PALAVRA DA PRESIDENTAFarmacovigilância – uma prática aindapouco exercida pela classe médicaAaprovação de novos medicamentos, pelas diversasagências regulatórias, baseia-se nos resultados dosestudos clínicos controlados. Tais estudos devemter o poder estatístico de avaliar a eficácia e asegurança de determinados medicamentos para indicações epopulações específicas.Porém, é de nosso conhecimento a existência das limitaçõesdos estudos clínicos em detectar as reações adversas raras eas tardias, ou mesmo as interações medicamentosas, vistoque, para evitar os fatores de confusão na análise dosresultados, os pacientes são selecionados através de critériosde inclusão e exclusão, que algumas vezes tornam a populaçãoestudada distante da vida real.São inúmeros os medicamentos comercializados atualmenteno Brasil, sejam eles inovadores, de referência, genéricos ousimilares. Para garantir que estes medicamentos estejamoferecendo eficácia e segurança na fase de comercialização, énecessário praticar a farmacovigilância, ato ainda poucoexercido pela classe médica.A farmacovigilância é a ciência e atividade relacionada àdetecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitosadversos ou qualquer outro problema possivelmenterelacionado a um medicamento.A primeira ação internacional sistemática em monitorar asegurança dos medicamentos ocorreu em 1961, quando quase10000 crianças nasceram com deformidades congênitasrelacionadas à exposição à talidomida. Em 1968, a OMS criouo Projeto Piloto para Monitoração Internacional de Drogas.Atualmente 134 países fazem parte deste programa.Os principais objetivos da farmacovigilância são:a) Melhorar o cuidado e a segurança do paciente em relaçãoao uso de medicamentos e intervenções médicas eparamédicas;b) Melhorar a saúde pública e a segurança em relação aouso de medicamentos;c) Contribuir para avaliação dos benefícios, danos, riscose efetividade dos medicamentos;d) Estimular o uso seguro, racional e efetivo dosmedicamentos;e) Promover o conhecimento, a educação e a capacitaçãoclínica em farmacovigilância.f) Garantir uma comunicação efetiva com o público.A esfera de ação atual do Programa da OMS inclueproblemas relacionados a:a) Fitoterápicos, medicamentos complementares etradicionais;b) Produtos sanguíneos, biológicos e vacinas;c) Medicamentos falsificados ou de qualidade inferior;d) Uso irracional e inadequado de medicamentos;e) Resistência a antimicrobianos.No Brasil existem centros de farmacovigilância que fazemparte do Sistema Nacional de Farmacovigilância, que por suavez, integram o Programa Internacional de Farmacovigilânciada OMS.A notificação é voluntária e uma das formas de comunicaro efeito adverso é junto à ANVISA (http://anvisa.gov.br/sisfar- maco/notificacaotemp/noificacaotemp1.asp) ou viaServiço de Atendimento ao Consumidor da indústriafarmacêutica responsável pelo medicamento, que deverácomunicar o evento à agencia regulatória. Vale ressaltar que afalta de eficácia do medicamento também deve ser notificada.Infelizmente mais de 50% dos medicamentos prescritos sãofeitos de forma inadequada, e 50% dos pacientes não seguema prescrição corretamente, aumentado a chance de efeitosadversos ou falta de eficácia.A prescrição inadequada e mesmo a falta de compreensãopor parte dos pacientes, no nosso meio, pode ser atribuída emparte - mas não justificada - à interferência das operadoras dasaúde suplementar no ato médico, com controle de solicitaçãode exames ou do tempo de consulta médica. A má remuneraçãotambém limita o acesso aos cursos de atualização médica.Muitos serviços públicos também não oferecem condiçõesadequadas de trabalho ou de educação continuada.Mais do que tarda o momento dos médicos e daqueles queos formam valorizarem o nosso próprio trabalho, para quepossamos ser ouvidos pelas autoridades que detem o poderde regular a saúde suplementar e pública do nosso país. Avalorização do ato médico pelas operadoras de saúdesuplementar não interessa somente àqueles que atuam nestesetor, mas também à academia, que, em particular, entre asespecialidades clínicas, têm vivido a falta de médicosresidentes a quem ensinar. Interessa sobretudo à saúdepública, que, em pouco tempo, contará com poucosprofissionais capacitados em diversas especialidades, entreelas a medicina respiratória.A Associação Paulista de Medicina e outras entidadesmédicas têm promovido ampla discussão sobre adesvalorização do ato médico, e a SPPT encontra-se alinhadae envolvida neste debate.Acompanhe e participe!Um abraçoJaquelina Sonoe Ota ArakakiPresidente da SPPTjaqueota@gmail.comFonte: OMS (http://www.who.int/medicines/areas/quality_safety/safety_efficacy/pharmvigi/en/index.htlm)4 Pneumologia Paulista Vol. 25, N o. 14/2011
PALAVRA DOS EDITORESA Pneumologia e as outrasespecialidadesEste número do Pneumologia Paulista foi pensadoa partir da reflexão sobre alguns pontosimportantes na prática da nossa profissão. Comojá é sabido por todos, nossa especialidade vemapresentando, ao longo dos últimos anos, uma redução naprocura pelos recém egressos dos cursos de graduação emMedicina.As causas desta redução no interesse pela nossa áreasão várias, e podemos enumerar algumas, como a presençade outras especialidades no atendimento de pacientespneumopatas e na ocupação de posições e cargos relevantesna gestão da saúde respiratória no país; o baixo interesse dospenumologistas em alguma áreas emblemáticas da especialidade,como tisiologia, câncer de pulmão, ventilação mecânica,cuidados de pacientes crônicos ou com doença avançada; aindefinição do ato médico em várias instâncias, deixando livreo acesso de outros profissionais na prática da Pneumologia.Nos últimos anos temos assistido um esforço dosprofissionais que se vêem envolvidos na reflexão sobre osnovos papeis da especialidade, para a criação de ambulatóriosde sub-especialidades e para aumentar áreas de atuação parao pneumologista. Sobretudo, parece ser crucial ampliarnossos horizontes, para que atuemos para além dotratamento básico de asma e DPOC. Não que tratar asma ouDPOC seja fácil ou simples. O que vemos no dia-a-dia é que,nos casos mais simples, vários outros profissionais de áreascorrelatas, como clínicos gerais, cardiologistas ou pediatrassentem-se confortáveis no seu manejo. Os pacientes só nossão encaminhados por estes profissionais quando os casosse complicam.É importante que nós especialistas consigamos ter uma visãomais abrangente das enfermidades respiratórias, sobretudo dascomplexas inter-relações com as outras especialidades.Este número foi pensado com este objetivo, de fornecerao leitor um panorama de como a Pneumologia se entrelaçacom as outras especialidades, criando situaçõesparticularmente complexas para as quais frequentementesomos chamados a opinar.Situações como as abordadas nos textos das síndromesrenopulmonar e hepato-pulmonar são de difícil diagnósticoe manejo, e requerem que o pneumologista esteja alerto emuito bem informado. Conhecer os meandros da associaçãoda doença do refluxo gastroesofágico com as doençaspulmonares difusas tem consequências fundamentais nomanejo destas últimas. O domínio das manifestaçõespulmonares de algumas doenças, como as doenças docolágeno, ou, por outro lado, manifestações não pulmonaresde algumas doenças que envolvem principalmente o sistemarespiratório também é enriquecedor para todo pneumologista.Cada vez mais somos solicitados para avaliações de casoscomplicados, raros, graves ou de difícil manejo. Este fato,longe de depreciar a especialidade, valoriza nossa opinião.Obviamente, não basta que nos tornemos mais e maisespecializados, mas sim que ampliemos nossas áreas deatuação e tenhamos a ousadia de ocupar mais espaços, nãoapenas do ponto de vista técnico, mas também nas áreas deprevenção, gestão, cuidados intensivos e domiciliares.Um novo perfil da especialidade vem se impondo, cabe anós ocuparmos este espaço, o que certamente terá efeitospositivos na opção de recém médicos pela Pneumologia.Esperamos que a revista ofereça um pouco desta visãopara todos. Boa leitura.Mônica Corso PereiraVice-presidente da SPPT eEditora do Pneumologia Paulistacorso@mpcnet.com.brCarlos JardimCo-editor do Pneumologia Paulistajardim.carlos@uol.com.brPRÓXIMA EDIÇÃOPneumopediatriaEnvie suas sugestões para: sppt@sppt.org.brPneumologia Paulista Vol. 25, N o. 14/2011 5