ale do ros?rio: protagonismo juvenil pela cultura popular
o candeeiro traz a histria de alessandro borges araujo, o ale do rosrio, mestre da cultura popular em berilo no vale do jequitinhonha. ale protagonista na luta por direitos e valorizao da cultura local, que bastante rica em religiosidade e valores ancestrais de contribuio africana. ele se destaca tambm pela criao local de uma secretaria de igualdade racial. um bom exemplo de jovem engajado e comprometido com a causa coletiva.
o candeeiro traz a histria de alessandro borges araujo, o ale do rosrio, mestre da cultura popular em berilo no vale do jequitinhonha. ale protagonista na luta por direitos e valorizao da cultura local, que bastante rica em religiosidade e valores ancestrais de contribuio africana. ele se destaca tambm pela criao local de uma secretaria de igualdade racial. um bom exemplo de jovem engajado e comprometido com a causa coletiva.
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Ano 10 • nº2131<br />
Fevereiro/2016<br />
Berilo<br />
Boletim Informativo <strong>do</strong> Programa Uma Terra e Duas Águas<br />
ALE DO ROSÁRIO<br />
Protagonismo <strong>juvenil</strong> <strong>pela</strong> Cultura Popular<br />
Alessandro Borges Araujo, 27 anos, nasci<strong>do</strong> na Comunidade<br />
Quilombola Cruzeiro em Berilo, cidade com o maior número de<br />
comunidades quilombolas no Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais é talvez um<br />
<strong>do</strong>s pouquíssimos jovens da região que sem me<strong>do</strong> e sem<br />
desânimo, luta com toda garra para preservar, resgatar e valorizar<br />
o pouco da memória e das tradições religiosas e <strong>cultura</strong>is que ainda<br />
resistem no V<strong>ale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha. Todas elas com forte influência<br />
<strong>do</strong>s povos africanos.<br />
Mestre da Cultura Popular, Ale <strong>do</strong> Rosá<strong>rio</strong>, como é mais conheci<strong>do</strong>,<br />
diz que seu amor por essas manifestações vem desde criança,<br />
quan<strong>do</strong> acompanhava a mãe, <strong>do</strong>na Santa Lúcia pelos terços,<br />
benditos e reisa<strong>do</strong>s da região. Foi ainda criança que aprendeu com<br />
Seu Zé Buteio, os segre<strong>do</strong>s e as maravilhas da benzeção. “Mas não<br />
me considero um benze<strong>do</strong>r, só faço uns benzimentos. E tenho muito<br />
que aprender”, diz.<br />
Ele participa ativamente <strong>do</strong> Conga<strong>do</strong> de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosá<strong>rio</strong><br />
<strong>do</strong>s Quilombolas de Berilo, onde exerce o cargo de Capitão, da<br />
Folia de Reis Deus Menino, como Contramestre, e Congadeiro nos<br />
Conga<strong>do</strong>s de São Benedito, em Minas Novas e da Misericórdia, em<br />
Chapada <strong>do</strong> Norte. Com orgulho brinca que,<br />
como tradição, só perde o posto, quan<strong>do</strong><br />
morrer. “Ah, o som <strong>do</strong> tambor, das caixas, o<br />
can<strong>do</strong>mbe te levam para um outro lugar e<br />
parecem trazer a força e a presença de seus<br />
antepassa<strong>do</strong>s pra perto de você. É algo sem<br />
explicação, é uma mistura de devoção,<br />
prazer e fé. É além, é além <strong>do</strong> que a gente é”,<br />
conta.<br />
Ativista da causa quilombola, vem lutan<strong>do</strong><br />
incansavelmente <strong>pela</strong> criação <strong>do</strong> Conselho<br />
Quilombola e <strong>do</strong> Sistema Municipal de<br />
Igualdade Racial, além das lutas que<br />
continua travan<strong>do</strong> <strong>pela</strong> valorização da<br />
Cultura Popular por parte <strong>do</strong> poder público<br />
<strong>do</strong> município. “Não faço oposição ao governo<br />
atual, apenas cobro ações naquilo que<br />
Ale entre mestres das Cultura Popular<br />
acredito. O poder público não tem sensibilidade para trabalhar a Cultura e está nas mãos dele, oferecer<br />
condições para que essas práticas se fort<strong>ale</strong>çam. O que me entristece é que para a Cultura nunca tem<br />
nada, nem mesmo boa vontade, mas para o entretenimento e as micaretas gasta-se valores<br />
consideráveis to<strong>do</strong> ano”, desabafa.
Boletim Informativo <strong>do</strong> Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiári<strong>do</strong> Brasileiro – Minas Gerais<br />
Apesar de toda a sua dedicação em prol das manifestações<br />
<strong>cultura</strong>is, Ale <strong>do</strong> Rosá<strong>rio</strong> também lamenta que a juventude<br />
de Berilo, guiada <strong>pela</strong> televisão, não se reconheça nesses<br />
espaços de Cultura Popular.<br />
Vin<strong>do</strong> de uma família humilde, Ale <strong>do</strong> Rosá<strong>rio</strong> aprendeu<br />
desde ce<strong>do</strong> a força <strong>do</strong> trabalho e se considera uma pessoa de<br />
muita coragem: “adquiri família muito ce<strong>do</strong>, sou casa<strong>do</strong> com<br />
Judite Barbosa e pai de 04 filhos (Talisson, Samuel, Emily e<br />
Alex) passo para eles o que aprendi com minha mãe que<br />
sozinha c<strong>rio</strong>u seis filhos, trabalhan<strong>do</strong> na lavoura. Ela<br />
sempre dizia, 'peca<strong>do</strong> é roubar'”. Outra importante<br />
referência em sua vida e que muito lhe ensinou foi <strong>do</strong>na<br />
Senhorinha Martins, avó de sua esposa.<br />
Ale e o filho Samuel<br />
Foi com a força de vontade para o trabalho que Ale se tornou<br />
funcioná<strong>rio</strong> público, “meu salá<strong>rio</strong> vem <strong>do</strong> trabalho sua<strong>do</strong><br />
que exerço como gari, profissão digna e que tenho muito<br />
respeito. Sou gari porque passei em concurso público, mérito<br />
meu”, conta com orgulho.<br />
Devoto de São Benedito e Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosá<strong>rio</strong> afirma que sem fé, sem devoção, nada<br />
seria possível e revela o seu sonho: “além de ver os meus filhos forma<strong>do</strong>s, sonho o dia em que<br />
a Cultura se torne p<strong>rio</strong>ridade e seja mais valorizada. Que o povo da roça continue com a sua<br />
sensibilidade, com seu jeito bacana demais, de gente da<br />
roça, simples e trabalha<strong>do</strong>ra. Que o Conga<strong>do</strong> continue<br />
ecoan<strong>do</strong> o seu tambor e que a Folia mostre a sua ré<br />
quinta, porque isso, é manter vivo algo de muito antigo,<br />
de muito rico”, finaliza.<br />
Fé, devoção e religiosidade como resistência <strong>cultura</strong>l<br />
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