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Umbanda Sagrada II

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Página - 2<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />

<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> <strong>II</strong><br />

A PALAVRA DO EDITOR<br />

Por ALEXANDRE CUMINO Contatos: alexandre@colegiopenabranca.com.br<br />

Este mês completamos um ano do desencarne de Rubens Saraceni e para<br />

homenageá-lo estamos dedicando esta edição do Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />

Para tanto, entendemos que a obra de Rubens Saraceni fala por si mesma e que<br />

nada melhor do que ler e reler alguns de seus textos que mudaram a nossa<br />

percepção do universo e dos fundamentos da religião.<br />

DANDO SEQUENCIA ao primeiro<br />

texto sobre “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” no<br />

qual citamos que, embora não exista<br />

pretensão de criar uma vertente, já<br />

se tornou um fato que neste universo<br />

de diversidades da <strong>Umbanda</strong>, entre<br />

tantas umbandas, podemos citar o<br />

que é “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>”.<br />

A quantidade de informações e<br />

revelações que vieram pela obra de<br />

Rubens Saraceni é tão grande que<br />

é possível fazer a opção de seguir e<br />

viver a <strong>Umbanda</strong> sob esta perspectiva.<br />

Uma das características mais<br />

fortes da “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” é sua<br />

teologia, a fundamentação teórica de<br />

tudo o que é possível explicar dentro<br />

da doutrina e ritual, compreendendo<br />

sua estrutura espiritual, natural e<br />

divina. Teologia, Teogonia, Cosmologia,<br />

Cosmogênese, Androgenesia,<br />

Ontogenesia, Ancestralidade, Hierarquia<br />

e etc. Tudo explicado por meio<br />

de sua obra.<br />

Na “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” está a<br />

explicação final do que são as “Sete<br />

Linhas de <strong>Umbanda</strong>”: são as sete vibrações<br />

de Deus e não importa quais<br />

os nomes ou maneiras se utilizam<br />

para identifica-las. Não importa se<br />

explicam as Sete Linhas por meio de<br />

sete cores, sete anjos, sete santos<br />

ou sete Orixás. Não há mais divergência<br />

ou discussão de quais são as<br />

verdadeiras Sete Linhas de <strong>Umbanda</strong>,<br />

todos estão certos, no entanto<br />

a visão de cada grupo em particular<br />

é que se torna uma visão parcial e<br />

limitada no momento em que não<br />

enxerga Sete Linhas nas outras Sete<br />

Linhas alheias que não seja as suas<br />

Sete Linhas. Podemos dizer que o<br />

problema das Sete Linhas e mesmo<br />

da <strong>Umbanda</strong> é esta miopia em que<br />

o umbandista de certa vertente só<br />

enxerga a sua umbanda como <strong>Umbanda</strong><br />

e apenas as suas Sete Linhas<br />

como algo verdadeiro.<br />

Pai Benedito de Aruanda, por<br />

meio de Rubens Saraceni, explica<br />

que existem muito mais que sete<br />

Orixás e que cabem todos nas Sete<br />

Linhas de <strong>Umbanda</strong>, cabem todos<br />

nas Sete Vibrações de Deus. Deus<br />

se manifesta por meio destas sete<br />

vibrações e tem nas divindades, os<br />

Orixás, seus manifestadores divinos.<br />

Para cada uma das Sete Vibrações<br />

temos no mínimo dois Orixás um<br />

masculino e outro feminino. Esta não<br />

é uma verdade final que todos devem<br />

receber goela a baixo e sim uma<br />

proposta de interpretar e entender<br />

as Sete Linhas de <strong>Umbanda</strong> e sua<br />

relação com os Pais e Mães Orixás.<br />

Deus se manifesta por meio de<br />

Sete Vibrações e os Orixás são individualizações<br />

de Deus. Estas sete<br />

vibrações ou linhas tem sintonia com<br />

nossos sete chacras e os sete sentidos<br />

da vida e estes com os Orixás.<br />

Cada vibração de Deus ou Linha<br />

de <strong>Umbanda</strong> é irradiada por meio de<br />

um par de Orixás, são eles:<br />

Fé.................... Oxalá e Logunan<br />

Amor................ Oxum e Oxumaré<br />

Conhecimento... Oxossi e Obá<br />

Justiça............. Xangô e Ogum<br />

Lei................... Ogum e Oroiná<br />

Evolução.......... Obaluayê e<br />

Nanã Buroquê<br />

Geração........... Iemanjá e Omolu<br />

Oxalá é a Fé de Deus, assim como<br />

Oxum é o Amor de Deus ou Xangô a<br />

Justiça Divina e assim por diante. Deus<br />

é Pai e portanto os Orixás que são<br />

individualizações de Deus também são<br />

Pais e Mães em nossa jornada divina.<br />

Na “<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>” acreditamos<br />

que estes 14 Orixás formam uma<br />

hierarquia divina na qual encontram-se<br />

abaixo deles os Orixás Menores, intermediários<br />

e intermediadores, regentes<br />

de níveis vibratórios. Claro existem<br />

muitos outros Orixás além desses 14,<br />

no entanto estes representam os 14<br />

Tronos de Deus mantenedores e sustentadores<br />

da Criação por meio das<br />

Sete Linhas Divinas, as “Sete Linhas<br />

de <strong>Umbanda</strong>”.<br />

expediente:<br />

Diretor Responsável:<br />

Alexandre Cumino - Tel.: (11) 5072-2112<br />

E-Mail: alexandre@colegiopenabranca.com.br<br />

Endereço: Av. Dr. Gentil de Moura, 380<br />

Ipiranga São Paulo - SP<br />

Diagramação e Editoração:<br />

Laura Carreta - Tel.: (11) 9-8820-7972<br />

E-Mail: lauraksp@yahoo.com.br<br />

Revisão: Equipe <strong>Umbanda</strong>, eu curto!<br />

Site: www.umbandaeucurto.com<br />

Diretor Fundador: Rodrigo Queiróz<br />

Tel.: (14) 3019-4155<br />

E-mail: rodrigo@ica.org.br<br />

Consultora Jurídica:<br />

Dra. Mirian Soares de Lima<br />

Tel.: (11) 2796-9059<br />

Jornalista Responsável:<br />

Wagner Veneziani Costa - MTB:35032<br />

É uma obra filantrópica, cuja missão<br />

é contribuir para o engrandecimento<br />

da religião, divulgando material teoló<br />

gico e unificando a comunidade<br />

Umbandista.<br />

Os artigos assinados são de inteira<br />

res ponsabilidade dos autores,<br />

não refletindo necessariamente<br />

a opinião deste jornal.<br />

As matérias e artigos deste jor nal<br />

podem e devem ser reproduzidas em<br />

qualquer veículo de comunicação.<br />

Favor citar o autor e a fonte (J.U.S.).<br />

O JORNAL DE UMBANDA SAGRADA<br />

não vende anúncios ou assinaturas<br />

Nossa capa:<br />

Produzida por: UMBANDA EU CURTO<br />

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DECLARAÇÃO<br />

Folhagráfica Unidade de Negócios do GRUPO FOLHA,<br />

localizada na Alameda Barão de Limeira, 425 -<br />

7.º andar - Campos Elíseos - São Paulo/SP - CEP<br />

01202-900, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoa<br />

Jurídica – CNPJ 60.579.703/0001-48, declara para<br />

os devidos fins que executou em seu parque gráfico<br />

o serviço de impressão do Jornal <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong><br />

Edição N.º 190 no dia 18/03/16 com tiragem de<br />

22.000 exemplares com papel imprensa fornecido<br />

por esta Gráfica, com periodicidade Mensal de<br />

propriedade do Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> Pena<br />

Branca, tendo como seu diretor responsável o Sr.<br />

Alexandre Cumino.<br />

São Paulo, 18 de março de 2.016<br />

Sidney Silva<br />

Folhagráfica


Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -3<br />

17 anos de Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />

Um procedimento bem pensado<br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

EM 1999 FOI FUNDADO o Colégio<br />

de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong><br />

Pai Benedito de Aruanda com<br />

a proposta de tornar-se uma<br />

instituição de ensino religioso<br />

umbandista.<br />

Em pouco tempo de funcionamento<br />

eu tornei-me um<br />

aglutinador único de pessoas e<br />

poderia ter procedido de forma<br />

concentradora ou expansora.<br />

Após ouvir muitas orientações<br />

dos meus Guias espirituais optei<br />

pelo procedimento expansor.<br />

Explico-me!<br />

Muitas pessoas vinham estudar<br />

a <strong>Umbanda</strong> e a Magia<br />

comigo e, como os grupos de estudos<br />

eram formados, cada um<br />

com centenas de pessoas, entre<br />

elas haviam muitas que, após<br />

estarem preparadas poderiam<br />

desenvolver grandes trabalhos<br />

dentro da <strong>Umbanda</strong>.<br />

Havia um selecionamento<br />

natural e sem nenhuma interferência<br />

minha onde os mais<br />

aptos iam sobressaindo-se e<br />

exteriorizando seus dons, suas<br />

locações e seus talentos.<br />

Aos poucos cada um ia dando<br />

início às suas missões e compromissos<br />

para com suas forças<br />

espirituais e os seus Orixás, e eu<br />

apoiava suas iniciativas torcendo<br />

para que prosperassem. Pude<br />

ver pessoas crescerem de forma<br />

única dentro da <strong>Umbanda</strong> e realizarem<br />

grandes trabalhos tanto<br />

no campo do ensino religioso<br />

como no auxílio a expansão da<br />

<strong>Umbanda</strong>, levando-a para pessoas<br />

que dificilmente eu alcançaria<br />

sozinho.<br />

O Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />

como é conhecido carinhosamente<br />

o núcleo central de<br />

um movimento livre de revolução<br />

e expansão da <strong>Umbanda</strong> ainda<br />

é um referencial para alguns<br />

desses talentosos umbandistas<br />

altamente capacitados para o<br />

que se propuseram. Não citarei<br />

nomes aqui, pois são muitos<br />

e não caberiam nesse espaço,<br />

apenas ressalto o meu acerto<br />

em confiar na capacidade e nas<br />

boas intenções de pessoas maravilhosas<br />

que Deus e os Orixás<br />

confiaram-me por um instante de<br />

suas vidas; instante esse que foi<br />

suficiente para acender no íntimo<br />

delas a luminosíssima chama da<br />

confiança em si mesmos e de<br />

infinitas possibilidades.<br />

O que eu quero que entendam<br />

é que se eu tivesse optado<br />

pela forma concentradora, em<br />

teria me transformado em uma<br />

árvore frondosa onde muitos se<br />

abrigariam, daria frutos e quando<br />

morresse todos ficariam ao relento<br />

e possivelmente só um ou<br />

outro vingaria individualmente,<br />

como tem acontecido tanto na<br />

<strong>Umbanda</strong> quanto em qualquer<br />

outra religião.<br />

Como optei pela forma expansora,<br />

optando por contribuir<br />

para sua formação e estimulando<br />

seu crescimento pessoal, hoje me<br />

sinto como uma árvore, ainda<br />

muito frondosa e frutífera, cercada<br />

de muitas outras árvores<br />

também frondosas e frutíferas<br />

e que estão criando vicejantes<br />

bosques ao seu redor e, assim,<br />

todos nós estamos formando<br />

uma floresta que vem servindo<br />

a muitas pessoas necessitadas e<br />

constituindo-se em uma grande<br />

força expansora da <strong>Umbanda</strong>,<br />

com cada um formando novos<br />

umbandistas e auxiliando-os a<br />

crescerem frondosos.<br />

Poderia citar os nomes de<br />

outros dirigentes espirituais umbandistas<br />

que me concederam<br />

um instante de suas vidas para<br />

que juntos aprendêssemos no<br />

Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />

Mas não há espaço suficiente<br />

aqui nesta página e não sei se<br />

gostariam de ser citados nesse<br />

contexto; pois assim como há os<br />

que sentem orgulho de terem estudado<br />

nessa escola ímpar dentro<br />

da <strong>Umbanda</strong>, há os que depois<br />

de terem adquirido nela tudo o<br />

que precisavam para iniciar suas<br />

missões e cumprirem seus compromissos<br />

espirituais, do Colégio<br />

se afastaram porque dele já não<br />

precisam mais.<br />

A todos eu peço a Deus que<br />

abençoe e quero que saibam<br />

que sou grato a Deus, aos vossos<br />

Orixás e aos vossos Guias<br />

Espirituais por terem me concedido<br />

a honra e a satisfação<br />

de ter convivido com vocês por<br />

um instante muito luminoso de<br />

nossas vidas. Na comemoração<br />

dos onze anos de existência do<br />

Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />

aceitem os meus sinceros votos<br />

de parabéns e de muito sucesso<br />

a todos!<br />

Nota da Redaçao: Este<br />

texto foi escrito por Rubens<br />

Saraceni na ocasião dos 11 anos<br />

de Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong><br />

Pai Benedito de Aruanda, que<br />

agora já conta com seus 17 anos<br />

de existência.<br />

Rubens Saraceni desencarnou<br />

no dia 09/03/2015. Este<br />

mês completa um ano de sua<br />

passagem e este jornal é nossa<br />

homenagem a ele. Entre muitas<br />

iniciativas ele trouxe para nós o<br />

conceito de “Colégios de <strong>Umbanda</strong>”<br />

onde se ensina teoria e<br />

pratica da religião de <strong>Umbanda</strong>.<br />

O “Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />

<strong>Sagrada</strong> Pai Benedito de Aruanda”<br />

continua ativo no bairro do<br />

Belenzinho, Zona Leste de São<br />

Paulo (Rua Serra da Bocaina,<br />

427, metrô Belém – (11) 4221-<br />

4288) e está sob o comando<br />

de sua esposa Alzira Saraceni,<br />

filhas Stela e Graziela e também<br />

de sua irmã Fátima Saraceni. Os<br />

trabalhos de atendimento e os<br />

cursos continuam a ser ministrados<br />

neste Colégio de <strong>Umbanda</strong><br />

fundado por Rubens Saraceni.


Página - 4<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />

Educação Mediúnica<br />

Mitos e Preconceitos<br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

“Muita gente diz que a mediunidade<br />

é uma missão bonita, mas dizem também<br />

que, se você não cumprir essa missão,<br />

será punido. Mas, se a mediunidade<br />

é uma missão bonita, então não pode<br />

haver punição para quem não praticá-la.”<br />

QUANDO ALGUÉM ADENTRAR<br />

pela primeira vez num templo<br />

de <strong>Umbanda</strong>, notará que os praticantes<br />

fazem certas saudações<br />

rituais de significado ou valor por<br />

eles desconhecidos. O comportamento<br />

exterior dos praticantes se<br />

altera, eles se tornam diferentes<br />

dentro do recinto consagrado às<br />

práticas religiosas.<br />

Tudo isto faz parte de educação<br />

mediúnica e os comportamentos<br />

têm de estar afinizados<br />

com o que se realiza dentro de<br />

um espaço consagrado.<br />

Mas até aqui, ainda estamos<br />

abordando aspectos exteriores da<br />

formação religiosa, pois ao nos<br />

voltarmos para o interior dela,<br />

deparamo-nos com a educação<br />

mediúnica. Para colocar o médium<br />

em sintonia com o mundo<br />

invisível, cria-se toda uma pré-<br />

-disposição às manifestações espirituais<br />

e aos rituais magísticos.<br />

Rubens Saraceni - Fundamentos Doutrinários<br />

de <strong>Umbanda</strong>, pg.171, Ed Madras, 2012<br />

A educação mediúnica é<br />

muito importante, pois só se<br />

reeducando internamente um<br />

médium alcança níveis vibratórios<br />

mentais e conscienciais que<br />

lhe facultam os níveis espirituais<br />

superiores, a sintonização mental<br />

com seu mestre individual, a<br />

neutralização de possíveis vícios<br />

antagônicos com as práticas<br />

religiosas e a compreensão ou<br />

percepção do que está acontecendo<br />

à sua volta.<br />

Aí temos em poucas linhas,<br />

um apanhado de como a boa<br />

educação mediúnica auxilia os<br />

praticantes ou médiuns.<br />

MITOS<br />

Os mitos sempre têm um<br />

pouco de verdade e um pouco<br />

de fantasia.<br />

É comum dizer-se que quem<br />

desenvolve sua mediunidade<br />

torna-se mais capaz do que aquele<br />

que não a desenvolve. Isto é<br />

uma verdade somente se aquele<br />

que se desenvolveu mediunicamente<br />

também compreendeu os<br />

compromissos que assumiu. Mas<br />

é pura fantasia se ele nada entendeu<br />

sobre seus compromissos.<br />

Uma vez que adquiriu um poder<br />

relativo, começa a se chocar<br />

com um poder absoluto, que é<br />

a Lei de Ação e Reação; assim,<br />

sua suposta superioridade logo<br />

o lança em um sensível abismo<br />

consciencial.<br />

Portanto, quando o assunto<br />

é mediunidade, todo cuidado é<br />

pouco e toda precaução não é o<br />

suficiente, se não estiver presente<br />

uma forte dose de humildade e<br />

compreensão de que um médium<br />

não é um fim em si mesmo, mas<br />

sim tão somente um meio.<br />

PRECONCEITOS<br />

Muitos são os preconceitos<br />

quanto à educação mediúnica.<br />

Muitas pessoas temem certas<br />

inverdades divulgadas à solapa<br />

por desconhecedores das<br />

religiões espiritualistas.<br />

Vamos a algumas colocações<br />

correntes que pululam no meio<br />

religioso:<br />

Comecemos por<br />

desmentir estas<br />

colocações negativas:<br />

A mediunidade é uma<br />

provação purgatória;<br />

1 – mediunidade não é uma<br />

provação purgatória, mas sim<br />

uma provação Divina e um Dom<br />

que aflorou no ser que alcançou<br />

uma certa etapa evolutiva e assumiu<br />

um compromisso no plano<br />

astral antes de encarnar. Se bem<br />

desenvolvida, irá acelerar sua<br />

evolução espiritual;<br />

A mediunidade é uma<br />

punição cármica;<br />

2 – não é uma punição cármica,<br />

mas sim um ótimo recurso<br />

que a Lei nos facultou para nos<br />

harmonizarmos com nossas ligações<br />

ancestrais;<br />

A mediunidade<br />

escraviza os médiuns;<br />

3 – não escraviza o médium,<br />

apenas exige dele uma conduta<br />

em acordo com o que esperam os<br />

espíritos que através dele atuam<br />

no plano material para socorrer os<br />

encarnados necessitados tanto de<br />

amparo espiritual quanto de uma<br />

palavra de consolo, conforto ou<br />

esclarecimento;<br />

A mediunidade limita o ser.<br />

4 – não limita o ser, pois é<br />

um sacerdócio. E, ou é entendida<br />

como tal ou de nada adianta alguém<br />

ser médium e não assumir<br />

conscientemente sua mediunidade;<br />

Para concluir, podemos dizer<br />

que a mediunidade, por ser um<br />

Dom, tem de ser praticada com<br />

fé, amor e caridade. Só assim<br />

nos mostramos dignos do Senhor<br />

de Todos os Dons: nosso Divino<br />

Criador!<br />

Rubens Saraceni,<br />

Doutrina e Teologia de<br />

<strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>,<br />

Ed. Madras, 2003,<br />

Pg.38-39<br />

Rubens Saraceni<br />

escreveu uma grande<br />

quantidade de textos sobre<br />

a mediunidade umbandista<br />

e deu o norte para que<br />

outros autores pudessem<br />

abordar este tema com<br />

um olhar simples e puro<br />

de <strong>Umbanda</strong>.


Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -5<br />

Escola de Desenvolvimento<br />

Mediúnico Umbandista<br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

“Desenvolver a mediunidade não significa dar algo a quem não<br />

está habilitado a recebê-lo, mas habilitar alguém a assumir<br />

conscientemente o dom com o qual foi ungido. Ao contrário<br />

do que apregoam, mediunidade não é punição, e sim benção divina,<br />

concedida ao espírito no momento em que encarna.”<br />

Rubens Saraceni<br />

Código de <strong>Umbanda</strong>, pg.87, Ed Madras, 2006<br />

NA UMBANDA o desenvolvimento<br />

dos médiuns acontece com as pessoas<br />

possuidoras da mediunidade<br />

de incorporação, entrando para<br />

corrente mediúnica e pouco apouco<br />

irem desenvolvendo-se e sendo<br />

doutrinadas até que, com o passar<br />

dos anos, comece a dar passes.<br />

Esta é a regra e tem sido<br />

assim desde o inicio da <strong>Umbanda</strong><br />

como religião. A idéia de criar<br />

um curso voltado exclusivamente<br />

para o desenvolvimento dos<br />

médiuns de incorporação e para<br />

prepará-los mais rapidamente<br />

surgiu em meados da década de<br />

80, quando eu abri o meu primeiro<br />

centro de <strong>Umbanda</strong> e vieram<br />

muitas pessoas com mediunidade<br />

pedindo para entrarem nele e ali<br />

se desenvolverem.<br />

Era muito positivo esse método<br />

porque separava o médium<br />

iniciante do trabalho pesado<br />

(desobsessão corte de demanda,<br />

descarrego etc) e quando o<br />

médium adquiria estabilidade em<br />

sua incorporação e já entendia<br />

o funcionamento da casa e dos<br />

trabalhos, então era integrado aos<br />

guias de atendimentos ao público,<br />

ajudando a cambonear os guias e<br />

gradativamente começava a fazer<br />

transportes, descarregos e desobseções.<br />

Então, com o medium<br />

já seguro de sua mediunidade<br />

e conhecedor do seu universo<br />

espiritual, era hora de conduzi-lo<br />

à sua missão.<br />

Nesse tempo a doação de um<br />

dia especifico para o desenvolvimento<br />

trouxe grande crescimento<br />

à nossa modesta, mas ampla<br />

Tenda espiritual localizada no<br />

bairro jardim Ercília, na zona leste<br />

de São Paulo.<br />

E, muitos anos depois, Já instalados<br />

no bairro do Belenzinho,<br />

capital, retornei a dinâmica de<br />

desenvolvimento já testada muitos<br />

anos antes e criei a escola de<br />

desenvolvimento mediúnico umbandista,<br />

voltada exclusivamente<br />

para o médium iniciante, no<br />

“Colégio de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> Pai<br />

Benedito de Aruanda”. O sucesso<br />

é inegável e são tantas as pessoas<br />

que buscam o desenvolvimento<br />

mediúnico que temos que conter<br />

a entrada de novos médiuns por<br />

falta de espaço físico.<br />

E a mesma receptividade tem<br />

tido nestas escolas de desenvolvimento<br />

criadas em centros<br />

de amigos nossos que também<br />

acreditam que está na hora da<br />

<strong>Umbanda</strong> organizar-se melhor e<br />

oferecer ao seus novos adeptos<br />

um pouco mais de conforto, doutrina<br />

e confiança.<br />

Esperamos que em breve todos<br />

os centros criem suas escolas<br />

de desenvolvimento, separando<br />

o iniciante e auxiliando-o em um<br />

curto espaço de tempo, a conhecer<br />

melhor suas forças espirituais.<br />

Essa idéia já foi adotada por<br />

muitos e todos estão satisfeitos<br />

com os resultados obtidos. Umbandistas,<br />

adotem esta idéia e<br />

criem em seus centros as suas<br />

escolas de desenvolvimento mediúnico!


Página - 6<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />

Exu Vazio Absoluto<br />

e Oxalá Espaço Infinito<br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

MUITOS TEM EXU como o primeiro<br />

Orixá gerado, que, por isso,<br />

tem a primazia no culto.<br />

Essa primazia se justifica se<br />

entendermos a criação como um<br />

encadeamento de ações divinas<br />

destinadas à criação do Universo<br />

e dos meios para que os seres<br />

pudessem evoluir.<br />

O Mistério Exu é em si o “vazio<br />

absoluto” existente no exterior<br />

de Deus e guarda-o em si, dando-<br />

-lhe a existência e sustentação<br />

para que, a partir desse estado,<br />

tudo o que é criado tenha seu<br />

lugar na criação.<br />

Por ser Exu o guardião do<br />

vazio absoluto, e este ter sido<br />

o primeiro estado da criação<br />

manifestado por Deus, então<br />

Exu é, de fato, o primeiro Orixá<br />

manifestado por Ele. Logo, Exu é<br />

o primeiro Orixá, o mais velho de<br />

todos, o primeiro a ser cultuado.<br />

Avançando um pouco mais na<br />

inter¬pretação das necessidades<br />

primordiais para que tudo pudesse<br />

ser “exteriorizado” por Deus,<br />

como no “vazio absoluto” (Exu)<br />

não havia como se sustentar em<br />

alguma coisa, eis que, após esse<br />

primeiro estado da criação, Olorum<br />

manifestou o seu segundo<br />

estado: o “estado do espaço”!<br />

Deus criou o espaço “em<br />

cima” do vazio absoluto. Esse segundo<br />

estado (o espaço) dentro o<br />

primeiro (o vazio absoluto) criou<br />

uma base que se amplia segundo<br />

as necessidades do Criador e<br />

começa a nos mostrar os Orixás<br />

como estados da criação, pois se<br />

Exu é o vazio absoluto, o Orixá<br />

que é si o espaço se chama Oxalá.<br />

Sim, Oxalá é o espaço infinito<br />

porque é capaz de conter todas<br />

as criações da mente divina do<br />

nosso Divino Criador.<br />

Como Olorum tem em si tudo,<br />

e tudo ocupa um lugar no espaço,<br />

então Oxalá, como estado preexistente<br />

em Olorum, já existia<br />

no seu interior. E, como a mente<br />

criadora de Olorum ocupa um<br />

espaço, este era Oxalá, pois foi<br />

a Oxalá que Ele confiou a missão<br />

de criar os mundos e povoá-los<br />

com os seres que seriam criados.<br />

Exu e Oxalá são ligados umbilicalmente<br />

por causa desses<br />

dois primeiros estados da criação.<br />

Exu é o vazio exterior de<br />

Olorum, e Oxalá, o seu espaço<br />

exteriorizado. Exu é a ausência, e<br />

Oxalá é a presença. Em Exu nada<br />

subsiste, e em Oxalá tudo adquire<br />

existência.<br />

Exu, por ser o vazio absoluto,<br />

nada cria em si. Em Oxalá, por ele<br />

ser o espaço em si mesmo, tudo<br />

pode ser criado.<br />

Exu e Oxalá são opostos-<br />

-complementares porque sem<br />

a existência do vazio absoluto o<br />

espaço não poderia se expandir<br />

ao infinito. Como ambos são<br />

estados, não são antagônicos,<br />

pois onde um está presente,<br />

o outro está ausente. O vazio<br />

absoluto é anterior ao espaço<br />

infinito. E, porque é anterior, Exu<br />

é o primeiro Orixá manifestado<br />

por Olorum e detém a primazia.<br />

E, se tudo preexistia em<br />

Olorum, ainda que não fosse<br />

internamente o Orixá mais velho<br />

é, no entanto, o primeiro a<br />

existir no seu exterior.<br />

Observem que, aqui, estamos<br />

nos servindo dos estados da<br />

criação para fundamentarmos<br />

o Orixá Exu em particular e os<br />

outros Orixás em geral.<br />

Há uma lenda que fala que<br />

Exu (o vazio) foi colocado para<br />

fora da casa de Oxalá (o espaço).<br />

Até esta lenda nos oferece<br />

elementos interpretativos, pois<br />

como exu poderia habitar com os<br />

outros Orixás na casa de Oxalá<br />

se, por seu estado ser o do vazio<br />

absoluto, ao entrar nela com ele<br />

entrava este seu estado que a<br />

esvaziava.<br />

O jeito de as coisas voltarem<br />

ao normal foi Oxalá colocar Exu<br />

no lado de fora (“despacha-lo”)<br />

para que os outros Orixás (os<br />

estados posteriores da criação)<br />

pudessem entrar na casa de<br />

Oxalá (o espaço infinito).<br />

As lendas dos Orixás nos<br />

fornecem indícios preciosíssimos<br />

sobre eles, seus estados e suas<br />

funções na criação de Olorum.<br />

Por isso, a tradição nagô nos<br />

ensina que só se deve assentar<br />

Exu no lado de fora dos terreiros<br />

e se dele oferendá-lo nos limites<br />

dos pontos de forças da natureza.<br />

A interpretação correta desses<br />

ensinamentos é a que nos diz<br />

que a casa de Oxalá é o espaço<br />

e que o lado de fora dela está<br />

voltado para o vazio, que é o<br />

estado do Mistério Exu.<br />

Os limites dos pontos de<br />

forças (como cada um é a “casa”<br />

do seu Orixá regente) são os seus<br />

lados voltados para o vazio, que<br />

é o estado de Exu.<br />

Na Os fundamentos dos atos<br />

e dos procedimentos existem, só<br />

falta entende-los, descobri-los e<br />

interpreta-los corretamente.<br />

Na casa de Oxalá (o espaço)<br />

cabem todos os Orixás, menos<br />

Exu (que é o vazio). E mais alguns<br />

ainda não nomeados.<br />

E dentro da casa de Oxalá<br />

(o espaço) cabem os estados de<br />

quase todos os outros Orixás, os<br />

muitos estados da criação: o ar,<br />

a terra, o fogo, a água, o éter,<br />

o amor, a ordem, o equilíbrio, a<br />

razão, etc.<br />

Por isso Oxalá é descrito<br />

como o Rei dos Orixás, e no seu<br />

reino (o espaço) estão os reinos<br />

de todos os outros Orixás. Também<br />

nos esclarece a afirmação<br />

de que quem tem Oxalá em seu<br />

íntimo, tem tudo, e quem não o<br />

tem, não tem nada e é um ser<br />

“vazio”.<br />

Fonte: livro “Orixá Exu” ,<br />

Rubens Saraceni, Editora Madras


Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -7<br />

A saída dos Orixás<br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

ENTÃO CHEGOU O MOMENTO<br />

que Olorun determinou que os<br />

seus filhos e filhas Orixás iniciassem<br />

a saída de sua morada<br />

interior e começassem a ocupar<br />

sua morada exterior.<br />

A Oxalá coube a primazia,<br />

porque ao sair, ele que é o espaço<br />

em si mesmo, criaria o meio ou o<br />

espaço indispensável para que os<br />

outros Orixás pudessem se deslocar<br />

e dar início à concretização<br />

de sua morada exterior com a<br />

criação dos mundos que seriam<br />

ocupados pelos seres espirituais.<br />

Não foi fácil para nenhum dos<br />

Orixás deixar de viver na morada<br />

interior, no íntimo do Divino Criador<br />

Olorun.<br />

Para Oxalá foi mais difícil<br />

ainda, porque ele, o primogênito,<br />

iniciaria a saída. Quando se viu<br />

diante do portal de saída, virou-<br />

-se e contemplou mais uma vez<br />

o rosto de Olorun que o contemplava<br />

com os olhos fixos e sérios,<br />

como a dizer-lhe: “Vá em frente,<br />

meu filho! Eu sou você por inteiro<br />

e você é parte de mim.”<br />

Oxalá olhou cada um dos<br />

seus irmãos e irmãs divinos, e<br />

dos olhos deles corriam lágrimas.<br />

Ele curvou-se, cruzou o solo<br />

divino que ainda pisava, tocou-<br />

-o com a testa, beijou-o, e dos<br />

seus olhos caíram lágrimas que<br />

cintilaram ao tocá-lo.<br />

E ali suas lágrimas ficaram<br />

incrustadas no solo, como uma<br />

marca de sua partida. E, em<br />

cima dele muitas outras lágrimas<br />

haveriam de ser derramadas pelos<br />

outros Orixás, a medida que<br />

fossem partindo.<br />

Oxalá levantou e virou-se<br />

novamente para o portal. E, já<br />

resoluto, avançou por ele com<br />

passos firmes mas, a medida que<br />

foi saindo, seu corpo explodiu<br />

e um clarão ofuscante que se<br />

projetou no infinito, clareando<br />

em volta da morada exterior do<br />

nosso Divino Criador Olorun.<br />

E Oxalá curvou-se após ter<br />

dado o primeiro passo e cruzou<br />

o espaço à sua frente. Então<br />

levantou, já não tão ereto como<br />

quando saíra, deu um segundo<br />

passo e aí se curvou e cruzou o<br />

espaço à sua frente pela segunda<br />

vez... e quando Oxalá se curvou<br />

pela sétima vez e cruzou o espaço<br />

a sua frente, já não conseguiu<br />

se levantar senão só um pouco,<br />

e ainda assim porque apoiava-se<br />

em seu cajado, que é o eixo sustentador<br />

do mundo manifestado,<br />

denominado paxorô.<br />

Ele voltou-se na direção em<br />

que ficava a sua morada interior<br />

e já não a viu, pois o que viu foi<br />

o espaço vazio infinito em sua<br />

volta. E ele olhou para toda a sua<br />

volta e não viu nada além do espaço<br />

vazio. Então, o peso da sua<br />

responsabilidade foi tanto, que<br />

ele caiu de joelhos e com a voz<br />

embargada emitiu essas frases:<br />

- Pai, por que fez isso comigo<br />

se o amo tanto?<br />

- Pai, por que separou-me<br />

de você, se me sinto parte do<br />

senhor?<br />

- Pai, sem o senhor eu sou o<br />

que vejo em minha volta, nada,<br />

meu pai amado!<br />

- Por que, meu pai amado?<br />

E Oxalá, de joelhos e apoiado<br />

em seu cajado, chorou o mais<br />

dolorido pranto já ouvido desde<br />

então na morada exterior. E todos<br />

os outros Orixás, que estavam do<br />

lado de dentro da morada interior<br />

e o viam a apenas sete passos do<br />

portal de saída, emocionaram-se<br />

tanto com o pranto dele, que também<br />

se ajoelharam e choraram<br />

o mais sentido dos choros, pois<br />

tanto choraram a angústia dele<br />

quanto a que sentiam, porque<br />

também teriam que deixar a morada<br />

interior.<br />

Olorum, vendo todos os Orixás<br />

ajoelhados e chorando, ordenou:<br />

- Meu filho Ogum, o espaço já<br />

existe na minha morada exterior.<br />

Agora é sua vez de levar para ela<br />

o seu mistério e abrir os caminhos<br />

para que seus irmãos e irmãs<br />

possam segui-los em segurança<br />

o vivenciarem os destinos que<br />

reservei para cada um. Siga sempre<br />

em frente, pois já existe um<br />

caminho feito por mim e trilhado<br />

por Oxalá. E, ainda após você dar<br />

o sétimo passo só veja o espaço<br />

infinito em sua volta e nada mais,<br />

no entanto, onde seu pé direito<br />

pousar no seu sétimo passo, ali se<br />

iniciará o caminho que o conduzirá<br />

até onde ele se encontra agora.<br />

- Meu amado pai Olorum, eu<br />

vejo meu amado irmão bem ali,<br />

ajoelhado diante do portal de<br />

saída dessa sua morada, meu pai!<br />

- Ogum, assim que você der<br />

o primeiro passo depois da soleira<br />

desse portal você só verá o vasto e<br />

infinito espaço vazio, à sua volta.<br />

Não titubeie pois só encontrará o<br />

caminho que o levará até Oxalá,<br />

caso de sete passos resolutos,<br />

meu filho.<br />

- Assim diz o meu pai e meu<br />

Divino Criador Olorum, assim<br />

farei, meu pai amado!<br />

E Ogum despediu-se e cruzou<br />

o portal de saída. E quando deu<br />

o primeiro passo e olhos à sua<br />

direita e à sua esquerda e nada<br />

viu além do espaço ainda vazio,<br />

mas infinito em todas as direções,<br />

um tremor percorreu-lhe o corpo<br />

de cima para baixo. Mas ele continuou<br />

a caminhar.<br />

E ao dar o sétimo passo com o<br />

seu pé direito, Ogum ajoelhou-se<br />

e cruzou o espaço vazio diante dos<br />

seus pés. E cruzou o espaço acima<br />

da sua cabeça; e cruzou o espaço<br />

a sua frente; e cruzou o espaço a<br />

suas costas; e cruzou o espaço a<br />

sua direita; e cruzou o espaço a<br />

sua esquerda... e viu seu irmão<br />

Exu, que deu uma gargalhada e,<br />

à guisa de saudação, falou-lhe:<br />

- Ogum, meu irmão! Que bom<br />

vê-lo aqui do lado de fora da morada<br />

do nosso pai e nosso Divino<br />

Criador Olorum! Por que você<br />

demorou tanto para sair?<br />

- Exu,é bom revê-lo, meu<br />

irmão! O que você faz por aqui?<br />

- O que eu faço por aqui?<br />

- Foi o que lhe perguntei, Exu.<br />

- Eu já ando por aqui há tanto<br />

tempo, que eu nem sei a quanto<br />

tempo eu ando por aqui, sabe?<br />

- Não sei não. Explique-se, Exu!<br />

- Ogum, lá vem você com seus<br />

pedidos de explicação de novo!<br />

- Explique-se, está bem?<br />

- Já que você insiste, digo-lhe<br />

que é por causa do fator adiantador<br />

que gero, sabe?<br />

- Não sei não, Que fator<br />

é esse?<br />

- Bom, até onde eu já<br />

sei, ele faz com que eu chegue<br />

sempre adiantado nos<br />

acontecimentos e este é um<br />

acontecimento e tanto, não?<br />

- Que é um acontecimento<br />

e tanto, disso não tenho dúvidas.<br />

Mas, como você chegou<br />

aqui, se só Oxalá havia saído?<br />

- Ah, Oxalá passou por<br />

aqui mas, como ele estava<br />

muito triste e derramando<br />

lágrimas, eu achei melhor ir<br />

até ele quando ele deixar de<br />

derramar lágrimas. Afinal, eu<br />

gero o fator hilariador, não o<br />

entristecedor, sabe?<br />

- Já estou sabendo... porque<br />

Exu ri até sem motivos.<br />

- Ogum, a falta de motivos<br />

para se rir é algo hilário,<br />

ainda que muitos pensem<br />

o contrário. Mas, se irmos atrás<br />

dos motivos da falta de risos, aí<br />

vemos que é algo tão tolo, que se<br />

torna hilário.<br />

- É se Exu está adiantado e diz<br />

isso, então você já sabe de algo<br />

que logo descobrirei, certo?<br />

- Foi o que eu disse, Ogum.<br />

- Então Oxalá não tinha nenhuma<br />

razão para sentir-se tão<br />

triste e angustiado. É isso, Exu?<br />

- Não mesmo Ogum! Logo<br />

logo, isso aqui estará fervilhando,<br />

de tantos seres que estão à espera<br />

da concretização dos mundos que<br />

todos os que ficarem na morada<br />

interior desejarão vir para cá. E isto<br />

aqui estará tão cheio, que muitos<br />

desejarão retornar à ela, sabe?<br />

- Ainda não sei, mas, se você,<br />

que chegou aqui antes do espaço<br />

existir, e não sei como, está dizendo,<br />

então logo saberei.<br />

- E então, para onde você está<br />

indo, Ogum meu irmão à minha<br />

direita?<br />

- Vou até onde está Oxalá, Exu.<br />

- Posso acompanhá-lo?<br />

- Pode sim, com você ao meu<br />

lado esquerdo, creio que não me<br />

sentirei tão só, não é mesmo?<br />

- Se é Ogum! Comigo no seu<br />

lado esquerdo ninguém nunca se<br />

sentirá só.<br />

- Então vamos, Exu. Já vejo<br />

o caminho que conduz até Oxalá.<br />

- Você vai seguir os passos<br />

dele?<br />

- Vou, Exu.<br />

- Você não quer seguir por<br />

uma caminho alternativo que é<br />

mais curto?<br />

- Caminho alternativo? Que<br />

caminho é esse?<br />

- É um atalho, um desviozinho!<br />

Mas leva até ele do mesmo<br />

jeito, certo?<br />

- Errado, Exu! Atalhos ou desviozinhos<br />

podem levar a muitos<br />

lugares, mas nunca levarão alguém<br />

até Oxalá ou qualquer outro<br />

lugar, pois todos eles levam aos<br />

seus domínios, que estão localizados<br />

na vazio. Isso sim, é certo!<br />

- Tudo bem que isso é certo.<br />

Mas uma passadinha nos meus<br />

domínios não faz mal a ninguém,<br />

sabe?<br />

- Não sei e não quero saber.<br />

Quem quiser que siga seus convites.<br />

Vamos?<br />

- Vamos para onde?<br />

- Ao encontro de Oxalá, oras!<br />

- Não, não!<br />

- Por que não?<br />

- Esse caminho que leva a<br />

Oxalá é muito reto, é retíssimo<br />

mesmo! E Exu só trilha caminhos<br />

tortos ou tortuosos, sei lá!<br />

- Até a vista, Exu!<br />

Ogum seguiu o caminho que<br />

conduzia até Oxalá. Logo chegou<br />

onde ele estava. Após saudá-lo<br />

cruzando o solo e o espaço à<br />

frente dele, levantou-se e os dois<br />

abraçaram-se.<br />

Então ficaram no aguardo<br />

da chegada dos outros Orixás<br />

que não demoraram a chegar. E<br />

quando passou muito tempo sem<br />

mais nenhum outro aparecer, iniciaram<br />

suas funções de poderes<br />

criadores na morada exterior do<br />

nosso Divino Criador, gerando<br />

essas e muitas outras lendas<br />

sobre eles, que contaremos em<br />

outro livro.<br />

Texto extraído do livro<br />

“Lendas da Criação - A saga<br />

dos Orixás” de Rubens<br />

Saraceni, Editora Madras.


Página - 8<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016<br />

O Guardião Exu na <strong>Umbanda</strong><br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

Temos abaixo um texto do livro “O Guardião da<br />

Meia Noite”, de Rubens Saraceni.<br />

Este livro mudou a forma de ver quem é o Exu<br />

na <strong>Umbanda</strong>, trouxe para a religião o conceito de<br />

literatura psicografada ao mesmo tempo em que<br />

desmistifica esta entidade amada e reverenciada<br />

pelos umbandistas. Todo umbandista deveria<br />

ler este livro, que é sem duvida o romance mais lido<br />

e mais importante de toda a obra de Rubens Saraceni.<br />

Procure nas melhores livrarias.<br />

E eu pensei:<br />

“Como era poderoso o Guardião<br />

dos Sete Portais das Trevas”,<br />

que leu o meu pensamento.<br />

- Não pense que consegui o<br />

meu poder sendo um tolo. Sempre<br />

dormi com um olho aberto. Nunca<br />

deixei uma ofensa sem resposta,<br />

nem um inimigo mais fraco sem<br />

conhecer o meu poder. Nunca<br />

deixei de respeitar um igual ou de<br />

temer a um mais forte.<br />

Foi assim que consegui tanto<br />

poder. Também nunca saí da lei<br />

do carma. Não derrubo quem<br />

não merece, nem elevo quem<br />

não fizer por merecer.<br />

Não traio a ninguém mas<br />

também não deixo de castigar<br />

um traidor. Leve o tempo que<br />

for necessário, eu o castigo. Não<br />

castigo um inocente, mas não<br />

perdôo um culpado. Não dou a<br />

um devedor, mas não tiro de um<br />

credor. Não salvo a quem quer se<br />

perder, mas não ponho a perder<br />

quem quer se salvar.<br />

Não ajudo a morrer quem<br />

quer viver, mas não deixo vivo<br />

quem quer se matar. Não tomo<br />

de quem achar, mas não devolvo<br />

a quem perder. Não pego o poder<br />

do senhor da Luz, mas não recuso<br />

o poder do senhor das Trevas.<br />

Não induzo alguém a abandonar<br />

o caminho da Lei, mas não<br />

culpo quem dele se afastou. Não<br />

ajudo alguém que não queira ser<br />

ajudado, mas não nego ajuda a<br />

quem merecer. Sirvo à Luz, mas<br />

também sirvo às Trevas.<br />

No meu reino eu mando e<br />

sei me comportar. Não peço<br />

o impossível mas dou apenas<br />

o possível. Nem tudo que me<br />

pedem eu dou, mas nem tudo<br />

que dou é porque me pediram. Só<br />

respeito à Lei do Grande da Luz<br />

e das Trevas e nada mais. É por<br />

isso que o Grande exige de mim,<br />

portanto é isto que eu exijo dos<br />

que habitam, o meu reino. Não<br />

faço chorar o inocente, mas não<br />

deixo sorrir o culpado.<br />

Não liberto o condenado, mas<br />

não aprisiono o inocente. Não<br />

revelo o oculto, mas não oculto<br />

ao que pode ser revelado. Não<br />

infrinjo à Lei e pela Lei não sou<br />

incomodado. Agora sabe de onde<br />

vem meu poder, senhor da Meia-<br />

-Noite. Eu sou um dos sete guardiões<br />

da Lei nas Trevas; os outros<br />

seis, procure e a Lei lhe mostrará.<br />

- Obrigado, Guardião dos Sete<br />

Portais das Trevas deu-me uma<br />

lição sábia. Sou seu devedor.<br />

- Nada me deve, Senhor da<br />

Meia-Noite. Gosto de ensinar a<br />

quem quer aprender mas também<br />

gosto de castigar a quem aprende<br />

e faz mau uso do saber.<br />

Ele bateu o pé esquerdo e<br />

o recinto se encheu de entidades<br />

que haviam sido religiosos quando<br />

na carne.<br />

- Eis aí um exemplo do mau<br />

uso do saber. Eles aprenderam<br />

tudo o que precisavam para suas<br />

missões na terra mas não seguiram<br />

o que pregaram. Usaram do<br />

que sabiam em benefício próprio<br />

ou para arruinar aos que acreditaram<br />

neles.<br />

Olhe bem, Guardião da<br />

Meia-Noite e verá que os que se<br />

diziam sábios, iluminados, profetas,<br />

grandes lideres religiosos ou<br />

grandes sacerdotes não passavam<br />

de otários, idiotas, tolos, imbecis,<br />

cegos e mal intencionados. Verá<br />

entre eles todo tipo de defeito e<br />

nenhuma qualidade.<br />

Eram lobos uns pois se aproveitavam<br />

e comiam suas ovelhas<br />

e hienas outro pois se contentavam<br />

em consumir os restos deixados<br />

pelos lobos. Uns e outros<br />

hoje choram pelo erro cometido<br />

pela oportunidade perdida e pela<br />

luz não conquistada. Viveram do<br />

mundo e não pelo mundo.<br />

A Lei não os perdoou e os<br />

entregou a mim. Eu dou-lhes o<br />

que merecem porque sou um<br />

guardião da Lei das Trevas e esta<br />

é minha função. A Lei não iria<br />

colocar um ser bom e iluminado<br />

para castigar os canalhas nem<br />

colocaria um carrasco como eu<br />

para premiar aqueles que venceram<br />

suas provas.<br />

Não! Os guardiões da Lei na<br />

Luz tem uma função como a minha<br />

mas afeta à Luz: não deixam<br />

cair quem se fez por merecer<br />

à ascensão. Eu não deixo subir<br />

aos que se fizeram por merecer<br />

a queda. Eu sou a mão que castiga,<br />

a outra é a que acaricia. Eu<br />

sou a mão que derruba, a outra<br />

a que levanta. Tudo isto eu sou e<br />

ainda assim não sou infeliz, triste,<br />

arrependido ou ruim.<br />

Não sofro de remorso por castigar<br />

aquele que a Lei derrubou,<br />

assim como um guardião da Lei<br />

na Luz nada sente ao premiar a<br />

quem merecer. Eu sou o que sou,<br />

um guardião da Lei nas Trevas e<br />

me orgulho disto porque sei que<br />

sou necessário à Lei. E tudo isto<br />

você também é, ou será se assumir<br />

todo o seu passado, resgata-<br />

-lo e se sentir feliz em servir à<br />

Lei. Ela o recompensará quando<br />

assim quiser, não porque você<br />

peça qualquer recompensa pelo<br />

seu trabalho mas porque serve-a<br />

sem se lamentar por estar nas<br />

Trevas pois Luz e Trevas são os<br />

dois lados do Criador.<br />

Há os que trabalham durante<br />

o dia e dormem à noite mas<br />

também há os que trabalham de<br />

noite e dormem durante o dia. Há<br />

os animais que só saem de sua<br />

morada sob o sol e aqueles que só<br />

o fazem sob o luar. Há o verão mas<br />

há também o inverno. O que um<br />

aquece o outro esfria e vice-versa.<br />

Há a primavera mas há também<br />

o outono: O que um faz brotar o<br />

outro faz se recolher e vice-versa.<br />

Há o fogo para queimar e a água<br />

para saciar a sede. Há a terra para<br />

germinar e há o ar para oxigenar.<br />

Há tantas coisas e no fim são<br />

somente partes do Um. Por isto<br />

lhe digo, Guardião da Meia-Noite<br />

há os anjos e há os demônios.<br />

Os anjos habitam na Luz e os<br />

demônios nas Trevas. Uns não<br />

condenam aos outros pois sabem<br />

que são o que são porque assim<br />

quis o Criador.<br />

Aqueles que vivem no meio<br />

é que criam tanta confusão com<br />

suas descidas na carne. Do nosso<br />

lado não há nada disto. Cada um<br />

sabe a que lado pertence. E os<br />

que não sabem, são os primeiros<br />

de quem nos apossamos. Esta é a<br />

Lei que nos rege e a todo o resto<br />

da Criação. Mais não vou falar pois<br />

precisaria de muito tempo para<br />

tal coisa. Espero que possa sair<br />

daqui melhor servidor da Lei do<br />

que quando chegou.<br />

- Eu agradeço suas palavras,<br />

Guardião dos Portais. Pena que<br />

eu seja muito pequeno para<br />

ajuda-lo, senão eu diria: se precisar<br />

de minha ajuda é só pedir!<br />

- Pois ainda lhe digo que a<br />

maior das pirâmides não prescinde<br />

da menor de suas pedras;<br />

a maior das aves de sua menor<br />

pena nem o maior teto de sua<br />

menor telha; e nem o maior corpo<br />

do seu menor dedo. O maior<br />

rio não rejeita a menor gota da<br />

chuva nem o maior exercito ao<br />

seu mais fraco soldado.<br />

O maior rico é aquele que<br />

valoriza o menor dos seus bens.<br />

Muito mais eu poderia dizer mas<br />

me satisfaço em dizer-lhe: obrigado<br />

Guardião da Meia-Noite!<br />

Se eu precisar de seu auxilio<br />

não terei vergonha em lhe pedir<br />

pois por terem vergonha muitos<br />

morrem. Morrem por terem desejado<br />

algo e não terem provado<br />

seu gosto. Vergonha não faz<br />

parte do meu vocabulário e a<br />

palavra que mais prezo é a que<br />

se chama”respeito”. Aja assim e<br />

não será traído nem odiado, mas<br />

respeitado. Nem os maiores passarão<br />

por cima de você e nem os<br />

menores lhe escaparão.<br />

Ele parou de falar.<br />

- Até à vista, Guardião dos<br />

Sete Portais das Trevas!<br />

- Até à vista, Guardião da<br />

Meia-Noite!<br />

Fonte: “O Guardião da Meia<br />

Noite”, Rubens Saraceni, Editora<br />

Madras (www.madras.com.br).


Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -9<br />

A teologia<br />

de <strong>Umbanda</strong><br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

ESCREVER SOBRE Teologia de<br />

<strong>Umbanda</strong> não é tarefa fácil porque<br />

antes precisamos definir o que é<br />

Teologia e o que é Doutrina de<br />

<strong>Umbanda</strong>.<br />

• TEOLOGIA: tratado de<br />

Deus; doutrina que trata das<br />

coisas divinas; ciência que tem<br />

por objeto o dogma e a moral.<br />

• DOUTRINA: conjunto de<br />

princípios básicos em que se<br />

fundamenta um sistema religioso,<br />

filosófico e político; opinião,<br />

em assuntos científicos; norma<br />

(do latim doctrina).<br />

Pelas definições acima, teologia<br />

e doutrina acabam se entrecruzando<br />

e se misturando, tornando difícil<br />

separar os aspectos doutrinários<br />

dos teológicos, principalmente em<br />

uma religião nova como é a <strong>Umbanda</strong><br />

que, para dificultar ainda mais<br />

esses campos distintos, está compartimentada<br />

em várias correntes<br />

doutrinárias.<br />

Panteões formados pelas mesmas<br />

divindades mas com nomes<br />

diferentes confundem quem deseja<br />

aprofundar-se no seu estudo.<br />

Autores umbandistas temos<br />

muitos! Mas as linhas doutrinárias<br />

os separam e em um século de<br />

<strong>Umbanda</strong> ainda não foi possível<br />

uma uniformização teogônica ou<br />

doutrinária. Então, imaginem a dificuldade<br />

em tentar algo no campo<br />

teológico.<br />

Quando iniciei um curso nomeado<br />

por mim “Curso de Teologia de<br />

<strong>Umbanda</strong>”, isto no ano de 1996,<br />

foram tantas as reações contrárias<br />

que esse meu pioneirismo gerou<br />

até um certo auto-isolamento, que<br />

me impus para preservar-me e ao<br />

meu trabalho no campo da mediunidade,<br />

da psicografia e do ensino<br />

doutrinário.<br />

Ser pioneiro e iniciar algo até<br />

então não pensado por nenhum<br />

outro umbandista gerou para mim<br />

uma certeza inaba-ável:<br />

• Na <strong>Umbanda</strong>, tirando a parte<br />

prática ou os trabalhos espirituais,<br />

tudo mais ainda está para ser uniformizado<br />

e normatizado.<br />

• Batizados, casamentos, funerais,<br />

iniciações, etc., cada corrente<br />

doutrinária tem seus ritos<br />

e ninguém abdica do<br />

seu modo e prática<br />

particular em benefício<br />

do geral ou coletivo.<br />

Eu mesmo, orientado<br />

pelos mentores<br />

espirituais, desenvolvi<br />

ritos de batismo, de<br />

casamento, de funeral<br />

e de iniciação fundamentais<br />

e possíveis de<br />

serem ensinados em<br />

aulas coletivas e de<br />

serem realizados com<br />

grande aceitação por quem a eles<br />

se submetesse, já que são muito<br />

bem fundamentados. Mas, não<br />

para surpresa minha, já que não<br />

esperava que fossem aceitos, foram<br />

recusados por muitos e admitidos só<br />

por uma minoria.<br />

E mais uma vez os umbandistas<br />

desdenharam ritos fundamentais em<br />

pé de igualdade com os das outras<br />

religiões e continuaram casando-se<br />

em outras religiões e batizando seus<br />

filhos fora da <strong>Umbanda</strong>.<br />

Só uma minoria é fiel<br />

aos seus ritos! Com isso,<br />

perde a religião e perdem<br />

os umbandistas.<br />

Lembro-me que, quando comecei<br />

o meu curso de Teologia, um<br />

grupo que pratica uma <strong>Umbanda</strong><br />

diferenciada (segundo eles) criticou-<br />

-me violentamente e tudo fez para<br />

desacreditar-me e aos meus livros,<br />

mostrando-me como um ignorante e<br />

a eles como doutores nisto, naquilo<br />

e naquilo outro.<br />

Os leitores, que não desinformados,<br />

ainda que a maioria não seja<br />

doutores, não deixariam de notar a<br />

falta de fundamentos ou de fundamentação<br />

em tais críticas.<br />

Pressa e oportunismo não são<br />

bons companheiros de quem deseja<br />

semear algo duradouro no tempo e<br />

na mente das pessoas, principalmente<br />

entre os umbandistas, tão<br />

refratários a mudanças.<br />

Eu, com muitos livros teológicos<br />

e doutrinários já escritos há muito<br />

tempo, não me animei em publicá-<br />

-los antes de ter iniciado o meu<br />

curso em 1996, e só anos após<br />

ministrá-lo a centenas de pessoas e<br />

ser aprovado por elas ousei colocar<br />

ao público livros de Doutrina e Teologia<br />

de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong>.<br />

Mas antes, tomei a precaução<br />

de testar minha teoria de que havia<br />

criado um novo campo<br />

de estudo para os umbandistas<br />

já que, sem<br />

a aprovação deles, de<br />

nada adiantaria lançá-<br />

-lo pois cairia no vazio<br />

e no esquecimento, tal<br />

como já está acontecendo<br />

com os livros<br />

dos meus mais afoitos<br />

críticos, detratores e<br />

vilipendiadores.<br />

Quem tenta se<br />

apropriar das idéias e<br />

das criações alheias e das criações<br />

alheias corre o risco de ser tachado<br />

com a pecha de oportunista e deve<br />

tentar destruir a todo custo quem<br />

teve a idéia primeiro e criou algo<br />

de bom.<br />

Caso contrário, este alguém<br />

sempre os acusará e mostrará a<br />

todos que oportunismo e esperteza<br />

em religião têm vida curta porque<br />

não prosperam no tempo, além de<br />

não contarem com a aprovação da<br />

espiritualidade e dos sagrados orixás,<br />

que não delegaram a ninguém<br />

o grau de reformador da <strong>Umbanda</strong>,<br />

pois ela ainda não ultrapassou a<br />

sua fase de implantação no plano<br />

material.<br />

Os meus livros também se<br />

inserem nessa fase e espero que<br />

este meu comentário sirva de estímulo<br />

a outros umbandistas (não<br />

apressados e não oportunistas) e<br />

que venham a contribuir para que<br />

seja criada uma verdadeira “literatura<br />

teológica umbandista”, tão<br />

fundamental quanto indispensável<br />

à doutrina de <strong>Umbanda</strong>.<br />

Eu sei que isso demorará muito<br />

tempo para acontecer, mas sou<br />

obstinado e continuarei a contribuir<br />

com o calçamento do caminho que<br />

conduzirá as gerações futuras à<br />

concentração dessa nossa necessidade.<br />

Também sei que os atuais<br />

adversários de uma normatização<br />

são muitos e não deixarão que tal<br />

aconteça, pois contrariará seus<br />

interesses pessoais e seus desejos<br />

de dominarem a <strong>Umbanda</strong>.<br />

Entretanto, nós somos pacientes<br />

e perseverantes, certo?<br />

Texto de Rubens Saraceni<br />

extraído do livro “Tratado<br />

Geral de <strong>Umbanda</strong> - As<br />

chaves interpretativas<br />

teológicas” – Editora Madras.<br />

O JORNAL DE UMBANDA SAGRADA<br />

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Página - 10<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016


Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016 Página -11<br />

As crianças na <strong>Umbanda</strong><br />

Por RUBENS SARACENI – Contato: contato@colegiodeumbanda.com.br<br />

A LINHA DAS CRIANÇAS, cujos membros<br />

baixam nos centros de <strong>Umbanda</strong>, é de<br />

todas a mais misteriosa.<br />

Esses espíritos infantis nos surpreendem<br />

pela ternura, inocência, argúcia,<br />

carinho e amor que vibram quando<br />

baixam em seus médiuns.<br />

O arquétipo não foi fornecido pelo<br />

lado material da vida, pois uma criança<br />

com seus 7, 8 ou 9 anos de idade, por<br />

mais inteligente que seja, não está apta<br />

intelectualmente a orientar adultos atormentados<br />

por profundos desequilíbrios<br />

no espírito ou na vida material. Quem<br />

forneceu o arquétipo foram os seres que<br />

denominamos “encantados da natureza”.<br />

Não foi baseado em espíritos de<br />

crianças que desencarnaram que essa linha<br />

foi fundamentada, e sim nas crianças<br />

encantadas da natureza, que os acolhem<br />

em seus vastos reinos na natureza em<br />

seu lado espiritual e os amparam até que<br />

cresçam e alcancem um novo estágio<br />

evolutivo, já como espíritos naturais.<br />

Os espíritos que se manifestam na<br />

linha das crianças atendem pessoas e<br />

auxiliam-nas com seus passes, seus<br />

benzimentos e suas magias elementais,<br />

tudo isso feito com alegria e simplicidade<br />

enquanto brincam com seus carrinhos,<br />

apitos, bonecas e outros brinquedos bem<br />

caracterizadores do seu arquétipo. Ele é<br />

tão forte que adultos encarnados sisudos<br />

se transfiguram e se tornam irreconhecíveis<br />

quando incorporam sua criança.<br />

A presença desses espíritos infantis é<br />

tão marcante que mudam o ambiente em<br />

pouco tempo, descontraindo todos os que<br />

estiverem à volta deles.<br />

Todo arquétipo só é verdadeiro se<br />

for fundamentado em algo pré-existente.<br />

O arquétipo “Caboclo” fundamentou-se<br />

no índio brasileiro e no sertanejo mestiço.<br />

O arquétipo “Preto-Velho” fundamentou-se<br />

no negro já ancião, rezador, mandingueiro<br />

e curador. O arquétipo “Criança”<br />

fundamentou-se na inocência, na franqueza<br />

e na ingenuidade dos seres encantados<br />

ainda na primeira idade: a infantil.<br />

E, caso não saibam, há dimensões<br />

inteiras habitadas só por espíritos nesse<br />

estagio evolutivo conhecido, no lado<br />

oculto da vida, como “estágio encantado”.<br />

Nessas dimensões da vida há eles e suas<br />

mães encantadas, todas elas devotadas à<br />

educação moral, consciencial e emocional,<br />

contendo seus excessos e direcionando-os<br />

à senda evolucionista natural, pois eles não<br />

serão enviados à dimensão humana para<br />

encarnarem.<br />

A elas compete suprí-los com o indispensável<br />

para que não entrem em<br />

depressão e caiam no autismo ou regressão<br />

emocional, muito comum nessas<br />

dimensões. Nelas há reinos encantados<br />

muito mais belos do que os “contos de<br />

fadas” do imaginário popular foi capaz<br />

de descrever ou criar.<br />

Cada reino tem uma senhora, uma<br />

mãe encantada a regê-lo. E há toda uma<br />

hierarquia a auxiliá-la na manutenção<br />

do equilíbrio para que os milhares de<br />

espíritos infantis sob suas guardas não<br />

regridam, e sim, amadureçam lentamente<br />

até que possam ser conduzidos aos<br />

estágio evolutivo posterior.<br />

O arquétipo é forte e poderoso porque<br />

por trás dele estão as mães Orixás,<br />

sustentando-o, e também estão os pais<br />

Orixás, guardando-o e zelando pela<br />

integridade desses espíritos infantis. A<br />

literatura existente sobre esse estágio se<br />

restringe a alguns livros de nossa autoria<br />

que abordam o estágio encantado da<br />

evolução dos espíritos.<br />

Mas que ninguém duvide da existência<br />

dele porque ele realmente existe e<br />

não seriam “crianças” humanas recém-<br />

-desencarnadas e que nada sabiam da<br />

magia que iriam realizar os prodígios<br />

que os “Erês” realizam em benefício dos<br />

freqüentadores das suas sessões de trabalhos<br />

ou com forças da natureza quando<br />

oferendados em jardins, à beira-mar, nas<br />

cachoeiras ou em bosques frutíferos.<br />

Há algo muito forte por trás do<br />

arquétipo e esse algo são os Orixás encantados,<br />

os regentes da evolução dos<br />

espíritos ainda na “primeira idade”.<br />

Texto extraído do livro “Os arquétipos<br />

da <strong>Umbanda</strong> de Rubens<br />

Saraceni, Editora Madras.


Página - 12<br />

Jornal de <strong>Umbanda</strong> <strong>Sagrada</strong> - MARÇO/2016

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