TEOLOGIA BÍBLICA generos literarios
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<strong>TEOLOGIA</strong> <strong>BÍBLICA</strong><br />
GÊNEROS LITERÁRIOS DO ANTIGO<br />
TESTAMENTO<br />
Mateus e Lucas nos preservam a<br />
história da tentação de Jesus. Uma das<br />
tentações que Jesus enfrentou foi a<br />
tentação daquilo que é espetacular:<br />
lançar-se do pináculo do templo.<br />
Como parte desta tentação, o diabo<br />
tratou de convencer a Jesus citando o<br />
Salmo 91: “Porque aos seus anjos dará<br />
ordem a teu respeito, para te guardarem<br />
em todos os teus caminhos.”<br />
Não obstante, Jesus rejeitou a tentação:<br />
“Não tentarás ao Senhor teu Deus”.<br />
Jesus reconheceu que a Escritura citada<br />
por Satanás não era uma promessa dada<br />
ao Filho de Deus, mas que era uma<br />
expressão poética da proteção de Deus<br />
dada para todos os crentes.<br />
Não é uma garantia literal que o Messias,<br />
ou ainda o crente, não sofrerá algum
dano neste mundo. Jesus entendeu a<br />
importância de se saber o gênero literário<br />
de uma passagem bíblica para<br />
compreendê-la e aplicá-la à vida.<br />
Igualmente, nos ajudará<br />
compreender os diversos tipos de gêneros<br />
literários da Bíblia e reconhecer as<br />
formas literárias que contém cada<br />
gênero.<br />
Quais são as diferentes formas de<br />
literatura bíblica?"<br />
Resposta: Um dos fatos mais intrigantes<br />
sobre a Bíblia é que, embora seja a<br />
comunicação de Deus, seres humanos<br />
participaram do processo de escrita.<br />
Como Hebreus 1:1 diz: "Havendo Deus,<br />
outrora, falado, muitas vezes e de muitas<br />
maneiras, aos pais, pelos profetas."<br />
As "muitas maneiras" incluem diferentes<br />
gêneros literários.<br />
Os escritores humanos da Bíblia usaram<br />
diferentes formas de literatura para
comunicar mensagens diferentes em<br />
momentos diferentes.<br />
A Bíblia contém literatura histórica (1 e<br />
2 Reis), literatura dramática (Jó),<br />
documentos legais (muito do Êxodo e<br />
Deuteronômio), letras de músicas<br />
(Cantares e Salmos), poesia (a maioria de<br />
Isaías), literatura de sabedoria<br />
(Provérbios e Eclesiastes), literatura<br />
apocalíptica (Revelação e partes de<br />
Daniel), sermões (como registrados em<br />
Atos), discursos e proclamações (como<br />
os do rei Nabucodonosor em Daniel),<br />
orações (muitos salmos), parábolas (tais<br />
como as ditas por Jesus), e epístolas<br />
(Efésios e Romanos).<br />
Os diferentes gêneros podem se<br />
sobrepor. Muitos dos salmos, por<br />
exemplo, são também orações.<br />
Algumas das epístolas contêm poesia.<br />
Cada tipo de literatura tem<br />
características únicas que devem ser<br />
abordadas com a devida consideração.
Interpretar poesia, com a sua<br />
dependência em metáforas e outros<br />
dispositivos poéticos, é diferente de<br />
interpretar narrativa histórica.<br />
GÊNEROS LITERÁRIOS E A HISTÓRIA<br />
DAS FORMAS<br />
A formação da Bíblia hebraica tem uma<br />
longa história.<br />
A religião de Israel não se iniciou com<br />
um livro escrito.<br />
Há muito tempo da história de Israel suas<br />
tradições religiosas se encontraram em<br />
uma forma oral e em conexão com as<br />
instituições ou celebrações específicas.<br />
Logo foram escritas para serem<br />
preservadas, e assim, estabelecer<br />
uniformidade nas tradições do povo e<br />
para formar uma grande obra utilizando<br />
várias tradições que se aplicam ao tema.
A história das formas é o estudo do<br />
desenvolvimento das formas literárias<br />
breves do Antigo Testamento.<br />
Tem como objetivo fixar cada forma<br />
distinta em seu contexto sóciohistórico<br />
original.<br />
Assim se explica melhor sua significação<br />
e esclarece a vida social e cultural de<br />
Israel.<br />
Os gêneros literários do Antigo<br />
Testamento se dividem em seis classes<br />
gerais de literatura:<br />
Poesia cultual, escritos legais, e as<br />
literaturas históricas, proféticas,<br />
sapiencial e apocalíptica.<br />
Dentro de cada classe se identificam<br />
vários gêneros específicos que se<br />
originaram em situações distintas.<br />
POESIA CULTUAL
A poesia cultual do Antigo Testamento se<br />
encontra majoritariamente no livro de<br />
Salmos, porém não se limita a este livro.<br />
Por exemplo, há poemas semelhantes em<br />
Lamentações, Jeremias, Jonas, Isaías<br />
40-66 e Jó.<br />
Estes textos mostram que o culto de<br />
Israel tinha várias cerimônias que<br />
utilizaram linguagem poética para<br />
expressar a comunhão entre o adorador e<br />
Deus.<br />
Falando sobre a maneira como esta<br />
coleção de 150 poemas disseca o nosso<br />
interior, João Calvino declarou:<br />
Fui acostumado a chamar este livro, e<br />
penso que não inadequadamente, de<br />
“uma anatomia de todas as partes da<br />
alma”, pois não há qualquer emoção, da<br />
qual qualquer um pode estar consciente,<br />
que não esteja aqui representada como<br />
num espelho. Ou melhor, o Espírito<br />
Santo tem aqui atraído para a vida todos<br />
os sofrimentos, tristezas, medos,
dúvidas, esperanças, preocupações,<br />
perplexidades, enfim, todas as emoções<br />
dispersas e existentes, pelas quais a<br />
mente dos homens esta acostumada a ser<br />
agitada.<br />
Martinho Lutero, também nessa linha<br />
de pensamento, narrando como os<br />
Salmos são capazes de revelar o céu ou o<br />
inferno do coração dos servos de Deus,<br />
escreveu:<br />
Ali podes contemplar o coração de todos os<br />
santos, como belo e delicioso jardim, ou<br />
antes como o céu, e ver como nele brotam<br />
delicadas, encantadoras e deliciosas<br />
flores de toda sorte de belos e felizes<br />
pensamentos sobre Deus e sua bondade.<br />
Onde encontrarás palavras mais<br />
profundas, mais sofridas, mais cheias de<br />
tristeza que as lamentações dos<br />
salmos? Aqui mais uma vez penetras no<br />
coração de todos os santos como na morte,<br />
ou antes como no inferno, e vês como tudo<br />
é tenebroso e escuro diante da visão da ira<br />
de Deus. Também quando falam de temor<br />
ou de esperança usam tais palavras como
nenhum pintor que representa o temor e a<br />
esperança foi, é ou será capaz de fazer. E<br />
o melhor de tudo é que falam tais palavras<br />
sobre Deus e com Deus...<br />
Algumas cerimônias se fixaram em<br />
certos tempos do ano quando todo o<br />
povo celebrou um evento histórico ou<br />
uma festa agrária.<br />
Outros ritos do culto mostraram fases<br />
diferentes da vida humana: nascimento,<br />
circuncisão, matrimônio e morte.<br />
Outros se observaram em momentos de<br />
crise do indivíduo (enfermidades,<br />
dúvidas, etc.) ou da comunidade (seca,<br />
invasão, etc.)<br />
Cada evento no culto tinha seus<br />
próprios gêneros poéticos.<br />
Podemos encontrar Salmos que se<br />
originaram nos tempos do segundo<br />
templo, outros que vieram da época<br />
anterior ao primeiro templo e outros
que são de datas intermediárias entre<br />
os dois.<br />
O livro de Salmos mostra uma longa<br />
história em sua composição e sua<br />
coleção, porém, em cada coleção<br />
aparecem todos os gêneros.<br />
“Em vez de ser a palavra direta de Deus<br />
para o povo, os Salmos contêm as<br />
expressões de fé em Deus e as reações à<br />
auto-revelação de Deus em palavras e<br />
ações. Ao mesmo tempo, devemos<br />
entender que estas orações e hinos<br />
oferecidos a Deus também são a palavra<br />
de Deus para os homens e mulheres,<br />
embora em sentido indireto”.<br />
Lamentos e canções funerais<br />
O lamento, tem um metro poético único<br />
em hebraico: cada línea contém cinco<br />
silabas com acentos.<br />
Este gênero se compõe de
1) Expressões de pesar e dor que começa<br />
com Ai! Ou Como! (2 Samuel.<br />
1.25,27;Jeremias 22.18);<br />
2) descrições de uma catástrofe ( 2<br />
Samuel 1.19);<br />
3) lembranças do bem estar ou poder<br />
anteriores (2 Samuel 1.22,23);<br />
4) lamentos chorosos ( 2 Samuel 1.24); e<br />
, as vezes,<br />
5) súplicas submissas (Lamentações<br />
1.21,22).<br />
Ainda que todos os elementos não<br />
apareçam em cada lamento, há<br />
suficientes lamentos para fixar sua forma<br />
normal.<br />
Os lamentos bíblicos mais conhecidos<br />
são 2 Samuel 1.19-27; Amós 5.1-3;<br />
Ezequiel 19 e Lamentações.<br />
Queixas
Gerstenberger prefere nomear os<br />
textos como o Salmo 22 ou Jeremias<br />
20.7-13 queixas em vez de lamentos.<br />
Esses poemas expressam um súplica<br />
antes de que caírem a catástrofe final.<br />
Eles refletem a dor que sofre o indivíduo<br />
e a esperança com que ainda pode dirigirse<br />
para Deus que ele responderá com<br />
liberação de doenças, inimigos ou outras<br />
aflições pessoais. Toda a comunidade<br />
pode utilizar a queixa ante a ameaça de<br />
seca, invasão, praga ou alguma maldade<br />
que sofre o povo em geral (por exemplo,<br />
Salmos 25). Assim a comunidade<br />
consulta a Deus pedindo sua ajuda e<br />
espera sua ação salvadora.<br />
Os elementos deste Gênero são:<br />
1) A invocação a Deus (Salmos 22.1a);<br />
2) a queixa que descreve ou pede (Salmo<br />
22.1b,2);<br />
3) A confissão de pecado ou protesto de<br />
inocência (Salmos 51.3-5; 59.3,4);
4) A declaração de confiança (Salmos<br />
22.4,5,9,10);<br />
5) A súplica de ajuda (Salmo 22.19,20);<br />
6) A imprecação contra os inimigos<br />
(Salmos 59.5, 10-13);<br />
7) O reconhecimento da resposta divina<br />
(Salmo 22.21:dos chifres dos búfalos;<br />
sim, tu me respondes.);<br />
8) o voto (Salmos 22.22; 56.12);<br />
9) A benção ou elementos hínicos (Salmos<br />
22.3; 57.11);<br />
10) A antecipação da ação de graças<br />
(Salmo 22.22-27).<br />
Os elementos mais importantes deste<br />
gênero são a súplica e a imprecação<br />
contra aos inimigos.<br />
Os salmos imprecatórios (salmos 7, 12,<br />
35, 58, 59, 69, 70,<br />
83, 109, 137, 140) possuem uma<br />
linguagem forte: “Ó Deus, quebra-lhes os<br />
dentes na boca” (Sl 58.6); “Consome-os<br />
com indignação, consome-os, de sorte<br />
que jamais existam” (Sl 59.13); “Filha da<br />
Babilônia, que hás de ser destruída, feliz
aquele que te der o pago do mal que nos<br />
fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos<br />
e esmagá-los contra a pedra.” (Sl 137.8-<br />
9); “Caiam sobre eles brasas vivas, sejam<br />
atirados ao fogo” (Sl 140.10).<br />
Tais palavras geram um questionamento:<br />
será que esses salmos não vão de<br />
encontro à ética do Novo Testamento de<br />
amar os nossos inimigos (Mt 5.22, 44)?<br />
-A natureza dos salmos Imprecatórios<br />
-O contexto dos salmos imprecatórios –<br />
salmo 137 (EMPALAMENTO<br />
BABILONICO)<br />
-O uso dos salmos<br />
imprecatórios<br />
Para respondermos ao dilema ético e<br />
encontrarmos o valor das imprecações é<br />
preciso ponderar alguns elementos<br />
desses salmos.<br />
A linguagem extremamente explícita –<br />
que para alguns estudiosos é hiperbólica<br />
– expressa o grau de perturbação<br />
emocional sentida pelo salmista.
Expressá-las ao Senhor não é uma<br />
atitude necessariamente pecaminosa.<br />
É verdade que elas poderiam resultar de<br />
motivações pecaminosas (veja a<br />
preocupação de Davi no Salmo 139.19-<br />
24). Porém, elas estão inseridas em<br />
orações, petições.<br />
Elas não são relatos de ações iradas e<br />
vingativas.<br />
O pedido desses salmistas não é o de<br />
fazerem justiça com as próprias mãos, até<br />
mesmo porque a vingança pessoal era<br />
condenada desde o Pentateuco (Lv<br />
19.18), mas de deixar a vingança com o<br />
Senhor (Dt 32.35; Pv 25.21-22; Rm 12.9,<br />
20-21).<br />
A indignação deles é lícita pois resulta de<br />
opressões injustas. Mais do que isso, ela<br />
provém não só de um interesse próprio,<br />
mas de um zelo pela honra de Deus.<br />
Afinal, é o povo de Deus que estava sendo<br />
oprimido, e o Senhor tem grande ciúme<br />
do seu povo (Zc 2.8-9).
Por isso as imprecações não são<br />
contrárias ao ensinamento de Jesus.<br />
Gordon Fee e Douglas Stuart fazem uma<br />
distinção entre a prática do amor e sentir<br />
amor. É o que você faz por alguém, não<br />
o que você sente por alguém que<br />
determina o seu amor.<br />
Cristo nos exortou a praticar o amor, não<br />
sentir amor.<br />
É lícito expressarmos nossa ira diante de<br />
Deus e ainda continuar a praticar amor<br />
para com os nossos inimigos.<br />
Uma das melhores evidências de que os<br />
salmos imprecatórios não são expressão<br />
de um coração amargurado e pecaminoso<br />
é que até os santos no céu, onde não pode<br />
deixar de haver santidade (Hb 12.15),<br />
clamam “até quando? ”.<br />
Em Apocalipse 6.9-11 está escrito:<br />
Quando ele abriu o quinto selo, vi,<br />
debaixo do altar, as almas daqueles que<br />
tinham sido mortos por causa da palavra<br />
de Deus e por causa do testemunho que<br />
sustentavam. Clamaram em grande voz,
dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor,<br />
santo e verdadeiro, não julgas, nem<br />
vingas o nosso sangue dos que habitam<br />
sobre a terra? Então, a cada um deles foi<br />
dada uma vestidura branca, e lhes<br />
disseram que repousassem ainda por<br />
pouco tempo, até que também se<br />
completassem o número dos seus<br />
conservos e seus irmãos que iam ser<br />
mortos como igualmente eles foram.<br />
Observe que quem ora “Até quando? ”<br />
são as almas que já estão santificadas e<br />
se encontram na presença do Senhor.<br />
Não há nada pecaminoso em sua prece.<br />
Assim sendo, pecaminosidade não<br />
resolvida na igreja e no mundo deve<br />
estimular o mesmo clamor em nós.<br />
Devemos nos entristecer pelas divisões<br />
presentes no meio do povo de Deus assim<br />
como Habacuque lamentou as contendas<br />
e o litígio em Judá (veja 1 Co 1.10-17; 3.1-<br />
23; 11.17-22).
Devemos lamentar a violência e as<br />
injustiças recorrentes em nosso país. E<br />
tal lamento deve ser acompanhado de um<br />
anseio por correção, por castigo. Na<br />
verdade, a ausência do anseio próprio de<br />
imprecações é sinal de indiferença para<br />
com o pecado e para com a justiça divina.<br />
“Até quando? ” não deve ser entendida<br />
como desespero, mas como uma oração<br />
esperançosa que provém daqueles que<br />
confiam que Deus resolverá a situação,<br />
como Habacuque esperava. Portanto, a<br />
reclamação de Habacuque é justa. Se o<br />
zelo pela justiça divina cresce à medida<br />
que nos santificamos, então devemos<br />
manifestar o anseio de que o Senhor<br />
Jesus volte não só para nos levar consigo,<br />
mas também para manifestar a sua<br />
justiça.<br />
Há vários eruditos que sugerem que o<br />
Gêneros chama-se “orações de súplicas”.<br />
Contudo, Gerstenberg tem razão em dizer<br />
que as súplicas deste textos “sempre
tratam de mudar uma situação de<br />
injustiça e miséria para uma melhor”.<br />
Por isso, o nome queixa descreve bem o<br />
gênero.<br />
Entre as queixas do Saltério estão os<br />
Salmos 3-7, 9-13,17,22,25-28, 35-<br />
36,54-57,59,69-71,120,130 e 140-143.<br />
Dentro do Saltério há alguns textos em<br />
que um elemento da queixa domina todo<br />
o Salmo.<br />
“A confissão de pecado” domina o Salmo<br />
51 e o Salmo 26 se compõe do “protesto<br />
de inocência”.<br />
Há tantos salmos que consistem da<br />
“declaração de confiança” que quase<br />
forma um gênero próprio, Hinos de<br />
Confiança. Entre esta classe se<br />
encontram os Salmos 23,4,11,16,62 e<br />
131.<br />
Hinos de Adoração<br />
Os hinos de adoração celebram a<br />
Deus por várias causas: seu papel como<br />
criador, seu senhorio sobre a história,
sua superioridade de poder e sua<br />
excelência em todas as coisas.<br />
Estes temas diversos expressam-se<br />
mediante uma forma que mostra<br />
elementos comuns:<br />
1) Invocação a Deus (Salmo 8.1);<br />
2) Chamado para adorar (Salmos 115.18;<br />
117.1);<br />
3) Louvores a Deus por suas qualidades,<br />
obras ou feitos (Salmos 115.1,15,16);<br />
4) Bençãos ou desejos (Salmos 115.12-<br />
14).<br />
Os hinos babilônicos usavam muitas<br />
vezes umas invocações longas e artísticas<br />
para impressionar aos deuses a fim de<br />
que escutem. É interessante que no<br />
Saltério muitos hinos não contém a<br />
invocação.<br />
As invocações que aparecem são simples.<br />
A invocação do Salmo 18.1-3 é a mais<br />
ostentosa dos Salmos, porém não é<br />
como os da Babilônia.<br />
A maioria dos hinos no Saltério inicia-se<br />
com um chamado a adorar.
É possível que um coro ou o dirigente do<br />
culto o proclamou e as pessoas da<br />
congregação participaram ao cantar os<br />
louvores.<br />
Talvez a melhor maneira de compreender<br />
os chamados que ocorrem no final de um<br />
salmo é que devem ser vistos como um<br />
sinal para que o povo continue cantando<br />
mais outros hinos.<br />
Estes hinos eram utilizados nas festas<br />
anuais de Israel. Dentro destes próprios<br />
salmos se encontram detalhes da música<br />
e a liturgia.<br />
Sua estrutura é de uma apresentação<br />
antífona (versículo que se diz ou se entoa<br />
antes de um salmo ou de um cântico<br />
religioso e depois se canta inteiro ou se<br />
repete alternadamente em coro).<br />
Neste gênero se incluem os Salmos 8, 29,<br />
33, 77, 103-104, 111, 139 e 145-150.<br />
Cânticos de ações de graças<br />
O indivíduo em Israel fez uma promessa<br />
a Deus que faria um sacrifício se este o
livrasse de seu problema ou aflição.<br />
Quando recuperava sua saúde, ou<br />
quando se aproximava sua salvação, o<br />
crente se dirigia até o sacerdote para<br />
pagar seu voto.<br />
O sofrimento ou o perigo se deixava para<br />
trás mediante este culto de sacrifício.<br />
Por isso, o hino de ações de graças se<br />
entoava com alegria e gratidão.<br />
Os elementos deste Gênero são:<br />
1) O convite para louvar a Deus e lhe<br />
render graças (Salmos 66.1-4);<br />
2) O relato de perigo e libertação (Salmo<br />
41.4-9);<br />
3) Louvores a Deus (Salmos 138.4-5);<br />
4) fórmula de ofertas apresentadas em<br />
sacrifício (Salmos 138.1-2);<br />
5) Bênçãos sobre os participantes no<br />
culto (Salmo 32.1-2); e 6) Exortação<br />
(Salmo 32.8-9).<br />
Nos Cânticos de Ações de Graças do<br />
indivíduo observa-se dois tipos de<br />
discurso.
Por um lado, existe um discurso dirigido<br />
a Deus, na forma de oração.<br />
Por exemplo, a fórmula da oferta: Te dou<br />
graças ou Dou graças se dirige a Deus no<br />
momento de oferecer o sacrifício de ações<br />
de graças.<br />
Por outro lado, há um discurso dirigido<br />
aos participantes no culto ou a outros<br />
que observam.<br />
Este discurso bendize, explica e<br />
convida. Os dois tipos de discurso<br />
iluminam a natureza deste tipo de<br />
cerimônia dentro do culto de Israel.<br />
Salmos: canção para a alma<br />
Mateus 26.30<br />
Depois de terem cantado um hino, saíram<br />
para o monte das Oliveiras.<br />
Salmos para o sofrimento<br />
O que você faria hoje se soubesse que<br />
amanhã passaria pelo pior sofrimento de
sua vida? Qual seria a sua atitude se você<br />
tivesse a certeza absoluta de que amanhã<br />
começaria os piores dias de sua<br />
existência?<br />
Houve um dia, na vida de Jesus, quando,<br />
olhando adiante, ele só conseguia ver<br />
coisas absurdas e angustiantes. Seu dia<br />
seguinte seria o dia do Getsêmani; o dia<br />
da depressão, da agonia; o dia da<br />
escuridão da alma; o dia do choro, do<br />
gemido, da solidão profunda. Pior ainda,<br />
seu dia seguinte seria o primeiro dos<br />
últimos dias de sua vida; dias de seu pior<br />
sofrimento.<br />
O que você faria hoje se soubesse que<br />
amanhã passaria pelo pior sofrimento de<br />
sua vida? O que Jesus fez no sofrimento?<br />
Vimos em Mateus 26.30 que ele cantou<br />
um hino.<br />
Depois de terem cantado um hino,<br />
saíram para o monte das Oliveira.
Mas, que hino?<br />
Os estudiosos da tradição bíblica nos<br />
informam que a comunhão da Páscoa<br />
sempre terminava com o cântico dos<br />
“Salmos de Hallel”, que eram compostos<br />
pelos Salmos 113 a 118.<br />
Antes da refeição da Páscoa eles<br />
cantavam os dois primeiros Salmos (Sl<br />
113 e 114).<br />
Após a ceia eles entoavam os quatro<br />
últimos (Sl 115 a 118).<br />
A palavra “hallel” (vem de “aleluia” –<br />
“louvai ao Senhor”) é de origem aramaica.<br />
Significa: “cântico de louvor e exaltação a<br />
Deus”.<br />
São músicas que celebram os<br />
acontecimentos da vida, demonstrando a<br />
alegria de se ter o Senhor como Deus.<br />
Podemos dizer, portanto, que Jesus, na<br />
hora do sofrimento, cantou “salmos para<br />
o sofrimento”.
Para se ter uma ideia do que Jesus<br />
cantou na véspera do seu calvário, leia<br />
comigo os Salmos 115, 116, 117 e 118.<br />
Tenha em mente os sofrimentos que ele<br />
experimentaria a partir do dia seguinte<br />
até a hora de sua morte. Aprenderemos<br />
sobre o tipo de conteúdo que nós<br />
precisaremos na hora do sofrimento.<br />
Canção para a alma<br />
O exemplo de Jesus nos ensina que, na<br />
hora do sofrimento, nada melhor do que<br />
uma canção, uma canção inspirada por<br />
Deus, para nos fortalecer, para nos<br />
aliviar, para nos encorajar com fé e<br />
esperança, e nos encher de amor para<br />
prosseguir.<br />
CONCLUSÃO<br />
Este gênero se apresenta não somente<br />
pelos cânticos de um indivíduo, mas<br />
também pelas Ações de Graças da<br />
comunidade que celebram vitórias de<br />
Israel (Salmos 18; 66; 67; 118 e 129,
igualmente como Êxodo 15.1-9 e Juízes<br />
5).<br />
Salmos reais<br />
No Saltério existe outro gênero que se<br />
distingue por seu conteúdo em vez de sua<br />
forma.<br />
Desde o tempo do erudito Gunkel os<br />
salmos que tocam os temas do rei e de<br />
sua corte se tem chamados de salmos<br />
reais.<br />
Suas formas podem variam entre<br />
queixas, cânticos de ações de graças e<br />
cânticos, porém celebra algo do rei: sua<br />
coroação (Salmos 2,110), seu casamento<br />
(Salmo 45) ou a cidade real (Salmo 132).<br />
O culto popular e a maioria dos salmos<br />
atuais se derivaram do culto real.<br />
Segundo Gerstenberg a situação foi<br />
oposta: O culto antigo de Israel foi de<br />
famílias e clãs.<br />
Logo em seguida, com o desenvolvimento<br />
dos governos de tribos, juízes e reis, o
culto estatal adotou os ritos populares<br />
com seus gêneros poéticos.<br />
Ainda que seja verdade que os salmos<br />
reais mostram uma influência de outras<br />
culturas do Antigo Oriente Próximo, as<br />
formas reais mais antigas se derivam dos<br />
ritos do povo.<br />
Salmos de Sabedoria e de Lei<br />
Há numerosos salmos que não se<br />
conformam com as características dos<br />
gêneros mencionados anteriormente.<br />
Estes salmos tem uma ênfase didática e<br />
empregam elementos da literatura<br />
sapiencial: 1) Provérbios, 2) Ditos<br />
numéricos, 3) Perguntas e respostas, 4)<br />
Acrósticos, 5) Beatificações, 6)<br />
Admoestações e 7) Proibições.<br />
Utilizam palavras chaves como<br />
"sabedoria" e "temor do SENHOR".<br />
Também utilizam temas da literatura<br />
sapiencial: o destino do justo e do injusto,<br />
e o problema do sofrimento do inocente.
Estes salmos louvam a Lei (Torah,<br />
"instrução divina") e chamam ao leitor a<br />
meditar nela.<br />
Desde os tempos de Gunkel e Mowinckel<br />
se tem pensado que estes salmos não<br />
tinham uma relação original com o culto<br />
de Israel.<br />
Ao contrário, se crer que os salmos de<br />
sabedoria foram escritos para usos<br />
educativos particulares.<br />
Este argumento se deduz, por exemplo,<br />
dos salmos acrósticos. Não forma escritos<br />
para uso oral no culto porque seu efeito<br />
se vê somente na forma escrita. Então, se<br />
diz, que trata-se de um artifício<br />
educativo.<br />
No entanto, Gerstenberger adverte contra<br />
tal conceito destes textos.<br />
Segundo ele, são poemas do exílio e<br />
refletem a mudança no culto que<br />
provocou a nova situação do povo de<br />
Israel.<br />
Sem templo e sacrifícios, espalhado pelo<br />
mundo, o povo de Israel manteve sua
fidelidade a Yahweh mediante o estudo da<br />
Palavra de Deus escrita.<br />
Os salmos de sabedoria e de lei foram<br />
escritos para a instrução do povo nas<br />
sinagogas para que se mantivesse a<br />
identidade judaica.<br />
Gerstenberger os descreve como uma<br />
forma de conselho pastoral.<br />
Os salmos de sabedoria e lei incluem os<br />
Salmos 1;19; 34; 37; 49; 73;78;<br />
91;112;119 e 127.<br />
Liturgias de procissão e entrada<br />
Cinco dos salmos mostram um uso<br />
específico nos ritos de Israel.<br />
Se recitam antes de ingressar ao átrio<br />
do templo para adorar (Salmo 15 e 24)<br />
ou são cantados em procissão litúrgica<br />
(Salmos 68, 118, 132).<br />
Este gênero se destaca não somente por<br />
seu tema, mas também por seu uso da
forma antífona que sugere um tipo de<br />
diálogo entre o sacerdote e os adoradores.<br />
ESCRITOS LEGAIS<br />
Os escritos legais do Antigo Testamento<br />
se encontram no Pentateuco.<br />
Ainda que nos tempos mais tardios, Israel<br />
tinha que basear qualquer modificação de<br />
suas leis na autoridade e nos ensinos de<br />
Moisés.<br />
Na realidade, vários códigos legais se<br />
incorporam na narrativa da história de<br />
Israel sob Moisés:<br />
1) Os dez mandamentos (Êxodo 20.1-17;<br />
Deuteronômio 5.6-21);<br />
2) O código do pacto (Êxodo 20.22-<br />
23:19);<br />
3) Leis deuteronômicas (Deuteronômio<br />
12-26); e<br />
4) O código de santidade (Levítico 17-<br />
24).
Estas coleções de leis mostram os vários<br />
gêneros dos escritos legais.<br />
A maioria das leis foram escritas na forma<br />
casuística.<br />
Uma lei casuística é uma que descreve<br />
um caso específico, o distingue dos casos<br />
semelhantes e especifica as<br />
consequências (Êxodo 21.18-19).<br />
O comentarista Patrick propõe uma<br />
divisão deste gênero.<br />
A lei casuística primária é aquela que<br />
descreve uma relação legal entre pessoas<br />
e os direitos e deveres na relação antes<br />
que ocorra alguma violação (Êxodo<br />
22.25).<br />
Esta forma é mais pessoal que a lei<br />
casuística remediadora que descreve<br />
uma violação de direito e seu remédio<br />
legal (Êxodo 22.5)<br />
As leis casuísticas do Antigo Testamento,<br />
tanto na sua forma como em seu<br />
conteúdo, têm muito em comum com as
leis dos códigos reais do Antigo Oriente,<br />
por exemplo o Código de Hamurabi.<br />
Alguns sugerem que Israel adotou estas<br />
leis da cultura de Canaã. É melhor<br />
reconhecer que os clãs de Israel<br />
compartilharam de um ambiente cultural<br />
semelhante ao dos patriarcas e estas leis<br />
são partes desse mundo sociológico.<br />
Entre as leis do Antigo Testamento<br />
estão as da forma apodítica, que afirma<br />
incondicional e categoricamente uma<br />
asserção do bem e o mal.<br />
É uma lei absoluta que não depende de<br />
condições ou casos. Este gênero se<br />
divide em três classes:<br />
1)Mandamento, que proíbe na forma<br />
absoluta sem especificar o castigo pela<br />
desobediência (“Não furtarás”, Êxodo<br />
20.15);<br />
2) Leis de morte, que afirmam que certas<br />
ações trazem a morte como conseqüência<br />
(“o que maldisser a seu pai e a sua mãe<br />
morrerá irremediavelmente”, Êxodo<br />
21.7); e
3) a maldição, que pronuncia uma<br />
maldição sobre a pessoa que faz certa<br />
ação.<br />
Este juízo recebe o apoio do povo que<br />
responde: Amém! (Deuteronômio 27.15-<br />
26)<br />
Albrecht Alt foi quem primeiro fez a<br />
distinção entre leis casuísticas e leis<br />
apodidícas, ele acreditava que as leis<br />
apodidícas eram distintivamente<br />
israelitas.<br />
No entanto, hoje se reconhece que outras<br />
culturas também tiveram leis absolutas<br />
que sãs paralelas com os mandamentos.<br />
É discutível se as leis apodidícas tem sua<br />
origem na autoridade do clã e da tribo ou<br />
na autoridade do culto. Pelo menos<br />
Israel utilizou esta forma de instrução<br />
religiosa e moral conhecida no Antigo<br />
Oriente para expressar a vontade de<br />
Deus.<br />
Estas coleções de leis expressam<br />
como Israel deve viver sob a vontade de<br />
Deus.
Por isso, o conteúdo destas leis toca não<br />
somente a vida religiosa, mas também a<br />
vida secular.<br />
Toda a vida é dedicada a Yahweh, então<br />
não há distinções entre o sagrado e o<br />
secular.<br />
Também estas coleções apresentam-se<br />
como uma parte integral de uma tradição<br />
maior, o pacto entre Yahweh e Israel.<br />
Colocar os códigos legais na estrutura do<br />
pacto acentua que a natureza dos<br />
escritos legais é expressar a vontade de<br />
Deus de uma forma pessoal: Yahweh (ou<br />
seu porta-voz) se dirige ao seu povo que o<br />
escuta.<br />
LITERATURA HISTÓRICA<br />
Muito do Antigo Testamento é narração<br />
da história de Israel desde sua origem<br />
como família e clã até as épocas das<br />
tribos, monarquia, cativeiro e<br />
restauração.<br />
A definição de “história” para o estudo<br />
literário da Bíblia não é a da ciência
moderna porque o propósito do Antigo<br />
Testamento não é apresentar uma<br />
“exposição sistemática dos<br />
acontecimentos” de Israel. Todos os livros<br />
da Lei (Torah) e os livros dos profetas<br />
anteriores tem um propósito kerigmático,<br />
proclamar a palavra de Deus mediante<br />
eventos seletivos, interpretados e<br />
ordenados da história de Israel.<br />
Encontram-se distintas formas na<br />
apresentação desta história. Os autores,<br />
ou redatores das narrativas usaram<br />
muitas tradições, escritas e orais, para<br />
relatar os atos de Deus na história de seu<br />
povo. Por sua natureza, a narrativa<br />
histórica contém exemplos de discurso<br />
formal (2 Reis 18.17-35) e de uma carta (<br />
2 Reis 5.5-6).<br />
Também, se preservaram listas em contar<br />
a história de Israel como a lista do saque<br />
em números 31.32-40. As Genealogias<br />
(Gênesis 10.1-32) e itinerários (Números<br />
33.5-37) são tipos especiais de listas. As<br />
formas de informes e etiologias<br />
preservaram tradições dos nascimentos
(Gênesis 25.19-26), batalhas (Gênesis<br />
14.1-24) ou a origem do nome de alguma<br />
coisa, prática ou lugar (Gênesis 32.30-<br />
32).<br />
Não existem mitos no Antigo<br />
Testamento porque o mito se define<br />
como uma narrativa fantástica que<br />
explica o mundo humano pelas<br />
atividades dos deuses no mundo<br />
celestial.<br />
O Antigo Testamento não conhece<br />
nenhum Deus fora do Deus vivo e<br />
verdadeiro, Yahweh. As vezes um<br />
escritor pode utilizar uns temas de mitos<br />
ou aludir a eles em sua descrição de um<br />
evento ou de uma pessoa histórica,<br />
porém não devemos dizer que há mitos no<br />
Antigo Testamento.<br />
LITERATURA PROFÉTICA<br />
Os livros proféticos se compõem de uma<br />
coleção de oráculos dos profetas e,<br />
normalmente, relatos da vida dos
mesmos. As tradições dos profetas<br />
anteriores se preservaram na forma<br />
narrativa e se encontram na obra do<br />
historiador. Nesta seção se considerarão<br />
as obras dos profetas posteriores.<br />
Muitas variedade na composição destes<br />
livros: podem se formar em uma ordem<br />
cronológica (Ezequiel) ou sem ordem<br />
cronológica (Jeremias); podem formar-se<br />
dos oráculos do profeta exclusivamente<br />
(Sofonias) ou de uma narrativa que não<br />
tem mais que cinco palavras da pregação<br />
profética (Jonas).<br />
As narrativas dos livros proféticos<br />
se expressam na terceira pessoa ou na<br />
primeira.<br />
Preservam a vocação ou chamamento do<br />
profeta (Isaías 6; Jeremias 1), visões<br />
(Amós 8.1; Ezequiel 37) ou ações-sinais<br />
(Isaías 7.3; Oséias 1.2-9; Jeremias 27).<br />
Também há vários informes do conflito<br />
que narram um encontro hostil entre o<br />
profeta e a autoridade cultual ou real<br />
(Jeremias 26.1-19; Amós 7.10-17).
Não obstante, os gêneros proféticos<br />
mais importantes são os que preservam o<br />
discurso dos profetas.<br />
A pregação dos profetas aparece de modo<br />
geral em uma forma poética.<br />
Há um número de sermões em prosa no<br />
livro de Jeremias que tem causado muita<br />
discussão entre os eruditos. É melhor<br />
entendê-los com uma imitação dos<br />
sermões deuteronomísticos pelo profeta.<br />
No entanto, os discursos poéticos formam<br />
a maior parte das palavras proféticas e<br />
variam na origem e no gênero.<br />
Muito do discurso profético parece ter<br />
sua origem em um ambiente legal ou<br />
cultual.<br />
O pleito do pacto é uma forma comum<br />
nos profetas.<br />
É um litígio contra o povo de Deus que<br />
contém um chamado a testemunhas,<br />
declaração de um pleito, um exposição<br />
dos pesos contra o povo e um anúncio do<br />
castigo que corresponde com os pesos<br />
(Oséias4.1-3).
A provisão para arrepender-se compõe-se<br />
de um chamado de atenção e uma<br />
declaração de motivação.<br />
O chamado consiste na fórmula do<br />
mensageiro (“Assim diz Yahweh”), e o<br />
vocativo (“oh apóstata Israel”) e a<br />
admoestação.<br />
A declaração inclui uma promessa, uma<br />
acusação e uma ameaça (Jeremias 3.12,<br />
13).<br />
O profeta soa como juiz em Israel quando<br />
pronuncia um discurso de juízo.<br />
Não obstante, suas palavras não são as<br />
de um juiz humano, são as do juiz divino.<br />
Este gênero inclui o peso e o juízo (Amós<br />
7.16-17).<br />
Outro Gênero profético é o oráculo de<br />
salvação que anuncia um evento futuro<br />
(“naquele dia”) sem explicação de mérito<br />
do que Deus fará por seu povo (Oséias<br />
2.18-23).<br />
Supõe-se que este gênero é uma<br />
adaptação do discurso litúrgico do
sacerdote que responde a uma<br />
lamentação do indivíduo.<br />
Os profetas também adotaram hinos do<br />
culto em sua mensagem (Amós 4.13;<br />
5.8,9; 9.5,6).<br />
Em outras ocasiões fizeram paródias do<br />
chamado à adoração do sacerdote (Oséias<br />
4.15b; Amós 4.4,5).<br />
É fato que os profetas adotaram e<br />
adaptaram formas de discurso de muitas<br />
áreas da vida, não só as jurídicas e<br />
cultuais.<br />
O uso de parábolas e alegorias pelos<br />
profetas sugere uma influência de<br />
sabedoria nos profetas.<br />
Assim também o uso de provérbios<br />
(Jeremias 23.28) e ditos numéricos (Amós<br />
1. 3-2:8) demonstra um conhecimento da<br />
sabedoria das tribos.<br />
O profeta pode imitar os cantos de amor<br />
(Isaías 5.1-2) ou um lamento (Amós<br />
5.2,3). Talvez este último seja a origem<br />
dos oráculos de Ai(Amós 6.1).<br />
É importante notar que os profetas<br />
utilizaram e adaptaram um grande
número de Gêneros para pregar sua<br />
mensagem.<br />
Os profetas bíblicos não tinham um<br />
púlpito em um templo ou uma<br />
congregação que lhes ouvia<br />
semanalmente.<br />
Tinham que proclamar nas praças, nos<br />
mercados ou na entrada da cidade.<br />
Para que se escutassem sua mensagem<br />
tinham que utilizar as formas de um<br />
litígio ou uma canção para chamar a<br />
atenção da multidão. A variedade de<br />
gêneros proféticos é um testemunho para<br />
a grande variedade de situações nas<br />
quais pregaram os profetas.<br />
LITERATURA SAPIENCIAL<br />
A Bíblia contém uma classe de literatura<br />
que se distingue por sua ocupação do<br />
tema da sabedoria (Hokmah).<br />
Esta classe exibe temas e gêneros<br />
característicos, porém não podemos
designar todos os textos que utilizam os<br />
gêneros como literatura sapiencial.<br />
As tradições sapienciais da Bíblia<br />
consistem em Provérbios, Jó e<br />
Eclesiastes.<br />
Disputa-se a origem das tradições<br />
sapienciais de Israel. Vários provérbios e<br />
admoestações bíblicas sugerem que o lar<br />
servia como primeiro centro de instrução;<br />
a sabedoria se iniciou como uma função<br />
das famílias ou clãs. As<br />
responsabilidades de instruções se<br />
compartilhavam ente o Pai e a mãe<br />
(Provérbios 6.20) e não prestar atenção<br />
resultaria em castigo (Provérbio 13.24).<br />
Que a sabedoria tem uma origem popular<br />
se vê nas semelhanças que comparam<br />
várias tribos com animais (Gênesis<br />
49.8,9,14 e 17), No entanto, alguns<br />
provérbios se entendem melhor como<br />
produtos da corte (Provérbios 16.12-15).<br />
Por isso, sugere-se que a sabedoria de<br />
Israel tem sua origem em uma escola da<br />
corte para instruir aos príncipes. Não é
estranho chama ao mestre “pai” e há<br />
suficientes modelos de tais escolas no<br />
Antigo Oriente como no Egito e<br />
Mesopotâmia.<br />
As duas teorias não são<br />
mutuamente exclusivas. O lar tem de ser<br />
um lugar de instrução, especialmente dos<br />
jovens. Este tipo de instrução utilizou<br />
ditos memoráveis por séculos na em uma<br />
forma oral. Logo, com estabelecimento de<br />
escolas na corte, se colecionaram os<br />
aforismos, provérbios e ditos populares<br />
juntamente com a sabedoria de outras<br />
culturas (compare Provérbios 22.17-<br />
24:22 com a sabedoria de Amenemope).<br />
Este processo de coleção se iniciou no<br />
reino de Salomão, porém, durou por<br />
séculos (Veja Provérbios 25.1;30.1;<br />
24.23). Por fim, no tempo do cativeiro<br />
formou-se uma escola de escribas<br />
religiosos que preservou a sabedoria<br />
“secular” da corte porque era uma<br />
expressão da sabedoria de Deus e a<br />
estimou como torah, “instrução”, igual<br />
como a Lei. Esta escola que deu a Jó,
Provérbios e Eclesiastes sua forma<br />
canônica.<br />
Na literatura sapiencial encontrase<br />
uma quantidade de formas.<br />
O aforismo, mashal, pode distinguir-se<br />
entre:<br />
1) O Provérbio, que é um aforismo<br />
popular baseado na experiência e na<br />
observação (Provérbio 11.24;<br />
2) o dito sábio, que é um dito didático que<br />
infunde um valor ou uma lição (Provérbio<br />
16.20); e<br />
3) o dito numérico, que é um aforismo<br />
caracterizado por uma forma numérica<br />
que consiste em um título e uma lista<br />
(Provérbios 30.18,19).<br />
Não é necessário que o dito sábio seja<br />
bem conhecido pelo povo.<br />
O mestre pode formar um exemplo para<br />
ensinar uma lição específica.<br />
A sabedoria usa também admoestações<br />
(Provérbios 16.3), mandatos (Provérbios<br />
8.33) e proibições (provérbios 22.24,25).
Segundo Provérbios 1.6 os sábios usaram<br />
enigmas para instruir, porém o único<br />
exemplo completo no Antigo Testamento<br />
se encontra em Juízes 4.10-18.<br />
Também, os sábios empregaram<br />
formas mais extensas em suas<br />
instruções.<br />
Existe o conto exemplar que é um relato<br />
concreto para ilustrar um ponto de<br />
ensino (Provérbios 7.6-23).<br />
A narrativa autobiográfica, seja<br />
confissão ou reflexão pessoal,<br />
compartilha a experiência rica do sábio<br />
com o aluno (Eclesiástes 1.12-2:26).<br />
Finalmente, os sábios ainda utilizam<br />
hinos para descrever a sabedoria. Se<br />
personificou a sabedoria e o hino louva<br />
esta personificação (Jó 28)]<br />
LITERATURA APOCALÍPTICA<br />
Friedrich Lücke reconheceu a<br />
literatura apocalíptica como uma classe<br />
distinta no século XIX. No entanto, pouco<br />
se tem feito para analisar as formas do<br />
gênero. As causas desta carência inclui o
uso múltiplo do termo apocalíptico para<br />
descrever elementos sociológicos e<br />
filosóficos tanto como literários e o fato<br />
que o gênero apocalíptico usa muitas<br />
formas literárias que se encontram na<br />
literatura profética. Na realidade muitos<br />
querem classificar a literatura<br />
apocalíptica como uma classe de<br />
literatura profética. No entanto, parece<br />
melhor reconhecer que a diversidade de<br />
formas componentes e as semelhanças<br />
delas com outros gêneros não escondem<br />
a consistência que a literatura<br />
apocalíptica tem em si.<br />
A literatura apocalíptica é um<br />
gênero de literatura que narra a revelação<br />
de uma realidade transcendente por<br />
parte de um ser sobrenatural. Esta<br />
realidade tem aspectos temporais e<br />
especiais, a saber, que tem a ver com uma<br />
salvação final na história (escatologia)e<br />
um novo mundo sobrenatural. Há duas<br />
divisões neste gênero: um apocalipse com<br />
viagem ao outro mundo e um apocalipse<br />
histórico que não inclui uma viagem ao
mundo sobrenatural. Exemplos de livros<br />
apocalípticos judaicos do primeiro<br />
subgênero são 1 Enoque 1-36; 2 Enoque<br />
e 3 Baruque. Os livros canônicos<br />
(Apocalipse do Novo Testamento e Daniel<br />
do Antigo Testamento) são exemplos do<br />
subgênero apocalíptico histórico. A<br />
função deste gênero literário é prover<br />
uma visão do mundo que consola a<br />
comunidade de fé em tempos de crise e<br />
opressão. Sua revelação da vontade de<br />
Deus e sua última vitória apóiam as<br />
pessoas a manter-se fiel sob a autoridade<br />
divina que é maior que a autoridade<br />
opressiva que se lhes opõem.<br />
A forma mais comum da literatura<br />
apocalíptica é a visão (ou sonho)<br />
simbólica (Daniel 7-8). Esta narrativa se<br />
compõe de uma indicação das<br />
circunstâncias, uma descrição da visão<br />
ou sonho, uma petição por uma<br />
interpretação (muitas vezes uma oração e<br />
se faz por medo), a interpretação<br />
alegórica por um anjo (porém em 2<br />
Baruque 39 é o próprio Deus quem
interpreta) e uma conclusão que conta a<br />
reação do vidente ou inclui mais<br />
instruções do anjo.<br />
A epifania(Daniel 10.1-9) também é<br />
uma narração de uma visão. Contudo,<br />
esta visão é menos compreensiva que a<br />
visão simbólica e consiste em uma<br />
revelação da vontade divina por parte de<br />
uma anjo sem elementos visuais.<br />
Relacionada com esta forma é o diálogo<br />
revelador. É uma conversação entre o<br />
recipiente e um ser celestial que revela<br />
(um anjo ou o próprio Deus). Este diálogo<br />
pode ocorrer em uma visão ou<br />
independente dela.<br />
Daniel é o único livro apocalíptico<br />
no Antigo Testamento com sua visão do<br />
fim decisivo da história. Há outras obras<br />
proféticas que tem um interesse<br />
escatológico, contudo se mantém<br />
firmemente dentro da história deste<br />
mundo. Por isso, Isaías 24-27, 55-66 e<br />
Zacarias 9-14 podem ser descritos como<br />
literatura proto-apocaliptica. Zacarias 1-<br />
8 e Ezequiel também são
protoapocalipticos quanto ao seu<br />
simbolismo, visões e uso de um anjo<br />
como intérprete. O desenvolvimento<br />
completo do gênero apocalíptico estava<br />
no período inter-testamentário como O<br />
testamento de Levi, Apocalipse de<br />
Sofonias, Apocalipse de Abraão e<br />
Similitudes de Enoque, entre outros. Este<br />
Gênero se usava não somente no Novo<br />
Testamento (Apocalipse), mas também na<br />
criação de livros apocalípticos dos<br />
gnósticos.<br />
OS GÊNEROS E OS NOVOS MÉTODOS<br />
DE INTERPRETAÇÃO<br />
Não é suficiente simplesmente<br />
identificar os gêneros ou as formas do<br />
Antigo Testamento e buscar a situação na<br />
qual o povo vivia (Sitz im Leben) na qual<br />
se originou cada forma. Estas tradições<br />
se formavam com formas orais e escritas.<br />
Originalmente elas se preservaram por<br />
diferentes grupos em Israel, uma<br />
independente da outra. No entanto, agora<br />
não existem mais como formas isoladas,
mas como elementos integrados no<br />
contexto de um livro (e no contexto mais<br />
amplo do Antigo Testamento como uma<br />
totalidade). Por isso, é imperativo estudar<br />
os textos do Antigo Testamento em sua<br />
forma final; estudá-los como escritura e<br />
como literatura.<br />
O estudo da história das formas<br />
trata de penetrar por detrás do texto<br />
bíblico para reconstruir a situação sóciohistórica<br />
de cada texto. A crítica canônica<br />
não usa o texto como uma fonte de um<br />
significado que está detrás do texto, mas<br />
reconhece que o significado do texto<br />
bíblico para comunidade da fé tem raízes<br />
no próprio texto. Enfoca-se no que o texto<br />
diz ao crente. Para descobrir o que o texto<br />
diz, o leitor deve apreciar não somente o<br />
processo da composição literária do texto,<br />
mas também deve considerar como a<br />
comunidade da fé o tem compreendido<br />
em cada geração.<br />
As comunidades de fé que aceitam<br />
o Antigo Testamento como escritura (a<br />
Comunidade judaica e a cristã) tem
adotado textos completos, não somente<br />
partes de textos. Tem adotado estes<br />
textos durante as mudanças em suas<br />
situações históricas. Por exemplo, as leis<br />
cerimoniais de sacrifícios no livro de<br />
Levítico não tinham o mesmo significado<br />
para o Israel pré-exílico como o que tinha<br />
para os judeus da diáspora ou o que tinha<br />
para os primeiros cristãos. A crítica<br />
canônica, então, reconhece que o texto<br />
sagrado pode ter uma pluralidade de<br />
significado dentro de uma comunidade de<br />
fé.<br />
O estudo da Bíblia como literatura<br />
é a inda mais amplo porque uma<br />
interpretação autêntica do texto não<br />
depende que o intérprete seja membro da<br />
comunidade da fé. O texto bíblico<br />
analisa-se com obra literária com uma<br />
ênfase nas estratégicas artísticas do<br />
texto. Os libros da Bíblia são obras<br />
literárias em si mesmas. As tradições que<br />
se preservam nestas obras agora perdem<br />
sua independência e se desligam de seu<br />
Sitz im Leben social. Formam parte de
um texto que cria seu próprio “mundo”. É<br />
trabalho do intérprete apreciar este<br />
“mundo do texto” e realizar claras<br />
conexões entre este mundo e o mundo do<br />
leitor.<br />
Os métodos da nova crítica literária<br />
se centralizam no texto como uma<br />
totalidade. É importante ler a obra como<br />
novela ou poesia ou ainda como obra<br />
didática. Busca-se não somente o gênero<br />
de uma seção da obra, mas também se<br />
quer identificar o gênero da obra<br />
completa que causa a coesão de todas as<br />
partes em formar algo maior que<br />
simplesmente a soma das partes, que é o<br />
texto. Outros métodos literários se<br />
centralizam no leitor como quem produz<br />
o significado da obra. Nestas teorias da<br />
resposta do leitor[5] o significado se<br />
encontra na interpretação entre o texto e<br />
o leitor. Todavia, para chega a uma<br />
interpretação autêntica, o leitor tem de<br />
reconhecer a coerência da obra total, as<br />
saber tem que reconhecer o gênero que<br />
oferece à obra sua unidade.
O estudo dos Gêneros do Antigo<br />
Testamento se iniciou na tentativa de<br />
identificar micro-gêneros, formas breves<br />
e reconstruir a situação sócio-histórica<br />
de sua origem. No entanto, esta<br />
identificação de um evento por detrás do<br />
texto como nós o temos não é o fim da<br />
interpretação Bíblica. Há também a<br />
necessidade de reconhecer o gênero da<br />
obra completa, o macro-gênero, apreciar<br />
sua arte literária no uso de formas,<br />
micro-gêneros, e descobrir os significados<br />
para a comunidade da fé que existem, na<br />
conexão entre o “mundo do texto” e o<br />
mundo da comunidade. Dominar os<br />
gêneros do Antigo Testamento nos<br />
ajudará a entender o significado do texto<br />
da Bíblia, a Palavra de Deus.