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Deusues do mundo 02

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coisas que só ela saberia dizer. Mas as piores histórias eram aquelas em que<br />

ela fazia a pessoa passar vergonha em público, como um menino que um dia<br />

apareceu nu no campus da faculdade. Ele foi repreendi<strong>do</strong> pelo reitor e quase<br />

foi expulso, diz a lenda, porque ninguém ali acreditaria que ele havia si<strong>do</strong><br />

possuí<strong>do</strong> por uma guru <strong>do</strong> Alto de Pinheiros. Tu<strong>do</strong> isso porque ele insistia<br />

em continuar namoran<strong>do</strong> uma menina que deixara o grupo. Como essa, havia<br />

várias. E era isso que realmente revoltava.<br />

Um dia, me contaram, um rapaz <strong>do</strong> Nível 2 resolveu levantar a mão<br />

para perguntar à Pilar se, quan<strong>do</strong> algo ruim acontecia a alguém que havia<br />

saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> grupo, era karma ou era ela que baixava no sujeito e fazia algo para<br />

ele se arrepender. Nunca soube se era uma dúvida honesta ou uma provocação.<br />

Só sei que, nessa hora, Olomowewê baixou em Pilar e imediatamente<br />

ela tomou o corpo <strong>do</strong> rapaz. O sujeito então pegou um martelo que estava de<br />

bobeira por ali, e espatifou a própria mão. Disseram-lhe depois que, em vez de<br />

gritar, ele disse, como se fosse para si: “Isso é para aprender a não levantar a<br />

mão para faltar com o respeito”. Eu conheci o sujeito uma vez. Ele ainda estava<br />

de gesso na mão, e havia i<strong>do</strong> visitar o pessoal da Casa Branca para que os<br />

sacer<strong>do</strong>tes pudessem usá-lo como exemplo <strong>do</strong> que acontece quan<strong>do</strong> se mexe<br />

com coisas que não se deve mexer.<br />

Então era assim. Um dia falávamos sobre o espírito da saracura, noutro<br />

estudávamos textos sobre meditação e “o som sem som”, depois da vida de<br />

Jesus, e no outro de repente tremíamos de me<strong>do</strong> de sermos humilha<strong>do</strong>s em<br />

público pelo espírito vingativo de Pilar.<br />

Acho que aprendi mais com a ardilosidade de Pilar <strong>do</strong> que com os tais<br />

ensinamentos <strong>do</strong> bem da escola <strong>do</strong>minical, aliás. Ela era mestre em fazer com<br />

que os inimigos se destruíssem, que os amigos a respeitassem, e que to<strong>do</strong>s,<br />

inclusive os muitos poderosos, trabalhassem para fazer qualquer coisa que<br />

ela quisesse. E isso não era nada de sobrenatural. Era talento mesmo.<br />

O que nos traz aos dias de hoje, meu caro Laroiê.<br />

O Fred (Siqueira, o que me deu o emprego) um dia começou a pegar<br />

no meu pé por causa da relação que comecei a estabelecer com o AA (diretor<br />

de redação) e com a Yara (a executiva nova).<br />

Essa coisa de jogo de poder e articulação política faz parte da vida de<br />

jornal. Acho que, porque cobrimos tanto o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> poder, temos necessidade<br />

de trazer o drama <strong>do</strong> poder de seria<strong>do</strong> para nossas próprias vidas. O coita<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Fred ficou com tanto ciúme que tentou me tirar da cobertura internacional <strong>do</strong>s<br />

26 #dddm

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