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Revista Educar Transforma - Ed. 4

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Março 2018 I Ano 4 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />

<strong>Ed</strong>ucação sem<br />

fronteiras<br />

Com a BNCC, os estudantes da <strong>Ed</strong>ucação Básica passam a ter<br />

aprendizagens essenciais garantidas e um modelo nacional de ensino<br />

pág. 8<br />

Temas transversais pág. 24 Com a palavra pág. 38 tecnologia pág. 44<br />

Entenda a importância de abordar<br />

temas que dialoguem com conteúdos<br />

aplicados em sala de aula<br />

O secretário da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

Rossieli Soares da Silva fala sobre<br />

os desafios da educação<br />

Veja como o uso da tecnologia<br />

pode ressignificar as práticas<br />

pedagógicas


Aprender<br />

nunca foi tão<br />

divertido.<br />

No Projeto Ápis, conhecimento e<br />

diversão caminham sempre juntos.<br />

Com foco nos alunos dos anos iniciais<br />

do Ensino Fundamental, apresenta uma<br />

proposta lúdica de ensino, sem deixar<br />

de lado a base teórica indispensável<br />

para cada ciclo pedagógico. Tudo<br />

para despertar, com criatividade,<br />

o conhecimento dos seus alunos.<br />

Atualizado<br />

de acordo<br />

com a BNCC<br />

Central de Atendimento: 4003-3061 | atendimento@aticascipione.com.br


Índice<br />

Março 2018 I Ano 4 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />

22<br />

guia: Autodesenvolvimento<br />

Confira dicas de sites e<br />

plataformas de ensino<br />

para você se atualizar<br />

e aprimorar suas práticas<br />

pedagógicas<br />

24<br />

temas<br />

transversais<br />

Entenda por que<br />

este tipo de abordagem<br />

enriquece o<br />

aprendizado<br />

FOTO DE CAPA<br />

A concepção da capa foi<br />

inspirada na jornada do<br />

aluno com a proposta<br />

de unificação e equidade<br />

advinda da BNCC<br />

Expediente<br />

8<br />

<strong>Ed</strong>ucação sem<br />

Fronteiras<br />

Com a BNCC, os estudantes<br />

da <strong>Ed</strong>ucação Básica passam<br />

a ter aprendizagens essenciais<br />

garantidas e um modelo<br />

nacional de ensino<br />

34<br />

Competências<br />

socioemocionais<br />

Veja por que as<br />

habilidades socioemocionais<br />

são<br />

fundamentais para<br />

uma formação mais<br />

humana e integral<br />

38<br />

Com a palavra<br />

O secretário nacional<br />

da <strong>Ed</strong>ucação<br />

Básica Rossieli<br />

Soares da Silva fala<br />

sobre os desafios e<br />

oportunidades para<br />

alavancar os índices<br />

de alfabetização<br />

A <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> é uma<br />

publicação da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

Presidente SOMOS <strong>Ed</strong>ucação<br />

Fernando Shayer<br />

VP de <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

Guilherme Luz<br />

Diretora Comercial<br />

Fabyana Carvalho Desidério<br />

Gerente de Assessoria Pedagógica<br />

Renata Rossi<br />

Gerente de Marketing<br />

Decio Andrasy<br />

Gerente de Produto<br />

Fernanda Barbosa<br />

Coordenador de Business<br />

Intelligence<br />

Rodolfo Ferreira<br />

Assessora de Treinamento<br />

Renata Moraes<br />

Projeto Gráfico e <strong>Ed</strong>itorial<br />

Novacia Marketing e Comunicação –<br />

(11) 3382-9700<br />

Jornalista Responsável<br />

Anderson Martins Mtb 42.569<br />

Fotos Acervo SOMOS, Colaboradores<br />

SOMOS, Alan Malheiro, <strong>Ed</strong>ilson<br />

Rodrigues/Agência Senado, Luis Fortes,<br />

Marcos Oliveira/Agência Senado,<br />

Mariana Leal e Shutterstock<br />

Impressão nywgraf<br />

Tiragem 60.000 exemplares<br />

4 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 5


Índice Março 2018 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />

44<br />

Tecnologia<br />

Saiba como a<br />

tecnologia pode<br />

potencializar as<br />

dinâmicas de<br />

aprendizagem em<br />

sala de aula<br />

E mais<br />

7 Canal aberto<br />

Renata Rossi, gerente de Assessoria<br />

Pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação, traça um<br />

panorama do cenário educacional brasileiro<br />

16 Diz aí, mestre<br />

O educador Celso Antunes fala sobre a fase de<br />

aprendizagem das crianças de seis a dez anos<br />

Canal Aberto<br />

Renata Rossi Gerente de Assessoria Pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

Os novos tempos da educação<br />

54<br />

Avaliação<br />

Confira as diferenças<br />

entre as avaliações e<br />

a importância delas<br />

para a criação de<br />

políticas educacionais<br />

e correções de rotas<br />

66<br />

Arte<br />

A inclusão de artes<br />

integradas na grade<br />

curricular abre<br />

novas dimensões<br />

ao ensino da<br />

disciplina<br />

62<br />

literatura<br />

Veja por que o<br />

acesso à literatura<br />

é essencial para a<br />

formação integral<br />

do ser humano<br />

18 CurrÍculo escolar<br />

Entenda o que é necessário para<br />

a elaboração de um bom currículo escolar<br />

28 Entre Aspas<br />

As boas práticas pedagógicas nas palavras de<br />

quem está dentro da sala de aula<br />

30 Aprendizagem Significativa<br />

A importância do diálogo para a construção<br />

de significados<br />

42 Alfabetização<br />

Perspectivas para o futuro: primeiros desafios<br />

50 inclusão Escolar<br />

Escolas repensam suas práticas e se adaptam<br />

para receber alunos com necessidades<br />

educativas especiais<br />

56 <strong>Ed</strong>ucação financeira<br />

O ensino que possibilita a criação de conceitos<br />

e valores para o uso consciente do dinheiro<br />

que valem por toda a vida<br />

60 logos<br />

Para o professor Dante é preciso trabalhar a<br />

educação financeira desde os primeiros anos<br />

da infância<br />

70 PENSATA<br />

A arte-educadora Eliana Pougy explica a<br />

importância da inclusão das artes integradas<br />

na BNCC<br />

71 Somos indica<br />

Espaço para a indicação de obras literárias<br />

74 OUTRAS PALAVRAS<br />

Mario Sergio Cortella fala sobre o<br />

processo de ensinar e aprender<br />

E<br />

m dezembro do ano passado, a<br />

BNCC para a <strong>Ed</strong>ucação Infantil e<br />

o Ensino Fundamental foi homologada.<br />

O documento, criado a<br />

partir das contribuições de toda<br />

a sociedade, representa uma importante<br />

evolução para o ensino e um<br />

grande desafio para todos nós, profissionais<br />

ligados à educação.<br />

Pensando em apoiá-lo(a)<br />

nessa jornada que está apenas<br />

começando, apresentamos<br />

a você esta edição<br />

especial da revista <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong><br />

<strong>Transforma</strong>. Em suas páginas,<br />

abordamos uma série<br />

de temas que têm o principal<br />

objetivo de promover<br />

uma reflexão sobre o desenvolvimento,<br />

em sala de aula, das<br />

habilidades e competências apontadas<br />

no documento.<br />

Para isso, contamos com a participação<br />

de diversos autores, especialistas e pensadores.<br />

Um deles é o secretário nacional da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica Brasileira, Rossieli Soares<br />

da Silva, que trata, em entrevista, dos desafios<br />

da implementação da Base nas escolas<br />

de todo o país. Ele compartilha, ainda, suas<br />

perspectivas para o ensino nos próximos<br />

anos. Já o filósofo Mario Sergio Cortella fala<br />

sobre a necessidade do constante aperfei-<br />

çoamento para nos adaptarmos a este mundo<br />

em profundas transformações.<br />

Você também poderá conferir nossa visão<br />

sobre a promoção de ambientes mais<br />

inclusivos em sala de aula, as vantagens do<br />

uso da tecnologia no ensino e como isso impacta<br />

positivamente no processo de<br />

aprendizagem, além de ações<br />

pedagógicas para estimular<br />

as habilidades socioemocionais<br />

dos alunos e muitos<br />

outros temas que,<br />

esperamos, serão úteis<br />

para facilitar sua missão<br />

de formar cidadãos<br />

conscientes e protagonistas<br />

de seu tempo.<br />

Aproveito, também,<br />

pa ra reforçar a nossa importante<br />

parceria. Caso<br />

deseje, mande suas dúvidas,<br />

comentários ou sugestões sobre os<br />

assuntos abordados para que, juntos, atuemos<br />

de maneira significativa pela evolução da<br />

educação no país. Eles serão bem-vindos!<br />

Estamos juntos na missão de transformar<br />

a educação! Esse é, certamente, o nosso<br />

grande sonho.<br />

Um abraço e boa leitura!<br />

Mande sua dúvida, comentário ou sugestão para: atendimento@aticascipione.com.br ou saceditorasaraiva@somoseducacao.com.br<br />

6 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 7


Capa<br />

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />

educação sem<br />

fronteiras<br />

A BNCC propõe aprendizagens<br />

essenciais e um modelo nacional<br />

de ensino para os estudantes da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

Nada é tão vital na educação<br />

quanto a decisão sobre o que<br />

e como ensinar. Se esse roteiro<br />

pedagógico, que define aquilo<br />

que o aluno deve aprender, deixa<br />

de ser atribuição de uma escola<br />

ou rede de ensino para adquirir amplitude nacional,<br />

é natural que esse movimento receba apoios<br />

ou reações proporcionais à sua magnitude. Com a<br />

homologação da Base Nacional Comum Curricular<br />

(BNCC) pelo Ministério da <strong>Ed</strong>ucação, em dezembro<br />

de 2017, não foi diferente.<br />

Desde o início da discussão sobre a sua criação,<br />

há três anos, a elaboração do documento<br />

foi tema de debates em diversas esferas, com a<br />

participação de especialistas, dirigentes educacionais,<br />

professores e integrantes da sociedade. Um<br />

processo sem precedentes na educação brasileira.<br />

Agora em vigor, a Base Curricular estabelece<br />

uma série de desafios de adaptação para as escolas<br />

de <strong>Ed</strong>ucação Infantil e Ensino Fundamental,<br />

ciclos contemplados nessa etapa.<br />

A Base propõe<br />

novos desafios<br />

para as escolas de<br />

<strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />

e do Ensino<br />

Fundamental<br />

8 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 9


Capa<br />

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />

A BNCC EM<br />

Números<br />

Confira os expressivos<br />

indicadores envolvidos<br />

no desenvolvimento<br />

da Base<br />

O texto aprovado pelo Conselho<br />

Nacional de <strong>Ed</strong>ucação (CNE) estabelece<br />

um conjunto de aprendizagens<br />

essenciais que todos os estudantes<br />

brasileiros devem desenvolver ao<br />

longo da <strong>Ed</strong>ucação Básica até o final<br />

do Ensino Médio, sendo que este<br />

último segmento será incluído neste<br />

ano. A BNCC deve ser implementada<br />

até 2020 e vai orientar a elaboração do<br />

currículo de cada escola e o que deve<br />

ser ensinado, mantendo suas características<br />

sociais e regionais.<br />

Na avaliação do ministro da <strong>Ed</strong>ucação,<br />

Mendonça Filho, “o documento representa<br />

um grande passo para diminuir as desigualdades<br />

educacionais no Brasil e promover a qualidade<br />

das aprendizagens. O aluno do Piauí terá acesso<br />

O documento<br />

representa um<br />

grande passo<br />

para diminuir as<br />

desigualdades<br />

educacionais no<br />

Brasil.”<br />

Mendonça Filho<br />

ministro da <strong>Ed</strong>ucação<br />

A BNCC estabelece<br />

um conjunto de<br />

aprendizagens<br />

essenciais que todos<br />

os estudantes<br />

brasileiros devem<br />

desenvolver<br />

ao mesmo aprendizado que o aluno<br />

de São Paulo ou de outros estados”.<br />

Nem por essa relevância, o documento<br />

deixou de receber críticas<br />

pontuais. O próprio ministro reconheceu<br />

imperfeições, mas defende<br />

que a Base Curricular buscou refletir<br />

“a expressão da identidade de um<br />

país amplo e vivo”.<br />

Para a especialista em políticas públicas<br />

Claudia<br />

Costin,<br />

diretora<br />

do Centro<br />

de Excelência e Inovação<br />

em Políticas <strong>Ed</strong>ucacionais da FGV-RJ,<br />

o processo deve ser considerado um<br />

avanço. “Ao adotar um currículo nacional e<br />

12 milhões<br />

Número de sugestões enviadas<br />

pela internet para a formulação<br />

da Base<br />

472<br />

Páginas compõem o documento<br />

aprovado pelo MEC<br />

5<br />

Ministros da <strong>Ed</strong>ucação participaram<br />

da gestão do processo<br />

3<br />

Versões foram produzidas para<br />

a elaboração do texto final<br />

A BNCC foi<br />

discutida por<br />

diversos setores da<br />

sociedade e pelo<br />

governo. Ela entra<br />

em vigor neste ano<br />

e deve ser implementada<br />

até 2020<br />

em toda a rede de<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

10 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 11


Capa<br />

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />

definir claramente os direitos de aprendizagem de<br />

crianças e jovens, passamos a acompanhar os melhores<br />

sistemas de ensino do mundo. Garantir esse<br />

direito é tão importante quanto assegurar o acesso<br />

à escola”, afirma Claudia Costin.<br />

Construção em etapas<br />

Até a Base Curricular se consolidar como proposta<br />

para a qualificação do ensino e promoção<br />

da equidade, um extenso caminho foi percorrido.<br />

O instrumento foi idealizado na Constituição de<br />

1988 e propôs a criação de uma grade de conteúdos<br />

mínimos para o Ensino Fundamental.<br />

Outros passos determinantes foram a aprovação<br />

da Lei de Diretrizes e Bases da <strong>Ed</strong>ucação<br />

Nacional (LDB), em 1996, e a sistematização dos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), no<br />

período de 1997 a 2000. Posteriormente, a instituição<br />

do Plano Nacional de <strong>Ed</strong>ucação (PNE), em<br />

2014, se tornou decisiva para o país dar um salto<br />

no Ensino Básico, com 20 metas importantes a<br />

serem cumpridas no decênio 2014 – 2024.<br />

A estruturação da BNCC começou em 2015. No<br />

estágio inicial, recebeu mais de 12 milhões de contribuições<br />

pela internet, incorporadas nas duas versões<br />

iniciais do documento. A terceira foi concluída<br />

em 2017 e submetida a audiências públicas. Passou<br />

por revisões do MEC antes de ser encaminhada ao<br />

Conselho Nacional de <strong>Ed</strong>ucação. Toda a ação ocorreu<br />

sob a gestão de dois presidentes da República<br />

e cinco ministros da <strong>Ed</strong>ucação.<br />

Mudança na alfabetização<br />

“O processo começou com uma proposição,<br />

mas passou por mudanças no percurso, com<br />

reflexos no documento final”, diz o professor de<br />

Língua Portuguesa e autor de livros didáticos<br />

William Cereja. Em sua avaliação, alguns pontos<br />

mereceriam um debate mais amplo, como a questão<br />

da alfabetização, cujo processo passou de<br />

três para dois anos. “Embora seja uma tendência<br />

esse ciclo de aprendizagem não se estender tanto<br />

como em outros países, ao ocorrer até o 2º ano,<br />

que corresponde atualmente à antiga 1ª série do<br />

Fundamental, pode comprometer o<br />

aspecto lúdico dessa fase de ensino”,<br />

argumenta.<br />

Na disciplina de Língua Portuguesa,<br />

segundo Cereja, também ocorreram<br />

mudanças significativas durante a<br />

montagem da Base: “A terceira versão<br />

deu grande ênfase à gramática, depois<br />

atenuada”. De outra parte, o eixo de<br />

educação literária, que ganhava a<br />

mesma importância dos eixos de oralidade,<br />

escrita, leitura e gramática, foi<br />

excluído na última versão. “Só espero<br />

que isso não diminua a importância da literatura no<br />

estudo da Língua Portuguesa”, pondera.<br />

Competências para o século 21<br />

Há importantes conquistas para a educação que<br />

devem ser contabilizadas. “A Base está centrada em<br />

competências e não exclusivamente<br />

em conteúdos. Tem uma<br />

proposta muito mais contemporânea<br />

e ajustada à necessidade<br />

de formar jovens para o século<br />

21”, enfatiza Claudia Costin. A<br />

especialista aponta que essa<br />

orientação já é adotada pelos<br />

países que mais se destacam<br />

no Programa Internacional de<br />

Avaliação de Alunos (Pisa), que<br />

avalia o desempenho escolar<br />

de 70 nações. “Desenvolver<br />

habilidades, como as competências<br />

socioemocionais, é fundamental<br />

para que o estudante<br />

tenha uma inserção adequada<br />

na sociedade e no mercado do<br />

trabalho, principalmente em um<br />

mundo cada vez mais robotizado,<br />

em que ser inovador faz a<br />

diferença.”<br />

A BNCC também adotou em<br />

sua formulação princípios éticos,<br />

políticos e estéticos definidos<br />

pelas Diretrizes Curriculares<br />

Nacionais. Assim, estimula<br />

O processo começou<br />

com uma proposição,<br />

mas passou<br />

por mudanças<br />

no percurso,<br />

com reflexos no<br />

documento final.”<br />

William Cereja<br />

professor de Língua<br />

Portuguesa e autor<br />

de livros didáticos<br />

uma formação mais humana, integral<br />

e inclusiva. Também é relevante<br />

que permita desenhos próprios. “A<br />

Base não obriga a aplicação rígida de<br />

conteúdos em anos determinados,<br />

por exemplo. É uma flexibilização<br />

relativa, que dá opções para a aprendizagem”,<br />

explica Cereja. O professor<br />

também cita como aspecto positivo<br />

a inserção de temas relacionados<br />

a tecnologia. “Os gêneros digitais<br />

são muito bem-vindos. Ajudam na<br />

atualização do ensino e aproximam<br />

a escola da linguagem do aluno.”<br />

Missão das redes e escolas<br />

Ainda é cedo para prever o impacto nas salas de<br />

aula de <strong>Ed</strong>ucação Infantil e do Ensino Fundamental.<br />

Nos próximos anos de implementação, as redes e<br />

12 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 13


Capa<br />

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />

instituições de ensino municipais e estaduais<br />

terão a complexa tarefa de incorporar<br />

a Base Curricular às suas escolas,<br />

o que envolverá uma nova logística para<br />

avaliações, formação de professores e<br />

adoção de materiais didáticos.<br />

O ponto de partida é não confundir<br />

o documento com o currículo em si. Ele<br />

apenas dá referenciais e indica o rumo,<br />

enquanto os currículos elaborados<br />

funcionam como o caminho nesse processo.<br />

A BNCC deve ser integrada aos<br />

programas curriculares das redes e ao<br />

projeto pedagógico da escola que, por<br />

sua vez, deve incorporar conhecimentos,<br />

tradições e costumes que considerar relevantes<br />

para o aluno, assumindo seu protagonismo na<br />

aprendizagem.<br />

“Com a aprovação, começa o desafio de traduzir<br />

a Base em currículos pelo país”, salienta Claudia<br />

Costin, calculando que esse processo se estenda por<br />

este e pelo próximo ano, com avanços progressivos.<br />

“É possível que os governos estaduais, em regime de<br />

Acredito que, em<br />

breve, vamos evoluir<br />

consideravelmente em<br />

avaliações nacionais<br />

e internacionais,<br />

recuperando<br />

defasagens e maus<br />

resultados históricos.”<br />

Claudia Costin<br />

diretora do Centro de<br />

Excelência e Inovação em<br />

Políticas <strong>Ed</strong>ucacionais da<br />

FGV-RJ<br />

colaboração, desenvolvam o currículo de<br />

sua região e os municípios se inspirem<br />

no modelo, contextualizando fatores<br />

locais”, sugere.<br />

Outro fator é o comprometimento<br />

da gestão com a adoção das diretrizes<br />

da Base, assegura Claudia. “Gestores<br />

públicos e dirigentes de escolas devem<br />

estar plenamente comprometidos com<br />

as novas proposições para que sejam<br />

aplicadas da forma adequada.”<br />

Mas a parte estratégica desse processo<br />

é a capacitação dos professores<br />

para atuar em uma nova realidade de<br />

aprendizagem. “Os educadores terão<br />

de se preparar para lidar com propostas e conteúdos<br />

bem contemporâneos”, explica a especialista.<br />

Para tanto, é fundamental que as redes de ensino<br />

públicas viabilizem processos de formação continuada,<br />

a exemplo do que fazem as redes particulares.<br />

E cada educador deve se informar espontaneamente<br />

sobre as diretrizes, procurando adotá-las em<br />

seus planos de aula.<br />

Materiais didáticos<br />

Indispensáveis ao processo de aprendizagem,<br />

os livros didáticos já se adequam às proposições<br />

da Base Curricular. Antes mesmo da aprovação do<br />

documento, começaram a ser produzidos de acordo<br />

com as diretrizes do Programa Nacional do Livro<br />

Didático. Autor de publicações dessa natureza, o<br />

professor Cereja esclarece que as primeiras versões<br />

foram confeccionadas antes da revisão final da<br />

BNCC feita pelo MEC. “Por essa razão, o conteúdo<br />

desses livros ainda não contempla algumas orientações<br />

do texto final.”<br />

Para apoiar uma prática educativa qualificada e<br />

dar suporte aos professores em classe, os autores<br />

têm buscado uma plena compreensão da Base Curricular<br />

para garantir as melhores soluções editoriais.<br />

“Temos a responsabilidade de traduzir os novos<br />

conteúdos pedagógicos, procurando a abordagem<br />

mais adequada para cada tema”, diz o autor.<br />

A soma de esforços, direcionada para garantir que a<br />

BNCC estabeleça uma nova era na <strong>Ed</strong>ucação Básica do<br />

país, permite prever um futuro mais promissor para o<br />

estudante brasileiro. Algo que se refletirá não apenas<br />

nos processos de aprendizagem,<br />

como também nas avaliações.<br />

“Embora não seja o objetivo primordial,<br />

acredito que, em breve, vamos<br />

evoluir consideravelmente em avaliações<br />

nacionais e internacionais,<br />

como o Pisa, recuperando defasagens<br />

e maus resultados históricos”,<br />

conclui Claudia Costin.<br />

Além de competências<br />

e habilidades<br />

essenciais,<br />

a BNCC prevê a<br />

incorporação de<br />

conhecimentos,<br />

tradições e costumes<br />

locais<br />

O Impacto da Base nas escolas e redes de ensino<br />

Entenda como a BNCC vai promover mudanças na realidade escolar durante os próximos anos<br />

O documento apresenta<br />

referenciais<br />

para a elaboração<br />

dos currículos<br />

escolares<br />

O que propõe<br />

o documento<br />

Estabelecer um conjunto<br />

de aprendizagens essenciais<br />

que todos os estudantes<br />

brasileiros devem desenvolver<br />

na <strong>Ed</strong>ucação Básica,<br />

buscando uma formação<br />

humana, integral e inclusiva<br />

Desafios da<br />

rede de ensino<br />

Viabilizar a montagem<br />

dos currículos das escolas<br />

e dar suporte em<br />

processos de avaliação,<br />

formação de professores<br />

e aquisição de<br />

materiais didáticos<br />

Quando chegará<br />

às salas de aula<br />

O processo começa<br />

a ser adaptado a partir<br />

deste ano, em estados<br />

e municípios, e deverá<br />

ser implementado até<br />

2020 em todas as escolas<br />

do país<br />

Mudança<br />

no Ensino<br />

Fundamental<br />

A alfabetização deve<br />

ser concluída até<br />

o final do 2º ano<br />

do ciclo<br />

Adaptações<br />

no ensino<br />

Além das diretrizes da<br />

Base, devem ser incorporados<br />

aos currículos<br />

conhecimentos, tradições e<br />

costumes locais para garantir<br />

uma identidade própria à<br />

formação do aluno<br />

14 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 15


Existe algo mais fascinante<br />

que observar<br />

crianças de seis a dez<br />

anos? Nessa idade,<br />

o ser humano ganha<br />

aspectos de uma singularidade<br />

ímpar.<br />

Fase da vida em que meninos<br />

e meninas constituem espetáculos<br />

de originalidade indescritível.<br />

Falam em profusão, atropelando<br />

palavras, ou mergulham em silêncios<br />

profundos. Equilibram-se em<br />

beirais, alternam breves corridas<br />

com pulos injustificáveis, engolem<br />

coisas extravagantes e, surpreendentemente,<br />

conseguem até<br />

chegar inteiros em casa.<br />

Em algumas circunstâncias,<br />

grudam-se ao celular ou ao<br />

compu tador. Em outras, se largam<br />

diante da televisão. É o estágio<br />

de desenvolvimento cognitivo e<br />

habilidades mentais que Piaget denominava<br />

“operações concretas”,<br />

podendo fazer inúmeras coisas<br />

que em criança não podiam e, por<br />

isso, tornam-se tão estranhas e, ao<br />

mesmo tempo, tão fascinantes.<br />

Nesse estágio, descobrem a<br />

capacidade de operar seguindo<br />

regras, algo que representará,<br />

para todo o sempre, a base de<br />

DIz aí, mestre<br />

Celso antunes <strong>Ed</strong>ucador, professor-reitor da<br />

UniSant’Anna (SP), mestre em Ciências Humanas e consultor<br />

educacional do Canal Futura<br />

A hora mágica do<br />

ensino das regras<br />

A magia da descoberta e a importância de estabelecer limites<br />

para a construção de um ser social<br />

todo intercâmbio social duradouro.<br />

É a fase em que a ajuda dos<br />

pais é bem mais que essencial, é<br />

imprescindível.<br />

O bom adulto, nessa hora, não<br />

é apenas o que estabelece limites,<br />

mas o que ajuda a criança a<br />

construí-los. Quando uma criança<br />

aprende a construir e dominar as<br />

regras, conquista o pensamento<br />

silogístico e está pronta para a<br />

educação formal, descobrindo<br />

que existem regras fonéticas, de<br />

escrita, de aritmética. Aprender<br />

regras possibilita poder participar<br />

de jogos complexos, criar seus<br />

próprios jogos, ordenar as linhas<br />

de seu destino. Enfim, saber viver<br />

em grupo e, assim, se tornar realmente<br />

uma pessoa.<br />

É a oportunidade que os pais jamais<br />

podem deixar passar: mostrar,<br />

com doçura e firmeza, que existe<br />

hora para ligar e para desligar a<br />

TV, para brincar com jogos eletrônicos<br />

ou bonecas, mas também<br />

existe hora para parar. É uma fase<br />

admirável que requer professores<br />

capacitados e pais pacientes que<br />

explorem essa incrível competência<br />

mental para construir um ser efetivamente<br />

social.<br />

Nessa fase, muitos alunos em<br />

uma sala e a impessoalidade de<br />

uma aula constituem um crime<br />

contra a educação, bem como a<br />

pressão para aprender depressa,<br />

a monotonia de aulas expositivas,<br />

a homogeneidade de provas<br />

iguais para todos e a presença de<br />

adultos que transmitem saberes<br />

sem direito à exploração da curiosidade.<br />

Toda criança necessita do<br />

adulto e é nessa fase que mais se<br />

necessita desse adulto. É imperioso<br />

que compreendamos a criança<br />

e possamos, assim, nos tornar<br />

dignos dessa essencial necessidade,<br />

dessa bela oportunidade que nem<br />

sempre percebemos, mas somos<br />

intensamente procurados.<br />

Novas<br />

linguagens<br />

para o ensino<br />

da nossa língua<br />

Referência em todo o Brasil, a obra<br />

Português: Linguagens apresenta<br />

amplo conteúdo para todas as<br />

etapas da alfabetização. Textos de<br />

diferentes autores, seções de leitura<br />

e produção de texto misturam-se a<br />

novos conteúdos e linguagens, como<br />

fotografia, cinema, artes plásticas e<br />

populares. O resultado? Muito mais<br />

recursos para ensinar toda a riqueza<br />

da nossa língua.<br />

William<br />

Cereja<br />

Autor<br />

16 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018


Currículo escolar<br />

Rumo ao sucesso da atuação pedagógica<br />

Um caminho<br />

a percorrer<br />

A importância de elaborar um currículo<br />

escolar bem estruturado para garantir<br />

o sucesso da atuação pedagógica<br />

I<br />

magine que você vai construir<br />

uma casa. Cada etapa<br />

precisa ser bem planejada:<br />

o projeto, a definição dos<br />

materiais, a construção<br />

dos alicerces, a fase de<br />

acabamento e os detalhes que<br />

darão personalidade ao imóvel. E<br />

para que o resultado seja alcançado<br />

com sucesso, é fundamental<br />

que você acompanhe todos os<br />

passos desse trabalho.<br />

De modo geral, a maneira<br />

como a escola define o que seus<br />

alunos irão aprender e como cada<br />

etapa desse processo será realizada<br />

é bem semelhante. O currículo<br />

é a ferramenta que norteia esse<br />

planejamento, estabelecendo<br />

a sequência do que precisa ser<br />

estudado e como esse conteúdo<br />

deve ser trabalhado.<br />

A palavra currículo vem do<br />

latim currere, que significa um<br />

caminho a percorrer. Ao longo<br />

do tempo, no contexto do ensino,<br />

essa definição passou a ser<br />

entendida como um plano de<br />

estudos que, justamente, determina<br />

os passos que o estudante<br />

irá percorrer em cada momento<br />

de sua formação. Isso inclui as<br />

disciplinas que serão estudadas,<br />

os conteúdos e práticas pedagógicas<br />

aplicados em sala de aula,<br />

as experiências, os talentos individuais<br />

e valores a serem desenvolvidos<br />

e muito mais.<br />

A educação e o currículo não apenas transmitem<br />

cultura, como também são partes integrantes<br />

e ativas de um processo de produção e criação<br />

de sentidos, de significados, de sujeitos.”<br />

Letícia Lyle<br />

diretora presidente do instituto Somos<br />

18 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 19


Currículo escolar<br />

Rumo ao sucesso da atuação pedagógica<br />

O caminho das pedras<br />

Construir um currículo é um<br />

trabalho de olhar para o futuro<br />

e traduzir as perspectivas para<br />

o presente por meio de ações<br />

que direcionem o conteúdo, a<br />

sequência e o ritmo da aprendizagem.<br />

Para Letícia Lyle, diretora<br />

presidente do Instituto Somos, “é<br />

preciso saber para onde você está<br />

indo e qual é o fim dessa jornada,<br />

a fim de desenhar os passos<br />

até lá. Uma vez que os objetivos<br />

estejam claros, é essencial desenvolver<br />

um plano de ações para<br />

colocá-los em prática”, explica. “É<br />

um trabalho que deve ser feito<br />

com clareza e transparência, pois<br />

é nesse documento que a instituição<br />

vai mostrar, de acordo com<br />

suas crenças, metodologia e perfil<br />

de alunos, como vai caminhar em<br />

direção a seus propósitos.”<br />

O currículo pode ser elaborado<br />

por um único professor ou em<br />

grupo, pela equipe pedagógica,<br />

por autores especializados ou<br />

pelo governo. “Estamos lidando<br />

com uma criança que aprende de<br />

maneira global, com o conhecimento<br />

integrado e interdisciplinar.<br />

É preciso haver uma escuta<br />

muito qualificada de todos os<br />

agentes desse processo para<br />

entender o que pode ser feito, em<br />

que ritmo e com que finalidade.”<br />

O princípio para a elaboração<br />

de um bom currículo é conhecer os<br />

instrumentos normativos, como a<br />

Base Nacional Comum Cur ricular.<br />

Homologado no final de 2017, esse<br />

documento apresenta um conjunto<br />

de diretrizes que os educadores<br />

e coordenadores pedagógicos<br />

Cada segmento tem<br />

objetivos para o futuro<br />

dos alunos. O currículo<br />

precisa deixar claro<br />

como a escola vai<br />

executar isso em cada<br />

momento do aprendizado,<br />

refletindo transparência<br />

e integridade.”<br />

Letícia Lyle<br />

diretora presidente do<br />

instituto Somos<br />

Como se elabora um currículo<br />

Saiba quais são as etapas fundamentais para a construção do documento<br />

Planejamento<br />

Desenvolvimento<br />

Implementação<br />

1 2 3 4<br />

Neste momento é<br />

preciso considerar<br />

a missão e os valores<br />

da instituição, de<br />

modo a traduzir seu<br />

propósito em cada<br />

experiência<br />

turar o passo a passo. Por exemplo:<br />

antes de aprender a elaborar<br />

uma produção textual, a criança<br />

deve saber reconhecer o som das<br />

letras, a formação de palavras e<br />

frases para, então, compreender<br />

a construção do texto.”<br />

O papel do professor<br />

Mais do que declarar informações<br />

valiosas sobre suas diretrizes,<br />

o currículo carrega a personalidade<br />

das escolhas pedagógicas<br />

e metodológicas de cada instituição.<br />

E o professor é fundamental<br />

na construção dessa identidade.<br />

Segundo a diretora, a experiência<br />

dele em aula e a iniciativa de criar<br />

novas referências para enriquecer<br />

o conteúdo são práticas curriculares<br />

essenciais para o resultado.<br />

“Quando o professor pesquisa,<br />

traz vídeos ou elementos novos<br />

para a sala, está ajudando a trazer<br />

diversidade.”<br />

Nesse contexto, além dos instrumentos<br />

normativos, o educador<br />

precisa estar em constante atualização,<br />

conectado às mudanças na<br />

educação, e conhecer os recursos<br />

que influenciam sua prática no<br />

dia a dia. “As redes de ensino têm<br />

diversas capacitações, além de<br />

Deve conter uma descrição<br />

detalhada de como<br />

o conteúdo é organizado,<br />

o planejamento das<br />

atividades, a escolha dos<br />

processos de avaliação e<br />

recursos utilizados<br />

Momento em que<br />

as ações propostas<br />

no plano de estudos<br />

são levadas à sala<br />

de aula, respeitando<br />

o espaço e o tempo<br />

estabelecidos<br />

devem levar em conta na hora<br />

de produzir o currículo. Também,<br />

quais habilidades essenciais<br />

devem ser desenvolvidas pelos<br />

estudantes durante a <strong>Ed</strong>ucação<br />

Básica em todo o Brasil.<br />

O diferencial está nas características<br />

inovadoras que cada<br />

escola irá apresentar – e como<br />

serão trabalhadas, sejam elas<br />

competências socioemocionais,<br />

formação pluricultural e assim<br />

por diante. “Como garantir que<br />

questões importantes como<br />

diversidade, ética, gênero e tantas<br />

outras serão passadas adiante?<br />

Com tempo, espaço e progressão<br />

bem definidos em seu plano de<br />

estudos”, ressalta.<br />

Letícia observa que, se a escola<br />

acredita na aprendizagem colaborativa,<br />

deve incluir elementos<br />

que reforcem isso. Se a ênfase<br />

deve ser em Língua Portuguesa<br />

e Matemática, o ensino desses<br />

componentes curriculares precisa<br />

ser reforçado. “Essas escolhas são<br />

norteadoras. Mas é preciso estrucursos<br />

on-line para sua formação<br />

contínua. Assumir esse papel e<br />

entender a representatividade de<br />

seu trabalho e de seus alunos é<br />

fundamental”, avalia Letícia.<br />

Agora que você já sabe o que é<br />

preciso para construir essa “casa”,<br />

mãos à obra!<br />

Avaliação<br />

Por meio de avaliações do<br />

processo de aprendizagem e<br />

do resultado no fim do curso,<br />

é possível mapear os erros e<br />

acertos e reconstruir o que for<br />

necessário para estabelecer<br />

novos planos de ação<br />

A elaboração<br />

de currículos é<br />

trabalho de todos<br />

os envolvidos<br />

no processo de<br />

aprendizagem<br />

20 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 21


Guia<br />

Ferramentas para o seu autodesenvolvimento<br />

Navegar<br />

é preciso<br />

Saiba como a internet<br />

pode contribuir para o seu<br />

aperfeiçoamento profissional<br />

uando o assunto é formação<br />

continuada, investir no desenvolvimento<br />

profissional ganha<br />

um significado ainda mais nobre:<br />

reflete-se no trabalho em sala<br />

de aula e na formação de alunos<br />

mais conscientes e preparados<br />

para os desafios do futuro.<br />

Para te ajudar nessa missão, selecionamos<br />

algumas ferramentas on-line que proporcionam<br />

atualização e uma dose extra de conhecimento.<br />

Confira!<br />

USP Digital – Curso: <strong>Ed</strong>ucação<br />

on-line para professores<br />

uspdigital.usp.br<br />

Fundação Getúlio<br />

Vargas (FGV)<br />

portal.fgv.br<br />

Aba educação > cursos on-line<br />

A Fundação Getúlio Vargas também<br />

apresenta ótimos conteúdos para<br />

aprimorar a sua formação. No site da<br />

instituição, você encontra diversos<br />

cursos ligados à História do Brasil,<br />

Filosofia, Sustentabilidade e Cidadania,<br />

por exemplo. Para acessar, é preciso se<br />

cadastrar na plataforma.<br />

Plataforma de ensino<br />

Plataforma<br />

de ensino<br />

Totalmente gratuito, o curso faz uma abordagem<br />

ampla e profunda sobre as transformações do<br />

processo de ensino e aprendizagem em sala de<br />

aula, a partir do uso de novas tecnologias. Mais<br />

do que uma fonte de atualização profissional,<br />

também provoca o professor a refletir sobre o<br />

seu papel no mundo digital. Na seção Cultura e<br />

Extensão, clique na plataforma Apoio. Depois,<br />

para acessar o conteúdo, vá em Cursos/<br />

Atividades Oferecidas e Cursos a Distância.<br />

Coursera<br />

coursera.org<br />

BrailLe Virtual<br />

www.braillevirtual.fe.usp.br<br />

Inclusão<br />

Criado pela Faculdade de <strong>Ed</strong>ucação<br />

da Universidade de São Paulo<br />

(FEUSP), o Braille Virtual é um curso<br />

on-line para quem deseja aprender<br />

a linguagem universal dos<br />

deficientes visuais. Não<br />

é preciso cadastro<br />

para ter acesso à<br />

capacitação.<br />

Plataforma<br />

de ensino<br />

O Coursera é uma plataforma on-line<br />

gratuita que oferece cursos de algumas<br />

das mais renomadas instituições de<br />

ensino do mundo. Ao todo, são mais de<br />

dois mil cursos disponíveis, em inglês e<br />

português, para quem deseja ampliar<br />

conhecimentos em temas como Arte,<br />

Matemática, Linguagens, Ciências Sociais<br />

e Tecnologia da Informação.<br />

Unesp Aberta<br />

www.unesp.br/unespaberta<br />

Plataforma<br />

de ensino<br />

Idealizada pela reitoria da Universidade<br />

Estadual Paulista (Unesp), a plataforma<br />

traz materiais dedicados à capacitação<br />

profissional do professor. Os cursos<br />

são livres e gratuitos e abrangem todas<br />

as áreas do conhecimento.<br />

Para ter acesso às aulas,<br />

é preciso se cadastrar,<br />

criar um login<br />

e senha.<br />

Veduca<br />

veduca.org/courses<br />

Plataforma<br />

de ensino<br />

Veduca é uma plataforma on-line<br />

de educação. Os cursos são<br />

ministrados por professores de<br />

instituições parceiras, como a USP.<br />

Para ter acesso às videoaulas é<br />

preciso se cadastrar no site. Todo<br />

o conteúdo é gratuito e, ao final de<br />

cada curso, basta pagar uma taxa<br />

para obter a certificação.<br />

Cinema<br />

Spcine play<br />

www.spcineplay.com.br<br />

A plataforma reúne o melhor do cinema<br />

nacional. Além de ser uma fonte rica<br />

de informações, os filmes disponíveis<br />

também podem ser utilizados como<br />

ferramentas de educação para retratar,<br />

em sala de aula, temas da realidade<br />

brasileira. Para ter acesso ao catálogo,<br />

é preciso pagar R$ 3,90 por filme.<br />

Itaú Cultural –<br />

Espaço do Professor<br />

www.itaucultural.org.br<br />

Institutos<br />

O Espaço do Professor é parte da<br />

Enciclopédia do Itaú Cultural. Com<br />

conteúdos recomendados para<br />

diferentes etapas do ensino, a<br />

ferramenta foi criada para ser fonte de<br />

conhecimento e instrumento de apoio<br />

ao professor em sala de aula. Para<br />

acessar, clique em Planos de Aula na<br />

home do site.<br />

22 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 23


Temas transversais<br />

Novos saberes, diferentes perspectivas<br />

Conexões<br />

pedagógicas<br />

A importância de abordar temas transversais<br />

que dialoguem com os conteúdos aplicados em aula<br />

Língua Portuguesa,<br />

Ciências ou História<br />

são algumas das disciplinas<br />

com muitas<br />

possibilidades de<br />

extensões pedagógicas.<br />

Mas nenhuma é estanque<br />

em sua função de estimular<br />

novos saberes. Todas podem ganhar<br />

novas conotações ao serem<br />

associadas a temas transversais,<br />

uma prática que vem ganhando<br />

espaço nos anos iniciais do<br />

Ensino Fundamental, com boas<br />

ações realizadas e até conhecidas<br />

por muitos de nós, professores.<br />

E este processo tem se mostrado<br />

determinante para auxiliar os<br />

alunos a compreenderem o mundo<br />

em que vivem.<br />

Previstos nos Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais (PCN), os temas<br />

transversais mais difundidos<br />

são: ética, meio ambiente, saúde,<br />

trabalho e consumo, orientação<br />

sexual e pluralidade cultural.<br />

Porém, outros podem ser idealizados<br />

a critério da escola. Eles<br />

não se sobrepõem às disciplinas<br />

convencionais e não impõem<br />

conteúdos ou são trabalhados<br />

em paralelo, apenas dialogam<br />

de forma transversal, agregando<br />

um leque mais amplo de conhecimentos<br />

de interesse social.<br />

“Os temas transversais são<br />

direcionados para formar um<br />

cidadão mais completo, crítico<br />

e participativo, que seja capaz<br />

de articular melhor sobre sua<br />

realidade”, diz Erika Buch, supervisora<br />

pedagógica da Somos<br />

<strong>Ed</strong>ucação. Dessa forma, ao<br />

inserir os temas transversais em<br />

um currículo, a escola trabalha<br />

para a compreensão dos direitos<br />

e responsabilidades relaciona-<br />

Os temas transversais<br />

são direcionados para<br />

formar um cidadão<br />

mais completo, crítico<br />

e participativo, que seja<br />

capaz de entender melhor<br />

a realidade.”<br />

Erika Buch<br />

supervisora pedagógica da<br />

Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

dos com a vida pessoal e coletiva<br />

dentro da realidade que o estudante<br />

está inserido. O papel da<br />

escola, ao trabalhar com temas<br />

transversais, é integrar, facilitar e<br />

estimular ações de modo integrado,<br />

buscando não fragmentar o<br />

ensino, de forma que a vida e o<br />

conhecimento tenham relações.<br />

Para se tornarem relevantes,<br />

é importante que os conteúdos<br />

tratados transversalmente sejam<br />

sempre atuais e levem em conta<br />

temáticas sociais. “A questão da<br />

febre amarela, que está entre<br />

as mais discutidas no momento,<br />

serve de exemplo. Pode ser conduzida<br />

por diferentes perspectivas<br />

e levar a criança a entender<br />

que sacrificar macacos não ajuda<br />

a solucionar o problema, pois<br />

eles são apenas hospedeiros do<br />

vírus e tão vítimas quanto nós”,<br />

argumenta Erika.<br />

Projetos interdisciplinares<br />

Recurso pedagógico que agrega<br />

valor a esse processo, a interdisciplinaridade<br />

permite conectar<br />

vários campos do conhecimento<br />

a partir de um eixo temático.<br />

24 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 25


Temas transversais<br />

Novos saberes, diferentes perspectivas<br />

Os temas transversais<br />

podem ser<br />

trabalhados em<br />

projetos educacionais<br />

que envolvam<br />

a escola e a família<br />

“São ações que mobilizam a comunidade<br />

escolar, incluindo pais<br />

de alunos”, explica Valéria Tanese<br />

Palma, assessora pedagógica da<br />

Somos <strong>Ed</strong>ucação. “Os conhecimentos<br />

podem e devem estar<br />

interligados entre as disciplinas,<br />

o que justifica serem trabalhados<br />

conjuntamente”, completa. Isso<br />

permite ao educador estimular,<br />

observar e mediar, criando<br />

situações de envolvimento e<br />

aprendizagem significativa para o<br />

aluno. Afinal, uma das tarefas do<br />

educador é estimular o raciocínio,<br />

a criatividade, a curiosidade e,<br />

assim, fazer o aluno solucionar<br />

problemas na sua vida.<br />

O estudo do tema transversal<br />

meio ambiente, por exemplo,<br />

Campo inesgotável de estudos<br />

pode ocorrer em diferentes níveis<br />

de escolaridade e pela combinação<br />

de análises históricas, geográficas,<br />

biológicas, científicas, entre<br />

outras. Para tanto, a direção da<br />

escola e os professores têm a função<br />

de avaliar as necessidades da<br />

instituição e dos alunos. “A partir<br />

desse mapeamento, os gestores<br />

definem os projetos que podem<br />

atender a questões de aprendizagem<br />

ou responder a problemáticas<br />

da comunidade para planejar<br />

a ação. ”Basta que realizem um<br />

planejamento que contemple as<br />

estratégias, os objetos de pesquisa,<br />

os materiais, a duração do<br />

projeto e o produto final.<br />

O desafio de pensar um tema<br />

transversal de forma interdisciplinar<br />

inclui ainda a definição dos<br />

recursos a serem empregados.<br />

“Por vezes, pode até existir um<br />

patrocínio local para viabilizá-lo”,<br />

ressalta Valéria.<br />

Agentes de transformação<br />

Além da escola, espaço para<br />

que os temas transversais se<br />

desenvolvam e promovam uma<br />

Confira abaixo os principais temas transversais que estão relacionados<br />

a outros que podem ser adotados a partir de contextos locais<br />

Ética<br />

Conceitos e<br />

valores; senso<br />

de justiça;<br />

solidariedade;<br />

referências<br />

históricas<br />

Orientação<br />

sexual<br />

O corpo humano<br />

como matriz da sexualidade;<br />

relações de<br />

gênero; prevenção de<br />

doenças sexualmente<br />

transmissíveis (DSTs)<br />

Meio<br />

ambiente<br />

Ecologia e ecossistemas;<br />

os ciclos da<br />

natureza; manejo<br />

e conservação ambiental;<br />

consumo<br />

consciente<br />

Saúde<br />

Equilíbrio do organismo<br />

e prevenção<br />

de doenças; principais<br />

enfermidades;<br />

epidemias<br />

Pluralidade<br />

cultural<br />

O ser humano como<br />

agente social e produtor<br />

de arte e cultura;<br />

indústria cultural; diversidade<br />

entre povos<br />

e cidadania<br />

Trabalho<br />

e consumo<br />

As relações e modalidades<br />

de trabalho e suas dimensões<br />

históricas; meios de<br />

comunicação de massa;<br />

publicidade; marketing;<br />

consumismo<br />

educação para a cidadania, a<br />

eficiência do processo depende<br />

de todos os envolvidos. Os<br />

professores devem estar capacitados<br />

e alinhados à proposta<br />

pedagógica de cada projeto e às<br />

expectativas de aprendizagem.<br />

“Eles precisam estar dispostos a<br />

adquirir novos conhecimentos<br />

e ensiná-los adequadamente,<br />

compreendendo esse processo<br />

como vital para o aluno”, defende<br />

Valéria. “Nós, professores, somos<br />

agentes de transformação<br />

e contribuímos para a formação<br />

de uma geração consciente em<br />

relação ao seu papel na sociedade,<br />

voltada para a valoração<br />

ética, social, econômica e ambiental”,<br />

completa.<br />

O principal beneficiário é o<br />

próprio estudante, que deve ser<br />

capaz de interpretar significados,<br />

refletir e interagir. E, assim, se<br />

torna mais preparado para lidar<br />

com as diferenças e vulnerabilidades<br />

da sociedade. “Ele adquire<br />

maior noção do que acontece ao<br />

seu redor e se torna um agente<br />

de transformação que impacta,<br />

que pode fazer a diferença”, assegura<br />

Erika Buch. Pode ser, portanto,<br />

um movimento estendido<br />

estrategicamente para a casa do<br />

aluno, e contribui para orientar<br />

famílias que têm pouco acesso à<br />

informação. “Prova disso são os<br />

projetos transversais que tratam<br />

da dengue. É comum a criança<br />

envolvida explicar para os pais<br />

que não se deve deixar vasos e<br />

pneus acumularem água. Assim,<br />

este aluno também intervém em<br />

sua realidade.”<br />

Os estudantes<br />

passam a interpretar<br />

significados,<br />

refletir e interagir,<br />

a partir do desenvolvimento<br />

dos<br />

temas transversais<br />

em sala de aula<br />

Temas sensíveis<br />

Para estabelecer esse diálogo<br />

de forma a cumprir com seu<br />

papel social, os temas transversais<br />

podem ser abordados sem<br />

entraves, de forma natural, mas<br />

com responsabilidade. “Nesta<br />

perspectiva, os temas transversais<br />

têm a intencionalidade de<br />

promover um diálogo que ajude<br />

os jovens estudantes a receberem<br />

informações e orientações<br />

confiáveis”, aponta Erika.<br />

Isso, sempre com muito cuidado<br />

e pesquisa sobre o tema,<br />

além de incluir participantes do<br />

entorno escolar como direção,<br />

coordenação e especialistas no<br />

assunto, que possam contribuir<br />

com as propostas da escola e<br />

com temas que estão no calor<br />

das horas.<br />

26 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 27


entre aspas<br />

Uma seleção de depoimentos que destacam<br />

boas práticas de professores em sala de aula<br />

O<br />

que é uma boa prática pedagógica? É aquela<br />

que, mesmo fora da sala de aula, marca positivamente<br />

a vida do aluno. Isso certamente já<br />

aconteceu com você, professor(a)! E, por isso,<br />

queremos saber sobre sua boa prática, para<br />

que seja compartilhada com outros professores<br />

do nosso imenso Brasil. Para enviar sua boa prática,<br />

escreva um e-mail para: renata.moraes@somoseducacao.com.br.<br />

Confira, então, algumas práticas pedagógicas que estão no escopo<br />

de trabalho das três professoras que colaboraram com esta seção.<br />

“Há um projeto que realizei chamado<br />

Cartas pelo Brasil. Consistiu na escrita<br />

de cartas pelos alunos e na troca<br />

delas entre outras escolas. Esse tipo<br />

de atividade pode ser feita entre escolas<br />

de um município ou ainda entre<br />

as séries da mesma escola. Eu gosto<br />

da proposta da carta, mesmo que em<br />

desuso pelos alunos, pois é uma forma<br />

de apresentar esse gênero tão importante<br />

para a história da comunicação e<br />

da humanidade. Também cria a oportunidade<br />

de fazer as associações com<br />

os gêneros mais próximos dos alunos,<br />

como as mensagens. Além disso, é legal<br />

trabalhar a própria comunicação.<br />

Por meio da carta, o aluno fala de si,<br />

pergunta sobre o outro e um processo<br />

comunicativo se estabelece de forma<br />

bem bacana. Vale o trabalho e empenho<br />

de todos.”<br />

Patrícia Sabella<br />

professora graduada em Letras pela Unesp de Assis (SP)<br />

“Em todos esses anos lecionando nas escolas, pensando em<br />

todos os segmentos – <strong>Ed</strong>ucação Infantil, Fundamental I e<br />

Fundamental II – e vendo outras ações enquanto coordenadora<br />

pedagógica, vi e vivenciei muitas práticas boas. Duas delas<br />

são infalíveis: as que têm em seu contexto a musicalidade e<br />

a afetividade. Ou seja, todas as que exploram estes dois campos,<br />

principalmente as que exploram os sentidos, tendem a ter<br />

resultados extraordinariamente bons.”<br />

Emilene Zaguetti<br />

professora graduada em Pedagogia e especialista em Gestão Escolar pela<br />

Universidade Metropolitana de Santos (SP)<br />

“Minhas boas práticas sempre estão<br />

relacionadas à roda de conversa<br />

e leitura de livros infantis<br />

porque, a meu ver, são as que<br />

desenvolvem mais a autonomia<br />

e a personalidade dos alunos<br />

do Fundamental I. Eu<br />

selecionei essas práticas por<br />

não focarem somente no caminho<br />

das crianças ao mundo do trabalho.<br />

Com elas, os alunos podem fazer escolhas,<br />

protagonizar as atividades a partir de suas<br />

necessidades e motivações. Assim, a autonomia<br />

é bastante desenvolvida nesses tipos de<br />

atividades. O trabalho socioemocional também<br />

é valorizado onde leciono.”<br />

Erika Kohle<br />

professora doutoranda em Pedagogia pela Unesp de Marília (SP)<br />

28 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 29


aprendizagem significativa<br />

Criando percepções e sentid os<br />

Construindo<br />

sentidos<br />

Como a aprendizagem significativa pode contribuir para<br />

o processo de ensino e assimilação de novos conceitos<br />

H<br />

á alguns anos,<br />

era comum<br />

visitar uma<br />

biblioteca e mergulhar<br />

em uma<br />

porção de livros<br />

e enciclopédias em busca de<br />

conhecimento. Hoje, pouca gente<br />

mantém esse hábito. Afinal, com<br />

a revolução digital, há um oceano<br />

de informações disponível na<br />

palma da mão. Mas, com tantas<br />

respostas, se torna cada vez mais<br />

imprescindível saber fazer as perguntas<br />

certas, questionar.<br />

Na escola não é diferente. Já<br />

não basta mais, ao professor,<br />

reproduzir conhecimento. É<br />

preciso conduzir experiências<br />

que contextualizem o que está<br />

sendo ensinado de acordo com o<br />

histórico de cada um. Isso porque<br />

“aquilo que não tem uma<br />

conexão com algo anteriormente<br />

aprendido tende a ser esquecido,<br />

pois é arquivado na memória de<br />

curto prazo”, explica a pedagoga<br />

Francisca Paris, ex-secretária de<br />

<strong>Ed</strong>ucação de Ribeirão Preto e<br />

autora de livros didáticos.<br />

Ao abrir um espaço antes<br />

de iniciar o conteúdo<br />

teórico, o professor vai<br />

compreender o que os<br />

alunos sabem sobre o<br />

tema e, assim, criar uma<br />

sintonia de aprendizado<br />

com toda a turma.”<br />

Francisca Paris<br />

ex-secretária de <strong>Ed</strong>ucação de<br />

Ribeirão Preto e autora de livros<br />

didáticos<br />

Espaço para o diálogo<br />

Um dos caminhos para isso é a<br />

aprendizagem significativa. De acordo<br />

com o teórico David Ausubel,<br />

esse processo demanda relacionar<br />

as aprendizagens aos conhecimentos<br />

preexistentes na estrutura<br />

cognitiva das pessoas, construindo<br />

contextos de significação. E isso<br />

acontece por meio do chamado<br />

esquema cognitivo que, para a<br />

Psicologia, é a maneira como os<br />

estímulos e percepções são organizados<br />

por um indivíduo em deter-<br />

minada situação.<br />

Aplicando essa teoria ao<br />

ambiente escolar, mais do que<br />

apresentar um conteúdo em sala<br />

de aula, é fundamental estabelecer<br />

uma relação entre a vivência<br />

dos alunos e seus aprendizados<br />

consolidados, de maneira que<br />

seja possível entender, registrar e<br />

criar um significado para a informação.<br />

“O aluno define os conceitos<br />

com suas próprias palavras e<br />

os relaciona com a vida”, ressalta<br />

a pedagoga.<br />

Mas como fazer isso na prática?<br />

Segundo Francisca, “uma aula que<br />

promova a aprendizagem significativa<br />

é, inicialmente, um espaço de<br />

diálogo, no qual o professor incentiva<br />

a participação de todos para<br />

que exponham suas percepções e<br />

sentidos”. Para isso, o mais importante<br />

é entender como cada um<br />

pensa e o que sabe sobre aquele<br />

conteúdo. “Ao abrir um espaço antes<br />

de iniciar o conteúdo teórico, o<br />

professor passa a compreender o<br />

que os alunos sabem sobre o tema<br />

e, assim, cria uma sintonia de<br />

aprendizado com toda a turma.”<br />

30 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 31


aprendizagem significativa<br />

Criando percepções e sentid os<br />

Um exemplo: se o docente<br />

fala em café com leite, um estudante<br />

pode imaginar uma xícara<br />

no café da manhã; outro pode<br />

pensar em alguém muito jovem<br />

para participar das regras de<br />

um jogo; ou ainda, alguém pode<br />

mencionar, mesmo que superficialmente,<br />

o acordo firmado<br />

entre as oligarquias de São Paulo<br />

e Minas Gerais e o Governo Federal<br />

para a escolha de presidentes<br />

durante a República Velha. “O<br />

importante é não bloquear o<br />

canal de comunicação e permitir<br />

que todos se expressem. Assim,<br />

é possível construir um sentido<br />

comum a partir das contribuições<br />

de todos”, diz Francisca.<br />

E se impactar cada indivíduo,<br />

em uma classe com 30 ou mais<br />

estudantes, é um enorme desafio,<br />

o segredo para alcançá-lo pode<br />

estar no trabalho colaborativo.<br />

“É possível compartilhar essa<br />

responsabilidade com os alunos,<br />

dividindo-os em grupos de modo<br />

que troquem suas percepções<br />

entre si”, complementa Francisca.<br />

Da escola para a vida<br />

No ensino tradicional, que<br />

exige uma atitude receptiva e<br />

mecânica, a criança recebe a<br />

informação sem atuar sobre ela.<br />

Já a aprendizagem significativa<br />

contribui para ampliar seu sistema<br />

cognitivo e, dessa forma,<br />

auxiliar no desenvolvimento de<br />

suas competências, aplicando o<br />

que foi aprendido em situações<br />

práticas. A Base Nacional Comum<br />

Curricular (BNCC), de certa forma,<br />

privilegia essa abordagem. “A<br />

BNCC é uma régua que indica as<br />

habilidades a serem desenvolvidas.<br />

No entanto, a metodologia<br />

vai ser determinada pelo currículo<br />

da escola. A diferença está na<br />

maneira com que isso será trabalhado<br />

em sala de aula”, conta.<br />

A prática didática e o processo<br />

de avaliação adotados pelo<br />

professor permitem identificar<br />

quais caminhos seguir. Francisca<br />

explica: “Se, em uma avaliação,<br />

ele pergunta ‘o que é um planeta?’,<br />

a resposta será mecânica.<br />

Agora, se a questão propuser<br />

que a criança compare a Terra<br />

com Marte, por exemplo, será<br />

possível trabalhar outros parâmetros<br />

e fazê-la pensar. É preciso<br />

caminhar nessa direção.”<br />

Como se vê, a atitude do<br />

professor é essencial para que o<br />

aprendizado faça sentido para o<br />

aluno e ele entenda o real motivo<br />

de se aprender determinado tema.<br />

É uma abordagem que pode ser<br />

desenvolvida de várias maneiras.<br />

“Há uma infinidade de capacitações,<br />

cursos on-line e livros à<br />

disposição do professor. É preciso<br />

gerir também seu autoaperfeiçoamento.”<br />

Para a especialista, outro<br />

fator fundamental é o estímulo<br />

da equipe pedagógica da escola.<br />

“Além de buscar esse conhecimento,<br />

poder compartilhar isso<br />

em reuniões e debater as táticas<br />

utilizadas com outros educadores<br />

pode promover grandes mudanças<br />

na aprendizagem”, conclui.<br />

É fundamental estabelecer<br />

uma relação com o<br />

universo daquele jovem<br />

e os aprendizados já<br />

consolidados, de maneira<br />

que ele entenda, registre e<br />

crie um significado para<br />

a informação.”<br />

Francisca Paris<br />

ex-secretária de <strong>Ed</strong>ucação de Ribeirão<br />

Preto e autora de livros didáticos<br />

A aprendizagem<br />

significativa auxilia<br />

no desenvolvimento<br />

de competências<br />

32 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 33


Competências socioemocionais<br />

Lidando com os desa fios da sociedade<br />

A vez das<br />

competências<br />

socioemocionais<br />

Entenda o papel da escola e do professor no que diz<br />

respeito à formação mais humana e integral dos alunos<br />

Desde a década de<br />

1990, o tema das<br />

competências<br />

socioemocionais<br />

vem sendo<br />

estudado com<br />

mais intensidade no mundo. No<br />

Brasil, ganhou força em 2017,<br />

com as discussões da Base Nacional<br />

Comum Curricular (BNCC).<br />

O documento incorporou a<br />

proposta de uma formação mais<br />

humana e integral dos estudantes,<br />

a partir da visão de que as<br />

competências e habilidades socioemocionais<br />

devem perpassar,<br />

de maneira transdisciplinar, as<br />

habilidades cognitivas.<br />

Com isso, a formação socioemocional<br />

já começa a se tornar<br />

realidade nas escolas brasileiras. E<br />

não era sem tempo: afinal, numa<br />

sociedade cada vez mais dinâmica<br />

e desafiadora, os alunos precisam<br />

ser vistos de forma integral e suas<br />

individualidades devem ser mais<br />

bem compreendidas.<br />

“Essas competências respondem<br />

a um questionamento que<br />

vem desde o final do século 20<br />

sobre o que é necessário para o<br />

ser humano viver bem”, afirma<br />

Letícia Lyle, diretora presidente<br />

do Instituto Somos. “Vários<br />

campos de pesquisa atestam que<br />

essas habilidades, associadas ao<br />

desenvolvimento cognitivo, são<br />

fundamentais para a realização<br />

pessoal e profissional”, completa.<br />

Vários campos de<br />

pesquisa atestam que<br />

essas habilidades,<br />

associadas ao<br />

desenvolvimento<br />

cognitivo, são<br />

fundamentais para<br />

a realização pessoal<br />

e profissional.”<br />

Letícia Lyle<br />

diretora presidente do<br />

instituto Somos<br />

Lidando com desafios<br />

E o que são as competências<br />

socioemocionais? Trata-se de um<br />

conjunto de habilidades sociais<br />

e emocionais que se refletem<br />

em comportamentos, atitudes,<br />

modos de pensar e sentir, e são<br />

tão importantes quanto a leitura,<br />

a escrita ou o cálculo. São também<br />

consideradas características<br />

não cognitivas, tais como resiliência,<br />

persistência, empatia, foco,<br />

autoconhecimento, autogestão,<br />

criatividade e comunicação.<br />

A articulação entre diversas<br />

habilidades é o que forma uma<br />

competência. Para Morgana<br />

Batistella, gerente do programa<br />

O Líder em Mim (OLEM), da Somos<br />

<strong>Ed</strong>ucação, “as competências<br />

socioemocionais nos permitem<br />

lidar com os desafios existentes<br />

na sociedade contemporânea,<br />

como a complexidade, a volatilidade,<br />

a incerteza, a velocidade<br />

das transformações, a automação<br />

e a globalização”.<br />

Assim, apenas o conhecimento<br />

cognitivo já não é e não será su-<br />

34 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 35


Competências socioemocionais<br />

Lidando com os desa fios da sociedade<br />

As habilidades na BNCC<br />

ficiente para se atuar como profissionais<br />

no mercado, ou mesmo<br />

para se conviver em uma sociedade<br />

cada vez mais diversa. “O<br />

importante é termos consciência<br />

de que essas habilidades podem<br />

ser ensinadas e aprendidas, e a escola<br />

é um espaço primordial como<br />

agente propulsor desses conhecimentos<br />

e práticas”, diz Morgana.<br />

A Base Nacional Comum Curricular define um conjunto de dez<br />

competências gerais que devem ser desenvolvidas de forma<br />

integrada aos componentes curriculares durante toda<br />

a educação básica. Segundo Morgana Batistella, quatro delas<br />

são relacionadas à formação socioemocional e devem ser<br />

trabalhadas na escola. Veja um resumo:<br />

Autogestão<br />

Argumentar com base em fatos, dados<br />

e informações confiáveis, para formular,<br />

negociar e defender ideias, pontos de vista<br />

e decisões comuns<br />

Autoconhecimento e autocuidado<br />

Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua<br />

saúde física e emocional, reconhecendo<br />

suas emoções e as dos outros, com<br />

autocrítica e capacidade para lidar<br />

com elas e com a pressão do grupo<br />

Empatia e cooperação<br />

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução<br />

de conflitos e a cooperação, sem<br />

preconceitos de origem, etnia, gênero,<br />

orientação sexual, idade, habilidade/<br />

necessidade, convicção religiosa ou<br />

de qualquer outra natureza<br />

Autonomia e responsabilidade<br />

Agir pessoal e coletivamente com<br />

autonomia, responsabilidade, flexibilidade,<br />

resiliência e determinação, tomar decisões<br />

segundo princípios éticos, democráticos,<br />

inclusivos, sustentáveis e solidários<br />

Como formar professores?<br />

Se a escola deve estar à frente<br />

desse processo, como alinhar a<br />

formação do professor a esses<br />

conceitos? “Ninguém aprendeu a<br />

trabalhar o desenvolvimento de<br />

habilidades socioemocionais na<br />

universidade”, observa a gerente.<br />

“Por isso, o professor precisa<br />

conhecê-las e praticá-las em sua<br />

própria vida para, então, auxiliar<br />

na aprendizagem de seus alunos.”<br />

Alguns cursos presenciais e a<br />

distância já dão acesso ao conhecimento<br />

para essa nova exigência.<br />

O Instituto Singularidades, de<br />

São Paulo, oferece disciplina de<br />

pós-graduação voltada à formação<br />

integral dos alunos com base<br />

em habilidades socioemocionais<br />

e práticas educacionais inovadoras.<br />

O Instituto Brasileiro de<br />

Formação de <strong>Ed</strong>ucadores (IBFE) e<br />

o Instituto Sedes Sapientiae também<br />

criaram cursos de extensão<br />

direcionados ao tema.<br />

Instituições e grupos educacionais<br />

também disponibilizam conteúdos<br />

de orientação para escolas<br />

e professores. Um exemplo é o<br />

programa OLEM, que proporciona<br />

formação inicial para os docentes,<br />

seguida de metodologia que estrutura<br />

o currículo socioemocional da<br />

escola e oferece acompanhamento<br />

para a aplicabilidade de práticas<br />

que garantem a formação socioemocional<br />

de alunos e da comunidade<br />

escolar.<br />

Clima de convivência<br />

“A partir da nossa experiência<br />

em mais de 55 países, pudemos<br />

verificar que a formação socioemocional<br />

tem feito a diferença<br />

na preparação dos alunos para<br />

enfrentar os desafios atuais por<br />

meio de autoconhecimento,<br />

identificação de seus potenciais,<br />

relações intrapessoais e interpessoais<br />

e atuação na comunidade<br />

escolar e na sociedade”,<br />

atesta Morgana.<br />

Considerando-se que as competências<br />

socioemocionais têm<br />

relação direta com o indivíduo, é<br />

fundamental também que esse<br />

O importante é<br />

termos consciência<br />

de que as habilidades<br />

socioemocionais<br />

podem ser ensinadas<br />

e aprendidas,<br />

e a escola é um<br />

espaço primordial<br />

como agente<br />

propulsor desses<br />

conhecimentos<br />

e práticas.”<br />

Morgana Batistella<br />

Gerente Nacional do<br />

Programa O Líder em mim<br />

aprendizado estimule o bem-estar<br />

do aluno no ambiente escolar. “É<br />

importante que a gestão atue para<br />

proporcionar um clima de convivência,<br />

já que o indivíduo é o mesmo<br />

na escola, no clube ou com os<br />

amigos”, afirma Letícia Lyle.<br />

Portanto, formar indivíduos<br />

emocionalmente mais capacitados<br />

para atuar numa sociedade tecnológica,<br />

competitiva e em constante<br />

transformação é reconhecer a<br />

importância das competências socioemocionais.<br />

Integrar essas habilidades<br />

ao currículo, preparar o<br />

professor e a própria escola para<br />

agregar novos conhecimentos,<br />

uma nova abordagem e um novo<br />

olhar para uma formação verdadeiramente<br />

integral são desafios<br />

de todos nós.<br />

36 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 37


COM A PALAVRA<br />

Rossieli Soares da Silva<br />

O que<br />

transforma<br />

a educação<br />

A alfabetização nos anos iniciais é essencial para que<br />

os alunos cheguem ao final da <strong>Ed</strong>ucação Básica prontos<br />

para os desafios do futuro<br />

O<br />

Brasil passa por um momento de grandes transformações<br />

na educação e ainda há enormes desafios<br />

pela frente, principalmente com relação à alfabetização.<br />

Nesta entrevista exclusiva, o secretário<br />

nacional da <strong>Ed</strong>ucação Básica Brasileira, Rossieli<br />

Soares da Silva, fala sobre as principais metas a<br />

partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />

e as perspectivas para a educação do país.<br />

guesa e Matemática e estavam<br />

estagnados no Índice de Desenvolvimento<br />

da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

(Ideb). A partir disso, elegemos<br />

as prioridades. Entre elas, a reforma<br />

do Ensino Médio, a cria-<br />

perfil<br />

Rossieli Soares da Silva<br />

assumiu, em 2016, o<br />

cargo de secretário<br />

nacional da Secretaria de<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica (SEB) do<br />

Ministério da <strong>Ed</strong>ucação.<br />

Advogado, Rossieli<br />

atuou, antes de assumir<br />

o cargo atual, como secretário<br />

de <strong>Ed</strong>ucação do<br />

Estado do Amazonas<br />

Quando assumiu a Secretaria<br />

da <strong>Ed</strong>ucação Básica (SEB), em<br />

2016, quais foram os principais<br />

desafios encontrados e<br />

como vem trabalhando para<br />

transformar o cenário da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica?<br />

Os programas para a <strong>Ed</strong>ucação<br />

Básica estavam parados, exceto<br />

o Programa Nacional do<br />

Livro Didático. Com indicadores<br />

insatisfatórios e um cenário<br />

de crise orçamentária, um dos<br />

desafios era adequar o planejamento<br />

ao recurso disponível.<br />

O primeiro passo foi mapear<br />

todos os resultados. Identificamos<br />

que os alunos de todas as<br />

etapas do ensino enfrentavam<br />

dificuldades em Língua Portução<br />

da Base Nacional Comum<br />

Curricular (BNCC), a formação<br />

continuada de professores e a<br />

<strong>Ed</strong>ucação Infantil.<br />

Quais foram as primeiras<br />

medidas adotadas para iniciar<br />

o processo de mudança?<br />

Começamos olhando para<br />

os status dos programas já<br />

existentes. O Mais <strong>Ed</strong>ucação,<br />

por exemplo, não tinha foco<br />

em aprendizagem, apenas<br />

no aumento da carga horária<br />

para atividades integrais.<br />

Por isso, desenhamos uma<br />

nova versão em que as horas<br />

complementares foram distribuídas<br />

entre ações e atividades<br />

em Língua Portuguesa e<br />

Matemática, mas sem perder<br />

outras dimensões, como<br />

atividades esportivas, teatrais<br />

e culturais. O mesmo foi feito<br />

para os demais programas e<br />

as iniciativas criadas durante<br />

a nova gestão. Passamos a ter<br />

um foco definido, que é elevar<br />

o nível de aprendizagem das<br />

crianças, proporcionando<br />

meios para que elas deixem<br />

38 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 39


COM A PALAVRA<br />

Rossieli Soares da Silva<br />

os anos iniciais da <strong>Ed</strong>ucação<br />

Básica sendo capazes de ler<br />

e escrever palavras simples,<br />

interpretar pequenos textos,<br />

entre outros pontos fundamentais<br />

para seu desenvolvimento.<br />

Na sua visão, em que período<br />

os alunos devem ser alfabetizados<br />

para realizar essas<br />

atividades?<br />

Há quem defenda que a alfabetização<br />

se encerre no 3º<br />

ano do Fundamental I, aos<br />

oito anos; outros acreditam<br />

que ela se completa no 2º ano.<br />

Para nós, ela não se conclui<br />

neste período. Trata-se de um<br />

processo mais sedimentado,<br />

em que, já no 2º ano, a criança<br />

deve ser capaz de ler e interpretar<br />

esses pequenos textos,<br />

mesmo que ainda não tenha<br />

se aprofundado no processo<br />

de ortografização.<br />

E como garantir que as crianças<br />

estejam alfabetizadas<br />

no final do 2º ano do Ensino<br />

Fundamental, como preconiza<br />

a BNCC?<br />

O Estado do Ceará é um bom<br />

exemplo de como alcançar esse<br />

patamar. Das cem melhores<br />

escolas alfabetizadoras do país,<br />

30 estão nele. E lá o processo<br />

é concluído já no final do 2º<br />

ano. Mas, para que isso aconteça<br />

em escala nacional, é preciso<br />

contar com o compromisso de<br />

toda a organização escolar e<br />

da família. Acredite: essa meta<br />

vai trazer foco para o professor<br />

e dar condições para a criança<br />

crescer e se desenvolver em<br />

todas as disciplinas<br />

a partir da alfabetização.<br />

Que práticas estão sendo implementadas<br />

para que isso se<br />

torne uma realidade em todo<br />

o país?<br />

Um bom exemplo do que<br />

temos feito é a nova política<br />

de alfabetização, uma combinação<br />

entre o recém-reformulado<br />

Pacto Nacional pela<br />

Alfabetização na Idade Certa<br />

(Pnaic) e o programa Mais Alfabetização,<br />

que leva apoio ao<br />

corpo docente para dentro das<br />

escolas. Na primeira versão do<br />

Pnaic, o Ministério da <strong>Ed</strong>ucação<br />

desenvolvia todos os materiais<br />

de maneira padronizada<br />

e determinava a formação que<br />

considerava adequada. Nós<br />

mudamos o estilo do curso e<br />

adaptamos o material de acordo<br />

com o perfil e a necessidade<br />

de cada região, permitindo<br />

que os protagonistas dessa<br />

formação sejam os próprios<br />

alfabetizadores. E, de acordo<br />

com eles, tão importante quanto<br />

a teoria são a prática pedagógica<br />

e a troca de experiências<br />

entre profes sores de rede, a<br />

fim de encontrar as soluções<br />

para cada tipo de dificuldade<br />

dos alunos.<br />

De que maneira essa troca<br />

acontece?<br />

Anteriormente, os formadores do<br />

Pnaic eram apenas professores<br />

universitários. Agora, o professor<br />

alfabetizador, que está construindo<br />

os melhores resultados em<br />

sala de aula, também pode fazer<br />

parte do processo de formação,<br />

levando esse conhecimento para<br />

sua própria rede. Aliado a isso, o<br />

Mais Alfabetização, iniciado neste<br />

ano, vai disponibilizar um assistente<br />

de alfabetização para cada<br />

sala de aula, nas mais de 200 mil<br />

turmas do país. Ou seja, durante<br />

cinco horas da semana, o professor<br />

contará com o apoio de mais<br />

um docente nas atividades da<br />

alfabetização. E são esses professores,<br />

que estão dentro da sala de<br />

aula acompanhando o desenvolvimento<br />

dos alunos, que irão decidir<br />

como trabalhar as dificuldades.<br />

E como avaliar o progresso<br />

dos alunos?<br />

Por meio das avaliações processuais<br />

do Mais Alfabetização,<br />

que visam entender o dia a dia<br />

do aluno em sala de aula. Se, no<br />

início do ano, a criança apresentar<br />

dificuldades com determinado<br />

tema, essas avaliações<br />

vão mostrando ao professor,<br />

bimestre a bimestre, quais<br />

foram os avanços e os pontos a<br />

se trabalhar.<br />

Como os professores serão<br />

preparados para contemplar<br />

as diretrizes da BNCC?<br />

Há grandes mudanças nos livros<br />

didáticos, desde o processo<br />

de aquisição à organização do<br />

conteúdo, com referências muito<br />

mais completas no anexo pedagógico.<br />

Também estão sendo<br />

reestruturados os materiais do<br />

Programa Didático. Em março,<br />

foram iniciados os processos<br />

de formação em todas as escolas,<br />

para adaptar currículos<br />

e planejamentos, em redes municipais<br />

e estaduais, às diretrizes<br />

da BNCC. Isso perdurará<br />

até o final de 2018. Com isso,<br />

esperamos que, já em 2019, as<br />

escolas estejam operando com<br />

novos currículos no Ensino<br />

Fundamental e <strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />

e possam ser avaliadas, já<br />

com base nas novas diretrizes,<br />

por meio da Provinha Brasil e<br />

da Avaliação Nacional de Alfabetização<br />

(ANA).<br />

Que mensagem você deixa aos<br />

professores de todo o Brasil?<br />

Nosso objetivo é formar cada vez<br />

mais e melhor o docente, proporcionando<br />

melhores condições<br />

para que possam desenvolver,<br />

de maneira plena, seus conteúdos<br />

em sala de aula. Estamos<br />

investindo, como há muito não<br />

se via, na compra de livros de<br />

alfabetização e literatura para<br />

apoiar o trabalho. Com o objetivo<br />

claro de alfabetizar as crianças<br />

até o 2º ano, nós vamos chegar<br />

lá. Há escolas fazendo trabalhos<br />

maravilhosos e que podem ser a<br />

luz para esse caminho que precisamos<br />

percorrer. Conto com o<br />

apoio de todos.<br />

40 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 41


alfabetização<br />

Perspectivas para o futuro<br />

Primeiros desafios<br />

Baixos índices de alfabetização reforçam a importância<br />

da formação dos professores para a melhoria dos processos<br />

de ensino e de aprendizagem<br />

Mais da metade<br />

dos alunos<br />

do 3º ano<br />

do Ensino<br />

Fundamental<br />

de escolas<br />

públicas têm conhecimentos<br />

insuficientes de Matemática e<br />

leitura, de acordo com os dados<br />

da Avaliação Nacional de Alfabetização<br />

(ANA), aplicada em 2016. No<br />

quesito escrita, o quadro é pior:<br />

mais de um terço dos alunos, ou<br />

34%, estão defasados. Os resultados<br />

são considerados alarmantes,<br />

ainda mais se levarmos em conta<br />

que a meta do Plano Nacional de<br />

<strong>Ed</strong>ucação (PNE) é alfabetizar, até<br />

2024, todas as crianças no final<br />

do 2º ano, segundo a indicação da<br />

recém-homologada Base Nacional<br />

Comum Curricular (BNCC).<br />

Embora seja uma meta ambiciosa,<br />

a plataforma digital Observatório<br />

do PNE, criada por instituições<br />

públicas e privadas, considera que<br />

ela é viável, “desde que haja um<br />

trabalho intencional e sistemático<br />

visando à melhoria da qualidade da<br />

formação inicial e continuada dos<br />

professores”, avalia Renata Rossi,<br />

especialista em alfabetização e gerente<br />

de Assessoria Pedagógica da<br />

Somos <strong>Ed</strong>ucação.<br />

E é justamente na formação dos<br />

docentes em que está a raiz da questão,<br />

na opinião de Renata. Segundo<br />

ela, boa parte dos professores não<br />

foi orientada de maneira adequada<br />

para o trabalho com a alfabetização.<br />

“Muitos desconhecem as diferenças<br />

entre os conceitos de ensino e aprendizagem<br />

e pôr isso em prática é mais<br />

desafiador ainda. Sem um olhar<br />

apurado sobre os processos da sala<br />

de aula, eles têm dificuldade para<br />

perceber que aprendizagem não é<br />

consequência direta de ensino.”<br />

Em outras palavras, tão ou mais<br />

importante do que o conteúdo a<br />

ser ensinado é o “como” os alunos<br />

aprendem. “O material didático<br />

é só uma parte do processo”,<br />

observa Rossi. “Ele serve tanto<br />

ao caminho da aprendizagem<br />

quanto ao propósito de garantir a<br />

intencionalidade pedagógica. Ao<br />

professor não basta apenas aplicar<br />

o conteúdo, e sim compartilhar<br />

sua análise com outros docentes<br />

para entender o que está por trás<br />

de cada atividade e aperfeiçoar<br />

seu modo de ensinar.”<br />

Ela também chama atenção<br />

para o conceito de que a alfabetização<br />

não começa no 1º ano. “Seja<br />

quando ouve uma história ou visita<br />

um museu, ainda na pré-escola<br />

a criança já está se alfabetizando.<br />

Felizmente, essa perspectiva está<br />

presente nos editais do MEC para<br />

seleção de obras didáticas. Mestre<br />

em educação pela USP, e a partir<br />

de extensas pesquisas na área –<br />

em especial as de Emilia Ferreiro –,<br />

Renata Rossi reafirma que o aluno<br />

tem conhecimentos prévios que o<br />

fazem criar hipóteses sobre leitura<br />

e escrita. Daí a importância da<br />

participação ativa da criança, que<br />

aprende fazendo. “Mas não simplesmente<br />

um fazer para a escola,<br />

e sim para a vida”, completa.<br />

Nesse sentido, a alfabetização e<br />

a formação docente devem seguir<br />

a mesma trajetória ao longo dos<br />

anos. “A preparação dos professores<br />

pode ser feita de forma colaborativa,<br />

em parceria com a coordenação<br />

pedagógica e em conjunto<br />

com todos os profissionais do<br />

Ensino Fundamental e até da <strong>Ed</strong>ucação<br />

Infantil. Isso garante a sua<br />

continuidade, sempre incentivada<br />

por muita reflexão, pesquisas e estudos<br />

do corpo docente sobre de<br />

que forma esta preparação pode<br />

ser mais efetiva além de, claro,<br />

muita ação.” O essencial, conclui<br />

a gerente, é que “ninguém precisa<br />

ter respostas prontas, mas todos<br />

devem saber criar as perguntas.<br />

É por meio delas que se constrói<br />

o conhecimento e as melhores<br />

formas de ensinar”.<br />

Ao professor não basta<br />

apenas aplicar o conteúdo<br />

e sim compartilhar<br />

sua análise com outros<br />

docentes para entender o<br />

que está por trás de cada<br />

atividade e aperfeiçoar<br />

seu modo de ensinar.”<br />

Renata Rossi<br />

gerente de Assessoria Pedagógica<br />

da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

42 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 43


O<br />

professor do século<br />

21 é, antes<br />

de mais nada,<br />

um aprendiz.”<br />

A afirmação,<br />

da consultora<br />

em Tecnologia para a <strong>Ed</strong>ucação<br />

Cristiana Mattos Assumpção, retrata<br />

o que parece ser o grande<br />

desafio dos educadores diante<br />

dos recursos tecnológicos. Se<br />

em todas as profissões a atualização<br />

e a busca constante por<br />

novos conhecimentos se fazem<br />

necessárias, para o professor<br />

isso se tornou urgente. Afinal,<br />

suas práticas de ensino precisam,<br />

de alguma forma, acompanhar<br />

esse intenso processo de<br />

transformação.<br />

O ponto de partida, segundo<br />

Cristiana, é a mudança na concepção<br />

do uso de tecnologia em<br />

sala de aula. “Uma vez que o<br />

professor estude e compreenda a<br />

profundidade dessa transformação,<br />

ele saberá escolher as melhores<br />

tecnologias que o apoiarão<br />

em sua prática”, afirma. Assim,<br />

antes de alterar suas estratégias,<br />

o docente deve assumir o papel<br />

de aluno.<br />

E há muito o que aprender, na<br />

opinião dos especialistas. “O pronovas<br />

tecnologias, novas pedagogias?<br />

A evol ução das práticas pedagógicas<br />

transformações<br />

educacionais<br />

Em um mundo<br />

digital, o uso<br />

de tecnologias<br />

em sala de aula<br />

é primordial<br />

Novo olhar sobre o uso de tecnologia em sala de aula<br />

pode refletir melhores práticas pedagógicas<br />

fessor brasileiro, em média, não<br />

conhece maneiras diferentes de<br />

se pensar a aula”, observa o mestre<br />

em <strong>Ed</strong>ucação Celso Antunes.<br />

“A aula de hoje ainda é expositiva,<br />

tal como era décadas atrás. Mas,<br />

se ele conseguir utilizar outras<br />

técnicas, mesmo em condições<br />

materiais precárias, poderá tornar<br />

o aluno plenamente protagonista,<br />

capaz de perceber que<br />

o aprendizado se dá por meio do<br />

texto, da exposição, do contato<br />

com os colegas e da observação<br />

da sociedade”, complementa.<br />

Tecnologia como meio<br />

Já que o foco está na estratégia,<br />

as tecnologias devem ser<br />

empregadas como recursos de<br />

apoio – ou seja, como meio e não<br />

como fim. “O uso que se dá ao<br />

recurso é muito mais importante<br />

que o recurso em si”, continua<br />

Celso, que também é especialista<br />

em Inteligência e Cognição. E<br />

questiona: “Será que o professor<br />

usa as tecnologias no sentido de<br />

desenvolver a criatividade, o pensamento<br />

operatório e a reflexão?<br />

Ou ele está apenas instigando o<br />

44 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 45


novas tecnologias, novas pedagogias?<br />

A evol ução das práticas pedagógicas<br />

esquema de memorização? Neste<br />

caso, teria a atitude de um professor<br />

comum que apenas passa<br />

pela vida do estudante, sem<br />

transformá-lo”.<br />

Na opinião de Cristiana, os<br />

países que hoje se destacam em<br />

educação estão refazendo seus<br />

sistemas de ensino para seguir<br />

uma linha que incorpora metodologias<br />

ativas, avaliação formativa<br />

e tempo para desenvolver o aluno<br />

de forma holística, como um ser<br />

cognitivo, mental e corporal. Trata-se<br />

de uma ótica voltada para<br />

habilidades socioemocionais, que<br />

resgata o ensino de Arte e integra<br />

os conhecimentos para trabalhar<br />

desafios significativos.<br />

Esse movimento é também<br />

um reflexo de que as tecnologias<br />

mudam de forma bem mais<br />

rápida que as pedagogias – e isso<br />

é positivo, no entendimento da<br />

especialista. “O fator humano e<br />

o trabalho com o cérebro para<br />

a aprendizagem não mudaram.<br />

Existem muitas pesquisas que<br />

embasam as propostas pedagógicas<br />

com dados de sucesso.<br />

O importante é focar na aprendizagem<br />

e saber qual tecnologia<br />

disponível nos ajudará a alcançar<br />

o nosso objetivo. Inovando nas<br />

práticas e incorporando aquelas<br />

que já estão surtindo mais efeito<br />

a longo prazo, construiremos<br />

uma educação transformadora<br />

que usa muito as tecnologias,<br />

independentemente de qual delas<br />

esteja disponível no momento.”<br />

<strong>Transforma</strong>ção do aluno<br />

Celso considera fundamental<br />

perceber em que medida as<br />

tecnologias podem transformar a<br />

aula e, sobretudo, o aluno, sempre<br />

levando em conta a avaliação<br />

a ser feita. “Importa pouco se o<br />

estudante sabe ou não o significado<br />

daquela tecla que ele aciona, e<br />

sim por que a aciona e o que ela<br />

tem a ver com a sua vida. Aí sim<br />

ele está sendo preparado para a<br />

modernidade. O jovem pode ser<br />

muito hábil em alguma ferramenta<br />

digital, mas será que essa habilidade<br />

o ajuda em Matemática ou<br />

Língua Portuguesa?”, indaga.<br />

E é justamente a preocupação<br />

com a prática pedagógica,<br />

na visão de Cristiana, que deve<br />

nortear o processo de escolha da<br />

tecnologia. “Uma vez definido o<br />

objetivo educacional, o professor<br />

deve se perguntar: essa tecnologia<br />

vai me permitir fazer algo que<br />

eu não conseguiria sem ela? Ela<br />

Uma vez que o professor estude e compreenda a<br />

profundidade dessa transformação, ele saberá<br />

escolher as melhores tecnologias que o apoiarão<br />

em sua prática.”<br />

Cristiana Mattos Assumpção<br />

consultora em Tecnologia para a <strong>Ed</strong>ucação<br />

Muitos países já estão<br />

estabelecendo<br />

sistemas de ensino<br />

que priorizam a<br />

formação holística<br />

dos alunos<br />

vai me ajudar a fazer algo que eu<br />

já fazia, mas de maneira melhor?<br />

Se a resposta for não para as<br />

duas perguntas, é melhor buscar<br />

outras ferramentas. Usar tecnologia<br />

apenas por usar só atrapalha.”<br />

Quanto às formas de se inovar<br />

na sala de aula, Cristiana enxerga<br />

muitas possibilidades. “Hoje<br />

é possível pensar em uma aula<br />

mais personalizada, mesmo com<br />

turmas maiores, pois há tecnologias<br />

que ajudam a gerenciar todo<br />

o processo de aprendizagem. Há<br />

ainda ambientes on-line em que os<br />

alunos podem trabalhar de forma<br />

colaborativa, documentando e<br />

visualizando seu progresso e suas<br />

rotinas mentais, o que facilita o<br />

aprender a aprender”, aponta.<br />

Entre as ferramentas disponíveis<br />

gratuitamente na internet,<br />

a consultora sugere o Moodle,<br />

O jovem pode ser<br />

muito hábil em alguma<br />

ferramenta, mas será<br />

que essa habilidade o<br />

ajuda em Matemática ou<br />

Língua Portuguesa?”<br />

Celso Antunes<br />

especialista em Inteligência<br />

e Cognição<br />

ambiente virtual no qual o professor<br />

pode organizar cursos com<br />

as respectivas entregas e discussões<br />

dos alunos, e o Google, ideal<br />

para o gerenciamento de pastas,<br />

documentos, slides e planilhas<br />

compartilhadas. Para a elaboração<br />

de mapas mentais, que ajudam o<br />

estudante a organizar seus pensamentos<br />

e ideias, a referência é<br />

Cmap Tools (cmaptools.softonic.<br />

com.br). Já o Socrative e o Scratch<br />

permitem a programação de jogos<br />

como quizzes.<br />

Caminhos da formação<br />

E como o professor pode se<br />

preparar para trabalhar com<br />

as tecnologias em sala de aula?<br />

Cristiana indica como referência o<br />

Currículo da Cidade, lançado em<br />

2017 pela Secretaria Municipal<br />

de <strong>Ed</strong>ucação de São Paulo. “Está<br />

muito bem embasado, explica<br />

os conceitos com citações aos<br />

melhores pesquisadores e ainda<br />

dá um norte ao que deve ser<br />

alcançado em cada série.” Outra<br />

recomendação são cursos de extensão,<br />

pós-graduação e oficinas<br />

oferecidas por diferentes instituições<br />

(veja abaixo).<br />

No que diz respeito às dificuldades<br />

de acesso às ferramentas,<br />

os dois especialistas concordam<br />

que elas não devem ser vistas<br />

como barreiras para as novas práticas<br />

pedagógicas. “Hoje, existem<br />

diversos projetos atuando com<br />

sucatas e materiais caseiros. Sem<br />

falar que o celular pode ser um<br />

grande aliado, pois a maioria dos<br />

alunos já tem um. Há também<br />

centros comunitários, fundações<br />

e ONGs que podem firmar parcerias<br />

com a escola para a criação<br />

de oportunidades em tecnologia”,<br />

enumera Cristiana.<br />

“Um bom professor pode suprir, na<br />

medida do possível, a carência material<br />

por meio de um novo modelo<br />

de ensino, do mesmo modo que ele<br />

faria em escola particular”, garante<br />

Celso. “As boas práticas podem ser<br />

incorporadas mesmo com pouco<br />

acesso às tecnologias”, completa<br />

a consultora. “Não há motivo para<br />

não começar”, finaliza.<br />

Fontes de apoio à formação<br />

Confira alguns sites que podem enriquecer sua prática em sala de aula:<br />

•Porvir.org: porvir.org/especiais/maonamassa<br />

Traz inovações na estratégia pedagógica e no uso de ferramentas tecnológicas<br />

• Aprendizagem Criativa: aprendizagemcriativa.org<br />

Rede de aprendizagem criativa formada por educadores, artistas, pesquisadores,<br />

empreendedores e estudantes<br />

46 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 47


Os desafios da sociedade.<br />

Agora, dentro da sala de aula.<br />

Ligamundo é a mais nova coleção da editora Saraiva para o Ensino<br />

Fundamental I. Em cada capítulo, questões atuais da sociedade guiam<br />

a proposta pedagógica e, ao mesmo tempo, despertam o pensamento<br />

crítico e as habilidades socioemocionais dos alunos. Mais do que promover<br />

a formação cidadã, é incentivar a construção de um mundo melhor.<br />

Central de relacionamento: saceditorasaraiva@somoseducacao.com.br Telefone - 4003-3061


Inclusão escolar<br />

<strong>Ed</strong>ucação para todos<br />

Aprender com<br />

as diferenças<br />

O movimento das escolas para promover<br />

uma educação inclusiva<br />

O<br />

tema é tão complexo<br />

quanto<br />

polêmico, mas já<br />

é possível contabilizar<br />

avanços<br />

no ambiente<br />

escolar com o aumento da inclusão<br />

de estudantes com deficiências.<br />

Crianças e jovens com<br />

neces sidades educativas especiais<br />

começam a migrar de instituições<br />

especializadas para o ensino<br />

regular, em salas<br />

de aula comuns,<br />

e mais experiências<br />

de inclusão<br />

e aprendizados<br />

começam a ser<br />

vivenciadas.<br />

Segundo<br />

dados do Censo<br />

Escolar do<br />

Instituto Nacional<br />

de Estudos e<br />

Pesquisas <strong>Ed</strong>ucacionais<br />

Anísio<br />

Teixeira (Inep),<br />

órgão ligado ao<br />

Cada caso é um<br />

caso. A deficiência<br />

caracteriza-se por<br />

algum impedimento<br />

de natureza física,<br />

mental, intelectual<br />

ou sensorial.”<br />

Thais Guimarães<br />

doutora em psicologia<br />

experimental e diretora<br />

da Casa Cuca<br />

MEC, houve um crescimento de<br />

6,5 vezes no contingente desses<br />

alunos, de 2005 a 2015. O estudo<br />

aponta que 750.983 alunos com<br />

necessidades especiais têm hoje<br />

acesso à aprendizagem convencional<br />

e contato com colegas sem<br />

deficiência, em escolas públicas<br />

e privadas.<br />

O movimento é resultado de políticas<br />

públicas, como a Lei Brasileira<br />

de Inclusão, de 2015, inspirada em<br />

normas internacionais,<br />

e de uma<br />

maior conscientização<br />

da sociedade.<br />

Pela legislação<br />

em vigor, as instituições<br />

de ensino<br />

não podem<br />

negar matrícula a<br />

estudantes com<br />

necessidades especiais<br />

e devem<br />

fornecer todo<br />

o apoio para<br />

o processo de<br />

inclusão.<br />

50 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 51


Inclusão escolar<br />

<strong>Ed</strong>ucação para todos<br />

Acessibilidade e adaptações<br />

no ensino<br />

O primeiro grande desafio<br />

é quanto à multiplicidade de<br />

atendimentos a oferecer. “É<br />

uma questão ampla, já que<br />

envolve diversas modalidades,<br />

definidas de acordo com o grau<br />

de comprometimento. Vão de<br />

necessidades de mudanças na<br />

estrutura física, para atender<br />

a restrições de mobilidade, às<br />

simplificações de conteúdos<br />

para quem apresenta limitações<br />

intelectuais ou características<br />

específicas de aprendizado”,<br />

explica Thais Guimarães, doutora<br />

em Psicologia Experimental e<br />

diretora da Casa Cuca, instituição<br />

que desenvolve ferramentas<br />

para alunos com dificuldades de<br />

aprendizagem individual.<br />

Segundo a psicóloga, o Plano<br />

de Desenvolvimento Individual<br />

(PDI) é o documento oficial que<br />

orienta a avaliação e a intervenção<br />

pedagógica para esses<br />

alunos. “Cada caso é um caso.<br />

A deficiência caracteriza-se por<br />

algum impedimento de natureza<br />

física, mental, intelectual<br />

ou sensorial”, esclarece. “Entre<br />

os que enfrentam dificuldades<br />

Caminhos da inclusão<br />

de aprendizado, as ocorrências<br />

mais comuns são o autismo,<br />

a dislexia e a discalculia, que<br />

afeta a habilidade de interpretar<br />

números.”<br />

Processo em evolução<br />

Tornar o país mais inclusivo<br />

ainda demanda tempo e iniciativas,<br />

apesar das mudanças na<br />

legislação. A formação contínua<br />

dos educadores, a construção<br />

de uma rede de atendimento<br />

educacional especializada e o<br />

desenvolvimento de materiais<br />

didáticos, transporte e espaços<br />

acessíveis são alguns pontos importantes<br />

para esse processo.<br />

É nesse cenário que as instituições<br />

de ensino são desafiadas<br />

a acolher um público que,<br />

por sua vez, tem muito a acrescentar<br />

ao ambiente escolar.<br />

“O primeiro passo é identificar,<br />

além de dificuldades, quais são<br />

as potencialidades do aluno.<br />

Não se deve olhar apenas as<br />

suas limitações, como também<br />

as oportunidades que têm para<br />

progredir”, ressalta Thais.<br />

Confira iniciativas relevantes para receber alunos com alguma deficiência cognitiva na escola:<br />

Solicitar um laudo Capacitar os<br />

Avaliar as<br />

Definir quais<br />

1 2 3 4 5<br />

de um médico<br />

especializado, um<br />

neuropsicólogo ou<br />

um fonoaudiólogo<br />

sobre a condição<br />

do estudante<br />

educadores<br />

para lidar com<br />

necessidades<br />

especiais<br />

condições da sala<br />

de aula para o<br />

desenvolvimento<br />

das atividades<br />

os conteúdos<br />

estabelecidos para o<br />

ano letivo que podem<br />

ser ministrados e<br />

fazer as adaptações<br />

necessárias<br />

Promover o processo<br />

de inclusão e<br />

envolvimento com<br />

outros alunos,<br />

de forma a evitar<br />

ocorrências de<br />

bullying<br />

Preparar o ambiente<br />

e capacitar os<br />

professores são alguns<br />

dos desafios<br />

para a inclusão<br />

De acordo com a assessora<br />

pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

Ana Cecília Machado Dias,<br />

o trabalho em sala de aula e a<br />

capacitação do corpo docente<br />

são fundamentais. “O professor<br />

precisa estar preparado<br />

para lidar com as necessidades<br />

específicas de cada um,<br />

se aproximar e conhecer seus<br />

alunos.” Para ela, uma metodologia<br />

para a inclusão deve<br />

abordar também<br />

as competências<br />

socioemocionais,<br />

como trabalhar<br />

a aprendizagem<br />

colaborativa e<br />

a importância<br />

do respeito em<br />

todas as relações.<br />

“Com isso,<br />

a criação de uma<br />

rede de apoio<br />

entre alunos,<br />

educadores e<br />

O professor<br />

precisa estar preparado<br />

para lidar com<br />

necessidades<br />

específicas de cada um,<br />

se aproximar e conhecer<br />

seus alunos.”<br />

Ana Cecília Machado Dias<br />

assessora pedagógica da Somos<br />

<strong>Ed</strong>ucação<br />

famílias pode contribuir e muito<br />

para esse processo”, relata.<br />

Com essa análise, fica mais<br />

fácil montar a estratégia de<br />

atendimento pedagógico. “Se o<br />

estudante tem deficit de atenção,<br />

por exemplo, talvez precise<br />

apenas de melhor acomodação<br />

na classe, algo que o professor<br />

pode viabilizar”, orienta<br />

Thais. “Já alguém com grau de<br />

comprometimento maior pode<br />

necessitar de um acompanhante<br />

na sala ou da intervenção do<br />

educador para que seus conteúdos<br />

sejam adaptados.”<br />

A psicóloga também sugere<br />

o desenvolvimento de uma<br />

metodologia para a inclusão.<br />

“A gestão deve participar<br />

ativamente das ações. Pode<br />

criar um núcleo de inclusão,<br />

que permita pensá-la como um<br />

processo, e envolver os professores<br />

na busca por soluções,<br />

pois o educador é o elo para o<br />

desenvolvimento. E, qualquer<br />

que seja o caso, a parceria<br />

com os pais é fundamental.”<br />

Os resultados aparecem naturalmente.<br />

“Já vi<br />

os alunos de uma<br />

classe participando<br />

ativamente de<br />

um processo de<br />

inclusão”, conta a<br />

psicóloga. “E com<br />

todos aprendendo<br />

a olhar para o<br />

outro e a compartilhar,<br />

o retorno é<br />

sempre positivo.<br />

Todos saem ganhando.”<br />

Entenda os<br />

principais<br />

distúrbios<br />

Alunos com deficiência<br />

intelectual ou cognitiva têm,<br />

basicamente, dificuldade para<br />

compreender ideias abstratas,<br />

estabelecer relações sociais,<br />

compreender determinadas<br />

regras e realizar tarefas.<br />

As incidências podem variar<br />

em grau (leve, moderado, grave e<br />

profundo) ou envolver distúrbios<br />

neurológicos mais complexos,<br />

que dificultam a aprendizagem<br />

e são classificados pelo Manual<br />

de Saúde Mental (Diagnostic<br />

and Statistical Manual of Mental<br />

Disorders – DSM). Entre os mais<br />

comuns está o autismo (atraso<br />

global de desenvolvimento),<br />

caracterizado pelo<br />

comprometimento da interação<br />

social e pelo comportamento<br />

repetitivo.<br />

Entre outras incidências<br />

comuns também estão o deficit de<br />

atenção, a dislexia (que dificulta<br />

o processamento da linguagem),<br />

a discalculia (relacionada a<br />

dificuldades com o raciocínio<br />

matemático) e o distúrbio na<br />

temporalização da fala (gagueira).<br />

Para Saber mais<br />

• Instituto Itard de <strong>Ed</strong>ucação<br />

Inclusiva<br />

institutoitard.com.br/<br />

o-que-e-educacao-inclusiva<br />

• Gestão Escolar<br />

gestaoescolar.org.br/conteudo/953/<br />

promovendo-a-inclusao-na-sala-deaula<br />

• Portal Inclusão Brasil<br />

portalinclusao.com<br />

52 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 53


Avaliações externas<br />

Objetivos e diferenças entre elas<br />

Avaliar para<br />

acompanhar<br />

e evoluir<br />

Diferenças<br />

e objetivos<br />

Entenda a que se destinam as<br />

avaliações e quais as principais<br />

diferenças entre elas<br />

Entenda como utilizar as diferentes<br />

avaliações para aumentar o nível de<br />

desenvolvimento dos processos de ensino<br />

e aprendizagem em sala de aula<br />

O<br />

Sistema de Avaliação<br />

da <strong>Ed</strong>ucação<br />

Básica (Saeb)<br />

tem por objetivo<br />

avaliar a qualidade<br />

da educação<br />

básica por meio da aplicação de<br />

questionários socioeconômicos e<br />

testes padronizados. Os dados coletados<br />

nas provas são utilizados<br />

para calcular o Índice de Desenvolvimento<br />

da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

(Ideb), o qual é<br />

utilizado para<br />

nortear as políticas<br />

públicas. A<br />

Prova Brasil foi a<br />

primeira avaliação<br />

padronizada<br />

a ser implementada<br />

a fim de<br />

verificar o nível<br />

de proficiência<br />

dos alunos ao<br />

final de cada<br />

ciclo do Ensino<br />

Fundamental<br />

Quanto mais<br />

proximidade o professor<br />

tiver com os processos<br />

de avaliação, melhor<br />

será o seu entendimento<br />

da lógica por trás da<br />

elaboração dos itens<br />

que as compõem.”<br />

Helga Cezar<br />

Professora do Núcleo<br />

de Conteúdo da Somos<br />

<strong>Ed</strong>ucação<br />

(atuais 5º e 9º anos).<br />

Para assegurar que todos os<br />

estudantes dos sistemas públicos<br />

de ensino estejam alfabetizados<br />

em Língua Portuguesa e em<br />

Matemática, até o final do ciclo<br />

de Alfabetização, o Ministério da<br />

<strong>Ed</strong>ucação criou, em 2012, o Pacto<br />

Nacional pela Alfabetização na<br />

Idade Certa (PNAIC), programa de<br />

formação de professores alfabetizadores<br />

e que tem<br />

em seu bojo a Avaliação<br />

Nacional da<br />

Alfabetização (ANA),<br />

um mecanismo de<br />

acompanhamento<br />

da Política Pública,<br />

por meio da avaliação<br />

da aprendizagem<br />

dos alunos.<br />

“Essas avaliações<br />

servem para criar<br />

uma radiografia<br />

da situação educacional<br />

das escolas<br />

públicas e, por isso,<br />

devem ser valo-<br />

rizadas”, ressalta Katia Queiroz,<br />

professora do Núcleo de Conteúdo<br />

da Somos <strong>Ed</strong>ucação. A opinião é<br />

compartilhada por Helga Cezar,<br />

professora do mesmo núcleo.<br />

Para ela, “quanto mais proximidade<br />

o professor tiver com esses<br />

processos, melhor será o seu<br />

entendimento da lógica por trás<br />

da elaboração dos itens que os<br />

compõem e, principalmente, das<br />

competências e habilidades exigidas<br />

em cada um deles”.<br />

Além dessas avalições externas<br />

(conheça as diferenças entre<br />

elas no box), outro importante<br />

instrumento é a Provinha Brasil.<br />

Diferentemente das demais, pode<br />

ser aplicada e corrigida pelos<br />

professores no segundo ano do<br />

Ensino Fundamental e possibilita<br />

um diagnóstico dos processos de<br />

desenvolvimento de cada aluno.<br />

“São aplicadas duas avaliações:<br />

uma, no início do ano, que tem<br />

por objetivo verificar o nível de<br />

aprendizagem do aluno em Língua<br />

Portuguesa e Matemática, para<br />

planejar as intervenções necessárias,<br />

e outra no segundo semestre,<br />

para verificar a evolução da<br />

aprendizagem”, explica Katia.<br />

Com todas essas análises, é<br />

possível propor adequações nas<br />

práticas pedagógicas, no material<br />

didático e em outras ações, tanto<br />

de modo local quanto regional. E<br />

a somatória desses indicadores<br />

permite traçar um panorama<br />

que estimula a reflexão sobre as<br />

práticas pedagógicas e o aprimoramento<br />

do ensino e da aprendizagem,<br />

sempre visando alcançar<br />

melhores níveis de desenvolvimento<br />

dos alunos.<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Avaliação Nacional da<br />

Alfabetização (ANA)<br />

É o instrumento do MEC para<br />

acompanhar a eficácia do Pacto<br />

Nacional pela Alfabetização na<br />

Idade Certa (PNAIC), lançado<br />

em 2012, que tem como meta<br />

a alfabetização plena de todas<br />

as crianças até os oito anos<br />

de idade em leitura, escrita e<br />

Matemática. Analisa também as<br />

condições de escolaridade que<br />

esse estudante teve, ou não,<br />

para desenvolver esses saberes<br />

Prova Brasil (ANRESC)<br />

Avaliação do sistema público<br />

de ensino do país. Os dados<br />

coletados nas provas são<br />

utilizados para calcular o<br />

Índice de Desenvolvimento da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica (Ideb). Fornece<br />

as médias de desempenho para<br />

cada escola participante, cada<br />

um dos municípios, unidades da<br />

federação, regiões e Brasil<br />

Avaliação Nacional da<br />

<strong>Ed</strong>ucação Básica (Aneb)<br />

Utiliza os mesmos instrumentos<br />

da Prova Brasil e é aplicada<br />

com a mesma periodicidade.<br />

Diferencia-se por abranger, de<br />

forma amostral, escolas e alunos<br />

das redes públicas e privadas<br />

do país que não atendem aos<br />

critérios de participação da<br />

Prova Brasil e que pertencem<br />

às etapas finais dos três últimos<br />

ciclos da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />

54 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 55


<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />

Preparação para o futuro<br />

Finanças para<br />

novas gerações<br />

Ensino aproxima crianças e jovens de temas<br />

econômicos e ideias sustentáveis<br />

I<br />

ndivíduos bem informados<br />

e conscientes quanto<br />

ao uso de recursos lidam<br />

mais adequadamente com<br />

suas questões financeiras,<br />

evitam se endividar e são<br />

capazes de empreender, além de<br />

terem um olhar para a sustentabilidade.<br />

É senso comum. O que<br />

ainda é pouco disseminada é a<br />

crescente contribuição da educação<br />

financeira na formação de<br />

pessoas com esse perfil, já que<br />

essas competências também podem<br />

estar presentes em sala de<br />

aula. Para corresponder a essa<br />

tarefa, módulos de educação<br />

financeira vêm sendo incorporados<br />

às matrizes curriculares já na<br />

fase de alfabetização, nos anos<br />

iniciais do Ensino Fundamental.<br />

E o tema foi incluído na Base Nacional<br />

Comum Curricular (BNCC),<br />

devendo constar nos currículos<br />

de todo o país. Um estímulo para<br />

que as escolas que atendem a<br />

esse segmento deem destaque a<br />

tais habilidades em seus projetos<br />

pedagógicos.<br />

O aprendizado começa<br />

na sala de aula, com<br />

turmas a partir dos seis<br />

anos, e busca desenvolver<br />

uma atitude positiva<br />

em relação a temas<br />

financeiros e ambientais.”<br />

Dante<br />

professor de Matemática e autor<br />

de livros didáticos<br />

O contexto social está entre as<br />

justificativas para seguir essa tendência.<br />

O número de inadimplentes<br />

no país, com dívidas e contas<br />

em atraso, aumentou 1,91% em<br />

2017, atingindo a marca de 61<br />

milhões de consumidores, segundo<br />

dados da Serasa Experian. Em<br />

estudo realizado pela Organização<br />

para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Econômico (OCDE),<br />

em 2015, foi constatado que 53%<br />

dos estudantes brasileiros, na<br />

faixa de 15 anos, não têm conhecimentos<br />

financeiros básicos,<br />

encontrando dificuldades para<br />

realizar operações triviais.<br />

Um possível caminho para<br />

reverter esse quadro é o de<br />

educar financeiramente as novas<br />

gerações, despertando a percepção<br />

de crianças e adolescentes<br />

para os riscos de suas escolhas<br />

financeiras na vida adulta. “Essa<br />

modalidade de ensino é uma<br />

demanda nacional”, assegura<br />

Dante, professor de Matemática<br />

e autor de livros didáticos sobre<br />

o tema. “O aprendizado começa<br />

na sala de aula, com turmas<br />

a partir dos seis anos, e busca<br />

desenvolver uma atitude positiva<br />

em relação a temas financeiros e<br />

ambientais.”<br />

Primeiros passos na economia<br />

A educação financeira trabalha<br />

conceitos essenciais e<br />

influencia comportamentos.<br />

Não deve ser confundida com<br />

a matemática financeira ou<br />

mesmo com a própria Matemática,<br />

embora os temas se<br />

inter-relacionem. “A Matemática<br />

tradicional é parte do processo,<br />

A educação<br />

financeira forma<br />

comportamentos<br />

e prepara para<br />

a vida adulta<br />

56 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 57


<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />

Preparação para o futuro<br />

pois é indispensável que nessa<br />

faixa etária o aluno já conheça<br />

as quatro operações e o sistema<br />

de numeração decimal”, afirma<br />

Dante. “A matemática financeira,<br />

por sua vez, trata de questões<br />

mais avançadas, como porcentagem,<br />

lucro, juros simples e<br />

compostos, tratados nos anos<br />

finais do Ensino Fundamental e<br />

no Ensino Médio”, completa.<br />

Há diversas formas de apresentar<br />

o tema, sem que pareça<br />

complexo, para alunos do 1º ao<br />

5º ano do Ensino Fundamental.<br />

A estratégia adotada em materiais<br />

didáticos é começar pelos<br />

fundamentos da economia, que<br />

se originaram da necessidade de<br />

estabelecer trocas. “Explicamos<br />

como surgiu a ideia do escambo,<br />

em que aquele que plantava mais<br />

milho trocava com quem tinha sobra<br />

de arroz, até o surgimento do<br />

dinheiro”, esclarece o autor (veja<br />

artigo na página 60).<br />

Nessa fase inicial também<br />

são abordadas as formas atuais<br />

do dinheiro, como o cheque, em<br />

papel, o cartão de crédito, em<br />

plástico, e outros sistemas comerciais,<br />

como o ouro. É estimulado<br />

o raciocínio aplicado à divisão de<br />

quantias, como trocar uma nota<br />

de dez reais por outras de cinco<br />

ou dois reais, e apresentada uma<br />

visão histórica do uso do dinheiro<br />

no Brasil. “Mostramos as diversas<br />

moedas do país até o lançamento<br />

do Real”, detalha o professor.<br />

Desde cedo, as<br />

crianças devem ser<br />

conscientizadas sobre<br />

a economia de<br />

recursos como, por<br />

exemplo, desligar<br />

a televisão quando<br />

parar de assisti-la<br />

Escolhas conscientes<br />

Entender a função do dinheiro<br />

também pressupõe adotar valores<br />

para utilizá-lo. “É uma oportunidade<br />

para o professor trabalhar conceitos<br />

de ética em classe”, observa.<br />

“Vários exercícios podem estimular<br />

essa questão. Vale perguntar para<br />

os alunos, por exemplo, como<br />

cada um reagiria ao encontrar<br />

uma moeda de um real no chão.<br />

Mas não se deve impor qual seria<br />

a atitude correta”, adverte. “Eles<br />

podem debater e se posicionar<br />

sem que se estabeleça o que é certo<br />

ou errado. A ideia de ética surge<br />

de forma espontânea.”<br />

Estimular uma postura responsável<br />

relaciona-se ainda a outros<br />

temas fundamentais para a sociedade,<br />

como a questão da sustentabilidade.<br />

“A economia de recursos<br />

naturais também se insere na<br />

proposta da educação financeira.<br />

Inclui desde evitar o desperdício<br />

de papel para se cortar menos<br />

árvores, e assim preservar o meio<br />

ambiente, até apagar a luz ou desligar<br />

a televisão quando não se está<br />

a assistindo”, orienta o professor.<br />

O consumismo é outra frente<br />

trabalhada. Os alunos são<br />

orientados a diferenciar o que<br />

realmente é necessário do que<br />

é apenas um apelo de consumo,<br />

estimulado pela publicidade ou<br />

pelo meio social. Assim, passam<br />

a ver com outros olhos a compra<br />

do tênis de marca ou da mochila<br />

mais cara. “É um tema que tem<br />

grande repercussão em classe e<br />

aproxima o aluno da perspectiva<br />

dos pais, estimulando debates em<br />

casa. Promove uma conscientização<br />

que costuma receber elogios<br />

da família”, revela.<br />

Projetos de vida<br />

Estimular competências para<br />

empreender é outro benefício da<br />

educação financeira que pode ter<br />

impacto no futuro do estudante.<br />

Ao se familiarizar com o mundo<br />

das relações comerciais, ele come-<br />

Aprendizado para o futuro<br />

Confira conhecimentos de grande valia na vida adulta que podem ser<br />

desenvolvidos durante a escolaridade básica<br />

Decisões<br />

de consumo<br />

Saber discernir o que<br />

é útil e vale adquirir<br />

daquilo que é apenas<br />

estimulado pelo<br />

consumismo<br />

Aprender a poupar<br />

Guardar dinheiro não é<br />

pão-durismo, mas um meio<br />

para se conseguir recursos<br />

que permitam realizar<br />

sonhos ou comprar um<br />

bem valioso no momento<br />

adequado<br />

Planejamento<br />

de gastos<br />

Contabilizar os<br />

recursos disponíveis<br />

e como devem ser<br />

empregados<br />

A economia de recursos naturais também se<br />

insere na proposta da educação financeira.<br />

Inclui desde evitar o desperdício de papel<br />

para se cortar menos árvores, e assim<br />

preservar o meio ambiente, até apagar<br />

a luz ou desligar a televisão quando não se<br />

está a assistindo.”<br />

Dante<br />

professor de Matemática e autor de livros didáticos<br />

ça a vislumbrar, desde cedo, oportunidades<br />

que poderá ter na vida<br />

adulta. “É possível inspirar o aluno<br />

com casos próximos de sua realidade<br />

como, por exemplo, a trajetória<br />

do dono da cantina da escola,<br />

que abriu outros estabelecimentos<br />

a partir do sucesso de seu primeiro<br />

negócio”, sugere o professor.<br />

A chave para que todo esse<br />

conjunto de informações contribua<br />

para formar um cidadão<br />

mais consciente em relação às<br />

questões financeiras e ambientais<br />

é que esse processo seja consolidado<br />

aos poucos, durante as<br />

várias etapas do Ciclo Básico. “O<br />

aprendizado deve ser progressivo<br />

e respeitar as particularidades de<br />

cada aluno, permitindo que ele<br />

reflita intuitivamente e sem imposições”,<br />

encerra Dante.<br />

Consumo<br />

consciente<br />

A economia de recursos<br />

naturais, como<br />

água e energia, é<br />

indispensável para a<br />

preservação do meio<br />

em que se vive<br />

O valor de tudo<br />

Dinheiro, alimentos, roupas<br />

e brinquedos devem<br />

ser tratados, desde cedo,<br />

com o devido valor, levando<br />

em conta que nem<br />

todos têm acesso fácil<br />

a eles<br />

58 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 59


Logos<br />

Dante Professor e autor da coleção<br />

<strong>Ed</strong>ucação Financeira para Crianças<br />

<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />

para crianças<br />

A formação da consciência e da autonomia em relação<br />

ao uso do dinheiro<br />

Em cada história, u m<br />

convite para explorar<br />

o mundo da fantasia<br />

e do conhecimento.<br />

<strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> financeiramente<br />

as crianças<br />

desde a alfabetização<br />

é muito importante<br />

para desenvolver sua<br />

capacidade de agir na<br />

sociedade de forma crítica, participativa,<br />

ética e criativa. É preciso<br />

desenvolver uma atitude positiva<br />

em relação à educação financeira<br />

desde a infância para que, na fase<br />

adulta, os indivíduos ajam com<br />

mais consciência e autonomia em<br />

relação ao uso do dinheiro, valendo-se<br />

dele como instrumento<br />

benéfico para o desenvolvimento<br />

econômico pessoal e do país, e<br />

com o objetivo de conquistar uma<br />

boa qualidade de vida.<br />

Para as crianças da faixa etária de<br />

seis a onze anos, que corresponde<br />

ao Ensino Fundamental I, é importante<br />

mostrar como tudo começou:<br />

do escambo, que eram as<br />

trocas realizadas entre pessoas,<br />

até os dias atuais, onde trocamos<br />

dinheiro por bens materiais.<br />

Um elemento de troca muito<br />

raro na época e, portanto, muito<br />

valioso, foi o sal. Os soldados romanos<br />

recebiam, como pagamento<br />

do seu trabalho, uma porção de<br />

sal. Até hoje, a importância que<br />

recebemos mensalmente pelo<br />

nosso trabalho chama-se salário,<br />

daí a origem da palavra.<br />

Com o surgimento do ouro e<br />

da prata, trocavam-se bens por<br />

esses metais. Pouco a pouco,<br />

surgiram moedas destes mate-<br />

riais. Com medo de saqueadores,<br />

as pessoas passaram a guardá-las<br />

em casas de alvenaria daquelas<br />

em quem confiavam. Elas emitiam<br />

recibos de papel das quantias que<br />

lá eram deixadas. Esses recibos<br />

passaram a ter valor para trocar<br />

com outros bens materiais.<br />

Surgem assim os bancos (casas<br />

de alvenaria) e os cheques (recibos<br />

de papel). Contar essa história do<br />

dinheiro em geral e, em particular,<br />

do nosso dinheiro, é uma boa<br />

conexão interdisciplinar com a<br />

disciplina de História.<br />

Desde a infância é preciso,<br />

de modo adequado, trabalhar as<br />

várias dimensões que envolvem<br />

a educação financeira como, por<br />

exemplo, o consumismo exacerbado<br />

traduzido pelo binômio “eu<br />

quero” versus “eu preciso”, a necessidade<br />

do consumo consciente e a<br />

redução do desperdício (de energia<br />

elétrica, de água, de alimentos<br />

etc.), a necessidade da pesquisa de<br />

preços, a necessidade de poupar<br />

para realizar sonhos mais altos, a<br />

importância das várias profissões<br />

com as quais ganhamos o dinheiro,<br />

além de conceitos básicos como<br />

compra e venda, troco, desconto,<br />

juros e orçamento pessoal.<br />

É necessário também, em<br />

educação financeira, trabalhar<br />

as ideias iniciais sobre empreendedorismo<br />

(planejamento e<br />

desenvolvimento de ações e de<br />

projetos), sustentabilidade (preservação<br />

da natureza), ética e<br />

cidadania com as crianças.<br />

60 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018


literatura<br />

Um universo a ser descoberto<br />

o Poder de<br />

transformar<br />

A literatura amplia o repertório cultural e<br />

emocional, promovendo o desenvolvimento<br />

integral do aluno<br />

Ahistória começa<br />

com o diálogo<br />

entre uma agulha<br />

e um novelo de<br />

linha. Eles discutem<br />

sobre qual<br />

função tem mais valor no ato de<br />

costurar um vestido: a da agulha,<br />

que “fura o pano”, ou a da linha,<br />

que “prende um pedaço a outro”.<br />

Ao longo da narrativa, um duelo<br />

de argumentos entre os objetos<br />

é travado até que o vestido fica<br />

pronto e a realidade se impõe.<br />

Enquanto a agulha volta para a<br />

caixinha de costura, a linha “vai<br />

ao baile no corpo da baronesa,<br />

fazendo parte do vestido e da<br />

elegância”. Melancólico, um<br />

alfinete encerra a conversa com a<br />

triste lição: “Anda, aprende, tola.<br />

Cansas-te em abrir caminho para<br />

ela e ela é que vai gozar da vida,<br />

enquanto aí ficas na caixinha de<br />

costura. Faze como eu, que não<br />

abro caminho para ninguém.<br />

Onde me espetam, fico”.<br />

Se, ao ler este resumo do<br />

conto “O Apólogo”, de Machado<br />

de Assis, você se identificou<br />

– mesmo que por um segundo<br />

62 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

– com a agulha, com o novelo de<br />

linha ou com o alfinete; ou ainda<br />

depreendeu da história aspectos<br />

da realidade e ponderou sobre<br />

eles, acaba de experimentar uma<br />

das facetas mais poderosas da<br />

literatura: a reflexão por meio de<br />

situações imaginárias. Uma característica<br />

que, sozinha, já tornaria<br />

a arte literária, de tecer um texto,<br />

essencial à formação integral dos<br />

alunos. Mas vai além. “A literatura<br />

proporciona também a ampliação<br />

do repertório cultural, fomentando<br />

um estudo sobre nossa<br />

identidade e de outros povos,<br />

promove autoconhecimento e até<br />

A literatura proporciona<br />

também a ampliação<br />

do repertório cultural,<br />

fomentando um estudo<br />

sobre nossa identidade<br />

e de outros povos.”<br />

Renata Ribeiro de Moraes<br />

Doutora em Literatura Brasileira<br />

e assessora pedagógica da área de<br />

Treinamento e Desenvolvimento da<br />

Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

A literatura possibilita<br />

a construção de<br />

novos significados<br />

e contribui para o<br />

autoconhecimento<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 63


literatura<br />

Um universo a ser descoberto<br />

O contato com a<br />

literatura deve começar<br />

mesmo antes<br />

da escolarização<br />

nos transforma<br />

em relação a<br />

conceitos, sensações<br />

e emoções<br />

que antes desconhecíamos”,<br />

avalia Renata Ribeiro de Moraes,<br />

doutora em Literatura Brasileira e<br />

assessora pedagógica da área de<br />

Treinamento e Desenvolvimento<br />

da Somos <strong>Ed</strong>ucação.<br />

Por esse motivo, a especialista<br />

recomenda que o contato<br />

com essa forma de arte comece<br />

muito antes de os alunos entrarem<br />

na escola e siga com atenção<br />

especial nos primeiros anos de<br />

letramento. Um processo que<br />

se inicia em casa e continua na<br />

escola. “Não demanda muito<br />

esforço aproximar as crianças dos<br />

livros, já que elas amam as cores,<br />

desenhos e texturas deles. Mas é<br />

preciso incentivar o contato, estimular<br />

a curiosidade e os sentidos<br />

através da visão, tato, olfato e<br />

apresentar novas e surpreendentes<br />

possibilidades aos educandos”,<br />

complementa. Um universo<br />

quase ilimitado que depende, em<br />

grande medida, do desejo e do<br />

olhar atento do professor para<br />

ser explorado.<br />

Ponto de partida<br />

Para iniciar essa jornada, o docente<br />

deve investigar os interesses<br />

de seus alunos, propiciando a<br />

oralidade por meio das rodas de<br />

conversa, brincadeiras e situações<br />

do cotidiano. Os grandes temas<br />

do momento podem ser o gatilho<br />

necessário para introduzir, de<br />

acordo com a faixa etária, obras<br />

literárias que apresentem temáticas<br />

que envolvam o aluno em um<br />

clima de reflexão e observação da<br />

realidade. Abordar a biografia de<br />

autores é também outra maneira<br />

interessante de despertar a curiosidade<br />

dos alunos. “Falar sobre<br />

o autor da obra, sua biografia e<br />

sobre sua importância para a formação<br />

da nossa identidade cultural,<br />

por exemplo, são elementos<br />

extraliterários que interagem com<br />

o texto e geram pontos de conexão<br />

entre passado e presente”,<br />

considera a especialista. E é esse<br />

tipo de abordagem que torna a<br />

aprendizagem realmente significativa<br />

e atraente.<br />

Mas, para tudo isso se concretizar,<br />

o professor precisa ser<br />

leitor e um apaixonado pela<br />

literatura. “Se o docente quer<br />

formar um leitor literário, ele<br />

precisa ter propriedade para<br />

falar sobre o tema e testemunhar<br />

sobre o que ele proporciona em<br />

sua vida. Nada é mais motivador<br />

que o exemplo, especialmente<br />

quando ele vem de uma referência<br />

tão importante na vida<br />

dos alunos como o professor”,<br />

garante Renata. Exemplos não<br />

faltam para confirmar o que diz a<br />

especialista. Afinal, quem nunca<br />

se apaixonou por uma disciplina<br />

depois de escutar, analisar e participar,<br />

encantado, da aula de um<br />

professor altamente motivado?<br />

Lançar mão dos recursos que<br />

a tecnologia popularizou é outra<br />

forma eficaz de trazer a literatura<br />

à realidade dos alunos. “Existe<br />

uma infinidade de sites, plataformas,<br />

bibliotecas, e-books, vídeos,<br />

acervos e conteúdos audiovisuais<br />

para complementar a vivência<br />

em sala de aula. Os pais podem<br />

mediar essa experiência também<br />

e participar ativamente do processo<br />

de formação dos pequenos<br />

leitores”, garante.<br />

Se o docente quer formar<br />

um leitor literário, ele<br />

precisa ter propriedade<br />

para falar sobre o tema e<br />

testemunhar sobre o que<br />

ele proporciona em sua<br />

vida.”<br />

Renata Ribeiro de Moraes<br />

Doutora em Literatura<br />

Brasileira e assessora<br />

pedagógica da área de<br />

Treinamento e Desenvolvimento<br />

da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />

Literatura como um direito<br />

Antonio Candido, um dos principais<br />

críticos literários brasileiros<br />

(falecido em 2017), em um de seus<br />

textos mais aclamados, compara<br />

Literatura na prática<br />

Confira algumas práticas que a especialista elenca para inserir,<br />

cada vez mais, a literatura ao cotidiano do aluno<br />

o direito à cidadania ao do acesso<br />

à literatura. Para o autor, “ela tem<br />

sido um instrumento poderoso de<br />

instrução e educação, entrando<br />

nos currículos, sendo proposta<br />

a cada um como equipamento<br />

intelectual e afetivo. Os valores<br />

que a sociedade preconiza, ou os<br />

que considera prejudicais, estão<br />

presentes nas diversas manifestações<br />

da ficção, da poesia e da ação<br />

dramática. A literatura confirma e<br />

nega, propõe e denuncia, apoia e<br />

combate, fornecendo a possibilidade<br />

de vivermos dialeticamente<br />

os problemas”. Em outras palavras,<br />

possibilita ao aluno enxergar<br />

sua realidade de modo crítico,<br />

tornando-se protagonista de sua<br />

própria história. “Por isso mesmo,<br />

é um direito emancipador”, conclui<br />

Renata.<br />

1. Elabore projetos de leituras na escola<br />

2. Faça uma sacola para colocar livros que os alunos possam levar para casa e, assim, estimular a leitura de outros membros<br />

da família<br />

3. Convide autores de obras literárias para participar de rodas de conversas com alunos<br />

4. Desenvolva momentos em que o aluno possa indicar a leitura de um livro para um colega<br />

5. Promova rodas literárias para indicações entre leitores<br />

6. Desenvolva trabalhos interdisciplinares analisando, sob diversos pontos de vista, obras literárias<br />

7. Incentive e realize contação de histórias e leituras mediadas<br />

8. Chame um dos seus avós, ou alguém da família para contar histórias<br />

9. Faça um sarau entre professores e alunos<br />

10. Reúna outros educandos da escola para apresentação de peças teatrais dos próprios alunos baseadas nos livros lidos<br />

11. Organize uma feira de livros<br />

12. Apresente a literatura em diversas linguagens: livros, filmes, peças teatrais, musicais, exposições e outros<br />

13. Trabalhe com o aluno diferentes versões e posicionamentos para uma mesma história, como Monteiro Lobato faz em<br />

“A Cigarra e a Formiga”, texto no qual o autor dá o devido valor ao trabalho do artista (cantor) ao se referir à cigarra. Vale a<br />

(re)leitura, professor. Literature-se!<br />

64 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />

Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 65


Arte<br />

Arte, enfim<br />

Um novo olhar<br />

para a Arte<br />

Com a homologação da BNCC, as<br />

competências e habilidades desenvolvidas em<br />

sala de aula ganham destaque no currículo<br />

V<br />

isitar uma exposição<br />

de arte, seja<br />

no Brasil ou em<br />

qualquer parte do<br />

mundo, se transformou<br />

em uma<br />

experiência multissensorial.<br />

Mais do que privilegiar um dos<br />

sentidos do espectador, curadores<br />

desejam surpreender seus<br />

públicos com instalações audiovisuais,<br />

performances envolvendo<br />

música, dança e teatro e muita<br />

interatividade. Em vez da tradicional<br />

contemplação, um convite à<br />

experimentação, ao fazer coletivo<br />

e à ressignificação de conceitos.<br />

Se nas galerias essa tendência<br />

veio para ficar, nas escolas, com<br />

alunos ultraconectados, não é diferente.<br />

Por meio de seus smartphones,<br />

eles acessam um mundo<br />

de informação de todo tipo,<br />

criam conteúdo usando diversas<br />

plataformas e interagem a todo<br />

momento. Um comportamento<br />

que começa cada vez mais cedo<br />

e molda a maneira com que se<br />

Não é preciso ter um<br />

ateliê ou uma sala de<br />

dança para estudar as<br />

linguagens da Arte.<br />

É preciso, sim, que<br />

o professor esteja<br />

disponível.”<br />

Eliana Pougy<br />

doutora em Ciências Sociais<br />

e Autora de diversos livros<br />

didáticos E de formação de<br />

professores sobre Arte<br />

relacionam com o conhecimento.<br />

Em meio a esse cenário, as<br />

escolas estão vivendo o desafio<br />

de adequar currículo e didática ao<br />

novo perfil do estudante. E com a<br />

Arte não é diferente. Tanto que a<br />

Base Nacional Comum Curricular<br />

(BNCC) traz, como grande inovação<br />

para a disciplina, a inclusão de<br />

Artes Integradas como linguagem<br />

obrigatória a ser trabalhada em<br />

todos os anos. “É muito mais adequado<br />

porque nos possibilita trabalhar<br />

com aquilo que a criança vê<br />

no cotidiano. Afinal, raramente ela<br />

separa, por exemplo, música de<br />

imagem por conta de videoclipes<br />

e filmes que se habituou a visualizar”,<br />

avalia Eliana Pougy, doutora<br />

em Ciências Sociais, especialista<br />

em Arte e autora de diversos<br />

livros didáticos e de formação de<br />

professores sobre Arte.<br />

Para ela, a mudança traz a<br />

possibilidade de se trabalhar<br />

projetos interdisciplinares – tanto<br />

entre as linguagens artísticas<br />

quanto entre as demais disciplinas<br />

– de modo intenso. “O geógrafo<br />

olha para uma paisagem e<br />

analisa sua vegetação, o clima,<br />

que tipo de seres humanos habitam<br />

ali. Dessa análise, ele pode<br />

criar mapas, gráficos e outros<br />

insumos. Já o artista analisa as<br />

cores, os sons e os movimentos<br />

dessa mesma paisagem para interpretá-los<br />

por meio de pintura,<br />

música, coreografia ou tudo isso<br />

ao mesmo tempo. São enfoques<br />

diferentes e complementares,<br />

que enriquecem profundamente<br />

66 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 67


Arte<br />

Arte, enfim<br />

a experiência do aluno com o conhecimento”,<br />

interpreta a autora.<br />

Um novo olhar para a Arte<br />

Se o trabalho interdisciplinar<br />

está longe de ser novidade em<br />

sala de aula, ele ganha ainda<br />

mais força pelo caráter normativo<br />

da Base. Mas vai além. A<br />

forma com que o documento<br />

foi criado abre inúmeras possibi<br />

lidades de interpretação das<br />

vivências em sala de aula por<br />

parte dos professores. “A BNCC<br />

não apresenta o conteúdo a<br />

ser trabalhado, mas as competências<br />

a serem desenvolvidas<br />

por meio das cinco linguagens.<br />

Assim, o docente é convidado a<br />

pensar de maneira conceitual e<br />

a partir das habilidades, não de<br />

tarefas”, reflete André Vilela, professor<br />

e autor de livros didáticos<br />

sobre Arte.<br />

Na prática, quando a Base<br />

determina que é preciso desenvolver<br />

no aluno, por exemplo,<br />

a capacidade de distinguir diferentes<br />

formas de manifestação<br />

cultural, ela está convidando o<br />

professor a pensar em como ele<br />

pode fazer isso a partir das múltiplas<br />

linguagens da Arte, sem impor<br />

o tipo de atividade e, sequer,<br />

a manifestação cultural a ser<br />

estudada. Desse modo, ele pode<br />

adaptar o currículo à realidade<br />

local e aos recursos que tem em<br />

mãos. “É muito menos tecnicista<br />

e mais reflexivo. A atividade a ser<br />

realizada é o final do processo,<br />

não o começo. Não há uma lista<br />

de tarefas a cumprir, mas olhares<br />

a desenvolver”, avalia o autor.<br />

O essencial<br />

Com o foco no desenvolvimento<br />

das competências, o uso<br />

de recursos se torna mais flexível<br />

e adaptável às realidades locais.<br />

Assim, mesmo não tendo grande<br />

diversidade de materiais, é possível<br />

chegar a resultados bastante<br />

efetivos. “Não é preciso ter um<br />

ateliê ou uma sala de dança para<br />

estudar as linguagens da Arte.<br />

É preciso, sim, que o professor<br />

esteja disponível. Que entenda<br />

a arte do seu tempo, que visite<br />

museus, exposições, que saiba<br />

que há gostos diferentes do seu<br />

e desenvolva um olhar atento ao<br />

mundo. Com isso, ele certamente<br />

realizará atividades significativas<br />

e marcantes em sala de aula”,<br />

acredita Pougy. Algo que pode<br />

ocorrer com uma profusão de<br />

cores ou apenas com lápis preto<br />

e papel. “É possível trabalhar<br />

com atividades de desenho com<br />

resultados coloridos e esvaziados<br />

de conteúdo, enquanto diversas<br />

habilidades podem se desenvolver<br />

apenas com lápis e papel.<br />

competências<br />

específicas<br />

de Arte para<br />

o Ensino<br />

Fundamental<br />

1. Explorar, conhecer,<br />

fruir e analisar criticamente<br />

práticas e produções<br />

artísticas e culturais<br />

2. Compreender as relações<br />

entre as linguagens<br />

da Arte e suas práticas<br />

integradas<br />

3. Pesquisar e conhecer<br />

distintas matrizes estéticas<br />

e culturais<br />

4. Experienciar a<br />

ludicidade, a percepção,<br />

a expressividade e a<br />

imaginação<br />

5. Mobilizar recursos<br />

tecnológicos como formas<br />

de registro, pesquisa<br />

e criação artística<br />

6. Estabelecer relações<br />

entre arte, mídia, mercado<br />

e consumo<br />

7. Problematizar questões<br />

políticas, sociais,<br />

econômicas, científicas,<br />

tecnológicas e culturais<br />

8. Desenvolver a autonomia,<br />

a crítica, a autoria<br />

e o trabalho coletivo e<br />

colaborativo nas artes<br />

9. Analisar e valorizar<br />

o patrimônio artístico<br />

nacional e internacional,<br />

material e imaterial<br />

Tudo depende do quanto o professor<br />

conhece as competências e<br />

sabe criar situações didáticas para<br />

estimulá-las”, garante André.<br />

Um papel fundamental que,<br />

a partir da implementação da<br />

BNCC, em 2020, será posto em<br />

prática nas salas de aula de todo<br />

o Brasil. “As crianças são verdadeiras<br />

antenas e querem entender<br />

o mundo que as cercam.<br />

Ensiná-las a fazer perguntas e<br />

linguagens artísticas obrigatórias<br />

Conheça as cinco linguagens artísticas obrigatórias para a disciplina de Arte:<br />

Artes Visuais<br />

Criar<br />

Ler<br />

Dança<br />

Produzir<br />

Música<br />

Construir<br />

Teatro<br />

Segundo a BNCC, essas linguagens articulam saberes referentes a produtos<br />

e fenômenos artísticos e envolvem:<br />

O ensino da disciplina<br />

está entre as<br />

inovações da Base<br />

Nacional Comum<br />

Curricular<br />

a ter curiosidade sobre a vida é<br />

mais importante do que qualquer<br />

outra coisa. E esse olhar para<br />

a vida só pode ser transmitido<br />

quando parte do professor”,<br />

conclui Eliana Pougy.<br />

Artes Integradas<br />

Exteriorizar<br />

Refletir sobre<br />

formas artísticas<br />

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um passo além em relação aos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais,<br />

a BNCC traz uma novidade<br />

importante: a inclusão das artes<br />

integradas como unidade temática.<br />

De acordo com a arte produzida<br />

por artistas que estão vivos,<br />

ou com a arte contemporânea,<br />

a BNCC reconhece a importânpensata<br />

Eliana Pougy Doutora em Ciências Sociais, mestre em<br />

<strong>Ed</strong>ucação, especialista em Linguagens da Arte e autora de diversos<br />

livros didáticos de formação de professores sobre Arte<br />

Arte contemporânea<br />

e A BNCC<br />

Com a inclusão das artes integradas, os estudantes do Ensino Fundamental<br />

terão a oportunidade de conhecer produções que emergem do povo<br />

livroS<br />

Conheça as novidades e obras de literatura que vão complementar as práticas pedagógicas<br />

e estimular o gosto pela leitura desde os anos iniciais<br />

Confira nossas<br />

indicações de<br />

literatura<br />

ABase Nacional<br />

Comum Curricular<br />

(BNCC) do Ensino<br />

Fundamental foi<br />

homologada em<br />

dezembro de 2017.<br />

Com ela, a Arte manteve seu<br />

caráter de componente curricular<br />

obrigatório e o ensino formal<br />

brasileiro continua a ser orientado<br />

por uma educação que visa<br />

formar sujeitos em todas as suas<br />

dimensões – intelectual, física,<br />

emocional, social e cultural.<br />

Entretanto, e ao contrário do<br />

que recomendam os especialistas<br />

da área, na BNCC, as linguagens da<br />

Arte são definidas como unidades<br />

temáticas. Esta pode ser considerada<br />

uma oportunidade para que<br />

a polivalência na nossa disciplina<br />

aconteça. Em outras palavras,<br />

pode permitir que um licenciado<br />

em artes visuais ensine dança,<br />

teatro ou música, o que não é<br />

recomendável. A formação dos<br />

docentes da área de Arte é muito<br />

específica, de modo que existem<br />

licenciados em Artes Visuais, Música,<br />

Dança e Teatro. Por isso, desde<br />

os anos 1980, os arte-educadores<br />

brasileiros vêm buscando valorizar<br />

essas especificidades.<br />

Apesar dessa crítica, e dando<br />

cia dos estudantes aprenderem<br />

sobre as formas de arte que<br />

mesclam linguagens, como a<br />

audiovisual, misturando as artes<br />

visuais, a música e, muitas vezes,<br />

as artes cênicas, além de utilizar<br />

tecnologias variadas; como as<br />

performances e intervenções,<br />

que podem mesclar as artes do<br />

corpo com a música, a dramaturgia<br />

e a improvisação; ou como as<br />

instalações, que podem misturar<br />

artes visuais, música e até mesmo<br />

provocar outros sentidos, como o<br />

tato, o olfato e o paladar.<br />

Existem muitas vertentes e tendências<br />

da arte contemporânea,<br />

por isso é muito difícil defini-la de<br />

maneira a dar conta de toda a sua<br />

variedade. Mas uma coisa que podemos<br />

afirmar acerca das transformações<br />

que ocorreram na arte<br />

durante o século 20 e continuam<br />

a se desenrolar no século 21 é<br />

que noções como as de beleza,<br />

imitação do real, obra-prima,<br />

talento e, principalmente, o papel<br />

e o valor da arte, passaram a ser<br />

amplamente discutidas e revistas.<br />

E isso também deve acontecer<br />

dentro da escola.<br />

Além disso, ao acrescentar as<br />

artes integradas, os estudantes<br />

podem estudar as artes tradicionais<br />

feitas pelo povo, como os<br />

festejos e as folias que misturam<br />

música, dança e teatro, e as manifestações<br />

artísticas dos povos<br />

indígenas brasileiros que convivem<br />

conosco hoje. Nesse sentido,<br />

a BNCC reafirma a importância de<br />

ensinar e aprender Arte de forma<br />

significativa e contextualizada.<br />

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Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 71


somos indica<br />

livroS<br />

DICAS DE LITERATURA Conheça títulos de diversos autores de literatura infantojuvenil que vão ajudar o trabalho do professor<br />

ESCOLHA<br />

do<br />

EDITOR<br />

ESCOLHA<br />

do<br />

EDITOR<br />

Zero Zero Alpiste<br />

Um lugar cheio<br />

de ninguém<br />

Autor: Marcelo Xavier<br />

<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />

Coleção: Avulso<br />

Indicado para faixa etária: a partir do 3º ano<br />

São 22 horas do último dia do mês de julho do ano de 1957, na<br />

cidade de Vitória. Como num passe de mágica, Neno atravessa a<br />

porta – ou ponte – que nos faz adormecer e sonhar e dorme profundamente.<br />

Quando acorda, só encontra um inexplicável silêncio. Tudo<br />

está assustadoramente deserto. Incrédulo, o menino resolve testar<br />

a realidade e aventurar-se pelas ruas da cidade. Dessa experiência<br />

idílica nasce um novo Neno, que em dez dias completará nove anos,<br />

mas hoje só quer saborear esse dia cheio de vida.<br />

Autora: Mirna Pinsky<br />

<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />

Coleção: Avulso<br />

Indicado para faixa etária: <strong>Ed</strong>ucação Infantil e 1º ano<br />

As bochechas rosadas e sardas deram a Daniel o<br />

apelido de Zero Zero Alpiste. Ele não gosta que o<br />

vejam chorando, pois um dia o pai lhe disse que<br />

homem não chora. Até uma flor dizer que homem<br />

não só pode como deve chorar.<br />

Planeta Bicho – um almanaque<br />

animal!<br />

Autor: Luiz Roberto Guedes<br />

<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />

Coleção: Avulso<br />

Indicado para faixa etária: a partir do 2º ano<br />

Em um universo onde a poesia e a ilustração<br />

dialogam perfeitamente, a aranha e o beija-flor, o<br />

cão e os dinossauros, o porco-espinho e o poraquê<br />

ligam-se e interagem em cenários criados com<br />

maestria para eles.<br />

O dia a dia<br />

de Dadá<br />

Autor: Marcelo Xavier<br />

<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />

Coleção: Avulso<br />

Indicado para faixa etária: <strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />

e 1º ano<br />

Dadá foi a primeira personagem criada<br />

pelo autor Marcelo Xavier com a técnica<br />

da massinha de modelar. Lançado em<br />

1987, este livro de imagens para o qual<br />

o autor criou mais de 500 pecinhas,<br />

muitas delas com menos de 1 cm, levou<br />

essa simpática criança de cabelos azuis<br />

a perambular pelo imaginário de muitos<br />

leitores, sobretudo em oficinas criativas<br />

comandadas pelo autor.<br />

O amigo<br />

Autores: Mary França<br />

e Eliardo França<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Os Pingos<br />

Indicado para faixa<br />

etária: Apoio à alfabetização<br />

– 6 e 7 anos<br />

Pingo de Sol adora<br />

diversão, por isso<br />

resolve sair com seu<br />

amigo para dar um<br />

passeio. Quem será<br />

esse amigo?<br />

ESCOLHA<br />

do<br />

EDITOR<br />

O aniversário<br />

Autores: Mary França<br />

e Eliardo França<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Os Pingos<br />

Indicado para faixa<br />

etária: Apoio à alfabetização<br />

– 6 e 7 anos<br />

A árvore dos Pingos<br />

faz aniversário e<br />

seus amigos decidem<br />

preparar uma<br />

festa. De tão feliz,<br />

ela amanhece florida<br />

no dia seguinte.<br />

O alvo<br />

Autor: Ilan Brenman<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Clara Luz<br />

Indicado para faixa etária: 8 e 9 anos<br />

O artista<br />

Autores: Mary França e Eliardo França<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Os Pingos<br />

Indicado para faixa etária: Apoio à alfabetização<br />

– 6 e 7 anos<br />

A joaninha, o vaga-lume, o caracol e a lagarta<br />

acham graça dos bichos diferentes<br />

desenhados por Pingo de Céu. Então, ele<br />

resolve fazer uma canção para dizer que<br />

tudo é possível em nossa imaginação.<br />

Um sábio professor tranquiliza e encoraja as pessoas com suas<br />

histórias. Todos se perguntam como ele sempre tem o assunto<br />

certo para a pessoa certa. Com sabedoria, ele responde que<br />

o segredo é sempre ter uma boa história.<br />

A noite dos bichos –<br />

um livro que amanhece<br />

Autora: Julia Wauters<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Giramundo<br />

Indicado para faixa etária: 6 e 7 anos<br />

Nesta obra, a criança aprende sobre vários biomas e descobre que,<br />

apesar da noite escura, nem todos os bichos dormem. Com o nascer<br />

do sol, mais animais surgem logo de manhãzinha ou aparecem<br />

conforme o dia avança. No final, todos os bichos são identificados<br />

para que ela os localize, brincando, ao longo do livro.<br />

As aventuras de<br />

Bambolina<br />

Autora: Michele Iacocca<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Livros sem<br />

Palavras<br />

Indicado para faixa<br />

etária: 0 a 5 anos<br />

Bambolina é uma<br />

boneca de pano que<br />

passa de mão em<br />

mão até ser abandonada<br />

no lixo. No<br />

centro dessa história,<br />

o convívio entre as<br />

pessoas.<br />

De fora da Arca<br />

Autora: Ana Maria<br />

Machado<br />

<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />

Coleção: Abrindo<br />

Caminho<br />

Indicado para faixa<br />

etária: 8 e 9 anos<br />

Nem todos os bichos<br />

conseguem lugar na<br />

Arca de Noé. O que<br />

será que vai acontecer<br />

quando o dilúvio<br />

chegar? A autora<br />

desvenda esse mistério.<br />

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Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 73


Outraspalavras<br />

O<br />

mundo está mudando”, bradam<br />

muitos, ainda atordoados pelas<br />

dificuldades que a escola encontra,<br />

hoje, para dar conta do que a ela<br />

atribuem! A questão central não é a<br />

mudança em si, mas o modo como<br />

nos preparamos para enfrentá-la ou aproveitá-la. Está<br />

na hora de praticarmos com mais afinco o que costumamos<br />

dizer a alunos e alunas: aprender sempre é o<br />

que mais impede que nos tornemos prisioneiros<br />

de situações que, por serem inéditas,<br />

não saberíamos enfrentar.<br />

Temos um “defeito” natural que<br />

acaba se tornando nossa maior vantagem:<br />

não nascemos sabendo!<br />

Por isso, aqueles ou aquelas<br />

entre nós que imaginarem que<br />

nada mais precisam aprender ou,<br />

pior ainda, não têm mais idade para<br />

aprender, estão se enclausurando<br />

dentro de um limite que desumaniza<br />

e, ao mesmo tempo, torna frágil a<br />

principal habilidade humana: a audácia de<br />

escapar daquilo que parece não ter saída.<br />

Afinal, do nascimento ao final da existência individual,<br />

aprendemos (e ensinamos) sem parar;<br />

o que caracteriza um ser humano é a capacidade de<br />

inventar, criar, inovar – e isso é resultado do fato de<br />

não nascermos já prontos e acabados.<br />

Daí a necessidade de rever a nossa concepção sobre<br />

a fonte da competência. Ora, nos tempos atuais, ela é<br />

mais ainda uma condição coletiva. Até algum tempo<br />

atrás, a competência era entendida como algo exclusivamente<br />

individual; agora, tendo em vista a interdependência<br />

existente e a profusão de novos saberes em uma<br />

velocidade cada vez maior, é preciso pensar que, em um<br />

por Mario Sergio Cortella<br />

A idade do saber<br />

A importância de romper barreiras para ser capaz de ensinar e aprender<br />

grupo, equipe ou instituição, se alguém perde ou diminui<br />

a sua competência, todos no grupo a perdem ou a<br />

diminuem. Nesse sentido, é urgente que haja na organização<br />

do trabalho uma permeabilidade de educação<br />

continuada, em que as pessoas estejam se educando<br />

permanente e reciprocamente.<br />

Portanto, é necessária a criação de um ambiente<br />

educativo, um ambiente pedagógico, no qual caiba a<br />

possibilidade de as pessoas se ensinarem e aprenderem<br />

ao mesmo tempo umas com as outras.<br />

Nessas organizações, devem imperar dois<br />

princípios: “quem sabe reparte” e “quem<br />

não sabe procura”.<br />

Tudo isso nos põe um desafio:<br />

a capacidade de sermos mais flexíveis.<br />

Flexibilidade, porém, é diferente<br />

de volubilidade.<br />

Ser flexível significa ser capaz<br />

de, sem alterar seus princípios e<br />

valores básicos, enxergar e viver<br />

a realidade de outros modos; por<br />

sua vez, ser volúvel é mudar de<br />

posição ou opinião sem apoiar-se<br />

em convicções e simplesmente<br />

deixar-se levar pelas circunstâncias imediatas.<br />

A flexibilidade se caracteriza pela capacidade de<br />

romper algumas amarras e preconceitos que tornam<br />

alguém refém de uma condição que, parecendo segura<br />

e confortável, pode ser indicadora de indigência<br />

e fragilidade intelectual.<br />

Vale sempre lembrar a frase do fictício detetive<br />

chinês Charlie Chan: “Mente humana é como paraquedas;<br />

funciona melhor aberta”.<br />

Excerto de CORTELLA, Mario Sergio. Nós e a Escola: agonias e alegrias!<br />

(Pensatas Pedagógicas). Petrópolis: Vozes, 2018, edição ampliada<br />

e renomeada.<br />

Para<br />

despertar<br />

a imaginação<br />

e o prazer<br />

da leitura.<br />

Mario Sergio Cortella Filósofo e escritor, doutor em <strong>Ed</strong>ucação pela PUC-SP. Foi secretário<br />

municipal de educação de São Paulo (1991-1992)<br />

74 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018


2149851<br />

Em um só lugar, tudo o que<br />

você precisa para ensinar.<br />

O e-docente é a plataforma que facilita, desenvolve<br />

e enriquece o seu trabalho em sala de aula.<br />

ALGUNS RECURSOS DISPONÍVEIS<br />

• Obras didáticas<br />

• Plano de desenvolvimento da obra<br />

• Sequências didáticas<br />

• Proposta de acompanhamento da aprendizagem<br />

• Mapeamento das obras de acordo com as habilidades previstas na BNCC<br />

• Simulados de avaliações ANA e Prova Brasil<br />

• Projeto Interdisciplinar sobre a Copa<br />

• Indicação de literatura e projetos de apoio<br />

• Webnários com autores e especialistas<br />

E muitos outros conteúdos que<br />

vão apoiá-lo no dia a dia escolar!<br />

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