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ISSN 1983-2230<br />

INTEGRADA<br />

saúde<br />

REVISTA DA SAÚDE DO INSTITUTO CENECISTA<br />

Jan./Jun. 2009 nº 3 Jul./Dez. 2009 nº 4<br />

IESA


Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC<br />

Revista do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo<br />

saúde INTEGRADA<br />

Revista da Saúde do Instituto Cenecista<br />

ISSN 1983-2230<br />

Ano 2, nº 3, Janeiro/Junho 2009<br />

Ano 2, nº 4, Julho/Dezembro 2009<br />

Catalogação na Publicação:<br />

Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques - Unijuí<br />

Saúde Integrada: revista da saúde/Instituto de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo. - Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. - v.1, n.3, jan./jun. 2009<br />

v.1, n.4, jul./dez. 2009<br />

Publicação semestral<br />

1 (3) jan./jun.2009 - 1 (4) jul./dez.2009


Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC<br />

Revista do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo<br />

Presidente da Diretorial Nacional: Deputado Alexandre José dos Santos<br />

Presidente da Diretoria Estadual: Profª. Anita Ortiz Corrêa<br />

Diretor: Prof. Edson Sidney de Ávila Júnior<br />

Coordenação Editorial: Prof. Aírton Pedroso de Morais<br />

Diretor da Revista: Prof. Gilberto Inácio Lunkes<br />

Comissão Editorial:<br />

Profa. Emanuelle Kerber Vieira Mallet<br />

Prof. Matias Nunes Frizzo<br />

Prof. Gilberto Inácio Lunkes<br />

Prof. Dante Saul Braun<br />

Profa. Lisandra de Oliveira Carrilho<br />

Profa. Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />

Conselho Editorial:<br />

Prof. Jones Eduardo Agne<br />

Prof. Renato Minozzo<br />

Endereço do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo:<br />

Rua Dr. João Augusto Rodrigues, 471 Cx. P. 274 CEP: 98801-015 Santo Ângelo (RS)<br />

Telefone/Fax: 55 3313-1922 Email: rac@iesanet.com.br<br />

Assinatura da revista via online: http://www.iesanet.com.br<br />

Direitos de Publicação, Programação Visual, Editoração e Impressão:<br />

Editora: CNEC Edigraf<br />

Telefone: 34 2103 0700<br />

Email: cnecedigraf@cneconline.com.br<br />

Av. Frei Paulino, 530 Bairro Abadia CEP: 38025-180 Uberaba (MG), Brasil<br />

A revisão dos textos é de inteira responsabilidade dos autores.


Sumário<br />

APrESENTAÇÃo ..........................................................................................................5<br />

ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo<br />

ÂNGELo-rS .................................................................................................................7<br />

HOLZBACH, Viviane<br />

BEUTER, Cláudia Regina<br />

FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA<br />

Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor ................................................................................29<br />

SILVA, Letícia Ataídes<br />

BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />

oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE .......47<br />

TAVARES, Aline Fróes<br />

GOMES, Thais do Nascimento<br />

o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA 69<br />

BEZERRA, Juliane Pukall<br />

GOMES, Thais do Nascimento<br />

o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr ...........................81<br />

NASCIMENTO, Gabriela Lied<br />

FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN .................... 107<br />

HEINZMANN FILHO, João Paulo<br />

WOZEZENSKI, Cristhiele Tais<br />

BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />

EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE<br />

mÚLTiPLA ................................................................................................................ 127<br />

PEDROSO, Ana Paula<br />

BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos


iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS .................................................. 145<br />

HEINZMANN FILHO, João Paulo<br />

WOZEZENSKI, Cristhiele Tais<br />

BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />

AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE<br />

ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo ........................................................................... 167<br />

DALTROZO, Paulo Roberto de Oliveira<br />

STURZENEGGER, Tatiana Medina<br />

o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo<br />

TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr .......................................... 175<br />

BERTOLINI, Rafael<br />

STURZENEGGER, Tatiana Medina<br />

A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA<br />

Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA) ............................................................ 193<br />

SILVA, J. G. B.<br />

VOLOSKI, F. R. S.<br />

MAFALDA, L.<br />

o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE ................................................ 205<br />

SANTOS, Pedro Henrique<br />

VOLOSKI, Fernando<br />

FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA<br />

NoSoComiAL .......................................................................................................... 221<br />

BRAUN, Dante Saul<br />

BUENO, Rúbia Daiane Santos<br />

AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA,<br />

rS, BrASiL.............................................................................................................. 251<br />

BARBOSA, Cleber Francisco<br />

LUNKES, Gilberto Inácio


APrESENTAÇÃo<br />

É com muita satisfação que apresentamos ao público mais uma<br />

edição da revista Saúde INTEGRADA. A sua manutenção traz<br />

consigo o compromisso e a responsabilidade de manter a qualidade<br />

e a continuidade desta publicação. Pretendemos contribuir para a<br />

divulgação de trabalhos que ofereçam subsídios para qualificar a<br />

prática profissional e a pesquisa.<br />

Nesta edição são abordados assuntos que consideramos<br />

atuais e importantes, tais como: o índice de quedas em idosos<br />

residentes em instituições geriátricas, a importância do<br />

conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor na estabilidade<br />

articular do joelho, os benefícios do esforço muscular em portadores<br />

de gonartrose, o uso da técnica de estabilização central pélvica<br />

no tratamento da dor lombar, o exercício físico na prevenção da<br />

doença de Alzheimer, a fisioterapia aplicada a portadores com<br />

síndrome de down, os exercícios resistidos na fadiga muscular<br />

em portadores de esclerose múltipla, a relevância da intervenção<br />

da fisioterapia no tratamento de pacientes com lesões térmicas, a<br />

amputação supracondiliana ocasiona por queimadura de choque<br />

elétrico, o uso da mobilização passiva precoce em ratos treinados<br />

e não treinados na cicatrização do tecido muscular, a relevância do<br />

treinamento neuromuscular proprioceptivo na ruptura do ligamento<br />

cruzado anterior, o uso da crioterapia na artrite reumatoide, a<br />

fisioterapia respiratória em pacientes portadores de pneumonia<br />

nosocomial e por fim, uma discussão acerca da avaliação das taxas<br />

de contaminação por giárdia lamblia.<br />

Esperamos que a leitura destes escritos gere no leitor<br />

reflexões e inquietações, as quais possam ser encaminhadas para a<br />

pesquisa.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS<br />

iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE<br />

SANTo ÂNGELo-rS<br />

rESumo<br />

HOLZBACH, ViViAne 1<br />

BeUTeR, CLáUdiA ReginA 2<br />

Este estudo teve como objetivos verificar o índice de<br />

quedas em idosos residentes de duas Instituições<br />

Geriátricas de Médio Porte do Município de Santo<br />

Ângelo – RS, sendo uma de caráter Privada e outra<br />

Pública, fazendo uma comparação do número de<br />

quedas nas Instituições, bem como analisar o contexto<br />

em que ocorreram estas quedas, como causas,<br />

conseqüências, turnos, faixa etária dos idosos que<br />

sofreram as quedas, etc. A população deste estudo<br />

foi de 51 idosos e a amostra compreendeu 16 deles.<br />

O levantamento de dados foi feito através de análise<br />

retrospectiva de evoluções diárias realizadas por<br />

enfermeiras. O índice de quedas encontrado na<br />

Instituição Privada foi de 4,3%, enquanto na Pública foi<br />

de 8,0%. Verificou-se que a faixa etária predominante<br />

1 Fisioterapeuta<br />

2 Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício e em Fisioterapia<br />

Cardiorespiratória, Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana.<br />

7


8<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

nos idosos que sofrem quedas está entre os 76 e 90<br />

anos, sendo que estas são causadas principalmente<br />

pela perda do equilíbrio (29%) e fraqueza (22%) e<br />

ocorrem na maioria das vezes no quarto (37%).<br />

Palavras-Chave: Quedas, Idosos, Institucionalizados.<br />

ABSTrACT<br />

This survey aims to verify the number of aged<br />

people’s fall who live in two nursing homes in Santo<br />

Ângelo - RS, one of these nursing home is public,<br />

which belongs to the town council, and another is<br />

private. It also aims to compare and contrast them<br />

as well as analyze the context which happened the<br />

falls, their causes and consequences, the turns when<br />

they happened, age of the people who were victim<br />

of it, etc. Fifty-one people were analyzed and, the<br />

sample consists of sixteen of them. The survey was<br />

accomplished by nurses through daily retrospective<br />

analysis of evolution. The amount of fall found in the<br />

private nursing house was 4, 3% while in the public<br />

was 8%. It was verified that the predominant age of<br />

the people who are the victims of fall is between 76<br />

and 90 years old. In most of the cases they are caused<br />

mainly for lost of balance (29%), weakness (22%) and<br />

they usually happened in the bedrooms (37%).<br />

Keywords: Falls, Aged, Institutionalize.


1 iNTroDuÇÃo<br />

ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

Desde o final do século XIX a população de idosos vem<br />

aumentando de forma surpreendente, devido ao aumento na<br />

expectativa de vida conseqüente aos avanços médicos e científicos<br />

e a melhora dos hábitos de saúde, dentre outros fatores que<br />

contribuem para isso.<br />

No processo de envelhecimento há uma deterioração<br />

da saúde geral, devido a alterações fisiológicas que ocorrem<br />

simultaneamente em diversos sistemas do corpo, com isso, o<br />

indivíduo muitas vezes vai perdendo sua independência e sua<br />

qualidade de vida, porém, é importante que, se as pessoas hoje<br />

têm uma vida mais longa, elas tenham condições de viver seus<br />

últimos anos com qualidade, realizando atividades da vida diária<br />

independentemente e com segurança. Por isto, é necessário<br />

identificar as deficiências e riscos a que os idosos estão expostos, já<br />

que é uma população que só tende a aumentar e carece de cuidados<br />

de saúde constantemente.<br />

Entre os eventos a que o idoso se torna suscetível, com<br />

o declínio funcional que ocorre no envelhecimento, estão as<br />

quedas, que geram efeitos de âmbito social e econômico, além das<br />

conseqüências da incapacidade causada por ela.<br />

Sendo assim, a queda hoje representa um dos principais<br />

problemas de saúde na terceira idade, o que leva a necessidade<br />

de maior mobilização em torno do assunto, através de estudos e<br />

políticas públicas para conscientização da população em geral,<br />

principalmente dos idosos e seus cuidadores no que diz respeito à<br />

prevenção e fatores de risco para as quedas.<br />

9


10<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

Este trabalho tem como objetivo principal verificar qual<br />

o índice de quedas em idosos residentes de duas Instituições<br />

Geriátricas do município de Santo Ângelo-RS, além de descrever o<br />

papel da fisioterapia na prevenção destas quedas e fazer um estudo<br />

do contexto em que ela ocorre.<br />

De acordo com Driusso & Oishi (apud DRIUSSO &<br />

CHIARELLO, 2007), o envelhecimento é marcado pelo declínio<br />

das funções dos diversos órgãos, que caracteristicamente, tende<br />

a ser linear em razão do tempo, não se conseguindo definir um<br />

ponto exato de transição. Como consta no Estatuto do Idoso,<br />

publicado em 2003, é considerado idoso no Brasil o indivíduo com<br />

idade igual ou superior a 60 anos, corte etário também utilizado<br />

pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os países em<br />

desenvolvimento e, como neste trabalho, pela maioria da literatura<br />

Geriátrica e Gerontológica.<br />

É possível considerar o envelhecimento como um processo<br />

natural do ser humano através das palavras citadas pelo biólogo<br />

Alex Comfort, em 1979, que diz que os idosos são, na verdade,<br />

jovens que ocupam corpos envelhecidos e enfrentam problemas<br />

físicos causados pela perda da vitalidade, pelas alterações<br />

fisiológicas e, apesar de muitos fugirem a regra, observam-se<br />

deficiências específicas e debilitadoras, como a perda da visão<br />

e da agilidade motora. No entanto, sabe-se que grande parte das<br />

alterações fisiológicas e funcionais observadas nos idosos são<br />

mais resultantes da inexistência de estímulos do que de alterações<br />

atribuídas ao envelhecimento (BARRY & EATHORNE, 1994).<br />

É consenso de toda a literatura e comunidade científica<br />

o aumento da população de idosos no Brasil, seguido pela<br />

tendência mundial que se iniciou a quase cem anos nos países<br />

desenvolvidos, sendo hoje uma realidade na maioria dos países em<br />

desenvolvimento.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

Em 2000, o Censo demográfico identificou que as<br />

pessoas com 60 anos ou mais representavam cerca de 8,5% da<br />

população total do Brasil. Já os dados da Pesquisa Nacional por<br />

Amostra de Domicílios, de 2004, revelaram que os idosos nesse<br />

ano eram aproximadamente 9,7% da população nacional (IBGE,<br />

2004). Este aumento pode parecer pequeno, porém, a estimativa<br />

é que, se continuar nessa proporção, em 2025 a população de<br />

idosos brasileiros será equivalente a 15% da população total,<br />

correspondendo aproximadamente a 30 milhões de pessoas.<br />

Desse modo, a investigação dos fatores que permitem uma<br />

boa qualidade de vida na velhice, bem como das variações que<br />

esse estado comporta, reveste-se de grande importância científica e<br />

social (NERI apud REBELATTO & MORELLI, 2007).<br />

Quando se fala em instituições para idosos, o termo que<br />

logo nos ocorre é asilo, com as imagens correspondentes de um<br />

lugar sombrio, malcheiroso, onde idosos, em estado de semitorpor,<br />

esperam, não se sabe bem o quê (BORN apud PAPELÓ NETTO,<br />

2005).<br />

De acordo com Cozoli e Radomile (2006), quando o idoso<br />

sai de sua casa para morar em uma instituição ou casa de repouso<br />

passa por um momento difícil, pois tem de deixar seus pertences<br />

e sua família e ainda se adaptar à uma nova realidade, com<br />

pessoas e hábitos diferentes, gerando uma perda da sua história<br />

e sua identidade. Alguns idosos, por vontade própria, tornam-se<br />

solitários, o que acaba os predispondo ao isolamento, à depressão e<br />

aumentando, conseqüentemente, o declínio funcional.<br />

De acordo com Saramago (2003), no Brasil, somente são<br />

encontradas condições satisfatórias em clínicas particulares, porém<br />

estas geralmente são muito caras e acessíveis somente às famílias<br />

11


12<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

de classe média alta. Quanto às instituições públicas, a autora diz<br />

que existem inúmeras dificuldades, em razão de vários fatores<br />

negativos, como a falta de mão-de-obra qualificada, dificuldades<br />

econômicas, desvio de verbas e falta de apoio governamental. No<br />

entanto, isto não significa que instituições privadas tenham um<br />

maior cuidado para com seus residentes.<br />

Conforme Farias et al. (2005), o ambiente institucional<br />

deve ser apropriado para atender às principais limitações<br />

funcionais do idoso, garantindo que ele tenha conforto, segurança<br />

e independência para a realização de suas atividades diárias, além<br />

de evitar e prevenir problemas que podem surgir com o passar dos<br />

dias, como as quedas, que geram imobilizações, fraturas, medo,<br />

dependência e uma série de conseqüências limitantes para a vida<br />

do asilado.<br />

Vários fatores podem influenciar na forma como será<br />

o envelhecimento e a queda é um fator importante, pois está<br />

relacionada a questões de independência e autonomia, essenciais<br />

para uma boa qualidade de vida.<br />

Perracini (apud RAMOS & NETO, 2005) conceitua a queda como<br />

um evento freqüente e limitante, sendo considerado um marcador<br />

de fragilidade, institucionalização e declínio na saúde de idosos,<br />

levando até mesmo à morte. De forma mais abrangente Rebelatto<br />

et al. definem a queda como<br />

“ocorrência de um evento não intencional que leva uma<br />

pessoa, inadvertidamente, ao chão em um mesmo nível ou<br />

em outro inferior. É um evento freqüente e temido pelos<br />

idosos, constituindo grave problema de saúde pública<br />

em países desenvolvidos e em desenvolvimento, cujo<br />

contingente de idosos cresce de forma exponencial” (2007,<br />

p. 153).


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

Alguns autores sugerem relação entre a institucionalização<br />

e quedas. Soares et al. (2003) pensam que, mesmo que o idoso<br />

institucionalizado não esteja fragilizado por algum distúrbio<br />

orgânico, muitas vezes o isolamento, o abandono e o grau de<br />

inatividade física contribuem para a propensão à quedas, por<br />

acelerar o curso do envelhecimento.<br />

Segundo Guimarães & Cunha (2004), um grande número<br />

de idosos convive diariamente com o medo de cair, a ponto de<br />

se tornarem reclusos em seus próprios domicílios, limitando suas<br />

atividades físicas. Em virtude disso, o autor cita que a queda<br />

deve ser encarada como um “sintoma”, na verdade um dos mais<br />

importantes em Geriatria.<br />

Geralmente, é necessária uma combinação de vários fatores<br />

de risco para que ocorra a queda. Estes podem ser classificados em<br />

riscos intrínsecos e extrínsecos. Ramos e Neto (2005), explicam que<br />

os fatores de risco intrínsecos são aqueles ligados às características<br />

do indivíduo, já os extrínsecos têm relação com o meio ambiente.<br />

Segundo Chandler (apud GUCCIONE, 2002), os fatores<br />

intrínsecos mais prováveis de levar à uma queda consistem<br />

em problemas visuais, anormalidades vestibulares, redução<br />

na propriocepção, degeneração cervical, neuropatia periférica,<br />

demência, transtornos musculoesqueléticos, alterações no pé,<br />

hipotensão ortostática e medicamentos. Já os fatores ambientais<br />

são a iluminação, os pisos e as soleiras, as escadas, a arrumação<br />

da cozinha, as adaptações no banheiro, as portas, as desordens e os<br />

calçados.<br />

Coons (apud PASCALE, 2002) afirma que mais de 50%<br />

dos pacientes internados em clínicas ou instituições geriátricas<br />

são portadores de doenças como o Mal de Alzheimer e a Doença<br />

13


14<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

de Parkinson. Estas, juntamente com outras doenças graves os<br />

tornam incapazes de realizar atividades da vida diária, como tomar<br />

banho, locomover-se e comunicar-se. Esta incapacidade pode<br />

ter correlação com o índice de quedas e é importante identificar<br />

estes idosos, pois eles necessitam de maior atenção e vigilância<br />

(CARVALHO & COUTINHO, 2002).<br />

As quedas recorrentes em idosos podem contribuir para o<br />

declínio funcional, caracterizado por limitação da atividade física<br />

diária, medo de sofrer novas quedas e perda de mobilidade e da<br />

independência para realização das tarefas habituais e básicas da<br />

vida diária (REBELATTO et al., 2007). Sendo assim, uma segunda<br />

queda pode ser considerada um fator de risco para novas quedas,<br />

transformando-se em um ciclo que fragiliza cada vez mais o idoso.<br />

Fréz (2003) afirma que a fisioterapia pode contribuir<br />

de diversas formas na prevenção das quedas, como por meio<br />

de exercícios físicos, aumento da mobilidade, fortalecimento<br />

muscular, melhora do equilíbrio, treino de marcha, melhora da<br />

aferência sensorial e facilidade em transferências, que levam a um<br />

aumento da estabilidade e permitem uma maior independência,<br />

em conseqüência da recuperação da confiança em suas atividades.<br />

Porém, é necessário que estas atividades sejam realizadas de forma<br />

contínua, pois seus efeitos são observados apenas durante o período<br />

em que são mantidas.<br />

Na prevenção das quedas o Fisioterapeuta deve, também,<br />

estar atento aos fatores extrínsecos que podem causá-las,<br />

intervindo no ambiente domiciliar ou institucional do idoso, caso<br />

seja necessário.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

2 mATEriAL E mÉToDoS<br />

O presente estudo é caracterizado como transversal e<br />

retrospectivo, de natureza quali-quantitativa.<br />

O levantamento de dados foi feito através de análise<br />

retrospectiva de evoluções diárias realizadas por enfermeiras, que<br />

contém informações sobre a saúde e o dia-a-dia de idosos residentes<br />

de duas Instituições Geriátricas do município de Santo Ângelo –<br />

RS. Foram analisadas as evoluções referentes ao período de julho<br />

de 2007 a julho de 2008, compreendendo assim 12 meses. A coleta<br />

dos dados foi iniciada somente depois de concedida autorização<br />

dos diretores das Instituições, no mês de agosto do ano de 2008,<br />

onde ficou claro que, por questões éticas, seria guardado sigilo<br />

sobre o nome das Instituições, bem como dos idosos participantes<br />

da pesquisa.<br />

A população deste estudo é composta por 51 idosos<br />

residentes de duas Instituições, sendo uma de caráter Privada e<br />

outra Pública. A amostra constituiu-se daqueles com idade igual<br />

ou superior a 60 anos que apresentaram no mínimo uma queda no<br />

período de um ano, compreendendo 16 idosos.<br />

Os dados foram submetidos à análise de variância<br />

(ANOVA). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey,<br />

considerando o nível de significância de 5% (p < 0,05), utilizando<br />

o pacote estatístico SAS – versão 8.0 (SAS, 1999). Foi realizado o<br />

estudo de correlação entre as variáveis dependentes por intermédio<br />

do cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r).<br />

Ambas as Instituições são consideradas hoje, de acordo<br />

com o número de idosos residentes, como Casas Geriátricas de<br />

Médio Porte, conforme classificação do Conselho Regional de<br />

15


16<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN-RS) de 2000, que<br />

define assim aquelas Instituições em que o número de idosos<br />

residentes está entre 21 e 40 residentes. A Instituição Pública<br />

pesquisada abrigou durante o período de julho de 2007 a julho de<br />

2008, 24 residentes. Já a Instituição Privada passou de 11 idosos<br />

abrigados em julho de 2007 para 27 em julho de 2008.<br />

3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />

Ao analisar o número de quedas em uma Instituição<br />

Geriátrica Privada e em outra Pública, verificou-se, a partir da<br />

Figura 1, que o percentual médio anual de quedas na Instituição<br />

Pública é de 8,0%; já na Instituição Privada é de 4,3%.<br />

Média do nº de quedas (%)<br />

10<br />

5<br />

0<br />

4,3<br />

8,0<br />

Instituição Privada Instituição Pública<br />

Figura 1: Percentual médio anual de quedas.<br />

Orondino & Oliveira (2007) encontrou um índice de<br />

quedas de 55% em uma Instituição Geriátrica de Muriaé-MG, onde<br />

participaram da pesquisa 37 idosos de ambos os sexos, com idade<br />

variando entre 60 e 90 anos de idade.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

Gonçalves et al. (2008) realizaram um estudo com o<br />

objetivo de verificar a prevalência de quedas em idosos asilados<br />

e com mais de 60 anos no município de Rio Grande-RS no último<br />

ano e encontraram um resultado também superior a este, sendo que<br />

38,3% dos 180 idosos participantes da pesquisa haviam sofrido<br />

quedas. No entanto o estudo foi realizado com base nos relatos dos<br />

próprios idosos, diferente deste estudo, que se baseou na análise de<br />

documentos.<br />

Conforme a Figura 2, os resultados encontrados indicam<br />

que há uma quantidade maior de quedas em idosos residentes na<br />

Instituição Pública, tanto na idade dos 60 aos 75 anos, como dos<br />

76 aos 90 anos, ocorrendo uma redução nas quedas após esta idade.<br />

Já na Instituição Privada há um aumento do número de quedas<br />

diretamente proporcional ao aumento de idade. Isso se comprova<br />

pelo cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r), que<br />

determina uma relação de causa e efeito, entre idade e número de<br />

quedas, pois nesta Instituição essa correlação foi perfeita e positiva<br />

(r=1). Todavia, analisando a correlação existente entre as faixas<br />

etárias e o número de quedas da Instituição Pública, constatou-se<br />

uma fraca correlação negativa (r= -0,38) entre as variáveis.<br />

Número de quedas<br />

15<br />

10<br />

5<br />

2<br />

7<br />

3<br />

13<br />

4<br />

3<br />

Instituição Privada<br />

Instituição Pública<br />

0<br />

60-75 76-90<br />

Faixa etária<br />

90 ou +<br />

Figura 2: Faixa etária dos idosos que sofreram queda(s) no período de um ano.<br />

17


18<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

É comum encontrar na literatura autores que citam a idade<br />

como um fator de risco para as quedas, sendo esta diretamente<br />

proporcional ao risco, por estar ligada a fatores intrínsecos de<br />

exposição.<br />

Através da Figura 3, que demonstra a percentagem de cada<br />

causa de queda encontrada nas evoluções, é possível constatar<br />

que a perda do equilíbrio é o fator causal mais importante,<br />

correspondendo a 29% das quedas.<br />

19%<br />

6%<br />

6%<br />

9%<br />

29%<br />

22%<br />

3%<br />

6%<br />

Figura 3: Causas que levaram às quedas dos idosos.<br />

Fraqueza<br />

Tropeço<br />

Sonolência<br />

Perda de equilíbrio<br />

Escorrego<br />

Tontura/Vertigem<br />

Dor<br />

Não consta<br />

Em seguida está a fraqueza, também entre os principais<br />

fatores causais para as quedas, sendo responsável por 22% do total.<br />

A fraqueza foi mencionada nas evoluções algumas vezes somente<br />

como “fraqueza” e outras como “fraqueza de membros inferiores”,<br />

sendo que nos resultados finais, ambas foram consideradas o<br />

mesmo fator causal, a fraqueza.<br />

Outro fator igualmente importante e encontrado nas<br />

evoluções é a tontura, ou vertigem, que foram consideradas a<br />

mesma coisa, causando 19% das quedas.<br />

As demais causas encontradas foram a dor, o escorrego e o<br />

tropeço, sendo que cada uma foi causa de 6% do total. A sonolência<br />

foi causa de 3% das quedas ocorridas e o restante, que corresponde<br />

a 9% das quedas analisadas não constou suas causas nas evoluções.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

Segundo Maciel e Guerra (2005), as alterações do equilíbrio<br />

na população idosa são problemas relativamente comuns e levam a<br />

importantes limitações na realização das atividades da vida diária,<br />

além de constituírem a principal causa de queda nesses indivíduos.<br />

Para Ham (apud REICHEL & GALLO, 2001) a vertigem é<br />

uma das queixas mais comuns na medicina geriátrica, isto porque<br />

ela é conseqüência de diversas doenças que acometem os idosos.<br />

São necessárias algumas medidas preventivas para que não ocorram<br />

acidentes no momento em que o idoso tiver alguma vertigem,<br />

como a utilização de auxílio para estabilizar e equilibrar a marcha<br />

e modificações ambientais (luminosidade, barras de apoio).<br />

A maioria das quedas (37%) ocorreram no ambiente do<br />

quarto, o que está de acordo com a literatura nacional e internacional.<br />

Muitas destas quedas ocorrem logo após o idoso assumir a posição<br />

ortostática, quando levanta-se da cama.<br />

O segundo ambiente mais propício foi a sala, com 25%<br />

das quedas. Geralmente este é o ambiente onde os idosos fazem<br />

as refeições e assistem à televisão, entre outras atividades, nas<br />

instituições. Na calçada, ocorreram 16% das quedas, provavelmente<br />

isso se deve ao fato de que muitas vezes estas apresentam degraus<br />

e desníveis e fazem com que os idosos tropecem ou percam o<br />

equilíbrio. Ainda destaca-se, com 13% as quedas no corredor,<br />

onde geralmente os idosos transitam quando vão de um ambiente a<br />

outro. Entre os fatores que podem ter relação com as quedas neste<br />

ambiente está o piso escorregadio, falta de barras de apoio fixadas<br />

na parede, ou ainda iluminação inadequada para os idosos, já que<br />

estes necessitam de iluminação especial devido à lenta adaptação<br />

à luz e ao escuro e a baixa tolerância à claridade (VERNON apud<br />

REICHEL & GALLO, 2001). Em 6% das quedas descritas nas<br />

evoluções não constava o local onde ocorreram.<br />

19


20<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

Ribeiro et al. (2008) sugerem que na maioria das vezes os<br />

idosos caem nos cômodos mais utilizados, sendo que este, para<br />

os idosos institucionalizados, é geralmente o quarto, onde eles<br />

ficam isolados dos demais e fazem isso por opção própria, pela<br />

dificuldade de socialização.<br />

A Figura 4, que exibe a quantidade de quedas ocorridas<br />

no período de um ano distribuídas nos turnos em que ocorreram,<br />

apresenta um índice maior no turno da tarde, em que ocorreram<br />

50% das quedas, ou seja, 16. Durante a noite ocorreram 9 quedas<br />

(28%) e no turno da manhã, apenas 7 quedas (22%). Pela análise<br />

de variância e Teste Tukey (5% de significância), a diferença entre<br />

as médias do número de quedas e o turno em que estas acontecerem<br />

não foi significativa.<br />

Número de quedas<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

7<br />

16<br />

Manhã Tarde Noite<br />

Figura 4: Turnos do dia em que ocorreram as quedas.<br />

Segundo Campbell (apud EBRAHIM & KALACHE,<br />

1996) a maior parte das quedas ocorre em horas de atividade<br />

máxima do dia e 20% ocorrem à noite. Este achado está de acordo<br />

com os resultados encontrados no presente estudo, já que, para a<br />

9


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

maioria dos idosos a atividade máxima é no turno da tarde, que foi<br />

predominante em relação à manhã e noite. No entanto a maioria<br />

dos autores discorda, afirmando que a maioria das quedas ocorre<br />

durante a noite, quando os idosos levantam-se para ir ao banheiro<br />

ou beber água (CARVALHO & COUTINHO, 2002).<br />

Santos & Andrade (2005) encontraram resultados diferentes<br />

em seu estudo, onde o turno de maior freqüência foi a manhã, com<br />

45% das quedas, seguido do turno da tarde com 32,3% e noite com<br />

22,7%.<br />

Conforme a Figura 5, grande parte das quedas ocorreram<br />

quando os idosos estavam apenas caminhando (51%), muitas<br />

vezes deslocando-se de um ambiente a outro. Esta constatação não<br />

foi surpresa, pois é do conhecimento de todos que a maioria das<br />

quedas, em qualquer idade, ocorre durante a deambulação.<br />

51%<br />

3%<br />

6%<br />

31%<br />

6%<br />

3%<br />

Após levantar da cama<br />

Tomando banho<br />

Ao levantar da mesa após refeição<br />

Apenas caminhando<br />

Ao sentar na cama<br />

Não consta<br />

Figura 5: Atividades realizadas antes ou no momento da queda.<br />

Também não foi surpreendente saber que 31% das quedas<br />

tenham ocorrido após o ato de levantar-se da cama, pois como<br />

citado anteriormente, isto acontece porque muitos idosos têm<br />

hipotensão ortostática e assim que assumem a postura em pé vão<br />

ao chão. Além disso, alguns idosos passam muito tempo na cama,<br />

o que contribui para que tenham vertigens ao levantar-se. Outras<br />

atividades realizadas pelos idosos antes da ocorrência da queda<br />

foram tomar banho (3%); ao levantar-se da mesa após refeição<br />

21


22<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

(6%); ao tentar sentar-se na cama (3%) e as demais quedas (6%)<br />

não foram definidas, pois não constavam nas evoluções.<br />

Guimarães e Cunha (2004) apontam que as quedas em<br />

hospitais ou em instituições geriátricas ocorrem quando a equipe<br />

não está por perto e os pacientes encontram-se, pelo menos<br />

momentaneamente, ativos. Dizem ainda, que a maioria das quedas<br />

ocorre quando o paciente está subindo ou descendo do leito.<br />

A partir da Figura 6, pode-se observar que não houveram<br />

conseqüências físicas em 28% das quedas estudadas, porém não se<br />

excluem as conseqüências psíquicas e sociais, as quais não foram<br />

analisadas neste estudo, mas sabe-se, igualmente importantes na<br />

saúde do idoso. Em relação a isso, pode-se usar como um exemplo<br />

o medo que o idoso sente de cair novamente e machucar-se, gerando<br />

uma restrição nas suas atividades que deve ser considerada uma<br />

das suas conseqüências crônicas (REICHEL, 2001).<br />

16%<br />

9%<br />

3%<br />

16%<br />

3% 3%<br />

22%<br />

28%<br />

Figura 6: Complicações decorrentes das quedas.<br />

Sem consequencias<br />

Escoriações<br />

Fratura<br />

Corte<br />

Dor e escoriações<br />

Corte e escoriações<br />

Dor<br />

Deslocamento de placa do fêmur<br />

As escoriações destacaram-se como uma das conseqüências<br />

mais comuns após o evento da queda, tendo ocorrido em 22% das<br />

mesmas. Corte e fratura obtiveram índices de 16%, cada. Dor e<br />

escoriações ocorreram em 9% das quedas, contudo, pode-se<br />

subentender que em todas as quedas em que não constava “dor”<br />

como conseqüência, ela estava presente, mesmo sem o devido<br />

registro. Corte e escoriações, dor e deslocamento de placa do


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

fêmur, corresponderam cada uma, a 3% das conseqüências das<br />

quedas avaliadas.<br />

Santos e Andrade (2005) encontraram as escoriações em<br />

primeiro lugar como conseqüência de queda, com um percentual<br />

de 19,7 % em seu estudo, porém a maior parte dos idosos (59,4%)<br />

não teve conseqüências físicas. Em 7% das quedas ocorreram<br />

algum tipo de corte e em 5,7% delas os idosos sofreram fratura.<br />

Em pesquisa realizada por Fabrício et al. (2004), que<br />

teve como objetivo investigar a história da queda, relatada por<br />

50 idosos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60<br />

anos residentes de Ribeirão Preto, SP, e que haviam sido atendidos<br />

em duas unidades de um hospital público, foi constatado que as<br />

principais conseqüências das quedas foram também as fraturas,<br />

representando 64% do total.<br />

Segundo Guimarães e Cunha (2004), quando o ato de cair<br />

não resulta em trauma maior ou perda da consciência, tende a ser<br />

um acontecimento sub-relatado. Portanto, levando-se em conta<br />

que na maioria das vezes os idosos procuram atendimento médico<br />

somente quando há conseqüências graves, é normal que um estudo<br />

realizado em Instituições Geriátricas, como este, não encontre uma<br />

percentagem tão alta de fraturas e tenha resultados menos graves,<br />

como as escoriações.<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

Após apresentação dos resultados obtidos através da coleta<br />

de dados pôde-se concluir que o índice de quedas nos idosos<br />

residentes das Instituições estudadas foi inferior ao citado pela<br />

maioria dos autores, assim como alguns outros resultados também<br />

23


24<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

diferem dos demais estudos. No entanto, não foram encontrados<br />

estudos que utilizaram o método de pesquisa utilizado neste. A<br />

aplicação de testes e questionários foi relatada em diversos estudos,<br />

podendo ser este um fator de influência nos resultados.<br />

Ao comparar o índice de quedas encontrado nas duas<br />

Instituições estudadas, verifica-se que há uma maior percentagem<br />

na Instituição Pública, onde o índice foi de 8,0%, enquanto que na<br />

Instituição Privada foi de 4,3%.<br />

Em relação à faixa etária dos idosos que sofreram quedas<br />

na Instituição Privada, foi constatado que nesta há um aumento do<br />

número de quedas diretamente proporcional ao aumento da idade.<br />

Já na Instituição Pública a maior parte das quedas ocorreu em<br />

idosos com idades entre 60 e 90 anos, havendo uma redução após<br />

esta idade.<br />

A principal causa de quedas encontrada nas evoluções<br />

analisadas foi a perda do equilíbrio, correspondendo a 29% das<br />

mesmas. Em segundo lugar, está a fraqueza, com um número<br />

também expressivo sendo a causa de 22% das quedas. A tontura, ou<br />

vertigem, foi encontrada em 19% delas e as demais causas foram:<br />

tropeço, escorrego, dor e sonolência e no restante de 9% das quedas<br />

não estava descrita a causa nas evoluções.<br />

Quanto aos locais onde ocorreram as quedas, foi encontrado<br />

um percentual de 37% no quarto, 25% na sala, 16% na calçada,<br />

13% no corredor, 3% no banheiro e em 6% das quedas não houve a<br />

descrição do local nas evoluções. Outros estudos também indicaram<br />

uma maior percentagem de quedas no quarto, por ser o local onde<br />

os idosos, principalmente os institucionalizados, passam a maior<br />

parte do tempo, além de outros fatores como hipotensão ortostática<br />

e vertigem ao levantar-se da cama.


ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />

O turno da tarde, no qual ocorreram 50% das quedas, foi<br />

predominante em relação ao turno da manhã (22%) e da noite<br />

(28%). No entanto, pelo teste de Tukey (5% de significância) a<br />

diferença entre as médias do número de quedas e o turno em que<br />

estas aconteceram não foi significativa.<br />

A maior parte das quedas ocorreu quando os idosos<br />

estavam caminhando (51%) e após o ato de levantar-se da cama<br />

(31%). Já como conseqüências físicas das quedas predominaram<br />

as escoriações, em 22% delas, fratura em 16% e corte também em<br />

16%. Houve uma percentagem de 28% de quedas que não tiveram<br />

conseqüências.<br />

Ao término deste estudo tem-se uma visão do que constitui,<br />

para o idoso, sofrer uma queda. Após a primeira queda ele tornase<br />

ou é limitado pelos seus cuidadores à prática de atividades da<br />

vida diária, aumentando o declínio funcional e o predispondo à<br />

novas quedas, formando assim um ciclo vicioso que faz com que<br />

ele perca a sua qualidade de vida.<br />

É necessário que as formas de prevenção para as quedas<br />

sejam colocadas em prática pela população, instituições e<br />

profissionais da saúde que prestam atendimento ao idoso, com<br />

o objetivo tanto de evitar a primeira queda como também a<br />

sua recorrência e neste contexto o fisioterapeuta tem um papel<br />

fundamental.<br />

Apesar de atualmente haver muitos estudos a respeito das<br />

quedas e os fatores nela envolvidos, existe ainda uma lacuna na<br />

questão desta ocorrência em idosos residentes de Instituições.<br />

Procurou-se iniciar uma discussão para que seja possível assumir<br />

proporções maiores em futuros estudos a respeito do tema, com<br />

mais Instituições analisadas e uma população maior de idosos.<br />

25


5 rEFErÊNCiAS<br />

26<br />

HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />

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FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />

FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr<br />

Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do<br />

SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />

SiLVA, LeTíCiA ATAídeS 1<br />

BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />

rESumo<br />

O propósito do presente estudo foi abordar, através<br />

de uma revisão bibliográfica, a importância do<br />

conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor<br />

na estabilidade articular do joelho, funcionalmente<br />

responsável por diversas atividades como correr,<br />

andar e saltar. O conhecimento sobre os componentes<br />

do sistema sensório-motor é fundamental, pois junto<br />

com as estruturas musculoesqueléticas são um dos<br />

elementos que garantem a estabilidade da articulação<br />

do joelho. Os mecanorreceptores localizados no<br />

joelho, em especial no Ligamento Cruzado Anterior<br />

(LCA), são as principais estruturas que enviam ao<br />

Sistema Nervoso Central (SNC) informações acerca<br />

da posição, movimento e estresse articular. O<br />

adequado funcionamento das estruturas sensório-<br />

1 Fisioterapeuta<br />

2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />

Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />

29


30<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

motoras articulares deve ser o objetivo de tratamento<br />

em indivíduos com lesões articulares, para possibilitar<br />

que o corpo mantenha a estabilidade estática e<br />

dinâmica necessária para exercer suas atividades<br />

com o mesmo desempenho anterior a uma lesão.<br />

Palavras-chaves: receptores sensoriais,<br />

propriocepção, estabilidade articular.<br />

ABSTrACT<br />

The purpose of this study was to address, through<br />

a literature review, the importance of physiological<br />

knowledge of the sensory-motor in the knee joint<br />

stability, functionally responsible for various activities<br />

as running walk and jump. The knowledge about the<br />

components of the sensory-motor system is essential,<br />

because along with the musculoskeletal structures are<br />

one of the elements that guarantee the stability of the<br />

knee joint, allowing the body to maintain the stability<br />

and dynamic required for the individual exercises its<br />

activities with the same performance prior to an injury.<br />

The mechanoreceptors located in the knee, especially<br />

in the anterior cruciate ligament (ACL) are the main<br />

structures that send to the central nervous system<br />

(CNS) information about the position, motion and<br />

stress articulate. The proper functioning of sensorymotor<br />

joint


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1 iNTroDuÇÃo<br />

Key words: proprioceptores, sensory receptors, joint<br />

stability.<br />

A idéia do presente estudo é apresentar através de uma<br />

revisão bibliográfica a importância do conhecimento fisiológico<br />

do sistema sensório-motor na estabilidade articular do joelho. A<br />

estabilidade articular refere-se à capacidade da articulação retornar<br />

ao seu estado normal após ter sofrido um estresse. A ocorrência<br />

dessa propriedade depende da interação de diversos fatores,<br />

entre eles, a congruência óssea, a restrição passiva das estruturas<br />

articulares e as forças compressivas geradas pelo peso do corpo e a<br />

ação muscular (AQUINO et al., 2004).<br />

Para realizar um determinado movimento sem danos físicos<br />

é necessário ter integridade musculoesquelética e sensorial, sendo<br />

que este último vem apresentando uma crescente importância em<br />

se tratando de estabilização articular. As percepções sensoriais<br />

(saber onde nossos membros se encontram no espaço quando são<br />

movimentados e conhecer as forças geradas pelos músculos) são<br />

conhecidas como sentido proprioceptivo. Esse termo é empregado<br />

para determinar a informação aferente vinda de áreas periféricas<br />

internas do corpo, que contribuem para o controle postural e a<br />

estabilidade articular (COHEN, 2001).<br />

O conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor<br />

é de suma importância para uma eficaz estabilização articular<br />

do joelho, pois se pode perceber que por meio de receptores<br />

sensoriais, o Sistema Nervoso Central (SNC) recebe estímulos<br />

internos e externos do nosso organismo que irão atuar diretamente<br />

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32<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

na estabilidade articular. Esses receptores estão localizados na<br />

pele, nos músculos, tendões, ligamentos, articulações e fáscias<br />

(FONSECA et al., 2007).<br />

A articulação do joelho é uma estrutura complexa composta<br />

por três ossos, o fêmur, a tíbia e a patela. Funcionalmente o joelho<br />

é responsável por diversas atividades, tais como correr andar,<br />

saltar, sendo essas e outras funções possíveis devido à mobilidade<br />

oferecida principalmente pelos ossos, à estabilidade promovida<br />

pelos tecidos moles e pela integridade sensorial (SMITH et al.,<br />

1997). Essa articulação pode parecer uma estrutura simples, porém<br />

a sua biomecânica e o tratamento das lesões sofridas está há muito<br />

tempo levantando discussões (ANDREWS et al., 2000).<br />

Dessa maneira, a fisioterapia vem buscando diversas<br />

possibilidades para que cada vez menos lesões venham acontecer<br />

durante as atividades realizadas, sejam elas desportivas ou<br />

atividades da vida diária. Dentre as alternativas para reduzir o risco<br />

de lesão ou até mesmo melhor o desempenho físico o seriam através<br />

do treino sensório motor utilizando exercícios proprioceptivos,<br />

para manter ou melhorar a estabilidade articular do joelho. Estes<br />

exercícios servem para dar ênfase à coordenação e equilíbrio<br />

(BONETTI, 2007).<br />

Tendo em vista a importância das informações<br />

proprioceptivas para um melhor desempenho da estabilidade<br />

articular, é fundamental o conhecimento da fisiologia do sistema<br />

sensório motor e do seu funcionamento junto com a produção de<br />

movimento fluente, controlado e coordenado.


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2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica,<br />

realizada em livros e artigos Medline, Lilacs e Scielo. O método<br />

utilizado foi o dialético e o instrumento para o alcance dos objetivos<br />

foi o levantamento documental.<br />

3 DiSCuSSÃo<br />

Os fatores neurológicos, como a propriocepção, já<br />

eram conhecidos há muito tempo atrás; porém, apenas fatores<br />

biomecânicos, anatômicos e histológicos eram considerados<br />

determinantes na função articular. No entanto, mais recentemente os<br />

fatores neurológicos começam a ter uma contribuição fundamental<br />

para a estabilidade articular (AQUINO et al., 2004).<br />

Na Grécia Antiga, Aristóteles já descrevia e distinguia os<br />

cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato (PINTO et<br />

al, 1997). No século XIX um cientista alemão, Johannes Müller<br />

(1801-1858), atribuiu aos sentidos a lei das energias específicas, na<br />

qual se considera que cada sentido está relacionado a uma forma<br />

de energia. Diz-se então que os receptores são específicos para<br />

uma determinada forma de energia, e que sua sensibilidade está em<br />

sintonia com uma faixa restrita de estimulação e resposta (LENT,<br />

2004).<br />

Ainda no século XIX um sexto sentido foi descrito por<br />

Bell, referindo-se ao sentido de posição e movimento articular.<br />

Mais tarde Ducheme e Charcot descreveram a importância das<br />

sensações articulares para a função do aparelho locomotor. A<br />

seguir outros autores localizaram em receptores articulares e<br />

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34<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

musculares a sensação do movimento, importante para a ação<br />

articular coordenada. Dentre esses autores está o fisiologista inglês<br />

Charles Sherrington (COHEN, 2001) que traduziu a propriocepção<br />

como um termo usado para a regulação da postura total (equilíbrio<br />

postural) e postura segmentar (estabilidade articular), como<br />

também para o início de muitas sensações periféricas conscientes<br />

(PINTO et al., 1997).<br />

O termo sensório-motor foi designado para descrever as<br />

interações centrais, sensoriais e motoras e as estruturas envolvidas<br />

na manutenção da integridade articular durante os movimentos<br />

corporais e manutenção da postura. A propriocepção e o controle<br />

neuromuscular fazem parte do sistema sensório-motor (COSTA,<br />

2007).<br />

A palavra propriocepção deriva do latim e tem o significado<br />

“de si mesmo”, referindo-se aos processos sensoriais envolvidos<br />

na apreciação da postura e do movimento (FONSECA et al., 2007).<br />

O controle neuromuscular é definido como o controle da<br />

ativação inconsciente de estabilizadores dinâmicos, os músculos,<br />

agindo em resposta a uma carga ou movimentos impostos a uma<br />

articulação com o objetivo de restaurar ou manter a estabilidade<br />

articular normal. O controle neuromuscular irá depender da<br />

integração adequada entre os inputs sensitivos e as eferências<br />

motoras (COSTA, 2007).<br />

Estudos têm analisado a interação entre os sistemas<br />

sensoriais e sistema motor. Conforme esses estudos, para obter uma<br />

ação motora adequada são necessários a integração e utilização<br />

contínua das informações sensoriais na coordenação e controle do<br />

ato motor desejado (BONFIM & BARELA, 2007).<br />

O sistema sensorial é composto por neurônios interligados<br />

que formam circuitos responsáveis por processar a informação


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que chega do ambiente. Dessa forma o ambiente é a origem dos<br />

estímulos sensoriais. Esses estímulos geralmente incidem sobre<br />

uma superfície onde estão localizadas células especializadas para<br />

captar a energia incidente, estas células são chamadas de receptores<br />

sensoriais (LENT, 2004).<br />

Os mecanorreceptores são tipos de receptores sensoriais e<br />

funcionam como tradutores biológicos, sendo capazes de converter<br />

os movimentos do corpo e a tensão imposta as suas estruturas, em<br />

potenciais de ação nervosos que geram informações proprioceptivas<br />

(FONSECA et al., 2007).<br />

Os receptores que fazem mediações das sensações<br />

profundas incluem os receptores musculares e articulares e podem<br />

ser definidos como proprioceptores. Estes abrangem os fusos<br />

musculares, órgão tendinosos de Golgi, terminações nervosas<br />

livres, corpúsculos de Pacini e receptores articulares. Estão<br />

relacionados com a postura, o senso de posição, tônus muscular,<br />

velocidade e direção do movimento (SULLIVAN & SCHMITZ,<br />

2004).<br />

O sistema proprioceptivo recebe informações tanto dos<br />

receptores articulares quanto os receptores musculares e utiliza esses<br />

estímulos para localizar nossos membros no espaço e determinar<br />

a sua amplitude e velocidade do movimento. No entanto, cada<br />

receptor têm um papel diferente na formação da propriocepção<br />

articular. Apesar dos demais receptores também contribuírem para<br />

a sensação de movimento os receptores musculares parecem ser<br />

a fonte de maior contribuição para a informação proprioceptiva<br />

(RIBEIRO & OLIVEIRA, 2008).<br />

Uma característica especial de todos os receptores sensoriais<br />

é a de que eles se adaptam, parcial ou totalmente, a seus estímulos<br />

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36<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

após certo período de tempo. Percebe-se que alguns receptores se<br />

adaptam de forma muito mais rápida do que outros (GUYTON,<br />

1993).<br />

Ter as informações sobre a posição, velocidade e direção<br />

dos movimentos são importantes fatores para manter o controle<br />

postural. Para desenvolver uma atividade motora com maior destreza<br />

é fundamental ter um controle neuromuscular (FONSECA<br />

et al., 2007).<br />

A propriocepção é um processo através do qual o SNC<br />

recebe input de diversas fontes de estímulo integradas para definir<br />

o movimento ou a posição articular. Os estímulos proprioceptivos<br />

providenciam a informação a um eixo central dividido em três níveis<br />

distintos do controle motor: medula espinal, tronco cerebral e córtex<br />

motor. Contudo, o input proprioceptivo não é necessariamente<br />

percebido de forma consciente. Os mecanorreceptores que são<br />

responsáveis pelo envio dos estímulos ao SN (impulsos aferentes),<br />

funcionam como conversores das cargas mecânicas impostas<br />

à articulação. Esta informação é integrada na programação<br />

motora requerida para movimentos de precisão e contribui<br />

para a contração muscular reflexa, proporcionando estabilidade<br />

dinâmica à articulação. Portanto, o controle do movimento<br />

depende consideravelmente da qualidade da informação aferente<br />

originada dos receptores envolvidos na propriocepção (RIBEIRO<br />

& OLIVEIRA, 2008).<br />

As sensações profundas e as sensações táteis ou superficiais,<br />

transmitidas ao SNC pelos proprioceptores são responsáveis por<br />

determinar o senso de posição e percepção das articulações tanto<br />

em movimento (propriocepção dinâmica) quanto em repouso<br />

(propriocepção estática). Em locais, como os dedos, a resposta<br />

ao reconhecimento da posição é transmitida ao SNC através dos


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receptores táteis. Por outro lado para a maior parte das grandes<br />

articulações, como a articulação do joelho, os receptores profundos<br />

são os mais importantes (GUYTON , 1993).<br />

A articulação do joelho suporta o peso do corpo e transmite<br />

forças provenientes do solo e ao mesmo tempo permite uma grande<br />

quantidade de movimento entre o fêmur e a tíbia. A estabilidade<br />

funcional do joelho provém da restrição passiva dos ligamentos, da<br />

geometria articular, dos músculos e das forças compressivas entre<br />

um osso e outro (HAMILL & KNUTZEN, 1999).<br />

Em 1991 foi realizada uma revisão de literatura a respeito<br />

do papel sensorial dos ligamentos cruzados, foi mostrada sua<br />

influência reflexa sobre a musculatura agonista do joelho através<br />

do sistema fuso muscular. Então se descobriu que os ligamentos<br />

cruzados desempenham na fisiologia articular um papel diferente<br />

do que o de estabilizadores mecânicos (PINTO et al., 1997).<br />

Estudos anatômicos têm demonstrado a presença de<br />

mecanorreceptores no Ligamento Cruzado Anterior (LCA).<br />

Mostram fibras nervosas penetrando os ligamentos cruzados e<br />

receptores tipo Golgi, Ruffini e Paccini foram identificados no<br />

LCA. Dessa forma é provável que a função proprioceptiva dos<br />

ligamentos seja tão importante quanto a sua função biomecânica<br />

para a manutenção da estabilidade articular (BONFIM &<br />

PACCOLA, 2000).<br />

A estabilidade da articulação do joelho depende dos<br />

músculos e dos ligamentos, principalmente do LCA. A deficiência<br />

da informação proprioceptiva no joelho, em decorrência de lesão<br />

do LCA, contribui para o agravamento da instabilidade devido à<br />

diminuição da sensação de posição e ausência do estímulo para a<br />

contração muscular reflexa (SAMPAIO & SOUZA, 1994).<br />

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38<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

Dentre os ligamentos do joelho, o LCA é o que apresenta<br />

com maior freqüência lesões de ruptura completa, sendo estas<br />

ocorrendo na maioria das vezes em atividades esportivas. No<br />

caso de atletas, após uma lesão no LCA vários não retornam as<br />

atividades e os que retornam apresentam deficiências funcionais.<br />

Na tentativa de solucionar essas deficiências as técnicas estão cada<br />

vez mais refinadas, então após a reconstrução do LCA, esperavase<br />

que o joelho voltasse a apresentar condições neuromusculares<br />

normais. No entanto, apesar da amplitude de movimento e a<br />

força serem restabelecidas, a tendência em permanecer um déficit<br />

proprioceptivo continuava devido à ruptura do LCA e da sua<br />

substituição por enxertos, que não apresentam os mesmos tipos<br />

de mecanorreceptores e conexões nervosas responsáveis pela<br />

estabilidade articular encontrada no ligamento intacto (BONFIM<br />

& PACCOLA, 2000).<br />

Tendo em vista a importância das informações<br />

proprioceptivas para um melhor desempenho da estabilidade<br />

articular é fundamental o conhecimento sobre os componentes do<br />

sistema sensório-motor, pois é um dos elementos que garantem<br />

a estabilidade de uma articulação, possibilitando que o corpo<br />

mantenha a estabilidade dinâmica e estática necessária para que<br />

o indivíduo exerça suas atividades com o mesmo desempenho<br />

anterior a uma lesão (FONSECA et al., 2007).<br />

A perda de informação proprioceptiva no joelho, devido<br />

à lesão do LCA contribui para o agravamento da instabilidade<br />

devido à diminuição da sensação de posição e ausência do<br />

estímulo para contração muscular reflexa. No entanto, apesar<br />

da lesão do LCA e da perda de informações aferentes enviadas<br />

pelos mecanorreceptores localizados neste ligamento, existem nas<br />

demais estruturas do joelho inúmeras outras fontes de informação


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proprioceptiva, que através de um treinamento específico de<br />

coordenação neuromuscular podem suprir a demanda da reação<br />

muscular para estabelecer o controle dinâmico da articulação<br />

lesada (SAMPAIO & SOUZA, 1994).<br />

Alguns anos atrás o conceito de ter um músculo bem<br />

alongado e forte bastava para prevenir lesões, porém esse conceito<br />

vem sendo substituído por uma idéia que defende a prevenção de<br />

lesões baseada na melhora funcional das articulações e dos músculos<br />

em conjunto, e isto ocorre devido à melhora dos mecanismos de<br />

controle neuromuscular (COSTA, 2007).<br />

A importância dos mecanorreceptores articulares,<br />

musculares e cutâneos para as sensações proprioceptivas tem<br />

sido muito discutida. Recentemente estudos sugerem que os<br />

receptores musculares e articulares são complementos do sistema<br />

aferente, no qual a modificação num tipo de receptor promove<br />

alteração na função do outro. Ambos são essenciais na capacidade<br />

proprioceptiva (RIBEIRO & OLIVEIRA, 2008).<br />

Apesar dos mecanorreceptores ainda não ter uma função<br />

totalmente conhecida, eles são os principais responsáveis por<br />

fornecer ou determinar o caminho da intrigante rede de informação<br />

sensorial a qual pode diferenciar vários indivíduos com relação a<br />

sua destreza e habilidade funcional, entre outras (EJNISMAN et<br />

al., 2002).<br />

A capacidade que articulação tem para detectar<br />

alterações que ocorrem no meio que rodeia suas estruturas e<br />

mediar apropriadamente à resposta muscular a essas alterações é<br />

fundamental para garantir a estabilidade funcional da articulação.<br />

Na articulação do joelho quem irá contribuir nesse processo de<br />

estabilização articular são os receptores musculares, articulares e<br />

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SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

cutâneos que são considerados essenciais na capacidade de sentir<br />

a posição e o movimento da articulação (RIBEIRO & OLIVEIRA,<br />

2008).<br />

Os ligamentos cruzados do joelho são os componentes<br />

responsáveis pela estabilidade intrínseca da articulação (MORENO<br />

et al., 2005). Até um tempo atrás os ligamentos eram considerados<br />

estruturas passivas, e só mais recentemente que a sua função sensorial<br />

começou a ser discutida. A informação sensorial proporciona ao<br />

indivíduo a capacidade de detectar a posição articular do joelho de<br />

uma forma consciente. O controle neuromotor do joelho envolve a<br />

atividade coordenada da musculatura, fornecendo estabilidade ativa<br />

à articulação. A integridade proprioceptiva do joelho é primordial<br />

para o controle neuromotor, e sua avaliação, o teste proprioceptivo,<br />

é um importante método de diagnóstico e prognóstico, acarretando<br />

na eficácia ou não do tratamento fisioterapêutico (LOBATO et al.,<br />

2005).<br />

A capacidade proprioceptiva de indivíduos com lesões<br />

ortopédicas e traumatológicas está cada vez mais despertando um<br />

interesse na prática clínica. Dessa forma, tendo em vista que o SN<br />

transforma as informações aferentes vinda dos mecanorreceptores<br />

em atividade muscular sincronizada ao redor da articulação,<br />

garantindo assim a estabilidade articular, podemos supor que<br />

o treino proprioceptivo tem sua importância e deve ser incluído<br />

tanto na recuperação de lesões quanto na prevenção das mesmas<br />

(FONSECA et al., 2007).<br />

Os exercícios proprioceptivos foram introduzidos nos<br />

programas de reabilitação e prevenção de lesões ligamentares, pelo<br />

fato de que os ligamentos são sede de mecanorreceptores, onde uma<br />

lesão nessas estruturas poderia causar um déficit proprioceptivo<br />

(COSTA, 2007).


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No processo de reabilitação do joelho devemos considerar<br />

de forma significativa o treino proprioceptivo, pois este se refere<br />

à sensibilidade ao tato, que engloba a sensação do movimento<br />

e posição articular. A reeducação proprioceptiva busca não só<br />

aumentar a qualidade e velocidade das respostas do aparelho<br />

neuromuscular, como também estimular a sensibilidade e reação<br />

de respostas rápidas e precisas (PAIZANTE & KIRKWOOD,<br />

2007).<br />

Os exercícios proprioceptivos fazem parte do processo<br />

de reabilitação e são necessários tanto na prevenção quanto<br />

no tratamento de lesões. O trabalho de prevenção deve conter<br />

exercícios dinâmicos, multidirecionais e específicos de cada<br />

atividade, com exercícios trabalhando principalmente unidades<br />

músculo-tendíneas que são componentes responsáveis por manter<br />

a estabilidade dinâmica das articulações durante os movimentos<br />

(BONETTI, 2007).<br />

Nas lesões de LCA, seja por trauma, intervenções cirúrgicas<br />

ou por imobilizações prolongadas, os mecanorreceptores são<br />

freqüentemente lesados, dessa forma a condução dos estímulos<br />

sensoriais são diminuídas, deixando de informar ao SNC sobre<br />

o senso de posição e movimento articular. Devido a isto se faz<br />

necessário incluir exercícios proprioceptivos na reabilitação do<br />

joelho traumatizado (PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007).<br />

O treino proprioceptivo busca desenvolver a autonomia ao<br />

indivíduo, consciência postural, do movimento, das mudanças no<br />

equilíbrio, conhecimento da posição do peso e da resistência dos<br />

objetos em relação ao corpo. Em indivíduos que sofreram lesão do<br />

LCA o objetivo do treinamento proprioceptivo visa desenvolver<br />

habilidade, agilidade e confiança através do aumento da velocidade<br />

de resposta de defesa e da estabilidade articular. Especificamente<br />

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42<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

na lesão de LCA deve-se fortalecer isquiotibiais, principalmente,<br />

mas sem deixar de exercitar quadríceps, abdutores e adutores<br />

(PAIVA et al., 2008).<br />

O programa de treino sensório motor deve ser realizado<br />

de forma progressiva e focalizando alguns aspectos como<br />

flexibilidade, agilidade, força, treino de gesto esportivo e<br />

pliometria. Alongamento e fortalecimento devem ser realizados<br />

progressivamente respeitando os limites de cada indivíduo.<br />

Exercícios de agilidade são utilizados para permitir a adaptação<br />

as mudanças rápidas de direção, aceleração e desaceleração.<br />

Para treino de equilíbrio podem ser executados exercícios em<br />

apoio unipodal ou bipodal tanto de olhos abertos quanto de olhos<br />

fechados, no solo estável e instável, buscando que o indivíduo<br />

mantenha seu equilíbrio sem alterar sua base de sustentação. Os<br />

exercícios pliométricos são aqueles que ativam o ciclo excêntrico<br />

e concêntrico do músculo, melhorando a estabilização articular<br />

e potencializando a contração muscular. Para finalizar qualquer<br />

programa de reabilitação, prevenção ou condicionamento, devem<br />

ser incluídas atividades que imitem aquelas vivenciadas pelo<br />

indivíduo, seja ele atleta ou não (COSTA, 2007).<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

O propósito deste trabalho de revisão bibliográfica foi<br />

observar a importância do estudo do sistema sensório motor<br />

na estabilidade articular do joelho. A propriocepção tem papel<br />

fundamental em relação ao controle motor, uma vez que através<br />

dos receptores sensoriais são enviadas ao SNC informações<br />

relacionadas ao movimento, velocidade e posicionamento<br />

articular, e o SNC converte estas informações em ações musculares<br />

adequadas para a realização de atividades motoras.


FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />

Foi possível verificar através de estudos que para garantir<br />

esta estabilidade articular é necessário não só ter estruturas<br />

musculoesqueléticas íntegras, mas também ter uma integridade<br />

sensório-motora.<br />

Em relação à articulação do joelho observou-se que suas<br />

estruturas servem tanto para dar estabilidade dinâmica quanto<br />

estática. Além dos componentes articulares e musculares o joelho<br />

dispõe de receptores sensoriais, os mecanorreceptores, que estão<br />

principalmente localizados nos ligamentos e em especial no LCA.<br />

Dessa forma, o LCA é a principal estrutura proprioceptiva do joelho,<br />

portanto uma lesão nesse ligamento causaria sérios problemas de<br />

instabilidade articular.<br />

Dessa maneira foi possível verificar que o adequado<br />

funcionamento das estruturas sensório motoras é fator essencial<br />

para possibilitar ao indivíduo a estabilidade articular necessária para<br />

desenvolver suas atividades. O treino proprioceptivo é importante<br />

não só na reabilitação de lesões, mas também na sua prevenção,<br />

sejam elas desportivas ou não, contribuindo para a melhora da sua<br />

condição sensorial.<br />

Mesmo assim, ainda são necessários mais estudos em<br />

relação à capacidade proprioceptiva do joelho e a eficiência do<br />

tratamento proprioceptivo na estabilidade articular.<br />

43


5 rEFErÊNCiAS<br />

44<br />

SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

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45


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr<br />

Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

rESumo<br />

TAVAReS, ALine FRóeS 1<br />

gOMeS, THAiS dO nASCiMenTO 2<br />

A gonartrose é uma patologia reumatológica que afeta a<br />

articulação do joelho, manifestando-se devido a muitos<br />

fatores como o processo natural do envelhecimento<br />

ou ao acúmulo excessivo de carga que a articulação<br />

suporta o que desequilibra as forças musculares e<br />

aumenta a exigência do joelho. O reforço muscular<br />

é uma alternativa preventiva e/ou curativa para o<br />

restabelecimento das funções normais do joelho.<br />

Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão<br />

bibliográfica sobre os benefícios do reforço muscular<br />

na gonartrose, através das respostas fisiológicas dos<br />

recursos fisioterapêuticos empregados. Evidenciouse<br />

através desta pesquisa o papel importante do cálcio<br />

na contração e principalmente na geração de força,<br />

1 Fisioterapeuta, pós-graduanda em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em<br />

Atendimento na Clínica de Fisioterapia.<br />

2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista do Ensino Superior,<br />

Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumotologia, Especialista em<br />

Saúde Pública, Especialista em Docência para o Ensino Superior e Mestre em Educação nas<br />

Ciências.<br />

47


48<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

sendo que sua falta é fator de fraqueza muscular e<br />

desequilíbrios que tornam suscetíveis patologias<br />

como a gonartrose. Os tipos de contração muscular,<br />

de acordo com cada músculo, podem favorecer o tipo<br />

de exercício mais indicado, acelerando os benefícios<br />

frente ao tratamento de reforço muscular. Dessa<br />

forma tal análise permitiu concluir que as mudanças<br />

fisiológicas causadas pela gonartrose podem ser<br />

prevenidas ou amenizadas a partir do reforço<br />

muscular quando utilizado através do conhecimento<br />

do tipo de musculatura e do exercício, que deve ser<br />

personalizado e adaptado ao estilo de vida.<br />

Palavras-chaves: contração muscular, gonartrose,<br />

reforço muscular.<br />

ABSTrACT<br />

The gonarthrosis is a rheumatic disease that affects<br />

the knee, appearing due to many factors such as the<br />

natural aging process or the excessive accumulation of<br />

charge that the relationship that supports unbalanced<br />

muscle forces and increases the requirement of the<br />

knee. The muscle strengthening is an alternative<br />

preventive and / or curative for the reestablishment<br />

of the normal knee. This study aimed to a literature<br />

review about the benefits of building muscle in<br />

gonarthrosis, through the physiological responses


1 iNTroDuÇÃo<br />

oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

of the physiotherapeutic employees. It was found<br />

through this research the role of calcium in contraction<br />

and particularly in power generation, and its absence<br />

is a factor of muscle weakness and imbalances that<br />

make it susceptible to diseases such as gonarthrosis.<br />

The types of muscle contraction, according to every<br />

muscle, may favor the kind of exercise best suited,<br />

accelerating the benefits toward the treatment of<br />

muscle strengthening. Thus this analysis has shown<br />

that the physiological changes caused by knee arthritis<br />

can be prevented or mitigated through reinforcement<br />

muscle when used with the knowledge of the type of<br />

muscle and exercise, which must be customized and<br />

adapted to the lifestyle.<br />

Keywords: muscle contraction, gonarthrosis, muscle<br />

strengthening.<br />

O sistema musculoesquelético com o passar do tempo sofre<br />

muitas modificações, seja pelo processo natural de envelhecimento<br />

ou pela associação de movimentos repetitivos, estilo de vida,<br />

posturas viciosas e mantidas durante a jornada de trabalho o que<br />

sobrecarrega as diferentes estruturas corporais (SILVA et<br />

al., 2006). Essas alterações preocupam já que podem acarretar uma<br />

série de lesões e déficits funcionais importantes como as rupturas<br />

de meniscos e ligamentos, perda de equilíbrio, fraqueza muscular,<br />

bursites e artrites (JACOB et al., 1990).<br />

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50<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

Dentre as doenças que acometem o sistema<br />

musculoesquelético, as chamadas patologias reumatológicas são<br />

as mais constantes, e têm na osteoartrose suas maiores incidências<br />

(SOARES, 2008). São consideradas um problema mundial que<br />

acomete os países desenvolvidos e em desenvolvimento, atingindo<br />

cerca de 16,2% da população brasileira (SEDA & SEDA apud<br />

MOREIRA & CARVALHO, 2001). A osteoartrose é a degeneração<br />

dos componentes articulares que leva à destruição progressiva da<br />

cartilagem hialina, da cápsula articular, da membrana sinovial e<br />

que pode atingir de forma secundária os tecidos moles. Pode ser<br />

agravada pela perda de força muscular consequência geralmente<br />

do sedentarismo, gerando perda de funcionalidade, de estabilidade,<br />

de flexibilidade, diminuição de amplitude de movimento (ADM) e<br />

propriocepção, o que causa maior instabilidade muscular levando<br />

a outras patologias associadas (RODRIGUES, 2007).<br />

A gonartrose, osteoartrose de joelho, é dentre as<br />

osteoartroses, as que mais se manifestam devido ao acúmulo<br />

de carga que suportam o que faz aumentar significativamente a<br />

exigência do joelho, desequilibrando assim as forças musculares,<br />

e por isso necessitando de reforço muscular (WANNMACHER,<br />

2006).<br />

A evolução da gonartrose pode levar a substituição total da<br />

articulação, mas o tratamento conservador é a alternativa inicial<br />

para evitar os agravos da patologia. As técnicas fisioterapêuticas<br />

neste caso devem melhoram os sinais e sintomas dolorosos, prevenir<br />

atrofias e perdas de amplitude de movimento sendo fundamentais<br />

as orientações posturais, de atividades de vida diária e a inclusão<br />

de atividade física específica (RADL apud CHIARELLO et al.,<br />

2005).


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />

Foram utilizados no presente artigo os seguintes materiais:<br />

artigos, livros, revistas, revistas online, sites relacionados da web.<br />

Através do método de consulta, leitura e análise do conteúdo para<br />

transcrever ao artigo.<br />

3 DiSCuSSÃo<br />

Na gonartrose a degeneração da cartilagem articular do<br />

joelho resulta na formação de um osso novo nas superfícies da<br />

articulação. Há uma alteração bioquímica e metabólica que resulta<br />

na desintegração da cartilagem articular. Com o aumento das<br />

sobrecargas mecânicas sobre o colágeno presente na cartilagem,<br />

por postura ou trauma, a produção de colágeno pelas células<br />

cartilaginosas aumenta como um mecanismo de defesa. O tecido<br />

resiste ao tensionamento, todavia perde a elasticidade, se espessa,<br />

resistindo menos aos impactos. Já os tecidos periarticulares<br />

mais espessos e menos flexíveis limitam os micromovimentos e<br />

aumentam a coaptação articular (RADL apud CHIARELLO et al.,<br />

2005).<br />

Inicialmente acontece um amolecimento da cartilagem<br />

hialina e em seguida uma separação das fibras até a sua<br />

desintegração total fazendo a cartilagem ficar em franjas, picotada<br />

e desgastada. O osso cresce sobre a superfície que foi desgastada e<br />

saliências ósseas nas bordas da articulação estendem-se por dentro<br />

dessa, atingindo tendões e músculos. Essas alterações causam<br />

dificuldades nos movimentos articulares e alterações de marcha<br />

(PALASTANGA et al., 2000).<br />

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52<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

O edema da cartilagem surge a partir da desorientação<br />

da rede de colágeno e da hidrofilia dos proteoglicanos, então<br />

ela se torna rígida e opaca com fibrilações e erosões, causando<br />

progressivamente modificação na cartilagem até a desnudação<br />

total do osso subjacente (RADL apud CHIARELLO et al., 2005).<br />

Na gonartrose, a diminuição de líquido pela inatividade<br />

funcional e pela fraqueza muscular gera tensão articular,<br />

sobrecarga, fricção e desgaste dos elementos presentes no joelho.<br />

O reforço muscular faz com que seja preservado o movimento<br />

funcional e a produção de líquido de forma adequada, fazendo com<br />

que as estruturas sejam preservadas e as forças continuem agindo<br />

corretamente. A geração de força muscular se dá através de dois<br />

tipos de contração: a contração isotônica, gerando movimento de<br />

forma concêntrica e excêntrica, e de forma isométrica quando não<br />

acontece movimento (SILVERTHORN, 2003).<br />

Na gonartrose, em decorrência da hipotrofia muscular<br />

ocorre o desequilíbrio muscular e ação incorreta de agonistas e<br />

antagonistas. A ação agonista do reto femoral fica prejudicada, pela<br />

compensação gerada no movimento, os vastos laterais e médios<br />

precisam entrar em ação no movimento de extensão de joelho e<br />

os isquiotibiais acabam por funcionar como sinergistas ao auxiliar<br />

o movimento. Os músculos, quadríceps e isquiotibiais tornam-se<br />

hipotróficos geralmente devido ao desuso ou quadro álgico, que<br />

limita o movimento e a função (OLIVEIRA et al., 2008).<br />

A força de forma excêntrica e concêntrica gera um efeito<br />

rotatório chamado de torque, associado à rotação de um corpo,<br />

em torno de um eixo, aplicando a força a esse corpo. Para que<br />

aconteça a rotação de forma mais eficaz, a força fica longe do ponto<br />

da mesma. A rotação de um torque está relacionada diretamente<br />

com a força que o está gerando aliado à direção desta em relação


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

à posição de ponto central. O braço de alavanca vai ser a distância<br />

perpendicular do eixo que é aplicado à força (FILHO, 2008).<br />

O torque serve como medida em análise de estudo de<br />

variáveis como, pico de torque concêntrico e excêntrico em<br />

determinada musculatura. O torque em indivíduos com osteoartrose<br />

de joelho está diminuído na forma concêntrica e excêntrica da força<br />

de quadríceps e isquiotibiais todavia o torque excêntrico é menos<br />

afetado pela patologia (MELO et al., 2008).<br />

A gonartrose é responsável por 50-60% de redução de<br />

torque máximo de quadríceps, aliado a dor e a rigidez muscular<br />

são determinantes da diferença de torque e trabalho isocinético<br />

nos pacientes portadores de gonartrose. Por isso, a diminuição<br />

de torque demonstra a perda de força muscular, principalmente<br />

em quadríceps, que pacientes com gonartrose apresentam o que<br />

leva a um desequilíbrio muscular e alteração funcional. Para<br />

geração de torque, movimento e de força, deve haver a ação das<br />

musculaturas agonistas e antagonistas que de forma recíproca e<br />

ordenada trabalhem para que estas ações aconteçam, tal fenômeno<br />

é denomindado de inervação recíproca (MELO et al., 2008).<br />

O agonista tem papel principal na execução do movimento<br />

e na manutenção de uma postura contraindo-se ativamente. Os<br />

antagonistas possuem ação anatômica oposta ao agonista regulando<br />

a potência ou a rapidez da ação. Usualmente os antagonistas não<br />

estão se contraindo e nem auxiliando ou resistindo ao movimento<br />

(ALBUQUERQUE, 2003).<br />

Somente os músculos que atuam sobre uma única articulação<br />

são considerados verdadeiros antagonistas. Os músculos que<br />

atuam sobre mais de uma articulação agem como antagonistas e<br />

outras vezes como sinergistas. A articulação do joelho tem como<br />

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TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

antagonista o reto femoral dos isquiotibiais, porém quando o<br />

quadril e joelho fletem simultaneamente o reto femoral funcionará<br />

como sinergista (ALBUQUERQUE, 2003).<br />

A potência funciona como a taxa de trabalho ou a produção<br />

de potência que descreve a intensidade do exercício. Através da<br />

compreensão do termo potência é que se consegue calcular o<br />

trabalho realizado e a eficiência do exercício associado (POWERS<br />

& HOWLEY, 2000).<br />

O mecanismo de contração muscular se dá pela<br />

movimentação dos filamentos de actina e miosina deslizando<br />

durante a contração muscular em decorrência da ação das<br />

numerosas pontes cruzadas que se estendem como “braços” a<br />

partir da miosina e se ligam à actina num “estado de ligação forte”<br />

(POWERS & HOWLEY, 2000). O aumento da concentração de<br />

cálcio citoplasmático termina o disparo da contração muscular.<br />

O sistema é controlado pela troponina e tropomiosina, proteínas<br />

que fazem parte do filamento fino. As fibras presentes no músculo<br />

são de contração rápida e lenta, independendo deste tipo de fibra a<br />

interação das proteínas que formam o músculo esquelético com seus<br />

diferentes tipos de íons, a molécula de ATP( adenosina trifosfato)<br />

e seus produtos de hidrólise promovem mudanças estruturais que<br />

levam a contração muscular (PINTO et al., 2004).<br />

A força da contração aumenta com a somação das<br />

contrações musculares. A força gerada pela contração de uma<br />

fibra muscular simples pode ser aumentada pelo incremento da<br />

velocidade (freqüência) com que os potenciais de ação estimulam<br />

a fibra muscular (SILVERTHORN, 2003).<br />

O treinamento físico rigoroso acarreta alterações nos tipos<br />

de fibra muscular. Tanto no treinamento de endurance quanto o


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

de resistência (peso) acarretam uma conversão das fibras rápidas<br />

em fibras mais lentas. A perda muscular passa por duas fases, uma<br />

lenta, em que 10% da massa é perdida entre os 25 e os 50 anos<br />

de idade, e uma rápida entre os 50 e os 80 anos onde ocorre uma<br />

perda adicional de 40%, portanto aos 80 anos metade da massa<br />

muscular total foi perdida. Ainda ocorre durante este processo a<br />

perda de fibras rápidas e o aumento de fibras lentas (POWERS &<br />

HOWLEY, 2004).<br />

A perda do trofismo e força não é observada somente nos<br />

idosos e inativos, mas também, por exemplo, em períodos de<br />

imobilização por gesso quando se percebe a redução do tamanho<br />

do músculo. Logo o músculo esquelético é um tecido altamente<br />

‘plástico’ que responde tanto ao uso quanto ao desuso. Embora<br />

o exercício regular não possa eliminar completamente a perda<br />

muscular relacionada à idade pode-se aumentar a endurance e a<br />

força muscular nos idosos de maneira similar à observada nos<br />

indivíduos jovens (POWERS & HOWLEY, 2004).<br />

O reforço muscular neste contexto tem papel relevante para<br />

garantia de músculos fortes que gerem melhora da estabilidade<br />

funcional articular e proprioceptiva proporcionando proteção<br />

articular, equilíbrio muscular, contração correta e movimento ideal<br />

do seguimento.<br />

No exercício isométrico nenhuma força externa é<br />

realizada, mas a energia é gasta de uma forma substancial. Este<br />

tipo de exercício aumenta a resistência vascular periférica de forma<br />

generalizada aumentando a pressão sanguínea sistólica e diastólica<br />

com pouco aumento no volume sistólico e no débito cardíaco, causa<br />

uma sobrecarga de pressão ao coração e os efeitos hemodinâmicos<br />

dependem de sua intensidade e também dos grupos musculares<br />

que serão trabalhados. Os exercícios isométricos produzem leve<br />

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TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

condicionamento cardiovascular e as alterações circulatórias<br />

podem ser prejudiciais aos cardiopatas (LIMA, 2007).<br />

Os exercícios isométricos trabalham de forma eficiente os<br />

músculos através de contração muscular que desenvolve tensão<br />

sem provocar a alteração do comprimento do músculo. Este tipo<br />

de exercício não provoca grande hipertrofia (aumento de massa<br />

muscular), mas desenvolve força em escala moderada. Seu<br />

benefício é de não comprometer a postura durante sua execução<br />

(SILVA, 1998).<br />

O aumento de força e de massa muscular é observado<br />

através deste tipo de exercício na reabilitação de problemas<br />

musculoesqueléticos, inclusive em pacientes que apresentem<br />

limitação articular como, por exemplo, os pacientes com gonartrose.<br />

Já que na isometria não existe solicitação de movimentos com<br />

amplitudes como os que são solicitados em exercícios mais<br />

dinâmicos (LIMA, 2007). O aumento de força irá depender do<br />

regime de treinamento, o tipo de ação muscular, a intensidade, o<br />

volume, o posicionamento, a ordem dos exercícios e o período de<br />

repouso entre as séries e freqüência (COUTRIN et al., 2008).<br />

Apesar dos inúmeros benefícios no ganho de força muscular<br />

o exercício isométrico ainda tem várias contra-indicações, pelo<br />

aumento abrupto que causa na pressão arterial, sendo indicado para<br />

pessoas que fazem também outro tipo de atividade física e que não<br />

possuem hipertensão (CAMARGO & SANTOS, 2007).<br />

O “isostreching” é uma técnica postural, desenvolvida na<br />

França na década de 70 que tem como função estabilizar o corpo<br />

através de posturas mantidas durante a expiração, com exercícios<br />

de alongamento e contrações isométricas simultâneas. Com essa<br />

técnica consegue-se melhorar a mobilização articular, tonifica-se


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a musculatura, melhora-se a consciência corporal e das posições<br />

corretas da coluna e ainda o condicionamento respiratório. A<br />

postura e o equilíbrio serão consequentemente recuperados. O<br />

princípio básico do isostreching é fortalecer diferentes grupos<br />

musculares priorizando os profundos que dão sustentação à<br />

coluna vertebral, os abdominais, os glúteos, os dorso-lombares,<br />

quadríceps, depressores da escápula e rombóides (PERNOMIAN,<br />

2008).<br />

O “isostreching” trabalha de maneira benéfica por bloquear<br />

as rotações compensatórias, o que acontece com portadores de<br />

gonartrose, que perdem a mobilidade e a rotação, compensando<br />

os movimentos. O bloqueio é dado por uma forte contração<br />

muscular dos agonistas, fazendo com que aconteça o reforço, e o<br />

alongamento dos antagonistas. Pela dificuldade imposta ao corpo<br />

há o reforço muscular. A forma com que age na coluna, reforçando<br />

seus músculos profundos e tornando-a móvel e tonificada, faz com<br />

que mantenha uma retidão por contração de todos os músculos<br />

(REDONDO, 2001).<br />

O método DeLorme foi criada por Delorme em 1945<br />

e se baseia em exercícios resistidos com aumento progressivo<br />

de carga sobre o músculo, uma sobrecarga. Entre as diversas<br />

maneiras de formular o princípio da sobrecarga, de uma forma<br />

ampla, o desempenho muscular não pode ser melhorado a não<br />

ser que o músculo seja exigido além da capacidade diária usual.<br />

Basicamente, “a parte distal do membro movido pelo músculo<br />

ou grupo muscular a ser treinado é submetido a peso, de diversos<br />

modos” (RAMALHO et al., 2004).<br />

É um método que se baseia na quantidade de peso que<br />

se pode conduzir por toda a amplitude de movimento em dez<br />

repetições. Então se trata de um exercício de alta resistência em que<br />

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TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

os pesos são distribuídos de maneira que, na primeira série de dez<br />

repetições máximas, seja colocado 50% do peso, na segunda série<br />

de dez repetições máximas coloca-se 75% e na terceira colocase<br />

100%. As repetições são o número de execuções completas e<br />

contínuas do exercício (MATTOSO, 2006).<br />

A musculação orientada pode trazer inúmeros benefícios,<br />

esteticamente como modelação do corpo e a diminuição de<br />

gordura e ainda fisiologicamente com a geração de força muscular.<br />

Há melhora da circulação sanguínea, treino do coração, melhora<br />

da postura, aumento da flexibilidade, melhora da auto-estima, e<br />

na osteoartrite a musculatura fortalecida propicia estabilidade<br />

articular, promovendo menor desgaste entre os ossos (OLIVEIRA<br />

et al., 2008).<br />

A força é aumentada pela sustentação de carga, podendo<br />

ser benéfica no aumento de massa óssea e tem se demonstrado ser<br />

muito eficaz em pacientes com doenças articulares inflamatórias<br />

(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />

Para que o objetivo de ganho de força muscular em<br />

portadores de gonartrose seja atingido com sucesso uma alternativa<br />

bastante válida é a musculação de forma orientada. Pois irá ser<br />

direcionado o treino para cada praticante, levando em consideração<br />

suas condições de saúde e suas restrições posturais. Percebe-se<br />

que os exercícios orientados são um trabalho quase que completo<br />

no corpo, de forma uniforme, se bem orientado, fortalecendo,<br />

condicionando e consequentemente melhorando as articulações,<br />

o equilíbrio, a propriocepção e amplitude de movimento<br />

(CAMARGO, 2008).<br />

No método Pilates é preconizado o condicionamento<br />

físico e mental, trabalhando dessa forma o corpo globalmente.


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Desenvolvido por Joseph Pilates em 1920, através de um<br />

equipamento específico e um método para balancear e fortalecer os<br />

músculos e articulações. São exercícios que focalizam a melhora<br />

da flexibilidade e a força total do corpo sem a hipertrofia da<br />

musculatura. É usado como condicionamento físico, reabilitação<br />

e a busca pelo bem-estar físico e mental entre pessoas de todas as<br />

idades (BARRA, 2007).<br />

O método propicia melhora da circulação, do<br />

condicionamento físico geral, da flexibilidade, da amplitude<br />

muscular e do alinhamento postural adequado, melhorando<br />

também os níveis de conscientização corporal e coordenação<br />

motora. Mostra-se muito eficiente no alívio de dores crônicas,<br />

diminui o risco de lesões, fortalecendo, alongando e equilibrando<br />

a musculatura ajudando a preparar a reabilitação de áreas com<br />

fraqueza muscular (PEREIRA et al., 2008).<br />

Com a prática de Pilates, percebe-se que se tem, em relação<br />

as outras atividades, uma maior manipulação da gravidade, da<br />

base de sustentação, do comprimento das alavancas e do centro<br />

de gravidade, o praticante mostra-se muito mais apto a facilitar os<br />

movimentos adequados com menor esforço, menor fadiga e maior<br />

conservação da percepção do movimento. É um método bastante<br />

eficaz em diagnósticos como distúrbio neurológico e reumático,<br />

problemas pediátricos e ortopédicos e aspectos relacionados com a<br />

saúde da mulher, visando melhorar o desempenho (DAVIS, 2006).<br />

A hidroterapia é um dos recursos para o tratamento de<br />

portadores de gonartrose, podendo ser realizado em piscinas,<br />

tanque de Hubbard e balneários. A piscina pode ser profunda, em<br />

banheiras com redemoinhos de água, banhos de contraste e duchas<br />

escocesas onde se alterna água quente e fria (CAMPION, 2000).<br />

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TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

A água possui propriedades que auxiliam no tratamento<br />

da osteoartrite de joelho. Em águas aquecidas, a temperatura de,<br />

em média, 36° estimula o relaxamento muscular e alivia a dor das<br />

articulações. A flutuação promove a diminuição da sobrecarga<br />

articular, ajudando com que os exercícios de fortalecimento sejam<br />

feitos sem a compressão óssea, logo, não há dor. A viscosidade,<br />

fricção e tensão superficial causam resistência ao movimento<br />

promovendo aumento da força muscular (CAROMANO &<br />

CANDELORO, 2001).<br />

Nesse método, o terapeuta fornece estabilidade para o<br />

paciente e a posição de suas mãos influencia na movimentação<br />

do paciente e na quantidade de trabalho isométrico e isotônico<br />

realizado. Pode-se conseguir a irradiação dos músculos mais fortes<br />

para os que se encontram mais fracos (SKINNER & THOMSON,<br />

2000).<br />

O método “Qi Gong” é uma terapia alternativa que faz a<br />

conexão entre corpo e mente. Constituída por um grupo de técnicas<br />

da especialidade da medicina energética, baseando-se que a cura<br />

do corpo depende de um equilíbrio de energia vital, da mente<br />

tranqüila e das emoções controladas. Semelhante aos exercícios de<br />

Tai Chi, com movimentos lentos, posturas controladas e isentas<br />

de impacto que deslocam e estimulam o centro de gravidade do<br />

corpo, mostram-se benéficos ao fortalecimento, principalmente em<br />

portadores de gonartrose que apresentam limitações de movimento<br />

e devem evitar a impactação articular (DAVIS, 2006).<br />

O biofeedback refere-se a integração da mente e do corpo,<br />

significando “retroalimentação da vida”, utilizando eletronicamente<br />

as informações emitidas pelo corpo para que o indivíduo perceba<br />

o que está acontecendo dentro do seu cérebro, do sistema nervoso<br />

e de seus músculos, transmitindo sinais imediatos e contínuos das


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

alterações corporais que ele nem percebe, como pressão arterial,<br />

atividade das ondas cerebrais ou tensão muscular. O Biofeedback<br />

mensura, por um aparelho, uma resposta fisiológica melhorando<br />

o componente sensorial de um mecanismo de retroalimentação<br />

(feedback), para que a sensibilidade compensada e a força perdida,<br />

forneçam respostas apropriadas, com uma associação nova entre<br />

estímulo e resposta (BOTTOMLEY apud DAVIS, 2006).<br />

Este método é amplamente utilizado na reeducação<br />

muscular, para que o paciente visualize o movimento, muitas<br />

vezes nas amplitudes que ele não consegue mais realizar, como<br />

nos casos em que a musculatura está fraca. Pode ser colocado em<br />

músculos normais ou no correspondente da extremidade saudável,<br />

realizando os movimentos em todas as amplitudes ou a contração e<br />

o relaxamento para ajudar a preparar o paciente para trabalhar com<br />

o músculo ou grupo muscular que foi afetado, ensinando o paciente<br />

a ler o medidor e a ouvir os “sons musculares” (DAVIS, 2006).<br />

Durante a aplicação do aparelho para ajudar a resposta<br />

do paciente, podem ser aplicadas todas as formas de exercício,<br />

facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e o posicionamento<br />

corporal, para que se alcance o objetivo de recrutar as unidades<br />

motoras que estão funcionais. Em um músculo enfraquecido<br />

existe o mesmo número de unidades motoras do que em outro<br />

músculo não considerado fraco, mas, o que difere é estes tem<br />

menor atividade muscular quando comparada com as milhares<br />

de unidades recrutadas de uma musculatura normal. Por isso no<br />

biofeedback é enfatizada a atividade potencial das unidades de um<br />

músculo aparentemente paralisado. Após o recrutamento dessas<br />

unidades motoras o movimento voluntário é realizado com mais<br />

precisão, e na medida em que progressivamente vão melhorando o<br />

biofeedback vai sendo tirado gradualmente. Trata-se então de um<br />

61


62<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

aparelho auxiliar na função do fortalecimento para detectar qual<br />

a capacidade do músculo ou grupo muscular, para que seja então<br />

realizado um programa adequado e mais eficaz de fortalecimento<br />

(DAVIS, 2006).<br />

O método Kabat ou FNP desenvolvido nos Estados<br />

Unidos pelo Dr. Kabat consiste no uso de padrões funcionais de<br />

movimento para aceleração das respostas neuromusculares, em<br />

que o fisioterapeuta dá vários estímulos sensoriais para facilitar<br />

o movimento, como pressão e toque com as mãos sobre o corpo<br />

e no sentido do movimento, estiramento rápido do músculo a ser<br />

estimulada (facilitado), tração ou compressão conforme objetivo e<br />

comando de voz do fisioterapeuta para estímulo ao movimento. A<br />

técnica pode ser utilizada para início de contração, fortalecimento<br />

muscular, aumentar a mobilidade e melhorar a coordenação motora<br />

(FAVARÃO & PIERETTI, 2004).<br />

Os padrões de facilitação neurofuncional proprioceptiva<br />

(FNP) de fortalecimento utilizados para joelho são os que destacam<br />

a rotação tibial manualmente resistidos, essenciais para o treino da<br />

função normal. Os movimentos são realizados em cadeia cinética<br />

aberta, devendo incluir apenas contração ativa, utilizando o padrão<br />

de movimento funcional. Padrões resistidos são feitos em períodos<br />

em que o músculo já está mais fortalecido Os exercícios são<br />

feitos sempre em diagonais, seguindo os movimentos funcionais,<br />

em todos os ângulos que a articulação permite (PRENTICE &<br />

VOIGHT, 2003).<br />

A vantagem do FNP/Kabat é que a parte mais forte da<br />

musculatura fortalece as debilitadas e por serem atividades<br />

alternadas a fadiga demora mais tempo para ocorrer. A posição<br />

em alongamento é o estímulo de estiramento, o contato manual é<br />

o estímulo visual, ainda conta com o estímulo verbal e a máxima


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

resistência é a seqüência de movimento. A contração gera o<br />

movimento, trabalha função, gerando atividade (PRENTICE &<br />

VOIGHT, 2003).<br />

A corrente Russa trata-se de uma corrente elétrica bifásica,<br />

com ciclo positivo e negativo, possui uma corrente portadora de<br />

2500 Hertz ou 4000 Hertz, agindo diretamente no sistema nervoso<br />

periférico, diminuindo a sensibilização do paciente, possibilitando<br />

que sejam aplicadas maiores valores de corrente. A corrente ainda<br />

tem uma freqüência de ação muscular, podendo ser trabalhado<br />

em vários tipos de fibras, dando maior resultado na hipertrofia<br />

muscular (FILHO, 2003).<br />

Para que seja escolhida a freqüência adequada no objetivo<br />

do tratamento é preciso conhecer as fibras que serão estimuladas.<br />

Como com o enfraquecimento perdemos mais fibras rápidas<br />

(contrações fortes e rápidas, com fadiga rápida) e aumentam as<br />

fibras lentas (resistentes à fadiga, mas necessitam maior tempo<br />

para gerar força) é preciso escolher dentro da corrente russa<br />

a estimulação correta para nossos objetivos. À medida que a<br />

intensidade da estimulação elétrica aumenta mais fibras musculares<br />

são estimuladas, dando lugar a contrações mais fortes. O trabalho<br />

se torna muito mais eficaz se, junto com a corrente elétrica, for<br />

realizada contração muscular ativa contra uma resistência. As<br />

fibras musculares tônicas e fásicas devem ser estimuladas para que<br />

se obtenha um trabalho muscular mais efetivo. Porém dependendo<br />

do objetivo funcional é que se determina qual delas deve ser<br />

priorizada. No caso dos portadores de gonartrose enfatizam-se as<br />

fibras fásicas, responsáveis pelas contrações rápidas e potentes que<br />

atuarão diretamente no fortalecimento do quadríceps. (PRENTICE<br />

& VOIGHT, 2003).<br />

63


4 CoNCLuSÃo<br />

64<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

Dentre os benefícios do reforço muscular em portadores<br />

de gonartrose estão: a redução de alterações funcionais, a<br />

facilitação das atividades diárias, a redução da dor, o aumento de<br />

amplitude de movimento e força muscular e a melhora da postura<br />

e do condicionamento físico. O tratamento fisioterapêutico varia<br />

de acordo com cada caso, dependendo do estágio clínico da<br />

articulação, porém sempre objetiva o ganho de função sem geração<br />

de estresse articular.<br />

Uma das causas mais significativas que levam a gonartrose<br />

é a fraqueza muscular, causada por diversos fatores gerados pelo<br />

sedentarismo, pela obesidade e pelo desequilíbrio muscular que<br />

podem ser reforçadas através de posturas erradas e de atividades<br />

realizadas de forma inadequada.<br />

A partir, do estudo anatômico e fisiopatológico da articulação<br />

do joelho bem como das teorias fundamentais da fisiologia do<br />

exercício pode-se chegar à análise dos recursos fisioterapêuticos<br />

que beneficiam o fortalecimento e que podem prevenir ou retardar<br />

os agravos da gonartrose.<br />

Através dos mecanismos fisiológicos da contração muscular<br />

durante o exercício, fica evidente o papel do cálcio na geração de<br />

força sendo que sua falta é, portanto, um fator desencadeante da<br />

fraqueza muscular e conseqüente desequilíbrio que pode gerar a<br />

gonartrose.<br />

Os tipos de exercícios, de acordo com cada músculo,<br />

podem favorecer o fortalecimento, acelerando os benefícios<br />

que o mesmo proporciona frente à gonartrose. Como no caso da


oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />

contração tipo isotônica que aumenta a resistência e a isocinética<br />

que vai proporcionar ao paciente graduar a mesma.<br />

Entre os apresentados, o método DeLorme foi o que menos<br />

pareceu viável já que necessita de um elevado tempo de duração<br />

para que seja realizado, apresenta a utilização de cargas com<br />

pesos indefinidos, exige alta resistência do indivíduo praticante,<br />

além de serem restritas a alguns usuários em vistas as suas contraindicações.<br />

O Biofeedback foi considerado um auxílio para que os<br />

exercícios dentro de cada técnica sejam mais bem aproveitados e<br />

indique qual a deficiência ou a condição da musculatura trabalhada.<br />

Tem grande importância para a reeducação dos pacientes e treino,<br />

mas nem sempre é um recurso disponível ao paciente.<br />

A busca de recursos fisioterapêuticos para o fortalecimento<br />

muscular na gonartrose fez com que se levantasse uma gama<br />

de técnicas indicadas para a patologia, porém as que parecem<br />

trazer mais benefícios são aquelas que combinam movimentos,<br />

englobando as atividades funcionais e atingindo de forma<br />

uniforme a musculatura. Por isso percebe-se que a musculatura dos<br />

joelhos deve ser priorizada, mas não deve ser esta apenas o foco<br />

reabilitativo, uma vez que toda musculatura de forma global deve<br />

ser estimulada. As técnicas que se enquadraram nestes quesitos<br />

foram: os exercícios isométricos, o Isostreching, a musculação, o<br />

método Pilates, a hidroterapia, o método Qi Gong, o método Kabat<br />

ou FNP e a corrente russa.<br />

Portanto, apesar de algumas mudanças fisiológicas na<br />

articulação não poderem ser evitadas, o fato de as conhecêlas<br />

através da sua fisiopatologia e dos recursos fisioterapêuticos<br />

disponíveis mais utilizados abre caminhos para criação de um<br />

65


66<br />

TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

tratamento preventivo ou curativo mais efetivo que impeça o avanço<br />

da gonartrose. O reforço muscular efetivo pode ser conquistado<br />

através de um enfoque personalizado as necessidades do paciente e<br />

adaptado ao seu estilo de vida.<br />

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o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS<br />

DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

rESumo<br />

BeZeRRA, JULiAne PUKALL 1<br />

gOMeS, THAiS dO nASCiMenTO 2<br />

Este estudo foi sancionado pelo uso da técnica<br />

de estabilização central pélvica no tratamento da<br />

dor lombar. A dor lombar tem causas multifatoriais<br />

podendo levar a desgastes físicos, emocionais<br />

e funcionais prejudicando na qualidade de vida.<br />

Neste estudo que tem por objetivo conhecer como<br />

a estabilização central pélvica pode ser eficaz no<br />

tratamento da dor lombar a investigação se dá através<br />

das alterações que desequilibram a musculatura<br />

extensora e flexora do tronco e como os músculos<br />

paravertebrais e abdominais podem auxiliar na<br />

estabilização e sustentação da coluna lombar para<br />

uma movimentação ampla e saudável. O tratamento<br />

da dor lombar através da estabilização central pélvica<br />

visa trabalhar com o equilíbrio estático e dinâmico nas<br />

1 Fisioterapeura, pós-graduanda em Fisioterapia Dermatofuncional<br />

2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituro Cenecista do Ensino Superior,<br />

Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia, Especialista em<br />

Saúde Pública, Especialista em Docência para o Ensino Superior e Mestre em Educação nas<br />

Ciências.<br />

69


70<br />

BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

disfunções musculoesqueléticas. O estudo evidenciou<br />

que a estabilização central pélvica pode permitir que<br />

seu praticante retorne suas atividades diárias em um<br />

nível alto de funcionalidade, melhorando o controle<br />

postural, o sistema neuromuscular, garantindo o<br />

equilíbrio da musculatura do tronco e abdominal.<br />

Palavras–Chave: Dor Lombar, Estabilização Central<br />

Pélvica e Método Pilates.<br />

ABSTrACT<br />

The present research was sanctioned by using the<br />

central pelvic stabilization technique on back pain<br />

treatment. Back pain has multi-factorial causes that can<br />

lead to physical, emotional and functional consuming,<br />

which affects life quality. This research finding out<br />

how central pelvic stabilization may be efficacious<br />

for the treatment of back pain which is investigated<br />

through changes that unbalance the torso´s extensor<br />

and flexor musculature with paravertebral and<br />

abdominal muscles that must support the stabilization<br />

and sustentation of the spinal tap for wide and healthy<br />

movements. Back pain treatment through central<br />

pelvic stabilization aims at working with the static and<br />

dynamic muscular distemper which occours muscle/<br />

boné related dysfunctions. The torso´s musculature<br />

interacts with others structures forming a dynamic<br />

system offering strength, stability and dynamic


1 iNTroDuÇÃo<br />

o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

balance. The research showed that the central pelvic<br />

stabilization enables the person to return to his/her<br />

daily activities in a highly functional level improving<br />

postural control and neuromuscular system which<br />

assures torso and abdominals muscular balance.<br />

Keywords: Back Pain, Central Pelvic Stabilization,<br />

Pilates Method.<br />

Atualmente diversos estudos vêm demonstrando<br />

preocupação com distúrbios relacionados à coluna lombar. Notase<br />

que cerca de 2,4% (homens) e 1,7% (mulheres) da população<br />

economicamente ativa já presenciou ou presencia episódios de<br />

algias lombares. A dor instalada de forma contínua ou por longos<br />

períodos facilita o desenvolvimento de distúrbios psicomotores<br />

podendo vir acompanhado de outros sintomas como: desconforto,<br />

fadiga e rigidez articular (SILVA et al., 2004; REINEHR et al.,<br />

2008).<br />

Das diversas técnicas utilizadas pela fisioterapia no<br />

tratamento da dor lombar as que se baseiam na estabilização<br />

central pélvica objetivam fortalecer o centro de força ou “power<br />

house” que é constituído por grupos musculares da região da<br />

cintura pélvica que se estendem da base das costelas até a região<br />

inferior da pelve e que geram um regime preventivo e terapêutico<br />

essencial para o alívio da dor lombar. Esse centro localiza-se junto<br />

ao centro de gravidade corporal e fornece através de sua ação uma<br />

“cinta muscular” que trabalha estabilizando a coluna, o tronco e os<br />

movimentos dos membros (REINHER et al., 2008).<br />

71


72<br />

BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

Os músculos paravertebrais e abdominais devem manter-se<br />

equilibrados com as demais estruturas para que constitua um sistema<br />

dinâmico que forneça força, estabilidade e auxilie na estabilização<br />

e sustentação da coluna lombar em uma movimentação ampla e<br />

saudável.<br />

Este estudo buscou investigar os mecanismos utilizados<br />

pela estabilização central pélvica através da análise de seu<br />

funcionamento, de suas inter-relações com a dor lombar e com<br />

o desequilíbrio muscular estático e dinâmico da musculatura do<br />

tronco.<br />

2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />

O estudo desenvolveu-se como uma pesquisa bibliográfica<br />

baseado em artigos científicos, livros e demais periódicos a cerca<br />

do tema.<br />

3 DiSCuSSÃo<br />

A coluna lombar auxilia o corpo humano a adaptar-se<br />

funcionalmente como um pilar de suporte oferecendo equilíbrio<br />

estático e dinâmico para a musculatura do tronco. As estruturas<br />

que a compõem suporta uma pressão permanente que é amortecida<br />

pelas forças gravitacionais que se formam neste local através do<br />

centro de gravidade corporal (PALASTANGA et al. 2000; HORRE<br />

& DALLEY, 1999).<br />

As concavidades da coluna vertebral têm a função de<br />

sustentar grandes cargas compressivas. As vértebras, os discos<br />

intervertebrais, ligamentos, articulações e músculos interagem


o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

formando uma estrutura dinâmica promovendo ao corpo humano<br />

movimento em diversas dimensões (CANAVAN, 2000)<br />

A musculatura encurtada ou enfraquecida vai restringir a<br />

capacidade da pelve e da região lombar em manter seu alinhamento<br />

correto causando déficit no desempenho funcional e físico devido<br />

ao efeito dos músculos em suas fixações (DILLMAN, 2004).<br />

Os músculos do tronco, principalmente os músculos<br />

transverso do abdômen e multífido lombar, devem fornecer<br />

endurece, força e resistência suficiente para uma ótima eficácia<br />

do sistema musculoesquelético (CRAIG, 2000; HODGES &<br />

MOSELEY, 2003).<br />

Segundo O’Sulivan, o multífido lombar e o transverso do<br />

abdômen tem com funções:<br />

O músculo multífido fornece controle dinâmico para o<br />

movimento segmentado na zona neutra. E o transverso<br />

do abdômen auxilia na manutenção da pressão intraabdominal,<br />

agindo em co-contração com o multifidio<br />

lombar através do seu apego toracolombar (2002, p.6).<br />

A dor lombar é uma resposta adaptativa e protetora ao<br />

estresse imposto a coluna vertebral e que se reflete através de<br />

resposta irritável dos músculos quando realizam movimentos<br />

rápidos de torção ou de levantamento causando déficit funcionais<br />

(DUFOUR, 2004). Vários são os mecanismos de resposta do<br />

organismo à dor além das alterações na excitabilidade do sistema<br />

motor como a reação do sistema sensorial e nervoso central<br />

(HODGES & MOSELEY, 2003).<br />

Muitos pacientes com dor lombar apresentam diminuição<br />

da contração dos músculos do tronco, dos discos intervertebrais, do<br />

73


74<br />

BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

controle muscular e um maior depósito de gordura na região lombar<br />

(PARKKOLA et al., 1993). A atividade elétrica em pacientes com<br />

dor lombar apresenta-se aumentada e a fadiga dos eretores da<br />

espinha mostram-se evidentes. Ocorre a perda da mobilidade no<br />

segmento L5 e S1 com o aumento subseqüente na mobilidade de<br />

outros segmentos (DUFOUR, 2004).<br />

A instabilidade lombar é uma evidente alteração encontrada<br />

em indivíduos com dor lombar (HODGES & GANDEVIA, 2000).<br />

Sendo definida por Bisschop:<br />

É um prejuízo na capacidade do sistema estabilizador da<br />

coluna lombar em manter a zona neutra da amplitude do<br />

movimento de um segmento dentro dos limites fisiológicos.<br />

Que muitas vezes pode alterar-se devido a um desequilíbrio<br />

muscular (2003, p. 122).<br />

Por isso a co-contração da musculatura extensora e flexora<br />

do tronco antagonista é imprescindível para possibilitar uma<br />

estabilidade mecânica à coluna lombar para manter-se em uma<br />

posição neutra (CHOLEWICKI et al., 1997).<br />

A estabilização central pélvica ocorre pelo controle<br />

mecânico articular onde os músculos agem como limitadores e<br />

controladores dos movimentos evitando desequilíbrios musculares,<br />

padrões de distorção, dominância sinérgica e adequando o controle<br />

postural dinâmico ideal para a realização dos movimentos<br />

funcionais (PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />

O mecanismo utilizado na estabilização central é a<br />

concentração que ajuda o sistema nervoso central (SNC) na<br />

solicitação dos músculos adequados para a realização das atividades


o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

funcionais promovendo ativação antecipatória dos músculos<br />

profundos, aperfeiçoando a estabilidade lombar ocasionando alívio<br />

da dor (GUEDES, 2000).<br />

A estabilização ocorre por três sistemas: sistema passivo,<br />

ativo e neural que devem manter-se em equilíbrio e interligado<br />

trabalhando a conscientização corporal para que as estruturas<br />

forneçam estabilizações necessárias para a movimentação. Sendo<br />

assim, a estabilização central pélvica visa fortalecer o centro de<br />

força ou “power house” prevenindo ou tratando a dor lombar<br />

(GUEDES, 2000). A contração dos músculos do tronco deve<br />

ser aprendida com certo nível de consciência uma vez que estes<br />

músculos agem de forma involuntária (LIEBENSON, 2000).<br />

O treino muscular para garantia da estabilidade deve estar<br />

associada a posição neutra da pelve, ou seja, a pelve não deve estar<br />

nem na anteversão ou na retroversão pélvica, mas neutra a estas<br />

duas posições. A amplitude de movimento fisiológica total durante<br />

o treino divide-se em duas zonas: a zona neutra que corresponde<br />

a posição inicial da amplitude de movimento contra o mínimo<br />

de resistência e a zona elástica que é a porção da amplitude de<br />

movimento mais próxima a amplitude final dentro da zona neutra<br />

com uma resistência interna maior (PALASTANGA, 2000).<br />

A estabilização central pélvica divide-se em cinco estágios<br />

com níveis progressivos de dificuldade conforme a consciência<br />

corporal do indivíduo. Gradualmente a contração deve ser<br />

mantida por 6, 10 e 20 segundos para que após seja aumentado<br />

o número de repetições e evolução para o próximo estágio. O<br />

estágio I os exercícios dão ênfase no recrutamento de músculos<br />

abdominais, glúteos, posteriores de coxa e transverso do abdômen,<br />

sem anterversão ou retroversão pélvica durante as contrações.<br />

Envolvem neste primeiro estágio exercícios como a ponte, flexão<br />

lateral, cinturão abdominal. No estágio II ocorrem os exercícios<br />

75


76<br />

BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

de correção do desequilíbrio de força e resistência muscular,<br />

progredindo os exercícios do estágio I com maior nível de<br />

exigência. No estágio III o objetivo é a reeducação dos músculos<br />

estabilizadores abdominais e escapulares em cadeia cinética, com<br />

exigência ainda maior que a anterior. O estágio IV se dá através de<br />

exercícios avançados de estabilização dinâmica onde se incluem os<br />

exercícios pliométricos (REINEHR et al., 2008).<br />

Através da orientação das fibras musculares a contração<br />

do músculo transverso do abdômen resulta na diminuição da<br />

circunferência abdominal causando aumento da tensão na fáscia<br />

toracolombar e aumento da pressão intra-abdominal. Por isso<br />

a compressão axial e as forças de cisalhamento são reduzidas e<br />

transmitidas por uma área maior, tornando a região lombar mais<br />

estável durante o levantamento de cargas externas. Portanto o<br />

fortalecimento dos músculos que constituem o “centro” pode<br />

dar maior estabilidade à coluna atuando como se fosse uma<br />

“plataforma biomecânica” que se tornando mais sólida e eficiente<br />

e ajusta os músculos periféricos ligados a coluna lombar e a pelve<br />

distribuindo as forças na pelve e nos membros inferiores (HODGES<br />

& MOSELEY, 2003).<br />

A reabilitação musculoesquelética tradicional enfatiza a<br />

mecânica articular isolada com a melhora da ADM, flexibilidade,<br />

aumento da força e da resistência muscular, ao invés de trabalhar<br />

as informações aferentes obtidas pelas articulações que são<br />

processadas pelo sistema de controle postural. Recentemente temse<br />

dado ênfase as modalidades cinesioterapêuticas que enfatizam<br />

o treino proprioceptivo destacando o sistema neural da articulação<br />

(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />

Dentre os recursos cinesioterapêuticos que auxiliam<br />

no reequilíbrio muscular e na normatização dos músculos do<br />

tronco através da estabilização central estão: o método Pilates,


o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

a contrologia, o alongamento pós-facilitação e os exercícios<br />

específicos em cadeia cinética funcional.<br />

O Método Pilates utiliza exercícios que favorecem o<br />

trabalho dos músculos estabilizadores, promovendo a eliminação<br />

da tensão excessiva em certos grupos musculares evitando dessa<br />

forma as compensações causadas por desequilíbrios musculares<br />

(CRAIG, 2005; GUEDES, 2000; DAVIS, 2006; FERNANDES,<br />

2006).<br />

A atividade harmônica entre músculos locais e globais<br />

permite a estabilização da coluna lombar. Estudos evidenciam<br />

que o músculo transverso do abdômen é o primeiro a ser ativado<br />

durante os movimentos do tronco e membros tendo ação sinergista<br />

e adotando uma reação antecipatória aos movimentos produzindo<br />

assim a firmeza necessária à coluna lombar. A desativação deste<br />

músculo-chave pode gerar desequilíbrios musculares importantes<br />

e consequentemente levar à dor (PEREIRA et al., 2008).<br />

O alongamento pós-facilitação utiliza no tratamento de<br />

músculos encurtados através de contração isométrica sustentada<br />

durante 7 segundos seguida de 12 segundos de alongamento<br />

(HAMMER, 2003). Este tipo de modalidade reabilitativa pode<br />

auxiliar na reequilibração muscular beneficiando a estabilização<br />

central.<br />

A reabilitação em cadeia cinética funcional que visa<br />

melhorar a capacidade do sistema nervoso central (SNC) de<br />

permitir que os músculos agonistas, antagonistas, sinergistas,<br />

estabilizadores e neutralizadores atuem de forma eficiente para<br />

manter-se em equilíbrio e por isso pode ser um método coadjuvante<br />

ao da estabilização central (PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />

As modalidades que derivam da estabilização central<br />

pélvica ou a associam durante os exercícios proporcionam<br />

77


78<br />

BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />

benefícios sem prejudicar a flexibilidade, enfatizando a contração<br />

isotônica (concêntrica e excêntrica) e isométrica nos músculos do<br />

tronco e abdominais que formam o centro de força (GUEDES,<br />

2000). Pelo fato de desenvolverem a conscientização corporal<br />

aprimorando o seu desempenho em tarefas funcionais, melhorando<br />

1<br />

o condicionamento físico, a capacidade cardiovascular e a reeducando<br />

1<br />

a respiração diafragmática. Por isso pode ser um excelente recurso<br />

indicado no controle da dor lombar (TEIXEIRA, 2004).<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

Através do presente estudo pode-se constatar que o<br />

desequilíbrio muscular e a deficiência do controle neuromuscular<br />

ocasionados na musculatura extensora e flexora do tronco são<br />

uma das mais importantes causas dos distúrbios que ocorrem<br />

na coluna lombar e que por sua conseqüência levam a dor desta<br />

região. Para manterem-se funcionais estes músculos devem estar<br />

fortes e capazes de fornecer sustentação a pelve e a coluna lombar<br />

auxiliando também na proteção e suporte as demais estruturas.<br />

A estabilização central pélvica se dá pelo controle<br />

mecânico articular, através da contração muscular isométrica<br />

considerando como um centro de força que estabiliza a coluna e<br />

conseqüentemente aliviando a dor. Assim a técnica visa manter ou<br />

restabelecer um centro neuromuscular integro fornecendo força e<br />

resistência para impedir movimentos compensatórios.<br />

Portanto a estabilização central pélvica permite que o<br />

indivíduo em tratamento retorne as suas atividades diárias em um<br />

nível alto de funcionalidade, melhorando todo o sistema postural,<br />

neuromuscular e reequilibrando a musculatura que dá suporte e<br />

sustentação a coluna lombar consequentemente diminuindo a dor e<br />

permitindo a normatização da estabilidade lombar.


5 rEFErÊNCiAS<br />

o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />

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4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.<br />

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58, 2004.


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA<br />

DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

rESumo<br />

nASCiMenTO, gABRieLA Lied 1<br />

No Brasil e no mundo, o número de idosos vem<br />

aumentando consideravelmente, fenômeno<br />

acompanhado pela crescente incidência e prevalência<br />

de doenças típicas da terceira idade, dentre elas a<br />

Doença de Alzheimer (DA), que é uma das principais<br />

causas de demência e fator resultante de diversas<br />

incapacidades físicas e mentais. Acredita-se na<br />

necessidade de encontrar meios preventivos para<br />

esta patologia, especialmente através da prática de<br />

exercícios físicos. O presente estudo caracterizase<br />

por uma revisão bibliográfica de artigos e livros<br />

publicados de 1995 a 2008, em língua portuguesa<br />

e inglesa, sobre a prevenção da DA e a ação dos<br />

exercícios físicos na sua prevenção, com o objetivo<br />

de avaliar se seriam benéficos ou não. Com base<br />

no estudo realizado, observou-se que a inatividade<br />

física é considerada um fator de risco para a DA.<br />

1 Fisioterapeuta, pós-graduanda em Docência para o Ensino Superior e em Fisioterapia<br />

em Uroginecologia. Formanda no Método Pilates.<br />

81


82<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

Assim sendo, o exercício físico, quando praticado<br />

regularmente, pode amenizar o declínio cognitivo<br />

a longo prazo. Dentre os efeitos do exercício físico<br />

sobre a função cognitiva, destaca-se a redução da<br />

formação de placas de proteína β-amilóide no cérebro,<br />

o que é relevante na abordagem preventiva da DA.<br />

Quanto maior for a demanda cognitiva exigida através<br />

do exercício, melhores serão os resultados. Concluiuse<br />

que o exercício físico regular pode prevenir a DA,<br />

quando praticado a longo prazo e, anteriormente<br />

a um comprometimento cognitivo leve ou algum<br />

tipo de demência. Características individuais como<br />

a predisposição genética para a DA e o histórico<br />

familiar também devem ser levados em conta nessa<br />

intervenção preventiva. Espera-se que esse estudo<br />

possa servir de estímulo a novas investigações que<br />

venham contribuir para a atuação da fisioterapia<br />

preventiva e para a qualidade de vida dos idosos.<br />

Palavras-chave: Exercício físico, prevenção, Doença<br />

de Alzheimer, cognição, idoso.<br />

ABSTrACT<br />

In Brazil and worldwide, the number of elderly people<br />

is considerable increasing, it’s a phenomenon followed<br />

by the growing incidence and prevalence of typical<br />

diseases in the third age, between then the Alzheimer<br />

disease (AD), that it’s one of the main causes of


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

dementia and resulted factor of several physical<br />

and mental incapacity. It’s believed on the need to<br />

find prevented resources for this disease, specially<br />

through the practice of physical exercises. The<br />

present study characterizes by a bibliographical<br />

review of articles and published books from 1995 to<br />

2008, in Portuguese and English languages about<br />

the prevention of AD and the action of the physical<br />

exercises in its prevention, with the aim of evaluating<br />

whether or not would be beneficial. Basing in the<br />

took place study we could observe the physical need<br />

is considered a risk factor to the AD, in such case,<br />

the physical exercises when practiced regularly can<br />

reduce the cognitive decline in a long term. Between<br />

the effects of the physical exercise on the cognitive<br />

function, it stands out the reduction of the β-amyloid<br />

protein plates in the brain, that is relevant in the<br />

preventive approach of the AD. Bigger the cognitive<br />

contest demanding through the exercise, better<br />

the results. It concluded that the regular physical<br />

exercises can prevent the AD, when practiced in long<br />

term and previously to a light cognitive commitment<br />

or some kind of dementia. Individual characteristics<br />

as the genetic predisposing to the AD and the familiar<br />

historic also must be checked on this preventive<br />

intervention. It’s hopped that this study can serve as<br />

a stimulus to new investigations that will contribute to<br />

the preventive physiotherapy performance and to the<br />

life quality of the elderly.<br />

83


1 iNTroDuÇÃo<br />

84<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

Key-words: Physical exercise, prevention, Alzheimer<br />

disease, cognition, elderly.<br />

Nos últimos anos, com a queda da natalidade e o aumento da<br />

expectativa de vida, várias populações do mundo vêm apresentando<br />

um aumento considerável do número de idosos, fenômeno que<br />

também vem ocorrendo no Brasil. De fato, pesquisas concluem<br />

quanto à ocorrência futura de uma duplicação do número de idosos,<br />

aumentando assim, portanto, o universo de pessoas portadoras de<br />

incapacidades físicas e mentais.<br />

Além disso, uma das doenças que causam incapacidades<br />

físicas e mentais em idosos é a Doença de Alzheimer (DA). Ser<br />

uma das principais causas de demência da população idosa é o<br />

que motivou eleger-se esta patologia como enfoque principal do<br />

presente estudo.<br />

Delimitou-se esta pesquisa à investigação da ação dos<br />

exercícios físicos na prevenção deste distúrbio, com o objetivo<br />

de avaliar se seriam benéficos ou não. Desta forma, estabeleceuse<br />

como problema da pesquisa o seguinte questionamento: a<br />

realização de exercícios físicos de forma regular pode prevenir a<br />

DA?<br />

Através deste estudo, pretende-se identificar se há<br />

benefícios dos exercícios físicos para a saúde mental e cognitiva<br />

dos idosos. Inicialmente esta revisão irá identificar os fatores de<br />

risco para a DA, discutir a sua fisiopatogenia e conhecer os efeitos<br />

neurofisiológicos dos exercícios físicos no idoso.


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

A relevância da elaboração de pesquisas com a temática<br />

DA é justificada quando se considera o aumento progressivo na<br />

prevalência da DA com a idade, bem como o crescimento da<br />

proporção de idosos na população brasileira.<br />

Em contraste com o notável desenvolvimento e valorização<br />

da Fisioterapia Preventiva, muitas vezes os profissionais esquecem<br />

que também devem ser engajados na prevenção das doenças, entre<br />

elas da DA.<br />

A Doença de Alzheimer (DA) foi descrita pelo neurologista<br />

alemão Alois Alzheimer em 1907, ao estudar uma paciente chamada<br />

A. D. com 52 anos de idade que apresentava déficits cognitivos<br />

e de memória importantes (MEDALHA &<br />

NAVEGA apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007). Examinando<br />

anatomopatologicamente o cérebro da paciente durante a necropsia,<br />

Alzheimer observou um cérebro atrofiado com emaranhados<br />

neurofibrilares, placas senis e perda neuronal (ALMEIDA, 1997).<br />

Alois Alzheimer contribuiu em diversos aspectos para<br />

os novos entendimentos sobre a DA, como o quadro clínico e<br />

progressão dos sintomas, anatomopatologia e correlação entre<br />

o quadro clínico e a patologia cerebral (ALMEIDA, 1997). Há<br />

100 anos o primeiro caso de DA foi apresentado à comunidade<br />

científica, e ainda há muito que se estudar sobre esta doença, pois<br />

alguns fatores como os seus mecanismos etiológicos, não estão<br />

bem esclarecidos.<br />

No Brasil, os primeiros estudos publicados sobre esta<br />

patologia concluem que a mais comum das demências é a DA, com<br />

a prevalência relacionada em grande parte com a baixa escolaridade<br />

e analfabetização (NITRINI et al., 1999).<br />

85


86<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

Calcula-se aproximadamente que entre as pessoas com<br />

mais de 85 anos de idade, 20% têm uma forma grave de DA, além<br />

disso, um grande número de pessoas apresenta sintomas desta<br />

doença e ainda não foram diagnosticados (GELLER & REICHEL<br />

apud REICHEL, 2001).<br />

A DA é considerada por Pittella (apud FREITAS, 2006),<br />

como a principal causa de demência e de doença no idoso, e como<br />

um dos maiores problemas médicos e sociais da atualidade. Este<br />

Pittela ainda expõe alguns dados epidemiológicos desta patologia:<br />

Ocorre em cerca de 1% da população entre 65-69 anos, em<br />

15-20% após os 80 anos e em 40-50% após os 95 anos. A<br />

idade média de início da doença situa-se por volta dos 80<br />

anos. Em cerca de 6-7% dos casos, inicia-se precocemente,<br />

antes dos 60-65 anos. Aproximadamente 7% de todos os<br />

casos de início precoce têm origem genética, com padrão<br />

de herança autossômica dominante (2006, p.224).<br />

Existem cerca de 4 milhões de casos de idosos com DA,<br />

e estima-se que até 2050 a incidência desta doença quadruplique,<br />

gerando um impacto ainda maior que o atual nas despesas de saúde,<br />

morbidade e mortalidade (ZABAR apud JONES, 2006).<br />

O transtorno cognitivo leve (TCL) é avaliado por Pittella<br />

(apud FREITAS, 2006), como um precursor de demências. Argimon<br />

e Montes (2004) também consideram o prejuízo da memória um dos<br />

fatores de risco para a DA, assinalando-o como um indício inicial.<br />

Já Medalha e Navega (apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007)<br />

descrevem que o déficit de memória é comum entre a população<br />

idosa, com evolução para demência em alguns casos. Porém,<br />

acreditam que a grande maioria destes idosos, não desenvolve a<br />

DA.


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

O envelhecimento é definido por Pittella (apud FREITAS,<br />

2006), como o principal fator de risco para a DA. De forma<br />

similar, Zabar (2006) relata que o risco para esta doença aumenta<br />

progressivamente com a idade, podendo dobrar a cada cinco<br />

anos, a partir dos 65 anos. Este autor ainda afirma que além da<br />

idade avançada, a história familiar (parentes de primeiro grau), o<br />

genótipo da apolipoproteína E (ApoE), a hipertensão, o acidente<br />

vascular e níveis de homocisteína em jejum, também são fatores de<br />

risco.<br />

O padrão genético também está envolvido no surgimento<br />

desta patologia. Smith (1999) aborda este assunto ao relatar<br />

que os genes da ApoE 4, da α-2-macroglobulina e da catepsina<br />

D, que participam do metabolismo da proteína β-amilóide (Aβ),<br />

são fatores de risco; inclusive o gene da ApoE 4 é responsável<br />

por aproximadamente 50% dos casos de DA esporádicos e de<br />

acometimento tardio. Contudo, Pittella (apud FREITAS, 2006)<br />

afirma que a presença do alelo ε4 da ApoE não é necessária e nem<br />

suficiente para o desenvolvimento da doença.<br />

Caramelli e Viel (2006) sugerem como potenciais fatores<br />

protetores para esta doença os exercícios físicos regulares, a<br />

escolaridade alta, fatores alimentares (dieta mediterrânea) e uma<br />

atividade intelectual produtiva.<br />

No meio de muitas tentativas, com objetivo de desenvolver<br />

um método diagnóstico preciso para a DA, surgiram alguns testes;<br />

porém, nenhum é considerado totalmente completo para este fim.<br />

Pittella (apud FREITAS, 2006) comenta a utilização do protocolo<br />

CERAD (Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s<br />

Disease), em que se obtêm grupos diagnósticos.<br />

O diagnóstico da DA é considerado por alguns autores<br />

como de exclusão, devido às causas multifatoriais da patologia e<br />

87


88<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

algumas semelhanças neuropatológicas encontradas no cérebro de<br />

idosos saudáveis. McRae (apud REICHEL, 2001) complementa<br />

tal informação ao dizer que hoje, tal idéia está sendo modificada<br />

por vários especialistas, que optam por um diagnóstico de inclusão<br />

para esta doença, fundamentado nas características da história,<br />

exame físico e curso da doença. O autor também cita duas escalas<br />

que determinam a evolução e o estágio da DA, a Escala de<br />

Deteriorização Global e a Escala Clínica de Demência. Entretanto,<br />

não podemos esquecer que as análises histopatológicas continuam<br />

sendo o padrão ouro para a demarcação do diagnóstico da DA,<br />

apesar de exigirem um exame invasivo e “post mortem”.<br />

Um dos testes mais utilizados para o diagnóstico de<br />

alterações cognitivas é o Mini-exame do Estado Mental (MEEM).<br />

Segundo Abreu et al. (2005), o MEEM possui um questionário<br />

dividido em categorias que avaliam funções cognitivas específicas,<br />

resultando em um escore que pode variar de 0 a 30 pontos. A sua<br />

combinação com uma escala funcional que avalie atividades da<br />

vida diária (AVD’s), pode complementar o diagnóstico da doença.<br />

A identificação do transtorno cognitivo leve também é um achado<br />

importante, pois é caracterizado como uma fase pré-demencial da<br />

doença (CARAMELLI & VIEL, 2006).<br />

Entre as múltiplas etiopatogenias da DA sugeridas pelos<br />

pesquisadores, percebe-se que o padrão genético é preponderante<br />

no surgimento desta patologia. Chaves et al. (2002) informam que<br />

a doença é transmitida de forma autossômica dominante, sendo que<br />

aproximadamente 25% da prole podem manifestar esta doença,<br />

correspondendo a um risco 3,5 vezes maior para aqueles indivíduos<br />

com pelo menos um parente de 1° grau com esse tipo de demência<br />

em relação ao restante da população. O envolvimento etiológico<br />

do padrão genético na DA, permite, segundo Pittella, uma divisão<br />

desta doença:


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

de início tardio, esporádico, o mais comum, associado<br />

com o alelo ε4 da apolipoproteína E (gene localizado no<br />

cromossomo 19q32.2); de início precoce, entre 40 e 50<br />

anos, raro, familial, de herança autossômica dominante,<br />

devido a mutações do gene da: (a) proteína precursora<br />

do amilóide; (b) presenilina-1, o tipo familial mais<br />

comum; (c) presenilina – 2, o tipo familial mais raro;<br />

associado com a Síndrome de Down, na qual a trissomia<br />

do cromossomo 21 triplica o gene da proteína precursora<br />

do amilóide, favorecendo o aparecimento de alterações<br />

neuropatológicas similares às da DA nos portadores da<br />

síndrome de Down por volta da meia-idade e de demência<br />

em torno dos 40-70 anos (2006, p.224).<br />

Esta moléstia é caracterizada por vários sintomas e<br />

alterações neuropatológicas, fato que leva Geller e Reichel (apud<br />

REICHel, 2001) a sugerirem que seja uma síndrome e não uma<br />

doença propriamente dita. As alterações neurológicas microscópicas<br />

e macroscópicas que ocorrem na DA são semelhantes àquelas<br />

derivadas do processo do envelhecimento, porém em intensidade<br />

muito maior. Pittella (apud FREITAS, 2006) relata que o cérebro<br />

do portador de DA sofre redução do peso e atrofia cortical, difusa,<br />

bilateral e simétrica. Estas características são observadas com<br />

maior freqüência na parte medial do lobo temporal e nas áreas<br />

de associação dos lobos frontal e parietal, com estreitamento dos<br />

giros e alargamento dos sulcos. A atrofia está diretamente ligada<br />

à progressão, estadiamento e duração da patologia e também<br />

ao distúrbio cognitivo, possuindo intensidade e local variável<br />

conforme o tipo de DA (familial, esporádico, de início precoce ou<br />

tardio). Forlenza (2005) comenta que microscopicamente, nota-se<br />

perda de neurônios e degeneração das sinapses.<br />

89


90<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

Acredita-se que um dos fatores fisiopatológicos da DA seja<br />

a falha do sistema colinérgico, através do envolvimento do núcleo<br />

basal de Meynert, que sofre diminuição do seu número de células,<br />

afetando a ação moduladora da memória, ação sobre a atividade<br />

dos neurônios do sistema límbico e do neocórtex associados à<br />

memória (GARBELLINI apud REBELATTO & MORELLI,<br />

2007). Como a maioria dos neurônios acetilcolinérgicos se origina<br />

no núcleo basal de Meynert, o envolvimento precoce deste núcleo<br />

tem como conseqüência a diminuição dos níveis de acetilcolina<br />

com a progressão da doença, prejudicando a cognição do idoso<br />

(ZABAR, 2006).<br />

Gallucci et al. (2005) mencionam que no exame<br />

histopatológico cerebral post mortem, observam-se, entre outras<br />

características, as placas senis e os emaranhados neurofibrilares,<br />

destacando-as como as principais lesões desta patologia. As placas<br />

senis e os emaranhados neurofibrilares são citados por Forlenza<br />

(2005) como estruturas compostas por massas granulares e<br />

filamentos ao redor das células nervosas, respectivamente.<br />

No quadro clínico da paciente Auguste D., Alois Alzheimer<br />

observou que a queixa de ciúmes com relação ao marido progrediu<br />

para o surgimento de uma pessoa alheia, com deterioração da<br />

memória, passando a deambular pela casa, a perder objetos e a<br />

acusar as pessoas de perseguição (CARAMELLI & VIEL, 2006).<br />

Garbellini (apud REBELATTO & MORELLI, 2007) adiciona<br />

que as primeiras características observadas em um idoso portador<br />

de DA, são alterações de memória com desorientação têmporoespacial<br />

e alterações do reconhecimento simbólico. A evocação,<br />

o processamento e o armazenamento de novas informações são<br />

afetados por esse prejuízo na memória, no entanto, as informações<br />

mais antigas são perdidas somente em estágios mais avançados<br />

dessa patologia (CHAVES et al., 2002).


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

McRae (apud REICHEL, 2001) descreve a DA como uma<br />

patologia de início insidioso e gradual, que somente manifesta seus<br />

sinais neurológicos à medida que a doença progride. As alterações<br />

na linguagem também podem ser observadas logo no início da<br />

doença, como a dificuldade em encontrar palavras.<br />

Nos portadores de DA, nota-se um rápido e progressivo<br />

declínio da independência na realização das AVD’s (McRae apud<br />

REICHEL, 2001). Conforme Garbellini ((apud REBELATTO &<br />

MORELLI, 2007), manifestações motoras clínicas como apraxia<br />

(dificuldade em executar tarefas motoras complexas na ausência<br />

de déficit motor como fraqueza ou espasticidade), agnosia espacial<br />

(dificuldade de localização de objetos no espaço) e afasia (distúrbio<br />

da expressão ou da compreensão da linguagem) são observadas<br />

inicialmente no idoso com esta demência. Mais tardiamente,<br />

surgem as apraxias ideomotora e para vestir-se, as somatognosias<br />

(negligência corporal na ausência de déficit sensorial) e o<br />

comprometimento global das funções cerebrais.<br />

Inicialmente, são os transtornos afetivos, a desinibição e a<br />

irritabilidade que predominam nestes pacientes. Na fase moderada<br />

da demência, os sintomas psicóticos, a agitação e a ansiedade<br />

aparecem. Já na fase avançada, a atividade motora aberrante é<br />

predominante. A apatia, a depressão, a perambulação e os sintomas<br />

psicóticos também são sintomas desta demência (TAVARES &<br />

VIEIRA apud FREITAS, 2006).<br />

Como a DA é progressiva, o óbito acontece em torno do<br />

oitavo ano de evolução da doença, devido a comorbidades tais como<br />

broncopneumonia, doenças cardiovasculares e embolia pulmonar.<br />

Na fase final desta demência, geralmente o idoso está debilitado,<br />

incapaz de andar, com hipofagia, incontinência urinária e fecal e<br />

até mesmo úlceras de pressão por não se mover independentemente<br />

na cama (PITTELLA apud FREITAS, 2006).<br />

91


92<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

O tratamento da DA baseia-se na melhora dos sintomas e<br />

no retardo da progressão da mesma, através da administração de<br />

algumas drogas e da intervenção fisioterapêutica, já que a DA não<br />

tem cura.<br />

Com relação ao uso dos medicamentos, hoje disponíveis<br />

para o tratamento desta patologia, não se conseguiu retardar a morte<br />

das células afetadas, mas sim aumentar a liberação da acetilcolina<br />

por meio dos fármacos antagonistas da acetilcolinesterase<br />

(colinesterásicos) (MEDALHA & NAVEGA apud DRIUSSO &<br />

CHIARELLO, 2007), ou diminuir a ação do glutamato, através do<br />

uso da memantina (ARAÚJO & PONDÉ, 2006). Chaves et al. (2002)<br />

acrescentam que o Donepezil, a Galantamina e a Rivastigmina<br />

também podem ser utilizadas no tratamento farmacológico desta<br />

demência.<br />

A abordagem fisioterapêutica na DA visa especialmente<br />

permitir que o idoso volte a realizar as suas AVD’s da melhor<br />

maneira possível, através das mesmas técnicas que são utilizadas<br />

para a terceira idade, porém, de um modo especial e específico<br />

para esta patologia. Orientações aos cuidadores e modificações<br />

ambientais, quando necessárias, também fazem parte desta<br />

intervenção. A assistência fisioterapêutica é em geral, preventiva,<br />

mantendo o indivíduo ativo e independente e evitando a progressão<br />

dos sintomas. Para tanto, nos estágios leves e moderados desta<br />

doença, objetiva-se prolongar a habilidade do idoso de movimentarse<br />

independentemente e estimular as suas funções cognitivas<br />

(OLIVEIRA & WIBELINGER, 2005).<br />

Nóbrega et al. (1999) descrevem os diversos efeitos<br />

fisiológicos e psicológicos induzidos pelo exercício físico, sendo<br />

que alguns deles foram selecionados e organizados na Tabela 1.


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

Tabela 1: Adaptações Fisiológicas e Psicológicas induzidas pelo<br />

Exercício Físico.<br />

Mantém e/ou melhora a densidade mineral óssea<br />

Melhora da força muscular e da flexibilidade articular<br />

Aumento do VO² máximo e melhora da função pulmonar<br />

Maiores benefícios circulatórios periféricos<br />

Aumento da massa muscular<br />

Melhor controle da glicemia e da pressão arterial de repouso<br />

Diminuição do peso corporal<br />

Melhora do equilíbrio, da marcha e da dependência na realização das AVD’s<br />

Melhora do perfil lipídico<br />

Aumento da auto-estima, da confiança e da qualidade de vida<br />

Fonte: Nóbrega et al. (1999).<br />

Atualmente, vários autores têm proposto a inatividade<br />

física como um possível fator de risco para o aumento do<br />

declínio cognitivo. Baseando-se nesta idéia, Yaffe et al. (2001)<br />

desenvolveram um estudo com 5925 mulheres saudáveis, de<br />

65 anos ou mais. Após 8 anos de estudo, os autores concluíram<br />

que quanto maior era o nível de atividade física das mulheres,<br />

menores eram os riscos de declínios cognitivos, relacionando tal<br />

acontecimento ao estilo de vida saudável, a redução nos fatores de<br />

risco cardiovasculares e a efeitos diretos sobre os neurônios. De<br />

forma similar, Weuve et al. (2004) selecionaram 18766 mulheres<br />

saudáveis de 70 a 81 anos. O exercício físico regular, incluindo<br />

modalidades como a caminhada, foi associado a um melhor<br />

desempenho cognitivo e a um menor declínio desta função.<br />

O desempenho neuropsicológico de 40 mulheres não<br />

demenciadas na faixa etária de 60 a 70 anos, foi pesquisado por<br />

Antunes et al. (2001), com avaliação antes e após um programa<br />

93


94<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

de condicionamento físico aeróbico (caminhadas três vezes por<br />

semana com duração de 60 minutos, exercícios de alongamento e<br />

de flexibilidade articular) de 6 meses de duração. Como resultado<br />

obteve-se um enriquecimento da memória lógica, remota, remota<br />

visual, imediata e operacional, uma melhora da atenção concentrada,<br />

da rapidez de reação (agilidade motora), da orientação têmporoespacial,<br />

da fluência verbal, do consumo máximo de oxigênio e<br />

também do humor, sugerindo-se que a atividade física pode ajudar<br />

no combate à depressão.<br />

Além do bem-estar mental, a memória foi investigada<br />

por Perrig-Chiello et al. (1998) como um fator influenciado pelo<br />

treinamento de resistência com duração de 8 semanas, a curto e a<br />

longo prazo. Os resultados obtidos a partir da aplicação de testes<br />

específicos em 46 idosos, antes e após as intervenções, ressaltaram<br />

que este treinamento reforçou o bem-estar psicológico, e que em<br />

longo prazo (depois de 1 ano), houve um acréscimo no desempenho<br />

cognitivo (memória). Apesar disso, os autores não consideram<br />

o treinamento de resistência como o único fator causal deste<br />

benefício, expondo os novos hábitos saudáveis, a motivação para<br />

novos desafios e a autoconfiança como variáveis decorrentes deste<br />

tipo de exercício que também influenciam o bom funcionamento<br />

cognitivo.<br />

Acreditando que o exercício pode aumentar a<br />

aprendizagem e a neurogênese em nível hipocampal, retardando o<br />

comprometimento da cognição, Praag et al. (2005) desenvolveram<br />

um estudo com ratos jovens (3 meses de idade) e ratos velhos (19<br />

meses de idade) submetidos à prática de exercício físico em gaiolas<br />

(roda giratória). Os resultados e conclusões alcançados foram:<br />

maior vascularização do giro denteado reforçando a neurogênese; o<br />

ato de correr ainda jovem causou manutenção da função cognitiva;


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

os novos neurônios dos animais com mais idade foram semelhantes<br />

aos produzidos pelos animais jovens, sugerindo que as funções das<br />

células do cérebro destes animais estavam intactas; as propriedades<br />

destes novos neurônios não mudaram com o envelhecer o que indica<br />

uma sustentação da neurogênese; e o aumento da neurotrofina que<br />

pode contribuir para a melhoria da aprendizagem.<br />

Hillman et al. (2004) compararam as respostas<br />

comportamentais eletrocorticais de idosos com nível de atividade<br />

física baixo, moderado e elevado, com relação a um grupo controle<br />

composto por jovens. Concluiu-se neste estudo, que a atividade<br />

física melhora o controle da função cognitiva e a velocidade do<br />

processamento cognitivo, amparando a idéia de que moderados<br />

e elevados níveis de atividades físicas podem reduzir o declínio<br />

cognitivo.<br />

Apesar do que já foi exposto, o efeito do exercício físico<br />

sobre a função cognitiva irá depender de fatores como a intensidade<br />

e o tipo de atividade praticada. Há estudos que divulgaram que o<br />

exercício intenso com demanda anaeróbica máxima, pode causar<br />

fadiga e conseqüentemente um declínio cognitivo. Já o exercício<br />

realizado de forma aguda pode não originar resultados sobre<br />

a cognição, sendo necessária uma intervenção de longo prazo<br />

(ANTUNES et al., 2006).<br />

No tratamento da DA, a prática de exercício físico tem<br />

alcançado ótimos resultados. O papel da Fisioterapia nesta doença<br />

foi incluído no estudo de Arcoverde et al. (2008). Observou-se<br />

que a estimulação física e cognitiva dos portadores de DA, fez com<br />

que a progressão do quadro clínico (limitações físicas e cognitivas)<br />

diminuísse, em comparação com o grupo de idosos sedentários.<br />

O pesquisador Lautenschlager (2002) investigou meios<br />

de prevenção de demências como a DA, analisando possíveis<br />

95


96<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

interferências sobre os principais fatores de risco para estas<br />

doenças. Ele recomenda o diagnóstico precoce de transtornos<br />

cognitivos leves nos idosos, identificados como os indivíduos com<br />

maior risco de desenvolver demência, afirmando que somente<br />

antes destes sujeitos alcançarem maiores limitações essas medidas<br />

preventivas poderão ser aplicadas.<br />

A prevenção da DA também foi estudada por Laurin et<br />

al. (2001), através de uma grande amostra de idosos canadenses<br />

cognitivamente saudáveis (4615), acompanhados e avaliados<br />

durante 5 anos por meio de entrevistas, questionários e avaliações<br />

médicas correspondentes à atividades físicas e condições de<br />

saúde. Alcançaram-se os seguintes resultados: o exercício físico<br />

regular foi associado a menores riscos de aparecimento da DA;<br />

quanto maiores os níveis de atividade física, menores os riscos<br />

de DA (através do mais elevado nível de atividade física ocorreu<br />

redução de 60% dos riscos para a DA, em comparação com os que<br />

não praticavam atividades físicas). Estes resultados foram mais<br />

evidentes entre as mulheres do que entre os homens do estudo.<br />

De forma similar, Larson et al. (2006) desenvolveram<br />

um estudo com o objetivo de detectar a incidência de demência.<br />

Concluiu-se neste estudo que o exercício físico regular pode atrasar<br />

o aparecimento da DA, sendo que aqueles idosos praticantes de<br />

atividades físicas durante 3 ou mais vezes por semana, apresentaram<br />

uma taxa de incidência menor do que aqueles que exerceram<br />

exercícios físicos menos de 3 vezes por semana, correspondendo a<br />

uma redução em 32% do risco de demência.<br />

O risco de DA associada a atividades físicas foi o objeto<br />

de estudo de Podewils et al. (2005). Notou-se que os participantes<br />

com maior gasto de energia e maior número de atividades físicas<br />

tiveram um risco menor de DA quando comparados com os outros


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

participantes. Os idosos que desenvolveram demência no decorrer<br />

do estudo, foram aqueles com mais idade, menor nível educacional,<br />

os mais susceptíveis ao alelo ApoE 4 e com maiores dificuldades<br />

físicas. Crespo (apud FRONTERA, 2001) sugere que a menor<br />

prevalência de doenças crônicas entre indivíduos que se exercitam<br />

regularmente, pode estar relacionada não apenas a participação<br />

em atividades físicas, mas também a uma predisposição genética<br />

para níveis altos de condicionamento físico, o que é comumente<br />

encontrado em pessoas fisicamente ativas.<br />

Ainda neste contexto, Wang et al. (2002) verificou que,<br />

os idosos, que participam de atividades sociais e mentais, tem<br />

uma menor incidência de demência quando comparados com<br />

aqueles que não as realizam. A incidência foi menor ao aumentar<br />

a freqüência de participação nestas atividades. Atividades físicas<br />

e de lazer também foram incluídas no estudo de Simons et al.<br />

(2006), como alternativas de proteção cognitiva. Observou-se<br />

que a atividade diária de jardinagem destacou-se, possuindo um<br />

maior efeito de manutenção da função cognitiva do que outras<br />

modalidades, representando uma redução de 36% do risco de DA.<br />

O efeito protetor da atividade física é explicado por Marinho<br />

et al. (2007), através de uma revisão bibliográfica sobre o assunto.<br />

Os autores comentam que a inatividade física e a perda progressiva<br />

de memória acarretam a diminuição da síntese de fatores de<br />

crescimento neuronais como o fator neurotrófico derivado do<br />

cérebro (BDNF). O BDNF é uma neurotrofina que estimula as<br />

sinapses, a regeneração neural e a neuroplasticidade. A atividade<br />

física aumenta a liberação desta substância e conseqüentemente<br />

estimula a neurogênese, o aprendizado e o desempenho cerebral.<br />

Segundo estes autores, quando praticada regularmente, a atividade<br />

física aumenta a capacidade de aprendizagem e reduz a formação<br />

97


98<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

de placas de proteína beta-amilóide no cérebro, evitando o<br />

desenvolvimento da DA.<br />

Por meio de um estudo do tipo coorte, Verguese et al. (2003)<br />

verificaram a relação de alguns tipos de atividades de lazer com o<br />

risco de demência. Entre as atividades de lazer, a leitura, os jogos<br />

de tabuleiro, os instrumentos musicais e a dança foram associados<br />

a um menor risco de demência. Este efeito foi observado em maior<br />

magnitude naqueles que praticavam estas atividades num maior<br />

número de vezes por semana, sendo que os idosos que fizeram<br />

palavras cruzadas quatro vezes por semana tiveram riscos 47 por<br />

cento menores de desenvolver demência, quando comparados com<br />

aqueles que praticavam esta atividade uma vez por semana.<br />

Wilson et al. (2002), em outro estudo, verificaram a<br />

hipótese de as atividades físicas diminuírem o risco de DA, obtendo<br />

resultados importantes como uma redução em 64% do risco de<br />

incidência dessa demência para os maiores níveis de atividades<br />

cognitivas, e em contrapartida, a quantidade de horas semanais de<br />

atividades físicas não foi relacionada ao risco da doença.<br />

Fabrigoule et al. (1995) selecionaram aleatoriamente<br />

2040 idosos na França e dentre as atividades sociais e de lazer<br />

encontradas, a jardinagem, o tricô e o ato de viajar, apresentaram<br />

significantes interferências sobre o risco de demências, quando<br />

realizadas de modo regular, o que pôde ser observado na maioria<br />

dos estudos encontrados.<br />

2 DiSCuSSÃo<br />

Apesar de a maioria dos autores afirmar que o exercício<br />

induz vários benefícios psicológicos e cognitivos, alguns deles


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

não o retratam como o único fator causal destes efeitos. Afirmam,<br />

mencionando que os novos hábitos saudáveis, a autoconfiança e a<br />

diminuição dos fatores de risco cardiovasculares podem interferir<br />

nestes resultados, como vieses de confusão.<br />

Outros fatores devem ser levados em conta quando se avalia<br />

os efeitos do exercício físico na prevenção da DA, visto que podem<br />

determinar se haverá resultados preventivos ou não. Um deles<br />

corresponde aos aspectos intrínsecos do indivíduo, como a história<br />

familiar positiva para a DA, a presença do gene ApoE 4, o nível<br />

educacional, o sexo e a saúde cognitiva e cardiovascular. O tipo, a<br />

intensidade e a frequência do exercício físico também devem ser<br />

incluídos nesta avaliação, uma vez que a exigência cognitiva deve<br />

ser suficiente para se alcançar os benefícios já citados, entretanto,<br />

o exercício muito intenso, com uma grande demanda anaeróbica,<br />

resulta em fadiga e conseqüentemente em um declínio cognitivo.<br />

O que ainda não está bem esclarecido entre as pesquisas<br />

que abordam este assunto, é a determinação de qual exercício<br />

físico traria os melhores resultados preventivos sobre a DA. Em<br />

alguns estudos foi citada a jardinagem como a melhor atividade<br />

física capaz de prevenir a DA, entretanto, constituem uma minoria<br />

e não possuem argumentos suficientes para explicar tal efeito.<br />

Diferentes atividades cognitivas e físicas foram estudadas<br />

por Verghese et al. (2003). Porém, estes autores questionam se a<br />

não participação em exercícios físicos pode se tornar um fator de<br />

risco para as demências, acreditando que a pré-demência, o nível<br />

educacional e intelectual podem ser a causa destes baixos níveis<br />

de atividades de lazer. Este estudo, não explica o papel protetor<br />

de cada atividade avaliada, devido à presença de limitações na<br />

pesquisa, como o tempo gasto em cada atividade, a demanda<br />

cognitiva imposta sobre os idosos e o efeito da Apolipoproteína E,<br />

que não foram avaliados adequadamente.<br />

99


100<br />

NASCimENTo, GABriELA LiED<br />

Os estudos não comentam a duração mínima do exercício,<br />

necessária para produzir efeitos significativos sobre a cognição.<br />

Assim sendo, salienta-se a necessidade de maior preocupação<br />

por parte dos profissionais da saúde, entre eles o fisioterapeuta,<br />

no campo de pesquisa preventivo, principalmente com relação a<br />

doenças crônico-degenerativas como a Doença de Alzheimer.<br />

3 CoNCLuSÃo<br />

A DA é uma doença neurodegenerativa progressiva, que<br />

vem aumentando sua incidência nos últimos anos em todo o<br />

mundo, gerando preocupação por parte dos estudiosos e idosos,<br />

sendo que a sua incidência e prevalência aumentam com o avanço<br />

da idade.<br />

Entre os fatores de risco para esta patologia encontra-se<br />

o transtorno cognitivo leve (TCL), a história familiar, o genótipo<br />

da apolipoproteína E e o próprio envelhecimento. Ultimamente,<br />

vários autores têm proposto a inatividade física como um possível<br />

fator de risco para o aumento do declínio cognitivo, logo, para o<br />

surgimento da DA. Por isso, a preocupação em investigar se os<br />

exercícios físicos quando realizados de forma regular podem<br />

prevenir essa doença é muito importante hoje em dia.<br />

Nesta revisão, observou-se que a grande maioria dos<br />

estudos descritos tem resultados que sugerem uma amenização do<br />

declínio cognitivo naqueles idosos que praticam atividades físicas<br />

regularmente e a longo prazo. Quanto maior for a freqüência de<br />

participação nestas atividades e a complexidade, maior será a<br />

demanda cognitiva exigida pelo sistema neurológico do idoso,<br />

produzindo diversos efeitos, como a melhora da memória,


o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />

da atenção, da orientação têmporo-espacial, da neurogênese<br />

hipocampal, da síntese da neurotrofina BDNF e uma redução da<br />

formação de placas de proteína beta-amilóide no cérebro. Além<br />

destes resultados, os novos hábitos saudáveis, o bom estado<br />

psicológico e a diminuição dos fatores de risco cardiovasculares<br />

decorrentes do exercício físico, também contribuem para a redução<br />

do declínio cognitivo.<br />

Mesmo sabendo dos benefícios do exercício físico na<br />

saúde cognitiva do idoso, é preciso identificar antecipadamente se<br />

há TCL ou até mesmo uma fase inicial de DA, pois somente se<br />

alcançará estes benefícios se o paciente tiver um sistema cognitivo<br />

saudável, ou talvez, no máximo um estado pré-demencial. Outro<br />

aspecto que precisa ser avaliado é a presença do gene ApoE 4, de<br />

familiares de 1° grau com a doença, nível educacional, sexo, saúde<br />

cognitiva e cardiovascular, os quais podem interferir nos resultados<br />

esperados através da prática de exercícios físicos.<br />

Desta forma pode-se afirmar que a inatividade física pode<br />

ser considerada um fator de risco para a DA, bem como o exercício<br />

físico pode prevenir a DA a longo prazo, se praticado regularmente.<br />

Sugere-se que maiores pesquisas sejam realizadas a respeito do<br />

tipo de exercício físico que possa melhor atuar na prevenção da<br />

DA, e inclusive da sua intensidade, para enriquecer a atuação da<br />

Fisioterapia Preventiva e proporcionar maior qualidade de vida na<br />

terceira idade.<br />

101


4 rEFErÊNCiAS<br />

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FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES<br />

Com SÍNDromE DE DoWN<br />

HeinZMAnn FiLHO, JOãO PAULO 1<br />

WOZeZenSKi, CRiSTHieLe TAiS<br />

BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />

1<br />

rESumo<br />

A pesquisa realizada foi do tipo bibliográfica, onde a<br />

abordagem qualitativa foi utilizada como eixo central.<br />

Com o desenvolvimento desse artigo, verificou-se<br />

quais as melhoras proporcionadas pelo meio líquido,<br />

através de técnicas com exercícios específicos<br />

aplicados dentro da água, contando com as respostas<br />

fisiológicas e ação dos princípios físicos que o<br />

meio líquido proporciona. O objetivo do trabalho foi<br />

verficar as melhoras proporcionadas pelo Método de<br />

Halliwich, enfatizando a alegria de se estar na água<br />

e a felicidade proporcionada em forma de jogos.<br />

Constatou-se o ganho na melhora as habilidades<br />

funcionais, na adequação do tônus muscular, profilaxia<br />

para alterações cardiorrespiratória e circulatória,<br />

fortalecimento muscular, estimulação da motricidade<br />

1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />

Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia.<br />

107


108<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

voluntária, estimulando o desenvolvimento do<br />

controle de tronco, da marcha e estimular o equilíbrio.<br />

Proporcionando uma melhora em sua auto-estima,<br />

auto-confiança e assim melhorando a sua qualidade<br />

de vida. Foi realizada uma revisão bibliográfica<br />

utilizando livros-texto e artigos científicos, através<br />

de diversas palavras chaves. Podemos concluir que<br />

a hidroterapia parece ser benéfica no tratamento de<br />

portadores de Síndrome de Down através da utilização<br />

das propriedades da água. Porém, estudos clínicos<br />

futuros são necessários para verificarmos uma maior<br />

evidência sobre sua efetividade.<br />

Palavras-chave: Síndrome de Down, método de<br />

halliwich, hidroterapia.<br />

ABSTrACT<br />

The research realized was of the bibliographical,<br />

where the qualitative boarding was used as central<br />

axle. The development of this article it made possible<br />

verify which the proportionate improvements for<br />

the half liquid, through techniques with specific<br />

exercises applied inside of the water, counting<br />

on the physiological answers and action of the<br />

physical principles that the half liquid provides. The<br />

objective of the work was to verify the proportionate<br />

improvements for the Method of Halliwich, being<br />

emphasized the joy of if being in the water and the<br />

proportionate happiness through games. The profit in


1 iNTroDuÇÃo<br />

FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

the improvement the functional abilities, the adequacy<br />

of muscle tone, cardiorespiratory and circulatory<br />

Prophylaxis for alterations, strength training,<br />

stimulation of the voluntary mobility was evidenced,<br />

stimulating the development of the control of trunk,<br />

the march and to stimulate the balance. Providing an<br />

improvement in its auto-they esteem, auto-confidence<br />

and thus improving its quality of life. A bibliographical<br />

revision was<br />

carried through using scientific book-text and articles,<br />

through diverse words keys. We can conclude that the<br />

hydrotherapy seems to be beneficial in the treatment<br />

of carriers of Down Syndrome through the use of<br />

the properties of the water. However, future clinical<br />

studies are necessary to verify bigger evidence on its<br />

effectiveness.<br />

Key-words: Down Syndrome, Halliwich method,<br />

hydrotherapy<br />

A Síndrome de Down(SD) ou trissomia do cromossomo<br />

21 é uma alteração genética causada pela presença de um<br />

cromossomo 21 extra total ou parcialmente. Essa síndrome tem<br />

como anormalidade básica à presença de uma quantidade extra de<br />

material do cromossomo 21. É uma doença genética no sentido de<br />

que toda a condição do paciente é causada por excesso de material<br />

109


110<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

genético, a maioria dos afetados possui um cromossomo extra em<br />

todas as células de seu organismo. Ou seja, ao invés de ter o par<br />

21(um proveniente da mãe e um do pai), os pacientes têm três<br />

cromossomos 21 (SAAD, 2003).<br />

A SD é caracterizada por uma combinação de diferenças<br />

maiores e menores na estrutura corporal. Seus portadores podem<br />

ter uma habilidade cognitiva abaixo da média, geralmente variando<br />

de retardo mental leve a moderado. Um pequeno número de<br />

afetados possui retardo mental profundo. É a ocorrência genética<br />

mais comum, estimada em 1 a cada 600 nativivos. Características<br />

da SD, incluem a prega palmar transversa, olhos com formas<br />

diferenciadas devido às pregas nas pálpebras, membros pequenos,<br />

língua protrusa, osso occipital achatado, ponte nasal achatada,<br />

estatura baixa, fase redonda e achatada, orelhas de implantação<br />

baixa, pescoço curto, mãos curtas e largas, boca pequena,<br />

ligamentos soltos (FERREIRA, 2005).<br />

Além do atraso no desenvolvimento, outros problemas de<br />

saúde podem ocorrer no portador de SD: cardiopatia congênita,<br />

hipotonia, problemas de audição, de visão, alterações na coluna<br />

cervical, distúrbios da tireóide, problemas neurológicos, obesidade<br />

e envelhecimento precoce. Em relação ao prognóstico, verificase<br />

que a prevalência da condição tem aumentado na população<br />

geral em conseqüência do aumento de sua sobrevida. Tratamentos<br />

e terapias, em especial a estimulação precoce com fisioterapia e<br />

fonoterapia, mostram uma inequívoca contribuição para melhor<br />

desenvolvimento e desempenho social do portador de SD<br />

(MOREIRA, 2000).<br />

Os objetivos do tratamento para crianças portadoras de<br />

Síndrome de Down são proporcionar adequação do tônus muscular,<br />

profilaxia para alterações cardiorrespiratória e circulatória,


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

fortalecimento muscular, estimulação da motricidade voluntária,<br />

estimular as fases do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM)<br />

como o controle de tronco e a marcha, estimular o equilíbrio e a<br />

auto-estima (GUIMARÃES, 1996).<br />

A hidroterapia ou piscina terapêutica é um recurso<br />

fisioterapêutico realizado exclusivamente pelo profissional desta<br />

área, de forma individual, em piscina coberta e aquecida. Tem a<br />

finalidade de tratar e reabilitar pacientes neurológicos, ortopédicos,<br />

reumatológicos, pneumopatias e neuromusculares, através de<br />

técnicas com exercícios específicos aplicados dentro da água,<br />

contando com as respostas fisiológicas e ação dos princípios físicos<br />

que o meio líquido proporciona (CAMPION, 2000). A partir do<br />

estudo da hidroterapia, desenvolveram-se vários métodos, como o<br />

Método de Halliwick, que enfatiza as habilidades dos pacientes na<br />

água e não suas limitações.<br />

Recentemente estas técnicas estão sendo usadas por muitos<br />

fisioterapeutas para tratar crianças e adultos com enfermidades<br />

neurológicas, na Europa e EUA. Este estudo tem por objetivo<br />

discutir as propriedades da água e mostrar a hidroterapia como parte<br />

integrante do tratamento da SD. Podemos ressaltar a importância da<br />

hidroterapia como um tratamento muito benéfico no tratamento de<br />

crianças portadoras de SD, através da utilização das propriedades<br />

da água possibilitando diversas melhoras tanto físicas, mentais,<br />

psicossociais e proporcionando assim uma melhora na qualidade<br />

de vida dos portadores (CAMPION, 2000).<br />

A pesquisa realizada foi descritiva, do tipo revisão<br />

bibliográfica. Com base no estudo realizado, foi proposto a<br />

hidroterapia como uma técnica de reabilitação para o tratamento<br />

de pessoas que apresentam SD.<br />

111


112<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

2 DiSCuSSÃo<br />

O ser humano é um ser em pleno processo de<br />

desenvolvimento, que cresce partindo de várias etapas evolutivas<br />

(ROTTA et al., 2005).<br />

A evolução da criança até a sua idade adulta depende da<br />

maturação do sistema nervoso central, sendo determinada por<br />

padrões geneticamente estabelecidos e de estímulos ambientais.<br />

Estes estímulos apreendidos pelos órgãos dos sentidos são<br />

respondidos pelo cérebro, como órgão de integração e coordenação,<br />

com reações complexas que decorrem automaticamente<br />

(DIAMENT & CYPEL, 2005).<br />

Desde o nascimento, o cérebro infantil está em constante<br />

evolução, através de sua inter-relação com o meio. A criança<br />

percebe o mundo pelos sentidos e age sobre eles, essa integração<br />

se modifica durante a evolução, entendendo melhor, pensando de<br />

modo mais complexo, comportando-se de maneira mais adequada<br />

com maior precisão, à medida que domina seu corpo e elabora<br />

mais corretamente suas idéias (DIAMENT & CYPEL, 2005).<br />

Mesmo diversas, conforme a idade da criança, estas<br />

reações ocorrem, desde o nascimento, em sucessão determinada.<br />

Caracterizam-se pelo desenvolvimento dos mecanismos de<br />

reflexos da atitude, a postura ou manutenção desta, que permitem<br />

ao homem erguer-se contra a força da gravidade e conservar seu<br />

equilíbrio (FLEHMIG, 2005).<br />

A SD é a mais comum de todas as síndromes mal formativas<br />

da espécie humana, ela ocorre 1/600 nascidos vivos (FERREIRA,<br />

2005).


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

Essa síndrome tem como anormalidade básica à presença<br />

de uma quantidade extra de material do cromossomo 21. É uma<br />

doença genética no sentido de que toda a condição do paciente é<br />

causada por excesso de material genético, a maioria dos afetados<br />

possui um cromossomo extra em todas as células de seu organismo,<br />

ou seja, ao invés de ter o par 21, os pacientes têm três cromossomos<br />

21, sendo que a região responsável pelas manifestações da doença<br />

é a porção distal do braço longo deste cromossomo. O estudo<br />

citogenético deve ser realizado em todo paciente afetado, para<br />

confirmar o diagnóstico propício ao aconselhamento genético<br />

correto.<br />

Noventa e quatro por cento dos portadores da SD<br />

apresentam um cariótipo com 47 cromossomos. Já cerca de seis<br />

por cento dos pacientes tem translocação cromossômica que<br />

envolve quase exclusivamente dois grupos de cromossomos: os<br />

grupos D e G. Nessas translocações, o cromossomo 21 une-se com<br />

cromossomo 14 em cinqüenta e oito por cento dos casos. No grupo<br />

G, o cromossomo 21 une-se com ele mesmo, em oitenta e três por<br />

cento dos casos (FERREIRA, 2005).<br />

A palavra hidroterapia deriva das palavras gregas hydro<br />

(água) e therapia (cura). Essa técnica é tão antiga quanto à história<br />

da humanidade e as informações sobre as atividades aquáticas têm<br />

sido documentadas tanto para propósitos recreacionais, quanto<br />

terapêuticos apesar do fato de sua popularidade ter se oscilado<br />

durante as épocas (NORM & HANSON, 1998).<br />

A história da hidroterapia como uma modalidade utilizada<br />

na fisiatria data de milhares de anos. Não se sabe em que momento<br />

a hidroterapia foi primeiramente utilizada de maneira terapêutica,<br />

porém registros datando de 2400 a.C. sugerem que a cultura protoindiana<br />

usava instalações higiênicas e que os antigos egípcios,<br />

113


114<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

assírios e muçulmanos faziam uso das fontes minerais para<br />

propósitos curativos. Os hindus, em 1500 a.C., empregavam a água<br />

para combater a febre (CAMPION, 2000).<br />

Os gregos estavam entre os primeiros a apreciar<br />

o relacionamento entre o bem-estar físico e mental. Eles<br />

desenvolveram centros próximos a nascentes e rios, utilizando-os<br />

para banhos e recreações. Por volta de 500 a.C., ocorreu a transição<br />

do misticismo e culto para o tratamento físico. Os romanos, com<br />

suas habilidades de construção, desenvolveram e expandiram<br />

o sistema grego de atletismo seguido por um mergulho frio,<br />

produziram uma série de banhos que variam do caldarium por meio<br />

do tepidarium até o frigidarium. Os banhos eram centros onde se<br />

realizavam as atividades intelectuais, recreacionais e de saúde e<br />

higiene (CAMPION, 2000)<br />

Por volta de 339 d.C. alguns desses banhos passaram a ser<br />

usados somente com o propósito de cura e o tratamento era indicado<br />

em primeiro lugar para os sintomas de doenças reumáticas, paralisia<br />

e efeitos posteriores a lesões. As queimaduras eram tratadas em<br />

banhos prolongados. Com o declínio do Império Romano, houve<br />

uma queda no uso dos banhos. Os padrões de higiene e moral<br />

foram diminuídos. Assim, os antigos cristãos baniram o uso dos<br />

banhos públicos, e a Igreja da Idade Média proibiu o uso das forças<br />

físicas, tais como a água, associando-o ao paganismo. A supressão<br />

da hidroterapia no Ocidente foi sustentada mais ou menos durante<br />

toda a época medieval, mas por volta dos séculos XV, XVI e XVII, o<br />

uso da água com propósito de cura adquiriu algum reconhecimento<br />

por parte dos médicos europeus (CAMPION, 2000).<br />

Os pioneiros da hidroterapia foram Sir John Floyer, que<br />

escreveu um tratado em 1697: “Um inquérito sobre a utilização<br />

correta e o abuso dos banhos quentes, frios e temperados”; e John


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

Wesley, o fundador do Metodismo, que publicou um livro de<br />

hidroterapia em 1747, intitulado. Uma forma fácil e natural de curar<br />

a maioria das doenças; e o dr. Wright, que publicou, em 1779, um<br />

trabalho sobre o uso do frio no tratamento da varíola. Entretanto,<br />

os clínicos acadêmicos estavam ocupados essencialmente em<br />

diagnosticar as doenças e trabalhar nas enfermarias e salas de<br />

dissecção. A terapia natural raramente era levada em consideração.<br />

Os avanços no uso da água continuaram na Europa, mas<br />

a América ficou para trás durante o século XIX. Entretanto, os<br />

banhos quentes gradualmente ganharam popularidade e passaram<br />

a ser tomados em decúbito e também utilizados em tratamentos<br />

cirúrgicos, neurológicos e psiquiátricos. O dr. Simon Baruch,<br />

que trabalhou com o professor Winterwitz, expandiu o uso da<br />

hidroterapia por meio de seu trabalho, que girava em torno do fato<br />

de que o calor e o frio eram transportados para o sistema nervoso<br />

central pêlos nervos cutâneos e, dessa forma, se refletiam nas vias<br />

motoras. A hidroginástica ou os exercícios aquáticos em água<br />

quente eram recomendados no final do século XIX. Entretanto,<br />

os exercícios aquáticos só começaram a ser sistematicamente<br />

desen¬volvidos após a construção do primeiro tanque de Hubbard<br />

na década de 1920 (CAMPION, 2000).<br />

As duas guerras mundiais, especialmente a segunda,<br />

salientaram a necessidade do uso da água para os exercícios e a<br />

manutenção do condicionamento e agiram como precursoras para o<br />

ressurgimento atual do uso da piscina de hidroterapia e a utilização<br />

da imersão total como uma forma de reabilitação para uma ampla<br />

faixa de doenças.<br />

Atualmente, a popularidade e o valor crescente da<br />

hidroterapia parecem ser salientados por um aumento da pesquisa<br />

em muitos aspectos diferentes da água, como o estudo da fisiologia<br />

115


116<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

dos exercícios aquáticos, e assim por diante. O reconhecimento dos<br />

tratamentos para os quais as características e propriedades da água<br />

podem ser utilizadas para criar técnicas que acentuem a atividade<br />

aquática como uma parte integral de todo tratamento físico e<br />

psicológico e das condições variadas de muitos irá assegurar o<br />

lugar da hidroterapia para a reabilitação total (CAMPION, 2000).<br />

Entrar na água é uma experiência única que fornece a todos<br />

uma oportunidade de ampliar física, mental e psicologicamente<br />

seus conhecimentos e habilidades. A unicidade da água está<br />

principalmente no seu empuxo, que alivia o estresse sobre as<br />

articulações sustentadoras de peso e permite que se realize<br />

movimentos em forças gravitacionais reduzidas, dessa forma,<br />

as atividades que não sustentam peso podem ser iniciadas antes<br />

mesmo de serem possíveis no solo. Os efeitos fisiológicos dos<br />

exercícios combinados com aqueles que são causados pelo calor da<br />

água são uma das vantagens da atividade nesse meio. O resultado<br />

da imersão na água é semelhante em adultos e crianças e está<br />

relacionado à temperatura do corpo, à circulação e a intensidade<br />

dos exercícios, com variações permitidas dependendo do tamanho<br />

(RUOTI et al., 2000; CAMPION, 2000).<br />

O corpo possui mecanismos para regular seu próprio calor,<br />

e a manutenção do equilíbrio entre a produção e a perda de calor<br />

exige um fino ajustamento. É necessário realizar uma distinção<br />

entre a temperatura central do corpo e a temperatura periférica,<br />

porém, sob condições padrão, a temperatura corporal do homem<br />

mantém-se notavelmente constante (RUOTI et al., 2000).<br />

Pequenas oscilações na temperatura corporal ocorrem<br />

durante todo o dia e também nas diferentes partes do corpo.<br />

Exercícios, distúrbios emocionais, altas ou baixas temperaturas<br />

ambientais, bem como a idade e o sexo são fatores que podem


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

afetar a temperatura corporal. Vários especialistas sugerem que a<br />

temperatura da pele é de 33,3 °C, podendo diminuir nas partes mais<br />

distais nas extremidades.<br />

Os efeitos terapêuticos dos exercícios na água estão<br />

relacionados ao alívio da dor e espasmos musculares, manutenção<br />

ou aumento da amplitude de movimento das articulações,<br />

fortalecimento dos músculos enfraquecidos e aumento na sua<br />

tolerância aos exercícios, reeducação dos músculos paralisados,<br />

melhoria da circulação, encorajamento das atividades funcionais,<br />

manutenção e melhoria do equilíbrio, coordenação e postura<br />

(RUOTI et al., 2000).<br />

O tratamento fisioterapêutico é realizado primeiramente,<br />

com a avaliação da criança, onde segue as seguintes etapas:<br />

� Avaliação subjetiva: informações dadas pelo próprio<br />

paciente, sobre si mesmo. Deve-se incluir a atitude do paciente na<br />

água, informações sobre suas habilidades observadas e detalhes de<br />

hidroterapia prévia ou outras atividades aquáticas tais como, o tipo,<br />

local, data e resultados. Avaliação objetiva: exame do paciente.<br />

Leva-se em conta a densidade e a forma do paciente, bem como<br />

quaisquer contra - indicações para a hidroterapia (CAMPION,<br />

2000).<br />

� Análise das informações acima: diagnóstico e histórico<br />

médico, mais a avaliação subjetiva e objetiva, para formular a lista<br />

de problemas. A análise da forma e da densidade é vital e constitui<br />

parte da lista de problemas.<br />

� Plano de ação: para cada um dos problemas.<br />

� Intervenção: tratamento do paciente, incluindo também<br />

o ensinamento do ajuste mental, da restauração do equilíbrio e do<br />

controle rotacional.<br />

117


118<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

� Estimação: avaliação da intervenção, e avaliar qual foi<br />

o resultado do tratamento.<br />

� Revisão: a próxima sessão de tratamento e quaisquer<br />

alterações propostas de tratamento.<br />

Os pontos específicos que precisam ser utilizados na<br />

avaliação da atividade aquática devem ser a forma e a densidade, a<br />

adequação para a atividade em grupo, porcentagem de sustentação<br />

de peso, tônus muscular e o controle da respiração (CAMPION,<br />

2000).<br />

Após a avaliação é necessário o registro detalhado do<br />

tratamento de hidroterapia, no qual inclui a duração do tratamento,<br />

a temperatura da água, as profundidades utilizadas, os exercícios,<br />

qualquer melhora na condição do paciente e na atividade, como<br />

também qualquer efeito desfavorável para o paciente.<br />

Dentro do tratamento da hidroterapia utilizamos o método de<br />

Halliwick, onde esse método está sendo utilizado por muitos<br />

fisioterapeutas, para tratar principalmente crianças e adultos com<br />

enfermidades neurológicas. Esse método enfatiza as habilidades do<br />

paciente na água e não suas limitações, deve também dar ênfase no<br />

prazer colocando as atividades em formas de jogos (CAMPION,<br />

2000; RUOTI, 2000).<br />

A partir do estudo da hidroterapia, desenvolveram-se vários<br />

métodos, como o Método de Halliwick, desenvolvido por James<br />

Mc Millan em 1949 na Halliwick escola para garotas em South<br />

Gate (Londres). A proposta inicial foi a, de auxiliar pessoas com<br />

problemas físicos a se tornarem mais independentes para nadar<br />

(CAMPION, 2000).<br />

A ênfase inicial do método era recreacional com o<br />

objetivo de independência na água. Com o decorrer dos anos, Mc


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

Millan manteve a sua proposta original e adicional outras técnicas<br />

a este método, utilizando uma filosofia para ensinar a felicidade de<br />

se estar na água, tratar os alunos pelo primeiro nome, dar ênfase<br />

na habilidade não na deficiência, dar ênfase no prazer, colocando<br />

atividades em forma de jogos, trabalhar em grupo, de forma que os<br />

nadadores se encorajem uns aos outro.<br />

Recentemente estas técnicas estão sendo usadas por muitos<br />

fisioterapeutas para tratar crianças e adultos com enfermidades<br />

neurológicas, na Europa e EUA (CAMPION, 2000).<br />

O método de Halliwick utiliza o programa dos dez pontos<br />

para o tratamento, onde segue:<br />

1 - Ajustamento mental: adaptação ao meio líquido de forma que a<br />

confiança na água possa ser estabelecida.<br />

2 - Desprendimento: é o meio pelo qual o nadador se torna mental<br />

e físicamente independente.<br />

3 - Rotação vertical: é o movimento em torno do eixo transversal<br />

do corpo (da posição deitada, para posição em pé)<br />

4 - Rotação Lateral: é o movimento em volta do eixo da coluna<br />

vertebral (Rolar: decúbito ventral para decúbito dorsal).<br />

5 - Rotação combinada: combinação das duas anteriores sendo<br />

executada em um único movimento.<br />

6 - Empuxo: compreensão da força de flutuação da água.<br />

7 - Equilíbrio: O nadador capaz de manter a posição do corpo<br />

enquanto flutua com descanso, fazendo pequenos ajustes quando<br />

há turbulência.<br />

8 - Deslize turbulento: o nadador flutua, sendo levado através da<br />

água pela turbulência criada pelo instrutor.<br />

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120<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

9 - Progressão simples: nadador realiza movimentos das mãos<br />

junto ao corpo “Sculling” (remadas curtas).<br />

10 - Braçada básica: com o nadador em decúbito dorsal, os braços<br />

são movimentados lenta e amplamente sobre a água (CAMPION,<br />

2000).<br />

Com base no programa dos dez pontos de Halliwick,<br />

desenvolve-se o método para o tratamento em questão, que segue<br />

nas seguintes etapas:<br />

� Etapa 1: Entrada<br />

O fisioterapeuta deve sempre estar na água primeiro e ficar<br />

pronto para receber o paciente. Deve sempre entrar tranqüilamente,<br />

causando tão pouco borrifo quando possível, assegurar que emerge<br />

seus ombros e que sopre bolhas na água. Essas ações tranqüilizam<br />

os pacientes. Após, o mesmo sentar na borda da piscina é encorajado<br />

a por suas mãos para frente sobre os ombros do fisioterapeuta.<br />

As mãos do fisioterapeuta são colocadas abaixo de seus braços,<br />

em torno de suas costas, logo abaixo de suas escápulas. A ação<br />

do fisioterapeuta é fundamental, encorajando a criança soprar<br />

enquanto a água vem em direção ao seu rosto.<br />

Uma vez dentro da água, deve-se imediatamente prosseguir<br />

para uma atividade tal como de saltar, e não deixar que o indivíduo<br />

tenha tempo para pensamentos ociosos. O exemplo de saltar além<br />

de divertido também ensina a respiração e o controle da cabeça,<br />

constituindo-se um pré-requisito para a independência. A entrada<br />

da criança deve ser facilitada e se tornar automática, já a extensão<br />

deve ser evitada todo o tempo (CAMPION, 2000).<br />

� Etapa 2: Início das técnicas<br />

Essa etapa tem por finalidade incentivar um maior<br />

desprendimento da criança, ou seja, tornar a criança mentalmente e<br />

fisicamente independente.


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

O nadador fica em pé de frente para o fisioterapeuta,<br />

o mesmo segura o nadador no centro do equilíbrio do corpo,<br />

aproximadamente ao nível da cintura. Onde pode-se cantar a<br />

canção, “Tiquetaquear” com um relógio de lado para fora, isso irá<br />

encorajar a abdução, controle lateral da cabeça e apreciação do<br />

peso da água. Pode-se bater palmas com as mãos acima da cabeça,<br />

encorajando ainda mais a independência do individuo, movimento<br />

de braços, percepção do corpo e o controle da cabeça. À medida<br />

que o desempenho melhore, o fisioterapeuta pode dar menos auxílio<br />

no equilíbrio, e finalmente pode assegurar a estabilidade lateral,<br />

podendo empurrar o nadador delicadamente, porém, firmemente de<br />

lado para lado e observar se o paciente restaura a posição triangular<br />

e se está controlando seu corpo para frente e para trás.<br />

A forma triangular é uma forma na qual, as pernas do<br />

indivíduo estão amplamente separadas e os braços juntos ao lado do<br />

corpo. Se essa forma for empurrada para o lado, a água restaurará<br />

a posição vertical. Deve-se estimular, caminhar para os lados, em<br />

círculo ou pela piscina, com isso o paciente terá noção do espaço e<br />

do meio líquido, com isso o paciente notará que a água tem peso,<br />

e que há uma necessidade de equilíbrio e controle da cabeça. O<br />

ajustamento mental é incrementado (CAMPION, 2000).<br />

Deve ser lembrado que na água a flutuação tende a<br />

minimizar os efeitos da gravidade, particularmente quando mais de<br />

dois terços do corpo estão imersos e quando o corpo está flutuando.<br />

Isto significa que não há a mesma exigência sobre os músculos<br />

antigravitacionais, além de outras vantagens.<br />

� Etapa 3: Essa etapa tem por finalidade incentivar, e<br />

estimular o controle da cabeça.<br />

Um círculo é formado, nadador e terapeuta alternadamente,<br />

todos segurando as mãos e voltados para dentro.<br />

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122<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

Os pontos a observar são que a cabeça esteja inclinada na direção<br />

em que o círculo está se movendo e que ela seja mantida em tal<br />

posição que os pés permaneçam em contato com o chão da piscina<br />

e não se elevem para frente ou para trás e que os pés não se cruzem<br />

(CAMPION, 2000).<br />

Instruir o indivíduo a caminhar em círculo para o lado<br />

dando um passo e levando o outro pé para junto do primeiro,<br />

inclinar-se e empurrar de encontro à água, quando a água chegar<br />

próximo à face - soprar.<br />

� Etapa 4: Esta etapa tem por finalidade estimular a cabeça<br />

e o equilíbrio corporal da cabeça.<br />

É formado um círculo, alternadamente o nadador e o<br />

fisioterapeuta segurando as mãos e olhando para dentro. O mesmo<br />

instrui o nadador para dobrar seus joelhos na altura do tórax e que<br />

lentamente mova a sua cabeça para frente e para trás.<br />

O fisioterapeuta fornece auxílio para o nadador, movendo seu braço<br />

para frente e para trás ligeiramente. É importante que o controle da<br />

cabeça para frente e para trás seja tal que o corpo “em bola” não<br />

oscile demasiado longe (CAMPION, 2000).<br />

� Etapa 5: Saída<br />

A saída por cima da borda deve ser desenvolvida de tal<br />

maneira que a independência do paciente seja ajudada. Isto envolve<br />

que o individuo coloque suas mãos sobre a parede e, com auxílio<br />

do fisioterapeuta segurando ambos os quadris logo abaixo do<br />

grande trocânter, alcançar uma posição deitada sobre a parede, com<br />

as pernas retas pelo lado da piscina abaixo. Ela então “serpenteia”<br />

para frente empurrando com suas mãos. Suas pernas devem ser<br />

levantadas no alto e fora da água, enquanto ela se move para frente


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

até que seus quadris estejam bem sobre o lado da piscina. Ela é<br />

ajudada a rolar e a sentar-se.<br />

Deve-se tomar cuidado quando o controle da cabeça é<br />

limitado, e a saída modificada para acomodar sinergias flexoras dos<br />

braços.<br />

Em casos de espinha bífida, se for utilizada uma bolsa<br />

urinária, o quadril no lado do aparelho precisa ser levantado bem<br />

distante de modo a que o aparelho permaneça no lugar (CAMPION,<br />

2000).<br />

Esse se difere dos outros métodos de ensino, porque<br />

valoriza a natureza critica da água e se adapta as formas e<br />

densidades alteradas da pessoa deficiente. As crianças com<br />

distúrbios neurológicos tornam-se mentalmente ajustados à água,<br />

adquirem estabilidades de restauração do equilíbrio, controle da<br />

cabeça e da respiração, e com isso atingindo todos os requisitos<br />

para a independência na água.<br />

Enquanto o objetivo do método é um nadador mentalmente<br />

ajustado e fisicamente equilibrado, os vários aspectos físicos e<br />

psicológicos asseguram que a confiança e auto-estima adquiridas<br />

na piscina sejam levadas ao solo, desenvolvendo a função na água<br />

e o principal, estimular e desenvolver a pessoa como um todo,<br />

com isso, possibilitando ao paciente o tratamento para os possíveis<br />

problemas e uma boa qualidade de vida (CAMPION, 2000).<br />

3 CoNCLuSÃo<br />

De acordo com a revisão bibliográfica realizada, verificouse<br />

a importância do meio líquido, ou seja, a hidroterapia como um<br />

tratamento terapêutico adequado para portadores de SD.<br />

123


124<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

Constatou-se o Método de Halliwich como a melhor<br />

proposta de tratamento para pacientes com enfermidades<br />

neurológicas. Esse método tem como ênfase desenvolver as<br />

habilidades do paciente na água, utilizando o meio aquático como<br />

uma forma de proporcionar a felicidade, o prazer, colocando as<br />

atividades em formas de jogos (CAMPION, 2000).<br />

Esses exercícios terapêuticos proporcionam ao paciente<br />

alívio da dor, diminuição dos espasmos musculares, manutenção<br />

ou aumento da amplitude dos movimentos das articulações,<br />

fortalecimento muscular, melhora na circulação, encorajamento<br />

das atividades funcionais, manutenção e melhora no equilíbrio,<br />

coordenação e postura corporal. Facilitando atráves do meio<br />

líquido as aquisições motoras, que estão comprometidas neste<br />

portador, tornando o processo de evolução mais lento, exigindo<br />

cuidados e estímulos adequados para os devidos ganho motores.<br />

Proporcionando assim, um bem estar físico, mental e psicossocial<br />

ao portador se Síndrome de Down (RUOTTI et al., 2000).<br />

4 rEFErÊNCiAS<br />

CAMPION, Margaret Reid. Hidroterapia: Princípios e práticas.<br />

Traduzido por Mônica Conrado Lange. São Paulo: Manole, 2000.<br />

DIAMENT, Aron; CYPEL, Saul. Neurologia Infantil. 4. ed. São<br />

Paulo: Atheneu, 2005.<br />

FERREIRA, José Paulo (coord.). Pediatria: Diagnóstica e<br />

tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />

FLEHMIG, Inge. Texto e Atlas do Desenvolvimento Normal e seus<br />

Desvios no Lactente: Diagnóstico e tratamento do nascimento até<br />

o 18º mês. Traduzido por Samuel Arão Reis. São Paulo: Atheneu,<br />

2005.<br />

GUIMARÃES, GP. et. al. Hidroterapia na Síndrome de Down.<br />

Fisioterapia em Movimento, v. 3, n. 2, p. 54-62, 1996.


FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />

MOREIRA, Lília M. et. al. A Síndrome de Down e sua patogênese:<br />

considerações sobre o determinismo genético. Revista Brasileira<br />

de Psiquiatria, v. 22, n. 2, p. 96-99, 2000.<br />

NORM, Andrea; HANSON, Bates. Exercícios Aquáticos<br />

Terapêuticos. Traduzido por Mercês Nogueira Paulo. São Paulo:<br />

Manole, 1998.<br />

ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO,<br />

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Artmed, 2005.<br />

RUOTI, Richard G.; MORRIS, David M.; COLE, Andrew J.<br />

Reabilitação Aquática. Traduzido por Nelson Gomes de Oliveira.<br />

São Paulo: Manole, 2000.<br />

SAAD, Suad Nader. Preparando o caminho da inclusão: dissolvendo<br />

muitos preconceitos em relação à pessoa com Síndrome de Down.<br />

São Paulo: Vetor, 2003.<br />

125


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA<br />

muSCuLAr Em PorTADorES DE<br />

ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

PedROSO, AnA PAULA 1<br />

BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />

rESumo<br />

A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica de<br />

caráter auto-imune, degenerativo e progressivo. É<br />

um distúrbio neurológico pertencente ao grupo das<br />

doenças desmielinizantes, que afeta a substância<br />

branca do sistema nervoso central (SNC).<br />

Caracterizada por inflamação e destruição da bainha<br />

de mielina que reveste os axônios das células<br />

nervosas, prejudicando a condução dos impulsos<br />

nervosos. Entre as inúmeras manifestações clínicas<br />

advindas da EM a fadiga muscular é descrita como<br />

a mais debilitante e incapacitante, principalmente<br />

quando somada à fadiga central. A fadiga muscular<br />

é oriunda da inatividade, desuso, períodos de<br />

confinamento no leito e também das falhas nas<br />

1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />

Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />

127


128<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

transmissões nervosas decorrentes da EM. Nos<br />

últimos anos pesquisadores têm se dedicado ao<br />

estudo de programas de exercícios resistidos para<br />

pessoas com EM. O presente trabalho trata-se de<br />

uma revisão bibliográfica exploratória que tem como<br />

objetivo geral verificar os benefícios dos exercícios<br />

resistidos na fadiga muscular em portadores de EM.<br />

Os resultados destes estudos vêm demonstrando que<br />

indivíduos com leve a moderado grau de acometimento<br />

possam beneficiar-se destes programas, aumentando<br />

a resistência muscular à fadiga, melhorando a aptidão<br />

física, o bem estar e consequentemente a capacidade<br />

funcional. Ao termino deste estudo concluiu-se que<br />

respeitando as peculiaridades e os limites impostos<br />

pela EM, a individualidade de cada paciente e o<br />

emprego consciente e seguro dos exercícios resistidos<br />

pode-se obter resultados positivos, especificamente<br />

na melhora da resistência muscular à fadiga e da<br />

capacidade funcional destes pacientes.<br />

Palavras-chave: esclerose múltipla, fadiga muscular,<br />

exercícios resistidos e fisioterapia.<br />

ABSTrACT<br />

The multiple sclerosis (ME) is a chronic illness of<br />

auto-immune, degenerative and gradual character.<br />

It is a neurological disorder pertaining to the group<br />

of the demyelinating illnesses, that affects the


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

white substance of the central nervous system.<br />

Characterized for inflammation and destruction of the<br />

myelin sheath that coats the axons of the nervous<br />

cells harming the conduction of the nervous impulses.<br />

It enters the innumerable clinical manifestations of<br />

the ME, the muscular fatigue is described as most<br />

debilitating and incapacitating, mainly when added to<br />

the central fatigue. The muscular fatigue is deriving<br />

of the inactivity, disuse, periods of confinement in<br />

the stream bed and also of the imperfections in the<br />

nervous transmissions decurrent of the ME. In recent<br />

years researchers have if dedicated to the study of<br />

programs of resisted exercises for people with ME.<br />

This study is a exploratory bibliographical research<br />

has as objective generality to verify the benefits of the<br />

exercises resisted in the muscular fatigue in carriers of<br />

ME. The results of these studies come demonstrating<br />

that individuals with light until moderate degree of<br />

involvement can benefit of these programs, increasing<br />

the muscular resistance to the fatigue, improving the<br />

physical aptitude, the welfare and consequently the<br />

functional capacity. To finish it of this study concluded<br />

that respecting the peculiarities and the limits imposed<br />

by ME, the individuality of each patient and the<br />

conscientious and safe of job the resisted exercises<br />

can be gotten resulted positive, specifically in the<br />

improvement of the muscular resistance to the fatigue<br />

and of the functional capacity of these patients.<br />

129


1 iNTroDuÇÃo<br />

130<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

Keywords: multiple sclerosis, muscular fatigue,<br />

resisted exercises, physical therapy<br />

A esclerose múltipla (EM) é um distúrbio neurológico<br />

pertencente ao grupo das doenças desmielinizantes. É uma doença<br />

crônica do sistema nervoso central (SNC), de caráter auto-imune,<br />

degenerativo e progressivo (PORTER, 2005).<br />

De acordo com Silva e Valença (2003) os fatores causais<br />

ainda não são completamente conhecidos, sabe-se que há uma<br />

possível relação entre fatores genéticos e ambientais, ou seja,<br />

uma determinada predisposição genética combinada com um<br />

fator ambiental desconhecido (possivelmente viral) originaria um<br />

distúrbio imunológico de ação auto-lesiva que afetaria a substância<br />

branca do SNC, acarretando a perda de oligodendrócitos e mielina<br />

prejudicando a condução dos impulsos nervosos.<br />

Segundo Kumar et al. (2005) a EM é a patologia mais<br />

comum entre os distúrbios desmielinizantes. As mulheres são duas<br />

vezes mais acometidas pela doença, assim como os brancos são<br />

duas vezes mais afetados que os não-brancos. O aparecimento dos<br />

sintomas se dá geralmente entre os vinte e cinquenta anos de idade,<br />

por isso é considerada uma doença de adultos jovens.<br />

Segundo Mendes et al. (2000) entre as manifestações<br />

clínicas advindas da EM identifica-se a fadiga, descrita como seu<br />

sintoma mais comum, atingindo entre 80 e 90% dos pacientes. “Para<br />

pacientes com EM, a fadiga é um sintoma subjetivo, definido como<br />

sensação de cansaço físico ou mental profundo, perda de energia


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

ou mesmo sensação de exaustão, com características diferentes<br />

daquelas apresentadas na depressão ou fraqueza muscular”.<br />

Segundo Jones Jr. (2006) a sensação de lassidão ou cansaço<br />

generalizado apresentada na EM é denominada de fadiga central<br />

e é decorrente da desmielinização axonal, onde ocorrem disparos<br />

persistentes, mas ineficazes, de neurônios em vias neuronais<br />

comprometidas pelas áreas esclerosadas.<br />

Além da fadiga decorrente da desmielinização os pacientes<br />

também sofrem com a fadiga muscular relacionada ao desuso e<br />

ao descondicionamento físico que são resultado dos períodos<br />

de confinamento no leito, comuns na doença, e da redução das<br />

atividades de vida diária (AVDs) antes comuns e com a EM passam<br />

a ser praticamente abolidas. Os músculos passam por um processo<br />

gradual de atrofia, perda de força e diminuição da resistência<br />

muscular à fadiga, o que consequentemente implica em rápida<br />

fadiga muscular quando os músculos são requisitados para alguma<br />

atividade (FURTADO & TAVARES, 2006).<br />

Com o objetivo de restabelecer a resistência muscular<br />

à fadiga, prejudicada com a EM, os exercícios resistidos são<br />

uma alternativa de tratamento. Nestes casos, deve-se levar em<br />

consideração fatores como intensidade, frequência e duração dos<br />

exercícios, sempre considerando as características próprias da<br />

doença (KISNER & COLBY, 2005).<br />

2 DiSCuSSÃo<br />

Estudos epidemiológicos apontam que nos Estados Unidos<br />

(EUA) a EM afeta 1:1000 habitantes na maior parte desse país.<br />

Maiores frequências são encontradas nos países escandinavos, sul<br />

131


132<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

do Canadá, Nova Zelândia e sul da Austrália, em taxas de 30 a<br />

80 por 100 mil habitantes (JONES, 2006; MINGUETI, 2001). Na<br />

Escócia, onde são encontradas as maiores taxas, há 193 casos por<br />

100.000 habitantes. Opostamente, na China a EM é rara, ocorrendo<br />

na proporção de 1 caso por 100.000 habitantes (FURTADO &<br />

TAVARES, 2006).<br />

Presume-se que no Brasil a prevalência seja inferior a 5<br />

casos para cada 100 mil habitantes, considerando-se um país de<br />

baixa prevalência. Entretanto, os neurologistas, especificamente<br />

aqueles do sudeste e sul do Brasil, têm-se deparado com um<br />

número cada vez maior destes casos, talvez porque estejam<br />

cada vez mais influenciados pelos critérios clínicos amplamente<br />

divulgados e discutidos no meio médico hoje em dia (GRZESIUK,<br />

2006; MINGUETTI, 2001).<br />

Do ponto de vista genético cerca de 15% dos portadores<br />

de EM têm um parente afetado, o que aumenta o risco de seus<br />

descendentes em 2% e aos irmãos em 5% de serem acometidos<br />

pela doença (PORTER, 2005). O que parece é que os indivíduos<br />

não herdam a doença, mas uma susceptibilidade genética para<br />

disfunção do sistema imune, que quando exposta ao agente<br />

ambiental (infecções virais) pode desencadear uma resposta autoimune<br />

(O’SULLIVAN & SCHIMITZ, 2004).<br />

O’Sullivan e Schimitz (2004) relatam que a EM também<br />

é denominada de “grande aleijadora de jovens”, isto porque<br />

afeta principalmente indivíduos entre vinte e quarenta anos de<br />

idade, tendo a terceira década de vida como período potencial<br />

de surgimento dos sintomas. As mulheres são duas vezes mais<br />

acometidas pela doença, assim como os brancos são duas vezes<br />

mais afetados que os não-brancos.


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

Anatomicamente as placas desmielinizadas têm<br />

aspecto róseo-acinzentado e delimitações visíveis, podendo ser<br />

encontradas ao longo do encéfalo e medula espinhal. Essas placas<br />

possuem diferentes tamanhos e formatos irregulares que variam<br />

de milímetros até alguns centímetros de diâmetro. As lesões<br />

recentes têm aspecto rosado e são macias, enquanto as crônicas são<br />

cinzentas, translúcidas e firmes. Algumas lesões têm tamanho tão<br />

reduzido que só podem ser vistas ao exame microscópico, outras<br />

com tamanho razoável chegam a ocupar grandes porções do SNC<br />

(NITRINI & BACHESCHI, 2005).<br />

De acordo com Kumar et al. (2005) as placas são<br />

normalmente encontradas ao longo do trajeto das veias<br />

periventriculares, por isso são comumente observadas ao lado dos<br />

ventrículos laterais. Também são frequentes nos nervos ópticos,<br />

no quiasma, nos tratos de fibras ascendentes e descendentes no<br />

tronco cerebral, cerebelo e medula. Além disso, as placas podem<br />

se estender para estruturas de substância cinza, desde que existam<br />

fibras mielinizadas intrincadas; embora a identificação no interior<br />

da substância cinzenta seja mais difícil.<br />

Do aspecto microscópico existem variantes que vão de<br />

acordo com a evolução das lesões. Em fases agudas onde há a<br />

presença de inflamação, principalmente em torno das pequenas<br />

veias, ocorre um grande extravasamento de líquido carregado de<br />

células, principalmente linfócitos e macrófagos, nesta etapa poderá<br />

vir a ocorrer a desmielinização em decorrência do efeito citotóxico<br />

destas células aos oligodendrócitos (células produtoras de mielina)<br />

e à bainha de mielina que envolve o nervo (BUJA & KRUEGER,<br />

2007).<br />

A bainha de mielina serve como um isolante, aumentando<br />

a velocidade de transmissão dos impulsos ao longo das fibras<br />

133


134<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

nervosas e também auxilia na conservação de energia para o nervo.<br />

Com a sua degradação a condução dos impulsos neurais se torna<br />

mais lenta fazendo com que os nervos fadiguem mais rapidamente.<br />

Um comprometimento maior pode levar a um bloqueio da<br />

condução dos impulsos, levando a perda da função (O’SULLIVAN<br />

& SCHIMITZ, 2004).<br />

Com o avançar da doença são observadas lesões em estágio<br />

agudo e crônico de diversos tamanhos e largamente distribuídos<br />

principalmente no nervo óptico, substância branca subcortical<br />

(especialmente periventricular), tratos córticoespinhais, cordão<br />

posterior da medula espinal e pedúnculos cerebelares, locais estes<br />

que são considerados áreas de predileção de desenvolvimento das<br />

lesões escleróticas (JONES, 2006).<br />

De acordo com Jones Jr. (2006) a forma evolutiva mais<br />

comum de EM é a de surtos e remissões onde as manifestações<br />

dos sintomas desaparecem após alguns dias de forma completa ou<br />

parcial. Mais raramente a EM tem um curso crônico e progressivo<br />

em que os sinais e sintomas progridem gradualmente.<br />

Entre as manifestações clínicas estão os distúrbios visuais,<br />

parestesias, distúrbios de marcha, incontinência intestinal e vesical,<br />

fraqueza, fatigabilidade, espasticidade, paresia, disartria, tremor<br />

intencional, ataxía e instabilidade emocional. Os sinais e sintomas<br />

podem se desenvolver rapidamente, em seis a quinze horas ou em<br />

questão de dias ou semanas (BUJA & KRUEGER, 2007).<br />

A fadiga é evento comum e impactante no cotidiano dos<br />

portadores de EM. Durante o período da manhã os pacientes podem<br />

sentir-se revigorados, mas ao decorrer do dia a sensação de fadiga<br />

se agrava, possivelmente pelo aumento da temperatura central<br />

do corpo. A sensação de fadiga torna as atividades funcionais


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

cotidianas muito exaustivas, fazendo com que sejam reduzidas ou<br />

até abolidas, tornando o mundo ao redor inalcançável para estas<br />

pessoas. A fatigabilidade se eleva sob influência do calor, raios<br />

solares, ambientes superaquecidos, banhos quentes e exercícios<br />

prolongados e/ou intensos sem repouso adequado (BECKER &<br />

DULKEN, 2008).<br />

Na EM divide-se a fadiga em dois grupos: a fadiga central<br />

ou generalizada e a fadiga muscular ou localizada. As duas têm<br />

etiologias diferenciadas, mas possuem uma interrelação, ou seja,<br />

se somam e podem ser confundidas pelos pacientes (FURTADO &<br />

TAVARES, 2006).<br />

A fadiga central pode ser causada por disparos ineficazes<br />

de neurônios em vias neuronais comprometidas pelas placas<br />

escleróticas. Os impulsos tornam-se incapazes de produzir<br />

movimentos adequados nos músculos ou recrutar reflexos<br />

necessários. Com o comprometimento da função axonal há um<br />

aumento dos caminhos e áreas corticais, decorrentes das áreas de<br />

desmielinização cerebral, podendo ser responsável pela sensação de<br />

esforço extremamente aumentado experimentado pelos pacientes<br />

mesmo nas tarefas mais simples (NITRINI & BACHESCHI,<br />

2005).<br />

Segundo Furtado & Tavares (2006) a fadiga muscular frequentemente<br />

acomete os indivíduos com EM, mas diferentemente da fadiga<br />

central advinda da desmielinização, a fadiga muscular é decorrente<br />

do descondicionamento físico, da inatividade e do desuso. Os<br />

pacientes costumam interromper as atividades costumeiras após<br />

o surgimento dos sintomas impostos pela EM, muitas vezes são<br />

orientados a não praticarem atividades físicas e inclusive podem<br />

ficar confinados no leito durante muitos dias ou semanas durante<br />

os surtos da doença, gerando um quadro de perda gradativa da<br />

135


136<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

resistência à fadiga muscular. Pode-se dizer que a fadiga muscular<br />

é causada por destreinamento e sedentarismo. A fadiga nestes<br />

pacientes merece atenção, pois há uma soma de fatores, centrais e<br />

periféricos, que a desencadeiam nestes pacientes, gerando extremo<br />

desconforto.<br />

Por muito tempo os pacientes encararam a doença de<br />

forma errônea, no momento em que eram orientadas a diminuir seu<br />

nível de atividade física. Pretendia-se promover a conservação de<br />

energia, evitar o aumento da temperatura corporal para controlar<br />

a fadiga, diminuindo o risco de exacerbação dos sintomas da<br />

doença. Mas o estilo de vida sedentário repercutiu em um risco<br />

aumentado de doenças cardíacas e em outras patologias associadas<br />

à inatividade física e também elevou o aparecimento dos distúrbios<br />

característicos da EM, como espasticidade, ataxia, fraqueza<br />

muscular, problemas de equilíbrio e fadiga. Alguns estudos vêm<br />

demonstrando que a realização de exercícios físicos por portadores<br />

de EM pode trazer benefícios similares àqueles obtidos por pessoas<br />

saudáveis (FURTADO & TAVARES, 2006).<br />

Entre os recursos disponíveis na fisioterapia para o tratamento das<br />

manifestações da EM, encontramos aqueles que visam reduzir a<br />

fadiga muscular e aumentar a tolerância dos pacientes em relação a<br />

esse sintoma. Entre eles, os exercícios resistidos têm sido utilizados<br />

com esta finalidade e muitos estudos vêm sendo realizados a<br />

respeito das consequências destes exercícios em pacientes com EM<br />

(FURTADO & TAVARES, 2006; KISNER & COLBY, 2005).<br />

Resistência muscular à fadiga é a capacidade de realizar<br />

atividades de intensidade baixa ou moderada, dinâmicas ou<br />

estáticas por um período maior de tempo. A resistência muscular<br />

á fadiga é descrita quando um músculo se contrai repetidamente<br />

contra uma resistência gerando e mantendo tensão suficiente e


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

resistindo à fadiga por um tempo prolongado. A maioria das tarefas<br />

diárias necessita de certo grau de resistência muscular, mesmo<br />

músculos fortes podem encontrar-se sem resistência muscular,<br />

levando-os à fadiga mais rapidamente. No treino para melhora<br />

da resistência o essencial são séries numerosas, baixa intensidade<br />

(carga) e extenso período de tempo. Este tipo de treino possui<br />

grandes vantagens sobre os exercícios resistidos de intensidade<br />

elevada, observando que a baixa intensidade é mais confortável<br />

para o paciente, não produz grandes impactos sobre as articulações<br />

e produz menos irritação sobre os tecidos moles. Os pacientes com<br />

EM podem se beneficiar com este tipo de exercício, aumentando<br />

sua capacidade de resistir à fadiga muscular, obtendo assim maior<br />

funcionalidade e melhor qualidade no desempenho de tarefas do<br />

cotidiano (FURTADO & TAVARES, 2006; KISNER & COLBY,<br />

2005).<br />

As adaptações fisiológicas decorrentes do treinamento de<br />

resistência muscular à fadiga em relação à estrutura do músculo<br />

esquelético envolvem aumento da densidade dos leitos capilares e<br />

da densidade e volume das mitocôndrias, ou seja, há um aumento<br />

na capacidade oxidativa e metabólica dos músculos, sendo que<br />

o uso e o transporte de oxigênio e nutrientes são melhorados. A<br />

hipertrofia muscular neste tipo de treinamento é mínima. Com<br />

relação à composição do corpo há uma redução do percentual de<br />

gorduras, mas a massa magra não sofre alterações. Os tendões,<br />

ligamentos e tecido conjuntivo têm sua força tensiva aumentada e<br />

concomitantemente a mineralização óssea é elevada com atividades<br />

combinadas ao apoio de peso. O tempo para que essas adaptações<br />

ocorram variam de um indivíduo para outro e dependem do grau<br />

de adesão do paciente aos exercícios resistidos e da extensão dos<br />

comprometimentos oriundos da patologia (KISNER & COLBY,<br />

2005).<br />

137


138<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

Os exercícios resistidos têm sido utilizados por pacientes<br />

com EM e têm se demonstrado seguros e efetivos quando usados<br />

com moderação. Indivíduos com comprometimentos mínimos<br />

e doença estável parecem ter melhor tolerância aos exercícios e,<br />

portanto, obtêm o máximo benefício. É importante considerar que<br />

os exercícios com intensidade submáxima (baixa a moderada)<br />

são tolerados, enquanto que o exercício máximo não. Têm sido<br />

relatadas melhoras significativas nas medidas de força e resistência<br />

muscular á fadiga, fatigabilidade (fadiga central) e na percepção da<br />

fadiga periférica muscular (O’SULLIVAN & SCHIMITZ, 2004).<br />

DeBolt e McCubbin (2004) registraram o impacto de um programa<br />

domiciliar com exercícios resistidos para membros inferiores<br />

(MMII) em portadores de EM, a partir de um programa que se<br />

compreendia de seis sessões para instrução dos participantes e oito<br />

semanas de treinamento com três sessões semanais em ambiente<br />

domiciliar. Participaram do estudo dezenove praticantes e dezessete<br />

controles, todos com EM confirmada. Os resultados demonstraram<br />

melhora significativa de potência de MMII, com ganhos médios de<br />

37,4% e diminuição de 12,7% no tempo de caminhada.<br />

Em outro estudo, White et al. (2004) avaliaram o efeito de<br />

oito semanas de um programa de treinamento resistido progressivo<br />

para MMII em máquinas, contando com oito sujeitos com EM<br />

(EDSS: 1-5). Os participantes realizaram exercícios dinâmicos<br />

e melhoraram significativamente a força isométrica de extensão<br />

de joelho (7,4%) e flexão plantar (54%), além da melhora no<br />

desempenho na execução de três minutos de subida e descida de<br />

degrau (8,7%). O auto-relato de fadiga reduziu significativamente<br />

(24%) e houve, ainda, uma tendência para redução da incapacidade<br />

a partir de auto-relato (EDSS de 3,7 para 3,2).<br />

Em um estudo com maior duração e número de sujeitos,<br />

Romberg et al. (2004) estudaram o impacto de vinte e seis semanas


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

de exercícios resistidos com faixas elásticas em noventa e cinco<br />

indivíduos com EM (EDSS: 1-5,5). Foram observadas melhoras<br />

significativas nos testes de caminhada de 7,62 metros (12%) e 500<br />

metros (6%), além de melhora na resistência muscular localizada<br />

de membros superiores (2,9 repetições).<br />

O impacto de um programa de exercícios no<br />

condicionamento físico e na qualidade de vida de pessoas com<br />

EM foi estudado por Petajan et al. (1996). Nessa pesquisa vinte e<br />

um sujeitos (EDSS = 6) completaram um programa de exercícios<br />

por quinze semanas com três sessões semanais. Cada sessão de<br />

treino consistia de cinco minutos de aquecimento a 30% VO2max<br />

(volume máximo de oxigênio que um indivíduo consegue utilizar<br />

por minuto), trinta minutos a 60% do VO2max, seguidos de<br />

cinco minutos de resfriamento e alongamento para os MMII e<br />

para as costas. Os exercícios foram realizados em ergômetro de<br />

braços e pernas. Nesse estudo foi observado aumento de 22% no<br />

VO2, diminuição de gordura corporal e níveis de triglicérides,<br />

além de mudanças favoráveis na força máxima isométrica de<br />

todos os grupos musculares. O treinamento também resultou em<br />

um profundo impacto na qualidade de vida, com reduções na<br />

depressão, fadiga e melhora na mobilidade e cuidados corporais. O<br />

autor sugere que indivíduos com EM podem obter benefícios com<br />

a prática de exercícios físicos, similares àqueles alcançados por<br />

pessoas sem doença.<br />

Dodd et al. (2006) desenvolveram um estudo qualitativo<br />

para explorar as percepções de adultos com EM sobre os efeitos<br />

positivos e negativos de um programa progressivo de reforço da<br />

resistência. O estudo teve a participação de sete mulheres e dois<br />

homens (idade média de 45,6 anos) com EM, eles participaram de um<br />

programa de dez semanas de exercícios com resistência progressiva<br />

139


140<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

com frequência de duas vezes por semana. Os participantes foram<br />

entrevistados no final do programa e os resultados foram muito<br />

positivos, com benefícios físicos, psicológicos e sociais notáveis. A<br />

maioria dos participantes relatou menos fadiga como resultado do<br />

programa. Poucos resultados negativos foram registrados e estes<br />

foram menores, tais como dores. Os principais fatores extrínsecos<br />

para a conclusão do programa foram o incentivo dos líderes e do<br />

conhecimento dos exercícios, enquanto que os principais fatores<br />

intrínsecos foram a satisfação, a determinação e a vivência dos<br />

sinais de progresso. Os resultados deste estudo sugerem que o<br />

treinamento de força e resistência progressivas é uma opção viável<br />

para a melhora da aptidão física para algumas pessoas com EM. Os<br />

fatores apontados como importantes para a conclusão do programa<br />

são a escolha de profissionais com conhecimento e capacidade de<br />

incentivar os exercícios e o trabalho de grupo que contribuíram<br />

para o sucesso do programa.<br />

Os benefícios dos exercícios resistidos apresentados nos<br />

estudos e pesquisas relacionados são inúmeros e se refletem tanto<br />

física quanto mentalmente. Os benefícios que os pacientes com<br />

EM experimentam ao praticar os exercícios resistidos podem<br />

ser os mesmos experimentados por pessoas saudáveis. Segundo<br />

Kisner & Colby (2005). O treinamento de resistência muscular<br />

proporciona um maior aporte sanguíneo ao músculo esquelético<br />

aumentando a capacidade oxidativa e metabólica desses tecidos.<br />

Concomitantemente há também uma redução do percentual de<br />

gordura pela queima calórica provocada pelos exercícios e aumento<br />

da força tensiva dos tendões, ligamentos e tecido conjuntivo.<br />

A redução da fadiga central e cansaço generalizado<br />

podem ser explicados em razão de que a prática de exercícios<br />

físicos estimula a liberação de substâncias como a endorfina, que


EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

proporcionam sensação de bem estar físico e mental. O fato de o<br />

paciente realizar uma atividade que não era habitual, onde ele pode<br />

interagir com outras pessoas e mudar sua rotina que muitas vezes é<br />

limitada em decorrência da doença, pode fazer com que o paciente<br />

se sinta mais disposto e menos fadigado (HAASE et al., 2004).<br />

O aumento da resistência muscular à fadiga e a percepção<br />

reduzida da fadiga central apontada nos estudos descritos revelam<br />

que se deve preconizar as atividades físicas, principalmente os<br />

exercícios resistidos que se mostram, até o momento, eficientes<br />

no tratamento de algumas das principais manifestações clínicas<br />

decorrentes da EM, ao contrário da inatividade, antes dada como<br />

orientação a estes pacientes.<br />

A consideração a ser feita é que se trata de uma doença<br />

crônica, progressiva, degenerativa e com limitações e incapacidades<br />

que devem ser respeitadas. Aplicar um programa de exercícios<br />

resistidos nestes pacientes requer conhecimento da patologia, do<br />

tratamento e das necessidades individuais de cada um, além de<br />

uma boa interação do fisioterapeuta com o paciente que precisa ser<br />

uma relação de confiança e aprendizagem mútua.<br />

3 CoNCLuSÃo<br />

Com base no que foi descrito nos capítulos anteriores, pôdese<br />

verificar que entre as inúmeras manifestações clínicas advindas<br />

da EM a fadiga muscular é descrita como a mais debilitante e<br />

incapacitante, principalmente quando somada à fadiga central.<br />

Observou-se também que os fatores predisponentes à fadiga<br />

muscular são o desuso, a inatividade e o descondicionamento<br />

físico, ou seja, o sedentarismo adotado como estilo de vida por<br />

141


142<br />

PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

esses pacientes e os períodos de surto que os confinam ao leito,<br />

tornam-se agravantes na redução da resistência muscular à fadiga.<br />

Verificou-se em pesquisas recentes que uma das alternativas<br />

de tratamento para restabelecer a resistência muscular à fadiga,<br />

prejudicada com a EM, são os exercícios resistidos, partindo do<br />

pressuposto que estes exercícios melhoram a aptidão física, o bem<br />

estar, aumentam a resistência muscular à fadiga e melhoraram a<br />

força muscular.<br />

Mostrou-se que os pacientes com grau de acometimento leve<br />

a moderado são os candidatos à prática dos exercícios resistidos,<br />

que devem ser realizados em locais adequados e orientados por<br />

fisioterapeutas. E ainda, que a intensidade submáxima é a mais<br />

indicada para a reabilitação da resistência muscular à fadiga e que o<br />

número de repetições deve ser maior e as cargas impostas menores,<br />

com repouso razoável entre as séries de exercícios. A frequência<br />

semanal ideal fica em torno de três dias intercalados por um dia de<br />

descanso.<br />

Portanto, respeitando-se as peculiaridades e os limites<br />

impostos pela EM, a individualidade de cada paciente e o<br />

emprego consciente e seguro dos exercícios resistidos podese<br />

obter resultados positivos em relação à fadiga muscular. Os<br />

estudos relacionados evidenciam estas possibilidades através dos<br />

benefícios apresentados, especificamente, em relação à melhora da<br />

resistência muscular à fadiga e consequentemente da capacidade<br />

funcional.<br />

Muitos estudos e pesquisas ainda precisam ser realizados<br />

em relação à EM e a terapêutica sintomática, visto que, há ainda<br />

inúmeras possibilidades a serem testadas e que podem trazer a<br />

esperança de um futuro melhor a estes pacientes.


4 rEFErÊNCiAS<br />

EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />

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143


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iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em<br />

QuEimADoS<br />

HeinZMAnn FiLHO, JOãO PAULO 1<br />

WOZeZenSKi, CRiSTHieLe TAiS<br />

BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />

1<br />

rESumo<br />

A pesquisa realizada foi do tipo bibliográfica, onde a<br />

abordagem qualitativa foi utilizada como eixo central.<br />

Com o desenvolvimento desse artigo, verificou-se<br />

a relevância da fisioterapia nas diversas etapas do<br />

processo de reabilitação. Tornando indispensável<br />

a atuação deste profissional, juntamente com uma<br />

equipe interdisciplinar, buscando um intervervenção<br />

precoce para evitar possiveis complicacões<br />

secundárias a queimadura. O estudo teve por objetivo<br />

enfatizar a utilização dos recursos fisioterapêuticos<br />

no tratamento de pacientes com lesões térmicas.<br />

Constatou-se através dos mesmos, uma melhora no<br />

reparo tecidual, maior extensibilidade dos tecidos,<br />

melhora na cicatrização, analgesia, redução de<br />

edemas, quelóides, contraturas, deformidades,<br />

aumento da ADM, força muscular e do sistema<br />

1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

2 Professora de Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />

Superior Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />

145


146<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

respiratório. Proporcionando assim um ganho na<br />

capacidade funcional, melhorado suas perspectivas<br />

de vida e contribuindo para uma melhora em sua<br />

auto-estima.<br />

Palavras-Chave: Pele, Queimaduras, Reabilitação,<br />

Fisioterapia, Recursos Fisioterapêuticos.<br />

ABSTrACT<br />

The research design was literature, where the<br />

qualitative approach was used as the centerpiece.<br />

With the development of this article, there was the<br />

importance of physiotherapy in the various stages<br />

of rehabilitation. Making it essential to performance<br />

of this work, together with an interdisciplinary team,<br />

seeking a intervervenção early to avoid possible<br />

complications secondary to burn. The study aimed<br />

to emphasize the use of chest physical therapy in<br />

treating patients with thermal injuries. It was found<br />

through the same, an improvement in tissue repair,<br />

increased tissue extensibility, improved healing,<br />

analgesia, reduction of edema, keloids, contractures,<br />

deformities, increased ROM, muscle strength and<br />

respiratory system. Thus providing a gain in functional<br />

capacity, improved their chances of living and<br />

contributing to an improvement in their self-esteem.<br />

keywords: Skin, Burns, Rehabilitation, Physiotherapy,<br />

physical therapy resources.


1 iNTroDuÇÃo<br />

iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

As lesões térmicas estão entre os principais problemas<br />

de saúde no mundo industrial e nos Estados Unidos anualmente<br />

registram a mais alta incidência dessas lesões. Os dados disponíveis<br />

constam mais de dois milhões de pessoas queimadas a cada ano.<br />

Um quarto dessas requer atenção médica e aproximadamente cinco<br />

mil mortes estão relacionados com lesões térmicas (SULLIVAN &<br />

SCHMITZ, 2004).<br />

Embora esses dados ressaltarem a grandeza do problema<br />

de saúde causado por queimaduras, avanços médicos recentes têm<br />

reduzido significativamente o número de mortos devido a essas<br />

lesões, melhorando o prognóstico e as habilidades funcionais dos<br />

pacientes sobreviventes. A taxa de sobreviventes tem aumentado<br />

devido à melhora das técnicas de ressuscitação, à assistência<br />

médica aguda e as assistências cirúrgicas agora mais disponíveis,<br />

assim como a constante pesquisa sobre o tratamento e assistência<br />

deste paciente (SULLIVAN & SCHMITZ, 2004).<br />

Com o resultado de perspectivas mais positivas em relação<br />

a esses aspectos, mais fisioterapeutas se tornam responsáveis pelo<br />

tratamento desses pacientes em uma parte significativa de sua<br />

reabilitação. Não só abrangendo a unidade hospitalar, como outros<br />

locais indispensáveis nas diversas áreas de atuações (SULLIVAN<br />

& SCHMITZ, 2004; GUIRRO & GUIRRO, 2002).<br />

A queimadura pode ser considerada uma lesão dos tecidos<br />

orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica. Podem<br />

variar desde uma pequena flictena, até formas mais graves capazes<br />

de desencadear um grande número de respostas sistêmicas. As<br />

intercorrências locais e sistêmicas produzidas pelas queimaduras<br />

147


148<br />

HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

mostram a grande importância da pele e conseqüentemente de<br />

suas funções protetoras do organismo contra agentes externos<br />

(GUIRRO & GUIRRO, 2002).<br />

Está entre os traumas mais graves, pois além dos problemas<br />

físicos que podem levar o paciente à morte, pode acarretar outros<br />

problemas de ordem psicológica e social (ROSSI et. al., 1998).<br />

Nesse trauma há liberação de mediadores celulares e humorais<br />

que determinam alteração da permeabilidade capilar, metabólica<br />

e imunológica levando a desnutrição e infecção. As queimaduras<br />

constituem, nas diferentes idades, a terceira causa de morte por<br />

trauma e a segunda em menores de quatro anos. Podem ser causadas<br />

por lesões térmicas, químicas, elétricas e radiações (COSTA et. al.,<br />

1999).<br />

As queimaduras podem ser classificadas quanto à<br />

sua profundidade, sendo comumente classificada em graus.<br />

Para determinar o grau da queimadura, devemos identificar a<br />

profundidade do trauma térmico da pele. Baseado na avaliação,<br />

na extensão e na profundidade da queimadura, é traçado um plano<br />

de tratamento visando às reais necessidades a curto, médio e longo<br />

prazo (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

O fisioterapeuta pode atuar nas diversas etapas do processo<br />

de reabilitação, desde quando admitido no hospital, no centro<br />

cirúrgico e no pós-operatório (MARINI, 2007). Englobando os<br />

diversos recursos como a cinesioterapia, um posicionamento<br />

adequado, associados com a massoterapia, crioterapia e com a<br />

eletroterapia (GUIRRO & GUIRRO, 2004). Todos com o objetivo<br />

de proporcionar uma maior capacidade funcional ao individuo,<br />

buscando acelerar o processo de reparo tecidual, cicatrização,<br />

minimizar a formação de quelóides e alterações estruturais,<br />

melhorando assim a qualidade de vida deste paciente.


2 DiSCuSSÃo<br />

iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

A pele do homem corresponde a 15% de seu peso corporal,<br />

é um órgão que reveste e delimita o organismo, protegendo-o e<br />

interagindo com o meio externo. Pela sua resistência e flexibilidade,<br />

determina sua plasticidade. Caracteristicamente dinâmica, a pele<br />

apresenta alterações constantes, sendo dotada de grande capacidade<br />

renovadora e de reparação e de certo grau de impermeabilidade.<br />

Tem como função maior e vital a conservação da homeostasia<br />

regulando o controle hemodinâmico, termorregulação e excreção<br />

de metabólicos. Desempenha ainda, função sensorial, defesa contra<br />

agressões físicas, químicas e biológicas, para qual se destacam, pela<br />

sua importância a ceratinização, o manto lipídico e o seu sistema<br />

imunológico. Quando a pele sofre lesões, ela pode alterar toda a<br />

sua estrutura, forma e dinamismo. (AZULAY & AZULAY, 2006).<br />

O conceito queimaduras é bastante amplo, porém,<br />

basicamente a queimadura é conceituada como lesão dos tecidos<br />

orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica. Podem<br />

variar desde uma pequena flictena, até formas mais graves capazes<br />

de desencadear um grande número de respostas sistêmicas. As<br />

intercorrências locais e sistêmicas produzidas pelas queimaduras<br />

mostram a grande importância da pele e conseqüentemente de<br />

suas funções protetoras do organismo contra agentes externos<br />

(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Essas lesões seguem desde hiperemia restrita à área<br />

queimada, alterações celulares imunológicas decorrentes do<br />

insulto, envolvimento das vias respiratórias e ocorrência de<br />

traumatismos associados, podendo evoluir até o óbito (BORGES,<br />

2006). A queimadura depende de vários fatores como, por exemplo,<br />

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HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />

a extensão da área queimada, a profundidade da queimadura, tipo<br />

do agente agressor, região atingida e a gravidade da lesão.<br />

Poucas são as doenças que trazem seqüelas tão importantes<br />

como a queimadura. Mesmo com a sobrevivência física e a<br />

ocorrência da reepitelização de toda pele, as cicatrizes, as contraturas<br />

e a distorção da própria imagem culminam com freqüência na<br />

“morte social” (OLIVEIRA et al., 2007). A queimadura geralmente<br />

é causada por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos<br />

que agem no tecido de revestimento do corpo humano e pode<br />

destruir parcialmente ou totalmente a pele, seus anexos e até atingir<br />

camadas mais profundas, como os tecidos subcutâneos, músculos,<br />

tendões e ossos (DELIBERATO, 2002; VIANA et al., 2009).<br />

Estudos epidemiológicos em diversos países indicam<br />

que as queimaduras representam uma das principais causas<br />

não intencionais de acidentes em crianças e adolescentes. Essas<br />

representam a segunda causa de morte acidental na infância. Nos<br />

países em desenvolvimento as queimaduras representam 96%<br />

das causas de morte por lesão unidirecional, totalizando 271.000<br />

mortes. No Brasil, em 2001, ocorreu um milhão de acidentes por<br />

queimaduras e aproximadamente 2.500 destes indivíduos foram a<br />

óbito (VIANA et al., 2009).<br />

As crianças apresentam maior predisposição para<br />

acidentes. Nesse período de desenvolvimento, a criança é curiosa,<br />

inquieta, inexperiente, exploradora, ativa e, na maioria das vezes é<br />

incapaz de identificar e avaliar o perigo. Estes fatores associados à<br />

negligência dos familiares facilitam os acidentes.<br />

Pesquisas realizadas no Brasil e em diversos países<br />

apontam que os principais agentes etiológicos dos acidentes por<br />

queimaduras em crianças são os escaldamentos por água quente,<br />

líquidos quentes e os produtos inflamáveis. Os acidentes por


iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

queimaduras são considerados dos mais graves traumas, pois além<br />

do risco de morte, as complicações como septicemia, falência renal<br />

e cardiorrespiratória, poderão induzir importantes modificações<br />

metabólicas, seqüelas físicas e psicológicas (VIANA et al., 2009).<br />

Constitui um evento que pode fazer perigar o bem estar<br />

físico e psicológico do indivíduo, dependendo naturalmente da<br />

gravidade da situação, a complexidade deste tipo de lesões pode<br />

traduzir-se em hospitalizações e conseqüente separação do meio<br />

familiar por vezes prolongado, em que a dor e o receio podem<br />

tomar dimensões particularmente estressantes (BICHO & PIRES,<br />

2002).<br />

Muitos acidentes, incluindo os graves estão relacionados<br />

com o trabalho ou com acidentes de carro e outros tipos de colisões,<br />

enquanto 75% ocorrem no domicílio, especialmente na cozinha<br />

e no banheiro, com alimentos e líquidos quentes, constituindo<br />

uma das fontes mais comuns de queimaduras. As situações mais<br />

comuns ocorrem na cozinha durante o preparo de alimentos, a<br />

desatenção com alimentos líquidos e utensílios quentes, água<br />

quente no banheiro, agentes químicos e em casas antigas com<br />

fiações elétricas velhas, lâmpadas com correntes penduradas,<br />

radiadores, aquecedores de ambientes e vaporizados, isqueiros<br />

acesos e fósforo na mão de crianças entre outros (MELLO et al.<br />

2007; SILVA et al., 2007).<br />

As queimaduras podem ser classificadas quanto à sua<br />

profundidade, sendo comumente classificada em graus. Determinar<br />

o grau da queimadura significa determinar a profundidade do<br />

trauma térmico da pele.<br />

O primeiro grau é mais superficial, as lesões se restringem<br />

a epiderme, o quadro clínico apresenta hiperemia local, ausência<br />

de flictenas e um quadro doloroso pronunciado. São geralmente<br />

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lesões não significativas, sem alterações hemodinâmicas ou<br />

alterações clínicas importantes. Exemplos desse tipo de lesão são<br />

os eritemas causados pelo sol ou pelo contato com água quente.<br />

As lesões de segundo grau são consideradas nível intermediário,<br />

atingindo a epiderme e espessuras variáveis da derme, poupando<br />

parte desta. A principal característica é a presença de flictenas,<br />

causadas geralmente por contato com liquido superaquecido<br />

(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Já o terceiro grau, considerado grave, atinge toda a<br />

epiderme e a derme, podendo atingir até outros tecidos como a tela<br />

subcutânea, tecido muscular e ósseo. A cicatrização geralmente é<br />

mais difícil e demorada, podendo deixar muitas seqüelas como,<br />

por exemplo, quelóides enormes e múltiplas alterações estruturais.<br />

Sendo necessárias medidas de intervenção mais drásticas, como<br />

o uso de enxertos. Mais comumente encontrado em vitimas de<br />

incêndios graves, queimaduras elétricas ou mesmo térmicas, são<br />

responsáveis por este tipo de lesão (MILANI et al., 2006; GUIRRO<br />

& GUIRRO, 2004).<br />

Podemos ainda levar em consideração o quarto grau,<br />

classificado por alguns autores, geralmente por queimadura elétrica,<br />

no qual envolve a destruição de todos os tecidos, incluindo fáscia,<br />

músculos ou o osso, podendo levar a uma amputação (MARTINI,<br />

2007).<br />

Outro fator importante é determinar a extensão da área<br />

afetada, geralmente calculada pela regra dos nove, na qual<br />

divide a superfície corporal em segmentos que equivalem a<br />

aproximadamente 9% do total. Cada segmento corporal corresponde<br />

a um número múltiplo de nove, sendo classificado de acordo com<br />

a idade, possuindo porcentagens diferentes, sendo ela criança ou<br />

adulto.


Tabela 1: Regra dos Nove<br />

Fonte: Guiro & Guiro (2004).<br />

iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

Adulto % equivalente<br />

Cabeça e pescoço 9%<br />

Tronco anterior 18%<br />

Tronco posterior 18%<br />

Membros superiores 18%<br />

Membros inferiores 36%<br />

Períneo 1%<br />

Criança % equivalente<br />

Cabeça 21%<br />

Tronco anterior 18%<br />

Tronco posterior 18%<br />

Membro superior 18%<br />

Membro inferior 24%<br />

Períneo 1%<br />

São consideradas grandes queimaduras ou críticas, as de 2º<br />

Grau acima de 25% da superfície corporal em adultos, e 20% em<br />

se tratando de crianças, além, das queimaduras de 3º Grau acima<br />

de 10%. Incluem se, nessa categoria, todas as queimaduras de face,<br />

pés, mãos e genitais, as queimaduras elétricas, as associadas à<br />

fratura ou perdas teciduais importantes e as de grande risco devido<br />

à idade (KNOPLICH, 2010).<br />

Em relação aos fatores fisiopatológicos, após o<br />

acometimento da pele e tecidos adjacentes pelo agente térmico,<br />

há a excitação de terminações nervosas que liberam mediadores<br />

químicos (histamina, prostaglandina, serotonina, leucotrienos).<br />

Estes mediadores causam vasodilatação e aumento da<br />

permeabilidade vascular, havendo extravasamento de plasma para<br />

o interstício (TANAKA, 2010).<br />

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A lesão por queimadura acarreta uma destruição da<br />

integridade capilar e vascular, o que resulta na formação do edema,<br />

com a perda do fluído intravascular para os espaços intercelulares.<br />

Ocorrendo ainda a destruição da integridade vascular e a formação<br />

de edema na área da queimadura, bem como nos tecidos adjacentes<br />

(CHEM, 2010).<br />

As lesões provocam uma significativa agressão metabólica<br />

e catabólica ao organismo que desencadeiam um rápido decréscimo<br />

no peso corporal, equilíbrio negativo do nitrogênio, perda de<br />

componentes intracelulares e uma redução nas reservas de energia,<br />

tão vital para o processo de cicatrização (TANAKA, 2010).<br />

As queimaduras promovem alterações locais e sistêmicas,<br />

com grandes variações no processo de reparação, os quais<br />

dependem da intervenção terapêutica precoce.<br />

Por isso ressalta-se a grande importância da fisioterapia<br />

dentro das diversas etapas do processo de reabilitação, envolvendo<br />

desde terapias locais às sistêmicas enfatizando os recursos da<br />

cinesioterapia, posicionamento adequado, associados com a<br />

massoterapia, crioterapia e com a eletroterapia (GUIRRO &<br />

GUIRRO, 2004). O tratamento fisioterapêutico tem inicio no<br />

momento em que o paciente queimado é admitido no hospital e<br />

continua no centro cirúrgico e no pós-operatório (MARINI, 2007).<br />

A fisioterapia é amplamente empregada para cuidados<br />

especiais em queimaduras da região da face, pescoço, pelas<br />

aderências que podem causar na cicatrização das queimaduras<br />

de terceiro e quarto graus. Além disso, outros acometimentos<br />

importantes são as queimaduras na região dos genitais que podem<br />

causar alterações na uretra, pênis e vagina, por destruição de tecidos<br />

nobres. Sem esquecer as freqüentes lesões em pés, que podem


iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

deixar seqüelas de posições viciosas que posteriormente, impeçam<br />

na recuperação, interferindo na deambulação e nas atividades de<br />

vida diária (KNOPLICH, 2010; GOMES, 1995).<br />

Esse processo envolve uma equipe interdisciplinar, no qual<br />

o fisioterapeuta será um membro indispensável para este paciente,<br />

tanto no processo evolutivo da reabilitação, como também atuando<br />

de forma complementar nas cirurgias.<br />

Como em qualquer outro atendimento, o paciente deverá<br />

passar por uma avaliação geral de todos os membros da equipe, no<br />

qual os profissionais deverão ressaltar quais serão os objetivos ao<br />

ser alcançados, é claro, com a cooperação da equipe e do paciente,<br />

a fins de buscar resultados mais efetivos e rápidos para os mesmos.<br />

Devemos enfatizar que quanto mais precoce for a atuação da<br />

equipe profissional deste paciente, mais rápidas serão as melhoras<br />

teciduais, gerando menores riscos de possíveis complicações,<br />

deixando o paciente mais hábil possível e contribuindo para sua<br />

qualidade de vida (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Baseado na avaliação, na extensão e na profundidade da<br />

queimadura, e no estado atual de saúde, idade condição mental e<br />

física do paciente, seu prognóstico pode ser estimado pela equipe<br />

de atendimento. Segundo o Guia para a prática de fisioterapia,<br />

da Associação Americana de Fisioterapia, 1999, sugere alguns<br />

objetivos a serem alcançados como o favorecimento da recuperação<br />

da pele e tecidos moles, a redução dos riscos secundários,<br />

obtenção quando possível da ADM completa, restauração da<br />

resistência cardiovascular, normalizar a força muscular, obtenção<br />

da deambulação independente e o mais precoce possível, mínima<br />

formação de cicatrizes, o aumento da independência na realização<br />

de AVD`s e AIVD`s entre outros (SULLIVAN & SCHMITZ,<br />

2004).<br />

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Geralmente o controle e a resolução do edema são os primeiros<br />

objetivos em curto prazo, como também a manutenção da ADM,<br />

elevação dos membros, o encorajamento de exercícios ativos<br />

quando possível.<br />

A prevenção de contraturas e aderências através de um<br />

posicionamento correto, levando em conta a queimadura, podendo<br />

utilizar diversos recursos como a colocação de talas e exercícios<br />

quando possíveis. Os exercícios trazidos pelo terapeuta e a<br />

deambulação precoce, também ajudarão a minimizar os efeitos do<br />

imobilismo prolongado. Após o fechamento da ferida, massagem<br />

e compressão ajudarão a diminuir a formação de contraturas<br />

e a forma final das cicatrizes (SULLIVAN & SCHMITZ, 2004;<br />

GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

As massagens clássicas, linfáticas e respiratórias vêem<br />

como um recurso utilizado para melhorar a circulação, atenuar<br />

edemas e linfedemas, sendo utilizada como meio de mobilização<br />

de secreções e facilitar a penetração de agentes lubrificantes<br />

(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Para auxiliar na liberação e na prevenção de aderências,<br />

deformidades e cicatrizes mal formadas, devem ser iniciados os<br />

exercícios passivos e ativos. O exercício terapêutico tem como<br />

objetivo manter, corrigir e/ou recuperar uma determinada função,<br />

ou seja, restaurar a função normal do corpo ou manter o bem estar.<br />

Sua principal finalidade é a manutenção e desenvolvimento do<br />

movimento livre para a sua função e seus efeitos baseiam se no<br />

desenvolvimento da força, resistência à fadiga, da mobilidade e<br />

flexibilidade, do relaxamento e da coordenação motora (SULLIVAN<br />

& SCHMITZ, 2004; GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

A medida da evolução do paciente deve ser encorajados<br />

exercícios resistidos e de condicionamento físico, pois o paciente


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perde muito de sua capacidade muscular e condicionamento<br />

cardiopulmonar, sendo estes benéficos para aumentar a sua força<br />

muscular e ADM (GUIMARÃES & CRUZ, 2003; SULLIVAN;<br />

SCHMITZ, 2004). Não podemos deixar de citar a grande<br />

incidência de complicações pulmonares após queimaduras graves,<br />

estando elas entre 24% a 84%, sendo geralmente por inalação de<br />

fumaças, envolvendo vários gases como, por exemplo, o monóxido<br />

de carbono, hidrocarbonetos entre outros.<br />

Antes de pensarmos em tratamento deve-se avaliar<br />

cuidadosamente o sistema respiratório, detectando qualquer som<br />

ou ruídos adventícios, analisando a morfodinâmica do pulmão.<br />

Normalmente, as lesões causadas por queimaduras atingem<br />

o sistema respiratório, sendo necessária interferência de um<br />

fisioterapeuta para a desobstrução brônquica e para a mobilização<br />

de secreções pulmonares. Mas ainda, o fisioterapeuta pode atuar,<br />

na desinsulflação pulmonar, reexpansão pulmonar, reeducação na<br />

função muscular respiratória, ventilação mecânica e prevenção das<br />

deformidades torácicas subseqüentes à lesão (GOMES, 1995).<br />

Os recursos eletroterapêuticos são extremamente usados na<br />

prática diária de um fisioterapeuta. São práticas complementares<br />

que podem ser usadas em todas as áreas da fisioterapia. Vão de<br />

aparelhos que produzem correntes elétricas, calor ou energia<br />

laser que possuem uma infinidade de efeitos, tais como analgesia,<br />

melhora da circulação, efeitos pró-inflamatórios, diminuição da<br />

espasticidade, maior extensibilidade dos tecidos entre tantos outros<br />

(ROSAS & OLIVEIRA, 2007).<br />

As correntes excitomotoras realizam a ativação elétrica<br />

do sistema neuromuscular produzindo efeitos terapêuticos, sendo<br />

bastante utilizada na recuperação da função motora perdida ou<br />

diminuída nesse paciente. Ela possibilita a estimulação da atividade<br />

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muscular, por influenciar as propriedades morfológicas, fisiológicas<br />

e bioquímicas, as quais resultam no aumento da força auxiliando<br />

o ganho muscular buscado com a realização de exercícios ativos e<br />

ativos resistidos (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Podemos destacar a utilização do TENS, como relatou<br />

Rushton, como uma das principais correntes elétricas terapêuticas,<br />

utilizada em processos álgicos agudos e crônicos, cuja tradução em<br />

inglês refere-se a uma estimulação elétrica nervosa transcutânea,<br />

usada com finalidade de influenciar e modular o processo de<br />

neurocondução da dor e atuar sobre a liberação de opióides<br />

endógenos a nível medular e da hipófise.<br />

Este recurso tem sido usado extensivamente em locais de<br />

atendimento à saúde para o manejo sintomático de dor aguda e dor<br />

crônica de origem benigna e também no atendimento paliativo da<br />

dor causada por doenças ósseas metastáticas e neoplasias (MELO<br />

et al., 2006).<br />

A aplicação desse recurso deve ser avaliado, pois diferentes<br />

indivíduos apresentam níveis variados de dor e sensibilidade, sendo<br />

necessária também a localização dos pontos dolorosos para um<br />

posicionamento correto dos eletrodos evitando a aplicação sobre<br />

soluções de continuidade (FERREIRA et al., 2007).<br />

Segundo Dourado, deve ser utilizada a aplicação da TENS<br />

durante 20 a 30 minutos, com o objetivo de diminuir a dor e a tensão<br />

dos pacientes com programação de troca de curativos. E importante<br />

salientar a utilização correta deste tipo de corrente, pois utilização<br />

inadequada leva a resultados negativos e conseqüentemente<br />

menores efetividade da corrente (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />

Outro recurso também importante é a utilização do<br />

Ultrasom terapêutico (US) empregado há mais de 40 anos no


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tratamento de diversas patologias e uma quantidade considerável<br />

de trabalhos laboratoriais tem sido realizado com o objetivo de<br />

esclarecer seus efeitos sobre os tecidos. Seus efeitos têm sido<br />

demonstrados benéficos no tratamento de condições como a<br />

cicatrização de úlceras e tecidos, o aumento da circulação sanguínea<br />

em tecidos isquêmicos, a consolidação e fraturas e pseudo-artroses,<br />

a cicatrização tendinosas, a regeneração muscular e o estímulo à<br />

angiogênese, entre outros (CARVALHO & ALMEIDA, 1996).<br />

O US é uma modalidade de energia sonora longitudinal de<br />

penetração profunda, que, ao ser transmitida aos tecidos biológicos,<br />

é capaz de produzir alterações celulares por efeitos mecânicos. A<br />

transmissão ocorre pelas vibrações das moléculas do meio através<br />

do qual a onda se propaga. Este meio irradiado oscila ritmicamente<br />

com a freqüência do gerador ultra-sônico por efeito piezoelétrico,<br />

ao comprimir e expandir a matéria (MARTINES et al., 2000).<br />

Os efeitos mecânicos, térmicos e químicos do US e o modo<br />

de reação de órgãos isolados e também pressão é desenvolvido<br />

nas células individuais. Como resultado desta variação de pressão<br />

negativa, elementos da célula são obrigados a se moverem<br />

através de um efeito de micromassagem. Este efeito aumenta o<br />

metabolismo celular, o fluxo sangüíneo, o suprimento de oxigênio<br />

e até mesmo, a temperatura local, ou seja, age como um catalisador<br />

físico, acelerando as trocas celulares (OLSSON et. al., 2008).<br />

As ondas ultra-sônicas podem ser aplicadas por dois<br />

métodos conhecidos como contínuo e pulsado, sendo que a<br />

diferença entre os modos está na interrupção da propagação das<br />

ondas. Em média, o tempo de aplicação do US é de quatro a dez<br />

minutos por área, sendo que, para grandes superfícies, o segmento<br />

é dividido em três ou quatro partes iguais, e aplica-se o mesmo<br />

tempo por área. Esta aplicação pode ser de forma estacionária ou<br />

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não, sendo que a primeira pode levar a uma elevação muito rápida<br />

da temperatura, ocasionando queimaduras (OLSSON et al., 2008;<br />

SILVEIRA, 2003).<br />

O mecanismo de cura das lesões térmicas inicia-se na fase<br />

inflamatória com a eliminação dos tecidos desvitalizados, devido<br />

à lise enzimática e a fagocitose desse tecido. À medida que o<br />

processo inflamatório se intensifica, aumentando a clivagem entre<br />

os tecidos vivos e necróticos, o processo de regeneração vascular e<br />

conjuntivo se inicia, dando formação ao tecido de granulação, que<br />

preenche o vazio resultante do tecido eliminado.<br />

A utilização do ultra-som em queimaduras faz com que<br />

ocorra a regeneração mais rapidamente, pois na fase inflamatória<br />

torna-se muito mais, intensa, favorecendo a formação de tecido<br />

de granulação. Além disso, os anexos de pele como os folículos<br />

pilosos apresentam o epitélio em regeneração, constituindo-se em<br />

ilhotas germinativas para o epitélio de cobertura da lesão (GUIRRO<br />

& GUIRRO, 2004).<br />

O Laser cujo significado é Ampliação da Luz por Emissão<br />

Estimulada, possui algumas propriedades peculiares que o tornam<br />

capaz de propiciar efeitos biomoduladores sobre organismos vivos.<br />

Dentre estas propriedades encontram-se a coerência espacial e<br />

temporal, a monocromaticidade e a direcionalidade (PEREIRA,<br />

2005).<br />

Na fonte de laser, a luz é produzida pela emissão estimulada<br />

de radiação, quando um fóton incidente interage com um átomo<br />

previamente excitado. Ao atingir um tecido, a radiação laser pode<br />

ser refletida, absorvida, transmitida ou espalhada. A absorção de<br />

onda exercerá em efeito particular sobre tecidos variados, atingindo<br />

diferentes profundidades de penetração (SUGAYMA, 2005).


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O laser terapia de baixa intensidade vem se destacando<br />

como uma das ações terapêuticas em lesões cutâneas tem por<br />

objetivo reduzir o período de cicatrização, bem como uma melhora<br />

levando o individuo a um retorno mais rápido á suas atividades.<br />

Sendo que o laser de baixa potência tem efeito cicatricial muito<br />

eficaz. Seu êxito se deve ás particularidades de respostas que induz<br />

nos tecidos, como a redução de edema, diminuição do processo<br />

inflamatório, aumento da fagocitose, da síntese de colágeno e<br />

proteínas, assim como a epitelização (CARVALHO et. al, 2001).<br />

O laser de baixa potência no interior do tecido causa efeitos<br />

celulares, tanto nos tecidos superficiais como nos profundos. Seu<br />

efeito depende do comprimento de onda, da dose e intensidade<br />

da luz durante a irradiação, é influenciado pela maneira ideal<br />

de aplicação do mesmo, onde o contato da luz com a superfície<br />

deve ser perpendicular á superfície alvo e mais próximo possível<br />

(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />

Segundo Albertini (2001), em cinco sessões há estimulação<br />

do processo de regeneração, com formação de tecido de granulação,<br />

evitando grande infecção pelo efeito da aceleração da cicatrização<br />

e do efeito antiinflamatório. Em feridas onde há perda de tecido, o<br />

laser colabora para melhorar o reparo tecidual, evitando totalmente<br />

o aparecimento de quelóides, em todos os processos de cicatrização,<br />

sendo este, um dos recursos bastante utilizados para tratamento de<br />

queimaduras.<br />

A crioterapia é a aplicação terapêutica de qualquer<br />

substância ao corpo, resultando numa retirada do calor corporal e<br />

por meio disso, rebaixando a temperatura tecidual. Tem por objetivo<br />

minimizar seqüelas adversas que estão relacionadas ao processo<br />

de lesão, como a dor, edema, hemorragia, espasmo muscular e<br />

principalmente, reduzir a área de lesão secundária (LOPES et al.,<br />

2003; OLIVEIRA et al., 2007).<br />

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Passou a ser usada no tratamento de queimaduras, a partir<br />

da intervenção em quelóides. O congelamento do quelóide com<br />

nitrogênio líquido causa lesão celular e microvascular, o que<br />

leva à necrose e conseqüente involução do mesmo. Foi capaz de<br />

melhorar 51 a 74% dos quelóides após duas ou mais sessões, tendo<br />

bons resultados para cicatrizes. A crioterapia causa um edema no<br />

quelóide que facilita a injeção intralesional de corticóide. Quando<br />

essas duas modalidades terapêuticas foram associadas, a taxa de<br />

resposta foi de 84% (FERREIRA & ASSUMPÇÃO, 2006).<br />

3 CoNCLuSÃo<br />

De acordo com a revisão bibliográfica realizada, verificouse<br />

a importância da intervenção fisioterapêutica no tratamento de<br />

queimados, através dos recursos utilizados pela fisioterapia nas<br />

mais diversas etapas no processo de reabilitação. Envolvendo<br />

desde terapias locais a sistêmicas enfatizando os recursos da<br />

cinesioterapia, posicionamento adequado, associados com a<br />

massoterapia, crioterapia e com a eletroterapia.<br />

Constatou-se as melhoras proporcionadas pelos recursos,<br />

como o aumento/manutenção da ADM, força muscular, diminuição<br />

de quelóides, contraturas, aderências e deformidades, diminuição<br />

da dor, melhora da circulação, maior extensibilidade dos tecidos,<br />

efeitos antiinflamatórios, redução do edema, prevenção e<br />

tratamento de doenças pulmonares. Prevenindo também vícios<br />

posturais, causados pela queimadura, evitando assim alterações em<br />

toda a biomecânica do individuo.<br />

O quanto mais precoce for à atuação da equipe profissional<br />

deste paciente, mais rápidas serão as melhoras teciduais, gerando


iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />

menores riscos de possíveis complicações, deixando o paciente<br />

mais hábil possível e contribuindo para sua qualidade de vida.<br />

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165


AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />

AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA<br />

oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE<br />

ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />

rESumo<br />

dALTROZO, PAULO ROBeRTO de OLiVeiRA 1<br />

STURZeneggeR, TATiAnA MedinA 2<br />

As queimaduras são um problema de saúde<br />

significativo no Brasil. Contudo, até hoje, existem<br />

poucos dados disponíveis para orientar programas<br />

de tratamento e prevenção. A queimadura por choque<br />

elétrico pode levar a várias complicações, como:<br />

necrose, osteomielite e amputação. A amputação, por<br />

exemplo, leva a complicações ainda maiores, de ordem<br />

tanto funcionais como estética e, principalmente,<br />

psicológicas. O objetivo geral desse estudo foi a<br />

protetização do paciente, melhorando sua qualidade<br />

de vida. Essa pesquisa teve caráter qualitativo,<br />

se dedicando a um estudo de caso de um paciente<br />

submetido à amputação de fêmur do membro inferior<br />

direito. O sujeito de estudo é do sexo masculino, 17<br />

1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta.<br />

2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo e da Universidade de Cruz Alta, Fisioterapeuta, Especialista em Administração<br />

Hospitalar e Saúde, Mestre em Ciências do Movimento.<br />

167


168<br />

DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

anos, vítima de acidente de trabalho. As técnicas<br />

utilizadas nele foram: ultra-som terapêutico, pulsado<br />

0,5 W/cm2, LASER varredura 4 J/cm2, alongamentos<br />

de membro inferior direito e membro inferior esquerdo,<br />

exercícios para força muscular, treino de equilíbrio<br />

e treino de marcha. Os resultados com relação ao<br />

ganho de força, alongamento, cicatrização, equilíbrio<br />

e treino de marcha foram satisfatórios e se mostraram<br />

de grande importância para a reabilitação desse<br />

paciente e para a melhora de sua qualidade de<br />

vida, pois com as sessões de fisioterapia e com a<br />

protetização, paciente ganhou uma confiança que ele<br />

não possuía, pelo fato de ter amputado sua perna, e<br />

isso colaborou para a sua reintegração na sociedade.<br />

Palavras-Chave: Amputado, Queimado, Reabilitação<br />

ABSTrACT<br />

Burns are a significant health problem in Brazil.<br />

However, to date there is little data available to guide<br />

prevention and treatment programs. The burn from<br />

electrical shock can lead to various complications,<br />

such as necrosis, osteomyelitis and amputation.<br />

Amputation, for example, leads to complications even<br />

higher-order functional and aesthetic and mainly<br />

psychological. The general objective of this study was<br />

the prosthesis of the patient, improving their quality of


AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />

1 iNTroDuÇÃo<br />

life. This research was qualitative, embracing a case<br />

study of a patient who underwent amputation of the<br />

femur of the right leg. The subject of study is male, 17<br />

years, victim of an accident at work. The techniques<br />

used in it were: therapeutic ultrasound, pulsed 0.5 W/<br />

cm2, 4 J/cm2 laser scanning, stretching the right leg<br />

and left leg, exercises for muscle strength, training<br />

of balance and gait training. The results with respect<br />

to gain strength, stretching, healing, balance and<br />

gait training were satisfactory and proved of great<br />

importance to the rehabilitation of this patient and<br />

to improve their quality of life, as with the physical<br />

therapy sessions and the prosthesis, one patient<br />

gained confidence he lacked, by having his leg<br />

amputated, and this helped to reintegrate into society.<br />

Keywords: Amputee, Burnt, Rehabilitation.<br />

As queimaduras são um problema de saúde significativo no<br />

Brasil. Contudo, até hoje, existem poucos dados disponíveis para<br />

orientar programas de tratamento e prevenção.<br />

Gomes et al. (1995), fala que a queimadura é um dos<br />

traumatismos mais devastadores que podem atingir os seres<br />

humanos.Sua importância decorre não só da freqüência com que<br />

169


170<br />

DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

ocorrem, mas principalmente pela sua capacidade de provocar<br />

seqüelas funcionais, estéticas e psicológicas.<br />

Segundo Lianza (1995), a reabilitação de um amputado<br />

consiste não só no uso de uma prótese, mas também, principalmente<br />

recuperação funcional, na readaptação profissional e reintegração<br />

social do indivíduo.<br />

Kottke et al. (1984), relata que a aplicação de uma prótese<br />

imediata após a amputação diminui a dor e edema no coto,<br />

facilitando a cicatrização e reduzindo o tempo de espera para a<br />

colocação de prótese padrão.<br />

2 mATEriAL E mÉToDoS<br />

Esta pesquisa teve caráter qualitativo, um estudo de caso<br />

de paciente submetido à amputação supracondiliana de fêmur do<br />

membro inferior direito. A amostra foi composta de um paciente,<br />

sexo masculino, 17 anos, vítima de queimadura elétrica atingindo<br />

60% do segmento corporal sendo 37% de 3o grau, com perda de<br />

tecido muscular na panturrilha esquerda e amputação de membro<br />

inferior direito supracondiliana (por risco de gangrena). Houve<br />

também queimadura (perineal e hipospádia de glande). Houve<br />

amputação de membro inferior direito, debridamento seriados de<br />

tecidos desvitalizados e cobertura com enxertos de pele parcial.<br />

Realizou-se como tratamento precoce, a preparação do<br />

coto para a prótese, com o uso do LASER de hélio-neônio de 670<br />

nanômetros (nm) da forma varredura, com o propósito de reduzir<br />

as lesões existentes. Para o ganho de amplitude de movimento<br />

técnicas de alongamento e o ultra-som no modo pulsado 0,5 w/<br />

cm2, 100 Hz por 18 minutos em toda a região da coxa esquerda


AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />

com o propósito de reduzir as quelóides. A médio prazo realizouse<br />

fortalecimento de toda a musculatura do quadril (flexores,<br />

extensores, adutores e abdutores), fortalecimento da musculatura<br />

da perna esquerda (que também sofreu lesões como a queimadura<br />

parcial do tendão de Aquiles). Para treinamento de força muscular<br />

foram utilizados caneleiras de 1Kg, 2Kg e 3kg, usamos a técnica<br />

de MacQueen, sempre ao nível início/intermediário. O treino de<br />

equilíbrio foi entre as barras paralelas (paciente em pé com os braços<br />

abertos tentando manter-se equilibrado). Para o condicionamento<br />

cardiovascular, usou-se a bicicleta estacionária. O treino de marcha<br />

sem a prótese, com a muleta, iniciou na fase de melhora da sua<br />

funcionalidade nas barras paralelas.<br />

3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />

Baseado no que a literatura relata sobre contraturas<br />

ocasionadas em pacientes, e sua mobilização precoce, como<br />

objetivo do plano de tratamento, iniciamos alongamentos do coto,<br />

para evitar as contraturas e obtivemos os seguintes dados.<br />

Tabela 1: Amplitude de Movimento.<br />

Datas Goniometria<br />

15/12/2004 30˚ de flexão<br />

20/12/2004 24˚ de flexão<br />

24/12/204 18˚ de flexão<br />

27/12/2004 5˚ de flexão<br />

29/12/2004 Extensão completa<br />

O treinamento para fortalecimento dos membros inferiores<br />

usando a técnica de MacQueen, para treino de equilíbrio e de<br />

marcha com muletas, para eventual protetização do paciente,<br />

vemos na tabela 2.<br />

171


172<br />

DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

Tabela 2: Evolução da graduação da força muscular.<br />

Datas<br />

MID (flexores<br />

quadril)<br />

MIE (flexores de<br />

quadril)<br />

Tibial anterior Gastrocnêmios<br />

15/12/2004 grau 3 grau 4 Grau 3 grau 3<br />

15/2/2005 grau 4 grau 4 Grau 4 grau 4<br />

2/3/2005 grau 4 grau 4 Grau 4 grau 4<br />

16/3/2005 grau 5 grau 4 Grau 4 grau 4<br />

30/3/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />

13/4/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />

27/4/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />

11/5/2005 grau 5 grau 5 Grau 5 grau 5<br />

Realizamos laserterapia no modo varredura, e notamos<br />

que ao fim do primeiro trimestre, paciente já não apresentava<br />

mais as lesões no coto.Realizamos o treinametno de equilíbrio<br />

nesse paciente somente após conseguir suportar seu peso sobre o<br />

membro, e obtivemos um resultado satisfatório como nos mostra a<br />

tabela 3.<br />

Tabela 3: Treino de equilíbrio.<br />

Treino de Equilíbrio<br />

Datas Melhores tempos<br />

14/6/2005 3 segundos 45 centésimos<br />

22/06/205 3 segundos 71 centésimos<br />

28/6/2005 7 segundos 61 centésimos<br />

7/7/2005 4 segundos 39 centésimos<br />

12/7/2005 9 segundos 64 centésimos<br />

20/7/2005 13 segundos 91 centésimos<br />

2/8/2005 14 segundos 83 centésimos<br />

Um dos aspectos mais importantes foi o psicológico do<br />

paciente. Antes da colocação da prótese ele tinha uma vida mais<br />

resguardada, ficava mais em casa, não ia a escola. Após a colocação<br />

da prótese o paciente voltou à escola, voltou a sair, ir a festas, a ter


AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />

uma vida social. A literatura nos mostra que a amputação leva a<br />

seqüelas e problemas de ordem psicológica. O sujeito do estudo ao<br />

iniciar a terapia, sofria de depressão, sentimentos de inferioridade.<br />

Cremos que a terapia auxiliou na re-inserção desse indivíduo na<br />

sociedade.<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

No treinamento pré-protético obtivemos resultados<br />

positivos, pois, conseguimos restaurar a amplitude de movimento<br />

normal do coto, restabelecemos um grau de força muscular 5 em<br />

membro inferior direito e esquerdo, a utilização do LASER hélioneônio<br />

670nm levou a uma cicatrização das lesões do coto, com<br />

relação ao equilíbrio do paciente, tivemos ótimos resultados com<br />

os exercícios propostos.<br />

No treinamento pós-protético obtivemos resultados<br />

significativos quanto à deambulação do paciente e restabelecimento<br />

da marcha e da independência funcional. Na busca por protocolos de<br />

tratamento para pacientes amputados não obtivemos sucesso, pois,<br />

a literatura trás apenas exercícios propostos, nada mais concreto<br />

quanto a protocolos. A distância de grandes centros de reabilitação<br />

dificultou a realização deste estudo, pois as informações e os<br />

equipamentos foram mais difíceis de conseguir.<br />

173


5 rEFErÊNCiAS<br />

174<br />

DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

GOMES, D. R., SERRA, M. C., PELLON, M. A. Queimaduras.<br />

Rio de Janeiro: Revinter, 1995.<br />

KOTTKE, Frederic J.;STILLWELL, Keith G.; LEHMANN, Justus<br />

F. Krusen: Tratado de medicina Física e Reabilitação. 3. ed. São<br />

Paulo: Manole, 1984.<br />

LIANZA, Sérgio. Medicina de Reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 1995.<br />

___________. Medicina de Reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2001.


o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />

o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE<br />

Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS<br />

NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />

rESumo<br />

BeRTOLini, RAFAeL 1<br />

STURZeneggeR, TATiAnA MedinA 2<br />

As lesões musculares são as mais comuns e entre<br />

os métodos terapêuticos existentes para recuperação<br />

das lesões, utilizou-se a mobilização passiva precoce.<br />

Para este estudo ratos foram divididos em quatro<br />

grupos, o qual dois eram sedentários e os demais<br />

dois foram submetidos à natação por um período de<br />

10 semanas, tornando-os treinados. Posteriormente<br />

realizou-se uma lesão muscular no bíceps femoral<br />

direito. Após, um grupo de animais sedentários e um<br />

grupo de animais treinados recebeu o tratamento. O<br />

objetivo foi verificar por meio de estudo histológico,<br />

o curso da lesão muscular em ratos treinados<br />

e sedentários submetidos e não submetidos a<br />

mobilização passiva precoce. Concluímos que a<br />

1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta.<br />

2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo e da Universidade de Cruz Alta, Fisioterapeuta, Especialista em Administração<br />

Hospitalar e Saúde, Mestre em Ciências do Movimento.<br />

175


176<br />

BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

mobilização passiva precoce não ocasionou danos<br />

ao músculo e que, em ratos de ambos os grupos<br />

do quarto e oitavo dias pós - lesão a mobilização<br />

precoce objetivou em benefícios na regeneração<br />

muscular, sendo no grupo treinado apresentava<br />

resultados superiores aos sedentários e também<br />

um quadro álgico diminuído. Da mesma forma,<br />

durante manobras de flexo/extensão mostravam uma<br />

amplitude de movimento maior ao compararmos com<br />

os grupos controles.<br />

Palavras-Chave: Lesão muscular, mobilização<br />

passiva, treinamento.<br />

ABSTrACT<br />

The muscular injuries are more commons among the<br />

countless existent therapeutic methods for recovery<br />

of these injuries; the early passive mobilization<br />

was used. For this study, rats were divided in four<br />

groups, where two were sedentary and the others<br />

two were submitted the swimming by ten weekends,<br />

turning them trained. Later on, he/she took place a<br />

muscular injury in right biceps femoral. After, a group<br />

of sedentary animals and a group of trained animals<br />

received early passive mobilization. The aim of this<br />

study looked for to verify through study histology,<br />

the course of the muscular lesion in trained rats and<br />

sedentary submitted and not submitted off the early


o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />

1 iNTroDuÇÃo<br />

passive mobilization. We have concluded that a early<br />

Passive Mobilization didn’t caused damage to the<br />

muscle and that, in rats of both groups of four and<br />

eight post lesion day, the EPM have in view benefits<br />

in the muscular regeneration. The trained groups<br />

have presented a reduced chart of pain and superior<br />

results to the sedentary. Likewise, during maneuvers<br />

of flexion/extension of inferior member, the groups<br />

with early passive mobilization have showed the low<br />

pain and greater amplitude of motion if we compare<br />

them with the control group.<br />

Keywords: Muscle injuries, passive mobilization,<br />

training.<br />

Considerando-se as lesões do aparelho locomotor, as<br />

musculares estão entre as mais comuns e possuem uma excelente<br />

capacidade de reparo após lesão, cuja interferência durante este<br />

processo de reparo será fundamental para melhora da qualidade<br />

da cicatrização. As lesões podem ocorrer por isquemia, doenças<br />

que afetam o tecido muscular (miopatias) e por traumatismos,<br />

que podem ser diretos ou indiretos (esforço), às vezes levando<br />

à perda da atividade funcional e motora. A partir destes eventos<br />

ocorre uma fase adaptativa de regeneração do tecido músculo<br />

esquelético em resposta ao traumatismo. A extensão e sucesso<br />

da regeneração variam com a natureza da lesão, mas em todas<br />

as situações a regeneração envolve revascularização, infiltração<br />

177


178<br />

BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

celular, fagocitose do músculo necrosado, proliferação de células<br />

precursoras do músculo e finalmente reinervação. Baseado nestes<br />

processos de reparo e no advento da prevenção de doenças por meio<br />

da atividade física é natural que o surgimento de lesões musculares<br />

aconteça com maiores freqüências, com isso, atividade física neste<br />

contexto, se torna indispensável na forma de vida do ser humano<br />

(GRAZZIANO et al.,1998; PELLEGRINOTTI, 1998; DELISA<br />

& GANS, 2002). A idéia de demonstrar os efeitos de uma terapia<br />

chamada de mobilização passiva associada a resposta do tecido<br />

muscular após uma lesão com grupos experimentais ( sedentário e<br />

treinados) instiga a uma série de dúvidas e contestações literárias<br />

como imobilidade versus mobilidade e diferenças de atletas e<br />

sedentários, estes e outros aspectos serão abordados a seguir.<br />

O diagnostico e os tratamentos inapropriados dessas lesões<br />

podem comprometer a participação do atleta no treinamento e<br />

na competição. Deste modo, não é surpresa que profissionais da<br />

área de medicina esportiva estejam empenhados em descobrir<br />

como favorecer e melhorar a qualidade na recuperação de lesões<br />

musculares. Nestas circunstâncias, a questão da imobilização x<br />

mobilização pós-lesão apresenta crescente atenção, tanto na prática<br />

clínica quanto em pesquisas experimentais. O rápido e complexo<br />

reparo do tecido muscular lesado é objetivo óbvio, principalmente<br />

em caso de lesão em atletas justificando as tentativas experimentais<br />

para se encontrar um tratamento viável que favoreça o reparo do<br />

músculo (FARIA & MINAMOTO, 2006).<br />

Devido à notável regeneração muscular após uma lesão e<br />

os diferentes eventos evocados pela mesma, os núcleos das fibras<br />

musculares esqueléticas não se dividem, o que adquire ao músculo<br />

uma pequena capacidade de reconstituição. Admite-se que as<br />

células satélites sejam responsáveis pela regeneração do músculo


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esquelético. Essas células são mononucleadas, fusiformes,<br />

dispostas paralelamente às fibras musculares dentro da lâmina basal<br />

que envolve as fibras e só podem ser identificadas no microscópio<br />

eletrônico. São consideradas mioblastos inativos. Após uma lesão<br />

ou outro estímulo, as células satélites tornam-se ativas, proliferam<br />

por divisão mitótica e se fundem umas as outras para tornar novas<br />

fibras musculares esqueléticas. As células satélites também entram<br />

em mitose quando o músculo é submetido a exercícios intenso.<br />

Neste caso elas se fundem com as fibras musculares pré-existente,<br />

contribuindo para a hipertrofia do músculo (CHAMBERS &<br />

DERMOTT, 1996; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004).<br />

A imobilização é usada a varias décadas com o propósito de<br />

proteger a área lesada e permitir uma cicatrização fisiológica, com<br />

atenuação do efeito inflamatório e a efetividade da imobilização é<br />

restrita a certos pacientes e períodos curtos de imobilização, para<br />

evitar severa atrofia muscular e perda da capacidade funcional,<br />

contudo, com poucas semanas de desuso já se tem mudança na<br />

estrutura muscular e alteração como o acúmulo de tecidos conectivos<br />

intramusculares, perda de capilares, redução no tamanho da fibra<br />

e acumulação de fibras com morfologia patológica e alterações<br />

histoquímicas, o qual, em grande parte, pode ser reversível através<br />

da mobilização e treinamento físico (KANNUS et al., 1998). Os<br />

movimentos passivos, segundo Kisner & Colby (1998), devem<br />

ser iniciados no tratamento na fase aguda quando tolerado. Eles<br />

diminuem as complicações da imobilização, mantêm a integridade<br />

e mobilidade funcional e auxiliam no processo de cicatrização.<br />

Estes movimentos devem ser específicos para a estrutura envolvida<br />

evitando aderências anormais das fibrilas em desenvolvimento<br />

aos tecidos vizinhos e evitando futuro rompimento da cicatriz.<br />

A intensidade deverá ser leve devido à algia intensa do paciente<br />

e para não lesar novamente o tecido e o bom desenvolvimento<br />

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180<br />

BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

de uma cicatriz organizada se deve ao tratamento fisioterápico<br />

durante o estágio agudo, realizado por meio de exercícios passivos<br />

respeitando-se a sensibilidade dolorosa do paciente, o terapeuta<br />

objetiva uma melhora na amplitude de movimento e prevenção de<br />

processos fibróticos que são prejudiciais a esta.<br />

Objetiva-se frente às lesões evitar períodos longos de<br />

imobilidade e funcionalidade o que predispõe outras patologias<br />

retardando o processo de reabilitação funcional, que pode ser<br />

minimizado com a melhora na qualidade da cicatrização tecidual<br />

e quando é ocasionada uma lesão tecidual há certa desorganização<br />

no sentido das fibras, onde mais facilmente poderá ocorrer recidiva<br />

de lesão caso não tratadas ou tratadas ineficientemente, portanto a<br />

importância da MPP no processo de reparo em uma lesão, deixando<br />

o tecido mais forte devido ao estresse aplicado para o mesmo<br />

sentido dando orientação para as fibras, baseados neste contexto<br />

que nossa hipótese relacionada a MPP foi formulada como forma<br />

de tratamento, sendo provável que melhorias no curso da lesão<br />

aconteçam. Também devido aos benefícios do exercício físico e<br />

que pode ser a variável mais importante para reduzir a morbidade<br />

global durante toda a vida (DELISA & GANS, 2002), construímos<br />

a hipótese que o exercício físico poderá ajudar na recuperação<br />

deste tipo de lesão comparado a inatividade física.<br />

Propusemos neste estudo analisar a cicatrização do tecido muscular<br />

de ratos Wistar após uma lesão, verificando histologicamente e<br />

como complemento buscamos uma visão macroscópica clínica<br />

dos ratos submetidos e não submetidos à natação utilizando a MPP<br />

(Mobilização passiva precoce) como tratamento nas diferentes<br />

fases de cicatrização e comparar alterações pertinentes a cada<br />

grupo.


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2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />

Para a realização deste trabalho foram utilizadas as<br />

instalações do laboratório de histopatologia e o Biotério da<br />

Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ.<br />

Fizeram parte da amostra 40 ratos adultos, machos, da<br />

raça Wistar pesando em torno de 250 a 350 gramas, selecionados<br />

aleatoriamente, mantidos em gaiolas de polipropileno, provenientes<br />

do biotério do Campus da Universidade de Cruz Alta, RS -<br />

UNICRUZ.<br />

Os animais foram divididos em quatro grupos e suas<br />

amostras coletadas no 4º, 8º e 15º dias, denominados:<br />

G1: sedentário grupo controle<br />

G2: sedentário grupo com mobilização passiva precoce (MPP)<br />

G3: treinado grupo controle<br />

G4: treinado grupo com MPP.<br />

Primeiramente os ratos passaram por um treinamento,<br />

grupos G3 e G4, começando por um período de adaptação<br />

correspondente a 10 dias sem nenhuma carga, logo, nas três semanas<br />

seguintes treinavam com uma sobrecarga de 2% do peso corporal,<br />

começando com tempo de 20 min até 40 minutos (1ºsemana) e<br />

60 minutos (2º e 3ºsemanas), na 4º e 6º semanas aumento de 4%<br />

do peso corporal com tempo de 60 min, na 6º , 7º e 8º semanas<br />

aumento de 6% do peso corporal com tempos variando de 40 a 60<br />

minutos, na 9º e 10º semanas aumento de 8% do peso corporal<br />

com tempos variando de 40 a 60 minutos permanecendo até o final.<br />

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BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

A ambos os grupos foram fornecidos água e alimento ad<br />

libitum.<br />

A intensidade do exercício foi de acordo com o protocolo<br />

proposto por Kokubun (1990), onde os ratos são submetidos<br />

a natação diária por 40 dias. O treinamento inicia com fase de<br />

adaptação de 20 minutos, sendo aumentado posteriormente<br />

conforme a adaptação dos animais ao meio aquático até chegar a 1<br />

hora de atividade ininterrupta.<br />

Para controle da carga de treinamento, os animais foram pesados<br />

todas as segundas-feiras,tendo cuidado sobre a aplicação da sobre<br />

carga e da porcentagem proposta para cada período de treinamento,<br />

a sobrecarga (uso de chumbo) era colocada em bolsas com elásticos<br />

localizadas no dorso dos animais.<br />

Após o treinamento os animais passaram por um<br />

procedimento cirúrgico para produção da lesão muscular, foi<br />

realizado por um médico veterinário na sala do biotério, do Campus<br />

da Universidade de Cruz Alta.<br />

Os animais foram anestesiados com associação de<br />

quetamina e xylazina na dose de 0,1 ml por cem gramas de<br />

peso corporal, doses adicionais ou repiques pode ser ministrado,<br />

conforme a necessidade de manutenção do plano anestésico.<br />

A cirurgia foi realizada em ambiente cirúrgico e material<br />

cirúrgico rotineiro.<br />

Os principais passos técnicos foram:<br />

1) Posicionamento do animal em decúbito lateral esquerdo,<br />

com as patas em extensão;<br />

2) Assepsia da pele com álcool iodado a 4%;


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3) Incisão cutânea, na face póstero-externa do terço proximal<br />

da pata traseira direita, de aproximadamente um centímetro e meio;<br />

4) Afastamento da pele e visualização da massa muscular do<br />

bíceps femoral;<br />

5) Incisão transversa às fibras musculares com um bisturi de 5<br />

mm de extensão determinada por uma régua metálica milimetrada,<br />

para padronizar e controlar a lesão, caracterizando uma hemissecção<br />

do músculo relacionado;<br />

6) Procedeu-se a redução do espaço morto para a coaptação<br />

das bordas incididas, e posteriormente a síntese da pele com fio<br />

mononylon;<br />

Foi aplicado soro fisiológico sobre a sutura, para lavar a<br />

ferida que ficará exposta sem a realização de curativos.<br />

As cobaias foram colocadas em estantes de ferro, onde se identificou<br />

cada grupo em prateleiras diferentes dispostos no mesmo ambiente<br />

Depois da cirurgia as cobaias foram colocadas em gaiolas<br />

individuais e após as 24 horas começaram a receber um tratamento<br />

utilizando a MPP nos grupos G2 e G4, os outros dois grupos são<br />

controles.<br />

A MPP foi realizada no membro inferior direito no músculo<br />

bíceps femoral, com um tempo de 3 minutos por rato. Até a 1º<br />

coleta foram realizadas 3 sessões de MPP, até a 2º coleta já tinham<br />

sido feitas 7 sessões de MPP e até a última coleta tinham sido<br />

realizadas 13 sessões. A velocidade da MPP foi lenta e mantida<br />

proporcionando leves alongamentos no plano frontal e eixo sagital<br />

com graus de movimento III e IV.<br />

A imolia dos animais em pesquisa ocorreu após a última<br />

realização da MPP no 15º dia pós-lesão, e seus respectivos músculos<br />

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184<br />

BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

bíceps femoral (direitos, lesionados) foram estirpados e colocados<br />

em recipientes individuais respectivamente identificados contendo<br />

solução de formol a 10 %, e realizou-se, então, o estudo histológico<br />

destes músculos.<br />

As interpretações dos achados procederam de uma análise<br />

estatística descritiva baseada em laudos histopatológicos e uma<br />

observação clínica macroscópica, tendo como parâmetro o reflexo<br />

de proteção muscular.<br />

3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />

No grupo G1 (sedentário grupo controle) com amostras<br />

coletadas no 4º dia pós – lesões foram encontrados neutrófilos que<br />

são primeiras células inflamatórias a invadir o músculo lesado,<br />

liberando bradicinina, prostaglandina e histamina, causando<br />

vasodilatação e aumentando a permeabilidade dos pequenos vasos.<br />

(LEECH, 1997), plasmócitos e linfócitos, estes de acordo com<br />

Guyton & Hall (1997), os linfócitos são responsáveis pela proteção<br />

do nosso corpo de agentes estranhos por meio dos sistemas imunes<br />

sendo os linfócitos B que originam os plasmócitos; estes por sua<br />

vez produzem os anticorpos. Houve edema, necrose de fibras<br />

musculares e extravasamento de fibrina e hemáceas, neste grupo.<br />

No grupo G2 (sedentário grupo com mobilização passiva<br />

precoce) com amostras coletadas no 4º dia pós – lesão há presença<br />

de alguns plasmócitos, linfócitos e raros neutrófilos, localizados<br />

entre as fibras colágenas. Houve discreta neovascularização.<br />

Podemos observar que a movimentação precoce não acarretou em<br />

danos musculares, não ocorrendo rupturas discordando com alguns<br />

autores, os quais mencionam que a mobilização imediatamente


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após a lesão pode causar novas rupturas e fraqueza do tecido na<br />

área lesada, devendo ser evitada nos primeiros dias após a lesão<br />

(LEHTO & JÄRVINEN, 1991). Estudos de (LEHTO et al., 1985;<br />

CLANCY & CLARKSON, 1990) sugerem que uma redução na<br />

atividade entre 3 a 5 dias é benéfica na recuperação da função<br />

muscular. Entretanto, esses resultados não foram encontrados por<br />

(GREGORY et al., 1995). Neste estudo, os autores compararam o<br />

resultado da atividade no reparo da contusão muscular resultante<br />

do trauma mecânico no tibial anterior do rato, empregando<br />

quatro regimes de exercício: corrida ou natação, sendo iniciadas<br />

imediatamente (após 1 hora) e após 72 horas da indução da lesão.<br />

O grupo controle não se exercitou. Em relação a duração das<br />

atividades, a corrida foi realizada em uma esteira com inclinação<br />

de 10º, a 25m/min, por 15 minutos, e a natação foi realizada com<br />

a mesma duração, utilizando-se carga equivalente a 2% do peso<br />

corporal para evitar a flutuação durante o exercício. Os animais<br />

exercitaram-se entre 1 e 32 dias.<br />

O processo de resolução da contusão muscular foi<br />

analisado por meio da contagem manual de eritrócitos, leucócitos<br />

e fibras colágenas. Os autores concluíram que a corrida com inicio<br />

imediato é o regime que mais favorece o processo de reparo da<br />

contusão muscular. Embora o emprego de qualquer regime de<br />

atividade tenha sido melhor que a não atividade, o início imediato<br />

mostrou favorecer o processo de reparo da contusão e a corrida<br />

demonstrou resultados superiores à natação.<br />

No grupo G3 (treinado grupo controle) com as amostras<br />

coletadas no 4º dia pós – lesões foram encontradas alguns<br />

plasmócitos, linfócitos e raros neutrófilos, localizadas entre as<br />

fibras colágenas. Há discreta neovascularização No estudo de<br />

Brancaccio, et al. 2005, os animais treinados verificou-se aumento<br />

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BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

da desorganização de fibras nos animais sem uso da crioterapia,<br />

e nos grupos sedentários, o uso da crioterapia resultou em maior<br />

desorganização, concluindo que a tendência para beneficio na<br />

evolução da lesão muscular em relação à desorganização de fibras<br />

é encontrada no uso de gelo em animais treinados e o não uso da<br />

crioterapia em animais sedentários.<br />

No grupo G4 (treinado grupo com MPP) com as amostras<br />

coletadas no 4º dia pós – lesões apresentavam neutrófilos,<br />

plasmócitos, linfócitos e raros macrófagos. Para Pryor & Webber<br />

(2002), macrófagos e neutrófilos são células brancas de nosso<br />

sangue e realizar a defesa de nosso corpo de infecções é sua principal<br />

função; auxiliam na proteção inicial, pois são participantes da linha<br />

de defesa de frente do nosso organismo.<br />

Há áreas multifocais de necrose muscular, com eventuais áreas<br />

de regeneração muscular inicial, nas quais se observam células<br />

alongadas arranjadas linearmente.<br />

Então, sendo os resultados obtidos enfatizamos a presença<br />

de macrófagos, estes característicos de uma fase Proliferativa,<br />

porém o grupo controle ainda permanecia em uma fase inflamatória<br />

antecipando assim uma fase da cicatrização, demonstrando<br />

que a MPP em ratos treinados no 4º dia pós-lesão é mais eficaz<br />

no processo de regeneração do que em sedentários e no grupo<br />

treinado controle. Podendo observar que ambos os grupos tratados<br />

aconteceram benefícios sendo nos treinados resultados superiores.<br />

No grupo G1 com amostras coletadas no 8º dia pós<br />

– lesão, a amostra constituiu-se por plasmócitos, linfócitos e<br />

alguns macrófagos, moderado tecido fibroso neovascularizado,<br />

com eventuais fibras musculares em regeneração. Há discreto<br />

edema inflamatório com hemorragia. Proliferação acentuada


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de fibroblastos, depósito de fibras colágenas e necrose de fibras<br />

musculares. Nesta fase, a análise histológica observa o aumento de<br />

macrófagos e tecido fibroso comparado as amostras coletadas no 4º<br />

dia caracterizando uma fase proliferativa.<br />

No grupo G2 com amostras coletadas no 8º dia pós – lesão,<br />

constituído por alguns plasmócitos, linfócitos e raro neutrófilos,<br />

localizados entre as fibras colágenas. há também discreta<br />

neovascularização e áreas multifocais de hemorragia, algumas<br />

fibras musculares contraídas.<br />

Foi perceptível o reflexo de proteção muscular, que é mencionado<br />

por Kisner & Colby (1998) como uma contração prolongada do<br />

músculo em resposta a um estímulo doloroso. A lesão primaria<br />

causadora de dor pode ser em tecido próximo ou abaixo, ou em<br />

uma fonte de dor referida. Quando não é dor referida, o músculo<br />

em contração imobiliza funcionalmente o tecido lesado contra<br />

movimento. A proteção cessa quando a dor aliviada. Frente à<br />

mobilização, nos animais que não receberam tratamento tanto<br />

nos treinados como nos sedentários ao serem estimulados pela<br />

movimentação de flexo extensão obtinham menos amplitude e<br />

com mais reflexo de proteção muscular, nos animais treinados<br />

comparados com os sedentários devido a maior agilidade e<br />

movimentação dentro da gaiola é possível dizer que os estímulos<br />

dolorosos eram menos exacerbados no grupo dos treinados, isto<br />

permanecendo até o final do trabalho. Nesta fase foi observado<br />

que o grupo com tratamento possui um processo inflamatório mais<br />

discreto que o grupo controle.<br />

No grupo G3 com amostras coletadas no 8º dia pós - lesão,<br />

constituído por plasmócitos, macrófagos, linfócitos e alguns<br />

neutrófilos. Observa-se discreto tecido fibroso (fibroblastos) entre<br />

as fibras musculares. Observam-se também fibras musculares<br />

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BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

regeneradas (mas ainda hipoplásicas – crescimento incompleto) e<br />

áreas de regeneração muscular inicial, algumas fibras musculares<br />

contraídas. Os animais treinados obtiveram menor quantidade<br />

de fibroblastos em relação a todos os grupos deste estudo, não<br />

apresentando diferenças com o uso da MPP. É importante salientar<br />

também que com o passar dos dias o condicionamento físico<br />

adquirido cai vertiginosamente ainda mais perante o estresse físico<br />

(lesão). Tanto em homens quanto em mulheres, numerosos estudos<br />

mostraram que a maior parte dos benefícios metabólicos e cardiorespiratórios<br />

conseguidos por meio do treinamento com exercícios<br />

são perdidas dentro de um período de tempo relativamente curto<br />

depois que o treinamento é suspenso (KETEYIAN & FOSS, 2000).<br />

No grupo G4 com amostras coletadas no 8º dia pós – lesões<br />

foram encontrados plasmócitos, macrófagos, linfócitos e alguns<br />

neutrófilos. Observa-se discreto tecido fibroso (fibroblastos) entre<br />

as fibras musculares, nesta fase não apresentaram diferenças entre<br />

o grupo controle e o tratado.<br />

No grupo G1 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />

lesão, há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />

plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso<br />

cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />

muscular, presença de algumas fibras musculares contraídas,<br />

presenças de fibras musculares necróticas. É importante observar<br />

que somente no 15º dia pós-lesão o tecido apresenta fibras<br />

musculares contraídas, o qual estas tornam um tecido mais forte e<br />

coeso, sendo que o grupo com MPP já apresentavam este aspecto<br />

no 8º dia de coleta, ainda possui necrose.<br />

No grupo G2 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />

lesão, Há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />

plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso


o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />

cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />

muscular, algumas fibras contraídas. Não ocorreram diferenças<br />

entre os grupos.<br />

No grupo G3 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />

lesão, Apresenta uma inflamação crônica leve, no tecido conjuntivo<br />

infiltrado leve de linfócitos e plasmócitos, edema, proliferação de<br />

fibroblastos leve. Fibras musculares preservadas.<br />

No grupo G4 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />

lesão, há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />

plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso<br />

cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />

muscular. Nesta fase a perda de condicionamento é evidente,<br />

porém os benefícios alcançados, antes pelo exercício, não serão<br />

totalmente desintegrados dando uma recuperação mais eficaz.<br />

A maioria dos estudos mostra que, as principais perdas<br />

ocorrem no período compreendido entre a segunda e a quarta<br />

semana de destreinamento físico, podendo retornar próximos aos<br />

valores pré-treinamento físico após alguns meses de inatividade<br />

física (EVANGELISTA & BRUM, 1999).<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

Com o uso da MPP nas amostras coletadas no 4º dia não<br />

ocorreram danos ao músculo.<br />

A MPP realizada por ambos os grupos do quarto e oitavo dias<br />

resultou em benefícios à cicatrização comparada com os controles,<br />

sendo nos grupos treinados resultados superiores.<br />

Na observação macroscópica clínica foi constatada que o quadro<br />

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álgico nos ratos treinados é menos acentuado comparado com os<br />

sedentários, histologicamente não se observou diferenças entre<br />

sedentários e treinados no curso da lesão.<br />

Os grupos que receberam a MPP apresentavam uma amplitude<br />

de movimento superior aos grupos sem tratamento e os reflexos<br />

de proteção musculares apresentavam-se diminuídos durante as<br />

manobras de flexão e extensão.<br />

A realização de exercícios pré e pós-lesão de acordo com a<br />

literatura e este trabalho auxilia o processo de regeneração, embora<br />

o exercício como prevenção ajude mais na evolução clinica<br />

funcional do que na regeneração do tecido como por base uma<br />

visão histológica, também, algumas variáveis como tempo de<br />

inicio, duração, intensidade e tipo de exercícios devam ser alvos<br />

de pesquisas futuras.<br />

5 rEFErÊNCiAS<br />

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828, 1985.<br />

191


192<br />

BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />

________. Muscle injuries, their healing process and treatment.<br />

Annales Chirurgiae et Gynaecologiae, v. 80, p. 102-8, 1991.<br />

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PRYOR, A. J.; WEBBER, A. B. Fisioterapia para problemas<br />

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2002.


A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />

A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo<br />

NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo<br />

NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo<br />

ANTErior (LCA)<br />

rESumo<br />

SiLVA, J. g. B. 1<br />

VOLOSKi, F. R. S. 2<br />

MAFALdA, L. 3<br />

Entre as lesões do futebol destaca-se a lesão do<br />

ligamento cruzado anterior (LCA) como sendo a<br />

lesão grave mais comum, causando instabilidade<br />

articular, atrofia do quadríceps e perda de receptores<br />

proprioceptivos. Assim o treinamento neuromuscular<br />

proprioceptivo de fundamental importância para<br />

o retorno a prática desportiva. A reeducação<br />

proprioceptiva vem sendo reconhecida como fator<br />

fundamental na reabilitação das lesões do LCA, uma<br />

vez que, existe a necessidade de se desenvolver<br />

uma capacidade de adaptação dos corpúsculos<br />

1 Fisioterapeuta, Formação em RPG.<br />

2 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

3 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

193


194<br />

SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />

mecanorreceptores que existem no joelho, para<br />

fornecerem ao sistema nervoso central as informações<br />

de posição, movimento e estresse articular. Esta<br />

lesão deve ser encarada como uma preocupação para<br />

todos os indivíduos envolvidos na pratica desportiva,<br />

independente do nível competitivo, sexo e idade.<br />

Objetivos: os objetivos deste trabalho são: Estudar<br />

o mecanismo proprioceptivo articular e sua interação<br />

com o sistema nervoso central e periférico, conceituar<br />

a propriocepção e analisar protocolos de treinamento<br />

proprioceptivo. Metodologia: a metodologia utilizada<br />

no presente estudo foi uma revisão de literatura e a<br />

análise se dará por método dialético. Conclusões:<br />

o treinamento neuromuscular proprioceptivo deve<br />

ser progressivo, visando aprendizagem através da<br />

repetição exaustiva que faz com que as respostas de<br />

proteção articular se torne automática.<br />

Palavras-chave: propriocepção, lesão, LCA.<br />

ABSTrACT<br />

Among the lesions of soccer stands the lesion of<br />

anterior cruciate ligament (ACL) as being the most<br />

common serious injury, causing joint instability,<br />

quadriceps atrophy and loss of proprioceptive<br />

receptors. Thus the proprioceptive neuromuscular<br />

training is of fundamental importance for the return<br />

of sports practice. The reeducation proprioceptive


A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />

1 iNTroDuÇÃo<br />

comes been recognize like fundamental factor in<br />

rehabilitation of ACL injuries, since there is a need<br />

of developing a adaptation capacity of corpuscle<br />

mechanoreceptors that exist in the knee, to provide<br />

for the central nervous system the information of<br />

position, movement and joint stress. This lesion should<br />

be seen like a concern for all individuals involved<br />

with sports practice, independent of the competitive<br />

level, gender or age. Goals: The goals of this work<br />

are: Study the articular proprioceptive mechanism<br />

and its interaction with central and peripheral<br />

nervous system, to conceptualize proprioception<br />

and to analyze protocols of proprioceptive training.<br />

Methodology: The Methodology used in this study<br />

was a literature review and the analysis will be<br />

given by the dialectical method. Conclusions: The<br />

proprioceptive neuromuscular training should be<br />

progressive, aimed at learning through the exhaustive<br />

repetition that makes the answers articular protection<br />

become automatic.<br />

Keywords: Proprioception, injury, ACL.<br />

O LCA é o ligamento mais fraco da articulação do joelho,<br />

se origina na área intercondilar da tíbia e se fixa na parte posterior<br />

do lado medial do côndilo lateral do fêmur e possui um suprimento<br />

195


196<br />

SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />

sanguíneo relativamente escasso. Os principais músculos que atuam<br />

na estabilização articular do joelho é o quadríceps, ísquiostibiais,<br />

gastrocnêmio, poplíteo e os adutores do quadril (BRITO et al.,<br />

2009).<br />

Durante a marcha a força que atua sobre a articulação<br />

femorotibial, pode chegar a cinco vezes o peso corporal, embora<br />

na maior parte do ciclo na marcha normal essa força se de duas<br />

vezes o peso corporal (FATARELLI et al., 2004).<br />

2 mATEriAL E mÉToDoS<br />

Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica em<br />

periódicos científicos, sites como o google acadêmico, bireme,<br />

scielo, medline e no acervo da biblioteca da instituição. A análise<br />

se dará por método dialético, pois este se procede mediante<br />

investigação, argumentação e confronto de idéias.<br />

3 DiSCuSSÃo<br />

O LCA tem propriedade de resistência tensional por volta<br />

de 2.160N a 30° de flexão. Funcionalmente durante os mecanismos<br />

rotacionais é que o LCA se encontra mais suscetível a lesão, visto<br />

que 70% das rupturas foram selecionadas a esse mecanismo<br />

(PALASTANGA et al., 2000).<br />

A dinâmica do joelho é relacionada com a complexa<br />

interação entre os componentes da articulação, são eles, a patela,<br />

porção distal do fêmur, porção proximal da tíbia, ligamentos<br />

colaterais, cápsula sinovial, cartilagens articulares e músculos<br />

(MOORE & DALLEY, 2001).


A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />

4 mECANiSmo DE LESÃo Do LCA<br />

Quando o joelho é fletido o LCA está relaxado e quando<br />

em movimento de extensão o ligamento se encontra tensionado,<br />

limitando o deslizamento posterior do fêmur sobre a tíbia e a<br />

hipertensão articular do joelho, tem a função de impedir a tração<br />

anterior da tíbia quando a articulação encontra-se em flexão<br />

(DUTTON, 2006).<br />

A maioria das lesões de LCA ocorre em flexão do joelho<br />

entre zero a trinta graus, normalmente em situações de não-contato,<br />

em corrida ou salto, gerando-se grande tensão sobre o LCA,<br />

através de leve flexão, varo e rotação externa do fêmur (MOORE<br />

& DALLEY, 2001).<br />

5 ProPrioCEPÇÃo E ESTABiLiDADE ArTiCuLAr<br />

Os principais mecanismos neuromusculares propostos para<br />

explicar o controle de estabilidade articular são a propriocepção, o<br />

reflexo ligamento-muscular e o ajuste dinâmico da rigidez através<br />

da contração muscular (AQUINO et al., 2004). A estabilidade<br />

articular dinâmica se apresenta como elemento indispensável<br />

para a realização das atividades de vida diária, essa estabilidade é<br />

definida como sendo a capacidade de um corpo ou sistema retomar<br />

sua condição de equilíbrio após ter sido imposta sobre ele uma<br />

força ou perturbação (AQUINO et al., 2004).<br />

O treino proprioceptivo do joelho, também nomeado de reeducação<br />

sensório-motora ou reprogramação neuromuscular proprioceptiva,<br />

é uma prática terapêutica que tem como objetivo a reabilitação<br />

197


198<br />

SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />

visando devolver ou melhorar a proteção articular através do<br />

condicionamento e treino reflexivo (FONSECA et al., 2004).<br />

6 rECEPTorES ProPrioCEPTiVoS<br />

As estruturas musculares, capsulares e ligamentares do<br />

joelho, assim como a função estabilizadora mecânica da articulação<br />

são sede dos corpúsculos mecanorreceptores ou proprioceptores,<br />

que constituem o órgão sensorial da articulação (CLARETE &<br />

SOUZA, 1999). Os mecanorreceptores ou proprioceptores são<br />

responsáveis pelas informações ao Sistema Nervoso Central<br />

(SNC) das mudanças de posição, movimento e estresse articular,<br />

em um tempo determinado de resposta, o cérebro inicia a ação<br />

reflexa de contração da musculatura periférica, fazendo com que<br />

ocorra uma proteção e estabilização da articulação (CLARETE &<br />

SOUZA, 1999). Durante estudos anatômicos do joelho humano<br />

foram encontrados fibras nervosas nos ligamentos cruzados<br />

(GARDENER, 1998). Receptores tipo Golgi foram identificados<br />

na região da superfície desse ligamento, em estudos mais recentes<br />

foram descobertos receptores Ruffini, Golgi e Paccin (CLARETE<br />

& SOUZA, 1999).<br />

O reflexo ligamento-muscular é considerado como uma<br />

resposta do corpo, um mecanismo protetor, onde uma perturbação<br />

exercida sobre a articulação estimula os mecanorreceptores<br />

que transmitem sinais aferentes até a medula e por ação dos<br />

motoneurônios alfa que ativam os músculos antagonistas ao<br />

movimento gerado pela perturbação. Após o estudo mais detalhado<br />

do ligamento reflexo-muscular foi comprovada a existência do<br />

reflexo LCA-ísquiotibiais, quando a articulação foi submetida<br />

a anestesia não foi observada nenhuma reação muscular reflexa,


A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />

também foi achada o mesmo mecanismo protetor reflexo nas<br />

articulações da coluna e do ombro (IHARA & NAKAYAMA,<br />

1986).<br />

A perda da informação proprioceptiva do joelho em virtude de<br />

lesão do LCA potencializa a instabilidade, devido à diminuição da<br />

sensação de posição pela ausência de estimulo para a contração<br />

muscular reflexa (CLARETE & SOUZA, 1999). Apesar da perda<br />

considerável de informações proprioceptivas, existem muitas outras<br />

fontes de informações que através de um treino neuromuscular<br />

proprioceptivo podem suprir a demanda de reação muscular<br />

necessária para o controle dinâmico d articulação. Portanto é<br />

indicado um programa de reprogramação da ação proprioceptiva do<br />

joelho com lesão de LCA (IHARA & NAKAYAMA, 1986). Existe<br />

consenso de que o treinamento muscular simples não aumenta a<br />

velocidade de reação muscular, porém o controle neuromuscular<br />

dinâmico tem a capacidade de diminuir o tempo de resposta<br />

articular, quanto menor o tempo de reação menor será o estresse e<br />

a deformação articular (CLARETE & SOUZA, 1999).<br />

7 DiAGNÓSTiCo CLÍNiCo DA LESÃo Do LCA<br />

Os testes e manobras ortopédicas são em práticas suficientes<br />

para em conjunto com a história clinica, firmar o diagnóstico das<br />

lesões nos meniscos e ligamentos (FERRETTI et al., 2007).<br />

As diretrizes médicas indicam que a história clínica e o exame físico<br />

bem realizado são equivalentes, e até, superiores que os exames de<br />

imagem no diagnóstico da lesão de LCA (FERRETTI et al., 2007).<br />

Com o intuito de avaliar a estabilidade do LCA, existem<br />

testes ortopédicos especiais tais como: teste de gaveta, teste de<br />

Lachman e o pivot shift (HERBERT & XAVIER, 2003).<br />

199


200<br />

SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />

8 AVALiAÇÃo ProPrioCEPTiVA<br />

Os SEBTs são uma série de oito testes unilaterais de<br />

equilíbrio que incorporam um posicionamento de uma perna em<br />

pé, com um alvo máximo de alcance da perna livre. A perna em<br />

pé opera na cadeia cinética fechada com movimento acoplado no<br />

tornozelo, joelho e articulação do quadril, enquanto a perna oposta<br />

tenta alcançar a direção especificada.<br />

Na medida em que o alcance-alvo é executado com o pé,<br />

o sistema de controle postural é desafiado conforme o centro de<br />

gravidade do corpo é movimentado em relação á sua base de apoio.<br />

O controle postural é mediado pelos sistemas visual, vestibular<br />

e somato-sensorial. O controle neuromuscular adequado dos<br />

músculos da pena em pé é de suma importância para aumentar<br />

o comprimento da excursão da perna de alcance. Assim, o<br />

desempenho ótimo desses testes somente pode ser obtido se não<br />

houver restrições à escala do movimento ou controle neuromuscular<br />

no tornozelo, joelho e articulação do quadril. Este teste é realizado<br />

periodicamente para a avaliação da propriocepção (TRILHA et al.,<br />

2009).<br />

Fig. 1. Execução do SEBT teste.


A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />

9 TrEiNo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo<br />

A reeducação proprioceptiva do joelho em lesão do LCA<br />

é fundamentada em quatro fatores: 1) Exercícios que envolvem<br />

estímulos especiais (desequilíbrio provocado e controlado para<br />

produzir aumento das informações proprioceptivas, exercícios<br />

em planos inclinados, prancha oscilante de Dotte, aparelho de<br />

Freeman, tábua de equilíbrio e cama elástica). 2) Progressividade e<br />

aumento na dificuldade do exercício (levar o paciente de um nível<br />

simples a um mais complexo de exercícios, com caráter repetitivo).<br />

3) Critérios de habilidade (capacidade do paciente em evoluir a<br />

complexidade do exercício proposto). 4) Avaliação proprioceptiva.<br />

O grau I da reabilitação proprioceptiva inicia logo após a quarta<br />

semana, esses exercícios incluem o apoio monopodal (apoio de<br />

apenas um membro ), com ou sem auxilio da visão, realizados em<br />

vários ângulos de flexão do joelho com desequilíbrio provocado ao<br />

natural. Os exercícios de grau II são basicamente aqueles que se<br />

realiza em planos instáveis e a corrida no plano sem mudança de<br />

direção. Iniciamos os exercícios pela tábua de equilíbrio, evoluindo<br />

para prancha oscilante de Dotte e depois para o aparelho de Freeman.<br />

Esses exercícios são executados como no grau I, variando porém,<br />

o apoio, visão, angulação do joelho e desequilíbrio. Os do terceiro<br />

grau são exercícios avançados, quando se utiliza a cama elástica<br />

(mini trampolim), o skate e se introduz a alternância de pisos,<br />

saltos, obstáculos e a corrida com mudança de direção (HERTEL<br />

et al., 2006).<br />

O maior nível de controle neuromuscular envolve<br />

consciência de posição estática e dinâmica do corpo, através<br />

da prática repetitiva do movimento, o que faz com que esses<br />

comandos motores possam ser identificados e armazenados. Estes<br />

201


202<br />

SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />

comandos neuromotores podem então ser recuperados e iniciados<br />

automaticamente de modo que a proteção articular pode ser<br />

realizada com consciência contínua (HERTEL et al., 2006).<br />

10 CoNCLuSÃo<br />

É importante ressaltar que o tratamento não cirúrgico da<br />

ruptura do LCA leva a uma instabilidade crônica da articulação<br />

do joelho, que por sua vez, desencadeia uma patologia meniscal,<br />

devido ao fato de ser o corno posterior do menisco medial o<br />

responsável pela restrição do deslocamento posterior do fêmur,<br />

quando ocorre a ruptura do LCA.<br />

Após a cirurgia do LCA é importantíssimo que o treino<br />

neuromuscular proprioceptivo seja realizado para evitar que<br />

ocorra um processo de instabilidade articular, que com o passar do<br />

tempo pode levar a patologias associadas e até mesmo a artrose da<br />

articulação.<br />

11 rEFErÊNCiAS<br />

AQUINO, C. F.; VIANA , S. O.; FONSECA, S. T.; BRICIO,<br />

R. S.; VAZ, D. V. Mecanismos neuromusculares de controle da<br />

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2006.


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FERRETTI M., AMARO J. T., COHEN M. Lesão do Ligamento<br />

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Rigidez Muscular Via Sistema Fuso-Muscular Gama: Implicações<br />

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203


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE<br />

rEumATÓiDE<br />

rESumo<br />

SAnTOS, PedRO HenRiqUe 1<br />

VOLOSKi, FeRnAndO 2<br />

Artrite Reumatóide é uma doença sistêmica,<br />

1<br />

caracterizada por um quadro inflamatório crônico<br />

com sinovite poliarticular persistente, de etiologia<br />

desconhecida e com grande potencial deformante.<br />

Esta doença surge geralmente após os 40 anos,<br />

no entanto pode surgir em qualquer fase da vida.<br />

O objetivo deste estudo é analisar a indicação e a<br />

utilização da crioterapia no tratamento da fase aguda<br />

da Artrite Reumatóide. A crioterapia é um excelente<br />

recurso terapêutico no combate a fase aguda da<br />

Artrite Reumatóide, por seu efeito antiinflamatório<br />

e analgésico, além de evitar a ação da enzima<br />

colagenase que atua na degeneração da articulação.<br />

Entretanto, devem ser levadas em consideração<br />

as contra-indicações com relação ao uso do frio,<br />

devido às manifestações que ocorrem nas diferentes<br />

fases da enfermidade, dando como exemplos a<br />

Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo.<br />

2 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo.<br />

205


206<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

crioglobulinemia e a vasculite. Portanto foi visto que<br />

a aplicação da crioterapia em pacientes com AR de<br />

certa forma torna-se útil para que ocorra o controle<br />

dos sinais e sintomas, por outro lado observamos que<br />

há divergências de autores e escassez de estudos<br />

com relação à aplicação do frio nas diferentes fases<br />

da doença. Trata-se de uma revisão de literatura<br />

baseada na busca de informações em livros e artigos<br />

nacionais e internacionais, junto à base de dados<br />

em saúde como: Medline, Pubmed, Scielo, Google<br />

Acadêmico.<br />

Palavras-chave:<br />

crioterapia.<br />

artrite reumatóide, aplicação,<br />

ABSTrACT<br />

Rheumatoid arthritis is a systemic disease<br />

characterized by a chronic inflammatory synovitis<br />

with polyarticular persistent, of unknown etiology<br />

and with great potential deformans. This disease<br />

usually appears after 40 years, however may arise<br />

at any stage of life. The aim of this study is to<br />

analyze the information and use of cryotherapy in<br />

the treatment of acute phase of rheumatoid arthritis.<br />

The cryotherapy is an excellent therapeutic resource<br />

in combating the acute phase of rheumatoid arthritis,<br />

for its anti-inflammatory effect and analgesic, and<br />

prevent the action of collagenase enzyme that acts


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

in the degeneration of the joint. However, should be<br />

considered contra-indications with respect to the use<br />

of cold, due to events that occur at different stages of<br />

the disease, giving as examples the cryoglobulinemia<br />

and vasculitis. So it was seen that the application of<br />

cryotherapy in patients with RA in some ways it is<br />

useful to have the control of signs and symptoms, on<br />

the other hand we observe that there are differences of<br />

authors and lack of studies concerning the application<br />

of cold in different stages of the disease. This is a<br />

literature review based on the search for information<br />

in books and articles nationally and internationally,<br />

with the database on health such as Medline, Pubmed,<br />

Scielo, Google Scholar.<br />

Keywords: rheumatoid arthritis, application,<br />

cryotherapy.<br />

1 iNTroDuÇÃo<br />

A característica básica da Artrite Reumatóide ou Doença<br />

Reumatóide, assim como uma boa parte das afecções reumáticas,<br />

é a presença do quadro inflamatório crônico, que causa inflamação<br />

no revestimento das articulações e se manifesta por calor, edema e<br />

dor. A AR tende a persistir por muitos anos, tipicamente afeta várias<br />

articulações ao longo do corpo e pode causar danos nas cartilagens,<br />

ossos, tendões e ligamentos das articulações (SILVEIRA et al.,<br />

2006).<br />

207


208<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

Segundo Silva (1998), a AR pode ser caracterizada como<br />

uma enfermidade inflamatória crônica que afeta o sistema músculo<br />

esquelético onde a inflamação das articulações e tendões resulta<br />

em dor, limitação do movimento, tumefação, ocasionando futuras<br />

deformidades.<br />

Para Santos (1996), a artrite reumatóide (AR) é uma<br />

doença crônica, habitualmente progressiva, que se caracteriza<br />

pelo envolvimento simétrico de múltiplas articulações e cursa com<br />

diversos graus de incapacitação funcional. Ela afeta as atividades<br />

da vida cotidiana como se vestir, subir escadas, deitar e levantar<br />

da cama e andar; podendo diminuir seriamente a autonomia e, por<br />

conseguinte, a qualidade de vida.<br />

Esta doença acomete 1% da população adulta, aumentando<br />

para 4,5% em pessoas na faixa etária dos 55 aos 75 anos. Ela<br />

afeta ambos os sexos com maior prevalência nas mulheres (3:1).<br />

A causa da AR é desconhecida, porém considera-se multifatorial,<br />

ela acomete o tecido conjuntivo, primeiramente a membrana<br />

sinovial, com característica de um processo inflamatório crônico<br />

(CHIARELLO et al., 2005).<br />

Rebelatto e Morelli (2007) citam de uma maneira resumida<br />

que, a fisiopatologia envolvida na AR pode ser dividida em<br />

estágios. No estagio 1, o aspecto mais relevante é a sinovite, com<br />

congestão vascular, proliferação de sinoviócitos, infiltração de<br />

células plasmáticas polimorfonucleares e linfócitos nas camadas<br />

sinoviais, levando ao aumento das vilosidades da membrana<br />

sinovial. No estagio 2, a destruição da estrutura fisiológica dos<br />

tecidos articulares é mais evidente devido à formação do pannus,<br />

que recobre a superfície articular e erodem a cartilagem e o tecido<br />

ósseo a partir da margem articular e bainhas tendinosas. No estagio<br />

3, as deformidades articualres se instalam em conseqüência da<br />

destruição e da frouxidão articular e das rupturas tendinosas.


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

Rebelatto e Morelli (2007) citam que aproximadamente 80%<br />

da população com AR é fator-reumatóide positivo. Os fatores<br />

reumatóides são anticorpos que reagem com imunoglobulinas<br />

encontradas no sangue. O fator reumatóide também pode ser<br />

encontrado no liquido sinovial e na membrana sinovial dos<br />

acometidos.<br />

O fator reumatóide é um grupo de anticorpos com<br />

especificidade para a fração Fc da imunoglobulina G, sendo a<br />

maior alteração imunológica da AR. Ele é responsável por diversas<br />

funções efetoras dentro do processo patogênico, formando<br />

imunocomplexos, com ativação do sistema complemento,<br />

contribuindo para a perpetuação da inflamação articular<br />

(CHIARELLO et al., 2005).<br />

Portanto o tratamento de reabilitação da AR através da fisioterapia,<br />

utiliza frequentemente os agentes térmicos (Frio e Calor), sendo o<br />

primeiro em especial, que segundo Chiarello et al. (2005) indica a<br />

crioterapia na fase aguda da AR, pois produzirá analgesia.<br />

A crioterapia pode ser melhor conceituada, como o uso<br />

do frio com fins terapêuticos, que através de suas propriedades<br />

tem a capacidade de retirar calor do organismo, usualmente é<br />

empregada no tratamento da dor em afecções músculo esqueléticas,<br />

preservando ou reduzindo possíveis danos celulares nos tecidos do<br />

corpo (AGNE, 2004; RODRIGUES, 1995; ALTER, 1999).<br />

A crioterapia é muito usada após traumatismos músculosesqueléticos,<br />

por minimizar a formação de edema, e para dor<br />

miofascial e processos inflamatórios articulares. É também<br />

utilizada no controle da dor e edema após cirurgias ortopédicas e<br />

no controle de componente espástico. A imersão em água gelada<br />

é indicada como tratamento primário de pequenas queimaduras<br />

(LIANZA, 2002).<br />

209


210<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

A crioterapia pode ser definida como a terapia pelo frio<br />

ou terapia fria. A crioterapia abrange uma grande quantidade de<br />

técnicas específicas que utilizam o frio nas formas, líquido (água),<br />

sólido (gelo) e gasosa (gases) com o objetivo terapêutico de retirar<br />

calor do corpo. A retirada de calor do corpo tem por objetivo induzir<br />

os tecidos a um estado de hipotermia, para favorecer urna redução<br />

da taxa metabólica local (RODRIGUES, 1995).<br />

A terapia com frio é utilizada durante ás 24 a 48 horas após ter<br />

ocorrido o trauma. Após esse período de tempo ela é menos útil.<br />

Realizam-se aplicações de 20 a 40 minutos de duração, devendo<br />

esperar pelo menos uma hora para repetir a aplicação (STASHAK,<br />

1994).<br />

Dentre os efeitos da aplicação da crioterapia encontram-se<br />

a vasoconstrição local, redução da dor, da inflamação, do espasmo<br />

muscular e da taxa de metabolismo celular em conseqüência da<br />

necessidade reduzida de oxigênio no local (GUIRRO et al., 2004;<br />

SILVESTRE et al., 2002).<br />

De acordo com Knight (2000), a aplicação do gelo faz com<br />

que aumente o limiar de excitação das células nervosas em função<br />

do tempo de aplicação, ou seja, quanto maior o tempo menor a<br />

transmissão dos impulsos relacionados à temperatura o que pode<br />

gerar analgesia ou diminuição da dor.<br />

Porém na AR cerca de 70 a 80% dos portadores apresentam<br />

fator reumatóide positivo, desta maneira a probabilidade de<br />

produzir crioglobulinas através da aplicação do frio aumenta,<br />

potencializando o efeito da vasculite levando a necrose articular.<br />

A necrose tecidual ocorre devido à oclusão dos vasos sangüíneos<br />

causando isquemia de pequenos vasos, aumentando o potencial<br />

deformante e destrutivo da doença (HEBERT, 2003).


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

As crioglobulinas são imunoglobulinas presentes na<br />

circulação sangüínea, produzidas pelos monócitos da medula óssea<br />

decorrentes de uma reação auto-imune ou sem imunopatologia<br />

estabelecida. Quando submetidas baixas temperaturas, as<br />

crioglobulinas precipitam, constituindo um fenômeno denominado<br />

crioglobulinemia. Porém ela é reversível, pois as imuglobulinas<br />

se redissolvem após serem aquecidas (SILVEIRA et al. apud<br />

DELGADO et al., 2001).<br />

A vasculite reumatóide tem sido associada a altos títulos de<br />

fator reumatóide. O envolvimento vascular da crioglobulinemia na<br />

AR ocorre com precipitação das crioglobulinas (lgG policlonal<br />

e lgM monoclonal). Quando submetidas a baixas temperaturas<br />

esse precipitado de imunocomplexos depositam-se nas margens<br />

dos pequenos vasos da membrana sinovial. Sua reação com o fator<br />

reumatoide positivo provoca ativação do sistema de complemento<br />

que acentua o quadro inflamatório pela destruição da membrana<br />

sinovial e pela vasodilatação promovida pelos mediadores liberados.<br />

Sendo assim se o paciente apresentar vasculite, crioglobulinemia<br />

em qualquer fase da doença a crioterapia é contra-indicada<br />

(SILVEIRA et al. apud COLUCCI, 2005; AGNE, 2004).<br />

Para Knight (2000) a crioterapia pode ser aplicada de<br />

acordo com os seguintes métodos: a imersão local em gelo picado<br />

ou em água gelada, compressas frias, sprays congelantes, bolsas de<br />

gelo e a massagem com gelo.<br />

Como já foi citada anteriormente, a crioterapia dispõem<br />

de varias técnicas de aplicação, onde cada técnica procura uma<br />

maior efetividade e melhores resultados com sua aplicação, de<br />

acordo com o local, o tamanho da área e ate mesmo os objetivos do<br />

tratamento através do frio (AGNE, 2004; LINZA, 2002).<br />

211


212<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

A escolha correta do método de aplicação deve ser baseada,<br />

principalmente, de acordo com a área a ser tratada, sendo que o<br />

tempo de aplicação varia tanto em relação ao método utilizado<br />

como a área, isto é, uma articulação que apresenta menor espessura<br />

do tecido adiposo, o tempo necessário para atingir o resfriamento é<br />

menor do que em uma outra área que possui uma maior quantidade<br />

de tecido adiposo (PINHEIRO apud RODRIGUES, 1995).<br />

Porém, durante o tratamento da crioterapia devem-se tomar<br />

alguns cuidados a seguir declinados: Pacientes com Fenômeno<br />

de Raynaud ou doença vasoespática; hipersensibilidade ao frio;<br />

distúrbios cardíacos; comprometimento da circulação local; ter<br />

cuidado nas aplicações não passar de 50 minutos para não produzir<br />

ulcerações; não aplicar em pacientes paralisados ou em coma, pois<br />

vão ter perda de sensibilidade (RODRIGUES, 1998).<br />

De acordo com Lianza (2002) as contra-indicações mais<br />

comuns são as intolerâncias ao frio, que pode fazer com que o<br />

paciente aumente a contratura muscular. Aplicação em áreas com<br />

comprometimento vascular arterial. O uso do frio deve ser cuidadoso<br />

em pacientes com hipoestesia, com alterações cognitivas ou déficit<br />

de comunicação. É contra-indicado nos casos de criopatias, um<br />

exemplo.<br />

Fenômeno de Raynaud é uma doença vasoespática que<br />

pode ser idiopática ou associada a outras doenças. É um episódio<br />

de constrição de pequenas artérias e arteríola nas extremidades,<br />

que resulta em palidez e/ou cianose da pele, seguida por hiperemia<br />

e vermelhidão. A vasoconstrição pode ser grande o bastante para<br />

levar a uma oclusão completa dos vasos (GOULD, 1993).<br />

A fisioterapia através do frio visa uma melhora ou pelo<br />

menos a manutenção na qualidade de vida dos pacientes com


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

AR, onde um dos principais objetivos é a abolição ou o controle<br />

da dor, responsável também pela limitação do movimento pelas<br />

deformidades (CHIRELLO et al., 2005).<br />

Na fase aguda da AR indica-se a crioterapia por produzir<br />

analgesia, apesar de que ela pode manter a rigidez articular. Porém<br />

se o paciente apresentar vasculite, crioglobulinemia ou fenômeno<br />

de Raynaud em qualquer fase da doença a crioterapia é contraindicado.<br />

Outros recursos terapêuticos que produzem calor, como<br />

ondas curtas, galvânica e ultra-som, também são contra-indicados<br />

na fase aguda da patologia (AGNE, 2004).<br />

Portanto a crioterapia é um excelente recurso terapêutico<br />

no combate a fase aguda da AR, devido à redução dos efeitos que<br />

o quadro inflamatório provoca nas articulações acometidas, seja<br />

reduzindo o consumo de oxigênio evitando a hipóxia secundária,<br />

ou pela vasoconstrição evitando a progressão do edema e reduzindo<br />

a chegada de mediadores inflamatórios no local, ou ainda, por<br />

evitar a ativação da colagenase que destrói a cartilagem articular<br />

(SILVEIRA et al., 2006).<br />

2 mATEriAL E mÉToDoS<br />

Trata-se de uma revisão de literatura, realizada no período<br />

de Março de 2009 à Julho de 2009, na qual foram consultados<br />

livros e periódicos da Biblioteca do Instituto Cenecista de<br />

Ensino Superior de Santo Ângelo, e realizada a busca de artigos<br />

científicos nos bancos de dados da Bireme, Scielo, Google<br />

Acadêmico, Fisioweb, Pubmed e Medline, pertinentes ao assunto<br />

abordado, utilizando as palavras chaves como: Artrite Reumatóide,<br />

Fisioterapia, Crioterapia, fazendo ênfase na evidência científica.<br />

213


3 DiSCuSSÃo<br />

214<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

A Artrite Reumatóide é uma doença sistêmica do tecido<br />

conjuntivo cujas alterações são predominantes nas articulações<br />

diatrodiais e nas estruturas periarticulares, manifestando-se<br />

principalmente pelo processo inflamatório crônico e deformante da<br />

membrana sinovial (CHIARELLO, 2005).<br />

Porém, para Golding (2001), a AR é uma enfermidade que<br />

leva ao seu portador febre, mialgias, e fadiga muscular, porém<br />

normalmente os principais sinais e sintomas da doença estão<br />

vinculados à dor e ao edema articular, associados também à rigidez<br />

articular inflamatória. Com a progressão da doença surgem as<br />

deformidades.<br />

Já Abreu (2000), cita que a doença se caracteriza por artrite<br />

crônica, erosiva e deformante. A maioria dos doentes apresenta<br />

também manifestações extra-articulares, algumas das quais podem<br />

ser fatais. A causa da AR é desconhecida, sabendo-se que estão<br />

implicados fatores genéticos e outros não esclarecidos na sua<br />

origem.<br />

No campo da Fisioterapia p uso dos meios físicos tornou-se<br />

indispensável principalmente no tratamento de afecções músculo<br />

esquelético, onde de certa forma, tanto o frio quanto o calor, na<br />

forma terapêutica, são responsável na melhora da qualidade de<br />

vida dos pacientes, possibilitando o retorno em suas AVD´S muitas<br />

vezes comprometidas por diversas patologias.<br />

Portanto para Agne (2004), a crioterapia é uma técnica que<br />

se utiliza do frio para fins terapêuticos, e é comumente empregada<br />

na fase aguda da AR, contribuindo significamente na redução dos


o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

sinais e sintomas. O paciente nessa fase está submetido a quadros<br />

álgicos e sinovite inflamatória aguda que posteriormente acarreta<br />

em deformidades, trazendo impactos negativos na qualidade de<br />

vida destes.<br />

Chiarello et al. (2005), cita que a crioterapia é normalmente<br />

utilizada na fase aguda da AR, visando à diminuição da temperatura<br />

intrarticular e consequentemente a diminuição da dor. Por outro<br />

lado os efeitos do frio ajudam a manter a rigidez articular.<br />

Já para Golding (2001), a aplicação do calor superficial nas fases<br />

iniciais da doença ou no período de exacerbação da mesma é tida<br />

como importante para que haja uma diminuição da dor, onde<br />

também a aplicação de banhos de cera ajuda, no alivio da rigidez<br />

das mãos.<br />

Porém para Starkey (2001), o calor nos estágios<br />

inflamatórios agudos da Artrite Reumatóide, torna-se inadequado<br />

e contra-indicado a aplicabilidade desta técnica, pois provocará o<br />

aumento da circulação local e/ou o aumento das tensões mecânicas<br />

musculares, podendo levar à hemorragia intra-articular ou ruptura<br />

de estruturas articulares.<br />

Portanto para Silveira et al. (2006), os efeitos da crioterapia<br />

são extremamente importantes no controle da fase aguda da AR.<br />

O portador de AR apresenta durante a crise um quadro de sinovite<br />

inflamatória aguda, e a aplicação de modalidades crioterapêuticas<br />

nessa fase contribui significamente para a redução dos sinais e<br />

sintomas.<br />

Na AR ou qualquer processo artrítico, a temperatura<br />

intrarticular eleva-se a uma média entre 30,5 ºC e 33 ºC para um valor<br />

entre 34ºC à 37ºC. O aumento da temperatura promove a liberação<br />

da enzima colagenase pelos leucócitos polimorfonucleares que se<br />

215


216<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

infiltram na sinóvia. Essa enzima destrói o colágeno na cartilagem<br />

articular, potencializando sua degeneração. Compressas frias<br />

podem diminuir essa temperatura em 2 ou 3ºC, quando aplicada<br />

por mais de dez minutos (SILVEIRA, 2001).<br />

Para Lehmann et al. (apud Silveira et al., 2006), o<br />

beneficio da crioterapia no tratamento de uma articulação com<br />

reação inflamatória está na vasoconstrição com redução de edema<br />

e indiretamente no alivio da dor. Também foi constatada uma<br />

redução significativa na atividade da colagenase.<br />

De acordo com Knight (apud Guirro et al., 2004), há<br />

controvérsias em relação à utilização terapêutica da crioterapia,<br />

uma vez que existem numerosas opiniões sobre suas bases teóricas,<br />

técnicas apropriadas de aplicação e as respostas fisiológicas do<br />

organismo.<br />

Na AR cerca de 70 a 80% dos portadores apresentam<br />

fator reumatoide positivo, desta maneira a probabilidade de<br />

produzir crioglobulinas através da aplicação do frio aumenta,<br />

potencializando o efeito da vasculite levando a necrose articular.<br />

A necrose tecidual ocorre devido à oclusão dos vasos sangüíneos<br />

causando isquemia de pequenos vasos, aumentando o potencial<br />

deformante e destrutivo da doença. Sendo assim nesta ocasião o<br />

uso da crioterapia torna-se contra-indicado (HEBERT et al., 2003;<br />

PINHEIRO apud MICHLOVITZ, 1996).<br />

Já para Silveira et al. (2006), os portadores de AR com<br />

fator reumatoide negativo e ausência de crioglobulinas podem ser<br />

altamente beneficiados com a crioterapia na fase aguda. Sendo<br />

assim torna-se indispensável à pesquisa do fator reumatoide,<br />

através da prova Látex ou do Waaler Rose. A prova do látex é<br />

positiva em 80 % dos pacientes com AR e a de Waaler Rose está<br />

presente em 60%.


4 CoNCLuSÃo<br />

o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />

A partir deste trabalho, foi visto que a AR é uma patologia<br />

de grande acometimento na população mundial, sendo que as<br />

mulheres possuem mais capacidade de desenvolve-lá. Devido sua<br />

etiologia ainda ser desconhecida, porém alguns autores dizem que<br />

ele é de caráter auto-imune, o que dificulta o seu diagnóstico.<br />

A crioterapia no tratamento da AR é de suma importância, pois<br />

ela é um recurso que desfruta de varias técnicas que tem efeitos<br />

benéficos no tratamento da fase aguda da AR, e de outras<br />

afecções do organismo humano. A partir de sua aplicação pode<br />

se obter efeitos locais no organismo, onde a temperatura da pele<br />

deverá reduzir significamente para se obter um bom resultado no<br />

tratamento. O tempo de aplicação varia de acordo com a técnica,<br />

mas segundo diversos autores, o tempo estimado varia em torno de<br />

trinta minutos.<br />

A aplicação da crioterapia é indicada na fase aguda da AR,<br />

devido aos seus efeitos como, diminuição do fluxo sangüíneo,<br />

controle da dor e diminuição de edema, entre outros, que favorecem<br />

a manutenção da qualidade de vida dos portadores da AR. Porém,<br />

existem algumas contra-indicações em relação à crioterapia que<br />

deverão ser levadas em considerações como: crioglobulinemia e<br />

fenômeno de Raynaud.<br />

Portanto, fica claro que a aplicabilidade da crioterapia<br />

na AR é de suma importância, devido aos seus efeitos benéficos<br />

na fase aguda da patologia, porém nessecita-se de mais estudos<br />

relacionando a crioterapia com as crioglobulinas.<br />

217


5 rEFErÊNCiAS<br />

218<br />

SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />

ABREU, Tiago T. et al. Artrite Reumatóide: Manifestações extraarticulares,<br />

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Manole, 2004.<br />

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São Paulo: USP, 1996. Tese (Doutorado). Universidade Federal de<br />

São Paulo, 1996.<br />

SILVA, Fabiano Moreira. Artrite: Fisio&Terapia. Rio de janeiro:<br />

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219


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES<br />

PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

rESumo<br />

BRAUn, dAnTe SAUL 1<br />

BUenO, RúBiA dAiAne SAnTOS 2<br />

A Pneumonia Nosocomial é aquela que ocorre<br />

após 48 a 72 horas após a admissão hospitalar. É<br />

uma infecção que ocorre no parênquima pulmonar,<br />

comprometendo todo o sistema respiratório e atinge<br />

a maioria dos pacientes internados principalmente na<br />

unidade de terapia intensiva pelo frequente uso da<br />

ventilação mecânica invasiva e sua imunidade muito<br />

reduzida. A fisioterapia por sua vez, atua para que o<br />

paciente recupere suas funções respiratórias através<br />

de manobras manuais, posturais e cinéticas para<br />

melhorar a ventilação pulmonar e a oxigenação desse<br />

paciente. Esse artigo é uma revisão bibliográfica sobre<br />

a ação da Fisioterapia Respiratória na Pneumonia<br />

Nosocomial, baseada em livros, sites científicos,<br />

jornal de pneumologia e revistas científicas.<br />

1 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo, Fisioterapeuta, Especialista em Terapia Intensiva.<br />

2 Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />

Ângelo.<br />

221


222<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

Palavras-chave: Pneumonia Nosocomial, Fisioterapia<br />

Respiratória.<br />

ABSTrACT<br />

The Pneumonia Nosocomial safety is one that<br />

occurs after 48 to 72 hours after hospital admission.<br />

Is an infection that occurs in the lung parenchyma,<br />

undermining the entire respiratory system and<br />

reaches the majority of patients in intensive care<br />

unit by the frequent use of invasive ventilation and<br />

his immunity. The physiotherapy turn acts for which<br />

the patient recovers its respiratory functions through<br />

manoeuvres manuals, posturais and K1 and K2 to<br />

improve pulmonary ventilation and oxygenation of the<br />

patient. This article is a bibliographic review on the<br />

action of Respiratory Physiotherapy in Pneumonia<br />

nosocomial safety, based on scientific books,<br />

websites, newspapers of Pulmonology and scientific<br />

journals.<br />

Keywords: Nosocomial Pneumonia, Respiratory<br />

Phisical Therapy.


1 iNTroDuÇÃo<br />

FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

A infecção do trato respiratório inferior é uma das principais<br />

patologias que acometem a população. Promove alterações na<br />

mecânica respiratória e na ventilação/perfusão, podendo o paciente<br />

apresentar quadros importantes de insuficiência respiratória aguda.<br />

As principais alterações provocadas por esse mal decorrem da<br />

exacerbação do processo inflamatório e acarretam importante<br />

acúmulo de secreção brônquica com conseqüente incapacidade<br />

do sistema respiratório em realizar uma adequada ventilação<br />

alveolar. Por esses fatores, torna-se evidente a importância da<br />

fisioterapia respiratória em pacientes acometidos por essa afecção<br />

(SARMENTO, 2007).<br />

A Pneumonia Nosocomial é definida como toda infecção<br />

do trato respiratório inferior que ocorre durante a internação desde<br />

que não esteja presente ou em incubação, no momento da admissão<br />

do paciente. A maior taxa de incidência ocorre em serviços clínicos<br />

e cirúrgicos, em pacientes imunossuprimidos, naqueles submetidos<br />

a procedimentos cirúrgicos do tórax ou do andar superior do<br />

abdome, e nos pacientes admitidos nas UTI’s. Pacientes graves,<br />

intubados e em ventilação mecânica apresentam maior risco de<br />

infecção pulmonar. Os critérios clínicos mais utilizados para o<br />

diagnóstico das pneumonias nosocomiais são: a) aparecimento de<br />

infiltrado pulmonar novo ou progressivo; b) febre; c) leucocitose<br />

e d) presença de secreção purulenta traqueobrônquica; a presença<br />

de apenas três critérios permite o diagnóstico. Broncoscopia<br />

com lavado alveolar ou escovado através de cateter protegido<br />

tem demonstrado vantagens no diagnóstico das pneumonias<br />

nos pacientes em ventilação mecânica. Avanços nos métodos<br />

diagnósticos das pneumonias hospitalares, nas técnicas de<br />

biologia molecular, nas estratégias de prevenção das pneumonias<br />

223


224<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

hospitalares, nos procedimentos invasivos, no uso adequado de<br />

antibioticoterapia e profilaxia, e a imunoterapia representam<br />

desafios para a década atual (SILVA, 2004).<br />

É uma infecção que ocorre no parênquima pulmonar,<br />

comprometendo bronquíolos respiratórios e alvéolos que são<br />

preenchidos por exsudato inflamatório, o que prejudica as<br />

trocas gasosas. Essa patologia pode ser causada por qualquer<br />

agente infeccioso como bactérias, fungos, vírus ou parasitas.<br />

Em sua maioria, é provocada por bactérias e é considerada a<br />

principal causa de morte em pacientes hospitalizados. Quanto à<br />

classificação anatômica, as pneumonias podem ser: lobar, onde<br />

há uma disseminação uniforme nos lobos pulmonares; lobular,<br />

caracterizada por vários focos inflamatórios nos lóbulos pulmonares;<br />

e intersticial, afetando mais o interstício pulmonar. Ela geralmente<br />

inicia-se a partir da inalação de microorganismos para o interior<br />

dos pulmões. A infecção pode ser levada aos pulmões pela corrente<br />

sangüínea ou deslocar-se para os mesmos diretamente a partir de<br />

uma infecção próxima. Os sintomas mais comuns desta patologia<br />

são: tosse produtiva, dor torácica, calafrios, febre e dificuldade<br />

respiratória (ANUNCIATO & XAVIER, 2007).<br />

É um processo infeccioso pulmonar produzido por fatores<br />

etiológicos como: bactérias, fungos, micoplasma, alérgenos e<br />

agentes químicos e físicos. Na fase inicial da pneumonia o paciente<br />

fica taquipnéico pela hipóxia e com o decorrer da patologia tende<br />

a hipoventilar, evoluindo com a insuficiência respiratória caso a<br />

pneumonia seja grave e possivelmente ao óbito. Portanto é necessária<br />

a urgência do tratamento com antibióticos e posteriormente o<br />

tratamento fisioterapêutico que consiste na aplicação de exercícios<br />

para melhorar a tosse e a ventilação do alvéolo pulmonar – região<br />

do pulmão que faz a troca entre o oxigênio e o gás carbônico


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durante a respiração. O tratamento fisioterapêutico não é a única<br />

responsável pela melhora dos pacientes, mas aliada a tratamento<br />

com remédios e mudança nos hábitos do cotidiano, como a prática<br />

de exercícios e alimentação adequada, pode ter de 30% a 40% de<br />

eficácia (SILVA, 2004).<br />

Segundo Sarmento (2007) a pneumonia é definida como<br />

inflamação aguda das estruturas do parênquima pulmonar causada<br />

por diversos agentes etiológicos. É responsável por 90% das<br />

mortes por afecções respiratórias e por 10% de todas as mortes;<br />

sua gravidade e maior mortalidade está relacionada a indivíduos<br />

imunocomprometidos, por exemplo, portadores de AIDS, fibrose<br />

cística, e aos extremos de vida, como recém-nascidos, lactentes ou<br />

idosos.<br />

A resolução desta patologia na fase aguda geralmente<br />

inclui analgésicos, antibióticos, antitérmicos, dieta hipercalórica<br />

e hiperproteica e oxigenoterapia em casos de choque tóxico,<br />

edema pulmonar e/ou paciente cianótico (PaO2 < 60 mmHg). A<br />

fisioterapia respiratória não tem ação na 1ª fase da pneumonia. A<br />

atuação fisioterápica na 2ª fase (subaguda) e 3ª fase (crônica) da<br />

pneumonia pode possibilitar uma melhor ventilação pulmonar,<br />

através de exercícios e manobras manuais respiratórias que<br />

interfiram diretamente na biomecânica pulmonar evitando a<br />

instalação de novos processos infecciosos. Para tanto, são usados<br />

alguns recursos fisioterápicos descritos na literatura (BRUNETTO<br />

& PAULIN, 2002).<br />

É a segunda causa mais freqüente de infecção hospitalar,<br />

correspondendo a aproximadamente 15% destas e afetando de<br />

0,5% a 2% dos pacientes hospitalizados. As taxas de mortalidade<br />

podem chegar até 70% mas, quando se considera a mortalidade<br />

direcionada com a pneumonia, as taxas variam entre 30% a 50%.<br />

225


226<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

Portanto, é a principal causa de óbito secundária a infecções<br />

hospitalares (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

As Pneumonias Hospitalares são consideradas a principal<br />

infecção adquirida em hospitais brasileiros sendo responsável por<br />

13 a 18% de todas as infecções hospitalares. A pneumonia que<br />

ocorre em pacientes internados em unidades de terapia intensiva<br />

determina altas taxas de letalidade quando comparado com taxas<br />

de pacientes com pneumonia, hospitalizados em outras unidades<br />

do hospital (MEDEIROS, 1999).<br />

A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) é<br />

aquela que se desenvolve após 48 horas de intubação orotraqueal e<br />

ventilação mecânica, onde o paciente não encontrava-se incubado<br />

no momento. Esta infecção é conseqüência da falta de equilíbrio<br />

entre os mecanismos de defesa do indivíduo e o agente microbiano.<br />

O risco para a pneumonia nosocomial aumenta de seis a vinte<br />

vezes nos pacientes que se encontram em intubação orotraqueal e<br />

ventilação mecânica. A PAVM tem uma alta taxa de mortalidade e<br />

apresenta maior risco para sua ocorrência de 1 a 3% a cada dia de<br />

permanência em ventilação mecânica (YOKOTA et al., 2006).<br />

A pneumonia aspirativa, é um processo infeccioso<br />

causado pela inalação de secreções orofaríngeas potencialmente<br />

contaminadas por microorganismos patogênicos, tais como as<br />

bactérias que colonizam a superfície da mucosa da cavidade<br />

orofaríngea, a inalação, portanto, constituindo o mecanismo<br />

primário pelo qual as bactérias entram nos pulmões. O risco de<br />

se adquirir pneumonia aumenta com o aumento de tempo dos<br />

pacientes sob ventilação mecânica (YOKOTA et al., 2006).<br />

A ventilação mecânica através do uso de uma via aérea<br />

(VA) artificial é provavelmente o mais freqüente procedimento


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para pacientes críticos com insuficiência respiratória severa, o que<br />

está associado às múltiplas complicações como miopatias, maior<br />

necessidade de sedação e curarização, e o aumento de fatores de<br />

risco para a pneumonia nosocomial (ANUNCIATO & XAVIER,<br />

2007).<br />

Os fatores que se relacionam a pneumonia hospitalar<br />

são: tabagismo, alcoolismo, senectude, neoplasias malignas,<br />

quimioterapia imunossupressora, diabetes melito, infecção viral,<br />

desnutrição, antibioticoterapia, intubação orotraqueal, nasotraqueal<br />

ou traqueostomia (ANUNCIATO & XAVIER, 2007).<br />

2 DiAGNÓSTiCo<br />

É um grande desafio médico. Em linhas gerais, a suspeita da<br />

presença de Pneumonia Hospitalar, especialmente a PAVM é feita<br />

pela presença dos seguintes achados: febre, secreção brônquica<br />

purulenta, leucocitose ou leucopenia e infiltrado pulmonar na<br />

radiologia simples de tórax, de aparecimento recente e progressivo<br />

(TORRES, 2005).<br />

Muitas vezes o diagnóstico é difícil de ser realizado,<br />

principalmente se considerarmos que várias outras situações<br />

podem levar ao diagnóstico equivocado de pneumonia, tais como<br />

congestão pulmonar, atelectasias, tromboembolismo pulmonar,<br />

síndrome do desconforto respiratório agudo, entre outras.<br />

Os critérios mais comumente empregados no diagnóstico de<br />

pneumonias em UTI são: presença de infiltrado pulmonar novo ou<br />

progressivo na radiografia de tórax associado a febre persistente (><br />

38°C), leucocitose (> 10.000/mm³), escarro purulento e evidência<br />

de consolidação pulmonar ao exame físico (KNOBEL et al., 2004).<br />

227


228<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

O diagnóstico de Pneumonia Hospitalar quando o paciente<br />

não se encontra em ventilação mecânica é baseado na presença<br />

de uma síndrome infecciosa e da observação de uma infiltração<br />

no radiograma de tórax. Foram definidos como critérios clínicos<br />

para definição de pneumonia hospitalar aquela que ocorre após<br />

72 horas de hospitalização, a presença de estertores, macicez à<br />

percussão ou surgimento de infiltrado pulmonar novo e um ou<br />

mais dos seguintes: escarro purulento; agente infeccioso isolado<br />

no sangue, aspirado traqueal, biópsia pulmonar ou escovado<br />

brônquico; isolamento de vírus nas secreções respiratórias; títulos<br />

de anticorpos para determinados patógenos; evidência histológica<br />

de pneumonia (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

No entanto, uma vez confirmada a presença de pneumonia,<br />

devemos avaliar a sua gravidade, o tempo de internamento e a<br />

presença de co-morbidades. Através da análise desses fatores<br />

podem ter-se ideia das possíveis etiologias e definir o melhor<br />

esquema de tratamento (TORRES, 2005).<br />

O diagnóstico da Pneumonia Nosocomial é baseado em<br />

dados clínicos e laboratoriais. Achados como febre, leucocitose,<br />

progressão ou aparecimento de infiltrado pulmonar e secreção<br />

brônquica purulenta são indicadores de Pneumonia Nosocomial.<br />

Contudo, em pacientes críticos, dados como febre, leucocitose<br />

podem surgir também devido a outras patologias como a Síndrome<br />

da Resposta Inflamatória Aguda e a Síndrome da Angústia<br />

Respiratória Aguda (RICCI, 2005).<br />

O antibiograma é um exame feito em laboratório, de forma<br />

a identificar o agente causador da doença e o antibiótico específico<br />

ao qual o agente é sensível ou resistente. Para realizar o exame,<br />

é colhido saliva, sangue, urina, fezes, tecidos ou expectoração.<br />

O produto colhido é colocado num recipiente próprio fechado,


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que serve de meio de cultura, a uma temperatura que favoreça<br />

o desenvolvimento. Geralmente, é feita uma observação ao fim<br />

do segundo dia, para as colônias poderem ser visíveis a olho nu.<br />

Pode ser necessário esperar mais dias. Se houver crescimento de<br />

algum microorganismo, este pode ser identificado a olho nu ou<br />

ao microscópio. São aplicados vários antibióticos, de forma a se<br />

verificar a qual ou quais, são sensíveis. O doente pode apresentar<br />

um conjunto de sinais e sintomas, evidentes de uma infecção. No<br />

entanto, o médico pode pedir um antibiograma para determinar<br />

qual o microorganismo e antibiótico específico. O resultado deste<br />

exame demora quatro a cinco dias (OLIVEIRA, 2009)<br />

3 GrAViDADE DA PNEumoNiA<br />

Na Pneumonia Grave há necessidade de tratamento em<br />

UTI; necessidade de FIO2 acima de 35% para manter SaO2 acima<br />

de 90%; necessidade de ventilação mecânica; acometimento<br />

radiológivo multilobar ou com escavação; sinais de acometimento<br />

sistêmico: choque, necessidade de vasopressores por mais de<br />

quatro horas; débito urinário baixo ( < 20 mL/hora), insuficiência<br />

renal necessitando diálise. Tempo de internação: considera-se a<br />

Pneumonia Hospitalar de aparecimento precoce quando ocorre<br />

antes de cinco dias de internação e tardia, quando após esse<br />

período. Presença de co-morbidades: significa a presença de outra<br />

doença previamente à pneumonia. Através da associação desses<br />

quatro fatores podem-se dividir as Pneumonias Hospitalares em<br />

grupos distintos quanto às prováveis etiologias e, baseado nisso,<br />

definir a escolha de diferentes antibióticos (TORRES, 2005):<br />

Grupo I, formas leves e moderadas, sem co-morbidades,<br />

iniciadas em qualquer período de internação ou formas graves<br />

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230<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

de instalação precoce. As etiologias mais frequentes: E. coli;<br />

Klebsiella sp., Proteus sp.; Serratia sp.; Enterobacter sp., além da<br />

microbiota habitual das vias aéreas superiores: H. Influenzae, S.<br />

aureus oxacilina-sensível e S. pneumoniae.<br />

Grupo II, Pneumonia leve-moderada, com qualquer tempo<br />

de início, mas que apresente associadamente um determinado<br />

fator de risco. Nesses casos não existirá alta probabilidade de<br />

determinadas etiologias, dependendo da co-morbidade. As<br />

principais co-morbidades são: após cirurgia abdominal com suspeita<br />

de broncoaspiração, anaeróbios devem ser cobertos. Paciente em<br />

coma, trauma cranioencefálico, diabetes mellitus e insuficiência<br />

renal, o S. aureus oxacilina-resistente deve ser considerado e<br />

tratado. Internação prolongada em UTI, uso prévio de múltiplos<br />

antibióticos ou corticóides em altas doses, defeitos estruturais<br />

broncopulmonares (bronquiectasias, por exemplo) e na vigência de<br />

ventilação mecânica, especialmente se esta estiver se prolongando,<br />

a presença de Pseudomonas aeruginosa deve ser fortemente<br />

considerada. Uso de corticosteróides em altas doses, DPOC grave<br />

e fortes indícios de surtos epidêmicos de Legionella sp., ou fungos,<br />

farão com que obrigatoriamente se inclua medicamento específico<br />

que cubra terapeuticamente esses agentes.<br />

Grupo III corresponde às pneumonias graves, adquiridas<br />

em tempo tardio (após o quinto dia de internação), ou de início<br />

recente com fatores de risco específico. Nesses casos considerar:<br />

Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter e S. aureus oxacilinaresistente.


4 iNCiDÊNCiA<br />

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A incidência de penumonia nosocomial em UTI é muito<br />

variável de acordo com cada serviço, mas gira em torno de 15% a<br />

60%, com uma taxa de mortalidade de 20% a 55%. Deve-se ao fato<br />

de o fator de risco para pneumonia nosocomial ser de seis a vinte<br />

vezes maior nos pacientes intubados e ventilados mecanicamente<br />

(KNOBEL et al., 2004).<br />

As pneumonias são atualmente a segunda causa mais comum<br />

de infecção hospitalar, responsável por cerca de 15% de todas<br />

as infecções hospitalares. Sua incidência é de 6 por 1.000 altas<br />

hospitalares. Cada episódio de pneumonia aumenta o tempo de<br />

internamento, em média 5,9 dias. A taxa de mortalidade é bastante<br />

elevada, de 16 a 37%, podendo chegar a 70% nos casos determinados<br />

por infecção por Pseudomonas aeruginosa (TORRES, 2005).<br />

5 PAToGÊNESE E FATorES PrEDiSPoNENTES<br />

A colonização bacteriana da orofaringe, traquéia e gástrica<br />

é fator que antecede a pneumonia. A participação da colonização<br />

por bactérias Gram-negativas entéricas, germes agressivos<br />

Gram-positivos e Pseudomonas aeruginosa é evento comum,<br />

sobretudo em pacientes enfermos muito debilitados. Pacientes<br />

portadores de várias co-morbidades ou condições como: idade<br />

avançada, tabagismo, pneumopatias crônicas, diabetes mellitus,<br />

alcoolismo, cardiopatias, imunossupressão, insuficiência renal,<br />

desnutrição, baixo status orgânico, permanência hospitalar préoperatória<br />

superior a sete dias, cirurgias extensas e prolongadas,<br />

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232<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

pós-operatório, emprego excessivo de sedativos e de bloqueadores<br />

neuromusculares, uso de determinadas drogas, instalação de<br />

cânulas traqueais ou sondas para suporte nutricional, equipamentos<br />

de terapia respiratória e uso errôneo de antibióticos têm sumentada,<br />

em muito, a suscetibilidade à colonização e que, em conseqüência,<br />

pode levar à infecção pulmonar (TORRES, 2005).<br />

As principais causas de Pneumonia Nosocomial em<br />

pacientes submetidos à ventilação mecânica são a aspiração de<br />

conteúdo gástrico, que geralmente funciona como reservatório<br />

de agentes patogênicos, a aspiração de substâncias dos seios<br />

paranasais e da orofaringe, além da colonização das mãos dos<br />

profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva. Outros<br />

fatores contribuintes para o desenvolvimento da Pneumonia<br />

Nosocomial são a utilização de sonda nasogástrica, variação do<br />

nível de consciência, traqueostomia (RICCI, 2005).<br />

Fatores mais associados à Pneumonia Nosocomial:<br />

necessidade de ventilação mecânica por período superior a 48<br />

horas; uso prévio de antibioticoterapia no hospital ou na unidade de<br />

terapia intensiva (UTI); a gravidade da doença de base; ocorrência<br />

da Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA); utilização<br />

de cefalosporinas de terceira geração para tratamento empírico<br />

de infecções supeitas de serem causadas por bacilos Gramnegativos;<br />

idade superior a 70 anos; doença pulmonar crônica;<br />

depressão do nível de consciência; aspiração volumosa; cirurgia<br />

torácica; trocas frequentes de circuitos de ventilação mecânica;<br />

monitoração de Pressão Intracraniana; sondagem nasogástrica;<br />

utilização de bloqueadores H2 ou antiácidos; transporte da UTI<br />

para procedimentos diagnósticos ou terapêuticos; reintubação;<br />

hospitalizações em outono e inverno (ZAMBONI & PEREIRA;<br />

2006).


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Pode ser observada em pacientes com alteração de consciência,<br />

alteração da deglutição e tosse ineficaz, atraso no esvaziamento<br />

gástrico e uso de agentes que aumentam o pH gástrico (favorecendo<br />

a colonização de bactérias Gram-negativas no estômago e<br />

provocando alto grau de colonização nas secreções de vias altas<br />

(KNOBEL et al., 2004).<br />

Determinadas situações relacionadas à condição do paciente<br />

predispõem à colonização e ao desenvolvimento de pneumonia,<br />

como doenças agudas e crônicas, como, desnutrição, hospitalizações<br />

e pré-operatórios prolongados, hipotensão, acidose metabólica,<br />

tabagismo, doenças do sistema nervoso central, doença pulmonar<br />

obstrutiva crônica (DPOC), diabetes mellitus, alcoolismo, uremia,<br />

insuficiêcia respiratória e idade avançada. A utilização de drogas,<br />

como corticosteróides e citotóxicos, debilita a imunidade e<br />

depressores do SNC aumentam o risco de aspiração. A crescente<br />

utilização de cateteres e sondas em unidades de internação e suporte<br />

ventilatório em UTI demandam vigilância cuidadosa e a utilização<br />

das melhores práticas de assepsia, como a adesão às trocas de luvas<br />

para cada paciente e utilização de linhas de suporte respiratório<br />

estéreis (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

Para o desenvolvimento da pneumonia hospitalar, há dois<br />

importantes mecanismos: a colonização das vias aéreas superiores<br />

(orofaringe e traquéia) e do trato digestório (de maneira menos<br />

significativa) com microorganismos patogênicos e a ocorrência<br />

de microaspirações. A inalação de aerossol contaminado, a<br />

disseminação hematogênica a partir de foco extrapulmonar, a<br />

penetração exógena de sítio adjacente, a inoculação direta nas vias<br />

aéreas em pacientes no trato gastrintestinal são mecanismos menos<br />

frequentes (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

Os agentes etiológicos mais frequentes são os bacilos<br />

Gram-negativos, incluindo pseudomonas, enterobactérias e<br />

233


234<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

acinetobacter, implicados em 55% a 85% dos casos. Os cocos<br />

Gram-positivos, principalmente o S. aureus, respondem por 20% a<br />

30% dos casos, mas estão presentes em 40% a 60% das situações<br />

em que a infecção é polimicrobiana. As pneumonias hospitalares<br />

de início recente, isto é, aquelas que ocorrem até o quinto dia de<br />

internação, são muitas vezes causadas por patógenos comunitários,<br />

como o S. pneumoniae, o Haemophyllus e o S. aureus oxacilinosensível<br />

(ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

6 PrEVENÇÃo<br />

De uma forma geral, previne-se a pneumonia hospitalar:<br />

aliada a uma eficiente comissão de infecção hospitalar; educação<br />

continuada de todos que trabalham na instituição; pesquisa periódica<br />

da microbiota local e os perfis de sensibilidade aos diversos<br />

antibióticos, fundamentalmente em pacientes com quadro clínico,<br />

ou de alto risco para pneumonia; uso criterioso dos antimicrobianos,<br />

sempre com vigilância ética da comissão de controle de infecção<br />

hospitalar; rigoroso sistema apropriado de descontaminação,<br />

desinfecção e esterilização dos artigos, dispositivos, equipamentos,<br />

materiais e áreas hospitalares; cuidados especiais no uso desses<br />

equipamentos e artigos, especialmente os críticos e semicríticos;<br />

cuidados anti-sépticos em todos os procedimentos cirúrgicos;<br />

seguir as técnicas adequadas de anestesia e cirurgia no pré, trans<br />

e pós-operatório, entre outras intervenções são recomendações<br />

básicas. A simples falta de lavagem das mãos é fator agravante<br />

dos mais importantes de disseminação da infecção e, portanto,<br />

descontrole (TORRES, 2005).<br />

O isolamento dos portadores de bactérias altamente resistentes,<br />

como S. aureus oxa-resistente e Enterococcus resistente à


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vancomicina, pode prevenir a transferência destes patógenos entre<br />

pacientes. Entretanto, a maior parte das pneumonias causadas<br />

por bacilos Gram-negativos não pode ser evitada por isolamento,<br />

uma vez que estas bactérias fazem parte da microbiota endógena<br />

dos pacientes criticamente doentes. Outra medida provavelmente<br />

eficaz é a aspiração subglótica, que utiliza um tubo endotraqueal<br />

especial, com uma porta de sucção acima do nível do balonete, na<br />

área subglótica. A sucção contínua pode retardar o surgimento da<br />

pneumonia hospitalar de início recente, mas parece ineficaz nas<br />

pneumonias de início tardio (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

No que se refere a estratégias farmacológicas de prevenção,<br />

podemos citar mais importantes: - o uso do sucralfato para a<br />

profilaxia da úlcera de estresse, embora os estudos clínicos ainda<br />

não consigam comprovar de maneira evidente menor ocorrência<br />

de pneumonia nos pacientes que fazem uso deste fármaco em vez<br />

de bloqueadores H2; - o uso da descontaminação seletiva do trato<br />

digestório, tentando prevenir a colonização gástrica e orofaríngea<br />

por bacilos Gram-negativos e Cândida sem alterar a flora<br />

anaeróbica indígena através do uso de antibióticos não absorvíveis,<br />

como polimixina associada a um aminoglicosídeo, ou quinolona<br />

associada à anfotericina B ou nistatina, ainda não apresenta<br />

comprovação do seu benefício. Além disso, pode haver surgimento<br />

de germes multirresistentes, principalmente as bactérias Grampositivas<br />

(ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

7 TrATAmENTo<br />

Os antibióticos representam a parte mais importante do<br />

tratamento. Normalmente, o antibiótico é definido de acordo com<br />

a suspeita do médico em relação a qual seria a bactéria causadora.<br />

235


236<br />

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Certamente, a fisioterapia respiratória e a aspiração com sonda<br />

através do nariz e da boca, auxiliam na retirada de secreções<br />

que estão indo dos pulmões em direção à boca. Serão medidas<br />

importantes para a melhora dos pacientes – principalmente,<br />

naqueles com déficits neurológicos que não conseguem cooperar<br />

para sua melhora (SILVA, 2004)<br />

O tratamento da pneumonia nosocomial na UTI deve<br />

sempre levar em consideração os microorganismos mais<br />

prevalentes na instituição. A estratificação da pneumonia precoce<br />

e tardia é importante devido às diferenças na ocorrência dos<br />

microoragnismos envolvidos. No episódio inicial de pneumonia<br />

nosocomial, particularmente aquelas que ocorreram após um<br />

período curto de internação, a antibioticoterapia, juntamente com<br />

a ingestão de líquidos para manter o controle hídrico e fluidificar a<br />

secreção, mais a fisioterapia farão com que estes pacientes tenham<br />

uma melhora significativa do quadro, respectivamente evoluir com<br />

a cura da pneumonia (SILVA, 2004).<br />

Tratamento por grupos segundo Torres (2005), Grupo I:<br />

bactérias mais frequentemente envolvidas no Grupo I: Escherichia<br />

coli; Klebsiella sp., Proteus sp.; Serratia sp.; H. Influenzae; S. aureus<br />

oxacilina-sensível e S. pneumoniae. Tratamento empírico inicial:<br />

Cefalosporina de terceira geração sem atividade anti-Pseudomonas<br />

como a Cefotaxima ou Ceftriaxona, ou Cefalosporina de quarta<br />

geração; Cefepima ou Cefpiroma ou ainda uma Fluorquinolona;<br />

Levofloxacina, Moxifloxacina, Gatifloxacina ou também como<br />

opção Betalactâmico com inibidor de Betalactamases. Em caso<br />

de alergia à Penicilina, as novas Fluorquinolonas ou associação<br />

de Clindamicina com Aztreonam. Grupo II pneumonia leve a<br />

moderada com fatores de risco de início recente ou tardio: os germes<br />

são os mesmos do grupo I associado a antibióticos que cubram as


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possibilidades diagnósticas etiológicas dos diversos fatores de risco<br />

como pacientes de cirurgia abdominal e aspiração; as bactérias<br />

possivelmente envolvidas devem incluir os anaeróbios, aqui como<br />

exemplo a Clindamicina. Lembrando que se for usar Betalactâmico<br />

associado com inibidor de Betalactamases, como por exemplo<br />

Ampicilina com Sulbactam, que também tem ação contra os<br />

anaeróbios, a monoterapia, nesse caso particular, estaria indicada.<br />

Suspeita de participação dos S. aureus no coma, traumatismo<br />

cranioencefálico, diabetes mellitus, insuficiência renal, drogaditos,<br />

portadores de importantes lesões cutâneas infectadas, endocardite<br />

bacteriana, como exemplos: esquema com um fármaco do Grupo<br />

I associado a Vancomicina ou Teicoplanina. A Teicoplanina<br />

figurando como uma alternativa terapêutica, podendo ser utilizada<br />

em situações extremamente peculiares, como em pacientes com<br />

comprometimento da função renal. A Linezolida é uma outra boa<br />

opção quando o paciente apresenta grave disfunção renal. Grupo<br />

III pacientes com pneumonia grave sem fatores de risco de início<br />

tardio, ou pacientes com pneumonia com fatores de risco de início<br />

recente ou tardio. As bactérias-alvo são todos os patógenos do<br />

Grupo I mais: Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter sp., S.<br />

aureus oxacilina-resistente, todos frequentemente com múltiplas<br />

resistências aos vários antibióticos. Esquema: Aminoglicosídeo ou<br />

Ciprofloxacina associado a Cefalosporinas de quarta geração ou<br />

Penicilina anti- Pseudomonas com inibidor de Betalactamases ou<br />

Carbapenêmico ou Aztreonam. Associado ainda a Vancomicina ou<br />

Teicoplanina ou Linezolida, havendo suspeita forte de S. aureus<br />

oxacilina-resistente. A duração do tratamento vai depender da<br />

resposta clínica, porém de uma maneira geral preconiza-se que<br />

sejam tratados por um período mínimo de 14 dias, podendo ser<br />

aumentado para 21 dias, dependendo da gravidade da doença,<br />

da rapidez da resposta clínica e das características do patógeno<br />

237


238<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

infectante. No mínimo, 48 a 72 horas são necessárias para que os<br />

parâmetros de melhora clínica sejam avaliados. A diminuição da<br />

febre, a redução na quantidade e purulência da secreção brônquica<br />

e a redução na contagem de leucócitos são critérios importantes de<br />

resposta.<br />

A terapia precoce e adequada da pneumonia hospitalar<br />

está diretamente relacionada à sobrevida do paciente, tendo sido<br />

demonstrado que naqueles pacientes onde a antibioticoterapia<br />

iniciada foi adequada a sobrevida foi, no mínimo, duas vezes<br />

maior. Estes dados apontam para a necessidade de um esquema<br />

antibiótico empírico que forneça cobertura adequada para os<br />

germes mais provavelmente envolvidos, não permitindo assim<br />

aguardar até que resultados de estudos microbiológicos estejam<br />

disponíveis (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />

A instituição de terapia empírica precoce e apro¬priada<br />

é essencial para otimizar a recuperação do paciente e reduzir a<br />

mortalidade, devendo ser insti¬tuída prontamente. Recentes estudos<br />

sugerem uma freqüência maior de bactérias multirresistentes em<br />

pneumonias de pacientes em UTI, implicando um pior prognóstico.<br />

A prescrição de antimicro¬bianos deve seguir prioridades<br />

como gravidade da doença, eficácia da droga, uso prévio de<br />

antibióticos, presença de co-morbidades, padrão de resistência<br />

dos microorganismos intra-hospitalares, tempo de hospitalização,<br />

impacto epidemiológico e custos (GARCIA et al., 2007).<br />

Apesar do desenvolvimento de muitos antibióticos de amplo<br />

espectro nos últimos anos, a mortalidade da pneumonia nosocomial<br />

continua alta. O sucesso do tratamento depende fundamentalmente<br />

da identificação do agente etiológico e da sua sensibilidade aos<br />

antibióticos disponíveis (KNOBEL et al., 2004).


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

A maioria dos casos a morte por pneumonia ocorre por uma<br />

antibioticoterapia inadequada. Portanto, a escolha do antibiótico<br />

correto se torna uma estratégia importante na redução da<br />

mortalidade desses pacientes. Para realizar uma antibioticoterapia<br />

adequada deve-se considerar vários fatores além de uma simples<br />

combinação de antibióticos com as bactérias, é preciso administrar<br />

o medicamento certo na dose certa, prevenindo a ocorrência de<br />

patógenos multirresistentes, que está relacionada a dois fatores<br />

importantes, o uso prévio de antibióticos e a duração da ventilação<br />

mecânica. É importante usar a terapia empírica adequada o<br />

mais rápido possível, e é necessário o conhecimento de quais<br />

patógenos estão presentes na UTI de cada hospital, assim como sua<br />

sensibilidade, evitando-se o uso excessivo de antibióticos (SILVA,<br />

2004).<br />

8 FiSioTErAPiA rESPirATÓriA<br />

As manobras de fisioterapia, agregadas aos cuidados que se<br />

prestam aos doentes sedados e acamados, serão usadas para facilitar<br />

a desobstrução das vias respiratórias e a nova expansão pulmonar,<br />

com o objetivo de prevenir complicações nos pacientes sob este<br />

risco. A intervenção da Fisioterapia Respiratória favorece também<br />

a respiração profunda e uma eficiente troca gasosa, diminuindo a<br />

quantidade de secreção e facilitando a higienização dos brônquios.<br />

Sendo estes importantes condutores para a aspiração, o acúmulo<br />

de secreção pode resultar em foco de contaminação pulmonar<br />

(YOKOTA et al., 2006).<br />

Verifica-se a necessidade da Fisioterapia Respiratória, visando<br />

à recuperação funcional e respiratória do paciente o mais breve<br />

239


240<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

possível. O fisioterapeuta pode atuar junto aos pacientes acamados,<br />

sedados, dependentes de ventilação mecânica e que necessitam<br />

recuperar suas funções respiratórias, com o objetivo de melhorar<br />

a ventilação pulmonar e, conseqüentemente, a oxigenação. Uma<br />

das ações preventivas que evitam complicações pulmonares é a<br />

fisioterapia respiratória (YOKOTA et al., 2006).<br />

As manobras de fisioterapia respiratória consistem em<br />

técnicas manuais, posturais e cinéticas, que podem ser aplicadas<br />

no doente, associando-se aos recursos do ventilador mecânico. As<br />

manobras convencionais de desobstrução brônquica podem ser: a<br />

drenagem postural, a percussão torácica ou tapotagem, a compressão<br />

torácica, a vibração torácica (manual e mecânica), os exercícios<br />

respiratórios, a aspiração de secreção endotraqueal e a tosse, além<br />

de outras menos convencionais, como a hiperinflação manual<br />

(HM) e a pressão negativa. A Fisioterapia Respiratória objetiva<br />

primordialmente, melhorar a função respiratória por meio de outras<br />

funções como ventilação/perfusão (V/P), distribuição e difusão<br />

visando promover e manter níveis adequados de oxigenação e de<br />

gás carbônico na circulação, preservando a ventilação pulmonar.<br />

Outro objetivo é expandir novamente as áreas pulmonares com<br />

atelectasia (YOKOTA et al., 2006).<br />

A fisioterapia é tida como de vital importância no<br />

traqtamento de pacientes portadores de doenças pulmonares, porém,<br />

em se tratando de determinadas patologias como a pneumonia,<br />

constatou-se que os resultados do tratamento fisioterápico poderão<br />

ser influenciados pela fase da patologia (BRUNETTO & PAULIN,<br />

2002).<br />

O tratamento fisioterapêutico tem como objetivo manter<br />

ou melhorar a ventilação do paciente com pneumonia nosocomial.<br />

Manobras de higiene brônquica, manobras de reexpansão


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

pulmonar, reequilíbrio tóraco-abdominal, são algumas das técnicas<br />

que poderão ser utilizadas durante o tratamento visando manter:<br />

uma boa higiene brônquica deste paciente e prevenir possíveis<br />

complicações (SILVA, 2004).<br />

A fisioterapia respiratória pode ser utilizada em pacientes<br />

críticos, com objetivo de prevenir e/ou tratar complicações<br />

respiratórias. Para isso, geralmente é usada uma combinação de<br />

procedimentos fisioterapêuticos, que objetivam a “reexpansão<br />

pulmonar” e a “remoção de secreções nas vias aéreas” (SILVA &<br />

BERALDO, 2007).<br />

A Fisioterapia faz parte do atendimento multidisciplinar<br />

oferecido aos pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).<br />

Sua atuação é extensa e se faz presente em vários segmentos do<br />

tratamento intensivo, tais como o atendimento a pacientes críticos<br />

que não necessitam de suporte ventilatório; assistência durante a<br />

recuperação pós-cirúrgica, com o objetivo de evitar complicações<br />

respiratórias e motoras; assistência a pacientes graves que<br />

necessitam de suporte ventilatório. Nesta fase, o fisioterapeuta tem<br />

uma importante participação, auxiliando na condução da ventilação<br />

mecânica, desde o preparo e ajuste do ventilador artificial à<br />

intubação, evolução do paciente durante a ventilação mecânica,<br />

interrupção e desmame do suporte ventilatório e extubação (SILVA<br />

& BERALDO, 2007).<br />

A Fisioterapia Respiratória tem caracterizado dois aspectos<br />

importantes e necessários para a manutenção da função respiratória<br />

dos pacientes: a higiene brônquica (desobstrução brônquica),<br />

ou seja, a remoção das secreções retidas, também utilizada no<br />

tratamento de enfermidades do sistema respiratório e a manutenção<br />

da expansibilidade pulmonar durante a ventilação mecânica. As<br />

manobras de desobstrução brônquica utilizada pela Fisioterapia<br />

241


242<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

Respiratória são numerosas e a caracterização de cada uma delas<br />

relaciona-se à intensidade de execução das mesmas, diferindo<br />

pelo grau de pressão das mãos sobre o tórax. As variações dessas<br />

manobras durante sua aplicação dependerão das condições clínicas<br />

do paciente. A realização das manobras exige posicionamento<br />

adequado do paciente no leito, a fim de melhorar a função da<br />

ventilação/perfusão pulmonar, aumentar os volumes pulmonares,<br />

reduzir o trabalho da respiração, minimizar o trabalho cardíaco e<br />

aumentar a liberação das secreções das vias aéreas, com a ajuda<br />

da gravidade. A posição de Fowler (paciente deitado em decúbito<br />

dorsal, com a cabeceira do leito elevada a 30°) previne aspiração<br />

pulmonar, diminui a incidência de refluxo gastro-esofágico em<br />

pacientes intubados, dependentes do ventilador mecânico e com<br />

sonda nasogástrica (YOKOTA et al., 2006).<br />

Para minimizar ou impedir as situações que ocorrem<br />

na pneumonia devem ser realizadas manobras de desobstrução<br />

brônquica que consistem em: percussão torácica ou tapotagem<br />

técnica muito utilizada, pois é bem tolerada, principalmente<br />

quando associada a outras manobras de higiene brônquica em<br />

que o principal objetivo é o descolamento da secreção pulmonar<br />

(SARMENTO, 2007). Técnica que tem como objetivo facilitar a<br />

retirada do muco ciliar. Pode ser usada tanto na inspiração quanto<br />

na expiração. Para realizá-la, as mãos do fisioterapeuta devem<br />

manter-se em forma de concha, os dedos posicionados no sentido<br />

dos arcos costais e do contorno do tórax, dedos e polegar aduzidos.<br />

A realização desta técnica produz uma onda de energia, que é<br />

transmitida pelas mãos do fisioterapeuta através da parede do tórax,<br />

promovendo o deslocamento das secreções da parede brônquica,<br />

das regiões periféricas para as centrais, de onde poderão ser<br />

expelidas pela tosse ou pela aspiração endotraqueal. O movimento<br />

sobre o tórax deve ser realizado de forma rítmica, mantendo-se


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

a mesma força e alternando-se as mãos que tocam o tórax, com<br />

freqüência de 240 ciclos por minuto (YOKOTA et al., 2006).<br />

Vibração Torácica técnica que consiste em exercer uma<br />

pressão sobre a parede do tórax, através de movimentos oscilatórios<br />

rápidos e de pequena amplitude, caracterizados pela contração<br />

isométrica repetida, com vibrações partindo do ombro e membros<br />

superiores do terapeuta. A contração isométrica, por sua vez, é a<br />

contração fina de grupos musculares de membros superiores, sem<br />

a produção de movimentos amplos. Os dedos devem estar alojados<br />

entre os arcos costais do tórax do paciente, seguindo a disposição<br />

anatômica das costelas, e a pressão deve ser aplicada durante a<br />

fase expiratória. Pode ser realizada manual ou mecanicamente<br />

(YOKOTA et al., 2006).<br />

Vibrocompressão Torácica associação da técnica de<br />

vibração que promove influência na propriedade tixotrópica<br />

do muco, alterando suas propriedades físicas, diminuindo sua<br />

viscosidade e facilitando assim seu deslocamento que será<br />

favorecido pelo fluxo turbulento gerado na compressão torácica,<br />

que provoca a depuração da secreção (SARMENTO, 2007).<br />

Técnica que consiste na associação das manobras de<br />

vibração e de compressão torácicas. Consiste na compressão da<br />

parede torácica, no sentido anatômico dos arcos costais, com os<br />

dedos colocados entre os mesmos, sendo a força compressiva<br />

distribuída igualmente entre os dedos e a palma das mãos. É aplicada<br />

na fase expiratória do ciclo respiratório, de forma constante, lenta<br />

e moderada, permitindo um melhor esvaziamento pulmonar,<br />

facilitando a mobilização de secreções das vias aéreas centrais e<br />

inferiores e a ventilação pulmonar. Quando o paciente não é capaz<br />

de colaborar, esta manobra é realizada em concordância com o<br />

padrão respiratório do mesmo, induzido pelo ventilador mecânico.<br />

243


244<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

Pacientes que apresentem rigidez torácica, osteoporose intensa e/ou<br />

que estejam sedados ou até mesmo curarizados, merecem cuidados<br />

especiais, já que não haverá manifestação de dor como alerta para<br />

evitar riscos de fratura de costelas. Esta manobra é executada sobre<br />

a área do pulmão a ser tratada (YOKOTA et al., 2006).<br />

Compressão Brusca do Tórax deve ser realizada em<br />

pacientes com ausência ou diminuição do reflexo de tosse e em<br />

pacientes com dificuldade de mobilizar secreção, especialmente<br />

aqueles com disfunção neuromuscular. A compressão brusca é<br />

descrita com freqüência no tratamento de pacientes com lesão<br />

medular ou que apresentem algum tipo de fraqueza muscular<br />

(SILVA & BERALDO, 2007).<br />

Aceleração do Fluxo Expiratório (AFE) é bastante utilizada,<br />

principalmente quando o paciente apresenta complacência torácica<br />

adequada para a realização da técnica (SARMENTO; 2007).<br />

Hiperinflação Manual técnica também conhecida como<br />

Bag Squeezing Method. Foi introduzida em 1960, tendo como<br />

objetivo a prevenção de colapso alveolar e expansão dos alvéolos<br />

colapsados. A técnica melhora a oxigenação e a complacência<br />

do pulmão, minimizando o risco de hipoxemia; estimula a tosse<br />

no paciente intubado e aumenta a movimentação das secreções<br />

pulmonares para as vias aéreas inferiores. Para a sua realização, o<br />

paciente é desconectado do ventilador mecânico e seus pulmões são<br />

insuflados de forma manual, através de uma bolsa auto-inflável ou<br />

ressuscitador manual (Ambú), introduzindo-se o volume corrente.<br />

Esta técnica é executada provocando-se inspiração profunda e<br />

lenta. Em seguida, o Ambú é desconectado para aumentar o fluxo<br />

expiratório (YOKOTA et al., 2006).<br />

A Hiperinflação Manual está indicada em pacientes<br />

que apresentem acúmulo de secreção traqueobrônquica. A


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

hiperinsuflação manual potencializa as forças de recolhimento<br />

elástico pulmonar, promovendo um aumento do pico de fluxo<br />

expiratório e, conseqüentemente, favorecendo o deslocamento de<br />

secreção acumulada nas vias aéreas (SILVA & BERALDO, 2007).<br />

Drenagem Postural trata-se de outro recurso bastante<br />

utilizado e que pode ser ou não associado a outras manobras<br />

de higiene brônquica. Essa é uma técnica bastante simples cujo<br />

princípio baseia-se em utilizar a ação da gravidade para promover<br />

o deslocamento das secreções de regiões periféricas para regiões<br />

mais centrais. As posições de drenagem postural e seu grau de<br />

inclinação variam de acordo com a posição da área a ser drenada<br />

e tomam por base o ângulo ou somatório das angulações formadas<br />

entre segmentos brônquicos e a traquéia, devendo sempre ser<br />

levadas em consideração as condições clínicas do paciente<br />

(SARMENTO, 2007).<br />

Uma técnica que, pelo posicionamento do paciente no<br />

leito, favorece o deslocamento das secreções das vias aéreas<br />

inferiores para os brônquios e das vias aéreas superiores para o<br />

meio externo, com auxílio da força da gravidade. Através do<br />

posicionamento dos segmentos pulmonares ou de todo o pulmão, o<br />

terapeuta tem condições de acelerar o deslocamento de secreções,<br />

melhorar o “clearance” pulmonar periférico, além de aumentar a<br />

capacidade residual funcional do paciente. Quando realizada junto<br />

com a ventilação mecânica e com aplicação de pressão expiratória<br />

positiva final (PEEP), a drenagem postural pode aumentar a pressão<br />

transpulmonar, melhorar a taxa de Ventilação/Perfusão, aumentar a<br />

complacência pulmonar do hemitórax não comprometido e reduzir<br />

a resistência das vias aéreas colaterais. A duração desta técnica<br />

pode variar de 15 a 60 minutos, dependendo da tolerância do<br />

próprio paciente à mudança de posição e da quantidade de secreção<br />

produzida (YOKOTA et al., 2006).<br />

245


246<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

Pressão manual expiratória (pressão negativa) técnica que<br />

consiste na compressão manual da região do tórax, respeitandose<br />

a anatomia dos arcos costais, com os dedos colocados entre os<br />

mesmos, para evitar desconforto ao paciente. É aplicada durante<br />

a fase expiratória: deve-se manter a região comprimida durante<br />

a expiração e, em seguida, logo no início da inspiração, deve-se<br />

descomprimir bruscamente, provocando uma inspiração forçada,<br />

a qual acarretará um direcionamento do fluxo ventilatório para<br />

a região pulmonar comprometida, proporcionando expansão<br />

pulmonar e promovendo a facilitação para a Ventilação/Perfusão<br />

e a difusão, as quais se encontram prejudicadas. Esta técnica<br />

atua também como estímulo, facilitando a mobilidade costal que<br />

se encontra diminuída ou até mesmo abolida neste paciente. No<br />

paciente sob ventilação mecânica, esta técnica é realizada em<br />

concordância com o padrão respiratório proveniente do ventilador<br />

mecânico, favorecendo a sincronia entre o ritmo respiratório<br />

do paciente e o do ventilador mecânico, prevenindo-se assim a<br />

iatrogênia hospitalar (YOKOTA et al., 2006).<br />

Além das manobras de higiene brônquica, deve-se lançar mão<br />

de técnicas que promovam a reexpansão do parênquima pulmonar<br />

previamente acometido, ou técnicas de reexpansão seletiva com o<br />

objetivo de aumentar a ventilação em zonas não comprometidas,<br />

visando à supressão ou minimização do desequilíbrio entre a<br />

relação ventilação/perfusão. Para isso, utilizamos a manobra de<br />

compressão e descompressão, também conhecida como TEMP<br />

(Técnica de Pressão Manual Expiratória) brusco ou manobra de<br />

pressão negativa, que permite, por meio da descompressão brusca<br />

do tórax, alterações da pressão intrapleural, direcionando o fluxo de<br />

ar para a região selecionada. Outra forma de aumentar a ventilação<br />

de áreas específicas seria a aplicação de uma resistência externa<br />

(mãos do terapeuta) na região contralateral àquela que se deseja


FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />

direcionar o ar, ou seja, realizar o bloqueio torácico. Também<br />

pode-se incrementar a terapia com a utilização de inspirômetros<br />

de incentivo e da realização de padrões ventilatórios seletivos, tais<br />

como diafragmático e torácico, partindo da capacidade residual<br />

funcional desde o volume residual ou utilizando a capacidade<br />

pulmonar total, em que se podem associar pausas inspiratórias,<br />

favorecendo maior ventilação colateral através do movimento de<br />

pêndula do ar intrapulmonar (SARMENTTO, 2007).<br />

9 CoNCLuSÃo<br />

Levando em consideração as formas pelas quais o paciente<br />

hospitalar adquire a pneumonia nosocomial, podemos concluir<br />

que a mesma apresenta uma evolução rápida e ao mesmo tempo<br />

grave, podendo levar o paciente a óbito em algumas situações. Esta<br />

enfermidade possui um tratamento oneroso a instituição hospitalar<br />

e, com graves conseqüências pulmonares e sistêmicas a este<br />

paciente. Portanto, devemos ressaltar a importância da prevenção<br />

desta, com situações tão simples quanto a assepsia das mãos antes e<br />

após qualquer procedimento frente ao paciente. Porém essa pratica<br />

tem a necessidade da participação de toda a equipe em todos<br />

os ambientes do hospital. Quanto ao tratamento da pneumonia<br />

nosocomial podemos concluir que a terapia medicamentosa é a<br />

solução para essa patologia, porém, ressaltamos nesta revisão a<br />

importância do tratamento fisioterapeutico para amenizar os sinais<br />

e sintomas apresentados pelo portador, principalmente relaciodado<br />

a higiene brônqioca e reexpansão puolmonar, utilizando as mais<br />

variadas manobras fisioterapeuticas para alcançar esses obetivos.<br />

247


10 rEFErÊNCiAS<br />

248<br />

BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />

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AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo<br />

Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS,<br />

BrASiL<br />

rESumo<br />

BARBOSA, CLeBeR FRAnCiSCO 1<br />

LUnKeS, giLBeRTO ináCiO 2<br />

Parasitoses, como a giardíase, constituem um<br />

grave problema de saúde pública no Brasil. A faixa<br />

etária mais comprometida compreende as crianças.<br />

Numerosos casos de síndrome diarréica com perda<br />

ponderal têm sido responsabilizados pelo aumento<br />

de morbidade em regiões com precárias situações de<br />

saneamento. A transmissão da Giardia lamblia ocorre<br />

por meio de alimentos ou bebidas contaminados com<br />

fezes contendo cistos. As amostras foram obtidas no<br />

município de Ronda Alta, junto à comunidade urbana.<br />

Os exames parasitológicos de fezes foram realizados<br />

em três laboratórios de análises clínicas do município.<br />

O processo de investigação das parasitoses foi<br />

realizado de setembro de 2004 a fevereiro de 2005.<br />

Foram analisados 295 pacientes, agrupados por<br />

1 Farmacêutico-Bioquímico, Especialista em Análises Cínicas.<br />

2 Docente dos cursos de Biomedicina e Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino<br />

Superior de Santo Ângelo, Farmacêutico-Bioquímico, Doutor em Bioquímica Toxicológica.<br />

251


252<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

faixa etária. Foram consideradas crianças de zero<br />

a 12 anos de idade, adolescentes de 13 a 17 anos,<br />

adultos de 18 a 65 anos e terceira idade acima de 65<br />

anos. O índice de parasitismo por Giardia lamblia no<br />

município de Ronda Alta apresentou-se elevado no<br />

período investigado, com um taxa média de 51,9%.<br />

A faixa etária mais envolvida foi de zero aos 12 anos<br />

de idade, ou seja, as crianças, com uma incidência<br />

de 47,3% quando comparada com os demais grupos<br />

etários. A estação do ano com maior incidência<br />

foi o verão. O mês que se destacou foi dezembro<br />

dentre os demais analisados, com uma taxa de<br />

73,9%. Os prováveis fatores envolvidos, levando<br />

em consideração a faixa etária e o mês de maior<br />

incidência, foram saneamento, grau de escolaridade e<br />

conseqüente precariedade das condições de higiene.<br />

Esses fatores associados às elevadas temperaturas<br />

do verão facilitam a disseminação de parasitoses<br />

relacionadas à contaminação pela água.<br />

Palavras-Chave: Giardia lamblia, faixa etária,<br />

estações do ano, saneamento básico.<br />

ABSTrACT<br />

Parasitisms, as giardiasis, constitute a serious<br />

problem of public health in Brazil. The compromised<br />

age group more understands the children. Numerous<br />

cases syndrome of diarrhea with progressive loss


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

have been made responsible for the increase of<br />

morbosity in regions with precarious situations of<br />

sanitation. The transmission of the Giardia lamblia<br />

occurs by means of foods or drinks contaminated with<br />

excrements contend cysts. The samples had been<br />

gotten in the city of Ronda Alta, together the urban<br />

community. The parasitology excrement examinations<br />

had been carried through in three clinical analyses<br />

laboratories of the city. The process of inquiry of the<br />

parasatisms was carried through of September of<br />

2004 even February of 2005. A total of 295 patients<br />

were analyzed, contained by age group. Children were<br />

considered of zero to the 12 years of age, adolescents<br />

of 13 the 17 years, adults of 18 the 65 years and third<br />

age above of 65 years. The index of parasitism for<br />

Giardia lamblia in the city of Ronda Alta was presented<br />

high in the investigated period, with one average tax<br />

of 51,9%. The more involved age group was of zero<br />

to the 12 years of age, or either, the children, with<br />

an incidence of 47,3% when compared with the too<br />

much age groups. The station of the year with bigger<br />

incidence was the summer. The month that if detached<br />

was december amongst excessively analyzed, with a<br />

73,9% tax. The probable involved factors, taking in<br />

consideration the age group and the month of bigger<br />

incidence, it was sanitation, education degree and<br />

consequent precariousness of the hygiene conditions.<br />

Those factors associates to high temperatures of the<br />

253


1 iNTroDuÇÃo<br />

254<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

summer facilitate the dissemination of parasatisms<br />

related to the contamination for the water.<br />

Key-words: Giardia lamblia, age group, seasons,<br />

basic sanitation.<br />

As enteroparasitoses, como a giardíase, constituem um<br />

grave problema de saúde pública no Brasil. É um dos principais<br />

fatores debilitantes da população e pode comprometer o<br />

desenvolvimento físico e intelectual dos jovens. Em adultos pode<br />

interferir no desempenho profissional (LUDWIG et al., 1996).<br />

A Giardia lamblia apresenta uma elevada prevalência nos<br />

países em desenvolvimento como o Brasil. A faixa etária mais<br />

comprometida compreende as crianças. Numerosos casos de<br />

síndrome diarréica com perda ponderal têm sido responsabilizados<br />

pelo aumento de morbidade em regiões com precárias situações de<br />

saneamento (MACHADO et al., 1998; NÚÑEZ et al., 2003).<br />

As enteroparasitoses podem ser transmitidas por inúmeras<br />

vias, mas têm sido investigadas com freqüência a transmissão<br />

alimentar ou veiculação hídrica (TAKAYANAGUI, 2000;<br />

CAPUANO et al., 2002).<br />

A transmissão ocorre quando há a ingestão de água<br />

contaminada com fezes contendo o cisto, o tratamento com<br />

cloro não mata os cistos da Giardia, especialmente se a água for<br />

fria. Água não filtrada proveniente de córregos e rios expostos à<br />

contaminação por fezes dos seres humanos e dos animais constitui<br />

uma fonte de infecção comum (BENENSON, 1992).


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

As correntes migratórias de humanos têm contribuído para a<br />

disseminação de algumas enteroparasitoses. Grupo de refugiados<br />

na Califórnia, Estados Unidos da América, proveniente da Ásia<br />

e África apresentaram um índice de 14% de parasitados em 533<br />

refugiados. Destes, cerca de 6% estavam infectados com Giardia<br />

lamblia (GARG et al., 2005).<br />

As parasitoses intestinais têm contribuído de forma<br />

crescente para a mortalidade e morbidade de pessoas em todo o<br />

mundo (COSTA & REY, 2000; QUADROS et al., 2004).<br />

As condições de saneamento básico, envolvendo a<br />

distribuição de água potável e o escoamento de esgoto, têm<br />

interferido de forma preponderante para a prevenção deste tipo de<br />

doença.<br />

O presente estudo tem como objetivo verificar a incidência<br />

de parasitismo por Giardia lamblia em Ronda Alta. Nesse contexto,<br />

avaliar a faixa etária mais comprometida e a interferência climática<br />

nos níveis contaminação.<br />

2 mATEriAL E mÉToDo<br />

A análise foi realizada no município de Ronda Alta, Rio<br />

Grande do Sul, Brasil, junto à comunidade urbana. O período<br />

de investigação foi setembro de 2004 a fevereiro de 2005. A<br />

população envolvida foi de 11.000 habitantes (IBGE, 2002).<br />

Destes, 295 constituíram a amostra analisada. Para análise dos<br />

exames parasitológico de fezes, os pacientes foram divididos em<br />

diferentes grupos por faixas etárias: crianças de zero a 12 anos de<br />

idade; adolescentes de 13 a 17 anos; adultos de 18 a 65 anos e<br />

terceira idade acima de 65 anos.<br />

255


256<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

Os exames parasitológicos de fezes foram realizados em<br />

três laboratórios de análises clínicas do município de Ronda Alta,<br />

classificados em “A”, “B” e “C”. Os laboratórios assinaram Termo<br />

de Autorização para Pesquisa em Laboratório de Análises Clínicas.<br />

Os laudos foram expedidos pelos farmacêuticos bioquímicos<br />

responsáveis técnicos pelos laboratórios.<br />

Os pacientes foram orientados a coletar as fezes em três<br />

dias alternados e o material biológico entregue no laboratório<br />

se possível na primeira hora após a coleta, visando aumentar as<br />

possibilidades diagnósticas e manter as estruturas bem conservadas.<br />

Os pacientes, que não conseguiram atender as recomendações de<br />

prazo, foram orientados a refrigerar a amostra até o momento da<br />

entrega no laboratório (VALLADA, 1998). Os pacientes foram<br />

igualmente orientados a manter sua dieta de rotina.<br />

Para fins da pesquisa realizada neste estudo, utilizaramse<br />

três métodos para confirmação dos resultados, além do<br />

procedimento direto e a fresco, durante o período de avaliação, as<br />

técnicas clássicas usadas foram MIF, Ritchie e Willis.<br />

Para pesquisa de protozoários nas fezes, esclarece-se que o<br />

exame direto a fresco deve ser realizado com material recentemente<br />

emitido, quando se espera encontrar formas trofozoíticas que se<br />

evidenciem por sua motilidade peculiar. Presente, geralmente,<br />

em fezes líquidas que são diluídas com solução fisiológicas,<br />

examinadas ao microscópio, entre lâminas e lamínulas, com<br />

aumento entre 100X e 400X. Desta forma pode ser reconhecida a<br />

Giardia lamblia. Os detalhes da sua estrutura são poucos visíveis,<br />

requerendo por isso, para um diagnóstico mais específico, a<br />

fixação e a coloração do material (REY, 2001). Já os métodos de<br />

MIF, Ritchie e de Willis são empregados para pesquisas de cistos<br />

de protozoários da Giardia lamblia, evidenciando sua presença<br />

nas fezes (NEVES, 2003). Para pesquisa do parasita, devem ser


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

executados, simultaneamente, o método geral e o específico, para<br />

que se possa investigar os diferentes estágios da Giardia lamblia.<br />

A técnica de fixação e coloração que emprega a mistura de<br />

mertiolato, iodo e formaldeído conhecida como MIF, permite que<br />

se obtenha, ao mesmo tempo, a conservação e a coloração dos<br />

elementos parasitários que se encontram nas fezes. Para o exame ao<br />

microscópio, juntar à preparação a solução de lugol (REY, 2001).<br />

A técnica de concentração com Formol-éter ou método<br />

de Ritchie é de uso rotineiro nos laboratórios. Para desenvolver<br />

a técnica é recomendado homogeneizar previamente a amostra<br />

fecal em água filtrada na proporção de 1 para 10 partes, filtrar em<br />

gaze para um tubo de centrífuga de 15 ml, e centrifugar a 2.500<br />

rotações por minuto. Decantar o sobrenadante, pegar o sedimento e<br />

adicionar 10 ml de solução de formol a 10%, deixando em repouso<br />

por 5 minutos para ocorrer a fixação ou com solução fisiológica se<br />

o material já está fixado. Juntar 3 ml de éter sulfúrico comercial,<br />

tampar o tubo e misturar, agitando fortemente, por fim centrifugar<br />

a 1.500 rotações por minuto, durante 1 ou 2 minutos. Ao fim da<br />

operação, o tubo da centrífuga apresentará quatro camadas sendo a<br />

superior com éter, a seguinte com detritos sólidos, a terceira aquosa<br />

e a quarta constituída pelo sedimento biológico, onde se encontram<br />

cistos e os ovos dos parasitos. As camadas superiores devem ser<br />

descartadas para examinar o sedimento entre lâmina e lamínula ao<br />

microscópio (REY, 2001).<br />

No método de Willis coloca-se 10g de fezes num frasco<br />

borrel, pode ser usado o próprio no qual as fezes foram enviadas,<br />

diluir a mesma em solução saturada de açúcar ou sal (NaCl),<br />

completando o volume até a borda do frasco. Colocar na boca do<br />

frasco uma lâmina, que deverá estar em contato com o líquido,<br />

deixando em repouso por 5 minutos. Findo este tempo, retirar<br />

257


258<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

rapidamente a lâmina, voltando para cima a parte molhada, cobrir<br />

com a lamínula, levar ao microscópio e examinar com objetiva de<br />

10x e/ou 40x, podendo-se ou não corar pelo lugol. (NEVES, 2003).<br />

3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />

Para o presente estudo da avaliação das taxas de<br />

contaminação por Giardia lamblia em Ronda Alta/RS foram<br />

analisados 295 pacientes. As crianças representaram 44%;<br />

adolescentes 15%; adultos 20% e terceira idade 21%. O percentual<br />

de pacientes atendidos pelo Laboratório “A” foi de 16,6%,<br />

Laboratório “B” 37,6% e Laboratório “C” 45,7%.<br />

O Laboratório “A” para realizar a análise das amostras de<br />

fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />

foram analisados 49 pacientes. Destes, 39% eram crianças, 10%<br />

adolescentes, 20% adultos e 31% da terceira idade.<br />

Tabela 1: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />

Laboratório “A”.<br />

meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />

Setembro 2004 5 4 80,0<br />

Outubro 2004 7 4 57,1<br />

Novembro 2004 7 4 57,1<br />

Dezembro 2004 12 11 91,7<br />

Janeiro 2005 11 9 81,8<br />

Fevereiro 2005 7 3 42,8<br />

Os dados apontam para um grande percentual de resultados<br />

positivos para Giardia lamblia, no Laboratório “A” de Análises<br />

Clínicas. No período de seis meses investigados, envolvendo<br />

primavera e verão, houve em média 68% de casos positivos.


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

Apenas no mês de fevereiro ocorreu um índice abaixo de 50%,<br />

sendo que em dezembro foram verificados mais de 90% de casos<br />

positivos. No Laboratório “A”, não houve uma distribuição<br />

uniforme de parasitismo entre as faixas etárias. A faixa que teve um<br />

índice mais elevado foi de crianças (56%), depois os adolescentes<br />

(18%) e as outras faixas se comportaram de forma uniforme com<br />

13%. Essas taxas tiveram esse comportamento uniforme nos seis<br />

meses avaliados.<br />

O Laboratório “B” para realizar a análise das amostras de<br />

fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />

foram analisados 111 pacientes, dos quais 41% eram crianças, 20%<br />

adolescentes, 17% adultos e 22% da terceira idade.<br />

Tabela 2: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />

Laboratório “B”.<br />

meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />

Setembro 2004 20 11 55,0<br />

Outubro 2004 27 9 33,3<br />

Novembro 2004 18 5 27,8<br />

Dezembro 2004 19 13 68,4<br />

Janeiro 2005 17 4 23,5<br />

Fevereiro 2005 10 5 50,0<br />

No Laboratório “B” os índices de positividade de giardíase<br />

mantiveram-se, porém em taxas menores. No período de setembro<br />

a fevereiro houve uma média de 43% de casos positivos de<br />

parasitismo por Giardia lamblia. O mês com maior índice de<br />

positividade compreendeu novamente dezembro, com 68,4%.<br />

No Laboratório “B”, houve um predomínio quanto à distribuição<br />

entre as faixas etárias. Com uma taxa de 39% de parasitismo se<br />

destacou o grupo das crianças, nas demais faixas etárias houve uma<br />

positividade uniforme de 20%.<br />

259


260<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

O Laboratório “C” para realizar a análise das amostras de<br />

fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />

foram analisados 135 pacientes, dos quais 52% eram crianças, 15%<br />

adolescentes, 23% adultos e 10% da terceira idade.<br />

Tabela 3: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />

Laboratório “C”.<br />

meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />

Setembro 2004 25 9 36,0<br />

Outubro 2004 35 20 57,1<br />

Novembro 2004 31 16 51,6<br />

Dezembro 2004 26 16 61,5<br />

Janeiro 2005 0 0 0<br />

Fevereiro 2005 18 10 55,5<br />

No Laboratório “C” pode se contabilizar apenas cinco<br />

meses de investigação, uma vez que no mês de janeiro não houve<br />

encaminhamento de exame parasitológico de fezes. As taxas de<br />

positividade para giardíase mantiveram um equilíbrio nos cinco<br />

meses de observação. No período de setembro a fevereiro, houve<br />

uma média de 51% de casos positivos de parasitismo por Giardia<br />

lamblia. O mês com maior índice de positividade compreendeu<br />

dezembro com 61,5%. No Laboratório “C” não houve uma<br />

distribuição uniforme de parasitismo entre as faixas etárias. A faixa<br />

que teve um índice elevado foi de crianças com 47%, depois os<br />

adolescentes com 29% e as outras faixas se comportaram de forma<br />

uniforme com 12%. Essas taxas tiveram esse comportamento<br />

uniforme nos cinco meses avaliados.<br />

A Giardia lamblia apresenta um predomínio em crianças. A<br />

giardíase ocorre com maior prevalência em crianças até a puberdade.<br />

Posteriormente, as taxas de parasitismo vão diminuindo. Nessas<br />

faixas etárias é maior a ocorrência entre grupos populacionais que


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

apresentam condições de saneamento e hábitos higiênicos mais<br />

precários.<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Crianças Adolescentes Adultos Terceira Idade<br />

Gráfico 1 - Porcentagem de parasitismo por faixa etária, no período de setembro de<br />

2004 até fevereiro de 2005, no município de Ronda Alta, RS.<br />

Os pacientes de todas as faixas etárias não apresentaram<br />

diferença quanto à ocorrência por gênero, apresentando uma<br />

distribuição praticamente uniforme. No tocante aos recursos<br />

financeiros houve casos de contaminação em todas as camadas<br />

sociais. Porém, a prevalência foi maior entre os que não dispunham<br />

de saneamento básico e baixo grau de escolaridade.<br />

Porcentagem de parasitismo por faixa etária<br />

As estações do ano utilizadas para avaliar os pacientes<br />

compreenderam a primavera e o verão. Todos os meses deste<br />

período apresentaram taxas de parasitismo por Giardia lamblia.<br />

O mês com menor índice de positividade foi o de janeiro com<br />

35,1%. Entretanto, dezembro manteve uma taxa média elevada<br />

de positividade de giardíase com 73,9%, nos três laboratórios<br />

investigados.<br />

261


Porcentagem de parasitismo por Giardia lamblia<br />

262<br />

BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Set / 04 Out / 04 Nov / 04 Dez / 04 Jan / 05 Fev / 05<br />

Gráfico 2 - Porcentagem de parasitismo de Giardia lamblia, no período de setembro<br />

de 2004 até fevereiro de 2005, no município de Ronda Alta, RS.<br />

A estação do ano com maior nível de parasitismo por<br />

giardíase está envolvida no aumento do consumo de água e<br />

exposição em locais para banhos como balneários, rios, córregos,<br />

lajeados entre outros. O consumo de frutas é maior devido às<br />

elevadas temperaturas. Esses hábitos no período aumentam a<br />

probabilidade de contaminação por Giardia lamblia. Nos meses<br />

mais quentes do ano a incidência é maior porque este protozoário<br />

flagelado é encontrado em temperaturas mais altas e em climas<br />

temperados (REY, 2002).<br />

A comunidade avaliada apesar de residir em área urbana,<br />

com saneamento básico e serviço de água tratada, teve a positividade<br />

compatível com áreas sem urbanização e saneamento e de classes<br />

sociais menos favorecidas (DIAS & COPELMAN, 2000).<br />

4 CoNCLuSÃo<br />

O índice de parasitismo por Giardia lamblia no município<br />

de Ronda Alta apresentou-se elevado no período investigado, com<br />

uma taxa média de 51,9%. Essa incidência resultou da análise dos


AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />

exames parasitológicos de fezes realizados em três laboratórios de<br />

análises clínicas, situados no próprio município.<br />

A faixa etária mais envolvida foi de zero aos 12 anos de<br />

idade, ou seja, as crianças, com uma incidência de 47,3% quando<br />

comparada com os demais grupos etários. Os adolescentes<br />

posteriormente se destacaram com 22%, enquanto que adultos<br />

e indivíduos da terceira idade tiveram uma contaminação muito<br />

semelhante, em torno de 15%.<br />

A estação do ano com maior incidência foi o verão. O mês<br />

que mais se destacou foi dezembro dentre os demais analisados,<br />

com uma taxa de 73,9%.<br />

Os prováveis fatores envolvidos, levando em consideração<br />

a faixa etária e o mês de maior incidência, são condições de<br />

saneamento, grau de escolaridade, e consequente precariedade das<br />

condições de higiene.<br />

As crianças constituem a parcela da comunidade mais<br />

atingida pela contaminação por giardíase, tanto pela alimentação<br />

como imunidade deficiente e também pelos seus hábitos se expõem<br />

mais facilmente aos locais de infecção. Esses fatores associados<br />

às elevadas temperaturas do verão facilitam a disseminação de<br />

parasitoses ligadas à contaminação pela água.<br />

Novas investigações com finalidade epidemiológica abrangendo<br />

todo o município de Ronda Alta, tanto no perímetro urbano quanto<br />

rural seriam necessárias com o objetivo de elucidar por que todas<br />

as faixas etárias estão se contaminando e com diferentes graus de<br />

informação e recursos financeiros.<br />

Neste processo é fundamental a inserção do profissional<br />

farmacêutico e da equipe multiprofissional com a finalidade de<br />

diagnosticar, tratar e orientar a população e proporcionar uma<br />

melhor qualidade de vida à comunidade.<br />

263


5 rEFErÊNCiAS<br />

264<br />

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SPICER, W. J. Bacteriologia, Micologia e Parasitologia Clínica.<br />

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TASHIMA, N. T.; SIMOES, M. S. Ocorrência de enteroparasitas em<br />

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VALLADA, E. P. Manual de Exames de Fezes Coprologia e<br />

Parasitologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1998.<br />

WILSON, A. R. Introdução à Parasitologia. São Paulo: EPU,<br />

1980.


saúde INTEGRADA<br />

ÍNDICE DE QUEDAS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DO MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO-RS<br />

Viviane Holzbach<br />

Cláudia Regina Beuter<br />

FISIOTERAPIA NA ESTABILIDADE ARTICULAR DO JOELHO: ABORDAGEM FISIOLÓGICA DO SISTEMA<br />

SENSÓRIO-MOTOR<br />

Letícia Ataídes Silva<br />

Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />

OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE<br />

Aline Fróes Tavares<br />

Thais do Nascimento Gomes<br />

O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA<br />

Juliane Pukall Bezerra<br />

Thais do Nascimento Gomes<br />

O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER<br />

Gabriela Lied Nascimento<br />

FISIOTERAPIA APLICADA A PORTADORES COM SÍNDROME DE DOWN<br />

João Paulo Heinzmann Filho<br />

Cristhiele Tais Wozezenski<br />

Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />

EXERCÍCIOS RESISTIDOS NA FADIGA MUSCULAR EM PORTADORES DE ESCLEROSE MÚLTIPLA<br />

Ana Paula Pedroso<br />

Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />

INTERVENÇÃO DA FISIOTERAPIA EM QUEIMADOS<br />

João Paulo Heinzmann Filho<br />

Cristhiele Tais Wozezenski<br />

Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />

AMPUTAÇÃO SUPRACONDILIANA OCASIONADA POR QUEIMADURA DE CHOQUE ELÉTRICO: UM ESTUDO DE<br />

CASO<br />

Paulo Roberto de Oliveira Daltrozo<br />

Tatiana Medina Sturzenegger<br />

O USO DA MOBILIZAÇÃO PASSIVA PRECOCE EM RATOS TREINADOS E NÃO TREINADOS NA CICATRIZAÇÃO<br />

DO TECIDO MUSCULAR<br />

Rafael Bertolini<br />

Tatiana Medina Sturzenegger<br />

A RELANVÂNCIA DO TREINAMENTO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVO NA RUPTURA DO LIGAMENTO<br />

CRUZADO ANTERIOR (LCA)<br />

J. G. B. Silva<br />

F. R. S. Voloski<br />

L. Mafalda<br />

O USO DA CRIOTERAPIA NA ARTRITE REUMATÓIDE<br />

Pedro Henrique Santos<br />

Fernando Voloski<br />

FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTES PORTADORES DE PNEUMONIA NOSOCOMIAL<br />

Dante Saul Braun<br />

Rúbia Daiane Santos Bueno<br />

AVALIAÇÃO DAS TAXAS DE CONTAMINAÇÃO POR GIARDIA LAMBLIA EM RONDA ALTA, RS, BRASIL<br />

Cleber Francisco Barbosa<br />

Gilberto Inácio Lunkes<br />

IESA

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