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3 - exodo urbano - 2ª ruralidade

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3. ÊXODO URBANO - A <strong>2ª</strong> RURALIDADE<br />

Portugal tem cada vez mais população na orla litoral. O número de habitantes nas freguesias que<br />

confinam com a costa, aumentou 68% entre 1970 e 2011.<br />

O Algarve é após a área metropolitana de Lisboa e Porto, a região de maior afluxo populacional.<br />

Esta migração do inicio do século XXI processa-se num contexto onde se esbate a fronteira entre<br />

o rural e o <strong>urbano</strong>.<br />

Como diz Covas; «os atores do mundo rural e da <strong>2ª</strong> <strong>ruralidade</strong> serão muito diversificados nas<br />

suas vocações e experiências. Do mesmo modo serão muito diversos os pretextos para as suas<br />

incursões ao mundo rural. A principal característica destes novos atores é pois a sua mobilidade e<br />

pendularidade.»<br />

A tendência do crescimento populacional nos aglomerados de pequena dimensão, surge em antítese<br />

do processo de urbanização, sendo assim apelidado de contraurbanização (Berry 1976). A<br />

contraurbanização é um fenómeno heterogénio, tanto nas localidades como nas motivações e nos<br />

grupos sociais envolvidos.<br />

Na diversidade da contraurbanização encontramos:<br />

- A migração da classe média urbana, para áreas rurais movida por anseios de uma melhor qualidade<br />

de vida.<br />

-Uma relocalização voluntária levada pela descrença da vida nas grandes metrópoles.<br />

- o movimento social de retorno ao campo, orientado na busca da autossuficiência.<br />

Esta ampla diversidade, é hoje em dia motor da gentrificação do espaço rural.<br />

Dentro de vários atores do atual espaço rural, destaco para o meu trabalho, as <strong>ruralidade</strong>s radicais<br />

e os neo-rurais;<br />

«As <strong>ruralidade</strong>s radicais destacam-se por uma rutura com o sistema capitalista, através da produção<br />

de uma realidade fundamentalmente diferente» (Le Fevre 1991)<br />

«Os neo-rurais, indivíduos provenientes do meio <strong>urbano</strong> que motivados por razões socio económicas,<br />

culturais, e/ou ambientais, mudaram pela primeira vez ou regressam ao meio rural, exercem<br />

actividades agriculas ou não agrícolas no campo» (roca 2011)<br />

Estes grupos ao ter no campo o seu espaço de residência, trabalhando no campo ou em outras<br />

atividades económicas, têm um pensamento ecológico, inspirados na sustentabilidade, nas energias<br />

limpas, na localização (ao contrário da globalização), a procura de um sistema financeiro<br />

diferido do vigente.<br />

São assim estes grupos, agentes da revitalização do espaço rural, valorizam o local e reconhecem<br />

a sua importância.<br />

Estes estilos de vida «procurando a autossuficiência, descentralizada, de pequena dimensão,<br />

discreta, que incrementa a biodiversidade, minimiza o consumo e a incorporação de recursos não<br />

renováveis, reflete uma ocupação e utilização do solo – LID – Low Impact Delopement – “um tipo<br />

de povoamento que em virtude do seu impacto reduzido ou benigno poderá ser autorizado em localizações<br />

onde a urbanização convencional é proibida”(Fairlie 2009)»


Segundo Covas, os novos actores da <strong>2ª</strong> <strong>ruralidade</strong> são:<br />

-Os residencialistas nostálgicos, para quem o campo é uma campo de recordações e recolhimento;<br />

-Os periurbanistas pendulares, que fazem a navette cidade-campo, em movimentos sucessivos de<br />

“descarga e recarga biológica”;<br />

-Os ecologistas militantes, para quem o campo é um campo privilegiado para combate em nome<br />

de grandes causas;<br />

-Os “excursionistas” da natureza, para quem o campo é uma “experienciação” inesquecível;<br />

-Os caçadores reservistas, para quem o campo é uma oportunidade de assertar no pássaro;<br />

-Os desportistas radicais, para quem o campo é uma experiência plena de emoções fortes e únicas;<br />

-Os paisagistas e conservacionistas, para quem o campo é um quadro pictórico e um mosaico<br />

ecossitémico;<br />

-Os agricultores biológicos e os produtores alternativos, para quem o campo é uma espécie de regresso<br />

à terra-mãe biológica;<br />

-Os patrimonialistas populares e as culturas locais, para quem o campo é um repositório de histórias<br />

e mistérios;<br />

-Os investigadores nos mercados de carbono, para quem o campo é um depósito precioso e valioso<br />

para o sequestro do carbono;<br />

-Os consumidores funcionalistas e o soft food, para quem o campo é um repositório de dietas e<br />

mezinhas;<br />

-Os Arquitectos da sustentabilidade e da bio-regulação climática, para quem o campo é uma fonte<br />

inesgotável de materiais e bioregulação;<br />

-Os agricultores em hortas sociais e comunitárias e o institutional food, para quem o campo é um<br />

campo de solideriedade para com os mais desprotegidos;<br />

-Os agricultores verticais em espaço <strong>urbano</strong>, para quem o campo é um campo que cresce em altura<br />

no meio das nossas cidades;<br />

-Os empreendedores pós-convencionais de produtos denominados, para quem o campo é uma<br />

fonte inesgotável de produtos com história e identidade;<br />

-Os empreendedores dos vários modos de turismo em espaço rural, para quem o campo é um<br />

imenso repositório de amenidades e momentos de recreio e lazer;<br />

-Os empreendedores produtivistas em busca de novos recursos naturais, para quem o campo, com<br />

solo ou sem solo, é essencialmente um produto da tecnologias mais recente;<br />

-Os empreendedores rentistas atrás de uma mais-valia fundiária ou imobiliária, para quem o campo<br />

é essencialmente um activo temporariamente devoluto e uma fonte de enriquecimento fácil;<br />

-Os empreendedores de ocasião atras de uma oportunidade comercial de curto prazo, para quem<br />

o campo é essencialmente um negócio de ocasião, com retorno rápido;<br />

-Os jovens empreendedores atrás de uma primeira instalação profissional, para quem o campo é<br />

uma oportunidade para iniciar a sucessão intergeracional.<br />

Conceitos como a contraurbanização, gentrificação do espaço rural, Low Impact Delopement e<br />

fenómenos como, neo-rurais e <strong>ruralidade</strong>s radicais, mostram uma clara revalorização e desejo de<br />

viver em áreas rurais. Assim faz sentido pensar em equipar, regularizar e facilitar o precesso de<br />

habitação nos espaços rurais.

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