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BNDES e Bancos de Desenvolvimento: Industrial Policy View ... - Fipe

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temas <strong>de</strong> economia aplicada29<strong>BNDES</strong> e <strong>Bancos</strong> <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>: <strong>Industrial</strong> <strong>Policy</strong> <strong>View</strong> ouPolitical <strong>View</strong>?JOÃO AVELINO (*)1 IntroduçãoA que servem, na prática, os <strong>Bancos</strong><strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> e, em particular,o <strong>BNDES</strong>? Esta questão estáno cerne do <strong>de</strong>bate dos que se <strong>de</strong>bruçamsobre o tema na Aca<strong>de</strong>mia.Apesar das justiicativas teóricaspara a existência <strong>de</strong> tais <strong>Bancos</strong>,dadas as falhas <strong>de</strong> mercado e restrições<strong>de</strong> crédito amplamenteaceitas pelos pesquisadores daárea, a questão aqui é outra: estariamtais instituições <strong>de</strong> fatoservindo ao seu propósito <strong>de</strong> melhorara produtivida<strong>de</strong> da indústriae da economia como um todo (i<strong>de</strong>iaconvencionalmente chamada <strong>de</strong>industrial policy view na literatura),ou seriam meros instrumentos <strong>de</strong>uso político-estratégico do Estadopor governos mundo afora (politicalview)?Os <strong>de</strong>fensores da industrial policyview acreditam que as justiicativasteóricas para a existência dos<strong>Bancos</strong> <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> nãose restringem apenas aos mo<strong>de</strong>lose livros e conseguiriam sim sertranspostas, em maior ou menorgrau, para a realida<strong>de</strong>. Assim, acredita-sepor esta visão que os <strong>Bancos</strong><strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> ocupamo papel <strong>de</strong> suprir as restrições <strong>de</strong>crédito existentes <strong>de</strong>vido às falhas<strong>de</strong> mercado, promovendo o que sepropõem no limite: elevar a produtivida<strong>de</strong>da economia em umaforma que, se <strong>de</strong>ixada única e exclusivamenteà mercê do mercado,não ocorreria.Os <strong>de</strong>fensores da political view, porsua vez, acreditam que os <strong>Bancos</strong><strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> se afastamna prática muito do que <strong>de</strong>veriamseguir. Ao invés <strong>de</strong> terem a elevaçãoda produtivida<strong>de</strong> da economiacomo um mantra, os beneiciadospelos inanciamentos são <strong>de</strong>stacadamenteescolhidos por motivaçõespolíticas, sejam estas eleitoreirasou não. Assim, tais <strong>Bancos</strong>seriam apenas instrumentos dosgovernantes eleitos para promoverativida<strong>de</strong>s e grupos econômicospor algum outro motivo que nãodiretamente ligados aos avançosda economia produtiva.É importante ressaltar que ambasas teses não são valores absolutos.Isto é, apesar <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r achar quehá predominância <strong>de</strong>sta ou daquelacorrente no geral, dois <strong>Bancos</strong> <strong>de</strong><strong>Desenvolvimento</strong> po<strong>de</strong>m ser geridos<strong>de</strong> maneira completamentediferente, estando alinhados emvisões opostas.Além disto, vale <strong>de</strong>stacar tambémque tais visões não são necessariamentecomplementares. Isto é, umBanco que não se encaixe no perildo industrial policy view não seráobrigatoriamente gerido politicamente,e vice-versa; po<strong>de</strong>rá meramenteser mal gerido. A recíprocatambém proce<strong>de</strong>: uma instituiçãoem que se aceite pelos dados pertencerà political view não signiicaque não possa ser eiciente em elevara produtivida<strong>de</strong>; tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><strong>de</strong> quais os interesses políticos doslí<strong>de</strong>res no po<strong>de</strong>r.Em que corrente se a<strong>de</strong>qua melhoro <strong>BNDES</strong>, Banco <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>brasileiro? No passado recente,diversos estudos empíricos foramfeitos na tentativa <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ra este questionamento. Para sechegar a uma resposta a<strong>de</strong>quada,porém, é preciso testar separadamentecada pergunta: em primeirolugar, o <strong>BNDES</strong> é eiciente em elevara produtivida<strong>de</strong>? E em segundolugar, o <strong>BNDES</strong> é politicamentegerido?<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012


30 temas <strong>de</strong> economia aplicada2 <strong>BNDES</strong> e a Elevação da Produtivida<strong>de</strong>Po<strong>de</strong>mos começar analisando apredominância do industrial policyview. Gostar-se-ia <strong>de</strong> saber se ainstituição é eiciente em elevar aprodutivida<strong>de</strong> das empresas em relaçãoàquelas similares que não receberamverbas ou apoio da mesma.Assim, testa-se, ceteris paribus, oefeito do inanciamento sobre asempresas que o receberam.Lazzarini et al. (2011) criaram umaabordagem para obter e avaliartais dados, com foco no períodoentre 2002 e 2009. Uma vez que osdados <strong>de</strong> inanciamento do <strong>BNDES</strong>não são publicamente divulgados,os autores focaram nas empresas<strong>de</strong> capital aberto, cujos indicadorestêm sua divulgação obrigatória.Tais empresas, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>clararemas origens das verbas que recebem,têm os dados inanceiros amplamente<strong>de</strong>talhados para o públicogeral, tornando mais fácil medir alteraçõesna produtivida<strong>de</strong>. Assim,acompanhando durante todo operíodo em questão os <strong>de</strong>monstrativos<strong>de</strong>stas, conseguiu-se montarum banco <strong>de</strong> dados a<strong>de</strong>quado paraas estimações.Usando tais dados inanceiros econtrolando os efeitos ixos <strong>de</strong>irma e indústria, bem como choquesnão observáveis, os autoreschegaram à conclusão <strong>de</strong> que osinanciamentos do Banco não tiveramefeito sobre a produtivida<strong>de</strong><strong>de</strong> cada empresa, tendo apenasefeito positivo na melhoria das contasinanceiras <strong>de</strong>stas. Isto implicaque os empréstimos não tiverampapel ativo em mobilizar recursospara irmas com restrições aocrédito, mas serviram apenas parauma transferência <strong>de</strong> renda indiretado governo para acionistas que,com isto, economizaram custosinanceiros que seriam pagos normalmenteà iniciativa privada.Por outro lado, o mesmo estudomostrou que, ainda que se vislumbrecerto viés na seleção dasempresas tomadoras, as empresasselecionadas possuem majoritariamentebons indicadores, isto é,boas condições <strong>de</strong> repagamentodos inanciamentos. Ou seja, aindaque os efeitos dos empréstimosnão tenham trazido resultadosesperados em termos <strong>de</strong> investimentoe elevação da produtivida<strong>de</strong>,percebeu-se que os indicadores <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho não foram completamente<strong>de</strong>sprezados na seleção.Ottaviano e Sousa (2007), por suavez, ao analisarem os dados <strong>de</strong>1994 e 2002, encontraram resultadosum pouco diferentes. Ambosobservaram os indicadores <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>separando as duas principaislinhas <strong>de</strong> inanciamento àépoca, a FINEM, <strong>de</strong>stinada a empresase projetos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte(inanciamentos superiores a R$10milhões, analisados pelo próprioBanco) e o <strong>BNDES</strong> Automático,<strong>de</strong>stinado às empresas menores(inanciamentos inferiores a R$10milhões e redistribuídos por bancos<strong>de</strong> varejo terceirizados).Os dados foram avaliados sob aótica <strong>de</strong> diversos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a regressão simples,passando por efeitos ixos, diferençasem diferenças até chegar aomo<strong>de</strong>lo Propensity Score Matching. 1No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> PSM foi encontradauma importante distorção do efeitodos empréstimos sobre as duaslinhas <strong>de</strong> inanciamento. Enquantoa primeira apresentou efeito positivoe signiicante na melhoria<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, a segunda apresentousurpreen<strong>de</strong>ntemente efeitonegativo e signiicante.Desta forma, os autores concluíramque os inanciamentos para asgran<strong>de</strong>s empresas estavam sendoutilizados para projetos <strong>de</strong> tecnologiainovadora e <strong>de</strong> ponta, enquantopara as pequenas e médias empresasestavam servindo apenas paradar gás a projetos ultrapassadose <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong>. Questionaramainda se as empresas <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> porte não estariam tendotais avanços in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementedo <strong>BNDES</strong>, isto é, se não ocorreuuma seleção positiva na distribuiçãodos recursos.Por im, ainda com o objetivo <strong>de</strong>se aceitar que ao menos parte dagestão do <strong>BNDES</strong> se encaixa nosprincípios da industrial policy view,Lazzarini e Musacchio (2010) testarama sua atuação em particularno campo <strong>de</strong> equity, isto é, atravésda análise das empresas em que<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012


temas <strong>de</strong> economia aplicada31o Banco esteve presente como acionista minoritárioatravés do seu braço para o ramo, o <strong>BNDES</strong>PAR.Os autores ressaltaram que, muitas vezes, a participaçãodos <strong>Bancos</strong> Públicos <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> comominoritários em empresas privadas ocorre em situações<strong>de</strong> interferência política bailout, isto é, empresaspróximas à falência que o governo <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> salvar porconsi<strong>de</strong>rar serem estratégicas, conforme visto naseção anterior. Assim, existiria uma tendência mundialpara que tais participações fossem politicamentegeridas e pouco ligadas ao aumento da produtivida<strong>de</strong>.Na análise do <strong>BNDES</strong>, porém, encontrou-se efeito diferente.Utilizando novamente apenas as empresas listadasno mercado <strong>de</strong> capitais brasileiro, os autores encontraramum efeito positivo e signiicante no retornosobre investimento e no volume <strong>de</strong> investimentos comparticipação minoritária do Banco. A exceção, porém,se <strong>de</strong>u quando o Banco comprou ações <strong>de</strong> empresaspúblicas, em que o efeito é nulo. Nestes casos, uma vezque o <strong>BNDES</strong> é minoritário, a gestão privada <strong>de</strong> taisrecursos se beneiciou das lexibilida<strong>de</strong>s e menor burocraciaem sua alocação, atingindo maior eiciência.E é justamente por enfrentar tais entraves <strong>de</strong> todojeito que os recursos <strong>de</strong>stinados às empresas públicastiveram efeito insigniicante.Assim, concluíram que, ao menos com relação à iniciativaprivada, o <strong>BNDES</strong>PAR é eiciente em promover aelevação dos investimentos e produtivida<strong>de</strong>, apesar<strong>de</strong> haver dúvidas dos autores quanto à imparcialida<strong>de</strong>do sistema <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> empresas que receberam o<strong>BNDES</strong> como seu parceiro acionário.Tabela 1 − <strong>Industrial</strong> <strong>Policy</strong> <strong>View</strong>Autores Hipótese Período e Dados Método Resultados ConclusãoLazzarini et al.(2011)Efeito <strong>de</strong>financiamentosdo <strong>BNDES</strong> sobreprodutivida<strong>de</strong> é nulo2002 a 2009: Créditoconcedido a empresas <strong>de</strong>capital aberto e dados <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>stasRegressão emPainelEfeito dos financiamentosceteris paribus nãosignificante sobreprodutivida<strong>de</strong>, apenassobre custos financeirosdas empresasAceita-se hipótese <strong>de</strong> efeitonulo. Acrescenta-se papel <strong>de</strong>transferência indireta <strong>de</strong> recursospúblicos para empresários viaredução <strong>de</strong> custos financeirosOttaviano eSousa (2007)Efeito <strong>de</strong>financiamentosdo <strong>BNDES</strong> sobreprodutivida<strong>de</strong> é nulo.1994 – 2002: Dados <strong>de</strong>empréstimos do <strong>BNDES</strong>,separando por linha <strong>de</strong>financiamento (FINEM- gran<strong>de</strong>s empresase <strong>BNDES</strong> Automático- pequenas e médiasempresas)PropensityScore Matching(entre outros)Efeito positivo esignificante sobreprodutivida<strong>de</strong> da linhaFINEM e negativo esignificante da linha<strong>BNDES</strong> AutomáticoAceita-se hipótese <strong>de</strong> efeitonulo para pequenas e médiasempresas, e se rejeita paraempresas gran<strong>de</strong>s. Autorespon<strong>de</strong>ram que estas últimaspo<strong>de</strong>riam ter <strong>de</strong>sempenhosuperior in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<strong>BNDES</strong>Lazzarini eMusacchio (2010)Efeito <strong>de</strong> participaçõesminoritárias do<strong>BNDES</strong>PAR sobreprodutivida<strong>de</strong> é nulo1995 a 2003: Empresas<strong>de</strong> capital aberto comparticipação minoritáriado <strong>BNDES</strong> e dados <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>stasRegressão emPainelEfeito positivo esignificante sobreprodutivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresasprivadas e nulo paraempresas públicasRejeita-se a hipótese <strong>de</strong> efeitonulo para empresas privadase se aceita para empresaspúblicas. Deriva-se que asprimeiras se beneficiam da menorburocratização do setor privadona gestão dos recursos<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012


32 temas <strong>de</strong> economia aplicada3 <strong>BNDES</strong> e a Gestão PolíticaE o que diz a literatura quanto ao<strong>BNDES</strong> ser ou não politicamentegerido, isto é, dar razão ou não aos<strong>de</strong>fensores da political view?As doações <strong>de</strong> campanha são obrigatoriamentepublicadas por todosos candidatos a cargos eletivospela lei eleitoral brasileira. Comisto, apesar <strong>de</strong> se ter conhecimento<strong>de</strong> que os recursos não contabilizados<strong>de</strong> campanha são prática corriqueirano Brasil, tais dados servemem boa medida como proxy dasconexões políticas do setor privadocom os representantes eleitos.Através <strong>de</strong>stes dados, diversos autoresizeram testes para averiguara presença <strong>de</strong> gestão político-eleitoraldos recursos públicos, na esmagadoramaioria dos casos ocorridaatravés <strong>de</strong> contratos apoiadospelos bancos públicos brasileiros,em particular o Banco <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>.Com isto, i<strong>de</strong>ntiica--se a ingerência política, direta ouindiretamente, na distribuição dosrecursos do <strong>BNDES</strong>.Boas, Hidalgo e Richardson (2011)procuraram testar, através <strong>de</strong> regressões<strong>de</strong>scontínuas, o efeito <strong>de</strong>doações para candidatos ao legislativofe<strong>de</strong>ral, consi<strong>de</strong>rando doaçõespara vencedores e per<strong>de</strong>doresnas eleições <strong>de</strong> 2006. Os autoresencontraram um resultado extremamentepositivo e signiicanteno retorno em recursos <strong>de</strong>stinadospelo Governo Fe<strong>de</strong>ral como umtodo para as empresas doadorasa membros do partido no po<strong>de</strong>rno Executivo na legislatura eleita(Partido dos Trabalhadores - PT).Já com relação aos <strong>de</strong>mais partidos,ainda que da base aliada, o efeitofoi bem menor, e em muitos casosnulo e insigniicante.No mesmo ramo, Claessens, Feijene Laeven (2008) testaram para asdoações <strong>de</strong> campanha da legislatura<strong>de</strong> 1999 a 2002, período em queo executivo fe<strong>de</strong>ral era governadopela atual oposição (Partido da SocialDemocracia Brasileira – PSDB).Os autores encontraram resultadopositivo e signiicante para as empresasdoadoras a <strong>de</strong>putados eleitoscomo um todo, em comparaçãoaos <strong>de</strong>putados não eleitos.Por im, Lazzarini et al. (2011), noartigo já mencionado acima, testaramigualmente para tal presença,focando diretamente nos recursosdistribuídos pelo <strong>BNDES</strong>. Utilizandotambém regressões <strong>de</strong>scontínuaspara comparar empresas quedoaram para vencedores e paraper<strong>de</strong>dores nas corridas eleitorais,encontrou-se uma altíssima correlaçãoentre as doações para osvencedores e os recursos recebidospelos doadores oriundos do governoposteriormente.Estes autores <strong>de</strong>stacaram, porém,que a gerência política não estánecessariamente ligada à estrutura<strong>de</strong> gestão dos bancos públicos emsi, mas ao executivo e legislativofe<strong>de</strong>ral eleito que, ao promoveremprojetos <strong>de</strong> investimento e projetos<strong>de</strong> lei com recursos encaminhadospara tais empresas, direcionamobrigatoriamente tais bancos paraliberar os recursos.<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012


temas <strong>de</strong> economia aplicada33Tabela 2 − Political <strong>View</strong>Autores Hipótese Período e Dados Método Resultados ConclusãoBoas, Hidalgoe Richardson(2011)Doações <strong>de</strong> campanhaimplicam maiorrecebimento <strong>de</strong>recursos públicosposteriormente2006 a 2010:Doações paracampanhas doLegislativo Fe<strong>de</strong>rale distribuição <strong>de</strong>recursos posteriorRegressõesDescontínuasResultado positivo esignificante para doadores <strong>de</strong>candidatos eleitos pelo partidovencedor do Executivo (PT).Efeito nulo para os <strong>de</strong>maisAceita-se hipótese <strong>de</strong>correlação: doadores parao partido que comanda aexecução do orçamentorecebem ceteris paribus maisrecursos que <strong>de</strong>maisClaessens, Feijene Laeven (2008)Doações <strong>de</strong> campanhaimplicam maiorrecebimento <strong>de</strong>recursos públicosposteriormente1999 a 2002:Doações paracampanhas doLegislativo Fe<strong>de</strong>rale distribuição <strong>de</strong>recursos posteriorRegressão emPainelResultado positivo esignificante para doadores <strong>de</strong>candidatos eleitos como umtodo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do partidoAceita-se a hipótese <strong>de</strong>correlação: doadores paracongressistas eleitos recebemceteris paribus mais recursosque <strong>de</strong>maisLazzarini et al.(2011)Doações <strong>de</strong> campanhaimplicam maiorrecebimento <strong>de</strong>recursos públicosposteriormente2002 a 2009:Doações paracampanhas <strong>de</strong>todos os níveisda Fe<strong>de</strong>ração edistribuição <strong>de</strong>recursos posteriorRegressõesDescontínuasResultado positivo esignificante para recursosrecebidos posteriormentepelos doadores paracandidatos vencedores,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do nívelfe<strong>de</strong>rativoAceita-se a hipótese <strong>de</strong>correlação: doadores pararepresentantes eleitos recebemceteris paribus mais recursosque os <strong>de</strong>mais4 Consi<strong>de</strong>rações FinaisEm um mundo cada vez mais globalizado,a compreensão <strong>de</strong> qualquertema econômico passa pelacompreensão do contexto internacionalem que este está inserido.O mesmo se dá com os <strong>Bancos</strong> <strong>de</strong><strong>Desenvolvimento</strong>.Se por um lado parte da literaturamundial passa por um processo <strong>de</strong>reavaliação do papel das instituiçõespúblicas e multilaterais <strong>de</strong> estímuloao crédito na economia, noBrasil o Banco Nacional <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>tem tido um papel cadavez maior na gestão dos recursospúblicos.Junto com a o crescimento <strong>de</strong>seu tamanho e <strong>de</strong> seu papel estratégicoa cada governo, porém,<strong>de</strong>veria crescer a preocupaçãocom o controle da gestão <strong>de</strong> seusrecursos. Detentor <strong>de</strong> orçamentobilionário, a eiciência <strong>de</strong> sua distribuiçãoé questão <strong>de</strong> extremorelevo daqueles preocupados como erário público e o real estímuloà economia produtiva. Apesardisto, as barreiras impostas paraa ampla divulgação dos dados eestímulo ao estudo são frequentespor parte do comando do <strong>BNDES</strong>,tornando-o uma espécie <strong>de</strong> caixa--preta da administração fe<strong>de</strong>ralbrasileira.Metodologia à parte, os estudosaqui retratados <strong>de</strong>stacam a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> se rever <strong>de</strong>terminadasações da instituição quanto à suaeiciência em estimular a elevaçãoda produtivida<strong>de</strong>.Em todos os estudos notou-se umaforte insigniicância dos recursos<strong>de</strong>stinados a empresas <strong>de</strong> pequenoe médio porte, ainda que haja setoresem que a eiciência é acima doesperado, tal como nos casos emque o <strong>BNDES</strong>PAR atua como sóciominoritário <strong>de</strong> empresas da inicia-<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012


34 temas <strong>de</strong> economia aplicadativa privada, bem como inanciamento<strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> maior porteque são <strong>de</strong> fato produtivas.Além disto, o governo parece estarinteressado em criar nationalchampions, isto é, empresas brasileiras<strong>de</strong> porte multinacional, queconcentram e dominam completamenteo mercado nacional, sejapara diicultar a instalação <strong>de</strong> empresasestrangeiras concorrentesno País, seja para promover umainternacionalização <strong>de</strong> alguns segmentosda economia nacional comins <strong>de</strong>inidos pela política externa.Para tal, o Banco promove umaseleção ativa das empresas produtivasque encontrariam facilmenterecursos no mercado privado <strong>de</strong>crédito, gerando uma vantagem<strong>de</strong>sleal em relação à concorrênciajá que se fornece assim apenasuma forma <strong>de</strong> reduzir os custos inanceirosdas tomadoras, em umatransferência indireta <strong>de</strong> rendados cofres públicos para o empresariado.No que toca a gestão por interessespolíticos dos recursos do Banco <strong>de</strong><strong>Desenvolvimento</strong>, a maior partedos estudos converge no que serefere à aceitação da tese.Valendo-se <strong>de</strong> regressões <strong>de</strong>scontínuase dos dados <strong>de</strong> doação <strong>de</strong>campanha, notou-se a altíssimacorrelação entre doações para vencedorese recursos recebidos posteriormente,seja na eleição parlamentarou para o Executivo. Vale<strong>de</strong>stacar que a maior parte dosrecursos distribuídos pelo <strong>BNDES</strong>neste caráter não tem ligação comuma gestão política direta sua, esim com projetos aprovados pelogoverno e pelo legislativo que incluemo Banco como inanciador,direcionando-o à participação.Desta forma, parece evi<strong>de</strong>nte que,ainda que haja diversos aspectospositivos na gestão dos recursosdo <strong>BNDES</strong>, há por outro lado muitosproblemas facilmente i<strong>de</strong>ntiicáveise que <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>batidosmais amplamente pela socieda<strong>de</strong>.Com uma estrutura colossal, história<strong>de</strong> relevância para a economianacional e braço da política econômicaatual, a melhor compreensãodo funcionamento e eiciência <strong>de</strong>alocação da instituição, tanto emtermos locais quanto no comparativointernacional, se faz fundamental.ReferênciasAZEVEDO, E.; GORAYEB, J. <strong>BNDES</strong>: 50 anos<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. DBA Artes Gráicas,São Paulo, 2002.BOAS, T.; HIDALGO, F.D.; RICHARDSON, N.The spoils of victory: campaign donationsand government contracts in Brazil. Workingpaper, Boston University, 2011.CLAESSENS, S.; FEIJEN, E.; LAEVEN, L. Politicalconnections and preferential access toinance: the role of campaign contributions.Journal of Financial Economics, n.88, p.554-580, 2008.COELHO, D.; NEGRI, J. A. <strong>de</strong>. Impacto doinanciamento do <strong>BNDES</strong> sobre a produtivida<strong>de</strong>das empresas: uma aplicação doEfeito quantílico do tratamento. WorkingPaper, IPEA, 2010.LAZZARINI, S.; MUSACCHIO, A. Leviathanas a minority sharehol<strong>de</strong>r: a study of equitypurchases by the Brazilian NationalDevelopment Bank (<strong>BNDES</strong>), 1995-2003.Working Paper 11-073, Harvard BusinessSchool. 2010.LAZZARINI, S.; MUSACCHIO, A.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; MARCON, R. What do<strong>de</strong>velopment banks do? Evi<strong>de</strong>nce fromBrazil, 2002-2009. Working Paper 12-047,Harvard Business School, 2011.OTTAVIANO, G; SOUSA, F. The effects of<strong>BNDES</strong> loans on the productivity ofBrazilian manufacturing irms. ProjectBRA/04/052 of the United Nations DevelopmentProgramme, ref. n. 122402, 2007.ROSENBAUM, P.; RUBIN, D. The central roleof the Ppopensity score in observationalstudies for causal effects. Biometrika, v.70, n.1, p. 41-55, 1983.1 O mo<strong>de</strong>lo Propensity Score Matching, utilizadoinicialmente por Rosenbaum e Rubin(1983), procura se valer dos parâmetrosdas unida<strong>de</strong>s em questão para estimar aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “tratamento”, <strong>de</strong> formaa tornar possível criar um contrafactualválido (comparam-se duas unida<strong>de</strong>s commesma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento, sendoum tratado e outro não tratado). Neste casoem particular, ser tratado ou não se refere areceber ou não o inanciamento do <strong>BNDES</strong>.(*) Graduado em Economia, FEA-USP.(E-mail: João.avelino@usp.br).<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012

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