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Revista LiteraLivre 9ª edição

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

9ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 9nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 9 – Maio/Jun de 2018<br />

Líquidos de mau cheiro passavam por baixo do muro, invadindo o ambiente<br />

circundante, como um câncer atacando a vida da cidade. Nas caves das casas<br />

circundantes, corriam fluidos cheirosos e corrosivos.<br />

Agora a fábrica é uma ruína de arqueologia industrial, abandonada. Para uma<br />

geração inteira de jovens, os tempos dourados de sua existência não são nem<br />

um lembrete. Um projeto de demolição integral está pendente, para construir um<br />

novo bairro residencial. A muralha continua sendo a fronteira entre a vida<br />

cotidiana e a irrealidade, entre a cidade e o pesadelo que é a "negação" mesma<br />

da cidade. Atrás daquela muralha, após o fechamento da fábrica, o pior pesadelo<br />

da cidade de hoje apareceu: um campo precário de nômades deserdados. A<br />

exclusão tomou o lugar da prisão, a pobreza absoluta dos novos clandestinos tem<br />

substituído o trabalho assalariado. Um quilômetro de fronteira, como uma<br />

membrana osmótica, separou nos últimos anos a vida urbana e o quarto mundo<br />

dos excluídos. Uma barreira impermeável e opaca para os milhares de motoristas<br />

que todos os dias seguiam pela avenida. Talvez em alguns anos, por trás desse<br />

muro, haverá prédios e shopping centres, então a barreira acabará por ser<br />

afastada. Um bairro inteiro, que hoje vive dividido em dois, como assediado, vai<br />

respirar um suspiro de alívio. Os marginais serão transferidos para algum outro<br />

"buraco negro" no território extra-urbano. A fronteira da humanidade vai mudar,<br />

alguns quilômetros apenas para além.<br />

No outro extremo da cidade, uma comunidade de intocáveis colonizou um<br />

ilhote quase inalcançável ao longo do rio, acessado por um caminho estreito que<br />

se aproxima de um pequeno cemitério da periferia e passa na escarpa sob a<br />

ponte da rodovia. Você pode caminhar apenas a pé ou de bicicleta até alcançar<br />

um fluxo de água, atravessado por uma pontinha. É como uma viagem de<br />

iniciante que faz você ir à descoberta de um mundo secreto.<br />

Além da ponte, quando o rio não está cheio, um pequeno grupo de pessoas<br />

vive como no início do mundo, entre florestas, água e mosquitos, em uma antiga<br />

casa abandonada. Não é a ilha de Avalon, se parece mais aos leprosários dos<br />

tempos remotos.<br />

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