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Revista LiteraLivre 5ª edição

5ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 5nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

5ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 5nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 5 - Setembro de 2017<br />

alto da escada, rente ao muro que sustentava o corrimão. O movimento dos<br />

pedestres era intenso na escadaria, e, muitas vezes fiquei em pé, atrás do<br />

mendigo, aguardando um espaço para passar. Movimento que piorava na hora<br />

do rush.<br />

Interessante como o mendigo fazia parte da paisagem. Aquele homem<br />

fazia parte daquele lugar. Não consigo me lembrar da escada sem a presença<br />

dele, lá, no alto. Reparava que sempre colocava as muletas perfiladas junto ao<br />

muro, de maneira a não atrapalhar os transeuntes. Eu não sabia como ele<br />

chegava até ali, não sabia onde morava, não sabia como se alimentava... Eu o<br />

cumprimentava na ida e na volta, nunca deixei de dizer bom dia e boa noite.<br />

Isso mesmo, boa noite! Quando passava por ali, na volta do trabalho, mesmo<br />

com a noite chegando, o homem continuava lá, no mesmo lugar.<br />

Numa sexta-feira, subindo a escadaria, pensei que, apesar de ficar<br />

tocada pela fragilidade do mendigo, pela sua situação miserável, nunca havia<br />

colocado uma moeda para o pobre homem. Enfiei a mão na bolsa, peguei as<br />

moedas que estavam lá e as coloquei na lata que ele segurava nas mãos. Ao<br />

ouvir o barulho do níquel, ele agradeceu. Respondi ao agradecimento e segui o<br />

meu caminho.<br />

Terminado o dia, era chegada a santa hora de voltar para casa. Na<br />

escada do Viaduto, no mesmo lugar, o mendigo. O movimento de pessoas era<br />

aterrador. Passei por ele, dei boa noite, e desci espremida na multidão.<br />

Já na fila do ônibus, abri a bolsa, abri o zíper do compartimento da<br />

reserva... Não havia reserva. Depois que comprei os envelopes e os selos não<br />

fiz a reposição. Puro esquecimento... Meu Deus, como eu voltaria para casa?!<br />

Passei os olhos pela fila, pessoas estranhas, como sempre. Atrás de<br />

mim já estavam perfilados inúmeros passageiros. E eu ali... Sem expediente,<br />

sem saber o que fazer. Se fosse qualquer outra pessoa, poderia até pedir para<br />

que alguém pagasse a passagem, contaria a história. Mas não eu. Nunca!<br />

Saindo da fila e vendo a noite chegar cada vez mais rápido, fui entrando<br />

em pânico. Não demoraria muito e naquela parte da cidade não haveria mais<br />

pessoas nas ruas! E eu, o que faria?!<br />

Desesperada, não vislumbrando outra saída, pensei no mendigo. Eu<br />

havia dado a esmola naquela manhã, eu poderia pedir o dinheiro de volta.<br />

Não! De volta, não! Eu poderia pedir a ele o valor da passagem como<br />

empréstimo, e o pagaria no dia seguinte. No dia seguinte, não! Na segundafeira...<br />

Fui pensando nisso e andando na direção da escada. Será que ele ainda<br />

estaria lá?!<br />

Apressei o passo e aos trotes fiz o caminho de volta. Quando olhei para<br />

o alto e o vi lá em cima, no mesmo lugar, fiquei feliz, aliviada. Quero dizer, um<br />

pouco aliviada porque o pior ainda estava por acontecer. Eu teria que negociar<br />

com ele um pequeno empréstimo, que situação! Eu nem sabia como iniciar a<br />

conversa.<br />

Quando cheguei ao topo da escada, eu estava ofegante, suando em<br />

bicas. O suor descia pelas costas e empapava o cós da saia... Sentei-me no<br />

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