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OURO DE TOLO_DJANIRA FERREIRA

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ouro de tolo<br />

1


Djanira Ferreira Nunes<br />

2


<strong>OURO</strong><br />

<strong>DE</strong> <strong>TOLO</strong>


Djanira Ferreira Nunes<br />

<strong>OURO</strong><br />

<strong>DE</strong> <strong>TOLO</strong><br />

GOIÂNIA | KELPS | 2015


Ofereço a minha grande mãe<br />

Maria Soares de Camargo<br />

Ao grande amigo<br />

Dr. José Balduíno de Souza Décio<br />

Ao grande mestre<br />

Daniel Emídio de Sousa


Copyright © 2017 by Djanira Ferreira Nunes<br />

Capa:<br />

Editoração: Adriana Almeida<br />

Revisão final:<br />

Impressão: Editora Kelps<br />

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP<br />

Biblioteca Pública Estadual Pio Vargas<br />

NUN<br />

ou<br />

Nunes, Djanira Ferreira.<br />

Ouro de tolo. / Djanira Ferreira Nunes.<br />

Goiânia: Kelps, 2017.<br />

164 p.: 14x21 cm<br />

ISBN 978-85-<br />

1. Literatura brasileira – Contos. I. Título<br />

CDU:<br />

Todos os direitos reservados a autora.<br />

Impressão:<br />

Editora Kelps<br />

Ru 19 nº 100<br />

Setor Marechal Rondon<br />

CEP: 74-560-460 — Goiânia-GO<br />

Fone: (62) 3211-1616<br />

Fax: (62) 3211-1075<br />

kelps@kelps.com.br<br />

2017<br />

Impresso no Brasil<br />

Printed in Brazil


Sumário<br />

I Destino ...................... 11<br />

II O quarto de Maria ............ 17<br />

III Que lugar é esse .............. 25<br />

IV Bolha de sabão ............... 35<br />

V A grande mancha ............. 39<br />

VI A lagoa dos sapos ............. 45<br />

VII Mundo da Lua ................ 51<br />

VIII O sem lugar .................. 57<br />

IX Somente o azul ............... 65<br />

X Veneno ...................... 69<br />

XI Cumplicidade ................. 75


XII Desdobramentos .............. 81<br />

XIII Os girassois de Russi .......... 87<br />

XIV O mini armário ............... 95<br />

XV Os náufragos da internet ....... 101<br />

XVI Caixinha de surpresas ......... 113<br />

XVII O presente de Galápagos ....... 119<br />

XVIII O apagar das luzes ............ 125<br />

XIX Prelúdio ..................... 133<br />

XX Recortes históricos e mais ...... 139<br />

Sobre a autora ...................... 159


I<br />

Destino


O casal viera da Bahia à época da campanha<br />

nacional de “Marcha para o Oeste”, culminando<br />

na década de 1950 com a construção<br />

de Brasília. Instalaram-se no interior de<br />

Anápolis aos arredores de Pau Terra, em uma<br />

fazenda, onde o marido era peão.<br />

Nesse meio tempo nasce Juliana, primeira<br />

filha do casal. Seu nascimento fora motivo<br />

de alegria, na certidão de nascimento está escrito:<br />

“... foi declarante o pai”.<br />

Depois vieram dois filhos do casal, mas<br />

curiosamente não veio nas certidões dos meninos<br />

o nome do declarante.<br />

Algo acontecera e os laços afetivos do casal<br />

foram rompidos.<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

A mãe de Juliana deixa a fazenda, abandona<br />

o marido e parte para a capital Goiânia<br />

com seus três filhos para aí morar e trabalhar.<br />

Arrumou um casebre para moradia e procurou<br />

trabalho de doméstica.<br />

Encontrando trabalho, levava Juliana<br />

pois dizia que ela era tão bonitinha e por ser<br />

menina temia que alguém lhe fizesse mal...<br />

Era difícil trabalhar de doméstica acompanhada<br />

de criança e também nem sempre a<br />

patroa estava contente, e então aconselharam<br />

à essa mulher a dar sua filha para facilitar as<br />

coisas. Foram feitas três tentativas de encontrar<br />

alguém que quisesse ficar com Juliana,<br />

a primeira candidata fora uma enfermeira,<br />

mas a família não permitiu que assumisse<br />

tal incumbência.<br />

A segunda candidata, dona de uma pensão,<br />

já mais idosa, achava Juliana inquieta,<br />

desistiu.<br />

A terceira candidata era moça solteira<br />

que aconselhada pela sua irmã casada, incentivando-a<br />

a ficar com Juliana, alegando que<br />

no futuro precisaria de alguém para cuidar de<br />

sua velhice e lhe assegurava que sobrinho nenhum<br />

iria cuidar.<br />

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ouro de tolo<br />

Assim ficou selado o destino da menina<br />

Juliana.<br />

Naqueles tempos do onça ninguém explicava<br />

nada para criança e o mais provável é<br />

que nada sabiam de criança. Tira daqui e leva<br />

para ali, em nome do bem, simples assim.<br />

Não houvera uma explicação, uma palavra,<br />

uma preparação.<br />

Juliana acorda e não vê e nem encontra<br />

a mãe e seus irmãos. Sumira! Desapareceram<br />

como por encanto. Agora encontra-se em outra<br />

cidade, num casarão enorme com pessoas<br />

desconhecidas.<br />

O que será que aconteceu? Pensa.<br />

Por quê a levaram para este lugar?<br />

Onde está sua mãe que tanto amava?<br />

Lançada nas trevas do seu pensamento<br />

infantil, ali a dor, o desespero do sentimento<br />

de perceber-se abandonada. Um ódio profundo<br />

de quem traíra seus sentimentos.<br />

Diante de si, o caos, a iminência da<br />

morte...<br />

Tanto chorava e clamava pela mãe desaparecida<br />

quando uma voz firme e calma disse:<br />

“Eu também sou mãe”. Uma tábua de salvação!<br />

A única luz no fim do túnel, agarrou-se<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

à essa nova mãe de tal modo que nunca fora<br />

capaz de separar-se dela, contraíra naquele<br />

instante uma dívida impagável.<br />

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II<br />

O quarto de Maria


Lá no sítio Ladeirão Branco próximo à<br />

Ouro Preto, vivia uma família de Órfãos. Isso,<br />

Maria era órfã de pai e mãe, não tivera como os<br />

outros que ali moravam aconchego de um colo<br />

de mãe. Mãe para ouvir, compreender, cuidar<br />

e acompanhar o desenvolvimento infantil.<br />

Trabalhava para seu sustento e de seus<br />

familiares. Costurava, bordava, fazia crochê,<br />

frivolité, tricotava, confeitava, lavava, passava<br />

roupas com ferro à brasa, confeitava bolos,<br />

cuidadora e provedora dos estudos dos irmãos<br />

e ainda trabalhava fora! Maria era uma mulher<br />

prendada. Êta Maria trabalhadeira!<br />

Na casa grande do sítio, Maria tinha o<br />

seu quarto. Quarto bem cuidado por Maria,<br />

mandou colocar piso e forro no teto, dizia na-<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

quele tempo “estuque”. Na janela baixa pôs<br />

uma tela verde que combinava com a natureza<br />

e o quintal à vista. Quarto mobiliado, no<br />

“toillet” ou penteadeira porta-joias de louça e<br />

também de cristais, perfumes, pó facial, batons,<br />

bibelôs. Um guarda-roupa misterioso, só<br />

Maria podia abrir. Criado mudo com gavetinha<br />

cheia de coisinhas, caixa de laquê, creme,<br />

fósforo, tesourinha de cortar unhas e outras<br />

bugigangas. Em baixo do criado mudo as caixas<br />

de sapatos. Sapatos de saltos, sapato preto,<br />

azul, bege, branco, marrom. Só de vê-los descobria-se<br />

que Maria tinha vida social intensa,<br />

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ouro de tolo<br />

gostava de festas, bailes. Percebia-se que ela<br />

tinha bom gosto e que era moça fina da sociedade<br />

de Ouro Preto.<br />

Dormia também no quarto de Maria a<br />

menina Afrodite que nasceu parida do coração<br />

de Maria.<br />

Afrodite achava aquele quarto um conto<br />

de fadas! Como olhava e bisbilhotava todas as<br />

coisas existentes ali! Via o cabide de madeira<br />

preso à parede carregado de belas sombrinhas<br />

coloridas. Sua caixa de brinquedos correspondia<br />

hoje ao tamanho de uma caixa de TV de<br />

29 polegadas. Quantos brinquedos estavam<br />

lá dentro: boneca Chiquita Bacanca, Rosinha,<br />

Emília, Sandra, Anjinho, o jogo do mico preto,<br />

bola, pequena chapa de metal sonoro para<br />

tocar, chocalhinho de boneca, jogos de cozinha<br />

infantil, camas de bonecas, soldadinhos<br />

de chumbo, boliche, livrinhos de estórias, toquinhos<br />

para montagem, varetas, corda para<br />

pular e tantos outros ...<br />

O Quarto de Maria era refúgio de Afrodite,<br />

fora dele havia muita política e intrigas<br />

da oposição. Ci-u-mei ra!!! Afrodite sentia que<br />

nem sempre os ventos eram a favor.<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

Maria impunha respeito, em seu quarto<br />

havia privacidade, a porta sempre encostada,<br />

jamais aberta ou escancarada.<br />

As Noites no quarto de Maria eram longas.<br />

Antes de dormir Maria rezava ajoelhada<br />

e dizia a Afrodite que rezasse a oração que havia<br />

lhe ensinado: “Santo anjo do senhor, meu<br />

zeloso guardador. Deus que a ti me confiou,<br />

guarda, rege, governa, ilumina, amém”. Na<br />

cama de Afrodite havia o anjo da guarda pendurado<br />

na cabeceira. Na parede em direção ao<br />

leito de Maria, havia um quadro dependurado<br />

do Cristo rezando o pai-nosso, de sua primeira<br />

comunhão.<br />

Feitas as orações, era hora de dormir,<br />

com sono ou não. Noite comprida, escura demais,<br />

cheia de rumores secretos, misteriosos,<br />

surpreendentes e até alguns esperados.<br />

O cachorro começa a latir e uivar, na imaginação<br />

de Afrodite aquele latido já não era de<br />

cachorro mas de lobo. Afrodite ficava pensando<br />

sobre o que o “lobo” via, o que seria, quem<br />

seria e encolhia cada vez mais debaixo da coberta.<br />

No teto da varanda vizinha do quarto<br />

de Maria, fazia barulho. Gambá? Rato? Afrodite<br />

com olhos arregalados na escuridão.<br />

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ouro de tolo<br />

De repente uma galinha começava a cacarejar<br />

assombrada e desesperadamente. Barulho<br />

de gente levantando, acender de lanternas<br />

e vozes dizendo “— gambá pegou a galinha<br />

dos pintinhos ...” Rumores na volta aos leitos,<br />

fechar de janelas e portas. Tudo emudece na<br />

escuridão. O rumorejar contínuo da água da<br />

bica às vezes interrompido por algo que rolou<br />

pela bica num barulho “pluff” que Afrodite ouvira.<br />

Caíra uma fruta? Ou foi um sapo? Caranguejo...<br />

pensava. O barulho da água ajudava<br />

no adormecimento. Paz no quarto de Maria.<br />

Tenra madrugada. Afrodite assustada<br />

acorda, Gasparina, moradora da casa grande,<br />

possuía intimidades com os fantasmas, sequela<br />

de sua orfandade, começa a conversar,<br />

xingar, rir, chorar. Ninguém intervém, sabem<br />

que é pior.<br />

Gasparina acalma-se. Parece que houve<br />

entendimentos, então ela começa a cantar<br />

com sua voz de soprano: “Veneno, veneno ... é<br />

o nome de vocêêê... você ora por que pequeno,<br />

é todo frasco de veneno, ô veneno”!<br />

Novo silêncio. Tudo fica tão quieto que<br />

Afrodite desconfia e chama: mãe ... mãeê ...<br />

Maria responde “ dorme, dorme, é hora de<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

dormir!” Afrodite só queria ter certeza que ela<br />

estava ali.<br />

Tinha medo, queria fazer xixi, mas pensava<br />

que se Gasparina não conversava mais com<br />

os fantasmas e para ela eles eram brancos, gelados<br />

e atravessavam paredes, era melhor segurar<br />

a vontade do que ser obrigada a levantar<br />

no escuro à procura da lâmpada dependurada<br />

no teto, do urinol debaixo da cama... só de<br />

imaginar algo gelado tocando-lhe os pés, as<br />

mãos, seu corpo, Afrodite cobria-se toda!<br />

Ah! Que vontade de ver a luz do sol, que<br />

o dia amanhecesse. O relógio da varanda badalava<br />

horas no silencio sepulcral. Afrodite<br />

dormira e nem percebera que mijara na cama.<br />

O quarto de Maria é invadido pela<br />

luz do sol que entra pelas gretas da janela.<br />

Afrodite abre os olhos. Cheiro de talco<br />

no ar. Maria não mais se encontrava ali, saíra,<br />

fora para o trabalho na Intendência de<br />

Ouro Preto.<br />

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III<br />

Que lugar é esse


Quem não foi guiado e torturado por seus<br />

fantasmas que atire a primeira pedra!<br />

Zulmira crescera ouvindo “Ela é a menina<br />

que dona Sofia criou”. Um refrão muito<br />

repetido devido à curiosos que não entendiam<br />

as diferenças e as semelhanças daquela dupla,<br />

dona Sofia tão branquinha e Zulmira negra.<br />

Era curioso aquela negrinha com vestidos<br />

de seda, cetim, renda, muito chique, na<br />

companhia de dona Sofia. Muitos queriam saber<br />

quem era a menina e dona Sofia dizia “É a<br />

menina que estou criando”. Assim diziam que<br />

era filha mais não era.<br />

Era a filha criada de dona Sofia. Dona Sofia<br />

cuidava e mimava a negrinha, quando saía<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

com Zulmira alguém dizia: “Já vai Sofia com<br />

seu andor!”<br />

Em vários passeios com dona Sofia, muitos<br />

queriam saber se Zulmira sabia quem era a<br />

sua mãe, se frequentava a casa dela e até pessoas<br />

desconhecidas, ouvindo a criança chamando<br />

dona Sofia de mãe, ficavam estupefatas!<br />

Como poderia uma senhora tão distinta,<br />

ter um possível marido negro? Não aguentando<br />

alguém comentou: “O pai dela deve ser<br />

bem moreno!”.<br />

Assim era a rotina de janeiro à dezembro<br />

e chegando o Natal, toda vez dona Sofia dizia:<br />

“Vamos visitar sua mãe”. Mãe?! Mãe era ela<br />

que acolhera, cuidava, pagava sua escola, dava-lhe<br />

afeto, sustentava. No Natal sua mãe é a<br />

outra que não mais convivia, que esquecera,<br />

uma estranha que via uma vez na vida e na<br />

morte... quantas contradições...<br />

Vai desfilando a rotina de Zulmira seja<br />

no casarão, na escola e em seus passeios.<br />

Na escola a menina era muito tímida e<br />

vergonhosa, não era acostumada à vida social.<br />

Quando a viam chegando à escola acompanhada<br />

por dona Sofia, algumas colegas perguntavam:<br />

“Quem é o seu pai”?<br />

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ouro de tolo<br />

Zulmira que à época de sua chegada no<br />

casarão por sua conta adotara de imediato o<br />

irmão de dona Sofia como pai, respondera sua<br />

simples e natural verdade: “É o irmão da minha<br />

mãe”.<br />

As colegas ficaram intrigadas e pediram<br />

a Zulmira que as levassem ao casarão, quem<br />

sabe para poderem tirar a limpo essa estória.<br />

Quando dona Sofia saía para seu trabalho,<br />

o ambiente do casarão era de aparente<br />

tranquilidade.<br />

Dona Sinara, mãe de dona Sofia sempre<br />

dizia: “... nada de trazer meninada pra cá<br />

não...”.<br />

O clima do casarão era tenso, como se<br />

uma bomba fosse estourar à qualquer momento!<br />

Ninguém falava nada direto com ninguém,<br />

era uma comunicação de indiretas retas. Um<br />

disse que disse que disseram.<br />

Zulmira sentia medo percebendo o perigo<br />

de bate bocas e até de possível agressão física<br />

e junto à isso o tempero somado das intrigas<br />

armadas pela cunhada de dona Sofia que<br />

debulhava veneno, incitava ao ódio e depois<br />

vendo o resultado de suas manobras, vestiase<br />

com o manto azul da Virgem Maria!<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

Zulmira escutava o zum zum do casarão,<br />

o disse que disseram e ficava triste, indignada<br />

e impotente diante das injustiças, ficando aluada.<br />

Vivia no mundo da lua!<br />

Um alento para isso era o brincar com seu<br />

companheiro Januário no quintal do casarão.<br />

As duas crianças brincavam no quintal<br />

e Januário chamava Zulmira de “meu bem”,<br />

Zulmira não entendia a razão, curiosa perguntou:<br />

“Por quê me chama de meu bem?”<br />

Januário respondeu: “Porque papai e mamãe<br />

são casados e falam meu bem”. Zulmira<br />

então naquela brincadeira estava casada com<br />

Januário, os filhos feitos de sabugo de milho e<br />

com “cabelos” do milho. Ela cuidava dos afazeres<br />

domésticos: varria a casa, cozinhava,<br />

dava banho e arrumava as crianças.<br />

Januário trabalhava fora, sustentando a<br />

casa.<br />

Lá, naquele imenso quintal sempre mudavam<br />

de casa e invertiam os papéis: ora ela<br />

era o marido e ora ele era a mulher.<br />

Nisso, o que diziam e disseram dentro do<br />

casarão corria como rastilho de pólvora...<br />

Lá fora, cansados de brincar de casinha,<br />

voltaram para dentro do casarão e resolveram<br />

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ouro de tolo<br />

desenhar no chão dos corredores e da varanda,<br />

utilizando o giz escolar.<br />

Pintaram, riscaram, desenharam e quando<br />

terminaram apareceu a ama índia com<br />

cara de brava, zangada e contrariada com os<br />

desenhos pelo chão (seria mesmo por causa<br />

dos desenhos?) foi jogando água e limpando<br />

“aquela sujeira”, mostrando o seu desagrado,<br />

amaldiçoando os desenhistas...<br />

De repente um homem entrou no casarão,<br />

cara ruim, fechada, andar ligeiro, postura<br />

agressiva e tirando o cinturão deu umas lambadas<br />

em Januário e Zulmira! Mas o que houve?!<br />

O que fizeram?!<br />

Corria o veneno de cobra coral plantado<br />

na cabeça do pai de Januário que fora de<br />

si dera golpes de cinturão nas duas crianças,<br />

pois falaram e disseram que se Januário continuasse<br />

a brincar com Zulmira, terminaria<br />

virando ME-NI-NA!<br />

Zulmira assustada não entendera o porquê<br />

apanharam e o que haviam feito.<br />

Difícil brincar com as crianças que frequentavam<br />

o casarão...<br />

Germana quando em visita no casarão<br />

era amiga e brincava sempre com Zulmira,<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

brincavam de casinha, mas de modo diferente:<br />

casas construídas com toquinhos, criavam<br />

estórias para os moradores, verdadeiros dramas,<br />

estilo novela e também brincavam de bonecas...<br />

mas um belo dia Germana se recusa a<br />

brincar e comunica que sua mãe lhe proibira<br />

por ser Zulmira negra, sendo boa filha obedecera<br />

prontamente.<br />

Que injustiça da mãe de Germana! Pensara<br />

Zulmira, principalmente com dona Sofia,<br />

mulher de caráter, inteligente, criativa, que cuidara<br />

de tantos outros abandonados que viveram<br />

no casarão, disponível ajudava a todos, só que<br />

poucos reconheciam que fazia favores e muitos<br />

desenvolveram a crença que tinha obrigação.<br />

Zulmira pensava na injustiça, afinal tudo<br />

que ganhava de dona Sofia era também presenteado<br />

à Germana.<br />

Dona Sofia vivia entre a cruz e a espada<br />

para contornar os ciúmes, as invejas por estar<br />

dando um lugar para Zulmira...<br />

Zulmira compreendera o que é levar uma<br />

punhalada pelas costas!<br />

Os detalhes sórdidos nunca foram ditos<br />

para dona Sofia, ficou como segredo da alma<br />

infantil de Zulmira.<br />

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ouro de tolo<br />

Zulmira pensava então em como resgatar<br />

a amizade de Germana diante da mãe dela e<br />

teve uma ideia, ah se tivesse o sangue! estaria<br />

tudo resolvido!<br />

Foi ao banheiro e ali encontrou no cesto<br />

um absorvente higiênico sujo de sangue e<br />

o usou para a transmissão do precioso sangue<br />

mas tal qual praga do Egito, tudo terminou<br />

entre o imaginário e a realidade numa sangrenta<br />

desilusão!<br />

Vendo aquelas relações utilitárias e camaleônicas<br />

na família, como poderia Zulmira<br />

construir relações amorosas, seguras e de<br />

confiança? Que lugar é esse cheio de racismo,<br />

intolerância, inveja, ciúme, maldade?<br />

Eureka! É a natureza humana. A natureza<br />

humana nua e crua!<br />

Quanta dor para crescer e libertar-se,<br />

Zulmira conseguiu derrubar os muros da escravidão<br />

e descobrira que seu lugar era exatamente<br />

fora do lugar! Lá, bem longe dali, mas<br />

bem perto da linha da sanidade!<br />

33


IV<br />

Bolha de sabão


Inacreditável, mas essa estória acontece<br />

dentro de uma bolha de sabão. Conta-se que a<br />

bolha era enorme e constituía-se em um mundo<br />

à parte. A atmosfera lá era densa, trágica,<br />

vidas em preto e branco. Coisas mesmo de outro<br />

mundo.<br />

Alí dentro, o espaço dos desencontros,<br />

das sintonias alteradas, desincronizadas.<br />

Nessa bolha vivia uma menina de mais<br />

ou menos uns quinze anos de idade. A habitante<br />

dessa bolha foi examinada por médicos<br />

e eles constataram que era constituída da<br />

mesma matéria humana: Tinha um corpo e<br />

dentro desse mesmo corpo estavam seus órgãos<br />

internos em perfeitas condições.<br />

37


Djanira Ferreira Nunes<br />

O grande engano é que ficara invisível<br />

aos olhos médicos os instrumentos, as ferramentas<br />

que foram e que também não foram<br />

apresentados ao cérebro da menina.<br />

Assim, terminou cega! Seus instrumentos,<br />

ferramentas que ali se encontravam eram<br />

incompletos, cindidos, espalhados e seus pensamentos<br />

um jogo de encaixe com peças faltando,<br />

não podendo nada construir, não fazendo<br />

sentido, só o sentido das sentidas dores...<br />

A menina cega caminhava como se estivesse<br />

pisando em ovos, quanto medo, ansiedade<br />

e angústia circulava e retornava em um<br />

crônico biofeedback.<br />

Será com quantos paus se constrói uma<br />

bolha e com quantos à destrói?<br />

Viver na bolha carece ser cego, servil, não<br />

saber pensar, obediência, renúncia ao existir.<br />

Se não encontrou escolha, submeter-se<br />

foi à única saída para essa menina. Sobreviver,<br />

ainda que mutilada era importante. A<br />

vida pulsava!<br />

Assim muitos que contemplaram a menina<br />

viram-se fora do cenário, em caixões,<br />

outros em gaiolas, outros em grades contemplando<br />

a vida passando...<br />

38


V<br />

A grande mancha


Menina e moça, agora o corpo de Luzia<br />

dava sinais que a mocidade estava chegando,<br />

chega aos doze anos com surpresas e<br />

ignorância.<br />

Acordava com uma sensação de molhado<br />

na calcinha e um líquido denso escorrendo.<br />

O que seria aquilo!? Olhou e viu tudo cheio e<br />

sujo de sangue. Credo! Teria arrebentado uma<br />

tripa dentro de si? Seria porquê provocava<br />

sensações prazerosas em seu corpo e agora<br />

algo rompera?<br />

Castigo por ser amiga de Onan? Por estar<br />

fazendo coisas erradas?<br />

Contar à mãe?! Nem pensar, pois isso poderia<br />

estar relacionado à alguma prática secreta<br />

no banheiro. Coisa feia e vergonhosa!<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

Perguntar ou contar à mãe poderia trazer<br />

essa estória à tona” Coisas do corpo, sujeira,<br />

safadeza, feiura.<br />

Atormentado pelo acontecido, Luzia pensava:<br />

“... E se o sangue não parar mais?”<br />

Passaram-se dois dias e o sangue lá!<br />

Em decorrência disso, mudou sua rotina,<br />

não dormia em paz, preocupada com a origem<br />

do sangue e ainda o temor que sua mãe<br />

descobrisse!<br />

O cuidado e a vigilância que devia ter:<br />

colocar um pano, lavar o pano sujo escondido<br />

e bem lavado para não ficar com nenhuma<br />

mancha, nada que desse pista para a mãe<br />

descobrir!<br />

Talvez o desejo de esclarecimento ou o<br />

acreditar merecer alguma punição traíra Luzia<br />

e assim esqueceu um desses panos sujos<br />

de sangue na janela de seu quarto.<br />

Estava perambulando pela casa e Luzia<br />

lembrava da vez que fora surpreendida na<br />

rede, tocando o seu corpo, descobrindo o prazer,<br />

pela governanta da casa, que chegando<br />

bem devagarinho olhou e disse: “... humm...<br />

humm... beleza hein!”? Que vergonha! Foi<br />

pega fazendo algo muito feio! A governanta<br />

42


ouro de tolo<br />

disse apenas isso e voltou para os seus afazeres,<br />

sem nada comentar depois.<br />

De repente dona Moema chama: “Luzia!”<br />

Luzia vai atende-la e a encontra no quarto<br />

com um pano sujo de sangue nas mãos e pergunta:<br />

“ – Isso está saindo de você?” Luzia,<br />

receosa e com medo responde que sim. A mãe<br />

respondeu: “ – A próxima vez que vier você<br />

me avisa”. Só, e mais nada.<br />

O pensamento de Luzia borbulhava de<br />

perguntas, mas não ousara, não havia intimidade<br />

para esse tipo de coisa.<br />

É, já estava bom, não fora condenada.<br />

O grupo escolar agora passa a ser atrativo<br />

para Luzia, lá falavam do que acontecia com<br />

ela. Chamava-se menstruação, as colegas diziam<br />

“... é coisa de mulher, todo mês vem...”, “é<br />

para ser mãe”. Mas porque tinha que sangrar<br />

para ser mulher e mãe? Assim, uma informação<br />

aqui e outra ali ainda que tortas formaram<br />

o conhecimento de Luzia sobre o corpo.<br />

Essa tal menstruação fora um transtorno<br />

para Luzia, era surpreendida fora de casa<br />

menstruando, geralmente na escola, ensanguentada<br />

sujara a saia do uniforme e agora<br />

como ir para casa? As colegas ajudavam, era<br />

43


Djanira Ferreira Nunes<br />

só bater o apagador de giz do quadro negro e a<br />

mancha virava outra, porém camuflada e Luzia<br />

podia retornar à casa.<br />

Como era desagradável o sentir saindo<br />

aquele sangue, o odor mal cheiroso, coisa desagradável<br />

ser mulher.<br />

Desagradável mesmo eram as palavras<br />

hostis, depreciativas e ferinas que ouvia no<br />

casarão. Há mais entre as palavras que as pessoas<br />

dizem uma as outras e o ambiente, que<br />

um surdo possa entender.<br />

Luzia era robusta, seios fartos, uma moça<br />

bonita e vistosa, mas dos tantos outros comentários<br />

depreciativos ouviu-se este de uma<br />

visitante do casarão, baixinha, quase anã, sem<br />

peitos ou muito pequenos, que vendo a exuberância<br />

de Luzia, despeitada dissera: “Peito<br />

grande não dá leite!” Luzia era uma menina<br />

focada na lua, lá era mais suportável. Vivia no<br />

mundo da lua! Assim Luzia pusera seus olhos<br />

em um prato e não pôde ver e tomar posse da<br />

bela mulher que se tornara!<br />

44


VI<br />

A lagoa dos sapos


Em um outro planeta existente nos subterrâneos<br />

do nosso próprio planeta terra,<br />

existe um lugar provido de natureza. Lá existe<br />

um lixão e em suas imediações uma lagoa<br />

de sapos.<br />

Conta-se que esse lugar é muito conhecido,<br />

muitos lá vão e misteriosamente tornamse<br />

prisioneiros.<br />

O lixo lá cresce e reproduz constantemente,<br />

existindo sempre um espaço para ele.<br />

Os próprios homens que ali vão encarregamse<br />

do depósito do lixo.<br />

Nesse lugar, a podridão dos detritos, os<br />

restos, as migalhas, os desperdícios, a imundície.<br />

Uma paisagem de árvores secas, apa-<br />

47


entemente mortas dão guarida aos abutres,<br />

corvos e urubus.<br />

Os homens que vão para esse planeta nos<br />

subterrâneos da própria terra bebem da água<br />

da lagoa dos sapos, ficando conhecidos como<br />

os engolidores de sapos.<br />

Os engolidores de sapos vão chegando e<br />

o incrível é que os sapos vão aumentando! A<br />

água da lagoa tem o poder de separar o amor<br />

do ódio, restando então apenas o ódio.<br />

O amor entra em estado de catalepsia<br />

e caminha como um zumbi ao lado do ódio.<br />

Assim, o homem torna-se uma presa desse<br />

lugar, ficando condenado pela magia da lagoa<br />

dos sapos.<br />

As relações da natureza humana são de<br />

amor e ódio. O engolidor de sapos fica impossibilitado<br />

pela magia de mesclar o amor com<br />

o ódio.<br />

Não consegue olhar nos olhos do outro,<br />

quando o faz afasta-se de tanto ódio. Quando<br />

afastado do olhar do outro é tentado à proximidade<br />

mas ao chegar perto constata-se que<br />

está presente o ódio, o amor é apenas um<br />

zumbi. Impossível conviver, é um condenado<br />

pela magia da lagoa dos sapos.


ouro de tolo<br />

Como quebrar essa magia?<br />

Não existe uma receita. Contaram apenas<br />

que um dos engolidores de sapos, trabalhou<br />

muito para conseguir escapar da magia,<br />

reciclando o lixo que produziu, expulsou os<br />

abutres, os corvos e os urubus e até então,<br />

continua cultivando árvores que pareciam<br />

mortas, podendo ver pouco a pouco a vida<br />

florescendo...<br />

49


VII<br />

Mundo da Lua


O mundo da lua é distante, cheio de neblina<br />

morna e envolvente. Dizem que muita<br />

gente passa uns tempos por lá.<br />

O mundo da lua tem entrada franca para<br />

as crianças, já o adulto para ir para lá precisa<br />

passar pelo buraco branco e acaba selecionando<br />

as suas vocações. Os que voltam de lá não<br />

tem vocação para ser um lunático. Esses então<br />

transitam são e salvos e retornam ilesos.<br />

Wladimir vivendo poucos sabores e mais<br />

dissabores, com vida incolor é sugado pelo buraco<br />

branco e começa a ter uma visão e sensação<br />

que só podia ser de paraíso!<br />

Lugar maravilhoso é o mundo da lua; é<br />

como se estivesse numa caixa de brinquedos<br />

53


Djanira Ferreira Nunes<br />

sonhados e inimaginados e fazer com eles, usá<br />

-los com o poder dos pensamentos!<br />

Wladimir de um ser humano miserável é<br />

no mundo da lua um lindo príncipe, se veste<br />

de seus desejos! Lá, basta querer e acontecer!<br />

Wladimir absorvido pelo buraco branco,<br />

longe das misérias do seu mundo, ficou incomunicável;<br />

não podia acompanhar os acontecimentos<br />

do seu habitat, não conseguia acompanhar<br />

a política do seu tempo, não convivia<br />

com os jovens de sua geração, desconhecia até<br />

os acontecimentos banais, não se dava conta<br />

que há cada quatro anos tinha apresentação<br />

da Seleção de futebol de seu país; quando porventura<br />

e raramente alguém solicitava sua<br />

opinião sobre algum fato, Wladimir respondia<br />

coisas fora do contexto; Wladimir não pertencia<br />

à nenhum grupo.<br />

Muitos não perceberam que Wladimir<br />

tinha sido sugado pelo buraco branco, outros<br />

percebiam e achavam muito natural, acreditando<br />

que tudo estava bem.<br />

Talvez fosse o tempo de murici, cada um<br />

por si, ou até mesmo onde as pessoas vão cagando<br />

e andando!<br />

54


ouro de tolo<br />

Lá no mundo da lua, uma odisseia! Quantas<br />

coisas conheceu e viveu, tinha um saber<br />

todo especial e, esse saber tornou-se um grande<br />

imã que o levou de volta, que fizera com<br />

que o buraco branco devolvesse cuspido e escarrado<br />

Wladimir à sua vida de origem.<br />

Sua volta foi gloriosa, aliou-se àqueles<br />

que não tinham vocação para ser lunáticos,<br />

mordera um pequi e assim aprendeu que as<br />

relações humanas são de amor e ódio, sendolhe<br />

revelado o conhecimento! Foi assim o seu<br />

caminho de volta e sem volta!<br />

55


VIII<br />

O sem lugar


Emanuel era um jovem inquieto. Gostava<br />

de ser chamado de Joel por causa do gostar de<br />

um amigo da infância.<br />

Joel é um cidadão do mundo. Começou a<br />

trabalhar quando completara dezoito anos. Os<br />

pais quiseram lhe dar um caminho para a vida.<br />

Joel obteve o seu primeiro emprego em<br />

meio aos livros, ele atendia as pessoas que<br />

procuravam por livros, para fazer trabalhos<br />

escolares e também para o prazer da leitura.<br />

Nesse tempo, sua segunda casa. Lar que<br />

com o tempo foi se tornando aborrecido, chato,<br />

uma mesmice, seus colegas de trabalho se<br />

tornaram pessoas que Joel gostaria de dar às<br />

costas. Os dias passando, anos passando...<br />

Joel trabalhando e estudando. Cansado desse<br />

59


Djanira Ferreira Nunes<br />

lugar, enjoado das pessoas, surge uma urgência<br />

em Joel de sair dali, não suportava mais,<br />

o melhor estaria bem longe dali! Coincidência<br />

ou não, o curso que Joel frequentava sempre<br />

exigia adequações de horário, isto uma mão<br />

na roda para argumentar uma proposta de<br />

mudança de local de trabalho. Assim Joel foi<br />

transferido para o Teatro.<br />

O primeiro trabalho com os livros fizeram<br />

parte do seu ganha pão. Já o segundo, abriu<br />

novos horizontes, deu-lhe oportunidades de<br />

conhecer atores famosos de seu tempo. Joel assistia<br />

às peças teatrais, descobrindo um mundo<br />

que não imaginava existir. Era um condutor<br />

de gente, levando pessoas aos seus lugares. O<br />

tempo passa, a lua de mel acaba e também a<br />

realidade escolar de Joel mudara. Então Joel<br />

cansado dali, muda e se transfere para onde<br />

arquivaram a história de seu Estado.<br />

Um velho novo mundo se descortina<br />

para Joel, ali tantos documentos selados com<br />

selos de coleção! Histórias nunca antes sabida<br />

por Joel. Passa-se um tempo e Joel se<br />

cansa do lugar, anseia sair, escapar dali, não<br />

suportando mais o lugar nem as pessoas.<br />

O vento sopra à favor de Joel vai para o tra-<br />

60


ouro de tolo<br />

balho burocrático, recebe pedidos e protocola,<br />

um serviço mecânico e chato para Joel, mas<br />

no início tudo é novo, novas pessoas, depois<br />

vem a rotina, a mesmice. Lá estava Joel novamente<br />

cheio daquilo! Enlouquecido para sair,<br />

ir embora, mudar de lugar! Foi então para outras<br />

paragens e agora estava no Recursos Humanos<br />

da Prefeitura. Vida nova! Seria mesmo<br />

para Joel vida nova? Nesse local novos esquemas<br />

e articulações! O tempo passou e chegou<br />

o tormento na alma de Joel, precisava sair dali<br />

o quanto antes, precisa respirar!<br />

Chega a mudança de Joel, agora trabalha<br />

com menores infratores, o trabalho era assustador,<br />

desafiante e instigante! Envolveuse<br />

bastante, até que com o passar dos anos foi<br />

convidado para mudar de lugar e trabalhar<br />

com toxicodependentes. Joel prontamente<br />

aceitou. Um trabalho árduo e frustrante.<br />

O governo encarregou de destruir o projeto<br />

e os funcionários foram redistribuídos para<br />

outros lugares.<br />

Joel muda de país e descobre-se muito<br />

adaptado. Era estrangeiro de si mesmo. Quando<br />

seu projeto termina, retorna para seu país<br />

e novo local de trabalho.<br />

61


Djanira Ferreira Nunes<br />

Agora trabalha com a saúde mental, de<br />

certa forma uma continuidade da formação<br />

que fizera.<br />

Devidos as contínuas mudanças no local<br />

de seu trabalho, Joel também muda para o<br />

trabalho policial. Aprendeu muito, conheceu<br />

novos horizontes e realidades, mas vira que o<br />

fator humano dos lugares que passou apenas<br />

mudava a roupagem. As políticas vêm e vão,<br />

pelos fatores políticos Joel volta ao seu lugar<br />

de origem, a saúde mental. Trabalha com a<br />

saúde mental e para a saúde mental.<br />

Joel hoje perdeu o desejo de mudar de lugar,<br />

mas depois que aquietou-se em um canto,<br />

digamos assim, ele sofre com um fogo que lhe<br />

queima dentro da região torácica, seria o fogo<br />

do inferno? Fogo que arde constantemente,<br />

deixando Joel esgotado e transtornado. Fogo<br />

que não se apaga, um sofrer. Joel sente que<br />

quando conseguir apagar esse incêndio rejuvenescerá<br />

vinte anos. Quem viver verá! Talvez<br />

era esse mesmo fogo que ainda consome Joel<br />

que o induzia a mudar de lugar.<br />

Não, diria um guru, Joel sempre mudou<br />

porque nunca tivera um lugar. Lugar de filho,<br />

lugar de irmão, lugar de primo, lugar de sobri-<br />

62


ouro de tolo<br />

nho, lugar de neto. Ele, um homem sem lugar,<br />

um homem do mundo de cem mil lugares!<br />

Joel ainda deve enfrentar Cérbero, para<br />

quem sabe conseguir apagar o incêndio! Seria<br />

isso bíblico? Um sinal da profecia que o mundo<br />

terminará em chamas?<br />

63


IX<br />

Somente o azul


Um quadro na parede. A cidade de Camogli<br />

com seu mar adriático. Patrícia como<br />

fantasma entra pelo quadro e lá está em Camogli,<br />

na praia, encontrando-se com Mário,<br />

seu amante e cúmplice na arte de bem viver,<br />

transgredindo as normas convencionais.<br />

Ele um siciliano, inteligente, um poeta<br />

nato, ideais comunistas e um bon vivant. Ela,<br />

a Patrícia das Patrícias, sensualidade e sedução<br />

contrapondo uma era Vitoriana.<br />

Patrícia uma mulher que transcende os<br />

quadros. Passou pela História, passou pela<br />

Arqueologia, passou pela Arte, passou pelo<br />

trânsito e se travestiu de deusa Bastet no Egito.<br />

Retornou assistente social, psicóloga, rainha<br />

da dissimulação e carreirista do medo.<br />

67


Djanira Ferreira Nunes<br />

Medo do desencontro ou do encontro?<br />

Medo de sofrer com tantos sofreres. Por fora<br />

sorriso e constante juventude.<br />

Quem é essa mulher? Uma mulher que entra<br />

pelos quadros e sai ilesa? Desenvolvimento<br />

sem envolvimento. Será Patrícia o mais novo<br />

tipo de robot da atualidade? Na caixa preta dessa<br />

Robot estão emaranhados de fios desligados,<br />

outros com sinais de curtos circuitos. Há sons<br />

curiosos, como sons de cavernas profundas...<br />

Não há registros de amigos muito menos<br />

inimigos; há sim, alguns simpatizantes...<br />

Com Patrícia, tudo vai bem abrigado. Não há<br />

necessidade, não precisa se preocupar, ela dá<br />

conta de tudo, ela é autossuficiente. Capaz da<br />

gratidão e da ingratidão.<br />

Patrícia, a mulher que sempre está fazendo<br />

as malas, está sempre de partida! Qual a<br />

função desse Robot? Parece ser mesmo um<br />

robot projetado para o século XXI.<br />

Curioso seria saber, como ela fora construída,<br />

mas esta parte foi deletada da memória.<br />

A única coisa sabida desse Robot Patrícia<br />

é que fora de fato projetado para operar somente<br />

no azul. O azul da paz constante, onde<br />

ela deve manter o céu sem relampados.<br />

68


X<br />

Veneno


Jonas, homem forte, no gozo de seus quarenta<br />

anos, é uma pessoa estranha aos olhos<br />

dos outros.<br />

Gosta de ficar no seu canto, estar com<br />

os outros é mais uma obrigação do que um<br />

prazer.<br />

Andar arrastado, parece que está com<br />

as pernas aprisionadas por bolas pesadas de<br />

metal.<br />

Os conhecidos do estranho Jonas contam<br />

que ele fora picado por uma cobra venenosa<br />

que lhe injetou um fortíssimo veneno e<br />

assim depois desse incidente, nunca mais fora<br />

o mesmo...<br />

71


Djanira Ferreira Nunes<br />

Quando começa a contar suas estórias,<br />

seu semblante se transforma, sua voz alteia,<br />

fica trêmula, olhos arregalados...<br />

Já o dito popular: “Pimenta nos olhos dos<br />

outros é refresco”. Estando então, na língua do<br />

povo, que ria dele, dizendo que transforma-se<br />

como o incrível Hulk das telas da TV, sendo a<br />

única diferença a cor, ele fica vermelho! Vermelho<br />

da cor do pecado, vermelho de sangue,<br />

desejo de matar...<br />

As dores de cabeça eram uma constante,<br />

no seu dia a dia; sofria de uma colite crônica e<br />

algumas vezes voltava da rua num bosteiro só!<br />

Jonas ficava algumas horas e às vezes<br />

dias tomados pela tristeza da sua impotência,<br />

perdendo o desejo de viver, de tudo e de todos<br />

ao constatar sua impossibilidade de livrar-se<br />

do veneno que lhe fora injetado.<br />

Dia após dia, mês à mês, ano à ano, a vida<br />

vai fazendo o seu curso natural e Jonas em um<br />

viver atormentado. O respirar arfante, como<br />

se fosse um peixe fora d’água. A vida acompanhada<br />

dessa nuvem negra, densa, pesada...<br />

Jonas começa uma busca para sua libertação.<br />

Recorre à religião, mas o coração está<br />

cheio de forte sentimento, não consegue acei-<br />

72


ouro de tolo<br />

tar as respostas religiosas, perde a fé. Procura<br />

a medicina mas, os remédios o ajudam apenas<br />

de maneira ilusória, bastando parar de tomar a<br />

medicação e o incomodo veneno voltar à tona.<br />

De noite em sua cama, sua cabeça torna-se<br />

um redemoinho, um moer e remoer,<br />

quer a justiça, quer a vingança... A vingança,<br />

pensava Jonas, talvez o único caminho para a<br />

redenção...<br />

Jonas contava e recontava suas estórias,<br />

talvez na esperança de alguém fazer alguma<br />

coisa... tomar alguma providência. Sempre<br />

contando, moendo e remoendo até que um velho<br />

conhecido de Jonas, dissera a todos que<br />

conheciam a estória de cor e salteado, que ele<br />

era o dono da razão.<br />

O povo ficou sabendo então, pelo velho<br />

conhecido de Jonas, que a estória que contava,<br />

repetia, moía e remoía era verdadeira! Jonas<br />

fora vítima da maldade humana. Em muitos<br />

casos, como o de Jonas, as pessoas precisam<br />

de justiça, só conseguem livrar-se do veneno<br />

através dela. Afinal, que veneno é esse? Ora, a<br />

maldade que fora infligida à Jonas fazia com<br />

que ele produzisse um conhecido veneno chamado<br />

ódio.<br />

73


XI<br />

Cumplicidade


A cidade era muito pequena, as casas grudadinhas<br />

uma às outras para se protegerem<br />

dos ataques indígenas. Toda vez que os índios<br />

atacavam a cidade, as pessoas usavam as portas<br />

secretas e iam passando de uma casa para<br />

outra, escapando da carneficina. Nessa pequenina<br />

cidade foram herdados pela população<br />

não apenas seus monumentos, mas a cultura<br />

e a soberba dos colonizadores brancos.<br />

Nessa cidade ocorrera um fato terrível,<br />

este acontecimento se deu nos finais do século<br />

dezoito e nos inícios do século dezenove.<br />

Escolástica, única filha do casal Ambrelini,<br />

uma moça de família tradicional, de berço<br />

e moral honrada! É descoberta grávida do<br />

namorado, que escafedeu, sumiu e não que-<br />

77


Djanira Ferreira Nunes<br />

ria se casar. O safado ainda saía debochando<br />

e falando mal da moça pela cidade. A família<br />

chamou a polícia mas nada adiantou.<br />

Isto foi então mais que suficiente para<br />

uma reunião de família.<br />

A reunião dos Ambrelini foi objetiva e rápida.<br />

A moça foi desonrada e a família também!<br />

Nesses velhos tempos a solução era matar<br />

o causador de tamanha tragédia.<br />

Os Ambrelini decidiram que o irmão solteiro<br />

de Escolástica deveria matar o salardana.<br />

A honra deveria ser lavada com sangue!<br />

Era melhor que o solteiro matasse do que o<br />

irmão casado. Caso o solteiro fosse preso, não<br />

teria prejuízo a família.<br />

Um dia de sol e muito calor, lá no Fórum<br />

da cidade, muita gente circulando, inclusive<br />

o irmão de Escolástica que encontrava-se<br />

armado. Nesse meio tempo aparece o infeliz<br />

do namorado que levou uma bala certeira na<br />

cabeça.<br />

O irmão de Escolástica foge embrenhando<br />

pelas matas, pelo cerrado que naquele<br />

tempo era cerrado mesmo! Nunca fora encontrado!<br />

A cidade em polvorosa, comentários e<br />

mais comentários. O povo optou pela solida-<br />

78


ouro de tolo<br />

riedade, dando razão à família de Escolástica,<br />

afinal se acontecesse coisa semelhante com as<br />

moças de suas famílias, a conduta deveria ser<br />

a mesma!<br />

Na rua um clima de terror. Dentro de<br />

casa uma tortura aterrizadora da ladaínha<br />

dos pais:<br />

— Como você permitiu? Vagagunda! Você<br />

desonrou nossa família! O que os outros vão<br />

falar? Jogou o nosso nome na lama! Que vergonha!<br />

Que safadeza!<br />

Conta-se que uma parente de Escolástica,<br />

parteira da cidade, levava comida para o<br />

foragido da polícia. Todo mundo sabia mas<br />

ninguém viu. Assim nos velhos tempos até parecidos<br />

com os novos, o criminoso saiu ileso.<br />

Homicídio? Homicídio sim. São as culturas<br />

tecendo a herança, a loucura que vai sendo<br />

transmitida de pais para filhos, de geração<br />

para geração.<br />

79


XII<br />

Desdobramentos


Zizi chegou ao mundo como bastarda,<br />

embalada no ventre materno pelos conflitos e<br />

tensões vividos pela mãe. Zizi, o bebê negado<br />

pelo pai. Ela, o fruto de uma tragédia, o fruto<br />

da vergonha.<br />

Os bastardos, nos velhos tempos, não<br />

eram acolhidos pela sociedade e nem pelas leis.<br />

A presença de Zizi era o constante lembrete<br />

à sua família de que seu tio era o autor<br />

da morte de seu pai. Este o peso transferido<br />

para ela carregar até a sua morte.<br />

A família sobreviveu com o bode expiatório,<br />

mas essa trajédia respingou na prima<br />

casada da mãe de Zizi.<br />

Dona Sinara era mulher fogosa, mas<br />

não tinha vocação para a maternidade, teve<br />

83


Djanira Ferreira Nunes<br />

muitos filhos porque na época não existia a<br />

pílula. Dona Sinara também estava grávida<br />

quando a trajédia abateu os Ambrelini. Foi<br />

muita tristeza, decepção, indignação, revolta,<br />

dores, medos e angústias. Nessa época Sinara<br />

dera à Luz uma menina que chamavam<br />

de Malú.<br />

Malú foi um bálsamo para Zizi, cresciam<br />

paralelamente e com isso tornaram-se amigas.<br />

Zizi era levada ao casarão dos Amaro pela<br />

mãe, para visitar Sinara e brincar com Malú.<br />

Essas meninas foram brincando e crescendo<br />

juntas. Chegando a mocidade, Zizi ao<br />

completar vinte anos, o peso que carregava<br />

pela vida explodiu como fogos de ano novo e a<br />

levou para o mundo dos delírios e alucinações.<br />

A família tomou providência e a levou<br />

para um Sanatório em São Paulo. Outro acontecimento<br />

perturbador para os familiares.<br />

Dona Sinara gerou Malú com os respingos<br />

emocionais gerado pelo conflito e drama<br />

vividos pelos Ambrelini<br />

Malú já dava sinais, era uma criança<br />

agressiva, frequentou a escola até a mocidade<br />

e um dia chegou e disse que não iria mais<br />

para a escola. Estava completando vinte anos,<br />

84


ouro de tolo<br />

e como Zizi, ela entrou no mundo dos contos<br />

de fadas e por lá ficou.<br />

A família de Malú, os Amaros também<br />

providenciaram tratamento para ela: Levaram-na<br />

para o Adauto Botelho da Capital.<br />

Malú chorava muito e a família se compadeceu<br />

e levou-a de volta para o casarão<br />

onde viviam.<br />

Assim, ela recebia os remédios no seu lar,<br />

junto com a sua família e de alguma forma ela<br />

sobreviveu melhor. Já Zizi não se sabe, dizem<br />

que nunca mais voltou à sua cidade natal, ao<br />

seu ambiente e à sua família. Morreu abndonada<br />

no sanatório.<br />

Teriam as duas amigas salvo suas famílias<br />

de coisas piores?<br />

85


XIII<br />

Os girassois de Russi


Ver a plantação de girassóis de Russi, um<br />

município de Ravenna, era aos olhos de Ticiana<br />

que ali morava, um deleite, o sonho mais<br />

bonito, sonho de mulher que deseja florir e<br />

frutificar... um filme maravilhoso.<br />

Tudo era divertido, prazeroso e festivo.<br />

As cores eram vivas, o dia radioso e a noite o<br />

romantismo e o glamour imperavam. O amor<br />

estava no ar!<br />

Ticiana estava amando, mas o detalhe é<br />

que ela nem imaginava!<br />

Os olhos de Ticiana brilhavam ao perceber<br />

e sentir o amor de Maurízio por ela.<br />

Ele, um rapaz calabrês, moreno, de descendência<br />

brizantina, cabelos negros e cacheados,<br />

era a versão masculina de Ticiana.<br />

89


Djanira Ferreira Nunes<br />

Um casal bonito. A vida dos dois era ser feliz<br />

na cama.<br />

Ticiana sempre alegre, sorridente, bem<br />

humorada e mais feliz com o amor de Maurízio,<br />

um dia é pega de surpresa e algo curioso<br />

lhe acontece, ela perde sua capacidade tão peculiar<br />

de falar, ficara muda! Emburreceu e se<br />

deu conta do seu amor por Maurízio!<br />

Depois que começou sentir o amor, não<br />

se deu mais o direito de se mostrar, perdeu a<br />

espontaneidade, não conseguia expressar o<br />

que queria nem o que pensava, ficou presa do<br />

desejo de Maurízio, entrou numa frequência<br />

emocional que não tinha consciência, desconhecida,<br />

ficando paralisada pelo amor!<br />

Não sabia nem conseguia se articular<br />

amando.<br />

Vivendo o amor enquanto uma estranha<br />

magia, se percebe bela, seios volumosos e exuberantes,<br />

um corpo lindo, estava sentindo a<br />

plenitude... estava sensível aos perfumes e odores<br />

até que se deu conta de seu novo estado...<br />

Sentiu medo, como dizer isso para Maurízio?<br />

Pensou que fosse melhor nada dizer, quem<br />

sabe poderia depois escrever uma carta... pensou<br />

que fosse melhor e guardou segredo...<br />

90


ouro de tolo<br />

Sua amiga Vera dizia que não era justo,<br />

nem honesto, que Ticiana não poderia esconder<br />

esse fato de Maurízio, era uma parte dele<br />

que vivia...<br />

Ticiana se preparou muito para contar<br />

essa novidade, até que encontraram-se, e lá<br />

na cama onde foram muito felizes ela com<br />

muito receio revelou a Maurízio o seu estado<br />

interessante...<br />

Maurízio recuara assustado e lhe disse:<br />

— Você não tinha o direito de fazer isso<br />

comigo! Ficou arrasado, perdido! Vendo a reação<br />

do seu amor, a frágil e insegura Ticiana<br />

que já tinha perdido o direito de se posicionar,<br />

recolheu-se mais ainda dentro de si mesma,<br />

na mais profunda solidão, desamparo e tristeza<br />

ao ver a rejeição do seu amado.<br />

Quis sumir, desaparecer, morrer.<br />

Arrependeu-se de ter dito e pensou que<br />

seria melhor se ela tivesse calado!<br />

Encontrou-se com um padre ligado ao<br />

vaticano e lhe fez confidências sobre o seu estado,<br />

esperando apoio e força para seguir sozinha.<br />

O padre revelou-se um grande preconceituoso<br />

e lhe disse:<br />

91


Djanira Ferreira Nunes<br />

— Para você pode ser bom ter um filho<br />

mas para ele não será bom, ele não terá um<br />

pai. Não é justo para ele.<br />

Aqui temos um procedimento que é permitido<br />

por lei, é melhor que seja assim...<br />

Ticiana preocupada com a aceitação do<br />

namorado e querendo livrá-lo de sua angústia<br />

contou-lhe a conversa com o padre e ele lhe<br />

disse duramente:<br />

— E o que você está esperando?<br />

Fora um dia triste, o inverno chegara no<br />

seu coração, ela sozinha no hospital, foi atendida;<br />

enquanto aguardava a sua vez teve ímpeto<br />

de fugir, mas fugir para onde? Pensou na<br />

família e visualizou-se condenada e massacrada,<br />

seu filho condenado às relações da exclusão,<br />

sem referências...<br />

Quem mais que Ticiana conhecia a exclusão?<br />

Fora arremessada à primeira e antiga<br />

fenda da rejeição materna...<br />

Cedeu. Não viu a saída. Sua amiga Vera<br />

aconselhou que não deixasse sua cabeça embrenhar-se<br />

nos sentimentos tenebrosos e às<br />

vezes sem volta da culpa. Estava triste, parte<br />

de si morrera.<br />

92


ouro de tolo<br />

Encontrou com Maurízio, mas ela perdera<br />

o encanto, não conseguia sentir bem com<br />

ele, abriu-se um enorme abismo entre os dois<br />

e para ela tudo acabou.<br />

Para Ticiana, o acontecido fora o registro<br />

da confirmação que o amor era perigoso<br />

e enganoso, coisa de meter medo mesmo! Assim<br />

para ela isso tornou-se um estresse pós<br />

traumático. Seu coração fechou para o amor,<br />

seu corpo perdeu o balanceio e tornou-se cética<br />

ao amor.<br />

Ticiana faz suas malas para partir, ao sair<br />

contempla e deixa para trás e para sempre os<br />

girassóis de Russi.<br />

93


XIV<br />

O mini armário


A polícia fora chamada. Um caso estranho<br />

e inusitado ocorrera nas imediações do<br />

Córrego Manoel Gomes: foi encontrado ali<br />

um corpo vivo de um homem dentro de uma<br />

placenta humana! Deixaram junto com ele um<br />

mini armário.<br />

A cidade, um patrimônio histórico, agora<br />

mais que nunca o centro das atenções do<br />

mundo, encontrava-se em polvorosa tecendo<br />

as muitas hipóteses do caso, uns falavam em<br />

fins dos tempos, outros acreditam em ser extra<br />

terrestre e alguns em aberrações da natureza.<br />

Os muitos curiosos e incrédulos que lá<br />

estiveram, surpreenderam-se quando a perícia<br />

local ao retirar o homem da placenta, per-<br />

97


Djanira Ferreira Nunes<br />

cebendo que ele deveria ter por volta de uns<br />

sessenta e um anos de idade!<br />

Oh meu Deus!!! O que é isso?! Que fenômeno<br />

seria esse?!<br />

Aborto não seria, era um homem já velho;<br />

seria o filho de um ato humano de zoofilia?<br />

Seria um extra terrestre deixado ali para<br />

incorporar-se à atmosfera terrestre? Também<br />

não, o homem que ali dormia profundamente<br />

o sono sereno dos justos, era humano.<br />

A perícia decidindo esperar que o homem<br />

acorde naturalmente, chega à conclusão<br />

que a chave principal desse enigma era o mini<br />

armário.<br />

O mini armário, peça que acompanhava<br />

o homem, é de cor rubra escura e de madeira.<br />

Possui chave, mas ela estava dentro do armário<br />

e ele encontrava-se aberto. Dentro dele havia<br />

objetos antigos: um livro, uma ampulheta,<br />

uma trena, uma bússola, uma lamparina e<br />

duas asas, talvez de anjos.<br />

A perícia local achou por bem entregar o<br />

caso para um bom detetive.<br />

A detetive, isso mesmo, era uma mulher...<br />

Glads é o seu nome.<br />

98


ouro de tolo<br />

Glads depois de muito examinar, analisar<br />

e reanalisar o conteúdo do pequeno armário,<br />

compreendeu revendo o livro da estória daquele<br />

homem, estórias de muito choro, dores,<br />

ódio, impotência, incapacidade, injustiças,<br />

imaturidade, incompletude, cisões; mas compreendera<br />

que o livro já estava ultrapassado,<br />

não era mais a vida daquele homem. Também,<br />

ao examinar a ampulheta que marcava o tempo,<br />

vendo que a estória era registrada sistematicamente,<br />

uma vez por semana, durante<br />

cinquenta minutos!<br />

A trena, que servia para tirar medidas, tirou<br />

as medidas daquele homem e também lhe<br />

deram novas medidas... a bússola ensinou-lhe<br />

um novo oriente, a lamparina substituiu os<br />

seus olhos quando ainda não podia enxergar<br />

e as duas asas, era a liberdade, o mais novo<br />

recurso da alma daquele homem.<br />

Uma vida inteira em gestação, agora está<br />

pronto, quando abrir os olhos deparando com<br />

a saúde, uma nova vida será o cenário desse<br />

homem gestado em consultório!<br />

99


XV<br />

Os náufragos da internet


O sonho acordado é o mediador do<br />

internauta.<br />

Ora, a velha Jane ainda queria buscar a<br />

vida em lugares distantes. Entra num “CHAT”<br />

e inicia a viagem.<br />

— Hello, I am Michael Robin from New<br />

York. Nice to meet you.<br />

— Hello, am Jane from Goiânia, fine, nice<br />

to meet you too.<br />

Quando Jane acionou o facebook de relance<br />

apareceu o Zoosk, um site de relacionamento<br />

com foto de Michael Robin que dizia:<br />

“my life from now. I want to have a Woman<br />

that can love me and be faith full to me alone<br />

ready to take care and stay beside me forever.<br />

103


Djanira Ferreira Nunes<br />

I hate people. I have people lying and deception.<br />

I need real Woman…”<br />

Um homem procura uma companheira e<br />

conta que perdeu sua esposa atropelada por<br />

um ônibus há dois anos. Diz também ter um<br />

filho chamado Kelvin de nove anos de idade.<br />

Michael conta que no momento está em<br />

uma missão de paz na Síria e que seu filho<br />

Kelvin é cuidado por pessoas que ele paga<br />

para acompanhar e educar.<br />

Inúmeros diálogos confusos, medos e<br />

desconfianças. Jane pensava: Será um louco?<br />

Um estelionatário? Um bandido? E nas idas e<br />

vindas dessa navegação rumo à estrela Incógnita<br />

vai-se delineando uma conversa com um<br />

pouco mais de coerência.<br />

Michael: Estou tendo um bom dia aqui<br />

agora, ontem à noite uma emergência aconteceu,<br />

houve uma invasão por ISIS na Igreja<br />

mais próxima perto do nosso acampamento,<br />

tivemos que correr lá para ajudar.<br />

Jane: O que é ISIS?<br />

Michael: ISIS é um grupo de extremistas<br />

que se escondem sob o disfarce do Islã para<br />

realizar seu ato ilegal em nome da luta contra<br />

a opressão acidental.<br />

104


ouro de tolo<br />

Michael: — “So tell me Jane is there any<br />

man in your life that you might have feelings<br />

for or Would love to be with soon”.<br />

Jane: — Tentei traduzir o que me escreveu<br />

em inglês e isto é o que tenho a dizer: Vou<br />

ser sincera, eu não tenho nenhum homem na<br />

minha vida. No meu íntimo eu gostaria sim de<br />

ter um relacionamento, uma família. Quando<br />

minha mãe falecer, eu vou ficar sozinha no<br />

mundo, no sentido que tenho duas famílias,<br />

mas no meu caso eu não tenho nenhuma.<br />

Queria sim ter uma nova vida, viver coisas<br />

que ainda não pude viver.<br />

Tenho disposição e coragem apesar da<br />

minha idade não ser uma boa coadjuvante. Só<br />

que a questão é que tenho a minha missão de<br />

cuidar da minha mãe até o seu final. Disso não<br />

abro mão. Como já havia dito, eu casei com minha<br />

mãe, só poderei casar quando ficar viúva.<br />

Ter alguém aqui não é impossível mas tenho<br />

o coração fechado. Se tivesse um homem<br />

por aqui sei que no momento é algo difícil, pois<br />

agora estou envolvida demais, com toda minha<br />

energia no acompanhar da decadência e a<br />

morte da minha mãe. Portanto, gosto da ideia<br />

do “CHAT”, de conversar, trocar ideias, pala-<br />

105


Djanira Ferreira Nunes<br />

vras afetivas à distância sem que isso me absorva<br />

muito. Assim penso que até possa existir<br />

uma real possibilidade de relacionamento.<br />

Michael: “Sonhos e esperanças do amanhã<br />

nunca morrerá, contando que você acredita<br />

em si mesmo e siga seu coração”.<br />

Bondade em seu coração irá guiá-lo para<br />

realizar muitas coisas na vida e superar todos<br />

os desafios e todos os obstáculos.<br />

Nunca desista, sempre tenha fé em si<br />

mesmo, e você vai ganhar o maior presente de<br />

todos, o dom da esperança e do amor que você<br />

merece com justiça.<br />

Quero que saiba que tudo o que você pode<br />

fazer no futuro, nunca deixe ninguém atrapalhar<br />

a perseguir seus sonhos.<br />

Eu sei que você sempre terá a família e<br />

amigos a depender sempre que você precisar<br />

deles. Não importa o que você pode decidir fazer<br />

na vida, eu estarei lá para ajudar, apoiar e<br />

cuidar de você.<br />

Só desejo o melhor meu querido Jane.<br />

Bom dia, minha linda e tenha um dia amar a<br />

mesmo.<br />

Nessa comunicação pelo Chat vai surgindo<br />

um navegante animado, curioso, in-<br />

106


ouro de tolo<br />

vestigativo, revelando um perfil interessante;<br />

gosta de surpreender e de surpresas, do inusitado,<br />

do diferente. Um espírito aventureiro,<br />

docilidade, amigável, encorajador, solidário e<br />

em contra partida anestesia-se com vinho e<br />

whisky para suportar o insuportável. Suportar<br />

demandas no seu dia a dia, no seu dito<br />

trabalho militar. Um apelo amoroso intenso<br />

e grudento. Medo oscilante confiança. É o<br />

Michael ou é a Jane?<br />

Michael: “Você está certo sobre isso meu<br />

amor. Eu estou cansado da vida militar, tenho<br />

dedicado muito da vida para o meu conutry<br />

eu sei que eles vão vir para mim com oferta<br />

tentadora, mas a minha família mais importa<br />

this time! Terá que deixar que os outros comer<br />

e carrrei a carga se eles querem adivce e<br />

apoio moral como executar os assuntos de segurança<br />

vou contente ajuda para fora, mas eu<br />

acho que é hora de eu deixar cair o manto de<br />

loadetship e se concentrar em construir uma<br />

bela família do meu próprio amor que é o que<br />

eu vou fazer.<br />

Mel eu sou cansado de servir meu país eu<br />

quero começar o meu processamento de documentos<br />

de aposentadoria logo que eu puder”.<br />

107


Djanira Ferreira Nunes<br />

Jane: Sim, se está chegando o seu direito<br />

por lei para aposentar, é justo. Afinal depois<br />

de aposentado você pode traçar novo projeto<br />

de vida para se sentir útil, porém com coisas<br />

mais leves e prazerosas.<br />

Michael: “você está muito certo sobre<br />

isso mel i será muito compensa os mais anos<br />

de serviço que eu vou pensar em algo agradável<br />

e decente para investir a minha recompensa<br />

que será a geração de renda para nós.<br />

Jane: Tudo tem seu tempo, importante é<br />

ir trabalhando para atingir a meta desejada<br />

para o futuro próximo<br />

Michael: “Mel obrigado por esta doces<br />

palavras. Você me faz querer chorar quando<br />

você diga-me todas estas coisas. Eu te amo<br />

muito meu amor e minha oração é que o bom<br />

Senhor irá manter forte para ser seguro e confiável<br />

para cumprir todos os nossos desejos do<br />

coração”.<br />

Jane: Tudo faremos com calma e cautela,<br />

não daremos nenhum tiro no escuro, Deus vai<br />

iluminar e mostrar o caminho. Toda perspectiva<br />

de mudança é natural uma certa ansiedade,<br />

mas é exatamente a ansiedade é que nos<br />

move para realizar o desejado.<br />

108


ouro de tolo<br />

Michael: “Mel eu estou contente de ouvir<br />

esta você é uma mulher de substância e estou<br />

feliz em conhecê-lo”.<br />

Michael: “Querida, eu tenho um email do<br />

zelador de Kelvin dizendo que ele está doente<br />

que foi levado para o hospital, por favor me<br />

escreva como você pode ok”.<br />

Jane: O que aconteceu com ele?<br />

Michael: Eu não sei querida, ela apenas<br />

enviou esse email e eu não posso fazer chamadas<br />

aqui agora, estou esperando para ouvir<br />

mais de qualquer minuto.<br />

Jane: Quando souber me participe, provavelmente<br />

nada muito grave.<br />

Michael: Mel a última vez que eu vi, do<br />

zelador ela disse que os médicos ainda estão<br />

examinando ele e ela está esperando para ouvir<br />

uma palavra deles Mel. Estou tão preocupado<br />

agora. Eu rezo para nada de errado deve<br />

ter acontecido com o nosso menino.<br />

Jane: Criança as vezes pega alguma infecção<br />

ou machuca com alguma brincadeira,<br />

mais ainda bem que ele tem pessoas por perto<br />

cuidando. O lugar tem recursos e se te avisaram<br />

é porque você é o pai, e eles tem responsabilidade<br />

de deixar você a parte.<br />

109


Djanira Ferreira Nunes<br />

Michael: Sim querida, eu sou grato a<br />

Deus que Kelvin tem um cuidador muito bom,<br />

ela tem sido uma mãe para o nosso menino,<br />

ela disse que ele apenas desmaiou e não estava<br />

respondendo, por isso que ela correu para<br />

o hospital.<br />

Jane: Criança as vezes pega infecção.<br />

Michael: Sim, querida, eu só rezo para<br />

que não seja algo sério para os médicos lidarem.<br />

Estou tão preocupado agora. Eu não<br />

quero que nada aconteça. Esse garotinho ele<br />

é tudo que eu tenho querida, eu não posso me<br />

dar o luxo de perder o Kelvin agora.<br />

Jane: Se desmaiou é bom saber o motivo.<br />

As vezes ficou muito tempo sem alimentar,<br />

brincando com os coleguinhas. Não vai perder,<br />

crianças respondem bem a tratamentos, e<br />

ele está onde a medicina tem tantos recursos.<br />

Michael: Tudo bem, querida, eu acredito<br />

nisso e continuarei orando por ele e espero<br />

ouvir boas notícias em breve.<br />

Jane: Sim, tudo vai dar certo. Eu já estou<br />

em casa com a mãe, você viu o resultado das<br />

orações e também a reação ao tratamento de<br />

uma pessoa com 95 anos.<br />

110


ouro de tolo<br />

Michael: Eu acredito tão querida. Estou<br />

feliz em saber que sua mãe está de volta em<br />

casa segura, Deus é ótimo.<br />

Michael: Olá, querida, eu não pude sair<br />

do acampamento para ligar para o zelador,<br />

por causa dos tiroteios, querida, aqui está o<br />

número de telefone do médico, por favor me<br />

ajude a chamá-lo e perguntar o que está acontecendo<br />

com o nosso Kelvin. Querida, aqui<br />

está o número do médico +1616-319-0938 por<br />

favor, ligue para ele agora, eu falarei com você<br />

mais tarde. Eu te amo. Beijos.<br />

Jane: Teve notícias do Kelvin.<br />

Michael: Sim meu, eu tenho notícias de<br />

acordo com o zelador o médico disse depois de<br />

alguns executando algum texto e digitalização<br />

do médico disse que Kelvin está sofrendo de<br />

angina.<br />

Michael: Querida, eu não estava com<br />

fome, porque o problema de Kelvin me preocupou<br />

o dia todo. Estou um pouco aliviado<br />

agora que o médico disse que as drogas e um<br />

bom descanso farão bem.<br />

Os dois internautas viajaram muito: Brasil,<br />

Kriemb, Beirute, Portugal, Iraque, Afegão,<br />

Roma, Mogadíscio na Somália, Alemanha,<br />

111


Djanira Ferreira Nunes<br />

Vietnã, Paris, Madri, Bruxelas, Suíça, USA,<br />

Líbia, Egito, Israel, Grécia...<br />

As palavras ditas emergem das águas<br />

profundas... e os dois internautas reféns dessas<br />

águas...<br />

Haverá salvação? Quem se salvará?<br />

112


XVI<br />

Caixinha de surpresas


Ramão gostava muito de pesquisa e nesse<br />

momento está interessado em como o ser<br />

humano pode ser uma caixinha de surpresas,<br />

sejam elas boas ou ruins. Como pequena<br />

amostra, selecionou alguns comportamentos<br />

e atitudes observados no cotidiano da família<br />

do casal Vitor Platão e Malvina Sapiência, e de<br />

seu filho Januário Sapiência Platão.<br />

Foi visto e observado no dia a dia, no cotidiano<br />

familiar que Januário era um pequeno<br />

ladrão. Entrava sorrateiro pelo quarto dos<br />

avós e sempre conseguia surrupiar alguns trocados.<br />

Aprendera isso em casa na relação com<br />

seus pais. Malvina Sapiência era uma mãe que<br />

constantemente reclamava das cerestias, uma<br />

ladainha infernal sobre a falta do dinheiro e<br />

115


Djanira Ferreira Nunes<br />

de coisas que precisavam em casa. Vitor Platão,<br />

o pai, cara franzida, olhos no horizonte,<br />

mudo, angustiado, fumando. Malvina falando<br />

em dinheiro, que precisava tomar emprestado,<br />

que algum cristo deveria ser nomeado e assim<br />

com tantos malabarismos tirava dinheiro até<br />

do oco do pau!<br />

Tia Dalva sempre dizia em sua sabedoria:<br />

— A falta de dinheiro acaba até com o<br />

amor! Januário aprendera que o dinheiro apaziguara<br />

as querelas do lar, as pessoas ficavam<br />

amáveis. Sua mãe Malvina, língua grande de<br />

anuros, fazia muitas armações e armadilhas<br />

para seguir rumo à sua ambição de reinar em<br />

algum palacete. Camaleoa, comprando imóvel<br />

de mãos de familiares dava-se o direito de pagar<br />

como queria ou até mesmo de não pagar,<br />

deixando o outro no prejuízo! Ocorreu também<br />

que outro familiar ganhasse em sorteio<br />

uma vaca, mas não tendo onde colocar o animal,<br />

Malvina, que estava presente logo ofereceu<br />

o seu pasto e algum tempo depois dá o seu<br />

recado: — Pasto meu, sal meu, vaca minha!<br />

Assim, foi Januário aprendendo com sua mãe<br />

a arte da esperteza, da tapeação e do roubo.<br />

Bem mais tarde Januário manipula seus inte-<br />

116


ouro de tolo<br />

resses junto às pessoas, usando seus intentos<br />

nos âmbitos da lei.<br />

Ramão concluiu que tudo começa em<br />

casa, e que a história de vida e a vida vivida<br />

muito contribui para que o ser humano seja<br />

sempre no viver, uma caixinha de surpresas.<br />

117


XVII<br />

O presente de Galápagos


O animal de estimação é um canal de expressão<br />

de afetos para quem tem a oportunidade<br />

de conviver, estar perto e em companhia<br />

de um animal escolhido ou até mesmo recebido<br />

de presente.<br />

No caso, a princípio era apenas um animal<br />

que fora removido da casa da família Ambrellini<br />

para a nova família dos Amaro.<br />

O bicho transportado pelos Amaro era<br />

um jabuti.<br />

Calcula-se seu nascimento em meados do<br />

século XIX, tendo no mínimo cento e trinta<br />

anos de idade (130) e no máximo cento e cinquenta<br />

anos (150).<br />

É verdade, devagar se vai ao longe, o jabuti<br />

esteve presente em três gerações dos Ama-<br />

121


Djanira Ferreira Nunes<br />

ro ou seja, meados do século XIX, século XX<br />

e inicios do século XXI quando de sua morte<br />

em 20/09/2015.<br />

Este animal sempre foi chamado de<br />

jabuti, nunca lhe deram um nome ou apelido<br />

como é feito comumente com um animal de<br />

estimação.<br />

Era esse jabuti um animal de estimação?<br />

É controverso dizer que fora um animal de estimação,<br />

fora sim, por três gerações objeto de<br />

curiosidade e especulação.<br />

Vamos viajando no tempo e visualizando<br />

-o no seu cenário: Um quintal razoavelmente<br />

grande, cheio de arvores frutíferas: mangueiras,<br />

cajueiros, pitangueiras, amoreira,<br />

jabuticabeiras, mamoeiro, pé de mangustã.<br />

Inúmeras plantas como a murta, jasmineiro,<br />

bougainville. Existia nesse cenário também<br />

os coqueiros e o bambuzal. Tudo isso ladeados<br />

por muros feitos no tempo da escravidão, à lateral<br />

do grande casarão. Água corrente vindo<br />

de rego que desaguava no córrego Manoel Gomes...<br />

Lá, o jabuti reinava absoluto.<br />

Nesse quintal, os visitantes dos Amaro<br />

sempre queriam ver o famoso e falado jabuti.<br />

Crianças, adultos e velhos, todos encantados,<br />

122


ouro de tolo<br />

fazendo experiência de subir no seu casco e<br />

ser arrastado pelo jabuti. Fotos e mais fotos.<br />

O tempo fora passando, muitos acontecimentos<br />

naquele cenário, vândalos entraram<br />

no quintal à noite e tentaram mata-lo. Ficou<br />

com marcas em seu casco. A família Amaro<br />

o salvou. Em outra ocasião, no queimar as folhas<br />

secas das árvores, que estavam em grandes<br />

amontoados, foi posto fogo e o jabuti saiu<br />

debaixo das folhas em chamas!<br />

Fugira várias vezes de seu habitat, sendo<br />

encontrado às margens do córrego Manoel<br />

Gomes e às vezes na porta principal do casarão<br />

comendo jabuticabas... para alegria geral<br />

era sempre encontrado! Esse andarilho devagar<br />

vai ao longe!<br />

Velho e já enxergando pouco ainda circulava<br />

com dificuldades pelo seu lar. Repousava<br />

e buscava proteção em um buraco junto ao<br />

muro e aos bambús, perto do rego de água corrente.<br />

Ora, a velhice do jabuti pode ser comparada<br />

à de um homem velho, com todas as mazelas<br />

da velhice, baixa visão, dificuldades de<br />

movimento, menor resistência... O jabuti de<br />

certa forma apesar de poucos lhe darem algumas<br />

provisões, que não foram suficientes, po-<br />

123


Djanira Ferreira Nunes<br />

de-se dizer que morreu em consequência do<br />

abandono. Similar ao homem idoso abandonado<br />

para prover sua própria sobrevivência...<br />

Assim em um triste dia caiu em um buraco e<br />

velho, fraco, debatendo-se para virar seu corpo,<br />

pois fora encontrado de pernas para cima<br />

ou para o ar, não aguentou o esforço, o terrível<br />

calor do sol e a sede. Afinal quantos dias ficou<br />

ali até ser encontrado? Morreu acidentado.<br />

O surpreendente foi a reação da família<br />

Amaro, amigos e simpatizantes. Todos enviando<br />

mensagens pelo facebook, lamentando<br />

a morte do jabuti! Muitos não queriam acreditar!<br />

Parecia até a perda de uma pessoa muito<br />

cara... uma grande comoção! Alguns pediram<br />

para depois de putrefato guardar o seu casco,<br />

outros sugeriram embalsamá-lo e assim<br />

às pressas, pois já falavam em mal cheiro, foi<br />

resolvido fazer o empalhamento, e então com<br />

sua morte o jabuti foi consagrado como animal<br />

de estimação.<br />

Um jabuti tão querido, personagem do<br />

imaginário infantil de muitos.<br />

124


XVIII<br />

O apagar das luzes


Sofia gostava de ir para a cidade onde<br />

nascera.<br />

Viajava sempre em companhia da filha,<br />

mas sempre comunicava em tons de pesar sua<br />

percepção que a cada novo ano sua rotina estava<br />

ficando mais reduzida.<br />

Disse: — Agora a única viagem que fazemos<br />

é para cá...<br />

Quando estava na sua casa onde passava<br />

as férias, comentava que sentia o corpo cansado,<br />

começava a chorar e dizia em tom de<br />

desespero: — Eu já não estou mais aguentando!<br />

Meu corpo já não está dando conta! Uma<br />

comunicação com um misto de dor, tristeza e<br />

terror ao constatar o gradativo murchar.<br />

127


Djanira Ferreira Nunes<br />

Entre idas e vindas, estando na capital,<br />

ela quieta, sentada em uma cadeira, comenta<br />

pensativa que sua cabeça estava estranha, esquisita,<br />

algo estava ocorrendo...<br />

Levada ao geriatra, ele dizia que tudo estava<br />

bem, que estava assim por causa da cegueira<br />

e que eram os sinais de muita idade.<br />

Com o correr das águas por debaixo da<br />

ponte, começou a sentir dores e mais dores<br />

nas pernas e a geriatra interna Sofia no hospital.<br />

Uma dor profunda e intensa que só passou<br />

com a administração de vários remédios, entre<br />

eles o tramadol.<br />

Dezoito dias internada, quando volta<br />

para casa deixa de caminhar, já não consegue<br />

andar, à menos que seja pouquíssima distância<br />

e segurando-a. De andante a cadeirante!<br />

Nos princípios de novembro, início das<br />

chuvas, sua filha levou-a em sua companhia<br />

para dar uma volta de carro aproveitando a saída<br />

para buscar o documento de seu interesse.<br />

A filha de Sofia parou o carro e um chuvisqueiro<br />

fininho iniciava. Pediu sua mãe para<br />

aguardar cinco minutos para buscar um documento<br />

que necessitava.<br />

128


ouro de tolo<br />

Quando Afrodite voltou ao carro, a chuva<br />

aumentou e ela percebe que Sofia está preocupada<br />

e lhe pergunta:<br />

— Onde está Afrodite? Afrodite responde:<br />

— Mãe, sou eu, estou aqui. Sofia responde:<br />

— Eu sei que é você, mais tem a outra<br />

Afrodite pequenininha... ela ficou sozinha lá<br />

em casa!<br />

Afrodite achou tudo isso muito estranho<br />

e voltaram para casa.<br />

Ao chegar em casa, Sofia continua dizendo<br />

que é preciso encontrar a Afrodite pequenininha<br />

pois ela não estava em casa, ficou lá<br />

fora na chuva, perdida!<br />

Começa então, a entrar em estado de pânico,<br />

desespero, chorar, implorar para chamar<br />

a polícia, pede para telefonar para Lolita sua<br />

irmã, pois dizia que precisava ser feita alguma<br />

coisa, em verdadeiro desespero!<br />

Afrodite percebendo que não conseguia<br />

acalmá-la, tranquilizá-la em sua aflição, ligou<br />

imediatamente para a geriatra que de pronto<br />

atendeu-a em domicílio, medicando-a; tentou<br />

conversar com ela, mas Sofia estava em<br />

grande ânsia e a geriatra confessa à Afrodite<br />

que estava surpresa com aquele acontecimen-<br />

129


Djanira Ferreira Nunes<br />

to, aquele quadro. Assim, esse, o fato de um<br />

marco de uma nova etapa na existência: o distúrbio<br />

nos dados arquivados na cronologia do<br />

tempo da vida de Sofia.<br />

Há quem diga que quando corremos o<br />

risco de entrar ou perceber uma realidade à<br />

nossa volta que nos seria esmagadora, insuportável,<br />

o saber interno toma as providências<br />

para anestesiar ou até mesmo gerar mecanismos<br />

de um viver com menos dores... Seria?!<br />

O caminho do murchar e fenecer é constituído<br />

de tristezas, pesares, da dor de querer<br />

ficar na vida e não poder. De tomar consciência<br />

de uma partida sem volta. Medo do<br />

desconhecido!<br />

Nos relâmpagos e trovoadas os dados dos<br />

tempos misturam-se, confundem-se e às vezes<br />

vem organizados, um vai e vem que surpreende<br />

e traz novas surpresas...<br />

Sofia chama, diz, pergunta:<br />

— Malú! Vocês viram Malú?<br />

— Malu já jantou?<br />

— Quem é essa menininha que está aqui?<br />

Não há ninguém, mas para ela sempre<br />

aparecem pessoas.<br />

— Papai já saiu?<br />

130


ouro de tolo<br />

— Chama os meninos para almoçar!<br />

— Recolhe as roupas no arame, vai chover.<br />

— Bendito! Trás Malú de lá, não deixa ela<br />

com essa negraiada não.<br />

— Tira Malú de perto dessa catraia, qualquer<br />

um faz ela de besta lá...<br />

— Hein moço!? Cê tá qui nesse lugar,<br />

eu tomei seu lugar?! Agora fica olhando para<br />

mim, vai para lá! Lá tem lugar!<br />

Quatro horas da madrugada:<br />

— Tem alguém aí? Tô com medo...<br />

Socorro!<br />

Dores, gemer, gemura.<br />

Eu quero ir ao médico, minha vista dói.<br />

M uda de posição, giro para direita e<br />

esquerda.<br />

E pede água, bebe em pequenos e poucos<br />

goles.<br />

Na doença, ainda aparece auto estima.<br />

Consciência e inconsciência flutuantes.<br />

Imaginações, sonhos, alucinações...<br />

Amanhece. Como será esse dia?<br />

131


Djanira Ferreira Nunes<br />

A maioria das pessoas desapareceram,<br />

raros telefonemas... Vizinhos perguntam se<br />

Afrodite é a única familiar.<br />

O murchar e o fenecer mobiliza sentimentos...<br />

ou seria uma sina da natureza humana?<br />

Só restam as formalidades... na sua morte<br />

haverá certamente parentes e amigos no<br />

enterro.<br />

132


XIX<br />

Prelúdio


Jarbas estava em casa com a certeza que<br />

não podia sair e de súbito se dá conta que está<br />

só e que se quiser é livre para o ir e o vir.<br />

Nesse mesmo instante veio uma imagem<br />

de cordas desatando de sua cintura, a corda<br />

afrouxara, estava livre.<br />

Quem é o Jarbas hoje e quem será o de<br />

amanhã? Pensou Jarbas ao sair com a chave<br />

nas mãos pela noite.<br />

As cordas afrouxaram anunciando a<br />

separação.<br />

Ele estava se libertando de um estado<br />

emocional que o deixava em con-fusão, estado<br />

fucional que o ligava ao irmão Bernardo,<br />

trinta e quatro anos mais velho do que ele.<br />

135


Djanira Ferreira Nunes<br />

São duas pessoas, mas mentalmente viviam<br />

como uma só pessoa, sendo emocionalmente<br />

irmãos siameses.<br />

Jarbas segue caminhando triste e vazio,<br />

alienado em si mesmo, com uma angústia fina<br />

e cortante como um punhal que dilacera o seu<br />

peito.<br />

Jarbas tem uma sensação de ser tragado<br />

por um túnel do tempo que se abrirá no<br />

universo...<br />

Bernardo entra em um estágio terminal e<br />

caminha para deixar esse mundo...<br />

A ligação entre Jarbas e Bernardo está na<br />

berlinda, só a morte para acabar com a fusão<br />

e fazer a separação definitiva.<br />

Qual será o impacto da energia de Jarbas<br />

que fora depositada em Bernardo quando ela<br />

retornar de volta para Jarbas?<br />

Seria um impacto similar aos meteoros<br />

que atingiram a terra, dizimando os<br />

dinossauros?<br />

136


XX<br />

Recortes históricos e mais


Colocar legenda


Maria Soares de Camargo filha de Benedito<br />

Soares de Camargo e Helena Alexandrina<br />

Salgado de Camargo. Nascida na cidade<br />

de Goiás em 18 de maio de 1921. Pertencente<br />

a uma numerosa família de treze irmãos.<br />

Residiu à Rua do Comércio nº 27 (antiga Rua<br />

d’Água), atual rua Professor Ferreira, depois<br />

mudou-se provisoriamente com a família para<br />

a Praça do Asilo atual Irmã Maria Gabriella,<br />

casa nº 10. Em 11 de outubro de 1930 mudouse<br />

com a família para a Chácara Moisés na cidade<br />

de Goiás.<br />

Sua religião é a Católica Apostólica<br />

Romana.<br />

Fez seus estudos na cidade de Goiás. Estudou<br />

no Grupo Escolar Municipal, Escola<br />

141


Djanira Ferreira Nunes<br />

Complementar ao Ensino Normal e Escola<br />

Normal Oficial, onde iniciou o curso de normalista,<br />

terminado no Colégio Sant’Ana das<br />

Irmãs Dominicanas devido à mudança para a<br />

capital da Escola normal Oficial.<br />

Moça prendada de sua época, sabia o crochê,<br />

o bordado, o frivolité, o tricô, o bilro, a<br />

pintura em tecidos e utensílios e a costura. Estudou<br />

piano com a grande mestra Nhanhã do<br />

Couto e tocou-o a quatro mãos com a pianista<br />

Belkiss Spenciére em um recital promovido<br />

pela referida Mestra.<br />

O histórico profissional começou na Prefeitura<br />

Municipal da cidade de Goiás, no cargo<br />

de professora Municipal, no período de 12 de<br />

abril de 1940 a 08 de agosto de 1941 conforme<br />

a portaria nº 241/1940, designada a professora<br />

do grupo Escolar “Professor Nhola”. Foi contratada<br />

para o cargo de Secretaria da Sucursal do<br />

Lyceu de Goiaz em 08 de agosto de 1941. Nomeada<br />

pelo decreto nº 4758 de 11 de setembro<br />

de 1941. Secretaria padrão H interino. Efetivada<br />

no referido cargo em 05 de outubro de 1942,<br />

pelo decreto nº 6500. Frequentou o curso para<br />

secretaria de estabelecimento de ensino secundário,<br />

promovido pela Diretoria do Ensino<br />

142


ouro de tolo<br />

Colocar legenda<br />

143


Djanira Ferreira Nunes<br />

Secundário em Goiânia em julho de 1956, de<br />

acordo com o artigo 4º, alínea f. da portaria nº<br />

960, de 29 de novembro de 1954. Recebeu certificado<br />

da 1ª Jornada de Diretores de Escolas<br />

Secundárias, instituída pela Divisão de Ensino<br />

do Segundo Grau, da Secretaria do Estado da<br />

Educação e Cultura do Estado de Goiás, realizada<br />

em Goiânia em 1957.<br />

Pela portaria nº 224/64 de 11 de setembro<br />

de 1964, foi designada para exercer a função<br />

de Diretora do Colégio Estadual de Goiás,<br />

a partir de 04 de março de 1964, cargo<br />

que exerceu até 17 de março de 1965; sendo<br />

a primeira diretora do Lyceu após a mudança<br />

de prédio. Em relação à sua dedicação ao<br />

Lyceu, foi-lhe oferecido pelo compositor Euler<br />

d Amorim, o Hino do Liceu escrevendo: “À<br />

distinta Srta. Maria Soares de Camargo, que<br />

tantas vezes tem dirigido o Lyceu com toda<br />

dedicação, consigna este hino à homenagem<br />

do autor”.<br />

Foi Diretora da Associação Feminina do<br />

Goiás Club em 1961. Foi presidente da Associação<br />

das Damas de Caridade do asilo São<br />

Vicente de Paula, da cidade de Goiás em 1961.<br />

Em 1961 como presidente da Associação das<br />

144


ouro de tolo<br />

Damas de Caridade São Vicente de Paula foi<br />

solicitada por Dom Abel Ribeiro Camelo, bispo<br />

da Diocese da cidade de Goiás que fora<br />

sorteado Imperador da festa do divino, à organizar<br />

e promover a folia, procissão e demais<br />

festejos do Divino Espírito Santo. Fez curso<br />

de Enfermeira Samaritana Socorrista no Hospital<br />

de Caridade São Pedro de Alcântara em<br />

1943, com a intenção de servir como voluntária<br />

da Segunda Guerra Mundial.<br />

Não se casou, porém em 1959 tutelou uma<br />

menor residindo hoje em companhia da mesma.<br />

Mudou-se para a capital (Goiânia) em 1968<br />

onde terminou sua vida de funcionária pública<br />

estadual no Instituto de Educação. Aposentada<br />

pelo decreto de 30 de abril de 1969.<br />

Em Goiânia participou da Associação<br />

Maria Auxiliadora com sede no Salão Paroquial<br />

da Igreja João Bosco, entidade Beneficente,<br />

sem fins lucrativos e com objetivos de<br />

contribuir de alguma forma para o conforto<br />

das futuras mães carentes de Goiânia e seu<br />

estorno com trabalho semanal de costura de<br />

enxovais para recém-nascidos, também participou<br />

do Grupo da Melhor Idade “Ação e<br />

Vida”. Escreveu-lhe seu sobrinho Murilo de<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

Camargo Wascheck: “Tia, você é uma pessoa<br />

admirável, pela a sua vanguarda e contemporaneidade...”,<br />

Espírito Empreendedor, curioso<br />

e alegre, apreciadora de conhecer as belezas<br />

do Velho e do Novo Mundo e tempos, fez diversas<br />

viagens culturais ao Brasil e países da<br />

América Latina e Central tais como: Argentina,<br />

Paraguai, Uruguai, México; à Europa conhecendo<br />

Portugal, França, Espanha, Holanda,<br />

Alemanha, Itália, Bélgica, Suíça e Mônaco;<br />

ao Oriente Médio: Israel, Egito e Grécia; aos<br />

Estados Unidos: New York, San Francisco,<br />

Boston, Washington, Califórnia e outros. Possui<br />

rico acervo fotográfico das citadas viagens.<br />

Devido à perda recente da visão interrompeu<br />

as viagens e os afazeres na Paróquia<br />

da Igreja Dom Bosco.<br />

Maria Soares de Camargo teve e tem a<br />

sua vida pautada em valores morais e valores<br />

humanos universais tais como: Amor, solidariedade<br />

humana, Amizade, Trabalho, Respeito,<br />

Honestidade, Responsabilidade, Confiança<br />

e Esperança.<br />

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General Antônio<br />

Laureodó de Camargo,<br />

tio de Maria Camargo<br />

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Sobre a autora


Djanira Ferreira Nunes é goiana, de Sousania,<br />

município de Anápolis.<br />

Passou grande parte da sua infância na cidade<br />

de Goiás e mudou-se em 1968 para Goiânia onde<br />

concluiu o ensino médio e superior.<br />

Em 1982 graduou-se em Psicologia. Especialista<br />

em Psicologia Clínica e Psicoterapia de Abordagem<br />

Psicanalítica.<br />

Fez o curso em Roma – Italy de operadora<br />

de base em 1991, para atuar em programa para<br />

tóxicodependentes.<br />

Atualmente, exerce trabalho em Consultório<br />

e também atua como psicóloga especialista em<br />

trânsito.<br />

É uma das militantes na defesa da ideia que a<br />

bicicleta é agente propulsor da mobilidade em Goiâ-<br />

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Djanira Ferreira Nunes<br />

nia, sendo adepta ao veículo e pertencente ao grupo<br />

de ciclista “GO CICLO”.<br />

Trabalhou no Ipasgo por 20 anos, sendo 15<br />

anos no Centro de Saúde Mental e os outros como<br />

Psicóloga Auditora.<br />

Algumas publicações:<br />

Uma das colaboradoras na elaboração da cartilha<br />

“ABC do Alcoolismo”, quando atuou no Centro<br />

de Saúde Mental do Ipasgo.<br />

Artigos publicados no jornal “O Vilaboense”<br />

da cidade de Goiás, tais como: Luto, Eu bebo sim,<br />

estou dirigindo, Desde Caim e Abel e outros.<br />

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Djanira Ferreira Nunes


Em apoio à sustentabilidade, à preservação ambiental,<br />

a Pronto Editora Gráfica / Kelps, declara<br />

que este livro foi impresso com papel produzido de<br />

florestas cultivadas em áreas não degradadas e que<br />

é inteiramente reciclável.<br />

Este livro foi impresso na oficina da Pronto<br />

Editora Gráfica, no papel: pollen soft 80g/m 2 ,<br />

composto na fonte Georgia corpo 12.<br />

Março, 2017<br />

A revisão final desta obra é de responsabilidade da autora.


ouro de tolo<br />

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