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Revista LiteraLivre 3ª edição (versão 1)

3ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 3nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

3ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo.
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Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 2<br />

lua estava cheia. Iluminava a sua face quente, os seus olhos selvagens.<br />

Sentiu que o sangue circulava. Tocou mentalmente cada ponto do seu<br />

corpo, usou o pensamento. Raciocinou aquele mistério.<br />

Onde estava mesmo? Dois mundos se dividiam, como águas que<br />

se desencontram. Sua cabeça se repartia. Ele sabia que era impossível<br />

existir dois mundos assim, sem que ninguém notasse. Impossível, dois<br />

mundos. Resistia. Foi ao fim da cidade. Olhou o céu, encarou a lua,<br />

ouviu os grilos. Era já outro mundo, longe do portão. Era também uma<br />

outra vida? Estancou. Estagnou, pensativo, hipnotizado.<br />

Ouviu um barulho de rio. Depois, de mato. Havia algo no mato.<br />

Seus olhos estavam firmes, como os do gato. Seguiu os rastros sonoros.<br />

Entrou no mato escuro, iluminado pelo céu da noite, e viu. Viu um<br />

menino magro, assustado como um cego, girando para todo lado,<br />

procurando algo para se encostar, com as mãos para trás. Quem seria<br />

ele, não pensou. Avançou. O menino ficou mais agressivo, defensivo.<br />

Fez gestos bruscos para afastar o invisível. Então, ele tocou o ombro do<br />

menino. Um pulo. Um salto para trás e os dois ajeitavam os corpos para<br />

a briga. Encararam-se. O menino via. Desfez-se o susto. Fez-se um riso.<br />

Conhecia-o. Você veio, o menino disse. Você chegou. Eu, que estava<br />

cego, agora posso enxergar. Todos nós ganhamos olhos a ver mais,<br />

algum dia. Venha, vamos ao fundo. Tens que quebrar o meu esqueleto.<br />

Foste sequestrado pelas borboletas. Faça-o e minha pele será tuas asas.<br />

O homem assustou-se, ofegante. Um susto, um delírio, uma<br />

urgência. Onde ele havia ido parar? Sentiu-se um intruso. Não sabia o<br />

que fazer. Esperou. Aguardou que aquilo se desfizesse. Mas o menino<br />

continuava ali, parado, também no aguardo. Estou perdido, pensou. E o<br />

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