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Comunidade geraizeira: exemplo de luta em defesa do cerrado e das ?guas

A comunidade de Vereda Funda, no norte de Minas Gerais, aps sofrerem longos anos com as consequncias do monocultivo de eucalipto (secamento das nascentes, deteriorao do solo e perda da agrobiodiversidade) se reuniram para retomar seu territrio. Conhea a histria de luta pelas guas quem vem recuperando o cerrado e valorizando a identidade dos povos do lugar.

A comunidade de Vereda Funda, no norte de Minas Gerais, aps sofrerem longos anos com as consequncias do monocultivo de eucalipto (secamento das nascentes, deteriorao do solo e perda da agrobiodiversidade) se reuniram para retomar seu territrio. Conhea a histria de luta pelas guas quem vem recuperando o cerrado e valorizando a identidade dos povos do lugar.

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Ano 10 • nº2170<br />

Maio/2016<br />

Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas<br />

Boletim Informativo <strong>do</strong> Programa Uma Terra e Duas Á<strong>guas</strong><br />

<strong>Comunida<strong>de</strong></strong> Geraizeira: <strong>ex<strong>em</strong>plo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>luta</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> e <strong>das</strong> Á<strong>guas</strong><br />

Levantar-se contra a opressão é um processo difícil.<br />

Principalmente quan<strong>do</strong> ela, simbolicamente, é silenciosa,<br />

profundamente ver<strong>de</strong> e alta. On<strong>de</strong> os pássaros não cantam e<br />

a mata nativa não nasce. Quan<strong>do</strong> ela seca rios, entope as<br />

nascentes e <strong>de</strong>strói a Agrobiodiversida<strong>de</strong>. A opressão se<br />

veste <strong>de</strong> imensas florestas <strong>de</strong> eucalipto e discursos <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong>. Mas levantar é preciso. E a comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Vereda Funda, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas é um<br />

<strong>ex<strong>em</strong>plo</strong> <strong>de</strong> resistência à opressão e as injustiças sociais.<br />

Conheci<strong>do</strong>s tradicionalmente como geraizeiros, os povos<br />

que moram nas áreas <strong>de</strong> Cerra<strong>do</strong>, chama<strong>das</strong><br />

por eles <strong>de</strong> Gerais, se levantaram <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s seus mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> suas á<strong>guas</strong> e <strong>do</strong> seu território<br />

tradicional. A agricultora gerazeira Sueli <strong>do</strong>s Santos conta um pouco <strong>de</strong>ssa história e as estratégias<br />

coletivas que a comunida<strong>de</strong> v<strong>em</strong> construin<strong>do</strong> para enfrentar as mudanças<br />

climáticas e garantir seus mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida<br />

O primeiro processo foi à <strong>luta</strong> pela retomada <strong>do</strong> território, o que aconteceu ainda na década <strong>de</strong> 1990,<br />

quan<strong>do</strong> a comunida<strong>de</strong>, a luz da reflexão possibilitada através <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> reflexão <strong>das</strong><br />

<strong>Comunida<strong>de</strong></strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base – CEBs, perceberam que, com a chegada <strong>das</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> eucalipto,<br />

aconteceram sérias mudanças ambientais e sociais. Em 2004, com o<br />

apoio da Via Campesina, CAA/NM e STTR Rio Par<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas,<br />

retomam parte <strong>do</strong> território e acampam nas chapa<strong>das</strong>, forçan<strong>do</strong> a<br />

negociação com <strong>em</strong>presa e o governo estadual. Os motivos que levaram<br />

a essa tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão foi ver constant<strong>em</strong>ente a água acabar após o<br />

monocultivos <strong>do</strong> eucalipto.<br />

Sueli conta como era <strong>em</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. “<strong>de</strong>pois <strong>do</strong> eucalipto a<br />

situação da água piorou. Antes qualquer córrego na beira <strong>de</strong> morro<br />

corria água, tu<strong>do</strong> mesmo, tinha água para to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>. Dentro da<br />

proprieda<strong>de</strong> nossa tinha uma ´água que durava o ano inteiro. Água<br />

branca, muito boa. N<strong>em</strong> quan<strong>do</strong> chove ela corre. Isso por causa <strong>do</strong><br />

eucalipto. Porque a chapada é área <strong>de</strong> recarga da chuva. Com a<br />

plantação <strong>do</strong> eucalipto as máquinas trouxeram muita terra para as<br />

baixas, o que aterrou as nascentes.”


Boletim Informativo <strong>do</strong> Programa Uma Terra e Duas Á<strong>guas</strong> Articulação S<strong>em</strong>iári<strong>do</strong> Brasileiro – Minas Gerais<br />

Diante da situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, <strong>de</strong>struição<br />

<strong>do</strong>s rios e a perda <strong>de</strong> diversas nascentes a comunida<strong>de</strong><br />

começa a se mobilizar para enfrentar o que vinha<br />

causan<strong>do</strong> os probl<strong>em</strong>as. Segun<strong>do</strong> Sueli, “a falta <strong>de</strong> água<br />

afetou diretamente a vida da comunida<strong>de</strong>. Isso gerou uma<br />

situação tensa. O povo se uniu para <strong>luta</strong>r pela retomada <strong>do</strong><br />

território. O maior probl<strong>em</strong>a foi a água mesmo. Na falta da<br />

água o povo se uniu e teve corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> enfrentar e tirar o<br />

eucalipto. Isso nós venc<strong>em</strong>os. De agora para frente, t<strong>em</strong> o<br />

probl<strong>em</strong>a da <strong>de</strong>sertificação que t<strong>em</strong>os que<br />

e n f r e n t a r . ” C o m o r e s u l t a d o<br />

da <strong>luta</strong> foi cria<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 2013 o PAE Vere<strong>das</strong> Vivas, o primeiro assentamento agroextrativista <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, que v<strong>em</strong> fazen<strong>do</strong> resistência aos monocultivos <strong>de</strong> eucalipto e mostran<strong>do</strong> que<br />

outro caminho é possível. Que a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser pautada no<br />

conhecimento <strong>do</strong>s Povos e <strong>Comunida<strong>de</strong></strong>s Tradicionais.<br />

A partir disso a estratégia é permitir a volta da mata nativa<br />

e conviver com o Cerra<strong>do</strong>. Os geraizeiros enten<strong>de</strong>m que<br />

é preciso realizar uma cultura diversificada, investir <strong>em</strong><br />

uma produção diversa, pautada na agroecologia, usan<strong>do</strong><br />

adubos orgânicos e cal<strong>das</strong>. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vereda<br />

Funda t<strong>em</strong> uma cultura secular <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> café<br />

consorcia<strong>do</strong> com frutíferas e outras árvores como<br />

o ingazeiro que cumpre um papel <strong>de</strong> proteger o café<br />

<strong>do</strong> sol, fornecer matéria orgânica e conservar a<br />

umida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo. Toda família cultivava <strong>em</strong> volta <strong>de</strong><br />

casa uma pequena área que eles chamavam <strong>de</strong> “chácara”. Com o secamento <strong>das</strong> terras estes<br />

sist<strong>em</strong>as foram se acaban<strong>do</strong>. Em 2005 um projeto <strong>do</strong> CAA <strong>em</strong> parceria com o STR <strong>de</strong> Rio Par<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Minas, começa a recuperar as chácaras e implantar novas áreas, vinte famílias<br />

participam <strong>do</strong> projeto. E o que estava se acaban<strong>do</strong> volta a produzir.<br />

A união da comunida<strong>de</strong> permitiu retomar e construir uma gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>do</strong> território,<br />

preservan<strong>do</strong> e recuperan<strong>do</strong> nascentes por meio <strong>de</strong> mutirões comunitários. A união da comunida<strong>de</strong><br />

fortaleceu seu processo <strong>de</strong> reconhecimento i<strong>de</strong>ntitário como povos Geraizeiros, que há séculos v<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> caminhos para a convivência com o s<strong>em</strong>iári<strong>do</strong>.<br />

.<br />

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