1 iNTroDuÇÃo - Iesa
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ISSN 1983-2230<br />
INTEGRADA<br />
saúde<br />
REVISTA DA SAÚDE DO INSTITUTO CENECISTA<br />
Jan./Jun. 2009 nº 3 Jul./Dez. 2009 nº 4<br />
IESA
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC<br />
Revista do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo<br />
saúde INTEGRADA<br />
Revista da Saúde do Instituto Cenecista<br />
ISSN 1983-2230<br />
Ano 2, nº 3, Janeiro/Junho 2009<br />
Ano 2, nº 4, Julho/Dezembro 2009<br />
Catalogação na Publicação:<br />
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques - Unijuí<br />
Saúde Integrada: revista da saúde/Instituto de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo. - Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. - v.1, n.3, jan./jun. 2009<br />
v.1, n.4, jul./dez. 2009<br />
Publicação semestral<br />
1 (3) jan./jun.2009 - 1 (4) jul./dez.2009
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC<br />
Revista do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo<br />
Presidente da Diretorial Nacional: Deputado Alexandre José dos Santos<br />
Presidente da Diretoria Estadual: Profª. Anita Ortiz Corrêa<br />
Diretor: Prof. Edson Sidney de Ávila Júnior<br />
Coordenação Editorial: Prof. Aírton Pedroso de Morais<br />
Diretor da Revista: Prof. Gilberto Inácio Lunkes<br />
Comissão Editorial:<br />
Profa. Emanuelle Kerber Vieira Mallet<br />
Prof. Matias Nunes Frizzo<br />
Prof. Gilberto Inácio Lunkes<br />
Prof. Dante Saul Braun<br />
Profa. Lisandra de Oliveira Carrilho<br />
Profa. Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />
Conselho Editorial:<br />
Prof. Jones Eduardo Agne<br />
Prof. Renato Minozzo<br />
Endereço do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo:<br />
Rua Dr. João Augusto Rodrigues, 471 Cx. P. 274 CEP: 98801-015 Santo Ângelo (RS)<br />
Telefone/Fax: 55 3313-1922 Email: rac@iesanet.com.br<br />
Assinatura da revista via online: http://www.iesanet.com.br<br />
Direitos de Publicação, Programação Visual, Editoração e Impressão:<br />
Editora: CNEC Edigraf<br />
Telefone: 34 2103 0700<br />
Email: cnecedigraf@cneconline.com.br<br />
Av. Frei Paulino, 530 Bairro Abadia CEP: 38025-180 Uberaba (MG), Brasil<br />
A revisão dos textos é de inteira responsabilidade dos autores.
Sumário<br />
APrESENTAÇÃo ..........................................................................................................5<br />
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo<br />
ÂNGELo-rS .................................................................................................................7<br />
HOLZBACH, Viviane<br />
BEUTER, Cláudia Regina<br />
FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA<br />
Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor ................................................................................29<br />
SILVA, Letícia Ataídes<br />
BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE .......47<br />
TAVARES, Aline Fróes<br />
GOMES, Thais do Nascimento<br />
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA 69<br />
BEZERRA, Juliane Pukall<br />
GOMES, Thais do Nascimento<br />
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr ...........................81<br />
NASCIMENTO, Gabriela Lied<br />
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN .................... 107<br />
HEINZMANN FILHO, João Paulo<br />
WOZEZENSKI, Cristhiele Tais<br />
BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE<br />
mÚLTiPLA ................................................................................................................ 127<br />
PEDROSO, Ana Paula<br />
BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS .................................................. 145<br />
HEINZMANN FILHO, João Paulo<br />
WOZEZENSKI, Cristhiele Tais<br />
BECK, Derliane Glonvezynski dos Santos<br />
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE<br />
ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo ........................................................................... 167<br />
DALTROZO, Paulo Roberto de Oliveira<br />
STURZENEGGER, Tatiana Medina<br />
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo<br />
TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr .......................................... 175<br />
BERTOLINI, Rafael<br />
STURZENEGGER, Tatiana Medina<br />
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA<br />
Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA) ............................................................ 193<br />
SILVA, J. G. B.<br />
VOLOSKI, F. R. S.<br />
MAFALDA, L.<br />
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE ................................................ 205<br />
SANTOS, Pedro Henrique<br />
VOLOSKI, Fernando<br />
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA<br />
NoSoComiAL .......................................................................................................... 221<br />
BRAUN, Dante Saul<br />
BUENO, Rúbia Daiane Santos<br />
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA,<br />
rS, BrASiL.............................................................................................................. 251<br />
BARBOSA, Cleber Francisco<br />
LUNKES, Gilberto Inácio
APrESENTAÇÃo<br />
É com muita satisfação que apresentamos ao público mais uma<br />
edição da revista Saúde INTEGRADA. A sua manutenção traz<br />
consigo o compromisso e a responsabilidade de manter a qualidade<br />
e a continuidade desta publicação. Pretendemos contribuir para a<br />
divulgação de trabalhos que ofereçam subsídios para qualificar a<br />
prática profissional e a pesquisa.<br />
Nesta edição são abordados assuntos que consideramos<br />
atuais e importantes, tais como: o índice de quedas em idosos<br />
residentes em instituições geriátricas, a importância do<br />
conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor na estabilidade<br />
articular do joelho, os benefícios do esforço muscular em portadores<br />
de gonartrose, o uso da técnica de estabilização central pélvica<br />
no tratamento da dor lombar, o exercício físico na prevenção da<br />
doença de Alzheimer, a fisioterapia aplicada a portadores com<br />
síndrome de down, os exercícios resistidos na fadiga muscular<br />
em portadores de esclerose múltipla, a relevância da intervenção<br />
da fisioterapia no tratamento de pacientes com lesões térmicas, a<br />
amputação supracondiliana ocasiona por queimadura de choque<br />
elétrico, o uso da mobilização passiva precoce em ratos treinados<br />
e não treinados na cicatrização do tecido muscular, a relevância do<br />
treinamento neuromuscular proprioceptivo na ruptura do ligamento<br />
cruzado anterior, o uso da crioterapia na artrite reumatoide, a<br />
fisioterapia respiratória em pacientes portadores de pneumonia<br />
nosocomial e por fim, uma discussão acerca da avaliação das taxas<br />
de contaminação por giárdia lamblia.<br />
Esperamos que a leitura destes escritos gere no leitor<br />
reflexões e inquietações, as quais possam ser encaminhadas para a<br />
pesquisa.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS<br />
iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE<br />
SANTo ÂNGELo-rS<br />
rESumo<br />
HOLZBACH, ViViAne 1<br />
BeUTeR, CLáUdiA ReginA 2<br />
Este estudo teve como objetivos verificar o índice de<br />
quedas em idosos residentes de duas Instituições<br />
Geriátricas de Médio Porte do Município de Santo<br />
Ângelo – RS, sendo uma de caráter Privada e outra<br />
Pública, fazendo uma comparação do número de<br />
quedas nas Instituições, bem como analisar o contexto<br />
em que ocorreram estas quedas, como causas,<br />
conseqüências, turnos, faixa etária dos idosos que<br />
sofreram as quedas, etc. A população deste estudo<br />
foi de 51 idosos e a amostra compreendeu 16 deles.<br />
O levantamento de dados foi feito através de análise<br />
retrospectiva de evoluções diárias realizadas por<br />
enfermeiras. O índice de quedas encontrado na<br />
Instituição Privada foi de 4,3%, enquanto na Pública foi<br />
de 8,0%. Verificou-se que a faixa etária predominante<br />
1 Fisioterapeuta<br />
2 Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício e em Fisioterapia<br />
Cardiorespiratória, Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana.<br />
7
8<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
nos idosos que sofrem quedas está entre os 76 e 90<br />
anos, sendo que estas são causadas principalmente<br />
pela perda do equilíbrio (29%) e fraqueza (22%) e<br />
ocorrem na maioria das vezes no quarto (37%).<br />
Palavras-Chave: Quedas, Idosos, Institucionalizados.<br />
ABSTrACT<br />
This survey aims to verify the number of aged<br />
people’s fall who live in two nursing homes in Santo<br />
Ângelo - RS, one of these nursing home is public,<br />
which belongs to the town council, and another is<br />
private. It also aims to compare and contrast them<br />
as well as analyze the context which happened the<br />
falls, their causes and consequences, the turns when<br />
they happened, age of the people who were victim<br />
of it, etc. Fifty-one people were analyzed and, the<br />
sample consists of sixteen of them. The survey was<br />
accomplished by nurses through daily retrospective<br />
analysis of evolution. The amount of fall found in the<br />
private nursing house was 4, 3% while in the public<br />
was 8%. It was verified that the predominant age of<br />
the people who are the victims of fall is between 76<br />
and 90 years old. In most of the cases they are caused<br />
mainly for lost of balance (29%), weakness (22%) and<br />
they usually happened in the bedrooms (37%).<br />
Keywords: Falls, Aged, Institutionalize.
1 iNTroDuÇÃo<br />
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
Desde o final do século XIX a população de idosos vem<br />
aumentando de forma surpreendente, devido ao aumento na<br />
expectativa de vida conseqüente aos avanços médicos e científicos<br />
e a melhora dos hábitos de saúde, dentre outros fatores que<br />
contribuem para isso.<br />
No processo de envelhecimento há uma deterioração<br />
da saúde geral, devido a alterações fisiológicas que ocorrem<br />
simultaneamente em diversos sistemas do corpo, com isso, o<br />
indivíduo muitas vezes vai perdendo sua independência e sua<br />
qualidade de vida, porém, é importante que, se as pessoas hoje<br />
têm uma vida mais longa, elas tenham condições de viver seus<br />
últimos anos com qualidade, realizando atividades da vida diária<br />
independentemente e com segurança. Por isto, é necessário<br />
identificar as deficiências e riscos a que os idosos estão expostos, já<br />
que é uma população que só tende a aumentar e carece de cuidados<br />
de saúde constantemente.<br />
Entre os eventos a que o idoso se torna suscetível, com<br />
o declínio funcional que ocorre no envelhecimento, estão as<br />
quedas, que geram efeitos de âmbito social e econômico, além das<br />
conseqüências da incapacidade causada por ela.<br />
Sendo assim, a queda hoje representa um dos principais<br />
problemas de saúde na terceira idade, o que leva a necessidade<br />
de maior mobilização em torno do assunto, através de estudos e<br />
políticas públicas para conscientização da população em geral,<br />
principalmente dos idosos e seus cuidadores no que diz respeito à<br />
prevenção e fatores de risco para as quedas.<br />
9
10<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
Este trabalho tem como objetivo principal verificar qual<br />
o índice de quedas em idosos residentes de duas Instituições<br />
Geriátricas do município de Santo Ângelo-RS, além de descrever o<br />
papel da fisioterapia na prevenção destas quedas e fazer um estudo<br />
do contexto em que ela ocorre.<br />
De acordo com Driusso & Oishi (apud DRIUSSO &<br />
CHIARELLO, 2007), o envelhecimento é marcado pelo declínio<br />
das funções dos diversos órgãos, que caracteristicamente, tende<br />
a ser linear em razão do tempo, não se conseguindo definir um<br />
ponto exato de transição. Como consta no Estatuto do Idoso,<br />
publicado em 2003, é considerado idoso no Brasil o indivíduo com<br />
idade igual ou superior a 60 anos, corte etário também utilizado<br />
pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os países em<br />
desenvolvimento e, como neste trabalho, pela maioria da literatura<br />
Geriátrica e Gerontológica.<br />
É possível considerar o envelhecimento como um processo<br />
natural do ser humano através das palavras citadas pelo biólogo<br />
Alex Comfort, em 1979, que diz que os idosos são, na verdade,<br />
jovens que ocupam corpos envelhecidos e enfrentam problemas<br />
físicos causados pela perda da vitalidade, pelas alterações<br />
fisiológicas e, apesar de muitos fugirem a regra, observam-se<br />
deficiências específicas e debilitadoras, como a perda da visão<br />
e da agilidade motora. No entanto, sabe-se que grande parte das<br />
alterações fisiológicas e funcionais observadas nos idosos são<br />
mais resultantes da inexistência de estímulos do que de alterações<br />
atribuídas ao envelhecimento (BARRY & EATHORNE, 1994).<br />
É consenso de toda a literatura e comunidade científica<br />
o aumento da população de idosos no Brasil, seguido pela<br />
tendência mundial que se iniciou a quase cem anos nos países<br />
desenvolvidos, sendo hoje uma realidade na maioria dos países em<br />
desenvolvimento.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
Em 2000, o Censo demográfico identificou que as<br />
pessoas com 60 anos ou mais representavam cerca de 8,5% da<br />
população total do Brasil. Já os dados da Pesquisa Nacional por<br />
Amostra de Domicílios, de 2004, revelaram que os idosos nesse<br />
ano eram aproximadamente 9,7% da população nacional (IBGE,<br />
2004). Este aumento pode parecer pequeno, porém, a estimativa<br />
é que, se continuar nessa proporção, em 2025 a população de<br />
idosos brasileiros será equivalente a 15% da população total,<br />
correspondendo aproximadamente a 30 milhões de pessoas.<br />
Desse modo, a investigação dos fatores que permitem uma<br />
boa qualidade de vida na velhice, bem como das variações que<br />
esse estado comporta, reveste-se de grande importância científica e<br />
social (NERI apud REBELATTO & MORELLI, 2007).<br />
Quando se fala em instituições para idosos, o termo que<br />
logo nos ocorre é asilo, com as imagens correspondentes de um<br />
lugar sombrio, malcheiroso, onde idosos, em estado de semitorpor,<br />
esperam, não se sabe bem o quê (BORN apud PAPELÓ NETTO,<br />
2005).<br />
De acordo com Cozoli e Radomile (2006), quando o idoso<br />
sai de sua casa para morar em uma instituição ou casa de repouso<br />
passa por um momento difícil, pois tem de deixar seus pertences<br />
e sua família e ainda se adaptar à uma nova realidade, com<br />
pessoas e hábitos diferentes, gerando uma perda da sua história<br />
e sua identidade. Alguns idosos, por vontade própria, tornam-se<br />
solitários, o que acaba os predispondo ao isolamento, à depressão e<br />
aumentando, conseqüentemente, o declínio funcional.<br />
De acordo com Saramago (2003), no Brasil, somente são<br />
encontradas condições satisfatórias em clínicas particulares, porém<br />
estas geralmente são muito caras e acessíveis somente às famílias<br />
11
12<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
de classe média alta. Quanto às instituições públicas, a autora diz<br />
que existem inúmeras dificuldades, em razão de vários fatores<br />
negativos, como a falta de mão-de-obra qualificada, dificuldades<br />
econômicas, desvio de verbas e falta de apoio governamental. No<br />
entanto, isto não significa que instituições privadas tenham um<br />
maior cuidado para com seus residentes.<br />
Conforme Farias et al. (2005), o ambiente institucional<br />
deve ser apropriado para atender às principais limitações<br />
funcionais do idoso, garantindo que ele tenha conforto, segurança<br />
e independência para a realização de suas atividades diárias, além<br />
de evitar e prevenir problemas que podem surgir com o passar dos<br />
dias, como as quedas, que geram imobilizações, fraturas, medo,<br />
dependência e uma série de conseqüências limitantes para a vida<br />
do asilado.<br />
Vários fatores podem influenciar na forma como será<br />
o envelhecimento e a queda é um fator importante, pois está<br />
relacionada a questões de independência e autonomia, essenciais<br />
para uma boa qualidade de vida.<br />
Perracini (apud RAMOS & NETO, 2005) conceitua a queda como<br />
um evento freqüente e limitante, sendo considerado um marcador<br />
de fragilidade, institucionalização e declínio na saúde de idosos,<br />
levando até mesmo à morte. De forma mais abrangente Rebelatto<br />
et al. definem a queda como<br />
“ocorrência de um evento não intencional que leva uma<br />
pessoa, inadvertidamente, ao chão em um mesmo nível ou<br />
em outro inferior. É um evento freqüente e temido pelos<br />
idosos, constituindo grave problema de saúde pública<br />
em países desenvolvidos e em desenvolvimento, cujo<br />
contingente de idosos cresce de forma exponencial” (2007,<br />
p. 153).
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
Alguns autores sugerem relação entre a institucionalização<br />
e quedas. Soares et al. (2003) pensam que, mesmo que o idoso<br />
institucionalizado não esteja fragilizado por algum distúrbio<br />
orgânico, muitas vezes o isolamento, o abandono e o grau de<br />
inatividade física contribuem para a propensão à quedas, por<br />
acelerar o curso do envelhecimento.<br />
Segundo Guimarães & Cunha (2004), um grande número<br />
de idosos convive diariamente com o medo de cair, a ponto de<br />
se tornarem reclusos em seus próprios domicílios, limitando suas<br />
atividades físicas. Em virtude disso, o autor cita que a queda<br />
deve ser encarada como um “sintoma”, na verdade um dos mais<br />
importantes em Geriatria.<br />
Geralmente, é necessária uma combinação de vários fatores<br />
de risco para que ocorra a queda. Estes podem ser classificados em<br />
riscos intrínsecos e extrínsecos. Ramos e Neto (2005), explicam que<br />
os fatores de risco intrínsecos são aqueles ligados às características<br />
do indivíduo, já os extrínsecos têm relação com o meio ambiente.<br />
Segundo Chandler (apud GUCCIONE, 2002), os fatores<br />
intrínsecos mais prováveis de levar à uma queda consistem<br />
em problemas visuais, anormalidades vestibulares, redução<br />
na propriocepção, degeneração cervical, neuropatia periférica,<br />
demência, transtornos musculoesqueléticos, alterações no pé,<br />
hipotensão ortostática e medicamentos. Já os fatores ambientais<br />
são a iluminação, os pisos e as soleiras, as escadas, a arrumação<br />
da cozinha, as adaptações no banheiro, as portas, as desordens e os<br />
calçados.<br />
Coons (apud PASCALE, 2002) afirma que mais de 50%<br />
dos pacientes internados em clínicas ou instituições geriátricas<br />
são portadores de doenças como o Mal de Alzheimer e a Doença<br />
13
14<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
de Parkinson. Estas, juntamente com outras doenças graves os<br />
tornam incapazes de realizar atividades da vida diária, como tomar<br />
banho, locomover-se e comunicar-se. Esta incapacidade pode<br />
ter correlação com o índice de quedas e é importante identificar<br />
estes idosos, pois eles necessitam de maior atenção e vigilância<br />
(CARVALHO & COUTINHO, 2002).<br />
As quedas recorrentes em idosos podem contribuir para o<br />
declínio funcional, caracterizado por limitação da atividade física<br />
diária, medo de sofrer novas quedas e perda de mobilidade e da<br />
independência para realização das tarefas habituais e básicas da<br />
vida diária (REBELATTO et al., 2007). Sendo assim, uma segunda<br />
queda pode ser considerada um fator de risco para novas quedas,<br />
transformando-se em um ciclo que fragiliza cada vez mais o idoso.<br />
Fréz (2003) afirma que a fisioterapia pode contribuir<br />
de diversas formas na prevenção das quedas, como por meio<br />
de exercícios físicos, aumento da mobilidade, fortalecimento<br />
muscular, melhora do equilíbrio, treino de marcha, melhora da<br />
aferência sensorial e facilidade em transferências, que levam a um<br />
aumento da estabilidade e permitem uma maior independência,<br />
em conseqüência da recuperação da confiança em suas atividades.<br />
Porém, é necessário que estas atividades sejam realizadas de forma<br />
contínua, pois seus efeitos são observados apenas durante o período<br />
em que são mantidas.<br />
Na prevenção das quedas o Fisioterapeuta deve, também,<br />
estar atento aos fatores extrínsecos que podem causá-las,<br />
intervindo no ambiente domiciliar ou institucional do idoso, caso<br />
seja necessário.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
2 mATEriAL E mÉToDoS<br />
O presente estudo é caracterizado como transversal e<br />
retrospectivo, de natureza quali-quantitativa.<br />
O levantamento de dados foi feito através de análise<br />
retrospectiva de evoluções diárias realizadas por enfermeiras, que<br />
contém informações sobre a saúde e o dia-a-dia de idosos residentes<br />
de duas Instituições Geriátricas do município de Santo Ângelo –<br />
RS. Foram analisadas as evoluções referentes ao período de julho<br />
de 2007 a julho de 2008, compreendendo assim 12 meses. A coleta<br />
dos dados foi iniciada somente depois de concedida autorização<br />
dos diretores das Instituições, no mês de agosto do ano de 2008,<br />
onde ficou claro que, por questões éticas, seria guardado sigilo<br />
sobre o nome das Instituições, bem como dos idosos participantes<br />
da pesquisa.<br />
A população deste estudo é composta por 51 idosos<br />
residentes de duas Instituições, sendo uma de caráter Privada e<br />
outra Pública. A amostra constituiu-se daqueles com idade igual<br />
ou superior a 60 anos que apresentaram no mínimo uma queda no<br />
período de um ano, compreendendo 16 idosos.<br />
Os dados foram submetidos à análise de variância<br />
(ANOVA). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey,<br />
considerando o nível de significância de 5% (p < 0,05), utilizando<br />
o pacote estatístico SAS – versão 8.0 (SAS, 1999). Foi realizado o<br />
estudo de correlação entre as variáveis dependentes por intermédio<br />
do cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r).<br />
Ambas as Instituições são consideradas hoje, de acordo<br />
com o número de idosos residentes, como Casas Geriátricas de<br />
Médio Porte, conforme classificação do Conselho Regional de<br />
15
16<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN-RS) de 2000, que<br />
define assim aquelas Instituições em que o número de idosos<br />
residentes está entre 21 e 40 residentes. A Instituição Pública<br />
pesquisada abrigou durante o período de julho de 2007 a julho de<br />
2008, 24 residentes. Já a Instituição Privada passou de 11 idosos<br />
abrigados em julho de 2007 para 27 em julho de 2008.<br />
3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />
Ao analisar o número de quedas em uma Instituição<br />
Geriátrica Privada e em outra Pública, verificou-se, a partir da<br />
Figura 1, que o percentual médio anual de quedas na Instituição<br />
Pública é de 8,0%; já na Instituição Privada é de 4,3%.<br />
Média do nº de quedas (%)<br />
10<br />
5<br />
0<br />
4,3<br />
8,0<br />
Instituição Privada Instituição Pública<br />
Figura 1: Percentual médio anual de quedas.<br />
Orondino & Oliveira (2007) encontrou um índice de<br />
quedas de 55% em uma Instituição Geriátrica de Muriaé-MG, onde<br />
participaram da pesquisa 37 idosos de ambos os sexos, com idade<br />
variando entre 60 e 90 anos de idade.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
Gonçalves et al. (2008) realizaram um estudo com o<br />
objetivo de verificar a prevalência de quedas em idosos asilados<br />
e com mais de 60 anos no município de Rio Grande-RS no último<br />
ano e encontraram um resultado também superior a este, sendo que<br />
38,3% dos 180 idosos participantes da pesquisa haviam sofrido<br />
quedas. No entanto o estudo foi realizado com base nos relatos dos<br />
próprios idosos, diferente deste estudo, que se baseou na análise de<br />
documentos.<br />
Conforme a Figura 2, os resultados encontrados indicam<br />
que há uma quantidade maior de quedas em idosos residentes na<br />
Instituição Pública, tanto na idade dos 60 aos 75 anos, como dos<br />
76 aos 90 anos, ocorrendo uma redução nas quedas após esta idade.<br />
Já na Instituição Privada há um aumento do número de quedas<br />
diretamente proporcional ao aumento de idade. Isso se comprova<br />
pelo cálculo do Coeficiente de Correlação de Pearson (r), que<br />
determina uma relação de causa e efeito, entre idade e número de<br />
quedas, pois nesta Instituição essa correlação foi perfeita e positiva<br />
(r=1). Todavia, analisando a correlação existente entre as faixas<br />
etárias e o número de quedas da Instituição Pública, constatou-se<br />
uma fraca correlação negativa (r= -0,38) entre as variáveis.<br />
Número de quedas<br />
15<br />
10<br />
5<br />
2<br />
7<br />
3<br />
13<br />
4<br />
3<br />
Instituição Privada<br />
Instituição Pública<br />
0<br />
60-75 76-90<br />
Faixa etária<br />
90 ou +<br />
Figura 2: Faixa etária dos idosos que sofreram queda(s) no período de um ano.<br />
17
18<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
É comum encontrar na literatura autores que citam a idade<br />
como um fator de risco para as quedas, sendo esta diretamente<br />
proporcional ao risco, por estar ligada a fatores intrínsecos de<br />
exposição.<br />
Através da Figura 3, que demonstra a percentagem de cada<br />
causa de queda encontrada nas evoluções, é possível constatar<br />
que a perda do equilíbrio é o fator causal mais importante,<br />
correspondendo a 29% das quedas.<br />
19%<br />
6%<br />
6%<br />
9%<br />
29%<br />
22%<br />
3%<br />
6%<br />
Figura 3: Causas que levaram às quedas dos idosos.<br />
Fraqueza<br />
Tropeço<br />
Sonolência<br />
Perda de equilíbrio<br />
Escorrego<br />
Tontura/Vertigem<br />
Dor<br />
Não consta<br />
Em seguida está a fraqueza, também entre os principais<br />
fatores causais para as quedas, sendo responsável por 22% do total.<br />
A fraqueza foi mencionada nas evoluções algumas vezes somente<br />
como “fraqueza” e outras como “fraqueza de membros inferiores”,<br />
sendo que nos resultados finais, ambas foram consideradas o<br />
mesmo fator causal, a fraqueza.<br />
Outro fator igualmente importante e encontrado nas<br />
evoluções é a tontura, ou vertigem, que foram consideradas a<br />
mesma coisa, causando 19% das quedas.<br />
As demais causas encontradas foram a dor, o escorrego e o<br />
tropeço, sendo que cada uma foi causa de 6% do total. A sonolência<br />
foi causa de 3% das quedas ocorridas e o restante, que corresponde<br />
a 9% das quedas analisadas não constou suas causas nas evoluções.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
Segundo Maciel e Guerra (2005), as alterações do equilíbrio<br />
na população idosa são problemas relativamente comuns e levam a<br />
importantes limitações na realização das atividades da vida diária,<br />
além de constituírem a principal causa de queda nesses indivíduos.<br />
Para Ham (apud REICHEL & GALLO, 2001) a vertigem é<br />
uma das queixas mais comuns na medicina geriátrica, isto porque<br />
ela é conseqüência de diversas doenças que acometem os idosos.<br />
São necessárias algumas medidas preventivas para que não ocorram<br />
acidentes no momento em que o idoso tiver alguma vertigem,<br />
como a utilização de auxílio para estabilizar e equilibrar a marcha<br />
e modificações ambientais (luminosidade, barras de apoio).<br />
A maioria das quedas (37%) ocorreram no ambiente do<br />
quarto, o que está de acordo com a literatura nacional e internacional.<br />
Muitas destas quedas ocorrem logo após o idoso assumir a posição<br />
ortostática, quando levanta-se da cama.<br />
O segundo ambiente mais propício foi a sala, com 25%<br />
das quedas. Geralmente este é o ambiente onde os idosos fazem<br />
as refeições e assistem à televisão, entre outras atividades, nas<br />
instituições. Na calçada, ocorreram 16% das quedas, provavelmente<br />
isso se deve ao fato de que muitas vezes estas apresentam degraus<br />
e desníveis e fazem com que os idosos tropecem ou percam o<br />
equilíbrio. Ainda destaca-se, com 13% as quedas no corredor,<br />
onde geralmente os idosos transitam quando vão de um ambiente a<br />
outro. Entre os fatores que podem ter relação com as quedas neste<br />
ambiente está o piso escorregadio, falta de barras de apoio fixadas<br />
na parede, ou ainda iluminação inadequada para os idosos, já que<br />
estes necessitam de iluminação especial devido à lenta adaptação<br />
à luz e ao escuro e a baixa tolerância à claridade (VERNON apud<br />
REICHEL & GALLO, 2001). Em 6% das quedas descritas nas<br />
evoluções não constava o local onde ocorreram.<br />
19
20<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
Ribeiro et al. (2008) sugerem que na maioria das vezes os<br />
idosos caem nos cômodos mais utilizados, sendo que este, para<br />
os idosos institucionalizados, é geralmente o quarto, onde eles<br />
ficam isolados dos demais e fazem isso por opção própria, pela<br />
dificuldade de socialização.<br />
A Figura 4, que exibe a quantidade de quedas ocorridas<br />
no período de um ano distribuídas nos turnos em que ocorreram,<br />
apresenta um índice maior no turno da tarde, em que ocorreram<br />
50% das quedas, ou seja, 16. Durante a noite ocorreram 9 quedas<br />
(28%) e no turno da manhã, apenas 7 quedas (22%). Pela análise<br />
de variância e Teste Tukey (5% de significância), a diferença entre<br />
as médias do número de quedas e o turno em que estas acontecerem<br />
não foi significativa.<br />
Número de quedas<br />
16<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
7<br />
16<br />
Manhã Tarde Noite<br />
Figura 4: Turnos do dia em que ocorreram as quedas.<br />
Segundo Campbell (apud EBRAHIM & KALACHE,<br />
1996) a maior parte das quedas ocorre em horas de atividade<br />
máxima do dia e 20% ocorrem à noite. Este achado está de acordo<br />
com os resultados encontrados no presente estudo, já que, para a<br />
9
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
maioria dos idosos a atividade máxima é no turno da tarde, que foi<br />
predominante em relação à manhã e noite. No entanto a maioria<br />
dos autores discorda, afirmando que a maioria das quedas ocorre<br />
durante a noite, quando os idosos levantam-se para ir ao banheiro<br />
ou beber água (CARVALHO & COUTINHO, 2002).<br />
Santos & Andrade (2005) encontraram resultados diferentes<br />
em seu estudo, onde o turno de maior freqüência foi a manhã, com<br />
45% das quedas, seguido do turno da tarde com 32,3% e noite com<br />
22,7%.<br />
Conforme a Figura 5, grande parte das quedas ocorreram<br />
quando os idosos estavam apenas caminhando (51%), muitas<br />
vezes deslocando-se de um ambiente a outro. Esta constatação não<br />
foi surpresa, pois é do conhecimento de todos que a maioria das<br />
quedas, em qualquer idade, ocorre durante a deambulação.<br />
51%<br />
3%<br />
6%<br />
31%<br />
6%<br />
3%<br />
Após levantar da cama<br />
Tomando banho<br />
Ao levantar da mesa após refeição<br />
Apenas caminhando<br />
Ao sentar na cama<br />
Não consta<br />
Figura 5: Atividades realizadas antes ou no momento da queda.<br />
Também não foi surpreendente saber que 31% das quedas<br />
tenham ocorrido após o ato de levantar-se da cama, pois como<br />
citado anteriormente, isto acontece porque muitos idosos têm<br />
hipotensão ortostática e assim que assumem a postura em pé vão<br />
ao chão. Além disso, alguns idosos passam muito tempo na cama,<br />
o que contribui para que tenham vertigens ao levantar-se. Outras<br />
atividades realizadas pelos idosos antes da ocorrência da queda<br />
foram tomar banho (3%); ao levantar-se da mesa após refeição<br />
21
22<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
(6%); ao tentar sentar-se na cama (3%) e as demais quedas (6%)<br />
não foram definidas, pois não constavam nas evoluções.<br />
Guimarães e Cunha (2004) apontam que as quedas em<br />
hospitais ou em instituições geriátricas ocorrem quando a equipe<br />
não está por perto e os pacientes encontram-se, pelo menos<br />
momentaneamente, ativos. Dizem ainda, que a maioria das quedas<br />
ocorre quando o paciente está subindo ou descendo do leito.<br />
A partir da Figura 6, pode-se observar que não houveram<br />
conseqüências físicas em 28% das quedas estudadas, porém não se<br />
excluem as conseqüências psíquicas e sociais, as quais não foram<br />
analisadas neste estudo, mas sabe-se, igualmente importantes na<br />
saúde do idoso. Em relação a isso, pode-se usar como um exemplo<br />
o medo que o idoso sente de cair novamente e machucar-se, gerando<br />
uma restrição nas suas atividades que deve ser considerada uma<br />
das suas conseqüências crônicas (REICHEL, 2001).<br />
16%<br />
9%<br />
3%<br />
16%<br />
3% 3%<br />
22%<br />
28%<br />
Figura 6: Complicações decorrentes das quedas.<br />
Sem consequencias<br />
Escoriações<br />
Fratura<br />
Corte<br />
Dor e escoriações<br />
Corte e escoriações<br />
Dor<br />
Deslocamento de placa do fêmur<br />
As escoriações destacaram-se como uma das conseqüências<br />
mais comuns após o evento da queda, tendo ocorrido em 22% das<br />
mesmas. Corte e fratura obtiveram índices de 16%, cada. Dor e<br />
escoriações ocorreram em 9% das quedas, contudo, pode-se<br />
subentender que em todas as quedas em que não constava “dor”<br />
como conseqüência, ela estava presente, mesmo sem o devido<br />
registro. Corte e escoriações, dor e deslocamento de placa do
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
fêmur, corresponderam cada uma, a 3% das conseqüências das<br />
quedas avaliadas.<br />
Santos e Andrade (2005) encontraram as escoriações em<br />
primeiro lugar como conseqüência de queda, com um percentual<br />
de 19,7 % em seu estudo, porém a maior parte dos idosos (59,4%)<br />
não teve conseqüências físicas. Em 7% das quedas ocorreram<br />
algum tipo de corte e em 5,7% delas os idosos sofreram fratura.<br />
Em pesquisa realizada por Fabrício et al. (2004), que<br />
teve como objetivo investigar a história da queda, relatada por<br />
50 idosos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60<br />
anos residentes de Ribeirão Preto, SP, e que haviam sido atendidos<br />
em duas unidades de um hospital público, foi constatado que as<br />
principais conseqüências das quedas foram também as fraturas,<br />
representando 64% do total.<br />
Segundo Guimarães e Cunha (2004), quando o ato de cair<br />
não resulta em trauma maior ou perda da consciência, tende a ser<br />
um acontecimento sub-relatado. Portanto, levando-se em conta<br />
que na maioria das vezes os idosos procuram atendimento médico<br />
somente quando há conseqüências graves, é normal que um estudo<br />
realizado em Instituições Geriátricas, como este, não encontre uma<br />
percentagem tão alta de fraturas e tenha resultados menos graves,<br />
como as escoriações.<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
Após apresentação dos resultados obtidos através da coleta<br />
de dados pôde-se concluir que o índice de quedas nos idosos<br />
residentes das Instituições estudadas foi inferior ao citado pela<br />
maioria dos autores, assim como alguns outros resultados também<br />
23
24<br />
HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
diferem dos demais estudos. No entanto, não foram encontrados<br />
estudos que utilizaram o método de pesquisa utilizado neste. A<br />
aplicação de testes e questionários foi relatada em diversos estudos,<br />
podendo ser este um fator de influência nos resultados.<br />
Ao comparar o índice de quedas encontrado nas duas<br />
Instituições estudadas, verifica-se que há uma maior percentagem<br />
na Instituição Pública, onde o índice foi de 8,0%, enquanto que na<br />
Instituição Privada foi de 4,3%.<br />
Em relação à faixa etária dos idosos que sofreram quedas<br />
na Instituição Privada, foi constatado que nesta há um aumento do<br />
número de quedas diretamente proporcional ao aumento da idade.<br />
Já na Instituição Pública a maior parte das quedas ocorreu em<br />
idosos com idades entre 60 e 90 anos, havendo uma redução após<br />
esta idade.<br />
A principal causa de quedas encontrada nas evoluções<br />
analisadas foi a perda do equilíbrio, correspondendo a 29% das<br />
mesmas. Em segundo lugar, está a fraqueza, com um número<br />
também expressivo sendo a causa de 22% das quedas. A tontura, ou<br />
vertigem, foi encontrada em 19% delas e as demais causas foram:<br />
tropeço, escorrego, dor e sonolência e no restante de 9% das quedas<br />
não estava descrita a causa nas evoluções.<br />
Quanto aos locais onde ocorreram as quedas, foi encontrado<br />
um percentual de 37% no quarto, 25% na sala, 16% na calçada,<br />
13% no corredor, 3% no banheiro e em 6% das quedas não houve a<br />
descrição do local nas evoluções. Outros estudos também indicaram<br />
uma maior percentagem de quedas no quarto, por ser o local onde<br />
os idosos, principalmente os institucionalizados, passam a maior<br />
parte do tempo, além de outros fatores como hipotensão ortostática<br />
e vertigem ao levantar-se da cama.
ÍNDiCE DE QuEDAS Em iDoSoS iNSTiTuCioNALiZADoS Do muNiCÍPio DE SANTo ÂNGELo-rS<br />
O turno da tarde, no qual ocorreram 50% das quedas, foi<br />
predominante em relação ao turno da manhã (22%) e da noite<br />
(28%). No entanto, pelo teste de Tukey (5% de significância) a<br />
diferença entre as médias do número de quedas e o turno em que<br />
estas aconteceram não foi significativa.<br />
A maior parte das quedas ocorreu quando os idosos<br />
estavam caminhando (51%) e após o ato de levantar-se da cama<br />
(31%). Já como conseqüências físicas das quedas predominaram<br />
as escoriações, em 22% delas, fratura em 16% e corte também em<br />
16%. Houve uma percentagem de 28% de quedas que não tiveram<br />
conseqüências.<br />
Ao término deste estudo tem-se uma visão do que constitui,<br />
para o idoso, sofrer uma queda. Após a primeira queda ele tornase<br />
ou é limitado pelos seus cuidadores à prática de atividades da<br />
vida diária, aumentando o declínio funcional e o predispondo à<br />
novas quedas, formando assim um ciclo vicioso que faz com que<br />
ele perca a sua qualidade de vida.<br />
É necessário que as formas de prevenção para as quedas<br />
sejam colocadas em prática pela população, instituições e<br />
profissionais da saúde que prestam atendimento ao idoso, com<br />
o objetivo tanto de evitar a primeira queda como também a<br />
sua recorrência e neste contexto o fisioterapeuta tem um papel<br />
fundamental.<br />
Apesar de atualmente haver muitos estudos a respeito das<br />
quedas e os fatores nela envolvidos, existe ainda uma lacuna na<br />
questão desta ocorrência em idosos residentes de Instituições.<br />
Procurou-se iniciar uma discussão para que seja possível assumir<br />
proporções maiores em futuros estudos a respeito do tema, com<br />
mais Instituições analisadas e uma população maior de idosos.<br />
25
5 rEFErÊNCiAS<br />
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HoLZBACH, ViViANE – BEuTEr, CLáuDiA rEGiNA<br />
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FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />
FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr<br />
Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do<br />
SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />
SiLVA, LeTíCiA ATAídeS 1<br />
BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />
rESumo<br />
O propósito do presente estudo foi abordar, através<br />
de uma revisão bibliográfica, a importância do<br />
conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor<br />
na estabilidade articular do joelho, funcionalmente<br />
responsável por diversas atividades como correr,<br />
andar e saltar. O conhecimento sobre os componentes<br />
do sistema sensório-motor é fundamental, pois junto<br />
com as estruturas musculoesqueléticas são um dos<br />
elementos que garantem a estabilidade da articulação<br />
do joelho. Os mecanorreceptores localizados no<br />
joelho, em especial no Ligamento Cruzado Anterior<br />
(LCA), são as principais estruturas que enviam ao<br />
Sistema Nervoso Central (SNC) informações acerca<br />
da posição, movimento e estresse articular. O<br />
adequado funcionamento das estruturas sensório-<br />
1 Fisioterapeuta<br />
2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />
Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />
29
30<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
motoras articulares deve ser o objetivo de tratamento<br />
em indivíduos com lesões articulares, para possibilitar<br />
que o corpo mantenha a estabilidade estática e<br />
dinâmica necessária para exercer suas atividades<br />
com o mesmo desempenho anterior a uma lesão.<br />
Palavras-chaves: receptores sensoriais,<br />
propriocepção, estabilidade articular.<br />
ABSTrACT<br />
The purpose of this study was to address, through<br />
a literature review, the importance of physiological<br />
knowledge of the sensory-motor in the knee joint<br />
stability, functionally responsible for various activities<br />
as running walk and jump. The knowledge about the<br />
components of the sensory-motor system is essential,<br />
because along with the musculoskeletal structures are<br />
one of the elements that guarantee the stability of the<br />
knee joint, allowing the body to maintain the stability<br />
and dynamic required for the individual exercises its<br />
activities with the same performance prior to an injury.<br />
The mechanoreceptors located in the knee, especially<br />
in the anterior cruciate ligament (ACL) are the main<br />
structures that send to the central nervous system<br />
(CNS) information about the position, motion and<br />
stress articulate. The proper functioning of sensorymotor<br />
joint
FiSioTErAPiA NA ESTABiLiDADE ArTiCuLAr Do JoELHo: ABorDAGEm FiSioLÓGiCA Do SiSTEmA SENSÓrio-moTor<br />
1 iNTroDuÇÃo<br />
Key words: proprioceptores, sensory receptors, joint<br />
stability.<br />
A idéia do presente estudo é apresentar através de uma<br />
revisão bibliográfica a importância do conhecimento fisiológico<br />
do sistema sensório-motor na estabilidade articular do joelho. A<br />
estabilidade articular refere-se à capacidade da articulação retornar<br />
ao seu estado normal após ter sofrido um estresse. A ocorrência<br />
dessa propriedade depende da interação de diversos fatores,<br />
entre eles, a congruência óssea, a restrição passiva das estruturas<br />
articulares e as forças compressivas geradas pelo peso do corpo e a<br />
ação muscular (AQUINO et al., 2004).<br />
Para realizar um determinado movimento sem danos físicos<br />
é necessário ter integridade musculoesquelética e sensorial, sendo<br />
que este último vem apresentando uma crescente importância em<br />
se tratando de estabilização articular. As percepções sensoriais<br />
(saber onde nossos membros se encontram no espaço quando são<br />
movimentados e conhecer as forças geradas pelos músculos) são<br />
conhecidas como sentido proprioceptivo. Esse termo é empregado<br />
para determinar a informação aferente vinda de áreas periféricas<br />
internas do corpo, que contribuem para o controle postural e a<br />
estabilidade articular (COHEN, 2001).<br />
O conhecimento fisiológico do sistema sensório-motor<br />
é de suma importância para uma eficaz estabilização articular<br />
do joelho, pois se pode perceber que por meio de receptores<br />
sensoriais, o Sistema Nervoso Central (SNC) recebe estímulos<br />
internos e externos do nosso organismo que irão atuar diretamente<br />
31
32<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
na estabilidade articular. Esses receptores estão localizados na<br />
pele, nos músculos, tendões, ligamentos, articulações e fáscias<br />
(FONSECA et al., 2007).<br />
A articulação do joelho é uma estrutura complexa composta<br />
por três ossos, o fêmur, a tíbia e a patela. Funcionalmente o joelho<br />
é responsável por diversas atividades, tais como correr andar,<br />
saltar, sendo essas e outras funções possíveis devido à mobilidade<br />
oferecida principalmente pelos ossos, à estabilidade promovida<br />
pelos tecidos moles e pela integridade sensorial (SMITH et al.,<br />
1997). Essa articulação pode parecer uma estrutura simples, porém<br />
a sua biomecânica e o tratamento das lesões sofridas está há muito<br />
tempo levantando discussões (ANDREWS et al., 2000).<br />
Dessa maneira, a fisioterapia vem buscando diversas<br />
possibilidades para que cada vez menos lesões venham acontecer<br />
durante as atividades realizadas, sejam elas desportivas ou<br />
atividades da vida diária. Dentre as alternativas para reduzir o risco<br />
de lesão ou até mesmo melhor o desempenho físico o seriam através<br />
do treino sensório motor utilizando exercícios proprioceptivos,<br />
para manter ou melhorar a estabilidade articular do joelho. Estes<br />
exercícios servem para dar ênfase à coordenação e equilíbrio<br />
(BONETTI, 2007).<br />
Tendo em vista a importância das informações<br />
proprioceptivas para um melhor desempenho da estabilidade<br />
articular, é fundamental o conhecimento da fisiologia do sistema<br />
sensório motor e do seu funcionamento junto com a produção de<br />
movimento fluente, controlado e coordenado.
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2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica,<br />
realizada em livros e artigos Medline, Lilacs e Scielo. O método<br />
utilizado foi o dialético e o instrumento para o alcance dos objetivos<br />
foi o levantamento documental.<br />
3 DiSCuSSÃo<br />
Os fatores neurológicos, como a propriocepção, já<br />
eram conhecidos há muito tempo atrás; porém, apenas fatores<br />
biomecânicos, anatômicos e histológicos eram considerados<br />
determinantes na função articular. No entanto, mais recentemente os<br />
fatores neurológicos começam a ter uma contribuição fundamental<br />
para a estabilidade articular (AQUINO et al., 2004).<br />
Na Grécia Antiga, Aristóteles já descrevia e distinguia os<br />
cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato (PINTO et<br />
al, 1997). No século XIX um cientista alemão, Johannes Müller<br />
(1801-1858), atribuiu aos sentidos a lei das energias específicas, na<br />
qual se considera que cada sentido está relacionado a uma forma<br />
de energia. Diz-se então que os receptores são específicos para<br />
uma determinada forma de energia, e que sua sensibilidade está em<br />
sintonia com uma faixa restrita de estimulação e resposta (LENT,<br />
2004).<br />
Ainda no século XIX um sexto sentido foi descrito por<br />
Bell, referindo-se ao sentido de posição e movimento articular.<br />
Mais tarde Ducheme e Charcot descreveram a importância das<br />
sensações articulares para a função do aparelho locomotor. A<br />
seguir outros autores localizaram em receptores articulares e<br />
33
34<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
musculares a sensação do movimento, importante para a ação<br />
articular coordenada. Dentre esses autores está o fisiologista inglês<br />
Charles Sherrington (COHEN, 2001) que traduziu a propriocepção<br />
como um termo usado para a regulação da postura total (equilíbrio<br />
postural) e postura segmentar (estabilidade articular), como<br />
também para o início de muitas sensações periféricas conscientes<br />
(PINTO et al., 1997).<br />
O termo sensório-motor foi designado para descrever as<br />
interações centrais, sensoriais e motoras e as estruturas envolvidas<br />
na manutenção da integridade articular durante os movimentos<br />
corporais e manutenção da postura. A propriocepção e o controle<br />
neuromuscular fazem parte do sistema sensório-motor (COSTA,<br />
2007).<br />
A palavra propriocepção deriva do latim e tem o significado<br />
“de si mesmo”, referindo-se aos processos sensoriais envolvidos<br />
na apreciação da postura e do movimento (FONSECA et al., 2007).<br />
O controle neuromuscular é definido como o controle da<br />
ativação inconsciente de estabilizadores dinâmicos, os músculos,<br />
agindo em resposta a uma carga ou movimentos impostos a uma<br />
articulação com o objetivo de restaurar ou manter a estabilidade<br />
articular normal. O controle neuromuscular irá depender da<br />
integração adequada entre os inputs sensitivos e as eferências<br />
motoras (COSTA, 2007).<br />
Estudos têm analisado a interação entre os sistemas<br />
sensoriais e sistema motor. Conforme esses estudos, para obter uma<br />
ação motora adequada são necessários a integração e utilização<br />
contínua das informações sensoriais na coordenação e controle do<br />
ato motor desejado (BONFIM & BARELA, 2007).<br />
O sistema sensorial é composto por neurônios interligados<br />
que formam circuitos responsáveis por processar a informação
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que chega do ambiente. Dessa forma o ambiente é a origem dos<br />
estímulos sensoriais. Esses estímulos geralmente incidem sobre<br />
uma superfície onde estão localizadas células especializadas para<br />
captar a energia incidente, estas células são chamadas de receptores<br />
sensoriais (LENT, 2004).<br />
Os mecanorreceptores são tipos de receptores sensoriais e<br />
funcionam como tradutores biológicos, sendo capazes de converter<br />
os movimentos do corpo e a tensão imposta as suas estruturas, em<br />
potenciais de ação nervosos que geram informações proprioceptivas<br />
(FONSECA et al., 2007).<br />
Os receptores que fazem mediações das sensações<br />
profundas incluem os receptores musculares e articulares e podem<br />
ser definidos como proprioceptores. Estes abrangem os fusos<br />
musculares, órgão tendinosos de Golgi, terminações nervosas<br />
livres, corpúsculos de Pacini e receptores articulares. Estão<br />
relacionados com a postura, o senso de posição, tônus muscular,<br />
velocidade e direção do movimento (SULLIVAN & SCHMITZ,<br />
2004).<br />
O sistema proprioceptivo recebe informações tanto dos<br />
receptores articulares quanto os receptores musculares e utiliza esses<br />
estímulos para localizar nossos membros no espaço e determinar<br />
a sua amplitude e velocidade do movimento. No entanto, cada<br />
receptor têm um papel diferente na formação da propriocepção<br />
articular. Apesar dos demais receptores também contribuírem para<br />
a sensação de movimento os receptores musculares parecem ser<br />
a fonte de maior contribuição para a informação proprioceptiva<br />
(RIBEIRO & OLIVEIRA, 2008).<br />
Uma característica especial de todos os receptores sensoriais<br />
é a de que eles se adaptam, parcial ou totalmente, a seus estímulos<br />
35
36<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
após certo período de tempo. Percebe-se que alguns receptores se<br />
adaptam de forma muito mais rápida do que outros (GUYTON,<br />
1993).<br />
Ter as informações sobre a posição, velocidade e direção<br />
dos movimentos são importantes fatores para manter o controle<br />
postural. Para desenvolver uma atividade motora com maior destreza<br />
é fundamental ter um controle neuromuscular (FONSECA<br />
et al., 2007).<br />
A propriocepção é um processo através do qual o SNC<br />
recebe input de diversas fontes de estímulo integradas para definir<br />
o movimento ou a posição articular. Os estímulos proprioceptivos<br />
providenciam a informação a um eixo central dividido em três níveis<br />
distintos do controle motor: medula espinal, tronco cerebral e córtex<br />
motor. Contudo, o input proprioceptivo não é necessariamente<br />
percebido de forma consciente. Os mecanorreceptores que são<br />
responsáveis pelo envio dos estímulos ao SN (impulsos aferentes),<br />
funcionam como conversores das cargas mecânicas impostas<br />
à articulação. Esta informação é integrada na programação<br />
motora requerida para movimentos de precisão e contribui<br />
para a contração muscular reflexa, proporcionando estabilidade<br />
dinâmica à articulação. Portanto, o controle do movimento<br />
depende consideravelmente da qualidade da informação aferente<br />
originada dos receptores envolvidos na propriocepção (RIBEIRO<br />
& OLIVEIRA, 2008).<br />
As sensações profundas e as sensações táteis ou superficiais,<br />
transmitidas ao SNC pelos proprioceptores são responsáveis por<br />
determinar o senso de posição e percepção das articulações tanto<br />
em movimento (propriocepção dinâmica) quanto em repouso<br />
(propriocepção estática). Em locais, como os dedos, a resposta<br />
ao reconhecimento da posição é transmitida ao SNC através dos
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receptores táteis. Por outro lado para a maior parte das grandes<br />
articulações, como a articulação do joelho, os receptores profundos<br />
são os mais importantes (GUYTON , 1993).<br />
A articulação do joelho suporta o peso do corpo e transmite<br />
forças provenientes do solo e ao mesmo tempo permite uma grande<br />
quantidade de movimento entre o fêmur e a tíbia. A estabilidade<br />
funcional do joelho provém da restrição passiva dos ligamentos, da<br />
geometria articular, dos músculos e das forças compressivas entre<br />
um osso e outro (HAMILL & KNUTZEN, 1999).<br />
Em 1991 foi realizada uma revisão de literatura a respeito<br />
do papel sensorial dos ligamentos cruzados, foi mostrada sua<br />
influência reflexa sobre a musculatura agonista do joelho através<br />
do sistema fuso muscular. Então se descobriu que os ligamentos<br />
cruzados desempenham na fisiologia articular um papel diferente<br />
do que o de estabilizadores mecânicos (PINTO et al., 1997).<br />
Estudos anatômicos têm demonstrado a presença de<br />
mecanorreceptores no Ligamento Cruzado Anterior (LCA).<br />
Mostram fibras nervosas penetrando os ligamentos cruzados e<br />
receptores tipo Golgi, Ruffini e Paccini foram identificados no<br />
LCA. Dessa forma é provável que a função proprioceptiva dos<br />
ligamentos seja tão importante quanto a sua função biomecânica<br />
para a manutenção da estabilidade articular (BONFIM &<br />
PACCOLA, 2000).<br />
A estabilidade da articulação do joelho depende dos<br />
músculos e dos ligamentos, principalmente do LCA. A deficiência<br />
da informação proprioceptiva no joelho, em decorrência de lesão<br />
do LCA, contribui para o agravamento da instabilidade devido à<br />
diminuição da sensação de posição e ausência do estímulo para a<br />
contração muscular reflexa (SAMPAIO & SOUZA, 1994).<br />
37
38<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Dentre os ligamentos do joelho, o LCA é o que apresenta<br />
com maior freqüência lesões de ruptura completa, sendo estas<br />
ocorrendo na maioria das vezes em atividades esportivas. No<br />
caso de atletas, após uma lesão no LCA vários não retornam as<br />
atividades e os que retornam apresentam deficiências funcionais.<br />
Na tentativa de solucionar essas deficiências as técnicas estão cada<br />
vez mais refinadas, então após a reconstrução do LCA, esperavase<br />
que o joelho voltasse a apresentar condições neuromusculares<br />
normais. No entanto, apesar da amplitude de movimento e a<br />
força serem restabelecidas, a tendência em permanecer um déficit<br />
proprioceptivo continuava devido à ruptura do LCA e da sua<br />
substituição por enxertos, que não apresentam os mesmos tipos<br />
de mecanorreceptores e conexões nervosas responsáveis pela<br />
estabilidade articular encontrada no ligamento intacto (BONFIM<br />
& PACCOLA, 2000).<br />
Tendo em vista a importância das informações<br />
proprioceptivas para um melhor desempenho da estabilidade<br />
articular é fundamental o conhecimento sobre os componentes do<br />
sistema sensório-motor, pois é um dos elementos que garantem<br />
a estabilidade de uma articulação, possibilitando que o corpo<br />
mantenha a estabilidade dinâmica e estática necessária para que<br />
o indivíduo exerça suas atividades com o mesmo desempenho<br />
anterior a uma lesão (FONSECA et al., 2007).<br />
A perda de informação proprioceptiva no joelho, devido<br />
à lesão do LCA contribui para o agravamento da instabilidade<br />
devido à diminuição da sensação de posição e ausência do<br />
estímulo para contração muscular reflexa. No entanto, apesar<br />
da lesão do LCA e da perda de informações aferentes enviadas<br />
pelos mecanorreceptores localizados neste ligamento, existem nas<br />
demais estruturas do joelho inúmeras outras fontes de informação
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proprioceptiva, que através de um treinamento específico de<br />
coordenação neuromuscular podem suprir a demanda da reação<br />
muscular para estabelecer o controle dinâmico da articulação<br />
lesada (SAMPAIO & SOUZA, 1994).<br />
Alguns anos atrás o conceito de ter um músculo bem<br />
alongado e forte bastava para prevenir lesões, porém esse conceito<br />
vem sendo substituído por uma idéia que defende a prevenção de<br />
lesões baseada na melhora funcional das articulações e dos músculos<br />
em conjunto, e isto ocorre devido à melhora dos mecanismos de<br />
controle neuromuscular (COSTA, 2007).<br />
A importância dos mecanorreceptores articulares,<br />
musculares e cutâneos para as sensações proprioceptivas tem<br />
sido muito discutida. Recentemente estudos sugerem que os<br />
receptores musculares e articulares são complementos do sistema<br />
aferente, no qual a modificação num tipo de receptor promove<br />
alteração na função do outro. Ambos são essenciais na capacidade<br />
proprioceptiva (RIBEIRO & OLIVEIRA, 2008).<br />
Apesar dos mecanorreceptores ainda não ter uma função<br />
totalmente conhecida, eles são os principais responsáveis por<br />
fornecer ou determinar o caminho da intrigante rede de informação<br />
sensorial a qual pode diferenciar vários indivíduos com relação a<br />
sua destreza e habilidade funcional, entre outras (EJNISMAN et<br />
al., 2002).<br />
A capacidade que articulação tem para detectar<br />
alterações que ocorrem no meio que rodeia suas estruturas e<br />
mediar apropriadamente à resposta muscular a essas alterações é<br />
fundamental para garantir a estabilidade funcional da articulação.<br />
Na articulação do joelho quem irá contribuir nesse processo de<br />
estabilização articular são os receptores musculares, articulares e<br />
39
40<br />
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cutâneos que são considerados essenciais na capacidade de sentir<br />
a posição e o movimento da articulação (RIBEIRO & OLIVEIRA,<br />
2008).<br />
Os ligamentos cruzados do joelho são os componentes<br />
responsáveis pela estabilidade intrínseca da articulação (MORENO<br />
et al., 2005). Até um tempo atrás os ligamentos eram considerados<br />
estruturas passivas, e só mais recentemente que a sua função sensorial<br />
começou a ser discutida. A informação sensorial proporciona ao<br />
indivíduo a capacidade de detectar a posição articular do joelho de<br />
uma forma consciente. O controle neuromotor do joelho envolve a<br />
atividade coordenada da musculatura, fornecendo estabilidade ativa<br />
à articulação. A integridade proprioceptiva do joelho é primordial<br />
para o controle neuromotor, e sua avaliação, o teste proprioceptivo,<br />
é um importante método de diagnóstico e prognóstico, acarretando<br />
na eficácia ou não do tratamento fisioterapêutico (LOBATO et al.,<br />
2005).<br />
A capacidade proprioceptiva de indivíduos com lesões<br />
ortopédicas e traumatológicas está cada vez mais despertando um<br />
interesse na prática clínica. Dessa forma, tendo em vista que o SN<br />
transforma as informações aferentes vinda dos mecanorreceptores<br />
em atividade muscular sincronizada ao redor da articulação,<br />
garantindo assim a estabilidade articular, podemos supor que<br />
o treino proprioceptivo tem sua importância e deve ser incluído<br />
tanto na recuperação de lesões quanto na prevenção das mesmas<br />
(FONSECA et al., 2007).<br />
Os exercícios proprioceptivos foram introduzidos nos<br />
programas de reabilitação e prevenção de lesões ligamentares, pelo<br />
fato de que os ligamentos são sede de mecanorreceptores, onde uma<br />
lesão nessas estruturas poderia causar um déficit proprioceptivo<br />
(COSTA, 2007).
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No processo de reabilitação do joelho devemos considerar<br />
de forma significativa o treino proprioceptivo, pois este se refere<br />
à sensibilidade ao tato, que engloba a sensação do movimento<br />
e posição articular. A reeducação proprioceptiva busca não só<br />
aumentar a qualidade e velocidade das respostas do aparelho<br />
neuromuscular, como também estimular a sensibilidade e reação<br />
de respostas rápidas e precisas (PAIZANTE & KIRKWOOD,<br />
2007).<br />
Os exercícios proprioceptivos fazem parte do processo<br />
de reabilitação e são necessários tanto na prevenção quanto<br />
no tratamento de lesões. O trabalho de prevenção deve conter<br />
exercícios dinâmicos, multidirecionais e específicos de cada<br />
atividade, com exercícios trabalhando principalmente unidades<br />
músculo-tendíneas que são componentes responsáveis por manter<br />
a estabilidade dinâmica das articulações durante os movimentos<br />
(BONETTI, 2007).<br />
Nas lesões de LCA, seja por trauma, intervenções cirúrgicas<br />
ou por imobilizações prolongadas, os mecanorreceptores são<br />
freqüentemente lesados, dessa forma a condução dos estímulos<br />
sensoriais são diminuídas, deixando de informar ao SNC sobre<br />
o senso de posição e movimento articular. Devido a isto se faz<br />
necessário incluir exercícios proprioceptivos na reabilitação do<br />
joelho traumatizado (PAIZANTE & KIRKWOOD, 2007).<br />
O treino proprioceptivo busca desenvolver a autonomia ao<br />
indivíduo, consciência postural, do movimento, das mudanças no<br />
equilíbrio, conhecimento da posição do peso e da resistência dos<br />
objetos em relação ao corpo. Em indivíduos que sofreram lesão do<br />
LCA o objetivo do treinamento proprioceptivo visa desenvolver<br />
habilidade, agilidade e confiança através do aumento da velocidade<br />
de resposta de defesa e da estabilidade articular. Especificamente<br />
41
42<br />
SiLVA, LETÍCiA ATAÍDES – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
na lesão de LCA deve-se fortalecer isquiotibiais, principalmente,<br />
mas sem deixar de exercitar quadríceps, abdutores e adutores<br />
(PAIVA et al., 2008).<br />
O programa de treino sensório motor deve ser realizado<br />
de forma progressiva e focalizando alguns aspectos como<br />
flexibilidade, agilidade, força, treino de gesto esportivo e<br />
pliometria. Alongamento e fortalecimento devem ser realizados<br />
progressivamente respeitando os limites de cada indivíduo.<br />
Exercícios de agilidade são utilizados para permitir a adaptação<br />
as mudanças rápidas de direção, aceleração e desaceleração.<br />
Para treino de equilíbrio podem ser executados exercícios em<br />
apoio unipodal ou bipodal tanto de olhos abertos quanto de olhos<br />
fechados, no solo estável e instável, buscando que o indivíduo<br />
mantenha seu equilíbrio sem alterar sua base de sustentação. Os<br />
exercícios pliométricos são aqueles que ativam o ciclo excêntrico<br />
e concêntrico do músculo, melhorando a estabilização articular<br />
e potencializando a contração muscular. Para finalizar qualquer<br />
programa de reabilitação, prevenção ou condicionamento, devem<br />
ser incluídas atividades que imitem aquelas vivenciadas pelo<br />
indivíduo, seja ele atleta ou não (COSTA, 2007).<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
O propósito deste trabalho de revisão bibliográfica foi<br />
observar a importância do estudo do sistema sensório motor<br />
na estabilidade articular do joelho. A propriocepção tem papel<br />
fundamental em relação ao controle motor, uma vez que através<br />
dos receptores sensoriais são enviadas ao SNC informações<br />
relacionadas ao movimento, velocidade e posicionamento<br />
articular, e o SNC converte estas informações em ações musculares<br />
adequadas para a realização de atividades motoras.
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Foi possível verificar através de estudos que para garantir<br />
esta estabilidade articular é necessário não só ter estruturas<br />
musculoesqueléticas íntegras, mas também ter uma integridade<br />
sensório-motora.<br />
Em relação à articulação do joelho observou-se que suas<br />
estruturas servem tanto para dar estabilidade dinâmica quanto<br />
estática. Além dos componentes articulares e musculares o joelho<br />
dispõe de receptores sensoriais, os mecanorreceptores, que estão<br />
principalmente localizados nos ligamentos e em especial no LCA.<br />
Dessa forma, o LCA é a principal estrutura proprioceptiva do joelho,<br />
portanto uma lesão nesse ligamento causaria sérios problemas de<br />
instabilidade articular.<br />
Dessa maneira foi possível verificar que o adequado<br />
funcionamento das estruturas sensório motoras é fator essencial<br />
para possibilitar ao indivíduo a estabilidade articular necessária para<br />
desenvolver suas atividades. O treino proprioceptivo é importante<br />
não só na reabilitação de lesões, mas também na sua prevenção,<br />
sejam elas desportivas ou não, contribuindo para a melhora da sua<br />
condição sensorial.<br />
Mesmo assim, ainda são necessários mais estudos em<br />
relação à capacidade proprioceptiva do joelho e a eficiência do<br />
tratamento proprioceptivo na estabilidade articular.<br />
43
5 rEFErÊNCiAS<br />
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45
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr<br />
Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
rESumo<br />
TAVAReS, ALine FRóeS 1<br />
gOMeS, THAiS dO nASCiMenTO 2<br />
A gonartrose é uma patologia reumatológica que afeta a<br />
articulação do joelho, manifestando-se devido a muitos<br />
fatores como o processo natural do envelhecimento<br />
ou ao acúmulo excessivo de carga que a articulação<br />
suporta o que desequilibra as forças musculares e<br />
aumenta a exigência do joelho. O reforço muscular<br />
é uma alternativa preventiva e/ou curativa para o<br />
restabelecimento das funções normais do joelho.<br />
Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão<br />
bibliográfica sobre os benefícios do reforço muscular<br />
na gonartrose, através das respostas fisiológicas dos<br />
recursos fisioterapêuticos empregados. Evidenciouse<br />
através desta pesquisa o papel importante do cálcio<br />
na contração e principalmente na geração de força,<br />
1 Fisioterapeuta, pós-graduanda em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em<br />
Atendimento na Clínica de Fisioterapia.<br />
2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista do Ensino Superior,<br />
Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumotologia, Especialista em<br />
Saúde Pública, Especialista em Docência para o Ensino Superior e Mestre em Educação nas<br />
Ciências.<br />
47
48<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
sendo que sua falta é fator de fraqueza muscular e<br />
desequilíbrios que tornam suscetíveis patologias<br />
como a gonartrose. Os tipos de contração muscular,<br />
de acordo com cada músculo, podem favorecer o tipo<br />
de exercício mais indicado, acelerando os benefícios<br />
frente ao tratamento de reforço muscular. Dessa<br />
forma tal análise permitiu concluir que as mudanças<br />
fisiológicas causadas pela gonartrose podem ser<br />
prevenidas ou amenizadas a partir do reforço<br />
muscular quando utilizado através do conhecimento<br />
do tipo de musculatura e do exercício, que deve ser<br />
personalizado e adaptado ao estilo de vida.<br />
Palavras-chaves: contração muscular, gonartrose,<br />
reforço muscular.<br />
ABSTrACT<br />
The gonarthrosis is a rheumatic disease that affects<br />
the knee, appearing due to many factors such as the<br />
natural aging process or the excessive accumulation of<br />
charge that the relationship that supports unbalanced<br />
muscle forces and increases the requirement of the<br />
knee. The muscle strengthening is an alternative<br />
preventive and / or curative for the reestablishment<br />
of the normal knee. This study aimed to a literature<br />
review about the benefits of building muscle in<br />
gonarthrosis, through the physiological responses
1 iNTroDuÇÃo<br />
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
of the physiotherapeutic employees. It was found<br />
through this research the role of calcium in contraction<br />
and particularly in power generation, and its absence<br />
is a factor of muscle weakness and imbalances that<br />
make it susceptible to diseases such as gonarthrosis.<br />
The types of muscle contraction, according to every<br />
muscle, may favor the kind of exercise best suited,<br />
accelerating the benefits toward the treatment of<br />
muscle strengthening. Thus this analysis has shown<br />
that the physiological changes caused by knee arthritis<br />
can be prevented or mitigated through reinforcement<br />
muscle when used with the knowledge of the type of<br />
muscle and exercise, which must be customized and<br />
adapted to the lifestyle.<br />
Keywords: muscle contraction, gonarthrosis, muscle<br />
strengthening.<br />
O sistema musculoesquelético com o passar do tempo sofre<br />
muitas modificações, seja pelo processo natural de envelhecimento<br />
ou pela associação de movimentos repetitivos, estilo de vida,<br />
posturas viciosas e mantidas durante a jornada de trabalho o que<br />
sobrecarrega as diferentes estruturas corporais (SILVA et<br />
al., 2006). Essas alterações preocupam já que podem acarretar uma<br />
série de lesões e déficits funcionais importantes como as rupturas<br />
de meniscos e ligamentos, perda de equilíbrio, fraqueza muscular,<br />
bursites e artrites (JACOB et al., 1990).<br />
49
50<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
Dentre as doenças que acometem o sistema<br />
musculoesquelético, as chamadas patologias reumatológicas são<br />
as mais constantes, e têm na osteoartrose suas maiores incidências<br />
(SOARES, 2008). São consideradas um problema mundial que<br />
acomete os países desenvolvidos e em desenvolvimento, atingindo<br />
cerca de 16,2% da população brasileira (SEDA & SEDA apud<br />
MOREIRA & CARVALHO, 2001). A osteoartrose é a degeneração<br />
dos componentes articulares que leva à destruição progressiva da<br />
cartilagem hialina, da cápsula articular, da membrana sinovial e<br />
que pode atingir de forma secundária os tecidos moles. Pode ser<br />
agravada pela perda de força muscular consequência geralmente<br />
do sedentarismo, gerando perda de funcionalidade, de estabilidade,<br />
de flexibilidade, diminuição de amplitude de movimento (ADM) e<br />
propriocepção, o que causa maior instabilidade muscular levando<br />
a outras patologias associadas (RODRIGUES, 2007).<br />
A gonartrose, osteoartrose de joelho, é dentre as<br />
osteoartroses, as que mais se manifestam devido ao acúmulo<br />
de carga que suportam o que faz aumentar significativamente a<br />
exigência do joelho, desequilibrando assim as forças musculares,<br />
e por isso necessitando de reforço muscular (WANNMACHER,<br />
2006).<br />
A evolução da gonartrose pode levar a substituição total da<br />
articulação, mas o tratamento conservador é a alternativa inicial<br />
para evitar os agravos da patologia. As técnicas fisioterapêuticas<br />
neste caso devem melhoram os sinais e sintomas dolorosos, prevenir<br />
atrofias e perdas de amplitude de movimento sendo fundamentais<br />
as orientações posturais, de atividades de vida diária e a inclusão<br />
de atividade física específica (RADL apud CHIARELLO et al.,<br />
2005).
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />
Foram utilizados no presente artigo os seguintes materiais:<br />
artigos, livros, revistas, revistas online, sites relacionados da web.<br />
Através do método de consulta, leitura e análise do conteúdo para<br />
transcrever ao artigo.<br />
3 DiSCuSSÃo<br />
Na gonartrose a degeneração da cartilagem articular do<br />
joelho resulta na formação de um osso novo nas superfícies da<br />
articulação. Há uma alteração bioquímica e metabólica que resulta<br />
na desintegração da cartilagem articular. Com o aumento das<br />
sobrecargas mecânicas sobre o colágeno presente na cartilagem,<br />
por postura ou trauma, a produção de colágeno pelas células<br />
cartilaginosas aumenta como um mecanismo de defesa. O tecido<br />
resiste ao tensionamento, todavia perde a elasticidade, se espessa,<br />
resistindo menos aos impactos. Já os tecidos periarticulares<br />
mais espessos e menos flexíveis limitam os micromovimentos e<br />
aumentam a coaptação articular (RADL apud CHIARELLO et al.,<br />
2005).<br />
Inicialmente acontece um amolecimento da cartilagem<br />
hialina e em seguida uma separação das fibras até a sua<br />
desintegração total fazendo a cartilagem ficar em franjas, picotada<br />
e desgastada. O osso cresce sobre a superfície que foi desgastada e<br />
saliências ósseas nas bordas da articulação estendem-se por dentro<br />
dessa, atingindo tendões e músculos. Essas alterações causam<br />
dificuldades nos movimentos articulares e alterações de marcha<br />
(PALASTANGA et al., 2000).<br />
51
52<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
O edema da cartilagem surge a partir da desorientação<br />
da rede de colágeno e da hidrofilia dos proteoglicanos, então<br />
ela se torna rígida e opaca com fibrilações e erosões, causando<br />
progressivamente modificação na cartilagem até a desnudação<br />
total do osso subjacente (RADL apud CHIARELLO et al., 2005).<br />
Na gonartrose, a diminuição de líquido pela inatividade<br />
funcional e pela fraqueza muscular gera tensão articular,<br />
sobrecarga, fricção e desgaste dos elementos presentes no joelho.<br />
O reforço muscular faz com que seja preservado o movimento<br />
funcional e a produção de líquido de forma adequada, fazendo com<br />
que as estruturas sejam preservadas e as forças continuem agindo<br />
corretamente. A geração de força muscular se dá através de dois<br />
tipos de contração: a contração isotônica, gerando movimento de<br />
forma concêntrica e excêntrica, e de forma isométrica quando não<br />
acontece movimento (SILVERTHORN, 2003).<br />
Na gonartrose, em decorrência da hipotrofia muscular<br />
ocorre o desequilíbrio muscular e ação incorreta de agonistas e<br />
antagonistas. A ação agonista do reto femoral fica prejudicada, pela<br />
compensação gerada no movimento, os vastos laterais e médios<br />
precisam entrar em ação no movimento de extensão de joelho e<br />
os isquiotibiais acabam por funcionar como sinergistas ao auxiliar<br />
o movimento. Os músculos, quadríceps e isquiotibiais tornam-se<br />
hipotróficos geralmente devido ao desuso ou quadro álgico, que<br />
limita o movimento e a função (OLIVEIRA et al., 2008).<br />
A força de forma excêntrica e concêntrica gera um efeito<br />
rotatório chamado de torque, associado à rotação de um corpo,<br />
em torno de um eixo, aplicando a força a esse corpo. Para que<br />
aconteça a rotação de forma mais eficaz, a força fica longe do ponto<br />
da mesma. A rotação de um torque está relacionada diretamente<br />
com a força que o está gerando aliado à direção desta em relação
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
à posição de ponto central. O braço de alavanca vai ser a distância<br />
perpendicular do eixo que é aplicado à força (FILHO, 2008).<br />
O torque serve como medida em análise de estudo de<br />
variáveis como, pico de torque concêntrico e excêntrico em<br />
determinada musculatura. O torque em indivíduos com osteoartrose<br />
de joelho está diminuído na forma concêntrica e excêntrica da força<br />
de quadríceps e isquiotibiais todavia o torque excêntrico é menos<br />
afetado pela patologia (MELO et al., 2008).<br />
A gonartrose é responsável por 50-60% de redução de<br />
torque máximo de quadríceps, aliado a dor e a rigidez muscular<br />
são determinantes da diferença de torque e trabalho isocinético<br />
nos pacientes portadores de gonartrose. Por isso, a diminuição<br />
de torque demonstra a perda de força muscular, principalmente<br />
em quadríceps, que pacientes com gonartrose apresentam o que<br />
leva a um desequilíbrio muscular e alteração funcional. Para<br />
geração de torque, movimento e de força, deve haver a ação das<br />
musculaturas agonistas e antagonistas que de forma recíproca e<br />
ordenada trabalhem para que estas ações aconteçam, tal fenômeno<br />
é denomindado de inervação recíproca (MELO et al., 2008).<br />
O agonista tem papel principal na execução do movimento<br />
e na manutenção de uma postura contraindo-se ativamente. Os<br />
antagonistas possuem ação anatômica oposta ao agonista regulando<br />
a potência ou a rapidez da ação. Usualmente os antagonistas não<br />
estão se contraindo e nem auxiliando ou resistindo ao movimento<br />
(ALBUQUERQUE, 2003).<br />
Somente os músculos que atuam sobre uma única articulação<br />
são considerados verdadeiros antagonistas. Os músculos que<br />
atuam sobre mais de uma articulação agem como antagonistas e<br />
outras vezes como sinergistas. A articulação do joelho tem como<br />
53
54<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
antagonista o reto femoral dos isquiotibiais, porém quando o<br />
quadril e joelho fletem simultaneamente o reto femoral funcionará<br />
como sinergista (ALBUQUERQUE, 2003).<br />
A potência funciona como a taxa de trabalho ou a produção<br />
de potência que descreve a intensidade do exercício. Através da<br />
compreensão do termo potência é que se consegue calcular o<br />
trabalho realizado e a eficiência do exercício associado (POWERS<br />
& HOWLEY, 2000).<br />
O mecanismo de contração muscular se dá pela<br />
movimentação dos filamentos de actina e miosina deslizando<br />
durante a contração muscular em decorrência da ação das<br />
numerosas pontes cruzadas que se estendem como “braços” a<br />
partir da miosina e se ligam à actina num “estado de ligação forte”<br />
(POWERS & HOWLEY, 2000). O aumento da concentração de<br />
cálcio citoplasmático termina o disparo da contração muscular.<br />
O sistema é controlado pela troponina e tropomiosina, proteínas<br />
que fazem parte do filamento fino. As fibras presentes no músculo<br />
são de contração rápida e lenta, independendo deste tipo de fibra a<br />
interação das proteínas que formam o músculo esquelético com seus<br />
diferentes tipos de íons, a molécula de ATP( adenosina trifosfato)<br />
e seus produtos de hidrólise promovem mudanças estruturais que<br />
levam a contração muscular (PINTO et al., 2004).<br />
A força da contração aumenta com a somação das<br />
contrações musculares. A força gerada pela contração de uma<br />
fibra muscular simples pode ser aumentada pelo incremento da<br />
velocidade (freqüência) com que os potenciais de ação estimulam<br />
a fibra muscular (SILVERTHORN, 2003).<br />
O treinamento físico rigoroso acarreta alterações nos tipos<br />
de fibra muscular. Tanto no treinamento de endurance quanto o
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
de resistência (peso) acarretam uma conversão das fibras rápidas<br />
em fibras mais lentas. A perda muscular passa por duas fases, uma<br />
lenta, em que 10% da massa é perdida entre os 25 e os 50 anos<br />
de idade, e uma rápida entre os 50 e os 80 anos onde ocorre uma<br />
perda adicional de 40%, portanto aos 80 anos metade da massa<br />
muscular total foi perdida. Ainda ocorre durante este processo a<br />
perda de fibras rápidas e o aumento de fibras lentas (POWERS &<br />
HOWLEY, 2004).<br />
A perda do trofismo e força não é observada somente nos<br />
idosos e inativos, mas também, por exemplo, em períodos de<br />
imobilização por gesso quando se percebe a redução do tamanho<br />
do músculo. Logo o músculo esquelético é um tecido altamente<br />
‘plástico’ que responde tanto ao uso quanto ao desuso. Embora<br />
o exercício regular não possa eliminar completamente a perda<br />
muscular relacionada à idade pode-se aumentar a endurance e a<br />
força muscular nos idosos de maneira similar à observada nos<br />
indivíduos jovens (POWERS & HOWLEY, 2004).<br />
O reforço muscular neste contexto tem papel relevante para<br />
garantia de músculos fortes que gerem melhora da estabilidade<br />
funcional articular e proprioceptiva proporcionando proteção<br />
articular, equilíbrio muscular, contração correta e movimento ideal<br />
do seguimento.<br />
No exercício isométrico nenhuma força externa é<br />
realizada, mas a energia é gasta de uma forma substancial. Este<br />
tipo de exercício aumenta a resistência vascular periférica de forma<br />
generalizada aumentando a pressão sanguínea sistólica e diastólica<br />
com pouco aumento no volume sistólico e no débito cardíaco, causa<br />
uma sobrecarga de pressão ao coração e os efeitos hemodinâmicos<br />
dependem de sua intensidade e também dos grupos musculares<br />
que serão trabalhados. Os exercícios isométricos produzem leve<br />
55
56<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
condicionamento cardiovascular e as alterações circulatórias<br />
podem ser prejudiciais aos cardiopatas (LIMA, 2007).<br />
Os exercícios isométricos trabalham de forma eficiente os<br />
músculos através de contração muscular que desenvolve tensão<br />
sem provocar a alteração do comprimento do músculo. Este tipo<br />
de exercício não provoca grande hipertrofia (aumento de massa<br />
muscular), mas desenvolve força em escala moderada. Seu<br />
benefício é de não comprometer a postura durante sua execução<br />
(SILVA, 1998).<br />
O aumento de força e de massa muscular é observado<br />
através deste tipo de exercício na reabilitação de problemas<br />
musculoesqueléticos, inclusive em pacientes que apresentem<br />
limitação articular como, por exemplo, os pacientes com gonartrose.<br />
Já que na isometria não existe solicitação de movimentos com<br />
amplitudes como os que são solicitados em exercícios mais<br />
dinâmicos (LIMA, 2007). O aumento de força irá depender do<br />
regime de treinamento, o tipo de ação muscular, a intensidade, o<br />
volume, o posicionamento, a ordem dos exercícios e o período de<br />
repouso entre as séries e freqüência (COUTRIN et al., 2008).<br />
Apesar dos inúmeros benefícios no ganho de força muscular<br />
o exercício isométrico ainda tem várias contra-indicações, pelo<br />
aumento abrupto que causa na pressão arterial, sendo indicado para<br />
pessoas que fazem também outro tipo de atividade física e que não<br />
possuem hipertensão (CAMARGO & SANTOS, 2007).<br />
O “isostreching” é uma técnica postural, desenvolvida na<br />
França na década de 70 que tem como função estabilizar o corpo<br />
através de posturas mantidas durante a expiração, com exercícios<br />
de alongamento e contrações isométricas simultâneas. Com essa<br />
técnica consegue-se melhorar a mobilização articular, tonifica-se
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
a musculatura, melhora-se a consciência corporal e das posições<br />
corretas da coluna e ainda o condicionamento respiratório. A<br />
postura e o equilíbrio serão consequentemente recuperados. O<br />
princípio básico do isostreching é fortalecer diferentes grupos<br />
musculares priorizando os profundos que dão sustentação à<br />
coluna vertebral, os abdominais, os glúteos, os dorso-lombares,<br />
quadríceps, depressores da escápula e rombóides (PERNOMIAN,<br />
2008).<br />
O “isostreching” trabalha de maneira benéfica por bloquear<br />
as rotações compensatórias, o que acontece com portadores de<br />
gonartrose, que perdem a mobilidade e a rotação, compensando<br />
os movimentos. O bloqueio é dado por uma forte contração<br />
muscular dos agonistas, fazendo com que aconteça o reforço, e o<br />
alongamento dos antagonistas. Pela dificuldade imposta ao corpo<br />
há o reforço muscular. A forma com que age na coluna, reforçando<br />
seus músculos profundos e tornando-a móvel e tonificada, faz com<br />
que mantenha uma retidão por contração de todos os músculos<br />
(REDONDO, 2001).<br />
O método DeLorme foi criada por Delorme em 1945<br />
e se baseia em exercícios resistidos com aumento progressivo<br />
de carga sobre o músculo, uma sobrecarga. Entre as diversas<br />
maneiras de formular o princípio da sobrecarga, de uma forma<br />
ampla, o desempenho muscular não pode ser melhorado a não<br />
ser que o músculo seja exigido além da capacidade diária usual.<br />
Basicamente, “a parte distal do membro movido pelo músculo<br />
ou grupo muscular a ser treinado é submetido a peso, de diversos<br />
modos” (RAMALHO et al., 2004).<br />
É um método que se baseia na quantidade de peso que<br />
se pode conduzir por toda a amplitude de movimento em dez<br />
repetições. Então se trata de um exercício de alta resistência em que<br />
57
58<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
os pesos são distribuídos de maneira que, na primeira série de dez<br />
repetições máximas, seja colocado 50% do peso, na segunda série<br />
de dez repetições máximas coloca-se 75% e na terceira colocase<br />
100%. As repetições são o número de execuções completas e<br />
contínuas do exercício (MATTOSO, 2006).<br />
A musculação orientada pode trazer inúmeros benefícios,<br />
esteticamente como modelação do corpo e a diminuição de<br />
gordura e ainda fisiologicamente com a geração de força muscular.<br />
Há melhora da circulação sanguínea, treino do coração, melhora<br />
da postura, aumento da flexibilidade, melhora da auto-estima, e<br />
na osteoartrite a musculatura fortalecida propicia estabilidade<br />
articular, promovendo menor desgaste entre os ossos (OLIVEIRA<br />
et al., 2008).<br />
A força é aumentada pela sustentação de carga, podendo<br />
ser benéfica no aumento de massa óssea e tem se demonstrado ser<br />
muito eficaz em pacientes com doenças articulares inflamatórias<br />
(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />
Para que o objetivo de ganho de força muscular em<br />
portadores de gonartrose seja atingido com sucesso uma alternativa<br />
bastante válida é a musculação de forma orientada. Pois irá ser<br />
direcionado o treino para cada praticante, levando em consideração<br />
suas condições de saúde e suas restrições posturais. Percebe-se<br />
que os exercícios orientados são um trabalho quase que completo<br />
no corpo, de forma uniforme, se bem orientado, fortalecendo,<br />
condicionando e consequentemente melhorando as articulações,<br />
o equilíbrio, a propriocepção e amplitude de movimento<br />
(CAMARGO, 2008).<br />
No método Pilates é preconizado o condicionamento<br />
físico e mental, trabalhando dessa forma o corpo globalmente.
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
Desenvolvido por Joseph Pilates em 1920, através de um<br />
equipamento específico e um método para balancear e fortalecer os<br />
músculos e articulações. São exercícios que focalizam a melhora<br />
da flexibilidade e a força total do corpo sem a hipertrofia da<br />
musculatura. É usado como condicionamento físico, reabilitação<br />
e a busca pelo bem-estar físico e mental entre pessoas de todas as<br />
idades (BARRA, 2007).<br />
O método propicia melhora da circulação, do<br />
condicionamento físico geral, da flexibilidade, da amplitude<br />
muscular e do alinhamento postural adequado, melhorando<br />
também os níveis de conscientização corporal e coordenação<br />
motora. Mostra-se muito eficiente no alívio de dores crônicas,<br />
diminui o risco de lesões, fortalecendo, alongando e equilibrando<br />
a musculatura ajudando a preparar a reabilitação de áreas com<br />
fraqueza muscular (PEREIRA et al., 2008).<br />
Com a prática de Pilates, percebe-se que se tem, em relação<br />
as outras atividades, uma maior manipulação da gravidade, da<br />
base de sustentação, do comprimento das alavancas e do centro<br />
de gravidade, o praticante mostra-se muito mais apto a facilitar os<br />
movimentos adequados com menor esforço, menor fadiga e maior<br />
conservação da percepção do movimento. É um método bastante<br />
eficaz em diagnósticos como distúrbio neurológico e reumático,<br />
problemas pediátricos e ortopédicos e aspectos relacionados com a<br />
saúde da mulher, visando melhorar o desempenho (DAVIS, 2006).<br />
A hidroterapia é um dos recursos para o tratamento de<br />
portadores de gonartrose, podendo ser realizado em piscinas,<br />
tanque de Hubbard e balneários. A piscina pode ser profunda, em<br />
banheiras com redemoinhos de água, banhos de contraste e duchas<br />
escocesas onde se alterna água quente e fria (CAMPION, 2000).<br />
59
60<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
A água possui propriedades que auxiliam no tratamento<br />
da osteoartrite de joelho. Em águas aquecidas, a temperatura de,<br />
em média, 36° estimula o relaxamento muscular e alivia a dor das<br />
articulações. A flutuação promove a diminuição da sobrecarga<br />
articular, ajudando com que os exercícios de fortalecimento sejam<br />
feitos sem a compressão óssea, logo, não há dor. A viscosidade,<br />
fricção e tensão superficial causam resistência ao movimento<br />
promovendo aumento da força muscular (CAROMANO &<br />
CANDELORO, 2001).<br />
Nesse método, o terapeuta fornece estabilidade para o<br />
paciente e a posição de suas mãos influencia na movimentação<br />
do paciente e na quantidade de trabalho isométrico e isotônico<br />
realizado. Pode-se conseguir a irradiação dos músculos mais fortes<br />
para os que se encontram mais fracos (SKINNER & THOMSON,<br />
2000).<br />
O método “Qi Gong” é uma terapia alternativa que faz a<br />
conexão entre corpo e mente. Constituída por um grupo de técnicas<br />
da especialidade da medicina energética, baseando-se que a cura<br />
do corpo depende de um equilíbrio de energia vital, da mente<br />
tranqüila e das emoções controladas. Semelhante aos exercícios de<br />
Tai Chi, com movimentos lentos, posturas controladas e isentas<br />
de impacto que deslocam e estimulam o centro de gravidade do<br />
corpo, mostram-se benéficos ao fortalecimento, principalmente em<br />
portadores de gonartrose que apresentam limitações de movimento<br />
e devem evitar a impactação articular (DAVIS, 2006).<br />
O biofeedback refere-se a integração da mente e do corpo,<br />
significando “retroalimentação da vida”, utilizando eletronicamente<br />
as informações emitidas pelo corpo para que o indivíduo perceba<br />
o que está acontecendo dentro do seu cérebro, do sistema nervoso<br />
e de seus músculos, transmitindo sinais imediatos e contínuos das
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
alterações corporais que ele nem percebe, como pressão arterial,<br />
atividade das ondas cerebrais ou tensão muscular. O Biofeedback<br />
mensura, por um aparelho, uma resposta fisiológica melhorando<br />
o componente sensorial de um mecanismo de retroalimentação<br />
(feedback), para que a sensibilidade compensada e a força perdida,<br />
forneçam respostas apropriadas, com uma associação nova entre<br />
estímulo e resposta (BOTTOMLEY apud DAVIS, 2006).<br />
Este método é amplamente utilizado na reeducação<br />
muscular, para que o paciente visualize o movimento, muitas<br />
vezes nas amplitudes que ele não consegue mais realizar, como<br />
nos casos em que a musculatura está fraca. Pode ser colocado em<br />
músculos normais ou no correspondente da extremidade saudável,<br />
realizando os movimentos em todas as amplitudes ou a contração e<br />
o relaxamento para ajudar a preparar o paciente para trabalhar com<br />
o músculo ou grupo muscular que foi afetado, ensinando o paciente<br />
a ler o medidor e a ouvir os “sons musculares” (DAVIS, 2006).<br />
Durante a aplicação do aparelho para ajudar a resposta<br />
do paciente, podem ser aplicadas todas as formas de exercício,<br />
facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e o posicionamento<br />
corporal, para que se alcance o objetivo de recrutar as unidades<br />
motoras que estão funcionais. Em um músculo enfraquecido<br />
existe o mesmo número de unidades motoras do que em outro<br />
músculo não considerado fraco, mas, o que difere é estes tem<br />
menor atividade muscular quando comparada com as milhares<br />
de unidades recrutadas de uma musculatura normal. Por isso no<br />
biofeedback é enfatizada a atividade potencial das unidades de um<br />
músculo aparentemente paralisado. Após o recrutamento dessas<br />
unidades motoras o movimento voluntário é realizado com mais<br />
precisão, e na medida em que progressivamente vão melhorando o<br />
biofeedback vai sendo tirado gradualmente. Trata-se então de um<br />
61
62<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
aparelho auxiliar na função do fortalecimento para detectar qual<br />
a capacidade do músculo ou grupo muscular, para que seja então<br />
realizado um programa adequado e mais eficaz de fortalecimento<br />
(DAVIS, 2006).<br />
O método Kabat ou FNP desenvolvido nos Estados<br />
Unidos pelo Dr. Kabat consiste no uso de padrões funcionais de<br />
movimento para aceleração das respostas neuromusculares, em<br />
que o fisioterapeuta dá vários estímulos sensoriais para facilitar<br />
o movimento, como pressão e toque com as mãos sobre o corpo<br />
e no sentido do movimento, estiramento rápido do músculo a ser<br />
estimulada (facilitado), tração ou compressão conforme objetivo e<br />
comando de voz do fisioterapeuta para estímulo ao movimento. A<br />
técnica pode ser utilizada para início de contração, fortalecimento<br />
muscular, aumentar a mobilidade e melhorar a coordenação motora<br />
(FAVARÃO & PIERETTI, 2004).<br />
Os padrões de facilitação neurofuncional proprioceptiva<br />
(FNP) de fortalecimento utilizados para joelho são os que destacam<br />
a rotação tibial manualmente resistidos, essenciais para o treino da<br />
função normal. Os movimentos são realizados em cadeia cinética<br />
aberta, devendo incluir apenas contração ativa, utilizando o padrão<br />
de movimento funcional. Padrões resistidos são feitos em períodos<br />
em que o músculo já está mais fortalecido Os exercícios são<br />
feitos sempre em diagonais, seguindo os movimentos funcionais,<br />
em todos os ângulos que a articulação permite (PRENTICE &<br />
VOIGHT, 2003).<br />
A vantagem do FNP/Kabat é que a parte mais forte da<br />
musculatura fortalece as debilitadas e por serem atividades<br />
alternadas a fadiga demora mais tempo para ocorrer. A posição<br />
em alongamento é o estímulo de estiramento, o contato manual é<br />
o estímulo visual, ainda conta com o estímulo verbal e a máxima
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
resistência é a seqüência de movimento. A contração gera o<br />
movimento, trabalha função, gerando atividade (PRENTICE &<br />
VOIGHT, 2003).<br />
A corrente Russa trata-se de uma corrente elétrica bifásica,<br />
com ciclo positivo e negativo, possui uma corrente portadora de<br />
2500 Hertz ou 4000 Hertz, agindo diretamente no sistema nervoso<br />
periférico, diminuindo a sensibilização do paciente, possibilitando<br />
que sejam aplicadas maiores valores de corrente. A corrente ainda<br />
tem uma freqüência de ação muscular, podendo ser trabalhado<br />
em vários tipos de fibras, dando maior resultado na hipertrofia<br />
muscular (FILHO, 2003).<br />
Para que seja escolhida a freqüência adequada no objetivo<br />
do tratamento é preciso conhecer as fibras que serão estimuladas.<br />
Como com o enfraquecimento perdemos mais fibras rápidas<br />
(contrações fortes e rápidas, com fadiga rápida) e aumentam as<br />
fibras lentas (resistentes à fadiga, mas necessitam maior tempo<br />
para gerar força) é preciso escolher dentro da corrente russa<br />
a estimulação correta para nossos objetivos. À medida que a<br />
intensidade da estimulação elétrica aumenta mais fibras musculares<br />
são estimuladas, dando lugar a contrações mais fortes. O trabalho<br />
se torna muito mais eficaz se, junto com a corrente elétrica, for<br />
realizada contração muscular ativa contra uma resistência. As<br />
fibras musculares tônicas e fásicas devem ser estimuladas para que<br />
se obtenha um trabalho muscular mais efetivo. Porém dependendo<br />
do objetivo funcional é que se determina qual delas deve ser<br />
priorizada. No caso dos portadores de gonartrose enfatizam-se as<br />
fibras fásicas, responsáveis pelas contrações rápidas e potentes que<br />
atuarão diretamente no fortalecimento do quadríceps. (PRENTICE<br />
& VOIGHT, 2003).<br />
63
4 CoNCLuSÃo<br />
64<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
Dentre os benefícios do reforço muscular em portadores<br />
de gonartrose estão: a redução de alterações funcionais, a<br />
facilitação das atividades diárias, a redução da dor, o aumento de<br />
amplitude de movimento e força muscular e a melhora da postura<br />
e do condicionamento físico. O tratamento fisioterapêutico varia<br />
de acordo com cada caso, dependendo do estágio clínico da<br />
articulação, porém sempre objetiva o ganho de função sem geração<br />
de estresse articular.<br />
Uma das causas mais significativas que levam a gonartrose<br />
é a fraqueza muscular, causada por diversos fatores gerados pelo<br />
sedentarismo, pela obesidade e pelo desequilíbrio muscular que<br />
podem ser reforçadas através de posturas erradas e de atividades<br />
realizadas de forma inadequada.<br />
A partir, do estudo anatômico e fisiopatológico da articulação<br />
do joelho bem como das teorias fundamentais da fisiologia do<br />
exercício pode-se chegar à análise dos recursos fisioterapêuticos<br />
que beneficiam o fortalecimento e que podem prevenir ou retardar<br />
os agravos da gonartrose.<br />
Através dos mecanismos fisiológicos da contração muscular<br />
durante o exercício, fica evidente o papel do cálcio na geração de<br />
força sendo que sua falta é, portanto, um fator desencadeante da<br />
fraqueza muscular e conseqüente desequilíbrio que pode gerar a<br />
gonartrose.<br />
Os tipos de exercícios, de acordo com cada músculo,<br />
podem favorecer o fortalecimento, acelerando os benefícios<br />
que o mesmo proporciona frente à gonartrose. Como no caso da
oS BENEFÍCioS Do rEForÇo muSCuLAr Em PorTADorES DE GoNArTroSE<br />
contração tipo isotônica que aumenta a resistência e a isocinética<br />
que vai proporcionar ao paciente graduar a mesma.<br />
Entre os apresentados, o método DeLorme foi o que menos<br />
pareceu viável já que necessita de um elevado tempo de duração<br />
para que seja realizado, apresenta a utilização de cargas com<br />
pesos indefinidos, exige alta resistência do indivíduo praticante,<br />
além de serem restritas a alguns usuários em vistas as suas contraindicações.<br />
O Biofeedback foi considerado um auxílio para que os<br />
exercícios dentro de cada técnica sejam mais bem aproveitados e<br />
indique qual a deficiência ou a condição da musculatura trabalhada.<br />
Tem grande importância para a reeducação dos pacientes e treino,<br />
mas nem sempre é um recurso disponível ao paciente.<br />
A busca de recursos fisioterapêuticos para o fortalecimento<br />
muscular na gonartrose fez com que se levantasse uma gama<br />
de técnicas indicadas para a patologia, porém as que parecem<br />
trazer mais benefícios são aquelas que combinam movimentos,<br />
englobando as atividades funcionais e atingindo de forma<br />
uniforme a musculatura. Por isso percebe-se que a musculatura dos<br />
joelhos deve ser priorizada, mas não deve ser esta apenas o foco<br />
reabilitativo, uma vez que toda musculatura de forma global deve<br />
ser estimulada. As técnicas que se enquadraram nestes quesitos<br />
foram: os exercícios isométricos, o Isostreching, a musculação, o<br />
método Pilates, a hidroterapia, o método Qi Gong, o método Kabat<br />
ou FNP e a corrente russa.<br />
Portanto, apesar de algumas mudanças fisiológicas na<br />
articulação não poderem ser evitadas, o fato de as conhecêlas<br />
através da sua fisiopatologia e dos recursos fisioterapêuticos<br />
disponíveis mais utilizados abre caminhos para criação de um<br />
65
66<br />
TAVArES, ALiNE FrÓES – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
tratamento preventivo ou curativo mais efetivo que impeça o avanço<br />
da gonartrose. O reforço muscular efetivo pode ser conquistado<br />
através de um enfoque personalizado as necessidades do paciente e<br />
adaptado ao seu estilo de vida.<br />
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o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS<br />
DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
rESumo<br />
BeZeRRA, JULiAne PUKALL 1<br />
gOMeS, THAiS dO nASCiMenTO 2<br />
Este estudo foi sancionado pelo uso da técnica<br />
de estabilização central pélvica no tratamento da<br />
dor lombar. A dor lombar tem causas multifatoriais<br />
podendo levar a desgastes físicos, emocionais<br />
e funcionais prejudicando na qualidade de vida.<br />
Neste estudo que tem por objetivo conhecer como<br />
a estabilização central pélvica pode ser eficaz no<br />
tratamento da dor lombar a investigação se dá através<br />
das alterações que desequilibram a musculatura<br />
extensora e flexora do tronco e como os músculos<br />
paravertebrais e abdominais podem auxiliar na<br />
estabilização e sustentação da coluna lombar para<br />
uma movimentação ampla e saudável. O tratamento<br />
da dor lombar através da estabilização central pélvica<br />
visa trabalhar com o equilíbrio estático e dinâmico nas<br />
1 Fisioterapeura, pós-graduanda em Fisioterapia Dermatofuncional<br />
2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituro Cenecista do Ensino Superior,<br />
Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia, Especialista em<br />
Saúde Pública, Especialista em Docência para o Ensino Superior e Mestre em Educação nas<br />
Ciências.<br />
69
70<br />
BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
disfunções musculoesqueléticas. O estudo evidenciou<br />
que a estabilização central pélvica pode permitir que<br />
seu praticante retorne suas atividades diárias em um<br />
nível alto de funcionalidade, melhorando o controle<br />
postural, o sistema neuromuscular, garantindo o<br />
equilíbrio da musculatura do tronco e abdominal.<br />
Palavras–Chave: Dor Lombar, Estabilização Central<br />
Pélvica e Método Pilates.<br />
ABSTrACT<br />
The present research was sanctioned by using the<br />
central pelvic stabilization technique on back pain<br />
treatment. Back pain has multi-factorial causes that can<br />
lead to physical, emotional and functional consuming,<br />
which affects life quality. This research finding out<br />
how central pelvic stabilization may be efficacious<br />
for the treatment of back pain which is investigated<br />
through changes that unbalance the torso´s extensor<br />
and flexor musculature with paravertebral and<br />
abdominal muscles that must support the stabilization<br />
and sustentation of the spinal tap for wide and healthy<br />
movements. Back pain treatment through central<br />
pelvic stabilization aims at working with the static and<br />
dynamic muscular distemper which occours muscle/<br />
boné related dysfunctions. The torso´s musculature<br />
interacts with others structures forming a dynamic<br />
system offering strength, stability and dynamic
1 iNTroDuÇÃo<br />
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
balance. The research showed that the central pelvic<br />
stabilization enables the person to return to his/her<br />
daily activities in a highly functional level improving<br />
postural control and neuromuscular system which<br />
assures torso and abdominals muscular balance.<br />
Keywords: Back Pain, Central Pelvic Stabilization,<br />
Pilates Method.<br />
Atualmente diversos estudos vêm demonstrando<br />
preocupação com distúrbios relacionados à coluna lombar. Notase<br />
que cerca de 2,4% (homens) e 1,7% (mulheres) da população<br />
economicamente ativa já presenciou ou presencia episódios de<br />
algias lombares. A dor instalada de forma contínua ou por longos<br />
períodos facilita o desenvolvimento de distúrbios psicomotores<br />
podendo vir acompanhado de outros sintomas como: desconforto,<br />
fadiga e rigidez articular (SILVA et al., 2004; REINEHR et al.,<br />
2008).<br />
Das diversas técnicas utilizadas pela fisioterapia no<br />
tratamento da dor lombar as que se baseiam na estabilização<br />
central pélvica objetivam fortalecer o centro de força ou “power<br />
house” que é constituído por grupos musculares da região da<br />
cintura pélvica que se estendem da base das costelas até a região<br />
inferior da pelve e que geram um regime preventivo e terapêutico<br />
essencial para o alívio da dor lombar. Esse centro localiza-se junto<br />
ao centro de gravidade corporal e fornece através de sua ação uma<br />
“cinta muscular” que trabalha estabilizando a coluna, o tronco e os<br />
movimentos dos membros (REINHER et al., 2008).<br />
71
72<br />
BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
Os músculos paravertebrais e abdominais devem manter-se<br />
equilibrados com as demais estruturas para que constitua um sistema<br />
dinâmico que forneça força, estabilidade e auxilie na estabilização<br />
e sustentação da coluna lombar em uma movimentação ampla e<br />
saudável.<br />
Este estudo buscou investigar os mecanismos utilizados<br />
pela estabilização central pélvica através da análise de seu<br />
funcionamento, de suas inter-relações com a dor lombar e com<br />
o desequilíbrio muscular estático e dinâmico da musculatura do<br />
tronco.<br />
2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />
O estudo desenvolveu-se como uma pesquisa bibliográfica<br />
baseado em artigos científicos, livros e demais periódicos a cerca<br />
do tema.<br />
3 DiSCuSSÃo<br />
A coluna lombar auxilia o corpo humano a adaptar-se<br />
funcionalmente como um pilar de suporte oferecendo equilíbrio<br />
estático e dinâmico para a musculatura do tronco. As estruturas<br />
que a compõem suporta uma pressão permanente que é amortecida<br />
pelas forças gravitacionais que se formam neste local através do<br />
centro de gravidade corporal (PALASTANGA et al. 2000; HORRE<br />
& DALLEY, 1999).<br />
As concavidades da coluna vertebral têm a função de<br />
sustentar grandes cargas compressivas. As vértebras, os discos<br />
intervertebrais, ligamentos, articulações e músculos interagem
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
formando uma estrutura dinâmica promovendo ao corpo humano<br />
movimento em diversas dimensões (CANAVAN, 2000)<br />
A musculatura encurtada ou enfraquecida vai restringir a<br />
capacidade da pelve e da região lombar em manter seu alinhamento<br />
correto causando déficit no desempenho funcional e físico devido<br />
ao efeito dos músculos em suas fixações (DILLMAN, 2004).<br />
Os músculos do tronco, principalmente os músculos<br />
transverso do abdômen e multífido lombar, devem fornecer<br />
endurece, força e resistência suficiente para uma ótima eficácia<br />
do sistema musculoesquelético (CRAIG, 2000; HODGES &<br />
MOSELEY, 2003).<br />
Segundo O’Sulivan, o multífido lombar e o transverso do<br />
abdômen tem com funções:<br />
O músculo multífido fornece controle dinâmico para o<br />
movimento segmentado na zona neutra. E o transverso<br />
do abdômen auxilia na manutenção da pressão intraabdominal,<br />
agindo em co-contração com o multifidio<br />
lombar através do seu apego toracolombar (2002, p.6).<br />
A dor lombar é uma resposta adaptativa e protetora ao<br />
estresse imposto a coluna vertebral e que se reflete através de<br />
resposta irritável dos músculos quando realizam movimentos<br />
rápidos de torção ou de levantamento causando déficit funcionais<br />
(DUFOUR, 2004). Vários são os mecanismos de resposta do<br />
organismo à dor além das alterações na excitabilidade do sistema<br />
motor como a reação do sistema sensorial e nervoso central<br />
(HODGES & MOSELEY, 2003).<br />
Muitos pacientes com dor lombar apresentam diminuição<br />
da contração dos músculos do tronco, dos discos intervertebrais, do<br />
73
74<br />
BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
controle muscular e um maior depósito de gordura na região lombar<br />
(PARKKOLA et al., 1993). A atividade elétrica em pacientes com<br />
dor lombar apresenta-se aumentada e a fadiga dos eretores da<br />
espinha mostram-se evidentes. Ocorre a perda da mobilidade no<br />
segmento L5 e S1 com o aumento subseqüente na mobilidade de<br />
outros segmentos (DUFOUR, 2004).<br />
A instabilidade lombar é uma evidente alteração encontrada<br />
em indivíduos com dor lombar (HODGES & GANDEVIA, 2000).<br />
Sendo definida por Bisschop:<br />
É um prejuízo na capacidade do sistema estabilizador da<br />
coluna lombar em manter a zona neutra da amplitude do<br />
movimento de um segmento dentro dos limites fisiológicos.<br />
Que muitas vezes pode alterar-se devido a um desequilíbrio<br />
muscular (2003, p. 122).<br />
Por isso a co-contração da musculatura extensora e flexora<br />
do tronco antagonista é imprescindível para possibilitar uma<br />
estabilidade mecânica à coluna lombar para manter-se em uma<br />
posição neutra (CHOLEWICKI et al., 1997).<br />
A estabilização central pélvica ocorre pelo controle<br />
mecânico articular onde os músculos agem como limitadores e<br />
controladores dos movimentos evitando desequilíbrios musculares,<br />
padrões de distorção, dominância sinérgica e adequando o controle<br />
postural dinâmico ideal para a realização dos movimentos<br />
funcionais (PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />
O mecanismo utilizado na estabilização central é a<br />
concentração que ajuda o sistema nervoso central (SNC) na<br />
solicitação dos músculos adequados para a realização das atividades
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
funcionais promovendo ativação antecipatória dos músculos<br />
profundos, aperfeiçoando a estabilidade lombar ocasionando alívio<br />
da dor (GUEDES, 2000).<br />
A estabilização ocorre por três sistemas: sistema passivo,<br />
ativo e neural que devem manter-se em equilíbrio e interligado<br />
trabalhando a conscientização corporal para que as estruturas<br />
forneçam estabilizações necessárias para a movimentação. Sendo<br />
assim, a estabilização central pélvica visa fortalecer o centro de<br />
força ou “power house” prevenindo ou tratando a dor lombar<br />
(GUEDES, 2000). A contração dos músculos do tronco deve<br />
ser aprendida com certo nível de consciência uma vez que estes<br />
músculos agem de forma involuntária (LIEBENSON, 2000).<br />
O treino muscular para garantia da estabilidade deve estar<br />
associada a posição neutra da pelve, ou seja, a pelve não deve estar<br />
nem na anteversão ou na retroversão pélvica, mas neutra a estas<br />
duas posições. A amplitude de movimento fisiológica total durante<br />
o treino divide-se em duas zonas: a zona neutra que corresponde<br />
a posição inicial da amplitude de movimento contra o mínimo<br />
de resistência e a zona elástica que é a porção da amplitude de<br />
movimento mais próxima a amplitude final dentro da zona neutra<br />
com uma resistência interna maior (PALASTANGA, 2000).<br />
A estabilização central pélvica divide-se em cinco estágios<br />
com níveis progressivos de dificuldade conforme a consciência<br />
corporal do indivíduo. Gradualmente a contração deve ser<br />
mantida por 6, 10 e 20 segundos para que após seja aumentado<br />
o número de repetições e evolução para o próximo estágio. O<br />
estágio I os exercícios dão ênfase no recrutamento de músculos<br />
abdominais, glúteos, posteriores de coxa e transverso do abdômen,<br />
sem anterversão ou retroversão pélvica durante as contrações.<br />
Envolvem neste primeiro estágio exercícios como a ponte, flexão<br />
lateral, cinturão abdominal. No estágio II ocorrem os exercícios<br />
75
76<br />
BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
de correção do desequilíbrio de força e resistência muscular,<br />
progredindo os exercícios do estágio I com maior nível de<br />
exigência. No estágio III o objetivo é a reeducação dos músculos<br />
estabilizadores abdominais e escapulares em cadeia cinética, com<br />
exigência ainda maior que a anterior. O estágio IV se dá através de<br />
exercícios avançados de estabilização dinâmica onde se incluem os<br />
exercícios pliométricos (REINEHR et al., 2008).<br />
Através da orientação das fibras musculares a contração<br />
do músculo transverso do abdômen resulta na diminuição da<br />
circunferência abdominal causando aumento da tensão na fáscia<br />
toracolombar e aumento da pressão intra-abdominal. Por isso<br />
a compressão axial e as forças de cisalhamento são reduzidas e<br />
transmitidas por uma área maior, tornando a região lombar mais<br />
estável durante o levantamento de cargas externas. Portanto o<br />
fortalecimento dos músculos que constituem o “centro” pode<br />
dar maior estabilidade à coluna atuando como se fosse uma<br />
“plataforma biomecânica” que se tornando mais sólida e eficiente<br />
e ajusta os músculos periféricos ligados a coluna lombar e a pelve<br />
distribuindo as forças na pelve e nos membros inferiores (HODGES<br />
& MOSELEY, 2003).<br />
A reabilitação musculoesquelética tradicional enfatiza a<br />
mecânica articular isolada com a melhora da ADM, flexibilidade,<br />
aumento da força e da resistência muscular, ao invés de trabalhar<br />
as informações aferentes obtidas pelas articulações que são<br />
processadas pelo sistema de controle postural. Recentemente temse<br />
dado ênfase as modalidades cinesioterapêuticas que enfatizam<br />
o treino proprioceptivo destacando o sistema neural da articulação<br />
(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />
Dentre os recursos cinesioterapêuticos que auxiliam<br />
no reequilíbrio muscular e na normatização dos músculos do<br />
tronco através da estabilização central estão: o método Pilates,
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
a contrologia, o alongamento pós-facilitação e os exercícios<br />
específicos em cadeia cinética funcional.<br />
O Método Pilates utiliza exercícios que favorecem o<br />
trabalho dos músculos estabilizadores, promovendo a eliminação<br />
da tensão excessiva em certos grupos musculares evitando dessa<br />
forma as compensações causadas por desequilíbrios musculares<br />
(CRAIG, 2005; GUEDES, 2000; DAVIS, 2006; FERNANDES,<br />
2006).<br />
A atividade harmônica entre músculos locais e globais<br />
permite a estabilização da coluna lombar. Estudos evidenciam<br />
que o músculo transverso do abdômen é o primeiro a ser ativado<br />
durante os movimentos do tronco e membros tendo ação sinergista<br />
e adotando uma reação antecipatória aos movimentos produzindo<br />
assim a firmeza necessária à coluna lombar. A desativação deste<br />
músculo-chave pode gerar desequilíbrios musculares importantes<br />
e consequentemente levar à dor (PEREIRA et al., 2008).<br />
O alongamento pós-facilitação utiliza no tratamento de<br />
músculos encurtados através de contração isométrica sustentada<br />
durante 7 segundos seguida de 12 segundos de alongamento<br />
(HAMMER, 2003). Este tipo de modalidade reabilitativa pode<br />
auxiliar na reequilibração muscular beneficiando a estabilização<br />
central.<br />
A reabilitação em cadeia cinética funcional que visa<br />
melhorar a capacidade do sistema nervoso central (SNC) de<br />
permitir que os músculos agonistas, antagonistas, sinergistas,<br />
estabilizadores e neutralizadores atuem de forma eficiente para<br />
manter-se em equilíbrio e por isso pode ser um método coadjuvante<br />
ao da estabilização central (PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />
As modalidades que derivam da estabilização central<br />
pélvica ou a associam durante os exercícios proporcionam<br />
77
78<br />
BEZErrA, JuLiANE PuKALL – GomES, THAiS Do NASCimENTo<br />
benefícios sem prejudicar a flexibilidade, enfatizando a contração<br />
isotônica (concêntrica e excêntrica) e isométrica nos músculos do<br />
tronco e abdominais que formam o centro de força (GUEDES,<br />
2000). Pelo fato de desenvolverem a conscientização corporal<br />
aprimorando o seu desempenho em tarefas funcionais, melhorando<br />
1<br />
o condicionamento físico, a capacidade cardiovascular e a reeducando<br />
1<br />
a respiração diafragmática. Por isso pode ser um excelente recurso<br />
indicado no controle da dor lombar (TEIXEIRA, 2004).<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
Através do presente estudo pode-se constatar que o<br />
desequilíbrio muscular e a deficiência do controle neuromuscular<br />
ocasionados na musculatura extensora e flexora do tronco são<br />
uma das mais importantes causas dos distúrbios que ocorrem<br />
na coluna lombar e que por sua conseqüência levam a dor desta<br />
região. Para manterem-se funcionais estes músculos devem estar<br />
fortes e capazes de fornecer sustentação a pelve e a coluna lombar<br />
auxiliando também na proteção e suporte as demais estruturas.<br />
A estabilização central pélvica se dá pelo controle<br />
mecânico articular, através da contração muscular isométrica<br />
considerando como um centro de força que estabiliza a coluna e<br />
conseqüentemente aliviando a dor. Assim a técnica visa manter ou<br />
restabelecer um centro neuromuscular integro fornecendo força e<br />
resistência para impedir movimentos compensatórios.<br />
Portanto a estabilização central pélvica permite que o<br />
indivíduo em tratamento retorne as suas atividades diárias em um<br />
nível alto de funcionalidade, melhorando todo o sistema postural,<br />
neuromuscular e reequilibrando a musculatura que dá suporte e<br />
sustentação a coluna lombar consequentemente diminuindo a dor e<br />
permitindo a normatização da estabilidade lombar.
5 rEFErÊNCiAS<br />
o TrATAmENTo DA Dor LomBAr ATrAVÉS DA ESTABiLiZAÇÃo CENTrAL PÉLViCA<br />
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58, 2004.
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA<br />
DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
rESumo<br />
nASCiMenTO, gABRieLA Lied 1<br />
No Brasil e no mundo, o número de idosos vem<br />
aumentando consideravelmente, fenômeno<br />
acompanhado pela crescente incidência e prevalência<br />
de doenças típicas da terceira idade, dentre elas a<br />
Doença de Alzheimer (DA), que é uma das principais<br />
causas de demência e fator resultante de diversas<br />
incapacidades físicas e mentais. Acredita-se na<br />
necessidade de encontrar meios preventivos para<br />
esta patologia, especialmente através da prática de<br />
exercícios físicos. O presente estudo caracterizase<br />
por uma revisão bibliográfica de artigos e livros<br />
publicados de 1995 a 2008, em língua portuguesa<br />
e inglesa, sobre a prevenção da DA e a ação dos<br />
exercícios físicos na sua prevenção, com o objetivo<br />
de avaliar se seriam benéficos ou não. Com base<br />
no estudo realizado, observou-se que a inatividade<br />
física é considerada um fator de risco para a DA.<br />
1 Fisioterapeuta, pós-graduanda em Docência para o Ensino Superior e em Fisioterapia<br />
em Uroginecologia. Formanda no Método Pilates.<br />
81
82<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
Assim sendo, o exercício físico, quando praticado<br />
regularmente, pode amenizar o declínio cognitivo<br />
a longo prazo. Dentre os efeitos do exercício físico<br />
sobre a função cognitiva, destaca-se a redução da<br />
formação de placas de proteína β-amilóide no cérebro,<br />
o que é relevante na abordagem preventiva da DA.<br />
Quanto maior for a demanda cognitiva exigida através<br />
do exercício, melhores serão os resultados. Concluiuse<br />
que o exercício físico regular pode prevenir a DA,<br />
quando praticado a longo prazo e, anteriormente<br />
a um comprometimento cognitivo leve ou algum<br />
tipo de demência. Características individuais como<br />
a predisposição genética para a DA e o histórico<br />
familiar também devem ser levados em conta nessa<br />
intervenção preventiva. Espera-se que esse estudo<br />
possa servir de estímulo a novas investigações que<br />
venham contribuir para a atuação da fisioterapia<br />
preventiva e para a qualidade de vida dos idosos.<br />
Palavras-chave: Exercício físico, prevenção, Doença<br />
de Alzheimer, cognição, idoso.<br />
ABSTrACT<br />
In Brazil and worldwide, the number of elderly people<br />
is considerable increasing, it’s a phenomenon followed<br />
by the growing incidence and prevalence of typical<br />
diseases in the third age, between then the Alzheimer<br />
disease (AD), that it’s one of the main causes of
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
dementia and resulted factor of several physical<br />
and mental incapacity. It’s believed on the need to<br />
find prevented resources for this disease, specially<br />
through the practice of physical exercises. The<br />
present study characterizes by a bibliographical<br />
review of articles and published books from 1995 to<br />
2008, in Portuguese and English languages about<br />
the prevention of AD and the action of the physical<br />
exercises in its prevention, with the aim of evaluating<br />
whether or not would be beneficial. Basing in the<br />
took place study we could observe the physical need<br />
is considered a risk factor to the AD, in such case,<br />
the physical exercises when practiced regularly can<br />
reduce the cognitive decline in a long term. Between<br />
the effects of the physical exercise on the cognitive<br />
function, it stands out the reduction of the β-amyloid<br />
protein plates in the brain, that is relevant in the<br />
preventive approach of the AD. Bigger the cognitive<br />
contest demanding through the exercise, better<br />
the results. It concluded that the regular physical<br />
exercises can prevent the AD, when practiced in long<br />
term and previously to a light cognitive commitment<br />
or some kind of dementia. Individual characteristics<br />
as the genetic predisposing to the AD and the familiar<br />
historic also must be checked on this preventive<br />
intervention. It’s hopped that this study can serve as<br />
a stimulus to new investigations that will contribute to<br />
the preventive physiotherapy performance and to the<br />
life quality of the elderly.<br />
83
1 iNTroDuÇÃo<br />
84<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
Key-words: Physical exercise, prevention, Alzheimer<br />
disease, cognition, elderly.<br />
Nos últimos anos, com a queda da natalidade e o aumento da<br />
expectativa de vida, várias populações do mundo vêm apresentando<br />
um aumento considerável do número de idosos, fenômeno que<br />
também vem ocorrendo no Brasil. De fato, pesquisas concluem<br />
quanto à ocorrência futura de uma duplicação do número de idosos,<br />
aumentando assim, portanto, o universo de pessoas portadoras de<br />
incapacidades físicas e mentais.<br />
Além disso, uma das doenças que causam incapacidades<br />
físicas e mentais em idosos é a Doença de Alzheimer (DA). Ser<br />
uma das principais causas de demência da população idosa é o<br />
que motivou eleger-se esta patologia como enfoque principal do<br />
presente estudo.<br />
Delimitou-se esta pesquisa à investigação da ação dos<br />
exercícios físicos na prevenção deste distúrbio, com o objetivo<br />
de avaliar se seriam benéficos ou não. Desta forma, estabeleceuse<br />
como problema da pesquisa o seguinte questionamento: a<br />
realização de exercícios físicos de forma regular pode prevenir a<br />
DA?<br />
Através deste estudo, pretende-se identificar se há<br />
benefícios dos exercícios físicos para a saúde mental e cognitiva<br />
dos idosos. Inicialmente esta revisão irá identificar os fatores de<br />
risco para a DA, discutir a sua fisiopatogenia e conhecer os efeitos<br />
neurofisiológicos dos exercícios físicos no idoso.
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
A relevância da elaboração de pesquisas com a temática<br />
DA é justificada quando se considera o aumento progressivo na<br />
prevalência da DA com a idade, bem como o crescimento da<br />
proporção de idosos na população brasileira.<br />
Em contraste com o notável desenvolvimento e valorização<br />
da Fisioterapia Preventiva, muitas vezes os profissionais esquecem<br />
que também devem ser engajados na prevenção das doenças, entre<br />
elas da DA.<br />
A Doença de Alzheimer (DA) foi descrita pelo neurologista<br />
alemão Alois Alzheimer em 1907, ao estudar uma paciente chamada<br />
A. D. com 52 anos de idade que apresentava déficits cognitivos<br />
e de memória importantes (MEDALHA &<br />
NAVEGA apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007). Examinando<br />
anatomopatologicamente o cérebro da paciente durante a necropsia,<br />
Alzheimer observou um cérebro atrofiado com emaranhados<br />
neurofibrilares, placas senis e perda neuronal (ALMEIDA, 1997).<br />
Alois Alzheimer contribuiu em diversos aspectos para<br />
os novos entendimentos sobre a DA, como o quadro clínico e<br />
progressão dos sintomas, anatomopatologia e correlação entre<br />
o quadro clínico e a patologia cerebral (ALMEIDA, 1997). Há<br />
100 anos o primeiro caso de DA foi apresentado à comunidade<br />
científica, e ainda há muito que se estudar sobre esta doença, pois<br />
alguns fatores como os seus mecanismos etiológicos, não estão<br />
bem esclarecidos.<br />
No Brasil, os primeiros estudos publicados sobre esta<br />
patologia concluem que a mais comum das demências é a DA, com<br />
a prevalência relacionada em grande parte com a baixa escolaridade<br />
e analfabetização (NITRINI et al., 1999).<br />
85
86<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
Calcula-se aproximadamente que entre as pessoas com<br />
mais de 85 anos de idade, 20% têm uma forma grave de DA, além<br />
disso, um grande número de pessoas apresenta sintomas desta<br />
doença e ainda não foram diagnosticados (GELLER & REICHEL<br />
apud REICHEL, 2001).<br />
A DA é considerada por Pittella (apud FREITAS, 2006),<br />
como a principal causa de demência e de doença no idoso, e como<br />
um dos maiores problemas médicos e sociais da atualidade. Este<br />
Pittela ainda expõe alguns dados epidemiológicos desta patologia:<br />
Ocorre em cerca de 1% da população entre 65-69 anos, em<br />
15-20% após os 80 anos e em 40-50% após os 95 anos. A<br />
idade média de início da doença situa-se por volta dos 80<br />
anos. Em cerca de 6-7% dos casos, inicia-se precocemente,<br />
antes dos 60-65 anos. Aproximadamente 7% de todos os<br />
casos de início precoce têm origem genética, com padrão<br />
de herança autossômica dominante (2006, p.224).<br />
Existem cerca de 4 milhões de casos de idosos com DA,<br />
e estima-se que até 2050 a incidência desta doença quadruplique,<br />
gerando um impacto ainda maior que o atual nas despesas de saúde,<br />
morbidade e mortalidade (ZABAR apud JONES, 2006).<br />
O transtorno cognitivo leve (TCL) é avaliado por Pittella<br />
(apud FREITAS, 2006), como um precursor de demências. Argimon<br />
e Montes (2004) também consideram o prejuízo da memória um dos<br />
fatores de risco para a DA, assinalando-o como um indício inicial.<br />
Já Medalha e Navega (apud DRIUSSO & CHIARELLO, 2007)<br />
descrevem que o déficit de memória é comum entre a população<br />
idosa, com evolução para demência em alguns casos. Porém,<br />
acreditam que a grande maioria destes idosos, não desenvolve a<br />
DA.
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
O envelhecimento é definido por Pittella (apud FREITAS,<br />
2006), como o principal fator de risco para a DA. De forma<br />
similar, Zabar (2006) relata que o risco para esta doença aumenta<br />
progressivamente com a idade, podendo dobrar a cada cinco<br />
anos, a partir dos 65 anos. Este autor ainda afirma que além da<br />
idade avançada, a história familiar (parentes de primeiro grau), o<br />
genótipo da apolipoproteína E (ApoE), a hipertensão, o acidente<br />
vascular e níveis de homocisteína em jejum, também são fatores de<br />
risco.<br />
O padrão genético também está envolvido no surgimento<br />
desta patologia. Smith (1999) aborda este assunto ao relatar<br />
que os genes da ApoE 4, da α-2-macroglobulina e da catepsina<br />
D, que participam do metabolismo da proteína β-amilóide (Aβ),<br />
são fatores de risco; inclusive o gene da ApoE 4 é responsável<br />
por aproximadamente 50% dos casos de DA esporádicos e de<br />
acometimento tardio. Contudo, Pittella (apud FREITAS, 2006)<br />
afirma que a presença do alelo ε4 da ApoE não é necessária e nem<br />
suficiente para o desenvolvimento da doença.<br />
Caramelli e Viel (2006) sugerem como potenciais fatores<br />
protetores para esta doença os exercícios físicos regulares, a<br />
escolaridade alta, fatores alimentares (dieta mediterrânea) e uma<br />
atividade intelectual produtiva.<br />
No meio de muitas tentativas, com objetivo de desenvolver<br />
um método diagnóstico preciso para a DA, surgiram alguns testes;<br />
porém, nenhum é considerado totalmente completo para este fim.<br />
Pittella (apud FREITAS, 2006) comenta a utilização do protocolo<br />
CERAD (Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s<br />
Disease), em que se obtêm grupos diagnósticos.<br />
O diagnóstico da DA é considerado por alguns autores<br />
como de exclusão, devido às causas multifatoriais da patologia e<br />
87
88<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
algumas semelhanças neuropatológicas encontradas no cérebro de<br />
idosos saudáveis. McRae (apud REICHEL, 2001) complementa<br />
tal informação ao dizer que hoje, tal idéia está sendo modificada<br />
por vários especialistas, que optam por um diagnóstico de inclusão<br />
para esta doença, fundamentado nas características da história,<br />
exame físico e curso da doença. O autor também cita duas escalas<br />
que determinam a evolução e o estágio da DA, a Escala de<br />
Deteriorização Global e a Escala Clínica de Demência. Entretanto,<br />
não podemos esquecer que as análises histopatológicas continuam<br />
sendo o padrão ouro para a demarcação do diagnóstico da DA,<br />
apesar de exigirem um exame invasivo e “post mortem”.<br />
Um dos testes mais utilizados para o diagnóstico de<br />
alterações cognitivas é o Mini-exame do Estado Mental (MEEM).<br />
Segundo Abreu et al. (2005), o MEEM possui um questionário<br />
dividido em categorias que avaliam funções cognitivas específicas,<br />
resultando em um escore que pode variar de 0 a 30 pontos. A sua<br />
combinação com uma escala funcional que avalie atividades da<br />
vida diária (AVD’s), pode complementar o diagnóstico da doença.<br />
A identificação do transtorno cognitivo leve também é um achado<br />
importante, pois é caracterizado como uma fase pré-demencial da<br />
doença (CARAMELLI & VIEL, 2006).<br />
Entre as múltiplas etiopatogenias da DA sugeridas pelos<br />
pesquisadores, percebe-se que o padrão genético é preponderante<br />
no surgimento desta patologia. Chaves et al. (2002) informam que<br />
a doença é transmitida de forma autossômica dominante, sendo que<br />
aproximadamente 25% da prole podem manifestar esta doença,<br />
correspondendo a um risco 3,5 vezes maior para aqueles indivíduos<br />
com pelo menos um parente de 1° grau com esse tipo de demência<br />
em relação ao restante da população. O envolvimento etiológico<br />
do padrão genético na DA, permite, segundo Pittella, uma divisão<br />
desta doença:
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
de início tardio, esporádico, o mais comum, associado<br />
com o alelo ε4 da apolipoproteína E (gene localizado no<br />
cromossomo 19q32.2); de início precoce, entre 40 e 50<br />
anos, raro, familial, de herança autossômica dominante,<br />
devido a mutações do gene da: (a) proteína precursora<br />
do amilóide; (b) presenilina-1, o tipo familial mais<br />
comum; (c) presenilina – 2, o tipo familial mais raro;<br />
associado com a Síndrome de Down, na qual a trissomia<br />
do cromossomo 21 triplica o gene da proteína precursora<br />
do amilóide, favorecendo o aparecimento de alterações<br />
neuropatológicas similares às da DA nos portadores da<br />
síndrome de Down por volta da meia-idade e de demência<br />
em torno dos 40-70 anos (2006, p.224).<br />
Esta moléstia é caracterizada por vários sintomas e<br />
alterações neuropatológicas, fato que leva Geller e Reichel (apud<br />
REICHel, 2001) a sugerirem que seja uma síndrome e não uma<br />
doença propriamente dita. As alterações neurológicas microscópicas<br />
e macroscópicas que ocorrem na DA são semelhantes àquelas<br />
derivadas do processo do envelhecimento, porém em intensidade<br />
muito maior. Pittella (apud FREITAS, 2006) relata que o cérebro<br />
do portador de DA sofre redução do peso e atrofia cortical, difusa,<br />
bilateral e simétrica. Estas características são observadas com<br />
maior freqüência na parte medial do lobo temporal e nas áreas<br />
de associação dos lobos frontal e parietal, com estreitamento dos<br />
giros e alargamento dos sulcos. A atrofia está diretamente ligada<br />
à progressão, estadiamento e duração da patologia e também<br />
ao distúrbio cognitivo, possuindo intensidade e local variável<br />
conforme o tipo de DA (familial, esporádico, de início precoce ou<br />
tardio). Forlenza (2005) comenta que microscopicamente, nota-se<br />
perda de neurônios e degeneração das sinapses.<br />
89
90<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
Acredita-se que um dos fatores fisiopatológicos da DA seja<br />
a falha do sistema colinérgico, através do envolvimento do núcleo<br />
basal de Meynert, que sofre diminuição do seu número de células,<br />
afetando a ação moduladora da memória, ação sobre a atividade<br />
dos neurônios do sistema límbico e do neocórtex associados à<br />
memória (GARBELLINI apud REBELATTO & MORELLI,<br />
2007). Como a maioria dos neurônios acetilcolinérgicos se origina<br />
no núcleo basal de Meynert, o envolvimento precoce deste núcleo<br />
tem como conseqüência a diminuição dos níveis de acetilcolina<br />
com a progressão da doença, prejudicando a cognição do idoso<br />
(ZABAR, 2006).<br />
Gallucci et al. (2005) mencionam que no exame<br />
histopatológico cerebral post mortem, observam-se, entre outras<br />
características, as placas senis e os emaranhados neurofibrilares,<br />
destacando-as como as principais lesões desta patologia. As placas<br />
senis e os emaranhados neurofibrilares são citados por Forlenza<br />
(2005) como estruturas compostas por massas granulares e<br />
filamentos ao redor das células nervosas, respectivamente.<br />
No quadro clínico da paciente Auguste D., Alois Alzheimer<br />
observou que a queixa de ciúmes com relação ao marido progrediu<br />
para o surgimento de uma pessoa alheia, com deterioração da<br />
memória, passando a deambular pela casa, a perder objetos e a<br />
acusar as pessoas de perseguição (CARAMELLI & VIEL, 2006).<br />
Garbellini (apud REBELATTO & MORELLI, 2007) adiciona<br />
que as primeiras características observadas em um idoso portador<br />
de DA, são alterações de memória com desorientação têmporoespacial<br />
e alterações do reconhecimento simbólico. A evocação,<br />
o processamento e o armazenamento de novas informações são<br />
afetados por esse prejuízo na memória, no entanto, as informações<br />
mais antigas são perdidas somente em estágios mais avançados<br />
dessa patologia (CHAVES et al., 2002).
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
McRae (apud REICHEL, 2001) descreve a DA como uma<br />
patologia de início insidioso e gradual, que somente manifesta seus<br />
sinais neurológicos à medida que a doença progride. As alterações<br />
na linguagem também podem ser observadas logo no início da<br />
doença, como a dificuldade em encontrar palavras.<br />
Nos portadores de DA, nota-se um rápido e progressivo<br />
declínio da independência na realização das AVD’s (McRae apud<br />
REICHEL, 2001). Conforme Garbellini ((apud REBELATTO &<br />
MORELLI, 2007), manifestações motoras clínicas como apraxia<br />
(dificuldade em executar tarefas motoras complexas na ausência<br />
de déficit motor como fraqueza ou espasticidade), agnosia espacial<br />
(dificuldade de localização de objetos no espaço) e afasia (distúrbio<br />
da expressão ou da compreensão da linguagem) são observadas<br />
inicialmente no idoso com esta demência. Mais tardiamente,<br />
surgem as apraxias ideomotora e para vestir-se, as somatognosias<br />
(negligência corporal na ausência de déficit sensorial) e o<br />
comprometimento global das funções cerebrais.<br />
Inicialmente, são os transtornos afetivos, a desinibição e a<br />
irritabilidade que predominam nestes pacientes. Na fase moderada<br />
da demência, os sintomas psicóticos, a agitação e a ansiedade<br />
aparecem. Já na fase avançada, a atividade motora aberrante é<br />
predominante. A apatia, a depressão, a perambulação e os sintomas<br />
psicóticos também são sintomas desta demência (TAVARES &<br />
VIEIRA apud FREITAS, 2006).<br />
Como a DA é progressiva, o óbito acontece em torno do<br />
oitavo ano de evolução da doença, devido a comorbidades tais como<br />
broncopneumonia, doenças cardiovasculares e embolia pulmonar.<br />
Na fase final desta demência, geralmente o idoso está debilitado,<br />
incapaz de andar, com hipofagia, incontinência urinária e fecal e<br />
até mesmo úlceras de pressão por não se mover independentemente<br />
na cama (PITTELLA apud FREITAS, 2006).<br />
91
92<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
O tratamento da DA baseia-se na melhora dos sintomas e<br />
no retardo da progressão da mesma, através da administração de<br />
algumas drogas e da intervenção fisioterapêutica, já que a DA não<br />
tem cura.<br />
Com relação ao uso dos medicamentos, hoje disponíveis<br />
para o tratamento desta patologia, não se conseguiu retardar a morte<br />
das células afetadas, mas sim aumentar a liberação da acetilcolina<br />
por meio dos fármacos antagonistas da acetilcolinesterase<br />
(colinesterásicos) (MEDALHA & NAVEGA apud DRIUSSO &<br />
CHIARELLO, 2007), ou diminuir a ação do glutamato, através do<br />
uso da memantina (ARAÚJO & PONDÉ, 2006). Chaves et al. (2002)<br />
acrescentam que o Donepezil, a Galantamina e a Rivastigmina<br />
também podem ser utilizadas no tratamento farmacológico desta<br />
demência.<br />
A abordagem fisioterapêutica na DA visa especialmente<br />
permitir que o idoso volte a realizar as suas AVD’s da melhor<br />
maneira possível, através das mesmas técnicas que são utilizadas<br />
para a terceira idade, porém, de um modo especial e específico<br />
para esta patologia. Orientações aos cuidadores e modificações<br />
ambientais, quando necessárias, também fazem parte desta<br />
intervenção. A assistência fisioterapêutica é em geral, preventiva,<br />
mantendo o indivíduo ativo e independente e evitando a progressão<br />
dos sintomas. Para tanto, nos estágios leves e moderados desta<br />
doença, objetiva-se prolongar a habilidade do idoso de movimentarse<br />
independentemente e estimular as suas funções cognitivas<br />
(OLIVEIRA & WIBELINGER, 2005).<br />
Nóbrega et al. (1999) descrevem os diversos efeitos<br />
fisiológicos e psicológicos induzidos pelo exercício físico, sendo<br />
que alguns deles foram selecionados e organizados na Tabela 1.
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
Tabela 1: Adaptações Fisiológicas e Psicológicas induzidas pelo<br />
Exercício Físico.<br />
Mantém e/ou melhora a densidade mineral óssea<br />
Melhora da força muscular e da flexibilidade articular<br />
Aumento do VO² máximo e melhora da função pulmonar<br />
Maiores benefícios circulatórios periféricos<br />
Aumento da massa muscular<br />
Melhor controle da glicemia e da pressão arterial de repouso<br />
Diminuição do peso corporal<br />
Melhora do equilíbrio, da marcha e da dependência na realização das AVD’s<br />
Melhora do perfil lipídico<br />
Aumento da auto-estima, da confiança e da qualidade de vida<br />
Fonte: Nóbrega et al. (1999).<br />
Atualmente, vários autores têm proposto a inatividade<br />
física como um possível fator de risco para o aumento do<br />
declínio cognitivo. Baseando-se nesta idéia, Yaffe et al. (2001)<br />
desenvolveram um estudo com 5925 mulheres saudáveis, de<br />
65 anos ou mais. Após 8 anos de estudo, os autores concluíram<br />
que quanto maior era o nível de atividade física das mulheres,<br />
menores eram os riscos de declínios cognitivos, relacionando tal<br />
acontecimento ao estilo de vida saudável, a redução nos fatores de<br />
risco cardiovasculares e a efeitos diretos sobre os neurônios. De<br />
forma similar, Weuve et al. (2004) selecionaram 18766 mulheres<br />
saudáveis de 70 a 81 anos. O exercício físico regular, incluindo<br />
modalidades como a caminhada, foi associado a um melhor<br />
desempenho cognitivo e a um menor declínio desta função.<br />
O desempenho neuropsicológico de 40 mulheres não<br />
demenciadas na faixa etária de 60 a 70 anos, foi pesquisado por<br />
Antunes et al. (2001), com avaliação antes e após um programa<br />
93
94<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
de condicionamento físico aeróbico (caminhadas três vezes por<br />
semana com duração de 60 minutos, exercícios de alongamento e<br />
de flexibilidade articular) de 6 meses de duração. Como resultado<br />
obteve-se um enriquecimento da memória lógica, remota, remota<br />
visual, imediata e operacional, uma melhora da atenção concentrada,<br />
da rapidez de reação (agilidade motora), da orientação têmporoespacial,<br />
da fluência verbal, do consumo máximo de oxigênio e<br />
também do humor, sugerindo-se que a atividade física pode ajudar<br />
no combate à depressão.<br />
Além do bem-estar mental, a memória foi investigada<br />
por Perrig-Chiello et al. (1998) como um fator influenciado pelo<br />
treinamento de resistência com duração de 8 semanas, a curto e a<br />
longo prazo. Os resultados obtidos a partir da aplicação de testes<br />
específicos em 46 idosos, antes e após as intervenções, ressaltaram<br />
que este treinamento reforçou o bem-estar psicológico, e que em<br />
longo prazo (depois de 1 ano), houve um acréscimo no desempenho<br />
cognitivo (memória). Apesar disso, os autores não consideram<br />
o treinamento de resistência como o único fator causal deste<br />
benefício, expondo os novos hábitos saudáveis, a motivação para<br />
novos desafios e a autoconfiança como variáveis decorrentes deste<br />
tipo de exercício que também influenciam o bom funcionamento<br />
cognitivo.<br />
Acreditando que o exercício pode aumentar a<br />
aprendizagem e a neurogênese em nível hipocampal, retardando o<br />
comprometimento da cognição, Praag et al. (2005) desenvolveram<br />
um estudo com ratos jovens (3 meses de idade) e ratos velhos (19<br />
meses de idade) submetidos à prática de exercício físico em gaiolas<br />
(roda giratória). Os resultados e conclusões alcançados foram:<br />
maior vascularização do giro denteado reforçando a neurogênese; o<br />
ato de correr ainda jovem causou manutenção da função cognitiva;
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
os novos neurônios dos animais com mais idade foram semelhantes<br />
aos produzidos pelos animais jovens, sugerindo que as funções das<br />
células do cérebro destes animais estavam intactas; as propriedades<br />
destes novos neurônios não mudaram com o envelhecer o que indica<br />
uma sustentação da neurogênese; e o aumento da neurotrofina que<br />
pode contribuir para a melhoria da aprendizagem.<br />
Hillman et al. (2004) compararam as respostas<br />
comportamentais eletrocorticais de idosos com nível de atividade<br />
física baixo, moderado e elevado, com relação a um grupo controle<br />
composto por jovens. Concluiu-se neste estudo, que a atividade<br />
física melhora o controle da função cognitiva e a velocidade do<br />
processamento cognitivo, amparando a idéia de que moderados<br />
e elevados níveis de atividades físicas podem reduzir o declínio<br />
cognitivo.<br />
Apesar do que já foi exposto, o efeito do exercício físico<br />
sobre a função cognitiva irá depender de fatores como a intensidade<br />
e o tipo de atividade praticada. Há estudos que divulgaram que o<br />
exercício intenso com demanda anaeróbica máxima, pode causar<br />
fadiga e conseqüentemente um declínio cognitivo. Já o exercício<br />
realizado de forma aguda pode não originar resultados sobre<br />
a cognição, sendo necessária uma intervenção de longo prazo<br />
(ANTUNES et al., 2006).<br />
No tratamento da DA, a prática de exercício físico tem<br />
alcançado ótimos resultados. O papel da Fisioterapia nesta doença<br />
foi incluído no estudo de Arcoverde et al. (2008). Observou-se<br />
que a estimulação física e cognitiva dos portadores de DA, fez com<br />
que a progressão do quadro clínico (limitações físicas e cognitivas)<br />
diminuísse, em comparação com o grupo de idosos sedentários.<br />
O pesquisador Lautenschlager (2002) investigou meios<br />
de prevenção de demências como a DA, analisando possíveis<br />
95
96<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
interferências sobre os principais fatores de risco para estas<br />
doenças. Ele recomenda o diagnóstico precoce de transtornos<br />
cognitivos leves nos idosos, identificados como os indivíduos com<br />
maior risco de desenvolver demência, afirmando que somente<br />
antes destes sujeitos alcançarem maiores limitações essas medidas<br />
preventivas poderão ser aplicadas.<br />
A prevenção da DA também foi estudada por Laurin et<br />
al. (2001), através de uma grande amostra de idosos canadenses<br />
cognitivamente saudáveis (4615), acompanhados e avaliados<br />
durante 5 anos por meio de entrevistas, questionários e avaliações<br />
médicas correspondentes à atividades físicas e condições de<br />
saúde. Alcançaram-se os seguintes resultados: o exercício físico<br />
regular foi associado a menores riscos de aparecimento da DA;<br />
quanto maiores os níveis de atividade física, menores os riscos<br />
de DA (através do mais elevado nível de atividade física ocorreu<br />
redução de 60% dos riscos para a DA, em comparação com os que<br />
não praticavam atividades físicas). Estes resultados foram mais<br />
evidentes entre as mulheres do que entre os homens do estudo.<br />
De forma similar, Larson et al. (2006) desenvolveram<br />
um estudo com o objetivo de detectar a incidência de demência.<br />
Concluiu-se neste estudo que o exercício físico regular pode atrasar<br />
o aparecimento da DA, sendo que aqueles idosos praticantes de<br />
atividades físicas durante 3 ou mais vezes por semana, apresentaram<br />
uma taxa de incidência menor do que aqueles que exerceram<br />
exercícios físicos menos de 3 vezes por semana, correspondendo a<br />
uma redução em 32% do risco de demência.<br />
O risco de DA associada a atividades físicas foi o objeto<br />
de estudo de Podewils et al. (2005). Notou-se que os participantes<br />
com maior gasto de energia e maior número de atividades físicas<br />
tiveram um risco menor de DA quando comparados com os outros
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
participantes. Os idosos que desenvolveram demência no decorrer<br />
do estudo, foram aqueles com mais idade, menor nível educacional,<br />
os mais susceptíveis ao alelo ApoE 4 e com maiores dificuldades<br />
físicas. Crespo (apud FRONTERA, 2001) sugere que a menor<br />
prevalência de doenças crônicas entre indivíduos que se exercitam<br />
regularmente, pode estar relacionada não apenas a participação<br />
em atividades físicas, mas também a uma predisposição genética<br />
para níveis altos de condicionamento físico, o que é comumente<br />
encontrado em pessoas fisicamente ativas.<br />
Ainda neste contexto, Wang et al. (2002) verificou que,<br />
os idosos, que participam de atividades sociais e mentais, tem<br />
uma menor incidência de demência quando comparados com<br />
aqueles que não as realizam. A incidência foi menor ao aumentar<br />
a freqüência de participação nestas atividades. Atividades físicas<br />
e de lazer também foram incluídas no estudo de Simons et al.<br />
(2006), como alternativas de proteção cognitiva. Observou-se<br />
que a atividade diária de jardinagem destacou-se, possuindo um<br />
maior efeito de manutenção da função cognitiva do que outras<br />
modalidades, representando uma redução de 36% do risco de DA.<br />
O efeito protetor da atividade física é explicado por Marinho<br />
et al. (2007), através de uma revisão bibliográfica sobre o assunto.<br />
Os autores comentam que a inatividade física e a perda progressiva<br />
de memória acarretam a diminuição da síntese de fatores de<br />
crescimento neuronais como o fator neurotrófico derivado do<br />
cérebro (BDNF). O BDNF é uma neurotrofina que estimula as<br />
sinapses, a regeneração neural e a neuroplasticidade. A atividade<br />
física aumenta a liberação desta substância e conseqüentemente<br />
estimula a neurogênese, o aprendizado e o desempenho cerebral.<br />
Segundo estes autores, quando praticada regularmente, a atividade<br />
física aumenta a capacidade de aprendizagem e reduz a formação<br />
97
98<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
de placas de proteína beta-amilóide no cérebro, evitando o<br />
desenvolvimento da DA.<br />
Por meio de um estudo do tipo coorte, Verguese et al. (2003)<br />
verificaram a relação de alguns tipos de atividades de lazer com o<br />
risco de demência. Entre as atividades de lazer, a leitura, os jogos<br />
de tabuleiro, os instrumentos musicais e a dança foram associados<br />
a um menor risco de demência. Este efeito foi observado em maior<br />
magnitude naqueles que praticavam estas atividades num maior<br />
número de vezes por semana, sendo que os idosos que fizeram<br />
palavras cruzadas quatro vezes por semana tiveram riscos 47 por<br />
cento menores de desenvolver demência, quando comparados com<br />
aqueles que praticavam esta atividade uma vez por semana.<br />
Wilson et al. (2002), em outro estudo, verificaram a<br />
hipótese de as atividades físicas diminuírem o risco de DA, obtendo<br />
resultados importantes como uma redução em 64% do risco de<br />
incidência dessa demência para os maiores níveis de atividades<br />
cognitivas, e em contrapartida, a quantidade de horas semanais de<br />
atividades físicas não foi relacionada ao risco da doença.<br />
Fabrigoule et al. (1995) selecionaram aleatoriamente<br />
2040 idosos na França e dentre as atividades sociais e de lazer<br />
encontradas, a jardinagem, o tricô e o ato de viajar, apresentaram<br />
significantes interferências sobre o risco de demências, quando<br />
realizadas de modo regular, o que pôde ser observado na maioria<br />
dos estudos encontrados.<br />
2 DiSCuSSÃo<br />
Apesar de a maioria dos autores afirmar que o exercício<br />
induz vários benefícios psicológicos e cognitivos, alguns deles
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
não o retratam como o único fator causal destes efeitos. Afirmam,<br />
mencionando que os novos hábitos saudáveis, a autoconfiança e a<br />
diminuição dos fatores de risco cardiovasculares podem interferir<br />
nestes resultados, como vieses de confusão.<br />
Outros fatores devem ser levados em conta quando se avalia<br />
os efeitos do exercício físico na prevenção da DA, visto que podem<br />
determinar se haverá resultados preventivos ou não. Um deles<br />
corresponde aos aspectos intrínsecos do indivíduo, como a história<br />
familiar positiva para a DA, a presença do gene ApoE 4, o nível<br />
educacional, o sexo e a saúde cognitiva e cardiovascular. O tipo, a<br />
intensidade e a frequência do exercício físico também devem ser<br />
incluídos nesta avaliação, uma vez que a exigência cognitiva deve<br />
ser suficiente para se alcançar os benefícios já citados, entretanto,<br />
o exercício muito intenso, com uma grande demanda anaeróbica,<br />
resulta em fadiga e conseqüentemente em um declínio cognitivo.<br />
O que ainda não está bem esclarecido entre as pesquisas<br />
que abordam este assunto, é a determinação de qual exercício<br />
físico traria os melhores resultados preventivos sobre a DA. Em<br />
alguns estudos foi citada a jardinagem como a melhor atividade<br />
física capaz de prevenir a DA, entretanto, constituem uma minoria<br />
e não possuem argumentos suficientes para explicar tal efeito.<br />
Diferentes atividades cognitivas e físicas foram estudadas<br />
por Verghese et al. (2003). Porém, estes autores questionam se a<br />
não participação em exercícios físicos pode se tornar um fator de<br />
risco para as demências, acreditando que a pré-demência, o nível<br />
educacional e intelectual podem ser a causa destes baixos níveis<br />
de atividades de lazer. Este estudo, não explica o papel protetor<br />
de cada atividade avaliada, devido à presença de limitações na<br />
pesquisa, como o tempo gasto em cada atividade, a demanda<br />
cognitiva imposta sobre os idosos e o efeito da Apolipoproteína E,<br />
que não foram avaliados adequadamente.<br />
99
100<br />
NASCimENTo, GABriELA LiED<br />
Os estudos não comentam a duração mínima do exercício,<br />
necessária para produzir efeitos significativos sobre a cognição.<br />
Assim sendo, salienta-se a necessidade de maior preocupação<br />
por parte dos profissionais da saúde, entre eles o fisioterapeuta,<br />
no campo de pesquisa preventivo, principalmente com relação a<br />
doenças crônico-degenerativas como a Doença de Alzheimer.<br />
3 CoNCLuSÃo<br />
A DA é uma doença neurodegenerativa progressiva, que<br />
vem aumentando sua incidência nos últimos anos em todo o<br />
mundo, gerando preocupação por parte dos estudiosos e idosos,<br />
sendo que a sua incidência e prevalência aumentam com o avanço<br />
da idade.<br />
Entre os fatores de risco para esta patologia encontra-se<br />
o transtorno cognitivo leve (TCL), a história familiar, o genótipo<br />
da apolipoproteína E e o próprio envelhecimento. Ultimamente,<br />
vários autores têm proposto a inatividade física como um possível<br />
fator de risco para o aumento do declínio cognitivo, logo, para o<br />
surgimento da DA. Por isso, a preocupação em investigar se os<br />
exercícios físicos quando realizados de forma regular podem<br />
prevenir essa doença é muito importante hoje em dia.<br />
Nesta revisão, observou-se que a grande maioria dos<br />
estudos descritos tem resultados que sugerem uma amenização do<br />
declínio cognitivo naqueles idosos que praticam atividades físicas<br />
regularmente e a longo prazo. Quanto maior for a freqüência de<br />
participação nestas atividades e a complexidade, maior será a<br />
demanda cognitiva exigida pelo sistema neurológico do idoso,<br />
produzindo diversos efeitos, como a melhora da memória,
o EXErCÍCio FÍSiCo NA PrEVENÇÃo DA DoENÇA DE ALZHEimEr<br />
da atenção, da orientação têmporo-espacial, da neurogênese<br />
hipocampal, da síntese da neurotrofina BDNF e uma redução da<br />
formação de placas de proteína beta-amilóide no cérebro. Além<br />
destes resultados, os novos hábitos saudáveis, o bom estado<br />
psicológico e a diminuição dos fatores de risco cardiovasculares<br />
decorrentes do exercício físico, também contribuem para a redução<br />
do declínio cognitivo.<br />
Mesmo sabendo dos benefícios do exercício físico na<br />
saúde cognitiva do idoso, é preciso identificar antecipadamente se<br />
há TCL ou até mesmo uma fase inicial de DA, pois somente se<br />
alcançará estes benefícios se o paciente tiver um sistema cognitivo<br />
saudável, ou talvez, no máximo um estado pré-demencial. Outro<br />
aspecto que precisa ser avaliado é a presença do gene ApoE 4, de<br />
familiares de 1° grau com a doença, nível educacional, sexo, saúde<br />
cognitiva e cardiovascular, os quais podem interferir nos resultados<br />
esperados através da prática de exercícios físicos.<br />
Desta forma pode-se afirmar que a inatividade física pode<br />
ser considerada um fator de risco para a DA, bem como o exercício<br />
físico pode prevenir a DA a longo prazo, se praticado regularmente.<br />
Sugere-se que maiores pesquisas sejam realizadas a respeito do<br />
tipo de exercício físico que possa melhor atuar na prevenção da<br />
DA, e inclusive da sua intensidade, para enriquecer a atuação da<br />
Fisioterapia Preventiva e proporcionar maior qualidade de vida na<br />
terceira idade.<br />
101
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FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES<br />
Com SÍNDromE DE DoWN<br />
HeinZMAnn FiLHO, JOãO PAULO 1<br />
WOZeZenSKi, CRiSTHieLe TAiS<br />
BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />
1<br />
rESumo<br />
A pesquisa realizada foi do tipo bibliográfica, onde a<br />
abordagem qualitativa foi utilizada como eixo central.<br />
Com o desenvolvimento desse artigo, verificou-se<br />
quais as melhoras proporcionadas pelo meio líquido,<br />
através de técnicas com exercícios específicos<br />
aplicados dentro da água, contando com as respostas<br />
fisiológicas e ação dos princípios físicos que o<br />
meio líquido proporciona. O objetivo do trabalho foi<br />
verficar as melhoras proporcionadas pelo Método de<br />
Halliwich, enfatizando a alegria de se estar na água<br />
e a felicidade proporcionada em forma de jogos.<br />
Constatou-se o ganho na melhora as habilidades<br />
funcionais, na adequação do tônus muscular, profilaxia<br />
para alterações cardiorrespiratória e circulatória,<br />
fortalecimento muscular, estimulação da motricidade<br />
1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />
Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia.<br />
107
108<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
voluntária, estimulando o desenvolvimento do<br />
controle de tronco, da marcha e estimular o equilíbrio.<br />
Proporcionando uma melhora em sua auto-estima,<br />
auto-confiança e assim melhorando a sua qualidade<br />
de vida. Foi realizada uma revisão bibliográfica<br />
utilizando livros-texto e artigos científicos, através<br />
de diversas palavras chaves. Podemos concluir que<br />
a hidroterapia parece ser benéfica no tratamento de<br />
portadores de Síndrome de Down através da utilização<br />
das propriedades da água. Porém, estudos clínicos<br />
futuros são necessários para verificarmos uma maior<br />
evidência sobre sua efetividade.<br />
Palavras-chave: Síndrome de Down, método de<br />
halliwich, hidroterapia.<br />
ABSTrACT<br />
The research realized was of the bibliographical,<br />
where the qualitative boarding was used as central<br />
axle. The development of this article it made possible<br />
verify which the proportionate improvements for<br />
the half liquid, through techniques with specific<br />
exercises applied inside of the water, counting<br />
on the physiological answers and action of the<br />
physical principles that the half liquid provides. The<br />
objective of the work was to verify the proportionate<br />
improvements for the Method of Halliwich, being<br />
emphasized the joy of if being in the water and the<br />
proportionate happiness through games. The profit in
1 iNTroDuÇÃo<br />
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
the improvement the functional abilities, the adequacy<br />
of muscle tone, cardiorespiratory and circulatory<br />
Prophylaxis for alterations, strength training,<br />
stimulation of the voluntary mobility was evidenced,<br />
stimulating the development of the control of trunk,<br />
the march and to stimulate the balance. Providing an<br />
improvement in its auto-they esteem, auto-confidence<br />
and thus improving its quality of life. A bibliographical<br />
revision was<br />
carried through using scientific book-text and articles,<br />
through diverse words keys. We can conclude that the<br />
hydrotherapy seems to be beneficial in the treatment<br />
of carriers of Down Syndrome through the use of<br />
the properties of the water. However, future clinical<br />
studies are necessary to verify bigger evidence on its<br />
effectiveness.<br />
Key-words: Down Syndrome, Halliwich method,<br />
hydrotherapy<br />
A Síndrome de Down(SD) ou trissomia do cromossomo<br />
21 é uma alteração genética causada pela presença de um<br />
cromossomo 21 extra total ou parcialmente. Essa síndrome tem<br />
como anormalidade básica à presença de uma quantidade extra de<br />
material do cromossomo 21. É uma doença genética no sentido de<br />
que toda a condição do paciente é causada por excesso de material<br />
109
110<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
genético, a maioria dos afetados possui um cromossomo extra em<br />
todas as células de seu organismo. Ou seja, ao invés de ter o par<br />
21(um proveniente da mãe e um do pai), os pacientes têm três<br />
cromossomos 21 (SAAD, 2003).<br />
A SD é caracterizada por uma combinação de diferenças<br />
maiores e menores na estrutura corporal. Seus portadores podem<br />
ter uma habilidade cognitiva abaixo da média, geralmente variando<br />
de retardo mental leve a moderado. Um pequeno número de<br />
afetados possui retardo mental profundo. É a ocorrência genética<br />
mais comum, estimada em 1 a cada 600 nativivos. Características<br />
da SD, incluem a prega palmar transversa, olhos com formas<br />
diferenciadas devido às pregas nas pálpebras, membros pequenos,<br />
língua protrusa, osso occipital achatado, ponte nasal achatada,<br />
estatura baixa, fase redonda e achatada, orelhas de implantação<br />
baixa, pescoço curto, mãos curtas e largas, boca pequena,<br />
ligamentos soltos (FERREIRA, 2005).<br />
Além do atraso no desenvolvimento, outros problemas de<br />
saúde podem ocorrer no portador de SD: cardiopatia congênita,<br />
hipotonia, problemas de audição, de visão, alterações na coluna<br />
cervical, distúrbios da tireóide, problemas neurológicos, obesidade<br />
e envelhecimento precoce. Em relação ao prognóstico, verificase<br />
que a prevalência da condição tem aumentado na população<br />
geral em conseqüência do aumento de sua sobrevida. Tratamentos<br />
e terapias, em especial a estimulação precoce com fisioterapia e<br />
fonoterapia, mostram uma inequívoca contribuição para melhor<br />
desenvolvimento e desempenho social do portador de SD<br />
(MOREIRA, 2000).<br />
Os objetivos do tratamento para crianças portadoras de<br />
Síndrome de Down são proporcionar adequação do tônus muscular,<br />
profilaxia para alterações cardiorrespiratória e circulatória,
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
fortalecimento muscular, estimulação da motricidade voluntária,<br />
estimular as fases do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM)<br />
como o controle de tronco e a marcha, estimular o equilíbrio e a<br />
auto-estima (GUIMARÃES, 1996).<br />
A hidroterapia ou piscina terapêutica é um recurso<br />
fisioterapêutico realizado exclusivamente pelo profissional desta<br />
área, de forma individual, em piscina coberta e aquecida. Tem a<br />
finalidade de tratar e reabilitar pacientes neurológicos, ortopédicos,<br />
reumatológicos, pneumopatias e neuromusculares, através de<br />
técnicas com exercícios específicos aplicados dentro da água,<br />
contando com as respostas fisiológicas e ação dos princípios físicos<br />
que o meio líquido proporciona (CAMPION, 2000). A partir do<br />
estudo da hidroterapia, desenvolveram-se vários métodos, como o<br />
Método de Halliwick, que enfatiza as habilidades dos pacientes na<br />
água e não suas limitações.<br />
Recentemente estas técnicas estão sendo usadas por muitos<br />
fisioterapeutas para tratar crianças e adultos com enfermidades<br />
neurológicas, na Europa e EUA. Este estudo tem por objetivo<br />
discutir as propriedades da água e mostrar a hidroterapia como parte<br />
integrante do tratamento da SD. Podemos ressaltar a importância da<br />
hidroterapia como um tratamento muito benéfico no tratamento de<br />
crianças portadoras de SD, através da utilização das propriedades<br />
da água possibilitando diversas melhoras tanto físicas, mentais,<br />
psicossociais e proporcionando assim uma melhora na qualidade<br />
de vida dos portadores (CAMPION, 2000).<br />
A pesquisa realizada foi descritiva, do tipo revisão<br />
bibliográfica. Com base no estudo realizado, foi proposto a<br />
hidroterapia como uma técnica de reabilitação para o tratamento<br />
de pessoas que apresentam SD.<br />
111
112<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
2 DiSCuSSÃo<br />
O ser humano é um ser em pleno processo de<br />
desenvolvimento, que cresce partindo de várias etapas evolutivas<br />
(ROTTA et al., 2005).<br />
A evolução da criança até a sua idade adulta depende da<br />
maturação do sistema nervoso central, sendo determinada por<br />
padrões geneticamente estabelecidos e de estímulos ambientais.<br />
Estes estímulos apreendidos pelos órgãos dos sentidos são<br />
respondidos pelo cérebro, como órgão de integração e coordenação,<br />
com reações complexas que decorrem automaticamente<br />
(DIAMENT & CYPEL, 2005).<br />
Desde o nascimento, o cérebro infantil está em constante<br />
evolução, através de sua inter-relação com o meio. A criança<br />
percebe o mundo pelos sentidos e age sobre eles, essa integração<br />
se modifica durante a evolução, entendendo melhor, pensando de<br />
modo mais complexo, comportando-se de maneira mais adequada<br />
com maior precisão, à medida que domina seu corpo e elabora<br />
mais corretamente suas idéias (DIAMENT & CYPEL, 2005).<br />
Mesmo diversas, conforme a idade da criança, estas<br />
reações ocorrem, desde o nascimento, em sucessão determinada.<br />
Caracterizam-se pelo desenvolvimento dos mecanismos de<br />
reflexos da atitude, a postura ou manutenção desta, que permitem<br />
ao homem erguer-se contra a força da gravidade e conservar seu<br />
equilíbrio (FLEHMIG, 2005).<br />
A SD é a mais comum de todas as síndromes mal formativas<br />
da espécie humana, ela ocorre 1/600 nascidos vivos (FERREIRA,<br />
2005).
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
Essa síndrome tem como anormalidade básica à presença<br />
de uma quantidade extra de material do cromossomo 21. É uma<br />
doença genética no sentido de que toda a condição do paciente é<br />
causada por excesso de material genético, a maioria dos afetados<br />
possui um cromossomo extra em todas as células de seu organismo,<br />
ou seja, ao invés de ter o par 21, os pacientes têm três cromossomos<br />
21, sendo que a região responsável pelas manifestações da doença<br />
é a porção distal do braço longo deste cromossomo. O estudo<br />
citogenético deve ser realizado em todo paciente afetado, para<br />
confirmar o diagnóstico propício ao aconselhamento genético<br />
correto.<br />
Noventa e quatro por cento dos portadores da SD<br />
apresentam um cariótipo com 47 cromossomos. Já cerca de seis<br />
por cento dos pacientes tem translocação cromossômica que<br />
envolve quase exclusivamente dois grupos de cromossomos: os<br />
grupos D e G. Nessas translocações, o cromossomo 21 une-se com<br />
cromossomo 14 em cinqüenta e oito por cento dos casos. No grupo<br />
G, o cromossomo 21 une-se com ele mesmo, em oitenta e três por<br />
cento dos casos (FERREIRA, 2005).<br />
A palavra hidroterapia deriva das palavras gregas hydro<br />
(água) e therapia (cura). Essa técnica é tão antiga quanto à história<br />
da humanidade e as informações sobre as atividades aquáticas têm<br />
sido documentadas tanto para propósitos recreacionais, quanto<br />
terapêuticos apesar do fato de sua popularidade ter se oscilado<br />
durante as épocas (NORM & HANSON, 1998).<br />
A história da hidroterapia como uma modalidade utilizada<br />
na fisiatria data de milhares de anos. Não se sabe em que momento<br />
a hidroterapia foi primeiramente utilizada de maneira terapêutica,<br />
porém registros datando de 2400 a.C. sugerem que a cultura protoindiana<br />
usava instalações higiênicas e que os antigos egípcios,<br />
113
114<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
assírios e muçulmanos faziam uso das fontes minerais para<br />
propósitos curativos. Os hindus, em 1500 a.C., empregavam a água<br />
para combater a febre (CAMPION, 2000).<br />
Os gregos estavam entre os primeiros a apreciar<br />
o relacionamento entre o bem-estar físico e mental. Eles<br />
desenvolveram centros próximos a nascentes e rios, utilizando-os<br />
para banhos e recreações. Por volta de 500 a.C., ocorreu a transição<br />
do misticismo e culto para o tratamento físico. Os romanos, com<br />
suas habilidades de construção, desenvolveram e expandiram<br />
o sistema grego de atletismo seguido por um mergulho frio,<br />
produziram uma série de banhos que variam do caldarium por meio<br />
do tepidarium até o frigidarium. Os banhos eram centros onde se<br />
realizavam as atividades intelectuais, recreacionais e de saúde e<br />
higiene (CAMPION, 2000)<br />
Por volta de 339 d.C. alguns desses banhos passaram a ser<br />
usados somente com o propósito de cura e o tratamento era indicado<br />
em primeiro lugar para os sintomas de doenças reumáticas, paralisia<br />
e efeitos posteriores a lesões. As queimaduras eram tratadas em<br />
banhos prolongados. Com o declínio do Império Romano, houve<br />
uma queda no uso dos banhos. Os padrões de higiene e moral<br />
foram diminuídos. Assim, os antigos cristãos baniram o uso dos<br />
banhos públicos, e a Igreja da Idade Média proibiu o uso das forças<br />
físicas, tais como a água, associando-o ao paganismo. A supressão<br />
da hidroterapia no Ocidente foi sustentada mais ou menos durante<br />
toda a época medieval, mas por volta dos séculos XV, XVI e XVII, o<br />
uso da água com propósito de cura adquiriu algum reconhecimento<br />
por parte dos médicos europeus (CAMPION, 2000).<br />
Os pioneiros da hidroterapia foram Sir John Floyer, que<br />
escreveu um tratado em 1697: “Um inquérito sobre a utilização<br />
correta e o abuso dos banhos quentes, frios e temperados”; e John
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
Wesley, o fundador do Metodismo, que publicou um livro de<br />
hidroterapia em 1747, intitulado. Uma forma fácil e natural de curar<br />
a maioria das doenças; e o dr. Wright, que publicou, em 1779, um<br />
trabalho sobre o uso do frio no tratamento da varíola. Entretanto,<br />
os clínicos acadêmicos estavam ocupados essencialmente em<br />
diagnosticar as doenças e trabalhar nas enfermarias e salas de<br />
dissecção. A terapia natural raramente era levada em consideração.<br />
Os avanços no uso da água continuaram na Europa, mas<br />
a América ficou para trás durante o século XIX. Entretanto, os<br />
banhos quentes gradualmente ganharam popularidade e passaram<br />
a ser tomados em decúbito e também utilizados em tratamentos<br />
cirúrgicos, neurológicos e psiquiátricos. O dr. Simon Baruch,<br />
que trabalhou com o professor Winterwitz, expandiu o uso da<br />
hidroterapia por meio de seu trabalho, que girava em torno do fato<br />
de que o calor e o frio eram transportados para o sistema nervoso<br />
central pêlos nervos cutâneos e, dessa forma, se refletiam nas vias<br />
motoras. A hidroginástica ou os exercícios aquáticos em água<br />
quente eram recomendados no final do século XIX. Entretanto,<br />
os exercícios aquáticos só começaram a ser sistematicamente<br />
desen¬volvidos após a construção do primeiro tanque de Hubbard<br />
na década de 1920 (CAMPION, 2000).<br />
As duas guerras mundiais, especialmente a segunda,<br />
salientaram a necessidade do uso da água para os exercícios e a<br />
manutenção do condicionamento e agiram como precursoras para o<br />
ressurgimento atual do uso da piscina de hidroterapia e a utilização<br />
da imersão total como uma forma de reabilitação para uma ampla<br />
faixa de doenças.<br />
Atualmente, a popularidade e o valor crescente da<br />
hidroterapia parecem ser salientados por um aumento da pesquisa<br />
em muitos aspectos diferentes da água, como o estudo da fisiologia<br />
115
116<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
dos exercícios aquáticos, e assim por diante. O reconhecimento dos<br />
tratamentos para os quais as características e propriedades da água<br />
podem ser utilizadas para criar técnicas que acentuem a atividade<br />
aquática como uma parte integral de todo tratamento físico e<br />
psicológico e das condições variadas de muitos irá assegurar o<br />
lugar da hidroterapia para a reabilitação total (CAMPION, 2000).<br />
Entrar na água é uma experiência única que fornece a todos<br />
uma oportunidade de ampliar física, mental e psicologicamente<br />
seus conhecimentos e habilidades. A unicidade da água está<br />
principalmente no seu empuxo, que alivia o estresse sobre as<br />
articulações sustentadoras de peso e permite que se realize<br />
movimentos em forças gravitacionais reduzidas, dessa forma,<br />
as atividades que não sustentam peso podem ser iniciadas antes<br />
mesmo de serem possíveis no solo. Os efeitos fisiológicos dos<br />
exercícios combinados com aqueles que são causados pelo calor da<br />
água são uma das vantagens da atividade nesse meio. O resultado<br />
da imersão na água é semelhante em adultos e crianças e está<br />
relacionado à temperatura do corpo, à circulação e a intensidade<br />
dos exercícios, com variações permitidas dependendo do tamanho<br />
(RUOTI et al., 2000; CAMPION, 2000).<br />
O corpo possui mecanismos para regular seu próprio calor,<br />
e a manutenção do equilíbrio entre a produção e a perda de calor<br />
exige um fino ajustamento. É necessário realizar uma distinção<br />
entre a temperatura central do corpo e a temperatura periférica,<br />
porém, sob condições padrão, a temperatura corporal do homem<br />
mantém-se notavelmente constante (RUOTI et al., 2000).<br />
Pequenas oscilações na temperatura corporal ocorrem<br />
durante todo o dia e também nas diferentes partes do corpo.<br />
Exercícios, distúrbios emocionais, altas ou baixas temperaturas<br />
ambientais, bem como a idade e o sexo são fatores que podem
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
afetar a temperatura corporal. Vários especialistas sugerem que a<br />
temperatura da pele é de 33,3 °C, podendo diminuir nas partes mais<br />
distais nas extremidades.<br />
Os efeitos terapêuticos dos exercícios na água estão<br />
relacionados ao alívio da dor e espasmos musculares, manutenção<br />
ou aumento da amplitude de movimento das articulações,<br />
fortalecimento dos músculos enfraquecidos e aumento na sua<br />
tolerância aos exercícios, reeducação dos músculos paralisados,<br />
melhoria da circulação, encorajamento das atividades funcionais,<br />
manutenção e melhoria do equilíbrio, coordenação e postura<br />
(RUOTI et al., 2000).<br />
O tratamento fisioterapêutico é realizado primeiramente,<br />
com a avaliação da criança, onde segue as seguintes etapas:<br />
� Avaliação subjetiva: informações dadas pelo próprio<br />
paciente, sobre si mesmo. Deve-se incluir a atitude do paciente na<br />
água, informações sobre suas habilidades observadas e detalhes de<br />
hidroterapia prévia ou outras atividades aquáticas tais como, o tipo,<br />
local, data e resultados. Avaliação objetiva: exame do paciente.<br />
Leva-se em conta a densidade e a forma do paciente, bem como<br />
quaisquer contra - indicações para a hidroterapia (CAMPION,<br />
2000).<br />
� Análise das informações acima: diagnóstico e histórico<br />
médico, mais a avaliação subjetiva e objetiva, para formular a lista<br />
de problemas. A análise da forma e da densidade é vital e constitui<br />
parte da lista de problemas.<br />
� Plano de ação: para cada um dos problemas.<br />
� Intervenção: tratamento do paciente, incluindo também<br />
o ensinamento do ajuste mental, da restauração do equilíbrio e do<br />
controle rotacional.<br />
117
118<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
� Estimação: avaliação da intervenção, e avaliar qual foi<br />
o resultado do tratamento.<br />
� Revisão: a próxima sessão de tratamento e quaisquer<br />
alterações propostas de tratamento.<br />
Os pontos específicos que precisam ser utilizados na<br />
avaliação da atividade aquática devem ser a forma e a densidade, a<br />
adequação para a atividade em grupo, porcentagem de sustentação<br />
de peso, tônus muscular e o controle da respiração (CAMPION,<br />
2000).<br />
Após a avaliação é necessário o registro detalhado do<br />
tratamento de hidroterapia, no qual inclui a duração do tratamento,<br />
a temperatura da água, as profundidades utilizadas, os exercícios,<br />
qualquer melhora na condição do paciente e na atividade, como<br />
também qualquer efeito desfavorável para o paciente.<br />
Dentro do tratamento da hidroterapia utilizamos o método de<br />
Halliwick, onde esse método está sendo utilizado por muitos<br />
fisioterapeutas, para tratar principalmente crianças e adultos com<br />
enfermidades neurológicas. Esse método enfatiza as habilidades do<br />
paciente na água e não suas limitações, deve também dar ênfase no<br />
prazer colocando as atividades em formas de jogos (CAMPION,<br />
2000; RUOTI, 2000).<br />
A partir do estudo da hidroterapia, desenvolveram-se vários<br />
métodos, como o Método de Halliwick, desenvolvido por James<br />
Mc Millan em 1949 na Halliwick escola para garotas em South<br />
Gate (Londres). A proposta inicial foi a, de auxiliar pessoas com<br />
problemas físicos a se tornarem mais independentes para nadar<br />
(CAMPION, 2000).<br />
A ênfase inicial do método era recreacional com o<br />
objetivo de independência na água. Com o decorrer dos anos, Mc
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
Millan manteve a sua proposta original e adicional outras técnicas<br />
a este método, utilizando uma filosofia para ensinar a felicidade de<br />
se estar na água, tratar os alunos pelo primeiro nome, dar ênfase<br />
na habilidade não na deficiência, dar ênfase no prazer, colocando<br />
atividades em forma de jogos, trabalhar em grupo, de forma que os<br />
nadadores se encorajem uns aos outro.<br />
Recentemente estas técnicas estão sendo usadas por muitos<br />
fisioterapeutas para tratar crianças e adultos com enfermidades<br />
neurológicas, na Europa e EUA (CAMPION, 2000).<br />
O método de Halliwick utiliza o programa dos dez pontos<br />
para o tratamento, onde segue:<br />
1 - Ajustamento mental: adaptação ao meio líquido de forma que a<br />
confiança na água possa ser estabelecida.<br />
2 - Desprendimento: é o meio pelo qual o nadador se torna mental<br />
e físicamente independente.<br />
3 - Rotação vertical: é o movimento em torno do eixo transversal<br />
do corpo (da posição deitada, para posição em pé)<br />
4 - Rotação Lateral: é o movimento em volta do eixo da coluna<br />
vertebral (Rolar: decúbito ventral para decúbito dorsal).<br />
5 - Rotação combinada: combinação das duas anteriores sendo<br />
executada em um único movimento.<br />
6 - Empuxo: compreensão da força de flutuação da água.<br />
7 - Equilíbrio: O nadador capaz de manter a posição do corpo<br />
enquanto flutua com descanso, fazendo pequenos ajustes quando<br />
há turbulência.<br />
8 - Deslize turbulento: o nadador flutua, sendo levado através da<br />
água pela turbulência criada pelo instrutor.<br />
119
120<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
9 - Progressão simples: nadador realiza movimentos das mãos<br />
junto ao corpo “Sculling” (remadas curtas).<br />
10 - Braçada básica: com o nadador em decúbito dorsal, os braços<br />
são movimentados lenta e amplamente sobre a água (CAMPION,<br />
2000).<br />
Com base no programa dos dez pontos de Halliwick,<br />
desenvolve-se o método para o tratamento em questão, que segue<br />
nas seguintes etapas:<br />
� Etapa 1: Entrada<br />
O fisioterapeuta deve sempre estar na água primeiro e ficar<br />
pronto para receber o paciente. Deve sempre entrar tranqüilamente,<br />
causando tão pouco borrifo quando possível, assegurar que emerge<br />
seus ombros e que sopre bolhas na água. Essas ações tranqüilizam<br />
os pacientes. Após, o mesmo sentar na borda da piscina é encorajado<br />
a por suas mãos para frente sobre os ombros do fisioterapeuta.<br />
As mãos do fisioterapeuta são colocadas abaixo de seus braços,<br />
em torno de suas costas, logo abaixo de suas escápulas. A ação<br />
do fisioterapeuta é fundamental, encorajando a criança soprar<br />
enquanto a água vem em direção ao seu rosto.<br />
Uma vez dentro da água, deve-se imediatamente prosseguir<br />
para uma atividade tal como de saltar, e não deixar que o indivíduo<br />
tenha tempo para pensamentos ociosos. O exemplo de saltar além<br />
de divertido também ensina a respiração e o controle da cabeça,<br />
constituindo-se um pré-requisito para a independência. A entrada<br />
da criança deve ser facilitada e se tornar automática, já a extensão<br />
deve ser evitada todo o tempo (CAMPION, 2000).<br />
� Etapa 2: Início das técnicas<br />
Essa etapa tem por finalidade incentivar um maior<br />
desprendimento da criança, ou seja, tornar a criança mentalmente e<br />
fisicamente independente.
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
O nadador fica em pé de frente para o fisioterapeuta,<br />
o mesmo segura o nadador no centro do equilíbrio do corpo,<br />
aproximadamente ao nível da cintura. Onde pode-se cantar a<br />
canção, “Tiquetaquear” com um relógio de lado para fora, isso irá<br />
encorajar a abdução, controle lateral da cabeça e apreciação do<br />
peso da água. Pode-se bater palmas com as mãos acima da cabeça,<br />
encorajando ainda mais a independência do individuo, movimento<br />
de braços, percepção do corpo e o controle da cabeça. À medida<br />
que o desempenho melhore, o fisioterapeuta pode dar menos auxílio<br />
no equilíbrio, e finalmente pode assegurar a estabilidade lateral,<br />
podendo empurrar o nadador delicadamente, porém, firmemente de<br />
lado para lado e observar se o paciente restaura a posição triangular<br />
e se está controlando seu corpo para frente e para trás.<br />
A forma triangular é uma forma na qual, as pernas do<br />
indivíduo estão amplamente separadas e os braços juntos ao lado do<br />
corpo. Se essa forma for empurrada para o lado, a água restaurará<br />
a posição vertical. Deve-se estimular, caminhar para os lados, em<br />
círculo ou pela piscina, com isso o paciente terá noção do espaço e<br />
do meio líquido, com isso o paciente notará que a água tem peso,<br />
e que há uma necessidade de equilíbrio e controle da cabeça. O<br />
ajustamento mental é incrementado (CAMPION, 2000).<br />
Deve ser lembrado que na água a flutuação tende a<br />
minimizar os efeitos da gravidade, particularmente quando mais de<br />
dois terços do corpo estão imersos e quando o corpo está flutuando.<br />
Isto significa que não há a mesma exigência sobre os músculos<br />
antigravitacionais, além de outras vantagens.<br />
� Etapa 3: Essa etapa tem por finalidade incentivar, e<br />
estimular o controle da cabeça.<br />
Um círculo é formado, nadador e terapeuta alternadamente,<br />
todos segurando as mãos e voltados para dentro.<br />
121
122<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Os pontos a observar são que a cabeça esteja inclinada na direção<br />
em que o círculo está se movendo e que ela seja mantida em tal<br />
posição que os pés permaneçam em contato com o chão da piscina<br />
e não se elevem para frente ou para trás e que os pés não se cruzem<br />
(CAMPION, 2000).<br />
Instruir o indivíduo a caminhar em círculo para o lado<br />
dando um passo e levando o outro pé para junto do primeiro,<br />
inclinar-se e empurrar de encontro à água, quando a água chegar<br />
próximo à face - soprar.<br />
� Etapa 4: Esta etapa tem por finalidade estimular a cabeça<br />
e o equilíbrio corporal da cabeça.<br />
É formado um círculo, alternadamente o nadador e o<br />
fisioterapeuta segurando as mãos e olhando para dentro. O mesmo<br />
instrui o nadador para dobrar seus joelhos na altura do tórax e que<br />
lentamente mova a sua cabeça para frente e para trás.<br />
O fisioterapeuta fornece auxílio para o nadador, movendo seu braço<br />
para frente e para trás ligeiramente. É importante que o controle da<br />
cabeça para frente e para trás seja tal que o corpo “em bola” não<br />
oscile demasiado longe (CAMPION, 2000).<br />
� Etapa 5: Saída<br />
A saída por cima da borda deve ser desenvolvida de tal<br />
maneira que a independência do paciente seja ajudada. Isto envolve<br />
que o individuo coloque suas mãos sobre a parede e, com auxílio<br />
do fisioterapeuta segurando ambos os quadris logo abaixo do<br />
grande trocânter, alcançar uma posição deitada sobre a parede, com<br />
as pernas retas pelo lado da piscina abaixo. Ela então “serpenteia”<br />
para frente empurrando com suas mãos. Suas pernas devem ser<br />
levantadas no alto e fora da água, enquanto ela se move para frente
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
até que seus quadris estejam bem sobre o lado da piscina. Ela é<br />
ajudada a rolar e a sentar-se.<br />
Deve-se tomar cuidado quando o controle da cabeça é<br />
limitado, e a saída modificada para acomodar sinergias flexoras dos<br />
braços.<br />
Em casos de espinha bífida, se for utilizada uma bolsa<br />
urinária, o quadril no lado do aparelho precisa ser levantado bem<br />
distante de modo a que o aparelho permaneça no lugar (CAMPION,<br />
2000).<br />
Esse se difere dos outros métodos de ensino, porque<br />
valoriza a natureza critica da água e se adapta as formas e<br />
densidades alteradas da pessoa deficiente. As crianças com<br />
distúrbios neurológicos tornam-se mentalmente ajustados à água,<br />
adquirem estabilidades de restauração do equilíbrio, controle da<br />
cabeça e da respiração, e com isso atingindo todos os requisitos<br />
para a independência na água.<br />
Enquanto o objetivo do método é um nadador mentalmente<br />
ajustado e fisicamente equilibrado, os vários aspectos físicos e<br />
psicológicos asseguram que a confiança e auto-estima adquiridas<br />
na piscina sejam levadas ao solo, desenvolvendo a função na água<br />
e o principal, estimular e desenvolver a pessoa como um todo,<br />
com isso, possibilitando ao paciente o tratamento para os possíveis<br />
problemas e uma boa qualidade de vida (CAMPION, 2000).<br />
3 CoNCLuSÃo<br />
De acordo com a revisão bibliográfica realizada, verificouse<br />
a importância do meio líquido, ou seja, a hidroterapia como um<br />
tratamento terapêutico adequado para portadores de SD.<br />
123
124<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Constatou-se o Método de Halliwich como a melhor<br />
proposta de tratamento para pacientes com enfermidades<br />
neurológicas. Esse método tem como ênfase desenvolver as<br />
habilidades do paciente na água, utilizando o meio aquático como<br />
uma forma de proporcionar a felicidade, o prazer, colocando as<br />
atividades em formas de jogos (CAMPION, 2000).<br />
Esses exercícios terapêuticos proporcionam ao paciente<br />
alívio da dor, diminuição dos espasmos musculares, manutenção<br />
ou aumento da amplitude dos movimentos das articulações,<br />
fortalecimento muscular, melhora na circulação, encorajamento<br />
das atividades funcionais, manutenção e melhora no equilíbrio,<br />
coordenação e postura corporal. Facilitando atráves do meio<br />
líquido as aquisições motoras, que estão comprometidas neste<br />
portador, tornando o processo de evolução mais lento, exigindo<br />
cuidados e estímulos adequados para os devidos ganho motores.<br />
Proporcionando assim, um bem estar físico, mental e psicossocial<br />
ao portador se Síndrome de Down (RUOTTI et al., 2000).<br />
4 rEFErÊNCiAS<br />
CAMPION, Margaret Reid. Hidroterapia: Princípios e práticas.<br />
Traduzido por Mônica Conrado Lange. São Paulo: Manole, 2000.<br />
DIAMENT, Aron; CYPEL, Saul. Neurologia Infantil. 4. ed. São<br />
Paulo: Atheneu, 2005.<br />
FERREIRA, José Paulo (coord.). Pediatria: Diagnóstica e<br />
tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.<br />
FLEHMIG, Inge. Texto e Atlas do Desenvolvimento Normal e seus<br />
Desvios no Lactente: Diagnóstico e tratamento do nascimento até<br />
o 18º mês. Traduzido por Samuel Arão Reis. São Paulo: Atheneu,<br />
2005.<br />
GUIMARÃES, GP. et. al. Hidroterapia na Síndrome de Down.<br />
Fisioterapia em Movimento, v. 3, n. 2, p. 54-62, 1996.
FiSioTErAPiA APLiCADA A PorTADorES Com SÍNDromE DE DoWN<br />
MOREIRA, Lília M. et. al. A Síndrome de Down e sua patogênese:<br />
considerações sobre o determinismo genético. Revista Brasileira<br />
de Psiquiatria, v. 22, n. 2, p. 96-99, 2000.<br />
NORM, Andrea; HANSON, Bates. Exercícios Aquáticos<br />
Terapêuticos. Traduzido por Mercês Nogueira Paulo. São Paulo:<br />
Manole, 1998.<br />
ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO,<br />
Rudimar dos Santos. Rotinas em Neuropediatria. Porto Alegre:<br />
Artmed, 2005.<br />
RUOTI, Richard G.; MORRIS, David M.; COLE, Andrew J.<br />
Reabilitação Aquática. Traduzido por Nelson Gomes de Oliveira.<br />
São Paulo: Manole, 2000.<br />
SAAD, Suad Nader. Preparando o caminho da inclusão: dissolvendo<br />
muitos preconceitos em relação à pessoa com Síndrome de Down.<br />
São Paulo: Vetor, 2003.<br />
125
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA<br />
muSCuLAr Em PorTADorES DE<br />
ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
PedROSO, AnA PAULA 1<br />
BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />
rESumo<br />
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica de<br />
caráter auto-imune, degenerativo e progressivo. É<br />
um distúrbio neurológico pertencente ao grupo das<br />
doenças desmielinizantes, que afeta a substância<br />
branca do sistema nervoso central (SNC).<br />
Caracterizada por inflamação e destruição da bainha<br />
de mielina que reveste os axônios das células<br />
nervosas, prejudicando a condução dos impulsos<br />
nervosos. Entre as inúmeras manifestações clínicas<br />
advindas da EM a fadiga muscular é descrita como<br />
a mais debilitante e incapacitante, principalmente<br />
quando somada à fadiga central. A fadiga muscular<br />
é oriunda da inatividade, desuso, períodos de<br />
confinamento no leito e também das falhas nas<br />
1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
2 Professora dos Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />
Superior de Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />
127
128<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
transmissões nervosas decorrentes da EM. Nos<br />
últimos anos pesquisadores têm se dedicado ao<br />
estudo de programas de exercícios resistidos para<br />
pessoas com EM. O presente trabalho trata-se de<br />
uma revisão bibliográfica exploratória que tem como<br />
objetivo geral verificar os benefícios dos exercícios<br />
resistidos na fadiga muscular em portadores de EM.<br />
Os resultados destes estudos vêm demonstrando que<br />
indivíduos com leve a moderado grau de acometimento<br />
possam beneficiar-se destes programas, aumentando<br />
a resistência muscular à fadiga, melhorando a aptidão<br />
física, o bem estar e consequentemente a capacidade<br />
funcional. Ao termino deste estudo concluiu-se que<br />
respeitando as peculiaridades e os limites impostos<br />
pela EM, a individualidade de cada paciente e o<br />
emprego consciente e seguro dos exercícios resistidos<br />
pode-se obter resultados positivos, especificamente<br />
na melhora da resistência muscular à fadiga e da<br />
capacidade funcional destes pacientes.<br />
Palavras-chave: esclerose múltipla, fadiga muscular,<br />
exercícios resistidos e fisioterapia.<br />
ABSTrACT<br />
The multiple sclerosis (ME) is a chronic illness of<br />
auto-immune, degenerative and gradual character.<br />
It is a neurological disorder pertaining to the group<br />
of the demyelinating illnesses, that affects the
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
white substance of the central nervous system.<br />
Characterized for inflammation and destruction of the<br />
myelin sheath that coats the axons of the nervous<br />
cells harming the conduction of the nervous impulses.<br />
It enters the innumerable clinical manifestations of<br />
the ME, the muscular fatigue is described as most<br />
debilitating and incapacitating, mainly when added to<br />
the central fatigue. The muscular fatigue is deriving<br />
of the inactivity, disuse, periods of confinement in<br />
the stream bed and also of the imperfections in the<br />
nervous transmissions decurrent of the ME. In recent<br />
years researchers have if dedicated to the study of<br />
programs of resisted exercises for people with ME.<br />
This study is a exploratory bibliographical research<br />
has as objective generality to verify the benefits of the<br />
exercises resisted in the muscular fatigue in carriers of<br />
ME. The results of these studies come demonstrating<br />
that individuals with light until moderate degree of<br />
involvement can benefit of these programs, increasing<br />
the muscular resistance to the fatigue, improving the<br />
physical aptitude, the welfare and consequently the<br />
functional capacity. To finish it of this study concluded<br />
that respecting the peculiarities and the limits imposed<br />
by ME, the individuality of each patient and the<br />
conscientious and safe of job the resisted exercises<br />
can be gotten resulted positive, specifically in the<br />
improvement of the muscular resistance to the fatigue<br />
and of the functional capacity of these patients.<br />
129
1 iNTroDuÇÃo<br />
130<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Keywords: multiple sclerosis, muscular fatigue,<br />
resisted exercises, physical therapy<br />
A esclerose múltipla (EM) é um distúrbio neurológico<br />
pertencente ao grupo das doenças desmielinizantes. É uma doença<br />
crônica do sistema nervoso central (SNC), de caráter auto-imune,<br />
degenerativo e progressivo (PORTER, 2005).<br />
De acordo com Silva e Valença (2003) os fatores causais<br />
ainda não são completamente conhecidos, sabe-se que há uma<br />
possível relação entre fatores genéticos e ambientais, ou seja,<br />
uma determinada predisposição genética combinada com um<br />
fator ambiental desconhecido (possivelmente viral) originaria um<br />
distúrbio imunológico de ação auto-lesiva que afetaria a substância<br />
branca do SNC, acarretando a perda de oligodendrócitos e mielina<br />
prejudicando a condução dos impulsos nervosos.<br />
Segundo Kumar et al. (2005) a EM é a patologia mais<br />
comum entre os distúrbios desmielinizantes. As mulheres são duas<br />
vezes mais acometidas pela doença, assim como os brancos são<br />
duas vezes mais afetados que os não-brancos. O aparecimento dos<br />
sintomas se dá geralmente entre os vinte e cinquenta anos de idade,<br />
por isso é considerada uma doença de adultos jovens.<br />
Segundo Mendes et al. (2000) entre as manifestações<br />
clínicas advindas da EM identifica-se a fadiga, descrita como seu<br />
sintoma mais comum, atingindo entre 80 e 90% dos pacientes. “Para<br />
pacientes com EM, a fadiga é um sintoma subjetivo, definido como<br />
sensação de cansaço físico ou mental profundo, perda de energia
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
ou mesmo sensação de exaustão, com características diferentes<br />
daquelas apresentadas na depressão ou fraqueza muscular”.<br />
Segundo Jones Jr. (2006) a sensação de lassidão ou cansaço<br />
generalizado apresentada na EM é denominada de fadiga central<br />
e é decorrente da desmielinização axonal, onde ocorrem disparos<br />
persistentes, mas ineficazes, de neurônios em vias neuronais<br />
comprometidas pelas áreas esclerosadas.<br />
Além da fadiga decorrente da desmielinização os pacientes<br />
também sofrem com a fadiga muscular relacionada ao desuso e<br />
ao descondicionamento físico que são resultado dos períodos<br />
de confinamento no leito, comuns na doença, e da redução das<br />
atividades de vida diária (AVDs) antes comuns e com a EM passam<br />
a ser praticamente abolidas. Os músculos passam por um processo<br />
gradual de atrofia, perda de força e diminuição da resistência<br />
muscular à fadiga, o que consequentemente implica em rápida<br />
fadiga muscular quando os músculos são requisitados para alguma<br />
atividade (FURTADO & TAVARES, 2006).<br />
Com o objetivo de restabelecer a resistência muscular<br />
à fadiga, prejudicada com a EM, os exercícios resistidos são<br />
uma alternativa de tratamento. Nestes casos, deve-se levar em<br />
consideração fatores como intensidade, frequência e duração dos<br />
exercícios, sempre considerando as características próprias da<br />
doença (KISNER & COLBY, 2005).<br />
2 DiSCuSSÃo<br />
Estudos epidemiológicos apontam que nos Estados Unidos<br />
(EUA) a EM afeta 1:1000 habitantes na maior parte desse país.<br />
Maiores frequências são encontradas nos países escandinavos, sul<br />
131
132<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
do Canadá, Nova Zelândia e sul da Austrália, em taxas de 30 a<br />
80 por 100 mil habitantes (JONES, 2006; MINGUETI, 2001). Na<br />
Escócia, onde são encontradas as maiores taxas, há 193 casos por<br />
100.000 habitantes. Opostamente, na China a EM é rara, ocorrendo<br />
na proporção de 1 caso por 100.000 habitantes (FURTADO &<br />
TAVARES, 2006).<br />
Presume-se que no Brasil a prevalência seja inferior a 5<br />
casos para cada 100 mil habitantes, considerando-se um país de<br />
baixa prevalência. Entretanto, os neurologistas, especificamente<br />
aqueles do sudeste e sul do Brasil, têm-se deparado com um<br />
número cada vez maior destes casos, talvez porque estejam<br />
cada vez mais influenciados pelos critérios clínicos amplamente<br />
divulgados e discutidos no meio médico hoje em dia (GRZESIUK,<br />
2006; MINGUETTI, 2001).<br />
Do ponto de vista genético cerca de 15% dos portadores<br />
de EM têm um parente afetado, o que aumenta o risco de seus<br />
descendentes em 2% e aos irmãos em 5% de serem acometidos<br />
pela doença (PORTER, 2005). O que parece é que os indivíduos<br />
não herdam a doença, mas uma susceptibilidade genética para<br />
disfunção do sistema imune, que quando exposta ao agente<br />
ambiental (infecções virais) pode desencadear uma resposta autoimune<br />
(O’SULLIVAN & SCHIMITZ, 2004).<br />
O’Sullivan e Schimitz (2004) relatam que a EM também<br />
é denominada de “grande aleijadora de jovens”, isto porque<br />
afeta principalmente indivíduos entre vinte e quarenta anos de<br />
idade, tendo a terceira década de vida como período potencial<br />
de surgimento dos sintomas. As mulheres são duas vezes mais<br />
acometidas pela doença, assim como os brancos são duas vezes<br />
mais afetados que os não-brancos.
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
Anatomicamente as placas desmielinizadas têm<br />
aspecto róseo-acinzentado e delimitações visíveis, podendo ser<br />
encontradas ao longo do encéfalo e medula espinhal. Essas placas<br />
possuem diferentes tamanhos e formatos irregulares que variam<br />
de milímetros até alguns centímetros de diâmetro. As lesões<br />
recentes têm aspecto rosado e são macias, enquanto as crônicas são<br />
cinzentas, translúcidas e firmes. Algumas lesões têm tamanho tão<br />
reduzido que só podem ser vistas ao exame microscópico, outras<br />
com tamanho razoável chegam a ocupar grandes porções do SNC<br />
(NITRINI & BACHESCHI, 2005).<br />
De acordo com Kumar et al. (2005) as placas são<br />
normalmente encontradas ao longo do trajeto das veias<br />
periventriculares, por isso são comumente observadas ao lado dos<br />
ventrículos laterais. Também são frequentes nos nervos ópticos,<br />
no quiasma, nos tratos de fibras ascendentes e descendentes no<br />
tronco cerebral, cerebelo e medula. Além disso, as placas podem<br />
se estender para estruturas de substância cinza, desde que existam<br />
fibras mielinizadas intrincadas; embora a identificação no interior<br />
da substância cinzenta seja mais difícil.<br />
Do aspecto microscópico existem variantes que vão de<br />
acordo com a evolução das lesões. Em fases agudas onde há a<br />
presença de inflamação, principalmente em torno das pequenas<br />
veias, ocorre um grande extravasamento de líquido carregado de<br />
células, principalmente linfócitos e macrófagos, nesta etapa poderá<br />
vir a ocorrer a desmielinização em decorrência do efeito citotóxico<br />
destas células aos oligodendrócitos (células produtoras de mielina)<br />
e à bainha de mielina que envolve o nervo (BUJA & KRUEGER,<br />
2007).<br />
A bainha de mielina serve como um isolante, aumentando<br />
a velocidade de transmissão dos impulsos ao longo das fibras<br />
133
134<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
nervosas e também auxilia na conservação de energia para o nervo.<br />
Com a sua degradação a condução dos impulsos neurais se torna<br />
mais lenta fazendo com que os nervos fadiguem mais rapidamente.<br />
Um comprometimento maior pode levar a um bloqueio da<br />
condução dos impulsos, levando a perda da função (O’SULLIVAN<br />
& SCHIMITZ, 2004).<br />
Com o avançar da doença são observadas lesões em estágio<br />
agudo e crônico de diversos tamanhos e largamente distribuídos<br />
principalmente no nervo óptico, substância branca subcortical<br />
(especialmente periventricular), tratos córticoespinhais, cordão<br />
posterior da medula espinal e pedúnculos cerebelares, locais estes<br />
que são considerados áreas de predileção de desenvolvimento das<br />
lesões escleróticas (JONES, 2006).<br />
De acordo com Jones Jr. (2006) a forma evolutiva mais<br />
comum de EM é a de surtos e remissões onde as manifestações<br />
dos sintomas desaparecem após alguns dias de forma completa ou<br />
parcial. Mais raramente a EM tem um curso crônico e progressivo<br />
em que os sinais e sintomas progridem gradualmente.<br />
Entre as manifestações clínicas estão os distúrbios visuais,<br />
parestesias, distúrbios de marcha, incontinência intestinal e vesical,<br />
fraqueza, fatigabilidade, espasticidade, paresia, disartria, tremor<br />
intencional, ataxía e instabilidade emocional. Os sinais e sintomas<br />
podem se desenvolver rapidamente, em seis a quinze horas ou em<br />
questão de dias ou semanas (BUJA & KRUEGER, 2007).<br />
A fadiga é evento comum e impactante no cotidiano dos<br />
portadores de EM. Durante o período da manhã os pacientes podem<br />
sentir-se revigorados, mas ao decorrer do dia a sensação de fadiga<br />
se agrava, possivelmente pelo aumento da temperatura central<br />
do corpo. A sensação de fadiga torna as atividades funcionais
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
cotidianas muito exaustivas, fazendo com que sejam reduzidas ou<br />
até abolidas, tornando o mundo ao redor inalcançável para estas<br />
pessoas. A fatigabilidade se eleva sob influência do calor, raios<br />
solares, ambientes superaquecidos, banhos quentes e exercícios<br />
prolongados e/ou intensos sem repouso adequado (BECKER &<br />
DULKEN, 2008).<br />
Na EM divide-se a fadiga em dois grupos: a fadiga central<br />
ou generalizada e a fadiga muscular ou localizada. As duas têm<br />
etiologias diferenciadas, mas possuem uma interrelação, ou seja,<br />
se somam e podem ser confundidas pelos pacientes (FURTADO &<br />
TAVARES, 2006).<br />
A fadiga central pode ser causada por disparos ineficazes<br />
de neurônios em vias neuronais comprometidas pelas placas<br />
escleróticas. Os impulsos tornam-se incapazes de produzir<br />
movimentos adequados nos músculos ou recrutar reflexos<br />
necessários. Com o comprometimento da função axonal há um<br />
aumento dos caminhos e áreas corticais, decorrentes das áreas de<br />
desmielinização cerebral, podendo ser responsável pela sensação de<br />
esforço extremamente aumentado experimentado pelos pacientes<br />
mesmo nas tarefas mais simples (NITRINI & BACHESCHI,<br />
2005).<br />
Segundo Furtado & Tavares (2006) a fadiga muscular frequentemente<br />
acomete os indivíduos com EM, mas diferentemente da fadiga<br />
central advinda da desmielinização, a fadiga muscular é decorrente<br />
do descondicionamento físico, da inatividade e do desuso. Os<br />
pacientes costumam interromper as atividades costumeiras após<br />
o surgimento dos sintomas impostos pela EM, muitas vezes são<br />
orientados a não praticarem atividades físicas e inclusive podem<br />
ficar confinados no leito durante muitos dias ou semanas durante<br />
os surtos da doença, gerando um quadro de perda gradativa da<br />
135
136<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
resistência à fadiga muscular. Pode-se dizer que a fadiga muscular<br />
é causada por destreinamento e sedentarismo. A fadiga nestes<br />
pacientes merece atenção, pois há uma soma de fatores, centrais e<br />
periféricos, que a desencadeiam nestes pacientes, gerando extremo<br />
desconforto.<br />
Por muito tempo os pacientes encararam a doença de<br />
forma errônea, no momento em que eram orientadas a diminuir seu<br />
nível de atividade física. Pretendia-se promover a conservação de<br />
energia, evitar o aumento da temperatura corporal para controlar<br />
a fadiga, diminuindo o risco de exacerbação dos sintomas da<br />
doença. Mas o estilo de vida sedentário repercutiu em um risco<br />
aumentado de doenças cardíacas e em outras patologias associadas<br />
à inatividade física e também elevou o aparecimento dos distúrbios<br />
característicos da EM, como espasticidade, ataxia, fraqueza<br />
muscular, problemas de equilíbrio e fadiga. Alguns estudos vêm<br />
demonstrando que a realização de exercícios físicos por portadores<br />
de EM pode trazer benefícios similares àqueles obtidos por pessoas<br />
saudáveis (FURTADO & TAVARES, 2006).<br />
Entre os recursos disponíveis na fisioterapia para o tratamento das<br />
manifestações da EM, encontramos aqueles que visam reduzir a<br />
fadiga muscular e aumentar a tolerância dos pacientes em relação a<br />
esse sintoma. Entre eles, os exercícios resistidos têm sido utilizados<br />
com esta finalidade e muitos estudos vêm sendo realizados a<br />
respeito das consequências destes exercícios em pacientes com EM<br />
(FURTADO & TAVARES, 2006; KISNER & COLBY, 2005).<br />
Resistência muscular à fadiga é a capacidade de realizar<br />
atividades de intensidade baixa ou moderada, dinâmicas ou<br />
estáticas por um período maior de tempo. A resistência muscular<br />
á fadiga é descrita quando um músculo se contrai repetidamente<br />
contra uma resistência gerando e mantendo tensão suficiente e
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
resistindo à fadiga por um tempo prolongado. A maioria das tarefas<br />
diárias necessita de certo grau de resistência muscular, mesmo<br />
músculos fortes podem encontrar-se sem resistência muscular,<br />
levando-os à fadiga mais rapidamente. No treino para melhora<br />
da resistência o essencial são séries numerosas, baixa intensidade<br />
(carga) e extenso período de tempo. Este tipo de treino possui<br />
grandes vantagens sobre os exercícios resistidos de intensidade<br />
elevada, observando que a baixa intensidade é mais confortável<br />
para o paciente, não produz grandes impactos sobre as articulações<br />
e produz menos irritação sobre os tecidos moles. Os pacientes com<br />
EM podem se beneficiar com este tipo de exercício, aumentando<br />
sua capacidade de resistir à fadiga muscular, obtendo assim maior<br />
funcionalidade e melhor qualidade no desempenho de tarefas do<br />
cotidiano (FURTADO & TAVARES, 2006; KISNER & COLBY,<br />
2005).<br />
As adaptações fisiológicas decorrentes do treinamento de<br />
resistência muscular à fadiga em relação à estrutura do músculo<br />
esquelético envolvem aumento da densidade dos leitos capilares e<br />
da densidade e volume das mitocôndrias, ou seja, há um aumento<br />
na capacidade oxidativa e metabólica dos músculos, sendo que<br />
o uso e o transporte de oxigênio e nutrientes são melhorados. A<br />
hipertrofia muscular neste tipo de treinamento é mínima. Com<br />
relação à composição do corpo há uma redução do percentual de<br />
gorduras, mas a massa magra não sofre alterações. Os tendões,<br />
ligamentos e tecido conjuntivo têm sua força tensiva aumentada e<br />
concomitantemente a mineralização óssea é elevada com atividades<br />
combinadas ao apoio de peso. O tempo para que essas adaptações<br />
ocorram variam de um indivíduo para outro e dependem do grau<br />
de adesão do paciente aos exercícios resistidos e da extensão dos<br />
comprometimentos oriundos da patologia (KISNER & COLBY,<br />
2005).<br />
137
138<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Os exercícios resistidos têm sido utilizados por pacientes<br />
com EM e têm se demonstrado seguros e efetivos quando usados<br />
com moderação. Indivíduos com comprometimentos mínimos<br />
e doença estável parecem ter melhor tolerância aos exercícios e,<br />
portanto, obtêm o máximo benefício. É importante considerar que<br />
os exercícios com intensidade submáxima (baixa a moderada)<br />
são tolerados, enquanto que o exercício máximo não. Têm sido<br />
relatadas melhoras significativas nas medidas de força e resistência<br />
muscular á fadiga, fatigabilidade (fadiga central) e na percepção da<br />
fadiga periférica muscular (O’SULLIVAN & SCHIMITZ, 2004).<br />
DeBolt e McCubbin (2004) registraram o impacto de um programa<br />
domiciliar com exercícios resistidos para membros inferiores<br />
(MMII) em portadores de EM, a partir de um programa que se<br />
compreendia de seis sessões para instrução dos participantes e oito<br />
semanas de treinamento com três sessões semanais em ambiente<br />
domiciliar. Participaram do estudo dezenove praticantes e dezessete<br />
controles, todos com EM confirmada. Os resultados demonstraram<br />
melhora significativa de potência de MMII, com ganhos médios de<br />
37,4% e diminuição de 12,7% no tempo de caminhada.<br />
Em outro estudo, White et al. (2004) avaliaram o efeito de<br />
oito semanas de um programa de treinamento resistido progressivo<br />
para MMII em máquinas, contando com oito sujeitos com EM<br />
(EDSS: 1-5). Os participantes realizaram exercícios dinâmicos<br />
e melhoraram significativamente a força isométrica de extensão<br />
de joelho (7,4%) e flexão plantar (54%), além da melhora no<br />
desempenho na execução de três minutos de subida e descida de<br />
degrau (8,7%). O auto-relato de fadiga reduziu significativamente<br />
(24%) e houve, ainda, uma tendência para redução da incapacidade<br />
a partir de auto-relato (EDSS de 3,7 para 3,2).<br />
Em um estudo com maior duração e número de sujeitos,<br />
Romberg et al. (2004) estudaram o impacto de vinte e seis semanas
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
de exercícios resistidos com faixas elásticas em noventa e cinco<br />
indivíduos com EM (EDSS: 1-5,5). Foram observadas melhoras<br />
significativas nos testes de caminhada de 7,62 metros (12%) e 500<br />
metros (6%), além de melhora na resistência muscular localizada<br />
de membros superiores (2,9 repetições).<br />
O impacto de um programa de exercícios no<br />
condicionamento físico e na qualidade de vida de pessoas com<br />
EM foi estudado por Petajan et al. (1996). Nessa pesquisa vinte e<br />
um sujeitos (EDSS = 6) completaram um programa de exercícios<br />
por quinze semanas com três sessões semanais. Cada sessão de<br />
treino consistia de cinco minutos de aquecimento a 30% VO2max<br />
(volume máximo de oxigênio que um indivíduo consegue utilizar<br />
por minuto), trinta minutos a 60% do VO2max, seguidos de<br />
cinco minutos de resfriamento e alongamento para os MMII e<br />
para as costas. Os exercícios foram realizados em ergômetro de<br />
braços e pernas. Nesse estudo foi observado aumento de 22% no<br />
VO2, diminuição de gordura corporal e níveis de triglicérides,<br />
além de mudanças favoráveis na força máxima isométrica de<br />
todos os grupos musculares. O treinamento também resultou em<br />
um profundo impacto na qualidade de vida, com reduções na<br />
depressão, fadiga e melhora na mobilidade e cuidados corporais. O<br />
autor sugere que indivíduos com EM podem obter benefícios com<br />
a prática de exercícios físicos, similares àqueles alcançados por<br />
pessoas sem doença.<br />
Dodd et al. (2006) desenvolveram um estudo qualitativo<br />
para explorar as percepções de adultos com EM sobre os efeitos<br />
positivos e negativos de um programa progressivo de reforço da<br />
resistência. O estudo teve a participação de sete mulheres e dois<br />
homens (idade média de 45,6 anos) com EM, eles participaram de um<br />
programa de dez semanas de exercícios com resistência progressiva<br />
139
140<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
com frequência de duas vezes por semana. Os participantes foram<br />
entrevistados no final do programa e os resultados foram muito<br />
positivos, com benefícios físicos, psicológicos e sociais notáveis. A<br />
maioria dos participantes relatou menos fadiga como resultado do<br />
programa. Poucos resultados negativos foram registrados e estes<br />
foram menores, tais como dores. Os principais fatores extrínsecos<br />
para a conclusão do programa foram o incentivo dos líderes e do<br />
conhecimento dos exercícios, enquanto que os principais fatores<br />
intrínsecos foram a satisfação, a determinação e a vivência dos<br />
sinais de progresso. Os resultados deste estudo sugerem que o<br />
treinamento de força e resistência progressivas é uma opção viável<br />
para a melhora da aptidão física para algumas pessoas com EM. Os<br />
fatores apontados como importantes para a conclusão do programa<br />
são a escolha de profissionais com conhecimento e capacidade de<br />
incentivar os exercícios e o trabalho de grupo que contribuíram<br />
para o sucesso do programa.<br />
Os benefícios dos exercícios resistidos apresentados nos<br />
estudos e pesquisas relacionados são inúmeros e se refletem tanto<br />
física quanto mentalmente. Os benefícios que os pacientes com<br />
EM experimentam ao praticar os exercícios resistidos podem<br />
ser os mesmos experimentados por pessoas saudáveis. Segundo<br />
Kisner & Colby (2005). O treinamento de resistência muscular<br />
proporciona um maior aporte sanguíneo ao músculo esquelético<br />
aumentando a capacidade oxidativa e metabólica desses tecidos.<br />
Concomitantemente há também uma redução do percentual de<br />
gordura pela queima calórica provocada pelos exercícios e aumento<br />
da força tensiva dos tendões, ligamentos e tecido conjuntivo.<br />
A redução da fadiga central e cansaço generalizado<br />
podem ser explicados em razão de que a prática de exercícios<br />
físicos estimula a liberação de substâncias como a endorfina, que
EXErCÍCioS rESiSTiDoS NA FADiGA muSCuLAr Em PorTADorES DE ESCLEroSE mÚLTiPLA<br />
proporcionam sensação de bem estar físico e mental. O fato de o<br />
paciente realizar uma atividade que não era habitual, onde ele pode<br />
interagir com outras pessoas e mudar sua rotina que muitas vezes é<br />
limitada em decorrência da doença, pode fazer com que o paciente<br />
se sinta mais disposto e menos fadigado (HAASE et al., 2004).<br />
O aumento da resistência muscular à fadiga e a percepção<br />
reduzida da fadiga central apontada nos estudos descritos revelam<br />
que se deve preconizar as atividades físicas, principalmente os<br />
exercícios resistidos que se mostram, até o momento, eficientes<br />
no tratamento de algumas das principais manifestações clínicas<br />
decorrentes da EM, ao contrário da inatividade, antes dada como<br />
orientação a estes pacientes.<br />
A consideração a ser feita é que se trata de uma doença<br />
crônica, progressiva, degenerativa e com limitações e incapacidades<br />
que devem ser respeitadas. Aplicar um programa de exercícios<br />
resistidos nestes pacientes requer conhecimento da patologia, do<br />
tratamento e das necessidades individuais de cada um, além de<br />
uma boa interação do fisioterapeuta com o paciente que precisa ser<br />
uma relação de confiança e aprendizagem mútua.<br />
3 CoNCLuSÃo<br />
Com base no que foi descrito nos capítulos anteriores, pôdese<br />
verificar que entre as inúmeras manifestações clínicas advindas<br />
da EM a fadiga muscular é descrita como a mais debilitante e<br />
incapacitante, principalmente quando somada à fadiga central.<br />
Observou-se também que os fatores predisponentes à fadiga<br />
muscular são o desuso, a inatividade e o descondicionamento<br />
físico, ou seja, o sedentarismo adotado como estilo de vida por<br />
141
142<br />
PEDroSo, ANA PAuLA – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
esses pacientes e os períodos de surto que os confinam ao leito,<br />
tornam-se agravantes na redução da resistência muscular à fadiga.<br />
Verificou-se em pesquisas recentes que uma das alternativas<br />
de tratamento para restabelecer a resistência muscular à fadiga,<br />
prejudicada com a EM, são os exercícios resistidos, partindo do<br />
pressuposto que estes exercícios melhoram a aptidão física, o bem<br />
estar, aumentam a resistência muscular à fadiga e melhoraram a<br />
força muscular.<br />
Mostrou-se que os pacientes com grau de acometimento leve<br />
a moderado são os candidatos à prática dos exercícios resistidos,<br />
que devem ser realizados em locais adequados e orientados por<br />
fisioterapeutas. E ainda, que a intensidade submáxima é a mais<br />
indicada para a reabilitação da resistência muscular à fadiga e que o<br />
número de repetições deve ser maior e as cargas impostas menores,<br />
com repouso razoável entre as séries de exercícios. A frequência<br />
semanal ideal fica em torno de três dias intercalados por um dia de<br />
descanso.<br />
Portanto, respeitando-se as peculiaridades e os limites<br />
impostos pela EM, a individualidade de cada paciente e o<br />
emprego consciente e seguro dos exercícios resistidos podese<br />
obter resultados positivos em relação à fadiga muscular. Os<br />
estudos relacionados evidenciam estas possibilidades através dos<br />
benefícios apresentados, especificamente, em relação à melhora da<br />
resistência muscular à fadiga e consequentemente da capacidade<br />
funcional.<br />
Muitos estudos e pesquisas ainda precisam ser realizados<br />
em relação à EM e a terapêutica sintomática, visto que, há ainda<br />
inúmeras possibilidades a serem testadas e que podem trazer a<br />
esperança de um futuro melhor a estes pacientes.
4 rEFErÊNCiAS<br />
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iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em<br />
QuEimADoS<br />
HeinZMAnn FiLHO, JOãO PAULO 1<br />
WOZeZenSKi, CRiSTHieLe TAiS<br />
BeCK, deRLiAne gLOnVeZynSKi dOS SAnTOS 2<br />
1<br />
rESumo<br />
A pesquisa realizada foi do tipo bibliográfica, onde a<br />
abordagem qualitativa foi utilizada como eixo central.<br />
Com o desenvolvimento desse artigo, verificou-se<br />
a relevância da fisioterapia nas diversas etapas do<br />
processo de reabilitação. Tornando indispensável<br />
a atuação deste profissional, juntamente com uma<br />
equipe interdisciplinar, buscando um intervervenção<br />
precoce para evitar possiveis complicacões<br />
secundárias a queimadura. O estudo teve por objetivo<br />
enfatizar a utilização dos recursos fisioterapêuticos<br />
no tratamento de pacientes com lesões térmicas.<br />
Constatou-se através dos mesmos, uma melhora no<br />
reparo tecidual, maior extensibilidade dos tecidos,<br />
melhora na cicatrização, analgesia, redução de<br />
edemas, quelóides, contraturas, deformidades,<br />
aumento da ADM, força muscular e do sistema<br />
1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
2 Professora de Cursos de Fisioterapia e Biomedicina do Instituto Cenecista de Ensino<br />
Superior Santo Ângelo, Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia.<br />
145
146<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
respiratório. Proporcionando assim um ganho na<br />
capacidade funcional, melhorado suas perspectivas<br />
de vida e contribuindo para uma melhora em sua<br />
auto-estima.<br />
Palavras-Chave: Pele, Queimaduras, Reabilitação,<br />
Fisioterapia, Recursos Fisioterapêuticos.<br />
ABSTrACT<br />
The research design was literature, where the<br />
qualitative approach was used as the centerpiece.<br />
With the development of this article, there was the<br />
importance of physiotherapy in the various stages<br />
of rehabilitation. Making it essential to performance<br />
of this work, together with an interdisciplinary team,<br />
seeking a intervervenção early to avoid possible<br />
complications secondary to burn. The study aimed<br />
to emphasize the use of chest physical therapy in<br />
treating patients with thermal injuries. It was found<br />
through the same, an improvement in tissue repair,<br />
increased tissue extensibility, improved healing,<br />
analgesia, reduction of edema, keloids, contractures,<br />
deformities, increased ROM, muscle strength and<br />
respiratory system. Thus providing a gain in functional<br />
capacity, improved their chances of living and<br />
contributing to an improvement in their self-esteem.<br />
keywords: Skin, Burns, Rehabilitation, Physiotherapy,<br />
physical therapy resources.
1 iNTroDuÇÃo<br />
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
As lesões térmicas estão entre os principais problemas<br />
de saúde no mundo industrial e nos Estados Unidos anualmente<br />
registram a mais alta incidência dessas lesões. Os dados disponíveis<br />
constam mais de dois milhões de pessoas queimadas a cada ano.<br />
Um quarto dessas requer atenção médica e aproximadamente cinco<br />
mil mortes estão relacionados com lesões térmicas (SULLIVAN &<br />
SCHMITZ, 2004).<br />
Embora esses dados ressaltarem a grandeza do problema<br />
de saúde causado por queimaduras, avanços médicos recentes têm<br />
reduzido significativamente o número de mortos devido a essas<br />
lesões, melhorando o prognóstico e as habilidades funcionais dos<br />
pacientes sobreviventes. A taxa de sobreviventes tem aumentado<br />
devido à melhora das técnicas de ressuscitação, à assistência<br />
médica aguda e as assistências cirúrgicas agora mais disponíveis,<br />
assim como a constante pesquisa sobre o tratamento e assistência<br />
deste paciente (SULLIVAN & SCHMITZ, 2004).<br />
Com o resultado de perspectivas mais positivas em relação<br />
a esses aspectos, mais fisioterapeutas se tornam responsáveis pelo<br />
tratamento desses pacientes em uma parte significativa de sua<br />
reabilitação. Não só abrangendo a unidade hospitalar, como outros<br />
locais indispensáveis nas diversas áreas de atuações (SULLIVAN<br />
& SCHMITZ, 2004; GUIRRO & GUIRRO, 2002).<br />
A queimadura pode ser considerada uma lesão dos tecidos<br />
orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica. Podem<br />
variar desde uma pequena flictena, até formas mais graves capazes<br />
de desencadear um grande número de respostas sistêmicas. As<br />
intercorrências locais e sistêmicas produzidas pelas queimaduras<br />
147
148<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
mostram a grande importância da pele e conseqüentemente de<br />
suas funções protetoras do organismo contra agentes externos<br />
(GUIRRO & GUIRRO, 2002).<br />
Está entre os traumas mais graves, pois além dos problemas<br />
físicos que podem levar o paciente à morte, pode acarretar outros<br />
problemas de ordem psicológica e social (ROSSI et. al., 1998).<br />
Nesse trauma há liberação de mediadores celulares e humorais<br />
que determinam alteração da permeabilidade capilar, metabólica<br />
e imunológica levando a desnutrição e infecção. As queimaduras<br />
constituem, nas diferentes idades, a terceira causa de morte por<br />
trauma e a segunda em menores de quatro anos. Podem ser causadas<br />
por lesões térmicas, químicas, elétricas e radiações (COSTA et. al.,<br />
1999).<br />
As queimaduras podem ser classificadas quanto à<br />
sua profundidade, sendo comumente classificada em graus.<br />
Para determinar o grau da queimadura, devemos identificar a<br />
profundidade do trauma térmico da pele. Baseado na avaliação,<br />
na extensão e na profundidade da queimadura, é traçado um plano<br />
de tratamento visando às reais necessidades a curto, médio e longo<br />
prazo (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
O fisioterapeuta pode atuar nas diversas etapas do processo<br />
de reabilitação, desde quando admitido no hospital, no centro<br />
cirúrgico e no pós-operatório (MARINI, 2007). Englobando os<br />
diversos recursos como a cinesioterapia, um posicionamento<br />
adequado, associados com a massoterapia, crioterapia e com a<br />
eletroterapia (GUIRRO & GUIRRO, 2004). Todos com o objetivo<br />
de proporcionar uma maior capacidade funcional ao individuo,<br />
buscando acelerar o processo de reparo tecidual, cicatrização,<br />
minimizar a formação de quelóides e alterações estruturais,<br />
melhorando assim a qualidade de vida deste paciente.
2 DiSCuSSÃo<br />
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
A pele do homem corresponde a 15% de seu peso corporal,<br />
é um órgão que reveste e delimita o organismo, protegendo-o e<br />
interagindo com o meio externo. Pela sua resistência e flexibilidade,<br />
determina sua plasticidade. Caracteristicamente dinâmica, a pele<br />
apresenta alterações constantes, sendo dotada de grande capacidade<br />
renovadora e de reparação e de certo grau de impermeabilidade.<br />
Tem como função maior e vital a conservação da homeostasia<br />
regulando o controle hemodinâmico, termorregulação e excreção<br />
de metabólicos. Desempenha ainda, função sensorial, defesa contra<br />
agressões físicas, químicas e biológicas, para qual se destacam, pela<br />
sua importância a ceratinização, o manto lipídico e o seu sistema<br />
imunológico. Quando a pele sofre lesões, ela pode alterar toda a<br />
sua estrutura, forma e dinamismo. (AZULAY & AZULAY, 2006).<br />
O conceito queimaduras é bastante amplo, porém,<br />
basicamente a queimadura é conceituada como lesão dos tecidos<br />
orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica. Podem<br />
variar desde uma pequena flictena, até formas mais graves capazes<br />
de desencadear um grande número de respostas sistêmicas. As<br />
intercorrências locais e sistêmicas produzidas pelas queimaduras<br />
mostram a grande importância da pele e conseqüentemente de<br />
suas funções protetoras do organismo contra agentes externos<br />
(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Essas lesões seguem desde hiperemia restrita à área<br />
queimada, alterações celulares imunológicas decorrentes do<br />
insulto, envolvimento das vias respiratórias e ocorrência de<br />
traumatismos associados, podendo evoluir até o óbito (BORGES,<br />
2006). A queimadura depende de vários fatores como, por exemplo,<br />
149
150<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
a extensão da área queimada, a profundidade da queimadura, tipo<br />
do agente agressor, região atingida e a gravidade da lesão.<br />
Poucas são as doenças que trazem seqüelas tão importantes<br />
como a queimadura. Mesmo com a sobrevivência física e a<br />
ocorrência da reepitelização de toda pele, as cicatrizes, as contraturas<br />
e a distorção da própria imagem culminam com freqüência na<br />
“morte social” (OLIVEIRA et al., 2007). A queimadura geralmente<br />
é causada por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos<br />
que agem no tecido de revestimento do corpo humano e pode<br />
destruir parcialmente ou totalmente a pele, seus anexos e até atingir<br />
camadas mais profundas, como os tecidos subcutâneos, músculos,<br />
tendões e ossos (DELIBERATO, 2002; VIANA et al., 2009).<br />
Estudos epidemiológicos em diversos países indicam<br />
que as queimaduras representam uma das principais causas<br />
não intencionais de acidentes em crianças e adolescentes. Essas<br />
representam a segunda causa de morte acidental na infância. Nos<br />
países em desenvolvimento as queimaduras representam 96%<br />
das causas de morte por lesão unidirecional, totalizando 271.000<br />
mortes. No Brasil, em 2001, ocorreu um milhão de acidentes por<br />
queimaduras e aproximadamente 2.500 destes indivíduos foram a<br />
óbito (VIANA et al., 2009).<br />
As crianças apresentam maior predisposição para<br />
acidentes. Nesse período de desenvolvimento, a criança é curiosa,<br />
inquieta, inexperiente, exploradora, ativa e, na maioria das vezes é<br />
incapaz de identificar e avaliar o perigo. Estes fatores associados à<br />
negligência dos familiares facilitam os acidentes.<br />
Pesquisas realizadas no Brasil e em diversos países<br />
apontam que os principais agentes etiológicos dos acidentes por<br />
queimaduras em crianças são os escaldamentos por água quente,<br />
líquidos quentes e os produtos inflamáveis. Os acidentes por
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
queimaduras são considerados dos mais graves traumas, pois além<br />
do risco de morte, as complicações como septicemia, falência renal<br />
e cardiorrespiratória, poderão induzir importantes modificações<br />
metabólicas, seqüelas físicas e psicológicas (VIANA et al., 2009).<br />
Constitui um evento que pode fazer perigar o bem estar<br />
físico e psicológico do indivíduo, dependendo naturalmente da<br />
gravidade da situação, a complexidade deste tipo de lesões pode<br />
traduzir-se em hospitalizações e conseqüente separação do meio<br />
familiar por vezes prolongado, em que a dor e o receio podem<br />
tomar dimensões particularmente estressantes (BICHO & PIRES,<br />
2002).<br />
Muitos acidentes, incluindo os graves estão relacionados<br />
com o trabalho ou com acidentes de carro e outros tipos de colisões,<br />
enquanto 75% ocorrem no domicílio, especialmente na cozinha<br />
e no banheiro, com alimentos e líquidos quentes, constituindo<br />
uma das fontes mais comuns de queimaduras. As situações mais<br />
comuns ocorrem na cozinha durante o preparo de alimentos, a<br />
desatenção com alimentos líquidos e utensílios quentes, água<br />
quente no banheiro, agentes químicos e em casas antigas com<br />
fiações elétricas velhas, lâmpadas com correntes penduradas,<br />
radiadores, aquecedores de ambientes e vaporizados, isqueiros<br />
acesos e fósforo na mão de crianças entre outros (MELLO et al.<br />
2007; SILVA et al., 2007).<br />
As queimaduras podem ser classificadas quanto à sua<br />
profundidade, sendo comumente classificada em graus. Determinar<br />
o grau da queimadura significa determinar a profundidade do<br />
trauma térmico da pele.<br />
O primeiro grau é mais superficial, as lesões se restringem<br />
a epiderme, o quadro clínico apresenta hiperemia local, ausência<br />
de flictenas e um quadro doloroso pronunciado. São geralmente<br />
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152<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
lesões não significativas, sem alterações hemodinâmicas ou<br />
alterações clínicas importantes. Exemplos desse tipo de lesão são<br />
os eritemas causados pelo sol ou pelo contato com água quente.<br />
As lesões de segundo grau são consideradas nível intermediário,<br />
atingindo a epiderme e espessuras variáveis da derme, poupando<br />
parte desta. A principal característica é a presença de flictenas,<br />
causadas geralmente por contato com liquido superaquecido<br />
(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Já o terceiro grau, considerado grave, atinge toda a<br />
epiderme e a derme, podendo atingir até outros tecidos como a tela<br />
subcutânea, tecido muscular e ósseo. A cicatrização geralmente é<br />
mais difícil e demorada, podendo deixar muitas seqüelas como,<br />
por exemplo, quelóides enormes e múltiplas alterações estruturais.<br />
Sendo necessárias medidas de intervenção mais drásticas, como<br />
o uso de enxertos. Mais comumente encontrado em vitimas de<br />
incêndios graves, queimaduras elétricas ou mesmo térmicas, são<br />
responsáveis por este tipo de lesão (MILANI et al., 2006; GUIRRO<br />
& GUIRRO, 2004).<br />
Podemos ainda levar em consideração o quarto grau,<br />
classificado por alguns autores, geralmente por queimadura elétrica,<br />
no qual envolve a destruição de todos os tecidos, incluindo fáscia,<br />
músculos ou o osso, podendo levar a uma amputação (MARTINI,<br />
2007).<br />
Outro fator importante é determinar a extensão da área<br />
afetada, geralmente calculada pela regra dos nove, na qual<br />
divide a superfície corporal em segmentos que equivalem a<br />
aproximadamente 9% do total. Cada segmento corporal corresponde<br />
a um número múltiplo de nove, sendo classificado de acordo com<br />
a idade, possuindo porcentagens diferentes, sendo ela criança ou<br />
adulto.
Tabela 1: Regra dos Nove<br />
Fonte: Guiro & Guiro (2004).<br />
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Adulto % equivalente<br />
Cabeça e pescoço 9%<br />
Tronco anterior 18%<br />
Tronco posterior 18%<br />
Membros superiores 18%<br />
Membros inferiores 36%<br />
Períneo 1%<br />
Criança % equivalente<br />
Cabeça 21%<br />
Tronco anterior 18%<br />
Tronco posterior 18%<br />
Membro superior 18%<br />
Membro inferior 24%<br />
Períneo 1%<br />
São consideradas grandes queimaduras ou críticas, as de 2º<br />
Grau acima de 25% da superfície corporal em adultos, e 20% em<br />
se tratando de crianças, além, das queimaduras de 3º Grau acima<br />
de 10%. Incluem se, nessa categoria, todas as queimaduras de face,<br />
pés, mãos e genitais, as queimaduras elétricas, as associadas à<br />
fratura ou perdas teciduais importantes e as de grande risco devido<br />
à idade (KNOPLICH, 2010).<br />
Em relação aos fatores fisiopatológicos, após o<br />
acometimento da pele e tecidos adjacentes pelo agente térmico,<br />
há a excitação de terminações nervosas que liberam mediadores<br />
químicos (histamina, prostaglandina, serotonina, leucotrienos).<br />
Estes mediadores causam vasodilatação e aumento da<br />
permeabilidade vascular, havendo extravasamento de plasma para<br />
o interstício (TANAKA, 2010).<br />
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HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
A lesão por queimadura acarreta uma destruição da<br />
integridade capilar e vascular, o que resulta na formação do edema,<br />
com a perda do fluído intravascular para os espaços intercelulares.<br />
Ocorrendo ainda a destruição da integridade vascular e a formação<br />
de edema na área da queimadura, bem como nos tecidos adjacentes<br />
(CHEM, 2010).<br />
As lesões provocam uma significativa agressão metabólica<br />
e catabólica ao organismo que desencadeiam um rápido decréscimo<br />
no peso corporal, equilíbrio negativo do nitrogênio, perda de<br />
componentes intracelulares e uma redução nas reservas de energia,<br />
tão vital para o processo de cicatrização (TANAKA, 2010).<br />
As queimaduras promovem alterações locais e sistêmicas,<br />
com grandes variações no processo de reparação, os quais<br />
dependem da intervenção terapêutica precoce.<br />
Por isso ressalta-se a grande importância da fisioterapia<br />
dentro das diversas etapas do processo de reabilitação, envolvendo<br />
desde terapias locais às sistêmicas enfatizando os recursos da<br />
cinesioterapia, posicionamento adequado, associados com a<br />
massoterapia, crioterapia e com a eletroterapia (GUIRRO &<br />
GUIRRO, 2004). O tratamento fisioterapêutico tem inicio no<br />
momento em que o paciente queimado é admitido no hospital e<br />
continua no centro cirúrgico e no pós-operatório (MARINI, 2007).<br />
A fisioterapia é amplamente empregada para cuidados<br />
especiais em queimaduras da região da face, pescoço, pelas<br />
aderências que podem causar na cicatrização das queimaduras<br />
de terceiro e quarto graus. Além disso, outros acometimentos<br />
importantes são as queimaduras na região dos genitais que podem<br />
causar alterações na uretra, pênis e vagina, por destruição de tecidos<br />
nobres. Sem esquecer as freqüentes lesões em pés, que podem
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deixar seqüelas de posições viciosas que posteriormente, impeçam<br />
na recuperação, interferindo na deambulação e nas atividades de<br />
vida diária (KNOPLICH, 2010; GOMES, 1995).<br />
Esse processo envolve uma equipe interdisciplinar, no qual<br />
o fisioterapeuta será um membro indispensável para este paciente,<br />
tanto no processo evolutivo da reabilitação, como também atuando<br />
de forma complementar nas cirurgias.<br />
Como em qualquer outro atendimento, o paciente deverá<br />
passar por uma avaliação geral de todos os membros da equipe, no<br />
qual os profissionais deverão ressaltar quais serão os objetivos ao<br />
ser alcançados, é claro, com a cooperação da equipe e do paciente,<br />
a fins de buscar resultados mais efetivos e rápidos para os mesmos.<br />
Devemos enfatizar que quanto mais precoce for a atuação da<br />
equipe profissional deste paciente, mais rápidas serão as melhoras<br />
teciduais, gerando menores riscos de possíveis complicações,<br />
deixando o paciente mais hábil possível e contribuindo para sua<br />
qualidade de vida (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Baseado na avaliação, na extensão e na profundidade da<br />
queimadura, e no estado atual de saúde, idade condição mental e<br />
física do paciente, seu prognóstico pode ser estimado pela equipe<br />
de atendimento. Segundo o Guia para a prática de fisioterapia,<br />
da Associação Americana de Fisioterapia, 1999, sugere alguns<br />
objetivos a serem alcançados como o favorecimento da recuperação<br />
da pele e tecidos moles, a redução dos riscos secundários,<br />
obtenção quando possível da ADM completa, restauração da<br />
resistência cardiovascular, normalizar a força muscular, obtenção<br />
da deambulação independente e o mais precoce possível, mínima<br />
formação de cicatrizes, o aumento da independência na realização<br />
de AVD`s e AIVD`s entre outros (SULLIVAN & SCHMITZ,<br />
2004).<br />
155
156<br />
HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Geralmente o controle e a resolução do edema são os primeiros<br />
objetivos em curto prazo, como também a manutenção da ADM,<br />
elevação dos membros, o encorajamento de exercícios ativos<br />
quando possível.<br />
A prevenção de contraturas e aderências através de um<br />
posicionamento correto, levando em conta a queimadura, podendo<br />
utilizar diversos recursos como a colocação de talas e exercícios<br />
quando possíveis. Os exercícios trazidos pelo terapeuta e a<br />
deambulação precoce, também ajudarão a minimizar os efeitos do<br />
imobilismo prolongado. Após o fechamento da ferida, massagem<br />
e compressão ajudarão a diminuir a formação de contraturas<br />
e a forma final das cicatrizes (SULLIVAN & SCHMITZ, 2004;<br />
GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
As massagens clássicas, linfáticas e respiratórias vêem<br />
como um recurso utilizado para melhorar a circulação, atenuar<br />
edemas e linfedemas, sendo utilizada como meio de mobilização<br />
de secreções e facilitar a penetração de agentes lubrificantes<br />
(GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Para auxiliar na liberação e na prevenção de aderências,<br />
deformidades e cicatrizes mal formadas, devem ser iniciados os<br />
exercícios passivos e ativos. O exercício terapêutico tem como<br />
objetivo manter, corrigir e/ou recuperar uma determinada função,<br />
ou seja, restaurar a função normal do corpo ou manter o bem estar.<br />
Sua principal finalidade é a manutenção e desenvolvimento do<br />
movimento livre para a sua função e seus efeitos baseiam se no<br />
desenvolvimento da força, resistência à fadiga, da mobilidade e<br />
flexibilidade, do relaxamento e da coordenação motora (SULLIVAN<br />
& SCHMITZ, 2004; GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
A medida da evolução do paciente deve ser encorajados<br />
exercícios resistidos e de condicionamento físico, pois o paciente
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perde muito de sua capacidade muscular e condicionamento<br />
cardiopulmonar, sendo estes benéficos para aumentar a sua força<br />
muscular e ADM (GUIMARÃES & CRUZ, 2003; SULLIVAN;<br />
SCHMITZ, 2004). Não podemos deixar de citar a grande<br />
incidência de complicações pulmonares após queimaduras graves,<br />
estando elas entre 24% a 84%, sendo geralmente por inalação de<br />
fumaças, envolvendo vários gases como, por exemplo, o monóxido<br />
de carbono, hidrocarbonetos entre outros.<br />
Antes de pensarmos em tratamento deve-se avaliar<br />
cuidadosamente o sistema respiratório, detectando qualquer som<br />
ou ruídos adventícios, analisando a morfodinâmica do pulmão.<br />
Normalmente, as lesões causadas por queimaduras atingem<br />
o sistema respiratório, sendo necessária interferência de um<br />
fisioterapeuta para a desobstrução brônquica e para a mobilização<br />
de secreções pulmonares. Mas ainda, o fisioterapeuta pode atuar,<br />
na desinsulflação pulmonar, reexpansão pulmonar, reeducação na<br />
função muscular respiratória, ventilação mecânica e prevenção das<br />
deformidades torácicas subseqüentes à lesão (GOMES, 1995).<br />
Os recursos eletroterapêuticos são extremamente usados na<br />
prática diária de um fisioterapeuta. São práticas complementares<br />
que podem ser usadas em todas as áreas da fisioterapia. Vão de<br />
aparelhos que produzem correntes elétricas, calor ou energia<br />
laser que possuem uma infinidade de efeitos, tais como analgesia,<br />
melhora da circulação, efeitos pró-inflamatórios, diminuição da<br />
espasticidade, maior extensibilidade dos tecidos entre tantos outros<br />
(ROSAS & OLIVEIRA, 2007).<br />
As correntes excitomotoras realizam a ativação elétrica<br />
do sistema neuromuscular produzindo efeitos terapêuticos, sendo<br />
bastante utilizada na recuperação da função motora perdida ou<br />
diminuída nesse paciente. Ela possibilita a estimulação da atividade<br />
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HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
muscular, por influenciar as propriedades morfológicas, fisiológicas<br />
e bioquímicas, as quais resultam no aumento da força auxiliando<br />
o ganho muscular buscado com a realização de exercícios ativos e<br />
ativos resistidos (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Podemos destacar a utilização do TENS, como relatou<br />
Rushton, como uma das principais correntes elétricas terapêuticas,<br />
utilizada em processos álgicos agudos e crônicos, cuja tradução em<br />
inglês refere-se a uma estimulação elétrica nervosa transcutânea,<br />
usada com finalidade de influenciar e modular o processo de<br />
neurocondução da dor e atuar sobre a liberação de opióides<br />
endógenos a nível medular e da hipófise.<br />
Este recurso tem sido usado extensivamente em locais de<br />
atendimento à saúde para o manejo sintomático de dor aguda e dor<br />
crônica de origem benigna e também no atendimento paliativo da<br />
dor causada por doenças ósseas metastáticas e neoplasias (MELO<br />
et al., 2006).<br />
A aplicação desse recurso deve ser avaliado, pois diferentes<br />
indivíduos apresentam níveis variados de dor e sensibilidade, sendo<br />
necessária também a localização dos pontos dolorosos para um<br />
posicionamento correto dos eletrodos evitando a aplicação sobre<br />
soluções de continuidade (FERREIRA et al., 2007).<br />
Segundo Dourado, deve ser utilizada a aplicação da TENS<br />
durante 20 a 30 minutos, com o objetivo de diminuir a dor e a tensão<br />
dos pacientes com programação de troca de curativos. E importante<br />
salientar a utilização correta deste tipo de corrente, pois utilização<br />
inadequada leva a resultados negativos e conseqüentemente<br />
menores efetividade da corrente (GUIRRO & GUIRRO, 2004).<br />
Outro recurso também importante é a utilização do<br />
Ultrasom terapêutico (US) empregado há mais de 40 anos no
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tratamento de diversas patologias e uma quantidade considerável<br />
de trabalhos laboratoriais tem sido realizado com o objetivo de<br />
esclarecer seus efeitos sobre os tecidos. Seus efeitos têm sido<br />
demonstrados benéficos no tratamento de condições como a<br />
cicatrização de úlceras e tecidos, o aumento da circulação sanguínea<br />
em tecidos isquêmicos, a consolidação e fraturas e pseudo-artroses,<br />
a cicatrização tendinosas, a regeneração muscular e o estímulo à<br />
angiogênese, entre outros (CARVALHO & ALMEIDA, 1996).<br />
O US é uma modalidade de energia sonora longitudinal de<br />
penetração profunda, que, ao ser transmitida aos tecidos biológicos,<br />
é capaz de produzir alterações celulares por efeitos mecânicos. A<br />
transmissão ocorre pelas vibrações das moléculas do meio através<br />
do qual a onda se propaga. Este meio irradiado oscila ritmicamente<br />
com a freqüência do gerador ultra-sônico por efeito piezoelétrico,<br />
ao comprimir e expandir a matéria (MARTINES et al., 2000).<br />
Os efeitos mecânicos, térmicos e químicos do US e o modo<br />
de reação de órgãos isolados e também pressão é desenvolvido<br />
nas células individuais. Como resultado desta variação de pressão<br />
negativa, elementos da célula são obrigados a se moverem<br />
através de um efeito de micromassagem. Este efeito aumenta o<br />
metabolismo celular, o fluxo sangüíneo, o suprimento de oxigênio<br />
e até mesmo, a temperatura local, ou seja, age como um catalisador<br />
físico, acelerando as trocas celulares (OLSSON et. al., 2008).<br />
As ondas ultra-sônicas podem ser aplicadas por dois<br />
métodos conhecidos como contínuo e pulsado, sendo que a<br />
diferença entre os modos está na interrupção da propagação das<br />
ondas. Em média, o tempo de aplicação do US é de quatro a dez<br />
minutos por área, sendo que, para grandes superfícies, o segmento<br />
é dividido em três ou quatro partes iguais, e aplica-se o mesmo<br />
tempo por área. Esta aplicação pode ser de forma estacionária ou<br />
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HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
não, sendo que a primeira pode levar a uma elevação muito rápida<br />
da temperatura, ocasionando queimaduras (OLSSON et al., 2008;<br />
SILVEIRA, 2003).<br />
O mecanismo de cura das lesões térmicas inicia-se na fase<br />
inflamatória com a eliminação dos tecidos desvitalizados, devido<br />
à lise enzimática e a fagocitose desse tecido. À medida que o<br />
processo inflamatório se intensifica, aumentando a clivagem entre<br />
os tecidos vivos e necróticos, o processo de regeneração vascular e<br />
conjuntivo se inicia, dando formação ao tecido de granulação, que<br />
preenche o vazio resultante do tecido eliminado.<br />
A utilização do ultra-som em queimaduras faz com que<br />
ocorra a regeneração mais rapidamente, pois na fase inflamatória<br />
torna-se muito mais, intensa, favorecendo a formação de tecido<br />
de granulação. Além disso, os anexos de pele como os folículos<br />
pilosos apresentam o epitélio em regeneração, constituindo-se em<br />
ilhotas germinativas para o epitélio de cobertura da lesão (GUIRRO<br />
& GUIRRO, 2004).<br />
O Laser cujo significado é Ampliação da Luz por Emissão<br />
Estimulada, possui algumas propriedades peculiares que o tornam<br />
capaz de propiciar efeitos biomoduladores sobre organismos vivos.<br />
Dentre estas propriedades encontram-se a coerência espacial e<br />
temporal, a monocromaticidade e a direcionalidade (PEREIRA,<br />
2005).<br />
Na fonte de laser, a luz é produzida pela emissão estimulada<br />
de radiação, quando um fóton incidente interage com um átomo<br />
previamente excitado. Ao atingir um tecido, a radiação laser pode<br />
ser refletida, absorvida, transmitida ou espalhada. A absorção de<br />
onda exercerá em efeito particular sobre tecidos variados, atingindo<br />
diferentes profundidades de penetração (SUGAYMA, 2005).
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
O laser terapia de baixa intensidade vem se destacando<br />
como uma das ações terapêuticas em lesões cutâneas tem por<br />
objetivo reduzir o período de cicatrização, bem como uma melhora<br />
levando o individuo a um retorno mais rápido á suas atividades.<br />
Sendo que o laser de baixa potência tem efeito cicatricial muito<br />
eficaz. Seu êxito se deve ás particularidades de respostas que induz<br />
nos tecidos, como a redução de edema, diminuição do processo<br />
inflamatório, aumento da fagocitose, da síntese de colágeno e<br />
proteínas, assim como a epitelização (CARVALHO et. al, 2001).<br />
O laser de baixa potência no interior do tecido causa efeitos<br />
celulares, tanto nos tecidos superficiais como nos profundos. Seu<br />
efeito depende do comprimento de onda, da dose e intensidade<br />
da luz durante a irradiação, é influenciado pela maneira ideal<br />
de aplicação do mesmo, onde o contato da luz com a superfície<br />
deve ser perpendicular á superfície alvo e mais próximo possível<br />
(PRENTICE & VOIGHT, 2003).<br />
Segundo Albertini (2001), em cinco sessões há estimulação<br />
do processo de regeneração, com formação de tecido de granulação,<br />
evitando grande infecção pelo efeito da aceleração da cicatrização<br />
e do efeito antiinflamatório. Em feridas onde há perda de tecido, o<br />
laser colabora para melhorar o reparo tecidual, evitando totalmente<br />
o aparecimento de quelóides, em todos os processos de cicatrização,<br />
sendo este, um dos recursos bastante utilizados para tratamento de<br />
queimaduras.<br />
A crioterapia é a aplicação terapêutica de qualquer<br />
substância ao corpo, resultando numa retirada do calor corporal e<br />
por meio disso, rebaixando a temperatura tecidual. Tem por objetivo<br />
minimizar seqüelas adversas que estão relacionadas ao processo<br />
de lesão, como a dor, edema, hemorragia, espasmo muscular e<br />
principalmente, reduzir a área de lesão secundária (LOPES et al.,<br />
2003; OLIVEIRA et al., 2007).<br />
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HEiNZmANN FiLHo, JoÃo PAuLo – WoZEZENSKi, CriSTHiELE TAiS – BECK, DErLiANE GLoNVEZyNSKi DoS SANToS<br />
Passou a ser usada no tratamento de queimaduras, a partir<br />
da intervenção em quelóides. O congelamento do quelóide com<br />
nitrogênio líquido causa lesão celular e microvascular, o que<br />
leva à necrose e conseqüente involução do mesmo. Foi capaz de<br />
melhorar 51 a 74% dos quelóides após duas ou mais sessões, tendo<br />
bons resultados para cicatrizes. A crioterapia causa um edema no<br />
quelóide que facilita a injeção intralesional de corticóide. Quando<br />
essas duas modalidades terapêuticas foram associadas, a taxa de<br />
resposta foi de 84% (FERREIRA & ASSUMPÇÃO, 2006).<br />
3 CoNCLuSÃo<br />
De acordo com a revisão bibliográfica realizada, verificouse<br />
a importância da intervenção fisioterapêutica no tratamento de<br />
queimados, através dos recursos utilizados pela fisioterapia nas<br />
mais diversas etapas no processo de reabilitação. Envolvendo<br />
desde terapias locais a sistêmicas enfatizando os recursos da<br />
cinesioterapia, posicionamento adequado, associados com a<br />
massoterapia, crioterapia e com a eletroterapia.<br />
Constatou-se as melhoras proporcionadas pelos recursos,<br />
como o aumento/manutenção da ADM, força muscular, diminuição<br />
de quelóides, contraturas, aderências e deformidades, diminuição<br />
da dor, melhora da circulação, maior extensibilidade dos tecidos,<br />
efeitos antiinflamatórios, redução do edema, prevenção e<br />
tratamento de doenças pulmonares. Prevenindo também vícios<br />
posturais, causados pela queimadura, evitando assim alterações em<br />
toda a biomecânica do individuo.<br />
O quanto mais precoce for à atuação da equipe profissional<br />
deste paciente, mais rápidas serão as melhoras teciduais, gerando
iNTErVENÇÃo DA FiSioTErAPiA Em QuEimADoS<br />
menores riscos de possíveis complicações, deixando o paciente<br />
mais hábil possível e contribuindo para sua qualidade de vida.<br />
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165
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA<br />
oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE<br />
ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />
rESumo<br />
dALTROZO, PAULO ROBeRTO de OLiVeiRA 1<br />
STURZeneggeR, TATiAnA MedinA 2<br />
As queimaduras são um problema de saúde<br />
significativo no Brasil. Contudo, até hoje, existem<br />
poucos dados disponíveis para orientar programas<br />
de tratamento e prevenção. A queimadura por choque<br />
elétrico pode levar a várias complicações, como:<br />
necrose, osteomielite e amputação. A amputação, por<br />
exemplo, leva a complicações ainda maiores, de ordem<br />
tanto funcionais como estética e, principalmente,<br />
psicológicas. O objetivo geral desse estudo foi a<br />
protetização do paciente, melhorando sua qualidade<br />
de vida. Essa pesquisa teve caráter qualitativo,<br />
se dedicando a um estudo de caso de um paciente<br />
submetido à amputação de fêmur do membro inferior<br />
direito. O sujeito de estudo é do sexo masculino, 17<br />
1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta.<br />
2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo e da Universidade de Cruz Alta, Fisioterapeuta, Especialista em Administração<br />
Hospitalar e Saúde, Mestre em Ciências do Movimento.<br />
167
168<br />
DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
anos, vítima de acidente de trabalho. As técnicas<br />
utilizadas nele foram: ultra-som terapêutico, pulsado<br />
0,5 W/cm2, LASER varredura 4 J/cm2, alongamentos<br />
de membro inferior direito e membro inferior esquerdo,<br />
exercícios para força muscular, treino de equilíbrio<br />
e treino de marcha. Os resultados com relação ao<br />
ganho de força, alongamento, cicatrização, equilíbrio<br />
e treino de marcha foram satisfatórios e se mostraram<br />
de grande importância para a reabilitação desse<br />
paciente e para a melhora de sua qualidade de<br />
vida, pois com as sessões de fisioterapia e com a<br />
protetização, paciente ganhou uma confiança que ele<br />
não possuía, pelo fato de ter amputado sua perna, e<br />
isso colaborou para a sua reintegração na sociedade.<br />
Palavras-Chave: Amputado, Queimado, Reabilitação<br />
ABSTrACT<br />
Burns are a significant health problem in Brazil.<br />
However, to date there is little data available to guide<br />
prevention and treatment programs. The burn from<br />
electrical shock can lead to various complications,<br />
such as necrosis, osteomyelitis and amputation.<br />
Amputation, for example, leads to complications even<br />
higher-order functional and aesthetic and mainly<br />
psychological. The general objective of this study was<br />
the prosthesis of the patient, improving their quality of
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />
1 iNTroDuÇÃo<br />
life. This research was qualitative, embracing a case<br />
study of a patient who underwent amputation of the<br />
femur of the right leg. The subject of study is male, 17<br />
years, victim of an accident at work. The techniques<br />
used in it were: therapeutic ultrasound, pulsed 0.5 W/<br />
cm2, 4 J/cm2 laser scanning, stretching the right leg<br />
and left leg, exercises for muscle strength, training<br />
of balance and gait training. The results with respect<br />
to gain strength, stretching, healing, balance and<br />
gait training were satisfactory and proved of great<br />
importance to the rehabilitation of this patient and<br />
to improve their quality of life, as with the physical<br />
therapy sessions and the prosthesis, one patient<br />
gained confidence he lacked, by having his leg<br />
amputated, and this helped to reintegrate into society.<br />
Keywords: Amputee, Burnt, Rehabilitation.<br />
As queimaduras são um problema de saúde significativo no<br />
Brasil. Contudo, até hoje, existem poucos dados disponíveis para<br />
orientar programas de tratamento e prevenção.<br />
Gomes et al. (1995), fala que a queimadura é um dos<br />
traumatismos mais devastadores que podem atingir os seres<br />
humanos.Sua importância decorre não só da freqüência com que<br />
169
170<br />
DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
ocorrem, mas principalmente pela sua capacidade de provocar<br />
seqüelas funcionais, estéticas e psicológicas.<br />
Segundo Lianza (1995), a reabilitação de um amputado<br />
consiste não só no uso de uma prótese, mas também, principalmente<br />
recuperação funcional, na readaptação profissional e reintegração<br />
social do indivíduo.<br />
Kottke et al. (1984), relata que a aplicação de uma prótese<br />
imediata após a amputação diminui a dor e edema no coto,<br />
facilitando a cicatrização e reduzindo o tempo de espera para a<br />
colocação de prótese padrão.<br />
2 mATEriAL E mÉToDoS<br />
Esta pesquisa teve caráter qualitativo, um estudo de caso<br />
de paciente submetido à amputação supracondiliana de fêmur do<br />
membro inferior direito. A amostra foi composta de um paciente,<br />
sexo masculino, 17 anos, vítima de queimadura elétrica atingindo<br />
60% do segmento corporal sendo 37% de 3o grau, com perda de<br />
tecido muscular na panturrilha esquerda e amputação de membro<br />
inferior direito supracondiliana (por risco de gangrena). Houve<br />
também queimadura (perineal e hipospádia de glande). Houve<br />
amputação de membro inferior direito, debridamento seriados de<br />
tecidos desvitalizados e cobertura com enxertos de pele parcial.<br />
Realizou-se como tratamento precoce, a preparação do<br />
coto para a prótese, com o uso do LASER de hélio-neônio de 670<br />
nanômetros (nm) da forma varredura, com o propósito de reduzir<br />
as lesões existentes. Para o ganho de amplitude de movimento<br />
técnicas de alongamento e o ultra-som no modo pulsado 0,5 w/<br />
cm2, 100 Hz por 18 minutos em toda a região da coxa esquerda
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />
com o propósito de reduzir as quelóides. A médio prazo realizouse<br />
fortalecimento de toda a musculatura do quadril (flexores,<br />
extensores, adutores e abdutores), fortalecimento da musculatura<br />
da perna esquerda (que também sofreu lesões como a queimadura<br />
parcial do tendão de Aquiles). Para treinamento de força muscular<br />
foram utilizados caneleiras de 1Kg, 2Kg e 3kg, usamos a técnica<br />
de MacQueen, sempre ao nível início/intermediário. O treino de<br />
equilíbrio foi entre as barras paralelas (paciente em pé com os braços<br />
abertos tentando manter-se equilibrado). Para o condicionamento<br />
cardiovascular, usou-se a bicicleta estacionária. O treino de marcha<br />
sem a prótese, com a muleta, iniciou na fase de melhora da sua<br />
funcionalidade nas barras paralelas.<br />
3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />
Baseado no que a literatura relata sobre contraturas<br />
ocasionadas em pacientes, e sua mobilização precoce, como<br />
objetivo do plano de tratamento, iniciamos alongamentos do coto,<br />
para evitar as contraturas e obtivemos os seguintes dados.<br />
Tabela 1: Amplitude de Movimento.<br />
Datas Goniometria<br />
15/12/2004 30˚ de flexão<br />
20/12/2004 24˚ de flexão<br />
24/12/204 18˚ de flexão<br />
27/12/2004 5˚ de flexão<br />
29/12/2004 Extensão completa<br />
O treinamento para fortalecimento dos membros inferiores<br />
usando a técnica de MacQueen, para treino de equilíbrio e de<br />
marcha com muletas, para eventual protetização do paciente,<br />
vemos na tabela 2.<br />
171
172<br />
DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
Tabela 2: Evolução da graduação da força muscular.<br />
Datas<br />
MID (flexores<br />
quadril)<br />
MIE (flexores de<br />
quadril)<br />
Tibial anterior Gastrocnêmios<br />
15/12/2004 grau 3 grau 4 Grau 3 grau 3<br />
15/2/2005 grau 4 grau 4 Grau 4 grau 4<br />
2/3/2005 grau 4 grau 4 Grau 4 grau 4<br />
16/3/2005 grau 5 grau 4 Grau 4 grau 4<br />
30/3/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />
13/4/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />
27/4/2005 grau 5 grau 5 Grau 4 grau 4<br />
11/5/2005 grau 5 grau 5 Grau 5 grau 5<br />
Realizamos laserterapia no modo varredura, e notamos<br />
que ao fim do primeiro trimestre, paciente já não apresentava<br />
mais as lesões no coto.Realizamos o treinametno de equilíbrio<br />
nesse paciente somente após conseguir suportar seu peso sobre o<br />
membro, e obtivemos um resultado satisfatório como nos mostra a<br />
tabela 3.<br />
Tabela 3: Treino de equilíbrio.<br />
Treino de Equilíbrio<br />
Datas Melhores tempos<br />
14/6/2005 3 segundos 45 centésimos<br />
22/06/205 3 segundos 71 centésimos<br />
28/6/2005 7 segundos 61 centésimos<br />
7/7/2005 4 segundos 39 centésimos<br />
12/7/2005 9 segundos 64 centésimos<br />
20/7/2005 13 segundos 91 centésimos<br />
2/8/2005 14 segundos 83 centésimos<br />
Um dos aspectos mais importantes foi o psicológico do<br />
paciente. Antes da colocação da prótese ele tinha uma vida mais<br />
resguardada, ficava mais em casa, não ia a escola. Após a colocação<br />
da prótese o paciente voltou à escola, voltou a sair, ir a festas, a ter
AmPuTAÇÃo SuPrACoNDiLiANA oCASioNADA Por QuEimADurA DE CHoQuE ELÉTriCo: um ESTuDo DE CASo<br />
uma vida social. A literatura nos mostra que a amputação leva a<br />
seqüelas e problemas de ordem psicológica. O sujeito do estudo ao<br />
iniciar a terapia, sofria de depressão, sentimentos de inferioridade.<br />
Cremos que a terapia auxiliou na re-inserção desse indivíduo na<br />
sociedade.<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
No treinamento pré-protético obtivemos resultados<br />
positivos, pois, conseguimos restaurar a amplitude de movimento<br />
normal do coto, restabelecemos um grau de força muscular 5 em<br />
membro inferior direito e esquerdo, a utilização do LASER hélioneônio<br />
670nm levou a uma cicatrização das lesões do coto, com<br />
relação ao equilíbrio do paciente, tivemos ótimos resultados com<br />
os exercícios propostos.<br />
No treinamento pós-protético obtivemos resultados<br />
significativos quanto à deambulação do paciente e restabelecimento<br />
da marcha e da independência funcional. Na busca por protocolos de<br />
tratamento para pacientes amputados não obtivemos sucesso, pois,<br />
a literatura trás apenas exercícios propostos, nada mais concreto<br />
quanto a protocolos. A distância de grandes centros de reabilitação<br />
dificultou a realização deste estudo, pois as informações e os<br />
equipamentos foram mais difíceis de conseguir.<br />
173
5 rEFErÊNCiAS<br />
174<br />
DALTroZo, PAuLo roBErTo DE oLiVEirA – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
GOMES, D. R., SERRA, M. C., PELLON, M. A. Queimaduras.<br />
Rio de Janeiro: Revinter, 1995.<br />
KOTTKE, Frederic J.;STILLWELL, Keith G.; LEHMANN, Justus<br />
F. Krusen: Tratado de medicina Física e Reabilitação. 3. ed. São<br />
Paulo: Manole, 1984.<br />
LIANZA, Sérgio. Medicina de Reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara Koogan, 1995.<br />
___________. Medicina de Reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara Koogan, 2001.
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE<br />
Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS<br />
NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
rESumo<br />
BeRTOLini, RAFAeL 1<br />
STURZeneggeR, TATiAnA MedinA 2<br />
As lesões musculares são as mais comuns e entre<br />
os métodos terapêuticos existentes para recuperação<br />
das lesões, utilizou-se a mobilização passiva precoce.<br />
Para este estudo ratos foram divididos em quatro<br />
grupos, o qual dois eram sedentários e os demais<br />
dois foram submetidos à natação por um período de<br />
10 semanas, tornando-os treinados. Posteriormente<br />
realizou-se uma lesão muscular no bíceps femoral<br />
direito. Após, um grupo de animais sedentários e um<br />
grupo de animais treinados recebeu o tratamento. O<br />
objetivo foi verificar por meio de estudo histológico,<br />
o curso da lesão muscular em ratos treinados<br />
e sedentários submetidos e não submetidos a<br />
mobilização passiva precoce. Concluímos que a<br />
1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta.<br />
2 Professora do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo e da Universidade de Cruz Alta, Fisioterapeuta, Especialista em Administração<br />
Hospitalar e Saúde, Mestre em Ciências do Movimento.<br />
175
176<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
mobilização passiva precoce não ocasionou danos<br />
ao músculo e que, em ratos de ambos os grupos<br />
do quarto e oitavo dias pós - lesão a mobilização<br />
precoce objetivou em benefícios na regeneração<br />
muscular, sendo no grupo treinado apresentava<br />
resultados superiores aos sedentários e também<br />
um quadro álgico diminuído. Da mesma forma,<br />
durante manobras de flexo/extensão mostravam uma<br />
amplitude de movimento maior ao compararmos com<br />
os grupos controles.<br />
Palavras-Chave: Lesão muscular, mobilização<br />
passiva, treinamento.<br />
ABSTrACT<br />
The muscular injuries are more commons among the<br />
countless existent therapeutic methods for recovery<br />
of these injuries; the early passive mobilization<br />
was used. For this study, rats were divided in four<br />
groups, where two were sedentary and the others<br />
two were submitted the swimming by ten weekends,<br />
turning them trained. Later on, he/she took place a<br />
muscular injury in right biceps femoral. After, a group<br />
of sedentary animals and a group of trained animals<br />
received early passive mobilization. The aim of this<br />
study looked for to verify through study histology,<br />
the course of the muscular lesion in trained rats and<br />
sedentary submitted and not submitted off the early
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
1 iNTroDuÇÃo<br />
passive mobilization. We have concluded that a early<br />
Passive Mobilization didn’t caused damage to the<br />
muscle and that, in rats of both groups of four and<br />
eight post lesion day, the EPM have in view benefits<br />
in the muscular regeneration. The trained groups<br />
have presented a reduced chart of pain and superior<br />
results to the sedentary. Likewise, during maneuvers<br />
of flexion/extension of inferior member, the groups<br />
with early passive mobilization have showed the low<br />
pain and greater amplitude of motion if we compare<br />
them with the control group.<br />
Keywords: Muscle injuries, passive mobilization,<br />
training.<br />
Considerando-se as lesões do aparelho locomotor, as<br />
musculares estão entre as mais comuns e possuem uma excelente<br />
capacidade de reparo após lesão, cuja interferência durante este<br />
processo de reparo será fundamental para melhora da qualidade<br />
da cicatrização. As lesões podem ocorrer por isquemia, doenças<br />
que afetam o tecido muscular (miopatias) e por traumatismos,<br />
que podem ser diretos ou indiretos (esforço), às vezes levando<br />
à perda da atividade funcional e motora. A partir destes eventos<br />
ocorre uma fase adaptativa de regeneração do tecido músculo<br />
esquelético em resposta ao traumatismo. A extensão e sucesso<br />
da regeneração variam com a natureza da lesão, mas em todas<br />
as situações a regeneração envolve revascularização, infiltração<br />
177
178<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
celular, fagocitose do músculo necrosado, proliferação de células<br />
precursoras do músculo e finalmente reinervação. Baseado nestes<br />
processos de reparo e no advento da prevenção de doenças por meio<br />
da atividade física é natural que o surgimento de lesões musculares<br />
aconteça com maiores freqüências, com isso, atividade física neste<br />
contexto, se torna indispensável na forma de vida do ser humano<br />
(GRAZZIANO et al.,1998; PELLEGRINOTTI, 1998; DELISA<br />
& GANS, 2002). A idéia de demonstrar os efeitos de uma terapia<br />
chamada de mobilização passiva associada a resposta do tecido<br />
muscular após uma lesão com grupos experimentais ( sedentário e<br />
treinados) instiga a uma série de dúvidas e contestações literárias<br />
como imobilidade versus mobilidade e diferenças de atletas e<br />
sedentários, estes e outros aspectos serão abordados a seguir.<br />
O diagnostico e os tratamentos inapropriados dessas lesões<br />
podem comprometer a participação do atleta no treinamento e<br />
na competição. Deste modo, não é surpresa que profissionais da<br />
área de medicina esportiva estejam empenhados em descobrir<br />
como favorecer e melhorar a qualidade na recuperação de lesões<br />
musculares. Nestas circunstâncias, a questão da imobilização x<br />
mobilização pós-lesão apresenta crescente atenção, tanto na prática<br />
clínica quanto em pesquisas experimentais. O rápido e complexo<br />
reparo do tecido muscular lesado é objetivo óbvio, principalmente<br />
em caso de lesão em atletas justificando as tentativas experimentais<br />
para se encontrar um tratamento viável que favoreça o reparo do<br />
músculo (FARIA & MINAMOTO, 2006).<br />
Devido à notável regeneração muscular após uma lesão e<br />
os diferentes eventos evocados pela mesma, os núcleos das fibras<br />
musculares esqueléticas não se dividem, o que adquire ao músculo<br />
uma pequena capacidade de reconstituição. Admite-se que as<br />
células satélites sejam responsáveis pela regeneração do músculo
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
esquelético. Essas células são mononucleadas, fusiformes,<br />
dispostas paralelamente às fibras musculares dentro da lâmina basal<br />
que envolve as fibras e só podem ser identificadas no microscópio<br />
eletrônico. São consideradas mioblastos inativos. Após uma lesão<br />
ou outro estímulo, as células satélites tornam-se ativas, proliferam<br />
por divisão mitótica e se fundem umas as outras para tornar novas<br />
fibras musculares esqueléticas. As células satélites também entram<br />
em mitose quando o músculo é submetido a exercícios intenso.<br />
Neste caso elas se fundem com as fibras musculares pré-existente,<br />
contribuindo para a hipertrofia do músculo (CHAMBERS &<br />
DERMOTT, 1996; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004).<br />
A imobilização é usada a varias décadas com o propósito de<br />
proteger a área lesada e permitir uma cicatrização fisiológica, com<br />
atenuação do efeito inflamatório e a efetividade da imobilização é<br />
restrita a certos pacientes e períodos curtos de imobilização, para<br />
evitar severa atrofia muscular e perda da capacidade funcional,<br />
contudo, com poucas semanas de desuso já se tem mudança na<br />
estrutura muscular e alteração como o acúmulo de tecidos conectivos<br />
intramusculares, perda de capilares, redução no tamanho da fibra<br />
e acumulação de fibras com morfologia patológica e alterações<br />
histoquímicas, o qual, em grande parte, pode ser reversível através<br />
da mobilização e treinamento físico (KANNUS et al., 1998). Os<br />
movimentos passivos, segundo Kisner & Colby (1998), devem<br />
ser iniciados no tratamento na fase aguda quando tolerado. Eles<br />
diminuem as complicações da imobilização, mantêm a integridade<br />
e mobilidade funcional e auxiliam no processo de cicatrização.<br />
Estes movimentos devem ser específicos para a estrutura envolvida<br />
evitando aderências anormais das fibrilas em desenvolvimento<br />
aos tecidos vizinhos e evitando futuro rompimento da cicatriz.<br />
A intensidade deverá ser leve devido à algia intensa do paciente<br />
e para não lesar novamente o tecido e o bom desenvolvimento<br />
179
180<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
de uma cicatriz organizada se deve ao tratamento fisioterápico<br />
durante o estágio agudo, realizado por meio de exercícios passivos<br />
respeitando-se a sensibilidade dolorosa do paciente, o terapeuta<br />
objetiva uma melhora na amplitude de movimento e prevenção de<br />
processos fibróticos que são prejudiciais a esta.<br />
Objetiva-se frente às lesões evitar períodos longos de<br />
imobilidade e funcionalidade o que predispõe outras patologias<br />
retardando o processo de reabilitação funcional, que pode ser<br />
minimizado com a melhora na qualidade da cicatrização tecidual<br />
e quando é ocasionada uma lesão tecidual há certa desorganização<br />
no sentido das fibras, onde mais facilmente poderá ocorrer recidiva<br />
de lesão caso não tratadas ou tratadas ineficientemente, portanto a<br />
importância da MPP no processo de reparo em uma lesão, deixando<br />
o tecido mais forte devido ao estresse aplicado para o mesmo<br />
sentido dando orientação para as fibras, baseados neste contexto<br />
que nossa hipótese relacionada a MPP foi formulada como forma<br />
de tratamento, sendo provável que melhorias no curso da lesão<br />
aconteçam. Também devido aos benefícios do exercício físico e<br />
que pode ser a variável mais importante para reduzir a morbidade<br />
global durante toda a vida (DELISA & GANS, 2002), construímos<br />
a hipótese que o exercício físico poderá ajudar na recuperação<br />
deste tipo de lesão comparado a inatividade física.<br />
Propusemos neste estudo analisar a cicatrização do tecido muscular<br />
de ratos Wistar após uma lesão, verificando histologicamente e<br />
como complemento buscamos uma visão macroscópica clínica<br />
dos ratos submetidos e não submetidos à natação utilizando a MPP<br />
(Mobilização passiva precoce) como tratamento nas diferentes<br />
fases de cicatrização e comparar alterações pertinentes a cada<br />
grupo.
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
2 mATEriAiS E mÉToDoS<br />
Para a realização deste trabalho foram utilizadas as<br />
instalações do laboratório de histopatologia e o Biotério da<br />
Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ.<br />
Fizeram parte da amostra 40 ratos adultos, machos, da<br />
raça Wistar pesando em torno de 250 a 350 gramas, selecionados<br />
aleatoriamente, mantidos em gaiolas de polipropileno, provenientes<br />
do biotério do Campus da Universidade de Cruz Alta, RS -<br />
UNICRUZ.<br />
Os animais foram divididos em quatro grupos e suas<br />
amostras coletadas no 4º, 8º e 15º dias, denominados:<br />
G1: sedentário grupo controle<br />
G2: sedentário grupo com mobilização passiva precoce (MPP)<br />
G3: treinado grupo controle<br />
G4: treinado grupo com MPP.<br />
Primeiramente os ratos passaram por um treinamento,<br />
grupos G3 e G4, começando por um período de adaptação<br />
correspondente a 10 dias sem nenhuma carga, logo, nas três semanas<br />
seguintes treinavam com uma sobrecarga de 2% do peso corporal,<br />
começando com tempo de 20 min até 40 minutos (1ºsemana) e<br />
60 minutos (2º e 3ºsemanas), na 4º e 6º semanas aumento de 4%<br />
do peso corporal com tempo de 60 min, na 6º , 7º e 8º semanas<br />
aumento de 6% do peso corporal com tempos variando de 40 a 60<br />
minutos, na 9º e 10º semanas aumento de 8% do peso corporal<br />
com tempos variando de 40 a 60 minutos permanecendo até o final.<br />
181
182<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
A ambos os grupos foram fornecidos água e alimento ad<br />
libitum.<br />
A intensidade do exercício foi de acordo com o protocolo<br />
proposto por Kokubun (1990), onde os ratos são submetidos<br />
a natação diária por 40 dias. O treinamento inicia com fase de<br />
adaptação de 20 minutos, sendo aumentado posteriormente<br />
conforme a adaptação dos animais ao meio aquático até chegar a 1<br />
hora de atividade ininterrupta.<br />
Para controle da carga de treinamento, os animais foram pesados<br />
todas as segundas-feiras,tendo cuidado sobre a aplicação da sobre<br />
carga e da porcentagem proposta para cada período de treinamento,<br />
a sobrecarga (uso de chumbo) era colocada em bolsas com elásticos<br />
localizadas no dorso dos animais.<br />
Após o treinamento os animais passaram por um<br />
procedimento cirúrgico para produção da lesão muscular, foi<br />
realizado por um médico veterinário na sala do biotério, do Campus<br />
da Universidade de Cruz Alta.<br />
Os animais foram anestesiados com associação de<br />
quetamina e xylazina na dose de 0,1 ml por cem gramas de<br />
peso corporal, doses adicionais ou repiques pode ser ministrado,<br />
conforme a necessidade de manutenção do plano anestésico.<br />
A cirurgia foi realizada em ambiente cirúrgico e material<br />
cirúrgico rotineiro.<br />
Os principais passos técnicos foram:<br />
1) Posicionamento do animal em decúbito lateral esquerdo,<br />
com as patas em extensão;<br />
2) Assepsia da pele com álcool iodado a 4%;
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
3) Incisão cutânea, na face póstero-externa do terço proximal<br />
da pata traseira direita, de aproximadamente um centímetro e meio;<br />
4) Afastamento da pele e visualização da massa muscular do<br />
bíceps femoral;<br />
5) Incisão transversa às fibras musculares com um bisturi de 5<br />
mm de extensão determinada por uma régua metálica milimetrada,<br />
para padronizar e controlar a lesão, caracterizando uma hemissecção<br />
do músculo relacionado;<br />
6) Procedeu-se a redução do espaço morto para a coaptação<br />
das bordas incididas, e posteriormente a síntese da pele com fio<br />
mononylon;<br />
Foi aplicado soro fisiológico sobre a sutura, para lavar a<br />
ferida que ficará exposta sem a realização de curativos.<br />
As cobaias foram colocadas em estantes de ferro, onde se identificou<br />
cada grupo em prateleiras diferentes dispostos no mesmo ambiente<br />
Depois da cirurgia as cobaias foram colocadas em gaiolas<br />
individuais e após as 24 horas começaram a receber um tratamento<br />
utilizando a MPP nos grupos G2 e G4, os outros dois grupos são<br />
controles.<br />
A MPP foi realizada no membro inferior direito no músculo<br />
bíceps femoral, com um tempo de 3 minutos por rato. Até a 1º<br />
coleta foram realizadas 3 sessões de MPP, até a 2º coleta já tinham<br />
sido feitas 7 sessões de MPP e até a última coleta tinham sido<br />
realizadas 13 sessões. A velocidade da MPP foi lenta e mantida<br />
proporcionando leves alongamentos no plano frontal e eixo sagital<br />
com graus de movimento III e IV.<br />
A imolia dos animais em pesquisa ocorreu após a última<br />
realização da MPP no 15º dia pós-lesão, e seus respectivos músculos<br />
183
184<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
bíceps femoral (direitos, lesionados) foram estirpados e colocados<br />
em recipientes individuais respectivamente identificados contendo<br />
solução de formol a 10 %, e realizou-se, então, o estudo histológico<br />
destes músculos.<br />
As interpretações dos achados procederam de uma análise<br />
estatística descritiva baseada em laudos histopatológicos e uma<br />
observação clínica macroscópica, tendo como parâmetro o reflexo<br />
de proteção muscular.<br />
3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />
No grupo G1 (sedentário grupo controle) com amostras<br />
coletadas no 4º dia pós – lesões foram encontrados neutrófilos que<br />
são primeiras células inflamatórias a invadir o músculo lesado,<br />
liberando bradicinina, prostaglandina e histamina, causando<br />
vasodilatação e aumentando a permeabilidade dos pequenos vasos.<br />
(LEECH, 1997), plasmócitos e linfócitos, estes de acordo com<br />
Guyton & Hall (1997), os linfócitos são responsáveis pela proteção<br />
do nosso corpo de agentes estranhos por meio dos sistemas imunes<br />
sendo os linfócitos B que originam os plasmócitos; estes por sua<br />
vez produzem os anticorpos. Houve edema, necrose de fibras<br />
musculares e extravasamento de fibrina e hemáceas, neste grupo.<br />
No grupo G2 (sedentário grupo com mobilização passiva<br />
precoce) com amostras coletadas no 4º dia pós – lesão há presença<br />
de alguns plasmócitos, linfócitos e raros neutrófilos, localizados<br />
entre as fibras colágenas. Houve discreta neovascularização.<br />
Podemos observar que a movimentação precoce não acarretou em<br />
danos musculares, não ocorrendo rupturas discordando com alguns<br />
autores, os quais mencionam que a mobilização imediatamente
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
após a lesão pode causar novas rupturas e fraqueza do tecido na<br />
área lesada, devendo ser evitada nos primeiros dias após a lesão<br />
(LEHTO & JÄRVINEN, 1991). Estudos de (LEHTO et al., 1985;<br />
CLANCY & CLARKSON, 1990) sugerem que uma redução na<br />
atividade entre 3 a 5 dias é benéfica na recuperação da função<br />
muscular. Entretanto, esses resultados não foram encontrados por<br />
(GREGORY et al., 1995). Neste estudo, os autores compararam o<br />
resultado da atividade no reparo da contusão muscular resultante<br />
do trauma mecânico no tibial anterior do rato, empregando<br />
quatro regimes de exercício: corrida ou natação, sendo iniciadas<br />
imediatamente (após 1 hora) e após 72 horas da indução da lesão.<br />
O grupo controle não se exercitou. Em relação a duração das<br />
atividades, a corrida foi realizada em uma esteira com inclinação<br />
de 10º, a 25m/min, por 15 minutos, e a natação foi realizada com<br />
a mesma duração, utilizando-se carga equivalente a 2% do peso<br />
corporal para evitar a flutuação durante o exercício. Os animais<br />
exercitaram-se entre 1 e 32 dias.<br />
O processo de resolução da contusão muscular foi<br />
analisado por meio da contagem manual de eritrócitos, leucócitos<br />
e fibras colágenas. Os autores concluíram que a corrida com inicio<br />
imediato é o regime que mais favorece o processo de reparo da<br />
contusão muscular. Embora o emprego de qualquer regime de<br />
atividade tenha sido melhor que a não atividade, o início imediato<br />
mostrou favorecer o processo de reparo da contusão e a corrida<br />
demonstrou resultados superiores à natação.<br />
No grupo G3 (treinado grupo controle) com as amostras<br />
coletadas no 4º dia pós – lesões foram encontradas alguns<br />
plasmócitos, linfócitos e raros neutrófilos, localizadas entre as<br />
fibras colágenas. Há discreta neovascularização No estudo de<br />
Brancaccio, et al. 2005, os animais treinados verificou-se aumento<br />
185
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BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
da desorganização de fibras nos animais sem uso da crioterapia,<br />
e nos grupos sedentários, o uso da crioterapia resultou em maior<br />
desorganização, concluindo que a tendência para beneficio na<br />
evolução da lesão muscular em relação à desorganização de fibras<br />
é encontrada no uso de gelo em animais treinados e o não uso da<br />
crioterapia em animais sedentários.<br />
No grupo G4 (treinado grupo com MPP) com as amostras<br />
coletadas no 4º dia pós – lesões apresentavam neutrófilos,<br />
plasmócitos, linfócitos e raros macrófagos. Para Pryor & Webber<br />
(2002), macrófagos e neutrófilos são células brancas de nosso<br />
sangue e realizar a defesa de nosso corpo de infecções é sua principal<br />
função; auxiliam na proteção inicial, pois são participantes da linha<br />
de defesa de frente do nosso organismo.<br />
Há áreas multifocais de necrose muscular, com eventuais áreas<br />
de regeneração muscular inicial, nas quais se observam células<br />
alongadas arranjadas linearmente.<br />
Então, sendo os resultados obtidos enfatizamos a presença<br />
de macrófagos, estes característicos de uma fase Proliferativa,<br />
porém o grupo controle ainda permanecia em uma fase inflamatória<br />
antecipando assim uma fase da cicatrização, demonstrando<br />
que a MPP em ratos treinados no 4º dia pós-lesão é mais eficaz<br />
no processo de regeneração do que em sedentários e no grupo<br />
treinado controle. Podendo observar que ambos os grupos tratados<br />
aconteceram benefícios sendo nos treinados resultados superiores.<br />
No grupo G1 com amostras coletadas no 8º dia pós<br />
– lesão, a amostra constituiu-se por plasmócitos, linfócitos e<br />
alguns macrófagos, moderado tecido fibroso neovascularizado,<br />
com eventuais fibras musculares em regeneração. Há discreto<br />
edema inflamatório com hemorragia. Proliferação acentuada
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
de fibroblastos, depósito de fibras colágenas e necrose de fibras<br />
musculares. Nesta fase, a análise histológica observa o aumento de<br />
macrófagos e tecido fibroso comparado as amostras coletadas no 4º<br />
dia caracterizando uma fase proliferativa.<br />
No grupo G2 com amostras coletadas no 8º dia pós – lesão,<br />
constituído por alguns plasmócitos, linfócitos e raro neutrófilos,<br />
localizados entre as fibras colágenas. há também discreta<br />
neovascularização e áreas multifocais de hemorragia, algumas<br />
fibras musculares contraídas.<br />
Foi perceptível o reflexo de proteção muscular, que é mencionado<br />
por Kisner & Colby (1998) como uma contração prolongada do<br />
músculo em resposta a um estímulo doloroso. A lesão primaria<br />
causadora de dor pode ser em tecido próximo ou abaixo, ou em<br />
uma fonte de dor referida. Quando não é dor referida, o músculo<br />
em contração imobiliza funcionalmente o tecido lesado contra<br />
movimento. A proteção cessa quando a dor aliviada. Frente à<br />
mobilização, nos animais que não receberam tratamento tanto<br />
nos treinados como nos sedentários ao serem estimulados pela<br />
movimentação de flexo extensão obtinham menos amplitude e<br />
com mais reflexo de proteção muscular, nos animais treinados<br />
comparados com os sedentários devido a maior agilidade e<br />
movimentação dentro da gaiola é possível dizer que os estímulos<br />
dolorosos eram menos exacerbados no grupo dos treinados, isto<br />
permanecendo até o final do trabalho. Nesta fase foi observado<br />
que o grupo com tratamento possui um processo inflamatório mais<br />
discreto que o grupo controle.<br />
No grupo G3 com amostras coletadas no 8º dia pós - lesão,<br />
constituído por plasmócitos, macrófagos, linfócitos e alguns<br />
neutrófilos. Observa-se discreto tecido fibroso (fibroblastos) entre<br />
as fibras musculares. Observam-se também fibras musculares<br />
187
188<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
regeneradas (mas ainda hipoplásicas – crescimento incompleto) e<br />
áreas de regeneração muscular inicial, algumas fibras musculares<br />
contraídas. Os animais treinados obtiveram menor quantidade<br />
de fibroblastos em relação a todos os grupos deste estudo, não<br />
apresentando diferenças com o uso da MPP. É importante salientar<br />
também que com o passar dos dias o condicionamento físico<br />
adquirido cai vertiginosamente ainda mais perante o estresse físico<br />
(lesão). Tanto em homens quanto em mulheres, numerosos estudos<br />
mostraram que a maior parte dos benefícios metabólicos e cardiorespiratórios<br />
conseguidos por meio do treinamento com exercícios<br />
são perdidas dentro de um período de tempo relativamente curto<br />
depois que o treinamento é suspenso (KETEYIAN & FOSS, 2000).<br />
No grupo G4 com amostras coletadas no 8º dia pós – lesões<br />
foram encontrados plasmócitos, macrófagos, linfócitos e alguns<br />
neutrófilos. Observa-se discreto tecido fibroso (fibroblastos) entre<br />
as fibras musculares, nesta fase não apresentaram diferenças entre<br />
o grupo controle e o tratado.<br />
No grupo G1 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />
lesão, há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />
plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso<br />
cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />
muscular, presença de algumas fibras musculares contraídas,<br />
presenças de fibras musculares necróticas. É importante observar<br />
que somente no 15º dia pós-lesão o tecido apresenta fibras<br />
musculares contraídas, o qual estas tornam um tecido mais forte e<br />
coeso, sendo que o grupo com MPP já apresentavam este aspecto<br />
no 8º dia de coleta, ainda possui necrose.<br />
No grupo G2 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />
lesão, Há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />
plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso
o uSo DA moBiLiZAÇÃo PASSiVA PrECoCE Em rAToS TrEiNADoS E NÃo TrEiNADoS NA CiCATriZAÇÃo Do TECiDo muSCuLAr<br />
cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />
muscular, algumas fibras contraídas. Não ocorreram diferenças<br />
entre os grupos.<br />
No grupo G3 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />
lesão, Apresenta uma inflamação crônica leve, no tecido conjuntivo<br />
infiltrado leve de linfócitos e plasmócitos, edema, proliferação de<br />
fibroblastos leve. Fibras musculares preservadas.<br />
No grupo G4 com amostras coletadas no 15º dia pós –<br />
lesão, há raro infiltrado inflamatório superficial, constituído por<br />
plasmócitos, linfócitos e macrófagos, com leve tecido fibroso<br />
cicatricial (retração muscular). Há áreas discretas de regeneração<br />
muscular. Nesta fase a perda de condicionamento é evidente,<br />
porém os benefícios alcançados, antes pelo exercício, não serão<br />
totalmente desintegrados dando uma recuperação mais eficaz.<br />
A maioria dos estudos mostra que, as principais perdas<br />
ocorrem no período compreendido entre a segunda e a quarta<br />
semana de destreinamento físico, podendo retornar próximos aos<br />
valores pré-treinamento físico após alguns meses de inatividade<br />
física (EVANGELISTA & BRUM, 1999).<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
Com o uso da MPP nas amostras coletadas no 4º dia não<br />
ocorreram danos ao músculo.<br />
A MPP realizada por ambos os grupos do quarto e oitavo dias<br />
resultou em benefícios à cicatrização comparada com os controles,<br />
sendo nos grupos treinados resultados superiores.<br />
Na observação macroscópica clínica foi constatada que o quadro<br />
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190<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
álgico nos ratos treinados é menos acentuado comparado com os<br />
sedentários, histologicamente não se observou diferenças entre<br />
sedentários e treinados no curso da lesão.<br />
Os grupos que receberam a MPP apresentavam uma amplitude<br />
de movimento superior aos grupos sem tratamento e os reflexos<br />
de proteção musculares apresentavam-se diminuídos durante as<br />
manobras de flexão e extensão.<br />
A realização de exercícios pré e pós-lesão de acordo com a<br />
literatura e este trabalho auxilia o processo de regeneração, embora<br />
o exercício como prevenção ajude mais na evolução clinica<br />
funcional do que na regeneração do tecido como por base uma<br />
visão histológica, também, algumas variáveis como tempo de<br />
inicio, duração, intensidade e tipo de exercícios devam ser alvos<br />
de pesquisas futuras.<br />
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828, 1985.<br />
191
192<br />
BErToLiNi, rAFAEL – STurZENEGGEr, TATiANA mEDiNA<br />
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2002.
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo<br />
NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo<br />
NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo<br />
ANTErior (LCA)<br />
rESumo<br />
SiLVA, J. g. B. 1<br />
VOLOSKi, F. R. S. 2<br />
MAFALdA, L. 3<br />
Entre as lesões do futebol destaca-se a lesão do<br />
ligamento cruzado anterior (LCA) como sendo a<br />
lesão grave mais comum, causando instabilidade<br />
articular, atrofia do quadríceps e perda de receptores<br />
proprioceptivos. Assim o treinamento neuromuscular<br />
proprioceptivo de fundamental importância para<br />
o retorno a prática desportiva. A reeducação<br />
proprioceptiva vem sendo reconhecida como fator<br />
fundamental na reabilitação das lesões do LCA, uma<br />
vez que, existe a necessidade de se desenvolver<br />
uma capacidade de adaptação dos corpúsculos<br />
1 Fisioterapeuta, Formação em RPG.<br />
2 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
3 Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
193
194<br />
SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />
mecanorreceptores que existem no joelho, para<br />
fornecerem ao sistema nervoso central as informações<br />
de posição, movimento e estresse articular. Esta<br />
lesão deve ser encarada como uma preocupação para<br />
todos os indivíduos envolvidos na pratica desportiva,<br />
independente do nível competitivo, sexo e idade.<br />
Objetivos: os objetivos deste trabalho são: Estudar<br />
o mecanismo proprioceptivo articular e sua interação<br />
com o sistema nervoso central e periférico, conceituar<br />
a propriocepção e analisar protocolos de treinamento<br />
proprioceptivo. Metodologia: a metodologia utilizada<br />
no presente estudo foi uma revisão de literatura e a<br />
análise se dará por método dialético. Conclusões:<br />
o treinamento neuromuscular proprioceptivo deve<br />
ser progressivo, visando aprendizagem através da<br />
repetição exaustiva que faz com que as respostas de<br />
proteção articular se torne automática.<br />
Palavras-chave: propriocepção, lesão, LCA.<br />
ABSTrACT<br />
Among the lesions of soccer stands the lesion of<br />
anterior cruciate ligament (ACL) as being the most<br />
common serious injury, causing joint instability,<br />
quadriceps atrophy and loss of proprioceptive<br />
receptors. Thus the proprioceptive neuromuscular<br />
training is of fundamental importance for the return<br />
of sports practice. The reeducation proprioceptive
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />
1 iNTroDuÇÃo<br />
comes been recognize like fundamental factor in<br />
rehabilitation of ACL injuries, since there is a need<br />
of developing a adaptation capacity of corpuscle<br />
mechanoreceptors that exist in the knee, to provide<br />
for the central nervous system the information of<br />
position, movement and joint stress. This lesion should<br />
be seen like a concern for all individuals involved<br />
with sports practice, independent of the competitive<br />
level, gender or age. Goals: The goals of this work<br />
are: Study the articular proprioceptive mechanism<br />
and its interaction with central and peripheral<br />
nervous system, to conceptualize proprioception<br />
and to analyze protocols of proprioceptive training.<br />
Methodology: The Methodology used in this study<br />
was a literature review and the analysis will be<br />
given by the dialectical method. Conclusions: The<br />
proprioceptive neuromuscular training should be<br />
progressive, aimed at learning through the exhaustive<br />
repetition that makes the answers articular protection<br />
become automatic.<br />
Keywords: Proprioception, injury, ACL.<br />
O LCA é o ligamento mais fraco da articulação do joelho,<br />
se origina na área intercondilar da tíbia e se fixa na parte posterior<br />
do lado medial do côndilo lateral do fêmur e possui um suprimento<br />
195
196<br />
SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />
sanguíneo relativamente escasso. Os principais músculos que atuam<br />
na estabilização articular do joelho é o quadríceps, ísquiostibiais,<br />
gastrocnêmio, poplíteo e os adutores do quadril (BRITO et al.,<br />
2009).<br />
Durante a marcha a força que atua sobre a articulação<br />
femorotibial, pode chegar a cinco vezes o peso corporal, embora<br />
na maior parte do ciclo na marcha normal essa força se de duas<br />
vezes o peso corporal (FATARELLI et al., 2004).<br />
2 mATEriAL E mÉToDoS<br />
Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica em<br />
periódicos científicos, sites como o google acadêmico, bireme,<br />
scielo, medline e no acervo da biblioteca da instituição. A análise<br />
se dará por método dialético, pois este se procede mediante<br />
investigação, argumentação e confronto de idéias.<br />
3 DiSCuSSÃo<br />
O LCA tem propriedade de resistência tensional por volta<br />
de 2.160N a 30° de flexão. Funcionalmente durante os mecanismos<br />
rotacionais é que o LCA se encontra mais suscetível a lesão, visto<br />
que 70% das rupturas foram selecionadas a esse mecanismo<br />
(PALASTANGA et al., 2000).<br />
A dinâmica do joelho é relacionada com a complexa<br />
interação entre os componentes da articulação, são eles, a patela,<br />
porção distal do fêmur, porção proximal da tíbia, ligamentos<br />
colaterais, cápsula sinovial, cartilagens articulares e músculos<br />
(MOORE & DALLEY, 2001).
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />
4 mECANiSmo DE LESÃo Do LCA<br />
Quando o joelho é fletido o LCA está relaxado e quando<br />
em movimento de extensão o ligamento se encontra tensionado,<br />
limitando o deslizamento posterior do fêmur sobre a tíbia e a<br />
hipertensão articular do joelho, tem a função de impedir a tração<br />
anterior da tíbia quando a articulação encontra-se em flexão<br />
(DUTTON, 2006).<br />
A maioria das lesões de LCA ocorre em flexão do joelho<br />
entre zero a trinta graus, normalmente em situações de não-contato,<br />
em corrida ou salto, gerando-se grande tensão sobre o LCA,<br />
através de leve flexão, varo e rotação externa do fêmur (MOORE<br />
& DALLEY, 2001).<br />
5 ProPrioCEPÇÃo E ESTABiLiDADE ArTiCuLAr<br />
Os principais mecanismos neuromusculares propostos para<br />
explicar o controle de estabilidade articular são a propriocepção, o<br />
reflexo ligamento-muscular e o ajuste dinâmico da rigidez através<br />
da contração muscular (AQUINO et al., 2004). A estabilidade<br />
articular dinâmica se apresenta como elemento indispensável<br />
para a realização das atividades de vida diária, essa estabilidade é<br />
definida como sendo a capacidade de um corpo ou sistema retomar<br />
sua condição de equilíbrio após ter sido imposta sobre ele uma<br />
força ou perturbação (AQUINO et al., 2004).<br />
O treino proprioceptivo do joelho, também nomeado de reeducação<br />
sensório-motora ou reprogramação neuromuscular proprioceptiva,<br />
é uma prática terapêutica que tem como objetivo a reabilitação<br />
197
198<br />
SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />
visando devolver ou melhorar a proteção articular através do<br />
condicionamento e treino reflexivo (FONSECA et al., 2004).<br />
6 rECEPTorES ProPrioCEPTiVoS<br />
As estruturas musculares, capsulares e ligamentares do<br />
joelho, assim como a função estabilizadora mecânica da articulação<br />
são sede dos corpúsculos mecanorreceptores ou proprioceptores,<br />
que constituem o órgão sensorial da articulação (CLARETE &<br />
SOUZA, 1999). Os mecanorreceptores ou proprioceptores são<br />
responsáveis pelas informações ao Sistema Nervoso Central<br />
(SNC) das mudanças de posição, movimento e estresse articular,<br />
em um tempo determinado de resposta, o cérebro inicia a ação<br />
reflexa de contração da musculatura periférica, fazendo com que<br />
ocorra uma proteção e estabilização da articulação (CLARETE &<br />
SOUZA, 1999). Durante estudos anatômicos do joelho humano<br />
foram encontrados fibras nervosas nos ligamentos cruzados<br />
(GARDENER, 1998). Receptores tipo Golgi foram identificados<br />
na região da superfície desse ligamento, em estudos mais recentes<br />
foram descobertos receptores Ruffini, Golgi e Paccin (CLARETE<br />
& SOUZA, 1999).<br />
O reflexo ligamento-muscular é considerado como uma<br />
resposta do corpo, um mecanismo protetor, onde uma perturbação<br />
exercida sobre a articulação estimula os mecanorreceptores<br />
que transmitem sinais aferentes até a medula e por ação dos<br />
motoneurônios alfa que ativam os músculos antagonistas ao<br />
movimento gerado pela perturbação. Após o estudo mais detalhado<br />
do ligamento reflexo-muscular foi comprovada a existência do<br />
reflexo LCA-ísquiotibiais, quando a articulação foi submetida<br />
a anestesia não foi observada nenhuma reação muscular reflexa,
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />
também foi achada o mesmo mecanismo protetor reflexo nas<br />
articulações da coluna e do ombro (IHARA & NAKAYAMA,<br />
1986).<br />
A perda da informação proprioceptiva do joelho em virtude de<br />
lesão do LCA potencializa a instabilidade, devido à diminuição da<br />
sensação de posição pela ausência de estimulo para a contração<br />
muscular reflexa (CLARETE & SOUZA, 1999). Apesar da perda<br />
considerável de informações proprioceptivas, existem muitas outras<br />
fontes de informações que através de um treino neuromuscular<br />
proprioceptivo podem suprir a demanda de reação muscular<br />
necessária para o controle dinâmico d articulação. Portanto é<br />
indicado um programa de reprogramação da ação proprioceptiva do<br />
joelho com lesão de LCA (IHARA & NAKAYAMA, 1986). Existe<br />
consenso de que o treinamento muscular simples não aumenta a<br />
velocidade de reação muscular, porém o controle neuromuscular<br />
dinâmico tem a capacidade de diminuir o tempo de resposta<br />
articular, quanto menor o tempo de reação menor será o estresse e<br />
a deformação articular (CLARETE & SOUZA, 1999).<br />
7 DiAGNÓSTiCo CLÍNiCo DA LESÃo Do LCA<br />
Os testes e manobras ortopédicas são em práticas suficientes<br />
para em conjunto com a história clinica, firmar o diagnóstico das<br />
lesões nos meniscos e ligamentos (FERRETTI et al., 2007).<br />
As diretrizes médicas indicam que a história clínica e o exame físico<br />
bem realizado são equivalentes, e até, superiores que os exames de<br />
imagem no diagnóstico da lesão de LCA (FERRETTI et al., 2007).<br />
Com o intuito de avaliar a estabilidade do LCA, existem<br />
testes ortopédicos especiais tais como: teste de gaveta, teste de<br />
Lachman e o pivot shift (HERBERT & XAVIER, 2003).<br />
199
200<br />
SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />
8 AVALiAÇÃo ProPrioCEPTiVA<br />
Os SEBTs são uma série de oito testes unilaterais de<br />
equilíbrio que incorporam um posicionamento de uma perna em<br />
pé, com um alvo máximo de alcance da perna livre. A perna em<br />
pé opera na cadeia cinética fechada com movimento acoplado no<br />
tornozelo, joelho e articulação do quadril, enquanto a perna oposta<br />
tenta alcançar a direção especificada.<br />
Na medida em que o alcance-alvo é executado com o pé,<br />
o sistema de controle postural é desafiado conforme o centro de<br />
gravidade do corpo é movimentado em relação á sua base de apoio.<br />
O controle postural é mediado pelos sistemas visual, vestibular<br />
e somato-sensorial. O controle neuromuscular adequado dos<br />
músculos da pena em pé é de suma importância para aumentar<br />
o comprimento da excursão da perna de alcance. Assim, o<br />
desempenho ótimo desses testes somente pode ser obtido se não<br />
houver restrições à escala do movimento ou controle neuromuscular<br />
no tornozelo, joelho e articulação do quadril. Este teste é realizado<br />
periodicamente para a avaliação da propriocepção (TRILHA et al.,<br />
2009).<br />
Fig. 1. Execução do SEBT teste.
A rELANVÂNCiA Do TrEiNAmENTo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo NA ruPTurA Do LiGAmENTo CruZADo ANTErior (LCA)<br />
9 TrEiNo NEuromuSCuLAr ProPrioCEPTiVo<br />
A reeducação proprioceptiva do joelho em lesão do LCA<br />
é fundamentada em quatro fatores: 1) Exercícios que envolvem<br />
estímulos especiais (desequilíbrio provocado e controlado para<br />
produzir aumento das informações proprioceptivas, exercícios<br />
em planos inclinados, prancha oscilante de Dotte, aparelho de<br />
Freeman, tábua de equilíbrio e cama elástica). 2) Progressividade e<br />
aumento na dificuldade do exercício (levar o paciente de um nível<br />
simples a um mais complexo de exercícios, com caráter repetitivo).<br />
3) Critérios de habilidade (capacidade do paciente em evoluir a<br />
complexidade do exercício proposto). 4) Avaliação proprioceptiva.<br />
O grau I da reabilitação proprioceptiva inicia logo após a quarta<br />
semana, esses exercícios incluem o apoio monopodal (apoio de<br />
apenas um membro ), com ou sem auxilio da visão, realizados em<br />
vários ângulos de flexão do joelho com desequilíbrio provocado ao<br />
natural. Os exercícios de grau II são basicamente aqueles que se<br />
realiza em planos instáveis e a corrida no plano sem mudança de<br />
direção. Iniciamos os exercícios pela tábua de equilíbrio, evoluindo<br />
para prancha oscilante de Dotte e depois para o aparelho de Freeman.<br />
Esses exercícios são executados como no grau I, variando porém,<br />
o apoio, visão, angulação do joelho e desequilíbrio. Os do terceiro<br />
grau são exercícios avançados, quando se utiliza a cama elástica<br />
(mini trampolim), o skate e se introduz a alternância de pisos,<br />
saltos, obstáculos e a corrida com mudança de direção (HERTEL<br />
et al., 2006).<br />
O maior nível de controle neuromuscular envolve<br />
consciência de posição estática e dinâmica do corpo, através<br />
da prática repetitiva do movimento, o que faz com que esses<br />
comandos motores possam ser identificados e armazenados. Estes<br />
201
202<br />
SiLVA, J. G. B. – VoLoSKi, F. r. S. – mAFALDA, L.<br />
comandos neuromotores podem então ser recuperados e iniciados<br />
automaticamente de modo que a proteção articular pode ser<br />
realizada com consciência contínua (HERTEL et al., 2006).<br />
10 CoNCLuSÃo<br />
É importante ressaltar que o tratamento não cirúrgico da<br />
ruptura do LCA leva a uma instabilidade crônica da articulação<br />
do joelho, que por sua vez, desencadeia uma patologia meniscal,<br />
devido ao fato de ser o corno posterior do menisco medial o<br />
responsável pela restrição do deslocamento posterior do fêmur,<br />
quando ocorre a ruptura do LCA.<br />
Após a cirurgia do LCA é importantíssimo que o treino<br />
neuromuscular proprioceptivo seja realizado para evitar que<br />
ocorra um processo de instabilidade articular, que com o passar do<br />
tempo pode levar a patologias associadas e até mesmo a artrose da<br />
articulação.<br />
11 rEFErÊNCiAS<br />
AQUINO, C. F.; VIANA , S. O.; FONSECA, S. T.; BRICIO,<br />
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203
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE<br />
rEumATÓiDE<br />
rESumo<br />
SAnTOS, PedRO HenRiqUe 1<br />
VOLOSKi, FeRnAndO 2<br />
Artrite Reumatóide é uma doença sistêmica,<br />
1<br />
caracterizada por um quadro inflamatório crônico<br />
com sinovite poliarticular persistente, de etiologia<br />
desconhecida e com grande potencial deformante.<br />
Esta doença surge geralmente após os 40 anos,<br />
no entanto pode surgir em qualquer fase da vida.<br />
O objetivo deste estudo é analisar a indicação e a<br />
utilização da crioterapia no tratamento da fase aguda<br />
da Artrite Reumatóide. A crioterapia é um excelente<br />
recurso terapêutico no combate a fase aguda da<br />
Artrite Reumatóide, por seu efeito antiinflamatório<br />
e analgésico, além de evitar a ação da enzima<br />
colagenase que atua na degeneração da articulação.<br />
Entretanto, devem ser levadas em consideração<br />
as contra-indicações com relação ao uso do frio,<br />
devido às manifestações que ocorrem nas diferentes<br />
fases da enfermidade, dando como exemplos a<br />
Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo.<br />
2 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo.<br />
205
206<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
crioglobulinemia e a vasculite. Portanto foi visto que<br />
a aplicação da crioterapia em pacientes com AR de<br />
certa forma torna-se útil para que ocorra o controle<br />
dos sinais e sintomas, por outro lado observamos que<br />
há divergências de autores e escassez de estudos<br />
com relação à aplicação do frio nas diferentes fases<br />
da doença. Trata-se de uma revisão de literatura<br />
baseada na busca de informações em livros e artigos<br />
nacionais e internacionais, junto à base de dados<br />
em saúde como: Medline, Pubmed, Scielo, Google<br />
Acadêmico.<br />
Palavras-chave:<br />
crioterapia.<br />
artrite reumatóide, aplicação,<br />
ABSTrACT<br />
Rheumatoid arthritis is a systemic disease<br />
characterized by a chronic inflammatory synovitis<br />
with polyarticular persistent, of unknown etiology<br />
and with great potential deformans. This disease<br />
usually appears after 40 years, however may arise<br />
at any stage of life. The aim of this study is to<br />
analyze the information and use of cryotherapy in<br />
the treatment of acute phase of rheumatoid arthritis.<br />
The cryotherapy is an excellent therapeutic resource<br />
in combating the acute phase of rheumatoid arthritis,<br />
for its anti-inflammatory effect and analgesic, and<br />
prevent the action of collagenase enzyme that acts
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
in the degeneration of the joint. However, should be<br />
considered contra-indications with respect to the use<br />
of cold, due to events that occur at different stages of<br />
the disease, giving as examples the cryoglobulinemia<br />
and vasculitis. So it was seen that the application of<br />
cryotherapy in patients with RA in some ways it is<br />
useful to have the control of signs and symptoms, on<br />
the other hand we observe that there are differences of<br />
authors and lack of studies concerning the application<br />
of cold in different stages of the disease. This is a<br />
literature review based on the search for information<br />
in books and articles nationally and internationally,<br />
with the database on health such as Medline, Pubmed,<br />
Scielo, Google Scholar.<br />
Keywords: rheumatoid arthritis, application,<br />
cryotherapy.<br />
1 iNTroDuÇÃo<br />
A característica básica da Artrite Reumatóide ou Doença<br />
Reumatóide, assim como uma boa parte das afecções reumáticas,<br />
é a presença do quadro inflamatório crônico, que causa inflamação<br />
no revestimento das articulações e se manifesta por calor, edema e<br />
dor. A AR tende a persistir por muitos anos, tipicamente afeta várias<br />
articulações ao longo do corpo e pode causar danos nas cartilagens,<br />
ossos, tendões e ligamentos das articulações (SILVEIRA et al.,<br />
2006).<br />
207
208<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
Segundo Silva (1998), a AR pode ser caracterizada como<br />
uma enfermidade inflamatória crônica que afeta o sistema músculo<br />
esquelético onde a inflamação das articulações e tendões resulta<br />
em dor, limitação do movimento, tumefação, ocasionando futuras<br />
deformidades.<br />
Para Santos (1996), a artrite reumatóide (AR) é uma<br />
doença crônica, habitualmente progressiva, que se caracteriza<br />
pelo envolvimento simétrico de múltiplas articulações e cursa com<br />
diversos graus de incapacitação funcional. Ela afeta as atividades<br />
da vida cotidiana como se vestir, subir escadas, deitar e levantar<br />
da cama e andar; podendo diminuir seriamente a autonomia e, por<br />
conseguinte, a qualidade de vida.<br />
Esta doença acomete 1% da população adulta, aumentando<br />
para 4,5% em pessoas na faixa etária dos 55 aos 75 anos. Ela<br />
afeta ambos os sexos com maior prevalência nas mulheres (3:1).<br />
A causa da AR é desconhecida, porém considera-se multifatorial,<br />
ela acomete o tecido conjuntivo, primeiramente a membrana<br />
sinovial, com característica de um processo inflamatório crônico<br />
(CHIARELLO et al., 2005).<br />
Rebelatto e Morelli (2007) citam de uma maneira resumida<br />
que, a fisiopatologia envolvida na AR pode ser dividida em<br />
estágios. No estagio 1, o aspecto mais relevante é a sinovite, com<br />
congestão vascular, proliferação de sinoviócitos, infiltração de<br />
células plasmáticas polimorfonucleares e linfócitos nas camadas<br />
sinoviais, levando ao aumento das vilosidades da membrana<br />
sinovial. No estagio 2, a destruição da estrutura fisiológica dos<br />
tecidos articulares é mais evidente devido à formação do pannus,<br />
que recobre a superfície articular e erodem a cartilagem e o tecido<br />
ósseo a partir da margem articular e bainhas tendinosas. No estagio<br />
3, as deformidades articualres se instalam em conseqüência da<br />
destruição e da frouxidão articular e das rupturas tendinosas.
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
Rebelatto e Morelli (2007) citam que aproximadamente 80%<br />
da população com AR é fator-reumatóide positivo. Os fatores<br />
reumatóides são anticorpos que reagem com imunoglobulinas<br />
encontradas no sangue. O fator reumatóide também pode ser<br />
encontrado no liquido sinovial e na membrana sinovial dos<br />
acometidos.<br />
O fator reumatóide é um grupo de anticorpos com<br />
especificidade para a fração Fc da imunoglobulina G, sendo a<br />
maior alteração imunológica da AR. Ele é responsável por diversas<br />
funções efetoras dentro do processo patogênico, formando<br />
imunocomplexos, com ativação do sistema complemento,<br />
contribuindo para a perpetuação da inflamação articular<br />
(CHIARELLO et al., 2005).<br />
Portanto o tratamento de reabilitação da AR através da fisioterapia,<br />
utiliza frequentemente os agentes térmicos (Frio e Calor), sendo o<br />
primeiro em especial, que segundo Chiarello et al. (2005) indica a<br />
crioterapia na fase aguda da AR, pois produzirá analgesia.<br />
A crioterapia pode ser melhor conceituada, como o uso<br />
do frio com fins terapêuticos, que através de suas propriedades<br />
tem a capacidade de retirar calor do organismo, usualmente é<br />
empregada no tratamento da dor em afecções músculo esqueléticas,<br />
preservando ou reduzindo possíveis danos celulares nos tecidos do<br />
corpo (AGNE, 2004; RODRIGUES, 1995; ALTER, 1999).<br />
A crioterapia é muito usada após traumatismos músculosesqueléticos,<br />
por minimizar a formação de edema, e para dor<br />
miofascial e processos inflamatórios articulares. É também<br />
utilizada no controle da dor e edema após cirurgias ortopédicas e<br />
no controle de componente espástico. A imersão em água gelada<br />
é indicada como tratamento primário de pequenas queimaduras<br />
(LIANZA, 2002).<br />
209
210<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
A crioterapia pode ser definida como a terapia pelo frio<br />
ou terapia fria. A crioterapia abrange uma grande quantidade de<br />
técnicas específicas que utilizam o frio nas formas, líquido (água),<br />
sólido (gelo) e gasosa (gases) com o objetivo terapêutico de retirar<br />
calor do corpo. A retirada de calor do corpo tem por objetivo induzir<br />
os tecidos a um estado de hipotermia, para favorecer urna redução<br />
da taxa metabólica local (RODRIGUES, 1995).<br />
A terapia com frio é utilizada durante ás 24 a 48 horas após ter<br />
ocorrido o trauma. Após esse período de tempo ela é menos útil.<br />
Realizam-se aplicações de 20 a 40 minutos de duração, devendo<br />
esperar pelo menos uma hora para repetir a aplicação (STASHAK,<br />
1994).<br />
Dentre os efeitos da aplicação da crioterapia encontram-se<br />
a vasoconstrição local, redução da dor, da inflamação, do espasmo<br />
muscular e da taxa de metabolismo celular em conseqüência da<br />
necessidade reduzida de oxigênio no local (GUIRRO et al., 2004;<br />
SILVESTRE et al., 2002).<br />
De acordo com Knight (2000), a aplicação do gelo faz com<br />
que aumente o limiar de excitação das células nervosas em função<br />
do tempo de aplicação, ou seja, quanto maior o tempo menor a<br />
transmissão dos impulsos relacionados à temperatura o que pode<br />
gerar analgesia ou diminuição da dor.<br />
Porém na AR cerca de 70 a 80% dos portadores apresentam<br />
fator reumatóide positivo, desta maneira a probabilidade de<br />
produzir crioglobulinas através da aplicação do frio aumenta,<br />
potencializando o efeito da vasculite levando a necrose articular.<br />
A necrose tecidual ocorre devido à oclusão dos vasos sangüíneos<br />
causando isquemia de pequenos vasos, aumentando o potencial<br />
deformante e destrutivo da doença (HEBERT, 2003).
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
As crioglobulinas são imunoglobulinas presentes na<br />
circulação sangüínea, produzidas pelos monócitos da medula óssea<br />
decorrentes de uma reação auto-imune ou sem imunopatologia<br />
estabelecida. Quando submetidas baixas temperaturas, as<br />
crioglobulinas precipitam, constituindo um fenômeno denominado<br />
crioglobulinemia. Porém ela é reversível, pois as imuglobulinas<br />
se redissolvem após serem aquecidas (SILVEIRA et al. apud<br />
DELGADO et al., 2001).<br />
A vasculite reumatóide tem sido associada a altos títulos de<br />
fator reumatóide. O envolvimento vascular da crioglobulinemia na<br />
AR ocorre com precipitação das crioglobulinas (lgG policlonal<br />
e lgM monoclonal). Quando submetidas a baixas temperaturas<br />
esse precipitado de imunocomplexos depositam-se nas margens<br />
dos pequenos vasos da membrana sinovial. Sua reação com o fator<br />
reumatoide positivo provoca ativação do sistema de complemento<br />
que acentua o quadro inflamatório pela destruição da membrana<br />
sinovial e pela vasodilatação promovida pelos mediadores liberados.<br />
Sendo assim se o paciente apresentar vasculite, crioglobulinemia<br />
em qualquer fase da doença a crioterapia é contra-indicada<br />
(SILVEIRA et al. apud COLUCCI, 2005; AGNE, 2004).<br />
Para Knight (2000) a crioterapia pode ser aplicada de<br />
acordo com os seguintes métodos: a imersão local em gelo picado<br />
ou em água gelada, compressas frias, sprays congelantes, bolsas de<br />
gelo e a massagem com gelo.<br />
Como já foi citada anteriormente, a crioterapia dispõem<br />
de varias técnicas de aplicação, onde cada técnica procura uma<br />
maior efetividade e melhores resultados com sua aplicação, de<br />
acordo com o local, o tamanho da área e ate mesmo os objetivos do<br />
tratamento através do frio (AGNE, 2004; LINZA, 2002).<br />
211
212<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
A escolha correta do método de aplicação deve ser baseada,<br />
principalmente, de acordo com a área a ser tratada, sendo que o<br />
tempo de aplicação varia tanto em relação ao método utilizado<br />
como a área, isto é, uma articulação que apresenta menor espessura<br />
do tecido adiposo, o tempo necessário para atingir o resfriamento é<br />
menor do que em uma outra área que possui uma maior quantidade<br />
de tecido adiposo (PINHEIRO apud RODRIGUES, 1995).<br />
Porém, durante o tratamento da crioterapia devem-se tomar<br />
alguns cuidados a seguir declinados: Pacientes com Fenômeno<br />
de Raynaud ou doença vasoespática; hipersensibilidade ao frio;<br />
distúrbios cardíacos; comprometimento da circulação local; ter<br />
cuidado nas aplicações não passar de 50 minutos para não produzir<br />
ulcerações; não aplicar em pacientes paralisados ou em coma, pois<br />
vão ter perda de sensibilidade (RODRIGUES, 1998).<br />
De acordo com Lianza (2002) as contra-indicações mais<br />
comuns são as intolerâncias ao frio, que pode fazer com que o<br />
paciente aumente a contratura muscular. Aplicação em áreas com<br />
comprometimento vascular arterial. O uso do frio deve ser cuidadoso<br />
em pacientes com hipoestesia, com alterações cognitivas ou déficit<br />
de comunicação. É contra-indicado nos casos de criopatias, um<br />
exemplo.<br />
Fenômeno de Raynaud é uma doença vasoespática que<br />
pode ser idiopática ou associada a outras doenças. É um episódio<br />
de constrição de pequenas artérias e arteríola nas extremidades,<br />
que resulta em palidez e/ou cianose da pele, seguida por hiperemia<br />
e vermelhidão. A vasoconstrição pode ser grande o bastante para<br />
levar a uma oclusão completa dos vasos (GOULD, 1993).<br />
A fisioterapia através do frio visa uma melhora ou pelo<br />
menos a manutenção na qualidade de vida dos pacientes com
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
AR, onde um dos principais objetivos é a abolição ou o controle<br />
da dor, responsável também pela limitação do movimento pelas<br />
deformidades (CHIRELLO et al., 2005).<br />
Na fase aguda da AR indica-se a crioterapia por produzir<br />
analgesia, apesar de que ela pode manter a rigidez articular. Porém<br />
se o paciente apresentar vasculite, crioglobulinemia ou fenômeno<br />
de Raynaud em qualquer fase da doença a crioterapia é contraindicado.<br />
Outros recursos terapêuticos que produzem calor, como<br />
ondas curtas, galvânica e ultra-som, também são contra-indicados<br />
na fase aguda da patologia (AGNE, 2004).<br />
Portanto a crioterapia é um excelente recurso terapêutico<br />
no combate a fase aguda da AR, devido à redução dos efeitos que<br />
o quadro inflamatório provoca nas articulações acometidas, seja<br />
reduzindo o consumo de oxigênio evitando a hipóxia secundária,<br />
ou pela vasoconstrição evitando a progressão do edema e reduzindo<br />
a chegada de mediadores inflamatórios no local, ou ainda, por<br />
evitar a ativação da colagenase que destrói a cartilagem articular<br />
(SILVEIRA et al., 2006).<br />
2 mATEriAL E mÉToDoS<br />
Trata-se de uma revisão de literatura, realizada no período<br />
de Março de 2009 à Julho de 2009, na qual foram consultados<br />
livros e periódicos da Biblioteca do Instituto Cenecista de<br />
Ensino Superior de Santo Ângelo, e realizada a busca de artigos<br />
científicos nos bancos de dados da Bireme, Scielo, Google<br />
Acadêmico, Fisioweb, Pubmed e Medline, pertinentes ao assunto<br />
abordado, utilizando as palavras chaves como: Artrite Reumatóide,<br />
Fisioterapia, Crioterapia, fazendo ênfase na evidência científica.<br />
213
3 DiSCuSSÃo<br />
214<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
A Artrite Reumatóide é uma doença sistêmica do tecido<br />
conjuntivo cujas alterações são predominantes nas articulações<br />
diatrodiais e nas estruturas periarticulares, manifestando-se<br />
principalmente pelo processo inflamatório crônico e deformante da<br />
membrana sinovial (CHIARELLO, 2005).<br />
Porém, para Golding (2001), a AR é uma enfermidade que<br />
leva ao seu portador febre, mialgias, e fadiga muscular, porém<br />
normalmente os principais sinais e sintomas da doença estão<br />
vinculados à dor e ao edema articular, associados também à rigidez<br />
articular inflamatória. Com a progressão da doença surgem as<br />
deformidades.<br />
Já Abreu (2000), cita que a doença se caracteriza por artrite<br />
crônica, erosiva e deformante. A maioria dos doentes apresenta<br />
também manifestações extra-articulares, algumas das quais podem<br />
ser fatais. A causa da AR é desconhecida, sabendo-se que estão<br />
implicados fatores genéticos e outros não esclarecidos na sua<br />
origem.<br />
No campo da Fisioterapia p uso dos meios físicos tornou-se<br />
indispensável principalmente no tratamento de afecções músculo<br />
esquelético, onde de certa forma, tanto o frio quanto o calor, na<br />
forma terapêutica, são responsável na melhora da qualidade de<br />
vida dos pacientes, possibilitando o retorno em suas AVD´S muitas<br />
vezes comprometidas por diversas patologias.<br />
Portanto para Agne (2004), a crioterapia é uma técnica que<br />
se utiliza do frio para fins terapêuticos, e é comumente empregada<br />
na fase aguda da AR, contribuindo significamente na redução dos
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
sinais e sintomas. O paciente nessa fase está submetido a quadros<br />
álgicos e sinovite inflamatória aguda que posteriormente acarreta<br />
em deformidades, trazendo impactos negativos na qualidade de<br />
vida destes.<br />
Chiarello et al. (2005), cita que a crioterapia é normalmente<br />
utilizada na fase aguda da AR, visando à diminuição da temperatura<br />
intrarticular e consequentemente a diminuição da dor. Por outro<br />
lado os efeitos do frio ajudam a manter a rigidez articular.<br />
Já para Golding (2001), a aplicação do calor superficial nas fases<br />
iniciais da doença ou no período de exacerbação da mesma é tida<br />
como importante para que haja uma diminuição da dor, onde<br />
também a aplicação de banhos de cera ajuda, no alivio da rigidez<br />
das mãos.<br />
Porém para Starkey (2001), o calor nos estágios<br />
inflamatórios agudos da Artrite Reumatóide, torna-se inadequado<br />
e contra-indicado a aplicabilidade desta técnica, pois provocará o<br />
aumento da circulação local e/ou o aumento das tensões mecânicas<br />
musculares, podendo levar à hemorragia intra-articular ou ruptura<br />
de estruturas articulares.<br />
Portanto para Silveira et al. (2006), os efeitos da crioterapia<br />
são extremamente importantes no controle da fase aguda da AR.<br />
O portador de AR apresenta durante a crise um quadro de sinovite<br />
inflamatória aguda, e a aplicação de modalidades crioterapêuticas<br />
nessa fase contribui significamente para a redução dos sinais e<br />
sintomas.<br />
Na AR ou qualquer processo artrítico, a temperatura<br />
intrarticular eleva-se a uma média entre 30,5 ºC e 33 ºC para um valor<br />
entre 34ºC à 37ºC. O aumento da temperatura promove a liberação<br />
da enzima colagenase pelos leucócitos polimorfonucleares que se<br />
215
216<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
infiltram na sinóvia. Essa enzima destrói o colágeno na cartilagem<br />
articular, potencializando sua degeneração. Compressas frias<br />
podem diminuir essa temperatura em 2 ou 3ºC, quando aplicada<br />
por mais de dez minutos (SILVEIRA, 2001).<br />
Para Lehmann et al. (apud Silveira et al., 2006), o<br />
beneficio da crioterapia no tratamento de uma articulação com<br />
reação inflamatória está na vasoconstrição com redução de edema<br />
e indiretamente no alivio da dor. Também foi constatada uma<br />
redução significativa na atividade da colagenase.<br />
De acordo com Knight (apud Guirro et al., 2004), há<br />
controvérsias em relação à utilização terapêutica da crioterapia,<br />
uma vez que existem numerosas opiniões sobre suas bases teóricas,<br />
técnicas apropriadas de aplicação e as respostas fisiológicas do<br />
organismo.<br />
Na AR cerca de 70 a 80% dos portadores apresentam<br />
fator reumatoide positivo, desta maneira a probabilidade de<br />
produzir crioglobulinas através da aplicação do frio aumenta,<br />
potencializando o efeito da vasculite levando a necrose articular.<br />
A necrose tecidual ocorre devido à oclusão dos vasos sangüíneos<br />
causando isquemia de pequenos vasos, aumentando o potencial<br />
deformante e destrutivo da doença. Sendo assim nesta ocasião o<br />
uso da crioterapia torna-se contra-indicado (HEBERT et al., 2003;<br />
PINHEIRO apud MICHLOVITZ, 1996).<br />
Já para Silveira et al. (2006), os portadores de AR com<br />
fator reumatoide negativo e ausência de crioglobulinas podem ser<br />
altamente beneficiados com a crioterapia na fase aguda. Sendo<br />
assim torna-se indispensável à pesquisa do fator reumatoide,<br />
através da prova Látex ou do Waaler Rose. A prova do látex é<br />
positiva em 80 % dos pacientes com AR e a de Waaler Rose está<br />
presente em 60%.
4 CoNCLuSÃo<br />
o uSo DA CrioTErAPiA NA ArTriTE rEumATÓiDE<br />
A partir deste trabalho, foi visto que a AR é uma patologia<br />
de grande acometimento na população mundial, sendo que as<br />
mulheres possuem mais capacidade de desenvolve-lá. Devido sua<br />
etiologia ainda ser desconhecida, porém alguns autores dizem que<br />
ele é de caráter auto-imune, o que dificulta o seu diagnóstico.<br />
A crioterapia no tratamento da AR é de suma importância, pois<br />
ela é um recurso que desfruta de varias técnicas que tem efeitos<br />
benéficos no tratamento da fase aguda da AR, e de outras<br />
afecções do organismo humano. A partir de sua aplicação pode<br />
se obter efeitos locais no organismo, onde a temperatura da pele<br />
deverá reduzir significamente para se obter um bom resultado no<br />
tratamento. O tempo de aplicação varia de acordo com a técnica,<br />
mas segundo diversos autores, o tempo estimado varia em torno de<br />
trinta minutos.<br />
A aplicação da crioterapia é indicada na fase aguda da AR,<br />
devido aos seus efeitos como, diminuição do fluxo sangüíneo,<br />
controle da dor e diminuição de edema, entre outros, que favorecem<br />
a manutenção da qualidade de vida dos portadores da AR. Porém,<br />
existem algumas contra-indicações em relação à crioterapia que<br />
deverão ser levadas em considerações como: crioglobulinemia e<br />
fenômeno de Raynaud.<br />
Portanto, fica claro que a aplicabilidade da crioterapia<br />
na AR é de suma importância, devido aos seus efeitos benéficos<br />
na fase aguda da patologia, porém nessecita-se de mais estudos<br />
relacionando a crioterapia com as crioglobulinas.<br />
217
5 rEFErÊNCiAS<br />
218<br />
SANToS, PEDro HENriQuE – VoLoSKi, FErNANDo<br />
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219
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES<br />
PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
rESumo<br />
BRAUn, dAnTe SAUL 1<br />
BUenO, RúBiA dAiAne SAnTOS 2<br />
A Pneumonia Nosocomial é aquela que ocorre<br />
após 48 a 72 horas após a admissão hospitalar. É<br />
uma infecção que ocorre no parênquima pulmonar,<br />
comprometendo todo o sistema respiratório e atinge<br />
a maioria dos pacientes internados principalmente na<br />
unidade de terapia intensiva pelo frequente uso da<br />
ventilação mecânica invasiva e sua imunidade muito<br />
reduzida. A fisioterapia por sua vez, atua para que o<br />
paciente recupere suas funções respiratórias através<br />
de manobras manuais, posturais e cinéticas para<br />
melhorar a ventilação pulmonar e a oxigenação desse<br />
paciente. Esse artigo é uma revisão bibliográfica sobre<br />
a ação da Fisioterapia Respiratória na Pneumonia<br />
Nosocomial, baseada em livros, sites científicos,<br />
jornal de pneumologia e revistas científicas.<br />
1 Professor do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo, Fisioterapeuta, Especialista em Terapia Intensiva.<br />
2 Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo<br />
Ângelo.<br />
221
222<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Palavras-chave: Pneumonia Nosocomial, Fisioterapia<br />
Respiratória.<br />
ABSTrACT<br />
The Pneumonia Nosocomial safety is one that<br />
occurs after 48 to 72 hours after hospital admission.<br />
Is an infection that occurs in the lung parenchyma,<br />
undermining the entire respiratory system and<br />
reaches the majority of patients in intensive care<br />
unit by the frequent use of invasive ventilation and<br />
his immunity. The physiotherapy turn acts for which<br />
the patient recovers its respiratory functions through<br />
manoeuvres manuals, posturais and K1 and K2 to<br />
improve pulmonary ventilation and oxygenation of the<br />
patient. This article is a bibliographic review on the<br />
action of Respiratory Physiotherapy in Pneumonia<br />
nosocomial safety, based on scientific books,<br />
websites, newspapers of Pulmonology and scientific<br />
journals.<br />
Keywords: Nosocomial Pneumonia, Respiratory<br />
Phisical Therapy.
1 iNTroDuÇÃo<br />
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
A infecção do trato respiratório inferior é uma das principais<br />
patologias que acometem a população. Promove alterações na<br />
mecânica respiratória e na ventilação/perfusão, podendo o paciente<br />
apresentar quadros importantes de insuficiência respiratória aguda.<br />
As principais alterações provocadas por esse mal decorrem da<br />
exacerbação do processo inflamatório e acarretam importante<br />
acúmulo de secreção brônquica com conseqüente incapacidade<br />
do sistema respiratório em realizar uma adequada ventilação<br />
alveolar. Por esses fatores, torna-se evidente a importância da<br />
fisioterapia respiratória em pacientes acometidos por essa afecção<br />
(SARMENTO, 2007).<br />
A Pneumonia Nosocomial é definida como toda infecção<br />
do trato respiratório inferior que ocorre durante a internação desde<br />
que não esteja presente ou em incubação, no momento da admissão<br />
do paciente. A maior taxa de incidência ocorre em serviços clínicos<br />
e cirúrgicos, em pacientes imunossuprimidos, naqueles submetidos<br />
a procedimentos cirúrgicos do tórax ou do andar superior do<br />
abdome, e nos pacientes admitidos nas UTI’s. Pacientes graves,<br />
intubados e em ventilação mecânica apresentam maior risco de<br />
infecção pulmonar. Os critérios clínicos mais utilizados para o<br />
diagnóstico das pneumonias nosocomiais são: a) aparecimento de<br />
infiltrado pulmonar novo ou progressivo; b) febre; c) leucocitose<br />
e d) presença de secreção purulenta traqueobrônquica; a presença<br />
de apenas três critérios permite o diagnóstico. Broncoscopia<br />
com lavado alveolar ou escovado através de cateter protegido<br />
tem demonstrado vantagens no diagnóstico das pneumonias<br />
nos pacientes em ventilação mecânica. Avanços nos métodos<br />
diagnósticos das pneumonias hospitalares, nas técnicas de<br />
biologia molecular, nas estratégias de prevenção das pneumonias<br />
223
224<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
hospitalares, nos procedimentos invasivos, no uso adequado de<br />
antibioticoterapia e profilaxia, e a imunoterapia representam<br />
desafios para a década atual (SILVA, 2004).<br />
É uma infecção que ocorre no parênquima pulmonar,<br />
comprometendo bronquíolos respiratórios e alvéolos que são<br />
preenchidos por exsudato inflamatório, o que prejudica as<br />
trocas gasosas. Essa patologia pode ser causada por qualquer<br />
agente infeccioso como bactérias, fungos, vírus ou parasitas.<br />
Em sua maioria, é provocada por bactérias e é considerada a<br />
principal causa de morte em pacientes hospitalizados. Quanto à<br />
classificação anatômica, as pneumonias podem ser: lobar, onde<br />
há uma disseminação uniforme nos lobos pulmonares; lobular,<br />
caracterizada por vários focos inflamatórios nos lóbulos pulmonares;<br />
e intersticial, afetando mais o interstício pulmonar. Ela geralmente<br />
inicia-se a partir da inalação de microorganismos para o interior<br />
dos pulmões. A infecção pode ser levada aos pulmões pela corrente<br />
sangüínea ou deslocar-se para os mesmos diretamente a partir de<br />
uma infecção próxima. Os sintomas mais comuns desta patologia<br />
são: tosse produtiva, dor torácica, calafrios, febre e dificuldade<br />
respiratória (ANUNCIATO & XAVIER, 2007).<br />
É um processo infeccioso pulmonar produzido por fatores<br />
etiológicos como: bactérias, fungos, micoplasma, alérgenos e<br />
agentes químicos e físicos. Na fase inicial da pneumonia o paciente<br />
fica taquipnéico pela hipóxia e com o decorrer da patologia tende<br />
a hipoventilar, evoluindo com a insuficiência respiratória caso a<br />
pneumonia seja grave e possivelmente ao óbito. Portanto é necessária<br />
a urgência do tratamento com antibióticos e posteriormente o<br />
tratamento fisioterapêutico que consiste na aplicação de exercícios<br />
para melhorar a tosse e a ventilação do alvéolo pulmonar – região<br />
do pulmão que faz a troca entre o oxigênio e o gás carbônico
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
durante a respiração. O tratamento fisioterapêutico não é a única<br />
responsável pela melhora dos pacientes, mas aliada a tratamento<br />
com remédios e mudança nos hábitos do cotidiano, como a prática<br />
de exercícios e alimentação adequada, pode ter de 30% a 40% de<br />
eficácia (SILVA, 2004).<br />
Segundo Sarmento (2007) a pneumonia é definida como<br />
inflamação aguda das estruturas do parênquima pulmonar causada<br />
por diversos agentes etiológicos. É responsável por 90% das<br />
mortes por afecções respiratórias e por 10% de todas as mortes;<br />
sua gravidade e maior mortalidade está relacionada a indivíduos<br />
imunocomprometidos, por exemplo, portadores de AIDS, fibrose<br />
cística, e aos extremos de vida, como recém-nascidos, lactentes ou<br />
idosos.<br />
A resolução desta patologia na fase aguda geralmente<br />
inclui analgésicos, antibióticos, antitérmicos, dieta hipercalórica<br />
e hiperproteica e oxigenoterapia em casos de choque tóxico,<br />
edema pulmonar e/ou paciente cianótico (PaO2 < 60 mmHg). A<br />
fisioterapia respiratória não tem ação na 1ª fase da pneumonia. A<br />
atuação fisioterápica na 2ª fase (subaguda) e 3ª fase (crônica) da<br />
pneumonia pode possibilitar uma melhor ventilação pulmonar,<br />
através de exercícios e manobras manuais respiratórias que<br />
interfiram diretamente na biomecânica pulmonar evitando a<br />
instalação de novos processos infecciosos. Para tanto, são usados<br />
alguns recursos fisioterápicos descritos na literatura (BRUNETTO<br />
& PAULIN, 2002).<br />
É a segunda causa mais freqüente de infecção hospitalar,<br />
correspondendo a aproximadamente 15% destas e afetando de<br />
0,5% a 2% dos pacientes hospitalizados. As taxas de mortalidade<br />
podem chegar até 70% mas, quando se considera a mortalidade<br />
direcionada com a pneumonia, as taxas variam entre 30% a 50%.<br />
225
226<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Portanto, é a principal causa de óbito secundária a infecções<br />
hospitalares (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
As Pneumonias Hospitalares são consideradas a principal<br />
infecção adquirida em hospitais brasileiros sendo responsável por<br />
13 a 18% de todas as infecções hospitalares. A pneumonia que<br />
ocorre em pacientes internados em unidades de terapia intensiva<br />
determina altas taxas de letalidade quando comparado com taxas<br />
de pacientes com pneumonia, hospitalizados em outras unidades<br />
do hospital (MEDEIROS, 1999).<br />
A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) é<br />
aquela que se desenvolve após 48 horas de intubação orotraqueal e<br />
ventilação mecânica, onde o paciente não encontrava-se incubado<br />
no momento. Esta infecção é conseqüência da falta de equilíbrio<br />
entre os mecanismos de defesa do indivíduo e o agente microbiano.<br />
O risco para a pneumonia nosocomial aumenta de seis a vinte<br />
vezes nos pacientes que se encontram em intubação orotraqueal e<br />
ventilação mecânica. A PAVM tem uma alta taxa de mortalidade e<br />
apresenta maior risco para sua ocorrência de 1 a 3% a cada dia de<br />
permanência em ventilação mecânica (YOKOTA et al., 2006).<br />
A pneumonia aspirativa, é um processo infeccioso<br />
causado pela inalação de secreções orofaríngeas potencialmente<br />
contaminadas por microorganismos patogênicos, tais como as<br />
bactérias que colonizam a superfície da mucosa da cavidade<br />
orofaríngea, a inalação, portanto, constituindo o mecanismo<br />
primário pelo qual as bactérias entram nos pulmões. O risco de<br />
se adquirir pneumonia aumenta com o aumento de tempo dos<br />
pacientes sob ventilação mecânica (YOKOTA et al., 2006).<br />
A ventilação mecânica através do uso de uma via aérea<br />
(VA) artificial é provavelmente o mais freqüente procedimento
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
para pacientes críticos com insuficiência respiratória severa, o que<br />
está associado às múltiplas complicações como miopatias, maior<br />
necessidade de sedação e curarização, e o aumento de fatores de<br />
risco para a pneumonia nosocomial (ANUNCIATO & XAVIER,<br />
2007).<br />
Os fatores que se relacionam a pneumonia hospitalar<br />
são: tabagismo, alcoolismo, senectude, neoplasias malignas,<br />
quimioterapia imunossupressora, diabetes melito, infecção viral,<br />
desnutrição, antibioticoterapia, intubação orotraqueal, nasotraqueal<br />
ou traqueostomia (ANUNCIATO & XAVIER, 2007).<br />
2 DiAGNÓSTiCo<br />
É um grande desafio médico. Em linhas gerais, a suspeita da<br />
presença de Pneumonia Hospitalar, especialmente a PAVM é feita<br />
pela presença dos seguintes achados: febre, secreção brônquica<br />
purulenta, leucocitose ou leucopenia e infiltrado pulmonar na<br />
radiologia simples de tórax, de aparecimento recente e progressivo<br />
(TORRES, 2005).<br />
Muitas vezes o diagnóstico é difícil de ser realizado,<br />
principalmente se considerarmos que várias outras situações<br />
podem levar ao diagnóstico equivocado de pneumonia, tais como<br />
congestão pulmonar, atelectasias, tromboembolismo pulmonar,<br />
síndrome do desconforto respiratório agudo, entre outras.<br />
Os critérios mais comumente empregados no diagnóstico de<br />
pneumonias em UTI são: presença de infiltrado pulmonar novo ou<br />
progressivo na radiografia de tórax associado a febre persistente (><br />
38°C), leucocitose (> 10.000/mm³), escarro purulento e evidência<br />
de consolidação pulmonar ao exame físico (KNOBEL et al., 2004).<br />
227
228<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
O diagnóstico de Pneumonia Hospitalar quando o paciente<br />
não se encontra em ventilação mecânica é baseado na presença<br />
de uma síndrome infecciosa e da observação de uma infiltração<br />
no radiograma de tórax. Foram definidos como critérios clínicos<br />
para definição de pneumonia hospitalar aquela que ocorre após<br />
72 horas de hospitalização, a presença de estertores, macicez à<br />
percussão ou surgimento de infiltrado pulmonar novo e um ou<br />
mais dos seguintes: escarro purulento; agente infeccioso isolado<br />
no sangue, aspirado traqueal, biópsia pulmonar ou escovado<br />
brônquico; isolamento de vírus nas secreções respiratórias; títulos<br />
de anticorpos para determinados patógenos; evidência histológica<br />
de pneumonia (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
No entanto, uma vez confirmada a presença de pneumonia,<br />
devemos avaliar a sua gravidade, o tempo de internamento e a<br />
presença de co-morbidades. Através da análise desses fatores<br />
podem ter-se ideia das possíveis etiologias e definir o melhor<br />
esquema de tratamento (TORRES, 2005).<br />
O diagnóstico da Pneumonia Nosocomial é baseado em<br />
dados clínicos e laboratoriais. Achados como febre, leucocitose,<br />
progressão ou aparecimento de infiltrado pulmonar e secreção<br />
brônquica purulenta são indicadores de Pneumonia Nosocomial.<br />
Contudo, em pacientes críticos, dados como febre, leucocitose<br />
podem surgir também devido a outras patologias como a Síndrome<br />
da Resposta Inflamatória Aguda e a Síndrome da Angústia<br />
Respiratória Aguda (RICCI, 2005).<br />
O antibiograma é um exame feito em laboratório, de forma<br />
a identificar o agente causador da doença e o antibiótico específico<br />
ao qual o agente é sensível ou resistente. Para realizar o exame,<br />
é colhido saliva, sangue, urina, fezes, tecidos ou expectoração.<br />
O produto colhido é colocado num recipiente próprio fechado,
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
que serve de meio de cultura, a uma temperatura que favoreça<br />
o desenvolvimento. Geralmente, é feita uma observação ao fim<br />
do segundo dia, para as colônias poderem ser visíveis a olho nu.<br />
Pode ser necessário esperar mais dias. Se houver crescimento de<br />
algum microorganismo, este pode ser identificado a olho nu ou<br />
ao microscópio. São aplicados vários antibióticos, de forma a se<br />
verificar a qual ou quais, são sensíveis. O doente pode apresentar<br />
um conjunto de sinais e sintomas, evidentes de uma infecção. No<br />
entanto, o médico pode pedir um antibiograma para determinar<br />
qual o microorganismo e antibiótico específico. O resultado deste<br />
exame demora quatro a cinco dias (OLIVEIRA, 2009)<br />
3 GrAViDADE DA PNEumoNiA<br />
Na Pneumonia Grave há necessidade de tratamento em<br />
UTI; necessidade de FIO2 acima de 35% para manter SaO2 acima<br />
de 90%; necessidade de ventilação mecânica; acometimento<br />
radiológivo multilobar ou com escavação; sinais de acometimento<br />
sistêmico: choque, necessidade de vasopressores por mais de<br />
quatro horas; débito urinário baixo ( < 20 mL/hora), insuficiência<br />
renal necessitando diálise. Tempo de internação: considera-se a<br />
Pneumonia Hospitalar de aparecimento precoce quando ocorre<br />
antes de cinco dias de internação e tardia, quando após esse<br />
período. Presença de co-morbidades: significa a presença de outra<br />
doença previamente à pneumonia. Através da associação desses<br />
quatro fatores podem-se dividir as Pneumonias Hospitalares em<br />
grupos distintos quanto às prováveis etiologias e, baseado nisso,<br />
definir a escolha de diferentes antibióticos (TORRES, 2005):<br />
Grupo I, formas leves e moderadas, sem co-morbidades,<br />
iniciadas em qualquer período de internação ou formas graves<br />
229
230<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
de instalação precoce. As etiologias mais frequentes: E. coli;<br />
Klebsiella sp., Proteus sp.; Serratia sp.; Enterobacter sp., além da<br />
microbiota habitual das vias aéreas superiores: H. Influenzae, S.<br />
aureus oxacilina-sensível e S. pneumoniae.<br />
Grupo II, Pneumonia leve-moderada, com qualquer tempo<br />
de início, mas que apresente associadamente um determinado<br />
fator de risco. Nesses casos não existirá alta probabilidade de<br />
determinadas etiologias, dependendo da co-morbidade. As<br />
principais co-morbidades são: após cirurgia abdominal com suspeita<br />
de broncoaspiração, anaeróbios devem ser cobertos. Paciente em<br />
coma, trauma cranioencefálico, diabetes mellitus e insuficiência<br />
renal, o S. aureus oxacilina-resistente deve ser considerado e<br />
tratado. Internação prolongada em UTI, uso prévio de múltiplos<br />
antibióticos ou corticóides em altas doses, defeitos estruturais<br />
broncopulmonares (bronquiectasias, por exemplo) e na vigência de<br />
ventilação mecânica, especialmente se esta estiver se prolongando,<br />
a presença de Pseudomonas aeruginosa deve ser fortemente<br />
considerada. Uso de corticosteróides em altas doses, DPOC grave<br />
e fortes indícios de surtos epidêmicos de Legionella sp., ou fungos,<br />
farão com que obrigatoriamente se inclua medicamento específico<br />
que cubra terapeuticamente esses agentes.<br />
Grupo III corresponde às pneumonias graves, adquiridas<br />
em tempo tardio (após o quinto dia de internação), ou de início<br />
recente com fatores de risco específico. Nesses casos considerar:<br />
Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter e S. aureus oxacilinaresistente.
4 iNCiDÊNCiA<br />
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
A incidência de penumonia nosocomial em UTI é muito<br />
variável de acordo com cada serviço, mas gira em torno de 15% a<br />
60%, com uma taxa de mortalidade de 20% a 55%. Deve-se ao fato<br />
de o fator de risco para pneumonia nosocomial ser de seis a vinte<br />
vezes maior nos pacientes intubados e ventilados mecanicamente<br />
(KNOBEL et al., 2004).<br />
As pneumonias são atualmente a segunda causa mais comum<br />
de infecção hospitalar, responsável por cerca de 15% de todas<br />
as infecções hospitalares. Sua incidência é de 6 por 1.000 altas<br />
hospitalares. Cada episódio de pneumonia aumenta o tempo de<br />
internamento, em média 5,9 dias. A taxa de mortalidade é bastante<br />
elevada, de 16 a 37%, podendo chegar a 70% nos casos determinados<br />
por infecção por Pseudomonas aeruginosa (TORRES, 2005).<br />
5 PAToGÊNESE E FATorES PrEDiSPoNENTES<br />
A colonização bacteriana da orofaringe, traquéia e gástrica<br />
é fator que antecede a pneumonia. A participação da colonização<br />
por bactérias Gram-negativas entéricas, germes agressivos<br />
Gram-positivos e Pseudomonas aeruginosa é evento comum,<br />
sobretudo em pacientes enfermos muito debilitados. Pacientes<br />
portadores de várias co-morbidades ou condições como: idade<br />
avançada, tabagismo, pneumopatias crônicas, diabetes mellitus,<br />
alcoolismo, cardiopatias, imunossupressão, insuficiência renal,<br />
desnutrição, baixo status orgânico, permanência hospitalar préoperatória<br />
superior a sete dias, cirurgias extensas e prolongadas,<br />
231
232<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
pós-operatório, emprego excessivo de sedativos e de bloqueadores<br />
neuromusculares, uso de determinadas drogas, instalação de<br />
cânulas traqueais ou sondas para suporte nutricional, equipamentos<br />
de terapia respiratória e uso errôneo de antibióticos têm sumentada,<br />
em muito, a suscetibilidade à colonização e que, em conseqüência,<br />
pode levar à infecção pulmonar (TORRES, 2005).<br />
As principais causas de Pneumonia Nosocomial em<br />
pacientes submetidos à ventilação mecânica são a aspiração de<br />
conteúdo gástrico, que geralmente funciona como reservatório<br />
de agentes patogênicos, a aspiração de substâncias dos seios<br />
paranasais e da orofaringe, além da colonização das mãos dos<br />
profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva. Outros<br />
fatores contribuintes para o desenvolvimento da Pneumonia<br />
Nosocomial são a utilização de sonda nasogástrica, variação do<br />
nível de consciência, traqueostomia (RICCI, 2005).<br />
Fatores mais associados à Pneumonia Nosocomial:<br />
necessidade de ventilação mecânica por período superior a 48<br />
horas; uso prévio de antibioticoterapia no hospital ou na unidade de<br />
terapia intensiva (UTI); a gravidade da doença de base; ocorrência<br />
da Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA); utilização<br />
de cefalosporinas de terceira geração para tratamento empírico<br />
de infecções supeitas de serem causadas por bacilos Gramnegativos;<br />
idade superior a 70 anos; doença pulmonar crônica;<br />
depressão do nível de consciência; aspiração volumosa; cirurgia<br />
torácica; trocas frequentes de circuitos de ventilação mecânica;<br />
monitoração de Pressão Intracraniana; sondagem nasogástrica;<br />
utilização de bloqueadores H2 ou antiácidos; transporte da UTI<br />
para procedimentos diagnósticos ou terapêuticos; reintubação;<br />
hospitalizações em outono e inverno (ZAMBONI & PEREIRA;<br />
2006).
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Pode ser observada em pacientes com alteração de consciência,<br />
alteração da deglutição e tosse ineficaz, atraso no esvaziamento<br />
gástrico e uso de agentes que aumentam o pH gástrico (favorecendo<br />
a colonização de bactérias Gram-negativas no estômago e<br />
provocando alto grau de colonização nas secreções de vias altas<br />
(KNOBEL et al., 2004).<br />
Determinadas situações relacionadas à condição do paciente<br />
predispõem à colonização e ao desenvolvimento de pneumonia,<br />
como doenças agudas e crônicas, como, desnutrição, hospitalizações<br />
e pré-operatórios prolongados, hipotensão, acidose metabólica,<br />
tabagismo, doenças do sistema nervoso central, doença pulmonar<br />
obstrutiva crônica (DPOC), diabetes mellitus, alcoolismo, uremia,<br />
insuficiêcia respiratória e idade avançada. A utilização de drogas,<br />
como corticosteróides e citotóxicos, debilita a imunidade e<br />
depressores do SNC aumentam o risco de aspiração. A crescente<br />
utilização de cateteres e sondas em unidades de internação e suporte<br />
ventilatório em UTI demandam vigilância cuidadosa e a utilização<br />
das melhores práticas de assepsia, como a adesão às trocas de luvas<br />
para cada paciente e utilização de linhas de suporte respiratório<br />
estéreis (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
Para o desenvolvimento da pneumonia hospitalar, há dois<br />
importantes mecanismos: a colonização das vias aéreas superiores<br />
(orofaringe e traquéia) e do trato digestório (de maneira menos<br />
significativa) com microorganismos patogênicos e a ocorrência<br />
de microaspirações. A inalação de aerossol contaminado, a<br />
disseminação hematogênica a partir de foco extrapulmonar, a<br />
penetração exógena de sítio adjacente, a inoculação direta nas vias<br />
aéreas em pacientes no trato gastrintestinal são mecanismos menos<br />
frequentes (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
Os agentes etiológicos mais frequentes são os bacilos<br />
Gram-negativos, incluindo pseudomonas, enterobactérias e<br />
233
234<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
acinetobacter, implicados em 55% a 85% dos casos. Os cocos<br />
Gram-positivos, principalmente o S. aureus, respondem por 20% a<br />
30% dos casos, mas estão presentes em 40% a 60% das situações<br />
em que a infecção é polimicrobiana. As pneumonias hospitalares<br />
de início recente, isto é, aquelas que ocorrem até o quinto dia de<br />
internação, são muitas vezes causadas por patógenos comunitários,<br />
como o S. pneumoniae, o Haemophyllus e o S. aureus oxacilinosensível<br />
(ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
6 PrEVENÇÃo<br />
De uma forma geral, previne-se a pneumonia hospitalar:<br />
aliada a uma eficiente comissão de infecção hospitalar; educação<br />
continuada de todos que trabalham na instituição; pesquisa periódica<br />
da microbiota local e os perfis de sensibilidade aos diversos<br />
antibióticos, fundamentalmente em pacientes com quadro clínico,<br />
ou de alto risco para pneumonia; uso criterioso dos antimicrobianos,<br />
sempre com vigilância ética da comissão de controle de infecção<br />
hospitalar; rigoroso sistema apropriado de descontaminação,<br />
desinfecção e esterilização dos artigos, dispositivos, equipamentos,<br />
materiais e áreas hospitalares; cuidados especiais no uso desses<br />
equipamentos e artigos, especialmente os críticos e semicríticos;<br />
cuidados anti-sépticos em todos os procedimentos cirúrgicos;<br />
seguir as técnicas adequadas de anestesia e cirurgia no pré, trans<br />
e pós-operatório, entre outras intervenções são recomendações<br />
básicas. A simples falta de lavagem das mãos é fator agravante<br />
dos mais importantes de disseminação da infecção e, portanto,<br />
descontrole (TORRES, 2005).<br />
O isolamento dos portadores de bactérias altamente resistentes,<br />
como S. aureus oxa-resistente e Enterococcus resistente à
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vancomicina, pode prevenir a transferência destes patógenos entre<br />
pacientes. Entretanto, a maior parte das pneumonias causadas<br />
por bacilos Gram-negativos não pode ser evitada por isolamento,<br />
uma vez que estas bactérias fazem parte da microbiota endógena<br />
dos pacientes criticamente doentes. Outra medida provavelmente<br />
eficaz é a aspiração subglótica, que utiliza um tubo endotraqueal<br />
especial, com uma porta de sucção acima do nível do balonete, na<br />
área subglótica. A sucção contínua pode retardar o surgimento da<br />
pneumonia hospitalar de início recente, mas parece ineficaz nas<br />
pneumonias de início tardio (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
No que se refere a estratégias farmacológicas de prevenção,<br />
podemos citar mais importantes: - o uso do sucralfato para a<br />
profilaxia da úlcera de estresse, embora os estudos clínicos ainda<br />
não consigam comprovar de maneira evidente menor ocorrência<br />
de pneumonia nos pacientes que fazem uso deste fármaco em vez<br />
de bloqueadores H2; - o uso da descontaminação seletiva do trato<br />
digestório, tentando prevenir a colonização gástrica e orofaríngea<br />
por bacilos Gram-negativos e Cândida sem alterar a flora<br />
anaeróbica indígena através do uso de antibióticos não absorvíveis,<br />
como polimixina associada a um aminoglicosídeo, ou quinolona<br />
associada à anfotericina B ou nistatina, ainda não apresenta<br />
comprovação do seu benefício. Além disso, pode haver surgimento<br />
de germes multirresistentes, principalmente as bactérias Grampositivas<br />
(ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
7 TrATAmENTo<br />
Os antibióticos representam a parte mais importante do<br />
tratamento. Normalmente, o antibiótico é definido de acordo com<br />
a suspeita do médico em relação a qual seria a bactéria causadora.<br />
235
236<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Certamente, a fisioterapia respiratória e a aspiração com sonda<br />
através do nariz e da boca, auxiliam na retirada de secreções<br />
que estão indo dos pulmões em direção à boca. Serão medidas<br />
importantes para a melhora dos pacientes – principalmente,<br />
naqueles com déficits neurológicos que não conseguem cooperar<br />
para sua melhora (SILVA, 2004)<br />
O tratamento da pneumonia nosocomial na UTI deve<br />
sempre levar em consideração os microorganismos mais<br />
prevalentes na instituição. A estratificação da pneumonia precoce<br />
e tardia é importante devido às diferenças na ocorrência dos<br />
microoragnismos envolvidos. No episódio inicial de pneumonia<br />
nosocomial, particularmente aquelas que ocorreram após um<br />
período curto de internação, a antibioticoterapia, juntamente com<br />
a ingestão de líquidos para manter o controle hídrico e fluidificar a<br />
secreção, mais a fisioterapia farão com que estes pacientes tenham<br />
uma melhora significativa do quadro, respectivamente evoluir com<br />
a cura da pneumonia (SILVA, 2004).<br />
Tratamento por grupos segundo Torres (2005), Grupo I:<br />
bactérias mais frequentemente envolvidas no Grupo I: Escherichia<br />
coli; Klebsiella sp., Proteus sp.; Serratia sp.; H. Influenzae; S. aureus<br />
oxacilina-sensível e S. pneumoniae. Tratamento empírico inicial:<br />
Cefalosporina de terceira geração sem atividade anti-Pseudomonas<br />
como a Cefotaxima ou Ceftriaxona, ou Cefalosporina de quarta<br />
geração; Cefepima ou Cefpiroma ou ainda uma Fluorquinolona;<br />
Levofloxacina, Moxifloxacina, Gatifloxacina ou também como<br />
opção Betalactâmico com inibidor de Betalactamases. Em caso<br />
de alergia à Penicilina, as novas Fluorquinolonas ou associação<br />
de Clindamicina com Aztreonam. Grupo II pneumonia leve a<br />
moderada com fatores de risco de início recente ou tardio: os germes<br />
são os mesmos do grupo I associado a antibióticos que cubram as
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possibilidades diagnósticas etiológicas dos diversos fatores de risco<br />
como pacientes de cirurgia abdominal e aspiração; as bactérias<br />
possivelmente envolvidas devem incluir os anaeróbios, aqui como<br />
exemplo a Clindamicina. Lembrando que se for usar Betalactâmico<br />
associado com inibidor de Betalactamases, como por exemplo<br />
Ampicilina com Sulbactam, que também tem ação contra os<br />
anaeróbios, a monoterapia, nesse caso particular, estaria indicada.<br />
Suspeita de participação dos S. aureus no coma, traumatismo<br />
cranioencefálico, diabetes mellitus, insuficiência renal, drogaditos,<br />
portadores de importantes lesões cutâneas infectadas, endocardite<br />
bacteriana, como exemplos: esquema com um fármaco do Grupo<br />
I associado a Vancomicina ou Teicoplanina. A Teicoplanina<br />
figurando como uma alternativa terapêutica, podendo ser utilizada<br />
em situações extremamente peculiares, como em pacientes com<br />
comprometimento da função renal. A Linezolida é uma outra boa<br />
opção quando o paciente apresenta grave disfunção renal. Grupo<br />
III pacientes com pneumonia grave sem fatores de risco de início<br />
tardio, ou pacientes com pneumonia com fatores de risco de início<br />
recente ou tardio. As bactérias-alvo são todos os patógenos do<br />
Grupo I mais: Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter sp., S.<br />
aureus oxacilina-resistente, todos frequentemente com múltiplas<br />
resistências aos vários antibióticos. Esquema: Aminoglicosídeo ou<br />
Ciprofloxacina associado a Cefalosporinas de quarta geração ou<br />
Penicilina anti- Pseudomonas com inibidor de Betalactamases ou<br />
Carbapenêmico ou Aztreonam. Associado ainda a Vancomicina ou<br />
Teicoplanina ou Linezolida, havendo suspeita forte de S. aureus<br />
oxacilina-resistente. A duração do tratamento vai depender da<br />
resposta clínica, porém de uma maneira geral preconiza-se que<br />
sejam tratados por um período mínimo de 14 dias, podendo ser<br />
aumentado para 21 dias, dependendo da gravidade da doença,<br />
da rapidez da resposta clínica e das características do patógeno<br />
237
238<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
infectante. No mínimo, 48 a 72 horas são necessárias para que os<br />
parâmetros de melhora clínica sejam avaliados. A diminuição da<br />
febre, a redução na quantidade e purulência da secreção brônquica<br />
e a redução na contagem de leucócitos são critérios importantes de<br />
resposta.<br />
A terapia precoce e adequada da pneumonia hospitalar<br />
está diretamente relacionada à sobrevida do paciente, tendo sido<br />
demonstrado que naqueles pacientes onde a antibioticoterapia<br />
iniciada foi adequada a sobrevida foi, no mínimo, duas vezes<br />
maior. Estes dados apontam para a necessidade de um esquema<br />
antibiótico empírico que forneça cobertura adequada para os<br />
germes mais provavelmente envolvidos, não permitindo assim<br />
aguardar até que resultados de estudos microbiológicos estejam<br />
disponíveis (ZAMBONI & PEREIRA, 2006).<br />
A instituição de terapia empírica precoce e apro¬priada<br />
é essencial para otimizar a recuperação do paciente e reduzir a<br />
mortalidade, devendo ser insti¬tuída prontamente. Recentes estudos<br />
sugerem uma freqüência maior de bactérias multirresistentes em<br />
pneumonias de pacientes em UTI, implicando um pior prognóstico.<br />
A prescrição de antimicro¬bianos deve seguir prioridades<br />
como gravidade da doença, eficácia da droga, uso prévio de<br />
antibióticos, presença de co-morbidades, padrão de resistência<br />
dos microorganismos intra-hospitalares, tempo de hospitalização,<br />
impacto epidemiológico e custos (GARCIA et al., 2007).<br />
Apesar do desenvolvimento de muitos antibióticos de amplo<br />
espectro nos últimos anos, a mortalidade da pneumonia nosocomial<br />
continua alta. O sucesso do tratamento depende fundamentalmente<br />
da identificação do agente etiológico e da sua sensibilidade aos<br />
antibióticos disponíveis (KNOBEL et al., 2004).
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
A maioria dos casos a morte por pneumonia ocorre por uma<br />
antibioticoterapia inadequada. Portanto, a escolha do antibiótico<br />
correto se torna uma estratégia importante na redução da<br />
mortalidade desses pacientes. Para realizar uma antibioticoterapia<br />
adequada deve-se considerar vários fatores além de uma simples<br />
combinação de antibióticos com as bactérias, é preciso administrar<br />
o medicamento certo na dose certa, prevenindo a ocorrência de<br />
patógenos multirresistentes, que está relacionada a dois fatores<br />
importantes, o uso prévio de antibióticos e a duração da ventilação<br />
mecânica. É importante usar a terapia empírica adequada o<br />
mais rápido possível, e é necessário o conhecimento de quais<br />
patógenos estão presentes na UTI de cada hospital, assim como sua<br />
sensibilidade, evitando-se o uso excessivo de antibióticos (SILVA,<br />
2004).<br />
8 FiSioTErAPiA rESPirATÓriA<br />
As manobras de fisioterapia, agregadas aos cuidados que se<br />
prestam aos doentes sedados e acamados, serão usadas para facilitar<br />
a desobstrução das vias respiratórias e a nova expansão pulmonar,<br />
com o objetivo de prevenir complicações nos pacientes sob este<br />
risco. A intervenção da Fisioterapia Respiratória favorece também<br />
a respiração profunda e uma eficiente troca gasosa, diminuindo a<br />
quantidade de secreção e facilitando a higienização dos brônquios.<br />
Sendo estes importantes condutores para a aspiração, o acúmulo<br />
de secreção pode resultar em foco de contaminação pulmonar<br />
(YOKOTA et al., 2006).<br />
Verifica-se a necessidade da Fisioterapia Respiratória, visando<br />
à recuperação funcional e respiratória do paciente o mais breve<br />
239
240<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
possível. O fisioterapeuta pode atuar junto aos pacientes acamados,<br />
sedados, dependentes de ventilação mecânica e que necessitam<br />
recuperar suas funções respiratórias, com o objetivo de melhorar<br />
a ventilação pulmonar e, conseqüentemente, a oxigenação. Uma<br />
das ações preventivas que evitam complicações pulmonares é a<br />
fisioterapia respiratória (YOKOTA et al., 2006).<br />
As manobras de fisioterapia respiratória consistem em<br />
técnicas manuais, posturais e cinéticas, que podem ser aplicadas<br />
no doente, associando-se aos recursos do ventilador mecânico. As<br />
manobras convencionais de desobstrução brônquica podem ser: a<br />
drenagem postural, a percussão torácica ou tapotagem, a compressão<br />
torácica, a vibração torácica (manual e mecânica), os exercícios<br />
respiratórios, a aspiração de secreção endotraqueal e a tosse, além<br />
de outras menos convencionais, como a hiperinflação manual<br />
(HM) e a pressão negativa. A Fisioterapia Respiratória objetiva<br />
primordialmente, melhorar a função respiratória por meio de outras<br />
funções como ventilação/perfusão (V/P), distribuição e difusão<br />
visando promover e manter níveis adequados de oxigenação e de<br />
gás carbônico na circulação, preservando a ventilação pulmonar.<br />
Outro objetivo é expandir novamente as áreas pulmonares com<br />
atelectasia (YOKOTA et al., 2006).<br />
A fisioterapia é tida como de vital importância no<br />
traqtamento de pacientes portadores de doenças pulmonares, porém,<br />
em se tratando de determinadas patologias como a pneumonia,<br />
constatou-se que os resultados do tratamento fisioterápico poderão<br />
ser influenciados pela fase da patologia (BRUNETTO & PAULIN,<br />
2002).<br />
O tratamento fisioterapêutico tem como objetivo manter<br />
ou melhorar a ventilação do paciente com pneumonia nosocomial.<br />
Manobras de higiene brônquica, manobras de reexpansão
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
pulmonar, reequilíbrio tóraco-abdominal, são algumas das técnicas<br />
que poderão ser utilizadas durante o tratamento visando manter:<br />
uma boa higiene brônquica deste paciente e prevenir possíveis<br />
complicações (SILVA, 2004).<br />
A fisioterapia respiratória pode ser utilizada em pacientes<br />
críticos, com objetivo de prevenir e/ou tratar complicações<br />
respiratórias. Para isso, geralmente é usada uma combinação de<br />
procedimentos fisioterapêuticos, que objetivam a “reexpansão<br />
pulmonar” e a “remoção de secreções nas vias aéreas” (SILVA &<br />
BERALDO, 2007).<br />
A Fisioterapia faz parte do atendimento multidisciplinar<br />
oferecido aos pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).<br />
Sua atuação é extensa e se faz presente em vários segmentos do<br />
tratamento intensivo, tais como o atendimento a pacientes críticos<br />
que não necessitam de suporte ventilatório; assistência durante a<br />
recuperação pós-cirúrgica, com o objetivo de evitar complicações<br />
respiratórias e motoras; assistência a pacientes graves que<br />
necessitam de suporte ventilatório. Nesta fase, o fisioterapeuta tem<br />
uma importante participação, auxiliando na condução da ventilação<br />
mecânica, desde o preparo e ajuste do ventilador artificial à<br />
intubação, evolução do paciente durante a ventilação mecânica,<br />
interrupção e desmame do suporte ventilatório e extubação (SILVA<br />
& BERALDO, 2007).<br />
A Fisioterapia Respiratória tem caracterizado dois aspectos<br />
importantes e necessários para a manutenção da função respiratória<br />
dos pacientes: a higiene brônquica (desobstrução brônquica),<br />
ou seja, a remoção das secreções retidas, também utilizada no<br />
tratamento de enfermidades do sistema respiratório e a manutenção<br />
da expansibilidade pulmonar durante a ventilação mecânica. As<br />
manobras de desobstrução brônquica utilizada pela Fisioterapia<br />
241
242<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Respiratória são numerosas e a caracterização de cada uma delas<br />
relaciona-se à intensidade de execução das mesmas, diferindo<br />
pelo grau de pressão das mãos sobre o tórax. As variações dessas<br />
manobras durante sua aplicação dependerão das condições clínicas<br />
do paciente. A realização das manobras exige posicionamento<br />
adequado do paciente no leito, a fim de melhorar a função da<br />
ventilação/perfusão pulmonar, aumentar os volumes pulmonares,<br />
reduzir o trabalho da respiração, minimizar o trabalho cardíaco e<br />
aumentar a liberação das secreções das vias aéreas, com a ajuda<br />
da gravidade. A posição de Fowler (paciente deitado em decúbito<br />
dorsal, com a cabeceira do leito elevada a 30°) previne aspiração<br />
pulmonar, diminui a incidência de refluxo gastro-esofágico em<br />
pacientes intubados, dependentes do ventilador mecânico e com<br />
sonda nasogástrica (YOKOTA et al., 2006).<br />
Para minimizar ou impedir as situações que ocorrem<br />
na pneumonia devem ser realizadas manobras de desobstrução<br />
brônquica que consistem em: percussão torácica ou tapotagem<br />
técnica muito utilizada, pois é bem tolerada, principalmente<br />
quando associada a outras manobras de higiene brônquica em<br />
que o principal objetivo é o descolamento da secreção pulmonar<br />
(SARMENTO, 2007). Técnica que tem como objetivo facilitar a<br />
retirada do muco ciliar. Pode ser usada tanto na inspiração quanto<br />
na expiração. Para realizá-la, as mãos do fisioterapeuta devem<br />
manter-se em forma de concha, os dedos posicionados no sentido<br />
dos arcos costais e do contorno do tórax, dedos e polegar aduzidos.<br />
A realização desta técnica produz uma onda de energia, que é<br />
transmitida pelas mãos do fisioterapeuta através da parede do tórax,<br />
promovendo o deslocamento das secreções da parede brônquica,<br />
das regiões periféricas para as centrais, de onde poderão ser<br />
expelidas pela tosse ou pela aspiração endotraqueal. O movimento<br />
sobre o tórax deve ser realizado de forma rítmica, mantendo-se
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
a mesma força e alternando-se as mãos que tocam o tórax, com<br />
freqüência de 240 ciclos por minuto (YOKOTA et al., 2006).<br />
Vibração Torácica técnica que consiste em exercer uma<br />
pressão sobre a parede do tórax, através de movimentos oscilatórios<br />
rápidos e de pequena amplitude, caracterizados pela contração<br />
isométrica repetida, com vibrações partindo do ombro e membros<br />
superiores do terapeuta. A contração isométrica, por sua vez, é a<br />
contração fina de grupos musculares de membros superiores, sem<br />
a produção de movimentos amplos. Os dedos devem estar alojados<br />
entre os arcos costais do tórax do paciente, seguindo a disposição<br />
anatômica das costelas, e a pressão deve ser aplicada durante a<br />
fase expiratória. Pode ser realizada manual ou mecanicamente<br />
(YOKOTA et al., 2006).<br />
Vibrocompressão Torácica associação da técnica de<br />
vibração que promove influência na propriedade tixotrópica<br />
do muco, alterando suas propriedades físicas, diminuindo sua<br />
viscosidade e facilitando assim seu deslocamento que será<br />
favorecido pelo fluxo turbulento gerado na compressão torácica,<br />
que provoca a depuração da secreção (SARMENTO, 2007).<br />
Técnica que consiste na associação das manobras de<br />
vibração e de compressão torácicas. Consiste na compressão da<br />
parede torácica, no sentido anatômico dos arcos costais, com os<br />
dedos colocados entre os mesmos, sendo a força compressiva<br />
distribuída igualmente entre os dedos e a palma das mãos. É aplicada<br />
na fase expiratória do ciclo respiratório, de forma constante, lenta<br />
e moderada, permitindo um melhor esvaziamento pulmonar,<br />
facilitando a mobilização de secreções das vias aéreas centrais e<br />
inferiores e a ventilação pulmonar. Quando o paciente não é capaz<br />
de colaborar, esta manobra é realizada em concordância com o<br />
padrão respiratório do mesmo, induzido pelo ventilador mecânico.<br />
243
244<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Pacientes que apresentem rigidez torácica, osteoporose intensa e/ou<br />
que estejam sedados ou até mesmo curarizados, merecem cuidados<br />
especiais, já que não haverá manifestação de dor como alerta para<br />
evitar riscos de fratura de costelas. Esta manobra é executada sobre<br />
a área do pulmão a ser tratada (YOKOTA et al., 2006).<br />
Compressão Brusca do Tórax deve ser realizada em<br />
pacientes com ausência ou diminuição do reflexo de tosse e em<br />
pacientes com dificuldade de mobilizar secreção, especialmente<br />
aqueles com disfunção neuromuscular. A compressão brusca é<br />
descrita com freqüência no tratamento de pacientes com lesão<br />
medular ou que apresentem algum tipo de fraqueza muscular<br />
(SILVA & BERALDO, 2007).<br />
Aceleração do Fluxo Expiratório (AFE) é bastante utilizada,<br />
principalmente quando o paciente apresenta complacência torácica<br />
adequada para a realização da técnica (SARMENTO; 2007).<br />
Hiperinflação Manual técnica também conhecida como<br />
Bag Squeezing Method. Foi introduzida em 1960, tendo como<br />
objetivo a prevenção de colapso alveolar e expansão dos alvéolos<br />
colapsados. A técnica melhora a oxigenação e a complacência<br />
do pulmão, minimizando o risco de hipoxemia; estimula a tosse<br />
no paciente intubado e aumenta a movimentação das secreções<br />
pulmonares para as vias aéreas inferiores. Para a sua realização, o<br />
paciente é desconectado do ventilador mecânico e seus pulmões são<br />
insuflados de forma manual, através de uma bolsa auto-inflável ou<br />
ressuscitador manual (Ambú), introduzindo-se o volume corrente.<br />
Esta técnica é executada provocando-se inspiração profunda e<br />
lenta. Em seguida, o Ambú é desconectado para aumentar o fluxo<br />
expiratório (YOKOTA et al., 2006).<br />
A Hiperinflação Manual está indicada em pacientes<br />
que apresentem acúmulo de secreção traqueobrônquica. A
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
hiperinsuflação manual potencializa as forças de recolhimento<br />
elástico pulmonar, promovendo um aumento do pico de fluxo<br />
expiratório e, conseqüentemente, favorecendo o deslocamento de<br />
secreção acumulada nas vias aéreas (SILVA & BERALDO, 2007).<br />
Drenagem Postural trata-se de outro recurso bastante<br />
utilizado e que pode ser ou não associado a outras manobras<br />
de higiene brônquica. Essa é uma técnica bastante simples cujo<br />
princípio baseia-se em utilizar a ação da gravidade para promover<br />
o deslocamento das secreções de regiões periféricas para regiões<br />
mais centrais. As posições de drenagem postural e seu grau de<br />
inclinação variam de acordo com a posição da área a ser drenada<br />
e tomam por base o ângulo ou somatório das angulações formadas<br />
entre segmentos brônquicos e a traquéia, devendo sempre ser<br />
levadas em consideração as condições clínicas do paciente<br />
(SARMENTO, 2007).<br />
Uma técnica que, pelo posicionamento do paciente no<br />
leito, favorece o deslocamento das secreções das vias aéreas<br />
inferiores para os brônquios e das vias aéreas superiores para o<br />
meio externo, com auxílio da força da gravidade. Através do<br />
posicionamento dos segmentos pulmonares ou de todo o pulmão, o<br />
terapeuta tem condições de acelerar o deslocamento de secreções,<br />
melhorar o “clearance” pulmonar periférico, além de aumentar a<br />
capacidade residual funcional do paciente. Quando realizada junto<br />
com a ventilação mecânica e com aplicação de pressão expiratória<br />
positiva final (PEEP), a drenagem postural pode aumentar a pressão<br />
transpulmonar, melhorar a taxa de Ventilação/Perfusão, aumentar a<br />
complacência pulmonar do hemitórax não comprometido e reduzir<br />
a resistência das vias aéreas colaterais. A duração desta técnica<br />
pode variar de 15 a 60 minutos, dependendo da tolerância do<br />
próprio paciente à mudança de posição e da quantidade de secreção<br />
produzida (YOKOTA et al., 2006).<br />
245
246<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
Pressão manual expiratória (pressão negativa) técnica que<br />
consiste na compressão manual da região do tórax, respeitandose<br />
a anatomia dos arcos costais, com os dedos colocados entre os<br />
mesmos, para evitar desconforto ao paciente. É aplicada durante<br />
a fase expiratória: deve-se manter a região comprimida durante<br />
a expiração e, em seguida, logo no início da inspiração, deve-se<br />
descomprimir bruscamente, provocando uma inspiração forçada,<br />
a qual acarretará um direcionamento do fluxo ventilatório para<br />
a região pulmonar comprometida, proporcionando expansão<br />
pulmonar e promovendo a facilitação para a Ventilação/Perfusão<br />
e a difusão, as quais se encontram prejudicadas. Esta técnica<br />
atua também como estímulo, facilitando a mobilidade costal que<br />
se encontra diminuída ou até mesmo abolida neste paciente. No<br />
paciente sob ventilação mecânica, esta técnica é realizada em<br />
concordância com o padrão respiratório proveniente do ventilador<br />
mecânico, favorecendo a sincronia entre o ritmo respiratório<br />
do paciente e o do ventilador mecânico, prevenindo-se assim a<br />
iatrogênia hospitalar (YOKOTA et al., 2006).<br />
Além das manobras de higiene brônquica, deve-se lançar mão<br />
de técnicas que promovam a reexpansão do parênquima pulmonar<br />
previamente acometido, ou técnicas de reexpansão seletiva com o<br />
objetivo de aumentar a ventilação em zonas não comprometidas,<br />
visando à supressão ou minimização do desequilíbrio entre a<br />
relação ventilação/perfusão. Para isso, utilizamos a manobra de<br />
compressão e descompressão, também conhecida como TEMP<br />
(Técnica de Pressão Manual Expiratória) brusco ou manobra de<br />
pressão negativa, que permite, por meio da descompressão brusca<br />
do tórax, alterações da pressão intrapleural, direcionando o fluxo de<br />
ar para a região selecionada. Outra forma de aumentar a ventilação<br />
de áreas específicas seria a aplicação de uma resistência externa<br />
(mãos do terapeuta) na região contralateral àquela que se deseja
FiSioTErAPiA rESPirATÓriA Em PACiENTES PorTADorES DE PNEumoNiA NoSoComiAL<br />
direcionar o ar, ou seja, realizar o bloqueio torácico. Também<br />
pode-se incrementar a terapia com a utilização de inspirômetros<br />
de incentivo e da realização de padrões ventilatórios seletivos, tais<br />
como diafragmático e torácico, partindo da capacidade residual<br />
funcional desde o volume residual ou utilizando a capacidade<br />
pulmonar total, em que se podem associar pausas inspiratórias,<br />
favorecendo maior ventilação colateral através do movimento de<br />
pêndula do ar intrapulmonar (SARMENTTO, 2007).<br />
9 CoNCLuSÃo<br />
Levando em consideração as formas pelas quais o paciente<br />
hospitalar adquire a pneumonia nosocomial, podemos concluir<br />
que a mesma apresenta uma evolução rápida e ao mesmo tempo<br />
grave, podendo levar o paciente a óbito em algumas situações. Esta<br />
enfermidade possui um tratamento oneroso a instituição hospitalar<br />
e, com graves conseqüências pulmonares e sistêmicas a este<br />
paciente. Portanto, devemos ressaltar a importância da prevenção<br />
desta, com situações tão simples quanto a assepsia das mãos antes e<br />
após qualquer procedimento frente ao paciente. Porém essa pratica<br />
tem a necessidade da participação de toda a equipe em todos<br />
os ambientes do hospital. Quanto ao tratamento da pneumonia<br />
nosocomial podemos concluir que a terapia medicamentosa é a<br />
solução para essa patologia, porém, ressaltamos nesta revisão a<br />
importância do tratamento fisioterapeutico para amenizar os sinais<br />
e sintomas apresentados pelo portador, principalmente relaciodado<br />
a higiene brônqioca e reexpansão puolmonar, utilizando as mais<br />
variadas manobras fisioterapeuticas para alcançar esses obetivos.<br />
247
10 rEFErÊNCiAS<br />
248<br />
BrAuN, DANTE SAuL – BuENo, rÚBiA DAiANE SANToS<br />
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AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo<br />
Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS,<br />
BrASiL<br />
rESumo<br />
BARBOSA, CLeBeR FRAnCiSCO 1<br />
LUnKeS, giLBeRTO ináCiO 2<br />
Parasitoses, como a giardíase, constituem um<br />
grave problema de saúde pública no Brasil. A faixa<br />
etária mais comprometida compreende as crianças.<br />
Numerosos casos de síndrome diarréica com perda<br />
ponderal têm sido responsabilizados pelo aumento<br />
de morbidade em regiões com precárias situações de<br />
saneamento. A transmissão da Giardia lamblia ocorre<br />
por meio de alimentos ou bebidas contaminados com<br />
fezes contendo cistos. As amostras foram obtidas no<br />
município de Ronda Alta, junto à comunidade urbana.<br />
Os exames parasitológicos de fezes foram realizados<br />
em três laboratórios de análises clínicas do município.<br />
O processo de investigação das parasitoses foi<br />
realizado de setembro de 2004 a fevereiro de 2005.<br />
Foram analisados 295 pacientes, agrupados por<br />
1 Farmacêutico-Bioquímico, Especialista em Análises Cínicas.<br />
2 Docente dos cursos de Biomedicina e Fisioterapia do Instituto Cenecista de Ensino<br />
Superior de Santo Ângelo, Farmacêutico-Bioquímico, Doutor em Bioquímica Toxicológica.<br />
251
252<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
faixa etária. Foram consideradas crianças de zero<br />
a 12 anos de idade, adolescentes de 13 a 17 anos,<br />
adultos de 18 a 65 anos e terceira idade acima de 65<br />
anos. O índice de parasitismo por Giardia lamblia no<br />
município de Ronda Alta apresentou-se elevado no<br />
período investigado, com um taxa média de 51,9%.<br />
A faixa etária mais envolvida foi de zero aos 12 anos<br />
de idade, ou seja, as crianças, com uma incidência<br />
de 47,3% quando comparada com os demais grupos<br />
etários. A estação do ano com maior incidência<br />
foi o verão. O mês que se destacou foi dezembro<br />
dentre os demais analisados, com uma taxa de<br />
73,9%. Os prováveis fatores envolvidos, levando<br />
em consideração a faixa etária e o mês de maior<br />
incidência, foram saneamento, grau de escolaridade e<br />
conseqüente precariedade das condições de higiene.<br />
Esses fatores associados às elevadas temperaturas<br />
do verão facilitam a disseminação de parasitoses<br />
relacionadas à contaminação pela água.<br />
Palavras-Chave: Giardia lamblia, faixa etária,<br />
estações do ano, saneamento básico.<br />
ABSTrACT<br />
Parasitisms, as giardiasis, constitute a serious<br />
problem of public health in Brazil. The compromised<br />
age group more understands the children. Numerous<br />
cases syndrome of diarrhea with progressive loss
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
have been made responsible for the increase of<br />
morbosity in regions with precarious situations of<br />
sanitation. The transmission of the Giardia lamblia<br />
occurs by means of foods or drinks contaminated with<br />
excrements contend cysts. The samples had been<br />
gotten in the city of Ronda Alta, together the urban<br />
community. The parasitology excrement examinations<br />
had been carried through in three clinical analyses<br />
laboratories of the city. The process of inquiry of the<br />
parasatisms was carried through of September of<br />
2004 even February of 2005. A total of 295 patients<br />
were analyzed, contained by age group. Children were<br />
considered of zero to the 12 years of age, adolescents<br />
of 13 the 17 years, adults of 18 the 65 years and third<br />
age above of 65 years. The index of parasitism for<br />
Giardia lamblia in the city of Ronda Alta was presented<br />
high in the investigated period, with one average tax<br />
of 51,9%. The more involved age group was of zero<br />
to the 12 years of age, or either, the children, with<br />
an incidence of 47,3% when compared with the too<br />
much age groups. The station of the year with bigger<br />
incidence was the summer. The month that if detached<br />
was december amongst excessively analyzed, with a<br />
73,9% tax. The probable involved factors, taking in<br />
consideration the age group and the month of bigger<br />
incidence, it was sanitation, education degree and<br />
consequent precariousness of the hygiene conditions.<br />
Those factors associates to high temperatures of the<br />
253
1 iNTroDuÇÃo<br />
254<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
summer facilitate the dissemination of parasatisms<br />
related to the contamination for the water.<br />
Key-words: Giardia lamblia, age group, seasons,<br />
basic sanitation.<br />
As enteroparasitoses, como a giardíase, constituem um<br />
grave problema de saúde pública no Brasil. É um dos principais<br />
fatores debilitantes da população e pode comprometer o<br />
desenvolvimento físico e intelectual dos jovens. Em adultos pode<br />
interferir no desempenho profissional (LUDWIG et al., 1996).<br />
A Giardia lamblia apresenta uma elevada prevalência nos<br />
países em desenvolvimento como o Brasil. A faixa etária mais<br />
comprometida compreende as crianças. Numerosos casos de<br />
síndrome diarréica com perda ponderal têm sido responsabilizados<br />
pelo aumento de morbidade em regiões com precárias situações de<br />
saneamento (MACHADO et al., 1998; NÚÑEZ et al., 2003).<br />
As enteroparasitoses podem ser transmitidas por inúmeras<br />
vias, mas têm sido investigadas com freqüência a transmissão<br />
alimentar ou veiculação hídrica (TAKAYANAGUI, 2000;<br />
CAPUANO et al., 2002).<br />
A transmissão ocorre quando há a ingestão de água<br />
contaminada com fezes contendo o cisto, o tratamento com<br />
cloro não mata os cistos da Giardia, especialmente se a água for<br />
fria. Água não filtrada proveniente de córregos e rios expostos à<br />
contaminação por fezes dos seres humanos e dos animais constitui<br />
uma fonte de infecção comum (BENENSON, 1992).
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
As correntes migratórias de humanos têm contribuído para a<br />
disseminação de algumas enteroparasitoses. Grupo de refugiados<br />
na Califórnia, Estados Unidos da América, proveniente da Ásia<br />
e África apresentaram um índice de 14% de parasitados em 533<br />
refugiados. Destes, cerca de 6% estavam infectados com Giardia<br />
lamblia (GARG et al., 2005).<br />
As parasitoses intestinais têm contribuído de forma<br />
crescente para a mortalidade e morbidade de pessoas em todo o<br />
mundo (COSTA & REY, 2000; QUADROS et al., 2004).<br />
As condições de saneamento básico, envolvendo a<br />
distribuição de água potável e o escoamento de esgoto, têm<br />
interferido de forma preponderante para a prevenção deste tipo de<br />
doença.<br />
O presente estudo tem como objetivo verificar a incidência<br />
de parasitismo por Giardia lamblia em Ronda Alta. Nesse contexto,<br />
avaliar a faixa etária mais comprometida e a interferência climática<br />
nos níveis contaminação.<br />
2 mATEriAL E mÉToDo<br />
A análise foi realizada no município de Ronda Alta, Rio<br />
Grande do Sul, Brasil, junto à comunidade urbana. O período<br />
de investigação foi setembro de 2004 a fevereiro de 2005. A<br />
população envolvida foi de 11.000 habitantes (IBGE, 2002).<br />
Destes, 295 constituíram a amostra analisada. Para análise dos<br />
exames parasitológico de fezes, os pacientes foram divididos em<br />
diferentes grupos por faixas etárias: crianças de zero a 12 anos de<br />
idade; adolescentes de 13 a 17 anos; adultos de 18 a 65 anos e<br />
terceira idade acima de 65 anos.<br />
255
256<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
Os exames parasitológicos de fezes foram realizados em<br />
três laboratórios de análises clínicas do município de Ronda Alta,<br />
classificados em “A”, “B” e “C”. Os laboratórios assinaram Termo<br />
de Autorização para Pesquisa em Laboratório de Análises Clínicas.<br />
Os laudos foram expedidos pelos farmacêuticos bioquímicos<br />
responsáveis técnicos pelos laboratórios.<br />
Os pacientes foram orientados a coletar as fezes em três<br />
dias alternados e o material biológico entregue no laboratório<br />
se possível na primeira hora após a coleta, visando aumentar as<br />
possibilidades diagnósticas e manter as estruturas bem conservadas.<br />
Os pacientes, que não conseguiram atender as recomendações de<br />
prazo, foram orientados a refrigerar a amostra até o momento da<br />
entrega no laboratório (VALLADA, 1998). Os pacientes foram<br />
igualmente orientados a manter sua dieta de rotina.<br />
Para fins da pesquisa realizada neste estudo, utilizaramse<br />
três métodos para confirmação dos resultados, além do<br />
procedimento direto e a fresco, durante o período de avaliação, as<br />
técnicas clássicas usadas foram MIF, Ritchie e Willis.<br />
Para pesquisa de protozoários nas fezes, esclarece-se que o<br />
exame direto a fresco deve ser realizado com material recentemente<br />
emitido, quando se espera encontrar formas trofozoíticas que se<br />
evidenciem por sua motilidade peculiar. Presente, geralmente,<br />
em fezes líquidas que são diluídas com solução fisiológicas,<br />
examinadas ao microscópio, entre lâminas e lamínulas, com<br />
aumento entre 100X e 400X. Desta forma pode ser reconhecida a<br />
Giardia lamblia. Os detalhes da sua estrutura são poucos visíveis,<br />
requerendo por isso, para um diagnóstico mais específico, a<br />
fixação e a coloração do material (REY, 2001). Já os métodos de<br />
MIF, Ritchie e de Willis são empregados para pesquisas de cistos<br />
de protozoários da Giardia lamblia, evidenciando sua presença<br />
nas fezes (NEVES, 2003). Para pesquisa do parasita, devem ser
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
executados, simultaneamente, o método geral e o específico, para<br />
que se possa investigar os diferentes estágios da Giardia lamblia.<br />
A técnica de fixação e coloração que emprega a mistura de<br />
mertiolato, iodo e formaldeído conhecida como MIF, permite que<br />
se obtenha, ao mesmo tempo, a conservação e a coloração dos<br />
elementos parasitários que se encontram nas fezes. Para o exame ao<br />
microscópio, juntar à preparação a solução de lugol (REY, 2001).<br />
A técnica de concentração com Formol-éter ou método<br />
de Ritchie é de uso rotineiro nos laboratórios. Para desenvolver<br />
a técnica é recomendado homogeneizar previamente a amostra<br />
fecal em água filtrada na proporção de 1 para 10 partes, filtrar em<br />
gaze para um tubo de centrífuga de 15 ml, e centrifugar a 2.500<br />
rotações por minuto. Decantar o sobrenadante, pegar o sedimento e<br />
adicionar 10 ml de solução de formol a 10%, deixando em repouso<br />
por 5 minutos para ocorrer a fixação ou com solução fisiológica se<br />
o material já está fixado. Juntar 3 ml de éter sulfúrico comercial,<br />
tampar o tubo e misturar, agitando fortemente, por fim centrifugar<br />
a 1.500 rotações por minuto, durante 1 ou 2 minutos. Ao fim da<br />
operação, o tubo da centrífuga apresentará quatro camadas sendo a<br />
superior com éter, a seguinte com detritos sólidos, a terceira aquosa<br />
e a quarta constituída pelo sedimento biológico, onde se encontram<br />
cistos e os ovos dos parasitos. As camadas superiores devem ser<br />
descartadas para examinar o sedimento entre lâmina e lamínula ao<br />
microscópio (REY, 2001).<br />
No método de Willis coloca-se 10g de fezes num frasco<br />
borrel, pode ser usado o próprio no qual as fezes foram enviadas,<br />
diluir a mesma em solução saturada de açúcar ou sal (NaCl),<br />
completando o volume até a borda do frasco. Colocar na boca do<br />
frasco uma lâmina, que deverá estar em contato com o líquido,<br />
deixando em repouso por 5 minutos. Findo este tempo, retirar<br />
257
258<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
rapidamente a lâmina, voltando para cima a parte molhada, cobrir<br />
com a lamínula, levar ao microscópio e examinar com objetiva de<br />
10x e/ou 40x, podendo-se ou não corar pelo lugol. (NEVES, 2003).<br />
3 rESuLTADoS E DiSCuSSÃo<br />
Para o presente estudo da avaliação das taxas de<br />
contaminação por Giardia lamblia em Ronda Alta/RS foram<br />
analisados 295 pacientes. As crianças representaram 44%;<br />
adolescentes 15%; adultos 20% e terceira idade 21%. O percentual<br />
de pacientes atendidos pelo Laboratório “A” foi de 16,6%,<br />
Laboratório “B” 37,6% e Laboratório “C” 45,7%.<br />
O Laboratório “A” para realizar a análise das amostras de<br />
fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />
foram analisados 49 pacientes. Destes, 39% eram crianças, 10%<br />
adolescentes, 20% adultos e 31% da terceira idade.<br />
Tabela 1: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />
Laboratório “A”.<br />
meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />
Setembro 2004 5 4 80,0<br />
Outubro 2004 7 4 57,1<br />
Novembro 2004 7 4 57,1<br />
Dezembro 2004 12 11 91,7<br />
Janeiro 2005 11 9 81,8<br />
Fevereiro 2005 7 3 42,8<br />
Os dados apontam para um grande percentual de resultados<br />
positivos para Giardia lamblia, no Laboratório “A” de Análises<br />
Clínicas. No período de seis meses investigados, envolvendo<br />
primavera e verão, houve em média 68% de casos positivos.
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
Apenas no mês de fevereiro ocorreu um índice abaixo de 50%,<br />
sendo que em dezembro foram verificados mais de 90% de casos<br />
positivos. No Laboratório “A”, não houve uma distribuição<br />
uniforme de parasitismo entre as faixas etárias. A faixa que teve um<br />
índice mais elevado foi de crianças (56%), depois os adolescentes<br />
(18%) e as outras faixas se comportaram de forma uniforme com<br />
13%. Essas taxas tiveram esse comportamento uniforme nos seis<br />
meses avaliados.<br />
O Laboratório “B” para realizar a análise das amostras de<br />
fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />
foram analisados 111 pacientes, dos quais 41% eram crianças, 20%<br />
adolescentes, 17% adultos e 22% da terceira idade.<br />
Tabela 2: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />
Laboratório “B”.<br />
meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />
Setembro 2004 20 11 55,0<br />
Outubro 2004 27 9 33,3<br />
Novembro 2004 18 5 27,8<br />
Dezembro 2004 19 13 68,4<br />
Janeiro 2005 17 4 23,5<br />
Fevereiro 2005 10 5 50,0<br />
No Laboratório “B” os índices de positividade de giardíase<br />
mantiveram-se, porém em taxas menores. No período de setembro<br />
a fevereiro houve uma média de 43% de casos positivos de<br />
parasitismo por Giardia lamblia. O mês com maior índice de<br />
positividade compreendeu novamente dezembro, com 68,4%.<br />
No Laboratório “B”, houve um predomínio quanto à distribuição<br />
entre as faixas etárias. Com uma taxa de 39% de parasitismo se<br />
destacou o grupo das crianças, nas demais faixas etárias houve uma<br />
positividade uniforme de 20%.<br />
259
260<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
O Laboratório “C” para realizar a análise das amostras de<br />
fezes utilizou as técnicas de MIF, Ritchie e Willis. Neste laboratório,<br />
foram analisados 135 pacientes, dos quais 52% eram crianças, 15%<br />
adolescentes, 23% adultos e 10% da terceira idade.<br />
Tabela 3: Exames parasitológicos de fezes (EPF) realizados no<br />
Laboratório “C”.<br />
meses Número de EPF resultados Positivos Percentual (%)<br />
Setembro 2004 25 9 36,0<br />
Outubro 2004 35 20 57,1<br />
Novembro 2004 31 16 51,6<br />
Dezembro 2004 26 16 61,5<br />
Janeiro 2005 0 0 0<br />
Fevereiro 2005 18 10 55,5<br />
No Laboratório “C” pode se contabilizar apenas cinco<br />
meses de investigação, uma vez que no mês de janeiro não houve<br />
encaminhamento de exame parasitológico de fezes. As taxas de<br />
positividade para giardíase mantiveram um equilíbrio nos cinco<br />
meses de observação. No período de setembro a fevereiro, houve<br />
uma média de 51% de casos positivos de parasitismo por Giardia<br />
lamblia. O mês com maior índice de positividade compreendeu<br />
dezembro com 61,5%. No Laboratório “C” não houve uma<br />
distribuição uniforme de parasitismo entre as faixas etárias. A faixa<br />
que teve um índice elevado foi de crianças com 47%, depois os<br />
adolescentes com 29% e as outras faixas se comportaram de forma<br />
uniforme com 12%. Essas taxas tiveram esse comportamento<br />
uniforme nos cinco meses avaliados.<br />
A Giardia lamblia apresenta um predomínio em crianças. A<br />
giardíase ocorre com maior prevalência em crianças até a puberdade.<br />
Posteriormente, as taxas de parasitismo vão diminuindo. Nessas<br />
faixas etárias é maior a ocorrência entre grupos populacionais que
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
apresentam condições de saneamento e hábitos higiênicos mais<br />
precários.<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Crianças Adolescentes Adultos Terceira Idade<br />
Gráfico 1 - Porcentagem de parasitismo por faixa etária, no período de setembro de<br />
2004 até fevereiro de 2005, no município de Ronda Alta, RS.<br />
Os pacientes de todas as faixas etárias não apresentaram<br />
diferença quanto à ocorrência por gênero, apresentando uma<br />
distribuição praticamente uniforme. No tocante aos recursos<br />
financeiros houve casos de contaminação em todas as camadas<br />
sociais. Porém, a prevalência foi maior entre os que não dispunham<br />
de saneamento básico e baixo grau de escolaridade.<br />
Porcentagem de parasitismo por faixa etária<br />
As estações do ano utilizadas para avaliar os pacientes<br />
compreenderam a primavera e o verão. Todos os meses deste<br />
período apresentaram taxas de parasitismo por Giardia lamblia.<br />
O mês com menor índice de positividade foi o de janeiro com<br />
35,1%. Entretanto, dezembro manteve uma taxa média elevada<br />
de positividade de giardíase com 73,9%, nos três laboratórios<br />
investigados.<br />
261
Porcentagem de parasitismo por Giardia lamblia<br />
262<br />
BArBoSA, CLEBEr FrANCiSCo – LuNKES, GiLBErTo iNáCio<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Set / 04 Out / 04 Nov / 04 Dez / 04 Jan / 05 Fev / 05<br />
Gráfico 2 - Porcentagem de parasitismo de Giardia lamblia, no período de setembro<br />
de 2004 até fevereiro de 2005, no município de Ronda Alta, RS.<br />
A estação do ano com maior nível de parasitismo por<br />
giardíase está envolvida no aumento do consumo de água e<br />
exposição em locais para banhos como balneários, rios, córregos,<br />
lajeados entre outros. O consumo de frutas é maior devido às<br />
elevadas temperaturas. Esses hábitos no período aumentam a<br />
probabilidade de contaminação por Giardia lamblia. Nos meses<br />
mais quentes do ano a incidência é maior porque este protozoário<br />
flagelado é encontrado em temperaturas mais altas e em climas<br />
temperados (REY, 2002).<br />
A comunidade avaliada apesar de residir em área urbana,<br />
com saneamento básico e serviço de água tratada, teve a positividade<br />
compatível com áreas sem urbanização e saneamento e de classes<br />
sociais menos favorecidas (DIAS & COPELMAN, 2000).<br />
4 CoNCLuSÃo<br />
O índice de parasitismo por Giardia lamblia no município<br />
de Ronda Alta apresentou-se elevado no período investigado, com<br />
uma taxa média de 51,9%. Essa incidência resultou da análise dos
AVALiAÇÃo DAS TAXAS DE CoNTAmiNAÇÃo Por GiArDiA LAmBLiA Em roNDA ALTA, rS, BrASiL<br />
exames parasitológicos de fezes realizados em três laboratórios de<br />
análises clínicas, situados no próprio município.<br />
A faixa etária mais envolvida foi de zero aos 12 anos de<br />
idade, ou seja, as crianças, com uma incidência de 47,3% quando<br />
comparada com os demais grupos etários. Os adolescentes<br />
posteriormente se destacaram com 22%, enquanto que adultos<br />
e indivíduos da terceira idade tiveram uma contaminação muito<br />
semelhante, em torno de 15%.<br />
A estação do ano com maior incidência foi o verão. O mês<br />
que mais se destacou foi dezembro dentre os demais analisados,<br />
com uma taxa de 73,9%.<br />
Os prováveis fatores envolvidos, levando em consideração<br />
a faixa etária e o mês de maior incidência, são condições de<br />
saneamento, grau de escolaridade, e consequente precariedade das<br />
condições de higiene.<br />
As crianças constituem a parcela da comunidade mais<br />
atingida pela contaminação por giardíase, tanto pela alimentação<br />
como imunidade deficiente e também pelos seus hábitos se expõem<br />
mais facilmente aos locais de infecção. Esses fatores associados<br />
às elevadas temperaturas do verão facilitam a disseminação de<br />
parasitoses ligadas à contaminação pela água.<br />
Novas investigações com finalidade epidemiológica abrangendo<br />
todo o município de Ronda Alta, tanto no perímetro urbano quanto<br />
rural seriam necessárias com o objetivo de elucidar por que todas<br />
as faixas etárias estão se contaminando e com diferentes graus de<br />
informação e recursos financeiros.<br />
Neste processo é fundamental a inserção do profissional<br />
farmacêutico e da equipe multiprofissional com a finalidade de<br />
diagnosticar, tratar e orientar a população e proporcionar uma<br />
melhor qualidade de vida à comunidade.<br />
263
5 rEFErÊNCiAS<br />
264<br />
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WILSON, A. R. Introdução à Parasitologia. São Paulo: EPU,<br />
1980.
saúde INTEGRADA<br />
ÍNDICE DE QUEDAS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DO MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO-RS<br />
Viviane Holzbach<br />
Cláudia Regina Beuter<br />
FISIOTERAPIA NA ESTABILIDADE ARTICULAR DO JOELHO: ABORDAGEM FISIOLÓGICA DO SISTEMA<br />
SENSÓRIO-MOTOR<br />
Letícia Ataídes Silva<br />
Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />
OS BENEFÍCIOS DO REFORÇO MUSCULAR EM PORTADORES DE GONARTROSE<br />
Aline Fróes Tavares<br />
Thais do Nascimento Gomes<br />
O TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ATRAVÉS DA ESTABILIZAÇÃO CENTRAL PÉLVICA<br />
Juliane Pukall Bezerra<br />
Thais do Nascimento Gomes<br />
O EXERCÍCIO FÍSICO NA PREVENÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER<br />
Gabriela Lied Nascimento<br />
FISIOTERAPIA APLICADA A PORTADORES COM SÍNDROME DE DOWN<br />
João Paulo Heinzmann Filho<br />
Cristhiele Tais Wozezenski<br />
Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />
EXERCÍCIOS RESISTIDOS NA FADIGA MUSCULAR EM PORTADORES DE ESCLEROSE MÚLTIPLA<br />
Ana Paula Pedroso<br />
Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />
INTERVENÇÃO DA FISIOTERAPIA EM QUEIMADOS<br />
João Paulo Heinzmann Filho<br />
Cristhiele Tais Wozezenski<br />
Derliane Glonvezynski dos Santos Beck<br />
AMPUTAÇÃO SUPRACONDILIANA OCASIONADA POR QUEIMADURA DE CHOQUE ELÉTRICO: UM ESTUDO DE<br />
CASO<br />
Paulo Roberto de Oliveira Daltrozo<br />
Tatiana Medina Sturzenegger<br />
O USO DA MOBILIZAÇÃO PASSIVA PRECOCE EM RATOS TREINADOS E NÃO TREINADOS NA CICATRIZAÇÃO<br />
DO TECIDO MUSCULAR<br />
Rafael Bertolini<br />
Tatiana Medina Sturzenegger<br />
A RELANVÂNCIA DO TREINAMENTO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVO NA RUPTURA DO LIGAMENTO<br />
CRUZADO ANTERIOR (LCA)<br />
J. G. B. Silva<br />
F. R. S. Voloski<br />
L. Mafalda<br />
O USO DA CRIOTERAPIA NA ARTRITE REUMATÓIDE<br />
Pedro Henrique Santos<br />
Fernando Voloski<br />
FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTES PORTADORES DE PNEUMONIA NOSOCOMIAL<br />
Dante Saul Braun<br />
Rúbia Daiane Santos Bueno<br />
AVALIAÇÃO DAS TAXAS DE CONTAMINAÇÃO POR GIARDIA LAMBLIA EM RONDA ALTA, RS, BRASIL<br />
Cleber Francisco Barbosa<br />
Gilberto Inácio Lunkes<br />
IESA