ZAIRE #01

O olhar fixo para a câmera/espectador já seria de bastante
apelo (Marina Abromovic que o diga). Mas ele é ainda composto
com as palavras e com uma dança, um corpo que é lido em
conjunto com as imagem que o expõe, um corpo que já é cidade,
que já é carro, que já é pau de selfie.
Outro aspecto foi relevante para a falha na absorção da
rubrica. O texto foi escrito por mim tomando como inspiração
principalmente o oitavo capítulo do livro. Como no romance, ele é
formado por vários trocadilhos e, para testá-los, li em voz alta
para os parceiros de trabalho. As reações de riso demonstravam
que o sentido se fazia. O que descobri depois de publicada a
performance é algo que os teóricos wakeanos falam muito, mas
que para mim agora adquiriu aquele tipo de clareza que só a
experiência traz: o sentido do trocadilho se faz em voz alta.
O texto era muito mais compreensível para meus
parceiros que, quase sem esforço, escutaram-me lendo, do que
para os leitores de uma legenda que passava relativamente
rápida na tela. Embora seja inegável que o Finnegans Wake é
uma obra complexa, isso me fez perceber que a dificuldade em
sua leitura tem muito mais relação com o nosso primeiro impulso
de lê-lo como fazemos com um texto comum. Em seguida,
repetimos, passamos os olhos pela mesma frase algumas vezes
buscando outra forma de lógica ali. A que acabamos achando,
em grande parte das vezes, é justamente aquela que se faz de
primeira na sonoridade.
Mas a experiência do fluxo lida com o excesso e se tem
algo que ficou de Streaming penso ser exatamente isso: aquilo
que é demais e que passa sem deixar-se ser absorvido. No
entanto, neste projeto, em que o processo não apenas é obra,
como também gera obra, ainda há algo da passagem que fica: o
desejo de explorar o que se restringiu à fruição dos colegas e
não chegou ao público. Por isso, um dos fragmentos a serem