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aborto seletivo e predação de sementes no feijão-da-praia sophora ...

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ABORTO SELETIVO E PREDAÇÃO DE SEMENTES NOFEIJÃO-DA-PRAIA SOPHORA TOMENTOSA (FABACEAE)Gabriela PaiseINTRODUÇÃOSeleção sexual é a competição por encontros sexuais,na qual, objetiva-se maximizar a reproduçãoatravés <strong>da</strong> competição intrasexual e escolha <strong>de</strong> parceiros(An<strong>de</strong>rsson 1994). A pressão <strong>de</strong> seleção sexualatua tanto em animais como em plantas (Wilson1979; An<strong>de</strong>rson 1994). Em plantas, a seleção sexualpo<strong>de</strong> ocorrer em três fases: (1) na polinização, (2) nafertilização dos óvulos e (3) na maturação dos embriões(Wilson 1994). Durante a primeira fase ocorrecompetição entre grãos <strong>de</strong> pólen através <strong>de</strong> inibição<strong>da</strong> germinação ou do crescimento dos tubospolínicos. Nessa fase, as características genéticasdos grãos <strong>de</strong> pólen <strong>de</strong>terminam a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimentodo tubo polínico e o sucesso <strong>da</strong> competiçãopara fecun<strong>da</strong>r os óvulos (S<strong>no</strong>w & Spira 1991). Grãos<strong>de</strong> pólen superiores geneticamente <strong>de</strong>vem possuirmaior veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento e, portanto, <strong>de</strong>vemter acesso mais rápido aos óvulos disponíveis <strong>no</strong> órgãofemini<strong>no</strong> (Spira et al. 1996). Nessa fase tambémocorre <strong>no</strong> gineceu a escolha e a aceitação diferencialdo parceiro sexual. O gineceu libera sinais químicosque guiam os tubos polínicos, e também nutrientese outras substâncias que mantêm o pH favorável aocrescimento dos tubos polínicos (Galen et al. 1986).Durante a fase <strong>da</strong> fertilização, o gineceu irádirecionar os nutrientes necessários para o <strong>de</strong>senvolvimentodos embriões, em função <strong>da</strong> paterni<strong>da</strong><strong>de</strong>diferencia<strong>da</strong> (Bookman 1984). Embriões superioresgeneticamente receberão maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientesdo que embriões geneticamente inferiores.Em segui<strong>da</strong>, na última fase, ocorre a maturaçãoseletiva ou o <strong>aborto</strong> <strong>de</strong> embriões, provavelmente comoresultado <strong>de</strong> diferenças na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> genética dosdoadores <strong>de</strong> grãos <strong>de</strong> pólen e do investimentonutricional mater<strong>no</strong> (Arathi et al. 1999). Espera-seque o órgão femini<strong>no</strong> invista recursos alimentaressomente em embriões geneticamente superiores, fazendocom que eles sejam maiores e tenham maiorhabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecimento (Niesembaum 1999).Nessa fase po<strong>de</strong> ocorrer competição entre as <strong>sementes</strong><strong>de</strong> um mesmo fruto por recursos mater<strong>no</strong>s (Bawa& Buckley 1989). Assim, a semente localiza<strong>da</strong> maispróxima do pedúnculo (fonte <strong>de</strong> recurso nutricional)será favoreci<strong>da</strong> nutricionalmente em comparação àsoutras <strong>sementes</strong> do fruto. Essa competição <strong>de</strong>ve sermais intensa em frutos tais como vagens, <strong>no</strong>s quaisa disposição linear <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> po<strong>de</strong> limitar a passagem<strong>de</strong> recursos nutricionais às <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>sna parte apical dos frutos (Bawa & Buckley1989).As legumi<strong>no</strong>sas (Fabaceae) caracterizam-se por possuíremóvulos geralmente dispostos <strong>de</strong> forma linearentre o pedúnculo e o estigma <strong>da</strong> flor (Joly 1976;Souza & Lorenzi 2005). O fruto tem a forma <strong>de</strong> umavagem e, em algumas espécies, as <strong>sementes</strong> são separa<strong>da</strong>sumas <strong>da</strong>s outras por constrições <strong>da</strong>epi<strong>de</strong>rme do fruto. Esse é o caso <strong>de</strong> Sophoratomentosa, uma espécie arbustiva abun<strong>da</strong>nte emáreas <strong>de</strong> restinga (Fig. 1). Os frutos <strong>de</strong>ssa espéciesão atacados por besouros (Coleoptera) brocadores,cujas larvas se alimentam <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> (Lima 1955;Sendo<strong>da</strong> et al. 2007). Sendo<strong>da</strong> et al. (2007) <strong>de</strong>monstraramque a seleção <strong>de</strong> recursos pelos brocadores<strong>de</strong> S. tomentosa não ocorre nem <strong>no</strong> nível <strong>da</strong> plantanem do ramo. É possível, portanto, que o ataque dosbrocadores ocorra <strong>no</strong> nível do fruto e seja direcionadoàs <strong>sementes</strong> <strong>de</strong> maior quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto é, aquelas nasquais a planta-mãe investiu mais energia.Nesse trabalho investiguei as seguintes questões:(1) existe competição por recurso mater<strong>no</strong> entre <strong>sementes</strong><strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo fruto <strong>de</strong> S. tomentosa?;(2) existe <strong>aborto</strong> <strong>seletivo</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> em frutos <strong>de</strong>S. tomentosa?; (3) insetos brocadores atacam mais<strong>sementes</strong> maiores do que me<strong>no</strong>res em frutos <strong>de</strong>ssaespécie? Minhas hipóteses e predições são: (1) existecompetição entre <strong>sementes</strong>, portanto, <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>smais próximas <strong>da</strong> região basal do fruto<strong>de</strong>vem ser maiores do que <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s naregião mediana e apical do fruto, pois recebem maiorquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos <strong>da</strong> planta-mãe; (2) existe<strong>aborto</strong> <strong>seletivo</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> e, portanto, <strong>sementes</strong>localiza<strong>da</strong>s na região basal do fruto <strong>de</strong>vem ser maisaborta<strong>da</strong>s do que <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s na regiãomediana e apical do fruto. Sementes localiza<strong>da</strong>s naregião basal estão mais distantes do estigma e <strong>de</strong>vemser frequentemente fecun<strong>da</strong><strong>da</strong>s por grãos <strong>de</strong>pólen mais lentos e, supostamente, geneticamenteinferiores; (3) Insetos brocadores escolhem <strong>sementes</strong>maiores e com mais recursos para ovipor, portanto,um maior número <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s ocorrerána região do fruto com <strong>sementes</strong> maiores, ouseja, na parte basal.1


MATERIAL E MÉTODOSÁrea <strong>de</strong> estudoRealizei o trabalho <strong>no</strong>s dias 16 e 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007em uma área <strong>de</strong> restinga arbustiva localiza<strong>da</strong> naplanície litorânea <strong>da</strong> Floresta Atlântica latu sensu,situa<strong>da</strong> na Ilha do Cardoso (25°03’S; 47°53’W), município<strong>de</strong> Cananéia, litoral sul <strong>de</strong> São Paulo. Noperíodo <strong>de</strong> estudo, os indivíduos <strong>de</strong> S. tomentosa estavamcom frutos maduros. Os frutos em forma <strong>de</strong>vagem <strong>de</strong> S. tomentosa facilitam a visualização <strong>de</strong>tamanhos diferenciados <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>, <strong>aborto</strong> e<strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>, pois a vagem evi<strong>de</strong>ncia o contor<strong>no</strong><strong>da</strong>s <strong>sementes</strong>. Além disso, como em outraslegumi<strong>no</strong>sas, as <strong>sementes</strong> estão dispostas linearmentena vagem (Menn-Ali & Rocha 2005).Coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dosColetei todos os frutos maduros (vagens) <strong>de</strong> oito indivíduos<strong>de</strong> S. tomentosa. Em segui<strong>da</strong>, medi o comprimentodos frutos e dividi o comprimento <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>vagem em três partes iguais (basal, mediana e apical,Fig. 1). Em ca<strong>da</strong> parte do fruto contei o número <strong>de</strong><strong>sementes</strong> presentes. Medi o diâmetro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma<strong>de</strong>las e quantifiquei o número <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>s.O <strong>aborto</strong> caracterizava-se como a ausência <strong>de</strong><strong>sementes</strong> ao longo do fruto (Fig. 1). Finalmente, classifiqueias <strong>sementes</strong> em pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s ou não pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s.As <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s apresentavam orifícios na suasuperfície causados por besouros brocadores.Para ca<strong>da</strong> fruto e em ca<strong>da</strong> parte do fruto quantifiqueitambém as <strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>s. Para essa análiseutilizei somente frutos que apresentavam <strong>no</strong> mínimouma semente aborta<strong>da</strong>. Calculei um índice <strong>de</strong><strong>aborto</strong> (IA). O IA baseia-se na soma <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>aborta<strong>da</strong>s por parte, multiplicando as <strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>spor parte pela parte on<strong>de</strong> elas se localizam(parte basal = 1; parte mediana = 2; parte apical =3) e dividindo esse valor pelo total <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>sem ca<strong>da</strong> fruto. Reamostrei (n =1.000) os valoresdo IA para ca<strong>da</strong> fruto (em ca<strong>da</strong> parte) para sabera probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do IA obtido ocorrer ao acaso. Esseíndice leva em consi<strong>de</strong>ração a disposição média <strong>da</strong>s<strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>s localiza<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> parte do frutoe varia <strong>de</strong> 1 a 3 para ca<strong>da</strong> fruto. Quanto mais próximo<strong>de</strong> 1, mais <strong>sementes</strong> aborta<strong>da</strong>s ocorreram naparte basal do fruto e assim sucessivamente.Finalmente, para ca<strong>da</strong> fruto e em ca<strong>da</strong> parte do fruto,classifiquei as <strong>sementes</strong> em pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s ou nãopre<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para essa análise utilizei somente frutosque apresentavam <strong>no</strong> mínimo uma semente pre<strong>da</strong><strong>da</strong>.Calculei um índice <strong>de</strong> <strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> (IP). O IP baseia-sena soma <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s por parte, multiplicandoas <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s por parte pela parte on<strong>de</strong>elas se localizam (parte basal = 1; parte mediana =2; parte apical = 3) e dividindo esse valor pelo total<strong>de</strong> <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> fruto. Reamostrei (n= 1.000) os valores do IP para ca<strong>da</strong> fruto (em ca<strong>da</strong>parte) para saber a probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do IP obtido ocorrerao acaso. Esse índice leva em consi<strong>de</strong>ração a disposiçãomédia <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s localiza<strong>da</strong>s emca<strong>da</strong> parte do fruto e varia <strong>de</strong> 1 a 3 para ca<strong>da</strong> fruto.Quanto mais próximo <strong>de</strong> 1, mais <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>socorreram na parte basal do fruto, e assim sucessivamente.Análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dosPara ca<strong>da</strong> fruto e em ca<strong>da</strong> parte do fruto (basal,mediana e apical), calculei o diâmetro médio <strong>da</strong>s<strong>sementes</strong>. Em segui<strong>da</strong>, subtraí a média do diâmetro<strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> presentes na parte basal pela média<strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> presentes na parte mediana. Subtraítambém, a média <strong>de</strong> diâmetro <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> presentesna parte basal pela média <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> presentesna parte apical. Calculei a média <strong>de</strong>ssas diferençaspara ca<strong>da</strong> fruto coletado. Reamostrei (n = 1.000)os valores <strong>de</strong> diâmetro medidos para ca<strong>da</strong> fruto (emca<strong>da</strong> parte) para saber a probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> média <strong>da</strong>sdiferenças obti<strong>da</strong> ocorrer ao acaso.Figura 1. Desenho esquemático <strong>da</strong> flor (A) e do fruto(B) <strong>de</strong> Sophora tomentosa (Fabaceae).RESULTADOSColetei 50 frutos maduros <strong>de</strong> oito indivíduos <strong>de</strong> S.tomentosa. O número <strong>de</strong> frutos por planta variou <strong>de</strong>1 a 23, sendo a média <strong>de</strong> 6,4 ± 7,2. O número <strong>de</strong><strong>sementes</strong> por fruto variou <strong>de</strong> 3 a 12, sendo a média<strong>de</strong> 6,9 ± 2,6. O tamanho médio <strong>da</strong>s 331 <strong>sementes</strong>medi<strong>da</strong>s foi <strong>de</strong> 7,8 ± 0,8 mm (mín: 4,2 mm e máx: <strong>de</strong>9,6 mm). A diferença média observa<strong>da</strong> <strong>no</strong> tamanho<strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> <strong>da</strong> parte basal e parte mediana foi <strong>de</strong> -0,05, sendo o tamanho médio <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> <strong>da</strong> partebasal (7,8 mm) e <strong>da</strong> parte mediana (7,9 mm) bastantesimilares (p = 0,28). A diferença média observa<strong>da</strong>do tamanho <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> <strong>da</strong> parte basal eapical foi <strong>de</strong> 0,14, sendo o tamanho médio <strong>da</strong>s se-2


mentes localiza<strong>da</strong>s na parte basal (7,8 mm) maiordo que o tamanho médio <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>sna parte apical (7,6 mm) (p = 0,04).Dos 50 frutos analisados, 20 (40%) apresentavam<strong>no</strong> mínimo uma semente aborta<strong>da</strong>. As <strong>sementes</strong>aborta<strong>da</strong>s ocorreram <strong>no</strong>s frutos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a parte basalaté o ápice (Fig. 2), sendo mais freqüente (45%) naparte mediana, seguido <strong>da</strong> parte basal (25%) e <strong>da</strong>parte apical (25%). Em apenas um fruto avaliado(5%) ocorreu <strong>aborto</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> entre a parte basale mediana (Fig. 2). A média <strong>de</strong> IA observa<strong>da</strong> foi <strong>de</strong>1,97, ou seja, houve uma concentração <strong>de</strong> <strong>aborto</strong>muito próximo à parte mediana. Entretanto achance <strong>de</strong> valores me<strong>no</strong>res ou iguais a 1,97 ocorreremao acaso foi <strong>de</strong> 44%, indicando que o IA não foimaior na parte basal dos frutos do que nas partesmediana e apical.Frequência <strong>de</strong> frutos (%)504540353025201510501,0 - 1,4 1,5 - 1,9 2,0 - 2,4 2,5 - 3,0Índice <strong>de</strong> <strong>aborto</strong> (IA)Figura 2. 2 Distribuição <strong>da</strong> freqüência <strong>de</strong> frutos (n = 20),em porcentagem, <strong>no</strong>s índices <strong>de</strong> localização <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>aborta<strong>da</strong>s (IA) <strong>de</strong> Sophora tomenstosa (Fabaceae) nailha do Cardoso. Valores próximos <strong>de</strong> 1 indicam <strong>aborto</strong>na parte basal do fruto e valores próximos <strong>de</strong> 3 indicam<strong>aborto</strong>s na parte apical.Dos 50 frutos analisados, 41 (82%) apresentavam<strong>no</strong> mínimo uma semente pre<strong>da</strong><strong>da</strong>. Além disso, frutoscom maior número <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> possuíram maiornúmero <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s (R 2 = 0,53; n = 41;p < 0,001). Sementes pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s ocorreram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aparte basal até a parte apical (Fig. 3), sendo maisFrequência <strong>de</strong> frutos (%)40353025201510501,0 - 1,4 1,5 - 1,9 2,0 - 2,4 2,5 - 3,0Índice <strong>de</strong> <strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> (IP)Figura 3. Distribuição <strong>da</strong> freqüência <strong>de</strong> frutos (n =41), em porcentagem, <strong>no</strong>s índices <strong>de</strong> localização <strong>da</strong><strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> (IP) <strong>de</strong> Sophora tomenstosa(Fabaceae) na ilha do Cardoso. Valores próximos <strong>de</strong> 1indicam <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s na parte basal do fruto evalores próximos <strong>de</strong> 3 indicam <strong>sementes</strong> pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s naparte apical.freqüente (43,9%) na parte mediana que abrange ointervalo 2,0 a 2,4, seguido <strong>da</strong> parte basal (31,7%),que abrange o intervalo 1,0 a 1,4, e <strong>da</strong> parte apical(24,2%), que abrange o intervalo 2,5 a 3,0. A média<strong>de</strong> IP observa<strong>da</strong> foi <strong>de</strong> 1,86, ou seja, houve umaconcentração <strong>de</strong> <strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> muito próximo à partemediana. Entretanto, a chance <strong>de</strong> valores me<strong>no</strong>resou iguais a 1,86 ocorrerem ao acaso é <strong>de</strong> 11%, indicandoque o IP não foi maior na parte basal dos frutos(on<strong>de</strong> ocorrem <strong>sementes</strong> maiores) do que naspartes mediana e apical dos frutos avaliados.DISCUSSÃOA primeira hipótese levanta<strong>da</strong> neste estudo era <strong>de</strong>que, em havendo competição entre as <strong>sementes</strong> <strong>de</strong>um fruto, aquelas localiza<strong>da</strong>s mais próximas <strong>da</strong> regiãobasal do fruto <strong>de</strong>veriam receber mais nutrientese, portanto, <strong>de</strong>veriam ser maiores que as <strong>sementes</strong>localiza<strong>da</strong>s na parte mediana e apical do fruto.Em S. tomentosa, a parte basal <strong>da</strong> vagem <strong>de</strong> fatoapresentou <strong>sementes</strong> com tamanhos maiores do quea parte apical. Já as <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s na partemediana dos frutos foram similares quanto ao tamanhoàs <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s na parte basal, indicandonão haver um gradiente <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> tamanhoao longo do fruto, mas sim uma diminuiçãoabrupta em direção à parte apical do fruto. Essamu<strong>da</strong>nça abrupta <strong>no</strong> tamanho <strong>da</strong>s <strong>sementes</strong> po<strong>de</strong>indicar a existência <strong>de</strong> competição entre as <strong>sementes</strong><strong>de</strong> um mesmo fruto por recursos mater<strong>no</strong>s. As<strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s mais próximas do pedúnculo(fonte <strong>de</strong> recurso nutricional) <strong>de</strong>vem ser favoreci<strong>da</strong>snutricionalmente e, portanto, apresentam tamanhosmaiores em comparação às <strong>sementes</strong> localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong>extremo oposto do fruto (Bawa & Buckley 1989).Nas flores <strong>de</strong> legumi<strong>no</strong>sas, a posição dos óvulos emrelação ao ovário é muito importante para a or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> fertilização (Menn-Ali & Rocha 2005). Alguns óvulosestão localizados mais próximos ao estigma (local<strong>de</strong> entra<strong>da</strong> dos grãos <strong>de</strong> pólen) do que ao ovário.Portanto, esses óvulos <strong>de</strong>vem ser mais fertilizadospor tubos polínicos que apresentam crescimento maisrápido e que supostamente são geneticamente superiores(Bookman 1984). Outros óvulos, entretanto,estão localizados longe do estigma e <strong>de</strong>vem ser fertilizadospor tubos polínicos com crescimento lento(geneticamente inferiores). No presente estudo, contrariamenteao sugerido por Menn-Ali & Rocha (2005)para Bauhinia ungulata (Fabaceae), parece não terhavido <strong>aborto</strong> <strong>seletivo</strong> nem favorecimento mater<strong>no</strong><strong>de</strong> nutrientes para embriões geneticamente superiores(embriões localizados na parte apical dos frutos)em S. tomentosa. Apesar <strong>de</strong> ocorrer <strong>aborto</strong> <strong>de</strong><strong>sementes</strong> em 40% dos frutos analisados, não houve3


diferença estatística entre a freqüência <strong>de</strong> <strong>aborto</strong>snas partes basal, mediana e apical dos frutos. Problemas<strong>de</strong> incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os óvulos e os tubospolínicos po<strong>de</strong>m ter causado <strong>aborto</strong>s em algumas<strong>sementes</strong> (Bookman 1984). Além disso, a existência<strong>de</strong> <strong>sementes</strong> viáveis e aborta<strong>da</strong>s em um mesmo frutopo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido à chega<strong>da</strong> antecipa<strong>da</strong> <strong>de</strong> algunsgrãos <strong>de</strong> pólen em períodos em que o estigma estavaimaturo e não receptivo, resultando, posteriormente,<strong>no</strong> <strong>aborto</strong> <strong>de</strong>sses embriões. Segundo Marshall(1998), a fertilização <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> em estigmas madurosé três vezes maior do que em estigmas imaturos.O aporte nutricional do gineceu e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> genéticapaterna provavelmente fazem com que algumas<strong>sementes</strong> sejam mais nutritivas e maiores do queoutras (Niesembaum 1999). No presente estudo, insetosbrocadores não selecionaram <strong>sementes</strong> maiorespara a oviposição. Apesar <strong>da</strong> oviposição ter ocorridoem 82% dos frutos analisados, não houve diferençaestatística entre a freqüência <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas partes basal, mediana e apical. Emum estudo realizado anteriormente na ilha do Cardoso,Sendo<strong>da</strong> et al. (2007) <strong>de</strong>monstraram que a seleção<strong>de</strong> recursos pelos brocadores <strong>de</strong> S. tomentosanão ocorre nem <strong>no</strong> nível <strong>da</strong> planta nem do ramo. Nopresente estudo, observei que a seleção <strong>de</strong> recursopo<strong>de</strong> ocorrer ao nível do fruto. É possível, portanto,que o ataque dos insetos brocadores ocorra em frutosque possuem maior oferta <strong>de</strong> recurso (<strong>sementes</strong>),embora os insetos brocadores não selecionem<strong>sementes</strong> <strong>de</strong>ntro dos frutos.Em conclusão, a ocorrência <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> maioresmais próximas ao pedúnculo indica a presença <strong>de</strong>competição por recursos mater<strong>no</strong>s em <strong>sementes</strong> <strong>de</strong>frutos <strong>de</strong> S. tomentosa. Embora o <strong>aborto</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>em frutos <strong>de</strong> S. tomentosa seja comum, aparentementenão está relacionado à seleção <strong>de</strong> parceirosreprodutivos, mas sim possivelmente a problemasna fertilização dos óvulos. A alta variação <strong>no</strong> número<strong>de</strong> <strong>sementes</strong>/fruto e a relação positiva existenteentre o número <strong>de</strong> <strong>sementes</strong> e <strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>/fruto<strong>de</strong>monstram haver uma possível seleçãodos brocadores por frutos com maior número <strong>de</strong> <strong>sementes</strong>,embora não haja <strong>pre<strong>da</strong>ção</strong> preferencial <strong>de</strong><strong>sementes</strong> <strong>de</strong>ntro dos frutos.AGRADECIMENTOSAo Prof. Glauco Machado pela “semente” planta<strong>da</strong>durante a qualificação. A colega Fabiana Piolli pelaaju<strong>da</strong> na triagem do material coletado e troca <strong>de</strong>idéias. Ao Prof. Paulo Inácio Prado pelo auxílio estatísticoe troca <strong>de</strong> idéias. Ao colega Tiago Carrijo pelosesclarecimentos entomológicos e <strong>de</strong>senho.BIBLIOGRAFIAAn<strong>de</strong>rsson, M.B. 1994. Sexual selection. PrincetonUniversity Press, Princeton.Arathi, H.S.; Ganshaiah, K.N.; Shaanker, U.R. &Hedge, S.G. 1999. Seed abortion in Pongamiapinnata (Fabaceae). American Journal of Botany86: 659-662.Bawa, K.S. & Buckley, D.P. 1989. Seed: ovules ratios,selective seed abortion and mating systems inLegumi<strong>no</strong>sae. Mo<strong>no</strong>graphs in Systematic Botanyfrom the Missouri Botanical Gar<strong>de</strong>n 29: 243-262.Bookman, S.S. 1984. Evi<strong>de</strong>nce for selective fruitproduction in Asclepias. Evolution 38: 72-86.Darwin, C. 1871. The <strong>de</strong>scent of man and selectionin relation to sex. 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