Revista LiteraLivre 2ª Edição
2ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 2nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
2ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo.
2nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world.
Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>LiteraLivre</strong> nº 2<br />
velhice. O peso da idade já estava lhe atingindo. Talvez não devesse<br />
passar tanto tempo se olhando. Quando não se olha muito no espelho, é<br />
possível criar uma imagem de quem achamos que somos, e não<br />
precisamos ser quem a realidade nos mostra. Talvez fosse exatamente<br />
por isso que tinha seu segredo tão bem guardado.<br />
Um barulho lá de fora chamou sua atenção, e quase que por um<br />
segundo, achou que a imagem do espelho continuara olhando-o, mesmo<br />
quando virou a cabeça. Saiu apressado do banheirinho, com o coração<br />
palpitando. “Chegou, finalmente chegou”, dizia de si para si. Assinou<br />
correndo o documento e mal olhou para a cara da moça que realizava a<br />
entrega. Como se fosse um dia de natal e ainda uma criança, pegou uma<br />
faca e rasgou a fita adesiva que selava a caixa ao meio. Procurou pela<br />
embalagem que dizia “Doce de Ovos”. O esmalte reluzia um amarelo<br />
gema bem forte. Ficou uns dois minutos olhando para a beleza daquela<br />
cor. Enfiou o frasco no bolso, caminhou para os interruptores, apagou a<br />
luz, pegou um frasco de tamanho médio na prateleira, suas chaves e<br />
começou a fechar a drogaria.<br />
Verificou duas vezes se havia trancado a porta e começou a andar<br />
rapidamente para sua casa. Apertava o frasco no bolso como se fosse<br />
um pomo de ouro prestes a fugir. Refez mentalmente seus planos:<br />
tomaria um banho de banheira, com direito a velas e sais aromáticos.<br />
Abriria uma garrafa do vinho, que comprara na promoção, colocaria seu<br />
álbum preferido para tocar na vitrola e começaria sua noite.<br />
Morava na casa antiga de seus pais, desde que a mãe, já viúva,<br />
abandonou também o planeta Terra. Era desses casarões antigos com<br />
direito a porão, banheira de louça, cristaleiras antigas e tudo o mais. O<br />
piso range a cada pisada, mas não trocaria seu lar por nenhum outro<br />
lugar no mundo. Até porque ficava a somente dois quarteirões da<br />
farmácia e poder morar a cinco minutos do trabalho é um grande luxo<br />
hoje em dia.<br />
Chegou em casa meio sem querer chegar. Quando se planeja algo<br />
por muito tempo não se tem mais certeza de querer fazer tudo aquilo,<br />
pois depois de feito, não teria mais pelo que esperar e cairia naquela<br />
rotina monótona e sem cores do dia a dia. Hesitou alguns segundos com<br />
a chave na fechadura, mas por fim lembrou-se de seu esmalte novo e<br />
abriu a porta rapidamente.<br />
Foi fazendo cada etapa de seu plano calmamente, prestando atenção<br />
em cada detalhe e apreciando aquele momento tão esperado. Afinal, não<br />
era todos os dias que podia se ter uma noite como essas. Ligou as<br />
46