09.10.2019 Views

Cachorro Velho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Aísa<br />

⎯ Deve ter sido Bibijagua, essa galinha voa mais do que<br />

pombo ‐correio.<br />

Beira estava diante do velho, com as mãos na cintura<br />

e o feixe de lenha perto de seus pés descalços.<br />

⎯ Está tarde ⎯ respondeu ele, olhando para o caminho.<br />

⎯ Fique, e eu lhe faço um café.<br />

Sem esperar resposta, a mulher se apoiou na porta<br />

da choupana e deu ‐lhe um tranco. Já lá dentro, empurrou<br />

um tamborete para o porteiro:<br />

⎯ Sente ‐se.<br />

O velho hesitou antes de entrar. Do umbral, examinou<br />

cada canto com olhar inquieto. Sentia uma presença<br />

estranha no cubículo.<br />

⎯ Tem alguém aqui ⎯ disse.<br />

Beira começou a rir, e depois foi avivar o fogo com<br />

seus dedos suaves.<br />

<strong>Cachorro</strong> <strong>Velho</strong> nunca a vira sorrir, de modo que lhe<br />

pareceu estar diante de outra mulher. Bem diferente,<br />

cheia de segredos e sombras que voam e desaparecem.<br />

Ele achou que os homens do barracão talvez estivessem<br />

certos e Beira fosse uma criatura diabólica.<br />

Nesse momento, a mulher soprava as achas empilhadas.<br />

O fogo começou a arder e o rosto de Beira se<br />

tingiu de um reflexo dourado. O cabelo, preso em tran‐<br />

© Pallas Editora. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!