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Livro - Horas de Amor

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COR<br />

FLOR<br />

DOR<br />

MINUTOS E HORAS DE<br />

AMOR<br />

Andreu Luz


COR<br />

FLOR<br />

DOR<br />

MINUTOS E HORAS DE<br />

AMOR<br />

Andreu Luz


ANDREU SACRAMENTO LUZ<br />

Advogado. Pesquisador. Poeta. Membro do grupo <strong>de</strong> pesquisa FRACTAIS<br />

TRANSDISCIPLINARES DO DIREITO e ESTUDOS SOBRE O DIREITO<br />

CONTEMPORÂNEO.<br />

COR<br />

FLOR<br />

DOR<br />

MINUTOS E HORAS DE<br />

AMOR<br />

SALVADOR – BA<br />

2017


Dedico este livro a minha mãe MARIA DAS GRAÇAS e a meu pai AILTON FONSECA,<br />

bem como a minha irmã TAUANE LUZ.<br />

Agra<strong>de</strong>ço GABRIEL ANDRADE, fiel consultor e eterno amigo.


Rei meu! Senhor meu! Força Minha!<br />

Fonte <strong>de</strong> on<strong>de</strong> emana toda minha sabedoria e força: Atôtô


Quando o amor tem cheiro <strong>de</strong> mar...<br />

O paradoxo em mim tem cheiro <strong>de</strong> mar é salgado...<br />

Seu corpo é <strong>de</strong>lgado, e mesmo não estando ao meu lado;<br />

Te sinto, sentindo-me alucinado;<br />

Por seus olhos azuis, ora ver<strong>de</strong>s, ora ar<strong>de</strong>ntes como fogo, me sinto <strong>de</strong>vorado...<br />

Olho para os lados não vejo barcos a navegar,<br />

Mas o vento, que embala as ondas, me traz o teu cheiro <strong>de</strong> mar,<br />

É loucura, ingênua e pura ,<br />

astuta a tua pele me refresca como a água a me banhar<br />

Ah! Quem <strong>de</strong>ra po<strong>de</strong>r em teu intimo mergulhar,<br />

Deslizar-me e <strong>de</strong>leitar-me nos teus lábios,<br />

Como no mar, o barquinho a navegar.<br />

Humil<strong>de</strong>, sensível entregue ao feitiço do amor, embalando-se no balanço,<br />

Oh meu Deus, como são <strong>de</strong> alegre encanto, palavras que saem da tua suave boca,<br />

Garoa prometendo tempesta<strong>de</strong> e água que cai já salgada e corre pro mar,<br />

E assim corro eu para ti, me entrego a esta viagem louca,<br />

Loucuras que só sei eu<br />

Ao medo que carrego nos ombros, não me permito entregar,<br />

Pois, Entregar-me só a ti, meu amado in<strong>de</strong>terminável,<br />

Não te peço gran<strong>de</strong> coisa, não é só por uma noite que te quero,<br />

Quero-te como o mar, imenso e afável<br />

Sempre em maré alta on<strong>de</strong> eu possa mergulhar,


Pra que tu salgues a minha estranheza, e eu seja temperado<br />

Todo tempo, o tempo todo, já que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre eu aprendi,<br />

Que o que não é salgado é insosso.<br />

Gabriel Andra<strong>de</strong>


PREFÁCIO<br />

“Aquilo que se faz por amor sempre se faz além dos limites do bem e do mal”<br />

Friedrich Nietzsche<br />

Através dos traços mitológicos, Eros, o <strong>de</strong>us grego do <strong>Amor</strong>, que apesar <strong>de</strong> sua<br />

magnífica beleza ser exaltada nos templos <strong>de</strong> valorização do belo nas cida<strong>de</strong>s gregas,<br />

tinha seu culto recheado <strong>de</strong> módica importância. Tendo como mãe Afrodite, também<br />

<strong>de</strong>usa da beleza e da sexualida<strong>de</strong>, um traço não misógino da cultura grega, o infante<br />

andava disparando flechas <strong>de</strong> amor que contagiavam os corações dos humanos e dos<br />

<strong>de</strong>uses (BULFINCH, 2002).<br />

Depois <strong>de</strong> acossado todo o trajeto mitológico a <strong>de</strong>usa Psiquê, quando perseguida por<br />

Afrodite (que possuía beleza incomparável), ganha o mérito <strong>de</strong> ter seu corpo<br />

transformado em néctar <strong>de</strong> ambrósia divina, além <strong>de</strong> ser levada nos braços divinos <strong>de</strong><br />

Hermes, e glorificar o corpo imortal que recebera como presente <strong>de</strong> Zeus ((BULFINCH,<br />

2002).<br />

Por sua vez, na Grécia Antiga, através do diálogo “O Banquete”, Platão (1987) discute<br />

na presença <strong>de</strong> Sócrates e outros pensadores, a natureza e a qualida<strong>de</strong> do amor. Nesse<br />

diálogo foram apresentadas teses das mais diversas possíveis, <strong>de</strong>ntre elas <strong>de</strong>stacam-se: a<br />

existência <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um Eros e que estes estariam divididos entre o bem e o mal; <strong>de</strong><br />

que o amor não inflamava apenas a alma, seria mais, dava mo<strong>de</strong>lamento, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e<br />

harmonia ao corpo, ou seja, um corpo harmonioso será um corpo amado e amante.<br />

Senão vejamos como o filósofo Platão (1987, p. 20) expõe na sua clássica obra O<br />

Banquete:<br />

“Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanida<strong>de</strong>, não dois como<br />

agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro,<br />

comum a estes dois, do qual resta agora um nome, <strong>de</strong>saparecida a coisa;<br />

andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome<br />

comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é<br />

que um nome posto em <strong>de</strong>sonra”.<br />

Destarte, como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> do trecho da obra do filosofo, a concepção da terceira<br />

parcela, que por sua vez rompe com a dicotomia existente nos dias <strong>de</strong> hoje, compõe a


parcela andrógina (sendo homem ou mulher). Por sua vez, ao coadunar-se ao gênero<br />

masculino, feminino ou andrógino, unindo-se a sua outra parcela, o ser humano passa a<br />

vivenciar o amor.<br />

Em momento outro, Platão (1987) acrescenta a sua visão com base no pensamento<br />

socrático e <strong>de</strong>fine que não há amor se não houver um objeto <strong>de</strong>sejado, ou seja, só se<br />

ama aquilo que não se tem. Nesta oportunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se questionar sobre o amar a si<br />

mesmo.<br />

Através <strong>de</strong> um diálogo extemporâneo, compreen<strong>de</strong>-se como complementar a reflexão<br />

apresentada por Bauman (2004, p. 47), como se vê:<br />

“Em suma: para termos amor-próprio, precisamos ser amados. A recusa do<br />

amor — a negação do status <strong>de</strong> objeto digno do amor — alimenta a autoaversão.<br />

O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido<br />

por outros. Se na sua construção forem usados substitutos, eles <strong>de</strong>vem<br />

parecer cópias, embora fraudulentas, <strong>de</strong>sse amor. Outros <strong>de</strong>vem nos amar<br />

primeiro para que comecemos a amar a nós mesmos”.<br />

Em outra parte da história, sendo ela a parcela religiosa e cristã, encontra-se respaldo do<br />

amor nas virtu<strong>de</strong>s: o amor (refletido através da carida<strong>de</strong>) é uma das virtu<strong>de</strong>s teologais<br />

emanadas por Deus.<br />

Nesse sentido salienta Aquino (2004, p. 20).<br />

“[...]entre as virtu<strong>de</strong>s teologais, será mais excelente aquela que mais alcançar<br />

a Deus. Ora, a fé e a esperança alcançam Deus na medida em que recebemos<br />

<strong>de</strong>le ou o conhecimento da verda<strong>de</strong> ou a posse do bem. Mas a carida<strong>de</strong><br />

alcança Deus para que nele permaneça e não para que <strong>de</strong>le recebamos algo”.<br />

Ainda através da concepção cristã, o amor oriundo da união entre as pessoas, ou <strong>de</strong> uma<br />

pessoa pelas outras, estão <strong>de</strong>finidas no Eros e Ágape, sendo este o que se <strong>de</strong>senvolve<br />

indistintamente, e aquele o <strong>de</strong>senvolvido diretamente a uma pessoa amada (BENTO<br />

XVI, 2006).<br />

No período medieval, o casamento arranjado acaba por frustrar as concepções<br />

filosóficas e empíricas do amor, tendo em vista que a escolha <strong>de</strong> convívio, ou ainda, a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> não amar o outro, mostrou-se fraudada.<br />

Isto porque o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> família patriarcal que também vigorava na época, perpetuava<br />

apenas a manutenção das relações políticas do homem (o sentimento tornou-se<br />

fragmento da política social), através da fragmentação do direito das mulheres, isto é, no


casamento, o papel da mulher era apenas cuidar dos filhos e do marido e, em matéria <strong>de</strong><br />

relação sexual, procriar, com isso tem-se a “instituição do casamento cristão,<br />

monogâmico e indissolúvel” (LE GOFF, 2008, p. 63).<br />

Ocorre que, com o <strong>de</strong>senrolar da história, as concepções sociais acerca do <strong>Amor</strong>, bem<br />

como dos sentimentos que entrelaçam os homens, tornaram-se “flexíveis” (BAUMAN,<br />

2004).<br />

Tais acontecimentos justificam-se nas consequências trazidas pelo período <strong>de</strong><br />

racionalização da história, bem como em <strong>de</strong>corrência do avanço da tecnologia (criação<br />

das “re<strong>de</strong>s” <strong>de</strong> relacionamentos), oportunida<strong>de</strong> em que as relações afetivas e sociais dos<br />

homens tornaram-se virtuais (BAUMAN, 2004).<br />

Assim salienta Bauman (2004, p. 8) o autor no prefácio da sua obra,<br />

“Elas são “relações virtuais”. Ao contrário dos relacionamentos antiquados<br />

(para não falar daqueles com “compromisso” muito menos dos<br />

compromissos <strong>de</strong> longo prazo), elas parecem feitas sob medida para o líquido<br />

cenário da vida mo<strong>de</strong>rna, em que se espera e se <strong>de</strong>seja que as “possibilida<strong>de</strong>s<br />

românticas” (e não apenas românticas) surjam e <strong>de</strong>sapareçam numa<br />

velocida<strong>de</strong> crescente e em volume cada vez maior, aniquilando-se<br />

mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa <strong>de</strong> “ser a mais<br />

satisfatória e a mais completa”. Diferentemente dos “relacionamentos reais” é<br />

fácil entrar e sair dos “relacionamentos virtuais”.<br />

A amiza<strong>de</strong>, o amor, os relacionemos que outrora eram duradouros e paulatinamente<br />

construídos, passam a ser flexibilizados e apagados apenas com um “click”.<br />

Numa perspectiva da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, ou da pós mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o amor passa a ser fluído.<br />

Aqui a história do amor toma outros contornos. O pensador da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

Bauman (2004), investiga o porquê que as relações humanas estão cada vez mais<br />

flexíveis, gerando, como <strong>de</strong>corrência fluida, uma insegurança social.<br />

O <strong>Amor</strong>, nos indos da socieda<strong>de</strong> atual, tornou-se objeto <strong>de</strong> consumo, posto, como em<br />

um mercado <strong>de</strong> sentimento, à prova e consumo <strong>de</strong>svairado <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>.<br />

Em sendo assim, é que se po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o fato da insegurança social, vez que todo<br />

esse <strong>de</strong>senvolvimento fluído e célere do <strong>Amor</strong> e dos sentimentos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>le (a<br />

exemplo do cuidado), causam uma espécie <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sconforto moral” em uma socieda<strong>de</strong><br />

que ainda está fundada em ensinamentos morais dicotômicos.


Em virtu<strong>de</strong> do que foi mencionado, Boff (2014), <strong>de</strong>dica-se a abordar o tema do<br />

Cuidado, e aduz que o cuidado é ontológico, ou seja, “está na origem da existência do<br />

ser humano. Essa origem não po<strong>de</strong> ser entendida temporalmente, mas filosoficamente,<br />

como a fonte <strong>de</strong> on<strong>de</strong> permanentemente brota a existência do ser humano” (BOFF,2014,<br />

p. 2).<br />

Ressalta-se que, ao nosso enten<strong>de</strong>r, o cuidado constitui espécie do qual o <strong>Amor</strong> é<br />

gênero. Assim, mostra-se coerente a escrita <strong>de</strong> Boff quando salienta que “tudo o que<br />

cuidamos também amamos e tudo o que amamos também cuidamos” (BOFF, 2014, p.<br />

2).<br />

Destarte, seguindo os ensinamentos <strong>de</strong> Boff (2014), em conjunto com o cuidado nasce o<br />

<strong>de</strong>ver ético da responsabilida<strong>de</strong> que, quando associado ao amor, permite que os sujeitos<br />

possam <strong>de</strong>senvolver ações benéficas, que promovam a vida <strong>de</strong> si mesmo e dos outros.<br />

O cuidado, então, figura como premissa também indispensável para a sustentação,<br />

manutenção, garantia e efetivida<strong>de</strong> do princípio da dignida<strong>de</strong> da pessoa humana que por<br />

sua vez <strong>de</strong>semboca do amor enquanto direito.<br />

Assim, o Direito ao amor, bem como todo o seu trajeto histórico e mitológico, perfaz as<br />

linhas que se seguem. Como no espetáculo teatral, o palco é o centro e os contornos<br />

serão <strong>de</strong>lineados através da abertura da obra e interpretação do leitor.<br />

<strong>Amor</strong>. Emoção. Caos. Sentimento. E outros tantos <strong>de</strong> horas:<br />

São 00:00... 01:00...02:00...03:00 horas e ...


I<br />

LAMENTO DE DOR, AMOR, COR E FLOR<br />

Lamento <strong>de</strong> dor, sem flor, sem cor.<br />

Conversas sem eira nem beira. Sem lago, sem margem, sem coragem.<br />

Cor. Dor. <strong>Amor</strong>. Rima da flor que não <strong>de</strong>sabrochou.<br />

Sobre o andor da dor está a flor que não <strong>de</strong>sabrochou, sendo levada pelo fulgor daquele<br />

que não amou.<br />

Bruto. Trinta e três. Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo. Ó Cristo, cujo rosto fora acarinhado por Verônica.<br />

A mulher. A margem. A piedosa. Vem mais que em meu auxilio, pois morta estou.<br />

Crucifixos <strong>de</strong> mim espalhem-se pelos altares <strong>de</strong> culto. Culto ao curto espaço <strong>de</strong> tempo<br />

que tenho <strong>de</strong>ntro do meu templo.<br />

Templo do amor, da cor, da flor e agora da dor. A minha dor. A dor da flor. A dor que<br />

<strong>de</strong>sabrochou.<br />

Homem. Malfeitor. Destruidor.<br />

ÀS. 04:00 (hora da flor)


II<br />

SEDADIVON<br />

Novida<strong>de</strong>s cantadas por bocas sem ânimos.<br />

Animo <strong>de</strong> viver. Animo <strong>de</strong> ser. Animo <strong>de</strong> ser novo.<br />

O amor saiu correndo e foi para a casa da paixão.<br />

O amor encontrou a paixão. A paixão e o amor se entreolharam.<br />

A paixão disse ao amor: tenho novida<strong>de</strong>s!<br />

Novas? - Disse ao amor – Sim! – replicou a paixão.<br />

Cansado eu estou <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s não novas. De amor sem sentimento. De vida sem<br />

animo.<br />

Quero mais. Quero um amor extravasado. Uma paixão sem medida.<br />

Quero você hoje. Amanhã. E sempre... E sempre. Cantar, nos mais alto som.<br />

ÀS 05:00 (hora da novida<strong>de</strong> do amor)


III<br />

EMOÇÃO E AMOR<br />

Mais ou menos eu e você: quase nós dois!<br />

Tu: pedaço, meta<strong>de</strong>, vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mim.<br />

Eu: riso , se<strong>de</strong>, manifesto, explosão por você.<br />

Sem a parcela <strong>de</strong> um, nada seríamos. O equilíbrio... Equilibrar-se na quase tênue corda<br />

da vida.<br />

Viva eu. Viva você. Vivamos nós para o nosso equilíbrio na corda mais que invisível...<br />

O amor.<br />

Eis a corda que amarrou o meu coração ao teu.<br />

Corda. <strong>Amor</strong>. Emoção<br />

ÀS 06:00 (hora do amor)


IV<br />

DIÁLOGO: ENTRE O AMOR E A COR<br />

(...)<br />

- Mais que o oco, tu és o fundo do poço!<br />

- Qual poço?<br />

- O poço dos loucos!<br />

- Loucos?<br />

- Loucos por amor. Logo, o fundo do poço não é oco, é amor!<br />

Louco. De. <strong>Amor</strong>.<br />

ÀS 07:00 (hora do retorno do amor).


Manifesto da nossa realida<strong>de</strong>: mundo e caos. Desor<strong>de</strong>m. Misoginia. Violação.<br />

V<br />

DESPETLANDO A FLOR<br />

Hora cheia.<br />

Hora da ceia.<br />

Hora da refeição.<br />

Hora da ilusão.<br />

Hora da erupção.<br />

Alonga-se no tempo sem fim o eterno bailar da flor.<br />

O balanço, o lamento, a violação.<br />

Violentaram o doce sabor da cor.<br />

Desfizeram a sua cor.<br />

Encheu-se o seu furor. Ó dor.<br />

Dor. Flor. Furor: oração à flor.<br />

Ó mãe da dor. Ó corpo <strong>de</strong>slocado.<br />

Santa e amada puta.<br />

Puta e amada santa.


Castiçais <strong>de</strong> ouro e prata.<br />

Usinas <strong>de</strong> amor e ódio.<br />

Puta? Mais uma puta?<br />

Mais um lamento!<br />

Lamento <strong>de</strong> dor, amor e flor.<br />

Cores!<br />

Antes, o rosa intacto.<br />

Durante, o vermelho sangue.<br />

Depois, o <strong>de</strong>masiado preto do luto.<br />

Luto pela luta.<br />

Avanços. Sinais. Sondas.<br />

Festança. Olhos incrédulos. Mentes vazias.<br />

Eram apenas 03:03 da madrugada.<br />

Era uma mulher.<br />

Era uma flor<br />

Era a cor.<br />

Eram apenas 03:04 da madrugada.


Não era mulher.<br />

Não era flor.<br />

Per<strong>de</strong>u a cor.<br />

Eram apenas 03:05 da madrugada.<br />

Já era vítima.<br />

Já era nada.<br />

Já era sem cor.<br />

Per<strong>de</strong>u-se a flor.<br />

ÀS 08:00 (hora da violação sem par)


Retorno ao amor!<br />

VI<br />

BELA ÉS TU!<br />

É ela... A flecha aguçada <strong>de</strong> amor.<br />

Tu, ó meiga mulher, és o sol, a beleza a esperança e a temperança.<br />

Festança e outros milhões <strong>de</strong> semelhanças.<br />

Brilho. Ouro. Mais uma dose <strong>de</strong> amor.<br />

Tesouro.<br />

Filha daquela que lhe encanta.<br />

Princesa regente da sua soberania.<br />

Filha bem amada da excelsa rainha.<br />

Oxum. Doçura. Felicida<strong>de</strong>.<br />

ÀS 09:00 (hora da sua felicida<strong>de</strong>)


VI<br />

ORAÇÃO DE UM CORAÇÃO PAGÃO!<br />

Fino aro que envolve e sustenta o meu sentimento, não permitais que <strong>de</strong> amor eu morra,<br />

pois, nas entrelinhas das suas subliminares mensagens, o oculto se faz visível.<br />

ÀS ... (fração <strong>de</strong> milésimos <strong>de</strong> segundo <strong>de</strong> êxtase e amor)


VIII<br />

AMOR: CONSUMO DA NOSSA ALEGRIA<br />

Princípio meticuloso.<br />

Ávida manhã.<br />

Aurora do meu céu.<br />

Nosso paraíso.<br />

Vestes com tamanha ternura o manto da solidão.<br />

Quão <strong>de</strong>vastadora é a emoção que sofre o meu coração com aquela canção.<br />

Bate, e bate forte, por mais uma vez… Este é o meu coração!<br />

Sinto à essa hora a fome nos olhos, o canto dos lábios e mais uma vez me vêm à mente<br />

as batidas… batidas do seu coração.<br />

O gran<strong>de</strong> senhor da mutilação. O gran<strong>de</strong> senhor dos <strong>de</strong>vaneios.<br />

Poeta da minha vida. Estrutura humana e espiritual latente em mim.<br />

Coração. <strong>Amor</strong>. Caos.<br />

O mundo ao seu lado gira como uma cantiga <strong>de</strong> ninar.<br />

Pronto. Fecundou. O bebê formou. A flor <strong>de</strong>spetalou.


Flores. Cânticos. Alegrias.<br />

És a flecha aguçada que mira o sol e o meu coração.<br />

És o cupido que <strong>de</strong>sabrochou a nossa flor.<br />

A hora do fervor. À essa hora milhares <strong>de</strong> corações <strong>de</strong>sesperam-se <strong>de</strong> <strong>Amor</strong>.<br />

Consumo consciente da Flor! Demasiado <strong>Amor</strong>!<br />

ÀS 13:00 (hora do consumo <strong>de</strong> <strong>Amor</strong>)


IX<br />

RECITAL DE AMOR<br />

Recita pra mim?<br />

Imploro! Clamo!<br />

Recita pra mim e por mim…<br />

Desabrocha meu coração como fizeste outrora.<br />

Entoa essa nossa bela canção.<br />

Muso <strong>de</strong> beleza incontestável.<br />

Corajoso garoto.<br />

Compreensível homem.<br />

Recita esse poema para mim?<br />

Só mais uma vez <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa fração <strong>de</strong> segundos.<br />

Só mais um vez <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa imensidão <strong>de</strong> amor.<br />

Recita o meu amor por você.<br />

Conta e canta… quero ouvir sua voz.<br />

Preciso me alimentar!<br />

Recita a nossa felicida<strong>de</strong>. As tar<strong>de</strong>s do pôr do sol.


Recita também nossas brigas e intrigas.<br />

E assim eu recitarei, entoarei, gritarei… EU TE AMO.. Recita pra mim o seu <strong>Amor</strong>…<br />

Recita!<br />

ÀS 14:00 (hora <strong>de</strong> recitar o amor)


X<br />

VERBO DO AMOR<br />

Era o verbo.<br />

Era a palavra.<br />

Era o amor.<br />

Princípio. Meio e Fim: eis a regra!<br />

Transgressão sem lesão à vida.<br />

Sem eira nem beira. Sem laços e enlaces.<br />

Vago no vão do seu ameigado coração.<br />

O amor, bela flor <strong>de</strong> jasmim e dor que tão cedo vagou na imensidão.<br />

Grão e coração, migalhas <strong>de</strong> emoção.<br />

Sem chão. Sem emoção.<br />

Meio termo, terno caminhar.<br />

No princípio estava fecundo o verbo, <strong>de</strong>pois apalavra fez-se carne.<br />

A minha carne. A sua carne.<br />

Consagraram meu corpo.<br />

Divinizaram minha mente.<br />

Não sou <strong>de</strong>us nem santo.<br />

Não sou anjo nem <strong>de</strong>mônio.


Chamo-me corpo.<br />

Aguçado corpo.<br />

Delicioso e multifacetário corpo.<br />

Emoção. Caos. Mais uma dose <strong>de</strong> emoção e dor.<br />

Corpo sem ânimo e sem espaço.<br />

Laço <strong>de</strong> carinho e sentimento.<br />

Contento e <strong>de</strong>scontente.<br />

No princípio não era o verbo e a palavra não se fez carne.<br />

No princípio era amor.<br />

<strong>Amor</strong> e dor.<br />

No princípio era furor.<br />

<strong>Amor</strong> e cor.<br />

No princípio era eu e você.<br />

Depois, nós dois.<br />

Meio. Princípio e fim.<br />

Durante. Depois. Sem fim.<br />

ÀS 15:00 (re<strong>de</strong>finição das horas exatas do amor)


XI<br />

AMOR INCONDICIONAL<br />

Depois da fria madrugada.<br />

Depois do raiar do sol.<br />

Depois do inexato café.<br />

Depois da real, embora incansável vida, aproxima-se a hora exata.<br />

Exatidão. Citação. Exumação.<br />

Antes do crepúsculo.<br />

Antes da novela.<br />

Antes da conversa.<br />

Antes da ceia aperta o meu ser, inva<strong>de</strong> o meu âmago e grita…<br />

Retrocesso. Consequências. Continuação.<br />

Durante o forte sol.<br />

Durante o intervalo escolar.<br />

Durante o serviço.<br />

Durante a hora exata na qual as comportas do mundo estão alargadas pelas bocas<br />

famintas.


Em todos os momentos o complemento.<br />

O <strong>de</strong>sespero.<br />

O cerco.<br />

O eixo.<br />

Ofereço-te ó jubiloso coração, uma vida <strong>de</strong> emoção, uma canção <strong>de</strong> ninar.<br />

Ato <strong>de</strong> oferecimento e amor.<br />

Sem ti nada se completa.<br />

Eis a coluna central.<br />

O termo do contrato não celebrado, do acordo prefixado.<br />

ÀS 16:00 (restauração e paixão)


XII<br />

SUNTUOSO CORAÇÃO<br />

Festa.<br />

Cântico.<br />

Louvação.<br />

Adoração.<br />

Altar <strong>de</strong> amor <strong>de</strong>corado com flores da paixão.<br />

Canção e solidão, sabor da estação.<br />

Assim foi o roteiro daquela viagem.<br />

Sem margem, sem coragem.<br />

Assim foi o sonho daquele amor:<br />

Deitada, prostrada, <strong>de</strong>dicada em cima da paixão o meu coração <strong>de</strong>sesperou-se.<br />

Chuva <strong>de</strong> prata sobre mim.<br />

O leite, quão <strong>de</strong>licioso leite, <strong>de</strong>rramou e encharcou o meu coração.<br />

Então entoei...<br />

Ó parte <strong>de</strong>sesperada.


Ó parte encorajada.<br />

Ó parte afável.<br />

Completa coragem.<br />

Cinzenta manhã.<br />

Cerrado aço.<br />

Amargo coração.<br />

Angustiada vida.<br />

Ansieda<strong>de</strong> maldita.<br />

Depois <strong>de</strong> algumas horas <strong>de</strong> amor e alguns suntuosos momentos, suplico:<br />

Deita-me na sua canção.<br />

Deixa-me prosseguir na sua emoção.<br />

Depois <strong>de</strong> vivenciar o caos e a fome.<br />

Depois do futuro, passado e presente.<br />

Depois do <strong>de</strong>pois, eu, matéria e cópia, sentido e equilíbrio, <strong>de</strong>leito-me aos seus pés em<br />

lamentos <strong>de</strong> amor.<br />

Às 17:00 (quase morro <strong>de</strong> amor)


XIII<br />

ADORO-TE CADA VEZ MAIS<br />

Adorar-te-ei a cada manhã.<br />

Cantar-lhe-ei aquela canção.<br />

Dar-te-ei momentos <strong>de</strong> emoção.<br />

Suplicar-lhe-ei por atenção.<br />

A adoração parte da paixão que se renova a cada amanhecer.<br />

Amanheço ao seu lado, fora e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ti.<br />

Jogado ao seu lado, prostrado no seu chão.<br />

Canção. Oh bela canção. Quantas estações tem esse ninar.<br />

Iniciou-se com duas, seguiu-se para três e assim suce<strong>de</strong>u-se.<br />

E se a flor pensar que é dor?<br />

E se a cor quiser ser o amor?<br />

Emoções e milhares <strong>de</strong> sentimentos.<br />

Centenas <strong>de</strong> momentos.<br />

Trilhas do amor: emoção o sentimento latente.<br />

Ato <strong>de</strong> emoção, cânticos <strong>de</strong> atenção.


Suplicas <strong>de</strong> amor. Suplicas <strong>de</strong> cor. Suplicas da flor.<br />

Adorar, cantar, dar e suplicar, são facetas do meu amor.<br />

Às 18:00 (adoração ao amor)


XIV<br />

ÊXTASE DA ALMA<br />

Ele caiu por três vezes.<br />

Ela caiu por milhares.<br />

(Solo duro, mãos vazias, alma cheia <strong>de</strong> emoção).<br />

Junto com ela caiu à esperança, o afeto, a tentativa <strong>de</strong> viver.<br />

Junto a ela Eu cair.<br />

Ele ofertou, por prazer, a sua face à tapa.<br />

Ela resistiu à oferta machista do tapa na face.<br />

Junto a ela todo o corpo se <strong>de</strong>sfez.<br />

Junto a ela a dignida<strong>de</strong> morreu.<br />

Vida. Resignação. Dedicação.<br />

Dedico a você, Senhora da minha imaginação, condutora da minha emoção, as lindas<br />

palavras <strong>de</strong> amor que ouvir.<br />

Dedico ao seu coração àquela remota canção.<br />

Dedicação sem prece<strong>de</strong>ntes.<br />

Altar do culto sagrado.<br />

Altar do culto profano.


Altar <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e <strong>Amor</strong>.<br />

Ó minha Senhora <strong>de</strong>rrama chuva <strong>de</strong> leite quente sobre mim.<br />

Via dolorosa da paixão.<br />

Emoção. Canção. Dedicação.<br />

Amo-te como outrora não amei.<br />

Castigai-me como ninguém me castigou.<br />

Vaca amante e amada.<br />

Animal sagrado.<br />

Eu sagrado.<br />

Eu adorado.<br />

Eu venerado.<br />

<strong>Amor</strong>es e alguns milhares <strong>de</strong> emoções.<br />

Sedução: olha-me e <strong>de</strong>rrama seu leite!<br />

Às 19:00 (sacrilégio do amor)


XV<br />

PARTE DO CORPO<br />

Curvas acentuas.<br />

Pernas salientes.<br />

Corpo pecaminoso.<br />

Ah, que <strong>de</strong> pecado eu morra se pecador é aquele que adora o seu corpo.<br />

Confesso no altar da paixão as ternas e alongadas horas <strong>de</strong> observação.<br />

Observo com cuidado e carinho.<br />

Viajo, retorno, e sempre me vejo a analisar.<br />

Olhos, boca, nariz, toda a face.<br />

Adorado corpo, <strong>de</strong>ixa eu te contar um segredo?<br />

Quão maravilhoso é o seu beijo! Permitais que não morra <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s.<br />

Às 20:00 (adoração)

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