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DANDO ORIGEM A UMA OBRA EM PROGRESSO<br />
POR ANA FERREIRA<br />
A ausência de origem<br />
Minha residência na Airez Galeria marca o início da práxis<br />
do projeto de doutoramento em Artes Cênicas, cuja fase teórica<br />
já está em andamento há algum tempo. Ele se inscreve no<br />
campo expandido do teatro e parte da não delimitação entre<br />
processo e obra para pensar o evento teatral formado por<br />
diferentes acontecimentos que se relacionam entre si em<br />
contínua construção.<br />
No conjunto, eles apresentam uma obra em rede,<br />
constituída por objetos estéticos que são também autônomos e<br />
que podem se inscrever em qualquer suporte – videoinstalação,<br />
evento virtual, apresentação teatral etc. – mas que mantêm o<br />
caráter do encontro com o público que é próprio ao teatro, sendo<br />
marcados por uma relação temporal entre o espectador e o<br />
trabalho artístico (ah, este brilho do efêmero...).<br />
A própria inspiração para a pesquisa é uma obra não<br />
teatral: o romance Finnegans Wake (1939) de James Joyce,<br />
conhecido por seus experimentos linguísticos que forçaram os<br />
limites da literatura. O livro levou 17 anos para ser concluído e,<br />
durante este tempo, teve vários fragmentos publicados sob o<br />
nome Work in Progress, título que inspira o deste projeto: Obra<br />
em Progresso. Em busca de expandir os limites do teatro,<br />
investigo uma possível tradução formal dos procedimentos do<br />
livro.<br />
Os resultados parciais de tal investigação vão sendo<br />
publicados aos poucos, do mesmo modo que o Wake entrou em<br />
contato com o público em fragmentos. No entanto, em um projeto<br />
que investiga o acontecimento expandido, pouco interessa<br />
separar este processo que instaura diversos encontros de um<br />
resultado final, um possível grande espetáculo acabado.