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Novo Marco Legal da Mineracao no Brasil - Observatório do Pré-sal

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1 a. ediçãoRio de Janeiro | 2012Julianna Malerba (org.)Bru<strong>no</strong> MilanezLuiz Jardim Wanderley


ExpedienteRealização: Federação de órgãos para Assistência Sociale Educacional - FASEOrganização: Julianna MalerbaNúcleo Justiça Ambiental e DireitosApoio: Fun<strong>da</strong>ção Ford


ÍndiceAPRESENTAÇÃO:Para quê um <strong>no</strong>vo código mineral?Julianna Malerba ________________________________________________ 09I. O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosBru<strong>no</strong> Milanez ___________________________________________________ 19II. Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactose perspectivasLuiz Jardim Moraes Wanderley ________________________________ 91


APRESENTAÇÃO


Para quê um <strong>no</strong>vocódigo mineral?Julianna MalerbaFASEO Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará iniciou os a<strong>no</strong>s 2000 produzin<strong>do</strong> quase 4 bilhões dereais em minérios. Em dezembro de 2011, o valor dessa produção atingiupraticamente a marca <strong>do</strong>s 25 bilhões de reais, destina<strong>do</strong>s majoritariamente aomerca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong>. Esse <strong>sal</strong>to, alcança<strong>do</strong> com apoio de um maciço investimentopúblico e priva<strong>do</strong>, aponta que há algo de <strong>no</strong>vo <strong>no</strong> front.Na última déca<strong>da</strong> na Amazônia surgiram inúmeras frentes deextrativismo mineral. Em Carajás, a ampliação <strong>da</strong> produção de minério deferro e manganês se deu ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> abertura de <strong>no</strong>vas minas de cobre e níquel.Isso permitiu à Vale, que em 2000 não produzia um grama de cobre, triplicar aprodução brasileira passan<strong>do</strong> de um patamar médio de 30 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong>para mais de 100 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong>. Também possibilitou à empresa investir <strong>do</strong> Norte, onde explora depósitos desse minério que se estendem até osmunicípios de São Felix <strong>do</strong> Xingu e Parauapebas.No oeste <strong>do</strong> Pará, Juruti acaba de entrar para o rol <strong>do</strong>s municípiosminera<strong>do</strong>res onde a Alcoa começou a explorar bauxita, matéria prima paraa produção de alumínio, amplian<strong>do</strong> também a produção desse minério <strong>no</strong>9


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?esta<strong>do</strong>, que já conta com minas em Oriximiná e Paragominas. Em Barcarena,a 80km de Belém, as fábricas de alumina e alumínio passaram por umsão intensivos <strong>no</strong> consumo de energia. Para produzir 432 mil tonela<strong>da</strong>s dealumínio a Albrás, instala<strong>da</strong> em Barcarena, consumiu a mesma quanti<strong>da</strong>dede energia elétrica <strong>da</strong>s duas maiores ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Amazônia, Belém e Manaus.A empresa responde por 1,5% <strong>do</strong> consumo de eletrici<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> comseus quase 200 milhões de habitantes. A energia de Tucuruí, que entrou emoperação na déca<strong>da</strong> de 1980 para atender a deman<strong>da</strong> elétrica <strong>do</strong> setor mineral,ain<strong>da</strong> hoje é consumi<strong>da</strong> prioritariamente pela Albrás e pela Alumar, em SãoLuiz, <strong>no</strong> Maranhão. E ambas pagam tarifas subsidia<strong>da</strong>s, diga-­‐se de passagem.É assim que a ampliação <strong>da</strong> produção de alumínio – e de vários outros<strong>da</strong> mineração na Amazônia – guar<strong>da</strong> forte relação com a construção previstapara a região de 20 <strong>no</strong>vas usinas hidrelétricas de grande e médio porte até2020. A entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Vale, em abril de 2011, <strong>no</strong> consórcio responsável pelaconstrução de Belo Monte aponta qual deve ser um <strong>do</strong>s desti<strong>no</strong>s prioritários<strong>da</strong> energia a ser gera<strong>da</strong> pela usina. E mostra que, não por acaso, as <strong>no</strong>vasfronteiras de produção de energia e de exploração mineral avançam de mãos<strong>da</strong><strong>da</strong>s sobre os mesmos espaços.Como boa parte <strong>do</strong>s bens minerais explora<strong>do</strong>s <strong>no</strong> país tem como desti<strong>no</strong>o merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong>, a duplicação <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro Carajás e a expansão <strong>do</strong>sportos em São Luiz entram na conta <strong>do</strong> boom mineral 1 . Um fenôme<strong>no</strong> quetambém impulsiona a ampliação em alguns milhares de hectares de áreas deplantio de eucaliptos e também o desmatamento ilegal destina<strong>do</strong>s à produçãode carvão utiliza<strong>do</strong> como insumo <strong>no</strong> processo de produção de ferro gusa pelas14 siderúrgicas já instala<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro Carajás 2 .Se há 10 a<strong>no</strong>s a indústria extrativa tinha uma participação muita me<strong>no</strong>sexpressiva <strong>no</strong> PIB brasileiro, representan<strong>do</strong> apenas 1,6%, em 2000, contra4,1%, em 2011, outra mu<strong>da</strong>nça importante na história econômica e política<strong>do</strong> país refere-­‐se à reformulação <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro.1 Essa ampliação permitirá, por exemplo, o aumento <strong>da</strong> produção de minério deferro <strong>do</strong>s atuais 109 milhões de tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> para 239 milhões de tonela<strong>da</strong>s em2016.2 Conf. Instituto Observatório Social. O Aço <strong>da</strong> devastação. Junho de 2011. Ediçãoespecial.10


APRESENTAÇÃO: Para quê um <strong>no</strong>vo código mineral?É fato que após a on<strong>da</strong> de políticas neoliberais que assolaram oestratégias de desenvolvimento em seus países comprometi<strong>do</strong>s com a redução<strong>do</strong>s índices de pobreza, com a ampliação <strong>do</strong> acesso a direitos sociais e coma tentativa de reposicionar os países e a região <strong>no</strong> cenário global buscan<strong>do</strong>maior auto<strong>no</strong>mia política em relação às potências hegemônicas.Também <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o Esta<strong>do</strong> passa a reforçar seu papel como indutor<strong>do</strong> desenvolvimento capitalista através de um forte investimento em algunssubsídios e infraestrutura logística (transporte, energia). O resulta<strong>do</strong> temsi<strong>do</strong> um processo de concentração de capitais nacionais (mas tambémtransnacionais) que possibilitou a algumas grandes empresas brasileirasse fortalecerem <strong>no</strong> cenário global e se reproduzirem acelera<strong>da</strong>mente <strong>no</strong>território nacional. Ao mesmo tempo, constroem-­‐se <strong>no</strong>vas regulações quebuscam garantir maior controle <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> sobre o excedente produzi<strong>do</strong> poresses setores econômicos com vistas a viabilizar investimentos tanto empolíticas de inclusão social e de diminuição <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des quanto nareprodução dessa estratégia de indução <strong>do</strong> desenvolvimento econômico.Tu<strong>do</strong> indica que a proposta de um <strong>no</strong>vo marco regulatório para asativi<strong>da</strong>des minerais <strong>no</strong> país em discussão <strong>no</strong> Executivo – e com previsão de serapresenta<strong>do</strong> ao Congresso <strong>no</strong>s próximos meses – tem <strong>no</strong> seu bojo a marca dessa<strong>do</strong> país, responden<strong>do</strong> ao atual momento de aumento de preços <strong>do</strong>s minériosassocia<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong>, ao crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> a nível global, à redução <strong>da</strong>smelhores reservas e à possibili<strong>da</strong>de de escassez de alguns minérios a médioprazo. De outro, pretende aumentar a participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>seconômicos gera<strong>do</strong>s pela mineração. E como instrumento estratégico para apolítica de desenvolvimento <strong>do</strong> gover<strong>no</strong>, apresenta as mesmas contradições.A mais central delas talvez esteja <strong>no</strong> fato de que um maior controlesobre os recursos naturais pelo Esta<strong>do</strong> não tem si<strong>do</strong> capaz de alterar o peso<strong>da</strong>s heranças patrimonialistas e excludentes sobre o controle <strong>do</strong>s recursosnaturais e a distribuição desigual <strong>do</strong>s impactos negativos <strong>da</strong> exploração dessesrecursos sobre populações historicamente vulnerabiliza<strong>da</strong>s. Tampouco temconsegui<strong>do</strong> neutralizar as pressões internas e externas <strong>no</strong> campo econômicoresultantes <strong>da</strong> inserção <strong>do</strong> país na eco<strong>no</strong>mia global.11


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?mecanismos 3 que assegurem o aumento <strong>no</strong> ritmo de exploração, o Esta<strong>do</strong>,ain<strong>da</strong> que em <strong>no</strong>me <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de gerar divisas que viabilizem políticasde redução <strong>da</strong> pobreza e desigual<strong>da</strong>de social, impulsiona um processo dedesposseção, muitas vezes autoritária e violenta, <strong>do</strong>s grupos sociais <strong>no</strong>sterritórios.A história <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e a experiência em curso de expansãodessa ativi<strong>da</strong>de na América <strong>do</strong> Sul demonstram que a priori<strong>da</strong>de, em <strong>no</strong>mede um suposto interesse público, que é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos gover<strong>no</strong>s às ativi<strong>da</strong>desminerais em relação a outros usos econômicos e culturais <strong>do</strong>s territórios longede ser construí<strong>da</strong> através de processos democráticos é antes implementa<strong>da</strong>,muitas vezes, por meio <strong>da</strong> violência e <strong>da</strong> criminalização 4 . E tende a provocara per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s bases de reprodução socioeconômica <strong>do</strong>s grupos locais <strong>da</strong><strong>do</strong> oaos territórios 5 .O resulta<strong>do</strong> é a expressão <strong>do</strong> que alguns autores têm chama<strong>do</strong> de “opara<strong>do</strong>xo lati<strong>no</strong>-­‐america<strong>no</strong>”: em <strong>no</strong>me <strong>da</strong> superação <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>pobreza gover<strong>no</strong>s progressistas impulsionam a expansão de ativi<strong>da</strong>des3 Uma <strong>da</strong>s principais mu<strong>da</strong>nças propostas <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo código mineral diz respeito àcriação de garantias para a realização de ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras ou penali<strong>da</strong>-­desàqueles que retiverem direitos de lavra sem explorar suas áreas. Além deempresas cumpram as ativi<strong>da</strong>des previstas <strong>no</strong>s contratos. Da mesma forma, estásen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong> a criação de Áreas de Relevante Interesse Mineral (ARIM) onde, adepender <strong>do</strong>s tipos e características <strong>do</strong>s minérios encontra<strong>do</strong>s, vigorariam proce-­dimentosespeciais capazes de garantir a exploração de minerais considera<strong>do</strong>s peloEsta<strong>do</strong> como estratégicos. Conf. Milanez, 2012, nesta publicação.<strong>do</strong>s deslocamentos força<strong>do</strong>s ocorri<strong>do</strong>s entre 1995 e 2002 ocorreram em áreas deexploração mineral. Conf. Acosta, A. Extractivismo y neoextractivismo; <strong>do</strong>s caras <strong>da</strong>misma maldición. Mas allá del desarollo. Fun<strong>da</strong>cion Rosa Luxemburg, 2011.5 A instalação <strong>da</strong>s minas de bauxita <strong>da</strong> Mineração Rio <strong>do</strong> Norte e de ferro <strong>da</strong> Valeocasionaram a per<strong>da</strong>s de áreas destina<strong>da</strong>s ao uso agrícola e à coleta de produtos <strong>da</strong><strong>do</strong> lago Sapucuá. Também os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> lago Juruti Velho, em Juruti e os índiosXikrin de Carajás sofreram per<strong>da</strong>s semelhantes decorrentes <strong>da</strong> instalação dessasminas. Conf. Jardim, 2012, nesta publicação.12


APRESENTAÇÃO: Para quê um <strong>no</strong>vo código mineral?extrativas – <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente o petróleo e os minérios – cujos custos sociais eambientais têm gera<strong>do</strong> exclusão e desigual<strong>da</strong>de.Por outro la<strong>do</strong>, estão ausentes na proposta em debate <strong>no</strong> Executivoa criação de mecanismos de regulação: i) que garantam a internalização claramente áreas e situações onde os prejuízos econômicos e ambientaisgera<strong>do</strong>s pela mineração inviabilizariam sua implementação, iii) que evitemuma completa dependência <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia local `a ativi<strong>da</strong>de minera<strong>do</strong>ra cuja ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras devem ser instala<strong>da</strong>s e opera<strong>da</strong>s com vistas a garantiro uso racional <strong>do</strong>s bens minerais e a precaução frente aos potenciais impactossocioambientais <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.Outro elemento desse para<strong>do</strong>xo estabeleci<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> fomentoa essa lógica extrativa é que ela não é capaz de desmontar a posiçãoprimário-­‐exporta<strong>do</strong>ra que o país ocupa <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> global, com to<strong>do</strong>s osproblemas associa<strong>do</strong> à opção por um modelo de desenvolvimento ancora<strong>do</strong>na especialização na exportação de recursos naturais (desenvolvimento determos <strong>da</strong>s trocas com redução progressiva <strong>do</strong>s preços <strong>da</strong>s commodities, aper<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de e impactos socioambientais expressivos que inclueminviabilização de estratégias produtivas existentes, etc.) 6 .A despeito <strong>da</strong> antiga deman<strong>da</strong> <strong>do</strong>s críticos <strong>da</strong> inserção subordina<strong>da</strong><strong>da</strong>s eco<strong>no</strong>mias lati<strong>no</strong> americanas e <strong>do</strong> compromisso que os gover<strong>no</strong>s ao me<strong>no</strong>s <strong>do</strong> ponto de vista discursivo) com o estímulo à verticalização eagregação de valor ao setor, as perspectivas de sua consoli<strong>da</strong>ção a curto emédio prazo não são claras.Isso porque a estrutura atual <strong>do</strong> setor mineral global está organiza<strong>da</strong>de forma que a “fase quente” <strong>do</strong>s processos metalúrgicos (responsável pelatransformação <strong>do</strong>s minerais em produtos semiacaba<strong>do</strong>s tais como placas,lingotes e blocos), mais intensiva em energia e recursos 7 , esteja concentra<strong>da</strong>6 Vale citar ain<strong>da</strong> a vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> estratégia primário exporta<strong>do</strong>ra em umbrasileiro apresentou per<strong>da</strong>s decorrentes <strong>da</strong> crise global.7 Segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPEA (2010), para ca<strong>da</strong> tonela<strong>da</strong> de aço bruto produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, consomem-­‐se 1.514 kg de minério de ferro; 358 kg de coque de carvão mi-­nerale 13,4 mil litros de água. Além disso, essa produção gera 367 kg de agrega<strong>do</strong>s13


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?<strong>no</strong>s países periféricos, enquanto a “fase fria”, me<strong>no</strong>s poluente, me<strong>no</strong>sintensiva em energia e com produtos de maior valor agrega<strong>do</strong>, se mantém<strong>no</strong>s países centrais. Provavelmente, o merca<strong>do</strong> internacional tenderá aorientar a verticalização e a agregação de valor, estimulan<strong>do</strong> a produção <strong>do</strong>ssemiacaba<strong>do</strong>s em detrimento <strong>da</strong> produção <strong>do</strong>s acaba<strong>do</strong>s 8 . A isso se somammedi<strong>da</strong>s nacionais de estímulo à exportação de produtos primários quevisam gerar superávit primário a exemplo <strong>da</strong> Lei Complementar nº 87, de10/09/1996 (“Lei Kandir”) que isenta produtos primários e industrializa<strong>do</strong>ssemi-­‐elabora<strong>do</strong>s <strong>do</strong> recolhimento <strong>do</strong> ICMS (Imposto sobre Circulação deMerca<strong>do</strong>ria e Serviço) nas exportações 9 .Os textos de autoria <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res Bru<strong>no</strong> Milanez, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal de Juiz de Fora, e Luiz Jardim Wanderley, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<strong>do</strong> Rio de Janeiro, presentes nesta publicação apresentam elementos quecorroboram com essas análises e aprofun<strong>da</strong>m questões relaciona<strong>da</strong>s aosriscos de que o <strong>no</strong>vo marco regulatório pouco avance <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de rompercom as contradições aponta<strong>da</strong>s.Um <strong>do</strong>s alertas feito por eles refere-­‐se ao fato <strong>do</strong> projeto de reformulação<strong>do</strong> código mineral não estar sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> com a socie<strong>da</strong>de, embora emvários momentos o ministro Edison Lobão tenha publiciza<strong>do</strong> que a propostaestava sen<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> em diálogo com o setor produtivo. Conceber um <strong>no</strong>vomarco regulatório unicamente a partir <strong>da</strong>s contribuições e deman<strong>da</strong>s <strong>do</strong> setormineral aponta a fragili<strong>da</strong>de democrática sobre a qual se pretende reordenaras regras e o funcionamento de um setor tão estratégico para a eco<strong>no</strong>mia e apolítica de um país.-­ção.8 Nos a<strong>no</strong>s 1980, o Programa Grande Carajás prometia dinamização <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mialocal a partir <strong>da</strong> instalação de indústrias responsáveis pelo primeiro estágio <strong>do</strong> pro-­cessosiderúrgico (a produção de ferro gusa) que atrairia o surgimento <strong>do</strong> restante<strong>da</strong> cadeia. Trinta a<strong>no</strong>s depois, somente as guseiras estão instala<strong>da</strong>s na região, cujaprodução é exporta<strong>da</strong> em quase to<strong>da</strong> sua totali<strong>da</strong>de. Conf. idem9 Informe <strong>do</strong> DNPM sobre a eco<strong>no</strong>mia mineral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará revela que algunsminérios, apesar <strong>do</strong> crescimento na produção, apresentaram um decréscimo acentu-­a<strong>do</strong>nas ven<strong>da</strong>s internas. É o caso <strong>do</strong> ouro, cobre e mais <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente <strong>do</strong> minério deferro que teve um decréscimo <strong>da</strong> ordem de 65% entre 2010 e 2011 nas ven<strong>da</strong>s inter-­nas,ten<strong>do</strong> a sua comercialização pre<strong>do</strong>minantemente volta<strong>da</strong> para a exportação.Conf. DNPM. Informe mineral. Eco<strong>no</strong>mia mineral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará 2011. www.dnpm.gov.br acessa<strong>do</strong> em 01/09/201214


APRESENTAÇÃO: Para quê um <strong>no</strong>vo código mineral?Por outro la<strong>do</strong>, os questionamentos presentes <strong>no</strong>s textos <strong>no</strong>s inspiram adisputar o debate com os instrumentos que adquirimos ao longo <strong>da</strong>s últimasdéca<strong>da</strong>s por meio de processos de lutas sociais e de articulação de <strong>no</strong>vasforças políticas.Na América andina, intelectuais e movimentos sociais vem construin<strong>do</strong>um debate em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong> transição rumo a um modelo pós-­‐extrativista edefendem uma estratégia gradual de transição. Essa estratégia estabelecea internalização progressiva <strong>do</strong>s custos socioambientais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desextrativas, a redução <strong>da</strong> dependência exporta<strong>do</strong>ra de recursos vinculan<strong>do</strong>mais diretamente às ativi<strong>da</strong>des a cadeias econômicas nacionais e regionais, aNo <strong>Brasil</strong>, diante <strong>da</strong> conjuntura atual de desregulamentação e conserva<strong>do</strong>res sobre direitos adquiri<strong>do</strong>s 10 , o processo de construção de um<strong>no</strong>vo marco regulatório para a mineração deve possibilitar à socie<strong>da</strong>de discutiras desigual<strong>da</strong>des que perpassam também as disputas pela apropriação<strong>do</strong> meio ambiente e a desigual proteção aos riscos ambientais a que estãosubmeti<strong>do</strong>s determina<strong>do</strong>s grupos sociais, historicamente vulnerabiliza<strong>do</strong>s.rumo a Amazônia, o <strong>no</strong>vo marco regulatório deveria ser um instrumento de– mas ain<strong>da</strong> não totalmente implementa<strong>do</strong>s – pelas legislações de proteção<strong>do</strong>s povos indígenas e populações tradicionais.10 O <strong>no</strong>vo Código Florestal é o exemplo que ganhou maior <strong>no</strong>torie<strong>da</strong>de na opiniãopública nacional, entretanto, ele não é único. No que tange ao licenciamento ambien-­tal,desde o lançamento <strong>do</strong> PAC, em 2007, decretos, leis e portarias têm diminuí<strong>do</strong>e reduzi<strong>do</strong> os limites de uni<strong>da</strong>des de conservação para permitir a construção dehidrelétricas. Mais recentemente a Advocacia Geral <strong>da</strong> União baixou o Decreto 303que impõe restrições aos direitos constitucionais <strong>do</strong>s povos indígenas ve<strong>da</strong>n<strong>do</strong> aampliação <strong>da</strong>s terras indígenas já demarca<strong>da</strong>s. Uma Ação Direta de Inconstitucio-­nali<strong>da</strong>de(ADI) proposta pelo parti<strong>do</strong> Democratas (DEM), a ser vota<strong>da</strong> pelo STF,questiona a constitucionali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Decreto 4887, que regulamenta o procedimentoocupa<strong>da</strong>s por remanescentes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s quilombos.15


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?O processo de elaboração de um <strong>no</strong>vo marco regulatório também podeo senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des extrativas. Os recursos advin<strong>do</strong>s <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de mineral captura<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> têm de deixar de serem vistoscomo uma compensação pelos impactos negativos causa<strong>do</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des(que, a rigor, devem ser internaliza<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s custos <strong>da</strong> própria ativi<strong>da</strong>de ecompensa<strong>do</strong>s de maneira justa por ações desenvolvi<strong>da</strong>s pelas própriasempresas). Da<strong>do</strong> o caráter exaurível <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minerais, os recursosadvin<strong>do</strong>s <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> extrativa devem estar vincula<strong>do</strong>s à construção de umaeco<strong>no</strong>mia pós-­‐extrativa, sem, <strong>no</strong> entanto, representar a única estratégia paraconstrução dessa transição, sob o risco de que em <strong>no</strong>me <strong>da</strong> superação <strong>do</strong> atualmineral atualmente em curso <strong>no</strong> país.Antes, a discussão sobre o <strong>no</strong>vo marco regulatório para a mineração <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> deve ser uma oportuni<strong>da</strong>de para a construção de um debate públicoe democrático sobre os rumos <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> país. Infelizmente oinício dessa construção não tem si<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por essa possibili<strong>da</strong>de. Mas,acreditan<strong>do</strong> que ain<strong>da</strong> há chances de reverter esse processo, <strong>no</strong>s colocamosna disputa de ideias e propostas, abertos para o debate.Boa leitura!16


PARTE IAPRESENTAÇÃO


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração:contexto, mitos e riscosBru<strong>no</strong> Milanez 1[...] Mi<strong>da</strong>s, rei <strong>da</strong> Frígi<strong>da</strong>, quis que o mun<strong>do</strong> fosse deouro graças à magia de sua mão.Ele precisava transformar em ouro tu<strong>do</strong> o que<strong>no</strong> ouro, concedeu.se transformou numa vara de ouro. Tocou um tijolo ebrotou <strong>da</strong> fonte. E quan<strong>do</strong> sentou-se para comer, oconseguiu passar pela sua garganta. E abraçou suaMi<strong>da</strong>s ia morrer de fome, sede e solidão [...].(Galea<strong>no</strong>, 2008)1 Professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Juiz de Fora e membro <strong>da</strong> Rede <strong>Brasil</strong>eira deJustiça Ambiental19


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?1 Introdução1.1 ObjetivosEste trabalho tem como principal objetivo fornecer elementos parao debate sobre o <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineração em processo deelaboração pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O texto é propostocomo subsídio para que comuni<strong>da</strong>des atingi<strong>da</strong>s por ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras,movimentos sociais, organizações não governamentais e sindicatos possamter acesso a informações relativas à ativi<strong>da</strong>de de mineração <strong>no</strong> país para aconstrução de suas posições sobre a proposta <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco legal. O textofoi construí<strong>do</strong> a partir de uma perspectiva crítica e, dessa forma, levanta<strong>do</strong>cumentos apresenta<strong>do</strong>s, até o momento, pelo MME.To<strong>da</strong>via, mais <strong>do</strong> que apresentar soluções, o texto busca alertar paraproblemas potenciais e reais associa<strong>do</strong>s à proposta de marco regulatório quevem sen<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> <strong>no</strong> país. Assim, espera-­‐se que as diversas organizaçõesassocia<strong>da</strong>s a questões ambientais, sociais, trabalhistas e de direitos huma<strong>no</strong>s,uma vez alerta<strong>da</strong>s para tais questões envolvam-­‐se politicamente neste debatee, consequentemente, na construção de um marco legal que venha garantirque as ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras não continuem a causar injustiças ambientais 2<strong>no</strong>s territórios onde se instalam.1.2 Aspectos meto<strong>do</strong>lógicosAtualmente, as ativi<strong>da</strong>des de mineração são essencialmente regi<strong>da</strong>s peloCódigo Mineral, Decreto-­‐lei nº 227/ 1967. Entretanto, motiva<strong>do</strong>s por diversosfatores, o MME e as empresas minera<strong>do</strong>ras vêm discutin<strong>do</strong> alterações emdiferentes aspectos desse código. Segun<strong>do</strong> informações disponibiliza<strong>da</strong>s peloMME (2011), possivelmente três <strong>no</strong>vas leis deverão ser propostas para regera ativi<strong>da</strong>de mineral. A primeira deverá tratar <strong>do</strong>s <strong>no</strong>vos aspectos processuaispara obtenção <strong>da</strong> licença de lavra. A segun<strong>da</strong> diz respeito a questõesinstitucionais e à transformação <strong>do</strong> Departamento Nacional de Produção-­nismopelo qual socie<strong>da</strong>des desiguais, <strong>do</strong> ponto de vista econômico e social, des-­tinama maior carga <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>no</strong>s ambientais <strong>do</strong> desenvolvimento às populações debaixa ren<strong>da</strong>, aos grupos raciais discrimina<strong>do</strong>s, aos povos étnicos tradicionais, aosbairros operários, às populações marginaliza<strong>da</strong>s e vulneráveis” (Acselrad, Hercula-­<strong>no</strong>,& Pádua, 2004, p. 14).20


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosMineral (DNPM) em uma agência regula<strong>do</strong>ra e <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> Conselho Nacionalcobrança <strong>do</strong>s royalties <strong>da</strong> exploração mineral. Além dessas matérias, está emdiscussão <strong>no</strong> Congresso Nacional a regulamentação <strong>do</strong> artigo 49 inciso XVI e<strong>do</strong> artigo 231 § 3º <strong>da</strong> Constituição Federal, que tratam <strong>da</strong> mineração em TerrasIndígenas (TIs). Neste texto, o conjunto desses quatro <strong>do</strong>cumentos legaisserá trata<strong>do</strong> como marco regulatório <strong>do</strong> setor mineral. Além desses quatroaspectos <strong>da</strong> legislação mineral, o texto ain<strong>da</strong> abor<strong>da</strong> questões associa<strong>da</strong>s àmineração em Uni<strong>da</strong>des de Conservação (UCs), embora esse tema não estejasen<strong>do</strong> explicitamente discuti<strong>do</strong> pelo gover<strong>no</strong>.Para a realização deste trabalho procurou-­‐se levantar a maior quanti<strong>da</strong>depossível de <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre as propostas <strong>do</strong> gover<strong>no</strong> para o <strong>no</strong>vo marco regulatório<strong>da</strong> mineração. Estas informações, porém, somente foram encontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s poucosresumos disponibiliza<strong>do</strong>s pelo MME, em artigos de jornal, entrevistas e, <strong>no</strong> caso duas <strong>da</strong>s principais características <strong>do</strong> processo de elaboração deste <strong>no</strong>vomarco regulatório: a falta de transparência e a preocupação em atender aosinteresses <strong>da</strong>s empresas minera<strong>do</strong>ras. Ao longo <strong>da</strong> pesquisa houve contato comfuncionários <strong>do</strong> Centro de Tec<strong>no</strong>logia Mineral, órgão vincula<strong>do</strong> ao Ministériode Ciência e Tec<strong>no</strong>logia, e com ex-­‐funcionários <strong>do</strong> MME, nenhum deles dissepoder disponibilizar a proposta de marco regulatório. Da mesma forma, emnenhum momento o MME promoveu seminários abertos à socie<strong>da</strong>de ouconvi<strong>do</strong>u movimentos sociais, sindicatos ou comuni<strong>da</strong>des atingi<strong>da</strong>s pelaoutro la<strong>do</strong>, houve uma intensa troca de ideias entre membros <strong>do</strong> ministério erepresentantes <strong>da</strong>s empresas.“Vejo aqui o Dr. Paulo Camillo Penna, que dirige com muita na sua sistematização” (Lobão, 2010) 3 .3 Edison Lobão, ministro de Minas e Energia e sena<strong>do</strong>r pelo PMDB <strong>do</strong> Maranhão.21


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Devi<strong>do</strong> a essa limitação <strong>no</strong> acesso à informação, a análiseapresenta<strong>da</strong> é complementa<strong>da</strong> pela avaliação <strong>do</strong> Pla<strong>no</strong> Nacional deMineração 2030 (MME, 2011) e em estu<strong>do</strong>s sobre o marco legal <strong>da</strong>Schüler, & Pontes, 2011). Esta escolha foi feita assumin<strong>do</strong>-­‐se que esses<strong>do</strong>cumentos teriam si<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong>s basea<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s mesmos princípios ediretrizes <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco regulatório.A pesquisa, ain<strong>da</strong>, foi elabora<strong>da</strong> em consulta a diferentesorganizações não governamentais, movimentos sociais e pesquisa<strong>do</strong>resliga<strong>do</strong>s à Articulação Mineração Siderurgia <strong>da</strong> Rede <strong>Brasil</strong>eira de Justiçasegun<strong>da</strong> para a avaliação de uma proposta preliminar de relatório.1.3 EstruturaO relatório está organiza<strong>do</strong> em três partes principais, além destaintrodução. Primeiramente é feita uma contextualização <strong>da</strong> situação <strong>da</strong>mineração <strong>no</strong> mun<strong>do</strong> e uma análise <strong>da</strong> forma como o <strong>Brasil</strong> pretende seinserir neste merca<strong>do</strong>. Em segui<strong>da</strong>, apresenta-­‐se uma avaliação <strong>do</strong> quedeverá vir a ser o <strong>no</strong>vo marco regulatório mineral <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, sen<strong>do</strong> tal análisedividi<strong>da</strong> em cinco seções. A primeira seção trata <strong>do</strong>s pressupostos e objetivosde concessão de direito de lavra, a terceira seção descreve as prováveismu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong>s órgãos governamentais vincula<strong>do</strong>s à mineração, a quarta avaliaseção discute possíveis mu<strong>da</strong>nças nas regras de mineração em UCs e em TIs.pelos movimentos e organizações que desejem se envolver <strong>no</strong> debate sobre aquestão mineral <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.22


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos2 Perspectivas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mineral2.1 Contexto mundialO objetivo desta seção é descrever o possível comportamento mundial <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> mineral <strong>no</strong> médio prazo. De acor<strong>do</strong> com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, percebe-­‐sea possibili<strong>da</strong>de de um perío<strong>do</strong> de elevação <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s minérios de forma<strong>da</strong> volatili<strong>da</strong>de desses preços. A subi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços é associa<strong>da</strong>, principalmente,ao crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> global, à redução <strong>da</strong>s melhores reservas mineraise à possibili<strong>da</strong>de de escassez de alguns minérios <strong>no</strong> médio prazo. A elevaçãoassocia<strong>da</strong> a uma maior participação <strong>do</strong> capital especulativo neste setor.Durante a maior parte <strong>do</strong> século XX, o preço <strong>do</strong>s recursos naturaismanteve uma tendência de que<strong>da</strong>, o que serviu para o uso intensivo de taisrecursos na promoção <strong>do</strong> crescimento econômico <strong>do</strong>s países. Entretanto, <strong>no</strong>snesta tendência. A subi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s últimos 10 a<strong>no</strong>s já compensou aque<strong>da</strong> que ocorreu ao longo <strong>do</strong> último século. A elevação desses preços temcomo efeito aumentar o retor<strong>no</strong> <strong>do</strong>s investimentos maduros, onde a maiorinteresse nas reservas de boa quali<strong>da</strong>de. Dessa forma, esse aumento gera a<strong>da</strong> prospecção de <strong>no</strong>vas jazi<strong>da</strong>s.Esta não é a primeira vez que o mun<strong>do</strong> passa por um “choque” <strong>no</strong>preço <strong>do</strong>s recursos naturais. Por exemplo, os choques <strong>do</strong> petróleo na déca<strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobre o fato de muitos recursos não serem re<strong>no</strong>váveis. Destapreocupação surgiu o estu<strong>do</strong> sobre os “Limites <strong>do</strong> Crescimento”, pelo Clubede Roma, não apenas relaciona<strong>do</strong> ao petróleo, mas também associa<strong>do</strong> aoutros recursos, como minerais, água, fertilizantes etc. To<strong>da</strong>via, há previsõesque sugerem que o comportamento <strong>do</strong> preço <strong>da</strong>s commodities mineraisserá diferente <strong>da</strong>quele de choques passa<strong>do</strong>s, e que estes manterão um preçoeleva<strong>do</strong> por um perío<strong>do</strong> mais longo. Essa perspectiva é associa<strong>da</strong> a <strong>do</strong>isfatores principais: a natureza <strong>do</strong> aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> e a escassez <strong>da</strong>s jazi<strong>da</strong>sminerais de melhor quali<strong>da</strong>de.23


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Número índice1960 =100Cobre Ferro Níquel ZincoFonte: Fonte: Banco Mundial (2012)Com relação aos prognósticos de aumento de deman<strong>da</strong>, caso nãohaja uma significativa mu<strong>da</strong>nça <strong>no</strong> modelo de produção e consumo atual,deverá haver um rápi<strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong> exploração de minérios paraatender ao já eleva<strong>do</strong> padrão de consumo <strong>do</strong>s países industrializa<strong>do</strong>se, ao mesmo tempo, ao crescente consumo <strong>da</strong> população <strong>do</strong>s paísesemergentes. Com relação à deman<strong>da</strong> <strong>do</strong>s países industrializa<strong>do</strong>s, esseprocesso já era antevisto desde a déca<strong>da</strong> e 1970, uma vez que os minériossão recursos não re<strong>no</strong>váveis.“As <strong>no</strong>vas formas que está assumin<strong>do</strong> o capitalismo <strong>no</strong>spaíses periféricos não são independentes <strong>da</strong> evolução global<strong>do</strong> sistema. Contu<strong>do</strong>, parece inegável que a periferia terácrescente importância nessa evolução, não só porque os países24


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscoscêntricos serão ca<strong>da</strong> vez mais dependentes de recursos naturaisnão-reprodutíveis por ela forneci<strong>do</strong>s, mas também porque asgrandes empresas encontrarão na exploração de sua mão deobra barata um <strong>do</strong>s principais pontos de apoio para firmar-se<strong>no</strong> conjunto <strong>do</strong> sistema” (Furta<strong>do</strong>, 1974, p. 59). previsões indicam que, até 2030, poderá haver um aumento significativo<strong>da</strong> classe média mundial, que <strong>sal</strong>taria de 1,8 bilhão para mais de 4,5bilhões de pessoas. Esta <strong>no</strong>va classe média, localiza<strong>da</strong>, principalmentena Ásia e “inspira<strong>da</strong>” pelo modelo de consumo conspícuo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelospaíses industrializa<strong>do</strong>s, teria como aspiração emular tal padrão de vi<strong>da</strong>,intensifican<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> mais a deman<strong>da</strong> pelos recursos naturais. Segun<strong>do</strong>alguns estu<strong>do</strong>s, esse aumento <strong>do</strong> consumo poderá ocorrer de formamuito mais acelera<strong>da</strong> <strong>do</strong> que os crescimentos identifica<strong>do</strong>s <strong>no</strong> passa<strong>do</strong>.Por exemplo, durante a Revolução Industrial, a Inglaterra, com umapopulação de me<strong>no</strong>s de 10 milhões de pessoas, levou mais de 150 a<strong>no</strong>spara <strong>do</strong>brar o seu Produto Inter<strong>no</strong> Bruto (PIB); os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, <strong>no</strong>século XIX, precisaram de 53 a<strong>no</strong>s para realizar o mesmo, ain<strong>da</strong> que comuma população um pouco acima de 10 milhões de habitantes. O <strong>Brasil</strong>,por usa vez, <strong>do</strong>brou o seu PIB entre 1985 e 2010, quan<strong>do</strong> tinha umapopulação de cerca de 130 milhões (IPEA, 2012). Atualmente, o processode industrialização tem se <strong>da</strong><strong>do</strong> de forma tão intensiva que a China ea Índia, que possuem juntas uma população de mais de 2,5 bilhões dehabitantes, conseguem <strong>do</strong>brar seu PIB em me<strong>no</strong>s de 20 a<strong>no</strong>s (McKinseyGlobal Institute, 2011).Essa <strong>no</strong>va massa de consumi<strong>do</strong>res exercerá uma importante pressão sobreos recursos naturais. Por exemplo, conforme apresenta<strong>do</strong> na Tabela 1, emboraem 2020 o consumo per capita <strong>do</strong>s países emergentes seja equivalente àmetade <strong>da</strong>quele <strong>do</strong>s países industrializa<strong>do</strong>s, o consumo total de minériosmetálicos <strong>no</strong> primeiro grupo deverá superar o consumo total <strong>do</strong>s paísescentrais (UNEP, 2011). Tal aumento deverá não apenas atender à deman<strong>da</strong><strong>do</strong>méstica em tais países, mas também alimentar a indústria exporta<strong>do</strong>rade bens de consumo que aí se instalou para suprir também a deman<strong>da</strong> <strong>do</strong>spaíses industrializa<strong>do</strong>s.25


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Consumo total (bilhões de tonela<strong>da</strong>s)Consumo per capita (tonela<strong>da</strong>s por habitantes)2002 2020 Variação 2002-2020 2002 2020 Variação 2002-2020Mun<strong>do</strong> 5,8 11,14 92% 0,9 1,42 58%OCDE 1,8 3,06 70% 1,5 2,31 54%BRIICS* 2,2 4,40 100% 0,7 1,21 73%Demais países 1,9 3,88 104% 0,9 1,36 51%Fonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de UNEP (2011)* <strong>Brasil</strong>, Rússia, Índia, In<strong>do</strong>nésia, China e África <strong>do</strong> SulEste aumento de consumo, por sua vez, ocorrerá simultaneamente aoesgotamento <strong>da</strong>s melhores jazi<strong>da</strong>s minerais existentes. Conforme apresenta<strong>do</strong><strong>no</strong>vas jazi<strong>da</strong>s com alta concentração de minério. Uma consequência diretadesse processo é o aumento <strong>do</strong>s custos de prospecção e a elevação <strong>no</strong> preço<strong>do</strong>s minérios.Número de descobertasGastos com prospecção (US$ Bilhões)Grandes reservas Reservas de 1 a Classe Gastos de prospecçãoFonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de McKinsey Global Institute (2011)26


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosAlém <strong>do</strong> esgotamento <strong>da</strong>s melhores reservas disponíveis <strong>no</strong> curtoprazo, estu<strong>do</strong>s indicam a possibili<strong>da</strong>de de escassez de alguns minérios deforma mais ampla. Conforme indica<strong>do</strong> na Tabela 2, consideran<strong>do</strong> a tec<strong>no</strong>logiadisponível e dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> taxa de crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>, é possível queas reservas conheci<strong>da</strong>s de alguns minerais venham a se esgotar em me<strong>no</strong>s de20 a<strong>no</strong>s.Minério Reservas (1999) Produção primária anual Expectativa de vi<strong>da</strong>, em a<strong>no</strong>s, consideran<strong>do</strong>(média 1997-1999) três taxas de crescimento anual <strong>da</strong> exploraçãoTonela<strong>da</strong>s Tonela<strong>da</strong>s 0% 2% 5%Alumínio 25 x 10 9 123,7 x 10 6 202 81 48Chumbo 64 x 10 6 3.070,0 x 10 3 21 17 14Cobre 340 x 10 6 12,1 x 10 6 28 22 18Estanho 8 x 10 6 207,7 x 10 3 37 28 21Ferro 74 x 10 12 559,5 x10 6 132 65 41Níquel 46 x 10 6 1.133,3 x 10 3 41 30 22Prata 280 x 10 3 16,1 x 10 3 17 15 13Zinco 190 x 10 6 7.753,3 x 10 3 25 20 16Fonte: UNEP (2011)Nota: As estimativas foram feitas consideran<strong>do</strong> os padrões correntes de produção econsumo, e as tec<strong>no</strong>logias atualmente disponíveis.Uma consequência direta deste processo conjunto de aumento <strong>da</strong>deman<strong>da</strong> e redução <strong>da</strong>s reservas minerais é a elevação <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s minérios.To<strong>da</strong>via, o merca<strong>do</strong> <strong>da</strong>s commodities de forma geral é também marca<strong>do</strong> poruma forte volatili<strong>da</strong>de. Nesse senti<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>s indicam que a elevação <strong>no</strong>preço <strong>do</strong>s recursos minerais deverá também ser acompanha<strong>da</strong> pelo aumentoseu patamar mais eleva<strong>do</strong> em 2011.27


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Índice de volatili<strong>da</strong>deFonte: McKinsey Global Institute (2011)Nota: Índice de volatili<strong>da</strong>de: razão entre desvio padrão <strong>do</strong> subíndice de preço e osubíndice médio de preço <strong>no</strong> perío<strong>do</strong>Em parte, isso se deve à instabili<strong>da</strong>de de preços <strong>da</strong>s commoditiesmetálicas. A extração desses recursos é intensiva em capital, na forma deinfraestrutura, máquinas e equipamentos. Como consequência, as empresas deman<strong>da</strong> <strong>no</strong> curto prazo. Alia<strong>do</strong> a isso, como não há diferenciação nascommodities metálicas, estas são produtos que, <strong>no</strong>rmalmente, competem porpreço. Assim, em momentos de retração de deman<strong>da</strong>, a principal alternativa<strong>do</strong>s produtores para garantir o escoamento <strong>da</strong> produção é a redução <strong>do</strong>spreços, que somente voltariam a subir quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>(Milanez & Hargrave, 2010). Uma segun<strong>da</strong> hipótese associa<strong>da</strong> a esta crescente de capitais (McKinsey Global Institute, 2011).O aumento de volatili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s minérios passa a ser um fatorde risco <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> de commodities, pois torna o retor<strong>no</strong> econômico detais ativi<strong>da</strong>des mais incerto. Porém, mais importante <strong>do</strong> que o risco paraas empresas é o aumento <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s países e regiões que se28


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosespecializam <strong>no</strong> fornecimento de tais materiais. Conforme descrito <strong>no</strong> Box1, <strong>no</strong>s momentos de que<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços, as empresas tendem a reduzir suasoperações, diminuin<strong>do</strong> a contratação e aumentan<strong>do</strong> o desemprego, conforme 2008.A crise de 2008 e suarepercussão sobre o setor de ferro e açoNo perío<strong>do</strong> 1997-­‐2002, o merca<strong>do</strong> internacional de ferro e açopassou por uma situação de baixa deman<strong>da</strong>, que levou a umaque<strong>da</strong> geral <strong>do</strong>s preços. Essa tendência foi reverti<strong>da</strong> a partir depelo aumento de deman<strong>da</strong> pelo Sudeste Asiático e pela China(Andrade, Cunha, & Souza, 2002). A internacionalização <strong>da</strong>produção brasileira, o reposicionamento estratégico <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>como exporta<strong>do</strong>r de semiacaba<strong>do</strong>s e a perspectiva de aumentode deman<strong>da</strong> em função <strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong> China motivaramas empresas a investir <strong>no</strong> aumento <strong>da</strong> produção. Em 2006, acapaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong> de produção <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> era de 37,1 milhões detonela<strong>da</strong>s e a produção atingiu 30,9 milhões de tonela<strong>da</strong>s.<strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia mundial tiveram um impacto muito forte sobre ademan<strong>da</strong> por aço. Como consequência, houve uma <strong>no</strong>va que<strong>da</strong> <strong>no</strong>spreços com impactos bastante negativos para o setor de ferro eaço. Entre setembro e dezembro de 2008, a indústria siderúrgicapassou de um cenário de escassez de oferta para um de escassez<strong>no</strong> país. Com relação à mineração, a Vale anunciou a demissão de1,3 mil funcionários, sen<strong>do</strong> a maioria delas em Minas Gerais, alémdisso, a companhia deu férias coletivas a 5,5 mil trabalha<strong>do</strong>res(Folha Online, 2008). No setor guseiro, o pólo de Carajás foitambém fortemente impacta<strong>do</strong>: <strong>da</strong>s 11 empresas <strong>da</strong> região, seisfecharam as portas; os contratos de ven<strong>da</strong> caíram de 160 mil para37 mil t/mês; e mais de 3.000 trabalha<strong>do</strong>res foram demiti<strong>do</strong>s (OLiberal, 2009). Além disso, diferentes empresas (ArcelorMittal,29


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Ger<strong>da</strong>u e CSN) anteciparam as para<strong>da</strong>s de alto-­‐for<strong>no</strong>s paramanutenção devi<strong>do</strong> à redução <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> (O Globo Online, 2009).A partir de 2010, houve o reaquecimento <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia mundial, eos preços <strong>do</strong> ferro e <strong>do</strong> aço voltaram a subir, o que levou a um <strong>no</strong>vociclo de expansão <strong>da</strong>s minas existentes e implantação de <strong>no</strong>vosprojetos.Apesar <strong>do</strong>s riscos de escassez e <strong>do</strong> aumento <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>spreços, o setor mineral global vem apostan<strong>do</strong> <strong>no</strong> aumento de sua capaci<strong>da</strong>de de commodities minero-­‐metalúrgicas seguirá um trajeto de globalização,favorecen<strong>do</strong> a expansão <strong>da</strong>s empresas que têm ativi<strong>da</strong>des em diferentespaíses. À medi<strong>da</strong> que as empresas ampliam suas áreas de atuação para buscaras melhores reservas disponíveis, o transporte de bens minerais por longas relevante para as empresas (Calaes, 2009). Dentro desse contexto, países comimportantes reservas minerais têm se destaca<strong>do</strong> como fornece<strong>do</strong>res globaisde minérios, como é o caso <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.2.2 A inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> internacionalO <strong>Brasil</strong>, devi<strong>do</strong> à sua larga extensão, possui uma grande diversi<strong>da</strong>dede recursos minerais, assim como algumas jazi<strong>da</strong>s de minérios de grande materiais. Conforme será discuti<strong>do</strong> mais adiante, a existência desses recursosvem tradicionalmente sen<strong>do</strong> interpreta<strong>da</strong> por alguns setores como umapossível “vocação mineral” <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.Seguin<strong>do</strong> a racionali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, empresas localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> país exploração mineral 4 , principalmente volta<strong>da</strong> para o merca<strong>do</strong> internacional.4 A literatura sobre mineração <strong>no</strong>rmalmente a<strong>do</strong>ta o termo “produção mineral”-­ção<strong>do</strong>s minérios. Neste texto, porém, esta expressão será substituí<strong>da</strong> por “explora-­çãomineral”, ten<strong>do</strong> por base o entendimento que o setor não produz ou fabrica bens30


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos quanti<strong>da</strong>de e valor; este último apresenta grande variação a partir de 2009,quase 18%, em 2011 (MDIC, 2012b).Minério Reservas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Exploração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Milhões de tonela<strong>da</strong>s % Reservas mundiais Milhares de tonela<strong>da</strong>s % Exploração mundialAlumínio 2.600 9,5 29.000 14,0Amianto 12 N/D 302 15,1Ferro 20.359 11,3 372.120 15,5Manganês 60 10,3 2.620 17,8Nióbio 4 98,4 165 97,1Níquel 7.532 10,0 108.983 6,8Fonte: DNPM (2011)Milhões de tonela<strong>da</strong>sUS$ BilhõesPeso Líqui<strong>do</strong>ValorFonte: MDIC (2012a)para a socie<strong>da</strong>de, mas apenas retira recursos <strong>da</strong> natureza.31


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Esse aumento de participação de produtos primários na pauta de também <strong>no</strong> setor agrícola, como <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> soja e <strong>do</strong>s produtos <strong>da</strong> cana deaçúcar (MDIC, 2012b). Diferentes autores vêm avalian<strong>do</strong> esse processo dentrode um contexto mais amplo de redistribuição <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas <strong>no</strong>mun<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> o seu impacto para os diferentes grupos de países.Buscan<strong>do</strong> criar uma tipologia <strong>da</strong> inserção <strong>do</strong>s países <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>internacional, Mello (2006) agrupou estas trajetórias em três grandes grupos.Para este autor, o Modelo Ocidental caracteriza-­‐se por sua intensi<strong>da</strong>de emcapital e pode ser organiza<strong>do</strong> em duas variantes: a europeia, intensa emcapital, com uma pequena participação de recursos naturais (uma vez quemuitos destes recursos foram explora<strong>do</strong>s até a escassez); e a variante <strong>no</strong>rte-­americana,associa<strong>da</strong> à eleva<strong>da</strong> utilização de capital e de recursos naturais. Oautor também descreve o Modelo Asiático, que seria intensivo em mão de obra.Neste grupo, estão incluí<strong>do</strong>s, por um la<strong>do</strong>, a China, o Vietnam e outros países<strong>do</strong> Sudeste Asiático, que vêm se especializan<strong>do</strong> em ativi<strong>da</strong>des industriais e,por outro la<strong>do</strong>, a Índia, com uma variante volta<strong>da</strong> para a prestação de serviços.<strong>no</strong> merca<strong>do</strong> internacional como fornece<strong>do</strong>res de recursos naturais, sen<strong>do</strong>exemplos emblemáticos a Rússia e o <strong>Brasil</strong>. Gonçalves (2001) <strong>no</strong>meou esseprocesso de inserção regressiva, caracterizan<strong>do</strong>-­‐o pela “reprimarização”<strong>da</strong> pauta exporta<strong>do</strong>ra e relacionan<strong>do</strong>-­‐o a uma per<strong>da</strong> de competitivi<strong>da</strong>deinternacional.seus graus de especialização em setores intensivos em recursos naturais,trabalho, escala e tec<strong>no</strong>logia diferencia<strong>da</strong>/ciência. Nesta pesquisa, o <strong>Brasil</strong>aparece como especializa<strong>do</strong> apenas <strong>no</strong>s produtos intensivos em recursosnaturais junto com países como Índia, In<strong>do</strong>nésia, Rússia, além de outros <strong>da</strong>Itália e o Leste Europeu como intensivos em trabalho. Os países intensivos emtec<strong>no</strong>logia são organiza<strong>do</strong>s em três grupos: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s/México, Centro eNorte <strong>da</strong> Europa, e Sudeste Asiático. Seguin<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> proposto, a classe <strong>do</strong>spaíses intensivos em escala seria forma<strong>da</strong> por EUA, Europa e Japão, além dealguns casos <strong>no</strong> Leste Europeu, na América <strong>do</strong> Sul (Chile e Peru) e na África.32


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos2.3 Riscos <strong>da</strong> especialização na exportação de recursos naturaisEmbora a especialização na exportação de recursos minerais traga de 1980, tem havi<strong>do</strong> uma ampla discussão sobre o papel <strong>da</strong>s commodities,em especial as não re<strong>no</strong>váveis, <strong>no</strong> processo de desenvolvimento de paísesperiféricos, conforme discuti<strong>do</strong> <strong>no</strong> Box 2.A maldição <strong>do</strong>s recursos naturaise suas possíveis explicaçõesDiferentes estu<strong>do</strong>s têm busca<strong>do</strong> avaliar a relação entre o graude dependência que os países têm de commodities minerais e asua taxa de crescimento econômico. Algumas análises de longotais produtos têm apresenta<strong>do</strong> baixo crescimento, ou mesmocrescimento negativo (Davis & Tilton, 2005; Puga, 2007;Sachs & Warner, 1997). Embora a correlação encontra<strong>da</strong> nãoque esse baixo crescimento é consequência <strong>da</strong> exploração mineral(Torvik, 2009), esta relação enfraquece o argumento, apresenta<strong>do</strong>por alguns eco<strong>no</strong>mistas e representantes <strong>do</strong> setor mineral, de quea mineração necessariamente leva ao crescimento econômico ouao desenvolvimento.Como forma de explicar esse fenôme<strong>no</strong>, autores têm se referi<strong>do</strong>à “maldição <strong>do</strong>s recursos naturais”. Esta proposta defende que aeconômicas e políticas que acabariam por reduzir a contribuição<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des extrativas para a eco<strong>no</strong>mia (Bebbington, Hi<strong>no</strong>josa,Bebbington, Burneo, & Warnaars, 2008). A “maldição <strong>do</strong>s recursosnaturais” seria associa<strong>da</strong> a uma série de possíveis fenôme<strong>no</strong>s longo <strong>do</strong> tempo, o preço <strong>da</strong>s commodities tende a cair em relaçãoao preço <strong>do</strong>s bens manufatura<strong>do</strong>s. Esse comportamento poderiaser explica<strong>do</strong> pelo fato de produtos intensivos em tec<strong>no</strong>logia33


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?possuírem maior dinamismo e maior elastici<strong>da</strong>de-­‐ren<strong>da</strong> <strong>do</strong> que osprodutos intensivos em recursos naturais, além de contribuíremmais para o aprendiza<strong>do</strong> e ganhos de produtivi<strong>da</strong>de (Davis &XX (Sapsford & Balasubramanyam, 1994) e, apesar <strong>da</strong> bruscaelevação <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s minérios <strong>no</strong>s últimos 10 a<strong>no</strong>s, é possível queele volte a se repetir <strong>no</strong> futuro. grande instabili<strong>da</strong>de, não sen<strong>do</strong> incomuns variações de 30% ouo planejamento econômico <strong>do</strong>s países e regiões dependentes deminérios, uma vez que a receita gera<strong>da</strong> por impostos e royaltiestende também a oscilar consideravelmente (Davis & Tilton, 2005;Morgan & Sapsford, 1994; Sapsford & Balasubramanyam, 1994). diz respeito aos efeitos <strong>da</strong> rápi<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de capital (internacional)em regiões especializa<strong>da</strong>s na exploração de recursos naturais.Nestes casos, como estratégia para garantir a expansão <strong>do</strong>setor, <strong>sal</strong>ários mais altos são ofereci<strong>do</strong>s, levan<strong>do</strong> à migração detrabalha<strong>do</strong>res de outras indústrias para o setor extrativo, bemcomo à elevação <strong>do</strong>s preços de outros produtos. Este processotem como consequências a redução <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de produtivae o aumento <strong>da</strong> dependência econômica <strong>do</strong> setor intensivo emrecursos. Essa situação mostra-­‐se especialmente preocupante <strong>no</strong>caso de recursos não re<strong>no</strong>váveis, uma vez que o esgotamento <strong>da</strong>sreservas tende a levar à depressão econômica, pela ausência deativi<strong>da</strong>des alternativas (Bebbington, Hi<strong>no</strong>josa, Bebbington, Burneo,& Warnaars, 2008; Davis & Tilton, 2005). ain<strong>da</strong> algumas particulari<strong>da</strong>des <strong>do</strong> setor mineral que tambémreduzem sua contribuição para o desenvolvimento nacionale, particularmente, local. Primeiramente, existe um grandegeral, as comuni<strong>da</strong>des locais tendem a arcar com a maioria <strong>do</strong>s34


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?ChinaJapãoPaíses BaixosCoréia <strong>do</strong> SulAlemanhaItáliaArgentinaFrançaRei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong>OutrosFonte: MDIC (2012a)Sen<strong>do</strong> assim, conforme descrito <strong>no</strong> Box 3, ao optar pela estratégia deinserção internacional basea<strong>da</strong> em recursos naturais, os países estariamutilizan<strong>do</strong> sua energia, água e outros recursos naturais, bem comocomprometen<strong>do</strong> a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de sua população. Ironicamente, essadestruição <strong>do</strong>s territórios seria motiva<strong>da</strong> pela exploração de produtosde baixo valor agrega<strong>do</strong> que, historicamente, têm apresenta<strong>do</strong> pequenacontribuição para o desenvolvimento efetivo <strong>do</strong>s países, ou mesmo para osimples crescimento econômico.Indústria mineral e energiaA extração e o beneficiamento de minerais são considera<strong>do</strong>sintensivos em recursos naturais, não apenas pelos minériosque extraem, mas também por seu eleva<strong>do</strong> consumo de energia.Por exemplo, segun<strong>do</strong> a EPE (2011), em 2010, a indústria36


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosde mineração e pelotização, o setor de ferro-­‐gusa e aço, asempresas de metais não-­‐ferrosos e a produção de ferro-­ligasconsumiram, conjuntamente, 27 milhões tep (tonela<strong>da</strong>sequivalentes de petróleo). Esse montante foi superior aoconsumo de to<strong>da</strong>s as residências <strong>do</strong> país, que ficou <strong>no</strong> patamarde 23 milhões tep.Mesmo quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com outros setores econômicos,o consumo de energia <strong>da</strong> indústria <strong>do</strong> beneficiamento mineralse destaca <strong>da</strong>s demais. Para produzir uma riqueza equivalentea US$ 1.000, a metalurgia consome 1.186 tep; por outro la<strong>do</strong> aindústria de transformação necessita de 225 tep e a indústriatêxtil de 133 tep (EPE, 2011).Em teoria poderia se esperar que a i<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógicatornasse esse setor me<strong>no</strong>s intensivos em energia; porém, osganhos de eficiência são muito baixos. Por exemplo, entreos a<strong>no</strong>s de 1980 e 2008, o setor de ferro e aço reduziu suademan<strong>da</strong> de energia de 0,57 tep/t para 0,54 tep/t (5,2%),contu<strong>do</strong> esse aumento de eficiência foi muito inferior àexpansão <strong>da</strong> produção <strong>no</strong> mesmo perío<strong>do</strong> (120%), o queimplicou em um aumento absoluto <strong>da</strong> energia consumi<strong>da</strong> (EPE,2009).necessariamente, <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> minério de ferro, ele faz referênciaà sua transformação em ferro gusa ou aço. Neste caso, existetambém, uma relação íntima com a produção de carvão vegetal,uma vez que, em 2008, esta produção foi responsável por 75,3%<strong>do</strong> consumo de carvão vegetal <strong>do</strong> país (EPE, 2009). Entretanto,<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a produção de carvão vegetal ain<strong>da</strong> se dá em largaescala por meio <strong>do</strong> desmatamento de mata nativa. Entre 1997e 2007, a participação <strong>da</strong>s matas nativas na produção nacionalde carvão vegetal passou de 24,6% para 50,1% (AMS, 2007).Mesmo que as siderúrgicas utilizassem somente carvão vegetala partir de mo<strong>no</strong>culturas de eucalipto, elas necessitariamderrubar to<strong>do</strong> a<strong>no</strong> extensas áreas de eucalipto, também geran<strong>do</strong>eleva<strong>do</strong>s impactos sociais e ambientais.37


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?2.4 Efeitos <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>A perspectiva de aumento <strong>da</strong> lucrativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> setor mineral <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>e 2011. Ao longo desses oito a<strong>no</strong>s, as operações totais passaram de me<strong>no</strong>sde R$ 20 bilhões para mais de R$ 85 bilhões. O carro chefe dessa expansãofoi o minério de ferro que, em 2011, foi responsável por 70% <strong>da</strong>s operaçõesminerais medi<strong>da</strong>s pelo DNPM (2012b), segui<strong>do</strong> pelo ouro (5%) e cobre (4%).R$ bilhõesFonte: DNPM (2012b)e Energia planeja a continui<strong>da</strong>de desse aumento <strong>da</strong> exploração mineral.Toman<strong>do</strong> por base valores de 2008, o MME antecipa que, até 2030, a exploraçãode bauxita e ferro deverá aumentar três vezes, a <strong>do</strong> ouro três vezes e meia, e a<strong>do</strong> cobre e níquel mais de quatro vezes.38


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosNúmero índiceBauxitaCobre (conti<strong>do</strong>)FerroNíquelOuroFonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de MME (2011)A expansão prevista para a mineração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> deverá ocorrer ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras em regiões onde a mineração já se consoli<strong>do</strong>u, comoo quadrilátero ferrífero em Minas Gerais, e Carajás, <strong>no</strong> Pará. Nesse senti<strong>do</strong>,tais regiões deverão enfrentar o aprofun<strong>da</strong>mento de impactos <strong>no</strong>rmalmentear, e aumento de acidentes ro<strong>do</strong>viários e ferroviários. Por outro la<strong>do</strong>, como para garantir a expansão deseja<strong>da</strong> pelo setor, haverá também a abertura deminas em regiões onde, até o momento, não havia mineração. Diante dessedevem se aprofun<strong>da</strong>r; como conseqüência, o número de pessoas atingi<strong>da</strong>spelos impactos negativos irá crescer, consoli<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o conceito de “atingi<strong>do</strong>spela mineração”, conforme discuti<strong>do</strong> <strong>no</strong> Box 4.39


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?O conceito deatingi<strong>do</strong> pela mineraçãoEm 2010, foi realiza<strong>do</strong> <strong>no</strong> Rio de Janeiro o I EncontroInternacional <strong>do</strong>s Atingi<strong>do</strong>s pela Vale. A partir dessaexperiência, e inspira<strong>da</strong> pelo Movimento <strong>do</strong>s Atingi<strong>do</strong>s porBarragens, vem sen<strong>do</strong> percebi<strong>da</strong> entre diferentes movimentossociais e organizações não governamentais a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> idéia de atingi<strong>do</strong>s pela mineração.As companhias minera<strong>do</strong>ras são ca<strong>da</strong> vez maiores e maispoderosas política e eco<strong>no</strong>micamente. A relação de forças entreelas e as comuni<strong>da</strong>des afeta<strong>da</strong>s é muito desigual e, dessa forma,as vitórias <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des individuais nesses embates vêmse tornan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais raras. A partir dessa constatação,diferentes grupos têm percebi<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de de organização ealiança, por meio de redes de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, de apoio político ede assessoria técnica.Um movimento de atingi<strong>do</strong>s pela mineração defenderia osdireitos <strong>da</strong>queles atingi<strong>do</strong>s direta ou indiretamente pelasativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras. Além disso, ele seria responsável porpropor formas mais justas e democráticas <strong>do</strong> (não) uso <strong>do</strong>srecursos naturais, a partir <strong>da</strong>s opções locais de desenvolvimentoterritorial.A criação de tal movimento, to<strong>da</strong>via, necessita a construção<strong>do</strong> conceito de atingin<strong>do</strong> pela mineração. A partir dessa <strong>no</strong>çãoaglutina<strong>do</strong>ra, to<strong>do</strong>s os que se sentissem afeta<strong>do</strong>s ou ameaça<strong>do</strong>spelas ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras poderiam se unir na luta contraa instalação de empreendimentos, pela mitigação <strong>do</strong>s efeitossociais e ambientais negativos, pelo direito de compensaçãopor tais impactos, ou pela construção de socie<strong>da</strong>des pós-­extrativistas.A apropriação <strong>do</strong> conceito de atingi<strong>do</strong>s pela mineração ain<strong>da</strong> éum processo em construção. Esta é uma <strong>no</strong>ção ampla, que incluidiferentes dimensões, materiais e/ou simbólicas, <strong>do</strong>s impactos<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral, tais como:40


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos um território específico devi<strong>do</strong> à implantação de uma mina;sejam eles proprietários com título, populações tradicionais, oumesmo agricultores posseiros. serem desloca<strong>do</strong>s, sofrem pela interrupção <strong>do</strong> acesso a áreasprodutivas ou a recursos de subsistência. Entre eles, podemestar comuni<strong>da</strong>des extrativas que deixam de ter acesso àfloresta, pesca<strong>do</strong>res cuja pesca diminuiu devi<strong>do</strong> à mu<strong>da</strong>nçana quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água, ou ain<strong>da</strong> trabalha<strong>do</strong>res que perderamabertura (ou fechamento) <strong>da</strong> mina. pela implantação de infraestrutura ou projetos de apoio àoperação <strong>da</strong>s minas, tais como minerodutos, ro<strong>do</strong>vias, ferrovias,portos, bacias de rejeitos, alojamento de trabalha<strong>do</strong>res etc. aumento de preço (de terras, moradia, alimentos etc.) após oinício <strong>da</strong> instalação <strong>da</strong> mina. Inclui ain<strong>da</strong> as pessoas expostasa situações de risco – tais como prostituição, uso de drogas eviolência – cria<strong>da</strong>s depois <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>do</strong>s <strong>no</strong>vos trabalha<strong>do</strong>res. processos de per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, devi<strong>do</strong> a mu<strong>da</strong>nçasambientais decorrentes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral. Tais mu<strong>da</strong>nçaspodem incluir poluição atmosférica, contaminação hídrica,poluição so<strong>no</strong>ra, ou mesmo modificações <strong>da</strong> paisagem.Fonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de Wanderley (2009)Da<strong>do</strong> o grau de ocupação humana nas regiões Sul e Sudeste e os interesses<strong>do</strong> setor agrícola nas terras <strong>do</strong> Centro-­‐Oeste, a <strong>no</strong>va frente de expansão <strong>da</strong><strong>do</strong> país, como pode ser observa<strong>do</strong> pelo número de pesquisas mineraisapresenta<strong>do</strong>s na Figura 1. Conforme coloca<strong>do</strong> pelo MME (2011 p. 57), a“Amazônia é a atual fronteira de expansão <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>”.41


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?LavraConcessão de lavraRequerimento de lavraLavra garimpeiraManifesto de minaRegistro de extraçãoLicenciamentoRequerimentosRequerimento de pesquisaRequerimento de licenciamentoRequerimento de lavra garimpeiraRequerimento de registro de extraçãoPesquisaAutorização de pesquisaFonte: MME (2011)Do ponto de vista <strong>do</strong> setor mineral, a expansão <strong>da</strong> mineração na RegiãoNorte seria já um fato consuma<strong>do</strong> e desejável. De acor<strong>do</strong> com o MME (2011),apenas existiriam algumas questões que precisariam ser equaciona<strong>da</strong>s esobre as quais o ministério deverá dedicar alguma atenção <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s.Primeiramente existe a preocupação <strong>do</strong> setor em reduzir a oposiçãoaos projetos de mineração. Com esse intuito, esforços vêm sen<strong>do</strong>feitos pelo MME para apresentar a ativi<strong>da</strong>de mineral como “indutor dedesenvolvimento local”. Nesse senti<strong>do</strong>, o ministério vem debaten<strong>do</strong> o42


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosuso <strong>da</strong> Compensação Financeira pela Exploração <strong>do</strong>s Recursos Minerais(CFEM), e a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> constituição de um fun<strong>do</strong> social <strong>da</strong> mineração 5 .Um segun<strong>do</strong> ponto ao qual o MME vem dedican<strong>do</strong> sua atenção diz respeitoà mineração em TIs. No caso <strong>da</strong> Amazônia, essa é uma questão importantepor lá estar concentra<strong>da</strong> a maior parte <strong>da</strong>s TIs <strong>do</strong> país. Apesar dessaquestão não ser discuti<strong>da</strong> explicitamente na proposta de marco legal<strong>da</strong> mineração que vem sen<strong>do</strong> trabalha<strong>da</strong> pelo MME, encontram-­‐se emtramitação <strong>no</strong> congresso diferentes projetos de lei que tratam <strong>da</strong> questão,bem como buscam reagir à incorporação <strong>do</strong>s princípios e instrumentos<strong>da</strong> Convenção 169 <strong>da</strong> Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho à legislaçãobrasileira.Outro item presente na pauta <strong>do</strong> setor sobre Amazônia diz respeito ao usominera<strong>do</strong>ras e as comuni<strong>da</strong>des locais, problemas que tendem a se acirrarcom a expansão <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de nessa região. Segun<strong>do</strong> o MME (2011) aaplicação <strong>do</strong> Macrozoneamento Ecológico-­‐Econômico <strong>da</strong> Amazônia <strong>Legal</strong> <strong>do</strong> solo. To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong> não há garantias de que tal instrumento venha aser implementa<strong>do</strong> de forma transparente e com o objetivo de garantir osdireitos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des locais.ao fechamento e regularização <strong>do</strong>s garimpos ilegais. Apesar <strong>da</strong> pequenaescala, estas ativi<strong>da</strong>des também são causa<strong>do</strong>ras de impactos ambientais, comuni<strong>da</strong>des tradicionais, conforme descrito <strong>no</strong> Box 5.5 Como forma de evitar que as empresas se apropriem desse instrumento, movi-­mentossociais localiza<strong>do</strong>s em áreas já impacta<strong>da</strong>s por ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras, emespecial <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pará e <strong>do</strong> Maranhão, vêm toman<strong>do</strong> a frente dessa discussãode forma a garantir que eventuais fun<strong>do</strong>s comunitários assegurem, nestes territó-­‐-­dentefortalecimento <strong>da</strong> organização social e popular <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des atingi<strong>da</strong>s (R.S. P. Santos, 2012).43


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?O garimpo e algumasquestões socioambientaisDe forma geral, o <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineraçãodiscute principalmente a questão <strong>da</strong> mineração industrial delarga escala e, ao mesmo tempo, pouco debate a mineraçãoartesanal. Os <strong>do</strong>cumentos específicos sobre o <strong>no</strong>vo marco legalnão mencionam a questão de garimpo, enquanto que o Pla<strong>no</strong>Nacional de Mineração apenas cita a regularização <strong>do</strong>s garimposilegais entre os seus objetivos (MME, 2011).To<strong>da</strong>via, os problemas associa<strong>do</strong>s ao garimpo vão além <strong>da</strong>informali<strong>da</strong>de, pois a história <strong>do</strong>s garimpos, especialmente naAmazônia, relaciona-­‐se com diferentes conflitos e tragédias,associa<strong>do</strong>s ao caráter perigoso e degra<strong>da</strong>nte desta ativi<strong>da</strong>de(Scotto, 2010). Aqui serão trata<strong>da</strong>s duas questões em particular:o garimpo em TIs e o uso de mercúrio <strong>no</strong>s garimpos de ouro.A questão <strong>do</strong>s garimpos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem forte relação com aprodução de ouro e de diamantes. Segun<strong>do</strong> os <strong>da</strong><strong>do</strong>s oficiais,que incluem apenas os garimpos legaliza<strong>do</strong>s, 10% <strong>do</strong> ouro(Heider & Andrade, 2011) e 47% <strong>do</strong>s diamantes (Danese, 2011)são extraí<strong>do</strong>s em garimpos. Uma parte significativa destesgarimpos, em especial os informais, encontram-­‐se na RegiãoAmazônica, exatamente onde também se encontra a maioria <strong>da</strong>sTIs.Como consequência, muitos conflitos têm ocorri<strong>do</strong> entregarimpeiros e indígenas. Por exemplo, entre 1987 e 1990 quase40 mil garimpeiros de ouro invadiram terras Ya<strong>no</strong>mamis <strong>no</strong>Amazonas e em Roraima. Esta invasão não só dispersou várias<strong>do</strong>enças entre os índios, como também gerou uma série deconflitos; estes <strong>do</strong>is fatores juntos foram responsáveis pelamorte de mais de mil indígenas. De forma semelhante, em 2004,a descoberta de uma <strong>da</strong>s maiores jazi<strong>da</strong>s de diamante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>em terras de Cinta-­‐largas levou à invasão de quase cinco milgarimpeiros, também geran<strong>do</strong> vários conflitos e causan<strong>do</strong> amorte de 29 garimpeiros (Carneiro Filho, 2009).44


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosAlém <strong>do</strong>s conflitos fundiários, outra questão diretamenteassocia<strong>da</strong> ao garimpo de ouro diz respeito à contaminação eprejudicial à saúde, em particular ao sistema nervoso (A.Gonçalves & Gonçalves, 2004). Nos garimpos, o mercúrio éutiliza<strong>do</strong> na concentração <strong>do</strong> pó de ouro, porém a posteriorseparação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is metais acaba por dispersar o mercúrio <strong>no</strong>ambiente, causan<strong>do</strong> a contaminação <strong>da</strong> água, <strong>da</strong> atmosfera e <strong>do</strong>solo, além de sua concentração ao longo <strong>da</strong> cadeia alimentar.Na déca<strong>da</strong> de 1990, estimava-­‐se que para a extração de 100 gde ouro eram necessários cerca de 130 g de mercúrio (Lacer<strong>da</strong>,1997). Manten<strong>do</strong>-­‐se essa proporção, pode-­‐se estimar que,em 2010, a produção de 6,5 tonela<strong>da</strong>s de ouro em garimposfoi responsável pelo consumo de 8,5 tonela<strong>da</strong>s de mercúrio eposterior liberação deste <strong>no</strong> ambiente.<strong>da</strong> Amazônia e de outros territórios, o tema aparece de formamuito marginal na pauta <strong>da</strong> reforma <strong>do</strong> marco regulatório <strong>da</strong>mineração.o MME e as empresas minera<strong>do</strong>ras veem na Região Norte o “<strong>no</strong>vo El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>”. enxergar a necessi<strong>da</strong>de de restringir sua atuação na área. Ao contrário, os<strong>do</strong>cumentos publica<strong>do</strong>s indicam que o setor apenas considera a necessi<strong>da</strong>dede contornar possíveis obstáculos ou corrigir práticas que sejam considera<strong>da</strong>sinadequa<strong>da</strong>s.45


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?3 O <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineração3.1 Mitos, motivações e objetivosMitos <strong>do</strong> setor mineralDe forma geral, o setor mineral costuma a<strong>do</strong>tar um discurso otimistasobre suas ativi<strong>da</strong>des, apresentan<strong>do</strong>-­‐as como gera<strong>do</strong>ras de riqueza e demelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, ou ain<strong>da</strong> como condição para o desenvolvimento.Por exemplo, Lima (2011, p. 17) argumenta que “[a] história <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia<strong>do</strong>s povos evidencia que um país com recursos minerais abun<strong>da</strong>ntes deveter uma clara política pública para explorá-­‐los [pois] os países que mais sedesenvolveram tiveram suporte substancial na mineração”. Seguin<strong>do</strong> a mesmalinha de raciocínio, Anderson Cabi<strong>do</strong> (2010), presidente <strong>da</strong> Associação <strong>do</strong>sMunicípios Minera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, propõe que “[a] boa condição de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>sgerações futuras nas ci<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras será garanti<strong>da</strong> não pelo minérioEste mito vem basea<strong>do</strong> <strong>no</strong> fato de que alguns países industrializa<strong>do</strong>s, minerais; to<strong>da</strong>via superestima o papel <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong> processo decrescimento econômico desses países. Em contraposição a esta visão, háestu<strong>do</strong>s que apontam que a mineração não foi um fator determinante <strong>do</strong>desenvolvimento destas eco<strong>no</strong>mias. No caso <strong>do</strong>s EUA, durante o perío<strong>do</strong> deindustrialização, entre 1880 e 1929, a mineração nunca correspondeu a maisde 3,5% <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong> país. Ao mesmo tempo, nunca houve um ciclo homogêneode expansão <strong>da</strong> mineração, uma vez que on<strong>da</strong>s de crescimento e declínioatingiram regiões e minérios distintos em tempos diferentes. O Canadá,por sua vez, somente começou a desenvolver seu setor mineral de formaconsistente a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> já tinha umafortaleci<strong>da</strong> principalmente pela contribuição <strong>da</strong> agropecuária, com exceçãode <strong>do</strong>is breves ciclos <strong>do</strong> ouro (Power, 2002). Essas constatações, juntamentecom a discussão apresenta<strong>da</strong> na seção 2.3, aju<strong>da</strong>m a relativizar o papel <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras <strong>no</strong> crescimento econômico <strong>do</strong>s países.46


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosEm decorrência <strong>do</strong> primeiro mito, há pessoas que acreditam que aativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mineração teria priori<strong>da</strong>de sobre outros usos <strong>do</strong>s territórios. Deforma geral, o setor mineral defende que o interesse público <strong>da</strong> exploração ativi<strong>da</strong>de proporcionaria à socie<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong> (Freire, 1996).Este discurso é fortaleci<strong>do</strong> pelos conceitos de “interesse nacional” e deutili<strong>da</strong>de pública. Tais ideias encontram-­‐se presentes na própria Constituição,de concedê-­‐lo para exploração de terceiros. O mito <strong>do</strong> “interesse nacional”,análise isola<strong>da</strong> e descontextualiza<strong>da</strong> de trechos <strong>da</strong> legislação brasileira. minera<strong>do</strong>ras deveriam ser implanta<strong>da</strong>s:“A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento <strong>do</strong>spotenciais a que se refere o caput deste artigo somente poderãoser efetua<strong>do</strong>s mediante autorização ou concessão <strong>da</strong> União, <strong>no</strong>interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituí<strong>da</strong> sob asessas ativi<strong>da</strong>des se desenvolverem em faixa de fronteira ou terrasEm algumas interpretações desse texto, chega-­‐se a confundir osinteresses <strong>da</strong> mineração com o pretenso “interesse nacional”. Por exemplo, aproveitamento econômico <strong>da</strong>s riquezas minerais e a preservação <strong>do</strong>sinteresses <strong>da</strong>s populações indígenas”, como se extração de minérios fossemais relevante para a nação <strong>do</strong> que a manutenção <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural e<strong>da</strong> preservação ambiental existentes graças à presença de diferentes povosindígenas.Na ver<strong>da</strong>de, a ideia de “interesse nacional” já vem sen<strong>do</strong> contesta<strong>da</strong>por cientistas sociais e cientistas políticos <strong>da</strong> escola pluralista desde o início<strong>do</strong> século XX. Por exemplo, Olson (1965), apoia<strong>do</strong> nas propostas de ArthurF. Bentley (1850-­‐1957), argumentava que a ideia de um “interesse nacional”47


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?de atores. Seguin<strong>do</strong> esse raciocínio, ele propunha que o “interesse nacional”na<strong>da</strong> mais seria <strong>do</strong> que o interesse de um grupo que tinha a pretensão deapresentar suas deman<strong>da</strong>s como se fossem universais.<strong>do</strong> atual Código Mineral na tentativa de reforçar a priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mineraçãosobre as demais ativi<strong>da</strong>des. Dois artigos são mais comumente usa<strong>do</strong>s comesse intuito:de lavra.To<strong>da</strong>via, o setor deixa de mencionar outras passagens legais, mais recentes,que vêm exatamente se contrapor a tal visão, tal como a lei 7.085 de 1989,ao meio ambiente são passíveis de suspensão temporária ou como ativi<strong>da</strong>de de interesse público. Esses <strong>do</strong>cumentos incluem o Decreto-­lei3.365/1941 (<strong>Brasil</strong>, 1941) e a Resolução CONAMA 369/2006 (CONAMA,a “consequência é a declaração legal <strong>da</strong> supremacia <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral em 2011, p. 162).Entretanto, o que não é leva<strong>do</strong> em conta é que os mesmos <strong>do</strong>cumentoslistam outras ativi<strong>da</strong>des como sen<strong>do</strong> de utili<strong>da</strong>de pública ou de interessesocial. Por exemplo, o Decreto-­‐lei 3.365/1941 menciona ain<strong>da</strong> como casosde utili<strong>da</strong>de pública “a criação e melhoramento de centros de população,seu abastecimento regular de meios de subsistência” e “a preservação econservação <strong>do</strong>s monumentos históricos e artísticos [...] e, ain<strong>da</strong>, a proteção de48


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscospaisagens e locais particularmente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pela natureza”. Ao mesmo tempo, pesquisa arqueológica e as instalações para captação e condução de água. Elaain<strong>da</strong> estabelece como ativi<strong>da</strong>des de interesse social, aquelas imprescindíveispratica<strong>do</strong> na pequena proprie<strong>da</strong>de ou posse rural familiar. Nesse senti<strong>do</strong>,priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minerais sobre as demais.Além disso, o que o setor parece ig<strong>no</strong>rar é que a exploração mineralse dá <strong>no</strong> campo <strong>do</strong> interesse priva<strong>do</strong>, na comercialização de uma merca<strong>do</strong>riaentre <strong>do</strong>is agentes econômicos: a União e a empresa minera<strong>do</strong>ra. Seguin<strong>do</strong>esta linha de raciocínio “[e]sta ativi<strong>da</strong>de, não tem qualquer sorte de liame,vínculo, forma e ou pretensão que possa vir a <strong>da</strong>r qualquer caracterizaçãoou coletivo (de um contexto macro)” (Divitiis, 1997, p. 64) e, portanto, eladeixaria de ter qualquer relação com um conceito mais amplo de interessepúblico.Dessa forma, o que se percebe é que muitos <strong>do</strong>s argumentos usa<strong>do</strong>s pelo<strong>do</strong> que mitos cria<strong>do</strong>s e divulga<strong>do</strong>s pelo próprio setor. Entretanto, um debatedemocrático e transparente sobre a mineração <strong>no</strong> país não deve ocorrer combase em tais mitos e, portanto, a sua desconstrução é fun<strong>da</strong>mental para umaSegun<strong>do</strong> as informações disponibiliza<strong>da</strong>s pelo MME sobre o <strong>no</strong>vomarco regulatório <strong>da</strong> mineração, pode-­‐se inferir que a proposta tem um fortecaráter setorial e neodesenvolvimentista. O caráter setorial se deve ao fatode o Pla<strong>no</strong> Nacional de Mineração 2030 e os <strong>do</strong>cumentos referentes ao <strong>no</strong>vomarco regulatório tratarem <strong>da</strong> mineração de forma isola<strong>da</strong> e não dialogaremcom outros setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Eles parecem ter si<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong>s deforma a ig<strong>no</strong>rar os demais interesses e usos para os territórios. Ao mesmotempo, conforme discuti<strong>do</strong> <strong>no</strong> Box 6, os <strong>do</strong>cumentos possuem um viésneodesenvolvimentista por sua preocupação sobre como o Esta<strong>do</strong>, enquantoregula<strong>do</strong>r <strong>do</strong> acesso ao subsolo e aos recursos minerais, poderia favorecera atuação <strong>da</strong>s grandes empresas minera<strong>do</strong>ras, assim como valer-­‐se destaativi<strong>da</strong>de para acelerar o crescimento econômico.49


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Neodesenvolvimentismoe exploração mineralO neodesenvolvimentismo apresenta-­‐se como uma políticade desenvolvimento que busca compatibilizar crescimentoeconômico e equi<strong>da</strong>de social. De forma geral, ele foi cria<strong>do</strong> apartir <strong>da</strong> releitura de duas escolas econômicas, o keynesianismoe o neoestruturalismo. Da primeira, o neodesenvolvimentismoa<strong>do</strong>tou uma visão de complementari<strong>da</strong>de entre Esta<strong>do</strong>e merca<strong>do</strong>, <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> ele incorporou a perspectiva <strong>da</strong>industrialização e <strong>da</strong> equi<strong>da</strong>de social como condicionantes parao desenvolvimento econômico (Sicsú, Paula, & Michel, 2007).Esta proposta de política parte <strong>do</strong> princípio de que um Esta<strong>do</strong>forte, através de estratégias nacionais de desenvolvimentos“adequa<strong>da</strong>s”, é necessário para estimular o florescimento de ummerca<strong>do</strong> forte. Ela ain<strong>da</strong> defende que estas duas instituições,conjuntamente, seriam capazes de promover o crescimentoeconômico necessário para reduzir a desigual<strong>da</strong>de social. Nestecontexto, seria função <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> financiar o capital priva<strong>do</strong>,investir em infraestrutura que facilite a atuação <strong>da</strong>s empresas,e fortalecer o surgimento de grandes o empresas estatais ou decapital misto (Morais & Saad-­‐Filho, 2011).Diferente <strong>do</strong>s estruturalistas <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, queacreditavam <strong>no</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> inter<strong>no</strong>como principal estratégia de crescimento, os defensores <strong>do</strong>neodesenvolvimentismo apostam na inserção internacionalcomo forma de promover o desenvolvimento nacional.Para tanto, seguin<strong>do</strong> o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelos países <strong>do</strong>Sudeste Asiático, consideram primordial o investimento emcompetitivi<strong>da</strong>de industrial como estratégia de expandir aexportação de produtos de maior conteú<strong>do</strong> tec<strong>no</strong>lógico e valoragrega<strong>do</strong> (Morais & Saad-­‐Filho, 2011; Sicsú, Paula, & Michel,2007).No caso <strong>da</strong> América Latina, a indústria extrativa mineral pareceser aquela na qual o neodesenvolvimentismo melhor vem seancoran<strong>do</strong>. Devi<strong>do</strong> à crescente deman<strong>da</strong> por energia fóssil <strong>do</strong>s50


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscospaíses centrais e à contínua necessi<strong>da</strong>de de minerais pela China,a exportação de petróleo e de minérios tem se mostra<strong>do</strong> comouma <strong>da</strong>s estratégias mais rápi<strong>da</strong>s de inserção internacional paraalguns países lati<strong>no</strong>-­‐america<strong>no</strong>s. Como forma de intensificarain<strong>da</strong> mais essa inserção, gover<strong>no</strong>s <strong>da</strong> região têm busca<strong>do</strong>reduzir o custo de extração e exportação destes produtos,principalmente através <strong>da</strong> construção de infraestrutura deenergia e transporte que aten<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s empresasextrativistas. Além disso, como nestes países os gover<strong>no</strong>scentrais são os gestores <strong>do</strong>s territórios (em especial <strong>do</strong>ssubsolos), eles vêm promoven<strong>do</strong> uma série de mu<strong>da</strong>nças naslegislações nacionais como forma de facilitar o acesso e aexploração de seus recursos minerais por grandes empresas,sejam elas estatais ou transnacionais (Scotto, 2011).1. 2. Aumentar a participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s econômicos gera<strong>do</strong>spela mineração;3. Promover a verticalização <strong>do</strong> setor, por meio <strong>da</strong> instalação de indústriasde base;4. Desenvolver instrumentos para mitigação <strong>do</strong>s impactos ambientais <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de mineral (MME, 2009a, 2010a).Com relação ao primeiro ponto, muitas são as críticas feitas pelo setormineral, público e priva<strong>do</strong>, às instituições de implementação <strong>da</strong> políticamineral, em particular ao DNPM. Segun<strong>do</strong> o próprio MME (2009a) uma <strong>da</strong>sprincipais falhas <strong>do</strong> atual sistema de concessão de licenças é permitir quepessoas ou empresas detenham títulos de mineração, sem necessariamenterealizar a exploração mineral. Nesse senti<strong>do</strong>, uma preocupação muito presentena proposta <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco regulatório é a criação de penali<strong>da</strong>des àquelesque possuírem títulos, porém não extraírem minérios <strong>do</strong> subsolo.51


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem? necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> País. [...] Outorga-se uma licença de pesquisa aa sua pesquisa. Prorroga-se por mais um, depois por mais um. Sãoprazos vão se amplian<strong>do</strong>. Depois quan<strong>do</strong> é concedi<strong>da</strong> a concessão embora, não volta nunca mais. Não pagou na<strong>da</strong> por isto. [...] Eu nãoposso <strong>do</strong>rmir em paz com uma situação dessa natureza, não possoaceitar que este seja um procedimento regular num setor sensível,estratégico e tão importante para a vi<strong>da</strong> econômica e social destePaís” (Lobão, 2010).Um segun<strong>do</strong> objetivo explicitamente presente na discussão sobre o <strong>no</strong>vomarco legal <strong>da</strong> mineração diz respeito à distribuição <strong>do</strong>s ganhos econômicosgera<strong>do</strong>s pela ativi<strong>da</strong>de. Conforme menciona<strong>do</strong> na seção 2.1, existe uma forteperspectiva de aumento <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s minérios e <strong>da</strong> lucrativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> setor.A partir desta constatação, tem-­‐se forma<strong>do</strong> uma coalizão de interesses,principalmente entre os municípios minera<strong>do</strong>res e o gover<strong>no</strong> federal, sobrea necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> apropriação governamental de parte desses ganhos. Ointeresse federal deve-­‐se ao fato de os minérios serem um bem <strong>da</strong> União, negativos locais gera<strong>do</strong>s por essa ativi<strong>da</strong>de. Neste senti<strong>do</strong>, a discussão sobre questão ter si<strong>do</strong> contempla<strong>da</strong> com um projeto de lei próprio, separa<strong>do</strong> <strong>do</strong>processo de licença mineral, como acontecia <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> código atual.“A arreca<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> CEFEM [sic.], que é uma espécie de royalties, que a ser feita pela agência regula<strong>do</strong>ra. Esse é um item que temprovoca<strong>do</strong> muita discussão, o CEFEM [sic.], ou seja, o royalty, que Governa<strong>do</strong>r de Minas Gerais, frequentemente, vem a público dizerque enquanto o gover<strong>no</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e os municípios, soma<strong>do</strong>s aopor a<strong>no</strong> de CEFEM [sic.], apenas um município <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio(Lobão, 2010).52


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscospara as regiões minera<strong>do</strong>ras. Esta preocupação não deve ser resumi<strong>da</strong> àsimples valoração econômica <strong>do</strong>s impactos ambientais, uma vez que existemvários aspectos sociais e ambientais <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s territórios que não seriampassíveis de monetarização. To<strong>da</strong>via, consideran<strong>do</strong> que há muitos territóriosque vêm sen<strong>do</strong> impacta<strong>do</strong>s e comuni<strong>da</strong>des que estão sen<strong>do</strong> negativamenteafeta<strong>da</strong>s pela mineração, faz-­‐se necessária a criação de sistemas que garantamque parte <strong>do</strong>s recursos econômicos seja apropria<strong>da</strong> por essas comuni<strong>da</strong>des,utiliza<strong>da</strong> na mitigação <strong>do</strong>s impactos negativos e, principalmente, aplica<strong>da</strong> <strong>no</strong>desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des que tornem tais locais me<strong>no</strong>s dependentes <strong>da</strong>mineração.Um terceiro objetivo que orienta a proposta <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco legal<strong>da</strong> mineração é o incentivo à industrialização <strong>do</strong> setor metalúrgico,vem sen<strong>do</strong> trata<strong>da</strong> com especial atenção pelo gover<strong>no</strong> federal, devi<strong>do</strong> aoreceio <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> posição <strong>do</strong> país como exporta<strong>do</strong>r de matériaprima. Esta preocupação pode ser associa<strong>da</strong> ao viés neodesenvolvimentista,a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo gover<strong>no</strong> federal desde o primeiro gover<strong>no</strong> Lula. Seguin<strong>do</strong> es<strong>sal</strong>inha de raciocínio, o gover<strong>no</strong> busca estimular a industrialização basea<strong>do</strong> <strong>no</strong>argumento de que ela aumentaria o valor agrega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s produtos, elevaria areceita <strong>da</strong>s exportações, geraria mais empregos e permitiria a arreca<strong>da</strong>ção demais impostos. estimulará, inclusive permitirá que o gover<strong>no</strong> possa exigirinvestimentos na cadeia produtiva e permitirá que o grau deagregação de valores <strong>da</strong> matéria-prima mineral possa tambémestar sen<strong>do</strong> pensa<strong>do</strong> e avançar, de tal sorte que a matéria-primamineral não seja exporta<strong>da</strong> sem a necessária agregação de valor, ouou seja, a matéria-prima não seja exporta<strong>da</strong> como concentra<strong>da</strong>vão estar sen<strong>do</strong> gera<strong>do</strong>s os empregos, a ren<strong>da</strong> circulará aqui e .Apesar de esta análise ser consistente <strong>do</strong> ponto de vista setorial, elaexige uma avaliação mais profun<strong>da</strong>, que leve em consideração os aspectoseconômicos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> internacional, bem como, as questões socioambientais6 Miguel Antonio Cedraz Nery, Diretor <strong>do</strong> Departamento Nacional de ProduçãoMineral.53


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?locais. Consideran<strong>do</strong> a atual estrutura <strong>do</strong> setor mineral global, existe umadecisão <strong>da</strong>s indústrias transnacionais de redistribuir sua capaci<strong>da</strong>deprodutiva e concentrar a “fase quente” <strong>do</strong>s processos metalúrgicos, que vaiaté o estágio <strong>do</strong>s produtos semiacaba<strong>do</strong>s, <strong>no</strong>s países periféricos; manten<strong>do</strong> a“fase fria” – me<strong>no</strong>s poluente, com me<strong>no</strong>r gasto energético e com produtos demaior valor agrega<strong>do</strong> – próxima aos merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res destes países 7(Bühler, 2007). <strong>Brasil</strong> vendem anualmente algo próximo a 7 milhões de tonela<strong>da</strong>s de açosemiacaba<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> essa quanti<strong>da</strong>de exporta<strong>da</strong> em quase sua totali<strong>da</strong>de. Já<strong>no</strong> caso <strong>do</strong>s aços lamina<strong>do</strong>s, a maior parte é vendi<strong>da</strong> <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico eapenas 20% <strong>da</strong> produção é exporta<strong>da</strong> (IBS, 2009). se deve a uma diversi<strong>da</strong>de de fatores. Primeiramente, os países periféricosapresentam custos de produção mais baixos; por exemplo, em 2004, a tonela<strong>da</strong>de bobina a frio era produzi<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> por US$109, enquanto que <strong>no</strong> Méxicocustava US$ 148, na Coréia <strong>do</strong> Sul US$149, e <strong>no</strong>s EUA, US$ 161 (Crossetti &Fernandes, 2005). Essa diferença de preço se deve não apenas ao custo <strong>da</strong>mão de obra, mas também à fragili<strong>da</strong>de institucional <strong>do</strong>s gover<strong>no</strong>s em taispaíses, que permite que custos sociais e ambientais sejam externaliza<strong>do</strong>spara a socie<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong>. Além disso, existe o cenário <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas, uma vez que os países industrializa<strong>do</strong>s necessitam reduzir assuas emissões de CO 2, e dessa forma vêm “exportan<strong>do</strong>” ativi<strong>da</strong>des industriaisintensivas em energia para outros países.Esta situação sugere que o próprio merca<strong>do</strong> internacional irá orientar averticalização e agregação de valor <strong>do</strong> setor metalúrgico brasileiro, permitin<strong>do</strong>a produção de bens semiacaba<strong>do</strong>s, mas inibin<strong>do</strong> a fabricação de produtose pode trazer uma série de consequências indesejáveis, <strong>do</strong> ponto de vistaeconômico. Os produtos semiacaba<strong>do</strong>s ain<strong>da</strong> possuem um valor mais baixopela deman<strong>da</strong> e apresentam também eleva<strong>da</strong> instabili<strong>da</strong>de, assim como7 Os produtos semiacaba<strong>do</strong>s são produtos mais simples e consistem em placas,lingotes e blocos, enquanto que os produtos acaba<strong>do</strong>s são aqueles mais elabora<strong>do</strong>s,como bobinas, chapas, tubos, entre outros.54


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosdescrita <strong>no</strong> Box 1, mostra que a produção de semiacaba<strong>do</strong>s para a exportaçãoapresenta as mesmas fragili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> mineração com relação a possíveis crisesinternacionais.Ain<strong>da</strong> analisan<strong>do</strong> o problema a partir de uma perspectiva econômica,a simples verticalização é uma iniciativa com efeitos limita<strong>do</strong>s, por mantera dependência de um recurso não re<strong>no</strong>vável. Uma eventual industrializaçãoao longo <strong>da</strong>s cadeias siderúrgicas ou metalúrgicas ao invés de fomentar extrativismo, tende a manter as socie<strong>da</strong>des reféns <strong>do</strong> minério, fortalecen<strong>do</strong> adependência econômica e aumentan<strong>do</strong> a chance de mais concessões ao setorpara evitar depressões econômicas <strong>no</strong> processo de esgotamento <strong>da</strong>s minas.Amplian<strong>do</strong> a análise para além <strong>da</strong> questão econômica e incorporan<strong>do</strong>a perspectiva socioambiental, é preciso considerar que ativi<strong>da</strong>des deUm <strong>do</strong>s exemplos <strong>do</strong>s possíveis impactos negativos de uma industrializaçãomal feita ocorreu na implantação <strong>do</strong> polo siderúrgico ao longo <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> deFerro Carajás, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s casos mais emblemáticos o de Piquiá de Baixo,conforme descrito <strong>no</strong> Box 7.As guseiras <strong>do</strong> Pará e Maranhãoe seus impactos sobrecomuni<strong>da</strong>de e meio ambienteAtivi<strong>da</strong>des de beneficiamento mineral, de forma geral, sãoconsidera<strong>da</strong>s intensivas em recursos naturais e em poluição.Do ponto de vista <strong>da</strong> poluição, chamam a atenção problemasassocia<strong>do</strong>s às emissões atmosféricas, efluentes líqui<strong>do</strong>s eresíduos sóli<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s pelo IPEA(2010), para ca<strong>da</strong> tonela<strong>da</strong> de aço bruto produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,consomem-­‐se 1.514 kg de minério de ferro; 358 kg de coquede carvão mineral e 13,4 mil litros de água. Além disso, essaprodução gera 367 kg de agrega<strong>do</strong>s siderúrgicos e 10 mil litrosde efluentes líqui<strong>do</strong>s.A experiência nacional mostra como ativi<strong>da</strong>des dessa naturezapodem causar <strong>da</strong><strong>no</strong>s significativos à saúde <strong>da</strong>s populações. Nos55


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?a<strong>no</strong>s 1980, como proposta de “desenvolver” a Região Nortee Nordeste <strong>do</strong> país, foi cria<strong>do</strong> o Programa Grande Carajás. Odiscurso oficial afirmava que a constituição de um primeiroestágio <strong>da</strong> indústria siderúrgica (a produção de ferro-­‐gusa)iria levar naturalmente ao surgimento <strong>do</strong> restante <strong>da</strong> cadeia,forman<strong>do</strong> um complexo industrial e “dinamizan<strong>do</strong>” a eco<strong>no</strong>mialocal. Entretanto, quase trinta a<strong>no</strong>s depois, o “polo” reúneapenas guseiras, cuja produção é exporta<strong>da</strong> em sua quasetotali<strong>da</strong>de. Estas empresas localizam-­‐se ao longo <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong>de Ferro Carajás, que liga Parauapebas (PA) a São Luís (MA),impactan<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> de uma população de aproxima<strong>da</strong>mente <strong>do</strong>ismilhões de pessoas.No caminho <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro, se encontra o município deBaixo. A poucas dezenas de metros <strong>da</strong>s casas de Piquiá de Baixoforam instala<strong>do</strong>s quinze alto-­‐for<strong>no</strong>s siderúrgicos, pertencentesàs empresas Gusa Nordeste, Viena Siderúrgica, Ferro Gusa<strong>do</strong> Maranhão, Simasa e Pin<strong>da</strong>ré (essas últimas duas <strong>do</strong> grupofamílias sofrem um grave impacto socioambiental. Segun<strong>do</strong>estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong> local, esses problemas incluem (Albi<strong>no</strong>,2007): aquecimento <strong>do</strong> ferro e poeira <strong>do</strong> peneiramento <strong>do</strong> minériodentro <strong>da</strong>s casas; devi<strong>do</strong> à sua utilização para resfriamento e pela drenagem <strong>do</strong>spátios <strong>da</strong>s empresas; devi<strong>do</strong> à disposição irregular de resíduos sóli<strong>do</strong>s.Ao la<strong>do</strong> dessas questões, os mora<strong>do</strong>res identificam umaconsiderável piora de sua saúde, principalmente devi<strong>do</strong> aproblemas respiratórios, irritação <strong>no</strong>s olhos e desenvolvimentode alergias associa<strong>da</strong>s à poluição atmosférica (FIDH, 2011).56


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosO quarto objetivo explicitamente identifica<strong>do</strong> <strong>no</strong>s <strong>do</strong>cumentos sobreo <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração diz respeito à mitigação e controle <strong>do</strong>simpactos ambientais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras. Embora esse objetivoseja apresenta<strong>do</strong> com me<strong>no</strong>r ênfase <strong>do</strong> que os demais <strong>no</strong>s <strong>do</strong>cumentosoficiais, uma análise dele também é necessária. De forma geral, pode-­seafirmar que o setor mineral possui uma visão restrita <strong>do</strong>s impactosambientais por ele gera<strong>do</strong>. Ele a<strong>do</strong>ta como pressuposto que os impactossocioambientais <strong>da</strong> mineração somente ocorrem por má gestão, ou seja,uma mineração “sustentável” é possível, desde que as ativi<strong>da</strong>des sejamrealiza<strong>da</strong>s de forma “adequa<strong>da</strong>”. Esta ideia vem basea<strong>da</strong> na crença de quenão é necessário criar limites para a ativi<strong>da</strong>de mineral, apenas é precisoguiá-­‐la na direção correta. Dentro dessa percepção, o Pla<strong>no</strong> Nacional deMineração 2030 lista uma série de ativi<strong>da</strong>des, apresenta<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Box 8,que segun<strong>do</strong> o MME seriam capazes de promover a exploração mineral“sustentável”.Box 8Ações propostas pelo MME parapromover a extração mineral “sustentável”1. Articulação interministerial entre Ministério de Minas eEnergia, Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego, Ministério <strong>da</strong> Saúdee enti<strong>da</strong>des empresariais e <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> setor mineralpara aprimorar os programas de saúde e segurança ocupacional.2. Apoio e incentivo à utilização mais eficiente de energiaelétrica e térmica e incentivo à minimização <strong>da</strong>s emissõesde Gases de Efeito Estufa na mineração e, especialmente, natransformação mineral.3. Medi<strong>da</strong>s de apoio e incentivo à utilização mais eficiente<strong>do</strong>s recursos hídricos <strong>no</strong>s processos produtivos, incluin<strong>do</strong> otratamento de efluentes e o aumento <strong>da</strong> recirculação <strong>da</strong> água,com levantamentos periódicos sobre o uso de água na indústriamineral.57


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?4. Promoção de inventário sobre minas aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s ou órfãsem to<strong>do</strong> o território nacional, incluin<strong>do</strong> informações geológicase <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre a mineralização, objetivan<strong>do</strong> criar um programanacional para as áreas impacta<strong>da</strong>s.5. Apoio a medi<strong>da</strong>s de acompanhamento, fiscalização e controlede barragens <strong>da</strong> mineração.6. Apoio a programas de incentivo a reciclagem, reuso ereaproveitamento <strong>do</strong>s materiais provenientes de recursosminerais.7. Apoio e incentivo à produção mais eficiente, com uso <strong>da</strong>smelhores técnicas disponíveis, na lavra, <strong>no</strong> beneficiamento e natransformação mineral.8. Apoio e incentivo ao uso de biomassa oriun<strong>da</strong> de produçãosustentável na fabricação, por exemplo, de ferro gusa, ferro-­‐9. Estímulo à inserção <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong>s Pla<strong>no</strong>s DiretoresMunicipais, especialmente a de bens minerais localiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong>sperímetros urba<strong>no</strong>s, com destaque para os agrega<strong>do</strong>s paraFonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de MME (2011) uma ativi<strong>da</strong>de de fato “sustentável”. Entre as medi<strong>da</strong>s que também deveriamser incluí<strong>da</strong>s, seria necessário prever o envolvimento e a participação <strong>da</strong>spopulações locais <strong>no</strong> debate sobre a necessi<strong>da</strong>de e pertinência <strong>da</strong> implantação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras, bem como <strong>no</strong> monitoramento <strong>do</strong>s impactos <strong>da</strong>mineração. Seguin<strong>do</strong> a mesma linha, também deveria ser avalia<strong>do</strong> como instalaras minas de forma que elas coexistam com as ativi<strong>da</strong>des econômicas e sociais jápresentes <strong>no</strong>s territórios. Além disso, seria preciso que houvesse uma discussãosobre a escala e o ritmo em que as ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras devem ser instala<strong>da</strong>se opera<strong>da</strong>s, de forma a minimizar os impactos negativos que elas geram para ascomuni<strong>da</strong>des e para o meio ambiente. Além destas, consideran<strong>do</strong> o histórico deminas aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s <strong>no</strong> país, conforme descrito <strong>no</strong> Box 9, esta questão deveriaser trata<strong>da</strong> como um aspecto crucial <strong>no</strong> debate sobre mineração.58


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosO passivo ambiental <strong>da</strong>sminas de carvão <strong>no</strong> sul <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>Os impactos sociais e ambientais <strong>da</strong> mineração de carvão <strong>no</strong>sul <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> são diversos. Na região de Criciúma (SC) existemquestões liga<strong>da</strong>s à saúde pública, impacto sobre as residências(que vêm apresentan<strong>do</strong> rachaduras) e, principalmente, <strong>da</strong>scondições de trabalho <strong>do</strong>s mineiros. Com relação aos aspectosambientais, os principais conflitos têm si<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>sà acidificação <strong>do</strong> solo e <strong>da</strong> água. Já em 1980, o Decreto85.206 incluiu a região na lista de áreas críticas de poluição,juntamente com a Região Metropolitana de São Paulo (SP),Cubatão (SP) e Volta Re<strong>do</strong>n<strong>da</strong> (RJ).Com relação aos recursos hídricos, a ativi<strong>da</strong>de carbonífera jápoluiu cerca de 70% <strong>da</strong>s bacias <strong>do</strong>s rios Araranguá, Urussangae Tubarão. O caso mais extremo é <strong>do</strong> rio Araranguá cuja águaé tão áci<strong>da</strong> que não permite a vi<strong>da</strong> de peixes de água <strong>do</strong>ce,impactan<strong>do</strong> diretamente a vi<strong>da</strong> de pesca<strong>do</strong>res tradicionais.Existe ain<strong>da</strong> a presença de alguns peixes de água <strong>sal</strong>ga<strong>da</strong>, massomente quan<strong>do</strong> há avanço <strong>da</strong> maré.A história de resistência <strong>da</strong> população local à abertura de <strong>no</strong>vasminas começou a tomar corpo a partir de mea<strong>do</strong>s <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>de 1990. Em 1996, as comuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Estevão e deAlbi<strong>no</strong>, <strong>no</strong> município de Criciúma, organizaram importantesmovimentos que, com o apoio <strong>do</strong> Ministério Público Estadual,criou uma Área de Proteção Ambiental que englobava ambas ascomuni<strong>da</strong>des, evitan<strong>do</strong> assim a instalação <strong>da</strong> mineração.Porém, em a<strong>no</strong>s recentes, os desafios têm si<strong>do</strong> maiores para osmovimentos sociais. Em 2007, havia conflitos entre minera<strong>do</strong>rase a comuni<strong>da</strong>de de São Roque, <strong>no</strong> município de Forquilhinha,devi<strong>do</strong> ao surgimento de rachaduras nas paredes <strong>da</strong>s casas e àredução <strong>do</strong> volume de água <strong>no</strong>s açudes. Além desses problemas,a mina vinha operan<strong>do</strong> apenas com uma autorização provisória,emiti<strong>da</strong> como resulta<strong>do</strong> de um Termo de Ajustamento deConduta (TAC).59


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Como consequência dessa postura, existe um descontentamentomuito forte <strong>do</strong>s movimentos sociais locais com a Fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>Meio Ambiente (FATMA) e o Ministério Público. A FATMA éconsidera<strong>da</strong> ineficiente e omissa, enquanto que o MinistérioPúblico é critica<strong>do</strong> por não <strong>da</strong>r a devi<strong>da</strong> atenção às denúncias<strong>do</strong>s movimentos populares. Um exemplo <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>deinstitucional local foi o TAC firma<strong>do</strong> em 2000. Segun<strong>do</strong> esseTAC, as empresas minera<strong>do</strong>ras assumiram o compromissode recuperar as áreas degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s por suas ativi<strong>da</strong>des. Apósoito a<strong>no</strong>s <strong>da</strong> assinatura <strong>do</strong> TAC, ações pouco efetivas foramtoma<strong>da</strong>s pelas empresas com o objetivo de remediar as áreasdegra<strong>da</strong><strong>da</strong>s.To<strong>da</strong>via, a agen<strong>da</strong> de discussão não deve se limitar a estes aspectos,uma vez que existem muitas outras questões importantes que não estão sen<strong>do</strong>discuti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> processo de formulação <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco regulatório, tais como acriação de limites à expansão <strong>da</strong> mineração, a responsabili<strong>da</strong>de pelos impactossociais <strong>da</strong> implantação <strong>do</strong>s projetos, o reconhecimento <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>scomo problemas socioambientais e incluí<strong>da</strong>s <strong>no</strong> debate público em tor<strong>no</strong><strong>da</strong> expansão <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minerais <strong>no</strong> país. Algumas dessas questões sãodiscuti<strong>da</strong>s em mais detalhes na seção 4.3.2 Aspectos processuais empresa para ter autorização <strong>do</strong> MME para realizar a extração mineral. Deacor<strong>do</strong> com o atual código, a obtenção <strong>do</strong> direito de lavra se dá através de umasérie de etapas conforme descrito abaixo (DNPM, 2012a):1. Requerimento de pesquisa: pode ser feito por qualquer pessoa ouempresa. Permite ao requerente realizar trabalhos volta<strong>do</strong>s para aAin<strong>da</strong> durante essa etapa, o minera<strong>do</strong>r deverá avaliar se há limitaçõesà exploração mineral <strong>da</strong> área. Dentro dessa categoria, são incluí<strong>da</strong>s60


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscospelo conselho nuclear, sítios arqueológicos, áreas militares, uni<strong>da</strong>des deconservação de proteção integral e territórios de países limítrofes.2. Autorização de pesquisa: após o requerimento, o DNPM avalia se outraspessoas já possuem o direito à pesquisa ou à lavra <strong>da</strong> área. Se issopesquisa.3. Relatório de trabalho de pesquisa: após a realização <strong>da</strong> pesquisa, ominera<strong>do</strong>r deverá fornecer ao DNPM um relatório de pesquisa onde secomprove a viabili<strong>da</strong>de técnica <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> jazi<strong>da</strong>.4. Requerimento de lavra: uma vez aprova<strong>do</strong> o relatório de trabalho erequerer o direito de lavra, ou seja, a autorização <strong>do</strong> MME para extrair osapresentar o Pla<strong>no</strong> de Aproveitamento Econômico <strong>da</strong> jazi<strong>da</strong>, que inclui,entre outros, os projetos referentes ao méto<strong>do</strong> de mineração, transporteabastecimento de água, moradias, instalações de captação e proteçãode mananciais, Pla<strong>no</strong> de Resgate e Salvamento, Pla<strong>no</strong> de Controle <strong>do</strong>sImpactos Ambientais na Mineração, Pla<strong>no</strong> de Fechamento de Mina e aLicença de Instalação concedi<strong>da</strong> pelo órgão ambiental estadual e pelaagência responsável pela gestão <strong>do</strong>s recursos hídricos.5. Concessão de lavra: <strong>do</strong>cumento emiti<strong>do</strong> pelo MME que permite o início<strong>da</strong>s operações.No caso <strong>do</strong> processo de obtenção <strong>da</strong> concessão de lavra, uma questão distinta <strong>da</strong> <strong>do</strong> solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, epertencem à União, garanti<strong>da</strong> ao concessionário a proprie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>Entretanto, basea<strong>do</strong> <strong>no</strong> preceito <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mineração, discuti<strong>do</strong>na seção 3.1, o atual Código Mineral acaba por <strong>da</strong>r grande preferência às61


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra em sua proprie<strong>da</strong>de. De acor<strong>do</strong> com a legislação concedi<strong>da</strong> a licença de pesquisa ao minera<strong>do</strong>r,respectivos, e também as obras e serviços auxiliares necessários, emterre<strong>no</strong>s de <strong>do</strong>mínio público ou particular, abrangi<strong>do</strong>s pelas áreasa pesquisar, desde que pague aos respectivos proprietários ouposseiros uma ren<strong>da</strong> pela ocupação <strong>do</strong>s terre<strong>no</strong>s e uma indenizaçãocom o minera<strong>do</strong>r, aceitan<strong>do</strong> uma indenização que poderá ser, <strong>no</strong> máximo,uma avaliação <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de é feita por um juiz, que intimará o ao Diretor-­‐Geral <strong>do</strong> DNPM e, mediante requerimento <strong>do</strong> titular <strong>da</strong> pesquisa, àsautori<strong>da</strong>des policiais locais, para garantirem a execução <strong>do</strong>s trabalhos” (<strong>Brasil</strong>,1967, art. 27 XII).Após os estu<strong>do</strong>s e uma vez <strong>da</strong><strong>da</strong> a concessão de lavra, tanto a proprie<strong>da</strong>depara construção de instalações, abertura de vias, captação de água, bota fora derejeitos, entre outros usos. As servidões são instituí<strong>da</strong>s mediante indenização e,<strong>no</strong> caso de não haver acor<strong>do</strong>, o procedimento judicial descrito acima deve sersegui<strong>do</strong> (<strong>Brasil</strong>, 1967, art. 60).Sen<strong>do</strong> assim, de acor<strong>do</strong> com o atual Código Mineral, há pouco que osum empreendimento minerário. Segun<strong>do</strong> o código atual, apenas o gover<strong>no</strong> temo poder, discricionário, de impedir esse tipo de empreendimento, mas somente<strong>no</strong> momento <strong>da</strong> concessão de lavra.“Art. 42. A autorização será recusa<strong>da</strong>, se a lavra for considera<strong>da</strong>prejudicial ao bem público ou comprometer interesses que superema utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> exploração industrial, a juízo <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong>. Nesteúltimo caso, o pesquisa<strong>do</strong>r terá direito de receber <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong> a62


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosConsideran<strong>do</strong> as questões processuais, as mu<strong>da</strong>nças propostas para minera<strong>do</strong>ras <strong>no</strong> país. De forma geral, o atual processo é critica<strong>do</strong> pelo setor porser considera<strong>do</strong> muito burocrático e, principalmente, por permitir ma<strong>no</strong>brasjurídicas que permitem a pessoas ou empresas deter o título de mineraçãode uma área e não desenvolver nenhuma ativi<strong>da</strong>de de extração de recursosminerais.vota<strong>da</strong> pelo Congresso; é um decreto-lei, é apenas um decreto- viés: era o <strong>do</strong> fomento. Para isso, seria indispensável que to<strong>da</strong>s asfacili<strong>da</strong>des se criassem e os pontos de contenção tivessem que serdelibera<strong>da</strong>mente contingencia<strong>do</strong>s. E assim foi. O resulta<strong>do</strong> disto édeste País, enquanto que apenas oito mil destas áreas são de fato interesses nacionais” (Lobão, 2010)Nesse senti<strong>do</strong>, as principais mu<strong>da</strong>nças propostas dizem respeito à criaçãode garantias <strong>da</strong> realização de ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras, ou penali<strong>da</strong>des àquelesque retiverem direitos de lavra, mas sem explorar suas áreas. Dessa forma, foiproposto que as licenças de pesquisa tenham uma duração máxima de cincoa<strong>no</strong>s, prorrogáveis apenas por mais três e que as licenças de lavra tenham prazomáximo de 35 a<strong>no</strong>s, re<strong>no</strong>váveis quan<strong>do</strong> as empresas cumprirem uma série decondições contratuais. Da mesma forma, estão sen<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s procedimentoscumpram as ativi<strong>da</strong>des previstas <strong>no</strong>s contratos, bem como critérios paradevolução <strong>da</strong>s áreas (MME, 2009a, 2010c; Valor Econômico, 2010).<strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s Áreas de Relevante Interesse Mineral (ARIM). Estas áreas seriam <strong>do</strong>s minérios encontra<strong>do</strong>s, cuja mineração seria feita a partir de procedimentos63


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?essas áreas seriam determina<strong>da</strong>s pelo Conselho Nacional de Política Mineral(discuti<strong>do</strong> na próxima seção) e os direitos para minerar estas regiões seriamConforme apresenta<strong>do</strong> na Figura 2, o conceito de ARIM já vem sen<strong>do</strong>utiliza<strong>do</strong> pelo setor mineral, para delimitar áreas que, pela presença comprova<strong>da</strong>de jazi<strong>da</strong>s ou pelo potencial geológico, geram grande interesse <strong>do</strong> setor mineral.Entretanto não é clara a possível relação entre essas grandes regiões com asARIMs que vêm sen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo marco legal.Fonte: Dantas (2010)64


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosCaso os instrumentos propostos pelo <strong>no</strong>vo marco regulatório mostrem-­‐ extração mineral serão cria<strong>da</strong>s, poden<strong>do</strong> comprometer a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><strong>da</strong>s pessoas em diferentes áreas. Dessa forma, <strong>no</strong> que se refere à revisão<strong>do</strong> procedimento para obtenção <strong>da</strong> concessão de lavra, também deveria serquestão há <strong>do</strong>is aspectos que precisam ser leva<strong>do</strong>s em consideração.Em primeiro lugar, existe a questão <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mineração.Conforme previsto pelo atual Código Mineral, é possível que a lavra não sejaconcedi<strong>da</strong> ser for considera<strong>da</strong> prejudicial ao bem público, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>poder discricionário <strong>do</strong> gover<strong>no</strong>. Porém, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, assim como em outrospaíses <strong>da</strong> América Latina, o interesse público é muitas vezes confundi<strong>do</strong>com interesse estatal (R. S. P. Santos, 2012). Seria importante que se abrisseum debate público sobre critérios e responsabili<strong>da</strong>des <strong>no</strong> julgamento <strong>do</strong>snão apenas durante o processo de concessão de lavra, mas também antes<strong>do</strong> início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de pesquisa, uma vez que essas podem ser muito onde os prejuízos gera<strong>do</strong>s pela mineração inviabilizariam sua implementaçãocomo, por exemplo, <strong>no</strong> caso de deslocar comuni<strong>da</strong>des tradicionais, ou quan<strong>do</strong>afetar o abastecimento de água de uma população.Um segun<strong>do</strong> ponto importante está relaciona<strong>do</strong> com a compensação.Atualmente ela é calcula<strong>da</strong>, <strong>no</strong>s casos extremos, a partir <strong>do</strong> valor venal <strong>da</strong>proprie<strong>da</strong>de. Este méto<strong>do</strong>, porém, somente considera o valor de merca<strong>do</strong> <strong>da</strong>proprie<strong>da</strong>de e pressupõe que as comuni<strong>da</strong>des possuam os títulos legais <strong>da</strong>terra, não levan<strong>do</strong> em consideração direito ao uso tradicional (R. S. P. Santos,2012;Wanderley, 2009). Sen<strong>do</strong> assim, um modelo que ig<strong>no</strong>ra outras formasde apropriação <strong>do</strong> espaço, como ain<strong>da</strong> ocorre em muitas comuni<strong>da</strong>des rurais, é muito limita<strong>da</strong> e ig<strong>no</strong>ra relações culturais e históricas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>descom seus territórios. Conforme descrito <strong>no</strong> Box 10, existem instrumentospropostos para superar tais limitações, haven<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de suaincorporação aos procedimentos de licenciamento ambiental.65


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Por avaliações socioambientaisrigorosas e responsáveis <strong>do</strong>s empreendimentosque impactam o território e as populaçõesA exposição <strong>da</strong>s populações aos riscos ambientais não éequitativa, assim como são desiguais as condições de acesso <strong>do</strong>sdiferentes setores <strong>da</strong> população à proteção ambiental.Os méto<strong>do</strong>s convencionais de avaliação de impacto <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des econômicas e projetos de desenvolvimentoproduzem, com frequência, uma separação indevi<strong>da</strong> entre omeio ambiente e a diversi<strong>da</strong>de de usos e significa<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s aele pelos distintos grupos sociais que compartilham o território.Os diversos elementos que compõem o meio ambiente não são,via de regra, associa<strong>do</strong>s à diversi<strong>da</strong>de sociocultural <strong>do</strong>s que deledependem, seja em termos de ren<strong>da</strong>, gênero ou etnia.Nesta medi<strong>da</strong>, os méto<strong>do</strong>s convencionais de avaliaçãode impacto a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s correntemente <strong>no</strong>s EIA/RIMAs têmsi<strong>do</strong> incapazes de retratar a injustiça ambiental conti<strong>da</strong>em determina<strong>do</strong>s projetos, servin<strong>do</strong>, implicitamente, àlegitimação de ações e impactos inaceitáveis se considera<strong>da</strong>sapropria<strong>da</strong>mente as dimensões socioculturais. Commais razão ain<strong>da</strong> não permitem uma avaliação que pos<strong>sal</strong>evar, eventualmente, à suspensão de determina<strong>do</strong>sempreendimentos, por resultar em custos incalculáveis para omeio ambiente e para a população ou a ações compensatórias emitiga<strong>do</strong>ras devi<strong>da</strong>mente discuti<strong>da</strong>s e negocia<strong>da</strong>s.A incorporação apropria<strong>da</strong> de uma dimensão socioambientalàs avaliações de impacto ambiental <strong>do</strong>s empreendimentosmostraria que está em jogo <strong>no</strong>s empreendimentos não somentea preservação <strong>do</strong> meio ambiente, mas a manutenção de certonúmero de grupos sociais <strong>no</strong> seu quadro de vi<strong>da</strong>, trabalho ereprodução sociocultural. Portanto, estão em jogo trabalho,emprego e ativi<strong>da</strong>des econômicas que, apesar de não seremmuitos grupos sociais cuja destituição <strong>da</strong>s bases de subsistência66


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosos lançará na pobreza e <strong>no</strong> rol <strong>da</strong>s populações a serematendi<strong>da</strong>s por programas assistenciais.As perspectivas <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias, longe de constituírementraves para o desenvolvimento, são justamente vetoresatravés <strong>do</strong>s quais se indicam os para<strong>do</strong>xos e saí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s gravesimpasses que o modelo econômico desenvolvimentista a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>vem demonstran<strong>do</strong> há pelo me<strong>no</strong>s cinco déca<strong>da</strong>s.Fonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de Leroy (2009) e de Mello (2009).3.3 Aspectos institucionaisDo ponto de vista institucional, existem duas mu<strong>da</strong>nças propostas<strong>no</strong> marco regulatório <strong>da</strong> mineração. Em primeiro lugar, há a proposta detransformar o DNPM em uma agência regula<strong>do</strong>ra, a Agência Nacional deMineração (ANM); além disso, existe a indicação <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> ConselhoNacional de Política Mineral (CNPM). De acor<strong>do</strong> com a <strong>no</strong>rma atual, o principalator público envolvi<strong>do</strong> <strong>no</strong> processo de licenciamento mineral é o DNPM. Esteé uma autarquia vincula<strong>da</strong> ao MME e possui superintendências regionaisresponsáveis por receber os requerimentos de pesquisa e de lavra e avaliá-­los.No momento não há nenhuma instituição que faça o papel de um eventualCNPM.A proposta <strong>da</strong> ANM parece seguir o modelo <strong>da</strong>s agências regula<strong>do</strong>rasexistentes, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e a AgênciaNacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Esta <strong>no</strong>va agência ativi<strong>da</strong>de de mineração, arreca<strong>da</strong>r os royalties associa<strong>do</strong>s à ativi<strong>da</strong>de mineráriaagências regula<strong>do</strong>ras, ela seria dirigi<strong>da</strong> por um colegia<strong>do</strong> composto por cincodiretores <strong>no</strong>mea<strong>do</strong>s pela Presidência e submeti<strong>do</strong>s à aprovação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>Federal (MME, 2009a). As principais mu<strong>da</strong>nças institucionais propostas pelo<strong>no</strong>vo marco regulatório são resumi<strong>da</strong>s na Tabela 4.67


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?CompetênciaÓrgãos responsáveisModelo atualModelo propostoPolítica setorial MME CNPMPoder concedente MME MME DNPM ANMArreca<strong>da</strong>ção royalties DNPM ANMFonte: a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de MME (2010c)O Conselho Nacional de Política Mineral foi inspira<strong>do</strong> <strong>no</strong> exemplo <strong>do</strong> por decreto <strong>do</strong> poder executivo 8 . O CNPM teria um caráter consultivo deassessorar a Presidência <strong>da</strong> República, mas também deliberativo, com opoder de emitir resoluções (que seriam referen<strong>da</strong><strong>da</strong>s posteriormente pelaPresidência). O conselho teria como principais funções, estabelecer diretrizespara o planejamento <strong>do</strong> setor e para a promoção <strong>da</strong> agregação de valor, criare ain<strong>da</strong> manifestar-­‐se sobre a criação ou a alteração de áreas que “importemrestrição ou impedimento às ativi<strong>da</strong>des de mineração” como, por exemplo,UCs e TIs (MME, 2009a, 2010a; Valor Econômico, 2010).Um ponto crucial sobre o CNPM refere-­‐se à forma como ele seráinstituí<strong>do</strong>. Do ponto de vista democrático, seria relevante que os integrantes<strong>do</strong> Conselho não fossem aponta<strong>do</strong>s por decreto, mas <strong>no</strong> corpo <strong>da</strong> lei queo cria. Neste caso, a composição <strong>do</strong> conselho seria discuti<strong>da</strong> dentro <strong>do</strong>legislativo, haven<strong>do</strong>, portanto um maior debate sobre a sua composição <strong>do</strong>que <strong>no</strong> caso de um decreto. Outra questão cujo debate deve ser aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong>diz respeito às atribuições <strong>do</strong> CNPM. Uma primeira questão importantediz respeito ao procedimento para criação <strong>da</strong>s ARIMs. Com relação a esteaspecto é fun<strong>da</strong>mental entender quais serão os critérios para a criação dessas8 O Conselho Nacional de Política Energética, forma<strong>do</strong> por pessoas designa<strong>da</strong>s pelopresidente <strong>da</strong> república, é composto por <strong>no</strong>ve ministros (Minas e Energia; Ciência eTec<strong>no</strong>logia; Planejamento, Orçamento e Gestão; Fazen<strong>da</strong>, Meio Ambiente, Desenvol-­vimento,Indústria e Comércio Exterior, Casa Civil, Integração Nacional, Agricultura,Pecuária e Abastecimento) e um representante <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, <strong>da</strong>suniversi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> Empresa de Pesquisa Energética, e o secretário executivo <strong>do</strong> Mi-­nistériode Minas e Energia.68


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosáreas e qual o envolvimento <strong>do</strong> CNPM. Uma segun<strong>da</strong> questão que deverá serter na criação ou alteração <strong>da</strong>s UCs e de TIs. Uma vez que o setor consideraesses usos <strong>do</strong> território como “áreas de restrição à mineração”, existe umagrande possibili<strong>da</strong>de de o setor usar o conselho para iniciar uma campanhapela autorização <strong>da</strong> mineração nas UCs, assim como já vem fazen<strong>do</strong> comrelação às terras indígenas.3.4 Royalties e fun<strong>do</strong>s sociaisNo <strong>Brasil</strong>, os royalties <strong>da</strong> mineração são pagos através <strong>da</strong> CFEM,instituí<strong>da</strong> pelas leis 7.990/1989 e 8.001/1990. A criação <strong>da</strong> CFEM foifun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em <strong>do</strong>is pontos básicos: a compensação pelo consumo de umrecurso não re<strong>no</strong>vável, e a compreensão de que os principais impactos <strong>da</strong>exploração mineral ocorrem <strong>no</strong> local de extração.O valor arreca<strong>da</strong><strong>do</strong> pela CFEM é distribuí<strong>do</strong> entre o município produtor Nacional de Produção Mineral (10%), o Fun<strong>do</strong> Nacional de Desenvolvimentonão ser a proprietária <strong>da</strong> área onde ocorre a exploração, ela deverá ain<strong>da</strong>CFEM (<strong>Brasil</strong>, 1967).A Tabela 5 apresenta os percentuais a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e em outrospaíses, para a cobrança de royalties <strong>da</strong> mineração. Conforme pode serobserva<strong>do</strong>, o valor <strong>do</strong>s royalties pagos pelo setor mineral <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> ain<strong>da</strong> émuito baixo quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com outros países.Em ver<strong>da</strong>de, o valor é bastante inferior também aos royalties cobra<strong>do</strong>s<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>s setores associa<strong>do</strong>s à energia elétrica e petróleo, conforme lista<strong>do</strong>na Tabela 6. O pagamento <strong>do</strong>s royalties na área de mineração, portanto, émuito mais conserva<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que <strong>do</strong>s demais recursos naturais.69


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Substância Austrália Canadá EUA <strong>Brasil</strong>Receita bruta Receita líqui<strong>da</strong>* Receita bruta Faturamento líqui<strong>do</strong> **Bauxita Não disponível Não disponível Não disponível 3%Cobre Não disponível 13% 5-7% 2%Diamante 4% Não disponível Não disponível 0,2%Minério de ferro Não disponível 13% 5% 2%Ouro 3% 2-7% 2-7% 1%* Receita líqui<strong>da</strong>: receita bruta deduzi<strong>da</strong> de tributos** Faturamento líqui<strong>do</strong>: receita bruta deduzi<strong>da</strong> de tributos e <strong>da</strong>s despesas comtransporte e seguro.Fonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de Fernandes et al. (2007); Lima (2011)Setor Taxa Petróleo e gás 10% <strong>do</strong> valor de óleo bruto e gás Esta<strong>do</strong>s e municípios onde há exploração,extraí<strong>do</strong>sinstalação de produção ou transporte, bemcomo municípios vizinhos.Recursos hídricos para 7,5% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> energia produzi<strong>da</strong> Esta<strong>do</strong>s e municípios, com instalações degeração de eletrici<strong>da</strong>deprodução, ou que tenham áreas alaga<strong>da</strong>s porreservatórios.Recursos minerais 0,2 a 3% <strong>do</strong> faturamento líqui<strong>do</strong> Gover<strong>no</strong> federal, estadual e <strong>do</strong> municípioonde se localiza a lavra.Fonte: A<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> de Fernandes et al. (2007)O conserva<strong>do</strong>rismo <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s royalties não se relaciona apenas aovalor <strong>da</strong> alíquota, que é muito inferior aos demais, mas também à distribuiçãoreconhece que os municípios vizinhos também são impacta<strong>do</strong>s (pela poluição,pelo transporte, pelo aumento <strong>da</strong> população etc.), o mesmo não ocorre <strong>no</strong>caso <strong>da</strong> mineração, que limita o pagamento aos municípios onde se encontra alavra. Dessa forma, existe uma forte concentração <strong>da</strong> CFEM em alguns poucosmunicípios, conforme apresenta<strong>do</strong> na Figura 3.70


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosMunicípiosArreca<strong>da</strong>ção Total <strong>do</strong> CFEM 2009Até R$ 10.000,00R$ 10.000,00 a R$ 100.000,00R$ 100.000,00 a R$ 1.000.000,00R$ 1.000.000,00 a 10.000.000,00Acima de R$ 10.000.000,00Fonte: MME (2011)Diferentes propostas para mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> CFEM vêm sen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong>spelo MME e pelas empresas minera<strong>do</strong>ras. De forma geral, elas dizem respeitoao cálculo <strong>da</strong> contribuição e à sua aplicação.Com relação ao cálculo, existe o desejo por parte <strong>do</strong> gover<strong>no</strong> federal e<strong>do</strong>s municípios minera<strong>do</strong>res de aumentar a alíquota cobra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s empresas.que falam em 6% (Agência <strong>Brasil</strong>, 2010). Uma segun<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça diz respeito àbase de cálculo <strong>da</strong> CFEM. Na <strong>no</strong>va proposta <strong>do</strong> MME, pretende-­‐se usar a receitalíqui<strong>da</strong>, e não mais o faturamento líqui<strong>do</strong>. Assim, haveria me<strong>no</strong>r dedução antes<strong>do</strong> cálculo <strong>da</strong> contribuição, o que aumentaria o valor arreca<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo poderpúblico (MME, 2010b). Essa decisão, provavelmente, deve-­‐se ao fato de muitasempresas mascararem seus <strong>da</strong><strong>do</strong>s de transporte, incluin<strong>do</strong> nas deduções de71


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?valores associa<strong>do</strong>s a máquinas e equipamentos usa<strong>do</strong>s na operação <strong>da</strong>s minas(esteiras, pá carregadeiras, caminhões fora de estra<strong>da</strong> etc.) que deveriam sercontabiliza<strong>do</strong>s como despesas operacionais e não como gastos de transporteEm contraparti<strong>da</strong>, existe uma intensa pressão por parte <strong>da</strong>s empresasminera<strong>do</strong>ras para que um eventual aumento <strong>no</strong> pagamento <strong>da</strong> CFEM sejacompensa<strong>do</strong> pela redução na carga tributária, sob o argumento de que talaumento iria reduzir a competitivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> minério brasileiro <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>internacional. Para tanto, representantes <strong>do</strong> setor defendem que a discussãosobre os royalties não ocorra de forma isola<strong>da</strong>, mas sim a partir de umadiscussão mais ampla a respeito <strong>do</strong>s impostos sobre a mineração (MME,2009b).“Eu confesso que <strong>no</strong> começo estive muito motiva<strong>do</strong> pela ideia de legislação de outros países esta cobrança se faz por algo em tor<strong>no</strong>preciso sempre ouvir o outro la<strong>do</strong>. Nós não temos a ideia, a intenção,jamais, porque estaríamos laboran<strong>do</strong> contra os interesses nacionais,que agir de maneira equilibra<strong>da</strong> na balança para que a <strong>no</strong>ssa para a Austrália, para outros países <strong>da</strong> África e assim por diante.Examina<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a legislação desses países e a <strong>no</strong>ssa, em confrontoto<strong>do</strong>s, acabam elevan<strong>do</strong> este ônus aos empresários, quase que namesma medi<strong>da</strong> de outros países. Estamos, então, negocian<strong>do</strong> com oMinistério <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de se reduzir algum tributo[sic], reduzin<strong>do</strong> um outro tributo. O que nós não podemos é agirquanto nós não podemos fazer. A geração de emprego neste setorse faz intensivamente, largamente, generosamente. Não podemoscontribuir para conter este avanço que obtivemos ao longo <strong>do</strong>sa<strong>no</strong>s” (Lobão, 2010).Para tanto, as empresas têm se basea<strong>do</strong> em uma pesquisa encomen<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>Brasil</strong> apresenta uma <strong>da</strong>s três cargas tributárias mais eleva<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>72


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente, pois tal conclusão ain<strong>da</strong> está longe de ser consensual.Outra pesquisa foi coordena<strong>da</strong> pelo Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Análises Sociais eEconômicas e pela rede Justiça <strong>no</strong>s Trilhos, e teve como base 30 jurisdições(países, esta<strong>do</strong>s ou províncias). Esta pesquisa apresentou uma conclusão tributação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> seria somente superior a <strong>da</strong> China, Cazaquistão, Suéciae Chile. Nessa mesma linha, a tributação existente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (35%), seriamuito inferior aos 63,8% aplica<strong>do</strong> pela província de Ontário, <strong>no</strong> Canadá, ou49,9% <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Arizona, <strong>no</strong>s EUA. Sen<strong>do</strong> assim, o estu<strong>do</strong> conclui que “ascompanhias minera<strong>do</strong>ras têm pouco <strong>do</strong> que se queixar e, fun<strong>da</strong>mentalmente,uma revisão em senti<strong>do</strong> ascendente <strong>da</strong>s alíquotas minerais [...] têm poucapossibili<strong>da</strong>de de afetar negativamente o nível de investimento <strong>no</strong> setor” (R.realiza<strong>da</strong> pelo Fraser Institute com representantes de mais de 800 empresasminera<strong>do</strong>ras em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> indicou que apenas 1% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s nãoinvestiria <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> por causa <strong>do</strong>s impostos (McMahon & Cervantes, 2012).Apesar dessa cortina de fumaça sobre a questão <strong>do</strong>s impostos, éimportante que se tenha em mente que os royalties têm natureza distinta<strong>do</strong>s tributos e que os <strong>do</strong>is instrumentos não devem ser confundi<strong>do</strong>s. Comoos recursos minerais são não re<strong>no</strong>váveis, à medi<strong>da</strong> que uma empresaextrai esses bens, há uma redução <strong>do</strong> capital natural <strong>do</strong> país, dessa forma,os royalties seriam uma forma de compensação à socie<strong>da</strong>de que a empresapagaria pelo direito de usar esses recursos (Braz, 2009b). Os tributos, porsua vez têm uma natureza distinta. Por exemplo, os recursos <strong>do</strong> PIS/PASEPsão usa<strong>do</strong>s para o pagamento <strong>do</strong> seguro-­‐desemprego, e a Contribuição paraSen<strong>do</strong> assim, não parece fazer senti<strong>do</strong> reduzir os recursos destina<strong>do</strong>s a essesEssa diferença, inclusive, já foi explicita<strong>da</strong> pelo Supremo Tribunal Federalquan<strong>do</strong> fez a distinção entre royalties e tributos (MME, 2009b).Ain<strong>da</strong> nessa mesma linha, deve ser leva<strong>do</strong> em consideração que, devi<strong>do</strong>à Lei Complementar nº 87/1996, os minérios exporta<strong>do</strong>s já são isentos deuma série de tributos como ICMS, PIS e COFINS, o que já gera uma reduçãoOutro ponto que vem sen<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> pelas empresas, embora ain<strong>da</strong>73


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem? empresa minera<strong>do</strong>ra não é <strong>do</strong>na <strong>da</strong> área onde se encontra a lavra, ela deveremunerar o proprietário com o equivalente a 50% <strong>do</strong> valor pago a título deCFEM. Há representantes <strong>do</strong> setor que defendem essa redução, ou mesmo aextinção desse pagamento (Braz, 2009a, 2009b). Os <strong>do</strong>cumentos consulta<strong>do</strong>s nem mesmo os critérios para o seu pagamento, deven<strong>do</strong> esta questão seraprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> em estu<strong>do</strong>s futuros.Outro debate que vem sen<strong>do</strong> trava<strong>do</strong> entre representantes <strong>do</strong> setormineral refere-­‐se ao desti<strong>no</strong> <strong>do</strong>s recursos <strong>da</strong> CFEM. Uma primeira mu<strong>da</strong>nçadiz respeito ao uso que os municípios devem <strong>da</strong>r à receita obti<strong>da</strong>. Naregulamentação atual, somente há a proibição de que esses recursos sejamutiliza<strong>do</strong>s em pagamento de pessoal ou de dívi<strong>da</strong>s. Na grande maioria <strong>do</strong>smunicípios minera<strong>do</strong>res estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Enríquez (2007), a CFEM era envia<strong>da</strong><strong>da</strong>s poucas exceções, uma vez que a prefeitura dessa ci<strong>da</strong>de (motiva<strong>da</strong> peloesgotamento iminente de suas jazi<strong>da</strong>s) vem aplican<strong>do</strong> os recursos <strong>da</strong> CFEMOutra exceção foi o município de Forquilhinha (SC), que vinculou a CFEM a umfun<strong>do</strong> municipal de Meio Ambiente.Documentos referentes ao <strong>no</strong>vo marco regulatório mencionam umpossível “Fun<strong>do</strong> Especial <strong>da</strong> Mineração”, que seria geri<strong>do</strong> por um ConselhoDeliberativo com participação de gover<strong>no</strong> e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, e utiliza<strong>do</strong> paracontemplar municípios adjacentes que também sejam impactos pela mineração(Enriquez, 2010; MME, 2010b). Por meio desse fun<strong>do</strong>, o ministério esperasemelhantes àquelas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s na distribuição <strong>do</strong>s royalties <strong>do</strong> petróleo. Outraprovável mu<strong>da</strong>nça que deverá ocorrer diz respeito ao uso <strong>da</strong> CFEM, uma vezhuma<strong>no</strong>”.Existe ain<strong>da</strong> uma variação dessa proposta que defende o uso <strong>do</strong>srecursos <strong>da</strong> CFEM para a criação de “Fun<strong>do</strong>s Comunitários <strong>da</strong> Mineração”.Diferentes <strong>do</strong>s Fun<strong>do</strong>s Especiais, estes recursos não iriam para os gover<strong>no</strong>smunicipais, mas sim para as comuni<strong>da</strong>des afeta<strong>da</strong>s. Estes fun<strong>do</strong>s são propostose que gerem riqueza que venha substituir aquela produzi<strong>da</strong> pela extração<strong>do</strong>s recursos minerais (Enriquez, 2006). Os fun<strong>do</strong>s comunitários deveriam74


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosser usa<strong>do</strong>s, particularmente, pelas comuni<strong>da</strong>des afeta<strong>da</strong>s ou potencialmenteforma a permitir que tais comuni<strong>da</strong>des desenvolvam formas de gerar valor eren<strong>da</strong> independentes <strong>da</strong> mineração (R. S. P. Santos, 2012).Existem indicações de que como os impactos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de extraçãoser a aplicação de tais fun<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong>, portanto, uma delimitação regional<strong>da</strong>s áreas impacta<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras. Ao mesmo tempo, parecehaver a necessi<strong>da</strong>de de discussões profun<strong>da</strong>s sobre a institucionali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> gestão de tais fun<strong>do</strong>s. A experiência indica uma tendência à sobre-­representação<strong>da</strong>s empresas e <strong>da</strong> burocracia estatal na gestão de tais fun<strong>do</strong>s,o que acaba por canalizar parte considerável de tais fun<strong>do</strong>s para ativi<strong>da</strong>desP. Santos, 2012).3.5 Uni<strong>da</strong>des de conservação e terras indígenasO setor mineral utiliza a expressão “áreas com restrição legal” parase referir às UCs e às TIs 9 . A a<strong>do</strong>ção dessa expressão já sugere como o setorentende esses usos <strong>do</strong> território.Com relação às UCs, a Lei nº 9.985/2000 proíbe a exploração mineralnas Uni<strong>da</strong>des de Conservação de Proteção Integral e em Reservas Extrativistas,sen<strong>do</strong> a sua realização nas demais Uni<strong>da</strong>des de Uso Sustentável permiti<strong>da</strong>s,desde que previstas <strong>no</strong>s Pla<strong>no</strong> de Manejo. Além <strong>do</strong> território <strong>da</strong>s UCs, podehaver restrição à mineração na sua Zona de Amortecimento, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<strong>no</strong>rmas estabeleci<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s Pla<strong>no</strong>s de Manejo (MME, 2011).Além <strong>da</strong>s UCs, as TIs também são considera<strong>da</strong>s áreas de “restriçãolegal” à mineração. De acor<strong>do</strong> com a Constituição Federal, é <strong>da</strong> competência<strong>do</strong> Congresso Nacional autorizar a pesquisa e a lavra de recursos minerais9 Os quilombolas são povos tradicionais e, dessa forma, o acesso aos seus territó-­riosdeve também ser feito de acor<strong>do</strong> com a Convenção n° 169 <strong>da</strong> OIT. Apesar disso,em terras quilombolas, provavelmente porque não há exigência de tal regulamenta-­çãona Constituição. Como houve esse tratamento diferencia<strong>do</strong> entre comuni<strong>da</strong>desquilombolas e povos indígenas na legislação, as restrições de acesso <strong>da</strong> mineração75


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?em terras indígenas, sen<strong>do</strong> esta autorização condiciona<strong>da</strong> à consulta àscomuni<strong>da</strong>des afeta<strong>da</strong>s e à garantia de sua participação <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>lavra (<strong>Brasil</strong>, 1988, arts. 49 e 231). A Constituição prevê a necessi<strong>da</strong>de de leia questão vêm tramitan<strong>do</strong> <strong>no</strong> Congresso desde a déca<strong>da</strong> de 1990. Comonenhuma posição sobre a questão foi ain<strong>da</strong> alcança<strong>da</strong>, a ativi<strong>da</strong>de atualmentenão é permiti<strong>da</strong>. To<strong>da</strong>via, o aquecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mineral fez com quea questão voltasse à agen<strong>da</strong> e há indícios que o tema deve ser discuti<strong>do</strong>paralelamente ao marco legal <strong>da</strong> mineração, conforme discuti<strong>do</strong> na seção 3.5.PotencialFuturoAnualAusenteAmazônia <strong>Legal</strong>Fonte: Carneiro Filho (2009)Apesar <strong>da</strong> ausência <strong>da</strong> regulamentação sobre mineração em TIs, um<strong>do</strong>s principais <strong>do</strong>cumentos de referência sobre a questão é a Convenção n°169 <strong>da</strong> Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e(Instituto Socioambiental, 2012). A Convenção reconhece o desejo <strong>do</strong>s povosindígenas de assumir o controle de suas instituições e seu desenvolvimentoeconômico, e ain<strong>da</strong> observa que, em muitos casos, esses povos não têm suas76


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscos mo<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong>, e estabelece a necessi<strong>da</strong>de de consulta aos povos interessa<strong>do</strong>s,por meio de suas instituições representativas, para saber se seus interessesserão prejudica<strong>do</strong>s (Keppi, 2001).Embora não exista regulamentação para a mineração em TIs <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,conforme apresenta<strong>do</strong> na Figura 4, já há um excesso de requerimentos depesquisa e de lavra nestes territórios (R. P. Santos, Nava, & Ferreira, 2009).Segun<strong>do</strong> levantamento <strong>do</strong> Instituto Socioambiental, em 2005 havia 8.924requerimentos de pesquisa solicita<strong>do</strong>s na Amazônia <strong>Legal</strong>, <strong>do</strong>s quais 4.769tinham incidência sobre TIs. Os casos mais emblemáticos diziam respeito àsTIs Cajueiro (RR), Pequizal (MT), Kwazá <strong>do</strong> Rio São Pedro e Roosevelt (RO),Xikrin <strong>do</strong> Cateté, Baú e Arara (PA), que tinham mais de 90% <strong>do</strong> seu territóriocom incidência de processos (Carneiro Filho, 2009).Além desse risco “potencial” já existem experiências concretas demineração em TIs, <strong>no</strong>rmalmente com impactos negativos para os índios. Essesimpactos ocorrem tanto pela atuação <strong>do</strong> garimpo ilegal, conforme descrito <strong>no</strong>Box 5, quanto devi<strong>do</strong> à atuação de grandes minera<strong>do</strong>ras. indígenas ocorreu nas TIs <strong>do</strong>s Waimiri-­‐Atroari. Nesta região, em 1982 foiinicia<strong>da</strong> a produção de estanho pela Mineração Taboca S/A, empresa <strong>do</strong>Grupo Paranapanema. A área <strong>do</strong>s Waimiri-­‐Atroari foi invadi<strong>da</strong> em 1979 pelaminera<strong>do</strong>ra e, em 1981, os limites <strong>da</strong> TI foram altera<strong>do</strong>s de forma a retirardeles mais de 30% <strong>da</strong> área original. No a<strong>no</strong> seguinte, foi aberta uma estra<strong>da</strong>para escoamento <strong>do</strong> minério cortan<strong>do</strong> as terras <strong>do</strong>s indígenas. Posteriormente,um decreto delimitou uma <strong>no</strong>va área para os Waimiri-­‐Atroari, porém semreincorporar aquela retira<strong>da</strong> para a mineração (R. P. Santos, Nava, & Ferreira,2009).Os impactos <strong>da</strong> mineração sobre os povos indígenas não ocorremapenas por supressão de terra, mas também pela mu<strong>da</strong>nça socioeconômicaresultante <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> mineração e de seus trabalha<strong>do</strong>res. No caso <strong>da</strong> Serra<strong>do</strong>s Carajás (PA), a mina se localiza em área vizinha à TI Xikrin <strong>do</strong> Caeté; ainstalação <strong>da</strong> mina promoveu a abertura de estra<strong>da</strong>s, viabilizou a construçãode siderúrgicas e motivou uma intensa migração para região. Esse contatorápi<strong>do</strong> e intenso com a reali<strong>da</strong>de branca impactou consideravelmente oshábitos <strong>do</strong>s índios, induzin<strong>do</strong> à sedentarização e causan<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong>padrão alimentar. Tais alterações tiveram como consequência o surgimentohipertensão (Carneiro Filho, 2009).77


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Apesar de o <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineração não fazer referênciadireta às UCs e TIs, a questão vem sen<strong>do</strong> acompanha<strong>da</strong> de perto pelo setormineral, e iniciativas paralelas ao <strong>no</strong>vo marco vêm sen<strong>do</strong> debati<strong>da</strong>s. Segun<strong>do</strong>entendimento <strong>do</strong> MME (2011) o conhecimento geológico deve preceder a mineral ali existente impossibilita a toma<strong>da</strong> de decisão mais adequa<strong>da</strong> aosinteresses nacionais, regionais ou locais”. Nesse senti<strong>do</strong>, ele recomen<strong>da</strong>,entre outras ações, que propostas “restritivas” à mineração sejam avalia<strong>da</strong>spreviamente pelo MME. O Ministério também apoia a aprovação de lei queregulamente a extração mineral em TIs, bem como a previsão de ativi<strong>da</strong>demineral <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s de manejo <strong>da</strong>s UCs de uso sustentável e nas áreas deamortecimento.2012). Essas propostas têm avança<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is caminhos diferentes. Por umla<strong>do</strong>, existem sete projetos de lei, elabora<strong>do</strong>s até 1991, que foram apensa<strong>do</strong>sao PL 2.057/1991, que dispõe sobre o Estatuto <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Indígenas. Poroutro la<strong>do</strong>, há um grupo de projetos tramitan<strong>do</strong> apensa<strong>do</strong>s ao PL 1.610/1996,que estão sen<strong>do</strong> debati<strong>do</strong>s independentemente à discussão sobre o Estatuto.De forma geral, a maior parte <strong>do</strong>s projetos de lei reforça os critériosindígenas sobre a mineração em suas terras e sobre o direito que essaspopulações têm sobre os resulta<strong>do</strong>s dessa exploração. To<strong>da</strong>via, os projetos dedependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção, alguns dão a entender que poderia ser apenas umamedi<strong>da</strong> burocrática. Dentre os projetos avalia<strong>do</strong>s, apenas uma proposta (PL para a implantação <strong>da</strong> mineração. Ao mesmo tempo, apesar de quase to<strong>do</strong>sos projetos consulta<strong>do</strong>s concor<strong>da</strong>rem com a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s federal e <strong>da</strong> anuência <strong>do</strong> Ministério Público.Além <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> consulta e <strong>da</strong> participação <strong>no</strong>s resulta<strong>do</strong>s, outrosassuntos são trata<strong>do</strong>s pelos projetos de lei, apontan<strong>do</strong> questões importantesla<strong>do</strong>, existe o problema <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de garimpo, que vêm causan<strong>do</strong> váriosembates entre índios e não índios. Embora a maioria <strong>do</strong>s PLs ig<strong>no</strong>re a questão,78


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosem três projetos esta ativi<strong>da</strong>de é permiti<strong>da</strong>, desde que realiza<strong>da</strong> pelos índios.Do ponto de vista institucional, existe ain<strong>da</strong> a discussão sobre os pedi<strong>do</strong>s depesquisa já apresenta<strong>do</strong>s ao DNPM; a maior parte <strong>do</strong>s projetos de lei consideraesses pedi<strong>do</strong>s váli<strong>do</strong>s e apenas avalia como estabelecer priori<strong>da</strong>des entre osdiferentes solicitantes. Nesta questão, apenas um projeto (PL 4.916/1990)propõe que to<strong>do</strong>s os requerimentos anteriores à promulgação <strong>da</strong> lei sejamanula<strong>do</strong>s.A quanti<strong>da</strong>de de diferentes projetos de lei que tratam <strong>da</strong> mineração emTIs serve como um indicativo sobre o interesse que o tema desperta. Umaavaliação geral <strong>do</strong>s textos sugere que a principal preocupação <strong>do</strong>s projetosexistentes visa apenas viabilizar a mineração nestes territórios, ao invés deproteger estas populações <strong>do</strong>s impactos negativos sociais e ambientais que aabertura de <strong>no</strong>vas frentes de lavra pode trazer.Um <strong>do</strong>s principais pontos a serem observa<strong>do</strong>s sobre essa questão é anecessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> envolvimento e participação <strong>do</strong>s povos indígenas <strong>no</strong> debatesobre esses projetos de lei. Segun<strong>do</strong> a Convenção 169 <strong>da</strong> OIT, existe a obrigaçãode consulta prévia às comuni<strong>da</strong>des indígenas sobre medi<strong>da</strong>s legislativas quepossam ter impactos sobre elas, antes de sua implementação. Dessa forma,qualquer debate sobre mineração em TIs somente pode ser leva<strong>do</strong> adiantecom a participação delas (Instituto Socioambiental, 2008). Essa situação servecomo indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> grau de complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> questão, uma vez que pareceain<strong>da</strong> não haver uma posição consensual entre as organizações indígenassobre o tema (R. P. Santos, Nava, & Ferreira, 2009).à forma de tramitação dentro <strong>do</strong> Congresso. Por um la<strong>do</strong>, o setor mineralpressiona pela tramitação na forma de lei isola<strong>da</strong>, como <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> PL1.610/1996. Por outro la<strong>do</strong>, as organizações indígenas indicam a preferênciapor uma discussão dentro <strong>do</strong> Estatuto <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Indígenas (AgênciaUm terceiro ponto processual, diz respeito ao tratamento <strong>da</strong><strong>do</strong> aosrequerimentos de lavra existentes. Conforme menciona<strong>do</strong>, já existem váriospedi<strong>do</strong>s de pesquisa protocola<strong>do</strong>s junto ao DNPM; em alguns casos, ocupan<strong>do</strong>extensões consideráveis <strong>da</strong>s TIs. Da<strong>do</strong> que a concessão de to<strong>do</strong>s esses pedi<strong>do</strong>sinviabilizaria a manutenção <strong>do</strong> estilo de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des indígenas, temsi<strong>do</strong> proposto que to<strong>do</strong>s os pedi<strong>do</strong>s existentes sejam cancela<strong>do</strong>s e que uma(Carneiro Filho, 2009).79


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Além desses aspectos processuais, existem algumas questões deconteú<strong>do</strong> que devem ser melhor debati<strong>da</strong>s. Em primeiro lugar, é fun<strong>da</strong>mentalque os povos indígenas exerçam sua soberania na decisão <strong>da</strong> aplicação <strong>do</strong>srecursos que venham a receber como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> exploração mineral. Algunsprojetos de lei preveem a constituição de comitês gestores, ou exigem aaprovação de órgãos <strong>do</strong> executivo federal para o uso <strong>do</strong>s recursos. To<strong>da</strong>via, taisexigências ferem a auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong>s povos indígenas (Instituto Socioambiental,2008; R. P. Santos, Nava, & Ferreira, 2009).Outra questão de conteú<strong>do</strong> que precisa ser prevista <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo marcoregulatório diz respeito ao grau de envolvimento e de participação <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong>des indígenas <strong>no</strong> processo de decisão relativo aos empreendimentosminerários. Por um la<strong>do</strong>, é importante que os projetos respeitem econsiderem os conhecimentos tradicionais e ecológicos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des nasua formulação. Além disso, mais <strong>do</strong> que obrigar a consulta às comuni<strong>da</strong>des,qualquer legislação que trate <strong>da</strong> questão de mineração em TIs deve <strong>da</strong>r poderde veto às comuni<strong>da</strong>des, respeitan<strong>do</strong> seu direito de decidir sobre seu modelode vi<strong>da</strong> e de desenvolvimento (Carneiro Filho, 2009; Villas Bôas, 2005).4 ConclusõesConforme menciona<strong>do</strong> anteriormente, o principal objetivo destetrabalho foi realizar uma análise crítica sobre o <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong>mineração que vem sen<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> pelo MME. Ao longo <strong>do</strong> texto, procurou-­seanalisar as possíveis mu<strong>da</strong>nças em relação ao marco atual, avalian<strong>do</strong> ospontos que representam riscos à garantia <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des emum cenário de expansão de projetos existentes ou de implantação de <strong>no</strong>vasminas.Nos debates sobre os impactos <strong>da</strong> mineração, não é incomum querepresentantes <strong>do</strong> setor argumentem que aqueles que questionam suaspráticas são “contra a mineração”, desejam o “fechamento de to<strong>da</strong>s as minas”ou propõem “um mun<strong>do</strong> sem carro, celular, laptop etc.” Esse, contu<strong>do</strong>, nãofoi o princípio <strong>no</strong>rtea<strong>do</strong>r deste relatório. Ao longo <strong>do</strong> texto, buscou-­‐se a<strong>do</strong>taruma posição crítica não à mineração como ativi<strong>da</strong>de, mas sim à forma comoo MME vem evitan<strong>do</strong> debater sua proposta de marco regulatório com asocie<strong>da</strong>de. Nesta direção, merece destaque o fato de que, na ausência de umdebate público, os interesses <strong>da</strong>s empresas minera<strong>do</strong>ras poderão vir a ter umgrande peso <strong>no</strong> desenho <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco.80


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscosdivulga<strong>do</strong>s pelo MME, uma vez que tais <strong>do</strong>cumentos apontam somente para “restrições” à mineração. Perspectivas diferentes <strong>da</strong>quelas <strong>da</strong>s empresas –tais como, participação pública na toma<strong>da</strong> de decisão, garantia <strong>do</strong>s direitos<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des tradicionais, controle social pelos grupos atingi<strong>do</strong>s, limitesàs ativi<strong>da</strong>des minerais, desenvolvimento de uma eco<strong>no</strong>mia pós-­‐extrativista –são ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s pela proposta de <strong>no</strong>vo marco regulatório.Nesse senti<strong>do</strong>, o principal argumento deste trabalho é pela necessi<strong>da</strong>dede debates democráticos e participativos neste processo. Se o setor mineralinsiste na ideia de que a mineração é uma ativi<strong>da</strong>de de interesse público, parececontraditório que ele evite discutir o assunto com o público interessa<strong>do</strong>. Adecisão de conceber um <strong>no</strong>vo marco regulatório unicamente a partir <strong>da</strong>scontribuições e deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s empresas minera<strong>do</strong>ras reforça o caráter deSen<strong>do</strong> assim, parece ser fun<strong>da</strong>mental a abertura <strong>do</strong> diálogo sobre o<strong>no</strong>vo marco regulatório com a socie<strong>da</strong>de. Ao mesmo tempo, a participaçãoefetiva <strong>do</strong>s grupos interessa<strong>do</strong>s deve ser garanti<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as <strong>no</strong>vasinstituições propostas pelo <strong>no</strong>vo marco regulatório, incluin<strong>do</strong> o ConselhoNacional de Política Mineral e qualquer conselho ou comissão que venha aser cria<strong>do</strong> para construir e gerir eventuais fun<strong>do</strong>s sociais/comunitários <strong>da</strong>mineração. A democracia e a participação social devem permear tambémos processos de concessão de lavra, permitin<strong>do</strong> um maior envolvimentopopular, em especial, <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des afeta<strong>da</strong>s. Portanto, as negociaçõesdevem ser feitas de forma a levar também em consideração as perspectivasde tais comuni<strong>da</strong>des, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> os processos de valoração monetáriasmercantilistas e incorporan<strong>do</strong> os senti<strong>do</strong>s simbólicos <strong>da</strong><strong>do</strong>s pelas pessoas aoslugares e territórios (Wanderley, 2009).To<strong>da</strong>via, a participação social e a democratização <strong>do</strong> debate sobremineração somente poderão ocorrer se houver a possibili<strong>da</strong>de de debate públicona socie<strong>da</strong>de. Para tanto, é fun<strong>da</strong>mental que se questione a naturalização <strong>da</strong>ideia de que a mineração teria priori<strong>da</strong>de sobre outros usos <strong>do</strong>s territórios. Aocontrário, a mineração deve ser trata<strong>da</strong> como mais uma ativi<strong>da</strong>de econômicae, a partir desse ponto de vista, deve compartilhar o território com to<strong>da</strong>s asem produtos úteis para a socie<strong>da</strong>de. Esta característica, to<strong>da</strong>via, também 81


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?se fun<strong>da</strong>mental que <strong>no</strong>ções socialmente construí<strong>da</strong>s como “interesse público”Da mesma forma, a aplicação exclusiva <strong>do</strong> conceito de “rigidezlocacional” precisa ser questiona<strong>da</strong>. Essa ideia foi também socialmente basea<strong>do</strong> <strong>no</strong> argumento de que a mineração deve ocorrer em locais onde ominério se encontra. Por outro la<strong>do</strong>, esta é uma avaliação arbitrária e parcial,uma vez que o setor despreza a rigidez locacional de qualquer outra ativi<strong>da</strong>deespeleológica, a disponibili<strong>da</strong>de hídrica também são rígi<strong>da</strong>s, uma vez que asmontanhas, as cavernas e as nascentes somente podem ser aproveita<strong>da</strong>s ondese encontram. Sob uma perspective ecológica, o endemismo também é rígi<strong>do</strong>,pois espécies a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a um ecossistema têm grande chance de extinçãoquan<strong>do</strong> transferi<strong>da</strong>s para outros ecossistemas. Ain<strong>da</strong> a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> uma visãoantropológica, pode-­‐se argumentar que comuni<strong>da</strong>des tradicionais sejamrígi<strong>da</strong>s, pois sua identi<strong>da</strong>de e seus laços sociais passam por vínculos históricose culturais com o território: uma benzedeira somente pode curar as pessoasse souber onde encontrar determina<strong>da</strong>s plantas medicinais, o que envolve umassim, o deslocamento força<strong>do</strong> de uma comuni<strong>da</strong>de pode simplesmenteextinguir aquela socie<strong>da</strong>de.e a “nação” vivem e ocorrem sobre o solo e não <strong>no</strong> subsolo. Dessa forma, é ocontrário. Essa <strong>no</strong>ção já vem sen<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> em alguns países <strong>da</strong> AméricaLatina, através <strong>do</strong>s conceitos de territórios livres de mineração, como propostopor movimentos sociais <strong>no</strong> Peru e na Argentina.De forma semelhante, mesmo <strong>no</strong>s locais onde o uso <strong>do</strong> solo sejacompatível com a ativi<strong>da</strong>de mineral faz-­‐se necessário discutir a questão deescala. Muitos <strong>do</strong>s impactos sociais e ambientais mais intensos são associa<strong>do</strong>sàs “megaminas”. Nesse senti<strong>do</strong>, é preciso que debates sociais sobre ativi<strong>da</strong>desminera<strong>do</strong>ras não se restrinjam à discussão sobre a implantação ou não <strong>da</strong>mina. Mais <strong>do</strong> que isso, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> decisão pela implantação, é fun<strong>da</strong>mentalque seja discuti<strong>do</strong> o tamanho máximo <strong>do</strong>s empreendimentos, assim comoos impactos cumulativos associa<strong>do</strong>s a outras ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras <strong>no</strong>território. Esse debate se torna crucial, se considerarmos que o mun<strong>do</strong> passa82


O <strong>no</strong>vo marco legal <strong>da</strong> mineração: contexto, mitos e riscospor um processo de esgotamento <strong>da</strong>s minas de melhor quali<strong>da</strong>de e que osempreendimentos futuros deverão explorar jazi<strong>da</strong>s com me<strong>no</strong>r concentraçãode minério, o que fará com que as empresas aumentem o tamanho <strong>da</strong>s minaspara assegurar sua viabili<strong>da</strong>de econômica.Complementan<strong>do</strong> essa questão, torna-­‐se fun<strong>da</strong>mental garantir acriação de instrumentos que evitem a eventual dependência socioeconômica<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de minera<strong>do</strong>ra. Devi<strong>do</strong> ao modelo de extração mineral vigente,algumas regiões minera<strong>do</strong>ras tradicionais vêm passan<strong>do</strong> atualmente porriscos de depressão econômica devi<strong>do</strong> ao esgotamento <strong>do</strong> minério. Para evitaresse tipo de armadilha, parte <strong>do</strong>s recursos gera<strong>do</strong>s pela mineração precisa,desde o momento <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> mina, ser dirigi<strong>do</strong> para o desenvolvimentode ativi<strong>da</strong>des alternativas e na construção de uma eco<strong>no</strong>mia “pós-­‐extrativista”.Esse processo, contu<strong>do</strong>, não deve ser dirigi<strong>do</strong> por grupos liga<strong>do</strong>s à mineraçãoEssa análise, portanto, indica a varie<strong>da</strong>de e complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s questõesassocia<strong>da</strong>s à implantação de um <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineração. Essasquestões dizem respeito, em primeiro lugar, às comuni<strong>da</strong>des que vivem nasáreas de mineração e, por esse motivo, essas devem ser as primeiras a seremouvi<strong>da</strong>s e a elas deve ser garanti<strong>do</strong> o direito de participar ativamente dessedebate. Porém, como a mineração tem relação tanto com desenvolvimentolocal, quanto com o desenvolvimento nacional, seu <strong>no</strong>vo marco regulatório construí<strong>do</strong>. Em uma socie<strong>da</strong>de democrática de fato, tal modelo somentepode ser concebi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> diálogo, <strong>da</strong> transparência e <strong>da</strong> participação;elementos que urgentemente precisam ser incorpora<strong>do</strong>s ao atual processo deformulação <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo marco regulatório <strong>da</strong> mineração.Referências bibliográficassocioambientais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – uma introdução. In H. Acselrad, S. Hercula<strong>no</strong> & J. A.Pádua (Eds.), Justiça ambiental e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Rio de Janeiro: Relume Dumará.Agência <strong>Brasil</strong>. (2010, 17/Mar/2010). Lobão diz que decisão sobre royalties <strong>da</strong> mineração é“delica<strong>da</strong>” .mineração. Recupera<strong>do</strong> em 14 Jun 2012, disponível em http://www2.camara.gov.br/agencia/<strong>no</strong>ticias/MEIO-­‐AMBIENTE/416703-­‐LIDERANCAS-­‐INDIGENAS-­‐MANIFESTAM-­‐SE-­‐CONTRA-­‐PROJETO-­‐SOBRE-­‐MINERACAO.html83


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PARTE IIPARTE IAPRESENTAÇÃO


Recursos minerais na Amazôniabrasileira: impactos eperspectivasLuiz Jardim Moraes Wanderley 1A disponibili<strong>da</strong>de de importantes reservas minerais inexplora<strong>da</strong>s naAmazônia a coloca como uma <strong>da</strong>s últimas fronteiras <strong>do</strong>s recursos minerais(2004) a Amazônia é ain<strong>da</strong> a última fronteira <strong>do</strong> capital natural, por sua promoção de um desenvolvimento social sustentável para a populaçãoamazônica. Pelo contrário, o que se vem observan<strong>do</strong> na história econômicaregional é que a exploração <strong>do</strong>s recursos naturais está servin<strong>do</strong> para atender principais centros consumi<strong>do</strong>res <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>, sem promover uma melhorade subdesenvolvimento, pobreza e devastação ambiental incontornável.Para o sociólogo estadunidense Steven Bunker (1986), a exploração mineralindustrial, inicia<strong>da</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX na região, se assemelha às formaspretéritas de exploração <strong>do</strong>s recursos naturais regionais, como as drogas <strong>do</strong>91


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?sertão, o cacau, a borracha, a castanha-­‐<strong>do</strong>-­‐pará, a madeira e outros produtos região e em especial nas locali<strong>da</strong>des de mineração como Serra <strong>do</strong> Navio eJarí, <strong>no</strong> Amapá; Oriximiná, Carajás, Tapajós, Paragominas, Ipijuna <strong>do</strong> Pará,Roraima.A Amazônia sempre foi cobiça<strong>da</strong> por capitalistas nacionais e estrangeirosem virtude de seus recursos naturais: madeira, borracha, castanha-­‐<strong>do</strong>-­‐pará,óleos e, mais recentemente, pelo ouro, manganês, ferro, bauxita, cobre, níquel,petróleo, água, etc. Contemporaneamente, é na disputa pelos recursos naturaise <strong>no</strong> processo de apropriação de territórios pelo capital que se concentram naturais, especialmente o mineral, requer um controle territorial intenso. Nãoé possível extrair o minério sem remover o solo e o subsolo, sem promoverresulta<strong>do</strong>s destes processos, se têm a expropriação, a exclusão ou a eliminação<strong>do</strong>s grupos sociais preexistente <strong>no</strong> espaço, majoritariamente indígenase povos tradicionais, assim como <strong>da</strong>s práticas espaciais anteriormentepromovi<strong>da</strong>s. Segun<strong>do</strong> Henri Acselrad (1992, 2004) e outros autores, asdisputas por recursos naturais, ou pelos usos destes, envolven<strong>do</strong> gruposum <strong>do</strong>s grupos tem suas formas sociais de apropriação <strong>do</strong> meio ameaça<strong>da</strong>por impactos indesejáveis decorrentes <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong>s práticas de outrosuma perspectiva ambiental, não se pode perder de vista que para explorarimportante componente territorial em jogo. Isto é, são disputas pelo controlede determina<strong>do</strong>s espaços ricos em recursos naturais de alto valor de merca<strong>do</strong>e que ao mesmo tempo são os territórios de sobrevivência e simbolismo deA ativi<strong>da</strong>de mineral por ser intensiva em capital envolve uma gama deinteresses públicos e priva<strong>do</strong>s, além disso, com exceção <strong>do</strong> garimpo manual(atualmente pouco expressivo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>), ela necessita de densos meios elétrica, redes de telecomunicação, máquinas modernas, e outros tipos detec<strong>no</strong>logias de ponta) para existirem. A exploração mineral é uma ativi<strong>da</strong>deextremamente complexa em seus des<strong>do</strong>bramentos, pois impreterivelmente92


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasprovoca uma gama de transformações socioambientais, espaciais, econômicas,culturais e políticas que não respeitam um padrão, varian<strong>do</strong> constantementeem espaços e tempos distintos. Os projetos minera<strong>do</strong>res, suas transformaçõesdecorrentes e as formas de resistência variaram de acor<strong>do</strong> com a conjuntura apresentar algumas similari<strong>da</strong>des próprias aos processos de extração <strong>do</strong>srecursos <strong>do</strong> subsolo, como veremos mais a frente.Para compreendermos os interesses por trás <strong>da</strong> mineração,necessitamos saber os rumos e as deman<strong>da</strong>s <strong>do</strong> setor industrial e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de. O minério é uma matéria-­‐prima que possuiu um valor variável emdiferentes tempos históricos de acor<strong>do</strong> com a oferta e a deman<strong>da</strong>s existentes.Até a Crise Financeira de 2008, por exemplo, vivemos um momento de grandevalorização <strong>da</strong>s commodities minerais em geral (alumínio, cobre, estanho,ferro, manganês, níquel, ouro, prata, etc.), o que não vem se repetin<strong>do</strong> <strong>no</strong>súltimos cinco a<strong>no</strong>s, quan<strong>do</strong> alguns minérios perderam valor de merca<strong>do</strong>. Asocie<strong>da</strong>de também possuiu visões distintas e variáveis sobre a mineração, quedizem “sim” a exploração mineral intensiva, isto é, nem to<strong>do</strong>s aceitam osimpactos socioambientais em <strong>no</strong>me de um crescimento econômico e de umamodernização conserva<strong>do</strong>ra. Recentemente, em 2003, 2009 e 2012, vimos<strong>no</strong> Peru as populações de Tambogrande, Ayavaca e Cajamarca, em plebiscitopopular e por meio de grandiosas mobilizações, dizerem não a projetosminera<strong>do</strong>res transnacionais. Em outros países como Argentina, Bolívia, Chile,Canadá, Equa<strong>do</strong>r, Guatemala, e <strong>Brasil</strong> a resistência aos empreendimentos sobre as formas de atuação <strong>do</strong> poder público e <strong>do</strong> capital priva<strong>do</strong> minera<strong>do</strong>r.Além disso, com o crescente apelo ambiental e social nas últimas duasdéca<strong>da</strong>s, ca<strong>da</strong> vez mais, na socie<strong>da</strong>de ocidental moderna, clama-­‐se pormaneiras alternativas de produção de bens de consumo pela reutilização/reciclagem <strong>do</strong>s produtos, com intuito de impedir a exaustão <strong>do</strong>s recursosnaturais e minimizar os impactos <strong>do</strong> homem sobre o planeta, em especialsobre os recursos não-­‐re<strong>no</strong>váveis. Assim como, exigi-­‐se uma postura deresponsabili<strong>da</strong>de social e ambiental por parte <strong>da</strong>s empresas em suas práticasnas locali<strong>da</strong>des onde se instalam.Como em qualquer grande projeto, que causa grandes impactos, amineração requer estu<strong>do</strong>s e debates prévios para contabilizar e decidir osdesta “matemática <strong>do</strong> planejamento”, restrita aos capitalistas e ao Esta<strong>do</strong>,que simplesmente calculam a viabili<strong>da</strong>de econômica, os riscos, os possíveis93


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?retor<strong>no</strong>s <strong>do</strong> empreendimento e minimizam os impactos sociais e ambientais.Neste processo de avaliação as per<strong>da</strong>s sobre os bens materiais e simbólicos,as terras e as próprias vi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s populações afeta<strong>da</strong>s são desvaloriza<strong>da</strong>sou até mesmo ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s, juntamente com os custos ambientais, em favorde um pseu<strong>do</strong> “interesse de utili<strong>da</strong>de pública”, que se sobressai a to<strong>do</strong>s osoutros direitos sobre a terra (exceto, por ora, terras indígenas e uni<strong>da</strong>desde conservação de uso restrito – Estações Ecológicas, Parques Nacionais,Reservas Biológicas, Monumentos Nacionais e Refúgios <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre).Os impactos gera<strong>do</strong>s, porém, são pretéritos ao perío<strong>do</strong> de instalação <strong>do</strong>sprojetos. A simples idealização destes, <strong>no</strong> papel, implica em transformações<strong>no</strong> espaço pré-­‐existente e na socie<strong>da</strong>de. Criam-­‐se expectativas, sonhos,esperanças, geram-­‐se me<strong>do</strong>s, riscos, inquietações, dúvi<strong>da</strong>s, especulações eplanejamentos pelos elabora<strong>do</strong>res, pelos habitantes tradicionais <strong>da</strong> região epor migrantes <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> presente. Surgem, então, oposições e alianças a favor e contra eles, ca<strong>da</strong> qualapresentan<strong>do</strong> argumentos – compostos de mitos, crenças, percepções de recursos, controles territoriais e sobrevivência. Para alguns, a mineraçãorepresenta a redenção <strong>da</strong> pobreza e <strong>do</strong> subdesenvolvimento, que dinamiza aeco<strong>no</strong>mia local; para outros, ela potencializa a degra<strong>da</strong>ção ambiental e social,além <strong>da</strong>s expressivas per<strong>da</strong>s socioambientais.Segun<strong>do</strong> Rosélia Piquet (2007), projetos econômicos, em especial osde grande porte, apresentam traços comuns acerca <strong>do</strong>s impactos regionais/territoriais: geram mu<strong>da</strong>nças na estrutura populacional, <strong>no</strong> emprego, naorganização <strong>do</strong> território, <strong>no</strong> quadro político, na cultura e <strong>no</strong>s ecossistemas.Tais transformações na socie<strong>da</strong>de capitalista moderna estão totalmenteimbrica<strong>da</strong>s com a necessi<strong>da</strong>de de se criar condições para a reproduçãoamplia<strong>da</strong> <strong>do</strong> capital, estan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> associa<strong>da</strong>s à ideologia desenvolvimentista,moderniza<strong>do</strong>ra e ao ordenamento territorial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nação (SCHERER-­‐WARREN, 1993). Em resumo, a preocupação para com a melhoria <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>spessoas <strong>do</strong>s locais, <strong>da</strong>s regiões, ou até mesmo <strong>da</strong> nação impacta<strong>da</strong> não estáposta <strong>no</strong> cerne desta lógica de desenvolvimento. 94


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasAmazônia <strong>Brasil</strong>eira, trazen<strong>do</strong> como exemplo casos empíricos vivencia<strong>do</strong>s porpovos tradicionais ou não, <strong>no</strong>s últimos 55 a<strong>no</strong>s. Dentre os casos referencia<strong>do</strong>sneste artigo estão à exploração de bauxita em Oriximiná, Paragominas-­‐Barcarena e em Juruti, <strong>no</strong> Pará; de caulim ao longo <strong>do</strong> Rio Capim e emBarcarena, <strong>no</strong> Pará; de cobre e <strong>do</strong> ferro em Parauapebas, <strong>no</strong> Pará; de cromo<strong>no</strong> Amapá; de cassiterita na Floresta Nacional Jamari e na terra indígena<strong>do</strong>s Cintas-­‐Largas, em Rondônia, e nas terras <strong>da</strong> tribo indígena Waimiri-­‐Atroari, <strong>no</strong> Amazonas; de manganês na Serra <strong>do</strong> Navio, <strong>no</strong> Amapá; de NíquelPela<strong>da</strong>, <strong>no</strong> Pará; em Alta Floresta, <strong>no</strong> Mato Grosso; nas terras Ya<strong>no</strong>mami, emRoraima; na reserva indígena Roosevelt e <strong>no</strong> Rio Madeira, em Rondônia e <strong>no</strong>El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Juma, <strong>no</strong> Amazonas.1. Conflitos territoriais <strong>da</strong> mineraçãoAmazônia brasileira não se referem à disputa por um mesmo recurso, massim a uma disputa pelo território e seus atributos materiais e simbólicos,incluin<strong>do</strong> os recursos naturais. As comuni<strong>da</strong>des tradicionais (agricultoras,coletoras, ribeirinhas, indígenas, quilombolas, etc.) não têm a pretensão de Contemporaneamente, o embate pela terra vem sen<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> diretamenteentre minera<strong>do</strong>ras e povos tradicionais. Enquanto as empresas buscama liberação de concessões minerárias de lavra, os povos tradicionais lutampela titulação de suas terras em moldes coletivos de uso e apropriação. Uma<strong>da</strong>s vitórias mais emblemáticas <strong>do</strong>s povos tradicionais amazônicos ocorreurecentemente, em agosto de 2009, pela Associação Comunitária <strong>da</strong> Região deJuruti Velho (ACORJUVE) com a titulação <strong>do</strong> Assentamento Agro-­‐Extrativistade Juruti Velho <strong>no</strong> Pará, onde a área demarca<strong>da</strong> incluiu, inclusive, as áreasde concessão de lavra <strong>da</strong> transnacional Alcoa produtora de bauxita, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>direitos de indenização sobre o uso <strong>do</strong> solo aos comunitários e de CompensaçãoFinanceira sobre o minério extraí<strong>do</strong> na área <strong>do</strong> assentamento, como consta naLei n o 8.901 de 1994. Por outro la<strong>do</strong>, os grupos quilombolas de Oriximiná (PA)em um embate particular com a Mineração Rio <strong>do</strong> Norte -­‐ MRN vêm lutan<strong>do</strong>pela demarcação de suas terras <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> mineral desde a déca<strong>da</strong> de 1980,mas foram embarreira<strong>do</strong>s pela criação de uni<strong>da</strong>des de conservação.95


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Cabe lembrar que a empresa minera<strong>do</strong>ra, na lógica capitalista na qualestá inseri<strong>da</strong>, se interessa pelo valor <strong>do</strong> minério <strong>no</strong> substrato geológico,almejan<strong>do</strong> a reprodução <strong>do</strong> capital. Contu<strong>do</strong>, é impossível explorá-­‐lo sem odesestruturar os espaços simbólicos e a paisagem. Entende-­‐se que a luta porrecursos não se resume a uma mera conquista ou uso de determina<strong>do</strong> bem econômicas, culturais e históricas) que se deve levar em consideração. Oterritório, espaço <strong>no</strong> qual se concentram tais recursos, é o cerne <strong>da</strong> disputa. grandes empresas almejam controlar amplas áreas nas regiões de exploração,retiran<strong>do</strong> destas áreas qualquer grupo que produza riscos sobre seusinvestimentos.Independentemente <strong>do</strong> interesse na exploração <strong>do</strong> subsolo por parte<strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>ras, não existe qualquer possibili<strong>da</strong>de de dissociação <strong>do</strong> solo(terra) e <strong>da</strong> apropriação <strong>do</strong> subsolo. Por mais que as empresas insistam em espacial pressupõe uma territorialização de objetos (sedes, acampamentos,minas, galpões, vias, ferrovias, minerodutos, con<strong>do</strong>mínios ou ), de territorialização <strong>do</strong> capital minera<strong>do</strong>r ocorre a delimitação de <strong>no</strong>vos distintos planejamentos e uso de grupos distintos para o mesmo espaço.A construção <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro Carajás, <strong>do</strong> linhão <strong>da</strong> Eletro<strong>no</strong>rtevin<strong>do</strong> de Tucuruí e a pavimentação <strong>da</strong> BR-­‐222, na déca<strong>da</strong> de 1980, causarama fragmentação <strong>da</strong> Terra Indígena Rio Maria <strong>da</strong> tribo Gaviões-­‐Alémdisso, a expansão <strong>da</strong> fronteira de ocupação impulsiona<strong>da</strong> por esses grandesprojetos levaram a outras per<strong>da</strong>s territoriais desde grupo. Ain<strong>da</strong> hoje, osindígenas <strong>da</strong> tribo Gaviões-­‐ e <strong>da</strong> tribo Awá vivem em constantesocupam a ferrovia como forma de pressão política (FERRAZ, 2009). O impactojá em curso. Neste contexto, os Awás se posicionaram contrários à obraque aumentará a pressão sobre suas terras e os Gaviões exigem maiorescompensações 2 . Isso não ocorreu somente na região de Carajás, mas em2 As obras de expansão <strong>da</strong> ferrovia foram suspensas em liminar concedi<strong>da</strong> a açãocivil pública requeri<strong>da</strong> por três enti<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil <strong>do</strong> Maranhão, que se sen-­‐96


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasvirtude <strong>da</strong> magnitude <strong>do</strong> empreendimento e de seus aparatos técnicos, como aestra<strong>da</strong> de ferro Carajás e as ro<strong>do</strong>vias, este foi um <strong>do</strong>s causa<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s maioressó o campo, mas também as ci<strong>da</strong>des.As minera<strong>do</strong>ras necessitam exercer o controle exclusivo sobre algumasáreas, para assegurarem o funcionamento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral. As áreasde lavra são, sem dúvi<strong>da</strong>, as principais a serem “protegi<strong>da</strong>s” em to<strong>do</strong>s osempreendimentos minerais. O controle sobre estas áreas exige um cui<strong>da</strong><strong>do</strong><strong>no</strong> senti<strong>do</strong> de evitar acidentes tanto com funcionários como com habitantes<strong>do</strong> entor<strong>no</strong>. Portanto, a partir <strong>do</strong> momento de abertura de uma <strong>no</strong>va mina,o acesso a essa locali<strong>da</strong>de se ve<strong>da</strong>, assim como as ativi<strong>da</strong>des que existiamanteriormente. Cabe <strong>sal</strong>ientar que, independentemente <strong>da</strong> situação <strong>da</strong> mina(ativa, inativa, aberta ou fecha<strong>da</strong>), as minera<strong>do</strong>ras têm o direito jurídico deexercer o <strong>do</strong>mínio sobre áreas concedi<strong>da</strong>s pelo Departamento Nacional de<strong>da</strong> extração mineral e se impõe a outros usos <strong>do</strong> solo 3 público. Essas áreas de uso exclusivo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral provocam, empraticamente to<strong>do</strong>s os casos, a remoção de indivíduos e a proibição <strong>do</strong>susos anteriores. Por isso, em alguns casos como nas Florestas Nacionais deCarajás, Saracá-­‐Taquera, Jamari e Tapirapé-­‐Aquiri as minas estão <strong>no</strong> interior<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de de conservação, sen<strong>do</strong> protegi<strong>da</strong>s por elas ao aumentarem aA per<strong>da</strong> <strong>do</strong>s espaços de moradia e de sobrevivência – e conseqüentemente<strong>da</strong>s referências culturais, econômicas, sociais e espaciais – provoca<strong>da</strong> pelodeslocamento compulsório é um processo comum à ativi<strong>da</strong>de de exploraçãomineral. Apesar de não apresentar a mesma magnitude de outros tipos degrandes empreendimentos – como os hidrelétricos – onde a remoção detem prejudica<strong>do</strong>s pela ferrovia: Socie<strong>da</strong>de Maranhense de Direitos Huma<strong>no</strong>s; Conse-­lhoIndigenista Missionário (Cimi); e o Centro de Cultura Negra <strong>do</strong> Maranhão (CNM).No processo de número 26295-­‐47.2012.4.01.3700, as ONGs pedem a suspensão ime-­diata<strong>do</strong> processo de licenciamento ambiental <strong>do</strong> projeto por “ocorrência de vícios <strong>no</strong>processo de licenciamento ambiental referente à duplicação <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> de Ferro Ca-­rajás,fato que tem resulta<strong>do</strong> em diversos <strong>da</strong><strong>no</strong>s ao meio ambiente e às comuni<strong>da</strong>desafeta<strong>da</strong>s”. Os autores <strong>da</strong> ação alegam que não foram cumpri<strong>da</strong>s exigências legais <strong>no</strong>processo de licenciamento <strong>da</strong> parte <strong>do</strong> IBAMA (Valor Econômico, 6/08/2012).3 Concessões, proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>s, assentamentos rurais, territórios quilombolas,Uni<strong>da</strong>des de Conservação de uso integral, mas com res<strong>sal</strong>vas em zonas de fronteira,terras indígenas e Uni<strong>da</strong>des de Conservação de uso restrito.97


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?famílias ocorre com maior intensi<strong>da</strong>de, não devemos, de forma alguma,desprezá-­‐lo enquanto impacto que afeta a ordem social e a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s habitanteslocais. Em relatório desenvolvi<strong>do</strong> pela The Mining, Minerals and SustainableDevelopment Project – MMSD (2002), a instituição chama a atenção sobre aintensi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> tema, apontan<strong>do</strong> que, entre 1950/90, só na Índia, mais de 2.5milhões de pessoas foram desloca<strong>da</strong>s pela ativi<strong>da</strong>de mineral. Na Amazônianunca houve uma tentativa de calcular o número de desloca<strong>do</strong>s, mas se sabeque em Barcarena para produção de alumina, em Oriximiná para extração deprojeto <strong>do</strong> níquel, e em Juruti para extração <strong>da</strong> bauxita ocorreram remoções mora<strong>do</strong>res locais e a transnacional francesa Imery Rio Capim Caulim (IRCC)em relação à área de moradia <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. A empresa alega que se tratade invasores e exige a reintegração de posse, <strong>no</strong> entanto o Ministério Públicoconstatou que muitos residem na locali<strong>da</strong>de há mais de 60 a<strong>no</strong>s, sen<strong>do</strong>,portanto, legítimos proprietários <strong>da</strong>s terras 4 .Ao longo <strong>da</strong> história <strong>da</strong> mineração na Amazônia vários povos tradicionaistiveram seus territórios restritos ou perderam suas áreas de moradia pelahomologação e implementação de áreas de lavra. Podemos citar, além <strong>do</strong>saponta<strong>do</strong>s anteriormente, outros casos bastante conheci<strong>do</strong>s. Os quilombolas<strong>do</strong> Trombetas e os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> lago Sapucuá em Oriximiná, os mora<strong>do</strong>res<strong>do</strong> lago Juruti Velho, em Juruti e os índios Xikrin de Carajás perderamuso agrícola por conta <strong>da</strong> instalação <strong>da</strong>s minas de bauxita <strong>da</strong> Mineração Riode<strong>sal</strong>ojou assenta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> reforma agrária dentro <strong>do</strong> assentamento nas glebasTucumã e Campos Altos. Os quilombolas <strong>do</strong> Rio Moju, ao longo <strong>da</strong>s últimasduas déca<strong>da</strong>s, perderam aproxima<strong>da</strong>mente 20% <strong>do</strong>s territórios quilombolascom a instalação de uma linha de transmissão e três minerodutos dentro de o caulim <strong>da</strong>s empresas Pará Pigmentos (PPSA) e Imery Rio Capim Caulim(IRCC), e o terceiro construí<strong>do</strong> pela Vale para escoar o minério de bauxita deParagominas à Barcarena (ACEVEDO, 2009).Os garimpeiros também são afeta<strong>do</strong>s pela instalação <strong>da</strong>s minaspara exploração de grandes empresas minera<strong>do</strong>ras na região amazônica.4 http://www.ecodebate.com.br/index.php/2008/03/05/vazamento-­‐de-­‐cau-­lim-­‐em-­‐barcarena-­‐pa-­‐acao-­‐quer-­‐interditar-­‐bacias-­‐<strong>da</strong>-­‐imerys/pesquisa<strong>do</strong> em21/12/2008.98


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasAo contrário <strong>do</strong>s povos tradicionais que não disputam o minério com asgrandes empresas, os garimpeiros lutam pelo direito à exploração <strong>do</strong>srecursos minerais. Em Serra Pela<strong>da</strong>, <strong>no</strong> Pará, o recém cria<strong>do</strong> Movimento<strong>do</strong>s Garimpeiros e Trabalha<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Mineração (MTM) iniciou uma intensadisputa pela retoma<strong>da</strong> <strong>do</strong>s títulos de concessão mineral na região, repassa<strong>do</strong>de forma duvi<strong>do</strong>so pelo sindicato <strong>do</strong>s garimpeiros <strong>da</strong> região – COOMIGASP– à empresa júnior canadense Colossus. No Amapá, há a eminência de umregião forte por sua tradição garimpeira em cassiterita, o trabalho manual <strong>do</strong>sgarimpeiros vem sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> pela ativi<strong>da</strong>de mecaniza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Metalmig,deixan<strong>do</strong> centenas de trabalha<strong>do</strong>res sem mina e sem empregos na região. Omesmo ocorre na região <strong>do</strong> Tapajós, onde a Serabi retirou os garimpeiros <strong>da</strong>Mina <strong>do</strong> Palito e a empresa Brazauro, <strong>da</strong> multinacional El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> Gold, vemcercean<strong>do</strong> a área <strong>do</strong>s garimpeiros <strong>no</strong> Mina <strong>do</strong> Tocantinzinho.A ameaça de remoção compulsória e de per<strong>da</strong> de importantesfatias <strong>do</strong> território derrama sobre os mora<strong>do</strong>res locais as incertezas deum reassentamento. A per<strong>da</strong> de lugares de histórias e simbolicamenteconstruí<strong>do</strong>s, em muitos casos, coloca em senti<strong>do</strong>s contrários as comuni<strong>da</strong>deslocais e as empresas minera<strong>do</strong>ras. No entanto, o processo de negociação temsi<strong>do</strong> desigual, resumin<strong>do</strong> em formulas simplistas o valor <strong>do</strong> território aorelativo valor <strong>da</strong> terra, <strong>da</strong>s áreas de uso e <strong>da</strong>s benfeitorias. Tais valores devemser compreendi<strong>do</strong>s para além <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> monetário, engloban<strong>do</strong>, inclusive,o senti<strong>do</strong> simbólico, transferi<strong>do</strong> pelos indivíduos prejudica<strong>do</strong>s aos objetos elugares. política direciona<strong>da</strong> a melhoria de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s atingi<strong>do</strong>s. A maioria <strong>do</strong>s indivíduosque negociam suas terras com as minera<strong>do</strong>ras acabam atingin<strong>do</strong> um graude pauperismo e exclusão social ain<strong>da</strong> maior que o anterior. Mesmo sen<strong>do</strong>amazônica, este é rapi<strong>da</strong>mente gasto, colocan<strong>do</strong>-­‐os numa situação ain<strong>da</strong> piorque a passa<strong>da</strong>, sem casa, sem terra, sem fonte de ren<strong>da</strong>, sem emprego, semdinheiro e sem vínculo social. É comum vê-­‐los engrossar o contingente <strong>do</strong>ssem-­‐terra e posseiros <strong>no</strong> campo, ou de favela<strong>do</strong>s e indigentes nas ci<strong>da</strong>des.O mesmo ocorre com garimpeiros que perdem suas áreas de coleta paramecanização <strong>da</strong> extração.As grandes corporações minera<strong>do</strong>ras na Amazônia buscam criarnas locali<strong>da</strong>des onde se instalam uma <strong>no</strong>va racionali<strong>da</strong>de, através de umreordenamento territorial, que lhes permitam o exercício “seguro” <strong>da</strong>s99


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?ativi<strong>da</strong>des produtivas. Para tanto, estimulam a criação de <strong>no</strong>vos territórios circulação espacial. Esses <strong>no</strong>vos territórios pressupõem formas de coerção,que podem ser por meio de objetos para obstaculizar e induzir as ações (basesde controle, grades, muros) ou por meio de regras e <strong>no</strong>rmas-­‐lei que, ao seremdesobedeci<strong>da</strong>s, impõem alguma sanção (ANTAS Jr., 2005). A racionali<strong>da</strong>deespaço, de mo<strong>do</strong> que o funcionamento assegure a reprodução <strong>do</strong> capital.Na Amazônia, as minera<strong>do</strong>ras foram responsáveis, não sozinhas,pela criação de várias Uni<strong>da</strong>des de Conservação, Terras Indígenas, terrasquilombolas, assentamentos rurais, municípios, que de alguma formacontribuem a exploração mineral ou para proteção <strong>do</strong>s recursos minerais.Esses <strong>no</strong>vos territórios acabam regulan<strong>do</strong> os espaços habita<strong>do</strong>s pela socie<strong>da</strong>de,crian<strong>do</strong> <strong>no</strong>vas regras e <strong>no</strong>rmas sobre o uso e a circulação <strong>no</strong> território. Dentreas Uni<strong>da</strong>des de Conservação propostas e cria<strong>da</strong>s pelas minera<strong>do</strong>ras pode-­‐secitar a Reserva Biológica <strong>do</strong> Trombetas (1979) e Floresta Nacional Saracá-­‐ain<strong>da</strong> a Floresta Nacional de Carajás (1998), Reserva Biológica <strong>do</strong> Tapirapé(1989), Floresta Nacional <strong>do</strong> Tapirapé-­‐Aquiri (1989) e APA <strong>do</strong> Igarapé Gela<strong>do</strong>aliaram interesses <strong>da</strong>s empresas e lutas <strong>do</strong>s movimentos sociais de sem terrase povos tradicionais. Os Projeto de Assentamento (PA) Palmares I, PalmaresII, Carlos Fonseca e Onalício Barros, PAs Carajás I, II e III; PA AssentamentoAgroextrativista lago Juruti Velho e Sapucuá-­‐Trombetas, foram alguns <strong>do</strong>sPor um la<strong>do</strong>, esses <strong>no</strong>vos territórios representam <strong>no</strong>vas formas decontrole sobre a população e sobre o espaço por meio <strong>da</strong> ação <strong>do</strong>s órgãosestatais: os assentamentos e os territórios limitam as áreas de atuação <strong>do</strong>spovos tradicionais e impedem sua mobili<strong>da</strong>de espacial, enquanto as uni<strong>da</strong>desde conservação criam <strong>no</strong>vas regras para o uso <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong>s recursos Por outro, a legitimação de territórios como assentamentos e territóriosquilombolas dão margem para os atingi<strong>do</strong>s reivindicarem compensações altaspela exploração e impactos em área de assentamentos e outros territórios. Éo que vem fazen<strong>do</strong> a população de Juruti Velho frente à exploração de bauxita<strong>da</strong> Alcoa e os Assenta<strong>do</strong>s de Carajás I, II e III considera<strong>do</strong>s prejudica<strong>do</strong>s peloprojeto de cobre <strong>da</strong> Vale, na Serra <strong>do</strong> Sossego. Visto nestas duas perspectivas100


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasAo mesmo tempo em que as grandes empresas criam <strong>no</strong>vas formas deregulação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> território na escala local, elas atuam junto o poder estatal,os dispositivos constitucionais para favorecer ou facilitar a instalação, ação eexpansão <strong>do</strong> capital. As práticas de desregulação, exerci<strong>da</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> frenteà chantagem locacional 5 <strong>da</strong>s leis para atrair investimentos. O lobby empresarial transforma as leis aosmoldes <strong>do</strong>s interesses capitalistas. Vide o projeto de lei (PL -­‐ N o 1610/96) <strong>do</strong>sena<strong>do</strong>r Romero Juca (PFL-­‐RR), que pretende regulamentar a mineração emTerras Indígenas – TI. O projeto desbloqueia 5.064 processos em 132 TI só naAmazônia <strong>Legal</strong>, favorecen<strong>do</strong> quatrocentas (400) empresas, especialmente aVale, segun<strong>da</strong> maior detentora de títulos em TIs (RICARDO & ROLLA, 2005). Aação <strong>do</strong>s lobistas pode, também, atuar sobre a recategorização <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>desde Conservação – UCs, permitin<strong>do</strong> a exploração mineral nestas áreas. em UC federais e estaduais na Amazônia <strong>Legal</strong> (RICARDO & ROLLA, 2006).condicionantes, como ocorreu <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> Alcoa em Juruti-­‐Pará, <strong>da</strong> Vale, emParagominas, <strong>da</strong> MMX, em Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari-­‐Amapá e <strong>da</strong> duplicação<strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> de Ferro Carajás <strong>da</strong> Vale.A é outra forma de expressão territorial <strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>rasna Amazônia que também provoca o deslocamento compulsório <strong>da</strong>spopulações locais e as exclui <strong>da</strong>s melhorias regionais e de áreas reserva<strong>da</strong>s amineração. Nem to<strong>do</strong>s os empreendimentos minerais constroem uma ci<strong>da</strong>deexclusiva para atender as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> projeto. Isso ao que parece, vemse tornan<strong>do</strong> uma política antiga <strong>da</strong>s corporações, com poucas reproduçõesnas últimas déca<strong>da</strong>s. Porém, em áreas longínquas <strong>do</strong>s centros urba<strong>no</strong>s ouem regiões periféricas desprovi<strong>da</strong>s de uma infra-­‐estrutura básica, como emmuitas locali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Amazônia, a construção de um aparato logístico para5 “Chantagem” locacional é uma <strong>da</strong>s estratégias utiliza<strong>da</strong> por grandes corporaçõespara conseguirem vantagens relativas e desregulações (como diminuição <strong>do</strong>s <strong>sal</strong>á-­‐-­tase ambientais etc.) nn nas locali<strong>da</strong>des onde pretendem instalar seus empreendi-­mentos,por meio <strong>da</strong> ameaça de escolherem outro local mais favorável (ACSELRAD etal, 2004).101


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?atender as deman<strong>da</strong>s de serviços se faz praticamente inevitável. Os núcleosurba<strong>no</strong>s <strong>da</strong> vila <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Navio e Vila Amazonas <strong>da</strong> ICOMI <strong>no</strong> Amapá;Porto Trombetas <strong>da</strong> Mineração Rio <strong>do</strong> Norte em Oriximiná; e Núcleo Urba<strong>no</strong>de Carajás <strong>da</strong> Companhia Vale, em Parauapebas; Vila de Cachoeirinha <strong>da</strong>Mineração Oriente <strong>Novo</strong> e Vila de Massangana <strong>da</strong> Mineração Taboca emà grande precarie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s serviços urba<strong>no</strong>s e públicos existentes, que nãoatendiam às <strong>no</strong>vas exigências de padrão de consumo <strong>do</strong>s funcionários <strong>da</strong>sminera<strong>do</strong>ras. Porto Trombetas localiza-­‐se próximo às minas, <strong>no</strong> interior <strong>da</strong><strong>da</strong> serra, assim como a vila <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Navio. A demonstra entor<strong>no</strong>. Segun<strong>do</strong> Coelho et al (2002, p. 138), “a área <strong>da</strong> mineração, o território”.Essas áreas exclusivas de moradia para os funcionários <strong>da</strong>s empresassão como ilhas de tranqüili<strong>da</strong>de e bons serviços envolvi<strong>da</strong> pelo mar de caos,descaso e pobreza existente na Amazônia e aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> pelos injustosprojetos de exploração mineral. No entanto, em grande parte essas áreassão fecha<strong>da</strong>s aos ci<strong>da</strong>dãos comuns <strong>da</strong> região, estan<strong>do</strong> os bons serviços deenergia, comunicação, comércio, lazer, saúde e educação ve<strong>da</strong><strong>do</strong>s a maior melhores condições de vi<strong>da</strong> são constantes <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>da</strong>s .Um <strong>do</strong>s casos mais emblemáticos é <strong>do</strong>s grupos quilombolas de Oriximiná,buscan<strong>do</strong> tratamento médico na área <strong>da</strong> Mineração Rio <strong>do</strong> Norte. Em váriasci<strong>da</strong>des fecha<strong>da</strong>s cresceram em sua periferia vilas e vilarejos, conheci<strong>do</strong>scomo beiradões, que não possuem condições de habitabili<strong>da</strong>de. Além disso,as famílias ali instala<strong>da</strong>s buscam, em grande parte sem sucesso, trabalhoe serviços <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de fecha<strong>da</strong>, o que gera uma tensão entre oshabitantes <strong>da</strong>s duas partes. A formação de prostíbulos nestas áreas tambémé comum e possuem intima relação com os projetos de mineração, onde hágrande concentração <strong>do</strong> gênero masculi<strong>no</strong>.Nos projetos em que as empresas optam por se instalarem na sede<strong>do</strong> município, as <strong>no</strong>vas instalações também não se fazem tão integra<strong>da</strong>s às os precários aparelhamentos urba<strong>no</strong>s <strong>do</strong>s municípios, mas constroemcon<strong>do</strong>mínios fecha<strong>do</strong>s, fragmentan<strong>do</strong> o teci<strong>do</strong> socioespacial urba<strong>no</strong>. Sen<strong>do</strong>assim, a diferença encontra-­‐se na ausência <strong>do</strong>s custos priva<strong>do</strong>s, aplica<strong>do</strong>sna construção e manutenção de uma estrutura urbana própria, sen<strong>do</strong> estesrepassa<strong>do</strong>s ao Esta<strong>do</strong>, que terá que preparar a ci<strong>da</strong>de para atender as <strong>no</strong>vasdeman<strong>da</strong>s de população e consumo. Ou seja, há a socialização <strong>do</strong>s prejuízos102


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivaspriva<strong>do</strong>s. No entanto, o modelo segregacionista e o aumento <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>desocial se mantêm, seguin<strong>do</strong> os moldes de Parauapebas e Juruti (COELHO et al,2002).As ci<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras, em especial <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte <strong>do</strong> país, sofrem com exploração e a sede municipal, os municípios de Oriximiná, Parauapebas eMarabá tiveram crescimento populacional intenso <strong>no</strong>s últimos 30 a<strong>no</strong>s.Parauapebas cresceu 600% desde 1988, quan<strong>do</strong> se emancipou a categoriade município; Marabá cresceu 33% <strong>no</strong> mesmo perío<strong>do</strong> e Oriximiná cresceu83% desde 1980, quan<strong>do</strong> se instalou a MRN (BARRETO, 2001; COELHO,1995; COELHO & MONTEIRO, 2003). Outro fenôme<strong>no</strong> comum é a criaçãode <strong>no</strong>vos municípios com nenhuma infra-­‐estrutura urbana ou capaci<strong>da</strong>decom as condições locais, geran<strong>do</strong> sérios impactos sociais. Dentre os municípiosrecém cria<strong>do</strong>s em regiões minera<strong>do</strong>ras: Parauapebas e Curionópolis (1988);Terra Santa, Água Azul <strong>do</strong> Norte e El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Carajás em 1991; Canaã <strong>do</strong>sCarajás e Vitória <strong>do</strong> Jari e Curuá (1994/1995).<strong>da</strong>s ocupações irregulares (favelizações) em terras públicas e priva<strong>da</strong>s; ospreços <strong>do</strong> solo e <strong>do</strong>s imóveis urba<strong>no</strong>s dispararam; a criminalização aumenta eo sistema carcerário/policial não tem estrutura para combater os infratores;há o crescimento <strong>da</strong> prostituição e <strong>da</strong>s ilegali<strong>da</strong>des; os valores de serviços públicos (saúde, educação, energia, saneamento, água etc.) e priva<strong>do</strong>s(comércio, hospe<strong>da</strong>gens, transportes, etc). As ci<strong>da</strong>des não se preparam para ocrescimento que sofrem com a atrativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s projetos de mineração e têmque se a<strong>da</strong>ptarem às <strong>no</strong>vas deman<strong>da</strong>s e problemas durante a implementação.Na área rural, agricultores aban<strong>do</strong>nam a produção agrícola, vendem suas terrase se ca<strong>da</strong>stram como peões nas empreiteiras, o que, associa<strong>do</strong> com o aumento<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, provoca a elevação <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s alimentos e atémesmo uma escassez <strong>do</strong>s produtos. Esses processos de transformação sociale urbana são vivencia<strong>do</strong>s por to<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des de mineração e hoje estão maisA existência <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de exploração mineral revaloriza a terra urbanae rural. A cobiça sobre o solo se torna até maior <strong>do</strong> que sobre o subsolo. Adisputa por minério se dá entre as corporações minera<strong>do</strong>ras e são trava<strong>da</strong>snas vias institucionais através <strong>do</strong> Departamento Nacional de ProduçãoMineral -­‐ DNPM, que concede licença para pesquisa e lavra. Entretanto,103


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?a disputa pela terra e pela permanência na terra nem sempre se dá pelasvias legais. A violência, muitas vezes, se transforma <strong>no</strong> meio para resoluçãomaior, pois estão associa<strong>do</strong>s à grilagem, à especulação imobiliária e à cobiçade madeireiros e grandes produtores agrícolas.A região de Carajás é um ótimo exemplo de como a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desapresentar uma forte concentração de terras nas mãos de uma oligarquia localproveniente <strong>da</strong> exploração <strong>do</strong>s castanhais, a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> mineração, associa<strong>da</strong>a <strong>no</strong>vas ro<strong>do</strong>vias, grandes projetos de infraestrutura e a descoberta e posteriorpor terras. Essa região se tor<strong>no</strong>u o palco <strong>da</strong>s maiores ações <strong>do</strong> Movimento<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Sem Terra –MST na região amazônica, forma<strong>do</strong>, na grande grandes empreendimentos e pelo garimpo. Houve e ain<strong>da</strong> há na região umagrande disputa pela terra, não só entre latifundiários e sem terras, mas entreposseiros e povos indígenas, indígenas e madeireiros que levam ao aumento<strong>da</strong> violência e <strong>do</strong> número de mortes. A região é uma <strong>da</strong>s mais violentas <strong>do</strong><strong>Brasil</strong> e protagonizou uma <strong>da</strong>s maiores chacinas contra sem terras <strong>no</strong> país,em El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Carajás, em abril de 1996. No entanto, cabe destacar que amineração não é o único agente modela<strong>do</strong>r regional, nem a única culpa<strong>da</strong>. Astransformações acarreta<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong>s últimas três déca<strong>da</strong>s são resultantes<strong>do</strong> processo de expansão <strong>da</strong> fronteira econômica conduzi<strong>da</strong>s por diversosatores e grupos sociais, inclusive o Esta<strong>do</strong>.Acompanha<strong>do</strong> ao processo de abertura de fronteiras econômicas, forma direta os povos tradicionais sem títulos de terra, que perdem as para madeireiros e grileiros. Abre-­‐se caminho ain<strong>da</strong> para entra<strong>da</strong> de <strong>no</strong>vosinvestimentos em agricultura mo<strong>no</strong>cultora e latifundiária como a pecuária eo cultivo <strong>da</strong> soja. Este processo de ocupação <strong>do</strong> solo rural resultou na amplapara extração de madeira de lei e carvão vegetal para a siderurgia de ferro <strong>no</strong>Pará e Maranhão (exclusivamente guserias). Em Rondônia, o desmatamentocausa<strong>do</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des de agropecuária e mineração tem si<strong>do</strong> responsávelpela alteração de grandes porções de áreas com cobertura vegetal nativa. Em104


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasmadeireira e o processo de grilagem. O mesmo ocorreu nas áreas de garimpo<strong>do</strong> Tapajós na déca<strong>da</strong> de 1980 e 1990.O garimpeiro não é uma classe social abasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> região amazônica, pelocontrário, possuiu uma vi<strong>da</strong> extremamente pobre e precária. Além <strong>da</strong> intensapobreza em que vivem os garimpeiros <strong>da</strong> região, sempre na busca de um <strong>no</strong>voel<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>, as forma de trabalho são bastante degra<strong>da</strong>ntes e perigosas, trafegam por terre<strong>no</strong>s instáveis sujeitos a deslizamentos e soterramentos. Aem ouro, diamante ou outra pedra preciosa, os levam a desrespeitar limitesterritoriais preestabeleci<strong>do</strong>s como terras indígenas, uni<strong>da</strong>de de conservação,proprie<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s, áreas de concessão mineraria etc. Como ditoanteriormente, há casos como na Floresta Nacional <strong>do</strong> Jamari, em Rondônia,onde os garimpeiros estão sen<strong>do</strong> proibi<strong>do</strong>s de entrar na área de proteçãoilegalmente em terras indígenas como a <strong>do</strong>s Cintas-­‐Largas em Rondônia; ounas áreas de pesquisa <strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra Canadense Colossus em Serra Pela<strong>da</strong>,onde foram removi<strong>do</strong>s pela Polícia Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará. No Tapajós, em2006, foram cria<strong>da</strong>s seis Uni<strong>da</strong>des de Conservação sobre a antiga ReservaGarimpeira e outras áreas de garimpo <strong>da</strong> região em virtude <strong>da</strong> compensaçãopelo asfaltamento <strong>da</strong> BR-­‐163 (Cuiabá – Santarém) aumentan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> mais a2. Os impactos socioambientais <strong>da</strong> mineraçãoOs impactos socioambientais <strong>da</strong> mineração têm que ser compreendi<strong>do</strong>s eco<strong>no</strong>mista Martínez Alier (2007), na qual, esses processos estão distribuí<strong>do</strong>sespacialmente, de forma desigual e intencional, afetan<strong>do</strong> de maneira maisintensa os mais pobres e produzin<strong>do</strong> injustiças ambientais. Esta desigual<strong>da</strong>denão se limita apenas à idéia de classes sociais nas escalas locais e nacionais. Asregiões e países periféricos também sofrem mais fortemente com os impactose ameaças socioambientais <strong>do</strong> que os países centrais. A partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>século XX, as ativi<strong>da</strong>des produtivas polui<strong>do</strong>ras e impactantes transferiram-­se<strong>do</strong>s países de centro para as periferias, fugin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s rígi<strong>da</strong>s regulaçõesambientais, distribuin<strong>do</strong> desigualmente seus <strong>da</strong><strong>no</strong>s socioambientais sobreos países pobres (BUNKER, 1988; 2000; MACHADO, 2007). Os determinantes105


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?<strong>da</strong> distribuição ecológica podem ser naturais, como clima, padrõessão inclusive sociais, culturais, econômicos políticos e técnicos (MARTÍNEZALIER, 2007).O impacto neste texto será entendi<strong>do</strong> como o “processo de mu<strong>da</strong>nça social”(VAINER, 2003: p. 5), desestruturan<strong>do</strong> as relações sociais. Estes processo<strong>sal</strong>teram a organização territorial, a paisagem, a morfologia, a ecologia, ePor isso, a temporali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s impactos <strong>da</strong> mineração deve ser estendi<strong>da</strong> desdeos primeiros rumores <strong>do</strong> projeto – incluin<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong>s geológicos,quan<strong>do</strong> se produzem incertezas <strong>no</strong>s habitantes locais e provocam o aumento<strong>da</strong>s emigrações e <strong>da</strong>s especulações, até o térmi<strong>no</strong> <strong>do</strong> empreendimento e oque é deixa<strong>do</strong> com o fechamento <strong>da</strong> mina. Neste senti<strong>do</strong>, os impactos são asexternali<strong>da</strong>des negativas <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral nas populações locais e quePara a jurista Maria Laura Barreto (2001), a equação <strong>da</strong> questãoambiental na ativi<strong>da</strong>de mineral é extremamente complexa: primeiro, por ser omeio ambiente e desenvolvimento; segun<strong>do</strong>, por ser o minério um recursonão-­‐re<strong>no</strong>vável; terceiro, pela impossibili<strong>da</strong>de de reconstituição <strong>da</strong>s áreasdegra<strong>da</strong><strong>da</strong>s, já que o minério, uma vez retira<strong>do</strong>, não retornará ao buraco; porcausa grande repercussão psicológica e simbólica.<strong>no</strong> lençol freático, poluição so<strong>no</strong>ra, visual, <strong>da</strong> água, ar, solo, os impactos sobreassoreamento, erosão, movimento de massa (deslizamento de terra),instabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> talude, encostas e terre<strong>no</strong>s, lançamentos de fragmentose vibrações; que apesar de ocorrerem, pre<strong>do</strong>minantemente, em áreas deme<strong>no</strong>r densi<strong>da</strong>de populacional, afetam inúmeros grupos, transforman<strong>do</strong>totalmente as reali<strong>da</strong>des locais (BARRETO, 2001; CASTILLA, 2003). Por isso,tem-­‐se que inserir algumas variáveis subjetivas na medição <strong>do</strong>s impactos. Pordetermina<strong>do</strong> grupo social? E qual será o efeito sobre as próximas geraçõesque perderam esses recursos? Nos processos de avaliação <strong>do</strong>s impactosambientais, <strong>no</strong> licenciamento ambiental ou <strong>no</strong> zoneamento ecológico-­econômicoessas informações podem não ser contempla<strong>da</strong>s ou, simplesmente,ser desconsidera<strong>da</strong>s, uma vez que se quer encontrar uma formula matemática106


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivaspara avaliar o valor de existência de alguns bens naturais (THEODORO et al,2004).Pode-­‐se apontar vários exemplos de descaso de empresas de mineraçãocom a natureza, que afetam ou não diretamente povos tradicionais. A produçãode bauxita e alumínio é uma <strong>da</strong>s mais poluentes <strong>da</strong> região amazônica e, aolongo <strong>do</strong>s últimos 30 a<strong>no</strong>s, provocou o que pode ser o maior impacto ambiental<strong>da</strong> história <strong>da</strong> mineração na Amazônia: a contaminação <strong>do</strong> lago Batata pelorejeito <strong>da</strong> bauxita (ver foto <strong>no</strong>s anexos) até hoje não recupera<strong>do</strong> plenamenteapesar <strong>do</strong>s investimentos e estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Mineração Rio <strong>do</strong> Norte. Além disso, oprocesso produtivo causou o assoreamento de igarapés, a contaminação poróleo diesel <strong>do</strong> rio Trombetas, o aumento em volume <strong>do</strong> consumo de água <strong>do</strong>smananciais e <strong>do</strong> lençol freático local e a derruba<strong>da</strong> de mais de 5 mil hectares prejudican<strong>do</strong> e preocupan<strong>do</strong> populações tradicionais e quilombolas em Jurutie Oriximiná que vivem <strong>da</strong> pesca, <strong>da</strong> caça, <strong>da</strong> agricultura e <strong>do</strong> extrativismovegetal. Em Barcarena, a lama branca <strong>do</strong>s rejeitos <strong>da</strong> produção de alumina <strong>da</strong>ALUNORTE poluiu como materiais químicos os rios <strong>da</strong> região prejudican<strong>do</strong>comuni<strong>da</strong>de de agricultores locais.A indústria <strong>do</strong> caulim causa a contaminação <strong>do</strong> ar em ci<strong>da</strong>des e povoa<strong>do</strong>s<strong>no</strong>s municípios de Barcarena (PA), Ipixuna <strong>do</strong> Pará (PA), Vitória <strong>do</strong> Jarí (AP)e ao longo <strong>do</strong>s minerodutos por meio <strong>do</strong> pó químico produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> transportee <strong>no</strong>s reservatórios de rejeitos. No Pará, a transnacional Imerys Rio Capimé acusa<strong>da</strong> de ter contamina<strong>do</strong> por duas vezes o rio <strong>da</strong>s Cobras e igarapésCureperé, Dendê e São João, além <strong>da</strong> praia de Vila <strong>do</strong> Conde, <strong>no</strong> DistritoIndustrial de Barcarena, a partir <strong>do</strong> rompimento <strong>do</strong> tanque de rejeitos.Em Carajás-­‐Pará, a Vale promoveu impactos ambientais em to<strong>do</strong>s osseus empreendimentos de ferro, cobre e níquel. Existe a denúncia de que aempresa poluiu os cursos d’água <strong>do</strong> córrego Motosserra e <strong>do</strong> igarapé ÁguaClara que nascem nas serras e atravessam o assentamento de reforma agráriauma multa <strong>do</strong> IBAMA pelo lançamento de grande quanti<strong>da</strong>de de rejeitosdentro <strong>da</strong> Floresta Nacional de Carajás, poluin<strong>do</strong> o solo.No Amapá, a mineração de cromo <strong>da</strong> multinacional <strong>no</strong>rueguesa Elkemdeixou um passivo ambiental decorrente <strong>do</strong>s deslizamentos <strong>da</strong>s banca<strong>da</strong>s <strong>da</strong>sminas e <strong>da</strong>s pilhas de material estéril (ver foto <strong>no</strong>s anexos) e <strong>do</strong> assoreamento<strong>do</strong> igarapé Curumuri, afetan<strong>do</strong> a fonte de água e de alimentos de diversosmora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> região. O manganês extraí<strong>do</strong> pela ICOMI também deixou seusprejuízos ambientais para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amapá como as contaminações <strong>do</strong>srecursos hídricos <strong>da</strong> região <strong>da</strong> mina por arsênio, resultante <strong>da</strong> deposição107


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?perigosa e vem ameaçan<strong>do</strong> principalmente a comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Elesbão, <strong>no</strong>município de Santana.No Amazonas, a minera<strong>do</strong>ra Taboca de estanho gerou impactosambientais como o desmatamento de nascentes e <strong>da</strong>s margens de igarapése a contaminação <strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> rio Alalaú, que prejudicou diretamente oabastecimento e as práticas tradicionais <strong>do</strong>s indígenas Waimiri Atroari, umavez que o referi<strong>do</strong> curso d’água é responsável pela drenagem de 55% <strong>do</strong>impactos de desmatamento e <strong>no</strong>s igarapés <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> Floresta Nacional <strong>do</strong>Jamari.Na ativi<strong>da</strong>de garimpeira, destaca-­‐se, dentre o mais preocupantes <strong>do</strong>simpactos ambientais, a utilização de mercúrio <strong>no</strong> processo de garimpagem<strong>do</strong> ouro. Por isso, o garimpo de aluvião é extremamente polui<strong>do</strong>r, uma vezque o mercúrio se acumula <strong>no</strong> ambiente sob diversas formas: na água,<strong>no</strong>s peixes e outros animais silvestres poden<strong>do</strong> contaminar o ser huma<strong>no</strong>direta e indiretamente. Na Amazônia, to<strong>do</strong>s os locais de garimpo sofremcom esse problema. O lago <strong>da</strong> extinta mina de Serra Pela<strong>da</strong> está repleto demercúrio decanta<strong>do</strong> e o rio Tapajós possui vários pontos de contaminação.Outro risco é o uso <strong>do</strong> cianeto pela mineração industrial de ouro que podecausar problemas principalmente ao trabalha<strong>do</strong>r. Esse material já está sen<strong>do</strong>utiliza<strong>do</strong> por grupos garimpeiros, sem qualquer proteção ao trabalha<strong>do</strong>r e aomeio ambiente.As plantas industriais <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de extração mineral não possibilitamgrandes mobili<strong>da</strong>des espaciais devi<strong>do</strong> à rigidez geológica, razão por que nãoacompanham os limites urba<strong>no</strong>s ou rurais (BUNKER, 2000; PIRES DO RIO,1995). No <strong>Brasil</strong>, os indivíduos mais afeta<strong>do</strong>s pela ativi<strong>da</strong>de de extraçãohabitam as áreas rurais, onde as minas se localizam. No entanto, não são osúnicos, como apresentou Souza (2007) <strong>no</strong> espaço urba<strong>no</strong> de Itabira-­‐MG. Aresistência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a empreendimentos minera<strong>do</strong>res em áreas urbanasou áreas de alta densi<strong>da</strong>de populacional tende a ser maior pela dimensão socialque assume. As transformações <strong>no</strong> urba<strong>no</strong> afetam mais indivíduos e são maisou <strong>no</strong>s topos <strong>do</strong>s morros, os impactos aparentam ser mais degra<strong>da</strong>ntes eexpressivos ao corroerem casas e ruas.A ativi<strong>da</strong>de minera<strong>do</strong>ra e a sustentabili<strong>da</strong>de ambiental são processosantagônicos. Mesmo com o aparato técnico e tec<strong>no</strong>lógico hoje existente, aextração mineral ain<strong>da</strong> provoca grandes impactos socioambientais. O processode extração mineral em minas abertas ou fecha<strong>da</strong>s necessita inevitavelmente108


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasdevastar grandes hectares de vegetação. Na Amazônia, a exploração mineralderruba árvores protegi<strong>da</strong>s por lei -­‐ como as castanheiras, cedro, jatobá -­‐, lagos, resultan<strong>do</strong>, consecutivamente, em problemas sociais graves. Há tambémgrande per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de pela retira<strong>da</strong> <strong>do</strong>s animais de seu habitat, pelaimpactos de sua destruição são ameaças e per<strong>da</strong>s imensuráveis.Na Amazônia, as áreas de processos minerários se encontramdensa ocupação humana. Muitas delas estão, inclusive, em uni<strong>da</strong>des deconservação e terras indígenas. As TIs Arara, Baú, Kwazá <strong>do</strong> Rio São Pedro,Pequizal, Roosevelt e Xikrin <strong>do</strong> Cateté têm mais de 90% de seu territóriocom incidência de processos, outras 35 TIs têm mais de 50% de sua extensãona mesma situação. Os TI Xikrin <strong>do</strong> Cateté, em Carajás, tem 99,32 % de suaárea com incidência de títulos minerários e requerimentos de pesquisa paraOutro emblemático caso é a TI Waimiri-­‐Atroari <strong>no</strong> Amazonas, nafronteira com Roraima, <strong>no</strong> qual 44,5% <strong>do</strong>s 2,5 milhões de hectares constamcom processos minerários <strong>no</strong> DNPM, em especial de cassiterita e cobre. Essepovo tinha si<strong>do</strong> afeta<strong>do</strong> pela construção <strong>da</strong> BR-­‐174 (Manaus -­‐ Boa Vista), entre1969 e 1977. Posteriormente, ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 1970, com a descoberta deuma grande jazi<strong>da</strong> de cassiterita a Reserva Indígena Waimiri-­‐Atroari perdeu526 mil hectares por conta <strong>da</strong> pressão de políticos e empresários interessa<strong>do</strong>snas jazi<strong>da</strong>s de minério. Em 1982, a minera<strong>do</strong>ra Paranapanema começou aoperar causan<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>no</strong>sos impactos ambientais a população indígena.Outros povos tradicionais atingi<strong>do</strong>s ou possivelmente atingi<strong>do</strong>s são osresidentes nas 33 Uni<strong>da</strong>des de Conservação de Uso Sustentável na Amazônia<strong>Legal</strong>, principalmente em Florestas Nacionais e Estaduais, onde existem 571processos de pesquisa e exploração, nas quais a ativi<strong>da</strong>de é condiciona<strong>da</strong>a uma série de requisitos, como ocorre na Floresta Nacional Carajás e naFloresta Nacional Saracá-­‐Taquera <strong>no</strong> Pará, e ain<strong>da</strong> na Floresta Nacional <strong>do</strong>Jamari, em Rondônia.Nestas áreas, as comuni<strong>da</strong>des locais apresentam uma intensa simbiosecom os biomas preserva<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong>-­‐se constantemente <strong>do</strong>s recursosnaturais como fonte de alimento e ren<strong>da</strong>. Deste mo<strong>do</strong>, a mineração representaa per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s antigas áreas de extrativismo e cultivo. Não há como manter oextrativismo vegetal em áreas devasta<strong>da</strong>s para extração mineral, restan<strong>do</strong>109


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?às populações extrativistas o ônus pelas per<strong>da</strong>s econômicas e sociais.A exploração mineral vem deixan<strong>do</strong> na região amazônica um lega<strong>do</strong> depobreza, impactos socioambientais e subdesenvolvimento, em especial nascomuni<strong>da</strong>des tradicionais rurais (BUNKER, 1988).Por se tratar ain<strong>da</strong> de uma fronteira econômica desprovi<strong>da</strong> deinfraestrutura e logística, os grandes projetos minera<strong>do</strong>res na Amazôniarequerem, em sua maioria, a construção de uma imensa infraestrutura emlogística de transporte, telecomunicações e moradias para que se possa extrair,transportar, transformar e exportar o minério <strong>da</strong> região. A área <strong>do</strong> manganês<strong>no</strong> Amapá, província ferrífera de Carajás, as áreas de bauxita <strong>do</strong> BaixoAmazonas e a região estanífera <strong>no</strong> Amazonas e Rondônia encontravam-­‐se,habita<strong>da</strong>s por povos indígenas e populações ribeirinhas, que eco<strong>no</strong>micamentecircular, se alimentar e escoar merca<strong>do</strong>ria.As minera<strong>do</strong>ras, assim, provocam impactos socioambientais aoconstruírem as infraestruturas que servirão à exploração e escoamento <strong>da</strong>produção mineral. As estra<strong>da</strong>s, ferrovias, minerodutos, linhões de energia, e portos atravessam comuni<strong>da</strong>des, fragmentam territórios,expulsam indivíduos e colocam em risco a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res que convivemnão são pensa<strong>do</strong>s para minimizar os impactos sobre as populações locais, massim para diminuir o custo de engenharia maximizan<strong>do</strong> os lucros <strong>da</strong>s empresase <strong>da</strong>n<strong>do</strong> maior dinamismo à exportação <strong>do</strong>s minérios. Diversos grupos sãoprejudica<strong>do</strong>s por esses subprojetos que compõem os grandes projetos deexploração mineral na Amazônia e não podem ser desconsidera<strong>do</strong>s comoparte deles.Podemos citar vários casos onde grandes projetos de mineração social e ambiental de suas regiões. No projeto de manganês <strong>da</strong> ICOMI <strong>no</strong>Amapá, primeiro grande projeto de mineração na região, foi monta<strong>da</strong> umainfraestrutura de ferrovia, , porto, usinas de transformação, crescimento populacional, <strong>da</strong> urbanização e a extinção de diversas ativi<strong>da</strong>destradicionais.A promoção <strong>do</strong> Projeto Grande Carajás por parte <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong> MilitarFederal por meio <strong>da</strong> então estatal Companhia Vale <strong>do</strong> Rio Doce provocou oavanço <strong>da</strong> fronteira econômica conduzi<strong>do</strong> pela construção de grandes viasde circulação como a estra<strong>da</strong> de Ferro Carajás -­‐ São Luís e diferentes rotas110


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasro<strong>do</strong>viárias, redes de energia e telecomunicações, <strong>no</strong>vos núcleos urba<strong>no</strong>s,polos industriais de transformação mineral (especialmente guserias), geran<strong>do</strong> como já relata<strong>do</strong> anteriormente. Cabe ain<strong>da</strong> dizer, que to<strong>do</strong>s os municípiose ci<strong>da</strong>des <strong>no</strong> trajeto <strong>da</strong> ferrovia cresceram de forma desordena<strong>da</strong> geran<strong>do</strong> poluição e extinção <strong>do</strong>s recursos hídricos, e a exacerbação <strong>da</strong> poluição <strong>do</strong> ar.Uma <strong>da</strong>s principais vilãs oriun<strong>da</strong>s <strong>do</strong> setor mineral são as guserias(indústrias que transformam o ferro mineral em ferro-­‐gusa, um subprodutopara a transformação em aço). Atualmente são 14 siderúrgicas situa<strong>da</strong>s aoem São Luís <strong>do</strong> Maranhão, sen<strong>do</strong> essas indústrias responsáveis por boa parte<strong>do</strong> desmatamento, <strong>da</strong> poluição atmosférica e <strong>do</strong> trabalho escravo em virtude<strong>do</strong> alto consumo de carvão vegetal, compra<strong>do</strong>s de carvoarias legais e ilegais.O Movimento Justiça <strong>no</strong>s Trilhos denunciou ain<strong>da</strong> os atropelamentos depessoas e animais na ferrovia, o aumento <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> com a passagem <strong>do</strong> trem eo desmoronamento de casas provoca<strong>do</strong> pelos tremores <strong>do</strong> tráfego (CARNEIRO& ARAUJO).As minas de caulim e de bauxita em Paragominas e Ipixuna <strong>do</strong>Pará careciam de pontos logísticos para possíveis locais de escoamento<strong>da</strong> produção. Ten<strong>do</strong> em vista esse problema, as empresas de mineraçãoconstruíram três minerodutos que fragmentaram diversas proprie<strong>da</strong>dese terras de comuni<strong>da</strong>des tradicionais, colocan<strong>do</strong> em risco, por exemplo, ascomuni<strong>da</strong>des quilombolas de Moju-­‐PA <strong>no</strong> trajeto <strong>do</strong>s minerodutos. Essaper<strong>da</strong> <strong>da</strong> navegabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água igarapés e o desaparecimentode animais, com a destruição de suas vias ro<strong>do</strong>viárias pelo tráfego de veículospesa<strong>do</strong>, com a devastação <strong>da</strong>s áreas de mata para extrativismo, impactoscausa<strong>do</strong>s, principalmente, pela Vale, proprietária <strong>do</strong> duto de bauxita. Osquilombolas ain<strong>da</strong> vivem sob o risco de um rompimento <strong>do</strong>s dutos, comoocorreu <strong>no</strong> duto de caulim, que contami<strong>no</strong>u o igarapé Itabocal matan<strong>do</strong> peixese animais silvestres.Em Oriximiná e Juruti, as empresas Mineração Rio <strong>do</strong> Norte e amultinacional estadunidense Alcoa construíram, para a produção e escoamento<strong>do</strong> minério, uma mina, uma estra<strong>da</strong> de ferro, estra<strong>da</strong>s, área industrial e umporto. Em Oriximiná, estes sistemas de infraestrutura estão <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>Floresta Nacional Saracá-­‐Taquera causan<strong>do</strong> deslizamentos, contaminação eassoreamentos de rios. Em Juruti, a ferrovia cortou várias comuni<strong>da</strong>des ruraise, inclusive, um assentamento rural <strong>do</strong> INCRA, fragmentan<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong>des,111


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?cortan<strong>do</strong> áreas de mata e agricultura e colocan<strong>do</strong> em risco a população quecircula pelo assentamento.O problema <strong>do</strong>s impactos socioambientais <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>da</strong>s áreas demineração não acabam com a instalação <strong>do</strong> empreendimento. Nos perío<strong>do</strong>sde expansão <strong>da</strong> extração, quan<strong>do</strong> as corporações reivindicam mais espaço,<strong>no</strong>vos impactos e <strong>no</strong>vos grupos atingi<strong>do</strong>s surgem. Neste momento, énecessário reabrir um <strong>no</strong>vo processo de negociação que almeje diminuir oímpeto devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s capitalistas e consiga ressarcimentos e compensaçõesmais justas aos grupos atingi<strong>do</strong>s pelas per<strong>da</strong>s e ameaças futuras.Os dilemas <strong>da</strong>s compensaçõespara os atingi<strong>do</strong>s1-­‐ exploração, as minera<strong>do</strong>ras se aproximam <strong>do</strong>s atingi<strong>do</strong>s, visitam-­<strong>no</strong>s,tentam saciar algumas carências básicas e se colocam aserviço <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>via, este pa<strong>no</strong>rama tende a mu<strong>da</strong>rdurante a exploração e ao seu térmi<strong>no</strong>, quan<strong>do</strong> os representantes<strong>da</strong>s empresas somem, as políticas sociais se estagnam oudiminuem, e a empresa atua com rispidez para controlar suasáreas e assegurar o funcionamento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Casos com esseEsta situação só é diferente quan<strong>do</strong> há resistência por parte <strong>do</strong>satingi<strong>do</strong>s.2-­‐ Nem sempre, ou melhor, quase nunca as compensaçõeselas podem acabar com a auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong> grupo, converten<strong>do</strong>-­‐o emdependente <strong>da</strong> empresa. Em muitos casos, as comuni<strong>da</strong>des queaban<strong>do</strong>nam suas fontes de recursos tradicionais e acabamtotalmente dependentes <strong>do</strong>s recursos <strong>da</strong>s empresas e seusprojetos de responsabili<strong>da</strong>de social. Podemos apontar comocasos preocupantes de comuni<strong>da</strong>des que recebem compensações quepelos impactos socioambientais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ra e sua112


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivas facilitou o acesso a maior quanti<strong>da</strong>de e varie<strong>da</strong>de de alimentos,mas trouxe sedentarização e <strong>no</strong>vos hábitos de consumo, ten<strong>do</strong>como resulta<strong>do</strong> uma total dependência deste recurso e <strong>da</strong>minera<strong>do</strong>ra.3-­‐ As promessas, após o térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, deespécies vegetais com alto valor de merca<strong>do</strong> não representaránecessariamente um futuro de prosperi<strong>da</strong>de as comuni<strong>da</strong>des.Ten<strong>do</strong> em vista um perío<strong>do</strong> mínimo de 15 a<strong>no</strong>s para térmi<strong>no</strong><strong>da</strong> exploração mineral, acresci<strong>do</strong>s ao tempo de crescimento <strong>da</strong>sárvores, uma geração inteira, ou mais, será proibi<strong>da</strong> de acessaros recursos naturais, sen<strong>do</strong> obriga<strong>da</strong> a se deslocar para outrosetor produtivo, ou depender <strong>do</strong>s apoios públicos e priva<strong>do</strong>s parasobreviver. Pode-­‐se atentar para uma tendência de inutilização<strong>do</strong>s conhecimentos tradicionais e, portanto, para a extinção <strong>do</strong>scostumes e práticas espaciais.As empresas de mineração não consideram seus impactos espaciais naárea <strong>do</strong> entor<strong>no</strong> e na região como um to<strong>do</strong>. Sua concepção está restrita àsinterferências localiza<strong>da</strong>s – poluição, assoreamento, per<strong>da</strong> de áreas de extração,deslocamento compulsório, etc. – somente para grupos próximos às áreas delavra e <strong>do</strong>s aparatos de infraestrutura. Elas não consideram, por exemplo, oaumento <strong>do</strong>s problemas urba<strong>no</strong>s, indican<strong>do</strong>-­‐os como impactos indiretos. Ase <strong>no</strong>vas <strong>no</strong>rmas e restrições ao espaço e às populações pré-­‐existentes; surgem contabiliza<strong>da</strong>s como impactos socioambientais <strong>do</strong>s projetos minera<strong>do</strong>res,sen<strong>do</strong> as empresas responsáveis por solucioná-­‐los também, junto com oEsta<strong>do</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, os projetos sociais <strong>da</strong> empresa são apenas pontuaise não vão além de projetos paliativos com a intencionali<strong>da</strong>de de fortalecer o de responsabili<strong>da</strong>de social e criar um paternalismo local. Trata-­‐se113


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?de uma vitrine para a socie<strong>da</strong>de e investi<strong>do</strong>res, que engor<strong>da</strong> as premiaçõese os relatórios empresariais, sem se preocupar com os ver<strong>da</strong>deiros anseiose necessi<strong>da</strong>des sociais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Em alguns projetos, os grupos locaiscedem suas produções artísticas e conhecimentos ét<strong>no</strong>-­‐tradicionais, que sãousurpa<strong>do</strong>s pelas empresas executoras de projetos sociais para publicar suasações ou para achar sementes para o replantio.3. Exploração mineral na Amazônia brasileiraNeste segmento discutiremos a situação de ca<strong>da</strong> produto mineral naAmazônia de acor<strong>do</strong> com o potencial de reservas; a quanti<strong>da</strong>de e o valorna eco<strong>no</strong>mia mineral regional; os desti<strong>no</strong>s majoritários <strong>da</strong> produção; astendências futuras; e os impactos e conflitos decorrentes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>extrativismo mineral industrial e artesanal.Definiu-­‐se neste trabalho a região amazônica como sen<strong>do</strong> compostapor sete esta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> federação brasileira (Acre, Amapá, Amazonas, Pará,Tocantins, Rondônia e Roraima), <strong>no</strong> entanto, sempre que se fez necessárioforam acrescenta<strong>da</strong>s informações em relação a outros esta<strong>do</strong>s quecompõem a Amazônia <strong>Legal</strong> como Mato Grosso e Maranhão 6 .Em 2008, a indústria <strong>da</strong> mineração e transformação mineralcontribuiu com US$ 84 bilhões, ou seja, aproxima<strong>da</strong>mente 5,25% <strong>do</strong> total<strong>do</strong> PIB <strong>Brasil</strong>, que alcançou US$ 1,57 trilhão. A produção de minérios <strong>do</strong><strong>Brasil</strong> foi de R$ 54 bilhões e a Amazônia <strong>Legal</strong> respondeu por mais de 25%desse valor total produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> país. Até 2010, cerca de R$ 8 bilhões foramprevistos para serem investi<strong>do</strong>s na implantação e expansão de minas eusinas na Região Norte, como veremos por tipo de minério a seguir.6 Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s estatísticos e quantitativos, em grande parte, foram retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sumá-­rioMineral <strong>Brasil</strong>eiro 2008, <strong>do</strong> Anuário Mineral <strong>Brasil</strong>eiro 2006, <strong>do</strong> Informe Mineral<strong>da</strong> Amazônia 2008 e Informações e Análises <strong>da</strong> Eco<strong>no</strong>mia Mineral <strong>Brasil</strong>eira 2009.114


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasEmpresasPaís de Origem <strong>do</strong> CapitalAcionárioProdutoLocali<strong>da</strong>deMineração Rio <strong>do</strong> Norte <strong>Brasil</strong> (Vale), Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong> BauxitaOriximiná – Pará– MRN(BHP Billinton), Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> América (Alcoa),Austrália-Canadá (RioTinto-Alcan), etcAlcoa Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> América Bauxita Juruti – ParáNorsk Hydro Noruega e <strong>Brasil</strong> (Vale) Bauxita, Alumina, Alumínio Paragominas e Barcarena– ParáImerys Rio Capim Caulim– IRCCFrança Caulim Ipixuna <strong>do</strong> Pará – ParáCaulim <strong>da</strong> Amazônia– CADAM<strong>Brasil</strong> (Vale) Caulim Vitória <strong>do</strong> Jarí – AmapáPará Pigmentos – PPSA <strong>Brasil</strong> (Vale) Caulim Ipixuna <strong>do</strong> ParáVale <strong>Brasil</strong> Ferro, Cobre, Manganês, Parauapebas, CanaãNiquel,Ouro,Prata <strong>do</strong>s Carajás, Ourilândia,Marabá – ParáMineração Vila Nova <strong>Brasil</strong> (Grupo Fasa) Cromo e Ferro Manzagão – AmapáMineração Taboca Peru (Minsur) Estanho, Tântalo, Nióbio Presidente Figueire<strong>do</strong> –AmazonasEstanho de Rondônia – <strong>Brasil</strong> (Companhia EstanhoSanta Barbara – RondôniaESRASiderúrgica Nacional –CSN)Anglo-American Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong> Ferro, Níquel Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari– Amapá; São Felix <strong>do</strong>Xingu e Jacaré – Pará.Mineração Buritirama <strong>Brasil</strong> (Bonsucex Holding) Manganês Marabá – ParáMineração Pedra Branca <strong>do</strong>AmapariCanadá (GPJ Ventures) Ouro Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari– AmapáSerabi Mineração Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong> Ouro, Prata Itaituba – ParáColossus Mineração Canadá Ouro Curionópolis – SerraPela<strong>da</strong> – ParáEl<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> Gold Canadá Ferro, Ouro Vila Nova – Amapá eTocantinzinho – Itaituba– ParáCompanhia de Mineração<strong>do</strong> Tocantins<strong>Brasil</strong> (Estatal Estadual) Zirconita Jaú <strong>do</strong> TocantinsFontes: Varia<strong>da</strong>s – produzi<strong>do</strong> pelo autor115


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?As reservas mundiais de bauxita somam 27,4 bilhões de tonela<strong>da</strong>s,estan<strong>do</strong> localiza<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 9,5% destas (96% de bauxita tipo metalúrgicopara produção de alumínio e 4% <strong>do</strong> tipo refratária para construção civil). Asreservas brasileiras mais expressivas estão localiza<strong>da</strong>s na Amazônia (95%),com destaque para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará, onde estão localiza<strong>da</strong>s as maioresprodutoras e os principais projetos em an<strong>da</strong>mento. No Pará, as reservas debauxita estão <strong>no</strong>s município de Oriximiná, Paragominas, São Domingos <strong>do</strong>Capim, Irituia, Juruti, Almerim, Ulianõpolis e Ourém. No entanto, existemain<strong>da</strong> minas em Manzagão, <strong>no</strong> Pará e Bom Jardim e Carutapera, <strong>no</strong> Maranhão.Atualmente, a produção nacional de bauxita é a terceira maior <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> com 31,7 Mt 7 /a<strong>no</strong> (14% <strong>da</strong> produção global), atrás <strong>da</strong> Austrália (34%)e <strong>da</strong> China (19%). A exploração de bauxita está fortemente concentra<strong>da</strong>na Amazônia, onde se extrai 85% <strong>da</strong> produção nacional (26,9 Mt/a<strong>no</strong>). Sóem Oriximiná-­‐PA, a joint-venture Mineração Rio <strong>do</strong> Norte – MRN extraiuquase a metade <strong>da</strong> produção nacional (58%) em 2010; o restante <strong>da</strong>produção amazônica está localiza<strong>da</strong> em minas abertas na última déca<strong>da</strong> emParagominas-­‐PA, pela Companhia Vale (20%) e em Juruti, pela Alcoa (10%).Observa-­‐se que a região Amazônica é fun<strong>da</strong>mental na produção mineral debauxita com quase 90% <strong>do</strong> total extraí<strong>do</strong> <strong>no</strong> país e para cadeia produtiva<strong>do</strong> alumínio. Em 2008, a MRN era a segun<strong>da</strong> maior empresa minera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>Pará, atrás apenas <strong>da</strong> Vale, com 12,7% <strong>do</strong> valor de minério comercializa<strong>do</strong><strong>no</strong> esta<strong>do</strong>.Da totali<strong>da</strong>de de bauxita produzi<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, 6,8 Mt foram exporta<strong>do</strong>sin natura para países como Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (43%), Canadá (30%) e Irlan<strong>da</strong>(15%). O restante foi destina<strong>do</strong> à indústria transforma<strong>do</strong>ra em to<strong>do</strong>território nacional, mas em especial para as industrias <strong>da</strong> Albrás e Alu<strong>no</strong>rte,em Barcarena (PA) e Alumar, em São Luis (MA). Para se ter uma ideia, o valortotal comercializa<strong>do</strong> em bauxita, em 2007, foi de R$ 1,21 bilhões. Em 2010,a exportação de bauxita rendeu 275 milhões de dólares e de alumina U$ 1,7milhões.7 Milhões de Tonela<strong>da</strong>s8 Joint-Venture é uma empresa forma<strong>da</strong> pela aliança <strong>do</strong> capital nacional e estrangei-­ro.A composição acionaria <strong>da</strong> MRN é forma<strong>da</strong> pelas maiores transnacionais <strong>do</strong> setorde mineração e transformação de alumínio: Vale, BHP Billinton, Alcoa, Rio TintoAlcan, Companhia <strong>Brasil</strong>eira de Alumínio, Norsk Hydro e Abalco116


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasA metalurgia <strong>do</strong> alumínio é a única que apresenta uma cadeiaprodutiva completa na Amazônia que envolve desde a produção de bauxita,de alumínio, além de indústrias de transformação. Essas plantas industriaisforam instala<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Pará a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, em substituição asplantas japonesas, para usufruírem <strong>da</strong> energia barata <strong>da</strong> região e <strong>da</strong> frouxaregulação ambiental existente na época. Os resulta<strong>do</strong>s foram desastrososprejuízos sociais, ambientais e econômicos para a Amazônia oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>produção <strong>do</strong> alumínio. Existe outra planta em São Luis <strong>do</strong> Maranhão.No início <strong>do</strong> século XXI, a Amazônia voltou a ser palco de <strong>no</strong>vosinvestimentos <strong>no</strong> setor de alumínio, o que não ocorria desde o início <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> de 1990, quan<strong>do</strong> a Alcoa refugou de um <strong>no</strong>vo projeto de bauxita<strong>no</strong> vale <strong>do</strong> Trombetas (município de Oriximiná). Recentemente, a empresa Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -­‐ BNDES para expandirde 2009, está sen<strong>do</strong> alimenta<strong>do</strong> pela matéria-­‐prima oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>no</strong>vamina de bauxita <strong>da</strong> Alcoa em Juruti (PA), inaugura<strong>da</strong> em 2010. Segun<strong>do</strong>o planejamento original, a Alcoa extrairia inicialmente <strong>da</strong> mina Juruti 2,6Mt/a<strong>no</strong> de bauxita, mas já se encontra com uma capaci<strong>da</strong>de produtivade 4 Mt/a<strong>no</strong>, poden<strong>do</strong> expandir para 12 Mt/a<strong>no</strong>. O investimento total <strong>da</strong>multinacional foi de aproxima<strong>da</strong>mente US$ 1,6 bilhão.A expansão <strong>da</strong> Alcoa faz parte de um movimento de crescimento<strong>do</strong> setor de alumínio na Amazônia, com diversos empreendimentos emimplantação e outros em estu<strong>do</strong>, como por exemplo, a Companhia de Aluminajoint-­‐venture <strong>da</strong> Vale coma <strong>no</strong>rueguesa Norsk Hydro tem como capaci<strong>da</strong>deinicial estima<strong>da</strong> 1,86 Mt/a<strong>no</strong> de alumina poden<strong>do</strong> chegar a 7,4 Mt/a<strong>no</strong>, parapelas minas de Paragominas inaugura<strong>da</strong> pela Vale em 2007 e adquiri<strong>da</strong> palaNorsk Hydro em 2010. A empresa <strong>no</strong>rueguesa adquiriu quase a totali<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s ativos de alumínio <strong>da</strong> Vale, que englobam as minas de Paragominas eos empreendimentos metalúrgicos em Barcarena. Na transação a empresabrasileira passou a deter 20% <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> Norsk Hydro. A Norsk Hydrotrabalha ain<strong>da</strong> com a possibili<strong>da</strong>de de expandir a mina de Paragominas de10 Mt/a<strong>no</strong> para 15 Mt/a<strong>no</strong>, num investimento estima<strong>do</strong> em 1 bilhão dedólares, caso haja melhora <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> de alumínio.117


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Com o aumento <strong>da</strong> produção, a chega<strong>da</strong> de <strong>no</strong>vos empreendimentosmetalúrgicos e alegan<strong>do</strong> o perigo de um <strong>no</strong>vo apagão energético, ascorporações <strong>do</strong> setor vêm pressionan<strong>do</strong> os gover<strong>no</strong>s para liberação <strong>do</strong>sprojetos de geração de energia elétrica. Entre os projetos hidrelétricos estãoa usinas de Belo Monte <strong>no</strong> rio Xingu e <strong>do</strong> Estreito na divisa <strong>do</strong> Maranhão como Tocantins (consórcio controla<strong>do</strong> pela Suez Energy, Vale, Alcoa e CamargoCorrêa), com obras em an<strong>da</strong>mento, fun<strong>da</strong>mentais para abastecer asdeman<strong>da</strong>s de energia <strong>da</strong> transformação eletrolítica <strong>da</strong> bauxita em alumina.Outras grandes minas estão na mira <strong>da</strong>s grandes corporaçõestransnacionais <strong>do</strong> setor. A multinacional australiana Rio Tinto vempromoven<strong>do</strong> trabalhos de son<strong>da</strong>gens geológicas em Curuá, região entreos municípios de Alenquer e Monte Alegre, <strong>no</strong> Pará, onde ela estima terencontra<strong>do</strong> a maior reserva de bauxita <strong>da</strong> Amazônia. A perspectiva é quefuturamente se inicie a instalação <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo projeto, <strong>no</strong> entanto, ain<strong>da</strong> existeum grande empecilho político-­‐ambiental, ten<strong>do</strong> em vista que o gover<strong>no</strong><strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará transformou a área onde está localiza<strong>da</strong> a jazi<strong>da</strong> emuma estação ecológica de preservação integral (em particular, a EstaçãoEcológica <strong>do</strong> Grão-­‐Pará), impossibilitan<strong>do</strong> a ativi<strong>da</strong>de. Apesar <strong>da</strong> existência<strong>da</strong> área de preservação há indícios de que o gover<strong>no</strong> estadual altere oslimites <strong>da</strong> Estação Ecológica para favorecer a multinacional. A Vale tambémvem son<strong>da</strong>n<strong>do</strong> abrir uma <strong>no</strong>va área de exploração na proximi<strong>da</strong>de deJuruti, entretanto, já encontra resistência <strong>da</strong> população local revolta<strong>da</strong> coma atuação <strong>da</strong> Alcoa na região e com o desrespeito ao territórios e povostradicionais por conta <strong>da</strong>s pesquisas sem consentimento <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>resdesenvolvi<strong>da</strong>s por funcionários Vale e de outras companhias.Na Amazônia, a indústria <strong>do</strong> alumínio provocou e<strong>no</strong>rmes <strong>da</strong><strong>no</strong>ssocioambientais nestes 30 a<strong>no</strong>s de ativi<strong>da</strong>de. A mineração foi causa<strong>do</strong>ra<strong>da</strong> contaminação <strong>do</strong> lago Batata pelo rejeito <strong>da</strong> bauxita o assoreamento deigarapés, deslizamento de terra provoca<strong>do</strong> pela super-­‐exploração <strong>do</strong>s platôsprejudican<strong>do</strong> inúmeras populações tradicionais e quilombolas quepraticavam o extrativismo em Juruti e Oriximiná. A mineração de bauxitafechou ao acesso público áreas importantes de extrativismo, agricultura epesca. Segun<strong>do</strong> denúncias <strong>do</strong>s movimentos sociais de Oriximiná e Jurutias minera<strong>do</strong>ras cortam e enterram as árvores de valor comercial retira<strong>da</strong>s<strong>da</strong>s áreas <strong>do</strong> empreendimento, sem prestar conta aos órgãos ambientais(WANDERLEY, 2008).118


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasquilombolas residentes em Uni<strong>da</strong>de de Conservação de uso restrito resultouaté mesmo em incidentes de extrema violência e casos de morte.A ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> alumínio também prejudicou várias comuni<strong>da</strong>destradicionais: expropriou comuni<strong>da</strong>des quilombolas em Oriximiná; cortou eestra<strong>da</strong> de ferro; fragmentou e colocou em risco a comuni<strong>da</strong>de quilombolade Moju-­‐PA <strong>no</strong> trajeto <strong>do</strong> mineroduto Paragominas-­‐Barcarena 9 ; e afetoupela poluição química <strong>do</strong>s rejeitos <strong>da</strong> produção de alumina comuni<strong>da</strong>de de entre as empresas minera<strong>do</strong>ras e os grupos tradicionais atingi<strong>do</strong>s na região.se limitam a reivindicações por empregos, acesso a áreas de extrativismo eaos serviços de saúde, educação e comércio ofereci<strong>do</strong>s exclusivamente paraos funcionários <strong>da</strong>s empresas. Em Juruti, a população de Juruti Velho não quera mineração de bauxita em suas terras e vem lutan<strong>do</strong> pela retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> Alcoaou por indenizações justas. Em Moju, durante a instalação <strong>do</strong>s minerodutosde bauxita <strong>da</strong> Vale, várias comuni<strong>da</strong>des quilombolas sofreram com o<strong>do</strong> referi<strong>do</strong> rio, tiveram a água de vários igarapés contamina<strong>da</strong>s, sofreramcom a destruição de suas vias ro<strong>do</strong>viárias pelo tráfego de veículos pesa<strong>do</strong>,com a devastação <strong>da</strong>s áreas de mata para extrativismo.Agrega<strong>do</strong>s são materiais granulares, sen<strong>do</strong> os principais a pedrabrita<strong>da</strong>, o cascalho e as areias naturais. Existem também agrega<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>spor moagem de rocha, além <strong>da</strong>s argilas e <strong>do</strong>s substitutivos como resíduosinertes recicla<strong>do</strong>s, escórias de aciaria. São minerais, em geral, abun<strong>da</strong>ntes<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>, cujo uso comum é destina<strong>do</strong> a obras de construçãocivil. No <strong>Brasil</strong>, é produzi<strong>do</strong> 254 Mt de brita; e 286 Mt de areia. A Amazôniatinha uma produção módica que sequer conseguia abastecer o merca<strong>do</strong>9 http://carol<strong>da</strong>emon.blogspot.com.br/2011/04/mineroduto-­‐de-­‐moju-­‐justica-­condena-­‐vale.html119


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?regional <strong>da</strong> construção civil, dependen<strong>do</strong> em grande parte <strong>da</strong> importaçãode matéria prima mineral de outras regiões. Porém, esse pa<strong>no</strong>rama vem sealtera<strong>do</strong> com a implantação de grandes obras <strong>do</strong> Programa de Aceleração <strong>do</strong>Crescimento <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong> Federal na Região, que estimulou a instalação deminera<strong>do</strong>ras para o fornecimento de matéria-­‐prima.A mineração de agrega<strong>do</strong>s para a construção civil gera grandes volumes necessita ser produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>do</strong> local de consumo, geralmente áreasbrita. Este setor é o segmento <strong>da</strong> indústria mineral que comporta o maiornúmero de empresas e trabalha<strong>do</strong>res e o único a existir em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>sbrasileiros.Na Amazônia, <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Amapá, Amazonas, Rondônia, Acre,Roraima e Tocantins os agrega<strong>do</strong>s têm papel primordial na eco<strong>no</strong>miamineral. Em 2007, o Amapá possuía a maior produção de areia <strong>da</strong> regiãocom 90 mil m 3 e Rondônia a maior produção de pedra brita e cascalho com4 milhões de m 3 . No Acre, o principal produto mineral produzi<strong>do</strong> era a areiacom 41,5 mil m 3 Lt<strong>da</strong>. era a maior empresa mineral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> representan<strong>do</strong> 38,1% <strong>do</strong>valor comercializa<strong>do</strong>. Em Rondônia, <strong>do</strong>s não metálicos, as rochas brita<strong>da</strong>srepresentavam 68% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> produção; duas empresas extratoras desteproduto estavam entre as maiores minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>: a Pedreira eExtração Fortaleza, Importação e Exportação. Lt<strong>da</strong>. e a Pedreira Vale <strong>do</strong> AbunãLt<strong>da</strong>. com 9,8% e 5,2% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> produção estadual, respectivamente. EmRoraima, a produção mineral estava restrita aos minerais não metálicos:brita/cascalho, argila e areia. As maiores minera<strong>do</strong>ras de Roraima eram asprodutoras de brita e cascalho e correspondem a quase 70% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong>produção mineral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>: Amazônia Mucajai Mineração Lt<strong>da</strong>. (45%) ePedra Norte Extração de Pedra Lt<strong>da</strong> (22,5%). No Tocantins, os agrega<strong>do</strong>s(brita e o cascalho) eram o segun<strong>do</strong> produto mais explora<strong>do</strong> com 14% <strong>da</strong>produção, a Physical Extração e Comércio de Minério Lt<strong>da</strong>. era a principalminera<strong>do</strong>ra. Na Amazônia, o setor de agrega<strong>do</strong>s <strong>da</strong> indústria <strong>da</strong> construçãocivil comercializou R$ 222 milhões em 2007, sen<strong>do</strong> os segmentos maisexpressivos o brita/cascalho, segui<strong>do</strong>s <strong>da</strong> argila, rocha ornamental e areia.impactos socioambientais, pois costumam funcionar de maneira irregulare clandestina em grande parte <strong>do</strong> país, sem planejamento, com baixaprodutivi<strong>da</strong>de e nível tec<strong>no</strong>lógico, controle ambiental inexistente ou120


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasareia e cascalho ocorre próxima aos fun<strong>do</strong>s de vales e aos rios, Áreas dePreservação Permanente (APP), afetan<strong>do</strong> os peixes e as espécies em épocasde reprodução e desovas, devi<strong>do</strong> ao barulho, o solapamento ou deslizamento<strong>da</strong>s margens e possíveis vazamentos de óleos ou combustíveis de motores emaquinário. Contu<strong>do</strong>, a Resolução <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>do</strong> Meio Ambiente-­‐ CONAMA 369/2006 autorizou a mineração de agrega<strong>do</strong>s em APP porconsiderá-­‐los produtos de interesse social. Os <strong>da</strong><strong>no</strong>s <strong>da</strong>s áreas minera<strong>da</strong>ssobre as populações locais que usam os recursos naturais, especialmentea água, são extremamente relevantes, e devem ser questiona<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se impacto <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.As expectativas para os próximos a<strong>no</strong>s são de expansão <strong>do</strong> setorpela possibili<strong>da</strong>de de aquecimento <strong>da</strong> construção civil em decorrência<strong>da</strong>s obras <strong>do</strong> Pla<strong>no</strong> de Aceleração <strong>do</strong> Crescimento – PAC <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong>Federal, especialmente na Amazônia. Obras <strong>do</strong> PAC contemplam os setoresde infraestrutura de transportes, energia e habitação que são grandes construção e manutenção de estra<strong>da</strong>s de ro<strong>da</strong>gem, aeroportos, barragens, construção <strong>da</strong>s hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau, <strong>no</strong> Rio Madeira,apareceu como uma possibili<strong>da</strong>de de reaquecimento <strong>do</strong> setor <strong>da</strong> construçãocivil, o que exigirá <strong>no</strong>vos investimentos para mineração de agrega<strong>do</strong>s. Paratanto, o grupo Votorantim instalou uma fábrica de cimento em Porto Velho,para atender à deman<strong>da</strong> <strong>da</strong>s barragens e para suprir o merca<strong>do</strong> de Rondônia,Acre e <strong>do</strong>s países limítrofes. Além disso, a empresa já requereu diversasáreas de pesquisa mineral para abastecer as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> fábrica. Esses <strong>do</strong> Pará, com um crescimento de mais de 200%, <strong>no</strong>s últimos cinco a<strong>no</strong>s.O calcário é um bem mineral que, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua composição,pode ser usa<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is segmentos industriais importantes: o de cimento(calcários ricos em cálcio) e o de fertilizantes, como corretivo <strong>da</strong> acidez<strong>do</strong> solo (calcários <strong>do</strong>lomíticos, ricos em magnésio). A extração de calcáriocostuma ser promovi<strong>da</strong> por empresas de peque<strong>no</strong> e médio porte com121


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?à exportação, mas sim abastecer o merca<strong>do</strong> local e regional de cimento efertilizante.A produção nacional de cimento vem crescen<strong>do</strong> continuamentee, em 2010, alcançou os 59 milhões de tonela<strong>da</strong>s. Mesmo com a criseeconômica, que diminuiu um pouco o ímpeto de crescimento, a tendênciaprosseguiu sen<strong>do</strong> de expansão <strong>da</strong> indústria <strong>da</strong> construção civil, sustenta<strong>da</strong>majoritariamente pelas obras de infraestrutura integrantes <strong>do</strong> PAC e aconstrução de moradias. A participação percentual <strong>da</strong> produção por regiãocontinuou praticamente inaltera<strong>da</strong>, o Sudeste com 55,6%, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>Nordeste com 19,2%, <strong>do</strong> Sul com 10,9%, <strong>do</strong> Centro Oeste com 10,4% e <strong>do</strong>Norte com 3,9%. Dos 27 esta<strong>do</strong>s brasileiros em apenas três não existe fábricade cimento, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s na região amazônica (Acre, Amapá e Roraima). NaAmazônia, as principais minas de calcários estão <strong>no</strong> Mato Grosso (Barra <strong>do</strong>Bugres, Rosário Oeste, Nobres, Tangara <strong>da</strong> Serra e Cuiabá), Pará (Itaituba, Formoso <strong>do</strong> Araguaia) e Amazonas (Urucará e Maués).Em 2007, na região amazônica, os 1,13 milhões de tonela<strong>da</strong>sproduzi<strong>da</strong>s de calcário serviram em sua maior parte para abastecer aindústria de cimento (90%), o restante foi aplica<strong>do</strong> na agricultura, geran<strong>do</strong>um volume comercializa<strong>do</strong> de R$ 55,3 milhões. O Tocantins era, em 2007, omaior produtor de rocha calcária <strong>da</strong> região com 997 mil tonela<strong>da</strong>s, segui<strong>do</strong><strong>do</strong> Amazonas com 604 mil tonela<strong>da</strong>s. A mineração <strong>no</strong> Tocantins está emgrande parte volta<strong>da</strong> para mineração de produtos para construção civil. Ovalor <strong>da</strong> produção mineral <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> foi de R$ 41,7 milhões referente àssegui<strong>do</strong> de brita/cascalho com 14%. As maiores minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> minérioeram, até 2007, Cia. de Cimentos Tocantins (24,2% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> produçãoestadual), Calta Calcário Taguatinga Lt<strong>da</strong>. (15%), Diacal Calcário DianópolisLt<strong>da</strong>. (5,6%), Calcário Cristalandia Lt<strong>da</strong>.(5,6%), Sarp-­‐Mineração Lt<strong>da</strong>.(5,3%) e Mineração Rio Formoso Lt<strong>da</strong>. (5,3%).A produção <strong>do</strong> calcário volta<strong>do</strong> para correção <strong>do</strong> solo perdeu um poucode força com a crise eco<strong>no</strong>mia, a partir de 2008. Mesmo assim alcançou as 19Mt/a<strong>no</strong>. A região Norte é pouco expressiva na produção desse mineral, comapenas 5,5% <strong>da</strong> produção. No entanto, Mato Grosso, que é um <strong>do</strong>s principaisesta<strong>do</strong>s produtores agrícolas, tem uma produção de calcário correspondentea 19,2% <strong>do</strong> montante nacional. A produção agrícola <strong>do</strong> bioma cerra<strong>do</strong> é aque mais deman<strong>da</strong> corretivos para o solo e por isso é a maior consumi<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> produto.122


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasUm <strong>do</strong>s maiores problemas <strong>da</strong> mineração de calcário são os impactosem áreas de cavernas com possíveis per<strong>da</strong>s ao patrimônio arqueológiconacional. Em Rondônia, o IBAMA (Instituto <strong>Brasil</strong>eiro <strong>do</strong> Meio Ambientee <strong>do</strong>s Recursos Naturais Re<strong>no</strong>váveis) interditou uma minera<strong>do</strong>ra queexplorava de forma irregular ao desconsiderar a existência de uma cavernana área de lavra. Recentemente, o gover<strong>no</strong> federal assi<strong>no</strong>u o decreto 6.640de 07/11/2008 re-­‐categorizan<strong>do</strong> os tipos de caverna e permitin<strong>do</strong> adestruição de diversas cavernas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> de categoria baixa, totalizan<strong>do</strong>70% <strong>da</strong>s existentes <strong>no</strong> país, inclusive para ativi<strong>da</strong>des de mineração.No mun<strong>do</strong>, a produção de cimento para construção civil absorvea maior parte <strong>da</strong> gipsita minera<strong>da</strong>, enquanto <strong>no</strong>s países desenvolvi<strong>do</strong>sa produção de gesso agrícola e deriva<strong>do</strong>s se apresenta como a maiorresponsável pela deman<strong>da</strong> desse insumo. Cerca de 98% <strong>da</strong>s reservasbrasileiras estão concentra<strong>da</strong>s na Bahia com 42,7%, Pará (Aveiro) comdecrescente, entre o Maranhão (Codó e Grajaú), Ceará, Piauí, Amazonas condições de aproveitamento econômico estão localiza<strong>da</strong>s na Bacia <strong>do</strong>Araripe, região de fronteira <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Piauí, Ceará e Pernambucocom amplo destaque para as deste último. As reservas <strong>do</strong> Pará ain<strong>da</strong> nãopossuem concessão de lavra, ten<strong>do</strong> em vista algumas restrições para seuaproveitamento econômico. Muitas destas jazi<strong>da</strong>s estão situa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> interiorde Uni<strong>da</strong>des de Conservação poden<strong>do</strong> vir a causar grandes impactos<strong>do</strong>s centros consumi<strong>do</strong>res é outro problema de viabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> exploração.pelo crescimento <strong>da</strong> indústria <strong>da</strong> construção civil e, em me<strong>no</strong>r proporção,pela expansão <strong>da</strong> agricultura. A produção de gipsita provém <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s dePernambuco (1.711.671 t, 89% <strong>da</strong> produção nacional), Maranhão (106.161t, 5,5%), Ceará (68.233 t, 3,5%), Amazonas (30.000 t, 1,6%) e Tocantins(7.054 t, 0,4%) No Maranhão se localiza um importante pólo gesseiro ro<strong>do</strong>via Belém-­‐Brasília e a estra<strong>da</strong> de ferro Carajás ao Porto <strong>do</strong> Itaquí, emSão Luís, colaboram muito para viabilizar as exportações de gipsita e gessopara o merca<strong>do</strong> internacional. A concentração <strong>da</strong>s fábricas de cimento <strong>da</strong>smajoritariamente <strong>no</strong> Norte e Nordeste. Deste mo<strong>do</strong>, as fábricas utilizamcomo substituto <strong>da</strong> gipsita, o fosfogesso, que é gera<strong>do</strong> como subproduto<strong>no</strong> processo de obtenção <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> fosfórico nas indústrias de fertilizantesfosfata<strong>do</strong>s.123


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Apesar <strong>da</strong> gipsita não ser intensamente explora<strong>da</strong> na Amazôniadevi<strong>do</strong> à existência de importantes jazi<strong>da</strong>s na região. O processo deimpactos ambientais provoca<strong>do</strong>s pela extração e transformação de gipsitafoi expresso por Cunha et al (2008) <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> Araripe-­‐CE. O problemacentral <strong>do</strong>s pólos gesseiros é o uso <strong>da</strong> matriz energética lenha, utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong>processo de calcinação. O consumo intenso deste recurso vem provocan<strong>do</strong>na região cearense uma devassa pre<strong>da</strong>tória sobre a vegetação paraabastecer a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mínero-­‐industrial. O risco para Amazôniasegue a mesma lógica, pois, como já ocorre <strong>no</strong> suprimento <strong>da</strong> indústria detransformação <strong>do</strong> minério de ferro <strong>no</strong> sul <strong>do</strong> Pará, o consumo de madeira <strong>da</strong>de carvão vegetal para transformação <strong>da</strong> gipsita, ou ain<strong>da</strong>, as áreas jádevasta<strong>da</strong>s podem vir a se tornar amplos desertos verdes de eucalipto paraprodução de carvão vegetal.O merca<strong>do</strong> produtor de caulim encontra-­‐se fortemente concentra<strong>do</strong>e controla<strong>do</strong> por grandes corporações transnacionais. Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>sjuntamente com a Comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Independentes, Coréia <strong>do</strong>Sul, República Tcheca, <strong>Brasil</strong> e Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong>, são responsáveis por 62% <strong>do</strong>caulim produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>. O <strong>Brasil</strong> responde a 7% <strong>da</strong> produção mundial.Das reservas brasileiras, aproxima<strong>da</strong>mente 97% encontram-­‐se na regiãoAmazônica, <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pará (Aurora <strong>do</strong> Pará, Ipixuna <strong>do</strong> Pará, Irituiae São Domingos <strong>do</strong> Capim), Amapá (Vitória <strong>do</strong> Jarí) e Amazonas (Manaus eRio Preto <strong>da</strong> Eva).as indústrias nacionais e, em especial, internacionais de papel (cobertura etinta, borracha, plásticos e outros. A produção brasileira de caulim milhões de tonela<strong>da</strong>s. Entre as principais empresas produtoras, a ImerysRio Capim Caulim S/A – IRCC mantém a liderança <strong>da</strong> produção nacionalresponden<strong>do</strong> por 54,2%, sen<strong>do</strong> segui<strong>da</strong> pela empresa Pará Pigmentos S/A(PPSA) com 26,6% e Caulim <strong>da</strong> Amazônia S/A (CADAM) com 13,7%%, , orestante ocupam 5,5% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.Nos últimos a<strong>no</strong>s, as empresas apresentaram ligeira ampliação desua produção visan<strong>do</strong> abastecer suas fatias <strong>no</strong> comércio internacional, que124


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasse reorganizam após a que<strong>da</strong> <strong>do</strong> consumo de caulim provoca<strong>da</strong> pela crise<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e a quali<strong>da</strong>de excelente <strong>do</strong> minério assegura os investimentoscontínuos <strong>no</strong> aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong>, melhoran<strong>do</strong> a infraestruturae logística para suprir os principais merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res mundiais.Esse fato permite que as três maiores empresas instala<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, to<strong>da</strong>sna Amazônia (IRCC, CADAM e PPSA) venham pratican<strong>do</strong> estratégias decrescimento continuo a longo prazo. A Amazônia produz 2,4 milhões detonela<strong>da</strong>s e comercializa um total de R$ 682,4 milhões. Em 2009, a IRCCestimava que a produção em 2010 passaria para 1,5 milhão de tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong>, com investimento, em an<strong>da</strong>mento, de R$ 96,5 milhões. A CADAM S/Atem pla<strong>no</strong>s para expandir sua produção para 653,5 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong>, cominvestimento de R$ 13,5 milhões. Enquanto a PPSA projeta uma produção de835,2 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> com investimento de R$ 9,5 milhões, <strong>no</strong>s próximosa<strong>no</strong>s, se a deman<strong>da</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong> continuar aumentan<strong>do</strong>.A empresa Caulim <strong>da</strong> Amazônia S/A foi responsável pelo principalbem mineral produzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> Amapá em 2007, quan<strong>do</strong> atingiu uma produçãode 714,4 mil tonela<strong>da</strong>s. Dos R$ 438,5 milhões comercializa<strong>do</strong>s em minérios<strong>no</strong> esta<strong>do</strong>, a CADAM teve uma participação de 49,5%. No Pará, o caulimé o principal minério não metálico, com uma produção de 1,6 milhões detonela<strong>da</strong>s, ou 68% <strong>do</strong> total <strong>do</strong> minério produzi<strong>do</strong> na Amazônia. As duasempresas de Caulim localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Pará, Imerys Rio Capim Caulim S/Ae Pará Pigmentos S/A, vigoram entre as cinco maiores minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>esta<strong>do</strong>, responden<strong>do</strong> por 6% <strong>do</strong> valor comercializa<strong>do</strong>, em 2007. O esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Amazonas apesar de possuir expressivas reservas, descoberta pelaMineração Horboy Clays, <strong>no</strong>s municípios de Manaus e Rio Preto <strong>da</strong> Eva,ain<strong>da</strong> não explora o minério.O merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong> tem si<strong>do</strong> o principal consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> caulimproduzi<strong>do</strong> <strong>no</strong> país, absorven<strong>do</strong> 90% <strong>da</strong> produção. Na Amazônia, quase100% <strong>da</strong> produção de caulim dirigem-­‐se ao merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong>. A exportaçãogeran<strong>do</strong> US$ 275 milhões em divisas. As três principais empresas produtorasIRCC (de capital francês), CADAM e PPSA (ambas controla<strong>da</strong>s pela Vale),foram responsáveis por 99% <strong>do</strong> total exporta<strong>do</strong>. Cabe res<strong>sal</strong>tar ain<strong>da</strong> que o<strong>Brasil</strong> quase não exporta bens manufatura<strong>do</strong>s a base <strong>do</strong> minério. Os países socioambientais, tais como a produção excessiva de particula<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s125


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?durante o transporte <strong>do</strong> caulim e a produção de rejeitos (resíduos). Essesresíduos, quan<strong>do</strong> secos, transformam-­‐se em pó que pela ação <strong>do</strong>s ventosse espalha pelas ruas e aveni<strong>da</strong>s, poluin<strong>do</strong> o ar, comprometen<strong>do</strong> o aspectovisual <strong>do</strong> local onde a empresa atua e prejudican<strong>do</strong> a saúde <strong>da</strong> população <strong>do</strong>entor<strong>no</strong> (ver foto <strong>no</strong>s anexos) (SILVA, VIDAL & PEREIRA, 2001).No Pará, a transnacional Imerys Rio Capim é acusa<strong>da</strong> de tercontamina<strong>do</strong> o rio <strong>da</strong>s Cobras e igarapés Cureperé, Dendê, Maricá e SãoJoão, além <strong>da</strong> praia de Vila <strong>do</strong> Conde, <strong>no</strong> Distrito Industrial de Barcarena,duas vezes em me<strong>no</strong>s de um a<strong>no</strong> -­‐ entre 2006 e 2007, e outra vez em 2012.O impacto ocorreu em decorrência <strong>do</strong> vazamento <strong>do</strong>s tanques de rejeito. Emuma <strong>da</strong>s ocorrências cita<strong>da</strong>s contabilizou-­‐se o vazamento de mais de 350mil litros de rejeitos de caulim impactan<strong>do</strong> 500 famílias de Vila <strong>do</strong> Conde,<strong>da</strong>s quais 33 chegaram a ser transferi<strong>da</strong>s de suas casas pela Defesa Civil.A contaminação <strong>do</strong>s recursos hídricos impossibilitou as famílias <strong>da</strong> regiãode subsistência e pesca. Suspeita-­‐se que o rio <strong>da</strong>s Cobras e os igarapés relação à área de moradia <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. 10A construção de <strong>do</strong>is minerodutos para escoar a produção de caulim<strong>da</strong> Pará Pigmentos e Imerys Rio Capim, de Ipixuna <strong>do</strong> Pará até Barcarenafragmentou diversas proprie<strong>da</strong>des e terras de comuni<strong>da</strong>des tradicionais,como por exemplo, os quilombolas de Moju. Os quilombolas <strong>do</strong> Rio Mojuperderam aproxima<strong>da</strong>mente 20% <strong>do</strong>s territórios quilombolas com ainstalação <strong>do</strong>s minerodutos de caulim, e posteriormente de bauxita e umalinha de transmissão 11 . As comuni<strong>da</strong>des nas proximi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> minerodutovivem em constante risco de contaminação por vazamento. Os quilombolasjá sofreram com o rompimento <strong>do</strong> duto de caulim <strong>da</strong> Pará Pigmentos, quevazou em 2000 contaminan<strong>do</strong> o igarapé Itabocal matan<strong>do</strong> peixes e animaissilvestres 12 .10 http://www.ecodebate.com.br/index.php/2008/03/05/vazamento-­‐de-­‐cau-­lim-­‐em-­‐barcarena-­‐pa-­‐acao-­‐quer-­‐interditar-­‐bacias-­‐<strong>da</strong>-­‐imerys/pesquisa<strong>do</strong> em21/12/2008.http://www.diarioonline.com.br/<strong>no</strong>ticia-­‐208869-­‐.html11 http://www.radioagencianp.com.br/9324-­‐mpf-­‐quer-­‐fechar-­‐mineroduto-­‐<strong>da</strong>-­vale-­‐que-­‐ocupou-­‐territorio-­‐quilombola12 http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidia<strong>no</strong>/ult95u13650.shtml126


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasAs reservas brasileiras de cobre somaram 9,8 milhões de tonela<strong>da</strong>s.O Pará corresponde por mais de 80% <strong>da</strong>s reservas medi<strong>da</strong>s e indica<strong>da</strong>s(Marabá e Canaã <strong>do</strong>s Carajás). No quadro mundial a participação brasileirana diminuição <strong>da</strong> importação brasileira para abastecer o crescente merca<strong>do</strong>consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> minério concentra<strong>do</strong> na região centro-­‐sul.A indústria de cobre encontra-­‐se aqueci<strong>da</strong> principalmente pelademan<strong>da</strong> <strong>no</strong>s setores <strong>da</strong> construção civil, automobilístico e energia, semimanufatura<strong>do</strong>s. Ou seja, a tendência é de aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> internapelo metal com os incentivos governamentais ao consumo e a facili<strong>da</strong>de decrédito. Cobre é o terceiro metal mais utiliza<strong>do</strong> <strong>no</strong> mun<strong>do</strong>, depois <strong>do</strong> ferroe <strong>do</strong> alumínio. Por ser um excelente condutor de eletrici<strong>da</strong>de e calor tem<strong>do</strong> metal, sen<strong>do</strong> o restante utiliza<strong>do</strong> em ligas especiais, tubos e lamina<strong>do</strong>s.A produção brasileira de concentra<strong>do</strong> de cobre alcançou, em 2007, umtotal de 213.548 tonela<strong>da</strong>s. A empresa Vale, cuja mina de cobre se localiza <strong>no</strong>Pará, extraiu 116,8Mt, referente a 56,8% <strong>da</strong> produção nacional; a minera<strong>do</strong>raSerabi situa<strong>da</strong> em Itaituba (PA) produzia cobre como subproduto <strong>do</strong> ourona Mina <strong>do</strong> Palito, mas a ativi<strong>da</strong>de encontra-­‐se paralisa<strong>da</strong>. O cobre é ummineral com alto valor <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> de commodities, por isso, apesar de nãorepresentar nem 1% <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de produzi<strong>da</strong> na Amazônia, ele correspondiaa17% <strong>do</strong> valor total exporta<strong>do</strong> e R$ 1,3 bilhões <strong>do</strong> valor comercializa<strong>do</strong>em 2007. Os principais países importa<strong>do</strong>res de bens primários de cobrebrasileiros são a Índia (24%), Alemanha (21%) e Espanha com (14%). AVale já transforma parte <strong>do</strong> cobre extraí<strong>do</strong> <strong>no</strong> Sossego na Usina de Hidro-­‐ tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de cobre.A Amazônia contem seis projetos em an<strong>da</strong>mento e sen<strong>do</strong> cinco deles desenvolvi<strong>do</strong>s pela Vale:1) Na serra <strong>do</strong> Sossego, em Canaã <strong>do</strong>s Carajás (PA), está emoperação a extração de 140 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de cobre conti<strong>do</strong>e 3,5 tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de ouro;2) Projeto CORPO 118 <strong>da</strong> Vale em Carajás (PA), que visa a início previsto para 2015;127


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?3) O projeto Cristali<strong>no</strong>, em Curianópolis (PA) e Canaã <strong>do</strong>s Carajás,com perspectiva de produção de 30 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de cobreconti<strong>do</strong>s em concentra<strong>do</strong> de ouro. Atualmente, o projeto já seencontra em implantação e está previsto para operar em 2015;4) O projeto Alemão, localiza<strong>do</strong> na Floresta Nacional de Carajásem Parauapebas (PA), que almeja produção de 80 mil tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de cobre e 8,4 tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de ouro com uma vi<strong>da</strong> útilestima<strong>da</strong> em 23 a<strong>no</strong>s;5) O Projeto Salobo, localiza<strong>do</strong> na Floresta Nacional Tapirapé-­‐Aquiri em Marabá (PA), maior reserva de cobre descoberta<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (7,89 milhões de t de cobre), começou exploran<strong>do</strong>em 2012 com uma produção de 100 mil tonela<strong>da</strong>s de cobre investimento total de US$ 3,8 bilhões. Com um aporte atual deUS$ 2,3 bilhão, o Projeto Salobo deu início a sua exploração ejá se planeja, em 2013, o início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Salobo II, queaumentará a produção em mais 100 mil tonela<strong>da</strong>s e consumirámais 1,4 bilhões de dólares ;6) O Projeto Boa Esperança, <strong>da</strong> Mineração Caraíba, em Tucumã(PA), através <strong>do</strong> qual a empresa almeja iniciar a produzir 30 miltonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de cobre a partir de 2015 com vi<strong>da</strong> útil de 15a<strong>no</strong>s.Em poucos a<strong>no</strong>s de mineração de cobre na Amazônia a Vale já foicausa<strong>do</strong>ra de um crime ambiental. Segun<strong>do</strong> reportagem de Pinto (2004), aempresa praticou o primeiro crime ambiental na área quan<strong>do</strong> “agentes <strong>do</strong>rejeitos, produzi<strong>do</strong>s durante a concentração <strong>do</strong> minério, em área <strong>da</strong> FlorestaNacional de Carajás. O resíduo, sem qualquer tratamento prévio para reduzirde impermeabilização. Caracteriza<strong>da</strong> a agressão ecológica, a empresa foi início, representantes <strong>da</strong> Vale ain<strong>da</strong> tentaram contraditar a autuação, mas a” 13 . Outra mina de cobre <strong>da</strong> CVRD, mina Salobo, também está <strong>no</strong>13 http://www.wrm.org.uy/boletim/86/AS.html visita<strong>do</strong> em 26/12/08128


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasinterior de uma uni<strong>da</strong>de de conservação, Floresta Nacional Tapirapé-­‐Aquiri.Os riscos de crimes ambientais são grandes para exploração de cobre naAmazônia, ten<strong>do</strong> em vista que grande parte <strong>da</strong>s minas se encontra em áreade preservação ambiental com Florestas Nacionais.Uma parte <strong>da</strong> mina Salobo se encontra dentro <strong>do</strong>s AssentamentosRurais <strong>do</strong> Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Carajá I, II e III.Assim, a Comissão Pastoral <strong>da</strong> Terra (CPT) e a Federação <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>resna Agricultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará (Fetagri Regional Sudeste) apresentaramà Procura<strong>do</strong>ria <strong>da</strong> República, em Marabá, uma representação contra aCompanhia Vale reivindican<strong>do</strong> o direito de participação <strong>do</strong>s proprietários<strong>do</strong>s imóveis onde se instalou o projeto; indenizações pela ocupação <strong>do</strong>sterre<strong>no</strong>s e/ou pelos <strong>da</strong><strong>no</strong>s e prejuízos causa<strong>do</strong>s desde o início <strong>da</strong>s pesquisasaté a presente <strong>da</strong>ta e por crimes ambientais, com a poluição <strong>da</strong>s grotas eigarapés, e morte de animais provavelmente provoca<strong>da</strong> pelo consumo <strong>da</strong>água contamina<strong>da</strong>; e <strong>da</strong><strong>no</strong>s sobre patrimônios públicos e particulares coma interrupção de estra<strong>da</strong>s, demolição de to<strong>da</strong>s as benfeitorias que existiamrecursos públicos 14 .O <strong>Brasil</strong> é praticamente o único produtor de cromo <strong>no</strong> continenteamerica<strong>no</strong>, mesmo assim, continua com uma participação modesta, <strong>da</strong>ordem de 1% <strong>da</strong>s reservas, consideran<strong>do</strong>-­‐se que <strong>no</strong>s últimos <strong>do</strong>ze a<strong>no</strong>s nãohouve aporte de <strong>no</strong>vas reservas. No contexto mundial, o <strong>Brasil</strong> participoucom 1,3% <strong>da</strong> oferta de cromita em 2007. As reservas brasileiras são <strong>da</strong>ordem de 2,1 milhões de tonela<strong>da</strong>s, a Bahia concentra a maior parte <strong>do</strong>minério (87,2%), segui<strong>da</strong> <strong>do</strong> Amapá (9,4%), <strong>no</strong> município de Mazagão.A produção brasileira de cromita equivale a 520 mil tonela<strong>da</strong>s deCr 2 O 3 , sen<strong>do</strong> que a Mineração Vila Nova Lt<strong>da</strong>., <strong>no</strong> Amapá, detém 17,6% <strong>da</strong>produção nacional de concentra<strong>do</strong> de cromo em Cr 2 O 3 . Do total de cromitaproduzi<strong>da</strong> <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amapá, 70% foram exporta<strong>do</strong>s para a China e 30%foram destina<strong>do</strong>s ao merca<strong>do</strong> inter<strong>no</strong> para produção de ligas de cromo, fontebásica para a produção de aço i<strong>no</strong>xidável e ligas especiais na região centro-­sul.Mesmo com a exaustão <strong>da</strong> mina a céu aberto, a Mineração Vila Nova14 http://www.justica<strong>no</strong>strilhos.org/<strong>no</strong>ta/276129


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?ain<strong>da</strong> a mantêm entre as três maiores minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amapá,negocian<strong>do</strong> o correspondente à 20% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> comercialização mineralestadual, em 2007, mesmo ten<strong>do</strong> o cromo perdi<strong>do</strong> vertigi<strong>no</strong>samente seuvalor de merca<strong>do</strong>. A Mineração Vila Nova Lt<strong>da</strong>. realizou investimentos emequipamentos e infraestrutura na ordem de R$ 1 milhão na sua mina a céuexplorar 3.304.00 t ROM de minério de cromo.A mineração de cromo na Amazônia provocou grandes impactos <strong>no</strong>rueguesa Elkem comprou a Mineração Vila Nova <strong>da</strong> Caemi. Apesar de terrevendi<strong>do</strong> a minera<strong>do</strong>ra em 2002 para o grupo nacional Fasa participaçõesS/A, a Elkem deixou um lega<strong>do</strong> de destruição e desorganização social. Amineração de cromo provocou acidentes decorrentes <strong>do</strong>s deslizamentos <strong>da</strong>sbanca<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s minas e <strong>da</strong>s pilhas de material estéril (ver foto <strong>no</strong>s anexos).O principal acidente ocorreu em 1998, quan<strong>do</strong> um grande deslizamento deterra praticamente assoreou o igarapé Curumuri afetan<strong>do</strong> a fonte de água ede alimentos de diversos mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> região. Além disso, a multinacionalé acusa<strong>da</strong> de não ter assumi<strong>do</strong> seus deveres em relação à contratação <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res que atuaram na exploração <strong>do</strong> cromo, sen<strong>do</strong> quase to<strong>da</strong>a ativi<strong>da</strong>de terceiriza<strong>da</strong> pela empresa. To<strong>do</strong>s esses imbróglios estão sobresponsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>no</strong>va proprietária e tramitam na justiça ou estão sen<strong>do</strong> garimpeiros e minera<strong>do</strong>ra. Os garimpeiros <strong>do</strong> Amapá estão em uma posiçãodireito de lavra pertence à DSI consult, subsidiária <strong>da</strong> Mineração Vila Nova.caso <strong>da</strong> ocorrência de ouro seguir em direção às terras <strong>da</strong> Mineração Vilarespeitam cercas ou fronteiras <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra (CASARA,2003).Por ter grande facili<strong>da</strong>de de se ligar a metais importantes como ferro,chumbo, alumínio, aço e cobre, o estanho possui aplicações diversas naindústria moderna. Sen<strong>do</strong> assim, pode ser utiliza<strong>do</strong> na construção de tubos,válvulas, condensa<strong>do</strong>res, fusíveis, munições, papel metaliza<strong>do</strong>, lataria de130


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasautomóveis, telhas, correntes, ancoras; seu pó pode estar em produtos compapéis, tintas e sprays.O <strong>Brasil</strong> possui cerca de 13% <strong>da</strong>s reservas mundiais de estanho, aterceira maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. É também o quinto maior produtor mundialcom 10,4 mil tonela<strong>da</strong>s produzi<strong>da</strong>s anualmente, ou 4%, <strong>da</strong> produçãoglobal. As reservas brasileiras estão localiza<strong>da</strong>s principalmente na regiãoAmazônica: na província estanífera de Rondônia (minas Bom Futuro, SantaBárbara, Massangana e Cachoeirinha – <strong>no</strong>s municípios de Jamari, Itapua <strong>do</strong>Oeste, Ariquemes, Rio Crespo, etc.) e na província mineral <strong>do</strong> Mapuera, <strong>no</strong>Amazonas (mina <strong>do</strong> Pitinga – <strong>no</strong> município de Presidente Figueire<strong>do</strong>).A produção nacional de estanho aumentou em 2010, depois de sentiros efeitos <strong>da</strong> crise de 2008, crescen<strong>do</strong> 9% em relação ao a<strong>no</strong> de 2009.Até 2007, a Mineração Taboca S.A situa<strong>da</strong> <strong>no</strong> Amazonas, era a principalprodutora de estanho <strong>no</strong> país, com 47% <strong>da</strong> produção nacional, e a indústrianacional vivia um momento bom impulsiona<strong>do</strong> pelo aumento <strong>no</strong> consumomundial <strong>do</strong> minério. Até 2009, os principais esta<strong>do</strong>s produtores de estanhoeram Amazonas e Rondônia, com cerca de 60% e 40% respectivamente,comercializan<strong>do</strong> um total de R$ 223,5 milhões. As principais empresas/cooperativas <strong>da</strong> região Amazônica são: a Mineração Taboca S/A <strong>no</strong> Amazonase a Cooperativa de Garimpeiros de Santa Cruz Lt<strong>da</strong>. (COOPERSANTA),Cooperativa Estanífera de Minera<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Amazônia <strong>Legal</strong> Lt<strong>da</strong>. (CEMAL),Cooperativa <strong>do</strong>s Garimpeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Rondônia Lt<strong>da</strong>. (COOGER),Metalmig e Estanho de Rondônia S/A (ERSA), em Rondônia. To<strong>da</strong>via, em2009, a Mineração Taboca, principal produtora de estanho <strong>no</strong> país, anuncioua paralisação <strong>da</strong> lavra na rocha sã <strong>do</strong> Pitinga, com as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> minaresumin<strong>do</strong>-­‐se a re-­‐lavra <strong>da</strong>s bacias de resíduos minerais, assim o esta<strong>do</strong> deRondônia passou a produzir mais que o Amazonas.Recentemente, a empresa Serra <strong>da</strong> Madeira Participações, pertencenteà peruana Minsur, comprou a Mineração Taboca, <strong>do</strong> grupo Paranapanema,em transação que envolveu recursos <strong>da</strong> ordem <strong>do</strong>s R$ 850 milhões. Em2005, a ERSA foi compra<strong>da</strong> pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por100 milhões de reais.Após o recuo de 2006, o volume <strong>da</strong>s exportações cresceu em 2007,em tor<strong>no</strong> de 38%, impulsiona<strong>do</strong> pelo aumento <strong>do</strong> consumo mundial, masvoltou a cair com a crise em 2009. O destaque foram os bens primáriose semimanufatura<strong>do</strong>s com forte que<strong>da</strong>. A exportação caiu em tor<strong>no</strong> de35% em 2010, em comparação ao a<strong>no</strong> anterior. Os semimanufatura<strong>do</strong>s131


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?continuam sen<strong>do</strong> os produtos mais exporta<strong>do</strong>s pelo <strong>Brasil</strong>. Os Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s continuam sen<strong>do</strong> o principal desti<strong>no</strong> <strong>da</strong>s exportações brasileirasde estanho. Em 2010, as remessas àquele país responderam por cerca de27% <strong>do</strong> total produzi<strong>do</strong> de manufatura<strong>do</strong>s. A Malásia ganhou destaque,em 2010, com 66% <strong>da</strong>s exportações brasileiras de bens primários e aArgentina continua sen<strong>do</strong> o principal desti<strong>no</strong> <strong>do</strong>s manufatura<strong>do</strong>s, com 75%.Destaca-­‐se que alguns municípios <strong>da</strong> Amazônia já possuem fundi<strong>do</strong>raspara fabricação de lingotes de estanho, alimentan<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> inter<strong>no</strong> eexportan<strong>do</strong> para os países asiáticos. A deman<strong>da</strong> interna se manteve estável<strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, com aumento apenas nas ven<strong>da</strong>s para o merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong>.O principal desti<strong>no</strong> <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s <strong>do</strong> estanho produzi<strong>do</strong> na região Norte sãoas usinas localiza<strong>da</strong>s na região Sudeste. A Mineração Taboca, por exemplo,destina to<strong>da</strong> sua produção para a usina de Pirapora <strong>do</strong> Bom Jesus, emSão Paulo, para fabricação de lingotes, que será fecha<strong>da</strong>. Porém, o GrupoMinsur já estu<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de exportar o minério para sua uni<strong>da</strong>de pela Lei Kandir ou então construir uma <strong>no</strong>va metalurgia <strong>no</strong> município dePresidente Figueire<strong>do</strong> (AM), geran<strong>do</strong> emprego e desenvolvimento na RegiãoAmazônica, porém a disponibili<strong>da</strong>de de energia na região torna-­‐se um grandeempecilho a implantação de uma <strong>no</strong>va uni<strong>da</strong>de metalúrgica <strong>no</strong> Amazonas.A Mineração São Francisco de Assis Lt<strong>da</strong> (MSFA), instala<strong>da</strong> <strong>no</strong> municípiode São Félix <strong>do</strong> Xingú, sudeste paraense, anuncia, para o começo de 2013, ainstalação <strong>da</strong> primeira fundição de estanho <strong>no</strong> Pará. O investimento está nacasa <strong>do</strong>s R$ 40 milhões e a expectativa de faturamento é de R$ 25 milhões/a<strong>no</strong>. A empresa suspendeu as operações <strong>no</strong> município há 17 a<strong>no</strong>s, por causa<strong>do</strong> preço <strong>do</strong> minério <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> internacional, que na época estava em US$4 mil a tonela<strong>da</strong>, e hoje se aproxima <strong>do</strong>s US$ 18 mil. A produção estima<strong>da</strong>,até 2016, é de 1,2 mil tonela<strong>da</strong>s <strong>do</strong> produto por a<strong>no</strong>, na área conheci<strong>da</strong> como“Serra <strong>do</strong> Mocambo”.A principal contribuição <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas para a produção 15(concentra<strong>do</strong> de Sn) com 15,6 milhões de kg, 74% <strong>do</strong> que foi produzi<strong>do</strong> naregião. O valor <strong>da</strong> comercialização de minério <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> Amazonas foi deR$ 280,5 milhões, <strong>do</strong>s quais 52,4% referem-­‐se ao minério de cassiterita,em 2007. Em Rondônia, a principal ativi<strong>da</strong>de minera<strong>do</strong>ra também foi acassiterita com uma produção de 2,6 milhões de kg, <strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong>. O valormineral estanho.132


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasde bens comercializa<strong>do</strong>s neste esta<strong>do</strong> foi de R$ 106 milhões, <strong>do</strong>s quais 67%referem-­‐se à cassiterita. A COOPERMETAL – Cooperativa Metalúrgica deRondônia Lt<strong>da</strong>. continua <strong>da</strong>n<strong>do</strong> sequência ao seu processo de modernização.Após a conclusão <strong>da</strong> instalação <strong>da</strong> sua planta de britagem, a Cooperativaespera aumentar a produção de cassiterita em mais de 50%. Atualmente, aCOOPERMETAL produz 200 tonela<strong>da</strong>s/mês de cassiterita; com o processode britagem, a produção pode chegar a 320 tonela<strong>da</strong>s por mês. leitos de rios. Mesmo assim, a minera<strong>do</strong>ra ERSA/CSN continua exploran<strong>do</strong> ominério <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> Floresta Nacional Jamari em Rondônia, sobre a qualela exerce o controle territorial restringin<strong>do</strong> a circulação e o uso <strong>do</strong>s recursosnaturais por outros grupos 16 . Outro elemento preocupante referente aosimpactos provoca<strong>do</strong>s pela mineração de cassiterita decorre <strong>da</strong> substituição<strong>do</strong> trabalho manual pela mecanização. Deste mo<strong>do</strong>, antigos garimpeiros <strong>do</strong>minério acabam perden<strong>do</strong> seu emprego ou local de trabalho. Em Rondônia,de concessão de lavra <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> Floresta Nacional <strong>do</strong> Jamari, arren<strong>da</strong><strong>da</strong>pela minera<strong>do</strong>ra junto a Mineração Céu Azul. A minera<strong>do</strong>ra pressionaa gerência regional <strong>do</strong> IBAMA e o Batalhão Florestal <strong>da</strong> Polícia Militar deRondônia para impedir o acesso de garimpeiros na região de Cachoeirinhaonde está a jazi<strong>da</strong>. A Metalmig, que por muitos a<strong>no</strong>s comprou a produçãogarimpeira, agora quer a desocupação <strong>da</strong> mina para explorar diretamentea lavra, sem compensações para os iminentes garimpeiros desemprega<strong>do</strong>s. garimpeiros e minera<strong>do</strong>ras, em outros os garimpeiros extraem em garimposclandesti<strong>no</strong>s, até mesmo em terras indígenas como ocorre em Rondôniana terra indígena <strong>do</strong>s Cintas-­‐Largas. A extração industrial de cassiterita Atroari. Com a descoberta <strong>da</strong> mina de cassiterita os indígenas perderam 526mil hectares <strong>da</strong> Reserva Indígena Waimiri-­‐Atroari por conta <strong>da</strong> instalação<strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra. A minera<strong>do</strong>ra Taboca ain<strong>da</strong> mantém uma área de servidãoocupa<strong>da</strong> por equipamentos e construções para o exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de –dentro <strong>da</strong> terra indígena. A empresa provocou sérios desastres ambientaisna região como o desmatamentto de nascentes e margens de igarapése a contaminação <strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> rio Alalaú -­‐ responsável pela drenagem de55% <strong>do</strong> território Waimiri Atroari – causa<strong>da</strong> pelos vários rompimentos16133


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?<strong>da</strong>s barragens de contenção <strong>do</strong>s lagos forma<strong>do</strong>s pelo processo de lavagemmineral em 1987, 1991 e 1993 17 .FerroAs reservas mundiais de minério de ferro são <strong>da</strong> ordem de 180 Austrália (13,3%), China (12,8%), e <strong>Brasil</strong> (11,1%). As reservas brasileirasestão localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s de Minas Gerais (63,1%), Pará (18%) – <strong>no</strong>smunicípios de Parauapebas e Viseu – e Mato Grosso <strong>do</strong> Sul (17,2%). Aprodução mundial de minério de ferro, em 2010, foi de cerca de 2,4 bilhões detonela<strong>da</strong>s. A produção brasileira representou 15,5% <strong>da</strong> produção mundial,sen<strong>do</strong> Minas Gerais (70%) e Pará (27,2%) os principais esta<strong>do</strong>s produtores.A produção brasileira de minério de ferro totalizou 372,1 Mt (milhões detonela<strong>da</strong>s), resulta<strong>do</strong> de um aumento rápi<strong>do</strong> e progressivo desde o inicio <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des na Amazônia na déca<strong>da</strong> de 1980. Em 2007, o valor <strong>da</strong> produçãoatingiu R$ 19,2 bilhões, correspondentes a 36 empresas que operaram 53suas coliga<strong>da</strong>s e subsidiárias têm participação de 83,4% <strong>da</strong> produção emMinas Gerais, <strong>no</strong> Pará e <strong>no</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul..As exportações brasileiras de bens primários de ferro (minério epelotas 18 ), em 2010, atingiram 310,9Mt, o equivalente a 82% valor <strong>da</strong>produção exporta<strong>da</strong>, com um valor de US$ 36,5 bilhões. Os principais paísesde desti<strong>no</strong> foram: China (46%), Japão (11%), Alemanha (7%), Coréia <strong>do</strong> Sul(4%) e França (3%). A Amazônia mesmo ten<strong>do</strong> a disponibili<strong>da</strong>de de insumose energia elétrica ain<strong>da</strong> não possui uma usina de ferro-­‐liga 19 . Em 2007, o17 http://www.brasiloeste.com.br/<strong>no</strong>ticia/777/ pesquisa<strong>do</strong> em 3/01/2009.18 As pelotas são peque<strong>no</strong>s aglomera<strong>do</strong>s de minério de ferro. Elas são feitas com umaantes eram considera<strong>do</strong>s resíduos <strong>do</strong> processo. As pelotas são usa<strong>da</strong>s na fabricação<strong>do</strong> aço, que serve para fazer coisas pequenas, como agulhas, e grandiosas, como um-­ponentes.(fonte: www.vale.com.br)19 Ferro liga são ligas especiais que requer alta tec<strong>no</strong>logia para a sua produção. Ligas-­nicase corrosivas extremas.134


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasminério de ferro representava 88% <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de minério exporta<strong>do</strong>e 44% <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s recursos minerais comercializa<strong>do</strong> naAmazônia, mais de US$ 5,2 bilhões. O consumo regional de minério de ferroestá concentra<strong>do</strong> na produção de ferro-­‐gusa 20 (35,5Mt) e na produção depelotas (55Mt) localiza<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> ferrovia que liga Carajás <strong>no</strong> Paráao Porto <strong>da</strong> Madeira <strong>no</strong> Maranhão. Contu<strong>do</strong>, a produção para o consumointer<strong>no</strong> é bem inferior ao montante exporta<strong>do</strong>, isso se deve, em parte, apolítica estatal de favorecer as exportações com intuito de gerar superávitprimário. Dentre as medi<strong>da</strong>s está a Lei Complementar nº 87, de 10/09/1996(“Lei Kandir”) que isenta as empresas produtoras de minério de ferro <strong>do</strong>recolhimento <strong>do</strong> Imposto sobre Circulação de Merca<strong>do</strong>ria e Serviço -­‐ ICMSnas exportações.A Vale é a maior minera<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> Amazônia e <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Só <strong>no</strong> Pará,maior esta<strong>do</strong> minera<strong>do</strong>r <strong>da</strong> região Amazônica, ela representa 76,6% <strong>do</strong>valor total de minerais comercializa<strong>do</strong>. A produção de ferro regional estápraticamente to<strong>da</strong> concentra<strong>da</strong> na serra de Carajás-­‐PA, onde a produção éde 85,5 milhões de t. No Amazonas, em Urucará, também há uma singelaprodução de minério de ferro utiliza<strong>da</strong> na indústria <strong>do</strong> cimento, cujomontante extraí<strong>do</strong> foi de 11,6 mil t. No Amapá, o início <strong>da</strong> operação <strong>da</strong> AngloAmerican produziu 2,6 Mt de minério de ferro <strong>da</strong> mina em Pedra Branca<strong>do</strong> Amapari, em 2009. Esse empreendimento está estima<strong>do</strong> para 15 a<strong>no</strong>s euma produtivi<strong>da</strong>de de 4,5 Mt/a<strong>no</strong>. Já foram investi<strong>do</strong>s pelo multinacional1,15 bilhões de dólares na mina, na usina de pelotização e na ferrovia. Em2009, o faturamento <strong>da</strong> empresa correspondia a 15% <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amapáe 65% <strong>da</strong>s exportações que se ocorre pelo porto <strong>no</strong> município de Santana.Além disso, a empresa El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> Gold também possui uma pequena minaque produz 500 mil tonela<strong>da</strong>s em Vila Nova <strong>no</strong> Amapá.Dentre os projetos que estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s pela multinacionalbrasileira Vale destaca-­‐se a expansão <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de produção <strong>da</strong>s minasnas Serras Norte e Sul <strong>do</strong> Complexo de Carajás (Parauapebas/PA) em 40Mt/A<strong>no</strong>. O Projeto de Ferro Carajás S11D é um <strong>do</strong>s maiores <strong>da</strong> história <strong>do</strong><strong>Brasil</strong>, que planeja instalar uma mina, com uma produção de 90 Mt/A<strong>no</strong>,ferro Carajás – São Luis, expandir o porto de Ponta Madeira e construiruma ro<strong>do</strong>via <strong>no</strong> município de Canaã <strong>do</strong>s Carajás. O valor total <strong>do</strong> projeto20 O ferro-­‐gusa é o produto imediato <strong>da</strong> redução <strong>do</strong> minério de ferro pelo carvão ecalcário num alto for<strong>no</strong>, geran<strong>do</strong> um material quebradiço e sem grande uso direto.135


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?está estima<strong>do</strong> em US$ 19,49 bilhões e está previsto para operar em 2016.A Vale vislumbra consoli<strong>da</strong>r outros projetos, como a exploração de minériode ferro na Serra Leste, cuja implantação já está em curso <strong>no</strong> município deCurionópolis (PA). Por enquanto, o investimento total estima<strong>do</strong> é <strong>da</strong> ordemde US$ 12,3 bilhões a serem aplica<strong>do</strong>s em minas, planta, ferrovia e porto.Para acompanhar o avanço <strong>da</strong> superprodução, a VALE encomen<strong>do</strong>u <strong>da</strong>Coreia <strong>do</strong> Sul sete supernavios, com capaci<strong>da</strong>de de 400 mil tonela<strong>da</strong>s.O ferro é o minério mais produzi<strong>do</strong> na Amazônia, assim como, é o queapresentou maiores impactos socioambientais para região (ver foto <strong>no</strong>sanexos). Produzi<strong>do</strong> basicamente pela Vale em Carajás, o minério de ferrofoi a razão central para formulação <strong>do</strong> maior empreendimento <strong>da</strong> história<strong>da</strong> Amazônia, o Programa Grande Carajás. Os impactos deste grande projetode desenvolvimento econômico – já intensamente expostos por grandesintelectuais brasileiros e internacionais – não se restringem aos limites <strong>da</strong>sáreas de lavra, se propagaram pelo eixo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro, pelos raios dede ferro-­‐gusa, pelas crescentes ci<strong>da</strong>des e pelos recém cria<strong>do</strong>s municípios.As indústrias de ferro-­‐gusa, ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro Carajás, sãoresponsáveis por boa parte <strong>do</strong> desmatamento, <strong>da</strong> poluição atmosférica e <strong>do</strong>trabalho escravo em virtude <strong>do</strong> alto consumo de carvão vegetal, compra<strong>do</strong>sde carvoarias legais e ilegais na região 21 . Soma<strong>do</strong> às guserias está previstopara 2014 a inauguração <strong>da</strong> Siderúrgica Aços Lamina<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pará (ALPA)que está em fase de implantação <strong>no</strong> município de Marabá.socioespacial existente: provocou um crescimento descontrola<strong>do</strong> <strong>da</strong>e as terras tradicionalmente ocupa<strong>da</strong>s pelos povos <strong>da</strong> Amazônia, inclusiveindígenas; acabou com a eco<strong>no</strong>mia tradicional de extração de castanha-­‐<strong>do</strong>-­‐ro<strong>do</strong>vias abertas durante o processo de ocupação mineral <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Pará e aferrovia (Estra<strong>da</strong> de Ferro Carajás) construí<strong>da</strong> pela companhia Vale foram osgrandes veios de penetração e ocupação na déca<strong>da</strong> de 1980 e 1990. A ferroviaain<strong>da</strong> hoje gera controvérsia na região, o Movimento Justiça <strong>no</strong>s trilhos vemsistematicamente denuncian<strong>do</strong> as mazelas <strong>da</strong> ferrovia que corta ci<strong>da</strong>des,21 http://www.cartacapital.com.br/socie<strong>da</strong>de/crise-­‐<strong>do</strong>-­‐carvao-­‐<strong>no</strong>-­‐polo-­‐de-­‐carajas-­causa-­‐on<strong>da</strong>-­‐de-­‐ilegali<strong>da</strong>de-­‐na-­‐cadeia-­‐de-­‐producao/136


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivascomuni<strong>da</strong>des, territórios de povos tradicionais (indígenas e quilombolas),e que com o projeto expansão afetará mais de 100 comuni<strong>da</strong>des, residentes<strong>da</strong>s margens <strong>da</strong> EFC. Neste momento, diferentes representações <strong>da</strong> causa<strong>do</strong>s direitos huma<strong>no</strong>s, indígenas e quilombolas estão lutan<strong>do</strong> contra aduplicação 22 .No Amapá, o grupo de ambientalista intitula<strong>do</strong> Comitê Acor<strong>da</strong>Amapá questio<strong>no</strong>u os impactos de uma <strong>no</strong>va ativi<strong>da</strong>de mineral <strong>no</strong> esta<strong>do</strong>e denunciou diversas irregulari<strong>da</strong>des <strong>no</strong> processo de implantação <strong>da</strong> MMX,que foi compra<strong>da</strong> pela Anglo American. No Pará, os índios, o Movimento<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Sem Terra (MST) e o <strong>no</strong>vo Movimento <strong>do</strong>s Garimpeiros eTrabalha<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Mineração vêm questionan<strong>do</strong> a atuação <strong>da</strong> Vale em temaspolêmicos na região, especialmente <strong>no</strong>s vincula<strong>do</strong>s à terra e aos garimpos. transformações com a instalação <strong>da</strong> CVRD na déca<strong>da</strong> de 1980. A construção<strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro Carajás, na déca<strong>da</strong> de 1980, fragmentou <strong>da</strong> Terra IndígenaRio Maria <strong>da</strong> tribo Gaviões-­‐ Após muitos a<strong>no</strong>s de negociação epolíticas distintas por parte <strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra, essa acabou travan<strong>do</strong> um acor<strong>do</strong>de indenização <strong>da</strong> tribo. No entanto, até hoje os Gaviões-­‐ vivemfreqüentemente ocupam a ferrovia como forma de pressão política (FERRAZ,2009). Essa tribo juntamente com os Xkirin, tribo cuja terra indígena évizinha a mina de Carajás, recebem sistematicamente indenizações porparte <strong>da</strong> empresa. Essa prática vem provocan<strong>do</strong> a per<strong>da</strong> de auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong>sindígenas em decorrência <strong>da</strong> dependência para com o dinheiro <strong>da</strong> Vale, queapesar de permitir a melhorias na alimentação e <strong>no</strong> consumo <strong>da</strong> população,resultou na sedentarização <strong>da</strong> tribo, isto é, <strong>no</strong> aban<strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong>s meios desubsistência.O subsolo brasileiro abriga mais de 60 milhões de tonela<strong>da</strong>s demanganês, o que equivale a cerca de 10% <strong>da</strong>s mais de 580 milhões detonela<strong>da</strong>s de reservas mundiais, concentra<strong>do</strong>s principalmente em MinasGerais, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Pará (em Parauapebas, Marabá e Itubiranga),Amapá (em Macapá) e Bahia. A produção mundial de manganês, apesar <strong>da</strong>22 http://www.justica<strong>no</strong>strilhos.org/<strong>no</strong>ta/1015137


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?desaceleração <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, vem demostran<strong>do</strong> uma leve retoma<strong>da</strong>. Aprodução <strong>da</strong>s 14,7 Mt/a<strong>no</strong> <strong>do</strong> minério está distribuí<strong>da</strong> em apenas cincopaíses: China (19% <strong>da</strong> produção), <strong>Brasil</strong> (17,8%), Austrália (16,3%), África<strong>do</strong> Sul (15%) e Gabão (9,5%). O <strong>Brasil</strong> teve, em 2010, uma produção de2,6 milhões de tonela<strong>da</strong>s, 13% a mais que <strong>no</strong> a<strong>no</strong> anterior e inferior ao 2,8milhões t/a<strong>no</strong> produzi<strong>do</strong>s pela China, o que rendeu o segun<strong>do</strong> lugar naprodução mundial. A retração <strong>da</strong> produção <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, seatribui à diminuição <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> externa e a estratégia <strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>ras,especialmente a Vale, em priorizar o valoriza<strong>do</strong> minério de ferro em suasminas. Em 2010, 84% <strong>da</strong> produção nacional foi oriun<strong>da</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Pará. Parauapebas foi o município que mais produziu, corresponden<strong>do</strong> a60% <strong>do</strong> minério extraí<strong>do</strong> pela Vale. A minera<strong>do</strong>ra Burutirama é a segun<strong>da</strong>maior com 25% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> sua mina situa<strong>da</strong> exclusivamente emde manganês em Barcarena-­‐PA. Existe ain<strong>da</strong> um peque<strong>no</strong> investimentospara produção de manganês, na região de Espigão <strong>do</strong> Oeste e Alvora<strong>da</strong> <strong>do</strong>Oeste em Rondônia. A empresa Rio Madeira investiu cerca de R$ 4 milhõesEspigão D’Oeste e hoje está extrain<strong>do</strong> na locali<strong>da</strong>de.O manganês encontra utilização na indústria de ferro-­‐gusa, de ferrofundi<strong>do</strong>, aços e outros artefatos metálicos vitais para a infraestrutura eas indústrias de base características de regiões e países desenvolvi<strong>do</strong>s(DRUMMOND, 2004). O setor <strong>da</strong> siderurgia tem papel mais importante <strong>no</strong>consumo <strong>do</strong> minério, absorve 85% <strong>da</strong> produção. O restante é distribuí<strong>do</strong>entre os setores de pilhas eletrolíticas, com um consumo de 10%, e <strong>da</strong>indústria química com 5%.O grupo Vale composto pela Rio Doce Manganês, Urucum e outrasminas de me<strong>no</strong>r porte, é também o maior produtor nacional de manganêscom 70% <strong>da</strong> produção brasileira. A mina mais produtiva <strong>da</strong> Vale é a Mina deAzul, em Carajás <strong>no</strong> Pará, que produziu, em 2007, 945 mil tonela<strong>da</strong>s. Por isso,a Rio Doce Manganês vigorou entre as maiores minera<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> Amazônia. NoPará, <strong>no</strong> município de Marabá, está localiza<strong>da</strong> outra minera<strong>do</strong>ra produtorade manganês, a empresa Mineração Buritirama que possui uma produçãoanual de 561 tonela<strong>da</strong>s. A exportação nacional <strong>do</strong> minério, em 2010, atingiuo volume de 2,3 milhão de tonela<strong>da</strong>s, quase to<strong>do</strong> o montante extraí<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong>quase a totali<strong>da</strong>de oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> Amazônia. O manganês exporta<strong>do</strong> totalizouUS$ 530 milhões de dólares. Os principais países de desti<strong>no</strong> <strong>da</strong>s exportaçõesbrasileiras foram: França (37%), China (25%), Noruega (8%), Chipre (6%),138


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasA perspectiva é de um aumento na exploração de manganês <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>e especialmente na Amazônia. As empresas buscam abastecer o merca<strong>do</strong>de siderurgia, associa<strong>do</strong> ao crescente consumo de ferro. A empresa RioDoce Manganês tem previsão de aumentar sua capaci<strong>da</strong>de produtiva <strong>no</strong>spróximos a<strong>no</strong>s, potencializan<strong>do</strong> a exploração <strong>da</strong>s áreas minera<strong>da</strong>s naAmazônia; a Mineração Buritirama S/A projetava expandir sua produçãopara 720 mil tonela<strong>da</strong>s. Os impactos <strong>do</strong> manganês na Amazônia remetemà origem <strong>da</strong> mineração industrial na região amazônica. A mina de Serra <strong>do</strong>Navio foi exauri<strong>da</strong> pela minera<strong>do</strong>ra Icomi até 1997, quan<strong>do</strong> esta saiu <strong>da</strong>região aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> várias obrigações sociais, como a multas ambientaisde R$ 52 milhões referentes a contaminações com arsênio. Durante operío<strong>do</strong> de extração, os rejeitos gera<strong>do</strong>s neste processo foram deposita<strong>do</strong>sproximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> usina. O rejeito conten<strong>do</strong> arsênio, quan<strong>do</strong> solubiliza<strong>do</strong>s,imediações. Mais recentemente, os resíduos foram retira<strong>do</strong>s <strong>da</strong> lagoa edeposita<strong>do</strong>s a céu aberto em forma de pilhas num trecho restrito <strong>da</strong> árearepresenta um risco de contaminação para as populações residentes nascomuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> entor<strong>no</strong>, em especial a comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Elesbão. A intoxicaçãopor arsênio é extremamente perigosa e pode causar desde lesões de pele,problemas respiratórios, <strong>do</strong>enças cardiovasculares, distúrbios neurológicos deixa<strong>do</strong> pela exploração <strong>do</strong> manganês foi o aban<strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>da</strong> vila <strong>da</strong> minaque até hoje não tem alternativa econômica que lhe dê sustentabili<strong>da</strong>de(SACAMOTO, 2001 apud COELHO, 2002).O <strong>Brasil</strong> possui as maiores reservas de nióbio <strong>do</strong> planeta, 4 milhões detonela<strong>da</strong>s, concentra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s de Minas Gerais (73,03%), <strong>no</strong> Amazonas(25,57%), em Presidente Figueire<strong>do</strong> e São Gabriel <strong>da</strong> Cachoeira, próximoàs fronteiras <strong>da</strong> Colômbia e <strong>da</strong> Venezuela e em Goiás (1,40%). O nióbio éutiliza<strong>do</strong> na siderurgia, <strong>no</strong> setor aeronáutico e nas indústrias aeroespaciais enucleares, por gerar aços de alta resistência e baixa liga capazes de suportaraltas temperaturas como ocorre nas turbinas de aviões, jato e foguetes. Omineral está presente ain<strong>da</strong> em aços i<strong>no</strong>xidáveis, ligas supercondutoras,139


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?trens-­‐bala, de armamentos, de instrumentos cirúrgicos e óticos de precisão. com 59% <strong>da</strong>s reservas mundiais, segui<strong>do</strong> <strong>da</strong> Austrália com 36%. As reservasnióbio situa<strong>da</strong>s quase que exclusivamente na Mina de Pitinga, <strong>da</strong> MineraçãoTaboca <strong>no</strong> município de Presidente Figueire<strong>do</strong> (AM). To<strong>da</strong>via, na Amazôniaconstataram-­‐se outras ocorrências <strong>do</strong> minério <strong>no</strong> Alto e Médio Rio Negro,<strong>no</strong>s municípios de Barcelos e São Gabriel <strong>da</strong> Cachoeira e, em Rondônia, <strong>no</strong>sprincipalmente para fabricação de capacitores (60% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mundial),além <strong>do</strong> uso em telefones celulares, circuitos de computa<strong>do</strong>res, vídeo, Pesquisa geológica, realiza<strong>da</strong> pela Companhia de Pesquisa de RecursosMinerais (CPRM), revelou uma reserva de nióbio, com cerca de 81,5 milhões mineração por cerca de 400 a<strong>no</strong>s. Trata-­‐se, portanto, <strong>da</strong> principal jazi<strong>da</strong>de nióbio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A lavra deste depósito, entretanto, enfrenta questõeslegais, pois se encontra <strong>no</strong> interior <strong>do</strong> Parque Nacional <strong>do</strong> Pico <strong>da</strong> Neblina,<strong>da</strong> Reserva Biológica <strong>do</strong> Morro Seis Lagos e <strong>da</strong> Reserva Indígena <strong>do</strong>s Balaios.Em 2006, a região amazônica produziu 6,3 mil tonela<strong>da</strong>s de nióbio que<strong>da</strong> vertigi<strong>no</strong>sa cain<strong>do</strong> para 2 mil tonela<strong>da</strong>s de nióbio e 1,7 mil Kg de principais minera<strong>do</strong>ras localiza<strong>da</strong>s na Amazônia são a Mineração Taboca,<strong>no</strong> Amazonas e a Cooperativa <strong>do</strong>s Garimpeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Rondônia, quetambém exploram estanho. A primeira controlava, em 2007, com 12,85%, aa segun<strong>da</strong> produzia 5,39% <strong>do</strong> nióbio nacional. As exportações brasileirassão feitas na forma de concentra<strong>do</strong>s de Columbita–Tantalita (liga de Ferro-­‐ amazônica é exporta<strong>do</strong>, principalmente, para países como Estônia, UniãoEuropeia, China, EUA, Cingapura e Japão.140


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivas item sobre mineração de estanho por se tratar <strong>da</strong>s mesmas empresas e <strong>da</strong>smesmas áreas. (34,7% <strong>da</strong> reserva global), sen<strong>do</strong> os 7 bilhões de tonela<strong>da</strong>s distribuí<strong>do</strong>sentre os Esta<strong>do</strong>s de Goiás (40,0%), Pará (33,3%), Piauí (23,7%). A produçãonacional participou com 6,8% <strong>do</strong> total oferta<strong>do</strong> globalmente, sen<strong>do</strong> Goiásresponsável por 45%, Bahia por 36%, Pará com 11,3% e Minas Geraiscom os 7,4% restantes. O níquel é basicamente utiliza<strong>do</strong> para produziraço i<strong>no</strong>xidável, estan<strong>do</strong> presente <strong>no</strong> setor siderúrgico de superligas, ferrosfundi<strong>do</strong>s e aço, galva<strong>no</strong>plastia, distribui<strong>do</strong>res, ligas de alumínio, etc.A Amazônia ain<strong>da</strong> não tem uma grande participação na produçãonacional <strong>do</strong> minério, mas vislumbra um horizonte de intensa exploração <strong>do</strong>recurso mineral. Em 2010, a Vale entrou <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> com a mina em Sãomas ain<strong>da</strong> existe na região um grande projeto de exploração de níquel sobreencargo <strong>da</strong> Anglo American, situa<strong>do</strong> <strong>no</strong> complexo mineral de Carajás. OProjeto Níquel <strong>do</strong> Vermelho, que já entrou em operação na região de Carajás,estima uma vi<strong>da</strong> útil de 36 a<strong>no</strong>s e uma reserva de 290 milhões tonela<strong>da</strong>s,o Vermelho prevê uma produção de 46.000 tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong>. O segun<strong>do</strong>projeto, e mais importante, é o Projeto Onça Puma, situa<strong>do</strong> <strong>no</strong> municípiolaterítico, que se estendem ain<strong>da</strong> para os municípios de São Felix <strong>do</strong> Xingue Parauapebas. O projeto, resulta<strong>do</strong> de um investimento estima<strong>do</strong> em US$2,3 bilhões, entrou em operação em 2011, com uma capaci<strong>da</strong>de <strong>no</strong>minal de53.000 tonela<strong>da</strong>s/a<strong>no</strong> de níquel conti<strong>do</strong> em ferro-­‐níquel. Almejan<strong>do</strong> atingira meta de se tornar a maior minera<strong>do</strong>ra de níquel <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a minera<strong>do</strong>rabrasileira ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de exploração <strong>do</strong> minério <strong>no</strong> Piauí.A Vale, em 2010, fez um investimento na ordem de R$ 760 milhões na usinaNorte-­‐PA. A concorrente Anglo-­‐American continua desenvolven<strong>do</strong> pesquisasem busca de rentáveis depósitos minerais de níquel <strong>no</strong> município de SãoFelix <strong>do</strong> Xingu (PA), onde pretende instalar um projeto de exploração deníquel, com um investimento entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. Estima-­seque a sejam produzi<strong>do</strong>s mais de 150 mil t/a<strong>no</strong> de níquel conti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>entrar em operação os projetos Jacaré (PA) e Morro Sem Boné (MT).141


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Desde 2002, com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> empresa Mineração Onça Puma Lt<strong>da</strong>.para desenvolver a conclusão de pesquisas mineral nas serras Onça e Puma,ambientais. A sede <strong>do</strong> município, desprovi<strong>da</strong> de qualquer infraestrutura,vem sofren<strong>do</strong> com o crescimento acelera<strong>do</strong> <strong>da</strong> população que pressiona osserviços e espaços públicos. A violência, a criminali<strong>da</strong>de e a ilegali<strong>da</strong>de sedifundem rapi<strong>da</strong>mente. Na zona rural, as áreas de interesse mineral estãosobrepostas às glebas Tucumã e Campos Altos, onde se situam projetosde assentamentos <strong>do</strong> Incra – Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária. Além disso, a cerca de 16 Km <strong>da</strong> Serra <strong>do</strong> Puma encontra-­‐se ointerior <strong>da</strong> reserva indígena Xikrin <strong>do</strong> Cateté.Em julho de 2003, a Canico <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Mineração Lt<strong>da</strong>., anteriormentepertencente ao grupo canadense Canico Resource Corp., e adquiri<strong>da</strong> pelaVale em 2007, requereu à Superintendência <strong>do</strong> Incra Marabá, a desafetação(isto é, o processo que considera a área <strong>do</strong> assentamento imprópria paraagricultura) de uma área de 7.404,7611ha incidentes sobre os Projetosde Assentamento Tucumã e Campos Altos. Sem que o Incra concluísseo processo, a minera<strong>do</strong>ra começou a comprar áreas de assenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>sProjetos de Assentamento Tucumã, Campos Altos e Santa Rita. Práticaduvi<strong>do</strong>sa e ilegal segui<strong>da</strong> pela empresa Vale, a qual resultou na aquisição deaproxima<strong>da</strong>mente 70 lotes. Muitos agricultores alegam que foram lesa<strong>do</strong>s<strong>no</strong> contrato de compra e ven<strong>da</strong>, por terem seus lotes estima<strong>do</strong>s muitoabaixo <strong>do</strong> preço de merca<strong>do</strong> e sob pressão <strong>da</strong> minera<strong>do</strong>ra. Outras denúncias<strong>do</strong>s assenta<strong>do</strong>s dizem respeito à poluição <strong>da</strong>s águas <strong>do</strong>s cursos d’água quenascem nas serras e atravessam vários lotes. Como é o caso <strong>da</strong> contaminação<strong>do</strong> córrego Motosserra e a redução <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de água <strong>no</strong> igarapé ÁguaClara, onde a montante a empresa construiu uma barragem para captarágua 23 .Em 2012, o projeto Onça Puma foi paralisa<strong>do</strong> pelo Ministério Públicopor falta de cumprimento <strong>da</strong>s condicionantes sobre os impactos ambientais.Segun<strong>do</strong> o processo, a minera<strong>do</strong>ra Vale não realizou a compensação ameaça<strong>do</strong>s pela pressão em suas terras por migrantes atraí<strong>do</strong>s pelo grandeprojeto de níquel. Além <strong>do</strong> mais, a extração de níquel coloca em risco o rio23 http://www.ecodebate.com.br/2008/06/20/aspectos-­‐<strong>da</strong>-­‐mineracao-­‐<strong>da</strong>-­‐vale-­em-­‐ourilandia-­‐para-­‐artigo-­‐de-­‐raimun<strong>do</strong>-­‐gomes-­‐<strong>da</strong>-­‐cruz-­‐neto/142


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasCateté, onde os Xikrins vivem na margem, assim como, causará poluição <strong>do</strong>ar e so<strong>no</strong>ra sobre o povo indígena 24 .<strong>da</strong>s empresas MIC/ISEC/Usiminas, responsáveis pela construção de parte<strong>da</strong> infra-­‐estrutura necessária a ativi<strong>da</strong>de minera<strong>do</strong>ra. Por não tolerarem aspéssimas condições de trabalho – como os aperta<strong>do</strong>s e quentes alojamentos(revesti<strong>do</strong>s com telhas de amianto), a baixa quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alimentos e asconstantes faltas de água (por até três dias) – os trabalha<strong>do</strong>res se revoltarame tocaram fogo em to<strong>do</strong>s os alojamentos. Muitos destes foram demiti<strong>do</strong>se vários deporta<strong>do</strong>s. Os que permaneceram na ci<strong>da</strong>de estão proibi<strong>do</strong>s deserem contrata<strong>do</strong>s por outras empresas que prestam serviços para Vale(CRUZ NETO, 2008).As reservas de ouro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> são <strong>da</strong> ordem de 2.600 tonela<strong>da</strong>s,cerca de 41,5% <strong>no</strong> Pará e 37% em Minas Gerais. Outras grandes reservasestão localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s de Goiás, Mato Grosso e Bahia. O minério deouro tem grande valor <strong>no</strong>s merca<strong>do</strong>s legais e ilegais em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, emvirtude de sua utilização em jóias, operações o<strong>do</strong>ntológicas, indústrias eeletrônicas, bem como reserva de valor. A extração <strong>do</strong> ouro mineral se dápor meio de técnicas mecaniza<strong>da</strong>s e garimpo artesanal e semimecaniza<strong>do</strong>,ou seja, por grandes empresas e por indíviduos em busca de um el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>para enriquecimento rápi<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, cabe <strong>sal</strong>ientar que <strong>no</strong> garimpoatual, não se encontra mais recursos minerais fáceis, o que deman<strong>da</strong> umainvestimento inicial em equipamentos bastante alto, entor<strong>no</strong> de 500 mil aum milhão de reais.escala global (2,3%), vem apresentan<strong>do</strong> uma leve tendência de crescimento<strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s. Em 2010, atingiu 62 tonela<strong>da</strong>s. Consideran<strong>do</strong> somente aprodução <strong>da</strong>s empresas, Minas Gerais foi destaque na produção nacionalcom 49%, segui<strong>do</strong> por Goiás (15%), Bahia (10%), Pará (7%) e Mato Grosso(6%). O crescimento <strong>da</strong> produção nacional se deve, em grande parte, àelevação de produção e <strong>do</strong>s investimentos <strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>ras Yama<strong>da</strong>, Anglo-­‐24 http://eco<strong>no</strong>mia.terra.com.br/<strong>no</strong>ticias/<strong>no</strong>ticia.aspx?idNoticia=201205290338_EFE_81251031143


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?recolhimento de tributos (1% de IOF -­‐ Imposto sobre Operações de Crédito,esta<strong>do</strong>s produtores: PA, MT, RO e AP. No entanto, ain<strong>da</strong> há uma grande fatia<strong>da</strong> produção ilegal que não é contabiliza<strong>da</strong> na contagem geral, poden<strong>do</strong>inclusive ser contrabandea<strong>da</strong> para outros países.A empresa Yamana (e suas respectivas subsidiárias e coliga<strong>da</strong>s)foi a principal produtora <strong>do</strong> minério em 2007, com 27,2% <strong>da</strong> produção;segui<strong>da</strong> pela multinacional Anglo-­‐gold (MG e GO) com 25,3%; a Kinross-­‐ Rio Paracatu Mineração (MG) e Mineração Serra Grande (GO) atingiram16,6%; a Vale com a produção de ouro <strong>da</strong> mina de cobre de Sossego (PA)extraiu 6,6%; a Mineração Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari (AP) produziu 5,7%;a Jaguar Mining com a Mina Turmalina (MG) e Sabará (MG) atingiu 3,7%; aSerabi (PA) atingiu 1,7%. A produção de ouro de garimpo, estima<strong>da</strong> a partir<strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> IOF, atingiu aproxima<strong>da</strong>mente 5,17 tonela<strong>da</strong>s em 2007(10,4% <strong>da</strong> produção nacional de ouro). Os principais esta<strong>do</strong>s produtores deouro de garimpo são: Pará, Mato Grosso, Amazonas, Amapá e Roraima.O merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r nacional deman<strong>do</strong>u aproxima<strong>da</strong>mente 25tonela<strong>da</strong>s de ouro para atender, principalmente, a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cadeias ain<strong>da</strong> exportou 36 tonela<strong>da</strong>s de ouro, sen<strong>do</strong> 93% para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,6% para o Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong>.A produção de ouro na Amazônia, em 2007, foi me<strong>no</strong>r que a<strong>no</strong>s R$ 170 milhões. Com uma reserva estima<strong>da</strong> em 874 tonela<strong>da</strong>s, a regiãoamazônica vislumbra <strong>no</strong>vos empreendimentos para o setor. As minera<strong>do</strong>rasMPX Gold <strong>do</strong> Eike Batista e canadense Goldcorp repassaram a MineraçãoPedra Branca <strong>do</strong> Amapari <strong>no</strong> Amapá (segun<strong>da</strong> maior minera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>com 30% <strong>do</strong> valor total comercializa<strong>do</strong>) para a também canadense GPJVentures que assumirá o <strong>no</strong>me de – atual MineraçãoPedra Branca <strong>do</strong> Amapari (MPBA), construí<strong>da</strong> em 2005, tem capaci<strong>da</strong>dede produção de 6 t/a<strong>no</strong> de ouro. O Projeto Ouro <strong>do</strong> Amapari absorveu umrecurso total de R$ 300 milhões. Ao to<strong>do</strong>, a reserva prova<strong>da</strong> e provável deminério de Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari é <strong>da</strong> ordem de 1,53 milhão de onças deouro e o teor médio de 2,3 gramas de ouro por tonela<strong>da</strong> de minério. A vi<strong>da</strong>útil estima<strong>da</strong> é de onze a<strong>no</strong>s de operação.A Serabi Mineração foi constituí<strong>da</strong> <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong> e começou suasoperações <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 1999. Utiliza a técnica de minerar depósitos auríferos recentes na planta, a minera<strong>do</strong>ra aumentou sua capaci<strong>da</strong>de de produção144


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasanual para equivalente a 60 mil onças de ouro em 2008. A empresa ain<strong>da</strong>calcula investir R$ 81,4 milhões na ampliação e modernização <strong>da</strong> mina. ASerabi tem interesse <strong>no</strong> potencial minera<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s terras <strong>do</strong>s índios Tapajóse <strong>do</strong>s índios que vivem na região de Aripuanã, <strong>no</strong> Mato Grosso e fala emdisputar o acesso a essas terras numa eventual regulamentação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.A Kinross está avalian<strong>do</strong> com a Junior Verena Minerals as áreas delavra em Monte Carmelo (TO). Além disso, com a implementação <strong>do</strong>sprojetos de cobre <strong>da</strong> Vale (Salobo, Cristali<strong>no</strong> e Alemão) <strong>no</strong> Pará, estima-­‐seum incremento anual na produção em 18 t até 2015. Na região de Tapajóshistoricamente toma<strong>da</strong> por garimpos, existem projetos de pesquisa visan<strong>do</strong>à localização de reservas eco<strong>no</strong>micamente rentáveis, como o <strong>da</strong> empresaLara Exploration (garimpo Santa Felici<strong>da</strong>de) em uma Join Venture com a TGold Mineração e os projetos Tocantizinho, Cuiú, Bom Jardim, Chico Torrese São Jorge em fase de pesquisa e/ou estu<strong>do</strong>s de viabili<strong>da</strong>de. A Reinar<strong>da</strong>Mineração, subsidiária <strong>da</strong> australiana Troy Resourses, também prevê aexploração de uma mina de ouro <strong>no</strong>s municípios de Floresta <strong>do</strong> Araguaia eRio Maria, <strong>no</strong> sudeste paraense.As empresas continuam investin<strong>do</strong> na mineração de ouro, em especialna Amazônia. A Luna Gold iniciou a produção experimental em Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong>Viana (MA) e a Jaguar Mining, com o projeto Gurupi em Centro <strong>Novo</strong> (MA).O projeto Nova Xavantina (MT) deverá ser inicia<strong>do</strong> pela Mineração Caraíba.A Yamana avalia ampliações e <strong>no</strong>vos projetos, como Ernesto e Pau-­‐a-­‐pique<strong>no</strong> Mato Grosso. A Colossus desenvolve uma mina na região de Serra Pela<strong>da</strong>(PA). A El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> Gold anuncia investimento <strong>da</strong> ordem de 400 milhões dedólares <strong>no</strong> Projeto Tocantizinho na região de Tapajós (PA). A Mineração Rio<strong>Novo</strong> avalia os projetos Guarantã (MT) e Almas (TO).A Amazônia é repleta de peque<strong>no</strong>s garimpos legais e ilegais não sóde ouro, mas de diamante, ametista, esmeral<strong>da</strong>s, opala, turmalina, etc. Ogarimpo é um processo social sustenta<strong>do</strong> em grande parte pelo comércio degarimpos <strong>da</strong> Amazônia surgem em 1958, <strong>no</strong> rio Tapajós. Atualmente, osgarimpos não são tão intensos como nas déca<strong>da</strong>s de 70 e 80, perío<strong>do</strong> áureo<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, mas continuam presentes em várias locali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> região. Umfator <strong>no</strong>vo <strong>no</strong>s últimos cinco a<strong>no</strong>s é que o avanço <strong>no</strong> preço <strong>do</strong> ouro tem leva<strong>do</strong>ao reaquecimento de antigos garimpos, associa<strong>do</strong> a isso está o investimentoem retroescavadeiras que aceleram o processo de garimpagem e aumentama produção. As antigas áreas de garimpo <strong>no</strong> Pará, Mato Grosso, Rondônia145


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?e Maranhão estão se reativan<strong>do</strong> com a volta de antigos garimpeiros e achega<strong>da</strong> de <strong>no</strong>vos.A ativi<strong>da</strong>de de garimpagem mineral está presente em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s<strong>da</strong> Amazônia com exceção <strong>do</strong> Acre. O sul <strong>do</strong> Pará é onde estão concentra<strong>do</strong>sos garimpos mais acessíveis <strong>da</strong> Amazônia, na região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Tapajós(Itaituba e Santarém), Carajás (Serra Pela<strong>da</strong>) e Tucumã-­‐Redenção-­‐Cumaru;existem ain<strong>da</strong> garimpos em Gurupi fronteira <strong>do</strong> Pará com Maranhão; Vila <strong>do</strong>Lourenço, Jari, Cassiporé e Calçoene <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte <strong>do</strong> Amapá; Parauari-­‐Amanae rio Juma (maior reserva encontra<strong>da</strong> <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, considera<strong>do</strong> a<strong>no</strong>va Serra Pela<strong>da</strong>) <strong>no</strong> Amazonas; Baixa<strong>da</strong> Cuiabana, Peixoto de Azeve<strong>do</strong>,Alta Floresta, Guaporé e Nova Xavantina <strong>no</strong> Mato Grosso; Parima, Santa e Rio Madeira, Rondônia (TRINDADE, 2002). Alguns destes garimpospodem estar momentaneamente desativa<strong>do</strong>s ou fecha<strong>do</strong>s por razões delitígios territoriais e ambientais, <strong>no</strong> entanto, são áreas com potencial paraativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mineração manual. No Tapajós, a exploração manual vemsen<strong>do</strong> substituí<strong>da</strong> pela mineração mecaniza<strong>da</strong> de empresas médias, um <strong>do</strong>sexemplos é o caso <strong>da</strong> empresa Serabi e <strong>da</strong> El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> Gold.quan<strong>do</strong> invadiram terras indígenas em Alta Floresta (MT) e, em Roraima, coma Companhia Vale detentora <strong>da</strong> área de lavra; ocorreram ain<strong>da</strong> expulsões depopulações tradicionais de suas terras e embates contras os proprietários<strong>da</strong>s terras. Até hoje o Movimento de Trabalha<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Mineração luta parareaver as áreas de concessão que a COOMIGASP vendeu, de forma suspeita,O movimento já promoveu a ocupação <strong>da</strong> área de estu<strong>do</strong>, de onde foramretira<strong>do</strong>s pela Polícia Militar <strong>do</strong> Pará. A ocupação <strong>da</strong> ferrovia <strong>da</strong> Vale peloMTM, em 2008, também exigia a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s áreas de lavra garimpeira.Além de extremamente degra<strong>da</strong>nte e perigoso, o trabalho <strong>do</strong>sgarimpeiros nem sempre resulta <strong>no</strong> lucro espera<strong>do</strong> (ver foto <strong>no</strong>s anexos). Asmuitas neste perío<strong>do</strong>. A corri<strong>da</strong> por minerais preciosos leva a pauperização<strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> e ao colapso <strong>da</strong> estrutura social <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong>desem que se instalam, crescem a violência, a pobreza, o trabalho infantil, aprostituição, o consumo de drogas, etc. (MEIRELLES FILHO, 2004)O maior impacto ambiental <strong>da</strong> exploração de ouro é, sem dúvi<strong>da</strong>, o uso146


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasde mercúrio <strong>no</strong> processo de garimpagem. Por isso, o garimpo de aluvião éextremamente polui<strong>do</strong>r, uma vez que o mercúrio se acumula <strong>no</strong> ambientesob diversas formas: na água, <strong>no</strong>s peixes e outros animais silvestres. Oconsumo de peixes e animais, em áreas de garimpo, representa um perigopara homens, pois o mercúrio é absorvi<strong>do</strong> por via digestiva ou respiratóriaprovocan<strong>do</strong> intoxicações crônicas com complicações renais e nervosas. O rioTapajós em decorrência <strong>da</strong> alta produção de ouro de garimpo, <strong>no</strong> passa<strong>do</strong>,sofreu com a contaminação de mercúrio. Outro risco é o uso <strong>do</strong> cianeto pelamineração industrial de ouro. Esse produto é altamente químico, o queexige um rigoroso controle visan<strong>do</strong> não pôr em risco a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>rese <strong>do</strong> meio ambiente. Ao contrário <strong>do</strong> mercúrio, o cianeto não apresenta umprocesso acumulativo crônico <strong>no</strong>s teci<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s organismos, mas pode matarde forma mais imediata se não for manusea<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>s rigores técnicos(CAHETÉ, 2006).No Amapá, o município de Pedra Branca <strong>do</strong> Amapari é o que apresentaíndices mais eleva<strong>do</strong>s de exploração sexual de crianças e a<strong>do</strong>lescente.O motivo, segun<strong>do</strong> representante <strong>do</strong> gover<strong>no</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, é a instalação<strong>da</strong>s minera<strong>do</strong>ras que chegaram ao local em 2006 levan<strong>do</strong> cerca de 2 miltrabalha<strong>do</strong>res de outras ci<strong>da</strong>des e esta<strong>do</strong>s, a grande maioria homens semfamília.O esta<strong>do</strong> de Minas Gerais possui a maior reserva de diamantesecundário <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, contribui com 55,82%, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Bahia(26,33%) e de Mato Grosso (17,18%). A reserva primária se encontra100% <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> de Mato Grosso. Na Amazônia, o Tocantins é o únicoprodutor de gema. O comércio de metais preciosos na região amazônica seresumiu apenas à produção de gemas-­‐diamante <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tocantins, <strong>no</strong>valor de R$ 1,1 milhão. Existem outras pequenas áreas de exploração delocalizar. Em Rondônia, os grupos Santa Elina e a Canamera são exemplosde empresas que estão investin<strong>do</strong> na pesquisa de diamantes. Somente naregião <strong>do</strong>s municípios de Espigão D’Oeste e Pimenta Bue<strong>no</strong>, mais de 40corpos kimberlíticos 25 já foram mapea<strong>do</strong>s e são alvos de estu<strong>do</strong>. Encontram-­setambém <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> centenas de garimpeiros extrain<strong>do</strong> diamantesilegalmente na reserva indígena Roosevelt, o mesmo ocorre <strong>no</strong> municípiode Itaituba, <strong>no</strong> Pará.25 Kimberlito é uma rocha ígnea sen<strong>do</strong> a única fonte de diamante primário conheci-­<strong>da</strong>.147


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?As reservas <strong>da</strong>s 17 milhões de tonela<strong>da</strong>s de sais de potássio <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>estão localiza<strong>da</strong>s em Sergipe e <strong>no</strong> Amazonas. No Amazonas, nas locali<strong>da</strong>dessomam 1 bilhões de tonela<strong>da</strong>s, com um teor médio de 18%. O principal uso <strong>do</strong>cloreto de potássio é como fertilizante, sen<strong>do</strong> o setor agrícola o responsávelpela maior deman<strong>da</strong> desse produto. O sulfato de potássio e o sulfato duplode potássio e magnésio também são usa<strong>do</strong>s, em me<strong>no</strong>r proporção, comopotássio são intensamente utiliza<strong>do</strong>s na produção agrícola brasileira, ten<strong>do</strong>o país que importar 90% <strong>do</strong> produto consumi<strong>do</strong>, o referente a 1 bilhão dedólares anuais.Por isso, a exploração mineral de potássio vem ten<strong>do</strong> uma atençãoespecial <strong>do</strong> gover<strong>no</strong> federal que lançou, em 2007, um edital de licitação<strong>do</strong>s depósitos de potássio localiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s municípios de Nova Olin<strong>da</strong> <strong>do</strong>Norte, Itacoatiara, Autazes, Borba, Itapiranga, Silves e São Sebastião <strong>do</strong>Uatumã, <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas. No entanto, foi posterga<strong>da</strong> a expectativade aproveitamento <strong>da</strong>s reservas amazonenses, já que a Petrobrás, detentora<strong>da</strong>s concessões de lavra, não recebeu nenhuma oferta por parte <strong>do</strong>s licitantesparticipantes.O <strong>Brasil</strong> possui 4% <strong>da</strong>s reservas mundial de fosfato e uma produçãode 6.185 Mt. O setor foi positivamente favoreci<strong>do</strong> pela alta <strong>da</strong>s commoditiesagrícolas ocorri<strong>da</strong> em 2007, e consecutivamente com o aumento nademan<strong>da</strong> mundial por fertilizantes fosfata<strong>do</strong>s. A Amazônia praticamentenão apresenta reservas de fosfato, existe apenas uma reserva <strong>no</strong> Tocantins<strong>no</strong> município de Arraias. Nesta locali<strong>da</strong>de está situa<strong>da</strong> a única minera<strong>do</strong>raextratora de fosfato, a Itafos Mineração Lt<strong>da</strong>., que produziu 612 tonela<strong>da</strong>sde fosfato em 2006, geran<strong>do</strong> uma receita de R$ 2.2 milhões. No entanto, nãoprejudicou ain<strong>da</strong> mais a ativi<strong>da</strong>de de extração deste mineral.As reservas brasileiras de minério conten<strong>do</strong> prata somaram 1.991tonela<strong>da</strong>s <strong>do</strong> metal. O esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará (em Marabá e Itaituba) registrou esta<strong>do</strong>s de Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Goiás e Paraná. Aparticipação brasileira <strong>no</strong> quadro mundial de extração alcançou, em 2010,148


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivaso nível de 0,1% <strong>da</strong> produção global. A produção brasileira de prata, conti<strong>da</strong>em concentra<strong>do</strong>s de cobre, ouro, chumbo e zinco, alcançou um volumede 15.tonela<strong>da</strong>s, representan<strong>do</strong> um aumento de 0,3,% em relação ao a<strong>no</strong>anterior. A participação <strong>da</strong>s empresas amazônicas produtoras de prata <strong>no</strong>merca<strong>do</strong> nacional são de respectivamente, 52% <strong>da</strong> Vale com 7.8 tonela<strong>da</strong>s e1,2% <strong>da</strong> Serabi Mineração com 180 Kg.Os setores responsáveis pelo consumo <strong>da</strong> prata foram principalmenteos <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s de investimentos, aplica<strong>do</strong>s ao metal prata (Traded Fund uso o<strong>do</strong>ntológico, joalheria, de peças decorativas, eletroeletrônica, degalva<strong>no</strong>plastia, de sol<strong>da</strong>s e química e de espelhações de vidro. O crescimentoA prata é utiliza<strong>da</strong> como agente antibacterici<strong>da</strong>, em máquinas de lavarroupas, e na manufatura de vestuário, como regula<strong>do</strong>r de calor e o<strong>do</strong>r decorpo.Para o futuro há a perspectiva de crescimento <strong>da</strong> produção de pratana Amazônia relaciona<strong>do</strong> aos <strong>no</strong>vos projetos <strong>da</strong> Vale para extrair cobreem Carajás. O projeto Sossego, em Canaã <strong>do</strong>s Carajás (PA) visa aumentar aprodução para 140 mil tonela<strong>da</strong>s (Mt) /a<strong>no</strong> cobre conti<strong>do</strong> e 3,5 t/a<strong>no</strong> ouroconti<strong>do</strong> de concentra<strong>do</strong>; e o Projeto Salobo, já funcionan<strong>do</strong> em Marabá-­‐PAonde se planeja produzir 100 Mt de concentra<strong>do</strong> de cobre, chegan<strong>do</strong> a 400cobre conti<strong>do</strong> de minério, com 500 tonela<strong>da</strong>s de prata conti<strong>da</strong>, a partir deum investimento total de US$ 1,45 bilhão.A extração de prata na Amazônia está relaciona<strong>da</strong> à produção de cobree ouro, portanto as informações sobre os impactos desta produção estãoconti<strong>do</strong> <strong>no</strong> item sobre o cobre e ouro.No <strong>Brasil</strong>, estima-­‐se a existência de uma reserva de 42,7 mil tonela<strong>da</strong>sde tungstênio. Destas 70% são provenientes <strong>do</strong>s depósitos de scheelita,situa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte e 17% <strong>do</strong>s depósitos de wolframita,situa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Pará (<strong>no</strong>s municípios de São Félix <strong>do</strong> Xingu e Conceição <strong>do</strong>Araguaia), e 13% em Rondônia (em Ariquemes). O tungstênio é deman<strong>da</strong><strong>do</strong>pelos setores de fundição e ferros-­‐liga.Em Rondônia, a exploração de tungstênio desenvolvi<strong>da</strong> pela empresa149


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Metalmig Mineração atingiu 39 tonela<strong>da</strong>s em 2007. Essa empresa temuma participação de 14,7% na produção nacional e pretendia investir, em2009, US$ 6,5 milhões nas áreas de wolframita e cassiterita. A Mina IgarapéManteiga, em Ariquemes/RO, continua sen<strong>do</strong> a grande responsável pelaeleva<strong>da</strong> produção <strong>do</strong> mineral concentra<strong>do</strong> em wolframita, desde o a<strong>no</strong> de2005.Jamari <strong>no</strong> item sobre estanho.No <strong>Brasil</strong>, as reservas brasileiras de minério de zircônio estãoassocia<strong>da</strong>s, principalmente, aos depósitos de areias de minerais pesa<strong>do</strong>s.As reservas brasileiras estão distribuí<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s seguintes esta<strong>do</strong>s: Amazonas,Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro e Tocantins, as quais representam7% <strong>do</strong> total mundial. Apesar de Presidente Figueire<strong>do</strong>, <strong>no</strong> Amazonas, possuira maior reserva nacional <strong>do</strong> minério, na região amazônica, só o Tocantinsproduz zircônio através <strong>da</strong>s empresas Mineração <strong>do</strong> Tocantins Lt<strong>da</strong>., MITOe Jaú Mineração Lt<strong>da</strong>. Em 2007, a produção estadual foi de 67 tonela<strong>da</strong>s, <strong>no</strong>valor de R$ 153 mil. Recentemente, a Companhia de Mineração <strong>do</strong> Tocantinsrealizou trabalhos de pesquisa sobre a potenciali<strong>da</strong>de de exploração dezirconita <strong>no</strong> município de Jaú <strong>do</strong> Tocantins, na região sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Essemineral é utiliza<strong>do</strong> principalmente (em tor<strong>no</strong> de 90% <strong>do</strong> consumo) comorevestimento de reatores nucleares, mas pode ser emprega<strong>do</strong> em ligas dede imãs supercondutores e de jóias.150


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivas4. ConclusõesComo se pode constatar <strong>no</strong> pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mineral na Amazôniabrasileira existem grandes perspectivas de crescimento <strong>da</strong> exploraçãomineral em praticamente to<strong>do</strong>s os tipos de minérios. Muitos desses nuncaforam explora<strong>do</strong>s, mas encontram-­‐se amplamente mapea<strong>do</strong>s, localiza<strong>do</strong>s,vislumbram momentos mais propícios para extraí-­‐los. Outros, <strong>no</strong> entanto, jáapresentam projetos em an<strong>da</strong>mento ou previsto e devem ser urgentemente– ou poderão causar – na região hospedeiras. Esse questionamento deveser promovi<strong>do</strong> majoritariamente pelos grupos ameaça<strong>do</strong>s, que devem seinserir de forma impositiva <strong>no</strong> planejamento territorial que os afetará, nãoo deixan<strong>do</strong> ser feito simplesmente por planeja<strong>do</strong>res públicos e priva<strong>do</strong>s aserviço <strong>do</strong> capital.Sobre os indígenas há uma concentração importante de ativi<strong>da</strong>des demineração em an<strong>da</strong>mento em áreas contíguas às TIs Waimiri-­‐atroari (AM eRR) e Xikrin <strong>do</strong> Cateté (PA) e na região de Paragominas, <strong>no</strong> leste <strong>do</strong> Pará. Aregião que abrange o leste <strong>do</strong> Pará, o <strong>no</strong>rdeste <strong>do</strong> Mato Grosso e o oeste <strong>do</strong>Tocantins está entre aquelas de maior expansão <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des minera<strong>do</strong>ras,onde há pesquisas mineralógicas ocorren<strong>do</strong> ou registros de pedi<strong>do</strong>s deautorização para início de ativi<strong>da</strong>des extrativas. Chama a atenção a grandeincidência de requerimentos de pesquisa e áreas “em disponibili<strong>da</strong>de” emRondônia, oeste <strong>do</strong> Mato Grosso, <strong>no</strong> su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Pará e na TI Ya<strong>no</strong>mami(AM/RR).Apesar de existir uma grande diversi<strong>da</strong>de de minas em exploraçãona região, especialmente de magnitude pequenas e médias, as principaisanálises sobre mineração na Amazônia continuam sen<strong>do</strong> sobre as grandesminas de grandes empresas, deixan<strong>do</strong>-­‐<strong>no</strong>s preocupa<strong>do</strong>s quanto a necessi<strong>da</strong>dede compreendermos mais a fun<strong>do</strong> os problemas socioambientais referentesa exploração de pequenas e médias mineração. Contu<strong>do</strong>, é claro que asgrandes minas, inseri<strong>da</strong>s em megaprojetos de investimento, merecem Deve-­‐se destacar <strong>no</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s neste texto que os principaisprodutos exporta<strong>do</strong>s (ferro, bauxita, caulim, manganês, cobre) são produzi<strong>do</strong>sem minas de grande escala e por grandes empresas transnacionais quegeram boa parte <strong>do</strong> capital em circulação na região amazônica. Tais produtosvisam pre<strong>do</strong>minantemente a exportação ou, raramente, os merca<strong>do</strong>s mais<strong>do</strong> capital gera<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> exploração <strong>do</strong>s recursos minerais extrai<strong>do</strong>s <strong>do</strong>151


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?substrato amazônico. Esses produtos inatura vão passar pelo processo deagregação de valor em outras regiões e países, ou são agrega<strong>do</strong>s valor pormeio de tec<strong>no</strong>logias altamente polui<strong>do</strong>ras e consumi<strong>do</strong>ras de energia. Ouseja, a Amazônia exerce na divisão internacional <strong>do</strong> trabalho, simplesmente,a função de fornece<strong>do</strong>ra de materia-­‐prima e de semi-­‐manufatura<strong>do</strong>s comalto custo energético e ambiental.A Companhia Vale é, sem dúvi<strong>da</strong>, a maior empresa de mineração <strong>da</strong>região, possuin<strong>do</strong> projetos individuais e coliga<strong>do</strong>s com outras corporações.Além de possuir a maior mina <strong>da</strong> região, em Carajás (PA), onde se explorapre<strong>do</strong>minantemente ferro, mas também se extrai cobre, ouro, prata,manganês e futuramente se explorará o níquel; ela ain<strong>da</strong> está relaciona<strong>da</strong>aos projetos de caulim <strong>no</strong> Amapá e <strong>no</strong> Pará; assim como com a extraçãoe transformação <strong>da</strong> bauxita em Oriximiná, Paragominas e Barcarena (<strong>no</strong>Pará). Sen<strong>do</strong> assim, a Vale também é a minera<strong>do</strong>ra com maior número deformas nas mais varia<strong>da</strong>s formas de exploração mineral na Amazônia,poden<strong>do</strong> ser causa<strong>do</strong>s em pequenas, médias e grandes minas ou porgrandes transnacionais, médias e pequenas empresas ou por garimpeiros.Os grupos atingi<strong>do</strong>s são os mais varia<strong>do</strong>s possíveis (indígenas, quilombolas,assenta<strong>do</strong>s, peque<strong>no</strong>s agricultores, garimpeiros, ribeirinhos, gruposextrativistas em geral, etc), mas são pre<strong>do</strong>minantemente rurais, pois aspiscosos. O espaço urba<strong>no</strong> também se desestrutura com a ativi<strong>da</strong>de mineralera de pouca ou nenhuma mobilização por parte <strong>do</strong>s grupos sociais atingi<strong>do</strong>spela ativi<strong>da</strong>de mineral. Os poucos resistentes não conseguiam se fazerouvir frente ao tamanho poder <strong>da</strong>s empresas minera<strong>do</strong>ras e <strong>da</strong> repressão<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que acabam os oprimin<strong>do</strong>, cooptan<strong>do</strong> ou calan<strong>do</strong>. Faltava,portanto, uma forma de mobilização que una a diversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s atingi<strong>do</strong>spela mineração em uma só bandeira, capaz de fortalecer as lutas, defenderos múltiplos direitos, se fazen<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>s e atuantes <strong>no</strong>s planejamentosterritoriais amazônicos.Esse pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong> organização e mobilização política em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de mineral na Amazônia vem se alteran<strong>do</strong> desde o íncio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>.<strong>Novo</strong>s grupos, movimentos e ONG’s vêm se fortalecen<strong>do</strong> em redes nacionaise internacionais contra os impactos <strong>da</strong> mineração. Em 2010, surgiu <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,152


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivaso Movimento de Atingi<strong>do</strong>s pela Vale, que inclusive possuiu articulações comorganizações e grupos que sofrem com a ativi<strong>da</strong>de mineral desta empresaem outros países. Esse movimento engloba diferentes organizações,movimentos sociais, comuni<strong>da</strong>des, grupos sociais em to<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong> e<strong>no</strong>s países de atuação <strong>da</strong> Vale. A articulação regional <strong>do</strong> movimento naAmazônia é bastante representativa produzin<strong>do</strong> articulações e encontros,principalmente na área <strong>do</strong> Grande Projeto Carajás. A Justiça <strong>no</strong>s Trilhos éum importante articula<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s movimentos sociais, associações e grupos,apresentan<strong>do</strong> um papel fun<strong>da</strong>mental de articulação e coordenação <strong>da</strong>luta, pauta<strong>da</strong> em estratégias e temas diversos. Deve-­‐se res<strong>sal</strong>tar queoutros movimentos locais se encontram lutan<strong>do</strong> cotidianamente contra osimpactos de projetos minerais na região e, em muitos casos, permaneceminvisibiliza<strong>do</strong>s.153


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Anexo de imagensMina de cromo <strong>no</strong> Amapá. Fonte –Observatório SocialFoto: Mineração Vila Nova (gentilmente cedi<strong>da</strong>)Área de exploração de Ferro de CarajásFoto <strong>do</strong> autor154


Recursos minerais na Amazônia brasileira: impactos e perspectivasContaminação de Bauxita <strong>no</strong> Lago Batata – OriximináFoto: Mineração Rio <strong>do</strong> Norte S.A.Fonte: ESTEVES, 2005.Garimpo de Ouro em Serra Pela<strong>da</strong> – PAFoto captura<strong>da</strong> em www.bomconselho.com.br/.../minerais.htm155


NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO NO BRASIL: Para quê? Para quem?Extração de Caulim na AmazôniaFoto captura<strong>da</strong> em www.exposibram.org.br/media/<strong>no</strong>ticia/imagem/1Material estéril de manganês aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> na Serra <strong>do</strong> navio-­‐ AmapáFoto:Regiane ParacamposFonte: Observatório Social156


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