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A experiência do Grupo Executivo Interministerial de Alcântara – MA ...

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Pós-Graduação emDesenvolvimento SustentávelA <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong> <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> <strong>MA</strong> na construção <strong>de</strong> um ambienteparticipativo e cooperativoAn<strong>de</strong>rson da Costa MelloMestra<strong>do</strong>Brasília <strong>–</strong> DF, maio/2008Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília - UnBCentro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIACENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELA <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong> <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> <strong>MA</strong> na construção <strong>de</strong> um ambienteparticipativo e cooperativoAn<strong>de</strong>rson da Costa MelloOrienta<strong>do</strong>r: Fabiano ToniDissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>Brasília <strong>–</strong> D.F., agosto/2008


Mello, An<strong>de</strong>rson da Costa.A <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong>Maranhão na construção <strong>de</strong> um ambiente participativo e cooperativo /An<strong>de</strong>rson da Costa Mello.Brasília, 2008.148 p. : il.Dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>. Centro <strong>de</strong> DesenvolvimentoSustentável, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília.1. Políticas Públicas <strong>–</strong> Desenvolvimento Sustentável. I.Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. CDS.II. Título.É concedida à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília permissão para reproduzir cópias <strong>de</strong>sta dissertação eemprestar ou ven<strong>de</strong>r tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autorreserva outros direitos <strong>de</strong> publicação e nenhuma parte <strong>de</strong>sta dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> po<strong>de</strong> serreproduzida sem a autorização por escrito <strong>do</strong> autor.An<strong>de</strong>rson da Costa Mello


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIACENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELA EXPERIÊNCIA DO GRUPO EXECUTIVO INTERMINISTERIAL DEALCÂNTARA <strong>–</strong> <strong>MA</strong> NA CONSTRUÇÃO DE UM AMBIENTE PARTICIPATIVO ECOOPERATIVOAn<strong>de</strong>rson da Costa MelloDissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> submetida ao Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, como parte <strong>do</strong>s requisitos necessários para a obtenção <strong>do</strong> Grau <strong>de</strong>Mestre em Desenvolvimento Sustentável, área <strong>de</strong> concentração em Política e GestãoAmbiental, opção profissionalizante.Aprova<strong>do</strong> por:_____________________________________Fabiano Toni, Doutor em Ciência Política (UnB)_____________________________________Doris Aleida Villamizar Sayago, Doutora em Sociologia (UnB / UEPB)_____________________________________Marcelo Dias Varella, Doutor em Direito (UniCEUB)Brasília-DF, 11 ago. 2008.


As instituições são mecanismos para alcançarpropósitos, não apenas para alcançar acor<strong>do</strong>s.(Robert D. Putnam, 1996)


AGRADECIMENTOSAgra<strong>de</strong>ço primeiramente a Deus por ter me da<strong>do</strong> saú<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver econcluir este trabalho.À minha Gabriela pelo amor, pela paciência, compreensão e por estar ao meu la<strong>do</strong>to<strong>do</strong>s os dias.Aos meus colegas da Casa Civil da Presidência da República, em especial ao meuex-chefe, A<strong>de</strong>lmar <strong>de</strong> Miranda Tôrres, por ter me incentiva<strong>do</strong> e auxilia<strong>do</strong> na realização <strong>do</strong>mestra<strong>do</strong>.Aos meus pais que sempre me apoiaram, torceram e incentivaram a minhaevolução pessoal e profissional.A to<strong>do</strong>s os colegas <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> e <strong>de</strong> trabalho que, <strong>de</strong> alguma forma, contribuíramcom a dissertação, seja com apoio, bibliografia ou amiza<strong>de</strong>.Ao meu orienta<strong>do</strong>r Fabiano Toni pelo seu sóli<strong>do</strong> conhecimento que me aju<strong>do</strong>u nodirecionamento e consecução da presente dissertação.Aos ex-colegas <strong>de</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>, bem como, aos representantes das organizaçõessociais, que <strong>de</strong>dicaram um pouco <strong>de</strong> seu tempo para dar a sua contribuição ao trabalho.E aos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, em especial à Dona Glória, Dona Leandra, JoãoBatista e à Geuza, que tiveram a paciência e a cordialida<strong>de</strong> para me receber em suas casas econtar um pouco <strong>de</strong> suas histórias <strong>de</strong> vida, as relações com o Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> e as suas expectativas quanto à expansão <strong>do</strong> Programa Espacial, que tantoenriqueceram este trabalho. Não esquecen<strong>do</strong> também <strong>do</strong> Russo que me guiou e acompanhouem to<strong>do</strong>s os momentos da minha pesquisa no município.


RESUMOO município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, no Maranhão, possui uma localização estratégica para oGoverno Brasileiro no que diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong>Ativida<strong>de</strong>s Espaciais. Entretanto, problemas na implantação <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> geraram um passivo com as comunida<strong>de</strong>s locais <strong>–</strong> pre<strong>do</strong>minantemente formadaspor remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>–</strong> o que, por sua vez, acarretou em uma mobilização socialconsistente, fortalecida pela garantia constitucional à terra a eles concedida. Na tentativa <strong>de</strong>equacionar a questão e viabilizar a expansão <strong>do</strong> Programa Espacial, bem como promover o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> município, foi instituí<strong>do</strong> o <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong> para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. O objetivo da presente dissertação é analisar eavaliar os trabalhos <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> como um ambiente <strong>de</strong>mocrático que promovesse a participaçãoe a cooperação entre os representantes da socieda<strong>de</strong> civil e os atores governamentais nadiscussão das <strong>de</strong>mandas da população local e na formulação das políticas públicas parasatisfazê-las. Para isso, estu<strong>do</strong>u-se a relação entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong>, as concepções <strong>de</strong>espaço público e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, e foram utiliza<strong>do</strong>s relatórios e atas <strong>do</strong><strong>Grupo</strong>, juntamente com a análise das opiniões <strong>do</strong>s atores envolvi<strong>do</strong>s na questão. Comoresulta<strong>do</strong>, ressaltou-se a <strong>de</strong>ficiência na articulação entre os atores envolvi<strong>do</strong>s, conseqüência <strong>de</strong>divisões internas no âmbito <strong>do</strong> governo e <strong>de</strong> interesses conflitantes das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>civil, que influenciaram no planejamento e na execução das ações para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>. O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstra que o <strong>Grupo</strong> obteve alguns avanços, mas esbarrou nadificulda<strong>de</strong> em conciliar um problema que coloca em la<strong>do</strong>s opostos o direito constitucionaldas comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos à terra e o <strong>de</strong>ver constitucional da promoção datecnologia pelo Esta<strong>do</strong> Brasileiro.Palavras-chave: Políticas públicas, Desenvolvimento sustentável, Comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos, Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong>, <strong>Alcântara</strong>, Maranhão.


ABSTRACTThe municipality of <strong>Alcântara</strong>, in the state of Maranhão, is strategically located forimplementation of the National Space Activities Program by the Brazilian Government.Nevertheless, problems in installation of the <strong>Alcântara</strong> Launch Center have become a liabilitywith local communities, which are pre<strong>do</strong>minantly composed of remain<strong>de</strong>rs of quilombomaroon communities, in turn leading to consistent social mobilization, strengthened byconstitutional land tenure grants. In an attempt to resolve the issue and pave the way forexpansion of the Space Program, in addition to promoting <strong>de</strong>velopment in the municipality,the Inter-Ministerial Executive Group was created, with the goal of promoting sustainable<strong>de</strong>velopment in <strong>Alcântara</strong>. This study has as its objective analysis and evaluation of theGroup’s activities toward a <strong>de</strong>mocratic environment fostering participation and cooperationamong representatives of civil society and government in discussions regarding <strong>de</strong>mands bythe local population and formulation of public policy to meet these <strong>de</strong>mands. To reach thisobjective, the relationship between State and society was studied, as well as concepts ofpublic spaces and sustainable <strong>de</strong>velopment. Reports and minutes of meetings prepared by theGroup were analyzed, as were opinions of stakehol<strong>de</strong>rs. As a result, the lack of coordinationamong those involved became evi<strong>de</strong>nt. This is due to internal divisions at the governmentlevel and conflicting interests among civil society organizations which influenced planningand execution of actions in favor of <strong>Alcântara</strong>’s <strong>de</strong>velopment. The study <strong>de</strong>monstrates thatsome headway was achieved by the Group, before the obstacle of solving the equationbetween two opposing forces was met <strong>–</strong> on one si<strong>de</strong> constitutional land tenure rights grantedto remain<strong>de</strong>rs of quilombo maroon communities, and the constitutional duty the BrazilianState has of promoting technology on the other.Key-words: Public policy, Sustainable <strong>de</strong>velopment, Communities of remain<strong>de</strong>rs of quilombomaroon communities, State and society, <strong>Alcântara</strong>, Maranhão.


SUMÁRIOLISTA DE FIGURASLISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASINTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 121 O CONTENCIOSO DE ALCÂNTARA............................................................................. 211.1 UM RETRATO DE ALCÂNTARA ...................................................................................... 221.2 AS COMUNIDADES RE<strong>MA</strong>NESCENTES DE QUILOMBOS E O <strong>MA</strong>RCO LEGALDE GARANTIA DOS SEUS TERRITÓRIOS ............................................................................ 291.3 O PROGRA<strong>MA</strong> ESPACIAL BRASILEIRO E O CENTRO DE LANÇAMENTO DEALCÂNTARA ............................................................................................................................. 331.4 DESAPROPRIAÇÃO, RE<strong>MA</strong>NEJAMENTO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL....................... 401.5 O GEI-ALCÂNTARA............................................................................................................ 462 O ESTADO COMO ATOR SOCIAL ................................................................................ 482.1 A RELAÇÃO DE PODER ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL................................ 492.2 A IMPORTÂNCIA DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL ............... 582.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O PAPEL DO ESTADO NA SUACONSTRUÇÃO ........................................................................................................................... 623 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICASNO ÂMBITO DO GEI-ALCÂNTARA .................................................................................... 723.1 O FUTURO DE ALCÂNTARA SOB A ÓTICA DO PROGRA<strong>MA</strong> ESPACIALBRASILEIRO E OS AVANÇOS PROMOVIDOS PELO GEI................................................... 723.2 A METODOLOGIA DO TRABALHO DO GEI-ALCÂNTARA......................................... 783.2.1 O Plano <strong>de</strong> Ação.................................................................................................................. 813.2.2 O Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação Técnica....................................................................................... 833.2.3 Monitoramento e avaliação da implementação das ações propostas................................... 863.3 A PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS ..................................................................... 933.3.1 A articulação Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> Esta<strong>do</strong>............................................................................................. 933.3.2 A articulação Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> Socieda<strong>de</strong> ....................................................................................... 1013.4 O GEI-ALCÂNTARA COMO ESPAÇO PÚBLICO DEMOCRÁTICO.............................. 114CONCLUSÃO............................................................................................................................. 121REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 128APÊNDICEANEXO


LISTA DE FIGURASFIGURA 1. Mapa da localização <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> no Maranhão................................... 23FIGURA 2. Mapa Político <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.......................................................................... 26


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASACONERUQ - Associação das Comunida<strong>de</strong>s Negras Rurais Quilombolas <strong>do</strong> MaranhãoACT - Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação TécnicaADCT - Ato das Disposições Constitucionais TransitóriasAEB - Agência Espacial BrasileiraAGU - Advocacia Geral da UniãoCCN - Centro <strong>de</strong> Cultura Negra <strong>do</strong> MaranhãoCEA - Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>CENDSA - Comitê <strong>Executivo</strong> Nacional para o Desenvolvimento Sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>CF - Constituição Fe<strong>de</strong>ralCLA - Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>COHRE - Centro pela Moradia e Contra DespejosCO<strong>MA</strong>er - Coman<strong>do</strong> Militar da AeronáuticaCONAQ - Coor<strong>de</strong>nação Nacional das Comunida<strong>de</strong>s Negras Rurais QuilombolasFETRAF - Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res na Agricultura FamiliarFCP - Fundação Cultural PalmaresGEI - <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong>IBGE - Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e EstatísticaINCRA - Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária<strong>MA</strong>BE - Movimento <strong>do</strong>s Atingi<strong>do</strong>s pela Base Espacial<strong>MA</strong>PA - Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoMCida<strong>de</strong>s - Ministério das Cida<strong>de</strong>sMCT - Ministério da Ciência e TecnologiaMD - Ministério da DefesaMDA - Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento AgrárioMDS - Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Social e Combate à FomeMEC - Ministério da EducaçãoMECB - Missão Espacial Completa BrasileiraMinC - Ministério da CulturaM<strong>MA</strong> - Ministério <strong>do</strong> Meio AmbienteMME - Ministério <strong>de</strong> Minas e EnergiaMS - Ministério da Saú<strong>de</strong>MST - Movimento <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Rurais Sem Terra


MTE - Ministério <strong>do</strong> Trabalho e EmpregoMTur - Ministério <strong>do</strong> TurismoONGs - Organizações Não-GovernamentaisOIT <strong>–</strong> Organização Internacional <strong>do</strong> TrabalhoPNAE - Programa Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s EspaciaisPNUD - Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPPA - Plano PlurianualSEAP - Secretaria Espacial da Aqüicultura e Pesca da Presidência da RepúblicaSEBRAE <strong>–</strong> Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas EmpresasSEDH - Secretaria Espacial <strong>do</strong>s Direitos Humanos da Presidência da RepúblicaSEPPIR - Secretaria Especial <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong> Promoção da Igualda<strong>de</strong> Racial da Presidência daRepúblicaSESC <strong>–</strong> Serviço Social <strong>do</strong> ComércioSPU - Secretaria <strong>de</strong> Patrimônio da UniãoSTTR - Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res e Trabalha<strong>do</strong>ras Rurais <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>


12INTRODUÇÃOO município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, no Maranhão, possui em seu território um significativocontingente populacional <strong>de</strong> aspectos étnico<strong>–</strong>culturais diferencia<strong>do</strong>s, caracteriza<strong>do</strong>s porremanescentes <strong>do</strong>s quilombos, além <strong>de</strong> um rico e vasto patrimônio histórico e cultural, ten<strong>do</strong>em sua se<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s maiores conjuntos arquitetônicos <strong>do</strong> país, provenientes <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>colonial.Além disso, <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong>spertou um gran<strong>de</strong> interesse para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>Programa Espacial Brasileiro <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua localização geográfica privilegiada (próxima àlinha <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r), o que possibilita gran<strong>de</strong>s ganhos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> em relação aos<strong>de</strong>mais locais <strong>de</strong> lançamento em ativida<strong>de</strong> em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma economiasignificativa <strong>de</strong> combustível no lançamento <strong>de</strong> foguetes e satélites.Assim, no início da década <strong>de</strong> 80, foi implanta<strong>do</strong> o Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong><strong>–</strong> CLA, tornan<strong>do</strong><strong>–</strong>se o principal complexo <strong>de</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> foguetes <strong>de</strong>sondagem e <strong>de</strong> veículos lança<strong>do</strong>res <strong>de</strong> satélite <strong>do</strong> País. Para isso, foram <strong>de</strong>sapropria<strong>do</strong>s 62.000hectares, sen<strong>do</strong> 20.000 hectares <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à infra-estrutura operacional e <strong>de</strong> apoio, e 42.000hectares para os reassentamentos, áreas <strong>de</strong> preservação e para a zona industrial.No entanto, a implantação <strong>do</strong> CLA resultou em um processo controverso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>–</strong> em sua maioria remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>–</strong> <strong>de</strong> suas áreastradicionais <strong>de</strong> ocupação. A população <strong>de</strong>slocada, após ser assentada em agrovilas, sofreumudanças em seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida tradicional, basea<strong>do</strong> na pesca, na agricultura e no artesanato,levan<strong>do</strong> a algumas famílias a passar fome e a migrar para a periferia <strong>de</strong> São Luís, capital <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>.Esse problema ocorreu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, principalmente, a interrupção <strong>do</strong>s investimentos e aconseqüente <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo, o que acarretou na incapacida<strong>de</strong> governamental <strong>de</strong>promover a necessária melhoria econômica e social <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e oferecer ascontrapartidas previstas.Além disso, a questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> apresenta um conflito entre artigos constitucionais.O artigo 68 <strong>do</strong> Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Fe<strong>de</strong>ral (CF)conce<strong>de</strong> o direito à terra às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos; e os artigos 215 e 216,respectivamente, <strong>de</strong>terminam que o Esta<strong>do</strong> “proteja as manifestações culturais afro-


13brasileiras”; e que os bens <strong>de</strong> natureza material e imaterial <strong>do</strong>s diferentes grupos forma<strong>do</strong>resda socieda<strong>de</strong> brasileira são patrimônio cultural brasileiro. Ao mesmo tempo, a CF afirma queo Esta<strong>do</strong> “promoverá e incentivará o <strong>de</strong>senvolvimento científico, a pesquisa e a capacitaçãotecnológicas” (artigo 218); e que “o merca<strong>do</strong> interno integra o patrimônio nacional e seráincentiva<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a viabilizar o <strong>de</strong>senvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estarda população e a autonomia tecnológica <strong>do</strong> País, nos termos <strong>de</strong> lei fe<strong>de</strong>ral” (artigo 219).A Carta Magna também prevê, no artigo 5º inciso XXIV, o procedimento para<strong>de</strong>sapropriação por necessida<strong>de</strong> ou utilida<strong>de</strong> pública, ou por interesse social, mediante justa eprévia in<strong>de</strong>nização em dinheiro. Assim, o Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriar o território <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>,como já o fez, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da especificida<strong>de</strong> sócio-cultural local, contanto que sejamconcedidas as in<strong>de</strong>nizações previstas.Portanto, existe a contradição entre a importância da promoção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentotecnológico para o país e, ao mesmo tempo, o direito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos à terra e, também, à sua preservação cultural. Assim, tanto Esta<strong>do</strong> quanto taiscomunida<strong>de</strong>s possuem argumentos legítimos para pleitear o território em <strong>Alcântara</strong>.Com o fortalecimento <strong>do</strong> direito étnico, a <strong>experiência</strong> mal sucedida <strong>do</strong> remanejamento ea possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>slocamentos, as comunida<strong>de</strong>s locais, pesquisa<strong>do</strong>res e organizaçõesda socieda<strong>de</strong> civil, criam uma resistência significativa à expansão e consolidação <strong>do</strong>complexo aeroespacial brasileiro.Para tentar equacionar essa questão <strong>de</strong> uma forma conciliatória, o Governo Fe<strong>de</strong>ralinstituiu, por meio <strong>de</strong> Decreto, em 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2004, um <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong><strong>Interministerial</strong>, forma<strong>do</strong> por 23 órgãos fe<strong>de</strong>rais 1 , com o objetivo <strong>de</strong> articular, viabilizar eacompanhar as ações necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>,no Maranhão (GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong>), além <strong>de</strong> propiciar as condições a<strong>de</strong>quadas à eficientecondução <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais.1 Casa Civil da Presidência da República; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Defesa; Secretaria<strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República; Secretaria Especial <strong>de</strong> Políticas<strong>de</strong> Promoção da Igualda<strong>de</strong> Racial da Presidência da República; Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Agrário;Ministério <strong>do</strong>s Transportes; Ministério da Saú<strong>de</strong>; Ministério da Educação; Ministério <strong>do</strong> Turismo; AgênciaEspacial Brasileira; Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica; Ministério <strong>do</strong> Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério daCultura; Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério <strong>de</strong>Minas e Energia; Ministério das Cida<strong>de</strong>s; Ministério das Relações Exteriores; Ministério <strong>do</strong> Trabalho eEmprego; Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura e Pescada Presidência da República; Secretaria Especial <strong>do</strong>s Direitos Humanos da Presidência da República; e aAdvocacia Geral da União (convidada permanente conforme Aviso nº 1.131, <strong>de</strong> 15/09/2004, da Casa Civil daPresidência da República)


14Assim, <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong>monstrou ter entra<strong>do</strong> na agenda política governamental,principalmente pela vantagem competitiva que a localização geográfica privilegiada <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> proporciona para consolidar o país como um ator relevante no merca<strong>do</strong> bilionário<strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> foguetes e satélites. Para isso, o Esta<strong>do</strong> precisava dirimir o impasseexistente com comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos e organizações sociais engajadascom a causa, conseqüência da falta <strong>de</strong> planejamento e continuida<strong>de</strong> da ação governamentalquan<strong>do</strong> da implementação <strong>do</strong> CLA, no início da década <strong>de</strong> 80.Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r diante disso que <strong>Alcântara</strong> jamais receberia tanta atenção einvestimento se o Esta<strong>do</strong> não tivesse cria<strong>do</strong> um passivo social com as comunida<strong>de</strong>s locais,geran<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconfiança e mobilização da socieda<strong>de</strong> civil sobre quaisquer atos que estejamrelaciona<strong>do</strong>s à expansão <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro no município. Por outro la<strong>do</strong>, aimplantação <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> CEA <strong>–</strong> po<strong>de</strong> ser uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>local para conseguir um salto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, trazen<strong>do</strong> benefícios diversos à suapopulação, uma vez que serão aporta<strong>do</strong>s recursos bastante significativos para um municípiopequeno e carente como <strong>Alcântara</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, o papel <strong>do</strong> GEI foi o <strong>de</strong> apresentar quaispo<strong>de</strong>riam ser esses benefícios e como a população local po<strong>de</strong>ria aproveitá-los, promoverpolíticas públicas para o município e, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, garantir que não haveria prejuízos aosseus meios <strong>de</strong> vida, à sua tradição e à sua cultura.Como será visto ao longo <strong>de</strong>ste trabalho, as discussões e encaminhamentos havi<strong>do</strong>s noâmbito <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> auxiliaram na mudança na concepção inicial <strong>do</strong> plano paraexpansão <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro, na tentativa <strong>de</strong> adaptá-lo ao máximo àscaracterísticas sociais, econômicas e <strong>de</strong>mográficas <strong>do</strong> município.Entretanto, apesar <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos da instituição <strong>do</strong> GEI, com a realização <strong>de</strong>reuniões, seminários, discussões e visitas in loco por parte <strong>do</strong>s seus integrantes, e <strong>de</strong> algumaevolução nas negociações, o impasse com as representações da socieda<strong>de</strong> civil continua. OGEI não conseguiu resolver problemas críticos para o município, como, por exemplo, o daregularização fundiária. As ações propostas no plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> para aten<strong>de</strong>r as<strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> município, careceram <strong>de</strong> uma maior coor<strong>de</strong>nação e integração entre si e,principalmente, da continuida<strong>de</strong> necessária para promover melhorias efetivas para apopulação e garantir o suporte social para possibilitar a implementação <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> CEA.


15Além disso, a construção <strong>de</strong> um ambiente cooperativo com a socieda<strong>de</strong> civil no contexto<strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> é um processo complexo, principalmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se restabeleceruma relação <strong>de</strong> confiança entre as partes. Com isso, o GEI teve dificulda<strong>de</strong>s para construir oconsenso entre os órgãos governamentais e com as entida<strong>de</strong>s representantes da socieda<strong>de</strong>civil, pois os atores se posicionaram e se agruparam politicamente motiva<strong>do</strong>s por um conjunto<strong>de</strong> preferências conflitantes construídas ao longo <strong>de</strong> fatos históricos e, a partir <strong>de</strong>las,<strong>de</strong>senvolveram suas estratégias <strong>de</strong> atuação.Este cenário caracterizou-se por uma disputa pelo controle social entre o Esta<strong>do</strong>Brasileiro e as organizações da socieda<strong>de</strong> civil, no qual as últimas conseguiram limitar aautonomia estatal em repetir a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ocorrida na implantação <strong>do</strong> CEA.Isso <strong>de</strong>veu-se ao grau <strong>de</strong> mobilização e união que as diversas entida<strong>de</strong>s sociais alcançaram,principalmente em torno da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica e o direito <strong>do</strong>s quilombolas à terra, perante astratativas com o Esta<strong>do</strong>.Essa estratégia, apesar <strong>de</strong> ter trazi<strong>do</strong> ganhos políticos para as entida<strong>de</strong>s, nãoproporcionou benefícios para as comunida<strong>de</strong>s locais e, alia<strong>do</strong> às <strong>de</strong>ficiências na atuação <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, impediu a formatação <strong>de</strong> um projeto conjunto para o município.Diante disso, i<strong>de</strong>ntificar os gargalos ou barreiras institucionais à criação <strong>de</strong>sse ambientecooperativo entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> para a formulação e a implementação das políticaspúblicas propostas pelo GEI-<strong>Alcântara</strong> po<strong>de</strong> auxiliar na reflexão sobre a <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>como espaço público <strong>de</strong>mocrático para a negociação <strong>de</strong> interesses distintos e para promoçãoda participação efetiva da socieda<strong>de</strong> civil, não <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> que a <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> sejaapenas pontual e esquecida com o tempo, mas sim, possa subsidiar futuras ações em prol <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento contínuo e sustentável no Município.Isso é importante na medida em que a não mitigação <strong>do</strong> conflito é prejudicial,principalmente, para as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, uma vez que elas vêm conviven<strong>do</strong> há mais<strong>de</strong> duas décadas com limitações aos seus meios <strong>de</strong> vida e insegurança quanto ao seu futuro.Qualquer tentativa governamental <strong>de</strong> melhorar suas condições <strong>de</strong> vida é recebida com muitaesperança, mas, ao mesmo tempo, com incertezas e <strong>de</strong>sconfiança, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao histórico <strong>de</strong><strong>de</strong>cisões equivocadas e compromissos não cumpri<strong>do</strong>s.Portanto, o objetivo da presente dissertação é analisar e avaliar os trabalhos <strong>do</strong> GEIcomo um ambiente <strong>de</strong>mocrático por meio <strong>do</strong> qual ocorresse a participação social e a


16cooperação entre os atores governamentais, as organizações sociais e as comunida<strong>de</strong>s locaisna formulação das políticas públicas para <strong>Alcântara</strong>.Para isso, foram traça<strong>do</strong>s três objetivos específicos:a) Mapear o universo <strong>de</strong> atores da socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> envolvi<strong>do</strong>s noprocesso, ressaltan<strong>do</strong> seus objetivos particulares e sua percepção sobreos trabalhos <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>.b) Analisar a articulação intragovernamental e entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> noplanejamento das ações para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>.c) Avaliar a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> e seus resulta<strong>do</strong>s,<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> contexto sociopolítico, da participação social e <strong>do</strong>spressupostos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.Com isso, espera-se po<strong>de</strong>r ter uma melhor compreensão da motivação, disposição ecapacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s atores envolvi<strong>do</strong>s no processo para buscar o consenso e, também, po<strong>de</strong>rindicar caminhos e perspectivas para o futuro <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSPara o levantamento <strong>de</strong> informações constantes no Capítulo 1 sobre as características <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>, o histórico da implantação <strong>do</strong> CLA e as conseqüências para as comunida<strong>de</strong>s locais,bem como da<strong>do</strong>s sobre o Programa Espacial Brasileiro, foram utiliza<strong>do</strong>s relatórios <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>, da<strong>do</strong>s da Agência Espacial Brasileira, o lau<strong>do</strong> antropológico <strong>do</strong> município feito apedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ministério Público da União, entre outros, além <strong>do</strong>s <strong>de</strong>poimentos colhi<strong>do</strong>s junto ali<strong>de</strong>ranças e mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> município.Desta forma, foi possível compreen<strong>de</strong>r melhor a realida<strong>de</strong> da população <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>,como eles se relacionam entre si e com o território que ocupam, e como tiram seu sustento.Possibilitou, também, i<strong>de</strong>ntificar o processo <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remanescente <strong>de</strong>quilombos como suporte político, principalmente ao longo <strong>do</strong>s últimos vinte anos.


17Além disso, permitiu compreen<strong>de</strong>r o contexto no qual está inseri<strong>do</strong> o Programa EspacialBrasileiro, bem como, os objetivos <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais. Foipossível <strong>de</strong>screver to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> eos problemas <strong>de</strong>correntes que <strong>de</strong>ram origem ao conflito com as comunida<strong>de</strong>s locais e gerou amobilização da socieda<strong>de</strong> civil contrária à expansão <strong>do</strong> Programa, fatos que resultaram nainstituição <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>.Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Capítulo 2 que trata <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como atorinstitucional e a sua relação com a socieda<strong>de</strong>, foi utiliza<strong>do</strong> o trabalho <strong>de</strong> autores <strong>de</strong> diferentescorrentes teóricas que apresentam contribuições importantes, sobre como Esta<strong>do</strong> e Socieda<strong>de</strong>se inter-relacionam, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a luta entre os vários grupos sociais para fazer prevalecer seusinteresses junto ao Esta<strong>do</strong>, a discussão da autonomia <strong>de</strong>cisória <strong>do</strong>s agentes estatais e autilização <strong>de</strong> espaços públicos para a participação da socieda<strong>de</strong> na discussão, planejamento eformulação <strong>de</strong> políticas públicas.Quanto ao papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como promotor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, o materialestuda<strong>do</strong> permitiu verificar que apesar <strong>do</strong> tema estar cada vez mais forte no âmbito dasocieda<strong>de</strong> civil e política, principalmente a variável ambiental, o conceito ainda está emconstrução. Talvez, por isso, não exista no país uma estrutura condizente com uma políticaintegrada <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, salientan<strong>do</strong> que o conceito tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> muitomais como retórica <strong>do</strong> que como práticas efetivas tanto pelo Esta<strong>do</strong> quanto por entida<strong>de</strong>s dasocieda<strong>de</strong> civil.Vale ressaltar que a presente dissertação não tem a pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir diretrizes para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Isto porque, para atingir tal objetivo, serianecessário que outras etapas tivessem ocorri<strong>do</strong> no âmbito <strong>do</strong> GEI e a forma <strong>de</strong> planejamento earticulação governamental tivesse si<strong>do</strong> <strong>de</strong> outra forma.Por fim, no Capítulo 3, foram utiliza<strong>do</strong>s o relatório final <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>, <strong>do</strong> Comitê<strong>Executivo</strong> Nacional para o Desenvolvimento Sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> CENDSA,responsável pelo monitoramento da implementação das ações no Município <strong>–</strong>, atas <strong>de</strong>reuniões <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> e outros da<strong>do</strong>s e informações disponibiliza<strong>do</strong>s pela Casa Civil e por outrosórgãos governamentais. A avaliação também se baseou na observação direta ocorrida noseventos promovi<strong>do</strong>s pelo GEI-Ancântara tanto em Brasília quanto em <strong>Alcântara</strong>, assim comoem conversas informais com autorida<strong>de</strong>s locais e mora<strong>do</strong>res.


18Além disso, para avaliar os trabalhos <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>, a relação entre órgãosgovernamentais e as representações da socieda<strong>de</strong> civil e as suas percepções quanto aostrabalhos <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, foram envia<strong>do</strong>s 22 questionários qualitativos (apêndice) a to<strong>do</strong>s osrepresentantes governamentais que o integraram mais a prefeita <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Foramrespondi<strong>do</strong>s 10 questionários, abrangen<strong>do</strong> 8 órgãos (Casa Civil, Ministério <strong>do</strong> MeioAmbiente, Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Agrário, Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego,Agência Espacial Brasileira, Fundação Cultural Palmares, Ministério <strong>do</strong> Turismo e aPrefeitura local), que representam, em sua gran<strong>de</strong> maioria, as instituições mais atuantes no<strong>Grupo</strong>.Ocorreram algumas dificulda<strong>de</strong>s para conseguir respostas <strong>do</strong>s representantes <strong>do</strong>sMinistérios, pois muitos <strong>de</strong>les já não estavam mais trabalhan<strong>do</strong> no órgão ou simplesmente nãoquiseram respon<strong>de</strong>r ao questionário. Mas como os respon<strong>de</strong>ntes representaram gran<strong>de</strong> partedaqueles que mais participaram das discussões, as suas opiniões foram importantes eagrega<strong>do</strong>ras.Foram entrevista<strong>do</strong>s, também, nas datas <strong>de</strong> 7 a 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, os seguintesrepresentantes das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil que participaram das reuniões com o GEI:Inal<strong>do</strong> Faustino S. Diniz, <strong>do</strong> Movimento <strong>do</strong>s Atingi<strong>do</strong>s pela Base Espacial, o mais atuante nomunicípio; Ivan, <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Cultura Negra <strong>do</strong> Maranhão; Geuza Maria S. <strong>de</strong> Sá, da IgrejaCatólica <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, que também era lí<strong>de</strong>r da agrovila <strong>de</strong> Só Assim; Márvia N. Sousa, exrepresentanteda COMUNICA-<strong>Alcântara</strong>; Paulo Costa, ex-representante <strong>do</strong> Fórum DLIS;Antonio Marco Pinho e Aniceto A. Pereira, <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res e Trabalha<strong>do</strong>rasRurais <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>; e Marleni Moraes, da Associação Beneficente da 3ª Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Além <strong>do</strong>s já cita<strong>do</strong>s, estavam previstos encontros com representantes da Coor<strong>de</strong>naçãoNacional das Comunida<strong>de</strong>s Negras Rurais Quilombolas, da Socieda<strong>de</strong> Maranhense <strong>de</strong>Direitos Humanos e da Associação <strong>de</strong> Pesca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, que também participaram dasdiscussões no âmbito <strong>do</strong> GEI. No entanto, a primeira entida<strong>de</strong> havia muda<strong>do</strong> para Recife, asegunda estava sem representantes no perío<strong>do</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarem participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> eventonacional, e a terceira estava com sua interlocutora em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>bilita<strong>do</strong>, o queinviabilizou o encontro com tais organizações.Mesmo com algumas limitações, a amostragem se mostrou suficiente para avaliar suasopiniões acerca <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong> GEI como espaço público <strong>de</strong>mocrático e participativo,


19esclarecer alguns fatores relevantes ocorri<strong>do</strong>s durante o processo, verificar como é a relaçãoentre as entida<strong>de</strong>s e colher informações sobre seus posicionamentos quanto ao CLA e àimplantação <strong>do</strong> CEA. Em algumas ocasiões, os representantes pediram para não seremi<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s. Portanto, nestes casos, não serão cita<strong>do</strong>s nominalmente.Também foram entrevistadas algumas li<strong>de</strong>ranças locais, em particular as das agrovilas,conforme a seguir: Geuza, já citada, (Só Assim); Dona Glória (Peru); Dona Vitória (Marudá);Dona Maria (Ponta Seca); Dona Leandra (Pepital); João Batista (Espera). Em Cajueiro,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ausência <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r da agrovila <strong>de</strong> Cajueiro, entrevistou-se seu irmão, Luis, professorlocal, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pela comunida<strong>de</strong>, também, uma li<strong>de</strong>rança.Pô<strong>de</strong>-se perceber que elas não participaram efetivamente das discussões <strong>do</strong> GEI e,portanto, não tinham informações suficientes para avaliar o seu trabalho, o que <strong>de</strong>monstra alimitação da participação social ocorrida nas discussões sobre um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentopara <strong>Alcântara</strong>. Apesar disso, tentou-se averiguar como baseiam seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, a suarelação com o CLA e com as entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil atuantes no município, e asconseqüências <strong>do</strong> remanejamento para as famílias.Estava previsto, ainda, ida às comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mamuna e Baracatatiua, que seencontram nas áreas pretendidas pela Agência Espacial Brasileira para a implantação <strong>do</strong>primeiro sítio <strong>de</strong> lançamento, mas que não pô<strong>de</strong> ser concretizada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>acesso por via terrestre às mesmas no perío<strong>do</strong> da pesquisa. Contu<strong>do</strong>, em conversa commora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> e com representantes das entida<strong>de</strong>s, foi possível saber suas posiçõesacerca <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Enfim, como resulta<strong>do</strong>, a estrutura <strong>do</strong> trabalho apresenta, no Capítulo 1, os aspectosreferentes às características culturais, sociais, econômicas e <strong>de</strong>mográficas <strong>do</strong> município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as particularida<strong>de</strong>s das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos e oproblema que envolve regularização fundiária <strong>do</strong> seu território com o Programa EspacialBrasileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação <strong>do</strong> CLA até a instituição <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>. São ressalta<strong>do</strong>s,também, aspectos da concepção <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro e o seu objetivo com aexpansão <strong>do</strong> CEA.O Capítulo 2 discorre sobre conceitos <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> asdiversas correntes teóricas que versam sobre o Esta<strong>do</strong> e o seu papel institucional no contextodas relações sociais, influencian<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> influencia<strong>do</strong> por elas, apresentan<strong>do</strong> um enfoque na


20questão da autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e na disputa pelo controle social. Em seguida, discute-se aimportância <strong>de</strong> espaços públicos para a apresentação e discussão das <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong> ecomo a expansão <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser feita por seu intermédio. Por fim, apresentaseuma breve discussão sobre o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e sobre aparticipação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na sua promoção.Por fim, no Capítulo 3 é avalia<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> como espaço público<strong>de</strong>mocrático para a promoção da participação <strong>do</strong> cidadão local e suas representações noprocesso <strong>de</strong>cisório, analisan<strong>do</strong> a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho a<strong>do</strong>tada e seus resulta<strong>do</strong>s, e aarticulação <strong>do</strong>s atores governamentais e da socieda<strong>de</strong> civil no processo <strong>de</strong> negociação queviabilizasse um futuro no qual o Programa Espacial Brasileiro conviveria harmonicamentecom as particularida<strong>de</strong>s etnoculturais, econômicas e ambientais locais e proporcionariabenefícios à população local.


211. O CONTENCIOSO DE ALCÂNTARAEste capítulo discorrerá acerca das características gerais <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>abrangen<strong>do</strong> um pouco <strong>de</strong> sua história e seus aspectos sócio-<strong>de</strong>mográficos, econômicos eambientais. Verificar-se-á que o município já teve significativa importância na economiaregional e que hoje apresenta carências diversas que dificultam o seu <strong>de</strong>senvolvimento.E o Governo Brasileiro possui a sua responsabilida<strong>de</strong> na atual situação da cida<strong>de</strong>,conforme será exposto nos acontecimentos históricos que se suce<strong>de</strong>ram quan<strong>do</strong> daimplantação <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação<strong>do</strong> território, o remanejamento das famílias para as agrovilas e a mobilização da socieda<strong>de</strong>civil, que levaram ao contencioso envolven<strong>do</strong> o direito das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos, população <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> no município, e a expansão <strong>do</strong> ProgramaEspacial Brasileiro, motivo da instituição <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> 2 .Para permitir uma melhor compreensão <strong>do</strong>s fatos, serão apresentadas brevesconceituações acerca <strong>do</strong> que são e o que significam as comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos, a sua relação entre si e com a terra que habitam. Tais particularida<strong>de</strong>s culturaisforam fortalecidas pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral ao garantir a proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus territórios, oque <strong>de</strong>u origem ao direito étnico, que fundamenta a atuação política das entida<strong>de</strong>s sociais queos representam.Por outro la<strong>do</strong>, existe a legitimida<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Brasileiro em realizarinvestimentos que promovam o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico nacional, importante para trazerbenefícios para a socieda<strong>de</strong>. Portanto, serão apresenta<strong>do</strong>s aspectos da concepção <strong>do</strong> ProgramaEspacial Brasileiro e o seu objetivo com a expansão <strong>do</strong> CEA.2 Para este fim, foram utilizadas, principalmente, (1) as informações constantes no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>consultor <strong>do</strong> Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento <strong>–</strong> PNUD <strong>–</strong> Zeke Beze,apresenta<strong>do</strong> na oficina <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> ações ambientais para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> <strong>MA</strong> cujo título foi “Recursos Naturais em <strong>Alcântara</strong>-<strong>MA</strong>: usos tradicionais e novaspossibilida<strong>de</strong>s”, realiza<strong>do</strong> nos dias 21 e 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005; e (2) o lau<strong>do</strong> antropológico elabora<strong>do</strong>pelo Prof. Alfre<strong>do</strong> Wagner B. Almeida para aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminação da Procura<strong>do</strong>ria Geral da Repúblicaque, em 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1999, por meio da Portaria nº 007 <strong>do</strong> Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral, instaurouInquérito Civil Público com o fim <strong>de</strong> apurar possíveis irregularida<strong>de</strong>s ocorridas na implantação <strong>do</strong>CLA, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o remanejamento das comunida<strong>de</strong>s negras rurais remanescentes <strong>de</strong> quilombo.


221.1 UM RETRATO DE ALCÂNTARAO município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, funda<strong>do</strong> em 1648, possui uma área total <strong>de</strong> 1.483 km².Localiza-se na micro-região <strong>do</strong> litoral Oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> Maranhão, na região das florestas <strong>do</strong>sGuarás, entre as bacias <strong>de</strong> Cumões e São Marcos, e se encontra no limite Oriental daAmazônia legal e, também, está <strong>de</strong>ntro da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>–</strong> APA <strong>–</strong> dasReentrâncias Maranhenses. Na Figura 1, po<strong>de</strong>-se ter uma melhor visualização da localização<strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Em relação a São Luís, está a cerca <strong>de</strong> uma hora e meia <strong>de</strong> barco ou a uma distância <strong>de</strong>400 quilômetros por terra. Isso é uma característica importante <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista agrícola paraefeito <strong>de</strong> escoamento da produção e acesso a outros merca<strong>do</strong>s, mas a infra-estruturanecessitaria ser bastante melhorada para que pu<strong>de</strong>sse efetivamente representar uma vantagem.Como está situada um pouco abaixo da linha <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r, a região é <strong>de</strong> clima quente e avegetação primária é a floresta tropical <strong>de</strong> porte alto, sen<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minante, atualmente, acapoeira <strong>de</strong> babaçuSegun<strong>do</strong> o Censo Demográfico <strong>de</strong> 2000, elabora<strong>do</strong> pelo Instituto Brasileiro <strong>de</strong>Geografia e Estatística <strong>–</strong> IBGE, a população é <strong>de</strong> 21.291 habitantes, pre<strong>do</strong>minantemente <strong>de</strong>afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes remanescentes <strong>de</strong> quilombos, sen<strong>do</strong> que 73% da população se concentra nazona rural e apenas 27% se encontra na zona urbana. Contu<strong>do</strong>, boa parte das pessoas queresi<strong>de</strong>m no centro urbano, tem vinculação e ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao meio rural, o quesignifica que qualquer ação ou projeto que se refira à questão rural, fundiária e agrícola temum peso muito importante na vida das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.<strong>Alcântara</strong> já passou por ciclos econômicos importantes, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> produtor <strong>de</strong> algodãoe <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar durante o perío<strong>do</strong> colonial e um gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong>ssesprodutos, inclusive, com exportações para a Inglaterra, no caso <strong>do</strong> algodão. Contu<strong>do</strong>,inúmeras crises provocadas principalmente pela concorrência externa, afetaram a produção <strong>do</strong>município e gerou a <strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> sistema vigente, o que obrigou aos gran<strong>de</strong>s proprietários<strong>de</strong> terra, nos séculos XVIII e XIX, a aban<strong>do</strong>narem suas terras.A economia atual baseia-se na pesca, no extrativismo, principalmente <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira dapalmeira Jussara e <strong>do</strong> babaçu, e na agricultura <strong>de</strong> subsistência, baseada na mandioca, arroz,milho e feijão.


23Figura 1Mapa <strong>de</strong> Localização <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> no MaranhãoOs recursos financeiros também são provenientes das aposenta<strong>do</strong>rias que auxiliam naprovisão <strong>de</strong> bens essenciais <strong>de</strong> forma permanente ao longo <strong>do</strong> ano, o que é muito importantepara a sobrevivência das famílias, principalmente nos perío<strong>do</strong>s mais críticos como na


24entressafra <strong>de</strong> mandioca e arroz. Tal função econômica reforça a posição <strong>de</strong> relevânciatradicionalmente assumida por eles.Quanto à circulação <strong>de</strong> produtos, existe uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> empreendimentos comerciais, as<strong>de</strong>nominadas quitandas ou comércios que servem a diferentes povoa<strong>do</strong>s. Além disso, ospovoa<strong>do</strong>s que possuem portos e exportam um volume significativo <strong>de</strong> produção pesqueira ouos que são beneficia<strong>do</strong>res da produção, principalmente <strong>de</strong> farinha, possuem maior influênciasobre vários outros povoa<strong>do</strong>s, obten<strong>do</strong> mais benefícios nas relações <strong>de</strong> troca.O município dispõe, também, <strong>de</strong> um rico e vasto patrimônio histórico e cultural <strong>–</strong> ten<strong>do</strong>si<strong>do</strong> tomba<strong>do</strong> em 1948 <strong>–</strong> possuin<strong>do</strong> em sua se<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s maiores conjuntos arquitetônicosremanescentes <strong>do</strong> Brasil colonial.São cerca <strong>de</strong> 3 mil estabelecimentos rurais, segun<strong>do</strong> o IBGE, mas o conceito <strong>de</strong>estabelecimento tem que ser relativiza<strong>do</strong> no caso <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> porque, como são áreas <strong>de</strong> usocomum, as chamadas roças 3 , o uso não é permanente na mesma área, o que contraria aclassificação oficial a<strong>do</strong>tada para <strong>de</strong>finir a estrutura fundiária, baseada na proprieda<strong>de</strong> privadae na posse. Cabe salientar que 98% <strong>de</strong>sses estabelecimentos têm menos <strong>de</strong> 5 hectares, sen<strong>do</strong>que, em sua maioria, com menos <strong>de</strong> um hectare <strong>de</strong> área cultivada.Quanto aos quilombos, a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XIX, os registros administrativossobre sua existência na região <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, cujas primeiras ocorrências datam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<strong>do</strong> século XVIII, aumentaram significativamente. As articulações entre quilombolas e osescravos das fazendas aban<strong>do</strong>nadas após as crises <strong>do</strong> algodão e da cana-<strong>de</strong>-açúcar tornaram-semais consolidadas e organizadas e eles começaram a realizar suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção,colheita, pesca, comércio e troca da mesma forma como é feita até hoje. Essa dinâmica <strong>de</strong>estabilização e <strong>de</strong> autonomia resultou por fortalecer uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria, articulan<strong>do</strong>ativida<strong>de</strong>s agrícolas e extrativas, e por favorecer uma <strong>de</strong>limitação bastante sólida dasterritorialida<strong>de</strong>s específicas.Segun<strong>do</strong> o Lau<strong>do</strong> Antropológico elabora<strong>do</strong> por Almeida (2006), existem 139 povoa<strong>do</strong>sreferentes às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos, sen<strong>do</strong> 90 localiza<strong>do</strong>s na área3 A roça é uma referência essencial que sedimenta as relações intrafamiliares e entre os diferentesgrupos familiares, além <strong>de</strong> assegurar um caráter sistêmico à interligação entre os povoa<strong>do</strong>s.(ALMEIDA, 2006, p.51)


25<strong>de</strong>sapropriada por utilida<strong>de</strong> pública para a instalação <strong>do</strong> CLA. Esses povoa<strong>do</strong>s totalizam12.941 habitantes, ou seja, 83% da população rural <strong>do</strong> município.A população local se distribui em cerca <strong>de</strong> 250 pequenas comunida<strong>de</strong>s ao longo <strong>do</strong>município (Figura 2), cujas relações remetem para uma espécie <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> povoa<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong>Almeida (2006), tais conexões constituem o fundamento da autonomia <strong>de</strong> que usufruem e danão-subordinação a terceiros em termos das <strong>de</strong>cisões que afetem os seus meios <strong>de</strong> vida.É a partir <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> povoa<strong>do</strong>s que se estrutura a agricultura. Neste contexto, existeuma diferenciação importante entre a agricultura tradicional <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e a praticada naschamadas agrovilas <strong>–</strong> ou reassentamentos <strong>–</strong> com áreas individuais <strong>de</strong> 15 hectares 4 , localizadasnuma única região um pouco afastada <strong>do</strong> litoral, para as quais foram transferidas as famíliasremanejadas quan<strong>do</strong> da implantação <strong>do</strong> CLA.A agricultura tradicional <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> se baseia, conforme já dito, no trabalho familiar,uma distribuição <strong>do</strong> trabalho ao longo <strong>do</strong> ano pelos membros da família, compon<strong>do</strong> umconjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultura, extrativismo e <strong>de</strong> pesca, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> peso <strong>de</strong> cadauma <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s e da proximida<strong>de</strong> da família em relação ao litoral, isto é, quanto maisperto da faixa litorânea, mais importância tem a pesca em <strong>de</strong>trimento da agricultura.Segun<strong>do</strong> Almeida (2006), a caça, a pesca e a coleta <strong>de</strong> produtos florestais <strong>–</strong> inclusivepara a fabricação <strong>de</strong> óleos vegetais e resinas <strong>–</strong>, tanto quanto a retirada <strong>de</strong> palha das reservas ea escolha <strong>do</strong> local <strong>de</strong> plantio, são realizadas por meio <strong>de</strong> práticas sustentáveis centenárias esão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> comunitária. Isso significa que a relação <strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> ea natureza pressupõe a conservação da última, inclusive, como princípio inerente natransmissão <strong>de</strong> direitos entre as gerações.Praticamente não existe mecanização, sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o animal para o transporte longo,porque a agricultura é feita geralmente no interior <strong>de</strong> capoeiras, sem pista <strong>de</strong> acesso, nãosen<strong>do</strong> possível circular veículos com rodas.O sistema <strong>de</strong> trabalho se baseia no autofornecimento, isto é, eles compram poucosinsumos e ferramentas, produzin<strong>do</strong> os próprios meios para po<strong>de</strong>r gerar o empreendimento.4 O Decreto n• 72.571, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1986, reduziu o módulo rural <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong> 35 para 15hectares apenas na área relativa ao CLA.


26Utilizam construções <strong>de</strong> pau-a-pique para armazenar a produção, geralmente, para consumointerno e têm pouca comunicação com o exterior.Figura 2Mapa com a Localização das Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>


27A alimentação é complementada quan<strong>do</strong> os agricultores conseguem criar pequenosanimais, e há o costume <strong>de</strong> se plantar verduras e frutas em quintais ou elas são colhidas nomato. Quanto aos pesca<strong>do</strong>s e crustáceos, não só os que estão na costa têm acesso, pois<strong>Alcântara</strong> é recortada por igarapés o que possibilita que, com a maré cheia, o mar seja leva<strong>do</strong>ao interior <strong>do</strong> território, tornan<strong>do</strong> a pesca acessível também no interior.Do ponto <strong>de</strong> vista social, existe um regime <strong>de</strong> terras comunitárias com moradias empequenas vilas on<strong>de</strong> as famílias se agrupam e saem <strong>de</strong> lá para cultivar a área ao re<strong>do</strong>r. Esseregime <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> recursos faz com que as relações <strong>de</strong> parentesco ultrapassemas relações <strong>de</strong> consangüinida<strong>de</strong>, o que fortalece uma idéia <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>.Há diversas categorias <strong>de</strong> terras: posses e arrendamentos, terras próprias e públicas.Neste contexto, conforme <strong>de</strong>staca Almeida (2006), as territorialida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser divididas emcategorias, que po<strong>de</strong>m se sobrepor ou não, e que expressam a <strong>de</strong>scendência e os atributospelos quais as comunida<strong>de</strong>s se organizam e se auto-<strong>de</strong>finem:• as terras <strong>de</strong> preto (ou <strong>de</strong> índio) e as terras <strong>de</strong> caboclo <strong>–</strong> são as mais hegemônicas,principalmente, as primeiras, e estão inseridas no contexto da <strong>de</strong>scendência e<strong>do</strong>s atributos pelos quais se auto-representam e são reconheci<strong>do</strong>s, remeten<strong>do</strong> auma forma <strong>de</strong> produção, a um espaço social e político e a uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica;• as terras <strong>de</strong> santo, terras <strong>de</strong> santa, terras <strong>de</strong> santíssimo, terras <strong>de</strong> santíssima,terras santista e <strong>de</strong> irmanda<strong>de</strong> <strong>–</strong> localizadas nas terras das antigas fazendas dasor<strong>de</strong>ns religiosas <strong>do</strong>s antigos jesuítas, coexistem com as terras <strong>de</strong> preto e asterras <strong>de</strong> caboclo; e• as terras <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iros e as terras <strong>de</strong> parentes <strong>–</strong> ligadas às regras <strong>de</strong> sucessão etransmissão <strong>de</strong> patrimônio pois foram adquiridas ou recebidas em <strong>do</strong>ação, masse caracterizam pelo uso comum das terras.Cabe ressaltar que mesmo que o uso da terra seja comum, existem limites estabeleci<strong>do</strong>stradicionalmente entre os povoa<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, em contextos <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> recursos, po<strong>de</strong>ocorrer: (i) uma interpenetração <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínios entre povoa<strong>do</strong>s ou grupos <strong>de</strong> famílias, com acontinuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso condicionada ao consentimento daquele povoa<strong>do</strong> que habitualmenteutiliza a área; (ii) um estímulo à saída <strong>de</strong> alguns integrantes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada família paraos centros urbanos ou outras localida<strong>de</strong>s para que contribuam com a renda familiar; e (iii)


28uma mudança <strong>do</strong> local <strong>de</strong> residência e <strong>de</strong> cultivo <strong>do</strong> grupo ou conjunto <strong>de</strong> famílias queconstituem o núcleo central <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>, mas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> uma região socialmente<strong>de</strong>limitada.Utilizam o sistema <strong>de</strong> roça no toco o que ocasiona uma perda natural <strong>de</strong> área porque asárvores são <strong>de</strong>rrubadas, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> muitos tocos no terreno, impedin<strong>do</strong> o uso com semeio etornan<strong>do</strong> menor a área efetivamente plantada. A ma<strong>de</strong>ira que é resultante da <strong>de</strong>rrubada para aimplantação da lavoura, geralmente é transformada em carvão para ser comercializa<strong>do</strong> emSão Luís, o que é um problema ambiental sério por ser um <strong>do</strong>s componentes fundamentais darenda <strong>do</strong> agricultor <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Com a implantação <strong>do</strong> CLA, <strong>de</strong>slocaram-se povoa<strong>do</strong>s inteiros para as agrovilas,comprimin<strong>do</strong>-os em áreas tradicionalmente ocupadas por outros povoa<strong>do</strong>s e, como áreas queeram <strong>de</strong> uso comunitário foram parceladas, restringiu-se o estoque <strong>de</strong> recursos naturais aoalcance das <strong>de</strong>mais famílias. Além disso, as agrovilas foram <strong>de</strong>finidas junto às nascentes <strong>do</strong>scursos d’água, o que compromete rios e igarapés como, por exemplo, o rio <strong>do</strong> Pepital, queabastece a se<strong>de</strong> municipal.O parcelamento <strong>de</strong> terras, manten<strong>do</strong>-se o sistema <strong>de</strong> utilização agrícola vigente, isto é,<strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> mato e plantio no sistema <strong>de</strong> roça <strong>de</strong> toco, implica numa aceleração dadiminuição da vegetação, pois quan<strong>do</strong> se concentra a família num único local <strong>de</strong> 15 hectares eno sistema <strong>de</strong> terras comunitárias, o agricultor rapidamente consome a área que habita,aceleran<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da mata 5 .Na medida em que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional aumenta, ocorre uma pressão maior sobreo solo, ou seja, o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong>ssa terra ten<strong>de</strong> a ser menor. E hoje em <strong>Alcântara</strong> essasáreas são cultivadas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 7 e 8 anos e, às vezes, após somente 5 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, o queé insuficiente para repor a fertilida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> da terra.Para tentar evitar essa <strong>de</strong>gradação ambiental, vem se buscan<strong>do</strong> a introdução <strong>de</strong> novastécnicas <strong>de</strong> produção. Nas áreas tradicionais, no início, houve um choque cultural muito fortediante <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> agricultura mais mo<strong>de</strong>rno basea<strong>do</strong> em projetos coletivos <strong>de</strong> plantio <strong>de</strong>5 O sistema <strong>de</strong> roça no toco funciona da seguinte forma: <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> plantio e colheita, aban<strong>do</strong>na-seaquele terreno, <strong>de</strong>ixa-se a vegetação brotar e espera-se 10, 15, 20, 30 anos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> terreno<strong>de</strong> floresta e, enquanto isso, cultivam-se outras áreas. Posteriormente, retorna-se a cultivar aquelaárea. Este sistema é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Floresta batida e queimada que existe na Amazôniae em outras partes <strong>do</strong> Brasil, em alguns países da África e em algumas outras regiões <strong>de</strong> florestatropical (BEZE, 2005).


29culturas irrigadas <strong>de</strong> maior valor por hectare, como as frutíferas, principalmente coco, banana,melancia e maracujá, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> assimilação da assistência técnica fornecida, oalto custo <strong>de</strong> produção e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento bancário para a sua implementação.Apesar disso, uma parcela <strong>do</strong>s agricultores está buscan<strong>do</strong> alternativas tecnológicas, sejacompran<strong>do</strong> adubo ou <strong>de</strong>fensivo seja procuran<strong>do</strong> algum tipo <strong>de</strong> produto que melhorasse umpouco a queda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo.Em relação aos reassentamentos, apesar <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> introdução <strong>de</strong> projetos maissofistica<strong>do</strong>s tecnologicamente, o resulta<strong>do</strong> não foi suficiente, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> então, nessa área,o sistema social produtivo tradicional da roça no toco. Como a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional nosreassentamentos é mais <strong>do</strong> que o <strong>do</strong>bro das áreas tradicionais, a pressão sobre os recursosnaturais é maior, o que explica a aceleração da diminuição <strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> vegetação nas áreas.Então, como conseqüência da intensificação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo e das capoeiras antigas e dautilização <strong>do</strong> fogo como principal sistema <strong>de</strong> limpeza das áreas, a <strong>de</strong>gradação aumentou 6 .1.2 AS COMUNIDADES RE<strong>MA</strong>NESCENTES DE QUILOMBOS E O <strong>MA</strong>RCOLEGAL DE GARANTIA DOS SEUS TERRITÓRIOSHistoricamente, o conceito <strong>de</strong> quilombo <strong>de</strong>signa os territórios on<strong>de</strong> se refugiavam e seorganizavam os negros africanos que, trazi<strong>do</strong>s com a colonização portuguesa, se insurgiamcontra a situação <strong>de</strong> escravidão. Quase sempre, se situavam em locais <strong>de</strong> difícil acesso paraque pu<strong>de</strong>ssem dificultar sua busca pelos seus persegui<strong>do</strong>res.Essa insurgência ocorria <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à recusa em se submeter forçadamente a terceiros equaisquer restrições ao seu trabalho autônomo, ao uso comum <strong>do</strong>s recursos naturais e à livrecomercialização <strong>de</strong> sua produção agrícola e extrativa. Como salienta Almeida (2006, p. 42),compreen<strong>de</strong>m “formas <strong>de</strong> cooperação simples e práticas <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> positivas entre asunida<strong>de</strong>s familiares que se agrupam sob uma mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> diante <strong>do</strong>s mesmosantagonistas”.Com o passar <strong>do</strong> tempo, tornaram-se territórios <strong>de</strong> resistência cultural e <strong>de</strong>les sãoremanescentes os grupos étnicos raciais que assim se i<strong>de</strong>ntificam. Conforme <strong>de</strong>scrito no6 Ver BEZE (2005).


30Programa Brasil Quilombola, são <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> relações territoriais específicas, com presunção<strong>de</strong> ancestralida<strong>de</strong> negra relacionada com a luta à opressão histórica sofrida. Eles seauto<strong>de</strong>terminam comunida<strong>de</strong>s negras <strong>de</strong> quilombos, da<strong>do</strong>s os costumes, as tradições e ascondições sociais, culturais e econômicas específicas que os distinguem <strong>de</strong> outros setores dacoletivida<strong>de</strong> nacional.Os Quilombos <strong>de</strong> hoje correspon<strong>de</strong>m às chamadas terras <strong>de</strong> preto (Norte/Nor<strong>de</strong>ste) oucomunida<strong>de</strong>s negras rurais (Sul/Su<strong>de</strong>ste/Centro-Oeste), que se originaram <strong>de</strong> fazendas falidas,das “<strong>do</strong>ações” <strong>de</strong> terras para escravos, das compras <strong>de</strong> terras pelos escravos alforria<strong>do</strong>s, daprestação <strong>de</strong> serviços escravos em guerras (Balaiada, Paraguai) e das terras <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nsReligiosas <strong>de</strong>ixadas a ex-escravos no início da segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII 7 . O maiornúmero <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s quilombolas encontra-se no Pará e Maranhão, totalizan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong>mil <strong>de</strong>las, conforme estimativa da Fundação Cultural Palmares.Portanto, as comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos são grupos sociais cujai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica os distingue <strong>do</strong> restante da socieda<strong>de</strong>, fundamentan<strong>do</strong>-se em “territóriossecularmente ocupa<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvem práticas culturais, religiosas, <strong>de</strong> moradia etrabalho, se afirmam enquanto grupo, a partir da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> às suas próprias crenças e noções<strong>de</strong> regras jurídicas consuetudinariamente arraigadas” 8 . Segun<strong>do</strong> Leite (2000), mais <strong>do</strong> queuma exclusiva <strong>de</strong>pendência da terra, o quilombo faz <strong>de</strong>la uma “metáfora para pensar ogrupo”. Essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é, portanto, a base para a organização, a ação política, e a relação<strong>de</strong>sses grupos com os <strong>de</strong>mais grupos sociais.Como foi apresenta<strong>do</strong>, território e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> estão estreitamente relaciona<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> olocus social próprio, específico, com formas particulares <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> bens materiais eimateriais entre gerações e que representam um patrimônio intangível <strong>do</strong> grupo.O marco legal <strong>de</strong> garantia <strong>do</strong>s seus territóriosNa década <strong>de</strong> 70, a abordagem da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negra em populações rurais consistia emcomunida<strong>de</strong>s rurais que apresentavam a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem negras. Nos anos 80, osestu<strong>do</strong>s se inverteram, passan<strong>do</strong> a consi<strong>de</strong>rar as comunida<strong>de</strong>s negras que tinham a7 Fonte: http://www.ccnma.org.br/quilombos.htm. Acesso em 10 jun. 2008.8 Ver SILVA (1996)


31particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem camponesas (ARRUTI, 2006, p. 64). Porém, a lógica <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bateseria alterada a partir da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>–</strong> CF <strong>–</strong> 1988, com o impacto <strong>do</strong> artigo 68 <strong>do</strong>Ato das Disposições Constitucionais Transitórias <strong>–</strong> ADCT <strong>–</strong> que garante aos remanescentesdas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quilombos o direito à proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas terras, orientan<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong>então, a política fundiária para estes grupos étnicos.A CF também <strong>de</strong>termina nos artigos 215 e 216, respectivamente, que o Esta<strong>do</strong> proteja asmanifestações culturais afro-brasileiras; e consi<strong>de</strong>ra patrimônio cultural brasileiro, a serpromovi<strong>do</strong> e protegi<strong>do</strong> pelo Po<strong>de</strong>r Público, os bens <strong>de</strong> natureza material e imaterial <strong>do</strong>sdiferentes grupos forma<strong>do</strong>res da socieda<strong>de</strong> brasileira. Cabe ressaltar no parágrafo quinto <strong>do</strong>artigo 216 o tombamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos e sítios <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> reminiscênciashistóricas <strong>do</strong>s antigos quilombos.Esses artigos são um reflexo <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>do</strong> continente latinoamericano,on<strong>de</strong> vários Esta<strong>do</strong>s realizaram reformas constitucionais que reconheceram adiversida<strong>de</strong> cultural e étnica nacional, dan<strong>do</strong> origem ao “direito étnico”, base para oreconhecimento <strong>do</strong>s direitos territoriais e/ou autonomia política e jurídica <strong>do</strong>s grupos negrosrurais e, também, <strong>do</strong>s indígenas (ARRUTI, 2006). Além disso, o legisla<strong>do</strong>r, ao inserir o artigo68, não tinha noção das implicações sociais que adviriam <strong>de</strong>le 9 .Como conseqüência, os movimentos sociais geraram novas <strong>de</strong>mandas que forçaramuma aliança entre os estu<strong>do</strong>s referentes às comunida<strong>de</strong>s rurais negras e a literatura sobrequilombos. e vice-versa, enquanto o que antes existia era uma oposição explícita entre eles.Portanto, a partir daquele momento, o termo “remanescentes <strong>de</strong> quilombos”, apesar <strong>do</strong>seu caráter conceitual restritivo 10 , ganhou força no campo político como uma das principaispautas <strong>do</strong> movimento negro perante o Esta<strong>do</strong> e a socieda<strong>de</strong> civil, que passaram a reivindicaros direitos constitucionais <strong>de</strong>ssas populações. O artigo 68, além <strong>de</strong> um ato <strong>de</strong> reconhecimentojurídico, foi um ato <strong>de</strong> “criação social” (ARRUTI, 2006, p. 66), possibilitan<strong>do</strong> que o quilomboganhasse um caráter contemporâneo e assumisse funções simbólicas e <strong>de</strong> resistência políticano imaginário nacional e, também, no próprio imaginário <strong>do</strong>s movimentos sociais.9 Arruti (2006, p. 67) apresenta um relato <strong>do</strong>s acontecimentos que marcaram a inserção <strong>do</strong> artigo 68na Carta Magna <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que ela ocorreu “ao apagar das luzes”, <strong>de</strong> uma forma um tantoimprovisada e sem muito consenso.10 Ver Leite (2000, p. 341)


32É interessante ressaltar a corrente que enten<strong>de</strong> que o artigo 68 veio fortalecerorganizações sindicais rurais que, a partir <strong>de</strong>le, vislumbraram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se diferenciarna esfera política, passan<strong>do</strong> a lutar por inclusão social e a ser objeto <strong>de</strong> políticasgovernamentais específicas.O que está em jogo em qualquer esforço coletivo pelo reconhecimentooficial como comunida<strong>de</strong> remanescente <strong>de</strong> quilombos são sempre osconflitos fundiários em que tais comunida<strong>de</strong>s estão envolvidas, e nãoqualquer <strong>de</strong>sejo memorialístico <strong>de</strong> se afirmar como continuida<strong>de</strong> daquelasmetáforas da resistência escrava(ARRUTI, 2006, p. 82).Mais adiante, será verifica<strong>do</strong> que tal afirmação correspon<strong>de</strong> às mudanças ocorridas nosinterlocutores da socieda<strong>de</strong> civil e nas suas estratégias <strong>de</strong> atuação na questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Em 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1988, foi instituída pela Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 7.668, a Fundação CulturalPalmares <strong>–</strong> FCP, como uma entida<strong>de</strong> pública vinculada ao Ministério da Cultura, cujafinalida<strong>de</strong> é promover a preservação <strong>do</strong>s valores culturais, sociais e econômicos <strong>de</strong>correntesda influência negra na formação da socieda<strong>de</strong> brasileira. Em 1997, a FCP autorizou osprimeiros levantamentos para a i<strong>de</strong>ntificação das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos,conforme previsto no artigo 68 <strong>do</strong> ADCT.Por se tratar <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> grupos e não individuais, o título da terra é coletivo,concedi<strong>do</strong> a uma associação das comunida<strong>de</strong>s criada para este fim. Isto se explica conforme oentendimento antropológico, o qual postula que o quilombo e a territorialida<strong>de</strong> negra foramconstruí<strong>do</strong>s a partir da apropriação coletiva pelos grupos organiza<strong>do</strong>s e, também, pelo fato <strong>de</strong>não serem contempla<strong>do</strong>s nas normas <strong>do</strong> direito priva<strong>do</strong>.Esse aspecto foi consubstancia<strong>do</strong> no Decreto nº 4.887, <strong>de</strong> 20 e novembro <strong>de</strong> 2003, queregulamenta o procedimento para i<strong>de</strong>ntificação, reconhecimento, <strong>de</strong>limitação, <strong>de</strong>marcação etitulação das terras ocupadas por remanescentes das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quilombos, previsto noart. 68 <strong>do</strong> ADCT e, em consonância com a Convenção 169 da Organização Internacional <strong>do</strong>Trabalho - OIT, reconhece como elemento fundamental para a i<strong>de</strong>ntificação das comunida<strong>de</strong>sa auto<strong>de</strong>finição, para a qual o Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária <strong>–</strong> INCRA,mediante a Instrução Normativa nº 16, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004, posteriormente <strong>de</strong>finiu asdiretrizes. Em seu conteú<strong>do</strong>, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, ainda, a criação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável para as comunida<strong>de</strong>s, a ser construí<strong>do</strong> em conjunto com as representações dascomunida<strong>de</strong>s quilombolas.


33No contexto da Convenção 169 da OIT <strong>–</strong> introduzida no corpo jurídico brasileiro peloDecreto nº 5.051, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004 <strong>–</strong>, é garanti<strong>do</strong> aos quilombolas o direito <strong>de</strong> seremconsulta<strong>do</strong>s e participarem da formulação, aplicação e avaliação <strong>de</strong> planos e programas a elareferentes. A Convenção <strong>de</strong>termina, ainda, que as comunida<strong>de</strong>s quilombolas são asresponsáveis por <strong>de</strong>cidir as priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento. Portanto, quaisqueriniciativas governamentais que forem afetar diretamente tais populações <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rartais premissas.Enfim, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da formalização <strong>do</strong> reconhecimento governamental, foramexpedidas 1.170 certidões <strong>de</strong> auto-reconhecimento, das quais, segun<strong>do</strong> o Governo Fe<strong>de</strong>ral,preten<strong>de</strong>-se concluir 713 relatórios até 2010, <strong>de</strong> forma a permitir a consecução <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>regularização fundiária, pois atestam o reconhecimento da presença <strong>do</strong>s quilombos em<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> território e a <strong>de</strong>marcação das terras por meio <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s científicos com lau<strong>do</strong>santropológicos e históricos 11 .1.3 O PROGRA<strong>MA</strong> ESPACIAL BRASILEIRO E O CENTRO DE LANÇAMENTO DEALCÂNTARANormalmente, o papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> quanto às ativida<strong>de</strong>s espaciais é <strong>de</strong> estimula<strong>do</strong>r eregula<strong>do</strong>r. Contu<strong>do</strong>, no Brasil, o Esta<strong>do</strong> é, ainda, o principal usuário das aplicações a elasassociadas, uma vez que os seus resulta<strong>do</strong>s, principalmente os <strong>de</strong> Observação da Terra,aten<strong>de</strong>m principalmente a necessida<strong>de</strong>s associadas às ativida<strong>de</strong>s governamentais, no que dizrespeito à formulação e ao aperfeiçoamento das suas políticas públicas. Isto <strong>de</strong>corre daprópria natureza <strong>de</strong>sses engenhos espaciais, que cobrem superfícies extensas e são maisa<strong>de</strong>quadas ao monitoramento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas e <strong>de</strong> fenômenos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala, além <strong>de</strong>exigirem investimentos altos e com longo tempo <strong>de</strong> maturação.Assim, o monitoramento <strong>do</strong> meio ambiente, coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s para uso em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>previsão <strong>de</strong> tempo e clima, avaliação <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong> recursos minerais, realização <strong>de</strong>mapeamentos geológicos e cartográficos, entre outros, são exemplos <strong>de</strong> aplicações espaciaisque beneficiam diretamente a socieda<strong>de</strong>. Embora estas ativida<strong>de</strong>s, em termos agrega<strong>do</strong>s,promovam bem<strong>–</strong>estar e possam mesmo gerar retornos econômicos, as organizações e osindivíduos, <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, dificilmente pagariam por elas <strong>de</strong> forma regular.11Fonte: http://www.presi<strong>de</strong>ncia.gov.br/estrutura_presi<strong>de</strong>ncia/seppir/copy_of_acoes/Principal.2007-11-18.0317/principalfol<strong>de</strong>r_view/. Acesso em: 15 jun. 2008.


34Em termos globais, a tecnologia espacial assume um caráter estratégico para os paísesconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a sua aplicabilida<strong>de</strong> nas telecomunicações, no monitoramento <strong>do</strong> meio ambientee, também, <strong>do</strong>s conflitos regionais. Esse caráter se acentua se consi<strong>de</strong>rarmos as possibilida<strong>de</strong>scomerciais e sociais provenientes <strong>de</strong>ssas aplicações para os próximos anos, além <strong>do</strong>s serviços<strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> satélites.Segun<strong>do</strong> o relatório Euroconsult, 2004, “World Market Survey of Satellites to beLaunched by 2013”, o merca<strong>do</strong> global comercial <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> satélites<strong>de</strong>verá movimentar, no perío<strong>do</strong> 2005-2014, cerca <strong>de</strong>, no mínimo, US$ 13,7 bilhões, <strong>do</strong>s quais35% já estão contrata<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> assim um volume <strong>de</strong> recursos ainda a ser negocia<strong>do</strong> pelomerca<strong>do</strong> <strong>de</strong>, no mínimo, US$ 8,9 bilhões, que po<strong>de</strong> chegar a US$ 11,3 bilhões.Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e alguns países europeus oci<strong>de</strong>ntais, que investiram bilhões <strong>de</strong>dólares em seus programas espaciais, obtiveram um maior retorno <strong>de</strong>sses investimentos para asocieda<strong>de</strong> ten<strong>do</strong> em vista uma maior participação <strong>de</strong> empresas e instituições privadas. Ali<strong>de</strong>rança no espaço ocorre quan<strong>do</strong> existe uma “vonta<strong>de</strong> nacional” para alcançar os objetivostraça<strong>do</strong>s para o setor. Como suporte a isso, é necessária uma associação entre governo,indústria e universida<strong>de</strong>s para a criação <strong>de</strong> uma base científica e <strong>de</strong> alta tecnologiaconsistente, o que possibilita a exploração <strong>do</strong>s benefícios econômicos diretos e indiretos <strong>de</strong>la<strong>de</strong>correntes. 12Corroboran<strong>do</strong> com essa concepção, EVANS (2004, pg. 35), afirma que “Os Esta<strong>do</strong>scom aspirações à transformação não querem gerar apenas setores com maiores taxas <strong>de</strong> lucro,mas querem gerar, também, estruturas ocupacionais e sociais associadas com a indústria <strong>de</strong>alta tecnologia”.O problema que envolve o Brasil quanto a isso é o baixo interesse pela inovaçãocausa<strong>do</strong> pela “incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governos e empresários <strong>de</strong> construírem "pontes" entre omun<strong>do</strong> da ciência e a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s”, 13 isto é, os institutos <strong>do</strong> setor público realizampesquisa <strong>de</strong> ponta, mas as empresas não sabem utilizar o potencial <strong>de</strong> inovação propicia<strong>do</strong> por12 Segun<strong>do</strong> Teracine (1999, p. 52), os programas espaciais po<strong>de</strong>m trazer benefícios econômicos <strong>de</strong><strong>do</strong>is tipos: (i) o direto, proveniente <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> artefatos espaciais como satélites e/ou seufoguete lança<strong>do</strong>r; e (ii) os indiretos ou spin-offs , resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> uso da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida emprogramas anteriores, como comunicações e meteorologia.13 DESINTERESSE pela inovação. Ca<strong>de</strong>rno Opinião. Disponível em .Acesso em 12 nov. 2007.


35eles. Assim, o país torna-se um importa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tecnologia, a qual, por diversas vezes, tem seuuso limita<strong>do</strong> pelos fabricantes.Portanto, conforme afirma Teracine (1999, p. 44) somente com a aquisição <strong>de</strong> certo grau<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência tecnológica po<strong>de</strong> ocorrer uma mudança na estrutura cultural <strong>de</strong> umasocieda<strong>de</strong> que permita uma maior assimilação <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> ponta e que auxiliem nasolução <strong>de</strong> problemas específicos <strong>do</strong> país. O autor ainda enfatiza:Uma estratégia para aquisição <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência tecnológica <strong>de</strong>ve serbaseada numa mistura harmoniosa <strong>de</strong> tecnologia importada com suasnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, possibilitan<strong>do</strong> no médio-longo prazo acriação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> própria. Assim, o <strong>de</strong>senvolvimento e sustentação <strong>de</strong>um programa espacial, está intimamente vincula<strong>do</strong> com a evolução <strong>de</strong> umapolítica industrial apropriada, que preveja ligações a<strong>de</strong>quadas ente oselementos programáticos, objetivos científicos ou tecnológico, instituiçõesparticipantes e organizações industriais. (TERACINE, 1999, p. 46)Quanto à geração <strong>de</strong> empregos, segun<strong>do</strong> Meira Filho, Fortes e Barcelos (1999, p.9)estima-se na Europa que para cada 65 mil dólares anuais <strong>de</strong>spendi<strong>do</strong>s em um contratoindustrial, gera-se um emprego direto na indústria espacial altamente qualifica<strong>do</strong>, efeito quese multiplica se consi<strong>de</strong>rarmos os empregos indiretos.Diante <strong>do</strong> exposto, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>sespaciais <strong>de</strong> interesse nacional, foi criada, por meio da Lei n• 8.854, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>1994, a Agência Espacial Brasileira, na forma <strong>de</strong> uma autarquia fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> natureza civil,vinculada à Presidência da República 14 , em substituição à Comissão Brasileira <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>sEspaciais <strong>–</strong> Cobae <strong>–</strong> ligada às Forças Armadas. Conforme afirmam Meira Filho, Fortes eBarcelos (1999), isso ocorreu para <strong>do</strong>tar as ativida<strong>de</strong>s com uma estrutura própria e <strong>de</strong>monstrarà comunida<strong>de</strong> internacional o caráter pacífico <strong>do</strong> programa espacial brasileiro.Entre as principais atribuições da AEB está a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar as ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> SistemaNacional <strong>de</strong> Desenvolvimento das Ativida<strong>de</strong>s Espaciais <strong>–</strong> SINDAE <strong>–</strong>, <strong>do</strong> qual fazem parte oInstituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas Espaciais <strong>–</strong> INPE, responsável pela pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento no campo <strong>de</strong> aplicações espaciais e pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> satélites etecnologias associadas; o Departamento <strong>de</strong> Pesquisas e Desenvolvimento <strong>–</strong> Deped <strong>–</strong> <strong>do</strong>Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica, responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> lança<strong>do</strong>res <strong>de</strong> satélites efoguetes <strong>de</strong> sondagem; o Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica, responsável pela construção e operação<strong>do</strong> CLA e pela operação <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento da Barreira <strong>do</strong> Inferno; universida<strong>de</strong>s,14 Atualmente, a AEB está vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.


36proponentes <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> P&D e fornece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> consultores técnicos; e o setor priva<strong>do</strong>,como fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> sistemas, equipamentos e serviços.Já o Programa Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais <strong>–</strong> PNAE, foi aprova<strong>do</strong> em agosto <strong>de</strong>1996 e, em linhas gerais, é composto <strong>de</strong> 4 principais áreas <strong>de</strong> atuação:1. Desenvolvimento <strong>de</strong> Satélites <strong>de</strong> Observação da Terra, Telecomunicações eMeteorologia e <strong>de</strong> Missões Científicas e Tecnológicas;2. Desenvolvimento <strong>de</strong> Meios para o Acesso ao Espaço;3. Implantação da Infra<strong>–</strong>estrutura Espacial;4. Pesquisa e Desenvolvimento, Formação e Capacitação <strong>de</strong> Recursos Humanos eFomento da Indústria Nacional.Estas ativida<strong>de</strong>s criam condições ímpares para a capacitação em produtos e processos <strong>de</strong>eleva<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> tecnológico, tanto nas universida<strong>de</strong>s e instituições <strong>de</strong> P&D nacionais,quanto nas empresas 15 , possibilitan<strong>do</strong> uma maior inserção internacional <strong>do</strong> País, em basescompetitivas. Para atingir o aproveitamento máximo das potencialida<strong>de</strong>s das ativida<strong>de</strong>sespaciais brasileiras foram <strong>de</strong>finidas ações <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento e inovaçãotecnológica, que buscarão reverter para a socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma amplificada, como benefíciosdiretos e indiretos, os recursos neles investi<strong>do</strong>s.Por fim, reconhecen<strong>do</strong> que as ativida<strong>de</strong>s espaciais, em todas as suas principaisramificações, apresentam potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impacto significativo ainda não suficientementeexploradas ou mesmo divisadas, o PNAE tem por objetivo que o País tenha uma atuaçãoabrangente no setor e que amplie a participação institucional e empresarial como forma <strong>de</strong>promover a maior capacitação tecnológica e a conseqüente autonomia <strong>do</strong> País no campo dasativida<strong>de</strong>s espaciais. Desta forma, além <strong>do</strong> aprimoramento nacional nas áreas <strong>de</strong> AplicaçõesEspaciais (com <strong>de</strong>staque para Sensoriamento Remoto, Meteorologia, Oceanografia,Comunicações, Geodésia 16 e Navegação), no Desenvolvimento <strong>de</strong> Sistemas Espaciais(particularmente satélites e veículos lança<strong>do</strong>res) e Tecnologias Associadas, e em Ciências15 Ver exemplos <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s em Meira Filho, Fortes e Barcelos (1999, p.13)16 Ciência que se ocupa da <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> tamanho e forma da Terra (geói<strong>de</strong>), por meio <strong>de</strong>medições como triangulação, nivelamento e observações gravimétricas, e que <strong>de</strong>termina o campogravitacional externo da Terra. Po<strong>de</strong> ser dividida geodésia gravimétrica, geodésia geométrica egeodésia celeste.


37Espaciais, está previsto também no PNAE um esforço para revitalizar e mo<strong>de</strong>rnizar a infra<strong>–</strong>estrutura <strong>de</strong> apoio às ativida<strong>de</strong>s espaciais, em particular no que diz respeito aos seus centros<strong>de</strong> lançamento.O Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>O aumento <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> produtos e serviços <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s da tecnologia espacial temaumenta<strong>do</strong> a <strong>de</strong>manda por satélites ao longo <strong>do</strong>s anos, principalmente os <strong>de</strong> comunicação, oque, conseqüentemente, aumenta a procura por serviços <strong>de</strong> lançamento. Ao mesmo tempo,ocorre uma pressão por redução <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong>sses lançamentos. Essa busca pela eficiência <strong>do</strong>sveículos lança<strong>do</strong>res vem sen<strong>do</strong> empreendida por consórcios internacionais, ainda compequena participação <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong>.Neste contexto <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos, o CLA é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o ProgramaEspacial Brasileiro. Devi<strong>do</strong> à sua excelente posição geográfica, próxima à linha <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r, àsua extensa costa marítima, às suas condições meteorológicas estáveis e à sua baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><strong>de</strong>mográfica, <strong>Alcântara</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um <strong>do</strong>s melhores pontos <strong>de</strong> lançamentos <strong>de</strong>foguetes e satélites <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, pois permite uma economia significativa <strong>de</strong> combustível nolançamento <strong>de</strong> foguetes e satélites em relação aos <strong>de</strong>mais locais <strong>de</strong> lançamento em ativida<strong>de</strong>no planeta, além <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> operacional e <strong>de</strong> segurança para realizar lançamentos emqualquer época <strong>do</strong> ano.Com o estabelecimento, em 1979, da Missão Espacial Completa Brasileira <strong>–</strong> MECB, oCentro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, implanta<strong>do</strong> no início da década <strong>de</strong> 80, tornou<strong>–</strong>se oprincipal complexo <strong>de</strong> infra<strong>–</strong>estrutura <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> foguetes <strong>de</strong> sondagem e <strong>de</strong> veículoslança<strong>do</strong>res <strong>de</strong> satélite <strong>do</strong> País. Para abarcar to<strong>do</strong> o projeto, foram <strong>de</strong>sapropria<strong>do</strong>s 62.000hectares, sen<strong>do</strong> 20.000 hectares <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à infra-estrutura operacional e <strong>de</strong> apoio, e 42.000hectares para os reassentamentos, áreas <strong>de</strong> preservação e para a zona industrial.A área <strong>de</strong>stinada à implantação da infra-estrutura operacional e <strong>de</strong> apoio compreendia,por um la<strong>do</strong>, um conjunto <strong>de</strong> instalações, envolven<strong>do</strong>, entre outros, os serviços <strong>de</strong>meteorologia, rastreio, comunicações, aeroportuários, médicos, alojamentos, e, por outro, umconjunto <strong>de</strong> sítios <strong>de</strong> lançamento, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a apoiar <strong>de</strong> forma prioritária os projetos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> veículos lança<strong>do</strong>res nacionais, como preconiza<strong>do</strong> na MECB, assim como


38<strong>de</strong> outros sítios possíveis <strong>de</strong> serem utiliza<strong>do</strong>s por empresas estrangeiras interessadas emexplorar serviços <strong>de</strong> lançamento em bases comerciais.Para a implantação <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> infra-estrutura operacional e <strong>de</strong> apoio, o Plano Diretor<strong>do</strong> CLA estabeleceu também um plano <strong>de</strong> reassentamento <strong>de</strong> toda a população localizadanessa área, para ser executa<strong>do</strong> em quatro fases, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> implantadas apenas as duasprimeiras, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1986 a 1988.Entretanto, a partir <strong>de</strong> 1990, ocorreu a interrupção <strong>do</strong>s investimentos e a conseqüente<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo, o que acarretou a subutilização <strong>do</strong>s equipamentos e <strong>do</strong> corpotécnico <strong>do</strong> Centro e na incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a continuida<strong>de</strong> necessária para a melhoriaeconômica e social <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Apesar <strong>do</strong>s problemas supracita<strong>do</strong>s, cabe salientar que a construção <strong>do</strong> CLA trouxebenefícios para a infra-estrutura <strong>de</strong> transportes, saú<strong>de</strong>, telefonia e <strong>de</strong> energia elétrica daregião, sem, contu<strong>do</strong>, atingir um nível a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> e abrangente como espera<strong>do</strong> pelascomunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> município.A questão é que essas melhorias ocorreram somente nas agrovilas e na área próxima aoCLA evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> um visível “apartação” entre CLA e as comunida<strong>de</strong>s tradicionais,principalmente no que diz respeito à infra-estrutura. Próximo a toda tecnologia e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><strong>do</strong> CLA, mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> município moram em casas <strong>de</strong> taipa cobertas <strong>de</strong> palha sem nenhumainfra-estrutura, como tratamento <strong>de</strong> água e esgoto. Outro exemplo claro está nas vias <strong>de</strong>acesso. Enquanto as estradas para as agrovilas e <strong>de</strong>mais comunida<strong>de</strong>s são muito ruins, as quelevam ao CLA são asfaltadas e em perfeito esta<strong>do</strong>. Além disso, a gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s militaresque servem no Centro não moram em <strong>Alcântara</strong>, não interagin<strong>do</strong> com a cida<strong>de</strong>.Diante <strong>de</strong> tais constatações, não se quer afirmar que o CLA <strong>de</strong>veria ter feito toda a infraestrutura<strong>do</strong> município, mas <strong>de</strong>monstrar que tal fato, diante das perspectivas criadas quan<strong>do</strong>da sua implantação, gera indignação na população que não possui as mesmas condições.Mas o Governo Brasileiro <strong>de</strong>u sinais que <strong>de</strong>seja reativar as suas ativida<strong>de</strong>s espaciais 17 ,pois, conforme já ressalta<strong>do</strong>, o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> satélites possui previsões <strong>de</strong>17 Concomitante à instituição <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>, o Ministério da Ciência e Tecnologia encaminhou, pormeio <strong>do</strong> Aviso nº 206/MCT, <strong>de</strong> 19/07/04, nova minuta <strong>de</strong> Decreto para criação <strong>de</strong> grupointerministerial, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, coor<strong>de</strong>nar e acompanhar a implementação das açõesnecessárias à viabilização da utilização <strong>do</strong> CLA para prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong>


39investimento bilionárias. Contu<strong>do</strong>, para conseguir a inserção neste merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve-se, entreoutros requisitos, possuir um centro <strong>de</strong> lançamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, isto é, com “infra-estruturaapropriada, flexibilida<strong>de</strong>, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalações e <strong>de</strong> equipes operacionaisqualificadas, baixo custo, segurança e cumprimento <strong>de</strong> prazos” (SILVA FILHO, 1999, p. 78).Para a a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> CLA, as empresas estrangeiras interessadas em utilizar o Centropara seus lançamentos fizeram uma série <strong>de</strong> exigências como, por exemplo, a construção <strong>de</strong>um novo porto para o acesso <strong>de</strong> cargas e materiais; a complementação <strong>do</strong> aeroporto <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>; o planejamento e projeto <strong>de</strong> novos complexos <strong>de</strong> lançamento; licenciamentoambiental; e remoção <strong>de</strong> populações das áreas operacionais, entre outros. A estratégia a<strong>do</strong>tadapelo Governo Brasileiro é a <strong>de</strong> fornecer a infra-estrutura a<strong>de</strong>quada e o compartilhamento <strong>de</strong>investimentos na construção <strong>de</strong> complexos <strong>de</strong> lançamento contíguos ao CLA.Neste último aspecto, é importante ressaltar a “separação” entre CLA e CEA. Oprimeiro permanecerá com suas funções <strong>de</strong> controle <strong>do</strong>s lançamentos e o seu caráter militar.O CEA abrangerá os sítios <strong>de</strong> lançamento e terá natureza civil, sen<strong>do</strong> administra<strong>do</strong> porparcerias internacionais. Contu<strong>do</strong>, todas as melhorias necessárias abrangerão o complexoCLA/CEA, para que funcionem <strong>de</strong> forma integrada e eficiente.Com a implantação <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, o país po<strong>de</strong> aproveitar o gran<strong>de</strong>potencial que o merca<strong>do</strong> aeroespacial oferece, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> trazer benefícios para a economia,com a comercialização <strong>de</strong> bens e serviços <strong>de</strong> alto valor agrega<strong>do</strong>; para o <strong>de</strong>senvolvimentotecnológico, com a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos e serviços em geral; e para a educação,com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualificação para os novos empregos cria<strong>do</strong>s, entre outros, fatores quepo<strong>de</strong>m vir a ser o motor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um pólo regional. Neste contexto, cabesalientar que a concepção <strong>do</strong> CEA tem como premissa estabelecer um complexo integra<strong>do</strong> <strong>de</strong>organizações públicas e privadas que abrangem fornece<strong>do</strong>res, instituições <strong>de</strong> ensino epesquisa, assistência técnica e <strong>de</strong> capacitação profissional, entre outros. A evolução <strong>de</strong>sseprojeto ocorrerá concomitantemente com as melhorias da infra-estrutura <strong>do</strong> CLA, cujosatélites em bases comerciais. As ações previstas no <strong>do</strong>cumento, além <strong>de</strong> incorporarem aquelas aserem <strong>de</strong>legadas ao <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> a ser cria<strong>do</strong>, cuidavam da reabilitação da infra-estrutura e <strong>do</strong>gerenciamento <strong>do</strong> CLA. A composição <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> se restringia, nesse caso, ao Departamento <strong>de</strong>Pesquisas e Desenvolvimento e ao Centro Técnico Aeroespacial, <strong>do</strong> Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica, aoInstituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas Espaciais, à Empresa Brasileira <strong>de</strong> Infra-Estrutura Aeroportuária,além da Agência Espacial Brasileira, que teria a função <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação. Materializou-se, com isso, ajustaposição <strong>de</strong> propostas.


40processo licitatório vem se arrastan<strong>do</strong> há alguns anos e, também, com a implantação <strong>de</strong> cadasítio <strong>de</strong> lançamento.Segun<strong>do</strong> a AEB, o CEA po<strong>de</strong> captar <strong>de</strong> 10% (no início das ações) a 30% (com to<strong>do</strong>s ossítios <strong>de</strong> lançamento implanta<strong>do</strong>s) <strong>do</strong> montante <strong>de</strong> investimentos previstos para os próximosanos. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as estimativas previstas anteriormente, conclui-se que o CEA po<strong>de</strong>rácaptar, até 2014, no mínimo, entre US$ 890 milhões a US$ 2,7 bilhões. Inclusive, já existe umTrata<strong>do</strong> <strong>de</strong> cooperação assina<strong>do</strong> entre Brasil e Ucrânia para a exploração comercial daprimeira área <strong>de</strong> expansão para a utilização <strong>do</strong> Veículo <strong>de</strong> Lançamentos Cyclone-4. 18É importante dizer que to<strong>do</strong> esse montante <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>ve ter como principal fimproporcionar melhorias para a socieda<strong>de</strong>. Conforme observa Evans (2004, p. 32), buscar entrenichos mais <strong>de</strong>sejáveis <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> é uma parte importante, não só por po<strong>de</strong>r trazer maioreslucros e permitir uma acumulação mais rápida <strong>de</strong> capital, mas por facilitar a busca pelo bemestar.Giacaglia (1994, p. 48) adiciona que “para sobrevivermos como nação e país, nossatomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>verá se dar na direção da ciência e da tecnologia para benefício social”.Neste senti<strong>do</strong>, cabe ressaltar que, pelo menos, o princípio da aplicação da tecnologia para obem-estar social está presente nas diretrizes da Política Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais.No caso <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, ainda há a particularida<strong>de</strong> da tradição e cultura das comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos e o Esta<strong>do</strong> tem a complexa missão <strong>de</strong> aliar a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>proveniente das ativida<strong>de</strong>s espaciais com o respeito a essas características locais, proven<strong>do</strong> osbenefícios que atendam às <strong>de</strong>mandas daquelas comunida<strong>de</strong>s como, por exemplo, assistênciatécnica para a melhoria da produtivida<strong>de</strong> agrícola e qualificação profissional.1.4 DESAPROPRIAÇÃO, RE<strong>MA</strong>NEJAMENTO E MOBILIZAÇÃO SOCIALConforme fala<strong>do</strong> anteriormente, <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong>spertou um gran<strong>de</strong> interesse para o<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico nacional <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua localização geográfica privilegiada, quepossibilita gran<strong>de</strong>s ganhos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> programas espaciais.18 Ver Decreto nº 5.436, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2005.


41No intuito <strong>de</strong> explorar essa vantagem competitiva, o Governo Brasileiro <strong>de</strong>cidiuimplantar o Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. No entanto, a implantação <strong>do</strong> CLA resultouem um processo controverso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suas áreastradicionais <strong>de</strong> ocupação.Em setembro <strong>de</strong> 1980, o governo <strong>do</strong> Maranhão, por meio <strong>do</strong> Decreto n• 7.320,<strong>de</strong>sapropriou por utilida<strong>de</strong> pública 52 mil hectares com o objetivo <strong>de</strong> implantar uma base <strong>de</strong>lançamento <strong>de</strong> foguetes no município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Em 1982, foi firma<strong>do</strong> um Protocolo <strong>de</strong>Cooperação entre o Ministério da Aeronáutica, o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão e o município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> visan<strong>do</strong> à implantação <strong>do</strong> CLA. Em julho <strong>de</strong> 1983, foi assina<strong>do</strong> um Acor<strong>do</strong> comrepresentantes <strong>do</strong> Ministério da Aeronáutica, registra<strong>do</strong> em cartório, no qual a Aeronáutica secomprometia a observar as seguintes reivindicações feitas pelas famílias que foram<strong>de</strong>sapropriadas: terra boa e suficiente; acesso à praia; permanecerem juntas; água suficiente;lugar para pasto <strong>de</strong> animais; in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> agrovilas; casa própria; títulos <strong>de</strong>finitivos <strong>de</strong>terra; escola primária completa; posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com representante <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>; casa <strong>de</strong> forno;luz elétrica; mudas na quantida<strong>de</strong> suficiente para substituir as fruteiras; igreja; cemitério;tribuna; campo <strong>de</strong> futebol; e assistência técnica.Em 1987, foram remanejadas 312 famílias para sete agrovilas (Marudá, Ponta Seca, SóAssim, Cajueiro, Espera, Peru e Pepital) e, em 8 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1991, um novo Decretopresi<strong>de</strong>ncial ampliou a área da base para 62 mil hectares. A população <strong>de</strong>slocada foiassentada, em muitos casos, em áreas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> outros grupos étnicos já estabeleci<strong>do</strong>s,geran<strong>do</strong> significativas mudanças <strong>de</strong> seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida tradicional, basea<strong>do</strong> na pesca e noartesanato.Segun<strong>do</strong> Almeida (2006), a área <strong>de</strong>sapropriada alterou o sistema <strong>de</strong> uso comum <strong>do</strong>srecursos naturais tornan<strong>do</strong> a terra individualizada e sobreexplotada. O <strong>de</strong>slocamento dasfamílias afetou a coesão social e a consciência histórica <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>. Com isso, foramquebradas as relações <strong>de</strong> troca e a hierarquia existente na organização social <strong>–</strong> princípiosforma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> território étnico, instituin<strong>do</strong> outros critérios <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> local.Na visita ao município, percebeu-se que esse problema ocorreu somente nas agrovilas,principalmente no que diz respeito à limitação <strong>de</strong> tamanho das terras. Alguns mora<strong>do</strong>res,inclusive, continuaram utilizan<strong>do</strong> a área <strong>do</strong> CLA para plantio e colheita, pois suas terras ou


42não eram suficientes ou não eram <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>. Este fato gerou conflitos entre o Centro eos mora<strong>do</strong>res, ocorren<strong>do</strong> a apreensão da produção e até prisões 19 .Apesar <strong>de</strong> cada família possuir seus 15 hectares, existem acor<strong>do</strong>s entre elas para quevizinhos e familiares utilizem parte da área para plantio quan<strong>do</strong> necessário, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ocorrerou não uma contrapartida <strong>de</strong> renda ou produção. A questão da hierarquia realmente sofreuuma alteração, uma vez que muitas <strong>de</strong>cisões precisavam <strong>de</strong> aval <strong>do</strong> CLA para se realizarem.As agrovilas proporcionaram às famílias reassentadas, em geral, um melhor acesso àinfra-estrutura por conta <strong>do</strong>s investimentos feitos pelo CLA. Elas possuem casas <strong>de</strong> alvenariacom cobertura <strong>de</strong> telhas, eletrificação, poços artesianos, projetos governamentais <strong>de</strong> crédito ecusteio, transporte escolar, água encanada, casa <strong>de</strong> farinha, escola, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, entreoutras benfeitorias. Não obstante, Almeida (2006) ressalva que as famílias que vivem nasagrovilas são percebidas como em <strong>de</strong>svantagem em relação às <strong>de</strong>mais.As <strong>de</strong>svantagens assinaladas são: não tem portos próprios, nem têmproximida<strong>de</strong> das águas piscosas (que têm muito peixe), extensãoinsuficiente, as terras são frágeis e não comportam a capacida<strong>de</strong> produtivadas unida<strong>de</strong>s familiares, falta <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> para ampliar as casas, falta <strong>de</strong>financiamento para impulsionar a auto-sustentação das agrovilas, on<strong>de</strong> nãohá nenhum tipo <strong>de</strong> emprego. “Sem <strong>do</strong>cumentos das casas e <strong>do</strong>s respectivoslotes, os mora<strong>do</strong>res das agrovilas vivem e são vistos como se fossemlocatários...” (ALMEIDA, 2006, p.158).Uma limitação das agrovilas é a distância e o acesso ao mar pelos mora<strong>do</strong>res, que sópo<strong>de</strong> ser efetua<strong>do</strong> sob controle administrativo <strong>do</strong> CLA. No passa<strong>do</strong>, os mora<strong>do</strong>res conseguiamir e voltar rapidamente no mesmo dia, sobran<strong>do</strong> tempo ainda para a lavoura. Hoje, eles têmaté que <strong>do</strong>rmir no local. Além disso, quan<strong>do</strong> há lançamento <strong>de</strong> foguetes, o acesso dascomunida<strong>de</strong>s à área <strong>do</strong> CLA é proibi<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às questões <strong>de</strong> segurança. Contu<strong>do</strong>, como elasnecessitam <strong>do</strong> acesso ao mar para a pesca, algumas famílias têm dificulda<strong>de</strong>s para conseguiroutra fonte <strong>de</strong> alimento, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> recorrer a vizinhos ou, quan<strong>do</strong> ainda possuem algumrecurso, compram o peixe <strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s como Mamuna, Baracatatiua ou Canelatiua.Neste senti<strong>do</strong>, cabe <strong>de</strong>stacar que não existe nenhuma compensação ou auxílio por parte <strong>do</strong>CLA.A terra nas agrovilas em sua maioria é boa, mas não da mesma qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong>da que habitavam anteriormente. Quan<strong>do</strong> se dividiu os lotes em 15 hectares para as 312famílias, não se previu que elas cresceriam e que, com isso, o espaço se tornaria insuficiente19 Fatos ocorri<strong>do</strong>s em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2007, informa<strong>do</strong> pelas entida<strong>de</strong>s no 2º. Seminário <strong>do</strong> CENDSA emotivo <strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> representantes <strong>do</strong> CLA, <strong>do</strong> Ministério Público e das comunida<strong>de</strong>s.


43para abrigar novas famílias. Atualmente, os jovens que permanecem nas agrovilas constroemsuas casas nas terras <strong>do</strong>s seus pais ou vizinhos e divi<strong>de</strong>m o cultivo e a produção. Com isso, o<strong>de</strong>smatamento é maior e a terra não <strong>de</strong>scansa o suficiente para recuperar sua qualida<strong>de</strong>. Porexemplo, na agrovila <strong>de</strong> Cajueiro foram assentadas 33 famílias na época <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong>CLA, e hoje existem 77 famílias moran<strong>do</strong> no local.Assim, como nem todas as famílias receberam terras com a mesma qualida<strong>de</strong> das queocupavam anteriormente e nem na <strong>de</strong>vida proporção, não se consegue gerar o exce<strong>de</strong>nteprodutivo da mesma forma que outras comunida<strong>de</strong>s e, muito menos, cobrir suas necessida<strong>de</strong>sdiárias.Isso fortalece a necessida<strong>de</strong> salientada pelos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> que todas as agrovilasnecessitam <strong>de</strong> assistência técnica, apesar <strong>de</strong> ter havi<strong>do</strong> tentativas anteriores que não <strong>de</strong>ramcerto, principalmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à resistência <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res em alterar seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> produção 20 .Além disso, a falta <strong>de</strong> acompanhamento mais próximo <strong>do</strong>s técnicos e a ausência <strong>de</strong> canais <strong>de</strong>comercialização também contribuíram para o fracasso daquelas <strong>experiência</strong>s. Se houvesseessa assistência, o problema da escassez, da falta <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da terra e da <strong>de</strong>gradaçãoambiental po<strong>de</strong>ria ser resolvi<strong>do</strong>.Outro ponto é que a influência <strong>do</strong> CLA vem diminuin<strong>do</strong> com o tempo, segun<strong>do</strong>informações <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. A Aeronáutica já não se envolve mais na manutenção emelhorias das casas, bem como, na construção <strong>de</strong> novas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com informações dasli<strong>de</strong>ranças das agrovilas. Conforme a li<strong>de</strong>rança da agrovila <strong>de</strong> Cajueiro, até 2 anos atrás, oCLA permitia novas construções mediante autorização prévia e somente para casais.Atualmente, a Aeronáutica liberou as comunida<strong>de</strong>s para realizarem quaisquer obras que<strong>de</strong>sejarem em suas casas. Assim, o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação das agrovilas varia <strong>de</strong> uma paraoutra e pô<strong>de</strong>-se perceber no interior das casas melhorias realizadas pelos próprios mora<strong>do</strong>rese, também, que as novas construções não são, pre<strong>do</strong>minantemente, <strong>de</strong> alvenaria, e sim, <strong>de</strong>taipa.Apesar <strong>do</strong>s problemas, os mora<strong>do</strong>res das agrovilas não se percebem em <strong>de</strong>svantagemem relação às outras comunida<strong>de</strong>s. Nenhuma das li<strong>de</strong>ranças das agrovilas entrevistadas fez talafirmação. Existem pessoas satisfeitas com o local on<strong>de</strong> moram como a li<strong>de</strong>rança da agrovila20 Segun<strong>do</strong> Evans (2004, p. 54), novas práticas <strong>de</strong> produção po<strong>de</strong>m ser menos atraentes <strong>do</strong> quemanter o status quo, tornan<strong>do</strong> difícil alcançar um patamar técnico <strong>de</strong> produção superior que estejamuito distante das práticas correntes.


44<strong>de</strong> Peru, que afirmou que não <strong>de</strong>sejava voltar para on<strong>de</strong> morava antes, apesar da falta da praia.Ela enfatizou: “Não somos miseráveis como as entida<strong>de</strong>s quiseram passar. Sou trabalha<strong>do</strong>rarural com muito orgulho”. Por outro la<strong>do</strong>, existem pessoas que gostariam <strong>de</strong> retornar àsantigas terras <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à qualida<strong>de</strong> da terra e à proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mar, em particular, os maisvelhos.Quanto ao fato <strong>de</strong> serem vistos em <strong>de</strong>svantagem, não há uma opinião comum, haven<strong>do</strong>aqueles que pensam <strong>de</strong>sta forma, ten<strong>do</strong> em vista a “ausência <strong>do</strong> título da terra”, e aqueles queafirmam que são vistos até em vantagem em relação a outras comunida<strong>de</strong>s pela estrutura quepossuem. Cabe ressaltar que a questão da proprieda<strong>de</strong> da terra <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radacomo <strong>de</strong>svantagem na medida em que seja emiti<strong>do</strong> o título coletivo em nome da associaçãoque será criada e, com isso, ninguém terá o título particular da terra, situação que não é muitobem aceita por to<strong>do</strong>s no município 21 .Enfim, a partir da <strong>experiência</strong> incompleta <strong>do</strong>s remanejamentos, a ameaça <strong>de</strong> novos<strong>de</strong>slocamentos e o advento <strong>do</strong> artigo 68, a região tornou-se foco <strong>de</strong> conflitos e tensão social,intensificada pelo não cumprimento <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> pela Aeronáutica, que resultaram em váriasiniciativas <strong>de</strong> mobilização das comunida<strong>de</strong>s e organizações da socieda<strong>de</strong> civil, com <strong>de</strong>staquepara as relacionadas ao movimento negro, contra a expansão <strong>do</strong> complexo aeroespacial <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>.Essas iniciativas tiveram repercussões em to<strong>do</strong> o país e, também, em âmbitointernacional, na medida em que tanto organizações não<strong>–</strong>governamentais quanto organismosinternacionais <strong>de</strong> direitos humanos, solicitaram às Embaixadas <strong>do</strong> Brasil no exterior,informações sobre supostas violações <strong>do</strong>s direitos das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e eventuais providências <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro. É importante ressaltar,nesse aspecto, o tratamento <strong>do</strong> tema em duas instâncias: a Comissão Interamericana <strong>de</strong>Direitos Humanos, no âmbito da qual tramita petição que <strong>de</strong>nuncia o Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> SalvaguardaTecnológica entre Brasil e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s; e o Relatório Especial da Comissão das NaçõesUnidas sobre a Moradia A<strong>de</strong>quada como componente <strong>do</strong> Direito a um Padrão <strong>de</strong> VidaA<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, que visitou <strong>Alcântara</strong> no quadro <strong>de</strong> sua missão oficial ao Brasil, realizada em maioe junho <strong>de</strong> 2004.21 Essa percepção ocorre pois, segun<strong>do</strong> os mora<strong>do</strong>res dizem, “ninguém será <strong>do</strong>no <strong>de</strong> nada e po<strong>de</strong>haver confusão”. Contu<strong>do</strong>, pelo fato <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>s para o uso comum da terra funcionarem <strong>de</strong> formaeficaz, provavelmente não haverá problemas na produção <strong>de</strong> cada família. E quan<strong>do</strong> houverem,<strong>de</strong>verão ser resolvi<strong>do</strong>s pelas li<strong>de</strong>ranças locais ou até na associação que receberá o título da terra.


45Em 1999, foi realiza<strong>do</strong> no município o “Seminário <strong>Alcântara</strong>: A Base Espacial e osImpasses Sociais”, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o marco da “retomada da mobilização <strong>do</strong>s agentes sociaisafeta<strong>do</strong>s mais como trabalha<strong>do</strong>res rurais, mas também como remanescentes <strong>de</strong> quilombos”(ALMEIDA, 2006, p. 56). Um <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa mobilização foi a recusa conjunta <strong>do</strong>spovoa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> receberem visitas <strong>do</strong>s técnicos <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s pelo CLA para operacionalizarmedidas para novos <strong>de</strong>slocamentos.O conflito social provoca<strong>do</strong> pela implantação <strong>do</strong> CLA criou um ambiente para ofortalecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica, processo que já <strong>de</strong>monstrava ascendência nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a garantia da terra aos remanescentes <strong>de</strong> quilombos proporcionada pelo artigo 68 da CF <strong>de</strong>1988. A conseqüência foi a emergência <strong>de</strong> novas organizações sociais, com o objetivo <strong>de</strong>contrapor quaisquer ações repressoras por parte <strong>do</strong> CLA ou <strong>do</strong> governo que limitassem aforma <strong>de</strong> trabalho ou a autonomia <strong>do</strong> processo produtivo necessário ao sustento dascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Esse fato po<strong>de</strong> ser exemplifica<strong>do</strong> com a mudança <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong>s principais atoressociais envolvi<strong>do</strong>s. Durante boa parte <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> negociação com a Aeronáutica, ascomunida<strong>de</strong>s se apresentavam como pequenos produtores rurais, ten<strong>do</strong> como seu interlocutorprincipal o Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res e Trabalha<strong>do</strong>ras Rurais <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> STTR. Com otempo, “a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remanescentes <strong>de</strong> quilombos passou a caracterizar a interlocução comos organismos governamentais...” (ALMEIDA, 2006, p.57), ten<strong>do</strong> como foco, principalmente,o direito constitucional à terra, além das reivindicações das famílias <strong>de</strong>sapropriadas já citadas.Esta mudança será abordada mais adiante, no capítulo que trata da relação entre Esta<strong>do</strong> esocieda<strong>de</strong>.Em 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1999, foi ajuizada Ação Civil Pública pela Procura<strong>do</strong>ria Geralda República, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao pleito <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil, objetivan<strong>do</strong> suspen<strong>de</strong>r oprocesso <strong>de</strong> licenciamento ambiental <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> CLA, sob a alegação <strong>de</strong> que no relatórioelabora<strong>do</strong> por <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> governo, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rava-se a existência <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos no território.Para tentar sanar o impasse cria<strong>do</strong>, a AEB, em conjunto com o PNUD, promoveu, pormeio <strong>do</strong> Fórum <strong>de</strong> Desenvolvimento Local, Integra<strong>do</strong> e Sustentável (DLIS), um trabalho <strong>de</strong>mobilização e sensibilização no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimular a participação e o engajamentocooperativo <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os atores sociais locais <strong>do</strong> município para elaborar um Diagnóstico


46Participativo e um Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável para <strong>Alcântara</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> ascaracterísticas e necessida<strong>de</strong>s locais.Esse diagnóstico <strong>de</strong>monstrou que os problemas <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> vão muito além <strong>do</strong>saspectos sociais envolvi<strong>do</strong>s e a sua solução exigia a participação <strong>de</strong> instituições multisetoriaisque, <strong>de</strong> forma articulada, pu<strong>de</strong>ssem contribuir para assegurar a construção <strong>de</strong> um ambienteque possibilitasse evitar novos impasses e promover o <strong>de</strong>senvolvimento econômico, social ecultural <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.E como a principal <strong>de</strong>manda das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> é a regularização fundiária <strong>do</strong> território, fortalece-se a concepção <strong>de</strong> uma açãointegrada, mais participativa e direta, envolven<strong>do</strong> órgãos governamentais e socieda<strong>de</strong> civilenvolvi<strong>do</strong>s com a problemática. Segun<strong>do</strong> Leite (2000), as <strong>experiência</strong>s mais bem sucedidas <strong>de</strong>implementação <strong>do</strong> artigo 68 têm si<strong>do</strong> aquelas nas quais houve uma parceria entrecomunida<strong>de</strong>s, entida<strong>de</strong>s governamentais e os diversos agentes locais favoráveis àregularização.1.5 O GEI-ALCÂNTARADiante da diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s problemas <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, os Ministérios da Ciência eTecnologia e da Defesa julgaram necessário criar uma comissão interministerial, sob acoor<strong>de</strong>nação da Casa Civil, para trabalhar na superação <strong>do</strong>s impasses e carências da região ena promoção <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento. Para tanto, encaminharam para análise, por meio daExposição <strong>de</strong> Motivos nº 176/MD, datada <strong>de</strong> 18/03/04, minuta <strong>de</strong> Decreto para criação <strong>de</strong>Comissão <strong>Interministerial</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, coor<strong>de</strong>nar e acompanhar aimplementação das ações necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong> município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> Maranhão.A partir disso, o Governo Fe<strong>de</strong>ral, por meio <strong>do</strong> Decreto <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2004,instituiu um <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong> <strong>Interministerial</strong> com o objetivo <strong>de</strong> articular, viabilizar eacompanhar as ações necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>,no Maranhão (GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong>), além <strong>de</strong> propiciar as condições a<strong>de</strong>quadas à eficientecondução <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais e ao <strong>de</strong>senvolvimento dascomunida<strong>de</strong>s locais, respeitan<strong>do</strong> suas peculiarida<strong>de</strong>s étnicas e sócio-culturais.


47Esta iniciativa <strong>de</strong>veu-se à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compatibilizar as diversas expectativas <strong>do</strong>ssegmentos sociais locais e <strong>do</strong>s Governos Municipal, Estadual e Fe<strong>de</strong>ral para o município.Como afirma North (1996, p. 14) “é difícil sustentar uma negociação complexa sem umterceira parte para forçar acor<strong>do</strong>s”, e o GEI surgiu como a instituição para resolver osconflitos existentes, no intuito <strong>de</strong> indicar caminhos que auxiliassem no <strong>de</strong>senvolvimentosustentável <strong>do</strong> município.Com os objetivos estabeleci<strong>do</strong>s pelo GEI, o Governo buscava aten<strong>de</strong>r o que estáprevisto na Convenção 169 que reconhece as aspirações das comunida<strong>de</strong>s tradicionais emparticipar das <strong>de</strong>cisões acerca <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento e suas priorida<strong>de</strong>s e postula que osgovernos <strong>de</strong>vem respeitar a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e cultural, os seus costumes e tradições e asua relação com o território que ocupam. Para isso, precisava consultar as comunida<strong>de</strong>s,mediante procedimentos apropria<strong>do</strong>s e, particularmente, através <strong>de</strong> suas instituiçõesrepresentativas e estabelecer os meios através <strong>do</strong>s quais as comunida<strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ssem participarlivremente, na mesma medida que os outros atores, nas <strong>de</strong>cisões que lhes fossem afetar.Para tanto, os membros <strong>do</strong> GEI realizaram visitas técnicas para conhecer a realida<strong>de</strong>local, encontros com a população e representações da socieda<strong>de</strong> civil para discussão e<strong>de</strong>finição das ações necessárias. Além disso, foi antecipada a criação, mediante a Portaria nº267, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2005, <strong>do</strong> Subgrupo <strong>de</strong> Regularização Fundiária e Meio Ambiente e daMoradia, para tratar da questão que mais afeta as comunida<strong>de</strong>s, sen<strong>do</strong> sua principalreivindicação e condição essencial para o restabelecimento da confiança nas negociações e asua conseqüente evolução.Os trabalhos e resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> serão analisa<strong>do</strong>s no Capítulo 3. Antes, parauma melhor compreensão das formas <strong>de</strong> relação entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong>, será revisitada ateoria sobre a temática para apresentação <strong>de</strong> concepções que permitam analisar o contexto noqual o GEI foi instituí<strong>do</strong> e <strong>de</strong>senvolveu suas ativida<strong>de</strong>s e as estratégias a<strong>do</strong>tadas na tentativa<strong>de</strong> promover o consenso entre os diversos atores envolvi<strong>do</strong>s.


482. O ESTADO COMO ATOR SOCIALNeste capítulo, serão apresenta<strong>do</strong>s conceitos <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> asdiversas correntes teóricas que versam sobre o Esta<strong>do</strong> e o seu papel institucional no contextodas relações sociais, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que mesmo sen<strong>do</strong> uma estrutura político-organizacionalque se apresenta acima da socieda<strong>de</strong> é, também, integrante <strong>de</strong>la, sen<strong>do</strong> suscetível às mudançaspolíticas, econômicas e sociais que provocam a alternância <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e no seu grau<strong>de</strong> influência. Assim, Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil se interelacionam <strong>de</strong> forma constante, sen<strong>do</strong>que a última limita o po<strong>de</strong>r formal exerci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>.Discute a questão da autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ora consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-o como um agenteautônomo, capaz <strong>de</strong> fazer valer os interesses <strong>de</strong> seus representantes e suas, ora nãoreconhecen<strong>do</strong>-lhe in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s atores políticos mais organiza<strong>do</strong>s. Cabe <strong>de</strong>stacar nesteâmbito, o papel <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res públicos como agentes governamentais <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rdiscricionário e com motivações diversas para atuar na construção e implementação daagenda política. Essas motivações po<strong>de</strong>m provocar uma maior ou menor coesão interna <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, o que influenciará na força que o Esta<strong>do</strong> tem perante os grupos <strong>de</strong> interesse maisorganiza<strong>do</strong>s na disputa pelo controle social.Tratar-se-á, também, da importância <strong>de</strong> espaços públicos para o reconhecimento e aformação <strong>de</strong> novos atores que possam discutir uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong> e apresentar as<strong>de</strong>mandas e interesses <strong>do</strong>s grupos sociais que representam. Com isso, o Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> expandirseus po<strong>de</strong>res e se tornar mais eficiente na medida em que consegue estabelecer uma parceriacom a socieda<strong>de</strong> civil na formulação e execução <strong>de</strong> políticas públicas.Para que essa interação ocorra <strong>de</strong> forma legítima e eficaz, é necessária a existência <strong>de</strong>um ambiente <strong>de</strong>mocrático que possibilite a liberda<strong>de</strong> para a discussão e tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões eo combate aos vícios e limitações que se apresentam no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> processo.Por fim, será apresentada uma breve discussão sobre a entrada da concepção <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável na agenda política internacional e nacional, como alternativamedia<strong>do</strong>ra entre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico capitalista e o radicalismo <strong>do</strong>sambientalistas, salientan<strong>do</strong> o seu caráter politicamente correto, mas que ainda existemcontrovérsias quanto à sua <strong>de</strong>finição, ten<strong>do</strong> em vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relação entre algumasvariáveis que, por vezes, po<strong>de</strong>m ser até antagônicas, como a econômica e a ambiental.


49Como essas variáveis po<strong>de</strong>m ser relacionadas e interpretadas sob lógicas distintas, nãoexiste um mo<strong>de</strong>lo a ser segui<strong>do</strong>, o que acarreta na necessária discussão para a construção <strong>de</strong>uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento particular para cada caso.O Esta<strong>do</strong> tem uma participação importante na promoção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as premissas estabelecidas na Agenda 21. Contu<strong>do</strong>, a <strong>experiência</strong>brasileira tem apresenta<strong>do</strong> um forte viés ambiental, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a ausência <strong>de</strong> uma estruturaestatal que seja organiza<strong>do</strong>ra e articula<strong>do</strong>ra das diversas pastas ministeriais, com o objetivo <strong>de</strong>pensar e implementar ações voltadas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.2.1 A RELAÇÃO DE PODER ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVILA evolução <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> até o ponto que se conhece hoje é fruto <strong>de</strong> um longo processohistórico que não foi unívoco em to<strong>do</strong>s os países. Des<strong>de</strong> a Revolução Industrial, entre fins <strong>do</strong>século XIX e a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> ocorreu um aumento significativo das<strong>de</strong>mandas sociais provocadas por uma maior organização <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, pequenosprodutores e consumi<strong>do</strong>res, o Esta<strong>do</strong> adquiriu um caráter interventor perante a socieda<strong>de</strong> e aeconomia. Isto foi proveniente <strong>do</strong> reconhecimento <strong>de</strong> que nas relações entre merca<strong>do</strong> esocieda<strong>de</strong>, esta não conseguiria valer to<strong>do</strong>s os seus direitos e nem resolver seus principaisproblemas.Com o surgimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e a consolidação da indústria, a <strong>de</strong>mocraciaavança, o que acarretou na conseqüente “<strong>de</strong>sprivatização” (BRESSER PEREIRA, 1995, p. 6)<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, isto é, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> estar a serviço da classe ou <strong>do</strong> grupo po<strong>de</strong>roso que ocontrolava e, por meio <strong>de</strong>le, se apropriava <strong>do</strong> exce<strong>de</strong>nte social, em prol <strong>de</strong> uma iminente<strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong> massas.Com isso, o Esta<strong>do</strong> supera o conceito <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r centra<strong>do</strong> no direito divino <strong>do</strong>s reis e aconcepção contratualista <strong>de</strong> Thomas Hobbes na qual o Esta<strong>do</strong> era a representação da vonta<strong>de</strong><strong>do</strong>s homens, que se dispunham racionalmente a ce<strong>de</strong>r parte <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong> em nome daor<strong>de</strong>m proporcionada pelo Esta<strong>do</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> garantir a sua segurança pessoal e suaproprieda<strong>de</strong>. Enfim, <strong>de</strong>monstra ser o resulta<strong>do</strong> da luta <strong>de</strong> interesses <strong>de</strong> grupos diversos.O Esta<strong>do</strong> torna-se o ambiente on<strong>de</strong> os grupos organiza<strong>do</strong>s da socieda<strong>de</strong> e com maispo<strong>de</strong>r político tentam impor sua vonta<strong>de</strong> sobre o restante da população. A partir daí, conforme


50afirma Carnoy (1990), o Esta<strong>do</strong> passa a atuar como “media<strong>do</strong>r civiliza<strong>do</strong>r”, crian<strong>do</strong> umambiente propício ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> liberal, basea<strong>do</strong> nos direitos individuais e namediação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pelo bem comum entre os interesses materiais <strong>do</strong>s homens, garantin<strong>do</strong> ofuncionamento <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> livre na socieda<strong>de</strong> civil.Contu<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong> continua em transformação. Com a evolução tecnológica,principalmente nas comunicações, e a expansão da globalização em <strong>de</strong>trimento da soberaniadas nações, o Esta<strong>do</strong> vem se adaptan<strong>do</strong> a esse novo cenário. Cabe ressaltar que este processojá ocorre, por exemplo, com a criação/consolidação <strong>de</strong> blocos econômicos como a UniãoEuropéia e o Mercosul, e o surgimento <strong>de</strong> novas instituições globais, como a OrganizaçãoMundial <strong>do</strong> Comércio e a Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho.Diante <strong>do</strong> exposto acima, po<strong>de</strong>-se perceber que a figura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é dinâmica,permeável às mudanças nas relações sociais, políticas e econômicas que ocorrem tantointernamente quanto externamente. Nettl (1968) adiciona que o Esta<strong>do</strong> é um fenômeno“sócio-cultural”, construí<strong>do</strong> mediante a difusão organizada da <strong>experiência</strong> comum em umda<strong>do</strong> território. Com isso, é importante ressaltar que não existe uma conceituação precisa euniversal <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>.Diferentes correntes teóricas apresentaram suas concepções sobre o tema, analisan<strong>do</strong>,principalmente, o contexto social, político e econômico no qual o capitalismo se <strong>de</strong>senvolveu.Apesar das divergências existentes entre elas, po<strong>de</strong>-se afirmar que o Esta<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno possui,teoricamente, algumas características comuns, como a separação <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>Executivo</strong>,Legislativo e Judiciário; a existência <strong>de</strong> instituições burocráticas organizadas que repartem eexercem o po<strong>de</strong>r estatal; e um or<strong>de</strong>namento jurídico único basea<strong>do</strong> nos direitos e garantiasfundamentais <strong>do</strong> indivíduo.Segun<strong>do</strong> Bresser Pereira (1995), po<strong>de</strong>-se conceituar o Esta<strong>do</strong> como uma estruturapolítico-organizacional, legitimada pela população, que se sobrepõe à socieda<strong>de</strong> ao mesmotempo em que <strong>de</strong>la faz parte, e que, por meios constitucionais-legais, a organiza e regula.Além disso, conforme ressalta North (1996) visa garantir a proprieda<strong>de</strong> e os contratos.Nordingler (1981, p. 9) discorda parcialmente da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Bresser ao afirmar quequalquer conceito <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve evitar todas as caracterizações que po<strong>de</strong>m variar<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso, como legitimida<strong>de</strong> e soberania. Neste ponto, concorda-se comNordingler, pois a legitimida<strong>de</strong> pressupõe um regime <strong>de</strong>mocrático no qual seja permitida à


51população a escolha <strong>do</strong>s seus representantes. E sabe-se que nem to<strong>do</strong>s os países no mun<strong>do</strong> são<strong>de</strong>mocráticos. Além disso, ela não faz menção explícita ao po<strong>de</strong>r repressivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> paraobrigar os cidadãos a cumprir o <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nas leis que regem um da<strong>do</strong> território. Contu<strong>do</strong>,consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o contexto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro, a <strong>de</strong>finição parece coerente e satisfatória, alémdisso, congrega a boa parte <strong>do</strong>s diversos conceitos estuda<strong>do</strong>s.Ao afirmar que “o Esta<strong>do</strong> é apenas uma das instituições pela qual a classe <strong>do</strong>minantelegitima seu po<strong>de</strong>r e a socieda<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong> se organiza e se reproduz” (BRESSERPEREIRA, 1995, p. 12), o autor ressalva que essa legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da capacida<strong>de</strong> da elitepolítica <strong>do</strong>minante <strong>de</strong> estabelecer uma hegemonia i<strong>de</strong>ológica sobre o resto da socieda<strong>de</strong>, talcomo <strong>de</strong>finiu Gramsci (1989).Para Gramsci, hegemonia significa o pre<strong>do</strong>mínio i<strong>de</strong>ológico das classes <strong>do</strong>minantessobre a classe subalterna na socieda<strong>de</strong> civil; a “aceitação por parte <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> umaconcepção <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que pertence aos seus <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>res” (CARNOY, 1990, p. 93). Essasubmissão <strong>do</strong> sujeito é o “consenso” hegemônico <strong>de</strong> Gramsci.Cabe apenas abrir um parêntese para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sujeito como “a construção <strong>do</strong>indivíduo (ou grupo) como ator, através da associação <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong> afirmada com sua<strong>experiência</strong> <strong>de</strong> vida assumida e reinterpretada” (TOURAINE, 1996, p. 23). O sujeito integrai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e técnica, capaz <strong>de</strong> transformar suas <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> vida em mudanças no seumeio ambiente.Althüsser postula que, além <strong>do</strong> aparelho repressivo, o Esta<strong>do</strong> dispõe <strong>de</strong> um aparelhoi<strong>de</strong>ológico 22 , responsável pela reprodução das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e proprieda<strong>de</strong>. Contu<strong>do</strong>, issosó ocorre em socieda<strong>de</strong>s efetivamente comunistas. Em socieda<strong>de</strong>s capitalistas mo<strong>de</strong>rnas, amaior parte <strong>do</strong> aparelho i<strong>de</strong>ológico pertence à iniciativa privada. Portanto, os grupos políticos<strong>do</strong>minantes da socieda<strong>de</strong> civil têm que buscar <strong>do</strong>minar as instituições i<strong>de</strong>ológicas existentes,além <strong>do</strong> próprio Esta<strong>do</strong>, para obter a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu po<strong>de</strong>r político.Integrante da mesma corrente <strong>de</strong> Althusser, Poulantzas (2000) afirma que a hegemoniaindica como a classe <strong>do</strong>minante consegue legitimar os seus interesses políticos comorepresentativos <strong>do</strong> “interesse geral” <strong>do</strong> povo, parecen<strong>do</strong> que permite igual acesso ao po<strong>de</strong>r e22 O aparelho i<strong>de</strong>ológico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é constituí<strong>do</strong> das igrejas, das escolas públicas e privadas, dasfamílias, das leis, <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s políticos, <strong>do</strong>s sindicatos, <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, dasinstituições culturais e esportivas.


52que é receptivo a to<strong>do</strong>s os grupos <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, e como a concorrência entre as fraçõesda classe <strong>do</strong>minante é organizada para compor um “bloco <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r”, para controlar o Esta<strong>do</strong>.O Esta<strong>do</strong>, portanto, constitui a “unida<strong>de</strong> política das classes <strong>do</strong>minantes” (POULANTZAS,2000, p. 128).É através <strong>do</strong> bloco no po<strong>de</strong>r que a i<strong>de</strong>ologia se transforma numa série <strong>de</strong> práticasmateriais, costumes e morais, as quais agem como cimento na ligação das relações sociais,políticas e econômicas.Mas Poulantzas (2000, p. 138) afirmava que existia uma autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> quesignificava a autonomia <strong>de</strong> uma fração da classe <strong>do</strong>minante perante as suas outras frações <strong>–</strong>resultante das “contradições” existentes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> provocadas pela estratégiaespecífica <strong>de</strong>ssas classes e frações no âmbito <strong>do</strong>s aparelhos estatais (exército, parti<strong>do</strong>spolíticos, magistratura, etc.), da burocracia e <strong>do</strong> pessoal <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>.Essa divisão interna não é só provocada pelas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas também pelasreivindicações diversas <strong>de</strong> cada bloco <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. E é neste contexto que as <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong>smovimentos sociais conseguem penetrar no Esta<strong>do</strong>. Como conseqüência, a agenda políticavem sen<strong>do</strong> cada vez mais preenchida pela questão social, tornan<strong>do</strong> cada vez mais necessária aintegração <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com a socieda<strong>de</strong> civil na formulação <strong>de</strong> políticas públicas para resolveros problemas sociais.Diante disso, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil <strong>–</strong> cujo po<strong>de</strong>r é difuso, masefetivo <strong>–</strong>, se interelacionam <strong>de</strong> forma constante e, assim, a socieda<strong>de</strong> civil limita o po<strong>de</strong>rformal exerci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> sobre o povo. Essa concepção não hegeliana 23 acerca da relaçãoentre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil só reforça a importância que a educação da população tem parao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> país, aliada à construção <strong>de</strong> espaços públicos para que ela possaapresentar suas <strong>de</strong>mandas.Segun<strong>do</strong> Bresser Pereira (1995), a socieda<strong>de</strong> civil é constituída pelas classes sociais egrupos organiza<strong>do</strong>s, formal e informalmente, que têm um acesso diferencia<strong>do</strong> ao po<strong>de</strong>rpolítico efetivo, sen<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong> transformar o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> influência <strong>de</strong>cada indivíduo e <strong>de</strong> cada grupo social.23 Segun<strong>do</strong> Hegel, filósofo i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> com o absolutismo alemão, o Esta<strong>do</strong> seria uma entida<strong>de</strong>racional em si mesma, à qual os interesses individuais, ou seja, a socieda<strong>de</strong> civil, <strong>de</strong>veria estarsubordinada.


53Dentro da socieda<strong>de</strong> civil, as organizações formais e informais são prepon<strong>de</strong>rantes, poissão o ambiente no qual os indivíduos agrupam-se e são induzi<strong>do</strong>s, por meio <strong>de</strong> incentivos(recompensas, sanções e simbologia), a interagir <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com certas normas e regras. Comisso, ganham força e coesão para pleitear a representação das <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong> einfluenciar nas <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.De acor<strong>do</strong> com a teoria marxista, essa influência varia <strong>de</strong>crescentemente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> afatores econômicos, isto é, a classe econômica <strong>do</strong>minante dispõe <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r maior nasocieda<strong>de</strong> civil. Contu<strong>do</strong>, em socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas, os movimentos populares organiza<strong>do</strong>sconseguem estabelecer pressões no Esta<strong>do</strong> que contrapõem ou superam às <strong>de</strong> interesseseconômicos po<strong>de</strong>rosos.Portanto, a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser entendida como uma instituição, assim como o Esta<strong>do</strong>,pois organiza a alocação <strong>de</strong> recursos e a distribuição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e riqueza entre seus membrosmediante “um sistema <strong>de</strong> valores e crenças, <strong>de</strong> princípios éticos e <strong>de</strong> normas morais, queestabelecem um sistema <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre um grupo <strong>de</strong> indivíduos que partilham origensétnicas, crenças religiosas, uma mesma língua e tradições comuns” (BRESSER PEREIRA,1998, p. 35).Como exposto, Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil estão intrinsecamente liga<strong>do</strong>s, influencian<strong>do</strong>-semutuamente. Neste contexto, um ponto a ser discuti<strong>do</strong> diz respeito à autonomia <strong>do</strong>s agentespúblicos no processo <strong>de</strong> formulação e implementação <strong>de</strong> políticas públicas.Segun<strong>do</strong> Nordingler (1981, p. 8), “a autonomia <strong>de</strong> qualquer entida<strong>de</strong> social refere-se àcorrespondência entre suas preferências e ações”. Sobre o tema da autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,existem correntes teóricas distintas. Umas que consi<strong>de</strong>ram o Esta<strong>do</strong> como um agenteautônomo, capaz <strong>de</strong> tomar suas próprias <strong>de</strong>cisões e prevalecer os interesses <strong>de</strong> seus agentes, eoutras que não o consi<strong>de</strong>ram capaz <strong>de</strong> atuar <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s atores políticos maisinfluentes.Em relação à corrente que reconhece a autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, é importante salientar aexistência <strong>de</strong> um corpo burocrático governamental, compostos por indivíduos, nomea<strong>do</strong>s oueleitos, responsável pela formulação e implementação <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com osinteresses <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que <strong>de</strong>rivam primariamente da “preocupação em estabelecer e manter asegurança interna e externa, gerar receita e atingir hegemonia sobre formas alternativas <strong>de</strong>organizações sociais” (GRINDLE, 1996, p. 3).


54Grindle ainda afirma que a habilida<strong>de</strong> para atingir esses objetivos é profundamenteinfluenciada pelas condições econômicas e o grau <strong>de</strong> mobilização social, bem como alegitimida<strong>de</strong> e coesão interna <strong>do</strong> próprio Esta<strong>do</strong>. Para que o Esta<strong>do</strong> consiga atingir einfluenciar essas quatro variáveis com coerência e <strong>de</strong> forma relativamente autônoma emrelação aos grupos <strong>de</strong> interesse antagônicos, ele utiliza instituições específicas para aa<strong>de</strong>quada execução <strong>de</strong> tarefas funcionais <strong>de</strong> primazia <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> 24 .E como “engrenagem” <strong>de</strong>ssas instituições governamentais estão os servi<strong>do</strong>res públicos,indivíduos que possuem motivações diversas como carreira, i<strong>de</strong>ologia, conhecimentoprofissional, vínculos a grupos sociais, etc. Nordingler (1981), inclusive, propõe uma<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> em termos <strong>de</strong> indivíduos, pois somente indivíduos tem preferências e seengajam em ações que promovem a sua realização.Ten<strong>do</strong> em vista os servi<strong>do</strong>res públicos que foram eleitos ou que foram por estesnomea<strong>do</strong>s para cargos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório serem altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes politicamente <strong>de</strong> umagama diversa <strong>de</strong> suporte social, as políticas públicas são entendidas primariamente como umaresposta às pressões daqueles grupos mais organiza<strong>do</strong>s que controlam uma gran<strong>de</strong> proporção<strong>de</strong> recursos políticos e financeiros.Contu<strong>do</strong>, os agentes governamentais, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao conhecimento que possuem acerca <strong>do</strong>funcionamento da máquina governamental, seus atalhos, seus procedimentos e, também, porpossuírem o conhecimento técnico para elaborar alternativas para o processo <strong>de</strong>cisório, têmobti<strong>do</strong> uma influência pre<strong>do</strong>minante sobre a evolução da agenda das <strong>de</strong>cisões. E, segun<strong>do</strong>Carnoy (1990, p. 15) as “ações autônomas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> normalmente tentam reforçar aautorida<strong>de</strong>, a longevida<strong>de</strong> política e o controle social das organizações estatais”.Por fim, Nordingler (1981) afirma que existem três níveis <strong>de</strong> autonomia na formulação<strong>de</strong> políticas: (i) o mais baixo, que se refere às situações nas quais as preferências <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> eda socieda<strong>de</strong> não divergem e o Esta<strong>do</strong> age sob suas próprias preferências; (ii) o nívelintermediário, no qual as preferências <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da socieda<strong>de</strong> são divergentes, mas o Esta<strong>do</strong>persua<strong>de</strong> a socieda<strong>de</strong> a a<strong>do</strong>tar as suas preferências; e (iii) o nível mais alto, no qual aspreferências <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> divergem, mas o Esta<strong>do</strong>, apesar disso, promove políticasconsistentes com suas próprias preferências.24 Nettl (1968, p. 565) e Almond (1988, p. 854) são autores que consi<strong>de</strong>ram que as agências estatais gozam <strong>de</strong>significativo grau <strong>de</strong> autonomia.


55Outros exemplos que po<strong>de</strong>m ser cita<strong>do</strong>s são os novos weberianos que consi<strong>de</strong>ram oEsta<strong>do</strong> potencialmente autônomo cujos controla<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> coerção e administraçãopo<strong>de</strong>m perseguir objetivos diferentes das classes <strong>do</strong>minantes ou <strong>de</strong> qualquer grupo social; e oscorporativistas sociais que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m um mecanismo estatal <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões po<strong>de</strong>roso esepara<strong>do</strong> da participação da massa, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> atores sociais mais bem prepara<strong>do</strong>s e commenos restrições ao seu trabalho. Segun<strong>do</strong> eles, a <strong>de</strong>mocracia excessiva interfere com aeficiência política e econômica e isto po<strong>de</strong> conduzir a uma “oclocracia” 25 irracional (Carnoy,1990, p. 315).Carnoy (1990) questiona esse mo<strong>de</strong>lo burocrático, no qual o Esta<strong>do</strong> toma as <strong>de</strong>cisõesquanto aos problemas, à legislação e ao curso <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social. Paraque ele tivesse sucesso, algumas condições teriam <strong>de</strong> ser preenchidas 26 , as quais o Brasil estálonge <strong>de</strong> alcançar, quiçá qualquer <strong>de</strong>mocracia no mun<strong>do</strong>.Por outro la<strong>do</strong>, existem aqueles autores que consi<strong>de</strong>ram que o Esta<strong>do</strong> não é um atorin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Quan<strong>do</strong> as preferências <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> divergem, essa corrente nega ouignora que os agentes estatais possam agir consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> suas próprias preferências.Os marxistas e os neomarxistas, por exemplo, vêem o Esta<strong>do</strong> capitalista como nãoautônomo, um instrumento <strong>de</strong> regra <strong>de</strong> classe ou como garanti<strong>do</strong>r das relações <strong>de</strong> produção ouacumulação econômica da classe <strong>do</strong>minante, ou como uma arena para lutas políticas <strong>de</strong> classe(Skocpol, 1999).Outras correntes neste senti<strong>do</strong> são as <strong>do</strong>s pluralistas e as <strong>do</strong>s neopluralistas. Ospluralistas postulavam que to<strong>do</strong>s os grupos <strong>de</strong> interesse têm livre acesso às instâncias <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão governamentais, pois o po<strong>de</strong>r era disperso, e concediam pouca importância àpossibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo e da burocracia para atuar com autonomia. Já os neopluralistas sediferenciaram <strong>do</strong>s primeiros ao admitir que grupos <strong>de</strong> pressão mais organiza<strong>do</strong>s, com maisqualida<strong>de</strong> e com recursos significativos à disposição, têm acesso privilegia<strong>do</strong> ao processo <strong>de</strong>formulação <strong>de</strong> políticas. Ambos <strong>de</strong>finem o Esta<strong>do</strong> como uma instituição neutra que arbitra oconflito <strong>de</strong> interesses “<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s por posições na socieda<strong>de</strong> civil e não por açõesin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” (JENKINS; KLANDER<strong>MA</strong>NS, 1995, p. 20).25 Governo em que prepon<strong>de</strong>ra a plebe, a multidão, ou no qual o po<strong>de</strong>r é por ela exerci<strong>do</strong>.26 Material humano político bastante qualifica<strong>do</strong>; âmbito para as <strong>de</strong>cisões políticas restrito àespecialistas competentes fora da legislatura; uma burocracia <strong>de</strong>dicada, unida e po<strong>de</strong>rosa; eleitores elegisla<strong>do</strong>res imunes à corrupção e com autocontrole sobre suas críticas ao governo; e gran<strong>de</strong>tolerância à diferença <strong>de</strong> opinião (Carnoy, 1990, p. 51).


56Pelos conceitos apresenta<strong>do</strong>s, parece coerente afirmar que, na realida<strong>de</strong>, os <strong>do</strong>ismo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> autonomia apresenta<strong>do</strong>s são complementares, ou melhor, <strong>de</strong>veriam ser fundi<strong>do</strong>sem um mo<strong>de</strong>lo “híbri<strong>do</strong>”. Nem as preferências <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> resultam apenas das preferências <strong>de</strong>seus agentes, nem as <strong>de</strong>cisões estatais são fruto somente <strong>do</strong>s embates políticos trava<strong>do</strong>s pelosgrupos sociais mais organiza<strong>do</strong>s e mobiliza<strong>do</strong>s.Após a análise das duas correntes que versam sobre a autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para aformulação e a implementação <strong>de</strong> políticas públicas, é interessante discutirmos sobre aimportância da autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> sobre as suas relações com a socieda<strong>de</strong> civil com oobjetivo <strong>de</strong> controlar a agenda política.Neste âmbito, po<strong>de</strong>-se ressaltar o trabalho <strong>de</strong> Migdal (1988) no qual ele analisa casos <strong>de</strong>alguns países envolven<strong>do</strong> a disputa entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil pela agenda política <strong>do</strong>governo e <strong>de</strong>senvolve um mo<strong>de</strong>lo basea<strong>do</strong> nessa relação.Migdal é um representante da corrente que consi<strong>de</strong>ra a autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e, a partir<strong>de</strong>la, os agentes estatais buscam agir sobre suas próprias preferências, toman<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisões pararemo<strong>de</strong>lar, ignorar ou mesmo evitar as preferências <strong>do</strong>s atores sociais mais fortes.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Migdal trata da competição entre Esta<strong>do</strong> e organizações sociais pelocontrole social. Por controle social enten<strong>de</strong>-se que é “o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> penetrar ecentralmente coor<strong>de</strong>nar as ativida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil por meio da sua própria infraestrutura”(Mann, 1984, apud Migdal, 1988, p. 22).O autor consi<strong>de</strong>ra a socieda<strong>de</strong> como uma “miscelânea <strong>de</strong> organizações sociais, sen<strong>do</strong> oEsta<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>las” (MIGDAL, 1988, p. 29). A partir disso, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que o controlesocial seja heterogêneo, isto é, realiza<strong>do</strong> por diversas organizações sociais, com seus própriosinteresses e regras, o que corrobora com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> Bresser Pereira(1995) apresentada anteriormente.A partir da análise da disputa entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> pelo controle social é que Midgal<strong>de</strong>fine a força que cada ator dispõe nessa relação. Salienta, ainda, que é um “jogo <strong>de</strong> somazero” 27 , isto é, se o Esta<strong>do</strong> é forte a socieda<strong>de</strong> é fraca e vice-versa. Segun<strong>do</strong> ele, a habilida<strong>de</strong><strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em mobilizar a população é a mais importante característica <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong> forte,27 Segun<strong>do</strong> Alfred Stepan, na América Latina, somente no Brasil se viu um breve perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> “somapositiva”no qual a socieda<strong>de</strong> civil começou a reconstruir suas instituições enquanto o Esta<strong>do</strong>continuou a adquirir capacida<strong>de</strong> adicional. (SKOCPOL; EVANS; RUESCHEMEYER, 1999, p. 319)


57pois <strong>de</strong>sta forma o Esta<strong>do</strong> ganha influência política e a conseqüente legitimida<strong>de</strong> para realizarsuas ações. Já uma socieda<strong>de</strong> forte pressiona o Esta<strong>do</strong> a abrir mão <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> suaspreferências e <strong>do</strong> seu po<strong>de</strong>r em prol <strong>de</strong> um indivíduo ou grupos sociais com o objetivo <strong>de</strong>atingir a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s objetivos.Segun<strong>do</strong> Migdal (1988, p. 32), para aumentar o nível <strong>de</strong> controle social, <strong>de</strong>ve-seconsi<strong>de</strong>rar três indica<strong>do</strong>res: obediência, participação e legitimação. A obediência pressupõe oestabelecimento <strong>de</strong> leis que sejam cumpridas, utilizan<strong>do</strong> o aparelho repressivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, senecessário, e controlar recursos e serviços essenciais. A participação significa inserir apopulação nas instituições governamentais para realizar tarefas específicas. Por último, mas omais importante indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> força, a legitimação, on<strong>de</strong> o cidadão obe<strong>de</strong>ce ao Esta<strong>do</strong>, poisacha correto e aceita as sanções, símbolos e recompensas ofereci<strong>do</strong>s. Assim, po<strong>de</strong>-seconsi<strong>de</strong>rar um Esta<strong>do</strong> como forte, quan<strong>do</strong> “o Esta<strong>do</strong> age sob suas próprias preferências e comum enorme suporte social” (NORDINGLER , 1981, p. 24).Bresser critica o “jogo <strong>de</strong> soma zero” entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Migdal pelo fato<strong>de</strong>ste utilizar para suas conclusões acerca da relação <strong>de</strong> força entre as duas instituições,exemplos <strong>de</strong> países que não se encontravam em um regime <strong>de</strong>mocrático pleno e on<strong>de</strong> ocapitalismo e o Esta<strong>do</strong> ainda estavam se consolidan<strong>do</strong>. Para Bresser (1998, p. 18) “nas<strong>de</strong>mocracias, um Esta<strong>do</strong> forte, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle social, exige uma socieda<strong>de</strong> civilforte, com igual capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle social.” O autor ainda explica que uma socieda<strong>de</strong> civilforte significa uma socieda<strong>de</strong> civil integrada ao Esta<strong>do</strong> e atuante no processo <strong>de</strong> orientar aforma pela qual esse Esta<strong>do</strong> é governa<strong>do</strong> e reforma<strong>do</strong>.O próprio Bresser concorda que é otimista se falar em consolidação da <strong>de</strong>mocracia,processo que apresenta ao longo da história avanços e retrocessos, com a socieda<strong>de</strong> civilpo<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, por exemplo, se tornar forte antes da consolidação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, alteran<strong>do</strong> as estruturasque dão suporte à autonomia estatal.Evans (2004) também questiona a visão <strong>de</strong> Migdal quanto à ausência <strong>de</strong> projetosconjuntos entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong>. Ele afirma que isso ocorre, pois foco <strong>de</strong> Migdal é nocontrole social, no jogo <strong>de</strong> soma zero, e não na transformação econômica, baseada emprojetos conjuntos que exigem resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> soma positiva. Segun<strong>do</strong> Evans, os indivíduos ougrupos fortes que Migdal analisa não estão interessa<strong>do</strong>s em projetos conjuntos, mas sim, emaumentar o seu po<strong>de</strong>r na socieda<strong>de</strong>. E po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r corretamente que a participação


58pressupõe a divisão <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. Mas quan<strong>do</strong> os grupos sociais ou indivíduos com po<strong>de</strong>r localtêm como objetivo final a manutenção ou aumento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, o processo torna-se ineficiente, oque prejudica a população a ser beneficiada.2.2 A IMPORTÂNCIA DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIALNo Brasil, especificamente, a evolução da <strong>de</strong>mocracia caminha paralelamente com amaior intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na socieda<strong>de</strong>, principalmente nos aspectos econômicos. Sejapara garantir a exportação, nas três primeiras décadas <strong>do</strong> século XX, <strong>de</strong> seus produtosagrícolas, principalmente o café; seja para incentivar o consumo interno e fortalecer aindústria nacional nas décadas seguintes, quan<strong>do</strong> Governo Brasileiro atuou para promover o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> país. Contu<strong>do</strong>, o perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong>, em boa parte, por regimesautoritários, que restringiam a participação da socieda<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>cisões.Essa centralização <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r estatal e a ampliação da sua intervenção na socieda<strong>de</strong>acarretaram na dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo central em coor<strong>de</strong>nar e controlar todas as suas frentes<strong>de</strong> ação para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> estabelecer regras claras <strong>de</strong>participação política e econômica e <strong>de</strong> mediar os conflitos entre os diferentes atores sociais.Esses aspectos prejudicavam o planejamento governamental, principalmente em nível local,na medida em que o Esta<strong>do</strong> se situava distante da realida<strong>de</strong> e das <strong>de</strong>mandas da população,toman<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisões com base em variáveis on<strong>de</strong> se sobrepujava o caráter técnico sobre opolítico.Com o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização a partir <strong>do</strong>s anos 80, iniciou-se um processo <strong>de</strong><strong>de</strong>scentralização administrativa e o surgimento <strong>de</strong> conselhos gestores e consultivos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,na tentativa <strong>de</strong> aproximar o planejamento e a execução <strong>de</strong> políticas públicas das outrasinstâncias da fe<strong>de</strong>ração e da socieda<strong>de</strong> civil e, com isso, conseguir maior efetivida<strong>de</strong> elegitimação para os atos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.Diante <strong>do</strong> exposto, po<strong>de</strong>-se perceber as dificulda<strong>de</strong>s que a excessiva centralização naformulação e implementação <strong>de</strong> políticas públicas po<strong>de</strong> trazer, e a conseqüente criação <strong>de</strong>espaços públicos como instrumento para o fortalecimento da <strong>de</strong>mocracia. Nesta parte <strong>do</strong>trabalho será discutida a concepção <strong>de</strong> espaços públicos para promover a participação social eo <strong>de</strong>senvolvimento local.


59Evans (2004, p. 83) afirma que a “combinação <strong>de</strong> autonomia e parceria é a chave para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> eficiente”. O conceito <strong>de</strong> parceria a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo autor é diferente<strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> hegemonia <strong>de</strong> Gramsci (1989), na medida em que propõe um grupo concreto<strong>de</strong> conexões que ligam o Esta<strong>do</strong> íntima e agressivamente a grupos sociais particulares com osquais o Esta<strong>do</strong> compartilha projetos conjuntos <strong>de</strong> transformação.E para que esse <strong>de</strong>senvolvimento não envolva apenas as elites locais, comonormalmente aconteceu na história brasileira, o que aumenta ainda mais a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>social, autores como Ignacy Sachs apresentam idéias e conceitos sob outra perspectiva, osquais <strong>de</strong>vem ser uma preocupação nos planos econômicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.O autor afirma que:O <strong>de</strong>senvolvimento inclu<strong>de</strong>nte requer, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, a garantia <strong>do</strong>exercício <strong>do</strong>s direitos civis, cívicos e políticos. A <strong>de</strong>mocracia é um valorverda<strong>de</strong>iramente fundamental e garante, também, a transparência e aaccountability necessárias ao funcionamento <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento (SACHS, 2004, pg. 81).Assim, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve promover um espaço <strong>de</strong> discussão, planejamento e formulaçãodas políticas públicas que aten<strong>de</strong>rão às <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>, permitin<strong>do</strong> o acesso <strong>de</strong> outrosagentes sociais, além daqueles privilegia<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>, para a <strong>de</strong>finição da agendagovernamental. Desta forma, o Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> aumentar a transparência e a publicização dassuas políticas públicas por meio da participação da socieda<strong>de</strong> no processo, alcançan<strong>do</strong> alegitimida<strong>de</strong> necessária para aumentar o seu controle social.A criação <strong>de</strong> espaços públicos representativos pressupõe a existência <strong>de</strong> um regime<strong>de</strong>mocrático que possibilite a liberda<strong>de</strong> necessária para a discussão e tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.Aliás, o exercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r sob a <strong>de</strong>mocracia “promoveu o progresso humano mais <strong>do</strong> quequalquer outro sistema” (CARNOY, 1990, p. 46).Habermas (apud Grau, 1998, p. 47) afirma que cabe ao espaço público <strong>de</strong>mocrático umaresponsabilida<strong>de</strong> crucial na “auto-organização da socieda<strong>de</strong>”, ao assumir como meta aformação <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>. Este espaço correspon<strong>de</strong> a um nível situa<strong>do</strong> entre a esferaprivada e o Esta<strong>do</strong> e atua como “caixa <strong>de</strong> ressonância” <strong>do</strong>s problemas da socieda<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> olocus on<strong>de</strong> estes <strong>de</strong>vem ser discuti<strong>do</strong>s e para os quais <strong>de</strong>vem ser geradas <strong>de</strong>mandas políticas.Por sua vez, estas <strong>de</strong>mandas precisam adquirir po<strong>de</strong>r político suficiente para constrangeras autorida<strong>de</strong>s públicas. E para atingir a esse fim, o objetivo central <strong>do</strong> espaço público é o


60“<strong>de</strong>bate entre interesses diferencia<strong>do</strong>s que possa conduzir à construção <strong>de</strong> consensos e àformulação <strong>de</strong> agendas que venham a se tornar públicas e objeto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração por parte <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>” (DAGNINO, 2002, p. 11). Para isso, a socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>ve atuar ofensivamente nasdiversas esferas públicas para influenciar nas <strong>de</strong>cisões governamentais, <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>mocratizar a socieda<strong>de</strong> política.Os espaços públicos <strong>de</strong>vem basear a sua composição <strong>de</strong> forma a reconhecer novosatores políticos <strong>de</strong> forma que eles possam representar efetivamente os interesses <strong>de</strong><strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo social e possam obter benefícios para o mesmo.Grau (1998, p. 70) afirma que a institucionalização das modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participaçãopelo Esta<strong>do</strong> reafirma três pontos: (i) o Esta<strong>do</strong> é quem <strong>de</strong>fine os sujeitos <strong>do</strong> processo; (ii) amultiplicação <strong>do</strong>s sujeitos; e (iii) a meto<strong>do</strong>logia (local, plano <strong>de</strong> trabalho, formalização <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s, etc.) da participação é prefigurada pelo Esta<strong>do</strong>.A autora salienta que esses aspectos po<strong>de</strong>m ocasionar um problema comum a to<strong>do</strong>s osespaços públicos <strong>de</strong> participação que é a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s arranjos pre<strong>do</strong>minantes para oexercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político, uma vez que o pleito prepon<strong>de</strong>rante é o “<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>atores e espaços políticos que suponham uma redistribuição <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político” (GRAU, 1998,p. 95).É interessante ressaltar que já se trata <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> conquista <strong>de</strong> um pleito o Esta<strong>do</strong>estabelecer um espaço para discussão com os atores sociais, uma vez que certifica que<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> assunto “sensibilizou” o po<strong>de</strong>r político. A dificulda<strong>de</strong> está em <strong>de</strong>finir os atoresnecessários ao processo e conseguir agilida<strong>de</strong> nos trâmites burocráticos intra-estatais.O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser flexível na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> novos atores que sejam consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>spertinentes ao processo. Neste contexto, é preciso reconhecer a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> argumento<strong>do</strong>s corporativistas, ao afirmarem que um espaço <strong>de</strong> discussão <strong>de</strong>veria limitar-se aos atoresmais prepara<strong>do</strong>s da socieda<strong>de</strong> e com autonomia para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões para que oprocesso possa ocorrer com uma maior eficiência. É necessário, contu<strong>do</strong>, que estejamrepresenta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os interesses envolvi<strong>do</strong>s, reduzin<strong>do</strong>-se o espaço, por exemplo, paraindivíduos que estão presentes apenas para tentar manter o seu status quo ou prejudicar aor<strong>de</strong>m institucional.


61Um ponto a ser ressalva<strong>do</strong> é quan<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> só cria o espaço público apenas para“parecer” que permite o acesso ao po<strong>de</strong>r e que é receptivo às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong>s grupos sociais,conforme afirma Poulantzas (apud Carnoy, 1990), e no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s trabalhos percebe-se queo espaço não tem legitimida<strong>de</strong> nem força política para implementar suas <strong>de</strong>cisões na agendasocial <strong>do</strong> governo. O espaço público amplia o exercício da <strong>de</strong>mocracia e possibilita ocrescimento <strong>do</strong> cidadão, mas po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong>, pelas classes dirigentes, para formação <strong>de</strong>opinião mascarada num processo <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão coletiva.Outras críticas correntes aos espaços públicos promovi<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> são, conformeDagnino (2002), o <strong>de</strong>spreparo <strong>do</strong>s atores da socieda<strong>de</strong> civil (e, por vezes, também <strong>do</strong>governo), a rotativida<strong>de</strong> e assiduida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s representantes e uma freqüente “captura” <strong>de</strong>ssesespaços pelo po<strong>de</strong>r político local.Se a intenção <strong>do</strong> governo é a <strong>de</strong> apenas levantar informações e <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>civil para a<strong>de</strong>quar a sua oferta e não a repartição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res políticos, o <strong>de</strong>spreparo <strong>do</strong>s atoressociais não tem um impacto muito negativo. Por outro la<strong>do</strong>, se o objetivo for discutiralternativas conjuntas, agentes mais qualifica<strong>do</strong>s conseguirão agregar valor à formulação <strong>de</strong>políticas públicas.Quanto à rotativida<strong>de</strong> e assiduida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s agentes, isso po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às constantesmudanças na gestão <strong>do</strong>s seus órgãos, à ausência <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s das discussões, à in<strong>de</strong>finição <strong>de</strong>prazos para a consecução <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> grupo e à percepção <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong>espaço público, entre outros. Isso tu<strong>do</strong> leva à <strong>de</strong>smotivação e falta <strong>de</strong> foco <strong>do</strong>s agentes sociaise à perda <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> em se promover benefícios aos cidadãos.Em relação á “captura” <strong>do</strong>s espaços públicos pelo po<strong>de</strong>r político local, isto só ocorre senão houver uma representação paritária ou, mesmo que ela exista, haja um <strong>de</strong>sequilíbriosignificativo no po<strong>de</strong>r político entre os grupos sociais envolvi<strong>do</strong>s.Estabelecer espaços permanentes requereriam e fortaleceriam o aprendiza<strong>do</strong> e aconsolidação <strong>de</strong> uma “cultura <strong>de</strong> direitos” (DAGNINO, 2002, p. 12), por meio <strong>do</strong> exercícioefetivo da cidadania, o que seria prejudica<strong>do</strong> pela impossibilida<strong>de</strong> ou mesmo a incapacida<strong>de</strong><strong>de</strong> discutir <strong>de</strong> forma igualitária sobre garantias e direitos com os <strong>de</strong>tentores <strong>do</strong>s recursoseconômicos, políticos e culturais.


62Portanto, a instituição <strong>de</strong> espaços públicos colabora para a evolução <strong>do</strong> processoparticipativo, permitin<strong>do</strong> que novos atores políticos surjam e hajam menos indivíduosmarginaliza<strong>do</strong>s da socieda<strong>de</strong>.2.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O PAPEL DO ESTADO NA SUACONSTRUÇÃOEsta<strong>do</strong>s foram e são importantes no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento porque, sozinhos,po<strong>de</strong>m prover um conjunto <strong>de</strong> condições essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico, comoleis, política macroeconômica, infra-estrutura, etc. Essa visão correspon<strong>de</strong> à teoria keynesianaque <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma participação ativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nos segmentos da economia que, emboranecessários para o bom <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um país, não interessam ou não po<strong>de</strong>m seratendi<strong>do</strong>s pela inciativa privada. Isto significa que o Esta<strong>do</strong> não <strong>de</strong>ve competir com omerca<strong>do</strong>, mas sim complementá-lo, pois este, agin<strong>do</strong> sozinho não é capaz <strong>de</strong> resolver to<strong>do</strong>s osproblemas da socieda<strong>de</strong>. A partir da teoria <strong>de</strong> Keynes é que surgiu o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Bem-Estar ouWelfare State.Assim, mesmo que o grau <strong>de</strong> intervenção seja maior ou menor, a presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> éessencial como promotor <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> regulação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, compensatórias ouredistributivas. E com as pressões <strong>de</strong> organismos internacionais e <strong>de</strong> movimentosambientalistas para a preservação <strong>do</strong> meio ambiente, o Esta<strong>do</strong> se viu impeli<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>tarpolíticas ambientais. Em conseqüência, surgiu a concepção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,com a intenção <strong>de</strong> ser um meio termo entre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômicovigente e a intransigência <strong>do</strong>s ambientalistas. Portanto, cabe enten<strong>de</strong>r um pouco melhor acriação <strong>do</strong> conceito <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, pois foi um <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> para as comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos.No início da década <strong>de</strong> 70, os <strong>de</strong>bates promovi<strong>do</strong>s pela Conferência das Nações Unidassobre o Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo, trouxeram o foco <strong>de</strong> discussãopara as questões ambiental e econômica no contexto internacional, apresentan<strong>do</strong> umaalternativa intermediária entre o ambientalismo radical e o economicismo rigoroso,<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> naquele momento como “eco<strong>de</strong>senvolvimento”. Os <strong>de</strong>bates continuaram aolongo da década, acerca da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças nos padrões <strong>de</strong> consumo e da


63implementação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento socioeconômicoeqüitativo e ambientalmente correto.Assim, o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável surgiu pela primeira vez, em 1980,no <strong>do</strong>cumento “A Estratégia Mundial para a Conservação”, elabora<strong>do</strong> pelo Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente. Entretanto, foi no relatório “Our Common Future”, ochama<strong>do</strong> Relatório Brundtland, em 1987, resulta<strong>do</strong> da Assembléia das Nações Unidas daqueleano, que se introduziu um novo paradigma basea<strong>do</strong> na visão globalizada e sistêmica <strong>do</strong>sprocessos sociais, econômicos e ambientais, buscan<strong>do</strong> conciliar o <strong>de</strong>senvolvimentoeconômico com a preservação ambiental e a redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s no mun<strong>do</strong>. Istosignifica que o conceito se baseia num processo <strong>de</strong> mudança sociopolítica, socioeconômica einstitucional, no qual a exploração <strong>do</strong>s recursos, o direcionamento <strong>do</strong>s investimentos, aorientação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais estão em harmoniacom o meio ambiente e aumentam os potenciais presentes e futuros para o provimento dasnecessida<strong>de</strong>s humanas e maior eqüida<strong>de</strong> social.Um <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da Assembléia <strong>de</strong> 1987 foi a realização da Conferência das NaçõesUnidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento <strong>–</strong> CNU<strong>MA</strong>D, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1992 <strong>–</strong>a Rio-92, consi<strong>de</strong>rada o gran<strong>de</strong> marco das discussões e planejamento sobre <strong>de</strong>senvolvimentosustentável. A partir <strong>de</strong>ste momento, a discussão sobre a preservação <strong>do</strong> meio ambienteavançou na sua legitimida<strong>de</strong> e na consciência política e tornou-se, paulatinamente, temaimportante das agendas governamentais na maior parte <strong>do</strong>s países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Entretanto, noplano político-econômico, os resulta<strong>do</strong>s não foram bons na medida em que não se conseguiuimplementar <strong>experiência</strong>s efetivas, pois não há um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> como isso <strong>de</strong>ve seralcança<strong>do</strong>, e nem se construiu uma estrutura institucional que pu<strong>de</strong>sse abranger a amplitu<strong>de</strong><strong>do</strong> conceito.Há praticamente uma unanimida<strong>de</strong> em torno da busca da implementação <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável, até porque a sua concepção tem um significa<strong>do</strong> politicamentecorreto, mas como o conceito ainda é amplo e impreciso, existem controvérsias quanto à sua<strong>de</strong>finição.Para a construção <strong>do</strong> sustentável, que pressupõe conservação e continuida<strong>de</strong>, passa-se aatuar sobre cinco variáveis: a econômica, a ambiental, a política, a social e a cultural. Avariável econômica pressupõe o uso eficiente <strong>do</strong>s recursos <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a não exauri-los


64irreversivelmente. A variável política indica que os membros <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> exercemlivremente seus direitos e buscam o bem comum por meio <strong>do</strong> sistema político ao qual fazemparte. As variáveis culturais e sociais representam a preservação e valorização <strong>do</strong>s sistemassimbólicos <strong>do</strong>s grupos sociais. E a ambiental pressupõe a manutenção da biodiversida<strong>de</strong> e apreservação <strong>do</strong>s recursos naturais.E é na forma com que essas variáveis <strong>de</strong>vem se relacionar que está a dificulda<strong>de</strong> para a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> projetos efetivamente sustentáveis, pois elas po<strong>de</strong>m ser interpretadas sob lógicasdiferentes. Do ponto <strong>de</strong> vista econômico, existe a corrente que consi<strong>de</strong>ra que se <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>sobjetivos econômicos forem alcança<strong>do</strong>s, os problemas ecológicos essenciais serão resolvi<strong>do</strong>stambém 28 ou, por outro la<strong>do</strong>, que reforça a incompatibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> atual mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> regulação daacumulação capitalista com o princípio <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, basea<strong>do</strong> na produçãoe consumo em larga escala e, conseqüentemente, no uso intensivo <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> recursosnaturais, na maximização <strong>do</strong> lucro e na minimização <strong>do</strong> custo. Outros autores, como Sachs(2004), analisam o conceito sob a perspectiva da ética, ao propor o <strong>de</strong>senvolvimento cominclusão social e o exercício <strong>do</strong>s direitos civis e políticos; e outros sob a sociopolítica, dan<strong>do</strong>enfoque ao papel das organizações informais e <strong>do</strong> conhecimento tradicional local para seatingir aos objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento busca<strong>do</strong>s.Entretanto, um ponto que parece unânime é o questionamento ao sistema econômicovigente, seja pregan<strong>do</strong> a sua total alteração ou, <strong>de</strong> forma menos radical, a sua adaptação. E,para que as posições difusas <strong>de</strong> diferentes movimentos sociais ganhem força e legitimida<strong>de</strong>política perante a socieda<strong>de</strong> e o Esta<strong>do</strong>, eles acabam se unin<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> interesses comuns.Conforme afirma Sanchez (2004), a idéia <strong>de</strong> que culturas e formas <strong>de</strong> organização socialtradicionais possuem uma relação harmônica com o ambiente <strong>–</strong> pois vivem no mesmo localhá muito tempo, produzin<strong>do</strong> sem <strong>de</strong>gradar o meio ambiente, que está preserva<strong>do</strong> justamentepor sua ação e interação com ele <strong>–</strong> em contraposição à “<strong>de</strong>struição” provocada pelo<strong>de</strong>senvolvimento capitalista, leva diversas entida<strong>de</strong>s ambientalistas a a<strong>do</strong>tar projetos eposicionamentos comuns com movimentos relaciona<strong>do</strong>s às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos.Esse argumento gera uma contradição na medida em que é utiliza<strong>do</strong> como justificativapara o <strong>de</strong>srespeito à legislação ambiental, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> neste caso, no contexto <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, ser28 A<strong>MA</strong>ZONAS, M.C. Economia <strong>do</strong> meio ambiente <strong>–</strong> uma análise da abordagem neoclássica a partir<strong>de</strong> marcos evolucionistas e institucionalistas. 1994. 215 p


65cita<strong>do</strong> o exemplo da <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> áreas para a extração clan<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> laterita e areia nomunicípio para ven<strong>de</strong>r a lojas <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> construção ou diretamente para a construçãocivil. 29 Assim, a preservação ambiental in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato das comunida<strong>de</strong>s seremremanescentes <strong>de</strong> quilombos ou não, mas sim, <strong>de</strong> orientação mediante assistência técnica,fiscalização, além <strong>de</strong> condições a<strong>de</strong>quadas para que suas ativida<strong>de</strong>s econômicas sejamexecutadas <strong>de</strong> forma a garantir o seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, como terra fértil e em quantida<strong>de</strong>suficiente.Sob essa perspectiva, o termo <strong>de</strong>senvolvimento sustentável parece ser utiliza<strong>do</strong> maiscomo um “marca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> posicionamento ético-político que critica as formas <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong> capitalista” (SANCHEZ, 2004, p. 90), <strong>–</strong> colocan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>,as entida<strong>de</strong>s ambientalistas e movimentos sociais liga<strong>do</strong>s às minorias, como os remanescentes<strong>de</strong> quilombos, e <strong>de</strong> outro, o capital priva<strong>do</strong> <strong>–</strong> <strong>do</strong> que como uma proposta acabada <strong>de</strong>intervenção.Enfim, as diversas interpretações geram diferentes propostas <strong>de</strong> ação que orbitam entreo radicalismo ecológico <strong>do</strong>s movimentos ver<strong>de</strong>s, nas quais o argumento utópico é inegável, eo economicismo capitalista que <strong>de</strong>lega a solução <strong>do</strong>s problemas ambientais aos mecanismos<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> (<strong>MA</strong>TTOS, 1997). Provavelmente esta foi a intenção <strong>do</strong> Relatório Bruntland, istoé, apresentan<strong>do</strong> um conceito que “mediasse” entre duas correntes absolutamente opostas,vago e contraditório, ele elevaria a problemática ambiental à uma arena <strong>de</strong> disputa políticaespecífica no plano internacional e penetraria nas diversas instâncias públicas em to<strong>do</strong>s osníveis <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>s nacionais (NOBRE, 2002).Diante <strong>do</strong> exposto, po<strong>de</strong>-se concluir que realmente não há um mo<strong>de</strong>lo único a sera<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>. Um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong>verá ser construí<strong>do</strong> sob a história, osvalores, a cultura e o contexto social, político e econômico em que se encontra uma<strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, e que po<strong>de</strong> gerar diversos outros projetos que po<strong>de</strong>rão configurar ummo<strong>de</strong>lo particular <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.29 Informação disponível no Relatório <strong>de</strong> fiscalização <strong>do</strong> Departamento Nacional <strong>de</strong> Produção Mineralconstante no processo DNPM 906.183/06 <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006.


66O papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na promoção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentávelA introdução <strong>do</strong> fator ambiental nas agendas políticas internacionais e nacionais é,conforme explica<strong>do</strong>, resulta<strong>do</strong> das ações, principalmente, <strong>de</strong> organismos internacionais,apoia<strong>do</strong>s por movimentos ambientalistas que, mediante um conceito ético e politicamentecorreto, conseguiram sensibilizar a socieda<strong>de</strong> e, conseqüentemente, seus lí<strong>de</strong>res quanto ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a preservação e conservação <strong>do</strong>s recursos naturais para o bem-estar dasocieda<strong>de</strong> e da economia.Apesar da falta <strong>de</strong> consenso <strong>de</strong> quão urgente ou grave seja esta questão, a socieda<strong>de</strong>civil vêm se organizan<strong>do</strong> e mobilizan<strong>do</strong> para pressionar o <strong>de</strong>bate e a busca <strong>de</strong> soluções. Alémdisso, a mídia tem auxilia<strong>do</strong> significativamente na divulgação <strong>do</strong>s problemas e <strong>do</strong>s principaisresponsáveis, cobran<strong>do</strong> a atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e buscan<strong>do</strong> conscientizar a população acerca <strong>do</strong>sproblemas que assolam o meio ambiente e suas conseqüências.Portanto, para que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável esteja efetivamente na pauta dasplataformas governamentais, é preciso se alterar a percepção <strong>do</strong> homem na sua relação com oecossistema ao qual pertence e que esta mudança se reflita em seu comportamento e naescolha <strong>de</strong> sua representativida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong>cisório.Uma conquista neste senti<strong>do</strong> foi a Agenda 21, aprovada por 173 países na Conferênciadas Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92. Ela foi elaboradacomo um plano <strong>de</strong> ação estratégico para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável global, que propunhaum mo<strong>de</strong>lo participativo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s em relação ao meio ambiente, que sefundamenta em ações em níveis nacional e local. A partir daí, foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s objetivosconcretos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> em diversas áreas, explicitan<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscaremnovos recursos financeiros para a complementação em nível global <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável e concilian<strong>do</strong> méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> proteção ambiental, justiça social e eficiênciaeconômica.Uma premissa da Agenda 21 que é pertinente salientar diz que as ações institucionais<strong>de</strong>vem possuir técnicas <strong>de</strong> gerenciamento e administração participativas, interativas edinâmicas, ten<strong>do</strong> em conta a transparência e a potencialização <strong>do</strong>s conhecimentos <strong>do</strong>s atoresenvolvi<strong>do</strong>s, propician<strong>do</strong> fatores objetivos para a <strong>de</strong>scentralização, <strong>de</strong>sconcentran<strong>do</strong> po<strong>de</strong>respara os níveis mais baixos, respeitan<strong>do</strong> as esferas e a autonomia política. Neste contexto, aparticipação popular nos governos estaduais, prefeituras e conselhos comunitários é essencial,


67assim como, a participação <strong>do</strong>s “excluí<strong>do</strong>s” como povos indígenas e comunida<strong>de</strong>s primitivas<strong>de</strong> tribos africanas, que conhecem suas próprias necessida<strong>de</strong>s e os problemas que lhes afetam.Esse ponto vai ao encontro da concepção <strong>do</strong>s espaços públicos <strong>de</strong> participação social ejustifica a criação <strong>de</strong> grupos interministeriais como o GEI-<strong>Alcântara</strong>, pois tornam-se o locusque permite aos indivíduos e grupos sociais pertencentes a uma comunida<strong>de</strong> específica sersujeitos <strong>do</strong> seu próprio futuro, apresentan<strong>do</strong> suas <strong>de</strong>mandas e discutin<strong>do</strong> quais as políticaspúblicas o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve implementar para satisfazê-las.Contu<strong>do</strong>, é muito difícil estabelecer uma estrutura <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong> planejar <strong>de</strong> formasistêmica e integrada suas políticas ten<strong>do</strong> vista os aspectos ecológico, urbano e social. Pelocontrário, na maioria das vezes quan<strong>do</strong> tais assuntos são pauta<strong>do</strong>s ocorrem na forma <strong>de</strong>políticas fragmentadas, <strong>de</strong>partamentalizadas.Segun<strong>do</strong> o Plano <strong>de</strong> Implementação da Cúpula Mundial sobre DesenvolvimentoSustentável (Johanesburgo, 2002) to<strong>do</strong>s os países <strong>de</strong>vem promover o estabelecimento oufortalecimento <strong>do</strong>s conselhos e/ou estruturas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentávelem âmbito nacional, e também local, a fim <strong>de</strong> apresentar enfoque <strong>de</strong> alto nível nas políticas <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável.No Brasil, o governo criou, em 1997, no âmbito <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Recursos Naturais, aComissão <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Brasileira <strong>–</strong> CPDS,presidida pelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, com a função <strong>de</strong> propor diretrizes para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Assim, o Brasil apresentou na cúpula <strong>de</strong> Joanesburgo, em 2002,a Agenda 21 Brasileira, conten<strong>do</strong> princípios sobre ações <strong>de</strong> combate a pobreza e a <strong>de</strong>gradaçãoambiental, basea<strong>do</strong> na ampla participação <strong>de</strong> diversos atores e visan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimentolocal.Após construir a Agenda 21 Brasileira, a Comissão hoje acompanha a construção eimplementação <strong>de</strong> Agendas 21 Locais, efetivan<strong>do</strong> parcerias para consolidar o princípio datransversalida<strong>de</strong> e certificar os processos que contribuem para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável alcança<strong>do</strong> pelo conjunto da socieda<strong>de</strong>. Além disso, no atual governo, a Agenda 21foi transformada em programa no Plano Plurianual <strong>do</strong> Governo <strong>–</strong> PPA <strong>–</strong> 2004/2007, o que lheconfere maior força e importância como política pública, sen<strong>do</strong> composto por três açõesfundamentais: priorida<strong>de</strong> para a implementação das Agendas 21 Locais; criação <strong>de</strong> um


68Programa <strong>de</strong> Formação para a Agenda 21 e internalização da Agenda 21 Brasileira naspolíticas <strong>de</strong> governo. 30Talvez como conseqüência disso, há um movimento crescente para criar cida<strong>de</strong>s ecomunida<strong>de</strong>s sustentáveis, com muitos centros urbanos a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> versões locais da Agenda 21(FRENCH, 2002). O município, por ser a instância mais próxima <strong>do</strong> cidadão, possibilita arealização <strong>de</strong> um planejamento participativo, mediante o <strong>de</strong>bate entre po<strong>de</strong>r público esocieda<strong>de</strong>, principalmente, os grupos <strong>de</strong> maior vulnerabilida<strong>de</strong> social, acerca <strong>de</strong> seusproblemas e suas necessida<strong>de</strong>s. Com isso, po<strong>de</strong>-se obter <strong>de</strong> forma mais legítima e eficiente acoalizão <strong>do</strong>s diversos atores em direção a um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.Quanto a isso, aliás, o texto da Agenda 21 brasileira observa que:A chave <strong>do</strong> sucesso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da capacida<strong>de</strong> coletiva <strong>de</strong> mobilizar, integrar edar priorida<strong>de</strong> a algumas ações seletivas <strong>de</strong> caráter estratégico queconcentrem os esforços e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iem gran<strong>de</strong>s mudanças. É umcompromisso coletivo, envolven<strong>do</strong> os mais diversos atores, inclusive osmeios <strong>de</strong> comunicação, para produzir gran<strong>de</strong>s impactos.É interessante ressaltar que este último ator <strong>–</strong> os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>–</strong> é um gran<strong>de</strong>problema para a implantação da Agenda 21 brasileira <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez <strong>de</strong> notícias acerca <strong>do</strong>tema, o que a faz passar quase <strong>de</strong>spercebida da socieda<strong>de</strong> (LEMOS, 2006). A mídia até temdivulga<strong>do</strong> bastante as ações que impactam negativamente o ambiente, principalmente no quediz respeito ao aquecimento global, o que vem auxilian<strong>do</strong> na conscientização da socieda<strong>de</strong>política. Contu<strong>do</strong>, o que <strong>de</strong>veria ser o principal instrumento para a construção <strong>de</strong> cenáriossustentáveis, praticamente é ignora<strong>do</strong>.Cabe salientar que, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente <strong>–</strong> M<strong>MA</strong>, existemcerca <strong>de</strong> 678 processos <strong>de</strong> construção e implementação <strong>de</strong> Agendas 21 locais, tanto em nívelmunicipal quanto local 31 . Contu<strong>do</strong>, verifica-se que as ações estão voltadas fortemente para osaspectos ambientais.Quantitativamente, uma parcela mínima <strong>de</strong> municípios, esta<strong>do</strong>s e regiõestomaram iniciativa para implementar a Agenda 21. Qualitativamente, amaioria das ações tem pouca abrangência e amplitu<strong>de</strong>, centran<strong>do</strong>-se emaspectos específicos <strong>–</strong> relevantes e necessários <strong>–</strong> mas insuficientes paracaracterizarem uma abordagem sistemática e ampla <strong>de</strong> implementação daAgenda (RIBEIRO; PHILIPPI; BRITO, 1997, p. 244).30 Disponível no site http://www.mma.gov.br. Acesso em: 10 fev. 2007.31 Informativo <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente - 2006


69Este entendimento é compartilha<strong>do</strong> por outros autores, como CRESPO (1998, p.11) queenten<strong>de</strong> que, tal limitação <strong>de</strong>riva, em parte, ao fato <strong>de</strong> boa parcela das <strong>experiência</strong>s nacionaisreferentes à implantação das Agendas Locais, estar fortemente vinculada aos órgãos gestores<strong>de</strong> meio ambiente. Além disso, diferentemente <strong>de</strong> outros países, as <strong>experiência</strong>s em<strong>de</strong>senvolvimento sustentável no Brasil têm ocorri<strong>do</strong>, principalmente, em municípios <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> porte, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, provavelmente, ao crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> provoca<strong>do</strong> pelo fluxomigratório intenso, ao maior volume <strong>de</strong> recursos disponibiliza<strong>do</strong>s e ao maior resulta<strong>do</strong>político.Pelas próprias características <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, com diversas variáveisenvolvidas, qualquer iniciativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve envolver diversas instituições com diferentesexpertises. Como dito, as ações referentes à temática estão concentradas no Ministério <strong>do</strong>Meio Ambiente ou órgãos afins, o que reforça ainda mais o foco ambiental <strong>do</strong> conceito nestavariável, em <strong>de</strong>trimento das <strong>de</strong>mais.Diante <strong>do</strong> exposto, o Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> promotor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável, mas precisaria alterar consi<strong>de</strong>ravelmente a sua estrutura político-institucional eorçamentária, <strong>de</strong> forma a atingir contemporaneamente todas as dimensões e to<strong>do</strong>s os níveis dasocieda<strong>de</strong>. Como tal tarefa envolve um planejamento <strong>de</strong> longo prazo, negociações entrediversos interesses e, principalmente, sensibilida<strong>de</strong> política, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve assumir o papel <strong>de</strong>proporcionar espaços <strong>de</strong> discussão, planejamento e <strong>de</strong>finição das políticas públicas e prover àsocieda<strong>de</strong> as condições necessárias para que consigam implementar essas políticas e perpetuálasao longo <strong>do</strong> tempo. Isso significa prover capacitação, assistência técnica, acesso aocrédito, educação, saú<strong>de</strong>, infra-estrutura, entre outros serviços.No entanto, como já dito anteriormente, a construção <strong>de</strong> um cenário volta<strong>do</strong> para umambiente sustentável envolve a interface entre algumas variáveis e a negociação entrediferentes atores sociais com seus diversos interesses e pesos políticos. Diante disso, ganhaimportância a ferramenta <strong>do</strong> planejamento.O planejamento é um instrumento da socieda<strong>de</strong> para “fazer o seu <strong>de</strong>stino” (BUARQUE,2004, p. 81). É o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões pela socieda<strong>de</strong> em relação ao futuro,envolven<strong>do</strong>, portanto, escolha entre alternativas e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos coletivos queorientam a ação.


70De acor<strong>do</strong> com Buarque (2004), o planejamento combina uma dimensão técnica, pois éum processo or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e sistematiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, e uma política, pois envolve umanegociação <strong>de</strong> múltiplos e diversifica<strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s membros da socieda<strong>de</strong>, que exercem oseu po<strong>de</strong>r na tentativa <strong>de</strong> fazer prevalecer no planejamento suas percepções da realida<strong>de</strong>,vonta<strong>de</strong>s e expectativas quanto ao futuro.Em nível local, esta dimensão política está ainda mais presente no planejamento paraprojetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, porque abrange um processo <strong>de</strong> negociação entre os atorespúblicos e priva<strong>do</strong>s que, por muitas vezes, pertencem a grupos sociais antagônicos que lutampara prevalecer seus interesses. Diante disso, estabelecer objetivos comuns e parcerias é umprocesso mais complexo.Para subsidiar o planejamento estatal, Buarque apresenta uma conceituação consistentee abrangente sobre <strong>de</strong>senvolvimento local:O <strong>de</strong>senvolvimento local po<strong>de</strong> ser conceitua<strong>do</strong> como um processo endógeno<strong>de</strong> mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida da população em pequenas unida<strong>de</strong>s territoriais e agrupamentoshumanos. Para ser consistente e sustentável, o <strong>de</strong>senvolvimento local <strong>de</strong>vemobilizar e explorar as potencialida<strong>de</strong>s locais e contribuir para elevar asoportunida<strong>de</strong>s sociais e a viabilida<strong>de</strong> e competitivida<strong>de</strong> da economia local;ao mesmo tempo, <strong>de</strong>ve assegurar a conservação <strong>do</strong>s recursos naturais locais,que são a base mesma das suas potencialida<strong>de</strong>s e condição para a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida da população local. (BUARQUE , 2004, pg. 25)O planejamento <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local <strong>de</strong>ve possibilitar a construção <strong>de</strong> um projeto<strong>de</strong> futuro que mobilize os atores sociais, não só os locais, mas <strong>de</strong> outras instâncias também, e<strong>de</strong>ve organizar e sistematizar as ações e ativida<strong>de</strong>s acordadas e convergentes <strong>do</strong>s diversosagentes, conferin<strong>do</strong> uma racionalida<strong>de</strong> na interação entre elas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a implementá-las <strong>de</strong>forma mais eficiente e eficaz.Se esse futuro envolve uma estratégia voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, oplanejamento precisa ser “flexível, negocia<strong>do</strong> e contratual” (SACHS, 2002, p. 60), e <strong>de</strong>veenvolver simultaneamente aspectos relaciona<strong>do</strong>s ao meio ambiente e à inclusão social.Contu<strong>do</strong>, conforme dito anteriormente, o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentávelenvolve diversas dimensões que <strong>de</strong>vem se inter-relacionar, mas que apresentam tensões econflitos entre si. Com isso, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> das condições estruturais <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento, os “ganhos em uma dimensão po<strong>de</strong>m levar [...] a perdas e <strong>de</strong>clínios em


71outras” (BUARQUE, 2004, p. 70), especialmente, na relação entre economia e meioambiente.Buarque ainda afirma que a compatibilização entre as dimensões da sustentabilida<strong>de</strong>po<strong>de</strong> ocorrer mediante três aspectos: (i) os avanços científicos e tecnológicos, que provocarãoa redução das tensões; (ii) o crescimento da consciência ambiental da humanida<strong>de</strong>, que darásustentação política para realizar mudanças estruturais; e (iii) a integração participativa cadavez maior <strong>do</strong> cidadão na vida política e social.Enfim, to<strong>do</strong>s os aspectos supracita<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local sustentávelpressupõem uma gestão pública mais eficiente no planejamento e uso <strong>do</strong> recursos disponíveis,e um empo<strong>de</strong>ramento da socieda<strong>de</strong> civil , on<strong>de</strong> a premissa <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong> buscar melhorar emanter o bem-estar das pessoas e <strong>do</strong> ecossistema, o que significa que to<strong>do</strong>s os membros dasocieda<strong>de</strong> estão habilita<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>finir e satisfazer suas necessida<strong>de</strong>s sem prejudicar a qualida<strong>de</strong>e a diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema, possibilitan<strong>do</strong> que ele continue proven<strong>do</strong> recursos diversos nofuturo.


723. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICASNO ÂMBITO DO GEI-ALCÂNTARANeste capítulo, será avalia<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> como espaço público<strong>de</strong>mocrático para a promoção da participação da socieda<strong>de</strong> civil no processo <strong>de</strong>cisório,consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho a<strong>do</strong>tada, os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s, e a atuação <strong>do</strong>satores governamentais e da socieda<strong>de</strong> civil no processo <strong>de</strong> negociação. Com isso, preten<strong>de</strong>-seanalisar as variáveis que envolvem o contexto <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> no presente, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> seuhistórico, e o que porventura faltou na atuação <strong>do</strong> GEI, principalmente na articulação com osatores, para quebrar as resistências existentes ao Programa Espacial e criar um ambientecooperativo com a socieda<strong>de</strong> civil.Para dar suporte à análise <strong>do</strong> processo, serão utiliza<strong>do</strong>s os questionários aplica<strong>do</strong>s comatores governamentais relevantes (Casa Civil, Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, Ministério <strong>do</strong>Desenvolvimento Agrário, Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego, Agência Espacial Brasileira,Fundação Cultural Palmares, Ministério <strong>do</strong> Turismo e a Prefeitura local) que participaram <strong>do</strong>strabalhos <strong>do</strong> GEI e que representam, em gran<strong>de</strong> parte, as instituições mais atuantes no <strong>Grupo</strong>.O questionário envolveu: a avaliação da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> GEI e seusprincipais resulta<strong>do</strong>s, com foco na construção <strong>de</strong> um ambiente <strong>de</strong>mocrático para amanifestação <strong>do</strong>s diversos atores; as barreiras à construção <strong>do</strong> consenso entre os grupossociais, como divisões internas no GEI e a articulação governamental; a avaliação <strong>do</strong> plano <strong>de</strong>ação; e o que os representantes pensavam sobre o futuro das políticas públicas para <strong>Alcântara</strong>.Em complemento, utilizar-se-á as opiniões constantes nos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>representantes <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil e <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças das agrovilas com o objetivo <strong>de</strong>embasar a avaliação <strong>do</strong> GEI como espaço público <strong>de</strong>mocrático e participativo e enten<strong>de</strong>rcomo funciona a sua articulação na questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.3.1 O FUTURO DE ALCÂNTARA SOB A ÓTICA DO PROGRA<strong>MA</strong> ESPACIALBRASILEIRO E OS AVANÇOS PROMOVIDOS PELO GEIO projeto <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> promete transformar o perfil social <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>, tornan<strong>do</strong>-a um pólo <strong>de</strong> tecnologia. O complexo compreen<strong>de</strong>rá três sítios <strong>de</strong>


73lançamento, administra<strong>do</strong>s em parceria com outros países, instituições <strong>de</strong> apoio, uma estruturaaeroportuária, escolas, universida<strong>de</strong>s, um centro integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisas espaciais, hospitais,etc. Além disso, visitas po<strong>de</strong>rão ser feitas ao CEA, incentivan<strong>do</strong> o turismo local. Com isso,estima-se que <strong>Alcântara</strong> receba cerca <strong>de</strong> 15 mil novos mora<strong>do</strong>res no médio prazo (<strong>de</strong> 10 a 15anos), forma<strong>do</strong>s, em sua maioria, por professores, cientistas e <strong>de</strong>mais profissionais da áreatecnológica, alteran<strong>do</strong> a dinâmica da economia local que sempre girou em torno,principalmente, da agricultura e da pesca 32 .A intenção <strong>do</strong> Governo Brasileiro, conforme já dito, é promover um novo setor. E aconcepção <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> CEA po<strong>de</strong> ser caracterizada como o que Evans (2004) <strong>de</strong>fine como oEsta<strong>do</strong> “parteiro”. Segun<strong>do</strong> ele, o papel <strong>de</strong> parteiro envolve a redução <strong>de</strong> incertezas e <strong>do</strong> riscoquanto à viabilida<strong>de</strong> técnica e econômica <strong>de</strong> um novo empreendimento com o objetivo <strong>de</strong>atrair capital priva<strong>do</strong>, e po<strong>de</strong>, também, “induzir o capital transnacional a estabelecercompromissos mais sérios com o <strong>de</strong>senvolvimento local, se tornan<strong>do</strong> parte da estratégiaquan<strong>do</strong> o capital local não po<strong>de</strong> realizar o trabalho sozinho” (EVANS, 2004, p. 118), uma vezque é provavelmente mais fácil e menos arrisca<strong>do</strong> <strong>do</strong> que criar uma capacida<strong>de</strong> produtiva <strong>de</strong>proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> essa estratégia, a AEB concebeu os sítios <strong>de</strong> lançamento paracomercializá-los com outros países que <strong>de</strong>sejem realizar seus lançamentos <strong>de</strong> satélites,fornecen<strong>do</strong> suporte e a estrutura <strong>de</strong> apoio necessária. É importante ressaltar a natureza civil <strong>do</strong>CEA, diferentemente <strong>do</strong> CLA, controla<strong>do</strong> pela Aeronáutica, o que <strong>de</strong>ve lhe dar maiorflexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação e menos restrições à convivência com a população localA forma escolhida para concretizar essas parcerias, inicialmente, foi o estabelecimento<strong>de</strong> uma empresa binacional <strong>–</strong> formada por uma instituição brasileira e outra estrangeira <strong>–</strong>,como ocorreu com a Ucrânia no Acor<strong>do</strong> referente à construção <strong>do</strong> Cyclone-4.A aposta <strong>do</strong> PNAE com o CEA é que alguns setores criam uma “conspiraçãomultidimensional” (EVANS, 2004, p. 32) a favor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, induzin<strong>do</strong> sinergiasempresariais, crian<strong>do</strong> externalida<strong>de</strong>s positivas para o resto da economia. De acor<strong>do</strong> comTeracine (1999) a ampla <strong>experiência</strong> internacional fortalece o entendimento <strong>de</strong> que osconhecimentos gerenciais e tecnológicos obti<strong>do</strong>s pela indústria que executa projetos espaciaissão irradia<strong>do</strong>s para to<strong>do</strong>s os seus setores e, posteriormente, para outras empresas <strong>do</strong> ramo.32 BRANCO, Bruna C. <strong>Alcântara</strong> passará por transformação. Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, São Luís, 31 jul.2005. Ca<strong>de</strong>rno O País, p. 11.


74Como <strong>Alcântara</strong> não tem uma classe empresarial local e a estrutura logística paraabastecimento e comercialização <strong>de</strong> produtos é precária, to<strong>do</strong> um novo setor empresarial einfra-estrutura teriam <strong>de</strong> ser cria<strong>do</strong>s.Esse conseqüente <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, proporciona<strong>do</strong> pelas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>capacitação educacional, pelo crescimento econômico proveniente, principalmente, <strong>do</strong>aumento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s agroindustriais e <strong>do</strong> turismo, ocorrerá concomitantemente com achegada <strong>de</strong> uma população com qualificação técnica elevada. Tal fato acarretará em umincremento na economia com pequenos negócios e exigirá uma evolução <strong>do</strong> sistemaprofissional e educacional <strong>do</strong> município, uma vez que os profissionais que chegarem e suasfamílias <strong>de</strong>verão permanecer na cida<strong>de</strong> ten<strong>do</strong> em vista a insuficiência no transporte para SãoLuís e a gran<strong>de</strong> distância até a capital por terra.Cabe salientar que, pelo projeto apresenta<strong>do</strong> pela AEB, não haverá uma escola para osfilhos liga<strong>do</strong>s ao Centro Espacial e outra para os das comunida<strong>de</strong>s locais, o que po<strong>de</strong> melhorara taxa <strong>de</strong> analfabetismo <strong>do</strong> município que hoje está em 26,44%, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Censo2000 <strong>do</strong> IBGE. Com essa expansão econômica prevista, aumentar-se-á, também, a <strong>de</strong>mandapor profissionais mais qualifica<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro da população <strong>do</strong> município, crédito e assistênciatécnica.Apesar <strong>de</strong>sses argumentos favoráveis, eles não são suficientes para reduzir aincredulida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s perante as intenções <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral, pois perceberampoucos benefícios com a implantação <strong>do</strong> CLA e, também, porque as pessoas que trabalham noCentro não permanecem na cida<strong>de</strong> e, portanto, não influenciam em sua economia.Assim, muito precisa ser feito para que esse projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para <strong>Alcântara</strong>ocorra, o que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral, mas <strong>do</strong>s Governos Estadual e Municipal,das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil, <strong>do</strong>s comerciantes locais e da população em geral. Enfim, umesforço conjunto.Como iniciativa governamental para iniciar esse processo, o GEI-<strong>Alcântara</strong> surgiu parafazer a mediação entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil e apresentar à população local uma primeirasinalização concreta <strong>de</strong> que os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa vez po<strong>de</strong>riam ser diferentes.Neste senti<strong>do</strong>, em diversas discussões ocorridas no GEI, foi reforçada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>que o projeto concebi<strong>do</strong> pela AEB <strong>de</strong>veria trazer benefícios para as comunida<strong>de</strong>s locais,


75aproximan<strong>do</strong>-as <strong>do</strong> CEA/CLA, diferentemente da forma apartada que tem vigora<strong>do</strong>. Umexemplo é como será o acesso das comunida<strong>de</strong>s locais aos centros universitários que estãoprevistos no plano da AEB, no que diz respeito ao ensino superior e técnico, e <strong>de</strong> que formaeles contribuirão para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Outro ponto a ser ressalta<strong>do</strong> foi a preocupação quanto à absorção da mão-<strong>de</strong>-obra local,<strong>de</strong>corrente da previsão <strong>de</strong> migração para <strong>Alcântara</strong> em virtu<strong>de</strong> da implementação <strong>do</strong> CEA.Essa migração, ao mesmo tempo em que traria benefícios com o investimento nos negócios,também ocasionaria um problema socioeconômico, pois, por possuírem melhor qualificaçãoprofissional e know-how, os migrantes ocupariam os melhores postos <strong>de</strong> trabalho, enquanto apopulação local exerceria ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> menor valor econômico. Atualmente, faltam cursosprofissionalizantes e os jovens da cida<strong>de</strong> não conseguem se habilitar para, por exemplo,prestar alguns tipos <strong>de</strong> serviços técnicos no CLA.Isto posto, um <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s foram os compromissos <strong>de</strong> melhoria e <strong>de</strong>integração da estrutura <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> CEA com a cida<strong>de</strong> 33 , assumi<strong>do</strong>s pela AEB no Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong>Cooperação Técnica <strong>–</strong> ACT <strong>–</strong> assina<strong>do</strong> pelos integrantes <strong>do</strong> GEI para consolidar eimplementar as ações formuladas. Além disso, <strong>de</strong>ntre as premissas estabelecidas para a novaconcepção <strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> CEA, encontram-se: (i) a preocupação com apreservação da cultura e tradição das comunida<strong>de</strong>s locais, evitan<strong>do</strong>-se novos <strong>de</strong>slocamentos<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suas áreas tradicionais <strong>de</strong> ocupação; (ii) a promoção <strong>de</strong> uma convivênciaharmônica das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s com as <strong>do</strong> centro <strong>de</strong> lançamento; e (iii) aa<strong>do</strong>ção e implementação <strong>de</strong> medidas sócio-ambientais <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a mitigar ou compensar oseventuais impactos que a implantação <strong>do</strong> CEA venha a causar.O problema é que o ACT foi um instrumento político (e não jurídico) para garantir ocompromisso governamental, limita<strong>do</strong> no tempo, e sem previsão <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>. Mas,mesmo que o GEI-<strong>Alcântara</strong> tenha finaliza<strong>do</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, o Governo sinalizou quequaisquer outras iniciativas governamentais <strong>de</strong>vem analisar como os investimentosestrangeiros e nacionais, públicos e priva<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>m ser integra<strong>do</strong>s com a transformaçãopositiva na economia e bem-estar locais.33 A cláusula primeira, parágrafo segun<strong>do</strong> <strong>do</strong> ACT diz que “A instalação <strong>do</strong>s equipamentos sociaisprevistos para a implantação <strong>do</strong> CEA <strong>de</strong>verá ser feita, prioritariamente, em edificações disponíveis nase<strong>de</strong> <strong>do</strong> município, sempre que as condições técnicas permitirem”.


76E como as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> possuem uma relação estreita com a terra, tantohistoricamente quanto economicamente, um ponto a ser observa<strong>do</strong> nesse contexto, é que taismudanças incrementais provavelmente ensejarão em alterações nas práticas produtivascorrentes e nas relações <strong>de</strong> troca. Portanto, não po<strong>de</strong>m negar a existência <strong>de</strong> normas culturaise <strong>de</strong> outras relações sociais que sustentam o processo produtivo e <strong>de</strong> troca vigenteÉ por meio da terra que elas tiram a sua subsistência, se reproduzem e se i<strong>de</strong>ntificamentre si. A <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, na qual algumas comunida<strong>de</strong>s viram a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terradisponível para cultivo serem reduzidas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu remanejamento para a implantação <strong>do</strong>CLA, fez com que as práticas <strong>de</strong> agricultura existentes aumentassem a <strong>de</strong>gradação ambiental.Além disso, algumas famílias acabam fazen<strong>do</strong> roça perto <strong>do</strong> leito <strong>de</strong> rios, como o <strong>do</strong> Pepital,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à insuficiência e à baixa produtivida<strong>de</strong> da terra, <strong>de</strong>gradan<strong>do</strong>-os também.Segun<strong>do</strong> Jara (1998, p. 34) “to<strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que não permita melhorarou manter a produtivida<strong>de</strong> da terra e que promova exclusões [...] precisa ser questiona<strong>do</strong>”.Portanto, a implantação <strong>do</strong> CEA <strong>de</strong>ve ter o cuida<strong>do</strong> em garantir acesso aos recursos naturais ea promoção <strong>de</strong> assistência técnica às comunida<strong>de</strong>s para que consigam ter uma melhorprodutivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo, obten<strong>do</strong> os bens e serviços capazes <strong>de</strong> satisfazer as suas necessida<strong>de</strong>se, ao mesmo tempo, diminuin<strong>do</strong> a pressão sobre o meio ambiente.Neste contexto, a AEB explicou em <strong>do</strong>cumento quais serão as contrapartidas,in<strong>de</strong>nizações e compensações financeiras que serão recebidas pelas famílias que, mesmo quenão sejam <strong>de</strong>slocadas, percam suas áreas <strong>de</strong> plantio e colheita em virtu<strong>de</strong> da implementação<strong>do</strong>s sítios <strong>do</strong> CEA. Entretanto, ten<strong>do</strong> vista a realida<strong>de</strong> atual das agrovilas e o histórico <strong>de</strong> nãocumprimento <strong>de</strong> compromissos, é interessante que tais contrapartidas sejam garantidas pormeios judiciais como, por exemplo, um Termo <strong>de</strong> Ajuste <strong>de</strong> Conduta com o MinistérioPúblico.No caso <strong>de</strong> novos empreendimentos previstos para surgir com a implantação <strong>do</strong> CEA, apopulação também <strong>de</strong>ve ser priorizada e capacitada para realizar as novas ativida<strong>de</strong>s eaproveitar as oportunida<strong>de</strong>s que surgirão. Isto envolve melhoria significativa na educação,com acesso inclusive às universida<strong>de</strong>s, e o apoio <strong>de</strong> serviços nacionais <strong>de</strong> promoção daaprendizagem técnica como os <strong>do</strong> Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas<strong>–</strong> SEBRAE e <strong>do</strong> Serviço Social <strong>do</strong> Comércio <strong>–</strong> SESC, por exemplo.


77E como resulta<strong>do</strong> mais importante para a regularização fundiária <strong>do</strong> território, nasdiversas negociações entre os agentes governamentais e os representantes da socieda<strong>de</strong> civil,capitaneadas principalmente pelo Subgrupo <strong>de</strong> Regularização Fundiária, ocorreu uma reduçãosignificativa na área necessária à implantação <strong>do</strong> CEA. A proposta final da AEB veio seformatan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> processo, sen<strong>do</strong> que, inicialmente, houve alguma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seustécnicos em apresentar a concepção <strong>do</strong> CEA <strong>de</strong> uma forma que fosse compreensível àscomunida<strong>de</strong>s, isto é, utilizan<strong>do</strong> um linguajar menos técnico. Com a evolução das negociações,o que começou com cinco sítios <strong>de</strong> lançamento (Anexo 1), transformou-se em quatro sítios,com áreas respectivas para serem instaladas as organizações e estruturas <strong>de</strong> apoio (Anexo 2)e, posteriormente, sen<strong>do</strong> a última proposta negociada, três sítios <strong>de</strong> lançamento com quatroáreas para apoio (Anexo 3).Portanto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa última configuração, a área <strong>de</strong> 62.000 hectares, inicialmente<strong>de</strong>sapropriada para constituir a infra-estrutura operacional e <strong>de</strong> apoio, não <strong>de</strong>verá exce<strong>de</strong>r aaproximadamente 14.000 hectares, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o restante da área <strong>de</strong>sapropriada (48.000hectares), ser restituí<strong>do</strong> ao município, para compor o território das comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos. Cabe ressaltar que somente os sítios <strong>de</strong> lançamento teriamacesso restrito. As áreas <strong>de</strong> apoio teriam acesso livre. Além disso, na <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong>ssessítios, será garanti<strong>do</strong> também o acesso das comunida<strong>de</strong>s aos recursos naturais, inclusive aomar, como forma <strong>de</strong> preservar a tradição e os seus meios <strong>de</strong> sobrevivência.O que vem faltan<strong>do</strong> é uma maior aproximação da AEB com as comunida<strong>de</strong>s paraexplicar diretamente e com maior clareza os planos para a expansão <strong>do</strong> CEA e quais seriam osbenefícios e as contrapartidas <strong>de</strong>correntes, o que colabora para a perpetuação <strong>do</strong> conflitopolítico com as entida<strong>de</strong>s locais e a <strong>de</strong>sconfiança perante o Programa Espacial. Em conversacom um mora<strong>do</strong>r da cida<strong>de</strong> 34 , ele salientou que “enquanto a AEB fazia uma rara reunião comas comunida<strong>de</strong>s, entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil faziam 3 a 4 para quebrar o que havia si<strong>do</strong> ditopela Agência”. Além disso, quan<strong>do</strong> sabia-se que haveria uma reunião promovida pelogoverno, as entida<strong>de</strong>s faziam reuniões prévias para “preparar as pessoas contra o CEA”.Um exemplo disso po<strong>de</strong> ser traduzi<strong>do</strong> na situação que envolve Baracatatiua e Mamuna,povoa<strong>do</strong>s que estão presentes na área prevista para a implantação <strong>do</strong> primeiro sítio <strong>de</strong>lançamento, que têm uma certa “rivalida<strong>de</strong>” no que diz respeito ao posicionamento quanto àinstalação <strong>do</strong> sítio. Os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> primeiro são favoráveis ao CEA e os <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> não.34 Informação prestada pelo sr. Lincoln, proprietário da Pousada <strong>do</strong> Guarás, em <strong>Alcântara</strong>.


78Isso se explica pela maior atuação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, principalmente o Movimento <strong>do</strong>s Atingi<strong>do</strong>spela Base Espacial <strong>–</strong> <strong>MA</strong>BE, em Mamuna, povoa<strong>do</strong> no qual as entida<strong>de</strong>s conseguem fazeralgum tipo <strong>de</strong> reunião ou mobilização; e uma melhor relação das li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> Baracatatiuacom a AEB e o CLA.Assim, mesmo com os compromissos assumi<strong>do</strong>s quanto ao não remanejamento,algumas li<strong>de</strong>ranças das agrovilas, como as <strong>de</strong> Marudá e <strong>de</strong> Ponta Seca, <strong>de</strong>monstraram aindater receio <strong>do</strong> remanejamento <strong>de</strong> outras comunida<strong>de</strong>s com a implantação <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong>lançamento. Interessante que isso é um posicionamento <strong>de</strong> algumas li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s, mesmo que tal fato não as afete diretamente, o que <strong>de</strong>monstra o trabalho <strong>do</strong><strong>MA</strong>BE e <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s em uní-las no discurso político, ganhan<strong>do</strong> legitimida<strong>de</strong> paraserem consi<strong>de</strong>radas pelos entrevista<strong>do</strong>s como suas representantes perante o Esta<strong>do</strong>.Apesar disso, todas as li<strong>de</strong>ranças entrevistadas afirmaram que não são contra o CEA eque se houver esclarecimentos quanto ao não <strong>de</strong>slocamento das comunida<strong>de</strong>s, sobre quais osbenefícios e contrapartidas da sua instalação e, também, verem garanti<strong>do</strong>s os seus direitos,acreditam que o CEA po<strong>de</strong> ser compatibiliza<strong>do</strong> com a realida<strong>de</strong> local.3.2 A METODOLOGIA DE TRABALHO DO GEI <strong>–</strong> ALCÂNTARAO GEI-<strong>Alcântara</strong>, para atuar como uma instituição facilita<strong>do</strong>ra da interação e daarticulação entre os agentes envolvi<strong>do</strong>s e criar um ambiente harmônico e produtivo que<strong>de</strong>finisse e limitasse o conjunto <strong>de</strong> escolhas <strong>do</strong>s indivíduos, <strong>de</strong>finiu uma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong>trabalho para cumprir o seu objetivo <strong>de</strong> ser um espaço público <strong>de</strong>mocrático que permitisse aparticipação e cooperação <strong>do</strong>s diversos atores no processo <strong>de</strong> formulação das ações para omunicípio.A formulação das políticas públicas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> incorporou o caráter multisetorialque o problema exigia, permitin<strong>do</strong> que diversos aspectos <strong>do</strong> problema fossem analisa<strong>do</strong>s sobvários pontos <strong>de</strong> vista e, principalmente, fossem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os conhecimentos locais sobreas necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> município para um processo compartilha<strong>do</strong> <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Istoproporcionou uma maior legitimida<strong>de</strong> para os trabalhos <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, possibilitou o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma visão comum acerca <strong>do</strong> problema e serviu <strong>de</strong> base para a <strong>de</strong>finiçãodas ações <strong>de</strong>ntro da competência <strong>de</strong> cada órgão.


79O objetivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com isso foi a<strong>do</strong>tar o que Martins (1994, p. 200) chama <strong>de</strong>“estratégia <strong>de</strong> direção social” 35 , pela qual, por meio <strong>de</strong> consultas e negociações com osinteresses envolvi<strong>do</strong>s, tenta-se chegar a um ponto <strong>de</strong> equilíbrio, que combina o máximo <strong>de</strong>realização <strong>do</strong>s objetivos estatais com o mínimo <strong>de</strong> prejuízo <strong>do</strong>s interesses sociais. O autorsalienta que ela é aplicada quan<strong>do</strong> a intervenção estatal fracassa em função das resistênciasque provocam ao interferir, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> traumatizante, nas relações que se encontramestabelecidas, tal como ocorreu no passa<strong>do</strong> em <strong>Alcântara</strong>.Talvez o termo traumatizante seja <strong>de</strong>masiadamente forte para o caso <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, mas<strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que a visão prepon<strong>de</strong>rante é <strong>de</strong> que o CLA trouxe mais prejuízos <strong>do</strong> quebenefícios ao município e, portanto, o GEI <strong>de</strong>veria concentrar-se em proporcionar taismelhorias para facilitar a negociação com as entida<strong>de</strong>s sociais.O processo iniciou-se pelo nivelamento <strong>do</strong> conhecimento acerca da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>, em um seminário chama<strong>do</strong> “Desenvolvimento Sustentável <strong>do</strong> município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>: Histórico e Desafios” realiza<strong>do</strong> nos dias 22 e 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2004, que contoucom representantes das comunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> organizações não-governamentais, <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r local,<strong>do</strong>s órgãos fe<strong>de</strong>rais e <strong>de</strong> palestrantes com conhecimento da realida<strong>de</strong> local. Na ocasião,também, foram mapeadas as ações e os projetos <strong>de</strong> cada órgão integrante <strong>do</strong> GEI para a área.Em seguida, integrantes <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> verificaram in loco a situação das comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> os problemas e as oportunida<strong>de</strong>s existentes.Essa etapa é fundamental para qualquer diagnóstico <strong>de</strong> situação que servirá <strong>de</strong> base parao planejamento <strong>de</strong> ações. Contu<strong>do</strong>, neste momento, faltou ao GEI <strong>de</strong>bruçar-se acerca daconjuntura social vigente no caso <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, como o conjunto <strong>de</strong> atores e correlações <strong>de</strong>forças presentes no município que po<strong>de</strong>riam influenciar no processo, em especial, naformação <strong>de</strong> opinião das comunida<strong>de</strong>s. A análise <strong>de</strong> conjuntura <strong>de</strong>veria levar em conta asarticulações e dimensões locais, regionais, nacionais e internacionais que envolvem a questão<strong>do</strong>s quilombolas e que, conforme veremos adiante, foram variáveis <strong>de</strong>terminantes naexecução <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>.Em outro encontro, ocorri<strong>do</strong> nos dias 11 e 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2005, o GEI apresentou àcomunida<strong>de</strong> alcantarense um rol prévio <strong>de</strong> 38 ações a serem executadas pelo po<strong>de</strong>r públicofe<strong>de</strong>ral, para discussão e priorização a partir da visão local. Nessa oportunida<strong>de</strong>, outras 2835 Sobre a expressão “estratégia <strong>de</strong> direção social”, ver Martins (1994, p. 201).


80ações foram <strong>de</strong>finidas pela comunida<strong>de</strong> como prioritárias as quais foram agrupadas àspropostas pelo governo, resultan<strong>do</strong> no Plano <strong>de</strong> Ação <strong>do</strong> GEI, o que representou um montante<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 27 milhões a serem executa<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos.Contu<strong>do</strong>, é interessante ressaltar que o foco no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong>município não pareceu ser um nortea<strong>do</strong>r <strong>do</strong> planejamento e <strong>de</strong>finição das ações. A noção <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável não foi muito <strong>de</strong>batida no âmbito <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>. Como será vistomais adiante, as ações foram as que os órgãos conseguiram propor para aten<strong>de</strong>r àsnecessida<strong>de</strong>s levantadas, mas sem a integração e coor<strong>de</strong>nação necessárias para buscar oobjetivo maior da sustentabilida<strong>de</strong> local. Este aspecto fortalece a idéia da referência aoconceito representar mais um caráter ético-politicamente correto <strong>do</strong> que uma efetiva mudançaestrutural. Como afirma a representante <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente no questionário:O conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>, em muito, a implantação <strong>de</strong> umplano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> GEI <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos, que procurou aten<strong>de</strong>r, em um primeiromomento, a enorme carência <strong>de</strong> infra-estrutura básica existente em<strong>Alcântara</strong> (energia, escola, hospital, banco, comunicação, etc) [...] asustentabilida<strong>de</strong> passa necessariamente, entre outros, pelos conceitos <strong>de</strong>educação, capacitação e concientização da comunida<strong>de</strong>, que levem aomelhor entendimento da sua realida<strong>de</strong> local/regional, sem injunções <strong>de</strong>interesses políticos, <strong>de</strong> forma a permitir a construção <strong>de</strong> uma nova visão <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong>finir a melhor estratégia para alcançá-lo.Com isso, o plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local abrangerá um processo endógeno <strong>de</strong>mudança que <strong>de</strong>ve ter como nortea<strong>do</strong>r o respeito às características e vocações locais e, claro,ao meio ambiente, responsável pelo fornecimento <strong>do</strong>s recursos naturais necessários àsobrevivência das famílias alcantarenses.Por outro la<strong>do</strong>, o aporte <strong>de</strong> tamanha quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos em <strong>Alcântara</strong> representa umpasso importante para melhorar as condições <strong>de</strong> vida da população e, para garantir a suarealização, após a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> ação, era necessário “selar compromissos e suscitar oautocontrole das partes no processo <strong>de</strong> realização <strong>do</strong>s objetivos assenta<strong>do</strong>s” (<strong>MA</strong>RTINS,1994, p. 203). Para isso, foi elabora<strong>do</strong> um Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação Técnica entre os GovernosFe<strong>de</strong>ral, Estadual e Municipal, com o intuito <strong>de</strong> garantir o compromisso <strong>do</strong>s órgãos fe<strong>de</strong>raisem implementá-las. Para que o referi<strong>do</strong> instrumento obtivesse maior legitimida<strong>de</strong> perante acomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, foram realizadas reuniões para o esclarecimento <strong>de</strong> dúvidas e paraque as entida<strong>de</strong>s representantes das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> propusessem os ajustesnecessários aos termos <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong>, a fim <strong>de</strong> melhor a<strong>de</strong>quá<strong>–</strong>lo às suas expectativas.


81Além disso, é um princípio da Administração Pública e um direito <strong>do</strong> cidadão apublicização das ações administrativas <strong>do</strong>s órgãos estatais, esclarecen<strong>do</strong>-o acerca <strong>do</strong>spossíveis impactos <strong>de</strong>ssas ações sobre sua vida em socieda<strong>de</strong>. As relações entre o Esta<strong>do</strong> e asocieda<strong>de</strong> serão mais <strong>de</strong>mocráticas quanto maior for o acesso à informação governamental.Neste senti<strong>do</strong>, o GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong>, fora as reuniões e encontros com a socieda<strong>de</strong> civil, publicouo seu Relatório Final, bem como os relatórios <strong>de</strong> monitoramento da execução das ações peloCENDSA, envian<strong>do</strong>-os a to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s, tanto governamentais quanto priva<strong>do</strong>s. Alémdisso, divulgou suas ações por meio <strong>de</strong> reportagens na internet e no programa “Voz <strong>do</strong>Brasil”.Para uma melhor compreensão e avaliação <strong>do</strong> processo, serão <strong>de</strong>talha<strong>do</strong>s o plano <strong>de</strong>ação <strong>do</strong> GEI, o ACT e como foi o monitoramento da execução das ações.3.2.1 O Plano <strong>de</strong> AçãoA atuação <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> teve foco na implementação <strong>de</strong> ações que abrangeminiciativas necessárias à: (i) regularização da situação fundiária, ambiental e da moradia,envolven<strong>do</strong>, entre outras, soluções para as questões referentes às famílias remanejadas; (ii)garantia ao acesso e a utilização a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong>s recursos naturais da região; (iii) infra-estrutura,com ações para incremento nos serviços <strong>de</strong> energia elétrica, <strong>de</strong> beneficiamento da ca<strong>de</strong>iaprodutiva <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> turismo, portuários e <strong>de</strong> saneamento básico; (iv) geração <strong>de</strong>trabalho e renda, envolven<strong>do</strong> apoio à formação, à capacitação profissional e ao aporte <strong>de</strong>tecnologia, tanto na área rural quanto na urbana; (v) políticas sociais referentes, por exemplo,à saú<strong>de</strong>, à educação e ao combate à fome; (vi) fortalecimento institucional, para garantir queas comunida<strong>de</strong>s quilombolas realizem efetivamente o controle social das políticas públicas aserem implementadas; e (vii) políticas <strong>de</strong> ação afirmativa, promoven<strong>do</strong> ações <strong>de</strong> reparação<strong>do</strong>s danos sofri<strong>do</strong>s pelas comunida<strong>de</strong>s quilombolas já <strong>de</strong>slocadas 36 .<strong>Alcântara</strong> tem sua população viven<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minantemente na área rural e possuilimitadas fontes <strong>de</strong> arrecadação, geran<strong>do</strong> significativa <strong>de</strong>pendência das transferências daUnião e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, insuficiência na provisão <strong>de</strong> serviços em diversos setorescomo educação, saú<strong>de</strong>, transporte e infra<strong>–</strong>estrutura e, também, baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração<strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> trabalho e renda, entre outros.36 Ver o Relatório final <strong>do</strong> GEI - <strong>Alcântara</strong>


82Percebe-se ao analisar o plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> GEI (Anexo 4) que as ações abrangem amelhoria da educação e capacitação profissional, melhorias na infra-estrutura e na saú<strong>de</strong>, aconservação e preservação ambiental e ações afirmativas para os remanescentes <strong>de</strong>quilombos, jovens e i<strong>do</strong>sos. Por outro la<strong>do</strong>, cabe <strong>de</strong>stacar a ausência <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> incentivoao cooperativismo e <strong>de</strong> comercialização (com exceção <strong>do</strong> apoio ao beneficiamento ecomercialização direta <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong>).Analisan<strong>do</strong> setorialmente as ações, nota-se que o Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento <strong>–</strong> <strong>MA</strong>PA <strong>–</strong> propôs um curso <strong>de</strong> capacitação e treinamento <strong>de</strong> pequenosprodutores rurais <strong>do</strong> município para recuperação <strong>de</strong> solos <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>s. A ação é importante enecessária, mas, tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um setor prioritário para um município que tem na agriculturafamiliar a sua principal fonte <strong>de</strong> subsistência, apenas uma ação proposta pelo ministérioresponsável pelo tema, parece ser insuficiente para proporcionar melhorias significativas esustentáveis. Faltaram ações, por exemplo, como as sugeridas por Beze (2005) que dizemrespeito à valorização da organização comunitária já existente <strong>do</strong> uso comum das terras, aintrodução gradual e controlada <strong>de</strong> tecnologia agropecuária adaptada às condições climáticaslocais; e <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> manejo e conservação <strong>do</strong> solo.Quanto à disponibilização <strong>de</strong> crédito, foram feitas solicitações ao Banco <strong>do</strong> Brasil e àCaixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral para a instalação <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> atendimento bancário, sen<strong>do</strong> que oprimeiro já instalou uma agência no município, e por meio <strong>de</strong> suas linhas <strong>de</strong> crédito, já vemproporcionan<strong>do</strong> financiamentos aos produtores rurais e pesca<strong>do</strong>res.Em relação ao meio ambiente, o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente foi o que previu o maiornúmero <strong>de</strong> ações (17) no plano <strong>do</strong> GEI, representan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 25% <strong>do</strong> total. Todas eramimportantes no seu mérito, como, por exemplo, a gestão <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> zoneamentoecológico-econômico para <strong>Alcântara</strong>; a disseminação <strong>do</strong>s conhecimentos tradicionais locais; eas voltadas para a implementação da Agenda 21 local. Entretanto, conforme verifica<strong>do</strong> nosrelatórios <strong>do</strong> CENDSA, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, principalmente, à falta <strong>de</strong> foco proporcionada pela gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações, o Ministério teve dificulda<strong>de</strong>s na sua execução.Como a execução das ações governamentais necessita <strong>de</strong> um processo burocrático, porvezes <strong>de</strong>mora<strong>do</strong>, e, também, da articulação <strong>de</strong> parcerias com outros entes, a tempestivida<strong>de</strong>passa a ser uma variável difícil <strong>de</strong> ser gerenciada. Alia<strong>do</strong> a isso, a pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


83pessoal e <strong>de</strong> recursos, faz com que sejam eleitas priorida<strong>de</strong>s. Por isso, o M<strong>MA</strong> acabou ten<strong>do</strong>atrasos no seu planejamento, mas que obteve melhoras ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>,Outro ponto que cabe <strong>de</strong>stacar diz respeito à promoção da universalização <strong>do</strong> acesso àenergia e à comunicação como forma <strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong> princípio da sustentabilida<strong>de</strong> napromoção da infra-estrutura. O Programa Luz para To<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ministério das Minas e Energia<strong>–</strong> MME <strong>–</strong> foi, segun<strong>do</strong> o relatório final <strong>do</strong> CENDSA, uma das ações com melhor<strong>de</strong>sempenho, levan<strong>do</strong> energia a todas as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Isso <strong>de</strong>monstra ocompromisso <strong>do</strong> MME com o <strong>Grupo</strong>, pois <strong>Alcântara</strong> foi priorizada pelo Programa em relaçãoa outros municípios também carentes. Além disso, a Telemar também iniciou a instalaçãotelefones públicos em to<strong>do</strong> o município. Estes <strong>do</strong>is pontos são fundamentais para permitir o<strong>de</strong>senvolvimento local e trazer mais qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população.No plano <strong>de</strong> ação ainda existem ações voltadas, principalmente, para os remanescentes<strong>de</strong> quilombos, como a implementação <strong>de</strong> um Balcão <strong>de</strong> Direitos, o fomento ao<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s e a realização <strong>do</strong> Consórcio Social da Juventu<strong>de</strong>Quilombola para a geração <strong>de</strong> emprego e renda.Enfim, é importante salientar que existe uma lacuna substancial entre expectativaspopulares acerca <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a sua habilida<strong>de</strong> para entregar produtos. Migdal (1988) explicaque esta lacuna existe porque o Esta<strong>do</strong> não é capaz <strong>de</strong> acumular a autorida<strong>de</strong> necessária parafechá-la <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao fato <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s sociais tentarem impedir seus esforços, além,obviamente, das próprias limitações orçamentárias e burocráticas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.3.2.2 O Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação TécnicaO Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação Técnica foi um instrumento elabora<strong>do</strong> pelo GEI-<strong>Alcântara</strong>,cuja valida<strong>de</strong> foi até 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, para garantir o compromisso <strong>do</strong>s órgãosfe<strong>de</strong>rais signatários com a melhoria das condições <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> pormeio da execução <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> e o respeito às suas particularida<strong>de</strong>s étnicas eculturais.Ao formular o <strong>do</strong>cumento consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> sugestões e <strong>de</strong>mandas das representações dasocieda<strong>de</strong> civil, buscou ganhar legitimida<strong>de</strong> e apoio da socieda<strong>de</strong> civil. Afinal, “aimplementação <strong>de</strong> políticas é moldada não só pelos instrumentos políticos disponíveis ao


84Esta<strong>do</strong>, mas também, pelo suporte organiza<strong>do</strong> que elas recebem <strong>de</strong> grupos sociais chaves”(SKOCPOL, 1999, p. 20).Neste contexto, a posição das representações da socieda<strong>de</strong> civil foi controversa. Emborapraticamente to<strong>do</strong>s os seus interesses tenham si<strong>do</strong> contempla<strong>do</strong>s no conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> ACT, apóssuas próprias sugestões, elas <strong>de</strong>monstraram in<strong>de</strong>finição quanto à assinatura <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento,uma hora concordan<strong>do</strong> outra não, mas no fim, optaram por não serem signatárias <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong>.O item que foi o alega<strong>do</strong> como um motiva<strong>do</strong>r da não assinatura <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> por partedas representações da socieda<strong>de</strong> civil refere-se ao texto no qual está escrito que “o GovernoFe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>verá primar (grifo nosso) pelo não <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> qualquer comunida<strong>de</strong>remanescente <strong>de</strong> quilombos e pela máxima utilização da atual área <strong>do</strong> CLA, no que concerneao processo <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong> CEA”. O verbo “primar” foi o que não agra<strong>do</strong>u às entida<strong>de</strong>s,pois o que elas pleiteavam era o caráter obrigatório <strong>do</strong> item. Além disso, entendiam que erauma obrigação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> promover políticas públicas compensatórias para <strong>Alcântara</strong>,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer Acor<strong>do</strong>. Vale dizer, também, que, até aquele momento, a AEBainda não havia garanti<strong>do</strong> que não ocorreriam novos <strong>de</strong>slocamentos, apenas que se evitaria aomáximo tal mecanismo, limitan<strong>do</strong>-se, se fosse o caso, a pequenos núcleos familiares.O ACT não representou o contrato a que Sachs (2002) se refere, pois, em resumo, oautor pressupõe que os atores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da socieda<strong>de</strong> caminhem juntos na busca por umfuturo planeja<strong>do</strong> e único. Um futuro que tenha envolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma discussão <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong>uma realida<strong>de</strong> a ser mudada, passan<strong>do</strong> pelas estratégias <strong>de</strong> ação conjuntas até a concretização<strong>de</strong> um cenário i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>. E no que diz respeito à elaboração da estratégia, um aspecto quenão se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar são as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r vigentes e que po<strong>de</strong>m influenciar tantopositivamente quanto negativamente o processo <strong>de</strong>cisório e a implementação das ações.Este po<strong>de</strong> ser um motivo da não assinatura <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> pelas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>civil. O fato po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong>, por um la<strong>do</strong>, como um reflexo da incerteza que ainda existenas comunida<strong>de</strong>s perante o Governo Fe<strong>de</strong>ral, principalmente no que diz respeito àpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>slocamentos ou, como manifestou o representante da Prefeitura <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> no questionário, “para que não sejam responsabilizadas em caso <strong>de</strong> fracasso”,opinião com a qual corroboram todas as entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil entrevistadas.Por outro la<strong>do</strong>, explicita as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r locais que, nem sempre, são insculpidaspela ética da sustentabilida<strong>de</strong>, mas sim, pela <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interesses pessoais políticos ou


85i<strong>de</strong>ológicos. No aspecto da política local <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, a atual Prefeitura está sob o coman<strong>do</strong><strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Democratas <strong>–</strong> DEM, e os representantes da socieda<strong>de</strong> civil são liga<strong>do</strong>s aparti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> oposição como o Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res <strong>–</strong> PT, e benefícios para a cida<strong>de</strong> nessemomento seriam capitaliza<strong>do</strong>s pela atual gestão, o que não era interessante para esses parti<strong>do</strong>s<strong>de</strong> oposição.Além disso, as entida<strong>de</strong>s, se assinassem o ACT, estariam dan<strong>do</strong> sinais à socieda<strong>de</strong> queestavam ce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> em relação ao Esta<strong>do</strong>, concordan<strong>do</strong> com a sua proposta. Com isso, estariamenfraquecen<strong>do</strong> a sua “ban<strong>de</strong>ira” <strong>de</strong> atuação, o seu projeto político, o motivo pelo qual elasexistem e se apresentam politicamente. Portanto, tal atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser entendida também comouma “marcação <strong>de</strong> posição”, afirmação manifestada pela representante da Igreja Católica epelo <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE, ressaltan<strong>do</strong> que essa marcação <strong>de</strong> posição foi em relação ao Governo Fe<strong>de</strong>rale, também à Prefeitura Municipal, ten<strong>do</strong> em vista serem integrantes <strong>de</strong> parti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> oposição.Apesar <strong>de</strong>ssa negativa, foi garantida a participação das representações da socieda<strong>de</strong> civilno Comitê <strong>Executivo</strong> Nacional <strong>–</strong> CENDSA e no Comitê Gestor Local, cria<strong>do</strong>s pelo ACT noâmbito nacional e local, respectivamente, para avaliar e acompanhar a execução das açõeselaboradas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e garantir que estas fossemefetivamente implementadas. Assim, foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> que no CENDSA haveria a participação <strong>de</strong>órgãos fe<strong>de</strong>rais e <strong>de</strong> um representante da socieda<strong>de</strong> civil <strong>–</strong> que nunca foi <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> <strong>–</strong> e que,no Comitê Gestor Local, a representação <strong>de</strong> órgãos governamentais e da socieda<strong>de</strong> civil seria<strong>de</strong> forma paritária, sen<strong>do</strong> estas últimas escolhidas no âmbito <strong>do</strong> Fórum em Defesa <strong>do</strong>Território Étnico <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, instituição que congregou as entida<strong>de</strong>s envolvidas na questão.Desta forma, tentou-se promover um controle social mais efetivo e uma maior eficiência nabusca da satisfação das necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Cabe ressaltar que o Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica também não assinou o ACT por nãoconcordar com os compromissos assumi<strong>do</strong>s. Essas duas negativas <strong>de</strong>monstram a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> se construir o consenso entre os principais atores envolvi<strong>do</strong>s na questão.E caso se alcance o consenso, o sucesso da negociação se consolidará na necessáriatransformação <strong>do</strong>s seus resulta<strong>do</strong>s em um “contrato entre os stakehol<strong>de</strong>rs (atores envolvi<strong>do</strong>s)”(SACHS, 2002, p. 76).O contrato a que Sachs se refere não correspon<strong>de</strong> ao ACT, pois este envolveu apenas ocompromisso <strong>do</strong>s Ministérios participantes <strong>de</strong> um grupo ad hoc para a execução das ações


86planejadas para <strong>Alcântara</strong> e, ainda, possuía um horizonte temporal limita<strong>do</strong>. Isto é, não haviauma “conspiração” a longo prazo para a promoção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável nomunicípio entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil.Principalmente se a questão envolve o planejamento para o <strong>de</strong>senvolvimentosustentável, esse contrato <strong>de</strong>ve ser fruto <strong>de</strong> um processo negocia<strong>do</strong> e pactua<strong>do</strong><strong>de</strong>mocraticamente entre as partes, on<strong>de</strong> cada ator se reconhece como parte integrante <strong>do</strong>projeto e sabe a importância <strong>do</strong> seu papel. Com isso, além <strong>de</strong> alcançar a inclusão social,favorecida pelo fortalecimento da cidadania, o projeto ganha legitimida<strong>de</strong> e o compromisso <strong>de</strong>to<strong>do</strong>s em prol <strong>de</strong> um futuro i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>, no qual os recursos naturais são preserva<strong>do</strong>s e o<strong>de</strong>senvolvimento socioeconômico é constante.Assim, a importância <strong>do</strong> ACT em nível operacional foi a <strong>de</strong> ter envolvi<strong>do</strong> a assinatura<strong>do</strong>s Ministros titulares das pastas que integravam o GEI-<strong>Alcântara</strong>. Este fato possibilitou orespeito ao Acor<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong>s Ministérios e <strong>de</strong>u suporte aos agentes estatais que tinham atarefa <strong>de</strong> implementar as políticas públicas, pois teriam maior autonomia <strong>de</strong> atuação.3.2.3 Monitoramento e avaliação da implementação das ações propostasPara realizar o acompanhamento e avaliação da execução das ações e tomar medidascorretivas, o CENDSA realizou reuniões bimestrais e promoveu três seminários, em 2006,com a participação <strong>do</strong>s signatários <strong>do</strong> ACT, <strong>de</strong> representações da socieda<strong>de</strong> civil e membros<strong>do</strong> Comitê Gestor Local, para apresentação das realizações <strong>do</strong>s Ministérios envolvi<strong>do</strong>s.Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes seminários foram consolida<strong>do</strong>s em relatórios <strong>de</strong> acompanhamentoque apresentavam um resumo das palestras, com problemas levanta<strong>do</strong>s e encaminhamentos,os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, uma avaliação da execução das propostas e o ranking <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong>s Ministérios. Após sua confecção, os relatórios eram envia<strong>do</strong>s para cadaórgão signatário <strong>do</strong> ACT e para a socieda<strong>de</strong> civil.No Relatório <strong>do</strong> 1º quadrimestre <strong>de</strong> 2006, cerca <strong>de</strong> 52% das ações previstas no ACTforam iniciadas ou concluídas e 48% <strong>de</strong>las ainda não haviam saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> papel. Verificou-se,ainda, a existência <strong>de</strong> graus diferencia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> comprometimento e organização entre os órgãospartícipes e as ações que foram mais eficientes respeitaram as seguintes condições: a) público-


87alvo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>; b) parceria a<strong>de</strong>quada; c) engajamento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público local; e d)estabelecimento <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> e/ou transformação das ações <strong>de</strong> forma continuada.Essa <strong>de</strong>mora na execução das ações dificultava a cooperação, pois significava mais ummotivo para as entida<strong>de</strong>s representantes da socieda<strong>de</strong> civil inflamarem seu discurso,aproveitan<strong>do</strong> a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pleito por políticas públicas compensatórias para <strong>Alcântara</strong> e onão cumprimento no passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> compromissos por parte <strong>do</strong> Ministério da Aeronáutica. E,como postula Putnam (1996, p. 174), “tanto a informação precisa quanto a executorieda<strong>de</strong> sãofundamentais para uma efetiva cooperação”.No Relatório <strong>do</strong> 2º quadrimestre, percebeu-se uma significativa evolução no<strong>de</strong>sempenho da implementação das ações em relação ao relatório anterior, pois cerca <strong>de</strong> 67%<strong>de</strong>las já haviam si<strong>do</strong> iniciadas ou concluídas. Verificou-se, também, mudanças nocomportamento <strong>de</strong> alguns Ministérios como o M<strong>MA</strong> e a Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura ePesca <strong>–</strong> SEAP <strong>–</strong>, influenciadas pela transparência <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s negativos no relatórioanterior.Cabe salientar que as ações previstas no ACT abrangeram o biênio 2005/2006 e agran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>las constava no PPA. Além disso, o projeto <strong>de</strong> expansão <strong>do</strong> CEA prevê que5% <strong>do</strong> montante a ser investi<strong>do</strong> em cada empreendimento, em <strong>Alcântara</strong>, será reverti<strong>do</strong> paramedidas sócio-ambientais, cuja aplicação obe<strong>de</strong>cerá a critérios estabeleci<strong>do</strong>s no Acor<strong>do</strong> e às<strong>de</strong>mandas priorizadas em futuras oficinas, as quais terão início nas agrovilas.Após <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> implementação <strong>do</strong> Plano, os principais resulta<strong>do</strong>s aponta<strong>do</strong>s foram 37 :a) instalação <strong>de</strong> uma agência bancária <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil;b) capacitação <strong>de</strong> 150 agentes para o combate <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> abuso e maus tratos contra apessoa i<strong>do</strong>sa;c) fiscalização ambiental nas ilhas <strong>de</strong> Cajual e Livramento;d) apoio à expansão e consolidação da Saú<strong>de</strong> da Família mediante a implantação <strong>de</strong> 9equipes e capacitação <strong>de</strong> 70 agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> comunitários;e) elaboração <strong>do</strong> Plano Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Participativo;37 Fonte: RELATÓRIO <strong>Executivo</strong> <strong>do</strong> CENDSA (2007)


88f) início da construção <strong>de</strong> 252 moradias na área urbana <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>;g) implementação <strong>de</strong> um Balcão <strong>de</strong> Direitos em áreas <strong>de</strong> quilombolas <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>;h) implantação <strong>de</strong> 10 projetos <strong>de</strong> fomento à geração <strong>de</strong> trabalho e renda em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>economia solidária (Programa <strong>de</strong> Etno<strong>de</strong>senvolvimento Solidário das Comunida<strong>de</strong>sRemanescentes <strong>de</strong> Quilombos <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego);i) 410 crianças atendidas pelo serviço <strong>de</strong> proteção sócio-assistencial à infância ea<strong>do</strong>lescência <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Social e Combate à Fome;j) implementação <strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>;k) 1869 famílias atendidas pelo Programa Luz para To<strong>do</strong>s;l) apoio a 14 projetos <strong>de</strong> organizações extrativistas; em) a realização <strong>de</strong> campanha <strong>de</strong> educação ambiental para proteção e monitoramento <strong>do</strong>secossistemas <strong>de</strong> manguezais.Entretanto, segun<strong>do</strong> informações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s locais e fe<strong>de</strong>rais e <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s dasocieda<strong>de</strong> civil, após o término <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong> GEI e da vigência <strong>do</strong> ACT, que ocorreu nofinal <strong>de</strong> 2007, o foco governamental foi disperso. Conforme afirma no questionário orepresentante da prefeitura, “exceção feita ao Programa Luz Para To<strong>do</strong>s que ainda mantémalgumas ativida<strong>de</strong>s em <strong>Alcântara</strong>, restaram apenas os repasses constitucionais comuns a to<strong>do</strong>sos municípios brasileiros”, que ocorrem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da existência <strong>do</strong> GEI ou <strong>de</strong> qualqueroutra instituição.Apesar <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s pelo Relatório <strong>do</strong> CENDSA, muitas daquelas açõesou pararam totalmente ou ainda estão sen<strong>do</strong> executadas <strong>de</strong> forma bastante lenta. Exemplospo<strong>de</strong>m ser cita<strong>do</strong>s como a construção das 252 casas, cuja execução segue interrupta; o Balcão<strong>de</strong> Direitos não existe mais; a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>scentralizada <strong>do</strong> Centro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Educação Tecnológica <strong>do</strong> Maranhão <strong>–</strong> CEFET <strong>–</strong> após diversos problemas, somente em 2008começou a funcionar; e o Consórcio Social da Juventu<strong>de</strong> Quilombola foi interrompi<strong>do</strong> ten<strong>do</strong>em vista <strong>de</strong> problemas na prestação <strong>de</strong> contas da entida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> civil conveniada.


89Com isso, existe a percepção local <strong>de</strong> que o GEI trouxe poucas melhorias para a cida<strong>de</strong>,o que po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong> por alguns fatores.Ao analisar a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho, percebeu-se que havia pouca integração dasações, o que dificulta a compreensão <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>ria chegar com a sua execução.Conforme opina um representante <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego <strong>–</strong> MTE <strong>–</strong> noquestionário:A forma como o funcionamento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público está estrutura<strong>do</strong>fragmenta as <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong> civil organizada. A integração <strong>de</strong>ssasna ponta fica a cargo <strong>do</strong>s movimentos que não possuem instrumentos e nemmandatos para isso. Dessa forma, com a justificativa <strong>do</strong>s entravesburocráticos, o parcelamento das ações faz com que essas não cheguem naponta <strong>de</strong> forma integral e as comunida<strong>de</strong>s acabam por ter que contentar-secom parcelas das <strong>de</strong>mandas atendidas.Isso ocorreu pelo fato <strong>de</strong> seu planejamento possuir várias ações <strong>do</strong>s diversos Ministériosque faziam parte <strong>do</strong> GEI, e a articulação entre eles era provocada somente nas reuniões <strong>do</strong><strong>Grupo</strong> ou no CENDSA. Além disso, haviam ações que já ocorreriam <strong>de</strong> qualquer forma, poisse tratavam <strong>de</strong> transferências constitucionais, como as referentes à educação e à saú<strong>de</strong>.Segun<strong>do</strong> um representante <strong>do</strong> MTE, o monitoramento foi “bastante útil para validar oavanço e esforços <strong>de</strong> cada ministério, mas não focou a efetiva articulação/transversalida<strong>de</strong> dasações”. Este problema <strong>de</strong> articulação intragovernamental não é particular ao GEI, mas umacaracterística <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Brasileiro em geral.O fato é que as ações escolhidas foram baseadas no diagnóstico elabora<strong>do</strong> pelo GEI eacordadas com as comunida<strong>de</strong>s locais. Contu<strong>do</strong>, elas fazem parte <strong>de</strong> programas <strong>do</strong>srespectivos Ministérios, concebi<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> uma lógica técnica e política interna, e por maisque eles se encontrem no PPA, a estratégia para sua aplicação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da disposição <strong>de</strong>recursos políticos e financeiros estabeleci<strong>do</strong>s pelos agentes responsáveis pelo seugerenciamento. Isto significa que as ações existem e foram direcionadas à <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aum compromisso político, mas elas não foram <strong>de</strong>senhadas “especificamente” para omunicípio.Interessante ressaltar, neste aspecto, a opinião <strong>de</strong> representante da AEB constante noquestionário realiza<strong>do</strong> para subsidiar este trabalho, que levantou a questão supracitada.Segun<strong>do</strong> ele, “a meto<strong>do</strong>logia privilegiou pre<strong>do</strong>minantemente a oferta <strong>do</strong>s programas ou açõesjá estrutura<strong>do</strong>s ou existentes <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral, buscan<strong>do</strong> aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da


90comunida<strong>de</strong> (processo Top-Down), quan<strong>do</strong> o mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> seria um processo inverso(Bottom-Up)”.Essa percepção também é compartilhada pelas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil. Orepresentante <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE salientou que as políticas públicas <strong>do</strong> GEI foram “<strong>de</strong> cima parabaixo”, opinião também <strong>do</strong> ex-representante <strong>do</strong> Fórum DLIS que disse que “o problema é quevárias ações <strong>do</strong> governo já vêm prontas”.Tal fato <strong>de</strong>monstra que, apesar <strong>do</strong> governo ter se disposto a conhecer melhor a realida<strong>de</strong>das comunida<strong>de</strong>s para promover políticas a<strong>de</strong>quadas às suas <strong>de</strong>mandas, as ações, em suamaioria, vieram já pré-concebidas pelos Ministérios. Com isso, existe uma certa característicainstrumental no processo <strong>de</strong> participação social promovi<strong>do</strong> pelo GEI para a <strong>de</strong>finição dasações que, mesmo ten<strong>do</strong> dialoga<strong>do</strong> com a socieda<strong>de</strong> civil acerca das <strong>de</strong>mandas prioritáriaspara <strong>Alcântara</strong>, não visava a repartição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res políticos. Assim, permanece a idéia <strong>de</strong> queo processo não teve como resulta<strong>do</strong> políticas públicas elaboradas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um projetopolítico comum entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civilEsse ponto prejudicou a execução das ações, principalmente porque não se conseguiuestabelecer uma parceria com a socieda<strong>de</strong> civil. Nas palavras <strong>de</strong> representantes <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE 38 ,ao afirmar que “nós não fazemos parte <strong>de</strong>sse projeto” referin<strong>do</strong>-se ao projeto <strong>de</strong> implantação<strong>do</strong> CEA, percebe-se que o pronome “nós” não refere-se somente às comunida<strong>de</strong>s, mastambém, às entida<strong>de</strong>s locais da socieda<strong>de</strong> civil. A entida<strong>de</strong> reconhece os esforços <strong>do</strong> governoao criar um grupo interministerial para tratar das comunida<strong>de</strong>s quilombolas <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>,ressaltan<strong>do</strong> que <strong>de</strong>seja que o Programa Espacial dê certo, “mas que as comunida<strong>de</strong>s façamparte <strong>de</strong>le para que as políticas possam tirá-las da pobreza”.Portanto, com uma maior participação da socieda<strong>de</strong> civil no projeto e, também, commais esclarecimentos sobre a concepção <strong>do</strong> CEA, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>senvolver o capital social local eter maior a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação <strong>de</strong> seus cidadãos. Isto se explica, pois eles“aumentam os custos <strong>de</strong> transgressão, promovem sólidas regras <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, facilitam acomunicação entre os indivíduos e corporificam o êxito alcança<strong>do</strong> em colaboraçõesanteriores, crian<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo culturalmente <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para futuras colaborações” (PUTNAM,1996, p. 183).38 Sérvulo Borges e Inal<strong>do</strong> Faustino apresentaram tais <strong>de</strong>clarações à Agência Brasil <strong>de</strong> NotíciasFonte: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/07/11/materia.2007-07-11.6757186144/view.Acesso em: 13 jun. 2008.


91É possível que essas ações não tenham si<strong>do</strong> tratadas no plano por alguns motivos. Emprimeiro lugar, pelos problemas <strong>de</strong> integração salienta<strong>do</strong>s acima. Em segun<strong>do</strong> lugar, porqueelas não tiveram foco na sua perpetuação, uma vez que constavam em um plano que só tinhavalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos e não houve planejamento para ações complementares. A soluçãoproposta no relatório final <strong>do</strong> CENDSA, <strong>de</strong> criar um programa multisetorial <strong>de</strong> governo,coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo M<strong>MA</strong>, para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> é interessante, pois,<strong>de</strong>sta forma, as ações po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> forma mais articulada entre os Ministérios,ganham maior foco e continuida<strong>de</strong>. Inclusive, o M<strong>MA</strong> apresentou ao Comitê uma proposta <strong>de</strong>elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional sustentável para a região e um roteiropara sua confecção, que po<strong>de</strong>ria assim dar continuida<strong>de</strong> às ações no município,Por fim, a ausência <strong>de</strong> titulação da terra impe<strong>de</strong> a realização <strong>de</strong> algumas ações nomunicípio, assim como, dificulta a obtenção <strong>de</strong> crédito por parte <strong>do</strong>s cidadãos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Portanto, sem a regularização fundiária <strong>do</strong> território, não é possível se pensar em nenhummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento efetivo.É importante <strong>de</strong>stacar que à regularização fundiária <strong>de</strong> terras para as comunida<strong>de</strong>squilombolas é um tema que gera muita controvérsia, não só em <strong>Alcântara</strong>, mas também emoutros municípios <strong>do</strong> país.A Constituição Fe<strong>de</strong>ral, no seu artigo 68, regulamenta<strong>do</strong> pelo Decreto 4.887, <strong>de</strong> 2003,ao garantir o direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da terra às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos,gerou conflitos com proprietários <strong>de</strong> terras, organizações, governo e outras instituições, e quea regularização <strong>do</strong> território possuía limitações 39 .A polêmica em torno <strong>de</strong>sse assunto acarreta em atrasos na execução das ações <strong>de</strong>regularização fundiária <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Agrário <strong>–</strong>MDA. A questão fundiária foi bastante discutida com a socieda<strong>de</strong> civil, mas não se chegou aum consenso. Após um longo e difícil processo <strong>de</strong> negociação, capitanea<strong>do</strong> pelo Subgrupo <strong>de</strong>Regularização Fundiária e Meio Ambiente e da Moradia, foi elaborada uma proposta <strong>de</strong>governo pactuada pelos órgãos governamentais para a expansão <strong>do</strong> CEA, na qual, além da39 Existem limitações à regularização <strong>do</strong> território quilombola que ocorrem quan<strong>do</strong> as terrasrequisitadas estão registradas como particulares ou em áreas <strong>de</strong> proteção ambiental. Quan<strong>do</strong> existemregistros particulares, o Governo <strong>de</strong>verá provi<strong>de</strong>nciar a <strong>de</strong>sapropriação e a in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong>vida aosproprietários. Quanto à questão ambiental, as comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>de</strong>verãozelar pela perpetuação <strong>do</strong>s seus recursos não só para si e para os seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, mas parato<strong>do</strong>s. (SUNDFELD, 2002)


92<strong>de</strong>marcação das áreas em 14.303 hectares, é garanti<strong>do</strong> o não remanejamento <strong>de</strong> famílias. Aproposta foi apresentada às representações da socieda<strong>de</strong> civil em julho <strong>de</strong> 2006 ecomplementada em outubro por com um ca<strong>de</strong>rno com diversas perguntas e respostaselaboradas pelas comunida<strong>de</strong>s e seus representantes. Estas, por sua vez, solicitaram um prazo<strong>de</strong> 120 dias para analisá-la, mas até hoje não se manifestaram a respeito 40 .Para a elaboração <strong>de</strong>sta proposta, a AEB utilizou das informações fornecidas porsatélite, uma vez que foram impedidas pelas representações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> fazê-lo emcampo, fato que também ocorreu com o Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária<strong>–</strong> INCRA.As entida<strong>de</strong>s representantes da socieda<strong>de</strong> civil, por meio <strong>de</strong> carta enviada ao GEI,exigiram, em julho <strong>de</strong> 2006, a interrupção <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> georefenciamento <strong>do</strong> territóriopelo INCRA, pois técnicos da AEB estariam realizan<strong>do</strong> um levantamento paralelo para obterinformações sobre os aspectos socioeconômicos das famílias e fazer estu<strong>do</strong>s sobre aslimitações territoriais <strong>do</strong>s futuros sítios <strong>de</strong> lançamento, o que elas não aceitavam e queocasionou a <strong>de</strong>mora no processo.Salientaram que a interrupção <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong> INCRA foi pelo não esclarecimento dasintenções quanto ao início da regularização pelo sul <strong>do</strong> município, em vez <strong>de</strong> ser pelo litoral,on<strong>de</strong> estão previstos os futuros sítios <strong>de</strong> lançamento. Isto se traduz na tentativa das entida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> titular to<strong>do</strong> o território para <strong>de</strong>pois negociar a área para os sítios com o governo. Como oINCRA não retomou o trabalho pelo litoral como as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sejavam, entraram najustiça 41 para obrigá-lo a fazê-lo, como forma <strong>de</strong> “pressionar politicamente pela titulação <strong>de</strong>to<strong>do</strong> o território”, segun<strong>do</strong> representante <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE.Devi<strong>do</strong> a essa estratégia, também, é que os técnicos da AEB foram impedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ir acampo para mapear a área <strong>do</strong>s sítios, e não porque as comunida<strong>de</strong>s temiam que o CEA já seriaimplanta<strong>do</strong> ou porque o formulário utiliza<strong>do</strong> pelos técnicos da Agência para o levantamentosocioeconômico fosse muito confuso e extenso, conforme as entida<strong>de</strong>s apregoavam.Portanto, diante <strong>do</strong> exposto, <strong>de</strong>monstra-se que a posição <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>civil é a <strong>de</strong> regularizar to<strong>do</strong> o território, com exceção da área já ocupada pelo CLA, para<strong>de</strong>pois começar a negociar a implantação <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong> lançamento <strong>do</strong> CEA. A posição <strong>de</strong>40 Fonte: RELATÓRIO <strong>Executivo</strong> <strong>do</strong> CENDSA (2007, p. 6)41 Ação Civil Pública Processo nr. 2003.37.00.008868-2, São Luís (<strong>MA</strong>), 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.


93governo é reconhecer to<strong>do</strong> o território, com exceção das áreas <strong>do</strong> CLA, <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong>lançamento e <strong>de</strong> suas respectivas áreas <strong>de</strong> apoio. Como não houve acor<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> olevantamento <strong>do</strong> INCRA for finaliza<strong>do</strong>, ele será envia<strong>do</strong> ao Presi<strong>de</strong>nte da República, que irá<strong>de</strong>finir os limites <strong>do</strong> território que constarão no relatório que será publica<strong>do</strong>, o qual po<strong>de</strong>rá,ainda, sofrer interpelações judiciais pelas partes que se sentirem prejudicadas.Pelo que foi apresenta<strong>do</strong>, a meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada pelo GEI-<strong>Alcântara</strong>, mesmo com osproblemas e <strong>de</strong>ficiências cita<strong>do</strong>s, representou uma iniciativa governamental em aten<strong>de</strong>r a umapremissa <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável que se traduz na promoção <strong>do</strong> diálogo com osdiversos atores, principalmente os locais, na formulação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação conjunto para aimplementação <strong>de</strong> políticas públicas. No entanto, para um planejamento em prol <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento sustentável, ficou muito aquém <strong>do</strong> necessário.O estabelecimento <strong>de</strong> parceria com a socieda<strong>de</strong> civil não foi eficaz, o que prejudicou acooperação e a busca pelo consenso para resolver o impasse em <strong>Alcântara</strong>. Tal fato foireconheci<strong>do</strong> por 90% <strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>ntes ao questionário que concordam que o GEI nãoconseguiu obter o consenso nem entre os órgãos governamentais, nem com as entida<strong>de</strong>s dasocieda<strong>de</strong> civil.Diante disso, será analisa<strong>do</strong>, em seguida, como ocorreu a articulação <strong>do</strong>s atoresgovernamentais e da socieda<strong>de</strong> civil, seus interesses e motivações, que caracterizaram oprocesso <strong>de</strong> participação no âmbito <strong>do</strong> GEI, que dificultaram a elaboração <strong>do</strong> consenso sobreprojeto <strong>de</strong> futuro conjunto para o município.3.3 A PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS3.3.1 A articulação Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> Esta<strong>do</strong>O GEI <strong>de</strong>finiu seus integrantes consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os seguintes aspectos:a) as pastas ministeriais que po<strong>de</strong>riam contribuir para a promoção <strong>de</strong> políticasvoltadas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, como o M<strong>MA</strong>, o MDA e o<strong>MA</strong>PA;


94b) aquelas envolvidas diretamente no contencioso, como o Coman<strong>do</strong> daAeronáutica, o Ministério da Defesa, a AEB e a Secretaria Especial <strong>de</strong> Políticas<strong>de</strong> Promoção da Igualda<strong>de</strong> Racial, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos pre<strong>do</strong>minantes em <strong>Alcântara</strong>;c) aquelas relacionadas à infra-estrutura, como o Ministério <strong>de</strong> Minas e Energia e oda Saú<strong>de</strong>; ed) a Advocacia Geral da União <strong>–</strong> AGU <strong>–</strong> como convidada permanente, paraacompanhar os aspectos jurídicos <strong>do</strong> projeto.Entretanto, no início, o GEI não era forma<strong>do</strong> pelos 23 órgãos fe<strong>de</strong>rais. AlgunsMinistérios como o M<strong>MA</strong>, o <strong>MA</strong>PA e o MDS, só foram incluí<strong>do</strong>s três meses <strong>de</strong>pois, o que<strong>de</strong>monstra certa dificulda<strong>de</strong> inicial <strong>do</strong> governo em compreen<strong>de</strong>r a lógica multisetorial queenvolvia a questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e a concepção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.Uma iniciativa governamental com a presença <strong>de</strong> tantos órgãos fe<strong>de</strong>rais não é muitocomum no Esta<strong>do</strong> brasileiro, principalmente para promover políticas para apenas ummunicípio. Obviamente, isto só ocorreu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à particularida<strong>de</strong> que envolve <strong>Alcântara</strong>. Um<strong>de</strong>safio, portanto, era, por meio das discussões e articulações, se chegasse a propostasalinhadas com os objetivos <strong>do</strong> GEI e que gerasse posições coesas <strong>de</strong> governo.Conforme salienta Evans (2004), a coerência burocrática interna <strong>de</strong>ve ser vista comouma precondição essencial para a participação efetiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nas re<strong>de</strong>s externas. Se oEsta<strong>do</strong> não apresenta um posicionamento único em uma negociação com a socieda<strong>de</strong>, ele nãoconsegue transmitir segurança no processo, o que prejudica a busca pelo consenso. De acor<strong>do</strong>com Martins (1994, p. 209), “quanto menor o grau <strong>de</strong> coesão <strong>do</strong> sistema estatal, menor o grau<strong>de</strong> autonomia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> enquanto direção política para propor e executar um projeto <strong>de</strong> umasocieda<strong>de</strong> futura”. Inclusive, a dificulda<strong>de</strong> na formação <strong>de</strong> uma posição única <strong>de</strong> governo,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às diferentes correntes existentes no âmbito <strong>do</strong> GEI, foi consi<strong>de</strong>rada no questionário asegunda principal causa da não obtenção <strong>do</strong> consenso com a socieda<strong>de</strong> civil, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> apenaspara a <strong>de</strong>sconfiança provocada pelo passivo histórico com as comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Além disso, existe o risco <strong>do</strong>s agentes estatais responsáveis pela implementação <strong>de</strong>políticas públicas influenciarem na sua execução, apoian<strong>do</strong> grupos sociais <strong>de</strong> influência que


95possam ameaçar o projeto estratégico <strong>do</strong> Governo, uma vez que eles po<strong>de</strong>m ter consi<strong>de</strong>rávelpo<strong>de</strong>r discricionário para realizar suas tarefas. Estes corpos <strong>de</strong> indivíduos mantêm contatosfreqüentes com superiores nacionais e regionais, mas, ocasionalmente, também interagemcom os clientes <strong>do</strong> programa, com outros agentes governamentais, parti<strong>do</strong>s políticos e com osoponentes <strong>do</strong> programa no nível local.Como os grupos em <strong>de</strong>fesa das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos,principalmente, os liga<strong>do</strong>s aos movimentos negros, apresentam um nível <strong>de</strong> organizaçãoconsistente, eles conseguem influenciar nas políticas no nível nacional que, por sua vez,inibem a atuação no nível local, uma vez que os responsáveis pela implementação <strong>de</strong> políticaspúblicas raramente tomarão atitu<strong>de</strong>s que possuam uma resistência forte da socieda<strong>de</strong>, sem queo Esta<strong>do</strong> dê o respal<strong>do</strong> necessário. Por isso, o ACT foi importante, na medida em queprotegeu seus oficiais <strong>de</strong> outros grupos <strong>de</strong> pressão.Neste contexto, nos interessa analisar o GEI acerca da sua unida<strong>de</strong> “substantiva”(<strong>MA</strong>RTINS, 1994, p. 206) que se refere à matéria político-i<strong>de</strong>ológica e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,fundamentalmente, <strong>do</strong> consenso construí<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> um projeto hegemônico ou estratégia<strong>de</strong> governo.Conseguir essa unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> posições em um grupo com 23 órgãos <strong>de</strong> pastas diversas éum processo bastante complexo. Analisan<strong>do</strong> as atas, percebe-se uma clara divisão <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>,o que foi confirma<strong>do</strong> pelas percepções salientadas no questionário, em:• os que estavam posiciona<strong>do</strong>s mais próximos às entida<strong>de</strong>s representantes dascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> (M<strong>MA</strong>, SEPPIR, SPU);• os que estavam posiciona<strong>do</strong>s mais próximos a uma posição <strong>de</strong> governopactuada com a socieda<strong>de</strong> civil (MDS, AEB, Casa Civil, MCida<strong>de</strong>s, MinC,MME, MTE, SEAP, MDA);• os que estavam posiciona<strong>do</strong>s mais próximos ao CLA (CO<strong>MA</strong>er e MD)cujos representantes negavam a existência <strong>de</strong> algum passivo histórico comas comunida<strong>de</strong>s e para os quais as negociações <strong>de</strong>veriam ter um viés maisgovernamental em <strong>de</strong>trimento da participação da socieda<strong>de</strong> civil; e


96• os que não participavam das discussões e que estavam presentes <strong>–</strong> quan<strong>do</strong>estavam <strong>–</strong> somente para acompanhamento e realização <strong>de</strong> suas ações (MEC,MS, <strong>MA</strong>PA, SEDH, MCT).Essa divisão também estava clara para alguns representantes da socieda<strong>de</strong> civil. O exrepresentante<strong>do</strong> Fórum DLIS, disse, por exemplo, que o “governo não teve unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>atuação”. Cabe ressaltar que os posicionamentos tiveram certa dinâmica, isto é, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><strong>do</strong> representante que estava presente, ele se manifestava mais próximo <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong>governo ou mais a favor das representações das comunida<strong>de</strong>s quilombolas.Isso ocorre, pois, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da relação que possuam com seus respectivos Ministérios,os representantes governamentais ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r em espaços participativos suas própriasopiniões em vez das <strong>de</strong> seus órgãos <strong>de</strong> origem. Assim, conforme afirma Tatagiba (2002), oscompromissos assumi<strong>do</strong>s por representantes <strong>do</strong> governo po<strong>de</strong>m ser interpreta<strong>do</strong>s como <strong>de</strong>caráter pessoal e não como compromissos a serem honra<strong>do</strong>s pelas instituições. Esse foi um<strong>do</strong>s motivos pelo qual o GEI <strong>de</strong>cidiu a<strong>do</strong>tar o ACT, ten<strong>do</strong> como signatários os Ministros <strong>de</strong>cada pasta.Sobre essa divisão interna, alguns fatos po<strong>de</strong>m ser comenta<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> da assinatura<strong>do</strong> ACT, conforme já foi fala<strong>do</strong>, o CO<strong>MA</strong>er <strong>de</strong>cidiu não fazê-lo por discordar <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seuconteú<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, o Ministério da Defesa, ao qual ele é subordina<strong>do</strong> assinou o Acor<strong>do</strong>,<strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong> articulação entre ambos.A Secretaria <strong>de</strong> Patrimônio da União <strong>–</strong> SPU, órgão governamental cuja <strong>de</strong>nominação jápressupõe suas atribuições, <strong>de</strong>monstrou nas reuniões <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> o posicionamento <strong>de</strong> seusrepresentantes ao se manifestarem mais a favor <strong>do</strong> direito das comunida<strong>de</strong>s, e não <strong>do</strong> órgão,que seria o <strong>de</strong> zelar pelo patrimônio imobiliário da União ou, pelo menos, se abster.Um outro exemplo foi o <strong>do</strong> MDA, mas no seu caso, a mudança <strong>de</strong> representante fezcom que o Ministério migrasse <strong>de</strong> uma postura mais <strong>de</strong>fensora das comunida<strong>de</strong>s quilombolaspara uma mais alinhada com uma posição <strong>de</strong> governo.A Secretaria Especial <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong> Igualda<strong>de</strong> Racial <strong>–</strong> SEPPIR <strong>–</strong> órgãoque <strong>de</strong>veria ser um ator principal na articulação <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> GEI <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à temática envolvida,apesar da pouca força política, representou, inicialmente, um papel mais ativo junto aosrepresentantes da socieda<strong>de</strong> civil. Com a mudança <strong>de</strong> seu representante, a sua participação


97passou a ser muito aquém <strong>do</strong> que se espera <strong>de</strong> um órgão cria<strong>do</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoverpolíticas <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> racial.A SEPPIR <strong>de</strong>veria ser a responsável pela coor<strong>de</strong>nação e a articulação institucional entreos agentes estatais e as representações das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> para promover ações emprol <strong>do</strong> etno<strong>de</strong>senvolvimento. Contu<strong>do</strong>, apesar <strong>de</strong> avanços, a Secretaria <strong>de</strong>monstroudificulda<strong>de</strong>s em realizar as suas atribuições e cumprir com seus objetivos. Este fato po<strong>de</strong> seratribuí<strong>do</strong> à sua breve existência <strong>–</strong> foi criada em 21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003 <strong>–</strong>, o que po<strong>de</strong> acarretarem <strong>de</strong>ficiências em seu quadro funcional, com poucos servi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> carreira e muitos agentesliga<strong>do</strong>s a movimentos sociais e ao parti<strong>do</strong> político que controla a pasta ministerial,ocasionan<strong>do</strong> a ausência <strong>de</strong> “histórico” governamental, a in<strong>experiência</strong> para se organizarpoliticamente e administrativamente no âmbito <strong>do</strong> governo e a dificulda<strong>de</strong> em executar seuorçamento.Por exemplo, entre 2004 e 2006, o governo <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> utilizar cerca <strong>de</strong> R$ 100 milhõesna promoção <strong>de</strong> direitos das comunida<strong>de</strong>s quilombolas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, o que representacerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> orçamento previsto para o perío<strong>do</strong>. O gargalo maior está no principal<strong>de</strong>stino <strong>do</strong>s recursos: o Programa Brasil Quilombola, que teve uma execução orçamentáriaainda menor que a média geral. Dos R$ 101,4 milhões previstos para as ações <strong>do</strong> programaentre 2004 e 2006, apenas 32,3% (R$ 32,84 milhões) foram realmente utiliza<strong>do</strong>s. Em 2007, <strong>de</strong>R$ 34,6 milhões autoriza<strong>do</strong>s para a SEPPIR, R$ 9,1 milhões foram gastos até o início <strong>de</strong>novembro, ou seja, somente 26%, faltan<strong>do</strong> menos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is meses para o encerramento<strong>do</strong> ano. 42 Em 2008, boa parte <strong>do</strong> seu orçamento está <strong>de</strong>stinada para ações <strong>de</strong> capacitação <strong>do</strong>sseus servi<strong>do</strong>res.Em virtu<strong>de</strong> disso, o M<strong>MA</strong> sempre se mostrou bem mais articula<strong>do</strong> com as organizaçõesda socieda<strong>de</strong> civil, relegan<strong>do</strong> a SEPPIR a um papel secundário. Um <strong>de</strong>poimento interessantefoi o da representante <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s Tradicionais da Secretaria <strong>de</strong>Assistência Social <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> 43 , que ressaltou que o M<strong>MA</strong> é o órgão governamental maispróximo das entida<strong>de</strong>s, participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> diversas reuniões com as comunida<strong>de</strong>s. Por outrola<strong>do</strong>, ela disse que, com isso, as entida<strong>de</strong>s sempre recebiam informações <strong>do</strong> que era trata<strong>do</strong>internamente no âmbito <strong>do</strong> governo, o que permitia que elas preparassem os seus argumentospara “fazer a cabeça das comunida<strong>de</strong>s contra o CEA”.42 Fonte: http://contasabertas.uol.com.br/asp/. Acesso em 13 nov 2007.43 Depoimento presta<strong>do</strong> pela Sra. Maria <strong>do</strong> Nascimento em 9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008.


98Este fato exemplifica que a falta <strong>de</strong> coesão interna <strong>do</strong> governo ocasiona problemas emum processo <strong>de</strong> negociação, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> laços políticos e i<strong>de</strong>ológicos fortesentre órgãos estatais e os movimentos sociais. Isso ocorre, entre outros motivos, pelo fato <strong>de</strong>muitos <strong>do</strong>s agentes governamentais ou fizeram ou fazem parte <strong>do</strong>s movimentos, o que facilitaessa relação.É importante registrar, em relação aos governos estadual e municipal, a participaçãopraticamente nula <strong>do</strong> primeiro, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> falta <strong>de</strong> interesse quanto ao assunto e osbenefícios que possam advir <strong>do</strong> PNAE, diferentemente da prefeitura, que participouativamente <strong>de</strong> todas as discussões.Além disso, fora o impacto da rotativida<strong>de</strong> já <strong>de</strong>scrito, a redução da assiduida<strong>de</strong> <strong>do</strong>sparticipantes nas reuniões <strong>do</strong> GEI <strong>de</strong>monstrava a baixa importância que os seus órgãosestavam conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às discussões e, conseqüentemente, o pouco estímulo com a rotina <strong>de</strong>reuniões semanais durante um significativo espaço <strong>de</strong> tempo, o que fortalece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prazos curtos para a consecução <strong>do</strong>s objetivos <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> trabalho.Ainda neste contexto, a <strong>experiência</strong> adquirida pelos servi<strong>do</strong>res públicos, traduzida emexpertise e memória, reflete o julgamento <strong>do</strong>s mesmos sobre os problemas sociais e aefetivida<strong>de</strong> das opções disponíveis para resolvê-los. E, como já fala<strong>do</strong> neste capítulo, muitaspolíticas públicas foram geradas internamente, sem refletir a influência <strong>de</strong> atores sociais,posição refletida na opinião da representante <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Turismo que respon<strong>de</strong>u aoquestionário, ao afirmar que “muitas instituições <strong>de</strong>cidiram, diante da avaliação que fizeramno município, que ações realizariam, sem levar em consi<strong>de</strong>ração as <strong>de</strong>mandas dacomunida<strong>de</strong>”.Daí vem a dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong> GEI em articular e integrar as ações propostas pelosMinistérios uma vez que, conforme já dito, apesar <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong> direcionadas para <strong>Alcântara</strong>,a maioria das ações não foram “<strong>de</strong>senhadas” para <strong>Alcântara</strong>, isto é, já existiam no âmbito <strong>do</strong>sprogramas <strong>do</strong> PPA <strong>de</strong> cada órgão e foram <strong>de</strong>stinadas à <strong>Alcântara</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao compromisso como GEI. Portanto, como dito antes, elas não são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das diretrizes políticas <strong>do</strong>stitulares ministeriais e <strong>do</strong>s grupos sociais aos quais estes são liga<strong>do</strong>s ou que lhes fazempressão.Diante <strong>do</strong> exposto, não é possível consi<strong>de</strong>rarmos que o plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> GEI seja fruto<strong>de</strong> um planejamento articula<strong>do</strong> e integra<strong>do</strong>, com etapas seqüenciais e complementares,


99direcionadas para atingir metas e objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e que permitam um controlesocial a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. Mesmo ten<strong>do</strong> busca<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> por meio damanifestação da população e da socieda<strong>de</strong> civil, as ações <strong>de</strong>finidas tiveram as limitaçõesburocráticas características da esfera governamental.Por outro la<strong>do</strong>, possibilitou aos agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> conhecerem uma realida<strong>de</strong> distante ecompreen<strong>de</strong>rem as <strong>de</strong>mandas e os interesses envolvi<strong>do</strong>s na causa <strong>do</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociação das organizações sociais ligadas à questãodas comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos. Foi possível, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a representante<strong>do</strong> MTE, <strong>de</strong>scortinar o “outro la<strong>do</strong> da moeda”, referente a questões socioeconômicas <strong>de</strong> umaparcela da população invisível para o país.Segun<strong>do</strong> a representante <strong>do</strong> M<strong>MA</strong>, “este novo procedimento promove oamadurecimento político tanto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> quanto <strong>do</strong> cidadão”, o que é condição essencial paraa busca <strong>do</strong> consenso.Outro ponto foi ter consegui<strong>do</strong> o compromisso político governamental, por meio <strong>do</strong>ACT, em garantir a execução das ações e criar comitês para monitorá-las. E apesar dasdivergências internas, to<strong>do</strong>s os participantes <strong>do</strong> GEI que respon<strong>de</strong>ram ao questionário,afirmaram que tanto a viabilização <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro quanto o<strong>de</strong>senvolvimento das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> têm o mesmo nível <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>. Istosignifica que to<strong>do</strong>s parecem ter, pelo menos, a disposição para buscar o consenso.Mas o trabalho <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> será perdi<strong>do</strong> no tempo se não tiver continuida<strong>de</strong>,afirmação com a qual concordam praticamente to<strong>do</strong>s no <strong>Grupo</strong>. A sugestão <strong>de</strong> se criar umprograma multisetorial específico para o município, apresentada no relatório final <strong>do</strong>CENDSA, não foi levada à frente, pois nada neste senti<strong>do</strong> consta no novo PPA 2008-2011.Os próprios membros <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> não apresentaram no questionário uma posiçãocomum sobre a continuida<strong>de</strong> das ações. Alguns não sabem se as ações terão continuida<strong>de</strong>,outros afirmam que os ministérios não per<strong>de</strong>riam o foco (o que já ocorreu) ou que será cria<strong>do</strong>outro arranjo institucional para esse fim.Esse fato reforça ainda mais a idéia <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> estará sobresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um órgão governamental nos próximos anos: O Ministério da Ciência eTecnologia, na figura da Agência Espacial Brasileira. Como ela está envolvida diretamente


100com o projeto <strong>do</strong> CEA, a entida<strong>de</strong> se manterá presente realizan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s e investimentos queinfluenciarão na vida da população local.O problema está na falta <strong>de</strong> força política da autarquia, o que provoca incerteza quanto àevolução <strong>do</strong> processo e como ela ocorrerá. Para que ela consiga cumprir os objetivos previstospara <strong>Alcântara</strong>, ela precisará <strong>do</strong> “patrocínio” presi<strong>de</strong>ncial, que po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com operfil <strong>do</strong> governante e com o grau <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s grupos sociais tantonacionais quanto estrangeiros.Essas condicionantes <strong>de</strong> cenário po<strong>de</strong>m influenciar na forma como ocorrerá esse<strong>de</strong>senvolvimento no futuro. A AEB vem realizan<strong>do</strong> ações que envolvem a participação dascomunida<strong>de</strong>s como, por exemplo, os povoa<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes nas agrovilas, os quais serão focodas primeiras medidas socioambientais, mas não se po<strong>de</strong> garantir como as etapas serão<strong>de</strong>senvolvidas no futuro. Provavelmente, será com a AEB que as representações da socieda<strong>de</strong>civil terão <strong>de</strong> negociar e <strong>de</strong>senvolver projetos conjuntos, bem como, ela que <strong>de</strong>verá buscar asparcerias com outros Ministérios para a execução <strong>de</strong> ações conjuntas.Apesar <strong>do</strong>s investimentos já realiza<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> já firma<strong>do</strong> com a Ucrânia para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Cyclone-4, existe, ainda, a incerteza quanto ao andamento <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong>PNAE, pois, como aconteceu no Governo Collor, os investimentos po<strong>de</strong>m ser interrompi<strong>do</strong>s<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com uma <strong>de</strong>terminação política <strong>de</strong> governo. Portanto, o i<strong>de</strong>al é que a concepção <strong>do</strong>PNAE fosse uma estratégia <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> consolidada e reconhecida pela socieda<strong>de</strong>, e menosvulnerável às mudanças nas li<strong>de</strong>ranças políticas.No entanto, o processo é complexo e tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>mora<strong>do</strong>. Tanto a obtenção <strong>do</strong>licenciamento ambiental para a construção <strong>de</strong> algumas estruturas <strong>de</strong> apoio ao CEA quanto oprocesso licitatório da construção da infra-estrutura <strong>de</strong> apoio ao CLA, cujos valores envolvemcerca <strong>de</strong> R$ 660 milhões, já estão em andamento há alguns anos. Cabe ressaltar que 5% <strong>de</strong>ssemontante será <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> às medidas socioambientais a serem implementadas em <strong>Alcântara</strong>,prioritariamente nas agrovilas, que serão i<strong>de</strong>ntificadas por meio <strong>de</strong> oficinas realizadas pelaAEB e as comunida<strong>de</strong>s, e respeitan<strong>do</strong> as diretrizes estabelecidas no ACT.Diante disso, para que a implantação <strong>do</strong> CEA gere o “bolsão <strong>de</strong> eficiência” espera<strong>do</strong> epromova o <strong>de</strong>senvolvimento regional sustenta<strong>do</strong>, o processo tem que ser consistente etransparente e <strong>de</strong>ve apresentar resulta<strong>do</strong>s significativos que justifiquem os investimentosgovernamentais realiza<strong>do</strong>s e garantam a força política necessária à sua continuida<strong>de</strong>.


101Não adianta haver um esforço intragovernamental para tentar reduzir a <strong>de</strong>sconfiança dascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, se o Programa, que será o gran<strong>de</strong> patrocina<strong>do</strong>r <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> município, não apresenta uma evolução perceptível. E “quanto maiscomplexa a troca no tempo e espaço, mais complexa e custosas são as instituições necessáriaspara concretizar resulta<strong>do</strong>s cooperativos” (NORTH, 1996, p. 58).Quan<strong>do</strong> esses investimentos estiverem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s e a população <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>perceber as melhorias em sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>–</strong> melhorias estas <strong>de</strong>finidas em conjunto comas comunida<strong>de</strong>s <strong>–</strong>, o projeto ganhará a legitimida<strong>de</strong> e a estabilida<strong>de</strong> política necessária parauma parceria efetiva entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong>.3.3.2 A articulação Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> Socieda<strong>de</strong>A questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> é complexa, pois envolve o conflito entre artigos constitucionaisconsubstancia<strong>do</strong>s na garantia às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>do</strong> direito à terra ena necessária promoção da tecnologia pelo Governo Brasileiro. Qualquer <strong>de</strong>cisão que fortomada trará vantagens e custos para o outro la<strong>do</strong>.Caso seja garantida à posse da terra às comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> da forma que asorganizações da socieda<strong>de</strong> civil preten<strong>de</strong>m, isto é, titular to<strong>do</strong> o território com exceção daatual área <strong>do</strong> CLA, respeita-se um direito adquiri<strong>do</strong> e auxilia-se na preservação da culturalocal, mas, por outro la<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se inviabilizar a expansão <strong>do</strong> CEA, prejudicar acor<strong>do</strong>s jáassumi<strong>do</strong>s, como o da construção <strong>do</strong> Cyclone-4, e, principalmente, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> beneficiardiretamente a própria população local e as da região próxima, além <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentotecnológico nacional.Caso a titulação seja feita como o Governo preten<strong>de</strong>, isto é, reduzir a área <strong>de</strong>sapropriadapara a área <strong>do</strong> CLA mais as áreas <strong>do</strong>s sítios pretendi<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>-se alcançar os benefícios daexpansão tecnológica pretendida, mas não se garantirá plenamente o direito das comunida<strong>de</strong>s,po<strong>de</strong>-se prejudicar a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas tradições e formas <strong>de</strong> organização social eeconômica e, ainda, há o risco <strong>do</strong> programa espacial ser interrompi<strong>do</strong> como no passa<strong>do</strong> ounão ocorrer o <strong>de</strong>senvolvimento conforme o espera<strong>do</strong>.Portanto, a conciliação <strong>de</strong>ssa questão realmente é difícil, mas necessária, pois tantosocieda<strong>de</strong> civil quanto governo tem legitimida<strong>de</strong> em seus pleitos. E para isso ocorrer, o


102Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve estabelecer um diálogo transparente e efetivo com as comunida<strong>de</strong>s locais eorganizações sociais para resolver os problemas que emperram o andamento da negociação.O atual governo tem a intenção, ainda que incipiente, <strong>de</strong> permitir a participação socialna gestão e na formulação <strong>de</strong> políticas públicas 44 , o que gera o compromisso eresponsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cidadãos na sua execução e possibilita a partilha <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. Acomunicação e a compreensão <strong>do</strong>s objetivos tornam-se muito mais rápidas e claras, o que geramaior efetivida<strong>de</strong> na implementação das ações.Por um la<strong>do</strong>, essa postura é uma oportunida<strong>de</strong> importante para o empo<strong>de</strong>ramento dasocieda<strong>de</strong> civil, da qual os movimentos sociais são o “coração institucional” (GRAU, 1998, p.57) <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua proximida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s e ao fato <strong>de</strong> serem o espaço institucional nosquais ocorrem a interação comunicativa. Por outro la<strong>do</strong>, as discussões po<strong>de</strong>m não conseguirser objetivas e o processo <strong>de</strong>cisório se tornar ineficiente, caso as organizações da socieda<strong>de</strong>civil se tornem “agressivas, autoritárias e intolerantes” e que passem “a negar a política, o<strong>de</strong>bate e a corresponsabilida<strong>de</strong> que significariam o fortalecimento da socieda<strong>de</strong> civil em face<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” (<strong>MA</strong>RTINS, 2000, p. 273).É importante fazer uma ressalva quanto a este último ponto, pois não quer dizer que asorganizações da socieda<strong>de</strong> civil que participaram da interlocução com o GEI atuaram daquelaforma. Apenas algumas <strong>de</strong>las, cujas participações foram bastante ativas, se apresentaram <strong>de</strong>forma mais eloqüente e com as quais o diálogo foi mais difícil. Neste contexto, ainflexibilida<strong>de</strong> nas posições das entida<strong>de</strong>s representantes das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> que mais participaram <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> negociação com o GEI foiconsi<strong>de</strong>rada nos resulta<strong>do</strong>s da aplicação <strong>do</strong> questionário, um <strong>do</strong>s principais obstáculos aoconsenso.Ainda segun<strong>do</strong> Martins (1994), a participação social po<strong>de</strong> ser analisada a partir <strong>de</strong> trêspontos <strong>de</strong> vista distintos: i<strong>de</strong>ológico, político e técnico. A postura i<strong>de</strong>ológica se baseia nascrenças, valores e atitu<strong>de</strong>s por meio das quais os indivíduos se posicionam frente àsinstituições da socieda<strong>de</strong> existente e imaginam as coisas tal como <strong>de</strong>veriam ser. A dimensãopolítica refere-se a quem participa e quem <strong>de</strong>ve participar, o que varia com a ótica <strong>de</strong> centrodireita<strong>–</strong> limitada aos membros mais proeminentes da coletivida<strong>de</strong> <strong>–</strong> ou <strong>de</strong> centro-esquerda <strong>–</strong>44 Des<strong>de</strong> o PPA 2004-2007, a participação social é um princípio nortea<strong>do</strong>r para o planejamentogovernamental. Para o PPA 2008-2011, foi cria<strong>do</strong> um grupo interministerial coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela CasaCivil da Presidência da República para tratar da questão.


103na qual <strong>de</strong>ve-se dar vez e voz aos sujeitos sociais subalternos que não dispõem das condiçõesa<strong>de</strong>quadas para intervir no processo governamental. Por fim, a dimensão técnica, que presumea participação politicamente neutra, como contribuição positiva que interessa também ao bomfuncionamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a melhoria <strong>do</strong> entrosamento Esta<strong>do</strong> <strong>–</strong> socieda<strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a dimensão política, os movimentos sociais, as Organizações Não-Governamentais <strong>–</strong> ONGs e <strong>de</strong>mais associações, representam, um papel importante, poispermitem o aumento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r social, auxilian<strong>do</strong> na organização e articulação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s carentes e trabalhan<strong>do</strong> pela sua valorização.No entanto, Segun<strong>do</strong> Dagnino (2002, p. 291) “há um <strong>de</strong>slocamento no entendimento darepresentativida<strong>de</strong>, tanto por parte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> quanto por parte <strong>de</strong> atores da socieda<strong>de</strong> civil”.No caso das ONGs, se <strong>de</strong>sloca para o conhecimento específico que provém <strong>do</strong> vínculo quepossuem com <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s setores sociais, fazen<strong>do</strong> com que muitas ONGs passem a se vercomo “representantes da socieda<strong>de</strong> civil”. Essa representativida<strong>de</strong> adviria então muito mais <strong>de</strong>uma coincidência entre os interesses <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> setor social e os <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>s pelas ONGs<strong>do</strong> que <strong>de</strong> uma articulação explícita, ou relação orgânica, entre estas e os porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>stesinteresses. Levan<strong>do</strong> este aspecto para o contexto das representações das comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos, Sanchez (2004, p. 39) salienta:Os que <strong>de</strong> fato se vêem e se auto<strong>de</strong>nominam como tal são principalmenteaqueles que tomam parte nos movimentos sociais, que se relacionam comelementos progressistas da Igreja Católica, que militam em parti<strong>do</strong>s <strong>de</strong>esquerda e que, portanto, fazem parte <strong>de</strong> um grupo militante mais presentenos <strong>de</strong>bates públicos [...] Para esses, a afirmação <strong>de</strong> que “somosremanescentes <strong>de</strong> quilombo” tem um senti<strong>do</strong> real, cria uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coma questão negra, resgata seu histórico <strong>de</strong> espoliação, abre espaço para areivindicação <strong>de</strong> direitos e dá senti<strong>do</strong> às suas práticas.Os militantes enxergam o conceito <strong>de</strong> quilombo como um elemento aglutina<strong>do</strong>r, capaz<strong>de</strong> nortear os pleitos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s cruciais à mudança, proporcionan<strong>do</strong> a sustentação socialnecessária à afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negra.Esse <strong>de</strong>slocamento da noção <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> “não é obviamente inocente nem emsuas intenções nem em suas conseqüências políticas” (DAGNINO, 2002, p. 291). No caso dasONGs, esse fato também é reforça<strong>do</strong> pelos governos e pelas agências internacionais,resultan<strong>do</strong> numa crescente i<strong>de</strong>ntificação entre elas e a socieda<strong>de</strong> civil.


104Em <strong>Alcântara</strong>, constatou-se que a consciência <strong>de</strong> remanescente <strong>de</strong> quilombos pelascomunida<strong>de</strong>s é recente, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> visitas e esclarecimentos por parte <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s ligadasaos movimentos negros como o <strong>MA</strong>BE, o Centro <strong>de</strong> Cultura Negra <strong>do</strong> Maranhão <strong>–</strong> CCN e aAssociação das Comunida<strong>de</strong>s Negras Rurais Quilombolas <strong>do</strong> Maranhão <strong>–</strong> ACONERUQ. Comisso, elas, ao menos, a<strong>de</strong>quaram o seu discurso público ao rótulo jurídico. Comoconseqüência, tais organizações são consi<strong>de</strong>radas, mesmo que <strong>de</strong> forma não unânime, comorepresentantes das comunida<strong>de</strong>s perante o Governo Fe<strong>de</strong>ral.Entretanto, como será visto mais adiante, esta consciência por parte das comunida<strong>de</strong>stem um caráter instrumental, na medida em que tiveram conhecimento <strong>do</strong>s benefícios egarantias que tal <strong>de</strong>nominação po<strong>de</strong> trazer.De qualquer forma, o GEI representou uma iniciativa estatal para ampliar essarepresentação social, oferecen<strong>do</strong> uma nova oportunida<strong>de</strong> política para que antigos e novossujeitos participassem da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Contu<strong>do</strong>, conforme afirma Putnam (1996, p.191), “o contexto e a história condicionam profundamente o <strong>de</strong>sempenho das instituições” e,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao conflito provoca<strong>do</strong> pelos problemas ocorri<strong>do</strong>s na implantação <strong>do</strong> CLA e aomovimento pela regularização fundiária <strong>do</strong> território quilombola, o GEI encontrou um cenáriocom uma sólida mobilização da socieda<strong>de</strong> civil contra o projeto <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong> CentroEspacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Com a garantia <strong>do</strong> direito à terra estabelecida na CF <strong>de</strong> 1988 e no Decreto 4.887 <strong>de</strong>2003 aos remanescentes <strong>de</strong> quilombos, ocorreu uma maior coesão <strong>do</strong>s grupos sociaisenvolvi<strong>do</strong>s com a causa <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, que passaram a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r interesses mais comunitários,basea<strong>do</strong>s na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica, na regularização fundiária e contra uma política <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnização consi<strong>de</strong>rada como imposta pelo Esta<strong>do</strong>.Neste contexto, está um aspecto importante no contencioso <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Asorganizações ligadas à <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos,como a ACONERUQ, a Coor<strong>de</strong>nação Nacional das Comunida<strong>de</strong>s Negras Rurais Quilombolas<strong>–</strong> CONAQ <strong>–</strong> e o CCN, alia<strong>do</strong>s ao <strong>MA</strong>BE <strong>–</strong> foram as entida<strong>de</strong>s que tomaram a frente dasnegociações com o GEI-<strong>Alcântara</strong>, fortaleci<strong>do</strong>s pela questão <strong>do</strong> direito étnico, em <strong>de</strong>trimento,por exemplo, <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res e Trabalha<strong>do</strong>ras Rurais <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> STTR,organização que conduziu boa parte <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> negociação com a Aeronáutica na década


105<strong>de</strong> 90, quan<strong>do</strong> as comunida<strong>de</strong>s se apresentavam como pequenos produtores rurais. Sobre essa“substituição” nas negociações, cabe ser feita uma análise para uma melhor compreensão.Fortalecidas com a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, as comunida<strong>de</strong>s negras ruraisquilombolas vieram se organizan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos. No ano <strong>de</strong> 1996, elas <strong>de</strong>cidiram levar amobilização pela regularização <strong>de</strong> suas terras <strong>do</strong> âmbito regional para o nacional, constituin<strong>do</strong>a CONAQ, que engloba, além <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> diversas comunida<strong>de</strong>s quilombolas <strong>do</strong> paíse entida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> movimento negro, organizações ligadas à questão rural.No Maranhão, com o objetivo <strong>de</strong> se organizar para lutar pelo direito à terra e sefortalecer politicamente, os quilombolas <strong>do</strong> Maranhão fundaram, em 1997, a ACONERUQque, em 2007, possuía 423 comunida<strong>de</strong>s maranhenses vinculadas.Em 1999, foi realiza<strong>do</strong> no município o “Seminário <strong>Alcântara</strong>: A Base Espacial e osImpasses Sociais”, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o “marco da retomada da mobilização <strong>do</strong>s agentes sociaisafeta<strong>do</strong>s mais como trabalha<strong>do</strong>res rurais, mas também como remanescentes <strong>de</strong> quilombos”(ALMEIDA, 2006, p. 56). A partir <strong>de</strong>ste evento, ocorreu a consolidação <strong>de</strong> uma mudançasignificativa na representação das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, marca<strong>do</strong>, também, pela criação<strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE, que tinha o objetivo <strong>de</strong> unir as comunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> território <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> na <strong>de</strong>fesa<strong>de</strong> seus direitos face os danos sócio-ambientais provoca<strong>do</strong>s pela implantação <strong>do</strong> CLA.A partir daquele evento, as negociações com o Ministério da Aeronáutica,gradativamente passaram a ser li<strong>de</strong>radas pelas entida<strong>de</strong>s sociais ligadas ao movimento negro epelo <strong>MA</strong>BE.Segun<strong>do</strong> Almeida (2006) a condução formal das mobilizações pelo STTR não foi vistacomo contradizen<strong>do</strong> a afirmação pública e coletiva das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombos. Na sua atuação, estaria “implícita” uma distinção entre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e ocupação, quenão é vivida como contraditória ou incongruente, pois ambas referem-se às mesmas pessoas.O autor ainda afirma que se estava diante <strong>de</strong> uma “combinação <strong>de</strong> fatores em que laçosprimordiais e permanentes, em termos históricos, articulam-se com expressões jurídicascontingentes” e que essa mudança não foi motivada por nenhuma estratégia “instrumentalista”<strong>do</strong> grupo visan<strong>do</strong> obter ganhos materiais e simbólicos (ALMEIDA, 2006, p. 177).Neste âmbito, é interessante a observação <strong>de</strong> Arruti (2002 apud ROSA, 2006, p. 27)quan<strong>do</strong> salienta que, até a década <strong>de</strong> 80, os movimentos negros brasileiros também só haviam


106assumi<strong>do</strong> o termo quilombo como uma espécie <strong>de</strong> “acervo simbólico para suas lutas urbanas,sem maiores conseqüências sobre sua histórica falta <strong>de</strong> atenção ao mun<strong>do</strong> rural”, o que levavaàs comunida<strong>de</strong>s negras rurais a se aproximar das questões indígenas.Com o artigo 68 da CF <strong>de</strong> 1988, diversas comunida<strong>de</strong>s negras, tanto na zona ruralquanto urbana, passaram a i<strong>de</strong>ntificar-se como remanescentes <strong>de</strong> quilombo quan<strong>do</strong>perceberam que “tal i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria lhes trazer benefícios no contexto <strong>do</strong>s conflitos queestavam viven<strong>do</strong>” (SANCHEZ, 2004, p. 16).Portanto, tal afirmação contraria a visão <strong>de</strong> Almeida quanto ao caráter nãoinstrumentalistada mudança. Inclusive, o próprio autor cita em seu lau<strong>do</strong> a fala <strong>de</strong> umcidadão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, na qual ele salienta que no município, “to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> está queren<strong>do</strong> ser<strong>de</strong>signa<strong>do</strong> como preto” (ALMEIDA, 2006, p. 94), referin<strong>do</strong>-se à <strong>de</strong>scendência da população<strong>do</strong>s quilombos, as mais abrangentes <strong>do</strong> município.A auto<strong>de</strong>nominação como remanescente <strong>de</strong> quilombos proporciona ganhos políticos,jurídicos e econômicos. Um ganho político, na medida em que promove uma maiorsensibilização da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu simbolismo e diferencial, que remete à tradiçãocultural. Como coloca Sanchez (2004, p. 17), “não importa tanto a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> enquantoresgate <strong>de</strong> lembranças e práticas colocadas no passa<strong>do</strong>, mas sim, a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>no instante oportuno <strong>do</strong> conflito, no tempo da política”. Tal afirmação se traduz nas palavras<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças locais conforme abaixo:“Ser remanescente <strong>de</strong> quilombos traz segurança, força para lutarcontra o remanejamento” (Dona Leandra, da agrovila <strong>de</strong> Pepital).“Ser remanescente traz vantagens, pois existem projetos específicos emaior representativida<strong>de</strong> para as <strong>de</strong>mandas das comunida<strong>de</strong>s” (João Batista,da agrovila <strong>de</strong> Espera).“A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quilombola é importante para “saberem <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem e,também, pelos benefícios <strong>de</strong>correntes” (Geuza, da agrovila <strong>de</strong> Só Assim erepresentante da Igreja Católica).“No início, se uniram pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scendência,mas perceberam posteriormente que tal fato as fortaleciam politicamente”(Marleni, da Associação da 3ª Ida<strong>de</strong>).A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remanescente <strong>de</strong> quilombos traz um ganho jurídico, pois o movimentoestá embasa<strong>do</strong> constitucionalmente. Como a questão <strong>do</strong> direito à terra é mais complexa einsegura, as comunida<strong>de</strong>s acatam tal <strong>de</strong>nominação com o objetivo <strong>de</strong> garantir <strong>de</strong> forma mais


107rápida a proprieda<strong>de</strong> da terra, por mais que o título seja coletivo, em nome <strong>de</strong> uma associaçãoescolhida, e não particular.Por fim, em termos <strong>de</strong> ganhos econômicos, as comunida<strong>de</strong>s passam a ser objeto <strong>de</strong>políticas públicas específicas e são mais visadas para receber apoio ou financiamentosnacionais ou internacionais. Neste senti<strong>do</strong>, o representante <strong>do</strong> CCN entrevista<strong>do</strong> afirmou queo reconhecimento como remanescente <strong>de</strong> quilombos é importante “para receber recursos”,ressaltan<strong>do</strong> que a FCP local chegou a reconhecer comunida<strong>de</strong>s até mesmo sem visitá-la inloco. Citou, ainda, que algumas comunida<strong>de</strong>s foram reconhecidas como remanescentes <strong>de</strong>quilombos para garantir o direito à terra.Portanto, pelos <strong>de</strong>poimentos apresenta<strong>do</strong>s, conclui-se que existe uma consciência clara<strong>do</strong> termo “remanescente <strong>de</strong> quilombos” e <strong>do</strong>s benefícios que po<strong>de</strong>m ser conquista<strong>do</strong>s com oreconhecimento como tal. Assim, a <strong>de</strong>fesa da etnicida<strong>de</strong> também é uma estratégia voltadapara a manutenção <strong>do</strong> território e a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> estoque <strong>de</strong> recursos naturais imprescindíveispara a reprodução física e social das comunida<strong>de</strong>s.O direito à titulação das terras aos remanescentes <strong>de</strong> quilombos é uma reivindicação queentra em conflito com a construção <strong>do</strong> CEA, o que “casou” com o projeto político <strong>de</strong>entida<strong>de</strong>s como o <strong>MA</strong>BE e o STTR, que baseiam sua luta contra a construção <strong>do</strong> CEA/CLA eenxergaram na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> “quilombola” uma forma <strong>de</strong> se fortalecerem.Por meio <strong>do</strong> direito étnico, as entida<strong>de</strong>s representativas das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>se uniram no campo político. Assim, foi instituí<strong>do</strong> o Fórum em Defesa <strong>do</strong> Território Étnico <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> on<strong>de</strong> as entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil se congregaram e que tinha o objetivo <strong>de</strong> darmais força e legitimida<strong>de</strong> às suas <strong>de</strong>mandas. Dele faziam parte, além das entida<strong>de</strong>s ligadas aomovimento negro já citadas, o Centro pela Moradia e Contra Despejos <strong>–</strong> COHRE, aFe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res na Agricultura Familiar <strong>–</strong> FETRAF, o Movimento <strong>do</strong>sTrabalha<strong>do</strong>res Rurais Sem Terra <strong>–</strong> MST, o STTR, políticos, antropólogos, religiosos, entreoutras. Como confirmou o representante <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE, “a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quilombola reuniu as forçasdas diversas entida<strong>de</strong>s envolvidas na questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>”.Como percebe-se na composição <strong>do</strong> Fórum, na busca por aumentar o controle social eadquirir po<strong>de</strong>r político suficiente para constranger as autorida<strong>de</strong>s públicas, e promover o que


108Gramsci e Althüsser chamam <strong>de</strong> “contra-hegemonia”, 45 uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituições,principalmente, ligadas ao direito à terra, se reuniu em torno da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica.Contu<strong>do</strong>, essa mobilização não é constante. Segun<strong>do</strong> o ex-representante <strong>do</strong> Fórum DLISa mobilização das entida<strong>de</strong>s é sempre “reativa a um fato”, afirmação com a qual orepresentante <strong>MA</strong>BE, concorda ao reclamar que as organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>abrangência nacional “só aparecem quan<strong>do</strong> ocorre um problema”.De qualquer maneira, a mobilização social das entida<strong>de</strong>s possui um propósito claro quevem sen<strong>do</strong> difundi<strong>do</strong> nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma direta e constante ao longo <strong>do</strong> tempo <strong>–</strong> odireito étnico à terra. E, segun<strong>do</strong> Toro (1997) tal propósito <strong>de</strong>ve se apresentar como umhorizonte atrativo, um imaginário “convocante” que sintetize <strong>de</strong> uma forma atraente e válidaos gran<strong>de</strong>s objetivos que se busca alcançar e que estabeleça critérios para orientar a atuação epara i<strong>de</strong>ntificar alternativas <strong>de</strong> ações.A terra para os remanescentes <strong>de</strong> quilombos significa a permanência no território, masnão é condição exclusiva para a existência <strong>do</strong> grupo. Isso significa continuar com “referênciassimbólicas importantes à consolidação <strong>do</strong> imaginário coletivo” (LEITE, 2000, p. 345).Diante <strong>de</strong>ste quadro, o GEI-<strong>Alcântara</strong> precisava, por meio <strong>do</strong> diálogo, eliminar as causasbásicas <strong>do</strong> impasse e tentar substituir as relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança <strong>–</strong> consi<strong>de</strong>rada, segun<strong>do</strong> oquestionário, o principal fator prejudicial ao consenso <strong>–</strong> por ações colaborativas em prol <strong>de</strong>um macro objetivo comum.Mas a habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> GEI em mobilizar a população foi muito frágil, não conseguin<strong>do</strong> oapoio político das comunida<strong>de</strong>s e nem o consenso com as entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil para aviabilização <strong>do</strong> CEA, o que <strong>de</strong>monstra que o Esta<strong>do</strong> não conseguiu valer sua autonomia noprocesso <strong>de</strong> negociação. Isso se explica por algumas razões.Todas as partes têm <strong>de</strong> entrar neste processo com claras metas <strong>de</strong> conciliação, algo queé muito difícil em situações on<strong>de</strong> houve confrontações e danos irreparáveis a um ou maisgrupos, principalmente, no que diz respeito a terras ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s 46 . Negociações <strong>de</strong>ste tiposão difíceis e longas, pois envolvem interesses antagônicos, o que é agrava<strong>do</strong> pela45 Gramsci, assim como Althüsser, propõe a “contra-hegemonia” para fazer frente às classes<strong>do</strong>minantes presentes no aparelho <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. (Carnoy, 1996, p. 100)46 Ver LITTLE (2001).


109heterogeneida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> civil, assim como, <strong>do</strong>s agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, com distintasinterpretações sobre sua ação social e, também, com diversos efeitos políticos.Neste cenário, alcançar o consenso, isto é, “a escolha e construção <strong>de</strong> um interessecompartilha<strong>do</strong>, mas que permanece sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós” (TORO, 1997, p. 36), ébastante difícil. Colocar as divergências <strong>de</strong> la<strong>do</strong> para se chegar a um acor<strong>do</strong> em prol <strong>de</strong> umaidéia exige muita negociação, paciência e estratégia.Em um ambiente no qual existe uma certa intransigência entre os principais atoresenvolvi<strong>do</strong>s, a <strong>de</strong>mora em se chegar ao consenso acaba prejudican<strong>do</strong> aqueles que seriam osreais beneficiários. Em <strong>Alcântara</strong>, nas palavras <strong>de</strong> alguns representantes da socieda<strong>de</strong> civil, ai<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> alguns integrantes <strong>do</strong> Fórum dificultam a realização <strong>de</strong> objetivos práticos,prejudican<strong>do</strong> as comunida<strong>de</strong>s, acrescentan<strong>do</strong> que algumas entida<strong>de</strong>s querem apenas manter asua importância política.As entida<strong>de</strong>s relacionadas às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos como aACONERUQ, a CONAQ, o CCN e o <strong>MA</strong>BE, fora as contribuições à formatação <strong>do</strong> ACT,geralmente, concentraram-se na afirmação da “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica” e nos direitos <strong>de</strong>correntesou simplesmente a protestar, principalmente, quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>slocamentos,mesmo após a AEB garantir, apesar das dificulda<strong>de</strong>s no georeferenciamento, que tal fato nãoocorreria, <strong>de</strong> compromissos assumi<strong>do</strong>s nas negociações ou da realização das ações constantes<strong>do</strong> ACT, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar propostas ou contribuir com melhorias aoprocesso. Este fato corrobora com Tatagiba (2002, p. 92), que assinala que a boa parte <strong>do</strong>sestu<strong>do</strong>s aponta a “baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação das políticas públicas a partir da participaçãoda socieda<strong>de</strong> civil nos espaços públicos”, sugerin<strong>do</strong> que essa participação assume contornos“mais reativos que propositivos”.Sobre esse aspecto, é interessante ressaltar que, segun<strong>do</strong> os representantes da IgrejaCatólica e <strong>do</strong> Fórum DLIS, os vários membros da socieda<strong>de</strong> civil, que tinham participação noComitê Gestor Local, permaneceram passivos durante as reuniões <strong>do</strong> Comitê, inclusive elesmesmos. Este fato representa uma contradição ten<strong>do</strong> em vista que sempre pleiteavam que ogoverno promovesse políticas para <strong>Alcântara</strong> e, quan<strong>do</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguirembenefícios para as comunida<strong>de</strong>s aparece, a atuação das entida<strong>de</strong>s é tímida.Essa postura <strong>de</strong>monstra que algumas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil, apesar <strong>de</strong> terem comofundamento o direito das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, preocupavam-se mais em apresentar seu


110discurso político, a sua contrarieda<strong>de</strong> quanto a qualquer proposta governamental que visasseexpandir o Programa Espacial para fora <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> CLA, <strong>do</strong> que apresentar alternativaspara a expansão <strong>do</strong> CEA com a obtenção <strong>de</strong> benefícios para o Município.Por mais que os representantes da socieda<strong>de</strong> civil por diversas vezes tenhammanifesta<strong>do</strong> que não tinham nenhuma hostilida<strong>de</strong> contra a presença <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento<strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e que almejavam somente uma forma mais justa <strong>do</strong> CLA se relacionar com apopulação 47 , o posicionamento <strong>de</strong> algumas entida<strong>de</strong>s nas negociações foi o <strong>de</strong>,freqüentemente, semear o confronto como a única alternativa no campo político,caracterizan<strong>do</strong> a expansão <strong>do</strong> CEA como uma ameaça às comunida<strong>de</strong>s quilombolas.Outro ponto que caracteriza o posicionamento das representações da socieda<strong>de</strong> civil dizrespeito à proposta final apresentada pela AEB. Mesmo com uma redução <strong>de</strong> 77% da áreainicial <strong>de</strong> 62 mil hectares e a resposta a todas as suas perguntas, as representações dasocieda<strong>de</strong> civil consi<strong>de</strong>raram insuficientes as informações recebidas e solicitaram um prazosignificativamente longo para analisar a proposta em reuniões com as comunida<strong>de</strong>s. Caberessaltar, que as representações da socieda<strong>de</strong> civil impediram a participação <strong>de</strong> técnicos daAEB para prestar esclarecimentos e tirar as dúvidas que porventura surgissem nessasreuniões.Essas ações <strong>de</strong>monstram a estratégia <strong>de</strong> manter o confronto e não cooperar a<strong>do</strong>tadapelas entida<strong>de</strong>s, baseada no objetivo <strong>de</strong> titular to<strong>do</strong> o território para, posteriormente, negociarcom o governo. E “é muito difícil construir novos relacionamentos sociais e mecanismos <strong>de</strong>articulação entre atores que atuam partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> político como a lutapermanente e o confronto” (JARA, 1998, p. 232).Isto exposto, enten<strong>de</strong>-se que tais entida<strong>de</strong>s utilizavam o espaço das reuniões para o seufortalecimento político, em vez <strong>de</strong> buscar o consenso com o Esta<strong>do</strong>.A <strong>de</strong>fesa das comunida<strong>de</strong>s quilombolas é absolutamente legítima, não só pelo aspectolegal envolvi<strong>do</strong>, mas como componente político em um ambiente <strong>de</strong>mocrático. Conformeafirma Touraine (1996), movimento social e <strong>de</strong>mocracia são “indissociáveis”. Somente emsocieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas, os movimentos sociais po<strong>de</strong>m, politicamente, procurar o bemcomum e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r interesses particulares.47Comissão <strong>de</strong> Direitos Humanos - Relatório - <strong>Alcântara</strong>-<strong>MA</strong>. Disponível em Acesso em 15 set. 2007.


111Entretanto, a intransigência das entida<strong>de</strong>s mais atuantes prejudicou o papel dasrepresentações da socieda<strong>de</strong> civil como agentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização e até como movimentossociais 48 . Em relatórios <strong>de</strong> reuniões promovidas pelo GEI e pelo Subgrupo <strong>de</strong> RegularizaçãoFundiária para apresentar o seu plano <strong>de</strong> ação em algumas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, nasquais participaram diversas entida<strong>de</strong>s integrantes <strong>do</strong> Fórum em Defesa <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, estasafirmaram que iriam “lutar em todas as instâncias” para impedir as ampliações <strong>do</strong> CEA,exigin<strong>do</strong> que a expansão ocorresse <strong>de</strong>ntro da área já ocupada pelo CLA. Contu<strong>do</strong>, já haviamsi<strong>do</strong> informa<strong>do</strong>s da inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal proposta, ten<strong>do</strong> em vista haver planos para a área e anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciar as áreas comerciais binacionais e a área militar <strong>do</strong> CLA.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que este pleito das comunida<strong>de</strong>s fosse possível, isto é, que o CEA fosseconstruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro da área <strong>do</strong> CLA, qual seria a motivação <strong>do</strong> governo para realizar melhoriasem <strong>Alcântara</strong>? Este fato, portanto, também exemplifica a estratégia <strong>de</strong> manter o confronto,que não correspon<strong>de</strong> às expectativas manifestadas nos <strong>de</strong>poimentos das li<strong>de</strong>ranças dasagrovilas, que acreditam que o CEA po<strong>de</strong> ser compatibiliza<strong>do</strong> com o direito <strong>do</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitadas as características e <strong>de</strong>mandas dascomunida<strong>de</strong>s.Outro ponto a ser ressalta<strong>do</strong> foi no campo operacional, pois, segun<strong>do</strong> o Relatório <strong>do</strong>CENDSA, algumas ações tiveram problemas na execução <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> dasorganizações locais da socieda<strong>de</strong> civil não conseguirem apresentar os requisitos necessáriospara estabelecer convênios e receber recursos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, o que reforça a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>governo em lhes dar apoio e orientação para que possam se aperfeiçoar e se habilitar a taisparcerias.Não foi consi<strong>de</strong>rada pelo GEI, também, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novosatores, isto é, <strong>do</strong>tar novos sujeitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político e capacida<strong>de</strong> técnica para compreen<strong>de</strong>r aspropostas, po<strong>de</strong>r argumentar e contribuir com as discussões, qualifican<strong>do</strong>-os <strong>de</strong> forma aampliar a participação das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e obter mais opiniões que pu<strong>de</strong>ssemagregar ao processo, tornan<strong>do</strong> a discussão sobre seu futuro mais <strong>de</strong>mocrática. De acor<strong>do</strong> comPutnam (1993), a socieda<strong>de</strong> civil será tanto mais <strong>de</strong>mocrática quanto maior for o capital socialexistente na socieda<strong>de</strong>, quanto maior for o número <strong>de</strong> associações representativas da48“Só existe movimento social se a ação coletiva tem objetivos sociais, isto é, reconhece valores ouinteresses gerais da socieda<strong>de</strong> e, por conseguinte, não reduz a vida política ao confronto <strong>de</strong> camposou classes...” (TOURAINE, 1996, p. 85)


112socieda<strong>de</strong> civil existentes nessa socieda<strong>de</strong>. Dagnino (2002, p. 290) acrescenta que “quantomaior a representativida<strong>de</strong>, maiores as chances <strong>de</strong> uma partilha efetiva <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r nanegociação com o Esta<strong>do</strong>”.Isso é conseqüência da limitação da participação <strong>de</strong> um contingente maior <strong>de</strong> pessoas dapopulação local, mesmo que o GEI, e principalmente, o Subgrupo <strong>de</strong> Regularização Fundiáriatenham realiza<strong>do</strong> reuniões em <strong>Alcântara</strong>. Praticamente todas as reuniões ocorreram emBrasília e a população local só teve contato com o <strong>Grupo</strong> na fase <strong>de</strong> elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong>Ação, <strong>do</strong> ACT e quan<strong>do</strong> se precisava apresentar uma proposta governamental. Pela concepçãocentralizada <strong>do</strong> GEI, não era possível que seus representantes se <strong>de</strong>slocassem constantementepara <strong>Alcântara</strong> para discutir com li<strong>de</strong>ranças das comunida<strong>de</strong>s e apresentar esclarecimentosque viabilizassem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um projeto participativo efetivo, uma vez que tinhamoutras atribuições e ações em seus respectivos órgãos.Essa distância física <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> com as comunida<strong>de</strong>s se explica, portanto, por motivoslogísticos e operacionais, mas prejudicou o estreitamento <strong>de</strong>ste relacionamento quepossibilitaria reduzir as incertezas existentes, o que favorecia às organizações da socieda<strong>de</strong>civil organizadas, que não necessariamente representavam os interesses <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os setores dapopulação local 49 .A distância <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> possibilita que as entida<strong>de</strong>s sociais mais atuantes em <strong>Alcântara</strong>concentrem as <strong>de</strong>cisões locais e aproveitem o fato para fazerem valer suas próprias agendasnas relações com a esfera governamental, tornan<strong>do</strong> a participação das comunida<strong>de</strong>s passiva, oque parece ser uma característica <strong>do</strong>s processos participativos promovi<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> 50 .Talvez isso se explique por razões históricas, comuns no processo <strong>de</strong> participação socialno Brasil. De acor<strong>do</strong> com Rosembaum (1978 apud GRAU, 1998, p. 109) a prática daparticipação cidadã nos processos administrativos <strong>de</strong>monstrou, já no final da década <strong>de</strong> 70, serum “fracasso em promover um pluralismo ativo entre os referi<strong>do</strong>s interesses”, mesmo quan<strong>do</strong>o Esta<strong>do</strong> a assume como um objetivo expresso, pois as audiências só atraem representantes <strong>de</strong>interesses organiza<strong>do</strong>s que já tinham participação ativa no contexto, representantes <strong>de</strong> outrosórgãos e outras pessoas com altos níveis <strong>de</strong> educação.49 Nas entrevistas em <strong>Alcântara</strong>, algumas entida<strong>de</strong>s e li<strong>de</strong>ranças salientaram que “algumas ações <strong>do</strong>smovimentos prejudicam as comunida<strong>de</strong>s” <strong>–</strong> não se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> sobre quais seriam elas e porque sepermite que continuem ocorren<strong>do</strong> <strong>–</strong>, ou que as entida<strong>de</strong>s “não apresentam resulta<strong>do</strong>s para ascomunida<strong>de</strong>s, somente para elas próprias”.50 Ver DREIFUSS (1993); FALEIROS (1997).


113Essa assimetria é fortalecida pela própria resistência à participação pelos sujeitos sociaisque raciocinam em termos <strong>do</strong>s custos e benefícios <strong>de</strong>ssa participação. Neste senti<strong>do</strong>, existemos custos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> da participação <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, pois teriam <strong>de</strong> selocomover <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> trabalhar na agricultura ou em outras ativida<strong>de</strong>sque garantiam seu sustento. Para que os indivíduos pu<strong>de</strong>ssem participar das discussões e<strong>de</strong>cisões sociais é necessário, em primeiro lugar, garantir as condições <strong>de</strong> sua existência,como comer, beber, ter moradia, entre outros.Assim, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>veria reduzir o custo da participação, o que os órgãos <strong>do</strong> GEI, emparceria com a prefeitura local, buscaram fazer, oferecen<strong>do</strong> transporte e alimentação. Mesmoassim, nas poucas reuniões em que foi possível a participação <strong>de</strong> uma gama maior <strong>de</strong> cidadãosalcantarenses, sua participação foi tímida e passiva, dan<strong>do</strong> espaço para as entida<strong>de</strong>s quenormalmente já se apresentavam como suas interlocutoras. Esse aspecto dava margem para apossibilida<strong>de</strong> das organizações representativas da socieda<strong>de</strong> apresentarem suas própriasopiniões que, conforme já dito, nem sempre refletiam o que as comunida<strong>de</strong>s pensavam.Segun<strong>do</strong> a li<strong>de</strong>rança da agrovila <strong>de</strong> Peru, por exemplo, as entida<strong>de</strong>s não faziam reuniõesprévias com as comunida<strong>de</strong>s antes das reuniões com o governo e, também, nem quan<strong>do</strong>retornavam. Ela afirma que a reunião das entida<strong>de</strong>s ocorria com somente algumas pessoas,normalmente “as mais alinhadas com o movimento ou o parti<strong>do</strong>”. Esta última afirmação foiverificada em outras agrovilas, cujas li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong>monstraram uma proximida<strong>de</strong> das opiniõescom as entida<strong>de</strong>s e que afirmaram que estas faziam reuniões explicativas sobre as negociaçõescom o governo. A questão neste contexto é que nesses encontros, pelo falto <strong>de</strong> serem feitassem a presença governamental, existe a gran<strong>de</strong> tendência <strong>de</strong> serem nortea<strong>do</strong>s pela visão ediscurso das entida<strong>de</strong>s.Diante <strong>do</strong> exposto, o GEI ou simplesmente “aceitou” a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadasentida<strong>de</strong>s sociais, relegan<strong>do</strong> outras associações e a população local a um papel secundário; oufoi imposto a isso, como nas situações já <strong>de</strong>scritas nas quais os integrantes <strong>do</strong> GEI foram“impedi<strong>do</strong>s” por representantes da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> reuniões que elaspromoviam com as comunida<strong>de</strong>s que envolvessem, por exemplo, as propostas apresentadaspela AEB para a expansão <strong>do</strong> CEA. É possível que esta situação tenha si<strong>do</strong> aceita pelosórgãos governamentais para não agravar o conflito e evitar <strong>de</strong>sgastes políticos. Comoconseqüência, não se percebeu naquelas reuniões um ambiente <strong>de</strong> cooperação com o projetopor parte da população local.


114Um aspecto também bastante salienta<strong>do</strong> por li<strong>de</strong>ranças locais foi a ausência <strong>de</strong>esclarecimentos diretos sobre o CEA pela AEB. Este fato acarreta na manutenção <strong>de</strong> umasérie <strong>de</strong> dúvidas e, em grau maior, da <strong>de</strong>sconfiança quanto ao processo, o que,conseqüentemente, fortalece o discurso contrário ao CEA e dificulta o consenso.Em outra frente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao fato <strong>do</strong> GEI não ter elabora<strong>do</strong> uma estratégia para a suaatuação política junto aos grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r locais, não conseguiu se aproximar <strong>de</strong>les paratentar negociar a construção <strong>de</strong> um projeto conjunto. Um comentário interessante <strong>de</strong> umrepresentante <strong>do</strong> STTR, similar ao da Associação da 3ª Ida<strong>de</strong>, foi que faltou ao governonegociar <strong>de</strong> forma mais efetiva e próxima com as entida<strong>de</strong>s locais sobre como e on<strong>de</strong> fazer asações para <strong>Alcântara</strong>. Com isso, enten<strong>de</strong>-se que se elas pu<strong>de</strong>ssem ser i<strong>de</strong>ntificadas pelascomunida<strong>de</strong>s como responsáveis pelas ações, aumentan<strong>do</strong> a sua influência no município, aschances <strong>de</strong> um consenso seriam maiores.3.4 O GEI-ALCÂNTARA COMO ESPAÇO PÚBLICO DEMOCRÁTICOA expansão <strong>do</strong> PNAE po<strong>de</strong> trazer gran<strong>de</strong>s benefícios ao país, sejam eles <strong>de</strong> or<strong>de</strong>meconômica, provenientes da receita com a comercialização <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong> lançamento comoutros países, <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> artefatos e tecnologias aeroespaciais; <strong>de</strong> serviços, comoo <strong>de</strong> comunicações e <strong>de</strong> monitoramento ambiental; ou social, traduzi<strong>do</strong>s na geração <strong>de</strong>empregos e <strong>de</strong> uma melhor qualificação educacional e profissional.A vantagem competitiva que <strong>Alcântara</strong> proporciona em relação a outros centros <strong>de</strong>lançamento no mun<strong>do</strong> é um diferencial significativo que auxilia na consecução <strong>de</strong> parceriascom outros países para o lançamento <strong>de</strong> foguetes e satélites. Neste senti<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong>Brasileiro tem que garantir as contrapartidas tecnológicas e a formação <strong>de</strong> capital intelectuallocal que permita apoiar o <strong>de</strong>senvolvimento nacional. Desta forma, o Esta<strong>do</strong> brasileiro po<strong>de</strong>se colocar no caminho para se consolidar como uma referência no setor aeroespacial eaumentar a sua influência no contexto político e econômico internacional.Contu<strong>do</strong>, para garantir o bom andamento <strong>do</strong> programa, o Esta<strong>do</strong> precisa garantir que apopulação <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e, porque não dizer também, as <strong>do</strong>s municípios adjacentes, sejambeneficiadas com o programa espacial, sem que percam suas características sócio-culturais e oacesso aos seus meios <strong>de</strong> sobrevivência. Além disso, há a <strong>de</strong>sconfiança das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>


115<strong>Alcântara</strong>, bem como, <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil e <strong>de</strong> organismos internacionais quanto àforma que o Governo Brasileiro, representa<strong>do</strong> pela AEB, pretendia conduzir o processo <strong>de</strong>expansão <strong>do</strong> Centro Espacial, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao histórico negativo <strong>de</strong> remanejamento <strong>de</strong> famíliasocorri<strong>do</strong> na implantação <strong>do</strong> CLA.Portanto, o Esta<strong>do</strong> precisaria elaborar sua estratégia <strong>de</strong> atuação consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> essascondicionantes <strong>–</strong> a construção <strong>de</strong> uma vantagem competitiva internacional, o respeito aosaspectos sócio-culturais, econômicos e políticos e a <strong>de</strong>sconfiança da socieda<strong>de</strong> civil <strong>–</strong>,corroboran<strong>do</strong> com a afirmação <strong>de</strong> Skocpol (1999, p. 8) <strong>de</strong> que Esta<strong>do</strong>s se posicionam na“interseção entre a or<strong>de</strong>m sociopolítica <strong>do</strong>méstica e as relações transnacionais <strong>de</strong>ntro dasquais eles manobram para sobreviver e adquirir vantagens em relação a outros Esta<strong>do</strong>s”.A estratégia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro para <strong>Alcântara</strong> foi a <strong>de</strong> instituir o GEI com o objetivo<strong>de</strong> articular, viabilizar e acompanhar as ações necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong>Município, além <strong>de</strong> propiciar as condições a<strong>de</strong>quadas à eficiente condução <strong>do</strong> ProgramaNacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Espaciais e ao <strong>de</strong>senvolvimento das comunida<strong>de</strong>s locais, respeitan<strong>do</strong>suas peculiarida<strong>de</strong>s étnicas e sócio-culturais.A partir da sua criação, o GEI tornou-se uma estrutura temporária 51 <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>spolíticas no âmbito estatal que visava permitir a participação, mediação e articulação entre osatores envolvi<strong>do</strong>s <strong>–</strong> órgãos fe<strong>de</strong>rais, o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, a Prefeitura <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong> e representações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>–</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> elaborar um planejamentoconjunto para a implementação <strong>de</strong> políticas públicas para <strong>Alcântara</strong>. Portanto, ele vem aoencontro das premissas estabelecidas na Agenda 21 e na concepção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável no que diz respeito à instituição <strong>de</strong> espaços públicos para o levantamento ediscussão das <strong>de</strong>mandas das comunida<strong>de</strong>s locais, possibilitan<strong>do</strong> a manifestação <strong>de</strong>organizações sociais correlatas e pesquisa<strong>do</strong>res relaciona<strong>do</strong>s à temática.Assim, o <strong>de</strong>safio em <strong>Alcântara</strong> po<strong>de</strong> ser traduzi<strong>do</strong> na busca por um mo<strong>de</strong>lo futuroparticular e único, promoven<strong>do</strong> o equilíbrio entre o pensamento racional e científico<strong>de</strong>corrente da mo<strong>de</strong>rnização proporcionada pelo Programa Espacial e a liberda<strong>de</strong> dascomunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombo locais <strong>de</strong> atuarem como sujeitos para a preservaçãoda sua tradição cultural, fortalecidas pelo direito constitucional à terra.51 O GEI-<strong>Alcântara</strong> encerrou suas ativida<strong>de</strong>s em 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005.


116Trata-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safio complexo que necessita <strong>de</strong> muita discussão e negociação paraser sobrepuja<strong>do</strong>. Neste contexto, é necessário analisar a instituição <strong>do</strong> GEI como espaçopúblico <strong>de</strong>mocrático com o fim <strong>de</strong> promover a participação social e a cooperação entre osdiversos agentes envolvi<strong>do</strong>s.Historicamente, os processos <strong>de</strong> participação patrocina<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> surgem apósproblemas <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. E em <strong>Alcântara</strong>, a situação não foidiferente. A mobilização governamental para propor políticas para o município foi umatentativa <strong>de</strong> minimizar os problemas sociais ocasiona<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> da instalação <strong>do</strong> CLA enegociar com a socieda<strong>de</strong> para conciliar o direito étnico à terra com o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> CEA continuasse. De qualquer forma, houve a iniciativa e é importanteenten<strong>de</strong>r as suas características.Espaços <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> políticas que contam com a participação da socieda<strong>de</strong> civil“representam um avanço <strong>de</strong>mocrático precisamente na medida em que publicizam o conflito eoferecem procedimentos e espaço para que ele seja trata<strong>do</strong> legitimamente” (DAGNINO,2002, p. 300).A <strong>de</strong>mocracia, segun<strong>do</strong> Touraine (1996), é um conjunto <strong>de</strong> garantias e procedimentosque orientam o estabelecimento <strong>de</strong> relações entre a unida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r legítimo (Esta<strong>do</strong>) e apluralida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s atores sociais (socieda<strong>de</strong> civil). O autor adiciona que o que <strong>de</strong>fine a<strong>de</strong>mocracia é, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, o “respeito pelos projetos individuais e coletivos, que combinama afirmação <strong>de</strong> uma liberda<strong>de</strong> pessoal com o direito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com uma coletivida<strong>de</strong>social, nacional ou religiosa particular” (TOURAINE, 1996, p. 26), o que promove acidadania e comanda a formação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>mocráticas.Para que um espaço público seja realmente eficaz como instrumento para ofortalecimento da <strong>de</strong>mocracia e facilite a cooperação entre seus participantes, o pressuposto éque os sujeitos possam ter liberda<strong>de</strong> para manifestar suas opiniões e posicionamentos parasubsidiar o processo <strong>de</strong>cisório. Isto porque as visões acerca <strong>do</strong> que é o bem comum variambastante na socieda<strong>de</strong>. Como afirma Schumpeter (1942, p. 251), “o bem comum está<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a significar coisas diferentes para pessoas diferentes”.Para que as propostas para <strong>Alcântara</strong> proporcionem o bem-estar para a sua população,elas <strong>de</strong>vem, pelo menos, evitar a concentração <strong>do</strong>s investimentos na estrutura <strong>do</strong> CEA/CLA,


117<strong>de</strong> forma a irradiar melhorias e benfeitorias para as comunida<strong>de</strong>s, e buscar repartir os produtose serviços provenientes da estrutura prevista para o Centro Espacial.O GEI não tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>liberativo sobre o peso relativo <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas duasvariáveis, uma vez que existem instâncias políticas superiores que tomariam tal <strong>de</strong>cisão.Contu<strong>do</strong>, cabia a ele discutir e formular as propostas entre seus integrantes e, principalmente,com a socieda<strong>de</strong> civil, para preparar o caminho para que tal objetivo seja atingi<strong>do</strong> e buscargarantir o respal<strong>do</strong> político para a sua implementação.Diante <strong>do</strong> exposto, cabe analisar o GEI como um espaço público <strong>de</strong>mocrático. Naopinião <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong>s agentes governamentais que respon<strong>de</strong>ram ao questionário e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s osrepresentantes da socieda<strong>de</strong> civil entrevista<strong>do</strong>s, inclusive os mais ferrenhos <strong>de</strong>fensores dacausa quilombola, o <strong>Grupo</strong> foi <strong>de</strong>mocrático, pois possibilitou às comunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> aapresentarem suas <strong>de</strong>mandas e propostas; a discutirem <strong>de</strong> maneira igualitária as proposições<strong>do</strong>s órgãos fe<strong>de</strong>rais; e a ouvirem esclarecimentos sobre o Programa Espacial Brasileiro e osplanos da AEB para a expansão <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong> lançamento, inclusive auxilian<strong>do</strong> na suaformatação. O <strong>Grupo</strong> também ouviu a opinião <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>res e autorida<strong>de</strong>s e realizouvisitas in loco, para elaborar o diagnóstico da situação em <strong>Alcântara</strong> e possibilitou aparticipação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s sociais tanto na formulação quanto no monitoramento das açõespropostas, bem como envolveu diversos órgãos governamentais na elaboração <strong>do</strong> plano <strong>de</strong>ação para <strong>Alcântara</strong>.Com esse méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, preten<strong>de</strong>u <strong>de</strong>monstrar à população local e às suasentida<strong>de</strong>s representantes que o governo tinha se mobiliza<strong>do</strong> para ouvir as <strong>de</strong>mandas eapresentar propostas mais amplas, articuladas, organizadas e sem impactos negativos, emediante isso, aumentar a sua legitimida<strong>de</strong> perante a socieda<strong>de</strong> e criar um ambiente propício àimplantação <strong>do</strong> CEA.Contu<strong>do</strong>, o caráter <strong>de</strong>mocrático <strong>do</strong> GEI foi prejudica<strong>do</strong>, pois a participação socialocorreu com limitações. As comunida<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>riam transformar seu meio ambiente daforma que <strong>de</strong>sejassem, pois <strong>de</strong>veriam consi<strong>de</strong>rar um cenário que envolvesse a implantação <strong>do</strong>CEA. E, também, as reuniões <strong>do</strong> GEI que envolveram um maior contingente <strong>de</strong> indivíduosdas comunida<strong>de</strong>s locais foram muito poucas com pouco tempo para a apresentação <strong>do</strong>s órgãosgovernamentais, o que restringiu a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que mais pessoas recebessem maisesclarecimentos <strong>do</strong>s órgãos governamentais e apresentassem seus questionamentos.


118Outro ponto problemático foi a falta <strong>de</strong> comunicação direta com as comunida<strong>de</strong>s quefaz com que perdure, por exemplo, a percepção <strong>de</strong> que o CLA e o CEA são a mesma coisa,tema que foi amplamente <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> e esclareci<strong>do</strong> nas reuniões <strong>do</strong> grupo com as entida<strong>de</strong>s dasocieda<strong>de</strong> civil, mas que não chegam à população. Por isso, enten<strong>de</strong>m que o relacionamentocom o CEA será tão restritivo quanto o vigente com o CLA.Com isso, o papel das organizações da socieda<strong>de</strong> civil ganhou mais força, pois eramsempre as mais presentes e atuantes nas reuniões com o <strong>Grupo</strong>. E tinham uma certalegitimida<strong>de</strong> para atuar como suas representantes das comunida<strong>de</strong>s, principalmente o <strong>MA</strong>BE,ACONERUQ, CCN e, também, o STTR, pois atuaram nas comunida<strong>de</strong>s para elevar aconscientização da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quilombola e os benefícios <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntes.Sua mobilização, fundamentada no direito étnico e na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s locais, proporcionou o fortalecimento político necessário paraimpelir o Esta<strong>do</strong> a negociar cada passo que quisesse empreen<strong>de</strong>r para a expansão <strong>do</strong> CEA, atéporque eles conseguiram respal<strong>do</strong> jurídico para suas ações. Sobre esse contexto, Touraine(1996, p. 37) afirma que:A vida política é feita da oposição entre <strong>de</strong>cisões políticas e jurídicas quefavorecem os grupos <strong>do</strong>minantes e o apelo à <strong>de</strong>terminada moral social que<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os interesses <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s ou minorias e é escuta<strong>do</strong> porquecontribui também para a interação social.Essa afirmação não correspon<strong>de</strong> muito à realida<strong>de</strong> brasileira recente na qual a esferajurídica e constitucional tem ofereci<strong>do</strong> garantias e direitos às minorias como os negros eíndios. A garantia ao território concedida às comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos pelaConstituição Fe<strong>de</strong>ral é fruto <strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> articulação <strong>do</strong> movimento negro, o que promoveu ofortalecimento <strong>do</strong> discurso relaciona<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica e o “surgimento” constante <strong>de</strong>diversas comunida<strong>de</strong>s que antes não se <strong>de</strong>nominavam como tal.Em 2002, 743 comunida<strong>de</strong>s quilombolas haviam si<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificadas e reconhecidas. De2003 a 2007, foram mapeadas 3.524 comunida<strong>de</strong>s quilombolas, o que representa umcrescimento expressivo <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s auto<strong>de</strong>finidas quilombolas 52 . Isto é, o número <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s quintuplicou no perío<strong>do</strong>. Assim, quan<strong>do</strong> se ressalta o “surgimento” <strong>de</strong>populações remanescentes <strong>de</strong> quilombos, não significa dizer que tais populações não existiam,52 Disponível em http://www.presi<strong>de</strong>ncia.gov.br/estrutura_presi<strong>de</strong>ncia/seppir/copy_of_acoes/. Acessoem: 5 jan. 2008.


119mas que simplesmente muitas <strong>de</strong>las não se reconheciam como tal, pois não havia vantagensnisso, o que mu<strong>do</strong>u com o artigo 68 da CF <strong>de</strong> 1988.Neste senti<strong>do</strong>, as entida<strong>de</strong>s sociais ligadas ao movimento negro têm um papelfundamental em <strong>do</strong>tar com um discurso jurídico, pelo menos, aqueles que têm as mesmascaracterísticas <strong>do</strong>s quilombolas, mas que não se <strong>de</strong>nominam como tal, principalmente por nãodisporem <strong>de</strong> organização e meios para a formulação <strong>de</strong> um discurso articula<strong>do</strong> nos mesmotermos 53 . Com isso, aumentam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mobilização que proporciona o reconhecimentocomo sujeito político e <strong>de</strong> direito na esfera pública e permite que se assuma posições <strong>de</strong><strong>de</strong>safio e enfrentamento.Essa é uma variável relevante na negociação entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> e que influencioudiretamente nos trabalhos <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong>.Pelo menos, o GEI partiu da premissa que o processo participativo <strong>de</strong>veria buscar aintegração entre os benefícios e valores mo<strong>de</strong>rnos que serão trazi<strong>do</strong>s com o ProgramaEspacial com o respeito à cultura e à tradição das comunida<strong>de</strong>s locais.Contu<strong>do</strong>, a evolução <strong>do</strong> processo participativo passa pela “conscientização, organizaçãoe capacitação contínua e crescente da população ante a sua realida<strong>de</strong> concreta” (SOUZA,1987, p. 84). Esse trabalho foi bem melhor realiza<strong>do</strong> pelas organizações sociais locais <strong>do</strong> quepelos agentes governamentais envolvi<strong>do</strong>s no <strong>Grupo</strong>, trabalho prejudica<strong>do</strong> também pelaausência <strong>de</strong> coesão interna <strong>do</strong> GEI. Como afirma a li<strong>de</strong>rança da agrovila <strong>de</strong> Peru, “você sóenten<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> participa”.Como resulta<strong>do</strong>, prevaleceu uma visão com um viés unilateral, proporciona<strong>do</strong> pelasentida<strong>de</strong>s sociais, o que impediu a construção <strong>de</strong> um ambiente colaborativo, pois a<strong>de</strong>sconfiança quanto às ações governamentais permaneceu. Além disso, as ações propostastiveram pouco impacto e percepção na população local, o que aju<strong>do</strong>u na manutenção dasresistências.Portanto, a motivação para proporcionar uma cooperação voluntária por parte dapopulação só surgiria se houvesse uma boa perspectiva <strong>de</strong> geração <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s, o53 Arruti (2006, p. 45), <strong>de</strong>nomina isso como processo <strong>de</strong> “nominação”, que consiste no movimento <strong>de</strong>instituição <strong>de</strong> uma categoria jurídica ou administrativa que, engloban<strong>do</strong> uma população heterogêneacom base em <strong>de</strong>terminadas características comuns, a institui como um sujeito <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>verescoletivos e comum um objeto <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.


120que não havia em <strong>Alcântara</strong>. De acor<strong>do</strong> com a li<strong>de</strong>rança da agrovila <strong>de</strong> Cajueiro, as pessoasiam a reuniões com o Governo, mas “<strong>de</strong>smotivavam-se por não verem resulta<strong>do</strong>s”.Diante <strong>do</strong> exposto, não po<strong>de</strong>-se dizer que o processo participativo formata<strong>do</strong> pelo GEIfoi totalmente instrumental, pois apesar <strong>de</strong> objetivar conseguir apoio da população para aviabilização <strong>do</strong> CEA, as <strong>de</strong>mandas da população foram ouvidas e elas tiveram participaçãonas <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, mesmo que <strong>de</strong> forma limitada, na formulação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>ações para o município. Além disso, buscou o compromisso e os recursos para sua execução emonitorou os resulta<strong>do</strong>s.Por isso, apesar das <strong>de</strong>ficiências já citadas, o GEI-<strong>Alcântara</strong> parece ter si<strong>do</strong> o espaçoinstitucional a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para “retomar” as negociações em <strong>Alcântara</strong>, afirmação compartilhadapor to<strong>do</strong>s os integrantes <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> e, a <strong>de</strong>speito das divergências internas ocorridas no GEI, e,também, pelas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil que participaram <strong>do</strong> processo. A representante daAssociação Beneficente da 3ª Ida<strong>de</strong> ressaltou que com o GEI, ganhou “credibilida<strong>de</strong> eespaço”. Já o representante <strong>do</strong> <strong>MA</strong>BE disse que o GEI foi importante, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, para darvisibilida<strong>de</strong> para a questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> e retomar as negociações.Porém, apesar <strong>de</strong> alguns avanços, não obteve sucesso na promoção <strong>do</strong> consenso,conseqüência da dificulda<strong>de</strong> em criar um ambiente colaborativo, bem como, não conseguiu<strong>de</strong>senvolver um plano que promovesse o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong> município. Talvezpor isso, quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong>s sobre quem <strong>de</strong>veria dar continuida<strong>de</strong> às ações em <strong>Alcântara</strong>,nenhum representante da socieda<strong>de</strong> civil manifestou que o processo <strong>de</strong>veria ser capitanea<strong>do</strong>por um novo GEI.Enfim, existe um longo caminho a ser percorri<strong>do</strong> para que seja alcançada a cooperaçãodas comunida<strong>de</strong>s e suas representações. Precisa ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um bom estoque <strong>de</strong> capitalsocial, basea<strong>do</strong> no restabelecimento da confiança entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil, mediante umprocesso contínuo <strong>de</strong> ações recíprocas entre ambos, principalmente, as que promovam aqualificação técnica e política para formular políticas públicas, que permitam a partilhaefetiva <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r em benefício <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.


121CONCLUSÃOA construção <strong>de</strong> um cenário envolve a análise <strong>de</strong> diversas variáveis no presente e comoelas <strong>de</strong>verão se comportar no futuro mediante a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas ações e interaçõesentre elas ou a ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s fatos e acontecimentos. Isso permite umavisualização <strong>do</strong> que o futuro po<strong>de</strong>rá vir a ser se atuarmos para lhe dar as condiçõesnecessárias para que ele seja o mais bem sucedi<strong>do</strong> possível e benéfico a to<strong>do</strong>s.Quan<strong>do</strong> se inclui nesse cenário a implementação <strong>de</strong> um projeto volta<strong>do</strong> ao<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, é necessário, inicialmente, a promoção <strong>de</strong> um ambiente<strong>de</strong>mocrático que garanta a efetiva participação <strong>do</strong>s cidadãos no planejamento e na tomada <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão. Desta forma, fortalece-se a matéria política perante a técnica na concepção <strong>do</strong><strong>de</strong>senho das políticas públicas estabelecen<strong>do</strong>-se a necessária parceria com a socieda<strong>de</strong> para asua implementação em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a cargo somente <strong>de</strong> um aparelho burocráticohierarquiza<strong>do</strong> e especializa<strong>do</strong>.Ao estabelecer essa meta para <strong>Alcântara</strong>, o Esta<strong>do</strong> Brasileiro parece ter a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> oconceito <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável mais como uma premissa politicamente correta <strong>do</strong>que como uma meta efetivamente a ser atingida. Isto porque alguns problemas precisavam serequaciona<strong>do</strong>s antes que se pensasse em um projeto nesse senti<strong>do</strong>.Certamente o mais importante <strong>de</strong>les é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliação <strong>do</strong> direito <strong>de</strong>proprieda<strong>de</strong> da terra aos remanescentes <strong>de</strong> quilombos e <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em promover eincentivar o <strong>de</strong>senvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. Para isso,um processo <strong>de</strong> negociação precisava ser aberto, no qual o diálogo fosse constante,transparente e com o estabelecimento e cumprimento mútuo <strong>de</strong> compromissos.Esse objetivo foi dificulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao fato <strong>de</strong> que durante to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong>implantação <strong>do</strong> CLA, na década <strong>de</strong> 80, a socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> foi alijada <strong>do</strong> processo<strong>de</strong>cisório e viu povoa<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> prejudica<strong>do</strong>s e contrapartidas governamentais sen<strong>do</strong>assumidas e não cumpridas. Este problema resultou em um eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança dasli<strong>de</strong>ranças locais quanto às iniciativas governamentais e a sua conseqüente mobilizaçãoquanto à expansão <strong>do</strong> CEA, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, principalmente, à perspectiva <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>slocamentos eao fortalecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quilombola proveniente da garantia constitucional aosremanescentes das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quilombos à proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> território que ocupam.


122Essa mobilização social, fundamentada no direito étnico e na luta contra uma forma <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento similar à utilizada pelos órgãos estatais no passa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>monstrou que oEsta<strong>do</strong> não conseguiria impor uma concepção própria <strong>de</strong> projeto sobre as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>. Portanto, po<strong>de</strong>-se perceber a limitação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r formal exerci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> e,conseqüentemente, da sua autonomia.Além disso, <strong>Alcântara</strong> é um município carente, que teve, no passa<strong>do</strong>, seu momento <strong>de</strong>importância econômica e social no cenário regional, mas que hoje é incapaz <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolversem um apoio político, técnico e financeiro externo. Os cidadãos alcantarenses mobiliza<strong>do</strong>snão po<strong>de</strong>m, sozinhos, realizar reformas e os serviços pelos quais lutaram. É necessário umaparato estatal organiza<strong>do</strong> e a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à construção <strong>do</strong> seu bem-estar, que ofereça,principalmente, os recursos necessários para a melhoria da saú<strong>de</strong>, educação e infra-estrutura.Neste contexto, o GEI-<strong>Alcântara</strong> foi instituí<strong>do</strong> como o espaço público necessário parareaproximar Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> civil e viabilizar a expansão <strong>do</strong> PNAE mediante a promoção<strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para o Município, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> suas característicasetnoculturais, econômicas e ambientais. Para este fim, tinha como premissa o carátermultisetorial que a questão pressupõe e a participação da socieda<strong>de</strong> civil para a tomada <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão quanto às políticas públicas a serem implementadas, no intuito <strong>de</strong> reduzir resistênciase incertezas, aten<strong>de</strong>r às priorida<strong>de</strong>s locais e estabelecer um canal <strong>de</strong> comunicação direto eaberto para o <strong>de</strong>bate, visan<strong>do</strong> com isso, conseguir legitimida<strong>de</strong> aos trabalhos <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, aevolução <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> negociação e uma maior efetivida<strong>de</strong> das ações.No entanto, apesar <strong>do</strong> caráter <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> sua atuação, a participação social foilimitada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às poucas oportunida<strong>de</strong>s para a interação <strong>do</strong> GEI com as comunida<strong>de</strong>s, emvirtu<strong>de</strong> da distância <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, e o pouco espaço para a apresentação <strong>do</strong>s órgãosgovernamentais. Com isso, muitos esclarecimentos ainda precisam ser feitos às comunida<strong>de</strong>squanto ao que se preten<strong>de</strong> com o CEA.Essa situação permitiu que as entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil mais atuantes em <strong>Alcântara</strong>,em particular as ligadas ao movimento negro, ganhassem mais representativida<strong>de</strong> nascomunida<strong>de</strong>s, pois elas estão muito mais presentes no seu dia-a-dia, permean<strong>do</strong>-as com a suavisão danosa da relação CEA com as comunida<strong>de</strong>s e aproveitaram as negociações com ogoverno para fortalecerem-se politicamente. Essa representativida<strong>de</strong> advém, também, <strong>do</strong>reconhecimento <strong>do</strong>s benefícios que o reconhecimento como remanescentes <strong>de</strong> quilombos


123trazem, o que fez com que as organizações se unissem no campo político para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seusinteresses basea<strong>do</strong>s na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica em vez <strong>do</strong> direito agrário, pois perceberam que,mediante essa estratégia, seus pleitos ganhariam maior apelo jurídico, político e social.Neste contexto, a ausência <strong>de</strong> titulação da terra <strong>–</strong> principal ponto <strong>de</strong> discórdia e <strong>de</strong>reivindicação das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos e que, apesar <strong>de</strong> bastante<strong>de</strong>bati<strong>do</strong>, não alcançou um consenso entre Esta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> no âmbito <strong>do</strong> GEI <strong>–</strong> prejudica arealização <strong>de</strong> algumas ações em <strong>Alcântara</strong> e é o “combustível” para as organizações sociaismanterem a estratégia <strong>de</strong> confronto vigente nas negociações.Alia<strong>do</strong> a isso, algumas das ações promovidas pelas entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civildificultaram o processo e mantiveram o impasse, impedin<strong>do</strong>, por exemplo, que os órgãosgovernamentais explicassem as propostas diretamente às comunida<strong>de</strong>s em algumas ocasiões.O que estava implícito nessa estratégia foi o objetivo <strong>de</strong> titular o território como <strong>de</strong>remanescentes <strong>de</strong> quilombos, com exceção da área <strong>do</strong> CLA, para <strong>de</strong>pois negociar com ogoverno os sítios <strong>de</strong> lançamento, em contraposição à intenção <strong>do</strong> governo em titular oterritório, com exceção das áreas <strong>do</strong> CLA e das previstas para os sítios.Ao enfatizar uma estratégia baseada no confronto, as entida<strong>de</strong>s representativas dasocieda<strong>de</strong> civil, per<strong>de</strong>ram uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitar a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pleitos parabuscar ser um canal facilita<strong>do</strong>r da comunicação com a população local e, também, fortalecer aparceria com o governo fe<strong>de</strong>ral e, principalmente, com a AEB, para vencer a etapa, porexemplo, da regularização fundiária <strong>do</strong> território <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, primordial para que outrasações possam ser iniciadas e dar continuida<strong>de</strong> aos trabalhos para o futuro <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Isso não quer dizer que elas <strong>de</strong>vam se abster <strong>do</strong> seu papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensoras <strong>do</strong>s direitos dascomunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos. Pelo contrário, a sua mobilização gerou asensibilização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a entrada da questão na agenda política. O receio é que a estratégia<strong>de</strong> jamais cooperar continue prejudican<strong>do</strong> as comunida<strong>de</strong>s no que diz respeito ao recebimento<strong>de</strong> benefícios e melhorias.Mas mesmo com essas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negociação com a socieda<strong>de</strong> civil, o GEIconseguiu elaborar em parceria com as comunida<strong>de</strong>s, um rol significativo <strong>de</strong> ações paraproporcionar uma série <strong>de</strong> melhorias para <strong>Alcântara</strong>. Após a elaboração <strong>do</strong> plano das ações,com o objetivo <strong>de</strong> garantir o compromisso político <strong>do</strong>s Ministérios para a sua execução, foi


124assina<strong>do</strong> um Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cooperação Técnica que possibilitou uma cobrança mais efetivaquanto à realização das diretrizes e ações acordadas. Alia<strong>do</strong> a isso, a instituição <strong>do</strong>s Comitês<strong>de</strong> monitoramento possibilitou i<strong>de</strong>ntificar e sanar problemas para auxiliar na execução <strong>do</strong>sMinistérios e permitiu a participação no controle <strong>do</strong> andamento das ações.Entretanto, as ações ali constantes careceram <strong>de</strong> articulação intragovernamental econtinuida<strong>de</strong>. Isto é, faltou ao plano ser construí<strong>do</strong> e implementa<strong>do</strong> sob uma ótica transversalo que promoveria a convergência e integração das ações para conseguir um resulta<strong>do</strong> maisefetivo na promoção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento local e conjuga<strong>do</strong> com políticas <strong>de</strong> redução dapobreza e com o melhor aproveitamento <strong>do</strong>s recursos disponíveis.Isso se explica pela pré-concepção das ações nos ministérios, o que também limitou aparticipação social na medida em que não conseguiram realizar as ações da forma queesperavam, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o seu contexto.Diante <strong>do</strong> exposto, o GEI não foi efetivo no objetivo <strong>de</strong> estabelecer uma parceria com ascomunida<strong>de</strong>s e com as organizações sociais, com o objetivo <strong>de</strong> reduzir a sua resistência aoprojeto <strong>do</strong> CEA. Ele não conseguiu gerar a mobilização para congregar as pessoas paracontribuir na construção conjunta <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a garantir umaparticipação mais consciente e consistente. Como ocorreu a percepção <strong>de</strong> que o projeto excluialguns atores, principalmente as entida<strong>de</strong>s, ele atuaram contrariamente ao mesmo.Como as ações não tiveram continuida<strong>de</strong>, pois o GEI se dissolveu e o ACT possuíaprazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>, reforça-se o caráter compensatório das políticas propostas no intuito <strong>de</strong>reduzir a resistência e a incerteza das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> em vez <strong>de</strong> um plano efetivo<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.O Esta<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> continuar partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio <strong>de</strong> que a cada ação governamentalem <strong>Alcântara</strong> que gere uma mobilização social contrária cria-se um grupo ad hoc para propormelhorias para o município. Esta estratégia não é planejada, não visa o longo prazo, mas sim,tenta “amenizar” os ânimos da socieda<strong>de</strong> civil para a realização <strong>de</strong> etapas seguintes daconstrução <strong>do</strong> Centro Espacial.Por isso, a idéia <strong>de</strong> criar um programa multisetorial no Plano Plurianual parece ser amelhor alternativa disponível no momento para se ter continuida<strong>de</strong> nas ações para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>. Em adição, para apoiar o seu gerenciamento, seria


125cria<strong>do</strong> um comitê gestor composto por órgãos governamentais e socieda<strong>de</strong> civil, vincula<strong>do</strong>sao programa governamental para <strong>Alcântara</strong>, que auxiliaria no acesso aos bens e serviçospropostos pelos ministérios.Como tal idéia, pelo menos em 2008, não consta no novo PPA, é provável que o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> acabe fican<strong>do</strong> a cargo da Agência Espacial Brasileira/MCT,pois com a implantação <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong> lançamento, o órgão permanecerá coor<strong>de</strong>nan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s einvestimentos, provavelmente em parceria com o Coman<strong>do</strong> da Aeronáutica, que influenciarãona vida da população local.Em relação à atuação das entida<strong>de</strong>s representantes da socieda<strong>de</strong> civil, o GEI significouuma janela política para que elas aumentassem as suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> representação social,permitin<strong>do</strong> a apresentação <strong>de</strong> reivindicações e a participação efetiva em diversas etapas <strong>do</strong>processo <strong>de</strong>cisório. Contu<strong>do</strong>, pelo menos as entida<strong>de</strong>s que tomaram a frente nas negociações,não entraram no processo visan<strong>do</strong> o consenso. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> sua estratégia <strong>de</strong> atuação, pareceque seu objetivo principal era o <strong>de</strong> fortalecer o seu papel junto ao Esta<strong>do</strong> como principaisinterlocutoras das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, ten<strong>do</strong> como fundamento a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica, enão o <strong>de</strong> trazer benefícios para o Município.No que concerne à <strong>de</strong>sconcentração e <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res para o nível local,com o objetivo <strong>de</strong> tornar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> processo mais eficiente, sugere-se algumaslinhas <strong>de</strong> ação.No GEI-<strong>Alcântara</strong> havia uma maior proximida<strong>de</strong> das entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> civil comalguns órgãos governamentais como M<strong>MA</strong> e SEPPIR, <strong>do</strong> que com outros. É importantemanter e ampliar esses vínculos externos, pois eles permitem que a informação possa chegar<strong>de</strong> forma mais clara e rápida aos beneficiários finais, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tornar mais fácil vencerresistências e melhorar a capacida<strong>de</strong> para promover o <strong>de</strong>senvolvimento. Essa integração entreEsta<strong>do</strong> e socieda<strong>de</strong> é importante, também, pois possibilita a esta última a orientar e apoiar aforma <strong>de</strong> atuação governamental. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve-se buscar uma unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> posicionamentointerna para que a participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nessas re<strong>de</strong>s externas seja coerente e transmitasegurança, aspecto no qual o GEI não obteve sucesso.Do ponto <strong>de</strong> vista da habilitação para a realização <strong>de</strong> ações no Município, <strong>de</strong>ve-sefortalecer as organizações locais nos aspectos técnicos e gerenciais, sejam elas públicas ou


126privadas, pois serão seus agentes que darão continuida<strong>de</strong> ao processo junto às comunida<strong>de</strong>sno futuro e em parceria com a AEB e com outros órgãos governamentais.Em paralelo, é necessária a mobilização e a organização horizontal das comunida<strong>de</strong>slocais, com a formação <strong>de</strong> novos atores, que sejam capazes <strong>de</strong> promover mudanças nasrelações políticas, principalmente entre prefeitura e entida<strong>de</strong>s sociais. Isso po<strong>de</strong> ser feitomediante a criação <strong>de</strong> espaços públicos permanentes, paritários e apartidários <strong>–</strong> com o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> evitar a “absorção” <strong>do</strong>s mesmos por li<strong>de</strong>ranças locais <strong>–</strong> que possibilitem oexercício da cidadania e a manifestação <strong>do</strong>s interesses locais, visan<strong>do</strong> <strong>de</strong>mocratizar a escolhadas priorida<strong>de</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento local e estimular a solidarieda<strong>de</strong> e coresponsabilida<strong>de</strong><strong>do</strong>s atores públicos e priva<strong>do</strong>s em torno <strong>de</strong> problemas que envolvam oequilíbrio entre o bem-estar ambiental, social e econômico.Enfim, não se po<strong>de</strong>ria atribuir ao GEI-<strong>Alcântara</strong> o papel <strong>de</strong> agente transforma<strong>do</strong>r <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> e da socieda<strong>de</strong>, esperan<strong>do</strong> que ele eliminasse a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e instaurasse a cidadania,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, principalmente, ao fato <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> temporário e ter discricionarieda<strong>de</strong> limitada.Os seus gran<strong>de</strong>s resulta<strong>do</strong>s foram enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, possibilitan<strong>do</strong> quea população se manifestasse para <strong>de</strong>finir suas <strong>de</strong>mandas e as soluções que cada Ministériopo<strong>de</strong>ria oferecer; conseguir o compromisso político governamental, por meio <strong>do</strong> ACT, emgarantir a execução das ações, crian<strong>do</strong> comitês para realizar o monitoramento da suaimplementação; e, principalmente, representar a retomada <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> negociação com ascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>.Cabe <strong>de</strong>stacar, também, como uma conquista <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> formulação<strong>de</strong> políticas públicas, a nova concepção <strong>do</strong> PNAE, com a significativa redução da áreaprevista para os sítios <strong>de</strong> lançamento, o estabelecimento <strong>de</strong> diretrizes para as medidas sócioambientaisque serão realizadas pela AEB e para aproximar o CEA/CLA da população local,mediante a integração da estrutura <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> CEA com a cida<strong>de</strong>, e o compromisso com onão <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s.Como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o processo, o GEI-<strong>Alcântara</strong> parece ter consegui<strong>do</strong> certoreconhecimento perante os diversos agentes sociais, tanto públicos quanto priva<strong>do</strong>s, namedida em que muitos <strong>de</strong>les <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram a sua continuida<strong>de</strong>. Isso ocorreu tanto pelosresulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s, principalmente, por ter si<strong>do</strong> um espaço <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> discussão emobilização que permitiu a visibilida<strong>de</strong> para a questão <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, quanto pelo receio <strong>de</strong>


127que, com o fim <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>, a relevância e o foco governamental se dispersasse, o que, <strong>de</strong> fato,ocorreu.Se essa dispersão realmente perdurar, o GEI corre o risco <strong>de</strong> se tornar mais umainiciativa burocrática perdida no tempo, comprometen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> um esforço realiza<strong>do</strong> natentativa <strong>de</strong> estabelecer um ambiente harmônico. Com a continuida<strong>de</strong> das ações, a confiançae, conseqüentemente, a cooperação, ten<strong>de</strong>m a aumentar, pois se consolida a percepção acerca<strong>do</strong> real compromisso <strong>do</strong>s órgãos envolvi<strong>do</strong>s e, também, sobre a melhoria das condiçõeseconômicas locais.Com isso, a mobilização social contrária ao projeto se enfraquecerá <strong>de</strong> formainversamente proporcional ao ganho <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> das ações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e outros objetivospo<strong>de</strong>rão ser estabeleci<strong>do</strong>s com a socieda<strong>de</strong> civil. Neste contexto, cabe às organizações sociaisque em nome da socieda<strong>de</strong> falam e agem, compreen<strong>de</strong>r sua função não só como <strong>de</strong>fensoras <strong>de</strong>direitos, mas, também, como colabora<strong>do</strong>ras, facilita<strong>do</strong>ras e agrega<strong>do</strong>ras.Parte da população <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> acredita que o CEA trará benefícios para o município,mas que as peculiarida<strong>de</strong>s étnicas e sócio-culturais locais <strong>de</strong>vem ser respeitadas e o territórioseja regulariza<strong>do</strong>. Portanto, quan<strong>do</strong> afirmam “não queremos o CEA”, na verda<strong>de</strong> queremdizer que, respeitan<strong>do</strong> as condições acima e, principalmente, com uma maior aproximaçãocom as entida<strong>de</strong>s locais, o projeto po<strong>de</strong> ser viabiliza<strong>do</strong>.É necessário que to<strong>do</strong>s os atores envolvi<strong>do</strong>s tenham a consciência <strong>de</strong> que atransformação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo atual <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> requer um esforço coletivo caso o objetivo sejarealmente o <strong>de</strong> se estabelecer uma socieda<strong>de</strong> sustentável, com todas as suas particularida<strong>de</strong>ssócio-ambientais, produtivas e culturais, na qual não exista um para<strong>do</strong>xo local entre uma áreaaltamente <strong>de</strong>senvolvida e com tecnologia <strong>de</strong> ponta, e outra com extrema pobreza e meios <strong>de</strong>produção arcaicos.


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132APÊNDICEQuestionário utiliza<strong>do</strong> para levantar as opiniões <strong>de</strong> integrantes <strong>do</strong> GEI-<strong>Alcântara</strong> sobreo trabalho <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>.Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília <strong>–</strong> UnBCentro <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável <strong>–</strong> CDSBom dia! Meu nome é An<strong>de</strong>rson da Costa Mello. Fui participante <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>Executivo</strong><strong>Interministerial</strong> (GEI) para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>–</strong> <strong>MA</strong> pela Casa Civilda Presidência da República. Estou contactan<strong>do</strong>-o com fins acadêmicos, pois sou mestran<strong>do</strong>da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília e estou analisan<strong>do</strong> a <strong>experiência</strong> <strong>do</strong> GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong> na promoção<strong>de</strong> políticas públicas para o Município.Para tanto, gostaria <strong>de</strong> contar com a vossa colaboração no preenchimento <strong>do</strong>questionário abaixo e que, em seguida, o mesmo seja envia<strong>do</strong> para o e-mailcman<strong>de</strong>rson@uol.com.br.QUESTIONÁRIONome completo: ________________________________________________________Órgão: ________________________________________________________________Telefone para contato: ____________________________________________________1. O(A) Sr.(a) participou efetivamente das ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong> <strong>do</strong> seu inícioaté o final?a) ( ) Simb) ( ) Não, participei somente no início.c) ( ) Não, entrei em substituição a outro colega.


133d) ( ) Não, participava ocasionalmente.2. O(A) Sr.(a) acredita que a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> GEI possibilitou aos seusintegrantes conhecerem as <strong>de</strong>mandas prioritárias das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>?a) ( ) Simb) ( ) Não. Por quê? __________________________________________________3. O(A) Sr.(a) acredita que a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> GEI possibilitou a to<strong>do</strong>s os atores(governo e socieda<strong>de</strong>) a manifestação <strong>de</strong> suas opiniões e um processo <strong>de</strong>cisório<strong>de</strong>mocrático?a) ( ) Simb) ( ) Não. Por quê? __________________________________________________4. Na sua opinião, o GEI conseguiu promover o consenso entre os órgãos governamentaise entre estes e os representantes das comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>?a) ( ) Simb) ( ) Não5. Caso sua resposta tenha si<strong>do</strong> Sim, passe para a próxima pergunta. Caso sua respostatenha si<strong>do</strong> Não, o que mais prejudicou o consenso nas discussões entre governo esocieda<strong>de</strong> civil?a) ( ) A <strong>de</strong>sconfiança provocada pelo passivo histórico com as comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, provoca<strong>do</strong>, principalmente, peloremanejamento das famílias quan<strong>do</strong> da implantação <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Lançamento <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>.b) ( ) A inflexibilida<strong>de</strong> nas posições das entida<strong>de</strong>s representantes das comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombos <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> que mais participaram <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>negociação com o GEI.


134c) ( ) A <strong>de</strong>mora inicial na execução das ações propostas no plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> GEI.d) ( ) A dificulda<strong>de</strong> na formação <strong>de</strong> uma posição única <strong>de</strong> governo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às diferentescorrentes existentes no âmbito <strong>do</strong> GEI.e) ( ) A in<strong>de</strong>finição quanto à regularização fundiária <strong>do</strong> Município.f)( ) Outro. Explique: _____________________________________________________6. O(A) Sr.(a) acredita que existiram divisões internas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong>?a) ( ) Simb) ( ) Não7. Caso sua resposta tenha si<strong>do</strong> Não, passe para a próxima pergunta. Caso a respostaanterior tenha si<strong>do</strong> Sim, o(a) Sr.(a) acredita que, com essa divisão, o processo <strong>de</strong>articulação intragovernamental foi:a) ( ) totalmente prejudica<strong>do</strong>, impedin<strong>do</strong> que os órgãos realizassem ações conjuntas.b) ( ) parcialmente prejudica<strong>do</strong>, pois os órgãos que <strong>de</strong>fendiam as mesmas posiçõesconseguiram se apoiar mutuamente.c) ( ) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, pois os órgãos conseguiram superar suas diferenças na busca peloconsenso.8. Como o(a) Sr.(a) avalia as ações propostas no plano <strong>de</strong> ação <strong>do</strong> GEI?a) ( ) Excelentes.b) ( ) Boas, mas necessitam <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> ações complementares.c) ( ) Boas, mas faltou um planejamento integra<strong>do</strong>.d) ( ) Ruins, pois não aten<strong>de</strong>ram às <strong>de</strong>mandas das comunida<strong>de</strong>s.e) ( ) Outro. Explique: ________________________________________________


1359. Na sua opinião, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>, o que é mais prioritário:a) ( ) A viabilização <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro, pois trará inúmeros benefícios aopaís e, principalmente, a <strong>Alcântara</strong>.b) ( ) A promoção <strong>de</strong> políticas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>, respeitan<strong>do</strong> suas peculiarida<strong>de</strong>s étnicas e sócio-culturais.c) ( ) Tanto a viabilização <strong>do</strong> Programa Espacial Brasileiro quanto o <strong>de</strong>senvolvimentodas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> têm o mesmo nível <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>.10. Na sua opinião, o GEI conseguiu atingir o seu objetivo <strong>de</strong> articular, viabilizar eacompanhar as ações necessárias ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>?a) ( ) Simb) ( ) Não. Por quê? _________________________________________________11. O(A) Sr.(a) consi<strong>de</strong>ra que a instituição <strong>do</strong> GEI foi a forma mais a<strong>de</strong>quada paradiscutir e promover políticas públicas para <strong>Alcântara</strong>?a) ( ) Simb) ( ) Não. Por quê? _________________________________________________12. Ten<strong>do</strong> o GEI finaliza<strong>do</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, o(a) Sr.(a) acredita que as políticas públicaspropostas para <strong>Alcântara</strong> terão continuida<strong>de</strong>?a) ( ) Sim, os órgãos não per<strong>de</strong>rão o foco.b) ( ) Sim, pois outro arranjo institucional será cria<strong>do</strong> com este fim.c) ( ) Sim, por meio da Agência Espacial Brasileira.d) ( ) Nãoe) ( ) Não sei.


13613. Na sua opinião, quais foram os principais resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> GEI <strong>–</strong> <strong>Alcântara</strong>?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


137ANEXO 11ª. PROPOSTA PARA O CEA


138ANEXO 22ª. PROPOSTA PARA O CEA


139ANEXO 3ÚLTI<strong>MA</strong> PROPOSTA PARA O CEA


ANEXO 4140PLANO DE AÇÃO DO GEI <strong>–</strong> ALCÂNTARA1.2.3.4.AçãoConstrução <strong>de</strong> moradias na área urbana <strong>do</strong> município <strong>de</strong><strong>Alcântara</strong>Criação <strong>de</strong> Subgrupo específico, mediante Portaria da Casa Civilda Presidência da República, para tratar exclusivamente daregularização fundiária das agrovilas, das áreas quilombolas e <strong>do</strong>CLA {MDA (coor<strong>de</strong>nação), Casa Civil, AGU, MD, CO<strong>MA</strong>ER,M<strong>MA</strong>, MS, MCida<strong>de</strong>s, AEB, SPU/MP e Fundação Palmares)Inclusão nas medidas sócio-ambientais <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> implantação<strong>do</strong> Centro Espacial <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> (CEA) <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> recuperaçãodas agrovilas, compensação ambiental, infra<strong>–</strong>estrutura econstrução <strong>de</strong> moradias.Reconhecimento, Demarcação e Titulação <strong>de</strong> ÁreasRemanescentes <strong>de</strong> QuilombosRef.AnteriorDescritor da MetaMeta2005Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)Responsável01 Unida<strong>de</strong>s 252 1.890.000,00 MCida<strong>de</strong>s02 Portaria publicada 1Ação não<strong>–</strong>financeiraCasa Civil03 <strong>–</strong> 500.000,00 AEB / MCT04Comunida<strong>de</strong> / ÁreaRegularizada17 600.000,00 15 600.000,00 MDA5. Apoio à Alimentação Escolar na Educação Básica 05 Aluno beneficia<strong>do</strong> 5522 45.280,00 5522 45.280,00 MEC6.Apoio a projetos <strong>de</strong> melhoria das condições socioeconômicas dasfamílias (Agroindustrialização <strong>de</strong> Mandioca)06 Projeto implementa<strong>do</strong> 1 35.000,00 MDS7. Apoio ao Transporte Escolar no Ensino Fundamental 07 Aluno beneficia<strong>do</strong> 5.900,00 MEC8. Atendimento Integral a Família 08 Famílias atendidas 300 108.000,00 600 216.000,00 MDS9.Bolsa Família <strong>–</strong> Transferência <strong>de</strong> Renda Diretamente às Famíliasem Condições <strong>de</strong> Pobreza e Extrema Pobreza (Valor refere<strong>–</strong>seapenas à inclusão <strong>de</strong> novas famílias em 2005)09 Famílias atendidas 555 354.000,00 MDS


10.11.AçãoCapacitação <strong>de</strong> agentes para o combate <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> abuso emaus tratos contra a pessoa i<strong>do</strong>sa (São Luiz e <strong>Alcântara</strong>)Capacitação <strong>de</strong> Agentes Representativos das Comunida<strong>de</strong>sRemanescentes <strong>de</strong> QuilombosRef.AnteriorDescritor da MetaMeta2005Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)141Responsável10 Agente capacita<strong>do</strong> 150 10.000,00 SEDH11 Pessoa Capacitada 70 24.200,00 SEPPIR12. Capacitação para a Cidadania <strong>do</strong> I<strong>do</strong>so 12 Pessoa capacitada 50 10.000,00 SEDH13. Cota<strong>–</strong>Parte <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s e Distrito Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Salário<strong>–</strong>Educação 13 Cota transferida / aluno 5261 51.300,00 MEC14. Distribuição <strong>de</strong> Livros Didáticos pra o Ensino Fundamental 14 Exemplar distribuí<strong>do</strong> 7933 35.222,00 15486 77.414,00 MEC15. Distribuição <strong>de</strong> Livros Didáticos para o Ensino Médio 15 Exemplar distribuí<strong>do</strong> 828 7.356,00 634 4.542,00 MEC16.17.18.Implementação <strong>de</strong> um Balcão <strong>de</strong> Direitos em áreas <strong>de</strong>quilombolas <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong>Criação <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ensino Descentralizada <strong>do</strong> Centro Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Educação Tecnológica <strong>do</strong> MaranhãoAção <strong>de</strong> fomento à geração <strong>de</strong> trabalho e renda em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>economia solidária (Programa <strong>de</strong> Etno<strong>de</strong>senvolvimento Solidáriodas Comunida<strong>de</strong>s Remanescentes <strong>de</strong> Quilombos)16 Pessoa atendida 12992 42.000,00 SEDH17 Unida<strong>de</strong> implementada 1 1.000.000,00 SENTEC / MEC18Projetos conforme<strong>de</strong>manda450.000,00 MTE19. Dinheiro Direto na Escola para o Ensino Fundamental 19 Escola beneficiada todas 30.130,00 todas 64.760,00 MEC20.21.Restauração, Conservação e Manutenção <strong>de</strong> Monumentos eMelhorias em Logra<strong>do</strong>uros (Programa Monumenta)Treinamento e Promoção <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Econômicas (ProgramaMonumenta)2020Atendimento conforme<strong>de</strong>manda e contrapartidaAtendimento conforme<strong>de</strong>manda e contrapartida1.358.693,00 1.813.245,00 MINC70.000,00 84.000,00 MINC22. Serviço <strong>de</strong> proteção socioassistencial a infância e a<strong>do</strong>lescência 21 Crianças atendidas 150 18.000,00 150 18.000,00 MDS23.24.25.Abastecimento <strong>de</strong> água em comunida<strong>de</strong>s remanescentes <strong>de</strong>quilombosApoio à implementação <strong>do</strong>s Instrumentos <strong>do</strong> Estatuto dasCida<strong>de</strong>s e a elaboração <strong>de</strong> Planos DiretoresApoio ao beneficiamento e comercialização direta <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong>(Programa Feira <strong>do</strong> Peixe Vivo)22 Famílias atendidas 193 400.000,00 MS23 Plano Diretor elabora<strong>do</strong> 1 75.000,00 MCida<strong>de</strong>s24 Ativida<strong>de</strong> apoiada 1 18.000,00 SEAP


26.27.28.AçãoPrograma <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> Alimentos (Máximo: R$ 2,5 mil porprodutor)Criação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, emprego e renda para osjovens em situação <strong>de</strong> maior vulnerabilida<strong>de</strong> social (ConsórcioSocial da Juventu<strong>de</strong> Quilombola)Fomento ao <strong>de</strong>senvolvimento local para comunida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong> quilombosRef.AnteriorDescritor da Meta25 Produtor atendi<strong>do</strong>Meta200512 (nomínimo)Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)142Responsável30.000,00 30.000,00 SEAP26 Jovem qualifica<strong>do</strong> 500 1.194.000,00 500 1.194.000,00 MTE27 Comunida<strong>de</strong> atendida 5 200.000,00 SEPPIR29. Implantação <strong>de</strong> um Trapiche 28 Unida<strong>de</strong> implantada 2 200.000,00 SEAP30.31.32.Implementação <strong>de</strong> infra<strong>–</strong>estrutura <strong>de</strong> apoio à aqüicultura <strong>–</strong>Implantação <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s Demonstrativas <strong>de</strong> AqüiculturaImplementação <strong>de</strong> Casas <strong>de</strong> Farinha (3), SISTE<strong>MA</strong> DE Irrigação(1) e <strong>de</strong> Implementos Agrícolas (3)Melhorias sanitárias <strong>do</strong>miciliares em comunida<strong>de</strong>s remanescentes<strong>de</strong> quilombos33. Pesquisa <strong>de</strong> Depósitos Fossilíferos 3229 Unida<strong>de</strong> implantada 45.000,00 45.000,00 SEAP30 Unida<strong>de</strong> Instalada 7 98.130,00 MINC31 Família atendida 264 500.000,00 MSPesquisa realizada edivulgada1 50.336,00 1 50.000,00 MME34. Programa Luz para To<strong>do</strong>s <strong>–</strong> eletrificação rural 33 Famílias Atendidas 756 4.378.714,00 600 4.170.204,00 MME35.Apoio ao Desenvolvimento Sustentável das Comunida<strong>de</strong>sQuilombolas (Capacitação ou assistência técnica)34 Projeto implementa<strong>do</strong> 3 550.000,00 3 300.000,00 MDA36. Apoio à projetos <strong>de</strong> organizações extrativistas da Amazônia 37 Projeto apoia<strong>do</strong> 4 90.000,00 4 90.000,00 M<strong>MA</strong>37.Curso <strong>de</strong> capacitação e treinamento <strong>de</strong> pequenos produtoresrurais no Município <strong>de</strong> <strong>Alcântara</strong> pra recuperação <strong>de</strong> solos<strong>de</strong>grada<strong>do</strong>s, mediante a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> uso e manejo <strong>de</strong>solo adaptadas às condições edafoclimáticas*Curso realiza<strong>do</strong> 2 16.000,00 <strong>MA</strong>PA38. Capacitação <strong>de</strong> Agentes <strong>de</strong> Desenvolvimento * Projeto implementa<strong>do</strong> 1 60.000,00 MDA39. Fomento a projetos locais da Agenda 21 * Projeto Apoia<strong>do</strong> <strong>–</strong> <strong>–</strong> 1 200.000,00 M<strong>MA</strong>* Nova Ação


AçãoRef.AnteriorDescritor da MetaMeta2005Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)143Responsável40. Fomento a Projetos Integra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Educação Ambiental * Projeto Apoia<strong>do</strong> 1 100.000,00 M<strong>MA</strong>41. Gestão Ambiental em Terra Quilombola * Comunida<strong>de</strong> atendida 2 33.384,00 2 33.384,00 M<strong>MA</strong>42. Capacitação para o Ecoturismo * Profissional capacita<strong>do</strong> 40 10.000,00 M<strong>MA</strong>43.44.Apoio à implementação <strong>do</strong>s Planos Municipais <strong>de</strong> intervenção naOrla Marítima (Estabelecimento <strong>de</strong> alternativas para usos da OrlaMarítima, em áreas <strong>de</strong> patrimônio da União)Fortalecimento <strong>do</strong> Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservaçãocomo instrumento <strong>de</strong> conservação <strong>do</strong>s manguezais <strong>–</strong> Projeto GEFmangue (Diagnóstico para conservação <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> eestímulo a sistemas produtivos sustentáveis <strong>de</strong> pesca)* Plano implementa<strong>do</strong> <strong>–</strong> <strong>–</strong> 1 30.000,00 M<strong>MA</strong>* Diagnóstico realiza<strong>do</strong> <strong>–</strong> <strong>–</strong> 1 40.000,00 M<strong>MA</strong>45. Formação <strong>de</strong> Educa<strong>do</strong>res Ambientais * Pessoa formada 100 40.000,00 100 40.000,00 M<strong>MA</strong>46. Apoio à Criação e Gestão <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação * Projeto apoia<strong>do</strong> 1 50.000,00 1 50.000,00 M<strong>MA</strong>47.48.49.50.Gestão e Administração <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Zoneamento Ecológico<strong>–</strong>Econômico (Prefeitura e organismos que atuam na regiãocapacita<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>senvolver projeto)Sistematização e disseminação <strong>de</strong> conhecimento das populaçõestradicionais (comunida<strong>de</strong>s quilombolas e pesca<strong>do</strong>res artesanais)Proteção e monitoramento <strong>do</strong>s ecossistemas <strong>de</strong> manguezais(campanha <strong>de</strong> educação ambiental e ação <strong>de</strong> fiscalizaçãoimplementadas)Enfrentamento ambiental <strong>do</strong>s riscos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte com a BaseEspacial e <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> óleo na Baia <strong>de</strong> São Marcos**Instituição com técnicoscapacita<strong>do</strong>sProdução <strong>de</strong> cartilhas eví<strong>de</strong>os1 30.000,00 1 30.000,00 M<strong>MA</strong>2 26.000,00 M<strong>MA</strong>* Campanha realizada 1 35.000,00 M<strong>MA</strong>*Implementação <strong>de</strong>campanha1 40.000,00 M<strong>MA</strong>51. Fiscalização nas Ilhas <strong>de</strong> Cajual e Livramento * Operação <strong>de</strong> fiscalização 4 12.123,00 M<strong>MA</strong>52. Criação da reserva extrativista da Ilha <strong>do</strong> Cajual*Reserva criada 1 40.000,00 M<strong>MA</strong>* Nova Ação


AçãoRef.Anterior53. Elaboração e implementação Agenda 21 Local *Descritor da MetaAgenda 21implementadaMeta2005Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)144Responsável1 5.000,00 1 5.000,00 M<strong>MA</strong>54. Publicação Lau<strong>do</strong> Antropológico (autor: Alfre<strong>do</strong> Wagner) * Publicação realizada 1 15.000,00 M<strong>MA</strong>55. Apoio a Expansão e Consolidação da Saú<strong>de</strong> da Família * Equipe implantada 5 486.000,00 5 486.000,00 MS56.57.58.Apoio a Expansão e Consolidação da Saú<strong>de</strong> da Família comagente comunitário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Apoio à Expansão e consolidação da Saú<strong>de</strong> da Família <strong>–</strong>Transporte <strong>de</strong> equipe Saú<strong>de</strong> da FamíliaApoio à Expansão e Consolidação da Saú<strong>de</strong> da Família <strong>–</strong>implantação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Bucal*Agente <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>capacita<strong>do</strong>43 131.040,00 43 131.040,00 MS* Veículo entregue 3 116.700,00 MS* Equipe implantada 5 183.000,00 5 183.000,00 MS59. Elaboração <strong>do</strong> Plano Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Participativo * Plano elabora<strong>do</strong> 1 10.000,00 MS60.61.62.63.64.Implantação <strong>do</strong> Sistema <strong>de</strong> esgotamento sanitário na se<strong>de</strong> <strong>do</strong>MunicípioElaboração <strong>de</strong> Planos para o Desenvolvimento nas RegiõesTurísticasInstalação <strong>de</strong> Fábrica <strong>de</strong> gelo em escamas com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 3toneladas/diaCurso para Gestores <strong>–</strong> Gênero, Raça e Etnia para GestoresPúblicos MunicipaisApoio a projetos <strong>de</strong> melhoria das condições socioeconômicas dasfamílias* Sistema implanta<strong>do</strong> 1 600.000,00 MS* Plano elabora<strong>do</strong> 1 39.600,00 MTur* Fábrica instalada 1 185.000,00 SEAP*Gestor capacita<strong>do</strong> 30 3.000,00 SEPPIR*Horta Comunitáriaimplantada65. Interlocução com Organismos Estrangeiros * Interlocuções realizadas <strong>–</strong>10 80.000,00 MDSRecursosordináriosMRE* Nova Ação


145AçãoRef.AnteriorDescritor da MetaMeta2005Recursos2005 (R$)Meta2006Recursos2006 (R$)Responsável66.Regularização Fundiária: <strong>de</strong>marcação das áreas da União,acompanhamento <strong>do</strong>s processos judiciais e transferência dasáreas ao INCRA.*Portaria PublicadaTermo <strong>de</strong> Transferência1Ação não<strong>–</strong>financeira<strong>–</strong> <strong>–</strong>SPU/MPOGAGUTotal T 16.721.108 10.130.869

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