relatorio_feira_solucoes
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
BOLETIM<br />
FEIRA SOLUÇÕES<br />
PARA A SAÚDE<br />
Fiocruz Brasília<br />
Feira<br />
S luções<br />
Saúde<br />
paraa
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
BOLETIM<br />
FEIRA SOLUÇÕES<br />
PARA A SAÚDE<br />
Fiocruz Brasília<br />
Expediente:<br />
Produção: Ascom/Fiocruz Brasília<br />
Coordenação: Wagner Vasconcelos<br />
Redação: Mariella Oliveira-Costa, Nathállia Gameiro, Nayane Taniguchi e<br />
Wagner Vasconcelos<br />
Diagramação: Carlos Sarina<br />
2
Índice:<br />
Semana Uma Só Saúde 5<br />
A Feira em números 7<br />
Presidência da Fiocruz abre a Semana Uma Só Saúde 5<br />
Saúde única em busca de soluções para a leptospirose 12<br />
Fiocruz Brasília oferta oficina para orientar o planejamento<br />
da atenção básica no Rio Grande do Sul 16<br />
Projeto busca reduzir tuberculose nas prisões 20<br />
Semana Uma Só Saúde encerra sob clima de expectativa para<br />
o próximo ano 23<br />
Fiocruz e governo do RS estudam parceria 25<br />
Soluções 26<br />
Fiocruz Brasília<br />
3
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
A <strong>feira</strong> e seus alcances<br />
Após o inquestionável êxito verificado na primeira Feira de Soluções para Saúde, em<br />
Salvador (BA), no ano de 2017, a equipe responsável por executar a segunda edição do<br />
evento se deparou com desafios adicionais. O primeiro deles era: como repetir ou mesmo<br />
superar o sucesso daquela primeira ação? Cientes de que o termo sucesso carrega<br />
uma série de subjetividades, nossa missão foi a de assegurar um evento cujas participação<br />
social e parcerias institucionais fossem a nossa maior expressão. O outro desafio<br />
seria o de trabalhar com os temas Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (os consagrados<br />
ODS) e Saúde Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, de forma a fazer<br />
com que a sociedade os compreendesse como determinantes do seu viver.<br />
Agora, refeitos da euforia e do cansaço natural pela realização de mais um evento, podemos<br />
dizer que, novamente, fomos bem sucedidos!<br />
E a <strong>feira</strong> nos trouxe surpresas. A parceria com o Conselho das Secretarias Municipais de<br />
Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) foi certamente a mais gratificante. Animada<br />
pela realização do seu 31º Congresso do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde<br />
do RS, a equipe do Cosems de pronto aceitou o desafio de somar forças com a Fiocruz e<br />
de, unindo seus dois eventos, promoverem a Semana Uma Só Saúde, que em um mesmo<br />
espaço, comportou as duas ações.<br />
Assim, a Semana reuniu, de 22 a 25 de abril, 1.589 mil pessoas no aconchegante município<br />
de Bento Gonçalves – referência vinícola caprichosamente encravada na serra<br />
gaúcha. Pela imensa estrutura montada para o evento, circularam representantes de 417<br />
municípios do Rio Grande do Sul, que incluíam 275 secretários de saúde e 28 representantes<br />
deles. Apenas no espaço destinado excluvidamente à Feira, foram diversas<br />
atividades, sendo 109 apresentações/exposições, 31 mesas redondas, 16 oficinas, seis<br />
palestras, 14 reuniões com parceiros estratégicos, além de várias manifestações culturais<br />
que agitaram a rotina de quem se dispôs a conhecer o que a Feira expunha.<br />
Foram dias em que cada um dos que se esforçou para realizar o evento enxergou para<br />
além de suas habituais tarefas e se engajou na luta por uma saúde de maior qualidade.<br />
Foram dias de aprendizado, de compartilhamento, de dedicação e, sobretudo, de união<br />
de esforços balizados pelo objetivo comum de se consolidar o Sistema Único de Saúde.<br />
4
Semana<br />
Uma Só Saúde<br />
Usuários do Sistema Único de Saúde, gestores, pesquisadores, profissionais de<br />
saúde e estudantes estiveram reunidos em Bento Gonçalves, região serrana do<br />
Rio Grande do Sul, para a Semana Uma Só Saúde. O evento foi realizado de 22<br />
a 25 de abril, e congregou a segunda edição da Feira de Soluções para Saúde,<br />
com o tema Saúde Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, e o 31º<br />
Congresso do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) do Rio<br />
Grande do Sul.<br />
“A Feira mostra para o Brasil que a ciência e a gestão podem juntas fazer uma<br />
transformação”, afirma Wagner Martins, coordenador de Integração Estratégica<br />
da Fiocruz Brasília e um dos coordenadores da Feira de Soluções para Saúde.<br />
Em entrevista, ele ressaltou que o trabalho continua depois do evento para a<br />
transformação de territórios saudáveis e sustentáveis.<br />
Confira a entrevista completa:<br />
https://youtu.be/JDvoAzsZLFE<br />
Cerca de 1,5 mil pessoas participaram da Semana, que reuniu atividades distintas<br />
com temas relacionados a Saúde Única (One Health), conceito que une a<br />
saúde humana, animal e ambiental como estratégia bem-sucedida de esforços<br />
em saúde pública e garantia de bem-estar das populações.<br />
Mas o que é Saúde Única? O médico veterinário Albino Belotto, conferencista<br />
do evento, esclarece o conceito.<br />
Vídeo:<br />
https://youtu.be/QGaQxyMU7Hs<br />
Fiocruz Brasília<br />
5
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Rodas de conversa, mesas redondas, mostra de experiências, oficinas e vídeos<br />
abordaram temas como saúde mental, territórios saudáveis e sustentáveis, saúde<br />
digital, feminicídio, tuberculose, leptospirose, Objetivos de Desenvolvimento<br />
Sustentável (ODS) e Agenda 2030, plantas medicinais, inovação em saúde, humanização<br />
do cuidado, agrotóxico e segurança alimentar. Trabalhos e soluções<br />
com resultados e inovações que buscam a melhoria do atendimento e qualidade<br />
de vida da população também foram apresentados em tendas de expositores de<br />
diversos municípios do estado durante os quatro dias de evento.<br />
Além da presença marcante do mate, a arte também teve destaque no evento.<br />
Os sons do acordeon, viola, violão e gaita ecoaram pelo espaço com músicas e<br />
apresentações de danças gaúchas. O evento contou também com apresentações do<br />
teatro-fórum sobre tuberculose nas prisões e o cortejo do grupo de teatro Nau da<br />
Liberdade pelas ruas de Bento Gonçalves e corredores da Semana Uma Só Saúde.<br />
O grupo é formado por usuários, estudantes e trabalhadores que, por meio da<br />
música, falam sobre cuidado, estigma e liberdade em saúde mental. A abertura foi<br />
marcada pela presença da Orquestra Villa-Lobos, de Porto Alegre, composta por<br />
30 jovens, sob a regência da maestrina Cecília Rheingantz Silveira.<br />
A Feira de Soluções para a Saúde surgiu em 2017, a partir do projeto Plataforma<br />
de Vigilância de Longo Prazo para Zika vírus e microcefalia no<br />
âmbito do SUS, sob a responsabilidade da Fiocruz Brasília e do Centro<br />
de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz).<br />
A primeira edição da Feira, promovida pela Fiocruz Brasília, foi realizada<br />
em Salvador (BA).<br />
Em entrevista, a presidente Nísia Trindade faz uma avaliação da primeira<br />
edição da Feira de Soluções para Saúde. Confira:<br />
VÍDEO<br />
https://youtu.be/QNa66v6ls_4<br />
6
A Feira em números:<br />
1.589 mil participantes<br />
417 municípios do RS representados<br />
275 secretários de saúde<br />
109 apresentações/exposições<br />
31 mesas redondas<br />
16 oficinas<br />
06 palestras<br />
14 reuniões com parceiros estratégicos<br />
Equipe participante:<br />
Adélia Capistrano<br />
Aíla Sousa<br />
Amanda Souza<br />
André Guerrero<br />
Carlos Sarina<br />
Cecília Andrade<br />
Clair Júnior<br />
Cláudia Martins<br />
Cintya Azevedo<br />
Daniele Cavalcante<br />
Denis Costa<br />
Denise Oliveira<br />
Esdras Guedes<br />
Fabiana Damásio<br />
Fabiana Vaz de Mello<br />
Gabriela Lobato<br />
Geane Di Magielli<br />
Gerald Moussounda<br />
Hitanael Souza<br />
Jorge Machado<br />
Joyce Schramm<br />
Juliana Gomes<br />
Juliana Moura<br />
June Scafuto<br />
Luciana Sepúlveda<br />
Marcelo de Jesus<br />
Márcia Motta<br />
Márcio Cavalcante<br />
Mariella Oliveira-Costa<br />
Nathállia Gameiro<br />
Nayane Taniguchi<br />
Paulo Rocha<br />
Paula Suda<br />
Pedro Aguiar<br />
Perolla Gomes<br />
Sávia Pueyo<br />
Sérgio Velho Júnior<br />
Sheila Lima<br />
Susana Rosa<br />
Vanessa Costa<br />
Vinícius Ameixa<br />
Wagner Martins<br />
Wagner Vasconcelos<br />
Fiocruz Brasília<br />
7
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Cobertura:<br />
8
Presidência da<br />
Fiocruz abre a<br />
Semana Uma Só<br />
Saúde<br />
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, participou da abertura da Semana<br />
Uma Só Saúde, na tarde desta segunda-<strong>feira</strong>, 22 de abril, em Bento Gonçalves – RS<br />
O evento reúne 1.380 participantes de todo o estado, e congrega o 31º Congresso dos<br />
Secretários Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul e a 2ª edição da Feira de Soluções<br />
para a Saúde: Saúde Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis (promovida<br />
pela Fiocruz). Em sua fala, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, destacou que a<br />
agenda para a juventude é imprescindível para se alcançar os Objetivos do Desenvolvimento<br />
Sustentável, e que usar a arte é fundamental para promover a saúde, fazendo<br />
referência à apresentação musical da Orquestra Villa Lobos, composta por 48 crianças<br />
e adolescentes de Porto Alegre – RS. O grupo abriu o evento com um repertório do<br />
hino nacional em arranjo diferenciado, além da apresentação de clássicos da música<br />
popular brasileira.<br />
Nísia lembrou o compromisso da Fiocruz com a atenção primária, e como é importante<br />
a articulação desta área do SUS e as áreas de vigilância e ciência e tecnologia, para<br />
enfrentar os desafios que emergem das diferentes realidades locais do sistema de saúde,<br />
em cada município. “Para se trabalhar com os 17 Objetivos de Desenvolvimento<br />
Sustentável (ODS), é preciso construir uma visão integrada e intersetorial e é fundamental<br />
a articulação entre prefeitos, governos estaduais e federal. Em 2020, a Fiocruz<br />
fará 120 anos, e vamos trabalhar firme para a redução das desigualdades sociais, que<br />
são parte dos obstáculos à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Vamos trabalhar<br />
com diálogo e participação social, para que ninguém seja deixado para trás”, ressaltou.<br />
Ela também lembrou a primeira edição da Feira de Soluções para a Saúde, realizada<br />
em Salvador (BA), em 2017, a partir da ação da Plataforma Zika, capitaneada pelo Ministério<br />
da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Fiocruz a partir da emergência<br />
sanitária ocasionada por esta arbovirose no Brasil e no mundo. Segundo ela,<br />
as respostas à epidemia foram dadas pela visão integrada que o SUS proporciona, e a<br />
Feira agregou pesquisadores, serviços de saúde e movimentos sociais em torno de um<br />
mesmo problema e suas possíveis soluções oriundas de cada um desses três atores. “O<br />
sucesso da primeira edição inspirou esta nova versão, que articula os Objetivos do Desenvolvimento<br />
Sustentável e os Territórios Saudáveis e Sustentáveis, em um modelo<br />
de evento compartilhado com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Rio<br />
Grande do Sul (Cosems/RS)”, disse.<br />
A presidente da Fiocruz também adiantou que estão previstas duas novas edições da<br />
Feira de Soluções para a Saúde: uma no Ceará, em outubro, durante a Semana Nacional<br />
de Ciência e Tecnologia, e outra em 2020, em Manaus (AM).<br />
Fiocruz Brasília<br />
9
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Autoridades ressaltam<br />
o papel da Fiocruz<br />
Durante a abertura da Semana Uma Só Saúde, o presidente do Cosems/RS, Diego<br />
Espindola de Avila, ressaltou o vídeo institucional da Fiocruz, exibido no início da sessão,<br />
e afirmou que o Cosems/RS faz história quando se mescla com a Fiocruz, instituição<br />
que carrega consigo a trajetória do SUS. Ele ressaltou que os gestores, ao longo do<br />
evento, iriam compreender o volume da Fiocruz para o sistema de saúde brasileiro e a<br />
saúde global. “Absorvam o máximo de informação, pois a Fiocruz veio com um dream<br />
team (em inglês, time dos sonhos) para agregar muito ao nosso evento. Sem esta parceria<br />
com a Fiocruz e o governo do Estado, a Semana Uma Só Saúde seria impossível.”<br />
Ele lembrou ainda que o evento abriu espaço também para participação dos usuários<br />
membros dos conselhos de saúde e não só os secretários de saúde dos 497 municípios.<br />
Concordou com ele o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, que considerou<br />
que o evento entra para a história do município. Bem-humorado, o gestor municipal<br />
deu as boas-vindas aos participantes, lembrando que vinho é saúde, e que como Bento<br />
Gonçalves é considerada a capital do vinho, a partir dessa semana, será também capital<br />
da saúde.<br />
A secretária de saúde do estado do Rio Grande do Sul, Arita Bergman, afirmou seu<br />
contentamento com a realização de um evento grandioso como este em Bento Gonçalves,<br />
que é, para ela, um marco de municipalidade em saúde. “É nos municípios que os<br />
cidadãos sentem as diferenças e inovações em saúde, daí a importância desta reunião<br />
congregando todos os gestores municipais de saúde. Ela ressaltou que a Fiocruz tem<br />
o aplauso do governo do estado e lembrou que, na terça-<strong>feira</strong>, a presidente da Fiocruz<br />
tem agenda com o governador do estado, para avançar nas ações de cooperação entre<br />
as instituições.<br />
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, parabenizou a<br />
Fiocruz e lembrou a realização da 16ª Conferência Nacional de Saúde, em agosto deste<br />
ano, e a importância de se rever a Emenda Constitucional 95, que congela os gastos da<br />
saúde. Segundo ele, é preciso que os municípios se atentem para as práticas positivas<br />
que os conselhos de saúde têm feito para preservar os recursos do SUS.<br />
Do Ministério da Saúde, o representante da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa<br />
(SEGEP), Erno Horzheim, falou da necessidade de se romper com as tradições<br />
para inovar no tema de uma saúde sustentável. Segundo ele, a nova gestão do Ministério<br />
tem a preocupação em entregar mais recursos para os municípios que se comprometam<br />
em priorizar a atenção primária em saúde, assim como o próprio ministério o<br />
fará, criando uma Secretaria de Atenção Primária. “A atenção primária resolutiva elimina<br />
vários problemas de saúde e é nela que o recurso deve ser investido. O Ministério<br />
vai priorizar ainda mais a Estratégia de Saúde da Família, fortalecendo, qualificando e<br />
inovando nesta área. Não adiantam muitos recursos para a atenção especializada, sem<br />
reforçar o papel clínico da atenção primária”, disse ele, adiantando que a pasta está em<br />
busca de maior informatização da Estratégia de Saúde da Família. Atualmente, das<br />
mais de 40 mil equipes pelo Brasil, pouco mais da metade (26.601) estão informatizadas.<br />
Ele também ressaltou que serão priorizados os estados e regiões em maior situação<br />
de vulnerabilidade. Ao lembrar o Movimento Vacina Brasil, o secretário destacou o<br />
papel da Fiocruz na produção e na logística para que a vacina chegue às pessoas, pela<br />
atenção primária.<br />
10
Desafios para implementação<br />
saúde digital apresentados na<br />
Feira de Soluções<br />
No espaço Ágora, representantes do Ministério da Saúde apresentaram a Estratégia<br />
Saúde Digital (DigiSUS), que, quando totalmente implementada, significará<br />
uma economia estimada de R$ 22 bilhões por ano aos cofres públicos. Isso porque,<br />
segundo o coordenador do Departamento de Monitoramento e Avaliação do<br />
SUS (Demas), Wilson Coelho, há hoje muita ineficiência por causa dos inúmeros<br />
sistemas e informações desencontradas na área da saúde. Segundo seu colega de<br />
equipe no ministério, Luís Júpiter, existem atualmente 488 sistemas de informação<br />
gerenciados pelo DataSUS.<br />
O DigiSUS, portanto, se propõe a articular e integrar esses sistemas e, o que é mais<br />
importante, melhorar a qualidade de vida do cidadão. Seus objetivos são: aumentar<br />
a qualidade e o acesso à atenção; melhorar o fluxo de informações de forma a<br />
apoiar a tomada de decisão em saúde, vigilância, regulação e gestão, e consolidar a<br />
Plataforma de Saúde Digital no país, o Registro Eletrônico em saúde e promover a<br />
Tele-saúde e a Telemedicina.<br />
Ao mesmo tempo em que permitirá mais transparência no uso de recursos públicos,<br />
o DigiSUS possibilitará a cada paciente ter acesso ao seu prontuário eletrônico.<br />
Com isso, os profissionais de saúde que lhe atenderem (médicos, enfermeiros, farmacêuticos<br />
etc) poderão conhecer e acompanhar a trajetória de saúde da pessoa,<br />
sabendo detalhes que podem ser importantes para as intervenções a serem feitas.<br />
Tudo isso, claro, desde que o paciente assim o permita. Leia a matéria completa<br />
Palestra aborda protagonismo do usuário do SUS no tratamento, uso<br />
de medicação e plantas medicinais durante Semana Uma Só Saúde<br />
Rede Saúde e Fiocruz apresentam impactos econômicos da implantação<br />
dos ODS/Agenda 2030<br />
“Rotas críticas: Feminicídio” é tema de palestra na Semana Uma Só Saúde<br />
Fiocruz Brasília<br />
11
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Saúde única em<br />
busca de soluções<br />
para a leptospirose<br />
O Rio Grande do Sul tem a 5ª maior taxa de incidência de leptospirose do<br />
país, com cerca de 400 casos anuais, ocorrendo tanto na zona rural quanto na<br />
periferia das grandes cidades. Ele é o primeiro estado do Brasil que inclui a<br />
leptospirose como doença de notificação obrigatória, e que tem nos processos<br />
de produção da região alguns fatores de risco para esta enfermidade, como o<br />
arrozal e a pecuária. Estas são algumas das razões que levaram a organização<br />
da Feira de Soluções para a Saúde: Saúde Única para territórios saudáveis e<br />
sustentáveis a dedicar uma manhã inteira na programação do evento para que<br />
especialistas do Brasil e do exterior apresentassem diferentes pontos de vista<br />
em torno das estratégias de combate à doença.<br />
O diferencial do evento, porém, foi a possibilidade de que os pesquisadores<br />
apresentassem o tema a partir do conceito de One Health, Saúde Única, que<br />
consegue ser exemplificado de maneira simples a partir da realidade da leptospirose.<br />
Sabe-se que a transmissão humana da leptospirose é produto da relação<br />
dos homens com os animais e o meio ambiente. O ciclo de transmissão, porém,<br />
depende do clima, dos biomas e condições ecológico-sociais, que são específicos<br />
demais para se extrapolar os resultados dos estudos científicos localizados<br />
para outras regiões.<br />
Este enfoque de uma só saúde mostra que, nos casos humanos de leptospirose,<br />
a exposição indireta por meio da água e solo contaminado pela urina de animais<br />
infectados é a via mais comum de exposição, portanto exemplifica bem a interface<br />
ecossistema – homem – animal.<br />
12
No estado gaúcho, os componentes para a leptospirose podem ser analisados<br />
à luz da Saúde Única, da seguinte forma: em relação ao componente humano,<br />
consideram-se os casos por ano oficialmente notificados; os cuidados de saúde,<br />
da hospitalização às situações de alta complexidade como a necessidade<br />
de hemodiálise. Além disso, as alterações da vida cotidiana do paciente e sua<br />
família também devem ser considerados, em especial as famílias mais vulneráveis,<br />
como as de agricultores, que podem ser afetados na sua qualidade de vida<br />
e também economicamente.<br />
Para análise do componente animal, as diferentes espécies domésticas e silvestres<br />
que transmitem a bactéria ao ambiente e às pessoas por meio da urina devem<br />
ser analisadas. As perdas econômicas dos casos em animais, já que há abortos e<br />
diminuição na produtividade pecuária, também fazem parte desta equação que<br />
considera ainda os roedores silvestres, abundantes no Estado, entre eles o rato<br />
Myocasto, conhecido por transportar e lançar leptospiras em água doce na Europa<br />
(evento ainda não estudado no sul do Brasil).<br />
Em relação ao ecossistema, é preciso considerar que há áreas com condições ambientais<br />
favoráveis a surtos de leptospirose, como inundações na região metropolitana<br />
de Porto Alegre e bacia dos rios Taquari e Caí. Há também tipos de solos com<br />
pH e estrutura que permitem maior sobrevivência da bactéria Neossolo Litolítico<br />
na área central do estado. Determinados tipos de uso de terra como plantio de arroz,<br />
muito comum no estado também fazem parte desta rede que favorece o desenvolvimento<br />
da doença. “A leptospirose é um exemplo perfeito de One Health. As famílias<br />
mais vulneráveis poderão ser afetadas a vida inteira”, afirmou a pesquisadora<br />
Maria Cristina Schneider, mediadora da sessão e que já trabalhou na Organização<br />
Panamericana da Saúde e no Ministério da Saúde. Ela fez um resgate da leptospirose<br />
no Rio Grande do Sul em abordagem ecossistêmica.<br />
Diálogo acadêmico e<br />
governamental<br />
A pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Marta Pereira, apresentou<br />
um roteiro para a pesquisa em políticas de saúde em leptospirose na<br />
perspectiva do desenvolvimento sustentável. Ela é diretora do Centro Colaborador<br />
da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Leptospirose e afirmou a<br />
necessidade de se focar em uma visão integrada da saúde, com coleta e análise<br />
de dados oficiais e publicações científicas. Segundo ela, é preciso reconhecer o<br />
cenário regional na América Latina, considerando-se aspectos eco-epidemiológicos<br />
e os sistemas de vigilância; e investimento em pesquisa translacional<br />
(diagnóstico, alternativas terapêuticas, prevenção e controle), além de novas tecnologias<br />
e ferramentas para a política de saúde. Ela propôs uma visão integrada<br />
para que a leptospirose seja tratada como doença negligenciada, já que ainda não<br />
foi incluída na lista oficial dessas doenças e também chamou a atenção para se<br />
avaliarem as ferramentas de diagnóstico e prevenção da doença.<br />
“Há aspectos clínicos e do tratamento da leptospirose humana que ainda representam<br />
um desafio na prática clínica, mesmo em hospitais especializados e preparados<br />
para o atendimento de alta complexidade. Os pacientes morrem mesmo<br />
havendo excelentes especialistas nos serviços”, afirmou. Ela sugeriu ainda as<br />
Fiocruz Brasília<br />
13
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
melhorias nos sistemas de vigilância e fluxos de informação considerando os<br />
conceitos operacionais de Uma Só Saúde e que as metas dos programas de vigilância<br />
sejam alinhadas às metas do desenvolvimento sustentável explicitadas<br />
na Agenda 2030.<br />
A responsável pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual<br />
de Saúde (SES-RS), Lucia Mardini, trouxe dados sobre a epidemiologia da<br />
doença no estado e como o sistema de saúde tem cuidado das pessoas. Segundo<br />
ela, a maioria das notificações em 2018 (59%) foi realizada na atenção especializada,<br />
24% na atenção básica e o restante na atenção secundária. Ela listou<br />
alguns cuidados para a notificação e manejo de casos suspeitos de leptospirose,<br />
como a necessidade de se organizar a rede de assistência básica, que, como porta<br />
de entrada do sistema, deve fazer a notificação dos casos. A redução do tempo<br />
de espera para atendimento médico é, na visão dela, fundamental para diminuir<br />
o agravamento da doença e a chance de óbito. O acolhimento com classificação<br />
de risco nas unidades e a organização da rede de assistência médica especializada<br />
também foram citados.<br />
Segundo Mardini, as perspectivas futuras envolvem considerar os determinantes<br />
e condicionantes do processo saúde-doença, o perfil epidemiológico regional,<br />
a situação de saúde dos grupos populacionais específicos e vulneráveis,<br />
com uma comunicação eficiente do risco, a criação de um grupo de trabalho<br />
intersetorial envolvendo diferentes órgãos e também o controle social. “A população<br />
deve entender seu papel e que isso é também um problema dela”, disse.<br />
O representante da Secretaria de Agricultura do Estado, Rogério Rodrigues,<br />
apresentou estudos nesta área e ressaltou a necessidade de diálogo e ação conjunta<br />
com a Secretaria de Saúde.<br />
O pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, Allan McBride, apresentou<br />
as possibilidades de pesquisas na área de desenvolvimento de vacinas, chamando<br />
a atenção para o alto custo de desenvolvimento e implementação de imunização<br />
de humanos. Ele citou experimentos com soros produzidos pela Fiocruz<br />
Bahia e ressaltou a necessidade de investimento em microbiologia básica da<br />
bactéria Leptospira spp. Na sua visão, uma alternativa possível seria o investimento<br />
na produção de vacina para imunização animal.<br />
A professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, nos<br />
Estados Unidos, Claudia Muñoz, apresentou o panorama da doença no mundo<br />
e os desafios para se entender a situação epidemiológica mundial. Segundo ela,<br />
a mais alta incidência da doença está próxima dos trópicos e é previsto que,<br />
anualmente, se registrem cerca de um milhão de casos clínicos e 60 mil mortes<br />
em todo o mundo. Em 2015, a leptospirose foi incluída na lista de indicadores<br />
básicos sobre saúde, da Organização Panamericana da Saúde.<br />
14
Circuito empreendedor na programação<br />
da Feira de Soluções para a Saúde<br />
Plataformas de soluções para a saúde<br />
pública são apresentadas durante<br />
Semana Uma Só Saúde<br />
Cuidado em saúde mental é destaque<br />
na Semana Uma Só Saúde<br />
Fiocruz Brasília<br />
15
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Fiocruz Brasília<br />
oferta oficina<br />
para orientar o<br />
planejamento da<br />
atenção básica no<br />
Rio Grande do Sul<br />
O Ministério da Saúde prioriza a atenção básica como organizadora da rede de<br />
saúde e este desafio precisa estar no horizonte dos gestores municipais. É preciso<br />
ponderar também que a incorporação de tecnologias digitais, como o telesaúde,<br />
vai modificar o processo de trabalho e colocar a assistência e o acesso à saúde em<br />
um novo patamar. Em 2017, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do<br />
Sul detectou que um grande desafio para o SUS estava na integração da atenção<br />
especializada à atenção básica.<br />
Sabe-se que a elaboração de estudos de futuro (cenários) sobre a atenção primária<br />
em saúde pode orientar o planejamento de longo prazo e a ação do controle social.<br />
Pensando nisso, a Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Inteligência do Futuro,<br />
realiza hoje e amanhã (24 e 25 de abril), a Oficina de Diálogos Prospectivos para a<br />
Atenção Primária do Rio Grande do Sul, apresentando a Metodologia Fiocruz de<br />
Inteligência de futuro.<br />
16
Durante a atividade, os participantes da Feira de Soluções para a Saúde: Saúde<br />
Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, vão descrever os cenários<br />
de futuro da atenção básica estadual a partir de seus fatores críticos, para orientar<br />
o planejamento de longo prazo e monitoramento das ações em saúde no estado.<br />
“Analisar o cenário não é adivinhar o futuro, mas monitorar possibilidades para<br />
acompanhar por onde se tende a seguir e fazer as mudanças necessárias. Podemos<br />
antecipar as ameaças e preveni-las”, afirmou o coordenador de integração estratégica<br />
da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, que conduz a oficina.<br />
No primeiro dia de oficina, os pesquisadores selecionaram os fatores críticos e incertezas,<br />
delimitando o sistema e o ambiente, analisando sua estrutura, selecionando<br />
condicionantes de futuro e fazendo análise retrospectiva e da situação atual.<br />
Essa análise englobou variáveis que influenciam o sistema de saúde e poderão ser<br />
alteradas nos próximos anos, tais como a vigilância, a avaliação de tecnologias, as<br />
condições de trabalho e formação profissional, os hábitos de saúde da população,<br />
a sustentabilidade financeira, o desconhecimento da população sobre o SUS e o<br />
próprio SUS na mídia, entre outros. A cada fator, se estabeleceu uma probabilidade<br />
de mudança. Além dos fatores críticos, condições internas e externas de diferentes<br />
naturezas e essenciais para a atenção primária também foram descritos.<br />
Após a validação dos fatores, as incertezas foram selecionadas e descritos os<br />
comportamentos extremos ao ambiente.<br />
De acordo com o analista de gestão da Fiocruz Brasília, Márcio Cavalcante,<br />
este modelo culmina na elaboração de quatro cenários possíveis para cada<br />
variável, sendo um positivo, um negativo e outros dois intermediários. A partir<br />
daí, o cenário mais provável será detalhado, com a elaboração de hipóteses e de<br />
cenários prospectivos, encerrando com uma plenária de seleção do cenário foco.<br />
“Pensar os próximos 15 anos é importante para que haja tempo para alterar os<br />
percursos que forem detectados como negativos para o sistema de saúde,” disse.<br />
Os resultados desta oficina serão inseridos em uma plataforma online que está<br />
em construção, o I- futuro, que vai possibilitar a consulta pública a partir de<br />
maio, no site da Fiocruz Brasília.<br />
Esta atividade é parte de uma disciplina do Mestrado Profissional em Políticas<br />
Públicas em Saúde, da Escola Fiocruz de Governo/Fiocruz Brasília. Oferecida<br />
como curso de verão, a disciplina Inteligência do Futuro: Perspectiva para a<br />
Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável possibilita que<br />
os alunos façam uma imersão na metodologia.<br />
Durante a oficina, foi exibido ainda o vídeo Brasil 2035, produzido pelo Instituto<br />
de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), em parceria com a Associação<br />
Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento, que traz resultados<br />
de um estudo que aponta incertezas e grandes tendências para os rumos<br />
do país, construindo quatro cenários possíveis para o Brasil de 2035.<br />
Clique aqui para assistir.<br />
Fiocruz Brasília<br />
17
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Mesa debate relação Saúde,<br />
Ambiente e Trabalho<br />
Segurança alimentar é tema<br />
de mesa durante último dia da<br />
Semana Uma Só Saúde<br />
Gestores, artistas e especialistas<br />
discutem Saúde Mental durante<br />
Semana Uma Só Saúde<br />
Enfrentamento da judicialização<br />
na saúde é tema de palestra da<br />
Semana Uma Só Saúde<br />
18
Território educativo<br />
A educação no território foi tema de outra roda de conversa na Semana Uma Só<br />
Saúde. Profissionais de saúde de diferentes municípios do Rio Grande do Sul e<br />
de outros estados brasileiros falaram sobre suas experiências na educação permanente.<br />
Durante o debate, foi destacada a necessidade de analisar a situação<br />
de saúde e todo o contexto do território para que possa ter uma noção visual do<br />
local para uma contribuição efetiva. A diretora executiva da Escola Fiocruz de<br />
Governo da Fiocruz Brasília, Luciana Sepúlveda, falou sobre a experiência da<br />
Fiocruz no trabalho com as escolas e com a comunidade escolar em projetos<br />
realizados na capital federal.<br />
“A educação é um direito humano e um direito de existir. Além de autônomo,<br />
o território precisa ser autor das ações. A educação permanente parte das trocas<br />
de conhecimento”, afirmou Sepúlveda. Questões como o olhar ampliado para<br />
a saúde do ambiente, a formação de rede para a sustentabilidade das ações e o<br />
georeferenciamento também foram destacadas na atividade.<br />
Fiocruz Brasília<br />
19
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Projeto busca<br />
reduzir tuberculose<br />
nas prisões<br />
Estratégia apresentada na Semana Uma Só Saúde é voltada para toda a comunidade<br />
carcerária, que tem maior risco de adoecimento pela doença devido<br />
às condições de vida e saúde a que estão expostas<br />
A tuberculose (TB) é um problema de saúde pública, atinge 10,4 milhões de<br />
pessoas no mundo e é a doença infecciosa que mais mata, superando as mortes<br />
por HIV/Aids. No Brasil, 73 mil pessoas foram diagnosticadas com TB no último<br />
ano e mais de 4 mil mortes registradas, segundo dados do Ministério da<br />
Saúde. A população privada de liberdade é responsável por 11% desses casos,<br />
com aumento de 50% nos últimos anos.<br />
A realidade dos presídios brasileiros favorece a disseminação da bactéria da<br />
tuberculose: superlotação, baixa incidência solar, acesso limitado ao serviço de<br />
saúde, desnutrição, uso de álcool e drogas e comorbidades como HIV. Os dados<br />
alarmantes não param por aí, o Brasil tem a 3ª maior população carcerária do<br />
mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. De 1990 para cá, o<br />
número saltou, de 90 mil para 726 mil pessoas presas no Brasil, e a quantidade<br />
de vagas não tem acompanhado o crescimento da população carcerária. Hoje,<br />
o déficit é de mais de 358 mil vagas, resultando na superlotação do sistema em<br />
todos os estados.<br />
20
“Eles não têm condições dignas de vida. Em uma cela feita para seis pessoas,<br />
dormem mais de 20, não tem espaço nem para todos dormirem no chão ao<br />
mesmo tempo. A prisão está longe de reabilitar as pessoas”, afirmou o Chefe<br />
da Divisão de Assistência Social do Depen, Rodrigo Pereira Lopes, na última<br />
quarta-<strong>feira</strong>, 24 de abril, durante a Semana Uma Só Saúde, em debate com profissionais<br />
de saúde, gestores, residentes e estudantes de diferentes regiões do Rio<br />
Grande do Sul.<br />
Diante deste cenário, a Fiocruz, a Coordenação de Saúde do Departamento Penitenciário<br />
Nacional do Ministério da Justiça (Depen/MJSP) e o Programa Nacional<br />
de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde (CGPNCT/MS) criaram<br />
estratégias para o controle da doença, com a Campanha de Comunicação sobre<br />
Tuberculose no Sistema Prisional. O projeto tem ação direta em 75 unidades<br />
prisionais consideradas porta de entrada para o sistema prisional, com representação<br />
em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.<br />
O objetivo é acabar com o estigma e preconceito com os acometidos pela doença,<br />
divulgar informações e diminuir o número de casos de TB. Entre as atividades<br />
de prevenção e orientação estão oficinas regionais, palestras, realização de<br />
exames e teatro-fórum para discussão dos temas. Outra ação é a distribuição de<br />
materiais para familiares, profissionais de saúde e de segurança e para os próprios<br />
detentos, incluindo os que estão em tratamento, das 1.500 unidades prisionais<br />
do país. As estratégias são adaptadas à realidade de cada uma. Para Patrícia<br />
Werlang, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da<br />
Saúde, a parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça é uma<br />
marca do Brasil e um grande avanço para que todos os direitos sejam garantidos.<br />
O impacto de trabalhar com o tema nas prisões e ampliar o diagnóstico e tratamento<br />
precoce dos casos é na população geral, visto que as pessoas privadas de<br />
liberdade têm contato com familiares e convivem com profissionais de saúde e<br />
de segurança.<br />
No projeto, a Fiocruz Brasília atua na pesquisa para levantamento de dados e<br />
informações, apoio à execução, avaliação da implementação da campanha e<br />
criação de plataforma digital para toda a equipe do projeto. O coordenador do<br />
Núcleo de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília, André<br />
Guerrero, explica que a pesquisa busca comparar o contexto epidemiológico<br />
relativo à tuberculose antes e após as ações de comunicação e educação em<br />
saúde, descrever a organização do cuidado e os possíveis resultados, investigar<br />
os dados da busca, diagnóstico, adesão e desfecho do tratamento, além do monitoramento<br />
da campanha.<br />
Fiocruz Brasília<br />
21
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Tratamento<br />
O tratamento da TB dura no mínimo três meses e envolve uma gama de antibióticos,<br />
oferecidos gratuitamente pelo SUS, assim como o diagnóstico. É considerado<br />
um desafio por diversos fatores, entre eles: abandono e uso errado<br />
ou irregular dos medicamentos, que podem tornar os germes mais resistentes.<br />
Dados do Ministério da Saúde mostram que 84% dos doentes que estão em liberdade<br />
adquiriram tuberculose na prisão. A doença também pode demorar para<br />
se manifestar, por isso, 83% dos acometidos pela doença descobriram em até<br />
dois anos após sair do presídio.<br />
Assim, o controle da tuberculose está presente em diversas iniciativas do Ministério<br />
da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), como também<br />
na Agenda Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU), no Objetivo de<br />
Desenvolvimento Sustentável 3, que busca, até 2030, acabar com as epidemias<br />
de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a<br />
hepatite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis. “Precisamos<br />
fazer com que as pessoas permaneçam no tratamento, é para a vida<br />
toda”, afirmou Ana Mônica de Mello, do Departamento de Vigilância, Prevenção<br />
e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), do HIV/Aids e<br />
das Hepatites Virais do Ministério da Saúde.<br />
Direito à Saúde<br />
De acordo com Rodrigo Lopes, do Depen, o perfil dos presos no Brasil é de<br />
homens negros ou pardos, jovens de até 29 anos e com baixa escolaridade (89%<br />
não têm nem a educação básica completa). Existem cerca de 292 mil pessoas<br />
sem condenação, número que supera o de detentos sentenciados ao regime<br />
fechado. Cerca de 70% dos crimes no Brasil foram cometidos sem violência,<br />
sendo crimes contra patrimônio ou tráfico.<br />
O direito dos presos à saúde está garantido, como foi apresentado durante o<br />
debate, por leis como a Constituição de 1988 e a Lei nº 8.080, que definem o<br />
Sistema Único de Saúde (SUS), além da Política Nacional de Atenção Integral<br />
à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP),<br />
instituída por Portaria Interministerial em 2014, com o objetivo de ampliar as<br />
ações de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) respeitando os princípios dos<br />
direitos humanos e de cidadania.<br />
“É uma maneira para que essas pessoas não se tornem invisíveis no sistema prisional.<br />
A única perda que eles tiveram foi o direito de ir e vir, os demais direitos<br />
estão preservados”, ressaltou a coordenadora Nacional de Saúde no Sistema<br />
Prisional, Emanuelle Santana. O papel dos municípios e profissionais de saúde<br />
que executam as políticas públicas foi destacado como essencial para o controle<br />
da tuberculose. Emanuelle apresentou o passo a passo para a adesão dos<br />
municípios ao PNAISP. Apenas 41 municípios aderiram à Política.<br />
“É uma cobertura baixa para o que se necessita. A Política ainda é pouco conhecida,<br />
por isso, é um desafio implementar e assegurar a integralidade do direito<br />
à saúde para população privada de liberdade no âmbito do SUS”, completou.<br />
22
Semana Uma Só Saúde<br />
encerra sob clima de<br />
expectativa para o<br />
próximo ano<br />
Evento que reuniu gestores e profissionais de saúde encerra após quatro dias<br />
de atividades<br />
Após quatro dias de intensas atividades, a Semana Uma Só Saúde chegou ao<br />
fim. Foram mais de 100 atividades distintas e 115 trabalhos apresentados (sendo<br />
36 selecionados para o evento nacional do Conselho Nacional de Secretarias<br />
Municipais de Saúde (Conasems, em Brasília) para um público formado por<br />
gestores, estudantes e profissionais da área da saúde, em Bento Gonçalves, região<br />
serrana do Rio Grande do Sul.<br />
Na cerimônia de encerramento, o presidente do Conselho Nacional de Secretarias<br />
Municipais de Saúde (Cosems/RS), Diego Espíndola, agradeceu o empenho<br />
de todos os envolvidos nos meses que antecederam o evento, bem como a presença<br />
do público e daqueles mais de 1.600 trabalhos que foram enviados para<br />
a Mostra de Experiências Exitosas. Na sequência, foi a vez de a pesquisadora<br />
do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, Joyce Schramm, manifestar sua<br />
satisfação com o evento. “Foram meses de trabalho, que estreitaram ainda mais<br />
as parcerias com a Região Sul, a fim de fortalecer a saúde”, disse.<br />
Fiocruz Brasília<br />
23
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Wagner Martins, coordenador de integração estratégica da Fiocruz Brasília,<br />
destacou o saldo positivo do congresso e a expectativa para os próximos encontros.<br />
“O futuro acontece no presente, por isso nosso compromisso é agora.<br />
Acredito que daqui a 15 anos vamos voltar aqui e ver o reconhecimento do Rio<br />
Grande do Sul como um dos estados que conseguiu cumprir a agenda dos Objetivos<br />
do Desenvolvimento Sustentável”, encerrou.<br />
A Semana Uma Só Saúde congregou, no mesmo espaço, a Feira de Soluções<br />
para a Saúde, promovida pela Fiocruz, e o Congresso das Secretarias Municipais<br />
de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) e serviu como<br />
espaço para a exposição de experiências exitosas em saúde pública espalhadas<br />
pelo Rio Grande do Sul e de soluções de serviços, sociais ou industriais que<br />
levem à melhoria da saúde e da qualidade de vida das pessoas.<br />
Fotos e vídeos da Feira de<br />
Soluções para Saúde disponíveis<br />
Durante a Semana Uma Só Saúde, foram gravados depoimentos em vídeos<br />
sobre o conceito de One Health e os temas debatidos durante os quatro dias.<br />
Acesse o canal da Fiocruz Brasília no YouTube e confira, na playlist da<br />
Feira de Soluções para Saúde, os registros audiovisuais que foram feitos. Os<br />
vídeos estão sendo atualizados. Inscreva-se no canal para receber a notificação<br />
e saber das novidades.<br />
As fotos das atividades estão<br />
disponíveis nos links abaixo:<br />
Primeiro dia da Semana Uma Só Saúde<br />
Segundo dia da Semana Uma Só Saúde<br />
Terceiro dia da Semana Uma Só Saúde<br />
Quarto dia da Semana Uma Só Saúde<br />
24
Fiocruz e governo do<br />
RS estudam parceria<br />
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, participou ainda de reunião com o governador<br />
Eduardo Leite. A visita teve como objetivo reforçar laços e parcerias<br />
entre a fundação e o Estado. Nísia esteve acompanhada pela diretora da Fiocruz<br />
Brasília, Fabiana Damásio, e os pesquisadores Joyce Schramm e Paulo Teixeira,<br />
ambos da Rede Saúde Humana, Animal e Ecossistema, e por Inês Fernandes,<br />
assessora da presidência da Fiocruz.<br />
Saiba mais<br />
Fiocruz Brasília<br />
25
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
Conheça algumas soluções cadastradas e apresentadas<br />
durante a Semana Uma Só Saúde:<br />
FITOTERAPIA COMO APOIO AOS OBJETIVOS DE DESENVOL-<br />
VIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)<br />
Girassol, capim cidró, louro, cavalinha e erva-luisa. Essas cinco variedades de<br />
fitoterápicos foram as pioneiras para a implantação do horto de plantas medicinais<br />
na equipe de Estratégia de Saúde da Família Nazaré, na cidade de Tapejara, que<br />
possui pouco mais de 19 mil habitantes e está a 300 quilômetros da capital do Rio<br />
Grande do Sul (RS).<br />
Desde 2017, os profissionais da equipe substituíram o matagal atrás da Unidade<br />
Básica de Saúde (UBS) por uma horta medicinal. Naquele ano, parte do público<br />
de usuários chegava com sintomas relacionados ao distúrbio de sono, e a equipe<br />
começou então a cultivar plantas que, de acordo com a Política Nacional de Plantas<br />
Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde, tinham alguma eficácia<br />
comprovada como apoio a tratamentos para esse problema de saúde.<br />
Os resultados foram expressivos e houve um aumento gradual do público em busca<br />
das plantas medicinais. Com apoio da Universidade de Passo Fundo (RS), do Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural<br />
(Emater), as agentes de saúde que compõem a equipe foram capacitadas para a manipulação<br />
de plantas que tenham a propriedade medicinal, bem como para conhecer a<br />
forma correta de orientação dos usuários quanto ao uso dessas plantas.<br />
Desde então, os usuários fazem a retirada das plantas medicinais in natura, de<br />
suas mudas para cultivo em casa ou mesmo das plantas secas para se fazer o chá.<br />
Segundo a coordenadora de Atenção Básica do município, Daniela Girardi, não só<br />
as agentes comunitárias de saúde, mas toda a equipe multiprofissional é engajada:<br />
médica, enfermeira, técnica de enfermagem, recepcionista, dentista, auxiliar de<br />
consultório bucal e de serviços gerais.<br />
26
A iniciativa, que começou com cinco plantas, foi abraçada pela comunidade, que<br />
pouco a pouco traz mais e mais fitoterápicos para cultivo. Inclusive, aquele espaço<br />
no fundo da UBS ficou pequeno e a Secretaria Municipal de Saúde irá inaugurar,<br />
em maio, o Horto Municipal Medicinal, no centro da cidade.<br />
Esta implantação de um horto de plantas medicinais por uma equipe de Estratégia<br />
de Saúde da Família esteve exposta na Feira de Soluções para a Saúde – Saúde<br />
Única para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, de 22 a 25 de abril de 2019, em<br />
Bento Gonçalves/RS. "Temos trabalhado muito com a Agenda 2030, para estimular<br />
esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Plantamos sem agrotóxicos, não<br />
usamos veneno e respeitamos os períodos naturais de cultivo de cada fitoterápico",<br />
afirmou Girardi.<br />
Clique aqui e saiba mais https://<strong>feira</strong><strong>solucoes</strong>saude.fiocruz.br/<br />
INFORMATIZAÇÃO DE SERVIÇOS BENEFICIA SAÚDE<br />
PÚBLICA DE MUNICÍPIO DO RIO GRANDE DO SUL<br />
Com toda a informação na tela do computador, os atendimentos e marcação<br />
de consultas e exames de moradores de Osório (RS) foram agilizados. A informatização<br />
auxilia também o gestor no planejamento de ações em saúde<br />
O município de Osório, no Rio Grande do Sul (RS), é o centro de entrada para o<br />
litoral norte gaúcho e conhecido pela beleza natural e presença de uma das maiores<br />
usinas eólicas do mundo. Osório se tornou também referência e destaque na<br />
saúde para os demais municípios gaúchos e brasileiros, com a informatização<br />
dos serviços. Na cidade, a troca das fichas de papel por dados armazenados nos<br />
tablets e computadores trouxe benefícios não só aos moradores, como também<br />
aos gestores.<br />
A agilidade nos atendimentos e agendamentos de consultas, exames e outros<br />
procedimentos; a integração entre as unidades da rede e com os programas do<br />
Ministério da Saúde; a qualidade e eficiência no serviço prestado à população; a<br />
organização da logística do transporte sanitário; a gestão de prontuários eletrônicos;<br />
o controle dos processos de vigilância sanitária; a segurança das informações;<br />
a análise de dados para elaboração de relatórios estatísticos e redução<br />
dos custos com medicamentos com o controle do estoque foram alguns dos benefícios<br />
desse processo.<br />
Fiocruz Brasília<br />
27
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
O secretário municipal de Saúde do município e tesoureiro do Conselho Nacional<br />
de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Emerson Arli Magni, afirma que a<br />
informatização permitiu à grande rede de unidades de saúde do município ter todos<br />
os dados necessários para um acompanhamento integral através do Prontuário Eletrônico<br />
do Paciente. Esse prontuário abriga também informações coletadas pelos<br />
agentes comunitários de saúde, que receberam tablets com o projeto, para inserção<br />
de informações online, que posteriormente seguem para uma única base de dados.<br />
Assim, os médicos podem visualizar todo o histórico do paciente e saber a condição<br />
geral de saúde da pessoa que está sendo atendida, assim como doenças crônicas<br />
como diabetes e hipertensão. A comunicação com a população foi facilitada com<br />
o envio de mensagens para celular com 24 horas de antecedência para aviso de<br />
consultas, exames, vacinas e marcações, não sendo necessário o deslocamento até a<br />
sede da Secretaria. Ao todo, são realizadas 12 mil consultas e exames mensalmente.<br />
Na área da gestão, Magni conta que o processo trouxe economia de até 20% dos<br />
gastos públicos, com o controle da parte medicamentosa e avaliação da efetividade<br />
das consultas, integrando processos para auxiliar a tomada de decisão e simplificar<br />
a complexidade da administração pública. “Com esses dados e a economia a partir<br />
da organização de todos os processos da saúde pública, conseguimos criar outras<br />
políticas públicas que tragam melhorias para a população”, completa.<br />
A população de pouco mais de 43 mil habitantes conta, desde 2009, com o projeto<br />
pioneiro que foi implantado pelo então secretário da Saúde da cidade e atual prefeito<br />
de Osório Eduardo Abrahão. Os resultados vêm sendo aprimorados e, atualmente,<br />
se tem controle e interligação de informações das 15 unidades de saúde, um<br />
centro de regulação, uma farmácia e dois Centros de Apoio Psicossocial (CAPS).<br />
A falta de integração dos dados comprometia a agilidade e a segurança do processo<br />
de assistência à população.<br />
“Por mais que o SUS seja universal, precisa ser organizado. O sistema informatizado<br />
engloba tudo que está dentro da saúde, incluindo proteção animal e imunização,<br />
e quem ganha com isso é a população, os profissionais e gestores de saúde. Com<br />
esse esquema organizado, sabemos o que a população precisa no momento e planejamos<br />
as próximas ações. A informatização entrou e só beneficiou a comunidade”,<br />
ressaltou o secretário.<br />
Para a informatização, foram contratados 13 profissionais de tecnologia, e a realização<br />
de compra de computadores para todos os balcões de atendimento, consultórios,<br />
salas de procedimentos e todos os setores administrativos das unidades de<br />
saúde e secretaria, além da contratação de software especialista em Saúde Pública e<br />
capacitação continuada de todos os profissionais para o uso do sistema. O processo<br />
virou case de sucesso e desde a implantação, a Secretaria de Saúde de Osório tem<br />
recebido visitas de representantes de outros municípios do estado e de fora para<br />
compartilhar a informatização.<br />
Confira o vídeo<br />
A experiência foi apresentada na Semana Saúde Única, durante a Feira de Soluções<br />
para a Saúde, um espaço para diferentes trocas de experiências e soluções de serviços<br />
de saúde, indústrias, movimentos sociais e comunidades, relacionadas aos Objetivos<br />
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao conceito de One-Health (Saúde<br />
Única – que articula as saúdes humana e animal e também o meio ambiente).<br />
28
COMUNIDADE SUSTENTÁVEL É DESTAQUE EM CIDADE DO<br />
RIO GRANDE DO SUL<br />
Com o desenvolvimento econômico e urbano, algumas pessoas buscam um<br />
estilo de vida de baixo impacto ecológico e auto sustentável. A experiência<br />
será apresentada na Semana Uma Só Saúde<br />
O estresse do dia a dia, a violência, o trânsito e a poluição das cidades tem<br />
levado algumas pessoas a buscarem comunidades alternativas para morar,<br />
em um ambiente com mais contato com a natureza, baseada na preservação,<br />
sustentabilidade e bem-estar dos seus habitantes. É o caso dos moradores<br />
da comunidade intencional localizada na zona rural de Sapiranga,<br />
uma das cidades que formam a região metropolitana de Porto Alegre e<br />
tem hoje pouco mais de 81 mil habitantes. A iniciativa busca levar um<br />
envelhecimento ativo e com saúde e qualidade de vida para os moradores.<br />
Sarapiranga se destaca no cenário gaúcho pelo grande número de jardins<br />
e canteiros com rosas que enfeitam as ruas e praças do local, recebendo<br />
assim o nome de Cidade das Rosas. Na área rural, localizada a cerca de 4<br />
km do centro da cidade, moram mais de 2.500 pessoas. As comunidades<br />
intencionais agrupam pessoas com afinidades e oferecem modos de vida<br />
alternativos à sociedade e auto sustentáveis. São organizadas na lógica<br />
do trabalho comunitário e colaborativo, com alternativas para a proteção<br />
do meio ambiente e necessidades básicas como produção e alimentação.<br />
É um modelo difundido em todo o mundo. Não se tem dados precisos do<br />
número de comunidades intencionais existentes e ativas no mundo hoje,<br />
mas segundo dados da Fellowship for Intentional Community (FIC) e da<br />
Global Ecovillage Network (GEN), existem mais de 2720 comunidades<br />
intencionais ao redor do mundo, e cerca de 22 são brasileiras.<br />
A idealizadora do projeto e enfermeira da atenção básica no município<br />
de Campo Bom, vizinho a Sapiranga, Leila Holz, 42 anos, conta que a<br />
iniciativa contribuiu social e economicamente com as famílias locais, gerou<br />
renda, recuperou a responsabilidade dos cuidados de saúde, possibilitou<br />
acesso à horta urbana livre de agrotóxicos, estimulando a interação<br />
entre moradores e o desenvolvimento de um senso de comunidade e de<br />
pertencimento, com controle também do êxodo rural. “Foi uma forma de<br />
empoderar a comunidade e promover a saúde através da autonomia dos<br />
indivíduos, orientando para o autocuidado efetivo”, ressalta.<br />
Fiocruz Brasília<br />
29
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
A área da comunidade sustentável abrange um sítio com fonte natural<br />
de água e mata nativa e uma área de preservação ambiental pertencente<br />
a uma cooperativa. No local, os moradores produzem mel, peixes, ovos,<br />
carne, leite e outros produtos de hortas, pomares e granjas para consumo<br />
próprio. Há a venda de ervas aromáticas e medicinais, mudas de plantas,<br />
produtos artesanais e artesanato e oferta de moradias para um grupo de<br />
pessoas com interesses em comum.<br />
Foi implementado também um hostel para proporcionar a experiência de<br />
maneia esporádica aos interessados, onde eles podem participar das atividades<br />
de cultivo e plantio de horta, pesca e colheita de frutas e verduras.<br />
Leila explica que é uma hospedagem rural e domiciliar, e por isso, não<br />
funciona como hotel ou pousada. “A pessoa vem para passar um tempo<br />
numa área rural e fazer coisas que comumente as pessoas que moram na<br />
área rural fazem. Nada é imposto, é tudo negociável, até o pagamento.<br />
Alguns pagam em dinheiro e outros em serviços. O compartilhamento do<br />
sítio com outras pessoas é importante até para nós que moramos ali: as<br />
coisas devem ser compartilhadas para que outras possam usufruir”, explica.<br />
O lucro com as hospedagens são direcionados para a ampliação e<br />
melhoria da infraestrutura.<br />
Está sendo construída uma cozinha industrial, com o objetivo de trabalhar<br />
a alimentação saudável também com os moradores do entorno e escolas,<br />
usando alimentos acessíveis e colhidos no próprio sítio, incluindo as<br />
plantas alimentícias não convencionais (PANCs). A população local vai<br />
crescer em breve, já que o terreno ao lado, pertencente a uma cooperativa<br />
nacional, liberará 192 novos lotes para construção de casas. Leila afirma<br />
que pretende fazer um trabalho com a comunidade, com compostagem,<br />
separação de lixo, produção de horta, projetos de alimentação saudável<br />
com as famílias.<br />
Este é um modelo que pode ser adotado em diferentes estados, segundo a<br />
enfermeira e professora Vânia Dezoti Micheletti, orientadora do trabalho,<br />
pelo baixo custo, foco na organização da comunidade, preservação do<br />
meio ambiente e cuidado com a saúde mental.<br />
Ela ressalta que a iniciativa é inovadora e se tornou um exemplo na região.<br />
Para ela, a participação na Semana Uma Só Saúde possibilita mostrar<br />
para os gestores que, com parcerias, é possível concretizar ideias<br />
onde se trabalha em comunidade e em busca do benefício da sociedade,<br />
melhorando a qualidade de vida e a saúde mental dos moradores. Micheletti<br />
ressalta que as comunidades intencionais podem responder aos<br />
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, por tornar as cidades e os<br />
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.<br />
Vânia ressalta que a convivência comunitária em um ambiente inclusivo,<br />
promotor de autonomia e saúde pode ser uma oportunidade de crescimento<br />
e desenvolvimento humano, participativo, econômico e social. “É uma<br />
forma de empoderar as pessoas, equipá-las com habilidades que possibilitem<br />
interagir efetivamente com o ambiente, facilitando as escolhas e<br />
melhorando a capacidade de autocuidado”, explica.<br />
30
Como tudo começou<br />
A população do local é formada, em grande parte, por adultos e idosos.<br />
“O cenário não muda, as pessoas estão envelhecendo e ficando sozinhas<br />
porque os mais jovens vão para a cidade trabalhar e não voltam. A vida em<br />
comunidade, o meio onde a pessoa vive tem grande impacto na saúde das<br />
pessoas e o autocuidado delas, o meio favorece isso”, conta Leila Heltz.<br />
Ela é filha de pequenos produtores rurais e integra o número de jovens<br />
que deixaram a vida no campo pela necessidade de trabalhar e estudar,<br />
mas sempre pensou em voltar.<br />
Durante sua trajetória profissional, buscou alternativas e estratégias que<br />
possibilitassem qualquer pessoa a viver com qualidade de vida no campo,<br />
com o cuidado fora dos ambientes institucionais de saúde. Assim surgiu o<br />
projeto da comunidade intencional em Sapiranga. “Eu quis reconstruir o<br />
espaço que adquiri e fazer parecido com o local em que vivi na infância.<br />
Aquela imagem me trazia um bem estar e eu queria reconstruir”, disse.<br />
O primeiro passo foi o reflorestamento da área do sítio, com a implantação<br />
de uma horta comunitária, coleta de restos de obra e lixo depositado<br />
em ruas próximas. Restos de construção, móveis, portas, janelas e outros<br />
objetos jogados na beira da estrada foram recolhidos. Leila afirma que,<br />
por ser uma área de interior, moradores da cidade tinham o costume de<br />
descartar lixo nessas ruas.<br />
Logo em seguida, com a dissertação do mestrado, a enfermeira criou um<br />
modelo de negócios sustentável e ecológico, por acreditar que qualquer<br />
trabalho social ou que tenha esse viés comunitário tem melhores condições<br />
de ter sucesso quando consegue se sustentar por si só.<br />
Fiocruz Brasília<br />
31
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
SITE REÚNE INFORMAÇÃO ESPECÍFICA SOBRE ESTOMIA<br />
PARA APOIAR PROFISSIONAIS DE SAÚDE<br />
Solução foi apresentada durante a Semana Uma Só Saúde, em Bento Gonçalves<br />
(RS)<br />
Para ampliar o acesso dos profissionais da saúde a informações relacionadas ao<br />
cuidado das pessoas que passaram por procedimento cirúrgico de estomia, o enfermeiro<br />
Rudnei Prush da Silva criou o Portal Educativo de Apoio ao Cuidado<br />
a Pessoas com Estomia (www.peapee.com.br).<br />
A estomia trata-se de uma cirurgia na barriga para exteriorizar e fixar uma parte<br />
do intestino para que sejam eliminadas as fezes ou urina do organismo. Pessoas<br />
que têm problemas abdominais, doenças inflamatórios no intestino ou sistema<br />
urinário podem ganhar mais qualidade de vida a partir desta cirurgia.<br />
O portal leva a informação para enfermeiros e profissionais de saúde, para prevenção<br />
de complicações e vem a partir das próprias necessidades dos profissionais,<br />
identificadas no dia a dia do trabalho. Cuidados para prevenir e tratar<br />
lesões de pele, identificar os dispositivos corretos para colocar no paciente são<br />
alguns dos conteúdos que estão disponibilizados na plataforma online, em formato<br />
de texto e vídeo.<br />
O site existe desde março de 2018, e foi resultado da pesquisa do mestrado<br />
profissional de Rudnei, na Universidade do Valor do Rio dos Sinos (Unisinos).<br />
Durante seu trabalho como assessor técnico em um empresa de equipamentos<br />
médicos, ele visitava os demais municípios do Rio Grande do Sul, e percebeu<br />
a necessidade de qualificação objetiva dos profissionais da enfermagem. Só no<br />
Rio Grande do Sul há cerca de 11 mil pessoas ostomizadas no SUS. Segundo o<br />
idealizador, que também é estomaterapeuta, o site preenche uma lacuna informativa<br />
e educativa e será atualizado à medida em que novas soluções surjam.<br />
Ele afirma que o site contribui para a qualificação dos profissionais de enfermagem,<br />
com acesso gratuito de qualquer parte do mundo. A possibilidade de<br />
participar da Feira de Soluções para a Saúde – Saúde Única para Territórios<br />
Saudáveis e Sustentáveis, expressa a oportunidade de ampliar a divulgação da<br />
plataforma virtual e assim contribuir para maior disseminação dessas informações<br />
técnicas para os profissionais da saúde.<br />
32
FÓRUM INTERSETORIAL PROPORCIONA O FORTALECIMENTO<br />
DA RESPOSTA SOCIAL PARA A PREVENÇÃO DA SÍFILIS EM<br />
CACHOEIRINHA (RS)<br />
A ocorrência alarmante de casos de sífilis adquirida, em gestante e congênita<br />
no município nos últimos três anos motivou a realização da iniciativa<br />
De que forma ensino, pesquisa e extensão podem atuar de forma articulada para<br />
o fortalecimento da resposta social para a prevenção da sífilis? Em busca deste<br />
objetivo, docentes do curso de Enfermagem da Faculdade Cesuca, localizada<br />
em Cachoeirinha (RS), promoveram, em novembro de 2018, o Fórum: Fortalecendo<br />
a resposta social para a prevenção da sífilis, espaço para discussão da rede<br />
de atenção em saúde e comunidade acadêmica, a fim de ressaltar a importância<br />
do controle dos índices alarmantes de sífilis congênita, gestacional e adquirida<br />
no município, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul<br />
e no país.<br />
A ocorrência alarmante dos casos de sífilis no município nos últimos três anos<br />
motivou a realização da atividade. Voltado para a comunidade acadêmica, profissionais<br />
da área de saúde e comunidade em geral, o projeto de extensão, que<br />
reuniu 120 participantes, teve como objetivos contribuir para a pesquisa científica<br />
na área de vigilância da sífilis; inserir-se em atividades promotoras de saúde<br />
para o fortalecimento de respostas eficientes para prevenção e controle em conjunto<br />
com a rede de atenção à saúde, além de oportunizar espaço de discussão<br />
sobre a questão. A atividade integrou a XIII Mostra de Iniciação Científica da<br />
faculdade.<br />
A apresentação do contexto atual da infecção em Cachoeirinha, a atenção especializada<br />
e a rede de atenção à saúde para atendimento dos casos de sífilis e<br />
o diagnóstico e tratamento da sífilis adquirida, gestacional e da sífilis congênita<br />
foram alguns dos temas destacados na atividade. A docente Gisele Tertuliano,<br />
uma das responsáveis pelo Projeto, explica que, por meio da Carta de Ottawa<br />
(1986), foram enfatizadas diretrizes para o fortalecimento da resposta social, por<br />
meio de ações que visavam: a formulação de políticas públicas saudáveis com<br />
Fiocruz Brasília<br />
33
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
ações de promoção e equidade em saúde; a criação de redes de apoio social,<br />
físico, econômico, cultural e espiritual para garantia de condições que proporcionassem<br />
impacto positivo sobre a saúde das comunidades; o fortalecimento de<br />
ações comunitárias em parceira com os movimentos sociais e as redes de vigilância<br />
à saúde; a promoção do desenvolvimento de habilidades pessoais para o<br />
enfrentamento dos desafios da vida por meio da educação em saúde e de espaços<br />
de discussão para reorientação dos serviços de saúde promotores de integralidade.<br />
“Nosso objetivo era tornar claro para a população a problemática da sífilis e a<br />
importância da prevenção, além de propiciar a mobilização de atores sociais em<br />
torno dessa questão. A sífilis tem tratamento de baixo custo e danos desconhecidos<br />
para a população”, enfatizou Gisele. Na avaliação da docente, a iniciativa<br />
resultou em maior interesse da população para buscar informações e diagnóstico<br />
para a doença. “É importante trazer a sociedade para falar dessas questões que<br />
são muito voltadas para o serviço, e mostrar a importância de se falar do tema nas<br />
escolas, nas famílias e na sociedade como um todo”, complementou. A mobilização<br />
e integração da rede de serviço entre os colegas de profissão e a comunidade<br />
acadêmica também foram destacados por Gisele.<br />
Entre as atividades realizadas além do Fórum, que reuniu profissionais de saúde<br />
atuantes na rede de atenção à saúde na Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeirinha,<br />
comunidade acadêmica e população, estão o Concurso Intervenções comunitárias<br />
para a prevenção da sífilis, que escolheu as duas melhores experiências<br />
de intervenção comunitária para a prevenção da sífilis e implementação na rede<br />
de saúde local e o “Outubro Verde”, atividade voltada para a comunidade. A ação<br />
resultou na realização de 372 testes rápidos e com a atuação de 23 profissionais.<br />
As iniciativas contaram com profissionais do curso de Enfermagem da Cesuca,<br />
do Comitê de Transmissão Vertical da Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeirinha,<br />
da Vigilância Epidemiológica, do Serviço de Atendimento Especializado e<br />
das Unidades Básicas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do município.<br />
Sífilis<br />
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente<br />
transmissível (IST) por meio de relação sexual (vaginal, anal e oral) desprotegida<br />
com uma pessoa infectada ou durante a gestão ou parto, podendo ser transmitida<br />
para o bebê. Pode se apresentar das mais variadas formas clínicas e é classificada<br />
em diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária).<br />
34
A EMOÇÃO EM FORMA DE DISCIPLINA<br />
Importância de lidar e reconhecer as próprias emoções é um dos focos da<br />
disciplina Medicina Baseada em Narrativas Médicas, ofertada a estudantes<br />
do curso de Medicina do Centro Universitário Municipal de Franca (Uni-FA-<br />
CEF), em São Paulo<br />
“(...) Antes de tudo isso, a medicina sou eu… eu sou a medicina. A medicina é<br />
uma escolha de vida, uma escolha minha. A minha vivência, minha relação com<br />
ela, que vai definir que tipo de médico serei. Preciso me adaptar aos desafios que<br />
ela me mandar. Para isso, preciso estar preparado como pessoa, ser humano”. O<br />
trecho acima poderia ser de uma narrativa literária sobre o exercício da profissão,<br />
mas é o relato de um estudante do terceiro semestre do curso de Medicina<br />
do Centro Universitário Municipal de Franca (Uni-FACEF), em São Paulo, após<br />
participar da disciplina Medicina Baseada em Narrativas na Educação Médica,<br />
ministrada pela doutora em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca-SP<br />
Raquel Rangel, docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento<br />
Regional do Uni-FACEF.<br />
Este é apenas um entre dezenas de relatos coletados pela docente, que há três<br />
anos ministra a disciplina no Centro Universitário. A transformação dos estudantes,<br />
submetidos a uma carga exaustiva de conteúdo ao longo da graduação,<br />
é representada por suas percepções no decorrer do semestre. Antes do trecho<br />
destacado acima, o estudante sintetiza a proposta da disciplina: “Até que então<br />
entendi: o propósito, pelo menos pra mim, da disciplina, é mostrar que a medicina<br />
antes de ser biologia (anatomia, fisiologia, histologia, patologia), habilidades,<br />
Dora, SUS, IESC, PBL, biopsicossocial, etc. Antes de tudo isso, a medicina sou<br />
eu… eu sou a medicina (...)”.<br />
Fiocruz Brasília<br />
35
Feira de Soluções para Saúde 2019<br />
Soluções<br />
Mas, há espaço para a emoção na relação médico paciente e na conduta deste<br />
profissional? Como estimular um olhar mais humano durante o atendimento<br />
médico? Como o olhar para o outro pode proporcionar uma reflexão sobre si<br />
mesmo? De que forma a Literatura pode contribuir para a formação de médicos<br />
no país? Foi na junção entre Literatura e Medicina que a docente encontrou<br />
formas de provocar, nos estudantes, o autoconhecimento e reflexões sobre a<br />
conduta profissional. Nas aulas, eles são convidados a conhecer diferentes narrativas,<br />
em textos, vídeos e músicas, que têm médicos e/ou pacientes como<br />
protagonistas. E, a partir daí, fazer uma autorreflexão sobre o próprio processo<br />
de formação.<br />
Os resultados surpreenderam, inclusive, a docente, que também é mestre em<br />
Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia. “A emoção que os estudantes<br />
expõem é consequência do que a disciplina provoca. O médico se vê<br />
apartado do paciente, e tem a crença de que ele não pode se emocionar por viver<br />
situações dramáticas diversas. Na disciplina, discutimos exatamente o contrário.<br />
Existem formas de não se fazer transferência”, diz. Para a doutora, ter uma<br />
transição entre os extremos de razão e emoção é importante. “A relação entre<br />
as pessoas deve ser horizontal. Não existe um detentor e nem uma autoridade<br />
absoluta nas relações. É preciso respeitar a autonomia”, defende.<br />
Há três anos, a disciplina faz parte da grade curricular obrigatória do curso, com<br />
cerca de 150 estudantes desde o início. Ao todo, são quarenta horas, dividida em<br />
duas horas semanais, ofertadas no terceiro semestre do curso de Medicina do<br />
Uni-FACEF. Esta é uma das soluções que será apresentada na Semana Uma Só<br />
Saúde, durante a Feira de Soluções para a Saúde – Saúde Única para Territórios<br />
Saudáveis e Sustentáveis, que será realizada de hoje, 22 de abril, ao dia 25,<br />
próxima quinta-<strong>feira</strong>, em Bento Gonçalves (RS).<br />
Em um curso no qual os estudantes possuem uma carga horária exaustiva de<br />
estudo, a docente os convida para conhecer romances e filmes com a temática<br />
médica. "Percebemos que eles estavam cansados, angustiados. As histórias<br />
também são angustiantes, são dramas relacionados às doenças ou sobre a vida<br />
dos médicos, nas quais eles passam a ter identificação. Essas experiências mostram<br />
a importância de lidar e reconhecer as próprias emoções”, afirma.<br />
Nas aulas, os estudantes trabalham em grupos, momento em que fazem as leituras,<br />
compartilham trechos das histórias com os demais e discutem sobre as<br />
narrativas e as emoções sentidas. “Quando pergunto sobre as emoções, a tendência<br />
é falar das personagens protagonistas, mas o que buscamos é saber quais<br />
são as emoções sentidas pelos alunos. No início, eles apresentam um repertório<br />
limitado de emoções. Com o tempo, passam a compreender que a disciplina é<br />
um momento para eles mesmos, para sentir e não para racionalizar”, explica<br />
Raquel. Entre algumas questões colocadas que direcionam as discussões, estão:<br />
Quem é responsável pela vida de uma paciente em uma cirurgia? O que vocês<br />
sentem ao perder um paciente em uma cirurgia?<br />
36
De acordo com a docente, o objetivo é fazer com que os estudantes percebam a<br />
humanidade do médico, e ajudá-los a compreender que eles lidam com pessoas<br />
quando lidam com pacientes. “Antes de tudo são pessoas que têm toda uma<br />
complexidade de vida”, diz. Raquel explica que as narrativas ajudam a entender<br />
outras formas de relato diferentes dos registros médicos, e a conhecer a medicina<br />
também por meio de narrativas, através da vivência e dos sentimentos.<br />
Em uma das aulas, a docente conta que apresentou aos estudantes relatos de<br />
casos reais de mães e pais que perderam seus filhos, antes ou durante o parto,<br />
e também registros médicos colocados no prontuário, evidenciando a diferença<br />
das narrativas. “Apresentamos o mesmo caso pela ótica do registro médico e<br />
pela ótica dos pais, e eles conseguem perceber as diferenças. Durante as aulas,<br />
os estudantes aprendem a fazer a gestão da própria emoção, em um momento em<br />
que eles também sofrem com uma rotina desgastante. Embora essas situações<br />
os façam sentir emoções difíceis, são possibilidades de trocarem entre eles e de<br />
colocarem as emoções para fora. Considero isso um ponto positivo, uma válvula<br />
de escape”.<br />
Vivência, sentimentos e<br />
habilidades<br />
Raquel explica que, inicialmente, a disciplina tinha como objetivo aumentar o<br />
repertório cultural dos alunos, utilizando romances, além de buscar o desenvolvimento<br />
da empatia a partir da vivência da dor do outro pelo texto narrativo e<br />
pela literatura. Além da gestão da própria emoção, Raquel conta que os estudantes<br />
revelam ter resgatado o gosto pela leitura e pela escrita. “Eles lembram que<br />
gostam de ler e escrever e percebem que podem usar os dons artísticos, como a<br />
pintura e a poesia, ao longo do curso. Com isso, desenvolvem habilidades para<br />
a vida”, relata.<br />
Conheça outras soluções<br />
apresentadas durante os<br />
quatro dias de evento.<br />
Fiocruz Brasília<br />
37
Avenida L3 Norte<br />
Campus Universitário Darcy Ribeiro,<br />
Gleba A SC 4-CEP: 70.904-130<br />
Brasília-Brasil<br />
@fiocruzbrasilia<br />
\fiocruzbrasiliaoficial<br />
www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br