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MINISTÉRIO <strong>DA</strong> <strong>DE</strong>FESA<br />
EXÉRCITO BR<strong>AS</strong>ILEIRO<br />
ESCOLA <strong>DE</strong> EQUITAÇÃO <strong>DO</strong> EXÉRCITO<br />
A POSIÇÃO <strong>DO</strong> <strong>CAVALEIRO</strong> <strong>PARA</strong> <strong>AS</strong> DIVERS<strong>AS</strong> <strong>MO<strong>DA</strong>LI<strong>DA</strong><strong>DE</strong>S</strong> <strong>DO</strong> <strong>PONTO</strong><br />
<strong>DE</strong> <strong>VISTA</strong> <strong>DA</strong> FÍSICA<br />
FILIPE RODRIGUES PINHEIRO - 1˚ Ten Cav<br />
Rio de Janeiro<br />
2010
MINISTÉRIO <strong>DA</strong> <strong>DE</strong>FESA<br />
EXÉRCITO BR<strong>AS</strong>ILEIRO<br />
ESCOLA <strong>DE</strong> EQUITAÇÃO <strong>DO</strong> EXÉRCITO<br />
A POSIÇÃO <strong>DO</strong> <strong>CAVALEIRO</strong> <strong>PARA</strong> <strong>AS</strong> DIVERS<strong>AS</strong> <strong>MO<strong>DA</strong>LI<strong>DA</strong><strong>DE</strong>S</strong> <strong>DO</strong> <strong>PONTO</strong><br />
<strong>DE</strong> <strong>VISTA</strong> <strong>DA</strong> FÍSICA<br />
Monografia apresentada à Escola de Equitação<br />
do Exército, como requisito parcial para a<br />
obtenção do título de Pós-Graduação em<br />
Equitação.<br />
Orientador: Cap Cav Paulo Teixeira Junior.<br />
FILIPE RODRIGUES PINHEIRO - 1˚ Ten Cav<br />
Rio de Janeiro<br />
2010
RESUMO<br />
A posição do cavaleiro é um dos mais importantes fundamentos a ser aplicado quando<br />
se monta um cavalo. A partir desse pressuposto, todas as demais ações do cavaleiro serão<br />
otimizadas, e a transmissão de suas vontades ao animal, potencializadas. Embora as<br />
modalidades de interesse do Exército Brasileiro (Adestramento, Salto, Pólo e Concurso<br />
Completo de Equitação - CCE) sejam bastante diferentes entre si, há muitos pontos em<br />
comum, em termos posturais. Enquanto isso, as peculiaridades de cada uma delas implicam<br />
no cavaleiro um estilo diferenciado de montaria, dados os desafios que cada esporte traz ao<br />
atleta. A Física, ciência que trata da observação dos fenômenos naturais, pode ser aplicada na<br />
compreensão destes desafios, através da análise isolada dos vetores das forças, acelerações,<br />
velocidades e atritos aos quais o cavaleiro e o cavalo estão submetidos ao praticar a equitação.<br />
No Adestramento, temos as lições gerais que podem ser usadas em todas as demais<br />
modalidades, desde o correto assento até o calçamento dos estribos, passando pela tomada das<br />
rédeas e a direção do olhar. No Salto, há a necessidade de se posicionar visando a<br />
transposição dos obstáculos, quando os centros de gravidade estarão sendo deslocados, e o<br />
movimento não será apenas linear. No CCE, além dessas duas modalidades anteriormente<br />
citadas, há ainda a fase do cross-country, onde os obstáculos em declive, aclive e a grande<br />
velocidade da prova trarão ainda mais dificuldades. O Pólo, à mesma maneira, tem a<br />
velocidade, o manuseio do taco e as variações de montada.<br />
Ao serem analisados pela Física, as particularidades de cada modalidade irão<br />
acrescentar ao desempenho psicomotor uma boa dose de pré-requisitos cognitivos que só<br />
farão concatenar estas duas áreas em prol do sucesso do cavaleiro.<br />
Palavras-chave: posição, cavaleiro, Física, modalidades.
ABSTRACT<br />
The rider's position is one of the most important foundations to be applied when a<br />
horse is been ridden. Starting from this purpose, all other rider's actions will be optimized, and<br />
the transmition of his wishes to the animal, potentized. Though Brazilian Army's modalities of<br />
interest (Dressage, Jumping, Polo and Eventing) be very unlike among each other, there are<br />
many points in common, in posture therms. Meanwhile, the peculiarities of each one of them<br />
implicates to the rider a different style of ridding, because of the challenges that each sport<br />
gives to the athlete. Physics, science that matters of the observation of natural phenomenons,<br />
can be applied on the comprehension of those challenges, beyond forces, accelerations, speeds<br />
and frictions vectors' isolated analysis that both rider and horse are submited to, when<br />
practicing equitation.<br />
In Dressage, whe have the general lessons which can de applied to all other modalities,<br />
from the correct sitting to putting on stirrups, passing by the reins grip and the looking<br />
direction. In Jumping, there is the necessity of positioning seeking the transposition of<br />
obstacles, when gravity centres will be dislocated, and the movement is not going to be linear,<br />
only. In Eventing, besides those two modalities before mentioned, there is still the crosscountry<br />
phase, where obstacles in declivity, acclivity and the great speed of the test are going<br />
to bring even more difficulties. Polo, as the same manner, has the speed, the mallet handle and<br />
the variations of ridding.<br />
Being analyzed by Physics, the particularities of each modality will add to<br />
psychological-motor performance a good dose of cognitive pre-requirements that will only<br />
concatenate those two areas in benefit of rider's success.<br />
Key-words: position, rider, Physics, modalities.
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 05<br />
2 <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO....................................................................................... 06<br />
2.1 Generalidades....................................................................................................... 06<br />
2.2 Grandezas Físicas................................................................................................. 06<br />
2.3 Adestramento........................................................................................................ 07<br />
2.4 Salto....................................................................................................................... 14<br />
2.5 Concurso Completo de Equitação....................................................................... 17<br />
2.6 Pólo........................................................................................................................ 19<br />
3 CONCLUSÃO...................................................................................................... 22<br />
4 REFERÊNCI<strong>AS</strong>................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO<br />
Quando se fala em equitação, a imagem que talvez venha à mente de todos nós seja a<br />
de um ser humano sobre um cavalo executando movimentos graciosos - seja saltando,<br />
galopando, ou mesmo parados, numa posição que inspira a união harmoniosa entre ambos,<br />
enfim, um conjunto.<br />
E para se obter um conjunto capaz de parecer um só, agindo em harmonia e sob<br />
controle, deve-se dar ao cavalo os sinais corretos para que ele compreenda aquilo que<br />
queremos que faça. A isso dá-se o nome de ajudas, e dentre elas temos o peso do corpo, a ação<br />
das mãos nas rédeas, a pressão das pernas, etc., as quais, sob um ponto de vista inspirado na<br />
Física, nos mostrarão como a gravidade dos corpos, os atritos e forças interferem na<br />
equitação.<br />
Todavia, para que as ajudas funcionem, é mister que a posição do cavaleiro esteja<br />
correta, caso contrário essas ajudas serão mal-interpretadas pelo animal ou, em casos mais<br />
graves, a posição pode estar tão errada que o próprio equilíbrio do cavalo pode ser<br />
prejudicado. Isso resultará em reações, peripécias e desobediências por parte deste, que, se<br />
estivesse sendo corretamente montado por seu cavaleiro, via de regra corresponderia às ajudas<br />
e realizaria um trabalho coerente aos desejos daquele que o governa.<br />
Nesse ínterim, temos que esse enigma, essa posição ideal a ser buscada por todos<br />
aqueles que fazem da equitação, esportes - os quais se tornaram modalidades olímpicas desde<br />
os Jogos Olímpicos de Estocolmo, Suécia, em 1912, muito embora em Paris, 1900, já tenham<br />
sido disputadas competições de salto ao cronômetro em distância e em altura (PAALMAN,<br />
1998), deve ser alvo de uma busca diária e incansável.<br />
Não despretensiosamente, a posição do cavaleiro é a primeira habilidade a ser<br />
desenvolvida naqueles que se propõem a montar, sendo alvo das primeiras lições aos<br />
aprendizes-cavaleiros. Não à toa, por suposto, é o objeto de estudo na primeira fase do Curso<br />
de Instrutor de Equitação da Escola de Equitação do Exército, que aborda, dentre outros<br />
assuntos, o aprendizado das modalidades esportivas equestres Salto, Pólo, Concurso<br />
Completo de Equitação e Adestramento, sendo que esta última se constitui na base para todas<br />
as demais.<br />
Ao consolidar-se o aprendizado de uma correta posição do cavaleiro, específica para<br />
cada esporte, teremos uma compreensão melhor, à luz da ciência, daquela bela imagem
supracitada que temos para nós mesmos como sendo a definição de uma boa equitação.<br />
2 <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO<br />
2.1 Generalidades<br />
A posição correta do cavaleiro é o primeiro passo para se alcançar um bom resultado<br />
quando se pratica Adestramento, CCE, Salto e/ou Pólo. Todos estes são ou já foram esportes<br />
olímpicos, sendo praticados cada vez mais no Brasil, tendo seu Exército um especial interesse<br />
em seu aprimoramento. Isso se deve ao fato de ser cultivada, nesta instituição, a prática de tais<br />
desportos com diversos objetivos, tais como: desenvolver atributos da área afetiva, manter as<br />
tradições da cavalaria hipomóvel, representar a Força Armada e o país em competições<br />
domésticas e internacionais, dentre outros.<br />
Entretanto, os cavaleiros que participam como atletas em dois ou mais destes esportes<br />
sabem muito bem que seu comportamento, suas atitudes, seus gestos e a aplicação de sua<br />
força e comunicabilidade com o animal são, senão de modo, de intensidade muito diferente.<br />
Há de se levar em consideração, para entendimento desta última assertiva, as exigências<br />
regulamentares que interferem no resultado de uma competição, tais como o que e como é<br />
avaliado o cavaleiro, o cavalo e/ou o conjunto.<br />
Outrossim, temos que a posição do cavaleiro é o primeiro critério aperfeiçoado no<br />
decorrer dos cursos ministrados neste Estabelecimento de Ensino, uma vez que, não estando<br />
correta, tudo o mais será prejudicado e dificultado. Nada melhor, portanto, que analisar e<br />
otimizar esta base do ato de bem-montar.<br />
2.2 Grandezas Físicas<br />
Grandeza é tudo aquilo que se pode medir, atribuir valores. Dentre as grandezas, temos<br />
aquelas que são peculiares à Física, ciência que trata da observação dos fenômenos que<br />
ocorrem na natureza.<br />
Daquelas que são de interesse deste estudo, pode-se dividí-las em grandezas escalares<br />
ou vetoriais; as primeiras são descritas por um valor seguido de uma unidade de medida, já as<br />
últimas necessitam, além disso, de uma indicação de sua direção e de seu sentido, para que se<br />
possa compreender sua atuação por completo. A essas representações gráficas dá-se o nome<br />
de vetores (RAMALHO, 2005).<br />
As grandezas de que tratará este trabalho são aquelas que influenciam no correto
posicionamento do cavaleiro sobre sua montada, quais sejam: a massa, o peso (relacionado a<br />
esta já podemos citar o centro de gravidade, ponto no qual se foca a aplicação da força da<br />
gravidade em todo o corpo), a força (há que se destacar em particular o atrito, componente<br />
que surge em decorrência da aspericidade dos corpos), e a velocidade.<br />
A representação gráfica de tais grandezas deve ser feita, portanto, indicando tudo<br />
aquilo que simbolizam, ou seja, sua intensidade, direção, sentido e unidade de medida, tal<br />
como a figura abaixo:<br />
Figura 1: representações vetoriais. Disponível em http://www.mundoeducacao.com.br.<br />
Acesso em 03 de agosto de 2010.<br />
Quando, em uma expressão matemática, a grandeza se apresenta sem o símbolo de<br />
vetor sobre sua incógnita (→), isso significa que está-se trabalhando com o módulo desta<br />
grandeza (ou seja, desprezando-se sua orientação gráfica, tendo por base somente seu valor<br />
numérico absoluto). Assim sendo, temos que:<br />
2.3 Adestramento<br />
→<br />
| F | = F<br />
É incerto o período exato em que o homem começou a domesticar e a utilizar cavalos<br />
para fins de locomoção. Todavia, foi no século IV a.C. que o militar grego Xenofonte<br />
escreveu a primeira obra conhecida sobre equitação, inaugurando, assim, o início dos<br />
trabalhos acadêmicos sobre o que hoje se chama Adestramento (MORGAN, 2001).<br />
Desde então, até os dias atuais, tem-se que a posição do cavaleiro sobre o animal é<br />
essencial para que o conjunto desenvolva suas atividades com o máximo de aproveitamento,<br />
do contrário a exigência muscular do animal será maior e desperdiçada, exigindo mais dos<br />
músculos antagônicos àqueles que se está trabalhando (LICART, 1988).<br />
Este esporte se constitui na base de todas as lides equestres, uma vez que, através de<br />
sua prática, consegue-se “devolver ao cavalo a graça das atitudes e dos movimentos que ele<br />
tinha, naturalmente, em liberdade” (<strong>DE</strong>CARPENTRY, 2001). Assim sendo, percebemos que<br />
estamos tratando das mais importantes bases do hipismo, o que dá um caráter clássico e<br />
formal à sua prática.<br />
Outrossim, temos no próprio regulamento da modalidade, se não a necessidade, a
obrigatoriedade de uma postura corporal adequada do cavaleiro. Não obstante, este item<br />
também é avaliado no julgamento de uma prova, sendo importante na pontuação do conjunto,<br />
valendo inclusive para um possível critério de desempate – o grau de conjunto, julgado ao<br />
final de cada reprise. Observemos, então, o regulamento de Adestramento em seu artigo 418<br />
(A posição e as ajudas do cavaleiro), a seguir transcrito:<br />
Todos os movimentos devem ser obtidos com ajudas imperceptíveis e sem um<br />
esforço aparente do cavaleiro. Ele deve estar bem equilibrado, elástico, sentado<br />
fundo no centro da sela e ligado suavemente ao ritmo do cavalo com sua cintura e<br />
quadris flexíveis, coxas e pernas fixas e bem descidas. Os calcanhares devem ser o<br />
ponto mais baixo. A parte superior do corpo deve estar flexível e ereta, na vertical. O<br />
contato deve ser independente do assento do cavaleiro. As mãos devem ser fixas,<br />
baixas e próximas uma da outra, com o polegar como o ponto mais alto e uma linha<br />
reta, passando pelo cotovelo flexível através da mão em direção à boca do cavalo.<br />
Os cotovelos devem estar próximos do corpo. Todo esse critério permite ao<br />
cavaleiro seguir os movimentos do cavalo suave e desembaraçadamente. A<br />
eficiência das ajudas do cavaleiro determina o cumprimento preciso dos movimentos<br />
exigidos nas reprises. Deverá haver sempre a impressão de uma harmoniosa<br />
cooperação entre cavalo e cavaleiro. (CBH, 2009)<br />
Isto posto, chegamos ao entendimento de que a posição do cavaleiro neste esporte se<br />
faz um item intrínseco à sua própria execução, e não somente algo que se pode negligenciar e<br />
tentar compensar com outra forma de se comunicar com o cavalo.<br />
Esta modalidade não prevê em suas reprises a execução de saltos nem nada similar que<br />
vá exigir do cavaleiro mover-se em sua sela, muito pelo contrário. Assim sendo, a fixidez é<br />
um ponto sensível e deve ser buscada ao máximo, exceção feita às figuras onde é permitido o<br />
trote elevado, se bem que a fixidez das panturrilhas ao corpo do animal deva ser mantida.<br />
Por conseguinte, temos que a postura a ser almejada pelo praticante não deve ser algo<br />
rígido, contraído ou mesmo inerte (<strong>DE</strong>CARPENTRY,2001), muito pelo contrário: deve ser<br />
elegante e solidária ao movimento do cavalo, evitando variações no centro de gravidade (uma<br />
importante ajuda deriva disso – o peso do corpo) e acompanhando as sutis variações<br />
esquelético-musculares do animal em seus diversos sub movimentos, por assim dizer. Desse<br />
entendimento supõe-se a compreensão de que a cinética do cavalo como um todo não é<br />
somente uma impulsão para a frente, mas também os movimentos de báscula de seu pescoço,<br />
o flexionamento do dorso-rim (tanto lateral quanto longitudinal), as flutuações de todo seu<br />
corpo nos tempos de suspensão de algumas andaduras, dentre outras.<br />
Logo, as ajudas devem ser mantidas uniformes, apesar do movimento, exigindo do<br />
cavaleiro um esforço não-aparente para tal (<strong>DE</strong>CARPENTRY, 2001). Exceção é feita quando<br />
deseja-se mudar a atitude do cavalo, como por exemplo, ampliar sua andadura. Para isso, há a<br />
necessidade de comunicar-se com o equideo, suavizando a tensão das rédeas, aumentando a
pressão das pernas sobre seus flancos ou algo do gênero, mas nunca variando as demais<br />
ajudas, caso contrário não saberá o que dele se espera.<br />
A expressão “Ele [o cavaleiro] deve estar bem equilibrado (...)” (CBH, 2009), remete<br />
à compreensão do que vem a ser equilíbrio, o que em Física pode ser facilmente explanado<br />
valendo-se da Segunda Lei de Newton, ou Princípio Fundamental da Dinâmica, que nos diz :<br />
F = m. a<br />
(onde F signica a grandeza força, m a massa do corpo considerado e a uma aceleração a ele<br />
dada).<br />
Assim sendo, um corpo de massa m (um cavaleiro de 70 kg, por exemplo) só estará<br />
em equilíbrio se não houver força alguma deslocando-o de sua posição. Para tal, a aceleração<br />
que atua sobre sua massa deverá ser nula – o que vai anular a tal força que o desequilibraria,<br />
já que força e aceleração são diretamente proporcionais na equação. O nome dado a esta<br />
condição, em Física, é “equilíbrio estático” (RAMALHO, 2005). Matematicamente:<br />
F = m. a ; m = 70 kg e a = 0 m/s² → F = 70 . 0 = 0 N.<br />
Assim sendo, passamos ao entendimento de que o cavaleiro deve anular as forças que<br />
agem sobre ele, a fim de manter seu equilíbrio estático, adquirindo, assim, sua fixidez e sua<br />
postura elegante, lembrando que “todos os movimentos devem ser obtidos com ajudas<br />
imperceptíveis e sem um esforço aparente do cavaleiro”(CBH, 2009), dando a “impressão de<br />
uma harmoniosa cooperação entre cavalo e cavaleiro”(CBH, 2009). Para tanto, vejamos o<br />
que seria anulação de forças: se F1 for uma força de intensidade x e direção igual e sentido<br />
contrário ao de F2, de menor intensidade, então teríamos uma resultante a favor de F1. Isso<br />
nada mais é que uma subtração vetorial, e para que as forças se anulem deve haver uma igual<br />
intensidade, na mesma direção, mas em sentidos opostos (veja figura abaixo).<br />
Figura 2: subtração vetorial. Disponível em<br />
www.tudook.com.br. Acesso em 03 de agosto de
2010.<br />
Supondo-se ser F1 a força gerada pela impulsão da andadura do cavalo para cima e F2<br />
a reação do cavaleiro a ela (tentando sentar-se fundo à sela ao invés de absorver o movimento<br />
com o movimento dos quadris), a resultante sempre maior dessa “briga” faria com que este<br />
último seja atirado para cima, quicando sobre sua montada sempre que esta força de direção<br />
vertical que vem no sentido de baixo para cima se fizer atuante. Numa andadura como o trote<br />
alongado, o cavaleiro que incorrer nesse erro passará por verdadeiro suplício. A situação ideal<br />
é aquela na qual F1 é anulada por F2 (força resultante igual a zero), o que pode ser obtido se<br />
respeitada a passagem do já citado artigo 418 do regulamento, que nos diz que o cavaleiro<br />
deve estar “elástico e (...) ligado suavemente ao ritmo do cavalo com sua cintura e quadris<br />
flexíveis”(CBH, 2009).<br />
E por qual razão deve o cavaleiro estar “(...) sentado fundo no centro da sela (...)”,<br />
devendo “os calcanhares (...) serem o ponto mais baixo” e “a parte superior do corpo deve<br />
estar flexível e ereta, na vertical”(CBH, 2009)? Tudo isso deriva da necessidade de se buscar<br />
o já comentado equilíbrio através da comunhão entre o centro de gravidade do cavalo com o<br />
do cavaleiro em uma só linha perpendicular ao solo.<br />
O primeiro passo para se obter este fino ajuste vai depender de uma correta<br />
encilhagem, pois de nada adianta uma busca incessante por postura adequada se a sela está<br />
muito recuada, avançada ou mesmo com sua ajustagem frouxa. Todos estes desleixos trarão<br />
não só desconforto como também uma dificuldade extra para se buscar essa consonância tão<br />
importante entre os centros. Vejamos a figura abaixo:<br />
Figura 3: centro de gravidade do cavalo. Disponível em<br />
http://equitacaoespecial.blogspot.com. Acesso em 03<br />
de agosto de 2010.<br />
Nela vemos, no cavalo, em que local de seu corpanzil a gravidade atua como se fosse
tão somente em um ponto. Obviamente, ela atua em toda a massa do animal, mas o equilíbrio<br />
está intimamente ligado a este ponto médio, em torno do qual o restante da massa está<br />
simetricamente distribuída. Vale ressaltar que a gravidade se trata de uma aceleração advinda<br />
do centro (de gravidade!) do planeta Terra, a qual multiplicada pela massa dos corpos nos<br />
fornece seus pesos (portanto, força peso). Assim sendo, temos que são incorretas as<br />
expressões “força da gravidade” e “essa égua pesa 500 kg”.<br />
Analisemos, agora, o centro de gravidade humano. Este ponto é a intersecção de três<br />
eixos de simetria que passam por nossos corpos, quais sejam: horizontal (a), vertical (b) e<br />
transversal (c). Logo, temos o nosso centro aproximadamente na região da segunda vértebra<br />
sacral, devendo as forças que tentam nos tirar da sela ser combatidas com movimentos de<br />
quadris e cintura, movendo, assim, o centro de gravidade de nossos corpos – e por<br />
conseqüência todo o nosso peso.<br />
Figura 4: centro de gravidade do ser humano.<br />
Disponível em www.omundodacorrida.com.<br />
Acesso em 04 de agosto de 2010.<br />
Há de se levar em consideração que mulheres grávidas e obesos têm centros de<br />
gravidade um tanto diferenciados do mostrado na figura abaixo, sendo o deles um pouco mais<br />
para a frente de seus corpos. Entretanto, a postura, quando montados, é praticamente a<br />
mesma. Visto, então, onde se localizam estes pontos-chave do equilíbrio de cada um, vejamos<br />
o conjunto como se comporta:
Figura 5: os centros de gravidade do conjunto. Disponível em:<br />
http://www.equisport.pt. Acesso em 05 de agosto de 2010.<br />
Note que o conjunto mais à esquerda tem seu cavaleiro com o busto inclinado para a<br />
frente, além de não estar com suas “(...) coxas e pernas fixas e bem descidas” (CBH, 2009).<br />
Tudo isso resultou no deslocamento de seu centro de gravidade da posição que seria a correta<br />
(figura mais à direita), onde estão ambos colimados a uma reta perpendicular ao plano<br />
terrestre, exatamente na direção onde sofrem influência mútua da aceleração da gravidade.<br />
Permanecendo na posição correta, o cavaleiro faz com que o centro de gravidade do<br />
conjunto seja muito próximo daquele natural ao cavalo em liberdade. Isso acarreta em menor<br />
esforço para o animal se movimentar, desembaraço para empregar sua musculatura e seu<br />
esqueleto, sem precisar se preocupar em compensar com outros grupos musculares o peso mal<br />
distribuído de um mal ginete que o atrapalha.<br />
Evidentemente, em muito facilita a coordenação de seu peso o cavaleiro estando<br />
sentado. Entretanto, o peso das pernas deve ser muito bem distribuído e ser um auxílio no<br />
equilíbrio, não um empecilho. Para tanto, fora a obviedade de se ajustar os loros em tamanhos<br />
iguais nos dois lados, há que se ter uma especial atenção para o seu comprimento. No<br />
Adestramento, as pernas do cavaleiro devem ter a maior área de contato possível com os<br />
flancos do cavalo, a fim de dar maior fixidez e possibilidades de emprego da ajuda natural de<br />
ação de pernas.<br />
Os calcanhares, para tanto, devem estar voltados para baixo (facilitando o equilíbrio e<br />
suportando o peso das pernas). No corte transversal abaixo, vemos as forças F e F' atuando,<br />
sendo elas a força peso de cada uma das pernas do cavaleiro. Do assento para cima, o peso do<br />
corpo (força M) é distribuído pelos ossos da bacia e do cóccix em contato com a sela. Já as<br />
forças F” e F ''' são a ação das pernas sobre os flancos do cavalo. Elas podem ser em locais<br />
diferentes (perna isolada) e em intensidades diferentes (partidas ao galope), dependendo
daquilo que se deseja que o cavalo execute.<br />
Figura 6: as forças atuantes nas pernas do cavaleiro.<br />
Fonte: o autor.<br />
Ainda tratando sobre fixidez, temos que é comum a prática de se umedecer a sela antes<br />
de se apresentar em uma reprise de Adestramento. Isso se deve ao fato de aumentar o<br />
coeficiente de atrito, componente da força de atrito que impede o cavaleiro de escorregar<br />
sobre sua sela, o que o faria sofrer penalizações em sua participação em uma prova. A força de<br />
atrito é uma componente da força de contato, que atua sempre que dois corpos entram em<br />
choque, vindo a derivar da rugosidade dos materiais (RAMALHO, 2005).<br />
Assim sendo, temos que:<br />
Fat = Fn . ʯ<br />
(onde Fat é a força de atrito, Fn é a força normal - idêntica ao peso do objeto, quando em um<br />
plano vertical, e ʯ é o coeficiente de atrito - grandeza adimensional que determina o grau de<br />
fixidez entre os materiais).<br />
Isto posto, se um cavaleiro que pesa 700 N estiver usando um culote que tem por<br />
coeficiente de atrito (ʯ) com o couro da sela um valor igual a, por exemplo, 0,5, a força de<br />
atrito que ele exercerá contra a sua montada será de 350 N. Ao molhar o couro da sela, este<br />
coeficiente (ʯ' ) poderá mudar para, digamos, 0,7, e então a nova Fat será igual a 490 N. Mais<br />
recurso terá, então, o cavaleiro para não escorregar, pois no caso de qualquer força que haja<br />
contra si maior que 350 N o faria escorregar estando a sela seca, ao passo que estando<br />
umedecida esta força teria de ser maior que 490 N.<br />
Há que se salientar que estas são suposições grosseiras, onde não é levado em<br />
consideração o atrito do culote com a pele do cavaleiro, nem tampouco as resultantes dos<br />
vetores das diversas forças em direções múltiplas que podem atuar no cavaleiro durante sua
apresentação. Todavia, é fato que o couro da sela umedecido aumenta o coeficiente de atrito<br />
com o pano do culote que o cavaleiro estiver vestindo ao montar.<br />
Passando agora à posição que deve ter o cavaleiro com suas mãos e braços (tal qual a<br />
figura a seguir), entendamos que as rédeas são uma extensão dos braços, utilizadas como<br />
veículo para se transmitir aquilo que se deseja comunicar ao cavalo através de sua<br />
embocadura. Para tanto, é mister não oscilar com as rédeas, o que pode interferir na sensível<br />
boca do equideo (LICART, 1988), bem como ajustar os martingais ou gamarras de modo a<br />
não dividir os esforços que agem nas rédeas. Observemos a caricatura a seguir, que traduz<br />
como deve ser a ação das rédeas por parte do cavaleiro:<br />
Figura 7: as rédeas enquanto extensão dos braços. Fonte: o autor.<br />
Para que entendamos a figura acima, onde T é uma força de tensão, segue sua<br />
definição: “tensão é uma reação à força aplicada sobre uma corda esticada (ou objeto<br />
similar) sobre os objetos que a esticam. A direção da força de tensão é paralela à corda,<br />
longe do objeto, exercendo seu alongamento” (RAMALHO, 2005). Assim sendo, temos que a<br />
força que o cavaleiro aplica para esticar as rédeas e/ou puxar a embocadura para trás (a fim de<br />
realizar um alto ou algo similar) tem como reação a dita tensão das rédeas ( T ). Esta deve ser<br />
constante, para que o animal não se confunda com aquilo que lhe está sendo exigido, nem<br />
tampouco seja agredida sua já sensível boca. Note que o sentido de T é do cavaleiro para a<br />
embocadura.<br />
Finalmente, temos que o olhar de quem monta deve estar sempre voltado para frente, a<br />
fim de não fazer com que a cabeça penda para baixo, interferindo no já comentado equilíbrio,<br />
bem como transmitir confiança e altivez para quem admira ou mesmo avalia sua equitação,<br />
mesmo porque “deverá haver sempre a impressão de uma harmoniosa cooperação entre<br />
cavalo e cavaleiro” (CBH, 2009).
2.4 Salto<br />
Esta modalidade difere da anterior, dentre outros pontos, da não-obrigatoriedade de<br />
uma postura padronizada por parte do cavaleiro enquanto na condução de seu animal durante<br />
uma prova, uma vez que “o vencedor da competição é o concorrente que incorrer no menor<br />
número total de penalidades, e que terminar o percurso no menor tempo ou alcançar o maior<br />
número de pontos, dependendo do tipo da competição”(CBH, 2010).<br />
Entretanto, para se alcançar estes objetivos, há que se contar com a preciosa ajuda do<br />
Adestramento, uma vez que divergir de sua doutrina fada o concorrente a governar seu animal<br />
de uma maneira que pode muito facilmente atrapalhá-lo na busca dos objetivos. Todavia,<br />
foquemo-nos na posição do cavaleiro durante a atividade principal desenvolvida por esta<br />
modalidade, qual seja: o salto de obstáculos. Outrossim, nem só de saltar carece o cavalo<br />
desta modalidade, mas também de diversos exercícios de flexionamento derivados tãosomente<br />
do Adestramento.<br />
Assim sendo, temos que o posicionamento do cavaleiro para este esporte deve levar<br />
em consideração situações críticas, nas quais deve-se sair da sela a fim de acompanhar o<br />
emprego do pescoço do cavalo durante o salto do obstáculo e retornar rapidamente, para o<br />
próximo. Observe:<br />
Figura 8: as variações da montada durante o salto de um obstáculo.<br />
Essa rápida e drástica mudança do posicionamento do cavaleiro exige certos<br />
preparativos, tais como loros um tanto quanto curtos, sela de abas arrendondadas e borrainas
salientes e cepilho baixo, dentre outros. Fora a encilhagem, o cavaleiro deve estar apto a<br />
realizar este movimento de acompanhamento do salto que em muito afeta seu equilíbrio.<br />
Na primeira fase do salto, a batida, cavalo e cavaleiro iniciam a verticalização do<br />
movimento, quando o cavalo irá empregar seu pescoço a fim de vencer a altura e/ou a largura,<br />
momento no qual o cavaleiro deve manter as rédeas na mesma tensão, e ao mesmo tempo<br />
deslocar seu centro de gravidade para frente facilitando a ascensão de seu animal (na figura a<br />
seguir, vemos os centros de equilíbrio de homem e equídeo representados por bolas brancas).<br />
Figura 9: os centros de gravidade na batida do salto.<br />
Disponível<br />
em:<br />
http://cavalosparaensino.blogspot.com. Acesso<br />
em 06 de agosto de 2010.<br />
A próxima fase do salto, cuja perfeição está diretamente relacionada à tomada da<br />
posição para a primeira fase, consiste num rápido momento de inércia do cavaleiro sobre sua<br />
montada. Entretanto, pequenas indicações podem ser feitas ao animal, como em qual mão ele<br />
deve retomar o galope após a recepção e em qual a direção, mas sem causar nenhum<br />
desequilíbrio a ambos. Isso se torna vital em obstáculos compostos, nos quais a posição<br />
elementar do homem a cavalo deve ser retomada em um curtíssimo intervalo de tempo, a fim<br />
de não atrapalhar o animal na preparação para o próximo salto – que pode vir a ser realizado<br />
em apenas um lance de galope após a recepção da barreira anterior.<br />
No planar, então, temos o deslocamento dos centros de gravidade devido ao emprego<br />
do pescoço por parte do cavalo e o avanço do busto pelo cavaleiro, a fim de ceder as rédeas<br />
(ainda que mantendo sua tensão) a esse movimento do animal. Isso tudo ocorre, idealmente,<br />
sem a perda da fixidez das panturrilhas do cavaleiro às abas da sela, o que o manterá sobre sua<br />
montada após a recepção. Observemos que, novamente, os centros de gravidade (ainda que<br />
tenham mudado devido ao emprego do pescoço do cavalo e pelo gesto de salto do cavaleiro)<br />
continuam alinhados, e é isso que garantirá a base para uma boa recepção.
Figura 10: os centros de gravidade do conjunto durante o planar<br />
do salto. Disponível em<br />
http://esporte.hsw.uol.com.br.<br />
Acesso em 08 de agosto de 2010.<br />
A mesma ideia se repete na última fase do salto, a recepção. Ela é considerada a mais<br />
crítica do movimento de salto como um todo, já que oferece grande perigo de queda para<br />
ambos do conjunto. Todavia, se obedecidos os princípios anteriormente descritos, novamente<br />
a gravidade exercerá sua influência sem prejuízo aos atletas.<br />
Passada esta fase do salto, compete ao cavaleiro ajustar o posicionamento e as atitudes<br />
do cavalo se necessário for, além de si mesmo, para buscar as mesma qualidades para o<br />
próximo obstáculo que deverão ultrapassar.<br />
2.5 Concurso Completo de Equitação (CCE)<br />
O CCE é uma modalidade esportiva complexa, que engloba as duas outras citadas<br />
anteriormente, mais a prova de cross-country. Assim sendo, esta dissertação se aterá nesta<br />
fase específica de sua execução, uma vez que suas exigências obrigam o cavaleiro a<br />
posicionar-se sobre o dorso de seu animal de maneiras diferenciadas às do Adestramento e do<br />
Salto, muito embora durante os saltos dos obstáculos naturais a técnica empregada seja<br />
idêntica à deste último. As exceções a isso podem ser encontradas em obstáculos com<br />
variações de aclive e declive, bem como degraus e banquetas. Estes, portanto, serão os itens<br />
abordados no tocante ao CCE. Senão, vejamos:
Figura 11: descida de uma negativa na prova de crosscountry.<br />
Disponível em<br />
www.porforadaspistas.com.br. Acesso em 09 de<br />
agosto de 2010.<br />
É peculiar, nas provas de cross-country, a presença de obstáculos denominados<br />
“negativas”, que nada mais são que degraus em descida, que exigem de cavalo e cavaleiro<br />
uma técnica apurada. Todavia, a posição ideal do cavaleiro ao se deparar com este tipo de<br />
obstáculo é idêntica àquela da terceira fase do salto de obstáculos verticais: a fase da<br />
recepção. Assim sendo, o ultrapassagem de negativas deve ser encarada como um salto<br />
comum onde não há batida nem tampouco planar: tudo se resume à recepção.<br />
Obviamente, o grau de dificuldade pode variar conforme a altura dessa negativa, que<br />
pode ir desde um simples declive até um talude de quase dois metros de altura. Isso vai exigir<br />
mais esforço para atrasar o busto mantendo as rédeas tensionadas e as pernas dando fixidez. A<br />
fim de se garantir que não haja uma queda do cavaleiro (e consequente eliminação em uma<br />
prova), o mesmo pode se valer de alguns recursos que divergem da equitação clássica, como,<br />
por exemplo: deixar as rédeas escorregarem pelos dedos, para não agredir a boca de seu<br />
animal em um salto desengonçado; sentar-se utilizando a patilha da sela como limitador de<br />
seu recuo de assento durante o esforço; olhar para cima, a fim de criar uma reação em cadeia<br />
por toda sua coluna, evitando jogar o busto para frente – o que seria desastroso; fixar-se à sela<br />
empregando, além das panturrilhas, os joelhos – contando assim com o auxílio de mais um<br />
grupo muscular (o dos adutores) e, principalmente, esticar as pernas para a frente. Este último<br />
subterfúgio vai garantir que haja uma subtração vetorial de forças sem resultantes, onde a<br />
inércia do corpo do cavaleiro em queda seja anulada pela resistência oferecida pelos pés<br />
calçados nos estribos na mesma direção, em sentido contrário.<br />
O Princípio da Inércia, ou 1ª Lei de Newton, nos diz que “todo corpo que esteja em
movimento ou repouso tende a manter seu estado original” (RAMALHO, 2005). Isso se<br />
aplica, em nosso caso, ao vermos que o cavaleiro, em plena queda gerada pela ação da<br />
gravidade somada à inércia de seu galope antes de abordar o obstáculo, tende a continuar<br />
nesse movimento para a frente e para baixo, caso não interfira nessa soma vetorial que<br />
conspira para sua queda.<br />
Figura 12: soma vetorial de forças que agem sobre o conjunto numa negativa. Fonte: o autor.<br />
Nesta figura, nota-se claramente a força peso ( r' ) somada à força originária do<br />
esforço do cavalo para vencer o obstáculo ( r ), resultando na força R, de direção idêntica à<br />
das pernas do cavaleiro (deslocadas para a frente, não mais na altura da cilha, como usual),<br />
em sentido contrário àquele da força que os pés exercerão sobre os estribos no momento da<br />
recepção deste salto (que chamaremos de R' ). Isso vai fazer com que a subtração R - R' não<br />
tenha quaisquer resultantes que possam tirar o cavaleiro de sua sela, fazendo-o vencer este<br />
obstáculo. A mesma técnica deve ser empregada nos galopes em declives acentuados,<br />
guardadas as proporções.<br />
Os obstáculos em aclive, ou seja, degraus em subida, banquetas, “pianos” e similares,<br />
devem ser transpostos como obstáculos verticais comuns, tendo o cuidado de se voltar à<br />
posição original antes que o usual, haja vista que o planar demora menor tempo para se<br />
consolidar, vindo a recepção a se concretizar antes do que seria em um salto no plano.<br />
Já o galope de uma prova de cross-country é realizado de maneira diversa das outras<br />
etapas de um CCE. A fim de otimizar a velocidade, importante fator na busca de um bom<br />
resultado nesta prova, o cavaleiro deve livrar o dorso-rim do cavalo, adotando a posição de<br />
suspensão flexível. Para tanto, os loros devem ser curtos o suficiente a ponto de permitir a
manutenção desta posição durante todo o traçado da prova, comumente chamada de “galope<br />
esporte”, como podemos observar na figura abaixo:<br />
A<br />
B<br />
Figura 13: o galope esporte e os centros de gravidade. Fonte: o autor.<br />
Ademais, o centro de gravidade do cavaleiro (A), passa a desequilibrar<br />
propositadamente o cavalo para a frente, o qual tem o seu centro (B), mais para trás. Assim<br />
sendo, e estando num galope franco, a tendência do animal será a de se adiantar sempre à<br />
frente, a fim de compensar este leve desequilíbrio.<br />
2.6 Pólo<br />
O Pólo se afasta um tanto do hipismo clássico, sendo objeto deste estudo por suas<br />
peculiaridades na condução dos animais em uma partida onde se usa uma só das mãos às<br />
rédeas, tendo à outra o manuseio do taco.<br />
A velocidade do jogo, aliada à marcação forte dos adversários e às regras rígidas de<br />
posicionamento fazem desta modalidade uma exceção a muito do que foi comentado a<br />
respeito das demais. Há grandes variações da posição do cavaleiro, principalmente no tocante<br />
ao momento das tacadas e das esbarradas (paradas bruscas para mudança de direção e/ou<br />
cessão de passagem a outros cavalos).<br />
Nesse ínterim, temos que o cavalo de pólo deve ser muito bem equilibrado. Mas o que<br />
diferencia um cavalo equilibrado de um outro, desequilibrado? Nos mamíferos terrestres, esta<br />
condição deriva de uma interpretação do cerebelo àquilo que lhe é transmitido pelos olhos,<br />
pelo sistema vestibular do ouvido interno e por proprioceptores presentes nos músculos e<br />
articulações (PAALMAN, 1998). Quando há qualquer força externa atuante em seu corpo que<br />
possa fazer o animal cair, através do esforço contrário ele irá anular esta força e permanecer<br />
de pé. Assim sendo, o cavalo de pólo deve ser trabalhado com foco especial nesta habilidade,
pois é muito exigido nesse quesito durante os jogos. Observemos abaixo:<br />
1 2 3 4 5 6<br />
Figura 14: as variações da montada num jogo de pólo. Disponível em : www.shutterstock.com.<br />
Acesso em 10 de agosto de 2010.<br />
Na silhueta de número 1, vemos o conjunto fazendo uma curva à mão esquerda. Haja<br />
vista que há a obrigatoriedade de se empunhar as rédeas com a mão esquerda, há sempre uma<br />
descompensação na tensão T das rédeas (veja capítulo 2.3) do lado direito, que pode ser<br />
amenizada conforme a habilidade do cavaleiro. Essa limitação advém do Regulamento de<br />
Pólo 2010, da Confederação Brasileira de Pólo, que em seu Artigo 001, Inciso II, consta que<br />
“nenhum jogador poderá utilizar o taco com a mão esquerda”.<br />
Na silhueta de número 2, vemos o chamado “alto do swing” fase do movimento de<br />
taqueio em que o jogador empunha seu taco acima da cabeça. Nesse momento, o jogador vai<br />
perder contato com seu assento, apoiando-se tão somente com um joelho na sela e com um<br />
dos pés no estribo (o lado e o sentido do taqueio irão determinar se o lado esquerdo ou o<br />
direito será sobrecarregado), fazendo com que o peso do cavaleiro seja distribuído nestas duas<br />
regiões. Nesse momento crítico do equilíbrio do cavaleiro, o cavalo deverá saber compensar,<br />
muitas vezes a galope, essa mudança de centro de gravidade.<br />
Já na terceira silhueta, vemos a fase do acompanhamento de uma tacada já realizada –<br />
tacada por baixo do pescoço do cavalo, em que o animal mais uma vez é exigido em sua<br />
capacidade de manter-se de pé. A quarta silhueta representa aquilo que já foi comentado no<br />
capítulo anterior: o chamado galope esporte, em que o cavaleiro assume a posição de<br />
suspensão flexível a fim de facilitar para o cavalo a tomada de um galope mais veloz.<br />
A quinta silhueta, por sua vez, representa uma situação comum ao longo de uma<br />
partida: um jogador galopa com seu taco baixo, a fim de tirar o efeito de uma bola<br />
desgovernada antes de taqueá-la ou mesmo marcar o taco de um adversário. De qualquer
forma, essa forma de se conduzir o taco gera desgaste físico desnecessário ao jogador, uma<br />
vez que o centro de gravidade do taco está mais próximo de seu charuto, demandando esforço<br />
da musculatura do antebraço para sustentá-lo dessa maneira, devendo, assim, ser evitada.<br />
Quando não se visualiza oportunidade de emprego imediato do taco, este deve ser conduzido<br />
como na silhueta 4.<br />
Finalmente, temos que a silhueta de número 6 nos mostra uma jogada popularmente<br />
chamada de “vassourinha”, na qual é dada uma meia-tacada, ou seja, não é feito o swing<br />
completo. Para tal manobra, o jogador deve permanecer um bom tempo com seu busto – logo,<br />
seu centro de gravidade – baixos, a fim de alcançar a bola com seu taco. Isto posto, o cavalo<br />
não poderá reagir pondo sua cabeça para baixo; do contrário, poderia acarretar numa perigosa<br />
queda. Este motivo leva a boa parte dos jogadores a utilizar embocaduras de efeito levantador<br />
da cabeça do cavalo (bridões ascensores), ainda que em conjunto, muitas vezes, com<br />
acessórios de efeito abaixador (freios, rédeas alemãs) e sempre com uma gamarra muito bem<br />
regulada que limite o movimento do pescoço do animal para cima. Em suma, o jogador de<br />
pólo deve ter diversos mecanismos para não permitir que o cavalo se constitua em elemento<br />
surpresa, agindo de forma a causar danos físicos a seu cavaleiro durante momentos<br />
vulneráveis ao mesmo, tais quais estes expostos na figura acima, em que o taqueio e a visão<br />
de jogo se constituem na principal preocupação.<br />
3 CONCLUSÃO<br />
Este trabalho irá permitir aos futuros instrutores de equitação dispor de uma fonte de<br />
consulta que poderá embasar cientificamente aquilo que já é do conhecimento empírico dos<br />
praticantes dos esportes equestres: a importância de uma boa posição a cavalo para se obter<br />
bons resultados. Isto posto, solidificando tal assertiva, as verdades que são fruto de<br />
experiências práticas só fazem perpetuar-se quando expostas de maneira racional,<br />
comprovada através de interpretações que se utilizam de áreas do conhecimento estabelecidas,<br />
tais como a Física.<br />
Portanto, pudemos observar as já renomadas técnicas, empirismos e regulamentos das<br />
diversas modalidades equestres que são inerentes e muitas vezes endêmicas aos esportes<br />
comentados. Seja na formalidade do Adestramento, seja na velocidade do Pólo ou na explosão<br />
do Salto, é inegável a presença dos fundamentos da Física nas ações e reações do cavaleiro<br />
ante as dificuldades e desafios que se lhe apresentam. No CCE, haja vista a grande gama de<br />
variações de estilo de montada que ocorre, é mister que o cavaleiro seja não só experiente,<br />
mas também apto a lançar mão de todos os artifícios empregados pelas outras três
modalidades supracitadas.<br />
Temos, então, que o praticante de equitação deve compreender como ocorre a soma e a<br />
subtração dos vetores, quais são e onde atuam as forças que nele agem, como pode-se alterar<br />
o equilíbrio de seu animal e quando isso será benéfico ou maléfico ao bem comum, em que<br />
situações sua inércia deve ser estática ou dinâmica, dentre muitas outras aplicações. Por<br />
conseguinte, nada melhor para este atleta que, além de praticar e treinar sua modalidade,<br />
estude Física, para que possa dispor de uma base teórica que, colocada em prática,<br />
economizará esforços e o salvará de um sem-número de dissabores aos quais quem monta está<br />
sujeito.<br />
Isto posto, concluímos que a posição do cavaleiro para as diversas modalidades focase<br />
na habilidade de se alinhar centros de gravidade, bem como anular as forças indesejadas<br />
com outras forças em mesma direção e sentido contrário, além de dosar as ajudas tendo em<br />
mente a tensão aplicada às rédeas, a direção dos vetores da ação de mãos, pernas e peso do<br />
corpo e o valioso auxílio do atrito, grande aliado na busca da tão necessária fixidez.<br />
REFERÊNCI<strong>AS</strong><br />
LICART, C. A arte da equitação. Editora Papirus. Campinas: 1988.<br />
RAMALHO, F.; FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. Os Fundamentos da Física, volume 1.<br />
9ª Ed. Moderna. São Paulo: 2005.<br />
<strong>DE</strong>CARPENTRY. Academic Equitation. Trafalgar Square Publishing. Vermont, EUA: 2001.<br />
Confederação Brasileira de Pólo. Regulamento de Pólo 2010. São Paulo: 2010.<br />
XENOFONTE; tradução: MORGAN, Morris H. The Art of Horsemanship. Dah Hua<br />
Printing Press Co. Hong Kong: 2001.<br />
PAALMAN, Anthony. Training Showjumpers. Hardcover. Londres, RU: 1998.
CBH. Regulamento de adestramento com modificações. Rio de Janeiro: 2009.<br />
____. Regulamento de salto. Rio de Janeiro: 2010.