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Alumiá Nº1

Fanzine colaborativo

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Há pouco tempo passei o dia todo atrás de uma palavra que não<br />

recordo qual era, e tampouco sei se afinal eu encontrei. Estou<br />

chegando à idade madura junto com vários de meus amigos. Entre<br />

nós, sorriso nervoso nos lábios, já falamos por alusões aproximadas<br />

como: "aquele ator que fez o Sherlock Holmes, o mesmo que fez o<br />

cientista gay discriminado que quebrou o código dos alemães, como<br />

era mesmo o nome do filme?". Ficamos, mesmo sem querer,<br />

monitorando a decadência visível da nossa memória imediata.<br />

O que realmente esquecemos é que a memória costuma<br />

escapulir, ser afetuosa, e ás vezes nos esquecemos dos tempos idos<br />

em que éramos crianças puras, alegres e sem pretensões filosóficas em<br />

buscarmos a felicidade. As pessoas esquecem é que nunca tiveram de<br />

fato uma memória prodigiosa. Calma, tudo o que é imprescindível,<br />

volta. Talvez essa rebeldia das recordações tenha o propósito de nos<br />

lembrar que a paciência é a principal aprendizagem que a maturidade<br />

nos reserva.<br />

O ensinamento do desapego é a descoberta daqueles pertences<br />

com os quais forjamos nossa identidade. Cada um amontoa sobre si<br />

uma quantidade de coisas através das quais espera se valorizar e é<br />

fundamental saber descartar e dar-se conta da inutilidade do acúmulo.<br />

Isso passa também por escolher quais são nossos verdadeiros<br />

pertences.<br />

...


Crianças, quase sempre nos ensinam e revelam uma vida simples<br />

sem complicações: crianças costumam ter sempre consigo uma<br />

trouxinha ou sacolinha que, aos nossos olhos, estaria cheia do "nada".<br />

Muitas vezes ela está mesmo, contém roupinhas amassadas e o<br />

brinquedo encardidinho que é seu primeiro pertence pessoal, que<br />

somente possuem o significado de representar o único objeto daquilo<br />

que não tem nada de significado. Não é estranho que as crianças que<br />

se sentem livres de amarras e presilhas preencham sua trouxa com<br />

coisas que não representam nada?<br />

As crianças nos ensinam com um olhar biológico e orgânico<br />

sobre a vida e não com o olhar cronológico das simples horas<br />

apressadas que nos atribuímos por realidades próprias, ás vezes<br />

fantasiosas, profissionais, amorosas e até em causa própria.<br />

O tempo é a beleza de viver o tempo e contemplar as coisas<br />

simples, a intuição é um elo que muito se perde, crianças fantasiam e<br />

experimentam a liberdade sem preconceitos, limites e a arte, bem<br />

como a literatura, nasce da liberdade de fantasiar.<br />

André Barros Galvão<br />

Nasci na pampa sem dono, cresci com a alma inquieta e a vida me<br />

fez poeta, idealista, cinéfilo, autodidata na vida, filósofo de botequim,<br />

amante das cervejas artesanais, de papos loucos. Eu acredito<br />

realmente que um filme e um livro possam mudar as nossas vidas.<br />

Contato<br />

andrebgalvao@yahoo.com.br


O mais simples<br />

Não precisei de muito para agarrou-se no pescoço daquele<br />

retirar daquele momento o que homem, e deu-lhe o abraço mais<br />

mais de belo ele poderia conceder apertado que possivelmente ele<br />

...<br />

já tivera na vida.<br />

Era uma cena muito simples, E sem forças para tentar se<br />

rotineira talvez. Mas foi uma das proteger, desesperado, o homem<br />

mais belas que presenciei... a abraçou, de modo que aquele<br />

Um homem bem afeiçoado, ser tão pequenino casse<br />

cumprindo seus deveres de escondido debaixo de seus<br />

cidadão, entregara um presente braços.<br />

a uma criança desconhecida de Por um momento, desejei<br />

seu mundo farto.<br />

que aquela cena perdurasse<br />

A pequenina, apressada, eternamente. E com o<br />

pegou aquele embrulho e abriu pensamento distante, assusteime<br />

com um pulo repentino, que<br />

sem muitos cuidados... Seus<br />

olhos brilharam ao retirar da me fez car preocupada.<br />

sacola uma caixa, quase do seu A criança, sem asas, voou<br />

tamanho, e avistar o brinquedo até seu brinquedo e, olhando-o<br />

mais belo que já tivera a xamente, retirou-o da caixa;<br />

oportunidade de possuir durante acariciava e sorria.<br />

a sua pouca estadia terrena. O homem tou sobre ela seu<br />

Fiquei imaginando a olhar e tentava adivinhar qual<br />

docilidade de ser feliz com tão seria seu próximo ato.<br />

pouco. Por agraciar-se com o que E aquele, que no gesto<br />

para tantos, seria apenas mais premeditado entregara o seu<br />

um objeto.<br />

presente, com os olhos cheios<br />

...<br />

de<br />

E de repente, aquela criança lágrimas, após grandiosos<br />

soltou o embrulho, e, no impulso minutos estático, movimentou-se


para ajudar a criança, que<br />

havia se dirigido em direção à<br />

caixa, e com um esforço,<br />

queria nela entrar.<br />

E, sem saber como agir, o<br />

homem resolveu sentar e<br />

brincar, velando para que<br />

tudo ocorresse bem naquela<br />

caixa.<br />

Fiquei imaginando a<br />

docilidade de ser feliz com tão<br />

pouco. De contemplar aquilo<br />

que para tantos sábios, seria<br />

apenas mais um objeto.<br />

Impressionante a<br />

capacidade de uma criança<br />

de quebrar corações<br />

endurecidos pelas<br />

diculdades vivenciadas.<br />

Foram furtadas daquele<br />

indivíduo todas as armas e<br />

pedras.<br />

E foi interessante<br />

perceber, naquele instante,<br />

quão mecanizados somos,<br />

esperando determinadas<br />

atitudes; e esquecemos da<br />

capacidade humana de agir<br />

com o coração.<br />

Às vezes, não precisamos<br />

daquilo que está dentro do<br />

embrulho. Precisamos do<br />

próprio embrulho.<br />

Precisamos do mais simples<br />

que a vida possa nos dar.<br />

Jéssica Carvalho é bacharela<br />

em Direito, cheia de sonhos e<br />

que se aventura pelo mundo<br />

sublime das palavras.<br />

jessyca-carvalho@hotmail.com


Apenas 11<br />

dos 162 países<br />

pesquisados em 2014<br />

não estavam<br />

envolvidos em<br />

conflitos armados (IEP)<br />

Ÿ<br />

Estima-se que mais de um<br />

bilhão de crianças menores<br />

de 18 anos vivam<br />

atualmente em territórios ou<br />

países afetados por conflitos<br />

armados no mundo (Unicef)


Poetizando<br />

"Quando a gente dorme,<br />

nossa criança interior sai<br />

passear...<br />

Vai até a lua com outras<br />

crianças, e lá brincam e<br />

marcam encontros para<br />

quando a gente acordar:<br />

Assim, o amor acontece, ao<br />

(re)conhecemos o outro logo<br />

no primeiro olhar."<br />

Tamira Rocha<br />

Além de ser amante das artes e do mistério da vida, é<br />

também bibliotecária e possui formação em Cultura de<br />

Paz pela UNIPAZ/São Paulo.


Aprender a ensinar<br />

Sempre acreditei que o trabalho voluntariado é de grande<br />

valia e por isso, frequentei durante dois anos uma instituição<br />

assistencialista local.<br />

Quando comecei, a intenção era ajudar os pequenos e eu<br />

nem fazia ideia do quanto essa experiência seria importante para<br />

o meu próprio crescimento e evolução.<br />

Conhecer a realidade das crianças fez com que eu desse<br />

muito mais valor a tudo que eu tenho. É triste perceber o quanto<br />

muitas vezes reclamamos de coisas tão supérfluas, sempre<br />

querendo mais e agradecendo pouco ao muito que temos!<br />

Escolhi as crianças porque sempre gostei e acredito que elas<br />

podem construir um futuro melhor! Não foi difícil perceber que<br />

elas eram carentes não só de dinheiro e educação, mas também<br />

(e principalmente) de amor e carinho... Foi exatamente por isso<br />

que, a partir de então, as atividades eram voltadas não só a<br />

estimular a criatividade e aprendizado, mas principalmente a<br />

auto confiança delas! Meu maior objetivo era fazer com que elas<br />

se sentissem queridas e especiais!<br />

As atividades que eu fazia eram sempre descontraídas:<br />

pinturas, fotografias, danças, brincadeiras ... Na maioria das<br />

vezes elas ficavam super envolvidas e o resultado era<br />

surpreendente!<br />

...


Maaaas, nem sempre é fácil... As vezes não acontece do jeito<br />

que planejamos, pois você tem ali várias crianças, com<br />

comportamentos diferentes, influenciando umas às outras e muitas<br />

vezes tristes ou revoltadas por alguma coisa que aconteceu dentro de<br />

casa. Tem que ter jogo de cintura, mas ver a evolução no<br />

aprendizado e comportamento de cada um é o que faz valer muito a<br />

pena! Normalmente, elas são muito amorosas e me recebem com<br />

muito carinho! É uma delícia ver o brilho no olhar delas a cada nova<br />

descoberta e a felicidade de receber um abraço ou um elogio.<br />

Se eu fosse escolher uma palavra para definir essa experiência<br />

seria GRATIDÃO. Com certeza foi uma grande troca, de valores,<br />

princípios, realidades... E ao mesmo tempo que ensinei pude<br />

aprender muito com elas!<br />

Mayara Mirra<br />

Sugestão de tema para a<br />

PRÓXIMA EDIÇÃO<br />

Feminismo/Machismo<br />

envio até 30/nov<br />

alumiafanzine@gmail.com


Tirinha Diego Urbaneja<br />

<strong>Alumiá</strong> Fanzine é uma publicação online, colaborativa e bimestral. Para participar, basta enviar<br />

conteúdo relacionado ao tema da próxima edição ou sugestões para o e-mail: alumiafanzine@gmail.com<br />

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reproduza essas obras sem o consentimento prévio dos mesmos, obrigada.

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