07.12.2017 Views

SOMBRAS-CÁLIDAS-Alerto-Bia

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Editora do Carmo<br />

Sombras<br />

Cálidas<br />

Livro de Poemas<br />

<strong>Alerto</strong> Augusto <strong>Bia</strong><br />

16/02/2017


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

<strong>SOMBRAS</strong> <strong>CÁLIDAS</strong><br />

Editora do Carmo<br />

2017<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

1


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong> (pseud.)<br />

<strong>Alerto</strong> Augusto <strong>Bia</strong> nasceu em Moçambique - distrito de<br />

Inharrime – província de Inhambane no dia 02 de Março 1993.<br />

É Licenciado em Ensino de Inglês com Habilitações em<br />

Português, pela Universidade Pedagógica de Moçambique –<br />

Delegação de Niassa. Membro da CEPAN (Clube de escritores e<br />

Amigos, Poetas do Niassa). É professor da Língua Inglesa, na<br />

Escola Primária Completa Dom Luís Gonzaga, em Lichinga<br />

(Niassa). Reside actualmente na cidade de Lichinga - em Niassa.<br />

Começou a escrever poesia em 2012 e tem uma obra intitulada<br />

"Sonhar é Ressuscitar" que marcou a estréia no campo da<br />

literatura, lançada em 2016 pela livres editores, Maputo.<br />

2


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

© Copyright by Sombras Cálidas-2017<br />

Arte da capa Evan do Carmo<br />

Revisão Iranete Pontes<br />

-------------------------------------------------------------------------------------<br />

Sombras Cálidas – <strong>Alerto</strong> Augusto <strong>Bia</strong><br />

76 p.<br />

1. Literatura, poesia Brasil 1.<br />

---------------------------------------------------------------------------------<br />

ISBN-13: 978-1543169980<br />

ISBN-10: 1543169988<br />

-------------------------------------------------------------------------------------<br />

Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados<br />

de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser<br />

reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer<br />

meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação<br />

computadorizada, sem permissão por escrito do Autor.<br />

Composto e impresso no Brasil<br />

Printed in Brazil<br />

3


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

Sumário<br />

NO SENTIDO DO AMOR............................................................................... 6<br />

CÁLIDO .......................................................................................................... 7<br />

FLASH ............................................................................................................ 9<br />

ARTE ............................................................................................................. 11<br />

ARRE! ........................................................................................................... 13<br />

DOR ÍNFIMA................................................................................................ 15<br />

NA POESIA ................................................................................................... 17<br />

POLIEDRO ................................................................................................... 20<br />

PALAVRAS ................................................................................................... 22<br />

A BUSCA DO VERSO .................................................................................. 24<br />

MUNDIVIDÊNCIA ....................................................................................... 26<br />

(IN) CONSCIÊNCIA ..................................................................................... 28<br />

LEMA DA VIDA ........................................................................................... 29<br />

ESTÍMULO EXTERNO................................................................................. 31<br />

REFRESCO .................................................................................................. 33<br />

(DES) IGUAL................................................................................................ 35<br />

A MEMÓRIA ................................................................................................. 36<br />

DEVANEIO ................................................................................................... 38<br />

MOTIM ......................................................................................................... 40<br />

EXPERIMENTAR MORRER ........................................................................ 42<br />

OS POETAS .................................................................................................. 43<br />

NO ANO QUE VEM ..................................................................................... 45<br />

SER ESTRANHO .......................................................................................... 46<br />

4


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

HOMEM & MULHER .................................................................................. 47<br />

O MAR .......................................................................................................... 49<br />

SER ANÔNIMO ............................................................................................ 50<br />

TOCHA ......................................................................................................... 53<br />

MOÇA (MBIQUE) ........................................................................................ 54<br />

UMA DOR NO MEIO DO MAR ................................................................... 55<br />

O PALMO ..................................................................................................... 57<br />

AS MAIS DISTANTES CAMINHADAS ......................................................... 65<br />

PANTEÍSMO ................................................................................................ 66<br />

SE FOSSEMOS UNIDOS... .......................................................................... 67<br />

FIM DO MUNDO ......................................................................................... 70<br />

TOLERÂNCIA............................................................................................... 71<br />

POLÍTICA ..................................................................................................... 73<br />

5


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

NO SENTIDO DO AMOR<br />

o amor é tem um sabor acre.<br />

no ovulo do coração<br />

há em quantidade mortífero<br />

e asfixia<br />

se não correspondido,<br />

mas,<br />

é enorme<br />

gravitacional<br />

unitivo<br />

ao lúcifer<br />

à divindade<br />

o amor.<br />

6


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

CÁLIDO<br />

sob cápsulas de balas<br />

um lapso endêmico<br />

vasto e extenso<br />

reside<br />

o jazigo<br />

constante<br />

pelos dias<br />

entre ervas<br />

e arbustos<br />

um alto percentual<br />

da flora<br />

há um abutre<br />

antigo<br />

que corre montanhas<br />

dispersar<br />

a seiva<br />

a linfa<br />

7


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

ao órfão<br />

do pábulo<br />

sinto esse ranger<br />

áspero<br />

pelos dias<br />

cálidos<br />

8


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

FLASH<br />

um segredo<br />

robusto<br />

na pálpebra<br />

da vida<br />

propícia<br />

o flash<br />

intermitente<br />

um jato<br />

mordaz<br />

fatal<br />

extingue<br />

nas sombras<br />

quase sutis<br />

a lente<br />

do flash<br />

um lapso<br />

soterrado<br />

9


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

na lama vil<br />

perpétuo<br />

o segredo<br />

da vida.<br />

10


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

ARTE<br />

a essência<br />

entre as mãos<br />

pedaço a pedaço<br />

no leito dos rios<br />

um lapso<br />

esfinge<br />

paira imagens reais<br />

caídas<br />

de nuvens<br />

os barcos<br />

as armas<br />

enfim,<br />

a mestria<br />

do verbo<br />

faz acontecer<br />

seres imensos<br />

no lapso<br />

11


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

entre as mãos<br />

a essência.<br />

12


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

ARRE!<br />

precisa<br />

um arre premente<br />

pra desprender<br />

da âncora<br />

a espessura<br />

dos diplomatas<br />

assentados<br />

de braços<br />

cruzados<br />

como múmias.<br />

errantes<br />

a cada degrau<br />

impérvio<br />

enquanto<br />

as enxadas rugem<br />

ao sabor da blasfêmia<br />

em sombras febris<br />

13


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

pelos cantos<br />

do universo<br />

largo.<br />

14


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

DOR ÍNFIMA<br />

a memória capta e retém<br />

uma serie de lembranças<br />

como uma máquina<br />

fotográfica.<br />

as ruas<br />

esta imagem canon<br />

propenso<br />

à opressão<br />

pandêmica<br />

presa<br />

numa serie<br />

de teias<br />

de resíduos<br />

sólidos<br />

à vista<br />

uma imagem<br />

antiga<br />

15


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

percorre<br />

a outra porção<br />

da margem<br />

sem atinar<br />

a dor da (o) outra (o)<br />

na pele<br />

16


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

NA POESIA<br />

há um silêncio imanente<br />

à natureza do ser<br />

onde rebuscam versos<br />

alguns poetas<br />

autênticos<br />

é do mesmo silêncio<br />

que se desnuda<br />

pra ver<br />

a sensualidade<br />

da poesia<br />

esta coisa<br />

incompreensível<br />

pela extremidade<br />

no ápice<br />

tem um segredo<br />

oculto<br />

no seu íntimo<br />

17


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

como a inércia<br />

do corpo<br />

em sono<br />

profundo<br />

é também o verso<br />

inerte<br />

sem sorver<br />

o néctar.<br />

[...]<br />

oculta-se<br />

o pranto<br />

cristalino<br />

a dor<br />

remorso<br />

o amor<br />

afeccional<br />

o sabor<br />

de palavras<br />

18


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

que ornamentam<br />

os versos<br />

onde o sol cria<br />

a imagem mental<br />

em sombras<br />

cálidas<br />

por um raio<br />

estreito<br />

por vezes<br />

intermitente<br />

escorre<br />

o néctar<br />

da poesia.<br />

19


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

POLIEDRO<br />

em algumas galáxias<br />

as lágrimas<br />

na pele das veias<br />

não expulsa a poeira<br />

é o ardor duma perda<br />

que refletem<br />

do ferimento<br />

que extraem<br />

do bolso da vida<br />

costurados no pecúlio<br />

do suor dos dias<br />

em vão<br />

noutras galáxias<br />

é neve euforizante<br />

que transborda<br />

no rosto<br />

desta raça<br />

20


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

desertada numa ilha<br />

onde não se faz o fogo<br />

não há chama<br />

nem chaminé<br />

21


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

PALAVRAS<br />

as palavras<br />

erguem uma casa<br />

como pedras polidas<br />

são dignas de apreço<br />

um grito sirene<br />

extingue o silêncio<br />

como o trovão<br />

então uiva meu irmão<br />

como uma fera irascível<br />

pra se esvoaçar<br />

a tirania<br />

como ave livre<br />

da servidão<br />

faz listras<br />

sob rochas da tua caverna<br />

até ao infinito<br />

mesmo com tempestade dos deuses<br />

22


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

grite cada letra<br />

na alma do tirano<br />

como pedra polida<br />

pra se esvoaçar<br />

a tirania<br />

grite<br />

23


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

A BUSCA DO VERSO<br />

entre o vão nas paredes<br />

o ar que respiro<br />

a luz<br />

penetra ao fundo da alma<br />

excita o verso<br />

e ergue-se<br />

por vezes o escuro<br />

atrapalha essa doçura<br />

que me escorre<br />

e não chega a ser<br />

um poema<br />

daí<br />

intermitência<br />

asfixia-me<br />

apago a vela<br />

o barco afunda<br />

e no papiro<br />

24


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

uma noticia ruim<br />

de manchete<br />

e na lentidão<br />

fico inerte<br />

por um tempo<br />

indeterminado<br />

a espera do abrir do sol<br />

em novo poema<br />

25


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

MUNDIVIDÊNCIA<br />

que demore pela cronologia<br />

que se dê dias contados<br />

como o fazem<br />

políticos<br />

defeituosos<br />

as armas são tácitas<br />

no apocalipse<br />

a prisão<br />

ao fogo<br />

é pra desobedientes<br />

quando o tempo dos inocentes vier<br />

apenas<br />

a paz<br />

prevalecerá<br />

e<br />

a morte<br />

será vencida<br />

26


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

por<br />

algemas do poder<br />

(divino)<br />

27


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

(IN) CONSCIÊNCIA<br />

agora não<br />

esse contraste<br />

divisionismo<br />

luxuria.<br />

um simples aperto de mão<br />

basta!<br />

não precisa<br />

tatear os lençóis<br />

desta senzala<br />

outrora angustiada<br />

um simples aperto de mão<br />

basta!<br />

28


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

LEMA DA VIDA<br />

um contraste<br />

ao mesmo<br />

retrato<br />

há distância<br />

decrescente<br />

à vista nas ruas<br />

ignoram<br />

mas sorvendo<br />

o mesmo<br />

pólen<br />

no fundo<br />

sopra na igualdade<br />

a represália<br />

constante<br />

ao último<br />

suspiro<br />

aí<br />

29


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

pergunto:<br />

onde estão as mães?<br />

e os filhos?<br />

as águas escorrem<br />

no canal<br />

do meu ouvido<br />

aos sussurros<br />

da gula e usura<br />

30


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

ESTÍMULO EXTERNO<br />

ouço sob pressão do ar<br />

das ondas<br />

o pulsar sísmico<br />

permanente<br />

e intenso<br />

na serra<br />

a voz do padre<br />

e pastor<br />

intercede<br />

pela<br />

impressão intima<br />

alheia<br />

o constante<br />

do desespero<br />

a cada parir<br />

ardoroso<br />

sinto tanto<br />

31


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

o apagar<br />

da onda<br />

da bala<br />

o fôlego<br />

a subir<br />

deste poeira<br />

caída ao chão<br />

32


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

REFRESCO<br />

pra a fila andar<br />

vale deixar-se subornar<br />

e tomar<br />

a consciência<br />

içar a mão<br />

da corrupção<br />

e conquistar glórias<br />

num instante<br />

do tempo<br />

que se vai<br />

como o vento<br />

o sol escaldante<br />

põe em fuga<br />

as sombras<br />

pra erguer a vida<br />

o faça<br />

a distância<br />

33


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

do olho nu<br />

como o polvo<br />

que deita os seus tentáculos<br />

em todas direções<br />

nesse ato ilícito<br />

provido de ventosas<br />

e assim retrai a credibilidade<br />

estatal e financeira<br />

34


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

(DES) IGUAL<br />

olhando pelo nível da consciência<br />

às vezes, alguns insetos mínimos<br />

nos retraem como ímã.<br />

35


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

A MEMÓRIA<br />

esse labirinto<br />

de mil caminhos<br />

mil andares<br />

sobrecarregado<br />

do passado<br />

da luz<br />

e as trevas<br />

a memória<br />

é um livro<br />

a ser relida<br />

a cada degrau<br />

vendo<br />

o vulto dos céus<br />

na lentidão<br />

do apagar<br />

do fôlego<br />

eterno<br />

36


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

tecer um legado<br />

da experiência<br />

sentida<br />

no paladar da pele<br />

em cada mil andar<br />

desta ínfima<br />

vida<br />

37


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

DEVANEIO<br />

o enigma atormenta-me<br />

me apresenta imagens<br />

fantasias<br />

que me prendem<br />

a mente<br />

destrói-me o sono<br />

trama uma conspiração<br />

ao meu corpo inerte<br />

contra a parede<br />

do meu leito<br />

deliro<br />

rastejo como serpente<br />

e ninguém sente<br />

na pele<br />

o que passo<br />

neste dissimular<br />

dentro de meio segundo<br />

38


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

tudo acaba<br />

incinera-se a intensidade<br />

do vulto<br />

e daí<br />

ergo-me<br />

à motor gasoso<br />

que transborda<br />

as minhas carnes<br />

39


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

MOTIM<br />

as palavras penduradas nas paredes<br />

as que constroem enciclopédias<br />

são todas cardápio do silencio<br />

este calar<br />

que excita as noites<br />

de calmaria<br />

enfim<br />

se distendem<br />

no alvorecer<br />

pra diversas direções<br />

como tentáculos do polvo<br />

até aumentam o volume<br />

sob tensão<br />

que se vive cá<br />

onde eu moro<br />

não se querem acuar<br />

nem ficar quietas<br />

40


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

enquanto<br />

ecoa o disparo<br />

no tímpano<br />

este ouvir surdo<br />

que disfarço.<br />

41


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

EXPERIMENTAR MORRER<br />

os seres experimentam a morte<br />

no escuro inundam seus pêsames<br />

em repouso, por vezes mortífero<br />

às vezes alienam-se<br />

à luz do dia<br />

experimentar prostituir-se<br />

na escuridão<br />

pela fadiga<br />

que os dias proporcionam<br />

as crianças profanam<br />

a leis naturais<br />

poucas vezes se deitam<br />

à luz do dia<br />

pra se prostituir<br />

com o mar de distração<br />

que o tempo os proporciona [...]<br />

42


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

OS POETAS<br />

ai de nós poetas<br />

que manchamos livros límpidos<br />

com os versos<br />

ocos pra medíocres<br />

que não entendem<br />

poesia<br />

desprendemos mágoas<br />

afixadas no tecido<br />

da alma<br />

formamos listras<br />

de pranto<br />

nós ceifeiros<br />

de dores terra do cacto<br />

e quando formos<br />

terra morta<br />

lá os ossos<br />

e cá as carnes<br />

43


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

terra fecundo<br />

que será dos disfarces<br />

e nossos<br />

sentires tácitos! [...]<br />

44


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

NO ANO QUE VEM<br />

[...] muitos dessa raça perversa<br />

que acordam pra superlotar bares<br />

fumar maços de cigarros<br />

tomando impalas<br />

essa mandioca deixada pelos ancestrais<br />

acorrentados no tempo de Xibalo<br />

os tigres pagam classes pra não repetir<br />

coitado dos tempos que se aproximam<br />

um por um em fila<br />

o futuro pode vir a ser como o presente<br />

ou até pior.<br />

se o apocalipse fosse a porcentagem alcoólica<br />

tantas e tantos saberiam das coisas penduradas<br />

que o tempo lhes reserva<br />

com os anos que se aproximam<br />

um por um [...]<br />

45


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

SER ESTRANHO<br />

a qualquer que seja – mulher<br />

exceto as mães<br />

saiba com que pesar ponho meus olhos em ti<br />

as cochas<br />

e os mamilos<br />

que deitas foras desnudadas<br />

a olho nu da Vila Cabral<br />

por que tanto expões!<br />

é um gatilho?<br />

então,<br />

que mais tereis pra expor<br />

ao vagabundo que cai na tua teia!<br />

as cicatrizes?<br />

diz-me - mulher<br />

46


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

HOMEM & MULHER<br />

na veia do homem escorre uma seiva<br />

que não precisamos subir o Everest<br />

pra sentir a fragrância<br />

a este não à mulher<br />

este covarde machista<br />

que bate e bate<br />

como se tocam timbilas<br />

e daí<br />

ecoa o timbre<br />

do choro<br />

e mais choro<br />

na razão lírica do amor<br />

o amor verdadeiro<br />

aquele amor salgado<br />

pelas pancadarias<br />

pra se sentirem amadas<br />

e valorizadas - as mulheres<br />

47


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

como se de objetos tratasse<br />

e não se lembram que são diamantes mais procuradas,<br />

pra se tornear os lares.<br />

alienam-se por completo às garras felinas deste homem<br />

e não se lembram que são perseguidas<br />

como por cães com cio<br />

daí se entregam se entregam<br />

até à morte.<br />

48


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

O MAR<br />

o mar não é tão violento!<br />

como ele é.<br />

por vezes é alívio,<br />

é a liberdade<br />

dá-nos paz pra sentir e expressar<br />

até organizar nossos pensamentos<br />

traz – nos novos ares do horizonte<br />

incógnitos como eles são.<br />

pouco interessa, nesta inabilidade<br />

onipotente de raciocinar.<br />

se não me cheira odor tóxico,<br />

nem de insegurança…<br />

é um momento único de suspirar<br />

profundo como quiserdes<br />

é a liberdade.<br />

49


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

SER ANÔNIMO<br />

não é só neste mini-mundo<br />

que encontrei essa loucura<br />

na mesma espécie<br />

na mesma lentidão<br />

do viver um instante<br />

cruzando-se continuadamente<br />

pela praça<br />

tratam-se com desprezo<br />

as vezes quando um tomba<br />

outros o saltam pela cabeça<br />

na beira do caminho<br />

ninguém reconhece a ninguém<br />

neste instante intermitente<br />

de cada alma acesa<br />

senão pelo sangue do irmão<br />

desconhecem a aliança das formigas<br />

este viver comum que tanto aprecio<br />

50


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

de irmandade<br />

não sabem viver unidos<br />

de baixo do mesmo céu<br />

nem pelo poder dos deuses<br />

comungam a mesma polpa do viver<br />

[...]<br />

somente na escuridão<br />

choram juntos<br />

outros com disfarce<br />

e mais outros pra comer<br />

e tomar um chá quente<br />

fora de casa<br />

até conquistar coveiros<br />

depois<br />

porque o sangue do irmão<br />

é débil<br />

ai sim<br />

51


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

o desconhecido aplaude<br />

o reconhecimento<br />

de irmandade<br />

a aliança das formigas<br />

este mal que lhe une<br />

em dias tristes<br />

pra quê vale<br />

essa união intermitente?<br />

se se cruzam continuadamente<br />

pela praça<br />

até tratam-se com desprezo<br />

a luz do dia<br />

enquanto na escuridão choram<br />

até ficam desesticadas vossos sangues<br />

52


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

TOCHA<br />

meu irmão<br />

por quê dormes tanto que a pedra?<br />

por quê queimas teus sonhos<br />

mas por quê continuas sentado à volta da fogueira<br />

sem o soar dos contos da vovó bia<br />

enquanto a roda gira<br />

e não pára<br />

e tu dormes!<br />

mas por quê?<br />

sentas à volta da fogueira<br />

enquanto a roda gira gira<br />

e tu dormes!<br />

deixa o vento levar-te<br />

pra lugares ermitas<br />

abraça-me<br />

e marcha comigo<br />

até o Zambeze meu irmão de sangue. Acorda<br />

53


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

MOÇA (MBIQUE)<br />

Teu nome é um hino. Óh Moça, que andas betumada de minérios nos<br />

pés do Mbique.<br />

Mas como teus filhos abundam na miséria, enquanto gargalhas<br />

enteados com sabores vertidos do teu ventre.<br />

Óh Moça de sobrenomes poderosos, diz-me:<br />

Como tu ousas deixar teus filhos neste mar misterioso!<br />

Enquanto tu levas marcas de nobreza, pelo mundo lá fora.<br />

E teus filhos choram lágrimas de dor e andam peladas de desespero<br />

nesta pobreza.<br />

Diz-me Óh Moça:<br />

Por quê dar um sorriso de meia-lua aos teus filhos, com a dádiva do<br />

Rovuma e Tete.<br />

Enquanto gargalhas enteados com sabores do teu corpo fértil.<br />

Tu Moça,<br />

Que banhas o Indico e andas sobre montanhas do Zambeze<br />

Por quê condena teus filhos, outrora libertos, mas com crivas de balas.<br />

Por quê os saborear do mesmo feitiço outrora ido, mas presente como<br />

um fardo do passado.<br />

Enquanto gargalhas enteados com os teus sabores.<br />

„Te quando Moça (mbique), teus filhos tomarão leito do teu peito?<br />

Diz-me, moça: „te quando. Acalentá-lo-ás com fermento dos teus<br />

sobrenomes.Óh Moça (mbique).<br />

54


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

UMA DOR NO MEIO DO MAR<br />

dos ares que respiro continuamente<br />

neste instante<br />

encontro uma dor insistente<br />

no picotar do relógio intermúndio<br />

filhos que desonram os pais<br />

ossada de gente morta a queima-roupa<br />

pássaros privados de voar<br />

quanta vergonha<br />

de tudo que eu encontro<br />

no meio deste mar.<br />

não sei porque as horas<br />

os minutos<br />

os segundos<br />

as semanas<br />

os meses<br />

os anos passam<br />

em cada janela aberta<br />

55


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

mas eu continuo estático<br />

como uma pedra inútil<br />

em cada tempo que passa<br />

dentro do tempo<br />

encontro uma dor insistente<br />

sem asa<br />

no picotar do relógio<br />

56


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

O PALMO<br />

a sua mecânica<br />

a sua mestria<br />

comove o pensar humano<br />

na sua mão<br />

este fazer da máquina<br />

aplauso<br />

[…]<br />

o sonho é uma asa que nos faz voar<br />

à distancia das estrelas<br />

ou talvez fora da galáxia<br />

um impulso que nos torna livre da escravidão<br />

por um instante<br />

somente.<br />

57


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

[...]<br />

nem em tensão extrema<br />

o desgruda<br />

o duro seio da pedra<br />

que guarda a eternidade.<br />

[...]<br />

na constante celeridade fecundo<br />

esbanjamos o nosso viver<br />

numa exaltação mínima<br />

e finita<br />

enfurecemo-nos mais que as ondas<br />

e esquecemos que a essência é um lapso<br />

e o vento é cortante como a lâmina<br />

lá no fundo bem no fundo<br />

o lapso coabita<br />

este apagar da luz intermitente<br />

dentro dos corpos que se esvai entre os dedos<br />

nos lembram ruínas<br />

58


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

que se vê no asfalto que se esvai empapado de sangue<br />

por toda a distância<br />

numa exaltação mínima<br />

e finita<br />

lá no fundo bem no fundo<br />

este apagar da luz é constante<br />

entre os dedos.<br />

[…]<br />

sob as sombras do embodeiro<br />

um raiar cortante como a lâmina<br />

acutila-me a víscera paz dos meus olhos<br />

sob a brisa que me murmura segredos<br />

da língua constante da violência<br />

do outro lado do mundo<br />

sinto esse ranger áspero<br />

pelos dias cálidos<br />

onde pousa a semente da igualdade?<br />

ninguém, porém, sabe<br />

59


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

mas<br />

se não o tem pelo menos ache-o<br />

pela asa da imaginação<br />

faça-o perdurar mesmo no raiar do sol<br />

afaga-o como o mar oscila as barcas<br />

só não a deixa crescer entre cravos e espinhos<br />

pra não criar uma fenda víscera<br />

sob o teu corpo<br />

[…]<br />

que se cuide a terra<br />

pra nascer bons seres<br />

os saudáveis<br />

não violentos<br />

não assassinos<br />

não criminosos<br />

ou até todo tipo de ser nocivo<br />

a terra,<br />

a terra<br />

60


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

este corpo do homem<br />

que se polui e desaba<br />

e se regenera poluído<br />

desta terra infame<br />

que se cuide a terra!<br />

[...]<br />

há uma guerra diante dos meus olhos<br />

entre os pedestres,<br />

ciclistas,<br />

motociclistas,<br />

e veículos<br />

enchem mesmas bermas<br />

que sobram toda a distância<br />

isso me dói uma tristeza<br />

sob meus olhos<br />

ver cegos e surdos disfarçados<br />

por que não querem ver nem ouvir<br />

o grito o choro do irmão<br />

61


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

isso me dói uma tristeza<br />

respirar a brasa do egoísmo<br />

ou talvez asa de ambição<br />

queimar o fluxo sanguíneo<br />

da mão embarcada neste instante ínfimo<br />

isso me dói uma tristeza<br />

nessa lentidão<br />

do passar dos dias.<br />

sob casas sem ninguém pra morar<br />

com tanta gente sem abrigo<br />

[...]<br />

é dum lapso que tudo termina<br />

o nosso viver<br />

nos enfurecemos mais que a onda<br />

e esquecemos que tudo termina<br />

num lapso<br />

os pedestres<br />

os ciclistas<br />

62


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

os motociclistas<br />

e veículos<br />

partilham a mesma margem<br />

e se esquecemos que tudo termina<br />

num lapso<br />

mesmo o poder humano.<br />

[...]<br />

é remoto o chão,<br />

e não sei por que não exala mau odor<br />

a essa distância que esquecemos cadáveres<br />

constantemente.<br />

63


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

[...]<br />

nestes ambíguos tempos<br />

nos é (in) certo o futuro condigno<br />

das minissaias<br />

cada uma à sua maneira<br />

concordam com o tempo<br />

e une-lhes o tempo<br />

dum futuro (in) certo.<br />

64


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

AS MAIS DISTANTES CAMINHADAS<br />

sob qualquer pretexto<br />

e distância<br />

um caminhar<br />

perdura nove meses<br />

mas há alguns seres<br />

que percorrem o mínimo<br />

até as mais distantes caminhadas<br />

com lapso<br />

interrompem<br />

o iluminar dos outros<br />

quanto vale uma vida?<br />

por um lapso!?<br />

65


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

PANTEÍSMO<br />

por cima do abismo da existência<br />

ousam alguns políticos comportarem se como autênticos leões<br />

saciar do sangue dos inocentes<br />

que roncam como tratores abrindo trajetos de união<br />

ocupam a linha da frente pra encher seus bolsos<br />

pra levar a vida dos que vivem além áfrica- aqui na minha terra<br />

até quando este cio pela riqueza<br />

se somos todos panteístas!<br />

66


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

SE FOSSEMOS UNIDOS...<br />

se fossemos unidos,<br />

seriamos como formigas<br />

cavalgar a mesma trilha, sem nenhuma debochar<br />

se fossemos unidos,<br />

seriamos como mantilha<br />

correr por de trás do alvo, sem desistir<br />

se fossemos unidos,<br />

seriamos como abelhas<br />

sorver o pólen das flores e produzir o mel doce pra o homem<br />

se fossemos unidos,<br />

seriamos unânimes<br />

unânimes [...]<br />

67


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

[…]<br />

porém, passou, mas assumo que não existe<br />

a sua volta<br />

ainda vem, mas não sei se hei de ver<br />

com os meus próprios olhos<br />

pois miro breu em ambos os lados<br />

tanto pra atrás tanto pra frente<br />

mas o hoje existe.<br />

68


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

[...]<br />

tudo permanecerá igual<br />

e firme por muito tempo<br />

não serão os fatos do apocalipse<br />

que irão dilapidar as coisas<br />

senão os 6 dias de escuridão<br />

que permanecerão para sempre<br />

porque a luz humana não é suficiente<br />

para lembrar todas estas coisas<br />

precisa de mente de ferro<br />

pra resistir à estas mágoas<br />

que ornamentam o tempo<br />

sem nada a acrescentar<br />

nem tirar desta vastidão de tempo<br />

69


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

FIM DO MUNDO<br />

já é um dilema<br />

e o bizarro,<br />

é destas evas se exporem,<br />

à montra.<br />

homens se vão apreciar<br />

e levar à esquina por mahala<br />

saborear a maça ofensora do seu apreço<br />

nestes tempos de corre-corre<br />

que se diz não há tempo a perder<br />

a vida é uma só e passa como uma correnteza<br />

e se esquecem de levar preservativos<br />

às esquinas.<br />

70


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

TOLERÂNCIA<br />

há quem diga que é o dezembro<br />

mas o constante perguntar<br />

sob os miolos<br />

pronuncia confusamente<br />

por entre os dentes<br />

será o dezembro?<br />

talvez não talvez sim<br />

o distanciamento<br />

a veracidade<br />

transcende o intelecto humano<br />

como os montes Binga<br />

Kilimanjaro<br />

e Evereste<br />

crescem-nos também as emoções<br />

que até esquecemos a vida<br />

é um tic-tac<br />

de perder o fôlego<br />

71


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

mesmo de relógios quebrados<br />

talvez sim<br />

o distanciamento<br />

ou talvez não<br />

nem te quero lembrar<br />

o corte de prioridade<br />

a velocidade excessiva<br />

o estado de embriaguez<br />

até o subir do chapa 10 pela contra mão<br />

cadê a calma cadê a frieza?<br />

degradou-se com as emoções<br />

e a vida se foi com brevidade<br />

do picotar do relógio<br />

72


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

POLÍTICA<br />

Não preciso vos lembrar que a democracia anda armada<br />

E os políticos enriquecem a custa do sofrimento do povo<br />

Com tantos livros nas teias de arranhas, sem quem as ler<br />

…armam jovens de 92 pra combater e proteger a pátria.<br />

E me impedem de levar à balança os efeitos de genocídio<br />

que se vive cá.<br />

Como vós quereis ornamente às palavras nos mos versos<br />

Com apetrechos que retardam o avanço humanitário…<br />

Que política que vergonha!<br />

Há alguns que trovejam palavrões como eu digo:<br />

“melhor o “colonialismo”” que esta borra que me causa diarréias<br />

Por que pensava em mim mesmo dormindo na pedra como camarão<br />

Tudo ia melhorar depois que eu entendesse o seu intento…<br />

E agora, vocês? Sois vós uma vergonha.<br />

Não vos entendo, nem vos percebo.<br />

Foi-me leiloado?<br />

Se sim, vós sois meus compradores?<br />

73


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

Talvez não, sim.<br />

Por que me enganam com uma liberdade falsídica?<br />

É fome, é guerra, é tudo numa só nação, é tudo só em mim<br />

até um aval de juízes deformados mentalmente<br />

como diplomas negociados no estrangeiro.<br />

„Te quando esta política (terror oficial)?<br />

[...]<br />

quando o negro da noite silvestre paira<br />

há vermes comendo a polpa da mana<br />

na distante escuridão constantemente<br />

sob terra trêmula<br />

a sabor do jacto tenso<br />

que afunda na cor nua da fenda<br />

oscilando apertado nas paredes<br />

um silencio taciturno grita<br />

a sabor do leito que mana no seu ventre<br />

num libertar fluido<br />

a dança recomeça<br />

74


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

do vai e vem dos homens<br />

tal doce acre<br />

e ganha de repente<br />

uma mão cheia<br />

na noite madura<br />

deserta este catarse<br />

estase de ganhar<br />

a vida<br />

[...]<br />

há uma margem do erro latente<br />

no olhar do povo ainda na tenra idade<br />

ou adormecida<br />

sob os nossos covis<br />

as carnes profanadas lhes são posto à vista<br />

sem nenhum pesar nem medo do sacrilégio<br />

as coxas<br />

os mamilos<br />

fazem dos seus hobbies pelas ruas<br />

75


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

neste mudar da sapiência<br />

pela longitude deste errar<br />

este querer seduzir<br />

e despir a terra<br />

dos deuses<br />

76


Sombras Cálidas<br />

<strong>Alerto</strong> <strong>Bia</strong><br />

Editora do Carmo<br />

www.editoradocarmo.com<br />

editoradocarmmo@gmail.com<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!