Revista LiteraLivre 2ª Edição
2ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 2nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
2ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo.
2nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world.
Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>LiteraLivre</strong> nº 2<br />
torneiras da banheira e jogou seus sais de lavanda e camomila. Arrumou<br />
a penteadeira, que era da mãe, com o kit de maquiagem, o secador de<br />
cabelo, as escovas, os grampos, o laquê que se lembrara de pegar<br />
apressadamente na loja, “ainda bem, pois se eu o tivesse esquecido,<br />
teria acabado com meus planos”, tudo milimetricamente ajeitado. Bem<br />
no meio, seu esmalte amarelo estava pronto para ser passado. Em cima<br />
da cama a roupa escolhida e logo abaixo o sapato.<br />
Durante o banho, Tony pensava em como seria feliz se pudesse fazer<br />
seu ritual todas as noites. “Não sei o que meus pais fariam se eu o<br />
fizesse. Mas hoje já sou dono da minha vida, então, por que não pensar<br />
em fazer isso mais vezes?”. Sabia que eram raros os momentos como<br />
esse, nos quais se sentia tão realizado. Por fim, quando a pele já estava<br />
totalmente enrugada, os cabelos lavados e as cutículas moles, levantouse<br />
e saiu da banheira, deixando pingar água no tapete.<br />
Secou-se, colocou um roupão velho, mas confortável, listrado de<br />
branco e verde, e sentou-se em frente à penteadeira. Ali, um grande<br />
espelho emoldurado o olhava. Abriu a garrafa de vinho tinto, um<br />
Cabernet Sauvingon bem frutado, e começou a arrumar os cabelos, ou o<br />
que lhes restava. Penteou-os, passou alguns cremes e começou a darlhe<br />
volume. Com o secador e escovas, levantou-os de um jeito que<br />
parecia pouco provável. Sabia que a moda dos cabelos dos anos 80 era<br />
horrível, mas era exatamente por isso que gostava. Completou o<br />
penteado com uma peruca tão negra quanto seus próprios cabelos.<br />
Virou uma taça de vinho e demorou-se no espelho por alguns<br />
minutos, fitando sua silhueta por vários ângulos. Achou que dessa vez<br />
havia se superado. “Eu me superei”, disse de si para si, ou talvez tinha<br />
sido o espelho quem disse isso. Pensou que seria melhor maneirar na<br />
bebida. Fechou os olhos e esparramou bastante laquê por todos os<br />
lados. Adorava aquele cheiro, de tia-avó e festa de família.<br />
Abriu o estojo de maquiagens, cheio de pincéis diferentes e começou<br />
a se pintar. Passou a cola sobre a sobrancelha, aplicou a base e começou<br />
a se transformar em si mesmo. O batom escolhido foi um roxo bem<br />
escuro, pois ficaria bom em contraste com as unhas amarelas. Após<br />
finalizar com o curvex, levantou-se da cadeira e buscou o talco. Jogou<br />
um pouco dentro da meia calça preta e começou a vesti-la,<br />
cuidadosamente para não furar. Subiu-a até acima dos joelhos. Vestiu<br />
seu espartilho e delicadamente prendeu-o às meias. Calçou as sandálias,<br />
novinhas, cheirando a recém compradas. Abotoou no pescoço o colar de<br />
pérolas que também fora de sua mãe. Tomou mais uma taça de vinho e<br />
47