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1Arte e<br />
Comida<br />
2018
Daniel Spoerri. Kinderstuben Fallenbild, 2014
ARTE E COMIDA P.6<br />
ARCIMBOLDO P.12<br />
SÉCULO DE OURO P.18<br />
BRASIL COLONIA P.26<br />
LA CUCINA FUTURISTA P.32<br />
DANIEL SPOERRI P.46<br />
MARTIN PARR P.42<br />
BOMPAS & PARR P.50<br />
Martin Parr. Tokyo, da série 'Common Sense'. 1998.
Arte e<br />
Comida<br />
A alimentação acompanha o homem<br />
desde os primórdios da história da humanidade,<br />
afinal ela é vital para sobrevivência<br />
da espécie. A história da alimentação<br />
está intimamente ligada com<br />
as questões sócio culturais que influenciaram<br />
cada povo, através de tradições,<br />
memórias, costumes e religiões.<br />
A.D. Mulher comendo sushi e criança pedindo, 1844.<br />
6 7
A<br />
observação do<br />
comportamento<br />
alimentar ajuda na<br />
definição do indivíduo,<br />
de um nicho ou de um<br />
povo. Ajuda o homem<br />
a entender a noção de<br />
pertencimento, de uma<br />
identidade cultural, que<br />
embora em constante<br />
transformação nos dias<br />
de hoje, cria suas raízes<br />
nas experiências que um<br />
individuo tem através de<br />
suas relações sociais.<br />
A <strong>comida</strong> sempre desempenhou<br />
um importante<br />
papel na <strong>arte</strong>. As<br />
pinturas rupestres eram<br />
feitas com pigmentos<br />
retirados de vegetais e<br />
gorduras animais e os<br />
egípcios desenhavam<br />
os mais diversos processos<br />
culinários em seus<br />
hieróglifos.No antigo<br />
Egito, as inundações anuais<br />
do Rio Nilo, proporcionavam<br />
uma tremenda<br />
abundância alimentícia e<br />
este fato, fez com que o<br />
povo egípcio não precisasse<br />
partir em busca de<br />
novas terras para plantar,<br />
como ocorreu com<br />
diversos outros grupos<br />
humanos. Por este motivo,<br />
os egípcios permaneceram<br />
em seu território,<br />
criaram diversos sistemas<br />
para conseguir irrigar<br />
suas plantações com as<br />
águas do Nilo e com<br />
isso aumentaram sua<br />
produção agrícola.<br />
Um camponês, por exemplo,<br />
conseguia produzir<br />
alimento suficiente<br />
para sustentar a si e<br />
toda sua família e ainda<br />
obter enormes sobras<br />
que passaram a ser comercializadas<br />
e a gerar<br />
lucro. O lucro que o<br />
A.D. Mural de um ritual de páscoa do Egito Antigo.<br />
A.D. Pintura de Pompéia, maison des Chastes Amants.<br />
8 9
Nilo propiciava no Egito<br />
antigo permitiu aos seus<br />
habitantes enriquecerem,<br />
tanto como indivíduos,<br />
quanto como nação.<br />
Além disso, este superávit<br />
agrícola permitia<br />
aos indivíduos buscar<br />
seus talentos pessoais<br />
em prol da comunidade<br />
e isso diversificou a<br />
quantidade de ofícios<br />
que se poderia exercer.<br />
Tanto a civilização<br />
como a alimentação<br />
foram moldadas através<br />
de diversos fatores.<br />
Questões geográficas<br />
como a flora, a fauna,<br />
as estações climáticas,<br />
o solo, o “terroir” dos<br />
produtores de vinho bem<br />
como pelas tecnologias<br />
e pelas inovações de<br />
todos estes fatores ao<br />
longo da história. Isso<br />
é observado desde a<br />
preocupação pré-histórica<br />
com caçar, cultivar<br />
e trocar alimentos até a<br />
cobiça e o comércio por<br />
açúcar e especiarias, na<br />
Idade Média, que levou<br />
em p<strong>arte</strong> a descoberta<br />
do Novo Mundo.<br />
As Cruzadas foram um<br />
aspecto crucial na cultura<br />
e alimentação na<br />
Idade Média. Elas estabeleceram<br />
conexões<br />
entre europeus, asiáticos<br />
e árabes e este fato<br />
estimulou a expansão<br />
do conhecimento de<br />
novos alimentos e despertou<br />
um novo apresso<br />
por sabores exóticos em<br />
toda a Europa.<br />
10 11
A<br />
RCIM<br />
BOL<br />
DO<br />
12 13
Um dos primeiros<br />
pintores a<br />
usar a <strong>comida</strong><br />
como um<br />
meio de representação<br />
foi o italiano<br />
Giuseppe Arcimboldo<br />
(1527 – 1593) com seus<br />
retratos compostos por<br />
frutas e legumes. Arcimboldo<br />
era um retratista<br />
de corte renascentista,<br />
cujo trabalho era reproduzir<br />
seus soberanos<br />
através de suntuosas<br />
representações que fizessem<br />
jus ao poder do<br />
monarca e da corte em<br />
si, para serem exibidas<br />
em seus palácios.<br />
Em 1569, a mando do<br />
Sacro Imperador Romano-Germânico<br />
Maximiliano<br />
II, Arcimboldo<br />
apresentou suas primeiras<br />
telas compostas por<br />
frutas, flores e folhagens,<br />
intituladas as Quatro<br />
Estações. Maximiliano<br />
gostou tanto das reproduções<br />
que ele e outros<br />
membros da corte se vestiram<br />
como as estações<br />
em um festival de 1571.<br />
Posteriormente, em<br />
1590, Rodolfo II, filho<br />
de Maximiliano, encomendou<br />
seu retrato ao<br />
pintor. Arcimboldo o<br />
representou com pálpebras<br />
de ervilhas,<br />
nariz de pera, lábios de<br />
cereja e sobrancelhas<br />
de trigo, o retrato do<br />
Imperador assemelhava-se<br />
mais a um prato<br />
de crudités do que ao<br />
imponente monarca.<br />
Aparentemente o<br />
monarca tinha senso de<br />
humor e gostou da pintura<br />
do italiano, que serviu<br />
a casa dos Habsburgo<br />
por mais de 25 anos,<br />
criando cabeças compostas<br />
por frutas, verduras,<br />
assados, criaturas<br />
marinhas, entre outros<br />
excêntricos objetos.<br />
14 15
Giuseppe Arcimboldo<br />
(1527-1593)<br />
1. O almirante<br />
2. Vertumno, 1590–1591<br />
3. O cozinheiro, 1570<br />
4. A Cesta de Frutas, 1590<br />
5.O jardineiro, 1587–1590<br />
6. A alegoria da água<br />
7. Verão, 1572<br />
16 17
S<br />
É<br />
C<br />
U<br />
L<br />
O<br />
D<br />
E<br />
O<br />
U<br />
R<br />
O<br />
Pieter Aertsen. A cozinheira,1559<br />
H<br />
O<br />
L<br />
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N<br />
D<br />
A<br />
&<br />
B<br />
É<br />
L<br />
G<br />
I<br />
C<br />
A
Frans Snyders. Cena do mercado<br />
em um cais, 1635<br />
Pieter Aertsen. The Egg Dance, 1552<br />
A<br />
S SUNTUOSAS NA-<br />
TUREZAS MORTAS<br />
DA IDADE DE OURO<br />
BELGA E HOLANDE-<br />
SA SÃO UM GRANDE<br />
EXEMPLO DA RELAÇÃO ENTRE<br />
ARTE E GASTRONOMIA. ESTAS<br />
ENORMES TELAS TRAZEM AO<br />
ESPECTADOR A SENSAÇÃO DE<br />
MERGULHO NESTE UNIVERSO,<br />
COMO SE ESTIVESSEM DIANTE<br />
DAS MESAS E BANQUETES REP-<br />
RESENTADOS PELOS PINTORES<br />
DA ÉPOCA. COM ENORME ES-<br />
MERO, ESTAS PINTURAS APRE-<br />
SENTAM REALISTAS CARCAÇAS<br />
DE ANIMAIS, A PELE ORVALHA-<br />
DA E PERFEITAMENTE TEXTUR-<br />
IZADA DE FRUTAS, LEGUMES<br />
E BAGAS, O BRILHO DA CARA-<br />
PAÇA DE LAGOSTAS EM CON-<br />
TRAPOSIÇÃO A ÁSPERA PEL-<br />
AGEM DE UM COELHO MORTO.<br />
OS ALIMENTOS AQUI POSSUÍAM<br />
UM SIGNIFICADO SIMBÓLICO<br />
E ALÉM DE ESTAREM RELACIO-<br />
NADOS A TEXTOS BÍBLICOS,<br />
TRAZIAM TAMBÉM UMA NOÇÃO<br />
DE TEMPO, DE SEU ASPECTO<br />
PASSAGEIRO E EFÊMERO E DA<br />
RELAÇÃO ENTRE ABUNDÂNCIA<br />
E TEMPERANÇA. UM GRANDE<br />
AFICIONADO DA TEMÁTICA<br />
DESTE PERÍODO ERA O<br />
HOLANDÊS PIETER AERTSEN<br />
(1508-1575), QUE RETRATOU<br />
NA GRANDE MAIORIA DE SUA<br />
PRODUÇÃO GRANDES BAN-<br />
QUETES, BÊBADOS CAINDO<br />
E PESSOAS FARTAS DE TANTO<br />
COMER, ATRAVÉS DE TELAS<br />
COM TAMANHOS MONUMEN-<br />
TAIS, CORES VIVAS, IMAGENS<br />
REALISTAS E ATÉ PARA OS<br />
PARÂMETROS ATUAIS, UM POU-<br />
CO CHOCANTES.
Pieter Aertsen. Christ and the Woman Taken in Adultery, 1518-1575<br />
Pieter Aertsen. Preparations for a Feast 1550-75<br />
Pieter Aertsen. Cena de Mercado, 1569<br />
Pieter Aertsen. Vendor of Fowl, 1560<br />
23
Pieter Aertsen. Casa de Panqueca, 1560<br />
Pieter Aertsen. A cozinha gorda, 1565–1575
Albert Eckhout. Mandioca, c. 1600<br />
BRASIL<br />
COLONIA<br />
26 27
Jean Baptiste Debret. Uma familia brasileira no Rio de Janeiro, 1839<br />
Neste período, entre o<br />
descobrimento do Brasil<br />
e a vinda da família<br />
real em 1808, diversas expedições<br />
da Europa vieram para<br />
o país em nome da pesquisa,<br />
o que criou um maior desenvolvimento<br />
artístico e científico<br />
no Brasil da época. Dentre<br />
os estudiosos que cruzaram o<br />
oceano para integrar a missão<br />
europeia, estavam o naturalista<br />
inglês Charles Darwin (1809-<br />
1882) que chegou em Fernando<br />
de Noronha em Fevereiro de<br />
1832 prospectando dados cartográficos<br />
da América do Sul,<br />
o botânico August de Saint-Hilaire<br />
(1779-1853) que publicou<br />
diversos volumes de “Voyages<br />
dans l’Intérieur du Brésil” e o<br />
holandês Albert Eckhout (1910-<br />
1966) que criou pinturas que<br />
refletiam o Brasil do período.<br />
Eckhout morou por 7 anos no<br />
Brasil e retratou a fauna, flora e<br />
a vida cotidiana no país. Produziu<br />
cerca de 400 obras por<br />
aqui e muitas delas nos mostram<br />
a alimentação no período,<br />
tanto dos europeus, quanto dos<br />
africanos e indígenas.<br />
28 29
A Missão artística Francesa foi encomendada por Dom João<br />
VI e em 1816 chegou ao país, trazendo o pintor e professor<br />
Jean-Baptiste Debret, (1768-1848), responsável por descrições<br />
detalhadas da vida social no Rio de Janeiro, como<br />
a corte, o trabalho escravo, os costumes e o cotidiano da<br />
sociedade. Com as gravuras que produziu no país, Debret<br />
publicou três volumes do livro “Viagem pitoresca e histórica<br />
ao Brasil” de 1834 a 1839 com gravuras das cenas rotineiras<br />
brasileiras no início do século XIX. Dentro da corte o<br />
assunto <strong>comida</strong> também era bastante explorado.<br />
Albert Eckhout (1610-1665)<br />
Mameluca, 1641<br />
Mulher Africana, 1640.<br />
Banana e goiaba c.1600<br />
Abobora e Melão c.1600<br />
Cocos c.1600<br />
Frutas brasileiras c.1600<br />
30 31
O auge da relação <strong>arte</strong> e <strong>comida</strong><br />
se deu em 1909, quando o italiano<br />
Filippo Tommaso Marinetti,<br />
juntamente com outros artistas,<br />
criou o movimento de vanguarda<br />
denominado Futurismo.<br />
O grupo acreditava que a alimentação<br />
e o ato de cozinhar e comer,<br />
era algo tão presente e importante no<br />
dia-a-dia da sociedade, que também<br />
deveria ser algo central para seus<br />
ideais e manifestos artísticos.<br />
Com isso, em 1932 Marinetti publicou<br />
o livro La Cucina Futurista (A Cozinha<br />
Futurista), que tratava dos mais diversos<br />
assuntos relacionados à alimentação.<br />
O livro, ao longo de trinta anos,<br />
teve três diferentes versões. As ideias<br />
de cozinha futurista foram criadas pelo<br />
chef Jules Maincave (1890 -1915),<br />
que escreveu o “Manifesto da Cozinha<br />
Futurista”, publicado pela revista<br />
parisiense Fantasio em 1913.<br />
Marinetti na Taverna del Santopalato,1931.<br />
32 33
Taverna del Santopalato em Turim, 1931.<br />
Marinetti, quatorze anos mais tarde traduziu o<br />
texto de Maincave, intitulando- o “A Cozinha Futurista”,<br />
reescrevendo-o com significativas mudanças<br />
em seu contexto, refletindo assim sua necessidade<br />
pulsante de renovação gastronômica para o século<br />
XX. A versão de Marinetti foi publicada na La<br />
Gazzetta del Popolo, de Turim em 28 de Dezembro<br />
de 1930, e depois retomada nos cardápios<br />
da inauguração do restaurante futurista, Taverna<br />
del Santopalato, em Turim em 1931.<br />
Receita Futurista<br />
34 35
Daniel<br />
Spoerri<br />
Romênia, 1930<br />
“Minha primeira Armadilha<br />
“Kichka’s Breakfast” foi criada<br />
com as sobras do café da manhã<br />
da minha namorada.”<br />
36 37<br />
Daniel Spoerri. Kichka's Breakfast, 1960
O artista romeno<br />
Daniel Spoerri (n.<br />
1930), famoso por<br />
suas obras conhecidas<br />
como “armadilhas”.<br />
Nelas, este artista capturava<br />
objetos como<br />
restos de refeições<br />
e prendia-os em<br />
suportes, como numa<br />
tela. Spoerri chamava<br />
seu conceito de Eat-art<br />
(coma-<strong>arte</strong>), que englobava<br />
não apenas<br />
suas telas de armadilhas,<br />
mas também<br />
algumas outras ações<br />
que criava com <strong>comida</strong>.<br />
Em 1961 ele<br />
vendeu a uma galeria<br />
diversas latas de<br />
<strong>comida</strong> em conserva<br />
assinadas e carimbadas<br />
por ele “Atenção:<br />
Obra de Arte”.<br />
38<br />
Daniel Spoerri. Snare Picture, 1960
Daniel Spoerri. Restaurante e 5 o'clock tea, 2014.<br />
Em 1963 ele realizou em<br />
uma galeria de Paris uma<br />
performance em que críticos<br />
de <strong>arte</strong> assumiam o<br />
papel de garçons, discutindo<br />
a ideia do critico levar<br />
a <strong>arte</strong> aos consumidores.<br />
Em 1968 Spoerri abriu um<br />
restaurante em Düsseldorf<br />
e 2 anos depois abriu a<br />
Eat-Art-Gallery no andar<br />
de cima. Em 1970 ele<br />
publicou um diário da sua<br />
vida em uma Ilha Grega<br />
com inúmeras receitas dos<br />
pratos que comeu por lá,<br />
intitulado “Um itinerário<br />
gastronômico” e mais<br />
tarde republicado como<br />
Mitologia & almôndegas.<br />
40 41
Real Food | Martin Parr<br />
42 43
Martin Parr<br />
Real Foods<br />
Phaidon Press<br />
2016<br />
O fotografo inglês Martin Parr<br />
também utiliza a <strong>comida</strong> como<br />
tema em diversas de suas imagens,<br />
como uma forma de traduzir<br />
os aspectos sociais através da<br />
alimentação, numa espécie de<br />
“você é o que você come”, de<br />
forma rotineira, icônica e provocativa.<br />
Em seu livro Real Foods ele<br />
apresenta imagens de <strong>comida</strong>s<br />
com fotografias que mostram a<br />
verdade nua e crua da sociedade<br />
britânica, sem firulas ou efeitos,<br />
como uma ilustração do cotidiano.<br />
O livro tem introdução do chef<br />
de cozinha Fergus Henderson do<br />
restaurante St John’s em Londres,<br />
que considera as fotografias de<br />
Parr um reflexo do contexto da<br />
culinária global, além de acreditar<br />
na proposta de Parr de apresentar<br />
o aspecto social da <strong>comida</strong>.<br />
O trabalho de Martin Parr faz<br />
a ponte entre a <strong>arte</strong> e a fotografia<br />
documental. Seus estudos<br />
das idiossincrasias da cultura de<br />
massa e do consumismo em todo<br />
o mundo e suas imagens inovadoras<br />
o colocaram na vanguarda da<br />
<strong>arte</strong> contemporânea. Membro da<br />
agência de fotografia internacional<br />
Magnum, Parr é um ávido<br />
colecionador de livros.<br />
44 45
Imagens do Livro Real Food, de Martin Parr. 2016<br />
46 47
O que é foodporn?<br />
Estamos cercados por isso, pornografia alimentar.<br />
Todos tiram fotos de <strong>comida</strong>, especialmente<br />
quando estão sentados em restaurantes<br />
caros. Definitivamente, uma mudança<br />
nas convenções sociais.<br />
Em um momento histórico como o que<br />
estamos vivendo agora, onde a <strong>comida</strong><br />
se torna um elemento de fanfarra e<br />
exposição publicitária, qual é o valor<br />
do prazer estético versus sabor no que<br />
realmente estamos comendo?<br />
Comida por<br />
Martin Parr<br />
UMA ENTREVISTA DE INDRA GALBO E MICHELA BECCHI<br />
02 DE FEVEREIRO DE 2017<br />
Obviamente, precisamos de <strong>comida</strong> para sobreviver,<br />
mas junto com a riqueza, a <strong>comida</strong><br />
se torna mais sofisticada, e a compra de<br />
refeições mais elaboradas, jantando fora,<br />
tornou-se mais difundida. Especialmente na<br />
Itália, onde a tradição alimentar e cultural<br />
é mais forte, e onde essa mudança é menos<br />
evidente. Contrariamente, no Reino Unido, a<br />
mudança na abordagem em relação à <strong>comida</strong><br />
foi mais dramática. Prazer sensorial é certamente<br />
importante e, obviamente, um prato<br />
deve ser bem apresentado e bonito. Mas<br />
eu não retrato apenas <strong>comida</strong> gourmet, eu<br />
também tiro junk food porque permite fotos<br />
muito mais interessantes.<br />
48 49
BOMPAS<br />
& PARR<br />
Por Felipe Chaimovich<br />
Junho de 2017<br />
Qual é o futuro da <strong>comida</strong>? À medida que enfrentamos<br />
desafios ecológicos crescentes, o debate sobre<br />
as estratégias para alimentar a humanidade deve<br />
envolver artistas, desenhistas industriais e cientistas<br />
numa colaboração criativa. O grupo inglês<br />
Bompas & Parr tomou essa iniciativa há dez anos,<br />
e eles trazem ao Brasil pela primeira vez o mundo<br />
que inventaram.<br />
Sam Bompas e Harry Parr são ao mesmo tempo<br />
os sócios por trás da firma que leva seu nome e os<br />
personagens que aparecem em banquetes, filmes,<br />
museus, livros e eventos excêntricos pelo mundo<br />
todo. Para desenvolver sua poética, eles têm<br />
trabalhado com diversos profissionais, tais como<br />
músicos, historiadores da alimentação, cientistas<br />
acadêmicos, artistas contemporâneos, desenhistas<br />
industriais de bebida e <strong>comida</strong> e desenhistas<br />
gráficos. O resultado é um conjunto singular de<br />
trabalhos que estão redefinindo a relação entre<br />
<strong>arte</strong> e <strong>comida</strong>.<br />
50 51
52 53
54 55
A “Cidade da Língua” é composta<br />
por uma série de instalações<br />
que tratam do passado, do<br />
presente e do futuro da <strong>comida</strong>.<br />
As instalações estão arranjadas<br />
como p<strong>arte</strong>s de uma cidade<br />
inglesa com a típica arquitetura<br />
do século quinze. A atmosfera<br />
evoca o crepúsculo, com todas<br />
as aparições misteriosas trazidas<br />
pela noite que se aproxima.<br />
A <strong>comida</strong> é experimentada de<br />
diversas maneiras: por meio do<br />
paladar, do cheiro, do toque, da<br />
visão e da audição. O passado da<br />
alimentação é apresentado por<br />
meio de uma coleção de objetos<br />
e imagens. O presente aparece<br />
como o mundo de Bompas & Parr.<br />
O futuro é explorado na “Farmácia”,<br />
com trabalhos que miram o<br />
campo da ficção científica.Todos os<br />
temas da “Cidade da Língua” são<br />
tratados num estilo característico:<br />
fantasia, festa e o típico senso de<br />
humor britânico. Assim, trazemos<br />
a <strong>arte</strong> e a gastronomia celebrando<br />
uma década de Bompas & Parr.<br />
Imagens: Bompas & Parr. Cake Holes, 2016<br />
56 57
Vol. 1<br />
Arte e Comida<br />
CORDÁS,<br />
Katherina Roso<br />
Produção de um<br />
fan<strong>zine</strong> sobre as<br />
representações visuais<br />
da alimentação.<br />
São Paulo,<br />
Novembro, 2018.<br />
www.comes.com.br<br />
@digameoquecomes<br />
/digameoquecomes<br />
Direita: Martin Parr. New Brighton, The Last Resort, 1983-1985<br />
Capa e 4a capa: Pieter Aertsen. A cozinha gorda,1565–1575<br />
58<br />
59
1Arte e<br />
Comida<br />
2018<br />
60www.comes.com.br