Revista Educar Transforma - Ed. 4
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Março 2018 I Ano 4 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />
<strong>Ed</strong>ucação sem<br />
fronteiras<br />
Com a BNCC, os estudantes da <strong>Ed</strong>ucação Básica passam a ter<br />
aprendizagens essenciais garantidas e um modelo nacional de ensino<br />
pág. 8<br />
Temas transversais pág. 24 Com a palavra pág. 38 tecnologia pág. 44<br />
Entenda a importância de abordar<br />
temas que dialoguem com conteúdos<br />
aplicados em sala de aula<br />
O secretário da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
Rossieli Soares da Silva fala sobre<br />
os desafios da educação<br />
Veja como o uso da tecnologia<br />
pode ressignificar as práticas<br />
pedagógicas
Aprender<br />
nunca foi tão<br />
divertido.<br />
No Projeto Ápis, conhecimento e<br />
diversão caminham sempre juntos.<br />
Com foco nos alunos dos anos iniciais<br />
do Ensino Fundamental, apresenta uma<br />
proposta lúdica de ensino, sem deixar<br />
de lado a base teórica indispensável<br />
para cada ciclo pedagógico. Tudo<br />
para despertar, com criatividade,<br />
o conhecimento dos seus alunos.<br />
Atualizado<br />
de acordo<br />
com a BNCC<br />
Central de Atendimento: 4003-3061 | atendimento@aticascipione.com.br
Índice<br />
Março 2018 I Ano 4 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />
22<br />
guia: Autodesenvolvimento<br />
Confira dicas de sites e<br />
plataformas de ensino<br />
para você se atualizar<br />
e aprimorar suas práticas<br />
pedagógicas<br />
24<br />
temas<br />
transversais<br />
Entenda por que<br />
este tipo de abordagem<br />
enriquece o<br />
aprendizado<br />
FOTO DE CAPA<br />
A concepção da capa foi<br />
inspirada na jornada do<br />
aluno com a proposta<br />
de unificação e equidade<br />
advinda da BNCC<br />
Expediente<br />
8<br />
<strong>Ed</strong>ucação sem<br />
Fronteiras<br />
Com a BNCC, os estudantes<br />
da <strong>Ed</strong>ucação Básica passam<br />
a ter aprendizagens essenciais<br />
garantidas e um modelo<br />
nacional de ensino<br />
34<br />
Competências<br />
socioemocionais<br />
Veja por que as<br />
habilidades socioemocionais<br />
são<br />
fundamentais para<br />
uma formação mais<br />
humana e integral<br />
38<br />
Com a palavra<br />
O secretário nacional<br />
da <strong>Ed</strong>ucação<br />
Básica Rossieli<br />
Soares da Silva fala<br />
sobre os desafios e<br />
oportunidades para<br />
alavancar os índices<br />
de alfabetização<br />
A <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> é uma<br />
publicação da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
Presidente SOMOS <strong>Ed</strong>ucação<br />
Fernando Shayer<br />
VP de <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
Guilherme Luz<br />
Diretora Comercial<br />
Fabyana Carvalho Desidério<br />
Gerente de Assessoria Pedagógica<br />
Renata Rossi<br />
Gerente de Marketing<br />
Decio Andrasy<br />
Gerente de Produto<br />
Fernanda Barbosa<br />
Coordenador de Business<br />
Intelligence<br />
Rodolfo Ferreira<br />
Assessora de Treinamento<br />
Renata Moraes<br />
Projeto Gráfico e <strong>Ed</strong>itorial<br />
Novacia Marketing e Comunicação –<br />
(11) 3382-9700<br />
Jornalista Responsável<br />
Anderson Martins Mtb 42.569<br />
Fotos Acervo SOMOS, Colaboradores<br />
SOMOS, Alan Malheiro, <strong>Ed</strong>ilson<br />
Rodrigues/Agência Senado, Luis Fortes,<br />
Marcos Oliveira/Agência Senado,<br />
Mariana Leal e Shutterstock<br />
Impressão nywgraf<br />
Tiragem 60.000 exemplares<br />
4 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 5
Índice Março 2018 I <strong>Ed</strong>ição 4<br />
44<br />
Tecnologia<br />
Saiba como a<br />
tecnologia pode<br />
potencializar as<br />
dinâmicas de<br />
aprendizagem em<br />
sala de aula<br />
E mais<br />
7 Canal aberto<br />
Renata Rossi, gerente de Assessoria<br />
Pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação, traça um<br />
panorama do cenário educacional brasileiro<br />
16 Diz aí, mestre<br />
O educador Celso Antunes fala sobre a fase de<br />
aprendizagem das crianças de seis a dez anos<br />
Canal Aberto<br />
Renata Rossi Gerente de Assessoria Pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
Os novos tempos da educação<br />
54<br />
Avaliação<br />
Confira as diferenças<br />
entre as avaliações e<br />
a importância delas<br />
para a criação de<br />
políticas educacionais<br />
e correções de rotas<br />
66<br />
Arte<br />
A inclusão de artes<br />
integradas na grade<br />
curricular abre<br />
novas dimensões<br />
ao ensino da<br />
disciplina<br />
62<br />
literatura<br />
Veja por que o<br />
acesso à literatura<br />
é essencial para a<br />
formação integral<br />
do ser humano<br />
18 CurrÍculo escolar<br />
Entenda o que é necessário para<br />
a elaboração de um bom currículo escolar<br />
28 Entre Aspas<br />
As boas práticas pedagógicas nas palavras de<br />
quem está dentro da sala de aula<br />
30 Aprendizagem Significativa<br />
A importância do diálogo para a construção<br />
de significados<br />
42 Alfabetização<br />
Perspectivas para o futuro: primeiros desafios<br />
50 inclusão Escolar<br />
Escolas repensam suas práticas e se adaptam<br />
para receber alunos com necessidades<br />
educativas especiais<br />
56 <strong>Ed</strong>ucação financeira<br />
O ensino que possibilita a criação de conceitos<br />
e valores para o uso consciente do dinheiro<br />
que valem por toda a vida<br />
60 logos<br />
Para o professor Dante é preciso trabalhar a<br />
educação financeira desde os primeiros anos<br />
da infância<br />
70 PENSATA<br />
A arte-educadora Eliana Pougy explica a<br />
importância da inclusão das artes integradas<br />
na BNCC<br />
71 Somos indica<br />
Espaço para a indicação de obras literárias<br />
74 OUTRAS PALAVRAS<br />
Mario Sergio Cortella fala sobre o<br />
processo de ensinar e aprender<br />
E<br />
m dezembro do ano passado, a<br />
BNCC para a <strong>Ed</strong>ucação Infantil e<br />
o Ensino Fundamental foi homologada.<br />
O documento, criado a<br />
partir das contribuições de toda<br />
a sociedade, representa uma importante<br />
evolução para o ensino e um<br />
grande desafio para todos nós, profissionais<br />
ligados à educação.<br />
Pensando em apoiá-lo(a)<br />
nessa jornada que está apenas<br />
começando, apresentamos<br />
a você esta edição<br />
especial da revista <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong><br />
<strong>Transforma</strong>. Em suas páginas,<br />
abordamos uma série<br />
de temas que têm o principal<br />
objetivo de promover<br />
uma reflexão sobre o desenvolvimento,<br />
em sala de aula, das<br />
habilidades e competências apontadas<br />
no documento.<br />
Para isso, contamos com a participação<br />
de diversos autores, especialistas e pensadores.<br />
Um deles é o secretário nacional da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica Brasileira, Rossieli Soares<br />
da Silva, que trata, em entrevista, dos desafios<br />
da implementação da Base nas escolas<br />
de todo o país. Ele compartilha, ainda, suas<br />
perspectivas para o ensino nos próximos<br />
anos. Já o filósofo Mario Sergio Cortella fala<br />
sobre a necessidade do constante aperfei-<br />
çoamento para nos adaptarmos a este mundo<br />
em profundas transformações.<br />
Você também poderá conferir nossa visão<br />
sobre a promoção de ambientes mais<br />
inclusivos em sala de aula, as vantagens do<br />
uso da tecnologia no ensino e como isso impacta<br />
positivamente no processo de<br />
aprendizagem, além de ações<br />
pedagógicas para estimular<br />
as habilidades socioemocionais<br />
dos alunos e muitos<br />
outros temas que,<br />
esperamos, serão úteis<br />
para facilitar sua missão<br />
de formar cidadãos<br />
conscientes e protagonistas<br />
de seu tempo.<br />
Aproveito, também,<br />
pa ra reforçar a nossa importante<br />
parceria. Caso<br />
deseje, mande suas dúvidas,<br />
comentários ou sugestões sobre os<br />
assuntos abordados para que, juntos, atuemos<br />
de maneira significativa pela evolução da<br />
educação no país. Eles serão bem-vindos!<br />
Estamos juntos na missão de transformar<br />
a educação! Esse é, certamente, o nosso<br />
grande sonho.<br />
Um abraço e boa leitura!<br />
Mande sua dúvida, comentário ou sugestão para: atendimento@aticascipione.com.br ou saceditorasaraiva@somoseducacao.com.br<br />
6 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 7
Capa<br />
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />
educação sem<br />
fronteiras<br />
A BNCC propõe aprendizagens<br />
essenciais e um modelo nacional<br />
de ensino para os estudantes da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
Nada é tão vital na educação<br />
quanto a decisão sobre o que<br />
e como ensinar. Se esse roteiro<br />
pedagógico, que define aquilo<br />
que o aluno deve aprender, deixa<br />
de ser atribuição de uma escola<br />
ou rede de ensino para adquirir amplitude nacional,<br />
é natural que esse movimento receba apoios<br />
ou reações proporcionais à sua magnitude. Com a<br />
homologação da Base Nacional Comum Curricular<br />
(BNCC) pelo Ministério da <strong>Ed</strong>ucação, em dezembro<br />
de 2017, não foi diferente.<br />
Desde o início da discussão sobre a sua criação,<br />
há três anos, a elaboração do documento<br />
foi tema de debates em diversas esferas, com a<br />
participação de especialistas, dirigentes educacionais,<br />
professores e integrantes da sociedade. Um<br />
processo sem precedentes na educação brasileira.<br />
Agora em vigor, a Base Curricular estabelece<br />
uma série de desafios de adaptação para as escolas<br />
de <strong>Ed</strong>ucação Infantil e Ensino Fundamental,<br />
ciclos contemplados nessa etapa.<br />
A Base propõe<br />
novos desafios<br />
para as escolas de<br />
<strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />
e do Ensino<br />
Fundamental<br />
8 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 9
Capa<br />
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />
A BNCC EM<br />
Números<br />
Confira os expressivos<br />
indicadores envolvidos<br />
no desenvolvimento<br />
da Base<br />
O texto aprovado pelo Conselho<br />
Nacional de <strong>Ed</strong>ucação (CNE) estabelece<br />
um conjunto de aprendizagens<br />
essenciais que todos os estudantes<br />
brasileiros devem desenvolver ao<br />
longo da <strong>Ed</strong>ucação Básica até o final<br />
do Ensino Médio, sendo que este<br />
último segmento será incluído neste<br />
ano. A BNCC deve ser implementada<br />
até 2020 e vai orientar a elaboração do<br />
currículo de cada escola e o que deve<br />
ser ensinado, mantendo suas características<br />
sociais e regionais.<br />
Na avaliação do ministro da <strong>Ed</strong>ucação,<br />
Mendonça Filho, “o documento representa<br />
um grande passo para diminuir as desigualdades<br />
educacionais no Brasil e promover a qualidade<br />
das aprendizagens. O aluno do Piauí terá acesso<br />
O documento<br />
representa um<br />
grande passo<br />
para diminuir as<br />
desigualdades<br />
educacionais no<br />
Brasil.”<br />
Mendonça Filho<br />
ministro da <strong>Ed</strong>ucação<br />
A BNCC estabelece<br />
um conjunto de<br />
aprendizagens<br />
essenciais que todos<br />
os estudantes<br />
brasileiros devem<br />
desenvolver<br />
ao mesmo aprendizado que o aluno<br />
de São Paulo ou de outros estados”.<br />
Nem por essa relevância, o documento<br />
deixou de receber críticas<br />
pontuais. O próprio ministro reconheceu<br />
imperfeições, mas defende<br />
que a Base Curricular buscou refletir<br />
“a expressão da identidade de um<br />
país amplo e vivo”.<br />
Para a especialista em políticas públicas<br />
Claudia<br />
Costin,<br />
diretora<br />
do Centro<br />
de Excelência e Inovação<br />
em Políticas <strong>Ed</strong>ucacionais da FGV-RJ,<br />
o processo deve ser considerado um<br />
avanço. “Ao adotar um currículo nacional e<br />
12 milhões<br />
Número de sugestões enviadas<br />
pela internet para a formulação<br />
da Base<br />
472<br />
Páginas compõem o documento<br />
aprovado pelo MEC<br />
5<br />
Ministros da <strong>Ed</strong>ucação participaram<br />
da gestão do processo<br />
3<br />
Versões foram produzidas para<br />
a elaboração do texto final<br />
A BNCC foi<br />
discutida por<br />
diversos setores da<br />
sociedade e pelo<br />
governo. Ela entra<br />
em vigor neste ano<br />
e deve ser implementada<br />
até 2020<br />
em toda a rede de<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
10 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 11
Capa<br />
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />
definir claramente os direitos de aprendizagem de<br />
crianças e jovens, passamos a acompanhar os melhores<br />
sistemas de ensino do mundo. Garantir esse<br />
direito é tão importante quanto assegurar o acesso<br />
à escola”, afirma Claudia Costin.<br />
Construção em etapas<br />
Até a Base Curricular se consolidar como proposta<br />
para a qualificação do ensino e promoção<br />
da equidade, um extenso caminho foi percorrido.<br />
O instrumento foi idealizado na Constituição de<br />
1988 e propôs a criação de uma grade de conteúdos<br />
mínimos para o Ensino Fundamental.<br />
Outros passos determinantes foram a aprovação<br />
da Lei de Diretrizes e Bases da <strong>Ed</strong>ucação<br />
Nacional (LDB), em 1996, e a sistematização dos<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), no<br />
período de 1997 a 2000. Posteriormente, a instituição<br />
do Plano Nacional de <strong>Ed</strong>ucação (PNE), em<br />
2014, se tornou decisiva para o país dar um salto<br />
no Ensino Básico, com 20 metas importantes a<br />
serem cumpridas no decênio 2014 – 2024.<br />
A estruturação da BNCC começou em 2015. No<br />
estágio inicial, recebeu mais de 12 milhões de contribuições<br />
pela internet, incorporadas nas duas versões<br />
iniciais do documento. A terceira foi concluída<br />
em 2017 e submetida a audiências públicas. Passou<br />
por revisões do MEC antes de ser encaminhada ao<br />
Conselho Nacional de <strong>Ed</strong>ucação. Toda a ação ocorreu<br />
sob a gestão de dois presidentes da República<br />
e cinco ministros da <strong>Ed</strong>ucação.<br />
Mudança na alfabetização<br />
“O processo começou com uma proposição,<br />
mas passou por mudanças no percurso, com<br />
reflexos no documento final”, diz o professor de<br />
Língua Portuguesa e autor de livros didáticos<br />
William Cereja. Em sua avaliação, alguns pontos<br />
mereceriam um debate mais amplo, como a questão<br />
da alfabetização, cujo processo passou de<br />
três para dois anos. “Embora seja uma tendência<br />
esse ciclo de aprendizagem não se estender tanto<br />
como em outros países, ao ocorrer até o 2º ano,<br />
que corresponde atualmente à antiga 1ª série do<br />
Fundamental, pode comprometer o<br />
aspecto lúdico dessa fase de ensino”,<br />
argumenta.<br />
Na disciplina de Língua Portuguesa,<br />
segundo Cereja, também ocorreram<br />
mudanças significativas durante a<br />
montagem da Base: “A terceira versão<br />
deu grande ênfase à gramática, depois<br />
atenuada”. De outra parte, o eixo de<br />
educação literária, que ganhava a<br />
mesma importância dos eixos de oralidade,<br />
escrita, leitura e gramática, foi<br />
excluído na última versão. “Só espero<br />
que isso não diminua a importância da literatura no<br />
estudo da Língua Portuguesa”, pondera.<br />
Competências para o século 21<br />
Há importantes conquistas para a educação que<br />
devem ser contabilizadas. “A Base está centrada em<br />
competências e não exclusivamente<br />
em conteúdos. Tem uma<br />
proposta muito mais contemporânea<br />
e ajustada à necessidade<br />
de formar jovens para o século<br />
21”, enfatiza Claudia Costin. A<br />
especialista aponta que essa<br />
orientação já é adotada pelos<br />
países que mais se destacam<br />
no Programa Internacional de<br />
Avaliação de Alunos (Pisa), que<br />
avalia o desempenho escolar<br />
de 70 nações. “Desenvolver<br />
habilidades, como as competências<br />
socioemocionais, é fundamental<br />
para que o estudante<br />
tenha uma inserção adequada<br />
na sociedade e no mercado do<br />
trabalho, principalmente em um<br />
mundo cada vez mais robotizado,<br />
em que ser inovador faz a<br />
diferença.”<br />
A BNCC também adotou em<br />
sua formulação princípios éticos,<br />
políticos e estéticos definidos<br />
pelas Diretrizes Curriculares<br />
Nacionais. Assim, estimula<br />
O processo começou<br />
com uma proposição,<br />
mas passou<br />
por mudanças<br />
no percurso,<br />
com reflexos no<br />
documento final.”<br />
William Cereja<br />
professor de Língua<br />
Portuguesa e autor<br />
de livros didáticos<br />
uma formação mais humana, integral<br />
e inclusiva. Também é relevante<br />
que permita desenhos próprios. “A<br />
Base não obriga a aplicação rígida de<br />
conteúdos em anos determinados,<br />
por exemplo. É uma flexibilização<br />
relativa, que dá opções para a aprendizagem”,<br />
explica Cereja. O professor<br />
também cita como aspecto positivo<br />
a inserção de temas relacionados<br />
a tecnologia. “Os gêneros digitais<br />
são muito bem-vindos. Ajudam na<br />
atualização do ensino e aproximam<br />
a escola da linguagem do aluno.”<br />
Missão das redes e escolas<br />
Ainda é cedo para prever o impacto nas salas de<br />
aula de <strong>Ed</strong>ucação Infantil e do Ensino Fundamental.<br />
Nos próximos anos de implementação, as redes e<br />
12 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 13
Capa<br />
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />
instituições de ensino municipais e estaduais<br />
terão a complexa tarefa de incorporar<br />
a Base Curricular às suas escolas,<br />
o que envolverá uma nova logística para<br />
avaliações, formação de professores e<br />
adoção de materiais didáticos.<br />
O ponto de partida é não confundir<br />
o documento com o currículo em si. Ele<br />
apenas dá referenciais e indica o rumo,<br />
enquanto os currículos elaborados<br />
funcionam como o caminho nesse processo.<br />
A BNCC deve ser integrada aos<br />
programas curriculares das redes e ao<br />
projeto pedagógico da escola que, por<br />
sua vez, deve incorporar conhecimentos,<br />
tradições e costumes que considerar relevantes<br />
para o aluno, assumindo seu protagonismo na<br />
aprendizagem.<br />
“Com a aprovação, começa o desafio de traduzir<br />
a Base em currículos pelo país”, salienta Claudia<br />
Costin, calculando que esse processo se estenda por<br />
este e pelo próximo ano, com avanços progressivos.<br />
“É possível que os governos estaduais, em regime de<br />
Acredito que, em<br />
breve, vamos evoluir<br />
consideravelmente em<br />
avaliações nacionais<br />
e internacionais,<br />
recuperando<br />
defasagens e maus<br />
resultados históricos.”<br />
Claudia Costin<br />
diretora do Centro de<br />
Excelência e Inovação em<br />
Políticas <strong>Ed</strong>ucacionais da<br />
FGV-RJ<br />
colaboração, desenvolvam o currículo de<br />
sua região e os municípios se inspirem<br />
no modelo, contextualizando fatores<br />
locais”, sugere.<br />
Outro fator é o comprometimento<br />
da gestão com a adoção das diretrizes<br />
da Base, assegura Claudia. “Gestores<br />
públicos e dirigentes de escolas devem<br />
estar plenamente comprometidos com<br />
as novas proposições para que sejam<br />
aplicadas da forma adequada.”<br />
Mas a parte estratégica desse processo<br />
é a capacitação dos professores<br />
para atuar em uma nova realidade de<br />
aprendizagem. “Os educadores terão<br />
de se preparar para lidar com propostas e conteúdos<br />
bem contemporâneos”, explica a especialista.<br />
Para tanto, é fundamental que as redes de ensino<br />
públicas viabilizem processos de formação continuada,<br />
a exemplo do que fazem as redes particulares.<br />
E cada educador deve se informar espontaneamente<br />
sobre as diretrizes, procurando adotá-las em<br />
seus planos de aula.<br />
Materiais didáticos<br />
Indispensáveis ao processo de aprendizagem,<br />
os livros didáticos já se adequam às proposições<br />
da Base Curricular. Antes mesmo da aprovação do<br />
documento, começaram a ser produzidos de acordo<br />
com as diretrizes do Programa Nacional do Livro<br />
Didático. Autor de publicações dessa natureza, o<br />
professor Cereja esclarece que as primeiras versões<br />
foram confeccionadas antes da revisão final da<br />
BNCC feita pelo MEC. “Por essa razão, o conteúdo<br />
desses livros ainda não contempla algumas orientações<br />
do texto final.”<br />
Para apoiar uma prática educativa qualificada e<br />
dar suporte aos professores em classe, os autores<br />
têm buscado uma plena compreensão da Base Curricular<br />
para garantir as melhores soluções editoriais.<br />
“Temos a responsabilidade de traduzir os novos<br />
conteúdos pedagógicos, procurando a abordagem<br />
mais adequada para cada tema”, diz o autor.<br />
A soma de esforços, direcionada para garantir que a<br />
BNCC estabeleça uma nova era na <strong>Ed</strong>ucação Básica do<br />
país, permite prever um futuro mais promissor para o<br />
estudante brasileiro. Algo que se refletirá não apenas<br />
nos processos de aprendizagem,<br />
como também nas avaliações.<br />
“Embora não seja o objetivo primordial,<br />
acredito que, em breve, vamos<br />
evoluir consideravelmente em avaliações<br />
nacionais e internacionais,<br />
como o Pisa, recuperando defasagens<br />
e maus resultados históricos”,<br />
conclui Claudia Costin.<br />
Além de competências<br />
e habilidades<br />
essenciais,<br />
a BNCC prevê a<br />
incorporação de<br />
conhecimentos,<br />
tradições e costumes<br />
locais<br />
O Impacto da Base nas escolas e redes de ensino<br />
Entenda como a BNCC vai promover mudanças na realidade escolar durante os próximos anos<br />
O documento apresenta<br />
referenciais<br />
para a elaboração<br />
dos currículos<br />
escolares<br />
O que propõe<br />
o documento<br />
Estabelecer um conjunto<br />
de aprendizagens essenciais<br />
que todos os estudantes<br />
brasileiros devem desenvolver<br />
na <strong>Ed</strong>ucação Básica,<br />
buscando uma formação<br />
humana, integral e inclusiva<br />
Desafios da<br />
rede de ensino<br />
Viabilizar a montagem<br />
dos currículos das escolas<br />
e dar suporte em<br />
processos de avaliação,<br />
formação de professores<br />
e aquisição de<br />
materiais didáticos<br />
Quando chegará<br />
às salas de aula<br />
O processo começa<br />
a ser adaptado a partir<br />
deste ano, em estados<br />
e municípios, e deverá<br />
ser implementado até<br />
2020 em todas as escolas<br />
do país<br />
Mudança<br />
no Ensino<br />
Fundamental<br />
A alfabetização deve<br />
ser concluída até<br />
o final do 2º ano<br />
do ciclo<br />
Adaptações<br />
no ensino<br />
Além das diretrizes da<br />
Base, devem ser incorporados<br />
aos currículos<br />
conhecimentos, tradições e<br />
costumes locais para garantir<br />
uma identidade própria à<br />
formação do aluno<br />
14 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 15
Existe algo mais fascinante<br />
que observar<br />
crianças de seis a dez<br />
anos? Nessa idade,<br />
o ser humano ganha<br />
aspectos de uma singularidade<br />
ímpar.<br />
Fase da vida em que meninos<br />
e meninas constituem espetáculos<br />
de originalidade indescritível.<br />
Falam em profusão, atropelando<br />
palavras, ou mergulham em silêncios<br />
profundos. Equilibram-se em<br />
beirais, alternam breves corridas<br />
com pulos injustificáveis, engolem<br />
coisas extravagantes e, surpreendentemente,<br />
conseguem até<br />
chegar inteiros em casa.<br />
Em algumas circunstâncias,<br />
grudam-se ao celular ou ao<br />
compu tador. Em outras, se largam<br />
diante da televisão. É o estágio<br />
de desenvolvimento cognitivo e<br />
habilidades mentais que Piaget denominava<br />
“operações concretas”,<br />
podendo fazer inúmeras coisas<br />
que em criança não podiam e, por<br />
isso, tornam-se tão estranhas e, ao<br />
mesmo tempo, tão fascinantes.<br />
Nesse estágio, descobrem a<br />
capacidade de operar seguindo<br />
regras, algo que representará,<br />
para todo o sempre, a base de<br />
DIz aí, mestre<br />
Celso antunes <strong>Ed</strong>ucador, professor-reitor da<br />
UniSant’Anna (SP), mestre em Ciências Humanas e consultor<br />
educacional do Canal Futura<br />
A hora mágica do<br />
ensino das regras<br />
A magia da descoberta e a importância de estabelecer limites<br />
para a construção de um ser social<br />
todo intercâmbio social duradouro.<br />
É a fase em que a ajuda dos<br />
pais é bem mais que essencial, é<br />
imprescindível.<br />
O bom adulto, nessa hora, não<br />
é apenas o que estabelece limites,<br />
mas o que ajuda a criança a<br />
construí-los. Quando uma criança<br />
aprende a construir e dominar as<br />
regras, conquista o pensamento<br />
silogístico e está pronta para a<br />
educação formal, descobrindo<br />
que existem regras fonéticas, de<br />
escrita, de aritmética. Aprender<br />
regras possibilita poder participar<br />
de jogos complexos, criar seus<br />
próprios jogos, ordenar as linhas<br />
de seu destino. Enfim, saber viver<br />
em grupo e, assim, se tornar realmente<br />
uma pessoa.<br />
É a oportunidade que os pais jamais<br />
podem deixar passar: mostrar,<br />
com doçura e firmeza, que existe<br />
hora para ligar e para desligar a<br />
TV, para brincar com jogos eletrônicos<br />
ou bonecas, mas também<br />
existe hora para parar. É uma fase<br />
admirável que requer professores<br />
capacitados e pais pacientes que<br />
explorem essa incrível competência<br />
mental para construir um ser efetivamente<br />
social.<br />
Nessa fase, muitos alunos em<br />
uma sala e a impessoalidade de<br />
uma aula constituem um crime<br />
contra a educação, bem como a<br />
pressão para aprender depressa,<br />
a monotonia de aulas expositivas,<br />
a homogeneidade de provas<br />
iguais para todos e a presença de<br />
adultos que transmitem saberes<br />
sem direito à exploração da curiosidade.<br />
Toda criança necessita do<br />
adulto e é nessa fase que mais se<br />
necessita desse adulto. É imperioso<br />
que compreendamos a criança<br />
e possamos, assim, nos tornar<br />
dignos dessa essencial necessidade,<br />
dessa bela oportunidade que nem<br />
sempre percebemos, mas somos<br />
intensamente procurados.<br />
Novas<br />
linguagens<br />
para o ensino<br />
da nossa língua<br />
Referência em todo o Brasil, a obra<br />
Português: Linguagens apresenta<br />
amplo conteúdo para todas as<br />
etapas da alfabetização. Textos de<br />
diferentes autores, seções de leitura<br />
e produção de texto misturam-se a<br />
novos conteúdos e linguagens, como<br />
fotografia, cinema, artes plásticas e<br />
populares. O resultado? Muito mais<br />
recursos para ensinar toda a riqueza<br />
da nossa língua.<br />
William<br />
Cereja<br />
Autor<br />
16 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018
Currículo escolar<br />
Rumo ao sucesso da atuação pedagógica<br />
Um caminho<br />
a percorrer<br />
A importância de elaborar um currículo<br />
escolar bem estruturado para garantir<br />
o sucesso da atuação pedagógica<br />
I<br />
magine que você vai construir<br />
uma casa. Cada etapa<br />
precisa ser bem planejada:<br />
o projeto, a definição dos<br />
materiais, a construção<br />
dos alicerces, a fase de<br />
acabamento e os detalhes que<br />
darão personalidade ao imóvel. E<br />
para que o resultado seja alcançado<br />
com sucesso, é fundamental<br />
que você acompanhe todos os<br />
passos desse trabalho.<br />
De modo geral, a maneira<br />
como a escola define o que seus<br />
alunos irão aprender e como cada<br />
etapa desse processo será realizada<br />
é bem semelhante. O currículo<br />
é a ferramenta que norteia esse<br />
planejamento, estabelecendo<br />
a sequência do que precisa ser<br />
estudado e como esse conteúdo<br />
deve ser trabalhado.<br />
A palavra currículo vem do<br />
latim currere, que significa um<br />
caminho a percorrer. Ao longo<br />
do tempo, no contexto do ensino,<br />
essa definição passou a ser<br />
entendida como um plano de<br />
estudos que, justamente, determina<br />
os passos que o estudante<br />
irá percorrer em cada momento<br />
de sua formação. Isso inclui as<br />
disciplinas que serão estudadas,<br />
os conteúdos e práticas pedagógicas<br />
aplicados em sala de aula,<br />
as experiências, os talentos individuais<br />
e valores a serem desenvolvidos<br />
e muito mais.<br />
A educação e o currículo não apenas transmitem<br />
cultura, como também são partes integrantes<br />
e ativas de um processo de produção e criação<br />
de sentidos, de significados, de sujeitos.”<br />
Letícia Lyle<br />
diretora presidente do instituto Somos<br />
18 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 19
Currículo escolar<br />
Rumo ao sucesso da atuação pedagógica<br />
O caminho das pedras<br />
Construir um currículo é um<br />
trabalho de olhar para o futuro<br />
e traduzir as perspectivas para<br />
o presente por meio de ações<br />
que direcionem o conteúdo, a<br />
sequência e o ritmo da aprendizagem.<br />
Para Letícia Lyle, diretora<br />
presidente do Instituto Somos, “é<br />
preciso saber para onde você está<br />
indo e qual é o fim dessa jornada,<br />
a fim de desenhar os passos<br />
até lá. Uma vez que os objetivos<br />
estejam claros, é essencial desenvolver<br />
um plano de ações para<br />
colocá-los em prática”, explica. “É<br />
um trabalho que deve ser feito<br />
com clareza e transparência, pois<br />
é nesse documento que a instituição<br />
vai mostrar, de acordo com<br />
suas crenças, metodologia e perfil<br />
de alunos, como vai caminhar em<br />
direção a seus propósitos.”<br />
O currículo pode ser elaborado<br />
por um único professor ou em<br />
grupo, pela equipe pedagógica,<br />
por autores especializados ou<br />
pelo governo. “Estamos lidando<br />
com uma criança que aprende de<br />
maneira global, com o conhecimento<br />
integrado e interdisciplinar.<br />
É preciso haver uma escuta<br />
muito qualificada de todos os<br />
agentes desse processo para<br />
entender o que pode ser feito, em<br />
que ritmo e com que finalidade.”<br />
O princípio para a elaboração<br />
de um bom currículo é conhecer os<br />
instrumentos normativos, como a<br />
Base Nacional Comum Cur ricular.<br />
Homologado no final de 2017, esse<br />
documento apresenta um conjunto<br />
de diretrizes que os educadores<br />
e coordenadores pedagógicos<br />
Cada segmento tem<br />
objetivos para o futuro<br />
dos alunos. O currículo<br />
precisa deixar claro<br />
como a escola vai<br />
executar isso em cada<br />
momento do aprendizado,<br />
refletindo transparência<br />
e integridade.”<br />
Letícia Lyle<br />
diretora presidente do<br />
instituto Somos<br />
Como se elabora um currículo<br />
Saiba quais são as etapas fundamentais para a construção do documento<br />
Planejamento<br />
Desenvolvimento<br />
Implementação<br />
1 2 3 4<br />
Neste momento é<br />
preciso considerar<br />
a missão e os valores<br />
da instituição, de<br />
modo a traduzir seu<br />
propósito em cada<br />
experiência<br />
turar o passo a passo. Por exemplo:<br />
antes de aprender a elaborar<br />
uma produção textual, a criança<br />
deve saber reconhecer o som das<br />
letras, a formação de palavras e<br />
frases para, então, compreender<br />
a construção do texto.”<br />
O papel do professor<br />
Mais do que declarar informações<br />
valiosas sobre suas diretrizes,<br />
o currículo carrega a personalidade<br />
das escolhas pedagógicas<br />
e metodológicas de cada instituição.<br />
E o professor é fundamental<br />
na construção dessa identidade.<br />
Segundo a diretora, a experiência<br />
dele em aula e a iniciativa de criar<br />
novas referências para enriquecer<br />
o conteúdo são práticas curriculares<br />
essenciais para o resultado.<br />
“Quando o professor pesquisa,<br />
traz vídeos ou elementos novos<br />
para a sala, está ajudando a trazer<br />
diversidade.”<br />
Nesse contexto, além dos instrumentos<br />
normativos, o educador<br />
precisa estar em constante atualização,<br />
conectado às mudanças na<br />
educação, e conhecer os recursos<br />
que influenciam sua prática no<br />
dia a dia. “As redes de ensino têm<br />
diversas capacitações, além de<br />
Deve conter uma descrição<br />
detalhada de como<br />
o conteúdo é organizado,<br />
o planejamento das<br />
atividades, a escolha dos<br />
processos de avaliação e<br />
recursos utilizados<br />
Momento em que<br />
as ações propostas<br />
no plano de estudos<br />
são levadas à sala<br />
de aula, respeitando<br />
o espaço e o tempo<br />
estabelecidos<br />
devem levar em conta na hora<br />
de produzir o currículo. Também,<br />
quais habilidades essenciais<br />
devem ser desenvolvidas pelos<br />
estudantes durante a <strong>Ed</strong>ucação<br />
Básica em todo o Brasil.<br />
O diferencial está nas características<br />
inovadoras que cada<br />
escola irá apresentar – e como<br />
serão trabalhadas, sejam elas<br />
competências socioemocionais,<br />
formação pluricultural e assim<br />
por diante. “Como garantir que<br />
questões importantes como<br />
diversidade, ética, gênero e tantas<br />
outras serão passadas adiante?<br />
Com tempo, espaço e progressão<br />
bem definidos em seu plano de<br />
estudos”, ressalta.<br />
Letícia observa que, se a escola<br />
acredita na aprendizagem colaborativa,<br />
deve incluir elementos<br />
que reforcem isso. Se a ênfase<br />
deve ser em Língua Portuguesa<br />
e Matemática, o ensino desses<br />
componentes curriculares precisa<br />
ser reforçado. “Essas escolhas são<br />
norteadoras. Mas é preciso estrucursos<br />
on-line para sua formação<br />
contínua. Assumir esse papel e<br />
entender a representatividade de<br />
seu trabalho e de seus alunos é<br />
fundamental”, avalia Letícia.<br />
Agora que você já sabe o que é<br />
preciso para construir essa “casa”,<br />
mãos à obra!<br />
Avaliação<br />
Por meio de avaliações do<br />
processo de aprendizagem e<br />
do resultado no fim do curso,<br />
é possível mapear os erros e<br />
acertos e reconstruir o que for<br />
necessário para estabelecer<br />
novos planos de ação<br />
A elaboração<br />
de currículos é<br />
trabalho de todos<br />
os envolvidos<br />
no processo de<br />
aprendizagem<br />
20 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 21
Guia<br />
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uando o assunto é formação<br />
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reflete-se no trabalho em sala<br />
de aula e na formação de alunos<br />
mais conscientes e preparados<br />
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Vargas (FGV)<br />
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Extensão, clique na plataforma Apoio. Depois,<br />
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Coursera<br />
coursera.org<br />
BrailLe Virtual<br />
www.braillevirtual.fe.usp.br<br />
Inclusão<br />
Criado pela Faculdade de <strong>Ed</strong>ucação<br />
da Universidade de São Paulo<br />
(FEUSP), o Braille Virtual é um curso<br />
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em sala de aula, temas da realidade<br />
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Espaço do Professor<br />
www.itaucultural.org.br<br />
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O Espaço do Professor é parte da<br />
Enciclopédia do Itaú Cultural. Com<br />
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diferentes etapas do ensino, a<br />
ferramenta foi criada para ser fonte de<br />
conhecimento e instrumento de apoio<br />
ao professor em sala de aula. Para<br />
acessar, clique em Planos de Aula na<br />
home do site.<br />
22 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 23
Temas transversais<br />
Novos saberes, diferentes perspectivas<br />
Conexões<br />
pedagógicas<br />
A importância de abordar temas transversais<br />
que dialoguem com os conteúdos aplicados em aula<br />
Língua Portuguesa,<br />
Ciências ou História<br />
são algumas das disciplinas<br />
com muitas<br />
possibilidades de<br />
extensões pedagógicas.<br />
Mas nenhuma é estanque<br />
em sua função de estimular<br />
novos saberes. Todas podem ganhar<br />
novas conotações ao serem<br />
associadas a temas transversais,<br />
uma prática que vem ganhando<br />
espaço nos anos iniciais do<br />
Ensino Fundamental, com boas<br />
ações realizadas e até conhecidas<br />
por muitos de nós, professores.<br />
E este processo tem se mostrado<br />
determinante para auxiliar os<br />
alunos a compreenderem o mundo<br />
em que vivem.<br />
Previstos nos Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais (PCN), os temas<br />
transversais mais difundidos<br />
são: ética, meio ambiente, saúde,<br />
trabalho e consumo, orientação<br />
sexual e pluralidade cultural.<br />
Porém, outros podem ser idealizados<br />
a critério da escola. Eles<br />
não se sobrepõem às disciplinas<br />
convencionais e não impõem<br />
conteúdos ou são trabalhados<br />
em paralelo, apenas dialogam<br />
de forma transversal, agregando<br />
um leque mais amplo de conhecimentos<br />
de interesse social.<br />
“Os temas transversais são<br />
direcionados para formar um<br />
cidadão mais completo, crítico<br />
e participativo, que seja capaz<br />
de articular melhor sobre sua<br />
realidade”, diz Erika Buch, supervisora<br />
pedagógica da Somos<br />
<strong>Ed</strong>ucação. Dessa forma, ao<br />
inserir os temas transversais em<br />
um currículo, a escola trabalha<br />
para a compreensão dos direitos<br />
e responsabilidades relaciona-<br />
Os temas transversais<br />
são direcionados para<br />
formar um cidadão<br />
mais completo, crítico<br />
e participativo, que seja<br />
capaz de entender melhor<br />
a realidade.”<br />
Erika Buch<br />
supervisora pedagógica da<br />
Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
dos com a vida pessoal e coletiva<br />
dentro da realidade que o estudante<br />
está inserido. O papel da<br />
escola, ao trabalhar com temas<br />
transversais, é integrar, facilitar e<br />
estimular ações de modo integrado,<br />
buscando não fragmentar o<br />
ensino, de forma que a vida e o<br />
conhecimento tenham relações.<br />
Para se tornarem relevantes,<br />
é importante que os conteúdos<br />
tratados transversalmente sejam<br />
sempre atuais e levem em conta<br />
temáticas sociais. “A questão da<br />
febre amarela, que está entre<br />
as mais discutidas no momento,<br />
serve de exemplo. Pode ser conduzida<br />
por diferentes perspectivas<br />
e levar a criança a entender<br />
que sacrificar macacos não ajuda<br />
a solucionar o problema, pois<br />
eles são apenas hospedeiros do<br />
vírus e tão vítimas quanto nós”,<br />
argumenta Erika.<br />
Projetos interdisciplinares<br />
Recurso pedagógico que agrega<br />
valor a esse processo, a interdisciplinaridade<br />
permite conectar<br />
vários campos do conhecimento<br />
a partir de um eixo temático.<br />
24 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 25
Temas transversais<br />
Novos saberes, diferentes perspectivas<br />
Os temas transversais<br />
podem ser<br />
trabalhados em<br />
projetos educacionais<br />
que envolvam<br />
a escola e a família<br />
“São ações que mobilizam a comunidade<br />
escolar, incluindo pais<br />
de alunos”, explica Valéria Tanese<br />
Palma, assessora pedagógica da<br />
Somos <strong>Ed</strong>ucação. “Os conhecimentos<br />
podem e devem estar<br />
interligados entre as disciplinas,<br />
o que justifica serem trabalhados<br />
conjuntamente”, completa. Isso<br />
permite ao educador estimular,<br />
observar e mediar, criando<br />
situações de envolvimento e<br />
aprendizagem significativa para o<br />
aluno. Afinal, uma das tarefas do<br />
educador é estimular o raciocínio,<br />
a criatividade, a curiosidade e,<br />
assim, fazer o aluno solucionar<br />
problemas na sua vida.<br />
O estudo do tema transversal<br />
meio ambiente, por exemplo,<br />
Campo inesgotável de estudos<br />
pode ocorrer em diferentes níveis<br />
de escolaridade e pela combinação<br />
de análises históricas, geográficas,<br />
biológicas, científicas, entre<br />
outras. Para tanto, a direção da<br />
escola e os professores têm a função<br />
de avaliar as necessidades da<br />
instituição e dos alunos. “A partir<br />
desse mapeamento, os gestores<br />
definem os projetos que podem<br />
atender a questões de aprendizagem<br />
ou responder a problemáticas<br />
da comunidade para planejar<br />
a ação. ”Basta que realizem um<br />
planejamento que contemple as<br />
estratégias, os objetos de pesquisa,<br />
os materiais, a duração do<br />
projeto e o produto final.<br />
O desafio de pensar um tema<br />
transversal de forma interdisciplinar<br />
inclui ainda a definição dos<br />
recursos a serem empregados.<br />
“Por vezes, pode até existir um<br />
patrocínio local para viabilizá-lo”,<br />
ressalta Valéria.<br />
Agentes de transformação<br />
Além da escola, espaço para<br />
que os temas transversais se<br />
desenvolvam e promovam uma<br />
Confira abaixo os principais temas transversais que estão relacionados<br />
a outros que podem ser adotados a partir de contextos locais<br />
Ética<br />
Conceitos e<br />
valores; senso<br />
de justiça;<br />
solidariedade;<br />
referências<br />
históricas<br />
Orientação<br />
sexual<br />
O corpo humano<br />
como matriz da sexualidade;<br />
relações de<br />
gênero; prevenção de<br />
doenças sexualmente<br />
transmissíveis (DSTs)<br />
Meio<br />
ambiente<br />
Ecologia e ecossistemas;<br />
os ciclos da<br />
natureza; manejo<br />
e conservação ambiental;<br />
consumo<br />
consciente<br />
Saúde<br />
Equilíbrio do organismo<br />
e prevenção<br />
de doenças; principais<br />
enfermidades;<br />
epidemias<br />
Pluralidade<br />
cultural<br />
O ser humano como<br />
agente social e produtor<br />
de arte e cultura;<br />
indústria cultural; diversidade<br />
entre povos<br />
e cidadania<br />
Trabalho<br />
e consumo<br />
As relações e modalidades<br />
de trabalho e suas dimensões<br />
históricas; meios de<br />
comunicação de massa;<br />
publicidade; marketing;<br />
consumismo<br />
educação para a cidadania, a<br />
eficiência do processo depende<br />
de todos os envolvidos. Os<br />
professores devem estar capacitados<br />
e alinhados à proposta<br />
pedagógica de cada projeto e às<br />
expectativas de aprendizagem.<br />
“Eles precisam estar dispostos a<br />
adquirir novos conhecimentos<br />
e ensiná-los adequadamente,<br />
compreendendo esse processo<br />
como vital para o aluno”, defende<br />
Valéria. “Nós, professores, somos<br />
agentes de transformação<br />
e contribuímos para a formação<br />
de uma geração consciente em<br />
relação ao seu papel na sociedade,<br />
voltada para a valoração<br />
ética, social, econômica e ambiental”,<br />
completa.<br />
O principal beneficiário é o<br />
próprio estudante, que deve ser<br />
capaz de interpretar significados,<br />
refletir e interagir. E, assim, se<br />
torna mais preparado para lidar<br />
com as diferenças e vulnerabilidades<br />
da sociedade. “Ele adquire<br />
maior noção do que acontece ao<br />
seu redor e se torna um agente<br />
de transformação que impacta,<br />
que pode fazer a diferença”, assegura<br />
Erika Buch. Pode ser, portanto,<br />
um movimento estendido<br />
estrategicamente para a casa do<br />
aluno, e contribui para orientar<br />
famílias que têm pouco acesso à<br />
informação. “Prova disso são os<br />
projetos transversais que tratam<br />
da dengue. É comum a criança<br />
envolvida explicar para os pais<br />
que não se deve deixar vasos e<br />
pneus acumularem água. Assim,<br />
este aluno também intervém em<br />
sua realidade.”<br />
Os estudantes<br />
passam a interpretar<br />
significados,<br />
refletir e interagir,<br />
a partir do desenvolvimento<br />
dos<br />
temas transversais<br />
em sala de aula<br />
Temas sensíveis<br />
Para estabelecer esse diálogo<br />
de forma a cumprir com seu<br />
papel social, os temas transversais<br />
podem ser abordados sem<br />
entraves, de forma natural, mas<br />
com responsabilidade. “Nesta<br />
perspectiva, os temas transversais<br />
têm a intencionalidade de<br />
promover um diálogo que ajude<br />
os jovens estudantes a receberem<br />
informações e orientações<br />
confiáveis”, aponta Erika.<br />
Isso, sempre com muito cuidado<br />
e pesquisa sobre o tema,<br />
além de incluir participantes do<br />
entorno escolar como direção,<br />
coordenação e especialistas no<br />
assunto, que possam contribuir<br />
com as propostas da escola e<br />
com temas que estão no calor<br />
das horas.<br />
26 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 27
entre aspas<br />
Uma seleção de depoimentos que destacam<br />
boas práticas de professores em sala de aula<br />
O<br />
que é uma boa prática pedagógica? É aquela<br />
que, mesmo fora da sala de aula, marca positivamente<br />
a vida do aluno. Isso certamente já<br />
aconteceu com você, professor(a)! E, por isso,<br />
queremos saber sobre sua boa prática, para<br />
que seja compartilhada com outros professores<br />
do nosso imenso Brasil. Para enviar sua boa prática,<br />
escreva um e-mail para: renata.moraes@somoseducacao.com.br.<br />
Confira, então, algumas práticas pedagógicas que estão no escopo<br />
de trabalho das três professoras que colaboraram com esta seção.<br />
“Há um projeto que realizei chamado<br />
Cartas pelo Brasil. Consistiu na escrita<br />
de cartas pelos alunos e na troca<br />
delas entre outras escolas. Esse tipo<br />
de atividade pode ser feita entre escolas<br />
de um município ou ainda entre<br />
as séries da mesma escola. Eu gosto<br />
da proposta da carta, mesmo que em<br />
desuso pelos alunos, pois é uma forma<br />
de apresentar esse gênero tão importante<br />
para a história da comunicação e<br />
da humanidade. Também cria a oportunidade<br />
de fazer as associações com<br />
os gêneros mais próximos dos alunos,<br />
como as mensagens. Além disso, é legal<br />
trabalhar a própria comunicação.<br />
Por meio da carta, o aluno fala de si,<br />
pergunta sobre o outro e um processo<br />
comunicativo se estabelece de forma<br />
bem bacana. Vale o trabalho e empenho<br />
de todos.”<br />
Patrícia Sabella<br />
professora graduada em Letras pela Unesp de Assis (SP)<br />
“Em todos esses anos lecionando nas escolas, pensando em<br />
todos os segmentos – <strong>Ed</strong>ucação Infantil, Fundamental I e<br />
Fundamental II – e vendo outras ações enquanto coordenadora<br />
pedagógica, vi e vivenciei muitas práticas boas. Duas delas<br />
são infalíveis: as que têm em seu contexto a musicalidade e<br />
a afetividade. Ou seja, todas as que exploram estes dois campos,<br />
principalmente as que exploram os sentidos, tendem a ter<br />
resultados extraordinariamente bons.”<br />
Emilene Zaguetti<br />
professora graduada em Pedagogia e especialista em Gestão Escolar pela<br />
Universidade Metropolitana de Santos (SP)<br />
“Minhas boas práticas sempre estão<br />
relacionadas à roda de conversa<br />
e leitura de livros infantis<br />
porque, a meu ver, são as que<br />
desenvolvem mais a autonomia<br />
e a personalidade dos alunos<br />
do Fundamental I. Eu<br />
selecionei essas práticas por<br />
não focarem somente no caminho<br />
das crianças ao mundo do trabalho.<br />
Com elas, os alunos podem fazer escolhas,<br />
protagonizar as atividades a partir de suas<br />
necessidades e motivações. Assim, a autonomia<br />
é bastante desenvolvida nesses tipos de<br />
atividades. O trabalho socioemocional também<br />
é valorizado onde leciono.”<br />
Erika Kohle<br />
professora doutoranda em Pedagogia pela Unesp de Marília (SP)<br />
28 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 29
aprendizagem significativa<br />
Criando percepções e sentid os<br />
Construindo<br />
sentidos<br />
Como a aprendizagem significativa pode contribuir para<br />
o processo de ensino e assimilação de novos conceitos<br />
H<br />
á alguns anos,<br />
era comum<br />
visitar uma<br />
biblioteca e mergulhar<br />
em uma<br />
porção de livros<br />
e enciclopédias em busca de<br />
conhecimento. Hoje, pouca gente<br />
mantém esse hábito. Afinal, com<br />
a revolução digital, há um oceano<br />
de informações disponível na<br />
palma da mão. Mas, com tantas<br />
respostas, se torna cada vez mais<br />
imprescindível saber fazer as perguntas<br />
certas, questionar.<br />
Na escola não é diferente. Já<br />
não basta mais, ao professor,<br />
reproduzir conhecimento. É<br />
preciso conduzir experiências<br />
que contextualizem o que está<br />
sendo ensinado de acordo com o<br />
histórico de cada um. Isso porque<br />
“aquilo que não tem uma<br />
conexão com algo anteriormente<br />
aprendido tende a ser esquecido,<br />
pois é arquivado na memória de<br />
curto prazo”, explica a pedagoga<br />
Francisca Paris, ex-secretária de<br />
<strong>Ed</strong>ucação de Ribeirão Preto e<br />
autora de livros didáticos.<br />
Ao abrir um espaço antes<br />
de iniciar o conteúdo<br />
teórico, o professor vai<br />
compreender o que os<br />
alunos sabem sobre o<br />
tema e, assim, criar uma<br />
sintonia de aprendizado<br />
com toda a turma.”<br />
Francisca Paris<br />
ex-secretária de <strong>Ed</strong>ucação de<br />
Ribeirão Preto e autora de livros<br />
didáticos<br />
Espaço para o diálogo<br />
Um dos caminhos para isso é a<br />
aprendizagem significativa. De acordo<br />
com o teórico David Ausubel,<br />
esse processo demanda relacionar<br />
as aprendizagens aos conhecimentos<br />
preexistentes na estrutura<br />
cognitiva das pessoas, construindo<br />
contextos de significação. E isso<br />
acontece por meio do chamado<br />
esquema cognitivo que, para a<br />
Psicologia, é a maneira como os<br />
estímulos e percepções são organizados<br />
por um indivíduo em deter-<br />
minada situação.<br />
Aplicando essa teoria ao<br />
ambiente escolar, mais do que<br />
apresentar um conteúdo em sala<br />
de aula, é fundamental estabelecer<br />
uma relação entre a vivência<br />
dos alunos e seus aprendizados<br />
consolidados, de maneira que<br />
seja possível entender, registrar e<br />
criar um significado para a informação.<br />
“O aluno define os conceitos<br />
com suas próprias palavras e<br />
os relaciona com a vida”, ressalta<br />
a pedagoga.<br />
Mas como fazer isso na prática?<br />
Segundo Francisca, “uma aula que<br />
promova a aprendizagem significativa<br />
é, inicialmente, um espaço de<br />
diálogo, no qual o professor incentiva<br />
a participação de todos para<br />
que exponham suas percepções e<br />
sentidos”. Para isso, o mais importante<br />
é entender como cada um<br />
pensa e o que sabe sobre aquele<br />
conteúdo. “Ao abrir um espaço antes<br />
de iniciar o conteúdo teórico, o<br />
professor passa a compreender o<br />
que os alunos sabem sobre o tema<br />
e, assim, cria uma sintonia de<br />
aprendizado com toda a turma.”<br />
30 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 31
aprendizagem significativa<br />
Criando percepções e sentid os<br />
Um exemplo: se o docente<br />
fala em café com leite, um estudante<br />
pode imaginar uma xícara<br />
no café da manhã; outro pode<br />
pensar em alguém muito jovem<br />
para participar das regras de<br />
um jogo; ou ainda, alguém pode<br />
mencionar, mesmo que superficialmente,<br />
o acordo firmado<br />
entre as oligarquias de São Paulo<br />
e Minas Gerais e o Governo Federal<br />
para a escolha de presidentes<br />
durante a República Velha. “O<br />
importante é não bloquear o<br />
canal de comunicação e permitir<br />
que todos se expressem. Assim,<br />
é possível construir um sentido<br />
comum a partir das contribuições<br />
de todos”, diz Francisca.<br />
E se impactar cada indivíduo,<br />
em uma classe com 30 ou mais<br />
estudantes, é um enorme desafio,<br />
o segredo para alcançá-lo pode<br />
estar no trabalho colaborativo.<br />
“É possível compartilhar essa<br />
responsabilidade com os alunos,<br />
dividindo-os em grupos de modo<br />
que troquem suas percepções<br />
entre si”, complementa Francisca.<br />
Da escola para a vida<br />
No ensino tradicional, que<br />
exige uma atitude receptiva e<br />
mecânica, a criança recebe a<br />
informação sem atuar sobre ela.<br />
Já a aprendizagem significativa<br />
contribui para ampliar seu sistema<br />
cognitivo e, dessa forma,<br />
auxiliar no desenvolvimento de<br />
suas competências, aplicando o<br />
que foi aprendido em situações<br />
práticas. A Base Nacional Comum<br />
Curricular (BNCC), de certa forma,<br />
privilegia essa abordagem. “A<br />
BNCC é uma régua que indica as<br />
habilidades a serem desenvolvidas.<br />
No entanto, a metodologia<br />
vai ser determinada pelo currículo<br />
da escola. A diferença está na<br />
maneira com que isso será trabalhado<br />
em sala de aula”, conta.<br />
A prática didática e o processo<br />
de avaliação adotados pelo<br />
professor permitem identificar<br />
quais caminhos seguir. Francisca<br />
explica: “Se, em uma avaliação,<br />
ele pergunta ‘o que é um planeta?’,<br />
a resposta será mecânica.<br />
Agora, se a questão propuser<br />
que a criança compare a Terra<br />
com Marte, por exemplo, será<br />
possível trabalhar outros parâmetros<br />
e fazê-la pensar. É preciso<br />
caminhar nessa direção.”<br />
Como se vê, a atitude do<br />
professor é essencial para que o<br />
aprendizado faça sentido para o<br />
aluno e ele entenda o real motivo<br />
de se aprender determinado tema.<br />
É uma abordagem que pode ser<br />
desenvolvida de várias maneiras.<br />
“Há uma infinidade de capacitações,<br />
cursos on-line e livros à<br />
disposição do professor. É preciso<br />
gerir também seu autoaperfeiçoamento.”<br />
Para a especialista, outro<br />
fator fundamental é o estímulo<br />
da equipe pedagógica da escola.<br />
“Além de buscar esse conhecimento,<br />
poder compartilhar isso<br />
em reuniões e debater as táticas<br />
utilizadas com outros educadores<br />
pode promover grandes mudanças<br />
na aprendizagem”, conclui.<br />
É fundamental estabelecer<br />
uma relação com o<br />
universo daquele jovem<br />
e os aprendizados já<br />
consolidados, de maneira<br />
que ele entenda, registre e<br />
crie um significado para<br />
a informação.”<br />
Francisca Paris<br />
ex-secretária de <strong>Ed</strong>ucação de Ribeirão<br />
Preto e autora de livros didáticos<br />
A aprendizagem<br />
significativa auxilia<br />
no desenvolvimento<br />
de competências<br />
32 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 33
Competências socioemocionais<br />
Lidando com os desa fios da sociedade<br />
A vez das<br />
competências<br />
socioemocionais<br />
Entenda o papel da escola e do professor no que diz<br />
respeito à formação mais humana e integral dos alunos<br />
Desde a década de<br />
1990, o tema das<br />
competências<br />
socioemocionais<br />
vem sendo<br />
estudado com<br />
mais intensidade no mundo. No<br />
Brasil, ganhou força em 2017,<br />
com as discussões da Base Nacional<br />
Comum Curricular (BNCC).<br />
O documento incorporou a<br />
proposta de uma formação mais<br />
humana e integral dos estudantes,<br />
a partir da visão de que as<br />
competências e habilidades socioemocionais<br />
devem perpassar,<br />
de maneira transdisciplinar, as<br />
habilidades cognitivas.<br />
Com isso, a formação socioemocional<br />
já começa a se tornar<br />
realidade nas escolas brasileiras. E<br />
não era sem tempo: afinal, numa<br />
sociedade cada vez mais dinâmica<br />
e desafiadora, os alunos precisam<br />
ser vistos de forma integral e suas<br />
individualidades devem ser mais<br />
bem compreendidas.<br />
“Essas competências respondem<br />
a um questionamento que<br />
vem desde o final do século 20<br />
sobre o que é necessário para o<br />
ser humano viver bem”, afirma<br />
Letícia Lyle, diretora presidente<br />
do Instituto Somos. “Vários<br />
campos de pesquisa atestam que<br />
essas habilidades, associadas ao<br />
desenvolvimento cognitivo, são<br />
fundamentais para a realização<br />
pessoal e profissional”, completa.<br />
Vários campos de<br />
pesquisa atestam que<br />
essas habilidades,<br />
associadas ao<br />
desenvolvimento<br />
cognitivo, são<br />
fundamentais para<br />
a realização pessoal<br />
e profissional.”<br />
Letícia Lyle<br />
diretora presidente do<br />
instituto Somos<br />
Lidando com desafios<br />
E o que são as competências<br />
socioemocionais? Trata-se de um<br />
conjunto de habilidades sociais<br />
e emocionais que se refletem<br />
em comportamentos, atitudes,<br />
modos de pensar e sentir, e são<br />
tão importantes quanto a leitura,<br />
a escrita ou o cálculo. São também<br />
consideradas características<br />
não cognitivas, tais como resiliência,<br />
persistência, empatia, foco,<br />
autoconhecimento, autogestão,<br />
criatividade e comunicação.<br />
A articulação entre diversas<br />
habilidades é o que forma uma<br />
competência. Para Morgana<br />
Batistella, gerente do programa<br />
O Líder em Mim (OLEM), da Somos<br />
<strong>Ed</strong>ucação, “as competências<br />
socioemocionais nos permitem<br />
lidar com os desafios existentes<br />
na sociedade contemporânea,<br />
como a complexidade, a volatilidade,<br />
a incerteza, a velocidade<br />
das transformações, a automação<br />
e a globalização”.<br />
Assim, apenas o conhecimento<br />
cognitivo já não é e não será su-<br />
34 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 35
Competências socioemocionais<br />
Lidando com os desa fios da sociedade<br />
As habilidades na BNCC<br />
ficiente para se atuar como profissionais<br />
no mercado, ou mesmo<br />
para se conviver em uma sociedade<br />
cada vez mais diversa. “O<br />
importante é termos consciência<br />
de que essas habilidades podem<br />
ser ensinadas e aprendidas, e a escola<br />
é um espaço primordial como<br />
agente propulsor desses conhecimentos<br />
e práticas”, diz Morgana.<br />
A Base Nacional Comum Curricular define um conjunto de dez<br />
competências gerais que devem ser desenvolvidas de forma<br />
integrada aos componentes curriculares durante toda<br />
a educação básica. Segundo Morgana Batistella, quatro delas<br />
são relacionadas à formação socioemocional e devem ser<br />
trabalhadas na escola. Veja um resumo:<br />
Autogestão<br />
Argumentar com base em fatos, dados<br />
e informações confiáveis, para formular,<br />
negociar e defender ideias, pontos de vista<br />
e decisões comuns<br />
Autoconhecimento e autocuidado<br />
Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua<br />
saúde física e emocional, reconhecendo<br />
suas emoções e as dos outros, com<br />
autocrítica e capacidade para lidar<br />
com elas e com a pressão do grupo<br />
Empatia e cooperação<br />
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução<br />
de conflitos e a cooperação, sem<br />
preconceitos de origem, etnia, gênero,<br />
orientação sexual, idade, habilidade/<br />
necessidade, convicção religiosa ou<br />
de qualquer outra natureza<br />
Autonomia e responsabilidade<br />
Agir pessoal e coletivamente com<br />
autonomia, responsabilidade, flexibilidade,<br />
resiliência e determinação, tomar decisões<br />
segundo princípios éticos, democráticos,<br />
inclusivos, sustentáveis e solidários<br />
Como formar professores?<br />
Se a escola deve estar à frente<br />
desse processo, como alinhar a<br />
formação do professor a esses<br />
conceitos? “Ninguém aprendeu a<br />
trabalhar o desenvolvimento de<br />
habilidades socioemocionais na<br />
universidade”, observa a gerente.<br />
“Por isso, o professor precisa<br />
conhecê-las e praticá-las em sua<br />
própria vida para, então, auxiliar<br />
na aprendizagem de seus alunos.”<br />
Alguns cursos presenciais e a<br />
distância já dão acesso ao conhecimento<br />
para essa nova exigência.<br />
O Instituto Singularidades, de<br />
São Paulo, oferece disciplina de<br />
pós-graduação voltada à formação<br />
integral dos alunos com base<br />
em habilidades socioemocionais<br />
e práticas educacionais inovadoras.<br />
O Instituto Brasileiro de<br />
Formação de <strong>Ed</strong>ucadores (IBFE) e<br />
o Instituto Sedes Sapientiae também<br />
criaram cursos de extensão<br />
direcionados ao tema.<br />
Instituições e grupos educacionais<br />
também disponibilizam conteúdos<br />
de orientação para escolas<br />
e professores. Um exemplo é o<br />
programa OLEM, que proporciona<br />
formação inicial para os docentes,<br />
seguida de metodologia que estrutura<br />
o currículo socioemocional da<br />
escola e oferece acompanhamento<br />
para a aplicabilidade de práticas<br />
que garantem a formação socioemocional<br />
de alunos e da comunidade<br />
escolar.<br />
Clima de convivência<br />
“A partir da nossa experiência<br />
em mais de 55 países, pudemos<br />
verificar que a formação socioemocional<br />
tem feito a diferença<br />
na preparação dos alunos para<br />
enfrentar os desafios atuais por<br />
meio de autoconhecimento,<br />
identificação de seus potenciais,<br />
relações intrapessoais e interpessoais<br />
e atuação na comunidade<br />
escolar e na sociedade”,<br />
atesta Morgana.<br />
Considerando-se que as competências<br />
socioemocionais têm<br />
relação direta com o indivíduo, é<br />
fundamental também que esse<br />
O importante é<br />
termos consciência<br />
de que as habilidades<br />
socioemocionais<br />
podem ser ensinadas<br />
e aprendidas,<br />
e a escola é um<br />
espaço primordial<br />
como agente<br />
propulsor desses<br />
conhecimentos<br />
e práticas.”<br />
Morgana Batistella<br />
Gerente Nacional do<br />
Programa O Líder em mim<br />
aprendizado estimule o bem-estar<br />
do aluno no ambiente escolar. “É<br />
importante que a gestão atue para<br />
proporcionar um clima de convivência,<br />
já que o indivíduo é o mesmo<br />
na escola, no clube ou com os<br />
amigos”, afirma Letícia Lyle.<br />
Portanto, formar indivíduos<br />
emocionalmente mais capacitados<br />
para atuar numa sociedade tecnológica,<br />
competitiva e em constante<br />
transformação é reconhecer a<br />
importância das competências socioemocionais.<br />
Integrar essas habilidades<br />
ao currículo, preparar o<br />
professor e a própria escola para<br />
agregar novos conhecimentos,<br />
uma nova abordagem e um novo<br />
olhar para uma formação verdadeiramente<br />
integral são desafios<br />
de todos nós.<br />
36 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 37
COM A PALAVRA<br />
Rossieli Soares da Silva<br />
O que<br />
transforma<br />
a educação<br />
A alfabetização nos anos iniciais é essencial para que<br />
os alunos cheguem ao final da <strong>Ed</strong>ucação Básica prontos<br />
para os desafios do futuro<br />
O<br />
Brasil passa por um momento de grandes transformações<br />
na educação e ainda há enormes desafios<br />
pela frente, principalmente com relação à alfabetização.<br />
Nesta entrevista exclusiva, o secretário<br />
nacional da <strong>Ed</strong>ucação Básica Brasileira, Rossieli<br />
Soares da Silva, fala sobre as principais metas a<br />
partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)<br />
e as perspectivas para a educação do país.<br />
guesa e Matemática e estavam<br />
estagnados no Índice de Desenvolvimento<br />
da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
(Ideb). A partir disso, elegemos<br />
as prioridades. Entre elas, a reforma<br />
do Ensino Médio, a cria-<br />
perfil<br />
Rossieli Soares da Silva<br />
assumiu, em 2016, o<br />
cargo de secretário<br />
nacional da Secretaria de<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica (SEB) do<br />
Ministério da <strong>Ed</strong>ucação.<br />
Advogado, Rossieli<br />
atuou, antes de assumir<br />
o cargo atual, como secretário<br />
de <strong>Ed</strong>ucação do<br />
Estado do Amazonas<br />
Quando assumiu a Secretaria<br />
da <strong>Ed</strong>ucação Básica (SEB), em<br />
2016, quais foram os principais<br />
desafios encontrados e<br />
como vem trabalhando para<br />
transformar o cenário da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica?<br />
Os programas para a <strong>Ed</strong>ucação<br />
Básica estavam parados, exceto<br />
o Programa Nacional do<br />
Livro Didático. Com indicadores<br />
insatisfatórios e um cenário<br />
de crise orçamentária, um dos<br />
desafios era adequar o planejamento<br />
ao recurso disponível.<br />
O primeiro passo foi mapear<br />
todos os resultados. Identificamos<br />
que os alunos de todas as<br />
etapas do ensino enfrentavam<br />
dificuldades em Língua Portução<br />
da Base Nacional Comum<br />
Curricular (BNCC), a formação<br />
continuada de professores e a<br />
<strong>Ed</strong>ucação Infantil.<br />
Quais foram as primeiras<br />
medidas adotadas para iniciar<br />
o processo de mudança?<br />
Começamos olhando para<br />
os status dos programas já<br />
existentes. O Mais <strong>Ed</strong>ucação,<br />
por exemplo, não tinha foco<br />
em aprendizagem, apenas<br />
no aumento da carga horária<br />
para atividades integrais.<br />
Por isso, desenhamos uma<br />
nova versão em que as horas<br />
complementares foram distribuídas<br />
entre ações e atividades<br />
em Língua Portuguesa e<br />
Matemática, mas sem perder<br />
outras dimensões, como<br />
atividades esportivas, teatrais<br />
e culturais. O mesmo foi feito<br />
para os demais programas e<br />
as iniciativas criadas durante<br />
a nova gestão. Passamos a ter<br />
um foco definido, que é elevar<br />
o nível de aprendizagem das<br />
crianças, proporcionando<br />
meios para que elas deixem<br />
38 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 39
COM A PALAVRA<br />
Rossieli Soares da Silva<br />
os anos iniciais da <strong>Ed</strong>ucação<br />
Básica sendo capazes de ler<br />
e escrever palavras simples,<br />
interpretar pequenos textos,<br />
entre outros pontos fundamentais<br />
para seu desenvolvimento.<br />
Na sua visão, em que período<br />
os alunos devem ser alfabetizados<br />
para realizar essas<br />
atividades?<br />
Há quem defenda que a alfabetização<br />
se encerre no 3º<br />
ano do Fundamental I, aos<br />
oito anos; outros acreditam<br />
que ela se completa no 2º ano.<br />
Para nós, ela não se conclui<br />
neste período. Trata-se de um<br />
processo mais sedimentado,<br />
em que, já no 2º ano, a criança<br />
deve ser capaz de ler e interpretar<br />
esses pequenos textos,<br />
mesmo que ainda não tenha<br />
se aprofundado no processo<br />
de ortografização.<br />
E como garantir que as crianças<br />
estejam alfabetizadas<br />
no final do 2º ano do Ensino<br />
Fundamental, como preconiza<br />
a BNCC?<br />
O Estado do Ceará é um bom<br />
exemplo de como alcançar esse<br />
patamar. Das cem melhores<br />
escolas alfabetizadoras do país,<br />
30 estão nele. E lá o processo<br />
é concluído já no final do 2º<br />
ano. Mas, para que isso aconteça<br />
em escala nacional, é preciso<br />
contar com o compromisso de<br />
toda a organização escolar e<br />
da família. Acredite: essa meta<br />
vai trazer foco para o professor<br />
e dar condições para a criança<br />
crescer e se desenvolver em<br />
todas as disciplinas<br />
a partir da alfabetização.<br />
Que práticas estão sendo implementadas<br />
para que isso se<br />
torne uma realidade em todo<br />
o país?<br />
Um bom exemplo do que<br />
temos feito é a nova política<br />
de alfabetização, uma combinação<br />
entre o recém-reformulado<br />
Pacto Nacional pela<br />
Alfabetização na Idade Certa<br />
(Pnaic) e o programa Mais Alfabetização,<br />
que leva apoio ao<br />
corpo docente para dentro das<br />
escolas. Na primeira versão do<br />
Pnaic, o Ministério da <strong>Ed</strong>ucação<br />
desenvolvia todos os materiais<br />
de maneira padronizada<br />
e determinava a formação que<br />
considerava adequada. Nós<br />
mudamos o estilo do curso e<br />
adaptamos o material de acordo<br />
com o perfil e a necessidade<br />
de cada região, permitindo<br />
que os protagonistas dessa<br />
formação sejam os próprios<br />
alfabetizadores. E, de acordo<br />
com eles, tão importante quanto<br />
a teoria são a prática pedagógica<br />
e a troca de experiências<br />
entre profes sores de rede, a<br />
fim de encontrar as soluções<br />
para cada tipo de dificuldade<br />
dos alunos.<br />
De que maneira essa troca<br />
acontece?<br />
Anteriormente, os formadores do<br />
Pnaic eram apenas professores<br />
universitários. Agora, o professor<br />
alfabetizador, que está construindo<br />
os melhores resultados em<br />
sala de aula, também pode fazer<br />
parte do processo de formação,<br />
levando esse conhecimento para<br />
sua própria rede. Aliado a isso, o<br />
Mais Alfabetização, iniciado neste<br />
ano, vai disponibilizar um assistente<br />
de alfabetização para cada<br />
sala de aula, nas mais de 200 mil<br />
turmas do país. Ou seja, durante<br />
cinco horas da semana, o professor<br />
contará com o apoio de mais<br />
um docente nas atividades da<br />
alfabetização. E são esses professores,<br />
que estão dentro da sala de<br />
aula acompanhando o desenvolvimento<br />
dos alunos, que irão decidir<br />
como trabalhar as dificuldades.<br />
E como avaliar o progresso<br />
dos alunos?<br />
Por meio das avaliações processuais<br />
do Mais Alfabetização,<br />
que visam entender o dia a dia<br />
do aluno em sala de aula. Se, no<br />
início do ano, a criança apresentar<br />
dificuldades com determinado<br />
tema, essas avaliações<br />
vão mostrando ao professor,<br />
bimestre a bimestre, quais<br />
foram os avanços e os pontos a<br />
se trabalhar.<br />
Como os professores serão<br />
preparados para contemplar<br />
as diretrizes da BNCC?<br />
Há grandes mudanças nos livros<br />
didáticos, desde o processo<br />
de aquisição à organização do<br />
conteúdo, com referências muito<br />
mais completas no anexo pedagógico.<br />
Também estão sendo<br />
reestruturados os materiais do<br />
Programa Didático. Em março,<br />
foram iniciados os processos<br />
de formação em todas as escolas,<br />
para adaptar currículos<br />
e planejamentos, em redes municipais<br />
e estaduais, às diretrizes<br />
da BNCC. Isso perdurará<br />
até o final de 2018. Com isso,<br />
esperamos que, já em 2019, as<br />
escolas estejam operando com<br />
novos currículos no Ensino<br />
Fundamental e <strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />
e possam ser avaliadas, já<br />
com base nas novas diretrizes,<br />
por meio da Provinha Brasil e<br />
da Avaliação Nacional de Alfabetização<br />
(ANA).<br />
Que mensagem você deixa aos<br />
professores de todo o Brasil?<br />
Nosso objetivo é formar cada vez<br />
mais e melhor o docente, proporcionando<br />
melhores condições<br />
para que possam desenvolver,<br />
de maneira plena, seus conteúdos<br />
em sala de aula. Estamos<br />
investindo, como há muito não<br />
se via, na compra de livros de<br />
alfabetização e literatura para<br />
apoiar o trabalho. Com o objetivo<br />
claro de alfabetizar as crianças<br />
até o 2º ano, nós vamos chegar<br />
lá. Há escolas fazendo trabalhos<br />
maravilhosos e que podem ser a<br />
luz para esse caminho que precisamos<br />
percorrer. Conto com o<br />
apoio de todos.<br />
40 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 41
alfabetização<br />
Perspectivas para o futuro<br />
Primeiros desafios<br />
Baixos índices de alfabetização reforçam a importância<br />
da formação dos professores para a melhoria dos processos<br />
de ensino e de aprendizagem<br />
Mais da metade<br />
dos alunos<br />
do 3º ano<br />
do Ensino<br />
Fundamental<br />
de escolas<br />
públicas têm conhecimentos<br />
insuficientes de Matemática e<br />
leitura, de acordo com os dados<br />
da Avaliação Nacional de Alfabetização<br />
(ANA), aplicada em 2016. No<br />
quesito escrita, o quadro é pior:<br />
mais de um terço dos alunos, ou<br />
34%, estão defasados. Os resultados<br />
são considerados alarmantes,<br />
ainda mais se levarmos em conta<br />
que a meta do Plano Nacional de<br />
<strong>Ed</strong>ucação (PNE) é alfabetizar, até<br />
2024, todas as crianças no final<br />
do 2º ano, segundo a indicação da<br />
recém-homologada Base Nacional<br />
Comum Curricular (BNCC).<br />
Embora seja uma meta ambiciosa,<br />
a plataforma digital Observatório<br />
do PNE, criada por instituições<br />
públicas e privadas, considera que<br />
ela é viável, “desde que haja um<br />
trabalho intencional e sistemático<br />
visando à melhoria da qualidade da<br />
formação inicial e continuada dos<br />
professores”, avalia Renata Rossi,<br />
especialista em alfabetização e gerente<br />
de Assessoria Pedagógica da<br />
Somos <strong>Ed</strong>ucação.<br />
E é justamente na formação dos<br />
docentes em que está a raiz da questão,<br />
na opinião de Renata. Segundo<br />
ela, boa parte dos professores não<br />
foi orientada de maneira adequada<br />
para o trabalho com a alfabetização.<br />
“Muitos desconhecem as diferenças<br />
entre os conceitos de ensino e aprendizagem<br />
e pôr isso em prática é mais<br />
desafiador ainda. Sem um olhar<br />
apurado sobre os processos da sala<br />
de aula, eles têm dificuldade para<br />
perceber que aprendizagem não é<br />
consequência direta de ensino.”<br />
Em outras palavras, tão ou mais<br />
importante do que o conteúdo a<br />
ser ensinado é o “como” os alunos<br />
aprendem. “O material didático<br />
é só uma parte do processo”,<br />
observa Rossi. “Ele serve tanto<br />
ao caminho da aprendizagem<br />
quanto ao propósito de garantir a<br />
intencionalidade pedagógica. Ao<br />
professor não basta apenas aplicar<br />
o conteúdo, e sim compartilhar<br />
sua análise com outros docentes<br />
para entender o que está por trás<br />
de cada atividade e aperfeiçoar<br />
seu modo de ensinar.”<br />
Ela também chama atenção<br />
para o conceito de que a alfabetização<br />
não começa no 1º ano. “Seja<br />
quando ouve uma história ou visita<br />
um museu, ainda na pré-escola<br />
a criança já está se alfabetizando.<br />
Felizmente, essa perspectiva está<br />
presente nos editais do MEC para<br />
seleção de obras didáticas. Mestre<br />
em educação pela USP, e a partir<br />
de extensas pesquisas na área –<br />
em especial as de Emilia Ferreiro –,<br />
Renata Rossi reafirma que o aluno<br />
tem conhecimentos prévios que o<br />
fazem criar hipóteses sobre leitura<br />
e escrita. Daí a importância da<br />
participação ativa da criança, que<br />
aprende fazendo. “Mas não simplesmente<br />
um fazer para a escola,<br />
e sim para a vida”, completa.<br />
Nesse sentido, a alfabetização e<br />
a formação docente devem seguir<br />
a mesma trajetória ao longo dos<br />
anos. “A preparação dos professores<br />
pode ser feita de forma colaborativa,<br />
em parceria com a coordenação<br />
pedagógica e em conjunto<br />
com todos os profissionais do<br />
Ensino Fundamental e até da <strong>Ed</strong>ucação<br />
Infantil. Isso garante a sua<br />
continuidade, sempre incentivada<br />
por muita reflexão, pesquisas e estudos<br />
do corpo docente sobre de<br />
que forma esta preparação pode<br />
ser mais efetiva além de, claro,<br />
muita ação.” O essencial, conclui<br />
a gerente, é que “ninguém precisa<br />
ter respostas prontas, mas todos<br />
devem saber criar as perguntas.<br />
É por meio delas que se constrói<br />
o conhecimento e as melhores<br />
formas de ensinar”.<br />
Ao professor não basta<br />
apenas aplicar o conteúdo<br />
e sim compartilhar<br />
sua análise com outros<br />
docentes para entender o<br />
que está por trás de cada<br />
atividade e aperfeiçoar<br />
seu modo de ensinar.”<br />
Renata Rossi<br />
gerente de Assessoria Pedagógica<br />
da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
42 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 43
O<br />
professor do século<br />
21 é, antes<br />
de mais nada,<br />
um aprendiz.”<br />
A afirmação,<br />
da consultora<br />
em Tecnologia para a <strong>Ed</strong>ucação<br />
Cristiana Mattos Assumpção, retrata<br />
o que parece ser o grande<br />
desafio dos educadores diante<br />
dos recursos tecnológicos. Se<br />
em todas as profissões a atualização<br />
e a busca constante por<br />
novos conhecimentos se fazem<br />
necessárias, para o professor<br />
isso se tornou urgente. Afinal,<br />
suas práticas de ensino precisam,<br />
de alguma forma, acompanhar<br />
esse intenso processo de<br />
transformação.<br />
O ponto de partida, segundo<br />
Cristiana, é a mudança na concepção<br />
do uso de tecnologia em<br />
sala de aula. “Uma vez que o<br />
professor estude e compreenda a<br />
profundidade dessa transformação,<br />
ele saberá escolher as melhores<br />
tecnologias que o apoiarão<br />
em sua prática”, afirma. Assim,<br />
antes de alterar suas estratégias,<br />
o docente deve assumir o papel<br />
de aluno.<br />
E há muito o que aprender, na<br />
opinião dos especialistas. “O pronovas<br />
tecnologias, novas pedagogias?<br />
A evol ução das práticas pedagógicas<br />
transformações<br />
educacionais<br />
Em um mundo<br />
digital, o uso<br />
de tecnologias<br />
em sala de aula<br />
é primordial<br />
Novo olhar sobre o uso de tecnologia em sala de aula<br />
pode refletir melhores práticas pedagógicas<br />
fessor brasileiro, em média, não<br />
conhece maneiras diferentes de<br />
se pensar a aula”, observa o mestre<br />
em <strong>Ed</strong>ucação Celso Antunes.<br />
“A aula de hoje ainda é expositiva,<br />
tal como era décadas atrás. Mas,<br />
se ele conseguir utilizar outras<br />
técnicas, mesmo em condições<br />
materiais precárias, poderá tornar<br />
o aluno plenamente protagonista,<br />
capaz de perceber que<br />
o aprendizado se dá por meio do<br />
texto, da exposição, do contato<br />
com os colegas e da observação<br />
da sociedade”, complementa.<br />
Tecnologia como meio<br />
Já que o foco está na estratégia,<br />
as tecnologias devem ser<br />
empregadas como recursos de<br />
apoio – ou seja, como meio e não<br />
como fim. “O uso que se dá ao<br />
recurso é muito mais importante<br />
que o recurso em si”, continua<br />
Celso, que também é especialista<br />
em Inteligência e Cognição. E<br />
questiona: “Será que o professor<br />
usa as tecnologias no sentido de<br />
desenvolver a criatividade, o pensamento<br />
operatório e a reflexão?<br />
Ou ele está apenas instigando o<br />
44 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 45
novas tecnologias, novas pedagogias?<br />
A evol ução das práticas pedagógicas<br />
esquema de memorização? Neste<br />
caso, teria a atitude de um professor<br />
comum que apenas passa<br />
pela vida do estudante, sem<br />
transformá-lo”.<br />
Na opinião de Cristiana, os<br />
países que hoje se destacam em<br />
educação estão refazendo seus<br />
sistemas de ensino para seguir<br />
uma linha que incorpora metodologias<br />
ativas, avaliação formativa<br />
e tempo para desenvolver o aluno<br />
de forma holística, como um ser<br />
cognitivo, mental e corporal. Trata-se<br />
de uma ótica voltada para<br />
habilidades socioemocionais, que<br />
resgata o ensino de Arte e integra<br />
os conhecimentos para trabalhar<br />
desafios significativos.<br />
Esse movimento é também<br />
um reflexo de que as tecnologias<br />
mudam de forma bem mais<br />
rápida que as pedagogias – e isso<br />
é positivo, no entendimento da<br />
especialista. “O fator humano e<br />
o trabalho com o cérebro para<br />
a aprendizagem não mudaram.<br />
Existem muitas pesquisas que<br />
embasam as propostas pedagógicas<br />
com dados de sucesso.<br />
O importante é focar na aprendizagem<br />
e saber qual tecnologia<br />
disponível nos ajudará a alcançar<br />
o nosso objetivo. Inovando nas<br />
práticas e incorporando aquelas<br />
que já estão surtindo mais efeito<br />
a longo prazo, construiremos<br />
uma educação transformadora<br />
que usa muito as tecnologias,<br />
independentemente de qual delas<br />
esteja disponível no momento.”<br />
<strong>Transforma</strong>ção do aluno<br />
Celso considera fundamental<br />
perceber em que medida as<br />
tecnologias podem transformar a<br />
aula e, sobretudo, o aluno, sempre<br />
levando em conta a avaliação<br />
a ser feita. “Importa pouco se o<br />
estudante sabe ou não o significado<br />
daquela tecla que ele aciona, e<br />
sim por que a aciona e o que ela<br />
tem a ver com a sua vida. Aí sim<br />
ele está sendo preparado para a<br />
modernidade. O jovem pode ser<br />
muito hábil em alguma ferramenta<br />
digital, mas será que essa habilidade<br />
o ajuda em Matemática ou<br />
Língua Portuguesa?”, indaga.<br />
E é justamente a preocupação<br />
com a prática pedagógica,<br />
na visão de Cristiana, que deve<br />
nortear o processo de escolha da<br />
tecnologia. “Uma vez definido o<br />
objetivo educacional, o professor<br />
deve se perguntar: essa tecnologia<br />
vai me permitir fazer algo que<br />
eu não conseguiria sem ela? Ela<br />
Uma vez que o professor estude e compreenda a<br />
profundidade dessa transformação, ele saberá<br />
escolher as melhores tecnologias que o apoiarão<br />
em sua prática.”<br />
Cristiana Mattos Assumpção<br />
consultora em Tecnologia para a <strong>Ed</strong>ucação<br />
Muitos países já estão<br />
estabelecendo<br />
sistemas de ensino<br />
que priorizam a<br />
formação holística<br />
dos alunos<br />
vai me ajudar a fazer algo que eu<br />
já fazia, mas de maneira melhor?<br />
Se a resposta for não para as<br />
duas perguntas, é melhor buscar<br />
outras ferramentas. Usar tecnologia<br />
apenas por usar só atrapalha.”<br />
Quanto às formas de se inovar<br />
na sala de aula, Cristiana enxerga<br />
muitas possibilidades. “Hoje<br />
é possível pensar em uma aula<br />
mais personalizada, mesmo com<br />
turmas maiores, pois há tecnologias<br />
que ajudam a gerenciar todo<br />
o processo de aprendizagem. Há<br />
ainda ambientes on-line em que os<br />
alunos podem trabalhar de forma<br />
colaborativa, documentando e<br />
visualizando seu progresso e suas<br />
rotinas mentais, o que facilita o<br />
aprender a aprender”, aponta.<br />
Entre as ferramentas disponíveis<br />
gratuitamente na internet,<br />
a consultora sugere o Moodle,<br />
O jovem pode ser<br />
muito hábil em alguma<br />
ferramenta, mas será<br />
que essa habilidade o<br />
ajuda em Matemática ou<br />
Língua Portuguesa?”<br />
Celso Antunes<br />
especialista em Inteligência<br />
e Cognição<br />
ambiente virtual no qual o professor<br />
pode organizar cursos com<br />
as respectivas entregas e discussões<br />
dos alunos, e o Google, ideal<br />
para o gerenciamento de pastas,<br />
documentos, slides e planilhas<br />
compartilhadas. Para a elaboração<br />
de mapas mentais, que ajudam o<br />
estudante a organizar seus pensamentos<br />
e ideias, a referência é<br />
Cmap Tools (cmaptools.softonic.<br />
com.br). Já o Socrative e o Scratch<br />
permitem a programação de jogos<br />
como quizzes.<br />
Caminhos da formação<br />
E como o professor pode se<br />
preparar para trabalhar com<br />
as tecnologias em sala de aula?<br />
Cristiana indica como referência o<br />
Currículo da Cidade, lançado em<br />
2017 pela Secretaria Municipal<br />
de <strong>Ed</strong>ucação de São Paulo. “Está<br />
muito bem embasado, explica<br />
os conceitos com citações aos<br />
melhores pesquisadores e ainda<br />
dá um norte ao que deve ser<br />
alcançado em cada série.” Outra<br />
recomendação são cursos de extensão,<br />
pós-graduação e oficinas<br />
oferecidas por diferentes instituições<br />
(veja abaixo).<br />
No que diz respeito às dificuldades<br />
de acesso às ferramentas,<br />
os dois especialistas concordam<br />
que elas não devem ser vistas<br />
como barreiras para as novas práticas<br />
pedagógicas. “Hoje, existem<br />
diversos projetos atuando com<br />
sucatas e materiais caseiros. Sem<br />
falar que o celular pode ser um<br />
grande aliado, pois a maioria dos<br />
alunos já tem um. Há também<br />
centros comunitários, fundações<br />
e ONGs que podem firmar parcerias<br />
com a escola para a criação<br />
de oportunidades em tecnologia”,<br />
enumera Cristiana.<br />
“Um bom professor pode suprir, na<br />
medida do possível, a carência material<br />
por meio de um novo modelo<br />
de ensino, do mesmo modo que ele<br />
faria em escola particular”, garante<br />
Celso. “As boas práticas podem ser<br />
incorporadas mesmo com pouco<br />
acesso às tecnologias”, completa<br />
a consultora. “Não há motivo para<br />
não começar”, finaliza.<br />
Fontes de apoio à formação<br />
Confira alguns sites que podem enriquecer sua prática em sala de aula:<br />
•Porvir.org: porvir.org/especiais/maonamassa<br />
Traz inovações na estratégia pedagógica e no uso de ferramentas tecnológicas<br />
• Aprendizagem Criativa: aprendizagemcriativa.org<br />
Rede de aprendizagem criativa formada por educadores, artistas, pesquisadores,<br />
empreendedores e estudantes<br />
46 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 47
Os desafios da sociedade.<br />
Agora, dentro da sala de aula.<br />
Ligamundo é a mais nova coleção da editora Saraiva para o Ensino<br />
Fundamental I. Em cada capítulo, questões atuais da sociedade guiam<br />
a proposta pedagógica e, ao mesmo tempo, despertam o pensamento<br />
crítico e as habilidades socioemocionais dos alunos. Mais do que promover<br />
a formação cidadã, é incentivar a construção de um mundo melhor.<br />
Central de relacionamento: saceditorasaraiva@somoseducacao.com.br Telefone - 4003-3061
Inclusão escolar<br />
<strong>Ed</strong>ucação para todos<br />
Aprender com<br />
as diferenças<br />
O movimento das escolas para promover<br />
uma educação inclusiva<br />
O<br />
tema é tão complexo<br />
quanto<br />
polêmico, mas já<br />
é possível contabilizar<br />
avanços<br />
no ambiente<br />
escolar com o aumento da inclusão<br />
de estudantes com deficiências.<br />
Crianças e jovens com<br />
neces sidades educativas especiais<br />
começam a migrar de instituições<br />
especializadas para o ensino<br />
regular, em salas<br />
de aula comuns,<br />
e mais experiências<br />
de inclusão<br />
e aprendizados<br />
começam a ser<br />
vivenciadas.<br />
Segundo<br />
dados do Censo<br />
Escolar do<br />
Instituto Nacional<br />
de Estudos e<br />
Pesquisas <strong>Ed</strong>ucacionais<br />
Anísio<br />
Teixeira (Inep),<br />
órgão ligado ao<br />
Cada caso é um<br />
caso. A deficiência<br />
caracteriza-se por<br />
algum impedimento<br />
de natureza física,<br />
mental, intelectual<br />
ou sensorial.”<br />
Thais Guimarães<br />
doutora em psicologia<br />
experimental e diretora<br />
da Casa Cuca<br />
MEC, houve um crescimento de<br />
6,5 vezes no contingente desses<br />
alunos, de 2005 a 2015. O estudo<br />
aponta que 750.983 alunos com<br />
necessidades especiais têm hoje<br />
acesso à aprendizagem convencional<br />
e contato com colegas sem<br />
deficiência, em escolas públicas<br />
e privadas.<br />
O movimento é resultado de políticas<br />
públicas, como a Lei Brasileira<br />
de Inclusão, de 2015, inspirada em<br />
normas internacionais,<br />
e de uma<br />
maior conscientização<br />
da sociedade.<br />
Pela legislação<br />
em vigor, as instituições<br />
de ensino<br />
não podem<br />
negar matrícula a<br />
estudantes com<br />
necessidades especiais<br />
e devem<br />
fornecer todo<br />
o apoio para<br />
o processo de<br />
inclusão.<br />
50 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 51
Inclusão escolar<br />
<strong>Ed</strong>ucação para todos<br />
Acessibilidade e adaptações<br />
no ensino<br />
O primeiro grande desafio<br />
é quanto à multiplicidade de<br />
atendimentos a oferecer. “É<br />
uma questão ampla, já que<br />
envolve diversas modalidades,<br />
definidas de acordo com o grau<br />
de comprometimento. Vão de<br />
necessidades de mudanças na<br />
estrutura física, para atender<br />
a restrições de mobilidade, às<br />
simplificações de conteúdos<br />
para quem apresenta limitações<br />
intelectuais ou características<br />
específicas de aprendizado”,<br />
explica Thais Guimarães, doutora<br />
em Psicologia Experimental e<br />
diretora da Casa Cuca, instituição<br />
que desenvolve ferramentas<br />
para alunos com dificuldades de<br />
aprendizagem individual.<br />
Segundo a psicóloga, o Plano<br />
de Desenvolvimento Individual<br />
(PDI) é o documento oficial que<br />
orienta a avaliação e a intervenção<br />
pedagógica para esses<br />
alunos. “Cada caso é um caso.<br />
A deficiência caracteriza-se por<br />
algum impedimento de natureza<br />
física, mental, intelectual<br />
ou sensorial”, esclarece. “Entre<br />
os que enfrentam dificuldades<br />
Caminhos da inclusão<br />
de aprendizado, as ocorrências<br />
mais comuns são o autismo,<br />
a dislexia e a discalculia, que<br />
afeta a habilidade de interpretar<br />
números.”<br />
Processo em evolução<br />
Tornar o país mais inclusivo<br />
ainda demanda tempo e iniciativas,<br />
apesar das mudanças na<br />
legislação. A formação contínua<br />
dos educadores, a construção<br />
de uma rede de atendimento<br />
educacional especializada e o<br />
desenvolvimento de materiais<br />
didáticos, transporte e espaços<br />
acessíveis são alguns pontos importantes<br />
para esse processo.<br />
É nesse cenário que as instituições<br />
de ensino são desafiadas<br />
a acolher um público que,<br />
por sua vez, tem muito a acrescentar<br />
ao ambiente escolar.<br />
“O primeiro passo é identificar,<br />
além de dificuldades, quais são<br />
as potencialidades do aluno.<br />
Não se deve olhar apenas as<br />
suas limitações, como também<br />
as oportunidades que têm para<br />
progredir”, ressalta Thais.<br />
Confira iniciativas relevantes para receber alunos com alguma deficiência cognitiva na escola:<br />
Solicitar um laudo Capacitar os<br />
Avaliar as<br />
Definir quais<br />
1 2 3 4 5<br />
de um médico<br />
especializado, um<br />
neuropsicólogo ou<br />
um fonoaudiólogo<br />
sobre a condição<br />
do estudante<br />
educadores<br />
para lidar com<br />
necessidades<br />
especiais<br />
condições da sala<br />
de aula para o<br />
desenvolvimento<br />
das atividades<br />
os conteúdos<br />
estabelecidos para o<br />
ano letivo que podem<br />
ser ministrados e<br />
fazer as adaptações<br />
necessárias<br />
Promover o processo<br />
de inclusão e<br />
envolvimento com<br />
outros alunos,<br />
de forma a evitar<br />
ocorrências de<br />
bullying<br />
Preparar o ambiente<br />
e capacitar os<br />
professores são alguns<br />
dos desafios<br />
para a inclusão<br />
De acordo com a assessora<br />
pedagógica da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
Ana Cecília Machado Dias,<br />
o trabalho em sala de aula e a<br />
capacitação do corpo docente<br />
são fundamentais. “O professor<br />
precisa estar preparado<br />
para lidar com as necessidades<br />
específicas de cada um,<br />
se aproximar e conhecer seus<br />
alunos.” Para ela, uma metodologia<br />
para a inclusão deve<br />
abordar também<br />
as competências<br />
socioemocionais,<br />
como trabalhar<br />
a aprendizagem<br />
colaborativa e<br />
a importância<br />
do respeito em<br />
todas as relações.<br />
“Com isso,<br />
a criação de uma<br />
rede de apoio<br />
entre alunos,<br />
educadores e<br />
O professor<br />
precisa estar preparado<br />
para lidar com<br />
necessidades<br />
específicas de cada um,<br />
se aproximar e conhecer<br />
seus alunos.”<br />
Ana Cecília Machado Dias<br />
assessora pedagógica da Somos<br />
<strong>Ed</strong>ucação<br />
famílias pode contribuir e muito<br />
para esse processo”, relata.<br />
Com essa análise, fica mais<br />
fácil montar a estratégia de<br />
atendimento pedagógico. “Se o<br />
estudante tem deficit de atenção,<br />
por exemplo, talvez precise<br />
apenas de melhor acomodação<br />
na classe, algo que o professor<br />
pode viabilizar”, orienta<br />
Thais. “Já alguém com grau de<br />
comprometimento maior pode<br />
necessitar de um acompanhante<br />
na sala ou da intervenção do<br />
educador para que seus conteúdos<br />
sejam adaptados.”<br />
A psicóloga também sugere<br />
o desenvolvimento de uma<br />
metodologia para a inclusão.<br />
“A gestão deve participar<br />
ativamente das ações. Pode<br />
criar um núcleo de inclusão,<br />
que permita pensá-la como um<br />
processo, e envolver os professores<br />
na busca por soluções,<br />
pois o educador é o elo para o<br />
desenvolvimento. E, qualquer<br />
que seja o caso, a parceria<br />
com os pais é fundamental.”<br />
Os resultados aparecem naturalmente.<br />
“Já vi<br />
os alunos de uma<br />
classe participando<br />
ativamente de<br />
um processo de<br />
inclusão”, conta a<br />
psicóloga. “E com<br />
todos aprendendo<br />
a olhar para o<br />
outro e a compartilhar,<br />
o retorno é<br />
sempre positivo.<br />
Todos saem ganhando.”<br />
Entenda os<br />
principais<br />
distúrbios<br />
Alunos com deficiência<br />
intelectual ou cognitiva têm,<br />
basicamente, dificuldade para<br />
compreender ideias abstratas,<br />
estabelecer relações sociais,<br />
compreender determinadas<br />
regras e realizar tarefas.<br />
As incidências podem variar<br />
em grau (leve, moderado, grave e<br />
profundo) ou envolver distúrbios<br />
neurológicos mais complexos,<br />
que dificultam a aprendizagem<br />
e são classificados pelo Manual<br />
de Saúde Mental (Diagnostic<br />
and Statistical Manual of Mental<br />
Disorders – DSM). Entre os mais<br />
comuns está o autismo (atraso<br />
global de desenvolvimento),<br />
caracterizado pelo<br />
comprometimento da interação<br />
social e pelo comportamento<br />
repetitivo.<br />
Entre outras incidências<br />
comuns também estão o deficit de<br />
atenção, a dislexia (que dificulta<br />
o processamento da linguagem),<br />
a discalculia (relacionada a<br />
dificuldades com o raciocínio<br />
matemático) e o distúrbio na<br />
temporalização da fala (gagueira).<br />
Para Saber mais<br />
• Instituto Itard de <strong>Ed</strong>ucação<br />
Inclusiva<br />
institutoitard.com.br/<br />
o-que-e-educacao-inclusiva<br />
• Gestão Escolar<br />
gestaoescolar.org.br/conteudo/953/<br />
promovendo-a-inclusao-na-sala-deaula<br />
• Portal Inclusão Brasil<br />
portalinclusao.com<br />
52 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 53
Avaliações externas<br />
Objetivos e diferenças entre elas<br />
Avaliar para<br />
acompanhar<br />
e evoluir<br />
Diferenças<br />
e objetivos<br />
Entenda a que se destinam as<br />
avaliações e quais as principais<br />
diferenças entre elas<br />
Entenda como utilizar as diferentes<br />
avaliações para aumentar o nível de<br />
desenvolvimento dos processos de ensino<br />
e aprendizagem em sala de aula<br />
O<br />
Sistema de Avaliação<br />
da <strong>Ed</strong>ucação<br />
Básica (Saeb)<br />
tem por objetivo<br />
avaliar a qualidade<br />
da educação<br />
básica por meio da aplicação de<br />
questionários socioeconômicos e<br />
testes padronizados. Os dados coletados<br />
nas provas são utilizados<br />
para calcular o Índice de Desenvolvimento<br />
da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
(Ideb), o qual é<br />
utilizado para<br />
nortear as políticas<br />
públicas. A<br />
Prova Brasil foi a<br />
primeira avaliação<br />
padronizada<br />
a ser implementada<br />
a fim de<br />
verificar o nível<br />
de proficiência<br />
dos alunos ao<br />
final de cada<br />
ciclo do Ensino<br />
Fundamental<br />
Quanto mais<br />
proximidade o professor<br />
tiver com os processos<br />
de avaliação, melhor<br />
será o seu entendimento<br />
da lógica por trás da<br />
elaboração dos itens<br />
que as compõem.”<br />
Helga Cezar<br />
Professora do Núcleo<br />
de Conteúdo da Somos<br />
<strong>Ed</strong>ucação<br />
(atuais 5º e 9º anos).<br />
Para assegurar que todos os<br />
estudantes dos sistemas públicos<br />
de ensino estejam alfabetizados<br />
em Língua Portuguesa e em<br />
Matemática, até o final do ciclo<br />
de Alfabetização, o Ministério da<br />
<strong>Ed</strong>ucação criou, em 2012, o Pacto<br />
Nacional pela Alfabetização na<br />
Idade Certa (PNAIC), programa de<br />
formação de professores alfabetizadores<br />
e que tem<br />
em seu bojo a Avaliação<br />
Nacional da<br />
Alfabetização (ANA),<br />
um mecanismo de<br />
acompanhamento<br />
da Política Pública,<br />
por meio da avaliação<br />
da aprendizagem<br />
dos alunos.<br />
“Essas avaliações<br />
servem para criar<br />
uma radiografia<br />
da situação educacional<br />
das escolas<br />
públicas e, por isso,<br />
devem ser valo-<br />
rizadas”, ressalta Katia Queiroz,<br />
professora do Núcleo de Conteúdo<br />
da Somos <strong>Ed</strong>ucação. A opinião é<br />
compartilhada por Helga Cezar,<br />
professora do mesmo núcleo.<br />
Para ela, “quanto mais proximidade<br />
o professor tiver com esses<br />
processos, melhor será o seu<br />
entendimento da lógica por trás<br />
da elaboração dos itens que os<br />
compõem e, principalmente, das<br />
competências e habilidades exigidas<br />
em cada um deles”.<br />
Além dessas avalições externas<br />
(conheça as diferenças entre<br />
elas no box), outro importante<br />
instrumento é a Provinha Brasil.<br />
Diferentemente das demais, pode<br />
ser aplicada e corrigida pelos<br />
professores no segundo ano do<br />
Ensino Fundamental e possibilita<br />
um diagnóstico dos processos de<br />
desenvolvimento de cada aluno.<br />
“São aplicadas duas avaliações:<br />
uma, no início do ano, que tem<br />
por objetivo verificar o nível de<br />
aprendizagem do aluno em Língua<br />
Portuguesa e Matemática, para<br />
planejar as intervenções necessárias,<br />
e outra no segundo semestre,<br />
para verificar a evolução da<br />
aprendizagem”, explica Katia.<br />
Com todas essas análises, é<br />
possível propor adequações nas<br />
práticas pedagógicas, no material<br />
didático e em outras ações, tanto<br />
de modo local quanto regional. E<br />
a somatória desses indicadores<br />
permite traçar um panorama<br />
que estimula a reflexão sobre as<br />
práticas pedagógicas e o aprimoramento<br />
do ensino e da aprendizagem,<br />
sempre visando alcançar<br />
melhores níveis de desenvolvimento<br />
dos alunos.<br />
1<br />
2<br />
3<br />
Avaliação Nacional da<br />
Alfabetização (ANA)<br />
É o instrumento do MEC para<br />
acompanhar a eficácia do Pacto<br />
Nacional pela Alfabetização na<br />
Idade Certa (PNAIC), lançado<br />
em 2012, que tem como meta<br />
a alfabetização plena de todas<br />
as crianças até os oito anos<br />
de idade em leitura, escrita e<br />
Matemática. Analisa também as<br />
condições de escolaridade que<br />
esse estudante teve, ou não,<br />
para desenvolver esses saberes<br />
Prova Brasil (ANRESC)<br />
Avaliação do sistema público<br />
de ensino do país. Os dados<br />
coletados nas provas são<br />
utilizados para calcular o<br />
Índice de Desenvolvimento da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica (Ideb). Fornece<br />
as médias de desempenho para<br />
cada escola participante, cada<br />
um dos municípios, unidades da<br />
federação, regiões e Brasil<br />
Avaliação Nacional da<br />
<strong>Ed</strong>ucação Básica (Aneb)<br />
Utiliza os mesmos instrumentos<br />
da Prova Brasil e é aplicada<br />
com a mesma periodicidade.<br />
Diferencia-se por abranger, de<br />
forma amostral, escolas e alunos<br />
das redes públicas e privadas<br />
do país que não atendem aos<br />
critérios de participação da<br />
Prova Brasil e que pertencem<br />
às etapas finais dos três últimos<br />
ciclos da <strong>Ed</strong>ucação Básica<br />
54 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 55
<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />
Preparação para o futuro<br />
Finanças para<br />
novas gerações<br />
Ensino aproxima crianças e jovens de temas<br />
econômicos e ideias sustentáveis<br />
I<br />
ndivíduos bem informados<br />
e conscientes quanto<br />
ao uso de recursos lidam<br />
mais adequadamente com<br />
suas questões financeiras,<br />
evitam se endividar e são<br />
capazes de empreender, além de<br />
terem um olhar para a sustentabilidade.<br />
É senso comum. O que<br />
ainda é pouco disseminada é a<br />
crescente contribuição da educação<br />
financeira na formação de<br />
pessoas com esse perfil, já que<br />
essas competências também podem<br />
estar presentes em sala de<br />
aula. Para corresponder a essa<br />
tarefa, módulos de educação<br />
financeira vêm sendo incorporados<br />
às matrizes curriculares já na<br />
fase de alfabetização, nos anos<br />
iniciais do Ensino Fundamental.<br />
E o tema foi incluído na Base Nacional<br />
Comum Curricular (BNCC),<br />
devendo constar nos currículos<br />
de todo o país. Um estímulo para<br />
que as escolas que atendem a<br />
esse segmento deem destaque a<br />
tais habilidades em seus projetos<br />
pedagógicos.<br />
O aprendizado começa<br />
na sala de aula, com<br />
turmas a partir dos seis<br />
anos, e busca desenvolver<br />
uma atitude positiva<br />
em relação a temas<br />
financeiros e ambientais.”<br />
Dante<br />
professor de Matemática e autor<br />
de livros didáticos<br />
O contexto social está entre as<br />
justificativas para seguir essa tendência.<br />
O número de inadimplentes<br />
no país, com dívidas e contas<br />
em atraso, aumentou 1,91% em<br />
2017, atingindo a marca de 61<br />
milhões de consumidores, segundo<br />
dados da Serasa Experian. Em<br />
estudo realizado pela Organização<br />
para a Cooperação e Desenvolvimento<br />
Econômico (OCDE),<br />
em 2015, foi constatado que 53%<br />
dos estudantes brasileiros, na<br />
faixa de 15 anos, não têm conhecimentos<br />
financeiros básicos,<br />
encontrando dificuldades para<br />
realizar operações triviais.<br />
Um possível caminho para<br />
reverter esse quadro é o de<br />
educar financeiramente as novas<br />
gerações, despertando a percepção<br />
de crianças e adolescentes<br />
para os riscos de suas escolhas<br />
financeiras na vida adulta. “Essa<br />
modalidade de ensino é uma<br />
demanda nacional”, assegura<br />
Dante, professor de Matemática<br />
e autor de livros didáticos sobre<br />
o tema. “O aprendizado começa<br />
na sala de aula, com turmas<br />
a partir dos seis anos, e busca<br />
desenvolver uma atitude positiva<br />
em relação a temas financeiros e<br />
ambientais.”<br />
Primeiros passos na economia<br />
A educação financeira trabalha<br />
conceitos essenciais e<br />
influencia comportamentos.<br />
Não deve ser confundida com<br />
a matemática financeira ou<br />
mesmo com a própria Matemática,<br />
embora os temas se<br />
inter-relacionem. “A Matemática<br />
tradicional é parte do processo,<br />
A educação<br />
financeira forma<br />
comportamentos<br />
e prepara para<br />
a vida adulta<br />
56 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 57
<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />
Preparação para o futuro<br />
pois é indispensável que nessa<br />
faixa etária o aluno já conheça<br />
as quatro operações e o sistema<br />
de numeração decimal”, afirma<br />
Dante. “A matemática financeira,<br />
por sua vez, trata de questões<br />
mais avançadas, como porcentagem,<br />
lucro, juros simples e<br />
compostos, tratados nos anos<br />
finais do Ensino Fundamental e<br />
no Ensino Médio”, completa.<br />
Há diversas formas de apresentar<br />
o tema, sem que pareça<br />
complexo, para alunos do 1º ao<br />
5º ano do Ensino Fundamental.<br />
A estratégia adotada em materiais<br />
didáticos é começar pelos<br />
fundamentos da economia, que<br />
se originaram da necessidade de<br />
estabelecer trocas. “Explicamos<br />
como surgiu a ideia do escambo,<br />
em que aquele que plantava mais<br />
milho trocava com quem tinha sobra<br />
de arroz, até o surgimento do<br />
dinheiro”, esclarece o autor (veja<br />
artigo na página 60).<br />
Nessa fase inicial também<br />
são abordadas as formas atuais<br />
do dinheiro, como o cheque, em<br />
papel, o cartão de crédito, em<br />
plástico, e outros sistemas comerciais,<br />
como o ouro. É estimulado<br />
o raciocínio aplicado à divisão de<br />
quantias, como trocar uma nota<br />
de dez reais por outras de cinco<br />
ou dois reais, e apresentada uma<br />
visão histórica do uso do dinheiro<br />
no Brasil. “Mostramos as diversas<br />
moedas do país até o lançamento<br />
do Real”, detalha o professor.<br />
Desde cedo, as<br />
crianças devem ser<br />
conscientizadas sobre<br />
a economia de<br />
recursos como, por<br />
exemplo, desligar<br />
a televisão quando<br />
parar de assisti-la<br />
Escolhas conscientes<br />
Entender a função do dinheiro<br />
também pressupõe adotar valores<br />
para utilizá-lo. “É uma oportunidade<br />
para o professor trabalhar conceitos<br />
de ética em classe”, observa.<br />
“Vários exercícios podem estimular<br />
essa questão. Vale perguntar para<br />
os alunos, por exemplo, como<br />
cada um reagiria ao encontrar<br />
uma moeda de um real no chão.<br />
Mas não se deve impor qual seria<br />
a atitude correta”, adverte. “Eles<br />
podem debater e se posicionar<br />
sem que se estabeleça o que é certo<br />
ou errado. A ideia de ética surge<br />
de forma espontânea.”<br />
Estimular uma postura responsável<br />
relaciona-se ainda a outros<br />
temas fundamentais para a sociedade,<br />
como a questão da sustentabilidade.<br />
“A economia de recursos<br />
naturais também se insere na<br />
proposta da educação financeira.<br />
Inclui desde evitar o desperdício<br />
de papel para se cortar menos<br />
árvores, e assim preservar o meio<br />
ambiente, até apagar a luz ou desligar<br />
a televisão quando não se está<br />
a assistindo”, orienta o professor.<br />
O consumismo é outra frente<br />
trabalhada. Os alunos são<br />
orientados a diferenciar o que<br />
realmente é necessário do que<br />
é apenas um apelo de consumo,<br />
estimulado pela publicidade ou<br />
pelo meio social. Assim, passam<br />
a ver com outros olhos a compra<br />
do tênis de marca ou da mochila<br />
mais cara. “É um tema que tem<br />
grande repercussão em classe e<br />
aproxima o aluno da perspectiva<br />
dos pais, estimulando debates em<br />
casa. Promove uma conscientização<br />
que costuma receber elogios<br />
da família”, revela.<br />
Projetos de vida<br />
Estimular competências para<br />
empreender é outro benefício da<br />
educação financeira que pode ter<br />
impacto no futuro do estudante.<br />
Ao se familiarizar com o mundo<br />
das relações comerciais, ele come-<br />
Aprendizado para o futuro<br />
Confira conhecimentos de grande valia na vida adulta que podem ser<br />
desenvolvidos durante a escolaridade básica<br />
Decisões<br />
de consumo<br />
Saber discernir o que<br />
é útil e vale adquirir<br />
daquilo que é apenas<br />
estimulado pelo<br />
consumismo<br />
Aprender a poupar<br />
Guardar dinheiro não é<br />
pão-durismo, mas um meio<br />
para se conseguir recursos<br />
que permitam realizar<br />
sonhos ou comprar um<br />
bem valioso no momento<br />
adequado<br />
Planejamento<br />
de gastos<br />
Contabilizar os<br />
recursos disponíveis<br />
e como devem ser<br />
empregados<br />
A economia de recursos naturais também se<br />
insere na proposta da educação financeira.<br />
Inclui desde evitar o desperdício de papel<br />
para se cortar menos árvores, e assim<br />
preservar o meio ambiente, até apagar<br />
a luz ou desligar a televisão quando não se<br />
está a assistindo.”<br />
Dante<br />
professor de Matemática e autor de livros didáticos<br />
ça a vislumbrar, desde cedo, oportunidades<br />
que poderá ter na vida<br />
adulta. “É possível inspirar o aluno<br />
com casos próximos de sua realidade<br />
como, por exemplo, a trajetória<br />
do dono da cantina da escola,<br />
que abriu outros estabelecimentos<br />
a partir do sucesso de seu primeiro<br />
negócio”, sugere o professor.<br />
A chave para que todo esse<br />
conjunto de informações contribua<br />
para formar um cidadão<br />
mais consciente em relação às<br />
questões financeiras e ambientais<br />
é que esse processo seja consolidado<br />
aos poucos, durante as<br />
várias etapas do Ciclo Básico. “O<br />
aprendizado deve ser progressivo<br />
e respeitar as particularidades de<br />
cada aluno, permitindo que ele<br />
reflita intuitivamente e sem imposições”,<br />
encerra Dante.<br />
Consumo<br />
consciente<br />
A economia de recursos<br />
naturais, como<br />
água e energia, é<br />
indispensável para a<br />
preservação do meio<br />
em que se vive<br />
O valor de tudo<br />
Dinheiro, alimentos, roupas<br />
e brinquedos devem<br />
ser tratados, desde cedo,<br />
com o devido valor, levando<br />
em conta que nem<br />
todos têm acesso fácil<br />
a eles<br />
58 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 59
Logos<br />
Dante Professor e autor da coleção<br />
<strong>Ed</strong>ucação Financeira para Crianças<br />
<strong>Ed</strong>ucação financeira<br />
para crianças<br />
A formação da consciência e da autonomia em relação<br />
ao uso do dinheiro<br />
Em cada história, u m<br />
convite para explorar<br />
o mundo da fantasia<br />
e do conhecimento.<br />
<strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> financeiramente<br />
as crianças<br />
desde a alfabetização<br />
é muito importante<br />
para desenvolver sua<br />
capacidade de agir na<br />
sociedade de forma crítica, participativa,<br />
ética e criativa. É preciso<br />
desenvolver uma atitude positiva<br />
em relação à educação financeira<br />
desde a infância para que, na fase<br />
adulta, os indivíduos ajam com<br />
mais consciência e autonomia em<br />
relação ao uso do dinheiro, valendo-se<br />
dele como instrumento<br />
benéfico para o desenvolvimento<br />
econômico pessoal e do país, e<br />
com o objetivo de conquistar uma<br />
boa qualidade de vida.<br />
Para as crianças da faixa etária de<br />
seis a onze anos, que corresponde<br />
ao Ensino Fundamental I, é importante<br />
mostrar como tudo começou:<br />
do escambo, que eram as<br />
trocas realizadas entre pessoas,<br />
até os dias atuais, onde trocamos<br />
dinheiro por bens materiais.<br />
Um elemento de troca muito<br />
raro na época e, portanto, muito<br />
valioso, foi o sal. Os soldados romanos<br />
recebiam, como pagamento<br />
do seu trabalho, uma porção de<br />
sal. Até hoje, a importância que<br />
recebemos mensalmente pelo<br />
nosso trabalho chama-se salário,<br />
daí a origem da palavra.<br />
Com o surgimento do ouro e<br />
da prata, trocavam-se bens por<br />
esses metais. Pouco a pouco,<br />
surgiram moedas destes mate-<br />
riais. Com medo de saqueadores,<br />
as pessoas passaram a guardá-las<br />
em casas de alvenaria daquelas<br />
em quem confiavam. Elas emitiam<br />
recibos de papel das quantias que<br />
lá eram deixadas. Esses recibos<br />
passaram a ter valor para trocar<br />
com outros bens materiais.<br />
Surgem assim os bancos (casas<br />
de alvenaria) e os cheques (recibos<br />
de papel). Contar essa história do<br />
dinheiro em geral e, em particular,<br />
do nosso dinheiro, é uma boa<br />
conexão interdisciplinar com a<br />
disciplina de História.<br />
Desde a infância é preciso,<br />
de modo adequado, trabalhar as<br />
várias dimensões que envolvem<br />
a educação financeira como, por<br />
exemplo, o consumismo exacerbado<br />
traduzido pelo binômio “eu<br />
quero” versus “eu preciso”, a necessidade<br />
do consumo consciente e a<br />
redução do desperdício (de energia<br />
elétrica, de água, de alimentos<br />
etc.), a necessidade da pesquisa de<br />
preços, a necessidade de poupar<br />
para realizar sonhos mais altos, a<br />
importância das várias profissões<br />
com as quais ganhamos o dinheiro,<br />
além de conceitos básicos como<br />
compra e venda, troco, desconto,<br />
juros e orçamento pessoal.<br />
É necessário também, em<br />
educação financeira, trabalhar<br />
as ideias iniciais sobre empreendedorismo<br />
(planejamento e<br />
desenvolvimento de ações e de<br />
projetos), sustentabilidade (preservação<br />
da natureza), ética e<br />
cidadania com as crianças.<br />
60 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018
literatura<br />
Um universo a ser descoberto<br />
o Poder de<br />
transformar<br />
A literatura amplia o repertório cultural e<br />
emocional, promovendo o desenvolvimento<br />
integral do aluno<br />
Ahistória começa<br />
com o diálogo<br />
entre uma agulha<br />
e um novelo de<br />
linha. Eles discutem<br />
sobre qual<br />
função tem mais valor no ato de<br />
costurar um vestido: a da agulha,<br />
que “fura o pano”, ou a da linha,<br />
que “prende um pedaço a outro”.<br />
Ao longo da narrativa, um duelo<br />
de argumentos entre os objetos<br />
é travado até que o vestido fica<br />
pronto e a realidade se impõe.<br />
Enquanto a agulha volta para a<br />
caixinha de costura, a linha “vai<br />
ao baile no corpo da baronesa,<br />
fazendo parte do vestido e da<br />
elegância”. Melancólico, um<br />
alfinete encerra a conversa com a<br />
triste lição: “Anda, aprende, tola.<br />
Cansas-te em abrir caminho para<br />
ela e ela é que vai gozar da vida,<br />
enquanto aí ficas na caixinha de<br />
costura. Faze como eu, que não<br />
abro caminho para ninguém.<br />
Onde me espetam, fico”.<br />
Se, ao ler este resumo do<br />
conto “O Apólogo”, de Machado<br />
de Assis, você se identificou<br />
– mesmo que por um segundo<br />
62 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
– com a agulha, com o novelo de<br />
linha ou com o alfinete; ou ainda<br />
depreendeu da história aspectos<br />
da realidade e ponderou sobre<br />
eles, acaba de experimentar uma<br />
das facetas mais poderosas da<br />
literatura: a reflexão por meio de<br />
situações imaginárias. Uma característica<br />
que, sozinha, já tornaria<br />
a arte literária, de tecer um texto,<br />
essencial à formação integral dos<br />
alunos. Mas vai além. “A literatura<br />
proporciona também a ampliação<br />
do repertório cultural, fomentando<br />
um estudo sobre nossa<br />
identidade e de outros povos,<br />
promove autoconhecimento e até<br />
A literatura proporciona<br />
também a ampliação<br />
do repertório cultural,<br />
fomentando um estudo<br />
sobre nossa identidade<br />
e de outros povos.”<br />
Renata Ribeiro de Moraes<br />
Doutora em Literatura Brasileira<br />
e assessora pedagógica da área de<br />
Treinamento e Desenvolvimento da<br />
Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
A literatura possibilita<br />
a construção de<br />
novos significados<br />
e contribui para o<br />
autoconhecimento<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 63
literatura<br />
Um universo a ser descoberto<br />
O contato com a<br />
literatura deve começar<br />
mesmo antes<br />
da escolarização<br />
nos transforma<br />
em relação a<br />
conceitos, sensações<br />
e emoções<br />
que antes desconhecíamos”,<br />
avalia Renata Ribeiro de Moraes,<br />
doutora em Literatura Brasileira e<br />
assessora pedagógica da área de<br />
Treinamento e Desenvolvimento<br />
da Somos <strong>Ed</strong>ucação.<br />
Por esse motivo, a especialista<br />
recomenda que o contato<br />
com essa forma de arte comece<br />
muito antes de os alunos entrarem<br />
na escola e siga com atenção<br />
especial nos primeiros anos de<br />
letramento. Um processo que<br />
se inicia em casa e continua na<br />
escola. “Não demanda muito<br />
esforço aproximar as crianças dos<br />
livros, já que elas amam as cores,<br />
desenhos e texturas deles. Mas é<br />
preciso incentivar o contato, estimular<br />
a curiosidade e os sentidos<br />
através da visão, tato, olfato e<br />
apresentar novas e surpreendentes<br />
possibilidades aos educandos”,<br />
complementa. Um universo<br />
quase ilimitado que depende, em<br />
grande medida, do desejo e do<br />
olhar atento do professor para<br />
ser explorado.<br />
Ponto de partida<br />
Para iniciar essa jornada, o docente<br />
deve investigar os interesses<br />
de seus alunos, propiciando a<br />
oralidade por meio das rodas de<br />
conversa, brincadeiras e situações<br />
do cotidiano. Os grandes temas<br />
do momento podem ser o gatilho<br />
necessário para introduzir, de<br />
acordo com a faixa etária, obras<br />
literárias que apresentem temáticas<br />
que envolvam o aluno em um<br />
clima de reflexão e observação da<br />
realidade. Abordar a biografia de<br />
autores é também outra maneira<br />
interessante de despertar a curiosidade<br />
dos alunos. “Falar sobre<br />
o autor da obra, sua biografia e<br />
sobre sua importância para a formação<br />
da nossa identidade cultural,<br />
por exemplo, são elementos<br />
extraliterários que interagem com<br />
o texto e geram pontos de conexão<br />
entre passado e presente”,<br />
considera a especialista. E é esse<br />
tipo de abordagem que torna a<br />
aprendizagem realmente significativa<br />
e atraente.<br />
Mas, para tudo isso se concretizar,<br />
o professor precisa ser<br />
leitor e um apaixonado pela<br />
literatura. “Se o docente quer<br />
formar um leitor literário, ele<br />
precisa ter propriedade para<br />
falar sobre o tema e testemunhar<br />
sobre o que ele proporciona em<br />
sua vida. Nada é mais motivador<br />
que o exemplo, especialmente<br />
quando ele vem de uma referência<br />
tão importante na vida<br />
dos alunos como o professor”,<br />
garante Renata. Exemplos não<br />
faltam para confirmar o que diz a<br />
especialista. Afinal, quem nunca<br />
se apaixonou por uma disciplina<br />
depois de escutar, analisar e participar,<br />
encantado, da aula de um<br />
professor altamente motivado?<br />
Lançar mão dos recursos que<br />
a tecnologia popularizou é outra<br />
forma eficaz de trazer a literatura<br />
à realidade dos alunos. “Existe<br />
uma infinidade de sites, plataformas,<br />
bibliotecas, e-books, vídeos,<br />
acervos e conteúdos audiovisuais<br />
para complementar a vivência<br />
em sala de aula. Os pais podem<br />
mediar essa experiência também<br />
e participar ativamente do processo<br />
de formação dos pequenos<br />
leitores”, garante.<br />
Se o docente quer formar<br />
um leitor literário, ele<br />
precisa ter propriedade<br />
para falar sobre o tema e<br />
testemunhar sobre o que<br />
ele proporciona em sua<br />
vida.”<br />
Renata Ribeiro de Moraes<br />
Doutora em Literatura<br />
Brasileira e assessora<br />
pedagógica da área de<br />
Treinamento e Desenvolvimento<br />
da Somos <strong>Ed</strong>ucação<br />
Literatura como um direito<br />
Antonio Candido, um dos principais<br />
críticos literários brasileiros<br />
(falecido em 2017), em um de seus<br />
textos mais aclamados, compara<br />
Literatura na prática<br />
Confira algumas práticas que a especialista elenca para inserir,<br />
cada vez mais, a literatura ao cotidiano do aluno<br />
o direito à cidadania ao do acesso<br />
à literatura. Para o autor, “ela tem<br />
sido um instrumento poderoso de<br />
instrução e educação, entrando<br />
nos currículos, sendo proposta<br />
a cada um como equipamento<br />
intelectual e afetivo. Os valores<br />
que a sociedade preconiza, ou os<br />
que considera prejudicais, estão<br />
presentes nas diversas manifestações<br />
da ficção, da poesia e da ação<br />
dramática. A literatura confirma e<br />
nega, propõe e denuncia, apoia e<br />
combate, fornecendo a possibilidade<br />
de vivermos dialeticamente<br />
os problemas”. Em outras palavras,<br />
possibilita ao aluno enxergar<br />
sua realidade de modo crítico,<br />
tornando-se protagonista de sua<br />
própria história. “Por isso mesmo,<br />
é um direito emancipador”, conclui<br />
Renata.<br />
1. Elabore projetos de leituras na escola<br />
2. Faça uma sacola para colocar livros que os alunos possam levar para casa e, assim, estimular a leitura de outros membros<br />
da família<br />
3. Convide autores de obras literárias para participar de rodas de conversas com alunos<br />
4. Desenvolva momentos em que o aluno possa indicar a leitura de um livro para um colega<br />
5. Promova rodas literárias para indicações entre leitores<br />
6. Desenvolva trabalhos interdisciplinares analisando, sob diversos pontos de vista, obras literárias<br />
7. Incentive e realize contação de histórias e leituras mediadas<br />
8. Chame um dos seus avós, ou alguém da família para contar histórias<br />
9. Faça um sarau entre professores e alunos<br />
10. Reúna outros educandos da escola para apresentação de peças teatrais dos próprios alunos baseadas nos livros lidos<br />
11. Organize uma feira de livros<br />
12. Apresente a literatura em diversas linguagens: livros, filmes, peças teatrais, musicais, exposições e outros<br />
13. Trabalhe com o aluno diferentes versões e posicionamentos para uma mesma história, como Monteiro Lobato faz em<br />
“A Cigarra e a Formiga”, texto no qual o autor dá o devido valor ao trabalho do artista (cantor) ao se referir à cigarra. Vale a<br />
(re)leitura, professor. Literature-se!<br />
64 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 65
Arte<br />
Arte, enfim<br />
Um novo olhar<br />
para a Arte<br />
Com a homologação da BNCC, as<br />
competências e habilidades desenvolvidas em<br />
sala de aula ganham destaque no currículo<br />
V<br />
isitar uma exposição<br />
de arte, seja<br />
no Brasil ou em<br />
qualquer parte do<br />
mundo, se transformou<br />
em uma<br />
experiência multissensorial.<br />
Mais do que privilegiar um dos<br />
sentidos do espectador, curadores<br />
desejam surpreender seus<br />
públicos com instalações audiovisuais,<br />
performances envolvendo<br />
música, dança e teatro e muita<br />
interatividade. Em vez da tradicional<br />
contemplação, um convite à<br />
experimentação, ao fazer coletivo<br />
e à ressignificação de conceitos.<br />
Se nas galerias essa tendência<br />
veio para ficar, nas escolas, com<br />
alunos ultraconectados, não é diferente.<br />
Por meio de seus smartphones,<br />
eles acessam um mundo<br />
de informação de todo tipo,<br />
criam conteúdo usando diversas<br />
plataformas e interagem a todo<br />
momento. Um comportamento<br />
que começa cada vez mais cedo<br />
e molda a maneira com que se<br />
Não é preciso ter um<br />
ateliê ou uma sala de<br />
dança para estudar as<br />
linguagens da Arte.<br />
É preciso, sim, que<br />
o professor esteja<br />
disponível.”<br />
Eliana Pougy<br />
doutora em Ciências Sociais<br />
e Autora de diversos livros<br />
didáticos E de formação de<br />
professores sobre Arte<br />
relacionam com o conhecimento.<br />
Em meio a esse cenário, as<br />
escolas estão vivendo o desafio<br />
de adequar currículo e didática ao<br />
novo perfil do estudante. E com a<br />
Arte não é diferente. Tanto que a<br />
Base Nacional Comum Curricular<br />
(BNCC) traz, como grande inovação<br />
para a disciplina, a inclusão de<br />
Artes Integradas como linguagem<br />
obrigatória a ser trabalhada em<br />
todos os anos. “É muito mais adequado<br />
porque nos possibilita trabalhar<br />
com aquilo que a criança vê<br />
no cotidiano. Afinal, raramente ela<br />
separa, por exemplo, música de<br />
imagem por conta de videoclipes<br />
e filmes que se habituou a visualizar”,<br />
avalia Eliana Pougy, doutora<br />
em Ciências Sociais, especialista<br />
em Arte e autora de diversos<br />
livros didáticos e de formação de<br />
professores sobre Arte.<br />
Para ela, a mudança traz a<br />
possibilidade de se trabalhar<br />
projetos interdisciplinares – tanto<br />
entre as linguagens artísticas<br />
quanto entre as demais disciplinas<br />
– de modo intenso. “O geógrafo<br />
olha para uma paisagem e<br />
analisa sua vegetação, o clima,<br />
que tipo de seres humanos habitam<br />
ali. Dessa análise, ele pode<br />
criar mapas, gráficos e outros<br />
insumos. Já o artista analisa as<br />
cores, os sons e os movimentos<br />
dessa mesma paisagem para interpretá-los<br />
por meio de pintura,<br />
música, coreografia ou tudo isso<br />
ao mesmo tempo. São enfoques<br />
diferentes e complementares,<br />
que enriquecem profundamente<br />
66 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 67
Arte<br />
Arte, enfim<br />
a experiência do aluno com o conhecimento”,<br />
interpreta a autora.<br />
Um novo olhar para a Arte<br />
Se o trabalho interdisciplinar<br />
está longe de ser novidade em<br />
sala de aula, ele ganha ainda<br />
mais força pelo caráter normativo<br />
da Base. Mas vai além. A<br />
forma com que o documento<br />
foi criado abre inúmeras possibi<br />
lidades de interpretação das<br />
vivências em sala de aula por<br />
parte dos professores. “A BNCC<br />
não apresenta o conteúdo a<br />
ser trabalhado, mas as competências<br />
a serem desenvolvidas<br />
por meio das cinco linguagens.<br />
Assim, o docente é convidado a<br />
pensar de maneira conceitual e<br />
a partir das habilidades, não de<br />
tarefas”, reflete André Vilela, professor<br />
e autor de livros didáticos<br />
sobre Arte.<br />
Na prática, quando a Base<br />
determina que é preciso desenvolver<br />
no aluno, por exemplo,<br />
a capacidade de distinguir diferentes<br />
formas de manifestação<br />
cultural, ela está convidando o<br />
professor a pensar em como ele<br />
pode fazer isso a partir das múltiplas<br />
linguagens da Arte, sem impor<br />
o tipo de atividade e, sequer,<br />
a manifestação cultural a ser<br />
estudada. Desse modo, ele pode<br />
adaptar o currículo à realidade<br />
local e aos recursos que tem em<br />
mãos. “É muito menos tecnicista<br />
e mais reflexivo. A atividade a ser<br />
realizada é o final do processo,<br />
não o começo. Não há uma lista<br />
de tarefas a cumprir, mas olhares<br />
a desenvolver”, avalia o autor.<br />
O essencial<br />
Com o foco no desenvolvimento<br />
das competências, o uso<br />
de recursos se torna mais flexível<br />
e adaptável às realidades locais.<br />
Assim, mesmo não tendo grande<br />
diversidade de materiais, é possível<br />
chegar a resultados bastante<br />
efetivos. “Não é preciso ter um<br />
ateliê ou uma sala de dança para<br />
estudar as linguagens da Arte.<br />
É preciso, sim, que o professor<br />
esteja disponível. Que entenda<br />
a arte do seu tempo, que visite<br />
museus, exposições, que saiba<br />
que há gostos diferentes do seu<br />
e desenvolva um olhar atento ao<br />
mundo. Com isso, ele certamente<br />
realizará atividades significativas<br />
e marcantes em sala de aula”,<br />
acredita Pougy. Algo que pode<br />
ocorrer com uma profusão de<br />
cores ou apenas com lápis preto<br />
e papel. “É possível trabalhar<br />
com atividades de desenho com<br />
resultados coloridos e esvaziados<br />
de conteúdo, enquanto diversas<br />
habilidades podem se desenvolver<br />
apenas com lápis e papel.<br />
competências<br />
específicas<br />
de Arte para<br />
o Ensino<br />
Fundamental<br />
1. Explorar, conhecer,<br />
fruir e analisar criticamente<br />
práticas e produções<br />
artísticas e culturais<br />
2. Compreender as relações<br />
entre as linguagens<br />
da Arte e suas práticas<br />
integradas<br />
3. Pesquisar e conhecer<br />
distintas matrizes estéticas<br />
e culturais<br />
4. Experienciar a<br />
ludicidade, a percepção,<br />
a expressividade e a<br />
imaginação<br />
5. Mobilizar recursos<br />
tecnológicos como formas<br />
de registro, pesquisa<br />
e criação artística<br />
6. Estabelecer relações<br />
entre arte, mídia, mercado<br />
e consumo<br />
7. Problematizar questões<br />
políticas, sociais,<br />
econômicas, científicas,<br />
tecnológicas e culturais<br />
8. Desenvolver a autonomia,<br />
a crítica, a autoria<br />
e o trabalho coletivo e<br />
colaborativo nas artes<br />
9. Analisar e valorizar<br />
o patrimônio artístico<br />
nacional e internacional,<br />
material e imaterial<br />
Tudo depende do quanto o professor<br />
conhece as competências e<br />
sabe criar situações didáticas para<br />
estimulá-las”, garante André.<br />
Um papel fundamental que,<br />
a partir da implementação da<br />
BNCC, em 2020, será posto em<br />
prática nas salas de aula de todo<br />
o Brasil. “As crianças são verdadeiras<br />
antenas e querem entender<br />
o mundo que as cercam.<br />
Ensiná-las a fazer perguntas e<br />
linguagens artísticas obrigatórias<br />
Conheça as cinco linguagens artísticas obrigatórias para a disciplina de Arte:<br />
Artes Visuais<br />
Criar<br />
Ler<br />
Dança<br />
Produzir<br />
Música<br />
Construir<br />
Teatro<br />
Segundo a BNCC, essas linguagens articulam saberes referentes a produtos<br />
e fenômenos artísticos e envolvem:<br />
O ensino da disciplina<br />
está entre as<br />
inovações da Base<br />
Nacional Comum<br />
Curricular<br />
a ter curiosidade sobre a vida é<br />
mais importante do que qualquer<br />
outra coisa. E esse olhar para<br />
a vida só pode ser transmitido<br />
quando parte do professor”,<br />
conclui Eliana Pougy.<br />
Artes Integradas<br />
Exteriorizar<br />
Refletir sobre<br />
formas artísticas<br />
68 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018 Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 69
um passo além em relação aos<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais,<br />
a BNCC traz uma novidade<br />
importante: a inclusão das artes<br />
integradas como unidade temática.<br />
De acordo com a arte produzida<br />
por artistas que estão vivos,<br />
ou com a arte contemporânea,<br />
a BNCC reconhece a importânpensata<br />
Eliana Pougy Doutora em Ciências Sociais, mestre em<br />
<strong>Ed</strong>ucação, especialista em Linguagens da Arte e autora de diversos<br />
livros didáticos de formação de professores sobre Arte<br />
Arte contemporânea<br />
e A BNCC<br />
Com a inclusão das artes integradas, os estudantes do Ensino Fundamental<br />
terão a oportunidade de conhecer produções que emergem do povo<br />
livroS<br />
Conheça as novidades e obras de literatura que vão complementar as práticas pedagógicas<br />
e estimular o gosto pela leitura desde os anos iniciais<br />
Confira nossas<br />
indicações de<br />
literatura<br />
ABase Nacional<br />
Comum Curricular<br />
(BNCC) do Ensino<br />
Fundamental foi<br />
homologada em<br />
dezembro de 2017.<br />
Com ela, a Arte manteve seu<br />
caráter de componente curricular<br />
obrigatório e o ensino formal<br />
brasileiro continua a ser orientado<br />
por uma educação que visa<br />
formar sujeitos em todas as suas<br />
dimensões – intelectual, física,<br />
emocional, social e cultural.<br />
Entretanto, e ao contrário do<br />
que recomendam os especialistas<br />
da área, na BNCC, as linguagens da<br />
Arte são definidas como unidades<br />
temáticas. Esta pode ser considerada<br />
uma oportunidade para que<br />
a polivalência na nossa disciplina<br />
aconteça. Em outras palavras,<br />
pode permitir que um licenciado<br />
em artes visuais ensine dança,<br />
teatro ou música, o que não é<br />
recomendável. A formação dos<br />
docentes da área de Arte é muito<br />
específica, de modo que existem<br />
licenciados em Artes Visuais, Música,<br />
Dança e Teatro. Por isso, desde<br />
os anos 1980, os arte-educadores<br />
brasileiros vêm buscando valorizar<br />
essas especificidades.<br />
Apesar dessa crítica, e dando<br />
cia dos estudantes aprenderem<br />
sobre as formas de arte que<br />
mesclam linguagens, como a<br />
audiovisual, misturando as artes<br />
visuais, a música e, muitas vezes,<br />
as artes cênicas, além de utilizar<br />
tecnologias variadas; como as<br />
performances e intervenções,<br />
que podem mesclar as artes do<br />
corpo com a música, a dramaturgia<br />
e a improvisação; ou como as<br />
instalações, que podem misturar<br />
artes visuais, música e até mesmo<br />
provocar outros sentidos, como o<br />
tato, o olfato e o paladar.<br />
Existem muitas vertentes e tendências<br />
da arte contemporânea,<br />
por isso é muito difícil defini-la de<br />
maneira a dar conta de toda a sua<br />
variedade. Mas uma coisa que podemos<br />
afirmar acerca das transformações<br />
que ocorreram na arte<br />
durante o século 20 e continuam<br />
a se desenrolar no século 21 é<br />
que noções como as de beleza,<br />
imitação do real, obra-prima,<br />
talento e, principalmente, o papel<br />
e o valor da arte, passaram a ser<br />
amplamente discutidas e revistas.<br />
E isso também deve acontecer<br />
dentro da escola.<br />
Além disso, ao acrescentar as<br />
artes integradas, os estudantes<br />
podem estudar as artes tradicionais<br />
feitas pelo povo, como os<br />
festejos e as folias que misturam<br />
música, dança e teatro, e as manifestações<br />
artísticas dos povos<br />
indígenas brasileiros que convivem<br />
conosco hoje. Nesse sentido,<br />
a BNCC reafirma a importância de<br />
ensinar e aprender Arte de forma<br />
significativa e contextualizada.<br />
70 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 71
somos indica<br />
livroS<br />
DICAS DE LITERATURA Conheça títulos de diversos autores de literatura infantojuvenil que vão ajudar o trabalho do professor<br />
ESCOLHA<br />
do<br />
EDITOR<br />
ESCOLHA<br />
do<br />
EDITOR<br />
Zero Zero Alpiste<br />
Um lugar cheio<br />
de ninguém<br />
Autor: Marcelo Xavier<br />
<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />
Coleção: Avulso<br />
Indicado para faixa etária: a partir do 3º ano<br />
São 22 horas do último dia do mês de julho do ano de 1957, na<br />
cidade de Vitória. Como num passe de mágica, Neno atravessa a<br />
porta – ou ponte – que nos faz adormecer e sonhar e dorme profundamente.<br />
Quando acorda, só encontra um inexplicável silêncio. Tudo<br />
está assustadoramente deserto. Incrédulo, o menino resolve testar<br />
a realidade e aventurar-se pelas ruas da cidade. Dessa experiência<br />
idílica nasce um novo Neno, que em dez dias completará nove anos,<br />
mas hoje só quer saborear esse dia cheio de vida.<br />
Autora: Mirna Pinsky<br />
<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />
Coleção: Avulso<br />
Indicado para faixa etária: <strong>Ed</strong>ucação Infantil e 1º ano<br />
As bochechas rosadas e sardas deram a Daniel o<br />
apelido de Zero Zero Alpiste. Ele não gosta que o<br />
vejam chorando, pois um dia o pai lhe disse que<br />
homem não chora. Até uma flor dizer que homem<br />
não só pode como deve chorar.<br />
Planeta Bicho – um almanaque<br />
animal!<br />
Autor: Luiz Roberto Guedes<br />
<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />
Coleção: Avulso<br />
Indicado para faixa etária: a partir do 2º ano<br />
Em um universo onde a poesia e a ilustração<br />
dialogam perfeitamente, a aranha e o beija-flor, o<br />
cão e os dinossauros, o porco-espinho e o poraquê<br />
ligam-se e interagem em cenários criados com<br />
maestria para eles.<br />
O dia a dia<br />
de Dadá<br />
Autor: Marcelo Xavier<br />
<strong>Ed</strong>itora: Formato<br />
Coleção: Avulso<br />
Indicado para faixa etária: <strong>Ed</strong>ucação Infantil<br />
e 1º ano<br />
Dadá foi a primeira personagem criada<br />
pelo autor Marcelo Xavier com a técnica<br />
da massinha de modelar. Lançado em<br />
1987, este livro de imagens para o qual<br />
o autor criou mais de 500 pecinhas,<br />
muitas delas com menos de 1 cm, levou<br />
essa simpática criança de cabelos azuis<br />
a perambular pelo imaginário de muitos<br />
leitores, sobretudo em oficinas criativas<br />
comandadas pelo autor.<br />
O amigo<br />
Autores: Mary França<br />
e Eliardo França<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Os Pingos<br />
Indicado para faixa<br />
etária: Apoio à alfabetização<br />
– 6 e 7 anos<br />
Pingo de Sol adora<br />
diversão, por isso<br />
resolve sair com seu<br />
amigo para dar um<br />
passeio. Quem será<br />
esse amigo?<br />
ESCOLHA<br />
do<br />
EDITOR<br />
O aniversário<br />
Autores: Mary França<br />
e Eliardo França<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Os Pingos<br />
Indicado para faixa<br />
etária: Apoio à alfabetização<br />
– 6 e 7 anos<br />
A árvore dos Pingos<br />
faz aniversário e<br />
seus amigos decidem<br />
preparar uma<br />
festa. De tão feliz,<br />
ela amanhece florida<br />
no dia seguinte.<br />
O alvo<br />
Autor: Ilan Brenman<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Clara Luz<br />
Indicado para faixa etária: 8 e 9 anos<br />
O artista<br />
Autores: Mary França e Eliardo França<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Os Pingos<br />
Indicado para faixa etária: Apoio à alfabetização<br />
– 6 e 7 anos<br />
A joaninha, o vaga-lume, o caracol e a lagarta<br />
acham graça dos bichos diferentes<br />
desenhados por Pingo de Céu. Então, ele<br />
resolve fazer uma canção para dizer que<br />
tudo é possível em nossa imaginação.<br />
Um sábio professor tranquiliza e encoraja as pessoas com suas<br />
histórias. Todos se perguntam como ele sempre tem o assunto<br />
certo para a pessoa certa. Com sabedoria, ele responde que<br />
o segredo é sempre ter uma boa história.<br />
A noite dos bichos –<br />
um livro que amanhece<br />
Autora: Julia Wauters<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Giramundo<br />
Indicado para faixa etária: 6 e 7 anos<br />
Nesta obra, a criança aprende sobre vários biomas e descobre que,<br />
apesar da noite escura, nem todos os bichos dormem. Com o nascer<br />
do sol, mais animais surgem logo de manhãzinha ou aparecem<br />
conforme o dia avança. No final, todos os bichos são identificados<br />
para que ela os localize, brincando, ao longo do livro.<br />
As aventuras de<br />
Bambolina<br />
Autora: Michele Iacocca<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Livros sem<br />
Palavras<br />
Indicado para faixa<br />
etária: 0 a 5 anos<br />
Bambolina é uma<br />
boneca de pano que<br />
passa de mão em<br />
mão até ser abandonada<br />
no lixo. No<br />
centro dessa história,<br />
o convívio entre as<br />
pessoas.<br />
De fora da Arca<br />
Autora: Ana Maria<br />
Machado<br />
<strong>Ed</strong>itora: Ática<br />
Coleção: Abrindo<br />
Caminho<br />
Indicado para faixa<br />
etária: 8 e 9 anos<br />
Nem todos os bichos<br />
conseguem lugar na<br />
Arca de Noé. O que<br />
será que vai acontecer<br />
quando o dilúvio<br />
chegar? A autora<br />
desvenda esse mistério.<br />
72 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018<br />
Março 2018 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> 73
Outraspalavras<br />
O<br />
mundo está mudando”, bradam<br />
muitos, ainda atordoados pelas<br />
dificuldades que a escola encontra,<br />
hoje, para dar conta do que a ela<br />
atribuem! A questão central não é a<br />
mudança em si, mas o modo como<br />
nos preparamos para enfrentá-la ou aproveitá-la. Está<br />
na hora de praticarmos com mais afinco o que costumamos<br />
dizer a alunos e alunas: aprender sempre é o<br />
que mais impede que nos tornemos prisioneiros<br />
de situações que, por serem inéditas,<br />
não saberíamos enfrentar.<br />
Temos um “defeito” natural que<br />
acaba se tornando nossa maior vantagem:<br />
não nascemos sabendo!<br />
Por isso, aqueles ou aquelas<br />
entre nós que imaginarem que<br />
nada mais precisam aprender ou,<br />
pior ainda, não têm mais idade para<br />
aprender, estão se enclausurando<br />
dentro de um limite que desumaniza<br />
e, ao mesmo tempo, torna frágil a<br />
principal habilidade humana: a audácia de<br />
escapar daquilo que parece não ter saída.<br />
Afinal, do nascimento ao final da existência individual,<br />
aprendemos (e ensinamos) sem parar;<br />
o que caracteriza um ser humano é a capacidade de<br />
inventar, criar, inovar – e isso é resultado do fato de<br />
não nascermos já prontos e acabados.<br />
Daí a necessidade de rever a nossa concepção sobre<br />
a fonte da competência. Ora, nos tempos atuais, ela é<br />
mais ainda uma condição coletiva. Até algum tempo<br />
atrás, a competência era entendida como algo exclusivamente<br />
individual; agora, tendo em vista a interdependência<br />
existente e a profusão de novos saberes em uma<br />
velocidade cada vez maior, é preciso pensar que, em um<br />
por Mario Sergio Cortella<br />
A idade do saber<br />
A importância de romper barreiras para ser capaz de ensinar e aprender<br />
grupo, equipe ou instituição, se alguém perde ou diminui<br />
a sua competência, todos no grupo a perdem ou a<br />
diminuem. Nesse sentido, é urgente que haja na organização<br />
do trabalho uma permeabilidade de educação<br />
continuada, em que as pessoas estejam se educando<br />
permanente e reciprocamente.<br />
Portanto, é necessária a criação de um ambiente<br />
educativo, um ambiente pedagógico, no qual caiba a<br />
possibilidade de as pessoas se ensinarem e aprenderem<br />
ao mesmo tempo umas com as outras.<br />
Nessas organizações, devem imperar dois<br />
princípios: “quem sabe reparte” e “quem<br />
não sabe procura”.<br />
Tudo isso nos põe um desafio:<br />
a capacidade de sermos mais flexíveis.<br />
Flexibilidade, porém, é diferente<br />
de volubilidade.<br />
Ser flexível significa ser capaz<br />
de, sem alterar seus princípios e<br />
valores básicos, enxergar e viver<br />
a realidade de outros modos; por<br />
sua vez, ser volúvel é mudar de<br />
posição ou opinião sem apoiar-se<br />
em convicções e simplesmente<br />
deixar-se levar pelas circunstâncias imediatas.<br />
A flexibilidade se caracteriza pela capacidade de<br />
romper algumas amarras e preconceitos que tornam<br />
alguém refém de uma condição que, parecendo segura<br />
e confortável, pode ser indicadora de indigência<br />
e fragilidade intelectual.<br />
Vale sempre lembrar a frase do fictício detetive<br />
chinês Charlie Chan: “Mente humana é como paraquedas;<br />
funciona melhor aberta”.<br />
Excerto de CORTELLA, Mario Sergio. Nós e a Escola: agonias e alegrias!<br />
(Pensatas Pedagógicas). Petrópolis: Vozes, 2018, edição ampliada<br />
e renomeada.<br />
Para<br />
despertar<br />
a imaginação<br />
e o prazer<br />
da leitura.<br />
Mario Sergio Cortella Filósofo e escritor, doutor em <strong>Ed</strong>ucação pela PUC-SP. Foi secretário<br />
municipal de educação de São Paulo (1991-1992)<br />
74 <strong>Revista</strong> <strong><strong>Ed</strong>ucar</strong> <strong>Transforma</strong> Março 2018
2149851<br />
Em um só lugar, tudo o que<br />
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O e-docente é a plataforma que facilita, desenvolve<br />
e enriquece o seu trabalho em sala de aula.<br />
ALGUNS RECURSOS DISPONÍVEIS<br />
• Obras didáticas<br />
• Plano de desenvolvimento da obra<br />
• Sequências didáticas<br />
• Proposta de acompanhamento da aprendizagem<br />
• Mapeamento das obras de acordo com as habilidades previstas na BNCC<br />
• Simulados de avaliações ANA e Prova Brasil<br />
• Projeto Interdisciplinar sobre a Copa<br />
• Indicação de literatura e projetos de apoio<br />
• Webnários com autores e especialistas<br />
E muitos outros conteúdos que<br />
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