Centro de Educação Superior Barnabita – CESB 6Curso de AdministraçãoTquestionamento, a investigação e a experimentação tentanto definir a loucura ao invés daciência com o rigor das práticas e teorias. O olhar por si só já modifica e interfere nainterpretação da realidade dos fatos.Cap 12 - O Depoimento de Alice.Continuou ali sentada, com os olhos fechados, quase acreditando estar no País dasMaravilhas, mas sabendo que bastaria abrir de novo os olhos e tudo voltaria àprosaica realidade: o farfalhar da relva se deveria apenas ao vento, e a agitação dalagoa apenas ao ondular dos juncos... o tinir das xícaras se transformaria nochocalho das ovelhas que por ali pastavam, e os berros estridentes da Rainha na vozdo pastor... os espirros do bebê, o guincho do Grifo e todos os outros estranhosruídos se transformariam (ela sabia disso) no confuso burburinho das atividades docampo... enquanto o mugido do rebanho ao longe tomaria o lugar dos profundossoluços da Falsa Tartaruga. Por fim, ela imaginou como seria sua irmãzinha quando,no futuro, se transformasse em uma mulher adulta; e como conservaria, com oavançar dos anos, o coração simples e afetuoso da infância; e como reuniria emtorno de si outras crianças e deixaria os olhos delas brilhantes e atentos a muitashistórias estranhas, talvez mesmo com o sonho do País das Maravilhas de tantosanos atrás; e como compartilharia as suas pequenas tristezas e as suas simplesalegrias, recordando-se de sua própria infância e de seus felizes dias de verão.(CARROLL: 2000, p. 152)Este capítulo, em especial seu final, aponta as preocupações que a irmã de Alice demostra emrelação ao conhecimento e às experiências vividas no País das Maravilhas. Ela destaca quetais experiências e conhecimentos transformaram Alice e a prepararam de certo modo paranovos momentos e novas situações que vão acontecer com ela na versão “Toca do CoelhoReal”. Uma vez que Alice saiu da Caverna e entrou na Toca as etapas que se sucederão serãonovas portas que ela abrirá e vivenciará com base no que ela experimentou na sua infância.É importante destacar que mais importante do que viver acumulando experiência econhecimento é nunca perder de vista experiências e conhecimentos que se destacaram aolongo da existência. Se há lógica, razão, ciência, loucura ou verdades compondo o dia a diaisso não importa. O que importa é justamente a possibilidade aberta para a experimentaçãoinusitada, livre e sem receitas. É o viver intensamente e sem preconceitos.CONSIDERAÇÕES FINAISO mundo moderno com sua diversidade e intensidade de eventos, fatos e sensações doespaço-tempo, imprimiu um ritmo à vida em sociedade com um padrão de produção e de6
Centro de Educação Superior Barnabita – CESB 7Curso de AdministraçãoTconsumo que pode ser caracterizado como superficial, massificante e, porque não dizer, comuma agitação e barulho acima do confortável.Nesse sentido, pode-se descrever e identificar o sujeito moderno a partir da observação dealgumas características. Ele é aquele que busca acompanhar intensamente a novidade dainformação divulgada, tem opinião formada sobre quase tudo, trabalha quase que 24 horas pordia, não lhe restando tempo para experimentar e questionar tal cotidiano.Segundo BONDIA (2002) a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nostoca. Entretanto, o mundo moderno está organizado para que nada nos aconteça. Nessecontexto,O sujeito da experiência é comparado a um território de passagem, algo como umasuperfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz algunsafetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. Assim, [...] éincapaz da experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, aquem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, quem nadao ameaça, a quem nada ocorre. (BONDIA: 2002, p. 21-25)Para o autor, “a experiência está ficando cada vez mais rara” pois as condições para seexperimentar não são buscadas e nem mesmo entendidas por aqueles que estão mergulhadosna modernidade. Não há silêncio, não há memória, não há vontade em se abrir para odesconhecido. Não há tempo para parar e romper com o automatismo e nem mesmo há o“direito” de ir mais devagar! O sujeito moderno vive a contradição de querer tudo e não ternada; de poder tudo e não dar conta de nada; de achar que sabe muito mas não experimentarnada e de ter informação mas não ter conhecimento sobre as coisas. Dessa forma, nada éinternalizado, nada é sentido, nada é ouvido, nada é vivido e experimentado!Na minha opinião, o livro Alice no País das Maravilhas é um convite para se repensar o que éconhecimento, o que é experiência e como esses dois conceitos podem ser usados para seentender além do que seja a existência, qual seu sentido, seus significados e propósitos.Alice passa por inúmeras e transformantes situações que literalmente a tocam e a afetam aponto de redirecionar seu conhecimento acerca do que está acontecendo à sua volta. Desta7