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limiar<br />
VAPORWAVE<br />
a arte pós internet<br />
TAXIDERMIA<br />
o filme de beleza<br />
perversamente feia<br />
SAD FUTURE<br />
o evento triste<br />
para pessoas tristes<br />
e mais . . .<br />
ANO 2016 - Nº I - $ 6,66
limiar
EDITORIAL<br />
O underground. Um tema muito complicado de se falar (e escrever) e ao menos<br />
tempo, simples. Imagine o underground como uma pessoa: essa pessoa é quem<br />
fica criando, experimentando e se reinventando o tempo todo. Da literatura ao<br />
cinema, o underground está presente e atuando massivamente.<br />
Nós queremos te apresentar novas visões, novas possibilidades e te dar ideias.<br />
Aproveite a viagem.<br />
SUMÁRIO<br />
OLHAR COTIDIANO 6<br />
SAD FUTURE - SAD FEST 12<br />
UMA VIAGEM PARA CONHECER<br />
O VAPORWAVE 27<br />
FILME - TAXIDERMIA 36<br />
DEATH GRIPS 40<br />
RELEASES MUSICAL 46<br />
Colaboradores:<br />
Sad Future – Fotos do evento Sad Fest #01<br />
Leon Carelli – Texto de “Uma viagem para<br />
conhecer o vaporwave”<br />
Hian Lima – Analise do filme Taxidermia<br />
César Márcio – Death Grips, resenha The<br />
Money Store<br />
Lucas Klockner – Letra da música nos<br />
intervalos entre as matérias<br />
Tim Waves – Imagem alternativa para capa<br />
3
Acostumei a viver aqui<br />
cheguei do trampo e pensei<br />
se um dia serei feliz<br />
4
Miojo na água quente<br />
eu sei que mereci<br />
5
OLHAR<br />
COTIDIANO<br />
6
Ramy Robson é um fotografo e social<br />
midia que vem ganhando destaque<br />
em redes socias através<br />
da fotografia, por isso a limiar resolveu<br />
convida-lo para uma troca de idéias<br />
sobre um pouco de tudo<br />
e seu processo de criativo, forma de<br />
fotografar, inspirações e tudo mais.<br />
Acompanha aí.<br />
1.<br />
Ramy, por que começou a fotografar?<br />
eu sempre gostei de todos os tipos expressões<br />
artisticas , graffiti, pintura,<br />
escultula, filmes e todos os tipos de manifesto<br />
que envolve a arte em se e sempre tive amigos<br />
extremamente talentosos no mundo da<br />
fotografia e só nao começei a estudar e a fazer<br />
o mesmo devido a questão financeira, por<br />
que um equipamento fotografico é muito caro,<br />
mais em meados de 2013, eu comprei um<br />
smartphone mais potente com relação a camera<br />
e comecei a caminhar por São Paulo explorando<br />
o centro da cidade e fazendo alguns<br />
cliques por hobby mesmo, sempre que olhava<br />
algo pensava, isso é fotografia e a lá e fazia... e<br />
aquelas saídas se tornaram frequentes e fui me<br />
apaixonando mais ainda pela fotografia ai em<br />
2014 comprei minha camera profissional, foi<br />
uma conquista importante para eu conseguir<br />
fazer meu hobby e transformar isso em profissão,<br />
mesmo assim continuei na fotografia de<br />
celular.<br />
2.<br />
“Hobby em<br />
Profissão”<br />
3.<br />
1. “Avião em céu de fogo” av. Ibirapuera, São Paulo, 2016<br />
2. “Olá para Água” rua 24 de maio, São Paulo, 2015<br />
3. “skate no minhocão” elevado costa e silva, São Paulo, 2016<br />
7
8<br />
4.
O que te inspira pra fotografar?<br />
quando eu comecei gostava muito de<br />
escutar uma musica e sair em busca de<br />
uma foto encima de uma frase ou parte da<br />
musica, ainda faço isso de vez em quando...<br />
agora a inspiração continua na musica e<br />
também em filmes, livros acontecimento<br />
do cotidiano paulista e por ai vai, estou<br />
começando a conversa com pessoas mais<br />
velha com uma vivencia isso me de alguma<br />
forma me inspira a fazer algo diferente,<br />
não gosto de falar o que quero passar em<br />
minha fotografia, afinal a cada click visto<br />
por alguem é sempre uma interpretação<br />
diferente, essa é a magia da foto, transmite<br />
e passar o sentimento através da imagem,<br />
isso ao mesmo tempo é inspirador sempre.<br />
5. 6.<br />
7.<br />
8.<br />
“passar o sentimento<br />
através da imagem”<br />
9.<br />
4.”hora de ir pra casa” Metro Republica, São Paulo, 2015.<br />
5.”retrovisor de bike” Av. São João, São Paulo, 2015.<br />
6.”O apto Amarelo” elevado costa e silva, São Paulo, 2015.<br />
7.”Chuva no Italia” Av. Ipiranga, São Paulo, 2015.<br />
8.”Por do Sol na Paulista” Av. Paulista, São Paulo, 2015<br />
9.”Corre do Centro” Rua 7 de Abril, São Paulo, 2015<br />
9
10.<br />
11.<br />
12.<br />
O que você mais curte na fotografia com celular?<br />
13.<br />
É com certeza um dos melhores exercícios que eu faço, primeiro que o<br />
celular cabe no seu bolso isso facilita na hora de levar, guardar, sacar pra<br />
fazer uma foto e você não tem o zoom, não uma lente pra você trocar<br />
- claro que hoje em dia temos aquela pequenas fisheye ali e tal - mas<br />
tem que pegar, a câmera do celular é limitadìssima, você enquadra pra<br />
fazer um click e quando vai ver o enquadramento não saiu da forma certa<br />
(rs) você ver certo objeto e dependendo do que quer mostrar você que<br />
chegar mais perto se não a foto não sai legal , na câmera pro você tem as<br />
lentes de zoom e não gosto muito desse tipo de lente por que me afasta<br />
do sentimento da fotografia, Então você trabalha o olhar literalmente,<br />
não na comodidade do zoom, você que vai se movimentar pra fazer a<br />
foto. No celular tem que fazer um monte de gambiarra e faz você usar a<br />
cabeça. Então é isso, celular é estudo total e ele me ajuda todos os dias.<br />
“você que vai se movimentar<br />
pra fazer a foto.”<br />
14.<br />
10.”A Garagem” Rua Boa Vista, São Paulo, 2016<br />
11.”Selfie de rua” Av. São João, São Paulo, 2016<br />
12.”Skate Street” Rua Boa Vista, São Paulo, 2016<br />
13.”O Metro” Linha 4 Amarela, São Paulo, 2015<br />
14.”Escadas de Estação” Metro Vila Prudente, São Paulo, 2016<br />
15.”Luiz Apelão o Skater” Praça Franklin Roosevelt, São Paulo, 2016<br />
16.”Reflexo Urbano” Av. Paulista, São Paulo, 2016<br />
10
Como você explica seu estilo?<br />
Bom, eu gosto de acreditar que não um estilo 100%<br />
definido se observar minha conta no instagram você vai<br />
ver 90 % ruas de SP, mais eu tenho fases...gosto muito de<br />
me expressar através do sentimento da fotografia P&B,<br />
gosto de arquitetura, fotos minimalismas, de vez enquando<br />
um retrato de rua, acho que definir um estilo derrepente<br />
street mesmo, mais gosto sempre de arriscar uma edição<br />
diferenciada e com um olhar fora do padrão dos outros<br />
fotografos com um conhecimento tecnico mais avançado.<br />
“diferenciada e com um olhar<br />
fora do padrão”<br />
15. 16.
12
No dia 16 de abril de 2016 aconteceu a primeira SAD FUTURE FEST.<br />
Um evento de amigos tristes com suas bandas tristes se reunindo<br />
em prol de mais gigs e espaços para bandas pequenas nessa “cena”<br />
tão panelada e suja de nossa cidade.<br />
Se apresentaram as bandas Jovem Werther, Sivie Sue Mori,<br />
Romantic Bipolar, SATYA e Farmacopéia.<br />
Veja como foi o evento.<br />
13
SATYA
FARMACOPÉIA
SIVIE SUE MORI
JOVEM WERTHER
24<br />
Então eu ligo a tv<br />
mas não há nada que me agrade
Minhas chaves em cima da mesa<br />
o que restou do dia<br />
me encontro tão cansado<br />
e ainda é terça feira<br />
25
26<br />
eu sabia<br />
que seria o último<br />
a sair<br />
pois não há mais ninguém aqui<br />
além de ti
UMA VIAGEM PARA CONHECER O<br />
VAPORWAVE<br />
o esforço de músicos e artistas gráficos em sintetizar o vômito<br />
da sopa de elementos da cultura pop na era do computador<br />
Por: LEON CARELLI
Se um computador tivesse a capacidade de sonhar, que<br />
tipo de imagens e sons ele vislumbraria enquanto dorme?<br />
E se ele vomitasse, o que sairia de dentro dele? Uma<br />
linguagem artística genuína da década de 2010 tenta<br />
montar esta epifania através dos mais variados softwares<br />
e imagens printadas de jogos de video-game dos anos<br />
90, estátuas gregas e jingles publicitários. Vaporwave é o<br />
nome do movimento artístico, que já motivou a criação de<br />
inúmeras páginas do facebook e álbuns musicais. É uma<br />
arte que tem origem na intimidade que existe entre o homem<br />
e o computador.<br />
A princípio, o vaporwave parece um labirinto mental, e<br />
deixa um vácuo de compreensão que no fim acaba sendo<br />
o sentido da “brincadeira”.<br />
28
Na música, álbuns como Far Side Virtual, de James Ferraro (2011),<br />
Eccojams Vol. 1, de Chuck Person (2010) e Floral Shoppe de<br />
Machintosh Plus (2011), são considerados chaves para a sequência<br />
e compreensão do movimento v a p o r w a v e . São como memes da<br />
música, que misturam ainda elementos nostálgicos como o barulho de<br />
inicialização do windows 95, músicas de telemarketing e a manipulação<br />
de pates de músicas pop com eco, reverberação e um grande número<br />
de outros efeitos de computador, criando um resultado que desfigura<br />
quase totalmente o material original.<br />
29
ALÉM<br />
DO VIRTUAL
Para a artista Ramona Xavier, responsável<br />
pelo pseudônimo Machintosh Plus e pelo<br />
disco Floral Shoppe, cuja arte de capa é<br />
utilizada exaustivamente como meme em<br />
páginas de vaporwave na internet, seu álbum<br />
comporta-se como “um breve olhar<br />
sobre as novas possibilidades de comunicação<br />
internacional” e “uma paródia à hiper<br />
contextualização americana da ásia virtual<br />
em 1995”. Em resenha, o crítico Adam<br />
Downer, do site cultural Sputinikmusic<br />
caracterizou o álbum como “um ótimo registro,<br />
que ao mesmo tempo consegue ser<br />
quente e estranho, nostalgico<br />
e futurista, bizarro e totalmente<br />
simples”.<br />
No site RateYourMusic, uma<br />
rede social e catálogo musical,<br />
o usuário IanCurtisMayfield<br />
deixou uma resenha ao<br />
disco Floral Shoppe na página<br />
dedicada a ele. “No início parecia<br />
apenas uma novidade,<br />
mas não parei de escutar o<br />
disco desde seu lançacento, mesmo que<br />
eu raramente consiga escutá-lo na íntegra,<br />
em uma sentada. É muito psicodélico, desassociado,<br />
hiper-real, pop e às vezes aterrorizante<br />
para meu estômago. E isso não<br />
é uma queixa”. A arte criada por Ramona<br />
Xavier pegou tanto que a estátua grega<br />
da capa virou praticamente um logotipo<br />
do vaporwave. O uso<br />
de caracteres japoneses e de<br />
“É muito psicodélico,<br />
desassociado, hiper<br />
real, pop e às vezes<br />
aterrorizante”<br />
origem não latina também é frequente em<br />
artes de capa dos discos vaporwave, bem<br />
como nas construções gráficas de internet.<br />
Ele se relaciona primeiramente com<br />
a característica de choque visual e nonsense,<br />
e também ao otimismo com o qual se<br />
enxergava a globalização nos anos 1990.<br />
É só lembrarmos das instruções de produtos<br />
importados do oriente, em caracteres<br />
orientais. Que tipo de feedback o acesso<br />
a esse produto poderia gerar para quem<br />
não tem conhecimento do significado deles?<br />
O vaporwave responde isso com imagens.<br />
O aquecimento global (e o impacto<br />
da difusão desse elemento com o<br />
assassino do mundo para crianças<br />
dos anos 90) é um dos elementos<br />
escenciais do disco Far Side<br />
Virtual (Além do virtual), de James<br />
Ferraro. Ele define seu disco como<br />
“um espaço social ou modo de se<br />
comportar. Todas aquelas coisas<br />
operando em sincronia: ringtones,<br />
telas-planas, culinária, moda e sushi”.<br />
O álbum de Ferraro foi amplamente<br />
selecionado para as tradicionais listas<br />
de melhores do ano de 2011, fabricadas<br />
por sites como Pitchfork e The Wire (que<br />
inclusive colocou-o no topo de sua lista). O<br />
trabalho também foi comparado ao jogo<br />
de video-game Second Life e ao trabalho<br />
do teorista cultural Jean Baudrillard.<br />
31
VISUAL
O site Pitchfork traz uma boa definição do que se encontra<br />
graficamente em artistas que produzem vaporwave visual.<br />
Em resenha a um vídeo-artigo publicado por Daniel<br />
Lopatin, sob o pseudônimo de Oneohtrix Point Never, há<br />
uma explicação do que compõe o vaporwave visualmente.<br />
“Uma coleção de imagens de internet de qualidade<br />
duvidosa, imagens bizarras e perturbadoras de sistemas<br />
de computador, artes estranhas em anime e personagens<br />
que lembram webcams”. A adesão ao sintético como<br />
substituto do orgânico tem origem principalmente no<br />
cyberpunk, movimento cultural dos anos 1970 e 80 que<br />
propunha essa situação futurista.<br />
Outro tipo de arte recente relaciondo à autoridade aleatória<br />
dos computadores é o estilo Deep Dream. Em um site,<br />
o usuário carrega qualquer imagem. Essa imagem é submetida<br />
a um processo algorítmico que usa uma rede convulcional<br />
de dados para encontrar e melhorar os padrões<br />
da imagen, criando um resultado um aspecto alucinógeno<br />
e onírico. Além disso, outra referência clara é design dos<br />
anos 80 e 90, prova disso, são os gráficos 3D sem muita<br />
definição, as cores, tecnologia, roupas, comportamento e<br />
musicas dessas épocas. Isso compõe a parte a nostalgica<br />
do vaporwave.<br />
“ Uma coleção de imagens de<br />
internet de qualidade duvidosa”<br />
33
HIPER<br />
REALIDADE
“Incapacidade de<br />
distinguir a realidade<br />
de uma predominante<br />
simulação da realidade”<br />
Ideologicamente, o vaporwave pode ser visto<br />
como uma crítica à sociedade consumista,<br />
pois utiliza os elementos da industia cultural<br />
de forma hipercontextual, tirando-os de seus<br />
propósitos iniciais, resultando em uma arte<br />
que busca “travar” a mente do público com<br />
uma espécie de overdose de imaginário através<br />
da relação aleatória de vários significados.<br />
Está associado aos conceitos de hiper-realidade<br />
e simulacro, disseminados por teoristas<br />
culturais da semiótica e do pós-estruturalismo,<br />
como Jean Baudrillard e Umberto Ecco.<br />
A hiper-realidade, para esses teoristas, fundamenta-se<br />
na incapacidade de distinguir a<br />
realidade de uma predominante simulação<br />
da realidade. É expressa através de símbolos<br />
que não encontram referência ou origem em<br />
um “mundo real”, ou “original”. A hiper realidade<br />
seria então, um acúmulo de simbologia<br />
transformada em novos objetos, que gera<br />
novos objetos e assim sucessivamente. Tanto<br />
Baudrillard como Ecco utilizam a Disneilândia<br />
como exemplo de hiper-realidade. Para<br />
Baudrillard, “[a Disney] propõe-se a ser um<br />
mundo infantil, a fim de nos fazer acreditar<br />
que os adultos estão em outro lugar, no mundo<br />
‘real’”. É como se eles quisessem chamar a<br />
atençao para o constante estado de representação<br />
que é exigido dos humanos para que<br />
a sociedade capitalista continue funcionando.<br />
O falso clima de órdem e receptividade dos<br />
estabelecimentos comerciais seria um outro<br />
exemplo. Ao mesmo tempo os autores costumam<br />
lembrar um “ser humano original”, parte<br />
da natureza selvagem, apenas com necessidades<br />
básicas de alimetação e reprodução.<br />
Esse humano original é comparado ao complexo<br />
emaranhado simbólico que nos tornamos,<br />
com palavras de mais de 20 letras que<br />
remetem a uma mistura de significados.
TAXIDER-<br />
MIA<br />
É complicado encontrar palavras para descrever<br />
este filme que contém uma beleza perversamente<br />
feia. Uma mistura entre humor<br />
negro, crítica social, e uma estética com um<br />
cuidado tão especial que faz do diretor György<br />
Pálfi um verdadeiro sádico.<br />
Pálfi é um intrépido e talentoso cineasta que<br />
iniciou recentemente. Um tipo exemplar que<br />
não teme em impor seu próprio mundo e linguagem<br />
utilizando de uma sagacidade impressionante.<br />
O cinema vem precisando de<br />
um rapaz desses atualmente para ir contra o<br />
muro de clichês que imperam em Hollywood.<br />
E esse já tem as expectativas garantidas, levando<br />
inclusive a ser comparado com veteranos.<br />
Acompanharemos a história de três gerações<br />
de uma família disfuncional com estranhas<br />
relações de culto ao corpo. Vendel Morosgoványi<br />
(Csaba Czene) é um soldado militar de<br />
baixa patente que está hospedado em um vilarejo<br />
da Hungria em plena 1ª Guerra Mundial<br />
e serve a um cruel tenente. Ele exterioriza suas<br />
necessidades sexuais obsessivas das diversas<br />
e inusitadas maneiras que pode. As fantasias<br />
sexuais de Vendel ganham uma força gráfica<br />
incrível, em planos surrealistas, como uma<br />
masturbação onde o ápice do êxtase é representado<br />
por labaredas saindo de seu pênis.<br />
Outro plano digno de nota é quando toda a<br />
história da família é apresentada, mostrando<br />
ao espectador o que estará por vir.<br />
Kálmán Balatony nasce de uma relação sexual<br />
entre Vendel e a esposa obesa de seu superior,<br />
onde o soldado fetichista acaba por ser<br />
morto pelo tenente. O jovem cresce competindo<br />
pela Hungria em um esporte ficcional<br />
onde o objetivo é ingerir o máximo de comida<br />
que puder. Em uma dessas competições<br />
conhece Gizi Aczé, representante feminina do<br />
tal esporte. Casam-se, e os quilos há mais não<br />
impede de terem uma lua de mel convencional<br />
de clima romântico, ao som de Vinicius de<br />
Morais e Tom Jobim. Desse casal nasce Lajos,<br />
um raquítico taxidermista que divide seus afazeres<br />
entre o próprio trabalho e cuidar do pai<br />
que perdeu toda a fama com a dissolução da<br />
União Soviética,<br />
vivendo imóvel sentado numa cadeira por<br />
ser gordo demais para levantar. O decrepito<br />
e velho Kálman despeja diariamente diversas<br />
palavras ofensivas para o filho Lajos, que procura<br />
secretamente uma maneira de guardar<br />
seu corpo para a imortalidade através da profissão<br />
que exerce.<br />
Perceptível enxergar no argumento criado por<br />
Pálfi e sua esposa Zsóffia Ruttkay que não há<br />
intenção alguma de apenas chocar o público.<br />
Há uma severa crítica ao homem que sonhava<br />
com o comunismo no século passado, contra<br />
o pré-conceito exercido sobre os gordos, e<br />
sobretudo, a relativa beleza corporal considerada<br />
padrão. A fotografia criada por Gergely<br />
Pohárnok não mente, é fabulosa e não perde<br />
o brilho mesmo nos momentos mais bizarros<br />
e grotescos.<br />
36
Gostaria de poder recomendar “Taxidermia”<br />
para todos, mas creio que quem realmente<br />
estiver disposto a encarar essa obra nada<br />
convencional, o fará sabendo de sua natureza<br />
meticulosamente construída, dona da feiúra<br />
mais sensual que já presenciei.
38<br />
eu queria que fosse verdade<br />
preencher essas margens<br />
mas não fui eu quem decidi<br />
minhas vantagens
TRIPLE SIX<br />
FIVE<br />
FORKED TONGUE<br />
THE MONEY<br />
STORE
40<br />
Nesses tempos de superpopularidade de MMA, temos também na<br />
música exemplos de gente que ganha a vida se impondo pela força.<br />
Esse é o caso da banda-sem-gênero (ou com excesso de gêneros)<br />
Death Grips, grupo que vem angariando na base da porrada uma legião<br />
de fanáticos que juram ter ouvido a última reserva de criatividade<br />
na música pop. De fato, a abordagem maximalista do hip hop os<br />
colocam em posição quase isolada no cenário. Mas na sua estreia por<br />
uma grande gravadora, “The Money Store” (lançamento Sony/Epic,<br />
vejam só), o tom da violência se torna mais espetacularizado. Como<br />
se, inconscientemente, reforçasse o paralelo com o show das artes<br />
marciais.
Embora continue se comportando, no geral, como uma versão universitária do<br />
Suicidal Tendencies, o Death Grips tenta expandir a paleta sonora de “Exmilitary”,<br />
seu bom primeiro álbum. E obtém grande êxito logo na abertura, “Get Got”, faixa<br />
de acento soul, parente de alguma coisa de “Cosmogramma”, terceiro do Flying<br />
Lotus. Na sequência, a banda que dividiu opiniões com controvérsias do calibre<br />
de “Guillotine” não deixa o ouvinte respirar, seja pela contundência do flow old<br />
wschool de MC Ride, ou pelo background abrasivo e mutante criado pelo produtor<br />
Flatlander em conjunto com o baterista Zach Hill (Hella).<br />
41
42<br />
Fuck what you thought could not comprehend<br />
This shit if I fisted your brain with it<br />
10, 9, 8, 7, triple six, five, forked tongue.
43
Existem faixas remanescentes desse estilo<br />
(“Lost Boys”, “Blackjack”, “Bitch Please”) mas<br />
a intenção agora foi ocupar melhor os espaços.<br />
Não é exatamente uma estratégia para<br />
soar mais simpático (a audição, em geral,<br />
ainda deve melindrar ouvidos menos acostumados<br />
com barulho), mas ajuda a tornar<br />
o embrulho mais atraente. Não é surpresa o<br />
deslumbre com que as publicações modernetes<br />
encaram a última faixa desse álbum, a<br />
provocativa “Hacker”, que traz no refrão “I’m<br />
your area” sua intenção de perverter a mauriçada<br />
electro.<br />
44
Mas a agressividade aqui não está na postura<br />
de MC Ride e o tom das suas letras que, numa<br />
análise mais focada, parecem bastante convencionais.<br />
Se o refrão de “Hacker” não aparecesse<br />
acompanhado de um nervoso background disco,<br />
toda violência ficaria restrita só ao discurso.<br />
Não é o caso. Sendo assim, o Death Grips justifica<br />
os elogios fazendo a transição da sua agressividade<br />
para um ambiente mais espetacularizado<br />
(comercial mesmo, nesse caso), passando longe<br />
de emular uma versão musical de Telecatch.<br />
45
música // música // música // música // música // música // música // música //<br />
BRVXO ADOLESCENTE<br />
RIVOTRIL<br />
// Uma viajem na mente<br />
de um jovem paulistano<br />
depressivo.<br />
Sem glamourizar os seus<br />
problemas, o nosso Brvxo<br />
expõe o que ele sente e<br />
acha da vida (ou da morte,<br />
na maioria dos casos).<br />
EYELINER<br />
BUY NOW<br />
// Buy Now é um disco com<br />
magia polvilhadas em torno<br />
deste disco. É algo para se<br />
ouvir mais de uma vez porque<br />
a cada vez que você escuta,<br />
alguma coisa nova que<br />
se sempre esteve lá, magicamente<br />
aparece.<br />
SACADA, GALÁXIA<br />
MORADA DO CORAÇÃO QUENTE<br />
// Se sentindo sozinho, triste,<br />
perdido e, mais uma vez,<br />
sozinho? Pois é, eu também,<br />
assim como o paulistano do<br />
Sacada, Galáxia também.<br />
// Se estiver sentindo pelo<br />
menos uma das coisas que<br />
eu citei acima, você deve<br />
ouvir o que ele tem a dizer.<br />
Sem dúvida vai se identificar<br />
e achar que foi escrito para<br />
você.<br />
18+<br />
COLLECT<br />
// Estas são as pessoas feias.<br />
Eles cantam sobre os pecados<br />
capitais da carne. Um<br />
deles é um homem e uma é<br />
uma mulher, e eles parecem<br />
cantar um para o outro como<br />
se eles se abstiveram de<br />
sexo por muitos meses.<br />
CFCF<br />
THE COLOURS OF LIFE<br />
// Mike Silves tem trabalhado<br />
incansavelmente na sua<br />
música como CFCF por sete<br />
anos, aprimorando suas habilidades<br />
como compositor,-<br />
com muitas influências para<br />
colorir suas composições.<br />
Sua produção se estende<br />
por electro-pop, kosmiche,<br />
house, new age e ambiente<br />
ARTH.EXE<br />
HOLY SHIT<br />
// Trap foda. Sem mais. Nada<br />
do convencional a lá tropkillaz.<br />
Um som futurista e<br />
denso.<br />
// Não tem como descrever<br />
a experiencia de ouvir uma<br />
massa negra e fria. Apenas<br />
ouça.<br />
46
música // música // música // música // música // música // música // música<br />
DENZEL CURRY<br />
NOSTALGIC 64<br />
// É um 13 faixas que são, basicamente,<br />
uma corrida pela<br />
cabeça de Denzel, por meio<br />
de contradições, histórias,<br />
desafios e reflexões sobre<br />
a ideia do que fazer com a<br />
vida, bem como a importância.<br />
// Destaque para a faixa com<br />
o deus LIL UGLY MANE.<br />
2WAYZ<br />
DARKEST VALLEY<br />
// Procurando um rap com<br />
batidas de trap, porém bem<br />
mais lentas e nem um pouco<br />
animadas?<br />
Procurando um rap que fale<br />
tudo o que nós sentimos?<br />
// Se sim, de uma chance a<br />
dupla paulistana 2WAYZ. Não<br />
é um lançamento oficial, mas<br />
se a playlist foi criada por eles,<br />
então vale como um EP.<br />
ZEELOOPERZ<br />
HELP<br />
// A ironia de usar o lirismo<br />
como habilidade dentro de<br />
rap é o que geralmente da<br />
uma voz distinta e que define<br />
um rapper. Danny Brown<br />
tem provado ser um dos<br />
mais eficazes nessa arena na<br />
história recente, jogando rápido<br />
e solto com o seu alcance<br />
e seu tom. Na mixtape de<br />
ZeelooperZ, é notavel que<br />
ele algumas notas sobre isso.<br />
Aqui você vai ouvir rap com<br />
muita atuação nas vozes, o<br />
que é muito foda.<br />
MENSA GROUP INTERNATIONAL<br />
MINI LP<br />
// A estética vaporwave em<br />
forma de som. Seja bem vindo<br />
ao MINI LP. Composto<br />
basicamente (em sua maioria)<br />
de samples da boa e velha<br />
muzak dos anos 80/90.<br />
// Mas não pense que é<br />
como o vaporwave barato e<br />
falso que a gente viu por aí.<br />
Ele/ela faz sampleia da maneira<br />
correta, dando outro<br />
tom à algo barato e sem profundidade.<br />
DOWNSING<br />
OKAY<br />
// Okay é mais de um álbum<br />
de pop-punk na veia de Joyce<br />
Manor ou Spraynard do<br />
que suas raízes emo, que estão<br />
em algum lugar entre Pavement<br />
e Promise Ring. Eles<br />
evitaram encanto e lazer por<br />
algo rígido e veloz, e a voz do<br />
vocalista Erik Hunter Czaja<br />
está mais ríspida e confiante,<br />
entregando letras com mais<br />
convicção e desespero.<br />
TIGERS JAW<br />
// Tigers Jaw não é nada<br />
inovador ou que vai explodir<br />
sua mente , mas é bom o<br />
suficiente. Os membros da<br />
banda exibem seus talentos<br />
muito bem com guitarras<br />
sólidas, basslines cativantes,<br />
boa percussão, vocais emocionais<br />
e letras simplesmente<br />
lindas.
48<br />
um cigarro, mas eu nem fumo<br />
gaz do fogão ligado<br />
janelas fechadas<br />
sufoco
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
LIMIAR<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
LIMIAR<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar<br />
limiar