Umbanda Sagrada II
JUS-190-provinha-4
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Página - 2<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />
<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> <strong>II</strong><br />
A PALAVRA DO EDITOR<br />
Por ALEXANDRE CUMINO Contatos: alexandre@colegiopenabranca.com.br<br />
Este mês completamos um ano do desencarne de Rubens Saraceni e para<br />
homenageá-lo estamos dedicando esta edição do Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />
Para tanto, entendemos que a obra de Rubens Saraceni fala por si mesma e que<br />
nada melhor do que ler e reler alguns de seus textos que mudaram a nossa<br />
percepção do universo e dos fundamentos da religião.<br />
DANDO SEQUENCIA ao primeiro<br />
texto sobre “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” no<br />
qual citamos que, embora não exista<br />
pretensão de criar uma vertente, já<br />
se tornou um fato que neste universo<br />
de diversidades da <strong>Umbanda</strong>, entre<br />
tantas umbandas, podemos citar o<br />
que é “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>”.<br />
A quantidade de informações e<br />
revelações que vieram pela obra de<br />
Rubens Saraceni é tão grande que<br />
é possível fazer a opção de seguir e<br />
viver a <strong>Umbanda</strong> sob esta perspectiva.<br />
Uma das características mais<br />
fortes da “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” é sua<br />
teologia, a fundamentação teórica de<br />
tudo o que é possível explicar dentro<br />
da doutrina e ritual, compreendendo<br />
sua estrutura espiritual, natural e<br />
divina. Teologia, Teogonia, Cosmologia,<br />
Cosmogênese, Androgenesia,<br />
Ontogenesia, Ancestralidade, Hierarquia<br />
e etc. Tudo explicado por meio<br />
de sua obra.<br />
Na “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” está a<br />
explicação final do que são as “Sete<br />
Linhas de <strong>Umbanda</strong>”: são as sete vibrações<br />
de Deus e não importa quais<br />
os nomes ou maneiras se utilizam<br />
para identifica-las. Não importa se<br />
explicam as Sete Linhas por meio de<br />
sete cores, sete anjos, sete santos<br />
ou sete Orixás. Não há mais divergência<br />
ou discussão de quais são as<br />
verdadeiras Sete Linhas de <strong>Umbanda</strong>,<br />
todos estão certos, no entanto<br />
a visão de cada grupo em particular<br />
é que se torna uma visão parcial e<br />
limitada no momento em que não<br />
enxerga Sete Linhas nas outras Sete<br />
Linhas alheias que não seja as suas<br />
Sete Linhas. Podemos dizer que o<br />
problema das Sete Linhas e mesmo<br />
da <strong>Umbanda</strong> é esta miopia em que<br />
o umbandista de certa vertente só<br />
enxerga a sua umbanda como <strong>Umbanda</strong><br />
e apenas as suas Sete Linhas<br />
como algo verdadeiro.<br />
Pai Benedito de Aruanda, por<br />
meio de Rubens Saraceni, explica<br />
que existem muito mais que sete<br />
Orixás e que cabem todos nas Sete<br />
Linhas de <strong>Umbanda</strong>, cabem todos<br />
nas Sete Vibrações de Deus. Deus<br />
se manifesta por meio destas sete<br />
vibrações e tem nas divindades, os<br />
Orixás, seus manifestadores divinos.<br />
Para cada uma das Sete Vibrações<br />
temos no mínimo dois Orixás um<br />
masculino e outro feminino. Esta não<br />
é uma verdade final que todos devem<br />
receber goela a baixo e sim uma<br />
proposta de interpretar e entender<br />
as Sete Linhas de <strong>Umbanda</strong> e sua<br />
relação com os Pais e Mães Orixás.<br />
Deus se manifesta por meio de<br />
Sete Vibrações e os Orixás são individualizações<br />
de Deus. Estas sete<br />
vibrações ou linhas tem sintonia com<br />
nossos sete chacras e os sete sentidos<br />
da vida e estes com os Orixás.<br />
Cada vibração de Deus ou Linha<br />
de <strong>Umbanda</strong> é irradiada por meio de<br />
um par de Orixás, são eles:<br />
Fé.................... Oxalá e Logunan<br />
Amor................ Oxum e Oxumaré<br />
Conhecimento... Oxossi e Obá<br />
Justiça............. Xangô e Ogum<br />
Lei................... Ogum e Oroiná<br />
Evolução.......... Obaluayê e<br />
Nanã Buroquê<br />
Geração........... Iemanjá e Omolu<br />
Oxalá é a Fé de Deus, assim como<br />
Oxum é o Amor de Deus ou Xangô a<br />
Justiça Divina e assim por diante. Deus<br />
é Pai e portanto os Orixás que são<br />
individualizações de Deus também são<br />
Pais e Mães em nossa jornada divina.<br />
Na “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” acreditamos<br />
que estes 14 Orixás formam uma<br />
hierarquia divina na qual encontram-se<br />
abaixo deles os Orixás Menores, intermediários<br />
e intermediadores, regentes<br />
de níveis vibratórios. Claro existem<br />
muitos outros Orixás além desses 14,<br />
no entanto estes representam os 14<br />
Tronos de Deus mantenedores e sustentadores<br />
da Criação por meio das<br />
Sete Linhas Divinas, as “Sete Linhas<br />
de <strong>Umbanda</strong>”.<br />
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da religião, divulgando material teoló<br />
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Umbandista.<br />
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Edição N.º 190 no dia 18/03/16 com tiragem de<br />
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por esta Gráfica, com periodicidade Mensal de<br />
propriedade do Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> Pena<br />
Branca, tendo como seu diretor responsável o Sr.<br />
Alexandre Cumino.<br />
São Paulo, 18 de março de 2.016<br />
Sidney Silva<br />
Folhagráfica
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -3<br />
17 anos de Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />
Um procedimento bem pensado<br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
EM 1999 FOI FUNDADO o Colégio<br />
de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong><br />
Pai Benedito de Aruanda com<br />
a proposta de tornar-se uma<br />
instituição de ensino religioso<br />
umbandista.<br />
Em pouco tempo de funcionamento<br />
eu tornei-me um<br />
aglutinador único de pessoas e<br />
poderia ter procedido de forma<br />
concentradora ou expansora.<br />
Após ouvir muitas orientações<br />
dos meus Guias espirituais optei<br />
pelo procedimento expansor.<br />
Explico-me!<br />
Muitas pessoas vinham estudar<br />
a <strong>Umbanda</strong> e a Magia<br />
comigo e, como os grupos de estudos<br />
eram formados, cada um<br />
com centenas de pessoas, entre<br />
elas haviam muitas que, após<br />
estarem preparadas poderiam<br />
desenvolver grandes trabalhos<br />
dentro da <strong>Umbanda</strong>.<br />
Havia um selecionamento<br />
natural e sem nenhuma interferência<br />
minha onde os mais<br />
aptos iam sobressaindo-se e<br />
exteriorizando seus dons, suas<br />
locações e seus talentos.<br />
Aos poucos cada um ia dando<br />
início às suas missões e compromissos<br />
para com suas forças<br />
espirituais e os seus Orixás, e eu<br />
apoiava suas iniciativas torcendo<br />
para que prosperassem. Pude<br />
ver pessoas crescerem de forma<br />
única dentro da <strong>Umbanda</strong> e realizarem<br />
grandes trabalhos tanto<br />
no campo do ensino religioso<br />
como no auxílio a expansão da<br />
<strong>Umbanda</strong>, levando-a para pessoas<br />
que dificilmente eu alcançaria<br />
sozinho.<br />
O Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />
como é conhecido carinhosamente<br />
o núcleo central de<br />
um movimento livre de revolução<br />
e expansão da <strong>Umbanda</strong> ainda<br />
é um referencial para alguns<br />
desses talentosos umbandistas<br />
altamente capacitados para o<br />
que se propuseram. Não citarei<br />
nomes aqui, pois são muitos<br />
e não caberiam nesse espaço,<br />
apenas ressalto o meu acerto<br />
em confiar na capacidade e nas<br />
boas intenções de pessoas maravilhosas<br />
que Deus e os Orixás<br />
confiaram-me por um instante de<br />
suas vidas; instante esse que foi<br />
suficiente para acender no íntimo<br />
delas a luminosíssima chama da<br />
confiança em si mesmos e de<br />
infinitas possibilidades.<br />
O que eu quero que entendam<br />
é que se eu tivesse optado<br />
pela forma concentradora, em<br />
teria me transformado em uma<br />
árvore frondosa onde muitos se<br />
abrigariam, daria frutos e quando<br />
morresse todos ficariam ao relento<br />
e possivelmente só um ou<br />
outro vingaria individualmente,<br />
como tem acontecido tanto na<br />
<strong>Umbanda</strong> quanto em qualquer<br />
outra religião.<br />
Como optei pela forma expansora,<br />
optando por contribuir<br />
para sua formação e estimulando<br />
seu crescimento pessoal, hoje me<br />
sinto como uma árvore, ainda<br />
muito frondosa e frutífera, cercada<br />
de muitas outras árvores<br />
também frondosas e frutíferas<br />
e que estão criando vicejantes<br />
bosques ao seu redor e, assim,<br />
todos nós estamos formando<br />
uma floresta que vem servindo<br />
a muitas pessoas necessitadas e<br />
constituindo-se em uma grande<br />
força expansora da <strong>Umbanda</strong>,<br />
com cada um formando novos<br />
umbandistas e auxiliando-os a<br />
crescerem frondosos.<br />
Poderia citar os nomes de<br />
outros dirigentes espirituais umbandistas<br />
que me concederam<br />
um instante de suas vidas para<br />
que juntos aprendêssemos no<br />
Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />
Mas não há espaço suficiente<br />
aqui nesta página e não sei se<br />
gostariam de ser citados nesse<br />
contexto; pois assim como há os<br />
que sentem orgulho de terem estudado<br />
nessa escola ímpar dentro<br />
da <strong>Umbanda</strong>, há os que depois<br />
de terem adquirido nela tudo o<br />
que precisavam para iniciar suas<br />
missões e cumprirem seus compromissos<br />
espirituais, do Colégio<br />
se afastaram porque dele já não<br />
precisam mais.<br />
A todos eu peço a Deus que<br />
abençoe e quero que saibam<br />
que sou grato a Deus, aos vossos<br />
Orixás e aos vossos Guias<br />
Espirituais por terem me concedido<br />
a honra e a satisfação<br />
de ter convivido com vocês por<br />
um instante muito luminoso de<br />
nossas vidas. Na comemoração<br />
dos onze anos de existência do<br />
Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />
aceitem os meus sinceros votos<br />
de parabéns e de muito sucesso<br />
a todos!<br />
Nota da Redaçao: Este<br />
texto foi escrito por Rubens<br />
Saraceni na ocasião dos 11 anos<br />
de Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong><br />
Pai Benedito de Aruanda, que<br />
agora já conta com seus 17 anos<br />
de existência.<br />
Rubens Saraceni desencarnou<br />
no dia 09/03/2015. Este<br />
mês completa um ano de sua<br />
passagem e este jornal é nossa<br />
homenagem a ele. Entre muitas<br />
iniciativas ele trouxe para nós o<br />
conceito de “Colégios de <strong>Umbanda</strong>”<br />
onde se ensina teoria e<br />
pratica da religião de <strong>Umbanda</strong>.<br />
O “Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />
<strong>Sagrada</strong> Pai Benedito de Aruanda”<br />
continua ativo no bairro do<br />
Belenzinho, Zona Leste de São<br />
Paulo (Rua Serra da Bocaina,<br />
427, metrô Belém – (11) 4221-<br />
4288) e está sob o comando<br />
de sua esposa Alzira Saraceni,<br />
filhas Stela e Graziela e também<br />
de sua irmã Fátima Saraceni. Os<br />
trabalhos de atendimento e os<br />
cursos continuam a ser ministrados<br />
neste Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />
fundado por Rubens Saraceni.
Página - 4<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />
Educação Mediúnica<br />
Mitos e Preconceitos<br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
“Muita gente diz que a mediunidade<br />
é uma missão bonita, mas dizem também<br />
que, se você não cumprir essa missão,<br />
será punido. Mas, se a mediunidade<br />
é uma missão bonita, então não pode<br />
haver punição para quem não praticá-la.”<br />
QUANDO ALGUÉM ADENTRAR<br />
pela primeira vez num templo<br />
de <strong>Umbanda</strong>, notará que os praticantes<br />
fazem certas saudações<br />
rituais de significado ou valor por<br />
eles desconhecidos. O comportamento<br />
exterior dos praticantes se<br />
altera, eles se tornam diferentes<br />
dentro do recinto consagrado às<br />
práticas religiosas.<br />
Tudo isto faz parte de educação<br />
mediúnica e os comportamentos<br />
têm de estar afinizados<br />
com o que se realiza dentro de<br />
um espaço consagrado.<br />
Mas até aqui, ainda estamos<br />
abordando aspectos exteriores da<br />
formação religiosa, pois ao nos<br />
voltarmos para o interior dela,<br />
deparamo-nos com a educação<br />
mediúnica. Para colocar o médium<br />
em sintonia com o mundo<br />
invisível, cria-se toda uma pré-<br />
-disposição às manifestações espirituais<br />
e aos rituais magísticos.<br />
Rubens Saraceni - Fundamentos Doutrinários<br />
de <strong>Umbanda</strong>, pg.171, Ed Madras, 2012<br />
A educação mediúnica é<br />
muito importante, pois só se<br />
reeducando internamente um<br />
médium alcança níveis vibratórios<br />
mentais e conscienciais que<br />
lhe facultam os níveis espirituais<br />
superiores, a sintonização mental<br />
com seu mestre individual, a<br />
neutralização de possíveis vícios<br />
antagônicos com as práticas<br />
religiosas e a compreensão ou<br />
percepção do que está acontecendo<br />
à sua volta.<br />
Aí temos em poucas linhas,<br />
um apanhado de como a boa<br />
educação mediúnica auxilia os<br />
praticantes ou médiuns.<br />
MITOS<br />
Os mitos sempre têm um<br />
pouco de verdade e um pouco<br />
de fantasia.<br />
É comum dizer-se que quem<br />
desenvolve sua mediunidade<br />
torna-se mais capaz do que aquele<br />
que não a desenvolve. Isto é<br />
uma verdade somente se aquele<br />
que se desenvolveu mediunicamente<br />
também compreendeu os<br />
compromissos que assumiu. Mas<br />
é pura fantasia se ele nada entendeu<br />
sobre seus compromissos.<br />
Uma vez que adquiriu um poder<br />
relativo, começa a se chocar<br />
com um poder absoluto, que é<br />
a Lei de Ação e Reação; assim,<br />
sua suposta superioridade logo<br />
o lança em um sensível abismo<br />
consciencial.<br />
Portanto, quando o assunto<br />
é mediunidade, todo cuidado é<br />
pouco e toda precaução não é o<br />
suficiente, se não estiver presente<br />
uma forte dose de humildade e<br />
compreensão de que um médium<br />
não é um fim em si mesmo, mas<br />
sim tão somente um meio.<br />
PRECONCEITOS<br />
Muitos são os preconceitos<br />
quanto à educação mediúnica.<br />
Muitas pessoas temem certas<br />
inverdades divulgadas à solapa<br />
por desconhecedores das<br />
religiões espiritualistas.<br />
Vamos a algumas colocações<br />
correntes que pululam no meio<br />
religioso:<br />
Comecemos por<br />
desmentir estas<br />
colocações negativas:<br />
A mediunidade é uma<br />
provação purgatória;<br />
1 – mediunidade não é uma<br />
provação purgatória, mas sim<br />
uma provação Divina e um Dom<br />
que aflorou no ser que alcançou<br />
uma certa etapa evolutiva e assumiu<br />
um compromisso no plano<br />
astral antes de encarnar. Se bem<br />
desenvolvida, irá acelerar sua<br />
evolução espiritual;<br />
A mediunidade é uma<br />
punição cármica;<br />
2 – não é uma punição cármica,<br />
mas sim um ótimo recurso<br />
que a Lei nos facultou para nos<br />
harmonizarmos com nossas ligações<br />
ancestrais;<br />
A mediunidade<br />
escraviza os médiuns;<br />
3 – não escraviza o médium,<br />
apenas exige dele uma conduta<br />
em acordo com o que esperam os<br />
espíritos que através dele atuam<br />
no plano material para socorrer os<br />
encarnados necessitados tanto de<br />
amparo espiritual quanto de uma<br />
palavra de consolo, conforto ou<br />
esclarecimento;<br />
A mediunidade limita o ser.<br />
4 – não limita o ser, pois é<br />
um sacerdócio. E, ou é entendida<br />
como tal ou de nada adianta alguém<br />
ser médium e não assumir<br />
conscientemente sua mediunidade;<br />
Para concluir, podemos dizer<br />
que a mediunidade, por ser um<br />
Dom, tem de ser praticada com<br />
fé, amor e caridade. Só assim<br />
nos mostramos dignos do Senhor<br />
de Todos os Dons: nosso Divino<br />
Criador!<br />
Rubens Saraceni,<br />
Doutrina e Teologia de<br />
<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />
Ed. Madras, 2003,<br />
Pg.38-39<br />
Rubens Saraceni<br />
escreveu uma grande<br />
quantidade de textos sobre<br />
a mediunidade umbandista<br />
e deu o norte para que<br />
outros autores pudessem<br />
abordar este tema com<br />
um olhar simples e puro<br />
de <strong>Umbanda</strong>.
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -5<br />
Escola de Desenvolvimento<br />
Mediúnico Umbandista<br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
“Desenvolver a mediunidade não significa dar algo a quem não<br />
está habilitado a recebê-lo, mas habilitar alguém a assumir<br />
conscientemente o dom com o qual foi ungido. Ao contrário<br />
do que apregoam, mediunidade não é punição, e sim benção divina,<br />
concedida ao espírito no momento em que encarna.”<br />
Rubens Saraceni<br />
Código de <strong>Umbanda</strong>, pg.87, Ed Madras, 2006<br />
NA UMBANDA o desenvolvimento<br />
dos médiuns acontece com as pessoas<br />
possuidoras da mediunidade<br />
de incorporação, entrando para<br />
corrente mediúnica e pouco apouco<br />
irem desenvolvendo-se e sendo<br />
doutrinadas até que, com o passar<br />
dos anos, comece a dar passes.<br />
Esta é a regra e tem sido<br />
assim desde o inicio da <strong>Umbanda</strong><br />
como religião. A idéia de criar<br />
um curso voltado exclusivamente<br />
para o desenvolvimento dos<br />
médiuns de incorporação e para<br />
prepará-los mais rapidamente<br />
surgiu em meados da década de<br />
80, quando eu abri o meu primeiro<br />
centro de <strong>Umbanda</strong> e vieram<br />
muitas pessoas com mediunidade<br />
pedindo para entrarem nele e ali<br />
se desenvolverem.<br />
Era muito positivo esse método<br />
porque separava o médium<br />
iniciante do trabalho pesado<br />
(desobsessão corte de demanda,<br />
descarrego etc) e quando o<br />
médium adquiria estabilidade em<br />
sua incorporação e já entendia<br />
o funcionamento da casa e dos<br />
trabalhos, então era integrado aos<br />
guias de atendimentos ao público,<br />
ajudando a cambonear os guias e<br />
gradativamente começava a fazer<br />
transportes, descarregos e desobseções.<br />
Então, com o medium<br />
já seguro de sua mediunidade<br />
e conhecedor do seu universo<br />
espiritual, era hora de conduzi-lo<br />
à sua missão.<br />
Nesse tempo a doação de um<br />
dia especifico para o desenvolvimento<br />
trouxe grande crescimento<br />
à nossa modesta, mas ampla<br />
Tenda espiritual localizada no<br />
bairro jardim Ercília, na zona leste<br />
de São Paulo.<br />
E, muitos anos depois, Já instalados<br />
no bairro do Belenzinho,<br />
capital, retornei a dinâmica de<br />
desenvolvimento já testada muitos<br />
anos antes e criei a escola de<br />
desenvolvimento mediúnico umbandista,<br />
voltada exclusivamente<br />
para o médium iniciante, no<br />
“Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> Pai<br />
Benedito de Aruanda”. O sucesso<br />
é inegável e são tantas as pessoas<br />
que buscam o desenvolvimento<br />
mediúnico que temos que conter<br />
a entrada de novos médiuns por<br />
falta de espaço físico.<br />
E a mesma receptividade tem<br />
tido nestas escolas de desenvolvimento<br />
criadas em centros<br />
de amigos nossos que também<br />
acreditam que está na hora da<br />
<strong>Umbanda</strong> organizar-se melhor e<br />
oferecer ao seus novos adeptos<br />
um pouco mais de conforto, doutrina<br />
e confiança.<br />
Esperamos que em breve todos<br />
os centros criem suas escolas<br />
de desenvolvimento, separando<br />
o iniciante e auxiliando-o em um<br />
curto espaço de tempo, a conhecer<br />
melhor suas forças espirituais.<br />
Essa idéia já foi adotada por<br />
muitos e todos estão satisfeitos<br />
com os resultados obtidos. Umbandistas,<br />
adotem esta idéia e<br />
criem em seus centros as suas<br />
escolas de desenvolvimento mediúnico!
Página - 6<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />
Exu Vazio Absoluto<br />
e Oxalá Espaço Infinito<br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
MUITOS TEM EXU como o primeiro<br />
Orixá gerado, que, por isso,<br />
tem a primazia no culto.<br />
Essa primazia se justifica se<br />
entendermos a criação como um<br />
encadeamento de ações divinas<br />
destinadas à criação do Universo<br />
e dos meios para que os seres<br />
pudessem evoluir.<br />
O Mistério Exu é em si o “vazio<br />
absoluto” existente no exterior<br />
de Deus e guarda-o em si, dando-<br />
-lhe a existência e sustentação<br />
para que, a partir desse estado,<br />
tudo o que é criado tenha seu<br />
lugar na criação.<br />
Por ser Exu o guardião do<br />
vazio absoluto, e este ter sido<br />
o primeiro estado da criação<br />
manifestado por Deus, então<br />
Exu é, de fato, o primeiro Orixá<br />
manifestado por Ele. Logo, Exu é<br />
o primeiro Orixá, o mais velho de<br />
todos, o primeiro a ser cultuado.<br />
Avançando um pouco mais na<br />
inter¬pretação das necessidades<br />
primordiais para que tudo pudesse<br />
ser “exteriorizado” por Deus,<br />
como no “vazio absoluto” (Exu)<br />
não havia como se sustentar em<br />
alguma coisa, eis que, após esse<br />
primeiro estado da criação, Olorum<br />
manifestou o seu segundo<br />
estado: o “estado do espaço”!<br />
Deus criou o espaço “em<br />
cima” do vazio absoluto. Esse segundo<br />
estado (o espaço) dentro o<br />
primeiro (o vazio absoluto) criou<br />
uma base que se amplia segundo<br />
as necessidades do Criador e<br />
começa a nos mostrar os Orixás<br />
como estados da criação, pois se<br />
Exu é o vazio absoluto, o Orixá<br />
que é si o espaço se chama Oxalá.<br />
Sim, Oxalá é o espaço infinito<br />
porque é capaz de conter todas<br />
as criações da mente divina do<br />
nosso Divino Criador.<br />
Como Olorum tem em si tudo,<br />
e tudo ocupa um lugar no espaço,<br />
então Oxalá, como estado preexistente<br />
em Olorum, já existia<br />
no seu interior. E, como a mente<br />
criadora de Olorum ocupa um<br />
espaço, este era Oxalá, pois foi<br />
a Oxalá que Ele confiou a missão<br />
de criar os mundos e povoá-los<br />
com os seres que seriam criados.<br />
Exu e Oxalá são ligados umbilicalmente<br />
por causa desses<br />
dois primeiros estados da criação.<br />
Exu é o vazio exterior de<br />
Olorum, e Oxalá, o seu espaço<br />
exteriorizado. Exu é a ausência, e<br />
Oxalá é a presença. Em Exu nada<br />
subsiste, e em Oxalá tudo adquire<br />
existência.<br />
Exu, por ser o vazio absoluto,<br />
nada cria em si. Em Oxalá, por ele<br />
ser o espaço em si mesmo, tudo<br />
pode ser criado.<br />
Exu e Oxalá são opostos-<br />
-complementares porque sem<br />
a existência do vazio absoluto o<br />
espaço não poderia se expandir<br />
ao infinito. Como ambos são<br />
estados, não são antagônicos,<br />
pois onde um está presente,<br />
o outro está ausente. O vazio<br />
absoluto é anterior ao espaço<br />
infinito. E, porque é anterior, Exu<br />
é o primeiro Orixá manifestado<br />
por Olorum e detém a primazia.<br />
E, se tudo preexistia em<br />
Olorum, ainda que não fosse<br />
internamente o Orixá mais velho<br />
é, no entanto, o primeiro a<br />
existir no seu exterior.<br />
Observem que, aqui, estamos<br />
nos servindo dos estados da<br />
criação para fundamentarmos<br />
o Orixá Exu em particular e os<br />
outros Orixás em geral.<br />
Há uma lenda que fala que<br />
Exu (o vazio) foi colocado para<br />
fora da casa de Oxalá (o espaço).<br />
Até esta lenda nos oferece<br />
elementos interpretativos, pois<br />
como exu poderia habitar com os<br />
outros Orixás na casa de Oxalá<br />
se, por seu estado ser o do vazio<br />
absoluto, ao entrar nela com ele<br />
entrava este seu estado que a<br />
esvaziava.<br />
O jeito de as coisas voltarem<br />
ao normal foi Oxalá colocar Exu<br />
no lado de fora (“despacha-lo”)<br />
para que os outros Orixás (os<br />
estados posteriores da criação)<br />
pudessem entrar na casa de<br />
Oxalá (o espaço infinito).<br />
As lendas dos Orixás nos<br />
fornecem indícios preciosíssimos<br />
sobre eles, seus estados e suas<br />
funções na criação de Olorum.<br />
Por isso, a tradição nagô nos<br />
ensina que só se deve assentar<br />
Exu no lado de fora dos terreiros<br />
e se dele oferendá-lo nos limites<br />
dos pontos de forças da natureza.<br />
A interpretação correta desses<br />
ensinamentos é a que nos diz<br />
que a casa de Oxalá é o espaço<br />
e que o lado de fora dela está<br />
voltado para o vazio, que é o<br />
estado do Mistério Exu.<br />
Os limites dos pontos de<br />
forças (como cada um é a “casa”<br />
do seu Orixá regente) são os seus<br />
lados voltados para o vazio, que<br />
é o estado de Exu.<br />
Na Os fundamentos dos atos<br />
e dos procedimentos existem, só<br />
falta entende-los, descobri-los e<br />
interpreta-los corretamente.<br />
Na casa de Oxalá (o espaço)<br />
cabem todos os Orixás, menos<br />
Exu (que é o vazio). E mais alguns<br />
ainda não nomeados.<br />
E dentro da casa de Oxalá<br />
(o espaço) cabem os estados de<br />
quase todos os outros Orixás, os<br />
muitos estados da criação: o ar,<br />
a terra, o fogo, a água, o éter,<br />
o amor, a ordem, o equilíbrio, a<br />
razão, etc.<br />
Por isso Oxalá é descrito<br />
como o Rei dos Orixás, e no seu<br />
reino (o espaço) estão os reinos<br />
de todos os outros Orixás. Também<br />
nos esclarece a afirmação<br />
de que quem tem Oxalá em seu<br />
íntimo, tem tudo, e quem não o<br />
tem, não tem nada e é um ser<br />
“vazio”.<br />
Fonte: livro “Orixá Exu” ,<br />
Rubens Saraceni, Editora Madras
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -7<br />
A saída dos Orixás<br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
ENTÃO CHEGOU O MOMENTO<br />
que Olorun determinou que os<br />
seus filhos e filhas Orixás iniciassem<br />
a saída de sua morada<br />
interior e começassem a ocupar<br />
sua morada exterior.<br />
A Oxalá coube a primazia,<br />
porque ao sair, ele que é o espaço<br />
em si mesmo, criaria o meio ou o<br />
espaço indispensável para que os<br />
outros Orixás pudessem se deslocar<br />
e dar início à concretização<br />
de sua morada exterior com a<br />
criação dos mundos que seriam<br />
ocupados pelos seres espirituais.<br />
Não foi fácil para nenhum dos<br />
Orixás deixar de viver na morada<br />
interior, no íntimo do Divino Criador<br />
Olorun.<br />
Para Oxalá foi mais difícil<br />
ainda, porque ele, o primogênito,<br />
iniciaria a saída. Quando se viu<br />
diante do portal de saída, virou-<br />
-se e contemplou mais uma vez<br />
o rosto de Olorun que o contemplava<br />
com os olhos fixos e sérios,<br />
como a dizer-lhe: “Vá em frente,<br />
meu filho! Eu sou você por inteiro<br />
e você é parte de mim.”<br />
Oxalá olhou cada um dos<br />
seus irmãos e irmãs divinos, e<br />
dos olhos deles corriam lágrimas.<br />
Ele curvou-se, cruzou o solo<br />
divino que ainda pisava, tocou-<br />
-o com a testa, beijou-o, e dos<br />
seus olhos caíram lágrimas que<br />
cintilaram ao tocá-lo.<br />
E ali suas lágrimas ficaram<br />
incrustadas no solo, como uma<br />
marca de sua partida. E, em<br />
cima dele muitas outras lágrimas<br />
haveriam de ser derramadas pelos<br />
outros Orixás, a medida que<br />
fossem partindo.<br />
Oxalá levantou e virou-se<br />
novamente para o portal. E, já<br />
resoluto, avançou por ele com<br />
passos firmes mas, a medida que<br />
foi saindo, seu corpo explodiu<br />
e um clarão ofuscante que se<br />
projetou no infinito, clareando<br />
em volta da morada exterior do<br />
nosso Divino Criador Olorun.<br />
E Oxalá curvou-se após ter<br />
dado o primeiro passo e cruzou<br />
o espaço à sua frente. Então<br />
levantou, já não tão ereto como<br />
quando saíra, deu um segundo<br />
passo e aí se curvou e cruzou o<br />
espaço à sua frente pela segunda<br />
vez... e quando Oxalá se curvou<br />
pela sétima vez e cruzou o espaço<br />
a sua frente, já não conseguiu<br />
se levantar senão só um pouco,<br />
e ainda assim porque apoiava-se<br />
em seu cajado, que é o eixo sustentador<br />
do mundo manifestado,<br />
denominado paxorô.<br />
Ele voltou-se na direção em<br />
que ficava a sua morada interior<br />
e já não a viu, pois o que viu foi<br />
o espaço vazio infinito em sua<br />
volta. E ele olhou para toda a sua<br />
volta e não viu nada além do espaço<br />
vazio. Então, o peso da sua<br />
responsabilidade foi tanto, que<br />
ele caiu de joelhos e com a voz<br />
embargada emitiu essas frases:<br />
- Pai, por que fez isso comigo<br />
se o amo tanto?<br />
- Pai, por que separou-me<br />
de você, se me sinto parte do<br />
senhor?<br />
- Pai, sem o senhor eu sou o<br />
que vejo em minha volta, nada,<br />
meu pai amado!<br />
- Por que, meu pai amado?<br />
E Oxalá, de joelhos e apoiado<br />
em seu cajado, chorou o mais<br />
dolorido pranto já ouvido desde<br />
então na morada exterior. E todos<br />
os outros Orixás, que estavam do<br />
lado de dentro da morada interior<br />
e o viam a apenas sete passos do<br />
portal de saída, emocionaram-se<br />
tanto com o pranto dele, que também<br />
se ajoelharam e choraram<br />
o mais sentido dos choros, pois<br />
tanto choraram a angústia dele<br />
quanto a que sentiam, porque<br />
também teriam que deixar a morada<br />
interior.<br />
Olorum, vendo todos os Orixás<br />
ajoelhados e chorando, ordenou:<br />
- Meu filho Ogum, o espaço já<br />
existe na minha morada exterior.<br />
Agora é sua vez de levar para ela<br />
o seu mistério e abrir os caminhos<br />
para que seus irmãos e irmãs<br />
possam segui-los em segurança<br />
o vivenciarem os destinos que<br />
reservei para cada um. Siga sempre<br />
em frente, pois já existe um<br />
caminho feito por mim e trilhado<br />
por Oxalá. E, ainda após você dar<br />
o sétimo passo só veja o espaço<br />
infinito em sua volta e nada mais,<br />
no entanto, onde seu pé direito<br />
pousar no seu sétimo passo, ali se<br />
iniciará o caminho que o conduzirá<br />
até onde ele se encontra agora.<br />
- Meu amado pai Olorum, eu<br />
vejo meu amado irmão bem ali,<br />
ajoelhado diante do portal de<br />
saída dessa sua morada, meu pai!<br />
- Ogum, assim que você der<br />
o primeiro passo depois da soleira<br />
desse portal você só verá o vasto e<br />
infinito espaço vazio, à sua volta.<br />
Não titubeie pois só encontrará o<br />
caminho que o levará até Oxalá,<br />
caso de sete passos resolutos,<br />
meu filho.<br />
- Assim diz o meu pai e meu<br />
Divino Criador Olorum, assim<br />
farei, meu pai amado!<br />
E Ogum despediu-se e cruzou<br />
o portal de saída. E quando deu<br />
o primeiro passo e olhos à sua<br />
direita e à sua esquerda e nada<br />
viu além do espaço ainda vazio,<br />
mas infinito em todas as direções,<br />
um tremor percorreu-lhe o corpo<br />
de cima para baixo. Mas ele continuou<br />
a caminhar.<br />
E ao dar o sétimo passo com o<br />
seu pé direito, Ogum ajoelhou-se<br />
e cruzou o espaço vazio diante dos<br />
seus pés. E cruzou o espaço acima<br />
da sua cabeça; e cruzou o espaço<br />
a sua frente; e cruzou o espaço a<br />
suas costas; e cruzou o espaço a<br />
sua direita; e cruzou o espaço a<br />
sua esquerda... e viu seu irmão<br />
Exu, que deu uma gargalhada e,<br />
à guisa de saudação, falou-lhe:<br />
- Ogum, meu irmão! Que bom<br />
vê-lo aqui do lado de fora da morada<br />
do nosso pai e nosso Divino<br />
Criador Olorum! Por que você<br />
demorou tanto para sair?<br />
- Exu,é bom revê-lo, meu<br />
irmão! O que você faz por aqui?<br />
- O que eu faço por aqui?<br />
- Foi o que lhe perguntei, Exu.<br />
- Eu já ando por aqui há tanto<br />
tempo, que eu nem sei a quanto<br />
tempo eu ando por aqui, sabe?<br />
- Não sei não. Explique-se, Exu!<br />
- Ogum, lá vem você com seus<br />
pedidos de explicação de novo!<br />
- Explique-se, está bem?<br />
- Já que você insiste, digo-lhe<br />
que é por causa do fator adiantador<br />
que gero, sabe?<br />
- Não sei não, Que fator<br />
é esse?<br />
- Bom, até onde eu já<br />
sei, ele faz com que eu chegue<br />
sempre adiantado nos<br />
acontecimentos e este é um<br />
acontecimento e tanto, não?<br />
- Que é um acontecimento<br />
e tanto, disso não tenho dúvidas.<br />
Mas, como você chegou<br />
aqui, se só Oxalá havia saído?<br />
- Ah, Oxalá passou por<br />
aqui mas, como ele estava<br />
muito triste e derramando<br />
lágrimas, eu achei melhor ir<br />
até ele quando ele deixar de<br />
derramar lágrimas. Afinal, eu<br />
gero o fator hilariador, não o<br />
entristecedor, sabe?<br />
- Já estou sabendo... porque<br />
Exu ri até sem motivos.<br />
- Ogum, a falta de motivos<br />
para se rir é algo hilário,<br />
ainda que muitos pensem<br />
o contrário. Mas, se irmos atrás<br />
dos motivos da falta de risos, aí<br />
vemos que é algo tão tolo, que se<br />
torna hilário.<br />
- É se Exu está adiantado e diz<br />
isso, então você já sabe de algo<br />
que logo descobrirei, certo?<br />
- Foi o que eu disse, Ogum.<br />
- Então Oxalá não tinha nenhuma<br />
razão para sentir-se tão<br />
triste e angustiado. É isso, Exu?<br />
- Não mesmo Ogum! Logo<br />
logo, isso aqui estará fervilhando,<br />
de tantos seres que estão à espera<br />
da concretização dos mundos que<br />
todos os que ficarem na morada<br />
interior desejarão vir para cá. E isto<br />
aqui estará tão cheio, que muitos<br />
desejarão retornar à ela, sabe?<br />
- Ainda não sei, mas, se você,<br />
que chegou aqui antes do espaço<br />
existir, e não sei como, está dizendo,<br />
então logo saberei.<br />
- E então, para onde você está<br />
indo, Ogum meu irmão à minha<br />
direita?<br />
- Vou até onde está Oxalá, Exu.<br />
- Posso acompanhá-lo?<br />
- Pode sim, com você ao meu<br />
lado esquerdo, creio que não me<br />
sentirei tão só, não é mesmo?<br />
- Se é Ogum! Comigo no seu<br />
lado esquerdo ninguém nunca se<br />
sentirá só.<br />
- Então vamos, Exu. Já vejo<br />
o caminho que conduz até Oxalá.<br />
- Você vai seguir os passos<br />
dele?<br />
- Vou, Exu.<br />
- Você não quer seguir por<br />
uma caminho alternativo que é<br />
mais curto?<br />
- Caminho alternativo? Que<br />
caminho é esse?<br />
- É um atalho, um desviozinho!<br />
Mas leva até ele do mesmo<br />
jeito, certo?<br />
- Errado, Exu! Atalhos ou desviozinhos<br />
podem levar a muitos<br />
lugares, mas nunca levarão alguém<br />
até Oxalá ou qualquer outro<br />
lugar, pois todos eles levam aos<br />
seus domínios, que estão localizados<br />
na vazio. Isso sim, é certo!<br />
- Tudo bem que isso é certo.<br />
Mas uma passadinha nos meus<br />
domínios não faz mal a ninguém,<br />
sabe?<br />
- Não sei e não quero saber.<br />
Quem quiser que siga seus convites.<br />
Vamos?<br />
- Vamos para onde?<br />
- Ao encontro de Oxalá, oras!<br />
- Não, não!<br />
- Por que não?<br />
- Esse caminho que leva a<br />
Oxalá é muito reto, é retíssimo<br />
mesmo! E Exu só trilha caminhos<br />
tortos ou tortuosos, sei lá!<br />
- Até a vista, Exu!<br />
Ogum seguiu o caminho que<br />
conduzia até Oxalá. Logo chegou<br />
onde ele estava. Após saudá-lo<br />
cruzando o solo e o espaço à<br />
frente dele, levantou-se e os dois<br />
abraçaram-se.<br />
Então ficaram no aguardo<br />
da chegada dos outros Orixás<br />
que não demoraram a chegar. E<br />
quando passou muito tempo sem<br />
mais nenhum outro aparecer, iniciaram<br />
suas funções de poderes<br />
criadores na morada exterior do<br />
nosso Divino Criador, gerando<br />
essas e muitas outras lendas<br />
sobre eles, que contaremos em<br />
outro livro.<br />
Texto extraído do livro<br />
“Lendas da Criação - A saga<br />
dos Orixás” de Rubens<br />
Saraceni, Editora Madras.
Página - 8<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />
O Guardião Exu na <strong>Umbanda</strong><br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
Temos abaixo um texto do livro “O Guardião da<br />
Meia Noite”, de Rubens Saraceni.<br />
Este livro mudou a forma de ver quem é o Exu<br />
na <strong>Umbanda</strong>, trouxe para a religião o conceito de<br />
literatura psicografada ao mesmo tempo em que<br />
desmistifica esta entidade amada e reverenciada<br />
pelos umbandistas. Todo umbandista deveria<br />
ler este livro, que é sem duvida o romance mais lido<br />
e mais importante de toda a obra de Rubens Saraceni.<br />
Procure nas melhores livrarias.<br />
E eu pensei:<br />
“Como era poderoso o Guardião<br />
dos Sete Portais das Trevas”,<br />
que leu o meu pensamento.<br />
- Não pense que consegui o<br />
meu poder sendo um tolo. Sempre<br />
dormi com um olho aberto. Nunca<br />
deixei uma ofensa sem resposta,<br />
nem um inimigo mais fraco sem<br />
conhecer o meu poder. Nunca<br />
deixei de respeitar um igual ou de<br />
temer a um mais forte.<br />
Foi assim que consegui tanto<br />
poder. Também nunca saí da lei<br />
do carma. Não derrubo quem<br />
não merece, nem elevo quem<br />
não fizer por merecer.<br />
Não traio a ninguém mas<br />
também não deixo de castigar<br />
um traidor. Leve o tempo que<br />
for necessário, eu o castigo. Não<br />
castigo um inocente, mas não<br />
perdôo um culpado. Não dou a<br />
um devedor, mas não tiro de um<br />
credor. Não salvo a quem quer se<br />
perder, mas não ponho a perder<br />
quem quer se salvar.<br />
Não ajudo a morrer quem<br />
quer viver, mas não deixo vivo<br />
quem quer se matar. Não tomo<br />
de quem achar, mas não devolvo<br />
a quem perder. Não pego o poder<br />
do senhor da Luz, mas não recuso<br />
o poder do senhor das Trevas.<br />
Não induzo alguém a abandonar<br />
o caminho da Lei, mas não<br />
culpo quem dele se afastou. Não<br />
ajudo alguém que não queira ser<br />
ajudado, mas não nego ajuda a<br />
quem merecer. Sirvo à Luz, mas<br />
também sirvo às Trevas.<br />
No meu reino eu mando e<br />
sei me comportar. Não peço<br />
o impossível mas dou apenas<br />
o possível. Nem tudo que me<br />
pedem eu dou, mas nem tudo<br />
que dou é porque me pediram. Só<br />
respeito à Lei do Grande da Luz<br />
e das Trevas e nada mais. É por<br />
isso que o Grande exige de mim,<br />
portanto é isto que eu exijo dos<br />
que habitam, o meu reino. Não<br />
faço chorar o inocente, mas não<br />
deixo sorrir o culpado.<br />
Não liberto o condenado, mas<br />
não aprisiono o inocente. Não<br />
revelo o oculto, mas não oculto<br />
ao que pode ser revelado. Não<br />
infrinjo à Lei e pela Lei não sou<br />
incomodado. Agora sabe de onde<br />
vem meu poder, senhor da Meia-<br />
-Noite. Eu sou um dos sete guardiões<br />
da Lei nas Trevas; os outros<br />
seis, procure e a Lei lhe mostrará.<br />
- Obrigado, Guardião dos Sete<br />
Portais das Trevas deu-me uma<br />
lição sábia. Sou seu devedor.<br />
- Nada me deve, Senhor da<br />
Meia-Noite. Gosto de ensinar a<br />
quem quer aprender mas também<br />
gosto de castigar a quem aprende<br />
e faz mau uso do saber.<br />
Ele bateu o pé esquerdo e<br />
o recinto se encheu de entidades<br />
que haviam sido religiosos quando<br />
na carne.<br />
- Eis aí um exemplo do mau<br />
uso do saber. Eles aprenderam<br />
tudo o que precisavam para suas<br />
missões na terra mas não seguiram<br />
o que pregaram. Usaram do<br />
que sabiam em benefício próprio<br />
ou para arruinar aos que acreditaram<br />
neles.<br />
Olhe bem, Guardião da<br />
Meia-Noite e verá que os que se<br />
diziam sábios, iluminados, profetas,<br />
grandes lideres religiosos ou<br />
grandes sacerdotes não passavam<br />
de otários, idiotas, tolos, imbecis,<br />
cegos e mal intencionados. Verá<br />
entre eles todo tipo de defeito e<br />
nenhuma qualidade.<br />
Eram lobos uns pois se aproveitavam<br />
e comiam suas ovelhas<br />
e hienas outro pois se contentavam<br />
em consumir os restos deixados<br />
pelos lobos. Uns e outros<br />
hoje choram pelo erro cometido<br />
pela oportunidade perdida e pela<br />
luz não conquistada. Viveram do<br />
mundo e não pelo mundo.<br />
A Lei não os perdoou e os<br />
entregou a mim. Eu dou-lhes o<br />
que merecem porque sou um<br />
guardião da Lei das Trevas e esta<br />
é minha função. A Lei não iria<br />
colocar um ser bom e iluminado<br />
para castigar os canalhas nem<br />
colocaria um carrasco como eu<br />
para premiar aqueles que venceram<br />
suas provas.<br />
Não! Os guardiões da Lei na<br />
Luz tem uma função como a minha<br />
mas afeta à Luz: não deixam<br />
cair quem se fez por merecer<br />
à ascensão. Eu não deixo subir<br />
aos que se fizeram por merecer<br />
a queda. Eu sou a mão que castiga,<br />
a outra é a que acaricia. Eu<br />
sou a mão que derruba, a outra<br />
a que levanta. Tudo isto eu sou e<br />
ainda assim não sou infeliz, triste,<br />
arrependido ou ruim.<br />
Não sofro de remorso por castigar<br />
aquele que a Lei derrubou,<br />
assim como um guardião da Lei<br />
na Luz nada sente ao premiar a<br />
quem merecer. Eu sou o que sou,<br />
um guardião da Lei nas Trevas e<br />
me orgulho disto porque sei que<br />
sou necessário à Lei. E tudo isto<br />
você também é, ou será se assumir<br />
todo o seu passado, resgata-<br />
-lo e se sentir feliz em servir à<br />
Lei. Ela o recompensará quando<br />
assim quiser, não porque você<br />
peça qualquer recompensa pelo<br />
seu trabalho mas porque serve-a<br />
sem se lamentar por estar nas<br />
Trevas pois Luz e Trevas são os<br />
dois lados do Criador.<br />
Há os que trabalham durante<br />
o dia e dormem à noite mas<br />
também há os que trabalham de<br />
noite e dormem durante o dia. Há<br />
os animais que só saem de sua<br />
morada sob o sol e aqueles que só<br />
o fazem sob o luar. Há o verão mas<br />
há também o inverno. O que um<br />
aquece o outro esfria e vice-versa.<br />
Há a primavera mas há também<br />
o outono: O que um faz brotar o<br />
outro faz se recolher e vice-versa.<br />
Há o fogo para queimar e a água<br />
para saciar a sede. Há a terra para<br />
germinar e há o ar para oxigenar.<br />
Há tantas coisas e no fim são<br />
somente partes do Um. Por isto<br />
lhe digo, Guardião da Meia-Noite<br />
há os anjos e há os demônios.<br />
Os anjos habitam na Luz e os<br />
demônios nas Trevas. Uns não<br />
condenam aos outros pois sabem<br />
que são o que são porque assim<br />
quis o Criador.<br />
Aqueles que vivem no meio<br />
é que criam tanta confusão com<br />
suas descidas na carne. Do nosso<br />
lado não há nada disto. Cada um<br />
sabe a que lado pertence. E os<br />
que não sabem, são os primeiros<br />
de quem nos apossamos. Esta é a<br />
Lei que nos rege e a todo o resto<br />
da Criação. Mais não vou falar pois<br />
precisaria de muito tempo para<br />
tal coisa. Espero que possa sair<br />
daqui melhor servidor da Lei do<br />
que quando chegou.<br />
- Eu agradeço suas palavras,<br />
Guardião dos Portais. Pena que<br />
eu seja muito pequeno para<br />
ajuda-lo, senão eu diria: se precisar<br />
de minha ajuda é só pedir!<br />
- Pois ainda lhe digo que a<br />
maior das pirâmides não prescinde<br />
da menor de suas pedras;<br />
a maior das aves de sua menor<br />
pena nem o maior teto de sua<br />
menor telha; e nem o maior corpo<br />
do seu menor dedo. O maior<br />
rio não rejeita a menor gota da<br />
chuva nem o maior exercito ao<br />
seu mais fraco soldado.<br />
O maior rico é aquele que<br />
valoriza o menor dos seus bens.<br />
Muito mais eu poderia dizer mas<br />
me satisfaço em dizer-lhe: obrigado<br />
Guardião da Meia-Noite!<br />
Se eu precisar de seu auxilio<br />
não terei vergonha em lhe pedir<br />
pois por terem vergonha muitos<br />
morrem. Morrem por terem desejado<br />
algo e não terem provado<br />
seu gosto. Vergonha não faz<br />
parte do meu vocabulário e a<br />
palavra que mais prezo é a que<br />
se chama”respeito”. Aja assim e<br />
não será traído nem odiado, mas<br />
respeitado. Nem os maiores passarão<br />
por cima de você e nem os<br />
menores lhe escaparão.<br />
Ele parou de falar.<br />
- Até à vista, Guardião dos<br />
Sete Portais das Trevas!<br />
- Até à vista, Guardião da<br />
Meia-Noite!<br />
Fonte: “O Guardião da Meia<br />
Noite”, Rubens Saraceni, Editora<br />
Madras (www.madras.com.br).
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -9<br />
A teologia<br />
de <strong>Umbanda</strong><br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
ESCREVER SOBRE Teologia de<br />
<strong>Umbanda</strong> não é tarefa fácil porque<br />
antes precisamos definir o que é<br />
Teologia e o que é Doutrina de<br />
<strong>Umbanda</strong>.<br />
• TEOLOGIA: tratado de<br />
Deus; doutrina que trata das<br />
coisas divinas; ciência que tem<br />
por objeto o dogma e a moral.<br />
• DOUTRINA: conjunto de<br />
princípios básicos em que se<br />
fundamenta um sistema religioso,<br />
filosófico e político; opinião,<br />
em assuntos científicos; norma<br />
(do latim doctrina).<br />
Pelas definições acima, teologia<br />
e doutrina acabam se entrecruzando<br />
e se misturando, tornando difícil<br />
separar os aspectos doutrinários<br />
dos teológicos, principalmente em<br />
uma religião nova como é a <strong>Umbanda</strong><br />
que, para dificultar ainda mais<br />
esses campos distintos, está compartimentada<br />
em várias correntes<br />
doutrinárias.<br />
Panteões formados pelas mesmas<br />
divindades mas com nomes<br />
diferentes confundem quem deseja<br />
aprofundar-se no seu estudo.<br />
Autores umbandistas temos<br />
muitos! Mas as linhas doutrinárias<br />
os separam e em um século de<br />
<strong>Umbanda</strong> ainda não foi possível<br />
uma uniformização teogônica ou<br />
doutrinária. Então, imaginem a dificuldade<br />
em tentar algo no campo<br />
teológico.<br />
Quando iniciei um curso nomeado<br />
por mim “Curso de Teologia de<br />
<strong>Umbanda</strong>”, isto no ano de 1996,<br />
foram tantas as reações contrárias<br />
que esse meu pioneirismo gerou<br />
até um certo auto-isolamento, que<br />
me impus para preservar-me e ao<br />
meu trabalho no campo da mediunidade,<br />
da psicografia e do ensino<br />
doutrinário.<br />
Ser pioneiro e iniciar algo até<br />
então não pensado por nenhum<br />
outro umbandista gerou para mim<br />
uma certeza inaba-ável:<br />
• Na <strong>Umbanda</strong>, tirando a parte<br />
prática ou os trabalhos espirituais,<br />
tudo mais ainda está para ser uniformizado<br />
e normatizado.<br />
• Batizados, casamentos, funerais,<br />
iniciações, etc., cada corrente<br />
doutrinária tem seus ritos<br />
e ninguém abdica do<br />
seu modo e prática<br />
particular em benefício<br />
do geral ou coletivo.<br />
Eu mesmo, orientado<br />
pelos mentores<br />
espirituais, desenvolvi<br />
ritos de batismo, de<br />
casamento, de funeral<br />
e de iniciação fundamentais<br />
e possíveis de<br />
serem ensinados em<br />
aulas coletivas e de<br />
serem realizados com<br />
grande aceitação por quem a eles<br />
se submetesse, já que são muito<br />
bem fundamentados. Mas, não<br />
para surpresa minha, já que não<br />
esperava que fossem aceitos, foram<br />
recusados por muitos e admitidos só<br />
por uma minoria.<br />
E mais uma vez os umbandistas<br />
desdenharam ritos fundamentais em<br />
pé de igualdade com os das outras<br />
religiões e continuaram casando-se<br />
em outras religiões e batizando seus<br />
filhos fora da <strong>Umbanda</strong>.<br />
Só uma minoria é fiel<br />
aos seus ritos! Com isso,<br />
perde a religião e perdem<br />
os umbandistas.<br />
Lembro-me que, quando comecei<br />
o meu curso de Teologia, um<br />
grupo que pratica uma <strong>Umbanda</strong><br />
diferenciada (segundo eles) criticou-<br />
-me violentamente e tudo fez para<br />
desacreditar-me e aos meus livros,<br />
mostrando-me como um ignorante e<br />
a eles como doutores nisto, naquilo<br />
e naquilo outro.<br />
Os leitores, que não desinformados,<br />
ainda que a maioria não seja<br />
doutores, não deixariam de notar a<br />
falta de fundamentos ou de fundamentação<br />
em tais críticas.<br />
Pressa e oportunismo não são<br />
bons companheiros de quem deseja<br />
semear algo duradouro no tempo e<br />
na mente das pessoas, principalmente<br />
entre os umbandistas, tão<br />
refratários a mudanças.<br />
Eu, com muitos livros teológicos<br />
e doutrinários já escritos há muito<br />
tempo, não me animei em publicá-<br />
-los antes de ter iniciado o meu<br />
curso em 1996, e só anos após<br />
ministrá-lo a centenas de pessoas e<br />
ser aprovado por elas ousei colocar<br />
ao público livros de Doutrina e Teologia<br />
de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />
Mas antes, tomei a precaução<br />
de testar minha teoria de que havia<br />
criado um novo campo<br />
de estudo para os umbandistas<br />
já que, sem<br />
a aprovação deles, de<br />
nada adiantaria lançá-<br />
-lo pois cairia no vazio<br />
e no esquecimento, tal<br />
como já está acontecendo<br />
com os livros<br />
dos meus mais afoitos<br />
críticos, detratores e<br />
vilipendiadores.<br />
Quem tenta se<br />
apropriar das idéias e<br />
das criações alheias e das criações<br />
alheias corre o risco de ser tachado<br />
com a pecha de oportunista e deve<br />
tentar destruir a todo custo quem<br />
teve a idéia primeiro e criou algo<br />
de bom.<br />
Caso contrário, este alguém<br />
sempre os acusará e mostrará a<br />
todos que oportunismo e esperteza<br />
em religião têm vida curta porque<br />
não prosperam no tempo, além de<br />
não contarem com a aprovação da<br />
espiritualidade e dos sagrados orixás,<br />
que não delegaram a ninguém<br />
o grau de reformador da <strong>Umbanda</strong>,<br />
pois ela ainda não ultrapassou a<br />
sua fase de implantação no plano<br />
material.<br />
Os meus livros também se<br />
inserem nessa fase e espero que<br />
este meu comentário sirva de estímulo<br />
a outros umbandistas (não<br />
apressados e não oportunistas) e<br />
que venham a contribuir para que<br />
seja criada uma verdadeira “literatura<br />
teológica umbandista”, tão<br />
fundamental quanto indispensável<br />
à doutrina de <strong>Umbanda</strong>.<br />
Eu sei que isso demorará muito<br />
tempo para acontecer, mas sou<br />
obstinado e continuarei a contribuir<br />
com o calçamento do caminho que<br />
conduzirá as gerações futuras à<br />
concentração dessa nossa necessidade.<br />
Também sei que os atuais<br />
adversários de uma normatização<br />
são muitos e não deixarão que tal<br />
aconteça, pois contrariará seus<br />
interesses pessoais e seus desejos<br />
de dominarem a <strong>Umbanda</strong>.<br />
Entretanto, nós somos pacientes<br />
e perseverantes, certo?<br />
Texto de Rubens Saraceni<br />
extraído do livro “Tratado<br />
Geral de <strong>Umbanda</strong> - As<br />
chaves interpretativas<br />
teológicas” – Editora Madras.<br />
O JORNAL DE UMBANDA SAGRADA<br />
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Página - 10<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -11<br />
As crianças na <strong>Umbanda</strong><br />
Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />
A LINHA DAS CRIANÇAS, cujos membros<br />
baixam nos centros de <strong>Umbanda</strong>, é de<br />
todas a mais misteriosa.<br />
Esses espíritos infantis nos surpreendem<br />
pela ternura, inocência, argúcia,<br />
carinho e amor que vibram quando<br />
baixam em seus médiuns.<br />
O arquétipo não foi fornecido pelo<br />
lado material da vida, pois uma criança<br />
com seus 7, 8 ou 9 anos de idade, por<br />
mais inteligente que seja, não está apta<br />
intelectualmente a orientar adultos atormentados<br />
por profundos desequilíbrios<br />
no espírito ou na vida material. Quem<br />
forneceu o arquétipo foram os seres que<br />
denominamos “encantados da natureza”.<br />
Não foi baseado em espíritos de<br />
crianças que desencarnaram que essa linha<br />
foi fundamentada, e sim nas crianças<br />
encantadas da natureza, que os acolhem<br />
em seus vastos reinos na natureza em<br />
seu lado espiritual e os amparam até que<br />
cresçam e alcancem um novo estágio<br />
evolutivo, já como espíritos naturais.<br />
Os espíritos que se manifestam na<br />
linha das crianças atendem pessoas e<br />
auxiliam-nas com seus passes, seus<br />
benzimentos e suas magias elementais,<br />
tudo isso feito com alegria e simplicidade<br />
enquanto brincam com seus carrinhos,<br />
apitos, bonecas e outros brinquedos bem<br />
caracterizadores do seu arquétipo. Ele é<br />
tão forte que adultos encarnados sisudos<br />
se transfiguram e se tornam irreconhecíveis<br />
quando incorporam sua criança.<br />
A presença desses espíritos infantis é<br />
tão marcante que mudam o ambiente em<br />
pouco tempo, descontraindo todos os que<br />
estiverem à volta deles.<br />
Todo arquétipo só é verdadeiro se<br />
for fundamentado em algo pré-existente.<br />
O arquétipo “Caboclo” fundamentou-se<br />
no índio brasileiro e no sertanejo mestiço.<br />
O arquétipo “Preto-Velho” fundamentou-se<br />
no negro já ancião, rezador, mandingueiro<br />
e curador. O arquétipo “Criança”<br />
fundamentou-se na inocência, na franqueza<br />
e na ingenuidade dos seres encantados<br />
ainda na primeira idade: a infantil.<br />
E, caso não saibam, há dimensões<br />
inteiras habitadas só por espíritos nesse<br />
estagio evolutivo conhecido, no lado<br />
oculto da vida, como “estágio encantado”.<br />
Nessas dimensões da vida há eles e suas<br />
mães encantadas, todas elas devotadas à<br />
educação moral, consciencial e emocional,<br />
contendo seus excessos e direcionando-os<br />
à senda evolucionista natural, pois eles não<br />
serão enviados à dimensão humana para<br />
encarnarem.<br />
A elas compete suprí-los com o indispensável<br />
para que não entrem em<br />
depressão e caiam no autismo ou regressão<br />
emocional, muito comum nessas<br />
dimensões. Nelas há reinos encantados<br />
muito mais belos do que os “contos de<br />
fadas” do imaginário popular foi capaz<br />
de descrever ou criar.<br />
Cada reino tem uma senhora, uma<br />
mãe encantada a regê-lo. E há toda uma<br />
hierarquia a auxiliá-la na manutenção<br />
do equilíbrio para que os milhares de<br />
espíritos infantis sob suas guardas não<br />
regridam, e sim, amadureçam lentamente<br />
até que possam ser conduzidos aos<br />
estágio evolutivo posterior.<br />
O arquétipo é forte e poderoso porque<br />
por trás dele estão as mães Orixás,<br />
sustentando-o, e também estão os pais<br />
Orixás, guardando-o e zelando pela<br />
integridade desses espíritos infantis. A<br />
literatura existente sobre esse estágio se<br />
restringe a alguns livros de nossa autoria<br />
que abordam o estágio encantado da<br />
evolução dos espíritos.<br />
Mas que ninguém duvide da existência<br />
dele porque ele realmente existe e<br />
não seriam “crianças” humanas recém-<br />
-desencarnadas e que nada sabiam da<br />
magia que iriam realizar os prodígios<br />
que os “Erês” realizam em benefício dos<br />
freqüentadores das suas sessões de trabalhos<br />
ou com forças da natureza quando<br />
oferendados em jardins, à beira-mar, nas<br />
cachoeiras ou em bosques frutíferos.<br />
Há algo muito forte por trás do<br />
arquétipo e esse algo são os Orixás encantados,<br />
os regentes da evolução dos<br />
espíritos ainda na “primeira idade”.<br />
Texto extraído do livro “Os arquétipos<br />
da <strong>Umbanda</strong> de Rubens<br />
Saraceni, Editora Madras.
Página - 12<br />
Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016