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Universidade Federal de Minas Gerais<br />

Faculdade de Educação<br />

Disciplina: Juventude e Relações Raciais<br />

Professores: Geraldo Leão e Rodrigo de Jesus<br />

Aluna: Gabriela Guerra de Almeida<br />

2° semestre / 2013<br />

Juventude, relações raciais e cultura <strong>visual</strong><br />

O presente texto pretende apresentar algumas reflexões acerca dos temas discutidos na<br />

disciplina Juventude e Relações Raciais, ministrada no segundo semestre de 2013, na Faculdade de<br />

Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, buscando estabelecer um diálogo com a nossa<br />

proposta de pesquisa no mestrado, atualmente em curso na mesma instituição. O projeto de pesquisa A<br />

cultura <strong>visual</strong> na escola na construção da identidade étnico racial, propõe uma investigação sobre o<br />

desenvolvimento da linguagem <strong>visual</strong> no ambiente escolar e sua relação com os processos de<br />

construção de identidades étnico-raciais a partir de uma intervenção que prevê a realização de oficinas<br />

teóricas e práticas, que visam a produção e análise de imagens por jovens entre 15 e 17 anos, estudantes<br />

do ensino médio, de ambos sexos e de diferentes pertencimentos étnico-raciais.<br />

Coletivo Black Horizonte<br />

A proposta de pesquisa nasceu de uma experência, iniciada em 2010, na qual busquei<br />

aprofundar o estudo sobre culturas africanas e da diáspora, e juntamente com um grupo de artistas das<br />

áreas da música, dança e artes visuais, criamos o Coletivo Black Horizonte 1 . Nossa proposta era<br />

investigar as artes e culturas do Atlântico Negro e as novas tecnologias digitais de som e imagem.<br />

No coletivo, trabalhei na criação de um espetáculo intitulado Blacktronic, com um grupo de<br />

jovens que pesquisavam as danças urbanas. Nossos encontros eram espaços de experimentação e troca<br />

de conhecimentos. Com esses jovens pude ampliar meu entendimento sobre a cultura Hip Hop e<br />

através de oficinas trabalhei com eles as possibilidades de articulação das dança urbanas com outras<br />

linguagens, como o desenho e o video. E nesse processo refletimos sobre diversas questões<br />

relacionadas à nossa própria identidade em termos de classe, gênero, diferença geracional e<br />

1 O Coletivo Black Horizonte é um projeto desenvolvido pelo Núcleo Experiemental de Arte Negra e Tecnologia, criado<br />

por Gil Amancio em 2007. Desde 2010, o Coletivo desenvolveu sob a coordenação geral de Amancio a performance<br />

Ponto Riscado e o espetáculo Blacktronic, apresentados em festivais de Belo Horizonte, na Semana Negra da Dança no<br />

Centro Coreógrafico da Cidade do Rio de Janeiro e no V Encontro de Arte de Matriz Africana, em Porto Alegre. No<br />

Coletivo, realizo, juntamente com o VJ Tatu Guerra, trabalhos de cenografia digital, que envolvem pesquisa, produção e<br />

projeção de imagens em cena.<br />

1


pertencimento étnico.<br />

Nessa produção artística do coletivo, a questão da identidade étnico-racial esteve presente na<br />

medida em que a equipe técnica tomou os elementos da cultura afrobrasileira como base para as<br />

criações. Buscávamos trazer para a cena questões que nos inquietavam relacionadas a população<br />

afrodesendente no Brasil, no intuito de representar o negro de uma outra perspectiva, mais urbana,<br />

contemporânea e visando contemplar os processos de resistência cultural. Ela se fez presente também<br />

através da performance dos jovens que se inspiravam nas suas referências familiares para expressarem<br />

traços de sua identidade juvenil.<br />

As pesquisas no coletivo nos surpreenderam muito na medida em que encontramos estudos que<br />

apontam relações entre as culturas africanas e da diáspora e o desenvolvimento das atuais tecnologias<br />

digitais, da ciência da computação e da cibernética; relações entre a arquitetura africana e a matemática<br />

fractal, entre os jogos de adivinhação e o código binário. Complexidades até então nunca imaginadas<br />

por nós, pois uma visão sobre essas culturas como algo somente ligado à tradição, ou até mesmo a algo<br />

primitivo, que havíamos aprendido desde a escola, ainda permanecia.<br />

O racismo primitivista que funciona de modo a tornar a cultura não-ocidental demasiado<br />

concreta e assim “mais próxima da natureza”, limita a nossa visão sobre as culturas africanas e da<br />

diáspora, e muitas vezes não refletimos sobre as origens do que consideramos como cultura ocidental.<br />

Como por exemplo, podemos pensar a teoria cibernética, considerando as contribuições africanas,<br />

como indicam os estudos do matemático Ron Eglash, que apontam relações entre os padrões presentes<br />

na arte e na arquitetura antiga de culturas africanas à teoria da geometria fractal.<br />

Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao<br />

objeto original.<br />

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Vila Ba-ila no sul da Zâmbia<br />

Eglash chama atenção para o fato de que a história das interações africanas com a cibernética<br />

não se dá em torno de uma única essência. Ela inclui a passagem de engenheiros brancos pelo<br />

continente africano e que desenvolveram suas teorias a partir de suas interações com esses<br />

conhecimentos da África, e também engenheiros negros da África e da diáspora que não reivindicam<br />

inspirações calcadas em qualquer tradição étnica.<br />

Encontramos na biografia de Lélia Gonzalez, escrita por Alex Ratts e Flávia Rios, um relato<br />

desta intelectual que se refere a uma percepção semelhante a que tivemos durantes nossas<br />

investigações, que apareceu na medida em que ela entrou em contato com expressões como o samba e<br />

o Candomblé:<br />

“Manifestações culturais que eu, afinal de contas, com uma formação em filosofia,<br />

transando uma forma cultural ocidental tão sofisticada, claro não podia olhar como<br />

3


coisas importantes.” ( p. 60)<br />

Nesse sentido as investigações do Coletivo Black Horizonte sobre a cultura afrobrasileira<br />

refletem esse entendimento de que suas expressões não estão congeladas no tempo. Não estamos em<br />

busca de raízes, mas tentando entender as visões de mundo que essas expressões carregam, observando<br />

a maneira como lidam com o corpo, as relações humanas, com espaço, o som e a imagem. Buscamos<br />

entender a dinâmica cultural da diáspora africana sob o viés do fluxo e refluxo intercontinental,<br />

expressa no conceito de Atlântico Negro, como proposto pelo sociólogo Paul Gilroy.<br />

Cultura <strong>visual</strong>, identidade étnico-racial e relações raciais<br />

O trabalho desenvolvido com os jovens no Coletivo Black Horizonte me despertou o desejo de<br />

expandir essa experiência educativa para outros contextos. Na minha experiência como educadora em<br />

museus e galerias atendendo grupos escolares, percebi o quanto é complexo tratar da questão racial<br />

com os estudantes e vejo como isso está relacionado, como apontam alguns estudos, a um processo<br />

histórico, marcado pela ausência de referências significativas às culturas de matriz africana nas<br />

instituições culturais e à pouca atenção que as instituições de ensino deram às questões raciais no<br />

Brasil. (OLIVEIRA & ALBUQUERQUE, 2012; JACCOUD, 2008).<br />

Através do contato com estudantes da pós-graduação em Educação da FaE pude ter acesso a<br />

alguns estudos sobre o ambiente escolar e as possibilidade de interferir nele para alterar as relações<br />

entre os estudantes e seus professores. Daí surgiu o interesse em participar dessas experiências de<br />

pesquisa com o objetivo de responder se a minha formação em Artes Visuais e o meu trabalho como<br />

produtora de imagens com jovens em um contexto não escolar, poderia contribuir na construção de<br />

identidades étnico-raciais dentro da escola numa perspectiva plural.<br />

Refletir sobre a África, os africanos escravizados e os afrodescendentes na formação do Brasil,<br />

são algumas das questões que nos levaram a formar esse coletivo, no sentido de uma ampliação dos<br />

olhares e das atitudes para a eliminação dos preconceitos e das discriminações raciais. Sendo assim,<br />

acreditamos que nossas inquietações dialogam com as questões presentes no Plano Nacional de<br />

Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para<br />

o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana. O plano é resultado de lutas políticas dos<br />

movimentos sociais negros e nosso intuito é contribuir no fortalecimento dessas ações.<br />

Na pesquisa Sem querer você mostra o seu preconceito!, apresentada durante a disciplina<br />

Juventude e Relações Raciais, Fernanda Vasconcelos Dias também ressalta a importância de realizar o<br />

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debate sobre as relações raciais na escola. Na nossa pesquisa pretendemos abordar essa questão a partir<br />

da cultura <strong>visual</strong>, sob a perspetiva dos Estudos Culturais. Nicholas Mirzoeff entende que a cultura<br />

<strong>visual</strong> é uma estratégia para se compreender a vida contemporânea, pois, para ele, o “<strong>visual</strong> é lugar<br />

sempre desafiante de interação social e definição em termos de classe, gênero, identidade sexual e<br />

racial” (p. 20).<br />

Segundo estudiosos brasileiros, a cultura <strong>visual</strong> vem ganhando importância a partir do século<br />

XX devido ao desenvolvimento da fotografia, do cinema, da televisão, do computador e a veiculação<br />

de informações por meio da web, que tem ampliado as possibilidades de atuação dos indivíduos como<br />

receptores e emissores de informação (ANDRADE, 2010, p.11).<br />

Embora o estudo da imagem e das novas mídias dentro da escola venha ganhando importância,<br />

ele acontece ainda de maneira tímida no que diz respeito a sua potencialidade enquanto recurso<br />

didático e como forma de expressão (BARBOSA, 2011; BORGES et al, 2012). Tal como esses autores<br />

assinalam, o uso pedagógico da imagem envolve questões complexas que o senso comum as coloca de<br />

maneira simplificada como meramente ilustrativas de um texto, cuja observação sobre elas se faz,<br />

muitas vezes, isenta de críticas ou maior apuramento de seu contexto histórico. Não se leva em conta<br />

que, para responder as questões que a produção de imagem suscita, se faz necessário o<br />

desenvolvimento de competências específicas.<br />

Pesquisa-intervenção<br />

Essa proposta de estudo pretende ser desenvolvida num atelier de artes dentro do espaço<br />

escolar, onde serão relizadas atividades que visam não só a produção, mas também a análise de<br />

imagens e sua incorporação no processo de construção da identidade dos alunos.<br />

Em termos metodológicos, pensamos que o estudo possa se desenvolver a partir oficinas que<br />

visam o conhecimento e utilização de técnicas, materiais e suportes relacionadas ao desenho, à<br />

fotografia e ao video, buscando incentivar uma produção individual e coletiva dentro do atelier, tendo<br />

como foco o retrato e autorretrato.<br />

Inicialmente iremos mapear as maneiras como os jovens percebem a relação entre imagem e<br />

identidade e como pensam suas identidades étnico-raciais. E em seguida passamos a discutir o lugar do<br />

leitor e do produtor na cultura <strong>visual</strong>. A partir de referências individuais e sociais iremos exercitar a<br />

análise de imagens da tv, da internet, mídia impressa e artes visuais. No livro Mídia e racismo, Silvia<br />

Ramos traz uma importante reflexão sobre mídia e relações raciais:<br />

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“Além de ser um caso exemplar dos mecanismos de reprodução das relações raciais, a<br />

mídia desempenha um papel central e único na produção e manutenção do racismo.<br />

Através dos meios de comunicação de massa, como a televisão e o rádio, as<br />

desigualdades raciais são neutralizadas, banalizadas e muitas vezes racionalizadas. Em<br />

grande medida, através da mídia de massa, as representações raciais são atualizadas e<br />

reificadas. E dessa forma, como “coisas”, circulam como noções mais ou menos comuns<br />

a toda a sociedade e como idéias mais ou menos sensatas.” (Ramos, 2002, p.9)<br />

Nesse sentido, as atividades que serão realizadas na intervenção, visam estimular o<br />

desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes fazer uma análise crítica de<br />

discursos, mais especificamente visuais, de maneira que possam também aprender a reconhecer<br />

ideologias, como o racismo, presentes nas mesmas.<br />

Finalmente, gostaria de apresentar algumas referências teóricas e imagéticas: A mão Afrobrasileira<br />

e trabalhos da artista Rosana Paulino, que estamos mapeando e analisando para planejar as<br />

atividades que serão desenvolvidas na pesquisa-intervenção.<br />

A mão afro-brasileira<br />

A primeira edição da A mão Afro-brasileira, foi publicada em 1988, como parte das<br />

comemorações “dos 100 anos da abolição” da escravização da população negra no Brasil. Em 2010,<br />

foi publicada a segunda edição, revista e ampliada, numa realização conjunta do Museu Afro Brasil, da<br />

Imprensa Oficial e do Governo do Estado de São Paulo. Inicialmente, nosso trabalho será sobre a<br />

primeira edição de 1988, que está dividida em quatro capítulos: I – O Barroco e o Rococó; II – O<br />

Século XIX: a academia e os acadêmicos; III – A herança africana e as artes populares; IV – Arte<br />

Contemporânea e Apêndices.<br />

A mão Afro-brasileira é uma obra que foi organizada por Emanuel Araújo. No prefácio, Joel<br />

Rufino diz que a obra é resultado de um recenseamento realizado por um grupo de pesquisadores, no<br />

intuito de identificar a produção da mão, do cérebro e da alma negras na construção da civilização<br />

brasileira, tornando visível quem negro foi nesse processo.<br />

No capítulo I, José Roberto Teixeira Leite aponta que um grande número de negros<br />

escravizados e seus filhos se dedicaram às artes e aos ofícios durante o período colonial no Brasil,<br />

sendo que muitos alcançaram, através dessa prática, patamares mais elevados na estrutura social. Como<br />

exemplo temos Manuel da Cunha, nascido no Rio de Janeiro em 1737. Escravizado e filho de<br />

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escravizada, estudou com João de Souza. Conseguiu sua alforria com o auxílio do negociante José Dias<br />

da Cruz. Se aperfeiçoou em Lisboa e o regressar ao Rio de Janeiro, dedicou-se à pintura religiosa e ao<br />

retratismo, praticando ainda a escultura e por longos anos, ministrou em sua residência aulas de pintura.<br />

Nossa Senhora da Conceição. Óleo sobre tela.<br />

Quando olhamos a trajetória de alguns desses artistas, observamos que elas revelam como as<br />

relações sociais no período colonial eram bastante complexas, e iam além do que mais comumente<br />

entendemos como senhores, escravos e alguns libertos. Pensamos que trabalhar esses conteúdos na<br />

escola pode auxiliar na transformação de visões que foram historicamente construídas. Como por<br />

exemplo, a de pessoas escravizadas que supostamente vieram para trabalhar, apenas como mão de obra,<br />

força de trabalho. Em A mão Afro-brasileira, vemos que essas pessoas construíram o Brasil.<br />

Adornaram e construíram igrejas, retrataram figuras importantes da história. E de onde vieram esses<br />

conhecimentos, uma vez que supostamente eram povos “primitivos”?<br />

Um outro aspecto que nos chama a atenção e que é destacado por Marco de Oliveira, em um<br />

artigo sobre a segunda edição da obra, diz respeito ao termos utilizados nos texto para se referir à<br />

população negra. De acordo com Oliveira, grande parte dos autores convocados por Emanuel Araujo<br />

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para escrever sobre a presença negra nas artes brasileiras, são autores, que antes desse projeto, nunca<br />

tinham discutido relações raciais e em alguns momentos acabaram reproduzindo o pensamento<br />

hegemônico na sociedade brasileira, utilizando conceitos como mestiços e mulatos em voga no final<br />

dos anos de 1980, quando o livro foi publicado pela primeira vez. Lendo a obra, parece faltar uma nota<br />

discutindo tais conceitos ou explicando sua manutenção na segunda edição, já que uso de alguns termos<br />

foram bastante questionados por pesquisadores e ativistas ligados aos movimentos sociais negros.<br />

Rosana Paulino<br />

lka Boaventura Leite, no artigo Olhares de África: lugares e entre-lugares da arte na diáspora,<br />

aponta que a produção contemporânea de arte vem expressando uma reflexão dos artistas sobre suas<br />

identidades numa sociedade pós-colonial. Nesse sentido uma das artistas com a qual pretendemos<br />

trabalhar é Rosana Paulino.<br />

Rosana Paulino desenvolve através do seu trabalho artístico uma reflexão sobre a posição da<br />

mulher negra na sociedade brasileira e as formas de violência, decorrentes do racismo e da<br />

escravização, sofridas pela população afrodescendente. Ela é professora das áreas de<br />

Multiculturalidade, Interdisciplinaridade e Desenho, na Faculdade Estácio de Sá em São Paulo; doutora<br />

em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e se<br />

especialisou em gravura pelo London Print Studio, em Londres, como bolsista do Programa da<br />

Fundação Ford. A artista possui obras em importantes museus, tais como: Museu de Arte Moderna de<br />

São Paulo – MAM; Pinacoteca Municipal e Museu Afro-Brasil, em São Paulo.<br />

Na instalação Assentamento, a artista identifica três partes: uma referência à travessia, parte do<br />

tráfico de africanos escravizados, invocada por imagens em vídeo do mar; os braços que vieram para o<br />

trabalho ou “as mãos afrobrasileiras”, e o assentamento de uma nova cultura. Rosana Paulino costura<br />

de forma desencontrada imagens de uma mulher, e o faz de forma a restituir sua humanidade. Essa<br />

imagem, atualmente parte da coleção do Peabody Museum of Ethmology and Arqueology de Harvard,<br />

foi originalmente produzida pelo fotógrafo Augusto Sthal. O zoólogo suíço Louis Agassiz, em<br />

expedição pelo Brasil, entre 1865 e 1866, com a intenção de estudar a miscigenação, encomendou ao<br />

fotográfo franco-suiço, residente na cidade do Rio de Janeiro, registros científicos de africanos, “tipos<br />

raciais puros”. Agassiz acreditava na superioridade da etnia branca e que a miscigenação poderia causar<br />

a degeneração dos seres humanos.<br />

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Na obra O Baile, Rosana Paulino questiona os estereótipos a que as mulheres negras são<br />

submetidas e como repercutem nas relações afetivas que estabelecem. Nessa instalação, a artista utiliza<br />

silhuetas e fotografias colocadas em vidros de cosmésticos, propondo uma desconstrução do mito da<br />

festa de debutantes, e revelando constrangimentos vividos pelas jovens negras diante do modelo de<br />

beleza oficial.<br />

O Baile, 2004<br />

Parece-nos pertinente utilizar imagens, como as que foram acima apresentadas, nas atividades<br />

da pesquisa-intervenção que serão realizadas com os jovens na escola, pois acreditamos que elas<br />

podem gerar uma reflexão sobre os processos de construção de identidades e relações raciais. Como<br />

aponta Nilma Lino Gomes:<br />

“(...) para o negro e a negra, a forma como o seu corpo e cabelo são vistos por<br />

ele/ela mesmo/a e pelo outro configura um aprendizado constante sobre as<br />

relações raciais. Dependendo do lugar onde se desenvolve essa pedagogia da cor<br />

e do corpo, imagens podem ser distorcidas ou ressignificadas, estereótipos<br />

podem ser mantidos ou destruídos, hierarquias raciais podem ser reforçadas ou<br />

rompidas e relações sociais podem se estabelecer de maneira desigual ou<br />

democrática.”<br />

Concluindo, percebo que a disciplina Juventude e Relações Raciais contribuiu muito no<br />

aprofundamento de temas concernentes ao objeto de pesquisa, transformando o meu entendimento<br />

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sobre <strong>juventude</strong> e as formas complexas como esse campo se articula com questões das relações raciais.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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Paulo: Tenenge, 1988.<br />

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69-84, 2011.<br />

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