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− Pobre Beth − diz com empatia. − A vida às vezes é só tristeza, não? Imagino<br />
que tenha a ver com amor.<br />
Confirmo com a cabeça e meus olhos ficam marejados. Faço tudo o que<br />
posso para sufocar meus sentimentos. Não quero perder o controle, não sei se<br />
conseguiria me recuperar.<br />
− Acho que sim − digo. − Já nem estou mais certa. Achei que seria doloroso<br />
demais ficar com ele, mas agora não sei como vou conseguir ficar sem ele.<br />
− Oh, querida. − Celia suspira. − Sim, acho que é isso.<br />
− Isso o quê?<br />
− Amor, minha cara. Muitas pessoas preferem fugir do amor. Acabam<br />
optando por algo mais fácil, menos desgastante, menos perigoso. Porque, como<br />
Shakespeare observou, encantos violentos acabam de forma violenta. Grandes<br />
paixões trazem dor junto com elas. Mas viver sem isso… bem, será que vale a<br />
pe<strong>na</strong>? − Seus olhos estão brilhando. − Não sei. Não é todo mundo que tem a<br />
chance de sentir aquela paixão sublime por alguém, ou a agonia que vem junto<br />
com ela. Tive a sorte de sentir isso mais de uma vez, e é por isso que vivo feliz<br />
sozinha hoje. Saber que tive essa experiência magnífica me faz preferir viver<br />
com as lembranças a aceitar qualquer coisa menor que isso.<br />
Olho para ela imagi<strong>na</strong>ndo a jovem Celia, completamente arrebatada pelo seu<br />
amante, vivendo, como eu nos últimos dias, sobre a linha fi<strong>na</strong> que separa o<br />
encanto do desespero.<br />
− Foi tudo há muito tempo − ela diz com um sorriso –, e imagino que seja<br />
difícil de acreditar que uma velha como eu possa ter sentido o que você está<br />
sentindo.<br />
− Não, mas é claro que não − respondo rapidamente.<br />
− Tenho um pouco de experiência que pode ser útil a você. − Ela se aproxima<br />
de mim. − Não fique satisfeita com uma vida tranquila. A juventude foge mais<br />
rápido do que você imagi<strong>na</strong>. Agarre e sinta a vida, aproveite-a com toda a sua<br />
força, todo o seu vigor. Até mesmo a dor serve para lembrá-la de que está viva e<br />
que sem ela você não saberia o que é prazer. Não se esqueça de que mesmo os<br />
mais belos jovens irão, cedo ou tarde, virar pó. Todos nós vamos passar muito<br />
tempo mortos.<br />
Suas palavras mexem com algo dentro de mim.<br />
Ela está certa, sei disso. A ideia de pensar em rejeitar Dominic e tudo o que<br />
ele me deu e me fez sentir parece absurda agora. Ele foi longe demais, mas<br />
tenho certeza absoluta de que ele jamais deixaria isso acontecer de novo. Ele<br />
estava preparado para me ouvir e para mudar. Consigo perceber isso agora. Mas<br />
minha chance escorregou pelos meus dedos. Dominic se foi.<br />
Não há prazer sem dor. Não há paixão sem sofrimento. Prefiro me sentir viva a<br />
viver em segurança.<br />
Dominic… onde você está?