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ArquivoS_vol1

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As esperanças, então, foram todas depositadas na eleição indireta de<br />

1985. Mais especificamente, na candidatura opositora ao governo militar.<br />

Em 15 de janeiro, o Colégio Eleitoral (formado pelos senadores e deputados,<br />

além de delegados das Assembleias Legislativas dos estados) elegeu<br />

Tancredo Neves, com 480 votos. A vitória foi esmagadora. Paulo Maluf, o<br />

candidato governista, obteve 180 votos.<br />

Ainda na véspera da posse, o senador Martins Filho (PMDB-RN) subiu<br />

à tribuna para também explicar a relação entre as Diretas Já e a ascensão<br />

de Tancredo:<br />

— O presidente Tancredo Neves não é do meu partido, nem do PFL,<br />

nem da Aliança Democrática. É, antes de tudo, o presidente feito pelo<br />

povo. O povo que saiu às ruas, aos milhões, num clamor por eleições diretas.<br />

O povo que, traído por representantes que não ouviram seu apelo<br />

tão enfático, agarrou-se a Tancredo como que a uma bandeira. Assim<br />

Tancredo se fez presidente de cada brasileiro, muito antes que o Colégio<br />

Eleitoral cumprisse a formalidade legal de elegê-lo. Bem-vindo, presidente!<br />

Bem-vinda, Nova República!<br />

A hospitalização, às 22h do dia 14 de março, impossibilitava a presença<br />

de Tancredo na posse, às 10h do dia 15. Brasília assistiu a várias reuniões<br />

políticas pela madrugada adentro. Não estava claro se o vice poderia assumir<br />

o poder sem o titular já estar empossado.<br />

Entre os documentos guardados no Arquivo do Senado, está a ata de<br />

uma reunião, realizada antes de amanhecer, da cúpula do Poder Legislativo<br />

— os presidentes do Senado, José Fragelli (PMDB-MS), e da Câmara,<br />

Ulysses Guimarães (PMDB-SP), e os líderes partidários das duas Casas.<br />

Eles decidiram o futuro. Diz a ata:<br />

“Ouvidos todos os presentes, houve inteira concordância no sentido<br />

de, mediante a apresentação de laudo médico que comprove a impossibilidade<br />

de o presidente eleito ser empossado nessa solenidade, a Mesa do<br />

Senado deverá dar posse ao vice-presidente eleito”.<br />

Informado da decisão por telefone, José Sarney não conseguiu dormir.<br />

Às 10h, ele chegava ao Congresso para prestar juramento como vice-<br />

-presidente e assumir interinamente a Presidência.<br />

Outro documento histórico do Arquivo do Senado é o livro que contém<br />

os termos de posse de todos os presidentes do Brasil, desde o marechal<br />

Deodoro da Fonseca. Como são redigidos por calígrafos, eles precisam ser<br />

preparados com antecedência. O livro, por isso, traz o termo que Tancredo<br />

não conseguiu assinar. A folha teve que ser anulada. Sobre o texto, com caneta<br />

vermelha, anotou-se “sem efeito” em letras garrafais. Um novo termo<br />

de posse precisou ser escrito às pressas, em nome do vice-presidente.<br />

Sarney encontrou o Palácio do Planalto vazio. O presidente João Figueiredo<br />

se recusara a passar a faixa presidencial para o vice. Eles eram<br />

inimigos desde que Sarney deixara a presidência do partido governista, o<br />

PDS, e se juntara à oposição, levando consigo correligionários insatisfeitos<br />

com o governo militar. Figueiredo saiu do Planalto pela porta dos fundos<br />

assim que a sessão no Congresso Nacional terminou.<br />

No dia 18, o senador Carlos Alberto (PDS-RN) subiu à tribuna para<br />

defender o último presidente militar:<br />

— Na quinta-feira à noite, eu telefonava para o presidente Figueiredo<br />

Atestado médico enviado ao Congresso informa que Tancredo não pode tomar posse<br />

arquivo do senado<br />

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