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significando a educação inclusiva a partir de um caso de síndrome ...

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACSCURSO: PSICOLOGIASIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIRDE UM CASO DE SÍNDROME DE DOWNLORENA ALVES SANTANABRASÍLIAJUNHO/2006


2LORENA ALVES SANTANASIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIRDE UM CASO DE SÍNDROME DE DOWNMonografia apresentada comorequisito para conclusão do curso<strong>de</strong> Licenciatura em Psicologia doUniCEUB – Centro Universitário<strong>de</strong> Brasília.Prof. (a) orientador (a)Ciomara Schnei<strong>de</strong>rBrasília/DF, Junho <strong>de</strong> 2006


3DEDICATÓRIADedico esta monografia aos meus pais,Elisete e Wilson, que acreditaram emmim e que estiveram sempre ao meulado, a minha irmã Fabiana por ter meajudado em tudo que precisei.Ao meu noivo Felipe, que sofreu com aminha ausência, me compreen<strong>de</strong>u esempre me <strong>de</strong>u força para continuar emfrente.E a todos aqueles que acreditam naeducação e que lutam em benefício<strong>de</strong>sta proposta.AGRADECIMENTOS


4Agra<strong>de</strong>ço a Deus por ter me dado força e saú<strong>de</strong> para seguir em frente e concretizarmais <strong>um</strong> sonho.Aos meus amigos que em muitas horas me acalmaram e me divertiram, aliviando aspreocupações. E em especial às minhas amigas Lú, que sempre me <strong>de</strong>u força e ânimo, L<strong>um</strong>a,que sempre me socorreu nas horas que mais precisei, e Luzinha, por ter sempre <strong>um</strong>a palavraamiga.Ao tio Carlos e toda sua família por terem aberto as portas <strong>de</strong> sua casa mais <strong>um</strong>a vez epor me receberem com tanto carinho.À minha orientadora Ciomara Schnei<strong>de</strong>r, que com toda sua tranqüilida<strong>de</strong> fez <strong>de</strong>stetrabalho, mais <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> crescimento e amadurecimento.À toda minha família e ao meu noivo por me apoiarem sempre.


5SUMÁRIO1 -Introdução......................................................................................................................... 072 – Capitulo 1 – Transição histórica da educação para a educação <strong>inclusiva</strong>- alg<strong>um</strong>asconsi<strong>de</strong>rações................................................................................................ 103 – Capítulo 2 – Significando a inclusão................................................................................ 194 – Capítulo 3 – O que é Síndrome <strong>de</strong> Down......................................................................... 265 – Capítulo 4 – Estudo <strong>de</strong> <strong>caso</strong> .............................................................................................. 331.1 Descrição do <strong>caso</strong>................................................................................. 331.2 Análise reflexiva....................................................................................436 – Conclusão........................................................................................................................... 497– Referência Bibliográfica .................................................................................................... 528 – Anexo ................................................................................................................................ 54


6RESUMOEste trabalho analisa o processo <strong>de</strong> inclusão a <strong>partir</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> estudo <strong>de</strong> <strong>caso</strong>. Para isso, analisa ohistórico educacional <strong>de</strong> <strong>um</strong> indivíduo com Síndrome <strong>de</strong> Down. Para esta análise, foramrealizadas entrevistas com a família e com profissionais que acompanham o indivíduo, além<strong>de</strong> observações em diversos contextos. A monografia ainda apresenta <strong>um</strong> breve históricosobre a educação especial e o processo <strong>de</strong> inclusão, além <strong>de</strong> caracterizar a Síndrome <strong>de</strong>Down. A análise do tema proposto permitiu visualizar que a educação <strong>inclusiva</strong> é <strong>um</strong>processo lento e que ainda encontra muitas barreiras. Mas, apesar disso, o trabalhoproporcionou <strong>um</strong> maior entendimento da proposta e das necessida<strong>de</strong>s dos alunos especiais.Palavras-chave: Síndrome <strong>de</strong> Down, ensino especial, educação <strong>inclusiva</strong>.


7O presente estudo visa tratar sobre a educação especial <strong>de</strong> alunos com Síndrome <strong>de</strong>Down no ensino brasileiro, além <strong>de</strong> discutir a problemática da educação <strong>inclusiva</strong> a <strong>partir</strong> <strong>de</strong><strong>um</strong> estudo <strong>de</strong> <strong>caso</strong>. Com isso, a pesquisa propõe <strong>um</strong>a discussão sobre os aspectos do processo<strong>de</strong> inclusão, e sua contextualização histórica, analisando, o indivíduo com Síndrome <strong>de</strong>Down, mostrando suas habilida<strong>de</strong>s.A educação <strong>inclusiva</strong> é <strong>um</strong> tema bastante discutido ultimamente, pois se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong>assunto que instiga todos os indivíduos que lutam por <strong>um</strong>a educação como direito <strong>de</strong> todos.Visa promover <strong>um</strong>a reforma nas escolas com o objetivo <strong>de</strong> assegurar o direito <strong>de</strong> todos aoacesso e a participação em todas as ativida<strong>de</strong>s da vida escolar. E quando se fala em todos,estão incluídos aqueles com <strong>de</strong>ficiência ou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, minorias étnicas e osque estão sob o risco <strong>de</strong> exclusão.De acordo com Pinsky (2001), as pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais correspon<strong>de</strong>m a16 milhões <strong>de</strong> indivíduos da socieda<strong>de</strong>, mas a gran<strong>de</strong> pergunta é: on<strong>de</strong> estão eles? A maioriase escon<strong>de</strong>, se exclui da socieda<strong>de</strong> e prefere ficar em sua casa, on<strong>de</strong> tem segurança etranqüilida<strong>de</strong>, já que a socieda<strong>de</strong> não tem preparo e boas condições para lidar com eles,excluindo-os do convívio social.Com isso, além das pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais já possuírem <strong>um</strong>a limitação esofrerem por isto, ainda existe o preconceito, a falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> nos aspectoseducacionais e profissionais e o <strong>de</strong>spreparo da socieda<strong>de</strong> em geral - dos professores e dosfamiliares - para receber e promover <strong>um</strong>a melhor adaptação das PNEs 1 na socieda<strong>de</strong>.A exclusão é <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> violência, e como tal, <strong>de</strong>ixa marcas. Por isso <strong>de</strong>ve-se ter<strong>um</strong>a preocupação e atenção com esses indivíduos que sofrem esse tipo <strong>de</strong> violência epromover, ao mesmo tempo, a inclusão <strong>de</strong>stes em todos os aspectos da vida, pois a inclusãonão <strong>de</strong>ve ocorrer somente na escola, mas sim na socieda<strong>de</strong>.Os alunos com necessida<strong>de</strong>s especiais são indivíduos que precisam <strong>de</strong> <strong>um</strong>a olhar maissensível e, por isso, são necessários muitos estudos que proporcionem alg<strong>um</strong>a ajuda ouconhecimento sobre esses alunos. Todo o movimento da educação <strong>inclusiva</strong> possibilita que os_________Nota 1- PNEs- Sigla que será utilizada no <strong>de</strong>correr do texto que significa pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais.


8alunos especiais tenham <strong>um</strong>a oportunida<strong>de</strong> e o direito <strong>de</strong> permanecerem no ensino regular.As pessoas com Síndrome <strong>de</strong> Down são pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong>vido a<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência no seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual, ocorrido por <strong>um</strong>a alteraçãocromossômica. Esta síndrome tem características especificas, porém é importante ressaltarque cada indivíduo vai ter suas próprias características, enten<strong>de</strong>ndo assim que não há <strong>um</strong>apadronização dos indivíduos com esta síndrome. É dada também <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> importânciapara o trabalho <strong>de</strong> estimulação, a criação <strong>de</strong> vínculo e <strong>de</strong> <strong>um</strong> ambiente confortável para queestes indivíduos possam se <strong>de</strong>senvolver e ultrapassar as limitações da síndrome.Faz-se necessário <strong>de</strong>stacar o papel da família neste processo, pois ela é o ambientemais importante para que as crianças com necessida<strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong>senvolvam sentimentospositivos sobre elas mesmas, além <strong>de</strong> ser o primeiro espaço <strong>de</strong> integração e socialização dacriança.Muitos estudos são feitos acerca do tema, visando proporcionar meios quepossibilitem os alunos portadores <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais vencerem as barreiras queameaçam separá-los dos outros, levando à exclusão. Por isso se faz necessária qualquercontribuição, por menor que seja, mas que possibilite <strong>um</strong>a reflexão acerca do tema. Assim,acredita-se que tudo o que for feito em beneficio <strong>de</strong>les já esta por si só justificado.Todo o movimento da educação <strong>inclusiva</strong> possibilita que os indivíduos comnecessida<strong>de</strong>s especiais tenham <strong>um</strong>a oportunida<strong>de</strong> e o direito <strong>de</strong> permanecerem no ensinoregular. Mas é importante ressaltar que a inclusão não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente da escola ou <strong>de</strong> lei,mas também <strong>de</strong> <strong>um</strong>a formação inicial e continuada dos professores, para que sejam capazes<strong>de</strong> possibilitar <strong>um</strong>a educação para todos.Analisando alg<strong>um</strong>as pesquisas sobre o tema proposto, é possível observar também osbenefícios da inclusão. Todos ganham com este trabalho, não só os alunos com necessida<strong>de</strong>sespeciais, mas todos os outros alunos que convivem com elas, além dos professores e toda aequipe da instituição.A Psicologia tem muito a contribuir com o processo <strong>de</strong> inclusão dos alunos portadores<strong>de</strong> Síndrome <strong>de</strong> Down, pois se preocupa com as conseqüências da exclusão vivida por estes


9alunos e po<strong>de</strong> auxiliar neste processo, facilitando as dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelosprofessores e alunos.Este trabalho tem também realizar <strong>um</strong> breve histórico sobre a educação especial,conceituar e analisar a síndrome <strong>de</strong> Down. Analisar o processo <strong>de</strong> inclusão e pesquisar opapel do professor neste processo.Este é <strong>um</strong> tema <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância social e que <strong>de</strong>ve ser discutido por todos osprofissionais da área <strong>de</strong> educação, com o intuito <strong>de</strong> aprofundar o conhecimento acerca dotema, além <strong>de</strong> criar alternativas e oportunida<strong>de</strong>s para que se coloque em prática essa proposta.A monografia foi distribuída nos seguintes capítulos “Transição histórica da educaçãopara a educação <strong>inclusiva</strong>- alg<strong>um</strong>as consi<strong>de</strong>rações”, “Significando a inclusão”, “O que éSíndrome <strong>de</strong> Down”, “Estudo <strong>de</strong> <strong>caso</strong>”, além da introdução e conclusão, visando apresentar<strong>um</strong>a análise crítica do processo <strong>de</strong> educação <strong>inclusiva</strong> na re<strong>de</strong> do ensino brasileiro.


101- TRANSIÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO PARA A EDUCAÇÃOINCLUSIVA ALGUMAS CONSIDERAÇÕESPara compreen<strong>de</strong>r a educação <strong>inclusiva</strong> é importante remontar toda a história daeducação e a idéia dos <strong>de</strong>ficientes, assim como o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência e as modificaçõesque ocorreram neste tempo.Des<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Antiga as crianças com <strong>de</strong>ficiência sofrem com a exclusão. Naquelaépoca elas eram jogadas nas montanhas ou nos rios. O preconceito e a omissão com as PNEsvem <strong>de</strong> longo tempo. Na época cristã medieval não era diferente, esses indivíduos eramafastados da socieda<strong>de</strong>, per<strong>de</strong>ndo suas vidas, pois podiam influenciar os indivíduos ditos‘normais’.Segundo Cardoso (2003) e Mazzotta (2001), na Ida<strong>de</strong> Média associavam a idéia <strong>de</strong><strong>de</strong>ficiência ao misticismos e à bruxaria. As pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais eram vistascomo indivíduos possuídos e não eram dignos da vida, e assim <strong>de</strong>veriam ser afastados domeio social. Estes indivíduos estariam sendo punidos por alg<strong>um</strong> pecado ou tinham acesso àverda<strong>de</strong>s que só eles podiam alcançar.De acordo com Mazzota (2001), a igreja colaborou ou colabora com a exclusão dasPNEs, pois os indivíduos vistos como semelhantes a Deus são perfeitos como ele. Isto induz aidéia <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>ficientes não são semelhantes, não são perfeitos e assim eram colocados àmargem da condição h<strong>um</strong>ana.Toda essa idéia, esse conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente como sendo <strong>um</strong> indivíduo incapaz, semdireito à vida, sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança, faz com que a socieda<strong>de</strong> enxergue essesindivíduos <strong>de</strong>sta forma e por isso se omitiu durante muito tempo os serviços <strong>de</strong> apoio,prejudicando seu <strong>de</strong>senvolvimento e a adaptação.Segundo Mazzota (2001), na Europa surgiram os primeiros movimentos a respeito doatendimento às PNEs. A primeira obra impressa sobre educação especial foi <strong>de</strong> Jean-PaulBonet, França, em 1620, sobre <strong>de</strong>ficiência auditiva e daí em diante outros trabalhos surgiram,como o método <strong>de</strong> sinais e leitura para cegos.


11Cardoso (2003) enfatiza a importância <strong>de</strong> Jean Itard (1775-1838), consi<strong>de</strong>rado o paida educação especial, por realizar estudos na área da reabilitação <strong>de</strong> PNEs. Seus estudos sãoutilizados até hoje por todos aqueles que trabalham com PNEs. Mas relata, ainda, que aeducação especial surgiu com a institucionalização especializada das PNEs no final do séculoXVIII e inicio do século XIX, na América do Norte, ou seja, surgiu <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a idéia <strong>de</strong>segregação. Só nesta época a socieda<strong>de</strong> começa a se conscientizar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssesindivíduos e possibilita <strong>um</strong> atendimento assistencial a eles, mas ainda com <strong>um</strong> caráterexclu<strong>de</strong>nte. A assistência era proporcionada em centros, na qual pessoas com <strong>de</strong>ficiênciaeram atendidas e assim a socieda<strong>de</strong> era protegida do contato o os anormais. (Cardoso, 2003,p.17) Fica claro que a socieda<strong>de</strong> tomou consciência da necessida<strong>de</strong> das PNEs, mas não querter contato, quer <strong>de</strong>ixar esses indivíduos escondidos e fazer <strong>de</strong> conta que eles não existem.Este período é <strong>de</strong> “segregação” mesmo, pois as PNEs eram colocadas em escolas especiais eeram separadas e isoladas dos outros alunos.Segundo Mazzotta (2001), no Brasil, iniciou o surgimento <strong>de</strong> instituiçõesespecializadas no atendimento a cegos, mudos, <strong>de</strong>ficientes mentais e físicos no século XIX,com <strong>um</strong> caráter oficial e particular. Em 1854 foi fundada no Rio <strong>de</strong> Janeiro o ImperialInstituto dos Meninos Cegos, que foi mais tar<strong>de</strong> chamada <strong>de</strong> Instituto Benjamin Constant. Em1857 foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos –Mudos, que em 1957 foi <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong>Instituto Nacional <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Surdos. Estes institutos eram voltados para a educaçãoliterária, ensino profissionalizante e aprendizagem <strong>de</strong> ofícios, como a tipografia. Essasprimeiras iniciativas possibilitaram o 1° Congresso <strong>de</strong> Instrução Pública sobre a educação dosPNEs.De acordo com Mazzota (2001) e Cardoso (2003), no início do século XX surgiu aeducação especial, com a criação <strong>de</strong> programas escolares e a elaboração <strong>de</strong> muitos estudosacerca do tema, como o ANEE, Alunos com Necessida<strong>de</strong>s Educacionais Especiais. Em 1950já eram 40 escolas <strong>de</strong> ensino regular que prestavam atendimento especial as PNEs, mantidospelo po<strong>de</strong>r público. Outro fato importante que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar é a criação daAssociação <strong>de</strong> Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, que no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1954,conseguiu que alg<strong>um</strong>as autorida<strong>de</strong>s olhassem o problema dos excepcionais, e ao longo dosanos outras APAEs foram sendo fundadas em todo o Brasil, dando assistência, tratamentopara as PNEs e treinamento para os profissionais <strong>de</strong>ssa área, montando instituições autônomas


12e com atendimento multi e inter-disciplinar. Em 1957, o governo fe<strong>de</strong>ral ass<strong>um</strong>iu a nívelnacional o atendimento educacional das PNEs com a elaboração <strong>de</strong> campanhas. A primeirafoi a campanha para a educação do surdo brasileiro. Em 1960 foi inaugurada a CampanhaNacional <strong>de</strong> Educação e Reabilitação <strong>de</strong> Deficientes Mentais - CADEME, que tinha afinalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>: promover, em todo o território nacional, a educação, treinamento, reabilitaçãoe assistência educacional <strong>de</strong>ssas crianças retardadas e outros <strong>de</strong>ficientes mentais <strong>de</strong>qualquer ida<strong>de</strong> ou sexo.. (MAZZOTTA, 2001, p.52).Mazzotta (2001), afirma que em 1973 foi criado o CENESP, Centro Nacional <strong>de</strong>Educação Especial, que tinha como finalida<strong>de</strong> promover, em todo o território nacional, aexpansão e melhoria do atendimento aos excepcionais (Mazzotta, 2001, p. 55). Mas em 1983foi transformado em SESPE – Secretaria <strong>de</strong> Educação Especial, que foi extinta em 1990,quando surgiu o SENEB e, mais tar<strong>de</strong>, incluindo o órgão DESE, Departamento <strong>de</strong> EducaçãoSupletiva e Especial, que possui objetivos específicos para a educação especial. Finalmenteem 1992, com a reorganização dos Ministérios, a SEESP, Secretaria <strong>de</strong> Educação Especial,reapareceu como principal órgão com interesse da Educação Especial, e assim surgiram asprincipais transformações nessa área.Cardoso (2003) esclarece que na década <strong>de</strong> 70 foram criadas as classes especiaisrestritas a esses alunos especiais. Já nos anos 80 surgiu a iniciativa e a preocupação <strong>de</strong>integrar esses indivíduos, mas ainda em <strong>um</strong> sentido restrito, não em <strong>um</strong> sentido <strong>de</strong> integraçãosocial amplo. Uma integração educativa, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que o ensino <strong>de</strong>ssas crianças e jovens<strong>de</strong>veria ser feito no ensino regular. Mas, apesar <strong>de</strong> todo o discurso teórico <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong>, na prática esses indivíduos sofreram e sofrem com a falta do ensino regular.Porém, com toda essa mudança, as famílias também estão lutando contra a exclusão das PNEsnas escolas e no ambiente social em geral, não estão aceitando a segregação dos seus filhos,estão lutando por <strong>um</strong> direito que é <strong>de</strong>les. Mazzota (2001) enfatiza o trabalho dos pais:Historicamente, os pais têm sido <strong>um</strong>a importante força para as mudanças noatendimento aos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. Os grupos <strong>de</strong> pressão por eles organizados têmseu po<strong>de</strong>r político concretizado na obtenção <strong>de</strong> serviços e recursos especiais para grupos<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficientes, particularmente para <strong>de</strong>ficientes mentais e <strong>de</strong>ficientes auditivos(MAZZOTTA, 2001, p.64).A educação Especial po<strong>de</strong> ocorrer em diversas modalida<strong>de</strong>s. Mazzotta (1993) relataque a educação po<strong>de</strong> se dar em classes regulares, on<strong>de</strong> o educando com necessida<strong>de</strong>s


13especiais é inserido nesta classe, na sala <strong>de</strong> recurso, que se caracteriza por sendo <strong>um</strong>a salacom materiais e equipamentos especializados, na qual <strong>um</strong> professor especializado auxilia oaluno especial em alg<strong>um</strong> aspecto especifico, que precisa para se manter nas classes regulares.Este professor tem como objetivo aten<strong>de</strong>r o aluno e dar assistência ao professor da classeregular. Além disso, são utilizadas também as classes especiais, on<strong>de</strong> se agrupam alunosespeciais sob a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> professor especializado. É consi<strong>de</strong>rado serviçoespecial quando o aluno freqüenta somente esta classe, e auxílio especial quando o mesmofreqüenta a classe especial e a regular.A educação especial passou por muitas transformações e é possível, analisando asmudanças históricas, observar os diferentes significados da Deficiência Mental que traz todo<strong>um</strong> preconceito da socieda<strong>de</strong> que não sabe lidar com o diferente e que às vezes não quer lidarcom este diferente. Mas <strong>um</strong> grupo significativo luta pela mudança <strong>de</strong>sse olhar sobre as PNEs.Mesmo esbarrado nas mais diversas barreiras, tem crescido, porém muito menos do que seesperava sob o ponto <strong>de</strong> vista da Ética e da Cidadania.1.1 MOVIMENTOS MUNDIASMuitos movimentos foram realizados em prol da Educação Especial, já que todos têmdireito à educação, mas é fácil constatar que esse direito não é assegurado verda<strong>de</strong>iramente.Dois movimentos importantes que precisam ser <strong>de</strong>stacados são a Conferência Mundial SobreEducação para Todos e a Conferência Mundial Sobre Necessida<strong>de</strong>s Educativas Especiais.A Conferência Mundial Sobre Educação para Todos ocorreu <strong>de</strong> 5 a 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1990, em Jomtien, Tailândia, com 1500 participantes que analisaram em mesas redondas esessões plenárias os principais pontos e problemas da educação para todos. Elaboraram entãoa Declaração Mundial Sobre Educação para Todos e Planos <strong>de</strong> Ação para Satisfazer asNecessida<strong>de</strong>s Básicas <strong>de</strong> Aprendizagem que, <strong>de</strong> acordo com Carvalho (1997), representa <strong>um</strong>aunanimida<strong>de</strong> sobre o papel e a importância da educação, além <strong>de</strong> <strong>um</strong> compromisso paraassegurar esse direito <strong>de</strong> todos os cidadãos.


14A Conferência Mundial Sobre Necessida<strong>de</strong>s Educativas, que foi realizada emSalamanca, Espanha, entre 7 e 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1994, teve como propósito reafirmar o direito<strong>de</strong> educação para todos e segundo Cardoso (2003), lutar pela inclusão das PNEs que ocorriana Europa. Implementaram a Declaração <strong>de</strong> Salamanca sobre Princípios, Política e Prática naárea das Necessida<strong>de</strong>s Educativas Especiais, que firma que os alunos com necessida<strong>de</strong>sespeciais tenham o mesmo acesso à escola igual às crianças sem necessida<strong>de</strong>s educativas, eque suas diferenças <strong>de</strong>vem ser respeitadas e assim o processo <strong>de</strong> ensino ser adaptado àsnecessida<strong>de</strong>s da criança e não a criança ao processo. Surge, com isso, o conceito <strong>de</strong> escola<strong>inclusiva</strong>, on<strong>de</strong> inclui aquele aluno com necessida<strong>de</strong>s diversas ao ensino regular e proporcionameios para que ele consiga <strong>de</strong>senvolver suas habilida<strong>de</strong>s.A Declaração <strong>de</strong> Salamanca (1994), afirma que as escolas <strong>de</strong>vem se ajustar a todas ascrianças e criar condições que favoreçam a educação dos alunos. Esta proposta já significa<strong>um</strong>a modificação das atitu<strong>de</strong>s discriminatórias e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> mais justa e<strong>inclusiva</strong>.A educação <strong>inclusiva</strong> visa promover <strong>um</strong>a reforma nas escolas com o objetivo <strong>de</strong>assegurar o direito <strong>de</strong> todos ao acesso e a participação em todas as ativida<strong>de</strong>s da escola. Equando se fala em todos, estão incluídos aqueles com <strong>de</strong>ficiência ou dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprendizagem, minorias étnicas e os que estão sob o risco <strong>de</strong> exclusão. A proposta da inclusãoeducacional das PNEs, também como toda proposta que requer mudança no modo <strong>de</strong> pensare/ou conceber o ser h<strong>um</strong>ano, gera resistência.1.2 LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃOA educação especial tem se modificado ao longo dos anos e po<strong>de</strong> ser observadaacompanhando as mudanças históricas, o conceito <strong>de</strong> pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais e asleis <strong>de</strong> diretrizes e bases da educação.Mas o que dizem as leis <strong>de</strong> diretrizes e bases sobre a educação especial?A lei 4.024/61 reserva dois artigos sobre esse tema:


15Titulo X – Da Educação <strong>de</strong> excepcionalArt. 88° - A educação <strong>de</strong> excepcionais <strong>de</strong>ve, no que for possível, enquadrar-se no sistemageral <strong>de</strong> educação, a fim <strong>de</strong> integra-los na comunida<strong>de</strong>.Art 89° - Toda iniciativa privada consi<strong>de</strong>rada eficiente pelos conselhos estaduais <strong>de</strong>educação e relativa à educação <strong>de</strong> excepcionais, receberá dos po<strong>de</strong>res públicos tratamentoespeciais mediante bolsas <strong>de</strong> estudo, empréstimos e subvenções.É fácil observar as brechas nesses artigos e muitas são as críticas feitas por inúmerosautores. Carvalho (1997) e Mazzotta (2001) concordam quando apontam falhas nainterpretação. A lei garante o direito <strong>de</strong> integração, principalmente quando coloca que todostêm direito a se matricular “preferencialmente” na re<strong>de</strong> regular <strong>de</strong> ensino, mas <strong>de</strong>ixa claroque só ocorrerá se for possível, isso <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma quer dizer que po<strong>de</strong> não ocorrer. Masentão, que direito é esse que é garantido, mas que po<strong>de</strong> não ocorrer? Não fica claro, também,se a educação das PNEs vai fazer parte do sistema do ensino ou será mais <strong>um</strong> sub-sistema daeducação. Estas lacunas é que hoje são o pior foco do qual se utilizam aqueles que não saíramdo preconceito.O artigo 89 também traz muitos questionamentos sobre a natureza dos serviçoseducacionais prestados para os alunos e sua eficiência.Na lei 5.692/71 só é <strong>de</strong>dicado <strong>um</strong> artigo para o tema trabalhado:Art. 9° - Os alunos que apresentam <strong>de</strong>ficiências físicas ou mentais, os que seencontram em atraso consi<strong>de</strong>rável quanto a ida<strong>de</strong> regular <strong>de</strong> matricula e os superdotados<strong>de</strong>verão receber tratamento especial, d acordo com as normas fixadas pelos competentesConselhos <strong>de</strong> Educação.Neste artigo observa-se a ausência <strong>de</strong> outras categorias <strong>de</strong> doenças, como síndromesneurológicas que também necessitam <strong>de</strong> tratamento especial, e a inclusão dos alunos que tematraso quanto à ida<strong>de</strong> regular <strong>de</strong> matricula como aluno da educação especial.A LDB em vigor, 9.394/96 <strong>de</strong>dicou <strong>um</strong> capitulo para a Educação Especial:CAPÍTULO VDA EDUCAÇÃO ESPECIALArt. 58. Enten<strong>de</strong>-se por educação especial, para os efeitos <strong>de</strong>sta Lei, amodalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação escolar, oferecida preferencialmente na re<strong>de</strong> regular <strong>de</strong>ensino, para educandos portadores <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais.§ 1º Haverá, quando necessário, serviços <strong>de</strong> apoio especializado, na escolaregular, para aten<strong>de</strong>r às peculiarida<strong>de</strong>s da clientela <strong>de</strong> educação especial.


16§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviçosespecializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não forpossível a sua integração nas classes comuns <strong>de</strong> ensino regular.§ 3º A oferta <strong>de</strong> educação especial, <strong>de</strong>ver constitucional do Estado, tem iníciona faixa etária <strong>de</strong> zero a seis anos, durante a educação infantil.Art. 59. Os sistemas <strong>de</strong> ensino assegurarão aos educandos com necessida<strong>de</strong>sespeciais:I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, paraaten<strong>de</strong>r às suas necessida<strong>de</strong>s;II - terminalida<strong>de</strong> específica para aqueles que não pu<strong>de</strong>rem atingir o nívelexigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>ficiências, eaceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para ossuperdotados;III - professores com especialização a<strong>de</strong>quada em nível médio ou superior, paraatendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitadospara a integração <strong>de</strong>sses educandos nas classes comuns;IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração navida em socieda<strong>de</strong>, inclusive condições a<strong>de</strong>quadas para os que não revelaremcapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com osórgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam <strong>um</strong>a habilida<strong>de</strong>superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementaresdisponíveis para o respectivo nível do ensino regular.Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas <strong>de</strong> ensino estabelecerão critérios <strong>de</strong>caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e comatuação exclusiva em educação especial, para fins <strong>de</strong> apoio técnico e financeiro peloPo<strong>de</strong>r Público.Parágrafo único. O Po<strong>de</strong>r Público adotará, como alternativa preferencial, aampliação do atendimento aos educandos com necessida<strong>de</strong>s especiais na própriare<strong>de</strong> pública regular <strong>de</strong> ensino, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do apoio às instituições previstasneste artigo.Essa nova LDB <strong>de</strong>monstrou <strong>um</strong>a nova perspectiva sobre a educação especial, sepreocupando com o aluno <strong>de</strong> modo completo, integrando-o ao meio social e abordando opapel do professor, dando melhores possibilida<strong>de</strong>s para as PNEs, se aproximando dopressuposto da Declaração <strong>de</strong> Salamanca. Mas esta nova LDB ainda apresenta muitas<strong>de</strong>ficiências.


17Enten<strong>de</strong>-se com a nova LDB que o ensino regular não é priorida<strong>de</strong>, mas preferencial.Se o educando tiver possibilida<strong>de</strong>, freqüentará o ensino regular. Po<strong>de</strong>ndo <strong>caso</strong> contráriofreqüentar a classe especial.Com tudo isso, a educação especial visa dar oportunida<strong>de</strong> e possibilitar o<strong>de</strong>senvolvimento dos alunos com necessida<strong>de</strong>s especiais e trabalhar suas habilida<strong>de</strong>s edificulda<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> promover a inclusão <strong>de</strong>sses indivíduos no meio social, pois em suamaioria são mantidos fora do convívio social.Com a nova LDB, se faz necessário esclarecer quem são as PNEs. São educandos queem alg<strong>um</strong> momento apresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizado e que sentem dificulda<strong>de</strong>s paraacompanhar as ativida<strong>de</strong>s nas aulas. De acordo com a LDB, as pessoas com necessida<strong>de</strong>sespeciais são os educandos que têm alg<strong>um</strong>a necessida<strong>de</strong> no campo da aprendizagem,originadas por <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência física, sensorial, mental ou múltipla, ou caracterizada comoaltas habilida<strong>de</strong>s, superdotação, além <strong>de</strong> outras minorias excluídas. Mas, acima <strong>de</strong> tudo sãoindivíduos que tem potencialida<strong>de</strong>s e afetivida<strong>de</strong>, sendo necessário apenas <strong>um</strong> ambienteestimulador e afetivo para que ele possa se <strong>de</strong>senvolver.As PNEs encontram na escola <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong>mocrático para partilharem oconhecimento e a experiência com o diferente, e a educação especial é <strong>um</strong>a busca pela<strong>de</strong>mocracia e pela execução do direito à educação. Mas é importante que esse espaço sejamais que <strong>um</strong>a simples assistência, pois assim eles acabam sendo afastados, excluídos. Esseespaço <strong>de</strong>ve promover a educação e a integração <strong>de</strong>sses indivíduos.A educação percorreu <strong>um</strong> longo caminho para chegar on<strong>de</strong> está, mas ainda faltammuitas ações para se colocar na prática o que já está no papel.Ainscow (1999), apodt Mittler (2003) conceitua a educação <strong>inclusiva</strong>:A agenda da educação <strong>inclusiva</strong> refere-se à superação <strong>de</strong> barreiras, à participação que po<strong>de</strong>ser experienciada por quaisquer alunos. A tendência ainda é pensar em “política <strong>de</strong>inclusão” ou educação <strong>inclusiva</strong> como dizendo respeito aos alunos com <strong>de</strong>ficiência e aoutros com caracterizados como tendo necessida<strong>de</strong>s educacionais “especiais”. Além disso, ainclusão é freqüentemente vista apenas como envolvendo o movimento <strong>de</strong> alunos das escolasespeciais para os contextos das escolas regulares, com a implicação <strong>de</strong> que eles estão“incluídos”, <strong>um</strong>a vez que fazem parte daquele contexto. Em contrapartida, eu vejo a inclusão


18como <strong>um</strong> processo que nunca termina, pois é mais do que <strong>um</strong> simples estado <strong>de</strong> mudança, ecomo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento organizacional e pedagógico continuo no sistemaregular <strong>de</strong> ensino. (AINSCOW, 1999, p. 218)Com isso, enten<strong>de</strong>-se que a educação <strong>inclusiva</strong> é <strong>um</strong> processo lento, mas necessário.Visa promover a participação <strong>de</strong> todos os alunos no processo educacional, mas não apenasincluir o aluno em <strong>um</strong>a sala regular, e sim possibilitar seu <strong>de</strong>senvolvimento e interação comos outros indivíduos. A inclusão não <strong>de</strong>ve se restringir só à escola, mas <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>rtodos os âmbitos da vida do indivíduo, permitindo sua inclusão na socieda<strong>de</strong>.


192- SIGNIFICANDO A INCLUSÃOCom a proposta <strong>de</strong> escola para todos a <strong>partir</strong> da Declaração <strong>de</strong> Salamanca, afirmandoque todas as crianças têm o direito à educação, inclusive os alunos com necessida<strong>de</strong>seducativas especiais e preferencialmente em classes regulares surgiu, o termo inclusão.Inclusão, <strong>de</strong> acordo com o dicionário <strong>de</strong> Ferreira (2000), significa compreen<strong>de</strong>r,abranger, inserir e introduzir. O termo incluir é entendido como compreen<strong>de</strong>r, abranger,envolver, estar incluído ou compreendido, além <strong>de</strong> pertencer e estar junto com outros.Muitas são as tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o termo inclusão. Alg<strong>um</strong>as <strong>de</strong>finições: Uditsky(1993) apud Tilstone, Florian e Rose (1998), Um conjunto <strong>de</strong> princípios que assegura que oaluno com <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência seja consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> membro válido e necessário da comunida<strong>de</strong>escolar em todos os aspectos (TILSTONE, FLORIAN E ROSE, 1998, p. 37). Sebba (1996)apud Tilstone, Florian e Rose (1998), A inclusão <strong>de</strong>screve o processo através do qual aescola tenta dar respostas a todos os alunos enquanto indivíduo, ao reconsi<strong>de</strong>rar aorganização dos seus currículos, organização e meios (TILSTONE, FLORIAN E ROSE,1998, p. 37)Estas <strong>de</strong>finições ainda não se mostram completas e por isso, antes <strong>de</strong> tentar <strong>de</strong>svendaro verda<strong>de</strong>iro significado da inclusão, se faz necessário percorrer o caminho da integração àinclusão.No final da década <strong>de</strong> 60 surgiu a termo integração, mudando todo <strong>um</strong> paradigma <strong>de</strong>exclusão que existia. O que se queria com a integração, <strong>de</strong> acordo com Guimarães e Ferreira(2003) e Mittler (2003), era preparar, modificar o aluno com necessida<strong>de</strong>s especiais para queconseguisse se adaptar ao meio social, com isso o aluno <strong>de</strong>veria se preparar para po<strong>de</strong>r teracesso às escolas regulares. Nesta metodologia <strong>de</strong> integração fica claro que é o aluno quem<strong>de</strong>ve se adaptar àquele meio, o qual não está preparado para recebê-lo e, como afirma Gil(2002), a PNE <strong>de</strong>ve ser inserida na socieda<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>ve também estar preparada paraenfrentar as dificulda<strong>de</strong>s, ou seja, não é assim cobrando da socieda<strong>de</strong> que ela se adapte àsPNEs.Comparando a proposta da integração com a exclusão é possível observar <strong>um</strong> avançosignificativo, mas também se observa que essa ainda não é a proposta i<strong>de</strong>al.


20A questão da inclusão <strong>de</strong> crianças com necessida<strong>de</strong>s educacionais especiais na re<strong>de</strong>regular <strong>de</strong> ensino insere-se no contexto das discussões, cada vez mais em evidência, relativasà integração <strong>de</strong> pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais enquanto cidadãs, com seus respectivosdireitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> participação e contribuição social. A inclusão veio então tentar quebrarmais barreiras encontradas pelas PNEs, para garantir seus direitos como cidadão, isto é,direitos iguais para todos.Nas palavras <strong>de</strong> Mittler (2003):Inclusão implica <strong>um</strong>a reforma radical nas escolas em termos <strong>de</strong> currículo,avaliação, pedagogia e formas <strong>de</strong> agrupamentos dos alunos nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sala<strong>de</strong> aula. Ela é baseada em <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong> valores que faz com que todos se sintambem-vindos e celebra a diversida<strong>de</strong> que tem como base o gênero, a nacionalida<strong>de</strong>, araça, a linguagem <strong>de</strong> origem, o background social, o nível <strong>de</strong> aquisição educacionalou <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. ( MITTLER, 2003, p. 34)Enten<strong>de</strong>-se assim que a inclusão visa incluir o aluno com necessida<strong>de</strong>s especiaisdiversas ao ensino regular e proporcionar meios para que ele consiga se <strong>de</strong>senvolver,respeitando suas necessida<strong>de</strong>s.Com isso, observa-se que o que se preten<strong>de</strong> com a inclusão é <strong>um</strong>a reforma geral para aescola se adaptar às necessida<strong>de</strong>s dos alunos, criar meios para que os alunos com necessida<strong>de</strong>sespeciais consigam se adaptar e vencer as diferenças, mas o que precisa ser ressaltado é que aescola, os professores, eles sim vão se adaptar às necessida<strong>de</strong>s dos alunos, e assimpromovendo a participação <strong>de</strong> TODOS os alunos no processo <strong>de</strong> inclusão. O que é essencial émodificar, transformar a escola regular para que possa aten<strong>de</strong>r à diversida<strong>de</strong> dos alunos,explica Gil (2002).Gil (2002) afirma que a posição mais radical da idéia <strong>de</strong> educação <strong>inclusiva</strong> é quetodos os alunos <strong>de</strong>vem permanecer nas escolas regulares, mas é possível observar tambémoutras modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação como instituições especializadas, salas <strong>de</strong> apoio e classesespeciais em escolas regulares. E cada <strong>caso</strong> especial tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher o melhorcaminho para aquele educando. Mittler (2003) afirma que a inclusão é incompatível com asclasses especiais nas escolas regulares, pois acredita que estas promovem a segregação.


21Enten<strong>de</strong>-se assim que os dois autores citados têm visões diferentes sobre a prática <strong>de</strong> ensinoem salas especiais.Segundo Teixeira (2003), as escolas <strong>inclusiva</strong>s consi<strong>de</strong>ram as necessida<strong>de</strong>s dos alunose se organizam em função <strong>de</strong>las, promovendo o convívio com as diversida<strong>de</strong>s esingularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos, esclarecendo que é ela quem <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s dosindivíduos (Teixeira, 2003; Ferreira e Guimarães 2003).Tilstone, Florian e Rose (1998), comentam que a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s na escolasignifica tratar com justiça e respeito as pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais, <strong>de</strong> acordo comsuas necessida<strong>de</strong>s, capacida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s, sem qualquer forma <strong>de</strong> discriminação,proporcionando as oportunida<strong>de</strong>s que se beneficiam na escola.De acordo com Carvalho (2004), a idéia <strong>de</strong> educação <strong>inclusiva</strong> ainda traz muitosquestionamentos. Muitos professores, quando questionados sobre a prática <strong>inclusiva</strong>,associam com as pessoas com <strong>de</strong>ficiência, nunca ou raramente associando com altashabilida<strong>de</strong>s, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem ou com a minoria excluída (negros e pobres).Muitos pais também questionam sobre a qualida<strong>de</strong> do ensino das PNEs nas salas regulares,alguns acreditam que a aprendizagem possa não ser satisfatória, já que o professor vai ficardividido, alega também que o ensino dos alunos ditos ‘normais’ está ficando cada vez maisprejudicado, que estes professores não estão conseguindo trabalhar em classes ditas“homogêneas”, sendo pior em classes mistas.Ainda <strong>de</strong> acordo com Carvalho (2004), os pais dos alunos sem necessida<strong>de</strong>s especiaisalegam que o professor, tendo que lidar com a diversida<strong>de</strong>, com as limitações e ritmos dosalunos com necessida<strong>de</strong>s especiais, prejudicará o ensino dos outros alunos.E como relata Ferreira e Guimarães (2003), a inclusão não se limita àqueles que têmnecessida<strong>de</strong>s especiais, mas a todos os alunos com dificulda<strong>de</strong>s e todos os indivíduos que seenvolvem com o processo. O processo <strong>de</strong> inclusão traz benefícios não só para os alunos quesão incluídos, mas para todos os membros da escola. O contato com alunos com necessida<strong>de</strong>sespeciais, faz com que as outras crianças entrem em contato com o diferente e aprendam arespeitar e lidar com as semelhanças e diferenças, atenuando-as. Carvalho (2004) afirma queas crianças apren<strong>de</strong>m a exercitar a tolerância, a paciência e o respeito pelo próximo.


22Para os alunos com necessida<strong>de</strong>s especiais, a possibilida<strong>de</strong> da inclusão traz muitosbenefícios, pois eles vão po<strong>de</strong>r se relacionar e ter <strong>um</strong>a vida mais saudável e ativa.O relacionamento interpessoal é importante para o <strong>de</strong>senvolvimento psicossocial doindivíduo. Quando o aluno especial entra em contato e <strong>de</strong>senvolve relacionamentossatisfatórios com os outros alunos, se sente acolhido e pertencente à socieda<strong>de</strong>. Estesentimento <strong>de</strong> pertença é importante para estes alunos ditos diferentes, pois se sentem iguaisaos outros quando estão no meio <strong>de</strong>les.Para ocorrer a inclusão são necessárias muitas transformações tanto físicas,proporcionando <strong>um</strong> espaço a<strong>de</strong>quado, como mudanças no currículo, elaborando <strong>um</strong>planejamento individualizado <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> do aluno ou até mesmo tendo <strong>um</strong>assistente <strong>de</strong> apoio à aprendizagem, tanto para planejar como para acompanhamento em sala<strong>de</strong> aula. Mas, segundo Mittler (2003), o aluno com necessida<strong>de</strong>s especiais po<strong>de</strong> ser excluídoquando tem em sala <strong>de</strong> aula <strong>um</strong> apoio, pois ficará sempre segregado das outras ativida<strong>de</strong>s e dainteração com os outros alunos, já que não participa das ativida<strong>de</strong>s que os outros alunosexecutam. Porém, no doc<strong>um</strong>entário “O lutador” <strong>de</strong> Keplinger (2000), on<strong>de</strong> retrata a vida e aluta <strong>de</strong> <strong>um</strong> jovem com paralisia cerebral e todo seu processo educacional, observa-se que<strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> especial do educando, era necessário em <strong>um</strong>a fase <strong>de</strong> sua vida escolar oacompanhamento individual <strong>de</strong> <strong>um</strong>a professora, o que proporcionou <strong>um</strong> ótimo<strong>de</strong>senvolvimento. Observa-se também que essa exclusão questionada por Mittler nãoacontece. Dan, o educando com paralisia cerebral tinha <strong>um</strong>a participação e <strong>um</strong>a interação comos outros alunos, em nenh<strong>um</strong> momento sendo excluído, <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> <strong>um</strong>a professorao acompanhando. Com isto, enten<strong>de</strong>-se que as dificulda<strong>de</strong>s existem, mas elas são superáveisquando existem oportunida<strong>de</strong>s e acolhimento.Com isso, acredita-se que em alguns <strong>caso</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da necessida<strong>de</strong> do aluno, vaiser necessário sim <strong>um</strong> professor em sala <strong>de</strong> aula dando assistência, mas cabe aos professorespossibilitarem que o aluno com necessida<strong>de</strong> especial participe das mesmas ativida<strong>de</strong>spropostas para os outros alunos e se relacione com eles. Mas se a professora e a assistente nãopromoverem a inclusão, o bom relacionamento entre os alunos, as PNEs ficarão excluídas,não ocorrendo o processo <strong>de</strong> inclusão.


23A formação dos professores é outro ponto chave do processo <strong>de</strong> inclusão, pois muitosautores como Mittler (2003) afirmam que os professores têm o direito <strong>de</strong> receber preparação eorientação durante sua vida profissional, além <strong>de</strong> apoio dos coor<strong>de</strong>nadores e da escola notrabalho com as PNEs. Assim, Gil (2002) discute que o papel dos professores no processo <strong>de</strong>inclusão é <strong>de</strong> fundamental importância, pois são eles quem vão promover a integração, ainteração dos alunos com necessida<strong>de</strong>s especiais com os outros alunos, além <strong>de</strong> promover o<strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s dos alunos com necessida<strong>de</strong>s. Muitos estudos mostram quea principal dificulda<strong>de</strong> dos professores é no que diz respeito à sua formação, muitos afirmamque não tem formação suficiente para trabalhar com PNEs. Desta forma, Gil (2002) <strong>de</strong>stacaque para a inclusão acontecer, alg<strong>um</strong>as variáveis são fundamentais, como a formação dosprofessores, sua preparação pedagógica para o fazer, mas também sua vonta<strong>de</strong>, o que vairequerer todo <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> sensibilização durante o período <strong>de</strong> formação do professor.Com isto Mazzota afirma (1993):A estruturação dos serviços e auxilio especiais exigem recursos h<strong>um</strong>anos<strong>de</strong>vidamente qualificados, currículos especializados ou adaptados à clientela a que se<strong>de</strong>stina, além <strong>de</strong> recursos naturais apropriados ao <strong>de</strong>senvolvimento dos currículos. Para suaorganização e <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>um</strong> dos elementos essenciais é a formação do professor.(MAZZOTA, 1993, p 26)Mazzotta (1993) afirma também que os professores precisam também terconhecimento sobre as características dos diversos tipos <strong>de</strong> crianças e das mo<strong>de</strong>rnas práticaseducativas, além <strong>de</strong> motivação para este tipo <strong>de</strong> trabalho. Assim, os cursos <strong>de</strong> formação<strong>de</strong>vem preparar o professor sobre a natureza e as necessida<strong>de</strong>s das crianças, além das técnicasespecializadas que se fazem necessárias para este trabalho. Carvalho (2004) contribuiafirmando que os professores questionam que não tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar essasexperiências no curso e por isso se negam a trabalhar com os alunos com necessida<strong>de</strong>sespeciais, e outros profissionais até aceitam para não criar conflito com a direção da escola.Carvalho (2004) alerta sobre as barreiras encontradas no processo <strong>de</strong> educacional <strong>de</strong>inclusão. Poucos profissionais mencionam sobre sua atitu<strong>de</strong> como fator <strong>de</strong>cisivo sobre aprática educativa e sobre os problemas ocorridos nesta prática. Alguns atribuem ao sistema,que não lhe oferecem justos salários nem condições necessárias para o trabalho com adiversida<strong>de</strong>. Alguns ainda localizam as barreiras nas famílias.


24De acordo com Carvalho (2004), muitos profissionais localizam nos alunos asdificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, colocando assim a culpa no aluno, eximindo-se <strong>de</strong> qualquerresponsabilida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento e na aprendizagem <strong>de</strong>le. Esta atitu<strong>de</strong> se torna cômoda,pois <strong>de</strong>sta forma os professores não precisam realizar nenh<strong>um</strong> trabalho com estes alunos. Omecanismo <strong>de</strong> buscar sempre o culpado da história mostra que, no geral, os professores nãoatingiram <strong>um</strong> grau suficiente <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r que o processo educacionalnão cabe em interpretações simplistas, tais como: “a culpa é do governo” ou “a culpa é doaluno que é <strong>de</strong>ficiente e não apren<strong>de</strong>”. É preciso que todos tenham a noção do seu papel frentea educação, <strong>inclusiva</strong> ou não.O trabalho com a diversida<strong>de</strong> requer mudança na ação pedagógica em sala <strong>de</strong> aula eprincipalmente na visão dor professores. Eles precisam sair do comodismo e seresponsabilizar por este trabalho e pela educação dos alunos. Precisam se preocupar e seengajar na formação completa do educando.Analisando tudo isso, po<strong>de</strong>-se afirmar que o elemento central para o trabalho inclusivoé a vonta<strong>de</strong> que todos os professores precisam ter, é o querer <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong> trabalho sério ese envolver realmente com sua proposta, que é a da educação.As escolas, em sua gran<strong>de</strong> maioria, infelizmente não estão preparadas para receber oaluno com necessida<strong>de</strong>s especiais e nem os professores, que como já foi <strong>de</strong>stacado, nãorecebem <strong>um</strong>a formação a<strong>de</strong>quada. Porém, estes alunos não po<strong>de</strong>m ficar à espera daorganização da escola, da preparação dos professores. A preparação vem com a prática, porisso os professores, a escola e todos aqueles que estão <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma envolvidos com aeducação precisam aceitar o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> trabalhar com a diversida<strong>de</strong> e acolher as diferenças.Deve-se reconhecer os direitos dos alunos a <strong>um</strong>a total participação em todos osaspectos da educação e a preparação para <strong>um</strong>a vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.Assim como afirma Sassaki (1997), a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se construir <strong>um</strong> sistemaeducacional <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para todos, exige <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> atuação diferenciada por todosaqueles que trabalham na educação. A quebra <strong>de</strong> estereótipos e preconceitos é ponto <strong>de</strong>partida para a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a escola <strong>inclusiva</strong>. A colaboração, cooperação e participação<strong>de</strong> todos envolvidos no processo educacional (pais, professores, alunos, coor<strong>de</strong>nadores


25pedagógicos, diretores, comunida<strong>de</strong>, etc) na tentativa <strong>de</strong> mudar os papéis e <strong>de</strong>legarresponsabilida<strong>de</strong>s, tornando o ambiente educacional mais flexível e amplo, são alguns dosobjetivos pretendidos com este processo.A idéia <strong>de</strong> incluir tem sido satisfatória para os pais, educadores e socieda<strong>de</strong>, pois visa<strong>um</strong>a <strong>de</strong>mocracia e a igualda<strong>de</strong>. Mas, apesar da proposta da educação <strong>inclusiva</strong> ser vista combons olhos, a prática ainda encontra muita resistência.


263- O QUE É SÍNDROME DE DOWNDe acordo com Telford e Sawrey (1988), a Associação Americana para a DeficiênciaMental <strong>de</strong>fine o retardo mental como <strong>um</strong> funcionamento intelectual geral significamenteabaixo da média e <strong>um</strong> déficit no comportamento adaptativo, que se manifesta durante operíodo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Afirma ainda que esse prejuízo po<strong>de</strong> ass<strong>um</strong>ir a forma <strong>de</strong>retardamento maturacional, on<strong>de</strong> se observa <strong>um</strong> atraso na aquisição <strong>de</strong> aptidões como andar einteragir com membros semelhantes; <strong>de</strong>ficiência na aprendizagem, acarretando <strong>um</strong><strong>de</strong>sempenho acadêmico insuficiente e ajustamento social ina<strong>de</strong>quado. Fleming (1988)contribui afirmando que são muitas as causas do retardamento mental, mas que também nãoexiste <strong>um</strong>a causa única.A Síndrome <strong>de</strong> Down é <strong>um</strong>a das síndromes mais freqüentes do retardamento mentalgrave. Telford e Sawrey (1988) afirmam que 10 a 20% das crianças com retardamento mentalgrave pertencem a este quadro.Esta síndrome é resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a alteração n<strong>um</strong>érica dos cromossômos, os indivíduoscom esta síndrome possuem 47 cromossomos ao invés <strong>de</strong> 46, então ficou <strong>de</strong>terminado queesta síndrome está associada a <strong>um</strong> cromossomo extra (trissomia) no par n<strong>um</strong>ero 21. Otto(1998) explica que possuem três tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios cromossômicos: a trissomia do cromossomo21, que é resultado da não-disjunçao e é <strong>um</strong> distúrbio genético, mas não herdado, que temrelação com a ida<strong>de</strong> avançada da mãe (concepção mais antiga); translocação <strong>de</strong> <strong>um</strong>cromossomo que envolve a ligação <strong>de</strong> <strong>um</strong> cromossomo extra <strong>de</strong> n<strong>um</strong>ero 21 a outrocromossomo, e geralmente ocorre em filhos <strong>de</strong> pais mais jovens; e <strong>um</strong> outro mais raro é omosaicismo, que é menos freqüente, on<strong>de</strong> ocorre duas linhagens no mesmo individuo, <strong>um</strong>anormal e outra trissomica quanto ao cromossomo 21.Werneck (1992) afirma que a Síndrome <strong>de</strong> Down po<strong>de</strong> ser classificada como leve,mo<strong>de</strong>rada, severa ou profunda e as causas po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>um</strong>a alteração cromossômica,até infecções que afetam a gestante como rubéola e sífilis, <strong>de</strong>snutrição materna, uso <strong>de</strong> tóxicoe meningite.As principais características da Síndrome <strong>de</strong> Down <strong>de</strong> acordo com Otto (1998) são oachatamento facial, nariz pequeno, olhos com pregas interna e fendas obliquas com ângulos


27externos elevados, cavida<strong>de</strong> bucal pequena, língua com crescimento normal, masapresentando fissuras grosseiras, e geralmente ela fica fora da boca. Possuem também orelhaspequenas, pescoço curto e largo, estatura baixa e mãos e <strong>de</strong>dos curtos. A musculaturageralmente é hipotônica. Os homens são estéreis e as mulheres apresentam hipogonadismo eamenorréia primária. Quando a mulher se torna mãe, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus filhos são afetados pelasíndrome.De acordo com Sampedro, Blasco e Hernán<strong>de</strong>z (1997), o indivíduo com Síndrome <strong>de</strong>Down precisa <strong>de</strong> mais tempo para permanecer atento para o que preten<strong>de</strong> e tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>transferir <strong>de</strong> <strong>um</strong> aspecto para outro do estímulo, isto implica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a fortemotivação para que se mantenha interessado. Alg<strong>um</strong>as características <strong>de</strong>sta síndrome e quepo<strong>de</strong>m ser <strong>um</strong> obstáculo no <strong>de</strong>senvolvimento é a apatia, a teimosia, a fatigabilida<strong>de</strong> e o curtotempo <strong>de</strong> atenção.Werneck (1992) completa alg<strong>um</strong>as características, afirmando que geralmente ascrianças com Síndrome <strong>de</strong> Down nascem com estatura e peso abaixo do normal, sãobochechudos e tem os olhos em forma <strong>de</strong> amêndoas com <strong>um</strong>a distancia gran<strong>de</strong> entre <strong>um</strong> olhoe outro.Otto (1998) e Telford e Sawrey (1988) apresentam que o coeficiente intelectual médio<strong>de</strong>sses indivíduos varia entre 20 a 50. Mas ressaltam que eles são capazes <strong>de</strong> serem educados,alfabetizados e executarem tarefas manuais. Entre outras características, po<strong>de</strong> se observar acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imitação que eles possuem, e que são bastante joviais, afetuosos, brincalhões ecooperativos.Sampedro, Blasco e Hernán<strong>de</strong>z (1997) comentam que o objetivo da prática educativa é<strong>de</strong>senvolver afetivamente e socialmente o indivíduo, e <strong>de</strong>ve ser seguida <strong>de</strong> <strong>um</strong>a aprendizagemsocial continua no contexto familiar social e escolar. Com isso, percebe-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong>stes indivíduos <strong>de</strong> serem incluídos e freqüentar a escola.A integração e interação é abordada por Pueschel (1993), quando comenta que se <strong>de</strong>veproporcionar para estas pessoas experiências normais para formação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong>relacionamentos interpessoais com outras pessoas. A escola e a família <strong>de</strong>vem auxiliar nesse<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> relacionamentos, oportunizando encontros com outras pessoas. Assim,


28ele afirma: os relacionamentos h<strong>um</strong>anos amigos e contínuos resultantes, que são vitais paratodo ser h<strong>um</strong>ano, também serão profundamente gratificantes para as pessoas com Síndrome<strong>de</strong> Down e <strong>um</strong>a importante dimensão em sua felicida<strong>de</strong> (PUESCHEL, 1993, p. 290).As pessoas com Síndrome <strong>de</strong> Down possuem <strong>um</strong>a aparência semelhante, mas ascaracterísticas citadas acima po<strong>de</strong>m ocorrer em alguns indivíduos e em outros não, além <strong>de</strong> semanifestar em graus diferentes. Com isso, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r que a Síndrome <strong>de</strong> Down não<strong>de</strong>ve ser compreendida como <strong>um</strong>a padronização, pois cada indivíduo vai reagir <strong>de</strong> maneiradiferente, <strong>de</strong> acordo com sua história, com sua relação com o mundo que vive. Werneck(1992) afirma que o grau da <strong>de</strong>ficiência vai variar <strong>de</strong> indivíduo para indivíduo, mas é difícildizer o que vai <strong>de</strong>terminar até on<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong> ir. Não se <strong>de</strong>ve limitar as expectativas sobre o<strong>de</strong>senvolvimento do individuo com esta síndrome, pois quando o indivíduo com Síndrome <strong>de</strong>Down tem <strong>um</strong> atendimento a<strong>de</strong>quado, <strong>de</strong> estimulação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong>potencial cada vez maior, chegando até a in<strong>de</strong>pendência.Segundo Werneck (1992), a Síndrome <strong>de</strong> Down às vezes não é i<strong>de</strong>ntificada cedo,quando não se faz os exames necessários, mas a <strong>partir</strong> dos seis meses as características citadasacima ficam mais evi<strong>de</strong>ntes.Hoje, com toda a tecnologia, com a informação, os cuidados com estes indivíduosforam se tornando cada vez melhores. De acordo com Werneck (1992), antigamente se falavaque a expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>les ia até os nove anos, hoje estudos comprovam que eles vivematé os cinqüenta anos e 20% da população com essa síndrome alcançam os sessenta e oitoanos. Mas a preocupação que se <strong>de</strong>ve ter hoje é com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, para que eles vivamcada vez melhores e se sintam realmente parte da socieda<strong>de</strong>.Werneck (1992) arg<strong>um</strong>enta que <strong>de</strong>pois do diagnóstico feito, os pais <strong>de</strong>vem sepreocupar com a estimulação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros meses <strong>de</strong> vida da criança. A APAE-Associação <strong>de</strong> Pais e Amigos Excepcionais - é <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> estimulação que po<strong>de</strong> serencontrado em todos os estados do país, e que tem muito a oferecer a estas crianças. Mas éimportante ressaltar que <strong>um</strong>a estimulação sem vínculo, sem amor e carinho não levam a lugarnenh<strong>um</strong>. Os pais, a família precisa dar afeto e aceitar esta criança, que precisa se sentir amadae aceita. O afeto junto com <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> estimulação sério só traz benefício à criança e aoseu <strong>de</strong>senvolvimento. A estimulação <strong>de</strong>ve proporcionar a integração progressiva ao meio e à


29vida social do individuo. Sampedro, Blasco e Hernán<strong>de</strong>z (1997) comentam que o programa<strong>de</strong> estimulação <strong>de</strong>ve abranger todas as áreas do <strong>de</strong>senvolvimento, como a psicomotricida<strong>de</strong>fina e grossa, linguagem e comunicação, socialização e autonomia pessoal, <strong>de</strong>senvolvimentoafetivo e cognitivo.A apresentação do diagnóstico não é fácil para os pais e muitas vezes as famíliaspassam pelo luto, pela raiva, pela culpa. São muitos os sentimentos envolvidos quando serecebe <strong>um</strong> diagnóstico <strong>de</strong>sse, mas os pais precisam elaborar seu sofrimento, chorar , conversare se reestruturar para aceitar incondicionalmente essa criança.Sampedro, Blasco e Hernán<strong>de</strong>z (1997) enfatizam o papel dos pais no processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento:A criação <strong>de</strong> <strong>um</strong> clima familiar e afetivo a<strong>de</strong>quado repercutir-se a positivamenteno <strong>de</strong>senvolvimento da criança, cujas condições serão muito favorecidas se forem evitadasa supeproteção, ansieda<strong>de</strong> e rejeição e houver <strong>um</strong>a implicação ativa dos pais na suaeducação. (1997, p. 247)Ass<strong>um</strong>pção e Sprovieri (1991) também abordam a importância da família como fator<strong>de</strong> influencia na formação da personalida<strong>de</strong>, pois é o primeiro ambiente que recebe oindivíduo.Outras doenças estão associadas à Síndrome <strong>de</strong> Down. Werneck (1992) lista alg<strong>um</strong>as<strong>de</strong>las: a doença <strong>de</strong> Alzheimer, que causa <strong>um</strong> comprometimento mental progressivo, atinge 50% da população com síndrome <strong>de</strong> Down, a calcificação da glândula basal e a epilepsiatambém são comuns à esta síndrome. Em media 48% <strong>de</strong>sses indivíduos apresentamcardiopatias congênita operáveis, são suscetíveis também a distúrbios do aparelho digestivo,os meninos apresentam pênis relativamente pequeno e saco escrotal pouco <strong>de</strong>senvolvido emuitos tem predisposição a infecções no aparelho respiratório. Apresentam infecções <strong>de</strong> pele,e esta se apresenta áspera e seca, é preciso <strong>um</strong> cuidado com as vacinações <strong>de</strong>vido ao altoíndice <strong>de</strong> infecções, e com as doenças <strong>de</strong> gengiva e o alto índice <strong>de</strong> cáries. Po<strong>de</strong>m apresentarproblemas nos pés e quadris <strong>de</strong>vido a <strong>um</strong>a frouxidão <strong>de</strong> ligamentos, e estudos comprovam que70 % <strong>de</strong>sses indivíduos apresentam miopia e 50% estrabismo. Faz-se necessário ressaltar queestes problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são comuns aos indivíduos com esta síndrome, mas po<strong>de</strong>m aparecerou não nos indivíduos com Síndrome <strong>de</strong> Down.


30O atraso na aquisição da fala é <strong>um</strong> dos maiores problemas da Síndrome <strong>de</strong> Down.Pueschel (1993) afirma que as crianças com Síndrome <strong>de</strong> Down po<strong>de</strong>m apresentar maiordificulda<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r a linguagem e a se comunicar com clareza do que as outras criançase isso po<strong>de</strong> ocorrer, pois essas crianças apresentam com freqüência perda auditiva e problemano controle da respiração. Mas, além disso, o preconceito, o rótulo que as pessoas colocamnesses indivíduos, achando que eles não são capazes, que não vivem muito e por isso não épreciso <strong>um</strong>a preocupação e <strong>um</strong> incentivo na sua aprendizagem, faz com que esses indivíduosfiquem jogados à margem da socieda<strong>de</strong> sem <strong>um</strong>a interação, sem <strong>um</strong>a comunicação.A compreensão é atrasada em relação a <strong>um</strong>a criança sem a síndrome e possui tambémdificulda<strong>de</strong>s em tudo o que exige operações mentais <strong>de</strong> abstração, operações <strong>de</strong> síntese,organização do pensamento, da frase, na aquisição <strong>de</strong> vocabulário e na estruturaçãomorfossintática, contribui Sampedro, Blasco e Hernán<strong>de</strong>z (1997).Mas a linguagem é essencial para todos os indivíduos, inclusive para os indivíduoscom Síndrome <strong>de</strong> Down. Schwartzman (2003) afirma que para as crianças com Síndrome <strong>de</strong>Down dizer é tão urgente e essencial como para qualquer <strong>um</strong> <strong>de</strong> nós (SCHWARTZMAN,2003, p. 206).Essas crianças vão se utilizar da linguagem verbal e não-verbal para interagir com omundo, pois o que <strong>de</strong>sejam é se comunicar, interagir e se constituir como sujeito. Devido aesse atraso a estimulação <strong>de</strong>ve ocorrer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, proporcionando a comunicação e ainteração. Assim, Pueschel (1993) relata que a <strong>partir</strong> das experiências, das ativida<strong>de</strong>s, dosobjetos, das pessoas, é que a criança tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir suas habilida<strong>de</strong>scomunicativas, ampliando seu mundo e organizando-o por meio da linguagem.A ativida<strong>de</strong> sexual dos indivíduos com Síndrome <strong>de</strong> Down é sempre muito discutida,mas o <strong>de</strong>senvolvimento sexual <strong>de</strong>stes indivíduos é igual ao <strong>de</strong> qualquer adolescente. E seránecessário receber todas as informações sobre as transformações que estará passando e sobreos cuidados que <strong>de</strong>vem ter nessa fase. Eles namoram, se casam, só precisam <strong>de</strong> <strong>um</strong>asupervisão para que encontrem relações satisfatórias. (PUESCHEL,1993)Muitas pessoas falam que os indivíduos com Síndrome <strong>de</strong> Down possuem <strong>um</strong>asexualida<strong>de</strong> exacerbada, mas o que se po<strong>de</strong> observar é que na verda<strong>de</strong> eles não têm tabus e


31não se reprimem, e sim <strong>de</strong>monstram o que sentem, falam o que pensam e às vezessurpreen<strong>de</strong>m a socieda<strong>de</strong> e as pessoas com quem se relacionam. A socieda<strong>de</strong> impõe regras,normas moralmente corretas, estabelecendo como os indivíduos <strong>de</strong>vem se portar, mas osindivíduos com Síndrome <strong>de</strong> Down não têm a noção do que é moralmente correto, em suacultura, e com isso, não reprimem o que sentem. Mas é importante <strong>de</strong>stacar que a família <strong>de</strong>veesclarecer alg<strong>um</strong>as condutas relacionadas à sexualida<strong>de</strong> e transmitir informações acerca dotema. Pueschel (1993) confirma que sexualida<strong>de</strong> e casamento são temas que precisam serdiscutidos com os jovens com Síndrome <strong>de</strong> Down.Ass<strong>um</strong>pção e Sprovieri (1991) afirmam que o indivíduo com a síndrome estudadapo<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a vida sexual normal e ativa, porém alguns estudos mostram que há <strong>um</strong>aincapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> relacionamento e criação <strong>de</strong> filhos.Pueschel (1993) afirma ainda que na adolescência os jovens com a síndrome têmmaiores dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se relacionar, pois as diferenças se tornam mais evi<strong>de</strong>ntes entre ascrianças com síndrome e as que não tem. Por isso, é importante transmitir encorajamento,ajudar a sentir seu valor próprio e estabelecer amiza<strong>de</strong>s e socialização. Deve-se incentivar ocuidado com a aparência, com a higiene pessoal, pois são fundamentais para a aceitação nasocieda<strong>de</strong>.É importante <strong>de</strong>stacar também que os jovens com Síndrome <strong>de</strong> Down têm <strong>de</strong>sejosiguais aos dos outros jovens, <strong>de</strong> serem aceitos, valorizados pela sua singularida<strong>de</strong>, capazes <strong>de</strong>participar em interações. E por isso <strong>de</strong>vem ser tratados como todos os outros os indivíduos.A Psicologia ressalta a preocupação que se <strong>de</strong>ve ter em <strong>de</strong>senvolver as inter-relaçõesdo indivíduo com esta necessida<strong>de</strong> especial, e em todos os indivíduos, pois é <strong>de</strong> fundamentalimportância para sua formação. Del Prette (2001) comenta que gran<strong>de</strong> parte da vida ocorrenas interações com o outro e aqueles que evitam o contato social, isolando-se, estão maispropensos aos problemas psiquiátricos.Com isto, Brazelton (2002) enfatiza: Os relacionamentos emocionais interativos, sãoimportantes para muitas <strong>de</strong> nossas habilida<strong>de</strong>s essenciais, intelectuais e sociais.(p.25)Enten<strong>de</strong>-se então, que a <strong>partir</strong> <strong>de</strong> relacionamentos saudáveis e seguros as crianças apren<strong>de</strong>m a<strong>de</strong>senvolver seus próprios relacionamentos com crianças e adultos, além <strong>de</strong> comunicar o quesentem e o que <strong>de</strong>sejam, e ainda, <strong>de</strong> se comportarem <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada.


334- ESTUDO DE CASOO presente estudo irá apresentar o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> A G. P., <strong>um</strong> adolescente com Síndrome <strong>de</strong>Down. Primeiro será apresentado <strong>um</strong> relato sistematizado para esclarecer o <strong>caso</strong>,apresentando as ativida<strong>de</strong>s e características do sujeito estudado, além <strong>de</strong> observações eentrevistas que possibilitem <strong>um</strong> conhecimento mais aprofundado. Depois, <strong>um</strong>a reflexãobuscando contribuir para <strong>um</strong>a melhor compreensão do quadro <strong>de</strong> ensino e aprendizagem e doprocesso <strong>de</strong> inclusão.4.1) DESCRIÇÃO DO CASO:A. G. P. tem 12 anos, mora com os pais e duas irmãs mais velhas.Ele é <strong>de</strong>scrito pela família como <strong>um</strong>a pessoa amável, divertida e que adora música efilme. Mas observaram que ultimamente ele tem se isolado, ficado mais tempo no quarto, semquerer <strong>de</strong>scer e sair, mas eles não conseguem relacionar com alg<strong>um</strong> evento especifico. Afamília relata: Um downzinho muito sapeca, carinhoso, gostoso...Que a gente ama muito(C.H.F.P.), (...) <strong>um</strong>a maravilha que Deus me <strong>de</strong>u, me sinto tão realizada com o meu filho, é<strong>um</strong>a criança maravilhosa... (G.G.P.), É <strong>um</strong>a pessoa muito especial (C. G. P.). Super, ultra,mega amoroso, feliz da vida. (P.G.P.). Com isso, observa-se que ele é muito querido pelafamília.Seu processo educacional ocorre da seguinte forma: freqüenta a Escola Classe na AsaSul, <strong>de</strong> terça a sexta, e na segunda freqüenta a Escola Parque na Asa Sul, pela manhã. Noperíodo da tar<strong>de</strong>, terça e quinta faz natação individual e segunda, quarta e sexta freqüenta <strong>um</strong>aclínica particular <strong>de</strong> estimulação.A. realiza suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária (AVDs) <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mas o pairelata às vezes o ajuda com o “intuito <strong>de</strong> protegê-lo” (sic). O educando tem <strong>um</strong>a preocupaçãocom a aparência e se cuida.Seu relacionamento com seus familiares é muito bom e ele tem <strong>um</strong> apego maior pelopai, se mostrando sempre preocupado com este. Mas foi relatado também que após <strong>um</strong>


34inci<strong>de</strong>nte no prédio on<strong>de</strong> moram, hoje o adolescente tem <strong>um</strong>a rejeição por criança, serelacionando melhor com adultos, pois estes o respeitam e enten<strong>de</strong>m suas dificulda<strong>de</strong>s.Segundo relato literal da irmã:Muitas vezes ele é agressivo, quando ele vê que alguém não está tratando ele bem ele ficaagressivo, e às vezes ele para <strong>de</strong> falar com a pessoa, ignora. Igual aqui no bloco, as criançascomeçaram a ignorar ele, a ficar rindo <strong>de</strong>le, da fala <strong>de</strong>le, e ai acabou que ele sentiu que ascrianças não estavam tratando ele bem e ele simplesmente parou <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer, não quer <strong>de</strong>scer,não há quem faça ele <strong>de</strong>scer. ( C. G P)Foi possível observar em todas as entrevistas que o educando não tem se sentido bemao lado <strong>de</strong> crianças, mas que com as outras pessoas, em geral, se relaciona bem. Porém, naEscola Parque que o educando freqüenta, observou-se que ele interagiu com as outras criançasno intervalo, brincando e se divertindo, apesar <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as crianças rirem <strong>de</strong>le, ensinar gestospejorativos, se aproveitando da falta <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> A..A <strong>partir</strong> das entrevistas realizadas foi possível observar que o adolescente foi bemrecebido pelos pais e pelas irmãs, o pai foi quem apresentou mais resistência. A gravi<strong>de</strong>z foicasual e a mãe tinha 38 anos. A mãe relata que ficou sem ação e que o pai entrou em<strong>de</strong>sespero, chorou muito, ele ficou surpreso, e como já tinha <strong>um</strong> primo <strong>de</strong> segundo grau comSíndrome <strong>de</strong> Down, conhecia a síndrome. Como relata o pai:Mas foi <strong>um</strong> baque, você receber a notícia que seu filho não é perfeito, que não vaiser normal, que vai ter <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. G. já foi mais tranqüila, disse ‘mas ele ébonitinho’, e quando eu vi, ele é bonito mesmo...Eu fiquei meio assustado no início, mas<strong>de</strong>pois foi mais tranqüilo. (C. H.F.P.)Logo após a confirmação do diagnóstico, A. começou o trabalho <strong>de</strong> estimulação, quefaz até hoje.A gestação foi tranqüila, apesar da mãe ter tido <strong>um</strong>a ameaça <strong>de</strong> aborto. Mas, segundoela, este fato ocorreu em todas as três gestações que ela teve, sendo assim <strong>um</strong> fato normal.Como os pais têm sangue O- e A-, a criança teve icterícia, com isso precisou <strong>de</strong> algunscuidados, tomando banho <strong>de</strong> luz. Além disso, ele necessitou <strong>de</strong> incubadora, pois o leite damãe era “fraco” (sic) e não estava sustentando a criança.


35O <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor foi normal, ocorrendo todas as fases na ida<strong>de</strong> correta,fato este justificado pela mãe <strong>de</strong>vido ao trabalho <strong>de</strong> estimulação realizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 15 dias <strong>de</strong>vida da criança. O <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor <strong>de</strong> A. é avaliado como satisfatório pelosprofissionais que acompanham o educando estudado. A família avalia que seu<strong>de</strong>senvolvimento foi bom e até mais do que esperavam, pois os médicos falavam que ele teriamuitos problemas e hoje está muito bem. A principal limitação do adolescente é a fala, ele secomunica, mas da maneira <strong>de</strong>le.Hoje A. apresenta muitos “tiques” e rói unha. De acordo com a mãe, ele já teve muitostiques e em cada época ele se fixa mais em alguns, agora ele anda sorrindo sozinho emexendo a cabeça. Ela acredita que, como o educando estuda em <strong>um</strong>a classe especial e tem<strong>um</strong>a colega com Autismo, ele po<strong>de</strong> estar “imitando” (sic) a colega. Pela observação feitadurante a pesquisa, a autora não percebeu tal processo <strong>de</strong> imitação.O adolescente teve <strong>um</strong>a infecção no ouvido e fez duas cirurgias <strong>de</strong>vido o problema.Ele necessitou colocar <strong>um</strong> “carretel” (sic) no ouvido, fez tratamento, mas ficou com seqüela,porém, insignificante. Sua irmã do meio também apresentou o mesmo problema.A. é <strong>um</strong> adolescente que não apresenta <strong>um</strong> quadro <strong>de</strong> muitas doenças, quando erapequeno teve três pne<strong>um</strong>onias, mas tomou vacina e nunca mais teve. Há dois anos elecomeçou a apresentar <strong>um</strong> problema <strong>de</strong> pele, <strong>um</strong>a infecção, o sistema imunológico abaixa eaparece essas infecções, que são muito perigosas, pois po<strong>de</strong>m passar para o sangue e atacar osórgãos, e se atacar o coração, po<strong>de</strong> morrer. No ano passado A. se mostrou muito <strong>de</strong>sanimado,sonolento, cansado e muito triste, pois estava com <strong>um</strong> problema na tireói<strong>de</strong>, mas hoje eletoma medicamento a<strong>de</strong>quado e está com as taxas dos hormônios normais. Ele já fez <strong>um</strong>acirurgia <strong>de</strong> hérnia, faz uso <strong>de</strong> óculos, mas seu grau é baixo. Faz também acompanhamentocom pedagogo, psicólogo, psicopedagogo, fisioterapeuta, neurologista, infectologista,terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.O educando se alimenta bem, tem <strong>um</strong>a alimentação variada e mo<strong>de</strong>rada, pois ele tem<strong>um</strong>a preocupação em não ficar gordo. Fez uso <strong>de</strong> mama<strong>de</strong>ira bem cedo, pois a mãe não tinhaleite suficiente. Seu sono não é tranqüilo, com freqüência acorda no meio da noite, às vezesbaba e pula. Tinha sudorese quando estava com as taxas hormonais alteradas.


36O adolescente não faz amigos com facilida<strong>de</strong>, quando as crianças o rejeitam ele agri<strong>de</strong>.As irmãs relataram que ele sente quando as crianças estão o rejeitando ou riem <strong>de</strong>le e, comoforma <strong>de</strong> se proteger ou <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, ele agri<strong>de</strong>. Quando estava mais novo ele <strong>de</strong>scia,brincava <strong>de</strong> bola, <strong>de</strong> corrida, mas agora que se recusa a <strong>de</strong>scer. Ele permanece no quartoouvindo musica e assistindo filme sozinho, sua diversão é ouvir música. Quando ele sai comseus pais, se comporta muito bem, segundo o relato dos pais, ele se comporta como <strong>um</strong>adulto, sem dar trabalho alg<strong>um</strong>. Com os professores ele se relaciona bem.Os pais dão muita importância para a formação acadêmica do adolescente e o objetivoé que ele aprenda as ativida<strong>de</strong>s sociais para ter <strong>um</strong>a vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Ele entrou na escolana ida<strong>de</strong> normal, com quatro anos. Ele estudou primeiro em <strong>um</strong>a escola particular regular daAsa Norte, entrou no Jardim I e ficou lá três anos. Lá ficava com <strong>um</strong>a professora e <strong>um</strong>aestagiária, que a ajudava. O pai pagava a estagiária, pois a escola exigiu, mas não <strong>de</strong>u certo.Depois <strong>de</strong>sta escola, ele foi para <strong>um</strong>a Escola Classe na Asa Norte, para a educação infantil e<strong>de</strong>pois para outra Escola Classe. Nesta escola ele ficava em <strong>um</strong>a turma regular, mas reduzidae o atendimento com ele era bom. A irmã afirma que A. teve <strong>um</strong> rendimento muitosatisfatório nessa escola, tinha <strong>um</strong> relacionamento bom com todos e era bastante ativo. Eleficou até a 1ª série, on<strong>de</strong> ele repetiu, ficou quatro anos e meio nessa escola. Na época omédico o diagnosticou como hiperativo. Com isso, a escola achou melhor ele ir para <strong>um</strong>aEscola Especial, para que ele tivesse <strong>um</strong> tratamento mais especializado. Os pais não queriammudar a criança <strong>de</strong> escola, mas após muita conversa a escola convenceu-os, pois achavam quese A. ficasse <strong>um</strong> semestre na escola especial ele melhoraria muito.Os pais relatam que <strong>de</strong>pois que o educando foi para escola especial, on<strong>de</strong> ficou <strong>um</strong> anoe meio, regrediu muito. As classes são só <strong>de</strong> alunos especiais, com três a quatro alunos emcada classe, mas o maior problema, <strong>de</strong> acordo com os pais, era a falta <strong>de</strong> professor. Em <strong>um</strong>ano e meio ele teve oito professores e, além disso, os pais <strong>de</strong>scobriram que <strong>um</strong>a dasprofessoras não <strong>de</strong>senvolvia nenh<strong>um</strong> trabalho sério com A., colocava ele em <strong>um</strong> colchão paraele dormir ou para assistir filme. Com isso, os pais começaram <strong>um</strong>a briga com a Secretaria <strong>de</strong>Educação para retirar seu filho da escola. Todo este fato está confirmado no laudo final doaluno, on<strong>de</strong> afirma sua regressão. O pai relata que A. passou por muitos professores,professores terceirizados e ainda <strong>de</strong>nuncia a má administração da escola.


37Apesar <strong>de</strong> tudo isso, não foi fácil para trocar o educando <strong>de</strong> escola, mas quando istoaconteceu ele foi transferido para <strong>um</strong>a Escola Classe na Asa Sul, on<strong>de</strong> tem aula em <strong>um</strong>a salaespecial com <strong>um</strong>a professora com muita experiência nesta área. Mas o pai comenta que aclasse especial, tendo 15 alunos, on<strong>de</strong> cada aluno tem <strong>um</strong>a síndrome, dificulta o trabalho. Masele conseguiu que a turma fosse reduzida para sete alunos, contribuindo para o trabalho doprofessor. Ele ainda relata que muitos professores também acreditam que realizar <strong>um</strong> trabalhocom alunos com diversos tipos <strong>de</strong> síndrome é bem difícil.Destacando a importância da educação <strong>inclusiva</strong> para o pai <strong>de</strong> A.:Por <strong>um</strong> lado eu acho muito importante, por outro...Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da maneira como ela éfeita, porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da criança, ela terá muito ganho. Por isso que tem que ter semprea inclusão, mas tem que ter também a classe especial. Porque tem criança que não temcondição <strong>de</strong> ir para a inclusão, e eles querem acabar com a classe especial <strong>de</strong> todo o jeito, oobjetivo é só a inclusão e pronto. Porque eles alegam que a criança fica excluída, mas temcriança que não tem condições <strong>de</strong> ir para a inclusão, porque ela não vai ter ganho nenh<strong>um</strong> eainda vai prejudicar a sala. E sempre na inclusão tem que ter mais <strong>um</strong> professor paraauxiliar o titular, porque esse negócio <strong>de</strong> colocar <strong>um</strong> professor só cuidando <strong>de</strong> <strong>um</strong>a sala com20 alunos e mais <strong>um</strong>a ou duas crianças especiais, o sistema está cuidando, por <strong>um</strong> lado, danão exclusão da criança, mas por outro não se preocupa com a qualida<strong>de</strong> do ensino, nãoquer gastar dinheiro com mais <strong>um</strong> profissional <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula. Por isso o ensino ficacomprometido. Está preocupado porque está resolvendo <strong>um</strong> problema que existe, mas nãoquer gastar, aí fica complicado.Antes <strong>um</strong>a sala especial tinha até oito alunos. Depois, eles alteraram, era até 12. Hoje, jásão até 15 alunos. Eles ficam muito preocupados com os gastos, mas e a qualida<strong>de</strong>? Eu ficopreocupado com isso.(C.H.F.P)Com isto, po<strong>de</strong>-se observar que os pais têm <strong>um</strong>a preocupação e <strong>um</strong> envolvimento comos estudos <strong>de</strong> A.Na sala especial on<strong>de</strong> o adolescente estuda tem três crianças com hiperativida<strong>de</strong>, mais<strong>um</strong> com Síndrome <strong>de</strong> Down, <strong>um</strong>a autista com baixa visão e <strong>um</strong>a garota com <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiênciamental leve. Segundo a professora <strong>de</strong>sta classe, o educando em questão está mais tranqüilo,se isola bastante, está muito fechado e se recusa a falar e a participar das ativida<strong>de</strong>s comfreqüência. Sua avaliação sobre o rendimento <strong>de</strong> A. é que ele estagnou, ele só faz asativida<strong>de</strong>s quando ela está ao lado, afirma que ele está fechado para muitas ativida<strong>de</strong>s que elapropõe. Em sala são <strong>de</strong>senvolvidas ativida<strong>de</strong>s com alfabeto móvel, jogos, trabalhando noconcreto e principalmente tentando dar autonomia às crianças, trabalhar a oralida<strong>de</strong> e<strong>de</strong>scobrir a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada aluno para assim <strong>de</strong>senvolvê-la. Para ela, A. ainda estáapren<strong>de</strong>ndo o alfabeto e não apren<strong>de</strong>u seu nome, mas sim foi treinado a enten<strong>de</strong>r o nome e a


38escrever, mas com isso acaba esquecendo e trocando as letras, já que na verda<strong>de</strong> não apren<strong>de</strong>unada.A falta <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong> A. está preocupando a professora, ele não se relaciona comos colegas, apesar <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a boa relação com ela. Ela enten<strong>de</strong> que a tireói<strong>de</strong>, a ida<strong>de</strong> e asexualida<strong>de</strong> talvez esteja influenciando neste isolamento, mas acredita que não é <strong>um</strong> fato bompara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le, questionando o envolvimento dos pais no processo <strong>de</strong>socialização e a importância <strong>de</strong> tarefas com pessoas da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le.A idéia <strong>de</strong> inclusão para a professora <strong>de</strong> A.:Inclusão é quando aquela escola, aqueles professores, está tudo pronto para receberaquele aluno, quando eu tenho condições <strong>de</strong> prestar <strong>um</strong> atendimento verda<strong>de</strong>iro e real a essacriança. Na minha concepção não é a criança que tem que estar preparada tem que haverpessoas e espaços preparados. (G.C.)Ela ainda afirma que a escola e os professores precisam estar preparados e para isso ogoverno precisa dar condições <strong>de</strong> aplicação e contextualização. Relata ainda que <strong>um</strong>a salacom tanta diversida<strong>de</strong> não favorece o trabalho, <strong>de</strong>ste modo não tem como realizar <strong>um</strong> trabalhopersonalizado.Esta escola é consi<strong>de</strong>rada <strong>inclusiva</strong> parcial, pois como explica a professora G., ainstituição tem como objetivo fazer <strong>um</strong>a ponte entre o centro especial e a classe regular, e agran<strong>de</strong> vantagem é que ele está em <strong>um</strong>a escola regular, po<strong>de</strong>ndo assim ter <strong>um</strong> convívio comas outras crianças. E, além disso, o objetivo da classe especial é trabalhar alg<strong>um</strong>asnecessida<strong>de</strong>s fundamentais do aluno para que em alg<strong>um</strong> momento ele seja incluído na classeregular.Segundo a professora, A. tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-percepção, característica esta que se<strong>de</strong>senvolve gradativamente na criança, sendo que neste <strong>caso</strong> esta característica ainda estásendo formada, ou seja, a noção <strong>de</strong> si mesmo, do que <strong>de</strong>seja fazer ou não fazer, daimportância da escola para sua vida. Isso tudo po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>spertado em A.<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seusinteresses e habilida<strong>de</strong>s sejam levados em consi<strong>de</strong>ração. Outra limitação muito significativa éa oralida<strong>de</strong>, pois influencia na construção <strong>de</strong> palavras e na compreensão. Outra limitação


39muito significativa i<strong>de</strong>ntificada pela professora é a oralida<strong>de</strong>, pois influencia na construção <strong>de</strong>palavras e na compreensão <strong>de</strong>las.A <strong>partir</strong> da observação realizada foi possível constatar que realmente o trabalho naclasse especial é difícil, pois são muitas exigências a serem c<strong>um</strong>pridas. Observou-se quequando A. chegou na sala ele se manteve <strong>um</strong> tempo parado, sem participar e só realizava oque era pedido quando a professora explicava com mais calma e ficava ao seu lado por <strong>um</strong>tempo.A professora G. afirma também que para se realizar <strong>um</strong> trabalho sério com essesalunos, o que é mais importante é gostar do que se faz, ter <strong>um</strong> conhecimento e <strong>um</strong>aexperiência, além <strong>de</strong> acreditar no potencial do aluno.O adolescente freqüenta também <strong>um</strong>a Escola Parque na Asa Sul todas as segundasfeira.Lá ele tem aula com alunos <strong>de</strong> terceira série com ida<strong>de</strong>s entre oito e 13 anos. Apesar <strong>de</strong>não ter tido muito acesso e <strong>um</strong>a boa receptivida<strong>de</strong>, foi possível observar a falta <strong>de</strong> interação,pois A. passou a maior parte do tempo sentado, isolado, sem participar das ativida<strong>de</strong>s, equando a professora o chamava ele se negava a participar e se mantinha sentado sem fazernada. Nesta escola, A. tem aula <strong>de</strong> música, teatro, artes plásticas e educação física, na aula <strong>de</strong>artes plásticas ele realizou <strong>um</strong>a das tarefas após a professora passar as instruções com clareza<strong>de</strong> forma individual, mas se sentou isolado enquanto os outros alunos sentaram-se em grupo.Porém, <strong>de</strong> acordo com a professora, ele prefere sentar sozinho e quando é obrigado a fazerativida<strong>de</strong>s com os outros alunos é agressivo.Todas as professoras relataram que sua participação era boa. Mas o que se po<strong>de</strong>observar é que só na aula <strong>de</strong> educação física o educando interagiu, participou, se mostrandofeliz e motivado, mas em todo o momento a professora exigiu a participação <strong>de</strong>le e explicou aativida<strong>de</strong>, fazendo com que todos os alunos o esperassem. Mas, <strong>de</strong> acordo com a professora,este fato não ocorre com freqüência e assim relata:Ele nem sempre participa, hoje foi o melhor dia <strong>de</strong>le em dois anos que ele está comigo. Eununca tive <strong>um</strong>a aula assim, eu estou impressionada, não sei se é porque você está aqui, mashoje ele participou, foi ótimo”.Tem aula que ele não quer participar, sai correndo pelo pátio e alguém tem que ir atrás <strong>de</strong>le. Eàs vezes as crianças se irritam também, não gostam <strong>de</strong> esperar e isso prejudica.Mas hoje foi ótimo, eu estou assim impressionada.


40No intervalo da aula o adolescente ficou sozinho, não quis lanchar, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>um</strong>aprofessora chamá-lo e leva-lo ao refeitório ele lanchou, mas ficou isolado e <strong>de</strong>pois ficouolhando alg<strong>um</strong>as crianças brincarem. Nas aulas A. não interagiu com ninguém e nenh<strong>um</strong>colega se dispôs a fazer dupla com ele quando era necessário. A interação com as professorastambém foi pouco percebida.Como já foi exposto, o adolescente realiza <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> estimulação em <strong>um</strong>a clínicano Lago Norte há oito anos, on<strong>de</strong> faz diversas ativida<strong>de</strong>s acompanhado por pedagogas,fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e psicóloga. Os profissionaisentrevistados relataram que A. está muito passivo, sem ânimo e até mesmo apresentando <strong>um</strong>retrocesso no seu <strong>de</strong>senvolvimento. Po<strong>de</strong>-se observar que A. estava bastante disperso,<strong>de</strong>sinteressado e sem motivação durante as sessões. Nas duas primeiras aulas estava bastantesonolento e com muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às ativida<strong>de</strong>s, porém em todas as ativida<strong>de</strong>spropostas o adolescente era muito lento para respon<strong>de</strong>r ou não respondia, levando muitotempo para realizar <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong>.Na pedagogia é trabalhada a leitura, escrita, compreensão e interpretação, Foi relatadopela pedagoga que A. tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler e transpor para o papel <strong>de</strong>vido a dificulda<strong>de</strong> nafala, afirmou também que ele <strong>de</strong>mora para realizar a ativida<strong>de</strong> e por isso a pouco tempo elepassou a realizar alg<strong>um</strong>as ativida<strong>de</strong>s com outro garoto com Síndrome <strong>de</strong> Down para <strong>um</strong>incentivar o outro, além <strong>de</strong> criar <strong>um</strong>a amiza<strong>de</strong>. A pedagoga relatou que A. chega a dormir emalg<strong>um</strong>as aulas e a <strong>partir</strong> da observação foi possível constatar que A realmente se comporta <strong>de</strong>maneira sonolenta e sem motivação para as tarefas propostas, <strong>de</strong>morando a executa-las e àsvezes nem as realizando.Na terapia ocupacional é trabalhada a coor<strong>de</strong>nação motora fina, força muscular,esquema corporal, coor<strong>de</strong>nação visiomotora, além <strong>de</strong> treinar ativida<strong>de</strong>s da vida diária comovestuário, e higiene pessoal. Foi relatado também que o educando esta mais lento pararealizar as ativida<strong>de</strong>s, mas coopera e participa. Avaliam também que ele está mais recatado,fechado, se isolando, diferente <strong>de</strong> como se comportava antes, mas não conseguem ligar anenh<strong>um</strong> fato especifico. Mas ele se relaciona bem com todos os profissionais da clínica,sendo <strong>de</strong>scrito como carinhoso e afetuoso.


41No reforço escolar A. resolve os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> casa passados pela escola. A profissionalrelatou que A. está tendo muita dificulda<strong>de</strong>, até em coisas que ele já sabia, <strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>ndo oque já sabia. Na fonoaudióloga, o educando trabalha ritmo, memória e entonação, mas <strong>de</strong>acordo com ela não se tem tido progresso nesta área, pois ele se apresenta muito lento e semânimo para as tarefas.Já na fisioterapia é realizado <strong>um</strong> trabalho muscular, postural, com o objetivo <strong>de</strong>prevenir <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s, pois o adolescente tem hipotemia muscular. Mas, apesar disso,percebe que ele tem <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor bom, porém, mais <strong>um</strong>a vez é relatadoque A. tem se mostrado <strong>de</strong>sinteressado, passivo, sendo necessário estar sempre o motivando,cobrando, incentivando e impondo limites.A <strong>partir</strong> <strong>de</strong> entrevista realizada com o dono da clinica on<strong>de</strong> A. faz estimulação, po<strong>de</strong>seconstatar mais <strong>um</strong>a vez que este teve <strong>um</strong>a estagnação no seu <strong>de</strong>senvolvimento e tem semostrado triste. De acordo com este profissional a clínica fornece a base, mas é fundamental<strong>um</strong> trabalho conjunto com a escola e a família, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a socialização <strong>de</strong>le. Comisso, este questiona a urgência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a participação da família, a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> vínculomais forte, além <strong>de</strong> ampliar seu ciclo social. Como todos os outros profissionais <strong>de</strong>sta clinica,ele questiona que o psicossocial foi abalado, mas também não sabe o que ocorreu. Em todasas ativida<strong>de</strong>s observadas, pedagoga, reforço escolar, fonoaudióloga, fisioterapeuta, terapiaocupacional A se mostrou sem interesse e com muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar as tarefas.Nas terças e quintas A. faz natação individual, on<strong>de</strong> é realizado <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento psicomotor relacional. De acordo com o instrutor, A. tem <strong>um</strong><strong>de</strong>senvolvimento psicomotor bom e sua principal dificulda<strong>de</strong> neste trabalho é a respiração,mas expõe que A. está mais confiante e seguro. A <strong>partir</strong> da observação feita, po<strong>de</strong>-se afirmarque o adolescente se mostrou interessado e afetuoso com o instrutor <strong>de</strong> natação.A <strong>partir</strong> <strong>de</strong> todo o esclarecimento do <strong>caso</strong> estudado, é interessante ressaltar asexpectativas da família para o futuro <strong>de</strong> A.:A nossa gran<strong>de</strong> preocupação com o estudo, com a escola, é ele apren<strong>de</strong>r a serin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, ele se virar. No básico, ele já sabe...Até ele vir a ter o emprego <strong>de</strong>le, esse é


42o objetivo. Agora ele está na natação, para futuramente ele competir nasparaolimpiadas.(C.H.F.P.)É ver meu filho se virar sozinho, ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (G.G.P)(...) que ele consiga <strong>um</strong> emprego para ele, que ele tenha muitos amigos, que ele consigaser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porque eu tenho certeza que ele vai ser porque ele apren<strong>de</strong> as coisasmuito rápido também. E .. que ele seja muito feliz. (P..G.P)Eu espero que ele vá conseguir arranjar <strong>um</strong>a menininha com Síndrome <strong>de</strong> Down bembonitinha.(... ) Em relação a ter nível superior, eu não espero nada, porque eu acho queé muito difícil. Mas ele adora música, adora dançar, adora fingir que é DJ. (...). Achoque vai ser tipo isso, vai se envolver com a área das artes vai seguir por esse caminho.(P.G.P)Com tudo isso, po<strong>de</strong>-se compreen<strong>de</strong>r que A. é <strong>um</strong> adolescente saudável e que <strong>de</strong>forma geral tem <strong>um</strong> bom comportamento e <strong>um</strong> bom relacionamento com as pessoas, sendomais difícil com crianças. Porém foi i<strong>de</strong>ntificada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a maior interação comoutras crianças, favorecendo seu <strong>de</strong>senvolvimento. Foi observado também que o adolescenteestá passando por alg<strong>um</strong>as transformações, se isolando nas relações com os outros indivíduose apresentando <strong>um</strong> déficit no seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual.Sua vida escolar foi marcada por muitas dificulda<strong>de</strong>s e alguns sucessos. Mas foiobservado por todos os profissionais que convivem com o educando, que ele está secomportando <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>smotivada e que houve <strong>um</strong>a regressão no seu <strong>de</strong>senvolvimento.Com isso, enten<strong>de</strong>-se que A. necessita urgentemente <strong>de</strong> relações mais sustentadoras eintimas, além <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho sério que possibilite <strong>de</strong>senvolver suas habilida<strong>de</strong>s.


434.2) ANÁLISE REFLEXIVA:A <strong>partir</strong> da análise do <strong>caso</strong> e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revisão bibliográfica preten<strong>de</strong>-se discutir oprocesso <strong>de</strong> inclusão do sujeito apresentado anteriormente.Como já foi apresentado no capitulo “Significando a inclusão”, a proposta da educação<strong>inclusiva</strong> é incluir o aluno com necessida<strong>de</strong>s especiais diversas ao ensino regular eproporcionar meios para que ele consiga se <strong>de</strong>senvolver (Sassaki, 1997). Mas, para isto, aescola <strong>de</strong>ve estar preparada para receber esse aluno.O educando estudado está inserido em <strong>um</strong>a escola regular, porém em <strong>um</strong>a salaespecial. Quando se fala em inclusão, o que se quer é permitir que o aluno permaneça noensino regular e não em classes especiais ou escolas especiais. Mas o que vemos na LDB éque não existe essa exigência <strong>de</strong> ser proporcionado o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizado noensino regular, e sim preferencialmente.Mas o termo preferencialmente, se for analisado com profundida<strong>de</strong>, não se aproximado real significado da inclusão. Ele anula o significado da inclusão, <strong>de</strong>scaracteriza toda aproposta. Porém, a LDB <strong>de</strong>ixa claro que o direito <strong>de</strong> receber a educação no ensino regular vaiocorrer sempre que possível, pois acredita que para alg<strong>um</strong>as necessida<strong>de</strong>s especiais sãoexigidas outras formas <strong>de</strong> atendimento, como a escola ou classe especial e salas <strong>de</strong> recursos.Esta idéia é compartilhada pelo pai do educando estudado. Ele afirma que alg<strong>um</strong>ascrianças não tem condições <strong>de</strong> ir para inclusão, sendo assim necessárias as classes especiais.A professora da escola classe do educando também tem a mesma visão, para ela é necessárioque alg<strong>um</strong>as crianças trabalhem alg<strong>um</strong>as habilida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s específicas primeiro paraassim irem para as classes regulares, pois acredita que se o aluno for inserido na classe regularsem nenh<strong>um</strong> preparo seu <strong>de</strong>senvolvimento ficará comprometido. Porém, Mazzotta (1993),critica as escolas especiais, pois afirma que as mesmas não oportunizam o convívio comoutras crianças, mas também enten<strong>de</strong> que sempre vai haver <strong>um</strong> educando que necessitará <strong>de</strong>atendimento em escola especial.Afinal, o que é inclusão? A <strong>partir</strong> da <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Salamanca enten<strong>de</strong>-se que inclusãoé o processo pelo qual o aluno é inserido no ensino regular. Mas, observando o relato do pai e


44da professora, este conceito parece não estar claro. Quando se fala em inclusão, fala-se emescola preparada para receber o aluno, mas a <strong>partir</strong> da LDB e dos relatos citados acima, falaseem aluno preparado para o ensino regular.Este termo <strong>de</strong>ixa muitas brechas no processo <strong>de</strong> aprendizagem do aluno. Como oensino na re<strong>de</strong> regular só ocorrerá, <strong>de</strong> acordo com a LDB, preferencialmente, o que se vê éque na prática ocorrerá ocasionalmente.O educando passou por várias escolas e, <strong>de</strong> acordo com as entrevistas, quando A.estudou em escolas regulares seu rendimento foi mais satisfatório, e isto ocorreuprincipalmente em <strong>um</strong>a escola classe, on<strong>de</strong> ele tinha <strong>um</strong>a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento ampliada ese <strong>de</strong>senvolveu mais. Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a <strong>partir</strong> disso os benefícios da inclusão. Como afirmaCarvalho (2004), a inclusão proporciona ao indivíduo <strong>um</strong> crescimento, <strong>um</strong> contato com outrascrianças e, a <strong>partir</strong> daí, <strong>um</strong> bem estar por se sentir aceito.Analisando o histórico escolar do aluno estudado, percebe-se a luta dos pais por <strong>um</strong>ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que promova a inclusão e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s. Mas, a<strong>partir</strong> do relato dos pais, po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar gran<strong>de</strong>s barreiras do processo <strong>de</strong> inclusão. Aburocracia e todas as questões administrativas estão por trás <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta tão bonita.A falta <strong>de</strong> professores e o mais importante, a falta <strong>de</strong> professores capacitados, tem sido<strong>um</strong> gran<strong>de</strong> problema da inclusão. Como foi mencionado por Gil (2002), a falta <strong>de</strong> preparodos professores e suas próprias limitações, além da falta <strong>de</strong> envolvimento com este trabalho,constituem gran<strong>de</strong>s barreiras para o processo <strong>de</strong> inclusão, interferindo no processo <strong>de</strong> ensino eaprendizagem do educando. O educando analisado passou por todas estas barreiras no seuprocesso educacional e, analisando as mudanças relatadas, po<strong>de</strong>-se afirmar que a mudançapara <strong>um</strong>a escola especial e a falta <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> dos professores contribuíram para afalta <strong>de</strong> motivação para o estudo e para a estagnação do seu <strong>de</strong>senvolvimento.O professor tem <strong>um</strong> papel fundamental no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem e dainclusão do aluno (MAZZOTTA, 1993). Pois é ele quem vai interagir primeiro com o aluno,sendo espelho para os outros alunos, além <strong>de</strong> ser responsável pelo aprendizado do mesmo.Deixar o aluno dormir e ver filme durante a aula, sem <strong>de</strong>senvolver nenh<strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> queproporcione seu <strong>de</strong>senvolvimento não é atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> educador que se preocupa realmente


45com a educação. Talvez essa atitu<strong>de</strong> ocorra, como foi apresentado pela professora <strong>de</strong> A.,<strong>de</strong>vido a <strong>um</strong> pensamento que alguns professores tem <strong>de</strong> que com os alunos especiais otrabalho é fácil, pois não precisa trabalhar nada, <strong>de</strong>monstrando <strong>um</strong>a visão preconceituosa <strong>de</strong>que as PNEs são incapazes, e por isso <strong>de</strong>snecessário à preocupação com o estudo.Este fato representa a fragilida<strong>de</strong> da educação, que só dificulta a proposta <strong>inclusiva</strong>. Aluta relatada pelo pai <strong>de</strong> A. para que conseguisse tirar o filho da escola especial, on<strong>de</strong> nãoestava sendo <strong>de</strong>senvolvido <strong>um</strong> trabalho sério, faz refletir sobre o que os que estão no comandoquerem da educação e o que eles esperam dos alunos especiais.Hoje o educando está em <strong>um</strong>a sala especial em <strong>um</strong>a escola regular para trabalhar suaslimitações e para posteriormente ir para <strong>um</strong>a sala regular. Isto remete à idéia <strong>de</strong> se prepararpara freqüentar a sala regular, fugindo totalmente da idéia <strong>de</strong> inclusão, porém <strong>de</strong>monstra <strong>um</strong>alógica, pois todos sabem que colocar <strong>um</strong> aluno em <strong>um</strong>a sala regular sem permitir seuaproveitamento e seu <strong>de</strong>senvolvimento não passa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a inclusão aparente, pois não estará<strong>de</strong>senvolvendo a aprendizagem do aluno, então se po<strong>de</strong> dizer que esta é <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> contrariaà Ética.O trabalho em <strong>um</strong>a sala especial, como se po<strong>de</strong> observar, é difícil pois se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong>agran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e exigências, mas <strong>um</strong>a sala regular com <strong>um</strong> ou dois alunos também não é<strong>um</strong> trabalho fácil. Porém Mazzotta (1993) afirma que as classes especiais po<strong>de</strong>m serorganizadas para o atendimento <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> alunos especiais, sendo cada classe especialpara <strong>um</strong> <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> aluno. Com isso enten<strong>de</strong>-se que as classes <strong>de</strong>veriam se organizar<strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> do aluno, não colocando diversos tipos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>sespeciais em <strong>um</strong>a mesma sala. Mas o que se observa na sala <strong>de</strong> A. é <strong>um</strong>a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong>s especiais, dificultando o trabalho proposto.A professora da escola classe <strong>de</strong> A. até confirmou que acaba <strong>de</strong>ixando alg<strong>um</strong> aluno <strong>de</strong>lado, não por falta <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, mas por não conseguir administrar as exigências dasala. Mas é importante ressaltar que a educação não é <strong>um</strong> trabalho fácil, mas é necessáriorefletir sobre as práticas que possibilitem <strong>um</strong> trabalho com melhores resultados.Como já foi mencionado o adolescente freqüenta <strong>um</strong>a Escola Parque toda segundafeira.A <strong>partir</strong> da observação feita foi constatado que a falta <strong>de</strong> interação com o aluno especial,


46tanto da parte da professora como dos alunos só a<strong>um</strong>enta o isolamento e a <strong>de</strong>smotivação doeducando. E, além disso, a falta <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> e comprometimento pelos professores por nãotentarem criar <strong>um</strong> vínculo e até mesmo por fingirem que aquele aluno não está presente, e istoficou mais evi<strong>de</strong>nte na fala das professoras quando afirmam que ele participa, enquanto eleficava toda a aula parado e isolado. Com isto, questiona-se: que inclusão é essa? Basta colocaro aluno em sala regular e dar por si c<strong>um</strong>prido o direito <strong>de</strong> freqüentar <strong>um</strong>a escola regular?Carvalho (2004) evi<strong>de</strong>ncia a importância do professor e a responsabilida<strong>de</strong> que estetem sobre o processo <strong>de</strong> inclusão. Vale ressaltar que o objetivo da inclusão transmitido porMittler (2003) é garantir o acesso e a participação <strong>de</strong> todas as crianças em todas aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s oferecidas pela escola e impedir a segregação e oisolamento (Mittler, 2003, p. 183).Assim, enten<strong>de</strong>-se que o educando não está sendo incluído. A escola preten<strong>de</strong> <strong>um</strong>ainclusão aparente, pois a verda<strong>de</strong>ira proposta não é c<strong>um</strong>prida. Isto <strong>de</strong>monstra a falta <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> por parte dos representantes da educação (direção, orientação educacional eprofessor) e principalmente na figura do professor, pois quando este quer consegueproporcionar a inclusão, que vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r primeiramente <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> integrar e interagir com estealuno com necessida<strong>de</strong>s especiais.Na aula que A. participou foi evi<strong>de</strong>nte o papel da professora, se preocupando eincluindo o aluno nas ativida<strong>de</strong>s, diferentemente das outras aulas. Com isso po<strong>de</strong>-se inferirque o professor, quando quer, é capaz <strong>de</strong> promover a inclusão do aluno, além <strong>de</strong> promover seu<strong>de</strong>senvolvimento.Na aula citada acima, a professora se manteve ao lado <strong>de</strong> A., passou as instruções comcalma e clareza e incentivou a todo o momento sua participação, além <strong>de</strong> fazer com que todosos outros alunos o esperassem. Ela relatou que isto não acontece com freqüência e que até apermanência do observador tenha influenciado e promovido esta participação. Mas estahipótese não é consi<strong>de</strong>rada, pois foi explícito o empenho e o envolvimento do professor como educando, possibilitando a compreensão <strong>de</strong> que o professor tem em suas mãos apossibilida<strong>de</strong> da inclusão.


47Esta é <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong> todos os professores, mas infelizmente não é oque ocorre. E por isto os professores necessitam <strong>de</strong> <strong>um</strong>a avaliação regular <strong>de</strong> seu trabalho, <strong>um</strong>acompanhamento e <strong>um</strong>a formação continuada, como confirma Mazotta (1993).O adolescente apresenta como maior limitação a fala. E isto acaba interferindo no seu<strong>de</strong>senvolvimento intelectual. E como afirmou Sprovieri e Ass<strong>um</strong>pção (1991), a linguagem é<strong>um</strong>a das gran<strong>de</strong>s limitações dos indivíduos com Síndrome <strong>de</strong> Down.Sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> A., observa-se que ele teve <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento bom. Eao contrário das predisposições <strong>de</strong> doenças, como problemas no coração citado por Werneck(1992), o adolescente tem <strong>um</strong>a saú<strong>de</strong> boa e não teve nenh<strong>um</strong>a complicação ou problema sériorelacionado com a síndrome. Demonstrando assim, que as características apresentadas dasíndrome não são <strong>de</strong>terminantes, elas po<strong>de</strong>m ocorrer ou não e em graus diferentes em cadaindivíduo.Mas seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual e sua fala sofreram <strong>um</strong> abalo, afirmando assimque A. teve <strong>um</strong>a estagnação no seu <strong>de</strong>senvolvimento em todas as áreas, além <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mudançano seu comportamento, se apresentando mais fechado e sério.De acordo com a <strong>de</strong>scrição do <strong>caso</strong> fica claro que o educando não está se envolvendocom pessoas da sua ida<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong>ste comportamento ter sido relatado por váriosentrevistados, não foi i<strong>de</strong>ntificado <strong>um</strong> motivo ou o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou essa mudança. Não foiencontrada na literatura nenh<strong>um</strong>a referência a esta modificação <strong>de</strong> comportamento, masapesar disto po<strong>de</strong>-se lançar hipóteses. A <strong>partir</strong> do relato das irmãs, enten<strong>de</strong>-se que A. sofreu<strong>um</strong>a discriminação pelas crianças em seu prédio, com isso ficou compreendido que ele nãoestá querendo entrar em contato mais <strong>um</strong>a vez com este tipo <strong>de</strong> evento, além <strong>de</strong> não se sentirbem. Mas apesar disso, em observação realizada na escola classe, notou-se que A., nointervalo, manteve contato com meninos <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong>, brincando e se mostrando feliz por isto.Porém, é urgente <strong>um</strong>a mudança neste comportamento, pois este isolamento e a falta <strong>de</strong>contato com pessoas <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong> ou <strong>um</strong>a ida<strong>de</strong> próxima são fundamentais para sua formação.Como Pueschel (1993) comenta, o contato com o outro proporciona prazer e bem estar aoindivíduo.


48Sobre a estagnação em seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual, po<strong>de</strong>-se afirmar que toda amudança <strong>de</strong> escola, a falta <strong>de</strong> estimulação para o estudo, <strong>de</strong>vido ao trabalho realizado naescola especial, as mudanças hormonais, já que A. está em <strong>um</strong>a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformaçõeshormonais e corporais, e seu problema <strong>de</strong> tireói<strong>de</strong> são fatores que contribuíram para este fato.Observando também que o educando está <strong>de</strong>smotivado tanto para a escola quanto paraa clínica <strong>de</strong> estimulação, po<strong>de</strong>-se inferir que o mesmo está precisando <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s novas e<strong>um</strong> trabalho mais individualizado na escola para que ele <strong>de</strong>senvolva as ativida<strong>de</strong>s, já quegeralmente não as faz ou só realiza na presença da professora após <strong>um</strong>a explicação maisindividualizada.Mas é importante questionar o trabalho realizado na clínica <strong>de</strong> estimulação. Em todasas ativida<strong>de</strong>s proposta A. teve dificulda<strong>de</strong>, se mostrou sonolento e <strong>de</strong>sanimado. Qual o motivopara tanto <strong>de</strong>sinteresse? Será que o educando cansou das ativida<strong>de</strong>s repetitivas? São muitos osquestionamentos, mas o que foi possível observar é que os próprios profissionais não oestimulam e realizam as mesmas ativida<strong>de</strong>s com freqüência.A <strong>partir</strong> do relato da família sobre as expectativas, observa-se que a mesma enten<strong>de</strong> aslimitações do adolescente e vê possibilida<strong>de</strong>s para <strong>um</strong> futuro satisfatório.Com tudo isso, a autora do presente estudo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer averda<strong>de</strong>ira inclusão, como propõe a LDB e não apenas “fazer <strong>de</strong> conta” que se está incluindo,quando na verda<strong>de</strong> se está engessando a possibilida<strong>de</strong> do sujeito se <strong>de</strong>senvolver.


49CONCLUSÃO<strong>caso</strong>.O presente estudo abordou a questão da educação <strong>inclusiva</strong> a <strong>partir</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> estudo <strong>de</strong>A Educação Especial no Brasil é <strong>de</strong>stinada não só àqueles alunos com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>aprendizagem <strong>de</strong>vido a <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência física, mental ou múltipla, mas também aos quepossuem altas habilida<strong>de</strong>s ou sofrem alg<strong>um</strong>a exclusão.As pessoas com Síndrome <strong>de</strong> Down são pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais. Mas foipossível observar que a <strong>partir</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho sério, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a estimulação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo e doincentivo da família o individuo com esta síndrome consegue superar suas limitações,<strong>de</strong>senvolvendo-se e adaptando-se ao meio.A LDB dá o direito a todos os alunos com necessida<strong>de</strong>s especiais a educação,preferencialmente no ensino regular. Este termo, preferencialmente, traz muitosquestionamentos e barreiras para o processo <strong>de</strong> inclusão, é a “brecha” <strong>de</strong>ixada para que ainclusão não fosse <strong>um</strong> sucesso.Foi possível concluir que para ocorrer <strong>um</strong>a educação <strong>inclusiva</strong> não bastam leis queditem este direito às PNEs. É necessária <strong>um</strong>a reforma no ensino e na formação dosprofessores para que saibam conduzir essa inclusão <strong>de</strong> forma eficiente e a<strong>de</strong>quada, além <strong>de</strong><strong>um</strong> compromisso <strong>de</strong> todos os profissionais da escola e <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho em conjunto entreprofessores e coor<strong>de</strong>nadores, para se engajarem nessa inclusão, preocupando-se eresponsabilizando-se pelo processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem do aluno com necessida<strong>de</strong>especial.É essencial que os professores recebam o preparo, as instruções e o apoio da escolapara po<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong> trabalho sério e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira inclusão. E quando isto ocorre,traz muitos benefícios para a escola como <strong>um</strong> todo, principalmente para os alunos semnecessida<strong>de</strong>s especiais, pois tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver com o “diferente”,compreen<strong>de</strong>ndo a diversida<strong>de</strong>.


50Infelizmente a realida<strong>de</strong> da educação <strong>inclusiva</strong> está distante da proposta. Muitosprofessores preferem ignorar o aluno especial, ignorando assim seu direito e todo o processo<strong>de</strong> inclusão. Mas não é só isso, a falta <strong>de</strong> apoio aos professores também dificulta o trabalho.Com isto, po<strong>de</strong>-se ressaltar aqui o trabalho do Psicólogo Escolar, que tem como tarefapropiciar a adaptação da criança com necessida<strong>de</strong>s especiais, auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimentointelectual e social do educando e na adaptação das ativida<strong>de</strong>s para os mesmos.Para promover <strong>um</strong>a educação <strong>inclusiva</strong>, todos precisam estar envolvidos, a escola, osprofessores, os funcionários, os alunos, o Psicólogo Escolar e/ou Psicopedagogo e a famíliado educando, engajados no processo <strong>de</strong> inclusão para vencerem as limitações e as diferenças.Observou-se que a interação da família no processo <strong>de</strong> inclusão é <strong>de</strong> fundamentalimportância para o sucesso do <strong>de</strong>senvolvimento do educando e para a prática <strong>inclusiva</strong>.A gran<strong>de</strong> preocupação que se <strong>de</strong>ve ter é em promover a inclusão do aluno,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser em classe especial ou regular. O professor <strong>de</strong>ve se engajar para incluir oaluno, promover ativida<strong>de</strong>s que ele possa <strong>de</strong>senvolver e, além disso, promover a integração doaluno especial com os outros alunos, bem como a comunida<strong>de</strong>.Como se sabe, a integração é muito importante para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todos osindivíduos. É a <strong>partir</strong> do convívio com o outro, com as inter-relações que se toma consciência<strong>de</strong> si e forma sua personalida<strong>de</strong>. Por isso, a interação <strong>de</strong>ve ser proporcionada e estimulada,tanto pelos profissionais da educação quanto pela família do educando, visando o<strong>de</strong>senvolvimento completo do indivíduo.Os profissionais que lidam com as pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais precisammudar com urgência sua postura individual frente a estas, sua postura pedagógica eprincipalmente enxergar o indivíduo e suas possibilida<strong>de</strong>s. A inclusão escolar é <strong>de</strong>fundamental importância, pois a educação é <strong>um</strong> direito <strong>de</strong> TODOS. E ainda, a inclusão paraquem vive tanta exclusão po<strong>de</strong> fazer e faz a diferença, facilitando o convívio, sua adaptação esua vida, amenizando as diferenças.A inclusão não diz respeito apenas àqueles indivíduos que estão por alg<strong>um</strong> aspecto naescola, ela <strong>de</strong>ve abranger todas as áreas <strong>de</strong> contato da pessoa com necessida<strong>de</strong>s especiais. A


51inclusão <strong>de</strong>ve ocorrer <strong>de</strong> forma generalizada em toda a socieda<strong>de</strong>, sendo praticada por todosos cidadãos com o objetivo <strong>de</strong> proporcionar a igualda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>mocracia.As necessida<strong>de</strong>s especiais dos indivíduos não <strong>de</strong>vem ser vista como <strong>um</strong> empecilho ou<strong>um</strong>a limitação. Estes indivíduos têm alg<strong>um</strong>as necessida<strong>de</strong>s que outros não tem, e por isso<strong>de</strong>ve ser trabalhado para superá-las.Com isso, enten<strong>de</strong>-se que as pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais têm limitações queincapacitam-as para alg<strong>um</strong>as ativida<strong>de</strong>s, mas não é por isso que estas pessoas <strong>de</strong>vem sertratadas com indiferença e discriminação. A socieda<strong>de</strong> precisa enxergar que elas têmvonta<strong>de</strong>s, merecem ser escutadas e têm os mesmo direitos dos outros indivíduos, <strong>de</strong>vendo teras mesmas oportunida<strong>de</strong>s. Singer (2002) afirma que a ação afirmativa, que garante aigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s para grupos excluídos, é ainda mais justificável para os indivíduoscom <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, pois não basta abrir vagas em faculda<strong>de</strong> e dar emprego, é necessário darcondições para que estes indivíduos aproveitem tais benefícios, disponibilizando recursos quesão imprescindíveis para as necessida<strong>de</strong>s especiais como, por exemplo, <strong>um</strong>a rampa para oca<strong>de</strong>irante ter acesso à biblioteca.A socieda<strong>de</strong> precisa mudar a maneira <strong>de</strong> tratar as pessoas com necessida<strong>de</strong>s especiais,pois a maior limitação é a que a socieda<strong>de</strong> coloca, é a imagem que a socieda<strong>de</strong> faz <strong>de</strong>stesindivíduos. Pois eles apren<strong>de</strong>m a viver e se adaptar à sua necessida<strong>de</strong> especial, mas viver como peso <strong>de</strong> serem incapazes, <strong>de</strong> que não são merecedores <strong>de</strong> nenh<strong>um</strong> trabalho e <strong>de</strong> que não sãodignos <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a vida satisfatória e ativa com bons relacionamentos, não conseguem suportare acabam alg<strong>um</strong>as vezes se comportando <strong>de</strong>sta forma.Por tudo isso, a educação <strong>inclusiva</strong> só tem a favorecer estas pessoas, pois possibilita ainserção no convívio social, as inter-relações, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s, além daconstrução <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imagem positiva frente à socieda<strong>de</strong>.


52REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAASSUMPÇÃO, F.B. & SPROVIERI, M.H. Introdução ao estudo da <strong>de</strong>ficiênciamental. São Paulo: Memnon, 1991BLASCO, G. M.; HERNANDEZ, A.M.M. & SAMPEDRO, M. F. A criança comSíndrome <strong>de</strong> Down. In: BAUTISTA, R. (Org.) Necessida<strong>de</strong>s educativas especiais.Lisboa:Dinalivro, 1997BRAZELTON, T.B. As necessida<strong>de</strong>s essenciais das crianças: o que toda criançaprecisa para crescer, apren<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>senvolver. Porto Alegre: Artmed, 2002CARDOSO, M.S. Aspectos históricos da educação Especial: da exclusão à inclusão –<strong>um</strong>a longa caminhada. In: STOBAUS, C. D. & MOSQUERA, J.J.M. Educação especial: emdireção a educação <strong>inclusiva</strong>. Porto alegre : Edipucrs , 2003CARVALHO, R. E. Educação <strong>inclusiva</strong>: com os pingos nos “is”. Porto Alegre:Mediação, 2004CARVALHO, R. E. A nova LDB e a educação Especial. Rio <strong>de</strong> Janeiro: WVA, 1997DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. Psicologia das relações interpessoais: vivenciaspara o trabalho em grupo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2001FEREIRA, A. B. H. Mini Aurélio Século XXI Escolar (4ªed.) Rio <strong>de</strong> Janeiro: EditoraNova Fronteira, 2000FLEMING, J. W. A criança excepcional: diagnostico e tratamento. Rio <strong>de</strong> janeiro:Francisco Alves, 1988GIL, M. Boletim Salto para o futuro: espaços <strong>de</strong> Inclusão. Tv escola, 2002DP&A, 2003GUIMARÃES, M.; FERREIRA, M. E. C. Educação Inclusiva. Rio <strong>de</strong> Janeiro:


53MAZZOOTTA, R.J.S. Trabalho docente e formação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> educaçãoespecial. São Paulo: EPU, 1993MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: historia e políticas públicas. SãoPaulo: Cortez, 2001MITTLER, P. Educação <strong>inclusiva</strong>: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003OTTO, P G. Genética H<strong>um</strong>ana e Clinica São Paulo: Roca, 1998Papirus, 1993PINSKY, J. (ORG).12 Faces Do Preconceito São Paulo: Contextos, 2001PUESCHEL, M. S. Síndrome <strong>de</strong> Down: <strong>um</strong> guia para pais e educadores. São Paulo:WVA, 1997SASSAKI, R. K. Inclusão – construindo <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> para todos. Rio <strong>de</strong> janeiro:SINGER, P.Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002SCHWARTZMAN, J S. Síndrome <strong>de</strong> Down São Paulo: Memnon, 2003TELFORD, C W. & SAWREY J M. O indivíduo excepcional. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livrostécnicos e científicos, 1988TILSTONE, C.; FLORIAN, L. & ROSE, R. Promover a educação <strong>inclusiva</strong>. Lisboa:Instituto Piaget, 1998WERNECK, C Muito prazer, eu existo: <strong>um</strong> livro sobre o portador <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong>Down. São Paulo: Memnon, 1992O LUTADOR. Direção <strong>de</strong> Dan Keplinger. EUA: HBO Tapestry, 2000. 1filme(50min): son., color.


ANEXOS54


55Anexo 1ANAMNESE1. Dados <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaçãoNome: A.G. P.Data e nascimento: 06/09/93 / Ida<strong>de</strong>:12Nome do pai:Carlos H<strong>um</strong>berto F. <strong>de</strong> Paula / Profissão:Local <strong>de</strong> trabalho:Banco Central / Telefone com:Nome da mãe: Gilda Guimarães <strong>de</strong> Paula / Profissão:Local <strong>de</strong> trabalho: DER / Telefone com:En<strong>de</strong>reço Comercial:Bairro:________________________________________Telefone res:_____________Instituição Previ<strong>de</strong>nciária:Plano <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>: BACENFreqüenta a escola? ( X ) Sim ( ) NãoNome: Escola Parque 210 e Escola Classe 410Série que está freqüentando:Número <strong>de</strong> repetências:2. Composição FamiliarNOME IDADE SEXO EST. GRAU DE INSTRUÇÃO LOCAL DECIVIL PARENTESCOTRABALHOC. G. P. 18 F Solteira Irmã Ensino médioP. G. P. 21 F Solteira Irmã Superior incomG.G.P. 52 F Casada Mãe Superior DERC.H.F.P. 53 M Casado Pai Superior B. Central3. Situação sócio-econômica3.1Casa própria ( )Alugada (X)Cedida ( )


56Financiada ( )Quitada ( )Conjugada ( )Ma<strong>de</strong>ira ( )Alvenaria ( )N° <strong>de</strong> peças ( )Outros: ___________________________________________________Religião: Espirita____________________________________________3.2 Instalações sanitárias() fossa negra (X) séptica () inexistente3.3 Hábitos <strong>de</strong> higiene(X)in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte () <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte(X) lava as mãos antes das refeições e <strong>de</strong>pois do uso do banheiro?(X) toma banho todos os dias?(X) penteia os cabelos?(X) escova os <strong>de</strong>ntes regularmente?(X) tem cuidados com seu vestuário e aparência pessoal?Mãe: Quando ele esta em casa gosta das roupas velhas e surradas <strong>de</strong>le, ninguém faz ele usaroutra.Mas quando sai se arr<strong>um</strong>a todo.Pai: Às vezes eu ajudo, mas ele se vira, é proteção. Às vezes eu tomo banho com ele e aipasso a bucha e esfrego todo.3.4 Há alg<strong>um</strong> vício na família?( ) alcoolismo( ) drogas( ) jogosEspecificar qual o grau <strong>de</strong> parentesco com a criança:RELACIONAMENTO FAMILIARA criança resi<strong>de</strong> com seus genitores?(X) Sim () Não – especificar o motivo


57Adoção() Sim (X) Não () a criança tem conhecimento?-Como se da o relacionamento entre:Mãe X criança: ( X ) Bom ( ) ruimPai X criança: ( X ) Bom ( ) ruimIrmão X criança: ( X ) Bom ( ) ruimAvo X criança: ( X ) Bom ( ) ruimOutros:Com o pai ele é só alegria. Ele convive normal. Às vezes da certo, às vezes não da é difícil.Não é 100% bom. Depen<strong>de</strong>ndo da pessoa, se for criança ele agri<strong>de</strong>, com adulto orelacionamento é melhor, com criança é mais difícil.- Responsabilida<strong>de</strong> por tarefas no lar.Ainda não tem. Esta muito novo.-Como é o relacionamento da família com seus vizinhos?Não tem contato. Às vezes a gentes e vê no elevador- Antece<strong>de</strong>ntes familiares (grau <strong>de</strong> parentesco)1- Deficiência física.2-Deficiência mental: O Carlos tem <strong>um</strong> primo <strong>de</strong> segundo grau com síndrome <strong>de</strong> Down. Eo Carlos também tem <strong>um</strong> filho <strong>de</strong> <strong>um</strong> primo tem alg<strong>um</strong>a coisa também , não sei o que é.2- Deficiência visual3- Deficiência auditiva4- Outros.ANTECEDENTES:-Concepção:- Ida<strong>de</strong> na época: (38)- Quanto à gravi<strong>de</strong>z: ( ) Planejada


58( X ) Causal( ) In<strong>de</strong>sejada – se foi aceita <strong>de</strong>pois?Reação dos pais:Mãe: Eu fiquei sem ação, como se eu já soubesse, mas o Carlos não, ele chorou muito, entrouem <strong>de</strong>sespero, me disseram, eu estava anestesiada. Mas quando me disseram eu não fiz nada,fiquei quieta.Pai: A médica, que era muito conhecida nossa, me chamou e me <strong>de</strong>u a notícia. Foi <strong>um</strong> baque.Eu tenho <strong>um</strong> primo <strong>de</strong> segundo grau lá em Minas que é Down, minha convivência com elenão foi muito gran<strong>de</strong>, mas tivemos <strong>um</strong>a convivência, então, eu já sabia como era. Mas foi <strong>um</strong>baque, você receber a notícia que seu filho não é perfeito, que não vai ser normal, que vai ter<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. Gilda já foi mais tranqüila, disse ‘mas ele é bonitinho’, e quando eu vi, ele ébonito mesmo...Eu fiquei meio assustado no início, mas <strong>de</strong>pois foi mais tranqüilo. No dia emque a médica contou, lá no hospital, eu chorei, falei para minha irmã, contei que ele tinhanascido com <strong>um</strong> problema. Depois eu contei para as minhas filhas. Quando a gente olhava,não percebia não. O médico fez os testes, <strong>de</strong>pois levei <strong>um</strong> especialista lá que confirmou queele tinha Síndrome <strong>de</strong> Down. Com 15 dias <strong>de</strong> nascido a gente já estava com ele n<strong>um</strong>a clínica,já estava sendo trabalhado, e até hoje, nunca mais parou. Fonoaudióloga, ortopedista,fisioterapeuta, psicomotricida<strong>de</strong>, psicoterapia...Tudo o que está a nosso alcance.Pais: heterosanguineos (não são parentes)- ( X)Consangüíneos (tem parentesco) grau <strong>de</strong> parentescoGESTAÇÃO:1- A mãe fez tratamento pré-natal?Sim.2- A gestante contraiu doenças, fez raio X, tomou vacinas ou fez uso <strong>de</strong> medicação?Não. Só fiz ecografia.3- Qual a duração do período gestacional?


599 meses normal.4- No <strong>de</strong>correr da gestação, ocorreu alg<strong>um</strong> fato que a preocupou? (quedas, sangramento,fatores emocionais ou ameaça <strong>de</strong> aborto?)Eu sempre no começo da minha gravi<strong>de</strong>z tenho ameaça <strong>de</strong> aborto, eu tenho sangramento,nas 3 gravi<strong>de</strong>z eu tive, é normal. Mas isso não prejudicou, é normal mesmo, acontece, eufico menstruada nos primeiros meses. A médica disse q isso acontece.NASCIMENTO1-On<strong>de</strong> foi realizado o parto:( ) em casa ( X) Maternida<strong>de</strong>2-Como foi o parto? EspecificarFoi cesariana e fez uso <strong>de</strong> anestesia. Mas foi tudo normal.3-Após o nascimento, quanto tempo a criança levou para ir ao quarto?Ai eu não sei, porque a gente fica anestesiada e ai eu não sei. Mas assim que acaba a anestesiaele já levam. Eu não lembro, <strong>de</strong>pois da anestesia a gente fica meio abestado, mas <strong>de</strong>ve terlevado logo.4-Qual a posição da criança para o nascimento?Não sei. Não lembro.5-A criança chorou logo ao nascer?Chorou, eu lembro que chorou.6-A respiração foi espontânea?Acho que sim, não vi ninguém fazer nada.7-Houve alg<strong>um</strong> problema na ocasião do nascimento que levou a criança a receber cuidadosespeciais?As meninas, por causa do problema do sangue meu e <strong>de</strong> Carlos, <strong>um</strong> é O- e outro A - , daaquele problema do sangue, que a criança fica amarelinha, hectericia. Ai ele tem que ficar na


60luz, banho <strong>de</strong> Luz, P. ficou mais dias, Cris ficou menos e A ficou mais tempo que todos, achoque ficou 10 a 15 dias, tomando banho <strong>de</strong> luz.8- Necessitou <strong>de</strong> encubadora:Sim. Ele teve <strong>um</strong> dia lá que ele estava morrendo, não tinha muito leite, por causa doemocional,e ele era muito saudável e o leite não estava sustentado, não era forte, ai ele<strong>de</strong>smaiava porque estava fraco. Ai a medica inventou que ia levar para a cirurgia porque eletava morrendo do coração, ai levei para fazer todos os exames e não constatou nada e viuque não era nada no coração , era fome e ninguém viu isso. Ai eu falei q eu ele ficou muitotempo no banho <strong>de</strong> luz, e <strong>de</strong>sidrata a criança, e juntou com a fraqueza <strong>de</strong>le, que não estavasustentado com o leite então ele ficou fraco. E <strong>um</strong> monte <strong>de</strong> pediatra e ninguém viu isso,achava que estava passando mal do coração, ai <strong>de</strong>pois eu falei para o medico que se ele nãosaísse do hospital eu ia fugir com ele, daí fui para outro medico. Ai o medico disse que eleera muito saudável, que estava morrendo <strong>de</strong> fome. E mandou tacar leite nele. Ficou emencubadora acho que 2 dias.9-Apresentou icterícia:Sim e foi tratado com Banho <strong>de</strong> luz e água <strong>de</strong> picão.10-Peso ao nascer: 3.100 ou 2.900 Tamanho: Normal. Não lembro11-Recebeu alto no hospital junto com a mãe: SimDESENVOLVIMENTODesenvolvimento psicomotorEm que mês ou ida<strong>de</strong> a criança:-sustentou a cabeça:- sorriso:- sentou sozinha:- engatinhou:- andou:O <strong>de</strong>senvolvimento foi normal igual as outras crianças, ele engatinhou na época certa porcausa do tratamento <strong>de</strong> estimulação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 15 dias <strong>de</strong> vida. Enato tudo nele foi normal,


61engatinhou na época certa, sentou na época certa, acho que com 6 meses e andou com 1anos e 2 meses então essa parte foi toda certinha por causa da estimulação. Engatinhoucom 4 meses. No lembro época certa, mas foi tudo certinho.Controle dos esfíncteres:Com dois anos vesical diurno e noturno 2 anos e meioPreferência manual: com <strong>um</strong> ano, geralmente quando entra na escola. Com <strong>um</strong> ano e tantoquando ele pega a colher para comer sopinha E ele pegou com a mão certa a direita.MANIPULAÇÃO E HÁBITOS1- Usou chupeta?Não, acho que não quis, não usou o <strong>de</strong>do também não.2-Roeu unhas?De vez em quando ele rói. Começou agora, <strong>de</strong>pois que cresceu que arr<strong>um</strong>ou uns tiques.3- Teve ou tem tiques?Tem muito, é <strong>de</strong> época ele invoca com <strong>um</strong>a coisa e começa e a gente tem que ficar tirando epassa para outra. Agora ele ta em <strong>um</strong>a <strong>de</strong> ficar rindo sozinho, fica mexendo com a cabeça, játeve outros. Esse são os atuais.Ele já teve tantos.LINGUAGEMQuando a criança falou as primeiras palavras:Foi papa, o pai é a paixão <strong>de</strong>le. Não sei qual a ida<strong>de</strong>, não me lembro. 1 ano e meioBalbuciou.


62A criança tem suspeita <strong>de</strong> perda auditiva?Teve <strong>um</strong> problema, teve que colocar carretel no ouvido fez duas cirurgia no ouvido, e opróprio organismo expulsa o cartel, ate pouco tempo a gente fez acompanhamento. A gentefaz <strong>um</strong>a vez por ano, antes era <strong>de</strong> 3 em 3 meses.Aconteceu à mesma coisa com C., ele vai per<strong>de</strong>ndo, da <strong>um</strong>a infecção, não sei o nome, equando vai chegando a fase adulta vai se libertando daquilo e quando é pequeno tem que ficarolhando para não dar serias complicações, é perigoso, po<strong>de</strong> atacar o cérebro, mas com ocrescimento vai libertando a infecção. Pouco tempo eu fiz exame e não <strong>de</strong>u nada, mas temque ficar acompanhando, mas agora tenho que ir menos vezes ao médico. Teve <strong>um</strong>a épocaque ia <strong>de</strong> 2 em 2 meses, <strong>um</strong>a vez por mês. É <strong>um</strong>a otite.Per<strong>de</strong> <strong>um</strong> pouco a audição Quando apresenta per<strong>de</strong>, mas quando faz tratamentorecupera <strong>um</strong> pouco, mas <strong>de</strong>ixa seqüela, ele ficou com seqüela, mas <strong>um</strong>a seqüela insignificanteChegou a vazar?Sim. Uma vez só. Tem muitos anos, ele era menor-Faz troca <strong>de</strong> sons? Fala, leitura e escrita. A fala é a parte mais afetada, a dificulda<strong>de</strong> maior éa fala, e prejudica tudo, a escrita e a leitura.-Quanto à respiração: Nasal.Quais os meios que a criança utiliza para comunicar-se?E a fala. Da maneira <strong>de</strong>le, e gesticula também. Tem <strong>um</strong> crescimento , com o tratamento tem<strong>um</strong> crescimento. Apren<strong>de</strong>u a viver nesse mundo com a socieda<strong>de</strong>. Tem <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosim, com a estimulação consegue viver <strong>de</strong>vagarzinho com as pessoas na socieda<strong>de</strong> que émuito importante para ele. Mas é lento, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le é lento,ma chega lá.DOENÇAS E ATENDIMENTO MÉDICO1-Quais as doenças contraídas pela criança?Teve 3 pne<strong>um</strong>onias e tomou <strong>um</strong>a vacina e não teve mais. Raramente ele fica doente, <strong>de</strong> vezem quando fica gripado, mas tem muito tempo. O problema <strong>de</strong>le mesmo é esse problema quetava dando na pele, essa infecção, eu não sei o nome, é muito complicado. É <strong>um</strong>a doença, queatravés do sistema imunológico <strong>de</strong>le, que abaixa muito ai faz com que crie <strong>um</strong>a.infecção, é damesma família do furúnculo mas não é furúnculo na pela, e tem que ficar sempre atento, temque fazer tratamento, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scuidar nem <strong>um</strong> pouco pq não po<strong>de</strong> espremer, pq não po<strong>de</strong>


63passar para o sangue, pq traz muitas conseqüências, essa bactéria po<strong>de</strong> atacar os órgãosprincipais, o coração, o pulmão e os rins, é perigosíssimo pq se atacar o coração morre.Estamos fazendo acompanhando, tem que fazer sempre. Faz dois anos que começou, queestamos batalhando.Acho que teve catapora uns 3 anosPne<strong>um</strong>onia, a menos <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano, 8 a 10 mesesA tireói<strong>de</strong>,. Os hormônios não estavam fabricando. E toma todo dia remédio todo dia <strong>de</strong>manha. E a ultima vez que fiz os exames estavam normais e vou fazer <strong>de</strong> novo essa semana.Tomou vacinaFez cirurgia?Sim.Hérnia no <strong>um</strong>bigo, quando era pequeno uns 3 anos para 4.Faz uso <strong>de</strong> medicamento?Sim. Para tireói<strong>de</strong>. Fica parecendo que esta com <strong>de</strong>pressão, sem animo para nada, sonolento,só queria ficar <strong>de</strong>ntro do quarto, parece que tava cansado, sempre dizia que esta cansado,dizem que da <strong>um</strong> mal estar, <strong>um</strong>a moleza e lê não sabe se expressar e falava que tava cansado,e vai ficando tristinho, como se estivesse em <strong>um</strong>a <strong>de</strong>pressão.Apresenta problemas <strong>de</strong> visão?Sim . usa óculos. O grau é <strong>um</strong> e pouco, não é muito.A criança encontra-se em acompanhamento <strong>de</strong>:Pedagogo, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiologico, fisioterápico, neurológico einfectologista.ALIMENTAÇÂOApresentou reflexo <strong>de</strong> sucção? SimA criança fez alimentação materna por quanto tempo?Ele mamava direitinho, bonitinho, não teve dificulda<strong>de</strong>. . Comigo ele mamou ate uns 3 mesespq eu não tinha leite i <strong>de</strong>pois ele se alimentava co leite ninho com mama<strong>de</strong>ira, assim que saiudo hospital eu dava os dois, meu leite e mama<strong>de</strong>ira, ajudando por causa do meu emocional


64que não tinha leite. Deve ter sido por causa da noticia, pq mesmo que a gente aceite não <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> abalar o emocional, porque é <strong>um</strong>a coisa nova que estava aparecendo na sua vida, não érejeição . eu ficava sm saber como seria, o que ia ser, pq então conhecia. O primeiro ano <strong>de</strong>vida <strong>de</strong> A eu fiquei <strong>de</strong>sesperada, mas <strong>de</strong>pois fui me acalmando fui vendo como era, mas era<strong>um</strong>a insegurança, <strong>um</strong> medo <strong>de</strong> não dar certo, <strong>um</strong>a ansieda<strong>de</strong>, se ele ia andar na época certa,<strong>de</strong>senvolver direitinho, não foi fácil não, o primeiro ano não é fácil mesmo não. Mas é normalque acontece c todo mundo, <strong>um</strong>a coisa que acontece com a gente e que a gente não conhece.-Fez uso <strong>de</strong> mama<strong>de</strong>ira? Quanto tempo?Assim que ele começou a comer comida ele largou, ele come muito bem, come todas asverduras logo começou a tomar sopinha ai geralmente com 2 anos já larga quando a pessoa seadapta a comida.-A criança apresentou problema para mastigar ou engolir? Não-Quando começou a ingerir a alimentação pastosa e sólida?Com 4 meses pastosa, sopinha com <strong>um</strong> ano nos já dávamos arroz, feijão purê <strong>de</strong> batataComo se processa a alimentação da criança? Quantas refeições a criança faz por dia?Normal, ele se alimenta bem come tudo gosta <strong>de</strong> tudo. Não gosta <strong>de</strong> jantar, so anta quando elenão almoçou direito ou não lanchou ai ele pe<strong>de</strong> <strong>um</strong>a janta, mas lê gota <strong>de</strong> tomar leite e comerpão. Toma café aqui na escola almoça direitinho, salada, lancha a tar<strong>de</strong> e <strong>de</strong> noite come <strong>um</strong>leite <strong>um</strong> pão.Esse dias lê tava no banco e <strong>um</strong>a amiga do Carlos ofereceu ai Carlos ofereceu e ele comeu etambém ele se cuida, tem medo <strong>de</strong> ficar gordo,, ai as vezes ele fala “Não quero fica gordo”.Ainda bem porque ele se cuida.Sono. Ele não dorme bem Às vezes, ele fica andando a noite toda, vem no meu quarto vai p lá, nãosei o que , não sabe falar ai fica difícil.Não pula, muito difícil, às vezes ta agitado, mas nem sempre.Não baba.Muito difícil só quando esta muito cansado.


65Sudorese às vezes, com a tireói<strong>de</strong> as vezes acontecia, mas agora não.Às vezes range os <strong>de</strong>ntes.e tem insônia.Ele dorme em quarto separadoSOCIALIZAÇÃO:Nem sempre faz amigos com facilida<strong>de</strong>. Briga, mas não constantemente, não tem muitafacilida<strong>de</strong> com criança não . a gente não enten<strong>de</strong> o pq, as vezes ele vai brincar e agredi a scrianças eu acho que as crianças rejeitam ele ai a forma q ele tem <strong>de</strong> suportar aquilo é agrediras crianças. Elas criticam, ficam rindo <strong>de</strong>le, remendando ele, pq ele não fala direito, pq eu jávi lá me baixo, ai eu acho q a agressão <strong>de</strong>le é por isso. E ultimamente ele não quer mais lidarco criança, saber <strong>de</strong> criança, tem muita dificulda<strong>de</strong>. Com adulto ele sente seguro a psicóloga<strong>de</strong>le disse que é porque os adultos respeitam , não ficam criticando, po<strong>de</strong> ser por isso que staacontecendo isso.Não é lí<strong>de</strong>r.Do que ele gosta <strong>de</strong> brincar?Não sei. Antigamente ele <strong>de</strong>scia lá em baixo, ele jogava bola, brincava <strong>de</strong> pique escon<strong>de</strong>,e elegostava. Agora ele gosta <strong>de</strong> ficar no quarto nele ouvindo musica, sozinho, ele adora.Como se comporta nos outros ambientes?De uns tempos para cá ele esta se comportando como <strong>um</strong>a pessoa adulta, sem dificulda<strong>de</strong>nenh<strong>um</strong>a, direitinho, bonitinho, vai em casamento conosco e fica sentadinho, igual a homem,comporta direito, on<strong>de</strong> vai se comporta direitinho.Agora estava assim.O que ele faz quando não esta na escola?Ele fica o dia inteiro na escola <strong>de</strong> manha e a tar<strong>de</strong>, quando não esta fica em casa ouvindomusica a noite. Faz natação a tar<strong>de</strong> também. E on<strong>de</strong> vamos passear e lê vai conosco, todo,lugar ele vai conosco.Demonstra ciúmes em relação a alg<strong>um</strong> amigo?Não, ele sente falta, ele não gosta <strong>de</strong> viver fora, longe da família <strong>de</strong>leA criança necessita <strong>de</strong> auxilio na execução das tarefas escolares?


66Sim.Ele precisa. Isso ele sempre faz na escola especializada, em casa <strong>de</strong> vez em quando tem<strong>um</strong> <strong>de</strong>ver, quando tem, alguém ajuda, os irmãos, eu, todos ajudamRelaciona-se bem com a a professora, colegas e <strong>de</strong>mais funcionários da escola?Mais ou menos. Lá os professores são tudo doido com ele, parece que gostam <strong>de</strong>le. Na escolaeu não sei bem como é. Na clinica especializa as pessoas são mais legais, são diferentes.Apresenta cuidados com uniforme e material escolar?Ele é cuidados com as coisinhas <strong>de</strong>le, guarda no lugar certo, não per<strong>de</strong> as coisas, achointeressante.A família tem em casa revistas, jornais, livros ou qualquer outro material escrito que estimulea criança a ler?Tem revista , jornal. Às vezes ele pega, quando o pai <strong>de</strong>le pega a veja para ler, ele tenta imitaro pai, ai ele pega e fica lendo, igual o pai, ta olhando, mas ta lendo igual o pai. Pq o mundo<strong>de</strong>le é o pai <strong>de</strong>le.A criança tem em casa materiais escolares que a incentive a escrever? Sim-Gosta <strong>de</strong> ouvir e/ou contar historias?Quem conta historias para a criança?Ele não tem paciência para ouvir historia não . Um dia eu peguei <strong>um</strong> livro p ler e ele não quisnão.-Ouve musica e/ou gosta <strong>de</strong> dançar?Ai é com ele memso..-A criança participa <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras que envolvem: correr, pular, saltar, subir, <strong>de</strong>scer?Participa-Sabe abotoar, <strong>de</strong>sabotoar, amarrar, <strong>de</strong>samarrar, dar laços em calçados, recortar figuras? Nãoa gente ta tentando ensinar, la na clinica amarar, mas não apren<strong>de</strong>u ainda não. Não abotou acamisa.recorta figura


67-A criança tem noção <strong>de</strong>: acima, <strong>de</strong>baixo, longe, perto, <strong>de</strong>ntro, fora, frente, atrás, dias dasemana, meses do ano, datas comemorativas, maior, menos, pouco, muito?Tem noção <strong>de</strong> lugar. Mas <strong>de</strong> dias semanas e datas comemorativas não. Mais <strong>de</strong> localização-Realiza leitura <strong>de</strong> rótulos, placas ou cartazes? NãoSabe ler ou escrever seu nome e dos familiares? Da maneira <strong>de</strong>le.ÁREA ACADÊMICA:Qual a Expectativa:Muito importante. Mas o principal objetivo é Alexandre apren<strong>de</strong>r as ativida<strong>de</strong>s sócias para ter<strong>um</strong>a vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteQual o tipo <strong>de</strong> problema que a criança apresenta?A fala.Qual orientação que os pais receberam e qual atitu<strong>de</strong> tomada por eles?Não recebemos. O que a gente faz- A criança apresenta responsabilida<strong>de</strong> pelas tarefas escolares?Ele sabe quando tem tarefa, ele fala.Ele tem o hábito <strong>de</strong> estudar, tem horários, local apropriado?Tem, na clinica <strong>de</strong>le, na segunda, quarta e sexta, <strong>um</strong>a das matérias <strong>de</strong>le é exatamente paraisto, ´para ele fazer as tarefas da escola.Quais as facilida<strong>de</strong>s pedagógicas encontradas pela criança?Ele sabe o alfabeto, as letras, tem coor<strong>de</strong>nação motora boa.E as dificulda<strong>de</strong>s?Escrever ditado tem que ser bem pausado, formar frases, a fala é <strong>um</strong>a dificulda<strong>de</strong> natural <strong>de</strong>le.A maior dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alexandre é a fala.E ele falta muito a escola?


68Não. Nós achamos muito importante ele ir à escola, é importante também para asociabilização <strong>de</strong>le.Como foi a adaptação <strong>de</strong>le na escola?Foi boa. Hoje ele está n<strong>um</strong>a fase muito tranqüila. Uma das caracterísiticas <strong>de</strong> Alexandre é queele exige mais <strong>um</strong> acompanhamento mais individual.Ele é retraído em casa?Isso é <strong>de</strong> fase. Ele passou <strong>um</strong>a fase agora <strong>de</strong> retração, não queria brincar, não queria sedivertir, <strong>de</strong> sair. Agora não, ele está se soltando mais. Antes, ele se soltava <strong>de</strong>mais, aí entrounessa fase, agora, ele está se soltando <strong>de</strong> novo.Em que situação ele é capaz <strong>de</strong> se concentrar?Quando tem <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> interessante, que ele goste. Com músicas, brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> jogar,educação física, ele gosta.Ele sabe transmitir recado?Não, como ele tem dificulda<strong>de</strong> na fala, fica complicado, esse lado fica comprometido.Ele tem facilida<strong>de</strong> para contar fatos, acontecimentos?Da maneira <strong>de</strong>le, sim.É capaz <strong>de</strong> ir à supermercados, panificadoras ou mercearias para realizar pequenas compras?Quando a gente vai junto sim, mas sozinho não. Tanto que quando ele estava começando asair sozinho, eu estava por perto, observando. Um dia ele saiu daqui, foi lá na entrada daquadra, na banca revistas, pegou <strong>um</strong> sorvete. Para atravessar a rua, ele é pequeno. Outro dia,não tinha na banca, não tinha, ele foi lá no mercado para pegar o sorvete e trouxe o troco.Que tipo <strong>de</strong> reforço necessita para realizar tais compras?Ele enten<strong>de</strong> tudo, o problema <strong>de</strong>le é a fala. A gente diz e ele vai.Ele reconhece dinheiro, valor <strong>de</strong> troco?Ele sabe o que é dinheiro, reconhece, sabe que é para comprar as coisas, mas ele não temnoção <strong>de</strong> valor, se aquilo dá para comprar, se vai sobrar.


69Reconhece horas extras, meias horas e quarto <strong>de</strong> horas?Não.Sabe o en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong> sua casa?Não.Reconhece alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> letra?TodasLê palavras simples ou complexas?Simples, ele lêReconhece n<strong>um</strong>erais.Sim. Ele sabe até 20, por aí.Ele sabe fazer pequenas operações <strong>de</strong> memória?Sabe, eu já vi ele fazendo, <strong>de</strong> números pequenos. Como três mais dois, isso ele sabe.Faz as quatro operações ele sabe?Ele faz mais soma.Soluciona problemas da vida diária?Ele se vira bem no dia-a-dia, as coisas diárias, ele faz tudo.


70Anexo 2ENTREVISTA COM OS PAISFale <strong>um</strong> pouco sobre as escolas que ele passou, há quantos anos que ele freqüenta.Ele entrou na escola na ida<strong>de</strong> normal, com quatro anos. Ele estudou primeiro no Arvence,<strong>um</strong>a escola particular. Ele entrou no Jardim I, ficou lá uns três anos. Lá ficava <strong>um</strong>a professorae <strong>um</strong>a estagiária, ajudando, que inclusive eu paguei.Nessa época ele estava se <strong>de</strong>senvolvendo bem?Ele estava, mas não sei até on<strong>de</strong> este bem vai, porque ele sempre teve <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimentomais lento.Depois do Arvence, ele foi para a 312 Norte, para o Jardim. De lá, ele foi para a Escola Classeda 312 Norte, que é ao lado. Lá também ele ficava em <strong>um</strong>a turma regular, mas reduzida, oatendimento com ele era bom. Ele ficou até a 1ª série, on<strong>de</strong> ele até repetiu. Alexandre ficou láuns quatro anos e meio. Nessa época, a gente achava que ele era hiperativo, o médico disseisso, porque ele era muito traquino. Aí eles acharam por bem que ele fosse para a EscolaEspecial da 611 Sul, para que ele tivesse <strong>um</strong> tratamento mais especializado, para melhorareste lado. Depois <strong>de</strong> muita discussão, eles nos convenceram e levamos ele para lá. Elesacharam que se ele ficasse <strong>um</strong> semestre, seria muito bom para ele. Nós fomos, e nissocomeçou toda a bandalheira da Fundação. Ele ficou <strong>um</strong> ano e meio lá e teve <strong>um</strong>a regressão.Lá só tem alunos especiais, <strong>um</strong>a turma <strong>de</strong> três, quatro alunos. Mas o problema lá é a falta <strong>de</strong>professores. Em <strong>um</strong> ano e meio ele teve oito professores. Nós <strong>de</strong>scobrimos que <strong>um</strong> <strong>de</strong>ssasprofessoras substitutas chegava <strong>de</strong> manhã e já colocava os alunos n<strong>um</strong> colchonete paradormir. Saia do colchonete e ia para <strong>um</strong>a salinha para assistir filme. Não fazia nada. Aícomeçou <strong>um</strong>a briga para tirar ele <strong>de</strong> lá. Tanto que no laudo <strong>de</strong>le saiu que ele teve <strong>um</strong>aregressão.Quando vocês começaram a observar isso, vocês tentaram tirar ele <strong>de</strong> lá, mas nãoconseguiram?Foi, foi <strong>um</strong>a confusão. Muita dificulda<strong>de</strong>. Descobrimos que quando ele foi para lá, ele <strong>de</strong>veriater sido avaliado, aí eles dizem que a avaliação <strong>de</strong>veria ser feita pelos pais. Aí foi <strong>um</strong> “disseme-disse”.E o que foi discutido lá não foi registrado. Além disso, n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>terminada época,


71quando foi feita <strong>um</strong>a entrevista com os psicólogos, disseram que ainda não era a época, aí nofinal do ano disseram que passou da época e que não podia mais. Foi <strong>um</strong>a luta para tirar ele <strong>de</strong>lá, até que tivemos que apelar e exigir mesmo para Alexandre mudar <strong>de</strong> escola. Eu vi muitafalha na Fundação, falta <strong>de</strong> professores, professores terceirizados, diretor que está lá só paraocupar cargo, não administra bem, <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> coisas.E <strong>de</strong>pois disso?Depois, <strong>de</strong>pois da minha briga toda junto ao GDF e a Secretaria <strong>de</strong> Educação, eles colocaramele na Escola Especial da 410 Sul, com <strong>um</strong>a professora com experiência, e está lá até hoje.Você vê alg<strong>um</strong>a diferença?No começo, eu briguei também porque <strong>um</strong> dos problemas <strong>de</strong>ssas classes especiais é que tem15 alunos, on<strong>de</strong> cada criança tem <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, <strong>um</strong>a síndrome, e com essa briga euconsegui que a classe <strong>de</strong> Alexandre tivesse no máximo sete alunos, inclusive até hoje lá éassim. Se não fosse isso, pelo GDF teriam 15 alunos, e é impossível que <strong>um</strong>a classe especialtenha 15 alunos, com <strong>um</strong> professor só. Segundo eles, não. Eu conversei com a responsável noBuriti, eles provaram por A mais B que tem <strong>um</strong> método <strong>de</strong> trabalhar que dá atenção a todos osalunos e eles <strong>de</strong>senvolvem muito. Eu tenho minhas dúvidas. E tem professores também queconcordam comigo, que dizem que não tem condições, que é difícil. A professora <strong>de</strong>Alexandre também, inclusive, vai começar a aten<strong>de</strong>-lo às terças à tar<strong>de</strong>, porque ela percebeunele <strong>um</strong> potencial que tem que ser trabalhado.E também teve o problema da tireói<strong>de</strong> <strong>de</strong>le, que a gente não sabia, a taxa <strong>de</strong>le estavaaltíssima. E isso <strong>de</strong>ixou meu filho mais sonolento, <strong>de</strong>ixava ele mole, ele não estava tendorendimento nenh<strong>um</strong>. E <strong>de</strong>pois do tratamento, ele está mais atento.Você acha importante a inclusão escolar?Por <strong>um</strong> lado eu acho muito importante, por outro...Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da maneira como ela é feita,porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da criança, ela terá muito ganho. Por isso que tem que ter sempre ainclusão, mas tem que ter também a classe especial. Porque tem criança que não tem condição<strong>de</strong> ir para a inclusão, e eles querem acabar com a classe especial <strong>de</strong> todo o jeito, o objetivo ésó a inclusão e pronto. Porque eles alegam que a criança fica excluída, mas tem criança quenão tem condições <strong>de</strong> ir para a inclusão, porque ela não vai ter ganho nenh<strong>um</strong> e ainda vaiprejudicar a sala. E sempre na inclusão tem que ter mais <strong>um</strong> professor para auxiliar o titular,porque esse negócio <strong>de</strong> colocar <strong>um</strong> professor só cuidando <strong>de</strong> <strong>um</strong>a sala com 20 alunos e mais


72<strong>um</strong>a ou duas crianças especiais, o sistema está cuidando, por <strong>um</strong> lado, da não exclusão dacriança, mas por outro não se preocupa com a qualida<strong>de</strong> do ensino, não quer gastar dinheirocom mais <strong>um</strong> profissional <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula. Por isso o ensino fica comprometido. Estápreocupado porque está resolvendo <strong>um</strong> problema que existe, mas não quer gastar, aí ficacomplicado.Antes <strong>um</strong>a sala especial tinha até oito alunos. Depois, eles alteraram, era até 12. Hoje, já sãoaté 15 alunos. Eles ficam muito preocupados com os gastos, mas e a qualida<strong>de</strong>? Eu ficopreocupado com isso.Como você <strong>de</strong>screve Alexandre?Alexandre é <strong>um</strong> downzinho muito sapeca, carinhoso, gostoso...Que a gente ama muito.O que você espera <strong>de</strong>le no futuro?A nossa gran<strong>de</strong> preocupação com o estudo, com a escola, é ele apren<strong>de</strong>r a ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,ele se virar. No básico, ele já sabe...Até ele vir a ter o emprego <strong>de</strong>le, esse é o objetivo. Agoraele está na natação, para futuramente ele competir nas paraolimpíadas.Você acha que a escola que ele está hoje está aten<strong>de</strong>ndo as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>le?Está, pelo fato da professora <strong>de</strong>le ser muito experiente. O único inconveniente é a distância daescola, mas vale a pena, já que não teve outro jeito. A turma que eles prometeram na escola daAsa Norte, na verda<strong>de</strong> este ano não teve. É o que eu estou falando, eles estão reduzindo, e<strong>de</strong>sse jeito, eles vão querer apenas a inclusão mesmo.Como você recebeu a notícia <strong>de</strong> que Alexandre tinha Síndrome <strong>de</strong> Down?A médica, que era muito conhecida nossa, me chamou e me <strong>de</strong>u a notícia. Foi <strong>um</strong> baque. Eutenho <strong>um</strong> primo <strong>de</strong> segundo grau lá em Minas que é Down, minha convivência com ele nãofoi muito gran<strong>de</strong>, mas tivemos <strong>um</strong>a convivência, então, eu já sabia como era. Mas foi <strong>um</strong>baque, você receber a notícia que seu filho não é perfeito, que não vai ser normal, que vai ter<strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência. Gilda já foi mais tranqüila, disse ‘mas ele é bonitinho’, e quando eu vi, ele ébonito mesmo...Eu fiquei meio assustado no início, mas <strong>de</strong>pois foi mais tranqüilo. No dia emque a médica contou, lá no hospital, eu chorei, falei para minha irmã, contei que ele tinhanascido com <strong>um</strong> problema. Depois eu contei para as minhas filhas. Quando a gente olhava,não percebia não. O médico fez os testes, <strong>de</strong>pois levei <strong>um</strong> especialista lá que confirmou queele tinha Síndrome <strong>de</strong> Down. Com 15 dias <strong>de</strong> nascido a gente já estava com ele n<strong>um</strong>a clínica,


73já estava sendo trabalhado, e até hoje, nunca mais parou. Fonoaudióloga, ortopedista,fisioterapeuta, psicomotricida<strong>de</strong>, psicoterapia...Tudo o que está a nosso alcance.Como é o relacionamento <strong>de</strong>le com vocês?Bom <strong>de</strong>mais. A gente está sempre dando carinho, quando é preciso corrige. Ele é maisapegado comigo. Essa noite mesmo, eu dormi com ele, eu estava <strong>de</strong>scoberto, ele levantou efoi me cobrir. É engraçada essa preocupação <strong>de</strong>le.E a sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le?Está <strong>de</strong>spertando, mas por enquanto ele está mais sossegado.Como você avalia o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le?Eu acho bom, o único inconveniente foi aquela escola que ele ficou <strong>um</strong> ano e meio, queatrapalhou ele muito, agora estamos tentando dar <strong>um</strong>a recuperada. Outra coisa é a fala <strong>de</strong>le,que realmente é <strong>um</strong>a dificulda<strong>de</strong>. Ele nunca teve nenh<strong>um</strong> problema cardíaco nem renal, quemais <strong>de</strong> 90% dos portadores da Síndrome <strong>de</strong> Down apresentam. Mas a fala <strong>de</strong>le apresentou a<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>le, e é o que atrapalha <strong>de</strong>le. Se não fosse a fala, ele seria <strong>um</strong> Down perfeito.Vocês estimulam a fala, trabalham com ele isso?A gente procura corrigir sempre, ele tem <strong>um</strong>a tendência a falar,da maneira <strong>de</strong>le, e emendartudo. Aí a gente corrige, repete as sílabas, para ele apren<strong>de</strong>r.Quando ele está na rua, com a família, ele se relaciona bem com todo mundo?Quando ele chega na casa dos outros ele fica sentadinho, comportado.MãeComo você <strong>de</strong>screve A ?Alexandre...Não tem palavras para <strong>de</strong>screver ele, porque foi <strong>um</strong>a maravilha que Deus me <strong>de</strong>u,me sinto tão realizada com o meu filho, é <strong>um</strong>a criança maravilhosa. As mães que tem filhoscom Síndrome <strong>de</strong> Down realmente não sabem ver o que é, mas a gente que tem religião sabeque é <strong>um</strong> crescimento espiritual muito gran<strong>de</strong>. Você sente, você vê a energia maravilhosa queele tem, <strong>um</strong> abraço <strong>de</strong>le você sente a energia positiva, <strong>um</strong>a luz positiva. É <strong>um</strong> anjo, porquenão tem malda<strong>de</strong>, não tem nada, porque veio nesse mundo para c<strong>um</strong>pri a missão nele,transmitindo amor para as pessoas, para gente, paz, harmonia.


74O que você espera <strong>de</strong>le no futuro?É ver meu filho se virar sozinho, ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Vai cuidar da gente, ele já se preocupacom a gente.


75Anexo 3ENTREVISTA COM P. G. P. 21 ANOS (irmã)Como recebeu a noticia que seu irmão teria Síndrome <strong>de</strong> Down?“A gente foi ver minha mãe, e ele ainda estava no berçário. Aí, quando a gente voltou, meupai veio conversando com a gente no carro, explicando que o A era diferente, que a gente teriaque ter mais cuidado com ele, essas coisas. Ele disse, explicou <strong>de</strong> maneira bem simples o queera Síndrome <strong>de</strong> Down. Eu era pequena, então eu não tinha muita noção do que era. Tanto éque ele estava no hospital e não estava conseguindo tomar leite da minha mãe, ele quasemorreu. Minha mãe fala que eu entrei chorando e disse que eu queria meu irmão do jeito queele era <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ficasse vivo. Encarei normal, natural.”Como se relaciona com A? Mudou em alg<strong>um</strong> momento a maneira que vocês se relaciona?“Do mesmo jeito, tanto é que ele tem a maior coisa comigo. Sempre brinquei com ele, fui euque ensinei ele andar. É o mesmo carinho, a mesma coisa, às vezes a gente per<strong>de</strong> a paciência,mas a gente se relaciona bem.”Como percebe o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le? Quais as principais limitações <strong>de</strong>le?“Apren<strong>de</strong>r a andar, ele apren<strong>de</strong>u na ida<strong>de</strong> certa. Coor<strong>de</strong>nação motora é boa, tanto que a gentedava aqueles brinquedinhos <strong>de</strong> montar as pecinhas e ele montava n<strong>um</strong>a boa. O problema <strong>de</strong>lemesmo é a fala. Porque enten<strong>de</strong>r, ele enten<strong>de</strong> tudo o que a gente diz, em relação a isso ele se<strong>de</strong>senvolveu bem. O problema é a fala porque atrapalha em muitas outras coisas.”Você ajuda nas tarefas da escola??“Às vezes eu ajudo ele nas tarefas. Antes, quando eu não tinha nada à tar<strong>de</strong>, eu ajudava afazer o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa. Ele é meio disperso, fica olhando para o nada, às vezes ele nem estáprestando atenção em nada, não tem interesse. Tem que ir <strong>de</strong>vagar, às vezes ele cansa, pareceque “enche o saco”. Aí não quer fazer, ai tem que dar <strong>um</strong> tempo para ele fazer, mas ele já estábem melhor em relação a isso.Tinha <strong>um</strong>a época que tinha <strong>um</strong>a professora que mandava <strong>um</strong>as tarefas que ele não entendiadireito. Aí mudou a professora. Ah, ele muda muito <strong>de</strong> professora porque esse negócio <strong>de</strong>Fundação, vou te contar!! Muda muito, mandam <strong>de</strong> <strong>um</strong>a escola para outra. Aí essas últimaselas mandam coisas que ele consegue fazer, que ele enten<strong>de</strong>.”Como você <strong>de</strong>screve ele?


76“Super, ultra, mega amoroso, feliz da vida. Ele que é meio quem traz a alegria lá para casa,une todo mundo, às vezes meio nervosinho. Ele é super carinhoso, amoroso com todo mundo.Adora música. Filme, sabe <strong>de</strong> cor e salteado, as falas e as músicas. Não fala português, mascanta em inglês que é <strong>um</strong>a beleza.”Já percebeu ou percebe alg<strong>um</strong>a exclusão?“No prédio mesmo, as crianças <strong>de</strong>ixavam ele <strong>de</strong> lado, faziam ele <strong>de</strong> bobo, ficavam rindo <strong>de</strong>le,ele não se sente bem perto das crianças. Ele se isola. Ás vezes, quando tem criança perto, elenão consegue se comportar, porque as crianças ficam brincando <strong>de</strong> <strong>um</strong> lado e não <strong>de</strong>ixam elebrincar também, ai ele fica agressivo. Mas quando a gente sai, por exemplo, vai paracasamento, ele se comporta direitinho, não dá trabalho. Assiste, participa da festa, dança, nomeio <strong>de</strong> adulto ele fica super bem. Muitas crianças não enten<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>ixam ele <strong>de</strong> lado,discriminando mesmo, até mães. Minha mãe já teve até problema lá no prédio, com pessoasdizendo ‘<strong>de</strong>ixa esse menino doente para lá”.Como ele se relaciona com as outras pessoas?“On<strong>de</strong> ele faz tratamento, lá na Cliner, a psicóloga falou para tentar entrosar ele, levar on<strong>de</strong>tem criança, em lugar <strong>de</strong> criança. Mas ainda é meio complicado, ele não sabe lidar muito bem.Quando a criança brinca com ele, dá muita atenção, na boa. Mas às vezes eu acho que elepercebe, que ele sente que estão <strong>de</strong>ixando ele <strong>de</strong> lado, ai ele fica nervoso, quer chamaratenção, faz brinca<strong>de</strong>ira sem graça”.O que sabe da história escolar <strong>de</strong>le?“A primeira escola <strong>de</strong>le foi <strong>um</strong> colégio particular normal e ele participava da creche e domaternal. Quando chegou no maternal, as professoras disseram que não estavam dando contae ai a escola falou que ele teria que pagar <strong>um</strong>a professora para tomar conta <strong>de</strong>le na sala. Meupai chegou na escola e a professora que ele estava pagando para tomar conta <strong>de</strong> A estavafazendo qualquer coisa menos olhar ele. E meu pai pagava horrores na escola e ainda tinhaque pagar essa professora. Aí meu pai tirou ele e falaram que tinham <strong>um</strong>as escolas daFundação que eram boas. E ele se <strong>de</strong>senvolveu muito na escola da 312 Norte, a professoradava muita atenção e todos os coleginhas eram amigos <strong>de</strong>le, todo mundo conhecia ele,conversava com ele, ele brincava, não tinha problemas. Às vezes ele fazia alg<strong>um</strong>as estripuliascom alg<strong>um</strong>as crianças, mas todas as crianças faziam. Ele estava bem melhor, se<strong>de</strong>senvolvendo mais, falando melhor , gesticulando melhor. Mas ai ele saiu <strong>de</strong> lá e foi para


77outra escola, que são duas, como se fosse maternalzinho e pré. Ele estava bom lá também,mas a professora teve que sair, ai eles disseram que tinham <strong>um</strong>as reuniões na Fundação paraver para on<strong>de</strong> ele ia, não sei direito como é. Falaram que não estava dando certo e iam mandarele para <strong>um</strong> Centro Especial <strong>de</strong> Ensino. Depois que ele foi, regrediu total, piorou mil vezes afala, porque as crianças que estavam na sala <strong>de</strong>le eram piores. Porque não eram crianças sócom Síndrome <strong>de</strong> Down, tinham paralisias, tinham <strong>um</strong> monte <strong>de</strong> coisa. Inclusive ele chamavaas crianças <strong>de</strong> burras porque ele não tinha o mesmo nível <strong>de</strong> raciocínio que eles. Ele regredi<strong>um</strong>uito, principalmente com a fala. Foi aí que ele começou a se isolar. Ele ficou lá <strong>um</strong> tempão,<strong>um</strong> ano ou mais. Meu pai conseguiu, <strong>de</strong>pois, trazer ele para <strong>um</strong>a escolinha na 409 Sul, que é<strong>um</strong>a escola normal, mas a sala <strong>de</strong>le é <strong>de</strong> crianças especiais. Autistas, hiperativas, mas tambémlá a professora disse que ele não se mistura. Lá é bem melhor que <strong>um</strong> Centro <strong>de</strong> EnsinoEspecial, mas ainda não é o i<strong>de</strong>al para ele, porque ele tem que estudar com crianças que façamele se <strong>de</strong>senvolver. Ele ia estudar aqui na Asa Norte, mas <strong>de</strong>u <strong>um</strong> rolo com a Fundação,disseram que não conseguiu formar turma porque tem que ter poucos alunos na sala. Aí eleacabou ficando lá na Asa Sul ainda, mas meu pai está tentando.O que espera <strong>de</strong>le no futuro?Eu espero que ele vá conseguir arranjar <strong>um</strong>a menininha com Síndrome <strong>de</strong> Down bembonitinha. Tem <strong>um</strong>a menininha lá na Cliner, na clínica, que é <strong>um</strong>a gracinha, está apaixonadapor ele. A gente fala que eles vão casar. Em relação a ter nível superior, eu não espero nada,porque eu acho que é muito difícil. Mas ele adora música, adora dançar, adora fingir que é DJ.Esses dias eu até estava comentando com minha mãe <strong>de</strong>le ser <strong>um</strong> DJ muito famoso. Acho quevai ser tipo isso, vai se envolver com a área das artes vai seguir por esse caminho. E vai queele case, tem muitas pessoas com Síndrome <strong>de</strong> Down que casam, né? Ainda mais ele que ébem safado.


78Anexo 4ENTREVISTA COM C. G. P. (IRMÃ) 18 anosComo recebeu a noticia que seu irmão nasceu com Síndrome <strong>de</strong> Down?“Eu lembro que meu pai sentou com a gente e conversou ... Falou que ele tinha, eu nãolembro direito, mas eu lembro que ele falou que tinha Síndrome <strong>de</strong> Down, mas que isso nãoera <strong>um</strong>a doença, que ele seria normal, mas com alg<strong>um</strong>as dificulda<strong>de</strong>s. Como eu era muitocriança, a gente nem enten<strong>de</strong>u muito isso, eu lembro que no outro dia no colégio eu falei paraminhas amigas que meu irmãozinho tinha Síndrome <strong>de</strong> Down, elas até perguntaram o que éisso. E falei que não é <strong>um</strong>a doença só sei disso. Mas eu fiquei super bem, porque eu não sabiao que era mesmo.”E como você se relaciona com ele? Como foi o relacionamento <strong>de</strong> vocês ao longo <strong>de</strong>stesanos?‘Eu implicava <strong>um</strong> pouco com ele porque por ele ter Síndrome <strong>de</strong> Down, minha mãe <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ele <strong>um</strong> pouco mais, mima <strong>um</strong> pouco mais e eu achava aquilo errado porque a gente foitratada <strong>de</strong> outra maneira, <strong>um</strong> pouquinho diferente. Eu não entendia muito, então às vezes eubrigava com ele, ficava com ciúme, mas ai eu fui crescendo e vi que ele precisava <strong>de</strong> maiscuidado, que era normal e fui me apegando mais a ele, e ele é muito carinhoso.”E você sempre se relacionou muito com ele??“Demais. Até porque eu sempre fiquei com ele á tar<strong>de</strong> sozinha, sou eu quem fico com ele atar<strong>de</strong>, então a gente se apega <strong>de</strong>mais. Eles são muitos carinhosos, se apegam muito fácil.”Você acha que mudou o relacionamento <strong>de</strong>le com você ao longo do tempo??“Ah, com certeza, porque eu não sabia direito o que era, como seria. Então, meio que a genteestá mais preparada, cresce também.”Então hoje você ajuda mais ele?‘Com certeza, a gente fica dando mais atenção, assistência, sempre ali do lado <strong>de</strong>le, nasdificulda<strong>de</strong>s. A gente tenta ajudar.’Como você percebe o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le??“A principal limitação é a fala e às vezes a gente ensina <strong>um</strong>a coisa para ele e ele apren<strong>de</strong>rápido, mas para outras coisas não. Por exemplo, matéria <strong>de</strong> escola ele <strong>de</strong>mora mais, a gente


79senta para fazer <strong>um</strong> <strong>de</strong>ver e ele <strong>de</strong>mora. Mas quando ensina outra coisa, ele apren<strong>de</strong> maisrápido. E a fala, que esta <strong>de</strong>senvolvendo, mas está bem <strong>de</strong>vagar.”Ele teve <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento bom?“Teve <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ao longo dos anos bem mais do que a gente esperava. O médicofalava que era raro <strong>um</strong>a criança com Síndrome <strong>de</strong> Down ser praticamente perfeita,né?! Porquemuitas das crianças têm problema no coração nos rins e ele nunca teve nenh<strong>um</strong> <strong>de</strong>ssesproblemas. Graças a Deus ele nunca teve nada disso. Então ele foi se <strong>de</strong>senvolvendo rápido,mais do que todo mundo esperava. Todo mundo comenta essa questão, os professores queacompanham ele sempre comentam isso.”Você consegue enten<strong>de</strong>r ele e ele enten<strong>de</strong> vocês?“A gente acha, mas por ele não falar a gente fica sem saber o que ele quer realmente ou o queele está pensando, o que passa na cabeça <strong>de</strong>le. Ele não fala muito, então a gente não sabe. Masa gente enten<strong>de</strong> muito ele às vezes, sabe o que ele quer, a gente conhece, muito tempomorando junto.Ele teve <strong>um</strong> <strong>de</strong>senvolvimento muito bom.”Como você <strong>de</strong>screve ele??“Ah!! (sorriso) É <strong>um</strong>a pessoa muito especial, muito mesmo, muito inteligente, muitocarinhoso. Ah! É especial, muito mesmo.”E você percebeu em alg<strong>um</strong> ambiente alg<strong>um</strong>a exclusão.??“Eu nunca senti isso, <strong>de</strong> quando ele está comigo <strong>de</strong> sentir excluída ou ele. Mas a gente já viuque alg<strong>um</strong>as pessoas ficam sem jeito com ele, mas por ignorância, por não saber direito comoé, por não ter convivência. Mas a gente vê com criança, principalmente porque criança falamesmo o que pensa, não tem vergonha, não sabe o que é, não enten<strong>de</strong> direito, então fica meioque excluindo ele. Então, às vezes ele percebe, ele mesmo percebe, ele sabe, ele sente isso e aié a pior parte, a gente fica mal também porque vê que ele sentiu isso.Muitas vezes ele é agressivo, quando ele vê que alguém não está tratando ele bem ele ficaagressivo, e às vezes ele pára <strong>de</strong> falar com a pessoa, ignora. Igual aqui no bloco, as criançascomeçaram a ignorar ele, a ficar rindo <strong>de</strong>le, da fala <strong>de</strong>le, e ai acabou que ele sentiu que ascrianças não estavam tratando ele bem e ele simplesmente parou <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer, não quer <strong>de</strong>scer,


80não há quem faça ele <strong>de</strong>scer. Ele não quer saber mais dos meninos e sempre trata mal quandoencontra . Ai ele se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse jeito.”E o que você espera <strong>de</strong>le no futuro?? Você acha que <strong>um</strong> dia ele vai ficar com vocês?“Ah...! Ttudo <strong>de</strong> bom para ele. Que ele consiga <strong>um</strong> emprego, que ele tenha muitos amigos,que ele consiga ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porque eu tenho certeza que ele vai ser porque ele apren<strong>de</strong>as coisas muito rápido também. E .. que ele seja muito feliz.Eu já pensei nisso, <strong>de</strong>le ficar com a gente, ou ele fica comigo ou com P. A gente não faz planosem ele, não tem como.”Você conhece <strong>um</strong> pouco da história <strong>de</strong>le na escola??“Eu sei que ele teve que repetir alguns anos na escola por conta das dificulda<strong>de</strong>s, já tevemuitos problemas com professoras que não eram preparadas, já teve alg<strong>um</strong> problema <strong>de</strong>relacionamento. Uma vez foi porque a gente estava ate achando estranho porque ele estavamuito agressivo, quando a gente foi ver, era porque a professora não estava dando atenção,estava ignorando ele. Ai ele queria chamar atenção, e acabava sendo agressivo. Foi isso, teveque repetir alguns anos por causa das dificulda<strong>de</strong>s e a fala atrapalha <strong>um</strong> pouco também.”Você acompanha alg<strong>um</strong>a tarefa da escola.?? Como é o raciocínio a interpretação?“Muitas vezes eu fico fazendo com ele, acompanhando as tarefas, ajudando. Ele é bem lento,às vezes ele é bem lento mesmo. Você acaba <strong>de</strong> mostrar, <strong>de</strong> como fazer e quando ele vai fazernão consegue. Às vezes eu acho que é porque ele fica nervoso, com medo <strong>de</strong> errar, eu sintoisso. Porque nas vezes que eu <strong>de</strong>ixo ele fazendo sozinho, ele faz. Eu ensinava, ai eu saia e elefazia direitinho, mas é <strong>um</strong> pouco lento, vê que tem dificulda<strong>de</strong>s. Preciso ler e interpretar paraele, às vezes ele não interpreta.”Como ele se relaciona com as outras pessoas??“Com adulto é mais fácil, ele não tem problema, se relaciona bem porque eles sabem como éa doença “síndrome” (grifo meu), sabem como lidar tem mais cuidado. Mas com criança émais complicado porque eles não têm essa percepção, ficam com medo, não sabem lidar. E aiele fica agressivo.”


81Anexo 5Dia: 16/03/06 17hLocal: Scala 615 sulAtivida<strong>de</strong>: Natação individualDuração: 50 minutosOBSERVAÇÃOA ativida<strong>de</strong> é realizada entre A e o instrutor na piscina.Ele apresenta boa coor<strong>de</strong>nação motora, nada estilo crawl , mergulha, faz trabalho <strong>de</strong>respiração, faz exercício com braços e pernas.Em todas as ativida<strong>de</strong>s o instrutor fala com A e <strong>de</strong>monstra o que é para ser feito, maspercebe-se que A já compreen<strong>de</strong> o comando.Às vezes ele se recusa a fazer, mas o instrutor consegue convencer ele a realizar toda aativida<strong>de</strong>.Demonstrou afeto com o instrutor, além <strong>de</strong> interesse e bem estar na realização dosexercícios. E em alguns exercícios ele pe<strong>de</strong> ajuda do instrutor.ENTREVISTA COM INSTRUTOR R.Qual o trabalho que é <strong>de</strong>senvolvido com ele?A gente faz <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor relacional. Mas ele tem <strong>um</strong><strong>de</strong>senvolvimento psicomotor bom.Quais as principais limitações <strong>de</strong>le?Ele tem <strong>um</strong>a coor<strong>de</strong>nação boa, mas ainda tem alg<strong>um</strong>as dificulda<strong>de</strong>s. Ele está bem.Tem pouco tempo que ele está aqui com a gente, no inicio <strong>de</strong>i ênfase na respiração porque elenão sabia, ele também era muito inseguro na água, ficava com medo, tinha medo <strong>de</strong>mergulhar, então a gente começou por aí, trabalhando o medo, a insegurança.Mas ele está muito bem, ele já tinha feito aula antes e está bem.


82Anexo 6ENTREVISTA COM PROFESSORA – G. C. 410 SUL“Antes, na visão da inclusão, a criança tinha que estar pronta para viver na escola.Depois da Declaração <strong>de</strong> Salamanca, a inclusão não, ela diz que a criança vem e você trabalhaas diferenças da criança. Mas, o que acontece, o que eu percebo como professora, é quequando você coloca a criança sem condições nenh<strong>um</strong>a <strong>de</strong> socialização ou <strong>de</strong> autonomia, vira<strong>um</strong>a exclusão ao invés <strong>de</strong> <strong>um</strong>a inclusão. Então, esta sala tem este papel <strong>de</strong> fazer a ponte entreo centro, que seria este trabalho todo, e <strong>um</strong>a sala como a regular. Existe <strong>um</strong>a crítica com assalas, mas eu acho que tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do profissional, <strong>de</strong> como é feito o trabalho. Aqui eutenho tido bons resultados. Os meninos saem daqui mais tranqüilos, eles conseguem ter maisautonomia. Porque meu trabalho aqui é fazer com que eles realmente passem a ter essaconvivência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma mais tranqüila. A criança sofre quando ela vai para <strong>um</strong>a sala on<strong>de</strong>ela é excluída, on<strong>de</strong> ela é “a diferente”. Quando ela passa por aqui, ela sai tão tranqüila. Elesconvivem no recreio, convivem nas festinhas. Amanhã mesmo nós temos <strong>um</strong>a apresentação.Então, essa relação é muito boa e termina tendo bons resultados. Mas o que é o gran<strong>de</strong>problema da nossa classe? Esse menino mesmo lê tudo, lê <strong>de</strong>pressa. Eu tenho quatro alunosque lêem, realmente, fazem <strong>um</strong>a interpretação, escrevem, registram, e tenho outros alunos queestão lá no princípio. A pedagogia hoje é <strong>um</strong>a pedagogia personalizada, e não diferenciada, eé muito difícil você fazer <strong>um</strong> trabalho personalizado tendo essas discrepâncias. O que eusinto? Eles separam o ensino por faixa etária, mas quando você trabalha com <strong>de</strong>ficiênciamental, a ida<strong>de</strong> mental para a ida<strong>de</strong> cronológica são extremamente distantes, então éimpossível trabalhar da forma que eles propõem. Na minha interpretação, seria <strong>um</strong>a questãodo cognitivo. (interupção). Eu sinto essa gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> porque você termina <strong>de</strong>ixando,não é que você queira <strong>de</strong>ixar alguém, mas você acaba <strong>de</strong>ixando alguém para trás, quando naverda<strong>de</strong> você po<strong>de</strong>ria estar fazendo <strong>um</strong> trabalho interessante, legal. O seu Carlos foi lá, tento<strong>um</strong>ontar <strong>um</strong>a turma para Alexandre, mas não <strong>de</strong>u certo. Mas as pessoas que estão lá encimanunca tiveram n<strong>um</strong>a sala <strong>de</strong> aula e, quando vão ensinar, ensinam como se fosse <strong>um</strong>a turmaregular. Porque, n<strong>um</strong>a turma regular, on<strong>de</strong> as crianças têm autonomia, você forma grupinhos eàs vezes você consegue trabalhar assim. Eu estou no ensino especial a sete anos, há maistempo, porque eu trabalhava com <strong>de</strong>ficientes auditivos. Eu sou coor<strong>de</strong>nadora há 25 anos,então eu também tenho experiência também lá fora. Eu estou aqui porque eu gosto, porque euquero, porque eu já convivi lá fora com <strong>de</strong>ficientes, na família. Eu tenho essa relação e seiexatamente. Eu estou aqui porque eu quero. Eu acredito que o profissional tem que gostar doque faz. Esses dias que eu estava doente veio <strong>um</strong>a pessoa para me substituir. ‘Ah, isso aqui é


83<strong>um</strong>a maravilha’. Porque isso? Porque a visão é <strong>de</strong> que a gente não faz nada. Então essa visãodo profissional vir para cá para não fazer nada é o gran<strong>de</strong> problema, porque acha que não temo que fazer, ou então vê que a criança não tem potencial. O que eu reclamo sempre é que elestinham que vir para cá mais novos. Mas o que acontece? O próprio pai rejeita. Quando elepercebe é tar<strong>de</strong>, aí não adianta tanto. Porque quando eles ficam maiores, não serve mais. Osalunos ficam dois três anos na segunda, terceira série e não saem do lugar. Então, é nestesentido o problema. A. passou pela primeira série, foi para o centro, passou por muitas coisas,não dava certo com ninguém. Aí ele chegou ano passado aqui na sala, com nove alunos, eacalmou. Eu te pergunto, é porque eu tenho tempo para ele ou foi trabalhado outra coisa quenão era trabalhado nos outros lugares. Eu acho que o ensino especial tem que ser visto comoutros olhos. Os pais têm que conhecer mais, porque por mais que eles estejam preocupados,eles não conhecem o trabalho das escolas. O que a Declaração <strong>de</strong> Salamanca diz é que acriança tem que ter o melhor atendimento.”Como é o comportamento <strong>de</strong>le hoje na sala?“A. hoje é <strong>um</strong>a criança mais tranqüila. Ele já não bate mais. Primeiro, ele está chegando naadolescência, e é natural ele se acalmar <strong>um</strong> pouco mais, ele já não bate, já não corre mais. Àsvezes, quando ele está indo para o recreio, ele fica <strong>um</strong> pouco agressivo. Mas é <strong>um</strong>comportamento natural, mas ele se isola muito. Eu fico reclamando com o pai <strong>de</strong>le que ele émuito só. Ele não fala quase nada. Ou é preguiça mesmo ou não está sendo muito exercitada aoralida<strong>de</strong> com ele. Ele está muito fechado, isso me parece <strong>um</strong>a maturida<strong>de</strong>, mas não cabe aele agora. Antigamente era diferente, ele não ficava quieto. Agora, ele não quer participar <strong>de</strong>nenh<strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ressocialização, fica quieto. Na minha concepção, isso não é legal paraele.”Quando você insiste, ele participa?“Não. Na semana passada mesmo, teve <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> para juntar as turmas, por causa daPáscoa. Ele nem saiu da sala. Ele está muito fechado. No Carnaval, ele sentou no cantinho,não participou <strong>de</strong> nada. Ele vai para o recreio, fica n<strong>um</strong> canto, joga pedra, mas só. Essecomportamento não é <strong>de</strong>le. Antes, era mais agressivida<strong>de</strong>, mas hoje, ele fica muito isolado.Ele não quer falar. Tudo ele nega, não importa o que seja, ele nega. Às vezes ele fala nabrinca<strong>de</strong>ira, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>um</strong> ‘não’.”Como está o rendimento <strong>de</strong>le?


84“Do ano passado para cá, quando ele chegou aqui, ele fazia alg<strong>um</strong>a coisa. Hoje eu não sinto<strong>um</strong> gran<strong>de</strong> crescimento em Alexandre. Primeiro, porque ele passa gran<strong>de</strong> parte do tempodormindo, <strong>de</strong>sanimado. Ontem mesmo, <strong>de</strong>pois do lanche, ele não queria fazer mais nada. Eele só faz se eu estiver do lado, esse é o gran<strong>de</strong> problema. Talvez, se eu tivesse <strong>um</strong> tempomaior para sentar ao lado <strong>de</strong>le, ele podia evoluir. Mas como é <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> pedagógicadirecionada à alfabetização, se eu não tiver do lado, ele não ren<strong>de</strong>, não vai mesmo. Mas não ésó ele, é qualquer <strong>um</strong> dos alunos. Um ou dois que vai. Mesmo aquele aluno que temcondições, não vai por alg<strong>um</strong> motivo. Eu não vejo como regressão, vejo como estagnação. Eleestá sonolento, <strong>de</strong>sanimado. Esse isolamento que eu acho mais sério. Porque no ano passado,ele estava participativo, ativo. Ele não teve <strong>um</strong> rendimento muito bom, porque ele saiu <strong>de</strong>muitas turmas. Primeiro, para fazer Alexandre sentar, eu levei <strong>de</strong> dois a três meses, daí que eufui ver como ele era. E o que eu comecei a perceber das outras ativida<strong>de</strong>s da outra escola on<strong>de</strong>ele está é que é cópia. E cópia não leva a lugar nenh<strong>um</strong>. Eles até queriam trazer o materialpara eu ver, mas para mim, eu não quero. Eu trabalho mais com a oralida<strong>de</strong>. Eu acho que elevem diminuindo. Ano passado eu tinha dois hiperativos, este ano eu tenho três, <strong>um</strong> autistacom baixa visão. Como faz <strong>um</strong> trabalho sério? Não dá. É difícil.”Como é o relacionamento <strong>de</strong>le com as outras crianças?“Ele se isola completamente, não participa <strong>de</strong> nada, nem no recreio, po<strong>de</strong> ver que ele não falacom ninguém. É isolado mesmo. A relação <strong>de</strong>le é péssima, e isso é ruim para ele. Os paisdizem que antes ele brincava com as crianças, mas hoje ele não brinca mais, e isso éfundamental. Eu não sei como é a relação <strong>de</strong>le com os adultos, pelo menos comigo é ótima,ele beija, brinca, mas ele não tem nenh<strong>um</strong>a relação com amigos.”Quais as limitações que você vê?“Eu acho tão relativa essa questão <strong>de</strong> limitação, eu acho tão sério colocar isso. Quando vocênão vê nenh<strong>um</strong> avanço, você tem que ter <strong>um</strong>a relação interpessoal e intrapessoal. Eu acreditoque nós, só nos organizamos para a vida quando temos <strong>um</strong>a organização interna. Essaorganização interna parte <strong>de</strong>sse conhecimento do Eu, <strong>de</strong>pois parte para as relações familiares,e <strong>de</strong>pois as outras relações. Tudo o que eu proponho a Alexandre neste sentido, ele se nega,que é do conhecimento <strong>de</strong>le mesmo. Então, se ele pinta aquela faixa bonitinha, mas ele nãosabe ‘quem sou eu, on<strong>de</strong> estou, para que estou’, per<strong>de</strong> o sentido da vida. Para mim, alimitação maior <strong>de</strong>le é quando ele se nega a ter essa consciência. O conhecimento <strong>de</strong> mimmesmo é o que me faz pronto para a vida, e eu penso que Alexandre se nega muito nesse


85sentido. Po<strong>de</strong> observar que é <strong>um</strong> momento que ele não se envolve. Tudo o que é coletivo, elenão se envolve. Tudo o que eu proponho na coletivida<strong>de</strong> ele se nega. A questão da oralida<strong>de</strong>nele é outro fator que tem <strong>um</strong> peso enorme, porque, para você ter essa consciência <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> palavra, a sonorização tem <strong>um</strong>a importância muito gran<strong>de</strong>. Eu tenho alunosaqui que tem problemas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>, mas não é problema, não que não tenhasolução. Tenho alunos assim que já estão na sétima série. Esses meninos precisam <strong>de</strong> <strong>um</strong>aequipe multidisciplinar que façam todo esse acompanhamento. E eu não acredito em nenh<strong>um</strong><strong>de</strong>senvolvimento on<strong>de</strong> não haja <strong>um</strong>a ponte entre profissionais <strong>de</strong>ssa equipe multidisciplinar, oprofessor <strong>de</strong> atuação e a família. São três pilares fundamentais para qualquer formação e parao auxilio <strong>de</strong>ssa criança. O que eu sinto <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> é que essa equipe, quando vai passando otempo com a mesma equipe ou se essa equipe se per<strong>de</strong>, eles começam a <strong>de</strong>sacreditar nopotencial que essa criança tem. E é o que eu sinto o que está acontecendo com Alexandre.Não estou dizendo que é, não estou aqui para julgar equipe nenh<strong>um</strong>a, mas me parece que eles<strong>de</strong>sistiram <strong>de</strong> A., e eu não acredito nesse tipo <strong>de</strong> trabalho. Eu acredito que essas são asgran<strong>de</strong>s limitações, socialização, oralida<strong>de</strong>, porque tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> disso, <strong>um</strong> avanço <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>disso. Na verda<strong>de</strong>, quando você fala <strong>de</strong> preparo para a vida, as pessoas pensam sempre naquestão acadêmica, e eu não acredito nisso. Eu tenho <strong>um</strong> exemplo <strong>de</strong>ntro da minha casa. Eutenho três graduações, <strong>um</strong>a pós-graduação e meu marido não tem nenh<strong>um</strong>a graduação, masele ganha muito mais que eu, financeiramente, e trabalha muito menos que eu. Então, agraduação, a escolarização não é tudo na vida. Então, nós temos que <strong>de</strong>scobrir, quando agente fala <strong>de</strong> limitação, é quando a gente pega <strong>um</strong>a habilida<strong>de</strong> que ele tem e coloca para ele<strong>de</strong>senvolver. E a gente precisa <strong>de</strong>scobrir isso em A..”Você acha que a sua prática favorece a inclusão?“Eu acho que sim. Na verda<strong>de</strong>, aqui é <strong>um</strong>a inclusão parcial. Eu tento dar autonomia àscrianças, e quando eu dou autonomia, eu estou trabalhando com a inclusão, e estoupossibilitando que ele possa cuidar <strong>de</strong>le mesmo. Por exemplo, para <strong>um</strong>a criança dita“normal”, quando você fala ‘pega essa caixa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira’, nunca você precisa dizer ‘isso é<strong>um</strong>a caixa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira’, porque já é quase automático. Para <strong>um</strong>a criança especial, você precisadizer ‘isso aqui é <strong>um</strong>a caixa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira’, aí ele manuseia e percebe que isso é <strong>um</strong>a caixa <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira. O concreto, as coisas que às vezes não precisam ser tão esclarecidas, porque com otempo as crianças vão assimilando, com eles essa assimilação é mais distante. A minhaprática é encurtar essa distância, é favorecer esse aprendizado. Por exemplo, o antes e o<strong>de</strong>pois é <strong>um</strong>a coisa com<strong>um</strong> para <strong>um</strong>a criança <strong>de</strong> 11, 12 anos, mas para eles tem a dificulda<strong>de</strong>


86<strong>de</strong> compreensão. Se eu não sei o que é o antes e o <strong>de</strong>pois, eu não sei o hoje e o amanhã, eunão sei <strong>um</strong>a organização <strong>de</strong> texto, <strong>um</strong>a seqüência lógica, eu não sei a minha seqüência <strong>de</strong>vida. É <strong>um</strong>a coisa simples, o que é fundamental para a nossa formação, e neles existe essa<strong>de</strong>fasagem. No Jardim <strong>de</strong> Infância você trabalha, a criança viu <strong>um</strong>a vez e já pegou e aqui não.Com os meninos não dá para ver o alfabeto total, contas, todas essas metodologias. Aqui aamarração, a repetição é fundamental, mas não aquela repetição <strong>de</strong> cópia, que A. vinhafazendo. Repetição é completamente diferente <strong>de</strong> organização. Essa é que é a gran<strong>de</strong>diferença. Ele precisa <strong>de</strong>sse tradicional? Sim, mas <strong>de</strong> que forma que esse tradicional estásendo feito? Ao invés <strong>de</strong> eu coloca-lo para copiar sempre, eu pego <strong>um</strong> alfabeto móvel e passo<strong>um</strong> trabalho, porque ali ele tem <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong> organização, que é completamente diferente. Seele realmente soubesse o nome <strong>de</strong>le, ele não trocaria, ele não teria esquecido, então ele foitreinado para o nome <strong>de</strong>le. Ele não apren<strong>de</strong>u, ele não compreen<strong>de</strong>u. Um dia eu <strong>de</strong>i para A. asletras do nome <strong>de</strong>le, e se você coloca em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, ele não percebe, ele diz que é o nome<strong>de</strong>le, mesmo com as letras trocadas. Eu acredito nessa contribuição, quando eu tento darautonomia ou tento fazer ele compreen<strong>de</strong>r a seqüência <strong>de</strong> tempo, espaço ou a vida mesmo.Esta sala tem esse papel, é <strong>um</strong>a ponte entre o centro e a sala <strong>de</strong> aula. Aqui você po<strong>de</strong> ver queas crianças participam, a não ser quando se isolam, que é o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> A..”O que é Inclusão para você?“A inclusão para mim é completamente diferente do que eu tenho visto sobre inclusão.Inclusão para mim é quando a pessoa participa efetivamente, quando ela tem condições <strong>de</strong>participar <strong>de</strong>sse ambiente. Por exemplo, eu sou gorda e por mais que você queira que eu sentenaquela ca<strong>de</strong>irinha, não adianta, não cabe. E eu acredito que tudo é nessa forma. Inclusão érespeitar, eu não tenho que aceitar, eu não tenho que gostar, eu simplesmente sou. Ele não éportador, ele é <strong>de</strong>ficiente, ele precisa <strong>de</strong> atendimento diferenciado sim. Então, o que é a minhabriga com essa inclusão que tem sido proposta? Segundo o Governo, eu pego a criança ecoloco n<strong>um</strong>a sala cheia <strong>de</strong> alunos, e não é isso. Inclusão é quando aquela escola, aquelesprofessores, está tudo pronto para receber aquele aluno, quando eu tenho condições <strong>de</strong> prestar<strong>um</strong> atendimento verda<strong>de</strong>iro e real a essa criança. Na minha concepção, não é a criança quetem que estar preparada tem que haver pessoas e espaços preparados. Tem que ter <strong>um</strong>banheiro tem que ter tudo ali. A criança vai avançar paulatinamente, junto com as outrascrianças, eles po<strong>de</strong>riam estar todos juntos e terem condições <strong>de</strong> continuarem juntos. No anopassado eu peguei <strong>um</strong> Down, ele vive na inclusão sempre, mas ele saiu da classe. Saiu porqueele já estava na inclusão, mas a escola não estava preparada. Mas não é esse preparo só, é <strong>um</strong>


87preparo literal, <strong>de</strong> professores, <strong>de</strong> salas equipadas, o Estado não investe. A maior parte dosjogos que tem aqui, eu comprei. Não dá para eu dar <strong>um</strong>a educação para os meninos sem <strong>um</strong>material completo, eles não compreen<strong>de</strong>m. Para eles (o governo), qualida<strong>de</strong> é só conteúdo,mas não é. É sair da visão fragmentada, é você ter condições <strong>de</strong> aplicação, <strong>de</strong>contextualização, e você não consegue fazer isso nessas condições. A preparação tem que serda própria escola. Um exemplo disso é essa escola, que é <strong>um</strong> mini centro. Todas as salasrecebem alunos especiais, mas nem todos os professores têm preparo, tem <strong>um</strong> curso paracuidar dos <strong>de</strong>ficientes mentais. A educação hoje é isso, eu posso receber todos os alunos. Masnós ainda não temos esse preparo ainda, é tudo lindo, mas está tudo no papel. Hoje todas ascrianças que estão aqui passaram por <strong>um</strong> atendimento especializado, apren<strong>de</strong>ram braile.”Essas crianças que estão aqui vão para as escolas regulares?“Vão sim. Tem <strong>um</strong> aluno aqui que vai para a segunda série agora. O que é vantagem nessasala é que ela não tem tempo, se a criança tem condições, ela vai embora, ele po<strong>de</strong> pular <strong>de</strong>série. É <strong>um</strong> atendimento personalizado para eles conseguirem realizar ativida<strong>de</strong>s. E o que euacho mais legal na sala, apesar das <strong>de</strong>ficiências que tem, é o fato <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> ensinoregular, e isso favorecer a integração diversa. A integração diversa é <strong>um</strong>a turma pequena, emtorno <strong>de</strong> 15 alunos, com crianças ditas normais, recebendo <strong>um</strong>, dois especiais.”A graduação da professora:“Tenho graduação <strong>de</strong> filosofia, historia e pedagogia, e tenho <strong>um</strong>a extensão na UnB emEnsino Especial, e tenho <strong>um</strong>a pós-graduação para curso superior.”“Esse é o gran<strong>de</strong> lance da inclusão. Se eu não respeitar o ser h<strong>um</strong>ano in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> raça,cor, credo, etnia, eu não vou para lugar alg<strong>um</strong>, e isso é a inclusão. O que tem mais bonito nainclusão é isso. A minha maior graduação é essa, pelo maior respeito que eu tenho pelo serh<strong>um</strong>ano. Eu com as crianças, existe <strong>um</strong>a relação <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>, que para mim é 90% <strong>de</strong>qualquer trabalho. Se eu precisar brigar eu brigo, porque aqui essa questão <strong>de</strong> limite é muitoséria. Eu evito pegar neles, o contato é olho no olho. Usar essas coisas, <strong>um</strong> respeitando ooutro, para mim, isso é a base maior.”Quanto tempo você trabalha em sala <strong>de</strong> aula?


88“Eu tenho 25 anos <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e aproximadamente <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ensino especial. Desses <strong>de</strong>zanos, eu tenho três anos com <strong>de</strong>ficientes auditivos e seis anos com <strong>de</strong>ficientes mentais, e játrabalhei também <strong>um</strong> ano com <strong>de</strong>ficientes visuais”.“O professor nem sabe o que fazer. Então, o que nós propomos? O que é fundamental para <strong>um</strong>aluno <strong>de</strong> primeira série? Apren<strong>de</strong>r subtração, adição, multiplicação...Nós colocamos o que éimportante realmente para aquilo ali. Porque tem <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> coisas que são aplicadas quenão tem tanta importância, que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong> lado. Não que não seja aplicado, masque precisa ser cobrado. A gente criou grupos separados na segunda série para fazer isso, parafazermos as ativida<strong>de</strong>s curriculares melhor. Por exemplo, B. sabe as coisas, sabe ler, mas temdificulda<strong>de</strong>s na coor<strong>de</strong>nação motora. Eu não vou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> avançar B por causa dacoor<strong>de</strong>nação motora. Para isso nós temos computadores, outras coisas em que ela possatrabalhar. Por que não trabalhar no que a criança tem habilida<strong>de</strong>? Se A. não conseguir ir bemem Matemática, e daí? Ele vai conseguir <strong>de</strong>pois. É nisso que a gente trabalha.”“Tem horas que A. senta e conversa, mas tem horas que ele não é assim, falta integração.A.hoje está fechado para alg<strong>um</strong>as coisas que eu proponho. Mas porque ele se fechou? Ele jánão gostava <strong>de</strong> estudar, ele nunca gostou. Ele não tem esse entusiasmo para o estudo. Em quemomento ele se fechou? Ele tem <strong>um</strong>a vida ativa terrível. É psicóloga, natação, é muita coisa.Isso já cansa, você já per<strong>de</strong> todo o estímulo. O fato <strong>de</strong>le ter muitas ativida<strong>de</strong>s tem <strong>um</strong> pesomuito gran<strong>de</strong>. No começo, ele era bem ativo, corria, batia, brincava. Eu ficava doida, erasuper complicado para eu trabalhar com ele. Mas agora, principalmente <strong>de</strong>pois dosmedicamentos da tireói<strong>de</strong>, ele está muito afastado. Eu vi a mãe <strong>de</strong> A. <strong>um</strong>a única vez, mas opai <strong>de</strong>le é <strong>um</strong> excelente pai. Tudo isso tem <strong>um</strong> peso. O pai, por mais que esteja envolvido, nãotem a mesma percepção que a mãe tem. O pai <strong>de</strong>le faz <strong>um</strong> papel excelente, mas eu venhochamando a atenção <strong>de</strong>le <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano passado, que não está legal. Alg<strong>um</strong>a coisa aconteceu.Não é só da tireói<strong>de</strong>, é a ida<strong>de</strong> também, adolescência. Ele já tem 11 anos, a sexualida<strong>de</strong> éterrível, vem com força total. Tudo isso pesa. Mas essas reações <strong>de</strong>le...Ele ri sozinho, ele ficano mundo <strong>de</strong>le. Ele não quer ficar no meio <strong>de</strong> muita gente. No ano passado, as crianças eramsuper carinhosos com ele, brincavam. Eles eram mais tranqüilos. Os alunos <strong>de</strong>ste ano não, ascrianças falam mais <strong>de</strong> namoradinho, e ele fica mais na <strong>de</strong>le.Sobre esse isolamento <strong>de</strong> A., eu penso que tem que se exercitar mais esse negocio <strong>de</strong>socialização com ele. O pai <strong>de</strong>le tinha que ter mais ativida<strong>de</strong>s com ele, com a família, com


89crianças. O pai <strong>de</strong>le fala ‘quando eu saio, eu levo’, mas não é a mesma coisa, a maioria dasativida<strong>de</strong>s é com adulto.”Quais as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas para ele?“Nós trabalhamos muito com o alfabeto móvel, muitos jogos interessantes para as crianças.Eu trabalho mais no concreto mesmo, com corpo h<strong>um</strong>ano, com letras, tudo é no concreto,com jogos.”Você tem contato com as professoras da Escola Parque?“Quando elas têm problemas, elas vêm aqui. Alguns problemas que elas tem lá eu não tenhoaqui. Outro dia elas vieram aqui, queriam saber como eu trabalhava. Nós fomos lá <strong>um</strong>as trêsvezes, mas não <strong>de</strong>u certo. Porque na Escola Parque, além dos professores, eles têm <strong>um</strong>aequipe para trabalhar com os meninos.”


90Anexo 7OBSERVAÇÃO – ESCOLALocal: Escola Parque 210/211 SULData: 27/03/06 07:30 as 12:30A chegou animado, brincou com alguns colegas e entrou na fila.Ele passa por 4 aulas diferentes <strong>de</strong> 1 hora e 10minutos cada.A turma é <strong>de</strong> 3ª serie e tem crianças <strong>de</strong> 8 a 13 anos.- TEATROA se mostrou <strong>um</strong> pouco impaciente, não interagiu muito e quando tentava falar as criançasriram <strong>de</strong>le.Não participou do aquecimento com música, ficou no canto.Bateu na bunda da colega.Não participou das ativida<strong>de</strong>s.A professora entregou o material e <strong>de</strong>u instrução individual e ele fez. Ela passou <strong>um</strong>aativida<strong>de</strong> livre, mas ele não o participou e ficou no canto <strong>de</strong> cabeça baixa.Depois ela passou <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> em dupla, mas ninguém fez dupla com ele e ele não quisfazer e mais <strong>um</strong>a vez ficou no canto sem fazer nada.Às vezes a professora chama A para participar e ele diz “Não” e ela não faz mais nada, nãoinsiste, não motiva A.Como é a participação <strong>de</strong>le na aula?“Eu acho a participação <strong>de</strong>le é boa. Quando o som está alto ele foge, se retrai, mas aparticipação é boa.”- MÚSICAA professora explicou matéria no quadro, mas A se mostrou disperso e sem interesse. Osalunos respondiam e A se mostrava impaciente tentando falar, balançado a cabeça.Não participou, ficou sentado na ca<strong>de</strong>ira e as ouras crianças fazendo a ativida<strong>de</strong>. A professorachamou e ele não quis ir e ficou sentado, mas a professora só explicou <strong>de</strong> maneira geral, nãoexplicou c calma. Ela dizia: “Vamos lá ª” e ele respondia: “Não” e pronto, ele continuavasentado no canto.


91A diz “Não quero” a professora aceita não diz mais nada. Ele não respon<strong>de</strong> as perguntas enão participa das ativida<strong>de</strong>s.A professora passou <strong>um</strong>a historia no som e A ficou sentado, enquanto as crianças brincavam.Demonstrou que queria ir, fazia que ia levantar não levantava.Quando A esta parado, sem participar a professora não pe<strong>de</strong> a participação.A professora falava a letra da musica e as crianças repetiam, mas A não fez a ativida<strong>de</strong>, sóficou olhando, balançando a cabeça e o corpo.Como é a participação <strong>de</strong>le?“Ele esta participando, às vezes quando não vai balança os pés, mas ta vindo aos poucos, naoutra aula ele participou, estava alegre, ate me c<strong>um</strong>primentou, mas hoje parece que tazangado.”- INTERVALONo intervalo A não quis comer, foi andando pelo pátio, mas <strong>de</strong>pois <strong>um</strong>a professora o levouaté o refeitório, conversou com ele e ele lanchou, mas sentou isolado.Depois sentou perto da quadra on<strong>de</strong> tinham varias crianças brincando <strong>de</strong> futebol, mas eleficou só olhando o jogo, <strong>de</strong>pois bateu o sinal e <strong>um</strong>a professora foi chamá-lo.Segundo <strong>um</strong>a colega <strong>de</strong> classe: Menina 12 anosAcho bom. Na aula <strong>de</strong> educação física ele participou mas nas outras fica quieto.- ARTES PLASTICASA sentou sozinho em <strong>um</strong>a mesa para 4 alunos e se formaram 2 grupos <strong>de</strong> 4 alunos e <strong>um</strong> <strong>de</strong>três, mas ele sentou sozinho, mas ficava olhando para os grupos, para as outras crianças.A professora explicou a ativida<strong>de</strong>, mas ele não fez. Ela sentou com ele explicou e ele fez,ficou entretido e fez a ativida<strong>de</strong>, mas quando acabou não queria fazer mais nada e <strong>de</strong>itou namesa.Ficou o resto da aula quieto, e não interagiu com os alunos.“Ele sempre senta sozinho e quando senta em grupo faz pirraça. Ele só faz <strong>um</strong> e para, cansa,mas tem dia que não quer fazer nada e ele só senta sozinho.Quando senta com os outros alunos fica emburrado e não faz nada e atrapalha os outros.


92Só faz quando eu mando, na primeira aula ele queria me bater, e as vezes ele fica emburrado,não interage com as crianças e se alg<strong>um</strong> chega perto ele bate, você po<strong>de</strong> ver na fila, se alguémchega perto, esbarra nele e ele briga.”-EDUCAÇÃO FISICAA participou, foi o primeiro da fila e ficou sempre perto da professora.Ela passou a ativida<strong>de</strong> e explicou para ele, ficou perto para dar as instruções e para dizer queera vez <strong>de</strong>le. Quando ele disse que não queria, ela insistiu e ele fez e se divertiu, fez todas asativida<strong>de</strong>s. Se mostrou feliz, entretido, motivado.Ela pediu para ele ajudar na arr<strong>um</strong>ação do material, e fez todas a crianças esperarem eleacabar. Correu com bastão com o grupo interagiu.“Ele nem sempre participa, hoje foi o melhor dia <strong>de</strong>le em dois anos que ele esta comigo. Eununca tive <strong>um</strong>a aula assim, eu to impressionada, não sei se é porque você esta aqui, mas hojeele participou, foi ótimo”.Tem aula que ele não quer participar, sai correndo pelo pátio e alguém tem que ir atrás <strong>de</strong>le. Eas vezes as crianças se irritam também, não gostam <strong>de</strong> esperar e isso prejudica.Mas hoje foi ótimo, eu estou assim impressionada.”


93Anexo 8OBSERVAÇÃO E ENTREVISTA CLINERA. passa por cinco ativida<strong>de</strong>s durante duas horas e meia.PEDAGOGAHoje ele esta bem lento. Ele em outros horários e outros dias é mais rápido, ele interage mais,então eu vejo a diferença.Qual o trabalho realizado com ele?“Eu faço a parte da pedagogia, leitura, escrita, compreensão, tudo, por exemplo, a gentetrabalha texto simples tipo “Cachorro é dália”, então eu passo <strong>um</strong> pequeno texto <strong>um</strong>aspequenas perguntas que tem a resposta no texto, mas que ele tem que <strong>de</strong>scobrir a <strong>partir</strong> daleitura da interpretação que ele faz. A gente <strong>de</strong>senvolve antes <strong>de</strong> chegar na interpretação,então a gente trabalha muita interpretação, muita leitura.”Como é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le? Quais as dificulda<strong>de</strong>s?“Ele está com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler e transpor para o papel o que ele leu, por causa da dificulda<strong>de</strong>da fala. Então ele não fala direito, não enten<strong>de</strong> o que ele fala. Mas a compreensão <strong>de</strong>le, mas seeu colocar as figuras e colocar as letrinhas ele sabe me dizer, não é questão <strong>de</strong> não saber aletra, é mais pela dificulda<strong>de</strong> da fala que transpõe para a escrita e atrapalha <strong>um</strong> pouquinho.Mas é questão <strong>de</strong> vencer essa etapa e não é da noite para o dia que vence essa etapa, é aospouquinhos.”Como é o relacionamento <strong>de</strong>le com você?É ótimo, a gentes se dá super bem, ele brinca, ele respon<strong>de</strong>, ele nunca respon<strong>de</strong> malh<strong>um</strong>orado, nunca teve <strong>um</strong>a reação agressiva, é boa.E como é com as crianças?“Ele tem <strong>um</strong> relacionamento bom com João Pedro (eles fazem a ativida<strong>de</strong>s juntos) porqueeles estão mais ou menos na mesma faixa etária, o que o A não sabe J P ajuda e assim vai,eles tem essa troca, e a gente faz joguinhos, ele começou <strong>de</strong>scobrindo as peças, trabalhandomemória, a leitura e assim a gente vai”.


94Geralmente ele faz tudo que o que pe<strong>de</strong>?“Ele faz, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da <strong>de</strong>mora, às vezes ele faz <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> em duas sessões, às vezes agente faz rapidinho, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do estado <strong>de</strong>le. Hoje foi difícil ele fazer”.Mas geralmente ele se envolve, mas 1° horário é difícil, é como se ele custasse a <strong>de</strong>sligar doque aconteceu lá fora antes <strong>de</strong> chegar aqui na clinica e acordar que ele está na clinica paratrabalhar, <strong>de</strong>senvolver, essa ligação ele custa a fazer”.OBSERVAÇÃOA <strong>de</strong>monstrou dificulda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>morando para respon<strong>de</strong>r o que era pedido.A pedagoga falava <strong>um</strong>a palavra e A tinha que escrever a palavra.Se mostrou <strong>um</strong> pouco sonolento também.TERAPIA OCUPACIONALAgora ele esta mais sonolento, outro dia a mãe <strong>de</strong>le chegou aqui e ele tava meio dormindo, elaaté ficou brava porque ele estava com cara <strong>de</strong> sono, a gente toda hora leva ele para lavar orosto. Mas já tem dia que ele não chega assim.Qual o trabalho realizado aqui?A gente trabalha principalmente coor<strong>de</strong>nação motora fina, on<strong>de</strong> vai dar todo <strong>um</strong> trabalho parafazer movimentos finos, preensões, diferentes preensões que vai ajudar a ele a fazer pressãopara pegar no lápis. Aí a gente treina a força muscular para aquela letra não sair bemfraquinha, e aí a gente faz a dissociação dos membros superiores para ele po<strong>de</strong>r conseguirdissociar os movimentos da mão. Esquema corporal a gente também trabalha para eleconhecer as próprias partes do corpo, no outro, no objeto e na frente do espelho, on<strong>de</strong> ele vaiconstruir a auto-imagem <strong>de</strong>le, on<strong>de</strong> ele vai po<strong>de</strong>r se relacionar com o outro, saber o limite dooutro. Tem outras ativida<strong>de</strong>s que a gente faz, essas são ativida<strong>de</strong>s pedagógicas, mas a genterequer a coor<strong>de</strong>nação motora <strong>de</strong>le, a percepção visual, a coor<strong>de</strong>nação visiomotora, que épegar com a mão e ver o que está fazendo, isso vai <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a atenção <strong>de</strong>le na sala <strong>de</strong> aula.E a gente faz treinos das ativida<strong>de</strong>s da vida diária, que são vestuário, alimentação, higienepessoal, banho. Para ele ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, saber se comportar nos lugares.


95Como está o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le?Ele respon<strong>de</strong> bem, ele é <strong>um</strong>a pessoa bastante cooperativa. Tudo o que a gente propõe a ele,ele colabora, ele participa. Tem alg<strong>um</strong>as ativida<strong>de</strong>s que eu só coloco o material e ele já sabecomo fazer. A gente sempre segue etapas, sempre segue <strong>um</strong>a seqüência lógica, tudo isso para<strong>de</strong>senvolver nele o senso <strong>de</strong> organização e responsabilida<strong>de</strong>, porque tudo o que ele começar afazer, tem que terminar. É <strong>um</strong>a gama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que está <strong>um</strong>a associada a outra. A gentetrabalha a percepção visual <strong>de</strong>le, aquela questão <strong>de</strong> cores, formas, figuras fundas, organização<strong>de</strong> seqüência lógica, interpretação <strong>de</strong>ssa seqüência lógica, noção <strong>de</strong> tamanho, altura.Associada à essa percepção, a gente trabalha a discriminação tátil. Essa versão da gentetrabalhar em dupla é para <strong>um</strong> ajudar o outro, incentivando.Porque a gente percebeu que <strong>de</strong> <strong>um</strong>tempo para cá A. está muito lento nas ativida<strong>de</strong>s. Com <strong>um</strong>a pessoa do lado, dá <strong>um</strong> estímulo,competição mesmo, ‘vamos ver quem termina primeiro’.Como é a sua relação com ele?É extremamente normal. A gente convive bem, quando eu falo, ele me obe<strong>de</strong>ce. Eu trabalhomuito com limites, então, eu converso normalmente com ele. Quando eu preciso dar <strong>um</strong>abronca, ele enten<strong>de</strong>. Eu não preciso nem elevar a voz, só olho que ele me enten<strong>de</strong>. Ele é muitocarinhoso, gosta muito <strong>de</strong> abraçar, dar beijo. A gente sempre se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> quando ele sai daqui,para estimular esse relacionamento interpessoal. Dar bom dia, boa tar<strong>de</strong>.Como é o relacionamento <strong>de</strong>le com as crianças?Atualmente ele está com <strong>um</strong> comportamento <strong>um</strong> pouco estranho. Antigamente ele chegava ec<strong>um</strong>primentava todo mundo, chegava, ‘e aí, beleza?’, do jeito <strong>de</strong>le. Hoje ele está maisintrospectivo, ele está mais recatado. Não sei se ele está se isolando, mas ele está diferente. Eutento muito formar o diálogo entre eles dois, mas ele faz o <strong>de</strong>le sozinho. A gente faz muitosjogos, jogo <strong>de</strong> memória, dominó, para ver se melhora a comunicação <strong>de</strong>le. Ele fala, mas nãoera como antes. No geral ele é <strong>um</strong>a pessoa muito boa <strong>de</strong> trabalhar. Não causa resistência. Agente fala no máximo duas vezes, ele obe<strong>de</strong>ce. Ele está concentrado, a atenção <strong>de</strong>le. Se agente falar para ele parar a tarefa, ele pára, guarda no lugar certo.OBSERVAÇÃOA e outro aluno estavam dando continuida<strong>de</strong> a <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> que haviam começado nasemana anterior.


96E <strong>um</strong> papel com <strong>um</strong> <strong>de</strong>senho contornado <strong>de</strong> massinha <strong>de</strong> sopa, eles tinham que passar <strong>um</strong> fioentre as massinhas, mas com cuidado para não quebrar o <strong>de</strong>senho.A se mostrou <strong>de</strong>sperso, impaciente e sonolento.REFORÇO ESCOLAR“Esta vendo que ele é organizado? Quando ele chega aqui e esta bagunçado ele arr<strong>um</strong>a tudo,só trabalha quando esta tudo organizado”.Como esta o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le?Antes você podia dar o comando e ele <strong>de</strong>senvolvia sozinho, agora com orientação e muitaorientação, na verda<strong>de</strong> é ajuda nem é orientação e ainda atem essa dificulda<strong>de</strong>.A pedagoga vai a escola, faz a avaliação, vê o que ele ta vendo na escola, qual a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong>le e a gente trabalha em cima da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le. Esse ano a gente ainda não foi, já teve areunião na escola <strong>de</strong>le e vai ter a reunião aqui e vamos saber, mas eu já sei qual a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong>le, pelo visto são todas, pelo o que vejo são todas, até as vogais a gente está voltando aestudar.Antes ele estava bem, já sabia ate trissílabas agora até as vogais ele não esta conseguindofazer.OBSERVAÇÃOA tinha que dizer o nome da figura e <strong>de</strong>pois escrever a primeira letra da palavra.Teve muita dificulda<strong>de</strong> para realizar a ativida<strong>de</strong>, se mostrou lento e <strong>de</strong>satento. Não respondiasempre qual era a figura e nem a primeira letra da palavra.A professora tinha que repetir muito e até respon<strong>de</strong>r para ele escrever.DONO DA CLíNICAAlexandre veio do CPH junto com a gente tem sete ou oito anos.Quais as ativida<strong>de</strong>s que hoje ele realiza?Dançaterapia, na quarta e na sexta-feira, <strong>um</strong>a aula <strong>de</strong> fonoaudiologia, natação ele não fazaqui. Terapia ocupacional, ginásio, à parte <strong>de</strong> psicomotocida<strong>de</strong>, psicologia.


97Como você observa o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le?O A <strong>de</strong>u <strong>um</strong>a melhorada muito boa, mas do final do ano para cá, tanto pela troca <strong>de</strong> escola epela mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le, por ele está com <strong>um</strong>a percepção muito boa, ele começou a ter <strong>um</strong> mauentendimento. E a <strong>partir</strong> do momento que essa criança tem <strong>um</strong> mau entendimento, ela começaa ou ir para frente ou estacionar. E em alguns aspectos ele estacionou, principalmente naescola. Ele chamava muita atenção, a sala estava cheia, não estava a<strong>de</strong>quada para ele, nãohavia <strong>um</strong>a homogeneida<strong>de</strong> na sala e isso não favoreceu para ele. Na minha opinião A <strong>de</strong>u <strong>um</strong>aparada. Quando você pe<strong>de</strong> para falar, você vê que ele fala bem, a escrita está boa. Agora, aclínica não é <strong>um</strong>a escola, mas a gente acabou praticamente alfabetizando ele. Agora eu estouachando A muito triste, não sei se é a falta da antiga escola, que ele trocou agora. Ele mudo<strong>um</strong>uito, e ninguém muda da água para o vinho, tem que ter alg<strong>um</strong>a coisa. Tem outra reuniãocom a família <strong>de</strong>le, já foi marcada, estou aguardando resposta dos pais <strong>de</strong>le para a gente tentarsolucionar da melhor maneira, para <strong>de</strong>scobrir o que está acontecendo, porque ele não é assim.Como é a relação <strong>de</strong>le com as outras crianças?Como é <strong>um</strong> tratamento individual, agora que ele começou com JP em <strong>de</strong>terminada áreas, sãodois rapazinhos para ver se criam esse vinculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, essa troca <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> idéias eate <strong>de</strong> comportamento, para ver se da <strong>um</strong> empurrão nele. Ele se dá bem com J. P., é <strong>um</strong>aamiza<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, toda criança tem, se i<strong>de</strong>ntifica mais. A tem essa coisa com J. P, elegosta muito. Nessa parte <strong>de</strong> namoro, você não vê comentário nenh<strong>um</strong> <strong>de</strong>le, ele é muitoreservado, é <strong>de</strong>le mesmo. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssa tristeza hoje, mais calado, mais quieto, eletambém não gosta muito <strong>de</strong> beijo e abraço não. Ele se dá bem com J.P, se dá bem comcriança pequena. Ele gosta <strong>de</strong> criança pequena. principalmente quando ele está ajudando,dando as or<strong>de</strong>ns. Com as meninas A nunca teve gran<strong>de</strong>s coisas com elas não. Por ser <strong>um</strong>tratamento individualizado, não dá para perceber muito a relação <strong>de</strong>le. Agora que elecomeçou a fazer ativida<strong>de</strong>s com outro coleguinha, para ver esse vinculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, essatroca <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, <strong>de</strong> idéias, <strong>de</strong> comportamento.A clínica dá a base, mas para essa base ser consistente, a gente precisa do apoio da escola e doapoio familiar. A se espelha muito no pai. Não é só pegar o filho e tirar férias, é estar nutrindoesses estímulos em casa, valorizando da melhor maneira, a clínica cobra muito. Mas se eletiver esse respaldo em casa, <strong>de</strong> prazer, ele só tem a ganhar. Determinadas coisas, na ida<strong>de</strong><strong>de</strong>le, ele só vai apren<strong>de</strong>r se espelhando pelas atitu<strong>de</strong>s do pai. A mãe está ali cobrando,passando segurança. Hoje eu vejo que A se afasta muito. Diversas vezes nós conversamos,


98não há <strong>um</strong>a participação no dia-a-dia com a família, por exemplo, sentar todo mundo na mesa.É difícil, mas tem que existir. Se você tem <strong>um</strong>a criança <strong>de</strong>ssa, você tem que passar esse tipo<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, participando. A mãe <strong>de</strong>le até comentou que A tem o quarto <strong>de</strong>le, a escrivaninha<strong>de</strong>le. O psicossocial <strong>de</strong>le está abalado, mas foi abalado por que? E isso tem que ser passado,tem que conversar. Não é só jogar na mão do psicólogo. Em <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z crianças, tem<strong>um</strong>a que não <strong>de</strong>ve gostar <strong>de</strong>le. Então, você tem que fazer esse vinculo. E a própria escola.Não houve <strong>um</strong> apoio. Aqui ele tem <strong>um</strong>a amiza<strong>de</strong>, mas acabou.Você acha que o fato <strong>de</strong>le estar n<strong>um</strong>a classe só <strong>de</strong> alunos especiais está interferindo <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>a maneira?Òbvio. Ele aprontou muito no passado, e aprontou por falta <strong>de</strong> compreensão e ate <strong>de</strong>profissionalismo <strong>de</strong> estar olhando qual a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le, o que ele dava conta e o que elepodia produzir. Esse apoio é até <strong>um</strong> limite, porque a criança acaba pedindo esse limite. Essa éa opinião, acho que alguém falhou. Tem que ter <strong>um</strong>a base, <strong>um</strong> apoio familiar, <strong>de</strong> passear, <strong>de</strong>estar colocando, <strong>de</strong> estar sustentando isso. Por que quem são seus amigos? São seus pais, seusamigos.FONOAUDIÓLOGAQual o trabalho que você <strong>de</strong>senvolve com ele?Eu sou fonoaudióloga. Trabalho com ritmo, entonação, porque ele fala as palavras bem lentas.Eu estou trabalhando bem ritmo, memória, entonação.Quais as dificulda<strong>de</strong>s que ele tem?Ele ultimamente tem apresentado muito sono nas terapias, então está muito difícil trabalharcom ele. A gente não consegue nenh<strong>um</strong> trabalho que chame a atenção <strong>de</strong>le. Está difícil <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver as ativida<strong>de</strong>s.Como está o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le?Está muito lento. A gente não tem tido progresso nenh<strong>um</strong> com A . Não sei se é por causa damedicação, se é por causa <strong>de</strong> alimentação, mas não tem progresso nenh<strong>um</strong>. Na ultima aula<strong>de</strong>le, ele fez porque eu estava cutucando ele. Ele olhava para o computador e não fazia, e agente estava trabalhando memória. A gente teve que mudar a ativida<strong>de</strong>.


99OBSERVAÇÃO:A ficou na esteira, fez alongamento e ativida<strong>de</strong>s com pesos e trabalhou também o equilíbrio.Fez as ativida<strong>de</strong>s, mas em alguns momentos se mostrou <strong>de</strong>sinteressado.FISIOTERAPIAQual o trabalho que você faz com A?Por ele ter Síndrome <strong>de</strong> Down, ele tem hipotemia muscular. O que é isso? A musculatura émais molinha, é mais flácida. Se não tiver <strong>um</strong> trabalho muscular, postural encima <strong>de</strong>le, elepo<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver alg<strong>um</strong>as <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s. O pé po<strong>de</strong> ficar torto, o joelho po<strong>de</strong> entrar <strong>um</strong>pouco, <strong>de</strong>svios posturais, e a gente trabalha prevenindo isso.Como está o <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor <strong>de</strong>le?A tem o <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor bom. Ele tem as limitações <strong>de</strong>le, que são ascaracterísticas da Síndrome, mas a gente observa que tem crianças que tem Síndrome <strong>de</strong>Down que tem mais dificulda<strong>de</strong>s que ele. Ele começou a estimulação muito cedo, e isso é<strong>um</strong>a vantagem, porque tem crianças que começam a estimulação mais tar<strong>de</strong>.Como é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le com as ativida<strong>de</strong>s que você passa?Ele é muito preguiçoso, <strong>de</strong>sinteressado. Tem que estar sempre motivando ele. Quando temoutras crianças no ginásio e a gente trabalha com competição, ele fica mais animado. Temosque ficar o tempo inteiro cobrando ele.Como é o relacionamento <strong>de</strong>le com você e com as outras crianças?É bom. Ele está muito mudado do ano passado para este ano, mas o relacionamento <strong>de</strong>le ébom com todo mundo. Ele ficou mais quieto, ele está mais passivo. Ele era muito mais ativo.Mas o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>le com a outra fisioterapeuta e com as outras crianças é bom. É sónão <strong>de</strong>ixar ele solto. Cobrar, impor limites, ele trabalha n<strong>um</strong>a boa. Com A, a gente tem quesaber cobrar, saber incentiva-lo e impor os limites. É mostrar que ele está aqui para apren<strong>de</strong>r,que ele tem que fazer certo.OBSERVAÇÃO:A tinha que repetir as palavras, enfatizando as silabas.


100Jogo da memória no computador, A tinha que achar os pares iguais e quando acertava ouvia apalavra e repetia.Nem sempre A respondia.OBSERVAÇÂO GERAL:A. se mostrou bastante disperso, <strong>de</strong>sinteressado, sem motivação durante as sessões. Nas duasprimeiras aulas estava bastante sonolento e com muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r as ativida<strong>de</strong>s.Em todas as ativida<strong>de</strong>s propostas, A. era muito lento para respon<strong>de</strong>r, ou não respondia, levavamuito tempo para fazer <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong>.

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