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O trabalho do enfermeiro de pronto socorro - Fundacentro

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FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DESEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHOCENTRO TÉCNICO NACIONALCOORDENAÇÃO DE SAÚDE E TRABALHOSERVIÇO DE SOCIOLOGIA E PSICOLOGIATítulo <strong>do</strong> relatório:O <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra e autora:Tereza Luiza Ferreira <strong>do</strong>s SantosSão Paulo/SPJulho <strong>de</strong> 2012


- 2 -* Projeto vincula<strong>do</strong> ao Termo <strong>de</strong> Cooperação Técnica firmada através <strong>do</strong> ProcessoCTN – 299/2008, entre a Fundação Jorge Duprat Figueire<strong>do</strong> <strong>de</strong> Segurança e Medicina<strong>do</strong> Trabalho – FUNDACENTRO/ Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo –SEESP, publica<strong>do</strong> no DOU em 21/01/2009.


- 3 -RESUMOEste estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> por solicitação <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo e se constitui em um <strong>do</strong>s produtos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s da assinatura <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> <strong>de</strong>cooperação técnica entre o SEESP e a FUNDACENTRO. As queixas maiscontun<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> sindicato eram as falas <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s sobre assédio moral e violêncialaboral.Utilizamos uma meto<strong>do</strong>logia qualitativa, com abordagem humanista para efetuar acoleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s aos <strong>enfermeiro</strong>s <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>. As técnicas utilizadasforam: observação participante, levantamento <strong>do</strong>cumental, levantamento bibliográfico,entrevistas individuais, entrevistas em grupos. As entrevistas foram transcritas eanalisadas, ten<strong>do</strong> em vista a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> temas/categorias e subcategorias que forampostas em relação.Destacamos como categorias: a ativida<strong>de</strong> em o cotidiano <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>, o pacientecomo objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, a equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, a saú<strong>de</strong> e o assédio moral coloca<strong>do</strong> emcapítulo à parte.Concluímos que coexistem problemas como a violência laboral provocada pelospacientes especialmente os psiquiátricos ou alcoolistas; ausência <strong>de</strong> conhecimentotécnico e orientação para lidar com o problema. Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritos foram:<strong>do</strong>r na coluna, torções nos pés, alcoolismo, tabagismo, obesida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pressão, bem comoaci<strong>de</strong>ntes com perfuro cortante.Chamamos a atenção para as condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> ina<strong>de</strong>quadas em que <strong>de</strong>senvolvemsuas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e para a organização <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, com ritmos intensos, comotambém para as diversas funções <strong>de</strong>senvolvidas pelos <strong>enfermeiro</strong>s, o que sugere, entreoutros aspectos, a subutilização <strong>de</strong>sses profissionais.Palavras chaves: <strong>enfermeiro</strong>, <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, <strong>trabalho</strong>, assédio moral, saú<strong>de</strong>.


- 4 -ÍNDICEResumo.......................................................................................................................... 03I. Introdução.................................................................................................................. .05II. O méto<strong>do</strong>.................................................................................................................. .08III. O Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros................................................................................. .10IV. Resulta<strong>do</strong>s............................................................................................................... .121. Ativida<strong>de</strong>................................................................................................................... .13A. O cotidiano <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>............................................................................ .13B. Sobre o objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> – o paciente................................ .71C. A equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>..................................................................................... .842. Saú<strong>de</strong>......................................................................................................................... .973. Perseguição e exclusão – o assédio moral.............................................................. 115V. Consi<strong>de</strong>rações finais............................................................................................... 122VI. Referências bibliográficas..................................................................................... 127


- 5 -I. INTRODUÇÃO:Este estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como primeira motivação uma solicitação <strong>do</strong> Sindicato<strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo – SEESP a FUNDACENTRO. Osencaminhamentos e <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e da queixa real <strong>do</strong> Sindicato levounosa realização em parceria <strong>do</strong> seminário Condições <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Trabalho <strong>do</strong>sEnfermeiros e seus Paradigmas (2007).O passo seguinte foi a assinatura <strong>de</strong> um Protocolo <strong>de</strong> Intenções <strong>de</strong> Cooperação Técnicafirma<strong>do</strong> entre FUNDACENTRO e Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Pauloque objetiva <strong>de</strong>senvolver pesquisa e produção <strong>de</strong> material didático.O presente relatório vem ao encontro <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> pesquisaquan<strong>do</strong> se propõe a relatar, após a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s, os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>ou o sofrimento psíquico <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> exercício da ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>. Nossapopulação é o profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> gradua<strong>do</strong> em enfermagem e que atua em unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> 1 <strong>de</strong> hospitais públicos e/ou priva<strong>do</strong>s.Segun<strong>do</strong> a Revista <strong>do</strong> SEESP 2 , os profissionais <strong>de</strong> enfermagem representam 49% damão <strong>de</strong> obra da saú<strong>de</strong> no País. No Brasil existem 104.484 <strong>enfermeiro</strong>s, sen<strong>do</strong> que naRegião Su<strong>de</strong>ste encontra-se a gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> 56.610, seguida pelas regiõesNor<strong>de</strong>ste – 20.609, Sul – 16.343, Norte – 5.564 e Centro Oeste – 5.358, segun<strong>do</strong> aRAIS, 2005.De acor<strong>do</strong> com a Relação Anual <strong>de</strong> Informações Sociais (RAIS), em 2005, havia 35.074<strong>enfermeiro</strong>s, sen<strong>do</strong> que 89,39% eram <strong>do</strong> sexo feminino e apenas 10,61% <strong>do</strong> sexomasculino 3 .Na elaboração <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s por 1.000 habitantes, ou seja, oquantitativo da população que teoricamente <strong>de</strong>veria ser manti<strong>do</strong> por um <strong>enfermeiro</strong>, a1 P S = Pronto <strong>socorro</strong>.2 Conexão SEESP, 2(10): 6-7, jun/jul 2007.3 (Trabalho apresenta<strong>do</strong> no Seminário As Condições <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Trabalho <strong>do</strong>s Enfermeiros e seusparadigmas em 24/10/2007, São Paulo por Solange Aparecida Caetano).


- 6 -média <strong>do</strong> Brasil é <strong>de</strong> 1,8 (mil) habitantes por <strong>enfermeiro</strong> e o índice para São Paulo é <strong>de</strong>1,2 e quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> aos índices das outras regiões <strong>do</strong> Brasil, o <strong>de</strong> São Paulo é omenor, ou seja, o esta<strong>do</strong> com maior contingente populacional <strong>do</strong> país, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>do</strong> maiorquadro <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>s <strong>do</strong> Brasil, tem, no entanto, o menor índice <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>s diante <strong>de</strong>ssa populaçãoDos estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por Malaguti (2006), Zapparoli (2005), Mininel (2006),Balsamo(2002), Costa (2002), Napoleão (1999), Rezen<strong>de</strong> (2003), Barboza (2001),Basso (1999), Sarquis (1999) ressaltamos alguns resulta<strong>do</strong>s importantes: existem altosíndices <strong>de</strong> afastamentos por aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> pessoal <strong>de</strong> enfermagem, sen<strong>do</strong> asmaiores freqüências observadas com trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sexo feminino, jovens, commenos <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> experiência e aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> enfermagem.Segun<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s acima, os aci<strong>de</strong>ntes mais freqüentes são com instrumentos perfurocortantes,além <strong>de</strong> luxações, cervico<strong>do</strong>rsolombalgia, contaminação biológica entre osauxiliares <strong>de</strong> enfermagem, gran<strong>de</strong> exposição <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> enfermagem aosriscos biológicos e às <strong>do</strong>enças graves como AIDS e a Hepatite B.O sangue é uma importante fonte <strong>de</strong> risco para ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> comperfuro cortantes e as mãos são as partes <strong>do</strong> corpo mais atingidas, resistência ao uso <strong>de</strong>EPI, o <strong>de</strong>scarte incorreto <strong>de</strong> materiais contamina<strong>do</strong>s e os números ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s <strong>de</strong>profissionais foram aponta<strong>do</strong>s como os principais motivos para ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.Problemas <strong>de</strong> pele, respiratório, nervoso, órgãos <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, circulatório, digestivo,imunológico, neoplasias, reprodutor e urinário foram <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong>s e associa<strong>do</strong>s àexposição a riscos químicos e sub-notificação das ocorrências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>por julgarem pequenas as lesões.Sêcco (2006), Macha<strong>do</strong> (2006), Souza (2001) e Silva (2004) em suas teses <strong>de</strong>monstramque os <strong>trabalho</strong>s manuais são principalmente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pelos profissionais <strong>de</strong>enfermagem <strong>de</strong> nível médio e que os gradua<strong>do</strong>s em enfermagem estão gradativamenteassumin<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência direta e gerencial e também indicam que osauxiliares e técnicos <strong>de</strong> enfermagem são os mais acometi<strong>do</strong>s por aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.


- 7 -Tesck, 1982; Ferreira, 1998; Guerrer, 2007; Batista, 2005; Menzani, 2007; Campos,2005; Pafaro, 2002; Britto, 2006; Sangiuliano, 2004; Camelo, 2002; Men<strong>de</strong>s, 1999 eFerreira, 2006 levaram em consi<strong>de</strong>ração as unida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> se suporia existir fatores <strong>de</strong>risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> stress: unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia intensiva, pacienteoncológico, emergência e <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.O SEESP ao nos procurar relatou que seus associa<strong>do</strong>s queixavam-se <strong>de</strong> assédio sexualpor parte <strong>do</strong>s usuários/pacientes e por parte <strong>do</strong>s colegas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, bem como oassédio moral e violência ocupacional.Os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s nesta categoria profissional sobre esta temática são escassos. Emnosso levantamento bibliográfico i<strong>de</strong>ntificamos apenas DIAS, 2002 e COSTA, 2005 eCEZAR, 2005.Nas próximas páginas observaremos resulta<strong>do</strong>s que confirmam as suspeitas <strong>do</strong> sindicatoda categoria sobre a questão <strong>do</strong> assédio moral, e mais que isso, abre um imenso leque <strong>de</strong>situações, significa<strong>do</strong>s e subjetivida<strong>de</strong> inimagináveis os quais com certeza merecem a<strong>de</strong>vida reflexão quan<strong>do</strong> se preten<strong>de</strong> efetuar mudanças e formular políticas públicas..


- 8 -II. O MÉTODONosso objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> se relaciona com a afetivida<strong>de</strong>, com a vivência, sentimentos,prazeres, emoções suscitadas pelas experiências concretas <strong>de</strong>correntes das situaçõesvivenciadas no âmbito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> realiza<strong>do</strong> por <strong>enfermeiro</strong>s das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Pronto Socorro <strong>de</strong> hospitais públicos e da re<strong>de</strong> privada.Para apreen<strong>de</strong>r o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>optamos pela não rigi<strong>de</strong>z, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnicas e uma relação mais próxima entrepesquisa<strong>do</strong>r e sujeitos.As técnicas utilizadas para o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foram: levantamentobibliográfico 4 , levantamento <strong>do</strong>cumental5 , observação participante, entrevistasindividuais e em grupo com <strong>enfermeiro</strong>s e com a diretoria <strong>do</strong> sindicato.Visitas foram realizadas em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> sen<strong>do</strong> os hospitais com asseguintes características: unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (diurno), hospital infantil priva<strong>do</strong>(noturno) hospital público gran<strong>de</strong> (diurno). Participação da técnica nas posses <strong>de</strong>diretoria e datas comemorativas <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s.As entrevistas realizadas com dirigentes sindicais com data, horário e local pré<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s;03 Encontros com toda a diretoria <strong>do</strong> sindicato da categoria a fim <strong>de</strong> realizaruma aproximação com este universo, uma vez que os 16 dirigentes sindicais sãoenfermeiras.As reuniões foram realizadas na se<strong>de</strong> da FUNDACENTRO, em São Paulo; 07 encontrosforam realiza<strong>do</strong>s em local neutro, nas <strong>de</strong>pendências da FUNDACENTRO em sala <strong>de</strong>4 Banco <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s Bibliográficos da FUNDACENTRO; IBICT; LILACS; BIREME; BDENF - Banco <strong>de</strong>Da<strong>do</strong>s em Enfermagem; Banco <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s da USP/SIBI; TEDE – PUC; ADOLEC; Banco <strong>de</strong> Teses daCAPES; CEPEM; e nos seguintes sítios:http://www.fundacentro.gov.br; http://www.ibict.br http://www.teses.usp.br, http://www.usp.br,http://www.bireme.br, http://www.unicamp.br, http://www.scielo.br, http://www.capes.gov.br,http://www.ufmg.br, http://www.pucsp.br, http://www.oit.br,http://www.mte.gov.br, http://www.fiocruz.br,http://www.divinopolis.uemg.br/enfermagem/aben/catalogo/idcgeral.html5 Convenções Coletivas <strong>do</strong> SEESP <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2004 a 2010; matérias <strong>de</strong> jornais, fotografias.


- 9 -aula, em dias e horários previamente agenda<strong>do</strong>s com o grupo. O objetivo <strong>de</strong>stesencontros foi conhecer a ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s a partir da fala <strong>do</strong> próprio<strong>enfermeiro</strong>. Os encontros iniciaram-se em 09/09/2009 com o número <strong>de</strong> 5 <strong>enfermeiro</strong>s.Para a formação <strong>do</strong> grupo utilizou-se a listagem/cadastro <strong>do</strong> Sindicato da categoria parao enviou <strong>de</strong> convite. Outra dificulda<strong>de</strong> encontrada foi a conciliação <strong>do</strong>s horários <strong>do</strong>s<strong>enfermeiro</strong>s que tinhas jornadas diferenciadas e em dias diversos. No total foramentrevista<strong>do</strong>s 17 <strong>enfermeiro</strong>s, sen<strong>do</strong> 16 <strong>do</strong> sexo feminino e apenas 1 <strong>do</strong> sexo masculino.O <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> campo foi realiza<strong>do</strong> nos anos <strong>de</strong> 2008, 2009 e 2010.As Entrevistas foram gravadas em fitas k-7 e <strong>de</strong>pois transcritas e analisadas após váriasescutas, agrupan<strong>do</strong> os diversos temas que surgiram em categorias a partir <strong>de</strong> suas falas edas observações realizadas e após, postas em relação.


- 10 -III. SINDICATO DOS ENFERMEIROS – um pouco da história.A primeira agremiação ou grupo que representou a categoria <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s foi aAPEESP – Associação <strong>do</strong>s Profissionais Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, a qualteve início em 1974.Mudanças na carta sindical <strong>do</strong> sindicato da saú<strong>de</strong>, por volta <strong>de</strong> 83, liberaram os<strong>enfermeiro</strong>s para transformar a associação em sindicato e o então Ministro <strong>do</strong> Trabalho,Almir Pazzianoto conce<strong>de</strong>u o registro sindical, nascen<strong>do</strong> assim o SEESP.O SEESP teve se<strong>de</strong> no centro (Rua 24 <strong>de</strong> maio) em 98 on<strong>de</strong> dividiu duas salas e oprédio funcionava em horário comercial. No final <strong>de</strong> 1998 alugou uma casa no bairro,na Rua Corrente Lemos, on<strong>de</strong> permaneceu durante 2 anos e por fim mu<strong>do</strong>u, em2001/2002, para a Rua Rondinha, on<strong>de</strong> está até os dias atuais.O SEESP representa to<strong>do</strong>s os <strong>enfermeiro</strong>s gradua<strong>do</strong>s em faculda<strong>de</strong>s e sua base é <strong>de</strong> 44mil <strong>enfermeiro</strong>s, sen<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s 7.970 (fonte: SEESP 6 ).A diretoria <strong>do</strong> SEESP é toda composta por <strong>enfermeiro</strong>s que atuam em hospitais e quetambém são <strong>do</strong>centes e em sua maior parte, é feminina, sen<strong>do</strong> representativa dacategoria que tem um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>ste sexo.Houve uma única paralisação da categoria em 2004, os <strong>enfermeiro</strong>s <strong>do</strong> setor filantrópicoe priva<strong>do</strong>: auxiliar, médico, <strong>enfermeiro</strong>s, agente comunitário e rapidamente tiveram seussalários atrasa<strong>do</strong>s, pagos. Essa paralisação foi iniciada pelos <strong>enfermeiro</strong>s.A análise das Convenções Coletivas acordadas entre Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e o Sindicato <strong>do</strong>s Hospitais, Clínicas, Casas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, laboratórios<strong>de</strong> pesquisas e análises clínicas e <strong>de</strong>mais estabelecimentos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo – SINDHOSP, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2004 a 2010, <strong>de</strong>monstraram que osacor<strong>do</strong>s atualmente constam <strong>de</strong> 62 cláusulas, sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>stas, 15 estão relacionadas amelhorias <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, saú<strong>de</strong>, organização <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e saú<strong>de</strong> ocupacional6 SEESP – Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.


- 11 -da categoria (banco <strong>de</strong> horas, adicional noturno, jornada especial <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, vacinaçãopreventiva, estabilida<strong>de</strong> para aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, para o porta<strong>do</strong>r HIV, às vésperas daaposenta<strong>do</strong>ria, aos cipeiros, lanches, auxilio funeral, uniformes, fornecimento <strong>de</strong>equipamentos <strong>de</strong> proteção individual, fornecimento <strong>de</strong> material indispensável, funções<strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>).De igual forma, as convenções coletivas firmadas entre o Sindicato das Santas Casas <strong>de</strong>Misericórdia e Hospitais Filantrópicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e o SEESP contam com63 cláusulas, sen<strong>do</strong> que 14 estão relacionadas a melhorias <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,saú<strong>de</strong>, organização <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e saú<strong>de</strong> ocupacional da categoria.O Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros estabelece convenções coletivas com o Sindicato dasInstituições Beneficentes, Filantrópicas e religiosas <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, com oSindicato Nacional das Empresas <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Grupo, com o Sindicato das SantasCasas <strong>de</strong> Misericórdia e Hospitais Filantrópicos <strong>de</strong> Ribeirão Preto e Região, <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong>Paraíba, Litoral Norte e Alta Mantiqueira, da baixada Santista e Litoral Norte e Sul e <strong>de</strong>Presi<strong>de</strong>nte pru<strong>de</strong>nte e região, além <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Hospitais, Casas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,Laboratórios <strong>de</strong> Pesquisas e análises clínicas <strong>de</strong> Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi,Jandira e Osasco.


- 12 -IV. RESULTADOSA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s revelou três unida<strong>de</strong>s temáticas: 1. Ativida<strong>de</strong> se subdivi<strong>de</strong> em; a. ocotidiano; b. objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> – o paciente; e c. a equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>; 2. Saú<strong>de</strong>,unida<strong>de</strong> temática que possibilitou a compreensão <strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>como se lida com o a<strong>do</strong>ecimento, subdivi<strong>de</strong>-se em a. queixa <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e b. como lidamcom tais problemas e 3. Perseguição e exclusão – o assédio moral.Ressaltamos que os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s a seguir foram elabora<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>srelatos <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>s entrevista<strong>do</strong>s individualmente e em grupo e das observaçõesrealizadas em <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s <strong>de</strong> hospitais.Portanto, os relatos, coloca<strong>do</strong>s em itálico e entre aspas, são falas <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>s e<strong>de</strong>nota uma concepção <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> pensar, sentir e agir sobre o tema <strong>do</strong>capítulo em questão.Esses <strong>de</strong>poimentos, às vezes, discordantes <strong>de</strong>monstram a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhares,situações e apontam que vários aspectos <strong>de</strong>vem ser leva<strong>do</strong>s em conta na ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r da saú<strong>de</strong> – <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> quan<strong>do</strong> se pensa em políticaspúblicas para a categoria.


- 13 -1. ATIVIDADEA. O COTIDIANO DO ENFERMEIRO.As páginas seguintes nos mostrarão diversos aspectos importantes que não po<strong>de</strong>m serexcluí<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> em vista a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Há, portanto umasérie <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes e exigências que <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelo <strong>enfermeiro</strong> que<strong>de</strong>senvolve suas ativida<strong>de</strong>s em um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.Para uma melhor compreensão <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finimos como um <strong>do</strong>s itens <strong>de</strong>sterelatório o <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> como espaço <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e suas condições.1. Pronto <strong>socorro</strong> como espaço <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>Existe um consenso que os profissionais que atuam em <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s <strong>de</strong>vem sercompetentes não só tecnicamente, mas também <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>spessoais que lhes permita pensar rápi<strong>do</strong>, tomar <strong>de</strong>cisões, etc.Parece haver um consenso <strong>de</strong> que o <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong>veria ter um perfilespecífico, diferencia<strong>do</strong> e segun<strong>do</strong> eles essa necessida<strong>de</strong> não é atendida, não se atentapara o perfil <strong>do</strong> profissional.Segun<strong>do</strong> Pai e Lautert (2005), na busca pela estabilização das condições vitais <strong>do</strong>paciente, o atendimento se dá por meio <strong>do</strong> suporte à vida, exigin<strong>do</strong> agilida<strong>de</strong> eobjetivida<strong>de</strong> no fazer. Nesse senti<strong>do</strong>, o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> molda-se na luta contra otempo para alcance <strong>do</strong> equilíbrio vital.Desta forma, evi<strong>de</strong>ncia-se uma tensão como característica <strong>de</strong>cisiva <strong>de</strong>ste ambiente <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> e a equipe <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res executa suas ativida<strong>de</strong>s sempre sob uma gran<strong>de</strong>pressão ocasionada pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rapi<strong>de</strong>z e precisão <strong>de</strong> intervenção e atenção, epela elevada <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> atendimentos. Além disso, esses profissionais estão sempreem contato com experiências <strong>de</strong> morte.Wehbe e Galvão (2001), em estu<strong>do</strong> sobre o <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emergênciatambém apontam que a rotina <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s os coloca em situações que


- 14 -exigem além <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> conhecimento, a rapi<strong>de</strong>z <strong>do</strong> raciocínio no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> tomar<strong>de</strong>cisões.Acrescenta ainda que a li<strong>de</strong>rança seja uma característica fundamental para <strong>enfermeiro</strong>sque atuam em <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s e que este profissional precisa buscar meios queviabilizem o <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar.“Porque hoje, as pessoas vão trabalhar em<strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, não porque são as maiscapazes, mas porque elas topam”.Desta forma, <strong>de</strong>vemos aqui <strong>de</strong>finir uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>. Assim, segun<strong>do</strong> aResolução CFM, em seu Artigo 1º - Os estabelecimentos <strong>de</strong> Prontos Socorros Públicose Priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong>verão ser estrutura<strong>do</strong>s para prestar atendimento a situações <strong>de</strong> urgênciaemergência,<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> garantir todas as manobras <strong>de</strong> sustentação da vida e comcondições <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> à assistência no local ou em outro nível <strong>de</strong> atendimentoreferencia<strong>do</strong>.Define por URGÊNCIA a ocorrência imprevista <strong>de</strong> agravo à saú<strong>de</strong> com ou sem riscopotencial <strong>de</strong> vida, cujo porta<strong>do</strong>r necessita <strong>de</strong> assistência médica imediata e porEMERGÊNCIA a constatação médica <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> agravo à saú<strong>de</strong> que impliquemem risco iminente <strong>de</strong> vida ou sofrimento intenso, exigin<strong>do</strong>, portanto, tratamento médicoimediato.“Eu, como enfermeira <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>,achei que não fosse me adaptar, porquesempre fiz UTI, geral, cardíaca, pediátrica”.Observamos, portanto, uma nítida diferenciação entre as diversas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>atendimento <strong>de</strong> um hospital e a atuação <strong>do</strong>s profissionais com as características <strong>de</strong> cada


- 15 -processo e <strong>trabalho</strong> e essa diferenciação está relacionada também ao tipo <strong>de</strong> pacienteque é recebi<strong>do</strong> e ao tipo e intensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>.“E <strong>de</strong> repente você começa a trabalhar compacientes conscientes. Tu<strong>do</strong> bem que vocêpega outros casos, mas na maior parte, sãopacientes conscientes, isso eu estranhei umpouco. É um <strong>trabalho</strong> diferente”.A clientela <strong>do</strong>s pacientes <strong>de</strong> <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s é diferenciada, embora como explicitamos <strong>enfermeiro</strong>s, encontra-se <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>.“A maioria era pacientes graves, pacientescom paradas respiratórias, aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong>s, entãouma parte não é menor. Pronto <strong>socorro</strong>, porexemplo, na época <strong>do</strong> PCC, eu recebi 5pacientes para<strong>do</strong>s. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pacientesque a gente recebe constantemente emaci<strong>de</strong>ntes”.Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, a população <strong>de</strong> uma forma geral não sabe a que serviçorecorrer, sen<strong>do</strong> uma das causas das superlotações e qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> atendimentoquestionáveis.“Por exemplo, você está com <strong>do</strong>r <strong>de</strong> estômago,você não vai passar direto pra um hospital,tem um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> perto <strong>do</strong> seu bairro.Você vai no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, é um momentoque eu não preciso ir até o hospital, ao não serque tenha um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong> emergência,mas se você tem um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> perto dasua casa, você passa lá, você po<strong>de</strong> ser


- 16 -atendi<strong>do</strong> naquele momento, mas não numasituação tão emergencial que no caso, oacompanhamento <strong>do</strong> hipertenso, <strong>do</strong>s pacientesdiabéticos, quan<strong>do</strong> eles dão entrada com agente, você vê que não tem umacompanhamento”.A busca por um tipo <strong>de</strong> atendimento em função <strong>de</strong> não ter orientação para proce<strong>de</strong>r oudar continuida<strong>de</strong> ao tratamento, levan<strong>do</strong> o paciente a procurar o <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> todas àssemanas.“Agora tem paciente que toda semana tá no<strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação. Esse é operfil da população que é atendida nos<strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s”.“Casos <strong>de</strong> pacientes que não acompanhamrealmente o tratamento nas unida<strong>de</strong>s básicas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas assim, quan<strong>do</strong> procuram <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong>, já vem em uma situação em que nãohaveria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chegar em um <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong> naquele momento, não seria umaconsulta simples”.No Brasil, a Constituição Fe<strong>de</strong>ral estabeleceu o Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong>1988, e, por conseguinte um fluxo <strong>de</strong> atendimento, ou seja, pacientes saudáveis ou com<strong>do</strong>enças crônicas <strong>de</strong>vem fazer acompanhamento nas unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ouambulatório, e daí serem encaminha<strong>do</strong>s a serviços especializa<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> maiorcomplexida<strong>de</strong> se assim for necessário. Apenas em casos <strong>de</strong> emergências e urgências ospacientes <strong>de</strong>vem procurar serviços <strong>de</strong> atendimento imediato, <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> (SOUZA,SILVA e NORI, 2007).


- 17 -Nem sempre os profissionais das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emergência e urgência estão prepara<strong>do</strong>stecnicamente para aten<strong>de</strong>r a toda esta <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e volumosa. O profissionalprecisa contar com seus recursos psicológicos, cognitivos, etc. próprios para livrar-se <strong>de</strong>situações <strong>de</strong> perigo para a sua integrida<strong>de</strong>.“... estou em um <strong>pronto</strong> atendimento, mas mevejo nessa situação <strong>de</strong> lidar muito compaciente psiquiátrico, no meu prédio, nósaten<strong>de</strong>mos álcool, drogas, infantil e adulto, ecom toda a operação cracolândia. Essa quartaestá sen<strong>do</strong> a mais cruel. Diante <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio,eu me propus a fazer um aperfeiçoamento emsaú<strong>de</strong> mental, forneci<strong>do</strong> pela UNIFESP. Masas pessoas não têm escolha, você vai aten<strong>de</strong>r evai aten<strong>de</strong>r...”.Para os <strong>enfermeiro</strong>s, o <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> é a porta <strong>de</strong> entrada para o sistema, é o cartão <strong>de</strong>visita e <strong>de</strong>veria receber um tratamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> com boas condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e comprofissionais habilita<strong>do</strong>s para lidar com situações <strong>de</strong> riscos para os usuários <strong>do</strong>sserviços.“O PS é a porta <strong>de</strong> entrada <strong>do</strong> hospital, masninguém pensa na condição <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> daspessoas, nisso eu sou solidária e continuopensan<strong>do</strong> assim. No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> melhorar essacondição. E a gente recebe muita reclamação<strong>do</strong> usuário. É pelo PS que as pessoas chegam,é o cartão <strong>de</strong> visita. E é um setor queprecisaria <strong>de</strong> um suporte muito bom,estratégico”.


- 18 -Contraditoriamente, há também por parte <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s representações negativasacerca <strong>do</strong> que a população lhes inspira.“As pessoas se referem ao <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>como se fosse um lixo <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>. Essaenfermagem não faz nada, não ajuda e àsvezes nós temos profissionais mais ríspi<strong>do</strong>s...Então basta um aten<strong>de</strong>r mal, pra toda a equipeser execrada”.1.1. A estrutura física <strong>do</strong>s <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>sOs <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s ou os hospitais <strong>de</strong> uma forma geral apresentam uma estrutura físicaina<strong>de</strong>quada ou que não foi pensada, planejada para ser um hospital ou PS. Portanto,encontram-se falas e queixas acerca das dimensões <strong>do</strong>s espaços físicos, da ausência <strong>de</strong>espaços para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> pessoal da enfermagem.“Todas essas obras, são feitas em qualquerlugar, não se pensa em quem vai trabalhar.Não se preocupa com conforto ambiental, nãose faz previsão da condição <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>”.Souza et Al. (2007); Pai e Lautert (2005) e Menzani e Bianchi (2009) também apontamem seus estu<strong>do</strong>s a ina<strong>de</strong>quação das estruturas físicas <strong>do</strong>s <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s e a influência<strong>de</strong>stes fatores como complica<strong>do</strong>res da ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>.As queixas são diversas e vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a parca ou inexistência <strong>de</strong> ventilação até ailuminação insuficiente:“On<strong>de</strong> eu <strong>trabalho</strong>, quan<strong>do</strong> eu assumi, tinhamacaba<strong>do</strong> <strong>de</strong> construir um setor, que o diretornão colocou janela, colocou uma abertura, ele


- 19 -não ouviu ninguém. Só tinha um corre<strong>do</strong>renorme pra 15 pacientes. Não colocouexpurgo, só uma pia pra lavagem, <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>”.A iluminação insuficiente, por exemplo, reflete diretamente sobre as condições <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s quan<strong>do</strong> da realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s procedimentos relativosao paciente como também à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> atendimento dispensa<strong>do</strong> e ainda às condiçõesa<strong>de</strong>quadas para o paciente em recuperação.“Essa iluminação é insuficiente, pra realizaros procedimentos à noite”.“Vigia são aqueles (holofotes) que ficamembaixo, tem momentos que você precisa <strong>de</strong>muita luz, mas tem momentos que o pacienteprecisa <strong>de</strong> repouso, isso é prejudicial até prosono”.Apesar <strong>de</strong> existir uma normatização, Resolução – RDC nº 50, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>2002, a qual dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação,elaboração e avaliação <strong>de</strong> projetos físicos <strong>de</strong> estabelecimentos assistenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,“você não vê nenhum engenheiro falar sobre o espaço que o pessoal da enfermagemvai trabalhar. Normalmente o espaço <strong>de</strong> preparo e medicação é o menor daenfermagem. Não existe preocupação. E a maioria das minhas colegas, não temnenhum conhecimento, não é explica<strong>do</strong>, se pegar aquele mapa <strong>de</strong> risco que o SEESMTfaz você pergunta você sabe o que é risco biológico? Muitos não sabem”.A questão <strong>do</strong>s riscos físicos e mecânicos apresenta<strong>do</strong>s são explicita<strong>do</strong>s em relação àestrutura física <strong>do</strong>s <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s, constituin<strong>do</strong>-se numa mediação <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> quea enfermagem possui neste ambiente <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.


- 20 -“Eu falei pro técnico <strong>de</strong> segurança, eu queronível <strong>de</strong> luminosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cente na enfermaria,se tiver fora da regulação, não aceitoreclamação que furou <strong>de</strong>mais o paciente. Pegao foco, na hora, esquenta a lâmpada, jáqueimou o funcionário”.Mais uma vez observamos na fala acima, que a ausência das condições a<strong>de</strong>quadasimplica no não <strong>de</strong>senvolvimento a contento da tarefa ou procedimento po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> levar aconseqüências danosas para os usuários <strong>do</strong>s serviços.Os <strong>enfermeiro</strong>s <strong>de</strong>monstram uma gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> na administração <strong>de</strong>stasquestões e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da existência das diretorias <strong>do</strong>s hospitais, recebem umacobrança direta <strong>do</strong>s órgãos responsáveis pela fiscalização:“... porque nisso tu<strong>do</strong>, a gente tem toda acobrança <strong>de</strong> outros órgãos que vem ver ainstituição. É vigilância, CRM, Conselho, etu<strong>do</strong> craw em quem está na frente”.1.2. A <strong>de</strong>manda ou horários <strong>de</strong> pico no PS.A <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s segue alguns padrões e <strong>de</strong>notasituações no mínimo engraçadas.É consenso entre os <strong>enfermeiro</strong>s que “época <strong>de</strong> junho e julho é pior pra criança, emépoca <strong>de</strong> frio é pior”. O ritmo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> é <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pela presença <strong>de</strong> um númeroexpressivo ou não <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> PS.“Às vezes você passa uma semana tranqüila,outras vezes o paciente passa mal, aí você temque correr, aí é ambulância pra um la<strong>do</strong>,transfere pra outro”.


- 21 -Os horários após os jogos também são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como horário <strong>de</strong> pico.” O gran<strong>de</strong>volume <strong>de</strong> pessoas é <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e dia que tem jogo, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> jogo. Quan<strong>do</strong> eutrabalhava na baixada, trabalhava feio um capeta, o pessoal enchia a cara e era sóglicose. Na época <strong>do</strong> frio são mais crianças e i<strong>do</strong>sos”.Contrariamente, os horários mais tranqüilos são os horários <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> futebol ehorário <strong>de</strong> exibição das novelas na TV.“... no horário <strong>de</strong> novela, das oito e quinze atéas <strong>de</strong>z e meia, você não acha uma alma viva.Quan<strong>do</strong> acabou a novela,... Aí o motorista, jáfalou que começou, veio cinco <strong>de</strong> uma vez.Cinco kombis <strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>”.A busca por atendimento em <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, também sofreinfluência das condições climáticas.“É que São Paulo, pra ter um atendimentomais humano e organiza<strong>do</strong>, tem que chover365 dias no ano. Porque nos dias em quechove, só vão pessoas realmente comproblema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> não chove, vãoto<strong>do</strong>s. Então a gente tem que torcer para quechova, porque ai trabalhamos com equilíbrio,tranqüilida<strong>de</strong>”.1.3. Equipamentos e materiaisFazer pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> almoxarifa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>screver e repor o material; conferir o número <strong>de</strong> pinçase tesouras para retirada <strong>de</strong> ponto; pegar etiquetas, tubos ver<strong>de</strong>s para exames; solicitarfios, carbono, colchete médico; verificar armários, medicamentos e materiaisnecessários são responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> ainda que alguém o auxilie nessas


- 22 -tarefas, pois necessitam <strong>de</strong> orientação e supervisão <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>, como <strong>de</strong>monstra afala abaixo:“... a pessoa está quebran<strong>do</strong> o galho, mas euassino e tenho que ver o que foi pedi<strong>do</strong>”.Haven<strong>do</strong> divisão <strong>de</strong> tarefas ou <strong>de</strong>legan<strong>do</strong> procedimentos aos técnicos e auxiliares,consi<strong>de</strong>ram que diminuirá a carga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e o risco <strong>de</strong> exposição a problemas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s equipamentos que nem sempre são aponta<strong>do</strong>s eque existem em função da gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários ou pacientes <strong>do</strong>s quais têm <strong>de</strong>dar conta:“Sabe o que podiam mudar? Você usar oestetoscópio. É um aparelho que quem usa é o<strong>enfermeiro</strong> e o médico, o auxiliar usava isso a20 anos atrás. Ele tem que apren<strong>de</strong>r a usaraquilo quan<strong>do</strong> necessário, porque você passa80 pessoas no setor <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>. E vocêverificar 80 pressão arterial, naquele aparelhono teu ouvi<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> aquela oliva é <strong>de</strong> péssimaqualida<strong>de</strong>, e que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sai reclaman<strong>do</strong>que o ouvi<strong>do</strong> está <strong>do</strong>en<strong>do</strong>, comprimi<strong>do</strong>”,Outro problema enfrenta<strong>do</strong> pelos <strong>enfermeiro</strong>s está relaciona<strong>do</strong> à ausência damanutenção <strong>do</strong> equipamento, bem como à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> equipamento, por exemplo, oestetoscópio:“Sem falar, que a maioria <strong>do</strong>s aparelhos nãofunciona. É <strong>de</strong> péssima qualida<strong>de</strong>, machuca aorelha, sem falar na infecção”


- 23 -O uso <strong>do</strong> aparelho <strong>de</strong> pressão digital, seja ele qual for, facilita a leitura, elimina, porexemplo, o risco <strong>de</strong> <strong>do</strong>r <strong>de</strong> ouvi<strong>do</strong>, bem como valoriza o paciente que está sen<strong>do</strong>atendi<strong>do</strong>.“Aí quan<strong>do</strong> eu coloco digital, quan<strong>do</strong> eu to <strong>de</strong>plantão, as meninas querem aquele aparelho,por que quan<strong>do</strong> eu não to aqui, vocês nãope<strong>de</strong>m? É mais fácil usar o aparelho, porque agente fala que você falou pra usar, que é maisfácil. O pobre, carente, se sente valoriza<strong>do</strong>quan<strong>do</strong> usam um aparelho <strong>de</strong>sses”.O uso e o não uso <strong>de</strong> equipamento, o uso <strong>de</strong> equipamentos atuais, novos segun<strong>do</strong> os<strong>enfermeiro</strong>s leva o paciente e seus familiares a se sentirem conforta<strong>do</strong>s em momentos<strong>de</strong> muita tensão, como no caso <strong>de</strong> um filho <strong>do</strong>ente. Além disso, os usuários,espontaneamente expressam um sentimento <strong>de</strong> gratidão aos <strong>enfermeiro</strong>s, bem como umsentimento <strong>de</strong> ser valoriza<strong>do</strong> pelos profissionais, facilitan<strong>do</strong> assim o seu <strong>trabalho</strong> elevan<strong>do</strong>-os a sentirem-se reconheci<strong>do</strong>s profissionalmente.“E quan<strong>do</strong> a gente pôs oximetro 7 , elesperguntaram o que era isso... O pai se sentiutão conforta<strong>do</strong>,... E ele me agra<strong>de</strong>ceu só <strong>de</strong>olhar como cuidamos da filha <strong>de</strong>le, eu já vi asegurança, gratidão e confiança. Se sentiuvalorizada da criança ter si<strong>do</strong> observada pelaobservação <strong>de</strong> oxigênio”.7 Oximetro é um dispositivo médico que me<strong>de</strong> indiretamente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio no sangue <strong>de</strong> umpaciente. Em geral é anexa<strong>do</strong> a um monitor, para que os médicos e fisioterapeutas possam ver aoxigenação em relação ao tempo. A maioria <strong>do</strong>s monitores também mostra a freqüência cardíaca.


- 24 -A existência <strong>do</strong>s equipamentos em alguns hospitais e <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s leva a situaçõesinadmissíveis e passíveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia, como é o caso cita<strong>do</strong> abaixo:“Teve uma vez que proibiram os termômetros<strong>de</strong> mercúrio, então tinham que trocar. Eles<strong>de</strong>ram o digital, mas se quebrasse, ia<strong>de</strong>scontar da folha <strong>de</strong> pagamento”.Os equipamentos utiliza<strong>do</strong>s também são uma expressão da ausência <strong>de</strong> boas condições<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, com uma tecnologia inoperante e ultrapassada que não valoriza otrabalha<strong>do</strong>r, nem tampouco o usuário <strong>do</strong> serviço.“Um funcionário público que trabalha há 20anos na prefeitura, nesses últimos 10 anos,estão usan<strong>do</strong> esse aparelho primitivo naspessoas <strong>de</strong> urgência, fora os que estãointerna<strong>do</strong>s, naquele aparelho primitivo”.Facilitar o <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>, através <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> equipamentos mo<strong>de</strong>rnos eem bom esta<strong>do</strong>, é uma das condições <strong>de</strong> respeito ao usuário e ao <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>.“Eu nasci pra trabalhar com tecnologia. Altatecnologia é aquela que traga conforto pramim. E boa afetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, com opaciente, tem que tratar o usuário comafeição, não é como pagar meu imposto que euposso pisar na sua cabeça”.


- 25 -Outro equipamento <strong>de</strong> extrema importância em um PS são os tipos <strong>de</strong> leitos e as macas,eleva<strong>do</strong>res, por exemplo, com relação à sua largura que facilitam ou dificultam o<strong>de</strong>slocamento <strong>do</strong> paciente. Facilitar ou dificultar implicam em menor ou maior esforçofísico por parte <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s.1.3.1. Materiais e equipamentos que “somem”.Obtivemos relatos <strong>de</strong> eventos que não supomos ocorrer em um ambiente que estápreocupa<strong>do</strong> no atendimento <strong>de</strong> usuários para prestar-lhes assistência <strong>de</strong> primeiros<strong>socorro</strong>s, <strong>de</strong> ajuda para garantir a sua vida e a sua saú<strong>de</strong>. São os casos <strong>de</strong> roubos <strong>de</strong>materiais e equipamentos por usuários <strong>do</strong> serviço.“... tem um suporte, que foi feito por mim, pracolocar rolo <strong>de</strong> esparadrapo pra ninguémroubar. Fixa<strong>do</strong> na pare<strong>de</strong>, tem um orifícioaqui. Tem um ferro, aqui já tem umacabecinha fechada, a outra vazada pracolocar o ca<strong>de</strong>a<strong>do</strong> e o rolo fica aqui”.Estratégias são criadas pelos <strong>enfermeiro</strong>s para evitar que tais furtos aconteçam e quefiquem sem o material necessário aos cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s usuários <strong>do</strong> PS.“... rolo esparadrapo e fita micro porque vocêcolocava, sumia. Basicamente era acomunida<strong>de</strong> que levava, porque eles já levama mascara <strong>de</strong> nebulização porque eles achamque é <strong>de</strong>scartável. Você bota 50 em umasemana, e eles acham que é <strong>de</strong>scartável.Normalmente quan<strong>do</strong> o pessoal termina ainalação, leva”.“Aparelho <strong>de</strong> <strong>de</strong>xtro também. Você estáfazen<strong>do</strong> um teste glicêmico, uma pessoa chegapassan<strong>do</strong> muito mal, aí você vai aten<strong>de</strong>r


- 26 -aquela pessoa, <strong>de</strong>ixa o aparelhinho e ninguémviu. Geralmente some naquela hora on<strong>de</strong> temmais volume <strong>de</strong> atendimento”.A população indica com esse tipo <strong>de</strong> postura não ter noção da conseqüência da falta <strong>do</strong>material para outros usuários e menos ainda <strong>do</strong>s problemas que o <strong>enfermeiro</strong> enfrentarápara lidar com a situação <strong>de</strong> escassez.2. O ritual <strong>de</strong> preparaçãoEsses profissionais <strong>de</strong>senvolvem uma série <strong>de</strong> tarefas e tem sob sua responsabilida<strong>de</strong>procedimentos e pessoas. Além disso, verificamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma organização,planejamento e execução diários quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> início <strong>de</strong> sua jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. A issochamamos um ritual <strong>de</strong> preparação.A preparação para ir para o <strong>trabalho</strong>, tais como a hora <strong>do</strong> <strong>de</strong>spertar, da arrumação dabolsa são fatores muito importantes e nortea<strong>do</strong>res para o <strong>enfermeiro</strong>. Então a preparação“começa na madrugada. A mala <strong>de</strong>ixo tu<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> na véspera. A mala contemavental, bolsa <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> bolso, esteto, termômetro, tu<strong>do</strong> meu. Tu<strong>do</strong> que eu possoprecisar, caneta, crachá, carimbo, essas coisas”.O ritual <strong>de</strong> preparação consiste em preparar materiais e equipamentos, bem como a suasupervisão para o bom funcionamento, tais como pegar copos <strong>de</strong>scartáveis pequenos egran<strong>de</strong>s que são usa<strong>do</strong>s para reidratação oral e medicação <strong>do</strong>s pacientes.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong> hospital público ou priva<strong>do</strong>, algumasativida<strong>de</strong>s ou ações são realizadas pelos <strong>enfermeiro</strong>s com muita freqüência, chegan<strong>do</strong> aocupar gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> seu tempo afastan<strong>do</strong>-os da assistência direta ao paciente ouusuário <strong>de</strong> serviço. O planejamento e a organização, o preparar-se para o <strong>trabalho</strong>consome gran<strong>de</strong> parcela <strong>de</strong> tempo <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s.“Eu chego, já recebo o plantão pra receber ascolegas. A gente já chega encontran<strong>do</strong> opessoal da recepção, que está se


- 27 -movimentan<strong>do</strong> pra trocar o plantão, e vai seentrosan<strong>do</strong>. E aí, a primeira coisa que eu faço,é ir nas colegas, porque a gente não sabecomo está a situação. Aí quan<strong>do</strong> chego muitomais ce<strong>do</strong>, eu volto. Assino ponto, é claro,mesmo você chegan<strong>do</strong> antes, você assina comose fosse as 7”.A preparação po<strong>de</strong> ocorrer com os diversos membros da equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> naquele dia,ou seja, ocorren<strong>do</strong> uma divisão <strong>de</strong> tarefas como explicita a fala abaixo.“... quan<strong>do</strong> a gente está em duas, a gente atése divi<strong>de</strong> pra uma receber o plantão, ver asunida<strong>de</strong>s, ver os materiais, se foramrecoloca<strong>do</strong>s”Mas, antes disso, o <strong>enfermeiro</strong> tem uma rotina na sua chegada ao Pronto Socorro quediz respeito às suas necessida<strong>de</strong>s e “vou terminar <strong>de</strong> me arrumar, vou ao banheiro. Eujá vou vestida, mas um pentea<strong>do</strong>, você precisa usar o banheiro, guardar a bolsa”.“A gente tem que dar conta, se a sala <strong>de</strong>emergência está com tu<strong>do</strong>, com local <strong>de</strong> fácilacesso, na hora da emergência. Ter ahabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar na sala <strong>de</strong> emergência ever que está faltan<strong>do</strong> o oxímetro, o torpe<strong>do</strong>está vazio, essa coisa que você recebe, estásujo, precisa pedir limpeza das salas”.


- 28 -Segun<strong>do</strong> eles, há uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma conferência mais apurada. “Se o carrinho <strong>de</strong>parada está lacra<strong>do</strong>, se as laminas estão com dispositivos corretos, se os aparelhosestão funcionan<strong>do</strong>. Outros equipamentos são conferi<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os dias, <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong>noite. Se um monitor cardíaco está funcionan<strong>do</strong>, se tem algo quebra<strong>do</strong>, se os eletro<strong>do</strong>sestão com fácil acesso, se o ar comprimi<strong>do</strong> funciona. Se tá vin<strong>do</strong>, se não tem válvulaquebrada, to<strong>do</strong>s os respira<strong>do</strong>res, para que na hora que você precisa, estão to<strong>do</strong>s comfácil acesso”.A organização da escala <strong>de</strong> funcionário entra na seqüência e também consta como umatarefa importante para o <strong>enfermeiro</strong>.“Eu costumo <strong>de</strong>ixar a cada 5 dias, troca <strong>de</strong>setor. Com os poucos funcionários que a gentetem, mas quem está escala<strong>do</strong> na área <strong>de</strong>emergência, na remoção, nos consultórios, nacoleta, no eletro...”.A sala <strong>de</strong> medicação é um <strong>do</strong>s setores críticos, pois “é sempre lotada. Então tem umque fica responsável pela sala, e outro que está cobrin<strong>do</strong> vários setores, mas também éapoio pra aquela pessoa. Então não tem essa. Eu saí pra lavar os inala<strong>do</strong>res. Por maisque vai fazer alguma coisa, instalar um soro na sala <strong>de</strong> observação, a responsabilida<strong>de</strong>é <strong>de</strong>le”.Quan<strong>do</strong> se inicia o fluxo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, esta preparação se torna quase impossível. Porisso é importante fazer no início as triagens, reposições, reavaliações, reposição <strong>de</strong>setor.A reposição está relacionada a repor materiais médicos hospitalares <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os setorese também os fármacos da sala <strong>de</strong> medicação.A não reposição <strong>do</strong>s materiais e medicamentos no começo <strong>do</strong> plantão traz comoconseqüência para o <strong>enfermeiro</strong> ter <strong>de</strong> ficar corren<strong>do</strong> na farmácia pra retirar isso eaquilo porque no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> dia o fluxo <strong>de</strong> pessoas é intenso e ele e não consegue.


- 29 -“Procuro ver tu<strong>do</strong> que tem pra fazer opedi<strong>do</strong>, bem ce<strong>do</strong>, pra quem esta trabalhan<strong>do</strong>não sofrer as conseqüências da falta <strong>de</strong> algo.Aí, essa coisa <strong>de</strong> passar os setores to<strong>do</strong>s, efazer o serviço <strong>de</strong> materiais, e outro la<strong>do</strong>, terconhecimento <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que não tem ou tem pravocê passar pros médicos. Ó, não temosantibióticos e tal. E muitas vezes até fazer afunção <strong>de</strong> intermediário. Pras situações <strong>de</strong>bronco espasmo, não temos hidrocortisona...”Essa conferência “tem” <strong>de</strong> ser realizada pelo <strong>enfermeiro</strong>, pois não <strong>de</strong>legam para oauxiliar <strong>de</strong> enfermagem. Segun<strong>do</strong> eles, é uma rotina difícil, porque dificilmentepermanecem senta<strong>do</strong>s. E muitas vezes você tem que confiar na sua equipe.São tarefas que visam à agilização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, muitas tarefas administrativas e <strong>de</strong>supervisão e nesse senti<strong>do</strong>, o <strong>enfermeiro</strong> transforma-se em um administra<strong>do</strong>r, umassistente social, um auxiliar administrativo, em um gerente, um profissional <strong>de</strong>relações públicas. Este aspecto da ativida<strong>de</strong> nos remete a certa ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>que seja a profissão <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>, como se houvesse, uma crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Outro aspecto que merece ser pontua<strong>do</strong> está relaciona<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação das açõesda enfermagem, levan<strong>do</strong> a que sejam consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s culpa<strong>do</strong>s pelas falhas administrativas<strong>do</strong> hospital. Segun<strong>do</strong> SPINDOLA e SANTOS (2005), a enfermagem é cobrada pelosmédicos, pelos pacientes, por familiares e também pela administração.A necessida<strong>de</strong> da preparação amplia um pouco a sua jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> comoverificamos na fala abaixo:“Se eu tenho horário pra chegar, mais ce<strong>do</strong>,pra me organizar pra trabalhar às 12 horas,você tem que se organizar pra trabalhar às 12


- 30 -horas; passar nos leitos, eu tenho o hábito <strong>de</strong>passar em cada leito, conhecer os pacientes,conversar com eles, perguntar o nome, porqueestá há tanto tempo, ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ficiente auditivo,visual, menor <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, direito aacompanhante, <strong>de</strong>pendência”.No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> plantão, surgem situações <strong>de</strong> internações e remoções <strong>de</strong> pacientes. Àsvezes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da agilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> a remoção <strong>do</strong> paciente para liberar um leitoou uma vaga uma vez que também realiza procedimentos <strong>de</strong> solicitação e agendamento<strong>de</strong> viatura/ambulância para remoção.Neste caso, já <strong>de</strong>senvolvem um conhecimento e se apropriam <strong>de</strong> um saber que sem oqual não obteriam sucesso: falar com a pessoa certa, ter o número <strong>do</strong> telefone e <strong>do</strong> faxbem à mostra e até mesmo a posição da ca<strong>de</strong>ira on<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá sentar a qual facilitará atarefa se estiver exatamente na frente <strong>do</strong> aparelho telefônico.Observem a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada da tarefa: enfermeira senta-se na ca<strong>de</strong>ira em frente aotelefone, retira o fone <strong>do</strong> gancho <strong>do</strong> telefone/fax e olha o número <strong>do</strong> telefone na pastaver<strong>de</strong>, liga, pe<strong>de</strong> sinal <strong>de</strong> fax, informa o <strong>de</strong>stino da viatura. Fala ao telefone e pe<strong>de</strong> paraconfirmar recebimento <strong>de</strong> fax. Discou o número erra<strong>do</strong>, disca outra vez. Confirma orecebimento <strong>do</strong> fax. Liga outra vez, fax para enviar autorização da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Essa tarefa po<strong>de</strong>ria ser realizada por uma secretária poupan<strong>do</strong> seu tempo e liberan<strong>do</strong>-apara assistir ao paciente. Obter os comprovantes <strong>do</strong>s envios <strong>de</strong> fax <strong>do</strong> aparelho éimportante, pois <strong>de</strong>vem constar junto às anotações <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> registro da enfermagem.A liberação quase que imediata da viatura faz a enfermeira sorrir <strong>de</strong> contentamento emfunção <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o seu empenho e esforço <strong>de</strong> ter um resulta<strong>do</strong> favorável – “Saiu praamanhã. Se eu passasse o fax <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> almoço não conseguiria...”.


- 31 -Outra etapa acompanhada pelo <strong>enfermeiro</strong> é a internação tanto na verificação da<strong>do</strong>cumentação necessária quanto com relação a ter <strong>de</strong> explicar e orientar aosresponsáveis e acompanhantes <strong>de</strong> como esse processo ocorre.A internação po<strong>de</strong> envolver problemas com convênios médicos, distribuição <strong>de</strong> leitos eo <strong>enfermeiro</strong> também está na linha <strong>de</strong> frente para agilizar e resolver <strong>de</strong> maneirasatisfatória a situação.Em geral, quan<strong>do</strong> há internação realizam um censo acerca <strong>do</strong>s leitos que estão ocupa<strong>do</strong>se os disponíveis ou ainda daqueles que serão <strong>de</strong>socupa<strong>do</strong>s porque os pacientesreceberão alta.Mesmo as internações ou remoções <strong>de</strong> pacientes para outras unida<strong>de</strong>s envolvem<strong>do</strong>cumentações específicas que <strong>de</strong>vem estar prontas e se não estão <strong>de</strong>vem serprovi<strong>de</strong>nciadas e o <strong>enfermeiro</strong> muitas vezes, vai à procura <strong>de</strong> quem viabilize ainternação.O <strong>enfermeiro</strong> tem consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um funcionário da área administrativapara realização <strong>de</strong> internações, solicitação <strong>de</strong> viaturas, remoções, etc., e que na suaausência assume estas responsabilida<strong>de</strong>s, pois <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong> não po<strong>de</strong>ria aten<strong>de</strong>r as<strong>de</strong>mandas e necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s pacientes e <strong>do</strong> andamento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> no PS.“... que não tinha pessoal administrativo praauxiliar o próprio <strong>enfermeiro</strong>”A recomendação da equivalência <strong>do</strong> número <strong>de</strong> profissionais em relação ao número <strong>de</strong>pacientes, atendimentos e procedimentos não é coerente com a vivência das enfermeirasno PS.“... falta <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>. Existe uma tabela que dizvocê tem um numero x <strong>de</strong> profissionais, pelonúmero <strong>de</strong> atendimentos, procedimentos egrau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>. Mas foi feita por


- 32 -alguém que não <strong>trabalho</strong>u no dia-a-dia,botan<strong>do</strong> a mão na massa”Apontamos a seguir outras responsabilida<strong>de</strong>s e tarefas das quais são incumbi<strong>do</strong>s e que<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas para o bom andamento <strong>do</strong>s <strong>trabalho</strong>s no plantão.2.1 O diagnóstico <strong>de</strong> enfermagemOutra tarefa que compete apenas ao <strong>enfermeiro</strong> realizar é o diagnóstico da enfermagemo qual prece<strong>de</strong> a prescrição. Em realida<strong>de</strong>, é realizada uma <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>paciente <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>talhada.“Por exemplo, padrão respiratório ineficaz,caracteriza<strong>do</strong> por <strong>de</strong>sconforto respiratório,tosse freqüente, então é uma coisa bem<strong>trabalho</strong>sa pra fazer. Você tem que ter umnúmero X <strong>de</strong> funcionários, não é o caso <strong>do</strong> PS.Ele não tem número suficiente pra fazer essesdiagnósticos com rigor”.2.2. A prescrição <strong>de</strong> enfermagemA prescrição <strong>de</strong> enfermagem consiste em promover o aparato necessário à recuperação<strong>do</strong> paciente, sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s pelo <strong>enfermeiro</strong> após o diagnóstico, encaminhamentomédico e prescrição medicamentosa.A prescrição da enfermagem é feita em função <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s que o paciente necessita e<strong>do</strong> seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.“Por exemplo, paciente está acama<strong>do</strong>, nãopo<strong>de</strong> tomar banho sozinho. Então eu prescrevofazer banho em leito uma vez ao dia. Ele temuma dificulda<strong>de</strong>, tá com sono, <strong>do</strong>r, não


- 33 -consegue comer sozinho. Auxiliar nasrefeições”.2.3. Priorizar pacientesHá ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> priorizar o atendimento <strong>do</strong>s pacientes graves, <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos, dasgrávidas e a urgência os faz solicitar que a coleta <strong>de</strong> sangue seja levada imediatamenteao laboratório para análise diretamente pelo motoboy <strong>do</strong> laboratório que se encontranaquele momento no PS.2.4. O livro <strong>de</strong> relatório da enfermagemTu<strong>do</strong> que é feito é anota<strong>do</strong> no livro <strong>de</strong> relatório, se não esquece: recrutamento <strong>de</strong> viaturapara remoção <strong>de</strong> paciente e data <strong>de</strong> remoção; relatam <strong>de</strong> como receberam o plantão,quantos pacientes; fala das faltas <strong>de</strong> auxiliares e motivos, da existência <strong>de</strong> justificativasou não.O livro <strong>de</strong> relatório da enfermagem tem também um significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> prova <strong>do</strong>cumentaldas ações realizadas pelos <strong>enfermeiro</strong>s e também para os casos nos quais nãoconseguem encaminhamento. Citamos por exemplo, quan<strong>do</strong> o <strong>enfermeiro</strong> i<strong>de</strong>ntifica anecessida<strong>de</strong> da presença <strong>do</strong> médico e este se recusa a ir ao paciente porque está<strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> ou ven<strong>do</strong> televisão no seu local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. Tu<strong>do</strong> vai para o livro <strong>de</strong> registro.2.5. As vacinas e a gela<strong>de</strong>iraA folha <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> temperatura da gela<strong>de</strong>ira que po<strong>de</strong> conter medicamentos, vacinase outros é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> e <strong>de</strong>ve ser renovada periodicamente.O <strong>enfermeiro</strong> também tem como tarefa verificar a temperatura da gela<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> vacinasantitetânica duas vezes ao dia. Em alguns locais, as gela<strong>de</strong>iras são ina<strong>de</strong>quadas para oarmazenamento <strong>de</strong> vacinas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> colocar em risco a sua eficácia.


- 34 -2.6. As chavesAs chaves quase sempre ficam em po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>. São muitas gavetas, armários,portas que <strong>de</strong>vem permanecer fechadas por conter material perigoso, medicamentos e<strong>do</strong>cumentos e pertences <strong>do</strong>s pacientes e <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s.Para <strong>de</strong>sempenhar bem as tarefas acima e para impedir que as medicações, objetos <strong>de</strong>pacientes, equipamentos e materiais sejam perdi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>svia<strong>do</strong>s e até rouba<strong>do</strong>s, o<strong>enfermeiro</strong> surge representa<strong>do</strong> na fala <strong>de</strong> uma das enfermeiras que teve sua jornada <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> acompanhada durante a observação participante “<strong>enfermeiro</strong> parece SãoPedro” 8 .Ainda que a fala da enfermeira tenha si<strong>do</strong> uma queixa por ter <strong>de</strong> assumir mais umaresponsabilida<strong>de</strong>, esta mesma fala <strong>de</strong>nota po<strong>de</strong>r e controle como explicitam outrosestudiosos quan<strong>do</strong> investigam a história da formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da enfermagem(Padilha e Márcia, 2005).Outras questões po<strong>de</strong>m ser relacionadas a esta, tal como a relação <strong>do</strong> ato <strong>de</strong> guardar aschaves, com a imagem <strong>do</strong> sobre humano, <strong>do</strong> espiritual, <strong>do</strong> divino que também nosremete aos primórdios da enfermagem às irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Fazer enfermagem erafazer carida<strong>de</strong> e mais que salvar corpos, tencionava-se salvar almas.Outras situações <strong>de</strong> menor complexida<strong>de</strong>, mas nem por isso menos importantes,também são realizadas como as que apresentamos a seguir.A i<strong>de</strong>ntificação correta <strong>do</strong> paciente é fundamental para a sua internação, permanênciano PS e para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s procedimentos necessários (exames, por exemplo)que serão realiza<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> a sua cura.O <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> vez em quan<strong>do</strong> se referencia com a recepção sobre umou outro paciente para checar com a recepcionista se certo paciente já teve passagem noPSA.8 Santo cultua<strong>do</strong> na igreja católica como sen<strong>do</strong> o <strong>do</strong>no das diversas chaves das portas <strong>do</strong> céu.


- 35 -Quan<strong>do</strong> não estão em horários <strong>de</strong> pico ou <strong>de</strong> movimento intenso, os <strong>enfermeiro</strong>s<strong>de</strong>senvolvem tarefas que são rotineiras: atualizar o quadro com o número <strong>de</strong> consulta,nome <strong>do</strong> paciente, senha, diagnóstico médico, observação. Fazer a lista <strong>de</strong> pacientestambém é sua atribuição; limpar o escarro da caixa <strong>do</strong> BK que está com o escarro<strong>de</strong>rrama<strong>do</strong>, etc.3. Uniformes <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>sOs uniformes <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s não são padroniza<strong>do</strong>s, ou seja, o procedimento e avestimenta diferem <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> para <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.To<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res com exposição a agentes biológicos <strong>de</strong>vem utilizar vestimentas <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> a<strong>de</strong>quadas e em condições <strong>de</strong> conforto. A vestimenta <strong>de</strong>ve ser fornecida semônus para o emprega<strong>do</strong> (NR-32).No entanto, nem to<strong>do</strong>s os hospitais fornecem uniformes, e neste caso não existe muitorigor nos trajes usa<strong>do</strong>s. Para os auxiliares <strong>de</strong> enfermagem, a calça <strong>de</strong>ve ser azul e acamiseta branca, sen<strong>do</strong>, o jeans permiti<strong>do</strong>.Em outros locais usam um colete sem manga com botões na frente, azul escuro e com onome <strong>do</strong> Ponto Socorro, jaleco branco com o nome borda<strong>do</strong> no bolso na altura <strong>do</strong> seiodireito, calça e blusa brancas, calça <strong>de</strong> agasalho, sapato branco com salto <strong>de</strong> mais oumenos 3 cm, sapato <strong>de</strong> couro baixo e branco ou preto ou até mesmo tênis. De qualquerforma, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da cor e <strong>do</strong> tipo os calça<strong>do</strong>s <strong>de</strong>notam conforto e praticida<strong>de</strong>. Aindausam maquilagem leve, batom discreto.“... eu fui enfermeira <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>do</strong>Dante, lá eu tinha que usar camiseta azulmarinho e calça branca”.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a temperatura, outros hospitais a<strong>do</strong>tam a saia na época <strong>do</strong> calor, mas nocaso saia era só pra enfermeira. No frio, calça e jaleco.


- 36 -Como não existe um rigor ou norma única a ser seguida, “tem gente que vai trabalhar<strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>quada, tais como, uma funcionária, foi trabalhar <strong>de</strong> frente única.Inclusive, uma <strong>de</strong>ssas que foi com uma bem cavada, à vonta<strong>de</strong>, ela já tinha adquiri<strong>do</strong>rubéola, uma conjuntivite horrorosa e meningite. Pra mim, supostamente, foi acontaminação hospitalar, possivelmente porque ela não obe<strong>de</strong>ce. Outro dia estava comum chinelinho rasteirinho <strong>de</strong> plástico”.Em outros hospitais, on<strong>de</strong> se trabalha diretamente, com quem você recebe da rua,balea<strong>do</strong>, esfaquea<strong>do</strong>, atropelamento, é padroniza<strong>do</strong> o uniforme da instituição, que seriatipo um pijama, calça <strong>de</strong> elástico, é como se fosse um uniforme <strong>de</strong> centro cirúrgico.Nestes casos, o tipo <strong>de</strong> vestimenta tem como base a facilida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z <strong>do</strong>smovimentos e locomoção <strong>do</strong> profissional.“... porque se a roupa é mais prática pra vocêaten<strong>de</strong>r o paciente, com certeza ela não vai serbonita. Ela tem que ser larga, ela tem que daragilida<strong>de</strong>, você tem que conseguir abaixar elevantar e ninguém conseguir ver nada, ir <strong>de</strong>salto baixo pra ter agilida<strong>de</strong>”.Também é referi<strong>do</strong> pelos sujeitos que no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, outro costumeé persegui<strong>do</strong>:“No interior tem muito disso, tem pessoas <strong>de</strong>famílias tradicionais que foram fazerenfermagem na faculda<strong>de</strong>. Aí vão no hospitalcom salto alto, calça baixa, barrigaaparecen<strong>do</strong>, então não quer usar o uniforme,porque não tem um corte bonito, porque nãovai usar com salto alto, porque não vai


- 37 -combinar, porque muitas vezes elas achamfeio, que não é da moda”.3.1. A cor <strong>do</strong> uniformeEm instituições mais organizadas, que tem um maior po<strong>de</strong>r aquisitivo, eles diferenciamaté cor <strong>de</strong> uniforme. Já em outras instituições, não tinha uniforme, os <strong>enfermeiro</strong>susavam roupa branca, um sapato branco.“Eu venho com uma roupa comum ou <strong>de</strong>branco, mas quan<strong>do</strong> eu chego lá, ponho umaroupa exclusiva pro setor que eu voutrabalhar”.Existem normas das instituições para diferenciar os diversos níveis <strong>do</strong>s profissionais daenfermagem, seja usan<strong>do</strong> um avental, seja um blazer ou um suéter.“Era branca também, mas precisávamoscolocar um avental <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>. Eu acho que eramais pra uma distinção <strong>de</strong> quem é enfermeira.Das enfermeiras, os auxiliares e os técnicos <strong>de</strong>enfermagem”.“Normalmente o <strong>enfermeiro</strong> usa branco e asinstituições usam um blazer, um suéter quediferencia o profissional <strong>de</strong> nível universitáriopro <strong>de</strong> nível médio”.Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s sobre o uso da cor branca e sobre o porquê usar o avental emlocais públicos e o uso <strong>do</strong> branco no uniforme, estabelecem uma relação entre a cor <strong>do</strong>


- 38 -uniforme médico, status e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter este mesmo status por parte <strong>do</strong> pessoal daenfermagem.“Isso é uma coisa <strong>de</strong> cultura, porque quemestá <strong>de</strong> branco é médico. E hoje a gente, já sevê que a maioria <strong>do</strong>s restaurantes já solicitamna entrada, que se retire o jaleco pra po<strong>de</strong>ra<strong>de</strong>ntrar no restaurante. Mas eu acho que jáficou impregna<strong>do</strong> porque o médico é status...”“Os <strong>enfermeiro</strong>s ce<strong>de</strong>ram aos médicos passivamente o coman<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s hospitais. Aprofissão <strong>de</strong> médico segun<strong>do</strong> alguns estu<strong>do</strong>s tem uma representação <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong>espaços <strong>de</strong> conhecimento e conhecimento representa po<strong>de</strong>r. Às enfermeiras da época,restaram os cuida<strong>do</strong>s, o silêncio e as chaves” (PADILHA e MANCIA, 2005)..Fazen<strong>do</strong> parte das vestimentas e <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong> aparatos que i<strong>de</strong>ntificam o <strong>enfermeiro</strong>está também o seu crachá, que no caso <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> infantil po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> <strong>de</strong>figurinhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos infantis para atrair a atenção <strong>do</strong>s pequenos pacientes enquantorealiza procedimentos.3.2. Uniformes e a contaminação ou o me<strong>do</strong> <strong>de</strong>la.Igualmente variadas são as formas <strong>de</strong> uso <strong>do</strong>s uniformes no tocante ao uso, <strong>de</strong>scarte,lavagem, freqüência, etc. e nestes casos, nota-se claramente o <strong>de</strong>scaso ou negligência<strong>do</strong>s hospitais com relação aos riscos biológicos e também <strong>do</strong>s profissionais <strong>enfermeiro</strong>sque relatam lavar seus uniformes junto com outras roupas em suas residências. Alavagem <strong>do</strong>s uniformes pelo hospital ainda é inexistente.“Se seguíssemos ao pé da risca, nós teríamosque entrar no hospital com a roupa vinda <strong>de</strong>casa, ter um vestiário próximo, e utilizarroupa da instituição”.


- 39 -“Ele vai pra casa vesti<strong>do</strong> com aquela roupa,lava tu<strong>do</strong> junto, e quan<strong>do</strong> seca, põenovamente”.“Além <strong>de</strong> eu usar roupa um dia, chegavamorren<strong>do</strong> <strong>de</strong> sono, e já <strong>de</strong>itava no sofá. Aí jásujava minha roupa e a roupa <strong>de</strong> cama. Minhaavó lavava tu<strong>do</strong>”.Os trabalha<strong>do</strong>res não <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>ixar o local <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> com os equipamentos <strong>de</strong>proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas ativida<strong>de</strong>s laborais. Oemprega<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve provi<strong>de</strong>nciar locais apropria<strong>do</strong>s para fornecimento <strong>de</strong> vestimentaslimpas e para <strong>de</strong>posição das usadas (NR-32).“O vírus H1N1, o tipo <strong>do</strong> vírus em cima <strong>de</strong>micro partículas, em cima <strong>de</strong> toda a roupa quea gente usa. O pessoal não se preocupa emdar uniforme pra pessoa trabalhar”.O avental que é usa<strong>do</strong> para diferenciar os profissionais gradua<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s técnicos tambémserve como uma proteção quanto ao contato <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s com fluí<strong>do</strong>s humanos.“Mas eu já vi muitas vezes: usava avental diainteiro na unida<strong>de</strong>, aí tirava o avental na hora,jogava no banco <strong>de</strong> trás <strong>do</strong> carro e lavava emcasa. Quer dizer, apesar <strong>de</strong> ter um avental prase proteger, você acaba não se protegen<strong>do</strong>,porque acaba misturan<strong>do</strong> com as suas coisas eespalhan<strong>do</strong> bactéria pra to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”.


- 40 -Outros relatos fortalecem a relação entre uniforme (avental) e contaminação não apenas<strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s, mas também da família, <strong>do</strong>s filhos pelo fato <strong>de</strong> voltar <strong>do</strong> <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong> com a mesma vestimenta com que <strong>trabalho</strong>u.“Quan<strong>do</strong> meus filhos eram pequenos, eu tiveum problema <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença com eles. E o pediatradisse que era a roupa que eu vinha <strong>do</strong> hospitalpra casa. Depois disso, eu nunca mais volteipra casa com roupa <strong>do</strong>s hospitais”.Este é um aspecto preocupante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> e fator <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> stress, bemcomo <strong>de</strong> risco biológico e <strong>do</strong>ença como afirmou o sujeito da pesquisa e <strong>de</strong>ssapreocupação surgiu a proposta <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os funcionários tomassem banho <strong>de</strong>pois daativida<strong>de</strong> laborativa. “Então a gente criou um hábito <strong>de</strong> fazer os funcionários tomarembanho”.Apontamos a situação <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> que se dirige ao <strong>trabalho</strong> com o uniforme e queregressa a sua residência com o mesmo uniforme.“Eu saio pronta <strong>de</strong> casa, apesar <strong>de</strong> não tercontato com coisa suja, porque eu pego ascrianças vin<strong>do</strong> <strong>de</strong> casa, limpinhas. Então <strong>do</strong>jeito que eu entro, eu saio”.Característico da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste profissional a exposição aos fluí<strong>do</strong>s, a coisas sujas quesegun<strong>do</strong> eles são,“Secreção, curativo... Já vi feridasgigantescas, então a gente entra muito emcontato. Também tem fezes e urina, tu<strong>do</strong> isso.Então eu não tomava banho lá. Então acabo


- 41 -não trocan<strong>do</strong>. Mas roupa branca é no máximo<strong>do</strong>is dias, porque suja muito”.Contraditoriamente, observamos uma postura diversa da apontada acima:“A roupa que usamos <strong>de</strong>ntro da instituição,ela não tem que sair pra rua. O certo vocêseria chega com a roupa <strong>de</strong> casa, porque vocêfaz um trajeto. Até por padronização, ainstituição que dá o uniforme, com tempohábil pra receber o próprio colega, <strong>de</strong>ixar suaroupa no armário, usar, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>volver aroupa. Inclusive lavar”.Outro ponto <strong>de</strong> vista semelhante ao anterior que, no entanto, não vislumbra claramenteo risco biológico ao qual expõe sua família ao lavar seu uniforme em sua residência:“... você não po<strong>de</strong> vir da rua com o uniforme,tem que se trocar lá na instituição, trabalha,na saída, você tira o uniforme, põe sua roupae vai embora. A lavagem é na sua casa. Só quese você não toma cuida<strong>do</strong>, você coloca tu<strong>do</strong>junto mesmo”.A existência <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um vínculo empregatício muito comum entre os profissionais<strong>de</strong> enfermagem, a falta <strong>de</strong> preparo <strong>do</strong>s hospitais/instituições e a ausência <strong>de</strong> regras enormas no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> que protejam a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> são fatores quecombina<strong>do</strong>s levam a situações como esta:


- 42 -“Eu vinha com a roupa da minha casa e iaembora com aquela roupa, às vezes eu iaembora com a calça toda manchada <strong>de</strong>sangue, o paciente tava com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>puncionar a veia, então nem tempo <strong>de</strong> colocara luva você tinha”.4. A medicação no PS.Solicitar medicação, através <strong>de</strong> formulário e assinar a requisição <strong>de</strong> medicamentos;receber medicação solicitada, conferir e guardar, controlar a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> psicotrópico,que em algumas regiões é bastante necessário em função <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> usuário <strong>do</strong> serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> rua no centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, por exemplo); conferirampolas e receitas <strong>de</strong> psicotrópicos, separar e colocar no organiza<strong>do</strong>r também são suasatribuições.Observamos que os <strong>enfermeiro</strong>s para economizar tempo e também <strong>de</strong>ixar ospsicotrópicos à disposição das auxiliares que são quem ministram a medicação utilizamalgumas estratégias: como por em um copo <strong>de</strong>scartável comprimi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> diazepam, <strong>de</strong>dantal, ampola <strong>de</strong> dantal e <strong>de</strong> <strong>do</strong>lantina 9 . Este material fica sob a guarda <strong>de</strong> uma auxiliar<strong>de</strong> enfermagem <strong>de</strong> confiança <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> e <strong>de</strong>pois, ao final <strong>do</strong> dia, pega as receitascom a auxiliar. Se há sobra ou falta <strong>do</strong> remédio no setor, indica erro. Se há sobra amedicação não foi ministrada.4.1. A medicação <strong>de</strong>sorganizada“Não tem material, nem lugar. Você chega tátu<strong>do</strong> mistura<strong>do</strong>, a medicação, guardada <strong>de</strong>9Diazepam é fármaco da família <strong>do</strong>s benzodiazepínicos, usa<strong>do</strong> como ansiolítico, anticonvulsivante,relaxante muscular e sedativo. Dolantina é uma medicação indicada nos esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>do</strong>r e espasmos <strong>de</strong>várias etiologias. Hidantal é usa<strong>do</strong> em crises convulsivas epilépticas e parciais. Crises convulsivas portraumatismo crânioencefálico, secundárias e neurocirurgia. Tratamento das crises convulsivas.


- 43 -qualquer jeito. numa gaveta, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> caixas,sem i<strong>de</strong>ntificação, on<strong>de</strong> as pessoas levammuito tempo pra encontrar os materiais emedicamentos”.Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, este tipo <strong>de</strong> situação po<strong>de</strong> custar a vida <strong>de</strong> um paciente oumesmo a uma maior perda <strong>de</strong> tempo na procura <strong>do</strong> medicamento prescrito.4.2. Organizar a medicação, organizar o <strong>trabalho</strong>.Medida como a <strong>de</strong>scrita abaixo no relato da enfermeira levan<strong>do</strong> a facilitar o <strong>trabalho</strong>, oumelhor, utilização <strong>do</strong> tempo para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outras tarefas, bem como umamaneira <strong>de</strong> estimular e <strong>de</strong>monstrar que é possível trabalhar <strong>de</strong> uma forma diferente,organizada.“... organizar uma área on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> eramistura<strong>do</strong>, os medicamentos, materiais, eu ealgumas colegas, compramos recipientes praguardar as coisas... I<strong>de</strong>ntifiquei todas ascaixas, comprei os materiais mais simples queexistiam, mais pra mostrar pras pessoas, que épossível pra se organizar... a gente conseguiuorganizar uma unida<strong>de</strong>,..., já <strong>de</strong>spertou outrotipo <strong>de</strong> consciência”.4.3. Quan<strong>do</strong> falta a medicação“Se não tem antibiótico, eu não acho que nãoposso bolar. Alguém precisa seresponsabilizar por isso.... Antibiótico tem


- 44 -uma urgência, não é uma coisa que vocêespera no dia seguinte. A gente tem umestoque <strong>de</strong> antibióticos, que nós enten<strong>de</strong>mosque tem situações vitais que não dá praesperar...”.Os <strong>enfermeiro</strong>s também enfrentam a falta <strong>de</strong> medicação no PS e sabem que<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s medicamentos não po<strong>de</strong>m ser substituí<strong>do</strong>s ou não serem ministra<strong>do</strong>s, poisdisso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a recuperação imediata <strong>do</strong> paciente.O ato <strong>de</strong> não ministrar a medicação precisa ser justifica<strong>do</strong>, pois se algo acontecer estáregistra<strong>do</strong> a possível causa da intercorrência: a ausência da medicação.Ainda existe outro aspecto importante que seria a responsabilização <strong>de</strong> alguém <strong>de</strong>ntro<strong>do</strong> PS que responda pela aquisição <strong>do</strong> material necessário.“se não tem a culpa não é minha, mas alguémtem que ser comunica<strong>do</strong>, para que você possadar outra oportunida<strong>de</strong>, porque às vezesaquele medicamento não tem, mas temsemelhante, não tão bom. Você tem que daroportunida<strong>de</strong>. Não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar sem”5. A jornada <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>A jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s é diferenciada em função <strong>do</strong>s hospitais ouserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: algumas são <strong>de</strong> oito horas diárias, outras são 12X36, outras são <strong>de</strong>seis horas diárias. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da jornada, to<strong>do</strong>s são unânimes em afirmar quedificilmente cumprem apenas seis, oito ou <strong>do</strong>ze horas. Po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r ajornada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> minutos a horas e aqueles que não a esten<strong>de</strong>m, sabem que com freqüênciahá uma necessida<strong>de</strong>.


- 45 -“Eu chego 30 minutos mais ce<strong>do</strong>. Mas eu saiona minha hora, 7 horas em ponto”.O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> quinze ou trinta minutos ocorre em função <strong>de</strong> um compromisso,<strong>de</strong>dicação e gostar <strong>do</strong> que faz.“Chegar mais ce<strong>do</strong>, fazer o <strong>de</strong> rotina, os 15minutos são só para isso”.Além disso, esse perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo é utiliza<strong>do</strong> pelo <strong>enfermeiro</strong> para organizar a rotina<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, o ritual <strong>de</strong> preparação, e também, um aspecto fundamental, para receber oplantão <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> que finalizou a sua jornada. Sobre a passagem <strong>do</strong> plantão<strong>de</strong>talharemos mais adiante.“A jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> é bem clara, começaas 9.... Ela diz que você chegue mais ce<strong>do</strong>, 15minutos, pra pegar o plantão”.Outra forma <strong>de</strong> ampliar a jornada e com conseqüências danosas, com um <strong>de</strong>sgastemuito gran<strong>de</strong> em função <strong>de</strong> ter que resolver as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s pacientes, aumentan<strong>do</strong>a carga e a jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.“Então muitas vezes, nesse início, eu nãoconseguia sair no horário. Eu saía muitasvezes uma hora, duas horas <strong>de</strong>pois”.5.1. Dobrar plantõesO não comparecimento <strong>de</strong> um <strong>enfermeiro</strong> ao plantão, ou seja, sua falta implica em umespaço em branco que <strong>de</strong>ve ser preenchi<strong>do</strong> por outro profissional.


- 46 -No entanto, a divisão <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> por plantões, quan<strong>do</strong> o que já cumpriu sua jornadanecessita cobrir aquela que se ausentou, implica em sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>: <strong>de</strong>senvolvertodas as tarefas que já executou e, além disso, permanecer sem <strong>do</strong>rmir e sem repousopor vinte e quatro horas ininterruptas.“Eu sei que se eu chegar, por mais cansadaque eu esteja, cumpri minha jornada <strong>de</strong> 12horas, se a minha colega não vem, eu sei que<strong>de</strong>vo cumprir as horas <strong>de</strong>la, porque não po<strong>de</strong><strong>de</strong>ixar sem cobertura um local <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>...”Ao contrário, observamos também uma postura diversa da apontada acima: a daquele<strong>enfermeiro</strong> que não aceita <strong>do</strong>brar o plantão.“... sua chefia fala que você tem que ficarporque está precisan<strong>do</strong> <strong>de</strong> mim. E eu falo quenão dá, porque minha família precisa mais <strong>de</strong>mim. E eu já cumpri minha jornada <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>... Isso aí é legislação trabalhista.Cumpre horário e vai embora”.Alguns <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s não impõem o ter <strong>de</strong> cobrir o plantão diretamente, mas <strong>de</strong>ixamque a escolha seja realizada pelo profissional que no nosso enten<strong>de</strong>r significa umaexploração a mais da sua subjetivida<strong>de</strong>.“... ele cumpriu o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>les, ter um só com acolega, muitas vezes eu até digo, quem po<strong>de</strong>ficar? Existe já pelo próprio vínculo, <strong>de</strong> verque a gente está aqui. A gente enten<strong>de</strong>, não dápra impor, mas é complica<strong>do</strong>. Por mais queseja lei, você tem que ficar”.


- 47 -A livre escolha entre ir e ficar, não é tão livre assim. Há casos <strong>de</strong> punição por senegarem a <strong>do</strong>brar plantões, como <strong>de</strong>nuncia a fala abaixo:“E já vi pessoas sen<strong>do</strong> punidas, porque seausentaram <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>pois das 7h15 damanhã”.As faltas ao plantão e o ter <strong>de</strong> <strong>do</strong>brar o plantão têm conseqüências drásticas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong>vista psíquico e também <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista administrativo, <strong>de</strong> gestão. É um momento <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão e <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> um caos.“... época da H1N1, há 700-800 atendimentospor dia. E já <strong>de</strong>u dia <strong>de</strong> terminar às 12 horas,e o <strong>do</strong> plantão noturno, um não vir e o outrodar atesta<strong>do</strong>, e ter muitas vezes os seusmeninos não vão sair enquanto não chegaralguém pra me ajudar”.A sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> expressa <strong>de</strong> maneira singular:“... tinha dias que estava com <strong>do</strong>is. Um saíapra remoção, ficava outro. E aquilo virava uminferno”.Um aspecto digno <strong>de</strong> nota se refere aos perío<strong>do</strong>s em que mais se falta aos plantões e háuma maior necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>brar plantões, feria<strong>do</strong>s e finais <strong>de</strong> semana.“Principalmente em época <strong>de</strong> feria<strong>do</strong>s, finais<strong>de</strong> semana, que tem aquelas faltas em massa.


- 48 -Na troca <strong>de</strong> plantões, em cima da hora, ésempre o bom senso que tem que ter”.Durante a jornada, observamos e temos referências <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> algunsmomentos <strong>de</strong> pausa para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s objetivos e suas necessida<strong>de</strong>s.5.2. As pausasApresentam-se como uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer valer o seu direito a um intervalo <strong>de</strong>tempo e usufruir <strong>de</strong>le da melhor forma possível, segun<strong>do</strong> o <strong>enfermeiro</strong>. Nesta pausa,está embutida a noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligamento temporário da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e entregarseao <strong>de</strong>scanso, ao lazer, ao sono.“... jogan<strong>do</strong> pingue pongue, jogan<strong>do</strong> pebolim,ou <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> no sofá <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. O seu lazer,horário <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, você faça <strong>do</strong> jeito quevocê quiser, mas eu quero uma hora pra vocêfazer o que quiser, mas quan<strong>do</strong> acabar venhatrabalhar, porque o seu lazer te pertence”.Esta discussão é ambígua e controversa apesar da legislação. Como veremos adiante,alguns profissionais não conseguem alimentar-se bem no seu tempo livre.5.2.1. O almoçoO tempo <strong>de</strong>spendi<strong>do</strong> para a realização <strong>do</strong> almoço é <strong>de</strong> 30 minutos em média, segun<strong>do</strong> aobservação e o relato <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s.Refeitórios pequenos, alguns localiza<strong>do</strong>s na parte lateral <strong>do</strong>s PS, outros amplos masnem tão limpos. Nesses locais po<strong>de</strong> comprar um lanche e fazer uma refeição. Nesteúltimo caso, a refeição é rateada entre a equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que também lava a suaprópria louça


- 49 -A questão da janta ou <strong>do</strong> almoço abre uma polêmica associada também ao <strong>de</strong>scansoapós a refeição.“Se tiver local apropria<strong>do</strong> pra <strong>de</strong>scansar, mascomo a lei é ambígua, eles usam essa hora prahorário <strong>de</strong> janta. Faz forçar um funcionário ater sono, porque <strong>de</strong>pois daquela uma hora dásono, você se alimenta, a tendência é darsono”.A distribuição <strong>do</strong> horário <strong>de</strong> lanche e janta pela direção <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> não contribuipara a alimentação a<strong>de</strong>quada, nem para o <strong>de</strong>scanso, muito raro.“E o que eles fazem? Botaram um horário <strong>de</strong>janta ou lanche, lanche é as 4, janta é 11horas. Você trabalha pra burro, você tem quedar medicação, conseguir, mudança <strong>de</strong> roupa,dar banho se for necessário, aí você vai prajanta, come. Se alimenta, acaba a energia e aíé puni<strong>do</strong> porque foi pego <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> naca<strong>de</strong>ira”.Assim, encontramos profissionais que para não incorrer neste tipo <strong>de</strong> situação, optavampor não alimentar-se, pois,“A pessoa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se alimentar, tem sono.Como não há um espaço para <strong>de</strong>scanso, to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong> vai pro posto morto <strong>de</strong> fome pra não<strong>do</strong>rmir”.


- 50 -O ritmo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> intenso, os horários <strong>de</strong> pico, como referi<strong>do</strong>s na fala abaixo, o tipo<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida e as exigências como as acima citadas, levam os <strong>enfermeiro</strong>sa se expor a situações como a que segue.“Até umas 11,11: 30 era pauleira, e eu nãoconseguia ficar muito tempo parada, muitasvezes a gente pedia pizza, esfiha, pra comermesmo. Então sempre tinha alguma coisa nanossa mesinha, bolacha, suco. Você está naativa, você sente fome”.Os <strong>enfermeiro</strong>s relatam que se alimentam em lugares ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, não utilizam orefeitório, e a sua dieta não é tão saudável. Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar o aspecto da perda <strong>de</strong>tempo colocada em função da <strong>de</strong>manda gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço, <strong>do</strong> número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong>funcionários e da <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> profissional quan<strong>do</strong> lhe negam o direito ao tempopara se alimentar e <strong>de</strong>scansar.“Lá na UTI a gente comia no expurgo, on<strong>de</strong> secolocava roupa suja, e a gente comia lá. ...Pra <strong>de</strong>scer a gente perdia muito tempo, entãoalguém ia na padaria, comprava as coisas etrazia. E não podia subir alimento.Enfermagem sempre come em lugaresina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s”.Queixam-se das proibições e mostram as contradições existentes quan<strong>do</strong> se referem aosriscos biológicos, às contaminações.“Tu<strong>do</strong> é proibi<strong>do</strong>. Eu trabalhei em umhospital, aí você não podia comer <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>postinho, porque levan<strong>do</strong> contaminação”.


- 51 -Portanto, existe um estereótipo cria<strong>do</strong> que <strong>enfermeiro</strong> ou é gor<strong>do</strong> ou magro em função<strong>do</strong> já explicita<strong>do</strong> acima:“Funcionário, ou a tendência <strong>do</strong> cara, ou abarriga fica acima <strong>do</strong> tamanho da maca, ouemagrece, por falta <strong>de</strong> tempo e local a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>para se alimentar”.Por vezes, as condições <strong>de</strong> conforto são <strong>de</strong>sprezadas pela administração <strong>do</strong>s <strong>pronto</strong>s<strong>socorro</strong>s a ponto <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s terem <strong>de</strong> organizá-los, valen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> suas própriasrelações <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> PS.“Na copinha tinha um fun<strong>do</strong>, então eu já faleique queria um armário, minha amiga ligoupro patrimônio pra saber se tinha um. Entãocada um tinha um armário, então compramosfaca, garfo, pra ficar lá”.A forma <strong>de</strong> se expressar, no diminutivo quan<strong>do</strong> se refere ao local <strong>de</strong> alimentação,expressa a ausência <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> valorização <strong>do</strong> assunto, bem como a dimensão<strong>do</strong> espaço “arranja<strong>do</strong>” e conferi<strong>do</strong> aos <strong>enfermeiro</strong>s.5.2.2. Pausa para lanche ou caféOs <strong>enfermeiro</strong>s têm uma pausa para lanchar ou para tomar um café, tem <strong>de</strong> 15 a 30minutos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a equipe <strong>de</strong> enfermagem, quan<strong>do</strong> dá tempo, ou seja, quan<strong>do</strong> épossível, têm um tempo específico para <strong>de</strong>sligar-se das suas ativida<strong>de</strong>s, ou po<strong>de</strong>moschamar <strong>de</strong> reposição mínima <strong>de</strong> energia ou também enten<strong>de</strong>r como uma quebra no ritmotão intenso <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.Parar para lanchar implica em antes <strong>de</strong> pausar, dar orientações sobre to<strong>do</strong>s os pacientesaos auxiliares e técnicos. Ter o direito ao horário <strong>de</strong> pausa para lanche ou café, não


- 52 -garante que este café seja toma<strong>do</strong>, pois acontece <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> não disponibilizar oalimento como abaixo:“Às vezes tem café, às vezes nãodisponibilizam. As pessoas se servem e comemtu<strong>do</strong> e falta para as outras que chegam<strong>de</strong>pois”.Em outros hospitais, o café é toma<strong>do</strong> na sala da enfermagem que se confun<strong>de</strong> com oespaço físico <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. Ali é on<strong>de</strong> se encontram <strong>enfermeiro</strong>s, auxiliares e técnicos <strong>de</strong>enfermagem. Tomam café, comem pão, conversam, assistem televisão e quemconsegue, <strong>do</strong>rme.Às vezes, o valor <strong>do</strong> lanche é dividi<strong>do</strong> entre os membros da equipe <strong>de</strong> enfermagem,fican<strong>do</strong> uma pessoa responsável pela arrecadação <strong>do</strong> dinheiro a cada mês.5.2.3. Pausa para ir ao banheiroAs pausas no <strong>trabalho</strong> para ir ao banheiro foram mínimas, uma a duas durante toda ajornada das três enfermeiras observadas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>.No banheiro observam-se colchões suspensos nas pare<strong>de</strong>s que foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s comosen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s pelo pessoal da enfermagem <strong>do</strong> turno noturno para perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>scanso.A higiene bucal quan<strong>do</strong> ocorre após um lanche ou refeição pereceu-me, em função <strong>do</strong>gran<strong>de</strong> tempo <strong>de</strong>spendi<strong>do</strong>, como um tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, um tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligamento darotina <strong>de</strong> <strong>do</strong>r e sofrimento e <strong>do</strong> ritmo intenso da ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>.Encontrar esse tempo nem sempre é possível, pois a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tarefas e ochamamento constante por parte <strong>de</strong> pessoas, seja usuário, pacientes, acompanhantes


- 53 -coloca os <strong>enfermeiro</strong>s em situações tais como entre aten<strong>de</strong>r um usuário i<strong>do</strong>so e pegarescova e utensílios para escovar os <strong>de</strong>ntes.Outros <strong>enfermeiro</strong>s reforçam a posição acima, quan<strong>do</strong> dizem que na maioria das vezes,não realizam a escovação <strong>de</strong>ntária por falta <strong>de</strong> tempo, pois ao retornar <strong>do</strong> almoço oulanche, já são absorvi<strong>do</strong>s pelo ritmo intenso das necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.5.2. 4. Pausa para fumarObservamos uma pausa informal, neste caso para fumar. É realizada no espaçoreserva<strong>do</strong> para tal fim (fumódromo) que fica localiza<strong>do</strong> na parte externa <strong>do</strong>s <strong>pronto</strong>s<strong>socorro</strong>s. Esta pausa não tem tempo <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> e no local encontram-se pessoas,conversa-se, trocam-se informações sobre os mais diversos assuntos.Nestas ocasiões, nem sempre o <strong>enfermeiro</strong> está isento <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver qualquertarefa ou <strong>de</strong> ser surpreendi<strong>do</strong> com uma situação inusitada, tal como “ajudar umaauxiliar a retirar uma maca <strong>do</strong> quarto on<strong>de</strong> estas ficam guardadas e segun<strong>do</strong> um relato,um dia foi fumar e achou um corpo no fumódromo”.São situações inéditas para nós, mas que na vivência <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>, o chama paraquestões <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s vivenciadas com freqüência no seu cotidiano diante <strong>do</strong>enfermo, <strong>de</strong> um corpo já sem vida ou <strong>de</strong> sua família.6. Sobre local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>Existe uma queixa freqüente e comum entre os <strong>enfermeiro</strong>s que está relacionada aausência <strong>de</strong> local para <strong>de</strong>scanso e/ou locais para <strong>de</strong>scanso ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, sem condições<strong>de</strong> conforto.Constatamos que a sua ativida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvida em constante movimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o seucorpo e a maior parte <strong>do</strong> tempo da jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> ocorre com o <strong>enfermeiro</strong> naposição em pé ou em marcha acelerada <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong> e/ou em outras unida<strong>de</strong>s quefazem relação com os usuários <strong>do</strong>s serviços.


- 54 -O espaço para realização <strong>do</strong>s lanches ou <strong>do</strong> café, além <strong>de</strong> exíguo, com freqüência,segun<strong>do</strong> as suas referências, confun<strong>de</strong>-se com o espaço para <strong>de</strong>scanso.“As meninas vão almoçar, não tem lugar praalmoçar, nossa copa é 1,5m x 2,5m. Só cabe agela<strong>de</strong>ira, 2 ca<strong>de</strong>iras e a pia. Acaba <strong>de</strong>almoçar, às vezes almoça em 15 minutos, prasobrar 40, 45 minutos pra <strong>de</strong>scansar nointervalo das 12 horas e às vezes tem alguémque põe uma ca<strong>de</strong>ira na sala <strong>de</strong> esterilizaçãopra esticar as pernas, porque fica o dia inteiroem pé”.Outros espaços são utiliza<strong>do</strong>s para o <strong>de</strong>scanso, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser qualquer local. Segun<strong>do</strong> ospróprios <strong>enfermeiro</strong>s, a gente não tem, a gente cria um espaço.“Hoje eu não faço mais isso, mas antes era<strong>de</strong>baixo da bancada. Você está em umpostinho, e lá sempre tem um corpo estendi<strong>do</strong>no chão”.“Tem auxiliar que <strong>do</strong>rme no banheiro”.Em outras situações o local para <strong>de</strong>scanso é utiliza<strong>do</strong> por vários profissionais impedin<strong>do</strong>o repouso <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a conversas, barulho, etc. <strong>do</strong>s outros colegas.“A televisão ficava junto na sala com as 20poltronas. A poltrona era confortável, só queeu fazia 12X36 <strong>de</strong> dia. Então naquela hora eu


- 55 -ia almoçar e ia sentar só que o pessoal queriaassistir televisão e você não podia falarnada...”Além <strong>do</strong>s espaços não serem suficientes para acomodar a to<strong>do</strong>s e às funções <strong>de</strong>alimentação e repouso, as condições também não são a<strong>de</strong>quadas.“... não tinha (...) banheiro a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> prosfuncionários. Não tem ca<strong>de</strong>ira pra sentar,então são situações bem precárias...”“... nossas salas não têm janela... O coita<strong>do</strong>que fica 12 horas na sala <strong>de</strong> medicação,sobretu<strong>do</strong> nessa época <strong>de</strong> <strong>do</strong>ençasrespiratórias,... Ficou proibi<strong>do</strong> ficar com ocircula<strong>do</strong>r liga<strong>do</strong>, pois po<strong>de</strong> espalhar asbactérias”.Dessa forma, surge entre os <strong>enfermeiro</strong>s um sentimento <strong>de</strong> humilhação, levan<strong>do</strong> a umabaixa autoestima e ressentimento expressos pelas comparações com outras categoriasprofissionais. Com a empregada <strong>do</strong>méstica...“A empregada tem lugar próprio pra<strong>de</strong>scansar, a enfermagem não tem até hoje,então a empregada <strong>do</strong>méstica tem mais valor,<strong>do</strong> que uma profissão que faz 85% das ações<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.O fato <strong>de</strong> a enfermagem ser uma profissão majoritariamente feminina se constitui emuma das possibilida<strong>de</strong>s para se chegar à explicação e compreensão <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong> atual


- 56 -<strong>de</strong> crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> prestígio social, <strong>de</strong> força política <strong>de</strong>ntre outras, sen<strong>do</strong>impossível <strong>de</strong>scolar as questões que envolvem essa profissão da própria história dasmulheres (SPINDOLA e SANTOS, 2005).A comparação com os médicos...“Mas se médico po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar, tem lugar,alguém que arrume a roupa <strong>de</strong> cama pra ele,por que os profissionais <strong>de</strong> enfermagemprecisam disputar o chão e suas sujida<strong>de</strong>s pra<strong>do</strong>rmir?”Mas as comparações e confrontos acima explicita<strong>do</strong>s se fazem em função <strong>de</strong> umarealida<strong>de</strong> vivida, <strong>de</strong> condições e situações reais ainda que este direito ao <strong>de</strong>scanso estejagaranti<strong>do</strong> por lei. O sentimento <strong>de</strong> injustiça, <strong>de</strong> banalização <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> profissionalresponsável pelos cuida<strong>do</strong>s se sobressai na frase seguinte:“Se eu tenho horário <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, se eu queroum local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, eu tenho que ter”.Contraditoriamente, ainda que em menor proporção, encontramos a situação em que o<strong>enfermeiro</strong> utiliza-se <strong>do</strong> mesmo espaço para <strong>de</strong>scanso que os médicos. E este“privilégio” foi uma conquista <strong>do</strong> profissional como vemos abaixo em sua fala.“Hoje, eu divi<strong>do</strong> um espaço <strong>do</strong> repouso <strong>do</strong>smédicos porque <strong>trabalho</strong> lá há 17 anos,aquela reforma <strong>de</strong> to<strong>do</strong> espaço médico, eu eradiretor administrativo, então eu fiz praenfermagem”


- 57 -7. A passagem <strong>do</strong> plantão“A passagem <strong>de</strong> plantão, entrega <strong>de</strong> turno ou troca <strong>de</strong> turno é uma prática realizada pelaequipe <strong>de</strong> enfermagem com vistas a transmitir informação objetiva, clara e concisasobre acontecimentos ocorri<strong>do</strong>s durante um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e que envolvem aassistência direta e/ou indireta ao paciente bem como assuntos <strong>de</strong> interesseinstitucional” (SILVA E CAMPOS, 2007).“... é tu<strong>do</strong> aquilo que acontece no perío<strong>do</strong> quevocê estava trabalhan<strong>do</strong>”.“A gente passava as informações sobre ospacientes, a condição clinica <strong>de</strong>le, como eleestava, últimos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um exame, oquanto ele evoluiu”.Essa prática utiliza-se da comunicação como instrumento básico <strong>de</strong> enfermagem,favorecen<strong>do</strong> o compartilhamento <strong>de</strong> informações. Por sua vez, essas informações seconstituem por da<strong>do</strong>s (registro <strong>de</strong> fatos) or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma coerente e significativapara fins <strong>de</strong> compreensão e análise.“Só que a passagem <strong>de</strong> plantão é uma coisamuito séria, que muitas vezes, profissionaisnão levam muito sério. Então comunicação <strong>de</strong>falar sobre pacientes e o cuida<strong>do</strong>”.Segun<strong>do</strong> alguns estudiosos a passagem <strong>do</strong> plantão é a garantia da continuida<strong>de</strong> daassistência (SIQUEIRA e KURCGANT, 2005 e SILVA e CAMPOS, 2007).


- 58 -7.1. Quan<strong>do</strong> se passa o plantãoA passagem <strong>de</strong> plantão é realizada em toda situação <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>ou final da jornada.“Toda vez que eu termino o meu plantão, eupasso plantão pra equipe que está pracomeçar”.Algumas vezes po<strong>de</strong> ocorrer da passagem <strong>do</strong> plantão ser postergada ou interrompida emfunção <strong>de</strong> intercorrências com pacientes que precisam <strong>de</strong> assistência imediata:“O paciente parou 10 , 7 horas, você ia passar oplantão. Você aten<strong>de</strong> a emergência e asequipes se juntam, trabalhan<strong>do</strong> junto, até quevocê possa ter condição <strong>de</strong> passar o plantão,”7.2. Como se passa um plantãoA passagem <strong>de</strong> plantão é um exercício <strong>de</strong> comunicação entre a equipe <strong>de</strong> enfermagem,realizada em função da continuida<strong>de</strong> da assistência, envolven<strong>do</strong> aspectos dacomunicação verbal (oral e escrita) po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, também, ser consi<strong>de</strong>rada umacomunicação administrativa em função da assistência e <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> emenfermagem (SILVA e CAMPOS, 2007).“Eu tenho 40 pacientes, eu não posso passar<strong>do</strong>s 40 pacientes. Senão a pessoa vai ficar 4horas passan<strong>do</strong> os pacientes, então ela vaipassar a questão das priorida<strong>de</strong>s, os casos queprecisam <strong>de</strong> maior atenção, as pendências,avaliações que faltam fazer”.10 Parou significa parada cardíaca.


- 59 -A forma <strong>de</strong> transmitir essa informação po<strong>de</strong> ser falada ou escrita; ser realizada atravésda anotação em uma planilha que exames ainda não foram realiza<strong>do</strong>s ou que avaliações<strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s são necessárias.Outra maneira <strong>de</strong> realizar a passagem <strong>do</strong> plantão, também chamada <strong>de</strong> convencional é ir<strong>de</strong> leito em leito ou então senta em um lugar a parte, com a prancheta, com ospacientes.Ainda é apontada pelos <strong>enfermeiro</strong>s a forma mista, ou seja, passagem <strong>de</strong> leito por leito eas informações por escrito em planilhas, etc.“... passagem leito a leito, e a passagem comas pendências, preparos para os exames.Tanto escrita, naquelas unida<strong>de</strong>s que usamplanilhas, que escreve, quem está em jejum,quem está aguardan<strong>do</strong> na enfermaria que estáaguardan<strong>do</strong> o que está escrito”.Os <strong>enfermeiro</strong>s <strong>de</strong>notam em suas falas uma preocupação muito gran<strong>de</strong> com a passagem<strong>do</strong> plantão, seja ela mista: oral e escrita, e convencional, ainda lançam mão <strong>de</strong> outrorecurso para registro das informações:“Tu<strong>do</strong> que se passou se não for fazer exame,está em passos, mas mesmo assim estáanota<strong>do</strong> em um livro <strong>de</strong> relatório. Eu sempre<strong>de</strong>ixo anota<strong>do</strong>. Porque eu <strong>de</strong>ixo anota<strong>do</strong>?Como eu chego 6 e meia, 7 horas eu vouembora. Sabe ler? Lê no livro”.


- 60 -Outra maneira encontrada por <strong>enfermeiro</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> informar ao seu colega etambém <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong>s pacientes é passar a visita e durante o plantão passar <strong>de</strong> novopelos leitos.“Passo quan<strong>do</strong> vou passar o plantão. Meianoite pra uma hora, eu faço <strong>de</strong> novo, aquelespacientes que dão mais <strong>trabalho</strong> eu acabo meenvolven<strong>do</strong> mais”.O tempo que a pessoa leva pra passar o plantão segun<strong>do</strong> os sujeitos da pesquisa emmédia é <strong>de</strong> 20 minutos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> se esten<strong>de</strong>r a 40 minutos ou até mais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong><strong>enfermeiro</strong>, como cita<strong>do</strong> abaixo:“Eu sempre soube passar bem plantão, mastenho colegas que tem dificulda<strong>de</strong>s. Você vaipassar ocorrências".7.3. Problemas na passagem <strong>do</strong> plantãoExistem problemas na passagem <strong>do</strong> plantão. Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s a passagem <strong>de</strong>veser concisa, sem “brinca<strong>de</strong>iras” e em termos técnicos.“Eu já recebi plantão que preferia nãoreceber. Me atrasou e não me acrescentounada. Às vezes ela fica fazen<strong>do</strong>brinca<strong>de</strong>irinha, usa outras terminologias”.


- 61 -A gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> horários nos hospitais e <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s, a meto<strong>do</strong>logiautilizada, o uso <strong>de</strong> outras terminologias para os <strong>enfermeiro</strong>s dificultam esse momento <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> importância:“Muitas vezes <strong>de</strong>mora tanto e o que aspessoas retêm é muito pouco”.Determinadas dinâmicas são <strong>de</strong>moradas e <strong>de</strong>sgastantes e, assim, <strong>de</strong>ixa a equipe <strong>de</strong>enfermagem <strong>de</strong> abordar aspectos fundamentais sobre o paciente e a unida<strong>de</strong>, o queoportuniza a superficialida<strong>de</strong> e torna a passagem <strong>de</strong> plantão apenas mais uma tarefa enão um momento propício à reflexão (SILVA e CAMPOS, 2007).“... Tem pessoas que tem mania <strong>de</strong> usaralgumas expressões <strong>do</strong> paciente, associar comsabores. Tipo, ele está com uma secreçãoachocolatada, marrom, precisa trazer o sabor<strong>de</strong> uma coisa?... Olha tá parecen<strong>do</strong> leitecon<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong>. O<strong>de</strong>io! ... Ou quan<strong>do</strong> vai falar <strong>de</strong>uma ferida,... Fala que está bonitinha. ... Aí<strong>de</strong>pois você vai ver, que na verda<strong>de</strong>, ela quisdizer com bonitinha, que tinha forma<strong>do</strong>crosta...”Existe divergência sobre on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve passar o plantão para a próxima equipe <strong>de</strong>enfermagem. Na verda<strong>de</strong>, existem divergências sobre a passagem <strong>de</strong> plantão e passar noleito <strong>do</strong> paciente o que segun<strong>do</strong> alguns <strong>enfermeiro</strong>s, é o mais indica<strong>do</strong> em função <strong>do</strong>contato direto <strong>do</strong> paciente com o <strong>enfermeiro</strong>.


- 62 -Alguns plantões têm sua passagem no postinho 11 da enfermagem:“Já ouvi muita reclamação <strong>do</strong>s meussupervisores, que o plantão <strong>de</strong> enfermagem sepassa no postinho. No dia que eu for chefe <strong>de</strong>novo, se eu souber que alguém tá passan<strong>do</strong> empostinho, eu mato”.Passar o plantão no postinho torna-se impessoal, distancia<strong>do</strong> <strong>do</strong> paciente. Como já foidito o <strong>enfermeiro</strong> precisa ver o seu enfermo em conjunto com o colega e tirar suasimpressões para dirigir sua conduta para os cuida<strong>do</strong>s necessários.7.4. Quem faz a passagem <strong>do</strong> plantãoEm alguns serviços o <strong>enfermeiro</strong> realiza a passagem <strong>do</strong> plantão para a equipe que estáassumin<strong>do</strong> a ativida<strong>de</strong> e o auxiliar responsável por aquele leito complementa asinformações.Em outros serviços, o <strong>enfermeiro</strong> o faz para o <strong>enfermeiro</strong> e o auxiliar para o auxiliar <strong>de</strong>enfermagem. Em outros ainda, o médico passa para o <strong>enfermeiro</strong> e existem aqueles emque o “médico passa para ninguém”.“Então o médico vem, prescreve, e não existea cultura <strong>de</strong>le passar pro... Ele vai emborasem que o outro tenha chega<strong>do</strong>”.8. Sobre faltar ao plantãoAs ausências no local <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> ou faltas que ocorrem entre os <strong>enfermeiro</strong>s <strong>de</strong> <strong>pronto</strong>s<strong>socorro</strong>s são <strong>de</strong>terminadas por algumas circunstâncias i<strong>de</strong>ntificadas abaixo:11O postinho é o espaço físico on<strong>de</strong> se prepara a medicação, se faz anotações e também se passa oplantão.


- 63 -“Eu já tive colegas que não foram porque nãoestavam com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir, porque o plantãotinha si<strong>do</strong> muito <strong>de</strong>sgastante, porque tinhapassa<strong>do</strong> muito stress”.Além <strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> enfrentamento para lidar com uma sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> eoutros aspectos <strong>do</strong> sofrimento psíquico, não ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir trabalhar, implica em umasobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e um <strong>de</strong>sarranjo em toda equipe que compareceu ao plantão, poisalguém <strong>de</strong>verá cobrir a lacuna.Existe o dia em que “não dá vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir trabalhar”, ou seja, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s,“os dias <strong>do</strong> limite, da sobrecarga, que você não tem força,... <strong>de</strong> o corpo não conseguirse mover, como se você suportasse 50 e tem 500 quilos no ombro”.Algumas vezes, a equipe é <strong>de</strong>sfalcada com um tipo <strong>de</strong> falta que não po<strong>de</strong> serquestionada, ou seja, a apresentação <strong>de</strong> atesta<strong>do</strong> médico.“Tenho duas enfermeiras que fazem isso. Elassão diaristas, então às vezes elas queremfolgar juntas, mas são <strong>do</strong> mesmo setor,impossível. É muito coincidência uma trazeratesta<strong>do</strong> no dia da folga da outra”.Observamos, portanto algumas estratégias para manter certa integrida<strong>de</strong>, as faltasocasionais ao plantão, ajudan<strong>do</strong> a recuperar-se, tomar um fôlego, para respirar.Contraditoriamente, outras posturas são também encontradas, como nunca faltar aoplantão mesmo quan<strong>do</strong> se está cheio:“Eu nunca faltei por estar cheia,... Eu tenhoprofissionais que com certeza faltam porque


- 64 -estão cheios. E tem gente que fala, vou pegarminha bolsa e vou embora”.Alguns comparecem e outros não. Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também <strong>do</strong>compromisso <strong>de</strong> cada profissional.8.1. Sobre se refazer <strong>do</strong> plantãoJuntar as forças, se refazer <strong>do</strong> plantão, mais que um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sentir-se bem, é umaobrigação e responsabilida<strong>de</strong> ten<strong>do</strong> como objetivo estar íntegro para o plantão <strong>do</strong> diaseguinte.A folga após o plantão <strong>de</strong> 12X36 não é gozada como uma folga para o lazer ou parasatisfazer outras necessida<strong>de</strong>s da vida pessoal <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>. Mas, sim para “serefazer”.”... um dia é to<strong>do</strong> pra se refazer, física emental, pra no dia seguinte você sair <strong>de</strong> casasaben<strong>do</strong> que você tem que estar em condiçõespra toda essa circunstância que você po<strong>de</strong>encontrar”.A enfermeira fala <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> prontidão, uma disponibilida<strong>de</strong> necessária, umesta<strong>do</strong> <strong>de</strong> alerta constante para ajudar e vencer a <strong>do</strong>r <strong>do</strong> paciente, vencer o sofrimento ea morte. É um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar prepara<strong>do</strong> para tu<strong>do</strong>, tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> pacientecomo <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.Envolve uma abnegação, um <strong>de</strong>sprendimento como aquele da<strong>do</strong> ao significa<strong>do</strong>missionário que nos remete às origens da enfermagem, nos reporta às irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>,sempre prontas a servir.


- 65 -9. A higienização <strong>do</strong> PS e das roupas <strong>do</strong>s pacientes e macasOs serviços <strong>de</strong> limpeza nos <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s, em geral, são efetua<strong>do</strong>s por empresascontratadas para tal fim, terceirizadas, sen<strong>do</strong> que segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s “tem sempreuma enfermeira responsável. Tem que ter”.Existe uma rotina quanto à limpeza <strong>do</strong>s ambientes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> se faznecessária uma programação diária <strong>de</strong> cada área:“... por exemplo, sala <strong>de</strong> vacinas, limpa todaquinta feira <strong>de</strong> manhã, há situações em queunida<strong>de</strong> está muito cheia e não tem comolimpar por causa <strong>do</strong> remanejamento <strong>do</strong>paciente, mas cada lugar tem o seucronograma <strong>de</strong> todas as áreas que vão serlimpas...”Os <strong>enfermeiro</strong>s apontaram também um problema freqüente com relação ao pessoalcontrata<strong>do</strong> o qual seria a falta <strong>de</strong> orientação e treinamento <strong>de</strong>ste pessoal por parte dacontratada para a limpeza <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.“Mas ninguém recebeu nenhuma preparação.Primeiro dia <strong>de</strong>ixei elas tocarem, man<strong>de</strong>ificar <strong>de</strong> olho, o que elas fizerem <strong>de</strong> furo, vocêvê que não está bom, fala com elas. Chegou nooutro dia, faz assim e assim”.De acor<strong>do</strong> com a Norma Regulamenta<strong>do</strong>ra n. 32 – Segurança e Saú<strong>de</strong> no Trabalho emServiços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em seu item 32.8.1. “os trabalha<strong>do</strong>res que realizam a limpeza <strong>do</strong>sserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser capacita<strong>do</strong>s, inicialmente e <strong>de</strong> forma continuada, quantoaos princípios <strong>de</strong> higiene pessoal, risco biológico, risco químico, sinalização, rotulagem,EPI, EPC e procedimentos em situações <strong>de</strong> emergência”.


- 66 -Como em geral isso não ocorre, evi<strong>de</strong>nciamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientação nos mínimos<strong>de</strong>talhes e essa supervisão, em geral se faz pelo <strong>enfermeiro</strong> ou chefia <strong>de</strong> enfermagem:“Ontem cheguei pra ela e falei assim, às 10horas, eu quero encontrar todas asenfermarias limpas. Todas limpas. Se sujar,quan<strong>do</strong> você chegar meia noite, vai voltar,entrar na enfermaria e ver se está suja, ouentão se a menina te chamar, você vem limpar.Meia noite não quero ninguém entran<strong>do</strong> naenfermaria pra limpar alguma coisa. Só vaiser feito <strong>de</strong>pois da meia noite se fornecessário”.Outro tipo <strong>de</strong> higienização realiza<strong>do</strong> no PS é a lavagem das roupas das macas.Observamos na sala <strong>de</strong> higienização <strong>do</strong>s pacientes retirar as roupas da maca e <strong>de</strong>positarem um saco <strong>de</strong> teci<strong>do</strong> que é usa<strong>do</strong> para a guarda <strong>de</strong> roupas sujas. Pegar roupa limpa narouparia, suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trocas também faz parte <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s.E foi referida ainda a higienização <strong>do</strong>s leitos, ou seja, a lavagem das camas, quesegun<strong>do</strong> uma enfermeira que “têm mania da lavar tu<strong>do</strong>”, <strong>de</strong>ve ser realizada.“Antes <strong>de</strong> eu passar o <strong>do</strong>ente, <strong>de</strong>pois que eucui<strong>de</strong>i <strong>de</strong>le. A cama que ele estava vai serlavada. Na UTI eu sempre tive essa mania <strong>de</strong>lavar tu<strong>do</strong>. O paciente estava sequinho, ia pracama, esperan<strong>do</strong> ele, e a cama que ele estava,eu lavava, pra outra pessoa usar futuramente”


- 67 -9.1. As caixas coletoras <strong>de</strong> perfuro cortantesTodas as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem disponibilizar caixas coletoras para o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong>material perfuro cortante 12 .“Todas as instituições têm, quan<strong>do</strong> não tem,tem uma época que faltou muito, obrigaramto<strong>do</strong>s a usar. Aumentaram a produção, aíbarateou. Tem uma que se <strong>de</strong>staca mais pelaqualida<strong>de</strong>, outras são inferiores. Aju<strong>do</strong>ubastante”.Temos a partir <strong>de</strong>ste ponto, uma discussão sobre a questão <strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong> resíduos gera<strong>do</strong>sem um hospital e normas específicas para o seu cumprimento, sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>las aseparação <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> resíduo em sacos <strong>de</strong> lixo com cores diferenciadas:“Tem o pessoal que trabalha com os coletores<strong>de</strong> lixo, e tem em embalagem comum. Temaqueles que trabalham com cores, preto é lixocomum, branco é contaminante. Essescontaminantes vão sen<strong>do</strong> incinera<strong>do</strong>s”.Os resíduos, segun<strong>do</strong> a NR-32, <strong>de</strong>vem “receber uma atenção especial emestabelecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, caben<strong>do</strong> ao emprega<strong>do</strong>r capacitar, inicialmente e <strong>de</strong> formacontinuada os trabalha<strong>do</strong>res quanto à segregação, acondicionamento e transporte;<strong>de</strong>finições, classificação e potencial <strong>de</strong> risco <strong>do</strong>s resíduos; sistema <strong>de</strong> gerenciamentoa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>; formas <strong>de</strong> reduzir a geração; conhecimento das possibilida<strong>de</strong>s e tarefas;reconhecimento <strong>do</strong>s símbolos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação das classes <strong>de</strong> resíduos, etc”.12 Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, <strong>de</strong> 07/12/2004. Publicada no DOU <strong>de</strong> 10/12/2004.


- 68 -Existe uma preocupação acentuada com relação ao <strong>de</strong>scarte <strong>do</strong>s resíduos, quanto à suaclassificação e especialmente com relação aos riscos biológicos <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista dasaú<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem trabalha no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> ou outros estabelecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.“Eu acharia que não só o branco, mas <strong>de</strong> todaa área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser incinera<strong>do</strong>.Quan<strong>do</strong> você vai num serviço público ouparticular, aquela pessoa que aten<strong>de</strong> a fichaestá exposta ao agente biológico tanto quantoeu estou. Então tanto o pessoal da recepçãotem direito a insalubrida<strong>de</strong>, porque eles estãoexpostos com o lixo”.As concepções e representações divi<strong>de</strong>m as opiniões <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>:Para uns, o trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> hospital é um contaminante ambulante em potencial.“Aquela pessoa que está cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente éum contaminante também”.Não apenas para quem cuida <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente esta representação é estendida, inclui-se tambémo trabalha<strong>do</strong>r da limpeza ou que faz a coleta <strong>do</strong>s resíduos, como expostos aos riscosbiológicos e por alguns motivos expostos na fala abaixo estão sujeitos ao a<strong>do</strong>ecimento.“... vem aquele cara que <strong>de</strong>rrama uma tampa<strong>de</strong> lixo, um lixo preto, um usuário <strong>de</strong>tuberculose, e <strong>de</strong>scarrega lá, um preto <strong>de</strong>papel. E a pessoa que vai pegar o lixo preto, éuma pessoa <strong>de</strong> nível cultural baixo, tevealimentação carente. Acordam ce<strong>do</strong> e nãotomam café, não se alimentam direito, o stressfaz diminuir a imunida<strong>de</strong>”.


- 69 -Ainda que seja uma norma para os estabelecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a disponibilida<strong>de</strong> nemsempre é imediata ou garantida pela administração <strong>do</strong> serviço. E muitas vezes, os<strong>enfermeiro</strong>s precisam “vasculhar” outros setores em busca <strong>de</strong> uma caixa para <strong>de</strong>scarteou improvisar com qualquer outro tipo <strong>de</strong> caixa.“Ontem o auxiliar falou que não tinha caixa<strong>de</strong>scartável pra ser montada, pra colocarmaterial perfuro cortante, então foi se catan<strong>do</strong>todas as caixas <strong>de</strong>scartável que tinha naunida<strong>de</strong> pra po<strong>de</strong>r aten<strong>de</strong>r o material usa<strong>do</strong>”.“Caixa <strong>de</strong>scartável também não tinha. Porvolta <strong>de</strong> uma hora da manhã não tinha mais. Ea gente ro<strong>do</strong>u o <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> pra procuraron<strong>de</strong> tinha caixa, que não estava completa pralevar pra medicação”.9.2. O <strong>de</strong>scarte <strong>do</strong> resíduoA polêmica sobre o <strong>de</strong>scarte <strong>do</strong> resíduo, sobre a incineração etc., continua, pois aindaque exista a disponibilização das caixas para o <strong>de</strong>scarte <strong>do</strong>s perfuro cortantes, não háuma garantia total <strong>de</strong> que isso ocorra.“... é a questão que eu sinto, é a questãobásica, educação, <strong>de</strong>scartar no lugar certo. Éa nossa função orientar”.Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, é necessário haver intervenções educativas para que sejaefetua<strong>do</strong> o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> maneira correta e garantin<strong>do</strong> a separação <strong>do</strong> resíduocontaminante <strong>do</strong> não contaminante.


- 70 -“... não haveria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incinerar tu<strong>do</strong>.A questão é que, você tem gran<strong>de</strong>squantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sacos <strong>de</strong> papel e ali alguémjoga uma gaze com sangue, outro escarra, aíexpõe o profissional <strong>de</strong> limpeza, porque tem aquestão <strong>de</strong> incinerar to<strong>do</strong> esse material, égran<strong>de</strong> a quantia”.Não são apenas os <strong>enfermeiro</strong>s ou técnicos e auxiliares expostos a aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>com material perfuro cortante em função <strong>do</strong> <strong>de</strong>scarte incorreto. O pessoal contrata<strong>do</strong>para efetuar a limpeza também enfrenta este risco.“E elas sofrem, na limpeza, a gente temaci<strong>de</strong>nte com material perfuro cortante porconta <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> materiais”.Outra forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar erradamente o material evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> no discurso <strong>do</strong>s<strong>enfermeiro</strong>s é quan<strong>do</strong> “a caixa <strong>de</strong> perfuro cortante não estava <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, oufica lotada, repleta <strong>de</strong> material”.E a esse respeito, a NR-32, sinaliza no item 32.5.3.2, que os recipientes <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s acoleta <strong>de</strong> material perfuro cortante, o limite máximo <strong>do</strong> enchimento <strong>de</strong>ve estarlocaliza<strong>do</strong> 5 cm abaixo <strong>do</strong> bocal.


- 71 -B. SOBRE O OBJETO DE TRABALHO DO ENFERMEIRO – O PACIENTE.Consi<strong>de</strong>ra-se que o objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> é o cuida<strong>do</strong> exerci<strong>do</strong> a pessoas esuas famílias, grupos e coletivida<strong>de</strong>s nas dimensões física, psicológica, social eespiritual, utilizan<strong>do</strong> seus instrumentos próprios. O processo <strong>de</strong> enfermagem é um <strong>do</strong>sinstrumentos utiliza<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> para embasar edirecionar as ações <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> direto ao paciente (DANSKI et al, 2011).O ato <strong>de</strong> cuidar no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> se dá para crianças, i<strong>do</strong>sos, adultos <strong>de</strong> quaisquersexos, raça ou cor, procedência ou condição social. As ações executadas pelos<strong>enfermeiro</strong>s e apontadas abaixo são específicas e sempre diretamente relacionadas aopaciente, com os cuida<strong>do</strong>s diretos ao seu corpo, com a promoção e recuperação emanutenção <strong>de</strong> um bem – a sua saú<strong>de</strong>.Examinar o paciente, conversar com ele, perguntar-lhe seu nome e o que aconteceu paraque esteja no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, pedir-lhe licença para tocar em seu corpo, cobri-lo com olençol, observar um paciente que está <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> enquanto sua acompanhante vai aobanheiro. Estes são apenas alguns exemplos que compõem o cuida<strong>do</strong> forneci<strong>do</strong> pelo<strong>enfermeiro</strong> ao enfermo.Guardar os pertences <strong>do</strong> paciente - pegar a bolsa e sua mochila. Agilizar, apressar narecepção, o atendimento para o usuário.Levar o paciente em ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas para realização <strong>de</strong> exames, pegar camisola, vestira camisola no paciente, amparar e empurrar sua ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas. Retirar o paciente <strong>de</strong>um quarto e encaminhar para outro andar. Dar água ao paciente, colocar uma sonda,regular a posição <strong>do</strong> leito são outros procedimentos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s no contato com ousuário.O paciente está sem roupa, apenas uma fralda lhe cobre o corpo e a enfermeira cobre-orapidamente com o lençol, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> uma sinalização <strong>do</strong> cuidar que nos primórdiosda enfermagem teve uma associação direta com a maternida<strong>de</strong> (CAMPOS e OGUISSO,2008; PADILHA e MANCIA, 2005; SANTOS e LUCHESI – 2002).


- 72 -Para realizar o acompanhamento, faz anotações sobre a evolução <strong>do</strong> quadro <strong>de</strong> cadapaciente. Para tal, vai a cada leito e conversa com o paciente fazen<strong>do</strong> perguntas <strong>do</strong> tipo:Sente <strong>do</strong>r? Dormiu bem? Fez xixi? Apresentou diarréia? Estas informações serãoutilizadas quan<strong>do</strong> da realização da visita da equipe a cada leito.A visita ou passagem da equipe por cada leito também se constitui em momentoimprescindível para a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s. Nesta ocasião, o <strong>enfermeiro</strong>acompanha, informa ao médico e anota orientações sobre o procedimento a ser segui<strong>do</strong>para cada paciente.Em geral, forma-se uma equipe <strong>de</strong> profissionais constituída por médicos e <strong>enfermeiro</strong>sque <strong>de</strong>screvem o quadro <strong>do</strong> paciente, as condutas e dá outras orientações que após todavisita as enfermeiras vão por em prática. Começam e seguem a or<strong>de</strong>m da numeração<strong>do</strong>s leitos: a enfermeira se coloca próxima ao grupo com uma prancheta em mãos tomanotas e informa ao grupo sobre os pacientes.Terminada a passagem ao leito, existe também uma prática <strong>de</strong> retornar para a sala daChefia <strong>de</strong> Enfermagem e lá conversam se atualizam sobre medicação, exames, altas,to<strong>do</strong>s os procedimentos que <strong>de</strong>verão ser realiza<strong>do</strong>s com os pacientes, passan<strong>do</strong> asorientações para as auxiliares e técnicos <strong>de</strong> enfermagem.Passar no leito <strong>do</strong> paciente é preferível por muitos <strong>enfermeiro</strong>s a ter que ler o prontuáriono posto <strong>de</strong> enfermagem. Para que tal contato se dê e haja a interação entre <strong>enfermeiro</strong> eenfermo, este profissional estabelece uma organização em etapas da sua ativida<strong>de</strong>diária, como está explicita<strong>do</strong> abaixo.“Eu sempre passava em to<strong>do</strong>s os quartos praconhecer o paciente, se você não faz isso nocomeço, você não faz no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> plantão,então você acaba olhan<strong>do</strong> só o prontuário”.


- 73 -“Detesto, nunca vou olhar no prontuário <strong>de</strong>le,algo que ele tem... Eu procuro saberperguntan<strong>do</strong>”.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da passagem da visita pela equipe, o <strong>enfermeiro</strong> também verifica o esta<strong>do</strong><strong>de</strong> um da<strong>do</strong> paciente em função <strong>de</strong> solicitação <strong>de</strong> informações da família, como é o caso<strong>do</strong> menino que caiu <strong>de</strong> carro <strong>de</strong> transporte escolar: enfermeira olha as pupilas <strong>do</strong> garoto,to<strong>do</strong> entuba<strong>do</strong>, com laringoscópio 13 . Observa medicação no soro, está seda<strong>do</strong>. Pacientecom fralda. Sai da sala e informa para a mãe as condições <strong>do</strong> jovem paciente.“... então os pacientes estavam inician<strong>do</strong>,vinham <strong>de</strong> uma área pratica. Então eles se<strong>de</strong>pararam com alguém que dava umpouquinho <strong>de</strong> atenção...”Algumas práticas são <strong>de</strong>senvolvidas para chamar a atenção <strong>do</strong>s médicos para<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s aspectos que colocam a frente este tipo <strong>de</strong> paciente ou <strong>de</strong> problemática.“Quan<strong>do</strong> eu carimbava, eu estava chaman<strong>do</strong> aatenção <strong>de</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Se eu sou hipertensa,significa que você precisa ver minha pressão,então eu entendi que aquilo era uma formadas pessoas verem que aquela pessoa erahipertensa e criar uma priorida<strong>de</strong>”.Outra situação que o <strong>enfermeiro</strong> se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra mais em relação ao paciente é quan<strong>do</strong> esteé <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, quan<strong>do</strong> exige maiores cuida<strong>do</strong>s. Vejam a fala seguinte:13 O laringoscópio é um instrumento utiliza<strong>do</strong> para o exame <strong>do</strong> laringe. Existem diversos tamanhos eformatos que servem a propósitos diferentes. Na intubação en<strong>do</strong>traqueal o laringoscópio é utiliza<strong>do</strong> paraobter-se uma exposição a<strong>de</strong>quada das cordas vocais facilitan<strong>do</strong> a introdução <strong>de</strong> um tubo orotraqueal que éutiliza<strong>do</strong> para ventilar o paciente.


- 74 -“O acama<strong>do</strong>, 100% <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Você temque fazer tu<strong>do</strong>, passar algum produto, botarfralda, explicar pra ele que ele não vai comerque ele tem que fazer exame”.Nem sempre os procedimentos da enfermagem são realiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira tranqüila oucom a concordância <strong>do</strong> paciente. Às vezes, têm <strong>de</strong> se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brar para o bem <strong>do</strong> paciente:“Tem paciente que você tem que escon<strong>de</strong>rágua, porque ele não po<strong>de</strong> beber”.Cada tipo <strong>de</strong> problema, diagnóstico ou mesmo a procedência da unida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente,implica em realizar procedimentos mais ou menos complexos por parte <strong>do</strong>s<strong>enfermeiro</strong>s.“Mesmo quan<strong>do</strong> o paciente sai da UTI, ele vaipra enfermaria, ele não tem risco <strong>de</strong> vidaeminente. Mas ele tem seqüelas que dão um<strong>trabalho</strong> enorme”.Existe uma qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida pela enfermagem que remonta asignifica<strong>do</strong>s religiosos, espiritualistas e nos reporta às irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, guardan<strong>do</strong> atéhoje estereótipos <strong>de</strong> missionárias ou <strong>de</strong> missão (PADILHA e MANCIA, 2005).O <strong>do</strong>m é uma representação responsável por sentimentos, condutas etc. por parte <strong>do</strong>s<strong>enfermeiro</strong>s e envolve comportamentos como abnegação, resignação, empreen<strong>de</strong>rgran<strong>de</strong> esforço, suportar, etc.


- 75 -“A partir <strong>do</strong> momento que a gente escolheessa profissão, a gente vê algo diferente dasoutras. Você dá o que tem <strong>de</strong> mais precioso,você sai e está ali pra prestar algum serviçosimplesmente, não é assim”.Os <strong>enfermeiro</strong>s referem-se a um sentimento <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>, a uma <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> simesmo ao outro, no caso, o paciente.“Eu acho que é um <strong>do</strong>m, porque essaprofissão é muito difícil. Se você fazer ascoisas difícil, você leva muito tempo, é<strong>de</strong>sgastante. Mas tem gente que faz, numa boa,só que <strong>de</strong> qualquer jeito. Então o cuida<strong>do</strong>existe”.O chamamento constante, intermitente durante toda a jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, o ter <strong>de</strong> lidarcom o sofrimento alheio, as dificulda<strong>de</strong>s administrativas, a falta <strong>de</strong> matérias eequipamentos sucatea<strong>do</strong>s leva por vezes a vivências <strong>de</strong> cansaço extremo, a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> isolamento como uma forma <strong>de</strong> se proteger das freqüentes “invasões” à suaprivacida<strong>de</strong> subjetiva.“... e quan<strong>do</strong> eu fui viajar, eu queria ficarsozinha. Isolada, não queria que chamassemeu nome toda hora. Toda hora Maria,Maria, Maria...” 1414 Nome fictício.


- 76 -Por outro la<strong>do</strong>, uma abertura dada, um único estímulo <strong>de</strong> atenção e <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>interessa bastaria para a conversa fluir... ou para o chamamento constante (PAI eLAUTERT, 2005).Além disso, os trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ste ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, nos parece, contam com umahistória <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorização e com conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste processo que os leva a incutir no seuimaginário, nas suas representações, o sofrimento e o ter <strong>de</strong> suportá-lo como parteintrínseca da ativida<strong>de</strong>.“Mas fulano fez isso, você não fala nada.Sempre é a enfermagem, só sobra praenfermagem, mas não tem jeito. A natureza danossa profissão é essa”.Quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> crianças o tratamento <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> para com opaciente se torna mais lúdico, sen<strong>do</strong> que este lúdico é sempre com o objetivo <strong>de</strong> facilitara aceitação pela criança <strong>do</strong> procedimento que <strong>de</strong>ve ser realiza<strong>do</strong>, como por exemplo,tirar as agulhas <strong>do</strong> soro. A enfermeira solicita a “permissão” <strong>do</strong> pequeno pacienteestabelecen<strong>do</strong> a relação <strong>de</strong> troca, tirar as agulhas <strong>do</strong> soro e ganhar um presentinho, umafigurinha a<strong>de</strong>siva.O <strong>enfermeiro</strong> colabora com os auxiliares, cortan<strong>do</strong> a fita a<strong>de</strong>siva, posicionan<strong>do</strong> o braço<strong>do</strong> bebê para a auxiliar <strong>de</strong> enfermagem colher o sangue da criança, que não consegueacertar a veia <strong>do</strong> bebê na primeira vez. Este é um momento <strong>de</strong> muita tensão, pois errar aveia significa ter <strong>de</strong> furar outra vez e os pais, como pais que são, fazem expressões <strong>de</strong><strong>do</strong>r, por outro la<strong>do</strong>, expon<strong>do</strong> a enfermagem a mais tensões, riscos <strong>de</strong> stress. Aenfermeira refere que “fica mais chateada com o sofrimento <strong>do</strong>s pais, que choram,sofrem”.Para alguns <strong>enfermeiro</strong>s “é mais leve trabalhar com adulto e que com criança sofremmuita pressão <strong>do</strong>s pais, muitas cobranças. Quan<strong>do</strong> erra a veia... Tem profissional bom<strong>de</strong> veia... Mas, às vezes a criança está com febre, <strong>de</strong>sidratada e fica mais difícil <strong>de</strong>


- 77 -acertar a veia e se culpa o profissional”. É a culpabilização <strong>do</strong> profissional, ele temobrigação <strong>de</strong> acertar, não po<strong>de</strong> errar.Outra situação nos mostra a preocupação e o foco <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> no paciente criança quejá tomou várias inalações. O <strong>enfermeiro</strong> usan<strong>do</strong> o OXIMETRO 15 , aparelho que me<strong>de</strong> aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio no corpo da criança, brinca distrain<strong>do</strong>-o enquanto realiza oprocedimento _ “Que time você torce? Se for Palmeiras, ainda tem chance”.Co<strong>do</strong> (2004) em O <strong>trabalho</strong> enlouquece? Um encontro entre a clínica e o <strong>trabalho</strong>,coloca “o cuidar exige atenção, <strong>de</strong>dicação, entrega, pontua<strong>do</strong> <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e<strong>do</strong>ação... No caso <strong>do</strong> profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> isso é mais complica<strong>do</strong>. A relação afetiva éparte integrante <strong>do</strong> exercício <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> diária para que sua tarefa seja realizada”.Estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Souza et al. (2007) refere que <strong>de</strong>ntre as habilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>encontram-se as técnicas e as pessoais. A sua sensibilida<strong>de</strong>, ou melhor, a suasubjetivida<strong>de</strong> é colocada a serviço <strong>do</strong> paciente para possibilitar uma compreensãoa<strong>de</strong>quada <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> enfermo e ministrar-lhe os cuida<strong>do</strong>s necessários.O <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> envolve também características <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>r e esta qualida<strong>de</strong><strong>do</strong> seu <strong>trabalho</strong> é fundamental para um caminho <strong>de</strong> melhoria da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> enfermo oucura. Como educa<strong>do</strong>r, enten<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ensinar o paciente a se cuidar.O Cuidar, segun<strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>s, envolve passar para o paciente a aprendizagem comrelação ao seu problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e qual <strong>de</strong>ve ser a sua conduta quan<strong>do</strong> obtiver alta,<strong>de</strong>volver-lhe autonomia, ainda que parcial.“Cuidar das pessoas, ensinar que elas secui<strong>de</strong>m, e gerenciar as pessoas, que executamcuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> enfermagem. Ensinar que elas secui<strong>de</strong>m, porque quan<strong>do</strong> elas saem da alta,precisam apren<strong>de</strong>r a se cuidar, tem paciente15 Oxímetro é um dispositivo médico que me<strong>de</strong> indiretamente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênio no sangue <strong>de</strong> umpaciente. Em geral é anexa<strong>do</strong> a um monitor, para que os médicos e fisioterapeutas possam ver aoxigenação em relação ao tempo. A maioria <strong>do</strong>s monitores também mostra a freqüência cardíaca.


- 78 -que sai e vai precisar <strong>de</strong> uma dieta por sonda.Tem paciente que vai precisar <strong>de</strong> insulina”.Portanto, encontramos um aspecto da ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> que extrapola os limitesfísicos <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> e manutenção <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>sapós o paciente receber alta.Mesmo quan<strong>do</strong> a orientação ao paciente é realizada, nem sempre o é <strong>de</strong> forma tranqüilae em ambiente calmo no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.“Muitas vezes o paciente sai <strong>de</strong> alta e vocêtem pouco tempo pra ensinar essa família. Eàs vezes essa fala é feita com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> teinterrompen<strong>do</strong>. Então isso é uma coisaimportante, é um direito <strong>do</strong> usuário <strong>de</strong> serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.Para educar o paciente, o <strong>enfermeiro</strong> se vale <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s discuti<strong>do</strong>s em sala <strong>de</strong> auladurante a graduação e <strong>de</strong> seus próprios recursos pessoais e subjetivida<strong>de</strong>.“Mas o que a gente estuda na faculda<strong>de</strong> éisso, você ser um educa<strong>do</strong>r, um lí<strong>de</strong>r”.Lidar com pessoas, especialmente em situações como as que o <strong>enfermeiro</strong> enfrenta,exige muita flexibilida<strong>de</strong> e “jogo <strong>de</strong> cintura”, pois está diante <strong>de</strong> enfermos, necessita<strong>do</strong>s<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e atenção e <strong>de</strong> familiares na maioria das vezes ansiosos e sofren<strong>do</strong>.“Agora vem outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>assistencial, eu, prefiro, olhar o paciente, ver


- 79 -a cara <strong>do</strong> paciente, brincar, zuar <strong>de</strong> umaforma bem sadia, uma coisa que sempre falo,cito minha mãe, como um exemplo pra tomaros remédios. A educação <strong>do</strong> paciente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>da educação <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>”.Estabelecer uma forma <strong>de</strong> relacionamento com a família <strong>do</strong> paciente, formar um vínculoe uma relação <strong>de</strong> confiança, faz a diferença quanto aos procedimentos <strong>do</strong>s familiares emrelação ao seu <strong>do</strong>ente.“E enquanto ele estiver interna<strong>do</strong>, se vocêtiver algum relacionamento com ele oufamília, você vai ensinar ele a ser cuida<strong>do</strong> emcasa”.Além disso, orienta a família que se encontra muitas vezes em situações inusitadas comrelação ao seu ente queri<strong>do</strong>, e não sabe como lidar com o <strong>do</strong>ente.“Eu entrei lá, como que eu saio com meu pai,que comia sozinho, fazia xixi sozinho,conversava, falava, andava e agora vai pracasa sem andar, comer, falar sozinho...”.Através <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras, <strong>do</strong> lúdico, ameniza o sofrimento da família e introduz anecessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s ao seu ente queri<strong>do</strong>.“Aí eu tive que explicar pra família, eleouvin<strong>do</strong>, aí ele falou que pra mim, mas naminha casa não falta comida, como eu chegueinesse ponto? Aí eu falei, pra pegar no pé da


- 80 -sogra, é a sogra que está judian<strong>do</strong> <strong>de</strong> você.Nisso você cativa a sogra, o genro e ele”.Mas, sempre com o objetivo <strong>de</strong> trazer o usuário para sua realida<strong>de</strong> e como lidar com ela.Em outras situações, a mensagem <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s ou <strong>de</strong>como cuidar é contun<strong>de</strong>nte, agressiva como um tratamento <strong>de</strong> choque.“Vai pra um hospital, eu sou hipertenso, nãotomei o remédio pra pressão, e não tomei hoje,então vamos tomar agora, se <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> tomar,morre hoje”.Outras situações freqüentes para <strong>enfermeiro</strong>s que <strong>de</strong>senvolvem sua ativida<strong>de</strong> em <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong> que tem o acesso <strong>de</strong> pacientes psiquiátricos são as agressões feitas por estespacientes.La Revista <strong>de</strong> la OIT 16 aponta que “a questão da violência transcen<strong>de</strong> fronteirasnacionais, meios ambientes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>s e categorias profissionais”. No entanto colocaainda que “algumas profissões enfrentam um nível <strong>de</strong> riscos superior a outras. Asmulheres constituem um grupo especialmente afeta<strong>do</strong>... como professoras, enfermeiras,etc.”“... pacientes psiquiátricos, que são 30% <strong>do</strong>spacientes totais. Muitas vezes agri<strong>de</strong>m osprofissionais, então isso acaba dan<strong>do</strong> umasobrecarga muito gran<strong>de</strong>. E <strong>de</strong>stes 30%, 30%são <strong>de</strong> abstinência alcoólica...”.16 La Revista <strong>de</strong> la OIT: TRABAJO Num. 26 – Cuan<strong>do</strong> El trabajo resulta peligroso – InformaciónPública.


- 81 -As experiências são marcantes, profundas e nem sempre o <strong>enfermeiro</strong> está prepara<strong>do</strong>para lidar com este tipo <strong>de</strong> situação.“... Pra mim foi horrorizante, na madrugada,chegou um ônibus da polícia cheio <strong>de</strong>a<strong>do</strong>lescente quebran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, revolta<strong>do</strong>s,quebran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>”.As agressões físicas aos <strong>enfermeiro</strong>s ocorrem <strong>de</strong> fato e muito pouco ou quase nadainstitucionalmente está sen<strong>do</strong> feito pra mudar tal conjuntura.O Consejo Internacional <strong>de</strong> Enfermeras 17 , em La violência – Epi<strong>de</strong>mia mundial apontauma relação entre a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> sexo feminino na enfermagem e a ocorrência <strong>de</strong>violência. Diz que “os trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm mais probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sofrer ataquesno <strong>trabalho</strong> e que as enfermeiras são as mais vulneráveis”.É da<strong>do</strong> importante <strong>de</strong>scrito por esse Consejo que os ataques físicos são obra quase queexclusivamente <strong>do</strong>s pacientes e um percentual muito alto (75%) foi vítima <strong>de</strong> assédiosexual.A falta <strong>de</strong> capacitação específica para lidar com pacientes psiquiátricos é apontadacomo uma <strong>do</strong>s fatores que facilita a ocorrência da agressão.“... e tem aqueles que não tomam cuida<strong>do</strong>, euenten<strong>do</strong> também a falta <strong>de</strong> capacitaçãoespecífica, pra lidar com pacientepsiquiátrico, favoreçam agressões, umapostura não <strong>de</strong>fensiva”.17 Consejo Internacional <strong>de</strong> Enfermeras, em La violência – Epi<strong>de</strong>mia mundial.http://www.icn.ch/matters_violenceso.htmAcesso em 11/07/2007.


- 82 -Outros fatores, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s contribuem para que sejam mais ou menosagredi<strong>do</strong>s pelos pacientes em surto: a exposição freqüente, profissionais mais ríspi<strong>do</strong>s emais <strong>de</strong>fensivos.“Às vezes nós achamos que a exposiçãofreqüente facilita, mas a gente imagina quetem algumas pessoas, que pela abordagem,acaba atrain<strong>do</strong> mais a agressão”.Estas posturas foram observadas em estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por CAMPOS e TEIXEIRA(2001). O distanciamento ou a aproximação <strong>do</strong> paciente psiquiátrico pelos <strong>enfermeiro</strong>s<strong>de</strong> um PS envolvem emoções como dó, pena, mas também os <strong>de</strong> me<strong>do</strong>, <strong>de</strong> raiva e <strong>de</strong>revolta, crian<strong>do</strong> uma posição <strong>de</strong>fensiva.“A instituição tem uma violência muitogran<strong>de</strong>, então aqueles mais ríspi<strong>do</strong>s, maisgrossos, acabam sofren<strong>do</strong> mais violência”.A Norma Regulamenta<strong>do</strong>ra 32 no item 32.10.12b., coloca que “os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>sserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser orienta<strong>do</strong>s nas medidas a serem tomadas diante <strong>de</strong>pacientes com distúrbios <strong>de</strong> comportamento”.Outro tipo <strong>de</strong> agressão, mas <strong>de</strong>sta vez na forma <strong>de</strong> ameaças, são muito comuns erealizadas por familiares <strong>de</strong> pacientes.“Uma funcionária que administrou omedicamento, e o medicamento levou a umchoque anafilático, causan<strong>do</strong> a morte dacriança. A familiar ameaçou <strong>de</strong> morte. Afuncionária foi transferida pra outro serviço”.


- 83 -Devemos lembrar que este tipo <strong>de</strong> serviços é aberto a toda comunida<strong>de</strong>, população equem vai ao <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong>ve ser atendi<strong>do</strong>.“Às vezes tem pacientes que tem passagempela polícia. Eu já fui ameaçada, mas essecara não costuma cumprir. Ele levou um tiroporque ele vive com os comparsas <strong>de</strong>le. Mas émuito comum eles ameaçarem <strong>de</strong> bater”.Apenas a <strong>de</strong>terminação da NR-32 não garante a proteção <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s e menos aindaa ausência <strong>de</strong> agressões, pois também são vítimas <strong>de</strong> agressões, verbais, ameaças,assédio sexual, assédio moral, etc.


- 84 -C. A EQUIPE DE TRABALHOPerceberão que o <strong>enfermeiro</strong> não é contempla<strong>do</strong> em “equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>”. No entanto,esta “arrumação” foi proposital uma vez que em to<strong>do</strong> o relatório ele é cita<strong>do</strong>exaustivamente e nos outros capítulos têm sua ativida<strong>de</strong> largamente explicitada.No entanto, cabe ressaltar que o <strong>enfermeiro</strong> é o profissional que está entre os médicos,os auxiliares, os vigilantes, o pessoal da limpeza, ou seja, ele é um elo entre to<strong>do</strong>s acimae to<strong>do</strong>s os procedimentos posteriores à consulta médica e mesmo antes da consulta<strong>de</strong>vem ser reporta<strong>do</strong>s a esse profissional.Outra observação diz respeito à inclusão <strong>do</strong>s vigilantes e <strong>do</strong> pessoal da limpeza nacategoria equipe <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Estas pessoas participam ativamente <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.1. Sobre o médico e sua relaçãoEnfermeiros, médicos e pessoal <strong>de</strong> enfermagem formam as equipes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> nos<strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s. Portanto, <strong>de</strong>senvolvem suas ativida<strong>de</strong>s um em relação com o outropara fins <strong>de</strong> manter, promover e buscar a cura <strong>do</strong> paciente.Os <strong>enfermeiro</strong>s estão bem próximos aos médicos e uma consulta médica geraprocedimentos <strong>de</strong> enfermagem que apenas os <strong>enfermeiro</strong>s ou os auxiliares e técnicos <strong>de</strong>enfermagem po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver.Além disso, os <strong>enfermeiro</strong>s aten<strong>de</strong>m a diversas solicitações <strong>do</strong> corpo médico, tais como,pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> chave para pegar equipamentos (exemplo, estetoscópio 18 ), camisola parapaciente; <strong>enfermeiro</strong> solicita assinatura e carimbo <strong>de</strong> médico, etc.18 Estetoscópio (<strong>do</strong> grego στηθοσκόπιο, <strong>de</strong> στήθος, stéthos - peito and σκοπή, skopé - exame), tambémchama<strong>do</strong> <strong>de</strong> fonen<strong>do</strong>scópio, é um instrumento utiliza<strong>do</strong> por diversos profissionais, como médicos e<strong>enfermeiro</strong>s, para amplificar sons corporais.


- 85 -A relação entre médicos e <strong>enfermeiro</strong>s, segun<strong>do</strong> a fala <strong>do</strong>s sujeitos, é na maioria dasvezes conflitante e competitiva. Salvo alguns raros <strong>de</strong>poimentos nos quais se esboçouum relacionamento <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> crescimento mútuo.Alguns momentos e situações facilitam ou colocam condições que favorecem para que arelação seja <strong>de</strong> troca, como é o caso <strong>de</strong> hospital escola ou <strong>de</strong> médicos no primeiro ano<strong>de</strong> residência.“E quan<strong>do</strong> você trabalha em um hospitalescola,é pior ainda. Você tem 30 anos <strong>de</strong>enfermagem, quan<strong>do</strong> você vê alguma coisaque não é legal, você fala, eu não faria issonão. Quan<strong>do</strong> ele passa pro segun<strong>do</strong> ano <strong>de</strong>residência...”O <strong>enfermeiro</strong> também apren<strong>de</strong> com o médico e esta relação <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>transformar-se em uma boa amiza<strong>de</strong> e um bom indica<strong>do</strong>r profissional.“No primeiro ano eu era estagiária, passeipra enfermeira, justamente com o primeiroano <strong>de</strong> residência <strong>de</strong> cinco médicos, eles estãono nor<strong>de</strong>ste, mas nos falamos to<strong>do</strong>s os dias.Eu aprendi com eles e eles apren<strong>de</strong>ramcomigo, foi muito bom”.Após o primeiro ano <strong>de</strong> residência médica, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s a aceitação <strong>de</strong>sugestões ou críticas ou mesmo <strong>de</strong> interferência <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> não é tão bem aceitapelos médicos, geran<strong>do</strong> conflitos até administrativos.


- 86 -“E nós tivemos um caso <strong>de</strong> um médico muitoestrela, tinha um paciente, quase paran<strong>do</strong>, enão era nada, nada. O médico queria entubare não conseguia. Aí eu falei pro auxiliar fazerum <strong>de</strong>stro, que é fazer a glicemia. E <strong>de</strong>u 16,era só dar um soro e glicose, e o pacientemelhorou”.“... passei por cima <strong>do</strong> médico, porque emprimeiro lugar o paciente... e muitas vezes elesnão gostam. O próprio médico não gostou e ochefe <strong>de</strong>le falou que não tinha porque ficarbravo”.No entanto, essa relação ou comportamento <strong>do</strong> médico não se restringe ao tipo <strong>de</strong>competição técnica, <strong>do</strong> conhecimento. Algumas vezes, extrapola os limites da boaeducação.“Se o médico vai fazer uma pequena cirurgia,e as pinças não estão a<strong>de</strong>quadas, ele joga acaixa na sua cara, e você tem que ter pulsoforte”.Outro tipo <strong>de</strong> conflito e <strong>de</strong> crítica <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s aos médicos, diz respeito anegligências e falta <strong>de</strong> compromisso com o exercício legal da profissão.“Que muitas vezes se recusa a dar umainformação pro familiar e fala, eu to sozinho,que continua a ver televisão”.


- 87 -“Tem aquele que não se importa, e não sesente culpa<strong>do</strong> <strong>de</strong> não se importar. Porexemplo, não dar remédio pra <strong>do</strong>r, checaralgo que ele não fez, anotar uma coisa que elenão fez. Isso já são questões éticas, você sabeque existe, mas é difícil <strong>de</strong> você provar”.Situações como essa causam gran<strong>de</strong> indignação aos <strong>enfermeiro</strong>s, pois ultrapassa o fato<strong>de</strong> ele (o médico) não se importar. Po<strong>de</strong> até levar a prejudicar o paciente.Os <strong>enfermeiro</strong>s sempre têm restrições ou queixas com relação aos médicos, seja porquenão aten<strong>de</strong>m os chama<strong>do</strong>s prontamente para aten<strong>de</strong>r um paciente porque estão na suaárea <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>, seja por que não querem atestar o óbito ou porque naprescrição médica sua letra é incompreensível, seja porque fazem “esquema”, ou seja,tem <strong>do</strong>is médicos no plantão, mas apenas um aten<strong>de</strong> e os pacientes ficam aguardan<strong>do</strong> àsvezes por horas.Em situações como a <strong>de</strong>scrita acima, é o <strong>enfermeiro</strong> quem tem a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>informar a fila <strong>de</strong> espera que o médico irá <strong>de</strong>morar ou que o médico saiu para tomar umcafé ou mesmo para dizer que não tem médico para o atendimento.Evi<strong>de</strong>nciamos o papel <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> conflitos, pois esseprofissional está em relação com to<strong>do</strong>s: médicos, pacientes, equipes <strong>de</strong> enfermagem,administração <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, etc.Administrar conflitos também está relaciona<strong>do</strong> às pressões exercidas pelos superiores, ater que suprir material que o <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> não disponibilizou e que é necessário oumesmo no que se refere ao relacionamento com outros profissionais.No geral, o <strong>enfermeiro</strong> é referência <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os ambientes em que se façasaú<strong>de</strong>, pública, ocupacional ou ambulatorial.


- 88 -“Administra conflitos que vem <strong>de</strong> cima pravocê, o que vem <strong>de</strong>baixo pra você. Você ficano meio... Hora falta material que você temque pedir empresta<strong>do</strong>, ou está faltan<strong>do</strong> umrelacionamento entre as pessoas, o pessoalchega, você não po<strong>de</strong> resolver esseproblema?”Desta forma, aos “trancos e barrancos”, diante <strong>de</strong> inúmeras dificulda<strong>de</strong>s, “é o<strong>enfermeiro</strong> que leva o plantão e tem que estar ciente <strong>de</strong> todas as regras e tal”. Eleorganiza, assiste, educa, aten<strong>de</strong>, prioriza...“Aí você como <strong>enfermeiro</strong> você olha a pessoa,e vê que ele é i<strong>do</strong>so, se é criança, você jáencaminha pra outra e verifica a temperatura,então você tem que ver as 3 faixas etárias. Seele é i<strong>do</strong>so, você tem que passar pra frente, acomunida<strong>de</strong> que está esperan<strong>do</strong>, reclama”.Outra espécie <strong>de</strong> conflito administra<strong>do</strong> freqüentemente é a ausência <strong>do</strong> médico e achegada <strong>do</strong> paciente que necessita <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.“Então o gran<strong>de</strong> problema da agressivida<strong>de</strong>da enfermagem é isso, não tem médico. E vocêtem que ser o artista, aten<strong>de</strong>r, procurar saberda <strong>do</strong>ença que ele tem orientar, ou botar emuma ambulância. Você tem que ser artista,”Administrar conflitos, uma <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scritos pelos <strong>enfermeiro</strong>s como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sua ativida<strong>de</strong> é exacerba<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> essa ativida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvida em hospitais públicos,


- 89 -on<strong>de</strong> as carências (<strong>de</strong> pessoal, equipamentos, materiais, espaço, etc.) são bastanteacentuadas.Luvisotto et al. (2010) apontou em estu<strong>do</strong> que as ativida<strong>de</strong>s menos prazerosas para os<strong>enfermeiro</strong>s são rotinas administrativas e burocráticas, justificativas <strong>de</strong> queixas eresolução <strong>de</strong> problemas.Este aspecto <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> merece ser apresenta<strong>do</strong> ediscuti<strong>do</strong>, a fim <strong>de</strong> dar visibilida<strong>de</strong> às condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,administra<strong>do</strong>s pelo po<strong>de</strong>r público, ou seja, mostrar a forma como são trata<strong>do</strong>s osprofissionais que aí atuam e se utilizam <strong>de</strong> recursos públicos.Além disso, outros estu<strong>do</strong>s apontam para uma subutilização <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>, bem comopara uma in<strong>de</strong>finição da categoria, ou seja, <strong>do</strong> que faz o <strong>enfermeiro</strong>, qual a sua função,apesar <strong>de</strong> estarem <strong>de</strong>scritas na Lei n. 7.498/86 (TREVISAN, 1984; ANDRADE,SPINDOLA e SANTOS, 2005).Atualmente são as organizações sociais que gerenciam os <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s públicos e<strong>de</strong>vem enfrentar situações que se configuram como <strong>de</strong>safios segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s.“A partir <strong>do</strong> momento que entregou asorganizações sociais, eu não sou contra elastomarem conta, acho que tem que tomar conta<strong>de</strong> quem precisa, quem que faz esquema, quemnão cumpre horário”O não cumprimento <strong>do</strong>s horários e as faltas são gran<strong>de</strong>s questões nos hospitais públicos.No caso <strong>do</strong>s esquemas, que estão relaciona<strong>do</strong>s aos médicos, são situações on<strong>de</strong> oprofissional não cumpre toda a sua jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, divi<strong>de</strong> a jornada com outroprofissional, muitas vezes se ausentan<strong>do</strong> <strong>do</strong> PS sem que os pacientes tenham qualquertipo <strong>de</strong> atendimento.


- 90 -“Mas efetivamente on<strong>de</strong> eu <strong>trabalho</strong> pra você<strong>de</strong>mitir alguém por comportamentoina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, é muito complica<strong>do</strong>. Mas porfalta, a gente consegue mandar <strong>de</strong> volta”.A ausência <strong>do</strong> médico no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> gera problemas sérios com relação aosusuários que procuram o PS para receber ajuda.“Não tem médico, procura <strong>enfermeiro</strong>, aí vocêtem que dar uma <strong>de</strong> médico, se por como<strong>enfermeiro</strong> que sabe, explicar, se eu nãoconseguir resolver, vou por na ambulância emandar pra algum médico”.As diferenças <strong>de</strong> tratamento entre os profissionais médicos e não médicos são diversas,inclusive nos vencimentos que percebem.“Aí tem a funcionária, que cumpre o horário,recebe o salário baixo, aí tem outro, queganha 3 vezes mais, chega quan<strong>do</strong> quer,aten<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> quer e qualquer mudança <strong>de</strong>gestão, ele sempre ganha mais. Asorganizações sociais empurran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> praeles”.O tratamento dispensa<strong>do</strong> aos médicos nos hospitais ou <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s públicos na fala<strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> sugere que a forma como se administra pessoas no serviço público é agran<strong>de</strong> causa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s tão diferenciadas para condutas no público e no priva<strong>do</strong>.


- 91 -“A médica começou a escrever, colocou noprontuário, mordida <strong>de</strong> cobra, médicosencaminharam pra tal lugar, ela nem viu opaciente,... Aí eu peguei o papel e coloqueiessa <strong>do</strong>utora não acompanhou o caso, só viu opapel.... Aí você olha essa mulher trabalhan<strong>do</strong>em outro complexo hospitalar,..., cumpre ohorário,”Assim, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s regras, normas precisam ser estabelecidas para que semantenha o atendimento da população <strong>de</strong> usuários <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como porexemplo, só permitir a liberação <strong>do</strong> médico após o atendimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os usuários.“Eles não saem <strong>do</strong> consultório enquanto nãoaten<strong>de</strong>r toda aquela população. Arrebenta aenfermagem? Sim, porque dá um volume <strong>de</strong>criança pra ser atendida”Para outros <strong>enfermeiro</strong>s, fazer esquema ou dividir o número <strong>de</strong> pacientes entre osdiversos médicos não se constitui um problema quan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> usuários épequena.“Só que é aquela <strong>de</strong>manda gran<strong>de</strong>, não seresolve. Paciente queren<strong>do</strong> ser atendi<strong>do</strong>. Equeren<strong>do</strong> ou não sobra pra enfermagem essemeio <strong>de</strong> campo, intermediar, ir atrás,procurar”.


- 92 -No entanto, o acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r toda a população não é tão eficaz em ocasiões em que a<strong>de</strong>manda é gran<strong>de</strong> e tem apenas um médico, há <strong>de</strong> se lidar também com o seu mauhumor por ter <strong>de</strong> cumprir o seu contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.“... o fulano está sozinho, ele fica <strong>de</strong> calundu 19se tiver que aten<strong>de</strong>r sozinho.... Aí dividiuhorário. Sem problema, divi<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ter 20pra aten<strong>de</strong>r no horário <strong>de</strong>le está feliz. Agorano dia que ele estiver sozinho, vai reclamar.Conversar com paciente, prescrevermedicamento pra paciente com <strong>do</strong>r. Aí euchamo <strong>de</strong> Calundu porque você vai pediralguma coisa, e ele fala, mas eu estousozinho”.As reclamações sobre as condutas negligentes <strong>do</strong>s médicos existem, segun<strong>do</strong> aenfermagem. No entanto, “quem gerencia normalmente essas reclamações, é ummédico, e eles são altamente paternalistas. A ética <strong>de</strong>le não é uma ética <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é<strong>de</strong> acobertar”.Os <strong>enfermeiro</strong>s lidam <strong>de</strong> uma forma muito sutil com os médicos, dificilmente osafrontan<strong>do</strong> e quan<strong>do</strong> ocorre <strong>de</strong> discordar da conduta médica diz que conversa commédico e se este permanece na mesma conduta, passa para o coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r “comjeitinho”.A orientação dada por profissionais <strong>de</strong> enfermagem a outros que presenciam ouvivenciaram negligência médica ou condutas não éticas por parte <strong>do</strong>s médicos comrelação aos pacientes envolve alguns passos importantes, porque “muitas vezes..., o<strong>enfermeiro</strong>, por exemplo, vê, mas não tem coragem <strong>de</strong> tomar uma atitu<strong>de</strong>, ele temme<strong>do</strong>”. Desta forma é importante seguir alguns procedimentos, tais como:19 Mau humor.


- 93 -“Eu peço que ele faça por escrito, chamo apessoa pra conversar. Então pra blindaraquele profissional... E falo que existe umaqueixa geral na questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhodisso, daquilo outro.... Quero que ele meprove que ele merece um voto <strong>de</strong>confiança. A ameaça <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão - Dá<strong>trabalho</strong>, mas eu tenho recursos pra temandar embora”.Em que pesem as condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, a organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, a ausência <strong>de</strong> umainfra-estrutura no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, uma <strong>de</strong>manda gran<strong>de</strong> e um pequeno número <strong>de</strong>profissionais para aten<strong>de</strong>r, existem outros fatores que merecem ser refleti<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> sepensa na segurança <strong>do</strong> paciente, nos cuida<strong>do</strong>s que <strong>de</strong>vem ser dispensa<strong>do</strong>s a ele.“Você esta no acolhimento, qualificação <strong>de</strong>risco, você chega com um paciente pra serprioriza<strong>do</strong>, ele está num quadro hipertensivo,chega no profissional, ele está com queixas tale tal, e tá apresentan<strong>do</strong> 24 por 16. Ele fala edaí?”Segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, “estamos falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>não compromisso com os profissionais, não só com seu <strong>trabalho</strong>, mas com o próprioexercício legal da profissão. Não estou falan<strong>do</strong> só <strong>de</strong> enfermagem”.2. Sobre os auxiliares e técnicos <strong>de</strong> enfermagemA relação entre os <strong>enfermeiro</strong>s e auxiliares é muito estreita ou próxima, ou seja,trabalham em <strong>de</strong>pendência um <strong>do</strong> outro: o <strong>enfermeiro</strong> fornece ao auxiliar o aparelhonecessário, orienta para verificar a saturação <strong>do</strong> paciente na emergência, ajuda o auxiliar


- 94 -a retirar macas <strong>do</strong> quarto on<strong>de</strong> estas são guardadas, ensina procedimentos tais comocolocar sonda no paciente, etc.No início <strong>do</strong> plantão, o <strong>enfermeiro</strong> responsável pelo PS costuma checar os auxiliares etécnicos <strong>de</strong> enfermagem e outros <strong>enfermeiro</strong>s que também iniciaram o plantão paratrabalhar. Desta forma, tem a gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redistribuir as auxiliares <strong>de</strong>enfermagem e orientá-las sobre as priorida<strong>de</strong>s. Esta orientação e “supervisão” se dãoatravés <strong>de</strong> muita “conversa”, pois algumas auxiliares retrucam com irritação, quanto àorientação dada.Vale ressaltar que o espaço físico ou área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>s é o mesmo<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos técnicos e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem, diferentemente <strong>do</strong> espaço <strong>do</strong>smédicos que é <strong>de</strong> seu uso exclusivo.3. Sobre os vigilantes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> PSOs vigilantes contrata<strong>do</strong>s para os <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s atualmente têm comoresponsabilida<strong>de</strong> a vigilância patrimonial e na percepção <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s sua imagem éfortemente relacionada a bancos em função <strong>do</strong> seu tipo <strong>de</strong> vestimentas (paletó, camisa<strong>de</strong> manga comprida, gravata e calça social).“tinham senso forte <strong>de</strong> vigilante bancário,hoje botaram uns caras interna<strong>do</strong>s (vesti<strong>do</strong>s<strong>de</strong> terno e gravata) Marketing, ou noshopping, e eu sou o único homem quetrabalha a noite, o resto é mulher <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>40 anos. Chegam os brutamontes, eu já to coma ida<strong>de</strong>, por mais que seja forte...”Os trabalha<strong>do</strong>res que faziam a vigilância <strong>do</strong> PS tinham outro perfil e “o grupo queestava antes, colaboravam em tu<strong>do</strong> que podia”. No entanto, em geral os grupos atuaisfalam que “não po<strong>de</strong>m colocar a mão no <strong>do</strong>ente”.


- 95 -Devi<strong>do</strong> ao número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoal e a <strong>de</strong>terminadas situações que exigem certoesforço físico e uso <strong>de</strong> força, os <strong>enfermeiro</strong>s solicitam a colaboração <strong>do</strong>s vigilantes equeixam-se quan<strong>do</strong> estes não o fazem. Vejam abaixo:“Você não po<strong>de</strong> colocar a mão, você vaicolocar luva”.“Os vigilantes só ficam olhan<strong>do</strong>, não ajudam.Poxa, eu não agüento empurrar essa mulherna ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas. Tem uns que já entramcom espírito <strong>de</strong> ajudar. Já entraempurran<strong>do</strong>...”O contrato firma<strong>do</strong> entre o hospital e a empresa terceirizada especifica que a vigilânciaexercida seja apenas no que diz respeito ao patrimônio <strong>do</strong> PS.Um aspecto digno <strong>de</strong> nota, diz respeito à exposição a riscos biológicos “quan<strong>do</strong> se botaa mão no paciente”, e o direito ao percentual <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> ainda que este direitoseja conquista<strong>do</strong> por via judicial, “po<strong>de</strong> botar no pau que você vai ganharinsalubrida<strong>de</strong>”.“To<strong>do</strong>s que lidam com paciente, sejarecepção, não existe proteção contra agentebiológico. A máscara ameniza, mas você estáexposto. A gripe suína, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ferrar, apriorida<strong>de</strong> nos países <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, éimunizar os agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, eles são os quemais correm perigo”.


- 96 -Além das questões já citadas, existe uma diversida<strong>de</strong> na conduta <strong>do</strong>s vigilantes, poisalguns colaboram com os <strong>enfermeiro</strong>s “pon<strong>do</strong> a mão no <strong>do</strong>ente” e outros não. Emfunção <strong>de</strong> suas tarefas ficam circulan<strong>do</strong> e criam, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s, outrosproblemas ao ficar “paqueran<strong>do</strong> as meninas”.Outra forma <strong>de</strong> solicitar a colaboração <strong>do</strong> vigilante é pedin<strong>do</strong>-lhe que este fique ao la<strong>do</strong><strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> em situações <strong>de</strong> conflito, ameaças e tumultos <strong>de</strong> pacientes com relação àenfermagem <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.“Tu<strong>do</strong> bem, você não vai botar a mão, mas vaificar <strong>do</strong> la<strong>do</strong>. Pelo menos respeita”.


- 97 -2. SAÚDEA saú<strong>de</strong> é expressa em termos <strong>de</strong> queixas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (problemas físicos como queixas ediagnósticos precisos) e também como um tipo <strong>de</strong> sofrimento que se reporta àsubjetivida<strong>de</strong> mais propriamente dita, ou seja, da forma como sentem, pensam e agemos trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.Estamos nos referin<strong>do</strong> a um sofrimento que tem como <strong>de</strong>tona<strong>do</strong>r a organização <strong>de</strong>ssaativida<strong>de</strong> como tal, o seu objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, as condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e a forma <strong>de</strong>gestão / administração propician<strong>do</strong> ambientes intensos em violência, violência laboralexpressa através <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong> vergonha, humilhações, e situações <strong>de</strong> assédios,perseguições etc.A. Problemas referi<strong>do</strong>s pelos <strong>enfermeiro</strong>s.Elencamos abaixo os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, queixas e sintomas referi<strong>do</strong>s pelos<strong>enfermeiro</strong>s e apontamos a relação entre o surgimento e/ou agravamento <strong>de</strong>stes e aativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>senvolvida por esses profissionais.Uma enfermeira refere ter lúpus, por isso sente muitas <strong>do</strong>res e sua <strong>do</strong>ença se manifestouem um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> muita ativida<strong>de</strong> no <strong>trabalho</strong>, ritmo intenso, sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>(<strong>do</strong>brar plantões e realizar sozinha o serviço <strong>de</strong> vários profissionais), geran<strong>do</strong> tensão,stress, sofrimento psíquico.“Eu tenho lúpus, Eu tenho muitas <strong>do</strong>res. Anopassa<strong>do</strong> eu tive uma crise <strong>de</strong> muita pressão.Eu tenho uma <strong>do</strong>ença auto-imune, a gentesabe que essa <strong>do</strong>ença <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> stress,sobrecarga,”Outro problema cita<strong>do</strong> pelos <strong>enfermeiro</strong>s é a obesida<strong>de</strong>. Este aspecto já foi referi<strong>do</strong> poroutro profissional quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> tema sobre as refeições e locais parasua realização, quan<strong>do</strong> afirma que <strong>enfermeiro</strong> ou é muito magro ou sua barriga fica emcima da mesa, por não ter horários <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s para alimentação e em função <strong>de</strong> seu ritmo


- 98 -<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> intenso o impedir. Dessa forma, para satisfazer suas necessida<strong>de</strong>s, muitasvezes lança mão <strong>do</strong> artifício <strong>de</strong> lanches ou <strong>de</strong> não se alimentar.“Tem obesida<strong>de</strong>. Índice <strong>de</strong> gente que precisaper<strong>de</strong>r peso é gran<strong>de</strong> e tem pelo menos 10pessoas que precisam per<strong>de</strong>r peso”.O problema <strong>de</strong> coluna é muito referi<strong>do</strong> e cita<strong>do</strong> como risco ergonômico. Esta queixaestá relacionada com os equipamentos utiliza<strong>do</strong>s como as camas sem manutenção, porexemplo:“... então vão <strong>do</strong>is, com aquelas camasmetálicas enormes, rodas com rodas, então agente tem muito profissional com problema <strong>de</strong>colunas”.Além <strong>do</strong> ter <strong>de</strong> empurrar camas gran<strong>de</strong>s e pesadas, ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> porte, há também uma relação apontada com a jornada extensa <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, otipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e ausência <strong>de</strong> pessoal na equipe para dividir as tarefas.“...se ela ficar lá 12 horas e cuidar daspessoas, ela vai ver coisas, falta funcionário,sobrecarrega coluna, mão, é stress funcional”.“é risco ergonômico que é maior. Camas queas rodas não rodam direito”.Pinho apud Alexandre (2001) aponta vários fatores na ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> que sãoresponsáveis pela <strong>do</strong>r na coluna, <strong>do</strong>r nas costas: a postura em pé a<strong>do</strong>tada em cerca <strong>de</strong>


- 99 -80% <strong>de</strong> sua jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>; 26% das ativida<strong>de</strong>s realizadas exigiam curvatura <strong>do</strong>corpo. Enfim, os problemas estão relaciona<strong>do</strong>s aos <strong>trabalho</strong>s estáticos ou repetitivos, àstarefas que exigem rotação e flexão frequentes da coluna e ao número <strong>de</strong> vezes que umamesma postura é a<strong>do</strong>tada em curto espaço <strong>de</strong> tempo.Além <strong>de</strong>stes aspectos, este mesmo autor ressalta o problema <strong>do</strong>s equipamentosina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e também aos baixos salários, levan<strong>do</strong> esses trabalha<strong>do</strong>res a exercer umadupla jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, geran<strong>do</strong> um esforço excessivo provocan<strong>do</strong> ou agravan<strong>do</strong> aslesões da coluna.A <strong>do</strong>r no ouvi<strong>do</strong>, também, é uma queixa referida e aponta uma relação <strong>de</strong>ssa <strong>do</strong>r com ouso freqüente <strong>do</strong> equipamento utiliza<strong>do</strong> no procedimento, o estetoscópio tradicional.“Eu <strong>trabalho</strong> junto com um pessoal, no <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong> municipal, e o pessoal, <strong>de</strong>pois quecomeçaram a usar o aparelho digital, ninguémmais reclamou <strong>de</strong> <strong>do</strong>r no ouvi<strong>do</strong>”.A jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> 12 horas associada a outros fatores presente na ativida<strong>de</strong>, talcomo a intensa movimentação (andar em marcha acelerada) constante, levantar peso(corpo <strong>do</strong> paciente) além <strong>do</strong>s aspectos emocionais/subjetivos levam os <strong>enfermeiro</strong>s asair <strong>do</strong> plantão com muitas <strong>do</strong>res no corpo.“Quem conseguir fazer ginástica <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> umplantão <strong>de</strong> 12 horas, esse cara é um atleta.Quan<strong>do</strong> eu digo que um leito <strong>de</strong> paciente temque ter 3 lençóis, junto 4 auxiliares, eu puxoum lençol, troco <strong>de</strong> cama rapidinho,”


- 100 -Várias são as expressões <strong>de</strong> sofrimento e a partir <strong>de</strong>sse parágrafo enfocaremos asqueixas que levam ao sofrimento psíquico ou mental aponta<strong>do</strong>s pelos <strong>enfermeiro</strong>s esua relação com diversos fatores, tais como a ausência <strong>de</strong> materiais e condições <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>, a <strong>de</strong>sorganização da equipe e <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, a falta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s dispensadapela equipe aos pacientes.“Quan<strong>do</strong> eu comecei a trabalhar nesse <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong>, achei que não ia me adaptar. Nosprimeiros meses, eu fiquei a<strong>do</strong>ecida,emocionalmente. Eu achei que não fossecontinuar”A expressão <strong>do</strong> sofrimento <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> através da relação com o trabalhar em <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong>, em um tipo <strong>de</strong> estabelecimento em que as pessoas não se importavam com asoutras. A enfermeira expõe questões éticas sérias <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>,mas também <strong>de</strong> seu esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental.“Eu ficava cansada, chegava em casa exausta,entristecida e me perguntan<strong>do</strong> como que omun<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser assim tão cruel com outro serhumano. Alguém que vai ser interna<strong>do</strong> em umhospital e se sente <strong>de</strong>svali<strong>do</strong> <strong>de</strong> qualquerdireito seu, <strong>de</strong> comer, que muitas vezes asrefeições não eram dadas”.A enfermeira, neste caso, consegue se colocar na situação <strong>do</strong> outro, retoman<strong>do</strong> umasituação <strong>de</strong> internação pessoal.“Sofri um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> carro, no mesmo diarecebi alta. No outro dia fiquei internada em


- 101 -outro hospital por uma semana. Então eu pedipra enfermeira pra me aspirar. Ninguém measpirou. Eu tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong> engolir, tive umaci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> face. Eu não sabia o que tinha naminha boca. E eu pedi, me aspira, ninguémquis”.Outras expressões <strong>do</strong> sofrimento mental se mostram através <strong>de</strong> diagnósticos precisoscomo é o caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão cita<strong>do</strong> na fala abaixo, estabelecen<strong>do</strong> uma relação com o<strong>trabalho</strong> noturno.“É mais no plantão noturno. Nós temos muitaslicenças prolongadas. Alguns dá até praimaginar, tem um índice razoável <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão,”Uma investigação apontou o <strong>trabalho</strong> noturno como fator <strong>de</strong> risco para o<strong>de</strong>senvolvimento da <strong>de</strong>pressão maior. Enfermeiras intensivistas com <strong>de</strong>pressão nãoapresentavam um <strong>de</strong>sempenho a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> no <strong>trabalho</strong>, afetan<strong>do</strong> a assistência ao enfermoe o ambiente <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> (MANETTI e MARZIALE apud RUGIERO, 2007).“Nós tivemos uma que foi dada como<strong>de</strong>pressão, ela ficou mais <strong>de</strong> 4 anos afastada.Está retornan<strong>do</strong> agora,”Quan<strong>do</strong> investigamos sobre as causas <strong>de</strong>sse sofrimento, encontramos fatoresimportantes, segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s: pacientes que não recebiam o atendimento às suasnecessida<strong>de</strong>s; a carência <strong>de</strong> medicação e outros materiais indispensáveis, as


- 102 -necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exames e <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s eram postergadas e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato dafamília com o médico para obter informações sobre o seu <strong>do</strong>ente.Observamos que esse sofrimento surgia sempre em situações características <strong>de</strong>ausências, faltas, impedimentos ou impossibilida<strong>de</strong>s. Situações como as queespecificamos a seguir:“Médico que não se importa em prescrever umremédio pra <strong>do</strong>r, e você ter que sairprocuran<strong>do</strong> alguém pra prescrever umremédio pra <strong>do</strong>r. Se eu sofri um aci<strong>de</strong>nte, euvou sentir <strong>do</strong>r. Então tem que ter umaprescrição pra <strong>do</strong>r. Pelo menos senecessário,”O outro aspecto está relaciona<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong> materiais indispensáveis para o<strong>de</strong>senvolvimento da tarefa, qual seja,“... está faltan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sorofisiológico, aos antibióticos pré-dispensa. Eisso causa um <strong>de</strong>sgaste muito gran<strong>de</strong>. E to<strong>do</strong>ssentem, reclamam mais...”Os <strong>enfermeiro</strong>s nos trazem relatos contun<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>do</strong>r e indignação por nãoconfirmarem em to<strong>do</strong>s os colegas o compromisso com o cuidar, com a manutenção davida e <strong>do</strong> respeito ao ser humano.


- 103 -“... Não faltan<strong>do</strong> meu salário, tu<strong>do</strong> bem. Entãoé essa mentalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sem compromisso”.“Tem gente boa, ocupada, que se importa. Etem pessoas que não se importam”.Mais adiante, seu discurso apresenta outra conotação. Aponta que a mesma pessoa daprimeira fala, é excelente profissional e <strong>de</strong>dicada, levan<strong>do</strong>-a a pensar que este<strong>de</strong>scuidar-se ou não importar-se se constitui em um mecanismo <strong>de</strong> proteção, o quepo<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> uma estratégia coletiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.“Ela é super simpática, carismática. Elatrabalha em um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> aon<strong>de</strong> só vãopessoas da rua. E ela se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra pra mantereles, pra cuidar”.A violência encontrada nos <strong>pronto</strong>s <strong>socorro</strong>s chega ao ponto <strong>de</strong> levar permitir quepessoas vão a óbito, por “não terem ti<strong>do</strong> uma chance”, conforme fala o relato <strong>do</strong><strong>enfermeiro</strong>.“Não era paciente que <strong>de</strong>via pular <strong>de</strong> galhoem galho. Mesmo com 7 por 5, ela man<strong>do</strong>u apaciente ir pra uma sala <strong>de</strong> medicação on<strong>de</strong>tem pacientes que po<strong>de</strong>m esperar. Ela nãopodia esperar. E aí tentou obter um acessovenoso, que não conseguiram. No fim, <strong>de</strong>pois,na própria sala <strong>de</strong> medicação, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40minutos, ela parou. Parou <strong>de</strong> respirar, e elamorreu”.


- 104 -“Parar” aqui significa parada cardíaca. A parada se <strong>de</strong>u em função da pressão arterialmuito baixa e <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> esforço feito para locomover-se e seguir a orientação dadaprimeiro pelo médico e <strong>de</strong>pois pela auxiliar que <strong>de</strong>veria coletar exames.A falta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e a negligência ressaltam a <strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma profissional que se preocupacom o outro e que se ressente da conduta a<strong>do</strong>tada pelos colegas, pela falta <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong> dada ao paciente, pela sucessão <strong>de</strong> erros, pela conduta que po<strong>de</strong>ria seroutra e foi interrompida, ou melhor, violência <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, levan<strong>do</strong> a pacienteao óbito.Os <strong>enfermeiro</strong>s relatam em seus discursos sobre uma forma <strong>de</strong> “violência dainstituição”, sen<strong>do</strong> que esta violência se traduz na carência <strong>de</strong> recursos materiais, <strong>de</strong>pessoal, na gestão que persegue, humilha, assedia e exclui para exercer o po<strong>de</strong>r.“... que a gente não tem agulha 40 por 12, éinviável você aspirar um bezetacil, com umaagulha 25 por 8, mas é o que está acontecen<strong>do</strong>por meses”.E para <strong>de</strong>senvolver suas ativida<strong>de</strong>s e aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da ocupação e <strong>do</strong> paciente,“a gente vê constantemente auxiliares trazen<strong>do</strong> caixinha <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eles trabalham, entãotem plantão que já tem sempre, não é porque a instituição fornece, mas eles pratrabalhar um pouquinho melhor, não acumular paciente na porta, porque você levamuito mais tempo tentan<strong>do</strong> diluir medicação”.Outras formas <strong>de</strong> violência praticadas referem-se à carência <strong>de</strong> recursos humanos e auma <strong>de</strong>manda gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários <strong>do</strong> sistema, levan<strong>do</strong> os profissionais a um <strong>de</strong>sgasteexorbitante.“Chega a ter 30 leitos com 4 a 2 auxiliarescom necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência complexa, e


- 105 -você não ter essas mínimas condições praprestar essa assistência”.“Trabalhei em uma enfermaria <strong>de</strong> clínicamédica, com 26 pacientes, 13-14 acamadaon<strong>de</strong> tinha uma única auxiliar e a gente tirava<strong>de</strong> outro andar pra ajudar a trocar, e algunscasos via alguém pra trocar e voltava e aoutra menina ia fazer só o que pu<strong>de</strong>sse”.Para polemizar ainda um pouco mais a questão da saú<strong>de</strong> mental ou <strong>do</strong> sofrimentopsíquico, <strong>de</strong>vemos lembrar que esse não se preocupar com o outro, a falta <strong>de</strong>compromisso <strong>do</strong> profissional com o paciente po<strong>de</strong> ser uma expressão <strong>de</strong> embotamento,distanciamento característicos da síndrome <strong>de</strong> burnout. Neste senti<strong>do</strong> apontamos anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> outros estu<strong>do</strong>s que aprofun<strong>de</strong>m esta questão.Ingestão <strong>de</strong> bebidas alcoólicas também se constitui um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> entre<strong>enfermeiro</strong>s e po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar como uma expressão patológica <strong>de</strong> um sofrimentopsíquico.O consumo <strong>de</strong> bebida alcoólica se efetua fora <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, antes <strong>do</strong> inícioda jornada. Po<strong>de</strong>ríamos pensar numa forma <strong>de</strong> enfrentamento <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvida.“Tenho caso <strong>de</strong> bebidas alcoólicas. Até jápassei pra chefia. Retornan<strong>do</strong> <strong>de</strong> férias, temduas pessoas que vou ter que abordar, duassenhoras”.


- 106 -“Elas não bebem durante, mas osprofissionais me disseram que elas vêmpossivelmente alcoolizadas”.Além disso, ocorrem as faltas em função da ingestão alcoólica, levan<strong>do</strong> o <strong>enfermeiro</strong>muitas vezes a um absenteísmo importante.“Tem uma que mais falta <strong>do</strong> que vem. Entãoeu acho que ela bebe, <strong>do</strong>rme e não vemtrabalhar. E ela não pega licença médica, oque me faz ver que ela realmente bebe, ela nãotraz atesta<strong>do</strong>, ela fala que é <strong>do</strong>ente e tal. Elajá está atingin<strong>do</strong> 60 faltas no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> umano. Com esse número, po<strong>de</strong> ser atédispensada”.A <strong>de</strong>pendência química por álcool também leva ao afastamento temporário <strong>de</strong>profissionais <strong>de</strong> uma forma aceita pela legislação trabalhista.Este item <strong>de</strong>ve ser aprofunda<strong>do</strong> em outros estu<strong>do</strong>s. A literatura específica aponta a<strong>de</strong>pendência por uso <strong>de</strong> psicotrópicos.“Tem outra que está <strong>de</strong> licença médica, masque a responsável me falou que ela estava comalto teor alcoólico”.É sabi<strong>do</strong> que o tabagismo é um <strong>do</strong>s problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública que mais preocupa osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. No entanto, neste caso <strong>de</strong>vemos estabelecer a relação entre ofumar como uma forma <strong>de</strong> canalizar tensões (alívio <strong>do</strong>s ritmos e sobrecarga), bem comouma maneira <strong>de</strong> dar uma pausa no ritmo frenético <strong>de</strong> um <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>.


- 107 -“Tem muita gente que fuma... Há muitasausências por causa <strong>do</strong> fumo, porque nãopo<strong>de</strong> fumar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>”.Esta <strong>de</strong>pendência leva a outros problemas <strong>de</strong> outros profissionais que não fumam, ouseja, os fumantes passivos, pois muitas vezes, o banheiro é o local usa<strong>do</strong>.“Teve uma funcionaria que veio falar pramim, eu fui no pneumo, e meu pulmão estáigual a <strong>de</strong> um fumante porque as pessoas quefumam no banheiro não respeitam”.“Dentre os riscos psicossociais, está a sobrecarga advinda <strong>do</strong> contato com o sofrimento<strong>de</strong> pacientes, com a <strong>do</strong>r e a morte, o <strong>trabalho</strong> noturno... realização <strong>de</strong> tarefas múltiplas,fragmentadas e repetitivas, o que po<strong>de</strong> levar à <strong>de</strong>pressão, insônia, suicídio, tabagismo,consumo alcoólico e drogas e fadiga mental” (MARZIALE e RODRIGUES apudESTRYN-BEHAR M., 1996)Os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que ocorrem no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> segun<strong>do</strong> os sujeitos dapesquisa em gran<strong>de</strong> parte guardam relação com a presença <strong>de</strong> equipamentos sucatea<strong>do</strong>sque são ferramentas indispensáveis <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>:“Eu tentei empurrar uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas, sóque eu não fiz a notificação, e ela estava comproblema, aí usei o pé, e tive uma lesão naspartes menores”.Outro aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> referi<strong>do</strong> “foi que o rapaz da lavan<strong>de</strong>ira abriu o negócio <strong>do</strong>container e bateu em minha cabeça”.


- 108 -Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> com torção <strong>do</strong> pé são muito freqüentes segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s,o que foi associa<strong>do</strong> ao ritmo intenso <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e possivelmente ao <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>trabalhar o dia inteiro na posição em pé e em movimento.“Então temos muitas pessoas que torcem opé”.No entanto, as queixas mais comuns <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> foram as agressões que os<strong>enfermeiro</strong>s sofrem <strong>de</strong> por parte pacientes <strong>de</strong> psiquiátricos.“O que a gente mais tem é <strong>de</strong> pacientepsiquiátrico, que mor<strong>de</strong>, chuta. É <strong>do</strong> quadro”,“... é a questão <strong>de</strong> agressão <strong>de</strong> profissionaispor paciente psiquiátricos. Tem si<strong>do</strong> comum”.Os trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sse ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> queixam-se da ausência <strong>de</strong> uma legislaçãoque contemple este tipo <strong>de</strong> risco, bem como a exposição à luz radioativa.Outros tipos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> também freqüentes são aqueles com materialperfuro cortante e são relaciona<strong>do</strong>s à sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, ao número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong>pessoal, pois induz o trabalha<strong>do</strong>r a realizar sozinho um eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong>procedimentos.“Um atendimento médico gera 4procedimentos <strong>de</strong> enfermagem. Antes <strong>do</strong>atendimento médico, gera 2 procedimentos <strong>de</strong>


- 109 -enfermagem, nome e <strong>do</strong>ença. Verificou p.a,temperatura são 2 procedimentos. Se opaciente tem histórico <strong>de</strong> diabetes, é mais umprocedimento. Ele passou no médico, aí omédico orienta, voltaren, bezetacil, são 2procedimentos, você tem que preparar omaterial, encapa seringa, agulha, <strong>de</strong>sencapaos <strong>do</strong>is, monta a agulha, hidrata a medicaçãoe aspira, aí troca a agulha porque ela não éprópria”.Marziale e Rodrigues (2002) apontam que o principal fator associa<strong>do</strong> a ocorrência <strong>do</strong>aci<strong>de</strong>nte é o reencape <strong>de</strong> agulhas, o qual infringe as precauções padrão.“Trabalhar mais <strong>de</strong> 12 horas é inviável. Po<strong>de</strong>acontecer aci<strong>de</strong>nte. Há poucos dias, uma dasauxiliares mais eficientes, tem menos <strong>de</strong> 3plantões, teve aci<strong>de</strong>nte com materialcontamina<strong>do</strong> <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>r <strong>de</strong> rua. 80% <strong>de</strong>lessão HIV positivo...”Os <strong>enfermeiro</strong>s, ainda segun<strong>do</strong> os autores acima cita<strong>do</strong>s, atribuem como causas <strong>do</strong>saci<strong>de</strong>ntes, a sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> além <strong>de</strong> outros fatores como: ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong>sdispositivos utiliza<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>scarte; situações <strong>de</strong> urgência; falta <strong>de</strong> capacitação <strong>do</strong>sprofissionais, fadiga, má qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s materiais, <strong>de</strong>sconhecimento sobre o risco <strong>de</strong>infecção.B. Como lidam com os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.De uma forma geral, os entrevista<strong>do</strong>s percebem a relação entre os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> eo tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida por eles. No entanto, a busca por soluções para as


- 110 -queixas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentadas são dissociadas da instituição, ou seja, a instituição nãotem programa <strong>de</strong> tratamento, não se ocupa <strong>do</strong> assunto e para qualquer passo no senti<strong>do</strong>da cura, o fazem sem apoio administrativo.Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s sobre a política da instituição, referem que esta não tem algumprograma <strong>de</strong> tratamento, não se ocupam <strong>do</strong> assunto.“Eu acho até interessante, quan<strong>do</strong> você levaesse problema, é como se o problema fossemeu, mas não é meu, é da instituição. Umapessoa <strong>de</strong>ssa não po<strong>de</strong> trabalhar assim. Nomomento, elas estavam afastadas. Quan<strong>do</strong> euvoltar, eu vou ter que chamar pra conversar.Ou você se cuida, eu não posso permitir quevocê trabalhe, porque eu não posso <strong>de</strong>ixaralguém alcoolizada cuidar <strong>de</strong> um paciente”.Ainda assim, mesmo expressan<strong>do</strong> indignação pela postura da administração <strong>do</strong> <strong>pronto</strong><strong>socorro</strong>, expressa mais uma vez que a ênfase é sobre a questão da produção <strong>de</strong> bonscuida<strong>do</strong>s por parte <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r. A preocupação é com o usuário <strong>do</strong> serviço.Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s sobre a notificação <strong>do</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, os <strong>enfermeiro</strong>safirmam que “os funcionários não fazem CAT por achar que não é importante. Ésubnotifica<strong>do</strong>”.As causas da subnotificação são atribuídas à falta <strong>de</strong> importância dada às pequenaslesões, como picada <strong>de</strong> agulha e o <strong>de</strong>sconhecer a importância da emissão <strong>do</strong> CAT(MARZIALE e RODRIGUES, 2002).Enfim, quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a regra básica para a forma <strong>de</strong> lidar com os problemassurgi<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, em geral é individual, particular e dissociada daorganização e das condições <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, bem como sem interferências da


- 111 -administração <strong>do</strong> hospital no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> verificar o que nesse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>levar ao sofrimento.Em geral, existe uma procura por tratamentos médicos e até intervenções cirúrgicascomo se po<strong>de</strong> observar nas falas abaixo:“Fez cirurgia <strong>de</strong> varizes”.“Eu já tirei as minhas duas safenas”.Outra forma <strong>de</strong> se cuidar é “fazen<strong>do</strong> exercício, tomo meus florais”. Mas, em momentoalgum cita a questão da responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> hospital. A estratégia para se cuidar éindividual, pessoal, particular.Encontramos uma representação <strong>de</strong> que o problema é pessoal, individual e por isso <strong>de</strong>veser assim trata<strong>do</strong>, mesmo no que se refere à elaboração <strong>de</strong> uma programação para otratamento.“Tem <strong>enfermeiro</strong>s que se queixam, mas quenão se cuidam. Eu já tirei as minhas duassafenas, fiz minhas cirurgias, que eu procurei,as duas eu programei próximas as minhasférias”.De qualquer maneira, o assunto não é associa<strong>do</strong> ao <strong>trabalho</strong>, ao tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Aprogramação para o tratamento feita para ser realizada no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> férias, <strong>de</strong>monstraisso.Contraditoriamente, nem to<strong>do</strong>s os <strong>enfermeiro</strong>s se cuidam ainda que se associe ou não aqueixa como sen<strong>do</strong> originada e /ou agravada a partir <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong>.


- 112 -Diante <strong>de</strong> tais constatações, buscamos compreen<strong>de</strong>r como se movem nesse emaranha<strong>do</strong><strong>de</strong> impossibilida<strong>de</strong>s e ainda assim, matem a sua saú<strong>de</strong>. Observamos em suas respostasque as condutas no senti<strong>do</strong> da sua cura se fundam em sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios,necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> conflitos e das ansieda<strong>de</strong>s.Dessa forma, encontramos condutas fundadas nos sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio e superação,ainda que encaradas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista individual, pessoal e não coletivo.“... pra mim passou a ser um <strong>de</strong>safio. Um<strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> totalmente <strong>de</strong>sorganiza<strong>do</strong>. E aspessoas ten<strong>do</strong> que trabalhar em pé nascondições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, processos <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>totalmente <strong>de</strong>sorganiza<strong>do</strong>s, exaustivos, e uma<strong>de</strong>manda muito gran<strong>de</strong>”.A superação <strong>do</strong> conflito, <strong>do</strong>s impasses, da angústia se fez através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoda própria ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, fazen<strong>do</strong>, refletin<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong>, organizan<strong>do</strong>.“... não consigo lembrar exatamente o que eufiz. Eu sei que eu fiquei, e falei, vou superar.Eu vou fazer o meu melhor para que a gentepossa fazer um <strong>trabalho</strong> melhor. Que a gentepossa ver to<strong>do</strong>s os pacientes. Aí eu comecei a<strong>de</strong>senvolver instrumentos pra facilitar o<strong>trabalho</strong>...”.Por outro la<strong>do</strong>, constatamos um cuida<strong>do</strong> com a saú<strong>de</strong> a partir ou ten<strong>do</strong> como referênciaa situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> com todas as suas características, principalmente aquele danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentar-se quase que durante to<strong>do</strong> o plantão.


- 113 -É o caso <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> que refere ter lúpus. Como já foi <strong>de</strong>scrito, o <strong>enfermeiro</strong> associao surgimento da <strong>do</strong>ença à gran<strong>de</strong> pressão, stress e sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.Ele fez adaptações ten<strong>do</strong> como referência a sua jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, os dias <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>e os dias <strong>de</strong> folga para ajustarem-se às necessida<strong>de</strong>s das prescrições <strong>de</strong> medicamentos.“... eu tomo na véspera, no dia que eu chego<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Aí eu chego, sei que já estou como corpo quebra<strong>do</strong>, eu tomo. Então meu dia <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> é to<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> já no dia anterior”.“Eu costumo falar que minha vida é emfunção <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Um dia eu preparo, nooutro eu estou bem... Então, nunca eu preciseime retirar <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, ou por <strong>do</strong>r...”Em alguns momentos, os <strong>enfermeiro</strong>s têm uma noção exata da sua sobrecarga <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>, especialmente quan<strong>do</strong> têm a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> afastamento daativida<strong>de</strong> como, por exemplo, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gozo <strong>de</strong> férias.“Eu preciso me cuidar, eu estou muito tensa,muito <strong>trabalho</strong>,... Porque eu avaliei esseperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> férias e eu me perguntei como euagüentei tanto perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Isso queeu estou pensan<strong>do</strong>”.Na busca <strong>de</strong> soluções para melhorar as suas condições e organização <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, paralidar com o seu sofrimento, em algum momento, a prática sai <strong>do</strong> individual e para serrealizada coletivamente. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar, <strong>de</strong> organizar cria corpo e outros


- 114 -profissionais a<strong>de</strong>rem à iniciativa e transformam o ambiente, a organização e até ascondições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, mesmo que o custo financeiro seja <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s.“... junto com alguns colegas nós fomosfazen<strong>do</strong> instrumentos pra melhorar a prática<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Então isso me <strong>de</strong>u sensação <strong>de</strong>superação”.Estabelecen<strong>do</strong> vínculos com os médicos e a equipe, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> habilida<strong>de</strong>s pessoaisem favor <strong>do</strong> paciente, consegue impor seu <strong>trabalho</strong> e mostrar a sua importância.“Com o tempo você cria habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chegare apresentar as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> paciente oumesmo <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> uma forma que sejaacolhida, ou cria vínculos <strong>de</strong> forma que ele vêque o seu <strong>trabalho</strong> exige respeito”.E na outra ponta, segun<strong>do</strong> eles próprios, nem to<strong>do</strong>s os <strong>enfermeiro</strong>s se cuidam. A saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> fica relegada a planos inimagináveis, e nafinalização <strong>de</strong>sse processo po<strong>de</strong> ocorrer que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses serviços presta<strong>do</strong>s sejarebaixada e o usuário prejudica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> busca <strong>socorro</strong>.


- 115 -3. PERSEGUIÇÃO E EXCLUSÃO – O ASSÉDIO MORALEstamos diante <strong>de</strong> uma das formas <strong>de</strong> violência muito frequente nos ambientes <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> atualmente: o assédio moral que tem si<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> por diversos autores eestudiosos como uma forma <strong>de</strong> violência ocupacional (CONTRERA-MORENO, 2004;CAMPOS e PIERANTONI , 2010; CEZAR e MARZIALE - 2006).Segun<strong>do</strong> a Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (2002) “a violência é o uso intencional daforça física ou <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, real ou por ameaça, contra a própria pessoa, contra outrapessoa, ou contra um grupo ou comunida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> resultar, ou tem alta probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> resultar em morte, lesão, dano psicológico, alterações <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ou <strong>de</strong>privação”.I<strong>de</strong>ntificamos nesse estu<strong>do</strong> algumas características <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> gestão que primam porenaltecer o po<strong>de</strong>r hierárquico em suas piores manifestações, favorecen<strong>do</strong> formas <strong>de</strong>violência como a <strong>de</strong>scrita a seguir – assédio moral.Os <strong>enfermeiro</strong>s referem perseguições e exclusões sofridas e isso se aplica entre ospróprios <strong>enfermeiro</strong>s, mas também <strong>de</strong> médicos para <strong>enfermeiro</strong>s e <strong>de</strong>stes para auxiliarese técnicos <strong>de</strong> enfermagem.“Eu acho que existe <strong>de</strong> <strong>enfermeiro</strong> comauxiliar, já vi. De médico pra <strong>enfermeiro</strong> e ocontrário. Uma equipe, em focar em umapessoa. Da equipe contra o <strong>enfermeiro</strong>.Porque a gente só lembra, mas existe. Nemsempre o po<strong>de</strong>r é aquele legalmenteconstituí<strong>do</strong>”.Segun<strong>do</strong> eles, as li<strong>de</strong>ranças nem sempre são exercidas da maneira mais a<strong>de</strong>quada.Po<strong>de</strong>m se manifestar sentimentos vivencia<strong>do</strong>s no passa<strong>do</strong>, sentimentos <strong>de</strong> vingança,levan<strong>do</strong> os companheiros a situações vexatórias, humilhantes. Afirmam que


- 116 -“Você, enquanto <strong>enfermeiro</strong>, você é multiuso,tipo Veja, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tem que vertrabalhan<strong>do</strong>... Quer que façam o <strong>enfermeiro</strong>cego, da classe política, mostrar umapropaganda que no fun<strong>do</strong> é feita na base <strong>do</strong>caixa, tá sen<strong>do</strong> feito com as organizaçõessociais,”Alguns instrumentos são mais utiliza<strong>do</strong>s nessa forma <strong>de</strong> gestão, tal como advertênciassem motivo, ameaças, humilhações constantes.“... criar aquela coisa <strong>de</strong> me<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> eraadvertência. Se a gente olhava pro la<strong>do</strong> direitoe elas querem que olha pro esquer<strong>do</strong>, elespenalizavam. Aí <strong>de</strong> repente, eu percebi que eujá estava angustiada, pressionan<strong>do</strong> o pessoalpra cumprir exigência até injusta. Isso já eraadministração”.A localização <strong>do</strong> serviço influencia diretamente na intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> gestãobaseada em conceitos políticos on<strong>de</strong> tem que se fazer funcionar e cumprir aos olhos dapopulação, o que foi divulga<strong>do</strong> pelos canais <strong>de</strong> comunicação, a <strong>de</strong>speito <strong>do</strong> sofrimento<strong>de</strong> qualquer profissional.“... estamos no mesmo prédio que asupervisão técnica da prefeitura. Então jácomeça por ali, é um palco político, ali é on<strong>de</strong>3 vezes o embaixa<strong>do</strong>r da Inglaterra <strong>de</strong>sfilou.Exemplo simples, na TV saiu falan<strong>do</strong> que talhospital tem tantos médicos, atendimento, e foifala<strong>do</strong> pro público em geral, ali cada


- 117 -atendimento não vai passar <strong>de</strong> 15 minutos <strong>de</strong>espera”.Seguin<strong>do</strong> este mo<strong>de</strong>lo, muitos profissionais compromissa<strong>do</strong>s com a população foramsacrifica<strong>do</strong>s e lesa<strong>do</strong>s em sua saú<strong>de</strong> psíquica e física, e com uma sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>intensa como mostra o exemplo abaixo.“... eu fui ameaçada porque, a ginecologistavinha pra mim, 6 e meia da tar<strong>de</strong>,<strong>de</strong>sesperada, grávida, porque não tinhapara<strong>do</strong> mal pra almoçar em 12, gente,puseram na minha porta, 80ª ficha, ainda tem20, eu só tenho condições <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r os casosgraves”Uma vez não sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os usuários a <strong>de</strong>speito da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>profissionais disponíveis para tal fim, exigin<strong>do</strong> efetivamente uma sobrecarga <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>, formas <strong>de</strong> controle e punição eram exercidas pela administração, como porexemplo, advertências.“Eu sei que eu acabei não assinan<strong>do</strong>, porqueviu que era <strong>de</strong>mais, mas acabou fazen<strong>do</strong>várias vezes esse tipo <strong>de</strong> coisa, <strong>de</strong> ficarassinan<strong>do</strong> advertências absurdas”.A exposição <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s em público, o público usuário <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong>scolegas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, levan<strong>do</strong> a sofrimentos imensos, tais como o sentimento <strong>de</strong>humilhação, perseguição e angústia.


- 118 -“... e ela veio me chamar no meio <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.E ali começou uma péssima discussão. E euestava péssima, 4 horas da tar<strong>de</strong> e eu nãotinha i<strong>do</strong> almoçar”.“... me levou praquele lugar on<strong>de</strong> tava to<strong>do</strong> opublico passan<strong>do</strong>, pro cara me pisotear. Dalipra frente, ela nunca mais fez isso. Mas issoera uma constante. E eu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o iníciosofren<strong>do</strong> disso,”Apesar <strong>do</strong> sofrimento, humilhação o <strong>enfermeiro</strong> tentava superar a situação através <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>, aumentan<strong>do</strong> a sua carga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, aumentan<strong>do</strong> responsabilida<strong>de</strong>s,<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> tarefas que não lhe cabiam fazer como uma expressão <strong>de</strong> me<strong>do</strong> <strong>de</strong> semostrar incompetente e também para no seu entendimento <strong>de</strong> não propiciar motivospara ser mais humilhada e perseguida.“Num certo dia eu falei, vamos organizar ascoisas guardadas e ter espaço. No diaseguinte, pra mostrar o serviço, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ialevar advertência, porque estava monta<strong>do</strong> embloco, e tava fazen<strong>do</strong> por etapa, e tinha quearrumar por data”.As queixas que vinham da chefia eram pequenas segun<strong>do</strong> os <strong>enfermeiro</strong>s. Nãorepresentavam uma preocupação com o serviço ou com a sua qualida<strong>de</strong>, tampouco comos profissionais envolvi<strong>do</strong>s nele.


- 119 -“Eles chegavam humilhan<strong>do</strong>... Às vezes ascoisas que elas cobravam não tinha nada aver, isso não foi guarda<strong>do</strong> ali, quero que ficanesse armário, não nesse, essas coisaspicuinhas”.Submeti<strong>do</strong>s a essa pressão e cobrança constantes, algumas vezes chegavam a agir damesma maneira com os auxiliares <strong>de</strong> enfermagem ou técnicos.“E eu estava tão presa naquela preocupaçãoque fossem cumpri<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os rituais, que euestava neurotizan<strong>do</strong> os auxiliares e eu tinhaque cobrar <strong>de</strong>les, e se não obe<strong>de</strong>cessem, eurespondia com advertência. Mas foi por muitotempo”.“E a cada meia hora, ela voltava toda hora,por que esse corre<strong>do</strong>r está cheio? Os meninosestão muito lentos, se você não limpar issoaqui, vai levar advertência. E aí, você ficavaigual louco”.O profissional diante <strong>de</strong> tamanha pressão, não conseguia se <strong>de</strong>svencilhar da situação ecalava, apenas obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> às or<strong>de</strong>ns passadas e incorporan<strong>do</strong>, absorven<strong>do</strong> sentimentos<strong>de</strong> incompetência, perseguição, humilhação...“E eu sei que estava naquela pressão e nãoconseguia respon<strong>de</strong>r nada. Gente, eu estavacom 2 funcionários, existem as priorida<strong>de</strong>s,emergências, pressões, na verda<strong>de</strong> eram 3,


- 120 -mas eu sempre acabava fican<strong>do</strong> com 2 porqueum ia almoçar”.Dentre as ações que caracterizam o assédio moral tem-se isolar o trabalha<strong>do</strong>r,<strong>de</strong>squalificar, <strong>de</strong>sacreditar, induzir ao erro, dar tarefas vexatórias, recusar acomunicação direta, o abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte <strong>do</strong>s superiores hierárquicos e asmanobras perversas conduzidas por uma ou mais pessoas <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>(CONTRERA-MORENO e CONTRERA-MORENO, 2004).Outra forma <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong>ssa violência eram os isolamentos, “colocan<strong>do</strong> o<strong>enfermeiro</strong> no gelo”, em outros setores, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> tarefas que não lhe cabiam.“Eu percebi que me colocavam na gela<strong>de</strong>iradireto”.“... por um la<strong>do</strong> me pressionava e mecolocavam no gelo, aí me <strong>de</strong>ixavam sempre em<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> contagem”.As mensagens quase sempre ambíguas expunham a enfermeira e tencionavam<strong>de</strong>monstrar uma incompetência que não existia.“Elas diziam que eu nunca estava na hora das<strong>de</strong>cisões, mas elas sempre me colocavam emalgum lugar que eu não po<strong>de</strong>ria tomar alguma<strong>de</strong>cisão. E que, chegou a dizer que eu soupreguiçosa,”


- 121 -O sofrimento manifestou-se através <strong>do</strong> choro, da apreensão, da exaustão sentida pelaprofissional.“Eu chorava. Cada hora que ela me dava,humilhava em público e exigia as coisasexcessivas, e muitas vezes eu tinha que cobrarcoisas da equipe que eu não achava correta. Eaí eu me <strong>de</strong>sesperava”.“Eu já acordava apreensiva. Entrei em umquadro <strong>de</strong> exaustão. Hoje eu tenho ainda, maspelo excesso <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>”,As conseqüências para a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r são gravíssimas: stress, ansieda<strong>de</strong>,<strong>de</strong>pressão, distúrbios psicossomáticos; aumento <strong>do</strong> risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e <strong>do</strong>ençacardiovascular; stress pós traumático, no qual a pessoa assediada vive relembran<strong>do</strong> assituações <strong>de</strong> perseguição e humilhação (CONTRERA-MORENO, 2004; CAMPOS ePIERANTONI , 2010; CEZAR e MARZIALE - 2006).


- 122 -V. CONSIDERAÇÕES FINAISExiste sim uma forma <strong>de</strong> violência no <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s <strong>enfermeiro</strong>s que os leva aos maisdiversos tipos <strong>de</strong> sofrimento. Esta violência está associada às formas <strong>de</strong> gestão eli<strong>de</strong>rança as quais propiciam situações <strong>de</strong> assédio moral, ainda pouco estudadas nessacategoria.As humilhações, perseguições, o ataque à dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> feito por chefias queprimam pelo uso <strong>de</strong> pressões, das punições <strong>de</strong>scabidas, enaltecen<strong>do</strong> emoções como ome<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> o profissional ao isolamento e ao sofrimento mental e físico comsintomas e distúrbios característicos da violência laboral.A violência também se apresenta quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> contato com pacientes com distúrbios <strong>de</strong>comportamento ou pacientes que fazem utilização <strong>de</strong> drogas, sejam elas lícitas ouilícitas. Os tipos <strong>de</strong> agressões relatadas vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as agressões verbais (como insultos eameaças) às agressões físicas (socos, pontapés, etc.).O <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> não apresenta uma estrutura física a<strong>de</strong>quada, além <strong>de</strong> uma ausência <strong>de</strong>espaços para realização <strong>de</strong> procedimentos. Junte-se a isso, o fato da população não sabera qual serviço recorrer, acumulan<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda no PS.Há a ausência <strong>de</strong> profissionais (sejam <strong>enfermeiro</strong>s, sejam, auxiliares e técnicos, sejammédicos) para aten<strong>de</strong>rem a toda a população que ao PS recorre. Vale ressaltar que aslacunas se dão também em níveis <strong>de</strong> material necessário, a uma tecnologia ultrapassadaque não colabora com o trabalha<strong>do</strong>r. Há evidências <strong>de</strong> que a tecnologia colocada aserviço da população leva o usuário a se sentir valoriza<strong>do</strong> e reconhecer o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong><strong>enfermeiro</strong>.Diante <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda atendida, pelo fato <strong>de</strong> lidarem com procedimentos que visamà preservação da vida humana, os <strong>enfermeiro</strong>s enten<strong>de</strong>m que <strong>de</strong>ve haver um perfil a sersegui<strong>do</strong> para a admissão <strong>de</strong> um profissional no <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, embora a capacitação,a<strong>de</strong>quação, adaptação e o seu saber sejam construí<strong>do</strong>s no dia a dia.


- 123 -A literatura específica indica que para ser <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong> <strong>de</strong>ve haverhabilida<strong>de</strong>s técnicas e pessoais, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong> tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisõesrapidamente.Há uma queixa geral, acerca das inúmeras tarefas e responsabilida<strong>de</strong>s reais realizadaspelo <strong>enfermeiro</strong>, o que o leva a um distanciamento das suas ativida<strong>de</strong>s relacionadasmais a assistência <strong>do</strong> paciente.Assim, o “fazer <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>”, <strong>de</strong>nuncia uma falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação das ações da enfermagem,levan<strong>do</strong> a se confundir com o assistente social, o administra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> conflitos, etc.Assume assim tarefas que po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>legadas ao pessoal administrativo ou àsli<strong>de</strong>ranças e chefias.Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s apontam que este distanciamento <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> <strong>de</strong> suas tarefas paracumprir tarefas mais administrativas, ou o fazer <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, é uma maneira <strong>de</strong> se distanciar<strong>do</strong>s enfermos, e talvez (grifo meu) da <strong>do</strong>r, <strong>do</strong> sofrimento <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> lidar com a morte,com a impotência diante <strong>de</strong>la e com toda a tensão característica <strong>de</strong>ste ambiente <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>.Contrariamente, o espaço físico <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> ou é pequeno <strong>de</strong>mais ou não existe,levan<strong>do</strong> a sentimentos <strong>de</strong> humilhação, baixa auto-estima. É muito comum seremconfundi<strong>do</strong>s com os auxiliares e técnicos <strong>de</strong> enfermagem pelo público usuário. Comestes divi<strong>de</strong>m o seu local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, o posto <strong>de</strong> enfermagem, os locais <strong>de</strong> refeição semcondições higiênicas e <strong>de</strong> conforto satisfatórias.Além disso, <strong>do</strong>rmem ou almoçam ou ainda divi<strong>de</strong>m a sua hora <strong>de</strong> lazer entre as duasalternativas. O ritmo acelera<strong>do</strong>, a falta <strong>de</strong> recursos humanos, a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda leva-ospor vezes a não se alimentar para não terem <strong>de</strong> sentir sonolência após a refeição.A questão <strong>do</strong>s riscos biológicos necessita <strong>de</strong> uma atenção maior, bem como o tema daprodução e <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> informação e o nãosaber como lidar transforma o risco biológico em um fantasma que assusta a to<strong>do</strong>s,levan<strong>do</strong> a posturas tais como, “to<strong>do</strong>s que trabalham no PS estão sujeitos àcontaminação por agentes biológicos e to<strong>do</strong> o lixo <strong>de</strong>veria ser incinera<strong>do</strong>”.


- 124 -Além da falta <strong>de</strong> informação, esses profissionais lidam com a carência <strong>do</strong>s recursosnecessários para o <strong>de</strong>scarte <strong>do</strong>s resíduos, como por exemplo, a caixa <strong>de</strong> perfurocortante, a falta <strong>de</strong> orientação por parte da administração <strong>do</strong> hospital.O uniforme nem sempre é forneci<strong>do</strong> pelo hospital ou <strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>. Assim, temos umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vestimentas que nem sempre são as mais a<strong>de</strong>quadas (salto alto, sandáliasrasteirinhas, blusas frente única), expon<strong>do</strong> o trabalha<strong>do</strong>r a <strong>do</strong>enças, contaminaçõeshospitalares.Há <strong>de</strong> se ressaltar a função <strong>do</strong> uniforme como um equipamento <strong>de</strong> proteção agin<strong>do</strong>como uma barreira contra as contaminações possíveis, bem como também paradiferenciar <strong>enfermeiro</strong>s <strong>de</strong> técnico e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem.Além disso, os uniformes são leva<strong>do</strong>s para as residências e lava<strong>do</strong>s pelos próprios<strong>enfermeiro</strong>s ou familiares, o que aumenta o risco <strong>de</strong> contaminação e ainda o esten<strong>de</strong> àsua família.As jornadas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> são diferenciadas e em geral iniciadas 15 a 30 minutos antes <strong>do</strong>horário previsto para fins <strong>de</strong> organizar o <strong>trabalho</strong>. Temos assim, no cotidiano <strong>do</strong><strong>enfermeiro</strong>, a possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> ter que <strong>do</strong>brar plantões, sobrecarregan<strong>do</strong>-o eprivan<strong>do</strong>-o <strong>do</strong> repouso.Os <strong>enfermeiro</strong>s não são obriga<strong>do</strong>s a <strong>do</strong>brar plantões e aqui há uma perversão no senti<strong>do</strong><strong>de</strong> fazê-los sentir livre para <strong>de</strong>cidir, quan<strong>do</strong> na verda<strong>de</strong> existe uma manipulação dasubjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse profissional que tem conhecimento das conseqüências da ausência<strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> no plantão. A escolha não é livre e sim permeada <strong>de</strong> culpa.A ausência <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> ao plantão po<strong>de</strong> ocorrer quan<strong>do</strong> houve no anterior umasobrecarga física, psíquica, um sofrimento que não passa <strong>de</strong> um dia para o outro. É umanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distanciar para acalmar a <strong>do</strong>r. Po<strong>de</strong>-se ainda comparecer e ter umaatitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> distanciamento.A passagem <strong>do</strong> plantão é a possibilida<strong>de</strong> da continuida<strong>de</strong> da assistência prestada pelo<strong>enfermeiro</strong> ao usuário. É realizada por escrito ou oralmente e há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser


- 125 -eficaz, com linguagem direta e técnica. O melhor lugar para passar o plantão é nacabeceira <strong>do</strong> paciente e nunca no postinho.Existem controvérsias quanto ao local, se escrita ou falada ou mista, e também quanto àterminologia utilizada para <strong>de</strong>screver o quadro <strong>do</strong> enfermo. Igualmente, há um consenso<strong>de</strong> que esta tarefa não po<strong>de</strong> utilizar-se <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong>-seapenas ressaltar os casos em que há gravida<strong>de</strong>. Verificamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> talvezaprofundar esta discussão, uma vez que é fundamental para o prosseguimento <strong>do</strong>scuida<strong>do</strong>s ao paciente.As pausas durante a jornada são embutidas da noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligamento temporário daativida<strong>de</strong> para entregar-se ao <strong>de</strong>scanso, ao lazer, ao cochilo e satisfazer algumasnecessida<strong>de</strong>s.As pausas são uma quebra no ritmo e distanciamento <strong>do</strong> seu objeto, <strong>de</strong> sua rotina.Acontecem para lanche, para fumar, para ir ao banheiro. Algumas são mínimas (quasenão ocorrem), como por exemplo, para <strong>do</strong>rmir.A organização da medicação é um ponto central para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong><strong>enfermeiro</strong>, pois é fundamental encontrar o que procura (medicação) no momento emque necessita. A falta da medicação gera angústia e sofrimento para o <strong>enfermeiro</strong> pornão ter condições para proporcionar a melhoria <strong>do</strong> enfermo.É fundamental observar a relação conflituosa com os médicos, <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong>negligências médicas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong> jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que representamausências para atendimento ao usuário, expon<strong>do</strong> o <strong>enfermeiro</strong> a conflitos com apopulação.Outra queixa apontada pelos <strong>enfermeiro</strong>s é o <strong>de</strong>scaso <strong>do</strong> corpo médico com relação àprescrição <strong>de</strong> medições, por exemplo, para <strong>do</strong>r, etc. Estes pontos <strong>de</strong>vem serinvestiga<strong>do</strong>s e também fiscaliza<strong>do</strong>s.Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> referi<strong>do</strong>s são associa<strong>do</strong>s pelos <strong>enfermeiro</strong>s à forma comoorganizam a sua ativida<strong>de</strong> e também está relaciona<strong>do</strong> ao absenteísmo na categoria.


- 126 -Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> (torção nos pés, mordidas, chutes, aci<strong>de</strong>ntes com perfurocortantes) foram relaciona<strong>do</strong>s com o ritmo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> intenso, <strong>trabalho</strong> realiza<strong>do</strong> emmovimento e em pé, a uma sobrecarga <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> levan<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sgaste físico intenso efacilitan<strong>do</strong> o aci<strong>de</strong>nte.As alternativas para lidar com os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> não lidar com oproblema, agir <strong>de</strong> forma individual e pessoal, utilizan<strong>do</strong> o seu tempo <strong>de</strong> férias inclusive“para se cuidar”. As cirurgias também são alternativas, bem como tratamentos comflorais e formas <strong>de</strong> relaxamento.Ressaltamos ainda a importância da realização <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s com esta categoriaprofissional e sua relação com o tema burnout, uma vez que durante nosso estu<strong>do</strong>,vislumbramos esta problemática.Diversos aspectos <strong>de</strong>vem ser leva<strong>do</strong>s em consi<strong>de</strong>ração se se preten<strong>de</strong> formular políticaspúblicas voltada para a ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong>: as questões da estrutura física <strong>do</strong><strong>pronto</strong> <strong>socorro</strong>, as escalas <strong>de</strong> plantão e jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, a divisão <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, etc.Outras questões <strong>de</strong>vem ser refletidas para que seja realçada a nobreza <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>,bem como seu objetivo. Enten<strong>de</strong>mos que <strong>de</strong>ve haver uma discussão ampla sobre aformação <strong>do</strong> <strong>enfermeiro</strong> (o curso <strong>de</strong> enfermagem), sobre o seu papel nos espaços <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>, valorizan<strong>do</strong>-o, dan<strong>do</strong> visibilida<strong>de</strong> para que se confirme o que to<strong>do</strong>s sabem:sem enfermagem não se faz saú<strong>de</strong>.


- 127 -VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABNT. NBR 12810 – Coleta <strong>de</strong> Resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABNT,1993.ABNT. NBR 9191. Sacos plásticos para acondicionamento <strong>de</strong> lixo – requisitos eméto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensaio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABNT, 2002.ALVES, M. Organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> na enfermagem. Dissertação(Mestra<strong>do</strong> em Ciências Econômicas) Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas da UFMG,Belo Horizonte, 1991.ANDRADE, K. B. S. O tempo <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> enfermagem na sala <strong>de</strong> emergência:buscan<strong>do</strong> a otimização da qualida<strong>de</strong> da assistência. Emhttp://www.pesquisan<strong>do</strong>.eean.ufrj.br\viewpaper.php id=172&print=1&cf+1 > Acessoem 13.04.2012.AQUINO, J. M. Estressores no <strong>trabalho</strong> das enfermeiras em centro cirúrgico:conseqüências profissionais e pessoais. Tese (<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Enfermagem) EERP daUSP, Ribeirão Preto, 2005.BALSAMO, A. C. Estu<strong>do</strong> sobre os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> com exposição aos líqui<strong>do</strong>scorporais humanos em trabalha<strong>do</strong>res da saú<strong>de</strong>. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> emEnfermagem) Escola <strong>de</strong> Enfermagem da USP, São Paulo, 2002.BARBOZA, D. B. Afastamentos <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> na enfermagem <strong>de</strong> um hospital geral noperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1995 a 1999. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Ciências da Saú<strong>de</strong>) Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina <strong>de</strong> São José <strong>do</strong> Rio Preto, São José <strong>do</strong> Rio Preto, 2001.BASSO, M. Aci<strong>de</strong>ntes Ocupacionais com sangue e outros fluí<strong>do</strong>s corpóreos emprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Enfermagem) Escola <strong>de</strong> Enfermagemda USP, São Paulo, 1999.


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