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PORTFÓLIO SEM DESTINO

PRÊMIO ARTE NA ESCOLA - 2018 "SEM DESTINO" ESTAMOS A DERIVA DO PRÓPRIO TEMPO Resultado de processo - Disciplina Artes-Teatro - Alunos: 1º Ano do Ensino Médio Prof. Mônica Mesquita Instituto Federal Fluminense

PRÊMIO ARTE NA ESCOLA - 2018 "SEM DESTINO" ESTAMOS A DERIVA DO PRÓPRIO TEMPO
Resultado de processo - Disciplina Artes-Teatro - Alunos: 1º Ano do Ensino Médio
Prof. Mônica Mesquita
Instituto Federal Fluminense

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<strong>SEM</strong> <strong>DESTINO</strong><br />

ESTAMOS A DERIVA DO PRÓPRIO TEMPO<br />

Destino = indica um fim ou resultado de uma determinada ação. Destino é<br />

sinônimo de sina, fado, sorte, futuro, fatalidade, fortuna.Como também significa<br />

direção ou rumo...<br />

Resultado de processo<br />

Disciplina Artes-Teatro<br />

Alunos: 1º Ano do Ensino Médio<br />

Instituto Federal Fluminense<br />

Professora: Mônica Mesquita<br />

Prêmio Arte na Escola - 2018<br />

Campos do Goytacazes-RJ<br />

Foto: Sabrina Aguiar


O INÍCIO – <strong>DESTINO</strong> A DERIVA<br />

COMO SURGIU O PROJETO<br />

Segundo o dicionário “deriva” é o que “vem de algo”, mas também pode<br />

significar “não ter rumo certo”. “Sem Destino - Estamos a deriva do próprio<br />

tempo”, foi um projeto desenvolvido na disciplina Artes–Teatro, com alunos do<br />

1º ano do ensino médio técnico integrado do Instituto Federal Fluminense,na<br />

cidade de Campos do Goytacazes/RJ.<br />

https://erinwritesnow.com/2015/03/06/imagine/<br />

Os trabalhos iniciais<br />

começaram com a<br />

construção de uma<br />

cápsula do tempo no<br />

primeiro dia de aula,<br />

onde os estudantes<br />

escreveram uma<br />

carta para eles<br />

mesmos no futuro, a<br />

ser aberta no final do<br />

processo.<br />

A ideia inicial era falar sobre esperança e das expectativas, contudo durante o ano,<br />

fraudes, denúncias na política, incertezas com o futuro profissional, com a educação,<br />

economia, a violência no Rio de Janeiro, intervenção militar, dentre outros<br />

acontecimentos do ano de 2017, foram gerando uma profunda descrença no país<br />

afetando diretamente nosso processo e acabou interferindo nas aulas. Mas foi destas<br />

incertezas com o futuro e sua relação com o passado que surgiu a proposta.<br />

INCERTEZAS E PERGUNTAS:<br />

Futuro? Para onde vamos?


Professor-Artista-Pesquisador<br />

Como professora-artista-pesquisadora de teatro um dos meus focos de estudo é o<br />

“corpo” , a “preparação corporal e as novas tecnologias aplicadas às artes da cena . O<br />

que reflete diretamente nos meus processos estéticos como professora, inclusive na<br />

educação básica. Defendo o conceito de professor-artista, que segundo Sandra<br />

Fávero, apud Loyola 2015: Professor-artista é um propositor e portador de uma<br />

necessidade de conhecer algo, "que não deixa de ser conhecimento de si mesmo, cujo<br />

alcance está na consonância do coração com o intelecto. Um corpo criador / um corpo<br />

professor, no mesmo corpo" (LOYOLA, 2016, p. 64).<br />

Objetivos do projeto:<br />

Trabalhar o ensino da Arte enquanto área de conhecimento, especificamente o “teatro”<br />

na escola. Nossa expectativa era através de um processo de pesquisa, encenação e<br />

montagem de espetáculo teatral, tentando quebrar a dicotomia produto x processo nos<br />

trabalhos em Arte , principalmente do ensino do teatro dentro da escola.<br />

Iniciamos as aulas do calendário de 2017, somente em maio do corrente ano, pois<br />

nosso ano letivo está atrasado por conta de greves na instituição. No Instituto<br />

Federal Fluminense o ensino médio é integrado aos cursos técnicos<br />

profissionalizantes. As aulas de Artes do ensino médio são apenas no primeiro<br />

ano, 2 aulas semanais. As turmas de Artes são híbridas com alunos de dois cursos<br />

diferentes que no nosso caso deste projeto foi Mecânica e Edificações.<br />

Conhecendo o grupo:<br />

Nas aulas iniciais buscamos fazer um diagnótico do grupo. Um ponto<br />

essencial em qualquer trabalho, seja com arte ou não, é conhecer o material<br />

humano com que vamos lidar. Neste aspecto, uma das estratégias foi iniciar<br />

sempre as aulas com uma roda de conversas, onde eram discutidos vários<br />

assuntos de temáticas diferentes. Desde teatro e arte em geral, aos<br />

acontecimentos cotidianos da cidade, do país e do mundo, a conversa<br />

buscava não deixar de fora os interesses e até questões pessoais que algum<br />

integrante quisesse compartilhar. Este grupo especificamente tinha um pouco<br />

de dificuldade em partilhar determinados assuntos nas rodas de conversas,<br />

era um grupo mais apático.


Entre tentativas e erros<br />

Para Loyola (2016, p. 64) em se tratando do ensino da Arte, o fato de experimentar e<br />

fazer arte requer abertura a erros e acertos, e a experiência contínua com processos<br />

de criação possibilita ao artista - que também atua como professor -, em muitas<br />

situações, encontrar caminhos mais adequados para os exercícios com os alunos.<br />

Neste sentido, sempre busco com cada turma fazer uma pesquisa buscando<br />

singularidade nos processos. Com essa turma especificamente, inicialmente tinha<br />

planejado fazer um trabalho final utilizando máscaras e teatro de formas animadas<br />

Chegamos a começar a fazer as máscaras, mas diante da apatia que a turma se<br />

encontrava , acabamos mudando totalmente a proposta.<br />

Fotos aulas de teatro : Mônica Mesquita (acervo pessoal)<br />

O envolvimento nos processos de criação de uma obra de arte, os procedimentos na<br />

manipulação de materiais, os erros cometidos e refazimentos de trabalhos, além da<br />

própria imprevisibilidade da criação artística são movimentos da atuação do artista<br />

que potencializam ideias e contribuem fundamentalmente na condução de<br />

experiências no ensino aprendizagem. (LOYOLA, 2016, p. 64)<br />

Diante da apatia e falta de perspectiva da turma com os estudos e com a vida<br />

em geral, fiz a mesma pergunta para cada um do grupo.<br />

Faço teatro para incomodar os que estão sossegados<br />

(Plinio Marcos)


O que te incomoda?<br />

Para os alunos a falta de expectativa com o futuro profissional (principalmente por<br />

estarmos numa escola profissionalizante), o estresse com a alta carga horária pois os<br />

alunos estudam o dia inteiro e tem em média 18 disciplinas por semana. afetava a<br />

perspectiva nos vários aspectos da vida de cada um deles e a crença no país.<br />

A corrupção no país, fraudes, os escândalos ocorridos na economia e<br />

política do país em 2017, a falta de perspectiva de emprego,<br />

problemas com a família, o medo da prova de física, o estresse, as<br />

incertezas com o futuro, o medo do governo atual???????<br />

Nesse dia nas conversa s o assunto acabou sendo direcionado para “o golpe” e da<br />

ditadura militar nos anos setenta, os alunos falaram que se sentam impotentes, diante<br />

da corrupção...Falei um pouco da história política dos anos setenta. Muitos<br />

desconheciam detalhes do golpe de 1964<br />

http://memoriasdaditadura.org.br/


A Resistência:<br />

Resistindo...<br />

http://memoriasdaditadura.org.br/


A repressão:<br />

https://www.sul21.com.br/50-anos-do-golpe-civil-militar/2014/04/a-repressao-e-a-resistencia-durante-o-regime-militar/<br />

http://memoriasdaditadura.org.br/<br />

As prisões e a tortura:<br />

Departamento de Ordem<br />

Política e Social – DOPS<br />

- Órgão histórico de<br />

repressão<br />

aos<br />

movimentos sociais e<br />

populares, o DOPS foi<br />

também centro de tortura<br />

durante a ditadura do<br />

Estado Novo, retomando<br />

essa prática no regime<br />

militar. Nos dois períodos<br />

ditatoriais, as vítimas<br />

preferenciais eram os<br />

militantes de partidos de<br />

esquerda<br />

Quem era contra o sistema: Professores, artistas, profissionais em geral ou<br />

estudantes “como eles” eram os chamados “subversivos” , presos, torturados, muitos<br />

morreram ou desapareceram


http://memoriasdaditadura.org.br/<br />

A censura na Arte:<br />

acima alguns desaparecidos da ditadura brasileira<br />

http://memoriasdaditadura.org.br/


A censura sempre existiu. Mas em governos ditadores fica pior. Após a promulgação do<br />

AI-5 em 1964, todo e qualquer veículo de comunicação no Brasil deveria ter a sua pauta<br />

previamente aprovada e sujeita a inspeção local por agentes autorizados. Na página<br />

anterior “certificado de censura Federal, era um documento que autorização para<br />

espetáculos de teatro, shows musicais, discos, programas de televisão filmes etc.. Mas<br />

alguns artistas usavam a própria arte para protestar, e vários foram para o exílio nos<br />

anos setenta. A Democracia talvez seja a nossa única esperança...<br />

O processo...<br />

Essa conversa sobre a ditadura dos anos setenta fazendo uma analogia dos<br />

problemas da política atual fazendo uma conexão com o passado foi um “baque” nos<br />

alunos. A aluna J. chorou muito. Vários alunos se emocionaram e olha que nessa<br />

primeira conversa , e olha que não viram nenhuma imagem, pois quando viram outros<br />

choraram. Esse foi o pontapé inicial para a nossa proposta em colocar tudo isso no<br />

palco. A partir daí abandonamos a ideia do trabalho com as máscaras e partimos para<br />

outra proposta que refletisse os anseio deles.<br />

A repressão no Teatro<br />

Começamos a pesquisar sobre a ditadura no Brasil e como era fazer Arte naquela<br />

época, a censura, o que acontecia com os artistas ditos “subversivos”. Falamos do<br />

DOPS e da invasão do espetáculo Roda Viva de Chico Buarque, que foi retratado no<br />

próprio espetáculo, que não chega ao fim pois é impedido pela censura.


Referenciais teóricos para a<br />

elaboração do projeto<br />

Como embasamento técnico, o trabalho teve como foco o estudo do corpo na cena e a<br />

preparação corporal para o teatro, associado ao método de atuação do teatro épico de<br />

Bertolt Brecht, que tem sobretudo de cunho político que visa questionar e refletir sobre o<br />

mundo, sua realidade e formar cidadãos críticos e conscientes. Como mote, o<br />

espetáculo relembra os obscuros tempos da ditadura militar no país, fazendo uma<br />

analogia aos tempos atuais e o importante papel político da arte na escola.<br />

Segundo MONIS (2003, p. 33), chamamos de “técnicas teatrais uma série de exercícios que<br />

buscam explorar e desenvolver habilidades nos atores”, como relações espaciais, de presença<br />

e prontidão cênica, dentre outras. No nosso caso focamos especificamente em alguns<br />

exercícios de biomecânica teatral. A biomecânica teatral é um método de trabalho para<br />

treinamento de atores, desenvolvido pelo pedagogo russo Vsevolod Meyerhold (1874 – 1940)<br />

no início do século XX. Segundo Marianne Kubik (2002, p. 01), o termo “biomecânica” é<br />

aplicado à arte do ator, primordialmente como uma ferramenta de ensino, e é baseada na<br />

premissa de que “qualquer arte é a organização do material,” e que na arte do teatro, o ator é<br />

“ao mesmo tempo o material e o organizador deste. Abaixo exercícios de biomecânica teatral.<br />

www,russianphotographs.net<br />

Dentre os jogos improvisacionais de corpo experimentados destacando a técnica do Teatro<br />

Fórum, uma das mais conhecidas do Teatro do Oprimido , segundo a proposta de Augusto<br />

Boal,. O Teatro-fórum é considerado por Boal como um ensaio para a vida, por meio do qual o<br />

espect-ator * experimenta as possibilidades de atuação, de reivindicação da resolução de<br />

opressões vividas ou testemunhadas no contexto social. Em cena, o sujeito é portador da voz,<br />

do ato cênico e visa colocar em prática as ideias e as sugestões de ações para a superação do<br />

problema de opressão, para que possa ensaiar possibilidades de atuação no contexto social . *<br />

Espect-ator significa espectador + ator, ou seja, aquele que assiste e intervém na ação cênica.<br />

* No final do espetáculo levamos o jogo para a cena e fizemos uma intervenção não de teatro fórum,<br />

mas uma espécie de teatro invisível, onde atores disfarçados de agentes do DOPS invadem e acabam<br />

com o espetáculo surpreendendo a plateia, com se fosse real


Referenciais estéticos<br />

https://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/<br />

03/31/19-capas-de-jornais-e-revistas-em-1964-aimprensa-disse-sim-ao-golpe/?cmpid=copiaecola<br />

Usamos também como referências<br />

matérias de jornais e revistas da época.<br />

Abaixo a esquerda capa da revista “O<br />

Cruzeiro, 10 de abril de 1964:” ''Edição<br />

histórica da Revolução''. Na época a<br />

revista celebra um herói da ''Revolução'', o<br />

governador de Minas, Magalhães Pinto,<br />

um dos artífices do golpe.<br />

O texto<br />

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-208/<br />

Um grande referencial estético foi o filme<br />

Hair de Milos Forman bem como o<br />

espetáculo homônimo. O filme conta a<br />

história de um jovem recrutado para a<br />

Guerra do do Vietnã, que é "adotado" em<br />

Nova York por um grupo de hippies que<br />

tenta convencê-lo dos absurdos da atual<br />

sociedade. Usamos também duas<br />

musicas do filme.<br />

As cenas foram construídas através de exercícios de improvisação usando apenas o corpo<br />

e criação de partituras corporais. Nas falas posteriormente foram incorporados para base<br />

para criação das cenas os poemas da poeta polaca Wisława Szymborska adaptados.<br />

FILHOS DA ÉPOCA (Adaptação do texto de Wisława Szymborska )<br />

Não precisa nem mesmo ser gente para ter significado político.<br />

Basta ser petróleo bruto, ração concentrada ou matéria reciclável...<br />

Somos filhos da época e a época é política. aliás tudo é política, na escola, na família, na igreja.... Fazemos política o tempo todo.<br />

Eu não gosto de política.<br />

Querendo ou não querendo, teus genes têm um passado político,<br />

tua pele, um matiz político, teus olhos, um aspecto político.<br />

O que você diz tem ressonância, o que silencia tem um eco<br />

de um jeito ou de outro político.<br />

Eu não gosto de política....<br />

Até caminhando, dançando e cantando a canção você dá passos políticos, sobre um solo político.<br />

Eu não gosto de política.<br />

Versos apolíticos também são políticos,<br />

Ser ou não ser, eis a questão. Eu não gosto de política!!!<br />

Qual questão, me dirão. Não gostar de política é uma questão política, que só interessa aos políticos


A intervenção militar no Rio de Janeiro<br />

em fev de 2018:<br />

Fotos : http://g1.globo.com/<br />

Durante o processo em fevereiro de 2018, aconteceu a ocupação da cidade do Rio de<br />

Janeiro. Sendo designado um interventor federal. Tal fato afetou muito nossos alunos<br />

principalmente por estarmos no estado do Rio de Janeiro. Parte do texto do documento<br />

publicado pelo governo, cuja redação se assemelha ao AI-5, também acabou entrando<br />

para o espetáculo,


Como foi desenvolvido o projeto:<br />

O projeto foi desenvolvido nas aulas regulares de Artes Teatro da instituição, e foi planejado<br />

para ser executado com alunos do ensino Médio do Instituto Federal Fluminense. A narrativa<br />

e concepção do processo se deu entre professor e os alunos. Foi um espetáculo de denúncia<br />

e coragem, pesquisar e levar para a cena uma temática tão pesada com alunos tão jovens<br />

cujos pais nem eram nascidos direito na época da ditadura foi um desafio, porque para eles<br />

era algo muito distante. Fizemos um pacto de silêncio, com receio de sermos impedidos de<br />

apresentar na nossa própria instituição. Buscamos através da construção de um espetáculo,<br />

realizado com pesquisa e criação autoral, desmascarar a hipocrisia das relações de poder na<br />

política, ao mesmo tempo levando para o palco os anseios e incertezas de um grupo de<br />

estudantes com idade entre 15 e 16 anos com o seu futuro e o de seus filhos. Os alunos só<br />

ficaram sabendo o final do espetáculo no dia da apresentação.<br />

Abaixo cena de improvisação de criação de partitura corporal<br />

Fotos : Mônica Mesquita (acervo pessoal)<br />

Fotos de criação de partituras corporais - Mônica Mesquita (acervo pessoal)


Realização do projeto:<br />

O projeto foi realizado em aproximadamente 15<br />

encontros semanais de 2 aulas de 50 minutos.<br />

Fizemos um diagnóstico do grupo, sobre as<br />

possíveis temáticas que poderíamos tratar, e foi<br />

justamente diante da falta de perspectiva que surgiu<br />

o tema. Nossas aulas sempre iniciavam com rodas<br />

de conversas onde debatíamos diversos assuntos.<br />

A frustração por estudar tanto e diante das<br />

incertezas com as políticas trabalhistas do país foi<br />

um assunto recorrente.<br />

A sensibilização para o tema foi se dando aos poucos, falamos dos porquês da apatia do<br />

grupo. Fomos construindo as cenas e a narrativa, entre coreografias das músicas e<br />

proposta estética do espetáculo Hair e fragmentos de textos de Wislawa Szymborska.<br />

Mostrei trechos do filme Hair, os anos 70, falamos da ditadura, do DOPS e o que acontecia<br />

com artistas ditos “subversivos” na época. Fotos de tortura, a censura, a invasão da Roda<br />

Viva. A democracia foi nossa esperança. Fizemos uma cena, onde usei o áudio do comício<br />

das diretas já. Vários alunos se emocionaram e eles mesmos colocaram as mãozinhas na<br />

nuca, ao fazer a cena.<br />

Nas práticas corporais, experimentamos uma série de procedimentos com o intuito de buscar<br />

um corpo mais expressivo. Utilizamos assim o conceito de corpo cênico, ou seja “um corpo<br />

apto ao ato de criar, expressar e repetir com intenção o personagem ou movimento<br />

concebido”. (LOBO & NAVAS, 2007). Segundo estas autoras, o corpo cênico é preparado a<br />

partir da interligação de três fases didáticas: 1) Sensibilização que consta da percepção<br />

corporal, observação, atenção e concentração. 2) Conhecimento mecânico: O corpo como<br />

centro dos estudos, numa área de conhecimento que envolve os mecanismos do movimento,<br />

fundamentados nos sistemas ósseo, articular e muscular. 3) Conhecimento Expressivo: O<br />

corpo é a fonte da expressão, de onde brota a arte do movimento, o teatro e a dança. É a<br />

própria expressão, o artista de si, preparado para a cena e a incorporação de sua arte<br />

Para atender a essa proposta, nossa rotina diária das aulas constava especificamente de: 1)<br />

Roda de conversas iniciais; 2) Preparação corporal envolvendo práticas corporais diversas,<br />

exercícios de alongamentos, flexibilidade e força, e algumas propostas baseadas na<br />

biomecânica teatral, ioga, pilates; 3) Jogos de improvisação voltados à determinado objetivo<br />

como: interação, desinibição, expressividade, criação de cenas; e conhecimento expressivo; 4)<br />

Apresentação dos resultados dos trabalhos da aula para o grupo; 5) Avaliação<br />

Num primeiro momento não costumo trabalhar com nenhum texto, mas sim com exercícios de<br />

corpo e criação de partituras corporais. O texto e a narrativa vão sendo construídos durante o<br />

processo. Após a cenas serem criadas. É um processo meio de “caos”, mas que tem acaba<br />

funcionando.


Cenário<br />

Como não tínhamos material para iluminação adequado. Usei como recurso a<br />

tecnologia de projeção mapeada. Usando apenas o projetor que a escola possuía e<br />

projeção de backgrounds. O “Video mapping” (ou projeção mapeada), também<br />

conhecido como realidade espacial aumentada, é uma técnica que permite projetar<br />

vídeos e imagens tridimensionais de alta definição em prédios ou superfícies de<br />

objetos, com o intuito de transformá-los numa plataforma de exibição dinâmica<br />

interativa, alterando visualmente a sua forma no decorrer do tempo e criando uma<br />

realidade virtual.. Vejam os resultados:<br />

A esquerda mapping projetado na fachada de prédio. A direita backgrounds usados no espetáculo Sem<br />

Destino – Estamos a Deriva do Próprio Tempo. Abaixo a esquerda modelo do background, a direita como<br />

ficou no espetáculo<br />

Vejo na montagem teatral uma potência pedagógica. Confesso que gosto de me envolver<br />

com todo o processo de encenação, e como tenho também formação em mecânica industrial<br />

e um bom conhecimento da parte elétrica, isso facilita pois apesar de ser uma escola técnica<br />

não temos técnicos de iluminação por exemplo. Alguns alunos ficam responsáveis pela parte<br />

técnica de iluminação e sonoplastia<br />

Figurinos<br />

Como também costuro e bordo, incentivei os alunos a fazerem os próprios figurinos.<br />

Adaptando peças de roupa que eles tinham em casa e outras que trouxe do meu<br />

acervo pessoal, para usarmos na apresentação. A referência foi o espetáculo e filme<br />

Hair e a moda Hippie dos anos setenta. Todos pesquisaram a respeito.


À esquerda referencia da moda dos anos setenta, a direita figurinos do espetáculo, tecido<br />

costurado pela aluna numa calça jeans.<br />

Trilha sonora<br />

A trilha foi um elemento estético importantíssimo na proposta, teve como base duas<br />

músicas da trilha original do espetáculo Hair e a música El Necio – em várias versões<br />

do mexicano Silvio Rodríguez, que conheci numa imersão que fiz com o Eugênio Barba<br />

em 2017.<br />

El Nécio (O Tolo) Tradução Mônica Mesquita<br />

Para cortar o meu ícone em pedaços<br />

Para economizar entre único e o ímpar<br />

Para me dar um lugar em sua parnassus<br />

Para me dar um cantinho em seus altares<br />

Vem me convidar a convidar para que se arrependa<br />

Vem me convidar para não perder<br />

Vem me convidar para me indefinir (confundir)<br />

Me convidam à tanta merda<br />

Eu não sei o que é o destino<br />

Caminhando fui o que fui<br />

Além Deus, que era divino<br />

Eu morro como vivi<br />

Parte Gráfica<br />

Ao lado cartaz de divulgação do<br />

espetáculo divulgado em na escola e em<br />

redes sociais


Apresentação Final<br />

Fotos : Sabrina Aguiar


Apresentação Final<br />

Fotos : Sabrina Aguiar e arquivo pessoal Mônica Mesquita


Apresentação Final<br />

Fotos : Sabrina Aguiar


Avaliação do projeto:<br />

A avaliação foi diária e processual, ao final de cada aula, exercício ou cena construída.<br />

Importante ressaltar que os alunos na sua maioria nunca tinham tido aulas de teatro.<br />

Por isso foi importante focar nossa proposta no ensino do teatro na escola e em defesa<br />

da Arte enquanto um campo de conhecimento. Sem vínculo ou submissão com a área<br />

de Letras por exemplo. No processo não houve embate entre produto estético versus<br />

processo, na metodologia não privei o grupo ao acesso à técnicas mais elaboradas e<br />

complexas de preparação corporal baseadas em exercícios de jogos de biomecânica<br />

teatral de Meyerhold, na proposta de Eugênio Barba e Grotowski. A atuação teve<br />

referência do teatro político e narrativo de Brecht. Por não termos projetores<br />

adequados, a iluminação e o cenário foram feitos com videomapping. Os alunos<br />

participaram diretamente do processo, pesquisas sobre os figurinos dos anos 70,<br />

maquiagem, a estética dos processos e definiram até a inclusão ou não de cenas. O<br />

que ficou para os alunos e para mim foi um aprendizado não só de teatro mas de vida,<br />

para sempre, não desistir nunca pois a Arte é um ato de resistência.<br />

* Cabe destacar que não tivemos ajuda de custo para nada, tudo foi adaptado,<br />

figurinos, adereços, o cenário foi apenas uma projeção mapeada. O resultado final foi<br />

mérito de toda a turma.<br />

Referências:<br />

BARBA, Eugenio; SAVARESE, Nicola. A arte secreta do ator: um dicionário de antropologia<br />

teatral. é Realizações, 2012.<br />

BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo<br />

através do teatro. Civilização Brasileira, 1977.<br />

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista Brasileira<br />

de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr 2002 Nº 19. Disponível em:<br />

http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf<br />

KUBIK, Marianne. Biomechanics: Understanding Meyerhold´s Sistem of Actor Training. New<br />

York, Allworth Press, 2002.<br />

LOBO, Lenora & NAVAS, Cássia. Teatro do movimento: um método para o intérprete criador.<br />

Brasília: LGE Editora, 2007.<br />

LOYOLA, Geraldo Freire. Professor-artista-professor: materiais didáticos-pedagógicos e<br />

ensino-aprendizagem em arte. 2016.<br />

MONIS, Fátima Cristina et al. o trabalho do ator: a preparação que antecede a cena. 2003<br />

MAIORES INFORMAÇÕES:<br />

Vídeo : https://youtu.be/iaILcq5pYfc

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