24 • Público • Sábado 17 Outubro 2009SecundárioRanking Escola do interior do distrito do Porto combate o desinteresse“O que não aparece nas listas é oesforço de Baião para progredir”ReportagemManuel AssunçãoA escola tem mausresultados, mas acreditaque pode mudar. Apesar domeio, é uma escola para tirarboas notas, diz um aluno.a “Isso está mal!” O lugar daEscola Básica e Secundária deBaião no ranking das escolassecundárias está perto do fundoda tabela. É a 547.ª numa lista de600 estabelecimentos de ensino.No básico é 781.º entre 1292. Nãoserá por culpa de Vasco Rodrigues,o surpreendido aluno do 12.º anoque está a “poucas décimas” do seusonho: Medicina.O principal problema estáidentificado: “as famíliasdesvalorizam o sistema escolar”num concelho que tem dos maisbaixos índices de escolaridadedo país. Mas o que não aparecenas listas é o esforço de Baiãopara progredir. “A escola só podemelhorar e vamos colher osfrutos”, diz Nuno Mota, professorde Física e Química.Carlos Alberto Carvalho gostavade ser o director da primeiraescola do ranking, mas a realidadeé diferente. “O nosso concelhoestá na 272.ª posição no Índicede Desenvolvimento Económico-Social e isso diz quase tudo. Etambém por isso há desvalorizaçãoda escolaridade e apetência enecessidade pelo trabalho”,explica o director, acrescentandoque o ranking “compara o queé incomparável”. Paula Freitas,presidente da associação depais, admite que a posição causapreocupação, mas relativiza-a,porque “nem todos partem domesmo ponto de partida”.Em Baião, não há expectativas deemprego, a não ser na construçãocivil, e para muitos só em Espanha,lembra Nuno Mota. Muitos alunosnão têm expectativas definidas nemmotivação para fazer um cursosuperior, continua.A pobreza, a dificuldade deingresso no mercado de trabalho ea baixa formação dos pais – a médiadas habilitações literárias dos paisé o 4.º ano –, é um cocktail queresulta em desinteresse. No meiodisto, o papel de um psicólogo, dizDuarte Pacheco, é o de motivaros alunos, que em muitos casosnem sequer foram “até Marco deCanaveses” e conhecem pouco doque está fora de Baião.“Tento fazê-los perceber aimportância da escola”, um desafionuma região onde muitos pais“querem que os miúdos fiquemNELSON GARRIDONos últimos tempos, a escola investiu no melhoramento das estruturasem casa”. Na última reunião daassociação de pais, que representaum universo de cerca de milalunos, apareceram 17.Mas as coisas estão a mudar. Osresponsáveis não escondem asdificuldades e sabem que prenderos alunos à escola é complicado.Eles, aliás, sabem muita coisa.Provavelmente, poucas escolasfazem um esforço de diagnósticotão grande como a de Baião, dizem.Escolas juntas numa sóO ano passado deu-se um passodecisivo para melhorar, juntandosea maioria das escolas espalhadaspelo concelho numa só. Passoua haver articulação curricular eacabaram-se, por exemplo, assituações de salas de aulas “ondefuncionavam os quatro níveisde ensino do 1.º ciclo”, referePaula Freitas, que consideraque houve uma curva positiva,nos últimos anos: “Os nossospolíticos estiveram virados parao betão, agora estão virados paraa educação. A qualidade e osresultados vão melhorar bastante”.No meio de um recreio silencioso– os alunos estão todos ocupadoscom aulas ou outras actividades -,Vasco Rodrigues desresponsabilizaa escola pelo lugar no ranking.“Esta é uma escola para tirarboas notas e que oferece todas ascondições”, afirma o aluno de 17anos. Maria Gomes, um ano maisnova, concorda e também desejaque o seu futuro não passe poreste concelho com forte tecidorural, o mais interior do distrito doPorto. “Gosto de coisas com muitomovimento, quero conhecer outrascidades”, justifica.Nos últimos tempos, a escolainvestiu no melhoramento dasestruturas e na diversificação dasua oferta educativa. Apostou-seem cursos profissionais a pensarnaqueles “para quem a escola dizmuito pouco”. “É uma respostaao mercado de trabalho e osalunos saem preparados para avida activa”, diz Carlos AlbertoCarvalho. Há um esforço parafazer jus à tarja “Igualdade deOportunidades” com que estaescola com vista para a Serra doMarão recebe quem transpõeo portão. “Na educação nãose semeia hoje para colher jáamanhã”, conclui.Escola Básica e Secundária de Baiãobásico 2,85, 781.º lugarsecundário 9.19, 547.º lugarSobe e desceO PÚBLICO analisou as tabelas dosecundário e comparou-as com asde 2008. Muitas vezes a médiasnão sofrem grandes alterações.Professores e alunos fazem parteda equação do sucesso ou deinsucesso nos resultados.Na D. Pedro I“meia dúzia faza diferença”Em 2008, a EB 2,3 com SecundárioD. Pedro I, de Alcobaça, ocupavao 506.º lugar e estava no limiar dapositiva, com 9,75 em 20 valores.Este ano, a média saltou para os11,52, a escola subiu 377 posições,mas não houve festa. Defende adirectora Ilda Pereira que quandose fala de escolas vocacionadaspara o ensino profissional “oranking não reflecte a realidade”.“Com cada vez menos turmas doensino regular e menos estudantesa irem a exame, meia dúzia demuito bons alunos num ano ououtros tantos muito maus no outroprovocam subidas ou quedasabruptas.” Em 2008 fizeram-se 113provas, este ano apenas 72. G.B.R.Tomás Borba “nocaminho certo”para melhorarO que é que se conclui quandouma escola sobe 247 posiçõesno ranking, passando de 603.ª(com 6,61 de média) para356. ª (10,41)? “Conclui-se queestamos no caminho certo”,responde, “sinceramente feliz”,João Neves, vice-presidente daescola de Angra do Heroísmo.O estabelecimento abriu emMaio de 2007, “quando o edifícioficou pronto”. “O processo deorganização, a partir do zero, deum agrupamento com mais de1200 alunos, do pré-escolar ao12.º ano, foi tão complexo que,na realidade, até demorámospouco tempo a estabilizar e amelhorar.” G.B.R.Em Maniqueoferece-se“sempre o mesmo”O Padre David Bernardo, directorda Escola Salesiana de Manique,em Cascais, não tem dúvidas:“Aqui, os professores, o rigor,a exigência, a disciplina e obom ambiente de trabalho sãosempre os mesmos”, pelo quesó os reflexos “de um trabalhocontinuado de décadas” e “amudança de alunos, de um anopara o outro”, podem explicar asubida da 261.ª para a 49.ª posição.“Não mudámos nada! Só os alunosvão mudando”, assegura. Comcontrato de associação, a escolarecebe, entre outros, jovens debairros sociais. G.B.R.Herculano deCarvalho “semexplicação”“Há sempre várias formas deler um ranking”, diz o directorda secundária Herculano deCarvalho, em Lisboa. AntónioCruz prefere olhar para “as cincoescolas que estão na mesma zonade Lisboa” e congratular-se por aque dirige estar em 209.º lugar, “enão em quatrocentos e tal”. Sejacomo for, insiste, não consideragrave a queda do 56.º posto,que ocupou no ano passado,nem encontra explicação paraa descida de 12,48 para 11,04.Director desde Janeiro, diz queforam promovidas mudançasna escola. Agora tem paredeslimpas, mais higiene e novosespaços de recreio. Nenhumadelas, frisa, capaz de se reflectirnos resultados de formanegativa. G.B.R.Carolina rejeita“visão global”dos rankingsA directora da Escola SecundáriaCarolina Michaëllis, no Porto,diz que “arranjar desculpas paraos maus resultados era muitomais fácil”. Mesmo assim, rejeitauma “visão global” do rankingque este ano colocou a escolano lugar 369, com uma médiade 10,36 valores. Isto porqueatribui a Biologia e Geologia ea Físico-Química esta queda, jáque “foram as únicas disciplinasque baixaram” devido a exames“mais exigentes”. No ano passadoestavam em 181,º, com 11,37. CarlaDuarte prefere, destacar que nasoutras provas tiveram “médiasacima da nacional” e recordar umcaso de sucesso: o melhor alunodo concelho do Porto, no anopassado, é “da casa”. R.B.S.José Relvas quer“esperar sempremelhor”Os professores são os mesmos e“muito experientes”. A garantiaé dada pela directora da EscolaBásica e Secundária de JoséRelvas, em Alpiarça, que nãopercebe por que é que este ano aescola desceu de 80.º lugar para468.º – o que representa umaqueda de 12,05 para 9,89 valores.Até porque, conta Isabel Coelho,os professores estão a dar 90minutos de “reforço educativo”,por semana, a todas disciplinasalvo de exame nacional, o queos faz “esperar sempre melhor”.Além disso, apesar de reconhecerque “talvez a turma fosse umpouco mais fraca”, assegura quehá muita exigência: “A maioriados nossos alunos está agora nafaculdade”, conclui. R.B.S.
SecundárioPúblico • Sábado 17 Outubro 2009 • 25Retratos O top cinco das públicas e das privadasEscolas do Norte dominam o topo da tabela do secundárioA Escola Islâmica e a da Murtosa estreiam-se na lista das que têm melhores resultadosAs públicasEscola Secundária Artísticado Conservatório de MúsicaCalouste Gulbenkian, BragaOcupa a primeira posição comapenas 14 provas realizadas aPortuguês B, com uma médiade 15,81 (na escala de 0 a 20).Oferece ensino integrado damúsica, a partir do 5.º ano. Omelhor aluno obteve 17,9, o queteve a nota mais baixa ficou-sepelo 13,5.Escola Básica e SecundáriaPe. António Morais da Fonseca,MurtosaOs resultados surpreenderam asub-directora Alda André, afinaltratam-se dos mesmos alunosque fizeram exames a Biologia/Geologia e Física e Química noano anterior, cujos resultadosforam “muito maus”. Foramfeitas 18 provas com uma médiade 13,34, colocando a escola em22.º lugar.Escola Secundária Aurélia deSousa, PortoÉ a primeira pública com maisde 50 exames realizados. Ao todoforam 499 e uma média de 13,32.Os alunos afirmam que a escola éexigente, assim como a direcçãoo declara abertamente. O anopassado, o estabelecimento deensino estava em 36.º, com 12,67valores.Escola Secundária Infanta D.Maria, CoimbraA escola não escolhe osalunos mas é frequentadapor estudantes de classemédia e média alta, com fortesexpectativas de ingressar noensino superior e que recorrem aexplicações fora da Infanta. Esteano é a segunda pública commais de 50 provas, ao todo foram587 e a média foi de 13,22.Escola Secundária Garciade Orta, PortoNos últimos três anos, asecundária tem vindo asubir na tabela das melhoresclassificadas. Em 2007 a médiafoi de 11,90; o ano passado subiupara 12,97 e este ano chegou ao13,14 valores, o que colocou aescola na quinta posição entre aspúblicas e em segunda no Porto.Apesar disso, no ranking fica na28.ª posição.As privadasEscola Básica da ComunidadeIslâmica de PalmelaOs 15 alunos só fizeram provasde Economia A. O resultadofoi 15,03 valores (numa escalade 0 a 20). Esta foi a primeiraturma de secundário da escolaconfessional que está aberta aalunos não islâmicos. A propinaronda os 300 euros, mas a maiorparte dos alunos não paga.Colégio Mira Rio, LisboaAs alunas do colégio ligado àOpus Dei obtiveram o terceirolugar na lista de todas as escolasdo secundário. O colégio temensino diferenciado o quesignifica que alunos e professoressão todos do sexo feminino, erecebe alunos desde o pré-escolar.A média obtida foi 14,96 valores.Colégio Luso-Francês, PortoÉ a quarta na tabela mas aprimeira escola no ranking commais de 50 provas realizadase que levou alunos às oitodisciplinas com mais inscritos.Ao todo foram 319 e a média geralfoi 14,87. O ano passado, a escolaconseguiu 14,28 de média às 246provas feitas. A escola com 1200alunos, pertence à ProvínciaPortuguesa das FranciscanasMissionárias de Nossa Senhorae recebe alunos desde o préescolaraté ao secundário.Colégio Nossa Senhora doRosário, PortoA escola da Congregação dasIrmãs do Sagrado Coração deMaria é a segunda na lista dosestabelecimentos de ensinocom mais provas realizadas. Omesmo lugar que ocupava o anopassado. O colégio frequentadopor alunos desde o pré-escolarao secundário fez 334 examesàs oito disciplinas e obteve umamédia de 14,81 valores, maisnove centésimas que em 2008.Academia de Música de SantaCecília, LisboaApenas 36 provas foramrealizadas pelos alunos da escolacom ensino integrado da música,a cinco das oito disciplinas commais alunos inscritos. O anopassado ocupava a primeiraposição entre as privadas, nalista do secundário. Situadana Ameixoeira, em Lisboa, aacademia abrange do pré-escolarao secundário. Além do ensinoregular, os alunos escolhem uminstrumento no 5.º ano.Bárbara WongPUBLICIDADESaudade,a mais portuguesadas palavras.Amália Nossa.Livroscom a assinaturade Rui Vieira Nerye Vasco GraçaMouraAmália Nossa. A primeira época de ouro.Esta semana “Saudade”.Você sabe que estamos a falar da saudade. O tal sentimento único português é “explicado” aolongo de 11 faixas. Amália canta a ausência, o vazio, a partida, porque no fundo, tudo issoé saudade, tudo isso é triste, tudo isso é fado. Melhor tradução não existe.Dia 20 de Outubro, terça-feira, o CD+Livro “Saudade” com o Público por apenas mais € 6,90.