Estado_democracia_direitosLGBT_capitulo
Livro, LGBT, Políticas Públicas
Livro, LGBT, Políticas Públicas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A <strong>democracia</strong> é necessária exatamente porque não podemos concordar.<br />
Ela é o único sistema capaz de lidar com conflitos sem terinar em morte;<br />
é um sistema em que existem divergências, conflitos, vencedores e perdedores.<br />
Nos sistemas autoritários não há conflitos. Nenhum país onde<br />
um parido ganhe 60% dos votos em duas eleições consecutivas é uma<br />
<strong>democracia</strong>.<br />
Adam Przeworski
SUMÁRIO<br />
11<br />
PREFÁCIO<br />
13<br />
APRESENTAÇÃO<br />
31<br />
CAPÍTULO 1<br />
ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E REPRESENTAÇÃO<br />
DEMOCRÁTICA<br />
127<br />
CAPÍTULO 3<br />
DEUS FEZ MACHO E FÊMEA? BINARISMO DE GÊNERO<br />
E HOMOFOBIA<br />
197<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
207<br />
REFERÊNCIAS<br />
67<br />
CAPÍTULO 2<br />
POLÍTICAS E DIREITOS PARA PESSOAS LGBT<br />
NO BRASIL<br />
163<br />
CAPÍTULO 4<br />
O PODER LEGISLATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO:<br />
POLÍTICAS E DIREITOS LGBT<br />
203<br />
POSFÁCIO<br />
221<br />
FONTES DAS IMAGENS
POSFÁCIO<br />
TEMPO, PACIÊNCIA E SACRIFÍCIO<br />
Jaqueline Gomes de Jesus 01<br />
Em fins dos anos 90 do século XX, enquanto cursava a graduação em Psicologia,<br />
eu conheci e me engajei nas ações do Estruturação – Grupo LGBT<br />
do Distrito Federal. No alvorecer do novo tempo, havia uma belíssima organização,<br />
impulsionada pelo movimento nacional, pela aprovação de uma<br />
lei em prol do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que posteriormente<br />
virou união civil homoafetiva.<br />
Uma de nossas ações foi a de distribuir bottons entre os parlamentares.<br />
Nessa oportunidade, encontrei o futuro presidente Luís Inácio Lula da Silva<br />
no Congresso Nacional, ele se recusou a receber o botton que lhe ofereci. Eu<br />
me senti bem mal com o olhar que dele recebi, para mim um misto de raiva<br />
e insulto por eu lhe ter cogitado de oferecer “aquilo”.<br />
Uma década depois, o Legislativo só se tornou mais retrógrado, não avançando<br />
na dita legislação, de como que o Judiciário estabeleceu, pelos seus<br />
meios, aquele direito ansiado por pessoas homossexuais.<br />
Uma década depois, o então presidente Lula abriu a Conferência Nacional<br />
LGBT, ao lado da primeira dama Marisa Letícia. Saiu em uma foto histórica<br />
com os militantes Toni Reis e Fernanda Benvenutty.<br />
01. Professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Doutora em<br />
Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UnB). Pesquisadora-Líder<br />
do ODARA – Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura, Identidade e Diversidade<br />
(IFRJ – Campus Belford Roxo). Foi presidente do Grupo Estruturação, da ONG<br />
ACOS – Ações Cidadãs em Orientação Sexual e do Fórum LGBT do Distrito Federal<br />
e Entorno. Pesquisa e publica sobre identidade e movimentos sociais, com foco em<br />
gênero e orientação sexual. É autora e organizadora, entre outros textos, dos livros<br />
“Transfeminismo: Teorias e Práticas” e “Homofobia: Identifi car e Prevenir”. Agraciada com<br />
o Prêmio Rio Sem Homofobia (2016) e a Medalha Chiquinha Gonzaga (2017), concedida<br />
pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro a mulheres com reconhecidas contribuições à<br />
sociedade.
Márcio Sales Saraiva<br />
Tempo, paciência e sacrifício trouxeram os seus frutos, mesmo que não<br />
a contento das mais elevadas expectativas.<br />
Nesse meio tempo, eu vi e vivi bastantes coisas: muitas atitudes individuais<br />
e práticas institucionais mudaram, nesse breve espaço de tempo. E<br />
eu sinto que, em termos de movimento social, perdeu-se muito do ímpeto<br />
e da criatividade daqueles tempos.<br />
Reparo isso quando observo as raras e pontuais iniciativas que são tomadas<br />
a favor da cidadania das pessoas trans, as quais costumam ser agitadas<br />
“em cima da hora”, sem o devido acompanhamento das pautas legislativas<br />
ou sem o requerido advocacy junto ao Judiciário.<br />
Eu vejo muito ativismo autoral, como costumo dizer, ou “eutivismo”,<br />
como é dito entre os mais experientes nesse campo das militâncias: um<br />
número relevante de opiniões, até qualificadas, porém useiras em não se<br />
organizarem em torno de uma ação coletiva, algo que siga além do posicionamento<br />
em blogs e redes sociais ou da presença marcante em eventos<br />
públicos.<br />
Estaria eu enganada? Desiludida? Confundida? Exagerando? Sendo rígida<br />
demais?<br />
O livro do meu amigo Márcio Sales Saraiva traz esclarecimentos necessários<br />
à questão, que é de especial interesse dos ativistas mais jovens, que<br />
por vezes se perdem na linha, geralmente caótica porque concomitante,<br />
das histórias de luta que os antecederam.<br />
Como intelectual ricamente fundamentado nas Ciências Sociais e Políticas<br />
(além de ser um homem de fé e boa vontade), Márcio conhece os<br />
caminhos e descaminhos do poder, e se importa com a garantia de direitos<br />
para as populações historicamente excluídas.<br />
Em sua análise de pesquisador-atuante, que assume um engajamento<br />
para com os sujeitos da investigação, ele observou cuidadosamente os<br />
avanços, a inércia e os parcos progressos das políticas públicas em prol da<br />
população LGBT, e conjugando os recursos de sua ciência e da sua práxis,<br />
aponta falhas e propõe caminhos, com vistas à ocupação de espaços e à<br />
inclusão.<br />
Este livro não é uma coletânea de achismos, mas um compêndio de<br />
saberes e fazeres concernentes à valorização da diversidade de gênero e de<br />
orientação sexual. Ele, felizmente, conjuga profunda imersão no cotidiano<br />
204
da população em foco e aplicação bem sucedida das teorias e normas construídas<br />
sobre a questão, deveras há algum tempo.<br />
Recomendo a leitura desta belíssima publicação, a qual retoma estratégias<br />
bem-sucedidas, em médio prazo esquecidas ou ignoradas, no que se<br />
refere aos saberes-fazeres indispensáveis para aqueles que, militantes LGBT<br />
ou parceiros, trabalham por um Brasil e um mundo cada vez mais cidadão.<br />
E isso não se faz só com mobilização, mas também com atuações<br />
político-partidárias coerentes e atentas aos modos de vida e trabalho de<br />
cada(um), na sua diversidade interna de ser quem é.<br />
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2017.<br />
<strong>Estado</strong>, Democracia, Políticas Públicas e Direitos LGBT<br />
205