Jornal da ABI Especial - A Cronologia dos Quadrinhos 1
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348<br />
NOVEMBRO<br />
2009<br />
Órgão oficial <strong>da</strong> Associação Brasileira de Imprensa
Bem-vindo aos quadrinhos!<br />
É POR MEIO DELAS que costumamos <strong>da</strong>r os primeiros<br />
passos nos campos do senso estético e do<br />
apreço pelas palavras. Por muitas gerações, as histórias<br />
em quadrinhos, edita<strong>da</strong>s em revistas, gibis<br />
ou jornais, cumpriram a tarefa de entreter, divertir<br />
e, sobretudo, aju<strong>da</strong>r a alfabetizar. De estabelecer<br />
o efetivo laço afetivo com a leitura. Estu<strong>dos</strong> chegam<br />
a sugerir que, quando aduba<strong>da</strong>s no solo fértil<br />
<strong>da</strong>s hqs, <strong>da</strong>s pequenas crianças naturalmente<br />
brotam os grandes leitores – e essa não é uma<br />
referência apenas à estatura física.<br />
OS PREDICADOS PRESENTES nos quadrinhos são<br />
capazes de converter sujeito indeterminado em<br />
personagem principal. Quem se deixa encantar e<br />
sabe bem explorar as hqs torna-se leitor ávido e<br />
curioso. Garante, por assim dizer, o seu final feliz.<br />
Muitos são os estímulos abarca<strong>dos</strong> nos traços<br />
marcantes, nas cores contrasta<strong>da</strong>s. No humor, por<br />
vezes refinado, ou exposto em ironia abrutalha<strong>da</strong>.<br />
Na magia perene <strong>dos</strong> clássicos e no frisson <strong>da</strong>s<br />
aventuras inimagináveis. Nas bravatas <strong>dos</strong> superheróis<br />
e nas peraltices <strong>dos</strong> personagens infantis.<br />
OS QUADRINHOS SÃO, na ver<strong>da</strong>de, uma espécie<br />
de berço no qual é possível embalar to<strong>da</strong> e qualquer<br />
imaginação. As onomatopéias não estão lá<br />
por acaso. Ao descrever sons com fonemas – pow,<br />
soc e bum rolam à vontade – o autor faz reverberar<br />
nas cabeças de quem lê tapas, socos e pontapés.<br />
Explosões. E, no deslumbramento diante do<br />
desenho estático, impresso no papel, tudo ganha<br />
movimento, no folhear entre uma página e outra.<br />
COM O ENCOLHIMENTO <strong>dos</strong> grandes jornais<br />
ocorrido nas últimas déca<strong>da</strong>s, tanto em formato<br />
quanto em número de páginas, os quadrinhos perderam<br />
seu espaço. Vão longe os tempos em que<br />
eram publica<strong>da</strong>s seções diárias com tirinhas. E que<br />
as fartas edições de domingo traziam encarta<strong>dos</strong>,<br />
como um brinde, suplementos colori<strong>dos</strong> com<br />
personagens preferi<strong>dos</strong> <strong>da</strong>s<br />
crianças. De certa forma, eficiente estratégia de<br />
cativar hoje o leitor de amanhã. Que seção cumpre<br />
tal função nas publicações atuais?<br />
HOJE, QUANDO AINDA presentes nos jornais, os<br />
quadrinhos estão espremi<strong>dos</strong> entre palavras cruza<strong>da</strong>s,<br />
horóscopos e passatempos. Mas, já houve<br />
um tempo em que personagens e seus autores<br />
eram disputa<strong>dos</strong> por magnatas <strong>da</strong> imprensa. Eles<br />
sabiam que as tiras traziam mais e novos leitores.<br />
E, nesse intento, não cabia economizar papel ou<br />
tinta. A fase de extrema valorização <strong>da</strong>s hqs teve<br />
início no fim do século 19, quando os processos<br />
gráficos foram aprimora<strong>dos</strong>.<br />
A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS, como os próprios,<br />
é repleta de reviravoltas. As hqs já tiveram momentos<br />
gloriosos e foram persegui<strong>da</strong>s em ações de<br />
caça às bruxas, acusa<strong>da</strong>s de alia<strong>da</strong>s do comunismo.<br />
Os quadrinhos foram marginaliza<strong>dos</strong>, queima<strong>dos</strong><br />
sob a alegação de prejudicarem o desempenho escolar,<br />
levando à delinqüência juvenil. Pura bobagem.<br />
Tanto que, com o tempo, as próprias editoras<br />
de livros didáticos passaram a recorrer a seus<br />
traços para adoçar seus conteú<strong>dos</strong> acadêmicos.<br />
PRODUTO DA INDÚSTRIA cultural de massa, os<br />
quadrinhos experimentam o sabor de seu tempo.<br />
Há quem acredite que, de certa forma, eles sempre<br />
estiveram a nos cercar, desde as pinturas rupestres<br />
<strong>dos</strong> homens que contavam suas histórias nas<br />
paredes <strong>da</strong>s cavernas. A tecnologia avançou, a comunicação<br />
revelou novas mídias e os garotos contam<br />
agora com outras diversões, o que só agrava a<br />
retração dessa indústria outrora tão rentável.<br />
OS QUADRINHOS RESISTEM, persistem. Talvez<br />
estejam se preparando para passos futuros, possíveis<br />
com as inovações tecnológicas. Não é absurdo<br />
pensar, com os recursos já disponíveis, em revistas<br />
com animação digital e opções de interativi<strong>da</strong>de.<br />
Novas formas de contar antigas aventuras.<br />
É PARA PRESERVAR o fio <strong>da</strong> mea<strong>da</strong> <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s<br />
hqs que a <strong>ABI</strong> lança esta edição especial. A primeira<br />
parte <strong>da</strong> retrospectiva que aponta o que aconteceu<br />
até agora. Certamente, longe de colocar ponto<br />
final nessa história.<br />
VIDA LONGA AOS QUADRINHOS!<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong><br />
Número 348 - Novembro de 2009<br />
Editores: Maurício Azêdo e Francisco Ucha<br />
Projeto gráfico e diagramação: Francisco Ucha<br />
<strong>Cronologia</strong>, pesquisa e re<strong>da</strong>ção: Otacílo Barros<br />
Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,<br />
André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobim<br />
<strong>da</strong> Silveira, Fernando Luiz Baptista Martins,<br />
Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luiz<br />
de Freitas Borges.<br />
Publici<strong>da</strong>de e Marketing: Francisco Paula Freitas<br />
(Coordenador), Queli Cristina Delgado <strong>da</strong> Silva,<br />
Paulo Roberto de Paula Freitas.<br />
Diretor Responsável: Maurício Azêdo<br />
Associação Brasileira de Imprensa<br />
Rua Araújo Porto Alegre, 71 - Rio de Janeiro, RJ -<br />
Cep 20.030-012<br />
Telefone (21) 2240-8669/2282-1292<br />
e-mail: presidencia@abi.org.br<br />
Representação de São Paulo<br />
Diretor: Rodolfo Konder<br />
Rua Dr. Franco <strong>da</strong> Rocha, 137, conjunto 51<br />
Perdizes - Cep 05015-O4O<br />
Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960<br />
e-mail: abi.sp@abi.org.br<br />
Impressão: Taiga Gráfica Editora Lt<strong>da</strong>.<br />
Aveni<strong>da</strong> Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808<br />
Osasco, SP<br />
DIRETORIA – MANDATO 2007/2010<br />
Presidente: Maurício Azêdo<br />
Vice-Presidente: Tarcísio Holan<strong>da</strong><br />
Diretor Administrativo: Estanislau Alves de Oliveira<br />
Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles<br />
Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak<br />
Diretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê)<br />
Diretor de <strong>Jornal</strong>ismo: Benício Medeiros<br />
CONSELHO CONSULTIVO 2007-2010<br />
Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira (in memoriam), Miro Teixeira,<br />
Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura.<br />
CONSELHO FISCAL 2009-2010<br />
Geraldo Pereira <strong>dos</strong> Santos, Presidente, A<strong>da</strong>il José de Paula, Adriano Barbosa do<br />
Nascimento, Jorge Sal<strong>da</strong>nha de Araújo, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Manolo<br />
Epelbaum e Romildo Guerrante.<br />
MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2009-2010<br />
Presidente: Pery Cotta<br />
1º Secretário: Lênin Novaes de Araújo<br />
2º Secretário: Zilmar Borges Basílio<br />
Conselheiros efetivos 2009-2012<br />
Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, Fernando<br />
Segismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miran<strong>da</strong> Jordão, José Ângelo <strong>da</strong> Silva<br />
Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd<br />
Sobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.<br />
Conselheiros efetivos 2008-2011<br />
Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos Arthur<br />
Pitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Le<strong>da</strong><br />
Acquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho <strong>da</strong> Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho,<br />
Rodolfo Konder, Tarcísio Holan<strong>da</strong> e Villas-Bôas Corrêa.<br />
Conselheiros efetivos 2007-2010<br />
Artur <strong>da</strong> Távola (in memoriam), Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveira, Fernando<br />
Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, José Rezende Neto,<br />
Marcelo Tognozzi, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de<br />
Sousa (Pajê), Sérgio Cabral e Terezinha Santos.<br />
Conselheiros suplentes 2009-2012<br />
Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes),<br />
Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jor<strong>da</strong>n Amora,<br />
Jorge Nunes de Freitas, Lima de Amorim, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio<br />
Mendes de Miran<strong>da</strong>, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho<br />
Neto e Rogério Marques Gomes.<br />
Conselheiros suplentes 2008-2011<br />
Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto,<br />
Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira <strong>da</strong> Silva (Pereirinha), Maria do<br />
Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello, Salete Lisboa, Sidney<br />
Rezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães.<br />
Conselheiros suplentes 2007-2010<br />
A<strong>da</strong>lberto Diniz, Aluízio Maranhão, Ancelmo Góes, André Moreau Louzeiro, Arcírio<br />
Gouvêa Neto, Benício Medeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins <strong>da</strong> Silva,<br />
José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri, Marceu Vieira, Maurílio<br />
Cândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.<br />
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA<br />
Jarbas Domingos Vaz, Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz Sérgio Caldieri,<br />
Marcus Antônio Mendes de Miran<strong>da</strong>, Maria Ignez Duque Estra<strong>da</strong> Bastos e Toni Marins.<br />
COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO<br />
Alberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.<br />
COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS<br />
Orpheu Santos Salles, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Arcírio Gouvêa Neto,<br />
Daniel de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary<br />
Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arru<strong>da</strong> de<br />
Paiva e Yacy Nunes.<br />
COMISSÃO DIRETORA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL<br />
Paulo Jerônimo de Sousa, Presidente, Ilma Martins <strong>da</strong> Silva, Jorge Nunes de Freitas, José<br />
Rezende Neto, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli e Moacyr Lacer<strong>da</strong>.<br />
REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO<br />
Conselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno Jatahy<br />
Duque Estra<strong>da</strong>, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra.<br />
2 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
Ângelo Agostini e os primeiros traços<br />
<strong>dos</strong> quadrinhos na imprensa brasileira<br />
POR PAULO CHICO<br />
Há 141 anos, Ângelo Agostini fez história.<br />
Na ver<strong>da</strong>de, entrou para a história<br />
ao realizar, no Brasil, a primeira HQ<br />
em seqüência e com um personagem<br />
fixo, que começou a ser publica<strong>da</strong> em 30<br />
de janeiro de 1869. Tal obra atendia pelo<br />
título de As Aventuras de Nhô-Quim ou<br />
Impressões de Uma Viagem à Corte, e<br />
duraria nove capítulos, to<strong>dos</strong> sob os cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
e traços do próprio Agostini, que<br />
já acumulava outras publicações de desenhos,<br />
contudo sem personagens fixos,<br />
no pasquim o Diabo Coxo.<br />
O italiano Agostini, que chegara ao<br />
Brasil em 1859, criou estilo, influenciou<br />
e tornou a caricatura em forma de sátira<br />
política, assim como os quadrinhos,<br />
parte <strong>da</strong> imprensa do País. E foi um <strong>dos</strong><br />
fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> mais importante revista<br />
infantil brasileira: a popular O Tico-Tico.<br />
Durante 46 anos, de 1864 a 1910, desenvolveu<br />
uma perspicaz e minuciosa observação<br />
do tipo brasileiro, especialmente<br />
o carioca. Mas sua intervenção por meio<br />
<strong>dos</strong> traços se deu, sobretudo, na cena<br />
política. Republicano, anticlerical e abolicionista,<br />
utilizava a crítica como motor<br />
de sua ativa função social.<br />
O Segundo Reinado no Brasil (1840<br />
a 1889) foi marcado pela ilimita<strong>da</strong> tolerância<br />
com relação à imprensa periódica<br />
e de propagan<strong>da</strong>, com a livre circulação<br />
de jornais, livros e panfletos. A sátira<br />
era cotidiana e cortejos carnavalescos<br />
traziam carros representando as figuras<br />
importantes do Império. A ilustração<br />
ganhou seus primeiros traços no<br />
Brasil no <strong>Jornal</strong> do Commercio, de 14 de<br />
dezembro de 1837, com a caricatura<br />
(uma espécie de folheto litografado) de<br />
autoria de um artista consagrado: Manoel<br />
de Araújo Porto Alegre, que estu<strong>da</strong>ra<br />
em Paris nesse ano, e de lá trouxera a novi<strong>da</strong>de.<br />
A partir <strong>da</strong>í, a influência francesa na ilustração<br />
brasileira foi marcante. Até que, em 1859, desembarca<br />
no Brasil um piemontês, nascido em Farcelle, Itália,<br />
em 8 de abril de 1843, neto materno de uma senhora<br />
parisiense. Ele passara a infância e a adolescência<br />
em Paris, onde estu<strong>da</strong>ra pintura. O jovem era Ângelo<br />
Agostini. Todo o ambiente político <strong>da</strong> época foi bem<br />
aproveitado pelo artista, que logo se tornou um <strong>dos</strong><br />
maiores críticos do reinado. Seus traços não perdoavam<br />
o Papa Pio IX e demais autori<strong>da</strong>des eclesiásticas<br />
brasileiras. Defendiam a campanha abolicionista.<br />
Chegou a criar um símbolo do homem nacional:<br />
um índio soberbo, ao estilo de ‘O Guarani’, que nos<br />
desenhos sempre surge carregando os desman<strong>dos</strong> do<br />
Além de desenhar o logotipo <strong>da</strong> revista O Tico-Tico , Agostini colaborou durante muitos anos<br />
produzindo diversas histórias em quadrinhos memoráveis, como esta do Chico Caçador.<br />
Império: altos impostos, parlamento, políticos, ‘afilha<strong>da</strong>gem’.<br />
Ou apenas observando, inconformado,<br />
as trapalha<strong>da</strong>s <strong>da</strong> corte.<br />
Uma rica trajetória profissional<br />
Ao chegar ao Brasil, Agostini começou a desenvolver<br />
sua arte em São Paulo. O primeiro jornal foi o<br />
Diabo Coxo, o primeiro periódico ilustrado editado<br />
na ci<strong>da</strong>de. Semanário, começou a ser publicado em<br />
17 de setembro de 1864, tendo duas séries de 12<br />
números, sendo o último conhecido em 31 de dezembro<br />
de 1865. Redigido por Luiz Gama (1830-1882),<br />
também tinha a colaboração de Sizenando Nabuco.<br />
Os desenhos de Agostini já impressionavam. Ele<br />
construía e movimentava seus desenhos com uma<br />
impressionante facili<strong>da</strong>de. Foi célebre a caricatura do<br />
desastre ocorrido com o trem inaugural <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong><br />
de Ferro Santos-Jundiaí, na várzea do Carmo, que<br />
descarrilou, ferindo o presidente <strong>da</strong> Província e estragando<br />
to<strong>da</strong> a cerimônia.<br />
Já Cabrião surgiu em 30 de setembro de 1866, circulando<br />
semanalmente com 51 edições até 29 de setem-<br />
bro de 1867. Redigido por Américo de Campos<br />
e Antonio Manoel <strong>dos</strong> Reis, era adepto<br />
do Partido Liberal. Agostini encontrou<br />
um período fértil para sua sátira: a Guerra<br />
do Paraguai. Em caricaturas, desenhos,<br />
ilustrações de sol<strong>da</strong><strong>dos</strong> mortos e mapas,<br />
ocupou muitas vezes as páginas do Cabrião,<br />
não esquecendo a sátira ao Duque de<br />
Caxias e ao recrutamento de voluntários<br />
para o duro conflito. O artista criou o símbolo<br />
do jornal: um tipo popular e mor<strong>da</strong>z<br />
chamado Cabrião que percorria as ruas<br />
atrás de personagens curiosos e atazanando<br />
os políticos do Partido Conservador.<br />
Agostini mu<strong>da</strong>-se para o Rio em 1867<br />
e colabora durante um ano para O Arlequim.<br />
Em 1868 está no Vi<strong>da</strong> Fluminense,<br />
onde, no ano seguinte, publica os nove<br />
episódios de As Aventuras de Nhô-Quim<br />
ou Impressões de Uma Viagem à Corte. Na<br />
déca<strong>da</strong> de 1880 fun<strong>da</strong> a Revista Ilustra<strong>da</strong>,<br />
com as famosas páginas duplas dedica<strong>da</strong>s<br />
aos carnavais de 1881 a 1883, estampando<br />
dezenas de figurinhas entre deuses, heróis,<br />
índios, guerreiros, religiosos, políticos,<br />
populares e até o Imperador. Nessa<br />
revista, Agostini desenvolve As Aventuras<br />
de Zé Caipora, retomando o tema de Nhô-<br />
Quim, que ain<strong>da</strong> surgiria diversas vezes<br />
em folhetos. O personagem fez tanto sucesso<br />
que, em 1901, voltaria no D. Quixote<br />
e na revista O Malho, de 1904 em diante.<br />
O advento <strong>da</strong> Abolição e <strong>da</strong> República<br />
não aquietou o lápis do desenhista.<br />
Com duas de suas causas conquista<strong>da</strong>s,<br />
ele continuou satirizando os políticos e<br />
os costumes <strong>da</strong> capital do começo do século<br />
nas páginas de O Malho. No início<br />
de 1904 tem breve passagem pelo jornal<br />
Gazeta de Notícias e, no dia 11 de outubro<br />
de 1905, com Luiz Bartolomeu de<br />
Sousa e Silva, fun<strong>da</strong> O Tico-Tico. Agostini<br />
desenhou o primeiro logotipo, com um<br />
grupo de garotinhas nuas brincando<br />
entre as letras do título <strong>da</strong> revista. Também são de<br />
sua autoria a História de Pai João, publica<strong>da</strong> no quinto<br />
número, a capa <strong>da</strong> edição de 10 de janeiro de 1906<br />
e a série A Arte de Formar Brasileiros, inicia<strong>da</strong> em maio<br />
do mesmo ano.<br />
O artista continuou desenhando em O Malho até<br />
às vésperas de sua morte, num domingo, 23 de janeiro<br />
de 1910, cansado pelos anos de trabalho e atingido<br />
pela morte de seu amigo de 50 anos, Joaquim Nabuco,<br />
que falecera no dia 17 do mesmo mês, em Washington.<br />
Como herança, deixou uma obra memorável<br />
e contestadora, num volume surpreendente em<br />
quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de, criando um estilo único, pioneiro<br />
e precursor <strong>da</strong> caricatura e <strong>da</strong> história em<br />
quadrinhos nacionais.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
3
TAPEÇARIA DE BAYEUX<br />
1900<br />
A HARLOT’S PROGRESS<br />
CERCA DE 30.000 A.C<br />
As pinturas rupestres nas<br />
cavernas podem ser considera<strong>da</strong>s<br />
as primeiras manifestações de<br />
arte seqüencial.<br />
CERCA DE 1070 D.C<br />
A Tapeçaria de Bayeux —<br />
peça de pano contando em<br />
desenhos a história <strong>da</strong> invasão<br />
<strong>da</strong> Inglaterra pela Normandia —<br />
provavelmente foi encomen<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
para adornar a catedral do<br />
mesmo nome que foi inaugura<strong>da</strong><br />
em 1077. Elas contam uma<br />
história em seqüência e<br />
mostram até uma aparição do<br />
cometa Halley nesse período.<br />
1731<br />
O pintor e gravador inglês<br />
William Hogarth (1697-1764)<br />
pinta um grupo de seis quadros<br />
que contam uma história, A<br />
Harlot’s Progress<br />
ress (O progresso<br />
de uma prostituta). Esta e outras<br />
séries feitas por Hogarth são<br />
cita<strong>da</strong>s por Will Eisner como uma<br />
demonstração pioneira de arte<br />
seqüencial. Os quadros originais<br />
se perderam num incêndio, mas<br />
sobreviveram através de gravuras<br />
que os reproduziam. Hogarth<br />
também se notabilizou como<br />
uma <strong>da</strong>s primeiras pessoas a<br />
brigar por seus direitos autorais.<br />
1835<br />
Na Alemanha, Wilhelm Busch<br />
cria os encapeta<strong>dos</strong> Max x und<br />
Moritz (Juca e Chico, na<br />
tradução de Olavo Bilac), uma<br />
dupla de garotos encrenqueiros<br />
que morrem torra<strong>dos</strong> no final <strong>da</strong><br />
história ilustra<strong>da</strong> e serviria de<br />
inspiração para os lendários<br />
Sobrinhos do Capitão.<br />
1839<br />
O suíço Rudolfe Töpffer<br />
publica Les Amours de<br />
Monsieur Vieux Bois, obra<br />
ilustra<strong>da</strong> de arte seqüencial que<br />
usa elementos mais tarde<br />
incorpora<strong>dos</strong> pelos quadrinhos.<br />
1855<br />
O francês radicado no Brasil<br />
MAX UND MORITZ<br />
Sébastien Auguste Sisson publica<br />
no jornal Brasil Illustrado o que é<br />
considerado a primeira história<br />
em quadrinhos publica<strong>da</strong> no<br />
Brasil: Namoro, Quadros ao<br />
Vivo, ivo, por S… o Cio mostrando<br />
os costumes <strong>da</strong> época.<br />
1869<br />
Angelo Agostini publica na<br />
Vi<strong>da</strong> Fluminense As Aventuras<br />
de Nhô Quim ou Impressões<br />
de Uma Viagem à Corte<br />
te. A <strong>da</strong>ta<br />
dessa publicação, 30 de janeiro,<br />
foi incorpora<strong>da</strong> ao calendário<br />
como Dia do Quadrinho Nacional.<br />
1886<br />
Primeiro “gibi” de que se<br />
tem notícia: Angelo Agostini<br />
compila em fascículos as<br />
aventuras de Zé Caipora,<br />
que começara a publicar<br />
desde 1883 na Revista<br />
Ilustra<strong>da</strong>. Essa edição é<br />
considera<strong>da</strong> a primeira<br />
revista com um<br />
personagem fixo<br />
publica<strong>da</strong> no<br />
Brasil. Agostini<br />
depois retomaria<br />
o personagem<br />
em O Malho e<br />
Dom Quixote.<br />
1892<br />
James Swinnerton colabora<br />
no Examiner de São Francisco,<br />
Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, e cria o painel<br />
semanal The Little Bears, que<br />
depois passa a sair diariamente.<br />
É a primeira série americana com<br />
personagens fixos.<br />
1895<br />
Yellow Kid, de Richard Felton<br />
Outcault, faz sua estréia no<br />
jornal The World, de Joseph<br />
Pulitzer, tornando-se publicação<br />
semanal em 1896. A série<br />
mostra um menino que mora<br />
numa favela e os dizeres são<br />
escritos no seu roupão amarelo.<br />
O uso <strong>da</strong> cor amarela foi um<br />
teste para experimentar a<br />
impressão em mais de uma cor<br />
e atrair mais leitores. Daí vem o<br />
termo “jornalismo amarelo”<br />
(correspondente ao nosso<br />
“imprensa marrom”).<br />
1896<br />
Começa a compra de passes<br />
de artistas de hq e a disputa<br />
entre os magnatas <strong>da</strong> imprensa:<br />
Oultcault transfere-se do The<br />
World, de Pulitzer, para o Examiner,<br />
de Wiliam Randolph Hearst.<br />
Hearst lança no seu Journal<br />
American o primeiro suplemento<br />
colorido de quadrinhos, intitulado<br />
The American Humourist. Além<br />
de Yellow Kid (abaixo, à<br />
esquer<strong>da</strong>), o suplemento estréia<br />
a mais antiga história em<br />
quadrinhos em circulação e a<br />
primeira a fazer uso de to<strong>dos</strong><br />
os elementos tradicionais<br />
<strong>dos</strong> quadrinhos: The<br />
Katzenjammer Kids, de<br />
Rudolf Dirks. Inspira<strong>da</strong> nos<br />
clássicos Max x und<br />
Moristch de Busch, esta<br />
série seria conheci<strong>da</strong><br />
no Brasil como Os<br />
Sobrinhos do<br />
Capitão.<br />
1900<br />
O vagabundo<br />
Happy Hooligan, de<br />
Frederick Burr Opper,<br />
HAPPY HOOLIGAN<br />
começa a sair nos jornais <strong>da</strong><br />
rede de Hearst e é a primeira<br />
série de quadrinhos a ser<br />
a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> para o cinema, em<br />
seis curtas dirigi<strong>dos</strong> por J. Stuart<br />
Blackton no mesmo ano (e<br />
quinze anos mais tarde em um<br />
monte de animações). Também<br />
se diz que serviu de inspiração<br />
para o personagem do<br />
Vagabundo, de Charles Chaplin.<br />
1902<br />
Outcault cria novo<br />
personagem que se tornará<br />
ain<strong>da</strong> mais popular: Buster<br />
Brown, um encapetado menino<br />
<strong>da</strong> classe média alta. Este seria<br />
posteriormente copiado pela<br />
publicação brasileira O Tico-Tico e<br />
rebatizado aqui como Chiquinho.<br />
1903<br />
The he Upside Downs of Lady<br />
Lovekins and Old Man<br />
Muffaroo do holandês Gustave<br />
Verbeek começam no New York<br />
THE KATZENJAMMER KIDS, OS SOBRINHOS DO CAPITÃO<br />
Herald. A novi<strong>da</strong>de dessa série é<br />
que ela tem dupla leitura. Ao<br />
acabar de ler a primeira parte, o<br />
leitor vira o jornal de cabeça<br />
para baixo e a história continua.<br />
Nasce a primeira tira de<br />
cunho jornalístico: A. Piker<br />
Clerk, de Clare Briggs, no<br />
American de Chicago. O<br />
personagem apostava em<br />
cavalos de corri<strong>da</strong> e comentava<br />
os páreos <strong>da</strong> véspera.<br />
1904<br />
The Newlyweds, de George<br />
McManus começa contando o<br />
dia-a-dia de um casal de recémcasa<strong>dos</strong>.<br />
1905<br />
Considera<strong>da</strong> a primeira obraprima<br />
<strong>dos</strong> quadrinhos, Little<br />
Nemo in Slumberland, de<br />
Windsor McCay começa no New<br />
York Herald. Mostra os<br />
pesadelos de um menino que<br />
exagera nas sobremesas e tem<br />
aventuras alucinantes no mundo<br />
<strong>dos</strong> sonhos, invariavelmente<br />
caindo <strong>da</strong> cama e acor<strong>da</strong>ndo ao<br />
fim de ca<strong>da</strong> episódio.<br />
No Brasil, o pioneiro O Tico-<br />
Tico é lançado como<br />
desdobramento do jornal satírico<br />
O Malho e considera<strong>da</strong> a primeira<br />
publicação brasileira importante<br />
volta<strong>da</strong> exclusivamente para as<br />
crianças. É líder no mercado até<br />
4 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
O TICO-TICO<br />
1910<br />
BUSTER BROWN<br />
THE UPSIDE DOWNS OF LADY LOVEKINS AND OLD MAN MUFFAROO<br />
1907<br />
Surge o primeiro “Giby<br />
Giby”, um<br />
molequinho negro que viraria<br />
saco de panca<strong>da</strong>s de Juquinha,<br />
em O Tico-Tico. Mas, nesse<br />
mesmo ano, J Carlos deixa a<br />
publicação.<br />
Mr. . A. Mutt (que depois<br />
viraria Mutt & Jeff), de Henry<br />
Fisher, começa no San Francisco<br />
Chronicle e estabelece o marco<br />
de primeiro mega-sucesso <strong>dos</strong><br />
quadrinhos<br />
1908<br />
O jornal italiano Corriere della<br />
Sera lança a primeira publicação<br />
para crianças, o Corriere dei<br />
Piccoli, similar ao nosso Tico-Tico.<br />
1910<br />
Krazy Kat, de George<br />
Herriman, aparece pela primeira<br />
vez em outra série, The Dingbat<br />
Family. Em 1913 passaria a ser<br />
o titular <strong>da</strong> tira.<br />
KRAZY KAT, DE GEORGE HERRIMAN<br />
Max Yantok entra para o time<br />
de colaboradores do Tico-Tico,<br />
onde criaria diverti<strong>dos</strong> personagens<br />
como Kaximbown<br />
e Pipoca,<br />
num estilo único e alucinado.<br />
1911<br />
Alfredo Storni cria, para O<br />
Tico-Tico<br />
Tico, o casal Zé Macaco e<br />
Faustina<br />
austina, antecipando em alguns<br />
anos outro casal famoso <strong>dos</strong><br />
quadrinhos, Pafúncio e Marocas.<br />
1912<br />
J. Carlos fun<strong>da</strong> a revista<br />
independente O Juquinha,<br />
retomando seu personagem.<br />
Primeiro processo judicial<br />
envolvendo personagens de<br />
quadrinhos. Rudolf Dirks, autor<br />
de The he Katzenjammer Kids,<br />
troca o Journal American de<br />
Hearst pelo The World de<br />
Pulitzer. Hearst processa o autor,<br />
que é impedido de levar consigo<br />
seus personagens para a nova<br />
publicação. A série é retoma<strong>da</strong><br />
por Harold Knerr. A briga se<br />
estende na justiça até 1914. A<br />
decisão do juiz é salomônica:<br />
Dirks readquire o direito de<br />
continuar com seus personagens,<br />
porém tem que <strong>da</strong>r outro nome<br />
à tira. Passam a existir duas<br />
séries com os mesmos<br />
personagens básicos (um<br />
capitão, uma mãe alemã, um<br />
inspetor barbudo e dois<br />
moleques endiabra<strong>dos</strong>) publica<strong>da</strong>s<br />
paralelamente em jornais<br />
concorrentes, mas a nova versão<br />
assina<strong>da</strong> por Dirks recebe o<br />
título The Captain and the Kids.<br />
LITTLE NEMO IN SLUMBERLAND, DE WINDSOR MCCAY<br />
a déca<strong>da</strong> de 30, quando<br />
começam os Suplementos de<br />
Adolfo Aizen, mas sobrevive até<br />
o início <strong>dos</strong> anos 1960. O Tico-<br />
Tico tinha leitores ilustres como<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
e Ruy Barbosa. Este, certa vez,<br />
interpelado por um colega no<br />
Senado sobre a fonte de uma<br />
informação que teria acabado<br />
de falar, teria respondido: “Li...<br />
no Tico-Tico”.<br />
1906<br />
J. Carlos começa a publicar<br />
O Talento do Juquinha em<br />
O Tico-Tico, destronando o<br />
personagem Chiquinho na<br />
preferência <strong>dos</strong> leitores.<br />
MUTT & JEFF, DE HENRY FISHER<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
5
1920<br />
GASOLINE ALLEY<br />
POLLY AND HER PALS<br />
Cliff Sterrett leva o cubismo<br />
aos cenários de quadrinhos,<br />
criando Polly and Her Pals<br />
als,<br />
uma tira mostrando o cotidiano<br />
de uma garota muito bonita e<br />
paquera<strong>da</strong> e sua família.<br />
1913<br />
George Mac Manus consoli<strong>da</strong><br />
sua fama criando Bringing Up<br />
Father<br />
(no Brasil conhecido<br />
como Pafúncio<br />
afúncio), mostrando as<br />
peripécias de um casal de novosricos<br />
tentando se introduzir na<br />
socie<strong>da</strong>de mas sem abrir mão<br />
de sua origem humilde.<br />
TARZAN OF THE APES<br />
1914<br />
Edgar Rice Burroughs publica<br />
em capítulos folhetinescos a<br />
primeira aventura com o<br />
personagem Tarzan<br />
na revista<br />
All-Story. Este viraria personagem<br />
de quadrinhos apenas em 1929.<br />
Luís Loureiro, encarregado de<br />
desenhar as histórias de<br />
Chiquinho para o Tico-Tico,<br />
introduz o personagem<br />
Benjamin na série. O menino<br />
negro, que virou um sucesso<br />
instantâneo, era inspirado em<br />
um criado que trabalhava na<br />
casa <strong>da</strong> família Loureiro.<br />
1918<br />
Gasoline Alley, de Frank King,<br />
começa no Chicago Tribune e<br />
estabelece um novo conceito:<br />
personagens que envelhecem em<br />
tempo real. Personagens nascem,<br />
casam, envelhecem, morrem. A<br />
tira é publica<strong>da</strong> até hoje.<br />
1919<br />
Criado por Otto<br />
Messmer, o Gato Félix<br />
(ao lado) faz sua estréia<br />
nos cinemas. O australiano<br />
Pat Sullivan foi creditado,<br />
durante anos, como<br />
detentor <strong>dos</strong> copyrights<br />
do personagem. Em 1923<br />
WINNIE WINKLE THE BREADWINNER<br />
Messmer começa a desenhar<br />
as tiras do Gato Félix para o<br />
King Features Syndicate. Estas<br />
sobrevivem aos desenhos<br />
anima<strong>dos</strong>, que foram<br />
destrona<strong>dos</strong> pelo cinema<br />
sonoro e pelo camundongo<br />
Mickey, de Walt Disney.<br />
Believe It or Not (Acredite…<br />
Se Quiser), de Bob Ripley, surge<br />
nos jornais. É um painel diário<br />
(com sua versão dominical)<br />
com curiosi<strong>da</strong>des sobre<br />
esportes e fatos<br />
estranhos. A série vira<br />
mania nacional e é<br />
transposta para<br />
diversas mídias e<br />
permanece até hoje<br />
como uma série de<br />
documentários para tv<br />
e de livros ilustra<strong>dos</strong>.<br />
1920<br />
Winnie Winkle the<br />
Breadwinner é pioneira ao<br />
mostrar uma mulher em papéis<br />
não-domésticos. Mas para as<br />
crianças a grande estrela <strong>da</strong><br />
série é seu irmão mais novo,<br />
Perry, que domina as páginas<br />
dominicais.<br />
1921<br />
Surge o personagem de<br />
quadrinhos australiano de<br />
maior longevi<strong>da</strong>de: Ginger<br />
Meggs, de Jimmy Bancks. A tira<br />
existe até hoje (feita por<br />
continuadores, claro).<br />
1922<br />
A primeira exposição sobre<br />
histórias em quadrinhos é<br />
realiza<strong>da</strong> no Waldorf Astoria, em<br />
Nova York.<br />
1924<br />
Little Orphan Annie (Aninha,<br />
a Pequena Órfã), de Harold<br />
Gray, é considerado o primeiro<br />
“novelão” <strong>dos</strong> quadrinhos. Uma<br />
menina órfã acompanha<strong>da</strong> de<br />
LITTLE ORPHAN ANNIE<br />
seu cãozinho passa por mil<br />
agruras até ser adota<strong>da</strong> pelo<br />
magnata Daddy Warbucks. Ela<br />
atravessa vários perío<strong>dos</strong> <strong>da</strong><br />
história norte-americana, incluindo<br />
a grande depressão de 1929.<br />
1927<br />
Surge a primeira repórter<br />
mulher <strong>da</strong>s histórias em<br />
quadrinhos: Jane Arden.<br />
1928<br />
Disney lança Mickey Mouse<br />
em desenhos anima<strong>dos</strong> e este<br />
se tornaria o novo queridinho <strong>da</strong><br />
América. Steamboat oat Willie já<br />
usa a grande novi<strong>da</strong>de do<br />
momento: o som. O King<br />
Features logo entra em acordo<br />
para transformar o personagem<br />
numa tira de quadrinhos, que<br />
começa a sair em 1930.<br />
A Argentina vê surgir seu<br />
personagem mais importante, o<br />
índio Patoruzú<br />
atoruzú, de Dante<br />
Quinterno. Patoruzú é um<br />
cacique Tehuelche <strong>da</strong> Patagônia<br />
que possui força sobre-humana.<br />
PAFÚNCIO, DE GEORGE MAC MANUS<br />
J. Carlos lança sua<br />
personagem de quadrinhos<br />
mais famosa:<br />
Lamparina (à<br />
direita) vem<br />
engrossar a sua<br />
fileira de criações<br />
que já conta com<br />
Jujuba e Carrapicho.<br />
Tudo publicado em<br />
O Tico-Tico.<br />
6 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
BLONDIE<br />
STEAMBOAT WILLIE<br />
1930<br />
TARZAN, DE HAL FOSTER<br />
1929<br />
No dia 10 de janeiro, o jovem<br />
repórter Tintim<br />
e seu cão Milu<br />
(Milou) aparecem no<br />
suplemento Le Petit Vingtième,<br />
publicado no jornal Le Vingtième<br />
Siècle, de orientação católica.<br />
Não foi uma boa estréia: criado<br />
pelo belga Georges Prosper<br />
Remi, mais conhecido como<br />
Hergé, essa primeira aventura –<br />
No País <strong>dos</strong> Sovietes – foi<br />
praticamente produzi<strong>da</strong> sob<br />
encomen<strong>da</strong>. O diretor<br />
do jornal, abade Norbert<br />
Wallez que era contrário<br />
ao regime comunista,<br />
incentivou o autor a<br />
colocar Tintim tentando fazer<br />
uma reportagem durante uma<br />
viagem à Rússia. Na história,<br />
vários agentes do governo<br />
soviético tentam impedir que<br />
Tintim faça a matéria para que<br />
ele não revele ao mundo como<br />
é um país dominado pelo<br />
regime comunista. Depois <strong>da</strong><br />
guerra, o abade foi preso pelos<br />
ingleses acusado de colaborar<br />
com o regime nazista.<br />
É lançado o tablóide The<br />
Funnies, precursor <strong>dos</strong> comicbooks<br />
que invadiriam os Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong> na déca<strong>da</strong> seguinte, e<br />
primeira publicação periódica<br />
exclusivamente de quadrinhos,<br />
vendi<strong>da</strong> em bancas e<br />
republicando tiras<br />
famosas <strong>da</strong> época.<br />
O marinheiro Popeye<br />
faz a<br />
sua primeira aparição em The<br />
Thimble Theater, de Segar, e<br />
logo se torna a estrela máxima<br />
<strong>da</strong> tira. Sua fama aumenta ain<strong>da</strong><br />
mais quando começa a aparecer<br />
nos desenhos anima<strong>dos</strong><br />
produzi<strong>dos</strong> por Max Fleischer a<br />
partir de 1933.<br />
Os quadrinhos mostram pela<br />
primeira vez desenhos realistas.<br />
Duas séries oriun<strong>da</strong>s <strong>dos</strong> pulp<br />
ganham a<strong>da</strong>ptações. Hal Foster<br />
começa a desenhar Tarzan<br />
arzan, de<br />
Edgar Rice Burroughs,<br />
e Buck Rogers in the<br />
25th Century, de Dick<br />
Calkins, também ganha as<br />
páginas de jornais.<br />
A Casa Editora Vecchi faz<br />
uma tentativa de lançar um<br />
tablóide semanal de quadrinhos,<br />
antecipando em cinco anos a<br />
iniciativa de Adolfo Aizen, mas<br />
fracassa. Mundo Infantil dura<br />
cerca de um ano. Publicava,<br />
entre outras, Bringing Up Father<br />
(Pafúncio), de McManus, e<br />
Laura, de Pat Sulivan.<br />
Surge A Gazetinha,<br />
suplemento do jornal A Gazeta,<br />
que teve diversas fases e lançou<br />
inúmeros personagens nacionais<br />
e americanos.<br />
1930<br />
Chick Young cria Blondie,<br />
aproveitando o filão de tiras com<br />
mulheres bonitas desencadeado<br />
por Polly and her Pals, de Cliff<br />
Sterrett. Em 1933 a loura se casa<br />
com o milionário<br />
Dagwood Bumstead,<br />
que por causa disso é<br />
deser<strong>da</strong>do pela família e<br />
passa a viver uma vi<strong>da</strong> de<br />
americano classe média, indo<br />
trabalhar num escritório. Apesar<br />
de tudo, o casal vive feliz para<br />
sempre e a família vai<br />
aumentando com a chega<strong>da</strong><br />
<strong>dos</strong> filhos e meia dúzia de<br />
cachorros, sobrevivendo nos<br />
jornais até hoje. Aqui foi<br />
conheci<strong>da</strong> como Belin<strong>da</strong>.<br />
Betty Boop (acima) aparece<br />
pela primeira vez num desenho<br />
de Max Fleischer, Dizzy Dishes.<br />
Mas, quem diria: nos primeiros<br />
desenhos era uma cachorra.<br />
Mas logo ela seria humaniza<strong>da</strong> e<br />
ficaria tão sexy que chegou a ter<br />
problemas com a censura.<br />
Ham Fisher, que começou a<br />
sua carreira como repórter<br />
esportivo, teve a idéia de fazer<br />
uma tira quando entrevistou um<br />
boxeador. Mas tentou durante<br />
TINTIM NO PAÍS DOS SOVIETES<br />
POPEYE, DE SEGAR<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
7
BOLÃO E AZEITONA, DE LUIZ SÁ<br />
OS EXPLORADORES DA ATLÂNTIDA, DE MONTEIRO FILHO<br />
quase dez anos vender a tira,<br />
sem sucesso. Finalmente, em<br />
1930, Joe Palooka<br />
estréia e vira<br />
um fenômeno. No Brasil recebeu<br />
o nome de Joe Sopapo.<br />
BRUCUTU, DE V. T. HAMLIN<br />
BRICK BRADFORD, DE WILLIAM RITT<br />
E CLARENCE GRAY<br />
O REIZINHO, DE OTTO SOGLOW<br />
1931<br />
O genial Luiz Sá começa a<br />
publicar no Tico-Tico<br />
seus<br />
personagens mais famosos:<br />
Réco-Réco, Bolão e Azeitona,<br />
virando colaborador regular <strong>da</strong><br />
revista até o seu<br />
encerramento no<br />
início <strong>dos</strong> anos 60.<br />
Dick Tracy<br />
racy, de Chester<br />
Gould, inaugura o gênero<br />
policial nos quadrinhos.<br />
A tira é um sucesso,<br />
principalmente por causa<br />
<strong>dos</strong> vilões bizarros, que chegam<br />
a ser mais esquisitos ain<strong>da</strong> que<br />
os do Batman.<br />
The he Little King (O Reizinho),<br />
de Otto Soglow, faz sua primeira<br />
aparição no New Yorker.<br />
PINDUCA<br />
1932<br />
Henry (Pinduca), de Carl<br />
Anderson, aparece no Satur<strong>da</strong>y<br />
Evening Post mostrando as<br />
estripulias de um menino careca<br />
que nunca fala.<br />
Jane, do inglês Norman Pett<br />
(aqui conheci<strong>da</strong> como Jane<br />
Pouca-Roupa), é a primeira hq a<br />
introduzir a nudez feminina (o<br />
DICK TRACY, DE<br />
CHESTER GOULD<br />
modelo era a esposa do autor).<br />
Depois ela teve até uma filha:<br />
Jane, Daughter of Jane.<br />
Alley Oop (Brucutu), de V. T.<br />
Hamlin, estréia nos jornais norteamericanos.<br />
No início é apenas<br />
um simples homem <strong>da</strong>s<br />
cavernas, mas há uma reviravolta<br />
quando um cientista o traz aos<br />
dias atuais com a aju<strong>da</strong> de uma<br />
máquina do tempo. A partir <strong>da</strong>í<br />
passa a viver aventuras em vários<br />
perío<strong>dos</strong> <strong>da</strong> história mundial.<br />
1933<br />
Na tira Fritzi Ritz, desenha<strong>da</strong><br />
por Ernie Bushmiller, surge uma<br />
sobrinha <strong>da</strong> personagem-título<br />
que depois acabaria virando a<br />
titular <strong>da</strong> série: Nancy (conheci<strong>da</strong><br />
no Brasil por nomes como<br />
Periquita, Xuxuquinha, Nanci,<br />
Maricota, Teca<br />
e vários outros).<br />
William Ritt e Clarence Gray<br />
lançam Brick Bradford, mais<br />
uma série de ficção científica,<br />
que no Brasil recebe o nome de<br />
Dick James.<br />
1934<br />
Vencedor de um concurso<br />
promovido pelo King Features,<br />
Alex Raymond lança de uma vez<br />
três personagens: Flash Gordon,<br />
Jungle Jim (Jim <strong>da</strong>s Selvas) e<br />
Secret Agent X-9 (Agente<br />
Secreto X-9) – este escrito por<br />
Dashiell Hammett – para<br />
competir simultaneamente com<br />
Buck Rogers, Tarzan e Dick Tracy.<br />
Raymond torna-se em<br />
pouquíssimo tempo a principal<br />
estrela do mundo <strong>dos</strong> quadrinhos.<br />
Voltando de uma viagem aos<br />
EUA, onde viu a populari<strong>da</strong>de<br />
<strong>dos</strong> suplementos dominicais <strong>dos</strong><br />
quadrinhos, Adolfo Aizen resolve<br />
trazer a idéia para o Brasil e<br />
lança o Suplemento Infantil,<br />
inicialmente um apêndice do<br />
jornal A Nação (ao lado).<br />
Logo a publicação torna-se<br />
independente e seu nome<br />
mu<strong>da</strong> para Suplemento<br />
Juvenil. A capa do<br />
primeiro número foi feita<br />
por J. Carlos e já trazia<br />
uma história brasileira: Os<br />
Exploradores <strong>da</strong> Atlânti<strong>da</strong>,<br />
de Monteiro Filho, a única<br />
que fez na vi<strong>da</strong>. A<br />
sobrecarga de trabalho<br />
obrigou Monteiro a<br />
cancelar logo a série, que<br />
no último quadrinho tinha<br />
as iniciais “G.D.” (Graças a<br />
Deus). Embora publicasse<br />
outros quadrinhos<br />
brasileiros, como os de<br />
Carlos Augusto Thiré<br />
(primeiro marido de Tônia<br />
Carreiro e pai de Cecil Thiré), a<br />
base do Suplemento eram<br />
mesmo as histórias americanas.<br />
Em suas páginas foram lança<strong>dos</strong><br />
Flash Gordon, Mandrake,<br />
Tarzan, Príncipe Valente, Dick<br />
Tracy<br />
racy, , Jim <strong>da</strong>s Selvas, Terry e<br />
os Piratas e muitos outros, além<br />
de incorporar os personagens<br />
Disney, lança<strong>dos</strong> antes pelo O<br />
Tico-Tico. O sucesso foi<br />
imediato: rapi<strong>da</strong>mente as<br />
tiragens atingiram a casa <strong>dos</strong><br />
8 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
SIR TERERÉ<br />
TERRY E OS PIRATAS, DE MILTON CANIFF<br />
1935<br />
IMPERADOR MING, O ARQUI-INIMIGO<br />
DE FLASH GORDON<br />
Bill McCleery<br />
(escritor) and R.B. Fuller<br />
(desenhista) criam<br />
Oaky Doaks, uma<br />
espécie de versão<br />
cômica do Príncipe<br />
Valente<br />
que inclusive o precede.<br />
No Brasil recebeu o nome de<br />
Sir Tereré<br />
ereré.<br />
Li’l Abner<br />
(Ferdinando) de<br />
Al Capp faz sua<br />
estréia, retratando<br />
o universo <strong>dos</strong> caipiras, e tornase<br />
outro mega-sucesso nos EUA.<br />
Terry and the Pirates (Terry e<br />
os Piratas) é a primeira série de<br />
sucesso de Milton Caniff,<br />
mostrando as aventuras de um<br />
garoto no extremo oriente.<br />
Lee Falk cria Mandrake the<br />
Magician<br />
(Mandrake, o Mágico)<br />
para o King Features Syndicate.<br />
Phil Davis é escolhido para<br />
desenhar a tira, logo traduzi<strong>da</strong><br />
no Suplemento Juvenil.<br />
1935<br />
Belmonte, o inesquecível<br />
criador do Juca Pato<br />
ato, publica<br />
Paulino e Albina na Gazetinha.<br />
FERDINANDO, DE AL CAPP<br />
painel semanal no Satur<strong>da</strong>y<br />
Evening Post. Em 1943 a<br />
Famous Studios (pertencente à<br />
Paramount e sucedânea do<br />
estúdio de Max Fleischer) licencia<br />
a personagem para a produção<br />
de curtas de animação. Mas é<br />
nos também licencia<strong>dos</strong> gibis <strong>da</strong><br />
editora Dell de 1945 em diante<br />
que Luluzinha encontra sua<br />
mídia mais popular e é<br />
publica<strong>da</strong> regularmente por<br />
quase 40 anos. No Brasil<br />
só chegaria em mea<strong>dos</strong><br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 nas<br />
edições publica<strong>da</strong>s<br />
pela editora O<br />
Cruzeiro.<br />
1936<br />
O planeta Saturno<br />
decide invadir a Terra.<br />
Mas só os italianos<br />
ficam sabendo, através <strong>da</strong><br />
hq Saturno Contro la Terra<br />
erra,<br />
de Cesare Zavattini, desenha<strong>da</strong><br />
por Giovanni Scolari.<br />
Lee Falk cria outro<br />
personagem que fará mais<br />
sucesso ain<strong>da</strong>: The he Phantom<br />
(Fantasma), desta vez em<br />
parceria com o desenhista Ray<br />
Moore. Mas, aqui no Brasil, o<br />
FLASH GORDON, DE ALEX RAYMOND<br />
360 mil exemplares (somando<br />
as três edições semanais),<br />
destronando o até então<br />
imbatível O Tico-Tico e<br />
motivando o<br />
sugimento de filhotes<br />
como Mirim e Lobinho<br />
obinho.<br />
Aizen inovou ain<strong>da</strong>,<br />
mobilizando os jovens de<br />
todo o País ao criar o Centro<br />
Juvenilista.<br />
Jesus Blasco publica na<br />
Espanha seu personagem Cuto,<br />
na revista Chicos.<br />
Marjorie Henderson Buell,<br />
assinando Marge, cria Little Lulu<br />
(Luluzinha), inicialmente um<br />
MANDRAKE, O MÁGICO,<br />
DE LEE FALK<br />
JIM DAS SELVAS,<br />
DE ALEX RAYMOND<br />
LULUZINHA E BOLINHA<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
9
PRAXEDES<br />
PORCALHÃO<br />
POPEYE, POR BUD SARGENDORF<br />
personagem não foi lançado<br />
pelo Suplemento Juvenil, e sim<br />
pelo Correio Universal. Depois<br />
seria lançado em revistas nas<br />
mais diversas editoras do País e<br />
se tornaria um sucesso de<br />
ven<strong>da</strong>s.<br />
1937<br />
Hal Foster abandona Tarzan<br />
e<br />
cria Prince Valiant<br />
(Príncipe<br />
Valente) para o King Features<br />
Syndicate, de Hearst. A história é<br />
considera<strong>da</strong> a mais perfeita<br />
iconografia <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média e<br />
narra as aventuras de um jovem<br />
príncipe desde a préadolescência.<br />
Hearst gosta tanto<br />
que – fato raro – deixa que<br />
Foster continue mantendo os<br />
direitos sobre o personagem.<br />
Al Capp cria outra série, mas<br />
só faz os roteiros. Os desenhos<br />
ficam por conta do ilustrador<br />
Raeburn Van Buren. Slats é um<br />
rapaz novaiorquino que fica órfão<br />
e vai morar com a tia Abigail no<br />
interior, numa ci<strong>da</strong>dezinha<br />
chama<strong>da</strong> Cabtree Corners. Aqui<br />
a série ganhou o título de Zé<br />
Mulambo e a ci<strong>da</strong>de virou<br />
Rancho Fundo<br />
undo. Mas é seu sogro<br />
Bathless Groggins<br />
ins (Praxedes<br />
Porcalhão) o mais popular<br />
personagem <strong>da</strong> série.<br />
Anima<strong>dos</strong> com a propagan<strong>da</strong><br />
gratuita que Popeye<br />
faz de seu<br />
produto (principalmente nos<br />
desenhos anima<strong>dos</strong>),<br />
plantadores de espinafre no<br />
Texas erigem uma estátua em<br />
homenagem ao marinheiro. Um<br />
ano depois, o criador Elzie Segar<br />
falece devido a uma doença e<br />
deixa o personagem nas mãos<br />
GARRA CINZENTA<br />
de vários continuadores,<br />
nota<strong>da</strong>mente Bud Sargendorf, o<br />
que mais anos passou<br />
desenhando a série, primeiro<br />
em gibis e depois assumindo o<br />
material para jornais.<br />
Roberto Marinho foi o primeiro<br />
empresário procurado por Aizen,<br />
na época em que ele procurava<br />
um financiador para seu projeto<br />
de lançar suplementos de<br />
quadrinhos. Na época, recusou.<br />
Três anos depois, vendo o<br />
sucesso do Suplemento Juvenil,<br />
foi a vez dele se aproximar de<br />
Aizen, propondo-lhe socie<strong>da</strong>de, e<br />
este lhe deu o troco, recusando.<br />
Marinho resolve partir para a<br />
concorrência e lança O Globo<br />
Juvenil, imitando não só o título<br />
como o formato, e publicando<br />
personagens que não haviam<br />
sido compra<strong>dos</strong> por Aizen,<br />
como Ferdinando, Brucutu e<br />
Zé Mulambo.<br />
Aizen lança Mirim, mantendo<br />
a mesma fórmula do Suplemento<br />
Juvenil de publicar as séries de<br />
tiras em continuação, porém<br />
em novo formato: meio<br />
tablóide, que evoluiria para o<br />
tamanho padrão que as revistas<br />
em quadrinhos passariam a ter<br />
na déca<strong>da</strong> seguinte. Como o<br />
outro, passa a sair três vezes<br />
por semana, em dias alterna<strong>dos</strong><br />
ao Suplemento.<br />
Henning Dahl Mikkelsen (“Mik”)<br />
cria na Dinamarca Ferd’nand.<br />
Francisco Armond e Renato<br />
Silva lançam o Garra Cinzenta<br />
na Gazetinha, precursora do<br />
gênero terror. A série faz tanto<br />
sucesso que chega a ser<br />
exporta<strong>da</strong> para o México e<br />
Aizen versus Marinho<br />
A concorrência entre Roberto<br />
Marinho e Adolfo Aizen se acirra.<br />
Marinho lança Gibi, no mesmo formato<br />
de Mirim, e esse título se torna<br />
tão popular que o nome vira sinônimo<br />
de revista em quadrinhos.<br />
Aizen contra-ataca lançando Lo-<br />
binho, para evitar que ele venha a<br />
lançar uma publicação chama<strong>da</strong><br />
“Globinho”. É a primeira publicação<br />
em quadrinhos brasileira em formato<br />
stan<strong>da</strong>rd, mas não atinge as ven<strong>da</strong>s<br />
deseja<strong>da</strong>s e é cancela<strong>da</strong>. O título<br />
é reaproveitado e no ano seguinte<br />
um artigo é acrescentado, virando<br />
O Lobinho. Nessa fase mu<strong>da</strong> também<br />
para o formato stan<strong>da</strong>rd e as principais atrações são os<br />
super-heróis que a DC vem lançando um atrás do outro,<br />
como Joel Ciclone (Flash) e Falcão <strong>da</strong> Noite (Hawkman).<br />
O golpe de misericórdia, entretanto, vem quando Marinho<br />
compra o passe de to<strong>dos</strong> os personagens do King<br />
Features publica<strong>dos</strong> por Aizen, como Fantasma<br />
antasma, Mandrake,<br />
Príncipe Valente<br />
e outras estrelas do Suplemento Juvenil.<br />
Com as revistas priva<strong>da</strong>s de seus principais personagens,<br />
as ven<strong>da</strong>s caem. Devido a essa e outras dificul<strong>da</strong>des provoca<strong>da</strong>s<br />
pelos tempos de guerra, como a escassez de papel,<br />
Aizen não tem outra alternativa a não ser passar o controle<br />
acionário de sua empresa (agora chama<strong>da</strong> GCSN - Grande<br />
Consórcio de Suplementos<br />
Nacionais) para a empresa A<br />
Noite, pertencente ao governo.<br />
Mas permanece<br />
como diretor.<br />
FANTASMA, DE LEE FALK E RAY MOORE<br />
12 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
PRINCIPE VALENTE, DE HAL FOSTER<br />
França. O criador, aliás,<br />
criadora, era uma<br />
mulher: Helena Ferraz.<br />
Surge Sheena, Queen<br />
of the Jungle (Sheena,<br />
a Rainha <strong>da</strong> Selva),<br />
cria<strong>da</strong> pelo mestre Will<br />
Eisner sob o pseudônimo<br />
de William Thomas.<br />
CHARLIE CHAN<br />
Charles Ad<strong>da</strong>ms<br />
começa a colocar em seus<br />
cartuns no New Yorker uns<br />
personagens muito esquisitos:<br />
uma mulher com cara de mortaviva,<br />
seu mordomo, um marido<br />
estranho, uma velha, um gordo<br />
careca e crianças na<strong>da</strong><br />
convencionais. Eles nem tinham<br />
nomes mas se tornaram<br />
imensamente populares e<br />
continuaram a aparecer<br />
regularmente durante déca<strong>da</strong>s na<br />
revista. Só quando foram para a<br />
tv, em 1964, é que receberam<br />
um nome: A Família Ad<strong>da</strong>ms.<br />
1938<br />
Após passarem anos<br />
tentando vender seu<br />
personagem sem sucesso, Joe<br />
Shuster e Jerry Siegel<br />
conseguem uma brecha em<br />
uma nova revista que estava<br />
sendo lança<strong>da</strong> pela editora que<br />
mais tarde se tornaria a DC<br />
Comics: Action Comics.<br />
Começa aí a carreira meteórica<br />
do Superman (Super-Homem),<br />
único sobrevivente do planeta<br />
Krypton que vem à Terra e<br />
A FAMÍLIA ADDAMS<br />
SUPERMAN, DE JOE SHUSTER E JERRY SIEGEL<br />
adquire superpoderes. A<br />
publicação é um sucesso de<br />
ven<strong>da</strong>s sem precedentes, atiça a<br />
concorrência e isso acarreta uma<br />
tonela<strong>da</strong> de imitações e mais<br />
super-heróis fantasia<strong>dos</strong>, muitos<br />
lança<strong>dos</strong> pela mesma DC.<br />
Superman logo vira série de<br />
animação (por Max Fleischer),<br />
tira diária de jornais e até<br />
seria<strong>dos</strong> cinematográficos,<br />
novela de rádio e o que mais se<br />
puder pensar. Isso também<br />
estabelece o gênero comicbook,<br />
que prolifera no período<br />
<strong>da</strong> II Guerra Mundial e sobrevive<br />
até hoje.<br />
Charlie Chan, o popular herói<br />
<strong>da</strong> literatura policial criado por<br />
Earl Der Biggers na déca<strong>da</strong> de<br />
20, já tinha tido diversas versões<br />
cinematográficas desde os<br />
tempos do cinema mudo e<br />
continuava fazendo muito<br />
sucesso. Agora é a vez de passar<br />
para os quadrinhos, virando uma<br />
tira diária distribuí<strong>da</strong> pelo<br />
McNaught Syndicate. Alfred<br />
Andriola é o desenhista<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
13
escolhido pelo próprio Biggers<br />
para fazer as tiras.<br />
A famosa novela radiofônica<br />
The Lone Ranger, de Fran<br />
Striker, é converti<strong>da</strong> em<br />
quadrinhos distribuí<strong>dos</strong> pelo<br />
King Features Syndicate. Os<br />
desenhos começam com Ed<br />
Kressy mas logo Charles<br />
Flanders assume a série. Dez<br />
anos depois a editora Dell<br />
lançaria um gibi, primeiro<br />
republicando as tiras e depois<br />
com material inédito.<br />
Messias de Mello, com a<br />
colaboração de “Moura”, publica<br />
a série Au<strong>da</strong>z, o Demolidor em<br />
A Gazeta.<br />
Surgido em 1934 fazendo<br />
uma ponta num <strong>dos</strong> desenhos<br />
<strong>da</strong> série Silly Symphonies – Little<br />
Wise Hen –, Donald Duck<br />
(Pato Donald) logo foi<br />
promovido a coadjuvante de<br />
Mickey e rapi<strong>da</strong>mente se tornou<br />
uma <strong>da</strong>s principais estrelas <strong>da</strong><br />
Disney, aparecendo também nas<br />
tiras do camundongo. Neste ano<br />
ele ganha sua própria tira de<br />
quadrinhos e, mais tarde, a Dell<br />
lança a revista do Pato Donald.<br />
1939<br />
A DC emplaca seu segundo<br />
hit no gênero super-heróis<br />
lançando Batman de Bob Kane<br />
no número 27 <strong>da</strong> revista<br />
Detective Comics. No ano<br />
seguinte ele ganha um<br />
companheiro adolescente,<br />
Robin, e a dupla nos anos 50<br />
enfrenta acusações de<br />
homossexualismo quando o<br />
psiquiatra Frederic Wertham<br />
publica The Seduction of the<br />
Innocent. Este livro por sua vez<br />
provoca a perseguição aos gibis<br />
como todo um gênero, fogueiras<br />
em praça pública e até mesmo<br />
uma CPI no senado norteamericano.<br />
Namor, , o Príncipe<br />
Submarino, de Bill Everett, dá<br />
seu primeiro mergulho. Neste<br />
mesmo ano surge também<br />
The he Human Torch<br />
(O Tocha<br />
Humana), um andróide<br />
criado por Carl Burgos.<br />
BATMAN, DE BOB KANE<br />
1940<br />
Na cola do Superman surge o<br />
Capitão Marvel. Aqui sua<br />
identi<strong>da</strong>de secreta não é de<br />
jornalista, mas sim jornaleiro (e<br />
depois radialista): o menino Billy<br />
Batson grita a palavra mágica<br />
Shazam! E adquire<br />
superpoderes, enfrentando<br />
vilões como o diabólico Dr.<br />
Silvana. No ano seguinte<br />
ganharia um “filhote”, o Capitão<br />
Marvel Jr, e depois uma irmã<br />
gêmea, Mary Marvel. Os três<br />
formam a Família Marvel.<br />
Freddy Freeman, o alter ego do<br />
Capitão Marvel Jr., era deficiente<br />
físico e precisava de muletas para<br />
an<strong>da</strong>r. O personagem irrita a DC<br />
Comics, que move um processo<br />
acusando a concorrente Fawcett<br />
Publications de plágio. A briga se<br />
arrasta dezesseis anos na justiça.<br />
Will Eisner cria e lança seu<br />
personagem The Spirit numa<br />
espécie de mini-gibi distribuído<br />
de brinde nos jornais<br />
14 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
1941<br />
AUDAZ, O DEMOLIDOR, DE MESSIAS DE MELLO<br />
CAPITÃO MARVEL, DE C. C. BECK<br />
SPIRIT, DE WILL EISNER<br />
americanos, inovando na<br />
narrativa gráfica e tornando-se o<br />
primeiro autor do gênero a deter<br />
os direitos sobre seu<br />
personagem.<br />
Surge uma tira protagoniza<strong>da</strong><br />
por uma mulher jornalista,<br />
Bren<strong>da</strong> Starr Reporter<br />
ter, que era<br />
também cria<strong>da</strong> por uma mulher,<br />
Dale Messick.<br />
<strong>da</strong> guerra. Mesmo o Príncipe<br />
Valente<br />
entra em campanha,<br />
ain<strong>da</strong> que continuando na<br />
I<strong>da</strong>de Média e combatendo os<br />
hunos. Japoneses invadem<br />
Bengala, habitat do Fantasma e<br />
por aí afora.<br />
Steve Roper faz sua primeira<br />
aparição na tira cômica Big<br />
Chief Wahoo<br />
ahoo. Mas o personagem<br />
faz tanto sucesso que logo acaba<br />
virando o titular <strong>da</strong> série e Wahoo<br />
e os outros índios desaparecem,<br />
bem como o enfoque mu<strong>da</strong><br />
para aventura. Roper é um<br />
fotojornalista especializado em<br />
descobrir fraudes, que trabalha<br />
na revista Proof.<br />
inova por ser totalmente<br />
impressa em cores. Essa seria a<br />
primeira de um sem-número de<br />
títulos que lançaria a partir <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> seguinte pelo selo <strong>da</strong><br />
Editora O Cruzeiro.<br />
1941<br />
Plastic Man (Homem de<br />
Borracha), de Jack Cole, junta<br />
brilhantemente os gêneros superherói<br />
e comédia, fazendo sua<br />
estréia na revista Police Comics.<br />
Francisco Irwerten cria, no<br />
Paraná, o Capitão Gralha,<br />
provavelmente o primeiro superherói<br />
brasileiro.<br />
Joe Palooka<br />
alooka, de Ham<br />
Fisher, é o primeiro<br />
personagem de quadrinhos<br />
norte-americano a se alistar no<br />
exército visando combater na II<br />
Guerra Mundial. Logo to<strong>dos</strong> os<br />
personagens em quadrinhos<br />
estariam engaja<strong>dos</strong> e viveriam<br />
aventuras liga<strong>da</strong>s ao universo<br />
BRENDA STARR REPORTER, DE DALE MESSICK<br />
Goebbels, braço direito de<br />
Hitler, declara: “O Super-Homem<br />
é um judeu!”. De fato, a fonética<br />
do nome kryptoniano do<br />
personagem, Kal-El, em<br />
hebraico pode ser traduzi<strong>da</strong><br />
como “tudo o que Deus é”.<br />
Assis Chateaubriand completa<br />
seu leque que abrange agora<br />
to<strong>dos</strong> os segmentos <strong>da</strong><br />
imprensa entrando se sola no<br />
mercado de quadrinhos e<br />
lançando O Guri, revista que<br />
HOMEM DE BORRACHA, DE JACK COLE<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
15
DER FUEHRER’S FACE<br />
ALÔ AMIGOS<br />
Os heróis de gibis também<br />
são recruta<strong>dos</strong> para o “esforço<br />
de guerra” na luta para combater<br />
as forças do Eixo, e alguns são<br />
cria<strong>dos</strong> especialmente para isso:<br />
neste ano surge o Capitão<br />
América, um sol<strong>da</strong>do americano<br />
que ganha poderes especiais ao<br />
participar, como cobaia, de um<br />
experimento<br />
ultrasecreto para criar<br />
supersol<strong>da</strong><strong>dos</strong>.<br />
O psiquiatra William<br />
Moulton Marston, sob o<br />
pseudônimo Charles<br />
Moulton, cria para a<br />
editora All-American<br />
(associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> DC)<br />
Wonder Woman<br />
(Mulher-Maravilha),<br />
visando atingir o público<br />
feminino. O desenhista<br />
é Harry G. Peter.<br />
Na aventura de Tintin<br />
Le Crabe aux Pinces<br />
d´Or (O Caranguejo<br />
<strong>da</strong>s Pinças de Ouro)<br />
Hergé cria um de seus<br />
principais personagens:<br />
o capitão Haddock, que nunca<br />
respeitou a lei “se beber, não<br />
dirija um navio”.<br />
Pogo<br />
ogo, de Walt Kelly, surge na<br />
revista Animal Comics, ain<strong>da</strong><br />
em uma forma embrionária e<br />
volta<strong>da</strong> para o público infantil.<br />
Em 1948 ele mudou o enfoque<br />
para sátira política, quando<br />
começou a publicar o personagem<br />
em tiras no Star de Nova York.<br />
Archie faz sua estréia na<br />
revista Pep Comics. A<br />
encomen<strong>da</strong> partiu do editor<br />
John L. Goldwater <strong>da</strong> editora<br />
MLJ, que queria um<br />
personagem inspirado em<br />
Mickey Rooney, campeão <strong>dos</strong><br />
filmes adolescentes <strong>da</strong> época.<br />
As histórias foram cria<strong>da</strong>s por Vic<br />
Bloom e Bob Montana.<br />
1942<br />
Dante Quinterno produz ele<br />
mesmo a versão cinematográfica<br />
de seu personagem Patoruzú<br />
atoruzú:<br />
Upa em Apuros é o primeiro<br />
desenho animado argentino<br />
em cores, mas o resultado<br />
comercial não encoraja a<br />
continuação <strong>da</strong> série.<br />
Péricles começa a publicar no<br />
Guri de Chateaubriand as<br />
engraçadíssimas aventuras do<br />
Oliveira Trapalhão<br />
rapalhão.<br />
Para elevar o moral <strong>da</strong>s tropas,<br />
Milton Caniff cria a gostosa Miss<br />
Lace para o Camp News<br />
Service, jornal distribuído para<br />
sol<strong>da</strong><strong>dos</strong> norte-americanos que<br />
estavam em missões de guerra.<br />
Com a entra<strong>da</strong> definitiva <strong>dos</strong><br />
EUA na Segun<strong>da</strong> Guerra, to<strong>dos</strong><br />
os personagens se engajam e<br />
são comuns capas ridicularizando<br />
os japoneses – inimigos diretos<br />
<strong>dos</strong> americanos por causa do<br />
ataque a Pearl Harbor – ou<br />
mesmo com os heróis<br />
espancando Adolf Hitler. Até<br />
mesmo o Pato ato Donald entra na<br />
<strong>da</strong>nça: Walt Disney e equipe<br />
começam a produzir o curta de<br />
animação Der Fuehrer’s Face,<br />
que seria lançado nos cinemas<br />
no início do ano seguinte.<br />
Disney tinha feito um pouco<br />
antes uma viagem à América<br />
O CARANGUEJO DAS PINÇAS DE OURO<br />
16 <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009
MISS LACE, DE MILTON CANIFF<br />
1945<br />
1944<br />
Alex Raymond se alista nas<br />
Forças Arma<strong>da</strong>s e as páginas<br />
dominicais de Flash Gordon são<br />
retoma<strong>da</strong> por Austin Briggs, que<br />
já fazia as tiras diárias do mesmo<br />
personagem desde 1940.<br />
Morre George Herriman,<br />
criador do Krazy Kat e devido a<br />
seu estilo único a série é<br />
cancela<strong>da</strong> – seria impossível se<br />
pensar em outro autor para<br />
continuar essa hq.<br />
O AMIGO DA ONÇA, DE PÉRICLES<br />
Latina como “embaixador de<br />
boa vontade” trazendo consigo a<br />
nata de seu estúdio. O objetivo<br />
era angariar a simpatia <strong>dos</strong><br />
países latinos à causa <strong>dos</strong><br />
Alia<strong>dos</strong>, já que alguns países<br />
estavam flertando com o<br />
fascismo. É assim que surge o<br />
papagaio Zé Carioca,<br />
companheiro de Donald no<br />
filme Alô Amigos (1943). Há<br />
quem diga que o papagaio foi<br />
inspirado num desenho de J.<br />
Carlos. Zé Carioca, entretanto,<br />
fez sua estréia mundial não<br />
nesse filme de animação e sim<br />
em páginas dominicais de<br />
quadrinhos nos suplementos<br />
americanos a partir de outubro<br />
de 1942, antes mesmo de o<br />
filme ser lançado.<br />
Alfredo Machado cria a<br />
Distribuidora Record de Serviços<br />
de Imprensa, cuja principal<br />
ativi<strong>da</strong>de é fornecer quadrinhos<br />
para revistas e jornais brasileiros,<br />
fazendo a intermediação com os<br />
produtores norte-americanos e<br />
de outros países. Mais tarde se<br />
tornaria também editora de<br />
livros, atualmente o maior grupo<br />
editorial do País.<br />
1943<br />
Péricles cria O Amigo <strong>da</strong> Onça,<br />
um cartum semanal usando<br />
linguagem de quadrinhos que<br />
vira a principal atração <strong>da</strong> revista.<br />
O nome vem de uma pia<strong>da</strong><br />
popular corrente <strong>da</strong> época, mas<br />
a inspiração vem de El Inimigo<br />
Del Hombre, do argentino Divito.<br />
É lançado o primeiro seriado<br />
de Batman, estrelado por Lewis<br />
Wilson (Batman) e Douglas Croft<br />
(Robin).<br />
Frank Robbins cria Johnny<br />
Hazard, que começa como um<br />
aviador lutando na Segun<strong>da</strong><br />
Guerra Mundial. A tira começa a<br />
sair no dia 5 de junho, um dia<br />
antes do Dia-D, a batalha <strong>da</strong><br />
Normandia, que marcou a<br />
retoma<strong>da</strong> do continente<br />
europeu pelos alia<strong>dos</strong>.<br />
1945<br />
Adolfo Aizen fun<strong>da</strong> a Editora<br />
Brasil-América, após desligar-se<br />
do Grande Consórcio de<br />
Suplementos Nacionais. Sua<br />
intenção é publicar apenas<br />
livros, mas acaba se<br />
estabelecendo novamente<br />
como a maior editora de<br />
quadrinhos do país. Em outubro<br />
de 1946 em co-edição com o<br />
ítalo-argentino Cesar Civita<br />
(irmão de Victor Civita) lança<br />
Seleções Colori<strong>da</strong>s, impressa<br />
na Argentina pela Editorial Abril.<br />
Burne Hogarth abandona a<br />
United Feature Syndicate e<br />
DRAGO, DE BURNE HOGARTH<br />
Tarzan<br />
(que depois retomaria,<br />
em 1947) e cria Drago, uma<br />
espécie de “Cisco Kid latinoamericano”.<br />
A ação se passa na<br />
Argentina. Sucesso de crítica,<br />
mas não de público, a série dura<br />
apenas cerca de um ano.<br />
BATMAN, DE 1943<br />
1946<br />
Al Capp lança um concurso<br />
para escolher a representação<br />
gráfica <strong>da</strong> horren<strong>da</strong> Lena the<br />
Hyena, uma personagem <strong>da</strong><br />
história de Li’l Abner (Ferdinando)<br />
que nunca mostrava a cara. O<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 348 Novembro de 2009<br />
17
NICK HOLMES, DE ALEX RAYMOND<br />
LUCKY LUKE,<br />
DE MORRIS<br />
júri, composto de Salvador Dali,<br />
Boris Karloff e Frank Sinatra, deu<br />
o prêmio ao então quase<br />
desconhecido Basil Wolverton.<br />
Milton Caniff abandona Terry<br />
erry,<br />
que passa às mãos de George<br />
Wunder, e cria Steve Canyon.<br />
Ele seguiu o mesmo caminho<br />
de Roy Crane, que abandonou<br />
Wash Tubbs<br />
(Capitão César)<br />
para criar um novo personagem,<br />
Buzz Sawyer (Jim Gordon), do<br />
qual seria detentor <strong>dos</strong> direitos.<br />
Depois de <strong>da</strong>r baixa na<br />
Marinha, onde alcançou a<br />
patente de Major, Alex Raymond<br />
volta aos quadrinhos, agora com<br />
um novo personagem: Rip Kirby<br />
(Nick Holmes), um detetive<br />
particular que é sempre<br />
acompanhado do mordomo<br />
Desmond (Duarte).<br />
A tira Dick Tracy<br />
antecipa em<br />
várias déca<strong>da</strong>s a telefonia celular,<br />
quando o inventor Diet Smith faz<br />
para ele um rádio de pulso.<br />
DICK TRACY E SEU RÁDIO DE PULSO<br />
O belga Maurice De Bevere,<br />
assinando Morris, cria o western<br />
cômico Lucky Luke, que depois<br />
passaria a contar com a<br />
colaboração de René Goscinny<br />
(Asterix) nos textos.<br />
1947<br />
A Ebal lança sua primeira<br />
revista “oficial”, isto é, sem a<br />
parceria com os Civita: O Herói,<br />
um mix de personagens de<br />
aventuras, impressa em<br />
rotogravura e com capa em<br />
preto e branco (e com um erro<br />
ortográfico, pois os primeiros<br />
números não traziam acento em<br />
herói, como man<strong>da</strong>va a<br />
ortografia vigente). Essa seria a<br />
primeira de uma linha de<br />
periódicos que chegaria a uma<br />
média de 30 publicações por<br />
mês, nos tempos áureos.<br />
O Sesi lança uma publicação<br />
para o público infanto-juvenil,<br />
Sesinho, onde estreiam, entre<br />
outros, Ziraldo, Fortuna e um<br />
brilhante desenhista clássico que<br />
logo abandonaria a<br />
carreira nos quadrinhos<br />
para se tornar costureiro,<br />
Gil Brandão, responsável<br />
por uma história<br />
ambienta<strong>da</strong> no meio rural<br />
brasileiro, Raça e<br />
Coragem.<br />
A revista Vi<strong>da</strong><br />
Doméstica<br />
lança um<br />
filhote: Vi<strong>da</strong> Infantil,<br />
volta<strong>da</strong> para o público<br />
mirim. Entre seus<br />
principais colaboradores<br />
está o lendário Joselito,<br />
criador de Pituca.<br />
Numa aventura do Pato<br />
Donald surge um personagem<br />
que, embora só viesse a ser<br />
incorporado aos desenhos<br />
anima<strong>dos</strong> na déca<strong>da</strong> de 1980,<br />
viraria um <strong>dos</strong> principais e mais<br />
ricos (em to<strong>dos</strong> os senti<strong>dos</strong>)<br />
ícones do universo Disney: Uncle<br />
Scrooge (Tio Patinhas), como<br />
outros personagens de Patópolis<br />
(e <strong>da</strong> própria ci<strong>da</strong>de em si) uma<br />
criação de Carl Barks.<br />
1948<br />
Em parceria com Carlos<br />
Estêvão, Millôr Fernandes<br />
escreve os roteiros de sua única<br />
experiência em quadrinhos:<br />
Ignorabus, o Contador de<br />
Histórias (publica<strong>da</strong> no Diário<br />
<strong>da</strong> Noite). Obra-prima do<br />
nonsense, to<strong>dos</strong> os personagens<br />
morrem pouco depois que a<br />
história começa, num terremoto<br />
que arrasa a ci<strong>da</strong>de de Bagdá, e<br />
os autores (que também<br />
aparecem na tira) são obriga<strong>dos</strong><br />
a sair catando um novo elenco.<br />
Mais tarde a tira é rebatiza<strong>da</strong><br />
como Rato Santo.<br />
O agente Luís Rosenberg<br />
(proprietário <strong>da</strong> Apla) e o<br />
desenhista haitiano radicado no<br />
Brasil, André Le Blanc, fazem<br />
uma tentativa de montar um<br />
esquema de distribuição de tiras<br />
brasileiras nos moldes <strong>dos</strong><br />
syndicates americanos. Morena<br />
Flor é publica<strong>da</strong> em vários jornais<br />
brasileiros (começando pelo<br />
Diário <strong>da</strong> Noite) e revendi<strong>da</strong> para<br />
Argentina, Chile e Panamá. Le<br />
Blanc, que também foi o<br />
responsável pelas ilustrações <strong>dos</strong><br />
livros infantis de Monteiro Lobato,<br />
faria também inúmeras<br />
a<strong>da</strong>ptações de romances<br />
brasileiros para quadrinhos na<br />
Edição Maravilhosa de Aizen.<br />
Gianluigi Bonelli e Aurélio<br />
Galeppini publicam, na Itália, a<br />
primeira aventura do cowboy<br />
Tex Willer<br />
iller. Em pouco tempo Tex<br />
torna-se o maior fenômeno<br />
editorial desse país. É publicado<br />
no Brasil a partir de 1951 na<br />
revista Júnior, uma edição de O<br />
Globo (que ain<strong>da</strong> não usava o<br />
selo Rio Gráfica), no mesmo<br />
formato “cheque”.<br />
1949<br />
O sucesso de Vi<strong>da</strong> Infantil<br />
motiva a mesma editora a lançar<br />
outra revista nos mesmos<br />
moldes, mas volta<strong>da</strong> para um<br />
público ligeiramente mais velho:<br />
Vi<strong>da</strong> Juvenil.<br />
As feministas vencem uma<br />
batalha: Hil<strong>da</strong> Terry (a autora de<br />
Teena<br />
eena) é admiti<strong>da</strong> como<br />
membro <strong>da</strong> National Cartoonists<br />
Society, enti<strong>da</strong>de de classe<br />
norte-americana, até então um<br />
restrito “clube do Bolinha”.<br />
TEX WILLER<br />
Continua!<br />
Surge Superboy, versão<br />
adolescente do Superman,<br />
cria<strong>da</strong> à revelia <strong>dos</strong> autores Joe<br />
Shuster e Jerry Siegel, que<br />
começam os desentendimentos<br />
com a DC Comics a partir <strong>da</strong>í e<br />
vão sendo expeli<strong>dos</strong> <strong>da</strong> editora.<br />
O chileno René Rios,<br />
assinando Pepo, cria Condorito.<br />
Embora nunca tenha <strong>da</strong>do certo<br />
no Brasil, esse personagem é<br />
um sucesso não só em seu país<br />
natal como em to<strong>da</strong> a América<br />
Latina. Geralmente suas histórias<br />
têm apenas uma página e<br />
invariavelmente terminam com<br />
Condorito ou outro personagem<br />
desmaiando, seguido <strong>da</strong><br />
onomatopéia “plop”. Dizem que<br />
Pepo criou esse personagem<br />
em protesto ao filme Salu<strong>dos</strong><br />
Amigos (Alô Amigos) de<br />
Disney, ultrajado pelo fato de o<br />
Chile ter sido mal representado.<br />
Enquanto os brasileiros<br />
ganharam o papagaio Zé Carioca<br />
e os mexicanos o galo Panchito,<br />
o Chile era representado por...<br />
um aviãozinho bimotor.<br />
Frank Godwin, que já tinha se<br />
notabilizado por Connie, ilustra<br />
as tiras de Rust Riley (no Brasil<br />
Pedrinho e Célia) com roteiros<br />
de Rod Reed (o mesmo de<br />
Cisco Kid).<br />
A história <strong>dos</strong> próximos 60 anos continua<br />
no segundo volume do <strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> •<br />
<strong>Especial</strong> de <strong>Quadrinhos</strong>, que trará também entrevistas e perfis de<br />
alguns <strong>dos</strong> mais destaca<strong>dos</strong> desenhistas brasileiros.<br />
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