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O urbanismo e os urbanistas na história urbana brasileira: percursos e perguntas para pensar a história urbana da América Latina Recebido [Nov. 29, 2015] Aprovado [Abr. 05, 2016] principais centros europeus e norte-americanos de pesquisa, mas com uma postura política e intelectual fundamentada na recusa à concordância acrítica das interpretações que são feitas por esses centros sobre a nossa realidade urbana. O problema, e esse é um problema “interno” à América Latina, é que essa concordância acrítica sempre esteve presente, em grande medida estruturando conceitualmente nossas pesquisas, pelas noções de transposição, de importação, de cópia e de influências determinadas. Essa postura intelectual muito contribuiu para manutenção de outra noção, a de centro-periferia, ou seja, de que as ideias originais estão na Europa e EUA e nós na América Latina apenas as corroboramos. Ao entendermos que o campo conceitual que usamos não difere dos que são usados pelos centros europeus e norte-americanos, e que as particularidades devem assumir um papel também central na construção das narrativas históricas, no nosso caso, da história urbana, então os caminhos se sedimentarão em outras bases. As dificuldades para que nos movimentemos por esses caminhos sempre existiram e muitas delas nós conhecemos. No entanto, existem sinais evidentes de que iniciamos outras trajetórias intelectuais sobre a história urbana da América Latina, e nisso incluindo a contribuição da historiografia urbana brasileira em fermentação ao espectro geográfico e cultural de colonização ibéria. E apesar das críticas que façamos, estamos certos de que devemos isso aos que iniciaram a caminhada. Referências bibliográficas ANDRADE, Carlos, Roberto Monteiro. “A construção historiográfica da cidade e do urbanismo moderno no Brasil: o caso das cidades novas planejadas”. In: PINHEIRO, Eloísa Petti e GOMES, Marco Aurelio A. de Filgueiras. A Cidade como História: os arquitetos e a historiografia da cidade e do urbanismo. Salvador: EDUFBA, 2005. ALMANDOZ, Arturo. “Entre libros de historia urbana. Para una historiografia de la ciudad y el urbanismo en América Latina”. Caracas: Editorial EQUINOCCIO, 2007. DE DECCA, Edgar. “O estatuto da História”. In: Revista Espaço & Debates, n. 34. São Paulo: NERU, 1991. DE FARIA, Rodrigo Santos. “O município em face do planejamento regional: a atuação profissional de Antonio Delorenzo Neto na construção do pensamento municipalista interamericano nas décadas de 1950-1960. In: Anais Eletrônicos XV ENANPUR, 2013. Disponível em: http://unuhospedagem.com. br/revista/rbeur/index.php/anais/article/view/4610. DE FARIA, Rodrigo Santos. “Urbanismo e desenvolvimento municipal na europa: os congressos municipalistas da Unión de Municipios Españoles”. In: Revista CIU- DADES, n. 19. 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artigos e ensaios Theodoro Sampaio, o Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894 e as exigências da modernidade Luiz Augusto Maia Costa Arquiteto, Urbanista e Filósofo, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Rodovia D. Pedro I, km 136, Parque das Universidades, Campinas, SP, CEP 13086-900, luiz.agusto@puccampinas.edu.br Resumo O presente artigo busca relacionar as questões sanitárias no mundo ocidental (a partir da antiguidade até a contemporaneidade) com o que Freud definiu como as exigências da modernidade, isto é, ordem, higiene e beleza, a fim de estabelecer subsídios para a compreensão do Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894 como uma manifestação da modernidade engendrada a partir da Segunda Revolução Industrial. Defende que o referido Código contou, direta ou indiretamente, com a participação do engenheiro Theodoro Sampaio. Sendo assim, entendemos que a urbanística que então era forjada estava diretamente ligada ao próprio processo civilizatório típico do Ocidente. Palavras-chave: Theodoro Sampaio, modernidade, código sanitário, São Paulo. A s correntes higienistas exerceram papel fundamental na reestruturação das cidades em todo o mundo ao longo do século XIX, senão antes. No caso do Brasil não foi diferente. Adentramos o século XX intervindo em nossas cidades, pelo menos até a década de 1930, alicerçados nos mesmos paradigmas. Para muito além de meramente infraestruturar e embelezar as cidades, promovendo indubitavelmente um processo de saneamento, que não foi somente físico, mas também social, o higienismo consistiu em mais que uma expressão do processo de urbanização de então, foi ele mesmo um vetor de urbanidade dessas cidades e dessa sociedade. Buscarei aqui demonstrar a pertinência de tais observações. Para tal, retomarei a contribuição que o engenheiro Theodoro Sampaio deu à questão ao mesmo tempo em que defenderei a atualidade e o caráter fundamental do Código Sanitário de São Paulo de 1894, cuja elaboração teve a participação deste. Defendo que este Código ainda hoje possui importância, ao nos lembrar que ordem, higiene e beleza são os alicerces para a construção das noções de urbanidade e civilidade. aneamento, urbanidade e civilização. Saneamento, urbanidade e civilização Zygmunt Bauman (1998:7) ao comentar o clássico “O mal-estar na civilização” de Sigmund Freud, observa que o famoso trabalho em questão contava afinal a “história da modernidade”. Sabido é que o psicólogo alemão defendia que “no desenvolvimento da civilização (...) o preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda da felicidade pela intensificação do sentimento de culpa” (Freud, 2006: 137). Isto é, para que a civilização avançasse foi necessário abrir mão de porções de felicidade, isto é, reprimir parte das pulsações tanto da libido como de destruição. Onde se conclui que, segundo o raciocínio freudiano, para ganhar algo é necessário perde algo em troca. Seguindo os passos de Freud, Bauman (1998: 7) conclui que V14 N2 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp 15
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