06.08.2017 Views

essencia

escritos da adolescência

escritos da adolescência

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

José Alberto Vieira<br />

Flor(em)essência<br />

escritos da adolescência


FLOR(EM)ESSÊNCIA<br />

escritos da adolescência


José Alberto Vieira<br />

FLOR(EM)ESSÊNCIA<br />

escritos da adolescência<br />

Florianópolis<br />

2017


Sumário<br />

Apresentação<br />

7<br />

Poemas<br />

9<br />

Sobre o autor<br />

71


Apresentação<br />

Flor(em)essência, título dado pelo autor para o conjunto<br />

de sua poesia, traduz a pureza de um jovem adolescente<br />

que se vê envolvido por profundas mudanças em sua<br />

vida, desde a interna, tendo que conviver com o despertar<br />

de seu mundo amoroso e sentimental até o acolher da<br />

incompreensível manifestação de seu “eu dissolvido”, ao<br />

mesmo tempo em que tinha de se adaptar a um universo<br />

físico novo.<br />

Poemas de amor juvenil, aceitação e esperança,<br />

quando não de rebeldia e contestação, foram escritos em<br />

Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores, Portugal no<br />

ano de 1988 e foram coletados pela família do autor entre<br />

pensamentos filosóficos, equações matemáticas e outros<br />

apontamentos de aulas das disciplinas de ciências exatas do<br />

ensino médio do Liceu Antero de Quental, nos cadernos e<br />

nas paredes do quarto que o então adolescente José Alberto<br />

Vieira, o Josa, ocupava.<br />

Diagnosticado como portador de transtorno esquizofrênico,<br />

caracterizado, principalmente, como “distorções<br />

do pensamento e da percepção” com agravantes relacionadas<br />

ao afeto repartido entre o passado recente da sua terra natal<br />

ao indefinível e incerto panorama de uma ilha até então<br />

desconhecida, José Alberto Vieira manteve sua capacidade<br />

intelectual intacta e ativa, embora, na época, seu senso de<br />

individualidade estivesse voltado a si mesmo, como costuma<br />

acontecer aos poetas. E sua obra fala disso.


10 Flor(em)essência<br />

Seus poemas falam de amor e de esperança num<br />

tempo conturbado pela distância da família, em especial<br />

do irmão mais velho e do pai, e pelo transtorno mental<br />

recém-manifesto, justamente quando os anseios pela vida<br />

universitária e pelo trabalho o empolgavam, e impossibilidade<br />

de realização o amargurava.<br />

Apaixonado por uma jovem açoriana, descobre no<br />

amor o estímulo para enfrentar os desafios vivenciais em<br />

uma ilha paradisíaca cujos costumes austeros diferenciavam-se<br />

dos seus habituais devaneios poéticos. Consciente<br />

da dor que o aflige, indaga-se a todo momento a razão<br />

das mudanças a ele impostas por questões de família. E se<br />

pergunta: “Quem eu sou?” Para a si mesmo responder: “Sou<br />

o mistério do Sol”. Assim é mesmo sua vida: “dissolvida;<br />

quando consegue, juntar os seus “eus”, constantemente<br />

fragmentados, revela que os caminhos que servem à<br />

humanidade devem ser construídos passo a passo, com<br />

otimismo e tentativas de bem-aventurança.<br />

Hoje, aos 47 anos de idade, o autor continua a escrever,<br />

dedicando-se, principalmente, à música da qual é<br />

grande apreciador e conhecedor.<br />

Bem hajas, José Alberto!<br />

Bem hajam, todos os leitores destes escritos da<br />

adolescência!<br />

Florianópolis, 1 de agosto de 2017.<br />

Uma Amiga


Poemas


José Alberto Vieira<br />

13<br />

Para Conceição Eyne Cabral,<br />

pelo acolhimento, amizade e<br />

companheirismo no despertar<br />

do amor aos Açores.


14 Flor(em)essência<br />

Sinto<br />

No ar<br />

O cheiro<br />

do meu ego<br />

dissolvido


José Alberto Vieira<br />

15<br />

Meu eu dissolvido...<br />

Zás...<br />

dissolveu-se no ar...<br />

Zás...<br />

dissolvida ...<br />

Minha vida...<br />

Em tudo mudada...<br />

Fiquei! Ficou!


16 Flor(em)essência<br />

Sou só<br />

Sou só<br />

Só porque SOU<br />

Só porque SOU<br />

Quero mais<br />

Quero mais<br />

Quero<br />

Quero<br />

7


José Alberto Vieira<br />

17<br />

Parou o tempo...<br />

E a vida...<br />

...sárt arap uohnimac


18 Flor(em)essência<br />

Isso não é um adeus<br />

É antes um voto de esperança<br />

Por tudo o que ainda há de vir<br />

Preciso encontrar significado<br />

Para este espetáculo ardente<br />

Dentro do meu<br />

Coração<br />

AMOR


José Alberto Vieira<br />

19<br />

Nenhum<br />

homem<br />

deveria<br />

considerar-se<br />

sábio<br />

ou possuidor<br />

do saber<br />

Mas tão só ser amigo do saber


20 Flor(em)essência<br />

Implica<br />

Implicam<br />

Implicam<br />

MAS<br />

o importante é<br />

não complicar...


José Alberto Vieira<br />

21<br />

Não espero o que não pode ser.<br />

Quero o que é<br />

belo<br />

e bom.<br />

O bom só é belo quando<br />

notado, decifrado,<br />

admirado,<br />

querido.<br />

O belo som é bom quando<br />

amado.


22 Flor(em)essência<br />

Cheguei um dia desses carregando na mala<br />

um passado de dezessete anos:<br />

vitalidade, boa vontade,<br />

necessidade de<br />

vida nova.<br />

No espaço,<br />

uma coisa estranha.<br />

Na minha alma, promessa.<br />

Na realidade: um grande desafio.


José Alberto Vieira<br />

23<br />

Em tudo o que faço há cansaço,<br />

esforço demasiado para os meus<br />

dezessete anos.<br />

A estrela perdeu seu brilho.<br />

Não consigo viver com minha cara, meus gestos,<br />

meu jeito.<br />

Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho irmãos.<br />

O que vale viver assim?


24 Flor(em)essência<br />

Tomei consciência do tempo e do espaço<br />

quando tinha dez anos.<br />

Com onze anos, tive medo do meu pai<br />

(sempre tive).<br />

Aos treze, rezei o Pai Nosso depois da<br />

primeira masturbação.<br />

A viagem foi sonho<br />

ou pesadelo?<br />

Queria o amor aos dezessete e<br />

criei o ódio.<br />

Aos dezoito, a namorada<br />

me fez feliz.<br />

Amor, doçura e sexo.<br />

Mas ainda é grande a minha ambição.


José Alberto Vieira<br />

25<br />

Por que<br />

não posso<br />

ter asas<br />

se quero<br />

voar?


26 Flor(em)essência<br />

O amor é,<br />

às vezes,<br />

pôr-de-sol<br />

...<br />

sucessivos.<br />

A mulher é cor,<br />

girassol sempre a desabrochar.


José Alberto Vieira<br />

27<br />

Amar é<br />

estar sempre<br />

em perspectiva.<br />

Amar é<br />

fazer amor<br />

ouvindo música.<br />

Amar é<br />

fazer amor<br />

mastigando chiclete.


28 Flor(em)essência<br />

Escura a luz do dia<br />

Obscura...<br />

Da noite<br />

só o brilho do teu olhar<br />

Paixão etérea


José Alberto Vieira<br />

29<br />

A noite é<br />

curta demais<br />

para minha voz<br />

te iluminar.


30 Flor(em)essência<br />

Quero<br />

uma rosa<br />

cor-de-rosa<br />

para regar<br />

meu deserto


José Alberto Vieira<br />

31<br />

O que seria do amor<br />

sem o AMOR?


32 Flor(em)essência<br />

Triste,<br />

na areia vi<br />

destroços de um barco:<br />

da areia saiu e na areia foi parar...<br />

destroçado<br />

...pobre barco!<br />

Meu amor é assim:<br />

vai e volta como as ondas do mar<br />

...ferido


José Alberto Vieira<br />

33<br />

O velho:<br />

vermelhos<br />

o coração,<br />

o corpo,<br />

o barco.<br />

O velho:<br />

longas histórias a contar,<br />

baleias, estrelas, golfinhos,<br />

sereias... Luar.<br />

E o velho lampeiro,<br />

na madrugada serena,<br />

a rede foi puxar;<br />

comida de pescador<br />

seus braços foram buscar.


34 Flor(em)essência<br />

Minha hora alcancei<br />

Chegou a vez<br />

de me tornar eu<br />

outra vez<br />

Chegou o tempo<br />

o tempo final<br />

do juízo<br />

acabou a brincadeira<br />

a coisa é verdadeira


José Alberto Vieira<br />

35<br />

Soube do teu sofrimento.<br />

A mim, basta-me saber isso.<br />

Não chora mais:<br />

Eu te amo.


36 Flor(em)essência<br />

Preciso de uma droga que me faça feliz...<br />

Preciso de uma droga<br />

para quebrar o tédio...<br />

Preciso de uma droga<br />

para vencer o cotidiano..<br />

Minha droga é você<br />

a rebolar o corpo suado<br />

a arrebentar paixão dentro de mim!<br />

Chega, chega de droga!<br />

Eu quero você, Mulher!


José Alberto Vieira<br />

37<br />

Sinto em teu olhar<br />

Todo brilho de um querer,<br />

Mas não é suficiente o prazer que tu me dás.<br />

Desculpa, relaxa, pressinto que vou te deixar.


38 Flor(em)essência<br />

Disseram-me que<br />

Não havia lugar<br />

E não há lugar<br />

Não há descanso<br />

Só existe medo<br />

Medo<br />

Ansiedade<br />

(Me) Dor!


José Alberto Vieira<br />

39<br />

Desejo despertar<br />

Desejo o desejo<br />

Aceito o desejo<br />

E depois do desejo?<br />

Paixão<br />

Violência, não!


40 Flor(em)essência<br />

– O que fazes aqui?<br />

– Esperei mil anos...<br />

Tão danados, tão danados<br />

– Eu não, eu não...<br />

– Estás aí?<br />

E disse o mesmo que eu digo<br />

Em palavras torcidas.


José Alberto Vieira<br />

41<br />

Minha mãe é mais nova<br />

Do que eu dezessete anos.<br />

Nascemos quantas vezes juntos?


42 Flor(em)essência<br />

Muros<br />

Violência<br />

Paixão<br />

Insegurança<br />

Silêncios<br />

Medo<br />

Por que a mania<br />

De ver as coisas frias<br />

E mostrá-las geladas<br />

Como se sempre o fossem?


José Alberto Vieira<br />

43<br />

ROMANCE<br />

Parte 1<br />

Vida: eternidade na procura<br />

Amor: nas mãos de quem o quer<br />

Fidelidade: amor a dois<br />

Inteligência: tática de quem sabe usar<br />

Perfeição: nem todos alcançam<br />

Sucesso: Deus proporciona<br />

Felicidade: todos a querem<br />

Deus: Todo Poderoso<br />

Música: dom divino<br />

Água: pureza<br />

Sol: rei da conquista<br />

Parte 2<br />

Vício: gosto doce da solidão<br />

Solidão: flor a murchar<br />

Insegurança: arma do inimigo<br />

Medo: corte no coração<br />

Raiva: resultado da imperfeição<br />

Ódio: vontade de vingança<br />

Vingança: amarga satisfação de quem a consegue<br />

Depressão: todos me forçam<br />

Morte: à espera


44 Flor(em)essência<br />

Sou feliz<br />

Acredito no futuro pleno<br />

Fama, doce saborear do sucesso.<br />

Sexo, prisão e solidão.<br />

Jovens, medo e paixão.<br />

Crianças, esperança de todos.<br />

Adolescência, cura inexistente.<br />

Mulheres, razão do ser.<br />

Amigos, tenho poucos.<br />

Visão, poucos a tem.<br />

Trabalho, projeto familiar.<br />

Sistema: maximização do poder.<br />

Tempo: quem sabe o faz.<br />

Ciúme, irracionalidade.<br />

Quem sou?<br />

Sou o mistério do sol.


José Alberto Vieira<br />

45<br />

Cheguei num dia desses<br />

Carregava na mala<br />

Um passado de dezessete anos<br />

Vitalidade<br />

Vontade<br />

Necessidade do novo<br />

No espaço, uma coisa estranha<br />

Na minha alma, promessa<br />

Na realidade, um grande desafio


46 Flor(em)essência<br />

Saio de madrugada<br />

e você nem me pergunta<br />

se o que se passou foi verdade<br />

ou apenas mais uma noite<br />

Bebo mais um copo<br />

Meu dinheiro foi embora<br />

Tenho de acordar às sete horas<br />

Preciso trabalhar<br />

E os nossos sentimentos<br />

onde ficam nisso tudo?


José Alberto Vieira<br />

47<br />

O casal sensacional!!!???<br />

quem disse?<br />

Notei a indelicadeza,<br />

a intolerância, o mau convívio.<br />

O casal: uma bruxa; o outro, pervertido.<br />

Antes, do agora,<br />

os dois levantavam<br />

a taça da minha admiração.<br />

Hoje, eu sou apenas<br />

eu.<br />

Danço o jogo da superação.


48 Flor(em)essência<br />

Olhou<br />

Pensou<br />

Acordou-me<br />

Desculpou-se...<br />

Notei que saiu<br />

Foi embora<br />

Até que enfim!<br />

Estava na hora.


José Alberto Vieira<br />

49<br />

Em São Miguel<br />

manhã sombria<br />

luzes verdejantes<br />

caudas de pavão


50 Flor(em)essência<br />

Só eu sei o que o vírus do amor faz,<br />

o que faz e o que desperta nas pessoas.<br />

Floresce em oportunidades e tem interesses fantásticos,<br />

mas também pode e sabe deixar vidas à espera.<br />

Por ventura também a minha.<br />

Morte seria o fim?<br />

Ocupação e trabalho,<br />

Sofrimento e perdão.<br />

Quero uma vida a dois,<br />

encontros, amor<br />

conversas, mudança.<br />

O passado: lembrança.<br />

O futuro: vida,<br />

quero mais vida.<br />

Quero!


José Alberto Vieira<br />

51<br />

Às vezes, vejo o bem<br />

e não sinto nada de novo.<br />

Às vezes vejo o mal<br />

e finjo que não vejo.


52 Flor(em)essência<br />

Medo, medo, medo.<br />

Oh, ódio! Oh, inverno!<br />

Oh, desespero!<br />

Oh, estação lunar!<br />

Sem ninguém poder estender a mão.<br />

Compreender.<br />

Ajudar.


José Alberto Vieira<br />

53<br />

... pensamentos de pedra<br />

invadem meu sossego...


54 Flor(em)essência<br />

Mal começa o dia<br />

a preguiça matinal,<br />

a cama desfeita,<br />

a cara não lavada,<br />

o café da manhã,<br />

consolo!<br />

Lá fora o sol,<br />

o carro à espera,<br />

os óculos,<br />

um sorriso<br />

e uma nova marca para fumar.<br />

E as pessoas: olhares toscos do amanhecer.


José Alberto Vieira<br />

55<br />

Inconsciência do saber<br />

Insutileza do querer.<br />

Roubo do pensamento<br />

alcance extremo:<br />

loucura.


56 Flor(em)essência<br />

O pensamento é<br />

a fala<br />

do saber.


José Alberto Vieira<br />

57<br />

Satisfação do tempo<br />

num rosto estático:<br />

Morte.<br />

Queda da máscara<br />

num sorriso:<br />

Amor!


58 Flor(em)essência<br />

Na reflexão, a luz oscila ou<br />

muda apenas de sentido,<br />

sem mudar de direção?<br />

Mas o meio em que se propaga<br />

a luz continua o mesmo<br />

se estou com alguém.


José Alberto Vieira<br />

59<br />

Pensamentos alheios<br />

inundam meu coração.<br />

Mas há um que mais me ilude,<br />

o meu próprio: há amor no caminho!


60 Flor(em)essência<br />

Ideias banais<br />

momentos perdidos<br />

no espaço<br />

estrelas<br />

compassos<br />

terra<br />

nós<br />

trancados<br />

dentro de nós<br />

batalhas<br />

guerras a vencer<br />

futuro branco/guardanapo...


José Alberto Vieira<br />

61<br />

sumiu o amor<br />

lixa<br />

cogumelo<br />

rádio<br />

rim<br />

rrr<br />

rr<br />

r<br />

...rrrrrrrrrrrrrrrrrr!


62 Flor(em)essência<br />

Amor, amor, amor...<br />

Chamei mil vezes<br />

amoooor...<br />

Apareceu você.<br />

Seio aconchegante...<br />

Meu pensar,<br />

meu pesar.<br />

Você fez novamente<br />

o que a minha serena<br />

razão não explica.


José Alberto Vieira<br />

63<br />

Foguete<br />

luz<br />

lágrima<br />

perfume<br />

DESATINO<br />

DES-ATINO<br />

DES-A-TINO<br />

DE-SA-TI-NO<br />

Nesta noite não posso ter você


64 Flor(em)essência<br />

Quero saber, saber,<br />

saber,<br />

saber,<br />

saber<br />

até...<br />

MORRER<br />

(ou começar a viver?)


José Alberto Vieira<br />

65<br />

Há tempo em que ajo<br />

Há tempo em que durmo<br />

Há tempo em que penso<br />

Há tempo em que penso em ser feliz<br />

Há tempo em que penso em Jesus<br />

Há tempo em que O vejo preso a uma cruz<br />

Há tempo que eu sou eu<br />

Há tempo que não sou ninguém<br />

Há tempo que procuro alguém<br />

Há tempo que ouço conselhos<br />

Há tempo que confio neles<br />

Há tempo que dizem quem devo ser<br />

Há tempo que choro<br />

Há tempo que perdoo<br />

Há tempo que ensino<br />

Há tempo que eu não aprendo nada<br />

Há tempo que não sei o que fazer<br />

Há tempos em que penso na história<br />

Há tempos em que fui enganado<br />

Há tempos em que sou rei<br />

HÁ TEMPO. HÁ TEMPOS...


66 Flor(em)essência<br />

Há tempo que penso nas mulheres<br />

Há tempos em que as faço felizes<br />

Há tempo que penso mudar de vida<br />

Há tempo que estou na adolescência<br />

Há tempos em que penso que sou eu o maluco<br />

Há tempo que não sou ninguém<br />

Há tempos em que querem que seu seja alguém<br />

Há tempos em que penso no bem<br />

Há tempos em que sou feliz<br />

Há quem pense no que eu deveria ser<br />

Há quem pense que dou prazer<br />

Há momentos em que eu sou eu mesmo<br />

Há momentos em que me querem assim<br />

Mas maior é o tempo de eu estar só


José Alberto Vieira<br />

67<br />

Modos de metamorfose<br />

crianças desiludidas<br />

não suportei<br />

Preconceito<br />

medo<br />

a isso ultrapassei<br />

Medos<br />

desespero<br />

chorei<br />

Metamorfose coletiva<br />

vida renascida<br />

espíritos renovados<br />

modos bem empregados<br />

Mas o medo do dia a dia<br />

do furor do trabalho<br />

da miséria e da fome<br />

continua...


68 Flor(em)essência<br />

S.O.S<br />

um coração<br />

um desejo<br />

estridente<br />

um grito<br />

um tiro<br />

tudo guardado<br />

com fungos<br />

só o grito ainda rói


José Alberto Vieira<br />

69<br />

DANÇA<br />

Um covarde<br />

Um herói<br />

Não sou um<br />

não sou outro<br />

sou os dois<br />

em simultâneo


70 Flor(em)essência<br />

Olho nos teus olhos<br />

a boca seca<br />

o coração em pasmo<br />

...<br />

descubro-me a sorrir<br />

...<br />

Bah! Eu te amo<br />

Eu te amo, baby<br />

Baby, deixa que eu te pegue<br />

te carregue no colo<br />

devagarzinho...<br />

Como tu gostas<br />

Que estranhos<br />

que bons<br />

esses sentimentos<br />

Salmos de amor<br />

Salvos pelo amor<br />

SALMOS!


Sobre o autor<br />

O autor, aos 17 anos, apaixonado por jovem açoriana,<br />

descobre no amor a força para enfrentar os desafios da adolescência,<br />

durante sua permanência na Ilha e São Miguel<br />

(Arquipélago dos Açores, Portugal), cujos costumes austeros<br />

diferenciam-se dos seus habituais devaneios poéticos. Consciente<br />

da dor que o aflige, indaga-se sobre a razão das mudanças<br />

a ele impostas por questões familiares relacionadas a<br />

estudo e trabalho. E se pergunta: “Quem eu sou?” Para a si<br />

mesmo responder: “Sou o mistério do Sol”. Assim é mesmo<br />

sua vida: “dissolvida”. Quando consegue juntar os seus “eus”,<br />

constantemente fragmentados, revela que os caminhos que<br />

servem à humanidade devem ser construídos passo a passo,<br />

com otimismo, confiança e eterna bem-aventurança.


Flor(em)essência: escritos da adolescência são<br />

poemas de expressão amorosa e de esperança,<br />

mas também de rebeldia e contestação, traduzindo<br />

a pureza do autor catarinense, vivendo no<br />

Arquipélago dos Açores na década de oitenta,<br />

surpreendido pelos afetos próprios da juventude<br />

até o acolher da incompreensível manifestação<br />

do seu “eu dissolvido” pela esquizofrenia, justamente<br />

quando os anseios pela vida universitária<br />

e pelo trabalho o empolgavam e a impossibilidade<br />

físico-mental o subjugava.<br />

José Alberto Vieira, nascido em Florianópolis/SC<br />

(25/08/1970), estudou<br />

no Colégio de Aplicação (UFSC). Em<br />

Ponta Delgada/Portugal concluiu o<br />

ensino médio (1992) e foi Auxiliar<br />

de Laboratório de Biologia Universidade<br />

dos Açores (1988-1990). Menção<br />

Honrosa: Concurso Nacional de Fotografia<br />

do Instituto Nacional para<br />

Aproveitamento dos Tempos Livres<br />

dos Trabalhadores (INATEL, 1989),<br />

Açores/Portugal. Aprovado Vestibular<br />

Administração (UNIVALI/SC, 1996).<br />

Atualmente dedica-se à música.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!