BRASIL COMBATE MAGAZINE | EDIÇÃO #2 | MAR 2018
Revista digital especializada em esportes de combate, com periodicidade bimestral. Nesta edição trazemos um tema polêmico - Farra da graduação atinge espírito da arte suave. Sem dúvida, de alguma forma, a conta vai chegar para os CHARLATÃES, que pensam em burlar as regras dessa cultura viva, porém em transformação. Nada, nada poderá esconder a vergonha que, em dia e hora estabelecidos, desfilará a humilhação alheia em tatame aberto. Nesse dia serão eviscerados o suor jamais derramado, a técnica nunca apreendida, a ausência do equilíbrio só vivenciado no tatame, sem malandragem. Quem chorou ali um dia, esteja certo, sabe. Boa leitura e boa reflexão. Oss.
Revista digital especializada em esportes de combate, com periodicidade bimestral. Nesta edição trazemos um tema polêmico - Farra da graduação atinge espírito da arte suave.
Sem dúvida, de alguma forma, a conta vai chegar para os CHARLATÃES, que pensam em burlar as regras dessa cultura viva, porém em transformação.
Nada, nada poderá esconder a vergonha que, em dia e hora estabelecidos, desfilará a humilhação alheia em tatame aberto.
Nesse dia serão eviscerados o suor jamais derramado, a técnica nunca apreendida, a ausência do equilíbrio só vivenciado no tatame, sem malandragem. Quem chorou ali um dia, esteja certo, sabe.
Boa leitura e boa reflexão. Oss.
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Edição <strong>#2</strong> • Ano I • Março <strong>2018</strong><br />
<strong>BRASIL</strong><strong>COMBATE</strong><br />
<strong>MAGAZINE</strong><br />
FARRA DA GRADUAÇÃO ATINGE<br />
ESPÍRITO DA ARTE SUAVE<br />
ABRINDO<br />
O JOGO<br />
LEANDRO BRASSOLOTO,<br />
DA EQUIPE ATOS JIU JITSU<br />
QUARTEL<br />
GENERAL<br />
CEI JIU JITSU<br />
PRATAS DA CASA: ENTREVISTA EXCLUSIVA COM AILSON BRITES “JUCÃO”
18<br />
ÍNDICE<br />
08<br />
04 Quartel General - QG<br />
Conheça a CEI Jiu Jitsu.<br />
06 Mulheres de luta<br />
Luana Fiquene (Ribeiro JJ).<br />
08 A bela é fera<br />
Michelle Santana.<br />
34<br />
10 Capa<br />
Farra das graduações.<br />
14 Conditioning Training<br />
Preparação física - Negligências.<br />
26<br />
10<br />
28<br />
16 Medalhou<br />
Guto Inocente (RKT).<br />
18 Pratas da casa<br />
Ailson Brites “Jucão”.<br />
22 Enciclopédia<br />
Mestre Orlando Saraiva.<br />
25 Alimentação afiada<br />
Ah, o ovo...<br />
26 Superação<br />
Patologia sem cura.<br />
28 Abrindo o jogo<br />
Leandro Brassoloto (Atos JJ).<br />
30 Feras do MMA<br />
UFC 223.<br />
31 Siga<br />
Os influentes do instagram.<br />
32 Fisioterapia Esportiva<br />
Fadiga muscular.<br />
34 Cobertura<br />
Brasília Golden Cup.<br />
2 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
EDITORIAL<br />
Graduações forjadas no dinheiro e na influência<br />
A arte suave navega na filosofia da técnica e marca na alma<br />
do praticante o controle, o autoconhecimento e o equilíbrio.<br />
Ela imprime um selo de qualidade na conduta do homem<br />
e faz dele um modelo social de retidão. Claro, tudo sob a<br />
perspectiva do mestre.<br />
A questão dos atalhos, ao propor a quebra de regras a<br />
partir da imposição de sentimentos mesquinhos na busca<br />
por faixas e graduações, demonstra que a leveza da arte<br />
precisa despertar a indignação dos velhos mestres ao<br />
apontar novos caminhos.<br />
Parodiando o eterno exemplo, que foi o mestre Hélio Gracie,<br />
“se a faixa não for conquistada em cima do tatame com<br />
sacrifício, aplicação e lágrimas” ela se torna um reles pedaço<br />
de pano, que só serve para limpar vidraças. Esse conjunto,<br />
quando bem aplicado, deixa a pele cascuda ao preparar o<br />
corpo para o próximo desafio.<br />
Afinal, fraudar métodos com objetivos pessoais, sem se dar<br />
ao cuidado de aplicar os princípios mais basilares dessa<br />
arte secular, pode comprometer a respeitabilidade que<br />
envolve mestres e alunos.<br />
Ao destruir o conceito de convivência à procura de vantagens,<br />
perde-se a essência que alimenta, prepara e molda<br />
a conduta dos adeptos do jiu jitsu. Assim, no contraponto<br />
da suavidade da arte, fica a rigidez de propósitos que caminham<br />
na linha oposta à da arte, dando peso à leveza,<br />
que deveria ser regra.<br />
Faz-se urgente a intervenção dos verdadeiros mestres,<br />
autoridades no assunto para reescrever, com sangue, novas<br />
convenções que mudem a realidade do oportunismo.<br />
Sem dúvida, de alguma forma, a conta vai chegar para os<br />
CHARLATÃES, que pensam em burlar as regras dessa cultura<br />
viva, porém em transformação.<br />
Nada, nada poderá esconder a vergonha que, em dia e hora<br />
estabelecidos, desfilará a humilhação alheia em tatame<br />
aberto.<br />
Nesse dia serão eviscerados o suor jamais derramado, a<br />
técnica nunca apreendida, a ausência do equilíbrio só vivenciado<br />
no tatame, sem malandragem. Quem chorou ali<br />
um dia, esteja certo, sabe.<br />
Boa leitura e boa reflexão. Oss.<br />
Editor Chefe<br />
Wesley Moura<br />
editor@brasilcombate.com.br<br />
Diretor Comercial<br />
Eduardo Lustosa<br />
+55 (61) 98133-9544<br />
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Revisão<br />
Mariana Moura<br />
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Santos, Sabrina Cavalcanti, Jéssica<br />
Máximo e Gabrielle Estrêla<br />
Editor de Fotografia<br />
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Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 3
CONHEÇA A<br />
CEI JIU JITSU<br />
QUARTEL GENERAL<br />
Elton Costa<br />
Repórter<br />
Cláudio Márcio Nunes Menezes,<br />
mais conhecido como Cláudio Careca,<br />
líder da equipe CEI Jiu Jitsu,<br />
coleciona em seu currículo, além<br />
da humildade, diversos títulos: 2x<br />
campeão mundial (CBJJO), 2x campeão<br />
internacional master (IBJJF),<br />
2x campeão internacional (IBJJF),<br />
2x campeão Sul-americano (CBJJ)<br />
entre outros.<br />
Aos sete anos de idade, iniciou nas<br />
artes marciais, tendo como principal<br />
influência Bruce Lee. Na época,<br />
os amigos Luís Carlos e Manuel o<br />
incentivaram a treinar Kung Fu, e<br />
foi aí que careca se tornou fã das<br />
artes marciais, chegando a treinar<br />
kung fu, karatê, capoeira, taekwondo,<br />
judô, boxe, luta olímpica e jiu jitsu.<br />
Com toda essa experiência, criou<br />
a primeira academia de jiu jitsu<br />
da cidade de Ceilândia, satélite de<br />
Brasília, a CEI Jiu Jitsu.<br />
<strong>BRASIL</strong> <strong>COMBATE</strong>: Antes, você<br />
representava a Banni Fight Club.<br />
Como aconteceu a migração para<br />
a equipe do Cassio Werneck?<br />
CLÁUDIO CARECA: Conheci o jiu<br />
jitsu com o Mestre Banni Cavalcante,<br />
treinei com ele até a faixa roxa. É<br />
uma grande personalidade, muito<br />
técnico, muito profissional. Na época<br />
ele parou de ministrar aulas temporariamente<br />
e me encaminhou para o<br />
professor Campeão Mundial (IBJJF)<br />
Cassio Werneck, com quem tive a<br />
honra de ser formado faixa preta e<br />
com quem também comecei uma<br />
nova etapa, subindo para um nível<br />
competitivo e de alto rendimento.<br />
Ambos os professores são meus<br />
amigos pessoais e, além de termos<br />
afinidade ideológica, com eles aprendi<br />
muito, tanto no tatame como na<br />
vida pessoal. Eles foram de suma<br />
importância na minha formação,<br />
amadurecimento e melhoria como<br />
ser humano.<br />
BC: Qual foi o dia mais feliz da sua<br />
vida no jiu jitsu?<br />
CC: O dia em que recebi a faixa<br />
preta. Creio que não só para mim,<br />
mas para todos que a conquistam.<br />
Tê-la recebido foi uma recapitulação<br />
da vida, de quem eu fui, quem sou e<br />
quem serei. Então, a ficha cai e, no<br />
outro dia, você acorda e, com muito<br />
orgulho, se vê faixa preta, até porque<br />
dormi de kimono, com a faixa (risos).<br />
BC: Quantos alunos a CEI Jiu Jitsu<br />
tem atualmente? Houve expansão<br />
para outras cidades? Se sim, onde<br />
estão localizadas as unidades?<br />
CC: A CEI Jiu Jitsu tem 21 anos.<br />
Somos 15 filiais, totalizando 600<br />
alunos, uma das maiores equipes de<br />
Brasília e do Entorno, genuinamente<br />
do DF. Chegamos a esta posição, de<br />
uma grande equipe, sem termos nos<br />
filiado a franquias ou a outras equipes<br />
maiores. Também não tivemos<br />
reforço de graduados oriundos de<br />
outras equipes.<br />
BC: Algum aluno tem se destacado?<br />
CC: Temos vários alunos que se destacam.<br />
Atualmente, podemos citar o<br />
Yuri Alves e Humberto Carrilho, que<br />
estão fazendo uma bela campanha<br />
na faixa preta. Há também o Matheus<br />
Apolinário na marrom, Diego Tank<br />
na faixa roxa e a Welma Moreira<br />
na Azul.<br />
BC: Como você enxerga aqueles<br />
alunos que lapidou? E como se sente<br />
quando eles chegam ao patamar de<br />
competição e te abandonam?<br />
CC: Encaro com naturalidade. Quando<br />
um aluno se destaca e resolve sair,<br />
de uma forma ou de outra, acabamos<br />
sempre por cumprir a nossa missão,<br />
atingindo nosso objetivo, que é contribuir<br />
para formar pessoas melhores<br />
e também proporcionar outras<br />
perspectivas de vida. Fazemos isso<br />
oferecendo opções e oportunidades<br />
que, em decorrência da realidade<br />
vivida aqui, não seriam possíveis se<br />
não fosse o jiu jitsu. Infelizmente,<br />
a vaidade e o ego estão antes do<br />
jiu jitsu, em algumas situações. Na<br />
nossa cultura, em alguns casos, os<br />
garotos não entendem que há um<br />
longo caminho a ser percorrido e<br />
4 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
somente na faixa preta será alguém.<br />
Em muitos casos, os faixas amarela<br />
e laranja são verdadeiras estrelas,<br />
enquanto os roxa e marrom estão<br />
quase aposentados. Perde-se um<br />
pouco da filosofia. Para muitos dos<br />
nossos, em relação ao resto do País,<br />
ainda falta maturidade. Somos uma<br />
cidade cuja ideologia é a do funcionalismo<br />
público: as pessoas não querem<br />
sair da zona de conforto, acabam<br />
acomodadas e não acreditam tanto<br />
quanto deveriam. Prova disso é que<br />
só temos dois campeões mundiais,<br />
o Cassio Werneck e o Bernardo Pitel<br />
e, há aproximadamente quinze anos,<br />
não formamos um Campeão Mundial.<br />
Esses fatos sinalizam que alguma<br />
coisa estamos fazendo de errado.<br />
Falo isso, porque também saiu uma<br />
pesquisa da revista<br />
Gracie Magazine<br />
que nos posiciona,<br />
juntamente com<br />
Goiânia, em último<br />
lugar. Agora, reflitam:<br />
nós formamos<br />
apenas dois campeões<br />
mundiais há<br />
quinze anos, já as grandes equipes<br />
de fora de Brasília, tem em cada<br />
uma delas no mínimo um ou dois<br />
campeões. Se juntarmos toda a<br />
nação do jiu jitsu em Brasília, não<br />
conseguimos um. Espero que, ao<br />
lerem isso, encarem com uma crítica<br />
construtiva. Aí me vem um cidadão<br />
e diz: “Meu aluno já foi Campeão<br />
Mundial na Marrom ou na azul, ou<br />
na categoria master”. Parabéns! Só<br />
que, sem querer desmerecer e muito<br />
menos ofender as outras faixas,<br />
categorias, equipes e professores,<br />
longe disso: temos muitos e muito<br />
bons competidores que fizeram e<br />
fazem um bom papel no cenário do<br />
jiu jitsu, mas nos faltam atletas de<br />
alto rendimento.<br />
BC: A CEI Jiu Jitsu está sempre trabalhando<br />
com bolsa para atletas.<br />
Como é possível manter os custos<br />
operacionais da academia?<br />
CC: Sempre trabalhamos com bolsas<br />
para alunos. É nosso dever para com<br />
o próximo. Dentro das possibilidades,<br />
"Prova disso é que só temos<br />
dois campeões mundiais, o<br />
Cassio Werneck e o Bernardo<br />
Pitel, e, há aproximadamente<br />
quinze anos, não<br />
formamos um Campeão<br />
Mundial".<br />
usamos o jiu jitsu como ferramenta<br />
de transformação social. Na nossa<br />
concepção, acreditamos no homem<br />
novo, equilibrado, dono de autoestima<br />
elevada, harmonizado, forte e<br />
saudável. Todas essas características<br />
são trabalhadas no jiu jitsu e, desta<br />
forma, contribuímos com a paz social.<br />
BC: Há alguns anos você foi vice-<br />
-presidente de uma federação de<br />
jiu jitsu que iniciava os projetos em<br />
Brasília. O projeto se desenvolveu,<br />
mas depois desapareceu. Por que<br />
você não quis continuar no projeto?<br />
CC: A época da Federação teve o<br />
seu momento bom. Conseguimos<br />
revolucionar e democratizar o jiu<br />
jitsu competitivo no Distrito Federal,<br />
trouxemos atletas de alto nível,<br />
criamos e profissionalizamos equipe<br />
de arbitragem,<br />
juntamente com<br />
equipe de trabalho<br />
em campeonatos,<br />
formamos uma seleção<br />
Brasiliense<br />
de jiu jitsu, que por<br />
duas vezes lutou<br />
fora de Brasília.<br />
Demos uma chacoalhada na cidade<br />
e, logo depois de ter cumprido essa<br />
missão, resolvi deixar a federação.<br />
Não sou muito político. Dei a minha<br />
contribuição no que foi possível.<br />
BC: Hoje em dia, há muitas federações<br />
e confederações. Já ocorreu de<br />
o atleta lutar uma ou duas vezes e<br />
ser considerado campeão mundial<br />
de jiu jitsu. O que você tem a dizer<br />
sobre isso?<br />
CC: Penso que o indivíduo tem que<br />
criar a sua própria história, não adianta<br />
tapar o sol com a peneira. Hoje<br />
o jiu jitsu está muito profissional;<br />
chegar até que não é muito difícil,<br />
o difícil é se manter. Não há espaço<br />
para o camarada se esconder, tudo é<br />
muito explícito, tanto o atleta, quanto<br />
o público, patrocinadores, etc. Todos<br />
acompanham o cenário.<br />
BC: É verdade que, após alguns anos<br />
como vice-presidente da federação<br />
citada acima, você não teve seus<br />
graus reconhecidos pela CBJJ, mesmo<br />
com intermédio do seu professor<br />
Cassio Weneck e do Mestre Deoclécio?<br />
Poderia explicar este episódio?<br />
CC: Eu recebi a faixa preta das mãos<br />
do meu mestre Cassio Werneck, no<br />
ano de 2004, e os graus, de acordo<br />
com a norma da CBJJ/IBJJF, do Mestre<br />
Deo, que também atestou a minha<br />
graduação. Sou filiado à CBJJ/IBJJF<br />
desde 1999 e, por alguns anos, por<br />
não ter lutado e nem me filiado, mas<br />
em plena atividade com o jiu jitsu,<br />
reconheceram apenas dois graus na<br />
minha graduação, sendo que, neste<br />
ano, serei graduado ao quarto grau.<br />
Não entendi, mas respeitei a decisão.<br />
BC: Para você, a graduação dos alunos<br />
é um termômetro secundário<br />
nas artes marciais em geral? Qual<br />
sua opinião sobre a graduação<br />
acelerada?<br />
CC: A graduação acelerada sem o<br />
aluno estar pronto é uma tendência<br />
que não vai parar. Para muitos,<br />
tornou-se vaidade e quem não gradua<br />
se sente envergonhado e, em<br />
alguns casos, até sai da academia.<br />
O indivíduo deve receber a faixa no<br />
tempo que o professor competente<br />
julgar necessário. A graduação não<br />
é algo pessoal, muito pelo contrário<br />
:precisa ser muito profissional neste<br />
momento e ter discernimento. O motivo<br />
da aceleração da graduação sem<br />
o aluno estar preparado prejudica a<br />
todos envolvidos.<br />
BC: Nesta edição, o tema é a farra<br />
das graduações. Você realmente acha<br />
que estamos vivendo um momento<br />
exacerbado das graduações no jiu<br />
jitsu e que, com isso, surgem os faixa<br />
pretas fake?<br />
CC: É muito triste, mas real. Há alguns<br />
casos em Brasília que chegam a ser<br />
ridículos e, quando só falamos e não<br />
tomamos providências, nos tornamos<br />
omissos. Além disso, há também a<br />
questão de graduação pela internet.<br />
Ambas as práticas contribuem para<br />
um declínio na qualidade da arte<br />
suave. Por isso, acho que deveria<br />
ser criado um conselho regional de<br />
faixas pretas, sem nenhum vínculo<br />
com políticos ou instituições, para<br />
fiscalizar as graduações, a fim de<br />
coibir o aumento dos fakes. BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 5
MULHERES<br />
DE LUTA<br />
Gabrielle Estrêla<br />
gabibapestrela@hotmail.com<br />
PERSISTÊNCIA: A <strong>MAR</strong>CA DE LUANA FIQUENE<br />
Olá, guerreiras!<br />
Graças a vocês, a edição<br />
inaugural da revista<br />
Brasil Combate foi um<br />
sucesso. Nesta edição, o quadro<br />
Mulheres de Luta traz mais novidades<br />
sobre o mundo feminino no<br />
jiu jitsu. Diante de toda a receptividade,<br />
manteremos nossa proposta:<br />
trazer informações sobre o esporte<br />
e compartilhar histórias de grandes<br />
guerreiras, que lutam dentro e fora<br />
dos tatames.<br />
Atualmente, o público feminino<br />
está cada vez mais presente nas<br />
academias de jiu jitsu, realidade há<br />
pouco tempo desconhecida. Se antes<br />
encontrar mulheres nos treinos era<br />
incomum, hoje não o é mais. Esses<br />
são os paradigmas que precisam ser<br />
quebrados, afinal lugar de mulher é<br />
onde ela quiser.<br />
Para confirmar esta evolução, apresentamos<br />
uma atleta que vivenciou<br />
essa reviravolta na arte suave: a<br />
faixa preta terceiro grau da equipe<br />
Ribeiro Jiu Jitsu, Luana Fiquene,<br />
que, aos 38 anos, faz jus ao título<br />
Mulheres de Luta.<br />
A atleta começou no jiu jitsu aos 18<br />
anos, mas não foi apenas o amor pela<br />
arte suave que a fez permanecer<br />
no tatame, como veremos a seguir.<br />
Luana se formou faixa preta e teve<br />
a honra de receber a tão sonhada<br />
graduação das mãos do professor<br />
Adimilson Brites “Juquinha”. Além de<br />
atleta, é mãe e professora —“posso<br />
dizer que hoje sou uma mulher<br />
realizada na minha trajetória”.<br />
Não é para menos. Em seu currículo,<br />
há títulos importantes, tais como<br />
campeã mundial, duas vezes campeã<br />
Pan-americana, quatro vezes campeã<br />
Brasileira, quatro vezes campeã sul-<br />
-americana, quatro vezes campeã<br />
internacional master, dentre outros.<br />
<strong>BRASIL</strong> <strong>COMBATE</strong>: Quando você<br />
iniciou no jiu jitsu e quais foram<br />
as maiores dificuldades para permanecer<br />
no esporte, sendo uma<br />
das poucas mulheres praticantes?<br />
LUANA: A primeira pessoa que me<br />
apresentou o jiu jitsu, quando eu<br />
tinha 15 anos, foi o sensei Juquinha,<br />
mas na época eu achava o<br />
jiu jitsu muito feio, pois era muita<br />
intimidade para uma menina de<br />
apenas 15 anos treinar no meio de<br />
tantos homens. Não havia mulheres<br />
treinando, sequer passava pela<br />
minha cabeça treinar. Em 1998,<br />
fui a Salvador e conheci meu ex-<br />
-marido, que também é faixa preta,<br />
e, já com maior maturidade, além do<br />
fato de ter alguém conhecido para<br />
treinar, me senti à vontade e não<br />
parei mais. Foi amor pelo marido e<br />
pela arte suave (risos). Quando fiz<br />
as primeiras aulas, quebrei todos<br />
os paradigmas sobre o jiu jitsu: vi<br />
que o olhar de fora é bem diferente<br />
do que se tem quando se coloca o<br />
kimono. Os pré-conceitos ficaram de<br />
lado. Continuei treinando por mim<br />
mesma, pois me fazia tão bem que<br />
nem ligava para as “dificuldades”, na<br />
época, a pouca presença feminina.<br />
Claro que meu ex-companheiro me<br />
ajudou bastante, me incentivando.<br />
BC: Você já passou por algum tipo<br />
de preconceito por ser mulher em<br />
alguma situação dentro do jiu-jítsu?<br />
LU: Nunca sofri nenhum preconceito<br />
por ser mulher treinando jiu jitsu e,<br />
se houve, nunca chegou aos meus<br />
ouvidos de fato, até porque eu nem<br />
ligava, estava mais preocupada<br />
com o que me fazia bem. Senti um<br />
tratamento diferente não por ser<br />
mulher, mas, como sempre lutei<br />
em categorias pesadas, sempre<br />
rolavam as conversas de que, quem<br />
é pesado (gordinho ou gordinha),<br />
6 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
não dava para o jiu jitsu, que não<br />
era esporte de pessoas gordinhas e<br />
tal. Nunca liguei para isso, porque<br />
quem treinava, quem saía do treino<br />
morta de cansaço e quem subia no<br />
pódio para receber a medalha era<br />
eu. Então, não precisava provar nada<br />
para ninguém. Trouxe respostas com<br />
meus títulos e com muitas mulheres<br />
alunas, inclusive várias gordinhas<br />
que consegui trazer para o tatame<br />
e mostrar para elas que elas podem<br />
sim ter flexibilidade, serem fortes,<br />
resistentes e guerreiras. Se tem uma<br />
arte marcial ou esporte que é para<br />
todos, é o jiu jitsu.<br />
BC: Qual sua opinião sobre a comercialização<br />
do jiu jitsu, a troca<br />
de faixas precoces? No que a “farra<br />
das graduações” pode refletir na<br />
arte suave?<br />
LU: O jiu jitsu evoluiu em todos os<br />
setores, no ensino, na qualificação<br />
dos professores, nas academias,<br />
nas competições, nas instituições<br />
(federações e confederações) e,<br />
principalmente, na condição que o<br />
atleta tem para treinar. O jiu jitsu<br />
passou de esporte amador para<br />
esporte profissional e, com isso, é<br />
normal que as equipes se tornem<br />
empresas e que os atletas craques<br />
profissionais, sujeitos a receberem<br />
propostas melhores. Antes, quem<br />
mudasse de equipe era creonte;<br />
hoje, cada caso é um. Temos vários<br />
atletas e professores que vivem<br />
do jiu jitsu. Não concordo com a<br />
banalização da graduação. Isso foi<br />
um fator que sempre existiu e hoje<br />
existe menos, até porque a Confederação<br />
controla as graduações de<br />
seus afiliados, então é preciso ter<br />
carência nas faixas. O atleta pode<br />
até receber uma graduação que não<br />
seja certa, mas vai ficar no anonimato.<br />
É aquela coisa: se você recebe uma<br />
faixa indevida para seu nível, quem<br />
vai sofrer as consequências e ter que<br />
segurar a onda é você, mas, como em<br />
todos os esportes, existem os maus<br />
profissionais.<br />
BC: O que você acha da rivalidade<br />
dentro do jiu jitsu feminino?<br />
LU: Eu acho que a rivalidade não<br />
é a saída, já que fica mais fora do<br />
que dentro do tatame. Acho que a<br />
mulherada está sabendo lidar bem<br />
dentro dos tatames. Fiz grandes<br />
amizades com adversárias minhas,<br />
mas sabemos que temos que ser profissionais<br />
na hora certa, até porque<br />
sua adversária quer a mesma coisa<br />
que você.<br />
BC: Em sua opinião, qual principal<br />
fator que contribuiu para o contínuo<br />
crescimento do jiu jitsu feminino?<br />
LU: A mulher vem conquistando muito<br />
espaço no jiu jitsu. Hoje é possível<br />
assistir a lutas muito mais interessantes<br />
das mulheres que de alguns<br />
homens, até eles admitem isso. Tenho<br />
vários amigos que admiram e se<br />
espelham em outras mulheres lutadoras.<br />
Nós conquistamos este espaço,<br />
perseverando, nunca desistindo. Os<br />
eventos estão investindo mais nas<br />
mulheres porque elas sempre estão<br />
batalhando por melhorias e nunca<br />
deixando de competir.<br />
BC: Qual foi seu principal título e<br />
como foi viver essa conquista?<br />
LU: Participei de vários eventos ao<br />
longo dos meus 18 anos de jiu jitsu e<br />
já ganhei cinco mundiais pela CBJJE,<br />
mas nunca havia conquistado um título<br />
mundial pela IBJJF, muito menos<br />
fora do país, em um lugar incrível<br />
como Las Vegas (EUA). Lá, em 2017,<br />
conquistei o ouro duplo (categoria<br />
e absoluto) no Mundial Master. Este<br />
evento, particularmente, foi superação,<br />
pois havia me machucado um<br />
mês antes no Internacional Master,<br />
ocasião em que também havia conquistado<br />
o ouro duplo. Foi incrível<br />
poder estar junto com meus mestres<br />
e minha família de tatame lá.<br />
BC: Deixe uma dica para nossas guerreiras<br />
leitoras, que estão iniciando<br />
a prática da arte suave e querem<br />
chegar à sonhada faixa preta.<br />
LU: O jiu jitsu é minha terapia diária,<br />
meu investimento na minha<br />
felicidade. Por experiência própria:<br />
coloquem o kimono e façam uma<br />
aula, pois olhar de fora com pré-<br />
-julgamentos é furada. BC<br />
Luana Fiquene ouro na categoria e no absoluto do World Master 2017, em Las Vegas (EUA)<br />
Foto: Arquivo Pessoal<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 7
Foto: Click Tropicalia<br />
A BELA É FERA<br />
MIA ASSIS<br />
Aos 33 anos, a paulistana Michelle Santana Novaes de Assis, a Mia, deixou sua terra<br />
natal para morar no Rio de Janeiro. Lá, no bairro da Tijuca, descobriu o amor pela arte<br />
suave. Formada em turismo, chegou a atuar como comissária de voo, mas, em um<br />
romance com o jiu jitsu, abandonou a carreira nos ares e decidiu cursar educação física.<br />
A faixa roxa da equipe Soul Fighters Tijuca também busca ampliar seu leque nas artes<br />
marciais e, paralelamente ao jiu jitsu, nas horas de descanso, investe na luta livre e na<br />
musculação, sua terceira paixão.<br />
Mia não perde a pose após os treinos e sempre tem uma escova para ajeitar os cabelos<br />
para as fotos. Na parede do quarto, estão expostas suas 33 medalhas obtidas no jiu jitsu.<br />
Ela é vaidosa, mas, cuidado: além da vaidade, domina técnicas que podem fazer dormir.<br />
De kimono, está muito bem vestida, mas seu melhor traje mesmo é o sorriso. BC<br />
8 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
Foto: Jack Taketsugo<br />
FARRA DA GRADUAÇÃO (CAPA)<br />
ATINGE EM CHEIO O ESPÍRITO DA ARTE SUAVE<br />
Wesley Moura<br />
editor@brasilcombate.com.br<br />
A<br />
população brasileira<br />
detém um dos melhores<br />
jiu jitsu mundial e<br />
paga uma das tarifas<br />
mais altas por graus – aquela tarja<br />
branca, feita por esparadrapos, que<br />
envolve a ponteira preta na faixa<br />
dos atletas e indica uma “promoção”<br />
dentro da arte suave.<br />
O jiu jitsu é também campeão na<br />
promoção de faixa para atletas:<br />
alguns dormem faixa marrom e<br />
amanhecem faixa preta dois graus.<br />
Há uma verdadeira farra de graduação<br />
e de graus.<br />
O sistema de graduação da arte<br />
suave foi criado para uniformizar o<br />
ensino e a prática desta arte marcial,<br />
bem como padronizar os modelos<br />
de competição. A ideia é tornar mais<br />
simples o entendimento de todo o<br />
processo de evolução do praticante,<br />
desde a faixa branca até a faixa<br />
vermelha, sendo que a graduação<br />
ocorre por meio da troca de faixas<br />
e da concessão de graus.<br />
A evolução do jiu jitsu no mundo é<br />
uma constante e, com isso, é preciso<br />
ampliar a compreensão do processo<br />
de amadurecimento de cada praticante<br />
do esporte. Avançar naquilo<br />
que se faz é sempre motivador, mas,<br />
infelizmente, as graduações tornaram-se<br />
fonte de renda para alguns<br />
professores, que, frequentemente,<br />
fazem delas o seu 13º salário.<br />
Para o praticante da arte suave, a<br />
conquista da faixa preta é um ideal<br />
a ser alcançado. Tornar-se um black<br />
belt é um dos principais objetivos<br />
do menos graduado. Com o decorrer<br />
dos anos, todavia, percebe-se que<br />
alcançar a faixa preta é apenas o<br />
começo de uma longa trajetória, cujo<br />
maior peso é o da responsabilidade.<br />
Para Kiko Santoro, faixa preta de<br />
judô do sensei Miura e também<br />
faixa preta 4º grau de jiu jitsu do<br />
professor Ataíde Jr, “ser um faixa preta<br />
de jiu jitsu é, primeiramente, ter sido<br />
graduado de fato por seu professor,<br />
por mérito, tempo e reconhecimento”.<br />
Junior Mesquita, da Barreto Jiu Jitsu,<br />
complementa: “receber a faixa preta<br />
é o reconhecimento de uma trajetória<br />
de vida, luta e superação. É o começo<br />
de uma nova etapa, é ser exemplo e<br />
transmissor da filosofia e estilo de<br />
vida do esporte”.<br />
Em regra, a promoção para uma<br />
nova fase pode ocorrer das seguintes<br />
formas: por exame de faixa, por<br />
merecimento ou por tempo. Esses<br />
três critérios são subjetivos, uma<br />
questão particular do doutrinador.<br />
A troca de faixa mostra que o aluno<br />
está em outro nível e alcançou um<br />
degrau mais elevado na arte suave.<br />
Já a concessão de graus marca o<br />
tempo de prática do jiu jitsu dentro<br />
de cada cor de faixa.<br />
Há quem diga que o famoso supletivo<br />
também é visto como uma forma<br />
de graduação. E como funciona o supletivo?<br />
O aluno se inscreve em um<br />
curso de jiu jitsu online, a distância<br />
(isso mesmo). Nele, o “professor” cria<br />
um roteiro de posições e, ao final<br />
de cada módulo do “curso”, o aluno<br />
deverá gravar um vídeo mostrando a<br />
execução das posições que aprendeu.<br />
Se aprovado, receberá em sua casa<br />
um certificado e uma faixa de acordo<br />
com o módulo que cursou.<br />
Sobre o assunto, Leonardo Queiroz,<br />
faixa preta 3º grau, da equipe Checkmat<br />
Jiu Jitsu, opina: "isso é caso<br />
de polícia".<br />
isso é caso de<br />
polícia".<br />
Kiko Santoro endossa:“é uma vergonha<br />
isso acontecer, ainda mais<br />
partindo de um Gracie. É a maior<br />
falta de respeito com a nossa arte; é a<br />
coisa mais antiética que pode existir<br />
na arte marcial, coisa de charlatão”.<br />
Junior Mesquita vai além, e afirma<br />
ser a graduação online “um dos<br />
10 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
maiores absurdos que já vi. Quando<br />
falamos em aspectos técnicos, sou<br />
completamente a favor da utilização<br />
da tecnologia. O jiu jitsu, contudo, tem<br />
em sua estrutura aspectos filosóficos,<br />
comportamentais e o convívio social,<br />
que jamais poderão ser transmitidos<br />
online. Como poderemos dar educação,<br />
melhorar a autoestima, trabalhar<br />
a parte física de nossos alunos pelo<br />
computador? ”.<br />
COLORAÇÃO E IDADE<br />
As regras abordadas nesta matéria<br />
são as estabelecidas pela International<br />
Brazilian Jiu Jitsu Federation<br />
(IBJJF). No jiu jitsu há um sistema de<br />
graduação que divide os praticantes<br />
em dois grupos, sendo que o primeiro<br />
vai dos 4 aos 15 anos. Ao atingir<br />
16 anos, o atleta passa a integrar o<br />
segundo grupo - a categoria juvenil<br />
- e pode iniciar sua graduação da<br />
mesma forma que um adulto, com<br />
a faixa azul.<br />
Uma inovação que a IBJJF trouxe foi<br />
o sistema de graduação de faixas<br />
para os praticantes do primeiro grupo<br />
(4 a 15 anos). Aqui, o atleta pode<br />
conquistar as faixas: Branca; Cinza e<br />
Branca, Cinza, Cinza e Preta, Amarela<br />
e Branca, Amarela, Amarela e Preta,<br />
Laranja e Branca, Laranja, Laranja e<br />
Preta, Verde e Branca, Verde, Verde<br />
e Preta.<br />
Já para os praticantes do segundo<br />
grupo (a partir dos 16 anos), a federação<br />
estipulou a seguinte classificação:<br />
Branca, Azul, Roxa, Marrom,<br />
Preta, Vermelha e Preta, Vermelha<br />
e Branca e Vermelha. A faixa preta<br />
terá uma barra vermelha, a qual será<br />
delineada por duas barras brancas, e<br />
receberá de uma a seis marcações de<br />
graus. Já as faixas vermelha e preta<br />
(7° grau) e vermelha e branca (8°<br />
grau) são faixas de Mestre.<br />
A faixa vermelha é dedicada aos<br />
Grandes Mestres (9° e 10° graus)<br />
e tem uma barra branca e uma das<br />
extremidades delineada por duas<br />
barras douradas de 2cm, em que<br />
receberá as marcações dos graus.<br />
PERÍODO DE PERMANÊNCIA<br />
Nos primórdios da arte suave, havia<br />
a faixa branca e a faixa preta, o que<br />
persistiu por muito tempo. Algumas<br />
artes tradicionais, como o Aikido,<br />
mantêm até hoje este sistema de<br />
graduação.<br />
Hodiernamente, o tempo que o<br />
praticante de jiu jitsu levará para<br />
ser graduado da faixa branca à faixa<br />
preta fica a critério de cada professor,<br />
devendo ser obrigatoriamente<br />
respeitado o período mínimo de<br />
permanência em cada cor de faixa.<br />
Ressalte-se que a contagem do<br />
período começa a partir do dia do<br />
cadastro do atleta na IBJJF, em cada<br />
faixa. Não é raro encontrar faixas azul<br />
com quase 10 anos de jiu jitsu, assim<br />
como faixas preta com apenas 4 ou<br />
5 anos de prática da arte marcial.<br />
Leonardo Queiroz exemplifica: “A<br />
CBJJ/IBJJF dispõe sobre o tempo<br />
mínimo de graduação a ser seguido.<br />
Acho que este tempo mínimo tem<br />
que ser só para os ‘fenômenos’, tipo<br />
Buchecha, Rodolfo Vieira e outros.<br />
Quem irá dizer que eles não são<br />
faixas preta de verdade? Eles receberam<br />
esta graduação mais rápido<br />
que muitos por aí, porém no tempo<br />
mínimo exigido pela federação. Agora<br />
tem uns orelhas seca que pegam<br />
a faixa neste tempo, mas não tem<br />
qualificação alguma para serem faixa<br />
preta. Isso é um absurdo”.<br />
Para Kiko Santoro, as graduações<br />
expressas fazem com que o jiu jitsu<br />
perca a credibilidade, pois “antigamente,<br />
para se pegar uma faixa preta,<br />
tinha que ser cascudo de verdade.<br />
Quando se falava que o cara era<br />
faixa preta de jiu jitsu, você poderia<br />
ter certeza de que o cara era sinistro,<br />
poderoso, temido e respeitado. Hoje,<br />
todavia, ser faixa preta é algo muito<br />
comum: em toda esquina tem”.<br />
“Os professores precisam estabelecer<br />
critérios rígidos e um tempo mínimo<br />
para graduarem seus alunos. Hoje<br />
vemos uma verdadeira ‘farra’ das<br />
faixas, principalmente em razão de<br />
muitos professores lucrarem com as<br />
graduações — logo, vendem faixa a<br />
quem não possui a menor condição<br />
de ser graduado. Infelizmente, isso<br />
é muito comum nos dias de hoje”,<br />
esclarece Junior Mesquita.<br />
Para os atletas entre 4 e 15 anos não<br />
há período mínimo de permanência<br />
em cada faixa. Já para os atletas de 16<br />
e 17 anos o período de permanência,<br />
quando alcançam a faixa roxa, é de<br />
2 anos. A partir dos 18 anos, da faixa<br />
azul à marrom há período mínimo de<br />
permanência: Azul – 2 anos; Roxa – 1<br />
ano e meio; Marrom – 1 ano. Para a<br />
faixa Branca não há tempo mínimo.<br />
Diferentemente disso, o sistema para<br />
graduação a partir da faixa preta é<br />
mais rígido, obedecendo ao seguinte<br />
tempo mínimo de permanência: Preta<br />
– 31 anos; Vermelha e preta – 7<br />
anos; Vermelha e branca – 10 anos;<br />
Vermelha – indefinido.<br />
De acordo com a IBJJF, os períodos<br />
são fixos - não mínimos - e determinam<br />
o tempo em que cada praticante<br />
deverá permanecer em cada faixa.<br />
Ainda de acordo com as regras previstas<br />
pela federação, a graduação<br />
de um atleta à faixa preta só poderá<br />
ser assinada por um professor faixa<br />
preta de, no mínimo, segundo grau,<br />
diplomado pela federação.<br />
OS GRAUS<br />
De acordo com as regras estipuladas<br />
pela IBJJF, o sistema de graus, a<br />
partir da faixa preta, evidencia que<br />
a obtenção de novo grau na faixa<br />
só será válida a partir de emissão<br />
de diploma pela federação, após o<br />
requerente cumprir os requisitos<br />
básicos estipulados pela própria<br />
federação.<br />
Na faixa preta, o 1º grau só pode ser<br />
requerido após um mínimo de 3 anos<br />
da graduação à faixa preta, já o 2º e<br />
o 3º graus após período mínimo de 3<br />
anos a partir da graduação anterior.<br />
Os 4º, 5º e 6º graus só podem ser<br />
requeridos após um período mínimo<br />
de 5 anos, a partir da graduação<br />
anterior, do mesmo modo que os 7º<br />
e 8º graus (faixa vermelha e preta e<br />
faixa vermelha e branca) só podem<br />
ser requeridos após um período<br />
de 7 anos, contados da graduação<br />
anterior. O 9º grau (faixa vermelha)<br />
só pode ser requerido após um período<br />
mínimo de 10 anos a partir da<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 11
graduação anterior.<br />
O 10º grau (faixa vermelha) foi reservado<br />
apenas para os pioneiros<br />
do jiu jitsu. Como é quase hábito<br />
nas modalidades de luta oriental, o<br />
último dan é privativo dos fundadores<br />
da arte marcial. Na arte suave, os<br />
nomes que obtiveram tal honraria<br />
foram Carlos Gracie, George Gracie,<br />
Oswaldo Gracie, Gastão Gracie, Helio<br />
Gracie, Julio Secco e Armando Wriedt,<br />
bem como o japonês Conde Koma.<br />
A teoria é clara. A prática, nem sempre.<br />
Kiko denuncia: “Já vi gente aqui<br />
de Brasília de faixa marrom que<br />
sumiu e apareceu de preta, falando<br />
que fulano o graduou faixa preta.<br />
Isso já vi vários. Por exemplo, quando<br />
peguei a faixa preta em 2003, o cara<br />
era faixa roxa. Hoje esse mesmo cara<br />
aparece na foto de faixa preta e com<br />
quatro graus. Outro pegou faixa preta<br />
na mesma época em que a gente,<br />
e hoje o cara tem cinco graus na<br />
faixa. Aqui é a terra da charlatagem<br />
e da farsa!”.<br />
Mesquita confidencia promoções a<br />
jato: “Conheço muitos casos. Inclusive<br />
o de um atual lutador de MMA de<br />
Brasília, que lutava jiu jitsu na minha<br />
Aqui é a terra<br />
da charlatagem e da<br />
farsa!"<br />
época de faixa azul/roxa, jamais<br />
ganhou um campeonato (inclusive<br />
perdeu para mim em algumas ocasiões),<br />
mas foi graduado marrom e<br />
depois preta 'a jato', muito antes de<br />
mim e dos meus contemporâneos.<br />
Tudo isso pelo simples fato de ter<br />
migrado para o MMA. E esse não é<br />
um caso isolado, vemos isso com<br />
bastante frequência”.<br />
Leonardo endossa: “Eu sei de muitos,<br />
mas não vou citar nomes. Na Espanha,<br />
tem um cara com menos tempo<br />
que eu de faixa preta e já com cinco<br />
graus na faixa, não entendo como.<br />
Dia 24 de julho deste ano, faço 14<br />
anos de faixa preta: tenho três graus<br />
na minha faixa. Aí dá para ver o nível<br />
desse cara de pau, sei que ele é de<br />
Minas Gerais. Há uma federação na<br />
Espanha que deu um diploma de<br />
faixa preta três Graus para um cara<br />
que tinha oito anos e meio de preta”.<br />
“O problema são os farsantes que<br />
se espelham nos fenômenos e<br />
acabam fazendo a mesma coisa.<br />
Se ganha a copa barriga d’água, de<br />
azul já sobe para roxa; aí ganha a<br />
copa unha encravada na roxa e sobe<br />
para marrom; depois se inscreve no<br />
brasiliense, fica em 4º lugar e já se<br />
acha no direito de ser faixa preta”,<br />
conclui Kiko Santoro.<br />
O 13º<br />
Um faixa preta — habilitado a graduar<br />
seu aluno — normalmente o<br />
autoriza a fazer o exame de faixa<br />
quando achar que este é merecedor<br />
ou entender que o atleta está apto<br />
para nova graduação. Em algumas<br />
academias, contudo, a realidade foge<br />
à regra - ou inexiste regra, a não<br />
ser a do 13º salário, já que graduar<br />
alunos passou a ser um negócio<br />
rentável financeiramente, por conta<br />
da cobrança exorbitante pelas faixas<br />
ou pelos graus. Não há valores fixos,<br />
e o critério de cobrança pode variar<br />
de professor para professor.<br />
“Acho justa a cobrança, desde que o<br />
aluno tenha a prestação de serviço<br />
em troca, como por exemplo, em<br />
algumas academias são realizados<br />
exames de faixa, curso para faixa,<br />
diplomas, etc. Tais serviços devem,<br />
de fato, ser remunerados, como qualquer<br />
outro. O que ocorre na maioria<br />
dos casos, contudo, é uma venda<br />
de faixas, na qual quem paga mais<br />
gradua mais, sem nenhum retorno<br />
dos professores, jogando a imagem<br />
do jiu jitsu no lixo”, pondera Junior<br />
Mesquita.<br />
“Vejo academias que esperam o<br />
fim do ano para graduar alunos e<br />
arrecadar dinheiro, uma forma de<br />
13º salário, mas não posso dizer que<br />
isso seja errado”, polemiza Kiko. “O<br />
professor dedica sua vida a isso e,<br />
infelizmente, o esporte no Brasil não<br />
é reconhecido. Quem vive de dar aula<br />
acaba tendo que se virar da forma<br />
que pode. Não acho errado cobrar<br />
a graduação, contanto que seja um<br />
preço justo, haja uma confraternização<br />
decente. Não sou a favor daquele<br />
professor que cobra uma grana alta<br />
nas faixas e, no dia da graduação,<br />
entrega a faixa da pior qualidade e<br />
embolsa o dinheiro, apenas visando<br />
o lucro próprio”, finaliza.<br />
Em um cálculo simples, com valores<br />
aproximados, a impressão de um<br />
diploma custa em média R$ 5 por<br />
folha e uma faixa de boa qualidade,<br />
R$ 25, totalizando um custo de R$<br />
30. Um valor ainda menor é o do<br />
rolo de esparadrapo 4,5m, que custa<br />
em média R$ 10 e daria para vários<br />
anos de graduação. Diante disso, é<br />
inexplicável o professor cobrar de R$<br />
150 a R$ 500 para graduar alunos.<br />
Além dessas despesas, há os valores<br />
que as federações cobram<br />
pela diplomação e filiação, o que<br />
daria outra pauta. É sabido que o<br />
jiu jitsu é um esporte rentável para<br />
os detentores do conhecimento da<br />
arte suave e donos de federações.<br />
Não estranhe o termo “dono”, pois<br />
as diversas federações de jiu jitsu<br />
espalhadas pelo mundo têm donos<br />
e não são nada democráticas. Há<br />
uma verdadeira ditadura imposta<br />
pelos seus fundadores, o que fez<br />
com que se tornassem puramente<br />
comerciais. O que causa estranheza é<br />
o lucro arrecadado não retornar em<br />
investimento para o esporte.<br />
Quando o assunto é valores cobrados<br />
pela diplomação nas federações,<br />
Mesquita dispara: “Acho um valor<br />
elevado demais, em comparação ao<br />
serviço de fato prestado”.<br />
“Eu acho meio caro, eles poderiam<br />
rever estes preços. Por outro lado,<br />
isso é uma maneira de tentar acabar<br />
com os charlatões, porque não é só<br />
pagar: há uma documentação a ser<br />
aprovada pela federação, antes de<br />
aceitarem o pagamento”, concorda,<br />
em parte, Queiroz.<br />
Kiko destoa, quando diz “Sou a favor<br />
do diploma de faixa preta ser cobrado<br />
e acho que deveria ser mais caro, pois<br />
o valor de R$350 é muito barato pelo<br />
12 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
proveito que os faixa preta professores<br />
daqui tiram. Inclusive, penso<br />
que a federação, antes de diplomar<br />
o faixa preta, deveria fazer um curso<br />
de formação, para auferir se o atleta<br />
tem condição de ser diplomado”.<br />
UM ÓRGÃO FISCALIZADOR<br />
Os atletas entrevistados foram<br />
unânimes: é preciso fiscalização das<br />
federações de jiu jitsu nas academias,<br />
Não existe<br />
mais desempregado<br />
em Brasília: os farsantes<br />
descobriram<br />
como tornou-se fácil<br />
ser faixa preta e dar<br />
aulas por aqui".<br />
principalmente no que tange as<br />
graduações. Esta é uma tarefa árdua,<br />
já que inexiste comunicação entre<br />
as tantas federações e as equipes.<br />
Por conta deste entrave, o papel<br />
de fiscalização da arte suave acaba<br />
ficando a cargo das academias.<br />
“Creio que precisamos de uma federação<br />
e confederação mais presentes,<br />
bem como maturidade dentro do<br />
esporte. A organização é necessária<br />
para que todas as graduações<br />
sejam registradas em algum órgão<br />
superior, e sejam respeitados os<br />
critérios mínimos para graduação,<br />
assim como é realizado no judô. Vejo<br />
que estamos evoluindo, mas ainda<br />
precisamos melhorar muito”, sugere<br />
Junior Mesquita.<br />
Leonardo Queiroz desabafa: “Se as<br />
federações fizessem um trabalho em<br />
conjunto para pararem esta palhaçada,<br />
acho que melhoraria”.<br />
“Há muito mentiroso por aí, ministrando<br />
aulas e enganando os outros.<br />
Não existe mais desempregado em<br />
Brasília: os farsantes descobriram<br />
como tornou-se fácil ser faixa preta e<br />
dar aulas por aqui, isso porque não há<br />
uma fiscalização. Parece brincadeira,<br />
mas não é: tem faixa azul fazendo<br />
patch com o próprio nome, querendo<br />
fazer a própria equipe”, denuncia Kiko.<br />
O CAMINHO<br />
Como dizia o Mestre Helio Gracie,<br />
“faixa só serve para amarrar as<br />
calças”, então não se atenha à cor<br />
de sua faixa, mas sim à evolução<br />
do seu jogo dentro do jiu jitsu. O<br />
que se deve buscar é o constante<br />
aperfeiçoamento da técnica, pois<br />
os movimentos estão sempre em<br />
evolução. Assim, independentemente<br />
da graduação, o que importa é a<br />
disposição para aprender todos os<br />
dias, sair de cada treino um pouco<br />
melhor do que quando entrou. Este<br />
é um ensinamento para a arte suave<br />
e para a vida.<br />
Uma faixa é algo que se veste e não<br />
discrimina os que estão ao seu lado<br />
no tatame. É mais valioso o que foi<br />
forjado no seu caráter no dia a dia<br />
do tatame, com sacrifício, sangue<br />
suor e lágrimas. O que foi criado por<br />
meio da força, desgaste, dor, medo,<br />
coragem e também por meio das<br />
amizades, desafios, lesões.<br />
Por isso, não se apresse por uma<br />
graduação. Se não merece aquele<br />
nível, cedo ou tarde o jiu jitsu irá te<br />
expor, e o preço pode ser alto. Não é<br />
possível se esconder na arte suave, e<br />
ela falará quem você é e o respeito<br />
que você merece por meio da sua<br />
habilidade de luta, força interior e<br />
caráter. Se você não é digno, falarão<br />
de você pelas costas e, por mais que<br />
se imponha pela força da autoridade,<br />
nunca terá respeito. Por outro lado,<br />
se o seu nível for bom, ainda que<br />
isso não seja ainda refletido em sua<br />
faixa, todos saberão.<br />
“Se você que quer ser um faixa<br />
preta, não desista. O caminho é<br />
difícil, árduo, mas gratificante. Siga<br />
em frente! O faixa preta de hoje é o<br />
faixa branca que não desistiu ontem.<br />
Persista, vale a pena!”, encoraja Kiko<br />
Santoro.<br />
“A faixa é apenas o reconhecimento<br />
de seus objetivos alcançados. Se<br />
pensa apenas na faixa, está no caminho<br />
errado. O jiu jitsu vai muito<br />
além. Foque no seu aprendizado, nos<br />
seus objetivos e não desista. Perseverança<br />
é a chave para o sucesso”,<br />
reforça Mesquita.<br />
Um símbolo: é isso o que a faixa é.<br />
Deseje a habilidade, a verdade e não<br />
o status deste ícone. A faixa só pode<br />
representar algo se ele existe. Apenas<br />
vesti-la não trará conhecimento.<br />
Nossos entrevistados:<br />
KIKO SANTORO<br />
Equipe: Five Round Brasil<br />
Graduação: Faixa Preta 4º Grau<br />
Principais títulos: Campeão Mundial;<br />
Campeão Brasileiro; Campeão<br />
Grand Slam de Abhu Dhabi<br />
Rio; Campeão Sul Americano e<br />
outros.<br />
Categoria: 105 kg<br />
LEONARDO QUEIROZ<br />
Equipe: Checkmat Jiu Jitsu<br />
Graduação: Faixa Preta 3º Grau<br />
Principais títulos: Campeão Mundial;<br />
Campeão Europeu GI e No-GI;<br />
Campeão Britânico; Campeão<br />
Alemão e outros.<br />
Categoria: 91 kg<br />
JUNIOR MESQUISTA<br />
Equipe: Barreto Jiu Jitsu<br />
Graduação: Faixa Preta 3º Grau<br />
Principais títulos: 7x Campeão<br />
Brasiliense; 5x Campeão Centro<br />
Oeste; Campeão seletiva europeia<br />
ADCC; 2x campeão Finlandês e<br />
outros.<br />
Categoria: 85 kg<br />
BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 13
CONDITIONING<br />
TRAINING<br />
Bruno Santos<br />
Educador Físico e atleta de jiu jitsu<br />
personal.brunosantos@gmail.com<br />
PREPARAÇÃO FÍSICA E<br />
SUAS NEGLIGÊNCIAS<br />
P<br />
ara atletas de alta performance,<br />
o condicionamento<br />
físico é um dos<br />
fatores determinantes<br />
para se alcançar a vitória, em alguns<br />
casos superando o talento. Para isso,<br />
a preparação física deve ser feita<br />
respeitando as especificidades da<br />
modalidade praticada.<br />
No caso do jiu jitsu, a preparação<br />
física deve ser específica e englobar<br />
força, flexibilidade, velocidade,<br />
potência aeróbia e anaeróbia e<br />
necessita de um treino de condicionamento<br />
específico.<br />
SISTEMAS ENERGÉTICOS APLICADOS<br />
AO JIU JITSU<br />
A principal característica fisiológica<br />
do jiu jitsu é a intermitência, que<br />
consiste em uma série de esforços<br />
supra máximos intercalados por<br />
alguns instantes de recuperação,<br />
em que são realizadas atividades<br />
de pequena intensidade ou repouso.<br />
A proporção é de 15 a 30 segundos<br />
de luta por 10 a 15 segundos de<br />
intervalo.<br />
Nesses curtos intervalos, não há<br />
tempo suficiente para a ressíntese<br />
de ATP pelas vias aeróbias, o que<br />
torna os esforços dependentes da<br />
via anaeróbia láctica. Em virtude<br />
da elevada concentração de lactato<br />
sanguíneo, a via glicolítica torna-se<br />
fundamental.<br />
FREQUÊNCIA CARDÍACA APLICADA<br />
AO JIU JITSU<br />
A frequência cardíaca (FC) pode<br />
ser um indicativo da intensidade<br />
do esporte e da predominância de<br />
sistema fornecedor de energia (PO-<br />
WERS; HOWLEY, 2000; WILMORE;<br />
COSTIL, 2001).<br />
Seu aumento de forma não linear<br />
pode ter relação com a predominância<br />
de pontuação até o 3º minuto<br />
da luta, quando os atletas ainda<br />
apresentam níveis inferiores de<br />
fadiga neuromuscular. Em algumas<br />
situações, contudo, as pontuações<br />
acontecem com maior intensidade<br />
no final do combate, ensejando que<br />
atletas mais bem condicionados<br />
tendem a deixar a luta correr para,<br />
só então, esforçarem-se após o 5º<br />
minuto de luta (DEL VECCHIO et<br />
al., 2007).<br />
FORÇA MUSCULAR APLICADA AO<br />
JIU JITSU<br />
Força é uma grandeza física expressa<br />
pela massa versus aceleração. No<br />
treinamento físico, é mais correto<br />
o uso da expressão força muscular<br />
(BARBANTI, 2001), entendida como<br />
a força máxima que pode ser gerada<br />
por um músculo ou grupo muscular<br />
(POWERS; HOWLEY, 2000).<br />
Para os praticantes de jiu jitsu é<br />
fundamental um bom desenvolvimento<br />
da força, principalmente a<br />
de membros superiores, por meio<br />
de contrações isométricas por sua<br />
utilização, devido à técnica ser, em<br />
geral, de extremo contato e não proporcionar<br />
espaços para movimentos<br />
dinâmicos (MOREIRA et al., 2003).<br />
A bibliografia científica moderna<br />
aponta que os atletas de jiu jitsu<br />
necessitam de alta força isométrica<br />
(Del Vecchio et al. 2007).<br />
FLEXIBILIDADE APLICADA AO JIU<br />
JITSU<br />
A flexibilidade tóraxico lombar se<br />
destaca por conta da constante<br />
utilização de diferentes articulações<br />
na luta de solo (SOUZA; SILVA E<br />
CAMÕES, 2005). Nos movimentos<br />
do jiu jitsu, são exigidos níveis de<br />
amplitude, flexão e extensão do tronco<br />
específicos, o que disponibiliza<br />
maior campo de ação entre origem<br />
e inserção muscular, permitindo<br />
maior velocidade de execução dos<br />
movimentos (ANDREATO, 2010).<br />
Diante de todas essas peculiaridades,<br />
para aperfeiçoar o preparo físico<br />
dos atletas não bastam apenas os<br />
treinamentos resistidos: é preciso<br />
acrescentar os dois para que possam<br />
chegar a uma performance de alto<br />
nível. Isso, porque a valência física<br />
do jiu jitsu é totalmente diferente<br />
dos demais esportes. Se você correr<br />
todos os dias 10 km, terá o mesmo<br />
condicionamento se fizer 3 treinos<br />
seguidos de jiu jitsu? Com certeza,<br />
não. Assim, deve-se conduzir o treinamento<br />
com a maior especificidade<br />
possível, evitando a inclusão de<br />
exercício as gerais e que não se enquadrem<br />
nas demandas energéticas<br />
da modalidade.<br />
Foco no condicionamento e na preparação,<br />
bons treinos. Oss. BC<br />
14 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 15
MEDALHOU<br />
GUTO INOCENTE<br />
Wesley Moura<br />
editor@brasilcombate.com.br<br />
"Infelizmente, sofri um corte no<br />
supercílio que atrapalhou o plano de<br />
vencer o torneio".<br />
L<br />
iteralmente nascido no mundo dos esportes<br />
de combate, aos 32 anos, Guto Inocente<br />
coleciona títulos nacionais e internacionais<br />
dentro da sua especialidade, o kickboxing,<br />
que aprendeu em casa. Com a modalidade, chegou aos<br />
grandes eventos do esporte e também aos eventos de<br />
Mixed Martial Arts (MMA).<br />
Foi na garagem de casa onde tudo começou. Naquele<br />
ambiente tinha tudo o que precisava para se tornar um<br />
dos maiores strikers mundiais: um pneu de trator, uma<br />
marreta de 32kg’s, alguns sacos de pancadas, um tatame,<br />
seus parceiros de rua e de treinos e, claro, o seu pai,<br />
mestre e principal patrocinador, Carlos Inocente.<br />
“Comecei a aprender em casa, com meu pai, depois<br />
entrei no karatê com o Mestre Didi (Altamiro Cruz),<br />
então, passei a competir. Gostei de competir e fui<br />
testar outras modalidades, com o intuito de me tornar<br />
um atleta completo nas artes marciais. Participei de<br />
todos os tipos de competições e consegui chegar ao<br />
mais alto nível do esporte”, relembra.<br />
No ano de 2016, Guto fez sua estreia no Glory<br />
Kickboxing, maior evento de kickboxing<br />
mundial, em que conseguiu nocautear,<br />
aos 40 segundos do primeiro round, o<br />
americano Demoreo Dennis. Já em 2017,<br />
conquistou o lugar mais alto do pódio do<br />
Kickboxing nos Jogos Mundiais, categoria<br />
super pesado (+91 kg). O atleta já<br />
deteve dois títulos simultaneamente<br />
no WGP Kickboxing, maior organização<br />
de kickboxing da américa latina,<br />
nas categorias dos pesados e dos<br />
super pesados.<br />
Bebendo na fonte,<br />
diante deste currículo, o atleta<br />
brasiliense não poderia deixar de<br />
ser referência, quando o assunto é<br />
trocação. Lutadores como Antônio<br />
Silva “Big Foot”, Rani Yayha, Tyrone<br />
Spong e outros gostam de fazer uma luvinha<br />
com Inocente e, de quebra, aprender com seu pai<br />
técnicas que, muitas das vezes, fazem a diferença em<br />
seus combates.<br />
Inocente está entre os top 3 do Glory, atualmente a<br />
maior empresa de kickboxing mundial. O ex-UFC sente<br />
saudade do MMA, já que fez sua última luta nas artes<br />
mistas em 2016, quando nocauteou Cristiano Souza<br />
“Bob Sap”, no Capital Fight, e garante que as propostas<br />
estão acontecendo.<br />
“Atualmente, sou o número dois do ranking do Glory, e<br />
o meu foco é ser o campeão da organização, mas estou<br />
estudando algumas propostas para voltar ao<br />
MMA. Recebo diversas ofertas para voltar a<br />
lutar, que deixo na mão dos empresários "eu<br />
só penso em ir para a guerra”, explica.<br />
Dentro da organização, Inocente tem 7 lutas<br />
e 6 vitórias, perdendo apenas para Jamal Ben<br />
Saddik, no Glory 39. “Só tive uma derrota no<br />
Glory que foi para o Jamal Bensadik. Para<br />
esta luta, fui chamado de última hora<br />
para substituir outro lutador, que<br />
havia se machucado. Eu não me<br />
preparei bem e acabei sendo<br />
derrotado, mas, bem preparado,<br />
não perco para ele de jeito<br />
nenhum”, confidencia.<br />
Para os que acompanham<br />
o Glory, é fácil dizer que a<br />
luta inesquecível de Guto<br />
Inocente aconteceu contra<br />
o gigante D’Angelo Marshall.<br />
Inocente relembra alguns<br />
fatores daquela guerra.<br />
“A luta contra o D’Angelo<br />
Marshal foi muito dura. Ele<br />
é um atleta muito bom<br />
e muito grande e, coincidentemente<br />
no evento<br />
em que lutamos, o ringue<br />
era menor, o que acabou ajudando<br />
16 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
o D’angelo, que tem a maior envergadura<br />
da categoria, maior até que o<br />
Bensadik. E isso foi o que dificultou<br />
aquele combate, mas deu tudo certo:<br />
travamos uma guerra e saímos com<br />
a vitória, após um round extra”.<br />
Recentemente, o canal Combate<br />
adquiriu os direitos de transmissão<br />
do Glory e transmite ao vivo as edições<br />
do torneio. A organização já se<br />
mostrou interessada em fazer um<br />
evento em solo tupiniquin, mas não<br />
aconteceu. Nada melhor do que o top<br />
2 da organização explicar o motivo:<br />
“Estava tudo certo para ter o Glory<br />
no Brasil no mês de abril, mas<br />
aconteceram algumas mudanças<br />
internas na organização e o novo<br />
CEO decidiu não fazer o evento no<br />
Brasil, pelo menos por enquanto. Eu,<br />
com certeza, lutaria, já estava tudo<br />
certo para fazer a luta principal do<br />
Super Fights, mas ainda não tinham<br />
me prometido nenhum adversário,<br />
apenas a super luta”, explica.<br />
No mês passado, Guto Inocente<br />
participou do torneio para nomear<br />
o novo candidato ao título dos pesos<br />
pesados do Glory, agora nas mãos<br />
de Rico Verhoeven. O evento contou<br />
com Benjamin Adegbuyi, D'Angelo<br />
Marshall e Junior Tafa. Sua participação<br />
no final do torneio, contudo, não<br />
ocorreu, mesmo Inocente vencendo<br />
Junior Tafa, já que a Comissão Atlética<br />
não permitiu Inocente prosseguir no<br />
evento, por intervenção médica.<br />
“Lutei o GP de desafiante ao cinturão<br />
no Glory 50. Infelizmente, sofri um<br />
corte no supercílio que atrapalhou<br />
o plano de vencer o torneio. Estava<br />
tudo acontecendo dentro do previsto,<br />
mas o corte atrapalhou os planos e<br />
a comissão atlética não me deixou<br />
passar para final do GP. De toda<br />
forma, acho que essa final está para<br />
acontecer, sou o segundo colocado<br />
do ranking e já venci todos os atletas<br />
que estavam no GP. Então, nada mais<br />
justo do que acontecer essa final antes<br />
de sair um verdadeiro desafiante<br />
ao título”, diz.<br />
Benjamin Adegbuyi deixou claro<br />
que queria Guto Inocente na final do<br />
torneio do Glory, pois, desta forma,<br />
Guto Inocente é apontado como um dos maiores kickboxers brasileiro de todos os tempos<br />
vingaria a derrota que teve para o<br />
brasiliense, que ele julga injusta,<br />
no GLORY 43. Guto não esconde a<br />
ansiedade de calar Adegbuyi: “Estou<br />
esperando uma resposta da organização<br />
para saber com quem vou lutar,<br />
mas estou pedindo para lutar com o<br />
Adegbuyi, assim vamos ver quem é o<br />
verdadeiro número um da categoria”.<br />
Quem segue o brasiliense nas redes<br />
já deve ter se perguntado o que é<br />
esse tal de Thug Kickboxing, e o<br />
atleta responde: “Thug Kickboxing<br />
é o Kickboxing brasileiro (risos). É<br />
o kickboxing de malandro. Fomos<br />
aprendendo muitos estilos de luta<br />
e formamos o nosso jeito de lutar.<br />
Atacamos e fazemos pontos; eles<br />
atacam e fazemos pontos. É mais<br />
ou menos por aí o segredo do Thug<br />
Kickboxing”, revela.<br />
Inocente ganhou tudo de que chegou<br />
a participar no kickboxing amador.<br />
Hoje, profissional, diz que tem que<br />
derrubar muita gente ainda e comenta<br />
sobre um possível retorno<br />
ao UFC: ”Eu ainda tenho muito para<br />
provar e muito mais para mostrar<br />
dentro do kickboxing. Tenho que<br />
bater em muita gente por aí e eternizar<br />
grandes nocautes, mas estou<br />
pensando em voltar a fazer umas<br />
lutas de MMA e, quem sabe, retornar<br />
ao UFC. Mas estou muito feliz com o<br />
que estou fazendo e com tudo o que<br />
está acontecendo na minha carreira”,<br />
evidencia.<br />
Enquanto aguarda seu próximo<br />
confronto pelo Glory, Guto segue<br />
treinando na Real Kombat Team, em<br />
Brasília, onde frequentemente aparecem<br />
nomes conhecidos do cenário<br />
MMA. “Vamos dominar o mundo,<br />
segue o combate”, brada.<br />
Tenho que bater<br />
em muita gente<br />
por aí e eternizar<br />
grandes nocautes,<br />
mas estou pensando<br />
em voltar a<br />
fazer umas lutas<br />
de MMA e, quem<br />
sabe, retornar ao<br />
UFC".<br />
BC<br />
Foto: Matheus Leal Fortes<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 17
PRATAS DA CASA<br />
Wesley Moura<br />
editor@brasilcombate.com.br<br />
AILSON BRITES "JUCÃO", TRAZ<br />
REVELAÇÕES DE UM PASSADO<br />
Ailson Henrique Brites, carioca de 52 anos,<br />
conhecido como Jucão (ou Tio, para os mais<br />
íntimos), iniciou sua carreia no jiu jitsu aos<br />
10 anos de idade, com os mestres Elias<br />
Martins e Geny Rebello e, logo em seguida, com Cirillo<br />
Azevedo, na cidade de Teresópolis no Rio de Janeiro.<br />
Seu tio, Amilton Brites, o levou junto com seu irmão,<br />
Admilson Henrique Brites — o Juquinha — para a academia<br />
de artes marciais, já que os dois adoravam sair<br />
na porrada em casa: “Brigávamos muito e ele resolveu<br />
nos levar para brigar na academia (risos). Gostei demais<br />
e me dediquei ao máximo, junto com meu irmão. Já se<br />
passaram 42 anos”.<br />
Ailson Brites também é conhecido por<br />
sua incrível árvore genealógica: é sobrinho<br />
do grande mestre Geny Rebell e do<br />
Mestre Armando Wriedt, primo de Cirillo<br />
Azevedo e irmão de Admilson Brites<br />
“Juquinha”. Em uma entrevista descontraída e cheia de<br />
polêmicas, o faixa preta de Carlos Gracie Jr., relembra<br />
fatos por muitos desconhecidos e por outros ocultados.<br />
Brasil Combate: Em janeiro deste ano você completou<br />
25 anos de faixa preta, recebida das mãos do mestre<br />
Carlos Gracie Junior, no mesmo dia que outros nomes<br />
"Por algumas vezes, perdi o<br />
último ônibus para minha<br />
cidade e tive que dormir na<br />
rodoviária".<br />
conhecidos mundialmente também receberam — Renzo<br />
Gracie, Roberto "Gordo" Corrêa, Redley Vigio, entre outros.<br />
Como foi sua chegada a Gracie Barra e a graduação a<br />
tão esperada faixa preta?<br />
Jucão: Fui treinar na Gracie Barra a convite dos irmãos<br />
Machado. Ali, começava uma nova etapa, novas dificuldades.<br />
Eu morava em Teresópolis e descia para o Rio de<br />
Janeiro duas vezes por semana para poder treinar. Por<br />
algumas vezes, perdi o último ônibus para minha cidade<br />
e tive que dormir na rodoviária. Não era fácil, mas foi lá<br />
que meu jiu jitsu foi lapidado, com excelentes treinos.<br />
Ali fiz grandes amigos. Me destaquei na época e, na<br />
faixa marrom, tornei-me campeão em<br />
várias competições. Eventos realizados<br />
pela Liga de Niterói, Federação do Rio<br />
de Janeiro, Confederação Brasileira de<br />
Jiu Jitsu. Ganhei muitos, mas também<br />
perdi muitos. A maior conquista sem<br />
dúvida foi ter aprendido que não são as vitórias ou<br />
derrotas que farão você ser um campeão, mas sim a<br />
oportunidade de ter convivido com excelentes pessoas,<br />
grandes exemplos, dentro e fora dos tatames. E foi<br />
justamente ao lado desses grandes nomes que eu tive a<br />
honra de receber, das mãos do mestre Carlos Gracie Jr, a<br />
18 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
tão esperada faixa preta, há 25 anos.<br />
BC: Ainda na faixa marrom, você<br />
lutou em alguns eventos contra<br />
Wallid Ismail. Em um deles, você<br />
chegou a quebrar o braço dele e,<br />
ainda assim, ele ganhou de você.<br />
Poderia compartilhar com nossos<br />
leitores essa façanha?<br />
JC: Wallid Ismail, duro demais! Essa<br />
luta foi na Urca, Copa Nastra Com<br />
trinta segundos de luta, eu estava<br />
ganhando de 6x0, mas o Wallid virou<br />
o jogo para 13x6. Faltando um<br />
minuto para o término, eu encaixei<br />
uma americana de baixo para cima,<br />
neutralizando todas as possibilidades<br />
de defesa. O ginásio ficou em silêncio,<br />
tamanha a importância<br />
da luta para<br />
a época. Ele não<br />
bateu, o que já<br />
era de se esperar<br />
de um atleta duro<br />
como ele, então<br />
quebrei o braço<br />
dele ao som do relógio tocando o<br />
final do combate. Foi uma grande<br />
luta, em que demos o máximo de<br />
nossas condições.<br />
BC: Em 1994, surgiu o convite para<br />
ensinar o jiu jitsu em Brasília. Como<br />
foi?<br />
JC: O convite veio por meio do grande<br />
mestre Armando Wriedt (meu tio).<br />
Estudei a possibilidade e decidi<br />
tentar uma nova trajetória, já que em<br />
minha cidade eu tinha uma grande<br />
equipe. Ir pra Brasília foi um certo<br />
desafio. Começar do nada, em uma<br />
cidade nova, em que o jiu jitsu estava<br />
engatinhando. Quando visitei a academia<br />
Dalmo Ribeiro, onde trabalhei<br />
por todos os anos em que morei em<br />
Brasília, o dono do espaço, Dalmo,<br />
me mostrou a sala e eu disse que<br />
gostaria de uma sala maior, ao que<br />
respondeu achar o espaço suficiente<br />
na época, para cerca de 25 alunos. E<br />
eu disse a ele que, em um mês, colocaria<br />
100 alunos. Ele não acreditou<br />
muito, mas concordou em fazer um<br />
espaço maior. Quando completei um<br />
mês ministrando, as aulas, tínhamos<br />
105 alunos matriculados.<br />
BC: Você foi o fundador da Gracie<br />
"Ele 'Wallid' não bateu, o<br />
que já era de se esperar de<br />
um atleta duro como ele,<br />
então quebrei o braço dele<br />
ao som do relógio tocando<br />
o final do combate".<br />
Barra Brasília. Como e quando surgiu<br />
essa ideia?<br />
JC: Quando iniciei o trabalho em<br />
Brasília, usava o nome de Equipe<br />
Jucão, porém representava a Gracie<br />
Barra. Em 1998, decidi fundar a<br />
Gracie Barra Brasília, depois de uma<br />
reunião com os alunos sobre a ideia<br />
e excelente oportunidade de não só<br />
levar o nome de uma grande equipe,<br />
mas dar sequência a um trabalho<br />
feito pelo mestre Carlos Gracie Jr.<br />
Foi assim que nasceu a Gracie Barra<br />
Brasília.<br />
BC: Temos muitos atletas em Brasília<br />
que se destacam no jiu jitsu mundial<br />
e que iniciaram com você e, em algumas<br />
entrevistas,<br />
eles sequer destacam<br />
o seu nome.<br />
Como você se sente<br />
em relação a isso?<br />
JC: Eu tenho orgulho<br />
de dizer que<br />
criei uma grande família.<br />
Cada um que passou por nossa<br />
academia deixou sua história, seja<br />
como atleta, como pessoa ou como<br />
amigo. Alunos de diferentes idades,<br />
uns que começaram com cinco anos,<br />
outros com um pouco mais e outros<br />
ainda até com sessenta anos. Iniciar<br />
algo não é nada fácil, porém não fiz<br />
e não faço nada com a intenção de<br />
reconhecimento. Quando se faz por<br />
amor e carinho, o resultado surge de<br />
uma forma natural. O campeão não<br />
é aquele que vence nos tatames. A<br />
medalha ou os troféus estarão em<br />
uma caixa ou em outro lugar qualquer,<br />
mas o campeão de verdade<br />
é aquele que vence no dia a dia<br />
com caráter, disciplina e honra. Na<br />
vida, estamos sempre aprendendo.<br />
Se não conseguirmos nos lembrar<br />
dos caminhos percorridos, como<br />
reconheceremos os sinais que nos<br />
alertam para o futuro?<br />
Quem constroi um fusca, sabe exatamente<br />
o tamanho do seu sonho.<br />
Da mesma forma ocorre com quem<br />
constroi uma Ferrari, porém pode-se<br />
não ter noção de que a velocidade<br />
pode acabar com ela. Assim, o que<br />
ensina com humildade não conhece<br />
o ego, já o que aprende com a falta<br />
de humildade se fartará dele.<br />
BC: Por que você resolveu voltar<br />
para Teresópolis-RJ, depois de oito<br />
anos vivendo em Brasília?<br />
JC: Voltei para Teresópolis porque<br />
acho que tudo na vida é um ciclo.<br />
Alguns capítulos precisam ser encerrados<br />
para que outros se iniciem<br />
outros. Voltei por minha família. Entre<br />
erros e acertos que cometemos, é<br />
necessário parar, respirar, pensar<br />
em tudo o que foi feito e em todas<br />
as oportunidades que tivemos. Às<br />
vezes, tomamos decisões precipitadas<br />
e nos arrependemos, mas feliz é<br />
aquele que reconhece o próprio erro<br />
e ainda tem a chance de recomeçar.<br />
Todos esses anos em Brasília foram<br />
muito bons, fiz muitos amigos que<br />
levarei para toda a vida.<br />
BC: Quando você saiu de Teresópolis-<br />
-RJ, tinha uma equipe campeã, assim<br />
como em Brasília. Quando voltou,<br />
precisou iniciar um trabalho novamente<br />
e voltou a ficar em destaque<br />
nas competições. O que considera<br />
Jucão ministrando seminário de inverno em 2017 no Holiday Inn Hotel, Clark em New Jersey<br />
Fotos: David Aristich<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 19
importante para esse fato?<br />
JC: Não foi fácil deixar Teresópolis.<br />
Com a minha mudança para<br />
Brasília-DF, muitos<br />
alunos pararam<br />
de treinar, outros<br />
foram para equipe<br />
diversas, enfim,<br />
quando voltei para<br />
Teresópolis-RJ, tive<br />
que começar tudo<br />
novamente. Mas,<br />
quando se faz o que gosta tudo fica<br />
mais simples, não importa onde<br />
esteja. Se fizer com determinação, o<br />
resultado aparece com qualidade e<br />
sucesso. E foi assim que, novamente,<br />
nossa equipe voltou a se destacar<br />
nas competições.<br />
BC: Você levou seu irmão Admilson<br />
Brites para Brasília. Foi você quem o<br />
graduou faixa preta? Fale um pouco<br />
sobre essa experiência em graduar<br />
um irmão, que sempre se destaca nas<br />
competições mundo a fora.<br />
JC: Falar do meu irmão é complicado,<br />
sou suspeito (risos). Tive a oportunidade<br />
de levá-lo para Brasília para<br />
trabalhar comigo. Ele teve uma escala<br />
maior de crescimento como professor,<br />
já que ficou responsável pela equipe<br />
em Teresópolis-RJ, quando me mudei<br />
para Brasília-DF. Graduá-lo a faixa<br />
preta foi simplesmente sensacional,<br />
não só por se tratar do meu irmão,<br />
Ailson Henrique Brites, carioca de 52 anos,<br />
conhecido como Jucão.<br />
"Graduá-lo a faixa preta foi<br />
simplesmente sensacional,<br />
não só por se tratar do meu<br />
irmão 'Juquinha', mas de<br />
um atleta com um talento<br />
admirável. Me senti muito<br />
honrado".<br />
mas de um atleta com um talento<br />
admirável. Me senti muito honrado.<br />
BC: Você e seu irmão chegaram<br />
a usar The Brites<br />
Family, uma junção<br />
das duas equipes<br />
de jiu jitsu. Por que<br />
não deram continuidade?<br />
JC: Quando levei<br />
meu irmão para<br />
Brasília, a ideia era<br />
trabalharmos juntos, porém as<br />
oportunidades foram surgindo e ele<br />
resolveu seguir os desejos de ter sua<br />
própria equipe. A The Brites Family<br />
surgiu quando comecei a perceber<br />
que nossos alunos estavam se enfrentando<br />
demais nas competições.<br />
A ideia de unir foi muito boa, os<br />
alunos gostaram, pois muitos deles<br />
já eram amigos e até já haviam<br />
treinado juntos. Mas, infelizmente,<br />
com a mesma velocidade com que<br />
se iniciou, terminou. Foi uma pena!<br />
Tenho admiração por cada um que<br />
representou essa bandeira.<br />
BC: Todos os brasileiros, em sua grande<br />
maioria, enfrentam dificuldades<br />
nos EUA. Poderia<br />
falar quais dificuldades<br />
enfrentou na<br />
terra do Tio Sam?<br />
JC: Dificuldades na<br />
terra do Tio Sam<br />
(risos)!? A maior<br />
de todas foi o idioma. Cheguei aqui<br />
falando "Hi e Bye" (risos), mesmo assim<br />
logo no primeiro dia já dei aulas.<br />
De toda forma, a vontade que eles<br />
(americanos) têm para aprender e o<br />
modo com que valorizaram meu trabalho,<br />
transformou toda dificuldade<br />
em vontade de crescer todos os dias.<br />
A saudade da família pesou muito,<br />
a falta dos amigos, os treinos que<br />
tínhamos no Brasil. Outro fator, foi<br />
o frio absurdo que passamos, já que<br />
estou em Nova York. E, infelizmente,<br />
os muitos brasileiros que se acham<br />
espertos e querem passar os outros<br />
para trás, agindo com deslealdade<br />
e má fé, mas, quando Deus tem um<br />
propósito em sua vida, não tem jeito,<br />
toda dificuldade se transforma em<br />
"Com a decisão do meu<br />
irmão de representar uma<br />
nova equipe e não usar<br />
mais o nome dele, me achei<br />
no direito (...)".<br />
vitória.<br />
BC: Em 2007, o Brasil Combate publicou<br />
uma entrevista sua, no início<br />
da sua adaptação nos EUA. O que<br />
mudou de lá para cá?<br />
JC: Muita coisa. Já se passaram 11<br />
anos. O inglês melhorou (risos), as<br />
oportunidades aumentaram, o nosso<br />
trabalho vem sendo reconhecido, os<br />
resultados positivos estão surgindo<br />
em eventos de diversos níveis. Hoje,<br />
posso dizer que ainda temos muito a<br />
conquistar, mas estamos mais perto.<br />
BC: Hoje a Team Jucão BJJ se tornou<br />
uma franquia e vem ganhando espaço<br />
com diversas escolas pelo EUA<br />
e representantes em países como<br />
Portugal, Irlanda, Londres, Espanha<br />
e Brasil. Como você vê esse crescimento?<br />
O segredo da expansão é<br />
ter franquia?<br />
JC: O crescimento é fruto de um<br />
trabalho em equipe e o crescimento<br />
de uma equipe não se faz somente<br />
por meio de franquia. Para expandir,<br />
é necessário um grupo que tenha<br />
vontade de estar junto — a união é<br />
o melhor caminho para crescer. Com<br />
isso, todos os professores ficam na<br />
mesma página, independentemente<br />
de qualquer lugar<br />
em que estejam no<br />
mundo. Na verdade,<br />
não há segredo<br />
para esse crescimento,<br />
já que os representantes da<br />
equipe sabem que, para chegarmos<br />
ao objetivo, é preciso ter humildade,<br />
disciplina, respeito, amor pelo que<br />
faz, honrar o esporte que se pratica<br />
e defender a nossa bandeira com o<br />
coração.<br />
BC: No Brasil, você tem franquias<br />
espalhadas no Rio de Janeiro, Goiás<br />
e agora em Brasília. O que te levou<br />
a voltar com seu nome para Brasília?<br />
JC: Enquanto meu irmão ainda usava<br />
o nome JUQUINHA JIU JITSU, eu<br />
não pretendia voltar com a equipe,<br />
até porque, quando saí de Brasília,<br />
muitos alunos foram treinar com<br />
ele. Então, não faria sentido voltar<br />
com meu nome para Brasília. Com a<br />
decisão do meu irmão de representar<br />
20 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
uma nova equipe e não usar mais o<br />
nome dele, me achei no direito de<br />
permitir aos alunos e professores<br />
que queriam representar a nossa<br />
equipe novamente que voltassem<br />
a usar Equipe Jucão. Com isso, voltamos<br />
com a equipe — Team Jucão,<br />
que também tem se expandido para<br />
outras capitais brasileiras.<br />
BC: Quantos alunos a Team Jucão<br />
tem atualmente?<br />
JC: É difícil estipular um número<br />
exato. A família está crescendo a cada<br />
dia. Temos mais de 60 associações<br />
espalhadas pelo<br />
mundo, em que<br />
grandes professores<br />
levantam a<br />
nossa bandeira e<br />
me ajudam a manter<br />
viva a essência<br />
do nosso esporte.<br />
BC: Aos 52 anos,<br />
você continua<br />
competindo, e sagrou-se campeão<br />
Europeu em Portugal em <strong>2018</strong>, pela<br />
IBJJF. Este é o terceiro World Camp<br />
Team Jucão em Portugal. Como surgiu<br />
essa ideia? E como tem sido essa<br />
experiência de reunir os atletas da<br />
sua equipe do mundo nesse evento?<br />
JC: A ideia do camp surgiu por meio<br />
do professor e amigo Leonardo Costa,<br />
meu aluno desde faixa branca, responsável<br />
pelo Team Jucão na Europa.<br />
Decidimos que esta seria uma boa<br />
ideia, visto que os atletas já estariam<br />
em Portugal para lutar o Europeu de<br />
Jiu Jitsu. Então, pensamos em algo que<br />
pudesse unir mais a nossa equipe,<br />
fazendo com que os professores e<br />
alunos tivessem a oportunidade de<br />
treinar juntos, de se conhecer e de<br />
traçar metas para o desenvolvimento<br />
da equipe. Tem dado certo: a cada ano,<br />
o número de participantes aumenta e,<br />
neste ano, atingimos 140 inscritos na<br />
competição, somente representantes<br />
do Team Jucão de Portugal, Brasil,<br />
Espanha, Irlanda Londres e Estados<br />
Unidos. Juntar parte da nossa grande<br />
família não tem preço, é um presente<br />
de DEUS.<br />
BC: Nesta edição, trouxemos o tema a<br />
farra das graduações. Você acha que<br />
"São muitas falcatruas que<br />
saem do Brasil, decolam<br />
num voo sendo faixa branca,<br />
faixa azul e, no meio da<br />
conexão, são graduados e<br />
chegam ao lugar de destino<br />
com a preta na cintura.<br />
Banalidade total".<br />
vivemos um momento exacerbado<br />
das graduações no jiu jitsu e isso<br />
colabora para o surgimento de faixa<br />
pretas fakes?<br />
JC: Infelizmente, isso sempre aconteceu.<br />
De um tempo para cá, com<br />
o crescimento da arte suave, essa<br />
situação ficou mais visível, mas<br />
quem é de verdade sabe quem é<br />
de mentira. O cara começa a treinar<br />
querendo saber qual o dia da graduação.<br />
São muitas falcatruas que<br />
saem do Brasil, decolam em um voo<br />
sendo faixa branca, faixa azul e, no<br />
meio da conexão,<br />
são graduados e<br />
chegam ao lugar<br />
de destino com a<br />
preta na cintura.<br />
Banalidade total.<br />
De repente você vê<br />
um atleta que inicia<br />
no jiu jitsu; em tão<br />
pouco tempo, está<br />
de faixa preta e se intitula “mestre”,<br />
sem saber o significado desta palavra.<br />
A primeira coisa que ele faz é ir às<br />
redes sociais e colocar o título de<br />
Mestre antes do próprio nome, chega<br />
a ser uma piada. O pior ainda é ver<br />
alunos destes supostos “mestres”<br />
sendo levados para uma ilusão. Assim,<br />
vira uma bola de neve e os “mestres”<br />
falcatruas vão se reproduzindo. Os<br />
órgãos responsáveis por esse esporte<br />
brilhante podem mudar isso. Basta<br />
querer.<br />
BC: Já se arrependeu de ter graduado<br />
algum aluno? Se sim, qual o<br />
desfecho?<br />
JC: Sim, e como (risos). Não me arrependo<br />
por questão de merecimento<br />
e conquista, mas sim pelo "status"<br />
ter mudado alguns desses atletas.<br />
Não tinha noção do quanto uma<br />
faixa preta poderia transformar o<br />
ser humano.<br />
O respeito e a sabedoria vêm daqueles<br />
que aprendem com orgulho<br />
o seu agir, o seu falar e o seu viver,<br />
sem precisar passar por cima de<br />
ninguém. O problema é continuar<br />
achando que o mundo é grande, pois<br />
nele só há espaço para os pequenos,<br />
os menores de coração. Geralmente,<br />
esses que têm a faixa preta na cintura<br />
e que permitiram que o orgulho e<br />
o ego subissem para a cabeça, só<br />
alcançarão o caminho do sucesso<br />
quando deixarem o ego de lado.<br />
O pior ainda é ver<br />
alunos destes supostos<br />
'mestres'<br />
sendo levados<br />
para uma ilusão".<br />
Seminário de verão de 2017 no Cruz Golf Club, Farmingdale em New Jersey<br />
BC<br />
Fotos: David Aristich<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 21
ENCICLOPÉDIA<br />
Demonstração de jiu jitsu infantil em Mogi Mirim (São Paulo) no ano de 1976. Saraiva retribuindo a sociedade com o jiu jitsu.<br />
MESTRE ORLANDO SARAIVA – RETRIBUINDO A SOCIEDADE<br />
Fabio Quio Takao<br />
fabio.quio1@gmail.com<br />
Órfão, criado na FUNABEM, aos 14 anos conheceu<br />
o jiu jitsu.<br />
A história do Mestre Orlando Saraiva<br />
é um tanto inspiradora e prova que<br />
capacidade de superação pode vencer<br />
qualquer obstáculo. Órfão, aos sete<br />
anos foi internado na FUNABEM<br />
(Fundação do Bem-Estar do Menor),<br />
onde foi criado, e aos 14 anos conheceu<br />
o jiu jitsu, com o Mestre Osvaldo<br />
Gomes da Rosa "PAQUETÁ". Treinou<br />
na FUNABEM até a faixa verde e, a<br />
convite de seu mestre, fez um treino<br />
na academia do Mestre Carlson Gracie,<br />
destacando-se entre os demais<br />
garotos da sua idade. Por conta disso,<br />
foi convidado por Carlson a continuar<br />
treinando lá, local em que chegou a<br />
ser um dos instrutores e, finalmente,<br />
recebeu a faixa preta em 1969.<br />
Com um talento nato para as lutas,<br />
treinou judô com o Mestre "De Lucas",<br />
sendo um dos raros atletas a conseguir<br />
títulos expressivos no jiu jitsu e<br />
no judô. Formado no ambiente competitivo<br />
da academia Carlson Gracie,<br />
Saraiva competia simultaneamente<br />
nos campeonatos de judô e jiu jitsu.<br />
Mestre Saraiva lembra com satisfação<br />
dos treinos conduzidos por Carlson<br />
Gracie, acompanhado de Rolls Gracie,<br />
Rocian Gracie, Reyson Gracie, Sérgio<br />
Iris "Serginho de Niterói", Fabinho,<br />
Carley Gracie e outros nomes que<br />
fizeram história no jiu jitsu.<br />
Além de ser um dos responsáveis por<br />
disseminar o jiu jitsu pelo interior<br />
paulista, Mestre Orlando Saraiva era<br />
constantemente citado pelo seu professor<br />
Osvaldo Paquetá como sendo<br />
o único lutador capaz de fazer frente<br />
a um dos maiores nomes da família<br />
Gracie: Rolls Gracie.<br />
Sempre acompanhando a evolução<br />
do jiu jitsu, o Mestre visitou a academia<br />
de Joe Moreira nos Estados<br />
Unidos na década de 90, chegando<br />
inclusive a dar uma aula para Kimo<br />
Leopoldo, um dos adversários mais<br />
difíceis de Royce Gracie. Atualmente,<br />
seu filho, Henrique Saraiva, ensina jiu<br />
jitsu em Dublin, na Irlanda, enquanto<br />
Mestre Orlando se mantem em plena<br />
atividade no Brasil, cuidando de sua<br />
equipe e ministrando seminários.<br />
Brasil Combate: Quando e onde o<br />
Sr. Nasceu?<br />
Orlando Saraiva: Eu nasci em 10 de<br />
março de 1951, em Belem do Pará.<br />
Mudei-me para o Rio de Janeiro aos<br />
dois meses de idade.<br />
BC: Quando teve o primeiro contato<br />
com o jiu jitsu?<br />
OS: Fui criado pela minha irmã.<br />
Infelizmente, ela teve problemas<br />
com uma separação e, aos 10 anos,<br />
fui morar no antigo Sam (Serviço de<br />
Assistência ao Menor) que depois de<br />
1965 viria a se chamar Funabem. Foi<br />
lá que conheci o Osvaldo Gomes da<br />
Rosa “Paquetá”, que era contratado<br />
22 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
para ensinar jiu jitsu para os menores.<br />
Após uns quatro meses do início<br />
das aulas, eu estava assistindo a um<br />
jogo de futebol no mesmo ginásio<br />
onde também era a sala de jiu jitsu.<br />
Ao ver uma concentração de gente,<br />
notei que era uma aula de jiu jitsu<br />
e gostei da ideia. Comecei, então, a<br />
frequentar as aulas. Eu tinha 14 anos.<br />
BC: Como eram os treinos?<br />
OS: Eram treinos diários e com muitas<br />
crianças, pois a instituição fornecia os<br />
kimonos e as crianças não pagavam<br />
nada. Depois de um ano de treino,<br />
o Paquetá escolheu três alunos que<br />
estavam se destacando: Hugo Dória,<br />
José Aldo e eu e nos levou para Academia<br />
do Carlson Gracie. Aliás, só para<br />
ilustrar, essa academia era, na verdade,<br />
um apartamento normal com<br />
dois quartos pequenos forrados com<br />
tatames. Em um deles aconteciam as<br />
aulas normais e no outro quarto as<br />
aulas individuais. Voltando ao Carlson,<br />
ele disse que tinha dois garotos<br />
na faixa verde que eram imbatíveis<br />
e, como era muito competitivo, quis<br />
tirar a prova. Eu acabei lutando com<br />
os dois e finalizei ambos, mas não<br />
acabou aí. O Reyson Gracie estava<br />
lá e chamou os dois alunos para o<br />
quarto ao lado, para dar umas dicas<br />
e, quando retornaram, quiseram fazer<br />
uma nova luta. Mesmo assim, finalizei<br />
ambos mais duas vezes.<br />
BC: O sr. treinava judô?<br />
OS: Sim, na época eu já treinava<br />
judô e jiu jitsu com o Paquetá. Além<br />
desses treinos, eu fazia judô em uma<br />
academia do centro do Rio de Janeiro,<br />
chamada Apolo. Às vezes, treinava<br />
também na academia do Faustino,<br />
que ensinava judô na Marinha. Treinei<br />
também em uma academia de Jacarepaguá,<br />
com o Sensei Antônio da Silva<br />
5° Dan, da academia Bandeirantes. O<br />
Paquetá dizia que, se soubéssemos<br />
judô, sairíamos com vantagem, pois<br />
a maioria não sabia dar quedas.<br />
BC: Como era sua relação com o<br />
Carlson?<br />
OS: Ele gostava muito de mim. Eu<br />
treinei com o Paquetá até os 18<br />
anos, quando parei para servir a<br />
Aeronáutica. Depois disso, o Carlson<br />
Mestre Orlando Saraiva competindo na década de 60.<br />
me convidou para treinar com ele e<br />
me deu uma bolsa, pois eu ainda não<br />
tinha condições de pagar. Eu treinei<br />
bastante com o Rolls também. O<br />
Carlson era um treinador excepcional.<br />
Ele fazia os alunos repetirem as<br />
técnicas muitas vezes. Ele promovia<br />
esses desafios a portas fechadas e<br />
me lembro de um desses desafios<br />
que aconteceu na Academia do Hélio<br />
Gracie, em que lutou o Rolls contra<br />
um aluno do Orlando Barradas,<br />
chamado Cícero Sobrinho, que<br />
já é falecido. A luta acabou<br />
empatada, pois não tinha<br />
contagem de pontos.<br />
BC: O senhor competiu em<br />
outras modalidades?<br />
OS: Na aeronáutica, fiz parte<br />
do time que foi campeão<br />
por equipes de judô em<br />
Brasília. Fui aluno de boxe<br />
do professor Ari do Madureira,<br />
fiz também alguns treinos de<br />
boxe na famosa academia Santa<br />
Rosa e fui vice-campeão Carioca<br />
de Boxe em 1975. No Vale-Tudo, tem<br />
uma história curiosa que aconteceu<br />
quando eu tinha por volta de 23<br />
anos e pesava 61kg: fui assistir a<br />
um campeonato de Vale-Tudo no<br />
Fotos: Arquivo Pessoal<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 23
ginásio Madureira — e quando somos<br />
jovens fazemos muitas “besteiras”<br />
(risos). Ao chegar lá, cismei que queria<br />
lutar naquele evento também, então,<br />
procurei o organizador e pedi para<br />
lutar. Ele riu e disse que eu deveria<br />
ter me inscrito antes. Diante da minha<br />
insistência, ele questionou se eu já<br />
tinha experiência com lutas e eu<br />
confirmei. Por sorte, um dos inscritos<br />
faltou e ele me chamou. Entrei de<br />
improviso, consegui dar muitas quedas<br />
no adversário, mas não consegui<br />
finalizar. Os organizadores gostaram<br />
tanto que me chamaram para lutar<br />
na semana seguinte novamente, mas,<br />
como não havia remuneração, não<br />
prossegui.<br />
BC: Quanto tempo o senhor morou<br />
no Rio de Janeiro?<br />
OS: Eu morei no Rio de Janeiro por<br />
25 anos e me mudei em 1976. O<br />
Paquetá, que era diretor de esportes<br />
da Funabem, me contratou para<br />
auxiliá-lo na instituição com menores<br />
carentes (mas sem delitos) depois que<br />
saí da Aeronáutica. Fui transferido<br />
para São Paulo, na antiga Febem e<br />
depois para Febem de Mogi Morim<br />
em 20 de julho de 1976, atuando<br />
com menores infratores.<br />
BC: Como estava o nível do jiu jitsu<br />
paulista quando o senhor chegou?<br />
OS: Assim que cheguei a Mogi Mirim,<br />
montei uma turma e, poucos<br />
meses depois, participamos de um<br />
campeonato em São Paulo, organizado<br />
pelo Octavio de Almeida<br />
(sênior). Esse campeonato foi muito<br />
conturbado, pois o Pedro Hemetério<br />
já tinha academia em São Paulo há<br />
muitos anos, mas se especializara<br />
em aulas de defesa pessoal e tinha<br />
pouquíssimos competidores de jiu<br />
jitsu esportivo. Como ele queria<br />
participar, acabou pedindo para<br />
o Carlson Gracie mandar alguns<br />
atletas e ele acabou mandando 42<br />
atletas (risos). O Otávio de Almeida<br />
contestou, alegando que se tratava<br />
de campeonato paulista e não queria<br />
deixar essa turma toda lutar. Eu mesmo<br />
acabei caindo com um atleta que<br />
eu conhecia bem lá do Carlson e ele<br />
nem quis lutar, alegando que éramos<br />
da mesma academia. Finalmente,<br />
arrumaram um faixa preta do Otavio<br />
de Almeida de 100kg, chamado João<br />
Marcos Flaquer, para lutar comigo,<br />
que pesava 61kg. A luta não teria<br />
contagem de pontos e só terminaria<br />
com finalização. Apesar da diferença<br />
de peso, a luta acabou empatada.<br />
Entre os atletas que disputaram<br />
por São Paulo, somente eu empatei<br />
e o Lírio Carlos de Campos (aluno<br />
do Romeu Bertho) ganhou. Todas as<br />
outras foram vencidas por cariocas.<br />
Acredito que o jiu jitsu paulista só<br />
começou a e equiparar-se ao carioca<br />
a partir do 1º UFC, que popularizou o<br />
jiu jitsu e atraiu muitos professores<br />
do Rio de Janeiro para trabalhar em<br />
São Paulo.<br />
BC: Quais lutadores o senhor poderia<br />
destacar?<br />
OS: Gosto demais do Rickson Gracie.<br />
Muitos alegam que ele não sabe dar<br />
um soco ou um chute, mas eu digo<br />
que, em compensação, ele aplica o<br />
jiu jitsu de uma forma muito eficaz.<br />
O mesmo pode-se dizer do Royce<br />
Gracie que, mesmo sem saber nada<br />
de socos ou chutes, conseguiu ganhar<br />
de adversários muito maiores que ele.<br />
BC: Como está sua equipe hoje?<br />
OS: Tenho diversos faixas pretas<br />
espalhados pela região. São eles:<br />
Marcelo Ferreira (Campinas), Paulo<br />
Streckert (Indaiatuba), Newton Cadan<br />
(Mogi Mirim), meu filho Henrique (Dublin<br />
-Irlanda), Evandro Fogali “Japão”<br />
(Araras), Claudio Bueno (Campinas),<br />
Simone Pessoa (Rio Claro), Marcelo<br />
Rodrigues (São Paulo) e o Dr. Marcos<br />
Teixeira.<br />
BC: Em relação ao aspecto da defesa<br />
pessoal, os mestres mais antigos<br />
criticam muito os professores atuais<br />
deixarem essa parte para segundo<br />
plano. O senhor concorda?<br />
OS: Com certeza. Eu tive o prazer de<br />
aprender essa parte com o Paquetá e<br />
depois mais técnicas com o Carlson.<br />
Os professores atuais, não só de jiu<br />
jitsu como de outras artes marciais,<br />
acham que somente a técnica esportiva<br />
já garante a defesa do indivíduo,<br />
mas não é verdade. Essa parte era<br />
ensinada logo no início na academia<br />
Gracie e depois é que o aluno aprendia<br />
a parte esportiva. Sempre ensinei<br />
essa parte nas minhas aulas e até<br />
hoje peço para meu filho Henrique<br />
dar pelo menos uma técnica de defesa<br />
pessoal toda aula. Dessa forma,<br />
após algum tempo o aluno já está<br />
preparado para diversas situações. BC<br />
Carlson Gracie, Henrique Saraiva (atualmente na Irlanda) e seu pai Orlando Saraiva<br />
Fotos: Arquivo Pessoal<br />
24 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
ALIMENTAÇÃO<br />
AFIADA<br />
O OVO E SEUS BENEFICIOS<br />
Sabrina Cavalcanti<br />
Nutricionista Esportiva<br />
cavalcantinutriconista@hotmail.com<br />
Durante muitas décadas, o ovo foi erroneamente incluído<br />
na lista de alimentos prejudiciais à saúde. Após<br />
inúmeros estudos científicos, foi absolvido.<br />
Imaginava-se que o consumo de ovos seria capaz de<br />
aumentar as taxas de colesterol total do sangue, no<br />
entanto, pesquisas recentes sugerem que o alimento<br />
não tem a capacidade de elevar o colesterol total de<br />
forma expressiva. Além disso, descobriu-se que o ovo<br />
não eleva o LDL (o colesterol “ruim”), em razão de ser<br />
rico em lecitina — substância que dificulta a absorção<br />
do LDL no intestino — e que, na verdade, o ovo teria a<br />
capacidade de elevar o colesterol HDL (o “bom” colesterol).<br />
O que é uma excelente notícia.<br />
comparativa, que relaciona não só a quantidade de<br />
proteína contida em determinado alimento, mas também<br />
se essa quantidade será efetivamente absorvida<br />
pelo organismo (biodisponibilidade).<br />
As proteínas de origem animal são classificadas como<br />
de alto valor biológico (pois são proteínas “completas”,<br />
possuem todos os aminoácidos essenciais). Já as vegetais<br />
são classificadas como de baixo valor biológico<br />
(pois são proteínas “incompletas”, faltam-lhes um ou<br />
outro aminoácido essencial). Pasmem: o ovo é o melhor<br />
alimento natural nesta tabela.<br />
Análises recentes, bem fundamentadas chegaram a seguinte<br />
conclusão: o ovo, além de não ser vilão, melhora<br />
a saúde das pessoas. Sim. Ele deixou a prateleira dos<br />
rejeitados e foi para a dos campeões.<br />
O OVO É RICO EM:<br />
- Proteína, vitamina A, D e E, além de vitaminas do<br />
complexo B;<br />
- Zinco, fósforo, ferro, selênio, iodo e cálcio;<br />
- Albumina, que ajuda a diminuir a retenção hídrica.<br />
ELE AINDA É:<br />
- Excelente opção em substituição às carnes;<br />
- Versátil, podendo ser consumido em quaisquer refeições;<br />
- Auxiliar na manutenção e construção muscular.<br />
Os atletas agradecem, pois poucos alimentos são nutricionalmente<br />
tão completos e com o valor de mercado<br />
tão acessível quanto o querido ovo.<br />
A Food and Agriculture Organization of the United Nations<br />
publicou uma tabela muito interessante sobre o<br />
valor biológico das proteínas. Trata-se de uma escala<br />
FONTE: Food and Agriculture Organization of the United<br />
Nations. The Amino Acid Content of Foods and Biological<br />
Data on Proteins.<br />
FICA A DICA: inclua ovo no seu cardápio diário. Não<br />
sabe como? Converse com seu nutricionista.<br />
É importante deixar claro que pacientes que apresentarem<br />
risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares,<br />
com diagnóstico de hipercolesterolemia ou<br />
dislipidemias devem seguir as Diretrizes da Sociedade<br />
Brasileira de Cardiologia, 2013, sobre dietoterapia. BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 25
SUPERAÇÃO<br />
O EX-INSPETOR PENITENCIÁRIO TEVE A SUA<br />
Jack Taketsugo<br />
Repórter<br />
APOSENTADORIA ADIANTADA. NESTA BRIGA,<br />
O JIU JITSU É SUA PRINCIPAL ARMA.<br />
A<br />
os 38 anos, Emmerson Leandro Lopes convive<br />
há 4 com um diagnóstico: a ataxia, doença<br />
degenerativa, rara e desconhecida. A<br />
moléstia tem diversos tipos e a de<br />
Emmerson é a Doença de Machado Josefh (DMJ),<br />
que afeta o cerebelo, atrofiando e afetando o<br />
andar, o falar, a visão e toda a coordenação<br />
motora, além de causar limitações à respiração<br />
e a outras funções autônomas do organismo.<br />
O ex-inspetor penitenciário teve a sua<br />
aposentadoria adiantada por conta da<br />
invalidez causada pela ataxia. Em 2014,<br />
recebeu o diagnóstico no hospital<br />
Sarah Kubitschek, em Brasília, e a<br />
notícia caiu como uma bomba. Nenhum<br />
guerreiro, contudo, mantém-se<br />
prostrado por muito tempo.<br />
“Eu havia tirado uma licença do trabalho<br />
por causa das dificuldades que<br />
surgiram com o início dos sintomas e<br />
aí descobri a doença degenerativa. Essa<br />
patologia não tem cura e nenhum remédio<br />
ainda, deve ser pelo fato de ser rara e<br />
desconhecida”, explica.<br />
Nesta briga, o jiu jitsu é sua principal arma.<br />
Segundo Emmerson, a prática do esporte<br />
de alto rendimento retardou o avanço da<br />
doença. Por isso, ele continua na luta para<br />
vencê-la. Hoje, Emmerson é faixa azul da<br />
equipe Checkmat Jiu Jitsu.<br />
“Uma vida saudável inclui praticar esportes<br />
e se alimentar corretamente. No meu caso,<br />
isso diminui também os sintomas da ataxia.<br />
Então procuro ter uma vida de atleta mesmo,<br />
pelo menos na alimentação. E a palavra para<br />
encarar as dificuldades diárias é adaptação”.<br />
Com uma vida ativa nos esportes, essa adaptação<br />
se tornou ainda mais tranquila: “Sempre<br />
fui adepto ao esporte. Toda vida pratiquei. Quando era<br />
adolescente, fiz futebol e basquete, além das experiências<br />
nas artes marciais: fiz capoeira, karatê (uechi ryu), muay<br />
thai e jiu jitsu, e até me arrisquei no surf”.<br />
O SÁBIO<br />
Em 2006, quando foi morar no Rio de Janeiro, conheceu<br />
a arte suave. Na época, a passagem<br />
foi breve, apenas três meses, contudo<br />
em 2015 retornou ao esporte e não o<br />
abandonou mais. “Retornei por meio de<br />
um amigo e atual mestre. Nos encontramos<br />
na academia, comentei sobre<br />
o diagnóstico e ele me falou sobre<br />
como o jiu jitsu poderia me ajudar.<br />
No outro dia, fui lá treinar e até hoje<br />
estou amarradão. Pretendo estar com<br />
80 anos usando armadura ainda”.<br />
O jiu jitsu, sem sombra de dúvidas,<br />
oferece diversos benefícios aos<br />
seus praticantes e, no caso do<br />
Emmerson, não poderia ser diferente.<br />
A arte suave mostra um caminho para<br />
o seu cotidiano.<br />
“O jiu jitsu é tão importante na minha<br />
luta diária contra os sintomas da ataxia,<br />
que posso dizer: tudo o que faço hoje<br />
é devido aos benefícios que o jiu jitsu<br />
me proporcionou e proporciona. Antes<br />
de treinar, eu estava limitado a fazer<br />
musculação todo dia, pois a deficiência<br />
afeta muito o equilíbrio.<br />
Então, esporte em pé nem cogitava.<br />
Como no jiu jitsu mais de 90% da luta<br />
é no chão, é perfeito, pois não fico preocupado<br />
em cair. Ao praticar jiu jitsu,<br />
consegui fortalecer muito a região<br />
do abdômen e do quadril, também<br />
26 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
Foto: Jack Taketsugo<br />
Emmerson Leandro competindo e superando não só o adversário, mas também as dificuldades rotineiras causadas pela ataxia.<br />
Essa patologia<br />
não tem cura e nenhum<br />
remédio ainda,<br />
deve ser pelo<br />
fato de ser rara e<br />
desconhecida”.<br />
melhorei minha flexibilidade. Este<br />
é um local especial para mim, em<br />
que fiz e faço muitas amizades no<br />
tatame”.<br />
O campeão vai além e enfatiza: “Fiquei<br />
muito mais forte mentalmente<br />
depois do jiu jitsu. Hoje, quando<br />
tenho uma dificuldade, olho para<br />
ela dou risada. Não me desespero”.<br />
E emenda: “Nunca imaginei que<br />
voltaria a competir em qualquer<br />
esporte por causa da deficiência.<br />
Quando comecei a entrar nos campeonatos,<br />
todavia, vi que a deficiência<br />
pouco importava. Era só questão de<br />
adaptação”.<br />
A arte suave está se firmando entre<br />
os esportes para os para-atletas. Com<br />
isso, os organizadores devem estar<br />
atentos às necessidades deste público.<br />
Em 2017, Emmerson participou<br />
do Internacional Pro, realizado pela<br />
UAE Jiu-Jitsu Federation (UAEJJF),<br />
em que conquistou duas medalhas.<br />
Ao falar sobre o suporte dado aos<br />
para-atletas, dispara: “O melhor<br />
campeonato de que já participei<br />
foi o da UEAJJF, em 2017. Não só<br />
pelo fato de ter a categoria para-jiu<br />
jitsu, mas sim pela organização do<br />
evento, que dispensou total atenção<br />
aos para-atletas”.<br />
Para a temporada de <strong>2018</strong>, o atleta<br />
sonha: “Pretendo ir para Abhu Dhabi,<br />
lutar o mundial de para-jiu jitsu. Se<br />
não acontecer, quero começar um<br />
projeto para ensinar deficientes<br />
físicos a praticar jiu jitsu ou surf”.<br />
Quando questionado sobre ter se<br />
sentido mal ao praticar algum esporte<br />
de combate, Emmerson esclarece:<br />
“Nunca tive nenhum problema de<br />
saúde nas lutas. O único problema<br />
era a emoção de estar competindo<br />
de igual para igual com pessoas sem<br />
deficiência”. Diante desta declaração<br />
qual sua desculpa para não ir treinar<br />
hoje mesmo?<br />
Superação é a palavra que move<br />
Emmerson Leandro Lopes. Seja<br />
como o nosso entrevistado: legítimo<br />
exemplo de guerreiro, em todos os<br />
aspectos da vida, inclusive nos esportes<br />
de combate. Vista sua armadura<br />
e vença hoje e sempre. Oss.<br />
Nunca imaginei<br />
que voltaria a competir<br />
em qualquer<br />
esporte por causa<br />
da deficiência.<br />
Quando comecei a<br />
entrar nos campeonatos,<br />
todavia, vi<br />
que a deficiência<br />
pouco importava.<br />
Era só questão de<br />
adaptação”.<br />
BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 27
ABRINDO O JOGO<br />
LEANDRO BRASSOLOTO ENSINA COMO ANULAR A DA DE LA RIVA<br />
O campeão Mundial Leandro Brassoloto, representante<br />
da equipe Atos Jiu Jitsu, é formado pelo casca grossa,<br />
Ramon Lemos. Nesta edição, ensinará como passar a<br />
guarda De La Riva e contra-atacar com armlock.<br />
Na posição, o faixa preta mostra como anular a progressão<br />
da De La Riva, quando o adversário segura o pé e<br />
domina a gola.<br />
PASSO 3: Estique a perna; atente-se para o detalhe:<br />
calcanhar no chão e dedão do pé para cima, para matar<br />
o gancho da guarda.<br />
3.<br />
PASSO 1: A posição começa da guarda De La Riva com o<br />
adversário segurando o pé e dominando a gola.<br />
1.<br />
PASSO 4: Flexione a perna apontando o joelho para fora,<br />
assim o adversário não voltará com o gancho. Segure o<br />
pano bem no meio do braço do adversário da mão que<br />
está segurando no pé. Atenção ao detalhe: é importante<br />
não soltar a perna do outro lado.<br />
4a.<br />
PASSO 2: Estoure a pegada da gola para conseguir começar<br />
a trabalhar a passagem.<br />
2.<br />
28 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
4b. 6b.<br />
PASSO 5: Após dominar o braço, solte a perna e faça a<br />
pegada por dentro no barbante da calça.<br />
5.<br />
PASSO 7: A posição terminar partindo para o ataque<br />
de armlock.<br />
7a.<br />
PASSO 6: Faça postura, e simultaneamente puxe o braço<br />
para cima e projete o quadril do adversário para o outro<br />
lado, posicionando o joelho na barriga.<br />
6a.<br />
7b.<br />
BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 29
FERAS DO MMA<br />
UFC 223: DOIS CINTURÕES EM DISPUTA E UM <strong>BRASIL</strong>EIRO NO CARD<br />
Kleber Santos<br />
contato@ferasdomma.com.br<br />
Opróximo evento do Ultimate Fighting Championship<br />
(UFC) será realizado no dia 7 de<br />
abril, no Barclays Center, Nova York (EUA). No<br />
octógono, serão 13 lutas, sendo a principal<br />
entre Tony Ferguson e o russo Khabib Nurmagomedov,<br />
pela categoria dos leves. O co-main event será a revanche<br />
de Rose Namajunas contra Joanna Jedrzejczyk, ex-campeã<br />
da categoria palha feminino. O Brasil terá apenas um<br />
representante no card: Renato Moicano desafia o norte-<br />
-americano Calvin Kattar, peso pena. A quarta luta mais<br />
importante será o ex-campeão peso leve da entidade,<br />
Anthony Pettis, contra Michael Chiesa.<br />
No main event, Tony Ferguson defenderá a invencibilidade<br />
de 10 lutas e fará a segunda defesa do cinturão<br />
interino. Dana White ainda não confirmou, mas tudo leva<br />
a crer que este duelo será válido pelo cinturão linear,<br />
visto que Conor McGregor não luta desde dezembro de<br />
2016, quando conquistou o título ao bater Eddie Alvarez.<br />
Aos 34 anos e contabilizando 10 anos de MMA, o norte-<br />
-americano está na sua melhor fase. Das últimas seis<br />
lutas, conseguiu cinco vezes o bônus de luta da noite<br />
ou performance da noite. Na carreira, ganhou de nomes<br />
importantes, como Rafael dos Anjos e Edson Barboza.<br />
Aos 29 anos, Khabib Nurmagomedov terá seu principal<br />
desafio na carreira, que não poderia ter sido melhor em<br />
questão de resultado. São 25 lutas e 25 vitórias, sendo<br />
que 9 pela organização comandada por Dana White. A<br />
primeira chance de disputar o cinturão no UFC, em que<br />
luta desde 2012, parece ter sido dada tarde, mas pesaram<br />
as séries de contusões. O lutador passou 2 anos sem<br />
lutar, entre 2014 e 2016. E um ano entre a antepenúltima<br />
e penúltima luta. Agora, parece que o físico está em<br />
perfeito estado; prova, disso é que, na luta de dezembro<br />
contra Barboza, bateu o peso, um feito importante já que<br />
falhou em outras duas oportunidades.<br />
LUTA MUITO ESPERADA<br />
O desafio entre o norte-americano e o russo é um<br />
dos mais aguardados, literalmente, no UFC. É a quarta<br />
luta marcada entre ambos. Na primeira, Ferguson era<br />
esperado para encarar Khabib no dia 11 de dezembro<br />
de 2015, no TUF 22 Finale. Porém, Nurmagomedov<br />
fraturou a costela em um treino e Edson Barboza foi<br />
escolhido como substituto. Por sua vez, o combate com<br />
Nurmagomedov foi reprogramado para acontecer em 16<br />
de abril de 2016, no UFC on Fox 19, mas 11 dias antes,<br />
Ferguson saiu da luta devido a problemas pulmonares.<br />
Ele foi substituído pelo recém-chegado Darrell Horcher. O<br />
emparelhamento entre os dois foi agendado pela terceira<br />
vez no UFC 209, no dia 4 de março de 2017, mas antes<br />
das pesagens Nurmagomedov foi hospitalizado devido<br />
aos efeitos negativos de seu corte de peso. Resultado:<br />
luta cancelada novamente. Agora, é a vez de provarem<br />
que toda esta espera valeu a pena.<br />
REVANCHE ENTRE AS MULHERES<br />
O duelo entre a norte-americana Rose Namajunas e a<br />
polonesa Joanna Jedrzejczyk promete ser um dos mais<br />
agitados do card. No confronto de novembro do ano passado,<br />
o feito de Namajunas foi incrível. Além de conseguir<br />
o cinturão do Palha feminino, Rose derrubou o reinado<br />
invicto de Joanna de 14 lutas, que nunca havia perdido<br />
no MMA. Foi uma vitória surpreendente, não apenas<br />
pelo resultado, mas pela forma como foi conquistada. A<br />
norte-americana conseguiu um nocaute técnico depois<br />
de um massacre de socos, pouco de mais de três minutos<br />
de luta, tornando-se a mais jovem campeã da história<br />
do UFC (25 anos).<br />
O combate servirá também para Rose Namajumas provar<br />
que não estava apenas numa noite inspirada, mas que<br />
está em uma nova fase na carreira. Isso, pois, até a luta<br />
pelo cinturão, Rose havia conseguido seis vitórias, mas<br />
três derrotas, sendo a mais recente na antepenúltima<br />
luta. Pelo lado da polonesa, o combate servirá para<br />
tentar reconquistar o domínio na categoria e apagar o<br />
pesadelo da última derrota.<br />
CARD DO UFC 223<br />
Tony Ferguson x Khabib Nurmagomedov<br />
Rose Namajunas x Joanna Jedrzejczyk<br />
Calvin Kattar x Renato Moicano<br />
Michael Chiesa x Anthony Pettis<br />
Paul Felder x Al Iaquinta<br />
Felice Herrig x Karolina Kowalkiewicz<br />
Ray Borg x Brandon Moreno<br />
Evan Dunham x Olivier Aubin-Mercier<br />
Devin Clark x Mike Rodriguez<br />
Chris Gruetzemacher x Joe Lauzon<br />
Ashlee Evans-Smith x Bec Rawlings<br />
Alex Caceres x Artem Lobov<br />
Kyle Bochniak x Zabit Magomedsharipov<br />
BC<br />
30 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
OS INFLUENTES<br />
DO INSTAGRAM<br />
@JIUJITSU_<strong>BRASIL</strong>: A página foi criada em<br />
junho de 2014, com o intuito de ajudar e incentivar<br />
as pessoas a praticarem jiu jitsu. Hoje<br />
é uma das maiores páginas de jiu jitsu do Brasil<br />
e tem cumprido sua principal missão: divulgar<br />
a verdadeira filosofia da arte suave.<br />
@JIUJITSUVICIADOS: A missão do perfil é<br />
apoiar os seguidores, com a divulgação de<br />
seus trabalhos e apresentação de vídeos com<br />
posições e novidades a respeito do jiu jitsu.<br />
Isso, para fornecer um serviço de qualidade,<br />
respeitando todas as equipes.<br />
@LUTADORASDEJIUJITSU: Criado há quase<br />
três anos para incentivar e propagar o esporte<br />
entre as mulheres, por meio de postagens de<br />
fotos, divulgando lutadoras jiujiteiras, que estão<br />
conquistando seu espaço e seu valor dentro<br />
da arte suave.<br />
@BJJOLDSCHOOL: Jiu Jitsu Old School é uma<br />
página dedicada a todos os amantes da arte<br />
suave, que tem o jiu jitsu como um verdadeiro<br />
estilo de vida. Há vídeos e publicações de todas<br />
as melhores academias, atletas, profissionais e<br />
professores do mundo.<br />
@TATAME4GIRLS: Dedicado à divulgação do<br />
jiu jitsu feminino. Disponibiliza dicas de nutrição,<br />
técnicas de luta, divulgação de atletas<br />
e campeonatos e tem como principal objetivo<br />
mostrar que o jiu jitsu é um esporte que se adequa<br />
perfeitamente às características femininas.<br />
@JIUJITSUDAQUI: O canal objetiva divulgar<br />
as equipes, atletas e campeonatos da região<br />
Centro Oeste do Brasil, para tornar conhecido<br />
o jiu jitsu de alto nível da capital federal e do<br />
entorno.<br />
106K<br />
seguidores<br />
89,7K<br />
seguidores<br />
55,7K<br />
seguidores<br />
29,8K<br />
seguidores<br />
12,2K<br />
seguidores<br />
3,4K<br />
seguidores<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 31
A FADIGA MUSCULAR é responsável por<br />
causar lesões musculoesqueléticas e reduzir<br />
a capacidade de gerar força, podendo ou<br />
não estar associada a dor”.<br />
32 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
FISIOTERAPIA<br />
ESPORTIVA<br />
Jéssica Máximo<br />
Fisioterapeuta e judoca<br />
jessicamaximo23@gmail.com<br />
FADIGA MUSCULAR:<br />
O QUE VOCÊ PRECISA SABER.<br />
C<br />
omo prometido anteriormente,<br />
o assunto<br />
desta edição é fadiga<br />
muscular (FM), aquela<br />
famosa sensação de cansaço ou<br />
fraqueza muscular, fenômeno frequente<br />
nas atividades esportivas<br />
e muito comum após atividades<br />
de grande esforço físico — além do<br />
que o seu músculo está habituado.<br />
Você deve estar se perguntando: o<br />
que é necessário saber sobre este<br />
assunto? O que isso influenciará<br />
nos treinos? De forma simples e<br />
objetiva, a FM é responsável por<br />
causar lesões musculoesqueléticas<br />
e reduzir a capacidade de gerar<br />
força, podendo ou não estar associada<br />
a dor.<br />
DICA 1: umas<br />
1.<br />
das terapias<br />
mais eficazes<br />
para controlar<br />
e/ou amenizar<br />
a fadiga muscular é a imersão em<br />
crioterapia após os treinos, por pelo<br />
menos 15 minutos, com temperatura<br />
variando entre 10°C e 15°C. Pode-<br />
-se usar um tonel, banheira ou até<br />
piscina de 1000L. Vale ressaltar que<br />
a imersão deve ser feita sempre<br />
após a atividade física, pois tem<br />
efeito anti-inflamatório, e nunca<br />
antes dela.<br />
DICA 2: massagem<br />
desportiva<br />
2.<br />
e liberação miofascial.<br />
A fáscia<br />
é uma lâmina<br />
extremamente resistente e elástica,<br />
que recobre e dá sustentação para<br />
todos os músculos, permitindo o seu<br />
deslizamento. Assim, quando o nível<br />
de tensão muscular está elevado, os<br />
músculos perdem o deslizamento<br />
ideal, o arco de movimento, a força<br />
de contração e ficam fadigados,<br />
acumulando toxinas nocivas ao seu<br />
desempenho. Algumas técnicas que<br />
ajudam a “dissolver” e a eliminar<br />
essas tensões são a massagem<br />
desportiva e a liberação miofascial,<br />
que pode ser feita utilizando um<br />
rolo de liberação, halter, bolas de<br />
tênis ou bolas mais densas, como<br />
na imagem abaixo. Seu custo é um<br />
pouco mais acessível.<br />
A liberação deve ser feita de forma<br />
progressiva, lenta e por grupamento<br />
muscular. Não é interessante impor<br />
um tempo para cada músculo, pois<br />
é subjetivo: um dia sua musculatura<br />
pode estar mais cansada que no<br />
dia anterior, por isso é importante<br />
se perceber, reparando melhora<br />
gradual nos pontos mais doloridos,<br />
e assim por diante. Tanto o rolo de<br />
liberação como as bolas de tênis<br />
ou as bolas mais duras se complementam:<br />
pode-se começar com o<br />
rolo, que é mais superficial, depois<br />
passar para o halter, pressionando<br />
e deslizando o grupo muscular que<br />
você desejar, como na figura abaixo<br />
(essa liberação é mais profunda e<br />
dolorosa).<br />
Talvez algum ponto específico do<br />
seu corpo esteja mais dolorido que<br />
o normal. Na fisioterapia, chamamos<br />
esses locais de trigger points<br />
ou pontos gatilhos. Para aliviá-los,<br />
pode-se pressionar este ponto por<br />
cerca de 1min a 1,5min, o que ajuda<br />
a diminuir a tensão e a dor, por<br />
conta do estímulo mecânico contra<br />
essa região.<br />
DICA 3: ventosaterapia.<br />
Com-<br />
3.<br />
plementando as<br />
demais dicas, a<br />
ventosa objetiva<br />
melhorar o fluxo sanguíneo local,<br />
inibir e relaxar os pontos gatilhos e<br />
liberar os tecidos profundos.<br />
Todas essas dicas podem e devem<br />
ser realizadas em conjunto, e após<br />
os treinos.<br />
Até a próxima sessão, bons treinos.<br />
Instagram: @maximofisioterapia<br />
BC<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 33
Fotos: Jack Taketsugu/Brasil Combate<br />
foto@brasilcombate.com.br<br />
COBERTURA: BRASÍLIA GOLDEN CUP<br />
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COBERTURA: BRASÍLIA GOLDEN CUP - EM BRASÍLIA<br />
Março de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 35
36 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Março de <strong>2018</strong>
COBERTURA: BRASÍLIA GOLDEN CUP -<br />
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