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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEUPrograma de Pós-Graduação Stricto SensuArquitetura e UrbanismoGISELE LEIVA DO RIOConvergências entre Arquitetura e DesignDissertação de Mestrado apresenta<strong>da</strong> aoPrograma de Pós-Graduação Stricto Sensu emArquitetura e Urbanismo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de SãoJu<strong>da</strong>s Tadeu, como requisito para a obtenção dotítulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.Orientador: Profª. Drª. Marta Vieira BogéaSão Paulo2009


Rio, Gisele Leiva doConvergências entre arquitetura e design / Gisele Leiva do Rio. - São Paulo,2009.189 f. : il. ; 30 cmOrientador: Marta Vieira BogéaDissertação (mestrado) – Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, São Paulo, 2009.1. Projeto arquitetônico 2. Arquitetura - Projetos e plantas I. Bogéa, MartaVieira II. Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, Programa de Pós-Graduação StrictoSensu em Arquitetura e Urbanismo. III. TítuloCDD – 720Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almei<strong>da</strong> Ribeiro - CRB 8/6878


UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEUPrograma de Pós-Graduação Stricto SensuArquitetura e UrbanismoGISELE LEIVA DO RIOConvergências entre Arquitetura e DesignDissertação de Mestrado apresenta<strong>da</strong> aoPrograma de Pós-Graduação Stricto Sensu emArquitetura e Urbanismo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de SãoJu<strong>da</strong>s Tadeu, como requisito para a obtenção dotítulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.Aprova<strong>da</strong> em ______________ de 200___Orientador: Profª. Drª. Marta Vieira Bogéa


Ao Daniel, meu marido e grande companheiro, que meincentivou a iniciar a pesquisa e sempre estevepresente durante a realização deste estudo.Aos meus pais pelo apoio recebido.


Agradeço à Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu pelosuporte institucional e pela oportuni<strong>da</strong>de em aprofun<strong>da</strong>rmeus conhecimentos acadêmicos.À Profª. Drª. Marta Vieira Bogéa pela primorosaorientação e por compartilhar comigo parte de seuimenso conhecimento.Aos professores do programa pelos conteúdosministrados, fun<strong>da</strong>mentais para o desenvolvimento <strong>da</strong>pesquisa.Em especial, às professoras Drª. Kátia AzevedoTeixeira e Drª. Myrna de Arru<strong>da</strong> Nascimento nomomento <strong>da</strong> qualificação com excelentes contribuiçõesque enriqueceram e ampliaram esta pesquisa.Àqueles que contribuíram de alguma forma, a todosmuito obriga<strong>da</strong>.


RESUMOEsta pesquisa tem por objetivo investigar a atuação dosprofissionais <strong>da</strong> arquitetura e do design no campointersecionado <strong>da</strong>s competências. Através <strong>da</strong> análise eaproximação de projetos “híbridos” é possívelreconhecer os vínculos que as disciplinas estabelecementre si, reconhecendo relações perdi<strong>da</strong>s para além <strong>da</strong>sespecifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> área.O raciocínio construído entre as diferentes categoriasde projetos permite identificar as situações dearticulação entre áreas e gera reflexões sobre atuaçãoespecialista e generalista. Se por um lado, o estudoaprofun<strong>da</strong>do de determinado assunto asseguraagili<strong>da</strong>de e precisão nas soluções propostas, por suavez, os profissionais com visão ampla têm capaci<strong>da</strong>dede aproximar saberes distintos ampliando orelacionamento multidisciplinar.Palavras-chave: Arquitetura; Design; Convergência.


ABSTRACTThis research aims to investigate how designers an<strong>da</strong>rchitects act in the intersectional field of theirprofessions. Through analysis and approach of "hybrid"projects it’s possible to recognize the links that thesubjects establish between them, recognizing lostrelationships beyond the each area specificity.The reasoning built between the different projectcategories allow to identify articulation situations amongareas and generate reflection over specialist andgeneralist performance. On the one hand, the depthstudy of particular subject ensures speed and accuracyin the proposed solutions, in turn, broad viewprofessionals are able to approach different knowledgeexpanding multidisciplinary relationship.Key words: Architecture; Design; Convergence.


DOCUMENTAÇÃO ICONOGRÁFICA1: Representação gráfica <strong>da</strong> Teoria dos Conjuntos aplica<strong>da</strong> a Arquitetura e ao Design.................................................................................................................................142: Diagrama ilustrativo do programa <strong>da</strong> Bauhaus de 1922 ............................................303: Cadeira B33 e B34 – Marcel Breuer – 1927/1928......................................................364: Mesa B10 – Marcel Breuer – 1927.............................................................................365: Casa Harnischmacher – Wiesbaden – Marcel Breuer – 1932....................................376: Edifício Bauhaus Dessau – Walter Gropius – 1925/26...............................................397: Edifício Bauhaus Dessau – Walter Gropius – 1925/1926...........................................398: Edifício Bauhaus Dessau – Walter Gropius – 1925/26...............................................409: Casas dos Mestres – Walter Gropius – 1925/26........................................................4010: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha na Exposição Internacional de Barcelona – Mies van derRohe – 1928/29.......................................................................................................6511: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha na Exposição Internacional de Barcelona – Mies van derRohe – 1928/29.......................................................................................................6512: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha na Exposição Internacional de Barcelona – Mies van derRohe – 1928/29.......................................................................................................6613: Cadeira Barcelona – Mies van der Rohe – 1928/29.................................................6714: Dymaxion Car – Buckminster Fuller – 1934 .............................................................6915: Mecanichal Wing – Buckminster Fuller – 1940.........................................................7016: Espaço <strong>da</strong> Pinacoteca e sistema de fixação <strong>da</strong>s obras – ........................................7117: Pequeno auditório e cadeira – Lina Bo Bardi – 1947 ...............................................7218: Grande auditório e cadeira – Lina Bo Bardi – 1947.................................................7319: MASP na Av. Paulista – Lina Bo Bardi – 1957/1968................................................7420: Suporte para obras em vidro e concreto – ...............................................................7421: Interior <strong>da</strong>s casas dos Mestres – Sala de estar <strong>da</strong> casa de Gropius........................8022: Interior <strong>da</strong>s casas dos Mestres – Sala de estar <strong>da</strong> casa de Josef e Anni Albers .....8023: Cadeira Wassily – Marcel Breuer – 1925/27 ...........................................................8024: Refeitório Bauhaus Dessau – 1926..........................................................................8225: Atelier dos alunos – Bauhaus Dessau......................................................................82


26: Série de Mesas B9 – Marcel Breuer – 1925.............................................................8227: Sala de jantar MoMa House – Marcel Breuer – 1949...............................................8428: Residência Olivo Gomes – Sala – Rino Levi – 1949/51 ...........................................8529: Residência Olivo Gomes – Planta – Rino Levi – 1949/51 ........................................8630: Residência Olivo Gomes – Rino Levi – 1949/51 ......................................................8731: Residência Olivo Gomes – Vista <strong>da</strong> paisagem através <strong>da</strong> janela do dormitório – RinoLevi – 1949/51.........................................................................................................8732: Apartamento Jote – Desenho <strong>da</strong> estrutura – Andrade Morettin Arquitetos – 2002 ..8833: Apartamento Jote – Andrade Morettin Arquitetos – 2002.........................................8934: Apartamento Jote – Andrade Morettin Arquitetos – 2002.........................................8935: Apartamento Jote – Planta original – Andrade Morettin Arquitetos – 2002 ..............9036: Apartamento Jote – Planta atual – Andrade Morettin Arquitetos – 2002..................9037: Casa tradicional japonesa com fogareiro portátil......................................................9238: Cerimônia do chá .....................................................................................................9339: Fogareiro embutido ..................................................................................................9340: Ambiente configurado com futon..............................................................................9441: TWA – Vista externa do edifício – Eero Saarinen – 1956/62....................................9542: TWA – Sala de espera – Eero Saarinen – 1956/62..................................................9643: TWA – Sala de espera – Eero Saarinen – 1956/62..................................................9644: Planta de kitchenette 23m 2 – Santo Amaro – SP – 2009 .........................................9945: Transamérica Flat The Advance – Kitchenette dentro de armário ...........................9946: Móvel Kitchenette – Duracraft ..................................................................................9947: Airstream DWR – Kitchenette – 2008.....................................................................10148: Airstream Basecamp – Kitchenette – 2008 ............................................................10149: Airstream Interstate – Kitchenette – 2008 ..............................................................10150: Dymaxion Bathroom – Buckminster Fuller – 1938 .................................................10251: Dymaxion Bathroom – Imagens do interior – Buckminster Fuller – 1938...............10352: Dymaxion Bathroom – Desenho utilizado na patente para identificar as partes quecompõem o módulo...............................................................................................10353: Banheiro Pronto – Vista externa.............................................................................10454: Banheiro Pronto – Chega<strong>da</strong> e instalação...............................................................10555: Banheiro Pronto – Vista interna..............................................................................105


56: RVI – Banheiro pré-fabricado.................................................................................10657: Sanitário Dassel .....................................................................................................10758: Total Furnishing Unit – Detalhe do quarto – Joe Colombo – 1969.........................10959: Total Furnishing Unit – Detalhe <strong>da</strong> cozinha – Joe Colombo – 1969.......................10960: Total Furnishing Unit – Desenho do módulo completo – Joe Colombo – 1969......11061: Rotorhaus – Vista externa – Luigi Colani – 2004 ...................................................11162: Rotorhaus – Ilustração <strong>da</strong> planta – Luigi Colani – 2004 .........................................11163: Rotorhaus – Quarto – Luigi Colani – 2004 .............................................................11264: Rotorhaus – Lavabo e cozinha – Luigi Colani – 2004 ............................................11265: Banca de jornal – Antoni Roselló – 1991 ...............................................................11766: Banca de Jornal Modelo Luxo – Vanzillotta............................................................11867: Quiosque de sorvetes – Antoni Roselló – 1991......................................................12068: Cabine sanitária – Antoni Roselló – 1994 ..............................................................12269: Living Pod – David Greene – 1965.........................................................................12470: Living Pod – David Greene – 1965.........................................................................12471: Cushicle – Mike Webb – 1966/67...........................................................................12572: Dymaxion House – Buckminster Fuller – 1946.......................................................12873: Dymaxion House – Planta – Buckminster Fuller – 1946 ........................................12974: Fly’s Eye – Empilhamento <strong>da</strong>s peças – Buckminster Fuller – 1977 .......................13075: Fly’s Eye de oito metros de diâmetro e Dymaxion Car – Buckminster Fuller – 1981..............................................................................................................................13076: Fly’s Eye – Desenho ilustrativo dos mecanismos posicionados abaixo do piso –Buckminster Fuller – 1977.....................................................................................13177: Fly’s Eye – Esquema de montagem – Buckminster Fuller – 1977 .........................13278: Fly’s Eye – Desenho ilustrativo de transporte aéreo – Buckminster Fuller – 1977.13279: m-ch – HCLA – 2005..............................................................................................13380: m-ch – Cozinha – HCLA – 2005.............................................................................13481: m-ch – Dormitório / Sala – HCLA – 2005 ...............................................................13482: m-ch – HCLA – 2005..............................................................................................13583: m-ch – Tree Vilage – HCLA – 2005........................................................................13584: Plug-in City – Peter Cook – 1964 ...........................................................................13785: Casa Cápsula – Peter Cook – 1964 .......................................................................138


86: Vistas <strong>da</strong> Capsule Home / Torre residencial – Peter Cook – 1964.........................13987: Nakagin Capsule Tower – Maquete do edifício e interior <strong>da</strong> cápsula – KishoKurokawa – 1971 ..................................................................................................14088: Nakagin Capsule Tower – Planta e esquema de montagem – Kisho Kurokawa –1971 ......................................................................................................................14189: Nakagin Capsule Tower – Interior de uma cápsula – Kisho Kurokawa – 1971 ......14290: Projeto para a Bahia de Tókio – Kenzo Tange – 1960...........................................14491: Projeto para a Bahia de Tókio – Kenzo Tange – 1960...........................................14492: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Marina – 2001.......................................................14693: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Planta e elevação <strong>da</strong> Marina – 2001 ....................14694: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – 2001 .....................................................................14795: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Vista lateral e frontal – 2001.................................14896: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Lounge – 2001......................................................14997: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Suíte de casal – 2001...........................................14998: Trilobis 65 – Giancarlo Zema – Observatório subaquático – 2001.........................15099: Bowlus Road Chief – 1935.....................................................................................152100: Bowlus Road Chief – 1935...................................................................................152101: Bowlus Road Chief – Planta – 1935.....................................................................153102: Airstream Clipper – 1936......................................................................................154103: Airstream DWR – Mesa de jantar – 2008.............................................................155104: Airstream DWR – Planta – 2008 ..........................................................................156105: Airstream DWR – 2008.........................................................................................156106: Airstream DWR – Área externa – 2008 ................................................................156107: Airstream Basecamp – 2008 ................................................................................157108: Airstream Basecamp – Planta – 2008 ..................................................................158109: Airstream Basecamp – Detalhe <strong>da</strong> cama – 2008 .................................................159110: Airstream Basecamp Rampa de acesso – 2008 .................................................160111: Airstream Basecamp – Rampa de acesso – 2008 ...............................................160112: Airstream Interstate – 2008 ..................................................................................161113: Airstream Interstate – Planta – 2008 ....................................................................162114: Airstream Interstate – Banheiro – 2008................................................................163115: Airstream Interstate – Área de estar – 2008.........................................................163


116: Airbus A380 – Qantas – 2008 ..............................................................................165117: Airbus A380 – Primeira Classe – 2005.................................................................165118: Skybed – Airbus A380 – Qantas – Classe executiva – 2008................................166119: Skybed – Airbus A380 – Qantas – Classe executiva – 2008................................167120: Airbus – A380 – Qantas – SnackBar – 2008........................................................167121: Airbus A380 – Singapore Airlines – Planta <strong>da</strong> aeronave – 2007..........................168122: Airbus A380 – Lufthansa – Planta <strong>da</strong> aeronave VVIP – 2009 ..............................169123: Airbus A380 – Lufthansa – Lounge VVIP – 2009 .................................................170124: Airbus A380 – Lufthansa – Sala de Jantar VVIP – 2009 ......................................170125: Airbus A380 – Lufthansa – Quarto Principal VVIP – 2009....................................171126: Representação gráfica <strong>da</strong> Teoria dos Conjuntos aplica<strong>da</strong> a Arquitetura, ao Design,às Engenharias Mecânica e Civil. .........................................................................177


SUMÁRIODOCUMENTAÇÃO ICONOGRÁFICAINTRODUÇÃO ...............................................................................................................13PARTE 1NATUREZA DAS DISCIPLINAS ....................................................................................191 Bauhaus: a matriz <strong>da</strong> arquitetura e do design modernos ............................212 Formação acadêmica e normatização dos profissionais no Brasil..............463 Atuação concilia<strong>da</strong> ......................................................................................63PARTE 2ANÁLISE DE PROJETOS..............................................................................................765 Mobiliário.....................................................................................................786 Módulos inseridos .......................................................................................987 Módulos urbanos.......................................................................................1148 Cápsulas em movimento...........................................................................151CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................172REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................................180


INTRODUÇÃO


Arquitetura e Design são ações de projeto provenientesde uma mesma natureza. A origem comum <strong>da</strong>sespeciali<strong>da</strong>des resultou em uma fronteira por vezesindistinta de competências na qual os profissionaiscompartilham conhecimentos nela contidos. Asdiscussões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> experiência vivencia<strong>da</strong> pelaBauhaus e a análise de projetos em que as atribuiçõesprofissionais convergem permitem promover novosdebates sobre a abrangência <strong>da</strong>s áreas, a atuação <strong>da</strong>sespeciali<strong>da</strong>des e refletir sobre suas fronteiras.Essa fronteira pode ser compara<strong>da</strong> à interseção <strong>da</strong>Teoria dos Conjuntos <strong>da</strong> matemática, quando osconjuntos se sobrepõem resultando em um campohíbrido formado por elementos pertencentes às duasáreas. 11: Representação gráfica <strong>da</strong> Teoriados Conjuntos aplica<strong>da</strong> aArquitetura e ao Design.Desenho do autor.O objetivo <strong>da</strong> pesquisa é investigar a interseção entreas áreas gerando reflexões sobre a relação entre elasque permitam analisar situações de aproximação entreas disciplinas, hoje exerci<strong>da</strong>s, a maior parte <strong>da</strong>s vezes,como campos distintos.O tema é enfrentado utilizando abor<strong>da</strong>gem qualitativaatravés dos procedimentos técnicos de pesquisa1 A associação à Teoria dos Conjuntos foi sugeri<strong>da</strong>, no momento de análise, durante a banca dequalificação pela Profª. Drª. Myrna de Arru<strong>da</strong> Nascimento.14


ibliográfica e documental. Dentre os autores quepermitem a compreensão <strong>da</strong>s questões relativas àformação generalista encontram-se Giulio Carlo Argan,Leonardo Benevolo, Mag<strong>da</strong>lena Droste, Rainer Wick,Reyner Banham e Walter Gropius; dentre os autoresque subsidiam o enfrentamento <strong>da</strong>s questõesrelaciona<strong>da</strong>s à aproximação entre arquitetura e design,Le Corbusier, Mies van der Rohe, Peter Cook, PhilipDrew e Richard Buckminster Fuller.A Parte 1 é dedica<strong>da</strong> à revisão bibliográfica e tem ointuito de reunir informações e conhecimentos préviosde autores reconhecidos nas áreas de Arquitetura eDesign para então construir uma investigaçãopertinente que subsidie o debate deste territóriofronteiriço. Natureza <strong>da</strong>s disciplinas tem como objetivoreconhecer as especifici<strong>da</strong>des e a abrangência de ca<strong>da</strong>área e determinar suas origens como profissão edisciplina acadêmica. Bauhaus: a matriz <strong>da</strong>arquitetura e do design modernos retoma a matrizmodernista responsável pela formação acadêmica dosnovos profissionais <strong>da</strong> era industrial, iniciando pelaformação generalista proposta pela Bauhaus e,posteriormente, a formação especialista. Formaçãoacadêmica e normatização do arquiteto e dodesigner no Brasil investiga as origens <strong>da</strong>institucionalização do ensino <strong>da</strong>s duas áreas no Brasil eo contexto histórico em que tais iniciativas aconteceram,além de reunir conceitos e atribuições pertinentes aca<strong>da</strong> profissão, estabeleci<strong>da</strong>s por conselhos eorganizações nacionais e internacionais. Atuaçãoconcilia<strong>da</strong> investiga projetos de três profissionais15


econhecidos que, usufruindo do convívio entrearquitetura e design, desenvolveram o trabalho guiadopelo mesmo raciocínio. Este capítulo tem o objetivo deexplorar a amplitude <strong>da</strong> fronteira interseciona<strong>da</strong> atravésdo projeto de autores que reconheçam outras áreas.A Parte 2, Análise de projetos, permite compreender aatuação dos profissionais em campo próprio oucompartilhado e possibilita a identificação do conceito,compreensão <strong>da</strong> forma, programa, material e técnicaprodutiva emprega<strong>da</strong> e modo de implantação. Foramconsultados <strong>documento</strong>s de patentes, sites oficiais dosautores e/ou fabricantes dos projetos, catálogos,<strong>documento</strong>s eletrônicos e bibliografia pertinente.Os projetos selecionados são mais relevantes para estapesquisa enquanto provedores de analogias do queelementos isolados. A lente utiliza<strong>da</strong> para analisar oconjunto altera a leitura dos projetos individualmente.A organização dos projetos não segue a lineari<strong>da</strong>de dotempo, as aproximações foram feitas de acordo com anatureza de tipologia ou de programas. Para estapesquisa, o tempo cronológico não é o que melhorinforma. O tempo é utilizado como uma retoma<strong>da</strong> desaberes.Lina Bo Bardi tem uma pertinente colocação a respeitodo tempo:Mas o tempo linear é uma invenção do Ocidente, otempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde,16


a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos einventa<strong>da</strong>s soluções, sem começo nem fim. 2O raciocínio adotado para compor os grupos partiu <strong>da</strong>primeira relação entre as áreas, o Mobiliário e oespaço construído, em que a reverberação entrearquitetura e design aproxima elementos de naturezasdistintas. É composto por projetos reconhecíveis doponto de vista <strong>da</strong>s especiali<strong>da</strong>des e por objetosprovidos de função híbri<strong>da</strong>.Após a compreensão <strong>da</strong>s relações que mobiliário earquitetura estabelecem entre si, o capítulo seguinteconverge as competências em projetos de Módulosinseridos que incorporam diversos equipamentos emum único invólucro e são ativados após inserção emuma estrutura arquitetônica.Pertinente ao território <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, os Módulos urbanosincorporam o mobiliário urbano, lido como umequipamento de produção industrial relacionado aci<strong>da</strong>de, e as casas cápsulas industrializa<strong>da</strong>s que atuamcomo uni<strong>da</strong>des provi<strong>da</strong>s de mobili<strong>da</strong>de.O último capítulo aproxima projetos de estruturashabitacionais móveis. As Cápsulas em movimentoutilizam componentes pré-fabricados em seu interior eapresentam boas soluções para as questões dosespaços mínimos.Considerações finais retoma aspectos importantesinvestigados durante o estudo e estabelecem analogias2 FERRAZ, Marcelo Carvalho (org.) Lina Bo Bardi. São Paulo: Empresa <strong>da</strong>s Artes, 1993. p.32717


entre os projetos analisados e a amplitude <strong>da</strong> fronteiraentre áreas, explorando a flexibili<strong>da</strong>de na atuação dosprofissionais.18


1NATUREZA DAS DISCIPLINAS


Reconhecer como as disciplinas são entendi<strong>da</strong>s naespecifici<strong>da</strong>de auxilia na identificação de seus limites ena compreensão do modo como se articulam. Retomaro momento <strong>da</strong> formação comum na Bauhaus subsidia oentendimento de quando arquitetura e design setangenciaram e as causas que acarretaram a posteriordissociação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des.Considerar as origens <strong>da</strong> institucionalização do ensino<strong>da</strong>s duas áreas no Brasil, assim como as circunstânciasque as acompanharam é de grande importância para acompreensão <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que caracterizam oexercício <strong>da</strong> profissão perante a legislação.Através <strong>da</strong>s atribuições profissionais traça<strong>da</strong>s junto aórgãos próprios e dos conceitos formulados por autoresreconhecidos nas áreas é possível ponderar aabrangência de atuação particular assim como apossibili<strong>da</strong>de de uma atuação concilia<strong>da</strong>.A atuação de profissionais que reconhecem outrasáreas aproxima conhecimentos, a princípio, distantes epropicia a troca de experiências através <strong>da</strong> formação deequipes multidisciplinares.20


1 Bauhaus: a matriz <strong>da</strong> arquitetura e dodesign modernosAté meados do século XVIII, os objetos eramproduzidos artesanalmente. Este processo dedesenvolvimento de objetos é caracterizado pelaconstrução de peças únicas, produzi<strong>da</strong>s individualmente,mesmo quando há a necessi<strong>da</strong>de de repetição. Otrabalho do artesão tem início na idealização <strong>da</strong> obra ouobjeto e a conclusão marca<strong>da</strong> pela finalização <strong>da</strong> peçaem si. As ativi<strong>da</strong>des de criação e execução fazem parteintegral de suas habili<strong>da</strong>des. É particular do artesanatoo aperfeiçoamento do objeto durante sua feitura, o quedemonstra domínio total do processo.Numa época sem máquinas, as pessoas tinham profun<strong>da</strong>consciência dos padrões de execução. As obras de arte,como os outros produtos <strong>da</strong> indústria humana, eramaprecia<strong>da</strong>s pelo nível de trabalho que revelavam. 3A reali<strong>da</strong>de industrial é radicalmente outra.Historicamente, a industrialização é <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de meadosdo século XVIII com a Primeira Revolução Industrial, naInglaterra. Com o desenvolvimento <strong>da</strong>s máquinas avapor, pode-se diminuir o tempo necessário pararealizar tarefas como retirar água <strong>da</strong>s minas de carvão,semear grãos na agricultura ou tecer fios para indústriastêxteis, assim como reduzir a quanti<strong>da</strong>de de homenstrabalhando em uma mesma tarefa, pois as máquinasrealizavam grande parte do trabalho. Comoconseqüência <strong>da</strong> redução de tempo e mão-de-obra na3 OSBORNE, Harold. Estética e teoria <strong>da</strong> arte: uma introdução histórica. Tradução de Octavio MendesCajado. São Paulo: Cultrix, 1974. p.3221


indústria, devido à reprodução mecânica de peças,houve um barateamento no custo de produção detecidos e alimentos, o que proporcionou certa facili<strong>da</strong>dena aquisição de itens pelas classes operárias.Os empregos gerados nas indústrias atraíram muitostrabalhadores para as ci<strong>da</strong>des. O aumento <strong>da</strong>população urbana após a Revolução Industrial exigiuuma quanti<strong>da</strong>de maior de residências e objetos de usocotidiano, o que fez com que as máquinas industriaispassassem a operar em áreas antes não explora<strong>da</strong>s,como móveis e objetos de decoração, território onde oartesanato imperava. 4O controle <strong>da</strong> obra artesanal quando submeti<strong>da</strong> àrepetição era parcial ou inexistente, pois não havia apreocupação em se manter as peças idênticas, pelocontrário, eram particularmente nestas pequenasdiferenças que residia o fascínio e a própria essênciadesta forma artística 5 . Em contra parti<strong>da</strong>, no processoindustrial prevalece a sistematização <strong>da</strong> produção. Coma serialização dos produtos, a lógica de pensamento sealtera. Segundo Dorfles:(...) é nos alvores do século passado que devemos situaro início dos primeiros objectos produzidos industrialmentea partir do desenho expressamente estu<strong>da</strong>do para umaprodução em série 6 .4 BENEVOLO, Leonardo. História <strong>da</strong> arquitetura moderna. Tradução de Ana M. Goldberger. 2. ed. SãoPaulo: Perspectiva, 1989. p.355 DORFLES, Gillo. Introdução ao Desenho Industrial. Tradução de Carlos Aboim de Brito. Lisboa: Edições70, 1990. p.356 Idem, p.15. Grifo nosso.22


O projetar para a indústria contempla procedimentospróprios como identificação do sistema produtivo deacordo com o volume de fabricação, propostas deobjetos apropriados a esta produção, documentaçõespróprias, padronização de componentes, desenhosdimensionais, especificações sobre materiais eacabamentos. A vali<strong>da</strong>ção do projeto se dá através <strong>da</strong>aprovação do protótipo, que passa por uma série detestes pertinentes à natureza do objeto, para somenteentão <strong>da</strong>r início à multiplicação deste modelo aprovado.O protótipo, entendido como o padrão a ser reproduzidopela indústria, é a primeira peça funcional fabrica<strong>da</strong> apartir <strong>da</strong>s especificações do projeto.O sentido de “padrão” para Le Corbusier estavarelacionado a(...) esgotar to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des práticas e razoáveis,deduzir um tipo reconhecido conforme as funções, comrendimento máximo, com emprego mínimo de meios,mão-de-obra e matéria, palavras, formas, cores, sons. 7A padronização além de uniformizar a produçãoassegura a estabili<strong>da</strong>de dos resultados. Gropiusescreveu em 1925, a respeito dos objetosindustrializados:A máquina que produz objectos em série é um meioeficaz de libertação do homem, por intervenção <strong>da</strong>utilização de forças mecânicas – como o vapor ou aelectrici<strong>da</strong>de – do trabalho necessário à satisfação <strong>da</strong>snecessi<strong>da</strong>des vitais; um meio para lhe conseguir osvariados objectos, mas mais belos e mais baratos do queos fabricados à mão. 87 LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura. Tradução de Ubirajara Rebouças. 6. ed. São Paulo: Perspectiva,2000. p.898 GROPIUS, Walter. Grundsätze der Bauhausproduktion. 1925 apud MALDONADO, op. cit., p.5823


Havia uma grande expectativa em torno <strong>da</strong>industrialização: a libertação do homem do trabalhomecânico; produtos variados e em quanti<strong>da</strong>de e baixocusto para a ven<strong>da</strong> eram alguns benefíciosmencionados pelos estudiosos <strong>da</strong> época.Um objeto concebido para produção serialindustrializa<strong>da</strong> contempla este fator em seu desenho.Conforme analisa Walter Benjamin “A obra de artereproduzi<strong>da</strong> é ca<strong>da</strong> vez mais a reprodução de uma obra de artecria<strong>da</strong> para ser reproduzi<strong>da</strong>” 9 , e prossegue com o fato deque com a reprodução mecaniza<strong>da</strong>, a existência de umobjeto único é substituí<strong>da</strong> pelo volume de produção, ecom isso aumenta-se o poder de propagação dosobjetos para a população. O extraordinário aumentoprodutivo obtido com a padronização e a seriaçãopossibilitou a que<strong>da</strong> dos custos de fabricação dos bensde consumo.Entretanto, os avanços tecnológicos ocorridos nãoforam, desde o início, acompanhados de novosconceitos formais. A produção desenvolvi<strong>da</strong> entre fimdo século XIX e início do XX era composta por umamistura de estilos de diferentes épocas que tentavaassimilar a estética dos produtos artesanais.(...) está quase sempre perpetuado o errado conceito demascarar as características funcionais do objectomediante sobreposições ornamentais que se a<strong>da</strong>ptam aogosto dominante <strong>da</strong> época. Por outras palavras, não setinha ain<strong>da</strong> chegado a conceber o produto saído <strong>da</strong>máquina como capaz de possuir uma “estetici<strong>da</strong>de”própria, deriva<strong>da</strong> do encontro <strong>da</strong> funcionali<strong>da</strong>de com a9 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história <strong>da</strong> cultura. ObrasEscolhi<strong>da</strong>s v 1. 4. ed. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.17124


forma, sem o acréscimo de um factor decorativosobreposto a ela. 10A desorientação em relação ao desenho dos objetosdevia-se em grande parte, segundo HermannMuthesius, ao comportamento ostentativo burguês,classe proprietária <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s indústrias, quedesejava um aspecto exagerado aos produtosindustrializados, não condizente com o processo aoqual estavam submetidos.Com o trabalho que eles exigem a matéria prima não éutiliza<strong>da</strong> como deveria ser, e, portanto, acima de tudo,desperdiça-se um colossal património nacional emmatéria-prima, e ain<strong>da</strong> se tem um trabalho acrescidoinútil. 11Esta declaração foi feita em 1907 durante suaconferência na Escola Superior de Comércio de Berlim,sob o tema Die Bedeutung des Kunstgewerbes (AImportância <strong>da</strong> Arte Aplica<strong>da</strong>). Muthesius ateve-se àsituação econômico-produtiva ocasiona<strong>da</strong> peloemprego exacerbado de materiais nos produtosdesenvolvidos no final do século XIX e início do séculoXX. Endossando esta posição, Adolf Loos escreve em1908:O ornamento é força-trabalho desperdiça<strong>da</strong>, e, portanto,saúde despreza<strong>da</strong>. Sempre assim foi. Hoje, porém,significa também material desperdiçado e, em definitivo,capital desperdiçado. 1210 DORFLES, op. cit., p.1511 Hermann Muthesius (1861-1927). Um dos membros fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> Deutscher Werkbund. Arquiteto epensador que influenciou a arquitetura moderna na Alemanha e Inglaterra. MUTHESIUS apudMALDONADO, Tomás. Design Industrial. Lisboa: Edições 70, 1991. p.3812 LOOS, Adolf. Ornament und Verbrechen apud MALDONADO, op. cit., p.3825


A visão de que o desenho aplicado aos novos objetosera incompatível com as novas técnicas produtivas foium aspecto alertado já em 1903 por Karl Schmidt,diretor <strong>da</strong> Deutscher Werkstätten 13 , Hellerau:Dentro de um ano poderemos ver-nos em situação difícilpara comprar matéria bruta suficiente do estrangeiro quenos mantenha em movimento, e o problema social, então,pode tornar-se ca<strong>da</strong> vez mais agudo até que ele (a saber,o design) não mais seja apenas um problema cultural. 14A industrialização transformou a vi<strong>da</strong> dos homens. Afalta de compreensão <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des que este novoprocesso tinha a oferecer prejudicou a quali<strong>da</strong>de dosprimeiros objetos industrializados. Theodor Fisher, umdos idealizadores <strong>da</strong> Deutscher Werkbund 15 declarouem certa ocasião: “não é a máquina que faz um trabalhoinferior, mas sim a nossa incapaci<strong>da</strong>de de a usar eficazmente”. 16 Oprogresso dos maquinários fabris estava se tornandoinútil devido ao comportamento retrógrado deconcepção de objetos. Lewis Day, um aluno de WilliamMorris 17 , escreveu por volta de 1881: “quer nos agrade ounão, a máquina, a força motriz e a electrici<strong>da</strong>de terão uma palavraa dizer na arte ornamental do futuro”. 18A relação entre as condições do meio e a artesinalizava para a necessi<strong>da</strong>de de uma nova linguagemespecífica para os mecanismos industriais de produção13 Oficinas Alemãs. Fabricavam móveis e artigos para decoração de interiores.14 BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era <strong>da</strong> máquina. Tradução de A. M. Goldberger Coelho.3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p.9915 Deutscher Werkbund, Associação de Artes e Ofícios, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1907, em Munique, compostaartistas e críticos associados a alguns produtores que tinham por objetivo reunir arte, indústria eartesanato. Ver BENEVOLO, op. cit., p.37416 ARGAN, Giulio Carlo. Walter Gropius e a Bauhaus. Lisboa: Presença, 1990. p.2617 William Morris (1834-1896). Pintor inglês que junto com John Ruskin influenciou o movimento Arts &Crafts na Inglaterra.18 DORFLES, op. cit., p.2026


em série. A máquina já fazia parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de fabril,cabia aos produtores e aos desenhistas desenvolveremmétodos próprios de enfrentamento desta novareali<strong>da</strong>de.A formação generalistaMuitos arquitetos se empenharam a favor <strong>da</strong> reformanas escolas de artes a fim de unir artes e indústrias,dentre eles Peter Behrens, Mies van der Rohe, TheodorFischer, Fritz Schumacher, Richard Riemerschmid, OttoBartning, Bruno Taut e Walter Gropius. 19 A reforma tinhao propósito de reunir as escolas de artes em uma únicainstituição, sendo arquitetura, escultura e pinturaministrados em um mesmo curso. O intuito era formarprofissionais generalistas aptos a atuarem em qualquerárea <strong>da</strong> indústria devido à formação multidisciplinar.A educação dos novos profissionais se basearia emconhecimentos técnicos e criativos a fim de capacitá-losno desenvolvimento de projetos funcionais e comestética adequa<strong>da</strong> aos métodos produtivosindustrializados. Das instituições de ensino alemãs queenfrentaram a questão <strong>da</strong> industrialização, toma-secomo referência de ensino <strong>da</strong>s artes a escola Bauhaus,por ser a instituição mais significativa no que dizrespeito à formação técnico profissional de arquitetos edesigners. “A Bauhaus não deve ser entendi<strong>da</strong> como umfenômeno isolado, mas como algo que se insere no contexto mais19 DROSTE, Mag<strong>da</strong>lena. Bauhaus Archiv. Bauhaus 1919-1933. Berlin: Benedikt Taschen, 1994. p.1727


amplo <strong>da</strong> reforma <strong>da</strong>s escolas de arte verifica<strong>da</strong> entre 1900 e1933.” 20A precursora deste movimento é a DeutscherWerkbund, Associação Alemã de Artes e Ofícios,fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1907 por um grupo de arquitetos eindustriais, dentre eles Hermann Muthesius consideradoum dos maiores incentivadores. Desenhistas eindústrias associa<strong>da</strong>s tinham por objetivo conciliar asartes com a produção industrial. Os resultados obtidoscom esta parceria eram apresentados ao públicoatravés <strong>da</strong> publicação de anuários e organização deexposições que exibiam produtos fabricadosindustrialmente e projetados com a nova visão propostapelos seus membros.Hermann Muthesius introduziu na Werkbund algunsconceitos importantes para melhor aproveitamento <strong>da</strong>stécnicas industriais no desenvolvimento de objetoscomo a “padronização enquanto uma virtude, e <strong>da</strong> forma abstratacomo base <strong>da</strong> estética do design de produtos” 21 . Os arquitetosque estavam sendo formados por esta associaçãoprojetariam a reconstrução <strong>da</strong> Alemanha após a guerra,dentre eles Mies van der Rohe, Walter Gropius e BrunoTaut.Walter Gropius 22 era membro ativo <strong>da</strong> Werkbund e como término <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial viu-se preparadoa dirigir uma escola que formaria uma nova geração dearquitetos apta a trabalhar com os novos meios de20 WICK, Rainer. A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p.6321 BANHAM, op. cit., p.10122 Walter Gropius (1883-1969). Arquiteto. Diretor <strong>da</strong> Bauhaus de 1919 a 1928.28


produção 23 , a fim de remarcar os objetivos a respeito<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desse profissional. Em 1919 foiinaugura<strong>da</strong> a escola estatal Bauhaus de Weimarevidenciando o projeto de edifícios e produtos voltadosà produção industrial.Para proporcionar um ensino de boa quali<strong>da</strong>de naBauhaus, Gropius propôs um programa para que oaluno tivesse contato com as teorias sobre as leisformais e também com o modo de produção de suascriações, sendo assim um profissional completo, e nãosomente um teórico ou filósofo sobre o assunto.Gropius escreveu no Manifesto <strong>da</strong> Bauhaus de 1919:“Vamos criar juntos a nova ‘estrutura’ do futuro que será tudo numaúnica forma. Arquitectura, escultura e pintura.” 24Os objetivos <strong>da</strong> escola em 1919 eram:(...) oferecer a arquitetos, pintores e escultores de todosos níveis, de acordo com suas capaci<strong>da</strong>des, umaformação que lhes possibilite atuarem como artesãoshábeis ou artistas livres, e tem por objetivo tambémfun<strong>da</strong>r uma comuni<strong>da</strong>de de trabalho forma<strong>da</strong> por artistasindustriais representativos e aspirantes que seja capaz derealizar com uniformi<strong>da</strong>de uma obra em sua totali<strong>da</strong>de...a partir de um espírito comum. 25O primeiro plano de ensino apresentado por Gropiuspara a Bauhaus estava presente no manifesto de 1919.Este programa era composto por três pilaresfun<strong>da</strong>mentais: “formação artesanal”, formação artísticachama<strong>da</strong> “gráfico-pictórica” e “formação teóricocientífica”.A “formação artesanal” e a “artística”23 GROPIUS, Walter. Bauhaus: Novarquitetura. Tradução de J. Guinsburg e Ingrid Dormien. 2. ed. SãoPaulo: Perspectiva, 1972. p.3024 DROSTE, op. cit., p.1825 WICK, op. cit., p.9029


ocorriam concomitantemente nas oficinas, estandosempre presente um “mestre <strong>da</strong> forma” e um “mestre doofício”. Nesta fase inicial, ain<strong>da</strong> um tanto instável, osalunos tinham aulas de técnicas de impressão,encadernação, olaria, escultura em pedra, metais,pintura em mural e vitral, carpintaria, tecelagem eteatro. A “formação teórico-científica” abrangia osconhecimentos em ciência dos materiais, física equímica <strong>da</strong>s cores, método pictórico, história <strong>da</strong>stécnicas nas artes, modelo vivo e economiaempresarial 26 .O programa de 1919 foi seguido pelos mestres e apósreformulações estruturais, um novo diagrama foipublicado no estatuto <strong>da</strong> escola em 1922. Este novoplano, também dividido em três etapas, apresentavafun<strong>da</strong>mentos de uma real reforma no ensino <strong>da</strong>s artes.2: Diagrama ilustrativo do programa<strong>da</strong> Bauhaus de 1922Fonte: WICK (1989, p.89)26 Idem, p.8630


A antiga “formação gráfico-pictórica” foi substituí<strong>da</strong> pelo“estudo <strong>da</strong> forma”, dissociando as aulas artísticas <strong>da</strong>saulas em oficina. A “formação teórico-científica” foisubstituí<strong>da</strong> por “materiais complementares”. Porém agrande alteração deste programa foi ainstitucionalização do “ensino preliminar”. Com duraçãode seis meses, era realizado em uma oficina própria eapresentava aos alunos os ensinamentos elementaressobre forma complementado por estudos com materiais.Os três anos seguintes eram destinados àaprendizagem <strong>da</strong>s técnicas nas oficinas e ao estudoaprofun<strong>da</strong>do <strong>da</strong> forma. Após a aprovação nesta fase, oaluno poderia estu<strong>da</strong>r construção e engenharia emobras, considerado o núcleo do ensino <strong>da</strong> Bauhaus 27 .Os conceitos de Gropius sobre o trabalho artístico e anova educação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de foram propagados para osalunos através dos professores <strong>da</strong> escola.O trabalho artístico tem por finali<strong>da</strong>de não inventar umaforma mas sim modificar, através dessa forma, o curso <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> quotidiana, e é válido enquanto invade to<strong>da</strong> aprodução e o ambiente em que vivem todos oshomens.” 28Este fragmento sinaliza o caminho a ser seguido pelaprodução dos professores e alunos. O novo modo deviver e os novos hábitos criados a partir desta novaconcepção de mundo nasceram junto com a aceitação<strong>da</strong> industrialização.27 Idem, p.8928 BENEVOLO, op. cit., p.40831


As oficinas que a Bauhaus possuía eram utiliza<strong>da</strong>s parao ensino e produção de objetos que respondessem aessa “nova concepção de mundo”. Os alunos adquiriamconhecimento produzindo peças reais que eramvendi<strong>da</strong>s a fim de gerar capital para a instituição. Porescassez orçamentária somente as oficinas decerâmica, tecelagem, metal, madeira, vidro, escultura,encadernação, tipografia e teatro estavam disponíveisaos alunos.Gropius se beneficiou <strong>da</strong> facili<strong>da</strong>de que aindustrialização proporciona de reproduzir peçasidênticas a um custo acessível e procurou disseminar aarte entre a população. O maior objetivo desta ação foitornar as pessoas mais conscientes através do contatocom objetos de boa estética e quali<strong>da</strong>de fabril. Elepretendia embasar a formação do novo homem <strong>da</strong> eraindustrial com conhecimentos formais apurados eaperfeiçoados para as novas técnicas de produção.Uma tal necessi<strong>da</strong>de de inserir a arquitectura e as artesvisuais em geral num mais íntimo diálogo com asocie<strong>da</strong>de e com a sua nova orientação técnico-industrialfoi particularmente evidente na constituição e naconstrução <strong>da</strong> Bauhaus 29Esta estreita relação entre artes e indústria proposta porGropius tinha como foco promover um conjuntoharmonioso de colaboradores que experimentassem,através de uma visão ampla, meios criativos nodesenvolvimento dos projetos. “Nossos esforços visavam adescobrir uma nova postura, que deveria desenvolver uma29 DORFLES, Gillo. A Arquitetura Moderna. Tradução de Jose Eduardo Rodil. São Paulo: Livraria MartinsFontes, 1986. p.5032


consciência criadora nos participantes, para finalmente levar a umanova concepção de vi<strong>da</strong>.” 30A uni<strong>da</strong>de formal presente nos trabalhos dos alunos emestres <strong>da</strong>s instituições alemãs de ensino <strong>da</strong>s artes foiresultado <strong>da</strong>s ações provenientes do movimentomoderno e tinha como premissas a promoção <strong>da</strong>industrialização e a constante busca pela melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produção industrial; a simplici<strong>da</strong>de naconcepção <strong>da</strong>s formas valorizando o funcionalismo; e aresponsabili<strong>da</strong>de social na formação do novo homem.Apenas um método de construção ou, maisprecisamente, de projeto deve determinar a formaracional de tudo o que serve à vi<strong>da</strong> e a condiciona; comotudo é ou será produzido pela indústria, tudo se reduz aprojetar para a indústria: o plano urbanístico de umagrande ci<strong>da</strong>de é o desenho industrial, <strong>da</strong> mesma formaque o projeto de uma colher. 31Segundo Argan, o pensamento de projeto é formadopor procedimentos que independem <strong>da</strong> escala doresultado almejado. Com esta mesma linha depensamento, “Mies van der Rohe acreditava que aquele queconseguia conceber uma casa conseguia conceber tudo” 32 . Sejano desenvolvimento do edifício ou do objeto, oprofissional com formação acadêmica em arquitetura oudesenho industrial adquire conhecimentos necessáriospara conceber e viabilizar o projeto, independente <strong>da</strong>escala.30 GROPIUS, op. cit., p.3331 ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução deDenise Bottmann e Federico Carotti. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1992. p.27032 DROSTE, op. cit., p.21233


O ensino do Desenho IndustrialO desenvolvimento de objetos e mobiliário eraativi<strong>da</strong>de, até fim do século XIX início do XX, dearquitetos e artesãos responsáveis também peloselementos relativos à ci<strong>da</strong>de, seu entorno e conteúdo.O desenhista industrial, entendido como um profissionalhabilitado a projetar para a indústria, tem o início desuas ativi<strong>da</strong>des marcado pelo progresso produtivoadvindo <strong>da</strong> Revolução Industrial.Na Bauhaus, o ensino do projeto voltado à fabricaçãoindustrial teve inicio em meados de 1922, quando onovo programa de ensino estava sendo colocado emprática e as oficinas estavam em pleno funcionamento.A produção gera<strong>da</strong> pelos alunos era forma<strong>da</strong> pormóveis, tapeçaria, luminárias, objetos de decoração eutili<strong>da</strong>des domésticas. A respeito desse desenvolvimento,Gropius escreveu no manifesto de fun<strong>da</strong>ção em 1919:“O objetivo último de to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de artística é a construção” 33 ,entendido do desenvolvimento do projeto à confecçãodo protótipo.O ensino na Bauhaus, voltado para a produçãoindustrial, seguiu os princípios geradores <strong>da</strong> arquiteturamoderna (pós-guerra) explorados por arquitetos nomundo todo.1) a priori<strong>da</strong>de do planejamento urbano sobre o projetoarquitetônico;2) o máximo de economia na utilização do solo e naconstrução, a fim de poder resolver, mesmo que no nívelde um “mínimo de existência”, o problema <strong>da</strong> moradia;33 WICK, op. cit., p.8934


3) a rigorosa racionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas arquitetônicas,entendi<strong>da</strong>s como deduções lógicas (efeitos) a partir deexigências objetivas (causas);4) o recurso sistemático à tecnologia industrial, àpadronização, à pré-fabricação em série, isto é, aprogressiva industrialização <strong>da</strong> produção de todo tipo deobjetos relativos à vi<strong>da</strong> cotidiana (desenho industrial);5) a concepção <strong>da</strong> arquitetura e <strong>da</strong> produção industrialqualifica<strong>da</strong> como fatores condicionantes do progressosocial e <strong>da</strong> educação democrática <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. 34Reduzir as dimensões <strong>da</strong>s construções habitacionaisdevia-se, entre outros, ao fato <strong>da</strong> Alemanha devasta<strong>da</strong>pela guerra ter urgência na construção de residências,além do aumento <strong>da</strong> população atraí<strong>da</strong> pelaspromessas <strong>da</strong> industrialização que exigiu um númeromaior de moradias.Aluguem apartamentos uma vez menores do que aquelesaos quais seus pais os habituaram. Pensem na economiade seus gestos, de suas ordens e de seuspensamentos. 35As dimensões <strong>da</strong>s construções habitacionais estavamsendo revistas, não fazia mais sentido manter omobiliário tradicional neste novo cenário. Os móveismetálicos, além de transparecerem leveza, são de fácilfabricação e baixo custo. “Trata-se aqui de estabelecer tipospara ca<strong>da</strong> um dos produtos, construídos de uma forma limpa,respeitando o material utilizado e sem a pretensão de querer criarestupen<strong>da</strong>s formas novas.” 36Um dos mestres <strong>da</strong> Bauhaus que traduziu para odesenho industrial os novos conceitos propostos pelaarquitetura moderna foi Marcel Breuer. O atelier demobiliário <strong>da</strong> Bauhaus foi um dos primeiros a incorporar34 ARGAN, op. cit., p.26435 LE CORBUSIER, op. cit., p.8536 BEHRENS, Peter. Kunst und Technik, “Elektrotechnische Zeitschrift”, 22 (1910) apud MALDONADO,op.cit., p.4335


a padronização como um requisito de projeto. Osmóveis de Breuer atendiam às premissas domodernismo que contemplavam a produção industrialcom quali<strong>da</strong>de técnica, visual e funcional. “O móvelmetálico de Breuer era, pois, a primeira síntese operacional efuncional <strong>da</strong>s artes, a primeira grande vitória do ‘desenhoindustrial’” 37 .3: Cadeira B33 e B34 – MarcelBreuer – 1927/1928Estrutura tubular em aço cromado,assento e encosto em couroFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.62)4: Mesa B10 – Marcel Breuer –1927Estrutura tubular em aço cromado,tampo em madeiraFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.92)A linguagem utiliza<strong>da</strong> na produção desse período érepresenta<strong>da</strong> pela estrutura aparente como parte <strong>da</strong>estética do objeto; as fixações trabalha<strong>da</strong>s com o intuitode permanecerem visíveis; a escolha por materiais37 ARGAN, op. cit., p.27936


industriais, assim como seu emprego reduzido e avalorização <strong>da</strong> leveza (física e visual) do objeto.Premissas que podem ser identifica<strong>da</strong>s tanto nodesenho de móveis quanto na arquitetura de Breuer.5: Casa Harnischmacher –Wiesbaden – Marcel Breuer – 1932Fonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.114)A exploração formal e técnica aplica<strong>da</strong> nesses projetosos tornam exemplos de um bom design.O ensino <strong>da</strong> ArquiteturaOs ideais sobre a arquitetura modernista, emborapresentes nos trabalhos e discurso dos professores <strong>da</strong>escola, não eram transferidos integralmente para osalunos como as outras disciplinas. Viabilizar odepartamento de arquitetura dependia <strong>da</strong> edificação do“centro de experimentação <strong>da</strong> construção”, solicitadopor Gropius em 1923 38 , e que não foi realizado pormotivos financeiros. Sem este centro, os alunos não38 WICK, op. cit., p.5537


tinham como colocar em prática as soluções propostasdurante o projeto.A Bauhaus permaneceu sedia<strong>da</strong> em Weimar até 1927quando Gropius e os mestres se viram obrigados aretirar a escola <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de devido a três motivos: ospartidos conservadores <strong>da</strong> direita consideravam ostrabalhos desenvolvidos pela escola com tendênciascomunistas e bolchevistas; Gropius foi ameaçado dedemissão em 1924; logo após, o orçamento concedidoà instituição foi reduzido à metade.Dentre as ci<strong>da</strong>des que se ofereceram para acolher ainstituição, Dessau foi a que ofereceu mais benefícios,por se tratar de um centro de engenharia mecânica,naquela época, governa<strong>da</strong> por social-democratas e cujoburgomestre exprimiu apoio pessoal à escola. ABauhaus passou de uma instituição estatal para umamunicipal.Como a ci<strong>da</strong>de não tinha alojamento para a instituição,alunos e professores, o governo solicitou à Gropius, quefez questão de desenvolver o projeto e construção docomplexo de edifícios que simbolizaria os objetivos <strong>da</strong>escola.Com formas geométricas, espaços livres e arejados, aconstrução, extremamente funcional, é composta peloedifício principal onde as aulas eram ministra<strong>da</strong>s, oprédio que abrigava as oficinas, outro para a moradiados alunos e um conjunto de residências para osprofessores. A construção contou com a colaboração38


dos professores e alunos <strong>da</strong> escola e é considera<strong>da</strong> “aobra mais significativa do racionalismo alemão e uma <strong>da</strong>s maioresobras-primas <strong>da</strong> arquitetura moderna.” 396: Edifício Bauhaus Dessau –Walter Gropius – 1925/26Ala dos ateliersFonte: DROSTE(1994, p.122)7: Edifício Bauhaus Dessau –Walter Gropius – 1925/1926À esquer<strong>da</strong>, início <strong>da</strong> ala dosateliers (parede de vidro), a seguir odepartamento administrativo e dearquitetura (linha continua dejanelas) e à direita, o bloco dealojamento de estu<strong>da</strong>ntes. Abaixo(janelas individuais) destina-se àcantina e auditório.Fonte: DROSTE(1994, p.123)39 ARGAN, op. cit., p.39239


8: Edifício Bauhaus Dessau –Walter Gropius – 1925/26Fonte: BENEVOLO(1989, p.413)Projeta<strong>da</strong>s por Gropius, as residências para osprofessores traduzem seu conceito de “caixa deconstrução em grande escala” 40 , devido ao emprego decomponentes pré-fabricados 41 no projeto arquitetônico.9: Casas dos Mestres – WalterGropius – 1925/26Fonte: DROSTE (1994, p.126)40 DROSTE, op. cit., p.12641 Partes fabrica<strong>da</strong>s previamente e em série que são leva<strong>da</strong>s ao local <strong>da</strong> implantação para montagem nauni<strong>da</strong>de maior.40


Em paralelo à mu<strong>da</strong>nça de Weimar para Dessau, em1927, os objetivos <strong>da</strong> Bauhaus foram alteradosexplicitando as questões de tecnologia e indústria.1. Oferecer a pessoas de talento para as artes plásticas odomínio <strong>da</strong>s relações artesanais, técnicas e formais, compropósito de um trabalho conjunto na construção.2. Trabalho prático de experimentação para a construçãode casas e peças de mobiliário. Desenvolvimento demodelos para a indústria e para o artesanato. 42A estrutura do curso passou a apresentar tendências aum ensino formalizado. O curso continuou compostopor três etapas, porém com alteração de nomenclatura:“ensino básico, ensino principal e construção”. O ensinobásico, passou a ser exercido em um ano e subdivididoem “ensino básico de oficina” e “ensino básico <strong>da</strong>forma”. O “ensino principal” passou a ser exercido emtrês semestres, seguido pelo estudo <strong>da</strong> construção.Com o incentivo financeiro recebido <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de deDessau, o ensino <strong>da</strong> arquitetura foi impulsionado.Hannes Meyer ficou responsável pelo departamentoque teve início em abril de 1927. Arquiteto e urbanista,tinha profundo conhecimento sobre construção, erasocialmente engajado e tinha um conceito radical deprojeto: “O fun<strong>da</strong>mental do meu ensino será absolutamentedirigido ao construtivo-colectivista-funcional” 43 , relatou assimque tomou posse do departamento de arquitetura. Deacordo com seus preceitos, o projeto era resultado deuma análise combinatória dos materiais empregados,<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des dos indivíduos e do impacto nasocie<strong>da</strong>de.42 WICK, op. cit., p.9043 DROSTE, op. cit., p.16641


Em 1928, Gropius renuncia a direção <strong>da</strong> escola, devidoa algumas dificul<strong>da</strong>des políticas, e nomeia Meyer para ocargo. Assim que assumiu, Meyer iniciou um processode reorganização do ensino conferindo grandeautonomia ao departamento de arquitetura, que sedesliga dos demais enfraquecendo-os. A Bauhaus foitransforma<strong>da</strong> numa moderna academia de arquitetura 44volta<strong>da</strong> à satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des sociais.Houve uma nova reestruturação no “ensino básico” queficou subdividido em: primeiro semestre de “transmissãodos conceitos básicos <strong>da</strong> criação” contendo introduçãogeral a elementos formais abstratos, desenho analítico,teoria <strong>da</strong> obra, exercícios com materiais, geometriadescritiva, escrita, física ou química e ginástica(opcional). No segundo semestre, “introdução àformação especial”, eram desenvolvidos trabalhospráticos em uma oficina, criação primária <strong>da</strong> superfície,construção espacial de volumes, geometria descritiva,desenho técnico, escrita, física ou química.Nos cinco semestres seguintes, os alunos assistiam àaulas de áreas específicas, sendo arquitetura(subdividi<strong>da</strong> em construção e decoração de interiores),propagan<strong>da</strong>, teatro e seminário para criação plástica epictórica livre. O curso de arquitetura, especificamente,tinha dois semestres extras para o estudo <strong>da</strong>construção.As alterações promovi<strong>da</strong>s por Meyer descaracterizaramos conceitos iniciais <strong>da</strong> Bauhaus. A antiga idéia de44 WICK, op. cit., p.5742


unificar as ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s às artes deu lugar aoensino especializado e voltado ao sistema acadêmico.Sistematizar e embasar cientificamente o processo dedesenvolvimento do projeto e sua implementação noensino prático e teórico 45 foram as contribuições deMeyer para a Bauhaus, fun<strong>da</strong>mentais para asolidificação do ensino do projeto como formaçãoacadêmica. Durante o período em que Meyer esteve nadireção <strong>da</strong> escola, de 1928 a 1930, os projetosdesenvolvidos internamente apresentavam excelentequali<strong>da</strong>de para produção e aproveitamento de recursos.Meyer foi desligado <strong>da</strong> instituição em 1930 por questõespolíticas. Ludwig Mies van der Rohe 46 já haviaconsoli<strong>da</strong>do sua reputação como um dos maisrespeitados arquitetos <strong>da</strong> época quando assumiu ocargo de diretor. Sob sua direção, o ensino na Bauhauscontinuou a caminhar para a formação especializa<strong>da</strong>.Foram mantidos os princípios de uma academia dearquitetura com algumas classes de design, pintura efotografia 47 .(...) quase não se notam vestígios <strong>da</strong> antiga idéia desíntese de todos os gêneros artísticos e tipos deartesanato: como se nunca tivesse existido uma reforma<strong>da</strong>s escolas de arte, as artes plásticas passam a ter umavi<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>, periférica, dentro do conjunto de produção<strong>da</strong> escola; recuperando sua “autonomia” elas são, aomesmo tempo, rebaixa<strong>da</strong>s à categoria de apêndice deuma escola superior de arquitetura e desenho, na qual oobjetivo de formar estu<strong>da</strong>ntes para atuarem comoespecialistas profissionais está claramente acima deformação de “generalistas” criadores. 4845 DROSTE, op. cit., p.19346 Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969). Arquiteto. Diretor <strong>da</strong> Bauhaus no período de 1930 a 1933.47 WICK, op. cit., p.5848 Idem, p.94. Grifo nosso.43


Ao contrário de Meyer, Mies decidiu reduzir aquanti<strong>da</strong>de de objetos produzidos pelos alunos epriorizar o programa de ensino. As três etapas deaprendizagem foram manti<strong>da</strong>s, agora nomea<strong>da</strong>s como“primeiro nível, segundo nível e terceiro nível”, porém aduração do curso foi reduzi<strong>da</strong> para seis semestres.Durante o “primeiro nível” os alunos eram orientadossob um ensino voltado à padronização de produtos, enão ao desenvolvimento criativo individual comoproposto no “ensino preliminar” de Gropius. Concluídoeste nível, os estu<strong>da</strong>ntes poderiam escolher pelaespecialização em alguma <strong>da</strong>s seguintes áreas:Arquitetura e Construção; Propagan<strong>da</strong>; Fotografia;Tecelagem e Artes Plásticas. O “terceiro nível” eracomposto por execução de projetos.Mies era muito rigoroso em relação à proporção doespaço e o emprego dos materiais. A busca constantepela forma intelectual ficou documenta<strong>da</strong> em seusprojetos. As eleva<strong>da</strong>s exigências de Mies em relação àsquestões formais fez com que muitos de seus alunosapreciassem seu método de trabalho, pois resultava emedificações de aparência leve. A arquitetura harmoniosae suave de Mies serviu como base pe<strong>da</strong>gógica paraoutros professores, inclusive seus ex-alunos, quedisseminaram seus conceitos através de projetos eensinamentos.A derrota dos social-democratas em Dessau, em 1932,fez com que a Bauhaus buscasse outro local para seestabelecer. Os nazistas consideravam a arte moderna44


como algo “não-alemão”, obrigando a instituição aencerrar as ativi<strong>da</strong>des na ci<strong>da</strong>de. Mies prosseguiu coma educação <strong>da</strong> arquitetura em Berlim, em uma Bauhausde ensino particular. Devido à situação política em quea Alemanha se encontrava, a perseguição aosmembros <strong>da</strong> Bauhaus teve continui<strong>da</strong>de e em 1933 aescola foi definitivamente fecha<strong>da</strong> pela polícia secreta(Gestapo). 49A Bauhaus tinha como objetivo inicial a formação doprofissional generalista. Com as substituições ocorri<strong>da</strong>sna direção, as alterações na localização <strong>da</strong> sede, asaí<strong>da</strong> de alguns mestres <strong>da</strong>s artes visuais (devido àdistinção ideológica), a dificul<strong>da</strong>de financeira constantee a situação política do país o ensino foi sendodirecionado à especialização de uma disciplina, no casoa arquitetura.49 DROSTE, op. cit., p.23345


2 Formação acadêmica e normatizaçãodos profissionais no BrasilO ensino formal <strong>da</strong> arquitetura no Brasil, até 1930, eravinculado ou às escolas de engenharia, principalmenteem São Paulo, ou às escolas de belas-artes, no Rio deJaneiro. A Escola de Arquitetura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deMinas Gerais, cria<strong>da</strong> em 1930, foi a primeira escola ainstituir um curso de arquitetura autônomo.O curso de engenheiro-arquiteto em São Paulo teveinício na Escola Politécnica, em funcionamento de 1894a 1954. Como especializações do curso de engenhariaeram disponíveis aos alunos as opções de engenheirocivil, industrial, agrônomo e arquiteto. Após a aprovaçãonos três primeiros anos de curso fun<strong>da</strong>mental, osalunos optavam por uma especialização que eracumpri<strong>da</strong> em mais três anos.A Escola de Engenharia Mackenzie ofereceu o cursode engenheiro-arquiteto de 1917 a 1946 e, na Escola deBelas Artes de São Paulo, o curso de arquiteto estevedisponível de 1928 a 1934 50 . No Rio de Janeiro, aEscola Nacional de Belas Artes, institucionaliza<strong>da</strong> em1890, teve o ensino de arquitetura embutido nocurrículo dos cursos de artes até 1945, quando a entãoFacul<strong>da</strong>de Nacional de Arquitetura foi desvincula<strong>da</strong> <strong>da</strong>escola.50 FICHER, Sylvia. Os Arquitetos <strong>da</strong> Poli. Ensino e Profissão em São Paulo. São Paulo: Fapesp: Editora<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, 2005. p.1746


A independência do ensino <strong>da</strong> arquitetura foiconseqüência de alguns fatos históricos. A déca<strong>da</strong> de20 foi o momento em que os arquitetos iniciaram ummovimento de organização e manifestação <strong>da</strong>sinquietudes sobre a quali<strong>da</strong>de do trabalho produzido eseu significado cultural para a Nação 51 .Enquanto os engenheiros, em suas váriasespecializações, viram seu campo de trabalho se ampliare se diversificar na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expansão do parqueindustrial paulista, os engenheiros civis, por força de lei,tinham acesso a parte significativa desse novo mercado,além do seu quinhão naquele tradicional negócio <strong>da</strong>construção. Por seu lado, <strong>da</strong> difusão de novas estéticas –como o estilo misiones, o futurismo, o expressionismo ouo art-déco – a discussões sobre a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>arquitetura, os arquitetos procuravam se definir poroposição, descolando-se dos engenheiros civis, seuscolegas de maior prestígio no mesmo negócio <strong>da</strong>construção. No contexto do crescimento do mercadoimobiliário e no cotidiano do negócio <strong>da</strong> construção, oresultado a médio prazo foi uma divisão <strong>da</strong>s tarefasprofissionais em duas parcelas independentes, umaafeita a projetos e outra, a construções. 52Em 1930, Lucio Costa assume a direção <strong>da</strong> Escola deBelas Artes com o objetivo de renovar o ensino <strong>da</strong>arquitetura então considerado obsoleto. A frustra<strong>da</strong>tentativa de reforma durou apenas nove meses, quandoLucio Costa abandona a escola devido aoconservadorismo dos docentes 53 , porém os ideais derenovação foram disseminados entre a socie<strong>da</strong>de.Os estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> EBA, em parceria com o Instituto deArquitetos do Brasil, iniciam em 1944 um movimento afavor do ensino autônomo <strong>da</strong> arquitetura. A criação <strong>da</strong>Facul<strong>da</strong>de Nacional de Arquitetura no Rio de Janeiro foi51 GRAEFF, Edgar A. Arte e técnica na formação do arquiteto. São Paulo: Studio Nobel: Fun<strong>da</strong>çãoVilanova Artigas, 1995. p.1752 FICHER, op. cit. p.239. Grifo nosso.53 GRAEFF, op. cit., p.1847


o marco para o ensino independente <strong>da</strong> profissão. Aconseqüência desta conquista, em São Paulo, foi osurgimento de escolas específicas para o ensino <strong>da</strong>arquitetura: a Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura do InstitutoMackenzie, em 1947, e a Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura eUrbanismo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, em 1948.Uma nova reforma no ensino <strong>da</strong> arquitetura deu-se em1962 quando a formulação do currículo mínimo foiaprova<strong>da</strong> pelo Conselho Federal de Educação. Oobjetivo <strong>da</strong> reforma era colocar o ensino “em sintonia coma quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arquitetura produzi<strong>da</strong> no país.” 54 A implantaçãodos planos de reforma se deu imediatamente àaprovação do currículo mínimo, tendo destaque aFacul<strong>da</strong>de de Arquitetura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do RioGrande do Sul, a Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura e Urbanismo<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, a Escola de Arquitetura<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Minas Gerais, a Facul<strong>da</strong>de deArquitetura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Pernambuco e aFacul<strong>da</strong>de de Arquitetura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Bahia.A Universi<strong>da</strong>de de Brasília instaurou o curso-tronco 55 deArquitetura em 1962 e iniciou a programação <strong>da</strong>facul<strong>da</strong>de no ano seguinte sob coordenação de OscarNiemeyer. As bases para a formulação desse curso,que tinha como objetivo instalar sistema curricular emetodologia de ensino diferenciados, vieram <strong>da</strong>sexperiências <strong>da</strong> Bauhaus, <strong>da</strong>s discussões realiza<strong>da</strong>s nopaís desde 1930 a respeito <strong>da</strong> produção arquitetônica e54 Idem, p.4455 No curso-tronco, os alunos recebiam a formação básica com duração de dois anos para então seguirpara os institutos e facul<strong>da</strong>des.48


dos encontros nacionais de arquitetos, professores eestu<strong>da</strong>ntes de arquitetura desde 1958. 56Foi na reformulação do currículo do curso de arquiteturade 1962 que a FAU-USP incluiu o desenho industrialcomo uma disciplina em seu programa.Foi assumi<strong>da</strong> a responsabili<strong>da</strong>de de inclusão de DesenhoIndustrial e <strong>da</strong> Comunicação Visual. Dizemosresponsabili<strong>da</strong>de porque estão envolvidos na experiênciaestu<strong>da</strong>ntes e professores, com to<strong>da</strong>s as futurasconseqüências que, na nossa reali<strong>da</strong>de, irá trazer o novotipo de profissional produzido. Desenho Industrial é oestudo do objeto e do seu uso. O raciocínio empregadona solução dos problemas de Design não é em absolutoestranho ao arquiteto, mas sim paralelo ao pensamentoempregado nos problemas de edificação e planejamento.O arquiteto na socie<strong>da</strong>de de hoje atua numa gama muitoampla de processos, abrangendo a produção industrial,identificando-se com ela e contendo em si o Designer.(...) O resultado dessa intervenção deverá ser um Designcaracteristicamente brasileiro, ligado niti<strong>da</strong>mente aonosso patrimônio artístico, popular e erudito. (FAU-USP,1963) 57A inclusão do desenho industrial no curso de arquiteturacapacitou os profissionais em relação aos novosaspectos fabris, na medi<strong>da</strong> em que o design éintimamente ligado à tecnologia e ao processo deprodução industrial. Naquele momento, a FAU-USP foia única facul<strong>da</strong>de de arquitetura do país a ter esteposicionamento, relembrando assim, as premissas <strong>da</strong>formação generalista instituí<strong>da</strong>s pela Bauhaus.Antes <strong>da</strong> FAU-USP, o ensino do design já havia sidoformalizado em outra instituição em São Paulo. Quandoo Museu de Arte de São Paulo (MASP) foi concebido,56 GRAEFF, op. cit., p.4557 NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2000. p.67. Grifonosso.49


em 1947, o design passou a ser sistematicamentetratado, através de exposições e ativi<strong>da</strong>des didáticas 58 .Pietro Maria Bardi, jornalista italiano e agenciador deobras de arte, foi o responsável pela aquisição doacervo do MASP e pela montagem <strong>da</strong> galeria. Suaesposa Lina Bo Bardi, arquiteta italiana, ficouresponsável por orientar o projeto <strong>da</strong>s instalações noedifício, que durante os três primeiros anos funcionouna sede dos Diários Associados, na rua 7 de Abril, eposteriormente na Aveni<strong>da</strong> Paulista com edifícioprojetado pela arquiteta. Por iniciativa do casal, foicriado em 1951, o que seria a semente do ensino dodesign de nível superior no Brasil, o Instituto de ArteContemporânea (IAC) no MASP. O instituto era mantidoatravés de convênio com a Prefeitura e após três anosfoi descontinuado. A princípio, dois motivos justificamseu término: insuficiência de recursos financeiros parasustentar o instituto e o fato de os alunos do IAC nãoconseguirem estagiar nas empresas sedia<strong>da</strong>s em SãoPaulo, devido à falta de comprometimento dosindustriais, não havendo, desta forma, absorção pelomercado de trabalho dos profissionais recém formados.No Rio de Janeiro, o ensino do design também foiprevisto para ocorrer na sede de um museu. A EscolaTécnica de Criação (ETC), planeja<strong>da</strong> para funcionar nasinstalações do Museu de Arte Moderna do Rio deJaneiro (MAM), teve aprovação <strong>da</strong> diretoria e doconselho deliberativo em 1958. Com proposta curricularsemelhante à <strong>da</strong> Bauhaus, Tomás Maldonado com58 Idem, p.6550


assessoria de Max Bill 59 foram os responsáveis pelacriação do programa do curso, que visava romper comos padrões propostos pela Escola de Belas Artes.Devido à falta de recursos financeiros a escola nãoefetivou seus planos de ensino.Como o projeto de ensino no MAM não tevecontinui<strong>da</strong>de, o governo do Estado do Rio de Janeiroassumiu a responsabili<strong>da</strong>de de estabelecer um curso dedesign, previsto agora como sede o Instituto de BelasArtes (IBA). O planejamento <strong>da</strong> ETC foi reutilizado parao Curso de Desenho Industrial do IBA, que também nãose concretizou, porém, resultou no curso que seriaconsiderado o marco histórico do design no Brasil 60 : acriação <strong>da</strong> Escola Superior de Desenho Industrial(ESDI), no Estado <strong>da</strong> Guanabara, em 1962.Alguns dos profissionais que colaboraram nodesenvolvimento do programa curricular <strong>da</strong> ESDI foramalunos na escola de ULM e trouxeram para a instituiçãoa abor<strong>da</strong>gem racionalista e sistêmica de ensino dodesign. Ao ser implementado, o curso tinha quatro anosde duração, sendo o primeiro chamado de “CursoFun<strong>da</strong>mental” e os três seguintes destinados àsespecializações, que a princípio, eram quatro:fotografia, cinema e comunicação visual; rádio e59 Max Bill foi fun<strong>da</strong>dor e diretor <strong>da</strong> Hochschule für Gestaltung, Ulm - Alemanha, desde seu início, em1953, até 1956 quando foi substituído por Tomás Maldonado. O ensino na escola de Ulm foi estruturado,inicialmente, com os mesmos princípios <strong>da</strong> Bauhaus, porém passou por alteração curricular quandoMaldonado assumiu a direção, estabelecendo uma abor<strong>da</strong>gem funcionalista e sistêmica do ensino dodesign. A escola se manteve em funcionamento até 1968, quando o governo cessou o apoio financeiro.Ver NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. Rio de Janeiro: 2AB, 2000. 3º. ed. p.4660 Idem, p.1751


televisão (comunicação verbal); equipamento <strong>da</strong>habitação; industrialização <strong>da</strong> construção. 61Na primeira especialização eram ministrados conteúdosreferentes às novas tecnologias <strong>da</strong> imagem, comocartazes, expositores e publici<strong>da</strong>de. A segun<strong>da</strong>trabalhava a comunicação verbal, incluindo dicção, ecomunicação audiovisual, cujo crescimento era iminentena época. A terceira especialização dedicava-se aodesenvolvimento de objetos de uso domésticos comomobiliário, tecidos e equipamentos eletro-mecânicos.Na última opção eram desenvolvidos projetos decomponentes pré-fabricados para a construção civil.Com a criação de Brasília, o aumento <strong>da</strong> construçãocivil no país e o projeto do governo federal de umapolítica de construção extensiva de casas populares,era totalmente pertinente esta especialização quevisava a melhoria <strong>da</strong>s condições de execução eacabamento em arquitetura.A ESDI desempenhou papel importante na definição doestatuto profissional do designer. Através do trabalhorealizado pelos primeiros professores de projeto <strong>da</strong>escola, tanto em aula como em seus escritórios, seestabeleceu o significado de design, como desenvolvêloe a importância do profissional para a socie<strong>da</strong>de. Aexperiência vivencia<strong>da</strong> por esta escola foi defun<strong>da</strong>mental importância para a estruturação do ensinodo design no Brasil.61 Idem, p.9052


Similar ao ocorrido na Bauhaus, que iniciou suaproposta de ensino com formação generalista e aospoucos alterou os parâmetros educacionais para umaformação especialista, o curso de arquitetura <strong>da</strong> FAU-USP, inicialmente responsável pela formação dearquitetos e designers, estruturou o curso de designindependente em 2006.Os projetos de arquitetura e de design são conduzidospor um raciocínio similar, porém, devido aespecifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> área, julgou-se prudenteseparar o ensino em dois cursos autônomos. Valelembrar o modo como o ensino <strong>da</strong> engenharia na POLI-USP é estruturado, em que todos os alunos cursam oprimeiro ano básico e ao término deste optam por umagrande área: civil, elétrica, mecânica ou química comduração de um ano. Ao término do segundo ano optampela habilitação e seguem o aprendizado na áreaespecífica. 62Com estrutura similar, o currículo <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de deMedicina <strong>da</strong> USP é composto por 6 anos de formaçãobásica, complementado por disciplinas optativas. Aespecialização é feita, a princípio, através de residênciamédica e, posteriormente, em programas acadêmicosde pós-graduação. 63São freqüentes as situações em que design earquitetura se encontram. A dimensão dessesencontros varia de acordo com o projeto, contudo pode-62 Disponível em acesso em 4 nov. 200963 Disponível em acesso em13 nov. 200953


se identificar recorrentes situações de aproximaçãoentre as áreas.Desenho industrial e Arquitetura podem serconsidera<strong>da</strong>s ramificações do Design, área ampla doconhecimento. O termo, conhecido internacionalmente,pertence à língua inglesa e a maioria dos países oincorporou em seu vocabulário, pois a tentativa detraduzi-lo tornou-se inviável devido à amplitude de seusignificado. Design, segundo o dicionário Houaiss <strong>da</strong>Língua Portuguesa, significa “intenção, propósito, arranjo deelementos ou detalhes num <strong>da</strong>do padrão artístico”, originário dolatim designare, “marcar, indicar”. 64Várias subdivisões foram forma<strong>da</strong>s a partir do Designapontando para alguma especiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> área, porexemplo: Industrial Design, Graphic Design, PackagingDesign, Architectural Design, Environmental Design,Web Design, Fashion Design.Assim como o princípio de projeto <strong>da</strong> Bauhaus em quedesign e arquitetura eram pensados sob o mesmoraciocínio, o termo Design tem o valor de planejar,projetar, prever, intencionar. 65 ; talvez a mais significativadiferença se dê em relação à escala e natureza deobjeto. O design de produto se envolve em questõesrelativas à escala do corpo e industrialização, enquantoa Arquitetura tem como foco o edifício e a ci<strong>da</strong>de.64 Dicionário Eletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Acesso em 3 out. 200865 Disponível em acesso em 3 out. 200854


O Desenho IndustrialUma <strong>da</strong>s primeiras definições oficiais <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de dodesenhista industrial foi escrita em 1957 e apresenta<strong>da</strong>em 1959 pelo ICSID (International Council of Societiesof Industrial Design) em Estocolmo:An industrial designer is one who is qualified by training,technical knowledge, experience and visual sensibility todetermine the materials, mechanisms, shape, colour,surface finishes and decoration of objects which arereproduced in quantity by industrial processes. Theindustrial designer may, at different times, be concernedwith all or only some of these aspects of an industriallyproduced object.The industrial designer may also be concerned with theproblems of packaging, advertising, exhibiting andmarketing when the resolution of such problems requiresvisual appreciation in addition to technical knowledge andexperience.The designer for craft based industries or trades, wherehand processes are used for production, is deemed to bean industrial designer when the works which are producedto his drawings or models are of a commercial nature, aremade in batches or otherwise in quantity, and are notpersonal works of the artist craftsman. 66O primeiro parágrafo desta definição se refere àsativi<strong>da</strong>des e qualificações do designer: experiênciaprática, conhecimento técnico, experiência esensibili<strong>da</strong>de visual para determinar materiais,mecanismos, formas, cores, acabamentos e elementosdecorativos de objetos que serão reproduzidos emquanti<strong>da</strong>de por processos industriais. O desenhistaindustrial pode, dependendo do caso, atuar em todosou somente em um dos aspectos de produção industrialde produtos.66 Disponível em acesso em 2 out. 200855


O designer pode ain<strong>da</strong>, de acordo com o segundoparágrafo, se envolver com questões relativas àembalagem, exposição, propagan<strong>da</strong> e marketing,quando a resolução destas questões depen<strong>da</strong>m deapreciação visual atrela<strong>da</strong> à conhecimentos técnicos eexperiência.Interessante notar que os conhecimentos técnicos sãoexpostos no mesmo grau de importância que osquesitos visuais, eliminando possíveis julgamentoserrôneos a respeito <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de técnico-conceitualdo trabalho. Ruskin sintetiza uma frase que ilustra oposicionamento do desenhista industrial comoprofissional <strong>da</strong>s artes e <strong>da</strong> técnica: “La vi<strong>da</strong> sin industria esun error, la industria sin arte es brutali<strong>da</strong>d.” 67Em uma segun<strong>da</strong> instância, o ICSID alterou a definiçãoinicial devido à entra<strong>da</strong> de países não-capitalistas naassociação. O novo texto foi vali<strong>da</strong>do em 1960 e traziao seguinte conteúdo:The function of an industrial designer is to give such formto objects and services that they render the conduct ofhuman life efficient and satisfying. The sphere of activityof an industrial designer at the present embracespractically every type of human artefact, especially thosethat are mass produced and mechanically actuated. 68Os conceitos de produção em massa e industrializaçãoforam mantidos, porém com um enfoque generalista ehumanista <strong>da</strong> profissão. A função do desenhistaindustrial é <strong>da</strong>r forma a objetos e serviços que67 John Ruskin (1819-1900). Escritor com ideais reformistas sociais e artísticas. RUSKIN apudBONSIEPE, Gui. Teoria y práctica del diseño industrial: elementos para una manualistica critica.Tradução de Santiago Pey. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1978. p.3268 Disponível em acesso em 2 out. 200856


propiciem uma eficiente e satisfatória conduta <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>humana. As ativi<strong>da</strong>des do desenhista industrial até omomento envolvem praticamente todo tipo de artefatohumano, especialmente aqueles produzidosindustrialmente e em massa.A última alteração na definição do ICSID foi realiza<strong>da</strong>em 1969 e escrita por Tomás Maldonado. Nestemomento a UNESCO já havia conferido ao ICSID ostatus de consultor especial, que permitia a participaçãono desenvolvimento dos projetos utilizando o designcomo ferramenta para melhorar as condições humanas.Industrial design is a creative activity whose aims is todetermine the formal qualities of objects produced byindustry. These formal qualities are not only the externalfeatures but are principally those structural and functionalrelationships which convert a system to a coherent unityboth from the point of view of the producer and the user.Industrial design extends to embrace all the aspects ofhuman environment, which are conditioned by industrialproduction .69Esta versão menciona, pela primeira vez, o equilíbrio deinteresses entre produtor e usuário. Desenho industrialé uma ativi<strong>da</strong>de criativa cujo objetivo é determinar asquali<strong>da</strong>des formais de objetos produzidos pela indústria.Estas quali<strong>da</strong>des formais não são somentecaracterísticas externas mas são principalmenterelações estruturais e funcionais que convertem umsistema em uma uni<strong>da</strong>de coerente tanto do ponto devista do produtor quanto do usuário. E ain<strong>da</strong> ampliandoo campo de atuação <strong>da</strong> profissão, o desenho industrialengloba todos os aspectos do ambiente humano, que69 Professor <strong>da</strong> escola de ULM, sucessora <strong>da</strong> Bauhaus. Considerado um dos principais teóricos arespeito do desenho industrial. Disponível em acessoem 2 out. 200857


são limitados pela produção industrial. Sob estaperspectiva pode-se vislumbrar além de móveis, objetose produtos em geral, habitações e meios de locomoção.No Brasil, o termo design foi oficialmente aprovadodurante o V Encontro Nacional de DesenhistasIndustriais (ENDI), realizado em 1988 em Curitiba, ondeestavam presentes profissionais <strong>da</strong> área, docentes eestu<strong>da</strong>ntes. A partir de então, o Desenhista Industrialpassou a ser chamado também de Designer, eDesenho Industrial a ter como sinônimo o termo Design.Embora no Brasil a profissão não seja regulamenta<strong>da</strong>,seis projetos de lei foram apresentados à Câmara dosDeputados desde 1980, com a finali<strong>da</strong>de deregulamentar o exercício profissional, no entantonenhum deles foi aprovado por questões regimentais. Amais recente tentativa foi apresenta<strong>da</strong> pelo DeputadoEduardo Paes, no Projeto de Lei n° 2.621 de 2003,onde consta que:Art. 1º Desenhista industrial é todo aquele quedesempenha ativi<strong>da</strong>de especializa<strong>da</strong> de caráter técnicocientífico,criativo e artístico, com vistas à concepção edesenvolvimento de projetos de objetos e mensagensvisuais que equacionam sistematicamente <strong>da</strong>dosergonômicos, tecnológicos, econômicos, sociais, culturaise estéticos que aten<strong>da</strong>m concretamente às necessi<strong>da</strong>deshumanas.Parágrafo único - Os projetos de desenhista industrial sãoaptos à seriação ou industrialização que mantenharelação com o ser humano quanto ao uso ou percepção,de modo a atender necessi<strong>da</strong>des materiais e deinformação visual. 7070 Disponível em: acesso em 25 set. 200858


O designer, além de ser um profissional multidisciplinar,age sob diferentes pontos de vista durante odesenvolvimento do projeto, conforme Moles:A obra de arte fun<strong>da</strong>mental torna-se a do designer, emum jôgo estratégico de três parceiros, entre o artista <strong>da</strong>scomunicações de massa, e isso pelo objeto, que se quer“inteligível” e está prêso a uma série de compromissos, ofuncionalista <strong>da</strong> produção, que, no universo fechado <strong>da</strong>fábrica, procura racionalizar e reduzir o objeto, segundoregras de otimização precisas, o representante <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de consumidora, enfim, que já não é o próprioconsumidor, mas sim o diretor do sistema de difusão (aloja), munido <strong>da</strong> destilação <strong>da</strong> opinião feita por seusagentes de mercado. 71Analisar o problema e sistematizar os <strong>da</strong>dos relativos aele são etapas fun<strong>da</strong>mentais para a obtenção desoluções condizentes com as expectativas dosenvolvidos no projeto.Desenho Industrial, Diseño Industrial ou IndustrialDesign pressupõe o desenvolvimento de um projetoque resolva questões relativas à forma, manuseio,ergonomia, que contenha valor estético e sejaproduzido industrialmente em série. O termo Designnão tem como pressuposto a industrialização, entendesedesta forma, que um projeto de Design pode serdesenvolvido independente do volume <strong>da</strong> produção edo modo como será concretizado, desobrigando oprofissional do contexto industrial.71 BAUDRILLARD, Jean. et al. Semiologia dos objetos. Tradução de Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro:Vozes, 1972. p.3959


A ArquiteturaAuguste Perret, em seu livro Contribution à une théoriede l’architecture, de 1952, aponta que “arquitetura é a artede organizar o espaço e é pela construção que ela se expressa (...)móvel ou imóvel, tudo aquilo que ocupa espaço pertence aodomínio <strong>da</strong> arquitetura”. 72 Para ele, o projeto de objetos emobiliário em geral seria competência <strong>da</strong> arquitetura.O significado de Arquitetura presente no DicionárioEletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa incorpora osprincípios de organização de espaço, estética e técnica.1. arte e técnica de organizar espaços e criar ambientespara abrigar os diversos tipos de ativi<strong>da</strong>des humanas,visando tb. a determina<strong>da</strong> intenção plástica 2. conjunto<strong>da</strong>s obras arquitetônicas executa<strong>da</strong>s em determinadocontexto histórico, social ou geográfico 3. maneira pelaqual são dispostas as partes ou elementos de um edifícioou de uma ci<strong>da</strong>de 4. conjunto de princípios, normas,materiais e técnicas us. para criar o espaçoarquitetônico. 73Oficialmente, a Lei nacional que regulamenta oexercício <strong>da</strong> profissão de arquiteto inclui no mesmoregistro as ativi<strong>da</strong>des de engenheiros e engenheirosagrônomos,pois quando o Decreto Federal queprecede a Lei foi firmado, em 1933, a formaçãoacadêmica destes profissionais era vincula<strong>da</strong>. A Lei nº5.194, de 24 de dezembro de 1966 determina que:Art. 1º - As profissões de engenheiro, arquiteto eengenheiro-agrônomo são caracteriza<strong>da</strong>s pelasrealizações de interesse social e humano que importemna realização dos seguintes empreendimentos:a) aproveitamento e utilização de recursos naturais;b) meios de locomoção e comunicações;72 PERRET, Auguste. Contribution à une théorie de l’architecture apud LEMOS, Carlos A. C. O que éArquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1989. p.3573 Dicionário Eletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Acesso em 3 out. 200860


c) edificações, serviços e equipamentos urbanos, rurais eregionais, nos seus aspectos técnicos e artísticos;d) instalações e meios de acesso a costas, cursos, emassas de água e extensões terrestres;e) desenvolvimento industrial e agropecuário. 74Posteriormente, o Conselho Federal de Engenharia,Arquitetura e Agronomia (CONFEA) publicou aResolução nº 218, de 29 de junho de 1973,discriminando as ativi<strong>da</strong>des e competências dearquitetos e engenheiros para fins de fiscalização doexercício profissional. O Artigo 1º. apresenta uma listade ativi<strong>da</strong>des designa<strong>da</strong>s aos profissionais e osseguintes qualificam as competências específicas:Ativi<strong>da</strong>de 01 - Supervisão, coordenação e orientaçãotécnica;Ativi<strong>da</strong>de 02 - Estudo, planejamento, projeto eespecificação;Ativi<strong>da</strong>de 03 - Estudo de viabili<strong>da</strong>de técnico-econômica;Ativi<strong>da</strong>de 04 - Assistência, assessoria e consultoria;Ativi<strong>da</strong>de 05 - Direção de obra e serviço técnico;Ativi<strong>da</strong>de 06 - Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento,laudo e parecer técnico;Ativi<strong>da</strong>de 07 - Desempenho de cargo e função técnica;Ativi<strong>da</strong>de 08 - Ensino, pesquisa, análise, experimentação,ensaio e divulgação técnica; extensão;Ativi<strong>da</strong>de 09 - Elaboração de orçamento;Ativi<strong>da</strong>de 10 - Padronização, mensuração e controle dequali<strong>da</strong>de;Ativi<strong>da</strong>de 11 - Execução de obra e serviço técnico;Ativi<strong>da</strong>de 12 - Fiscalização de obra e serviço técnico;Ativi<strong>da</strong>de 13 - Produção técnica e especializa<strong>da</strong>;Ativi<strong>da</strong>de 14 - Condução de trabalho técnico;Ativi<strong>da</strong>de 15 - Condução de equipe de instalação,montagem, operação, reparo ou manutenção;Ativi<strong>da</strong>de 16 - Execução de instalação, montagem ereparo;Ativi<strong>da</strong>de 17 - Operação e manutenção de equipamento einstalação;Ativi<strong>da</strong>de 18 - Execução de desenho técnico. 75O Art. 2º. determina que compete ao arquiteto ouengenheiro arquiteto as ativi<strong>da</strong>des “referentes a edificações,74 Disponível em acesso em 12 jan. 200975 Disponível em acesso em 12 out. 200961


conjuntos arquitetônicos e monumentos, arquitetura paisagística ede interiores; planejamento físico, local, urbano e regional; seusserviços afins e correlatos.” Essa dimensão <strong>da</strong> arquiteturaafasta o profissional do projeto de objetos e mobiliário.De acordo com esta legislação, a arquitetura serelaciona, de modo geral, com as questões referentes àconfiguração do homem no espaço. Conformeexigências advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> regulamentação <strong>da</strong> profissão etambém, <strong>da</strong>s solicitações do mercado, as atribuiçõesforam adquirindo caráter especialista, reduzindo aamplitude <strong>da</strong> atuação em favor de um aprofun<strong>da</strong>mentono que a concerne.Torna-se, portanto, oportuno reconhecer alguns dosprofissionais que atuam de modo híbrido a fim deidentificar, através de seus projetos, a maneira comoarticulam os conhecimentos até então designados auma área específica.62


3 Atuação concilia<strong>da</strong>Arquitetura e design quando compreendidos como umcorpo único de pensamento remetem ao conceito “<strong>da</strong>colher à ci<strong>da</strong>de” 76 , proposto pela Bauhaus e comentadopor Argan, em que o procedimento adotado para odesenvolvimento do projeto é o mesmo independentese o resultado almejado é um edifício ou um objeto.Alguns profissionais têm por princípio trabalhar nocampo comum <strong>da</strong>s competências, compreendemarquitetura e design como um só processo. Dosprofissionais com atuação generalista representativospara esta parte <strong>da</strong> pesquisa, três foram selecionadospor apresentarem claramente o pensamento articuladoentre as áreas: Mies van der Rohe, professor <strong>da</strong>Bauhaus com atuação intensa nos dois campos;Richard Buckminster Fuller, profissional reconhecidopor manter estreita a ligação entre arquitetura, design eengenharia; e Lina Bo Bardi, arquiteta com amplaatuação em projetos de edifícios, móveis, jóias eobjetos.Identificado o raciocínio que guia o desenvolvimento dotrabalho de ca<strong>da</strong> profissional é possível reconhecer asrelações estabeleci<strong>da</strong>s entre os elementos quecompõem o projeto e que asseguram a característicageneralista do profissional.76 ARGAN, op. cit., p.27063


Ludwig Mies van der RoheUm dos projetos mais significativos de Ludwig Mies vander Rohe 77 é o Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha na ExposiçãoInternacional de Barcelona de 1928/29, tambémconhecido como Pavilhão Barcelona. Especificamentepara mobiliar este espaço Mies projetou a cadeiraBarcelona.A transparência e a leveza, valoriza<strong>da</strong>s pelo arquiteto,são explora<strong>da</strong>s através do desenho geométricoaperfeiçoado e livre de excessos e a seleção precisa demateriais e acabamentos. O desenho do pavilhão écomposto por planos horizontais e verticais claramenteidentificáveis e livres de interferências provenientes dequestões estruturais. A níti<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de materiaisexplicita o jogo entre planos transparentes e opacos.As grandes facha<strong>da</strong>s envidraça<strong>da</strong>s são contrasta<strong>da</strong>scom as divisórias de placas de ônix cor de mel emármore verde de Tinos. As colunas em aço em formade cruz [11] são elementos fun<strong>da</strong>mentais naestruturação do edifício, pois sustentam a laje quepermanece íntegra em seu plano horizontal e permitemque as paredes de mármore e vidro possuamespessuras menores e com uniões imperceptíveis. 7877 Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969). Arquiteto e professor <strong>da</strong> Bauhaus.78 SAFRAN, Yehu<strong>da</strong> E. Mies van der Rohe. Lisboa: Blau, 2000. p.5464


10: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha naExposição Internacional deBarcelona – Mies van der Rohe –1928/29Ônix, mármore, ferro e vidroFonte: CARTER (1999, p.25)11: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha naExposição Internacional deBarcelona – Mies van der Rohe –1928/29Detalhe <strong>da</strong> coluna de açoFonte: SAFRAN (2000, p.57)65


A cadeira Barcelona desenvolvi<strong>da</strong> para mobiliar opavilhão mantém os princípios adotados por Mies vander Rohe no projeto do edifício. As curvas precisas queestruturam a cadeira; o ponto de intersecção dos pésque confere resistência ao peso exercido pelo corpo e aescolha do couro para assento e encosto asseguram oraciocínio empregado no projeto como um todo. Oreconhecimento <strong>da</strong>s partes (estrutura, assento eencosto) em sua plenitude garante a transparência e alegibili<strong>da</strong>de do desenho.A cor branca emprega<strong>da</strong> no assento e encosto <strong>da</strong>cadeira, o vermelho <strong>da</strong>s cortinas de se<strong>da</strong> e o preto dotapete são referências às cores <strong>da</strong> bandeira <strong>da</strong>República de Weimar. 7912: Pavilhão <strong>da</strong> Alemanha naExposição Internacional deBarcelona – Mies van der Rohe –1928/29Fonte: SAFRAN (2000, p.60)79 Idem, p.5466


13: Cadeira Barcelona – Mies vander Rohe – 1928/29Aço e couro.Fonte: disponível emacesso em 25 ago. 2009Projetar para a indústria foi o fio condutor dos projetosdesenvolvidos pelos mestres <strong>da</strong> Escola Alemã Bauhause por seus alunos. Explorar com responsabili<strong>da</strong>de econsciência os materiais industrializados assim como osprocessos de produção que estavam sendodesenvolvidos foram os princípios que guiaram aconcepção de edifícios, objetos e itens de mobiliário nasdéca<strong>da</strong>s de 20 e 30 e que hoje são consideradosreferências de arquitetura e design.Richard Buckminster FullerOs projetos de Buckminster Fuller 80 eram desenvolvidoscom o pensamento voltado à industrialização,serialização e padronização de componentes. Ashabitações eram concebi<strong>da</strong>s como produtosindustrializados, integrando módulos pré-fabricados,80 Richard Buckminster Fuller (1895-1983). Engenheiro e matemático norte-americano que buscava,através de seus projetos, melhorar a eficiência e baixar o custo de habitações e transportes.67


prevendo atualizações, montagem, desmontagem etransporte. Para esta pesquisa, a atuação concilia<strong>da</strong> deFuller é traça<strong>da</strong> pela diversi<strong>da</strong>de de projetos queabrangem as competências <strong>da</strong> arquitetura, do design e<strong>da</strong> engenharia.Tendo como referência os princípios de Le Corbusier,Fuller também se propôs a “resolver o problema <strong>da</strong>casa” do ponto de vista industrial 81 . Diferente de Mies eLina, não era o objetivo de Fuller projetar peças demobiliário reconhecíveis. O pensamento dele era guiadopor sistemas integrados à estrutura física <strong>da</strong> casa, oque justifica o desenvolvimento de cápsulas paradeterminados fins, como o módulo sanitário, o depreparação de alimentos e o de armazenamento depeças de vestuário.Além <strong>da</strong>s moradias e cápsulas, Fuller projetou tambémveículos. Como parte do conceito Dymaxion e portanto,seguindo os mesmos princípios a respeito <strong>da</strong> eficiênciamáxima com utilização mínima de materiais e energia,em 1934, o Dymaxion car foi desenhado de modo areduzir a resistência do veículo com o vento. Osconceitos <strong>da</strong> aerodinâmica aplicados à veículos detransporte aéreo assegurou a alta eficiência do carro deFuller em relação à veloci<strong>da</strong>de e consumo decombustível.81 GORMAN, Michael John. Buckminster Fuller. Designing for Mobility. Milano: Skira Editore, 2005. p.2268


Com construção similar a de aviões e barcos, o carro foiconfeccionado com estrutura em madeira e acarenagem em chapas de alumínio. 8214: Dymaxion Car – BuckminsterFuller – 1934Fonte: GORMAN (2005, p.14)Como parte <strong>da</strong>s pesquisas de Fuller a respeito desoluções para o habitar, um estudo para trailer foidesenvolvido em 1940. Uma carreta acopla<strong>da</strong> a umveículo rebocador recebe o módulo DymaxionBathroom, equipamentos de cozinha e lavanderia,maquinário destinado à geração de energia, arcomprimido, e reservatórios. O conceito que guia esteprojeto é o de compactar e transportar o conforto deuma residência para outro lugar. Assim como as casasprojeta<strong>da</strong>s por Fuller, o trailer é auto-suficiente,produzido industrialmente e em série.82 Idem, p.5869


15: Mecanichal Wing – BuckminsterFuller – 1940Fonte: GORMAN (2005, p.83)Para ele, os módulos e sistemas projetados eram boassoluções por assegurarem autonomia e eficiência àscasas e veículos. Constantemente estes componenteseram empregados em novas propostas de moradia.Lina Bo BardiEm Lina Bo Bardi 83 , o foco será no Museu de Arte deSão Paulo, considerado um de seus projetos maissignificativos. A princípio sediado no edifício dos DiáriosAssociados, em 1947, Lina ficou responsável peloprojeto de reforma e arquitetura de interiores dos quatroan<strong>da</strong>res destinados ao Museu. Destinado ao grandepúblico, a arquiteta trabalhou sob o princípio <strong>da</strong>flexibili<strong>da</strong>de de transformação do ambiente.83 Lina Bo Bardi (1914-1992). Arquiteta italiana naturaliza<strong>da</strong> brasileira. Seus projetos são caracterizadospela busca <strong>da</strong> interação entre o moderno e o popular.70


Na Pinacoteca, direciona<strong>da</strong> à exposição de quadros,esculturas e objetos, a iluminação artificial foi manti<strong>da</strong>durante o dia e a noite a fim de manter os níveis deumi<strong>da</strong>de e temperatura constantes, o que auxilia naconservação <strong>da</strong>s obras. Os expositores projetados porLina foram concebidos a partir de um princípio educadorde percepção estética e tinham como objetivosequilibrar visualmente os valores entre as obras eintegrar as mais antigas às mais novas eliminandojulgamentos prévios a respeito <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do artista edo trabalho exposto. Para Lina, os contrastespropositais eram didáticos e serviam como subsídiopara instigar a curiosi<strong>da</strong>de dos visitantes. 8416: Espaço <strong>da</strong> Pinacoteca esistema de fixação <strong>da</strong>s obras –Lina Bo Bardi – 1947Fonte: FERRAZ (1993, p.45)84 FERRAZ, op. cit., p.4671


O sistema de fixação <strong>da</strong>s obras é composto por umtubo de aço fixo no teto e no piso onde sãoposiciona<strong>da</strong>s as peças que suportam o peso e as queestabilizam o quadro, respectivamente inferior (1) esuperior (2). A versatili<strong>da</strong>de do sistema permite autilização de um ou dois conjuntos por obradependendo do tamanho <strong>da</strong> mesma.Assegurando uniformi<strong>da</strong>de no procedimento deconcepção do espaço, a arquiteta projetou cadeiraspara mobiliar os dois auditórios, com desenhocondizente com o projeto arquitetônico.17: Pequeno auditório e cadeira –Lina Bo Bardi – 1947Fonte: FERRAZ (1993, p.50)O espaço do pequeno auditório era flexível em suasativi<strong>da</strong>des, portanto a cadeira projeta<strong>da</strong> para ele deveriaentregar facili<strong>da</strong>des em relação à montagem earmazenamento. Dobrável, com possibili<strong>da</strong>de de72


empilhamento e confecciona<strong>da</strong> em madeira e couro oprojeto <strong>da</strong> cadeira traduziu com proprie<strong>da</strong>de alinguagem modernista emprega<strong>da</strong> pela arquiteta nosoutros espaços do museu [17].O grande auditório era um espaço estável, a cadeirapoderia permanecer constantemente no espaço econferir certo conforto aos usuários. Confecciona<strong>da</strong> emestrutura tubular de aço, assento com mola e apoiopara os braços, era fixa no piso por dois parafusos [18]. 8518: Grande auditório e cadeira –Lina Bo Bardi – 1947Fonte: FERRAZ (1993, p.51)Quando o terreno <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Paulista foi doado aomunicípio para a construção do MASP em meados de1957, Lina projetou tudo, <strong>da</strong> arquitetura ao mobiliário.Uma solicitação foi delimitante para o desenho doedifício: as vistas para o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e a serra <strong>da</strong>Cantareira deveriam permanecer livres. O vão livre de74 metros foi o resultado desta condição. O volumegeométrico e simétrico composto por linhas horizontais85 Idem, p.5173


e verticais foi definido pela arquiteta como “simplici<strong>da</strong>demonumental” 86 . Apoiado sobre quatro pilares ligados porduas vigas de concreto protendido, a construção foipossível devido aos cálculos do engenheiro Dr. JoséCarlos de Figueiredo Ferraz.19: MASP na Av. Paulista – Lina BoBardi – 1957/1968Fonte: FERRAZ (1993, p.111)20: Suporte para obras em vidro econcreto –Lina Bo Bardi – 1957/1968Fonte: FERRAZ (1993, p.105)86 Idem, p.10274


O desenho do suporte para obras [20] é conceitualmenteequiparável ao do edifício. As obras expostas sãoinseri<strong>da</strong>s entre duas lâminas de vidro pressiona<strong>da</strong>s emuma base de concreto que asseguram a visibili<strong>da</strong>de doambiente.A mesma relação de transparência que o edifício tempara a ci<strong>da</strong>de, o mobiliário tem para a arquitetura. Oedifício apresenta um vazio efetivo que permite avisibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de através do vão, enquanto oexpositor é neutro e possibilita a inserção de uma obrano espaço por meio <strong>da</strong> transparência. O edifício podeser considerado uma caixa expositiva <strong>da</strong> mesmamaneira que os suportes são em escala menor. 87Os três profissionais investigados neste capítulo <strong>da</strong>pesquisa têm como característica visão ampla deprojeto e, com a colaboração de especialistas,desenvolveram projetos completos seguindo uma lógicade raciocínio proposta por eles. O conhecimentogeneralista possibilita ampla atuação nas ativi<strong>da</strong>des deprojeto. Arquitetura e design são trabalhados de formaconcilia<strong>da</strong> respeitando as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas.Há situações em que a aproximação de experiências sedá por diferentes profissionais. A parte 2 desta pesquisase atém a projetos de diferentes naturezas e autorias.87 Atualmente, o MASP é configurado de modo diferente do analisado nesta pesquisa.75


2ANÁLISE DE PROJETOS


Historicamente, a arquitetura tem marcado as diretrizesdo design, especialmente às referentes ao desenho demóveis. Esta relação tem início no final do século XIX ese potencializou em meados do XX quando osarquitetos modernistas passaram a desenvolveredifícios seguindo os novos princípios do projetar para aindústria e o mobiliário disponível, que não era maiscondizente com o momento, foi revisto por estesprofissionais para utilização nos ambientes recémprojetados. 88A reverberação entre arquitetura e design aproximaelementos de natureza diferentes. A formaçãogeneralista promovi<strong>da</strong> pela escola alemã Bauhausacarretou similari<strong>da</strong>des na origem do processo deformação dos profissionais, possibilitando a interaçãoentre as áreas. Esta etapa <strong>da</strong> pesquisa se preocupa eminvestigar, através de análise e aproximação deprojetos, as relações que as competências traçam entresi, redefinindo os limites hoje habitualmente propostos apartir <strong>da</strong> crescente subdivisão por especialização entreas duas áreas.88 ROQUETA, Héctor. Product Design. New York: teNeues Publishing Group, 2002. p.4177


5 MobiliárioMobiliário e espaço construído exercem impacto mútuo.A ca<strong>da</strong> nova ocupação novas relações sãodesencadea<strong>da</strong>s entre os dois elementos. Este capítuloé orientado pelos diferentes níveis em que arquitetura emobiliário interagem e pelas relações estabeleci<strong>da</strong>s,seja o objeto inserido em determinado espaço, sejaaderido à edificação.O móvel enquanto objeto isolado permite análisesreferentes à forma, função, material e técnicaconstrutiva. A partir do momento que este é posicionadoem um espaço construído verificam-se influênciasrecíprocas. O mobiliário inserido reorienta a circulaçãodo espaço, pode ter sua abrangência de uso altera<strong>da</strong> einterfere fisicamente na arquitetura de acordo com omodo de implantação.Baudrillard complementa:(...) observamos, com freqüência, nos apartamentos, quea configuração de conjunto, sob o ângulo de estatuto, nãoé homogênea, sendo mesmo raro que todos os objetosde um mesmo interior se apresentem no mesmocomprimento de on<strong>da</strong>. 89A coerência formal que envolve as partes e o todoassegura a estabili<strong>da</strong>de visual por parte do indivíduoque se relaciona com o espaço. A coerência, nestecaso, não diz respeito aos objetos provindos de umamesma linha de produtos ou família, mas sim, <strong>da</strong>89 BAUDRILLARD, op. cit., p.5378


harmonia entre as partes que formam o objeto e dosobjetos que formam o conjunto.Alguns dos móveis que configuram as casas dosprofessores <strong>da</strong> Bauhaus foram projetados por MarcelBreuer e respondiam às reflexões de Gropius de queestas residências deveriam demonstrar o modo de vi<strong>da</strong>do “novo homem”: “Muito do que consideramos agora luxuososerá perfeitamente normal amanhã!”. 90 Esta referência foi feitatendo em vista as técnicas construtivas industriaisutiliza<strong>da</strong>s, o desenho simples e visualmente levedesenvolvido e os materiais empregados na construçãodos móveis e objetos como metal, couro, placa demadeira e vidro. A estrutura do objeto que se revela é oobjeto em si e quando trabalha<strong>da</strong> com coerência tornasedesnecessário escondê-la.A cadeira Wassily foi muito emprega<strong>da</strong> nos projetos deinteriores desenvolvidos pelos professores <strong>da</strong> Bauhaus.Tanto na sala de estar de Gropius [21] como na deAlbers [22], a harmonia resultante <strong>da</strong> configuração doambiente feita com a cadeira revela a transparência e aleveza proposta por Breuer durante a concepção doobjeto. Os planos opacos e fragmentadosrepresentados pelas tiras em couro revelam acontinui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> estrutura em aço tubular expressacomo uma linha única.Por ser um móvel atemporal e extremamente elegante,ain<strong>da</strong> hoje apresenta excelente aceitação do público.90 DROSTE, op. cit., p.13079


21: Interior <strong>da</strong>s casas dos Mestres– Sala de estar <strong>da</strong> casa de GropiusFonte: DROSTE (1994, p.130)22: Interior <strong>da</strong>s casas dos Mestres– Sala de estar <strong>da</strong> casa de Josef eAnni AlbersFonte: DROSTE (1994, p.131)23: Cadeira Wassily – MarcelBreuer – 1925/27Estrutura metálica tubular, assentoe encosto em couroFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.62)80


Um móvel inserido em um ambiente estabelecerelações visuais e dimensionais com os outroselementos presentes no espaço. Estas conexõespodem se desencadear devido a semelhanças naconcepção do desenho, na utilização de materiais ou naescolha de cores. A rica relação estabeleci<strong>da</strong> entre acadeira Wassily e os outros elementos presentes nacasa dos Mestres [21 e 22] não ocorre em um estúdiofotográfico [23], por exemplo, onde a atenção estávolta<strong>da</strong> à cadeira como objeto singular e qualquerrelação que se estabeleça nestas condições estaráconti<strong>da</strong> nos atributos particulares do objeto.Um objeto concebido com desenho abstrato podeadquirir novas funções não previstas por seu autor. Asérie de mesas B9 de Marcel Breuer foi projeta<strong>da</strong> parautilização como apoios laterais ou centrais.Confecciona<strong>da</strong> em tubos de aço e placas de madeira,seu desenho geométrico abstrato permite outrascompreensões do objeto em relação ao uso. Além deconfigurar ambientes totalmente diferentes, a dilataçãode sua função é assegura<strong>da</strong> pela necessi<strong>da</strong>deespecifica de um grupo em um ambiente próprio. Nasimagens seguintes é possível verificar o emprego <strong>da</strong>smesas B9 em ambientes diferentes e com intençõesdiferencia<strong>da</strong>s.81


24: Refeitório Bauhaus Dessau –1926Mesas e bancos – Marcel BreuerFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.70)25: Atelier dos alunos – BauhausDessauFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.70)26: Série de Mesas B9 – MarcelBreuer – 1925Estrutura metálica e tampo emmadeiraFonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.71)82


Na imagem do refeitório <strong>da</strong> Bauhaus [24] as mesas sãoutiliza<strong>da</strong>s como bancos e no atelier dos estu<strong>da</strong>ntes [25]como mesas de apoio. As dimensões especifica<strong>da</strong>spara este produto permitem a utilização além doprevisto, funcionando com perfeição como mesas deapoio ou como bancos. Já na foto de divulgação [26], acomposição feita com os quatro elementos <strong>da</strong> série osexpõe como elementos únicos no espaço e possibilita aexploração do produto em si sem interferênciasexternas.O móvel inserido e o espaço ativado são elementosreconhecíveis enquanto uni<strong>da</strong>des independentes. Já osprojetos desenvolvidos para espaços específicos, osmóveis sob-medi<strong>da</strong>, se integram de tal forma àarquitetura, sendo difícil dissociá-los do espaço gerador.O mobiliário aderido à arquitetura atua em duasescalas: a <strong>da</strong> arquitetura e a do mobiliário.O projeto de sala de jantar que Marcel Breuerdesenvolveu para o MoMa House em 1949 é compostopor um interessante armário de cozinha que divide osambientes. O elemento que separa é o mesmo queconverge o espaço. O armário não possui fundo fixo esim, portas de correr que quando abertas revelam oambiente do outro lado, e quando fecha<strong>da</strong>s conferemprivaci<strong>da</strong>de aos espaços.83


27: Sala de jantar MoMa House –Marcel Breuer – 1949Fonte: DROSTE; LUDEWIG(1994, p.142)Devido à altura dimensiona<strong>da</strong> para não alcançar o tetoeste projeto não foi lido como uma parede com nichos esim, como um híbrido de arquitetura e mobiliário queexerce a função de guar<strong>da</strong>r e, ao mesmo tempo, edita aárea <strong>da</strong> cozinha com a opção de esconder ou revelarseu interior.O mobiliário inserido orienta a circulação e a utilizaçãodo espaço. A estante projeta<strong>da</strong> pelo arquiteto Rino Levipara a residência Olivo Gomes em 1949/51 é um móvelimponente de madeira que, precisamente posiciona<strong>da</strong>no espaço referente à sala, cria um refúgio dedicado àleitura ou convívio.84


28: Residência Olivo Gomes – Sala– Rino Levi – 1949/51Fonte: ANELLI; GUERRA; KON(2001, p.162)A estante em “L” foi dimensiona<strong>da</strong> de modo a criar umadelimitação física e visual em um espaço queoriginalmente era um grande salão livre. Com acirculação <strong>da</strong>s pessoas redireciona<strong>da</strong> para as lateraisexternas e mantendo um vínculo com a arquitetura naextremi<strong>da</strong>de superior esquer<strong>da</strong>, a parte superior domóvel não toca o teto, o vão resultante tem alturaaproxima<strong>da</strong> a <strong>da</strong>s prateleiras, o que reforça a idéia deque este elemento foi inserido com a intenção de editaro espaço.A decomposição <strong>da</strong> área em três ambientes distintos foiobti<strong>da</strong> devido ao desenho <strong>da</strong> estante que determina ouso na sala central e permite que as extremi<strong>da</strong>dessejam utiliza<strong>da</strong>s com outras ativi<strong>da</strong>des.85


29: Residência Olivo Gomes –Planta – Rino Levi – 1949/51Fonte: ANELLI; GUERRA; KON(2001, p.162)A casa foi projeta<strong>da</strong> para usufruir do entornopaisagístico, desenvolvido por Burle Marx, em benefíciodo conforto dos moradores. As grandes janelas e asparedes envidraça<strong>da</strong>s além de garantirem iluminação atodos os cômodos, possibilitam o vínculo visual <strong>da</strong> áreaexterna com a interna e o jardim próximo à casa faz ainterligação física com a paisagem. 91 A implantação <strong>da</strong>residência em terreno acidentado contempla doispavimentos organizados em três blocos agrupados porfuncionali<strong>da</strong>de: área íntima e parte <strong>da</strong> área social nopiso superior e área de serviço e a outra parte <strong>da</strong> áreasocial no piso inferior.A sustentação do edifício através de pilotis valoriza aacui<strong>da</strong>de formal com que Rino Levi trabalhou noprojeto. Os volumes puros e transparentes são91 ANELLI, Renato; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. Rino Levi - Arquitetura e ci<strong>da</strong>de. São Paulo: RomanoGuerra, 2001. p.16386


valorizados pelas áreas livres no piso inferior, pelodetalhamento <strong>da</strong>s coberturas e pela seleção dosmateriais e acabamentos utilizados.O corredor [31] é configurado com mobiliário de desenholimpo e sutil e sua transparência formal valoriza oentorno paisagístico permitindo sua total visualização.30: Residência Olivo Gomes –Rino Levi – 1949/51Fonte: ANELLI; GUERRA; KON(2001, p.163)31: Residência Olivo Gomes – Vista<strong>da</strong> paisagem através <strong>da</strong> janela dodormitório – Rino Levi – 1949/51Fonte: ANELLI; GUERRA; KON(2001, p.163)87


O mobiliário inserido em determinado ambiente pode ounão estar aderido à arquitetura. Nos casos em que omóvel é aderente, o projeto geralmente é concebidotendo em vista a arquitetura e o impacto que este novoelemento causará no espaço. As questões decirculação de pessoas, iluminação, ventilação, utilizaçãoe implantação são analisa<strong>da</strong>s, principalmente, se aproposta é para um móvel que reorientará o espaçocomo é o caso <strong>da</strong>s grandes estantes.O projeto de Andrade Morettin Arquitetos para oapartamento Jote 92 respondeu à seguinte solicitação:integrar os ambientes, reordenando e articulando asdependências, mantendo a construção original. Oresultado foi uma estante composta por painéiscorrediços que percorrem to<strong>da</strong> a dimensão doapartamento através de uma estrutura de aço instala<strong>da</strong>no teto.32: Apartamento Jote – Desenho <strong>da</strong>estrutura – Andrade MorettinArquitetos – 2002Fonte: ARANGUIZ (2005, p.51)92 Edifício Prudência. Obra de Rino Levi. 1944-195088


33: Apartamento Jote – AndradeMorettin Arquitetos – 2002Fonte: ARANGUIZ (2005, p.50)34: Apartamento Jote – AndradeMorettin Arquitetos – 2002Fonte: ARANGUIZ (2005, p.46)89


35: Apartamento Jote – Plantaoriginal – Andrade MorettinArquitetos – 2002Fonte: ARANGUIZ (2005, p.48)36: Apartamento Jote – Planta atual– Andrade Morettin Arquitetos –2002Fonte: ARANGUIZ (2005, p.48)Este novo equipamento confeccionado em chapas deaço e vidro recriou a dinâmica de circulação doapartamento e atualizou o espaço sem descaracterizara construção original. Os painéis corrediços sãoimbuídos de funções varia<strong>da</strong>s: estante para objetos elivros; aparador na região <strong>da</strong> sala de jantar; armários decozinha e de banheiro; divisória; porta; e a estrutura éutiliza<strong>da</strong> como suporte para instalações elétricas efiações.90


A edição do espaço se dá a todo o momento em que ospainéis são acionados, o jogo de revelar e esconder ficapor conta dos movimentos do móvel. O equipamentoimplantado em uma área que antes era de circulação,atualmente exerce de modo híbrido a atuação comoarquitetura e mobiliário.A articulação do espaço por painéis móveis pode serretoma<strong>da</strong>, em outros termos, pela cultura oriental. Aintegração entre espaço e mobiliário na culturajaponesa precede os princípios de um espaço purista efuncional. Em termos de estrutura, diferente <strong>da</strong>arquitetura ocidental em que a construção é pensa<strong>da</strong>para perdurar, a maioria <strong>da</strong> arquitetura residencialjaponesa se baseia numa construção temporária,questão que inclui, entre outros, os fatores culturais eos abalos naturais que afetam a região. Os materiaismais utilizados nas construções são o bambu e amadeira por serem materiais abun<strong>da</strong>ntes, resistentes,flexíveis, de fácil manuseio pelos carpinteiros econstrutores, além de apresentarem a beleza naturalvaloriza<strong>da</strong> pela cultura.O interior <strong>da</strong> residência tradicional se configura emespaços de caráter provisional. As paredes corrediças,geralmente de papel e bambu ou madeira, deslizam eabrem para duplicar o espaço <strong>da</strong> habitação. A janela,dimensiona<strong>da</strong> para alcançar quase que a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>parede, permite a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> iluminação e ventilaçãonaturais, e assim como a porta, se abre para o jardim.Não há delimitação de área interna e externa, e sim, abusca pela integração com a paisagem natural. O jogo91


de sombras marca<strong>da</strong>s com sombras suaves, resultante<strong>da</strong>s texturas dos papéis empregados em portas ejanelas, é valorizado pela atmosfera suave e luzmodera<strong>da</strong> que proporcionam.37: Casa tradicional japonesa comfogareiro portátilFonte: BLACK; MURATA(2000, p.112)Despido de adornos e contendo somente o necessáriopara dormir, preparar alimentos e receber pessoas, oespaço é multifuncional e o ambiente é configurado deacordo com a ativi<strong>da</strong>de que se realizará no momento.Durante o dia, os objetos são dispostos sobre o tatamede forma a proporcionar um ambiente tranqüilo eharmônico que promova a prática <strong>da</strong> meditação, acerimônia do chá e o contato com a natureza.O fogareiro é utilizado para aquecer a água do chá ecomo fonte de calor no inverno. Carvão é queimadoabaixo <strong>da</strong> chaleira, geralmente, confecciona<strong>da</strong> em ferro,bronze, latão, cobre ou porcelana. Pode ser um corpo92


fixo, quando embutido no piso [38 / 39], ou portátil [37],acompanhado de base metálica para proteção dotatame.38: Cerimônia do cháFonte: disponível emacesso em 7 nov. 200939: Fogareiro embutidoFonte: BLACK; MURATA(2000, p.113)O futon (conjunto de colchão e coberta) permaneceguar<strong>da</strong>do em um armário embutido à parede e éorganizado sobre o tatame somente à noite, nomomento de utilização. O espaço é reconfigurado pelamanhã para um novo uso.93


40: Ambiente configurado com futonFonte: BLACK; MURATA(2000, p.140)O tatame é uma esteira retangular trama<strong>da</strong> em palhaque remonta a antiga civilização japonesa, quando aspessoas dispunham palha sobre a terra para deitar eamenizar o calor. Atualmente, dimensionado em 90 x180 cm, o equivalente a um adulto deitado, é oelemento mais importante <strong>da</strong> residência japonesa, apartir dele as ativi<strong>da</strong>des são realiza<strong>da</strong>s e os objetosutilizados são organizados. Nesta pesquisa, o maisrelevante sobre a importância do tatame é que ele setornou a uni<strong>da</strong>de modular reguladora dodimensionamento de casas, espaços interiores eintervalos entre colunas estruturais. Este sistema demodulação influenciou mundialmente a concepção deprojeto de arquitetos modernistas. 93O interessante <strong>da</strong> moradia tradicional japonesa é que omobiliário considerado fun<strong>da</strong>mental pela cultura sefunde de tal forma à arquitetura que o espaço é lido93 BLACK, Alexandra; MURATA, Noboru (fotos). La casa japonesa. Arquitectura e interiores. Palma deMallorca: Cartago, 2000. p.894


como vazio pela cultura ocidental. O tatame, utilizadopara sentar ou deitar, cobre o chão tornando-seimperceptível; o futon permanece guar<strong>da</strong>do até omomento do uso; o biombo, recoberto de papel opacoou translúcido, protege do vento e delimita ambientes; ofogareiro, os elementos <strong>da</strong> cerimônia do chá e osarranjos florais repletos de simbolismo são empregadosde forma tão sutil no ambiente que aos olhos de leigospassam por objetos decorativos e não como elementosfun<strong>da</strong>mentais para a cultura.Assegurando total aderência entre mobiliário earquitetura, Eero Saarinen projetou em 1956, oTerminal TWA 94 . A solicitação de Ralph Dawson, entãopresidente <strong>da</strong> companhia aérea, contemplava odesenvolvimento de um edifício que capturasse o“espírito de voar”, um projeto inovador que “expressasse odrama, a excepcionali<strong>da</strong>de e a excitação de viajar... não umespaço estático e fechado, mas um lugar de movimento etransição.” 9541: TWA – Vista externa do edifício– Eero Saarinen – 1956/62Fonte: disponível emacesso em 16 jan. 200994 Trans World Airlines - Aeroporto Internacional John Fitzgerald Kennedy (JFK), NY.95 MERKEL, Jayne. Eero Saarinen. New York: Phaidon Press Inc., 2005. p.205. Tradução nossa.95


Exercendo ativi<strong>da</strong>de generalista e mantendo osprincípios do design como projeto amplo, desenvolveuedifício e mobiliário como elementos indissociáveis.Confeccionados como componentes distintos, após aimplantação, voltaram a atuar como um corpo único.42: TWA – Sala de espera – EeroSaarinen – 1956/62Fonte: MERKEL (2005, p.215)43: TWA – Sala de espera – EeroSaarinen – 1956/62Fonte: disponível emacesso em 7 nov. 200996


A sala de espera do terminal é um ambiente comdesenho orgânico, cercado por assentos e totalmenteintegrado ao edifício. O projeto do mobiliário foiconcebido junto ao <strong>da</strong> arquitetura, sendo impossíveldecompô-los. O lado externo <strong>da</strong> estrutura arquitetônicado mobiliário é utilizado também como guar<strong>da</strong>-corpo.O projeto do interior, entendido como um conjuntounificado e fluido, não delimita o que é parede, assento,piso ou esca<strong>da</strong>. Edifício e mobiliário foram pensadoscomo um só elemento, um projeto completoabrangendo arquitetura e design.Independente de sua natureza, o mobiliário inserido ouaderido à arquitetura reorganiza espaços por ser umelemento que se relaciona diretamente com o corpo.Pode-se alterar por completo a maneira como umespaço é lido e utilizado através do mobiliário.97


6 Módulos inseridosAnalisando a convergência entre arquitetura emobiliário, espaço e equipamento, vale mencionar oquão interessante é a kitchenette, um termo comum àarquitetura e ao design utilizado para representar oespaço mínimo destinado à cozinha e também aoequipamento que nela se insere. O Dicionário EletrônicoHouaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa a define como “cozinhamuito reduzi<strong>da</strong> ou a<strong>da</strong>ptação de móvel ou parte dele comocozinha, muito usa<strong>da</strong> em apartamentos conjugados”. 96Os apartamentos de hotéis constituídos de quarto ebanheiro foram a inspiração para o surgimento <strong>da</strong>skitchenettes. Na déca<strong>da</strong> de 50, as construtorasinvestiram na racionalização <strong>da</strong> área referente àmoradia oferecendo apartamentos menores e de baixocusto às pessoas solteiras ou casais sem filhos queficavam pouco tempo em casa. Esse programa foiaprovado pela Prefeitura e implementado no centro <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de de São Paulo, com a restrição de que os quartosou banheiros não poderiam <strong>da</strong>r acesso direto à cozinha.Ain<strong>da</strong> neste momento havia a intenção de afastar <strong>da</strong>área social o calor e a fumaça provenientes <strong>da</strong>preparação de alimentos, porém os incorporadoresescondiam pontos ilegais de gás e água dentro dosarmários embutidos ou na área <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> doapartamento para que, futuramente, os moradoresinstalassem o móvel kitchenette. 9796 Dicionário Eletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Acesso em 31 ago. 200997 LEMOS, Carlos. Cozinhas, etc. Um estudo sobre as Zonas de Serviço <strong>da</strong> Casa Paulistana. 2ª. ed. SãoPaulo: Perspectiva, 1978. p.15998


44: Planta de kitchenette 23m 2 –Santo Amaro – SP – 2009Fonte: disponível emacesso em 31 ago 200945: Transamérica Flat The Advance– Kitchenette dentro de armárioFonte: disponível emacesso em 31 ago 200946: Móvel Kitchenette – DuracraftFonte: disponível emacesso em 31 ago 200999


O apartamento tipo kitchenette tem uso asseguradoatualmente devido à busca por este tipo de moradiapelo público solteiro ou recém casado. Geralmente, aplanta é dimensiona<strong>da</strong> de 23 a 30 m 2 e possui paredesinternas somente para separar o banheiro <strong>da</strong> sala. Aconfiguração flexível do espaço deve-se à planta livre ea determinação dos ambientes de cozinhar, estar edormir se dá pela organização do mobiliário.O módulo kitchenette, enquanto corpo aderido àarquitetura, é inflexível em relação ao posicionamento,devendo ser instalado no local determinado pelospontos de água e gás. Há equipamentos autônomos,que por serem compactos e reunirem todo o necessáriopara manter e preparar alimentos como pia, fogão,forno, geladeira e armários são frequentementeempregado em veículos habitáveis como trailers emotor homes.Estas kitchenettes podem ser desenvolvi<strong>da</strong>s sobmedi<strong>da</strong> para determinado veículo ou adquiri<strong>da</strong>s comocomponentes pré-fabricados. Em ambos os casosapresentam características específicas para asquestões de mobili<strong>da</strong>de: recipientes paraarmazenamento de água e gás são instalados nointerior do módulo; possuem tampas para fechar osnichos <strong>da</strong> pia e fogão; gavetas e portas possuemtravamento para não abrirem durante a viagem. Porserem componentes inseridos posteriormente épossível utilizar o mesmo mobiliário em outroreceptáculo desde que respeita<strong>da</strong>s as dimensões.100


47: Airstream DWR – Kitchenette –2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 200948: Airstream Basecamp –Kitchenette – 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 200949: Airstream Interstate –Kitchenette – 2008Fonte: disponível emacesso em 2 mar. 2009101


Outro componente padronizado eficiente emconstruções que necessitam de itens em quanti<strong>da</strong>de é obanheiro pré-fabricado, empregado em hotéis ehospitais e até em meios de transporte.Uma <strong>da</strong>s primeiras experiências desenvolvi<strong>da</strong>s nocampo de banheiros pré-fabricados foi o DymaxionBathroom. Desenvolvido em 1938, Buckminster Fullerpropõe um banheiro encapsulado e confeccionadoindustrialmente a ser inserido em uma arquitetura que,prevendo a utilização deste componente, prepara umaespera com conexões hidráulicas e elétricasnecessárias para a ativação do módulo.50: Dymaxion Bathroom –Buckminster Fuller – 1938Fonte: BALDWIN (1996, p.32)Com os equipamentos integrados às superfícies doespaço, o Dymaxion Bathroom é um banheiro completocom lavabo, vaso sanitário, chuveiro e banheira,fabricado em quatro grandes peças de fibra de vidro (ouchapas de metal estampa<strong>da</strong>s) e parafusa<strong>da</strong>s entre si demodo a ve<strong>da</strong>r a passagem e acúmulo de água.102


51: Dymaxion Bathroom – Imagensdo interior – Buckminster Fuller –1938Fonte: disponível emacesso em 9 set. 200852: Dymaxion Bathroom – Desenhoutilizado na patente para identificaras partes que compõem o móduloFonte: disponível emacesso em 20 ago. 2008A vantagem <strong>da</strong> fabricação do módulo em um sistema depeça única é que não existem uniões de diferentesmateriais, o que causariam futuras fissuras epermitiriam a infiltração de água e possíveis abalos naestrutura do banheiro. Outro fator relevante desteprojeto, que o torna mais interessante em comparaçãoaos banheiros tradicionais <strong>da</strong> construção civil, é a103


questão <strong>da</strong> limpeza e assepsia. Todos os cantos sãoarredon<strong>da</strong>dos com raio mínimo de 5 cm, o que evita aexistência de frestas que geralmente são pontos críticospara o acúmulo de germes. 98É um híbrido de arquitetura e design por se tratar de umespaço que contempla um programa de uso único e quefoi projetado como componente seriado, visandomateriais e processos industriais.Trazendo os conceitos de módulo sanitário de Fullerpara o século XXI, a empresa Banheiro Pronto 99desenvolve banheiros pré-fabricados (em concretoarmado e dry wall) para hotéis, hospitais e edifícioscomerciais. O banheiro é construído por inteiro nafábrica (inclusive metais e acabamentos), levado à obrapor um caminhão, onde é içado por grua, posicionado econectado às redes hidráulicas e elétricas.53: Banheiro Pronto – Vista externaFonte: disponível emacesso em 20 jan. 200998 BALDWIN, J. BuckyWorks: Buckminster Fuller’s ideas for to<strong>da</strong>y. New York: John Wiley, 1996. p.3299 Disponível em acesso em 20 ago. 2008104


54: Banheiro Pronto – Chega<strong>da</strong> einstalaçãoFonte: disponível emacesso em 20 jan. 200955: Banheiro Pronto – Vista internaFonte: disponível emacesso em 20 jan. 2009Diferente dos módulos confeccionados em fibra devidro, a construção em concreto armado não almejapretensões maiores. Por este componente sertotalmente confeccionado em fábrica e utilizado emconstruções como hotéis e hospitais (locais que primampela limpeza), as superfícies poderiam ser explora<strong>da</strong>s,juntamente com os materiais, de modo propício àassepsia.105


O Banheiro Pronto apresenta linguagem anacrônica;desenvolvido para imprimir veloci<strong>da</strong>de à obra e facilitara manutenção, não explora o desenho a ponto deassumir sua pré-confecção industrial. A justaposiçãodos elementos resulta em fragili<strong>da</strong>de para o conjuntoque sofre com os impactos <strong>da</strong> movimentação dotransporte e <strong>da</strong> elevação pela grua.O Dymaxion Bathroom é configurado como uma cascaque integra paredes, louças e equipamentos em umaúnica superfície, assim como os banheiros préfabricadospara veículos, evidenciam o fato de seremcomponentes prontos; podem ser entendidos comoelementos padronizados. Parece desperdício perceberque formula<strong>da</strong> uma questão, o elemento que respondenão acompanha a reflexão com pertinência.56: RVI – Banheiro pré-fabricadoFonte: disponível emacesso em 2 mar. 2009106


Geralmente, as empresas especializa<strong>da</strong>s na fabricaçãodestes componentes trabalham com opções deconfiguração interna, variação dimensional e questõesespecíficas de implantação para atender às diversassolicitações. Grandes incorporações, veículos terrestrese aéreos, que necessitam de uma quanti<strong>da</strong>deconsiderável de módulos sanitários, são compradoresem potencial destes produtos pela agili<strong>da</strong>de deimplantação e manutenção.Os módulos mol<strong>da</strong>dos em fibra de vidro resultam empeças leves e com boa resistência à impacto. Esteprocesso de fabricação permite a laminação em moldesgrandes, sendo possível confeccionar um módulosanitário em apenas duas peças. Reduzir a quanti<strong>da</strong>dede peças necessárias para compor uma uni<strong>da</strong>deimpacta em redução de custo, pois deman<strong>da</strong> menosmão-de-obra e aumenta a veloci<strong>da</strong>de de fabricação.57: Sanitário Dasselpara Airbus A380Fonte: disponível emacesso em 6 mar. 2009107


Os insertos sanitários implantados em meios detransporte têm preocupação em relação ao peso finaldo produto que influencia na eficiência do veículo.Quanto melhor trabalha<strong>da</strong> a estruturação nassuperfícies, menos material será necessário adicionarna espessura <strong>da</strong> casca para que o corpo adquirasolidez. Os vincos presentes nas paredes internas sãouma maneira de estruturação, pois deslocam materialdo centro de gravi<strong>da</strong>de proporcionando resistência àsuperfície. Este tipo de projeto não consiste apenas naárea interna, a parte externa deve prever total ve<strong>da</strong>ção,além dos recursos destinados à implantação do módulono veículo.Os módulos analisados até o momento sãocaracterizados por um programa de uso único; já os usomúltiplo integram mais de um tipo de ativi<strong>da</strong>de nomesmo invólucro e, geralmente, são caracterizados porpequenas mora<strong>da</strong>s.O Total Furnishing Unit do designer italiano JoeColombo, desenvolvido em 1969, parte <strong>da</strong> premissa deser um módulo multifuncional subdividido em célulasfuncionais contendo cozinha, quarto, banheiro e salaem um mesmo componente fabricado em materialplástico. Colombo uniu os itens necessários noambiente doméstico, que tradicionalmente existem deforma individual, em superfícies totalmente integra<strong>da</strong>s.Este projeto ficou marcado como um ícone do design dofuturo em plena déca<strong>da</strong> de 60 devido a maneira ousa<strong>da</strong>como o plástico foi empregado. A intenção deste projeto108


é unir o mobiliário necessário para uma residência emuma uni<strong>da</strong>de e não tem a pretensão de envolvertotalmente o usuário em um invólucro, sendo portantonecessário inserir o módulo em uma arquiteturapreviamente concebi<strong>da</strong> para que suas funções sejamativa<strong>da</strong>s.58: Total Furnishing Unit – Detalhedo quarto – Joe Colombo – 1969Fonte: disponível emacesso em 9 maio 200859: Total Furnishing Unit – Detalhe<strong>da</strong> cozinha – Joe Colombo – 1969Fonte: disponível emacesso em 9 maio 2008109


Visando à otimização do espaço e compactação domobiliário, o módulo foi projetado como uma caixa emque ca<strong>da</strong> elemento a ser utilizado permanece embutidoaté o momento de sua ativação. As duas camas desolteiro, o guar<strong>da</strong>-roupas, a mesa para estudo e a mesapara fazer refeições permanecem guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s dentro domódulo e deslizam por trilhos ou rodízios parautilização.A área destina<strong>da</strong> à cozinha se caracteriza comokitchenette [59], pois integra todos os eletrodomésticosnecessários para conservação e preparo de alimentos,como geladeira, fogão, forno, pia, armários e lixeira.Através <strong>da</strong> porta corrediça instala<strong>da</strong> na região frontalpode-se fechar esta parte do módulo, caso se façanecessário.60: Total Furnishing Unit – Desenhodo módulo completo – Joe Colombo– 1969Fonte: disponível emacesso em 9 maio 2008Semelhante ao conceito do Total Furnishing Unit de sercomponente inserido em uma arquitetura construí<strong>da</strong>, oarquiteto Luigi Colani desenvolveu, em 2004, uma casa110


de 36m 2 com um módulo rotativo implantado em seuinterior. Configurado como um cilindro, contém osserviços de cozinha, dormitório e lavabo. O objetivo émelhorar a configuração do espaço interno em umaresidência de dimensões reduzi<strong>da</strong>s eliminando as áreasde circulação e fazendo com que os cômodos sedesloquem até a pessoa.61: Rotorhaus – Vista externa –Luigi Colani – 2004Fonte: PAREDES (2005, p.58)62: Rotorhaus – Ilustração <strong>da</strong>planta – Luigi Colani – 2004Fonte: disponível emacesso em 21 jan. 2009111


O cilindro é confeccionado em fibra de vidro, materialque permite o desenvolvimento de formas flui<strong>da</strong>s econtínuas, e integra paredes, equipamentos, piso emobiliário em um único e suave elemento. Ca<strong>da</strong>ambiente interno do inserto é identificado por uma cor:no dormitório predomina a cor salmão [63]; na cozinhafoi emprega<strong>da</strong> a cor branca; e no banheiro, a cor azulclaro [64]. O banheiro foi projetado como um quarto debanho e contém apenas banheira e pia. Os itens dosanitário foram posicionados em um WC em outro local<strong>da</strong> casa.63: Rotorhaus – Quarto – LuigiColani – 2004Fonte: PAREDES (2005, p.61)64: Rotorhaus – Lavabo e cozinha –Luigi Colani – 2004Fonte: PAREDES (2005, p.57 / 60)112


O componente pré-fabricado pode ser ativado em outraarquitetura com dimensões mínimas que o comportem.A viabilização <strong>da</strong> confecção de insertos se deu emgrande parte pelo advento do material polimérico (fibrade vidro / plástico) e os novos processos de produção,que permitiram a fabricação de partes de dimensõesmaiores, com estruturação e leveza, e principalmentecom a aceitação <strong>da</strong>s mais diversas formas.A utilização do plástico nos insertos permite aexploração de formas flui<strong>da</strong>s com resistência suficientepara integrar o mobiliário e os equipamentos eletrônicosna mesma superfície referente ao espaço.113


7 Módulos urbanosConsiderando as especificações de uso no território <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de, os módulos abrangem também o mobiliáriourbano e os projetos de moradias móveis. Sãoequipamentos ativados através <strong>da</strong> implantação noterritório <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.Mobiliário urbano é a nomenclatura comumenteemprega<strong>da</strong> pela maioria dos autores para denominar osequipamentos, objetos e construções de pequeno porteimplantados na ci<strong>da</strong>de com intenção decorativa ou deprestação de serviços. Josep M a . Serra utiliza também“microarquitetura” para os casos em que “mobiliário” éinsuficiente 100 , por exemplo, os quiosques, bares,bancas de jornal ou de flores, em que é preciso atençãoespecial aos mecanismos (travas e articulações)necessários para o funcionamento dos equipamentos.Gillo Dorfles emprega o termo “pequeno urbanismo”para se referir a(...) todos os infinitos elementos que servem paracompletar e animar as aveni<strong>da</strong>s e as praças e que vãodesde os meios de transporte aos bancos dos jardins,desde os anúncios luminosos às caixas de correio, desdeas bancas de jornais aos placards publicitários. 101O mobiliário urbano, como elemento construído para aci<strong>da</strong>de, teve crescimento significativo com aurbanização advin<strong>da</strong> pós Revolução Industrial. Osserviços e os espaços públicos exigiam equipamentos100 SERRA, Josep Ma. Elementos urbanos: mobiliario y microarquitectura. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.p.18101 DORFLES, op. cit., p.107114


específicos e em quanti<strong>da</strong>de suficiente para atender àsnecessi<strong>da</strong>des urbanas 102 . Praças, passeios públicos,jardins, necessitavam de objetos que se integrassem àpaisagem urbana e fossem compreensíveis ao ci<strong>da</strong>dão.Estes equipamentos tendem a suprir necessi<strong>da</strong>des depedestres e veículos conforme estas aparecem, seususos e funcionali<strong>da</strong>des são atualizados conforme aci<strong>da</strong>de evolui 103 . Os projetos de equipamentos urbanosenquanto atuam no território na ci<strong>da</strong>de, esbarramtambém nas questões de escala, seriação e produçãoindustrial, sendo uma ativi<strong>da</strong>de pertinente à arquiteturae ao design.Segundo Richardson, ca<strong>da</strong> item que compõe omobiliário urbano é resultado de grande reflexão einvestigação por parte de seus autores. Um desenhoesteticamente agradável que se integre à paisagemurbana se converte em um objeto expressivo para asocie<strong>da</strong>de, claramente útil (segundo a especificação desua função), atemporal e de versátil localização paraimplantação.Os quiosques de ven<strong>da</strong> de produtos, as bancas dejornal e de flores são equipamentos urbanos voltadosao comércio. Têm como princípio serem estruturasmóveis previstas para montagem e desmontagemrápi<strong>da</strong> e intervenção mínima no meio. Odimensionamento do mobiliário urbano em relação aoprovável local de instalação (calça<strong>da</strong> ou praça) deve sermoderado de modo a não obstruir a circulação <strong>da</strong>s102 SILVA, Geraldo Gomes <strong>da</strong>. Arquitetura do ferro no Brasil. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1988. p.104103 SERRA, op. cit., p.6115


pessoas (função principal do local) e não interferirnegativamente na identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> região.As bancas de jornal são objetos que promovem oconvívio cultural e social. Geralmente oferecem áreamínima de circulação interna para que os clientesmanipulem e avaliem os produtos antes <strong>da</strong> compra, porisso pressupõem um tempo maior de permanência <strong>da</strong>spessoas em seu interior. Partindo desta especificação,o arquiteto Antoni Roselló projetou uma banca queexpande os limites internos do equipamento.Configura<strong>da</strong> como um cilindro, a metade frontal <strong>da</strong>banca se abre lateralmente em duas superfíciesarticula<strong>da</strong>s de tal modo que a área interna é expandi<strong>da</strong>a ponto de se mesclar com o entorno.A ampliação se dá na largura do mobiliário, nãoprejudicando a circulação de pedestres na calça<strong>da</strong>. 104 Oequipamento inativo permanece fechado tendonovamente sua dimensão compacta<strong>da</strong>. A banca éconfecciona<strong>da</strong> em fibra de vidro, aço inoxidável eacrílico. O mobiliário interno, em madeira lamina<strong>da</strong>,pode ser alterado conforme a especificação do projeto,tendo como possibili<strong>da</strong>des banca de jornal, de flores ecabine de informações.A implantação deste mobiliário urbano não exigeintervenções físicas no solo; o equipamento é apoiadono pavimento mediante pés niveladores e necessita de104 Ver TESSARINE, José Benedito. O mobiliário urbano e a calça<strong>da</strong>. Dissertação de mestrado,Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, São Paulo, 2008.116


um ponto de conexão elétrica para ativação <strong>da</strong>iluminação interna.65: Banca de jornal – AntoniRoselló – 1991Fonte: SERRA (2002, p.256)A maioria <strong>da</strong>s bancas de jornal instala<strong>da</strong>s na ci<strong>da</strong>de deSão Paulo não previu, ain<strong>da</strong> na fase de projeto, aquestão <strong>da</strong> irregulari<strong>da</strong>de dos pisos <strong>da</strong>s calça<strong>da</strong>s,sendo necessário improvisar a implantação <strong>da</strong> mesmano solo nivelando-a com a utilização de blocos de117


madeira ou com o erguimento de tablados de concreto.Nesta segun<strong>da</strong> opção a banca perde o conceito <strong>da</strong>mobili<strong>da</strong>de e permanece fixa no espaço.66: Banca de Jornal Modelo Luxo– VanzillottaFonte: disponível emacesso em 5 nov. 2009Diferente <strong>da</strong>s bancas de jornal em que há circulação declientes dentro <strong>da</strong> área do equipamento, os quiosquespara ven<strong>da</strong> de sorvetes têm como princípio servirem deexpositores de produtos e terem o serviço do atendentedo início ao término <strong>da</strong> compra.118


O quiosque móvel, também projetado por Roselló, temárea interna para acomo<strong>da</strong>r um atendente, trêsrefrigeradores, armários e equipamentos necessáriospara realizar a ven<strong>da</strong>.A parte inferior, configura<strong>da</strong> como um bloco retangular,é destina<strong>da</strong> aos refrigeradores e armários na metadefrontal, e à circulação do atendente na metade traseira.Na parte superior ocorre a interação do vendedor comos clientes e a comercialização do produto em si; por tera maior parte de suas superfícies envidraça<strong>da</strong>s permitea visualização através do quiosque conferindointegração visual com o entorno. A superfície frontal,desenha<strong>da</strong> como ¼ de cilindro, se abre para ativaçãocomercial e se transforma em uma cobertura queprotege as pessoas e os produtos <strong>da</strong> ação do sol ouchuva. O acionamento de abertura se dá por pistõeshidráulicos instalados na lateral externa doequipamento.A estrutura é confecciona<strong>da</strong> em aço inoxidável, o vidrotemperado foi empregado nas superfícies laterais <strong>da</strong>parte superior e o poliéster no piso. Podem serinstala<strong>da</strong>s cortinas na região dos vidros para proteçãosolar e indicativo visual que o estabelecimento está forade serviço. A implantação procede <strong>da</strong> mesma maneiraque a banca de jornal.119


67: Quiosque de sorvetes – AntoniRoselló – 1991Fonte: SERRA (2002, p.268)Ain<strong>da</strong> que as bancas e quiosques para comercializaçãode mercadorias sejam equipamentos móveis,destituídos de fun<strong>da</strong>ção no solo, eles podempermanecem instalados na ci<strong>da</strong>de por um longo períodode tempo. Já os banheiros móveis, instaladostemporariamente na ci<strong>da</strong>de, compõem uma naturezadiferencia<strong>da</strong> de mobiliário urbano. De caráter provisório,120


essas cabines têm presença justifica<strong>da</strong> por algumevento pontual em que infra-estrutura sanitária se faznecessária. De uso único e específico, as cabinessanitárias são entendi<strong>da</strong>s como uma prestação deserviço e têm pretensões menores que uma banca dejornal por exemplo, pois não envolvem questões desociabilização.De autoria do mesmo arquiteto, um interessante projetode banheiro químico tem como premissas a melhorutilização de uma área mínima determina<strong>da</strong>,proporcionando conforto e privaci<strong>da</strong>de ao usuário,assim como melhorar a questão <strong>da</strong> assepsia do local.O desenho elíptico que configura a cabine confere àporta movimento giratório concêntrico, o que evita ainvasão na área externa no momento <strong>da</strong> abertura efacilita a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> pessoa; ao fechá-la o espaçointerno é reconfigurado e duplicado para o uso. Aestrutura confecciona<strong>da</strong> em fibra de vidro tem paredesde 35mm de espessura, com funções de isolamentotérmico e acústico. O reservatório químico ficaposicionado na parte posterior <strong>da</strong> cabine e conta comuma conexão externa para facilitar a troca do líquido. Ailuminação é assegura<strong>da</strong> por uma cúpula translúci<strong>da</strong>presente na parte superior que permite a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> luzprovin<strong>da</strong> do ambiente externo.O vaso sanitário, o puxador <strong>da</strong> porta e a superfície dopiso são confeccionados em aço inox, material de fácillimpeza, boa durabili<strong>da</strong>de e não oxidável. Os cantosarredon<strong>da</strong>dos e o desenho elíptico <strong>da</strong> cabine evitam o121


acúmulo de resíduos e facilitam a assepsia. Ainstalação <strong>da</strong> cabine não exige intervenções físicas nosolo; quatro pés reguláveis a apóiam no pavimento e amantêm estável. 10568: Cabine sanitária – AntoniRoselló – 1994Fonte: SERRA (2002, p.220)Por serem previstos para atender, geralmente, a umanecessi<strong>da</strong>de temporária e pontual, os banheirosquímicos geralmente são retirados do local ao término<strong>da</strong> solicitação.O mobiliário urbano, por ser objeto público, tem acapaci<strong>da</strong>de de alterar o modo como uma comuni<strong>da</strong>deinterage em determina<strong>da</strong> região. A implantação de umanova banca de jornal, por exemplo, pode transformarum espaço de passagem em ponto de relacionamento;um quiosque de ven<strong>da</strong> de sorvetes pode aumentar acirculação de pessoas na região em que foi instalado.Outra categoria de módulo urbano é composta pelascasas cápsulas. Com um programa que compreendemoradia, mobili<strong>da</strong>de e industrialização, estas cápsulas105 SERRA, op. cit., p.220122


podem ser conecta<strong>da</strong>s a torres de serviços ou ativa<strong>da</strong>sindependente de estruturas.As cápsulas podem ser entendi<strong>da</strong>s, de acordo com oDicionário Eletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa,como pequeno recipiente; invólucro de qualquer espécie;membrana fibrosa ou elástica que envolve uma estruturaanatômica; compartimento de espaçonave, geralmente depequenas dimensões e sem capaci<strong>da</strong>de de manobra, que leva osastronautas e os instrumentos. 106O termo “cápsula” foi empregado em 1964 por WarrenChalk, do grupo Archigram 107 , para identificar pequenasmora<strong>da</strong>s. O grupo desenvolveu alguns projetos sob osconceitos de mobili<strong>da</strong>de, flexibili<strong>da</strong>de e instantanei<strong>da</strong>deque tinham como premissa a fabricação seria<strong>da</strong> e opossível empilhamento em torres gerando mini ci<strong>da</strong>des.Para esta pesquisa, a cápsula é o invólucro quedisponibiliza a estrutura arquitetônica e está em contatoíntimo com o corpo. A relação entre as disciplinas é<strong>da</strong><strong>da</strong> no momento em que vedos e equipamentos, ouarquitetura e mobiliário se tornam um corpo único. Ascompetências previstas por ca<strong>da</strong> área profissional semesclam e acabam por destituir os valores particulares.106 Dicionário Eletrônico Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Acesso em 26 mar. 2009107 O grupo Archigram formou-se por volta dos anos sessenta, por jovens arquitetos ingleses recémgraduados. Warren Chalk, Peter Cook, Denis Crompton, David Greene, Ron Heron e Mike Webbintroduziram novos conceitos sobre o que seria a arquitetura do futuro em publicações de nomeArchigram (fusão <strong>da</strong> palavra arquitetura e com a rapidez e agili<strong>da</strong>de do telegrama). Os manifestos criadospelo grupo a favor de uma arquitetura móvel, leve e de alta tecnologia abalaram os conceitostradicionalistas dos arquitetos <strong>da</strong> época. Ver COOK, Peter (Org.). Archigram. New York: PrincetonArchitectural Press, 1999. 144p.123


O Living Pod é um estudo de David Greene(Archigram), de 1965, para uma casa cápsula móvel eautônoma. Provi<strong>da</strong> de mobili<strong>da</strong>de, porém não ágil, foiprojeta<strong>da</strong> para fabricação em material leve (fibra devidro) e locomoção aciona<strong>da</strong> por pernas mecânicas.Com possibili<strong>da</strong>de de aportar em terrenos acidentados,as pernas articula<strong>da</strong>s promovem seu nivelamento.69: Living Pod – David Greene –1965Fonte: disponível emacesso em 26 mar. 2009O espaço interno restrito é configurado com algunsmóveis infláveis como divisórias de ambientes, sofá ecama acionados mecanicamente. Os equipamentos decomunicação e áudio-visual ficam concentrados emuma sub-cápsula, também inflável, que confere certaprivaci<strong>da</strong>de para as ativi<strong>da</strong>des profissionais.70: Living Pod – David Greene –1965Fonte: COOK (1999, p.53)124


Híbrido de arquitetura e design e com aspecto deorganismo vivo, o Living Pod pode ser entendido comouma proposta ousa<strong>da</strong> para uma socie<strong>da</strong>de emmovimento.Os experimentos do Archigram no campo <strong>da</strong>s moradiasmóveis foram mais adiante. O Cushicle, projeto deMichael Webb desenvolvido entre 1966/67 é umacápsula livre, uma “uni<strong>da</strong>de nômade completa” 108 . Maiscompacta que o Living Pod, consiste em uma bolhacom estrutura inflável, equipa<strong>da</strong> com sistemasindependentes para fornecimento de luz, calor, som etodo o necessário para que o usuário tenha diversão einformação. Por ser leve e desmontável, pode sercarregado nas costas ou dentro de algum veículo,assim como uma barraca de camping, e facilmentemontado oferecendo uma estadia instantânea.71: Cushicle – Mike Webb –1966/67Fonte: COOK (1999, p.65)108 COOK, op. cit., p.64125


O interessante deste projeto é o modo como a cápsulafoi trabalha<strong>da</strong>, de forma a envolver o corpo do usuárioem um espaço mínimo, transformando arquitetura emvestimenta. Com o uso de alta tecnologia, esta barracaoferece conforto térmico, água, comi<strong>da</strong>, e proteção aoviajante.O projeto, desenvolvido na déca<strong>da</strong> de 60, responde aver<strong>da</strong>deira mora<strong>da</strong> para um programa ca<strong>da</strong> vez maiscorriqueiro. O usuário urbano contemporâneo carrega a“casa nas costas”, seja dentro de bolsas ou mochilas ouno porta-malas do carro.A atração por pequenas arquiteturas, segundoRichardson, se deve por reduzir um edifício a umaescala humana com a qual pode-se interagir de formaimediata. A complexi<strong>da</strong>de de projeto que enfrentam, odetalhamento minucioso para viabilizar a construção, aseleção dos materiais e o jogo formal que investiga asquestões do desenho conferem maior quali<strong>da</strong>de tátil àsmenores do que às grandes construções. Os projetosde pequenas mora<strong>da</strong>s se aproximam <strong>da</strong>s questões dodesign por utilizarem materiais e processos industriais ese relacionarem com partes, montagens edesmontagens.Com o princípio de sistematizar a produção, aDymaxion House, desenvolvi<strong>da</strong> por RichardBuckminster Fuller em 1927, parte <strong>da</strong> premissa de seruma moradia autônoma, desmontável e transportável. Otermo DYMAXION, criado por ele, representa a uniãotrês termos: DYnamic - MAXimum – tensION. O126


conceito refere-se ao princípio <strong>da</strong>s geodésicas em queo uso de tecnologia e recursos aumenta a eficiência,com gastos mínimos de energia e material.Fuller dedicou boa parte de sua vi<strong>da</strong> em projetos dehabitações e abrigos. Ele considerava obsoleta atecnologia utiliza<strong>da</strong> nos projetos e construções depequenos edifícios, por ser muito semelhante à utiliza<strong>da</strong>nas construções tradicionais do século XVIII. Aarquitetura era a única área de produção de bens quenão havia se unido às inovações obti<strong>da</strong>s pela revoluçãoindustrial 109 . Fuller, assim como Le Corbusier,acreditava que a arquitetura poderia ser industrializa<strong>da</strong>e produzi<strong>da</strong> em grande escala, era questão de tempopara a tecnologia e os materiais serem disponibilizadospara este fim.Os preceitos que embasaram o desenvolvimento <strong>da</strong>Dymaxion House foram: ser entregue via transporteaéreo, ter produção industrial em larga escala, seruniversal (permitir instalação em qualquer sítio), “(...)dwelling machine based on anticipatory design science” 110 . Fullerdefine “design science” como a ciência de projeto quese baseia em concentrar os recursos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de noapoio à vi<strong>da</strong>, ao invés de armamento.Quando Fuller propõe as residências móveis, ele nãotem a intenção de seguir a filosofia dos trailers outen<strong>da</strong>s que tem o nomadismo como cultura. O objetivoé que estas habitações estejam geograficamente fixas109 BALDWIN, op. cit., p.12110 Máquina de habitar basea<strong>da</strong> na ciência de projeto. Tradução nossa em nota. FULLER, RichardBuckminster. Critical Path. New York: St. Martin’s Press, 1895. p.383127


por meses ou anos, porém se necessário mu<strong>da</strong>r deci<strong>da</strong>de ou país, seja fácil e economicamente viável adesmontagem, o transporte e a reinstalação em outrosítio 111 .72: Dymaxion House – BuckminsterFuller – 1946Fonte: SIEDEN (2000, p.277)A montagem <strong>da</strong> residência é feita in loco. Ain<strong>da</strong> deforma precária e sem comprovações reais, Fullerprojetou sistemas de geração de eletrici<strong>da</strong>de através deplacas de energia solar, aproveitamento máximo <strong>da</strong>água manti<strong>da</strong> em reservatório próprio e adubagem comresíduos orgânicos para que a casa fosse autosuficientee não dependesse de conexões elétricas ehidráulicas para o perfeito funcionamento.A casa tem onze metros de diâmetro circun<strong>da</strong>dos porjanelas de acrílico que integram visualmente o ambienteexterno ao interno. A configuração dos cômodos e asdimensões <strong>da</strong> casa comportam com conforto umafamília com quatro membros.111 Idem, p.310128


A. Entra<strong>da</strong> principal;B. Esca<strong>da</strong> dobrável para balcãoopcional;C. Dutos de ar, encanamentos edispensa;D. Foyer;E. Sala de estar;F. Lareira (em aço inox);G. Sala de jantar;H. Cozinha;I. Dispensa;J. Entra<strong>da</strong> de serviço;K. Porta sanfona<strong>da</strong>;L. Quarto de solteiro;M. Guar<strong>da</strong>-roupas (prateleiras);N. Guar<strong>da</strong>-roupas e sapatos(giratório);O. Porta chapéu e gravata;P. Quarto do casal;Q. Dymaxion Bathroom (banheiro)73: Dymaxion House – Planta –Buckminster Fuller – 1946Fonte: BALDWIN (1996, p.51)Os módulos para guar<strong>da</strong>r roupas e sapatos, a dispensa,a cozinha e o banheiro são insertos pré-fabricados einstalados na casa. Configurar a casa com uni<strong>da</strong>desindependentes assegura facili<strong>da</strong>de e agili<strong>da</strong>de namanutenção e substituição dos componentes.Desde 1927, Fuller trabalhava em projetos queinvestigavam abrigos de alta performance e, com aexperiência obti<strong>da</strong> na Dymaxion House, observoualguns itens que não correspondiam às suasexpectativas: a impossibili<strong>da</strong>de de transportar a casamonta<strong>da</strong> e a necessi<strong>da</strong>de de pessoas comconhecimentos técnicos para a implantação (que exigiaperfeito alinhamento e tensionamento <strong>da</strong>s partes para osucesso do conjunto).129


Estas considerações o estimularam a prosseguir comnovos projetos e, em 1977, a Fly’s Eye é desenvolvi<strong>da</strong>.Trata-se de uma esfera configura<strong>da</strong> a partir de peçasidênticas e modulares fabrica<strong>da</strong>s em fibra de vidro. Auni<strong>da</strong>de utiliza<strong>da</strong> para a montagem <strong>da</strong> esfera foiprojeta<strong>da</strong> para ser empilhável, compactando o volume ebaixando o custo de transporte.74: Fly’s Eye – Empilhamento <strong>da</strong>speças – Buckminster Fuller – 1977Fonte: BALDWIN (1996, p.211)Um dos conceitos desse projeto seria a atuação comouma prestação de serviço. A esfera não poderia sercompra<strong>da</strong>, ela seria aluga<strong>da</strong> por uma empresaresponsável pelo transporte, instalação, manutenção,desmontagem e reinstalação em outro sítio. Apermanência do sistema possibilita um espaço efêmero.75: Fly’s Eye de oito metros dediâmetro e Dymaxion Car –Buckminster Fuller – 1981Fonte: disponível emacesso em 14 nov. 2008130


As aberturas circulares que resultam <strong>da</strong> montagem <strong>da</strong>speças têm dois metros de diâmetro e podem serdestina<strong>da</strong>s para atuarem como janelas, portas,ventilação, células de captação de energia solar oucélulas de aquecimento.A esfera foi projeta<strong>da</strong> em dois tamanhos préestabelecidos:a menor com oito metros de diâmetro e amaior com quinze. Ambas possuem uma segun<strong>da</strong>superfície interna concêntrica que produz isolamentotérmico. Esta superfície é finaliza<strong>da</strong> pelo piso que temdiâmetro de dois metros e fica a quinze centímetros dosolo. A treliça utiliza<strong>da</strong> na estrutura do piso resulta numcorpo extremamente leve e resistente.A Fly’s Eye também utiliza o Dymaxion Bathroom comosistema sanitário e foi prevista para se auto-sustentarelétrica e hidraulicamente. A área reserva<strong>da</strong> abaixo dopiso armazena os mecanismos específicos dossistemas de captação de energia solar, transformaçãode gás metano e os tanques do compressor de ar.76: Fly’s Eye – Desenho ilustrativodos mecanismos posicionadosabaixo do piso – Buckminster Fuller– 1977Fonte: BALDWIN (1996, p.212)131


Os três pares de pernas ajustáveis nivelam a esfera nosolo. Os pés de concreto servem como fun<strong>da</strong>ção.77: Fly’s Eye – Esquema demontagem – Buckminster Fuller –1977Fonte: BALDWIN (1996, p.214)Esta casa pode ser transporta<strong>da</strong> com sua estruturatotalmente monta<strong>da</strong>. Um helicóptero tradicional iça aesfera e a reposiciona em outro lugar. De fácilmontagem e manutenção, pode-se substituir partesconforme necessário, ou atualizá-las para versõesrecentes, para uma manutenção preventiva do corpoedificado ou reparações de partes avaria<strong>da</strong>s.78: Fly’s Eye – Desenho ilustrativode transporte aéreo – BuckminsterFuller – 1977Fonte: FULLER (1981, p.312)132


O ideal de Fuller a respeito de uma arquiteturaresidencial com avança<strong>da</strong>s técnicas de produçãoindustrial foi o que encaminhou o projeto <strong>da</strong> microcompacthome, também conheci<strong>da</strong> como m-ch,resultado <strong>da</strong> parceria entre os escritórios Horden CherryLee Architects e Haack Hoepfner Architects. Emdesenvolvimento desde 2001, finalizado e testado em2005 e 2006, o projeto parte do pressuposto de ser umahabitação transportável, leve, de alta tecnologia e combaixo consumo de energia 112 .79: m-ch – HCLA – 2005Fonte: disponível emacesso em 22 jan. 2009112 Disponível em acesso em 22 jan.2009133


A casa com arestas de 2,66m e pé-direto de 1,98mcomporta duas pessoas. Como um módulo mínimo dehabitação deslocável, esta pequena casa vemmobilia<strong>da</strong> de fábrica e provi<strong>da</strong> de equipamentoseletrônicos padronizados. O comportamento do usuáriotende a se a<strong>da</strong>ptar à configuração estabeleci<strong>da</strong> pelofabricante.80: m-ch – Cozinha – HCLA – 2005Fonte: disponível emacesso em 22 jan. 200981: m-ch – Dormitório / Sala –HCLA – 2005Fonte: disponível emacesso em 22 jan. 2009134


O peso aproximado desta residência é de 2,2 tonela<strong>da</strong>se, assim como a Fly’s Eye, pode ser transporta<strong>da</strong> porhelicóptero ou iça<strong>da</strong> por grua para alterar o local deinstalação. Para a implantação <strong>da</strong> casa cápsula sãonecessários pontos de água, energia e esgoto.82: m-ch – HCLA – 2005Fonte: disponível emacesso em 22 jan. 200983: m-ch – Tree Vilage – HCLA –2005Fonte: disponível emacesso em 22 jan. 2009135


Os autores <strong>da</strong> m-ch avançaram com o projeto inicialdesenvolvendo uma torre de cubos com potencial paraalcançar 15 metros [83]. As uni<strong>da</strong>des estariam presasem uma estrutura central que faria a distribuição deenergia e água para ca<strong>da</strong> moradia. A Tree Vilage, comoé chama<strong>da</strong>, consiste em uma estrutura central emformato de torre que abastece as uni<strong>da</strong>des a elaconecta<strong>da</strong>s.As uni<strong>da</strong>des independentes que se conectam formandopequenos bairros ou ci<strong>da</strong>des é um conceito estu<strong>da</strong>dopor diversos arquitetos desde a déca<strong>da</strong> de 60. Ointeressante destas estruturas é possibili<strong>da</strong>de desubstituição ou atualização pontual de partes.Baudrillard complementa:Para uma certa vanguar<strong>da</strong> arquitetônica, a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong>habitação futura está na construção efêmera: estruturasmóveis, variáveis, desmontáveis. Uma socie<strong>da</strong>de móveldeve ter uma habitação móvel. E é ver<strong>da</strong>de, sem dúvi<strong>da</strong>,que isso se inscreve na exigência social e econômica <strong>da</strong>moderni<strong>da</strong>de. (...) Mas se, por estas razões, a arquiteturaefêmera deve ser um dia a solução coletiva, é, nestemomento, o monopólio de uma fração privilegia<strong>da</strong>, à qualseu padrão econômico e cultural permite pôr em causa omito do durável. 113Seguindo os princípios <strong>da</strong> industrialização e <strong>da</strong>obsolescência, Peter Cook (Archigram) idealizou, em1964, uma mega-estrutura 114 urbana em que torresestariam fisicamente interliga<strong>da</strong>s através de conexõesde alta tecnologia e cápsulas residenciais e de serviçosestariam conecta<strong>da</strong>s a estruturas centrais instala<strong>da</strong>s no113 BAUDRILLARD, op. cit., p.72114 Estrutura de grande porte que atua com a mesma funcionali<strong>da</strong>de de uma ci<strong>da</strong>de e envolve: uni<strong>da</strong>desmodulares; ampliação ilimita<strong>da</strong>; estrutura de conexão para cápsulas e armação estrutural com vi<strong>da</strong> útilmaior que a <strong>da</strong>s cápsulas. Ver BANHAM, Reyner. Megaestructuras. Futuro urbano del pasado reciente.Tradução de Ramon Font. 2. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. 223p.136


solo. O urbanismo <strong>da</strong> Plug-in City seria mutante; ascápsulas e as conexões poderiam ser reposiciona<strong>da</strong>sou substituí<strong>da</strong>s por versões atualiza<strong>da</strong>s, caso uma rua,um bairro ou uma ci<strong>da</strong>de inteira caísse em desuso seriapossível reprogramá-los desconectando oscomponentes antigos e reconectando novos.Os componentes <strong>da</strong> mega-estrutura foramdesenvolvidos prevendo substituições pontuais ougerais devido ao surgimento de novas necessi<strong>da</strong>desdos usuários ou de novas tecnologias. A obsolescênciaprevista para ca<strong>da</strong> item <strong>da</strong> estrutura era de:Banheiro, cozinha e piso <strong>da</strong> sala de estar: 3 anosSala de estar e dormitórios: de 5 a 8 anosLocação <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de de habitação: 15 anosEspaço em lojas para ven<strong>da</strong> de uso imediato: 6 mesesLocação de lojas: de 3 a 6 anosÁreas de trabalho, computadores, etc.: 4 anosEstacionamentos e aveni<strong>da</strong>s: 20 anosMega-estrutura principal: 40 anos 11584: Plug-in City – Peter Cook –1964Fonte: COOK (1999, p.40)115 COOK, op. cit., p.39137


Para assegurar a <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> substituição dos componentes,devido à progressos tecnológicos ou necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de, o projeto do invólucro foi previsto parafabricação industrial em chapas de metal ou fibra devidro, o que garante o volume necessário para asatualizações e mantém o padrão <strong>da</strong>s peças e conexões.O desenho externo <strong>da</strong> cápsula contempla a modulaçãode onze uni<strong>da</strong>des por an<strong>da</strong>r em uma torre que contémos serviços básicos previstos para o funcionamento <strong>da</strong>edificação.O Archigram levou em consideração um espaço mínimovital, executou um programa de habitação completo epreviu tecnologia de ponta nos equipamentos internosdisponíveis.1. Piso; 2. Tela divisória deambientes; 3. Cama; 4. Parede comcomponentes de áudio-visualconectados; 5. Parede interna;6. Teto.85: Casa Cápsula – Peter Cook –1964Fonte: COOK (1999, p.44)138


1. Duto de serviços; 2. Banheiro;3. Elevador pneumático; 4. Paredepara conectar equipamentos;5. Tela divisória de ambientes;6. Porta de serviços; 7. Conexão deserviços; 8. Uni<strong>da</strong>de dearmazenamento.86: Vistas <strong>da</strong> Capsule Home / Torreresidencial – Peter Cook – 1964Fonte: COOK (1999, p.45)Para este tipo de projeto que tem como premissa aobsolescência dos elementos, sejam partes ou o todo, arecomen<strong>da</strong>ção por componentes pré-fabricados éfun<strong>da</strong>mental para assegurar a substituição dos itensnecessários sem afetar a estrutura principal.A utopia <strong>da</strong> Plug-in City com suas casas cápsulas foium projeto que não saiu do papel. Dentro <strong>da</strong> mesmapremissa, ain<strong>da</strong> que em um único edifício, a NakaginCapsule Tower, projeto do arquiteto Kisho Kurokawa, éuma <strong>da</strong>s provocações que se concretizou como umedifício concebido com o preceito <strong>da</strong> substituição.139


Construí<strong>da</strong> em Tóquio em 1971, as uni<strong>da</strong>des sãocontempla<strong>da</strong>s em forma de células intercambiáveisacopla<strong>da</strong>s a uma estrutura central (torre) que permite aalteração ou atualização fácil <strong>da</strong>s cápsulas através <strong>da</strong>extração dos módulos e inserção de outros. 11687: Nakagin Capsule Tower –Maquete do edifício e interior <strong>da</strong>cápsula – Kisho Kurokawa – 1971Fonte: DREW (1973, p.73)Ca<strong>da</strong> torre comporta sete uni<strong>da</strong>des por an<strong>da</strong>r. Asfixações <strong>da</strong> cápsula na estrutura foram projeta<strong>da</strong>s paraevitar falhas de montagem, além de propiciar fácildesconexão quando necessário.116 DREW, Philip. Tercera generación: La significación cambiante de la arquitectura. Barcelona: EditorialGustavo Gili, 1973. p.69140


88: Nakagin Capsule Tower –Planta e esquema de montagem –Kisho Kurokawa – 1971Fonte: disponível emacesso em 5 maio 2008A Nakagin Capsule Tower tinha como público alvo aspessoas solteiras; as células foram dimensiona<strong>da</strong>s em2,5 x 4 metros e têm configuração semelhante aosapartamentos tipo kitchenette analisados anteriormente,contendo em seu interior banheiro, sofá-cama,armários, fogão, geladeira e equipamentos de áudiovisual e comunicação.O desenho integrado que reúne em um mesmo corpomobiliário e vedos remete ao raciocínio de Fuller noDymaxion Bathroom. Projetados para fabricação namesma superfície de fechamento <strong>da</strong> cápsula, os141


equipamentos domésticos e eletroeletrônicos sãoacoplados a nichos específicos originários <strong>da</strong> superfície<strong>da</strong> parede.89: Nakagin Capsule Tower –Interior de uma cápsula – KishoKurokawa – 1971Fonte: disponível emacesso em 5 maio 2008As cápsulas são pré-fabrica<strong>da</strong>s em aço e conecta<strong>da</strong>s àtorres de concreto previamente implanta<strong>da</strong>s. Nestastorres encontram-se elevadores, esca<strong>da</strong>s, instalaçõeselétricas e hidráulicas.O edifício que nunca passou por manutenção eatualização <strong>da</strong>s cápsulas está na iminência de serdemolido, a menos que um plano de restauro sejaapresentado e aprovado pelos moradores, proprietáriose autori<strong>da</strong>des locais. Os moradores alegam que aestrutura de concreto está comprometi<strong>da</strong> e buscamfinanciamento para a construção de um edifício quesiga as tendências atuais de arquitetura. 117117 Fonte: disponível em acesso em 8 set. 2009142


Em 2007, antes de sua morte, Kisho Kurokawadefendeu a preservação <strong>da</strong> torre através <strong>da</strong> atualização<strong>da</strong>s cápsulas. Esclareceu que o projeto previasubstituição dos módulos a ca<strong>da</strong> 25 anos e que oedifício poderia durar até 200 anos; em sete ou oitomeses to<strong>da</strong>s as cápsulas estariam substituí<strong>da</strong>s. Ain<strong>da</strong>comparou a necessária manutenção periódica doedifício com os exemplos de satélites e veículos, quedeman<strong>da</strong>m gerenciamento e substituição de partes paragarantir o bom funcionamento. 118Parece contraditório que um edifício concebido paracontemplar atualizações seja simplesmente demolidopor estar ultrapassado, a flexibili<strong>da</strong>de teoriza<strong>da</strong> peloarquiteto não se traduz na prática. Arquitetos ao redordo mundo defendem o restauro por se tratar de umedifício que faz parte <strong>da</strong> história, um ícone <strong>da</strong>arquitetura que não merece o fim que está propício aacontecer.Outro interessante projeto de mega-estrutura é o queKenzo Tange desenvolveu, em 1960, para a Bahia deTóquio 119 . O projeto prolonga o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de poraproxima<strong>da</strong>mente 18 quilômetros pelas águas <strong>da</strong> baíaatravés de uma estrutura que interliga edifícioscomerciais e residenciais (configurados por torres queconectam uni<strong>da</strong>des modulares) com vias de acessoentre os “bairros” e dentro deles.118 Fonte: disponível em acesso em 5 nov. 2009119 BANHAM, op. cit., p.51143


90: Projeto para a Bahia de Tókio –Kenzo Tange – 1960Fonte: BANHAM (2001, p.50)91: Projeto para a Bahia de Tókio –Kenzo Tange – 1960Fonte: BANHAM (2001, p.53)144


Este projeto entende as cápsulas como ambição urbanae prevê a construção de uma ci<strong>da</strong>de marinha comdiferentes programas, não só habitacionais. O projeto éde tal complexi<strong>da</strong>de, que ca<strong>da</strong> componente <strong>da</strong> megaestruturapode ser chama<strong>da</strong> de uma mega-estrutura emsi 120 . A organização linear comporta os edifícioscomerciais, que foram projetados para circun<strong>da</strong>r torresde serviços, e as residências, previstas para construçãonas plataformas em forma de ten<strong>da</strong>.Um projeto recente que retoma a questão <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>desmarítimas é o Trilobis 65 121 , projeto do arquiteto italianoGiancarlo Zema, especializado em estruturasarquitetônicas parcialmente submersas. O objetivodeste projeto é estu<strong>da</strong>r uma alternativa para a moradiafixa, com vantagem de ter autonomia de locomoção nomar. Desenvolvi<strong>da</strong> em 2001, a habitação flutuanteautônoma conta com soluções inteligentes e limpaspara captação e uso de energia; células de hidrogêniogarantem o acionamento de dois motores elétricos,enquanto painéis fotovoltaicos captam energia solarpara alimentar os equipamentos internos 122 .A habitação é indica<strong>da</strong> para aportar em baías,ensea<strong>da</strong>s ou parques marítimos. A formação <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de se dá pela conexão de diversas uni<strong>da</strong>desem uma marina projeta<strong>da</strong> para amparar este120 Idem, p.53121 A empresa responsável pela fabricação e comercialização desta habitação aquática é a UnderwaterVehicles Inc., localiza<strong>da</strong> em Vancouver, Canadá. Ver 122 Disponível em acesso em 15 mar. 2009145


equipamento; o desenho externo <strong>da</strong> mora<strong>da</strong> contemplaum alojamento fêmea 123 que possibilita a interligação.92: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Marina – 2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 200993: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Planta e elevação <strong>da</strong> Marina –2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 2009Dimensiona<strong>da</strong> em 20 metros de comprimento e 13metros de largura, atinge veloci<strong>da</strong>de máxima de 7 nós(aproxima<strong>da</strong>mente 13 km/h). A embarcação tem123 Também utilizado em design o termo “espera”.146


capaci<strong>da</strong>de para abrigar seis pessoas e é configura<strong>da</strong>em quatro an<strong>da</strong>res interligados por uma esca<strong>da</strong> caracolposiciona<strong>da</strong> no centro. No an<strong>da</strong>r mais alto fica a cabinede comando; no an<strong>da</strong>r seguinte, que dá acesso à áreaexterna, ficam as áreas de convívio como cozinha, salade jantar e lounge [96]; o terceiro an<strong>da</strong>r, a 0,8 metroabaixo do nível do mar, localiza-se as quatro suítessendo duas de solteiro e duas de casal [97]; o an<strong>da</strong>rinferior está a 3 metros abaixo do nível do mar e é omenor de todos, consiste numa bolha transparente queoferece visão total do fundo do mar e serve comoobservatório subaquático [98].94: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 2009A parte inferior do casco é confecciona<strong>da</strong> em açoinoxidável, enquanto a estrutura superior, em alumínio,garante leveza à habitação. As janelas sãoconfecciona<strong>da</strong>s em laminados de vidro temperado comuma cama<strong>da</strong> intermediária condutora de correnteelétrica. Este compósito permite alterar manual oumecanicamente sua opaci<strong>da</strong>de de acordo com a147


luminosi<strong>da</strong>de externa, mantendo a iluminação doambiente controla<strong>da</strong>.95: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Vista lateral e frontal – 2001Fonte: disponível em acesso em 15 mar. 2009148


Até o momento desta pesquisa não foram divulga<strong>da</strong>simagens <strong>da</strong> habitação finaliza<strong>da</strong>. Os registrosdisponíveis são ilustrações computadoriza<strong>da</strong>s doprojeto (renderings) passíveis de alteração.O mobiliário interno tende a ser fabricado em fibra devidro e busca otimizar espaço e proporcionar maiorconforto aos moradores. Os móveis são desenhadosseguindo uma linha contínua que acompanha odesenho interno <strong>da</strong>s paredes <strong>da</strong> embarcação.96: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Lounge – 2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 200997: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Suíte de casal – 2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 2009149


98: Trilobis 65 – Giancarlo Zema –Observatório subaquático – 2001Fonte: disponível emacesso em 15 mar. 2009O projeto do mobiliário interno parece não ter recebidoa mesma atenção que a embarcação obteve do autor,os móveis não possuem a mesma adequação que asdemonstra<strong>da</strong>s no edifício. A configuração desenvolvi<strong>da</strong>para os ambientes internos além de não apresentar umpropósito, não é condizente com a tecnologia aplica<strong>da</strong>ao veículo. O projeto, lido como um conjunto,demonstra um raciocínio ambíguo entre desenhoexterior e interior.Os projetos analisados anteriormente de mobiliárioaderido à arquitetura apresentam uma integração maispertinente entre os elementos e compreendem commaior profundi<strong>da</strong>de as questões espaciais envolvi<strong>da</strong>sem uma habitação.150


8 Cápsulas em movimentoHá diferença entre moradia móvel e veículo habitável.Embora ambos sejam providos de locomoção, amoradia móvel prevê estabili<strong>da</strong>de em fixar-se por umperíodo de tempo maior em determinado sítio, enquantoo veículo habitável tem por pressuposto a constantemovimentação. Além disso, a moradia móvel éentendi<strong>da</strong> como atribuição <strong>da</strong> arquitetura e do design,enquanto os veículos habitáveis, permeiam ascompetências do design e <strong>da</strong> engenharia. O que osaproxima, entretanto, é a possibili<strong>da</strong>de de um territóriohabitável, a princípio, pertencente à arquitetura ain<strong>da</strong>que projetado por designers e engenheiros.Neste momento, um interessante aspecto destapesquisa é relacionar o espaço <strong>da</strong> moradia aosconhecimentos <strong>da</strong> engenharia. Geralmente, os projetosde veículos habitáveis são articulados entre designers eengenheiros, em poucos casos os arquitetos enfrentamesta questão.Um dos primeiros estudos a respeito de habitar emmovimento foi o trailer, um veículo característico muitoutilizado em acampamentos ou viagens temporáriasque contém em seu interior to<strong>da</strong> a estrutura necessáriapara viver. É um módulo sem tração e necessita doreboque de um automóvel para se locomover.O Bowlus Road Chief foi um dos primeiros projetos detrailer a ser fabricado, em 1934, pelo piloto e fabricante151


de aeronaves William Hawley Bowlus. Com tecnologiasemelhante à construção de aeronaves, os trailersforam desenvolvidos como um monocoque 124 . Comestrutura tubular em aço inoxidável e cobertura emfolhas de alumínio, o trailer resulta numa uni<strong>da</strong>de leve eresistente. A eficiência em relação à veloci<strong>da</strong>de econsumo de combustível é justifica<strong>da</strong> também, pelaslinhas aerodinâmicas aplica<strong>da</strong>s ao trailer e ao veículorebocador, inspira<strong>da</strong>s nos desenhos de aviões.99: Bowlus Road Chief – 1935Fonte: disponível emacesso em 25 fev. 2009100: Bowlus Road Chief – 1935Fonte: disponível emacesso em 25 fev. 2009124 Fuselagem de avião ou foguete, geralmente sem longarina ou outra estrutura de sustentação, dota<strong>da</strong>de um revestimento ou cobertura externa que suporta to<strong>da</strong> a carga estrutural. Fonte Dicionário EletrônicoHouaiss. Acesso em 21 fev. 2009.152


Com dimensões internas aproxima<strong>da</strong>s de 5,6 metros decomprimento, 1,8 metros de largura e 1,82 metros dealtura interna 125 , o Road Chief possui em seu interiorcozinha completa, sala, quarto e banheiro. Configuradocomo uma cápsula, os ambientes são identificadosatravés do mobiliário inserido, não havendo limitaçõesfísicas entre eles.101: Bowlus Road Chief – Planta –1935Fonte original: disponível emacesso em 25 fev. 2009Redesenho do autorA porta de entra<strong>da</strong> está localiza<strong>da</strong> em uma <strong>da</strong>sextremi<strong>da</strong>des do veículo e dá acesso direto à cozinhaequipa<strong>da</strong> com pia, geladeira, fogão, reservatório deágua e gás. O veículo possui quatro lugares paradormir, sendo dois sofás-cama posicionados na sala eoutros dois lugares no quarto. O quarto localiza-se naextremi<strong>da</strong>de oposta à cozinha, possui uma grandecama em V e um armário. A porta do guar<strong>da</strong>-roupas,localizado no centro do veículo, possui duas funções:quando fecha<strong>da</strong>, mantém os objetos protegidos dentrodo armário; quando aberta é o elemento que edita oespaço; o divide em dois ambientes. Atribuir mais de125 Disponível em acesso em 25 fev. 2009153


uma função aos elementos internos é uma decisãofun<strong>da</strong>mental quando se trata de pequenos espaços commúltiplos usos.A indústria de Bowlus passou por uma crise financeiraem meados de 1936, o então funcionário Wallace MerleByam comprou parte dos equipamentos e fundou suaprópria empresa, a Airstream Inc., <strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong>de àconstrução de trailers. O primeiro produto a sercomercializado foi o Clipper, com desenho semelhanteao seu antecessor, porém com a porta localiza<strong>da</strong> naface lateral.102: Airstream Clipper – 1936Fonte: disponível emacesso em 25 fev. 2009A Airstream é uma indústria tradicional de trailers nosEstados Unidos e é considera<strong>da</strong> um ícone do estilo devi<strong>da</strong> americano. 126 Dos produtos disponíveis no catálogode 2008, configurados com menor área útil e queapresentam soluções internas interessantes encontramseo DWR e o Basecamp.126 Fonte: disponível em acesso em 14 ago. 2009154


O DWR parte de uma proposta diferencia<strong>da</strong>. “DesignWithin Reach” é internamente configurado comrefinados tecidos, objetos e peças de mobiliárioassinados por reconhecidos designers. O jogo de jantarHeller é projeto do designer italiano Massimo Vignelli; orelógio de parede Ball Clock é do designer americanoGeorge Nelson; cabides de parede do britânico TomDixon; cadeiras Tripolina do italiano Antonio Citterio;roupas de cama <strong>da</strong> requinta<strong>da</strong> Matteo e tecidos dodesigner britânico Paul Smith. Dentre os equipamentoseletrônicos encontra-se ar condicionado, sistema desom e TV de LCD Sony 127 .A cozinha é configura<strong>da</strong> pelo móvel kitchenette ecompartilha o espaço com a mesa de jantar e doisbancos compridos passíveis de utilização como camade solteiro. A cama de casal é posiciona<strong>da</strong> em uma <strong>da</strong>sextremi<strong>da</strong>des do trailer. Recebe certa privaci<strong>da</strong>dedevido ao posicionamento do guar<strong>da</strong>-roupas e dobanheiro que estreitam a passagem e com o auxílio deuma cortina, dividem o espaço.103: Airstream DWR – Mesa dejantar – 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 2009127 Disponível em acesso em 27 fev. 2009155


Com dimensões internas aproxima<strong>da</strong>s de 5 metros decomprimento, 2,3 metros de largura e 2,8 metros dealtura, a infra-estrutura deste trailer comporta a moradiade até quatro pessoas. Outro diferencial deste projeto éa cobertura externa que amplia a área comum eproporciona um agradável espaço de convívio.104: Airstream DWR – Planta –2008Fonte original: disponível emacesso em 26 fev. 2009Redesenho do autor105: Airstream DWR – 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 2009106: Airstream DWR – Área externa– 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 2009156


O DWR é um tipo de veículo independente em relaçãoà infra-estrutura, não necessita de amparo externo paraviabilizar sua utilização, diferente do Basecampprojetado para aportar em áreas oficiais deacampamento, que oferecem to<strong>da</strong> a infra-estruturanecessária para os campistas, como banheiros,restaurantes e áreas de lazer.O Basecamp é um trailer indicado para viagens breves,por não possuir uni<strong>da</strong>de sanitária interna, não éindicado para moradia, sendo sua funcionali<strong>da</strong>deprejudica<strong>da</strong> caso o equipamento aporte em áreaisola<strong>da</strong>. As linhas ousa<strong>da</strong>s emprega<strong>da</strong>s no exterior doveículo se devem ao público direcionado para estemodelo, pessoas jovens e com hábitos aventureiros.107: Airstream Basecamp – 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 2009As dimensões internas aproxima<strong>da</strong>s deste veículo são:comprimento 5 metros, largura 1,9 metros e altura 1,85metros 128 . O interior é configurado com duas camas de128 Disponível emacesso em 26 fev. 2009157


solteiro, mobiliário de cozinha tipo kitchenette ecomponentes específicos para suprir possíveisnecessi<strong>da</strong>des do público a que se destina: suportes,nichos, ganchos e telas estão dispostos nas superfícieslaterais e superiores do trailer a fim de organizar ospertences dos usuários e facilitar a utilização dosmesmos.108: Airstream Basecamp – Planta– 2008Fonte original: disponível emacesso em 26 fev. 2009Redesenho do autorAs camas são fixa<strong>da</strong>s à estrutura lateral do veículo eutiliza<strong>da</strong>s também como sofá. Possuem articulaçãopara erguê-las paralelamente à parede (proporcionandoárea livre interna) e ferragens extensoras para uni-lascomo uma cama de casal [109].O diferencial deste modelo é a rampa de acesso naentra<strong>da</strong>, o que facilita a movimentação de objetosgrandes como caiaques, motos ou triciclos [110 / 111].158


109: Airstream Basecamp – Detalhe<strong>da</strong> cama – 2008Fonte: disponível emacesso em 26 fev. 2009159


110: Airstream Basecamp Rampade acesso – 2008Fonte: disponível emacesso em 27 mar. 2009111: Airstream Basecamp – Rampade acesso – 2008Fonte: disponível emacesso em 27 mar. 2009A prática do campismo no Brasil teve auge na déca<strong>da</strong>de 60 com o surgimento de fábricas de trailers eequipamentos que ofereciam facili<strong>da</strong>des para osadeptos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Os trailers e motor homes seinstalavam em áreas específicas que ofereciam infraestruturade apoio aos usuários, conheci<strong>da</strong>s porcampings, e que também tiveram bom crescimentonesse período. Na déca<strong>da</strong> de 90, com o alto valorcobrado pelos combustíveis, o aumento no número depedágios e a falta de incentivo do governo, a prática docampismo iniciou sua fase de que<strong>da</strong>. Em 1997, um160


novo código de trânsito determinou que para rebocarum trailer o motorista teria que portar carteira dehabilitação com categoria superior a “B”. Este fator foicrucial para a suspensão <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des por parte doscampistas e, conseqüentemente, na diminuição dovolume de produção de veículos específicos, levando àfalência de diversas indústrias do ramo. Desde então, aopção mais viável para os praticantes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de é omotor home, em que veículo e trailer são unidos emuma única cápsula. A produção desse tipo de veículo ébaixa e atualmente, feita de forma artesanal no Brasil. 129O Airstream Interstate é um motor home americanoconsiderado de pequeno porte. Com o chassi a<strong>da</strong>ptadode uma Sprinter 130 , comporta oito pessoas senta<strong>da</strong>s epossui dois lugares para dormir. As dimensões externasaproxima<strong>da</strong>s são 7 metros de comprimento, 2,1 metrosde largura e 2,9 metros de altura 131 . Proporcionatranqüila dirigibili<strong>da</strong>de e mobili<strong>da</strong>de no campo e naci<strong>da</strong>de, podendo estacionar com facili<strong>da</strong>de.112: Airstream Interstate – 2008Fonte: disponível emacesso em 2 mar. 2009129 Disponível em acesso em 27 mar. 2009130 Chassi é a estrutura na qual se fixam o motor e a carroceria do veículo. Sprinter é um furgão <strong>da</strong>montadora Mercedes Benz131 Disponível em: acesso em 2 mar. 2009161


113: Airstream Interstate – Planta– 2008Fonte original: disponível em acesso em2 mar. 2009Redesenho do autorMódulos de banheiro, cozinha, armários (paraarmazenamento de bagagens) e sofá-cama sãoposicionados na parte traseira do veículo. O sofá-camacomporta três pessoas senta<strong>da</strong>s ou duas deita<strong>da</strong>s. Acozinha é configura<strong>da</strong> com mobiliário tipo kitchenette econtempla banca<strong>da</strong> para refeições reclinável comassento fixo.O banheiro é uma cápsula pré-fabrica<strong>da</strong> em fibra devidro mol<strong>da</strong><strong>da</strong>, em que a própria superfície <strong>da</strong> paredegera os suportes e nichos necessários para fixação deespelhos e torneiras. Este trabalho de integração, jáanalisado no módulo sanitário de Fuller (DymaxionBathroom), é pertinente para esta pesquisa por fundirobjeto e vedos em uma mesma cápsula.162


114: Airstream Interstate – Banheiro– 2008Fonte: disponível emacesso em 2 mar. 2009Os quatro assentos posicionados na parte dianteira sãogiratórios; enquanto o veículo está em movimento elesse posicionam virados para frente, quando o veículopára, podem ser configurados como uma área dereuniões ou refeições. Todos os assentos sãoergonômicos e possuem cinto de segurança.115: Airstream Interstate – Área deestar – 2008Fonte: disponível emacesso em 2 mar. 2009163


O trabalho em espaços reduzidos requer algumassutilezas no desenho que conferem melhoracomo<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s pessoas. O tampo <strong>da</strong> mesa comgeometria faceta<strong>da</strong> [115] parece não ser a melhorsolução para este projeto; uma elaboração perspicaz<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas neste espaço confeririaum desenho mais pertinente e de melhor usufruto paraos usuários.O interior dos veículos de transporte aéreo também éconfigurado com elementos pré-fabricados. Por ser umequipamento de grande porte, mobiliado a partir de umaespecificação de uso, é conveniente a utilização decomponentes industrializados que conferem veloci<strong>da</strong>dee ordenamento à fabricação. Os aviões também sãoexemplos de espaços habitáveis projetados pordesigners e engenheiros.Atualmente, o Airbus A380 é considerado o maior aviãocomercial de passageiros com capaci<strong>da</strong>de para 850pessoas em uma classe ou 555 pessoas subdividi<strong>da</strong>sem três classes. O primeiro vôo oficial foi realizado em2005 e a certificação obti<strong>da</strong> em 2006. A primeiracompanhia aérea a adquiri-lo foi a Singapore Airlines,empresa de Singapura, em 2007. Em 2008 a QantasAirways, empresa australiana, e a Emirates, empresaárabe, iniciaram os vôos comerciais com esta aeronave.164


116: Airbus A380 – Qantas – 2008Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009117: Airbus A380 – Primeira Classe– 2005Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009Na configuração padrão <strong>da</strong> aeronave, a primeira classeé composta por poltronas caracteriza<strong>da</strong>s comopequenas cápsulas que oferecem certa privaci<strong>da</strong>de aopassageiro. São equipa<strong>da</strong>s com tela LCD de 15”;conexões USB e de energia; superfície para fazerrefeições e nichos para guar<strong>da</strong>r objetos pessoais. Oajuste de inclinação transforma o assento em umacama sem ultrapassar os limites <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de. Aconfiguração <strong>da</strong>s poltronas no avião compreende umespaçamento maior que o comumente empregado emaeronaves comerciais.165


A classe executiva <strong>da</strong> empresa Qantas é configura<strong>da</strong>com poltronas projeta<strong>da</strong>s pelo designer MarcNewson 132 . O projeto levou em consideração pessoasque viajam a trabalho e utilizam este tempo paratrabalhar ou descansar. A poltrona é articula<strong>da</strong> com umsistema que a transforma em cama; conexões USB ede energia; ponto de iluminação dentro <strong>da</strong> concha;superfície para refeições e painel retrátil na lateral queconfere privaci<strong>da</strong>de. É adequa<strong>da</strong> para a realização deativi<strong>da</strong>des que exijam concentração e flexível osuficiente para conferir descanso. O desenho em formade concha delimita fisicamente a área referente a ca<strong>da</strong>passageiro e de certa maneira assegura privaci<strong>da</strong>de.118: Skybed – Airbus A380 –Qantas – Classe executiva – 2008Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009132 O projeto <strong>da</strong> poltrona Skybed foi vencedor do prêmio Australian International Design Awards de 2004na categoria Automotive & Transport. Fonte: disponível em acessoem 15 set. 2009166


119: Skybed – Airbus A380 –Qantas – Classe executiva – 2008Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009Os passageiros têm a disposição um móduloconfigurado com serviço de bar. Bebi<strong>da</strong>s e alimentossão mantidos refrigerados em compartimentos de fácilidentificação através <strong>da</strong> superfície frontal transparente.120: Airbus – A380 – Qantas –SnackBar – 2008Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009167


Os componentes pré-fabricados que constituem omobiliário <strong>da</strong> aeronave são objetos inseridos no espaçoe a maneira como são organizados determina acirculação <strong>da</strong>s pessoas. A configuração do mobiliário <strong>da</strong>aeronave é flexível e varia de acordo com a companhia.A Singapore Airlines manteve a distribuição originaldesenvolvi<strong>da</strong> pela Airbus, sendo doze suítes naprimeira classe, 399 assentos na classe econômica e60 na executiva.121: Airbus A380 – SingaporeAirlines – Planta <strong>da</strong> aeronave –2007Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009168


Já a Lufthansa Technik que adquiriu o super jumbo em2009, desenvolve desde 2005 o projeto para a versãoluxo, chama<strong>da</strong> VVIP. Esta aeronave tem como objetivoatender políticos, executivos importantes e pessoasinfluentes. O mobiliário foi projetado e confeccionadosob-medi<strong>da</strong> para conferir exclusivi<strong>da</strong>de e máximoconforto aos passageiros.122: Airbus A380 – Lufthansa –Planta <strong>da</strong> aeronave VVIP – 2009Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009169


No an<strong>da</strong>r principal foram organiza<strong>da</strong>s salas de reuniões[124], auditórios, restaurante, lounge [123], assentos paraprimeira classe e classe executiva. O an<strong>da</strong>r superior édedicado aos passageiros importantes e possui lounge,restaurante, banheiros, duas suítes [125], escritório,sauna e equipamentos de ginástica 133 .123: Airbus A380 – Lufthansa –Lounge VVIP – 2009Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009124: Airbus A380 – Lufthansa –Sala de Jantar VVIP – 2009Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009133 Disponível em: acesso em 5 mar. 2009170


125: Airbus A380 – Lufthansa –Quarto Principal VVIP – 2009Fonte: disponível emacesso em 5 mar. 2009A versão VVIP do A380 parte <strong>da</strong> premissa de oferecerserviços exclusivos aos clientes, assim sendo, observasenas imagens do interior que o mobiliário empregadonas cabines e áreas comuns, apesar de terem desenhoexclusivo, são peças passíveis de serem encontra<strong>da</strong>sno mercado. As ambientações não sugerem pertencerao interior de um avião, como se identifica facilmentenas imagens do A380 padrão.A configuração do mobiliário neste avião se aproxima,por desenho, do interior do Terminal TWA. Não porcoincidência, é um dos notáveis edifícios aeroportuáriosque se tornou símbolo devido à sua arquiteturaadmirável. 134134 MERKEL, Jayne. Eero Saarinen. New York: Phaidon Press Inc., 2005. p.213171


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A matriz comum <strong>da</strong> arquitetura e do design modernosconferiu subsídios que possibilitam a atuação concilia<strong>da</strong>dos profissionais. Embora com formação dissocia<strong>da</strong> nasescolas em decorrência <strong>da</strong> formação especialista, aatuação combina<strong>da</strong> é, de certa forma, freqüente. Asespecifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> área se mesclam ou sesobressaem de acordo com as exigências do projeto.As competências específicas são facilmentereconhecíveis em projetos que se distanciam <strong>da</strong>interseção. O pêndulo que oscila entre reconhecível eindissociável é o que articula as disciplinas tornando-asinterdependentes. Investigar a atuação dos profissionais<strong>da</strong> arquitetura e do design permitiu, ao fim do percurso,reconhecer especifici<strong>da</strong>des, rever relações perdi<strong>da</strong>s,identificar situações ti<strong>da</strong>s como indissociáveis eexplorar possíveis novas interseções através <strong>da</strong>atuação conjunta com outras especiali<strong>da</strong>des.Refletir sobre o mobiliário sem considerar o espaço, evice-versa, é enfrentar a questão de modo parcial. Omobiliário inserido e o espaço ativado exerceminfluência mútua na leitura dos elementos. Adependência de uma disciplina em relação a outra sedá a todo instante, o nível de interação é alterado deacordo com o propósito do projeto, iniciando pelo móvelinserido em uma arquitetura até o hibridismo <strong>da</strong>smoradias industrializa<strong>da</strong>s.A relação conceitual manti<strong>da</strong> entre arquitetura emobiliário quando projetados seguindo o mesmoraciocínio é claramente visualiza<strong>da</strong> na moradia173


tradicional japonesa. Os elementos precisamenteconcebidos e posicionados no espaço configuram oambiente de maneira tão interliga<strong>da</strong> que se tornaimpossível dissociá-los. O mobiliário não existe sem oespaço, assim como o espaço torna-se sem sentidocom a ausência do mobiliário próprio.Mobiliário como estantes que editam o espaço sãoprojetos interessantes para esta pesquisa por não seidentificarem como pertencentes ao conjunto <strong>da</strong>arquitetura ou do design. Assim como a kitchenette, quecompartilha o vocábulo entre espaço e móvel, é ummódulo que reúne os equipamentos essenciais parapreparação de alimentos e, em alguns casos, substitui oespaço <strong>da</strong> cozinha em si. São híbridos em essência.Foram analisados também, os corpos inseridos noterritório <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. O mobiliário urbano, tão presenteno cotidiano <strong>da</strong>s pessoas, pertence à interseção entreáreas. São elementos que amparam as necessi<strong>da</strong>des<strong>da</strong> população urbana e incorporam as questões <strong>da</strong>industrialização; atuam concomitantemente na escala<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e na escala do corpo. Ain<strong>da</strong> que por vezesapresentem certa complexi<strong>da</strong>de no projeto devido asistemas específicos de articulação, não deixam de sercorpos inseridos com capaci<strong>da</strong>de de reinformar a leitura<strong>da</strong> região.As cápsulas são exemplos de projetos com vínculomaior entre as competências. Independente doprograma de uso, mantém o invólucro como estruturaarquitetônica que integra e suporta os equipamentos174


internos em superfícies comuns; as mesmas superfíciesque subsidiam a instalação. A cápsula, enquanto ummódulo a ser acoplado, é dependente de arquiteturapara ativação. São considera<strong>da</strong>s componentes préfabricadosque seguem uma lógica sistêmica; fazemparte de uma estrutura maior e apresentam conexõespadroniza<strong>da</strong>s. Têm como pressuposto reconfigurar aarquitetura através <strong>da</strong> substituição dos módulos, o queconfere certa estabili<strong>da</strong>de para a edificação.As cápsulas de uso único, como os banheiros préfabricados,revelam um trabalho integrado de umespaço produzido industrialmente. Quando a essascápsulas são atribuí<strong>da</strong>s múltiplas funcionali<strong>da</strong>des, nocaso <strong>da</strong>s moradias industrializa<strong>da</strong>s, nota-se o trabalhointerdisciplinar em outra escala, a <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Osveículos habitáveis, salvo as questões pertinentes àmobili<strong>da</strong>de, acabam por se tornar estruturas móveis quecontém cápsulas e componentes pré-fabricados.As moradias industrializa<strong>da</strong>s e os veículos habitáveistambém são imbuídos dos princípios <strong>da</strong> lógica sistêmicaindustrial. O chassi padronizado possibilita que a partesuperior seja ordena<strong>da</strong> de acordo com o programa deuso, ampliando as configurações passíveis demontagem com o emprego de pré-fabricados comomódulos sanitários, kitchenettes, armários, sofás-camae poltronas. O design vai de encontro à arquitetura nosentido de agilizar o tempo de construção e baixarcustos com a utilização destes componentes queconferem instalação e manutenção eficientes.175


Alguns projetos foram tidos como provocações aoscostumes tradicionais de habitar. O Living Pod e oCushicle são projetos posicionados no limiar entrearquitetura e vestimenta; com sistemas que conferemautonomia aos corpos. Foram investigações do grupoArchigram que previa um futuro altamente tecnológico,provido de mobili<strong>da</strong>de e flexibili<strong>da</strong>de.O profissional que atua com pensamento amplo temcondições de conferir uni<strong>da</strong>de ao projeto, pois mantémas relações em todos os elementos desenvolvidos. Aresidência Olivo Gomes é um exemplo dessa atuação.Sob os mesmos princípios, Rino Levi integrou noprojeto arquitetura, paisagismo e mobiliário. Comraciocínio similar Mies van der Rohe, RichardBuckminster Fuller e Lina Bo Bardi, dentre outrosanalisados nesta pesquisa, procederam de formaconcilia<strong>da</strong> o trabalho entre arquitetura e design.Há diferença na ação de projetar quando se tem emmente esta relação. Seja para assegurar autonomiaentre as áreas, quando se pretende especifici<strong>da</strong>de noprojeto, seja quando a abrangência se faz necessária.As especifici<strong>da</strong>des são importantes por responderemrapi<strong>da</strong>mente às solicitações, porém o profissionalmultidisciplinar tem a capaci<strong>da</strong>de de articular diferentessaberes e aproximar os especialistas para queinterajam e troquem conhecimentos e experiências.O conhecimento fracionado, de certa forma, dificultaque os projetos usufruam <strong>da</strong>s competênciaspertencentes às outras áreas. Equipes passíveis de176


articulação passam a não se visitar desempenhandopeculiari<strong>da</strong>des pertinentes à especificação.A interseção entre arquitetura e design, inicialmenteproposta nesta pesquisa, foi amplia<strong>da</strong> após aidentificação <strong>da</strong> engenharia como conhecimento ativoem diversos projetos. Em 1962, a ESDI apontouacademicamente para a articulação entre o designer e oengenheiro civil através <strong>da</strong> habilitação em“industrialização <strong>da</strong> construção”, responsável porprojetos de componentes pré-fabricados destinados àconstrução civil. A articulação entre o designer e oengenheiro mecânico, analisa<strong>da</strong> nos projetos deveículos habitáveis, assim como as reflexões gera<strong>da</strong>sdurante a pesquisa delinearam um novo diagrama arespeito <strong>da</strong>s competências híbri<strong>da</strong>s. O redesenho dodiagrama inicial além de identificar e ampliar aspossibili<strong>da</strong>des de atuação entre profissionais que sereconhecem, permite que novas investigações sejamrealiza<strong>da</strong>s a partir dele.126: Representação gráfica <strong>da</strong>Teoria dos Conjuntos aplica<strong>da</strong> aArquitetura, ao Design, àsEngenharias Mecânica e Civil.Desenho do autor.Em Por uma Arquitetura, Le Corbusier analisa asconstruções desenvolvi<strong>da</strong>s pelos engenheiros, comotransatlânticos e aviões, e instiga os arquitetos a se177


aterem às proporções emprega<strong>da</strong>s, a coerência visualmanti<strong>da</strong> em todo o projeto, aos materiais e processosprodutivos industriais seriados, princípios que, segundoele, deveriam ser adotados em projetos habitacionais. Acultura industrial foi rapi<strong>da</strong>mente incorpora<strong>da</strong> pelaengenharia e aplica<strong>da</strong>, com sucesso, aos meios detransporte passíveis de habitação.A princípio, projetos de espaços com possibili<strong>da</strong>de dehabitação pertencem ao campo <strong>da</strong> arquitetura.Entretanto, os espaços habitáveis desenvolvidos pelodesign e pela engenharia mecânica, possivelmente, nãoperpassem pelas competências <strong>da</strong> arquitetura devido àproximi<strong>da</strong>de estabeleci<strong>da</strong> entre as duas primeiras pelasquestões <strong>da</strong> industrialização. Como estesequipamentos envolvem sistemas e processosindustriais específicos que, atualmente, sãoconhecimentos não pertencentes à formação <strong>da</strong> maioriados arquitetos, estes projetos acabam por se deslocardo território <strong>da</strong> arquitetura e aportar no campo híbridodo design e <strong>da</strong> engenharia. Nesta condição, o designeré o agente responsável por empregar as competênciasconti<strong>da</strong>s na interseção para humanizar o projetodeixando-o o mais próximo possível <strong>da</strong> arquitetura.Como não domina os conhecimentos específicos <strong>da</strong>área adjacente, aplica os saberes articulados mantendoo foco nas questões industriais. Na mesma medi<strong>da</strong>, seo arquiteto se propor a enfrentar esta questão, por nãodeter os conhecimentos inerentes à industrialização,provavelmente recorrerá a um profissionalespecializado a fim de adquirir conhecimentos eviabilizar suas propostas. Em certa medi<strong>da</strong>, a178


arquitetura ou o design desenvolve o projeto do espaço,nas questões pertinentes às suas competências, paraque a engenharia viabilize o projeto mecânico.A relação entre a arquitetura e a engenharia mecânicaé, geralmente, distante. Vale retomar, neste momento,os termos abrangentes do design como projeto amploque une competências entendi<strong>da</strong>s como campocomum. Para que se formem equipes de trabalhomultidisciplinares é preciso um profissional com visãogeneralista que viabilize e intermedeie o contato entreos especialistas. O design, por ser uma área que serelaciona amplamente com outras especiali<strong>da</strong>des,habilita os profissionais no sentido de permear camposdistintos e gerar conexões entre informaçõesdivergentes contribuindo positivamente para odesenvolvimento do projeto.O design é, portanto, um elemento articulador empotencial, pois estabelece vínculos com os maisdiversos saberes promovendo a conexão entre eles.Ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s áreas profissionais atua de formaindependente em projetos que se caracterizem deacordo com suas competências, porém determinadosprojetos exigem conhecimentos que ultrapassam odomínio particular dilatando-se por mais de umaespeciali<strong>da</strong>de. Quando há união e inter-relação desaberes distintos as propostas se fortalecem e osresultados são concretizados com maior pertinência.179


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