encolhendo. Da mesma forma,em países de ren<strong>da</strong> média e baixa, os percentuaispopulacionais nas faixas de 60 anos ou mais, 70ou mais e mesmo, em alguns casos, de 80 oumais estão em constante ascensão.Em seis déca<strong>da</strong>s, as mu<strong>da</strong>nças nos perfisdemográficos dos países demonstram que,enquanto a expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer elevou-seem 11 anos entre 1950 e 2010 nos mais desenvolvidos,o crescimento foi muito maior nas regiõesmenos desenvolvi<strong>da</strong>s, onde a expectativa de vi<strong>da</strong>aumentou em 26 anos, no mesmo período. Nospaíses menos desenvolvidos, o aumento foi de19,5 anos. Para ser mais preciso, os países maisdesenvolvidos partiram de uma expectativa devi<strong>da</strong> mais alta, com menos espaço para crescimento.Mas isto não diminui os enormes ganhos dospaíses em desenvolvimento, à medi<strong>da</strong> que maispessoas começaram a beneficiar-se dos avanços nasaúde que salvam e prolongam vi<strong>da</strong>s, especialmenteno que se refere a bebês e crianças.As nações diferem significativamente naforma como elaboram seus planejamentos paraas populações em envelhecimento e nos serviçosoferecidos pelos governos. Ca<strong>da</strong> vez mais,organizações não governamentais, comuni<strong>da</strong>des,filantropos e o setor privado são solicitadosa complementar os esforços dos governos noatendimento aos idosos, atendendo não apenasa suas necessi<strong>da</strong>des materiais mais básicas, mastambém as de cunho emocional, psicológico,30capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


tIdosa pratica artesmarciais chinesas emcondomínio modernoem Xi’an, China©UNFPA/Guo Tieliugerem ren<strong>da</strong>, ou se manter ocupados em outrasativi<strong>da</strong>des que possam fortalecer sua saúde mental.Os resultados <strong>da</strong> pesquisa de 2010 à qualTilahun se refere, feita para o Ministério Nacionale secretarias locais do Trabalho e Assuntos Sociais,com a aju<strong>da</strong> de quatro organizações não governamentaisetíopes, demonstram que 88% dos idosossem teto, e 66% dos que têm residência na capital,não dispõem do suficiente para comer. Noventa etrês por cento <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de de idosos não dispunhade banheiro ou chuveiro, 78% apresentavamproblemas crônicos de saúde, e 51% declararamnão contar com suporte familiar.Jiang Xiangqun é gerontólogo e professorde população <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Renmin, emBeijing. Ele e seus colegas estimam que 98% dosidosos chineses permanecem em seus lares, ouestão tentando fazê-lo. Muitos – possivelmentecerca de 70% deles em Beijing, muito menosnas áreas rurais – estão naqueles “ninhos vazios”,porque seus filhos se mu<strong>da</strong>ram para longe paratrabalhar ou para começar suas próprias famíliasem domicílios unigeracionais. Os demógrafos chinesesapontam que a política do governo é manteras pessoas em casa, na velhice, porque isto é oque elas querem – e que isto também reduzirá oscustos de construção de novas acomo<strong>da</strong>ções e <strong>da</strong>prestação de serviços adicionais.Em recente trabalho acadêmico que escreveucom Yang Qingfang, que ensina na Escola deEstudos Continuados <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de – Reviewand Analysis of China’ Population Ageing and theSituation of the Elderly (Revisão e Análise doEnvelhecimento <strong>da</strong> População Chinesa e a Situaçãodos Idosos) –, o professor Jiang enfatizou a tese deque a China está envelhecendo antes de ficar rica,diferentemente do que acontece nos países altamentedesenvolvidos, onde foi possível dispor demaiores recursos e maior intervalo de tempo parase atender à transição do envelhecimento <strong>da</strong> população.Quando os países desenvolvidos entraramem um período de significativo envelhecimento <strong>da</strong>população, argumenta Jiang, já dispunham de umaren<strong>da</strong> per capita muito mais eleva<strong>da</strong>.“Em meados do século XXI, quando se aproximaro pico do envelhecimento populacional,o desenvolvimento econômico chinês somentepoderá alcançar o nível de países modera<strong>da</strong>mentedesenvolvidos,” escreveram os autores em seutrabalho. Se um maior número de idosos estivervivendo sozinho e buscando aju<strong>da</strong> fora de suasfamílias, “isto acarretará em maiores encargos paraa previdência, atendimento médico e serviçossociais para a terceira i<strong>da</strong>de.”Na China, o percentual de idosos na populaçãonacional aumenta constante e rapi<strong>da</strong>mente. Istoé resultado <strong>da</strong> combinação entre baixas taxas defecundi<strong>da</strong>de, resultantes <strong>da</strong> política de planejamentofamiliar que limitou a maior parte <strong>da</strong>s famíliasa um filho, e uma vi<strong>da</strong> mais saudável e longa queaumentou o número de idosos. Quando a Chinacomeçou a divulgar os números de seu censo de2010, em abril de <strong>2011</strong>, o governo apontou queo segmento <strong>da</strong> população acima de 60 anos tinhaaumentado em 13,3%, cerca de 3 pontos percentuaisa mais que aquele registrado no censo de 2000.32capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


Em reunião informal de especialistas empopulação realiza<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de Renmim, emBeijing, na qual foram discutidos mu<strong>da</strong>nças nademografia, desenvolvimento e meio ambiente naChina, o gerontólogo Jiang e outros afirmaram quesua especiali<strong>da</strong>de repentinamente se transformouem matéria popular junto aos estu<strong>da</strong>ntes, que antesnunca se interessaram por ela. “A gerontologia éum campo novo”, disse um deles. “As pessoas estãoprestando atenção ao envelhecimento, mesmo emsuas próprias famílias. Sente-se a necessi<strong>da</strong>de desaber mais <strong>sobre</strong> como cui<strong>da</strong>r dos idosos, mantê-lossaudáveis e ensinar-lhes bons hábitos de vi<strong>da</strong>.”Desafios de saúde comunse emergentesEm uma sossega<strong>da</strong> área residencial de Addis Abeba,Sasu Nina Tesfamariam se confronta com umacondição de saúde comum entre idosos: comprometimento<strong>da</strong> visão em função <strong>da</strong> catarata.Levantando recursos para as operações onde pode,ela oferece abrigo temporário às candi<strong>da</strong>tas à cirurgia.Mais de 100 idosas receberam auxílio paramelhorar sua visão através desse pequeno refúgio,onde podem se recuperar em camas portáteis comlençóis limpos. “E quando deixam o abrigo, nóslhes <strong>da</strong>mos as camas”, diz Sasu Nina.Sasu também instrui as mulheres <strong>sobre</strong>Alzheimer e outros transtornos cognitivos que elaspodem vir a enfrentar na terceira i<strong>da</strong>de. Em socie<strong>da</strong>desonde os idosos têm de se defender por si, aper<strong>da</strong> <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de mental é algo traiçoeiro paramulheres vulneráveis.Em um dos dois abrigos mantidos pela organizaçãode cari<strong>da</strong>de de Sasu Nina, chama<strong>da</strong> Agar,que significa “auxiliadora” no idioma amárico, umamulher que sofre de ataques de pânico contou o quea levou para lá. “Eu tinha umas economias,” conta.“Tudo foi embora. Se não estivesse aqui, estaria passandofome. Não tenho filhos para cui<strong>da</strong>r de mim.”Sasu Nina, que estudou nos EstadosUnidos, conta que, quando começou a estu<strong>da</strong>rgerontologia, sabia que um dia voltaria paraa Etiópia. Desde então, ela resgatou idosasem dois abrigos cujas vi<strong>da</strong>s, ela diz, haviam setransformado em pesadelo.Nos Estados Unidos, a Rede Nacional deInformação e Prevenção, liga<strong>da</strong> aos Centros paraControle e Prevenção de Doenças, alerta que osidosos de países desenvolvidos estão em crescenterisco de infecções por HIV. Pelo menos um quintode to<strong>da</strong>s as pessoas infecta<strong>da</strong>s pelo HIV nos EstadosUnidos tem mais de 50 anos, e a taxa pode ser consideravelmentemais alta porque os idosos, nas mais<strong>da</strong>s vezes, não pensam em passar pelo teste. O ladobom é que, em função <strong>da</strong>s drogas antirretrovirais, aspessoas infecta<strong>da</strong>s com o HIV estão vivendo mais.Vários fatores contribuem para o aumentodos riscos para idosos, segundo os Centros paraControle e Prevenção de Doenças. Esses fatores,que podem ser universais em um ou outro grau,incluem o quase desconhecimento <strong>sobre</strong> o HIVe AIDS porque, diferentemente do que ocorrecom a maior parte dos jovens, os idosos não são opúblico-alvo <strong>da</strong>s campanhas de informação <strong>sobre</strong>o tema. Pessoas de mais i<strong>da</strong>de podem se sentirtResidente em um dosabrigos etíopes paraidosas de Agar©UNFPA/ Antonio FiorenteRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 33


inibi<strong>da</strong>s para falar <strong>sobre</strong> ativi<strong>da</strong>de sexual ou usode drogas, ou simplesmente supor que a deterioraçãode sua saúde se deve ao avanço <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de. NaEtiópia e em outros países em desenvolvimento,os estudos demonstram que os idosos que cui<strong>da</strong>mde netos, cujos pais morreram ou de outros membros<strong>da</strong> família que vivem com HIV, podem seinfectar por falta de informação adequa<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> asprecauções que devem ser toma<strong>da</strong>s contra a contaminaçãoacidental pelo vírus.Presença de idosos nas populações,por país (porcentagem)60 anos ou mais 65 ou mais 80 ou maisChina 12,3 8,2 1,4Egito 8,0 5,0 0,7Etiópia 5,2 3,3 0,4Finlândia 24,8 17,2 4,7Índia 7,6 4,9 0,7México 9,0 6,3 1,3Moçambique 5,1 3,3 0,4Nigéria 5,0 3,2 1,1Antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong>Macedônia16,7 11,8 2,1Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos eSociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>sInvestir em idososNo momento em que há muita discussão informalna China <strong>sobre</strong> a revisão <strong>da</strong> política de planejamentofamiliar do país, que limitou a maior partedos casais a ter apenas um filho (embora permitaexceções), Jiang Xiangqun, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deRenmin, sugere que elevar a taxa de fecundi<strong>da</strong>de –como estão defendendo países tão diferentes entresi como Japão e Rússia – não bastaria no caso <strong>da</strong>China para compensar a rápi<strong>da</strong> tendência ao envelhecimentoobserva<strong>da</strong> neste século. No entanto, ogoverno chinês quer atingir a estabili<strong>da</strong>de populacional.É uma questão complexa, mas urgente.“A forma como for tratado o urgente desafio doenvelhecimento <strong>da</strong> população de alguma formadeterminará a estabili<strong>da</strong>de e prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>China,” conclui Jiang no trabalho acadêmico queescreveu com Yang Qingfang.Com a maior população do mundo (até que aÍndia a ultrapasse, por volta de 2050), as questõesque a China enfrenta para o futuro são ressalta<strong>da</strong>spor um estudo de 2009, realizado pela Divisãode População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Nessapesquisa são enumera<strong>da</strong>s quatro conclusõesglobais: o envelhecimento <strong>da</strong> população é semprecedentes, difuso, profundo e persistente.Sobre o último ponto, o resultado do trabalho<strong>da</strong> Divisão de População aponta que a proporçãoglobal de pessoas com mais de 60 anos, queera de 8% em 1950, cresceu para 11% em 2009e está projeta<strong>da</strong> para alcançar 22% em 2050.“Globalmente, a população de idosos está crescendoa uma taxa de 2,6% ao ano, consideravelmentemais rápido que a população como um todo. Esserápido crescimento exigirá ajustes econômicos esociais de longo alcance na maior parte dos países,”diz o relatório <strong>sobre</strong> o envelhecimento de 2009.Na antiga ci<strong>da</strong>de de Xi’an, na província chinesade Shaanxi, a 1.220 quilômetros a sudeste deBeijing, o diretor do Comitê de Trabalho <strong>sobre</strong>o Envelhecimento <strong>da</strong> província, Ai Xiangdong,sugeriu um tipo de ajuste político projetado parao futuro, como definiu a combinação de iniciativasdo governo e contribuições do setor privadoque estão se tornando política nacional. Ele mencionouprimeiramente a demografia: Shaanxi temmais de 5 milhões de pessoas acima dos 60 anos,diz, e uma proporção maior que a média nacionalde homens e mulheres com mais de 80 anos.34capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


“Não sabemos a razão pela qual as pessoasvivem mais aqui”, esclarece, “mas nossos serviços desaúde melhoraram para os maiores de 65 anos. Hácheckups gratuitos e a população urbana conta complano de saúde. A maior parte dos idosos vive comsuas famílias, onde comem alimentos que conheceme apreciam. As instituições não podem atender aogosto de ca<strong>da</strong> um.” Em <strong>2011</strong>, Shaanxi começou afazer contribuições especiais aos idosos mais velhos,além dos subsídios e pensões concedidos após os60 anos. Para os que têm entre 80 e 89 anos, opagamento complementar é de 50 yuans por mês,ou cerca de US$ 7,70; para as faixas etárias de 90 a99, dobra para 100 yuans e, para os que têm 100anos ou mais, dobra novamente para 200 yuans. EmShaanxi, um membro <strong>da</strong> comissão entrega o dinheiropessoalmente para os que têm mais de 90 anos.Comitês de trabalho <strong>sobre</strong> envelhecimento,com membros de vários ministérios relevantes,foram estabelecidos em nível nacional e provincial<strong>da</strong> China, alguns mais produtivos que outros.Foram criados, esclarece Ai, “para coordenar serviços,proteger os direitos e interesses <strong>da</strong>s pessoasmais velhas e organizar ativi<strong>da</strong>des culturais, sociaise esportivas para elas. Os idosos podem sentir asmu<strong>da</strong>nças e ver que estamos investindo neles”.Na ci<strong>da</strong>de de Xi’an, que vem se redefinindocomo um centro tecnológico, há um rico ambientecultural, e muitas atrações cívicas que, como confirmaAi, a tornam um bom lugar para ci<strong>da</strong>dãosidosos. “Eles podem se exercitar nos parques pelamanhã e à tarde. Há grupos perfomáticos. Umauniversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terceira i<strong>da</strong>de oferece cursos decomputação, pintura e caligrafia.” Nas áreas rurais,os serviços não estão nesse nível, admite o funcionário,e em um vilarejo não muito distante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dehouve reclamações por isso. Mas Ai insiste quemesmo as áreas rurais dispõem de novos programas.Em Beijing, Wu Yushao, vice-presidentedo Comitê Nacional de Trabalho <strong>sobre</strong> oEnvelhecimento <strong>da</strong> China, que atua diretamente emnível de Conselho de Estado e acima dos ministérios,diz que os ministérios e departamentos do governojuntaram forças, em 2006, para criar uma novaregulamentação de proteção à velhice. Sabendo <strong>da</strong>sdiferenças de ren<strong>da</strong> entre ci<strong>da</strong>de e interior, o governoconcederá a todos os idosos <strong>da</strong>s áreas rurais, que sãocerca de 100 milhões, pensões totalmente financia<strong>da</strong>spor fundos estatais até 2015. Espera-se que os pensionistas<strong>da</strong>s áreas rurais ou urbanas, diz Wu, utilizemesses recursos para pagar pelos serviços de melhorquali<strong>da</strong>de para idosos. Em linha com as tendênciasmundiais, os idosos também serão estimulados aadquirir seguros que possam cobrir os gastos <strong>da</strong>velhice e, caso precisem de crédito, tomar empréstimosque sejam garantidos por suas proprie<strong>da</strong>des.Em Xi’an, Ai informa que, em um esforçopara possibilitar a expansão de programas paraidosos, o governo nacional quer priorizar oaumento <strong>da</strong> oferta de acomo<strong>da</strong>ções para idososconstruí<strong>da</strong>s pelo setor privado, e aperfeiçoar produtosque facilitam a vi<strong>da</strong> diária destinados a essafaixa etária. “A terceira i<strong>da</strong>de é um segmento emexpansão,” aponta Ai. “Há uma maior atençãotMulher tocainstrumentotradicional perto <strong>da</strong>antiga muralha deXi’an, China©UNFPA/Guo TieliuRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>35


tResidentes idososexecutam uma peça deópera local perto <strong>da</strong> antigamuralha de Xi’an, China© UNFPA/Guo Tieliuaos diferentes aspectos do envelhecimento.As universi<strong>da</strong>des estão realizando pesquisas; osetor de negócios estu<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>des.”A tendência, refleti<strong>da</strong> no último planoquinquenal nacional, está à vista em Weiyang,distrito de Xi’an, onde quase 12% <strong>da</strong> populaçãotem mais de 60 anos. Lá, o complexo residencialJinyuan Xinshiji é um condomínio fechadoconstruído pelo setor privado. São apartamentospanorâmicos bem projetados, situados em edifíciosque se alinham ao longo de ruas exclusivaspara pedestres. O condomínio abriga cerca de15.000 pessoas, 600 <strong>da</strong>s quais acima dos 60anos e 30 acima dos 80. To<strong>da</strong>s elas moram comsuas famílias. Complexos residenciais como esseforam construídos recentemente em várias grandesci<strong>da</strong>des chinesas, embora nem sempre como leque de serviços oferecidos para os idosos noJinyuan Xinshiji, denominação que combina ostermos “belo jardim” e “novo século”.A China não adotou o sistema de construçãode domicílios familiares com granny flats (apartamentos<strong>da</strong> vovó), no modelo de Cingapura,onde os apartamentos podem ter anexos residenciaismenores, com entra<strong>da</strong> própria, de formaque os idosos podem permanecer junto às suasfamílias sem que ambas as gerações deixem degozar de privaci<strong>da</strong>de e independência. Mas emJinyuan Xinshiji, grandes (e caros) apartamentospodem acomo<strong>da</strong>r confortavelmente to<strong>da</strong> umafamília intergeracional, informa Yao Naigup,presidente <strong>da</strong> Associação de Anciãos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>dee diretor do Centro de Idosos do complexoconstruído para essa faixa etária.No Centro de Idosos, Yao apresenta umcanto destinado ao uso do computador, umasala de aula onde o coral ensaiava, uma salapara exames médicos, um centro de ginástica evaria<strong>da</strong>s mesas do popular jogo chinês mah jong,para o entretenimento <strong>da</strong> tarde. Há tambémuma sala com camas, reserva<strong>da</strong> para os cochilos.Tudo é gratuito, exceto o almoço para os quenão comem em casa. Os idosos que residem nocondomínio recebem cartões de desconto parao transporte público, aju<strong>da</strong> no preenchimentode documentos oficiais, preços especiais em lojas<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e entrega gratuita <strong>da</strong>s compras.A ven<strong>da</strong> de artesanato pelos moradores aju<strong>da</strong> alevantar recursos para as ativi<strong>da</strong>des do Centro.“Idosos não precisam apenas de suporteem termos materiais,” aponta Yao. “Maisimportante é o suporte mental. Depois que seaposentam, muitas pessoas acham que perdemo objetivo. Agora, que estão em melhor situação,querem mais, tanto em termos espirituaisquanto culturais.”O vilarejo de Gengxi, no con<strong>da</strong>do deZhouzhi, distante cerca de uma hora de carrode Xi’an, tem uma população de apenas 1.365pessoas (179 delas com mais de 60 anos, noinício de <strong>2011</strong>) e, em razão de seu pequenotamanho, dispõe de poucos locais destinadosespecialmente para os mais velhos. A associaçãode idosos local, porém, tenta compensar isto.A associação foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1997, informamseus diretores, depois que se descobriuque algumas famílias tinham migrado e deixa-36capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


do seus parentes idosos sozinhos. Gengxi, que ficaem uma região montanhosa, era então um agrupamentode vilarejos muito pobres que tentavam<strong>sobre</strong>viver <strong>da</strong> produção agrícola como trigo, milhoe feijão. Em 2003, esse perfil agrícola foi completamentetransformado, e seus habitantes agoraretiram sua ren<strong>da</strong> de pomares e árvores frutíferas– e isto os idosos podem fazer. A ren<strong>da</strong> per capitaanual aumentou em menos de uma déca<strong>da</strong>, dizemeles, de cerca de 1.000 yuans, ou US$154, para6.480 yuans, ou quase US$1.000.Rumo a uma maior independênciaNa China e na Índia, o interesse na crescentepopulação de mais de 60 anos está gerando considerávelpesquisa e reexame <strong>da</strong> visão, há muitoexistente, de que as famílias tendem naturalmentea tomar para si a responsabili<strong>da</strong>de pelocui<strong>da</strong>do dos idosos – ou deveriam ser obriga<strong>da</strong>spor lei a fazê-lo. Novas reali<strong>da</strong>des precisam serencara<strong>da</strong>s, afirma K. R.G. Nair, professor pesquisadorhonorário do Centro para Pesquisa emPolíticas de Nova Déli. Os idosos, por viveremmais, nem sempre desfrutam de prosperi<strong>da</strong>deou terminam seus últimos dias felizes, escreveNair em seu ensaio introdutório que resume ostrabalhos de especialistas coletados no livro Statusof Ageing in India: Challenges and Opportunities(Situação do Envelhecimento na Índia: Desafios eOportuni<strong>da</strong>des), de 2009, que ele também editou.Nair cita casos de abuso, abandono e faltade conhecimento adequado dos problemas dehomens idosos. Cita também o ônus que apobreza entrincheira<strong>da</strong> e dissemina<strong>da</strong> cobra dejovens famílias <strong>da</strong>s quais se espera que cuidem deseus membros mais idosos. A Índia tem o maiornúmero de pessoas que vivem com US$1,25 oumenos. Nair alerta que a aprovação de leis exigindoque os membros <strong>da</strong>s famílias cuidem dosidosos, em discussão no governo, poderia resultarna limitação <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de do governo deatender os ci<strong>da</strong>dãos na terceira i<strong>da</strong>de. Ele tambémalerta que não se deve esquecer do potencialdos “jovens idosos”, na faixa etária dos 60, queain<strong>da</strong> podem contribuir para a economia e paraa socie<strong>da</strong>de. O autor detecta uma relutância emmantê-los empregados.As clínicas do governo frequentemente apresentamcarência de profissionais nas áreas rurais,onde vive grande proporção de idosos indianos,segundo o Dr. Oomen George, chefe clínico <strong>da</strong>HelpAge India, que escreve na mesma coletânea.A medicina priva<strong>da</strong> é cara demais para muitosdeles. Ele aponta resultado de pesquisa realiza<strong>da</strong>pelo governo <strong>da</strong> Índia e pelo escritório indiano<strong>da</strong> Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde que tambémtIdosas aguar<strong>da</strong>m visitasno Lar St. Mary´s emNova Déli, Índia©Sanjit Das/PanosRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>37


esponsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família, que nessa tarefapoderia contar com a parceria <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de,do governo e do setor privado”.A proposta enfatiza que as idosas indianasnecessitam de atenção especial. Muitas delas,especialmente as viúvas, mal se sustentam. “Osproblemas <strong>da</strong>s idosas são agravados por umavi<strong>da</strong> inteira de discriminação de gênero, quasesempre gera<strong>da</strong> por preconceitos culturais esociais profun<strong>da</strong>mente enraizados”, afirma odocumento. “Ela se compõe de outras formasde discriminação, basea<strong>da</strong>s em classe, casta,incapaci<strong>da</strong>de, analfabetismo e estado civil.”tShiela Harrison Matthewretira uma Bíblia de suaestante no Lar St. Mary´sem Nova Déli, Índia©Sanjit Das/Panossugere que “a saúde mental e a reabilitaçãonecessitam ser seriamente trata<strong>da</strong>s no planejamentodo atendimento à saúde para osidosos,” segundo George.Analisando estatísticas recentes, demógrafosde renome afirmam que, mesmo nos estadosmais avançados do sul <strong>da</strong> Índia, onde os indicadoresde desenvolvimento humano rivalizamcom os de países mais desenvolvidos, o crescentenúmero de idosos apresenta novos desafios.C. Chandramouli, comissário-geral de Registroe Censo <strong>da</strong> Índia, afirma que em Kerala novasquestões se apresentam, dentre elas a falta deatendimento geriátrico.Em <strong>2011</strong>, a Índia publicou uma nova propostade política para o envelhecimento ondesão leva<strong>da</strong>s em conta as últimas tendênciasnacionais, aponta<strong>da</strong>s como “explosão demográficaentre os idosos, economia e ambiente socialem mu<strong>da</strong>nça, avanço nas pesquisas em saúde,ciência e tecnologia, e altos níveis de desamparoentre os idosos pobres <strong>da</strong>s áreas rurais”. Masnessa National Policy for Senior Citizens <strong>2011</strong>que aguar<strong>da</strong>va aprovação quando este trabalhofoi escrito, reafirma-se que “o atendimentoaos ci<strong>da</strong>dãos idosos tem de permanecer umaAlcançar os marginalizadosMathew Cherian, presidente executivo <strong>da</strong>HelpAge India, fez parte do comitê que elaboroua proposta para uma nova política <strong>sobre</strong> o envelhecimento.Sua organização não governamentaltem desempenhado papel ativo em muitosaspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos idosos. A organizaçãomantém uma linha telefônica direta de atendimentoàs pessoas que necessitam de assistência,embora Cherian afirme com tristeza que “sejao que for que fizermos, será tão somente umagota no oceano”. Ele afirma que pagamentos depequenas somas de pensão previdenciária paraos ci<strong>da</strong>dãos mais velhos não resolvem muitacoisa na moderna economia indiana, e que asseguradoras priva<strong>da</strong>s de saúde não irão proporpolíticas para idosos.A longevi<strong>da</strong>de na Índia pode estar aumentando,diz Cherian, mas varia de modo distintoentre os vários setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. “Para ospobres, para os <strong>da</strong>lits (intocáveis) e para as tribos,a vi<strong>da</strong> é tão dura que eles não vivem muito.”Em 2010 o governo, atendendo às crescentesnecessi<strong>da</strong>des econômicas e de saúde dos idososde menor ren<strong>da</strong>, destinou recursos para 100 dos662 distritos administrativos indianos estabelece-38capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


em atendimento geriátrico especializado, informaCherian. Oito centros de saúde regionais tambémforam escolhidos para o estabelecimento de programas.O Departamento de Ciência e Tecnologia dogoverno indiano está trabalhando com a HelpAgeIndia para desenvolver produtos e serviços paraidosos, tais como dispositivos ativados por voz, vanspara atendimento fisioterápico móvel e conexõespor vídeo para oferecer orientação médica especializa<strong>da</strong>a médicos locais.Preocupa<strong>da</strong> com o abuso de pessoas idosas, aHelpAge India abriu 20 linhas telefônicas diretasde atendimento em ci<strong>da</strong>des, realiza trabalho demediação para famílias com problemas e, quandonecessário, denuncia casos de abuso à polícia.Pesquisa realiza<strong>da</strong> pela organização em quatrograndes áreas metropolitanas e quatro ci<strong>da</strong>desmenores <strong>sobre</strong> abusos contra idosos apontouque a violência vem aumentando de modo geral,mas, especialmente, no seio <strong>da</strong>s famílias. “O larfamiliar ain<strong>da</strong> é o local onde a maior parte dosidosos vive,” aponta Cherian.“Na Índia não predomina a assistência e oslares para idosos”, disse, acrescentando que hásomente 3.600 desses lares no país, dos quais amaioria é particular ou foi aberta por organizaçõesde cari<strong>da</strong>de ou religiosas. “Muitos deles acolhementre 20 e 50 idosos,” esclarece Cherian. “A capaci<strong>da</strong>detotal ain<strong>da</strong> é muito baixa.”departamento de sociologia, afirma que o envelhecimentoé apenas parte de um complexo conjuntode desafios. As baixas taxas de fecundi<strong>da</strong>de persistem,apesar de a Finlândia ter assistido a umligeiro aumento recentemente, de cerca de 1,7criança por mulher, no quinquênio 1990-1995,para cerca de 1,8 por mulher, no quinquênio2005-2010. (Globalmente, a “taxa de reposição”de 2,1 estabiliza o crescimento; abaixo disso, apopulação começa a diminuir). Mas os númerosnão contam to<strong>da</strong> a história.“Houve uma grande mu<strong>da</strong>nça nas estruturasfamiliares europeias, nos vínculos familiares, oque em parte está relacionado ao declínio <strong>da</strong>staxas de fecundi<strong>da</strong>de – altas taxas de divórcio,formação de novas famílias, rápido declínio notamanho <strong>da</strong>s moradias,” aponta o professor. “Háuma crescente prevalência de idosos, mas tambémuma crescente prevalência de jovens morandosozinhos, depois de deixar os lares dos pais.” Asmulheres permanecem no mercado de trabalhopor mais tempo, retar<strong>da</strong>ndo o casamento e ageração de filhos – ou decidindo-se por não tê-tBaile <strong>da</strong>s tardesde quintas-feirasna Casa doTrabalhador deMalmi, CentroCultural Popularde Helsinque, naFinlândia©UNFPA/Sami SallinenEstruturas familiares em transformaçãoA Finlândia, tal como inúmeras nações europeias,o Japão e a República <strong>da</strong> Coreia viram sua populaçãoenvelhecer tão rapi<strong>da</strong>mente – resultadode uma fecundi<strong>da</strong>de muito baixa e vi<strong>da</strong>s muitomais longevas – que o envelhecimento tornou--se a principal questão socioeconômica <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>dos articuladores políticos. Na Universi<strong>da</strong>de deHelsinki, o professor Pekka Martikainen, demógrafo<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de de pesquisa populacional doRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>39


tHannu e Armi,aposentados finlandeses,em sua casa©UNFPA/Sami Sallinen-los. Um grupo de jovens mulheres, reuni<strong>da</strong>sem Helsinque para tomar um vinho depois dotrabalho, confirmou isso. To<strong>da</strong>s se dedicavam atrabalhos que julgam interessantes, e nenhumadelas estava ansiosa para começar uma novafamília. Uma delas disse que o casamento nãoa atraía, porque não desejava “ficar amarra<strong>da</strong>”.O governo, indica Martikainen, não estimulaabertamente a maior gestação de filhos;em vez disso, oferece excelentes serviços sociais,tais como creches que tornam mais fácil suacriação. Mesmo assim, muitos jovens ain<strong>da</strong>preferem esperar, acreditando que os serviçossempre estarão disponíveis. Enquanto isso, apopulação mais idosa continua a crescer – e aenvelhecer. Pessoas acima de 60 anos agora formamquase um quarto <strong>da</strong> população do país,e o percentual <strong>da</strong>quelas acima de 70 e 80 anosestá aumentando.“As taxas de mortali<strong>da</strong>de declinaram rapi<strong>da</strong>mente,em particular entre a populaçãomais velha,” indica Martikainen. “A questãoque se relaciona a isto é se a funcionali<strong>da</strong>dedessas pessoas está melhorando a uma taxasimilar – basicamente, a questão é se os anosadicionais de vi<strong>da</strong> serão também anos saudáveisde vi<strong>da</strong>.” As questões são prementes,porque uma geração de “baby boomers” estácomeçando a entrar na i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aposentadoria,vindo somar-se ao grande númerode velhos existentes, sem um significativoaumento na quanti<strong>da</strong>de de jovens. Tal comoacontece em outros países desenvolvidos, aquestão é: de onde virá o dinheiro para secontinuar mantendo o bom padrão de vi<strong>da</strong>?Martikainen nota na Finlândia um poucodo mesmo modo de pensar encontrado empaíses em desenvolvimento, onde os recursosgovernamentais são muito menores. “Fala-semais na Finlândia e em outros lugares <strong>sobre</strong> aobrigação <strong>da</strong> família de atender os idosos,” diz.“Mas também pode acontecer que exista umapressão para se desviar o custo do atendimentoaos mais velhos para os indivíduos e famílias, eisto se vincula a questões de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de intergeracionale suporte familiar. Há uma enormeênfase na Europa para se prover o atendimentoà terceira i<strong>da</strong>de na própria comuni<strong>da</strong>de, deforma que as pessoas poderiam viver em seusdomicílios. Mas como se organiza isto, em termosefetivos?” Com as mu<strong>da</strong>nças nas estruturasfamiliares tradicionais, a tarefa é formidável.Os Centros para Idosos na Finlândia sãode responsabili<strong>da</strong>de dos departamentos deassistência social dos municípios, assim comoo são as creches e outros programas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Pessoas acima de 75 anos têm acesso aativi<strong>da</strong>des-dia, auxílio a domicílio e abrigo paravárias situações especiais. O Centro Riistavuori,em Helsinque, é um exemplo dos amplosserviços que esses órgãos podem oferecer. ORiistavuori conta com uma uni<strong>da</strong>de residencialcoletiva para pacientes demenciados e outrapara pacientes com transtornos mentais. Háoutras uni<strong>da</strong>des para atendimento a crisesou para reabilitação, 85 apartamentos de um40capítulo 3: Segurança, poder econômico e independência no envelhecimento


quarto para vi<strong>da</strong> assisti<strong>da</strong> (projetados com to<strong>da</strong>s ascaracterísticas de segurança necessárias) e estúdiose salas para visitas <strong>da</strong> família. Há sete saunas, umsalão de ginástica e exercícios, um café e restaurante,uma biblioteca, um salão de beleza, espaçospara confecção de artesanato e para massagem,serviços de quiropodia e de osteopatia. Quarentae três técnicos de enfermagem e 21 enfermeirossão empregados pelo Centro que também contacom um corpo de instrutores em várias áreas, umauni<strong>da</strong>de de terapia e uma magnífica sala silenciosa,to<strong>da</strong> branca, denomina<strong>da</strong> Shangri La. Essa salafoi cria<strong>da</strong> por projetistas e conta com iluminaçãocom dimmer, música clássica e aromaterapia.Imagens de florestas, vi<strong>da</strong> submarina ou paisagensde Helsinque são projeta<strong>da</strong>s silenciosamente<strong>sobre</strong> uma grande parede. Os que comparecem aoCentro apenas para passar o dia, tanto como osque lá residem, podem utilizar esses serviços – umgrupo de “pessoas bem humora<strong>da</strong>s” se reúne láto<strong>da</strong> segun<strong>da</strong>-feira.O Centro não é gratuito, mas os pagamentossão feitos em escala progressiva, dependendo donível econômico <strong>da</strong>queles que o utilizam ou alivivem – até o limite de cerca de 80% <strong>da</strong> aposentadoria<strong>da</strong> pessoa. Kirsi Santama, consultorsocial e chefe do Centro, informou que os ricospodem chegar a pagar até €3.500 por mês (cercade US$ 5.000), enquanto a maior parte pagamenos de €1.000 mensalmente (US$1.420), comatendimento 24 horas. Os clientes do Centropagam por sua própria medicação, até o limitede €600 (US$850) por ano; acima desse valor, osmedicamentos são gratuitos. A Finlândia é umpaís de alta ren<strong>da</strong>, com uma receita bruta anualper capita de mais de US$46.000, e conta comalguns dos mais generosos planos de aposentadoriado mundo, tanto do setor público como doprivado, segundo a Organização para Cooperaçãoe Desenvolvimento Econômico.“Velhice não é doença” é a mensagem doRiistavuori, diz Santama. Mas quanto pode duraresse nível de atendimento quando aumenta onúmero de pessoas que necessitam de auxílio navelhice? Esse tipo de vi<strong>da</strong> na terceira i<strong>da</strong>de, desfrutadono mais alto padrão europeu, se tornaráuma espécie em extinção em um mundo maisenvelhecido, onde as nações ricas já estão sentindopressões e onde os que vivem nos países maispobres nunca sequer conhecerão todo esse luxo?Os idososTrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e DesenvolvimentoOs aposentadosfinlandeses Hannue Armi se divertemesquiando no inverno©UNFPA/Sami Sallinen… Na maior parte <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des, as mulheres, em razão de viveremmais tempo que os homens, formam a maioria <strong>da</strong> população idosa. Oconstante aumento de faixas etárias mais altas nas populações dospaíses, tanto em números absolutos como em relação à populaçãocom i<strong>da</strong>de para trabalhar, tem implicações significativas para a maioria<strong>da</strong>s nações, particularmente no que tange à futura viabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>satuais mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des formais e informais de assistência aos idosos. Oimpacto econômico e social desse “envelhecimento <strong>da</strong> população” éigualmente oportuni<strong>da</strong>de e desafio para to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des.tRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>41


42 capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


CAPÍTULOQUATROO que influenciaa fecundi<strong>da</strong>de?Fecundi<strong>da</strong>de – a quanti<strong>da</strong>de de filhos que uma mulher tem – não é apenas um instrumentopara se predizer o crescimento ou declínio <strong>da</strong> população. Também pode seruma medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres, quer tenham muitos filhos, poucosou nenhum. Ligados a esse indicador do tamanho <strong>da</strong>s famílias, <strong>da</strong> população dospaíses ou <strong>da</strong> população mundial, existem outros fatores, tais como saúde, educação,oportuni<strong>da</strong>de econômica, igual<strong>da</strong>de e o direito de to<strong>da</strong> mulher de decidir <strong>sobre</strong> otAna Maria Siban<strong>da</strong>,mãe de duas filhas,espera que o próximoseja menino©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong>Bandeiratempo adequado e o intervalo entre gravidezes,livre <strong>da</strong> coerção de parceiros, de famílias, <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de ou de política nacional.Nos países mais desenvolvidos, a taxade fecundi<strong>da</strong>de média é cerca de 1,7 nascimento– abaixo <strong>da</strong> taxa de reposição de 2,1nascimentos. Nos países menos desenvolvidos,essa taxa é cerca de 4,2, sendo que na ÁfricaSubsaariana ela é 4,8. No mundo inteiro,porém, as taxas de fecundi<strong>da</strong>de têm declinadogradualmente, desde meados do século passado.Ca<strong>da</strong> região – e ca<strong>da</strong> país – apresenta umconjunto único de circunstâncias que influenciamo número de filhos que as mulheres têm.As evidências demonstram que os declíniosde fecundi<strong>da</strong>de têm contribuído para aceleraro crescimento econômico e reduzir a pobreza,afirmou Hania Zlotnik, diretora <strong>da</strong> Divisãode População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,em reunião <strong>da</strong> Comissão <strong>sobre</strong> População eDesenvolvimento realiza<strong>da</strong> em Nova York,em abril de <strong>2011</strong>. “Além disso, reduções <strong>da</strong>fecundi<strong>da</strong>de têm sido alcança<strong>da</strong>s por meio demelhorias na saúde reprodutiva, saúde infantil,educação e empoderamento <strong>da</strong>s mulheres. Adecisão dos pais de terem menos filhos paraoferecer a eles melhores oportuni<strong>da</strong>des tem sidouma tendência mundial crescente.”Fecundi<strong>da</strong>de eleva<strong>da</strong> pode significar altoscustos econômicos, sociais e de saúde para algunspaíses. Em Moçambique, por exemplo, “asaltas taxas de fecundi<strong>da</strong>de são uma questão desaúde pública,” particularmente para mães quenão mantêm, no mínimo, dois anos de intervaloentre as gravidezes e que estão, portanto,enfraqueci<strong>da</strong>s e vulneráveis a doenças, explicaLeonardo Chavane, do Ministério <strong>da</strong> Saúde. Asmães grávi<strong>da</strong>s, afirma Chavane, “podem nãocontar com tempo suficiente para cui<strong>da</strong>r de suaprópria saúde e <strong>da</strong> saúde de seus outros filhos”.As mulheres que vivem na área rural deMoçambique, especialmente no norte, normalmenterealizam todo o trabalho agrícola e, sea gravidez ou problemas de saúde as impedemde produzir alimentos suficientes para a família,RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>43


Mas o acesso ao planejamento familiar, quase sempre,é uma notória exceção, juntamente com as garantiasdo direito de opção <strong>da</strong>s mulheres quanto às suas vi<strong>da</strong>sreprodutivas. Estima-se que, atualmente, 215 milhõesde mulheres em i<strong>da</strong>de reprodutiva, nos países emdesenvolvimento, utilizariam o planejamento familiar,se tivessem acesso a ele. Centenas de milhares demulheres ain<strong>da</strong> morrem anualmente de causas relaciona<strong>da</strong>sà gravidez, e muitas dessas mortes são evitáveis.Em alguns países, a falta de acesso é resultado <strong>da</strong>infraestrutura de transporte deficiente, o que tornaquase impossível a entrega de suprimentos em áreasremotas. Em outros, forças culturais e desigual<strong>da</strong>dede gênero interferem na capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher deexercer seus direitos reprodutivos, mesmo havendoserviços e suprimentos de planejamento familiarprontamente disponíveis. E, em outros, a deman<strong>da</strong>de contraceptivos está caindo devido a um conjuntode razões econômicas e sociais, algumas <strong>da</strong>s quaisain<strong>da</strong> não estão claras para demógrafos e outros analistasque estu<strong>da</strong>m essas tendências.Algumas razões para o declínio doplanejamento familiar que gerou um platônas taxas de fecundi<strong>da</strong>de no EgitoNo Egito, com uma população de 81 milhões,déca<strong>da</strong>s de programas de planejamento familiargovernamental e não governamental são considera<strong>da</strong>spor muitos como as razões para um pronunciadodeclínio <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de. Na déca<strong>da</strong> de 1950, a taxaera 6,37 filhos por mulher, caindo para cerca de 3no quinquênio 2005-2010. O objetivo de uma déca<strong>da</strong>atrás era ver a fecundi<strong>da</strong>de alcançar uma taxa dereposição de 2,1 por volta de 2017.As projeções situam agora a <strong>da</strong>ta estima<strong>da</strong> parao nível de reposição por volta de 2030. Mas mesmoisto é questionado por alguns demógrafos e cientistassociais que assistiram ao movimento descendente <strong>da</strong>fecundi<strong>da</strong>de estacionar num platô, e que estão envolvidosem pesquisas <strong>sobre</strong> tal fenômeno que exigemvários anos de estudos. Alguns defensores locais doplanejamento familiar atribuem esse platô a uma redução<strong>da</strong> ênfase <strong>sobre</strong> o tamanho <strong>da</strong>s famílias por partedo governo e <strong>da</strong> mídia, na última déca<strong>da</strong>.“Não se alcançar a taxa de reposição seria umproblema para o Egito,” diz Hisham Makhlouf,presidente <strong>da</strong> Associação Egípcia de Demógrafose professor do Instituto de Estatística <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de do Cairo. “Já estamos sofrendo coma falta de água para o consumo e a irrigação.”Com terras aráveis a prêmio e egípcios tendo deser capazes de viver com apenas 5 ou 6% do territórionacional, “a política populacional tem deser uma priori<strong>da</strong>de de qualquer governo,” diz ele,acrescentando: “No planejamento familiar, estamosobservando uma alta taxa de descontinui<strong>da</strong>deno uso de contraceptivos – um terço <strong>da</strong>s mulheresdeixa de usá-los ao final do primeiro ano”.Makhlouf está entre os que acreditam quealgumas explicações para o platô de fecundi<strong>da</strong>deestão relaciona<strong>da</strong>s ao crescimento de visões maisconservadoras <strong>sobre</strong> a socie<strong>da</strong>de no Egito, algumas<strong>da</strong>s quais influencia<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong>s últimasdéca<strong>da</strong>s por trabalhadores migrantes e pessoas queviajam para os países do Golfo.Na Universi<strong>da</strong>de Al Azhar, no Cairo, o CentroIslâmico Internacional de Estudos e Pesquisas <strong>sobre</strong>a População recebe estudiosos muçulmanos detodo o mundo; seu diretor, Gamal Serour, diz quea religião não pode ser responsabiliza<strong>da</strong> pelo platôegípcio de fecundi<strong>da</strong>de. Experiências de outrospaíses onde o islamismo é majoritário, tais comoTunísia e Indonésia, e que vivenciaram dramáticosdeclínios de fecundi<strong>da</strong>de, atestam isso. O norte <strong>da</strong>África, onde a Tunísia foi pioneira em saúde e direitosreprodutivos, apresenta taxas de fecundi<strong>da</strong>demais baixas que a maior parte do continente.Serour, que também é presidente <strong>da</strong> FederaçãoInternacional de Ginecologia e Obstetrícia, sedia<strong>da</strong>em Londres, diz que a Al Azhar, universi<strong>da</strong>de queRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>45


ele define como a instituição mais conservadora dealtos estudos no mundo islâmico, abriu o centro depesquisas em população em 1974 “porque queríamosesclarecer às pessoas que o Islã não é contra oplanejamento familiar; o Islã não é contra a proteção<strong>da</strong> saúde feminina”. Serour publicou um guia<strong>sobre</strong> o assunto, no qual cita textos religiosos, e estálevando sua mensagem para locais tão longínquoscomo o Afeganistão, através dos imans que treina.O estudioso aponta a necessi<strong>da</strong>de de melhoresinformações e serviços <strong>sobre</strong> saúde reprodutiva paraos jovens. Afirma que o país não pode se arriscarao que ele define como “explosão populacional” oudeixar de tratar <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de materna, abortosinseguros e outras questões prejudiciais à saúde demulheres e meninas egípcias, to<strong>da</strong>s relaciona<strong>da</strong>saos cui<strong>da</strong>dos de saúde reprodutiva. “Não estamosimportando ideias do Ocidente,” esclarece. “Nãoestamos importando a política ocidental. Estamosfalando de nossos problemas.”Depois de conduzir uma pesquisa entre estu<strong>da</strong>ntesa respeito do conhecimento que tinham<strong>sobre</strong> questões de saúde sexual e reprodutiva, econstatar os resultados “assustadores,” disse, eleO ACESSO DE MULHERES JOVENS EGÍPCIAS À INFORMAÇÃOE AOS SERVIÇOS DE PLANEJAMENTO FAMILIAREm uma área semirrural próxima àci<strong>da</strong>de egípcia de Ismaília, na margemocidental do Canal de Suez, DaliaShams presta serviços em seu apertadoescritório que também servecomo sala de exames, num centro <strong>da</strong>Associação Egípcia de PlanejamentoFamiliar que conta com o suportedo programa Youth-Friendly Clinics(Clínicas Amigáveis para Jovens), doUNFPA. Shams dedica muito de seutempo a ouvir, especialmente, meninasadolescentes. “Começa com umbate-papo para que possam aprendera confiar em mim,” diz. “A partir <strong>da</strong>í,falam sem esconder na<strong>da</strong>.”“As garotas pouco sabem <strong>sobre</strong>sexo e se mostram amedronta<strong>da</strong>s,”continua. “Vêm perguntar se podemperder a virgin<strong>da</strong>de no chuveiro oucavalgando um burro. Perguntam<strong>sobre</strong> problemas menstruais ouinfecções. Às vezes a mãe acompanhaa menina. E também semostra amedronta<strong>da</strong>.” Shams conversafrancamente com elas <strong>sobre</strong> sexo,e também <strong>sobre</strong> nutrição, limpezae vi<strong>da</strong> saudável em geral. Quandouma mãe lhe pergunta <strong>sobre</strong> se deverealizar o corte dos genitais <strong>da</strong> filha,“tenho de abor<strong>da</strong>r a questão cui<strong>da</strong>dosamente,para que não se amedrontee fuja”. A Associação de PlanejamentoFamiliar se opõe à prática <strong>da</strong> mutilaçãogenital, que ain<strong>da</strong> é bastantedissemina<strong>da</strong> no Egito, embora tenhasido proibi<strong>da</strong> por lei e, acredita-se,esteja em declínio.Shams também aconselha jovensmulheres e homens prestes a se casar.A maior parte <strong>da</strong>s jovens que ela atendese casa entre 18 e 25 anos, diz, emborana área urbana de Ismaília, onde elacresceu, noivas de 16 anos não sejamincomuns, em violação à lei. Seja qualfor a i<strong>da</strong>de, as jovens e seus maridossabem muito pouco <strong>sobre</strong> o que esperardo casamento sob o ponto de vistasexual, uma vez que a casti<strong>da</strong>de pré--nupcial é fortemente respeita<strong>da</strong>.Quando chega o momento doplanejamento familiar, Shams dispõede dispositivos intrauterinos,preservativos, injeções, implantes econtraceptivos orais para oferecer. Elatem de esperar até depois do casamentopara indicá-los porque, diz, avirgin<strong>da</strong>de <strong>da</strong> noiva deve estar intactano dia de seu casamento. Mas, a essaaltura, a mulher já foi informa<strong>da</strong> <strong>sobre</strong>suas opções.“Muitos homens proíbem o planejamentofamiliar,” esclarece Shams.“Tento falar com eles <strong>sobre</strong> a saúde<strong>da</strong> mãe e a necessi<strong>da</strong>de de espaçar asgravidezes. Aconselho-os a esperardois anos entre os partos.”Dalia Shams, médica do programa Youth-Friendly Clinics (Clínicas Amigáveis paraJovens) estabelecido na Associação Egípcia dePlanejamento Familiar de Abo Attwa, perto deIsmaília ©UNFPA/Matthew Cassel46capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


introduziu essas matérias nos cursos <strong>da</strong> Al Azhar,com o apoio <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de.Serour afirma que os cortes expressivos naaju<strong>da</strong> internacional para o planejamento familiar,ocorridos nas duas últimas déca<strong>da</strong>s, contribuírampara reduzir o ritmo do declínio <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de noEgito. Ele critica os que veem o auxílio para o planejamentofamiliar como uma intromissão culturalou como uma ferramenta supera<strong>da</strong> e inaceitável decontrole populacional. Quando a contracepção énega<strong>da</strong> por razões ideológicas às mulheres destituí<strong>da</strong>sde poder dos países pobres, diz ele, “Isso é umaviolação dos direitos humanos.”“O planejamento familiar pode evitar a mortede 1 milhão de crianças anualmente,” apontaSerour. “Na África, a ca<strong>da</strong> ano morrem 68.000mulheres em função de abortos inseguros, porquesuas necessi<strong>da</strong>des (de planejamento familiar) nãosão atendi<strong>da</strong>s. Se é assim, por que não se fornecera contracepção?” Estima-se que 9,2 % <strong>da</strong>s mulheresegípcias em i<strong>da</strong>de reprodutiva, casa<strong>da</strong>s ou comparceiros estáveis, não têm suas necessi<strong>da</strong>des deplanejamento familiar atendi<strong>da</strong>s.Forças inter-relaciona<strong>da</strong>s limitam autilização do planejamento familiar esustentam a fecundi<strong>da</strong>deTradições, desigual<strong>da</strong>de de gêneros, crença emque grandes famílias são sinal de riqueza e ideiaserrôneas <strong>sobre</strong> os contraceptivos modernos desestimulammuitas mulheres e homens a buscar osbenefícios dos serviços de planejamento familiar deMoçambique, onde somente 11,8% <strong>da</strong>s mulheresem i<strong>da</strong>de reprodutiva confiam nos métodos contraceptivosmodernos, como pílulas ou preservativos.Em algumas partes do país, os suprimentosde contraceptivos são limitados, principalmenteem função <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des logísticas de transportá-lospara centros de distribuição em áreasremotas. Mas a prevalência de contraceptivos ébaixa também, porque a deman<strong>da</strong> por eles podeser pequena em algumas áreas.Para as populações carentes <strong>da</strong>s áreas ruraisde Moçambique, to<strong>da</strong> a noção de planejamentofamiliar pode parecer algo irrelevante, diz PatriciaGuzman, representante do UNFPA em Maputo.“Como você “planeja” a família quando não sepode planejar nenhum outro aspecto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Aquestão de quantos filhos se deseja ter está fora doenquadramento <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s pessoas.”Um perfil <strong>sobre</strong> saúde reprodutiva emMoçambique elaborado pelo Banco <strong>Mundial</strong> emabril de <strong>2011</strong> aponta que o país tem, de maneirageral, uma “alta” deman<strong>da</strong> não atendi<strong>da</strong> deplanejamento familiar, o que significa que “asmulheres podem não estar conseguindo ter umafamília do tamanho que desejam”.Segundo a Direção Nacional de Estudos eAnálise de Políticas do Ministério de Planejamentoe Desenvolvimento de Moçambique, a necessi<strong>da</strong>denão atendi<strong>da</strong> de planejamento familiar defato aumentou, o que demonstra que mulheres oucasais estão ampliando seu conhecimento <strong>sobre</strong>contraceptivos, e que o sistema de saúde não estásendo capaz de atender à deman<strong>da</strong> desses itens.O planejamento familiar está ca<strong>da</strong> vez maisdisponível nas áreas urbanas, mas o “ambientecultural” impede muitas pessoas de se beneficiardele, indica Carlos Arnaldo, demógrafo <strong>da</strong>tCarlos Arnaldo, professorde Demografia naUniversi<strong>da</strong>de EduardoMondlane de Maputo,Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>47


tMulheres e seusfilhos aguar<strong>da</strong>mconsulta médica naAssociação Egípcia dePlanejamento Familiarde Abo Attwa, pertode Ismaília©UNFPA/Matthew CasselUniversi<strong>da</strong>de Eduardo Mondlane, em Maputo.“O planejamento familiar vem sendo implementado,mas quem toma as decisões não são asmulheres,” diz. “Os homens são contra o planejamentofamiliar porque querem mais filhos.”Leonardo Chavane, do Ministério <strong>da</strong> Saúde,afirma que Moçambique deve acelerar e expandiro acesso <strong>da</strong>s mulheres à informação <strong>sobre</strong>métodos modernos de planejamento familiar, demodo que mais pessoas possam compreender queeles são seguros e podem melhorar suas vi<strong>da</strong>s.Moçambique também precisa mu<strong>da</strong>r a abor<strong>da</strong>gempara o planejamento familiar, de forma a incluirtambém os homens. “Até agora, o planejamentofamiliar em Moçambique tem focado nas mulheres,”diz. “Agora estamos nos empenhando maispara alcançar to<strong>da</strong> a família, estimular a discussãoe aumentar a deman<strong>da</strong> de planejamento familiar.”Não são apenas os homens que desejam famíliasgrandes. De acordo com uma pesquisa realiza<strong>da</strong>em 2003, as mulheres moçambicanas queriam teruma média de 5,3 filhos.Em Moçambique, como em muitos outrospaíses, os serviços de planejamento familiarestão ca<strong>da</strong> vez mais integrados a programas desaúde sexual e reprodutiva, incluindo prevençãode HIV, diz Guzman, do UNFPA. O objetivoé construir sinergias que possam reduzir onúmero de gravidezes não planeja<strong>da</strong>s e baixaras taxas de infecção pelo HIV. Por essa razão,atualmente os serviços de planejamento familiaroferecem também testes de HIV, complementandoos exames oferecidos pelos profissionaisque prestam atendimento pré-natal. E osserviços de prevenção e tratamento do HIVestimulam o uso de preservativos e fornecemdrogas antirretrovirais para grávi<strong>da</strong>s, visandoa prevenir a transmissão vertical do vírus.Serviços integrados já são norma no GeraçãoBiz, esforço conjunto de três ministérios dogoverno para evitar a infecção pelo HIV e gravidezesnão planeja<strong>da</strong>s entre a população jovemdo país que aumenta em ritmo acelerado.Segundo Samuel Mills, especialista sênior emsaúde do Banco <strong>Mundial</strong>, Moçambique – e muitosoutros países – poderia fazer mais para explicaros benefícios dos contraceptivos, dos intervalosmaiores entre as gravidezes e <strong>da</strong>s famílias menores.“Para os homens, precisamos enfatizar que é maiseconômico espaçar as gravidezes ou ter menosfilhos: quando você tem menos filhos, pode pagaros estudos e tem de gastar menos com comi<strong>da</strong>.Para as mulheres, a mensagem poderia ser queespaçamento <strong>da</strong>s gravidezes significa filhos maissaudáveis e mãe mais saudável.”Chavane, do Ministério <strong>da</strong> Saúde deMoçambique, diz que a utilização de contraceptivosaumentaria naquele país se mais mulherestivessem acesso à informação. “Não tentamosconvencer as pessoas a ter famílias menores,” dizele. “Nós as estimulamos a aguar<strong>da</strong>r antes de tera primeira gravidez. Dizemos a elas que, parater filhos saudáveis e mães saudáveis, as famíliasdevem observar um intervalo de, no mínimo,dois anos entre as gravidezes.” Chavane informa48capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


que o governo lançou uma campanha para aumentaro conhecimento <strong>sobre</strong> os benefícios de espaçaras gravidezes; nessa campanha, o governo faz uso denomes bastante conhecidos, tais como a primeira--<strong>da</strong>ma Maria <strong>da</strong> Luz Guebuza, para promover acausa do planejamento familiar.Limitando a fecundi<strong>da</strong>de na Índia por meio<strong>da</strong> esterilizaçãoEntre os poucos métodos contraceptivos modernosoferecidos gratuitamente nos centros públicos desaúde indianos, a esterilização é o mais comum. Ométodo é utilizado por mais de 37% <strong>da</strong>s mulheres e1% dos homens indianos que utilizam contraceptivosmodernos, segundo a Divisão de População doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. No mundo todo, a esterilizaçãoresponde por 18,9% dos métodos contraceptivosmodernos utilizados pelas mulheres, e 2,4% dosutilizados por homens. Na Índia, os preservativos masculinos,por exemplo, compõem pouco mais de 5%do total de métodos de contracepção. A pílula é utiliza<strong>da</strong>por 3,1% <strong>da</strong>s mulheres. Contraceptivos injetáveisnão são fornecidos pelo governo.A.R. Nan<strong>da</strong>, ex-comissário do censo, secretário<strong>da</strong> Saúde e Bem-Estar Familiar do governo centrale ex-diretor executivo <strong>da</strong> associação independentePopulation Foun<strong>da</strong>tion of India, diz que tem “clamado”por uma pesquisa <strong>sobre</strong> o porquê de as esterilizaçõessuplantarem tão desproporcionalmente em númeroos demais métodos de contracepção, e se todos ospadrões nacionais de quali<strong>da</strong>de, segurança e opçãoestão sendo observados. Quanto à quali<strong>da</strong>de e segurança,Nan<strong>da</strong> afirma que um grupo de apoio a leis deinteresse público instaurou uma ação contra o governo,com base na maneira como as esterilizações eramrealiza<strong>da</strong>s em instalações clínicas provisórias, comumentechama<strong>da</strong>s de “campos”. Essa ação resultou emdecisão <strong>da</strong> Suprema Corte exigindo que todos osmédicos e administradores dos campos de todo o paísobservassem os padrões nacionais de procedimentos,quali<strong>da</strong>de e segurança. Segundo esses padrões, informaNan<strong>da</strong>, nenhum médico pode realizar mais de 30esterilizações por dia. “No passado, alguns deles realizavam50 ou 60”, afirma, acrescentando que esperaque a obrigatorie<strong>da</strong>de do cumprimento dos padrõesde quali<strong>da</strong>de reduza as complicações. Assegurar alivre escolha nas decisões <strong>da</strong>s pessoas de submeter-se aesterilizações irreversíveis tem sido priori<strong>da</strong>de para osdefensores <strong>da</strong> saúde reprodutiva e direitos humanosdesde a déca<strong>da</strong> de 1970 – nessa época, o governo tentoudiminuir o ritmo do crescimento <strong>da</strong> população,em parte através de esterilizações força<strong>da</strong>s.“Na Índia,” diz ele, a ‘target-itis’ (isto é, excesso demetas) é o maior perigo,” referindo-se ao número deesterilizações que se espera que os médicos realizemem alguns locais do país, por dia ou por mês. Nan<strong>da</strong>diz considerar que as metas deveriam ser elimina<strong>da</strong>s eque o planejamento familiar, incluindo a contracepção,deveria ser oferecido não isola<strong>da</strong>mente, mas emconjunto com um programa governamental integradode saúde reprodutiva. “A abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> saúde reprodutivaé uma ideia muito melhor,” afirma. “É muitomais eficaz e benéfica para as mulheres.”Têm sido publica<strong>da</strong>s reportagens, na mídia dopaís, <strong>sobre</strong> estabelecimento de metas e oferecimentode incentivos para a realização de esterilizaçõesem algumas regiões, mas isto vai contra a políticanacional, segundo o escritório do UNFPA, emNova Déli, que afirma ter levado o assunto à atençãodo governo para providências.Poonam Muttreja é a substituta de Nan<strong>da</strong> nadireção executiva <strong>da</strong> Population Foun<strong>da</strong>tion of India,organização não governamental forte e influente querealiza pesquisas e defende um amplo leque de questõesrelaciona<strong>da</strong>s à população, à saúde e ao gênero. Muttrejaafirma que a limita<strong>da</strong> escala de opções de contraceptivos– limitação essa que contribui para reforçar aprática <strong>da</strong>s esterilizações – ofereci<strong>da</strong> gratuitamente pelogoverno indiano é tanto um desestímulo como umRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 49


perigo para as mulheres. “A necessi<strong>da</strong>de não atendi<strong>da</strong>de contracepção não significa falta de deman<strong>da</strong>,” diz.“A deman<strong>da</strong> existe, o que falta é o suprimento.”A taxa de mortali<strong>da</strong>de materna na Índia, de 230óbitos para ca<strong>da</strong> 100.000 gestações, poderia ser reduzi<strong>da</strong>através de melhores e mais abrangentes serviçosde planejamento familiar, diz ela, poupando muitasvi<strong>da</strong>s. “São praticados mais de 10 milhões de abortosna Índia, a maioria deles por mulheres casa<strong>da</strong>s,”informa Mutreja. “Isto é trágico.” As complicaçõesdecorrentes de abortos respondem por 8% <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>dematerna, informa.As pesquisas demonstram que, em países comoBrasil e México, onde foi adota<strong>da</strong> uma abor<strong>da</strong>gemdiferente para a escolha de métodos contraceptivos– com oferta de to<strong>da</strong>s as opções –, as taxas defecundi<strong>da</strong>de caíram vertiginosamente. Abor<strong>da</strong>genssemelhantes aju<strong>da</strong>ram a estabilizar o crescimentopopulacional em numerosas nações do leste e sudeste<strong>da</strong> Ásia. Mas quando a esterilização é a mais comumou a única opção, as taxas de fecundi<strong>da</strong>de, de fato,podem elevar-se: as mulheres podem aguar<strong>da</strong>r atéterem mais filhos do que teriam através do espaçamentoentre gravidezes, antes de considerar esseprocedimento irreversível, sugerem resultados depesquisa realiza<strong>da</strong> por Zoë Matthews e outros, doInstituto Max Planck de Pesquisas Demográficas.A desigual<strong>da</strong>de de gênero ea elevação <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>deNo Centro de Saúde de Boane, a cerca de uma horade distância <strong>da</strong> capital moçambicana de Maputo, AnaMaria, grávi<strong>da</strong>, diz: “Quero ter três filhos,” apontandopara a barriga enquanto espera o atendimento pré-natal.“Já tenho dois – um menino e uma menina – e queroque este seja o último”, acrescenta, explicando que criarfilhos é dispendioso e que preferiria usar esse dinheiropara construir uma casa nova, com quatro cômodos.Enquanto isso, em um mercado improvisadonos arredores de Maputo, Açucena, 22, vendedorade tomates, diz que quer ter três filhos, apenas. Amulher que trabalha na barraca ao lado afirma queela e o marido pretendem ter somente dois ou três.Ain<strong>da</strong> assim, a despeito do que dizem essas eoutras mulheres, a moçambicana média tem cerca decinco filhos ao longo de sua vi<strong>da</strong> reprodutiva, e as quevivem nas áreas rurais têm em média quase sete.Por que há um descompasso entre o númerode filhos que algumas mulheres desejam e onúmero que têm de fato?Segundo numerosos especialistas em populaçãoe desenvolvimento e agências humanitáriasde Moçambique, o baixo status <strong>da</strong>s mulheres – ea carência de oportuni<strong>da</strong>des econômicas e sociaisque vem junto – é parcialmente responsável pelasaltas taxas de fecundi<strong>da</strong>de.No ranking de 169 países elencados, segundoa gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de de gênero queapresentam, Moçambique ocupa o 111º lugar.Esse “índice de desigual<strong>da</strong>de de gênero”, apresentadona edição de 2010 do Relatório deDesenvolvimento Humano do Programa <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento, quantificaa escala de desigual<strong>da</strong>de entre mulheres ehomens nas áreas de saúde reprodutiva, participaçãopolítica, oportuni<strong>da</strong>des de geração de ren<strong>da</strong> eescolari<strong>da</strong>de. O índice revela que quase três quartosdo desenvolvimento humano de Moçambiquesão perdidos em função dessas desigual<strong>da</strong>des, especialmentena área <strong>da</strong> saúde reprodutiva.“A persistente desigual<strong>da</strong>de de gênerofaz com que mulheres e crianças sejam desproporcionalmentevitima<strong>da</strong>s pela pobreza,insegurança alimentar e doenças,” declara oMarco de Assistência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para oDesenvolvimento 2012-2015 para Moçambique.Segundo o demógrafo Carlos Arnaldo, emMoçambique “quem toma as decisões não são asmulheres,” especialmente quando se trata de decidirquando ou quantos filhos ter, diz ele.50capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


A generaliza<strong>da</strong> violência doméstica, adespeito de uma lei de 2009 que criminalizaessa conduta, é sintoma de uma situação naqual as mulheres têm pouca liber<strong>da</strong>de paratomar as decisões mais importantes de suasvi<strong>da</strong>s, inclusive aquelas relativas à reprodução.“A violência contra as mulheres emMoçambique está diretamente relaciona<strong>da</strong> àsua condição social em comparação com a doshomens,” diz Berta Chilundo, vice-presidentedo Conselho <strong>da</strong> MULEIDE - Mulher, Leie Desenvolvimento, organização não governamentalque oferece suporte jurídico epsicológico para mulheres agredi<strong>da</strong>s.Maria de Fátima, 43, veio à MULEIDE noano passado em busca de apoio quando decidiuque não mais poderia viver com seu parceiro,que começou a agredi-la aos dois anos <strong>da</strong> relação.“Quando o conheci, em 1995, eu tinha umemprego na ferrovia e estu<strong>da</strong>va economia nauniversi<strong>da</strong>de,” conta. “Mas naquele ano fiqueigrávi<strong>da</strong>, e meu companheiro me forçou a medemitir do emprego e a abandonar a facul<strong>da</strong>de.Isso me tornou totalmente dependente dele.”Depois de anos suportando violênciadoméstica, Fátima saiu <strong>da</strong> casa e denunciouo último incidente à polícia. O parceiroestá sendo processado com base numa leiaprova<strong>da</strong> há dois anos que criminaliza a violênciadoméstica; isto significa que, uma vezapresenta<strong>da</strong>, a queixa não pode ser retira<strong>da</strong>,mesmo a pedido <strong>da</strong> vítima.Às vezes, a violência doméstica emMoçambique decorre do desejo <strong>da</strong> mulher emfazer uso do planejamento familiar ou de pedira seu parceiro que use preservativos quandofazem sexo, diz Chilundo, <strong>da</strong> MULEIDE.Muitas mulheres acreditam que merecemapanhar. Pesquisa demográfica e de saúde realiza<strong>da</strong>em 2003 apontou que, em todo o país,mais de uma em ca<strong>da</strong> três mulheres pensavamque a violência que tinham sofrido se justificavapor razões que iam de queimar a comi<strong>da</strong> dojantar a deixar de se despedir quando se encaminhavampara sair. A aceitação <strong>da</strong> violênciadoméstica é mais comum nas áreas rurais, e osníveis de aceitação estão inversamente relacionadosao nível de escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher.Graça Samo, diretora executiva do FórumMulher, grupo que promove os direitos <strong>da</strong>smulheres e o desenvolvimento, diz que aeducação feminina é crucial para corrigir asdesigual<strong>da</strong>des de gênero em Moçambique,mas não pode solucionar essas desigual<strong>da</strong>dessem também mu<strong>da</strong>r a forma como as meninassão cria<strong>da</strong>s para ter poucas expectativas comrelação a si mesmas. Ensina-se às mulheres que“ter um homem será a solução dos problemas”,comenta Graça. “O status <strong>da</strong> mulher provémdo homem – marido, pai ou irmão."Samo argumenta que o nivelamento docampo de ação de mulheres e homens requernão apenas intervenções do governo e de organizaçõesnão governamentais, mas também<strong>da</strong>s famílias que podem ter uma tremen<strong>da</strong>influência <strong>sobre</strong> a forma como as jovens – e ostBerta Chilundo, advoga<strong>da</strong>e presidente interina doMULEIDE, organizaçãonão governamentalque visa à melhoria <strong>da</strong>condição <strong>da</strong> mulher emMoçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 51


A NECESSIDADE NÃO ATENDIDA DEPLANEJAMENTO FAMILIAR PERMANECE ELEVADAEm 2005, a Cúpula <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s comprometeu-se a universalizaro acesso à saúde reprodutiva até 2015, conforme compromisso<strong>da</strong> Meta B do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 5, e decidiu que amedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de não atendi<strong>da</strong> de contracepção seria o indicadordo progresso para aquele objetivo. Em <strong>2011</strong>, a Divisão de População doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spublicou os últimos <strong>da</strong>dos mundiais referentes à contracepção. Esses<strong>da</strong>dos demonstram que, embora o uso de contraceptivos venha aumentando,ain<strong>da</strong> há 46 países onde 20% ou mais <strong>da</strong>s mulheres casa<strong>da</strong>s ouque vivem num relacionamento estável ain<strong>da</strong> não têm atendi<strong>da</strong> essanecessi<strong>da</strong>de. A necessi<strong>da</strong>de não atendi<strong>da</strong> de planejamento familiar tem semantido no mesmo nível moderado para alto, na maior parte <strong>da</strong>s regiõesdesde 2000, mas é mais eleva<strong>da</strong> na África Subsaariana e no Caribe.Proporção de mulheres com necessi<strong>da</strong>de de planejamento familiarnão atendi<strong>da</strong> na faixa etária entre 15 e 49 anos, casa<strong>da</strong>s ou emrelacionamentos estáveis, em 1990, 2000 e 2008 (porcentagem)ÁfricaSubsaarianaCaribeSul AsiáticoCáucaso eÁsia CentralÁsiaOcidentalSudeste<strong>da</strong> ÁsiaNorte<strong>da</strong> ÁfricaAméricaLatinaLesteAsiáticoRegiões emdesenvolvimento2231111111010912121214141515161619.520.420.22624251412110 5 10 15 20 25 301990 2000 2008Fonte: Relatório <strong>2011</strong> dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio171920jovens – se percebem e aos outros na socie<strong>da</strong>de.Embora seja importante educar as jovens,de forma a que sejam estimula<strong>da</strong>s a identificarsuas forças e possibili<strong>da</strong>des, é igualmenteimportante mu<strong>da</strong>r a maneira como os meninossão criados, para que possam entenderdesde cedo na vi<strong>da</strong> que a igual<strong>da</strong>de de gêneroentre mulheres e homens beneficia a todos.Preferência por meninosNa Índia, os efeitos <strong>da</strong> preferência por filhoshomens preocupam demógrafos, mídia, formuladoresde políticas e muitos outros. Isto se dá emrazão dos efeitos que essa preferência tem ocasionadona razão sexual, e na mensagem que elatransmite <strong>sobre</strong> o quão pouco a socie<strong>da</strong>de valorizaas meninas. A questão ganhou nova dimensãodevido aos resultados, do censo nacional de <strong>2011</strong>,que demonstraram que, no grupo de 0 a 6 anos, onúmero de meninas tinha declinado para 914 paraca<strong>da</strong> 1.000 meninos, ampliando a razão de 2001,de 927 meninas para ca<strong>da</strong> 1.000 meninos. A novarazão sexual entre crianças representa a maior diferençadesde a independência, em 1947. Abortosseletivos, embora ilegais, e o negligenciamento demeninas depois do nascimento, por vezes fatal,são amplamente presumidos como causa principaldessa anomalia. O uso do ultrassom para determinaçãodo sexo fetal ficou mais barato e se tornouamplamente disponível em todo o país, muitoembora esse procedimento seja ilegal.C. Chandramouli, oficial-geral de Registroe delegado do censo indiano, responsável porliderar o censo de <strong>2011</strong>, classifica a tendênciacomo grave preocupação. Ele afirma considerá--la problema social, não demográfico, resultante<strong>da</strong> falha <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des em fazer cumprir asleis contrárias à seleção do sexo fetal pelas clínicasde acompanhamento <strong>da</strong> gravidez que fazempropagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> tecnologia de ultrassom. “A52capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


tecnologia é a principal culpa<strong>da</strong>,” acrescenta. Aúnica saí<strong>da</strong> para o que alguns críticos chamamde “generocídio” é uma campanha social respal<strong>da</strong><strong>da</strong>por incentivos do governo mais eficazes,que vise a melhorar o status <strong>da</strong>s meninas naprimeira infância, afirma.Seu ponto de vista é apoiado por organizaçõesinternacionais. No PreventingGender-biased Sex Selection <strong>2011</strong> (Prevenindoa Seleção Sexual com Viés de Gênero <strong>2011</strong>),publicação interagencial <strong>da</strong> Organização<strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde, UNFPA, UNICEF, ONUMulheres e Escritório do Alto Comissariado <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s para os Direitos Humanos, foiapontado que a saúde <strong>da</strong> mulher, em qualquerlugar, se debilita quando pressões familiaresdeman<strong>da</strong>m gravidez após gravidez na expectativade gerar-se um menino. Em alguns casos,as mulheres são pressiona<strong>da</strong>s a fazer abortosinseguros, correndo ain<strong>da</strong> o risco de ser alvo deviolência por <strong>da</strong>r à luz meninas, ressalta GayleNelson, especialista de gênero do UNFPA.“O desequilíbrio <strong>da</strong> razão de sexo é umamanifestação inaceitável de discriminação degênero contra meninas e mulheres, e uma violaçãoa seus direitos humanos”, diz a declaraçãointeragencial. Mas no trabalho também seafirma que tecnologias como a ultrassonografiae a amniocêntese não são a causa básica doproblema. Quando os governos tentam limitarou proibir o mau uso <strong>da</strong> tecnologia, dizem asagências, “a experiência indica que restriçõeslegais adota<strong>da</strong>s de maneira isola<strong>da</strong> <strong>da</strong>s políticassociais mais amplas e outras medi<strong>da</strong>s volta<strong>da</strong>spara a abor<strong>da</strong>gem de normas sociais enraiza<strong>da</strong>se mu<strong>da</strong>nças comportamentais podem ser ineficazes.Podem até mesmo ser prejudiciais aosdireitos humanos e reprodutivos <strong>da</strong>s mulheres”.Chandramouli vê alguma esperança, assinalandoos resultados do censo indiano de <strong>2011</strong>que demonstram que, em alguns poucos estadosque já apresentaram as maiores diferenças degênero entre crianças, a separação está diminuindolevemente, embora muitos outros estadosestejam caminhando na direção oposta, comrazões de filhas meninas em comparação commeninos declinando para 800, bem abaixo <strong>da</strong>razão de 914 para ca<strong>da</strong> 1.000 <strong>da</strong> média nacional.Na Índia existem argumentos econômicostradicionais contrários à geração de meninas.Elas quase sempre são vistas como encargosIGUALDADE DE GÊNEROGraça Samo, diretoraexecutiva do Fórum<strong>da</strong> Mulher de Maputo,Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> BandeiraTrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento… A melhoria <strong>da</strong> condição <strong>da</strong>s mulheres também amplia sua capaci<strong>da</strong>dede toma<strong>da</strong> de decisão em todos os níveis e em to<strong>da</strong>s as esferas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,especialmente nas áreas de sexuali<strong>da</strong>de e reprodução. Isto, por sua vez,é essencial para o sucesso de longo prazo dos programas voltados paraa população. ... Os homens têm importante papel na promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>dede gênero uma vez que, na maioria <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des, exercem poderpreponderante em quase to<strong>da</strong>s as esferas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que vão <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> dedecisões pessoais relativas ao tamanho <strong>da</strong>s famílias até decisões políticase programáticas toma<strong>da</strong>s em todos os níveis de governo.tRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>53


financeiros em razão dos dotes elevados que os paissão obrigados a pagar para garantir um bom marido,ou porque mulheres podem contribuir muito poucopara a ren<strong>da</strong> familiar. Esses argumentos podemser contestados, de acordo com Poonam Muttreja,diretora executiva <strong>da</strong> Population Foun<strong>da</strong>tion of India.“Podemos contrapor evidências que provam quetanto meninas como meninos podem sustentar suasfamílias. De forma geral, a Índia não investiu nasmulheres e nas questões <strong>da</strong>s pessoas”, diz ela.Nan<strong>da</strong>, ex-secretário <strong>da</strong> Saúde e Bem Estar-Familiar indiano, diz que a piora <strong>da</strong> razão de sexoentre crianças é “um problema muito sério” quetem de ser visto em correlação com o declínio <strong>da</strong>staxas de fecundi<strong>da</strong>de. Ele e outros apontam <strong>da</strong>dosque demonstram que muitos, se não a maiorparte, dos abortos seletivos por sexo são arranjadospor pessoas ricas que vivem em luxuosos bairrosurbanos e que desejam famílias menores. Quandoa preferência por famílias menores se alinha coma deman<strong>da</strong> por meninos, isto pode levar ao abortode fetos de meninas. Pais ricos não se deixamSAÚDE REPRODUTIVA E DIREITOSTrechos <strong>da</strong> Conferência Internacional<strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento…A saúde reprodutiva…implica em que as pessoas… tenham acapaci<strong>da</strong>de de se reproduzir e a liber<strong>da</strong>de para decidir se, quandoe com qual frequência fazê-lo. Implícito nesta última condição estáo direito de homens e mulheres de serem informados e de teremacesso a métodos de planejamento familiar seguros, eficazes, baratose aceitáveis de sua escolha, bem como acesso a outros métodosde sua escolha para regular a fecundi<strong>da</strong>de que não sejam ilícitos, e odireito de acesso a serviços de saúde adequados que possibilitem àmulher atravessar com segurança o período entre gravidez e parto,e ofereçam aos casais as melhores oportuni<strong>da</strong>des para gerar filhossaudáveis. ... Direitos reprodutivos abrangem certos direitos humanos.... Esses direitos repousam no reconhecimento do direito básicode todos os casais e indivíduos de decidir livre e responsavelmente<strong>sobre</strong> o número, intervalo e momento de gerar seus filhos e de obterinformação e meios para fazê-lo.influenciar por incentivos financeiros de poucosmilhares de rúpias, afirma ele.“Eles oferecem quantias em dinheiro para a criaçãoe educação <strong>da</strong>s meninas; assim, não obrigam aocumprimento de leis de dotes ou de proprie<strong>da</strong>de”, diz.“Isto se transformou em política do mínimo esforço.”Quando ocupava o cargo técnico mais elevado noMinistério <strong>da</strong> Saúde, Nan<strong>da</strong> enviou pessoas disfarça<strong>da</strong>sàs clínicas para identificar médicos dispostos arealizar procedimentos ilegais para a determinação dosexo fetal – utilizando ultrassonografia, por exemplo–, e alguns foram presos. “Mas eles devem ser corretamenteprocessados,” diz. Até agora, isso não temacontecido em ampla escala.Famílias grandes em vezde previdência socialEm Moçambique, especialmente no norte rural, prolerepresenta riqueza. Mais filhos significam mais auxílionos trabalhos domésticos e mais mãos para trabalhar nalavoura familiar. Mais filhos também querem dizer maissegurança para os pais, quando eles envelhecem.“Filhos representam capital familiar”, dizGraça Samo, diretora executiva do Fórum Mulher.“Ter filhos sempre foi visto como uma forma de seter poder.”Ver a prole como riqueza faz sentido em um paísonde a riqueza econômica é escassa. Com uma receitadoméstica bruta, per capita, de US$440, Moçambiqueé o 14º país mais pobre do mundo – três quartos <strong>da</strong>população subsistem com US$1,25 por dia.Cerca de 70% <strong>da</strong> população reside nas áreas rurais;em sua maior parte, depende <strong>da</strong> agricultura de subsistência,segundo o Marco de Assistência <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento 2012-2015 paraMoçambique: “A produtivi<strong>da</strong>de agrícola extremamentebaixa, combina<strong>da</strong> com alta vulnerabili<strong>da</strong>de a choquesclimáticos, resulta em insegurança alimentar crônicaque afeta uma fatia muito grande <strong>da</strong> população. Aren<strong>da</strong> gera<strong>da</strong> pelos produtos agrícolas é baixa e incerta”.54capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


E é justamente nessas áreas rurais, ondeas taxas de fecundi<strong>da</strong>de são mais altas, que osanos de escolari<strong>da</strong>de são os mais baixos, queo casamento infantil é mais comum e querelativamente poucas pessoas fazem uso doplanejamento familiar.Com a pobreza vêm expectativas de vi<strong>da</strong>mais curtas e taxas de mortali<strong>da</strong>de mais altaspara mães e filhos. "As pessoas têm mais filhosquando a mortali<strong>da</strong>de infantil é eleva<strong>da</strong>,”segundo Samuel Mills, especialista sênior emsaúde do Banco <strong>Mundial</strong>. “Quando a mortali<strong>da</strong>deinfantil declina, as pessoas sentem menosnecessi<strong>da</strong>de de ter famílias grandes.”António Francisco, Rosimina Ali e YasfirIbraimo, do Instituto de Estudos Sociais eEconômicos de Maputo, dizem que “a prolenumerosa foi, por longo tempo, e ain<strong>da</strong> é atualmente,a principal forma de proteção socialem Moçambique”. Eles afirmam isto porquea maioria <strong>da</strong>s pessoas não pode contar com ogoverno para fornecer-lhes uma ren<strong>da</strong> quandoenvelhecem ou se tornam incapacitados parao trabalho, e criam seu próprio sistema deprevidência social tendo filhos. “A prole permanececomo a principal forma de proteçãosocial para a maior parte <strong>da</strong> população” deMoçambique, argumentam.Quando ocorre o desejo por mais filhosNa Europa, de norte a sul e de leste a oeste,são as baixas taxas de fecundi<strong>da</strong>de – e não ocrescimento populacional – que causam alarme.Alguns países adotaram programas de incentivopara estimular as pessoas a terem mais filhos.Tais políticas, chama<strong>da</strong>s natalistas ou pró--nascimento, quase sempre são acompanha<strong>da</strong>sde apelos às famílias para terem mais filhosem nome <strong>da</strong> sustentação do crescimento econômiconacional. Muitas mulheres, quandoquestiona<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> essa baixa fecundi<strong>da</strong>de naEuropa, parecem crer que isto é um extraordinário,senão inaceitável, motivo para acrescentaruma ou duas crianças à família, mesmo quandohá dinheiro ou outros incentivos envolvidos.Em Skopje, capital <strong>da</strong> antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong> Macedônia, alguns números querespal<strong>da</strong>m uma nova política pró-nascimentosvêm rapi<strong>da</strong>mente à tona na conversa com SpiroRistovski, ministro interino do Trabalho ePolítica Social. Ele diz, por exemplo, que algunsempregadores gastam de seis a nove meses àprocura de trabalhadores para preencher vagas,enquanto o país tenta fortalecer sua economiae se integrar à Europa e ao mundo. O país saiurelativamente pobre do desmembramento <strong>da</strong>Yugoslávia, na déca<strong>da</strong> de 1990.As taxas de fecundi<strong>da</strong>de do país declinarampara cerca de 1,5 filho por mulher,segundo cálculos <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ogoverno emprega o percentual de 1,3 emalguns relatórios) e isto, somado à migraçãode jovens para a Europa ocidental e Américado Norte em busca de melhores empregos etJardim de infância <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de ciganade Skopje, na antigaRepública Iugoslava <strong>da</strong>Macedônia©VII/Antonin KratochvilRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>55


tSpiro Ristovski, ministrointerino do Trabalho ePolítica Social <strong>da</strong> antigaRepública Iugoslava <strong>da</strong>Macedônia© VII/Antonin Kratochvilpadrões de vi<strong>da</strong>, reduziu a oferta de talentosempregáveis. A baixa fecundi<strong>da</strong>de prevalece emtodo o sul e leste europeus, incluindo a Rússia,com taxas de fecundi<strong>da</strong>de de 1,5 ou menosem to<strong>da</strong> a região. (A exceção é Montenegro,com 1,6). As taxas de fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Europaocidental também são baixas, com médiasregionais de 1,6, enquanto a França e Irlan<strong>da</strong>apresentam taxas mais altas, de cerca de 2,0.Ristovski afirma que serão necessáriosde cinco a sete anos para se determinar se oincentivo financeiro para o nascimento de umterceiro filho fez diferença para o aumento <strong>da</strong>população. Mulheres entrevista<strong>da</strong>s em todo opaís demonstraram ter sentimentos confusos<strong>sobre</strong> o plano. Elas se perguntam se a ren<strong>da</strong>extra cobriria os custos <strong>da</strong> criação de um terceirofilho. (A taxa de fecundi<strong>da</strong>de total indica quemuitas famílias ain<strong>da</strong> não têm dois filhos.)Nos últimos dois anos, 5.000 famílias sebeneficiaram do programa de incentivo emdinheiro. A maioria vive em Skopje, segundonúmeros oficiais. Mais <strong>da</strong> metade dosbeneficiados, 54%, é de etnia albanesa quetradicionalmente tende a ter famílias maiores;31% são de etnia macedônica; e quase 10%são ciganos.Anica Dragovic, especialista em demografiado Instituto de Sociologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Ss.Cyril and Methodious, em Skopje, afirma terdúvi<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> o plano de pagamento, questionandose o dinheiro não estaria indo parapessoas que já planejavam ter famílias maiores.Mulheres que trabalham e planejam ter menosfilhos podem considerar que o incentivo financeironão valeria a pena. Dragovic tambémcomenta que o plano pró-nascimento pouco ouna<strong>da</strong> faz para o empoderamento <strong>da</strong>s mulheres.“Os jovens acham que é melhor ter menosfilhos,” afirma uma jovem de Bogovinje, vilarejoao norte, ao se reunir a um grupo de mulheresmais velhas de uma vizinhança onde predominaa etnia albanesa muçulmana, para falar <strong>sobre</strong> suasvi<strong>da</strong>s. “A economia está mal. Mas também gostaríamosde ter mais tempo só para nós.”Na área de Bogovinje, onde o crescimentoeconômico está começando a aparecer e afecundi<strong>da</strong>de já está abaixo <strong>da</strong> taxa de reposição,mulheres afirmaram que, enquanto nãomu<strong>da</strong>r a postura masculina, a expectativa é queelas façam todo o trabalho doméstico e ain<strong>da</strong>cuidem dos idosos; ter mais filhos somenteaumentaria as tarefas que elas já têm. Mesmoquando a mulher não é desencoraja<strong>da</strong> ouproibi<strong>da</strong> por seu marido de trabalhar fora, eencontra um emprego, não há creches gratuitasou subsidia<strong>da</strong>s, e nem mesmo pré-escolas paraseus filhos – e esta é uma situação comum emmuitas partes do país.As mulheres de meia-i<strong>da</strong>de de Bogovinje,algumas delas com muito pouca escolari<strong>da</strong>de,também buscam oportuni<strong>da</strong>des de ganhardinheiro. Afirmam que escolas para adultosseriam bem-vin<strong>da</strong>s e, também, mais atenção paraa geração de empregos para mulheres e suportefinanceiro para aquelas que desejassem começarseu próprio negócio.56capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


Suas colegas mais jovens, ain<strong>da</strong> solteiras,encontraram saí<strong>da</strong> em um leque de carreiras,do ensino ao trabalho em escritórios e consultórios– uma delas é auxiliar de ortodontista,outras ingressaram em empresas. Elas buscamformação em instituições de ensino priva<strong>da</strong>s parase capacitar tecnicamente e aprender idiomas,para se preparar para o futuro desenvolvimentoeconômico que virá dos investimentos estrangeiros.Nessa região montanhosa, tanto a indústriacomo o turismo têm potencial de crescimento.Na parte sul do país, o turismo, nas vizinhançasdo lago Ohrid e nos locais históricosúnicos, aju<strong>da</strong> a sustentar as economias locais<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des de Struga e Ohrid, os vilarejose fazen<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s cercanias. Embora o desempregoain<strong>da</strong> seja um problema, e os salários<strong>da</strong>s mulheres sejam mais baixos que os doshomens, as jovens estão encontrando empregono setor de hospe<strong>da</strong>gem.Representantes de vários grupos de ativistasfemininas e profissionais mulheres reuniram-seem Struga para falar <strong>sobre</strong> suas vi<strong>da</strong>s e preocupações.Elas não concor<strong>da</strong>m com o valor doplano de benefício do governo para o terceirofilho: algumas dizem que ele complementaa ren<strong>da</strong> familiar com um valor “que não éinsignificante”, outras argumentam que, nasci<strong>da</strong>des onde as mulheres estavam retar<strong>da</strong>ndoo casamento e as taxas de divórcio estavam emalta, seria mais necessário oferecer capacitaçõese suporte para o empreendedorismo feminino.No Ministério do Trabalho e Política Social,Ristovski afirmou que o empoderamentoeconômico <strong>da</strong>s mulheres está nos planos e programasde desenvolvimento do governo central.No Gabinete de Estatísticas Oficiais emSkopje, Blagica Novkovska, a diretora, diz queaumentou o número de mulheres que encontramemprego no setor privado, o que mu<strong>da</strong>o padrão tradicional de emprego feminino, noqual 80% <strong>da</strong>s mulheres que trabalhavam estavamno setor público. As estu<strong>da</strong>ntes tambémestão quebrando a tradição, matriculando-seem cursos universitários, nas áreas de tecnologiae científica mais que na área de humanas,e fazendo cursos de administração em escolasparticulares, informa Novkovska. Seu gabineteestá estu<strong>da</strong>ndo essa tendência, e ela esperapublicar mais <strong>da</strong>dos nos próximos anos. Maspermanece a questão se a oferta de mais oportuni<strong>da</strong>desde carreira às mulheres prejudicaráos esforços para persuadi-las a ter mais filhos,ou se essas mulheres empodera<strong>da</strong>s preencherãoas vagas de trabalho em aberto, antes denascerem os filhos gerados em função dosincentivos de natali<strong>da</strong>de.Tornar mais fácil a constituiçãode uma famíliaNa Finlândia, a oferta de creches em todos osmunicípios tornou a decisão de ter filhos muitomais fácil para mulheres e casais que trabalham.A taxa de fecundi<strong>da</strong>de na Finlândia tem estadoabaixo <strong>da</strong> taxa de reposição de 2,1 filhos pormulher, desde a déca<strong>da</strong> de 1970. No final dotNo vilarejo deBogovinje, antigaRepública Iugoslava<strong>da</strong> Macedônia, umgrupo de mulheres fala<strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de desuporte financeiro paraabrir uma empresa©VII/Antonin KratochvilRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>57


século passado, aumentou a preocupação de que opaís, onde as taxas de imigração têm sido baixas, seriaafetado por uma grande carência de mão de obra.Pekka Martikainen, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deHelsinque, esclarece que as generosas políticasde bem-estar social não foram, entretanto, desenha<strong>da</strong>spara impulsionar a fecundi<strong>da</strong>de, massim para atender às famílias de várias formas, demaneira que pudessem fazer suas próprias escolhassem temer graves consequências econômicas.“As mulheres finlandesas, em larga medi<strong>da</strong>, permanecemno mercado de trabalho,” diz ele. “Aparticipação feminina é quase tão alta quanto amasculina. Há apenas um pequeno declínio dessaparticipação em certas faixas etárias, comumenterelacionado ao fato de elas permanecerem no larcui<strong>da</strong>ndo dos filhos pequenos. Na Finlândia, asmulheres normalmente permanecem em casa até ofinal do período de amamentação.”Para as trabalhadoras finlandesas, especialmenteas <strong>da</strong>s áreas urbanas, os benefícios recebidospela criação dos filhos são generosos e consideradosdireitos legais. Em Helsinque, por exemplo,isto inclui o direito incondicional de contar comcreches para todos os filhos por cinco horas aodia e a oferta de atendimento integral, noturno,aos finais de semana e 24 horas por dia, mediantepagamento baseado na ren<strong>da</strong> do cliente, mas quenão excede a €254 (cerca de US$366) por mês. Asrefeições são forneci<strong>da</strong>s em todos os planos. Casaiscom filhos abaixo de 3 anos, não matriculados nascreches municipais, recebem um subsídio familiarque, em Helsinque, vai de €448 (US$645) a €746(US$1,075) mensais. O atendimento particular acrianças feito por um cui<strong>da</strong>dor que não seja parente<strong>da</strong> família também é subsidiado.As creches municipais contam com quadrosamplos de funcionários que são escalados de acordocom as faixas etárias <strong>da</strong>s crianças que estão sobos cui<strong>da</strong>dos de ca<strong>da</strong> membro <strong>da</strong> equipe, variandode um cui<strong>da</strong>dor para ca<strong>da</strong> duas crianças de 0 a1 ano, até um funcionário para ca<strong>da</strong> grupo de13 crianças na pré-escola. Como a quanti<strong>da</strong>dede filhos de imigrantes aumenta lentamente,Helsinque treina professores em questões multiculturaise fornece o ensino de finlandês comosegun<strong>da</strong> língua já nas creches. Classes especiais sãoreserva<strong>da</strong>s para crianças com deficiências físicas oudificul<strong>da</strong>des de aprendizado.To<strong>da</strong>s as mulheres têm direito a uma licença--materni<strong>da</strong>de de 105 dias na Finlândia, e o direitode retornar aos seus empregos, ou para empregossemelhantes de mesmo nível. As grávi<strong>da</strong>s recebemum benefício em dinheiro de €140 (US$201) ouum kit-enxoval para que ela se prepare para o partoe para as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança, após o nascimento.Termina<strong>da</strong> a licença-materni<strong>da</strong>de, o governopaga uma licença de 158 dias para o pai e para amãe, calcula<strong>da</strong> com base nas necessi<strong>da</strong>des e recursosindividuais. Os pais recebem uma licença de 18dias de licença paternal que, quando somados aos12 dias de licença-paterni<strong>da</strong>de, compõem o que osfinlandeses chamam de “mês do pai.”Tudo isso, apesar de possivelmente desempenharum papel no recente aumento <strong>da</strong>fecundi<strong>da</strong>de em razão do ambiente de apoio comque pais hesitantes podem contar, não resultounecessariamente em famílias maiores. E essa situaçãoé comum na maior parte dos países europeus.Anneli Miettinen, pesquisadora em fecundi<strong>da</strong>dee infertili<strong>da</strong>de de Väestöliitto, a Federação <strong>da</strong> Família<strong>da</strong> Finlândia, não está tão preocupa<strong>da</strong> com as baixastaxas de fecundi<strong>da</strong>de, mas com a tendência a retar<strong>da</strong>ra gestação. “Precisamos ter uma população estável”,disse. “Temos de ter dois filhos por família, e estamosquase lá com a taxa de fecundi<strong>da</strong>de de 1,85.”“Mas há vários problemas”, continua Miettinen.“Um deles é que a i<strong>da</strong>de média na qual as mulheresestão tendo o primeiro filho aumentou. Atualmente,é cerca de 28, 29 anos – e, quando se considera a58capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


área <strong>da</strong> capital, é cerca de 30. As mulheres já nãosão jovens quando começam a ter ou pensar emconstituir família. Não creio que as pessoas estejampercebendo o que isso significa, que muitas<strong>da</strong>s hoje jovens adultas que optam por adiar onascimento de seus filhos acabam tendo posteriormenteproblemas de infertili<strong>da</strong>de.”“Aos 35, nossa i<strong>da</strong>de biológica está ficandoum pouquinho envelheci<strong>da</strong> em termos defecundi<strong>da</strong>de,” aponta Miettinen. “Às vezes,elas dizem: bom, eu tenho todo o tempo domundo; não tenho de pensar de ver<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong>essas coisas. Tenho de terminar meu curso,encontrar um emprego estável e um bom paipara meus filhos, antes de começar a pensar eminiciar uma família.”Resultados de uma pesquisa <strong>sobre</strong> a mulherfinlandesa, realiza<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 1970, demonstraramque elas acreditavam que a i<strong>da</strong>de-limitepara terem filhos era aos 37 anos. Hoje, as mulheresnão querem fixar uma i<strong>da</strong>de-limite. “Agora aspessoas começam a ter filhos na i<strong>da</strong>de de 37,” dizMiettinen. “Isto mudou totalmente o quadro.”A infertili<strong>da</strong>de pode aumentar no futuro emfunção dessas decisões, diz ela. Mulheres de maisde 35 anos já estão encontrando mais dificul<strong>da</strong>despara conceber. Mais mulheres estão recorrendo àfertilização in vitro. “Não temos nenhum limitede i<strong>da</strong>de prescrito em lei,”, comenta Miettinen.“Deixa-se aos médicos a tarefa de decidir se amulher pode engravi<strong>da</strong>r ou se não haverá problemasde saúde para a mãe ou para a criança. Achoque isto é depender demais <strong>da</strong>s consideraçõeséticas desses profissionais. Decidir se uma mulherde 45 anos é velha demais para se submeter a umafertilização in vitro é realmente um grande pesopara o médico.”Katariina Sorsa, 36, é pastora luterana. Elase beneficiou dos serviços de saúde do governoem suas bem-sucedi<strong>da</strong>s experiências com afertilização in vitro. Seu primeiro filho, Martii,nasceu em 2008, quando ela tinha 34 anos;o segundo, Janne, nasceu em junho de <strong>2011</strong>.Sorsa e seu marido casaram quando estavam nauniversi<strong>da</strong>de, mas só aos 30 anos descobriramque não poderiam ter filhos.Consideraram a adoção, mas decidiram--se por não adotar. A inseminação artificialnão funcionou. Buscaram então a aju<strong>da</strong> domédico que a atendia na rede pública <strong>da</strong> regiãoonde residiam, no norte de Helsinque. Os doisimplantes bem-sucedidos foram realizados nohospital público local, a baixo custo para eles.Sorsa diz que gastaram apenas várias centenasde euros de seu próprio dinheiro para despesasvaria<strong>da</strong>s e para os medicamentos necessários nosdois procedimentos e partos; um hospital particularteria custado milhares de euros. “Para meumarido e eu, tudo correu bem,” conta.Sendo pastora, Sorsa observa que mais bebêstêm sido trazidos à igreja para serem batizadose, de forma geral, nota que nasceram mais bebêsdesde 2006 ou 2007, não apenas de pais casados,mas também dos não casados e de mães solteiras.Não há barreiras sociais para os tratamentos defecundi<strong>da</strong>de na Finlândia.tKatariina Sorsa,pastora <strong>da</strong> IgrejaLuterana, estáesperando seusegundo filho porfertilização in vitro©UNFPA/Sami SallinenRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>59


Infertili<strong>da</strong>de e pobrezaNo mundo em desenvolvimento, a infertili<strong>da</strong>deé quase sempre um motivo de pesar <strong>sobre</strong> o qualse faz vista grossa – ela é negligencia<strong>da</strong> enquantoas questões de planejamento familiar e contracepçãosão prioriza<strong>da</strong>s, ou mulheres sem filhos sãorejeita<strong>da</strong>s como fracassa<strong>da</strong>s. Os problemas que asatingem podem não ser atendidos pelos serviços desaúde reprodutiva. Em dezembro de 2010, a OMS,Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde, publicou um trabalhointitulado Mother or Nothing: The Agony ofInfertility (Mãe ou Na<strong>da</strong>: a Agonia <strong>da</strong> Infertili<strong>da</strong>de)que afirma que a incapaci<strong>da</strong>de de gerar filhos temnumerosas causas, entre elas gravidezes ectópicas,tuberculose genital, oclusões tubárias decorrentes deinfecções no trato reprodutivo, abortos inseguros edoenças sexualmente transmissíveis.Os especialistas <strong>da</strong> Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúdeafirmam que, embora a infertili<strong>da</strong>de masculina respon<strong>da</strong>por quase metade dos casos de incapaci<strong>da</strong>dereprodutiva do casal, as mulheres são desproporcionalmenteaponta<strong>da</strong>s como responsáveis por essalimitação. Elas podem ser obriga<strong>da</strong>s a se divorciarcontra sua vontade, ser estigmatiza<strong>da</strong>s e trata<strong>da</strong>s comopárias pela comuni<strong>da</strong>de. Embora a infertili<strong>da</strong>de sejaum fenômeno mundial, na África se observa a existênciade um já conhecido “cinturão de infertili<strong>da</strong>de”, quevai de leste a oeste, <strong>da</strong> Tanzânia ao Gabão, segundoo estudo. Frequentemente, a cirurgia pode reparar oproblema e aju<strong>da</strong>r a mulher. Mas a fertilização in vitro,tal como aquela pratica<strong>da</strong> na Finlândia, na maioria <strong>da</strong>svezes, é dispendiosa demais, seja para as famílias utilizarem,seja para os serviços de saúde oferecerem.Segundo o documento <strong>da</strong> Organização <strong>Mundial</strong><strong>da</strong> Saúde, o Egito e a Índia implementaram programaspioneiros para o tratamento <strong>da</strong> infertili<strong>da</strong>de eencontraram meios de baixar os custos. No Cairo,Gamal Serour <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Al Azhar diz que asmulheres carentes também deveriam ter direito aotratamento <strong>da</strong> infertili<strong>da</strong>de. “Pesquisas demográficas<strong>da</strong> Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde demonstraramque há mais de 186 milhões de mulheres em i<strong>da</strong>dereprodutiva, em países de poucos recursos (comexceção <strong>da</strong> China), que são inférteis,” aponta. “Ainfertili<strong>da</strong>de é uma doença que contribui para acarga global de enfermi<strong>da</strong>des, envolve sofrimentocausado por questões de gênero e deveria seralivia<strong>da</strong> por todos os meios, porque prevenção etratamento são um direito reprodutivo." Alémdisso, acrescenta ele, nos programas de planejamentofamiliar que estimulam o adiamento, retardoou grandes intervalos entre as gravidezes “os casaisdeveriam ter a segurança de que terão aju<strong>da</strong> paraengravi<strong>da</strong>r, caso deci<strong>da</strong>m gerar um filho posteriormente.O planejamento familiar não é apenascontracepção. É também planejar uma família".FECUNDIDADE – 1950-2010 (FILHOS POR MULHER)PaísMundo1050China 1EgitoEtiópiaFinlândia 2ÍndiaMéxicoMoçambiqueNigériaAntiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong>Macedônia1. Para fins estatísticos, os <strong>da</strong>dos referentes à China não incluem Hong Kong e Macau, Regiões Administrativas Especiais <strong>da</strong> China.2. Inclui as Ilhas Aland.Fonte: Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010, <strong>da</strong> Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.60capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


Efeitos de longo prazo <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>deno crescimento populacional na ÁfricaOs países do continente africano – quese estende desde a região ao norte, nolimite com o Mediterrâneo, abrangendoos países <strong>da</strong> área do Saara e Subsaarianaaté alcançar o extremo sul do Cabo <strong>da</strong>Boa Esperança – formam um grupo tãodiversificado que nenhuma generalizaçãopode abarcar a todos. Coletivamente,a população africana corresponde atualmentea 15% <strong>da</strong> população mundial.Quando os demógrafos estavamno início <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s estatísticascoleta<strong>da</strong>s no relatório Perspectivas <strong>da</strong>População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010,publicado em abril <strong>da</strong>quele ano, o diretorassistente <strong>da</strong> Divisão de Populaçãodo Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais, Thomas Buettner,disse em uma reunião <strong>da</strong> Comissão<strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento:“O que teria acontecido, a longoprazo, se as atuais taxas de fecundi<strong>da</strong>dee mortali<strong>da</strong>de por país tivessem permanecidoinaltera<strong>da</strong>s? Esse cenário gerariauma população mundial de 3,5 trilhões depessoas em 2300, número alto demaispara ser inserido em um gráfico em queapareçam outros cenários, e tão absolutamenteimpossível que indica que as atuaistaxas de fecundi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de nãosão sustentáveis. Analisados detalha<strong>da</strong>mente,esses resultados mostram quea eleva<strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de em países <strong>da</strong>África, se manti<strong>da</strong> por 300 anos, levariaa uma população de 3,1 trilhões em 2300,somente nesse continente.”O ano de 2300 está longe demaispara que a grande maioria <strong>da</strong>s pessoaspossa imaginá-lo, mas os de 2050 ou2100 estão bem dentro do alcance dosnetos ou bisnetos <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s pessoasque estão vivas hoje. Joseph Chamie,ex-diretor <strong>da</strong> Divisão de População doDepartamento de Assuntos Econômicose Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e atualmentediretor de pesquisa do Centrode Estudos <strong>da</strong> Migração de Nova York,recentemente analisou as últimas projeçõese escreveu <strong>sobre</strong> como a Áfricae a Nigéria, em particular, parecem tera possibili<strong>da</strong>de de distorcer o futurocrescimento global. (Ele também ressaltaque se a Índia, que pretende tersua população estabiliza<strong>da</strong> em 2045,não reduzir suas taxas de fecundi<strong>da</strong>de,sua atual população de 1,2 bilhão podeaumentar para 2 bilhões em 2050.)“Se as taxas de fecundi<strong>da</strong>de africanaspermanecerem inaltera<strong>da</strong>s nas próximasdéca<strong>da</strong>s, a população do continente crescerácom extrema rapidez, alcançando3 bilhões em 2050 e incríveis 15 bilhõesem 2100, ou cerca de 15 vezes sua atualpopulação,” escreveu Chamie em junhode <strong>2011</strong>, na revista online The Globalist,publica<strong>da</strong> pelo Globalist Research Center,sediado em Washington. “Em uma perspectivaglobal, parece provável hoje que aÁfrica seja o último continente a conseguiravanços na área <strong>da</strong> transição demográfica– ou seja, avançar de altas para baixastaxas de nascimentos e mortes.”O poder <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de decisão informa<strong>da</strong>As experiências do Egito, Índia e Moçambiquedemonstram que não há explicações fáceis para asaltas taxas de fecundi<strong>da</strong>de, nem uma forma únicade se assegurar que as mulheres disporão <strong>da</strong>s informações,<strong>da</strong>s ferramentas e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de quenecessitam para decidir livremente <strong>sobre</strong> o tempoadequado e intervalos entre as gravidezes.A experiência <strong>da</strong> Finlândia e <strong>da</strong> antigaRepública Iugoslava <strong>da</strong> Macedônia demonstra queo caminho para taxas de fecundi<strong>da</strong>de mais altas éigualmente complexo.Se o objetivo é tornar mais fácil para os casaisgerar menos – ou mais – filhos, os governos devembasear suas ações em princípios de livre escolha eempoderamento, conforme aprovaram as naçõesmundiais na Conferência Internacional <strong>sobre</strong>População e Desenvolvimento.Pesquisas realiza<strong>da</strong>s nas últimas duas déca<strong>da</strong>s têmrepeti<strong>da</strong>mente demonstrando que, quando as mulheressão saudáveis, escolariza<strong>da</strong>s e têm acesso a serviçosintegrados de saúde sexual e reprodutiva, incluindo oplanejamento familiar, as taxas de fecundi<strong>da</strong>de – e otamanho médio <strong>da</strong>s famílias – diminuem.Uma pesquisa agrupa<strong>da</strong> de indicadores múltiplos,realiza<strong>da</strong> em 2008 pelo Instituto Nacionalde Estatística de Moçambique, por exemplo,demonstrou que o uso de contraceptivos naqueleRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>61


tEm um hospitalmunicipal de Xialiang,na China, mulherprepara seu filho paraser vacinado©UNFPA/Guo Tieliupaís sempre esteve fortemente vinculado àescolari<strong>da</strong>de e à prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres.Os contraceptivos são utilizados por apenas12% <strong>da</strong>s mulheres que nunca foram à escolae por 37% <strong>da</strong>s que têm, no mínimo, grausecundário. Aquelas que se beneficiam dosserviços de planejamento familiar têm maiorcontrole <strong>sobre</strong> o número, momento adequadoe intervalos entre as gravidezes.A.R. Nan<strong>da</strong>, ex-secretário indiano <strong>da</strong>Saúde e Bem-Estar Familiar, afirma que nasáreas do país onde o empoderamento demeninas e mulheres foi acentuado, tambémse observou declínio nas taxas de fecundi<strong>da</strong>de.Kerala, estado ao sul <strong>da</strong> Índia, é umdesses lugares que alcançaram fecundi<strong>da</strong>de eníveis de desenvolvimento comparáveis aosdos países mais ricos. Isto foi obtido atravésde políticas sensíveis a gênero que incluíramuma longa trajetória de ensino próximo douniversal para meninas, além de fácil acessoao atendimento à saúde. A experiênciade Kerala, ressalta Nan<strong>da</strong>, comprova que épossível alcançar declínios de fecundi<strong>da</strong>dede maior vulto sem que as mulheres sejampressiona<strong>da</strong>s pelo governo para ter menosfilhos. A educação para meninas tambémé vista como ponto central dos esforçosde Moçambique para reduzir as taxas defecundi<strong>da</strong>de no futuro: Leonardo Chavane,do Ministério <strong>da</strong> Saúde, diz que o primeiropasso <strong>da</strong> questão é escolarizar as mulheres.“As mulheres precisam ter acesso à educaçãopara ter domínio <strong>sobre</strong> as situações nas quaisestão inseri<strong>da</strong>s”, aponta.Na China, alguns demógrafos afirmam queas baixas taxas de fecundi<strong>da</strong>de não resultamnecessariamente <strong>da</strong> atual política de planejamentofamiliar, que limita em um o número defilhos para a maioria dos casais. Ao contrário,atribuem muito dessa redução <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>deao desenvolvimento econômico e social, que,segundo eles, já estava contribuindo para odeclínio <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de, mesmo antes que aatual política de planejamento familiar fosseinstaura<strong>da</strong>. E, caso a política fosse subitamenteabran<strong>da</strong><strong>da</strong> ou sofresse um recuo, dizem,a maioria <strong>da</strong>s famílias não se apressaria parater mais filhos do que pode sustentar, porqueaprendeu o valor e os benefícios de um númeromenor de filhos para a economia doméstica epara as próprias crianças. Alguns vizinhos <strong>da</strong>China, do Leste e Sudeste Asiático, alcançarambaixas taxas de fecundi<strong>da</strong>de sem políticasde limitação do número de filhos que umafamília pode ter. A taxa de fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>província chinesa de Taiwan caiu para abaixo<strong>da</strong> taxa continental sem que houvesse limitaçõesao tamanho <strong>da</strong>s famílias. Segundo oPopulation Reference Bureau, a taxa de fecundi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> província chinesa de Taiwan, de 0,9filho, é considera<strong>da</strong> a mais baixa do mundo,62capítulo 4: O que influencia a fecundi<strong>da</strong>de?


embora novos números do censo chinês de 2010demonstrem que a taxa de fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> áreametropolitana de Shangai baixou para 0,8.A República <strong>da</strong> Coreia, onde o crescimentopopulacional baixou muito sem políticas restritivas,também é considera<strong>da</strong> uma história desucesso por reduzir a seleção <strong>da</strong>s gestações porsexo e as diferenças de gênero entre os jovens.Uma economia em expansão, com mais empregospara as mulheres, a migração <strong>da</strong>s áreas rurais paraas ci<strong>da</strong>des, regulamentação efetiva contra a seleçãopor sexo, leis que reforçam o direito <strong>da</strong>s mulheresdentro do casamento e uma campanha multimídiacom o tema “Ame sua filha”, tudo isso sesomou para a melhoria <strong>da</strong>s razões de gênero empouco mais de uma déca<strong>da</strong>.A CIPD e os Objetivos de Desenvolvimento do MilênioSeis anos após o grande avanço obtidona Conferência Internacional <strong>sobre</strong>População e Desenvolvimento (CIPD),no Cairo, os Estados-Membros <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s, reunidos em Nova York,aprovaram a Declaração do Milênio eoito diretrizes ambiciosas e abrangentesvolta<strong>da</strong>s para a redução <strong>da</strong> pobreza,<strong>da</strong>s doenças, <strong>da</strong> destruição, do meioambiente e <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais eeconômicas até 2015. Esses Objetivosde Desenvolvimento do Milênio e asmetas e indicadores concretos paramensurá-los, acrescentados posteriormente,ofereceram às Nações Uni<strong>da</strong>sum conjunto de indicadores para acompanharo progresso nesses temas.A déca<strong>da</strong> de 1990 foi um período demuita ativi<strong>da</strong>de para a Organização <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s que realizou importantesconferências internacionais <strong>sobre</strong> omeio ambiente, no Rio de Janeiro, em1992; <strong>sobre</strong> direitos humanos, em Viena,em 1993; <strong>sobre</strong> população e desenvolvimento,no Cairo, e <strong>sobre</strong> o avanço<strong>da</strong>s mulheres, em Beijing, em 1995.Declarações e planos de ação derivadosde to<strong>da</strong>s essas conferências serviramde base para a re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Declaraçãodo Milênio e dos Objetivos deDesenvolvimento do Milênio. Ao mesmotempo em que aumentou a consciênciamundial <strong>sobre</strong> o papel central que asmulheres têm a desempenhar em todosos aspectos, para que a pobreza, emsuas várias dimensões, seja supera<strong>da</strong>,o Programa de Ação <strong>da</strong> CIPD ofereceu,talvez, a melhor esperança de avanço. Avi<strong>da</strong> e os direitos <strong>da</strong>s mulheres – metade<strong>da</strong> população mundial – são afirmadosem todos os objetivos: erradicação <strong>da</strong>pobreza; alcance do ensino primário universal;promoção <strong>da</strong> equi<strong>da</strong>de de gênero;redução <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil; melhoria<strong>da</strong> saúde materna; combate ao HIV/AIDS, malária e outras enfermi<strong>da</strong>des;assegurar a sustentabili<strong>da</strong>de ambientale a criação de parcerias globais para odesenvolvimento.Nenhum desses objetivos podeser alcançado sem um maior avançona promoção <strong>da</strong> saúde reprodutivamaterna e na proteção à saúde maternae do recém-nascido. Mas, de todosos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio, o quinto – o de melhoria <strong>da</strong>saúde materna – foi o que menos avançou.É o que apresenta maior carênciade financiamento dentre aqueles relativosà saúde. Em 2007, os líderes globaisacrescentaram uma segun<strong>da</strong> meta aoObjetivo de Desenvolvimento do Milênio5: acesso universal à saúde reprodutiva.No encerramento <strong>da</strong> Cúpula <strong>Mundial</strong><strong>sobre</strong> os Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio, em setembro de 2010, osecretário-geral <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,Ban Ki-moon, e os chefes de Estado ede Governo, juntamente com o setorprivado, fun<strong>da</strong>ções, organizações internacionais,socie<strong>da</strong>de civil e organizaçõesde pesquisa lançaram um esforço mundialconjunto para salvar as vi<strong>da</strong>s demais de 16 milhões de mulheres e crianças.Em um evento especial realizadopelas Nações Uni<strong>da</strong>s para o lançamento<strong>da</strong> Estratégia Global para a Saúde <strong>da</strong>Mulher e <strong>da</strong> Criança, os doadores prometerammais de US$40 bilhões emrecursos para a saúde <strong>da</strong> mulher e <strong>da</strong>criança. “Sabemos o que contribui parasalvar as vi<strong>da</strong>s de mulheres e crianças,e sabemos que elas são essenciais paratodos os Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio,” disse o secretário-geral.Embora as questões que envolvema juventude não estejam incluí<strong>da</strong>s nosoito Objetivos de Desenvolvimento doMilênio, elas detêm o potencial paraalcançá-los, especialmente o Objetivo1, de redução <strong>da</strong> pobreza, afirmouSamuel Kissi, jovem ativista de Gana,discursando em um evento para ajuventude durante a Cúpula de Revisãodos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio, em 2010. “Somos 1,8 bilhãoe estamos prontos para nos envolvermos,”disse Kissi. “Não somosapenas recursos, somos parceiros, eestamos prontos para <strong>da</strong>r significativacontribuição para os Objetivos deDesenvolvimento do Milênio.”RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>63


64 capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


CAPÍTULOCINCODecisão de mu<strong>da</strong>r:impacto e poder<strong>da</strong> migraçãoNo pitoresco vilarejo montanhoso de Rostushe, na antiga República Iugoslava<strong>da</strong> Macedônia, a melancolia do dia cinzento de inverno se reflete no rosto <strong>da</strong>smulheres que explicam de que forma a migração roubou o ânimo e a alma <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de em que vivem. A migração não é um fenômeno novo neste vilarejo,dizem. Os jovens têm saído para o exterior em busca de trabalho desde os anosde 1960. Primeiro para a Turquia, e depois para a Europa ocidental e AméricatChega<strong>da</strong>s e saí<strong>da</strong>sna estação central detrem de Helsinque,na Finlândia©UNFPA/Sami Sallinendo Norte. Vão e retornam para passar algumtempo em companhia de suas famílias.O que aconteceu mais recentemente,dizem as moradoras de Rostushe, é que asjovens e crianças também partiram. Seja parajuntar-se aos homens ou para procurar opróprio emprego, as mulheres e suas famíliasestão iniciando novas vi<strong>da</strong>s, em novos países.As casas grandes e chalés que construíramestão sempre vazios, com exceção de algumaspoucas semanas por ano, quando as famíliasretornam para as férias de verão.Sani<strong>da</strong> Ismaili, professora <strong>da</strong> escola dovilarejo, diz que agora quase não há criançasem Rostushe — somente três, em uma de suassalas, e nenhuma nas outras. A i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, de cerca de 8.500 pessoas, vai de45 a 90, comentam as mulheres. O sistema desaúde já não oferece tanto atendimento ginecológico;não há muita necessi<strong>da</strong>de de obstetras.Não há Centros para Idosos. “Sobrevivemossozinhos, ou com amigos,” diz uma moradora.O colapso econômico que se seguiu à divisão<strong>da</strong> Iugoslávia em novos países, na déca<strong>da</strong>de 1990,– dentre os quais a antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong> Macedônia que emergiu como anação mais pobre de to<strong>da</strong>s –, acelerou o esvaziamentodo vilarejo de sua população jovem.As fábricas fecharam, inclusive uma tecelagemque era ponto de referência e que antigamenteempregava mulheres. Falharam os esforçospara encontrar meios alternativos de geração dereceita para o vilarejo. Existe algum potencialpara um limitado turismo montanhoso emRostushe, com seus brilhantes minaretes recobertosde cobre, elevando-se <strong>sobre</strong> as velhas casasconstruí<strong>da</strong>s nas ruas íngremes e contrastandocom colinas cobertas por florestas. Mas não háinvestimento para desenvolvê-lo. Alguns poucosmoradores montaram um plano para engarrafarRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>65


tLíderes cívicos eativistas de Rostushe,antiga RepúblicaIugoslava <strong>da</strong>Macedônia© VII/Antonin Kratochvile comercializar a água que brota na primavera, maso governo não ofereceu nenhum auxílio nem foipossível encontrar investimento privado para isso.“Continua o socialismo,” diz alguém. “Ofim <strong>da</strong>s empresas estatais, as fábricas fecha<strong>da</strong>snão foram substituí<strong>da</strong>s pela criação de empregosno setor privado.”A Divisão de População do Departamentode Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s estima que, no mundo atual de 7 bilhõesde pessoas, no mínimo 214 milhões vivem forados países onde nasceram; um número desconhecidose movimenta no interior de seus própriospaíses. Na China, os números recentementepublicados do censo de 2010 mostram que maisde 260 milhões de pessoas, principalmente moradores<strong>da</strong>s áreas rurais, vivem longe do endereçode registro de seus domicílios, mais de 81% emuma déca<strong>da</strong>, aponta Ma Jiantang, diretor doGabinete Nacional de Estatística, em entrevistacoletiva realiza<strong>da</strong> em abril de <strong>2011</strong>.A Organização Internacional para asMigrações (OIM), órgão intergovernamentalcomposto por 132 nações e 17 países observadores,define a imigração como “uma <strong>da</strong>s questõesglobais determinantes do início do século XXI”.O impulso para mu<strong>da</strong>r de país, fortalecido pelotransporte intercontinental e pelo maior conhecimento<strong>sobre</strong> o mundo, que nos chega atravésdos meios de comunicação de massa e <strong>da</strong>s redessociais, leva muitos à busca de uma vi<strong>da</strong> melhor.As Nações Uni<strong>da</strong>s definem migrante como apessoa que residiu em país estrangeiro por mais deum ano, independentemente dos motivos – quervoluntária ou involuntariamente – ou os meiosutilizados – lícitos ou não. Os que vivem emoutro país sem autorização ou documentação sãoconsiderados “migrantes irregulares”, enquanto osclandestinos ou levados pelo tráfico de um paíspara outro são considerados “migrantes ilegais.”Na China e na Índia – as duas nações maispopulosas do mundo – observam-se tanto aemigração como a imigração. A maior parte dosmigrantes que chega à Índia provém dos paísesvizinhos Bangladesh e Nepal. Estima-se que 5milhões de nepaleses trabalhem na Índia. Mastodos os que imigram para a Índia, seja qual foro país de proveniência, formam em seu conjuntoapenas 0,4% <strong>da</strong> população total. A migraçãopara o exterior é mais significativa, com umaestimativa oficial indiana de mais de 24 milhõesde “não residentes indianos” e “pessoas de origemindiana” – termos que o governo emprega paraas pessoas em diáspora que, respectivamente, preservaramsua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia ou adotaram a de outrospaíses. Similar à <strong>da</strong> Índia, a diáspora chinesa éestima<strong>da</strong> em 35 milhões.Analisar as oportuni<strong>da</strong>desA decisão de deixar o lar pode depender <strong>da</strong>existência de amigos, familiares ou compatriotasesperando pela pessoa em seu destino. Por vezes,depende de oportuni<strong>da</strong>des de emprego, moradiaou educação de nível mais elevado que o novo66capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


destino possa oferecer. Muitos dos que pensam emmigrar se baseiam nas informações que obtêm nasredes sociais internacionais, imprescindíveis parasua decisão de sair – ou permanecer.No México, funcionários do governo têmnotado que o cálculo <strong>sobre</strong> se arriscar ou não a umamu<strong>da</strong>nça para os Estados Unidos depende, emparte, <strong>da</strong>s informações <strong>sobre</strong> empregos e oportuni<strong>da</strong>desdo outro lado <strong>da</strong> fronteira que os eventuaismigrantes recebem de amigos e familiares.“Quando o PIB per capita americano se desacelera,os fluxos migratórios reagem com muitarapidez,” aponta Félix Vélez, secretário-geral doConselho Nacional de População, órgão de governoconhecido como CONAPO. “Parte disso tem aver com os vínculos entre mexicanos que vivem noMéxico e os que vivem nos Estados Unidos. Hámuita informação. Dessa forma, quando a possibili<strong>da</strong>dede encontrar emprego nos Estados Unidos équase nenhuma, as pessoas decidem não ir.”Mas outros fatores também afetaram a migraçãomexicana para os Estados Unidos, onde vivemde 11 a 12 milhões de estrangeiros sem documentação,a maioria proveniente do México, segundoestimativas de funcionários do governo e defensoresdos imigrantes. “O fato de os mexicanosatualmente já não serem tão jovens contribui paradiminuir a probabili<strong>da</strong>de de migração, porquegrande parte do fenômeno ocorre na faixa etáriados 15 aos 29 anos”, diz Vélez. “Sendo assim,mesmo num cenário onde a economia americanase recupere e os controles de fronteira não sejamtão rígidos, eu estimo que futuramente as taxas demigração sejam mais baixas.”Além disso, “os mexicanos estão melhorandode vi<strong>da</strong>”, diz Vélez. “Pelo censo se pode observarque o número de mexicanos ricos – com carros,computadores, máquinas de lavar – aumentoudrasticamente, e isso teve a ver com a baixa <strong>da</strong>inflação e <strong>da</strong>s taxas de juros. Pela primeira vezdesde a déca<strong>da</strong> de 1960, tivemos um período bemmais longo de estabili<strong>da</strong>de macroeconômica. Estámais fácil que nunca conseguir crédito.” Somandosea tudo isso, acrescenta Vélez, estão os riscos decruzar a fronteira com os Estados Unidos, ao nortedo México, onde altos índices de criminali<strong>da</strong>de seassociam ao tráfico de drogas, e a campanha dogoverno mexicano contra os traficantes provocoumuitas mortes. Os “anos dourados <strong>da</strong> migraçãopara os Estados Unidos” passaram, afirma.Na Finlândia, onde os imigrantes <strong>da</strong> Rússiae dos Países Bálticos se fixaram há anos, os imigrantesafricanos agora estão chegando em maiornúmero, embora sejam ain<strong>da</strong> muito poucos.Sentindo-se mais isolados que os imigrantes europeus,constroem suas próprias redes de contatoscom a aju<strong>da</strong> de organizações não governamentaise, por vezes, serviços sociais do governo. OFamily Federation (Federação <strong>da</strong> Família), centromulticultural finlandês que mantém uma linhatelefônica de atendimento em vários idiomas,estima que de 11.000 a 12.000 somalis, muitosdos quais chegaram em busca de asilo e mais tardetrouxeram membros <strong>da</strong> família, fixaram residênciano país em 20 anos.tFélix Vélez,secretário-geral doConselho Nacional dePopulação do México©UNFPA/RicardoRamirez ArriolaRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>67


tShemen Sunamo eAbrham Tamrat(à esquer<strong>da</strong>) falam<strong>sobre</strong> a vi<strong>da</strong>, em umcentro de trânsito emAdis Abeba, na Etiópia©UNFPA/Antonio FiorentePartir, a despeito dos riscosNa África, um centro de trânsito localizado emAdis Abeba, capital <strong>da</strong> Etiópia, é um abrigo temporáriopara jovens de ambos os sexos – muitosdos quais ain<strong>da</strong> adolescentes – que tentaram semsucesso fugir <strong>da</strong> pobreza, fazendo uma perigosae exaustiva viagem por terra e mar para a ArábiaSaudita, seu modelo de terra de oportuni<strong>da</strong>des. Amaior parte dos que estão no abrigo, recebendoalimentação e cui<strong>da</strong>dos médicos enquanto aguar<strong>da</strong>mque o UNICEF os reconduza às suas famíliasetíopes, foi encontra<strong>da</strong> no Iêmen e repatria<strong>da</strong> coma aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> OIM. Eles dividem o centro de trânsitocom somalis que fugiram de seu devastado país.Enquanto o espaguete do almoço era cozidonos fundos do abrigo, Shemen Sunamo,adolescente etíope, contou o que sofreu parachegar à Arábia Saudita onde, ouviu dizer, haviavagas no pastoreio de rebanhos ou na irrigaçãode plantações. Sua viagem começou com maisde uma semana de caminha<strong>da</strong> até a costa deDjibuti, no Golfo de Aden. Na caminha<strong>da</strong>,<strong>sobre</strong>viveu alimentando-se com uma pastafeita de farinha de sorgo dissolvi<strong>da</strong> em águae, à noite, dormia no chão, a céu aberto. EmDjibuti, conseguiu lugar em um bote que iapara o Iêmen; de lá, seguiu numa longa e penosajorna<strong>da</strong> por terra para a Arábia Saudita. Trêsmeses mais tarde, foi pego pela polícia sauditae forçado a voltar para o Iêmen. Lá, encontrouum escritório <strong>da</strong> OIM e pediu aju<strong>da</strong>.De certa forma, a maior tragédia para ele éa per<strong>da</strong> que essa fracassa<strong>da</strong> tentativa de migraçãocausou à sua família. Shemen, natural deSiltea, no sul <strong>da</strong> Etiópia, precisou pagar 5.500birr (cerca de US$326) a um contrabandistapara fazer a árdua viagem. Seus pais, queforam contrários à aventura desde o início,recusaram-se a ajudá-lo, ou não dispunham demeios para fazê-lo. Mas um irmão mais velho,sabendo quanta esperança Shemen tinhadepositado em seu sonho, vendeu sua junta debois para levantar o dinheiro.Nesse ponto <strong>da</strong> história, Shemen abaixa acabeça entre as mãos e não consegue continuar.Um boi é um investimento de capital significativopara um agricultor etíope. Shemen seangustia e se envergonha pelo preço que custoupara o irmão sua esperança insensata. Quandolhe perguntamos se ele faria nova tentativa paradeixar a Etiópia, ele levanta a cabeça e diz desafiadoramente:“Nunca!”Sentado a seu lado está Abrham Tamrat,outro adolescente devolvido depois <strong>da</strong> tentativaaborta<strong>da</strong> de chegar à Arábia Saudita, ou a qualqueroutro lugar que ofereça a vi<strong>da</strong> com que elesonha – e é possível que ele tente novamente.68capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


Tamrat mostra-se um tanto fanfarrão quandodiz: “Não quero trabalhar na Etiópia; queromais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.” Ele ouviu dizer que outros meninose jovens levantaram 15.000 birr (cerca deUS$890) para serem conduzidos clandestinamentepara a África do Sul. Alguns deles foramlevados depois para o México e para AméricaCentral, também de modo clandestino, com apromessa de chegar aos Estados Unidos, segundogrupos de aju<strong>da</strong> para imigrantes que operamna fronteira entre México e Estados Unidos.Na Etiópia, algumas meninas e jovensmulheres também se aventuram na migraçãointernacional para buscar trabalho em lugaresdistantes. Outras se arriscam a deixar seus laresem busca de outros lugares dentro do própriopaís, às vezes para fugir de casamentos arranjadospela família. Um centro público de AdisAbeba que recebe aju<strong>da</strong> do UNFPA ofereceensino informal de matemática, inglês, saúdereprodutiva e habili<strong>da</strong>des de vi<strong>da</strong> para centenasde meninas que fugiram de casa para evitar ocasamento precoce. Uma delas, Mulu, tinhaapenas 12 anos quando fugiu: uma vizinha lhecontou que seus pais encontraram um maridopara ela e planejavam seu casamento.Há três anos Mulu trabalha como emprega<strong>da</strong>doméstica. Ela não se queixa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,porque sua empregadora permite que ela sedistraia no Centro que fica perto do principalterminal de ônibus <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, aonde muitasmeninas chegam sem saber o que fazer depois.Os salários de emprega<strong>da</strong>s domésticas comoMulu estão abaixo de qualquer padrão decomparação. Uma delas, de nome Wude, de23 anos, ganha cerca de US$3,00 por mês.Outra jovem relata que roubou um carneirodo rebanho <strong>da</strong> família para pagar umguia que a levasse a Adis Abeba, tirando-a <strong>da</strong>casa onde residia, ao sul. Por todo o caminho,ela teve de lutar contra seus avanços sexuais.Foi encontra<strong>da</strong> na rua próxima ao terminal deônibus <strong>da</strong> capital, chorando porque não conseguiaencontrar os parentes que ela sabia queresidiam em algum lugar <strong>da</strong> enorme ci<strong>da</strong>de.Quando os encontrou, eles a fizeram trabalharem sua casa por dois anos, por longas horase sem nenhum salário. Sua vi<strong>da</strong> somentemelhorou, ain<strong>da</strong> que marginalmente, quandocasualmente encontrou na igreja uma mulherque lhe ofereceu um emprego melhor.MIGRAÇãO INTERNACIONALPopulação migrante internacionalem 2010EuropaÁsiaAmérica do NorteÁfricaAmérica LatinaOceaniaPaíses que acolheram o maior númerode migrantes internacionais em 2010Estados UnidosFederação RussaAlemanhaArábia SauditaCanadáTrês países de maior migração para oexterior e diáspora estima<strong>da</strong>, em milhõesChinaÍndiaFilipinasFonte: Divisão de População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s69.8 milhões61,3 milhões50,0 milhões19,3 milhões7,5 milhões6,0 milhões42,8 milhões12,3 milhões10,8 milhões7,3 milhões7,2 milhões35 milhões20 milhões7 milhõesRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>69


tO demógrafo AssefaHailemariam, <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de de AdisAbeba©UNFPA/Antonio FiorenteVulnerabili<strong>da</strong>de a contrabandistase traficantesNa Universi<strong>da</strong>de de Adis Abeba, o demógrafoAssefa Hailemariam, coeditor de um novo livro,The Demographic Transition and Development inAfrica: The Unique Case of Ethiopia (A TransiçãoDemográfica e o Desenvolvimento na África: oCaso Único <strong>da</strong> Etiópia), afirma que, para os meninos,a falta de terra para ser dividi<strong>da</strong> entre filhoshomens pode levá-los a migrar. Outra questãorelaciona<strong>da</strong> a essa é a pressão <strong>sobre</strong> as famílias paraencontrar maridos relativamente bem de vi<strong>da</strong> paracasar com suas filhas. Oficiais <strong>da</strong> migração dizemque, quando os membros de uma família veemcomo única opção a migração, podem recorrer acontrabandistas ou cair no engodo de traficantes.Sasu Nina Tesfamariam, que mantém asilospara idosas em Adis Abeba, também dá abrigoa meninas que foram leva<strong>da</strong>s para fora do paíspor contrabandistas e voltaram desampara<strong>da</strong>spara a Etiópia. As jovens procuram trabalhocomo emprega<strong>da</strong>s domésticas, principalmentena Arábia Saudita, mas também no Iêmen, emDubai, no Kuwait e na Síria, conta Sasu Nina.Muitas são pegas e deporta<strong>da</strong>s dos países ondetrabalham, podendo não ter para onde ir quandoregressam à Etiópia.Sasu Nina nos apresentou Halima, moçamuito tími<strong>da</strong> de 19 anos que estava sob seuscui<strong>da</strong>dos. Diferentemente de muitas jovensque foram introduzi<strong>da</strong>s clandestinamente emoutros países, a passagem de Halima para Dubaifoi arranja<strong>da</strong> legalmente por um parente, e elaviajou com passaporte válido. Mas, como emprega<strong>da</strong>doméstica em Dubai, foi rotineiramenteabusa<strong>da</strong>, nunca recebeu salário e, virtualmente,foi manti<strong>da</strong> como prisioneira. Proibi<strong>da</strong> de utilizaro telefone, não podia entrar em contato comsua família ou com qualquer outra pessoa paracontar <strong>sobre</strong> sua aflitiva situação.Quase três anos depois, quando planejavapartir, sua patroa a empurrou de uma varan<strong>da</strong> do3º an<strong>da</strong>r, conta. Halima sofreu fraturas múltiplas,e seu rosto ficou gravemente desfigurado (ao falar,ela esconde com as mãos as partes do rosto maisatingi<strong>da</strong>s). Um tribunal de Dubai mandou-ade volta para a Etiópia, onde um primo a levoupara um hospital de Adis Abeba administradopor sul-coreanos. Os cirurgiões plásticos de lácomeçaram a tratar suas lesões. Seu caso recebeutratamento de alta priori<strong>da</strong>de quando Yoo Soontaek,esposa do secretário-geral Ban Ki-moon, aconheceu no hospital, na ocasião em que o casalesteve em visita oficial àquele país.Defensores dos direitos de migrantes afirmamser difícil calcular o exato número de etíopes quedeixam o país para trabalhar no exterior, uma vezque muitos vão sem documentação ou sem queos funcionários do governo tenham conhecimentodo fato. A imprensa etíope cita declaração doporta-voz do Ministério do Trabalho e AssuntosSociais, publica<strong>da</strong> no começo de <strong>2011</strong>, de queexistem 78 agências de emprego licencia<strong>da</strong>s para oencaminhamento de trabalhadores migrantes paraDjibuti, Kuwait e Arábia Saudita e que, desdesetembro de 2009, mais de 26.000 pessoas deixaramlegalmente o país para trabalhar no exterior.70capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


O transporte de imigrantes através defronteiras internacionais por contrabandistas etraficantes é extenso, um triste reflexo de quãolucrativa pode ser essa ativi<strong>da</strong>de criminosa.E ela ocorre em todo o mundo. Milhares demulheres procedentes <strong>da</strong> Nigéria e de outrospaíses do oeste <strong>da</strong> África, por exemplo, sãoleva<strong>da</strong>s anualmente por contrabandistas quecobram, às vezes, mais de US$50.000 poruma entra<strong>da</strong> ilegal em países como Itália eHolan<strong>da</strong>, segundo o Escritório <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> Drogas e Crime.Além disso, um novo trabalho acadêmico<strong>sobre</strong> o assunto de Aderanti Adepoju e ArievanDer Weil, Seeking Greener Pastures Abroad: AMigration Profile of Nigeria, (Buscando Pastagensmais Verdes no Exterior: um perfil <strong>da</strong> Migração<strong>da</strong> Nigéria), afirma que uma pesquisa <strong>da</strong>Organização Internacional do Trabalho realiza<strong>da</strong>naquele país concluiu que cerca de 8 milhões decrianças estão em risco de serem trafica<strong>da</strong>s paratrabalhos forçados como empregados domésticos,vendedores de mercado, para trabalhoagrícola ou na indústria pesqueira, no interior dopaís ou na ampla região do oeste africano.Remessas: a tábua de salvaçãopara os que permanecemO montante de dinheiro que migrantes internacionaisenviam para os países de origem,no mundo todo, diminuiu muito por umbreve período durante a crise econômica de2008-2010, tendo se recuperado rapi<strong>da</strong>mentesegundo o relatório de maio de <strong>2011</strong> do Banco<strong>Mundial</strong>, Outlook for Remittance Flows <strong>2011</strong>-13(Perspectiva dos Fluxos de Remessa <strong>2011</strong>-13). Orelatório, que cobre somente remessas registra<strong>da</strong>soficialmente para países em desenvolvimento,informa que o fluxo de dinheiro para a AméricaLatina e o Caribe apresentou a melhor recuperaçãoem razão <strong>da</strong> estabilização <strong>da</strong> economiaamericana. As remessas de migrantes na Europaforam prejudica<strong>da</strong>s pelas altas taxas de desempregonaquela região, cortes nos gastos públicos,crises financeiras em vários países <strong>da</strong> UniãoEuropeia, reforço dos controles de imigração eatitudes negativas em relação aos migrantes.“Os fluxos de remessas <strong>da</strong> Rússia e dos paísesdo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG)têm sido fortes devido à elevação dos preços dopetróleo,” diz o relatório. “Entretanto, o enfraquecimentodos mercados de trabalho no oesteeuropeu está gerando pressões para a redução <strong>da</strong>migração.” Em termos globais, a expectativa éde que as remessas continuem a crescer, emboramais vagarosamente, alcançando US$404bilhões em 2013, segundo estimativa do Banco<strong>Mundial</strong>. As remessas registra<strong>da</strong>s oficialmentetotalizaram US$325 bilhões em 2010.O relatório nota que alguns países começarama emitir “bônus <strong>da</strong> diáspora”, lastreadosnas remessas, para levantar recursos para projetosde desenvolvimento. A Etiópia, a Gréciae a Índia estão entre os países que começaramou estão pensando em instituir essa inovação.As diásporas de migrantes são imensas e suaspotenciais contribuições, significativas. Norelatório do Banco <strong>Mundial</strong>, a estimativa éque 161,5 milhões de pessoas componham asoma <strong>da</strong>s diásporas provenientes de países emtSasu Nina Tesfamariam(à direita) e a jornalista noAgar, lar para idosasRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>71


desenvolvimento, sendo que a América Latinae o Caribe, Sul Asiático, África Subsaariana,Leste Asiático e Pacífico apresentam os maioresnúmeros de pessoas vivendo no exterior.A Nigéria, o mais populoso país africano,tem uma longa história de migração internacionalque <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> época pré-colonial. “Nos anosque se seguiram à independência, em 1960, osnigerianos continuaram a viajar para o exterior,primeiramente para os países africanos vizinhos,mas também em ritmo crescente para a Europae Estados Unidos, em busca de formação e oportuni<strong>da</strong>desde emprego,” afirmam Adepoju e DerWeil no livro Seeking Greener Pastures.O número de mulheres migrantes nigerianasaumentou nos anos recentes. Quase sempre, elasviajam em busca de emprego e não para seguiro marido ou outros membros <strong>da</strong> família. Numcerto sentido, essa tendência dá a medi<strong>da</strong> do cosmopolitismoe a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de dos nigerianos queformam os maiores grupos de imigrantes africanosno Reino Unido, o antigo poder colonial,marcando presença também em outros paísesmembros<strong>da</strong> Organização para Cooperação eDesenvolvimento Econômico.Migrando no próprio paísEnquanto a OIM define a imigração internacionalcomo questão global determinante do século XXI,muitos países estão mais centrados em padrões demigração interna e nas consequências sociais e econômicasdo fato de centenas de milhares de pessoasse deslocarem no interior do próprio país, em buscade meios de sustento – nem sempre seguindo o tradicionalpercurso do campo para as ci<strong>da</strong>des.Na Índia, por exemplo, Ram B. Bhagat,professor catedrático de estudos migratóriose urbanos do Institute for Population Sciences(Instituto de Ciências <strong>da</strong> População) de Mumbai,defendeu por anos que os demógrafos deveriamrealizar mais pesquisas <strong>sobre</strong> os deslocamentosinternos <strong>da</strong> população, que ele define como“importante fenômeno sob os pontos de vistaeconômico, político e de saúde pública.” Bhagatobserva duas importantes mu<strong>da</strong>nças recentes.“A migração interna na Índia está testemunhandouma significativa saí<strong>da</strong>, com aumento<strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de de áreas urbanas para outras áreastambém urbanas”, diz. “E também a migração <strong>da</strong>área rural para a urbana está sendo ca<strong>da</strong> vez maisempreendi<strong>da</strong> por grupos mais escolarizados e demaior ren<strong>da</strong>, porque eles têm aspirações ca<strong>da</strong> vezmais altas e porque faltam boas oportuni<strong>da</strong>des nasáreas rurais.” Bhagat vem chamando a atençãopara o fato de que os indianos mais carentes nãotêm sido os principais beneficiários <strong>da</strong> migração.Observando os <strong>da</strong>dos do censo de <strong>2011</strong> queestavam sendo divulgados quando este relatórioera redigido, Bhagat destacou outra tendência.“Os resultados preliminares oferecidos pelo censode <strong>2011</strong> demonstram um fenomenal declínio nastaxas de crescimento de algumas ci<strong>da</strong>des grandes,como Mumbai, Déli e Chandigarh,” escreveu eleem um e-mail. “Em Mumbai, por exemplo, astaxas de crescimento decenais declinaram de 20%,em 1991-2001, para 4,7% em 2001-<strong>2011</strong>.”Ele não está convencido de que esses númerosindicam necessariamente que a taxa de migração<strong>da</strong>s áreas rurais para as urbanas declinou. “Épossível que o número absoluto de migrantes <strong>da</strong>sáreas rurais para as urbanas não tenha declinado,”escreve, notando que a questão será mais bem compreendi<strong>da</strong>na medi<strong>da</strong> em que forem publicadosmais <strong>da</strong>dos, o que permitirá que os demógrafosextraiam padrões de intercâmbio nas áreas metropolitanas,bem como os efeitos do ProgramaNacional de Garantia do Emprego Rural MahatmaGandhi, do governo indiano, que oferece umaren<strong>da</strong> por 110 dias por ano para as famílias <strong>da</strong> árearural para auxiliá-las a permanecer na terra.72capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


tEm Xia Liang, naprovíncia de Shaanxi,China, mulheradministra umpequeno armazémcom o noivo©UNFPA/Guo TieliuO amplo debate <strong>sobre</strong> a sorte de jovensmigrantes internos está diretamente relacionadoà discussão <strong>sobre</strong> o sistema de registro de domicíliochinês, o hukou, que prende o ci<strong>da</strong>dão aseu domicílio original, mesmo quando a pessoaou família se mu<strong>da</strong> para outro local do país eaí estabelece residência permanente. Entre osmigrantes chineses, existem diferentes categoriasbasea<strong>da</strong>s no local de registro e/ou residência, umsistema que deixa muitos sem raízes. Em abril,o diretor do Gabinete Nacional de Estatísticaschinês, Ma Jiantang, afirmou que o desvio deescala <strong>da</strong> população flutuante é um desafio para odesenvolvimento e para a estabili<strong>da</strong>de social, e opresidente Hu Jintao reconhece que deveria havermelhorias nos serviços sociais para os migrantes,segundo reportagem do China Daily.No atual sistema, por exemplo, mesmo seuma pessoa altamente capacita<strong>da</strong>, proveniente deuma província distante, obtiver um bom trabalhoem Beijing ou outra ci<strong>da</strong>de grande, ela não poderámanter a expectativa de ter seu domicílio deregistro alterado. Para a burocracia, tal pessoa serásempre estrangeira, o que a impede de ser atendi<strong>da</strong>pelos benefícios e serviços sociais do novolocal de residência. Os filhos desses residentesnão têm acesso a ensino e atendimento à saúdeque sejam públicos. O idoso que viver longe dodomicílio de registro não poderá receber benefíciosse não retornar à sua residência original. Hámuitas histórias semelhantes.Reuniões realiza<strong>da</strong>s com jovens migrantes naprovíncia de Shaanxi revelaram que, pelo menos,alguns deles deixam o problema em segundoplano. Eles veem a situação de migrar para trabalharcomo algo temporário ou como um rito depassagem que deve ser aproveitado para levantarrecursos para investir em ativi<strong>da</strong>des mais próximasa suas residências ou como experiências de aprendizagempara obter novas capacitações e “ficaremmais espertos” quanto à vivência urbana. Alguns,por razões semelhantes, mu<strong>da</strong>ram-se para ci<strong>da</strong>desinterioranas próximas e não se juntaram ao movimentoem direção à costa. Na ci<strong>da</strong>de de Xialiang,a poucas horas por rodovia a leste de Xi’an, emuma área rural florestal de interesse ecológico queestá sendo desenvolvi<strong>da</strong> como reserva natural, umgrupo de migrantes, com i<strong>da</strong>des em torno dos20 anos e que voltaram à sua terra, conta que eleschegaram à maiori<strong>da</strong>de trabalhando em fábricas eem outros empregos variados.Hua Gongmei tem 24 anos, diploma universitáriocomo todos os outros, e seu primeirotrabalho foi como empacotadora em uma empresalocal. Logo decidiu mu<strong>da</strong>r para a província deShandong, para trabalhar na indústria. Tinhamocorrido 10 suicídios de jovens na fábrica ondeconseguiu emprego, conta, mas não achou seutrabalho estressante. Demitiu-se um ano depois,com dinheiro suficiente para voltar para Xialiange abrir um minimercado próximo à entra<strong>da</strong><strong>da</strong> reserva natural. Zhang Li, 29, trabalhou nalinha de montagem de produtos eletrônicos naprovíncia de Fujian e, depois, em uma fábrica deprocessamento de alimentos em Shandong, ondeconheceu seu marido. “Minha experiência me fez74capítulo 5: Decisão de mu<strong>da</strong>r: impacto e poder <strong>da</strong> migração


amadurecer e me tornou mais independente”,diz ela. Mãe de um menino de seis anos, elaestá contente por estar de volta ao lar, depois detrabalhar em uma fábrica de tofu. Dang Meng,21, diz que migrou no ano passado para trabalharcomo cabeleireiro e assim poder voltar paraXialiang e abrir seu próprio salão.Todos os jovens migrantes entrevistadospara este relatório tinham conselhos a <strong>da</strong>r.Conhecem a constante ameaça de roubos,comum quando jovens vulneráveis vivem emmeio a um aglomerado de pessoas, longe doambiente familiar, e conhecem também os acidentesde trabalho que ocorrem nas fábricas,além dos demais riscos. Conhecem a sau<strong>da</strong>dedo lar, a solidão e a depressão que afligemalguns migrantes jovens.“Quando bater a sau<strong>da</strong>de de casa, telefone,”aconselha Zhang. “Cuide de suasegurança no trabalho,” diz Zhu Qibo, 21.Zhu tinha um amigo que foi dopado e furtado,e esse caso lhe ensinou uma lição que elenunca esquecerá, conta: “Nunca aceite comi<strong>da</strong>ou bebi<strong>da</strong> de estranhos.”tMoradores nas ruasde Skopje, antigaRepública Iugoslava<strong>da</strong> Macedônia©VII/Antonin KratochvilMAXIMIZAR OS BENEFÍCIOS DA MIGRAÇÃOCom 214 milhões de pessoas vivendohoje fora de seus países de origem, amigração internacional tem o potencialde ser uma importante força para odesenvolvimento. Os migrantes podemaju<strong>da</strong>r no atendimento à crescentedeman<strong>da</strong> de mão de obra nos paísesindustrializados que têm vivido declíniosde fecundi<strong>da</strong>de, e no tamanho deseus segmentos populacionais em i<strong>da</strong>deprodutiva. Os formuladores de políticasdeveriam, portanto, ver a migraçãocomo uma ferramenta de desenvolvimentoe importante fonte de capital, enão como fracasso do desenvolvimento.No século XXI, a movimentação depessoas se tornará ain<strong>da</strong> mais significativaem resultado <strong>da</strong> continua<strong>da</strong>globalização e liberalização econômica,segundo a Organização Internacionaldo Trabalho (OIT). “O clima de comércioe investimento tem sustentado ofluxo migratório,” declara a OIT. “Amaior deman<strong>da</strong> de mão de obra naseconomias desenvolvi<strong>da</strong>s e sua disponibili<strong>da</strong>denas subdesenvolvi<strong>da</strong>scolocaram em marcha a migração globalde trabalhadores e trabalhadoras.”Ca<strong>da</strong> vez mais se reconhece que amigração é um essencial – e inevitável– componente <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômicae social de todo país, afirma a OIT,acrescentando que “a migração, seadministra<strong>da</strong> de forma ordeira e apropria<strong>da</strong>,pode ser benéfica tanto para osindivíduos como para as socie<strong>da</strong>des”.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>75


76 capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


CAPÍTULOSEISPlanejar com antecedênciao crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>desEm termos globais, o equilíbrio rural e urbano está irreversivelmente inclinado emfavor <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des neste mundo de 7 bilhões de pessoas. Mas o que é exatamenteuma “ci<strong>da</strong>de” hoje em dia? Hania Zlotnik, diretora <strong>da</strong> Divisão de População doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, faz um alertacontra definições fáceis, porque os governos, e as próprias áreas urbanas, definem“ci<strong>da</strong>de” de várias formas – e seus limites podem ser alterados, às vezes por motivostJovens egípcios sereúnem na ponte QasrAL-Nil, <strong>sobre</strong> o rio Nilo,no centro do Cairo©UNFPA/Matthew Casselpolíticos, demográficos ou econômicos. As áreasmetropolitanas, estendendo-se <strong>sobre</strong> grandesterritórios, estão absorvendo ou incorporandoci<strong>da</strong>des menores, por vezes se fundindo comoutras áreas metropolitanas, ao longo de corredoresdensamente povoados. As populaçõesurbanas podem também ser quantifica<strong>da</strong>s dediferentes maneiras, e estas variam de país parapaís ou de ci<strong>da</strong>de para ci<strong>da</strong>de.A Divisão de População, no Perspectivas <strong>da</strong>Urbanização <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2009, defineesses imensos centros populacionais como“aglomerações urbanas”. Tóquio surge comoa maior área urbana do mundo, segundoesta definição, com 36,7 milhões de pessoas,mais de um quarto <strong>da</strong> população nacional.Em segui<strong>da</strong> vem Nova Déli, com 22 milhões;São Paulo, 20 milhões; Mumbai, 20 milhões;Ci<strong>da</strong>de do México, 19,5 milhões; NovaYork-Newark, 19,4 milhões; Shanghai, 16,6milhões; Calcutá, 15,5 milhões, Dhaka, 14,7milhões, e Karachi, 13 milhões. Ca<strong>da</strong> umadessas ci<strong>da</strong>des reflete um padrão diferente deplanejamento, governança e uma diferentecomposição entre riqueza e pobreza.Sem planejamento, as ci<strong>da</strong>des podemcrescer desordena<strong>da</strong>mente, estender-se <strong>sobre</strong>todo e qualquer espaço vazio disponível esuplantar a capaci<strong>da</strong>de dos serviços públicos,quando existem, de atendimento à deman<strong>da</strong>ou ao crescimento <strong>da</strong>s favelas. Incorporadorasimobiliárias, empresas, trabalhadores migrantes,a máquina burocrática do governo e as instituiçõespúblicas em busca de espaço para seexpandir – todos têm um papel no crescimento,no novo traçado ou, como tem ocorridoem vários países, no encolhimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des.E enquanto muitas delas enfrentam enormesdesafios, outras têm potencial para trazer osbenefícios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana aos seus moradores.Enti<strong>da</strong>des de defesa, associações cívicas emoradores articulados e informados exigemser ouvidos. Na China onde, no passado, asdecisões do governo <strong>sobre</strong> projetos de desenvolvimentonão eram facilmente contesta<strong>da</strong>s, estásurgindo um novo espírito de participação –RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>77


demonstrado, mais recentemente, na discussão <strong>sobre</strong>o local de instalação de incineradores de resíduosna área de Beijing, informa um oficial <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s que trabalha em questões ambientais.A maneira como planejadores e políticos tratama urbanização em três países tomados como exemplo– Índia, Nigéria e México – espelha diferentes políticase programas destinados a fazer frente ao rápidocrescimento urbano, ou corrigir erros que permitiramo crescimento sem um bom planejamento oupreparo. Mas, embora as ci<strong>da</strong>des possam ter históriase desafios que diferem entre si, os objetivos dos funcionáriosdos governos de quase todos os lugares sãosemelhantes. Eles afirmam que pretendem criar umambiente melhor e mais seguro, com níveis aceitáveisde serviços públicos e infraestrutura, e atender àexplosão do tráfego veicular e de pedestres.Perspectivas <strong>da</strong> urbanizaçãoNos últimos anos, tem se debatido se mais vi<strong>da</strong> urbanadeve ser algo a se lastimar ou a comemorar. A urbanizaçãopode causar o rápido surgimento de favelas, espaçossem saneamento onde as doenças epidêmicas podemse alastrar, a exploração é desenfrea<strong>da</strong> e as ameaças físicasestão à espreita, porque não há lei, e a ordem ficaa cargo de gangues criminosas. Mas a vi<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>detambém pode oferecer oportuni<strong>da</strong>des de trabalho, acessoa serviços de saúde, planejamento familiar, escolas emais abertura econômica para as mulheres. Fomentaras oportuni<strong>da</strong>des sem deixar de minimizar os <strong>da</strong>nos edificul<strong>da</strong>des são os principais desafios do desenvolvimentonas transições urbanas de hoje.As tendências urbanas, porém, não são as mesmasem todos os locais. Na Índia, por exemplo, asestatísticas demonstram que as populações tradicionaisdos centros urbanos estão encolhendo, enquantoas áreas periféricas se expandem. Mumbai é frequentementecita<strong>da</strong> como principal exemplo dessefenômeno. Os novos números do censo de <strong>2011</strong>mostram que, no estado de Maharashtra, a centenáriaci<strong>da</strong>de de Thane, situa<strong>da</strong> a 43 quilômetros anordeste de Mumbai, deixou de ser um subúrbio declasse média para abrigar uma grande população defavelados que não para de aumentar. Thane é hojeresidência de 9,84% <strong>da</strong> população do estado –11milhões, em termos numéricos. Trata-se de um saltono crescimento de quase 36% em uma déca<strong>da</strong>. Jáa ci<strong>da</strong>de de Mumbai propriamente dita, com 3,14milhões de pessoas, registrou uma taxa negativa decrescimento de 5,75% no mesmo período.Amitabh Kundu, doutor em economia do Centrefor the Study of Regional Development (Centro deEstudos de Desenvolvimento Regional) e diretor<strong>da</strong> School of Social Sciences (Facul<strong>da</strong>de de CiênciasSociais) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Jawaharlal Nehru de NovaDéli, afirma que algumas <strong>da</strong>s maiores ci<strong>da</strong>des indianasestão vivendo o que ele chama de “periferalizaçãodegenerativa”. Trata-se de fenômeno pelo qual aspessoas são compeli<strong>da</strong>s a deixar a ci<strong>da</strong>de em razão doalto custo de vi<strong>da</strong> e escassez de empregos que ofereçamsalários decentes, para viver em assentamentosimprovisados na periferia <strong>da</strong>s áreas metropolitanas.Nesses assentamentos periféricos, as pessoas perdemtanto as vantagens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> rural como as <strong>da</strong> urbana.Kundu acrescenta que os recentes esforços de limpezae embelezamento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des indianas, que muitosaplaudem, estão mu<strong>da</strong>ndo as características <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des,não necessariamente para melhor.O professor identifica a presença de interesses econômicosinternacionais por trás <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. “Paísesem rápido desenvolvimento, especialmente na Ásia,estão tentando ter acesso ao mercado global de capitais,e a única maneira de conseguirem isso é atravésde suas grandes ci<strong>da</strong>des,” diz. À mesma medi<strong>da</strong> queaumentam o investimento e o capital, aumentam ospreços, e a vi<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de se torna mais cara. Muitas<strong>da</strong>s melhorias nas ci<strong>da</strong>des indianas beneficiam principalmentea classe média, complementa.“As grandes ci<strong>da</strong>des estão perdendo sua populaçãocarente, porque os mais pobres não conseguem mais78 capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


pagar o custo de viver nelas,” diz Kundu. “Antes,as pessoas podiam levantar algo como 1.000 rúpias(cerca de US$22) e vir para Déli passar um mês procurandoemprego. Agora, com 1.000 rúpias, você nãoconsegue ficar nem por uma semana. Dessa forma, opercentual <strong>da</strong> população pobre em Déli diminuiu decerca de 55% para 7% em três déca<strong>da</strong>s.”O resultado? “Estamos saneando nossas ci<strong>da</strong>des,”aponta Kundu. “Sanear significa deixar o ambientelimpo... limpar as favelas, expulsar as comuni<strong>da</strong>desde baixa ren<strong>da</strong>.” E nesse processo, no qual trabalhadoresiletrados e sem capacitação são percebidosapenas como encargos pesados para a saúde, saneamentoe cumprimento <strong>da</strong> lei, as ci<strong>da</strong>des perdemqualquer oportuni<strong>da</strong>de de transformar a populaçãocarente dos centros urbanos em vetores de crescimentoe de desenvolvimento, argumenta ele.A alteração do equilíbrio social nas ci<strong>da</strong>desindianas é ponto importante a ser estu<strong>da</strong>do pordemógrafos e economistas, porque 410 milhões do1,2 bilhão de pessoas do país já vivem abaixo <strong>da</strong>linha <strong>da</strong> pobreza. Isto representa um terço de to<strong>da</strong>a população carente do mundo, segundo o Banco<strong>Mundial</strong> que também ressalta que a dispari<strong>da</strong>de deren<strong>da</strong> na Índia está aumentando.“Em Mumbai, distrito central, o crescimentodeclinou drasticamente,” informa Kundu. “Omesmo acontece em Chennai, em Hyderabad, emCalcutá – to<strong>da</strong>s as maiores ci<strong>da</strong>des, todos os distritosurbanos centrais. Antigamente, a pessoa que viesse<strong>da</strong> área rural começaria a trabalhar como engraxateou ganharia algum dinheiro puxando riquixás. Essasativi<strong>da</strong>des vêm escasseando à medi<strong>da</strong> que diminui amigração <strong>da</strong>s áreas rurais para as urbanas, diz Kundu.Ele e outros demógrafos afirmam que a Índia necessitadesenvolver as ci<strong>da</strong>des pequenas e médias quepodem ser mais acessíveis para as populações carentese têm potencial de geração de empregos.Fauj<strong>da</strong>r Ram, diretor do Indian Institute forPopulation Sciences (Instituto Indiano de Ciências<strong>da</strong> População), instituição de ensino universitário,afirma que, embora as pessoas com ren<strong>da</strong> mínimaou até de classe média tenham sido obriga<strong>da</strong>s a deixarMumbai, elas ain<strong>da</strong> querem trabalhar lá. Ramdiz que há pessoas que viajam para trabalhar e quevêm à ci<strong>da</strong>de provenientes de numerosas áreas afasta<strong>da</strong>s,como Pune, a 163 quilômetros a sudeste deMumbai, onde o crescimento populacional tambémtem sido rápido. Pune agora está liga<strong>da</strong> a Mumbaipor uma rodovia de seis vias que reduz o tempo deviagem para quem tem carro ou dinheiro para pagaro ônibus intermunicipal. “Por que as pessoas estãovindo desde Pune?” pergunta ele. “Porque Pune écarente de vagas de trabalho.” Enquanto isso, o sistemade transporte público, que atende a um númeroca<strong>da</strong> vez maior de passageiros, necessita de melhorias,diz. Os trens de Mumbai são notórios pela superlotação,lentidão e assédio sexual <strong>da</strong>s passageiras.Novas oportuni<strong>da</strong>des para as mulheresExiste um lado positivo para muitas mulheres na evolução<strong>da</strong> zona central de Mumbai, aponta Sajana Jayrajem artigo para a Media Matters (Questões de Mídia),organização não governamental que trabalha no desenvolvimento<strong>da</strong> comunicação e estudos <strong>sobre</strong> a mulherem assentamentos urbanos. Os setores de serviços e detecnologia, em expansão, atraem mais mulheres paratrabalhar na ci<strong>da</strong>de, o que permite ampliar sua escolari<strong>da</strong>dee formação. O que ela chama de “uma crescentetribo de jovens mulheres que trabalham e estu<strong>da</strong>m aomesmo tempo” cumpre uma jorna<strong>da</strong> diária de duashoras ou mais de viagem dos subúrbios mais distantesdo interior e <strong>da</strong> periferia de Mumbai. Elas compõemum tipo diferente de migrante urbano; são bem educa<strong>da</strong>se têm padrão de vi<strong>da</strong> de classe média, quasesempre equilibrando carreira e família. “É rotina termulheres descascando vegetais no trem, enquanto voltampara casa” escreve Jayraj.O padrão de crescimento de baixa ren<strong>da</strong> naperiferia se evidencia em Thane, onde cerca de 30%RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>79


tMoradores locais seguemsua rotina na favelaBengali Colony Slums, aleste de Kidwai Nagar,em Nova Déli, Índia©Sanjit Das/Panos<strong>da</strong> população vive atualmente em favelas. EmBhim Nagar, um desses assentamentos, pode-seencontrar de 10 a 15 pessoas morando em ca<strong>da</strong>casa (quase sempre de um só cômodo), dizem osmoradores. Muitos, talvez a maioria dos homens,estão desempregados ou conseguem apenas trabalhosocasionais àquela distância de Mumbai.As mulheres saem-se melhor porque conseguemtrabalhar como emprega<strong>da</strong>s domésticas, mas essestrabalhos também não trazem qualquer segurançaou benefícios de longo prazo. A subsistência dodia a dia é a meta <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s famílias.Ninguém sabe ao certo se ou quando poderá serdespejado de suas casas, aperta<strong>da</strong>s umas contra asoutras, ao longo de vielas lamacentas.“As favelas são um fenômeno complexo”,aponta Ram, do Instituto Indiano de Ciências<strong>da</strong> População de Mumbai. “A maior parte <strong>da</strong>spessoas é locatária, e os locadores são lídereslocais e políticos eleitos.” Nas ci<strong>da</strong>des indianas,os políticos usam os assentamentos e favelascomo “bancos de votos” em seus distritos eleitorais.É de seu interesse manter em grandenúmero a população carente que ali vive. Mas ossenhorios de favelas estão começando a competircom as incorporadoras que veem esses territóriosain<strong>da</strong> disponíveis, com títulos de proprie<strong>da</strong>deincertos, como alvos prioritários para a especulaçãoimobiliária, afirma Ram. Quando asincorporadoras contam com apoiadores poderosos,a favela pode ser demoli<strong>da</strong> e suas famílias demoradores, despeja<strong>da</strong>s quase sem nenhum aviso.Só raramente as incorporadoras priva<strong>da</strong>s sãoobriga<strong>da</strong>s a fornecer uma parcela de residênciasde baixa ren<strong>da</strong>, informa Ram.Embora a migração <strong>da</strong>s áreas rurais paraas urbanas esteja declinando, o estado deMaharashtra continuará a atrair migrantessem preparo em busca de trabalho, porqueo idioma não é uma barreira incontornávelna poliglota área de Mumbai, segundo Ram.Mas essa barreira pode existir para os quevêm do norte e falam híndi, por exemplo;estes preferem procurar vagas nas ci<strong>da</strong>des deoutras regiões, como Kerala, Tamil Nadu eKarnataka, onde há falta de mão de obra.A atração do empregoSitua<strong>da</strong> mais a nordeste, a cerca de 60 quilômetrosde Mumbai – mas ain<strong>da</strong> considera<strong>da</strong> comoparte de sua área metropolitana mais ampla –,a ci<strong>da</strong>de de Bhiwandi é um estudo de caso doencontro entre industrialização e urbanização naÍndia. Por muitos anos, Bhiwandi foi apenas umapequena ci<strong>da</strong>de, conheci<strong>da</strong> pelo trabalho artesanalem crochê. Então, com a instalação de redes deenergia e a introdução de teares elétricos, ela setornou a “Manchester <strong>da</strong> Índia,” com o maiornúmero de tecelagens do país. Isto fez desaparecero trabalho de agricultores, pescadores, comerciantese vendedores de especiarias.Os teares de Bhiwandi empregam a maiorparte <strong>da</strong> força de trabalho <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, mas astecelagens, que operam 24 horas por dia, sempreprecisam de mais mão de obra. Foi assim quegrande número de migrantes de outros estados80capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


indianos se tornaram parte <strong>da</strong> população local.Em Bhiwandi, jovens do sexo masculino continuama chegar vindos dos estados pobres do norte<strong>da</strong> Índia – especialmente de Uttar Pradesh – paratrabalhar nas fábricas que parecem um retrato <strong>da</strong>Inglaterra do século XIX.Bhiwandi poderia ser um bom exemplo deci<strong>da</strong>dezinha economicamente sustentável e independente,se a vi<strong>da</strong> lá fosse moderniza<strong>da</strong> de formaa tornar seu ambiente mais adequado e saudável.Os locais de trabalho são sujos, quentes e perigosos.Barracões imensos, esquálidos, sufocantes,onde os teares se apinham, frequentemente nãotêm água corrente ou banheiros. Mas os migrantes,na quase totali<strong>da</strong>de homens e meninos, alipermanecem por anos ou déca<strong>da</strong>s. Tornam-sequase seus moradores, porque nesses locais a vi<strong>da</strong>é melhor que nas casas onde vivem, e seus saláriossustentam as famílias e os vilarejos distantes.Vestindo camisetas sem mangas, ensopa<strong>da</strong>sde suor, calças baratas e calçando apenas chinelosou sandálias, os trabalhadores sentam-se emteares que funcionam com níveis de barulho dearrebentar os ouvidos, com parcos dispositivosde segurança para protegê-los <strong>da</strong>s imensas peçasdo maquinário em movimento. Eles contam queestão sujeitos a acidentes de trabalho e a problemasde saúde: choques elétricos, lesões causa<strong>da</strong>spelas lançadeiras dos teares, infecções <strong>da</strong> pele etuberculose. Suas residências, sem janelas, parecemcaixas de concreto empilha<strong>da</strong>s com vários an<strong>da</strong>res,onde é possível que até 10 trabalhadores durmamem um só quarto, em turnos. Um grande númerodeles divide um único banheiro ou uma torneira.Trabalhadores que passaram anos nos tearesestão ansiosos para contar suas histórias. NagendraTiwari, 42, chegou a Bhiwandi em 1988, provenientede Gorakhpur, em Uttar Pradesh. Naquelaépoca seu pai, um agricultor sem recursos, nãopodia pagar para encontrar maridos para suas seisfilhas, e Nagendra foi obrigado a migrar em buscade fundos para os dotes de suas irmãs. Teve dedeixar para trás a esposa e quatro filhos.Com diploma do secundário e conhecimentosde administração, ele passou de tear em tear, maso trabalho nunca foi fácil. “Trabalhávamos emturnos de 12 horas, e recebíamos a ca<strong>da</strong> 15 dias.Não tínhamos dia de folga.” Tiwari ganhava menosque o equivalente a US$20 por mês, com basenas peças produzi<strong>da</strong>s, e pagava 250 rúpias (cercade US$5,60) por mês pelo aluguel de um quartoque dividia com três outros homens. Quandofinalmente conheceu o proprietário de uma tecelagemque lhe permitiu ir a palestras semanais <strong>sobre</strong>prevenção do HIV, administra<strong>da</strong>s pela filial local<strong>da</strong> Family Planning Association of India (Associaçãode Planejamento Familiar <strong>da</strong> Índia), ele se juntou àcampanha de sexo seguro com entusiasmo e vigor.“Durante seis meses, eu aguar<strong>da</strong>va ansiosamentepelas sextas-feiras”, conta. “Perdi umprimo com AIDS no meu vilarejo e queria voltare conversar com os moradores que na<strong>da</strong> sabiam<strong>sobre</strong> AIDS.” Em razão do grande número dehomens vivendo sem as famílias em Bhiwandi, aindústria do sexo floresce.Impressionados com sua dedicação e capaci<strong>da</strong>dede comunicação, a Associação de PlanejamentoFamiliar local, a FPA, ofereceu-lhe o cargo deparceiro educador de grupo e, posteriormente,de membro de equipe, mas Tiwari diz que ain<strong>da</strong>mora com os trabalhadores do tear, a maioria procedentede seu estado de origem. Os projetos detNarendra Tiwari emuni<strong>da</strong>de de tear emBhiwandi, na Índia.Ele migrou há 10anos; to<strong>da</strong> a suafamília, que continuaem seu lugar deorigem, depende deseu salário©Atul Loke/PanosRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>81


tO comissário paraPlanejamento Físicode Lagos, FranciscoBolaji Abosede, duranteentrevista com osoficiais do UNFPA emseu escritório em Ikeja,na ci<strong>da</strong>de de Lagos,Nigéria©UNFPA/Akintunde Akinleyeconscientização, prevenção e teste do HIV/AIDS<strong>da</strong> Associação de Planejamento Familiar localatingem cerca de 20.000 trabalhadores migrantessolteiros (dos 400.000 que vivem na área). AFPA também oferece cursos aos trabalhadores<strong>sobre</strong> outras doenças sexualmente transmissíveise questões gerais de saúde reprodutiva. Os trabalhadoresdizem que se beneficiaram com essaexperiência urbana e levam essas informações,quando voltam a seus lares, nas férias anuais,para transmiti-las aos demais.Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e perigos do trabalhodiário, os homens insistem em que nãohá alternativas para o futuro em seus vilarejose ci<strong>da</strong>des. Somente um, Shyam NarayanPrajapati, 45, que tem grau universitário etambém é membro <strong>da</strong> equipe <strong>da</strong> FPA local,diz que, embora tenha trabalhado na tecelagempor mais de 20 anos, ain<strong>da</strong> tem esperança devoltar a Uttar Pradesh. Ele quer entrar para apolítica e aju<strong>da</strong>r a combater a corrupção e omau desempenho econômico de seu estado.Os trabalhadores sabem que a ci<strong>da</strong>de e aindústria precisam deles, e isso é sua apólice deseguro. Santlal Bind retorna para visitar a famíliasempre que pode, e admite estar exausto demaispara fazer qualquer coisa a mais em Bhiwandialém de trabalhar, comer e dormir. Entretanto,ele não se preocupa com seu futuro ou emperder o emprego nos teares, em razão <strong>da</strong> capacitaçãoque obteve como tecelão. “Se eu for paracasa”, diz, “sempre poderei encontrar empregoem qualquer tear quando voltar”.O planejado e o espontâneoEm Lagos, capital de negócios e finanças <strong>da</strong>Nigéria e também um dos principais portos<strong>da</strong> África, Francisco Bolaji Abosede diz quea primeira coisa que fez quando assumiu, em2007, o cargo de comissário de Planejamentodo Estado de Lagos foi olhar o plano diretor de1980 e se perguntar: “Onde erramos?”Sucessivos governos abandonaram o plano eo conceito de ci<strong>da</strong>de planeja<strong>da</strong>, diz Abosede. Emconsequência, a área metropolitana <strong>da</strong> GrandeLagos se expandiu imensamente, e a vi<strong>da</strong> urbanase deteriorou por falta de planejamento adequado.“Lagos havia crescido”, comenta. “Aspessoas foram atraí<strong>da</strong>s pelo estilo de vi<strong>da</strong>. Acriminali<strong>da</strong>de era alta. Havia um mal-estarsocial.” Depois de analisar a situação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dee do estado, diz, sabia que não poderia esperarquatro anos para começar a agir. “Sendo assim,o que poderíamos fazer? Pegamos pe<strong>da</strong>ços doplano diretor aqui e ali, e aí, então, estávamosprontos para <strong>da</strong>r a larga<strong>da</strong>. Dividimos Lagosem nove áreas com características comunse avaliamos seus pontos fracos e fortes.Queríamos definir o que ca<strong>da</strong> área necessitava.”Abosede nasceu em Lagos, estudou planejamentode ci<strong>da</strong>des e países na Politécnica deIba<strong>da</strong>n antes de ir para o Centro de PlanejamentoUrbano e Regional <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deStrathclyde, na Escócia. Na Inglaterra, trabalhoupara uma empresa britânica realizando planejamentourbano. “Aprendi muito <strong>sobre</strong> populaçãolocal”, comenta. “São pessoas que têm interessesmuito locais. Você se senta com eles e pergunta oque os beneficiará.” Abosede ocupou vários cargosde planejamento na Nigéria.Como comissário de planejamento deLagos, um de seus primeiros projetos foi a revitalização<strong>da</strong> Ilha de Lagos, parte mais antiga <strong>da</strong>área urbana que havia se tornado protetorado82capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


itânico em 1861. Em certo sentido, foi lá quenasceu a Nigéria moderna. A Ilha de Lagos era – eain<strong>da</strong> é – congestiona<strong>da</strong>. Essa parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,segundo Abosede e outros, era um notório centrode ativi<strong>da</strong>des ilícitas. O governo começou a abrirnovas vias e a limpar algumas <strong>da</strong>s ruas mais infesta<strong>da</strong>spelo crime, para construir um centro comercial,prédios de apartamentos e um shopping center.Fazer renascer uma ci<strong>da</strong>de históricaA Ilha de Lagos ain<strong>da</strong> é uma obra em an<strong>da</strong>mento.O shopping center estava em grande parte vazio noinício deste ano, porque os aluguéis eram excessivamentecaros para os ex-vendedores ambulantes,dizem os moradores locais. Muitos comerciantesnão queriam abrir mão de suas barracas de rua.Alguns edifícios antigos que <strong>da</strong>tam <strong>da</strong> época colonial<strong>da</strong> ilha tinham sido restaurados. A ilha se ligaao continente de Lagos por viadutos e pontes.Os edifícios mais antigos que ain<strong>da</strong> estão de pédão pistas do quanto a área pode ter sido pitoresca,com suas ruas sinuosas e arquitetura única. Mas osassistentes do comissário informaram que apenas osedifícios de real valor histórico seriam preservados.A decisão repete a de Cingapura. Lá, déca<strong>da</strong>s atrás,o governo começou a demolir as áreas antigas deChinatown para acabar descobrindo que estavamse perdendo as características <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e, consequentemente,os turistas. Alguns bairros foramposteriormente recriados.População urbana e sua distribuição nas principaisáreas geográficas (percentual relativo à população total)959085807570656055504540353025201510501950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050Fonte: Divisãode População doDepartamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>sÁsiaÁfricaAmérica Latinae o CaribeEuropaAmérica do NorteOceania© UNFPA/Akintunde AkinleyeRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>83


tMulher rema em canoana comuni<strong>da</strong>de deMakoko situa<strong>da</strong> emLagos, capital comercial<strong>da</strong> Nigéria©UNFPA/Akintunde AkinleyeOutros projetos em elaboração para Lagosincluem o desenvolvimento, na área de Lekki,de uma zona industrial e comercial livre, onde asempresas podem operar em regime offshore emtermos de taxas e impostos aduaneiros, livres <strong>da</strong>burocracia. A esperança é que as empresas tragamempregos na indústria para a ci<strong>da</strong>de. “As pessoasmorarão e trabalharão lá,” diz Abosede, comotimismo. “Será uma ci<strong>da</strong>de-modelo, com umapopulação de cerca de 3 a 4 milhões. Ali será instaladoo novo aeroporto de Lagos, planejado paraser quase cinco vezes maior que o atual”.Outro projeto ambicioso está em an<strong>da</strong>mentonas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Ilha Vitória, outraregião que faz parte <strong>da</strong> área metropolitana deLagos. É o Eko Atlantic, projeto que está sendoconstruído <strong>sobre</strong> um aterro de areia bombea<strong>da</strong>do solo marítimo que, segundo seus incorporadores,se tornará uma ci<strong>da</strong>de mista residencial ecomercial. Será grande o suficiente para abrigar,no mínimo, 250.000 pessoas e oferecer vagasde emprego para 150.000 trabalhadores. Oprojeto está sendo construído por uma empresacria<strong>da</strong> especificamente para a tarefa, totalmentefinancia<strong>da</strong> por bancos e investidores privados.Abosede afirma não ver a necessi<strong>da</strong>de deconstruir mais ci<strong>da</strong>des novas para uma áreametropolitana que, segundo ele, posteriormenteacomo<strong>da</strong>rá 40 milhões de pessoas. Seuobjetivo é revitalizar bairros e áreas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>deque já existem. “Reduziremos o tempo deviagem, faremos com que as pessoas morem,trabalhem e utilizem os serviços sociais nomesmo lugar,” diz. “Como eu reduzo o tempode viagem? Como poderei fazer com que vocêvá a pé de sua casa para o local de trabalho ecentros sociais?” A vi<strong>da</strong> pode ser mais saudávele mais longeva em setores urbanos independentes,com espaços residenciais mais adensados eque abram espaço para o verde, afirma.Também não há planos em Lagos para ainstalação de sistemas de transporte públicomaiores que aqueles já projetados, porque,segundo Abosede, a meta é fazer com que maispessoas trabalhem e se dediquem a ativi<strong>da</strong>desde lazer próximas à moradia. Mas ele acrescentaque está vendo potencial para o transporteaquático nas cercanias <strong>da</strong> grande lagoa situa<strong>da</strong>em um dos limites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Abosede teveoportuni<strong>da</strong>de de ver os barcos utilizados emCingapura e na Malásia e conversou com oembaixador <strong>da</strong> Holan<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> a forma como osistema funciona lá. Lagos agora está prepara<strong>da</strong>para distribuir concessões a operadores privadosde balsas, diz ele.Uma <strong>da</strong>s decisões de planejamento quegeraram considerável preocupação para os defensores<strong>da</strong>s populações mais carentes de Lagos é apreferência do governo por permitir que incorporadorasimobiliárias priva<strong>da</strong>s e empresas deconstrução construam novas moradias e centroscomerciais; essas uni<strong>da</strong>des são depois adquiri<strong>da</strong>spelo Estado que, por sua vez, as oferece à ven<strong>da</strong>com garantia hipotecária aos interessados em aliresidir. “Queremos que as pessoas adotem umacultura “hipotecária’,” diz Abosede. Há transaçõesdemais feitas apenas em dinheiro, o que84capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


impede algumas pessoas de baixa ren<strong>da</strong> de comprarimóveis, dizem os funcionários do governo.O Centro de Ação em Direitos Sociais eEconômicos, conhecido como SERAC na sigla eminglês, é uma proeminente organização não governamentalnigeriana. Sedia<strong>da</strong> em Lagos, opera atravésde trabalho comunitário, assistência jurídica e defensoria,visando à promoção de direitos econômicos,sociais e culturais. Felix Morka, diretor executivo <strong>da</strong>organização, afirma ser de opinião que os planos dogoverno podem beneficiar a classe média, mas nãoaju<strong>da</strong>rão a população carente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.“Lagos precisa de 5 milhões de casas oumais,” diz. “O governo está pondo mais dinheironas moradias para a classe média, com preços queestão fora do alcance de muitos. Não há uma respostareal para deter o crescimento <strong>da</strong>s favelas.”Morka afirma que menos de 12% dos moradoresde Lagos têm casa própria.Sua organização questiona a abor<strong>da</strong>gem “setorpor setor” <strong>da</strong> equipe do governo. Ele aponta quea falta de redes de transporte público é reflexo<strong>da</strong> falta de planejamento holístico. To<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>denecessita de melhores serviços nas áreas <strong>da</strong>saúde e do ensino, continua. Muitos jovens estãodesempregados, ou não têm capacitação parapreencher as vagas disponíveis. Morak afirma quepode ter 500 pedidos de emprego em sua organizaçãoe encontrar somente duas pessoas, entreto<strong>da</strong>s as candi<strong>da</strong>tas e candi<strong>da</strong>tos, com capacitaçãosuficiente para se pensar em contratá-las.Makoko é uma <strong>da</strong>s áreas marginaliza<strong>da</strong>s ondeo SERAC trabalha. Trata-se de uma comuni<strong>da</strong>dede dezenas de milhares de pessoas que, ao longo demuitos anos, migraram <strong>da</strong>s áreas costeiras de Benin,Togo e Ghana. Parte do Makoko está situa<strong>da</strong> nocontinente e parte é um grande vilarejo de pescadores,construído <strong>sobre</strong> palafitas costeando a lagoa deLagos. No lado continental, pequenos comerciantese trabalhadores do setor informal dizem ter sofridoevacuação em massa por vários anos, sendo que aúltima ocorreu em dezembro de 2010. Outros movimentospara desalojá-los foram feitos antes do atualgoverno, que chegou ao poder no estado de Lagosem 2007. Aos olhos do povo, todos os enfrentamentosparecem ser vistos como ver<strong>da</strong>deiros assaltos.Moradores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se mobilizamOs moradores e ex-moradores estão bem organizadosem Makoko, tendo formado um grupode defesa de direitos, o Fórum de Comuni<strong>da</strong>desMarginaliza<strong>da</strong>s de Lagos, que desde 1990 veminstaurando ações contra o governo, auxiliado porgrupos como o SERAC. Em um terreno agoradesocupado na parte continental, atrás de uma filade pequenas lojas, havia cerca de 500 barracos deum só cômodo, apontam os ex-residentes. Somente3.000 deles foram reassentados, embora o númerototal de desalojados tenha sido várias vezes maior,dizem os moradores. Um líder local calcula queocorreram 300.000 despejos ao longo dos anos.As questões envolvendo a parte de Makokoconstruí<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> a lagoa ilustram a paralisantecomplexi<strong>da</strong>de dos impasses que podem ocorrerem vários países em desenvolvimento quandoum governo, no desejo de modernizar e recuperaruma área, se choca contra uma comuni<strong>da</strong>deindependente que resiste à mu<strong>da</strong>nça, mesmoquando essa área está decadente.tO diretor executivo doSocial and EconomicRights Action Centre(Centro de Ação emDireitos Sociais eEconômicos), Felix Morka,em seu escritório emOjodu, bairro de Lagos,Nigéria©UNFPA/Akintunde AkinleyeRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>85


População em favelas(em milhões)900800700600500400300200100046.142.8Palavras não podem descrever apropria<strong>da</strong>mentea vi<strong>da</strong> em Makoko. É um vilarejo de pescadoresonde, com exceção <strong>da</strong> pesca, as únicas outrasindústrias são serrarias e casas de defumação ondeo pescado recolhido é defumado para a ven<strong>da</strong>.Esse vilarejo – na ver<strong>da</strong>de uma ci<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> palafitas,com uma população estima<strong>da</strong> em pelo menos50.000 pessoas – não conta com nenhum tipo deAS MELHORIAS NAS FAVELAS, EMBORACONSIDERÁVEIS, NÃO CONSEGUEMACOMPANHAR O RITMO DE CRESCIMENTODAS POPULAÇÕES URBANAS POBRESPopulação vivendo em favelas urbanas e proporção <strong>da</strong> população urbanaque vive em favelas, nas regiões em desenvolvimento, 1990 a 201039.3Proporção de população urbanaem favelas (porcentagem)6035.734.332.71990 1995 2000 2005 2007 2010Porcentagem de populaçãourbana vivendo em favelas50403020100População em favelasNos últimos 10 anos, a parcela <strong>da</strong> população urbana que vive em favelas,no mundo em desenvolvimento, caiu de 39%, em 2000, para 33%, em2010. O fato de que mais de 200 milhões de favelados tiveram acesso àágua de melhor quali<strong>da</strong>de e aos sistemas sanitários ou moradias menosapinha<strong>da</strong>s demonstra que os governos centrais e municipais fizeramsérias tentativas para melhorar as condições de vi<strong>da</strong> nessas áreas,ampliando dessa forma as perspectivas de milhões de pessoas de escapar<strong>da</strong> pobreza, <strong>da</strong> doença e do analfabetismo. Entretanto, em termosabsolutos, o número de favelados no mundo em desenvolvimento de fatovem aumentando e continuará a aumentar no futuro próximo. No mundoem desenvolvimento, o número de moradores urbanos que vivem emcondições precárias é estimado atualmente em cerca de 828 milhões.Fonte: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: Relatório 2010serviço público. Não existe água encana<strong>da</strong>, e a energiaelétrica é obti<strong>da</strong> ilegalmente por meio de cabosinstalados irregularmente na rede elétrica municipal.O único transporte disponível dentro <strong>da</strong> vila é realizadopor canoas feitas à mão; existem centenas, senão milhares delas, que avançam com dificul<strong>da</strong>depela água toma<strong>da</strong> pelo lixo.Um líder local afirma que a população deMakoko, agora, é de cerca de 200.000 pessoas quevivem em uma comuni<strong>da</strong>de ali instala<strong>da</strong> há mais de100 anos. Ele diz que lá não existem escolas, excetouma, pequena, opera<strong>da</strong> por uma instituição de cari<strong>da</strong>de– e nenhum serviço médico moderno, apenasuma clínica conduzi<strong>da</strong> por um médico tradicional.Não há serviço de planejamento familiar. O líderafirmou que a comuni<strong>da</strong>de nunca pediu para quelimpassem o pântano fétido <strong>sobre</strong> o qual vivem, nemtentou ela mesma remover o lixo que se acumula. Eleculpa o continente do outro lado <strong>da</strong> lagoa pela poluiçãoe diz que houve surtos de febre tifoide e malária,ambas as doenças evitáveis.A comuni<strong>da</strong>de de pescadores de Makoko é polígama,informa o líder local, embora os homens sópossam ter duas esposas. As famílias têm de 10 a 20filhos. Na maior parte, dividem estruturas de madeirade um único cômodo, com pequenos ancoradourosnos quais as canoas podem atracar e ser amarra<strong>da</strong>s. Amaioria fala o idioma egun o qual, segundo a maiorparte dos estudiosos, é aparentado ao idioma ioruba,predominante no sudoeste <strong>da</strong> Nigéria. Entretanto,existe um sentimento de separação étnica que se baseiana história e na visão de mundo de ambos os lados.Quando lhe perguntamos <strong>sobre</strong> as razões de o povo deMakoko recusar assistência oficial, mesmo vivendo emambiente insalubre, um funcionário do governo caracterizoua atitude local como “coisa étnica” e especulouque o ambiente deteriorado era, de certa forma, umsinal de rebelião.Mas os vilarejos de palafitas construídos <strong>sobre</strong>baías e lagoas não precisam ser vistos apenas como86capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


alvos de demolição. No Sudeste Asiático, muitaspessoas se a<strong>da</strong>ptaram aos novos tempos sem perdersuas tradicionais formas de viver <strong>sobre</strong> as águas. Omais conhecido desses vilarejos é Kampong Ayer,situado em Ban<strong>da</strong>r Seri Begawan, capital de BruneiDarussalam, país que enriqueceu pelas receitas gera<strong>da</strong>spelo petróleo, tal como a Nigéria.Os moradores de Kampong Ayer, que significa“ci<strong>da</strong>de aquática”, rechaçaram os esforços anteriorespara removê-los. O governo, posteriormente,mudou seu curso de ação e modernizou a área. Aliforam instalados sistema de esgoto, energia elétricae água encana<strong>da</strong> passando <strong>sobre</strong> o nível do RioBrunei – <strong>sobre</strong> o qual as casas foram construí<strong>da</strong>s – eestendendo-se até os lares de 30.000 pessoas. Alémde ter se tornado um melhor lugar para se viver, oKampong Ayer é hoje atração turística.As ci<strong>da</strong>des crescem — e encolhemNo México, o censo de 2010 demonstrou a existênciade uma população total de 112 milhões, 4milhões a mais do que sugeriram as projeções anteriores.Esse fato levou a uma maior reflexão <strong>sobre</strong>como e por que isso ocorreu, enquanto o crescimentopopulacional está ligado à cultura e à história <strong>da</strong>sci<strong>da</strong>des e regiões mexicanas. “Algumas de nossas ci<strong>da</strong>desestão perdendo moradores, outras estão crescendode modo acelerado,” diz Sara Topelson Fridman,vice-ministra de desenvolvimento urbano e territorialdo Ministério de Desenvolvimento Social.“Muitos fatores levaram ao crescimento, e muitosdeles levaram também à diminuição <strong>da</strong> população,”diz Topelson. “No México, a maior parte dessefenômeno se deve à migração, seja para algum outroestado, para alguma outra ci<strong>da</strong>de ou para outropaís, principalmente para os Estados Unidos.” Odepartamento chefiado por Topelson vem coletandodocumentação que analisa o crescimento populacionalnas ci<strong>da</strong>des mexicanas e o peso que isto tem<strong>sobre</strong> seus recursos. No processo, ela descobriu queexistem diferenças significativas entre áreas urbanashá muito estabeleci<strong>da</strong>s e centros populacionais relativamentemais novos.A necessi<strong>da</strong>de de uma maior reflexão <strong>sobre</strong>como se dá o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des é urgente,diz Topelson. “Digamos que temos uma ci<strong>da</strong>decom 800.000 pessoas” diz. “Essa população tantopode triplicar, o que já seria um número enorme,como crescer algo entre cinco e dez vezes o númeroinicial. Somos muito influenciados pelos modelosamericanos de moradia e crescimento – e isso significaexpansão. Assim, as ci<strong>da</strong>des se expandiram – equando uma ci<strong>da</strong>de começa a crescer, muitos interessesse vinculam à sua expansão.” Ela pega mapasque mostram o crescimento populacional em váriasci<strong>da</strong>des mexicanas e se concentra em duas: Acapulco,PORCENTAGEM DE MORADORES DAS ÁREAS URBANAS – 1950-2010PaísMundo100500China 1EgitoEtiópiaFinlândia 2ÍndiaMéxicoMoçambiqueNigériaAntigaRepúblicaIugoslava <strong>da</strong>Macedônia1. Para fins estatísticos, os <strong>da</strong>dos referentes à China não incluem Hong Kong e Macau, Regiões Administrativas Especiais (SAR) <strong>da</strong> China.2. Inclusive Ilhas Aland.Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010Edição em CD-ROM – Dados em formato digital (POP/DB/WUP/Rev.2009)RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>87


tJovens moradoresaguar<strong>da</strong>m o metrô naCi<strong>da</strong>de do México©UNFPA/RicardoRamirez Arriolaum resort na costa oeste, e Gua<strong>da</strong>lajara, na partecentral do país, a cerca de 460 quilômetros anordeste <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do México. A área metropolitanacosteira de Acapulco era, em sua origem,uma ci<strong>da</strong>dezinha situa<strong>da</strong> em uma baía doOceano Pacífico. A ci<strong>da</strong>dezinha inchou rapi<strong>da</strong>menteem função de um boom turístico ocorridono século passado. Hotéis e condomínios marcamos principais locais turísticos, mas há muitomais em Acapulco: são os bairros onde reside apopulação fixa, de cerca de 1 milhão de pessoas.A prefeitura local já não consegue administrara manutenção desse território, afirma Topelson.Ela aponta a escala <strong>da</strong> expansão de Acapulco e osproblemas que os serviços públicos e as operaçõesde segurança têm de enfrentar. “Sem dúvi<strong>da</strong>,as áreas turísticas são diferentes. Nelas existeminúmeros condomínios de alto padrão que ficamocupados de dois a quatro meses por ano somente.Mas, apesar disso, a prefeitura tem de recolhero lixo, limpar as ruas, pagar a iluminação pública,checar to<strong>da</strong> a infraestrutura – fiação, esgoto,energia.” A segurança pública sofre quando osorçamentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ficam <strong>sobre</strong>carregados.“Gua<strong>da</strong>lajara é uma história diferente,” indicaTopelson. Lá, a história e a geografia desempenhampapéis importantes na prevenção <strong>da</strong>expansão urbana. O centro antigo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, comsua catedral que é um marco e as praças que a circun<strong>da</strong>m,continua atraindo moradores e servindocomo ponto central para a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. “Umaenorme ravina a nordeste <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de bloqueou aexpansão urbana ali,” continua. Outros assentamentosse dispersaram ao redor do centro antigo.Em quase três déca<strong>da</strong>s, a população deGua<strong>da</strong>lajara quase dobrou, e a área ocupa<strong>da</strong>pela ci<strong>da</strong>de mais que triplicou. No mesmoperíodo, a população de Acapulco tambémquase dobrou – a uma taxa ligeiramente maisbaixa que a de Gua<strong>da</strong>lajara, mas sua área ocupa<strong>da</strong>expandiu-se quase 10 vezes.“Um de nossos desafios”, diz Topelson, “éfazer com que a área urbana não cresça maispara fora, mas para dentro [<strong>da</strong> área existente] <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de. Há lotes vagos, há áreas desocupa<strong>da</strong>s. Háindústrias que deixaram a ci<strong>da</strong>de. Temos de olharpara o lado de dentro.” Nos limites urbanos, cinturõesverdes poderiam ser usados para traçar aslinhas do crescimento, aponta.Assentamentos informaisO crescente surgimento de assentamentos informais,quase sempre favelas, tem feito parte docrescimento urbano há anos no México e, maisamplamente, na América Latina – onde é maisbem simbolizado pelas favelas do Rio de Janeiroe de outras ci<strong>da</strong>des brasileiras. Topelson não querver esse tipo de crescimento continuar no México.As comuni<strong>da</strong>des informais cedo ou tarde deman<strong>da</strong>mserviços públicos, acrescenta. Os projetosresidenciais construídos pelas incorporadoraspriva<strong>da</strong>s também se apoderam de uma parcela dosorçamentos urbanos. “Mesmo quando o projetoé privado, as conexões dessas incorporações comos serviços do município nunca o são,” continua.“Conexões com a ci<strong>da</strong>de, com a rodovia, comas escolas, com os hospitais” tudo isso custa aogoverno grandes somas de dinheiro.88capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


O Distrito Federal do México é a capital nacionale conta com um governo autônomo. Ele é ocoração <strong>da</strong> área metropolitana mais ampla <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>dedo México, a qual também abrange partes dos estadosvizinhos do México (enti<strong>da</strong>de política separa<strong>da</strong>)e Hi<strong>da</strong>lgo. Em to<strong>da</strong> a área metropolitana <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>dedo México, com uma população de cerca de 20milhões de pessoas, e em outras ci<strong>da</strong>des do país,a ênfase e os recursos estão sendo alocados para amanutenção de espaços públicos.No âmbito federal, parques públicos e áreas derecreação foram criados ou restaurados. Topelsonafirma que 3.400 parques públicos em todo o paísforam recuperados e sofreram benfeitorias nos últimosquatro anos, com vistas a melhorar a vi<strong>da</strong> comunitáriae a reduzir o crime. Perguntou-se aos moradores <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong>des o que desejavam ter em seus parques.Suas respostas levaram à construção de rampas paraesqueitistas, salas de computador, espaços de costura,trilhas para ciclistas e para caminha<strong>da</strong>s. O setor privadofoi estimulado a apoiar programas do tipo “adoteum parque”, garantindo a manutenção de espaçosabertos e centros de recreação por cinco ou dez anos.O governo do Distrito Federal do México crioumais ruas exclusivas para pedestres em vários bairros(além de cadeiras de ro<strong>da</strong>s gratuitas para deficientesque podem ser empresta<strong>da</strong>s em quiosques espalhadospela área). A capital federal e as administraçõeslocais que fazem parte dela – operando comopequenas ci<strong>da</strong>des ou bairros dentro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de maior– estão abrindo espaços ao redor de edifícios históricose outros pontos de referência, com o plantiode árvores e instalação de fontes de água. O Zócalo,centro histórico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de desde a época asteca euma <strong>da</strong>s maiores praças do mundo, foi reformado.As principais aveni<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de foram alarga<strong>da</strong>s,com espaço para plantas e flores ao longo dos canteiroscentrais ou acompanhando as calça<strong>da</strong>s.O ponto mais importante do recente desenvolvimentoé o sistema de veículos leves <strong>sobre</strong> trilhosque corta a ci<strong>da</strong>de no nível <strong>da</strong> rua, com conexãopara o metrô e terminais de ônibus. As bicicletas,chama<strong>da</strong>s ecobici, são amplamente distribuí<strong>da</strong>s portodos os bairros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de para serem utiliza<strong>da</strong>s porqualquer pessoa que comprar a assinatura anual doplano de compartilhamento desses veículos. Os funcionáriosdo Ministério de Desenvolvimento Urbanoe Moradia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de afirmam que 37% <strong>da</strong>s emissõesde gases estufa foram elimina<strong>da</strong>s por esses e outrosprojetos. A Ci<strong>da</strong>de do México, que já foi famosa pelapoluição do ar, se tornou um lugar diferente.No Estado do México, que faz limite com oDistrito Federal por três lados, a capital do estado,Toluca, também assumiu planos ambiciosos de criaçãoou expansão de parques. “Há uma grande deman<strong>da</strong>por espaços urbanos”, diz Patricia Chemor Ruiz,secretária técnica do Conselho Estadual de População.Dois grandes parques foram concluídos na ci<strong>da</strong>de, háum centro empresarial internacional em expansão, eoutros projetos estão sendo elaborados. Os conselhosconsultivos do Estado do México são constituídos pormembros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, informa Chemor.UrbanizaçãoTrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e DesenvolvimentoOs governos devem aumentar a capaci<strong>da</strong>de e competência <strong>da</strong>sautori<strong>da</strong>des municipais para administrar o desenvolvimento urbano,salvaguar<strong>da</strong>r o meio ambiente, atender às necessi<strong>da</strong>des de todos osci<strong>da</strong>dãos — inclusive invasores urbanos — com segurança pessoal,infraestrutura e serviços básicos, visando a eliminar problemas desaúde e sociais, inclusive problemas com drogas e criminali<strong>da</strong>de eaqueles resultantes <strong>da</strong> superlotação e desastres, bem como ofereceralternativas à construção de moradias em áreas vulneráveis a desastresnaturais ou provocados pela ação humana. Os governos sãoinstados a promover a integração <strong>da</strong>s pessoas que migram <strong>da</strong>s áreasrurais para as urbanas e a desenvolver e melhorar sua capaci<strong>da</strong>dede sustento para facilitar seu acesso a emprego, crédito, produção,oportuni<strong>da</strong>des de comércio, educação básica, serviços de saúde, formaçãovocacional e transporte, com especial atenção à situação <strong>da</strong>smulheres trabalhadoras e chefes de família.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>89


Em uma antiga área de alojamentos militares,12 hectares foram transformados em espaço verdepara corri<strong>da</strong>, ciclismo e prática de esqueite emnovas instalações. Outro parque, maior, conta comequipamentos de atletismo e um museu infantil“para tocar”. Para transformar ambos os projetosem reali<strong>da</strong>de, os planejadores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de lutaramcom sucesso contra licitações do governo que pretendiamrequisitar os terrenos para a construção denovos prédios de escritórios.Toluca e a Ci<strong>da</strong>de do México, de forma geral,atraem migrantes de outras partes do país. Chemorconta que, em um esforço para prevenir a instalaçãode mais favelas urbanas ou periféricas, ou de termais pessoas mu<strong>da</strong>ndo-se para áreas vulneráveisa inun<strong>da</strong>ções, os funcionários do governo estãotrabalhando em conjunto com as incorporadoraspriva<strong>da</strong>s na construção de novas ci<strong>da</strong>des autônomascom moradias a preços compatíveis com a disponibili<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s famílias de baixa ren<strong>da</strong>. Um dessesprojetos, chamado Bonanza, está localizado bemlonge <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e sem acesso ao transporte público.Os funcionários informam que os proprietários delinhas de ônibus particulares já estão atendendo aessa necessi<strong>da</strong>de, o que reflete uma tendência, noMéxico, de se exigir maior participação do setorA vi<strong>da</strong> em uma favela indiana: com a palavra, as mulheresA sabedoria <strong>da</strong>s mulheres pobres podenão estar circunstancia<strong>da</strong> nos planos dosgovernos, instituições internacionais eorganizações de pesquisa, embora elasconduzam suas precárias vi<strong>da</strong>s diárias nasfronteiras do mundo de 7 bilhões de pessoas.Estatisticamente, as mulheres dos vilarejos ebairros mais pobres <strong>da</strong>s nações em desenvolvimentosão, ou serão, as mães <strong>da</strong> maiorparte <strong>da</strong>s pessoas que virão ao mundo nesteséculo e, mesmo com quase nenhuma escolari<strong>da</strong>deou sendo analfabetas, elas queremdividir suas experiências, seu modo de pensare seus conselhos.Bhim Nagar é uma <strong>da</strong>s numerosas favelasque se aglomeram em espaços anteriormenteabertos em Thane, ci<strong>da</strong>de de classe médianos arredores de Mumbai, capital financeirae de entretenimento <strong>da</strong> Índia. Estima-seque 30% <strong>da</strong> população de Thane hoje vivanesses assentamentos precários de crescimentorápido. Mas Bhim Nagar, para osque nela vivem, é um bairro cheio de vitali<strong>da</strong>dee ingenui<strong>da</strong>de, a despeito <strong>da</strong> escasseze <strong>da</strong> dissemina<strong>da</strong> violência doméstica. Acomuni<strong>da</strong>de abriga mulheres que trabalhamarduamente e que mantêm uni<strong>da</strong>s grandesfamílias, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des.Uma tarde passa<strong>da</strong> em Bhim Nagar, nacompanhia de algumas dezenas de mulheressenta<strong>da</strong>s no chão, à porta de suascasinhas na maioria sem janelas, permitiuuma rápi<strong>da</strong> visão do bom senso inatode tantas mulheres não escolariza<strong>da</strong>s domundo, manifestado enquanto elas refletiam<strong>sobre</strong> as forças sociais e econômicasque as levaram para lá. Espelhando as preocupaçõese esperanças de mulheres deoutras socie<strong>da</strong>des em desenvolvimento, asmulheres de Bhim Nagar falam não apenas<strong>sobre</strong> suas vi<strong>da</strong>s diárias, mas também<strong>sobre</strong> questões mais amplas: alta dos preçosdos alimentos, oportuni<strong>da</strong>des e padrõesMoradoras <strong>da</strong>s favelas de Bhim Nagar, to<strong>da</strong>sprovenientes de Maharashtra, a oeste <strong>da</strong> Índia.To<strong>da</strong>s trabalham como emprega<strong>da</strong>s domésticas nasáreas residenciais <strong>da</strong>s proximi<strong>da</strong>des ©Atul Loke/Panosde ensino, dispari<strong>da</strong>des no atendimentoà saúde, casamentos muito precoces e aameaça do abuso no lar, que as impedede fazer uso dos serviços de planejamentofamiliar. Crianças com os olhos arregaladostudo veem e escutam.To<strong>da</strong>s as mulheres – a maior parte delasprovenientes do estado de Maharashtra,onde Mumbai está localiza<strong>da</strong> – migrarampara lá com seus maridos e encontraramabrigo nessas sujas fileiras de casas deproprie<strong>da</strong>de de locadores que podem despejá-lasa qualquer momento. To<strong>da</strong>s elasse casaram ain<strong>da</strong> adolescentes. O casamentoinfantil é ilegal na Índia, onde umalei de 1978 estabeleceu que o casamento sópode se <strong>da</strong>r entre maiores de 18 anos. A lei,porém, é quase universalmente descumpri<strong>da</strong>,especialmente nas áreas rurais. Uma <strong>da</strong>smulheres ressaltou que ela nem sabia quetinha sido casa<strong>da</strong> quando seus pais a entregarampara um homem, em trato arranjadopor ambas as famílias. Não havia saí<strong>da</strong>.As mulheres de Bhim Nagar, trabalhandocomo emprega<strong>da</strong>s domésticas ou, às vezes,na coleta de lixo e de descartes recicláveis,são quase sempre as únicas que trazemalguma ren<strong>da</strong> para a família. São elas quepagam a maior parte <strong>da</strong>s contas, inclusivea do aluguel, de cerca de US$38 por mês– com recursos que tiram de salários queraramente excedem a US$50. Seus maridos,dizem elas, trabalham por dia e apenas ocasionalmenteencontram trabalho.O alcoolismo e a violência são problemasconstantes no seio de várias famílias.“Trabalho o dia inteiro, chego em casa ecozinho, e nem consigo comer sem que meumarido bata em mim,” disse uma mulher noinício <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de, através de um intérprete.Ele procura motivos para justificar oabuso. “Que a comi<strong>da</strong> está fria, que está sem90capítulo 6: Planejar com antecedência o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des


privado no desenvolvimento. “As incorporadorassão obriga<strong>da</strong>s a construir as instalações para escolase hospitais,” diz ela <strong>sobre</strong> os projetos de moradiapara famílias de baixa ren<strong>da</strong> do estado. “Não se fazisto em muitos outros lugares.”O crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des em todos oslugares impõe desafios reais para os governos epara seus moradores. Mas a urbanização podeser um fator positivo para o desenvolvimentoeconômico, ambiental e social sustentável, segundoo relatório Population Dynamics in the LeastDeveloped Countries: Challenges and Opportunitiesfor Development and Poverty Reduction(Dinâmica Populacional nos Países MenosDesenvolvidos: Desafios e Oportuni<strong>da</strong>des para oDesenvolvimento e Redução <strong>da</strong> Pobreza), publicadoem <strong>2011</strong> pelo UNFPA. As populações estãocrescendo, e, para as pessoas, faz sentido do pontode vista econômico e ambiental a mu<strong>da</strong>nça para asproximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas urbanas, acrescenta o relatório.A urbanização gera empregos e possibilitaque os países ofereçam serviços essenciais a custosmais baixos per capita. Ela também contribui paraa redução do consumo de energia, especialmentede transporte e moradia, e pode aliviar as pressõespopulacionais nas áreas rurais.gosto ou muito salga<strong>da</strong>,” conta, <strong>sobre</strong> asqueixas do marido. Mulheres com manchasarroxea<strong>da</strong>s dizem não poder tirar alguns diasde folga de seu trabalho de diaristas e cozinheiraspara se recuperar <strong>da</strong>s lesões, porquetemem perder o emprego para as concorrentes.As famílias não têm previdência social,aposentadorias ou planos de saúde.As moradoras de Bhim Nagar dizemter <strong>da</strong>do à luz entre quatro e sete filhosca<strong>da</strong>. Conhecem o planejamento familiare onde obtê-lo, mas são proibi<strong>da</strong>s de fazeruso desse recurso, dizem. “Os homenssão muito exigentes,” comenta umadelas, enquanto suas vizinhas balançama cabeça, concor<strong>da</strong>ndo. “Eles só queremfilhos homens. E têm o poder.” Solicita<strong>da</strong>sa sugerir qual seria o tamanho ideal parauma família, concor<strong>da</strong>m que seria de doisfilhos – misteriosamente perto <strong>da</strong> taxa dereposição mundialmente reconheci<strong>da</strong> de2,1 filhos, a qual estabilizaria a populaçãonaquele canto <strong>da</strong> Índia onde elas vivem.Em Bhim Nagar, existem apenas dezlatrinas – cinco para os homens e cinco paraas mulheres, compartilha<strong>da</strong>s por centenasde pessoas, dizem as moradoras. Os vasossanitários <strong>da</strong>s mulheres são limpos apenasesporadicamente. Não há água corrente noassentamento. O locador, que abre as torneiraspor poucas horas na maior parte dosdias <strong>da</strong> semana (mas não em todos) cobra100 rúpias, cerca de US$2,50, para encheros potes <strong>da</strong>s famílias. A energia elétrica tambémé vendi<strong>da</strong> para elas, a 100 rúpias pormês por ca<strong>da</strong> soquete ou toma<strong>da</strong>. A maiorparte <strong>da</strong>s casas é escura ou com muitopouca iluminação no interior.Encontrar comi<strong>da</strong> suficiente para suasfamílias é uma constante preocupação efonte de tremendo estresse mental e tensãopara essas mulheres. Elas sabem quedevem se ca<strong>da</strong>strar para se beneficiar dosprogramas de assistência pública que oferecempreços reduzidos para os alimentose querosene que são itens essenciais. Mas,contam, os alimentos são desviados para omercado negro antes que elas cheguem atéeles e, mesmo se tivessem cartões de racionamento,eles seriam inúteis porque elassão força<strong>da</strong>s pelas circunstâncias a comprara preço de mercado.Apesar de tudo isso, as mulheres deBhim Nagar são espantosamente resilientes.Muitas enviaram os filhos para escolasestaduais informais ou locais, esperando queeles venham a ter uma vi<strong>da</strong> diferente. Algunsdeles foram encaminhados para formaçãovocacional ou educação em níveis maisaltos. Para as meninas, porém, a vi<strong>da</strong> podeser mais difícil. Algumas <strong>da</strong>s que vivem nasvizinhanças já são emprega<strong>da</strong>s domésticas.Foram tira<strong>da</strong>s <strong>da</strong> escola para aju<strong>da</strong>r a sustentaras famílias em necessi<strong>da</strong>de, destina<strong>da</strong>sa repetir as vi<strong>da</strong>s de suas mães. Outras sãocasa<strong>da</strong>s cedo – naquela tarde, uma meninade 14 anos estava passando por umacerimônia de noivado – e podem estar condena<strong>da</strong>sa outra geração de abuso familiar.Nesse e em alguns outros bairros <strong>da</strong>área, as mulheres ain<strong>da</strong> contam com umlugar para pedir aconselhamento e aju<strong>da</strong>.Há uma pequena filial <strong>da</strong> FederaçãoBhartiya Mahila nas vizinhanças. A organização,que recebeu auxílio do UNFPApara iniciar suas ativi<strong>da</strong>des, auxilia mulheresa obter aconselhamento, alguma aju<strong>da</strong>jurídica ou espaço em um abrigo (e orfanatosou internatos para as crianças),quando a crise é extremamente perigosa.Os voluntários, entre os quais se encontramprofessores, assistentes sociais e umpsiquiatra, dedicam seu tempo ao centroque a organização opera em Thane.Um grupo de teatro de rua foi formadopara levar mensagens às comuni<strong>da</strong>descarentes. Um grande sucesso, com maisde 2.500 apresentações, tem como título“Salve as Meninas e Salve o País”. O grupoatraiu grande atenção e foi convi<strong>da</strong>do parase apresentar na Alemanha.Prabha Rathor, uma <strong>da</strong>s mulheres <strong>da</strong>favela, contou como o Centro Femininolhe deu apoio para sair de um casamentoviolento, ao qual ela foi força<strong>da</strong> quandotinha 14 anos. Prabha conta que foi umamulher isola<strong>da</strong> e aterroriza<strong>da</strong> por anos,mas, desde então, tornou-se uma mulheradulta e confiante em si, que se sustentacozinhando e vendendo almoço em marmitas– as “tiffin box” – que fizeram a famade Mumbai. Ain<strong>da</strong> morando na favela, elaauxilia crianças abandona<strong>da</strong>s ou em graveabandono a <strong>sobre</strong>viver. Com muita tristezaela teve de abrir mão de seus dois filhospara obter o divórcio. “Agora eu digo quenão tive apenas dois filhos,” diz ela. “Tivemil, na comuni<strong>da</strong>de.”RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>91


92 CAPÍTULO 7: Compartilhar e sustentar os recursos <strong>da</strong> Terra


CAPÍTULOSETECompartilhar e sustentaros recursos <strong>da</strong> TerraDesde a Cúpula <strong>da</strong> Terra, realiza<strong>da</strong> em 1992, o crescimento econômico global tiroumilhões de pessoas <strong>da</strong> pobreza. Entretanto, tal crescimento veio também com uma “etiquetade preço”, um custo “que pesa ca<strong>da</strong> vez mais nos ombros dos pobres e vulneráveisdeste planeta – inclusive em vários dos países menos desenvolvidos”, afirmou o diretorexecutivo do Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o Meio Ambiente (PNUMA), AchimSteiner, numa conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s em maio de <strong>2011</strong>.tMenino vendegarrafas de água emLagos, na Nigéria©UNFPA/AkintundeAkinleyeAs duas últimas déca<strong>da</strong>s testemunharam“mu<strong>da</strong>nças econômicas, sociais e ambientaisextraordinárias, mas também modera<strong>da</strong>s,em várias partes do globo,” diz Steiner.Da mu<strong>da</strong>nça do clima à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee <strong>da</strong> progressiva degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>sterras à crescente falta de água potável, amu<strong>da</strong>nça ambiental está se traduzindo emuma escala<strong>da</strong> de escassez e impactos sociaise econômicos, continua ele.“Sabemos que precisamos estimular ocrescimento de nossas economias para tirarmais pessoas <strong>da</strong> pobreza e encontrar empregosdecentes para... os jovens subempregadosou desempregados, especialmente nos paísesem desenvolvimento e, particularmente, nosmenos desenvolvidos,” indica Steiner. “Masesse crescimento precisa ser muito mais inteligente”em um mundo de 7 bilhões de pessoas.“Senão, os riscos, os choques e a imprevisibili<strong>da</strong>dedos alimentos, dos combustíveis e dospreços de outras commodities, que testemunhamosnos últimos dois ou três anos, têmpossibili<strong>da</strong>de de se tornar muito mais extremadose desafiadores em termos sociais.”Steiner defendeu o desenvolvimento deuma “economia verde” que não apenas forjariao crescimento econômico como tambémauxiliaria na erradicação <strong>da</strong> pobreza. “Épossível catalisar o crescimento e o emprego,sem deixar de se manter a pega<strong>da</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>dedentro dos limites ecológicos.”A pega<strong>da</strong> ecológica <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de já estágrande, segundo a Global Footprint Network(Rede <strong>da</strong> Pega<strong>da</strong> Global), grupo de pensadoresambientalistas com sede na Califórnia: desde1970, a humani<strong>da</strong>de está “em risco ecológico”,com uma deman<strong>da</strong> anual de recursos superiorao que a Terra pode repor em 365 dias. “Agoraa Terra precisa de um ano e seis meses pararegenerar o que utilizamos em um ano.”A pega<strong>da</strong> mede quanta área de terrae água a população humana requer paraproduzir os recursos que consome e paraabsorver suas emissões de dióxido de carbono,utilizando a tecnologia predominante.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>93


criança a mais que nasce hoje nos Estados Unidosproduzirá, no curso <strong>da</strong>s gerações, uma pega<strong>da</strong> decarbono sete vezes maior que aquela produzi<strong>da</strong>por uma criança a mais na China, 55 vezes a deuma criança indiana ou 86 vezes a de uma criançanigeriana, demonstra a pesquisa de Murtaugh.tJovem sentado <strong>sobre</strong>a ponte Qasr al-Nilcontempla o rio Nilo, nocentro do Cairo©UNFPA/Matthew CasselMetade <strong>da</strong> pega<strong>da</strong> global de 2007 foi atribuí<strong>da</strong>a 10 países, cabendo aos Estados Unidose à China a utilização de, respectivamente, 21 e24% <strong>da</strong> “biocapaci<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> Terra.Sustentar a vi<strong>da</strong> do americano médio toma9,5 hectares do espaço <strong>da</strong> Terra, comparadocom os 2,7 hectares para a média <strong>da</strong>s pessoasem todo o mundo, e somente cerca de 1 hectarepara a média <strong>da</strong>s pessoas na Índia e na maiorparte <strong>da</strong> África. “Se todos vivêssemos no estilodo americano médio, precisaríamos de cincoplanetas,” afirma a Global Footprint Network.Fred Pearce, jornalista especializado emmeio ambiente, concor<strong>da</strong> com o ponto de vistade que uma pequena parcela <strong>da</strong> populaçãomundial toma para si a maior parte dos recursose produz a maior parte <strong>da</strong> poluição.O meio bilhão de pessoas mais ricas domundo – cerca de 7% <strong>da</strong> população global – éresponsável por cerca de 50% <strong>da</strong>s emissões dedióxido de carbono do mundo, medi<strong>da</strong> querepresenta o consumo de combustíveis fósseis.Enquanto isso, os 50% mais pobres respondempor apenas 7% <strong>da</strong>s emissões, escreve Pearce emartigo para o site “Environment 360” (MeioAmbiente 360º), <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Yale. “Oproblema fun<strong>da</strong>mental é o excesso de consumo,e não o crescimento populacional” argumentaPearce, fazendo referência à pesquisa, realiza<strong>da</strong>por Paul Murtaugh para a Universi<strong>da</strong>de Estadualde Oregon, que contabiliza a “herança intergeracional”que as crianças atuais legarão. Ca<strong>da</strong>Crescimento populacionale mu<strong>da</strong>nças climáticasUm conjunto crescente de evidências demonstraque a recente mu<strong>da</strong>nça do clima é basicamenteresultado <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana, segundo oRelatório <strong>sobre</strong> a Situação <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>2009, “Enfrentando Um Mundo em Transição:Mulheres, População e Clima.” Mas a influência<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana nas mu<strong>da</strong>nças climáticasé complexa e não linear, alerta o relatório. “Amu<strong>da</strong>nça do clima tem a ver com o que consumimos,os tipos de energia que produzimose utilizamos, se moramos em ci<strong>da</strong>des ou emfazen<strong>da</strong>s, se vivemos em um país rico ou pobre,se somos jovens ou idosos, o que comemos, e atécom a medi<strong>da</strong> pela qual mulheres e homens gozamde direitos e oportuni<strong>da</strong>des iguais,” segundo orelatório do UNFPA. “A influência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas <strong>sobre</strong> as pessoas também é complexa,estimulando a migração, destruindo meios de vi<strong>da</strong>,afetando economias, minando o desenvolvimentoe exacerbando as desigual<strong>da</strong>des entre os sexos.”As mulheres enfrentam desafios adicionaispelas mu<strong>da</strong>nças climáticas, em razão <strong>da</strong> maiorpobreza, menos poder <strong>sobre</strong> as próprias vi<strong>da</strong>s,menos reconhecimento de sua produtivi<strong>da</strong>deeconômica e o desproporcional ônus que lhescabe na reprodução e na criação dos filhos.“As mulheres são as mais duramente atingi<strong>da</strong>spelos problemas ambientais, inclusivepelas mu<strong>da</strong>nças climáticas,” afirma AminataToure, chefe <strong>da</strong> divisão de Gênero, DireitosHumanos e Cultura do UNFPA. “Em razão94CAPÍTULO 7: Compartilhar e sustentar os recursos <strong>da</strong> Terra


de a mulher, nos países em desenvolvimento,ser responsável pelo plantio dos alimentos epela alimentação <strong>da</strong> família, ela é uma <strong>da</strong>sprimeiras a sentir os efeitos de problemasambientais como estiagens ou inun<strong>da</strong>ções.”As mu<strong>da</strong>nças climáticas têm o potencialde reverter os ganhos do desenvolvimentoarduamente alcançados nas últimas déca<strong>da</strong>s eo progresso feito em relação aos Objetivos deDesenvolvimento do Milênio, segundo o Banco<strong>Mundial</strong>. Atrasos serão causados pela escassezde recursos hídricos, aumento <strong>da</strong>s tempestades,intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tempestades tropicais, inun<strong>da</strong>ções,per<strong>da</strong> <strong>da</strong> água proveniente do degelo glacial para aagricultura irriga<strong>da</strong>, falta de alimentos e crises desaúde. As mu<strong>da</strong>nças climáticas ameaçam agravar apobreza ou <strong>sobre</strong>carregar os grupos marginalizadose vulneráveis com dificul<strong>da</strong>des adicionais.No Sudeste Asiático, por exemplo, cerca de221 milhões de pessoas já vivem abaixo <strong>da</strong> linhade pobreza. Grande parte <strong>da</strong> população carente<strong>da</strong> região vive nas áreas costeiras e nas terras baixasdos deltas, e muitos são pequenos produtoresagrícolas ou tiram seu sustento do mar. As famíliaspobres são especialmente vulneráveis às mu<strong>da</strong>nçasclimáticas porque sua ren<strong>da</strong>, muito baixa, possibilitapouco ou nenhum acesso aos serviços desaúde ou outras redes de segurança que poderiamprotegê-las contra as ameaças decorrentes <strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças. E também porque lhes faltam recursospara se reassentar, quando são atingidos pela crise.As dinâmicas populacionais são especialmenterelevantes para o debate <strong>sobre</strong> o enfrentamento – oua<strong>da</strong>ptação – às mu<strong>da</strong>nças climáticas. Alguns paísespobres, que apresentam rápido crescimento populacional,podem não ter capaci<strong>da</strong>de de se a<strong>da</strong>ptar àmigração dos habitantes <strong>da</strong>s terras baixas <strong>da</strong>s áreascosteiras para as áreas urbanas, por exemplo, porqueos serviços, moradia e oportuni<strong>da</strong>des de empregopodem ser insuficientes para os novos moradores.Na Conferência <strong>da</strong>s Partes <strong>da</strong> Convenção-Quadro <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> Mu<strong>da</strong>nçasClimáticas, realiza<strong>da</strong> em Cancún em 2010, osnegociadores incluíram pela primeira vez umtexto <strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de de os governos levaremem conta <strong>da</strong>dos demográficos e tendênciaspopulacionais, na formulação de estratégias dea<strong>da</strong>ptação ao clima.Também em 2010, representantes de 20organizações não governamentais e do UNFPAse mobilizaram em Nova York para construirparcerias que promovam a inclusão <strong>da</strong>s questõesde população nas agen<strong>da</strong>s dos próximoseventos internacionais <strong>sobre</strong> meio ambiente,especialmente a ‘Rio+20’, conferência de acompanhamentode 20 anos <strong>da</strong> Cúpula <strong>da</strong> Terra queserá realiza<strong>da</strong> em junho de 2012.Alguns especialistas já estão quantificando osvínculos entre a escala de dinâmicas populacionaise as tendências ambientais, tais como as mu<strong>da</strong>nçasdo clima. Por exemplo, numa monografia publica<strong>da</strong>em 2010 no Proceedings of the National Academyof Sciences in the United States of America (Trabalhos<strong>da</strong> Academia Nacional de Ciências dos EstadosUnidos), Brian C. O’Neill, cientista de mu<strong>da</strong>nçasclimáticas do Centro Nacional de PesquisasAtmosféricas de Boulder, Colorado, e uma equipetUsina de energia emvinhedo no subúrbio deXi’an, na China©UNFPA/Guo TieliuRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>95


tFelismina Bacela e seumarido, Silvestre CelestinoUele, trabalham em seuquintal, onde cultivamrepolho, batatas e outrosprodutos agrícolas paravendê-los num mercadode Maputo©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> Bandeirade especialistas internacionais escreveram <strong>sobre</strong>as conclusões do que descrevem como “a primeiraavaliação abrangente <strong>da</strong>s implicações <strong>da</strong>mu<strong>da</strong>nça demográfica <strong>sobre</strong> as emissões globaisde dióxido de carbono”.As descobertas publica<strong>da</strong>s na monografiaGlobal Demographic Trends and Future CarbonEmissions (Tendências Demográficas Globais eFuturas Emissões de Carbono) vieram de umnovo modelo de crescimento econômico-energéticoque leva em conta um leque de fatoresdemográficos. “Demonstramos que a desaceleraçãodo crescimento populacional poderágerar de 16 a 19% de redução <strong>da</strong>s emissões[de carbono] sugeri<strong>da</strong> como sendo necessáriaaté 2050 para evitar perigosas mu<strong>da</strong>nças noclima,” afirma O’Neill.Uma <strong>da</strong>s descobertas do relatório – no qualforam utilizados <strong>da</strong>dos provenientes de 34 paísesque representam 61% <strong>da</strong> população global– é que, a longo prazo, o envelhecimento reduziráas emissões em até 20%. O envelhecimentotem hoje influência, principalmente, nos paísesindustrializados, onde as emissões são eleva<strong>da</strong>s.“No modelo, as populações em envelhecimentoestão associa<strong>da</strong>s a taxas mais baixas de produtivi<strong>da</strong>deno trabalho ou de participação naforça de trabalho nas i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s”, oque, se outros fatores permanecerem inalterados,“leva ao desaceleramento do crescimentoeconômico,” diz o relatório. As descobertaseluci<strong>da</strong>m outras dimensões do debate <strong>sobre</strong> oscustos e benefícios trazidos pelo envelhecimento<strong>da</strong>s populações.Ain<strong>da</strong> assim, mesmo se fosse alcançadonível zero de crescimento populacional, issoafetaria em quase na<strong>da</strong> o problema do clima –para o qual teríamos de cortar as emissões em50 a 80% em meados do século, argumentaFred Pearce em seu artigo para a Universi<strong>da</strong>dede Yale. “Da<strong>da</strong>s as dispari<strong>da</strong>des de ren<strong>da</strong> existentes,é inegável que o excesso de consumodos poucos ricos é a chave do problema, maisque a superpopulação dos pobres.”Na China, o trabalho do professor CaiLin, do Centro de Estudos em População eDesenvolvimento <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Renmin,reflete o sentimento ca<strong>da</strong> vez mais disseminadode que vários fatores fazem necessariamenteparte <strong>da</strong>s discussões <strong>sobre</strong> população e desenvolvimento,e que todos devem ser levadosem conta. O professor afirma que a Chinavem trabalhando no sentido de alcançar umavisão abrangente e holística <strong>da</strong>s relações entre96CAPÍTULO 7: Compartilhar e sustentar os recursos <strong>da</strong> Terra


população, meio ambiente e mu<strong>da</strong>nça do clima,que envolva não apenas as políticas de populaçãocomo também a reorganização <strong>da</strong>s indústrias,melhorias no setor de energia, agricultura, criaçãode gado e silvicultura.Em 2006 foi publicado o Relatório Nacional<strong>sobre</strong> Mu<strong>da</strong>nças Climáticas na China. Esse trabalhofoi seguido, em 2008, por um plano deação nacional. Desde então, fizeram-se esforçosconcretos para reduzir a poluição industrial, limparo ar <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e desenvolver sistemas paradescarte do lixo urbano. Árvores e arbustos estãosendo plantados, ao longo <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s urbanase nas laterais <strong>da</strong>s rodovias que se estendem pelopaís. Estão sendo realizados estudos <strong>sobre</strong> apoluição costeira marítima, causa<strong>da</strong> por resíduosindustriais e esgoto não tratado.A China, atualmente a maior emissora dedióxido de carbono gerado por combustível fóssildo mundo, tem preocupações tanto em âmbitonacional como regional <strong>sobre</strong> mu<strong>da</strong>nças ambientaise climáticas. Isso porque está posiciona<strong>da</strong>geograficamente entre o descongelamento <strong>da</strong>sgeleiras do Himalaia e as severas tempestadestropicais provenientes do Pacífico. No 12º planoquinquenal chinês, aprovado em março de <strong>2011</strong>,os funcionários do governo se comprometeram a<strong>da</strong>r mais atenção às questões ambientais.O plano recebeu comentários favoráveis emtodo o mundo por ter reconhecido a necessi<strong>da</strong>dede novos direcionamentos. Centenas de bilhões dedólares foram reservados pelo governo central paradesenvolvimento “limpo e verde”. Funcionáriosdo governo e estudiosos têm trabalhado junto àsNações Uni<strong>da</strong>s em áreas como tecnologia limpade carvão e gestão dos recursos hídricos. O desenvolvimento,em seu sentido mais amplo, vemsendo levado em consideração nas discussões <strong>sobre</strong>tamanho <strong>da</strong> população, dizem os funcionários dogoverno e estudiosos chineses.O Banco <strong>Mundial</strong> tem aju<strong>da</strong>do a Chinaa continuar aumentando sua geração de energiarenovável, pois o país já se posiciona entreos líderes globais em energia limpa. O Bancoinforma que, na última déca<strong>da</strong>, 90% de seusinvestimentos em energia na China se deramnessa área. Esses desenvolvimentos aju<strong>da</strong>m nãoapenas a limpar o ar de algumas ci<strong>da</strong>des e zonasindustriais notoriamente poluí<strong>da</strong>s, mas tambéma garantir que uma população mais rica contarácom energia elétrica para operar seus aparelhoselétricos recém-adquiridos e para a iluminação.Indústrias de todos os tipos necessitam de suprimentosconfiáveis de energia para crescer.No plano global, o Banco <strong>Mundial</strong> e as agências<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s têm estimulado os paísesem desenvolvimento a fazer mais uso <strong>da</strong> energialimpa, tanto para consumo interno como paraa exportação. Especialistas em energia solar, porexemplo, afirmam que as nações africanas poderiamvender energia solar suficiente para atenderà grande parte <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> europeia. O Egito,que se recupera <strong>da</strong> revolução de 2010, voltou aatenção para o desenvolvimento de mais energiasolar em suas áreas desérticas que não são produtivaspara a agricultura.A mu<strong>da</strong>nça do clima e o rápido crescimentopopulacional estão entre os vários fatores quetAs populações emenvelhecimento estãoassocia<strong>da</strong>s a emissõesde carbono mais baixas©UNFPA/Antonio FiorenteRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>97


tÔnibus em via exclusivaque ladeia o tráfego naCi<strong>da</strong>de do México©UNFPA/RicardoRamirez Arriolacontribuem para a atual seca e fome no Chifre<strong>da</strong> África. Essas calami<strong>da</strong>des afetaram mais de 12milhões de pessoas, segundo a Organização <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s para Agricultura e Alimentação,a FAO. “Os relativamente escassos recursosdessa área estão sofrendo a pressão do rápidocrescimento populacional, <strong>da</strong> redução <strong>da</strong>s terrasaráveis pela agricultura de subsistência, <strong>da</strong> migraçãopara terras marginais, dos profundos efeitos<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas e <strong>da</strong> sempre presentesituação periférica que a economia dos países doChifre <strong>da</strong> África ocupa frente à economia global.”A crise no Chifre <strong>da</strong> África ressalta a necessi<strong>da</strong>dede uma abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong> para asmu<strong>da</strong>nças climáticas. Essa abor<strong>da</strong>gem devecontemplar ações volta<strong>da</strong>s para auxiliar as pessoasa a<strong>da</strong>ptar-se à seca e a outras condiçõesrelaciona<strong>da</strong>s ao clima, nos locais onde se lutapara extrair <strong>da</strong> terra o suporte à vi<strong>da</strong> humana,disse Babatunde Osotimehin, diretor executivodo UNFPA, à agência de notícias Reuters, emagosto. “Precisamos melhorar a produção dealimentos... e trabalhar conjuntamente com osEstados-Membros para assegurar que as mulherese, particularmente, as jovens, tenham acessoà educação, inclusive à educação sexual; acessoaos serviços de saúde em geral e aos serviços desaúde reprodutiva, incluindo o planejamentofamiliar.” Enfatizando a natureza voluntária <strong>da</strong>spolíticas de planejamento familiar apoia<strong>da</strong>s porsua agência, Osotimehin afirmou que o objetivode mais longo prazo é aju<strong>da</strong>r as mulheres “ater filhos quando quiserem tê-los, e escolher onúmero que elas podem sustentar, dentro de seupróprio contexto,” reportou a Reuters.ÁguaA diminuição dos recursos hídricos é a questãoambiental mais frequentemente levanta<strong>da</strong> nospaíses em desenvolvimento. Isso se deve à necessi<strong>da</strong>dede se manter a produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terrasagrícolas, para atender à vital deman<strong>da</strong> alimentarde populações em crescimento. E também serveà redução dos riscos à saúde para as pessoas quese aglomeram nas áreas urbanas, onde os serviçospúblicos de fornecimento de água – e saneamento– não têm acompanhado o crescimento.O relatório de 2010 do FórumEconômico <strong>Mundial</strong> diz que a expectativa éde aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> de água; as análisessugerem que o mundo terá de enfrentar umdéficit global de 40% entre a deman<strong>da</strong> previstae o suprimento disponível em 2030.O Egito é um dos muitos países que enfrentamdéficits potencialmente graves de recursoshídricos, e os demógrafos do Cairo, comoHisham Makhlouf, presidente <strong>da</strong> Associaçãodos Demógrafos Egípcios, pedem que seja <strong>da</strong><strong>da</strong>maior atenção a essa potencial crise.A segurança hídrica no Egito foi analisa<strong>da</strong>por Lester R. Brown, fun<strong>da</strong>dor e presidentedo Earth Policy Institute (Instituto de Políticas<strong>da</strong> Terra), sediado em Washington, e autor doWorld on the Edge (O Mundo no Limite) querelaciona a insegurança quanto aos suprimentoshídricos naquele país à recente aquisição deterras africanas próprias à agricultura no Sudão98CAPÍTULO 7: Compartilhar e sustentar os recursos <strong>da</strong> Terra


(incluindo o novo Sudão do Sul) e na Etiópia pornações de outras regiões – República <strong>da</strong> Coreia,China, Índia e Arábia Saudita, entre elas.Em monografia intitula<strong>da</strong> “When the Nile RunsDry,” (“Quando o Nilo seca”), Brown afirma que,pelo Tratado <strong>da</strong>s Águas do Rio Nilo, de 1959, foiconcedido ao Egito o direito de uso de 75% do fluxodo rio, depois de ter passado pela Etiópia, Sudão doSul e Sudão, onde seus dois braços se juntam. “Asituação está mu<strong>da</strong>ndo abruptamente, porque ricosgovernos estrangeiros e empresas de agronegóciosinternacionais abocanham grandes fatias de terrasaráveis na bacia superior,” escreveu ele recentemente.As nações desenvolvi<strong>da</strong>s mais ricas e aquelas emdesenvolvimento, de fora <strong>da</strong> África, estão de fatocriando bancos de alimentos contra futura escassezem seus territórios por meio <strong>da</strong> aquisição de terrenospropícios à agricultura nos países mais pobres.“Agora, ao competir pela água do Nilo, oCairo precisa tratar com vários governos – e interessescomerciais – que não assinaram o tratado de1959.” As aquisições de terras também são aquisiçõesde água, aponta Brown, e o Egito situado ajusante necessita <strong>da</strong> água para o crescimento <strong>da</strong>scolheitas de trigo <strong>da</strong>s quais vive sua populaçãoain<strong>da</strong> em crescimento.Gha<strong>da</strong> Barsoum é professora assistente dodepartamento de políticas públicas e administração<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Americana do Cairo. Quandopercebeu o pouco interesse ou preocupação quetinham seus alunos pelas questões que ela levavapara discutir em classe, <strong>sobre</strong> o crescimento populacionalno Egito, ela os levou a uma viagem decampo. Não foram para o deserto. Foram assistirà conferência de Michael Wadleigh, produtor dedocumentários vencedor do Oscar, intitula<strong>da</strong> TheFuture of Humanity: The Future of Egyptians (OFuturo <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de: O Futuro dos Egípcios).Os jovens com os quais Barsoum convive naFacul<strong>da</strong>de de Assuntos Internacionais e PolíticasMeio ambienteTrechos do Programa de Ação <strong>da</strong> ConferênciaInternacional <strong>sobre</strong> População e DesenvolvimentoO atendimento às necessi<strong>da</strong>des básicas <strong>da</strong>s populações emcrescimento depende de um meio ambiente saudável. Fatoresdemográficos, somados à pobreza e à falta de acesso a recursos,em algumas áreas, bem como consumo excessivo e padrões deprodução que geram desperdício, em outras, causam ou exacerbamos problemas <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção ambiental e exaustão derecursos – e, assim, inibem o desenvolvimento sustentável.Públicas estu<strong>da</strong>m em uma <strong>da</strong>s mais seletivas e competitivasuniversi<strong>da</strong>des do mundo, e muitos delesocuparão cargos influentes, seja na articulação depolíticas públicas do governo, seja no setor privado.Wadleigh, por sua vez, é mais conhecido porseu filme de 1970, Woodstock, que retratou umageração anterior de jovens. Esse trabalho venceu oPrêmio <strong>da</strong> Academia na categoria melhor documentário.Recentemente, ele se dedicou a documentaras ameaças que representam as culturas de consumode todos os lugares. Com esse material, tem <strong>da</strong>dopalestras em universi<strong>da</strong>des e organizações cívicas.Foi ao Cairo munido dos <strong>da</strong>dos do Relatório <strong>sobre</strong>Desenvolvimento Humano no Egito, de 2010,Youth in Egypt: Building Our Future (A Juventudeno Egito: Construindo Nosso Futuro).Barsoum, em 2010, realizou uma pesquisa emconjunto com o UNFPA e com o suporte técnico<strong>da</strong> juventude egípcia. Naquela época ela era gerentedo programa de pobreza, gênero e juventude parao Leste Asiático e norte <strong>da</strong> África do Conselhode População. Ela comenta que a apresentação deWadleigh teve impacto em seus alunos <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de,que antes não pensavam muito na populaçãocomo questão política. Mas, quando relacionaramcrescimento populacional a pressões do meioambiente, especialmente aos recursos hídricos dopaís, seus alunos subitamente se interessaram.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>99


100 CAPÍTULO 8: O caminho à frente: concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairo


CAPÍTULOOITOO caminho à frente:concluir a Agen<strong>da</strong> do CairoQuanto mais o mundo em que vivemos se aproxima de uma população de 7bilhões de pessoas, <strong>da</strong>s quais quase 2 bilhões são adolescentes e jovens, mais relevanteque nunca se torna a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Conferência Internacional <strong>sobre</strong> Populaçãoe Desenvolvimento (CIPD) de 1994, afirma Babatunde Osotimehin, diretor executivodo Fundo de População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, o UNFPA.tMulheres jovens naComissão de Centro<strong>da</strong> Juventude em AdisAbeba©UNFPA/Antonio Fiorente.O marco de 31 de outubro, de ummundo de 7 bilhões, representa “uma grandeoportuni<strong>da</strong>de e um grande desafio”, ressaltaOsotimehin, médico e ex-ministro <strong>da</strong> saúdenigeriano, que levou ao cargo que assumiu,em janeiro, extensa experiência <strong>da</strong> ÁfricaSubsaariana, onde as taxas de fecundi<strong>da</strong>de sãoaltas e a pobreza se alastra. Ele também levouconsigo um conjunto de lições aprendi<strong>da</strong>s<strong>sobre</strong> como se movimentar mais agilmentepara atender aos compromissos <strong>da</strong> CIPD. AConferência colocou em curso um Programade Ação de 20 anos, que refletia a consciênciade que as tendências populacionais, ou suas"dinâmicas" – saúde reprodutiva, pobreza,padrões de produção e consumo, meioambiente –, são tão intimamente interliga<strong>da</strong>sque nenhuma pode ser considera<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>mentede forma adequa<strong>da</strong>.“Em razão de nosso ponto de parti<strong>da</strong> ser omarco de 7 bilhões, há muitas coisas que precisamoslevar em consideração”, apontou ele,enfocando a agen<strong>da</strong> global. “A primeira delasé que eu quero ver esse marco como pontode entra<strong>da</strong> que nos possibilite considerar asquestões de população, desenvolvimento,saúde reprodutiva, direitos reprodutivos, serviços– incluindo planejamento familiar – eas questões dos jovens.” E, dentre to<strong>da</strong>s essasquestões, os direitos universais se <strong>sobre</strong>põem.“Para mim, a questão dos direitos é a quemove tudo o mais,” disse ele em entrevista,traçando sua abor<strong>da</strong>gem.“A dinâmica populacional, sempre emevolução – tal como o envelhecimento empaíses desenvolvidos e de ren<strong>da</strong> média,grandes populações jovens em nações emdesenvolvimento, migração e urbanização–, afeta o desenvolvimento sustentável detodos,” complementa Osotimehin.No UNFPA, que desempenha papel deliderança nas Nações Uni<strong>da</strong>s nas questões depopulação e desenvolvimento, Osotimehinespera agora dirigir o foco <strong>da</strong> agência, bemcomo de doadores, socie<strong>da</strong>de civil e governosdos países atendidos pelo UNFPA, paramedi<strong>da</strong>s práticas e executáveis que agilizemo alcance dos objetivos <strong>da</strong> CIPD e dosRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 101


Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, particularmenteo Objetivo 5-b, para atingir o acessouniversal à saúde reprodutiva até 2015.“Sabemos que, para alcançar os objetivos dedesenvolvimento, precisamos <strong>da</strong>r maior atençãoaos adolescentes e jovens,” aponta Osotimehin.Ele ressalta que há mais de 1,2 bilhão de adolescentesna faixa etária entre 10 e 19 anos e,destes, cerca de nove em ca<strong>da</strong> dez vivem empaíses em desenvolvimento.Em sua reflexão <strong>sobre</strong> as políticas parao UNFPA e seus parceiros para o futuro,Osotimehin divide o mundo em três conjuntosde países, com diferentes níveis de desenvolvimento,diferentes desafios e, portanto, diferentesnecessi<strong>da</strong>des: os países em desenvolvimento, particularmenteaqueles que são pobres e, por vezes,com altas taxas de crescimento populacional; ospaíses de ren<strong>da</strong> média, nos quais as populações jáse estabilizaram, mas estão vivendo outras dinâmicas,tais como a migração; e os países de altaren<strong>da</strong>, incluindo um grupo crescente em que aspopulações estão encolhendo e envelhecendo.Os desafios dos paísesem desenvolvimentoNos países em desenvolvimento, indicouOsotimehin, “os Estados-Membros expressarampreocupação <strong>sobre</strong> o crescimento de suas populaçõese nós, do UNFPA, precisamos nos engajarem termos de políticas e programas que reforcema agen<strong>da</strong> do Cairo, a CIPD, segundo a qual osdireitos <strong>da</strong>s mulheres são básicos e suas opções,centrais." Nesses países, os serviços de saúde reprodutivadeveriam ser disponibilizados a to<strong>da</strong>s e todosaté nos locais mais distantes, disse. “E, <strong>da</strong>do que otrabalho que nós, do UNFPA, realizamos semprefoi motivo de orgulho, cabe a nós assegurar queto<strong>da</strong> gravidez seja deseja<strong>da</strong> e que to<strong>da</strong> criança recebaatendimento ao nascer e possa nascer dignamente.Parte desse esforço inclui auxiliar os países asatisfazer a deman<strong>da</strong> não atendi<strong>da</strong> de planejamentofamiliar. “Há 215 milhões de mulheres que desejamplanejamento familiar, e não o estão obtendo,”informou. “É muito importante que o UNFPAdesempenhe papel de liderança na condução desseprocesso. Mas para que seja significativo, esse processodeve ocorrer dentro <strong>da</strong> estrutura essencial <strong>da</strong>saúde reprodutiva e dos direitos reprodutivos.Entretanto, uma abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong> àsaúde e aos direitos reprodutivos significa queo planejamento familiar não pode ser oferecidono vácuo, continuou Osotimehin. Ele não devesó fazer parte e constituir uma parcela do esforçomais amplo para a melhoria dos serviços desaúde reprodutiva, como também a saúde sexuale reprodutiva deve ser integra<strong>da</strong> aos sistemas deatendimento à saúde como um todo.“Permitam-me oferecer um exemplo: em umasituação em que são oferecidos serviços de atendimentobásico, com teste e aconselhamento contra oHIV, [deveria haver] serviços de atendimento pré--natal para as mulheres e informações <strong>sobre</strong> saúdeem que sejam discuti<strong>da</strong>s questões de prevenção. Daíse pode avançar para assegurar que o planejamentofamiliar esteja bem integrado ao conjunto. Esses eoutros serviços podem ser coordenados e oferecidosa baixo custo," esclarece, "e já estamos começando aver exemplos de locais aonde isto está acontecendo".A abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong> não apenas gera maisresultados, como também faz melhor sentido emtermos econômicos. A duplicação ou <strong>sobre</strong>posiçãode serviços pode ser evita<strong>da</strong>, recursos escassospodem ser empregados com mais eficácia, e o riscode alguns serviços melhorarem em detrimento dosdemais pode ser reduzido.Osotimehin, que foi responsável pela conduçãodo programa nigeriano contra o HIV/AIDS por 10anos, diz considerar que os esforços para tratar <strong>da</strong>epidemia poderiam ter sido mais eficazes se tives-102CAPÍTULO 8: O caminho à frente: concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairo


sem sido coordenados com aqueles destinados àmelhoria <strong>da</strong> saúde sexual, reprodutiva e materna.“Por que não tratamos então <strong>da</strong> saúde reprodutivae <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de materna? Vinte por cento <strong>da</strong>mortali<strong>da</strong>de materna na África está relaciona<strong>da</strong>ao HIV. Por que não tratamos as questões deprevenção <strong>da</strong> transmissão de mãe para filho maisativamente? É aí que quero chegar. E essa é arazão pela qual ca<strong>da</strong> vez que reflito <strong>sobre</strong> o quedevemos fazer agora, penso que devemos tentar epensar em algo que seja um pouco mais inclusivo,que assegure isso junto com aquelas mesmascoisas que podemos alcançar com poucos recursos.Podemos ir além.”Uma maneira de coordenar essas ações éestimular os países a integrar serviços em seusorçamentos e administração. Osotimehin afirmaque planeja trabalhar com particular vigor comos membros <strong>da</strong>s legislaturas nacionais, porqueeles não apenas estão em dívi<strong>da</strong> para com seuseleitores como também quase sempre controlamos gastos públicos. “São eles os que decidem paraonde vai o dinheiro,” diz.Osotimehin diz que também planejadefender a abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong> entre osMinistérios <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e Planejamento, assimcomo com os quadros funcionais <strong>da</strong> área <strong>da</strong>saúde, nos países onde o UNFPA trabalha.“Existe uma questão de maior importância nossistemas de muitos países em desenvolvimento”,aponta. “As políticas de saúde e sociais nãotêm a priori<strong>da</strong>de que merecem.”Os países devem ampliar as dotações paraatendimento à saúde sexual e reprodutiva, inclusiveplanejamento familiar, em seus orçamentosregulares. Caso contrário, esses serviços corremo risco de serem tratados como itens opcionaisque podem ser facilmente cortados sempre queos recursos de doadores – que são destinados aativi<strong>da</strong>des específicas – diminuem. “Eles devemser incluídos anualmente como itens orçamentários,bem como todos os outros serviços de saúdereprodutiva. Recursos nacionais devem ser disponibilizadospara essas coisas. Os doadores podemcomplementar esses recursos, mas essas doaçõesnão devem ser a principal fonte. Creio que nós,do UNFPA, temos a responsabili<strong>da</strong>de de falarcom os Estados-Membros e com os doadoresque lhes dão suporte, e dizer-lhes: “Vocês têm decolocar isto em sua agen<strong>da</strong>.”“O UNFPA permanece comprometidocom o desenvolvimento próprio, conduzidonacionalmente, e com o fortalecimento de sistemasnacionais.”No mundo todo, mas especialmente naÁfrica Subsaariana, os recursos para a saúdesexual e reprodutiva, incluindo o planejamentofamiliar, vieram por pressão, à medi<strong>da</strong> que acrise provoca<strong>da</strong> pelo HIV/AIDS se agravou.tO diretor executivo doUNFPA, BabatundeOsotimehin,(à direita) emBangladesh©UNFPA/William RyanRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 103


Doadores e países em desenvolvimento direcionaramigualmente seus recursos para testes etratamento do HIV, enquanto os financiamentospara a saúde sexual e reprodutiva estagnaram.“E não se trata apenas de dinheiro,” continua.“Trata-se do fato de que as pessoas que foramtreina<strong>da</strong>s para oferecer serviços de saúde reprodutivaforam recruta<strong>da</strong>s. Os que prestavam serviçosde planejamento familiar conseguiram empregoscomo consultores para testes de HIV. Mu<strong>da</strong>mostodo mundo. Essa é a razão pela qual, quandoolho para trás, creio que todos deveríamos ter dito:‘Sim, temos esse problema e vamos corrigi-lo. Maso trabalho que as pessoas já estão fazendo é muitorelacionado a isso. Então, por que simplesmentenão ampliamos o que já estamos fazendo? “ Nãodeveria ser uma questão de escolher entre uma ououtra ativi<strong>da</strong>de, deveriam ser ambas.” Os preservativos,por exemplo, não deveriam ser percebidosou como método de planejamento familiar oucomo forma de prevenção do HIV. Eles podemservir a ambas finali<strong>da</strong>des, de forma que tempouco sentido compartimentalizá-los ou pagar poreles com recursos tirados de diferentes orçamentos.Os preservativos, afirma Osotimehin, são hojevistos na maioria dos lugares como ferramentapara prevenção de infecções causa<strong>da</strong>s pelo HIV, ea maior parte <strong>da</strong>s pessoas parece ter esquecido queeles eram, originalmente, uma ferramenta para oplanejamento familiar.Alguns governos nem sempre fizeram doplanejamento familiar uma priori<strong>da</strong>de, esclareceOsotimehin. E os direitos <strong>da</strong> mulher, portanto,não foram honrados em determinados lugares. Masalguns países, como Bangladesh, deram grandespassos no sentido de fazer frente à deman<strong>da</strong> nãoatendi<strong>da</strong> de serviços.T. Paul Schultz, economista do Centro deCrescimento Econômico do Departamento deEconomia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Yale, estudou oplanejamento familiar experimental voluntário deBangladesh e seu programa de difusão no distritoASSISTÊNCIA À POPULAÇÃO, 1998-200812,010,08,06,04,02,00,010,1US$ bilhões (dólares correntes)8,27,07,35,24,22,92.72,0 2,11,7 1,71,30,7 0.61998 2000 2002 2004 2006 2008Incluindo assistência para HIV/AIDSNão incluindo financiamento para HIV/AIDSSomente planejamento familiarFonte: Fluxos de Recursos Financeiros para Ativi<strong>da</strong>des de População em 2008. UNFPA (2010).104CAPÍTULO 8: O caminho à frente: concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairo


de Matlab. Bangladesh, que assistiu ao declínio<strong>da</strong>s taxas de fecundi<strong>da</strong>de, também fez grande progressona educação de meninas e no atendimentoa outras metas dos Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio. A pesquisa de Shultz, cujos resultadosforam publicados em 2009, foi intitula<strong>da</strong> How DoesFamily Planning Promote Development?Evidence froma Social Experiment in Matlab, Bangladesh, 1977-1996 (Como o Planejamento Familiar promove oDesenvolvimento? Evidências de um ExperimentoSocial em Matlab, Bangladesh, 1977-1996).Pelo programa de Matlab, trabalhadores desaúde recrutados localmente viajaram para vilarejose disponibilizaram para as mulheres casa<strong>da</strong>sum leque de opções contraceptivas e informações<strong>sobre</strong> seu uso e segurança; em duas déca<strong>da</strong>s, o programagerou uma redução <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de de 10a 15%, e o aumento do salário <strong>da</strong>s mulheres emum terço, descobriu Schultz. A <strong>sobre</strong>vivência e aescolari<strong>da</strong>de infantis, assim como a saúde de mãese filhas, também apresentaram melhorias. Os bensque as famílias possuíam – como poupança, jóias,bens de consumo, moradia, pomares e reservatóriosde água – aumentaram 25% nos vilarejos queparticiparam do programa, comparados com seusvizinhos que não fizeram parte do experimento.“As análises futuras deveriam tratar de como essasintervenções melhoraram resultados essenciais parahabilitar futuras gerações a sair <strong>da</strong> pobreza, tais comodeclínio <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de, aumento <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>desde ren<strong>da</strong> para as mulheres, mu<strong>da</strong>nças nos índices depoupança priva<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias, mu<strong>da</strong>nças na composição<strong>da</strong> riqueza familiar e, finalmente, melhorias na<strong>sobre</strong>vivência na primeira infância, saúde, nutrição eescolari<strong>da</strong>de,” escreveu o autor.Geeta Rao Gupta, ex-presidente do CentroInternacional de Pesquisa <strong>sobre</strong> a Mulher e pesquisadorasênior de desenvolvimento global <strong>da</strong>Fun<strong>da</strong>ção Bill, e Melin<strong>da</strong> Gates, que agora édiretora executiva adjunta do UNICEF, o Fundo<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Infância, argumentamque as mulheres devem ter acesso aos serviçosque lhes permitam estar no centro <strong>da</strong>s decisões eescolhas <strong>sobre</strong> o tamanho <strong>da</strong> família.“É uma decisão <strong>da</strong> mulher,” diz ela. “Se vocêlhe oferece informação e contraceptivos que estãoali, à disposição, ela optará por fazer uso deles<strong>da</strong> maneira que achar melhor para ela e para afamília. Sim, as mulheres terão de levar em contanormas culturais. Podem ter de negociar dentrode suas famílias para poder atender a essas necessi<strong>da</strong>des.Mas este é o desafio que elas enfrentam.…Nossa responsabili<strong>da</strong>de é assegurar que, quandoas mulheres podem enfrentar esses desafios, podemosoferecer a elas os serviços de quali<strong>da</strong>de de quenecessitam. Isso é tudo o que podemos fazer.”Desafios nos países deren<strong>da</strong> média e altaNos países de ren<strong>da</strong> média, onde as taxas de fecundi<strong>da</strong>decaíram abaixo <strong>da</strong> taxa de reposição, e osserviços de saúde reprodutiva, inclusive o planejamentofamiliar, podem estar bem estabelecidos,questões como a migração estão tomando lugarcentral <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>, aponta Osotimehin. Tambémexistem problemas de iniqui<strong>da</strong>de na distribuição <strong>da</strong>riqueza, violência contra as mulheres ou negação deseus direitos e a exclusão dos povos indígenas.“No segundo grupo de países, estaremos trabalhandomuito mais pelo engajamento,” diz ele,“o que estará em questão são as políticas sociais,”e também auxiliar os países a monitorar e avaliarseus programas, com a finali<strong>da</strong>de de determinarse eles alcançaram grupos marginalizados ou vulneráveise empoderaram as mulheres e os jovens.Nos países de ren<strong>da</strong> média, o UNFPA tambémpode auxiliar na coleta e análise de <strong>da</strong>dos de boaquali<strong>da</strong>de para o melhor entendimento de tendências,prestando assistência aos formuladoresde políticas do governo.RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 105


tIrma Guevara e filhosem Metlatónoc,México. Guevaraé uma na savi,ex-migrante para osEstados Unidos©UNFPA/RicardoRamirez Arriolaadministrar a migração, mas, de modo geral, amigração de entra<strong>da</strong> no país. A maior parte dessespaíses também se confronta com a questãodo envelhecimento <strong>da</strong> população, de importânciacrescente, e também com a perspectiva detraçar políticas para atender às necessi<strong>da</strong>des dosidosos, sem deixar de mantê-los ativos em suascomuni<strong>da</strong>des. “Ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>dedevem se preparar e implantar estruturasque possam acomo<strong>da</strong>r os idosos e tratá-los comdigni<strong>da</strong>de,” diz Osotimehin.O México ilustra algumas <strong>da</strong>s questões comas quais os países de ren<strong>da</strong> média se confrontamatualmente, continua Osotimehin. “A populaçãoé estável. Apresenta uma taxa de prevalênciade contraceptivos muito alta." Mas o país tambémexperimenta uma grande movimentaçãode pessoas – <strong>da</strong>s áreas rurais para as urbanas,<strong>da</strong>s urbanas para as periféricas e para outrospaíses. Dessa forma, um grande componentedo trabalho do UNFPA no México se concentrano auxílio ao governo para administrar amigração, especialmente nas ci<strong>da</strong>des, para assegurarque a transição torne a vi<strong>da</strong> melhor paraas pessoas e não intensifique as iniqui<strong>da</strong>des.“Como assegurar que a Ci<strong>da</strong>de do México, àmedi<strong>da</strong> que cresce, esteja habilita<strong>da</strong> a atendera to<strong>da</strong>s e todos em termos de acesso a serviçosreprodutivos, bem como em poder fazer asescolhas que esperamos que todo indivíduo sejacapaz de fazer? Como reduzimos a prevalência<strong>da</strong> violência de gênero? Como assegurar quemulheres jovens continuem tendo acesso à educaçãoe possam se aperceber de seu potencial,ao mu<strong>da</strong>r-se para a ci<strong>da</strong>de?O terceiro grupo de países – os de altaren<strong>da</strong> – também está vivenciando e tentandoAlém de 2014O programa de ação <strong>da</strong> CIPD está previsto paraexpirar em 2014, com muitos dos seus objetivosain<strong>da</strong> fora do alcance em muitos países."Felizmente, há uma resolução <strong>da</strong> AssembleiaGeral que nos diz que podemos prorrogar aCIPD para além de 2014, porque ain<strong>da</strong> há tantoa fazer," esclarece Osotimehin. Mas este não éo caso dos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio que devem ser alcançados até 2015. Otrabalho do UNFPA contribui para o alcance devárias <strong>da</strong>s metas, porque trata de pobreza, gênero,saúde materna e do objetivo especial de acessouniversal à saúde reprodutiva. “Não dispomos,neste momento, de uma posição comprometi<strong>da</strong>de fato <strong>sobre</strong> qual será a agen<strong>da</strong> do desenvolvimentodepois dos Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio.” Mas, independentemente do queacontecerá no percurso até 2015 e no futuro,“hão de surgir mais vozes dos países do Sul, emuitas delas serão de jovens,” prediz Osotimehin.“Essas vozes, jovens ou idosas, deverão ser ouvi<strong>da</strong>sem todos os níveis, desde o nacional até oregional e o internacional,” acrescenta.Lola Dare, secretária executiva do ConselhoAfricano para o Desenvolvimento Sustentável<strong>da</strong> Saúde, e principal executiva do Centro deCiências <strong>da</strong> Saúde, Treinamento e Pesquisa,106CAPÍTULO 8: O caminho à frente: concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairo


enti<strong>da</strong>de registra<strong>da</strong> na Nigéria e no Reino Unido,é uma defensora <strong>da</strong> participação mais ativa <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil, bem como dos governos <strong>da</strong>s naçõesem desenvolvimento, no esforço para influenciar aopinião em escala global. “É uma falha dos esforçosde promoção dos direitos por parte do Sul” que osfundos para a saúde reprodutiva possam ser cortadoscom tanta facili<strong>da</strong>de, diz ela. Nas nações doadoras“não somos ouvidos,” continua. “Eles têm vistoalguns poucos folhetos com crianças desnutri<strong>da</strong>s,mas sabem pouco <strong>sobre</strong> a reali<strong>da</strong>de de nossas vi<strong>da</strong>s.Precisamos dizer: “Essas questões são importantespara nós.” “Não se trata de conquistar espaço. Espaçojá há. Nossas vozes do Sul deveriam preencher oespaço com sua própria perspectiva.”Na série de conferências de maior importânciaque serão realiza<strong>da</strong>s pelas Nações Uni<strong>da</strong>s, comoa do 20º aniversário <strong>da</strong> “Cúpula <strong>da</strong> Terra”, em2012, e o 20º aniversário <strong>da</strong> CIPD, em 2014,Osotimehin vê oportuni<strong>da</strong>des para focar na imensapopulação de jovens no mundo, de maneira queeles possam “fazer parte <strong>da</strong> conversação.”O que é necessário agora é que a comuni<strong>da</strong>deglobal engaje os jovens, para garantir que eles possamter a educação adequa<strong>da</strong>, não apenas no sentido tradicional,mas educação que faça diferença para suasvi<strong>da</strong>s – “que deve incluir educação em sexuali<strong>da</strong>deapropria<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> faixa etária, de forma que eles possamfazer opções de vi<strong>da</strong>, decidir se querem ter filhos,quando querem ter, quantos querem ter e com qualintervalo entre as gravidezes”. Osotimehin afirmaque a organização auxiliará a empoderar os jovensna toma<strong>da</strong> de decisões e na ampliação do acesso aosserviços de que necessitam. “Os jovens são uma <strong>da</strong>sdeterminantes do amanhã. Caberá a eles e elas determinaro momento do crescimento no futuro.”Referindo-se à saúde reprodutiva e sexuali<strong>da</strong>dedos jovens, em particular <strong>da</strong>s jovens, Dare afirmaque, em sua opinião, a mensagem do Cairo foi frequentementeinterpreta<strong>da</strong> como “diga apenas não”e que é preciso muito mais atenção para se auxiliaros jovens em seu caminho para a autodescoberta. Osresultados de um estudo de cinco anos realizado naNigéria, no qual Osotimehin se envolveu, permitemconcluir que as pessoas haviam absorvido muito<strong>sobre</strong> saúde reprodutiva, diz Dare, “mas as jovensdiziam: ‘tudo isto me dá informações <strong>sobre</strong> quandodizer não para o sexo; não me diz quando – e como– dizer sim.’”O estudo concluiu que “jovem” é uma categoriaampla demais e que estratégias diferentes, volta<strong>da</strong>spara ca<strong>da</strong> faixa etária, deveriam ser cria<strong>da</strong>s paraalcançar as categorias de jovens, com mensagensapropria<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> uma delas, tanto num contextoonde a educação sexual faça parte do currículoescolar formal quanto em situações mais informais,dentre as quais grupos de jovens, centros de planejamentofamiliar abertos aos jovens ou clínicasde saúde reprodutiva. Os adolescentes mais jovenspodem não ter alcançado uma fase sexualmenteativa, lembra ela.Na faixa dos 15 anos, seu corpo faz com quevocê pergunte quando e por que você cogitaria dizersim, diz Dare. Dos 18 aos 22, acrescenta, os jovenspodem dizer “Eu gostaria de fazer sexo. Precisosaber quais são minhas opções.” Os jovens adultos,já sexualmente ativos, também precisam de informação.Dare diz que, no campo <strong>da</strong> educação para asexuali<strong>da</strong>de, deve haver “um processo contínuo <strong>da</strong>sexuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> adolescência para a i<strong>da</strong>de adulta. Istorealmente empodera, e não apenas fornece informação”.Essas estratégias adequa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> faixa etária– para moças e rapazes, assim como para homense mulheres – “aju<strong>da</strong>m a orientá-los através de anostumultuados em termos pessoais e os preparam parafazer boas escolhas à medi<strong>da</strong> que estabelecem seulugar na socie<strong>da</strong>de,” esclarece Dare.Para que meninas e mulheres realizem seupotencial e façam as escolhas de vi<strong>da</strong> vislumbra<strong>da</strong>spela comuni<strong>da</strong>de internacional na CIPD, RaoRELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 107


Gupta, do UNICEF, diz: “elas necessitam de educação,elas necessitam de proteção contra a violênciae tudo o mais que contribui para a quali<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong>.... a Agen<strong>da</strong> do Cairo reconheceu que o planejamentofamiliar faz parte dos direitos <strong>da</strong>s mulheres,e que estamos criando as condições para atendera esses direitos e para assegurar que elas não sejamdiscrimina<strong>da</strong>s, seja de que forma for”.O relatório do secretário-geral <strong>da</strong> ONU <strong>sobre</strong>o montante de recursos necessários para a implementaçãodo Programa de Ação do Cairo dizque, somente em <strong>2011</strong>, seriam necessários cercade US$ 68 bilhões para cobrir os custos <strong>da</strong>s iniciativasde saúde sexual e reprodutiva, incluindoo planejamento familiar, prevenção do HIV etratamento <strong>da</strong> AIDS, pesquisa e coleta de <strong>da</strong>dos.Desse total, espera-se que os próprios países contribuamcom US$ 34 bilhões, enquanto os doadoresinternacionais e bilaterais, em conjunto, forneçamUS$ 10,8 bilhões. Resta ain<strong>da</strong> uma lacuna de cercade US$ 25 bilhões. O relatório alerta que, sem umfirme comprometimento com as questões de população,saúde reprodutiva e gênero, “é improvável queos objetivos e metas <strong>da</strong> Conferência Internacional<strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento e <strong>da</strong> Cúpula doMilênio sejam alcançados.”“Os investimentos que empoderem os indivíduospara que eles tomem suas próprias decisões”terão o maior impacto <strong>sobre</strong> as tendências demográficas,tais como o crescimento populacional,afirmou Osotimehin em reunião <strong>da</strong> Comissão paraPopulação e Desenvolvimento, realiza<strong>da</strong> em abrilO trabalho do UNFPAO UNFPA tem sido o principal provedorde assistência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s nocampo <strong>da</strong> população desde que começoua operar, em 1969. Maior fonteinternacional de assistência à populaçãodo mundo, o UNFPA trabalha junto aospaíses em desenvolvimento, países comeconomias em transição e outros países,a pedido destes, para auxiliá-los a tratarde questões de saúde reprodutiva e depopulação. A agência aju<strong>da</strong> a aumentara consciência <strong>sobre</strong> essas questões, emtodos os países.Suas principais tarefas são a deaju<strong>da</strong>r a assegurar o acesso universalà saúde reprodutiva, inclusive oplanejamento familiar e a saúde sexual,a todos os casais e indivíduos; <strong>da</strong>rsuporte a estratégias populacionais ede desenvolvimento que possibilitema construção de capaci<strong>da</strong>des em programação;promover a conscientização<strong>sobre</strong> as questões de população edesenvolvimento; e promover a mobilizaçãode recursos e a vontade políticanecessárias para o cumprimento de seutrabalho. O UNFPA é guiado por e promoveos princípios do Programa de Ação<strong>da</strong> Conferência Internacional <strong>sobre</strong>População e Desenvolvimento de 1994.Os objetivos <strong>da</strong> CIPD, especialmenteaqueles que dizem respeito à saúdereprodutiva e aos direitos reprodutivos,à equi<strong>da</strong>de de gênero, ao empoderamento<strong>da</strong> mulher e à educação <strong>da</strong>smeninas, são parte integral dos esforçospara a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>e para o alcance do desenvolvimentosocial e econômico sustentável.Em 2010, o UNFPA ofereceusuporte a 123 países em desenvolvimento,áreas e territórios: 45 na ÁfricaSubsaariana, 14 nos Estados Árabes, 20no Leste Europeu e na Ásia Central, 21na América Latina e o Caribe e 23 naÁsia e no Pacífico; a África Subsaarianarecebeu o maior percentual dos recursosregulares do UNFPA, com US$ 135,9milhões; foi segui<strong>da</strong> pela Ásia e Pacífico,com US$ 96 milhões, América Latinae o Caribe, com US$ 38,8 milhões,Estados Árabes, com US$ 27,3 milhões,e Leste Europeu e Ásia Central, com US$16,9 milhões. Do total de gastos regularesatendidos com recursos, o UNFPAforneceu US$ 174,1 milhões para assistênciaà saúde reprodutiva, US$ 76,6milhões para população e desenvolvimento,US$ 43,5 milhões para equi<strong>da</strong>dede gênero e empoderamento <strong>da</strong> mulhere US$ 72,1 milhões para coordenação deprogramas e assistência.Como organização-líder <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s para o acompanhamento eimplementação do Programa de Ação<strong>da</strong> Conferência Internacional <strong>sobre</strong>População e Desenvolvimento, o UNFPAestá plenamente comprometido a trabalharem parceria com os governos, como sistema <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, com osbancos de desenvolvimento, com asagências bilaterais de aju<strong>da</strong>, organizaçõesnão governamentais e socie<strong>da</strong>decivil para assegurar que as metas e objetivos<strong>da</strong> CIPD sejam atingidos.108CAPÍTULO 8: O caminho à frente: concluir a Agen<strong>da</strong> do Cairo


tAtivistas e parceiroseducadores do GeraçãoBiz (<strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> para adireita): Katarina Muzima,Celeste Alberto, AnchaDaniel, Adriano Andrade,Lina Tivane e MariaSalomé em Maputo,Moçambique©UNFPA/Pedro Sá <strong>da</strong> Bandeirade <strong>2011</strong>. “Ao final <strong>da</strong>s contas, são as escolhas eoportuni<strong>da</strong>des aproveita<strong>da</strong>s pelos indivíduos quedeterminam as dinâmicas <strong>da</strong> população.”“População quer dizer gente, apoio aosdireitos e à digni<strong>da</strong>de humana e a criação decondições para que ca<strong>da</strong> um de nós viva emum planeta saudável e alcancemos nosso plenopotencial,” disse ele.Osotimehin afirmou que o objetivo doUNFPA é o de promover a saúde sexual ereprodutiva, os direitos reprodutivos, reduzira mortali<strong>da</strong>de materna e acelerar o progressopara a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> CIPD e para o Objetivode Desenvolvimento do Milênio 5, aqueleem relação ao qual houve o menor progresso.“Necessitamos empoderar e melhorar as vi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>spopulações desassisti<strong>da</strong>s, especialmente as mulheres,os jovens e os adolescentes," e as ações <strong>da</strong>sorganizações devem ser “habilita<strong>da</strong>s por nossoentendimento <strong>da</strong>s dinâmicas <strong>da</strong> população, direitoshumanos e equi<strong>da</strong>de de gênero”.“Na medi<strong>da</strong> em que meninas continuem aser casa<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> crianças e a engravi<strong>da</strong>r antesque suas mentes e corpos estejam prontos; namedi<strong>da</strong> em que as mulheres e os casais nãopuderem planejar e espaçar o nascimento deseus filhos como desejarem; na medi<strong>da</strong> emque as mulheres sofram de fístula obstétrica oumorram de complicações durante a gravideze parto; na medi<strong>da</strong> em que os jovens permaneçamem situação de alto risco e deixem deobter apropria<strong>da</strong> informação e serviços desaúde; na medi<strong>da</strong> em que as pessoas continuarema ser infecta<strong>da</strong>s pelo HIV, o UNFPAdefenderá os direitos de ca<strong>da</strong> pessoa à saúdesexual e reprodutiva. Promoveremos o acessouniversal à saúde reprodutiva até 2015.Apoiaremos os países na coleta, análise e utilizaçãode <strong>da</strong>dos populacionais para orientarpolíticas, programas e orçamentos.”“O futuro dependerá <strong>da</strong>s escolhas que estamosfazendo agora.”RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong> 109


Monitoramento <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPD:indicadores selecionadosPaís,território ououtra áreaSaúde Materna e de Recém-Nascidos Educação Saúde Sexual e ReprodutivaTaxa demortali<strong>da</strong>deaté 5 anospara ca<strong>da</strong>1.000nascidosvivos, 2009Razão demortali<strong>da</strong>dematernapara ca<strong>da</strong>100.000nascidosvivos, 2008Taxa departos entreadolescentespor 1.000mulheres 15a 19 anos,1996/2008*Partosatendidospor pessoalqualificadoem saúde(%),1992/2009*Afeganistão 198,6 1400 151 14 38 15 23 15Albânia 15,3 31 17 99 91 91 75 73 99 100 69 10 13 6Argélia 32,3 120 4 95 96 95 65 68 94 89 61 52 13 0,1


País, territórioou outra áreaMonitoramento <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPD: indicadores selecionadosSaúde Materna e de Recém-Nascidos Educação Saúde Sexual e ReprodutivaTaxa demortali<strong>da</strong>deaté 5 anospara ca<strong>da</strong>1.000nascidosvivos, 2009Razão demortali<strong>da</strong>dematernapara ca<strong>da</strong>100.000nascidosvivos, 2008Taxa departos entreadolescentespor 1.000mulheres 15a 19 anos,1996/2008*Partosatendidospor pessoalqualificadoem saúde(%),1992/2009*Colômbia 18,9 85 96 96 94 94 71 77 98 98 78 68 6 0,2 0,1Comores 104,0 340 95 62 79 67 86 84 26 19 35 10


Monitoramento <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPD: indicadores selecionadosSaúde Materna e de Recém-Nascidos Educação Saúde Sexual e ReprodutivaTaxa demortali<strong>da</strong>deRazão demortali<strong>da</strong>deTaxa departos entrePartosatendidosMatrículano ensinoMatrícula noensino médio,Taxa dealfabetização,Taxa deprevalência deTaxa de prevalência Necessi<strong>da</strong>dede contraceptivos nãoPopulação15-24 anos comTaxa deprevalênciaaté 5 anos materna adolescentes por pessoal fun<strong>da</strong>mental, % % líquido de população contraceptivos entre mulheres atendi<strong>da</strong> de conhecimento do HIV/AIDSpara ca<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> por 1.000 qualificado líquido de crianças crianças em 15-24 anos (%), entre mulheres 15-49 anos, planejamento abrangente e correto população 15-24País, território1.000 100.000 mulheres 15 em saúde em i<strong>da</strong>de escolar, i<strong>da</strong>de escolar, 1991/2008* 15-49 anos, métodos familiar (%), <strong>sobre</strong> HIV/AIDS anos (%), 2009nascidos nascidos a 19 anos, (%),1991/2009* 1999/2010*qualquer método, modernos, 1992/2009* (%), 2000/2008*ou outra área vivos, 2009 vivos, 2008 1996/2008* 1992/2009* masculino feminino masculino feminino masculino feminino 1990/2010* 1990/2010*masculino feminino masculino femininoIndonésia 38,9 240 52 79 69 68 97 96 61 57 9 15 10 0,1


País, territórioou outra áreaMarrocos 37,5 110 18 63 92 88 37 32 85 68 63 52 10 12 0,1 0,1Moçambique 141,9 550 185 55 82 77 17 15 78 62 17 12 18 33 14 3,1 8,6Mianmar 71,2 240 17 57 49 50 96 95 41 38 19 0,3 0,3Namíbia 47,5 180 74 81 88 93 49 60 91 95 55 54 21 62 65 2,3 5,8Nepal 48,2 380 106 19 81 66 86 75 48 44 25 44 28 0,2 0,1Holan<strong>da</strong> 4,4 9 4 100 99 99 88 89 69 67 0,1


Monitoramento <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPD: indicadores selecionadosPaís, territórioou outra áreaSaúde Materna e de Recém-Nascidos Educação Saúde Sexual e ReprodutivaTaxa demortali<strong>da</strong>deaté 5 anospara ca<strong>da</strong>1.000nascidosvivos, 2009Razão demortali<strong>da</strong>dematernapara ca<strong>da</strong>100.000nascidosvivos, 2008Taxa departos entreadolescentespor 1.000mulheres 15a 19 anos,1996/2008*Partosatendidospor pessoalqualificadoem saúde(%),1992/2009*Sri Lanka 14,7 39 28 99 99 100 97 99 68 53 7


Monitoramento <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPD: indicadores selecionadosDadosmundiaise regionais 16Saúde Materna e de Recém-Nascidos Educação Saúde Sexual e ReprodutivaTaxa demortali<strong>da</strong>deaté 5 anospara ca<strong>da</strong>1.000nascidosvivos, 2009Razão demortali<strong>da</strong>dematernapara ca<strong>da</strong>100.000nascidosvivos, 2008Taxa departos entreadolescentespor 1.000mulheres 15a 19 anos,1996/2008*Partosatendidospor pessoalqualificadoem saúde(%),1992/2009*Matrículano ensinoMatrícula noensino médio,Taxa dealfabetização,Taxa deprevalência deTaxa de prevalência Necessi<strong>da</strong>dede contraceptivos nãoPopulação15-24 anos comfun<strong>da</strong>mental, % % líquido de população contraceptivos entre mulheres atendi<strong>da</strong> de conhecimentolíquido de crianças crianças em 15-24 anos (%), entre mulheres 15-49 anos, planejamento abrangente e corretoem i<strong>da</strong>de escolar, i<strong>da</strong>de escolar, 1991/2008* 15-49 anos, métodos familiar (%), <strong>sobre</strong> HIV/AIDS1991/2009* 1999/2010*qualquer método, modernos, 1992/2009* (%), 2000/2008*masculino feminino masculino feminino masculino feminino 1990/2010* 1990/2010*masculino femininoTaxa deprevalênciado HIV/AIDSpopulação 15-24anos (%), 2009masculino femininoTotal <strong>Mundial</strong> 61,7 265 49 66 89 86 61 61 91 86 63 56 22 31 19 0,4 0,7Regiões maisdesenvolvi<strong>da</strong>s 8 7,1 18 24 99 96 96 90 91 99 100 72 62 12 29 32 0,2 0,1Regiões menosdesenvolvi<strong>da</strong>s 9 66,9 293 53 63 88 85 53 53 90 84 61 55 23 31 19 0,4 0,8Países menosdesenvolvidos 10 122,4 597 120 39 76 73 31 24 75 65 30 24 27 28 20 0,8 1,7Estados Árabes 11 50,7 247 45 72 86 80 63 59 91 84 47 39 21 18 7 0,2 0,3Ásia e o Pacífico 12 50,0 193 34 64 93 89 22 56 93 86 67 61 21 32 18 0,1 0,1Leste Europeue Ásia Central 13 19,7 30 31 97 94 94 85 83 99 99 70 50 13 20 26 0,1 0,2América Latinae Caribe 14 22,4 85 74 89 94 94 72 76 97 98 73 67 17 34 30 0,3 0,2África Subsaariana 15 130,1 638 122 47 76 72 30 25 76 67 25 19 26 32 25 1,6 4,0RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>115


Indicadores demográficos,sociais e econômicosPaís,território ououtra áreaPopulaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoPopulação utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*Afeganistão 32,4 16,7 15,6 3,1 23 6,0 49 49 37População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Albânia 3,2 1,6 1,6 0,3 52 1,5 74 80 98 2Argélia 36,0 18,2 17,8 1,4 66 2,1 72 75 95 7Angola 19,6 9,7 9,9 2,7 59 5,1 50 53 57 54Antígua e Barbu<strong>da</strong> 0,0 0,0 0,0 1,0 30 95Argentina 40,8 19,9 20,8 0,9 92 2,2 72 80 90 3Armênia 3,1 1,4 1,7 0,3 64 1,7 71 77 90 4Austrália 1 22,6 11,3 11,3 1,3 89 1,9 80 84 100Áustria 8,4 4,1 4,3 0,2 68 1,3 78 84 100Azerbaijão 9,3 4,6 4,7 1,2 52 2,1 68 74 45 2Bahamas 0,3 0,2 0,2 1,1 84 1,9 73 79 100Bahrein 1,3 0,8 0,5 2,1 89 2,4 75 76Bangladesh 150,5 76,2 74,3 1,3 28 2,2 69 70 53 50Barbados 0,3 0,1 0,1 0,2 44 1,6 74 80 100Bielorússia 9,6 4,4 5,1 -0,3 75 1,5 65 76 93 2Bélgica 10,8 5,3 5,5 0,3 97 1,8 77 83 100Belize 0,3 0,2 0,2 2,0 52 2,7 75 78 90 13Benin 9,1 4,5 4,6 2,7 42 5,1 55 59 12 47Butão 0,7 0,4 0,3 1,5 35 2,3 66 70 65 26Bolívia (Estado Plurinacional <strong>da</strong>) 10,1 5,0 5,1 1,6 67 3,2 65 69 25 12Bósnia-Herzegóvina 3,8 1,8 1,9 -0,2 49 1,1 73 78 95 2Botsuana 2,0 1,0 1,0 1,1 61 2,6 54 51 60 31Brasil 196,7 96,7 99,9 0,8 87 1,8 71 77 80 5Brunei Darussalam 0,4 0,2 0,2 1,7 76 2,0 76 81Bulgária 7,4 3,6 3,8 -0,7 71 1,5 70 77 100 2Burquina Fasso 17,0 8,4 8,5 3,0 26 5,8 55 57 11 57Burundi 8,6 4,2 4,4 1,9 11 4,1 50 53 46 81Camboja 14,3 7,0 7,3 1,2 20 2,4 62 65 29 26Camarões, República de 20,0 10,0 10,0 2,1 58 4,3 51 54 47 33Canadá 34,3 17,0 17,3 0,9 81 1,7 79 83 100Cabo Verde 0,5 0,2 0,3 0,9 61 2,3 71 78 54 21República Centro-Africana 4,5 2,2 2,3 2,0 39 4,4 48 51 34 62Chade 11,5 5,7 5,8 2,6 28 5,7 49 52 9 62Chile 17,3 8,5 8,7 0,9 89 1,8 76 82 96 2China 1347,6 699,6 647,9 0,4 47 1,6 72 76 55 16Colômbia 46,9 23,1 23,8 1,3 75 2,3 70 78 74 16116 INDICADORES


Indicadores demográficos, sociais e econômicosPaís, territórioou outra áreaPopulaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoComores 0,8 0,4 0,4 2,5 28 4,7 60 63 36 46Congo, República Democrática do 2 67,8 33,7 34,1 2,6 35 5,5 47 51 23 59Congo, República do 4,1 2,1 2,1 2,2 62 4,4 57 59 30 54Costa Rica 4,7 2,4 2,3 1,4 64 1,8 77 82 95 2Costa do Marfim 20,2 10,3 9,9 2,2 51 4,2 55 58 23 23Croácia 4,4 2,1 2,3 -0,2 58 1,5 73 80 99 2Cuba 11,3 5,7 5,6 0,0 75 1,5 77 81 91Chipre 1,1 0,6 0,5 1,1 70 1,5 78 82 100República Tcheca 10,5 5,2 5,4 0,3 74 1,5 75 81 98 2Dinamarca 5,6 2,8 2,8 0,3 87 1,9 77 81 100Djibuti 0,9 0,5 0,5 1,9 76 3,6 57 60 56 19Dominica 0,0 0,0 0,0 0,0 67 81República Domimicana 10,1 5,0 5,0 1,2 69 2,5 71 77 83 4Equador 14,7 7,3 7,3 1,3 67 2,4 73 79 92 5Egito 82,5 41,4 41,1 1,7 43 2,6 72 76 94 2El Salvador 6,2 3,0 3,3 0,6 64 2,2 68 77 87 6Guiné Equatorial 0,7 0,4 0,4 2,7 40 5,0 50 53 51Eritreia 5,4 2,7 2,7 2,9 22 4,2 60 64 14Estônia 1,3 0,6 0,7 -0,1 69 1,7 70 80 95 2Etiópia 84,7 42,2 42,6 2,1 17 3,8 58 62 12 39Fiji 0,9 0,4 0,4 0,8 52 2,6 67 72População utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*Finlândia 5,4 2,6 2,7 0,3 85 1,9 77 83 100França 63,1 30,7 32,4 0,5 85 2,0 78 85 100Gabão 1,5 0,8 0,8 1,9 86 3,2 62 64 33 5Gâmbia 1,8 0,9 0,9 2,7 58 4,7 58 60 67 34Geórgia 4,3 2,0 2,3 -0,6 53 1,5 71 77 95 13Alemanha 82,2 40,3 41,9 -0,2 74 1,5 78 83 100Gana 25,0 12,7 12,3 2,3 51 4,0 64 66 13 30Grécia 11,4 5,6 5,8 0,2 61 1,5 78 83 98Grana<strong>da</strong> 0,1 0,1 0,1 0,4 39 2,2 74 78 97Guatemala 14,8 7,2 7,6 2,5 49 3,8 68 75 81 12Guiné 10,2 5,2 5,1 2,5 35 5,0 53 56 19 70Guiné-Bissau 1,5 0,8 0,8 2,1 30 4,9 47 50 21 49Guiana 0,8 0,4 0,4 0,2 29 2,2 67 73 81 8Haiti 10,1 5,0 5,1 1,3 52 3,2 61 64 17 55Honduras 7,8 3,9 3,9 2,0 52 3,0 71 76 71 18Hungria 10,0 4,7 5,2 -0,2 68 1,4 71 78 100 2Islândia 0,3 0,2 0,2 1,2 93 2,1 80 84 100População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Índia 1241,5 641,0 600,5 1,3 30 2,5 64 68 31 42Indonésia 242,3 120,8 121,5 1,0 44 2,1 68 72 52 29RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>117


Indicadores demográficos, sociais e econômicosPaís, territórioou outra áreaPopulaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoIrã (República Islâmica do) 74,8 37,9 36,9 1,0 71 1,6 72 75 83 2Iraque 32,7 16,4 16,3 3,1 66 4,5 68 73 73Irlan<strong>da</strong> 4,5 2,3 2,3 1,1 62 2,1 78 83 99Israel 7,6 3,7 3,8 1,7 92 2,9 80 84 100Itália 60,8 29,8 31,0 0,2 68 1,5 79 85Jamaica 2,8 1,4 1,4 0,4 52 2,3 71 76 83 2Japão 126,5 61,6 64,9 -0,1 67 1,4 80 87 100Jordânia 6,3 3,3 3,1 1,9 79 2,9 72 75 98 2Cazaquistão 16,2 7,8 8,4 1,0 59 2,5 62 73 97 2Quênia 41,6 20,8 20,8 2,7 22 4,6 57 59 31 20Kiribati 0,0 0,0 0,0 1,5 44 35Coreia, República Democrática Popular <strong>da</strong> 24,5 12,0 12,5 0,4 60 2,0 66 72 59Coreia, República <strong>da</strong> 48,4 24,1 24,3 0,4 83 1,4 77 84 100Kuwait 2,8 1,7 1,1 2,4 98 2,3 74 76 100Quirguistão 5,4 2,7 2,7 1,1 35 2,6 64 72 93 3Lao, República Democrática Popular do 6,3 3,1 3,1 1,3 33 2,5 66 69 53 44Letônia 2,2 1,0 1,2 -0,4 68 1,5 69 79 78 2Líbano 4,3 2,1 2,2 0,7 87 1,8 71 75 98Lesoto 2,2 1,1 1,1 1,0 27 3,1 50 48 29 43Libéria 4,1 2,1 2,1 2,6 48 5,0 56 59 17 84Líbia (Jamahira Árabe <strong>da</strong>) 6,4 3,2 3,2 0,8 78 2,4 73 78 97Lituânia 3,3 1,5 1,8 -0,4 67 1,5 67 78 2Luxemburgo 0,5 0,3 0,3 1,4 85 1,7 78 83 100Ma<strong>da</strong>gáscar 21,3 10,6 10,7 2,8 30 4,5 65 69 11 68Maláui 15,4 7,7 7,7 3,2 20 6,0 55 55 56 74Malásia 28,9 14,6 14,2 1,6 72 2,6 73 77 96 2Maldivas 0,3 0,2 0,2 1,3 40 1,7 76 79 98Mali 15,8 7,9 7,9 3,0 36 6,1 51 53 36 51Malta 0,4 0,2 0,2 0,3 95 1,3 78 82 100Martinica 0,4 0,2 0,2 0,3 89 1,8 77 84População utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*Mauritânia 3,5 1,8 1,8 2,2 41 4,4 57 61 26 21Maurício 3 1,3 0,6 0,7 0,5 42 1,6 70 77 91Melanésia 4 8,9 4,6 4,4 2,1 18 3,7 63 67 44 36México 114,8 56,6 58,2 1,1 78 2,2 75 80 85 4Micronésia 5 0,5 0,3 0,3 1,1 67 2,7 72 76 65População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Moldávia, República <strong>da</strong> 3,5 1,7 1,9 -0,7 47 1,5 66 73 79 2Mongólia 2,8 1,4 1,4 1,5 62 2,4 65 73 50 2Montenegro 0,6 0,3 0,3 0,1 61 1,6 73 77 92 2Marrocos 32,3 15,8 16,5 1,0 58 2,2 70 75 69 3Moçambique 23,9 11,7 12,3 2,2 38 4,7 50 52 17 75118 INDICADORES


Indicadores demográficos, sociais e econômicosPaís, territórioou outra áreaPopulaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoPopulação utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*Mianmar 48,3 23,8 24,5 0,8 34 1,9 64 68 81População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Namíbia 2,3 1,2 1,2 1,7 38 3,1 62 63 33 49Nepal 30,5 15,1 15,4 1,7 19 2,6 68 70 31 55Holan<strong>da</strong> 16,7 8,3 8,4 0,3 83 1,8 79 83 100Nova Zelândia 4,4 2,2 2,2 1,0 86 2,1 79 83Nicarágua 5,9 2,9 3,0 1,4 57 2,5 71 77 52 16Niger 16,1 8,1 8,0 3,5 17 6,9 55 56 9 66Nigéria 162,5 82,3 80,2 2,5 50 5,4 52 53 32 64Noruega 4,9 2,5 2,5 0,7 79 1,9 79 83 100Território Palestino Ocupado 4,2 2,1 2,0 2,8 74 4,3 72 75 89Omã 2,8 1,7 1,2 1,9 73 2,1 71 76 87Paquistão 176,7 89,8 86,9 1,8 36 3,2 65 67 45 23Panamá 3,6 1,8 1,8 1,5 75 2,4 74 79 69 10Papua-Nova Guiné 7,0 3,6 3,4 2,2 13 3,8 61 66 45 36Paraguai 6,6 3,3 3,3 1,7 61 2,9 71 75 70 7Peru 29,4 14,7 14,7 1,1 77 2,4 72 77 68 8Filipinas 94,9 47,6 47,3 1,7 49 3,1 66 73 76 23Polônia 38,3 18,5 19,8 0,0 61 1,4 72 81 90 2Polinésia 6 0,7 0,3 0,3 0,7 22 2,9 70 76 98Portugal 10,7 5,2 5,5 0,0 61 1,3 77 83 100Catar 1,9 1,4 0,5 2,9 96 2,2 79 78 100Romênia 21,4 10,4 11,0 -0,2 57 1,4 71 78 72 2Federação Russa 142,8 66,1 76,8 -0,1 73 1,5 63 75 87 2Ruan<strong>da</strong> 10,9 5,4 5,6 2,9 19 5,3 54 57 54 77Samoa 0,2 0,1 0,1 0,5 20 3,8 70 76 100São Tomé e Príncipe 0,2 0,1 0,1 2,0 62 3,5 64 66 26 28Arábia Saudita 28,1 15,5 12,6 2,1 82 2,6 73 76Senegal 12,8 6,3 6,4 2,6 42 4,6 59 61 51 34Sérvia 9,9 4,9 5,0 -0,1 56 1,6 72 77 92 2Seychelles 0,0 0,0 0,0 0,3 55 2Serra Leoa 6,0 2,9 3,1 2,1 38 4,7 48 49 13 53Cingapura 5,2 2,6 2,6 1,1 100 1,4 79 84 100Eslováquia 5,5 2,7 2,8 0,2 55 1,4 72 80 100 2Eslovênia 2,0 1,0 1,0 0,2 50 1,5 76 83 100 2Ilhas Salomão 0,6 0,3 0,3 2,5 19 4,0 67 70 32Somália 9,6 4,7 4,8 2,6 37 6,3 50 53 23África do Sul 50,5 25,0 25,5 0,5 62 2,4 53 54 77 26Espanha 46,5 22,9 23,5 0,6 77 1,5 79 85 100Sri Lanka 21,0 10,4 10,7 0,8 14 2,2 72 78 91 14São Cristóvão e Neves 0,0 0,0 0,0 1,2 32 96RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>119


Indicadores demográficos, sociais e econômicosPaís, territórioou outra áreaPopulaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoSão Vicente e Granadinas 0,1 0,1 0,1 0,0 49 2,0 70 75População utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Santa Lúcia 0,2 0,1 0,1 1,0 28 1,9 72 78 89 21Sudão 7 44,6 22,5 22,1 2,4 40 4,2 60 64 34Suriname 0,5 0,3 0,3 0,9 69 2,3 68 74 84 16Suazilândia 1,2 0,6 0,6 1,4 21 3,2 50 49 55 63Suécia 9,4 4,7 4,7 0,6 85 1,9 80 84 100Suíça 7,7 3,8 3,9 0,4 74 1,5 80 85 100República Árabe <strong>da</strong> Síria 20,8 10,5 10,3 1,7 56 2,8 74 78 96Tadjiquistão 7,0 3,4 3,5 1,5 26 3,2 65 71 94 22Tanzânia, República Uni<strong>da</strong> <strong>da</strong> 46,2 23,1 23,1 3,1 26 5,5 58 60 24 89Tailândia 69,5 34,2 35,4 0,5 34 1,5 71 78 96 2Antiga República Iugoslava <strong>da</strong> Macedônia 2,1 1,0 1,0 0,1 59 1,4 73 77 89 2Timor Leste, República Democrática do 1,2 0,6 0,6 2,9 28 5,9 62 64 50 37Togo 6,2 3,0 3,1 2,0 43 3,9 56 59 12 39Trini<strong>da</strong>d e Tobago 1,3 0,7 0,7 0,3 14 1,6 67 74 92 4Tunísia 10,6 5,3 5,3 1,0 67 1,9 73 77 85 3Turquia 73,6 36,7 36,9 1,1 70 2,0 72 77 90 3Turcomenistão 5,1 2,5 2,6 1,2 50 2,3 61 69 98 25Tuvalu 0,0 0,0 0,0 0,2 50 84Ugan<strong>da</strong> 34,5 17,3 17,3 3,1 13 5,9 54 55 48 52Ucrânia 45,2 20,8 24,4 -0,5 69 1,5 64 75 95 2Emirados Árabes Unidos 7,9 5,5 2,4 2,2 84 1,7 76 78 97Reino Unido 62,4 30,7 31,7 0,6 80 1,9 78 82 100Estados Unidos <strong>da</strong> América 313,1 154,6 158,5 0,9 82 2,1 76 81 100Uruguai 3,4 1,6 1,7 0,3 92 2,0 74 81 100 2Uzbequistão 27,8 13,8 14,0 1,1 36 2,3 66 72 100 46Vanuatu 0,2 0,1 0,1 2,4 26 3,8 70 74 52Venezuela (República Bolivariana <strong>da</strong>) 29,4 14,8 14,7 1,5 93 2,4 72 78 91 4Vietnã 88,8 43,9 44,9 1,0 30 1,8 73 77 75 22Iêmen 24,8 12,5 12,3 3,0 32 4,9 65 68 52 18Zâmbia 13,5 6,8 6,7 3,0 36 6,3 49 50 49 64Zimbábue 12,8 6,3 6,5 2,2 38 3,1 54 53 44120 INDICADORES


Indicadores demográficos, sociais e econômicosDados mundiaise regionais 16 121Populaçãototal emmilhões, <strong>2011</strong>total**População emmilhões, <strong>2011</strong>masculino femininoTaxa decrescimento <strong>da</strong>população (%),2010-2015População urbana(%), 2010Taxa defecundi<strong>da</strong>de total,por mulher entre15-49 anos,2010-2015Expectativa de vi<strong>da</strong> nonascimento, 2010-2015masculino femininoPopulação utilizandoinstalaçõessanitárias commelhorias (%),2000/2008*População vivendocom menos deUS$1,25 (PPP)por dia (%),1992/2008*Total <strong>Mundial</strong> 6974,0 3517,3 3456,8 1,1 50 2,5 68 72 61 26Regiões mais desenvolvi<strong>da</strong>s 8 1240,4 603,1 637,3 0,4 75 1,7 75 82 97 1Regiões menos desenvolvi<strong>da</strong>s 9 5733,7 2914,2 2819,5 1,3 45 2,6 67 70 53 27Países menos desenvolvidos 10 851,1 425,4 425,7 2,2 29 4,2 57 59 36 54Estados Árabes 11 360,7 185,0 175,7 2,0 56 3,1 69 73 76 5Ásia e o Pacífico 12 3924,2 2008,0 1916,2 0,9 41 2,1 69 72 52 27Leste Europeu e Ásia Central 13 473,7 226,6 247,0 0,3 65 1,8 68 76 90 5América Latina e Caribe 14 591,4 292,1 299,3 1,1 79 2,2 72 78 80 7África Subsaariana 15 821,3 410,5 410,8 2,4 37 4,8 54 56 31 5RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>


Notas para os indicadores* Mais recentes <strong>da</strong>dos disponíveis. Os anos separadospor “/” refletem os mais antigos e os mais recentesfornecidos para esta coluna de <strong>da</strong>dos.** População total calcula<strong>da</strong> pela soma dos totaisobtidos para os segmentos masculino e feminino.Esses totais podem não se somar, em função dosarredon<strong>da</strong>mentos.1 Inclui Ilha Christmas ou Ilha do Natal, Ilhas Cocos(Keeling) e Ilha Norfolk.2 Antigo Zaire.3 Inclui Agalesa, Rodrigues e St. Brandon.4 Abrange as Ilha Fiji, Nova Caledônia, Papua-NovaGuiné, Ilhas Salomão e Vanuatu.5 Abrange os Estados Federados <strong>da</strong> Micronésia,Guam, Kiribati, Ilhas Marshall, Nauru, IlhasMariana do Norte e Ilhas do Pacífico (Palau).6 Abrange Samoa Americana, Ilhas Cook, IlhaJohnston, Pitcairn, Samoa, Tokelau, Tonga, IlhasMidway, Tuvalu, e Ilhas Wallis e Futuna.7 Inclui <strong>da</strong>dos do Sudão do Sul.8 Regiões mais desenvolvi<strong>da</strong>s compreendem: Américado Norte, Japão, Europa, Austrália e Nova Zelândia.9 Regiões menos desenvolvi<strong>da</strong>s compreendem to<strong>da</strong>sas regiões <strong>da</strong> África, América Latina e Caribe, Ásia(exceto Japão), Melanésia, Micronésia e Polinésia.10 Países de menor desenvolvimento, de acordo coma designação-padrão <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.11 Abrange Argélia, Bahrein, Djbuti, Egito, Iraque,Jordânia, Kuwait, Líbano, Jamahira Árabe <strong>da</strong>Líbia, Marrocos, Território Palestino Ocupado,Omã, Catar, Arábia Saudita, Somália, Sudão,República Árabe <strong>da</strong> Síria, Tunísia, EmiradosÁrabes Unidos e Iêmen.12 Inclui somente países, territórios ou outrasáreas atendi<strong>da</strong>s pelos programas do UNFPA:Afeganistão, Bangladesh, Butão, Camboja, China,Ilhas Cook, República Democrática Popular <strong>da</strong>Coreia, Fiji, Índia, Indonésia, República Islâmicado Irã, Kiribati, República Democrática Populardo Laos, Malásia, Ilhas Maldivas, Ilhas Marshall,Micronésia, Mongólia, Mianmar, Nauru, Nepal,Niue, Paquistão, Palau, Papua-Nova Guiné,Filipinas, Samoa, Ilhas Salomão, Sri Lanka,Tailândia, Timor Leste, Tokelau, Tonga, Tuvalu,Vanuatu, Vietnã.13 Inclui somente países, territórios ou outrasáreas atendi<strong>da</strong>s pelos programas do UNFPA:Albânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorússia, Bósnia-Herzegóvina, Bulgária, Geórgia, Cazaquistão,Quirguistão, República <strong>da</strong> Moldávia, Romênia,Federação Russa, Sérvia, Tadjiquistão, AntigaRepública Iugoslava <strong>da</strong> Macedônia, Turcomenistão,Ucrânia, Uzbequistão.14 Inclui somente países, territórios ou outrasáreas atendi<strong>da</strong>s pelos programas do UNFPA:Anguilla, Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Argentina, Bahamas,Barbados, Belize, Bermu<strong>da</strong>s, Estado Plurinacional<strong>da</strong> Bolívia, Brasil, Ilhas Virgens Britânicas, IlhasCayman, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba,Dominica, República Dominicana, Equador, ElSalvador, Grana<strong>da</strong>, Guatemala, Guiana, Haiti,Honduras, Jamaica, México, Montserrat, AntilhasHolandesas, Nicarágua, Panamá, Paraguai,Peru, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia,São Vicente e Granadinas, Suriname, Trini<strong>da</strong>de Tobago, Ilhas Turcos e Caicos, Uruguai,República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela.15 Inclui somente países, territórios ou outras áreasatendi<strong>da</strong>s pelos programas do UNFPA: Angola,Benin, Botsuana, Burkina Fasso, Burundi, Camarões,Cabo Verde, República <strong>da</strong> África Central, Chade,Comores, Congo, Costa do Marfim, RepúblicaDemocrática do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia,Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau,Quênia, Lesoto, Libéria, Ma<strong>da</strong>gáscar, Malaui, Mali,Mauritânia, Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger,Nigéria, Ruan<strong>da</strong>, Senegal, Seychelles, Serra Leoa,África do Sul, Suazilândia, Togo, Ugan<strong>da</strong>, RepúblicaUni<strong>da</strong> <strong>da</strong> Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue.16 Os agregados regionais são médias pondera<strong>da</strong>sbasea<strong>da</strong>s em países com <strong>da</strong>dos disponíveis.Notas técnicas:Fontes dos <strong>da</strong>dos e definiçõesMonitoração <strong>da</strong>s metas <strong>da</strong> CIPDSaúde Materna e de Recém-NascidosTaxa de mortali<strong>da</strong>de até 5 anos para ca<strong>da</strong> 1.000 nascidos vivos,2009 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento doMilênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.Mortali<strong>da</strong>de até 5 anos é a probabili<strong>da</strong>de (expressa como taxa paraca<strong>da</strong> 1.000 nascidos vivos) de uma criança nasci<strong>da</strong> em um <strong>da</strong>do anomorrer antes de chegar aos 5 anos de i<strong>da</strong>de, uma vez que está sujeitaàs taxas de mortali<strong>da</strong>de correntes específicas para a i<strong>da</strong>de.Razão de mortali<strong>da</strong>de materna para ca<strong>da</strong> 100.000 nascidos vivos,2008 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento doMilênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticasdo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s. Razão de mortali<strong>da</strong>de materna é o número anual de óbitos demulheres, decorrentes de causas relaciona<strong>da</strong>s à gravidez, ao parto eao pós-parto, num prazo de até 42 dias após o fim <strong>da</strong> gravidez, paraca<strong>da</strong> 100.000 nascidos vivos.Taxa de partos entre adolescentes por 1.000 mulheres de 15 a 19 anos,1996/2008 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento doMilênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.Taxa de partos entre adolescentes é o número anual de partos para ca<strong>da</strong>1.000 mulheres jovens na faixa de 15 a 19 anos. É também referi<strong>da</strong>, comotaxa de fecundi<strong>da</strong>de específica, a faixa etária entre 15 e 19 anos.Partos atendidos por pessoal qualificado em saúde, percentual,1992/2009 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento doMilênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.Partos atendidos por pessoal qualificado em saúde é o percentualde partos atendidos por pessoal treinado para <strong>da</strong>r atendimentoobstétrico, inclusive oferecendo a necessária supervisão, atendimentoe aconselhamento às gestantes durante a gravidez, trabalho de parto eperíodo pós-parto; por pessoal apto a conduzir partos sem supervisão;e capaz de prover atendimento ao recém-nascido. Parteiras tradicionais,mesmo com curso rápido de treinamento, não estão incluí<strong>da</strong>s.EducaçãoMatrícula no ensino fun<strong>da</strong>mental, percentual líquido de criançasem i<strong>da</strong>de escolar, masculino/feminino, 1991/2009 Fonte: SiteIndicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento do Milênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas do Departamento deAssuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Matrícula no ensinofun<strong>da</strong>mental é o número de crianças na i<strong>da</strong>de escolar oficial para essaetapa, de acordo com a International Stan<strong>da</strong>rd Classification of Education(ISCED97) (Classificação Internacional Normatiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Educação), queestão matricula<strong>da</strong>s no ensino fun<strong>da</strong>mental como percentual do total <strong>da</strong>população de crianças na i<strong>da</strong>de escolar oficial. O total líquido de taxade matrículas no ensino fun<strong>da</strong>mental também inclui crianças com i<strong>da</strong>deescolar adequa<strong>da</strong> para essa etapa que estão matricula<strong>da</strong>s no ensinomédio. Quando existe mais de um sistema de educação fun<strong>da</strong>mental ouprimário no país, utiliza-se a estrutura mais frequente ou comum parase determinar o grupo na i<strong>da</strong>de escolar oficial.Matrícula no ensino médio, percentual líquido de crianças em i<strong>da</strong>deescolar, masculino/feminino, 1999/2010 Fonte: Site do Centro de Dadosdo Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> UNESCO (http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/document.aspx?ReportId=143&IF_Language=eng),122 INDICADORES


Instituto de Estatísticas <strong>da</strong> UNESCO. Matrícula no ensino médio é onúmero de adolescentes na i<strong>da</strong>de escolar oficial para essa etapa, deacordo com a International Stan<strong>da</strong>rd Classification of Education (ISCED97)(Classificação Internacional Normatiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Educação), que estãomatricula<strong>da</strong>s no ensino médio como percentual do total <strong>da</strong> população decrianças na i<strong>da</strong>de escolar oficial. Quando existe mais de um sistema deeducação no país, utiliza-se a estrutura mais frequente ou comum para sedeterminar o grupo na i<strong>da</strong>de escolar oficial.Taxa de alfabetização, população entre 15 e 24 anos, percentual Fonte:Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento do Milênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas do Departamento deAssuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Taxa de alfabetizaçãoé o percentual <strong>da</strong> população, na faixa de 15 a 24 anos, capaz de ler,escrever e compreender um texto curto e simples <strong>sobre</strong> a vi<strong>da</strong> diária.Saúde sexual e reprodutivaTaxa de prevalência de contraceptivos entre mulheres de 15 a 49anos, qualquer método/métodos modernos, 1990/2010 Fonte:Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos eSociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World Contraceptive Use 2010. (Usode Contraceptivos no Mundo) Nova York: ONU. Taxa de prevalência decontraceptivos é o percentual de mulheres casa<strong>da</strong>s (inclusive mulheresem uniões consensuais) que atualmente utilizam qualquer métodoou métodos modernos de contracepção. Métodos modernos incluemesterilização masculina e feminina, DIU, pílulas anticoncepcionais,injeções, implantes hormonais, preservativos e métodos de barreirafemininos. Essas taxas se aproximam, mas não são completamentecomparáveis para todos os países, devido a variações entre as i<strong>da</strong>des<strong>da</strong> população pesquisa<strong>da</strong> (sendo a mais comum a faixa etária de 15 a49 anos), no momento <strong>da</strong>s pesquisas e nos detalhes <strong>da</strong>s perguntas.Necessi<strong>da</strong>de não atendi<strong>da</strong> de planejamento familiar, percentual,1992/2009 Fonte: Divisão de População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World Contraceptive Use2010. (Uso de Contraceptivos no Mundo 2010) Nova York: ONU. Estesindicadores são utilizados aqui em relação a mulheres que estão casa<strong>da</strong>sou em uniões estáveis. A referência a mulheres com necessi<strong>da</strong>des nãoatendi<strong>da</strong>s de planejamento familiar abrange to<strong>da</strong>s as mulheres grávi<strong>da</strong>scujas gravidezes não eram deseja<strong>da</strong>s no momento <strong>da</strong> concepção; to<strong>da</strong>sas mulheres com amenorreia pós-parto que não estão fazendo uso deplanejamento familiar e cujo último parto não foi desejado ou se deu emocasião imprópria; e to<strong>da</strong>s as mulheres férteis que nem estão grávi<strong>da</strong>snem são amenorreicas e que não desejam mais filhos (querem limitaro tamanho <strong>da</strong> família), ou pretendem adiar o nascimento de filhos porpelo menos dois anos, ou não sabem quando ou se querem ter outrofilho (querem espaçar os nascimentos), mas não estão fazendo uso <strong>da</strong>contracepção. Mulheres que engravi<strong>da</strong>ram não intencionalmente porfalha dos contraceptivos não estão incluí<strong>da</strong>s nesse grupo.População de 15 a 24 anos com conhecimento abrangente e correto<strong>sobre</strong> HIV/AIDS, percentual, masculino/feminino, 2000/2008 Fonte:Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento do Milênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas do Departamento deAssuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Este indicador medeo percentual <strong>da</strong> população, na faixa entre 15 e 24 anos, que identificacorretamente as duas maneiras mais importantes de prevenção <strong>da</strong>transmissão sexual do HIV (fazer uso de preservativos e limitar o sexoa um só parceiro(a) confiável e não infectado); que rejeita as duasconcepções errôneas mais comuns <strong>sobre</strong> transmissão sexual do HIV e quesabem que uma pessoa aparentemente saudável pode transmitir o HIV.Taxa de prevalência do HIV/AIDS entre a população de 15 a 24anos, percentual, 2009 Fonte: UNAIDS, 2010. Global report: UNAIDSreport on the global AIDS epidemic 2010 (Relatório global: relatório <strong>da</strong>UNAIDS <strong>sobre</strong> a epidemia mundial de AIDS 2010) Genebra: UNAIDS.Taxa de prevalência do HIV/AIDS é o percentual estimado de homense mulheres, na faixa de 15 a 24 anos, que vivem com o HIV.Indicadores demográficos, sociais e econômicosPopulação em milhões, total e masculino/feminino, <strong>2011</strong> Fonte:Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos eSociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World Population Prospects: The 2010Revision. (Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010) NovaYork: ONU. População em milhões é a população efetiva, em milhões,de um país, área ou região a partir de 1º de julho do ano indicado.Baseia-se em projeção de variante média.Taxa de crescimento <strong>da</strong> população, percentual, 2010-2015 Fonte:Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicose Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World Population Prospects:The 2010 Revision. (Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisãode 2010) Nova York: ONU. Taxa de crescimento <strong>da</strong> população é ataxa média exponencial de crescimento <strong>da</strong> população em um <strong>da</strong>doperíodo. Baseia-se em projeção de variante média.População urbana, percentual, 2010 Fonte: Divisão de População doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s(2010). World Urbanization Prospects: The 2009 Revision. (Perspectivas<strong>da</strong> Urbanização <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2009) Nova York: ONU.Percentual <strong>da</strong> população do país que mora em áreas classifica<strong>da</strong>scomo “urbanas” nesse país. Comumente, a população que vive emci<strong>da</strong>des de 2.000 ou mais habitantes, ou em capitais nacionais ouprovinciais, é classifica<strong>da</strong> como “urbana.”Taxa de fecundi<strong>da</strong>de total, por mulher entre 15 e 49 anos, 2010-2015 Fonte: Divisão de População do Departamento de AssuntosEconômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World PopulationProspects: The 2010 Revision. (Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>:Revisão de 2010) Nova York: ONU. Taxa de fecundi<strong>da</strong>de total é onúmero médio de filhos que a mulher gera em sua vi<strong>da</strong>, presumindoseque as taxas de fecundi<strong>da</strong>de específicas permaneçam inaltera<strong>da</strong>sem sua vi<strong>da</strong> reprodutiva. Baseia-se em projeção de variante média.Expectativa de vi<strong>da</strong> no nascimento, masculino/feminino, 2010-2015Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicose Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (<strong>2011</strong>). World Population Prospects: The 2010Revision. (Perspectivas <strong>da</strong> População <strong>Mundial</strong>: Revisão de 2010) NovaYork: ONU. Expectativa de vi<strong>da</strong> no nascimento é o número médio de anosque se espera que uma criança recém-nasci<strong>da</strong> viva, se as condições desaúde e de vi<strong>da</strong> existentes no momento do nascimento permanecereminaltera<strong>da</strong>s enquanto perdurar sua existência.População utilizando instalações sanitárias com melhorias, percentual,2000/2008 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimento doMilênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticas doDepartamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.População utilizando instalações sanitárias com melhorias é o percentual<strong>da</strong> população com acesso a instalações que permitam a separação, emcondições de higiene, dos dejetos humanos do contato humano.População vivendo com menos de US$1,25 (PPP) por dia, percentual,1992/2008 Fonte: Site Indicadores <strong>da</strong>s Metas de Desenvolvimentodo Milênio (http://mdgs.un.org/unsd/mdg/), Divisão de Estatísticasdo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s. População vivendo com menos de US$1,25 (PPP) por dia éo percentual <strong>da</strong> população que vive com menos de US$1,25 por dia,mensurado com base nos preços internacionais de 2005, ajustadospela pari<strong>da</strong>de de poder de compra (purchasing power parity, PPP). Oindicador também é referido como “proporção <strong>da</strong> população abaixo deUS$1,00 (PPP) por dia.”RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL <strong>2011</strong>123


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Washington, DC.Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúdee outros. <strong>2011</strong>. “PreventingGender-Biased Sex Selection:An Interagency Statement -OHCHR, UNFPA, UNICEF, UNWomen e WHO.” Genebra:Organização <strong>Mundial</strong> <strong>da</strong> Saúde.Jiang Xiangqun and YangQingfang. Sem <strong>da</strong>ta. “Reviewand Analysis of China’sPopulation Ageing and theSituation of the Elderly.”Documento de Discussão.Beijing: Universi<strong>da</strong>de de Renmin.124 fontes seleciona<strong>da</strong>s


O Fundo de População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (UNFPA) é uma agência de desenvolvimentointernacional que promove o direito de to<strong>da</strong> mulher, homem e criança de desfrutar deuma vi<strong>da</strong> de saúde e igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des. O UNFPA apoia os países na utilizaçãode <strong>da</strong>dos sociodemográficos para políticas e programas que visam a reduzir a pobreza eassegurar que ca<strong>da</strong> gravidez seja deseja<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> parto seja seguro, que ca<strong>da</strong> jovem fiquelivre do HIV e que ca<strong>da</strong> mulher e menina seja trata<strong>da</strong> com digni<strong>da</strong>de e respeito.UNFPA—porque ca<strong>da</strong> pessoa conta.110 THE STATE OF WORLD POPULATION 2010


Sete oportuni<strong>da</strong>des para um mundo de 7 bilhões1234567A redução <strong>da</strong> pobreza e <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de pode desacelerar o crescimentopopulacional.O empoderamento de mulheres e meninas pode acelerar o progresso emto<strong>da</strong>s as frentes.Cheios de energia e abertos a novas tecnologias, as/os jovens podemtransformar a política e a cultura globais.Assegurar que to<strong>da</strong> criança seja deseja<strong>da</strong> e todo parto seja seguro podegerar famílias menores e mais fortaleci<strong>da</strong>s.Ca<strong>da</strong> um de nós depende de um planeta saudável para <strong>sobre</strong>viver, por issoto<strong>da</strong>s e todos devemos aju<strong>da</strong>r a proteger o meio ambiente.Promover a saúde e a produtivi<strong>da</strong>de de idosas e idosos em todo o mundopode diminuir os desafios que esperam as socie<strong>da</strong>des em envelhecimento.Os próximos 2 bilhões de pessoas viverão em ci<strong>da</strong>des, por isso é precisoplanejá-las agora.Fundo de População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s605 Third AvenueNew York, NY 10158 USATel. +1-212 297-5000www.unfpa.org©UNFPA <strong>2011</strong>ISBN 978-0-89714-990-7110 THE STATE OF WORLD POPULATION 2010www.7billionactions.orgImpresso em papel reciclado.

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