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Deusues do mundo 02

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cor. E no emprego – num grande banco de investimento internacional.<br />

Quem diria.<br />

Até ali, ela havia cumpri<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os rituais exigi<strong>do</strong>s pelo mestre.<br />

Religiosamente. Havia se lava<strong>do</strong>, deixa<strong>do</strong> um pouco de água <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de<br />

fora. Colocou um <strong>do</strong>s tantos vesti<strong>do</strong>s Prada <strong>do</strong> seu armário, ainda lembrava<br />

<strong>do</strong> preço de cada um deles, e deixou to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos de forma<br />

displicente caí<strong>do</strong>s no chão, bem ao la<strong>do</strong> da porta. Agora, o mais difícil.<br />

O suor escorreu pelo la<strong>do</strong> da testa quan<strong>do</strong> terminou de cruzar o<br />

hall de entrada de uma das torres. Apressada, passou o crachá junto ao<br />

pequeno sensor que liberava a entrada <strong>do</strong>s funcionários e, num gesto<br />

rápi<strong>do</strong>, girou a catraca em falso, como se seu fantasma tivesse parti<strong>do</strong><br />

em direção ao eleva<strong>do</strong>r. Deu meia-volta mas, antes que pudesse se<br />

afastar, um <strong>do</strong>s seguranças, que havia percebi<strong>do</strong> a movimentação de<br />

uma estranha na entrada reservada aos que trabalhavam no prédio,<br />

surgiu bem na sua frente.<br />

– I.D., please?<br />

“Estúpi<strong>do</strong>!”, ela pensou. Recuperan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> susto, enquanto<br />

procurava no português, ligeiramente manco, a palavra mais desqualificante<br />

para a inteligência de um homem, apenas baixou os óculos<br />

escuros até a ponta <strong>do</strong> nariz e deixou que o homem a identificasse.<br />

– Sorry, madam, may I help you?<br />

Ela agradeceu com educação. No fun<strong>do</strong>, porém, queria matá-lo.<br />

Havia si<strong>do</strong> descoberta, e o mestre fora enfático ao ordenar que ninguém<br />

– gente ou computa<strong>do</strong>r – percebesse que ela não havia subi<strong>do</strong><br />

naqueles eleva<strong>do</strong>res. Só que não havia mais tempo! Colocou a mão na<br />

bolsa e retirou uma pequena agenda como se fosse isso que estivesse<br />

in<strong>do</strong> buscar desde o início.<br />

– No, thanks. – respondeu com um sorriso envergonha<strong>do</strong>, que<br />

pareceu tê-lo convenci<strong>do</strong>.<br />

O guarda ficou ao seu la<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ela passou o crachá em falso na<br />

direção da saída, depois entrou novamente com ele, como manda o protocolo.<br />

“Idiot!” – ela pensou novamente, dessa vez em inglês (depois de alguns<br />

meses longe de casa, xingar na língua local fica mais fácil <strong>do</strong> que em<br />

seu próprio idioma). Teve que entrar. Pensaria num plano no caminho.<br />

20 #dddm

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