14 ERA UMA VEZ | DEZEMBRO 2016 Com a Comissão Técnica formada, iniciou a maior responsabilidade: formar o elenco que seria campeão. Como muito se ouvia falar, “um bom time começa pelo goleiro”. Por isso, foi escolhido o Danilo. Ele era decisivo dentro de campo e fazia defesas tão comemoradas quanto gols. Fora das quatro linhas, tinha um carisma incomparável e, além do número 1 na camisa, era o primeiro na lista de ídolos das crianças. Para dar sequência à defesa, quiseram mesclar as escolhas entre experiência e jovialidade, mas sem deixar de lado o comprometimento. Levaram o Thiego, o Filipe Machado e o Marcelo. Todos inspiravam liderança e a segurança que o torcedor precisava sentir. Marcelo era determinado, o Filipe Machado era vibrante e o Thiego o “cherife”. Uma comunhão perfeita. Abrir caminhos pelas alas era determinante para várias jogadas que o responsável por convocar o time tinha em mente. Para isso, os laterais precisavam ser dinâmicos. Foram escolhidos o Dener, o Caramelo e o Gimenez. O Dener era polivalente, atacava tanto quanto defendia. O Caramelo era legítimo marcador e o Gimenez era a personificação da raça. Os jogos precisavam ter ritmo. Biteco, Josimar, Gil e Cleber Santana foram convocados como volantes. A maioria das boas jogadas nasceriam desses pés. Biteco, com a sua juventude, organizava o jogo e bagunçava a vida do adversário. Josimar era referência e de tamanha competência na suas determinações que transmitia segurança para a defesa. Não tinha bola perdida. O Gil, quando entrava em campo, era pra ser decisivo. Pra mudar o jogo pra melhor. O Cleber Santana poderia dispensar definições. Quando a bola estava em seus pés, as jogadas falavam por si só. Os adversários o temiam e respeitavam. Era um líder nato e fazia por merecer a faixa de capitão. Para o meio campo, atletas com inteligência e agilidade para ligar as jogadas ao ataque. Thiaguinho, Sérgio Manoel e Arthur Maia. Thiaguinho buscava as jogadas com alegria e malícia e finalizava com ousadia e precisão; Sérgio Manoel era aguerrido e se destacava por surpreender e Arthur Maia era um talento que estava sendo lapidado. Por fim, o ataque. Ah, o ataque! Esse era o dos sonhos de qualquer equipe. Ananias, Canela, Kempes, Lucas Gomes e Bruno Rangel. Ananias desafiava a gravidade. Parecia ter molas nos pés e triplicava de tamanho quando o assunto era cabecear a bola pra dentro do gol. Canela, o mais jovem entre os centroavantes, era um mágico dentro de campo. Kempes era um atacante completo. Buscava a bola, envolvia o goleiro, e a empurrava, com precisão, para o fundo do gol. Lucas Gomes tirava o sono da zaga adversária. Dribles desconcertantes e gols dignos de placa. Bruno Rangel…Bem, Bruno Rangel é outro que dispensaria comentários, simplesmente porque qualquer adjetivo é pouco para caracterizá-lo. Basta dizer que é o maior artilheiro da história da Chapecoense. Pronto. Estava escalado o time de lendas. Tamanha era a qualidade, o carisma, a determinação e o comprometimento que ficaram campeões sem nem precisar entrar em campo. Como já previam lá na Terra, conquistaram uma multidão. Só que uma multidão muito, muito além do que podiam imaginar. Ganharam o mundo. O troféu que ergueram tinha um valor imensurável. Custou um preço alto, é verdade, mas rendeu muito mais do que se podia sonhar. O título conquistado por aquele time foi capaz de mostrar ao mundo que rivalidades devem durar apenas 90 minutos. Serviu para promover a solidariedade, o amor, o carinho e a união. Sim, a união. Provavelmente o maior propósito de tudo isso. Se lembra quando eu falei que Deus queria no seu time atletas que fugissem da badalação da mídia? Pois é. Agora eles entram em campo, todas as noites, como as estrelas mais brilhantes do céu. E se, antes de dormir, você prestar bastante atenção, vai ouví-los no vestiário, batendo as portas dos armários e cantando o inesquecível “Vamos, Vamos, Chape”. Estão comemorando. Felizes. Fazendo o que amam. "Do roupeiro ao presidente”.
ERA UMA VEZ | DEZEMBRO 2016 15 Nesse momento parei, porque a minha voz estava embargada e as lágrimas embaçando a minha visão. Abracei forte o meu filho, que apesar da pouca idade parecia ter entendido o tão duro recado. Ele se soltou dos meus braços, olhou fundo nos meus olhos e, preocupado, perguntou: “E como fica a Chape agora, papai?” Prontamente respondi. “A Chape vai continuar, novas pessoas virão, novos jogadores, novos ídolos, novos títulos, novas perspectivas. A Chape continuará sendo motivo de sorrir, as arquibancadas estarão cada vez mais cheias. Deus pensa em tudo, filho. Ele deixou o Neto, o Alan Ruschel e o Follmann para motivarem o nosso recomeço. Tão fortes e de tanta qualidade quanto os que foram jogar no céu. Deixou o Rafael Henzel para contar essa página histórica. E deixou uma legião de apaixonados para continuarmos juntos, na essência, e ainda mais fortes. Porque somos muito mais que onze, somos Chapecoense.